a humanizaçao das tecnologias pela arte

21
A HUMANIZAÇAO DAS TECNOLOGIAS PELA ARTE Diana Domingues Que a arte nos revele aspectos humanos das tecnologias talvez seja uma estranha e idealista abordagem para alguns. Ou, para os apocalipticos, uma dado contestável em sua visao negativa das tecnologias para a humanidade. Há pessoas tao resistentes que nao admitem nem mesmo um convivio necessario com as tecnologias usando terminais publicos ou quiosques de feiras. Tal resistincia a interagir com as maquinas esta trazendo limitações para tarefas cotidianas do homem neste final do século. É preciso acreditar que o homem constrói seu presente e planeja um futuro cada vez melhor. Sem impedir o fluxo da história e dispender energia inútil, precisamos entender a presença das tecnologias e seus efeitos em uma vida cada vez mais mediada. Assim, longe de idealismos infundados, encontro uma série de conceitos em artistas e teóricos cujas reflexões dao conta da humaniza��o das tecnologias.A hist�ria mostra que as civiliza��es nunca voltaram para tr�s, que as descobertas e inventos s�o acumulados e servem de background para outros inventos. Como diz Olivier Wendell Holmes, "a mente humana, uma vez que teve suas dimens�es ampliadas para id�eias grandes, nunca mais retorna a seu tamanho original. A Arte no S culo XXI: A Humaniza �� o das Tecnologias coloca uma quest�o atual: a produ��o art�stica sintonizada com os avan�os tecnol�gicos, revelando os aspectos humanos das tecnologias. As considera��es t�m a arte como ponto de converg�ncia e s�o pensados os efeitos das tecnologias na vida

Upload: vini-escobar

Post on 16-Jan-2016

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

A HUMANIZAÇAO DAS TECNOLOGIAS PELA ARTE

Diana Domingues

Que a arte nos revele aspectos humanos das tecnologias talvez seja uma estranha e idealista

abordagem para alguns. Ou, para os apocalipticos, uma dado contestável em sua visao

negativa das tecnologias para a humanidade. Há pessoas tao resistentes que nao admitem

nem mesmo um convivio necessario com as tecnologias usando terminais publicos ou

quiosques de feiras. Tal resistincia a interagir com as maquinas esta trazendo limitações para

tarefas cotidianas do homem neste final do século.

É preciso acreditar que o homem constrói seu presente e planeja um futuro cada vez melhor.

Sem impedir o fluxo da história e dispender energia inútil, precisamos entender a presença das

tecnologias e seus efeitos em uma vida cada vez mais mediada. Assim, longe de idealismos

infundados, encontro uma série de conceitos em artistas e teóricos cujas reflexões dao conta

da humaniza��o das tecnologias.A hist�ria mostra que as civiliza��es nunca voltaram

para tr�s, que as descobertas e inventos s�o acumulados e servem de background para

outros inventos. Como diz Olivier Wendell Holmes, "a mente humana, uma vez que teve suas

dimens�es ampliadas para id�eias grandes, nunca mais retorna a seu tamanho original.

A Arte no S � culo XXI: A Humaniza �� o das Tecnologias coloca uma quest�o atual: a

produ��o art�stica sintonizada com os avan�os tecnol�gicos, revelando os aspectos

humanos das tecnologias. As considera��es t�m a arte como ponto de converg�ncia e

s�o pensados os efeitos das tecnologias na vida contempor�nea, determinando tra�os da

cultura deste final de s�culo.

O quase vazio editorial de publica��es sobre cultura tecnol�gica no Brasil nos fez levantar

nomes expressivos no cen�rio mundial e propor reflex�es que est�o reunidas em torno de

algumas quest�es que podem dar conta do fen�meno cultural na era tecnol�gica. Os

autores espalhados em torno de temas como: O Cen�rio Homem/M�quina, Revolu��o

Num�rica, Interatividade, Arte e Tecnologia: A Hist�ria de Uma Ampla Transforma��o

Cultural e Comunica��o Planet�ria revelam um posicionamento cr�tico que afasta

qualquer julgamento de mero idealismo. Penetram no �mago das ci�ncias humanas como

territ�rio convergente para se pensar descobertas cient�ficas decorrentes das tecnologias

integradas ao cotidiano. H� textos de extens�es diversas, testemunhos de artistas, textos

mais t�cnicos de matem�ticos e engenheiros, textos poeticamente carregados, textos de

Page 2: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

alto coeficiente cient�fico, conte�dos que demandam bagagem filos�fica milenar, bem

como textos de ir�nica leitura do cotidiano invadido pelas m�quinas. Esta apresenta��o

oferece um panorama com a inten��o de lincar conceitualmente os v�rios textos.

Preferi um livro m�ltiplo, n�o linear, fragment�rio, coerente com a cultura hibridizada

pelas teorias cient�ficas contempor�neas que revelam matrizes do pensamento do homem

deste final de s�culo. N�o foram inclu�das imagens como habitualmente nos livros de arte.

Entre uma das raz�es est� a pr�pria natureza dos trabalhos comentados cujas

caracter�sticas multim�dia e interativa, na condi��o de eventos comunicacionais, n�o

se presta a registros com imagens est�ticas, as quais impossibilitam experienciar o processo

que lhes � inerente. A imagem fotogr�fica congela e torna �nico aquilo que tem na sua

origem a troca, o vir-a-ser. A fotografia, produto da era industrial, que captura um dado

instante, imortalizando-o, n�o seria fiel ao processo, base primeira da arte interativa, que

n�o privilegia mais a pura representa��o ou objetos �nicos e acabados. � importante

ressaltar que nas intera��es com as m�quinas, mesmo na mera gera��o de imagens por

computador, as formas est�o em constante devir. As experi�ncias interativas s�o

resultantes de atos de um indiv�duo a partir de determinados comportamentos. As

manifesta��es art�sticas com tecnologias s�o na sua maioria ef�meras, m�ltiplas,

mutantes, um campo de possibilidades que se altera conforme as escolhas ou programas dos

dispositivos e as vari�veis dos sistemas.

A revolu��o digital, as tecnologias comunicacionais que entrela�am o planeta, pela

interatividade com a��es em tempo real, a manipula��o de informa��es em bancos de

dados, as interfaces, a parceria com mem�rias eletr�nicas s�o marcas que determinam

esta publica��o.

Arte e tecnologia: uma transforma��o cultural

Sabe-se que a revolu��o da eletr�nica invade todos os campos da atividade humana. Os

inventos da era industrial, como o cinema, o impresso, o r�dio, mesmo tendo incid�ncia

sobre os processos internos de produ��o e pela acultura��o de alguns setores

dominantes, n�o eram respons�veis pelo impacto t�o violento como a eletr�nica vem

assumindo na sociedade contempor�nea. As informa��es atrav�s de imagens impressas e

faladas circulavam em alguns segfmentos da sociedade, mas os setores produtivos podiam

funcionar sem elas. Hoje, tudo passa pelas tecnologias: a religi�o, a ind�stria, a ci�ncia, a

educa��o entre outros campos da atividade humana est�o utilizando intensamente as

redes de comunica��o, a informa��o computadorizada, e a humanidade est� marcada

Page 3: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

pelos desafios pol�ticos, econ�micos e sociais decorrentes das tecnologias. A arte

tecnol�gica tamb�m assume essa rela��o direta com a vida, gerando produ��es que

levam o homem a repensar a sua pr�pria condi��o humana.

Os artistas oferecem situa��es sens�veis com tecnologias, pois percebem que as

rela��es do homem com o mundo n�o s�o mais as mesmas depois que as t�cnicas como

o num�rico, a intelig�ncia artificial, a revolu��o da inform�tica e das comunica��es, a

realidade virtual v�m irrompendo no cen�rio deste final de s�culo. Computadores,

softwares, c�meras, sensores, mixers, CD-ROMS, rede Internet, sintetizadores e outros

inventos tecnol�gicos determinam o abandono de pinc�is, tesouras, l�pis, pastel, telas,

filmes como instrumentos de cria��o. O afastamento do artista de t�cnicas como a

pintura, o desenho, a escultura, da id�ia de arte como mercadoria, a reavalia��o dos

conceitos art�sticos fundados na representa��o de formas, no belo, na subjetividade, na

individualidade e na artistifica��o dos meios s�o algumas das dire��es assumidas por

estas novas formas de produ��o de arte. O conjunto de reflex�es deixa evidente que a arte

contempor�nea h� cerca de trinta anos abra�ou uma s�rie de pr�ticas art�sticas

assentadas na revolu��o da eletr�nica e nas tecnologias num�ricas e que, nestes

�ltimos anos do s�culo, artistas espalhados pelo mundo adquirem uma consci�ncia cada

vez mais forte de seu papel como agentes de transforma��o na sociedade. N�o interessa

mais produzir voltados para um mercado oficial. Os artistas ligados a centros avan�ados de

pesquisa ou isoladamente assumem a ruptura com a arte do passado num cen�rio dominado

pela arte da participa��o, da intera��o, da comunica��o planet�ria, colocando-se em

novos circuitos n�o mais limitados � arte como objeto ou valor de culto, mas enfatizando,

sobretudo, seu poder de comunica��o. Fala-se no fim da arte da representa��o em favor

de uma arte interativa que � basicamente comportamental e que n�o pode se encerrar em

objetos acabados como uma escultura, pintura, fotografia ou outro suporte material, nem

mesmo no cinema ou no v�deo em seus formatos habituais que impedem o di�logo

transformador. Nas �ltimas d�cadas os artistas est�o propondo que em arte a

preocupa��o n�o � somente gerar imagens, contempl�-las passivamente, interpret�-

las de maneira est�ril, sem qualquer poder de modific�-las

Numa passagem da cultura material para a cultura imaterial, pr�pria da arte tecnol�gica, os

artistas substituem artefatos e ferramentas por dispositivos em m�ltiplas conex�es de

sistemas que envolvem modens, telefones, computadores, sat�lites, redes e outros inventos

que auxiliam na produ��o e na comunica��o. A circula��o e recep��o desta arte

colocam mesmo em xeque figuras e estruturas de poder como o papel do artista e sua

Page 4: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

genialidade, a figura de curadores e marchands, o espa�o sagrado de galerias e museus, a

m�dia como inst�ncia que homologa uma arte dita qualificada. Esta arte partilhada com as

m�quinas pode ser oferecida nas pr�prias casas, entrando por sat�lites, telefones e

oferecendo-se para ser recebida, modificada e devolvida. Em CD-ROMS, websites, altamente

distribu�veis, cat�logos e revistas eletr�nicos, trocas via rede, � o artista que assume a

curadoria de seu pr�prio trabalho. Comunidades virtuais on line re�nem indiv�duos por

afinidade, onde a arte tamb�m afirma sua liberdade.

Que arte � esta da cibercultura? O ciberespa�o e a arte interativa s�o inven��es das

tecnologias digitais do final do s�culo XX. O papel, o fotograma sobre a celul�ide, os muros

da cidade deixam seu lugar para palhetas e menus eletr�nicos, para a corrida dos pontos

luminosos, para o pixel que n�o se fixa na tela, para o som, para o fluxo de ondas. O espa�o

� mais do que o bidimensional, o tridimensional, o arquitet�nico, o das cenas naturais. � o

espa�o dos computadores, o ciberespa�o, o espa�o de ambientes digitais da realidade

virtual. A arte circula em sat�lites que conversam no c�u, em modens que traduzem sinais

sonoros em gr�ficos, instala-se em pr�teses eletr�nicas para o corpo, em transdutores e

sensores, em robots que nos substituem, em sofisticados circuitos e sistemas

computadorizados e das telecomunica��es.

Arte e Vida: Pioneiros

"A arte nunca esteve t�o pr�xima da vida", poderia dizer Marcel Duchamp, jogando

tranq�ilamente seu xadr�s via Internet num chat com seu colecionador Arensberg.

Leonardo e Turner veriam as for�as invis�veis serem captadas e transformadas por circuitos

l�gicos digitais. Seurat ficaria recriando formas com suas unidades matem�ticas em milhares

infinitas de vari�veis. Mondrian percorreria ambientes com tramas ortogonais de

microestruturas bin�rias. Klein derramaria seu azul luminoso sobre o planeta. Dali nos

convidaria a entortar seus rel�gios em efeitos morphi. Bosch enlouqueceria projetando

mundos avessos de colagens eletr�nicas. Escher oferecendo intera��es em seus espa�os

amb�guos por vari�veis computacionais. Bacon entraria nas mais rec�nditas v�sceras.

Cezanne construiria espa�os mutantes e nos imergiria em suas paisagens RV. Picasso e

Braque imaginariam a simultaneidade dos m�ltiplos pontos de vista em processos de

anima��o, a velocidade futurista se fragmentaria no ciberespa�o. As escritas inconscientes

de Tobey permutariam no inconsciente imagin�rio da m�quina. A energia do corpo de

Pollock estaria conectada por interfaces oferecendo-se para trocas com o corpo do outro.

Page 5: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

Happenings e performances na arte de agora est�o sendo vividos por corpos tecnologizados,

amplificados na sua totalidade f�sica e psicol�gica, comandam e/ou s�o comandados por

dispositivos de intera��o. O que cada vez menos est� sendo discutido � a mat�ria, as

formas em estados permanentes, o lugar como um espa�o imut�vel. Geografias se fundem

e s�o transplantadas, corpos se tocam no planeta, o mundo � um grande organismo vivo

que circula nos vasos comunicantes da redes.

Parece-nos bastante evidente que nestes �ltimos vinte anos houve mais descobertas do que

em toda a hist�ria da humanidade. Os artistas est�o se dando conta de uma outra

cosmovis�o que converge com as teorias cient�ficas contempor�neas, que pensam o

mundo em sua complexidade, n�o linearidade, em rela��es ca�ticas de nascimento de

novas ordens pelos fen�menos que interagem no universo. Como registrar um dado

pensamento do mundo de forma fixa e imut�vel sobre um dado material e encerr�-lo sem a

posssibilidade de adquirir outros estados? Ignorando as modifica��es impostas pela

revolu��o eletr�nica e das telecomunica��es, a maior parte da arte que vem se fazendo

hoje e que circula como arte estabelecida ainda compactua com a era pr�-industrial por uma

arte � base da manualidade ou apenas incorporando os inventos da revolu��o industrial,

em descobertas da f�sica e da mec�nica, da matem�tica ou da qu�mica, pela discuss�o

de problemas de resist�ncia, fragilidade, escala, rea��es, qualidades de formas, mas

sempre uma arte que se faz com materiais, ainda distante das tecnologias eletr�nicas.

Palavras como imaterialidade, interatividade, conectividade, imers�o, interface, telem�tica

s�o obrigat�rias neste universo da arte tecnol�gica. A arte tecnol�gica interativa

pressup�e a colabora��o, a parceria, o fim das verdades acabadas, do imut�vel, do linear.

A t�cnica hoje � ampliada pelas rela��es techn�-logos. Hardwares e softwares,

resultantes das conquistas da eletr�nica e da inform�tica, enriquecem os inventos da era

industrial, disponibilizando tecnologias de alta sofistica��o. O surgimento de sistemas que

concentram informa��es dispon�veis em mem�rias est� convidando muitos artistas a

trabalharem impregnados de uma outra cosmovis�o. Neste livro, a arte trama uma floresta

densa de rela��es entre as ci�ncias humanas, as ci�ncias exatas e as ci�ncias da vida,

tratando a arte em sua converg�ncia e complexidade, pela interpenetra��o de problemas

da matem�tica, inform�tica, rob�tica, comunica��o, filosofia, est�tica, �tica,

semi�tica, f�sica, biologia, antropologia, cibern�tica, astronomia e outros campos do saber

humano. Automac�o industrial, rob�tica, vida artificial, gen�tica, engenharia biol�gica

entre outras �reas de produ��o usam informa��es de bancos de dados eletr�nicos e

ampliam as rela��es do homem com as m�quinas.

Page 6: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

Com a arte computadorizada, surge a s�ntese num�rica, onde as imagens n�o s�o mais

resultantes do olhar, ou geradas por um olho mec�nico de c�meras que o prolonga, mas

imagens que se escrevem atrav�s de c�lculos matem�ticos e dialogam com o c�rebro

eletr�nico dos computadores. Na numeriza��o das imagens, tecnologias digitais

compatibilizam imagens anal�gicas, transformando-as em um tecido de pontos organizados,

para que os artistas possam manipul�-las infinitamente. Imagens anal�gicas s�o

processadas por variados recursos oferecidos pelos menus dos softwares. O gesto pr�prio e

pessoal do artista � substitu�do por escolhas num di�logo interativo entre seu

pensamento com a m�quina. No caso das imagens sint�ticas, geradas por pura linguagem e

c�lculo, como produtos de linguagem matem�tica, figuras nascem no interior dos circuitos

sem qualquer influ�ncia da luz como grafia luminosa sobre suportes sens�veis. Couchot nos

fala fala de imagens ut�picas e ucr�nicas, sem lugar e sem tempo, porque estas imagens

n�o est�o fixas em nenhum lugar, mas num estado de permanente existir ("M�dias et

imm�dias". In Allezaud, Robert (org.) Oziris, Paris, 1986). Podemos agir sobre elas com

mouses, teclados ou outro dispositivo. Imagens, sons, textos entram para os espa�os dos

bancos de dados e s�o estruturas permut�veis em permanente contamina��o. A autoria

destas imagens e circuitos de intera��o n�o � unicamente a do artista, mas a de

inform�ticos, engenheiros, matem�ticos, t�cnicos, e tamb�m a das m�quinas.

No processo de produ��o da arte tecnol�gica, os artistas estreitam seus la�os com

cientistas e t�cnicos trabalhando numa f�rtil colabora��o. O artista n�o � mais o autor

solit�rio de suas pe�as, produzindo artefatos com ferramentas ou m�quinas, mas utiliza

circuitos eletr�nicos, dialoga com mem�rias e programas dos sistemas, se conecta por

interfaces. Esta situa��o reafirma que a hist�ria da arte � substancialmente uma hist�ria

de meios e linguagens, e que as tecnologias eletr�nicas, pr�prias deste final de s�culo XX,

colocam-se como outros meios de produ��o para os artistas. Novas esp�cies de imagens,

de sons, de formas geradas por tecnologias eletr�nicas e pelos dispositivos tecnol�gicos de

acesso permitem um contato direto com a obra, modificando as maneiras de fruir imagens e

sons. As interfaces possibilitam manipular informa��es que podem ser trocadas,

negociadas, fazendo com que a arte deixe de ser um produto da mera express�o do artista.

Os artistas utilizam tecnologias avan�adas e geram eventos que possibilitam um di�logo

multidimensional atrav�s de redes, oferecendo ao homem a oportunidade de se conectar,

agir e nas redes, modificar a id�ia proposta pelo artista Num sentido social, a posi��o que

a arte interativa deste espectador-participante assume no contexto cultural � de natureza

pol�tica. A arte, sobretudo a arte das redes, n�o est� mais a servi�o de camadas

Page 7: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

dominantes nem fica legitimada somente por uma elite social ou econ�mica, n�o est�

limitada a hierarquias, pois a informa��o chega a quem quer que seja no planeta. Da mesma

forma que nas sociedades primitivas, a arte se reconcilia com a sociedade numa rela��o

direta arte/vida.

O Espet�culo Terminou

Como pensar hoje espa�os proibidos, limitados, onde os avisos de n�o tocar, fazer sil�ncio,

n�o mexer, colocam a impossibilidade de partilhar fisicamente a obra do artista? A palavra-

chave para o pr�ximo mil�nio � interatividade.

A revolu��o num�rica introduz a interatividade e p�e fim � no��o de espet�culo

onde a arte � assistida e interpretada como um ato puramente mental. Nas �ltimas

d�cadas, est� sendo proposto que em arte a preocupa��o n�o � somente gerar

imagens, contempl�-las passivamente, construir o sentido por interpreta��es est�reis,

isto �, sem qualquer poder de modific�-las . A arte interativa � totalmente avessa ao

princ�pio de in�rcia. Surge um novo espectador mais participativo que atrav�s de

interfaces tem acesso � obra proposta. modificando-a. S�o as interfaces amig�veis. que

permitem as trocas do espectador com as fontes de informa��o. A contempla��o �

substitu�da pela rela��o. A base desta participa��o na hist�ria das artes � a

passagem das tecnologias anal�gicas, como a fotografia, o cinema e o v�deo, para os

processos num�ricos de gera��o de imagens e sons. A imagem calculada por pontos �

uma imagem quantificada e por sua natureza de matriz num�rica permite o acesso ao seu

tecido em pequenas microunidades que aceitam modifica��es. assim, O contemplador de

um quadro, diante dos limites da moldura, o espectador de cinema, que como numa caverna

povoada de sombras assiste a hist�rias, o zapper que pode saltar por entre v�rios canais,

todos podem agora experimentar sensa��es provocadas atrav�s de dispositivos ao

navegar em sistemas n�o lineares de menus de computador e de textos hiperm�dia. Em

outras situa��o, podem comandar rob�s, entrar em mundos virtuais, websites, ou andar

em instala��es interativas que mesclam o real e o virtual. A obra interativa pede a

participa��o a colabora��o e s� tem exist�ncia quando � ativada e modificada em

tempo real, dando respostas instant�neas para quem as experimenta.

Na interatividade, a base da cria��o art�stica � a metamorfose. As tecnologias

eletr�nicas colocam em cena a possibilidade de tudo se transformar. As trocas de sentido,

entretanto, n�o se d�o somente como atos de interpreta��o, tal como se verifica nas

artes tradicionais. A arte interativa permite uma troca f�sica atrav�s das interfaces que

Page 8: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

d�o acesso ao tecido que constitui a obra. A interatividade produz modifica��es f�sicas

percept�veis, � metam�rfica por princ�pio, prop�e a permutabilidade, a muta��o

din�mica, numa influ�ncia rec�proca que dissolve o conceito de autor pela a��o

constante de quem altera a situa��o proposta pelo artista. Ao ser facultada a gest�o dos

conhecimentos simulados nos bancos de dados, ocorre, portanto, outra a��o comunicativa

num jogo entre os componentes simb�licos propostos pelo pensamento do criador, que a

partir de ferramentas amig�veis desencadeia processos de di�logo com o pensamento do

outro.

A situa��o de troca com o objeto art�stico possibilitada ao p�blico se insere

remotamente no princ�pio de incrusta��o ou inclus�o, pr�prio das po�ticas

participacionistas dos anos 60, cuja fonte principal s�o as teorias de origem duchampiana,

retomadas intensamente por John Cage, pelo grupo Fluxus, pelos happenings e outras

manifesta��es da �poca. Esta arte da participa��o foi anunciada fortemente no Brasil

nas figuras exponenciais de Lygia Clark e Helio Oiticica que introduzem a a��o do

espectador participante em tempo real, sintonizados com a id�ia de supera��o da id�ia

de arte como objeto e indo em dire��o a de processo a ser vivido. Eles j� nos convidavam

a vestir roupas, tocar em objetos, respirar, entre ouras participa��es. Propunham a

recep��o como processos participativos por a��es neuromusculares que envolvem o

corpo, n�o se resumindo � natureza intersubjetiva de atos puramente interpretativos que se

d�o na mente. Da mesma forma, para o artista tecnol�gico, interessa uma a��o com

respostas obtidas atrav�s de m�quinas. Logo, o universo participativo de H�lio Oiticica e

Lygia Clark se enriquece a partir das tecnologias eletr�nicas e principalmente pelo digital que

oferece a interatividade num sentido stricto em que podemos penetrar nas informa��es dos

sistemas. As m�quinas recebem nossas informa��es, traduzem nossos comportamentos e

nos devolvem numa real interatividade.

Na AI , Arte Interativa, o participante da experi�ncia � captado por sensores, comanda

robots, veste macac�es e capacetes, usa �culos especiais, manipula mouses, aciona

teclados. Circulando num CD-ROM, manipulando hipertextos, penetrando em ambientes

digitais de instala��es ou imergindo em realidade virtual, conectados em websites, jogando

em computadores, gerando formas de vida artificial, sempre estamos interaindo por resultado

de inputs e outputs, ou em entradas e sa�das, com respostas devolvidas a partir de

m�quinas. � substitu�da pelo conceito de rela��o. Esculturas, objetos e instala��es

n�o somente exploram o espa�o real mas transformam-se, est�o em constante

muta��o. Tocando, assoprando, pedalando, dan�ando, caminhando, respirando, vivemos

Page 9: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

em mundos antes n�o experimentados e inacess�veis. O que significa que os artistas v�o

explorar o poder dial�gico das m�quinas, a sua capacidade de entender e traduzir sinais

emitidos num processo de aquisi��o e comunica��o de dados que gera trabalhos "vivos".

S�o �bjetos vivos".

Conforme Stephen Bell, ( LEA, vol. 2, n. 7 , julho 1994) http: mitpress.mit.edu/LEA/articles.txt)

devemos considerar os graus e a maneira de participar. Entretanto, n�o importa em qual

intimidade com o tecido digital, a interatividade gera sempre uma informa��o resultante de

uma colabora��o m�tua do homem com as m�quinas. Dependendo da tecnologia existe

um tipo de colabora��o e o grau e a maneira de controlar a participa��o do participantes.

Existe tamb�m um grau de reconhecimento das inten��es que �s vezes se d� em

sistemas preparados para entrar em processos rand�micos, nos quais as respostas n�o

podem mais ser controladas pelo homem. As seq��ncias de a��es s�o decididas pelo

computadaor e n�o mais pelo interagente, pois a m�quina desenvolve uma s�rie de

opera��es imprevis�veis para o participante da experi�ncia. O que se mant�m,

entretanto, como caracter�stica de todas as tecnologias interativas � o tempo real. Ou seja,

as transforma��es que se d�o no momento mesmo em que o participante determina uma

ordem para o sistema que a entende e a devolve transformada. Para estabelecer esta troca

conjunta, existem sempre os dispositivos de acesso ou interfaces. Estes dispositivos s�o

respons�veis por registrar, traduzir o comportamento do homem com a m�quina e da

m�quina para o homem. E nestas rela��es , o temos feedbacks que n�o seriam

poss�veis sem as m�quinas.O conceito de inter-face � diverso do sur-face( franc�s e

ingl�s = surface ou superf�cie) ou sobre a face. S�o inter-rela��es ou interdecis�es

tomadas por corpos diferentes. No caso, est�o conectados o corpo biol�gico e o corpo

sint�tico das m�q\uinas. A mente do homem e a mente de silicom do computador. O

sistema nervoso biol�gico e as redes nervosas da m�quina.

As interfaces, a rob�tica e o p�s-humano

Para se pensar as rela��es homem-m�quina, temos que entender que as m�quinas s�o

programadas para assumirem determinadas fun��es interativas. S�o constru�das

interfaces ou dispositivos de acesso e os artistas, cientistas e t�cnicos determinam o

comportamento dos sistemas em vari�veis que s�o vividas pelo homem em di�logo com as

possibilidades do circuito. As m�quinas assumem, portanto, uma forte dimens�o

comportamental que est� que est� al�m do costumeiro uso que se faz dos computadores

Page 10: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

nas cria��es gr�ficas, vistas em displays luminosos em softcopies ou retornando ao suporte

em hardcopies .

A dimens�o comportamental das tecnologias interativas nos coloca diante do p�s-

biol�gico, da cultura da bioeletr�nica. O participante da experi�ncia est� diretamente

confrontado com dispositivos virtuais que, como corpos sint�ticos, aceitam e transformam

a��es do corpo biol�gico. Estas interfaces movimentam estruturas cerebrais e manipulam

dados biol�gicos. O corpo como aparato biol�gico entra num curto-circuito plurissensorial

onde sua modalidade anal�gica se funde a modalidades digitais. Os sentidos capturados por

dispositivos de acesso s�o digitalizados pela numeriza��o, e a percep��o e

compreens�o funcionam de forma integrada numa mescla da vida org�nica e inorg�nica.

Experimentamos navega��es, conversa��es, imers�es, conex�es nas trocas com

sistemas. Na arte interativa, na rob�tica, na realidade virtual, o "trompe l’oeil", em suas

opera��es visuais e retinianas, � ampliado pelo "trompe les sens", por apelos sinest�sicos

do corpo que se refaz em m�ltiplas conex�es dos sentidos com as possibilidades dos

sistemas.

Vivemos uma outra natureza onde o corpo humano e os sistemas artificiais est�o numa

estreita simbiose do tecnol�gico/artificial/natural interfaceado ao f�sico/real e

virtual/digital ( Domingues, Diana FleshFactor). A eletr�nica est� ampliando a intelig�ncia e

a percep��o traduzidas em paradigmas computacionais e a comunica��o com as

m�quinas est� determinando a fus�o de sistemas naturais inteligentes com sistemas

articiais inteligentes.

A Arte Interativa reorganiza camadas de sensibilidade, ampliando o campo de percep��o

em trocas e modos de circula��o atrav�s de redes e circuitos de informa��o e se coloca

de forma diversa da arte dos suportes mat�ricos. Com isto, est� se gerando uma

mentalidade pr�pria da era digital em que a utiliza��o de dispositivos tecnol�gicos �

mais do que prolongamentos sensoriais de natureza mcluhiana, como, por exemplo, o

bin�culo, as c�meras e outras m�quinas de olhar. O corpo humano pelo di�logo com

softwares se conecta com c�rebros eletr�nicos que nos levam a processos cognitivos e

mentais de uma outra natureza.

A simbiose do homem com a m�quina � um foco de estudos da rob�tica que coloca em

quest�o as rela��es corpo/m�quina. A m�quina, cria��o humana, est� dando ao

homem poderes ultra humanos (Teillard de Chardin) A arte feita com m�quinas sempre conta

com o humano. Atr�s de mouses, teclados, luvas, na ponta de fios, cabos, h� um homem

Page 11: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

com a sua energia natural que se funde � energia das m�quinas. O sangue tem o mesmo

valor que a corrente el�trica. As a��es de um corpo tecnologizado determinam

mudan�as nas formas de sentir, numa rela��o de vida na qual os dispositivos sentem e

devolvem a energia do corpo. Os dispositivos sentem em nosso lugar e n�s sentimos

diversamente com eles. As tecnologias ampliaram o campo de percep��o por novas formas

de existir antes n�o permitidas por um corpo somente biol�gico.Os sistemas transformam

as ordens que lhes s�o dadas com uma l�gica pr�pria. Logo, funcionam fora de nosso

corpo. A ordem � dada � m�quina que a identifica e a executa separadamente do corpo.

Com as tecnologias computadorizadas, o homem est� se entregando cada vez mais �

capacidade das m�quinas de modificar seu pensamento. No caso de aplica��es de redes

neurais, estamos diante de redes nervosas que ainda bastante simplificadas , procuram

simular o funcionamento do sistema nervoso central, podendo tratar problemas n�o-

lineares, atrav�s de algoritmos. Os sistemas de reconhecimento de voz, as redes neurais e

outras pesquisas avan�adas integram a arte � inform�tica e automa��o industrial. No

caso da rob�tica, as m�quinas agem com capacidades similares ao do homem. Os

telerrob�s, agem em espa�os remotos, vasculhando a superf�cie lunar, plantando ou

colhendo materiais, ampliando nossos bra�os, pernas, olhar. A partir da cibern�tica, as

m�quinas governadas pelos homens utilizam circuitos nervosos que procuram simular o

funcionamento de nosso c�rebro. Programas que fazem opera��es pr�prias de nossso

c�rebro como por exemplo c�lculos, processamento de linguagem matem�tica,

manipulam linguagens simb�licas, em resultados at� mesmo imposs�veis de serem

pensados pelo homem, como � o caso da geometria fractal. Sat�lites v�em a Terra do lado

de fora e processam informa��es codificadas em sinais que emitem vis�es do cosmos.

Computadores jogam xadr�s, comandam o funcionamento de portas, de v�os a�reos, de

circuitos de empresas. E o que pensar das leituras de um corpo em finas fatias, obtidas por

uma tomografia computadorizada, de uma ecografia que interpreta e faz imagens de sons do

corpo, ou de videolaparoscopia, que com uma microc�mera penetra nas v�sceras de um

corpo em pleno funcionamento? Cada vez mais as m�quinas est�o tendo capacidades

al�m do humano. Mas sabemos que ainda estas m�quinas m�o conseguem tomar

decis�es como trocar um antibi�tico por outro.( Moravec, Hans. Il Robot universale. In Il

Corpo Tecnologico. Capucci, Pier Luigi, (Org.).

As redes de comunica��o

Nas dimens�es de um corpo planet�rio, se colocam os eventos das redes com encontros e

intera��es � dist�ncia, determinando o surgimento de comunidades virtuais, formadas

Page 12: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

por afinidades. Na cultura das redes, ganha especial evid�ncia o fato de que as tecnologias a

servi�o da arte, entre outras altera��es no circuito art�stico-cultural, desencadeiam

processos de di�logo pelos dispositivos de comunica��o que permitem a intera��o

din�mica da experi�ncia art�stica, propondo a participa��o, o di�logo, a

colabora��o entre parceiros. Os artistas utilizam a rede para transmiss�es onde

pensamentos, conceitos v�o sendo acumulados e trocados por outros conceitos em tempo

real, n�o interessando, mais a no��o de objeto ou de representa��o, mas a id�ia de

fluxo, evento. Pelas redes, numa trama, se verificam trocas imediatas no ciberespa�o. A arte

circula no planeta e os computadores e as telecomunica��es ganham dimens�es

art�sticas. O artista se dispersa em redes e terminais, em favor de uma cria��o

distribu�da. Modifica-se o conceito de artista como autor �nico, e a "obra" assume

intensamente sua fun��o comunicacional. � socializada em fronteiras compartilhadas pelo

autor e pelo p�blico.

A presen�a da rede Internet nos �ltimos anos faz proliferar os websites art�sticos, muitos

deles permitindo uma real presen�a dos interagentes. Nessa outra perspectiva se colocam

tamb�m os netmuseus, as netgalerias, os netmagazines que disseminam informa��es

sobre arte no espa�o planet�rio. Al�m dos aspectos comunicacionais das obras art�sticas

propostas em rede, o espa�o da Internet se coloca, portanto, como um lugar onde obras de

arte, acervos podem ser consultados, configurando um espa�o sociocultural aberto, sem

v�nculo com as estruturas institucionais ou particulares e abolindo o car�ter hier�rquico

que lhes � pr�prio. Cat�logos eletr�nicos que utilizam os suportes multim�dia

interativos s�o veiculados, assim como disquetes substituem cat�logos impressos da

gr�fica eletr�nica. As conex�es que se fazem na rede demandam um pensamento

associativo, n�o-linear, que explora estruturas manipul�veis, atrav�s de links, que

permitem abrir e fechar janelas no espa�o da rede.

Surge uma cibersociedade com uma ciberpercep��o, e uma "consci�ncia global" de

mentes conectadas. O corpo assume a capacidade de circular no planeta, transpondo

geografias, entrando em zonas privadas de intimidade de casas, se conecta numa rede mundial

que elimima quelquer diferen�a sociais �tnicas ou pol�ticas numa mente global. ou num

hiperc�rtex, como diz Roy Ascott.

Entretanto, teorias apocal�pticas v�m um grande perigo no homem ramificado em

m�quinas sedutoras e atribuem �s tecnologias um car�ter alucinat�rio e alucin�geno,

como drogas que est�o aprisionando o homem em exist�ncias virtiuias de alta

Page 13: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

sofistica��o das programa��es computadorizadas que acabar� por escapar ao controle

humano. Deve-se, por uma exig�ncia desta era digital, tentar entender os limites do

biol�gico ampliado. Em uma situa��o extrema, estamos mesmo num est�gio avan�ado

de manipula��o de informa��es que n�o s�o mais feitas por energia ou massa, mas

por rematerializa��es de informa��es, ou seja, dados informacionais que geram vidas

como a de Doly.

Parece-nos que longe de nega��es ou temores, h� que se pensar em novas formas de vida

que reconfiguram e redefinem o que significa ser humano. Neste panorama do homem

sempre assistido por um computador, ocorre uma comunica��o integral e integrada com

sistemas informatizados, numa esp�cie de desmaterializa��o do corpo onde os �rg�os

humanos s�o conectados a m�quinas. Neste final de s�culo, est� se delineando uma

simbiose homem-m�quina e anunciando, para o pr�ximo mil�nio, uma situa��o onde

ser� cada vez mais dif�cil distinguir "a pr�tese no humano e a parte de carne na

m�quina", diz Bernard L�vy. O radicalismo do artista australiano Stelarc postula que o

homem poder� at� mesmo "determinar o destino de seu DNA. Como diferenciar o que �

humano neste enorme fading do org�nico e do inorg�nico? Que subjetividade � esta que

se transmite atrav�s de circuitos, na intimidade digital do cibespa�o com suas c�lculos ou

unidade m�nimas que como pedrinhas podem ser tocadas em sua microestrutura?

No campo da arte, passamos do espa�o das cavernas, �s videoconfer�ncias, �

telepresen�a, numa soma da rob�tica com as telecomunica��es, � Realidade Virtual,

com suas vis�es estereosc�picas que eliminam o quadrado da tela e abrem o espa�o de

ambientes digitais. Chega-se � arquitetura do ciberespa�o, os menus eletr�nicos, aos CD-

ROMS, aos websites. N�o importa em qual situa��o, a sensiblidade humana deste final de

s�culo est� se fazendo em ambientes tecnologizados. O que est� interessando aos artistas

s�o estas contamina��es do humano com o sil�cio, os neur�nios em simbiose com as

sinopses nervosas dos circuitos l�gico-program�veis em associa��es que amplificam o

humano. Os artistas est�o checando o poder das m�quinas em ampliar sua exist�ncia.

Cabe aos artistas verificar o potencial sens�vel das tecnologias. Diz McLuhan: "N�o � no

n�vel das id�ias e dos conceitos que a tecnologia tem seus efeitos: s�o as rela��es dos

sentidos e dos modelos de percep��o que ela muda pouco a pouco e sem encontrar a

m�nima resist�ncia. S� o artista pode enfrentar impunemente a tecnologia porque ele �

um especialista em notar as trocas de percep��o sensorial".

Page 14: A Humanizaçao Das Tecnologias Pela Arte

Parece-nos que � importante arriscar em vis�es de que no s�culo XXI, imersos numa

realidade mediada, intensamente conectada �s m�quinas, os homens estar�o usando mais

e mais interfaces, interagindo em muitos momentos de sua vida. Da mesma forma que aTV,

para se fazer uma analogia com o momento contempor�neo, as tecnologias interativas

ser�o extremamente facilitadas ao homem que estar� reinventando sua vida e

determinando uma outra natureza da esp�cie. (Domingues Diana, In: Mechanistic Baggage.

Sherman, Tom, Moderator. Netsymposium FleshFactor, Ars Electronica Festival, 1997). No

contexto das intera��es digitais, cada homem poder� dizer a si pr�prio: "eu sou na

medida de minhas conex�es".