a funcao da musica no culto cristao historia teologia e pratica

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  FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA   FLT WILLIAM FELIPE ZACARIAS A FUNÇÃO DA MÚSICA NO CULTO CRISTÃO: HISTÓRIA, TEOLOGIA E PRÁTICA SÃO BENTO DO SUL/SC MAIO/2013

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  • FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA FLT

    WILLIAM FELIPE ZACARIAS

    A FUNO DA MSICA NO CULTO CRISTO: HISTRIA, TEOLOGIA E

    PRTICA

    SO BENTO DO SUL/SC

    MAIO/2013

  • 2

    WILLIAM FELIPE ZACARIAS

    A FUNO DA MSICA NO CULTO CRISTO: HISTRIA E PRTICA

    Ensaio Monogrfico com os temas

    Msica Sacra e Culto Cristo

    apresentado como requisito na disciplina

    de Culto e Liturgia.

    Orientador: Prof. Dr. Roger Marcel Wanke

    SO BENTO DO SUL/SC

    MAIO/2013

  • 3

    SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................................... 4

    1. BREVE PANORAMA DA MSICA SACRA DO ANTIGO TESTAMENTO AO

    SCULO X .................................................................................................................... 5

    1.1. A PRESENA DA MSICA NO ANTIGO TESTAMENTO ...................................... 5

    1.1.1. GNESIS ........................................................................................................................ 5

    1.1.2. O CANTO NOS LIVROS HISTRICOS ...................................................................... 6

    1.1.3. O CANTO NOS SALMOS ............................................................................................ 8

    1.2. A MSICA SACRA NO NOVO TESTAMENTO: LOUVOR, PREGAO DO

    EVANGELHO, CONFISSO DE F E APOLOGIA ................................................... 9

    1.3. O CANTO GREGORIANO ......................................................................................... 10

    2. A MSICA SACRA EM MARTIM LUTERO ........................................................... 12

    2.1. CANTO CONGREGACIONAL: SACERDCIO GERAL DE TODOS OS

    CRENTES ..................................................................................................................... 13

    2.2. CANTO CORAL .......................................................................................................... 16

    2.3. A MSICA SACRA NA PERSPECTIVA DOS 4 SOLOS ......................................... 16

    3. A MSICA SACRA EM JOHANN SEBASTIAN BACH .......................................... 19

    3.1. MESTRE DAS TCNICAS DE HARMONIA ............................................................ 19

    3.2. LEGADO LUTERANO ............................................................................................... 21

    4. A MSICA SACRA: CONSELHOS PRTICOS PARA A ATUALIDADE .......... 22

    CONCLUSO ......................................................................................................................... 25

    REFERNCIAS ..................................................................................................................... 26

  • 4

    INTRODUO

    A msica, eu considero um princpio, como um indispensvel alimento da alma humana. Por

    conseguinte, um elemento e fator imprescindvel educao da Juventude.1

    Embora Villa-Lobos fosse um msico secular, ele compreendeu de forma aplaudvel o

    que significa msica. Para fsicos, trata-se apenas de um conjunto de ondas sonoras alocadas de

    forma agradvel ao ouvido, para outros, a maior expresso de arte existente. Sendo fsica ou

    arte, para os cristos ela no passa de nada se no houver um pressuposto: Deus.

    Desde muito tempo existe algo a qual algum nomeou de msica, porm, seu

    significado vai alm de um mero vocbulo: seu conceito encontra-se preso no decorrer da

    histria onde foi continuamente adaptada e contextualizada. Com exceo do vcuo, no h

    contexto onde no h msica. Ela to presente e comum que o ser humano passa despercebido

    a ela no canto do passarinho, no som do correr das guas de um riacho ou do zunir do vento.

    Tudo msica. Onde no h msica h apenas o vazio e catico.

    Engana-se que a msica pode ser apenas ouvida com os ouvidos. Ela vai mais longe,

    penetrando no ser fazendo-o sentir os mais diferentes sentimentos e emoes possveis. Quem

    disse que um cego no v e que um surdo no ouve? Ignorante o ser humano que se acha

    normal s por que consegue ver ou ouvir. Saiba, nobre leitor, que h cegos que enxergam muito

    alm dos olhos e surdos que ouvem muito alm dos ouvidos. Pois, se Deus cria o visvel e o

    audvel, como privaria o ser humano de contemplar surpreendente criao? Pelo contrrio, h

    outras maneiras de perceb-la, onde muitos que veem so cegos e muitos que ouvem so surdos

    por no a notarem diariamente. A estes, na crena em milagres, espera-se que sejam curados de

    sua ignorncia para que aprendam o que significa a contemplao.

    Da premissa de que a criao de Deus abrange tambm o som, este trabalho possui como

    objetivo elucidar ao leitor de forma breve a histria da msica sacra, explanar suas formas e

    reformas. A msica mutvel e pode ser executada de muitas maneiras, por isso, entende-se

    como importante a perspectiva histrica para que estas mudanas sejam analisadas na sua

    respectiva aplicao no contexto especfico judaico-cristo.

    A partir da experincia histrica, criam-se dicas que auxiliam a msica sacra atual nos

    seus mais diversos mbitos. Deseja-se ao leitor uma deliciosa leitura e como j afirmou Johann

    Sebastian Bach, Somente a Deus a Glria.

    1 VILLA-LOBOS, Heitor, "Educao Musical". Boletim Latino Americano de Msica, abril de 1946. p. 498.

  • 5

    1. BREVE PANORAMA DA MSICA SACRA DO ANTIGO TESTAMENTO AO

    SCULO X

    No novidade que a msica existe desde os primrdios da criao. Por todos os tempos

    e eras conhecidas ela esteve presente, conforme os aspectos culturais e os costumes de vrios

    povos. Desde a antiguidade a msica possui seu espao de expresso naquilo que no se pode

    expressar, inclusive, expresso terrena e imanente por algo alm no transcendente. Porm, tal

    faanha no se restringe apenas voz e lngua humana, mas a criao na totalidade expressa a

    msica, seja ela audvel ou no.

    Neste captulo, deseja-se brevemente expor a msica em um contexto especfico:

    judaico-cristo. Pode-se perceber que tanto o povo de Israel como os cristos veem na msica

    uma grande oportunidade, atravs da produo de ondas sonoras, harmoniosas ou no, de louvar

    ao Senhor, destarte, louvar a Deus. Pode-se perceber que em todo este contexto a msica sempre

    atuou como forma de expresso da espiritualidade e da teologia.

    1.1. A PRESENA DA MSICA NO ANTIGO TESTAMENTO

    Quando se fala de msica no Antigo Testamento, o que logo surge mente so os livros

    de Salmos, Cantares e outras passagens restritas que so cnticos judaicos compostos por algum

    personagem reunidos em um nico lugar. Com estas informaes, pode-se deduzir que a msica

    deveria ter lugar essencial para o povo judeu, bem como, em seu culto e adorao. Porm, a

    msica no AT no se encontra restrita apenas nestes contextos, mas presente em muitas outras

    passagens.

    1.1.1. GNESIS

    Tem-se em Gnesis o relato da criao.2 Em dois captulos, fala-se que Deus criou tudo

    o que existe do inexistente, sendo somente o prprio Deus existente antes da prpria existncia.

    Deus faz as coisas existirem pelo seu falar e em alguns passos o texto afirma e viu Deus que

    isso era bom.3 Deus percebe a obra de arte que est criando, logo, toda a criao deve ser vista

    como obra artstica do prprio Deus. No sexto dia, coloca-se no meio da sentena um advrbio:

    2 Cf. Gn 1-2. 3 Cf. Gn 1.10, 12, 18, 21, 25.

  • 6

    Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.4 Deus, como artista, cria o mundo com

    criatividade. Tudo o que existe, o descoberto e o indescoberto. Assim, percebe-se que religio

    e arte andam irmanadas desde os primrdios da humanidade. A narrativa bblica da criao do

    mundo fala repetidas vezes da aprovao esttica de Deus sua criao5 Aps criar tudo, Deus

    tambm fez o ser humano homem e mulher sua imagem e semelhana6 como administrador7

    de toda a criao. O Deus criativo deu ao ser humano a criatividade para dar nomes aos animais8

    e cuidar da boa criao. Deus deseja que o ser humano tambm seja um artista, para que cuide

    da criao, se multiplique, usando de sua criatividade para tal empenho.

    Embora a msica possua suas facetas matemticas e racionais, ela tambm considerada

    arte, portanto, simultaneamente cincia e arte. Deus percebe que sua criao boa, ou seja, aos

    seus olhos, magnfica e excelente. este mesmo Deus quem cria os sons da criao. D aos

    pssaros o dom de trinar, s ferras o de rugir, ao vento de produzir seu zunido, o mar seu bramir,

    ao ser humano o dom de falar e cantar, bem como tantos outros sons existentes. A criao de

    Deus sonora por excelncia. Nisto, evidencia-se que a esttica da criao no apenas visual,

    mas tambm audvel. O termo usado em Gn 1.31 ha"r" que significa perceber9. Portanto, a

    criao no estava bela apenas naquilo que se podia ver, mas tambm na sua audio. Deus

    ouve a maravilhosa orquestra da criao e eis que era muito boa, a orquestra que Ele mesmo

    criou e a qual Ele mesmo o maestro. A criao perfeita e boa aos olhos e de Deus na sua

    totalidade.

    Quando o ser humano criado, Deus sopra em suas narinas a vp

  • 7

    original. Com o perfeito domnio da poesia, corroborado por uma lngua potica, i. , o

    hebraico, o povo judeu peculiar em seu jeito musical.

    O canto para Israel, antes de qualquer coisa, era a forma de relembrar os feitos de Deus.

    Vrios profetas e personagens, a partir da sua vivncia de f e de suas experincias com Deus,

    compuseram cnticos que esto alocados no Antigo Testamento. Um exemplo disso pode ser

    verificado quando o povo de Israel atravessa o mar vermelho. Quando os egpcios perecem no

    mar e Moiss canta:

    Cantarei ao Senhor, por que triunfou gloriosamente; lanou no mar o cavalo e tambm seu cavaleiro. O Senhor a minha fora e o meu cntico; ele me foi por

    salvao; este o meu Deus; portanto, eu o louvarei; ele o Deus de meu pai; por

    isso, o exaltarei. O Senhor homem de guerra; Senhor o seu nome (...).11

    Outro exemplo se encontra em Nm 10. No contexto das instrues para a adorao no

    Tabernculo, Moiss orientado a fazer duas trombetas de prata como forma de convocar a

    congregao para o culto.12 Quem deve tocar13 estas trombetas so os filhos de Aro.14 Outro

    exemplo o cntico da Dbora e do Baraque composto expressando a vitria sobre Ssera15.

    Contudo, o mais conhecido msico do Antigo Testamento Davi. Basicamente, boa parte dos

    salmos so composies suas sem contar outras passagens que revelam seu dom musical.

    Davi tocava harpa16 e inclusive a usou como forma de acalmar ao rei Saul17 em

    momentos de angstia. Mais tarde, Davi se torna o Rei de Israel. Porm, sua vida no foi

    totalmente digna perante o Senhor. Ao cometer adultrio com Bate-Seba e planejar a morte de

    Urias,18 Davi repreendido pelo profeta Nat e se entende como pecador.19 Seu arrependimento

    expresso em um hino de confisso:

    Compadece-te de mim, Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multido das tuas misericrdias, apaga as minhas transgresses. Lava-me completamente da

    minha iniqidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheo as minhas

    transgresses e o meu pecado est sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti

    somente, e fiz o que mau perante os olhos, de maneira que sers tido por justo no

    teu falar e puro no teu julgar. Eu nasci na iniqidade, e em pecado me concebeu minha

    me.20

    11 Cf. x 15.1-18. 12 Dir-se-ia atualmente que seria como os sinos das Igrejas que anunciam a missa ou o culto. 13 No hebraico, a palavra usada rp"wOv que significa chifre de carneiro (cf. HOLLADAY, W. op. cit. p. 519). Assim, a trombeta que Israel usa um chifre de carneiro onde se pode soprar e produzir som. 14 Cf. Nm 10.1-10. 15 Cf. Jz 5.1-31. 16 No hebraico original !gn, que significa o que toca instrumento de corda (cf. HOLLADAY, W. op. cit. p. 322). 17 Cf. 1 Sm 16.14-23. 18 Cf. 2 Sm 11. 19 2 Sm 12.1-15. 20 Sl 51.1-6.

  • 8

    A msica de Davi teraputica21, agradece pelos feitos de Deus22, expressa confiana e

    esperana em Deus23, compara o justo com o mpio24, expresso de louvor e adorao a

    Deus25, trata da transitoriedade da vida26 e ainda abarca muitos outros temas, obviamente

    presentes dentro de contextos especficos.

    Em ltima anlise, estes hinos no surgem como expresso cantada da vivncia como

    povo27 ou ainda como simples expresso de louvor ao criador. Porm, os hinos

    veterotestamentrios no eram musicalmente complexos, mas, seu estilo foi recitativo e

    declamatrio, na improvisao em quatro tons.28 Com este recurso Israel entoava cnticos que

    expressavam aquilo que sentiam no coletivo e/ou no individual. Usavam do flego de vida que

    tinham do prprio Deus, bem como, dos instrumentos a disposio na poca para manifestar

    louvor a Deus.

    1.1.3. O CANTO NOS SALMOS

    O livro de Salmos popularmente o mais conhecido de toda a Bblia, especialmente por

    causa de um captulo em especfico: Sl 23. Trata-se de um hinrio na Bblia, com uma

    coletnea de 150 Cnticos do povo de Israel escritos nas mais diversas ocasies, porm, para

    uso individual. Os salmos no foram escritos intencionalmente na ordem como se encontram

    na Bblia, mas, so hinos histricos coletados em um nico livro. Conforme Rsel:

    Controvertida , na pesquisa, o motivo por que esses salmos foram reunidos numa coletnea como essa. Na poca da canonizao, os salmos provavelmente no eram

    utilizados como formulrios litrgicos no culto do segundo templo. Antes serviam

    para a meditao e edificao pessoal; em alguns crculos certamente tambm eram

    entendidos como escritos como uma dimenso proftica.29

    O prprio livro dividido em cinco livros.30 Os Salmos serviam de consolo e se

    tornaram populares especialmente no Exlio Babilnico31 onde o povo de Israel possua a difcil

    tarefa de manter sua identidade perante um povo que adorava outros deuses. Ao retorno do

    21 Cf. 1 Sm 16.14-23. 22 Cf. Sl 9.1-20. 23 Cf. Sl 3.1-8; 4.1-8. 24 Cf. Sl 1.1-6; 5.1-12; 7.1-17. 25 Cf. Sl 150.1-6. 26 Cf. Sl 90.1-17. 27 Lembra-se aqui dos exlios Assrio e Babilnico. 28 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 71. 29 RSEL, Martin. Panorama do Antigo Testamento. So Leopoldo: Sinodal/EST, 2009. p. 80. 30 Assim est dividido o livro de Salmos: 1-41; 42-72; 73-89; 90-106 e 107-150. 31 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 80.

  • 9

    Exlio, as pessoas cantavam os Salmos em seus domiclios, em festividades e no apenas no

    templo.32

    At os dias de hoje os Salmos so importantes, tanto para os israelitas como para o

    mundo cristo ocidental. Estes hinos expressam a vivncia do povo de Deus com o prprio

    Deus. Na espiritualidade, os mesmos hinos ainda consolam o povo de Deus hoje e facilmente

    se aplicam a realidade atual. No contexto do ocidente, muitos poucos ganham novas melodias

    e so utilizados. Contudo, no so inteis, pois auxiliam na leitura devocional consolando o

    povo cristo em meio s dificuldades do cotidiano.

    A partir disso, recomenda-se que no se deixem os Salmos esquecidos na Bblia e

    restritos apenas leitura devocional, mas, deseja-se aos que possuem conhecimento musical

    terico e prtico que usem tais Salmos aplicando-lhes novas melodias adequadas para seu uso

    na comunidade crist.

    1.2. A MSICA SACRA NO NOVO TESTAMENTO: LOUVOR, PREGAO DO

    EVANGELHO, CONFISSO DE F E APOLOGIA

    No Novo Testamento a msica sacra ganha nova significao: Jesus Cristo. Agora o

    louvor est centrado em Cristo, na adorao e na doutrina sobre a sua pessoa e obra. O Novo

    Testamento apresenta trs formas de louvor: a doxologia, a eulogia e as aes de graas. A

    doxologia caracteriza-se em dar glria ao nome e pessoa de Jesus. A eulogia quer tratar das

    bnos recebidas e as aes de graas, como j expressada pelo nome, significa gratido por

    aquilo que foi feito/recebido.33 Quanto pessoa e obra de Jesus Cristo, surgiram hinos

    cristolgicos que so credos da Igreja Primitiva para a confisso de f dos cristos perante os

    gentios dando um testemunho doutrinrio a eles. Um dos hinos cristolgicos mais conhecido se

    encontra em Fp 2.5-11:

    Tende em vs o mesmo sentimento que houve tambm em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, no julgou como usurpao o ser igual a Deus; antes,

    a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhana de

    homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se

    obediente at a morte e morte de cruz. Pelo que tambm Deus o exaltou sobremaneira

    e lhe deu o nome que est acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre

    todo joelho, nos cus, na terra e debaixo da terra, e toda lngua confesse que Jesus

    Cristo o Senhor, para glria de Deus Pai.

    32 Ibid., p. 80. 33 Ibid., p. 86.

  • 10

    Deve-se ressaltar que neste perodo anunciar a Jesus Cristo como o Senhor no era algo

    simples, mas quem o fazia era perseguido. Para o Imprio Romano, apenas o Imperador era o

    Senhor.34 Quando os cristos mencionam outro Senhor que no fosse o imperador, eram

    perseguidos e inclusive mortos.35 A lngua apenas poderia confessar e os joelhos apenas

    poderiam se dobrar perante o Imperador, porm, os cristos admitem outro Senhor: prostram-

    se perante Jesus Cristo. Neste contexto, os hinos cristolgicos so ousados em anunciar Jesus

    Cristo como Senhor onde os cristos so audaciosos em us-los na defesa de sua f e tambm

    como forma de propagar o evangelho.

    Um pouco antes, Paulo afirma que os filipenses deveriam viver em amor fraternal e em

    humildade (2.1-4) e o hino poderia ser a citao literal de algum outro escrito que corrobora

    com aquilo que Paulo afirmara. Estas formulas padronizadas ajudariam na memorizao dos

    contedos e facilitariam a confirmao da f crist.36

    1.3. O CANTO GREGORIANO

    Mais tarde, com o domnio do Imprio Romano, a lngua latina influenciou o culto

    cristo e, por conseguinte, a sua msica. Isso se expressa de forma ativa quando o Imperador

    Romano Constantino se converte ao cristianismo o tornando a religio oficial do Imprio em

    313 d. C.

    Neste perodo, o foco musical est na voz, pois, os instrumentos musicais comeam a

    ser retirados do culto. A justificativa o fato de a nfase estar na palavra que apenas precisa ser

    falada e no tocada.37 Este canto chamado de gregoriano. Somente o ser que possui flego

    poderia entoar sons a Deus. Isto por que os instrumentos no possuem vida prpria e nem flego

    prprio, por isso, foram descartados.

    O nome provm de Gregrio que o precursor deste estilo. O canto gregoriano possui

    uma melodia unssona entoada por vrios homens, de preferncia bispos e especialmente nos

    mosteiros. O ritmo do canto dependia da letra e da mtrica que o texto possua38 sendo o nico

    modelo a ser escrito.39 Este estilo predominou por praticamente toda a Idade Mdia. O estilo

    34 Ku,rioj no grego. 35 Cf. textos como At 7.54-60, 8.1-3, 12.1-8, 14.19-27, 16.19-26, 21.27-40, 23.1-10 e 12, 24-26, 28.30-31. 36 Ibid., p. 89. 37 Ibid., p. 94. 38 Ibid., p. 116. 39 Ibid., p. 118.

  • 11

    unssono foi de suma importncia neste perodo por diferenciar o canto eclesial do canto

    secular.

  • 12

    2. A MSICA SACRA EM MARTIM LUTERO

    O perodo em que Lutero vivia e atuava foi complexo e conturbado. Havia os

    escolsticos que procuravam entender Deus de forma racional e tambm os monsticos que

    davam nfase espiritualidade crist40. A Igreja cobrava pela salvao. Com o pagamento de

    indulgncias, a pessoa acreditava que estava salva. Podia-se tambm pagar pela salvao de

    mortos que se encontravam no purgatrio. Acreditava-se que a Igreja era detentora dos mritos

    dos santos, mritos estes que poderiam ser vendidos ao ser humano pecador. O ser era

    justificado pelo pagamento de indulgncias. Uma indulgncia em especial deixou Martim

    Lutero irado.41

    A Igreja em Roma decide construir uma Igreja maior do que qualquer outra existente

    onde seriam guardadas as relquias e tesouros da Igreja, bem como, o lugar onde iria atuar e

    viver o Papa. Joo Tetzel foi enviado a cobrar tal indulgncia na Alemanha. Este afirmava no

    momento em que o dinheiro na caixa tinir, do purgatrio ao cu salta a alma a seguir.42 Isto

    no agrada a Lutero que escreve 95 teses contra as indulgncias, afirmando que se o papa deseja

    construir uma Igreja, que este ento a faa com seu prprio dinheiro e no custa do salrio do

    povo pobre. Embora sua proposta inicial no fosse esta, Lutero conhecido por fundar a Igreja

    Protestante, por discordar das palavras do Papa, retornando s Escrituras como norma para a

    conduta do cristo. Lutero tambm foi importante compositor e msico em seu tempo e sua

    influncia musical permanece at os dias de hoje.

    Neste perodo, a Igreja era a detentora tambm da cultura. Martim Lutero foi um monge

    agostiniano que decidiu estudar Teologia aps ser assustado por uma tempestade. Depois dos

    estudos preliminares em Magdeburgo e Eisenach, Martinho Lutero ingressou no ano de 1501

    na Universidade de Erfurt onde estudou a faculdade de Artes e concluiu com sucesso seus

    exames de mestrado.43

    Lutero faz claros progressos em seu tempo. Sua reforma no abrange apenas a Igreja,

    mas tambm a poltica, a educao, a organizao da sociedade e claro, a msica sacra. Suas

    ideias foram revolucionrias e embora muitos de seus princpios predominem at a atualidade,

    muitas de suas ideias acabaram secularizadas, perdendo seu fundamento: as Escrituras.

    40 Cf. CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos. 3. ed. So Paulo: Vida Nova, 2008. p. 199-214. 41 Cf. Ibid, p. 256-257. 42 LINDBERG, Carter. Reformas na Europa. So Leopoldo: Sinodal, 2001. p. 96. 43 HGGLUND, Bengt. Histria da Teologia. Porto Alegre: Concrdia, 2003. p. 180.

  • 13

    Lutero usou a msica para propagar a doutrina da justificao pela f, bem como,

    possibilitar aos leigos e simples da comunidade a oportunidade de cantar e memorizar hinos em

    alemo, incentivando-os a participar na comunidade, a serem alfabetizados em sua lngua para

    terem acesso s Escrituras. A hinologia de Lutero preza que no apenas o obreiro da Igreja

    cante, mas todo o povo cristo conclamado a entoar hinos alegres para o louvor a Deus.

    2.1. CANTO CONGREGACIONAL: SACERDCIO GERAL DE TODOS OS CRENTES

    Acredita-se que uma das maiores obras de Lutero foi a traduo do Novo Testamento e

    posteriormente da Bblia completa para a lngua alem. A traduo de Lutero no prezou apenas

    pela lngua verncula, mas tambm pela simplicidade lingustica, dando acessibilidade ao povo

    alfabetizao para lerem a Bblia. Isto no era possvel antes, j que a Bblia era ou em latim

    ou em grego e somente os bispos possuam a autoridade de l-la e interpret-la.

    Partindo de Rm 10.17, Lutero percebe a escritura como palavra divina, trazida ao

    homem atravs dos apstolos e profetas.44 Para Lutero, o centro de toda a Bblia Cristo: A

    Bblia diz ele uma manjedoura, na qual est contido Jesus. Se no o encontrarmos, s

    temos palha.45 Alm disso, conforme Lutero, no o ser humano quem interpreta as escrituras,

    mas a Sagrada Escritura seu prprio intrprete46, por isso, direito do homem comum ter

    as Sagradas Escrituras para nela meditar diariamente para que ela na forma de lei aponte o

    pecado humano e ao mesmo tempo anunciem a graa obtida por Jesus na cruz.

    Esta popularizao das Escrituras e da Teologia se evidenciou tambm na msica.

    Antes, os leigos poderiam apenas participar da missa e ouvir a palavra em latim, sem

    compreend-la. Agora as Escrituras esto na mo do povo, Lutero prega em alemo e as

    Escrituras chegam a todas as pessoas, sem discriminao.

    Culto em alemo Gottesdienst47, ou seja, um servio prestado pelo prprio Deus ao

    ser humano. Deus quem serve ao ser humano com a sua palavra e com os sacramentos. Por

    isso, todos podem participar da comunidade e auxiliar o obreiro nas atividades.

    A partir da viso da justificao pela f, h uma total inverso de polos. Antes de Lutero,

    o ser humano precisava fazer algo para ter sua salvao, logo, sua salvao era merecida por

    honras e mritos. Em Lutero, no h nada que o ser humano possa fazer para obter sua salvao,

    44 Ibid., p. 187. 45 DREHER, Martin N. Bblia suas leituras e interpretaes na histria do cristianismo. So Leopoldo: CEBI:

    Sinodal, 2006. p. 48. 46 Ibid., p. 47. 47 Traduzido como culto, porm, seu significado literal Servio do Senhor.

  • 14

    mas Deus quem justifica o ser humano pecador e concede a salvao ao que cr de graa. Na

    segunda estrofe de seu famoso hino Castelo Forte, Lutero afirma

    Mit unsrer Macht ist nichts getan, wir sind gar bald verloren; es streits fr uns der rechte Mann, den Gott hat selbst erkoren. Fragst Du, wer der ist? Er heit Jesus Christ, der Herr Zebaoth, und ist kein andrer Gott, das Feld mu er behalten.48

    Nesta perspectiva, tambm se inclui a msica sacra. Para a edificao da comunidade,

    Lutero tem base no texto de 1 Pe 2.9: Vs, porm, sois raa eleita, sacerdcio real, nao santa,

    povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos

    chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Para ele, as pessoas podem auxiliar no servio

    da comunidade, pois, elas podem chegar a Deus por meio de Jesus Cristo. Para incluir as

    pessoas ao culto, Lutero traduziu o canto congregacional no vernculo49 dando s pessoas a

    possibilidade de cantar, ouvir e entender o culto.

    Pois todos aqueles que tm a f de que Cristo um sacerdote em favor deles diante de Deus, no cu, deitando sobre ele, apresentando por intermdio dele, sua orao,

    seu louvor, sua necessidade e a si mesmos, no duvidando de que ele o faa e que se

    oferea a si mesmo como sacrifcio por eles (...) todos esses, onde quer que estejam, so verdadeiros sacerdotes (...). Por isso todos os homens cristos so sacerdotes e

    todas as mulheres so sacerdotisas, sejam jovens ou velhos, senhores ou servos,

    senhoras ou servas, doutos ou leigos. Aqui no h diferena, a no ser que a f seja

    diversa.50

    Esta exatamente a nfase de Lutero. No apenas o que tem formao teolgica pode

    executar os ofcios e deveres da comunidade crist, mas todos so sacerdotes e, por isso, todos

    podem colaborar no ministrio. Nota-se que Lutero no descarta as mulheres, mas as inclui

    como sacerdotisas, dando tambm valor ao sexo feminino. No coral, ambos os sexos so

    importantes quando se canta em coros de quatro vozes. Desta maneira, todos, sem exceo,

    podem auxiliar na comunidade, bem como, cantar e louvar a Deus, pois, os crentes so

    justificados por graa e f.

    O ser justificado um ser agradecido e sua gratido expressa atravs do canto em ao

    de graas pela graa recebida em Cristo Jesus. J no h mais por que temer o Justo Juiz, pois

    o juzo de Deus recaiu sobre Jesus, ele sofreu a condenao humana para que o ser humano

    fosse absolvido. Agora h muito o que cantar.

    48 Hinrio Evangelische Gesangbuch, n 90. Traduo prpria: Com a nossa fora nada pode ser feito, estamos

    logo perdidos; aquele que justo disputa por ns, o prprio Deus o escolheu. Se voc perguntar quem ? Ele

    Jesus Cristo, o Senhor dos Exrcitos, e no h outro Deus. Ele mantm encerrado seu firme domnio. Cf. tambm

    a traduo no hinrio HPD, n 97,2. O hinrio da citao no possui referncia bibliogrfica detalhada. 49 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 135. 50 Sermo da Dedicao da Igreja do Castelo de Torgau (1544), OL 51, p. 333. apud SCHALK, Carl F. Lutero e a msica. So Leopoldo: Sinodal, 2006. p. 38.

  • 15

    Lutero faz uso de melodias populares seculares dando a elas novo texto para a

    comunidade. Isto auxiliava as pessoas a guardarem o texto do hino, pois as pessoas conheciam

    as melodias. Porm, para ele haviam critrios a serem seguidos para que a msica fosse

    adequada liturgia: em primeiro plano, que fosse um meio de louvor e adorao a Deus; a

    seguir, instrumento auxiliar devoo e piedade do cristo e ainda elemento eficaz na educao

    crist e na propagao do evangelho.51

    Com isso, surgem hinrios para os cultos para que todos possam cantar. Inclusive,

    Lutero escreveu prefcios a muitos hinrios. No seu prefcio ao hinrio de Babst de 1545 ele

    exorta publicao de bons hinos: Por isso, os tipgrafos fazem muito bem em dedicar-se com

    afinco impresso de bons hinos, tornando-os atraentes para as pessoas por meio de tudo quanto

    ornamentao, para que sejam estimuladas a ter prazer na f, gostando de cantar.52

    Torna-se ento essencial a participao ativa das pessoas na comunidade como

    colaboradoras no ministrio. O Deus cristo no exclui as pessoas, mas as aceita. Essa

    participao da comunidade se evidencia em outro hino de Lutero onde a comunidade

    chamada a cantar de forma alegre, pois Jesus, em amor, fez muito pelos que creem:

    Nun freut euch, lieben Christen gmein, und lasst uns frhlich springen, dass wie getrost und all in ein mit lust und Liebe singen, was Gott an uns gewendet hat uns

    seine ssse Wundertat; gar teur hat ers erworben.53

    Alm dessa estrofe, o hino apresenta outras nove que se parecem como um resumo

    cantado da doutrina da justificao pela f. Lutero poderia ter usado a msica como forma de

    divulgar e explicar a graa de Deus que salva o ser humano indigno e pecador. O mesmo hino

    parece tambm expressar o testemunho vivo de Lutero que frequentemente discutia com

    Satans.

    Lutero acreditava que todos podem louvar a Deus, ler as escrituras e colaborar com o

    culto cristo com seus dons e talentos, usando-os como servio a Deus, no como obra para a

    conquista da salvao, mas em grata resposta a obra que Jesus Cristo fez na cruz do Calvrio.

    51 BLUME, Friedrich. Protestant Church Music. London: Victor Gollancz, 1975. p. 13. apud FREDERICO,

    Denise C. S. op. cit. p. 136. 52 LUTERO, Martinho. Prefcio ao hinrio de Babst de 1545. In: Vida em Comunidade. So Leopoldo: Sinodal;

    Porto Alegre: Concrdia, 2000. p. 482. apud FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 128. 53 Hinrio Evangelische Gesangbuch, n 148. Traduo prpria: Alegrai-vos queridos cristos juntos, e vamos

    saltar alegremente. Todos cantam com confiana, com alegria e amor, pois Deus se voltou para ns, para nos dar

    um doce agir, ele adquiriu de forma cara. Cf. tambm a traduo no hinrio HPD, n 155,1.

  • 16

    2.2. CANTO CORAL

    Quando Lutero permite, com base nas escrituras, o canto congregacional, precisou

    estabelecer a forma de como isto seria executado. Com o surgimento da polifonia54, a msica

    sacra ganha novo rumo e quanto a isto a reforma tambm teve suas colaboraes.

    Em toda a histria do culto cristo, houve responsveis por dirigir a comunidade no

    canto. A partir do sculo X surge a polifonia. Esta foi a grande inovao para a poca. Percebia-

    se que a mistura de tons de forma harmoniosa soa bem aos ouvidos.

    Deve-se imaginar que a polifonia influenciou muito a Lutero. Ele considerado o

    criador do canto em coros de quatro vozes, ou seja, quatro tons diferentes entoados

    simultaneamente soando bem aos ouvidos em sua harmonia55. Para tal faanha,

    Usava-se uma notao no-rtmica, com melodias emprestadas dos Lieder seculares ou com melodias compostas com os mais variados exemplos rtmicos e no-rtmicos,

    com fermatas nos fins de frases. O tenor era diferenciado das outras vozes, muitas

    vezes retirado de composies polifnicas da poca. S bem mais tarde o coral

    protestante tomaria a forma com a qual hoje ele conhecido, com seu ritmo isomtrico

    e vozes combinadas verticalmente.

    O coral, assim, fazia parte da liturgia do culto. As msicas deveriam colaborar com a

    prdica e alegrar o povo cristo que salvo pela f. Porm, no era assim que o obreiro no

    precisava ter conhecimentos musicais, pelo contrrio, Lutero desprezava particularmente

    aqueles que queriam ser telogos quando nem sabiam nem sequer cantar56. Deve-se lembrar

    que os Telogos tambm fazem parte do Sacerdcio Geral de Todos os Crentes e que seu papel

    na msica de suma importncia.

    2.3. A MSICA SACRA NA PERSPECTIVA DOS 4 SOLOS

    Quando se pergunta quais so os pilares da reforma, todo cristo de confessionalidade

    Luterana deveria responder Somente a Graa, Somente a F, Somente as Escrituras e Somente

    Jesus Cristo. Lutero filtra a teologia aproveitando apenas aquilo que entendia como importante.

    Tudo o que passava destes 4 conceitos era considerado heresia e no compatvel com a f

    luterana.

    54 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 116. 55 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 115. 56 Preleo sobre Tito (1527), OL 41, p. 176 apud SCHALK, Carl F. Lutero e a msica. So Leopoldo: Sinodal, 2006. p. 38.

  • 17

    Neste ponto, deseja-se abordar o tema msica sacra com vistas aos 4 solos de Lutero.

    Acredita-se que tais pilares podem colaborar muito tambm com a msica sacra, pois, so a

    base de toda a confisso Luterana e por isso nem mesmo a msica sacra pode escapar de uma

    fundamentao a partir deles.

    Quando Lutero afirma Somente a Graa, este quer afirmar que no h nada que possa

    comprar ou pagar pela salvao, em outras palavras, que no existe, de maneira alguma, a

    possibilidade humana de o ser humano ser salvo, ou, de comprar a salvao. Jesus Cristo

    quem pagou o preo, ele quem carregou todas as culpas humanas, tomando-as sobre si. Jesus

    compra a salvao para o ser humano e agora no h nada que o ser humano possa fazer para

    conquistar sua salvao, pois, isto seria desprezar a obra salvfica de Jesus.

    Aqui a msica sacra possui papel fundamental: anunciar a salvao conquistada por

    Jesus. Um bom hino aquele que anuncia tudo o que Cristo fez pelo ser humano sem que o ser

    humano precise fazer boas obras ou ter bons mritos para chegar salvao. Um hino atual

    expressa bem essa teologia quando afirma: eu nunca saberei o preo, dos meus pecados l na

    cruz.57 H tambm um conhecido hino da tradio pietista com o tema confisso de pecados

    que afirma: Conforme a tua infinita graa, Pai perdoa a minha transgresso58 Faz-se

    necessrio que se tenham na atualidade compositores que falem da graa de Deus, pois a

    pluralidade religiosa atual apregoa prosperidade, obras ou salvao no mundo imanente.

    Portanto, o hino escolhido para o culto deve estar de acordo com o princpio de Somente a

    Graa.

    O segundo solo, Somente a F tem sua base em Rm 1.17 onde dito que o justo viver

    pela f. Lutero rejeita as obras e os mritos humanos como salvficos, mas, o justo vive por

    mais nada seno pela f, j que no pode provar racionalmente a existncia de Deus e nem

    conquistar a sua salvao. Sobre a f a partir de Lutero, Euler Westphal afirma:

    F dom de Deus que renova o ser humano. Pela f, morre o velho homem, aquele que se fundamenta nas suas possibilidades e nos seus recursos. Quem vive Cristo e

    no mais o eu piedoso, que quer fazer por merecer a graa e os favores de Deus. Por

    meio de Jesus, somos, ao mesmo tempo, pecadores e justificados.59

    Portanto, a f no pode ser produzida ou comprada, mas ddiva de Deus ao ser humano

    justificado. S possvel crer em Deus pela f, porm, as obras no so descartadas, mas so o

    resultado da f, pois, a f verdadeira produz obras voluntrias.

    57 ADORAO E ADORADORES. Pode ser encontrada em: http://letras.mus.br/adoracao-e-adoradores/225173

    (acessado em 28/05/2013). 58 MEUC. Vamos Todos Cantar. 4. ed. So Bento do Sul: Unio Crist, 2010. n 68. 59 WESTPHAL, Euler Renato. Lutero - Reforma: 500 anos. Jornal Evanglico Luterano. So Leopoldo, p. 8 -

    9, 02 ago. 2012.

  • 18

    A msica sacra tem como tarefa defender a f em Cristo, bem como propag-la. Esta

    msica deve falar da vivncia de f do cristo que se faz a partir da espiritualidade. O crente

    deve entoar louvores ao Deus ao qual cr sem ver. Neste sentido, a msica pode inclusive

    mostrar que no h nada que o ser humano possa fazer para chegar salvao, porm, que Deus

    j fez tudo por ele e que nisto pode crer pela f. Pode-se tambm utilizar no culto, hinos que

    animam o crente a crer, como afirma este hino: Creia sempre, sem cessar, siga em f sem

    vacilar; creia em Cristo at o fim; ele chama: Creia em mim! Quero crer, meu Salvador, mesmo

    em aflio e dor; crer, at que a tua luz vena as trevas, meu Jesus!60

    Este hino expressa primeiramente um incentivo para o crente para que este creia e aps

    isso apresenta a resposta do crente que deseja crer no importando as dores e as aflies. O hino

    continua expressando as adversidades que o cristo pode enfrentar em sua vida, porm,

    voltando sempre de novo ao estribilho, a resposta do crente o crer mesmo que em sua vida

    possa existir uma grande tempestade.

    Quando Lutero fala em Somente as Escrituras, est afirmando que somente elas so toda

    a norma de vida para o cristo e que nada, nem a prpria tradio da Igreja est acima dela.

    Lutero volta s fontes e coloca a Bblia como primria norma ao ser humano. Lutero v a Bblia

    como Lei que acusa do pecado, porm, tambm como evangelho e perdo.

    Na msica sacra tambm se deve prezar pelo princpio de Somente as Escrituras. Os

    hinos que so cantados na comunidade devem ser analisados para que se veja se so compatveis

    ou no com as escrituras. Recomenda-se aos grupos de louvor e corais, bem como aos obreiros,

    que quando forem escolher os hinos para o culto se lembrem: Somente as Escrituras. Entram

    aqui tambm os hinos presentes na prpria Bblia, como tambm hinos que tem as Escrituras

    como tema. Um exemplo de hino pode ser este: A tua palavra semente, e Tu s o semeador,

    o meu corao a terra que Tu semeaste Senhor (...), a tua palavra Senhor (...) amor.61

    Por ltimo, porm, nunca menos importante est Somente Jesus Cristo. Ele quem d

    de graa a salvao, concede o dom da f, o centro das Escrituras e Senhor da vida do Cristo.

    Porquanto, h um s Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.62

    Na msica sacra, o centro deve ser Jesus Cristo. Se Ele no for centro, ento

    provavelmente os outros solos tambm sero afetados. A msica deve apontar para Jesus Cristo,

    sua obra e pessoa63 bem como exaltar sua pessoa.

    60 Hinos do Povo de Deus. 24. ed. So Leopoldo: Sinodal, 2008. n 159,1 e estribilho. 61 Hinrio Vamos Todos Cantar. op. cit., 2010. n 33. 62 1 Tm 2.5. 63 Cf. hinos como HPD 75, 53 e VTC 148, 90.

  • 19

    3. A MSICA SACRA EM JOHANN SEBASTIAN BACH

    Considerado o maior compositor de todos os tempos, Bach dedicou-se exclusivamente

    Igreja, desconhecido por todos fora da Alemanha.64 Filho de uma famlia com uma gerao

    de mais de cem msicos, Bach dedicou-se exclusivamente a compor hinos Igreja Luterana.65

    Seu destaque o domnio sobre a harmonia e a perfeio das melodias que compunham uma

    harmonia. Em Bach, cada linha meldica do coro perfeita. Quando unidas em harmonia,

    parecem tocar o transcendente. Alm disso, Bach tambm fazia composies da mais alta

    qualidade semana aps semana e por isso considerado o gnio da msica sacra.

    Deseja-se, de forma breve, explorar um pouco deste destacado e histrico compositor.

    Seus hinos glorificavam a Deus, tanto que em cada nova composio alocava no cabealho as

    inicias SDG que significam Soli Deo Glria.66 Basicamente, seus hinos so baseados nos relatos

    dos evangelhos e por isso chamado de quinto evangelista,67 o que anuncia o evangelho por

    meio da msica sacra. Por dar a glria somente a Deus, pode-se deduzir que provavelmente

    Bach no gostaria da exaltao que atualmente lanada sobre si, porm, isso no significa que

    ele no deva ser reconhecido.

    3.1. MESTRE DAS TCNICAS DE HARMONIA

    Bach no inovou, ele no criou nenhum mtodo novo de criar e fazer msica. O seu

    destaque no est na originalidade, pelo contrrio, Bach era mestre das tcnicas de seu tempo.68

    Provavelmente tais influncias surgiram da tradio musical que havia em sua famlia. Seu pai

    era o flautista da cidade e foi com seu tio que Bach conhece e aprende a tocar rgo, o

    instrumento de sua vida e de sua paixo.

    Contudo, a sua maior influncia encontra-se alguns sculos antes: Seu nome Martim

    Lutero. a partir do coro luterano que Bach desenvolve suas ideias, pois partilha da f luterana.

    A partir do conceito luterano do canto congregacional, Bach faz uma hermenutica do coral

    luterano69 aplicando diversas tcnicas simultaneamente.

    64 BEALE, Simon Russell. BACH E O LEGADO LUTERANO. Documentrio. Inglaterra: BBC, 2008. apud

    PROGRAMA ACERVO. Braslia: TV Escola. 13 de Maio de 2013. Programa de TV. 65 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 178. 66 Somente a Deus a glria. 67 BEALE, Simon Russell. op. cit. Braslia: TV Escola. 13 de Maio de 2013. Programa de TV. 68 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 179. 69 BEALE, Simon Russell. op. cit. Braslia: TV Escola. 13 de Maio de 2013. Programa de TV.

  • 20

    Ao contrrio do que se pensa, Bach no gostava de coros grandes. Por trabalhar de forma

    autnoma, no tinha como pagar muitos msicos, contando com a ajuda de amigos para o coro

    e para os instrumentos. Bach escreveu muitas msicas a partir dos mais diversos temas como o

    evangelho, o calendrio litrgico e hinos independentes: Bach escreveu cinco colees de

    cantatas para todos os domingos e dias santificados no calendrio eclesistico, perfazendo quase

    300 cantatas, das quais preservaram-se menos de 200.70 Escreveu tambm cinco paixes, mas

    apenas duas foram conservadas integralmente: a Paixo Segundo S. Joo e a Paixo Segundo

    S. Mateus.71 Por passar a vida inteira compondo para a Igreja Luterana, Bach conhecia a

    liturgia e o ano litrgico procurando criar msicas temticas para cada domingo conforme a

    liturgia do culto. Inclusive, alguns de seus hinos recebem o nome de missa. Isto mostra a clareza

    que Bach tinha sobre o papel da msica no culto cristo, compondo exclusivamente para o

    culto. Poder-se-ia imaginar a verdadeira fbrica de msica que tal homem foi.

    Porm, Bach no deixou suas ideias e suas tcnicas trancadas apenas em si, porm,

    gostava de lecionar. Na msica Singet dem Herrn72 expressa boa parte de suas tcnicas para

    seus alunos. Trata-se de um canto simples que em suas mos torna-se algo fascinante.

    Desconstruindo-o, voc pode ver como Bach levou esta forma musical a outro nvel. (...) provvel que Bach o tenha escrito para treinar seus alunos nas artes das tcnicas

    vocais e tambm na forma musical. Ele mostra quase todas as tcnicas s nesta

    msica, trata-se de uma obra incrvel cheia de surpresas.73

    No fim da msica, Bach surpreende colocando no coro o som de uma de suas mais

    conhecidas fugas: A tocata e fuga em R menor.74 Com este som simples, Bach foi generoso

    em conceder aos seus alunos todas as suas tcnicas, como frequentemente fazia.

    Sem dvida, Bach merece seu destaque por dedicar toda sua maravilhosa obra em glria

    a Deus, em poder dedicar-se exclusivamente composio de hinos sacros e tambm por se

    preocupar com a liturgia do culto, bem como com o calendrio litrgico. Atualmente, raramente

    se cantam seus hinos por serem considerados apenas obras de arte cantadas por coros

    especializados, porm, deseja-se que as comunidades tambm aproveitem do canto de Bach

    para seus cultos, bem como de seus hinos para a liturgia na medida do possvel.

    70 GERINGER, Karl. Johann Sebastian Bach. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. p. 147-150. apud FREDERICO,

    Denise C. S. op. cit. p. 177. 71 FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 178. 72 Cantai ao Senhor. 73 BEALE, Simon Russell. op. cit. Braslia: TV Escola. 13 de Maio de 2013. Programa de TV. A msica pode ser

    encontrada e ouvida em http://www.youtube.com/watch?v=lc14Jv1eTUE (acessado em 28/05/2013). 74 Pode ser encontrada e ouvida em http://www.youtube.com/watch?v=bkUUjUJ4wHg (acessado em 28/05/2013).

  • 21

    3.2. LEGADO LUTERANO

    Em todo o seu delicado trabalho na tarefa de compor hinos, Bach recorria traduo da

    Bblia de Lutero.75 Foi Lutero quem colocou o rgo como parte da liturgia do culto e at hoje,

    em muitos contextos, o rgo continua sendo parte essencial da liturgia luterana. Bach usa esse

    magnfico, gigante e complexo instrumento. Alm dos coros, Bach foi organista por excelncia,

    compondo diversas msicas especficas para rgo, sons estes de excelente beleza e harmonia.

    Algumas das msicas de Bach nada mais so do que reinterpretaes dos hinos de

    Lutero, como nova harmonia, ritmo e melodia. Assim como Lutero, Bach tambm entende que

    importante o canto da comunidade76 e por isso passa sua vida inteira na dedicada tarefa de

    compor hinos sacros. Ele comps hinos para rgo, para coros deixando um grande legado de

    msicas aos luteranos. De suas mais de mil peas, dois teros foram feitos para a Igreja

    Luterana.

    75 Cf. BEALE, Simon Russell. op. cit. Braslia: TV Escola. 13 de Maio de 2013. Programa de TV. 76 Porm, a msica de Bach era difcil de cantar. Somente pessoas experientes e dotadas poderiam conseguir.

  • 22

    4. A MSICA SACRA: CONSELHOS PRTICOS PARA A ATUALIDADE

    A partir deste breve apanhado histrico-teolgico, pode-se ter claras lies para a

    execuo da msica no culto e na liturgia crist. Em todos os perodos, esteve presente a tenso

    entre a utilizao da msica antiga ou da msica moderna. Em todos estes anos, a msica passa

    por transformaes nos mais diversos sentidos, tanto culturais, bem como terico. Porm, a

    histria tambm comprova a importncia da msica no culto e na vida do cristo e ensina que

    a msica no apenas teoria matemtica em sons, mas, arte dada pelo prprio Deus para que o

    ser humano e toda a criao o louvem. A partir disso, podem-se tirar os seguintes conselhos

    prticos para a atualidade:

    1) A partir do relato bblico, especialmente em Gnesis 1-2, e na Reforma Protestante,

    defende-se que todos podem e tem o direito de usarem o flego de vida dado por Deus para

    louv-lo. O louvor no se restringe aos que aparentemente sabem cantar, porm, toda a

    criao e todos os seres humanos so convocados a louvar a Deus.77

    2) O uso de instrumentos musicais no atrapalha o culto, desde que sejam usados de forma

    sbia para louvar a Deus. Porm, deve-se saber que a nfase deve se encontrar na palavra

    cantada e que os instrumentos apenas harmonizam e auxiliam no pronunciamento cantado da

    palavra. No canto gregoriano no era permitido o uso de nenhum instrumento musical, mas,

    somente a voz humana poderia louvar a Deus e nunca um objeto. Porm, deve-se entender que

    isto ocorria pelo fato da nfase estar na palavra. Assim, para a atualidade, afirma-se que os

    instrumentos devem ser usados desde que no abafem a palavra de Deus.

    3) A msica deve ser entoada em amor, caso contrrio, torna-se apenas em algazarra. Em

    1 Co 13.1 fala-se: Ainda que eu fale as lnguas dos homens e dos anjos, se no tiver amor,

    serei como o bronze que soa ou como o cmbalo que retine. Nesta perspectiva, toda msica

    sacra deve ser entoada com amor a Deus e ao prximo, em humildade, servindo a Deus, caso

    contrrio, tal louvor pode ser comparado como apenas algo que faz muito barulho, mas que

    acaba no fazendo diferena nenhuma.

    4) No h motivos especficos para o louvor individual e coletivo, porm, nas mais diversas

    situaes se faze necessrio cantar. Os Salmos ensinam que se pode tanto agradecer por bnos

    recebidas, bem como confessar pecados. No importa a situao em que o cristo se encontra,

    pode ele entoar hinos a Deus conforme aquilo que sente, vive e experimenta na sua vida de f.

    77 Cf. Sl 150.6.

  • 23

    Para tal louvor, podem-se usar os prprios salmos encontrados na Bblia, pois, foram escritos

    em momentos especficos da Histria de Israel e ainda hoje consolam o povo de Deus.

    5) Como maneira de propagao da f, o NT ensina que em meio perseguio e falsas

    doutrinas, possvel louvar a Deus e ao mesmo tempo solidificar a f, bem como, cantar a

    doutrina crist para que outras pessoas tambm creiam.

    6) Lutero, por sua vez, ensina que todos so sacerdotes e que ningum deve ser excludo

    do servio a Deus. No cabem apenas ao pastor os servios, mas tambm comunidade.

    Portanto, a comunidade deve auxiliar tambm no canto, louvando a Deus. Lutero tambm

    ensina os fundamentos do louvor cristo, aqui aplicados a partir dos seus solos.

    7) J Bach ensina que no preciso inovar para a produo de qualidade no louvor, porm,

    o conhecimento das tcnicas e o domnio sobre a msica so mais que suficientes para que o

    louvor seja agradvel tambm aos ouvidos humanos. No se descarta aqui a inovao, porm,

    tambm no se descarta o antigo.

    Tambm se deseja estabelecer alguns critrios que podem auxiliar os grupos de canto

    na escolha dos hinos para o culto ou demais atividades da comunidade.78 A partir da histria,

    ser possvel perceber o que serve como til para a comunidade e o que serve como arte para a

    apreciao:79

    1) A escolha dos hinos precisa enxergar as pessoas da comunidade:80 A partir da anlise

    histrico-teolgica aqui proposta, pode-se notar que por alguns perodos a comunidade era

    impossibilitada de cantar pelos mais diversos motivos. No AT e NT, todos poderiam entoar

    louvores a Deus no importando as circunstncias em que se encontravam e isto com certeza

    serve de paradigma. J o canto gregoriano inclua apenas homens no canto, e estes homens eram

    os bispos, logo, para a atualidade tal estilo permanece apenas como arte. Na reforma, o povo

    ganha novamente a oportunidade de cantar a partir do Sacerdcio Geral de Todos os Crentes.

    Em Bach, porm, o canto era elaborado para a comunidade era complexo e necessitava de

    pessoas muito capacitadas para a sua execuo, por isso, se Bach no for simplificado para

    todos, tambm deve permanecer ento agradando aos ouvidos como arte. Em suma, os hinos

    usados na comunidade devem ser possveis de se cantar em comunidade.

    78 Recomenda-se a leitura de FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 31-35 onde relatado um pouco sobre a histria

    do hinrio HPD I da IECLB onde tambm houve critrios para a seleo dos hinos. 79 Os tpicos trazidos tm sua base no livro de FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 309-386, embora nem

    todos os critrios estejam citados. 80 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 308-326.

  • 24

    2) A escolha dos hinos precisa enxergar a Teologia de culto que a comunidade possui:81

    Quando se fala de Teologia do culto, prope-se que se faa uma anlise de quais os objetivos e

    quais os elementos ele possui na comunidade. Lutero quem prope uma clara teologia do

    culto e uma teologia do canto. Para ele, o lugar da msica est na adorao, na devoo e na

    educao. Por isso, faz-se necessrio que os presbteros elaborem com o obreiro qual a teologia

    de culto daquela comunidade especfica para que os grupos de canto possam ter um

    direcionamento, pois, a msica sacra no tem uma existncia autnoma82, mas, apenas existe

    dentro da Teologia.

    3) Deve-se respeitar a histria da comunidade:83 As comunidades crists possuem duas

    histrias: a histria individual e a histria no todo da Igreja. Acredita-se que ambas devem ser

    destacadas na escolha dos hinos, mas principalmente a histria local. A localidade da

    comunidade possui pessoas de vrias faixas etrias e isto conta muito, pois, com eles est a

    bagagem hinolgica da comunidade. Muitos hinos sofreram os testes do tempo e foram

    aprovados84 sendo cantados at os dias de hoje, outros, porm, possuem letras teologicamente

    boas, mas encontram-se guardados nos bas dos hinrios. Defende-se que os grupos de cantos

    devem analisar as faixas etrias presentes na comunidade, bem como, a histria hinolgica nela

    presente. Precisa-se olhar para trs e saber que antes do presente h um passado rico a ser

    explorado.

    4) A escolha dos hinos deve se encaixar na liturgia:85 comum ver em muitas comunidades

    grupos de louvor entoando hinos com um tema e o obreiro pregando outro tema. Conforme o

    contexto denominacional, deve-se analisar o estilo de liturgia utilizado na comunidade e

    procurar encaixar hinos que combinem com ela. Este foi um dos primeiros passos da reforma

    de Lutero: adequar a liturgia ao contexto cultural onde a Igreja estava localizada S atravs

    desse ajuste que foi possvel determinar que tipos de cantos seriam usados.86

    81 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 326-336. 82 FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 324. 83 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 336-342. 84 FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 339. 85 Cf. FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 352-362. 86 FREDERICO, Denise C. S. op. cit. p. 353.

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    CONCLUSO

    Confessa-se que elaborar tamanha pesquisa no foi algo to fcil, pois, expressar o

    denso contedo em poucas pginas foi um grande desafio. Aprendeu-se a filtrar o necessrio.

    Quando se olha para trs, pode-se planejar para frente. Com esta viso, olhar para a

    histria da msica no de maneira alguma perda de tempo, mas ela tem muito a ensinar ao

    homem atravs de sua experincia emprica. Percebeu-se a necessidade e a tenso entre

    permanecer no modo como sempre foi feito (tradio) ou partir para aquilo que moderno

    (inovao). Esta tenso existe desde o perodo do Antigo Testamento e torna-se evidente ainda

    nos dias de hoje.

    A histria ensina que h caminhos bons a serem seguidos e outros nem tanto. No existe

    maior premissa que possa ajudar na prtica do que a histria. Quando se olha para trs, podem-

    se ver falhas, logo, o futuro construdo tentando evitar que tais erros aconteam novamente.

    Este trabalho ps mesa vrias cenas da histria com seus estilos msicas e tambm

    possveis problemticas, porm, cabe ao leitor decidir o que lhe proveitoso disto tudo. A partir

    da histria, foram vistos conselhos prticos para o canto na comunidade e nisto se aprende em

    primeiro lugar que a histria sempre possui algo para ensinar e que tal ensino se aplica

    primeiramente na prtica. Aprendeu-se tambm que a histria deve fazer parte da comunidade,

    pois no h apenas uma faixa etria na comunidade e mesmo que assim fosse os gostos iriam

    variar da mesma forma.

    Portanto, conclui-se o presente trabalho, a partir da histria trazida, que no existe um

    nico padro a ser seguido, porm, so vrios os modelos existentes. Por isso, cabe a

    comunidade definir os critrios que podem auxiliar na sua hinologia a partir daquilo que aqui

    j foi trabalhado. Antes de tudo, cr-se que as nicas coisas que definitivamente no podem

    sofrer alteraes so os fatos de o hino ser dedicado como louvor a Deus e a preservao da

    histria da hinologia da comunidade, no a fechando, mas, deixando-a aberta ao novo.

    Que o caro leitor possa ter discernimento em sua prtica de louvor na comunidade e que

    Deus abenoe seu ministrio dando-o o dom de ver e ouvir o som natural da criao, bem como

    estar atento s questes quanto histria, tradio, liturgia e pessoas da sua comunidade.

  • 26

    REFERNCIAS

    ADORAO E ADORADORES. Disponvel em http://letras.mus.br/adoracao-e-

    adoradores/225173. (acessado em 28/05/2013).

    BBLIA. Portugus. Traduo de Joo Ferreira de Almeida. Revista e atualizada no Brasil. 2.

    ed. So Paulo: Sociedade Bblica do Brasil, 2010.

    CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos. 3. ed. So Paulo: Vida Nova, 2008.

    CARDOSO, Walmir Thomazi. ACERVO. Braslia: TV Escola. 13 de Maio de 2013. Programa

    de TV.

    DREHER, Martin N. Bblia: suas leituras e interpretaes na histria do cristianismo. So

    Leopoldo: CEBI: Sinodal, 2006.

    Evangelische Gesangbuch (Hinrio Evanglico em alemo. Sem mais detalhes na referncia

    bibliogrfica).

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    HGGLUND, Bengt. Histria da Teologia. Porto Alegre: Concrdia, 2003.

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    Vida Nova, 2010.

    IECLB. Hinos do Povo de Deus. 24. ed. So Leopoldo: Sinodal, 2008

    LINDBERG, Carter. Reformas na Europa. So Leopoldo: Sinodal, 2001.

    MEUC. Vamos Todos Cantar. 4. ed. So Bento do Sul: Unio Crist, 2010.

    RSEL, Martin. Panorama do Antigo Testamento. So Leopoldo: Sinodal/EST, 2009.

  • 27

    SCHALK, Carl F. Lutero e a msica. So Leopoldo: Sinodal, 2006.

    VILLA-LOBOS, Heitor. "Educao Musical". Boletim Latino Americano de Msica. abril

    de 1946.

    WESTPHAL, Euler Renato. Lutero - Reforma: 500 anos. Jornal Evanglico Luterano. So

    Leopoldo, p. 8 - 9, 02 ago. 2012.