a história de um cheque

2
A história de um cheque No caso que vamos contar aparecem, apenas, três judeus. Apesar dos nossos esforços não foi possível reduzir esse número. Mas narremos, afinal, a história. Samuel Blum, opulento joalheiro, vendeu a um freguês (que lhe parecera homem sério e respeitável) um belo colar por 6.000 reais e aceitou (que imprudência!), em pagamento, um cheque na importância total de 6.000 reais. Nessa transação o Samuel, sempre muito razoável em seus negócios, obteve um lucro de 4.000 reais. No mesmo dia, Samuel dando esse cheque, por ele endossado, em pagamento, comprou de seu amigo Adolfo Cohn um valioso anel. Nessa venda Adolfo, homem inteligente e precavido, ganhou, também, 4.000 reais. Adolfo, utilizando o mesmo cheque, adquiriu de René Levy, conceituado joalheiro, uma finíssima pulseira de ouro e platina, pela importância de 6.000 reais. Para atender ao colega contentou-se René Levy com o modestíssimo lucro de 500 reais. De posse do cheque o nosso bom René Levy foi ao banco a fim de resgatá-lo e soube, com surpresa, que o cheque era falso. Não havia outra solução para o caso. Procurou os dois endossantes (Samuel e Adolfo) e exigiu que eles, como responsáveis, o indenizassem da importância total. O caso era sério. Samuel e Adolfo, que não queriam saber de complicações com a polícia, concordaram, logo, com a exigência do René Levy. Samuel (que havia ganhado 4.000 reais) abriu mão de uma parte de seu lucro e pagou a metade do cheque (3.000) e Adolfo entrou com outra metade (3.000) e o simpático René Levy recebeu, assim, a quantia (6.000) que lhe era devida. E o cheque falso, uma vez tornado inútil, foi queimado. Há, porém, envolvendo esse episódio, profundo e estranho mistério. Vejamos: Com um cheque falso emitido pelo falsário, e queimado depois pelo René Levy, resultou o seguinte:

Upload: solstabile

Post on 14-Jul-2016

216 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Problema d matemática ou de raciocínio lógico por meio de contação de história.

TRANSCRIPT

Page 1: A História de Um Cheque

A história de um cheque

No caso que vamos contar aparecem, apenas, três judeus. Apesar dos nossos esforços não foi possível reduzir esse número.

Mas narremos, afinal, a história.

Samuel Blum, opulento joalheiro, vendeu a um freguês (que lhe parecera homem sério e respeitável) um belo colar por 6.000 reais e aceitou (que imprudência!), em pagamento, um cheque na importância total de 6.000 reais. Nessa transação o Samuel, sempre muito razoável em seus negócios, obteve um lucro de 4.000 reais.

No mesmo dia, Samuel dando esse cheque, por ele endossado, em pagamento, comprou de seu amigo Adolfo Cohn um valioso anel. Nessa venda Adolfo, homem inteligente e precavido, ganhou, também, 4.000 reais.

Adolfo, utilizando o mesmo cheque, adquiriu de René Levy, conceituado joalheiro, uma finíssima pulseira de ouro e platina, pela importância de 6.000 reais. Para atender ao colega contentou-se René Levy com o modestíssimo lucro de 500 reais.

De posse do cheque o nosso bom René Levy foi ao banco a fim de resgatá-lo e soube, com surpresa, que o cheque era falso. Não havia outra solução para o caso. Procurou os dois endossantes (Samuel e Adolfo) e exigiu que eles, como responsáveis, o indenizassem da importância total.

O caso era sério.

Samuel e Adolfo, que não queriam saber de complicações com a polícia, concordaram, logo, com a exigência do René Levy.

Samuel (que havia ganhado 4.000 reais) abriu mão de uma parte de seu lucro e pagou a metade do cheque (3.000) e Adolfo entrou com outra metade (3.000) e o simpático René Levy recebeu, assim, a quantia (6.000) que lhe era devida. E o cheque falso, uma vez tornado inútil, foi queimado.

Há, porém, envolvendo esse episódio, profundo e estranho mistério.

Vejamos:

Com um cheque falso emitido pelo falsário, e queimado depois pelo René Levy, resultou o seguinte:

O ladrão obteve uma joia no valor de 2.000 reais.

Samuel ganhou 1.000 reais.

Adolfo ganhou 1.000 reais.

René Levy ganhou 500 reais.

Houve, portanto, nesse negócio (sem ter entrado em ação DINHEIRO ALGUM) um lucro total de 2.500 reais e o ladrão levou, ainda, um colar no valor (preço de venda) de 6.000 reais!

Page 2: A História de Um Cheque

Como pode um larápio, depois de roubar uma joia, proporcionar um lucro de 2.500 reais a três joalheiros?

Como explicar, com os prodigiosos recursos da Matemática, esse mistério que assombra os contabilistas e desafia a imaginação dos charadistas?

“Quando o dinheiro fala, tudo cala.”

(Barão de Itararé – Almanaque de 1949)