a lenda dos cristais

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O LEGADO DA PODEROSA BRUXA MORGANA AINDA NÃO TEVE FIM Conta a lenda que Merlin e Morgana foram amantes e conceberam uma menina. Sarah, a descendente dessa história, teve sete ­lhas, que se distanciaram depois de um tempo, cada uma levando consigo um colar com um cristal. Mas este segredo não se manteve guardado para sempre. Após séculos, os cristais sobrevivem e vão parar nas mãos de sete garotas ruivas, que acabam se conhecendo quando esta antiga lenda vem à tona. E com ela, um terrível inimigo: Cien, o bruxo das trevas, está de volta, e desta vez mais forte. As guerreiras partem para a aldeia dos Dracheroter, afim de aprender a usar seus poderes e lutar contra este feiticeiro e seus demônios no Stonehenge. Dessa forma, elas impedirão que uma magia torne a luz do sol negra, e transforme o mundo em escuridão por toda a eternidade.

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A LendA dos CristAis

Ana Carolina Jalles

São Paulo 2012

COLEÇÃO NOVOS TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

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Copyright c 2012 by Ana Carolina Jalles

2012IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA - Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 - 11o andar

Bloco A - Conjunto 1111CEP 06455-000 - Alphaville - SP

Tel. (11) 2321-5080 - Fax (11) 2321-5099www.novoseculo.com.br

[email protected]

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Jalles, Ana CarolinaA lenda dos cristais / Ana Carolina Jalles -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2012. -- (Coleção novos talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

12-13762 cdd-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura brasileira 869.93

Produção Editorial Novo Século Assistente Editorial Nair Ferraz Diagramação Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Capa Adriano de Souza Preparação de Texto Sybille Ariano Revisão de Texto Cátia Pietro da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Aos amigos e à minha família,

que me ajudaram de um jeito

ou de outro a escrever este livro.

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Prólogo

Todos conhecem a história de Merlin e Morgana, ou pelo me-nos já ouviram falar. O que poucos sabem é que mestre e aprendiz se envolveram de uma forma diferente da aceitável. Morgana fora amante de Merlin, estando grávida quando ele morreu, e deu a luz a uma menina ruiva chamada Sarah. Morgana passou o resto de sua vida escondida e protegida pelo clã dos Dra-cheroter, que juraram proteger eternamente a descendência deles. Sarah herdou a beleza da mãe, a inteligência de pai e a magia de ambos. Cresceu no meio dos Dracheroter cercada por muito amor e carinho, realizando pequenas magias e brincando com as outras crianças. Casou-se com Aldwin, um dos homens da aldeia onde vivia e a quem amava muito. SaraheAldwintiveramsetefilhas,todasherdaramamagiada mãe, sendo assim grandes bruxas: Mila, Ivana, Jessica, Leslie, Ailyn, Sophia e Alba. As sete lutaram contra Cien, um terrível bruxo das trevas que tinha o objetivo de conquistar tudo e todos. As irmãs venceram, banindo Cien do mundo. Com o tempo, elas acabaram se distanciando, saindo da aldeia dos Dracheroter e indo para outros lugares. Cada uma levou consigo um colar com um cristal no centro com o propósito de uni-las quando chegasse a horaemqueCienestivesse forteosuficienteparavoltar,eelaslutariam de novo. O tempo passou e os cristais não precisaram ser usados. Elas se casaram, tiveram seus próprios filhos e envelheceram. Cadairmãdeixouseucolarcomafilhaque seassemelhavacomela,

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a que possuía magia, para que, se um dia precisassem, pudessem unir forças e lutar contra Cien. Foi assim que Merlin gerou uma descendência secreta, prote-gida por instituições também secretas, que sobreviveu através dos séculos, até os dias de hoje, pronta para salvar o mundo.

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Capítulo 1

Naquela noite, Nathalia simplesmente não conseguia dormir. Andava de um lado para o outro sem parar, as mãos nas costas e a cabeça baixa. Pensando. Alguma coisa não estava certa. Era como se houvesse um dis-túrbio muito grande em algum lugar do universo e só ela pudesse ver isso. Ou melhor, sentir. Sim, sentir. Pois não lhe importava o que seu pai dizia. Ela sentia que as coisas iriam acontecer mesmo antes de acontecerem. Não era um “sexto sentido” ou uma “intuição feminina” ou qual-quer outro nome que isso tenha. Era apenas… estranho demais para ser colocado em palavras. Finalmente, parou bruscamente na frente da porta que levava à sacada, pela qual o vento entrava e fazia a cortina branca balançar. Nathalia olhou o céu estrelado e a lua, bem grande, no centro de tudo isso. A lua estava tão imensa quanto poderia estar. Ocupava grandepartedocéuesuaimagemrefletianaságuaslímpidasdolago que desembocava à sacada de Nathalia. Automaticamente, sua mão direita voou para seu pescoço, se-gurandofirmeocristalqueestavaali. Esse era um hábito que adquiriu desde a morte da mãe ao her-dar o colar. Sempre que alguma coisa ruim estava para acontecer ou Nathalia sentia algo, ela apertava o cristal, como se desse jeito pudesse recorrer à mãe e lhe pedir ajuda e proteção, de onde quer que ela estivesse.

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Porumlongotempo,elaficouencarandoapaisagemmagní-ficaqueestavaàsuafrente,comoqueemumapintura. Nafloresta, logodepoisdo lago,algumanimalnoturnoan- dava próximo aos arbustos, fazendo com que eles se mexessem. Provavelmente é uma raposa ou um lobo, a garota pensou, se preparando para mais uma nova caçada. Sua mão foi saindo devagar da pedrinha que trazia no pescoço e um sorriso começou a surgir em seus lábios. Que ideia idiota era aquela de que alguma coisa estava erra-da? Tudo continuava perfeito, do mesmo jeito que tinha sido há algumas horas. Tá bem, não perfeito. Mas do jeito que sempre foi. Aquilo era besteira, idiotice. Nathalia se sentiu uma idiota en-quantoficavaemfrenteaoespelhoetiravaocolardecristal. Usava um pijama talvez um pouco comprido demais para ela, visto que ele também pertencera à mãe, mas era necessário, mes-mo estando no verão. No Canadá, sempre faz frio à noite. Aruivaobservousuaimagemrefletidanoespelho. Nathalia tinha olhos azuis quase tão claros quanto as água do lago quando entrava em contato com os primeiros raios de sol do dia. Seus cabelos alaranjados estavam presos em um coque mal-feito, que já estava se desfazendo, então Nathalia o fez de novo. Ela não gostava de ter o cabelo daquela cor. Era o bastante para chamar atenção de todo mundo e dar a Lance, seu irmão mais velho, a oportunidade de irritá-la. A única coisa boa em ter os ca-belos daquela cor era que isso a deixava mais parecida com a mãe. Nathalia lembrava-se ainda, com clareza, da última história que sua mãe lhe contou antes de morrer. Era uma linda história já contada por sua avó: a história de sete bruxas boas que tinham lutado contra um bruxo mau, chamado Cien, e como as sete irmãs tinham feito os colares com o intuito de os unirem caso o bruxo conseguisse voltar a esse mundo.

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Ela tinha nove anos quando ouvira essa história. Passaram-se sete anos, mas a história lhe marcara de tal modo, que ela não con-seguia esquecer-se nem se tentasse muito. Nathalia se lembrava da mãe afagando seus cabelos ruivos enquanto dizia o nome de cada uma das bruxas. – Mila, Ivana, Jessica, Leslie, Ailyn, Sophia e Alba. A garota comentara que alguns nomes eram estranhos, como: Ivana, Mila e Alba. A mãe apenas riu, dizendo que os nomes nada significavam,esimaforçaeopoderdecadabruxa,seescolhiamusar Magia Branca, ou Negra; o que importava, era o que estava no coração de cada uma delas. O que está em seu coração, a mãe tinha dito, sorrindo, é o lado pelo qual você decidir lutar. Nathalia se permitiu sorrir com a lembrança da mãe. Droga de acidente! Droga! Por que ela tivera de morrer na-quele acidente de carro? Por quê? Droga! Droga! E droga! Um vento gelado e forte entrou pela janela e atingiu certeira-mente Nathalia, que gemeu de frio e se esforçou para fechar a porta. Quando finalmente conseguiu, Nathalia deitou-se na camaum pouco triste. Não tinha sido uma boa ideia lembrar-se da mãe afinal.Nuncaera.Maslembrar-sedoquãodivertidaelaeranãoera nada difícil e as lembranças tomavam facilmente a mente de Nathalia. E ela adormeceu com o Sol que dava seu primeiro tímido espreguiçar.

Longe dali, em outro continente, Meredith já estava acordada há muito tempo, após uma longa noite de sono. Ela estava com uma espada na mão e lutava contra um garoto de cabelos cas- tanhos escuros.

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Realmente era muito boa nisso. Usava a espada com mestria. Distribuía golpes perfeitos, sem dar chance de o outro atacar, e o moreno a bloqueava como podia. Não demorou mais do que algunssegundoseMeredithfinalmenteconseguiutiraraespadadele,quecaiufincadanochãoaalgunsmetrosdedistância. Meredith apontou a própria espada para o peito do moreno, que tinha levantado as mãos em sinal de rendimento. – Te derrotei de novo – ela disse, o olhando de cima. – Ainda vai ter de treinar muito mais antes de poder vencer. – Sei disso, Meredith – ele disse, agora com um sorrisinho malicioso no rosto. – Será que dá para abaixar a espada agora? Devagar, ela fez o que ele pediu, como se estivesse esperando um ataque surpresa. Mas não houve nada. Não houve movimentos bruscos nem gestos inesperados. Meredith continuou olhando o moreno,desconfiada. – O que foi? – ele perguntou, divertido. – Espera que eu tenha um truque na manga? Não desta vez. Sinto muito, Meredith. E ele caminhou até onde estava a sua espada, tirando-a da terra. Connor sorriu para Meredith, que continuava a olhá-lo feio. – Vem. Para com isso. Vamos logo – ele disse. Mas a garota não se mexeu, continuou olhando para ele, espe-rando o golpe surpresa. Ele riu alto da amiga e começou a andar em direção à Grande Casa, deixando-a para trás. Meredith pareceu um pouco menos ressabiada quando o acompanhou, a espada agora presa nas costas. Os dois caminharam em silêncio, lado a lado, por alguns se-gundos, até Connor soltar: – Dessa vez eu deixei você vencer. Meredith finalmente se permitiu sorrir. Era algo desse tipoque estava esperando. Não achava realmente que Connor ia

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deixá-la ganhar sem tentar nenhum ataque ou fazer algum comen-tário irônico. Ela o empurrou de leve. Connor retribuiu o gesto. – Isso não é verdade! – ela protestou, mas estava se esforçan-do para não rir e o que era para ter sido severo acabou saindo em tom de brincadeira. – É sim – ele ria também. – Eu não estava me esforçando de verdade. Connor olhou para ela e sorriu mais ainda. Ela era linda. Tra-zia os cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo apertado. Seus olhos eram de um castanho-escuro profundo e bonito. Seu nariz era pequeno e ela tinha uma bonita boca. Meredith nunca usava maquiagem, o que talvez a tornasse mais linda ainda. Isso, sem falar em seu corpo. Ela tinha dezessete anos incompletos, mas, como começara a treinar desde muito cedo, tinha um belo corpo, muito bem moldado. E em seu pescoço sempre estava o cristal. Ela usava aquele colar há muito tempo, desde que sua avó paterna tinha lhe dado. Aquele era um símbolo muito grande na pequena aldeia, onde mo-rava o clã dos Dracheroter. Connor pertencia ao clã. Meredith era sua protegida. Ela achava que podia muito bem se virar sozinha, mas de certa forma se acostumara com a presença dele e já não brigava mais por causa disso. A lenda da descendência de Merlin e Morgana era muito co-nhecida ali. Na verdade, não era uma lenda, era real. Também era de conhecimento geral que a única das sete possuidoras originais doscristaisaficarnaaldeiafoiAilyn,umaancestraldeMeredithe neta de Merlin e Morgana, que lutou pessoalmente contra Cien, o grande bruxo das trevas. Os Dracheroter juraram que protegeriam eternamente a des-cendência de Merlin e Morgana, mas isso era um pouco difícil,

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pois não se sabia por onde andavam as outras de suas descenden-tes. Por isso, o cuidado com Meredith era reforçado e seu treina-mento com armas e magia começara cedo para poder defender o mundo, caso Cien voltasse. Milhares de garotas esperam em vão a chegada de Cien (visto que a magia só passava para mulheres e os cristais iam junto a ela). Então, por que Meredith tinha de se preocupar mais do que as outras? Provavelmente o feitiço das sete irmãs havia sido forte o suficienteparabani-loparasempreouelesimplesmentedesistirade voltar. Mesmo assim, por precaução, Meredith ainda andava com o cristal no pescoço, para o caso de ela ter de se unir às outras seis possuidoras do colar. A ruiva esperava não precisar conhecer as outras garotas, pois issosignificariaqueomundoestariacorrendoperigo,graçasaCien. – Ei, Meredith! – chamou Connor. – Você não vai se importar em chegar atrasada ao almoço de Terrodra, vai? – O quê? Connor riu. Dos dois, ela sempre fora a mais responsável. Sempre levara suas obrigações mais a sério do que os outros. Talvez porque ela tinha mais obrigações. Ela tinha de estar preparada em caso do ataque de um bruxo mau que podia destruir o mundo. Uau! Connor nunca havia pensado desse jeito! Era um tre-mendo peso, não? Terrodra era o fundador do clã dos Dracheroter. Acreditava-se que ele era um grande guerreiro domesticador de dragões e que tinha vivido séculos antes de Merlin e Morgana. A primeira semana do verão era dedicada a ele. No terceiro dia, as pessoas mais importantes da aldeia eram convidadas para almoçarem juntas na Grande Casa, onde morava Patromer, o líder dos Dracheroter.

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– Não podemos nos atrasar! – ela gritou, antes de pegar a mão de Connor e sair correndo, arrastando o moreno. No começo, ele quase caiu, mas depois de passado o susto de ser bruscamente arrastado, Connor sorriu. Estava correndo de mãos dadas com Meredith! Apesar de se conhecerem há muitos anos, desde que eram muito pequenos e ela desconhecia sua ancestralidade, eles nunca tinham dado as mãos antes. Os dois subiram a colina e entraram, sem bater, na Grande Casa. Então abriram a porta da sala de estar devagar. Quantas ve-zes já não haviam estado ali? Algumas, talvez. Algumas por causa de Meredith, outras por causa de Connor, mas a maioria era por causa de Dean, o idiota. As vozes altas pararam no momento em que a porta se abriu. Todos encaravam Meredith e Connor, que abaixaram as cabeças, murmuraram algo como “desculpe o atraso” e foram se sentar nas duas cadeiras vazias. Infelizmente, Meredith se sentara ao lado de Dean. Deaneraumestúpido.EraofilhodePatromer,oquesóotor-nava mais mimado e arrogante, querendo ser melhor do que todos em tudo e sempre desejando Meredith. Não tinha outro nome para a obsessão de Dean. Ele desejava Meredith, isso era um fato. – Oi, Merry – ele disse, conforme a conversa foi retomada. – Oi – ela respondeu, só por educação. – Escute, Merry, hoje vai haver um baile… Mas Meredith parara de ouvir. Ela não queria saber o que ele tinha a dizer. Não queria saber mesmo. A resposta seria simples, quando ele perguntasse, “não”, seria sua resposta. –Comlicença,senhoresesenhoras–dissePatromer,ficandode pé, para os outros poderem vê-lo melhor. – Como vocês devem ter sentido, ontem à noite foi detectado outro movimento estranho.

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Há uma vaga possibilidade de ser Cien se remexendo. Como vai o treinamento, Meredith? – ele perguntou, agora se dirigindo a ruiva, ela balançou a cabeça, enquanto falava “bem”. – Ótimo. Talvez vamos precisar contatar as outras seis bruxas e começar a treinar os nossos exércitos, mas por enquanto está tudo sobre controle. Todos assentiram sérios. Apesar de Patromer falar que estava tudo bem, Meredith sa-bia que não estava. Ele não falaria isso se não tivesse certeza de que era Cien ganhando forças, nem em voz tão profunda e séria. Talvez ainda pudesse levar alguns séculos para Cien conse-guir voltar, mas Meredith estava com o mau pressentimento de que logo teria seis amigas ruivas.

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Capítulo 2

Lauren acordou com o despertador tocando. Mas ela não que-ria acordar, estava muito cansada para isso. A festa do dia anterior tinha acabado com ela e não sabia se conseguiria levantar da cama. Resmungando, ela tateou às cegas a mesa de cabeceira, pro-curando o despertador. Mas ela simplesmente não conseguia o encontrar, então continuou indo para frente, ainda com o rosto en-fiadonomeiodetravesseirosecobertas. Quandofinalmente alcançouo despertador, acabouperden-do o equilíbrio e não só o derrubou, como caiu da cama de cara no chão. Merda!, ela pensou. Agora sua cabeça parecia que ia explodir a qualquer segundo, graças à ressaca da noite anterior. A luz quei-mava seus olhos, e seu corpo estava muito dolorido. Ela se levantou e andou meio cambaleando pelo quarto, derru- bando uma coisa aqui ou ali. Finalmente, entrou no banheiro e abriu os olhos para se ver no espelho. Lauren deu um passo para trás. Não era possível que estivesse tão feia assim. Seu cabelo ruivo parecia uma juba de leão; em-baixo de seus olhos castanho-claros estavam profundas e escuras olheiras; e sua expressão era de sono, meio como uma morta-viva. Porém, nada que uma maquiagem não pudesse resolver. Pelo menos, era o que ela esperava. Os anos de convívio com Meggie, sua irmã mais velha, não tinham sido em vão. Agora que a morena estava na faculdade em

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Nova York, Lauren se apossara de todas as maquiagens que ela deixara para trás. E, graças a esses longos anos de convivência e incessantes brigas, a ruiva aprendera a fazer uma maquiagem perfeita, que podia disfarçar quase tudo. Quando voltou a olhar-se no espelho, viu uma garota nova. Ela estava cheia de vida, sorridente, os cabelos perfeitamente alinhados. Enquanto Lauren admirava sua obra-prima, percebeu que fal-tava alguma coisa. Tinha algo fora do normal em sua aparência. Mas o que seria? Quase no mesmo momento em que se perguntou isso, seu cé-rebro formulou a resposta. O colar. Sua mão esquerda voou para o pescoço e, por um momento horrível, ela pensou tê-lo perdido, mas logo depois o encontrou escondido dentro do pijama. Suspirou aliviada. Lauren ganhara o colar de presente da mãe antes de ela ir embora. Com “ir embora”, Lauren queria dizer que um dia acordara e encontrara seu pai na sala de estar chorando, em sua mão havia uma carta. Depois de um tempo, ela entendeu que a mãe escrevera a carta, dizendo que precisava seguir seus sonhos e que tinha ido embora. Lauren não sabia onde ela estava agora. Se havia se casado novamente,setinhaoutrafilhaouseesqueceradeLauren. Não sabia nem se estava viva. Até onde Lauren sabia, ela podia perfeitamente estar morta. Mas a mãe fazia parte do passado. Se ela não queria saber de Lauren, então Lauren também não queria saber dela. Voltando para o quarto, ela encontrou uma bagunça enorme, mas isso não a incomodou nenhum pouco. Seu quarto sempre fora assim.

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Depois de um tempo, elafinalmente conseguiu encontrar aroupa que queria. Colocando óculos escuros contra a luz, que ain-da machucava seus olhos castanhos, ela foi para a sala, onde en-controu o pai, a madrasta e o irmão mais novo, Daniel. Eles estavam almoçando. – Oi – resmungou para os outros, sentando-se em uma das ca-deiras. Eles acompanharam por um bom tempo Dan levar a comida dogarfoatéaboca,comoseogarotoestivesseemcâmeralenta. A maquiagem podia esconder seu estado deplorável, mas não o seu mau humor. –Boatarde,filha–disseopai,entusiasmado.–Dormiubem? Lauren não se dignou a responder. Em vez disso, soltou um gemido. – Lauren – chamou Dan. – O Ben ligou. Disse que vai passar aqui mais tarde. Ben era o cara mais legal do mundo e o namorado de Lauren. Além de, é claro, ser irresistivelmente lindo. Lauren se permitiu sorrir. – Tudo bem – ela disse distraída, agora pensando na divertida noite que tivera com ele. Sim, realmente fazia jus à música da Katy Perry, só que a farra não tinha acontecido na casa de Lauren, e sim na de Travis, um amigo de Ben. Lauren ouviu Hellen, sua madrasta, dizer: – Você não vai comer nada? – Eu? – disse ela, saindo subitamente de seus devaneios. – Sim, é claro. Mesmo enquanto comia Lauren não conseguia parar de pen-sar em Ben e no quanto ela se divertia ao lado do namorado.

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Amber olhou para cima e estreitou os olhos. O Sol era real-mente muito forte ali na África. Em seus braços, carregava uma cesta cheia de frutas. Apesar do calor, ela estava usando uma calça jeans e uma camisa xadrez de mangas compridas, para proteger sua pele clara dosol,mesmousandofiltrosolartodososdias,sempreeramelhorprevenir. Então, você pode perguntar: o que uma garota ruiva, de pele e olhos claros, faz na África? A resposta é simples. Seus pais eram voluntários e haviam se conhecido ali, se apaixonaram, se casaram e tiveram Amber. Agora, com seus dezesseis anos, ela também era uma volun-tária e ajudava os pais sempre que podia. Amber andou até a tribo em passos lentos. Lá, ela sabia, mui-tas crianças passavam fome, mas isso não a impedia de derreter ao sol. Assim que se aproximou mais, várias crianças vieram ao seu encontro. Amber se agachou sorrindo e entregou uma fruta a cada uma delas. Depois disso, ela continuou andando, sua cesta ainda consi- deravelmente cheia, até entrar em uma das cabanas, afastando o pano que servia como porta. – Olá! – ela disse, sorrindo animada, encarando várias pes- soas sentadas no chão em um círculo, entre elas, seus pais. O pai, um homem alto e magro, que usava óculos e parecia sa-ber sobre tudo um pouco; a mãe, bonita como uma fada, os longos cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo no topo da cabeça e nos lábios um belo sorriso. – Oh, Amber. Que bom que chegou! – disse um dos garotos da tribo, que logo se levantou e foi ajudar com a cesta. – Obrigada, Farid.

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Farid era um garoto consideravelmente legal. Tinha a pele cor de canela e estava claro para tudo mundo que gostava de Amber, menos para a própria Amber. Seus olhos eram pretos, e, como Amber descrevera uma vez, iguais à toda a escuridão e o que há de melhor nela. O garoto guardou a cesta e os dois sentaram lado a lado no círculo que havia sido formado. – Como eu ia dizendo antes de você chegar, Amber – conti-nuou seu pai –, o riacho está secando mais rápido este ano do que no ano passado. Mas a ruiva parou de ouvir. Conhecia esse discurso de cor. O pai o havia ensaiado inúmeras vezes na cabana onde eles moravam. Em vez disso, Amber deixou que seus pensamentos voassem soltos para o dia em que sua mãe lhe dera o cristal que agora ela levava no pescoço.

Amber tinha apenas seis anos, mas já se mostrava curiosa. Simplesmente não entendia por que a mãe sempre levava preso em seu colar, um cristal reluzente. – Mamãe! – ela chamou, indo de encontro à mulher que tinha os cabelos tão ruivos quanto os seus. A mãe a pegou no colo rindo e a levou para fora da cabana, onde o sol se punha no horizonte. As duas se sentaram juntas em uma velha cadeira de balanço e Amber começou a brincar com o cristal que a mãe trazia preso ao pescoço. – Quer que eu lhe conte a história desse colar? O porquê de eu carregá-lo sempre comigo? Amber balançou a cabeça, sem tirar os olhos do cristal. E a mãe lhe contara a mesma história que a sua mãe lhe con-tara e a mãe dela antes disso. Terminando por dizer: – E, pouco antes de eu vir para cá, sua avó me deu o colar e disse para eu fazer bom uso dele.

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– Quer dizer que você é bruxa, mamãe? Que pode fazer ma-gia?– Os olhos de Amber brilhavam com essa inesperada ideia. Porém, a ruiva mais velha apenas riu. – Isso é apenas uma história. Não quer dizer que é verdadeira. Amber obviamente entristeceu-se. Gostaria que a mãe fosse realmente uma bruxa, que tivesse poderes inimagináveis. Então, tristonha, ela voltou a mexer no colar. – Você gosta dele? – a mãe perguntou. Amber olhou curiosa para ela. – Do cristal. Você gosta do cristal? Amber assentiu. Livrando-se das mãos da ruivinha, a mãe retirou o colar do pescoço. – Então agora ele é seu – ela disse, colocando-o em Amber, que sorriu animada. – Para protegê-lo, e se juntar às outras bru-xas se for necessário.

– Amber. Amber. Amber! – chamou Farid, ao seu lado. Ela sacudiu a cabeça, voltando ao presente. – Você está bem? – ele perguntou, preocupado. Amberconfirmoucomacabeçaesecorou levemente,des-concertada, já que todos os olhares tinham se voltado para ela. Felizmente, ninguém pareceu perceber isso. Farid lhe censurou com o olhar. – Tem certeza? Amberconfirmoumaisumavez,enãodemoroumuitoparaseu pai voltar a falar sem parar. A ruiva levou a mão ao pescoço e pegou o cristal, que estava escondido dentro de suas roupas. Ela tinha cumprido a promessa quefizeraàmãe,tinhacuidadodocristalnessesúltimosdezanos.

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Dianne tirou os olhos do livro e deixou que eles corressem pelo pequeno quarto com muitas camas. Odiava aquele lugar. Ela tinha crescido ali, mas as lembranças não eram boas. Eram lembranças que, se ela pudesse, jogaria fora no momento em que saísse daquele lugar para nunca mais voltar. A ruiva não crescera cercada por amor, como muitas outras crianças. Não tinha mãe que a amasse e nem pai que a adorasse. Nem ao menos sabia quem eram. Quando era pequena, gostava de imaginar que eles estavam correndo grande perigo e por isso tinham deixado a pequena ruiva na porta de um orfanato com nada mais do que um colar de cristal e uma carta, com apenas cinco palavras: Ela se chama Dianne Wood. Que seus pais tinham feito isso para protegê-la. Mas então ela havia crescido e percebeu que isso não aconte-cia.Nosfilmestalvez,masnãonavidareal. Seus pais não a queriam ou estavam mortos, era por isso que tinha ido parar naquele orfanato horrível, onde já estava há quinze anos. Ela não sabia, então, por que ainda levava no pescoço o colar de cristal que era sua única ligação com os pais, tudo o que tinha deles.Maselasabiaqueocristaleraimportante,quedeviaficarali. Além disso, a única pista que tinha de seus pais era um nome cravado na pequena pedra. Jessica. Dianne sempre imaginava que esse era o nome de sua mãe e que seu pai lhe dera o colar. Que eles eram apenas dois apaixona-dos, livres de problemas, até que Jessica teria aparecido com uma notícia horrível para o amado, estava grávida. E desse jeito, os doishaviamabandonadoafilha. A ruiva olhou para o relógio na parede e suspirou. Ela tinha de ir, estava na hora do jantar e era um costume (idiota) todas as

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crianças no orfanato comerem juntas no salão de jantar, onde se en-contrava uma mesa comprida, com lugares para todos se sentarem. Ajeitando melhor os grandes óculos no rosto e colocando o livro na mesa de cabeceira, ela se levantou e andou pelos corre-dores frios e sem vida do orfanato, esbarrando em uma ou duas criançasmaisnovasqueaolhavamdesconfiadas. Ela era a velha entre os demais. Antes, tinham muitas crianças da sua idade no orfanato e Dianne chegara a se divertir com elas, mas o tempo passou e todas foram adotadas. Todas, menos uma. Dianne. Ela nunca entendera por que as pessoas não quiseram ado- tá-la. No começo culpava seus cabelos ruivos, tão diferentes dos outros, e em um gesto desesperado, cortou-os bem curto, mesmo assim, ninguém a havia adotado. Ela tinha observado cada uma das crianças de quem fora amiga ir embora do orfanato, rindo, acompanhadas de seus novos pais. Agora, seus cabelos tinham crescido novamente, mas mesmo assim, ninguém nunca a adotara. Chegara a ter algumas entrevis-tas com alguns casais, mas ela nunca era a escolhida. O tempo havia passado, e ela tinha abandonado quaisquer es-peranças de ter um lar, uma família. Ainda distraída com os próprios pensamentos, alcançou o sa-lão de jantar e se sentou em uma das cadeiras próximas à cabecei-ra, da qual a diretora do orfanato, Sra. Moore, olhava bondosa-mente para todos os presentes. Depois de esperar todos se sentarem, a Sra. Moore, anunciou que todos poderiam comer. Dianne serviu-se de um pouco de arroz, ervilhas e bife, e es-tava comendo calmamente quando a Sra. Moore segredou-lhe. – Amanhã, virá um casal para o orfano, eles querem adotar uma criança e gostarammuito da sua ficha. Pode ser que você encontre sua família.

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Dianne sorriu tristemente, não estava animada com essa no-vidade. Já tinha falado com outros casais e alguma coisa sempre dava completamente errado. Seja a vez em que, por algum motivo estranho,umboloapareceuflutuandodonadaecaíranacabeçadeumaloirinhasorridente,sejaquandoficaratãoanimadaqueocabelo de um sujeito corpulento pegou fogo. Coisas desse tipo sempre aconteciam com Dianne, mas ela nunca sabia explicar o que exatamente havia acontecido. Na ver-dade, ela não fazia ideia de o porquê coisas bizarras sempre acon-tecerem com ela. Fosse qual fosse o motivo, Dianne sabia que a mesma força misteriosa do universo atrapalharia tudo no dia seguinte. Tudo o que ela podia fazer era esperar e imaginar que tipo de bizarrice iria acontecer.

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