a indústria fonográfica em transição: uma breve revisão da atual estrutura de mercado e o...

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 FELIPE PINHEIRO DUARTE A indústria fonográfica em transição: uma breve revisão da atual estrutura de mercado e o reflexo na mídia Viçosa   MG Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFV 2013

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A indústria fonográfica em transição: uma breve revisão da atual estrutura de mercado e o reflexo na mídiaViçosa – MGCurso de Comunicação Social/Jornalismo da UFV2013

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  • FELIPE PINHEIRO DUARTE

    A indstria fonogrfica em transio: uma breve reviso da

    atual estrutura de mercado e o reflexo na mdia

    Viosa MG

    Curso de Comunicao Social/Jornalismo da UFV

    2013

  • FELIPE PINHEIRO DUARTE

    A INDSTRIA FONOGRFICA EM TRANSIO: UMA BREVE

    REVISO DA ATUAL ESTRUTURA DE MERCADO E O

    REFLEXO NA MDIA

    Monografia apresentada ao Curso de

    Comunicao Social/ Jornalismo da

    Universidade Federal de Viosa, como

    requisito parcial para obteno do ttulo

    de Bacharel em Jornalismo.

    Orientadora: Mariana Bretas

    Viosa - MG

    Curso de Comunicao Social/Jornalismo da UFV

    2013

  • Universidade Federal de Viosa

    Departamento de Comunicao Social

    Curso de Comunicao Social/Jornalismo

    Monografia intitulada A indstria fonogrfica em transio: uma breve reviso da atual

    estrutura de mercado e o reflexo na mdia, de autoria do estudante Felipe Pinheiro

    Duarte, aprovada pela banca examinadora constituda pelos seguintes professores:

    ____________________________________________________

    Profa. Ms. Mariana Bretas Orientador

    Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV

    ____________________________________________________

    Profa. Dra. Mariana Procpio

    Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV

    _____________________________________________________

    Dr. Maurcio Caleiro Jornalista e cineasta

    Curso de Comunicao Social/ Jornalismo da UFV

    Viosa, 11 de abril de 2013

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente aos meus pais, pela oportunidade oferecida e por todo amor

    que me fizeram sentir, no s nessa, mas em todas as jornadas da minha vida. Agradeo

    minha av Idalina, segunda me e emanadora de preces e energias positivas e aos

    meus falecidos avs que me demonstraram o carter digno do humano honesto e

    altrusta.

    Agradeo minha irm e todos os amigos que me forneceram o contato com a beleza da

    amizade e do amor pelo prximo e pela vida. Letcia, namorada e companheira,

    pessoa fundamental em muitos momentos de alegria e superao, que inspira pela arte e

    pela quantidade de amor.

    Aos botecos; s serras e vilarejos de minas e suas maravilhosas fontes de

    reconhecimento intrnseco e verdadeiro da vida; s cachoeiras, matas e cnions, que me

    renovam as foras a cada experincia; msica, pelo contato superior; a todos que, de

    alguma forma, contriburam comigo e contribuem com o mundo para a formao de um

    ser humano que apregoe a paz e o amor.

  • 4

    Para Leonardo Moraes,

    No estou cantando s

    Cantamos todos ns

    Mas cada um nasceu

    com a sua voz,

    pra dizer, pra falar

    de forma diferente,

    O que todo mundo sente

    Raul Seixas

  • 5

    RESUMO

    Esta monografia tem por objetivo fazer uma reviso bibliogrfica dos estudos sobre a

    reconfigurao da indstria fonogrfica que vm sendo realizados no Brasil na

    atualidade e, ao fim, expor alguns dados quantitativos da exposio da msica na mdia.

    A nova estrutura de funcionamento do mercado fonogrfico, a Web 2.0 e as novas

    perspectivas de investimento. A profissionalizao dos independentes e a nova postura

    diante de um mercado mais dinmico e flexvel. A mdia e a repercusso de uma nova

    organizao da produo musical, uma breve anlise do jornal Estado de Minas a

    respeito da divulgao de contedo musical.

    PALAVRAS-CHAVE

    Indstria fonogrfica; produo independente; mdia; Web 2.0.

    ABSTRACT

    This monograph aims to do a literature review of studies on the reconfiguration of the

    music industry that have been conducted in Brazil at present, and, in the end, expose

    some quantitative data on the exposure of the music media. The new operating structure

    of the music industry, Web 2.0 and new investment prospects. The professionalization

    of independent and new position with a market more dynamic and flexible. The media

    and the impact of a new musical production organization, a brief analysis of the Estado

    de Minas newspaper regarding the dissemination of musical content.

    KEYWORDS

    Music industry; independent production; media; Web 2.0.

  • 6

    SUMRIO

    INTRODUO...............................................................................................................7

    CAPTULO 2 INSURGNCIA DO MERCADO INDEPENDENTE.....................9

    2.1 Estrutura centralizada das majors e investidas independentes...................................9

    2.2 Terceirizao de funes e a profissionalizao dos independentes.........................11

    CAPTULO 3 NOVA FORMATAO DO MERCADO DA MSICA..............14

    3.1 A pirataria como enfraquecedora da grande indstria e as novas perspectivas de

    crescimento......................................................................................................................15

    3.2 A Web 2.0 e suas implicaes na distribuio/divulgao de contedo musical por

    majors e independentes...................................................................................................19

    3.3 A estruturao em rede do mercado das grandes gravadoras....................................23

    3.4 O mercado dos games como forte tendncia de investimento.............................. ....26

    3.5 Os festivais indie e a nova perspectiva de mercado das apresentaes ao vivo... ....29

    CAPTULO 4 - A MDIA E A PROPAGAO DE CONTEDO

    INDEPENDENTE, O REFLEXO DE UMA NOVA SITUAO DE

    MERCADO....................................................................................................................33

    5 CONCLUSES.......................................................................................................37

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................38

    7-ANEXOS.....................................................................................................................40

  • 7

    INTRODUO

    O mercado da msica , sem dvida alguma, um dos elementos fundamentais da

    indstria cultural (ADORNO; HORCKHEIMER, 1947). O seu desenvolvimento, ou sua

    transformao, ao longo das ltimas dcadas est envolto a uma srie de complexos

    fatores que contriburam por traar o rumo ao qual hoje se encontra. O desenvolvimento

    tecnolgico possibilitou novos equipamentos e ferramentas com o passar dos anos,

    alterando a forma de produo e criando novas logsticas que vieram tona pela

    consequente ampliao comercial do negcio. Ademais, os meios de comunicao, que

    tambm potencializaram o seu alcance, tornaram-se parte fundamental no crescimento

    do seguimento musical.

    H poucas dcadas, a indstria da msica baseou seus ganhos na venda de

    fonogramas fsicos, tais quais foram sendo substitudos ao passo do desenvolvimento

    tecnolgico, de forma a se adequarem s situaes e demandas do mercado de cada

    poca. Destacam-se nos momentos mais prsperos de venda desses fonogramas os

    formatos Long Play em vinil, os cassetes e os Compact Discs. Durante o perodo ureo

    de vendas desses produtos musicais, que pode se entender entre os anos 60 e 80 e um

    bom momento no final dos 90, o mercado fora praticamente dominado por alguns

    grupos empresariais transnacionais, conhecidos por gravadoras, que se modificaram

    com o passar dos anos, apesar de terem mantido as mesmas bases de funcionamento na

    maioria dos casos.

    Hoje, v-se um mercado estruturado de uma forma muito diferente do que fora

    em outros tempos. A ento facilidade de acesso a equipamentos essenciais produo

    musical, o formato digital do fonograma e a pirataria e os novas ferramentas oferecidas

    pela internet foraram os grandes industriais a buscarem novos campos de

    investimentos e outras formas de se manterem no mercado, no sendo mais essenciais

    para os aritstas que pretendem produzir e divulgar msica.

    Tal indstria sempre foi acompanhada por algumas investidas independentes,

    artistas e produtores que optaram por uma produo paralela s grandes empresas. No

    entanto, durante a maior parte na histria do desenvolvimento desse mercado, formas

    alternativas de produo eram muito complicadas de serem realizadas, devido

  • 8

    dificuldade de acesso aos equipamentos de gravao, mixagem, masterizao, etc.,

    muito caros at ento, praticamente restritos, pois, a grupos de grande poderio

    financeiro. Outras dificuldades como distribuio e divulgao tambm emperraram e

    limitaram as empreitadas independentes que esbarraram tambm na fraca relao com

    os veculos de comunicao, se comparada com as grandes gravadoras, que mantinham

    estreito vnculo social e comercial com esses meios.

    A produo independente s veio a se tornar mais plausvel com o barateamento

    dos aparatos eletrnicos e a integrao digital possibilitada atravs de computadores,

    softwares e outras tecnologias que vieram a ser desenvolvidas, como, marcantemente, a

    internet, que criou um novo mundo de opes para divulgao e distribuio/difuso de

    produtos. Alm de tambm se inserirem de outras formas no mercado, alterando a sua

    concepo estratgica e de atuao e visando novos potenciais consumidores.

    Nesta monografia, buscarei fazer uma breve reviso sobre esse momento de

    reestruturao na indstria, utilizando referncias atuais e majoritariamente nacionais

    para possibilitar uma leitura mais recente e local dessa transformao. Apoiei-me, na

    maioria do texto, nos estudos que vm sendo brilhantemente desenvolvidos por

    pesquisadores do estado do Rio de Janeiro. Decidi por dar uma pequena contribuio

    releitura histrica de um campo ainda pouqussimo explorado na Universidade Federal

    de Viosa.

    No ltimo captulo, apresento uma investigao prpria sobre os possveis

    reflexos desse meio em transio na mdia impressa, especificamente o jornal Estado de

    Minas e semelhanas e diferenas com um estudo realizado sobre a divulgao de

    msica nas rdios, por Marcelo Kischinhevsky. Dessa forma, pretendo apresentar uma

    pequena contribuio ao segmento dessa linha de pesquisa, por no ter encontrado

    estudos semelhantes da mdia impressa.

  • 9

    2 INSURGNCIA DO MERCADO INDEPENDENTE

    A produo de msica independente no Brasil passou por diversos momentos no

    desenrolar dos sculos XX e XXI, que se podem identificar por momentos de

    experimentaes, apropriao de alguns nichos de mercados, desenvolvimentos e

    retrocessos nos modelos de produo, absoro de tecnologias, profissionalizao,

    organizao etc. Atualmente, conseguiu encontrar formas estruturais e de organizao

    que lhe permite desempenhar um papel fundamental dentro da nova organizao de

    mercado da msica, sabendo apropriar-se criativamente de novas tecnologias e

    oportunidades que ocorreram por surgir na contemporaneidade.

    Ao nos inteirarmos, mesmo que brevemente, sobre os percursos dos que desde o

    incio se aventuraram nessa forma de produo musical e como se deu todo o seu

    processo de transio, podemos ter uma maior clareza para a compreenso do seu

    significado e o papel que hoje desempenha em uma estrutura de mercado muito mais

    complexa que fora outrora. No entanto, assim justifico a minha opo por essa breve

    passagem histrica, contribuindo como mais uma voz para contar essa histria

    interessante e de grande importncia dentro dessa nova linha de pesquisa sobre a

    indstria fonogrfica que vem desenvolvendo trabalhos incrveis no nosso pas.

    2.1 Estrutura centralizada das majors e investidas independentes

    Por volta dos anos de 1950 e 1960, a indstria musical comeou a tomar fora

    devido ao aumento do nmero de vendas dos fonogramas, que se popularizaram

    massivamente no formato Long Play, ou vinil. Nesse dado momento, as mdias

    tradicionais j possuam um bom nvel de desenvolvimento, contribuindo para a

    distribuio/disseminao dos artistas em uma escala jamais vista anteriormente, pois

    contavam com emissoras de rdio e televiso bem estabelecidas em alguns pases. Isso

    contribuiu para que fossem criados grandes astros da msica em escala global, que

    representavam uma enorme vendagem de discos em muitas partes do globo.

    poca, as gravadoras possuam estrutura prpria para a realizao de todas as

    etapas do processo de produo musical. Os msicos contratados gravavam, mixavam e

  • 10

    masterizavam todo o material nos estdios das gravadoras. Depois, eram essas prprias

    empresas que cuidavam dos processos de prensagem do disco - transformao no

    formato de venda, no caso o LP e distribuio das cpias para as revendedoras, alm

    de estabelecerem uma relao prxima com os veculos miditicos, notadamente o rdio

    e a TV, que funcionaram como peas fundamentais para a exposio de diversos artistas

    e, consequentemente, para a alta rentabilidade das gravadoras. A grande indstria,

    ento, possua essa estrutura que centralizava todo o processo produtivo nas prprias

    empresas.

    Nesse dado momento histrico, praticamente toda a produo musical para

    vendagem tinham de ser elaboradas por essas gravadoras, pois elas que tinham os

    equipamentos necessrios para gravar, mixar, etc., que eram extremamente caros, o que

    tornava impensvel, para muitos, a ideia de se produzir algum material autnomo ou

    independente.

    No entanto, houveram vrias produes j registradas, embora no haja

    consenso entre os pesquisadores sobre quem ou o qu tenha sido o inaugurador da

    produo independente. H casos relatados de produes prprias j na primeira metade

    do sculo XX, porm muitos pesquisadores preferem, no caso do Brasil, optar por

    considerar o lbum Feito em Casa (1977), de Antonio Adolfo como um marco

    fundamental, pois - pela primeira vez desenvolveu-se uma discusso em torno do

    tema (VICENTE, 2006, p. 3).

    O artista definiu suas motivaes expondo uma realidade ainda existente, que

    sempre persistiu por todo o caminho de transformao da cena independente, que a

    prpria vontade dos artistas de se sentirem livres de possveis amarras ocasionadas pela

    relao contratual com as gravadoras:

    Em 77, num ato de coragem e pioneirismo, lanava o disco

    Feito em casa em seu prprio selo Artezanal. Era o pontap inicial de

    uma tendncia libertria, a do disco independente, que motivaria o

    aparecimento de artistas divergentes das leis do mercado tradicional.1

    1 Extrado da biografia encontrada no site oficial de Antonio Adolfo.

    http://www.antonioadolfo.com.br/biografia.asp, ltimo acesso: 20/03/2013.

  • 11

    Buscando ou no uma alternativa ideolgica para a produo musical, pode se

    concluir que em tal perodo as dificuldades eram muitas para os empreiteiros

    independentes.

    2.2 Terceirizao de funes e a profissionalizao dos independentes

    Uma notao importante referente indstria fonogrfica brasileira a de que, a

    certa altura, havia um grande mercado consumidor de discos no pas, que chegou a se

    tornar o quinto maior do mundo em 1979, com 64.104 milhes de unidades vendidas no

    ano (DIAS, 2000 apud DE MARCHI, 2006). Tal situao foi possibilitada por alguns

    fatores, como o bom momento econmico do pas nos anos anteriores que elevaram a

    renda dos consumidores e medidas interventivas do Estado, como:

    - criao da Lei de Benefcio Fiscal da Msica Brasileira,

    em 1967, e a reformulao do sistema de distribuio dos

    direitos autorais, com a criao do Escritrio de Arrecadao

    dos Direitos Autorais (ECAD), que passou a incentivar a

    produo de artistas nacionais e organizar a arrecadao dos

    direitos sobre as obras (DE MARCHI, 2006, p. 170).

    Atentas situao positiva desse mercado, as gravadoras internacionais

    comearam a investir no pas com o intuito de abocanhar uma parcela dos

    consumidores, instalando filiais j existia a presena de empresas estrangeiras do

    ramo no fim da dcada de 20. Surgiram ento novas competidoras no mercado

    brasileiro, as quais, com o passar dos anos, as empresas nativas no conseguiram se

    manter no mercado e acabaram sendo vendidas ou encerrando as atividades por conta da

    forte concorrncia. Apenas uma empresa de capital nacional figurava entre as seis

    lderes do mercado brasileiro j nos anos de 1980. (DIAS 2000; 75 ; DE MARCHI,

    2006)

    Durante os difceis anos de 1980 e 1990 que viveu a indstria fonogrfica no

    Brasil, com momentos turbulentos na economia e transaes polticas intensas, as

    grandes empresas comearam a alterar seu modo operacional buscando alternativas

    dentro de uma situao difcil. Assim, deram incio a uma flexibilizao do processo

  • 12

    produtivo, que acabou por gerar mudanas importantes em toda organizao do

    mercado, como bem demonstra De Marchi a situao nessa passagem:

    Para reverter o quadro de dficit, seguindo as orientaes das

    matrizes, as empresas transnacionais passaram a adotar um modelo de

    gerenciamento da produo industrial conhecido como acumulao

    flexvel (Harvey 1989: 140), no qual as empresas substituem a

    estrutura verticalmente centralizada de gerncia pela em rede ou

    horizontal (Castells, 2003). No caso da empresa fonogrfica, isso

    significou arrendar boa parte da etapa de produo, adotar polticas

    austeras de gerncia de catlogos, alm de apostar em novas

    tecnologias que pudessem otimizar os lucros. Assim, a maior parte das

    grandes gravadoras sublocou servios como gravao, prensagem

    grficos e distribuio; passou a ter relaes empregatcias mais

    flexveis com seus artistas e equipes de produo; adotou a tecnologia digitas, particularmente representada na adoo do suporte

    reprodutor compact disc (CD) como seu principal produto (Dias

    2000). (DE MARCHI, 2006, p. 171)

    Ao passo que os problemas polticos e econmicos brasileiros foram sendo

    solucionados no incio da dcada de 1990, as mudanas de comportamento da grande

    indstria surtiram efeito bastante positivo, fazendo com que o Brasil recuperasse um

    antigo posto de 5 maior mercado fonogrfico do mundo no ano de 1997. (DE

    MARCHI, 2006).

    Os anos difceis vividos pelas gravadoras nos 80-90, perodo tambm muito

    turbulento e cheio de incertezas no meio independente, que resultou no processo de

    reformulao em suas maneiras de atuar no mercado acabou se refletindo em fatores

    negativos para muitos artistas, o que contribuiu para que muitos deles se voltassem para

    o lado da produo independente.

    a indstria aumenta sua seletividade, racionaliza sua atuao,

    reduz seus elencos e, nesse processo, tende a marginalizar artistas

    menos imbudos de sua lgica ou no classificveis dentro dos

    segmentos de mercado que passa a privilegiar. Nesses termos, uma

    cena independente surge tanto como espao de resistncia cultural e

    poltica nova organizao da indstria, quanto como via de acesso ao

    mercado para um variado grupo de artistas (VICENTE, 2006, p. 4)

    A nova organizao de funcionamento da grande indstria tambm contribui

    para uma maior interao com as gravadoras independentes. Com alguns servios

    negociados em diversos tipos de contrataes por ambos os lados, acabou contribuindo

  • 13

    para o fortalecimento das independentes, que acabaram por agregar diversos artistas que

    ficaram de fora dos planos dessa nova logstica e que representavam fora de nome.

    Alguns tambm passaram a fazer o contrrio, utilizar selos independentes como forma

    de se projetarem e chamarem a ateno das majors, utilizando como uma plataforma de

    transio.

    Com o desenvolvimento tecnolgico j alcanado nos anos de 1990 e o

    barateamento dos equipamentos, ocorreu uma consequente proliferao na oferta de

    diversos servios anteriormente realizados apenas pelas grandes gravadoras. Isso

    possibilitou que se pudesse fundar um selo, ou uma gravadora independente, com o

    mnimo de estrutura e ainda ter uma variedade de opes de servios. Da comearam a

    surgir diversas gravadoras indies pelo Brasil, que acabaram lanando nomes como

    Racionais MCs (Zimbabwe), Raimundos (Banguela) e Sepultura (Cogumelo), entre

    outros (VICENTE, 2006, p. 9), bandas fortes na msica brasileira nos anos 90.

    De toda forma, comeou-se a ter uma viso diferente sobre as possibilidades de

    mercado de uma gravadora independente:

    Diferentemente do que ocorrera na dcada anterior, a oposio

    ideolgica entre majors e indies, ou mesmo entre arte e mercado,

    pouco se fez presente em discursos e debates. Agora, parecia mais

    interessante aos empresrios afirmar a profissionalizao e viabilidade

    de seus investimentos. Para muitos deles, o conceito de selo

    independente no Brasil ainda estava, como declarou Pena Schmidt, da

    Tinitus, muito associada imagem do disco artesanal, praticado aqui nos anos 70 e conclua: ser independente apenas ser dono do prprio negcio. (VICENTE, 2006, p. 9)

    Com uma mudana de mentalidade advinda da nova era da indstria fonogrfica,

    onde as possibilidades ampliadas de se prosperar unida nova relao de mercado dos

    atores da indstria da msica, os independentes comearam uma nova forma de

    produo, profissionalizando sua atuao em busca de um mercado insurgente que

    promete bastante retorno no geral, financeiro para os empresrios e msicos e artstico

    para todos.

  • 14

    3 NOVA FORMATAO DO MERCADO DA MSICA

    No atual cenrio da produo fonogrfica pode-se observar uma tendncia de

    centralizao dos investimentos das majors em artistas de grande apelo popular, que

    trazem um altssimo retorno de pblico, e, certamente, financeiro. As grandes preferem

    apostar em um quadro de contratados enxuto, mas que possibilitam uma lucratividade

    astronmica exemplo de artistas como Justin Bieber, Lady Gaga, Ke$ha, Luan

    Santana, Ivete Sangalo, entre outros, em vez de contar com um grande nmero de

    artistas, (DE MARCHI, 2011) dentre os quais iniciantes, promessas, msicos j h

    muito tempo consagrados e no mais em seu auge e outras propostas inovadoras de

    gnero ou de cunho experimental.

    Apesar da crescente presena e fora de atuao dos selos independentes, as

    grandes multinacionais ainda possuem o domnio dos grandes veculos de comunicao

    tradicionais, mais marcantemente no rdio. Tais empresas so articuladas de maneira a

    colocarem de lado, leia-se de fora da programao, grupos de artistas e gneros

    especficos que tenham menos apelo popular e sejam pouco rentveis.

    (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2011)

    Tal atitude reflete uma nova realidade dessas grandes empresas, que deixaram de

    lado o sentido literal de gravadoras para fazerem parte de uma nova configurao de

    mercado, bastante flexvel e de muita interatividade entre diversos novos atores no

    processo de produo fonogrfica. (DE MARCHI, 2011) Dessa forma, as majors

    funcionam de uma maneira mais administrativa do que operacional, funes que j

    vm, como destacado anteriormente nesta monografia, sendo designadas a empresas

    terceiras, levando-se em conta os critrios de gravao em estdios, prensagem e

    distribuio dos fonogramas -, como tambm ser abordado mais frente neste captulo

    ao se tratar do mercado organizado em rede.

    Diante dessa nova maneira de se manterem vivas no mercado, as grandes

    gravadoras nada mais que buscaram a sua importncia dentro dessa reestruturao de

    mercado, pois apesar de no serem mais um pr-requisito para a produo artstica, -

    devido todo o desenvolvimento da logstica independente, alm de outras mudanas

    naturais ocasionadas pelo desenvolvimento tecnolgico-, ainda so fortes grupos que

  • 15

    possuem know-how do mercado e que tambm esto sempre em busca de se adequarem

    s novas realidades.

    No prximo captulo desta monografia irei aprofundar um pouco mais a respeito

    da divulgao de msica, no somente o produto em si, mas o que envolve esse meio

    artstico, hoje em dia em alguns veculos tradicionais de comunicao, mais

    especificamente o rdio e a mdia impressa, que ter como exemplo o dirio Estado de

    Minas, oriundo da capital Belo Horizonte.

    3.1 A pirataria como enfraquecedora da grande indstria e as novas

    perspectivas de crescimento

    Inclu este subcaptulo que disserta brevemente sobre a pirataria, principalmente

    em meios digitais, por acreditar ser fundamental apresentar esse episdio no

    contemporneo e suas origens e propagao para uma leitura mais extensiva dos atuais

    desafios vividos pela grande indstria musical e tambm relacionar algumas vertentes

    nova situao proporcionada aos artistas autnomos e independentes.

    A internet se tornou um veculo o qual nos possibilita perceber muito claramente

    a diversificao das atividades das gravadoras. Elas se viram obrigadas a alterar sua

    forma de atuao pelas enormes perdas financeiras registradas nos ltimos anos, fator

    que elas creditam, principalmente, ao enorme volume de pirataria existente,

    potencializado brutalmente com a internet e com a facilidade de reproduo e

    distribuio de fonogramas, tanto fsicos, como o CD, quanto digitais. A pirataria no

    novidade, nos anos de 1970 ela j existia no mercado das fitas cassetes. Para se ter uma

    ideia, a quantidade de produtos piratas percebeu-se espantosamente elevada em 1997,

    quando estimava-se que circulavam cerca de 60 milhes de cassetes falsificados, ao

    passo que menos de um milho de exemplares eram vendidos legalmente.(VICENTE,

    2006).

    No entanto, a internet que se configura como a maior plataforma de pirataria

    musical j existente, devido alguns fatores que contriburam para que a situao

    chegasse a esse ponto. Primeiramente, a criao de um formato digital compacto e com

    qualidade de udio satisfatria para a grande maioria do pblico, que o arquivo

    mp3. Sua histria remonta do incio a meados da dcada de 1990, podendo variar de

  • 16

    acordo com a interpretao do marco fundamental de sua criao2. Por conta do seu

    tamanho muito reduzido em relao a outros formatos de udio, como o wav, por

    exemplo, o mp3 se tornou muito adequado web, sendo de fcil upagem para sites

    e, posteriormente, transferncia entre usurios.

    Com a disseminao do formato, diversos programas de compartilhamento de

    arquivos entre usurios surgiram durante os anos seguintes, sendo o Napster um dos

    precursores da prtica chamada peer-to-peer, ou P2P. A partir da, conseguia-se, e ainda

    se consegue, distribuir todos os seus arquivos mp3 pessoais a todos os usurios

    conectados quele software. Os arquivos de todos os usurios disponveis para quem

    estivesse conectado, resumindo. Dessa forma, criou-se uma gigantesca ferramenta

    mundial de distribuio/transao no autorizada de msica digital, que prevalece at

    hoje nas mais variadas formas que continuam sendo criadas desde ento.

    Consta no ltimo relatrio divulgado pela Federao Internacional da Indstria

    Fonogrfica3, IFPI, que a pirataria amplamente difundida o maior fator de travamento

    do desenvolvimento dos negcios envolvendo os fonogramas digitais. Diversas medidas

    vm sendo tomadas atualmente para tentar coibir a atuao dessas ferramentas

    consideradas ilcitas pela organizao, tanto que acreditam terem evoludo com sucesso

    no ano de 2011 atravs de processos jurdicos e parcerias tanto com os prprios meios

    de propagao ilegais quanto a diversos rgos da rede, como os Provedores de

    Servios de Internet (ISP`s).

    Um destaque importante no setor de distribuio no licenciada o site que

    hospeda arquivos torrent The Pirate Bay. Atualmente, medidas tomadas pela IFPI, em

    parceria com os servidores de internet europeus, vm, com sucesso, conseguindo

    bloquear o acesso dos usurios a esse site.

    Como a prpria federao descreve no Relatrio de Msica Digital 2012:

    A vasta escala do problema amplamente reconhecida, tal como a

    recente evoluo de novas formas e canais. Globalmente, estima-se

    que 28 por cento um em cada quatro usurios de internet acessam, mensalmente, servios no autorizados (IFPI/Nielsen). Cerca de

    2 Baseado nos artigos encontrados nos links:

    http://en.wikipedia.org/wiki/MP3#cite_note-11172-3-5, acessado em 12/03/2013 http://www.tecmundo.com.br/player-de-audio/2106-a-historia-do-mp3.htm 3 Digital Music Report 2012, disponvel em:

    http://www.abpd.org.br/downloads/DMR2012_20Jan_FINAL1.pdf, acessado em 13/03/2013.

  • 17

    metade desses utlilizam as redes peer-to-peer (P2P). A outra parcela

    utiliza outros canais no autorizados, no-P2P, que so um problema

    de crescimento acelerado. Isso inclui blogues, sites de armazenamento

    de arquivos, fruns, websites, sites de streaming, aplicativos de

    smartphones e de ripagem de stream. Em alguns pases, a taxa de

    utilizao de sites ilegais muito maior que a taxa mdia global por exemplo, 42% e 44%, respectivamente, nos grandes mercados da

    Espanha e do Brasil (Nielsen/IFPI).4

    Nas duas ltimas dcadas a indstria da msica se deparou com um dos maiores

    desafios que j teve de enfrentar, a disseminao da internet pelo mundo unida

    digitalizao da msica em formatos compactos e de fcil transferncia, notadamente o

    arquivo MP3, causou, e ainda est causando, uma srie de transformaes tanto na

    relao entre os produtores e os consumidores de msica, quanto organizao da

    prpria indstria em sua interao com outros novos atores desse mercado - empresas,

    organizaes, sites e etc. Destaca-se tambm a integrao de novos aparelhos

    eletrnicos, como os gravadores de CD pessoais, e os j no to novos aparelhos

    reprodutores de udio, como os iPod`s, telefones celulares e ainda os Pen Drives, entre

    outros, com o formato digital do fonograma.

    Para o ano de 2012, o combate pirataria foi tido como prioridade para a IFPI,

    como descreve a prpria chefe-executiva da instituio, Frances Moore, ao final do seu

    texto intitulado Otimismo justificado. Complacncia no aceita:5

    O negcio da msica um contribuinte dinmico economia

    digital. Ainda que possa ser muito mais que isso, provendo a

    sustentao do crescimento e de postos de trabalho. Isso no pode ser

    feito apenas atravs de inovao e licenciaes. Ns precisamos de

    um contexto legal justo, cooperao efetiva de intermedirios e um

    4 Traduo prpria do ingls, texto Piracy: improved cooperation from online intermediaries, includo

    no Digital Music Report 2012, p.16. Trecho original: The vast scale of the problem is widely recognized, as is the recent evolution of new forms and channels. Globally, it is estimated that 28 per cent one in four of internet users access unauthorized services on a monthly basis (IFPI/Nielson). Around half of these are using peer-to-peer (P2P) networks. The other half are using other non-P2P unauthorized channels which are a fest-growing problem. These include blogs, cyberlockers, forums, websites, streaming sites, smartphone-based applications and stream ripping applications. In some countries, the rate of usage of illegal sites is far higher than the global average for example 42 per cent and 44 per cent respectively in the major markets of Spain and Brazil (Nielsen/IFPI). 5 Traduo prpria do ingls, texto Optimism justified. Complacency not accepted, includo no Digital

    music Report 2012, p.4. Trecho original: The music business is a dynamic contributor to the digital economy. Yet it can be much more than that, delivering sustainable growth and jobs. This cannot be done through innovation and licensing alone. We need a fair legal environment, effective cooperation from intermediaries and a resolute commitment from governments to use legislation to curb all forms of piracy. These are the priorities we will be pushing for in 2012.

  • 18

    firme comprometimento dos governos em se utilizarem da legislao

    para coibir todas as formas de pirataria. Essas so as nossas

    prioridades no adentrar de 2012.

    No entanto, depois de anos em forte queda, a indstria vem mostrando sinais de

    recuperao. De acordo com os ltimos dados disponveis, no ano de 2011 a indstria

    cresceu 8,4% no total de faturamento em relao ao ano anterior, atingindo a marca de

    R$373,2 milhes. Esse montante refere-se tanto s vendas em formato fsico, - CDs.

    DVDs e Blue Ray -, que sozinhas cresceram 7,6%, passando a representar R$312,3

    milhes; quanto em relao s diversas formas do comrcio digital, que em 2011 passou

    a representar 16% do mercado brasileiro num faturamento total de R$60,9 milhes.

    Esse ltimo vem numa crescente significativa h alguns anos, tendo mais que dobrado

    as receitas desde o ano de 2007, como mostra a tabela:

    Mesmo com o sensvel crescimento do mercado digital, que vem tomando uma

    significante parcela na receita total da grande indstria no Brasil, as empresas inseridas

    nesses dados, tidas pela prpria ABPD como as maiores companhias fonogrficas

    operantes no pas, ainda esto muito aqum do faturamento total obtido no ano de

    2002, por exemplo, que correspondeu com o valor total de vendas em R$726 milhes6,

    que representou naquela poca quase o dobro do retratado em 2011 e que colocou o

    Brasil como o quinto maior mercado fonogrfico do mundo naquele momento, posio

    que j no mais ocupada.

    6 Disponvel em: http://www.abpd.org.br/downloads/Mercado_Brasileiro_de_Musica_2004.pdf,

    acessado em 14/03/2013

  • 19

    Nota-se, portanto, que a indstria retraiu praticamente pela metade em cerca de

    nove anos. No entanto, os ltimos resultados esto servindo de amparo a grandes

    expectativas de crescimento para os prximos anos, como escreveu Paulo Rosa,

    presidente da ABPD, no relatrio analisado:

    H vrios desafios ainda, principalmente no desenvolvimento

    do mercado digital, questes ligadas aos novos hbitos de consumo na

    internet, pirataria, etc., mas quero acreditar que o setor fonogrfico,

    que experimentou desde o final da dcada de 90, um encolhimento

    como nenhum outro segmento da economia da cultura vivenciou,

    comea a dar claros sinais de recuperao, baseada em um portflio de

    receitas cada vez mais variado, venham elas do mercado fsico ou do

    digital.

    Mesmo com a expectativa positiva da grande indstria nas vendas digitais para

    os prximos anos, ainda h uma grande incerteza apario de uma

    forma/modelo/produto que possibilitem investimentos mais seguros, que possam

    carregar as vendas.

    3.2 A Web 2.0 e suas implicaes na distribuio/divulgao de contedo

    musical por majors e independentes

    A evoluo da prpria internet contribui cada dia mais para essa diversificao

    de possibilidades/interao, em suma essa complexidade que vem assumindo o atual

    mercado fonogrfico. importante ressaltar que nem todas as novidades trazidas pela

    internet e sua evoluo foram malficas para o mercado fonogrfico como um todo,

    apesar da pirataria significar um enorme desafio, outras oportunidades de negcios j

    esto disponveis, e, acredito, muitas ainda por serem criadas. Pode-se destacar a web

    2.0, por exemplo, como possibilitadora de muitas novas formas de difuso, distribuio

    - do prprio fonograma ou de informaes a respeito de artistas -, e de interao entre

    usurios e vm formando novas ferramentas que permitam ao ouvinte romper as

    hierarquias e entrar no mundo da prescrio musical. (GALLEGO, Juan Ignacio,

    2011).

    Refletindo um pouco que seja sobre sua dinamicidade em relao s

    possibilidades criadas aos artistas, v-se que os msicos hoje podem fazer todo o

    processo de elaborao do seu produto musical, realidade que veio tona no s pela

  • 20

    chegada da web e da forma atual de socializao em massa existente, mas tambm por

    conta da evoluo tecnolgica dos aparelhos eletrnicos, que antes encontrados somente

    em grandes estdios, devido ao elevadssimo preo, hoje representam um custo to em

    conta que se pode fazer um estdio caseiro sem gastar fortunas. Softwares de alta

    tecnologia possibilitam, com algum treino, mixagem e gravao de forma muito menos

    complicada do que fora em tempos analgicos. Isso porque podem trabalhar junto a um

    computador pessoal, que, para muitos casos, nem precisa ser uma super mquina que

    esteja muito longe da realidade do trabalhador brasileiro. No entanto, o processo de

    masterizao permanece caro e exige uma terceirizao profissionalizada.

    (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2011) A prensagem no mais problema j h

    um bom tempo, quando chegaram massivamente no mercado os gravadores caseiros de

    CDs a preos muito acessveis.

    Levando em considerao os espaos existentes hoje na internet para a

    socializao, divulgao e promoo do trabalho musical, percebe-se que todo o

    processo de produo fonogrfica pode ser feito pelo artista de forma totalmente

    caseira, sem exigir investimentos absurdamente elevados e sem a necessidade, at certo

    momento, de nenhum outro intermedirio, sejam gravadoras independentes, majors,

    servios terceirizados, etc.

    Diversos servios e ferramentas que influenciam diretamente a forma atual como

    as pessoas se informam, interagem e compartilham arquivos, gostos e conhecimentos

    vieram tona com o surgimento da Web 2.0. Juan Ignacio Gallego se utilizou de uma

    definio bsica de Ian Davis, citado por Xavier Ribes, que afirma que a Web 2.0 no

    uma tecnologia, mas uma atitude. (RIBES, 2007, p.37)7 O conceito ainda gera

    polmica, mas Gallego utiliza-se por dizer que:

    A Web 2.0 abarca caractersticas como interatividade,

    participao, intercmbio, colaborao, redes sociais, bases de dados,

    usurio, plataforma. Realmente, passa-se de uma comunicao

    unidirecional e complexa possibilidade de criar um espao prprio e

    a realizar uma interao, uma atuao mais participativa. (GALLEGO,

    2011, p. 52)

    7 Referncia completa fornecida pelo livro: RIBES y GUARDIA, X. La web 2.0. El valor de los metadatos y

    la inteligncia colectica. In: Telos. Madri: Fundacin Telefnica, 2007.

  • 21

    As consequncias dessas novas possibilidades criadas esto na apario de

    diversas novas ferramentas e instrumentos que so, hoje, utilizados online por milhes

    de pessoas em todo o mundo. Criou-se um apelo popular muito grande por essas redes

    interacionais, primeiramente, acredito, que pela novidade e a possvel explorao

    advinda do at ento mundo desconhecido, e depois, pelas inmeras utilidades

    percebidas pelos usurios acompanhado de uma atualizao constante desses meios, em

    busca de uma melhor adaptao aos anseios e expectativas do crescente pblico por

    melhoramentos especficos.

    As aplicaes vinculadas Web 2.0 so as seguintes: blogues;

    fotologues; redes sociais (Myspace e Facebook); redes sociais mais

    voltadas para a msica (Last.fm); lugares de recomendao (Pandora

    Musica, Podcast); servios musicais via streaming (Spotify); redes de

    intercmbio de arquivos P2P; e fruns. Como usurios de todas essas

    ferramentas, deparamo-nos com uma gerao que j foi rotulada de

    diversas maneiras: Messenger, iPod Generation, Myspace etc.

    Realmente, estamos ante uma gerao de nativos digitais que tem uma relao miditica diferente da anterior e que se baseia na

    interatividade e na colaborao:. (GALLEGO, 2011, p. 53)

    Em seu importante artigo, Leonardo De Marchi tambm ressalta a relevncia

    que certas empresas eletrnicas passaram a ter na contemporaneidade no que diz

    respeito ao acesso msica.

    Considerando que, historicamente, as gravadoras

    desenvolveram uma eficiente estrutura de produo industrial de

    discos que, no entanto, perde seu sentido com a

    desmaterializao dos fonogramas, est claro que tambm as

    gravadoras perdem sua posio de dominncia na cadeia

    produtiva. De fato, as empresas que atualmente assumem papel

    preponderante no mercado fonogrfico digital so as empresas

    eletrnicas8, cuja especialidade formar redes de usurios-

    clientes para cobrar pelo acesso informao. Myspace, iTunes,

    Spotify, E-mule, Bit Torrent, iMusica, Sonora, Pandora Music,

    entre outras, so empresas que se tornaram crticas para se

    8 Pela relevncia do contedo, replico a nota de rodap original: Adota-se a definio de Manuel

    Castells (2003, p. 57): por empresas eletrnicas entendo qualquer atividade de negcio cujas operaes-chave de administrao, financiamento, inovao, produo, distribuio, vendas, relaes com empregado e relaes com clientes tenham lugar predominantemente pela/na Internet ou outras redes de computadores, seja qual for o tipo de conexo entre as dimenses virtuais e fsicas da firma. Ao usar a Internet como um meio fundamental de comunicao e processamento de informao, a empresa adota a rede como sua forma organizacional. Essa transformao sociotcnnica permeia o sistema econmico em sua totalidade e afeta todos os processos de criao, de troca e de distribuio de valor. Assim, capital e trabalho, componentes-chave de todos os processos de negcio, so modificados em suas caractersticas, bem como no modo como operam.

  • 22

    acessar fonogramas no entorno digital. (DE MARCHI, 2011,

    p.152)

    O leque de oportunidades criadas por esse novo e abrangente espao no deixou

    de ser aproveitado pelos inmeros aventureiros que resolveram criar suas empresas

    eletrnicas visando preencher o enorme, e at ento vazio, espao possibilitado para

    novas investidas. Muitas empreitadas criativas obtiveram um enorme sucesso, tal qual

    hoje so partes fundamentais da nova estrutura industrial da msica na era digital.

    Leonardo De Marchi, Micael Herschmann e Luis Albornoz consideraram, em texto

    multi-autoral, que essas empresas digitais aproveitaram a oportunidade tal qual fizeram

    as majors outrora:

    Da mesma maneira que outrora as gravadoras assumiram um

    papel relevante no mercado por se adequar s exigncias de uma

    economia industrial, estas empresas eletrnicas podem ser

    caracterizadas apropriadamente como os novos intermedirios do

    entorno digital. (De Marchi, 2011, p. 152)9

    Uma coisa parece ser unanimidade entre os pesquisadores do assunto no Brasil,

    que a internet ainda um campo em que as grandes gravadoras no se adaptaram de

    forma a criar um modelo efetivo para transform-la no carro-chefe de suas vendas,

    apesar dos esforos em diversificar a distribuio dos seus produtos atravs de novos

    parceiros intermedirios, como:

    - operadoras de telefonia mvel, fabricantes de telefones

    celulares e tocadores multimdia, provedores de internet, mdias

    sociais de base radiofnica, grandes varejistas on-line, portais

    (jornalsticos ou no) que detm solues inovadores em comrcio

    eletrnico etc. (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2011, p.5 e

    6)

    Por outro lado, quem tem garantido timas ferramentas e possibilidades

    oferecidas pela internet e a digitalizao do fonograma so os artistas e as gravadoras

    independentes. Essa plataforma criou uma maneira alternativa para o processo de

    divulgao e distribuio de certa forma eficiente e de baixssimo custo, por isso

    9 Referncia creditada a (ALBORNOZ; DE MARCHI; HERSCHMANN, 2010), porm citada indiretamente no

    texto ao qual usei como referncia.

  • 23

    consolidou-se de forma consistente, enfraquecendo o controle das majors sobre essas

    reas vitais dentro de sua estratgia de atuao. (VICENTE, 2006, p.14)

    Outro fator que facilita a vida do artista independente, ou autnomo aquele que

    produz de forma particular -, o fato de se conseguir uma projeo de imagem em larga

    escala sem necessitar do amparo da grande mdia tradicional, como o rdio e a televiso,

    outrora fundamentais nesse aspecto. Um trecho do texto de Leonardo De Marchi resume

    bem esse processo atual:

    Atualmente, um msico no precisa a priori de uma

    gravadora para viabilizar suas obras. Pelo contrrio, pode grav-las

    utilizando equipamentos digitais instalados em computadores

    pessoais, ou, ainda, contratar empresas terceirizadas para esse servio

    e, finalmente, public-las na internet, acessando seus fs efetivos

    atravs de diferentes ferramentas de comunicao (pgina virtual, e-

    mail, blogue, redes sociais etc.), sem a necessidade de acionar os

    tradicionais meios de comunicao. (DE MARCHI, 2011, p.156)

    3.3 A estruturao em rede do mercado das grandes gravadoras

    Apesar de todos os recursos que tem disposio atravs da internet e de uma

    nova configurao de negcios, ainda pode ser muito vantajoso para o artista se atrelar a

    um selo independente ou at mesmo a uma major. Pois fazendo de uma forma pessoal,

    autnoma, a divulgao, ou propagao do seu produto, o artista tem um leque de

    exposio muito mais limitado que atravs da estrutura existente nas gravadoras, seus

    contatos e influncias dentro da mdia e seu poder de barganha, que pode comprar

    espaos. Geralmente, alcana-se apenas alguns nichos de interesse por esse tipo de

    produo, restringindo, geralmente, a grupos acostumados por buscar por novos artistas

    atravs de determinadas plataformas. A dependncia destas plataformas virtuais obriga

    os artistas a contentarem com sua limitao de servios e grupos de usurios, apesar de

    aparentes experincias bem sucedidas. (DE MARCHI, 2011, p. 157)

    Abaixo um grfico que demonstra o alcance possvel do msico autnomo

    atravs das ferramentas e plataformas disponveis:

  • 24

    ILUSTRAO 01. Rede de negcios do msico autnomo.

    Produo/Distribuio Consumo

    Fonte: DE MARCHI, 2011, p. 15710

    A digitalizao do fonograma, como j fora frisado, trouxe consigo a

    necessidade de mais uma reformulao na maneira de atuao das grandes gravadoras

    no mercado. No apenas pelo fato de a msica estar num novo formato, mas por estar

    em um meio de interatividade social intenso no qual as empresas tradicionais no tm

    representatividade direta. Uma nova forma de distribuio de contedo, que pode ser

    feita de maneira eficaz e gratuita, dependendo da vontade do artista, contribui ainda

    mais para uma reestruturao de toda a cadeia produtiva da msica, inclusive na parcela

    em que diz respeito ao posicionamento das multinacionais, que, como destacou

    Leonardo De Marchi, agora envolve uma rede de relaes que possibilita uma forma de

    interao mais dinmica e eficiente. O processo envolve gravadoras nacionais,

    multinacionais, meios de comunicao, empresas do setor digital e de

    telecomunicaes, que, articulados conseguem uma maior propagao/difuso de um

    produto fonogrfico, atingindo o consumidor final em diversos nichos tnicos, culturais

    10

    O grfico foi fielmente copiado do artigo Discutindo o papel da produo independente brasileira no mercado fonogrfico em rede, de Leonardo De Marchi, contido no livro Nas bordas e fora do mainstream musical Novas tendncias da msica independente do sculo XXI de Micael Herschmann (org.).

    Artista

    autnomo

    Concerto ao vivo

    Pgina oficial na

    internet

    Intermedirios

    do meio digital

    (Trama Virtual,

    Palco MP3 etc.)

    Consumidor final

  • 25

    e de gnero. Observe o esquema abaixo para visualizar melhor a chamada rede de

    negcios das gravadoras no entorno digital (DE MARCHI, 2011, p.160):

    ILUSTRAO 02. Rede de negcios das gravadoras no entorno digital.

    Fonte: DE MARCHI, 2011, p.16011

    Dessa maneira como exps De Marchi, fica mais fcil visualizar o espectro de

    possibilidades de propagao de um fonograma por parte das gravadoras, que hoje

    funcionam como um corpo em rede, onde vrias empresas de ramos distintos se

    interagem com a proposta de ampliar as possibilidades de divulgao do produto

    musical, fazendo uma grande conexo entre redes de usurios distintas, abrangendo o

    leque de alcance.

    11

    O grfico foi fielmente copiado do artigo Discutindo o papel da produo independente brasileira no mercado fonogrfico em rede, de Leonardo De Marchi, contido no livro Nas bordas e fora do mainstream musical Novas tendncias da msica independente do sculo XXI de Micael Herschmann (org.).

    Artista Gravadoras

    Intermedirios

    do entorno

    digital

    Meios de com.

    Gravadoras

    estrangeiras

    Cias.

    Telefnicas

    Portais de

    internet

    Consumidor

    final

    Consumidor

    final

    Consumidor

    final

    Consumidor

    final

    Consumidor

    final

  • 26

    Esse esquema grfico demonstra muito bem o que o autor quer dizer com

    relao em rede. As gravadoras possuem um aparato de relaes muito diversificado,

    inclusive um grande intercmbio de parcerias com as independentes.

    3.4 O mercado dos games como forte tendncia de investimento

    Uma outra investida que vem tendo sucesso h algum tempo e que apareceu

    como novidade no sculo XXI a introduo da indstria no mercado dos games. Essa

    plataforma representa um enorme potencial de retorno financeiro e de maiores

    investimentos da indstria, podendo ser benfica a todos os setores do meio

    fonogrfico, tanto em relao s majors, como uma potencial forma de revigoramento

    dessas empresas, quanto aos independentes, como mais uma forma de distribuio do

    contedo em larga escala.

    Poder-se-ia afirmar que esses dispositivos crescentemente

    esto sendo empregados nos processos de aprendizagem,

    comunicao, e como forma de lazer: suas prticas gradativamente

    comeam a fazer parte da rotina da vida social. (MILLER, 2010).

    (HERSCHMANN, 2011b, p. 107 - 108) 12

    Utilizando alguns exemplos diferentes, Herschmann exps como os games vm

    tomando um direcionamento de integrao cada vez mais forte com a msica. Vm

    sendo realizados diversos festivais em todo o mundo, como por exemplo, o Videogame

    Live, que apresenta as trilhas sonoras de games muito consagrados interpretados por

    artistas locais, envolvendo inclusive orquestras e corais. Tambm vem sendo percebida

    a disponibilizao de vdeo games dentro de festivais independentes de msica, para

    que o pblico possa se divertir e se inteirar no universo da msica atravs de jogos

    como Guitar Hero e Rock Band. (HERSCHMANN, 2011b)

    Tal modelo de insero da indstria fonogrfica integrada com a de videogames,

    demonstra uma nova estratgia de investimento e busca de renovao de

    atividades/investimentos no mundo da msica, que pega carona na ascenso da indstria

    12

    HERSCHMANN, Micael. Uso criativo dos videogames musicais na cena independente e potencial de crescimento dessas plataformas gerando dividendos para as majors. In: Nas bordas e fora do mainstream musical: Novas tendncias da msica independente no incio do sculo XXI. Estao das Letras. So Paulo, 2011.

  • 27

    de games e acaba por contribuir para ambas as partes e, inclusive, para o pblico, que

    acaba associando entretenimento a aquisio cultural.

    Parte-se do pressuposto de que o crescimento do consumo dos

    games, especialmente o dos videogames musicais: a) vem

    desempenhando um papel pedaggico, incentivando e levando muitos

    jovens a se interessarem pela prtica dos instrumentos musicais; b)

    sinaliza alternativas para contrabalanar em alguma medida a crise da

    indstria da msica, permitindo no s formao/renovao de

    pblico para artistas desconhecidos e consagrados, mas tambm

    construir canais mais efetivos capazes de fidelizar e conquistar o pblico para as vendas online; e c) de que os games de ltima gerao so mais sensoriais (como, por exemplo, os de msica) e

    esto atraindo o pblico feminino para a cultura dos videogames,

    ampliando esse mercado (ocorreu nos ltimos anos uma diversificao

    do catlogo oferecido pelas empresas aos consumidores,

    anteriormente mais concentrado em jogos de esportes e de

    ao/luta/combate). (HERSCHMANN, 2011b, p. 110)

    Uma observao importante de Herschmann sobre como a juventude, ao longo

    de muitos anos, foi alterando a forma do primeiro contato com a msica. Por mais que

    possa ser uma constatao bvia, devido clara percepo comum acerca do

    desenvolvimento de novas tecnologias, a seguinte citao serve para nos atentarmos

    para as novas formas contemporneas de contato com a msica, precisamente o

    primeiro contato, possibilitando uma percepo mais apurada da atualidade. Pode-se

    dizer, tambm, que percebendo as novas formas de contato com a msica, poderamos

    tambm nos prover de um material que nos permita refletir e discutir sobre a formao

    da identidade musical desses jovens. Levo como experincia pessoal de vida os meus

    contatos com o videogame, quando adolescente, que me fizeram buscar novos gneros

    musicais, marcantemente o jogo Tony Hawks Pro Skater, influindo diretamente na

    formao dos conceitos sobre msica que carrego at hoje.

    (...), analisando os ltimos 60 anos da histria da msica,

    poder-se-ia afirmar que, aps a segunda Guerra Mundial, os

    jovens entravam em contato com a msica atravs de discos

    compactos (com singles), Long Plays e estaes de rdio. Nos

    anos 1980 e 1990, ocorre uma mudana, e passam a tomar gosto

    pelos diferentes gneros tambm atravs de revistas

    especializadas, CDs, MTV e outros canais de televiso dedicados msica. E, no contexto atual, especialmente na

    transio da infncia para a adolescncia, tomam contato

    tambm atravs da Internet (blogues e sites), dos arquivos MP3

    baixados e dos videogames. Vrios meninos e adolescentes

  • 28

    dizem que msicas de grupos como GunsnRoses e Kiss que esto no game Guitar Hero, por exemplo, constituram-se em um

    importante momento para fazer uma transio do gosto musical

    dos pais para o deles. (HERSCHMANN, 2011b, p. 120-121)

    Com um boom nas vendas de jogos musicais para videogames, a indstria

    conseguiu achar um aporte muito positivo para as suas variadas investidas em

    diversificao de contedo e investimentos. Para se ter uma ideia, apenas no EUA, at o

    comeo do ano de 2009 j haviam sido vendidas 22 milhes de cpias do Guitar Hero,

    game mais popular do gneros. Diversos artistas, como AC/DC, Metallica, Beatles,

    Aerosmith etc., tiveram verses exclusivas dos jogos. Essa ltima, por exemplo, lucrou

    mais com sua verso do game Guitar Hero do que com cada um dos seus dois ltimos

    discos13. (HERSCHMANN, 2011b)

    No toa que esse segmento de mercado gere um otimismo nos business mens

    do setor. J se chega a comparar com outras inovaes que foram revolucionrias em

    suas pocas, como os lanamentos da MTV, do walkman, do CD player porttil e do

    iPod. O diretor executivo da Red Octane, criadora do Guitar Hero, Kai Huang, ainda

    vai mais alm, acreditando que o setor possa se tornar no maior plataforma de

    distribuio de msica do mundo.

    Dessa forma, as vendas de games diretamente associados msica parecem

    seguir uma tendncia contrria aos fonogramas tradicionais. Enquanto grande parte da

    indstria fonogrfica retrai suas vendas e lucros, esse setor se apresenta gerando grandes

    expectativas por todas as partes, empresrios da msica, gravadoras, indstria de games,

    artistas e o pblico.

    Pode-se perceber que toda a estrutura de relaes da grande indstria se tornou

    muito mais complexa do que fora outrora. Como a produo no est mais totalmente

    centrada nas grandes gravadoras, levando-se em conta os processos de gravao,

    produo, prensagem e distribuio, v-se uma rede de relaes entre empresas de

    ramos diferentes que cuidam de etapas diferentes do processo produtivo. A entrada forte

    das independentes no mercado tambm contribuiu para uma diferenciao do

    consumidor, prospectando novos nichos de mercado, at ento praticamente

    13

    Palavras creditadas a Kai Huang, cofundador da empresa Red Octagon, que inventou esse gnero de jogos em 2005, segundo Herschmann (2011b, p.119).

  • 29

    inexistentes, respondendo com maior preciso crescente segmentao do pblico,

    assim considerado por Eduardo Vicente (2006, p.6).

    Tal emaranhado de relaes pode estar contribuindo para o que Hector Fouce

    considera uma dificuldade das majors em compreender a nova estrutura de mercado

    existente:

    Agora que o negcio musical se tornou mais complexo, e se

    baseia em uma estrutura de nichos e de cauda longa (Anderson 2005), parte dos problemas da indstria musical esto ligados a que os

    gerentes no so capazes de ver o novo paradigma produtivo (p.73)14

    ou simplesmente permitem-se ignor-lo (Lasica 2006). (FOUCE,

    Hector, 2011) 15

    As grandes gravadoras ainda no conseguiram encontrar uma forma de se

    adequarem no entorno digital, apesar dos esforos e investimentos. Nos prximos anos

    poderemos ter uma viso mais ampla sobre o retorno dessas investidas novas, pois, sem

    dvida, algumas ho de cair por terra enquanto outras podem se desenvolver ou surgir

    como opes mais eficientes.

    3.5 Os festivais indie e a nova perspectiva de mercado das apresentaes ao

    vivo

    Uma observao pessoal, no necessariamente negativa como possa parecer, a

    de que todo o processo de transao do fonograma como apresentado anteriormente

    como mercado em rede -, cria uma certa impessoalidade do artista com o pblico alvo,

    justamente pelo fato de que h vrios intermedirios no caminho que a msica percorre

    para chegar at o ouvinte e todo amparo/dependncia empresarial de suas carreiras. Essa

    estrutura, de distncia entre a produo e o pblico alvo, sempre foi recorrente mesmo

    na poca de domnio de mercado das majors, pois o processo de distribuio e

    vendagem era controlado por essas empresas, apesar de se poder considerar vantajoso o

    fato de estarem dentro de uma mesma estrutura corporativa. Isso pode se caracterizar

    14

    Referncia: Micael Herschmann. Indstria da msica em transio. So Paulo: Estao das letras e cores, 2010. 15

    Traduo prpria do espanhol. Citao no original: Ahora que el negocio musical se h hecho ms complejo, y se basa em uma estrutura de nichos y de larga cola (Anderson, 2005), parte de los problemas de la indstria musical estn ligados a que los gestores no son capaces de ver el nuevo paradigma productivo (p.73) o simplesmente se permiten ignorarlo (Lasica 2006).

  • 30

    num possvel motivo pelo qual, entre outros, a msica independente traz mais um

    atrativo tanto ao artista quanto ao ouvinte, que o fato da proximidade com a arte

    produzida, o contato direto nas redes sociais, e, at mesmo, nas apresentaes ao vivo,

    que como apresentado por Albornoz et. al (2010), vem se tornando uma tendncia muito

    forte a realizao de diversos eventos que renem os artistas autnomos e

    independentes, que acaba por agregar valor e visibilidade aos que optam ou somente

    sobrevivem por essa alternativa de produo.

    Os shows ao vivo vm insurgindo como fortssimos objetos de lucratividade

    tanto para majors quanto para os independentes. Esse segmento de mercado, de shows e

    festivais, vem se desenvolvendo bastante nos ltimos anos, recebendo grandes

    investimentos e atingindo um grande pblico. $25 bilhes de dlares foram

    movimentados no ano de 2008 nesse ramo, o que se inclui vendas de ingressos,

    publicidade e direitos de imagens captadas dos eventos, no que se refere aos eventos

    promovidos pelas majors, que contam com investimentos de grandes empresas

    nacionais e multinacionais (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2011).

    Considera-se que hoje se inverteu a proporo do que os msicos ganhavam para

    as apresentaes ao vivo em relao a seu faturamento total. Antes, junto a verbas de

    publicidade/merchandising, representavam apenas um tero da receita total. preciso

    ressaltar que atualmente essa proporo se inverteu (HERSCHMANN;

    KISCHINHEVSKY, 2011, p.9).

    As gravadoras, portanto, se atentaram situao positiva desse segmento de

    mercado para buscarem uma compensao da diminuio das suas receitas ao longo dos

    ltimos anos, como j fora tratado em alguns trechos dessa monografia. Somente no

    Brasil, a presena de pblico nos concertos foi estimada em 42 milhes de pessoas no

    incio do sc. XXI, para se ter uma ideia do que se pode lucrar em cima de tal ocasio,

    visto a quantidade de pblico. A partir de ento, prev-se nos novos contratos com seus

    artistas, sua participao na receita advinda dessas apresentaes, como entre outras

    coisas, participao nas bilheterias (HERSCHMANN, 2007) (HERSCHMANN;

    KISCHINHEVSKY, 2011).

    No Brasil, nota-se tambm um aumento significativo dos festivais de msica

    independente, puxados pela nova onda de organizao voltada para a disseminao

    artstica de produo independente, no somente da msica, como os coletivos, e

  • 31

    tambm iniciativas pessoais e de produtoras ligadas comunicao e msica em

    determinadas cidades (em sua maioria, no to prximas aos centros miditicos

    nacionais) (MAIA; OLIVEIRA, 2010). Muitos desses eventos so realizados por meio

    de editais pblicos e leis de incentivo e abusam das novas tecnologias para poderem

    divulgar e atrair o pblico atravs da interatividade possibilitada por diversas

    ferramentas digitais.

    Assim, diferentemente dos antigos festivais da cano do sculo

    passado e dos grandes eventos atualmente realizados no Brasil, pode-

    se dizer que os novos festivais independentes: 1) usam basicamente

    mdias alternativas e interativas; 2) renem artistas que geralmente

    no tm vnculos com as grandes empresas; e 3) constituem

    importantes espaos de consagrao e reconhecimento dos msicos

    dentro do nicho de mercado em que atuam. Em certo sentido, pode-se

    afirmar que estes coletivos de msicos brasileiros vm construindo de

    forma criativa e bem-sucedida novos circuitos de produo-

    distribuio e consumo culturais (HERSCHMAN, 2010b).

    (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2011, p. 10).

    A ascendncia dos festivais no Brasil culminou na criao da Associao

    Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin) em 2005. A entidade teve como

    objetivo em sua fundao organizar e reunir o circuito nacional de festivais, de forma a

    projet-los mais eficientemente. No ano de 2011 algumas divergncias, porm, fizeram

    com que vrios importantes festivais, como o considerado precursor dessa onda no

    Brasil Abril Pro Rock, de Pernambuco. Os organizadores dos festivais se sentiram

    incomodados com a forte ligao da Abrafin com o coletivo Fora do Eixo, no qual

    acusam de estarem seguindo as mesmas diretrizes. Em trecho do comunicado de

    afastamento desses festivais, demonstram claramente sua insatisfao:

    A ABRAFIN no e jamais dever ser Fora do Eixo. Com

    erros e acertos, o Fora do Eixo uma das diversas possibilidades no

    trabalho com a msica independente brasileira. No a nica.

    Infelizmente, nos ltimos anos, houve uma indevida sobreposio

    entre as duas entidades. O fato desta reunio da ABRAFIN estar

    acontecendo dentro de um Congresso Fora do Eixo prova irrefutvel

    desta sobreposio.16

    16

    http://www.old.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20111219170513, ltimo acesso em 19/03/2013.

  • 32

    A situao mostra-se favorvel ao fortalecimento desses festivais e do

    surgimento de outros novos, mesmo que no haja uma concordncia unnime acerca

    dos rumos que se deve trilhar nesse segmento ainda jovem. Acredito que essas

    discordncias podem contribuir inclusive para uma apresentao de novas propostas e

    caminhos que podem se refletir em novas alternativas rumo progresso dessa nova

    vertente de disseminao de material independente. Assim defende positivamente

    Hector Fouce essa nova tendncia de investimentos, que visa construir um consumo

    presencial e/ou somente comunitrio de msica:

    Em um mundo em que os sinais de recuperao da indstria da msica esto relacionados com a experincia sonora presencial (p.83), em que a economia se baseia na mercantilizao da experincia

    (Pine y Gilmore, 1998) em que as comunidades, agora mais instveis

    que nunca, se baseiam no emocional e sensorial (Maffesoli 1987,

    citado em p. 79), o sentido social de consumir e manusear msica se

    alterou radicalmente. O processo de industrializao da msica ao

    decorrer do sculo XX foi um caminho de individualizao da

    experincia musical, mas agora a experincia musical mais

    comunitria que nunca, sejam essas comunidades virtuais ou

    presenciais. (FOUCE, 2011, p. 4)17

    Os independentes vm encontrando uma tima forma de divulgao e

    distribuio da sua arte nesses festivais. um caminho promissor para a difuso de

    nichos de consumidores e, sem dvida, um estmulo promoo da diversidade musical

    e cultural.

    17

    Traduo prpria do espanhol. Trecho original En um mundo en el que las seales de recuperacin de la industria de la msica estn relacionados com la experiencia sonora presencial (p. 83), en el que la economia se basa en la comodificacin de la experiencia (Pine y Gilmore, 1998) y en el que las comunidades, ahora ms inestables que nunca, se basan en lo emocional y lo sensorial (Maffesoli, 1987, citado en p. 79), el sentido social de consumir y manejar msica ha cambiado radicalmente. El processo de industrializacin de la msica a lo largo del siglo XX fue um caminho hacia la individualizacin de la experiencia musical, pero ahora la experiencia musical es ms comunitria que nunca, sean essas comunidades virtuales o presenciales.

  • 33

    4 A MDIA E A PROPAGAO DE CONTEDO INDEPENDENTE, O

    REFLEXO DE UMA NOVA SITUAO DE MERCADO

    Esta terceira parte da monografia tem por objetivo colocar em destaque a

    observao do acompanhamento da tendncia independente por parte de veculos de

    mdias tradicionais, especificamente o rdio e o impresso. Utilizarei o texto de Marcelo

    Kischinhevsky intitulado O rdio e a msica independente no Brasil como objeto de

    amparo s minhas reflexes e dados extrados da anlise. No h a pretenso, nesta

    monografia, de se fazer uma anlise profunda sobre todo o contedo musical no jornal

    Estado de Minas, mas apenas extrair uma reflexo do que se mostra em seu caderno de

    cultura como uma leitura contempornea do que se divulga sobre a msica no jornal

    com o maior nmero de assinantes da capital mineira, Belo Horizonte.

    As motivaes em torno desse assunto vm da importncia que os meios de

    comunicao sempre tiveram no setor fonogrfico. Pelo impresso ter um importante

    papel na divulgao do que ocorre no nosso cotidiano, decidi por dar uma pequena

    contribuio ao trabalho que vem sendo desenvolvido com muita competncia no

    Brasil, no s, mas principalmente, no Rio de Janeiro, e por acreditar que Belo

    Horizonte vem se reformulando culturalmente, com diversos eventos pblicos voltados

    para a arte. A partir dessa constatao no somente minha, mas compartilhada por

    muitos cidados belorizontinos, creio que muito interessante verificar de qual forma a

    imprensa local vem contribuindo, com informao, com esse momento de ascenso

    cultural na cidade.

    Optei por utilizar o jornal Estado de Minas por possuir o maior nmero de

    assinantes dirios de Belo Horizonte, para esta anlise. Foram utilizados dois meses de

    exemplares do peridico, sendo compreendidos todos os exemplares no perodo do dia

    23 de novembro de 2012 ao dia 23 de janeiro de 2013.

    Destaca-se como observao mais importante, em relao ao assunto dessa

    monografia, a constatao de que a grande maioria dos textos sobre msica publicados

    no jornal, no perodo analisado, referem-se a artistas independentes. Em um total de 146

    matrias publicadas a respeito de msicos, 94 diziam respeito a artistas sem vnculo

    com as grandes gravadoras, o que representa 63,6% do total. A mesma proporo no

    foi notificada em nenhuma das rdios pesquisadas pela empresa de monitoramento

  • 34

    Crowley Broadcast Analysis do Brasil, em 2010, e divulgada por Kischinhevsky (2011),

    apesar da relevante proximidade observada nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador:

    No Rio de Janeiro, das 249 msicas mais executadas em 12 emissoras monitoradas, nada menos que 133 (53,4%) eram de

    gravadoras independentes - com destaque para o selo Furaco 2000,

    dedicado ao funk carioca, com 60 faixas entre as mais tocadas. Em

    Salvador, as faixas de artistas independentes totalizaram 87 entre as

    176 mais tocadas por oito emissoras (49,4% do total). Em Porto

    Alegre, foram 53 entre 168 executadas por sete emissoras (31,5%).

    Em So Paulo, maior mercado nacional, no entanto as majors

    continuam hegemnicas: apenas 50 msicas de artistas independentes

    figuram entre as 250 mais executadas em 17 emissoras monitoradas.

    Em Recife, por sua vez, foram identificadas 46 faixas de artistas sem

    vnculo com grandes gravadoras, numa lista de 182, em oito estaes.

    Em Belo Horizonte a disparidade ainda maior: 31 independentes

    figuram na lista das 185 mais tocadas em oito estaes. Em Curitiba,

    foram 29 contra 172, em sete emissoras. O resultado mais

    supreendente, no entanto, foi detectado em Braslia, onde s 15

    msicas de artistas independentes compem a lista das 182 mais

    executadas, tambm em oito emissoras. (KISCHINHEVSKY, 2011, p.

    179)

    Obviamente, tratam-se de veculos diferentes. A mdia impressa acredito que

    tem por caracterstica muito mais demonstrar o panorama e o acompanhamento da atual

    cena musical do que criar tendncias, pelo menos nesse caso, o que muito mais prtico

    atravs de mdias que possam reproduzir o udio. No entanto, nos permite ter uma ideia

    de como os independentes vm se propagando nos diferentes meios. Se colocarmos a

    realidade observada nas rdios da capital mineira frente s publicaes no jornal de

    maior nmero de assinantes da cidade, nos deparamos com realidades bastante distintas.

    Enquanto nas rdios o material independente se refere a apenas 16,7% do contedo

    musical de Belo Horizonte, a proporo torna-se quase quatro vezes maior no que se

    refere ao espao destinado aos indies no Estado de Minas, como observado

    anteriormente, 63,6% das matrias sobre msica e/ou msicos.

    O que se pode notar ao folhear o caderno EM Cultura diariamente que existe

    uma grande variedade de gneros abordados nos textos sobre msica. No observei

    discrio a nenhum estilo especificamente. Mesmo a artistas polmicos em suas letras,

    que costumam ser objetos de duras crticas por parte dos intelectuais, o que o caso do

    chamado funk ostentao, no qual as letras tratam de esbanjar dinheiro, beleza e

    vaidade, tiveram espao no jornal capa do caderno de cultura do Estado de Minas no

  • 35

    dia 05 de dezembro de 2012. Aproveitando a deixa, cabe destacar que essa nova

    proposta que deriva do funk tradicional carioca, repercutiu fortemente no YouTube, que

    possibilitou um grande e crescente apelo popular pelo gnero ao abrigar vdeos

    independentes e ser responsvel por sua distribuio, guardadas s suas funcionalidades.

    Um bom exemplo de como as novas ferramentas digitais podem conseguir alavancar a

    carreira de msicos independentes e autnomos, como j fora abordado anteriormente

    nesta monografia, ainda podendo ser potencializada pelo agregamento de vrios outros

    artistas semelhantes que podem caracterizar uma cena e, assim, crescerem juntos,

    amparados uns aos outros.

    Esta monografia no pretende discutir os interesses e as motivaes existentes

    para a publicao do contedo musical no jornal Estado de Minas. No entanto, algumas

    reflexes e dados expostos por Prestes Filho et al18

    . e retomados por Marcelo

    Kishcinhevsky sobre a rdio nos provm uma plausvel interpretao sobre o

    posicionamento do impresso a respeito do assunto sobre independentes. Prestes Filho

    declara que 60% das verbas gastas com promoo pelas gravadoras vo para as rdios, e

    depois conclui que o rdio no opera como um ator local, servindo aos interesses do

    pblico da cidade, mas mais como um agente distribuidor e divulgador de produtos

    fornecidos por um sistema industrial de alcance nacional, que define o que deve ou no

    ser sucesso. (KISCHINHEVSKY, 2011, p. 171)

    Dessa forma, o que foi verificado no jornal Estado de Minas pode significar um

    posicionamento estratgico diferenciado, voltado a preencher espaos no contemplados

    pela rdio belorizontina. Percebe-se que muitas das matrias publicadas, inclusive,

    referem-se a artistas locais iniciantes, promessas, nomes j consagrados nas praas

    bomias da cidade e outros reconhecidos em cenas mais abrangentes ou de antigo

    conhecimento pblico.

    O Estado de Minas se diverge bastante do que no rdio se chama Pop

    Contemporary Hit Radio, praticado por vrias estaes, onde um nmero limitado de

    canes se repete vrias vezes pela programao. Entendendo nas condies e

    realidades do impresso, especificamente o Estado de Minas, percebe-se uma enorme

    18

    Referncia: PRESTES FILHO, Lus C. et al. (coords.) Cadeia produtiva da economia da msica. Rio de Janeiro: Instituto Gnesis/PUC-RJ, 2004.

  • 36

    variedade de artistas tratados em matrias, havendo pouqussimas repeties nas quais

    geralmente se devem respeito a novas apresentaes ou lanamentos de tais artistas.

    Os artistas das majors tiveram participao de 22,6% no que foi publicado no

    jornal no perodo verificado, com destaque para a Sony-BMG, com 37,5% desse total,

    seguida pela Universal, com 21,2%, Som Livre, 15,1%, Warner, 12,1% e EMI, 12,1%.

    A Virgin, outra importante gravadora, teve apenas um representante entre os analisados,

    o que representa 3%. Acredito ser uma surpresa essa constatao pelo que imaginei

    anteriormente anlise. Esperava encontrar uma realidade oposta, como pode ser

    percebido, ao menos em Belo Horizonte, nas rdios. (KISCHINHEVSKY, 2011).

    A msica erudita foi contemplada com 6,1% do total geral, enquanto outras

    demais matrias que no se enquadraram em nenhuma opo, tais quais textos tratando

    de vrios artistas; comentando sobre o cenrio musical; e artistas que no pude

    encontrar a informao precisa representaram os 7,5% restantes. A msica religiosa foi

    enquadrada no termos indies x majors, sem um discernimento especfico.

    Dentre os independentes, nota-se um destaque para a gravadora Biscoito Fino,

    que apesar de apenas quatro matrias notificadas sobre seus artistas, foi a que mais

    apareceu entre os msicos desse segmento de mercado que consegui identificar a

    gravadora, alm do elenco demonstrar boa notoriedade de pblico, como a veterana

    Maria Bethnia19

    .

    Importante notar que em algumas poucas ocasies foram publicadas matrias a

    respeito da indstria fonogrfica e sobre a emergncia independente, estando entre elas

    uma pequena nota sobre o balano financeiro anual da indstria fonogrfica. No

    entanto, nas entrelinhas dos textos, muito se falou sobre a utilizao de ferramentas

    digitais pelos artistas. Youtube, Facebook e Myspace foram bastante retratados a

    respeito das estratgias de divulgao de independentes, principalmente, ou no.

    No foram separados do termo independente os artistas autnomos. Minha

    contribuio baseia-se apenas no que foi divulgado no veculo impresso do Estado de

    Minas em dado perodo. No h pretenso de discutir a relao do veculo com os

    artistas e gravadoras, mas apenas expor o que foi verificado.

    19

    Consultado em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Discografia_de_Maria_Beth%C3%A2nia e http://www.mariabethania.com/discografia.php, ltimo acesso em 24/03/2013, em ambos.

  • 37

    5 CONCLUSES

    Podemos perceber que atualmente vivemos um momento de explorao de

    novas possibilidades no mundo da msica. No que envolve tanto a grande indstria,

    como gravadoras de menor porte e artistas autnomos. Diversas alternativas e solues

    inovadoras vm sendo criadas por todos os setores produtivos da msica, novos e

    tradicionais.

    Acredito ainda ser muito cedo para se fazer previses precisas acerca do que est

    por vir. Se a grande indstria ir se recuperar do encolhimento de receitas, se a

    tendncia independente seguir forte de modo a construir uma base slida para a sua

    consolidao ou se sero apenas preenchedoras de lacunas temporrias deixadas pelas

    majors em prol do enxutamento dos seus quadros de artistas. (VICENTE, 2006)

    No entanto, interessante acompanhar esse processo com estudos da atualidade

    para que se possa criar elementos comparativos e de segmentos de tendncias em

    pesquisas futuras, enriquecendo o conhecimento atravs de leituras especficas de

    determinadas realidades em determinados momentos, possibilitando um detalhamento

    mais preciso da realidade que logo se torna passada. Vale a observao de que apenas

    recentemente, considera-se por volta dos ltimos dez anos, vm sendo desenvolvidos

    trabalhos mais detalhados sobre o funcionamento do mercado da msica no Brasil

    (HERSCHMANN; KISCHINHEVSKY, 2006) e que tm mostrado resultados

    interessantssimos sobre a realidade dessa indstria no pas e da enorme diversidade

    encontradas em relao a formas de produo, difuso de gneros musicais, estratgias

    de mercado e de propagao de contedo.

    Por mais que no haja muitos estudos que relacionem a divulgao da imprensa

    nessa nova organizao de mercado no Brasil, podemos refletir que essas mdias

    tambm buscaro se adequar nesse processo de transformao vivida nesse importante

    segmento da indstria cultural. Alguns pontos de reflexo podem ser observados no que

    props o ltimo captulo desta monografia e que tm ainda muitos outros por serem

    realizados nessa crescente de linha de pesquisa em torno da indstria fonogrfica que

    vem sendo realizada no Brasil.

  • 38

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ADORNO, T.; HORKHEIMER, M.. A Dialtica do Esclarecimento: Fragmentos

    Filosficos. 1947.

    ALBORNOZ, L.; DE MARCHI, L.; HERSCHMANN, M. A procura de novos negcios

    fonogrficos: estratgias dos empreendedores brasileiros no mercado de msica. XIX

    Encontro da Comps, Rio de Janeiro: 2010.

    DE MARCHI, Leonardo. Discutindo o papel da produo independente brasileira no

    mercado fonogrfico em rede. In: HERSCHMANN, M. (Org.), Nas bordas e fora do

    maistream musical: novas tendncias da msica independente no incio do sc. XXI.

    So Paulo: Estao das Letras e Cores, FAPERJ, 2011. Pg. 145-163.

    __________. Indstria fonogrfica e a Nova Produo Independente: o futuro da msica

    brasileira?. In: Comunicao, Mdia e consumo. So Paulo: vol.3, n. 7, pgs 167-182.

    Julho 2006.

    FOUCE, Hector. 2011. Resea de Micael Herschmann: Indstria da msica em transio y de Rose Marie Santini: Admirvel chip novo. A msica na era da internet. TRANS-Revista Transcultural de Msica/Transcultural Music Review 15.20

    GALLEGO, Juan I.. Novas formas de prescrio musical. Traduo de Acacia Rios. In:

    HERSCHMANN, M. (Org.), Nas bordas e fora do maistream musical: novas tendncias

    da msica independente no incio do sc. XXI. So Paulo: Estao das Letras e Cores,

    FAPERJ, 2011. Pg. 47-59.

    HERSCHMANN, Micael. A indstria da msica em transio. Estao das Letras e

    Cores. FAPERJ, 2010. 184 pgs.

    _________. Uso criativo dos videogames musicais na cena independente e potencial de

    crescimento dessas plataformas gerando dividendos para as majors. In:

    HERSCHMANN, M. (Org.), Nas bordas e fora do maistream musical: novas tendncias

    da msica independente no incio do sc. XXI. So Paulo: Estao das Letras e Cores,

    FAPERJ, 2011b. Pg. 105-124.

    HERSCHMANN, M.; KISCHINHEVSKY, M.. A reconfigurao da indstria da

    msica. E-comps, Braslia, v. 14, n. 1, jan./abr. 2011.

    _____________. Tendncias da indstria da msica no incio do sculo XXI. In:

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    de internet. Porto Alegre: Simplissimo, 2011b.

    KISCHINHEVSKY, Marcelo. O rdio e a msica independente no Brasil. In:

    HERSCHMANN, M. (Org.), Nas bordas e fora do maistream musical: novas tendncias

    20

    Modelo de citao a pedido do autor.

  • 39

    da msica independente no incio do sc. XXI. So Paulo: Estao das Letras e Cores,

    FAPERJ, 2011. Pg. 165-185.

    MAIA, M.; OLIVEIRA, E.. Em cima dos palcos e com a fora da tecnologia: Festival

    Se Rasgum, msica na contemporaneidade e a alternativa independente. IX Congresso

    de Cincias da Comunicao na Regio Norte, Rio Branco-AC. 2010.

    VICENTE, Eduardo. A vez dos independentes(?): um olhar sobre a produo musical

    independente do pas. Revista da Associao Nacional dos Programas de Ps-

    Graduao em Comunicao, www.compos.com.br/e-compos. 2006.

    YDICE, George. Apontamentos sobre alguns dos novos negcios da msica.

    Traduo de Micael Herschmann e Fernando Pereira. In: HERSCHMANN, M. (Org.),

    Nas bordas e fora do maistream musical: novas tendncias da msica independente no

    incio do sc. XXI. So Paulo: Estao das Letras e Cores, FAPERJ, 2011. Pg. 19-45.

  • 40

    7 ANEXOS

    Contagem de matrias no jornal Estado de Minas:

    Independente 1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-

    1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-

    1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1- 93

    Sony-BMG 1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1- 12 36,3% das majors

    Universal 1-1-1-1-1-1-1- 7 21,2% das majors

    EMI 1-1-1-1- 4 12,1% das majors

    Warner 1-1-1-1- 4 12,1% das majors

    Virgin 1- 1 3% das majors

    Som Livre 1-1-1-1-1- 5 15,1% das majors

    Erudita 1-1-1-1-1-1-1-1-1- 9

    Outros 1-1-1-1-1-1-1-1-1-1-1- 11

    MAJORS = 33 matrias || INDEPENDENTES = 93 matrias || TOTAL = 146

    matrias sobre msica/artistas

  • 41

    Anlise de contedo jornal Estado de Minas. Perodo entre 23/11/2012 a 23/01/2013.

    23 novembro 2012: - Matria de 1/3 da pgina 5, Roberto Carlos e as Empreguetes. Empresariados pela Globo, Som Livre. 24 novembro 2012: - Nota sobre apresentao do Clarinetista Paulo Srgio Santos, msico independente. Pg.5 - Nota sobre a apresentao do Grupo Curupaco, lanamento de novo lbum independente. Pg.5 - Matria sobre apresentao de Marisa Monte em BH. Atualmente, com selo independente. Pg.6 - Pequena Matria sobre o grupo Derivasons. Independentes. Pg 7 - Matria de 2/3 da pgina 8, quarta-capa, sobre Laura Lopes, independente. 25 novembro 2012: - Nota de uma apresentao da banda Xafu, independentes. Pg 5 - Matria sobre Padre Fbio de Melo, Sony Music. Pg 7 - Matria 1/3 de pgina sobre Jnior Lameida, selo independente MP, B Discos. Pg.7 - Matria 1/4 de pg, coletivo Samba da Vela, independetes. Pg 7 26 novembro 2012: - Matria grupo Cobra Coral, independentes, pg 5. - Matria 2/3 de pg. Mnica Salmaso e Juarez moreira, cantando Vincius de Moraes, independentes, pg 5. - Matria meia pgina Marina Lima, ltimo disco pela Universal. pg.6 27 novembro 2012: - Matria No Doubt, Interscope Records (Grupo Universal) - Nota sobre apresentao do bandolinista Marcos Frederico, independente. 28 novembro 2012: - Matria sobre apresentao de Dudu Niccio, independente. - Matria sobre msica erudita. 29 novembro 2012 - Matria capa Led Zeppelin, sempre foram de grandes gravadoras. - Matria sobre apresentao de Geraldo Azevedo, independente. - Nota sobre Riahanna, Universal Music. - Matria sobre Mallu Magalhes, Sony BMG. - Nota sobre apresentao, Telo Borges. Independente. - Matria sobre msica erudita, Filarmnica de MG. 30 novembro 2012 - Matria capa Capital Inicial, Sony Music. - Comentrio sobre banda independente de BH Pleiades. 01 dezembro 2012: - Apenas uma matria falando sobre o piano no brasil. 02 de dezembro 2012: - Matria capa sobre mulheres Dj's. Independentes. - Matria de pgina inteira, Flvio Henrique. Independente.

  • 42

    - Matria grande Dolores Duran. Foi selada pela EMI quando viva. 03 de dezembro 2012: - Matria sobre apresentao da Big Band do Palcio das Artes. - matria sobre apresentao do Lobo do ltimo disco pela Deck Disc. Gravadora independente. - Matria sobre apresentaes de Maria Rita. Universal. 04 de dezembro de 2012: - Matria Wagner Tise e Maria Bethnia. Ambos Independentes. - Matria sobre Stone Temple Pilots. Atlatic Rec. (Warner) - Matria sobre baixista Gustavo Carvalho. Independente. - Nota de apresentao da banda Falcatrua. Independente. - Matria sobre apresentao do baixista Ezequiel Lima. Independente. 05 de dezembro 2012: - Matria Funk ostentao, independente. - Matria sobre Stanley jordan, Mack Avenue Rec., independente. - Matria orquestra sinfnica. - Notas sobre apresentaes de Facundo Salgado e Denise Reis, independentes. - Matria Maestro Mrio Adnet gravando Villa-Lobos. Independente. 06 de dezembro 2012: - Matria Cidade Negra, novo disco. Gravadora Som Livre. - Matria banda Preto Massa. Independentes. - Nota sobre apresentao do agora independente David Guetta. - Matria sobre cantora Titane, independente. - Matria sobre festival de msica em Ouro Preto/Mariana com msicos independentes. - Nota sobre Frank Zappa, selado enquanto matinha carreira. 07 de dezembro 2012: - Matria novo disco Nico Rezende,