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Capítulo 1A Quiromante Mais uma vez estou na minha escola chata. Reencontrar os amigos de sempre, comos mesmos assuntos chatos que escutei no ano passado e no ano retrasado serepetirão. Droga. Eu gosto de estudar, adoro pegar os livros da escola e devorá-los.O que eu não aguento mais, é olhar para meus amigos. Calma Beatriz, você precisarelaxar e ser forte, é só o primeiro dia de aula, o que tem demais? Então vamos lá,outro ano letivo começa. Entrei no pátio da escola, os estudantes estão todos em grupinhosconversando, botando a conversa em dia, falando de suas férias, contando asnovidades. Quando eu vejo Juliana, minha melhor amiga, correndo em minha direçãotoda esbaforida, dando-me um abraço forte, que quase perdi o ar. - Beatriz, como foi as suas férias? Eu tenho tanta coisa para te contar. - As minhas férias foram bem... - disse eu fingindo interesse. - Eu preciso de contar, eu fui para praia. E sabe quem estava lá? Diego! - Ah... - bufei. Juliana sempre fala desse garoto, que está louca por ele, mas elenunca deu atenção para ela. - Cadê o resto das minhas amigas? - Ela estão olhando a lista dos estudantes que está grudada na parede, elasquerem ver se passaram de ano. - Vamos lá na lista? - Claro. Eu e Juliana fomos até a lista, minhas amigas, Natália, Gabriela e Bruna,estavam todas espremidas naquela multidão de ansiosos para ver qual sala cairiam.Juliana foi em direção delas, cutucando Gabriela com o seu dedo, chamando-a parase encontrar comigo. Outro abraço, vou comprar um ursinho de pelúcia para elasficarem apertando em vez de mim. - Nossa, você está mais linda que no ano passado. - Obrigada - disse eu com um sorrisinho. - Nossa nem acredito, que estamos no terceiro colegial. - Falando nisso, eu preciso ver o meu nome se está na lista. - Não se preocupe, Natália vê pra gente. Juliana interrompeu a nossa conversa, apontando com o seu dedo para o

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garoto que eu mais odiava, Rogério, ele era o valentão da escola, além de gostosão.Pegava todas as garotas, só que não ficava com nenhuma depois do beijo. - Por que você precisa me mostrar esse garoto estúpido? - Eu disse com umavoz irritada. - Você não soube? - Do que, Juliana? - A mãe dele morreu. - O que eu estou vendo, não é um cara triste e contraído - disse Gabriela -,estou vendo um garoto desinibido e cheio de marra. Virei para olhá-lo mais um vez, quando ele olhou para mim ao mesmo tempo,dando um sorriso cínico que gostava de fazer. - Pelo jeito, não afetou nada nele. - Vai saber Beatriz - disse Gabriela. Natália e Bruna conseguiram ver os nossos nomes na lista, saindo daquelamultidão, reunindo-se em nosso grupinho particular. - Todas nós passamos para o terceiro colegial - disse Natália a todas nós. - E sabe quem continua na nossa sala? - perguntou Bruna. - Rogério. Deus, ele está na minha sala de novo, desde da primeira série esse rapaz meatormenta. Minhas amigas também ficaram decepcionadas. O sinal tocou, todas fomos para a nossa sala de aula, como o resto dosestudantes que estudavam naquela escola. Entramos, eu e as minhas amigas sentamos nos mesmos lugares que nosoutros anos antecedentes. Logo em seguida, entrou o resto dos meus colegas declasse, eram os mesmo do ano passado, depois entrou Rogério, sentando lá nofundão, junto com a sua trupe, que enchia o saco todo ano na sala de aula. A professora entrou, era de português, uma mulher magra, com um nariz fino,com óculos marrons grandes, bochechas chupadas, com cabelos ruivos amarrados emformato de coque, com uma saia quadriculada e com uma camiseta rosa. Aprofessora tinha um péssimo gosto para roupas. - Bom dia classe, eu sou a professora Letícia, e vamos começar a nossaprimeira aula do ano, nos apresentando uns para os outros. Um murmúrio de reprovação ouviu-se na sala. Depois que todos os alunos se apresentaram, a professora lascou matéria no

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quadro negro, não teve dó nem piedade. As outras aulas, os professores seapresentavam como sempre, uns faziam brincadeiras no primeiro dia, não passandomatéria, outros faziam suas apresentações, botando matéria para a gente copiar. O sinal tocou, era a hora do intervalo, eu e minhas amigas ficamos na sala deaula conversando. Quando entrou Lucas, ou melhor, Lukette a bicha da nossa escola,que era o nosso amigo. - Meninas! Eu preciso contar tanta coisa. Eu arranjei um namorado! - Jura?! - dissemos todas. - Ele é do Paraná, o nome dele é Paulo. - Você se deu bem nessas férias - disse Gabriela com inveja. Ela era louca paraconseguir um homem. A conversa estava indo bem, quando entrou Rogério na sala de aula com seusamigos, e viu Lukette conversando com nós, ele se aproximou e começou a zoar. - A bichinha veio na minha sala de aula, conversar com minhas amigas,principalmente com a minha mina Beatriz. Esqueci de dizer, que o bendito Rogério acha que eu sou a namorada dele.Jamais. - Chefe - disse o outro garoto do grupo -, ele sabe que não pode entrar nanossa sala, você sabe o que devemos fazer quando alguém desobedece as nossasordens. - Sei, sim! - disse Rogério cheio de malícia. - Vamos dar uma surra nele, paraque fique um lembrete, é proibido a Lukette, a putinha da escola, entrar aqui. Minha paciência já tinha ido por água abaixo, levantei-me da minha carteira,falando o mais alto que pude. - Põe a mão nele Rogério e eu e minhas amigas batemos em vocês! Juliana, Natália, Gabriela e Bruna olharam para mim assustadas. - Gatinha não se intromete, não vem com marra para cima de mim. - Deixe o garoto em paz, por favor, faça isso por sua mina. - Não acredito queeu falei estas palavras. Rogério pensou por um momento. - Tudo bem, se eu encontrá-lo de novo aqui, eu não respondo por mim. - Vai embora Lukette. Lukette foi embora em disparada.

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O intervalo tinha acabado, e o diretor queria todos os alunos da escola noauditório, queria da boas vindas a todos, desejando um bom ano letivo. O auditório era bem grande, mas tinha um problema, o teto estava comrachaduras e manchado nos cantos, as cadeiras, a maioria delas estavam quebradas,fazendo quase todos os alunos ficarem de pé. O diretor entrou, ele usava um terno marrom, com uma gravata preta,combinando com a camisa branca, sapatos marrons e uma cara de Sadan Hussein,com aquele bigodinho parecido com o de Hitler. - Quero dar boas vindas para os alunos - sua voz era esganiçada que doía ostímpanos -, que este ano letivo seja o melhor de todos. Outro ano se inicia, novasérie, professores diferentes, matérias que nunca tinham vistos. E, para agradecerpor todos estarem presentes no primeiro dia de aula, neste sábado agora, a escolarealizará um baile de boas vindas para todos. Então é melhor começarem a arranjarseus pares, porque esta festa promete. Os alunos não acreditaram no que estavam ouvindo, nem eu acreditei. Umbaile na nossa escola? Nunca tinha acontecido esse evento histórico. Os estudantescomeçaram a conversar no auditório, comentando que o diretor falara. - Por favor meus queridos - disse o diretor interrompendo as conversasparalelas. - Eu sei que no nosso país é raro ter um baile, só que não custa tentar.Vocês vão adorar este evento, vai ter ponche e tudo que vocês têm direito. Agorapodem voltar para suas salas de aulas. Um conglomerado de gente reuniu-se na porta do auditório querendo sair, unsespremendo os outros, para se retirar daquele auditório horrível. Minhas amigas e eu começamos a comentar sobre o baile que ia acontecer. - Nossa - disse Juliana. - Vai ter uma festa nesta escola, eu já sei quem eu vouconvidar. Diego. - Até parece que ele vai aceitar - disse Gabriela incrédula. - Quer apostar? - Gente - Bruna falou chamando atenção de todas nós. - Estou ansiosa paraencontra o meu bofe. - Eu também! - disse Natália. - E você Beatriz? - perguntou Juliana. - Ah, legal. Agora, quem será que vai me convidar?

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O sinal para o fim das aulas tocou. Despedi das minhas amigas e fui até oponto de ônibus. Esperei alguns minutinhos, até que o meu ônibus veio. Por dentro, ele estavavazio, então sentei no primeiro banco que vi. No decorrer no caminho, o transportecomeçou a ficar lotado. Eu estava olhando pela janela, quando uma quiromante deu osinal para o veículo parar, ela estava segurando os seus utensílios, sua mesinhadobrável com uma cadeirinha. Logo que aquela senhora entrou, o cheiro do fedor delarecendeu todo o ambiente, ficando desconfortável para respirar. Pagando suacondução, passou pela catraca e sentou do meu lado. Eu queria morrer, pelos menostomasse um banho de vez em quando. O cheiro das axilas dela estava me sufocando.Durante o trajeto inteiro, fiquei encolhida no canto, torcendo para que ela fosseembora, quando de repente, ela virou-se para mim, começando a me observar.Comecei a ficar desconcertada. A quiromante começou a gesticular a sua boca parafalar comigo, pensei que ela ia dizer: “Isso é um assalto, passa a grana!”, mas o queela disse foi: - Posso ler a sua mão? Eu não acreditava muito nessas coisas de ver o futuro, acho isso uma purabobagem, quem faz o meu futuro é eu mesma, não essa quiromante infeliz que ganhaa vida lendo as mãos dos outros. Para não deixar ela sem resposta eu disse algumacoisa. - Eu não tenho dinheiro. - Eu não vou cobrar nada. Desde da primeira vez que te vi, senti algo diferenteem você, acho que seu futuro pode ser importante. Deixe eu ler a sua mão. - elaestendeu a sua mão para mim. Senti alguma coisa diferente em meu peito, se eu soubesse do meu futuro,tudo ia mudar. A quiromante estava me atraindo, convencendo a estender a minhamão, para ela ler a minha sorte. Não resisti, dei uma das minhas mãos para ela. - Vejo em suas mãos, algo sombrio, eu vejo uma chuva muito intensa, comrelâmpagos violentos no céu, você está inerte no chão, sem vida, não respira, pálida,depois disso, enxergo a escuridão. Sua vida vai mudar totalmente. Eu tirei minha mão rapidamente de perto dela, ela era maluca, estavaprevendo a minha morte, só podia está jogando uma praga. Meu coração estava amil, dentro de mim, eu sabia que a quiromante falava a verdade. Mas não queria

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acreditar nela. A quiromante levantou-se do banco, foi até a porta e deu o sinal para irembora, a porta abriu-se, ela desceu, entrando em uma rua, desaparecendo depoisdisso. Olhando da janela, parecia que ela tinha desaparecido como um passe demágica. Quando cheguei em casa, fui direto para meu quarto tirar a roupa, paraalmoçar. Minha mãe estava na cozinha, fazendo macarrão, meu irmão jogava vídeogame na sala de estar. Lídia era separada do meu pai, porque ele não ficava muitotempo em casa, ele trabalhava numa indústria que pesquisava novos tipos deremédios, então ele viajava para vários países. Minha mãe, não aguentando mais adistância, resolveu se separar do meu pai para não sofrer tanto. Julio, meu irmãocaçula de quinze anos, ficou revoltado com isso, mas aceitando, de vez em quandoele chorava as escondidas. Eu, só podia consolar a minha mãe. É uma separação meioidiota para mim, não tinha precisão, era só continuar tendo contato. Minha mãe perguntou como que foi o meu primeiro dia de aula. Nãomencionei sobre a quiromante. Fui para sala ver televisão, trocando de canal, coloquei no Jornal Hoje daGlobo, com a mulher do tempo dizendo: - Teremos previsão de chuva para o final de semana. Então eu me lembrei do que a quiromante tinha dito. “Eu vejo uma chuva muito intensa, com relâmpagos violentos no céu...” Não podia ser, ela estava falando a verdade. A minha sorte estava paramudar para sempre.

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Capítulo 2O Acidente Entrei novamente na sala de aula e sentei com as minhas amigas para mais umaconversa de sempre, quando eu olhei para o lado e vi um garoto novo na sala de aula,ele vestia roupas de Hip Hop de nylon, com uma camiseta regata, com umbermudão. Percebendo que eu estava olhando para ele, dirigiu-me um sorrisinhodiscreto, fazendo eu ficar todo vermelha, virando o meu rosto rapidamente de voltapara as minhas amigas. Rogério entrou na classe com aquela pose de malandro de sempre ecumprimentou o garoto novo dizendo: - E aí primo Pedro, está gostando da nova escola? - Estou gostando sim, mano! Meu estômago revirou o café da manhã que eu tinha tomado. - Senta lá no fundo da sala conosco. - Vamos lá! Juliana olhou para mim com um sorrisinho afetuoso, mostrando um olharcomo querendo dizer: “Agora a sala vai ficar maravilhosa!”. Pela primeira impressão,o rapaz não mostrava ter as mesmas características que Rogério, parecia ser maissossegado, e não um bagunceiro de primeira linha. O professor de biologia chegou, um homem careca, com óculos de arosredondos, uma barba que só tinha penugens amarronzadas, com um casaco xadrez depéssimo gosto, uma calça jeans desbotada e um sapato social, com algumas manchasbrancas. Ele colocou suas coisas em cima da mesa, apresentou-se formalmente elascou matéria na lousa que meus dedos ficaram latejando de tanto copiar sobremitose e meiose. O sinal tocou para o intervalo, eu e minhas amigas estávamos no corredor,quando Pedro se aproximou de nós, Natália, Gabriela, Bruna e Julianainterromperam a conversa de imediato. - Com licença meninas - disse sutilmente. - Fique à vontade - respondi, antes que ele ficasse com vergonha. - Você gostaria de ser a minha parceira no baile. Aquilo foi um tapa na minha cara, minhas amigas fizeram um oh de

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espantadas. Demorei alguns segundos para responder, não seria uma má ideia ir aobaile com ele, até que ele era bonitinho, então, eu respondi: - Sim! - minha voz saiu que nem uma garotinha do primário querendo suacanetinha colorida. - Então a gente se vê gatinha! Ele virou às costas e foi embora. Minhas amigas começaram a comentar o caso excitadas. - Você é uma garota de sorte - disse Juliana toda empolgada. - O garoto nem chegou e já se enlaçou para o seu lado - disse Natália meabraçando fortemente. - Eu que diga - disse Bruna. - Agora só precisa de um vestido e uma bela maquiagem nos olhos - disseGabriela já me puxando para dentro da sala, para pegar o estojo de maquiagem. Confesso que estou louca para esse baile, mas outra coisa me preocupa, avisão que a quiromante teve comigo no ônibus. O sinal para o fim da aula tocou, despedi das minhas colegas e saí para oportão principal, quando uma cena chamou a minha atenção. Pedro estavaconversando com Rogério e mais alguns amigos no muro da escola e por incrível quepareça este muro estava do meu lado e comecei a ouvir a conversa deles: - Para você entrar para o nosso grupo, Pedro, terá que fazer algo de valor quemostre a sua honra com a turma. - E, quando eu começo? - Que tal no baile? - E o que eu preciso fazer? - Nós vamos levar você até uma estação elétrica, onde você subirá na torre deeletricidade e gritará eu sou filho da puta. - E Beatriz? - Invente uma desculpa para ela, dança alguns segundos com ela e diz que estáapertado. - Pode deixar... - Isso aí priminho! - cumprimentando com um aperto de mão. Antes de perceberem a minha presença, saí de fininho para que não menotassem. Pedro estava cometendo um grande erro, isso causaria a morte dele ou até

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ser preso pela polícia, eu tinha que impedi-lo. A semana passou voando e o diretor começou a decorar o ginásio com balõesde corações, cartazes com poemas românticas do poeta Camões e alguns homensmontando um grande palco, onde uma banda bem famosa contratada por ele iriacantar. Deu-me um certo asco ver tudo aquilo, não sou um tipo de garota que adereao amor por outra pessoa. Fazer o quê? Pelo menos eu me divirto. Era sexta-feira, falei com minha mãe se ela poderia me emprestar o cartão decrédito para comprar um vestido para o baile. - Você já tem um par?! - perguntou minha mãe quase tendo um ataque deloucura. - Sim... mãe... - Qual o nome dele? - Pedro. - Belo nome, pode ir comprar o seu vestido. Não volte muito tarde, para queamanhã você acorde disposta, porque vou levá-la ao salão de cabeleireiro para daruma melhora nesse rosto tão dócil. - Eu passo um rímel aqui mesmo - disse tentando convencê-la a não fazer isso. - Você vai toda produzida amanhã! E não quero mais discussões. - Tá bom, mãe. Saí de casa e fui ao Shopping Bourbon comprar um vestido verde-água etambém comprei um sapato branco bem discreto. Voltei para casa, para me preparar para o grande dia de amanhã. Acordei com a minha mãe puxando o cobertor com violência e gritandocomigo para que eu acordasse. Levantei-me da cama com relutância e fui tomar café.Depois lavei o rosto me troquei e fui para o salão de beleza. O salão se chamava Saia daqui Outra, com uma tesoura enorme cortando umfio de cabelo loiro, mal gosto! As mulheres que trabalhavam ali, mais falavam deseus encontros amorosos mal sucedidos do que fazer um simples cabelo, fiquei duashoras para sair de lá. O resultado do meu cabelo e do meu rosto saiu magnífico, pelomenos. A noite chegou bem depressa, minha mãe me levou de carro até o portãoprincipal da escola e me deu um beijo e pediu para que dançasse bastante com ogatinho à noite inteira.

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Cheguei ao ginásio e o diretor logo pegou em meu braço e dirigiu-me ao ladoesquerdo, junto com as outras garotas do colégio, enquanto os meninos eramcolocados do lado direito. Encontrei minhas amigas que estavam bem produzidas,quase não as reconheci, até elas não perceberam que era eu. Juliana estava com umcoque bem feito e com um monte de laquê em cima da cabeça que nem o própriovento poderia derrubar aquela muralha da China, ainda mais com um vestidovermelho rubro nada discreto e com um sapato preto e que brilhava, mostrando queforam polidas com esmero. Gabriela estava com um vestido branco e com um rabode cavalo e com um sapato branco. Bruna optou por tomara-que-caia rosa com umaminissaia preta e com uma meia calça da mesma cor, com os cabelos soltos e cheiode chapinha. Natália quis ser mais recatada e colocou um vestido preto, com umsapato preto e o cabelo em forma de rabo de cavalo. A festa estava prestes a começar, quando entrou Pedro com um smoking ecom um moicano na fronte de sua cabeça. Ele ficou tão lindo! Calma menina,controla seus ânimos, a festa está começando, na verdade, um problema estavacomeçando e que eu tinha que evitá-lo de qualquer forma. O diretor ficou no meio do salão, dando as boas-vindas para os participantes epedindo para que os meninos pegassem suas parceiras. Pedro me pegou de umamaneira tão galante que eu quase derreti ali mesmo, se não fosse a banda que entrouno palco e começou a tocar. E advinha quem era? Restart, cantando “Eu vou teesperar”, até que a música era bem propícia para aquela ocasião. As meninas docolégio começaram a gritar desvairadas por causa deles; eu gostava de ouvir TomJobim, mais relaxante. Pedro dançou comigo por meia hora, tirou as mãos de minha cintura e ficouuma boa distância de mim. - Eu preciso ir ao banheiro. Era agora, tinha que salvá-lo de uma burrice. - Você não está com vontade de ir ao banheiro! - Eu disse com uma voz firme. - Como assim? - disse querendo fingir que estava apertado. - Eu vi você conversando com Rogério, para entrar no grupo deles, vocêprecisa ir em uma estação elétrica, e como eu era a sua parceira na festa, inventariauma desculpa para ir ao banheiro e me deixar igual uma idiota aqui esperando e meremoendo nos cantos sem uma companhia.

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- Tá! É verdade! Mas o que você tem a ver com a minha vida? - Na verdade, nada. Só acho que para se enturmar com alguém, não precisaarriscar a sua vida e até ir preso, por causa de uma insanidade desta. - Eu tenho que ir Beatriz, foi legal dançar com você. Ele se afastou de mim rapidamente, deixando-me no meio da multidãodesamparada, sem ninguém para curtir a noite. Como eu sou teimosa saí correndoatrás de Pedro, não vou permitir que ele estrague a sua vida dessa maneira. Fui para o portão principal do colégio e um rompante, procurando-o. Ele nãoestava ali. Como era rápido. Corri um quarteirão, até avistar uma van preta, ondePedro estava sentado no banco da frente. Corri com todas as minhas forças gritando: - Pedro, pare com isso! Rogério ouviu a minha voz fazendo uma cara de desconforto e olhando paraoutros garotos de seu grupo e também para um cara bem mais velho do que elesdirigindo aquele carro. Aproximei-me, encostando na porta e olhando fixamente paraele. - Vai embora Beatriz! - disse Pedro com um tom de grosseria na voz. - Não faça isso! Pense na sua própria vida! - Eu já pensei nela! Agora vaza daqui! - Então, eu vou com você! A minha voz estava tão cheia de autoridade naquele momento que ninguémquestionou, entrei na van sentei-me ao lado de Rogério. Os outros garotos sentiramum certo desconforto com a minha presença, mas eu não estava nem aí. A van dirigiu-se para avenida Jaguaré, indo até a marginal Tietê, onde tinhauma rede elétrica, com torres de aço que pendiam enormes com fios de cobre no alto.O automóvel estacionou em um gramado perto do retorno da ponte, todos descerame atravessaram a avenida. Chegando na rede de energia, o cara mais velho tirou umamadeira que estava encostada à parede, revelando um buraco do tamanho de um serhumano. Pedro foi o primeiro a entrar, seguido pelos os demais companheiros e eufoi a última a entrar. Rogério foi em direção a Pedro dando coragem ao seu primo. - É só você fazer aquilo lá e fará parte do nosso grupo. Pedro meneou a cabeça e tirou o paletó, indo em direção a torre. Começou aescalá-la com uma confiança enorme, sem medo do desafio, dando um passo de cadavez. Mas o pior chegou, o céu começou a relampear e uma chuva pesada e intensa

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desabrochou na noite, logo em seguida, raios violentos começaram pairar, fazendo océu iluminar-se como um dia de verão. Um raio acertou uma das torres com fúria, fazendo Pedro se assustar e perdero equilíbrio e ficar com uma mão só, pendendo na torre. Não pensei duas vezes, tireio meu sapato branco, levantei um pouco o meu vestido e comecei a escalar. O meumedo tornou-se coragem, minha fraqueza virou força, quando percebi, agarrei asmãos de Pedro e consegui fazê-lo segurar as barras de aço com mais firmeza. Pedroagradeceu, descendo rapidamente, quando chegou lá embaixo, ele pediu para que eudescesse também, mas um raio acertou em cheio no meu corpo, fazendo que eu fossearremessada nos fios elétricos. A energia entrava dentro do meu corpo comoformigas saúvas que atacavam furiosamente seus inimigos, depois, fui arremessadanovamente, indo em direção ao chão. Vi escuridão, como a quiromante tinha me dito,vi o nada. E, pela primeira vez, eu sabia o que era a morte.

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Capítulo 3Não Sou Mais a Mesma Eu sabia que estava morta, via na minha frente um campo cheio de flores e pessoascom roupas brancas conversando umas com as outras felizes. Comecei a andaratravés do campo, indo em direção a um lago, onde tinha um banco de praça com umgaroto sentado em cima, olhando o infinito, seus cabelos eram pretos e o seu corpobem definido. Dentro de mim, havia algo dizendo para que eu sentasse ao lado dogaroto e conversasse com ele. Quando me alojei ao seu lado, ele olhou para mim comolhos bondosos, mostrando um sorriso tão afetuoso que quase fiquei apaixonada porele, o seu rosto era tão lindo e perfeito. - Você não acha que aqui tem uma paz enorme? - perguntou ele. - Sim... Eu acho... - Este lugar é chamado de Preparação, onde o espírito do ser humano étreinado para voltar para uma nova vida, mas no seu caso, não. - Por que? - Você tem uma missão, Beatriz, não chegou a hora de sua morte. Volte para aTerra e cumpra a sua missão. - Que missão? - perguntei, também querendo saber, como ele acertou o meunome de primeira. - Há coisas que serão explicadas no momento certo. Mas posso te garantir quevocê não será a mesma pessoa quando veio para cá, estará mudada. - Como eu faço para voltar, então? - Basta você desejar. Inspirei fundo e desejei voltar para o meu local de origem. O garoto começou adesaparecer do meu campo de visão e tudo ficou escuro. Meus olhos abriram lentamente, mostrando o teto de algum lugar em que euestava, virei-me para o lado e vi a minha mãe segurando a minha mão esquerda eolhando para mim, com os olhos inchados de tanto chorar. - M-mãe... - a minha voz soou fraca e gaguejante. - Não se esforce filha, você passou por um baque muito forte. - O-onde e-eu e-estou? - No hospital.

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Percebi que estava em um quarto hospitalar, com um cateter intravenoso ecom um aparelho de respirar no meu nariz. Meu pai entrou no quarto todo preocupado, mas quando me viu de olhosabertos, ele se acalmou, ficando feliz e sorrindo para mim. Inspirei fundo e comecei a chorar, pela primeira vez, minha família estavajunta novamente, como antigamente, quando o meu pai não tinha saído de casa e seseparado da minha mãe. - Filha! - disse ele com um sorriso nos lábios. - Você está bem? - Estou - disse sem gaguejar. - Quando a sua mãe ligou para mim, informando o que aconteceu, não penseiduas vezes e vim até aqui. - Eu agradeço pai. Ele se aproximou de mim, pegando em minha mão e beijou-a. - Filha, eu preciso ir, mas voltarei em breve para te ver. Meu pai olhou para minha mãe. - Avise o meu filho que eu estou com saudade. - Pode deixar Igor... - ela disse com uma indiferença na voz. - Tchau filha, melhoras. - Tchau pai. Igor fechou a porta do quarto atrás de si. Depois de dois dias, o médico entrou no meu quarto e disse que eu poderia sair nodia seguinte, pois o meu corpo estava mais resistente. No outro dia, minha mãe estava guardando as minha coisas na bolsa, ela olhoupara mim com os olhos cheios de ternura. - Filha, eu tive tanto medo de te perder. Se não fosse o Pedro ligar para mim,informando que um raio tinha caído em cima de você, talvez estaria... Deixa pra lá. - Um raio caiu na minha cabeça? - disse eu nervosa. - Exato. Pedro me informou que o baile tinha acabado, e vocês dois saíram nachuva, digamos... fora de si... Brincando, quando um raio te acertou. - Ah... Agora lembrei - menti. Não podia dizer o que tinha acontecidoexatamente pois ela teria um ataque de loucura e Pedro foi muito sensato inventando

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esse assunto. Tentei mudar a conversa. - Quantos dias eu fiquei inconsciente? - Uma semana... - Uma semana! - eu gritei. - O raio que você levou não foi brincadeira, mas agora você está na ativa epodemos ir para casa. Vamos? Minha mãe abriu a porta do quarto do hospital. - Vamos... Quando chegamos em casa, meu irmão veio correndo e me deu um abraço semgraça. - Fiquei muito preocupado com você... - a voz dele foi sumindo aos poucos devergonha. - Obrigado irmão, pelo seu apoio. Ele deu um sorriso discreto e voltou a sentar no sofá. Minha mãe olhou paramim com um brilho nos olhos que quase fez eu ficar cega, a felicidade irradiava dosolhos dela, de ver-nos falando pela primeira vez, depois de muito tempo. Lídiadeixou as minhas coisas no quarto e deu outro abraço em mim que quase perdi ofôlego. - Não se esqueça, você não escapou das aulas. Amanhã começa tudo de novo. - Que ótimo - minha voz não soou muito contente. Minha mãe saiu do meu quarto e me deixou sozinha. Sentei-me na cama,pensando em tudo que tinha acontecido, o meu acidente, Pedro fazendo aquelaprova idiota que Rogério tinha pedido e aquele garoto que eu tinha visto em outromundo, informando-me que a minha missão não tinha terminado. O que será que elequis dizer? Será que foi um sonho ou algo real. Não sei dizer ao certo. Quando coloquei o meu pé na sala de aula e depois o meu corpo inteiro, as minhasamigas vieram em um rompante me abraçando. Sinceramente, pela primeira vez, nãoachei ruim ser abraçada, elas estavam preocupadas comigo, mostrando seu afeto poruma garota chata e enjoada. - Nós sentimos muito a sua falta - disse Juliana com emoção na voz. - Você nos matou de susto! - disse Gabriela dando uma piscada de olho paramim.

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- Perdi a minha razão, sobre o que aconteceu com a nossa amiga querida -falou Bruna quase chorando. - É mesmo! - concordou Natália. - Estou muito feliz por vocês estarem do meu lado. Não esquecerei jamais dasminhas superamigas. Logo após de todo aquele sentimentalismo, sentamos em nossos lugareshabituais, e acabei virando para trás e avistei Pedro. Ele me encarou com os olhos devergonha e baixou a sua cabeça, pude perceber que ele estava arrependido. Rogério entrou na sala com aquela pose de malandro, avistando-me,aproximou-se e deu um sorrisinho cretino para mim. - Está bem melhor gatinha... - sua voz era cheia de marra. - Se não tivesse idocom a gente, não ir acontecer nada com você. Por isso, não gosto de mulheres que seintrometem em coisas de homem. Aquelas palavras despertaram a minha fúria, dando um tapa tão forte na mesaque todo mundo direcionou-se para mim, assustados. Rogério não estava nem aípelo tapa que eu dei em cima da mesa. Levantei-me da cadeira e dei um tapa na caradele com todas as minhas forças, os cinco dedos ficaram manchados em sua pele. Aspessoas da sala perderam a respiração, até Pedro ficou conturbado com a minhaatitude. - Você é nojento! - minha voz estava cheia de desprezo. - Como pode ser tãoegoísta e imaturo e nem se preocupa com os outros. Por causa da sua infantilidadeeu fiquei uma semana de cama, eu poderia ter morrido! Rogério estava abalado ainda com o tapa na cara dado em seu rosto, seusolhos tremiam de medo e raiva, ele queria bater em mim, arrancar a minha pele. Maso que ele fez, foi sentar-se em sua carteira no fundo da sala. Minhas amigas puxaram o meu braço para que me sentasse, não disseramnada, porque sabiam do meu nervosismo, só ficaram me olhando preocupadas. “Ela deu tapa na cara dele!”, comecei a escutar um garoto comentando comum colega. “Bem feito, teve o que merecia!” “Eu também acho!” “Rogério vai querer bater nela.” Todo mundo da sala começou a falar ao mesmo tempo de mim, minha cabeça

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começou a rodar, as vozes entravam em minha cabeça e martelavam o meu cérebro. - Calem a boca! - eu gritei o mais alto que pude. - Mais ninguém está falando - disse Juliana tensa. - A sala inteira está falando de mim, até vocês estão falando! - minha vozestava misturada com um urro de desespero. Juliana tentou segurar o meu braço para poder me acalmar, mas rejeita-a combrutalidade. O meu corpo começou a arquear para frete, senti espasmos vindo naspernas, braços, pescoço e a minha cabeça. Meus cabelos começaram a ficar eriçados,parecendo que eu tinha levado um susto. Tudo começou muito rápido em volta demim, meu corpo foi levitando para o alto, derrubando a minha carteira com força,fiquei suspensa no ar, meus braços estavam esticados e meus cabelos se mexiam emuma dança frenética, nunca indo para baixo. Pela janela, notei o céu azul ficar preto,o sol da manhã foi escondido pelas nuvens negras, trovões cantaram na escuridão,reluzindo relâmpagos como espadas de guerreiros. - Beatriz está flutuando! - disse Natália. A cena de ação começou, uma chuva tão forte caiu sobre a escola, o ventoentrou pelas janelas com uma força avassaladora, jogando os cadernos, canetas e ascarteiras para qualquer lado aleatoriamente. Todo mundo da sala saiu em disparadapelo corredor, gritando de pânico. Alunos de outras classes também saíram, pois ovento estava inundando a escola inteira, os raios invadiram a construção, derrubandoas paredes. Os professores conduziam os alunos de uma forma frenética para a saídada escola. Eu não via nada disso, mas com os olhos fechados eu podia reproduzir acena na mente. Um tornado começou a se formar assustadoramente, indo em direçãode tudo, eu não tinha controle sobre o que estava acontecendo, meu desesperocrescia de modo arrebatador. Seria o fim dos estudantes? Seria o fim da minha vida? Meu pai entrou de repente na sala de aula e apontou a sua mão direita emcima de mim. Dos seus dedos saíram uma energia magnética que me envolveu,bloqueando aquela fúria dentro de meu ser, fazendo eu voltar para o chãolentamente, deitada, meus cabelos voltaram para o seu formato original. Atempestade tinha acabado, sobrando a destruição da escola. Igor se aproximou de mim e levantou a minha cabeça, colocando-a entre assuas pernas. Abri os olhos lentamente, meu pai estava olhando para mim de ummodo fraterno e preocupado.

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- O que aconteceu comigo? - minha voz saiu um rouco profundo. - Depois explicarei tudo, relaxe e feche os olhos, tenho muito trabalho a fazer. - Fique comigo pai! - Estarei sempre com você. Agora relaxe. Fechei os meus olhos novamente, quando abri-os, eu estava deitada na sala deaula, junto com o meus colegas que acordaram instantaneamente, parecendo quetinham ensaiado para aquilo. - O que aconteceu? - disse um aluno. - A escola está toda destruída! - disse outro garoto de corpo magro. - Verdade! - disse um menino de cabelos pretos. Uma comoção encheu todo mundo, quando um professor entrou em nossasala de aula. - Vocês estão bem? - Estamos - todos nós dissemos em uníssono. - O que aconteceu - perguntou Pedro. - Tivemos uma tempestade. Os telhados da escola foram arrancados e amaiorias das paredes estão destruídas, e vim buscar vocês, pois o lugar está comrisco de desmoronamento. O professor nos conduziu a saída da escola, minhas amigas estavam mudas,estavam em choque com o que tinha acontecido. Um jornalista estava parado emfrente ao muro do colégio fazendo uma matéria. - Uma estranha tempestade atingiu esta região. Este foi lugar mais afetadopela tempestade, tanto que a escola está com os alicerces abalados, com risco deirem abaixo. Olhei para Juliana e perguntei: - Você sabe o que aconteceu? - Não sei... A única coisa que me lembro é que começou a chover. Ela não se lembra de nada. Fiz a mesma pergunta para as minhas outrasamigas, todos disseram a mesma coisa. O carro fox da minha mãe de cor vermelha apareceu no meu campo de visão,aproximando de todas nós. A janela preta foi para baixo, mostrando o belo rostodela. - Filha, entre no carro! - sua voz estava sem emoção nenhuma.

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Abri a porta do carro e entrei, olhei para trás, vendo a escola aos pedaços,seria a última vez que voltaria novamente para cá. Chegando em casa, meu pai e meu irmão estavam um do lado do outro, jáesperando pela minha presença sentados no sofá. Minha mãe sentou-se em umapoltrona do lado direito da sala e eu fiquei de pé. - Filha, sabe o que aconteceu hoje com você? - Meu pai começou a conversa. - Está muito confuso na minha cabeça. - Isso é normal. Gostaria de se sentar? Pois o que irei contar pode abalar umpouco você. Sentei-me em outra poltrona, olhando diretamente para ele. - Você é uma paranormal - ele jogou isso na minha cara de uma vez só. - Pai, para de brincar. Não existe esse papo de paranormal. - Explique para mim, o que aconteceu hoje? - Explique você! - A raiva estava tomando conta de mim novamente. - Por queestava na minha escola? Como você apareceu de repente? - Porque eu sou um paranormal. O meu poder é bloquear outros poderes deparanormais, qualquer um, mesmo que seja o mais forte do mundo, tenho esse poderabençoado. Também posso bloquear os meu poderes por sete horas. - E eu - meu irmão começou a dizer -, tenho o poder de controlar e falar com osanimais. Mamãe nunca deixou a gente ter um animal, para que você não desconfiassedos meus poderes. - E minha mãe? - Eu estava processando isso muito espantada. - Posso controlar a água. - Filha... - disse o meu pai cheio de angústia. - Eu e sua mãe se separamos, poisnão podíamos deixar que você soubesse a verdade sobre nós. Poderia ser perigoso,principalmente se uma pessoa qualquer não tivesse poderes, poderia nos denunciar ecausar a nossa destruição. - Vocês poderiam ter me contado! - Eu berrei cheia de raiva e repulsa. - Agora estamos te contando minha filha, principalmente agora que você tempoderes. Agora é igual a nós, com uma única diferença, você é uma Trauma, sua mãe,eu e o seu irmão somos Congênitos. - Como assim? - Existem dois tipos de paranormais no mundo, os Traumas e os Congênitos.

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Os Traumas são aqueles que sofrem um acidente muito grave e acabam adquirindopoderes misteriosamente, os Congênitos já nascem com esse dom. - Podiam ter confiado em mim. Não contaria a ninguém. - Também tivemos vergonha da Comunidade Psíquica, se eles soubessem quesua mãe e eu tivemos uma filha sem poderes, seria a vergonha de nossa linhagem. - Fizemos isso pelo seu bem - disse Lídia com uma ternura na voz, misturadocom tristeza. - Te amamos muito e não queríamos o pior para você. - E, agora - continuou o meu pai -, terá que ir para o Campo de Concentração,desenvolver o seus poderes, como o seu irmão vem fazendo há algum tempo. Eutambém menti para você, quando eu disse que o seu irmão passava um tempocomigo, para compensar o tempo da perda. - Eu tinha que fingir irmã, sempre mostrando minha tristeza, para que você nãodesconfiasse de nada. - Não confiaram em mim - disse entre lágrimas. - Não vou para um Campo deConcentração, isso lembra Nazismo e não quero fazer parte disso. Dane-se essacomunidade idiota. Mentiram para mim, criaram um teatro barato, escondendo demim toda a verdade. Levantei-me da poltrona e saí em disparada para o meu quarto, batendo aporta com toda a força, deitei em minha cama. As lágrimas caíram dos meus olhoscomo uma cachoeira, poderiam ter me contato tudo, mas não confiaram em mim ecriaram uma farsa, uma família que não existia. E agora tenho poderes sem controlenenhum para utilizá-los, minha vida virou uma maravilha.

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Capítulo 4Campo de Concentração Sonhei que estava em uma cidade antiga, primeiramente, não reconheci o lugar, poiseu não era desta cidade. Mas comecei a prestar a atenção em tudo a minha volta,percebendo que tinha altas pilastras, formando templos espetaculares, pessoas queandavam na cidade com túnicas brancas, não podia ser, estou na Grécia Antiga. Opovo grego andavam pelas ruas numa sintonia única, não prestavam a atenção emuma garota estrangeira que estava ali, pareciam seres humanos programados a seguirem frente, sem olhar para trás. Andei pela cidade, reparando nas grandes estátuasdos deuses da Grécia, a primeira que vi foi Atena, a deusa da Sabedoria, a construçãode seu corpo era perfeita e seus olhos mostravam uma bondade e um conhecimentoprofundo. Meus pensamentos foram interrompidos por gritos assustadores, o povoheleno estava correndo desesperados, como lunáticos fugindo do hospício, quandopercebi uma presença muito forte, uma energia tão grande que o meu corpo começoua tremer. Virei para a direção de onde as pessoas corriam e vi dois homens quelutavam um contra o outro. Um tinha cabelos pretos e usava a mesma túnica doscivis da cidade, já o outro, tinha cabelos marrons e usava roupa de soldadoespartano. Eles não lutavam com espadas, mas sim, saía energia de suas mãos, o detúnica soltava uma energia branca e límpida, o outro emanava uma energia negra.Aproximei-me dos dois, vendo mais de perto, tinham uma beleza arrebatadora, eramdeuses gregos na beleza literalmente. - Desista Guenesis, dominarei este mundo e destruirei todos os Congênitosdesta terra! - disse o homem com roupa de soldado de espartano. - Não Doron! Os Traumas podem viver em harmonia, só precisamos fazeruma aliança de paz. - Uma aliança de paz?! - Ele riu com um tom cheio de malícia. - Você sabe quenenhum Congênito e Trauma se darão bem na vida. Os Congênitos odeiam osTraumas. - Você esqueceu que eu sou o rei deles? Que controlo todos? - Sua força está fraca irmão. Não conseguiu controlá-los, por isso, criei osSarx! - Não precisa ser assim, vamos trazer a paz para esse mundo!

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- Não! - Ele gritou cheio de revolta. - Isso terminará hoje! Eu não pude evitar e gritei: - Parem com isso! Os dois não repararam em mim, parecia que eu não existia. Doron arremessoutoda a sua energia negra em cima de Guenesis, que fez o mesmo com a sua energia deluz. As duas energias se chocaram com mais intensidade, irrompendo uma grandeexplosão de luz. Acordei sobressaltada, o meu corpo transpirava compulsivamente, o meutravesseiro estava todo molhado, formando o formato de minha cabeça. Levantei-meda cama, o quarto já estava claro e o sol penetrava pela janela com o seus raiossolares. O sonho que eu tive ainda estava vivo em minha mente, Doron e Guenesis,dois irmãos brigando para manter a sua raça viva. Pelo sonho, Guenesis era umCongênito e Doron um Trauma. Mas por quê o motivo daquela briga? Doron tinhamencionado sobre os Sarx, o que é isso? Primeiro eu precisava lavar o meu rosto edepois tomar um café, depois pensaria melhor no assunto. Minha mãe estava na cozinha preparando o café da manhã, quando percebeu aminha presença e deu um sorriso cheio de ternura. - Oi filha. Está melhor? Não respondi. Ainda estava magoada com a minha família ter me enganado portanto tempo. - Eu sei filha que devíamos ter contado para você. Mas era para o seu própriobem. Não queríamos que você fosse uma ameaça para as outra pessoas. Não aguentei e explodi. - Vocês tiveram vergonha de mim! Ela deu um profundo suspiro, deixando o bule de café em cima da pia, puxandouma cadeira e sentando-se. - Filha, venha aqui por favor. Eu não queria ir, mas a minha mãe me olhou com os olhos cheios de tristeza enão suportaria vê-la chorando. Sentei-me também. Ela pareceu aliviada depois daminha aproximidade. - Filha, você está entrando num mundo novo, o mundo dos paranormais. Anossa sociedade é preconceituosa desde dos tempos antigos. Congênitos e Traumas

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não se dão bem. Por isso, foi criada a Comunidade Psíquica para trazer a ordem.Mas mesmo ela, está cheia de preconceitos terríveis. Ainda não teve uma guerra feia,pois por dentro da Comunidade há dois lados que têm um interesse próprio,política. Quando você nasceu, estávamos felizes, ia nascer mais um paranormalCongênito, mas não aconteceu. Aos quatro anos de idade, a criança tem queapresentar algum poder, mesmo que seja ínfimo, você não teve nenhumademonstração. Seu pai e eu ficamos desesperados, pois quando um Congênito serelaciona com o mesmo Congênito, ele tem que dar um Congênito, e isso seria anossa ruína. Era muita informação para processar. - Então, falamos para a Comunidade Psíquica que você tinha aparentado donsespeciais. Eles ficaram felizes e falaram que você iria com doze anos de idade para oCampo de Concentração, mas não foi o que aconteceu. - E como você e meu pai burlaram a Comunidade Psíquica? - Entramos em contato com o diretor do Campo de Concentração e falamostoda a verdade. Era uma manobra meio arriscada para se tomar, mas ele topou, poisele tinha uma irmã e que o seu filho sofria do mesmo problema. Depois do acidente,você agora tem poderes, é uma Trauma, infelizmente, terá que aguentar opreconceito da nossa sociedade. Comecei a chorar, eles só queriam me proteger e eu chame-os de enganadores,como eu estava errada, esse mundo era muito perigoso. - Não chore minha filha - disse ela tentando me consolar. - Preciso dizer maisuma coisa. Parei de chorar, tirando as lágrimas dos meus olhos com as costas da mão. - Já tiramo-la do seu colégio. - Mãe! - Eu protestei. - Irá para o Campo de Concentração, precisa dominar o seu poderes. Vocêquase colocou a escola abaixo. - Não foi a minha culpa! - Comecei a ficar irritada de novo. - Eu sei - disse ela pegando em minha mão direita. - Se você não ir para aquelelugar, os seus poderes aumentarão em profusão, chegará uma hora que você nãoconseguirá dominá-los, pondo risco a sua própria vida. - Tudo bem mãe. Quando eu tenho que partir?

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- Hoje mesmo. - Tudo bem, arrumarei as minhas malas. - Seu irmão orientará você lá. Faça todas as perguntas necessárias para ele, atéque você possa fazer as coisas livremente. - Farei isso. - Vamos tomar café? - Vamos. - Vou chamar o seu irmão. Ela deu um sorriso para mim e saiu da cozinha. Seria algo interessante naminha vida, conhecer outra sociedade que não seja a humana. Depois do café da manhã, fui ao meu quarto e liguei o computador e entrei noGoogle, digitei o nome Guenesis. Apareceu um site chamado Gregos Para NãoGregos, nesse site tinha todas as palavras e nomes da língua grega. Procurei emnomes, não havia nem informação de Guenesis, Doron e Sarx. Procurei as palavrasem ordem alfabética e achei Doron. Clique em cima dela e apareceu as informações. Doron no antigo grego significa a palavra dom, escrito no grego original ficariaassim: ������ Procurei a palavra Guenesis e a achei. Guenesis no antigo grego significa a palavra nascimento, escrito no grego originalficaria assim:������� Olhando novamente, encontrei a palavra Sarx. Sarx no antigo grego significa carne, escrito no grego original ficaria assim:

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���� Estranhei aquelas palavras. Como uma pessoa tem nome de substantivo?Meio curioso. Será que tudo que eu sonhei não passava de pura imaginação? Mas émuita coincidência existirem essas palavras, não sabia sobre a existência deles. Algodentro de mim me dizia que isso não era um sonho e nem coincidência, era muitomais sério do que se podia imaginar. Minhas malas já estavam prontas, eu tinha tomado um banho gostoso para tirar ocheiro de suor da noite, esperando minha mãe para ir embora. Julio estava do meulado com uma expressão tensa, era a primeira vez que eu ia com ele para o Campo deConcentração, pensei em dizer algumas palavras de conforto, mas o telefone tocou eeu atendi. - Alô? - Beatriz? - disse uma voz feminina. - Sou eu. Quem é? - Juliana - sua voz estava com intensa alegria. - Eu precisava ligar para você,eu soube que saiu da escola. Vou sentir tanta saudade sua. Minha mãe também metirou do colégio, pois está em ruínas o prédio, na verdade, todos os pais tiraram. - Obrigado Juliana - minha voz estava cheia de satisfação, pois ela tinha ligadopara mim. - Onde você vai estudar agora? - Ainda não sei - menti. - Minha mãe quer colocar eu no Fernão Dias que fica lá em Pinheiros. Eladisse que ia amanhã fazer a minha matrícula. - Que legal. Sentirei saudade também. Você foi a melhor amiga que eu tive navida. - Fala sério... - Verdade! Desde da primeira série, lembra? E quando você bateu no Tiago,pois ele tinha roubado a sua bolacha Trakinas, você virou um mostro. Ele ficou deolho roxo. - Me lembro! - Comecei a dar risada. Foram tantos momentos juntos de

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felicidade. Não esqueceria dela nunca. Minha mãe chegou na sala esperando eu desligar o telefone. - Juliana, tenho que desligar, eu vou sair. - Tudo bem, então. Outra hora nós nos falamos. - Pode deixar! - Tchau amiga. - Até logo. Desliguei o telefone, meus olhos começaram a arder, queria chorarcompulsivamente. Eu tinha sido uma tola com as minha amigas, não tinha dado ovalor merecido, acho merecedora da separação. Nós duas tomaremos caminhosdiferentes. Entramos dentro do carro e deixamos para trás o nosso lar. Estávamos na Rodovia Imigrantes indo para Rodovia Anchieta, o asfalto da estradaera totalmente bem cuidado, não se via nenhum buraco ou algum defeito se quer, aocontrário das ruas da cidade São Paulo que viviam cheias dela. Eu gostava de viajar,principalmente, olhar a floresta que encurralava a via, dando um ar de liberdade, umasensação que a grande cidade não dava, sentindo-me presa em um monte de torres decimento erguidas no céu. Meu irmão estava sentado no banco da frente, olhando pelajanela do carro os outros automóveis fazendo o seu percurso, direcionando-se paraalguma cidade no interior. A propósito, eu queria saber aonde minha estava indo eem que lugar ficava o Campo de Concentração. - Mãe! - Fala filha - disse ela sem desviar a sua atenção. - Aonde nós estamos indo? - Para o Guarujá. - Guarujá? O Campo de Concentração fica lá? - Não exatamente. Achei estranho. Os paranormais ficavam lá? Mas só tem praia, turistas epessoas ricas que passam suas férias ali, gastando todo o dinheiro em divertimento.Deixei minha curiosidade de lado, queria matar no momento certo. Fomos para Rodovia Conselheiro Domênico Rangoni, direcionando para o

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nosso destino. Finalmente estávamos em Guarujá, uma cidade maravilhosa paracurtir tudo o que há de bom. Entramos na Avenida Santos Dummont, minha mãevirou para esquerda pegando a Avenida Miguel Stéfano. O Delphin Hotel ficava em frente ao mar, o local parecia uma casa de campoou restaurante para ser mais exato, mas que por dentro, mostrava uma construçãomaravilhosa. Minha mãe foi em direção ao balconista e pediu um quarto para nós,levou-os ao número 103. O quarto era bem espaçoso com uma piscina no fundo,deixei minhas malas do lado da minha cama e admirei o visual. - Gostou do ambiente irmã? - Gostei! - Antes de você vir junto conosco, eu ficava aqui com a minha mãe, antes de irpara o Campo de Concentração, pegava até uma corzinha. - Legal. - Tem mais alguma coisa que não me contaram? Nossa mãe se aproximou com um vestido com desenho de flores, com umchapéu gigante, com uma cesta cheia de comida. - Vamos dar uma volta na praia? - Mãe - disse eu. - Nem tirei as minhas roupas da mala! Nem trouxe o meubiquíni. Como é que eu ia saber? - Filha, não se preocupe, pegue o meu. - Tá. Fui ao banheiro e me troquei, essa viajem estava muito interessante até demais. Atravessamos a Avenida Miguel Stéfano para a praia do Guarujá. Quandopisei na areia, esqueci de todos os meu problemas, parecia que tudo não passava deum sonho louco que desapareceu da minha vida. Meu irmão foi correndo em direçãoao mar com a sua bermuda verde sem camisa, eu, também fui para o mar, mas fiqueisó no início sentada na areia, deixando a água salgada me envolver carinhosamente.Poderia ficar ali um ano inteiro. Nós três fomos para uma mesa de cimento que ficava na calçada antes de entrarna praia, onde tinha um quiosque de bebidas, minha mãe colocou a cesta em cima damesa e começou a tirar três lanches naturais, três latinhas de Guaraná Antarctica eguardanapos. Sentia-me como se tivesse em férias escolares e aproveitando com aminha família os melhores momentos da minha vida, mas na verdade, não era,

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porque eu ia conhecer um outro ambiente que não fui acostumada. Os três dias se passaram rapidamente, minha mãe fechou a conta do hotel e fomospara nosso carro fox, pegamos algumas ruas da cidade de Guarujá até chegarmos nocais da cidade. A noite estava maravilhosa, a lua brilhava intensamente no céu, comas estrelas enfeitando em volta dela, como uma joia preciosa. A água do mar, batialentamente no cais e uma brisa suave passava por nós, refrescando aquela noitequente. Percebi vários iates parados na encosta, mas não tinha ninguém, só eu, minhamãe e meu irmão. - Nós temos que esperar até uma hora da manhã - disse Lídia. - Para quê? - perguntei curiosa. - Para ir ao Campo de Concentração. - Quem vai nos buscar? - Eles já estão aqui minha irmã - disse Julio com um jeito brincalhão. - Oscapitães estão dentro desses iates para levar-nos ao nosso destino. - Você está me dizendo que o Campo de Concentração fica fora do continente?- Minha voz saiu um pouco mais alta do que o esperado. - Nós vamos para uma ilha que fica na divisão de mares do Brasil e docontinente africano. - E ninguém nunca percebeu essa ilha? - Quero que você veja com os seu próprios olhos. Olhei para minha mãe pedindo apoio, mas ela deu uma risadinha discreta.Muitas coisas iriam acontecer. Era uma hora da manhã, vários carros começaram aparecer perto do cais. Ospais saíam do carro com os seus filhos, uns de idade menor, outros já com dezessetepara vinte anos e o pior foi ver coisas bizarras demais, garoto com pele de cobra,outro com chifre de touro. Isto está me assustando, mas compensou os outrosjovens que aparentemente eram normais. Os capitães saíram do iate, esperando todos entraram. Meu irmão puxou omeu braço e me levou para dentro do barco, virei o meu rosto para trás e minha mãeacenava com as mãos, despedindo de mim. Quando entrei na embarcação, percebi

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que dentro dela, tinha vários bancos fixados no chão para se sentar, não era um iateluxuoso com quartos e cozinha. Julio e eu nos sentamos, olhamos um para outro ecomeçamos a sorrir, era a primeira vez depois de muito tempo que nós ríamos comoirmãos de verdade. Logo depois, outras pessoas começaram a preencher aquele local. - Você está preparada? - perguntou ele. - Acho que sim. - Lá é muito legal, você vai gostar. - Assim espero. O barco começou a pegar velocidade, saindo do cais, indo para um mar semfim em uma noite de lua cheia. Eram quatro horas da manhã e ninguém dali de dentro tinha pregado o olho,era uma ansiedade tão grande para conhecer um novo lar que o sono era vencido.Julio se aproximou de mim, pegando a minha mão. - Vamos lá em cima Beatriz. - Tudo bem. Subimos. O mar estava calmo e alguns dos paranormais estavam admirando anoite. - Eu quero que você olhe para o horizonte irmã e veja a maravilha. Olhei para onde ele tinha pedido, de repente o barco parou. Senti um certomedo, não era muito fã de água. Mas o meu medo se tornou em espanto, quando nomeio do oceano vi uma coisa estranha se formar no mar, ela foi se anuviando, atéformar uma ilha gigantesca, com um castelo enorme que tomava conta da ilha. O meuqueixo caiu de admiração. Alguns que estavam ali começaram a comemorar. - Voltamos para o nosso verdadeiro lar - disse um garoto todo feliz. Virei o meu rosto para meu irmão e ele sorriu. - Agora você sabe que ninguém, jamais encontrou essa ilha. - Isso está me surpreendendo. O iate começou a se mover novamente, levando-nos para grande fortalezaque ficava no meio do mar. Quando chegamos ao cais, pessoas já esperavam por nós, homens e mulheresvestidos de um sobretudo cinza, com adornos prateados na pontas. Os homensusavam sapato social preto, com um cabelo bem penteado passado no gel. Asmulheres tinham os cabelos preso em rabo de cavalo e usavam salto-alto preto.

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Outros iates começaram a chegar em direções diferentes e vi que aquela ilha não sóera grande para ser exibir, mas ali cabia um grande número de pessoas. Aqueles homens e mulheres levaram todos nós até a praia, pedindo para queficássemos ali, até que todos já estivessem dentro do Campo de Concentração.Depois que todos estavam reunidos, fomos para dentro de uma pequena floresta,chegando a entrada do castelo, um portão enorme de prata ornamentava aquelaconstrução gigantesca. O portão abriu sozinho como em um passe de mágica,levando todas as pessoas para um pátio enorme. Paramos ali e ficamos esperandomais alguma ordem. Na porta principal do castelo, saiu um homem de sobretudo e com as mesmascaracterísticas dos homens e mulheres de cinza, mas já era velho, não totalmentecaindo aos pedaços, só que velho. O que salvava ele, era sua postura sombria e forteaparente. - Sejam bem-vindos Congênitos e Traumas! - sua voz ecoou por todo o pátio.- Muitos de vocês devem está se perguntando, “que lugar é esse?”, ou estãoansiosos para mais um ano letivo no nosso Campo de Concentração. Espero quetodos amadureçam pelo tempo que estiverem aqui, e levem uma lição diferente paravida de vocês. Pois cada um conhecerá algo totalmente novo, já os veteranos,mostrarão essa novidade para os novatos. Agora, vamos para as Separações.Detectores! - Aquelas pessoas de sobretudo que tinham nos recepcionados sem umsorriso, subiram as escadas do castelo e ficaram cada um de lado. - Peço porgentileza, que façam fila só os novatos, os veteranos podem ir para o seusaposentos. - Tenho que ir irmã - disse Julio. - Não me deixe. - São ordens. Não se preocupe, ninguém irá fazer algum mal a você. Ele se afastou de mim e eu senti-me totalmente sozinha naquela filagigantesca. Os Detectores tocavam nas pessoas e direcionava elas para um lado, um parao esquerdo e o outro para o lado direito. Quando chegou a minha vez, o homem desobretudo colocou o seu dedo indicador na minha testa e olhou fixamente para mim. - Interessante - ele disse de uma maneira misteriosa. - Dirija-se ao ladoesquerdo, você é uma Trauma.

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Desci as escadas. Uma instrutora pediu para que ficasse na fila que tinha seformado ao lado esquerdo do castelo. Acabando aquela Separação, fomos para o ladooeste do castelo, entrando dentro dele. Passamos por vários corredores com quadrosenormes enfeitando as paredes. Depois, subimos uma escada em caracol, até chegarao seu topo. A instrutora pediu para que nós parássemos. - Estão vendo essas duas portas? A do lado direito é o aposento das mulherese o outro é o dos homens. Bom descanso. As coisas de vocês estão em uma camareservada que será o seu local de descanso. Ela abriu a porta do quarto dos meninos e das meninas e desceu novamentepela escada de caracol. Entrando dentro do recinto, assustei-me completamente, o quarto eragigantesco com várias camas, com um monte de mulheres indo de lá para cáapressadas e conversando. Comecei a andar perdida, parecia um estádio de futebol,nunca pensei em algo tão incrível. Depois de algumas andadas, vi a minha nova camacom as minhas coisas, sentei em cima dela, olhando novamente tudo a minha volta esenti que tudo seria extraordinário e misterioso.

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Capítulo 5Indústrias Farmacêuticas Gomes Igor estava dentro da limusine na Rodovia Dutra, indo para o seu destino. Ele olhavapela janela, vendo os carros com os seus faróis acesos na noite, viajando para outroestado, para verem suas famílias ou para diversão. Ele deu um sorriso no cantos doslábios, achando tudo aquilo patético, em breve, os seres humanos como também osparanormais estariam em suas mãos. Logo tudo estaria sob o seu controle, para osgrandes acontecimentos que iriam acontecer. O automóvel direcionou-se para uma grande indústria no meio da estrada,parando na entrada, um segurança se aproximou do carro, antes que ele pudessetocar a janela, o vidro fumê desceu para baixo, mostrando o rosto de Igor, mas doque depressa, o homem voltou para o seu lugar, entrando em sua cabine e apertandoum botão, abrindo-se o grande portão de metal. A limusine parou na entradaprincipal, Igor desceu da limusine com uma pose de rei, com seu terno preto, gravatapreta com uma camisa branca, sapatos sociais pretos e brilhantes, queixo redondo,cabelos pretos cortados e uma beleza assustadora. Ele abriu a porta da indústria, uma recepcionista estava atrás do balcãomexendo em alguns papéis, quando ela notou sua presença. - Boa noite senhor Igor - sua voz tinha um tom de respeito fora do comum. Igor só assentiu e começou a andar pelo grande salão feito de metal,aproximando de um elevador, apertou o botão. Depois de alguns minutos, o elevadorparou naquele andar, entrando, apertou o botão do vigésimo subsolo. A porta sefechou na frente. Chegando ao vigésimo subsolo, a porta de metal abriu, começandoa andar por um longo corredor de chumbo, chegando a uma grande porta de metalinox, ao lado, tinha um identificador, colocou os seus olhos ali, a porta de um clique,abrindo-se, mostrando uma grande sala de reuniões, com um monte de homensvestidos de ternos pretos iguais ao dele. A mesa era longa, mas Igor não seimportou, foi andando com os passos tranquilos e sem nenhuma preocupação,chegando a sua cadeira, sentou-se, olhando todos os homens daquela sala, com umolhar ambicioso e frio. - Meus colegas estão todos aqui - disse ele com uma voz fria. - Chamei vocêsaqui, pois os nossos planos precisarão ser completados, para que o mundo possa se

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dominado por nós e todos os Congênitos da face da terra sejam destruídos, sobrandosó os Traumas que terão o controle sobre o mundo, criando um mundo livre e sempreconceitos. Um homem já de idade, com uma cabeça bem gigante e uma calvície brilhando,com olhos enrugados e bochechas caídas se pronunciou: - Mestre, tudo está indo de vento em poupa - a voz dele era arrastada, comose estivesse passando duas lixas uma sobre a outra. - Eu sei. Mas precisamos de mais alguma coisa para completar o nosso plano.Sangue! Sangue de Congênitos será essencial para que possamos dominar esteplaneta. Precisamos de jovens, iniciantes e veteranos, de idade de 13 há 18 anos,para que possa dar certo. E, depois dos adultos para completar. Outro homem se pronunciou: - E onde vamos encontrar tantas pessoas assim? Igor sorriu de uma maneira cruel. - No Campo de Concentração, onde milhares de Congênitos se preparam paracomeçar a sua vida naquele lugar fétido e terminá-la, um lugar onde só tempreconceitos e faz você sofrer. Só assim, colocaremos os nossos planos em prática ederrubaremos a Comunidade Psíquica. - Eles são muito poderosos! - disse outro homem com uma voz temerosa. - Todo poder tem o seu ponto fraco, se pegarmos o ponto fraco, colocaremosa Comunidade no chão. Em breve, todos estarão sobre os nossos pés. - Igor viroupara um homem de trinta e cinco anos, com cabelos castanhos e uma aparênciapsicótica. - Como estão indo as nossas experiências? - Da melhor forma possível, senhor. Logo, logo, teremos a perfeição - sua vozera frio como gelo e sem emoção. - Ótimo. Tudo estará encaminhado para que possamos fazer aquilo que nãofizemos há muito tempo. Igor olhou para todos os seus seguidores, com um sorriso frio e cruel, ele sópensava em destruir a escória do mundo, faria isso de qualquer maneira, e quem sepusesse na frente do seu caminho morreria. Estava na hora de mostrar aosCongênitos que os Traumas não eram idiotas.

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Capítulo 6O Duelo No dia seguinte, eu fui acordada com um barulho de trombeta muito forte, todas asmeninas que dormiam no mesmo quarto acordaram no mesmo instante, levantando-se de suas camas afoitas, correndo para o banheiro se arrumarem. As novatas comoeu, ficavam olhando as outras garotas veteranas se arrumarem rapidamente. Meuolho estava ardendo de sono, que horas seriam? Olhei pela janela do quarto e vi queainda o céu estava escuro. Levantei-me da cama e dirigir-me ao banheiro. O banheiroera todo branco, os azulejos tinham uma brancura tão intensa que doía até os olhos,o chão da mesma cor, refletia quem estivesse pisando neles. Tinha várias pias deporcelana com torneiras de ouro em montes, logo do outro lado tinha várioschuveiros com boxes de cor branca e com um vidro que refletia só a distorção. Tinhatanto vaso sanitário para escolher sem fazer fila. O bafo quente do chuveirocomeçou a se espalhar no banheiro, criando uma névoa fantasmagórica no local. Saí do banheiro e sentei na minha cama pensativa, eu estava em um lugar quenão conhecia ninguém, não tinha amigas para conversar, brincar e nem dar uma voltaneste castelo gigante. Estou só, como um fruta que cai da árvore, ficando no chãosozinha, apodrecendo na terra. Queria tanto chorar, não sei por quê, uma tristezaprofunda estava em meu peito, quando eu ia chorar, senti uma mão tocando o meuombro. Olhei para aquela pessoa e vi que era uma das garotas novatas que entroujunto comigo no quarto ontem. Ela tinha cabelos loiros, pele branca, o seu rostotransmitia uma bondade e uma inocência, transformando aquele rosto em luz. Elasentou-se do meu lado e olhou para mim, dando um sorriso caloroso. - Eu sou Priscila - disse ela estendendo a mão para mim. - Beatriz - disse pegando em sua mão branca. - Estou com tanto medo de estar aqui. - Por que? - Há dois meses atrás, eu era uma garota normal, depois do acidente, sou umaparanormal, um Trauma, como me disseram. - Você sofreu que tipo de acidente? - perguntei curiosa. - Eu estava em um kart, correndo em uma pista em alta velocidade, quandoperdi o controle do automóvel bati com tudo nos pneus, mas não foram suficientes,

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pressionando eu com tudo na parede. Fiquei com o corpo totalmente fraturado, osmédicos disseram para os meus pais que eu não teria esperança de sobreviver. Maso meu corpo começou a regenerar e acabei descobrindo que posso correr em altavelocidade, posso correr seiscentos quilômetros por hora. - Caramba! - Eu soltei impressionada. - Depois estou aqui. E você? Qual foi o motivo de estar nesta escola? Aquela pergunta tinha me pegado desprevenida, depois do acidente que tinhaacontecido comigo, não pensei mais no assunto, pois chegava a ser um poucodolorido. Mas ia deixar a menina saber o que aconteceu comigo, pois ela contousobre o seu acidente. - Bem - comecei -, eu estava numa estação elétrica, querendo salvar um garotode uma burrice, quando um raio caiu em cima de mim, jogando eu nos fios elétricos.Digamos que eu posso controlar a chuva e alguns elementos da natureza e quandoestou nervosa, os meu poderes ficam mais intensos e consigo também, ler ospensamentos das pessoas. - Nossa! - disse ela admirada. - Você tem um poder e tanto. - É... Mas ainda não sei controlá-los. - Nem eu. Teve uma vez que corri tanto que acabei parando em Goiás. -Priscila começou a rir. Acabei dando risada junto com ela. - Meu pai ficoudesesperado, procurando-me por vários dias. - E como eles te encontraram? - Acabei fazendo uma ligação para ele, depois que descobri onde eu estavaexatamente. - Bem... É melhor nos ajeitarmos, pois daqui a pouco teremos que sair daqui. Ela assentiu para mim. - Podemos ser amigas? - perguntou Priscila. - Claro que podemos! - Então deixa eu te dar um abraço. Fiquei um pouco constrangida, mas levantei-me da cama e abracei Priscila comtodas as minhas forças, ela também retribuiu o gesto. Encontrei uma amiga em queeu podia confiar. Depois de eu ter tomado um banho e me trocado, a mesma instrutora quetinha me levado e mais algumas pessoas para seus aposentos, apareceu novamente.

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Chamou todas as novatas e seguimos ela por vários corredores gigantescos,chegando em frente ao um salão enorme, com várias mesas distribuídassimetricamente posicionadas. - Antes de vocês entrarem para o salão, - começou a dizer com uma voz bemfina -, saibam que do lado esquerdo ficam os Traumas e do lado direito osCongênitos, escolham um lugar adequado e apreciam o bom café da manhã. Sentei na primeira mesa que vi, logo em seguida, Priscila sentou-se ao meulado também. A mesa estava repleta de pães franceses, com dez jarras de leite,bastante chocolate dentro de potes de prata e um monte xícaras de ouro, queijos devários tipos, presuntos de vários gostos sobrepujavam deliciosos. Fiquei olhandoaquela mesa por um momento e pensei que nem lá em casa tinha tudo isso de tãobelo. Peguei uma faca de ouro e cortei um pão francês ao meio e deliciei-me com amanteiga. Priscila olhou para mim com uma cara de felicidade, ela sabia que eu estavacurtindo aquela comida maravilhosa, piscando com o olho direito, concordandocomigo e comendo o seu pão maravilhosamente. Quando terminei de saciar a minha fome, vi as mesas dos Congênitos, elescomiam olhando para a mesa dos Traumas, olhares hostis atravessam de todos oslados, querendo pegar um infeliz para descontar todo o seu preconceito. Fingi quenão tinha ninguém me observando, pois eu me senti muito mal. Vários Detectores apareceram no salão, avisaram que o horário do café damanhã já tinha terminado e estava na hora das aulas. Disseram também que osnovatos, tanto homem como mulher, esperassem o instrutor José que levaria oscalouros para a sala. José era um senhor de meia-idade, com cabelos prateados e pretos misturados,mostrando que a velhice já estava batendo as portas e que ia tomar conta de toda ajuventude que um dia ele tivera. Seu corpo estava ausente de forma, tendo umabarriga que se destacava com o seu jaleco cinza, seu rosto transmitia uma inimizadetão grande que fazia que suas sobrancelhas fossem para os lados apavoradas pelaexpressão mal encarada dele. Fomos levados para uma sala gigantesca, com uma lousa enorme que tinhadois metros de largura. As carteiras ficavam em formato de escadas, como umaarquibancada de futebol e um tapete vermelho adornando o chão para contrastar com

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as paredes brancas. Sentei-me, Priscila sentou do meu lado, na própria mesa já tinhauma caderno, um estojo cheio de canetas em um livro didático chamado A Origem doParanormal, escrito pelo Agáthon Ariston. A professora chegou na sala de aula com andar imponente e um olharimperioso, contrastando com a sua cara de queixo pontudo e olhar de desprezo. Elausava uma calça jeans surrada e uma camisa feminina de cor azul, confesso, ela quasetem bom gosto. - Olá Traumas! Meu nome é Luíza, sou professora de Paranormalogia,estudaremos o surgimento dos poderes que nós temos. Alguém tem algumapergunta? - disse lançando um olhar desafiador. Um garoto de orelhas de lobo e pelos cheios no rosto levantou a sua mão. - Qual o seu método de avaliação? A senhora dá prova, soma pontos? Luíza engoliu a sua saliva com dificuldade e respondeu: - Dou prova sim. Tudo que vocês fazem é registrado e enviado para aComunidade Psíquica para saber a desenvoltura dos alunos. Esses cadernos queestão em cima da mesa tem colado os horários das aulas. Dependendo da matéria, étrês horas com o mesmo professor. Vocês também receberão um guia, ensinandosobre como devem-se comportar no Campo de Concentração. Mais algumapergunta? - ela levantou a sua sobrancelha como dizendo: “Pergunte mais algumacoisa e eu mato você.” - Não há mais perguntas. - disse o menino lobo. - Ótimo! Então vamos começar a aula. Abram os seus livros na página 12. A professora escreveu na lousa a palavra “local”, “preconceito” e “guerras”. - Os primeiros casos paranormais surgiram na Grécia antiga, na época em queos grandes filósofos como Sócrates divulgavam as suas idéias. A primeira pessoa ater algum poder especial chamou-se Guenesis, filho de Achilleion e irmão de Doron. Quando a professora mencionou esse dois nomes, lembrei-me do meu sonhoque tive dos dois lutando e uma curiosidade aumentou dentro de mim, querendosaber também sobre os Sarx. - Quem foram os Sarx? - deixei escapar. A professora olhou para mim espantada, pois ela nem tinha mencionado nadasobre eles. - Isso será respondido na próxima aula.

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Fechei a minha boca e não perguntei mais. Ela continuou dizendo que Doron ficou com inveja de Guenesis, seu irmãomais velho, tendo raiva dele por ter conseguido poderes sobrenaturais, einesperadamente ele sofreu um acidente, dando a ele poderes sobre-humanos. Elatambém informou que não se sabe a origem dos seus poderes, informando que aquelepapo de deuses e semi-deuses era invencionice, pois os gregos viam os paranormaisdesta maneira. - Com isso, apareceu outros Congênitos como Guenesis e Traumas comoDoron, gerando um certo preconceito e causando uma guerra sem precedentes. -concluiu. - Na próxima aula explicarei sobre os Sarx! - disse ela olhando para mimcuriosa. A próxima aula era de Duelos com o professor Teobaldo, no salão de Lutas. Oprofessor era um homem de aparência de trinta anos, alto e musculoso e com umsorriso que faria qualquer idiota se apaixonar por ele. Nesta aula, os Traumas e osCongênitos tinham que participar juntos, pois cada um tinha que lidar com as suasdiferenças, para que não houvesse outra guerra entre os dois seres, como ocorreu hátanto tempo atrás. - Nesta aula, vocês não aprenderão táticas de guerras e nem ficarão igual aoshumanos, fazendo musculação dia e noite. Aqui vocês colocarão os seus poderes emprática e terão que controlá-los. O professor Teobaldo subiu ao tablado de duelos e encarou cada um com oseu olhar de sedutor de última categoria que daria nojo. Priscila se derreteu com osolhares do gorila exibido. - Ele não é fofo? - ela sussurrou. - É - disse sem muita convicção. O macaco metido continuou a sua narrativa: - Vamos começar esta aula. Para quem não sabe, sempre os novatos lutamcom alguém já experiente, para que durante as aulas possam superar o seuadversário. Chamarei aqui a nossa lutadora nata, Mirian Sá Costa do terceiro ano,uma Congênita. Depois... - Ele começou a olhar para os novatos Traumas e seuolhos caíram bem em cima de mim. Merda. - Você! - Ele apontou com umavivacidade assustadora. - Qual é o seu nome garota? - Beatriz Carvalho Gomes!

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- Suba ao tablado! - Eu não gosto de lutar! Mirian que já estava junto com o professor, deu um sorriso de desprezomedonho. - Aqui não há lugar para pacifismo! Venha! - ordenou. Não pude fazer nada, tive que obedecê-lo. Subi ao tablado, enquanto Priscila me olhava com assombro e ódio. O professor pediu para que eu ficasse do lado direito do tablado, de costaspara uma grande janela e Mirian de costas para porta de entrada. Ele andou no meiode nós duas, examinando cada uma. Mirian já estava com posição de lutadora deboxe, enquanto eu, não tinha posição nenhuma, olhando nervosamente para a inimigasem o que fazer. - Beatriz - disse o professor -, Mirian tem o poder de controlar qualquerobjeto que esteja neste Campo de Concentração e desejo boa sorte para você. Nãodiga o seu poder, pois os Traumas tem poderes lamentáveis. - Escarneceu com umsorriso maldoso. Teobaldo desceu do tablado. Mirian veio correndo com tudo e deu uma cabeçada na minha cabeça,deixando-me tonta, caindo no chão de bruços. Eu via tudo rodando, parecia que euestava em um carrossel. Ela não esperou me recompor, desferiu um soco nas minhascostas, a dor entrou com uma faca na minha espinha, fazendo eu revirar os olhos dedesespero. - Eu ainda nem comecei! - zombou ela. Os Congênitos gritavam comemorando a vitória de sua companheira, mas osgritos entravam distorcidos em meu cérebro. - Vou deixar você se levantar. Minha cabeça parou de girar lentamente e a dor nas costas diminuiu bemmais rápido. Depois que a minha cabeça parou de rodar, olhei fixamente para Mirianque ria da minha cara com um prazer bestial. Ela levantou sua mão, uma pulsação magnética saía dela de uma formasobrenatural, vindo da porta de entrada um monte de arames farpados. Agora estavaficando bom. - Agora sinta a dor, Trauma! - ela gritou.

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Os arames farpados enrolaram-se em volta de mim, cravando as suas agulhasafiadas em minha pele, cortando a minha carne. - Até agora você não mexeu um músculo! - dando risada da minha caraagonizante. - E-e-eu n-não g-g-gosto de lutar... - Minha voz soava fraca, mas nítida. - Que vergonha, pensei que você tinha poderes que valeriam a pena. Masestou vendo que não! Os arames foram apertando-se mais em meu corpo, deixando-me sem ar efraca. Eu não queria lutar, achava isso errado, principalmente quando se é umTrauma, o preconceito é enorme. Eu estava ficando sem ar, meu pulmões faziamesforços para capturar um pouco de ar que não via. Lágrimas caíam dos meus olhospreguiçosamente, pensava que a nova vida de paranormal era mais legal, pelo vistonão era. Lembrei-me do meu pai, da minha mãe e dos meu irmãos, eu não podiafraquejar. Comecei a ouvir vozes novamente em minha cabeça, pessoas queperguntavam se eu ia sobreviver depois dessa porrada, outros zombavam de mimsilenciosamente. Uma raiva foi crescendo dentro mim, como um touro pronto paraenfiar os chifres no toureiro. Meus cabelos eriçaram rapidamente, abri os olhos e vimeu único inimigo, Mirian, que olhou para mim assustada. Com uma forçaimpressionante, os arames se fizeram em pedaços, estilhaçando-se para todos oslados do salão, machucando alguns alunos. Meu corpo foi flutuando no ar, a janelaque estava atrás de mim, mostrava um céu tão azul com sol forte, ficando negrorapidamente. Todos os alunos exalaram um cheiro de medo, dando-me um prazeravassalador e narcótico, principalmente o de Mirian. Trovões ecoaram no céu,esperando o meu chamado para o ataque, como bons cachorrinhos treinados paravoar em cima do pescoço de um ladrão. Ergui as minhas mãos e joguei-as em direçãode Mirian, os raios saíram das nuvens com uma velocidade monstruosa, explodindoo vidro em mil fragmentos e agarrando minha oponente, os raios cercaram-na elevantaram ela no ar. Os alunos saíram do salão correndo desesperados, sóaumentando o medo e deixando-me mais poderosa. O professor Teobaldo olhoupara mim com a boca aberta e com um assombro e preocupação. Das minhas mãos o comando para os raios foi inevitável, eletrocutandoMirian de uma maneira voraz e carnívora. Ela começou a berrar de dor, agonizando,

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colocando o meu prazer de tortura nas alturas, aumentando a intensidade do choque. - Para Beatriz, senão você irá matá-la! - gritou o professor em pânico. Nem dei ouvidos para ele e continuei com a minha sina. Teobaldo subiu no tablado, saltando sobre o ar e segurou em meus braços,tentei eletrocutá-lo, mas ele conseguia resistir aos ataques. Erguendo a sua mãodireita, desferindo um grande soco no meu rosto que veio com uma dor horrível,fazendo eu perder a consciência, caindo no chão, enquanto Mirian caía do outro ladotambém sem nenhum sentido. Tudo estava em paz para mim, a minha raiva desapareceu como uma febre detrinta e oito graus que some com novalgina. Trazendo um alívio para o meu ser.

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Capítulo 7Na Sala do Diretor Estou novamente na Grécia Antiga, passeando entre as ruas e vendo o povo helenofazendo as atividades do dia a dia, sem se importar com uma garota vestida de calçajeans, uma camisa rosa. Andei pelas estreitas vielas, até encontrar um grande templo,com uma grande estátua de Zeus, segurando um raio em suas mãos e com um rostode superioridade, olhando para os mortais e dizendo que devem temer o pai dosdeuses. Aquele grande templo emanou um sentimento em mim tão profundo, algoem meu ser pedia para que eu entrasse dentro dele, impulsionando-me com umaenergia misteriosa, que os meus pés começaram a caminhar sozinho para dentro daconstrução milenar. Dentro do templo, havia um altar de pedra com um homem ajoelhado emfrente a estátua do grande todo poderoso, podia-se ouvir os murmúrios de sua voz,como se ele estivesse orando, mas ao mesmo tempo, não deixando perceber aspalavras que saíam da sua boca. Aproximei-me do homem que vestia uma túnicabranca, fiquei olhando os seus cabelos pretos e sedosos, brilhando de uma formamuito intensa. Os murmúrios pararam, ele ergueu a sua cabeça e depois o seu corpo, virando-se em minha direção. Levei um choque, era o mesmo homem de túnica branca domeu primeiro sonho, Guenesis, como o seu irmão tinha pronunciado. O seu rostotinha uma beleza tão enorme que qualquer garota ia se apaixonar por ele no mesmoinstante, só que a sua beleza era misturada com uma bondade tão infinita, dando aliberdade de ler o seu coração através dos olhos. Guenesis veio para mais perto de mim e encarou-me com os seus olhoscastanhos e deu um sorriso maroto. - Beatriz - disse ele. - Não se espante se eu sei o seu nome e nem pense queisso é um sonho, pois isso é real. - Você é Guenesis? - Precisava dessa confirmação. - Sim, sou eu. Da última vez que você viu eu e meu irmão lutando, era naverdade, uma visão do passado. Precisava que você enxergasse com os seu própriosolhos a batalha que dura depois de tantos milênios. - Mas a professora disse que a guerra acabou - disse debilmente.

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- Os professores de história têm a missão de transmitir o seu conhecimento,mas não a sensação de viver aquilo que aconteceu na vida. O sorriso de seus lábios se esmoreceu. - Beatriz, você está aqui neste exato momento, pois preciso lhe passar umamensagem. Essa mesma batalha que aconteceu há tanto tempo atrás sempre estevepresente, mesmo com a Comunidade Psíquica apaziguando o interesse dos doislados, o preconceito entre Trauma e Congênitos ainda não acabou. - Eu percebi. Estou alguns dias no Campo de Concentração e já sentir ahostilidade. - Os meus esforços foram em vão, pois continua a mesma coisa e nada parecemudar. Mas eu preciso dizer a você que uma grande guerra começará novamente,entre Traumas, Congênitos e entre os humanos. - Que guerra é essa? - Uma batalha que decidirá o futuro da humanidade. Pois alguém estáquerendo despertar o meu irmão Doron, só que estou muito fraco para detectar estapessoa. Você precisará me ajudar; terá que tirar-me do meu túmulo. - E onde você se encontra? - Não sei lhe dizer... Guenesis começou a desaparecer do meu campo de visão, ficando tudo escuro.Sua voz era agora abafada, ele estava tentando me dizer mais algumas palavras, sóque uma energia estranha se interpôs entre nós, alguém não queria quecontinuássemos a conversa. Abri os meus olhos rapidamente, eu estava na ala hospitalar. Uma enfermeirapercebendo que eu já estava acordada, veio ao meu lado e deu um sorriso caloroso. Levantei da cama e vi que Mirian ainda estava desacordada, com um cateterintravenoso em seu braço, enviando soro para o seu corpo debilitado. Quandocomecei a caminhar, sentir uma pontada nas minha pernas, caindo no chão de muitador, a enfermeira veio me socorrer rapidamente, colocando-me na cama novamente. - Você não pode sair daí menina! - Ela repreendeu de uma maneira afetuosa. -Os ferimentos sobre o seu corpo ainda não se fecharam, principalmente os das suaspernas que estão um pouco piores.

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Olhei para elas, vendo um monte de furos profundos e arroxeados em volta. - Sua adversária pegou pesada com você, hein! - Pondo o coberto em cima dasminhas pernas. - É... - respondi sem nada para dizer. - Esses duelos são muito perigosos, está vendo ali do outro lado? Vi um monte de adolescentes deitados na cama, uns com faixa nos braços, naspernas até na cabeça, outros engessados e com aparelhos de respirar. - Posso fazer uma pergunta? - Sim. - Aqui têm Congênitos e Traumas? - Tirando a sua colega de luta, todos são Traumas - Sua voz soou pesarosa. Uma revolta cresceu dentro do meu peito, como podiam tratar-nos daquelamaneira, só porque não recebemos o nosso dom através do nascimento. Isso eramuito injusto, errado, saí de uma sociedade cheia de conflitos para parar em outradez vezes pior, grande sorte eu tenho. Fiquei duas horas olhando para o teto, quando um Detector chegou na alahospitalar, aproximando-se da enfermeira. - Preciso levar Beatriz para a sala do diretor. - Ela ainda não se recuperou dos ferimentos! - Sua voz soou em reprovação. - O diretor está pedindo! - Tudo bem - disse eu levantado da cama. - Eu vou até ele. A enfermeira olhou para mim e suspirou derrotada. Coloquei as mesmas roupas que eu tinha usado no duelo com a Mirian, cheiosde buracos e com manchas de sangue, pelo menos ia pegar uma outra muda de roupapara mim. Antes de sair, virei-me para a enfermeira e dei um sorriso tranquilizando-a,pois ela estava muito tensa e preocupada comigo. - Eu agradeço os seus cuidados. - Que isso... - disse ela. - Qual é o seu nome? - Ana... - Prazer. Saí da ala hospitalar junto com o Detector.

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Atravessamos vários corredores, até chegarmos em um salão imenso, com umaescada enorme em nossa frente. Subimos, indo para um corredor bem largo, com umporta gigante que chegava quase ao teto. O Detector abriu sem nenhum problema,entrando primeiro, logo em seguida, fui atrás dele. A sala do diretor era imensa, com várias estantes na parede, com uma mesa demogno tão bem envernizada que doía o olho. O diretor estava sentado ali,escrevendo no seu computador, ele parou de teclar, olhando para mim e depois parao Detector. - Pode se retirar. Ele curvou a cabeça concordando, deixando eu e o diretor naquela sala repletade livros. Fiquei um pouco apreensiva, pois não sabia o motivo de sua convocação. Seráque ele ia me dar um bronca por causa do ocorrido? Pois eu dei uma surra bem feiana Mirian. - Beatriz. Chamei-a aqui, pois os professores fizeram alguns comentários epreciso esclarecê-los com você. - Eu não fiz nada, eu juro, mas se for a briga com a Mirian, posso até explicar.- Tentei me defender. O diretor sorriu para mim. Isso era mau sinal ou bom? - Não se preocupe, a sua aula era de Duelos. Mas é sobre isso mesmo que euquero falar com você. Não é o fato da surra bem data na Mirian, mas os seuspoderes me intrigam. - Por que? - disse um pouco apreensiva. - Quando sua mãe entrou em contato comigo, informando que você não tinhanenhum poder herdado, pedindo para que eu fizesse uma falsa matrícula para você,burlando a Comunidade Psíquica, para que a vergonha não caísse sobre sua mãe eseu pai, aceitei em fazer uma matrícula para você, enganando a nossa Comunidade, aque decide a vida dos paranormais. O diretor deu uma pausa e depois continuou a sua narrativa sobre os meuspais. - Eles ficaram tão aliviados quando concordei em fazer isso, pois eu tenhouma sobrinho que não herdou nenhum poder de nossos pais. Depois de tantotempo, você sofre uma acidente e sua mãe me liga novamente, dizendo que agora

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você é uma paranormal, um Trauma. Não que isso seja algum impasse para mim,mas o seus poderes trouxeram um espanto. - Espanto? - Falei assustada. - Os seus poderes são diferentes de todos que estão neste Campo deConcentração. Nenhum deles conseguem controlar a natureza e nem os elementoscomo a terra e o fogo que são muitos raros! A água ainda até que vai, mas já tivemosvários casos com acidente causados pelo fogo e nenhum teve o poder de controlá-los, nem a terra. - Eu pensei que os paranormais tinham poderes absurdos. - Não somos um monte de bizarros que herdam qualquer coisa. Confesso, quemuitos acabam virando metade animal e humano, por isso, surgiu a idéia de centauro. - Só que não entendo o seu espanto diretor. - Talvez o meu espanto seja sobre a aula de Paranormalogia que meu deu umadúvida. A professora Luíza disse que você tinha falado sobre os Sarx, sendo que eraa primeira aula dela com você. Tinha que ser aquela professora. - Mencionei. - Os seus pais já contaram a você sobre isso? - Não. - E como você sabe? - Seus olhos perfuraram a minha alma. - Eu chutei - menti. - Muito bom para um chute - questionou. - O senhor está me deixando confuso. Por que você quer saber isso de mim?Por que esse interesse tão grande pelos meus poderes? - Metralhei o diretor sem dó. - É que você é um caso diferente, e preciso saber mais. - Eu estou cansada, minhas pernas doem da luta que eu tive, não estou afim dediscutir isso, tudo bem? - Falei um pouco ríspida. O diretor deu outro sorriso para mim, tive vontade de arranca a boca dele comas unhas. - Bom. Como esta conversa não está levando a nada, você pode ir para o seuquarto - disse ele com uma voz vazia. O diretor apertou um botão que estava emcima de sua mesa dizendo: - Detector, pode vir buscar a aluna Beatriz, a minhaconversa findou-se.

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O Detector apareceu rapidamente na sala, esperando-me. - Tenha uma bom dia Beatriz - disse sem nenhuma emoção na voz. Eu e o Detector saímos da sala. Enquanto caminhávamos em direção ao quartodas meninas, comecei a pensar sobre o que o diretor tinha me dito, achando que eledeve está escondendo alguma coisa, sei que sim, e vou descobrir o que é. Quando voltei para o quarto e deitei na minha cama, esqueci os problemasque atormentaram durante esses últimos dias.

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Capítulo 8Sentimento do Passado O Ministro de Defesa em Brasília Sebastião Santos estava sentado em sua cadeiraem sua sala, avaliando os últimos documentos enviados pelo presidente, em relaçãoa proteção da nação brasileira. Depois de algumas verificações, acabou se cansado esaiu de sua mesa e começou a andar sobre a sala. Os seus pensamentos voltaram a um sentimento tão profundo e pesaroso, umpassado que atormentava-o como fantasma e não saía de sua cabeça de jeito nenhum,a morte de sua irmã. O ministro tinha ódio dos paranormais, um ódio tão profundoque chegava a ser morte. Ele lembrou o dia da morte de sua irmã. Sebastião tinha dezessete anos e trabalhava numa pequena padaria que ficavaperto de casa, sua irmã ajudava a mãe a vender roupas que ela mesmo fazia para osustento, pois ela era viúva e não tinha como pagar as dívidas deixadas pelo seufalecido marido. Sara, sua irmã, uma menina de quinze anos, bonita e de cabelosloiros, era a atenção dos garotos do bairro, pois a sua beleza era muito intensa,fazendo os garotos de estapearem na rua, disputando uma namorada que ainda nãotinham conseguido. Sara não ligava para namoro, pois tinha uma vida muito dura, seu pai nãotinha deixado nada para a sua família e a casa onde moravam estava para ser leiloadapelo banco, pois não tinham como pagar as prestações acumuladas da casa e nem asque faltavam. Trabalhando com a sua mãe dia e noite para pelo menos trazer o pãodo dia seguinte. Ela não tinha tempo para brincar com as outras meninas de suaidade e nem falar dos meninos da rua, só tinha tempo para o trabalho que fazia emcasa com a sua mãe, com uma pequena máquina de costura manual que tinha quemexer os pés para funcioná-la. Sebastião por sorte, conseguiu um emprego em uma padaria depois da mortede seu pai. Precisava trabalhar, pois em seu leito de morte, o seu pai fez Sebastiãojurar que não ia deixar faltar nada para sua irmã e mãe, passando o trono para o seufilho, e a maturidade precoce. A vida estava seguindo o seu fluxo, as coisas aos poucos estavammelhorando. Sebastião e Sara conseguiram voltar a estudar, os pedidos de roupaestava aumentando, tudo estava sendo encaminhado aos poucos, mas nem tudo dar

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certo e nem dura para sempre. Sara voltava da escola, quando encontrou um garoto bem vestido, cabelosloiros e olhos azuis, sentado no banco da praça. Ela que não deixava o amor entrarem seu coração, deixou uma pequena brecha, entrando a paixão pelo garotodesconhecido. Sara continuou olhando fixamente para ele, até que o garoto percebeu,olhando-a e dando um sorriso, o coração dela na aguentou e escancarou o amor paradentro de si. No início, Sebastião e sua mãe não aprovaram o namoro, pois o garoto vinhade uma família rica e poderosa, temendo que pudessem fazer algum mal para ela.Mas o amor imperou sobre todos, trazendo ao rosto de Sara uma alegria que não sevia há muito tempo. Eles começaram a sair para bailes, sua mãe com um pouco de tecido quesobrava das encomendas, fazia um belo vestido para ela sair com o seu namorado.Às vezes ela ficava receosa, pois quem pagava tudo era ele para uma garotinha pobreque não tinha nem onde cair morta. Depois de três meses de namoro, Sebastião começou a perceber algo estranhono namorado de Sara. Percebeu que ele nunca tinha mencionado o nome de seus pais,nem onde morava, e nem a opinião dos pais sobre o namoro. Em um dia que os dois voltaram da pracinha depois de tantos beijos,Sebastião resolveu segui-lo sem ser notado, indo em direção a algum lugar que elepretendia descobrir. Até que ele chegou em um galpão abandonado, o namoradosubiu as paredes sem nenhuma corda, como uma aranha que anda na parede,desaparecendo sobre o telhado. Sebastião procurou alguma passagem escondida, algoque pudesse ter acesso ao local, até que encontrou um buraco na parede com espaçosuficiente para ele entrar. Dentro do galpão, havia vários pedaços de madeiras espalhadas, fazendo umamontoado em cada canto do lugar. Sebastião notou uma sala que ficava bem emcima, com a lua acesa. Subiu as escadas cuidadosamente, sem fazer nenhum barulho.Aproximando-se da porta, começou a ouvir uma conversa e quem falava era onamorado de Sara, a voz vinha um pouco abafada, pois a portava bloqueava apassagem do som. - Em breve teremos energia suficiente! - Sua voz era tão fria quanto ao vento,sumindo aquela doçura que ele tinha nos seus lábios para com a sua irmã Sara. -

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Aquela garota pobre será sugada por mim, assim, terei a sua vitalidade. - Mas mestre - disse uma outra voz -, a mãe e o irmão não irão perceber quevocê é um paranormal? - Claro que não! - dando uma risada sombria. - Aquela garota está tãoapaixonada por mim que os dois só pensam em meus pais que não existem. Eupreciso da energia dela para continuar sempre jovem. - E quando você irá sugar toda a sua vitalidade? - disse outra voz. - Amanhã a noite. Sebastião ouviu aquelas palavras com um horror tão grande que saiu correndoem disparada, não percebendo nada ao seu redor, tropeçando no amontoado demadeiras, fazendo um barulho estridente. O namorado de Sara e os outros garotossaíram da sala e viram ele. - Peguem este garoto! - Ordenou o namorado de Sara. Os garotos pularam em direção de Sebastião rapidamente para capturá-lo.Mas Sebastião foi mais rápido e saiu correndo pelo galpão, saindo pela mesmaabertura e fugindo que nem um louco fora daquele lugar sombrio. Sua mãe percebeu que o seu filho estava sem fôlego e com uma cara de medo.Ela o abraçou preocupada, acalmando-o, dando todo o seu amor maternal, dando asegurança ao seu filho que a protetora estava ao seu lado. No dia seguinte, Sebastião não perdeu tempo, fez um escarcéu enorme dentrode casa, proibindo Sara de sair com o seu namorado. Sara ficou muito nervosa comele, despejando palavras duras e horríveis ao seu irmão, criando uma inimizade entredois. Como irmão mais velho, era o seu dever protegê-la, ele pegou a chave e tranco-a em sem próprio quarto, ignorando os gritos histéricos da sua irmã, ele sabia o queera melhor para ela. Sua mãe quis tomar a chave de seu filho, mas ele saiu pela porta. Quando ele voltou à noite, sua mãe estava chorando na sala convulsivamente,ele perguntou o que tinha acontecido, mas ela não respondeu. Foi até o quarto de suairmã e viu que ela estava arrombada. Quando entrou, viu a pior cena que ele nuncatinha imaginado que veria, sua irmã tinha se enforcado com o lençol, estendida no arcomo um fantasma e com o seu rosto pálido. Sebastião caiu no chão e começou achorar, quando os paramédicos chegaram tiraram ela de lá. Ainda sem nenhuma vontade de reagir, ficou naquele quarto mais algumashoras, quando viu um bilhete em cima da cama, com uma caligrafia tão perfeita

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escrita a seguinte frase: Não adiantou idiota, ela se matou, mas eu tirei a sua vitalidade. Aquelas palavras deixaram Sebastião com um ódio tão grande, prometendopara si mesmo, que ia acabar com todos os paranormais que existissem no mundo.Quando voltou para a sala, sua mãe estava saindo com uma mala, ele a chamou, masela não deu ouvidos, partindo daquela casa, abandonando Sebastião. Daquele dia em diante, Sebastião tornou-se um homem de grande influênciapolítica, virando Ministro de Defesa, com intuito de proteger as pessoas indefesas. Sebastião saindo de seus devaneios, voltou-se a sentar em sua cadeira ecomeçou a mexer novamente nos documentos, com uma amargura tão grande e umódio mortal. Ele só esperava um momento certo para acabar com os paranormais queficavam escondidos por aí, ia fazer com um prazer intenso e maravilhoso.

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Capítulo 9Arrependimento de Um Garoto Apaixonado Pedro ainda sentia remorso do acontecido com a Beatriz, ele não devia ter aceitadoaquele desafio tão idiota, para entrar no grupo de um primo marrento que não valia ofeijão que comia. Ele ainda se lembrava de Beatriz estendida no chão, imóvel, naquela chuvaforte, jorrando sem piedade do céu. Também o rosto de Rogério consternado queficara com medo do terrível acidente. - Precisamos fugir daqui, deixe ela aí - disse Rogério sem sentimento. - Não! - gritou Pedro cheio de fúria. - Não vou abandoná-la! Se quiser fugir vávocê sozinho! Se ela morreu é minha culpa! - Como quiser... - Vamos pessoal - disse Rogério para o grupo. Ninguém se moveu, olhando-o com reprovação. Rogério ficou calado e olhoupara Pedro e para Beatriz. Pedro aproximou-se de Beatriz com muito cuidado, colocando a sua mão nopescoço dela lentamente, seu coração tinha parado de bater. Uma tristeza entrou emseu coração, a culpa da morte dela era ele, com sua infantilidade de se encaixar emgrupo em sua nova escola. Quando ele ia tirar as suas mãos do pescoço dela, elesentiu as batidas do seu coração novamente, dando esperança ao seu coração. Pegou-a, tirando-a daquela estação elétrica; os seus companheiros foram emdireção ao carro, abrindo a porta para Pedro, sentando-se. O rapaz mais velho levou-os para hospital. Depois de tanto tempo, ele ainda tinha uma sentimento de culpa e revolta euma paixão tão grande crescera em seu coração. Nunca pensou que amaria umagarota como Beatriz, ainda mais ele, um garanhão que pegava as garotas mais safadasda escola. Ele saiu de casa, caminhando pela rua, não prestando atenção em nada a suavolta, só em seus pensamentos de amor e arrependimento, chegando a uma praçarepleta de crianças brincando nas balanças, gangorras e gira-giras, sentando em umbanco. Ali, chorou que nem uma criança com fome, não se importando com quem

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estava ao seu lado, só em sua dor que dava pontadas em seu peito. Um homem de terno e gravata, acomodou-se ao lado do garoto, tocando emseus ombros. Pedro olhou para aquele homem de olhos bem convidativos eprazerosos. - Não chore mais - disse o homem com uma voz doce, mas escondida com umtom frio. - Venha comigo e aliviarei o seu coração. Pedro assentiu concordando. Os dois se levantaram, caminhando até um carro preto parado do outro lado dapraça, entraram, desaparecendo o automóvel pelas ruas.

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Capítulo 10Amigos Verdadeiros Olhei-me no espelho e vi uma garota de cabelos castanhos cumpridos, com olhos damesma cor do cabelo, uma boca fina e delicada, um queixo redondo e sobrancelhasfinas, de rosto cansado e desânimo. Passaram-se três semanas de estadia neste lugar e ainda não me habituei aoritmo. Depois da surra que eu dei na Mirian, os Congênitos queriam trucidar o meucorpo e a minha alma, encarando-me com rostos de morte e vingança, dando vontadede eu sair correndo que nem uma louca do lugar que estou e quero sair. Faz tempo que não vejo o meu irmão Julio, parecia que ele tomou um chá desumiço, pois não nos encontrávamos, e quando ia para ala dos Congênitos, osinstrutores proibiam de os Traumas entrarem. Sinto-me sozinha, lógico, tenho aminha amiga Priscila, mas preciso de pessoas que me apoiem e possam me ajudar aacabar com esse preconceito ridículo, como Guenesis informou, mais de milêniosuma guerra continua. O quarto gigante das meninas estava com uma agitação horrenda, minhascolegas de quarto resolveram fazer uma faxina, colocando as camasdesorganizadamente, nem sabendo-se mais onde se encontrava a sua própria cama. Eu e a Priscila estávamos varrendo o chão, com uma poeira que avolumavaassustadoramente, quando as cerdas das vassouras pelo chão, pelo visto, aqui nãohavia uma limpeza há muito tempo. Enquanto eu tirava aquele sujeira do chão,percebi que as minhas colegas de quarto, mantinham-se unidas, cada uma colaboravaumas com as outras, elas aproveitaram que era domingo, resolvendo serem solidáriasumas com as outras, como já sabem, estavam dando um trato no quarto. Minhas costas doíam, dando umas pontadas bem forte, sentei-me em umacama qualquer, respirando fundo, enquanto Priscila sentava ao meu lado. - Este quarto dá um trabalho danado! - disse Priscila também relaxando o seucorpo. - Ninguém limpa este quarto há séculos! Eu tenho certeza, você viu quantapoeira tiramos do chão de carpete? - Precisávamos de um aspirador de pó. Priscila deu-me uma ideia genial.

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- Amiga, você é demais! - disse eu alegre. Tirei os meus sapatos, subindo em cima da cama com as minhas meias brancase lavadas e gritei bem alto para todas as meninas do quarto. - Garotas! Elas olharam para mim perplexas, querendo saber do ocorrido. - Se vocês já notaram, este quarto não é limpo há vários milênios e nósestamos cansadas! Não é verdade?! Algumas assentiram concordando. - Ótimo! O que vocês acham de usarmos os nossos poderes para dar uma geralaqui. Já que não somos tratadas com igualdade neste Campo de Concentração, temosque deixar tudo limpo e cheiroso! O que acham? - Eu concordo! - disse uma garota de cabelos pretos. - Eu também! - disse outra. Logo, todas as meninas gritaram concordando. Priscila olhou para mimadmirada, aproveitando que era domingo e os inspetores tiravam o dia para relaxar,ela chamou os meninos para nos ajudarem, em troca de elas limparem os quartosdeles. Os garotos toparam a ideia no mesmo instante, nós garotas, ficamos umpouco ressentidas, mas topamos, pois todas nós sabíamos que ninguém dava amínima os garotos também. A faxina começou. Uma menina que tinha o poder de fazer os objetos se moverem, começou acontrolar a poeira que estava como um exército pronto para atacar. Alguns meninosque tinham o poder da força, levantavam as camas como se fossem folhas de árvorese eu, lógico, usei o meu poder para trazer água para lavar o chão. Conseguimos limpar tudo em tempo recorde, deixando os quartos femininos eos masculinos impecáveis. Fiquei feliz que a multidão topou a minha ideia, pelosmenos teríamos um quarto limpo por um mês inteirinho. Antes de os nossos colegas saíssem do quarto das mulheres, eles perguntaramde quem foi a ideia dessa faxina maravilhosa. Todos me denunciaram, apontado osdedos para mim. Os rapazes se ajoelharam no chão e me agradeceram, convidando-me para qualquer dia, dá uma voltinha com eles. Eu fiquei com uma vergonhadaquelas, nunca fui tão paquerada daquele jeito na minha vida. No dia seguinte, três meninos e duas meninas se aproximaram de mim e de

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Priscila no corredor, antes do café da manhã. - Oi Priscila, meu nome é João! - Ele sorriu para mim, mostrando os seuscaninos profundos. - Você é um vampiro? - perguntei nervosa. - Relaxa, não vou sugar o seu sangue. Eu acho isso antiético. - Meu nome é Paulo. E, antes que você repare nos meu pelos, eu sou umlobisomem, sou aquele mesmo garoto que fez a pergunta para a professora deParanormalogia. - Sou Tiago, tenho poderes psíquicos, posso controlar a mente de muitaspessoas. - Sou Clara, tenho o poder de curar. - Carine, tenho o poder de flutuar. - O que vocês desejam? - perguntei sem graça. Todos responderam: - Queremos ser os seus amigos! - Nós vimos como você tomou a nossa dor, ajudando-nos a limpar o quartorapidamente - disse Clara. - Você se importou conosco, quando ninguém mais se importa - disse João. Pela primeira vez em três semanas, encontrei amigos verdadeiros, pessoas quecompartilhavam o mesmo pensamento que eu. Eu estava em casa finalmente, melhordizendo, estou com os meus amigos.

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Capítulo 11Terríveis Assassinatos A repercussão da faxina de domingo foi enorme, o diretor ficou espantado com anossa iniciativa, dando os parabéns para todos os Traumas na frente dosCongênitos, dizendo que eles precisavam seguir o mesmo exemplo. Os Congênitosolharam para nós, querendo arrancar as nossas cabeças. Os meus dias foram melhorando, agora que tinha seis amigos, eu não ficavamais só nas aulas. João, além de ser um vampiro e ter a pele pálida, era um garotointeligente, tirava boas notas na prova, ajudando o grupo quando alguém tinhaalguma dificuldade. Paulo, o lobisomem, era um poeta nato, adorava os sonetos deBocage, Gonçalves Dias e do nosso grande Camões que o fascinava completamente.Ele até disse para nós que Camões foi um Trauma, e os poetas Congênitos que tinhainveja dele, armaram uma cilada para matá-lo durante a guerra, mas só conseguiramarrancar o seu olho. Tiago gostava de computadores, ele tinham um Ipad, masdeixava-o escondido, pois a escola não dava a permissão de ter eletroeletrônicos.Clara gostava muito de maquiagem e ficavam me emperiquitando com um quilo depó de arroz, ficando como uma fantasma. Carine gostava de cantar, tinha uma vozlinda, fazendo apresentações antes de dormir. Descobri de Priscila que ela gostava deler, principalmente Machado de Assis, ela era fascinada, seu romance preferido eraDom Casmurro, às vezes ela ficava horas e horas discutindo comigo que Capitu nãotraiu Bentinho. Eu, podia dar a única coisa com a minha capacidade, história. Souuma ótima aluna em história, tirei só notas altas em Paranormalogia. Estávamos na aula de Controle de Poderes, precisávamos ter controle denosso poder paranormal, a aula era bem mais legal agora, pois todos os Traumas seuniram para sermos os melhores alunos, deixando os Congênitos para traz, e aindapor cima irritados. Quando tudo estava para melhorar, um alarme soou estridente no Campo deConcentração, tapando todo mundo as suas orelhas. - Aconteceu algum ataque ao nosso Campo! - disse o professor. - Vamos parao Salão de Reuniões da Escola! Todos nós saímos da sala correndo. Como eu já estava me familiarizando comos costumes desse novo mundo, descobri que quando a escola toca este alarme

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horrível, significa que algo desagradável aconteceu, dando a ordem para reunirmosem um só lugar. O Salão de Reuniões era gigantesco, as pilastras eram adornadas comlâmpadas que se estendiam até o teto. Tinha também um palco e um altar de pedra,parecida para fazer sacrifícios humanos. Os Traumas ficavam do lado esquerdo e osCongênitos do lado direito, como de costume. O diretor entrou no salão, seguidospelos professores do Campo de Concentração, logo atrás deles, dois Detectorestraziam uma maca com um garoto nela. Ele não fora coberto, mostrando o seu rostopálido e magro que agora parecia mais um crânio do que uma cabeça normal. Envoltados olhos dilatados, havia uma profundidade, mostrando a ausência de carne.Levando o garoto até o palco o puseram no altar de pedra, deixando a sua pernaesquelética tombada para baixo, sendo recolhida pelo Detector. O diretor ficou bem na ponta do palco, observando cada um, escolhendotambém, cada palavra que ia dizer. - Alunos do Campo de Concentração! - começou ele com uma voz bem aflita.- Hoje tivemos um ataque misterioso na escola, um dos alunos Congênitos foibrutalmente assassinado. Há em sua barriga um buraco bem grande, como se tivessesido sugado por algo monstruoso e sem nenhuma gota de sangue no corpo. Os estudantes começaram a murmurar, principalmente os Congênitos queestavam indignados com o acontecido. - Pessoal, deixe eu terminar! Todo mundo ficou quieto. - Encontramos esse garoto que está neste altar, no banheiro. O mais estranho éque não tinha nenhuma gota de sangue no chão. Como não sabemos quem está nosameaçando, teremos o toque de recolher. O salão inteiro reverberou de protesto. - Isso é culpa dos Traumas! - disse um garoto loiro. - É isso mesmo! - concordou outro. - Eles que sofrem acidente misteriosos etêm inveja de nós que temos poderes de nascença! - Apoiado! - disse uma garota. - Eles não gostam da gente, principalmente quesomos mais inteligentes do que eles. Todos os Congênitos começaram a vaiar. O diretor não conseguiu conter abagunça.

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Os meu colegas Traumas ficaram quietos, não revidando as pejorativas. Cadaum queria sair daquele lugar e voltar para as suas casas, pois eu conseguia ler ospensamentos de cada um, deixando-me nervosa. Avancei até o lado direito do salão, encarando o garoto loiro que tinhacomeçado a confusão. Ele me olhou com desprezo e olhei-o com raiva. Todos osoutros ficaram vendo eu o garoto se encarando, parando os murmúrios. Era hora dotroco, ia dizer tudo que estava entalado na minha garganta. - Vocês se acham muitos superiores, não é mesmo? - Minha voz soou comotrovão, percebendo que o salão estava ficando escuro. - Vocês nos tratam como sefôssemos cachorros ou ser de outro mundo. Tudo bem, podem ter herdado ospoderes do pais pelo nascimento. Mas uma única coisas não herdaram, o amor, atolerância, a compaixão, a compreensão e o caráter! Isso nenhum dos Congênitosdeste Campo de Concentração idiota e demente têm! O diretor olhou para mim de boca aberta, já os professores queriam arrancar aminha pele com os olhares farpados. Os Traumas ficaram mais corajosos, dandorisada dos Congênitos. - Olha aqui sua idiota! - Uma garota saiu do meio da multidão. - Eu vou acabarcom a sua raça! - Acaba com ela! - Todos começaram a dizer. - Você acha que eu tenho medo sua vadia! - disse eu com bastante prazer. - Vadia eu? - disse indignada. - E você que é uma vaca! - Pelo menos, vaca fica no pasto e vadia fica na rua! - Joguei todas as palavrascomo bofetão. Todos os meu colegas Traumas deram risada. - Toma sua vagabunda! - disse ela para mim. Da sua mão começou a emanar uma luz muito intensa, e antes que ela pudesseme acertar, um garoto Trauma me protegeu com um escudo de energia. - Agora sua garota imunda, eu que vou encher a sua cara! - Eu também! - disseram as minhas colegas de quarto. - Então é que nós vamos ver - disseram os outros Congênitos. Uma guerra ia começar naquele salão, mas o diretor interveio. - Parem com isso já! - Ele gritou tão fortemente que todos se agacharammutuamente. - Todos para os seus quartos, não sairão de lar até a segunda ordem!

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Todos foram para os nossos quartos. As meninas que faziam companhianaquele quarto gigantesco, deram-me parabéns, nomeando-me Paranormal Rebelde. Eu sei que poderia comemorar aquele afronta no Salão de Reuniões, mas nãoestava ainda tão feliz com isso, queria encontrar o meu irmão. Os dias que decorreram depois foram os piores, muito assassinatoscomeçaram a ocorrer, inúmeros Congênitos desapareciam dia após dias, deixando odiretor desesperado, não tendo outra solução ao não se informar a ComunidadePsíquica sobre o ocorrido. Alguns membros da Comunidade vieram, anunciando quea escola entraria em uma recessão, as aulas seriam até as três horas da tarde e todomundo voltariam para os seus aposentos. Mas o pior estava para acontecer, quando um monte de alunos Congênitosdentro da sala de aula caíam mortos, com um buraco na barriga misteriosamente. O diretor começou a achar aquilo estranho, pois não morria nenhum Trauma,notificando isso para os membros da Comunidade, dando a ordem que todos osCongênitos deveriam voltar para as suas casas, só ficariam os Traumas, para ver sealgum de nós batesse as botas. Bela maneira de saber quem é o culpado. As coisas complicaram, quando vários Detectores Congênitos começaram aser mortos também, e os que tinham voltado para as suas casas foram mortos, sendoum transtorno para as famílias, causando o caos na Comunidade Psíquica. O MestreSupremo dos Congênitos anunciou que dentre duas semanas o Campo deConcentração seria fechado e todos voltaríamos para casa. Só uma coisa deixava-me preocupada, meu irmão. Ele era um Congênito e nãoqueria que ele morresse. Mas felizmente, ele estava são e salvo em casa, deixando-me mais aliviada. Todos os Traumas ficaram tensos com os acontecimentos dos últimos dias,pedindo que os confortassem nesse momento tão difícil. E eu, estava mais tensa doque qualquer pessoa ali daquele lugar.

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Capítulo 12A Lei Mais Importante Faltavam três dias para todos os Traumas irem embora do Campo de Concentração,pois os Congênitos morriam misteriosamente com um buraco na barriga e semsangue. O diretor mandou alguns Detectores Congênitos irem embora, deixandoalguns ainda para cuidarem de nós, até o dia de sairmos daquele castelo imenso. Meus amigos ao mesmo tempo estavam felizes e tristes, eles queriam irembora daquele lugar onde não eram bem-vindos, mas mesmo assim, eles gostavamde ficar naquele aqui. Eu, já queria ir embora daquele dali. Já estava há um mês eparecia anos, só que uma coisa me preocupava, essas mortes misteriosas e terríveis. Na última aula de Leis, a professora Camila nos informou que ia passar umaúnica lei para que nós memorizássemos, ela seria muito importante para o resto davida. Eu gostava dela, a sala inteira, pois ela era uma professora Trauma e não nosolhava com preconceito. Ela escreveu na lousa: A lei mais importante é: Nunca revele para um ser humano a sua verdadeira identidade. Pois serácondenado a morte. Aquela frase ficou fixada na minha mente, era uma lei muito especial eprecisava ser respeitada, agora entendo, o meu pai apagou a mente de todo mundoquando eu tive um ataque de raiva e os meus poderes ficaram descontrolados.Naquele dia, tudo em minha vida mudou novamente, como aquele quiromante tinhame alertado logo no primeiro dia aula, podia ter recusado, não, você não irá ler aminha mão, mas ela acabou lendo-a e revelando o meu destino. Ela disse que seria aescuridão, mas a escuridão me libertou novamente para a vida. Os três dias se passaram, todos os Traumas estavam reunidos no portão deentrada do Campo de Concentração. Meus amigos tinham ido na frente, para quenão fôssemos os últimos da fila e pegasse o pior banco dentro do iate. Eu, estavaterminando de arrumar as minhas mala, olhando aquele quarto imenso que antesestava cheio de meninas conversando e sentindo-se abandonadas pelo fortepreconceito. Não sei se isso era bom ou ruim.

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Quando estava descendo as escadas e indo para o portão de entrada, um vultoatravessou a parede indo para um corredor oposto ao meu, no início achei que eracoisa da minha cabeça, mas não era, pois eu ouvi uma voz masculina gritandoloucamente. - Socorro! - Sua voz era um urro ensurdecedor. Larguei a minha mala, atravessando aquele corredor, para salvar alguém queprecisava de ajuda.

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Capítulo 13Aberração O Detector estava encostado na parede, encurralado, com rosto tão desesperado quedeu dó. Uma sombra cobria a parede, era a forma de um rosto com olhos vermelhosintensos, senti um medo tão profundo e de morte, aquele ser emanava uma maldadetão obscura, atravessando a alma de qualquer ser, quando ele se transformou. Asombra saiu da parede, transformando-se em uma pessoa, com a aparência de umgaroto de dezoito anos, cabelos pretos, calça jeans, tênis All Stars e com uma camisabranca de gola V. A sua mão direta estralou fortemente, o ossos da mão remexiamansiosos, para saírem daquele corpo que emanava a própria trevas. Sua mão setransformou em um grande cano de cor branco, com grandes tubos que saiamconectando-se ao braços, como veias do próprio corpo. O garoto ergueu aquelenegócio monstruoso, pronto para matar o Detector, quando me joguei em cima dele. Vi o seu rosto, seus olhos eram vermelhos, não era só as partes coloridas dosolhos, mas toda íris e pupila, deixando tudo em vermelho monstruoso e pulsante.Sua boca mostrava um sorrido prazeroso, seu nariz, tudo, denunciava o prazer detirar a vida de alguém. - Saia da frente Trauma! - Sua voz era gutural. - Não posso sair, você irá matá-lo! - berrei. . Então morra! - gritou cheio de fúria. Antes que ele pudesse me atacar, o ar que estava em minha volta virou umvento forte, jogando o garoto contra a parede, abrindo um buraco e levando-o para ooutro lado. - Fuja! E avise alguém! O Detector olhou para mim ainda assustado, mas assentiu concordando efugiu daquele corredor que seria o da sua morte. Olhei para as minhas mãos queemanavam uma energia muito poderosa, o ar daquele lugar estava rodando emcírculos por todos os meus dedos, como se fossem crianças brincando de pega-pega. Atravessei aquele buraco, era uma sala bem cumprida, onde se guardavacoisas velhas sem uso algum. A criatura levantou-se dos escombros e silvou paramim como uma cobra, correndo em minha direção para me atacar. Não perdi tempo,meus cabelos eriçaram, comecei a flutuar no ar, senti uma eletricidade muito forte

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saindo da minha espinha e indo para as minhas duas mãos, emanando raios eacertando o bicho feio. Ele voou que nem um boneco, chocando-se contra a parede,tirando a argamassa, aparecendo grandes tijolos que sustentavam a grandeconstrução, caindo no chão. Ele berrou de ódio, levantando-se rapidamente, andou novamente em minhadireção para enfiar aquele cano ridículo em mim, mas fui bem mais rápida, jogandooutro raio em seu corpo, com mais intensidade. Ele começou a ser eletrocutado,gritando de desespero, fumaça começava a sair do seu corpo, com cheiro de carnequeimada. Continuei torturando-o com um prazer enorme, só que eu não tinhaaquela raiva acumulada no meu peito, os meus poderes viam de forma natural,consciente daquilo que estava fazendo. Fritei ele mais um pouquinho, até que eleparou de gritar, ficando inconsciente. Larguei-o não chão, quando o diretor apareceucom mais alguns Detectores. Virei-me para ele, dando um sorriso. - Aí está o causador das mortes dos Congênitos - disse cheio de alegria. - Ótimo! - pronunciou o diretor, ainda perplexo com a cena. Voltei ao chão e saí daquele lugar, não queria ficar mais um minuto sequer. Atravessei aquele corredor novamente e vi a minha mala largada ali, peguei-a efui para a grande fila lá fora. Avistei meus amigos e eles me perguntaram o motivo dademora, expliquei tudo a eles. O diretor apareceu na entrada do castelo gritando com uma voz bemestridente: - Todos vocês voltem para os seus aposentos! Encontramos o causador dasmortes neste Campo de Concentração Todos nós voltamos para os nossos quartos. As minhas colegas de quartoperguntavam confusas, querendo saber quem era o causador das mortes. Depois de uma semana, a Comunidade Psíquica autorizou a volta dosCongênitos. Diretor chamou todos daquele lugar para o Salão de Reuniões. - Estou aqui para notificá-los que encontramos o motivo das mortes dosCongênitos! A Comunidade Psíquica já está investigando os outros assassínios.Saibam que foi uma Aberração que fez tudo isso. Aberração? Por que esse nome? Mais tarde eu saberia do motivo.

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Capítulo 14Frustração de Um Plano Tudo estava acontecendo como planejado, os Congênitos estavam sendoassassinados um por um no Campo de Concentração, dando grandes quantidades desangue para a realização do seu sonho, aquilo que ele dedicou a vida inteira para quese concretizasse, estava chegando a hora, faltava pouco para realizar o plano dedominar o mundo inteiro, impondo a sua vontade, suas ideias, pondo as pessoas aoseus pés. Igor olhava para o copo cheio de uísque, com a sua cor amarronzada e umcheiro delicioso, era a sua bebida preferida, desde da época da juventude, quando iaao bar nos seus 19 anos e mandava encher o copo até a boca, transbordando, umabebida que aliviava seus temores e sentimentos, anestesiando a sua mente de coisasinúteis. O seu único pensamento, era no poder que iria ter, junto com Doron, o líderdo Traumas, que fora derrotado por seu irmão imbecil Guenesis, mas a revanche iachegar. Um dos seus homens que usavam o mesmo terno preto do que ele entrou emsua sala. - Mestre! - sua voz soava submissa. - Diga meu caro amigo. - Seus olhos saíram do copo de uísque para o seuseguidor. -- Temos uma notícia que não irá agradá-lo! A raiva cresceu dentro de Igor, como uma praga numa plantação de soja,refletindo em seu rosto perfeito e bonito. - O que seria? - O tom de sua voz ficou hostil. - O DV7 foi capturado e está com a Comunidade Psíquica para ser analisado. - O quê? - berrou cheio de ódio, atacando o copo de uísque com uma fúriaavassaladora. - Uma das minhas criações foi capturada? Como? O seu peito arfava de cansaço, por causa da raiva que o consumia, sua vontadeera de pegar esse homem que estava na sua frente e o estraçalhar em sua mãos. - Como descobriram, se ele é invisível? - O senhor gostaria de ver os relatórios que estão no computador da sala depesquisas.

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- Sim! Igor levantou de sua cadeira e atravessou a porta de sua sala, não esperando odesgraçado que trouxera a má notícia para os seus ouvidos puros e imaculados.Chegando a sala de pesquisas, foi até o cientista que monitorava as pesquisas em seucomputador. - Mostre-me! O cientista sabia que uma única palavra vinda de seu mestre era uma ordem,sabendo o que ele queria. Ele mexeu com a mouse clicando em cima de arquivo queestava na tela, trazendo o relatórios para os olhos de Igor. - Quem descobriu o DV7? - perguntou com uma voz fria. - Uma garota chamada... - disse procurando no relatório. - Aqui! BeatrizCarvalho Gomes! Ela viu o DV7 atacando um Detector no Campo de Concentração,e neutralizou-o. Aquelas palavras atingiram Igor como uma faca afiada, trespassando a suacarne, entrando no mais profundo de sua alma, gerando o sentimento de ódio e aomesmo tempo de amor. Sua filha fizera aquilo, como poderia imaginar aquilo?Mesmo assim, se Beatriz atrapalhasse os seus planos, ele iria matá-la sem dó emnem piedade. Ele voltou para a sua sala, quebrando todos os objetos contidos nela,extravasando aqueles dois sentimentos conflitantes de seu coração, deixando a salatotalmente destruída.

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Capítulo 15Análise da Aberração O médico-legista Andrikoula Sotirios estava analisando a estranha criaturainconsciente sobre a maca e com amarras no seu corpo. O Campo de Concentraçãodo Brasil tinha enviado para a Comunidade Psíquica a criatura para ser analisado nolaboratório. Nos seus trinta e sete anos de carreira, nunca tinha visto aquilo, dando-lhe uma certa curiosidade. Andrikoula pediu para o seu assistente Stylianos retirar amostras de sanguepara análise, para saber se o rapaz era ser humano ou outra coisa. O resultadossaíram de imediato, sendo entregue para ele. Pegou os seus óculos que estava emcima da mesa de amostras para ter uma visualização melhor do resultados. - O que é isso? - disse ele em espanto. - O que foi? - disse Stylianos preocupado. - Suas células foram alteradas, ele é um ser humano, mas ele recebeu umTrauma Forçado. - Trauma Forçado? - Você nunca ouviu falar disso? - Não. - Na época da Grécia antiga, o Trauma Doron fazia experiências sombrias comseres humanos, fazendo o Trauma Forçado, provocando acidentes nas pessoas, semnenhuma precisão, criando paranormais mais fortes e perigosos, foi assim quesurgiram os Sarx, seguidores cruéis de Doron para acabar com os Congênitos. Masparece que este aqui, não foi aperfeiçoado, ele foi criado para sugar sangue! Andrikoula pegou o braço da Aberração para mostrar o grande cano e os tubosque sobressaíam conectando-se com a pele. - Isso significa que eles foram criados para uma única finalidade, tirar sangue.Mas para quê? Precisamos informamos ao Mestre Supremo dos Congênitos essadescoberta. Um silvado reverberou pela sala. Andrikoula e seu assistente olharam para acriatura que estava querendo se soltar para matá-los. - Rápido! Vamos anestesiá-lo. Stylianos pegou a seringa com tranquilizante e aplicou na Aberração.

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Imediatamente, ele perdeu a sua consciência e ficou imóvel. - Agora eu sei o por quê que o chamam de Aberração! - concluiu o médico-legista. Andrikoula chamou os paramédicos que trabalhavam junto com eles ecolocaram-no dentro de uma redoma de vidro para que ficasse ali para análise,tirando-o da maca. E, mesmo que ele acordasse, não poderia sair dali, pois o vidroera reforçado para problemas extremos como esse.

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Capítulo 16Encontro de Dois Irmãos Eu fiquei mais famosa do que já era, depois que descobri quem era o causador dasmortes no Campo de Concentração. O diretor reuniu todo mundo no Salão deReuniões e me deu um broche com um símbolo de uma coroa, informando que eucontribuí para o bem estar da escola. Achei muito legal esse conhecimento, masmesmo assim, os Congênitos não ficaram satisfeitos, dava para ver em seus olharesque isso não era nada em comparação com as mortes que ocorreram, pelo menos, fizo que era certo. Meus amigos ficaram super felizes com essa homenagem e fizeram umapequena festinha para mim. João o vampiro, trouxe refrigerante para nós, ele tinhapegado na cozinha, todo mundo ficou preocupado, mas ele disse que as meninas quetrabalhavam na cozinha tinham uma quedinha por ele, deixando-o pegar orefrigerante sem nenhum problema. Acabando todas essas comemorações, voltamosa fazer o que tínhamos a cumprir, os estudos. Passaram-se um mês depois de todos esses acontecimento, tudo estava indoas mil maravilhas, eu tinha amigos, minhas notas eram altas, só uma coisa nãopreenchia o meu vazio, o meu irmão. Minha mãe tinha dado as recomendações paraque ele me ensinasse as coisas aqui dentro, infelizmente, aprendi sozinha, pois osTraumas e os Congênitos não podiam chegar perto um do outro. E, com isso, não vinem sombra de meu irmão. Os dias sucederam um após o outro e a falta da presença do meu irmão medeixava angustiada. Na aula de Leis, Clara percebeu em meus rosto a minha tristeza. - O que foi minha amiga? - disse ela sussurrando para que não atrapalhasse aaula. - Ando muito chateada - respondi sem muita vontade. - Com o quê? - Eu sinto saudade do meu irmão. Ele também estuda aqui no Campo deConcentração, ele é um Congênito, mas não posso chegar perto dele. - Compreendo... Mas isso é errado, ele é seu irmão, você tem direito de vê-lo. - Como se os outros pensassem desse jeito - disse desanimada. - Nós vamos dar um jeito.

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Eu quis me mostrar esperançosa, mas não consegui transmitir. Clara meabraçou discretamente, passando as suas forças para mim. Senti-me melhor depoisdeste abraço. Era a hora do momento de descanso, as aulas eram interrompidas para que osalunos pudessem conversar um com os outros e ter um momento de socialização. Euolhei para todos que estavam num grande pátio fora dos muros da escola, lembrandoque Guenesis tinha me dito que uma guerra milenar ainda existia, pelo visto, sentiisso na pele. Tiago me viu sozinha e se aproximou. - Oi Beatriz - disse Tiago com um sorriso no rosto, mas esmoreceu quando vio meu rosto. - Que cara é essa Beatriz? - De uma pessoa infeliz. - O que aconteceu amiga? - Nada... - Eu já fiquei sabendo... - A Clara te contou? - Sim. - Eu agradeço pela ajuda de vocês, mas isso não vai ajudar em nada. - Vai sim... - Como assim? - perguntei curiosa. - Eu tenho plano para que você possa ver o seu irmão. - Sério?! - disse eu já cheia de esperança. - Seríssimo! Você se esqueceu que os inspetores não trabalham no domingo?Essa é uma brecha bem legal para ver o seu irmão. - Puxa! Como eu não tinha percebido isso antes? - Quando a gente está triste, não percebemos as soluções que podem ocorrer.Se abrirmos os nossos olhos e enxergamos a solução, ela virá ao nosso favor. - Eu te agradeço muito! - disse abraçando-o ele bem forte. - E, como ele saberáque eu desejo vê-lo? - Uma das minhas habilidades com os meus poderes psíquicos, é que eu possotransmitir informações para as outras pessoas. - Você é o melhor amigo que eu tinha podia imaginar. Ainda era terça-feira, e meu coração estava a milhão para ver Julio novamente.

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Uma ansiedade tomou conta do meu corpo, deixando-me elétrica até o final dasemana, pois meu querido irmãozinho era tudo que eu tinha. Na quinta-feira, Tiagome informou que já estava tudo certo e que Julio já estava sabendo. Essa notíciaaliviou o meu coração, relaxando a minha mente e aguardar o domingo. Finalmente o grande dia chegou, como Tiago havia informado, não havianenhum inspetor na ala dos Congênitos. Recebi ordens para esperar na entrada daala, porque ele viria ao meu encontro. Quando eu o avistei no corredor, uma alegria resplandeceu sobre o meu corpo,fazendo-me correr até ele e dar um abraço bem apertado. - Como eu estava com saudade de você! - Eu sei irmã! - Sua voz soava tranquila e alegre. - Eu estive tão preocupado com você, principalmente aqueles ataques com osCongênitos. - Está tudo bem, minha irmã querida. Nada aconteceu comigo. - Ele saiu domeu abraço, dando um sorriso para mim. - O que você andou fazendo nesse um mêsque passou? - Aprendendo a lidar com o preconceito. - Minha voz soou desgostosa. - Eu sei... Peço desculpas por não ajudá-la a se adaptar no Campo deConcentração, os inspetores não querem que nós se misturamos com os Traumas.Por isso, nem consegui chegar perto de você. - Eu entendo... Mas agora estamos juntos de novo e podemos colocar o papoem dia. - Claro! Sobre o quê você quer falar? - Tudo o que for possível. Aquele foi o melhor encontro da minha vida, perguntei sobre os meus pais,como eles estavam, pois Julio tinha voltado para casa, por causa dos assassinatos.Ele disse que estava tudo bem com a nossa mãe, perguntando se eu estava bemtambém. Já o meu pai, não havia nenhuma informação, ele não tinha dado nenhumanotícia, nada. Há um mês ele não dava notícias, e isso, deixou eu preocupada. Depois de todas as nossas fofocas, meu irmão despediu-se de mim, pois já iadar seis horas, e não podia ter ninguém fora dos seus aposentos. Dei outro abraçonele um beijo de arrancar o ar, indo embora para o seu quarto. Eu voltei para o meuquarto, como a mulher mais feliz do mundo, agora, eu estava em paz comigo mesmo,

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de saber que meu irmão estava bem.

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Capítulo 17Uma Pista O sol de domingo foi embora e deu lugar a noite com a lua enfeitando a escuridão.Como ritual, todas as meninas do quarto davam boa noite umas para as outras,desejando um bom descanso para enfrentar mais uma semana de aulas. Aconcheguei-me na minha cama com o meu cobertor e o meu travesseiro maravilhoso e dormir osonho dos anjos. Voltei novamente para a Grécia, só que desta vez, eu estava dentro de umamansão. Andei pelos corredores até chegar em uma sala de estar bem aconchegante,com várias almofadas vermelhas, com um monte de vasos de cerâmicas enfeitando asala e Guenesis sentado em uma das almofadas. Ele sorriu para mim e pediu paraque me sentasse. Guenesis tinha uma beleza que ofuscava o meu raciocínio, tinha atévontade de pegá-lo e lascar um beijo nele. - Como você está Beatriz? - Estou bem. E você? - Bem... tirando o fato de estar enterrado, o resto está bem. - Você poderia me dizer onde está o seu túmulo, assim poderia libertá-lo damorte. - Se eu soubesse onde está o meu túmulo, eu te falaria agora mesmo. - Ele riu.- Mas é sobre isso que venho falar para você. Encontrei o endereço de um lugar,onde o responsável em trazer Doron à vida está. - Sério? - Sim. E, descobri também que essa pessoa é causadora das mortes doCongênitos. - Como você sabe de tudo isso? - perguntei curiosa. - O meu corpo pode está preso, mas o meu espírito está livre. Só que nãoconsegui descobri mais coisas, pois tem alguém me bloqueado, e acredito que sejaDoron. Você precisa ir até esse endereço e impedir esse ser de fazer uma grandeburrada. - Por que você me escolheu para essa missão? Eu não sou nada além de umagarota Trauma. - Eu vi em você Beatriz, algo que ninguém têm, o amor.

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- Você está brincando - disse eu rindo. - Estou falando a verdade. Parei de rir, ele estava falando sério. - Só saiba que você é a pessoa ideal para cumprir esta tarefa. - Eu não sei o que você viu em mim. - Algo que nem mesmo você enxergou, nem seu pai, nem sua mãe, nem seuirmão e principalmente os seus amigos. - Tudo bem, você me convenceu. Mas como vou sair do Campo deConcentração? - Você achará o caminho. - E qual é o endereço? - Rodovia Dutra, quilômetro 45. - Só isso? - Só. Guenesis e a mansão desapareceram na minha frente, restando apenas aescuridão.

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Capítulo 18Plano de Fuga Calculei mentalmente tudo o que iria fazer para fugir do Campo de Concentração, sóque nenhum plano prestava. Como eu iria fugir daqui? Qual será a reação dos meusamigos a escutar uma história absurda dessas? Eu não sei. Fiquei pensando por vários dias em algum plano de fuga, mas nada vinha aminha mente. Atrapalhando até os meus estudos e deixando meu colegaspreocupados. - O que foi Beatriz? - disse Priscila. - O quê? - Saindo dos meus pensamentos. - Você está avoada, não presta atenção nas aulas e nem o que eu falo. Estáacontecendo alguma coisa? - Bem... - Eu não queria contar para eles, queria protegê-los, mas acho que nãoserá a melhor maneira de resolver as coisas. - Reúna todos os nossos amigos. - Por que? - disse Priscila falando um pouco mais alto, fazendo a professoraolhar para nós duas e depois voltar a sua explicação. - Você saberá. Quando for a pausa das nossas aulas eu explicarei o por quêque estou avoada. Priscila assentiu, não discutindo mais comigo. Na hora do descanso, todos os meus companheiro estavam ao redor de mim,olhando preocupados e nervosos ao mesmo tempo. - Chamei todos aqui, porque preciso ter uma conversa franca com vocês. - Que conversa? - perguntou Paulo curioso. - Muito antes de entrar no Campo de Concentração e até agora, tenhosonhado com Guenesis, o primeiro paranormal Congênito da história. Às vezes eleaparece em sonho para mim e conversa comigo, e numa dessas conversas, eleinformou que alguém quer ressuscitar Doron. E, responsável pelas Aberrações atacaram os Congênitos aqui na nossa escola. E, preciso fugir do Campo deConcentração para impedi-lo de fazer essa cagada. Guenesis me deu até o endereço,Rodovia Dutra, quilômetro 45. Todos ficaram mudos e não disseram nada. O rosto de cada uma era deconsternação, digerindo as minhas palavras, ponderando-as, para ver se eu não

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estava louca da cabeça. O silêncio começou a ficar muito intenso em nosso grupinhofechado, deixando-me preocupada. - Se você fugir, eu também irei - disse Tiago de repente. - Eu também - disse João. - Vamos junto - disse Paulo. - Não deixaremos a nossa amiga ir sozinha - disse Clara. - Somos as suas amigas - respondeu Carine. - Isso é verdade - comentou Priscila dando um sorriso para mim. - Vocês estão falando a verdade? - perguntei incrédula. - Claro! - responderam todos em uníssono. - Pensei que vocês iam achar que eu estava louca. - Confesso Beatriz, que achei loucura, mas dentro de mim, respondeu quevocê estava falando a verdade - disse João. - Eu também - comentou Tiago. O resto dos meus amigos assentiram concordando. - Eu estou tão feliz que vocês acreditaram na minha palavra! Deixei escapar uma lágrima de felicidade. - Só que tem um problema - falou João. - Ninguém nunca conseguiu fugir doCampo de Concentração. Os Detectores ficam em voltas dos muros, vigiando paraque nenhuma pessoa fuja daqui. - Sinceramente - disse eu -, não sei como fugir. - Precisamos também de um lugar para ficarmos depois da fuga - ressaltouPriscila. - Vocês podem ficar na minha casa. - Beatriz, não irá e atrapalhar? - perguntou Paulo preocupado. - Fiquem tranquilos, minha mãe adorará ter vocês como companhia, masprecisamos sair daqui. Um Detector aproximou-se de nós pigarreando. Todos nós viramos para ele eficamos calados. - Quem é a Beatriz? - Sou eu - disse com um frio na barriga. Será que ele escutou a nossa conversa? - O diretor está te chamando. Ele quer conversar com você na sala dele. Meus amigos olharam tensos para mim.

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- Tudo bem, eu vou. Segui o Detector até a sala do diretor, chegando lá, o Detector abriu a porta e odiretor cumprimentou-me sentado em sua mesa. - Beatriz! Como estão os seus machucados? - Fazendo um movimento com asmãos para que o Detector saísse. - Estão melhores! - disse chegando perto de sua mesa. - Sente-se. - Claro - falei sentando na cadeira. Fiquei muito tensa naquela hora, o diretor olhava para mim, avaliando cadamovimento meu, eu não sabia o que ele queria de mim, mas penso que ele ia dar umapunição para mim e para os meu amigos, pois queríamos fugir de lá. - Eu compreendo a sua decisão. - Que decisão? - perguntei nervosa. - De você fugir junto com os seus amigos. E, estou dando autorização parasaírem daqui. - O quê?! - Eu gritei. - Não fique espantada, eu sei que você tem uma missão para cumprir. Impedirque alguém liberte Doron da sua prisão. - Como você sabe? - Saiba que Guenesis entrou em contado comigo através de sonhos, avisandosobre você e sua missão. - E dos meus amigos? - Eu soube agora por ele. - Como? - Beatriz, você é uma garota que sempre faz perguntas demais, querendo sabertudo na hora. Tudo bem, Guenesis e eu sempre tivemos contato, desde de que eu erajovem, ele se apresentou para mim em sonhos e pessoalmente como espírito. E,quando soube dos seus poderes, fiquei muito curioso, pois os seus poderes sãosemelhantes ao que a profecia informa. - Que profecia? - Minha cabeça estava rodando de tantas informações. - Doron e eu acreditamos que você é a garota da profecia, A Garota da Chuva. - A Garota da Chuva? - Isso soou meio ridículo para mim. - Exatamente. Acreditamos que você é a única capaz de deter Doron.

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- E como é essa profecia? - No momento certo, tudo será lhe dito. Amanhã de manhã, você e os seusamigos partirão do Campo de Concentração. Quando chegarem no continente, estaráum carro a disposição de vocês, para levarem onde vocês desejam ir. Principalmentepara este endereço que Guenesis te deu. - Só uma pergunta. - Pergunte. - Então, era por isso que você me fez todas aquelas perguntas naquele dia? - Sim. Minha mente processou melhor as informações. - Nossa seção está encerrada. As quatro horas da manhã, quero todos vocêsacordados! - Posso levar o meu irmão? - perguntei com a maior cara de pau possível. O diretor ponderou, até dar a sua resposta definitiva. - Tudo bem! Avisarei o seu irmão. - Você é o melhor diretor do mundo. Quando voltei para o pátio, contei para os meu amigos sobre o que o diretortinha me dito, eles se surpreenderam com a atitude dele. E disseram uns para outrosque iriam arrumar as suas malas para amanhã. Agora, eu precisava me concentrar na missão, deter a pessoa que queria trazeresse mal para o mundo novamente.

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Capítulo 19Voltando Para Casa Meus olhos ardiam de tanto sono, eu queria voltar para a minha cama e dormirnovamente, mas não podia. Meus amigos também queria dormir, estavam com umacara de sono e com olhos vermelhos de cortar o coração. Julio queria me matar, elenão gosta de ser acordado muito cedo, mas pelo menos, ele ia ver a nossa mãenovamente. Estávamos no cais da ilha, os Detectores faziam companhia para nós,até o nosso iate chegar e levar-nos novamente para a costa brasileira. Quando o iatechegou, subimos apressadamente e sentamos nos bancos e dormimos como crianças. O iate parou no cais do Guarujá, já era sete horas da manhã, todos nósdescemos da embarcação, onde um homem esperava-nos, informando que seria onosso motorista. A perua era espaçosa e dava para todo mundo sentar e tirar outro ronco,infelizmente, eu tive que ficar acordada, para dar instruções ao motorista de como irpara a minha casa. Era meio-dia, quando chegamos a casa da minha mãe. Ela estava do mesmojeito quando eu tinha saído. Meus amigos olharam para ela felizes, saciados do sono,meu irmão estava satisfeito das horas de sono durante a viagem, e eu queria arrancaro pescoço de alguém por não ter dormido. Saímos da perua, o motorista encostou a sua cabeça no banco e dormiu. Pelovisto, ele iria ficar ali até a segunda ordem nossa. Julio tocou a campanhia e nossa mãe atendeu, recebendo-nos com um almoçomaravilhoso, com salada de tomate, arroz e feijão e uma linguiça de lamber os lábios. João comeu a sua comida vorazmente, intercalando com o suco de laranja.Tiago foi mais ponderado e mastigava ao poucos. Paulo comia tranquilamente, e asmeninas colocaram pouca comida em seus pratos. Julio seguia o mesmoprocedimento de João e comia vorazmente. Eu, fiz uma montanha de comida emandei tudo para dentro. Priscila, Clara e Carine ficaram abismadas. Enquanto comiámos, discutimos em como chegar ao local, onde Guenesistinha dado o endereço. Precisávamos de uma estratégia e não tínhamos nenhuma.Depois do almoço, minha mãe fez uma torta de limão de arrancar elogios da turma.Como eu já estava cheia de tanto comer, peguei só um pedacinho, João e Julio

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cortaram e metade da torta, que fome meu Deus. Fomos todos para a sala, Pedro pegou o seu Ipad e o seu modem e acessou ainternet, vendo no Google Maps a localização do quilômetro 45 da Rodovia Dutra. - Aqui informa que o local é das Indústrias Farmacêuticas Gomes. - Mas esse é o meu sobrenome - disse eu com espanto. - É que o seu pai trabalha lá Beatriz, ele é dono das indústrias - disse minhamãe ao entrar na sala. - Você está dizendo que o meu pai trabalha lá, e é o dono? - Sim. - E você nunca nos contou? - Achei que não precisava. Por que eu tenho a impressão que meu pai escondeu alguma coisa da nossafamília? Será que ele estava trabalhando para o inimigo? Não podia ser. Meus amigos viram em meu rosto, uma desconfiança tão enorme, e tambémcomeçaram a desconfiar. Julio olhou para mim com uma cara, querendo dizer que aítinha uma merda. Eu suspirei nervosa, não querendo acreditar que isso fosseverdade.

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Capítulo 20Invadindo o Território do Inimigo Ficamos dois dias planejando a invasão das industrias do meu pai, e o grupo decidiuusar os nossos poderes para entrar naquele lugar que tudo indicava, era o local ondeestava a pessoa responsável em despertar Doron e usar as Aberrações para acabarcom os Congênitos no Campo de Concentração. Nesses dois dias, eu e meu irmão explicamos tudo para nossa mãe, falamostudo que estava acontecendo e as nossas suspeitas. No início, minha mãe ficouespantada, achando que isso não era possível, que o nosso pai nunca iria fazer umacoisas dessas. Falei para minha mãe que não tínhamos certeza se era o meu pai ounão, poderia ser outra pessoa e ele ser inocente disso. Lídia relaxou um pouco eficou menos preocupada. Ela pediu que deixássemos ela pensando um pouco, até elachegar em uma conclusão. Meu irmão Julio foi mais rápido em digerir as evidências,enquanto estávamos voltando para o continente, contei tudo para ele, decidindo meajudar. Depois de algumas horas, minha mãe foi até a sala, onde eu, meu irmão e meusamigos estavam dando os retoques finais para o plano de ataque, pedindo que eu emeu irmão fôssemos até o quarto dela. Ela sentou-se em sua cama de casal e olhou para nós com um olhos deconformação, pensando nas palavras que ia dizer para nós. - Filhos... Confesso, que eu ainda estou meia assustada com tudo que vocêsme disseram, mas se é para o bem da humanidade, não interferirei, nem contarei parao pai de vocês. Se ele for o responsável, terá que arcar com suas consequências, senão for, estarei mais aliviada. - Mãe, desculpe-nos por darmos essa bomba - disse eu sentando-se ao seulado e a abraçando. - Relaxa, eu vou sobreviver. - Tem certeza mãe? - disse Julio com preocupação. - Claro filho. Se o seu pai se separou de mim para fazer sacanagem, ele levaráuma surra feia de mim, para nunca mais enganar a sua mulher. - Mãe, você não existe - falei alegremente. - Eu fico feliz, que pelo menos, uma boa educação dei a vocês. E, isso não

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tenho que me queixar. Lídia fez um aceno com a sua mão para que Julio sentasse do seu ladotambém, dando um abraço bem apertado em nós. - Agora preciso dar comida para o motorista de vocês, ele não sai do carro hádois dias, tenho medo que ele passe mal por causa do calor, esse sol acaba conosco. Tudo estava resolvido, agora poderíamos executar o nosso plano e livrar ahumanidade do sofrimento. Já estava tudo preparado para a execução, cada um estava com a sua mala,com lanternas, cordas e pilhas reservas. Nós iríamos atacar durante à noite.Estávamos na Rodovia Dutra, no quilômetro 30, enquanto isso, repassávamos todasas informações, para que não houvesse nenhum erro. - Eu hipnotizo os guardas - disse João. - Caso não dê certo, eu meto porrada neles, lobos têm reflexos bons - falouPaulo. - Eu posso controlar as mentes deles com os meus poderes psíquicos - disseTiago. - Usarei a minha velocidade para ser mais rápida em espiar as coisas - dissePriscila toda orgulhosa. - Tenho o poder de cura, posso curá-los caso aconteça algum acidente. - Isso mesmo, Clara, você é a nossa salvação - disse Carine. - Como eu possoflutuar e dar para pôr todo mundo no ar junto comigo. - Já eu - comentei -, posso fazer um estrago enorme com a minha chuva. Todos riram descontraídos, só cada uma sabia o que estava sentindo,enfrentando o medo. Não tínhamos noção do que encontraríamos lá, então, todacautela vinha a calhar. Chegamos ao quilômetro 45 e vimos uma grande indústria desabrochar naescuridão, com muros que não tinham fim, protegendo aquela imensa construção dequalquer empecilho. Olhei de boca aberta para todo mundo, Julio, então, piorou,seus olhos estavam arregalados de espanto. Eu e eles nunca imaginamos que o nossopai fosse dono de um monstro. Agora entendia o por quê que a nossa família eraclasse média alta, ou melhor, classe rica. Avistamos o portão de entrada, a perua estacionou. Todos nós descemos,quando o policial saiu de sua cabina, ver o que estava acontecendo.

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- O que vocês querem? Aqui não pode estacionar - disse com uma voz deameaça. João se aproximou do guarda de uma forma descarada, seus olhos ficaramvermelhos e suas presas aparecendo na sua boca, grunhindo que nem um animal. Opolicial tirou a arma do coldre, apontou para ele tremendo de medo. - Não faça isso seu guarda! - Sua voz soava tão sedutora que eu poderia beijá-lo. - Olhe para os meus olhos... Isso mesmo, você vai abrir este portão e desligartodas as câmeras de segurança de entrada. Entendido? O policial assentiu como uma criança obediente. - Ótimo! Ele voltou para a cabine, abrindo o portão. Todos nós caminhamos pelo imenso pátio, procurando alguma porta paraentrar. Quando avistamos uma, Tiago tocou na maçaneta e abriu facilmente a porta,nós olhamos para ele, expressando com olhares dizendo que a gente era sortudo. A recepcionista que estava no balcão olhou para nós espantada, depois serecompôs e avançou até nós, pronta para enxotar todo mundo dali. - Vocês não podem entrar aqui! - esbravejou. - Calma moça - disse João. - Olhe só para os meus olhos... A recepcionista foi um pouco resistente, mas cedeu a voz melódica dele. - Quem é responsável por esta empresa? - Igor Deodoro Carvalho. - Eles fazem alguma coisa de ilegal aqui? - Isso é pergunta que se faça - cortei a conversa um pouco irritada. - Diga paraela, onde podemos encontrar o meu pai. - Onde podemos encontrar Igor Deodoro Carvalho? - Peguem aquele elevador e desçam até o vigésimo subsolo. - Agradecido. Fomos até o elevador, deixando a recepcionista ali parada que nem idiota. Julio apertou o botão do elevador, esperamos alguns segundos, o elevador fezo seu barulho habitual, entramos. Dentro dele, havia inúmeros botões e uma câmeraenorme, soltei um pequeno raio da minha mão, atingindo-o, parando de funcionarimediatamente. Carine apertou o vigésimo subsolo, o elevador fechou a porta, comum solavanco para descer.

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- Eu acho muito suspeito, uma indústria ter vinte subsolos! - exclamei. - Também acho - disse Paulo. - O que se pai faz lá embaixo? - perguntou João curioso. - Não sei pessoal, isso que me preocupa. O elevador parou de repente, apontando o décimo sétimo subsolo. Tenteiapertar o botão novamente para descer, mas não houve nenhuma resposta. A portado elevador se abriu, mostrando a maior cena da minha vida.

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Capítulo 21Decepção Esfreguei os meus olhos várias vezes, achando que era uma miragem, imaginação, seilá o que fosse, infelizmente, o que eu estava vendo era algo impressionante e bizarroao mesmo tempo. Saímos do elevador, atravessando uma ponte de metal, no meio de um buraco,onde em suas paredes havia inúmeras cápsulas, com seres humanos dentro, tubosestava enfiados em várias partes do corpo e um líquido preenchia todo aqueleespaço. Parecia uma colméia de abelha, mas com um monte de adolescentes. Aquilonão era uma indústria farmacêutica coisa nenhuma, aquilo era um laboratóriodisfarçado. Continuamos andando, quando uma escada apareceu a nosso frente, descemo-la, chegando a uma grande sacada de metal inox, com vários computadoresembutidos em máquinas imensas. - Seu pai não faz remédio não - disse Paulo espantado. Andei sobre aquele lugar, até chegar em um dos computadores, pus a minhamão direita nele e suspirei. O computador ligou sozinho, dando-me um susto,mostrando um arquivo chamado Trauma Forçado. - Gostou do ambiente Beatriz - disse uma voz conhecida no meio do nada. - Quem é você?! - Não me reconhece? - Sua voz era de desprezo. Meu pai se materializou na minha frente, com uma superioridade imponente,dando um sorriso para mim e para meus amigos, como se tivéssemos na rua,apresentando-se um para o outro. - Pai, você é o responsável por tudo? - Ainda pergunta, filha... - Então, você que criou as Aberrações e quer trazer Doron a vida! - Acuseiseveramente. - Aberração é um nome feio para se colocar, prefiro DVs - disse debochando. - Pai, por quê? - Por que mesmo! - disse Julio cheio de raiva. - Merecemos uma explicaçãodescente!

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- Vocês não percebem! Os Congênitos são as pragas desta terra, eles tratam osTraumas como se fossem animais! Nada mais que justo em trazer Doron à vidanovamente! - Tirando vida de gente inocente! - berrei cheia de ódio. - Filha, mortes são necessárias para execuções de planos. Ajuntem-se a mim, enão terei como inimigos. - Não! - disse cheia de convicção. Igor olhou para mim consternado. - Filho? - perguntou ele. - Não! - E vocês aí? - disse para os meus amigos. - Sinceramente, não! - disse João! - Você é louco! - exclamou Clara. - Ele é patético! - acrescentou Tiago. - Concordo com você Tiago! - disse Paulo. - Seu pai Beatriz, é um idiota - disse Priscila. - Falou e disse! - Carine finalizou. Dei um sorrisinho no canto dos lábios. - Pai, estou decepcionado com você. - Jura? Eu não. Igor começou a andar pela sacada como se estivesse em parque temático,discorrendo as suas palavras vis e cruéis. - Vocês são a vergonha da humanidade! Então, não poderei deixá-los sair comvida! DV357! Um vulto em alto velocidade surgiu, parando ao lado de meu pai,materializando-se e mostrando um rosto familiar, Pedro. - Gostou com o que fiz com seu namoradinho? - O que você fez com ele? - Ignorei as suas palavras. - Fiz o Trauma Forçado nele, só que ele não é para sugar sangue, mas sim foifeito para matar. Apresento-lhe o Sarx da nova geração! Aquelas palavras entraram em meu corpo como facas, desferindo golpes emmeu coração. Pedro não era meu namorado, e nunca foi, mas eu tinha uma dívida degratidão com ele, e vê-lo daquele forma, como uma Aberração, com olhos vermelhos,

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corpo musculoso e cheio de ódio, fez eu me sentir vulnerável. - Não gostou filha da surpresa? - Ele cortou os meus pensamentos. - Não. - Já era previsto. DV357, mate-os! Pedro avançou ao meu lado, com uma força impressionante, desferiu um socona minha cara e depois no meu irmão. Caí no chão como uma boneca de pano, comuma dor que atravessava o meu cérebro. Percebi que ele já estava dando socos emmeus amigos, e o estranho era que ninguém conseguia reagir. Fiz uma força sobre-humana para levantar do chão, a minha cabeça rodavaparecendo um carrossel, via tudo embaçado. Mas tudo parou de rodar, quando arisada do meu pai ecoou no recinto, misturado com os gritos das meninas sendomachucadas pelo pessoa que salvou a minha vida. - Você não fará mais nada pai! - Urrei cheia de raiva. - Você não pode usar os seus poderes, eu posso bloqueá-los. - Mas eu posso! - gritou Tiago todo ensanguentado. Emanou de sua cabeça uma energia magnética muito poderosa, acertando acabeça do meu pai e derrubando-o no chão. - Agora Beatriz! Não pensei duas vezes, corri em direção da Aberração que entortava a pernade João para quebrá-la, soltando o meu raio no corpo dele, arremessando-o para ooutro lado. Ele levantou, dando um silvado muito forte, vindo em minha direção,mostrando as suas garras imensas para furar o peito. Enquanto ele via ao meuencalço, concentrei-me em todo ar que tinha naquele lugar, pensando em um grandeciclone, quando ele se materializou na minha frente, acertando Pedro em cheio,tirando-o da sacada e jogando ele para o buraco sem fim que tinha lá embaixo. Meu pai se recompôs, dando uma risada demoníaca, rindo como se nadativesse acontecido. - Sua tola! Filha, você é muito idiota! Eu sabia que você viria atrás de mimdesde do começo! Doron me contou tudo, você está ao lado de Guenesis, umCongênito. - Ele continuou rindo da minha cara. - Aproveitei que você está aqui, emandei um exército de Aberrações para destruir o Campo de Concentração e matartodos os Congênitos! Ele riu, riu e não parou mais, contando vitória. Ignorei-o, fui até os meus

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amigos que estavam machucados. Olhei todos, mas estavam muito feridos, virei omeu rosto para o meu pai, ele me fitava com desprezo. Ele tinha planejado tudo,queria matar todos os Congênitos. - Sabe o por quê que eu preciso de sangue, Beatriz? - continuou. - Para trazerDoron do mundo dos mortos. E, hoje conseguirei uma quantia de sangue, osuficiente para despertá-lo. - Eu te odeio! Covarde! Desgraçado! Igor voltou a rir, desmaterializando, como também toda a indústriafarmacêutica, restando apenas, um terreno vazio e abandonado. A sua risada ecoavaainda pelo terreno, como uma assombração, lembrando que eu falhei com todomundo.

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Capítulo 22Ataque das Aberrações Foi inevitável o ataque, as Aberrações invadiram o Campo de Concentração emataram todos os Congênitos. Os Traumas tentaram reagir ao ataque, mas foi emvão, como também os Detectores que atacavam, mas morriam rapidamente. Murosforam destruídos, salas de aulas vieram ao chão. Os professores lutaram bravamente,mas foram massacrados pelos canos sugadores de sangue, perdendo o néctar da vidade seus corpos, restando apenas, um concha vazia, oca, sem nada por dentro. O diretor lutou até onde podia, mas desistiu, tendo que salvar todos osTraumas da escola, colocando todos em um porão e se fechando lá dentro. Não haviao que fazer, parecia que nenhum poder paranormal era páreo para aquelas criaturas,não fazia nenhum estrago sequer. O certo era aguardar. Passada a noite inteira de lutas, o diretor saiu do porão com os sobreviventes,reunindo-se no Salão de Reuniões que estava intacta, discursando com as suapalavras, para tentar amenizar a dor. - Creio, que hoje foi o pior dias de nossas vidas! Essas criaturas acabaram coma nossa escola, estudantes, Detectores e professores. Acho estranho, nenhumadaquelas criaturas atacaram vocês, só os Congênitos. Não sei mais o que dizer. O diretor saiu do palco e atravessou a multidão de cabeça baixa. No mesmo dia, a Comunidade Psíquica fechou o Campo de Concentração,deixando todos do conselho tensos, causando um caos em toda a Comunidade.Tomando medidas de proteção drásticas para os outros Campos de Concentraçãoespalhados pelo mundo.

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Capítulo 23O Retorno dos Sarx Igor viajou para a Grécia o mais rápido que pôde, indo para o túmulo de Doron, nãopara despertá-lo, ainda não. Doron primeiro, queria causar o caos ao mundo,revelaria aos seres humanos que os paranormais existiam. Igor andou pelos corredores da tumba, procurando a grande sala dos guerreiroscaídos. Um guia grego o acompanhava, segurando a lanterna para ele poder enxergarem meio a escuridão. No meio do caminho, as paredes de pedra exibiam runas escritas em gregoantigo, contando a história do antigo povo, também alertando sobre o perigosoinimigo e o seus seguidores. Logicamente, Igor ignorava todos os avisos, pois ele jásabia o que tinha naquela sepultura esquecida pelo tempo. Os dois viraram para umcorredor a esquerda, encontrando uma grande placa de pedra, com um monte depalavras gregas esculpidas na placa que atravessou o tempo para o grande dia. Ele tocou a placa fria, dando um sorriso no canto dos lábios de satisfação,lendo cada palavra com um prazer indescritível. Aqui repousa a maldição do homem, o caos na terra, a destruição do mundo. Aquela frase foi degustada com um prazer inefável, ali estava escrito tudo oque o ser humano podia temer. Quem será o grande filósofo que escreveu essa belafrase, não interessa, estou aqui para libertar a desgraça novamente. No canto direito da placa, havia uma pequena alavanca de metal, puxando-a. Agrande placa se moveu preguiçosamente, caindo pedaços de pedras e poeiraacumulada durante séculos, abrindo uma grande passagem, exalando um cheiropútreo. O túmulo era enorme, havia inúmeros caixões de pedra espalhadosordenadamente. O guia, ficou pálido ao ver aquela cena, ele nunca tinha visto ummonte de mortos no mesmo lugar. Igor retirou uma faca do seu bolso, cortando a palma de sua mão, deixando oseu sangue pingar no chão empoeirento, espalhando-se, criando uma pequena lamade sangue.

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- Pelo sangue de um Congênito, a praga da terra, a discórdia do mundo, overme da terra. Aqueles que deveriam ser mortos a muito tempo. Reivindico avingança, a oportunidade de terminar aquilo que não foi concretizado. Como servofiel de Doron, ordeno a todos que levantem das suas tumbas, para a nova guerra quecomeçará! As tampas do caixão se arrastaram lentamente, fazendo uma sinfonia deatritos em todo o ambiente. As mãos esqueléticas tocaram na borda da pedra, dandoforça para os mortos se levantarem. Os Sarx se ergueram, mas eram puros ossos,mas quando colocaram o pé fora do caixão e pisaram naquela terra antiga, carne,tendões, órgãos e peles restauraram as formas originais dos antigos guerreiros. Dosseus corpos nus, surgiram roupas do nada, todos eram carecas, com uma tatuagemna cabeça, escrita Sarx em grego antigo. - Nós ouvimos a voz do servidor de Doron, e estamos aqui para servi-lo! -disseram todos em uníssono. Igor deu uma risada prazerosa, sentindo o poder em sua mãos, estava com umexército poderoso que iria abalar a terra. O guia saiu correndo, deixando aquelapessoa louca com o seus mortos. - Preciso de dez de vocês, para trazer caos para uma cidade! Essa cidade ficano Brasil, São Paulo. Dez Sarx ficaram na frente de Igor se ajoelhando. - Conhecemos este lugar, Doron nos informou - disse um deles em gregoantigo. - Perfeito - disse Igor reconhecendo cada frase. - Tragam o caos na terra! Eles se levantaram e desapareceram como fumaça de seus olhos. Larissa estava com pressa, ela precisava chegar ao escritório, antes que o seu patrãodescem os estrilos dele, dizendo que ela estava atrasada e o seu salário ia sofrer asconsequências. Mas o trânsito não dava trégua, aumentando mais o seu nervosismo,querendo empurrar com o seu carro todos o motoristas. Ela viu alguma coisa voandono céu, acertando um prédio da Avenida Paulista em segundos, fazendo um buracoenorme no edifício. Os estilhaços do vidro caíram em cima dos automóveis, comoneve cristalina.

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Larissa saiu do seu carro, olhando espantada para aquele imenso buraco queapareceu do nada. Os outros motoristas saíram dos veículos, fazendo a mesma cena,quando uma sombra se materializou na faixa de pedestres. O Sarx levantou a suamão direita, soltando uma energia negra de sua mãos, acertando um carro e fazendo-oexplodir. As pessoas olharam para onde vinha aquela explosão, vendo um homemforte e musculoso, com traços belos mas assassinos, ele pegou um homem já deidade pela sua camisa, sugando toda a sua energia vital pela boca, deixando só pele eossos. Todos presenciaram aquela senha grotesca, e saíram correndo em disparadapela avenida. Só que o pior aconteceu, vários homens iguais a eles apareceram,causando o caos na grande Avenida Paulista. Pessoas eram mortas facilmente, carrosvoavam para os lados e aquele prédio que fora acertado por um deles, rachou aomeio, não suportando mais segurar aquela grande construção, indo ao chão, liberandouma grande fumaça de concreto. Os policias chegaram, as viaturas pararam em lugares diferentes, os possíveissalvadores saíram de suas carraças, com uma arma nas mãos, os Sarx perceberam queestavam sendo ameaçados e mataram um por um com facilidade. Um carro de reportagem chegou, o jornalista saiu do veículo e se escondeu,mostrando as terríveis cenas A avenida inteira fora bloqueada, causando um trânsito infernal na Consolaçãoque foi atacada pelos Sarx também. A grande batalha milenar começou novamente.

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Capítulo 24Defesa Sebastião assistia a tudo que estava acontecendo na Avenida Paulista pela televisão,mexendo os dedos freneticamente de satisfação, era a prova que ele precisava paraacabar com os paranormais da face da terra. Ele sentou-se em sua mesa, pegando o telefone e ligando para o gabinete dopresidente. - Alô? - disse a secretária. - Jussara, sou eu, o Ministro de Defesa, Sebastião Santos, eu preciso falarcom o presidente com urgência. - O senhor quer falar com ele ainda hoje? - Tem quer ser agora! - Um momento, por favor. A secretária foi até a sala do presidente. O presidente João Barbosa estava conversando com o Ministro daAgricultura, quando foi interrompido. - Senhor presidente, desculpe incomodá-lo. - Diga. - O Ministro de Defesa deseja quer falar com o senhor com a máxima urgência. - Peça para ele vir aqui. Sebastião estava na sala do presidente, mostrando as imagens da AvenidaPaulista sendo atacada pelas pragas da terra através de seu celular. - Dê permissão para que haja uma cassação de todos essas criaturas - disseSebastião fazendo o seu belo discurso. O presidente ainda olhava as imagens, tentando fazer a digestão da terrívelcatástrofe. Ele suspirou profundamente, olhando para Sebastião com um ar depreocupação. - Você tem carta branca para acabar com esses malditos. Mas espere a decisãodo senado, para que possamos agir. - Tudo bem, eu esperarei. Sebastião saiu daquela sala, dando pulos de alegria em seu interior, era hora deesterilizar a sociedade das pragas.

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Capítulo 25A Quebra da Lei O meu coração estava muito machucado, no lugar do ódio, veio a tristeza e afrustração, ele feriu meus sentimentos, abrindo um buraco sobre o meu peito dedesespero. Como ele pôde? Meu pai, eu sempre confiei nele, sempre acreditei queele trabalhava, fazendo coisas de pessoas normais, sei lá como designo agora. Nãocontei muita coisa para a minha mãe, nem expliquei que o marido dela atacara suafilha e o meus amigos de uma forma tão cruel, esperaria o momento certo, mas issojá estava me consumindo. Depois que as indústrias farmacêuticas desapareceram misteriosamente,deixando um terreno vazio, fiquei igual a uma idiota olhando o espaço em aberto etentando processar tudo o que aconteceu, para ver se não era fruto da minhaimaginação, mas quando olhei os meus companheiros deitados no chão, sabia que eratudo real. O motorista ajudou-me a carregar todos, Tiago estava consciente, então foimais fácil levá-lo para o automóvel. Quando cheguei em casa, abri a portaabruptamente, entrando que nem uma louca desvairada, chamando minha mãe. Elaestava na sala assistindo TV, assustando-se com o meu estardalhaço. - O que foi filha? - perguntou ela preocupada? - Venha tirar todos da perua, eles estão todos machucados. - Machucados? - Sua voz mudou para um tom mais preocupado. - Depois eu explico, venha. Lídia foi uma mãe e tanto, pegou-os com facilidade, pondo todos dentro decasa, um por um, ela foi colocando em cima de sua cama de casal, no meu quarto, noquarto de Julio e outros deixou deitados no tapete na sala de estar. Ela pegou o kitde primeiros socorros que estava no banheiro e cuidou dos ferimentos de todomundo, eu não estava muito machucada, mas mesmo assim ela pegou um gelo e pôsna minha testa, onde a Aberração tinha me dado um soco. Doeu um pouquinho,quando a pedra sem calor tocou em minha pele quente. Depois disso, passaram-se quatro dias, meus amigos já estavam melhor, Julioconseguia se movimentar pela casa sem reclamar da dor, mas mesmo assim, elesainda estavam muito debilitados. Lídia fez uma sopa de mandioquinha, chuchu,repolho de levantar defunto, restaurando um pouco a cor de todos nós.

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Queria relaxar um pouco e botar as minhas ideias em ordem, liguei a televisão,trocando de canal com o controle remoto, quando uma reportagem chamou a minhaatenção. A Avenida Paulista parecia um campo de guerra, alguns prédios estavamdesabados, carros virados de cabeça para cima, pessoas correndo enlouquecidas, evários homens musculosos, carecas e com uma tatuagem em suas cabeças atacavampessoas inocentes. A reportagem mudou, mostrando a imagem da Consolação comum caos horrível, parecia que os finais dos tempos tinha chegado. Uma cena deguerra estava sobre a minha cidade. Esses mesmos homens que atacavam enfurecidamente, matavam as pessoassem um mínimo de compaixão, com nenhum sentimento, não mostravam prazer emmatar as suas vítimas, tinham o rosto neutro sem emoção. Aumentei a televisão noúltimo volume, enchendo a casa com sons de gritos, explosões e um inferno geral.Minha mãe veio correndo assustada para ver o que estava acontecendo, seus olhosfixaram na tela e cresceram de espanto. Julio também apareceu, e fez uma cara derepulsa imensa. Quando percebi, todos estavam na sala assistindo aquela reportagemescabrosa, querendo entender o que estava acontecendo. Eu ai fazer algum comentário sobre tudo que estava passando na televisão,mas uma voz familiar sussurrou no meu ouvido: “Quebre a Lei Beatriz, vá até lá e destrua os Sarx, antes que seja tardedemais! Quebre a lei mais importante e enfrente o seu destino que é na terra dosdeuses!” Demorou alguns segundos para eu entender a mensagem, percebi que eraGuenesis, pedindo para mim que quebrasse a lei mais importante. Compreendi querevelasse que existiam paranormais sobre a face da terra e acabasse com os Sarx. Oque entendi foi que os Sarx voltaram e a batalhar milenar voltou. Só não entendi umacoisa, o seu destino é na terra dos deuses. Mesmo assim, estava na hora de lutar eimpedir o inimigo. Levantei-me do sofá e fui em direção a porta, minha mãe percebeu a minhaatitude e exclamou: - Filha, aonde você vai? Virei-me para ela. - Acabar com essa bagunça que está acontecendo. - Minha voz soou

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determinada. - Você está louca! É proibido revelarmos a nossa própria existência, issolevará a pena de morte! - Mãe! Eles já quebraram a lei, os Sarx voltaram, ninguém percebeu? Todos cravaram os seus olhares de preocupação em mim. - Eu vou com você! - disse João. - Não! Fiquem todos aqui! Não quero que nenhum de vocês sofram com asminhas decisões, irei sozinha. - Por favor filha! - disse ela entre lágrimas. - Você é a única coisa maisimportante na minha vida, não posso perdê-la. - Fique tranquila - disse aproximando de minha mãe e pegando em suas mãos.- Dará tudo certo, eu sei. Lídia beijou a minha testa, molhando-a com lágrimas. - Vá em frente, se é para o bem da humanidade! - Sim, mãe! - Sorri para ela. - Nós estaremos torcendo por você - disse Clara me abraçando. - Vai lá minha heroína - disse Paulo também me abraçando. Naquele momento, todos me abraçaram, transmitindo as suas forças paramim, cada um passava a esperança, afeto, coragem, renascimento, força e poder.Depois do abraço, saí pela porta, indo ao encontro do meu destino, a terra dosdeuses. O motorista contratado pelo diretor do Campo de Concentração, deixou-me emfrente aos Hospital das Clínicas, pois não queria que ele fosse machucado pelacatástrofe que estava acontecendo em alguns metros a nossa frente. Ele assentiu,indo embora e eu caminhei em direção da Avenida Paulista. Enquanto eu caminhava pelas rua, via um monte de pessoas escondidas entreos carros, com uma poeira de cimento cobria todo o asfalto. A cidade estava emcaos, parecia um filme de ficção científica, com a protagonista de 17 anos queenfrentará os Sarx, antigos guerreiros gregos e seguidores de Doron. Quando adentrei na avenida, vi a cena de destruição projetada em meus olhos,os carros, motos, ônibus e qualquer meio de transporte estavam empilhados um em

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cima do outro como latas velhas. Tive um pouco de dificuldade para caminhar entreos veículos, mas conseguia passar os obstáculos. À medida que ia avançando,encontrei várias pessoas mortas no chão, todas secas, sem carne, restando só osossos, corpos de policias estavam espalhados pelo campo de batalha, mortosinocentemente para propósitos obscuros. Aquilo tudo estava me deixando comraiva, meus cabelos queriam eriçar, podia sentir as nuvens se posicionando para aminha ordem e o vento como uma criança esperando o seu doce preferido. Andei atéa metade da avenida, chegando ao lado do MASP que estava com uma rachaduraenorme e pronto para desabar. Parei ali, sentia que tinha alguém me vigiando,observando os meus movimentos, sabia que era eles, estava na hora de acabar comessa palhaçada. - Sarx, venham lutar com alguém do seu tamanho, um adversário a altura devocês! - Gritei tão alto que a minha voz ecoou em vários lugares. Sombras começaram aparecer em volta de mim, fazendo um círculo, ao todoeram dez sombras, dez Sarx repugnantes. Eles se materializaram na minha frente,analisando cada parte do meu corpo. - Você é uma Trauma, não podemos lutar com você! - disseram todos emcoro. - Sou uma Trauma que está ao lado dos Congênitos e dos Traumas e seguidorade Guenesis! - Guenesis! - repetiram todos com raiva. Aquele nome era como uma maldição sendo proferida, deixando-os irritados.Todos ergueram sua mão direita, soltando uma luz negra delas para me atacar, erauma energia muito poderosa e maligna. Os Sarx jogaram essa luz negra em mim, masfoi impedida por um escudo de energia que apareceu misteriosamente em volta domeu corpo, desviando a luz negra para lados opostos. Algumas pessoas que conseguiram se esconder das criaturas, observavam doseus esconderijos uma garota enfrentando aqueles seres do mal. Percebi também, queo câmera-man de uma emissora de TV me filmava. Olhei novamente para os Sarx, eles estavam frustrados por não conseguiremme atacar. Eles vieram em minha direção com tudo para me derrotar, só que fui maisrápida e flutuei no ar. Eles também conseguiam fazer isso, continuando a me cercacomo uma presa. Eu tinha que ser rápida, não podia perder mais tempo, olhei

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novamente para aquelas pessoas que dependiam de mim, lembrei da minha mãe, domeu irmão e dos meus amigos, e principalmente do meu pai, o causador dessaconfusão. A raiva do meu peito explodiu, meus cabelos eriçaram totalmente e o céucomeçou a ficar negro, deixando toda a avenida na penumbra. Os raios riscavam océu impiedosamente, esperando o meu comando. O vento rodava em círculos sobretodo o meu corpo, esperando a minha ordem. Estava na hora de eu mostrar o meuverdadeiro poder. Os Sarx vieram me atacar, querendo me socar, enquanto eles viam,o raios desceram do céu e acertaram todos eles, jogando-os no chão, com uma forçaimpressionante, mesmo assim, eles levantaram e começaram a atacar novamente.Pedi ao vento que formasse um tornado para acabar com aqueles seres da escuridão,e ela me obedeceu sem protestar, formando um enorme tornado. Pedi as nuvens quecaísse uma chuva muita intensa e ela veio a meu favor, fazendo tudo em voltachover. Levantei a minha mão direita, lançando um raio em todos eles e fazendo umcorda elétrica sobre os seus corpos, depois mandei o tornado capturá-los, elesrodavam dentro do vento indomável como brinquedos. Levantei meu dedo indicadore comecei a girar em sentido horário, aumentando a velocidade, o tornado ficou maisrápido, girando-os loucamente. Dentro do tornado, os Sarx começavam a sedesmanchar, virando só osso secos e se despedaçando junto ao vento. Fiz o tornadodesaparecer e o céu ficar azul novamente, deixando tudo calmo. Os ossos dosinimigos caíram no asfalto, desmanchando como terra. Voltei ao chão novamente, ofegante, arqueei um pouco as costas e pus asminhas mãos sobre o joelho, tentando pegar um pouco de ar, eu tinha me esforçadomuito, mas nunca senti um poder tão grande como estava sentindo agora, os meussentidos estava mais aguçados, meu olfato mais apurado e os meu reflexos maisintensos. Levantei a minha cabeça e olhei para as pessoas que estavam escondidas,elas agradeciam com os olhos, estavam felizes por ainda estarem vivas. Quando eu ia embora, todos eles se aproximaram e pegaram-me no colo,comemorando a vitória, chamando-me de A Garota da Chuva. Será que esse apelidoera tão óbvio para mim? Eu não sei dizer, mas sei que salvei muitas vidas. Voltei para a minha casa, todos me abraçaram me chamando de a campeã. Minhamãe encheu-me de beijo, dizendo que eu estava maravilhosa enquanto eu lutava,

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informando que nunca tinha visto um poder tão grande. A campanhia soou, minha mãe atendeu, dois homens invadiram a sala. Elesusavam um sobretudo azul com adornos dourados, tinham os cabelos cortados emcorte de soldado. Minha mãe olhou para mim desesperada, eu sabia que não era bomsinal. - Quem é Beatriz Carvalho Gomes? - A voz do homem era grossa e intensa. - Sou eu! - disse sem vacilar. - Nós somos os Interceptores, e a senhora está presa por quebrar a Lei maisimportante. A senhora será enviada para a Comunidade Psíquica, para ser julgadapelo Conselho Supremo e sendo condenada a morte! - Aquelas palavras foramproferidas pelo segundo o homem de sobretudo azul. João, Paulo, Priscila, Tiago, Clara, Carine e Julio ficaram na minha frente,protegendo-me. - Ela não irá sair daqui! - disse Priscila. - Vocês não perceberam que ela salvou pessoas inocentes de um calamidade! -disse João revoltado. - Ela merece ser recompensada pelos seus feitos! - reclamou Paulo. - Concordo! - falou Tiago. - Nós também! - disse Clara e Carine juntas. - Ela transgrediu a nossa lei - disse o Interceptor do lado direito. - Por causadela, os paranormais foram revelados. Como a Comunidade Psíquica poderá repararum erro desses? Impossível, ela terá que ir para Grécia e será julgada pelo ConselhoSupremo. Se vocês não saíram da nossa frente, serão acusados de cumplicidade eserão julgados também e mortos. Não podia deixar que mais gente sofresse por uma irresponsabilidade minha,precisava arcar com os meus atos. Agora entendi que o Guenesis tinha falado emminha mente, a terra do deuses era a Grécia, de alguma forma, eu precisava ir para lá.Desgrudei dos meu amigos e encarei os Interceptores. - Eu irei! Eles não precisam ir comigo - minha voz soou séria e decidida. - Muito bem Beatriz, sábia escolha - disse o Interceptor. - Despeça de suamãe, pois será o único rosto a lembrar na hora da morte. - Não terá um julgamento antes? - perguntei desconfiada. - Todos são culpados quando quebram a lei, mesmo sendo julgados são

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levados a morte. Belo julgamento, essa Comunidade Psíquica me dá nojo. Abracei a minha mãe fortemente, debulhando em lágrimas. Minha mãe choravaconvulsamente, derramando litros e litros de água salgada na minha cabeça. Meuirmão também me abraçou, chorando, dizendo que me amava muito; em seguida,todos os meus amigos me abraçaram, desejando-me sorte, dizendo que ia dar tudocerto e que o Conselho Supremo ia ver que eu quebrei a lei por uma boa causa.Assim eu esperava. Os Interceptores me escoltaram até o carro preto que estava estacionado emfrente da minha casa. Eles entraram, ligando o motor do carro, pronto para partimos.Olhei pela janela, e vi a minha verdadeira família pela última vez, e guardaria essaimagem na minha mente, que eles eram as pessoas mais importantes da minha vida,esse julgamento era o fim da minha história. Ou talvez seja apenas o começo, sei lá. O carro começou a se locomover, deixando para trás todas as pessoas que eurealmente me importava, desaparecendo do meu campo de vista.

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Capítulo 26Bem-vindo a Grécia O Aeroporto Internacional de Atenas era a coisa mais linda do mundo, bemorganizado, tudo limpinho, era um aeroporto de outro planeta. Eu poderia ficar felize dizer, estou na Grécia, em Atenas para ser mais específica, uma cidade que aomesmo tempo é moderna, misturada com a antiguidade, mas não estava ali parapasseio, estava li para ser julgada pelos paranormais de alto calibre, os caras quedecidem tudo, muito legal. Os Interceptores vieram junto comigo para esta parte do mundo, fomos aoAeroporto Internacional de Congonhas e pegamos o primeiro voo para Atenas,viajamos na primeira classe. Os dois brutamontes me informaram que a ComunidadePsíquica estava pagando tudo, então, como sou cara de pau, aproveitei os minutosque faltavam para eu deixar de viver e comendo as melhores comidas que eramservidas. Nunca na minha vida, fui bem tratada pelas aeromoças, parecia que eu erafilha de Eike Batista, quem dera que se fosse verdade. Como eu não tinha trazido nenhuma bagagem, fomos diretamente para fora doaeroporto, um Citroën prateado esperava por nós. Os dois Interceptores entraram epuxaram-me que nem um ursinho de pelúcia para dentro do veículo. Enquanto o carro passava pelas ruas, comecei a observar cada canto da cidade,vendo como as pessoas estavam vestidas, como elas andavam, os prédios modernose principalmente as construções milenares que desafiaram o tempo e estavam ali,imperiosas, mostrando para os cidadãos gregos da atualidade que não poderiamnunca esquecer de seu passado, das suas raízes, a sua própria cultura, a suaidentidade. Eu pensava que íamos direto para a Comunidade Psíquica, mas o motoristaentrou na Avenida Georgiu A’Street, parando em frente ao um hotel de luxochamando King George Palace Hotel. Meu queixo caiu e olhei para os doisInterceptores espantada. - Eu estou aqui para ser julgada ou para passar as férias aqui? - pergunteicuriosa. - Mesmo você sendo acusada de um crime tão vil, a Comunidade Psíquicadeseja que todos os paranormais sejam bem tratados. Como você não tem residência

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fixa e o seu julgamento é amanhã, você passará um dia e uma noite aqui, tudo pagopor eles - disse o Interceptor sem nenhum sentimento. Naquela hora, eu quis pular de alegria e dizer, hoje serei uma patricinha, masme contive. Pelo menos, eu ia experimentar as comidas gregas e também aproveitardo bem e do melhor. Quando adentrei no hotel, vi que ele era luxuosamente decorado, com estátuasde filósofos gregos, como Sócrates, Aristóteles e entre outros, como tambémestátuas de deuses gregos que adornavam aquele ambiente. Fomos até a recepção, um dos Interceptores falou com o homem do balcão emum grego perfeito, pedindo o quarto mais caro, ele pegou a chave e subimos oelevador até o 34º andar. Quando entrei no quarto, fiquei de boca aberta, havia umatelevisão de LCD de 43 polegadas, sobre a cama, um lençol de linho fino, comroupas de primeira qualidade, roupas modernas que deveriam ter custado umafortuna. Os Interceptores trancaram-me no quarto para que eu não fugisse,deixando-me no quarto totalmente capitalista. Como não havia tomado banho, tirei as minhas roupas e fui até o banheiro,delirei quando vi uma banheira de hidromassagem com inúmeros xampus, cremespara cabelos, óleos aromatizantes. Enchi aquela banheira com água quente, entupi desais e sabonete líquido e relaxei o meu corpo, tirando da cabeça os meus problemas. Depois do banho, coloquei as roupas novas e liguei a televisão. Desisti, todosos canais só falavam grego, preferi ficar deitada sem fazer nada. A porta do quarto seabriu, entrando o camareiro, trazendo uma bandeja com uma comida típica daqui,Moussaka. Ela era feita com berinjela e tomate picados, com camadas de carnemoída cozida com cebola, alho, canela, pimenta da Jamaica, com pimenta preta aomolho béchamel, e para acompanhar, um suco de laranja sem açúcar. A minha bocaficou cheia de saliva ao ver uma coisa tão deliciosa, saboreei cada pedaço da comida,sentindo o gosto de cada condimento que fazia parte da deliciosa Moussaka. O dia estava indo embora, dando lugar a noite, fui até a janela e vi a cidadecheias de luzes, mostrando uma Atenas convidativa. Eu queria tanto conhecer ospontos históricos da cidade, mas não podia sair e também, não tinha me acostumadocom o fuso horário daqui. Fui para a minha cama, deitei e tive o sono dos anjos, esquecendo as minhaspreocupações.

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Capítulo 27Proteger a Nação O Congresso estava totalmente lotado, os deputados federais e estaduais, comotambém os senadores estavam reunidos para tomar uma providência em decorrênciaaos ataques que ocorreram em São Paulo, por pessoas que tinham poderessobrenaturais, denominados paranormais. O ministro Sebastião estava sentado em seu lugar, esperando o momento certode falar. Ele ia massacrar esses demônios. O presidente do congresso Antonio Souza começou a reunião, falando dacatástrofe de estranhas pessoas com poderes sobre-humanos. Depois, foi a vez dopresidente, fazendo uma belo discurso em proteger a nação das ameaças dessascriaturas, sendo passado a vez para Sebastião. - Eu sei que ainda há um espanto em relação a isso - começou ele, contendo oseu orgulho. - Mas se vocês não viram os ataques é melhor que vejam com os seuspróprios olhos. Pois fomos atacados por seres que não deveriam existir em ummundo normal. Um murmúrio começou, mas foi interrompido por um grande telão quemostrava a imagem dos Sarx, e principalmente uma garota de cabelos castanhos quelutava contra esse arruaceiros. - Viram? Eles botaram seis prédios abaixo, mataram cem pessoas e aindadestruíram a maior avenida da América Latina, o maior centro financeiro do país!Vocês acham que devemos deixar isso como está? Será que não há mais dessesdemônios?! Precisamos colocar o exército nas ruas e caçá-los como animais, isso queeles são! Preciso que vocês deem o seu voto, para que possamos proteger o nossoBrasil de malfeitores. Um deputado federal tomou a iniciativa: - Mas isso pode causar mais transtornos aos cidadãos brasileiros. Vamoscomeçar a pegar pessoas inocentes e enfiar balas nelas sem sabermos quem é... comovocê disse... paranormais, criaturas do inferno, sei lá como se designa isso. Os deputados e os senadores concordaram. - Ainda mais que essa garota que está ali no vídeo, defendeu pessoas inocentes.Como em nossa sociedade há pessoas do bem e do mal, eles também podem ter os

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dois lados. Isso seria uma confusão total! - Não se deixe enganar! - disse Sebastião um pouco irritado. - Deve ser o planodeles, essa garota pode ser a líder, ela finge que ajudou nós, os seres humanos, dãouma de bonzinhos e acabam com as nossas vidas! É isso que você quer deputadoDiógenes?! - Não! Mas seria uma insanidade fazer todo mundo correr riscos, sem saberquem é paranormal ou não. Quem sabe eu não sou também? - debochou. Todos riram no Congresso. - Eu não deixaria a minha família cair nas mãos de seres tão repugnantes! -Sebastião proferiu as palavras com um ódio mortal. - Eu preciso do apoio de vocêspara resolvermos esta questão desagradável! Vocês estão comigo ou não? - desafiouSebastião. - Isso seria burrice! - disse outro deputado. - Precisamos de provas paraagirmos! - Mas eu tenho! - disse uma voz no meio de todos. - Quem se pronunciou tome a palavra! - disse Sebastião gostando do queouviu. Um homem levantou-se, era jovem, beirando aos trinta anos, usava um terno egravata de cor preta e um rosto tão imponente como seu umbigo. - Nós também suspeitávamos dessas criaturas, antes mesmo desse ataqueacontecer. Fizemos pesquisas e encontramos o endereço de cada um deles, foi umapesquisa de quatro anos, investigamos de inúmeras maneiras e temos provassuficiente para que as pessoas de bem deste país, não sejam afetadas pelas capturasdessas criaturas. - Ora, ora - disse Sebastião todo feliz. - Então temos como pegá-los. DeputadoDiógenes, o senhor ainda tem alguma coisa contra? - Não. - Ótimo! Então podemos voltar e decidir se faremos ou não, a cassação dessesseres de outro mundo. A votação começou, demorou uma hora e meia para terminar. O presidente doCongresso pegou o resultado em suas mãos e deu o veredicto: - Todos votaram a favor da cassação e morte dos paranormais sobre todo oterritório brasileiro, sem afetar as pessoas de bem que vivem nesta terra!

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Sebastião se revirava de felicidade, finalmente tinha conseguido realizar o seusonho de tantos anos, acabar com todas a pragas da terra. - Ministro Sebastião, o senhor está liberado para agir da melhor forma possívelem prol a nossa nação - disse o presidente. - Darei o melhor de mim! - Está sessão está encerrada! - disse Antonio Souza. Sebastião aproximou-se do homem que tinha as provas contras os vermes dahumanidade. - Deputado Frederico Nogueira, ao seu dispor. - Ministro de Defesa Sebastião Santos - disse apertando a mão de Frederico. -Precisamos conversar a respeito desses documentos, para fazermos uma estratégiapara acabar com inimigo. - Perfeitamente. Sebastião saiu do Congresso com a plena convicção que iria exterminar todosos paranormais da face da terra.

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Capítulo 28A Oferenda O túmulo de Doron era a coisa mais estranha que se podia imaginar. O sarcófago depedra onde ele estava enterrado, era conectado por tubos de ferro já enferrujadoscom o tempo, sendo interligados por uma grande bacia de mármore, com inúmerasrunas gregas. Igor se aproximou da bacia e leu as inscrições novamente, ele nãocansava de lê-las, desde da primeira vez que encontrou o túmulo de seu senhor,degustava cada palavra esculpida. Só o sangue de quem ele mais odeia, poderá trazer o mal dentre os mortos. Ele sabia o que Doron mais odiava, Congênitos, e era o sangue deles que trariao salvador do planeta novamente, que fora injustiçado por querer viver em ummundo sem preconceitos, um lugar que todo mundo o aceitaria do jeito que ele era. Igor foi até o altar de pedra com pequeno púlpito que fora construído para apessoa que o traria de volta vida. Deu a ordem para que todos os DVs despejassemo sangue dentro da bacia. Um a um foi jogando a essência da vida, enchendo aquelaenorme pedra até a boca. No altar de pedra, havia uma pequena alavanca de ferroenferrujada, ele segurou-a e moveu-a de uma vez só, não importando se ela estavaemperrada ou não. Os tubos de ferro foram abertos e o sangue foi se esvaindo dabacia, preenchendo-os até chegar o sarcófago de Doron. Quando a última gota entrouno caixão de pedra, Igor começou a proferir palavras estranhas, fazendo um zumbidodentro da tumba, espalhando por todo o ambiente. - Doron, senhor dos Traumas! Aquele que foi injustiçado, receba a oferenda dosangue, daqueles que você mais odeia, Congênitos! Levante meu senhor, e venhatrazer ordem para este mundo que está em caos. O seu grande exército o espera, paraterminar a guerra que começou a muito tempo atrás! O corpo de Doron era só ossos que estava envolto por muito sangue, os restosmortais dele começaram a sugar todo sangue, formando um fina camada de coágulo,formando carne, tendões, órgãos, pele e o seus pelos. Tudo voltou a se regenerar, oseu coração voltou a bater, seus olhos se abriram. Com as suas mãos, ele destruiu atampa do sarcófago, espalhando os pedaços pela tumba, erguendo-se e olhando para

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a pessoa que o ressuscitara. Igor nunca tinha visto um homem de uma beleza tão intensa quanto a dele, eleera perfeito em tudo, braços, pernas, rosto, não havia nenhum defeito, eramusculoso, com uma aparência saudável, e nem parecia que ele estava morto hámuito tempo. Doron tocou em seu corpo e uma roupa de soldado espartano apareceu,depois, ele tocou em sua cabeça com as duas mãos, para ver se tudo estava no lugar.Ele saiu de seu caixão, aproximando-se de Igor e examinando-o de alto a baixo. - Eu não entendo, um Congênito que é a favor de Traumas e ainda por cima,ressuscitou o pior pesadelo deles! - disse com uma voz fria que cortou o coraçãodaquele que o ressuscitou. - Você realmente é bem interessante, estou muito grato,nobre general. - Eu fiz o que tinha que ser feito! - Curvando perante ele. - Em que ano nós estamos? - Estamos no de 2012, meu mestre. Doron deu um urro demoníaco, fazendo os pelos de Igor se arrepiarem. - Maldito Guenesis! Ele é o responsável por eu estar neste lugar abominável,ele me pagará muito caro! Ele ressuscitou dentre os mortos, general Igor? - Ainda não. Ele deu um sorriso de satisfação. - Vou pegar os seus restos mortais e queimar com fogo. Sabe onde encontra-sea sua tumba? - Infelizmente, eu não sei. - Não importa, pelo menos o meu exército está ressuscitado e os meus planosem perseguir os Congênitos sobre a face da terra está encaminhado. Doron tocou no ombro de Igor. - Além de general, você será o meu mentor e me explicará o que mudou nestemundo, enquanto eu estava morto. Preciso aprender os costumes, língua e ciência,tudo que há neste planeta moderno. - Claro meu senhor! - disse reverenciando-o novamente. - Posso fazer apenasuma pergunta? Ele assentiu. - Quando destruirá a Comunidade Psíquica, lembre-se que o senhor podia

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andar entre os vivos mesmo morto e com certeza verificou cada ponto estratégicodaquele lugar. - Perfeitamente. Mas ainda não destruirei a Comunidade Psíquica, tenhooutros planos em mente, e ela me servirá para a execução de todos eles. - Sim, meu mestre. Doron saiu de sua tumba, indo de encontro ao seu exército. Os Sarx viram oseu mestre mais uma vez vivo, ajoelhando todos no chão, dando honras para ele.

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Capítulo 29A Comunidade Psíquica O grande dia do meu julgamento tinha chegado, seria executada em praça pública,sem ao menos ter uma defesa digna. Fazer o quê? Os poderosos foram sempre osque mandaram neste mundo, e não seria diferente agora. Os Interceptores vieram me buscar, levando-me para o carro. Pegamos aestrada, distanciando da cidade de Atenas, em direção algum lugar onde não haviaseres humanos habitando. Enquanto avançávamos para o meu destino, refleti em todas as coisas queaconteceram comigo, desde do dia que encontrei aquela quiromante fedorenta, até asminhas últimas ações nesses últimos dias. Analisei, ponderei, meditei, chegando aconclusão que não teria nada do que se arrepender. Em menos de um mês,aconteceram tantas coisas extraordinárias na minha vida, e se eu fosse parar parapensar agora, sobre o meu julgamento e a minha condenação a morte, iria ser umapiada de mal gosto. Refleti sobre o preconceito dos Congênitos com os Traumas, umfilme rodou em minha cabeça, mostrando tudo que discorreu no tempo que eu passeino Campo de Concentração, do meu duelo com Mirian, minhas conversas com odiretor e minhas novas amizades, amigos verdadeiros que fiz e sentiam-se do mesmojeito que eu, desprezados. Será que nenhum dos lados não poderia dar o braço atorcer e unirmos em só membro? Acho que não, tanto os seres humanos como osparanormais são criaturas difíceis de lidar. Só espero que tudo isso passe rápido, para que eu possa descansar novamente,pois era para eu morrer na estação elétrica, mas voltei a terra para cumprir umamissão, fora isso que o garoto tinha me dito, tinha muitas coisas para fazer. Será queeu terminei? Pensando por esse lado, acho que teria mais algum papel para cumprirnessa história, e poderá ser tão importante que poderá mudar o rumo de tudo. No horizonte, despontou um grande muro com um portão de aço enfeitando apaisagem. À medida que o carro foi se aproximando, pude perceber que os muroseram bem grandes e o portão imenso. O carro parou em frente ao portão, um leveranger saiu dos dois portões, abrindo-se, revelando uma imensa construção de pedra,com uma pequena estrada de cimento e ao lado um gramado bem cortado, com um

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imenso pinheiro adornando a paisagem. O carro avançou para o meu destino, parouna entrada da Comunidade Psíquica. Por dentro, era mais elegante ainda, o chão era feito de ouro e com pequenaspedra de diamantes encaixadas. Os Interceptores me levaram até uma sala e pedirampara que eu esperasse ali, depois saíram e me deixaram sozinha. Um homem entrou por outra porta que havia na sala, ele usava uma batavermelha, parecia ser um padre, tinha olhos azuis e um cabelo tão branco quanto aneve. Ele andava num passo vagaroso e educado, parecia que ele estava passeandoem algum parque. Ele se aproximou de mim e cumprimentou em português, mas comsotaque grego. - Olá. Eu sou o juiz Antzoulatos Ariathni. Você é a...? - Beatriz Carvalho Gomes - completei - Uma garota tão bonita como você, sendo julgada por desacato a lei. Esperoque a sua beleza a salve. Antzoulatos pediu para que o seguisse, fomos para um grande corredor largo,avançando para uma imensa porta. Ele abriu, revelando um grande conselho deTraumas e Congênitos e uma bancada enorme, onde estava sentado o ConselhoSupremo. O juiz me levou até a minha cadeira de réu, depois sentou-se em seu lugar.Todos me olhavam com uma intensa curiosidade, medindo-me de alto abaixo,deixando eu nervosa. - Está aberto agora a sessão do julgamento de Beatriz Carvalho Gomes. Por lei,aquele réu que falar uma determinada língua, todos que estão presentes deverão falarem acordo mútuo, ou seja, o português será a língua oficial deste julgamento. Uma mulher com um coque na cabeça, vestida totalmente de social e com umóculos de aro redondo, começou a me acusar impiedosamente. - Essa deliquente transgrediu a lei mais importante, revelou a nossa existênciapara os humanos! Ela deve ser executada agora! As pessoas do conselho apoiavam a decisão, principalmente o ConselhoSupremo. - Senhora Beatriz, você é uma Trauma ou uma Congênita? - Sou uma Trauma - respondi sem muita vontade. - Viram só! Ela é uma Trauma, isso é uma vergonha para mim que sou umaCongênita de sangue puro, aceitar que uma Trauma infratora continue viva.

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Um homem de social também se pronunciou: - Eu protesto meritíssimo! Só porque ela é uma Trauma, não é motivo paraacusá-la impiedosamente. Ela está ofendendo todos os Traumas. - Protesto aceito! - disse o juiz. - Que absurdo! - disse ela revoltada. - Temos que fazer um julgamento paraessa infratora. - Eu também concordo! - disse um dos membros do Conselho Supremo. -Todos nós sabemos que não podemos ficar nos exibindo para todo mundo,principalmente agora com tantos problemas que estamos tendo. Esquecerem que oCampo de Concentração do Brasil foi fechado por causa daquelas Aberrações. - Eleolhou para mim. - Estou decepcionada com você garota, deu mais dor de cabeça paranós. Todos do conselho concordaram. - Execute-a! - disse a mulher que me acusava. Todo mundo começou a repetir a mesma coisa: - Execute-a! Execute-a! Execute-a! Que droga de julgamento é esse? O meu advogado é um banana, não consegueobter nenhuma vantagem desse caso. Olhei para ele, que também retribuiu o seuolhar para mim, expressando com os seus olhos verdes que não havia comodefender-me, principalmente por ter quebrado a lei. Como eu já estava de saco cheio dessa palhaçada, coloquei todo o meusentimento para fora, indignada com tudo o que estava acontecendo. - Vocês são um bandos de hipócritas! - Como ousa falar neste tom conosco?! - disse uma mulher do ConselhoSupremo. - Ouso falar sim! Pois estou de saco cheio desse julgamento infantil e semfundamento! Em primeiro lugar, gostaria de falar que vocês são uns imbecis! Vocêsdizem trazer a ordem e paz para os paranormais, mas não fazem nada. Segundolugar, nós Traumas somos muitos desprezados pelos Congênitos e sei que tem aquiTraumas que sofrem com preconceito! Eu quebrei a lei, não porque sou umadeliquente ou uma infratora como vocês estão pensando. Eu tive lutar contra os Sarxque atacaram a minha cidade, enquanto vocês ficam aqui, neste conselho fétido, nãofazendo nada. Doron será ressuscitado e vocês ficam discutindo coisas inúteis que

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não levará a lugar nenhum. Eu nunca tinha falado com aquela autoridade, nem previa que ia enfrentar umjulgamento com um monte de Congênitos e Traumas que queriam a minha cabeça emuma bandeja de prata. Outro homem do Conselho Supremo se pronunciou: - Você é uma garota muito insolente sabia? Doron vivo, você está louca! Vimosas imagens na TV e só havia você se exibindo com seus poderes! - Mentira! - gritei. - Vocês estão sendo comprados por Doron. - Que acusação mais absurda! O Conselho Supremo é incorruptível, não nosdeixamos levar por bens materiais! Você quer que eu mostre o vídeo? - Não será necessário - disse uma voz no meio da multidão. - Mestre Supremos dos Traumas, que honra temos o senhor aqui? O Mestre Supremo era um homem avançado em idade, mas que tinha vigor deum garoto de 14 anos. Ele andou sobre o salão e aproximou-se do ConselhoSupremo. - Vocês foram comprados por Doron! - sentenciou. Todos ficaram espantados com a acusação. - Beatriz Carvalho Gomes, lutou contra os Sarx, para defender as pessoas quemoram em seu país. Esse vídeo não existe, vocês só estão blefando. Estou muitodecepcionado com o Conselho Supremo. O Mestre Supremo dos Congênitos pediu-me que libertasse essa garota de sua acusação. Pois ela é a garota da profecia, agarota da chuva. Conversas paralelas encheram o conselho, outra vez me chamavam desseapelido ridículo. - Sendo assim, Beatriz Carvalho Gomes é inocente dos seus crimes! Eu tinha mil motivos para comemorar, mas não fiz isso, queria saber sobreessa profecia. - Mestre Supremo dos Traumas, o que é essa profecia? - Vamos até a minha sala e eu explicarei tudo. Enquanto isso, o ConselhoSupremo será detido por traição.

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Capítulo 30A Profecia A sala do Mestre Supremo dos Traumas era bem simples, havia uma pequenaestante com livros, todos escritos em grego e uma mesa com um computador eforrada de papéis. Ele pediu para que me sentasse, oferecendo um copo de água bem gelada.Depois, ele se sentou em sua cadeira, e me examinou com seus olhos sábios, lendo ofundo da minha alma, ele queria ter certeza que eu era a pessoa certa. - Beatriz, você é uma das três garotas traumas da profecia. - Como assim? Explique isso direito para mim, todo mundo só fala de garotada chuva, profecia e não me contam nada! - Eu compreendo tudo o que você está sentindo, e explicarei para você. Ele pegou um papel e me deu para que eu lesse. O mal que parece que foi derrotado voltará, e três garotas que controlampoderes que ninguém teve, surgirá. Chuva, terra e fogo traumas, quando reunidastrarão a vida. - Você pode explicar para mim, pois não estou entendo... - Você é uma das três garotas, você é uma Trauma que tem o dom de controlara chuva. Você precisa encontrar essas duas outras garotas. - Como? - Sinceramente, eu não sei. Só sei que Doron ressuscitou e trará muita dor decabeça. - Como você sabe que ele ressuscitou? - Pondo o copo de água em cima damesa. O Mestre Supremo levantou de sua cadeira e foi até a estante de livros, pegouum livro e abriu-o, dentro dele, havia um pequeno frasco de sangue. Ele deu emminhas mãos e pediu para que observasse atentamente. - Este sangue é de Doron. Até alguns dias, ele estava seco, mas agora elevoltou a ser líquido. - E, como você conseguiu o sangue dele?

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- Isso foi passado de geração a geração, como um alerta de que ele voltará.Beatriz, você precisa encontrar o túmulo de Guenesis. - Eu preciso de um tempo para colocar todas as minhas ideias no lugar. - Perfeitamente, providenciarei um quarto para você. Será a nossa hóspedepor tempo indeterminado. O meu quarto era bem simples, havia uma cama, com dois cobertores e uma pequenaescrivaninha e uma sacada gigantesca. Fui até a sacada e olhei o horizonte, pensando em tudo que estavaacontecendo comigo. Aconteceu muitos coisas na minha curta vida, eu precisava deum tempo para pensar. Avisei para minha mãe que ficaria algum tempo da Comunidade Psíquica e quevoltaria quando tudo estivesse em seu devido lugar, principalmente a minha cabeça.Ela ficou feliz em saber que eu não fui morta, falando que eu contasse sobre como éestar em Atenas. Eu precisava pensar agora no futuro da humanidade, e nas quatros missões acumprir, sozinha e sem ninguém para me ajudar nessa batalha.

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SumárioCapítulo 1 2Capítulo 2 8Capítulo 3 14Capítulo 4 22Capítulo 5 33Capítulo 6 35Capítulo 7 43Capítulo 8 49Capítulo 9 53Capítulo 10 55Capítulo 11 58Capítulo 12 62Capítulo 13 64Capítulo 14 66Capítulo 15 68Capítulo 16 70Capítulo 17 74Capítulo 18 76Capítulo 19 80Capítulo 20 82Capítulo 21 86Capítulo 22 90Capítulo 23 91

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