a influência da semana de arte moderna e do construtivismo no design gráfico brasileiro
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A Influência da Semana de Arte Moderna e do
Construtivismo no Design Gráfico Brasileiro
The Influence of Week of Modern Art and Constructivism in Brazilian Graphic Design
Harada, Tatiana; Graduanda; UNESP – Universidade Estadual Paulista
Landim, Paula da Cruz; Doutora; UNESP – Universidade Estadual Paulista
Resumo
A relação entre Arte e Design sempre foi próxima na história. Deste modo, o artigo trata das
relações entre o Construtivismo, o Design Gráfico brasileiro e o Modernismo no Brasil,
representado pela Semana de Arte Moderna, identificando as relações desses eventos e o
impacto no cenário do Design Gráfico através de análise de algumas peças gráficas anteriores
e posteriores à Semana de Arte Moderna e também de peças contemporâneas.
Palavras Chave: Design Gráfico; Arte e Design; projeto editorial.
Abstract
The relation of Art and Design has always been close in history. This paper is about the
relations between Constructivism, brazilian Graphic Design and Modernism in Brazil,
represented by the Modern Art Week, identifying the relations of these events and the impact
on the scene of Graphic Design through analysis of some graphic pieces before and after the
Week of Modern Art as well as contemporary pieces.
Keywords: Graphic Design; Art and Design; editorial project.
10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA)
Introdução
A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra (1760 a 1840), foi um grande marco do
mundo moderno por suas mudanças econômicas e sociais. Enquanto a produção industrial
substituía a artesanal, surge a necessidade de aperfeiçoamento dos produtos e de um
responsável pela criação e melhoramento de projetos. Assim, o designer passa a se
caracterizar, mas “o primeiro pensamento que entrou no design não tinha nenhum fundamento
intelectual, teórico, filosófico e por isso teve impacto pequeno na natureza do processo
industrial e na sociedade” (FIELL e FIELL, 2005, p.06).
A união entre teoria e prática do Design é alcançada pela Bauhaus, em 1919, onde
idealismo e realidade de produção geram o que é conhecido por Design Moderno. Logo, o
Funcionalismo se torna premissa, tendo continuidade até o fim da Segunda Guerra Mundial.
Consequentemente, a cultura funcionalista passou a fazer parte dos anseios da sociedade.
Os artistas do período buscaram romper com hierarquias antigas de classe, gerando o embrião
de nova sociedade também funcional.
No Brasil, a trajetória do Design parece acontecer empiricamente pela visão atual do
Design como prática profissional. Porém, o Design não se baseia apenas em sua aplicação no
dia a dia, mas também numa sequência de fatores que vão construindo seu desenvolvimento
no país.
Assim, o artigo tem como objetivo identificar esse contexto de ruptura cultural com foco
na Semana de Arte Moderna, pelo seu impacto na época, e o Construtivismo, por sua forte
presença nas peças gráficas do período, detectando conseqüências no contexto histórico e
contemporâneo do Design Gráfico brasileiro e em quais aspectos coletados são presentes.
Este é um projeto em desenvolvimento, apresentando os primeiros resultados.
Metodologia
A metodologia consiste em levantar e discutir dados bibliográficos sobre os assuntos
principais, sendo a história do Design Gráfico, a Semana de Arte Moderna e o
Construtivismo, a partir de um enfoque qualitativo, no qual dados descritivos são relacionados
às questões da pesquisa (SAMPIERI; LUCIO e COLLARO, 2006). Ao reconhecer o que já foi registrado sobre esses assuntos e notar relações entre os
assuntos, é viável pesquisar o contexto do Design Gráfico brasileiro e características ao
decorrer da mudança cultural ocorrida na primeira metade do século XX. Após a
compreensão desses pontos, segue a fase de relacionar os fatos, analisando o Design em
projetos gráficos de revista e em quais aspectos as relações foram mais presentes.
Projetos de revistas anteriores e os posteriores à Semana de Arte de Moderna também
são abordados, estabelecendo assim as principais influências nesses impressos para em
seguida identificar as características que permaneceram nos produtos gráficos atuais.
Quanto ao cenário do Design Contemporâneo, foi realizado levantamento nos Anais de
P&D Design de 2002 a 2010 para identificar os artigos sobre Design Contemporâneo,
encontrando 16 trabalhos entre o total de 2221 publicados, considerando todos os artigos que
abordavam o Design e contemporaneidade.
Construtivismo
A origem do Construtivismo (1910) vem da Vanguarda Russa, que se concentrava em
derrubar o regime obsoleto dos czares em busca de identidade nacional. Assim, os intelectuais
precursores da Vanguarda começaram suas produções numa vertente populista, gerando as
três principais correntes das primeiras décadas do século XX, o Construtivismo, o Raísmo e o
Suprematismo.
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No âmbito político, a presença do Estado Operário que dava abertura à industrialização e
à construção de um governo socialista. Já no âmbito artístico, o termo foi supostamente
cunhado por Vladimir Tatlin, artista russo, em 1914 (RICKEY, 2002). O nome acabou
definindo esse movimento no vocabulário artístico da época, tornando-se mais freqüente na
década de 1920.
O movimento visava unir a sociedade e arte, abolindo o ideal de “arte pura” e
produzindo uma arte direcionada ao cotidiano, tanto que surge em meio ao Funcionalismo.
Assim, a cultura deveria cumprir o papel de suprir necessidades da sociedade sobre a
expressão de valores na arte, comunicação, design e produção. Além disso, o termo
“construtivista” era utilizado em referência às peças que eram construídas e não peças
esculpidas.
Desse modo, as peças gráficas tinham enfoque informativo de transmitir uma
mensagem, explorando muito a geometria tanto na estruturação, quanto naos elementos
visuais, a sobreposição de imagens e a assimetria.
Semana de Arte Moderna de 1922
Enquanto na Europa acontecia o auge dos movimentos de vanguarda, o Academicismo
imperava no cenário artístico juntamente com influências francesas da Belle Époque, assim
alguns jovens intelectuais percebem a necessidade de atualização das artes e da identidade
nacional. Ainda mais quando a modernização e o nacionalismo ganham mais destaque por
causa da Primeira Guerra Mundial e proximidade do centenário da Independência do Brasil.
A ideia vira realidade através da Semana de Arte Moderna com Mário de Andrade,
Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, diversos artistas e escritores no Teatro
Municipal de São Paulo. A Semana é o auge da expressão da insatisfação dos artistas diante
da cultural brasileira, submetida aos padrões ultrapassados e importados.
Assim, os principais objetivos da Semana de Arte Moderna foram: a busca pela
afirmação da arte com identidade nacional autêntica e a busca por um Modernismo Brasileiro.
A Semana de Arte Moderna foi o estopim da mudança cultural em todo o país, é
possível ver as mudanças na cultura e nos ideais dos intelectuais que acontece no mesmo
período pela ruptura e vai se refletindo no Design Gráfico.
Design Gráfico no Brasil
Durante esse período da história editorial no Brasil, há o aparecimento de novos recursos
gráficos como as capas ilustradas, que até então eram predominantemente tipográficas com
informações e estilo inspirado nos adornos ligados ao Art Noveau.
De acordo com Cardoso (2005), há um consenso entre os estudiosos da história do livro
de que Monteiro Lobato foi o primeiro a inserir as capas ilustradas no mercado em sua editora
Monteiro Lobato & Cia. (1920), fazendo com que essas obras e outras edições da época
fossem os modernizadores nessa fase do Design Gráfico no Brasil. Segundo o autor, essas
mudanças no meio editorial são méritos de várias publicações que merecem destaque por suas
atitudes inovadoras e solidez, podendo citar Revista da Semana (s.d), A Maçã (1922), O
Cruzeiro (1928) e Revista S. Paulo (1934). Todas essas edições impactantes da época são
contemporâneas à Semana de Arte Moderna e à mudança cultural que ela gerou.
Na Revista S. Paulo (Figura 1), havia o recurso da fotomontagem inspirado pelo similar
soviético “URSS em Construção”, que utilizava colagens vanguardistas de Rodchenko em
suas edições, além do predomínio de imagens em relação aos pequenos blocos de texto, todos
recursos inovadores no meio editorial.
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Figura 1 - Capa da segunda edição da Revista S. Paulo.
Na capa da revista A Maçã com projeto editorial de André Guevara, a linguagem
retilínea começa a ganhar evidência. Em 1925, as capas ganham mais ousadia com ilustrações
ampliadas e recortes. No fim da década, a mudança ocorre nas cores e a diagramação das
páginas internas perde o aspecto carregado da ornamentação, e utiliza mais fotografias e
fotomontagens.
Já a revista O Cruzeiro passa a utilizar o texto em pequenos blocos com destaque
acentuado em imagens e trabalho especial na tipografia que contribuíram na missão de
informar sem comprometer a composição gráfica (Figura 2).
Figura 2 - Página dupla da revista O Cruzeiro sobre a Revolta de 1930.
Atualmente, essas características da mudança do Design Gráfico ainda podem ser
percebidas em edições que exploram esse estilo de diagramação, utilizando imagens e
geometria marcante na estrutura e tipografia, como se pode notar na revista FFW Mag (Figura
3), Isto É Gente, Época Negócios, entre outras.
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Figura 3 - Página dupla da edição 29 da revista FFW Mag.
O uso de grids, conjunto de linhas guias que auxiliam no designer na localização dos
elementos, também demonstra a herança geométrica do Construtivismo, assim como a
hierarquia entre as informações e imagens que conduzem a leitura.
Paletas reduzidas com cores puras, ausência de transparências e assimetria que
proporciona dinâmica na página também são outros aspectos das peças gráficas
construtivistas que são presentes até hoje.
Considerações finais
O impacto dessas mudanças culturais permanece no Design brasileiro mesmo em tempos
de tanta diversidade. Os recursos gráficos oriundos do Modernismo e do Design Moderno são
revisitados em várias peças gráficas contemporâneas e podem ser notados em análises de
estrutura das composições.
O Design Gráfico brasileiro tanto no contexto histórico quanto no contemporâneo ainda
tem muito a ser explorado a fim de aprofundar as discussões sobre o tema, assim como os
estudos acerca da identidade nacional do Design.
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