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A FIBRA DA FOLHA DE CARNAÚBA E A SUA DEGRADAÇÃO
Aluna: Maria Barreto Miranda
Orientador: Fernando Betim
Introdução
O objetivo da pesquisa é estudar, compreender, relatar e confirmar as alterações que
ocorrem ao colocar fibras da folha de carnaúba em soluções diferentes, com o intuito de
buscar alternativas para substituir as fibras sintéticas. As fibras sintéticas, tais como o papel,
são usadas em diversos produtos, como é o caso da fabricação de chapéus, uma vez que não
existem fibras naturais de cor branca. Dessa forma, o real objetivo dessa pesquisa é conseguir
um modo de alterar a coloração das fibras de carnaúba, sem a utilização de tintas, de maneira
que a fibra seja clareada, substituindo o uso de fibras sintéticas.
Com essa finalidade, foram feitos quatro experimentos, onde as fibras eram
mergulhadas em soluções por um período de tempo. Após o término de duração, foram
relatadas as diferenças de coloração, odor e textura de cada meio e de confirmação das
alterações.
Carnaúba
A palavra “Carnaúba” é derivada da língua indígena tupi e significa literalmente “a
árvore que arranha”. Essa designação foi conferida em razão da camada espinhosa que cobre
a parte mais baixa do tronco. A planta possui diversas variações gráficas, tais como carnaíba,
carandaúba, carnaba, carnahyba, caranaíba e carnaúva.
Seu nome cientifico de Copernicia prunifera só foi definido em 1963 por Moore.
Antigamente, em 1810, ela era conhecida por Corypha cerifera. Em 1838, Martins definiu
como Copernicia cerifera.
Sob condições normais, hipótese em que as folhas não são colhidas, o crescimento
médio da Carnaúba é de trinta centímetros ao ano (Kitzke, 1954). O número de folhas
produzidas por árvore em cada ano é da ordem de 45 a 60. As indicações demonstram que
ocorre a queda natural das folhas após transcorrer, aproximadamente, um ano de sua
emergência. A copa é constituída, portanto, de folhas de um ano de idade e mais novas.
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Notou-se também que os comprimentos dos pecíolos aumentam na medida em que a árvore se
torna mais alta e mais velha (Kitzke, 1954).
Estima-se que a duração de vida de uma carnaubeira chega até 200 anos. No entanto, é
mais razoável o cálculo de 75 anos, segundo Kitzke. Além disso, apesar de não existirem
cálculos quantitativos que confirmem os dados, as colheitas continuadas podem causar a
interrupção do envelhecimento e prolongar a duração da vida da árvore.
Atualmente, sabe-se que existe quatro variedades da carnaúba. Por mais que a carnaúba
seja apresentada em grande em escala, comparada as demais, elas possuem as suas
peculiaridades. A carnaúba branca se distingue pela forma de sua copa e é bem conhecida
pelo seu uso medicinal. A carnaúba gigante, por sua vez, se diferencia pela sua altura de até
quinze metros de altura. Além disso, existem carnaúbas de “folhas grandes” e “folhas
pequenas”. Dentro do gênero Copernicia, há um total de 28 espécies correlatas, representadas
na América do Sul e nas Índias Ocidentais.
Figura 1. Carnaúba
http://www.viveirodemudas.com/mudas-palmeiras.html
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Distribuição Geográfica Natural no Brasil
Em 1961, Dahlgren e Glassman fizeram um mapa de distribuição da Copernicia
prunifera. Neste mapa, é possível visualizar que há uma predominância de carnaubeira nos
estados do Piauí e Ceará, enquanto que, os estados do Rio Grande do Norte, Maranhão,
Paraíba e Bahia contribuem com o restante da produção. Já a presença de carnaúba em Goiás
e Minas Gerais representam parte pouco relevante a produção brasileira.
Figura 2. Mapa do Nordeste Brasileiro
http://alexandresousagomes.blogspot.com.br/2014/11/quando-o-nordeste-lutou-para-se-separar.html
O Meio Físico
O meio físico onde vive a carnaúba impede o crescimento de quase todas as outras
árvores, devido ao seu tamanho e ao fato de ela crescer em aglomerados uniformes que
confere uma aparência distinta ao cenário local, principalmente durante a estação de seca. O
fato de a carnaúba poder viver por longas estações de seca, sem qualquer inconveniência
aparente, é motivo de satisfação para os residentes dos sertões. A carnaúba está intimamente
adaptada a seu habitat nativo, no que diz a respeito da temperatura, pois quase não tolera o
clima extremamente frio.
A carnaúba se concentra principalmente nos vales dos rios. Em altitude, esses vales
oscilam do nível do mar até aproximadamente quinhentos metros. Os vales dos rios do
Nordeste brasileiro, especialmente os da costa norte, são amplos e têm extensas planícies
inundadas as quais permanecem submersas por alguns meses do ano. A carnaúba apresenta-se
ligeiramente afetada por esta inundação, devido à proporção de argila que aumenta, tornando-
se, predominante, durante esse período. A planta se adapta melhor aos solos aluviais perto dos
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principais canais de rios que são menos densos à medida que aumenta a quantidade de argila
nos solos.
O solo do Nordeste é, em termos gerais, derivado de granito e gnaisses, geralmente
pouco profundos e sendo bem férteis em algumas áreas. Já nas planícies inundadas, Gomes
(1945) descobriu que nas partes mais baixas do vales predominavam solos arenoso-argiloso.
Figura 3.Plantio de Carnaúba
https://blogdajor72.wordpress.com/2011/10/21/exercicio-nariz-de-cera-isaac-e-italo/
Plantio da Carnaúba
O plantio da Carnaúba é feito, tradicionalmente, por sementes no início da estação
chuvosa. A taxa de germinação e de sucesso de tais plantações depende consideravelmente da
adequada precipitação pluviométrica durante os dois primeiros anos. Pesquisas feitas sobre a
taxa de germinação de sementes, plantadas diretamente no campo, indica que se pode esperar
uma taxa de 60% a 70% (Prata, 1963), no qual as plantações novas apresentam falhas devido
a não germinação ou a morte da plantação jovem.
É prática comum a cultura de subsistência entre as fileiras de carnaúba. Esse
procedimento pode ser feito normalmente por 3 a 4 anos, dependendo do espaçamento entre
as fileiras e a altura que a planta pode chegar que faça sombra para as plantações de feijão,
arroz, algodão e mandioca.
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O intervalo entre o plantio e a primeira colheita das folhas de carnaúba varia
dependendo do tipo de solo e das precipitações pluviométricas. O uso de fertilizante e de
irrigação não são práticas normais no cultivo da carnaúba. As plantas adultas estão bem
adaptadas ao regime de chuvas, e a única possível justificativa para irrigação seria uma seca
durante o período de crescimento das plantas jovens. O principal cuidado do dono da
plantação é proteger as plantas jovens contra a pastagem de animais, fogo, matagal e ervas
daninhas.
Enquanto a maior parte do plantio de carnaúba ainda é feito pela plantação de
sementes diretamente no campo, existem experiências realizadas na Fazenda Raposa que
mostram outra forma eficaz de plantio. Esta se baseia no plantio da semente em viveiros e, em
seguida, ocorre o transplante daquelas plantas mais robustas para o campo. Notou-se também
que a adição de adubo proporcionava maior fonte inicial de nutrição e ajudava a acumulação
de água.
Funções que a Carnaúba pode atribuir
A carnaúba tem sido usada para obtenção de tantas variedades de produtos que já se
diz que o homem pode viver inteiramente de sua dependência. Denis (1937) deu-lhe alcunha
de “árvore da vida”.
-Uso medicinal: As raízes são usadas no preparo de depurativos e diuréticos para o
tratamento de pele entre outras coisas (Braga, 1960). As raízes fazem parte da medicina
popular do Nordeste brasileiro até os dias atuais.
-Fonte de Alimento: O fruto é utilizado como alimento humano durante as épocas de
fracasso nas colheitas. Além disso, as sementes produzem óleo comestível, por mais que não
seja viável uma extração comercialmente lucrativa. O palmito e as raízes também são
comestíveis, sendo o segundo ser um substituto do sal.
-Fonte de Madeira: O tronco da carnaúba serve para a construção de currais, vigas de
sustentação de teto de todo tipo de estrutura, cata-ventos e prensas para mandioca. São
resistentes ao cupim e outros insetos. Além de ter uma duração ilimitada se conservada a seco.
É resistente ao apodrecimento em água salgada, sendo viável para a construção de pontes e
estancamentos para docas.
-Fontes de Fibras: As folhas de carnaúba são usadas há muito tempo para a confecção
de chapéus, cestas, abanadores, vassouras, esteiras, cordas, redes e uma porção de outros
apetrechos de uso doméstico.
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As folhas novas são usadas para cestos e chapéus de fina qualidade. Já as folhas velhas
servem de apetrechos mais rústicos. Entre as folhas usadas, que foi extraída a cera pelo
método manual tradicional, pode-se fabricar qualquer um desses produtos. Em certa época,
era considerável a venda desses produtos. No fim do século XIX, exportavam-se as fibras
para a Europa, onde eram utilizadas como enchimento de colchões, estofamento de mobílias e
fabricação de chapéus, cestas e escovas.
Durante a época do corte da folha de carnaúba havia geralmente mais folhas
disponíveis do que o necessário, nestes casos, as folhas usadas eram espalhadas pelo campo
para evitar o crescimento de ervas daninhas e retardar a perda de umidade do solo.
O pecíolo da folha tem vários usos próprios, como: rolha de garrafa, cabos de
vassouras e “trancas” para portas e janelas em casas de taipa.
Figura 4.Vassouras feitas da fibra
http://www.portalopovo.com.br/noticia_detalhe.php?id=10812
Materiais
- Fibras da folha de carnaúba natural (sem a presença de produtos químicos)
-Claras de Ovo
-Vinagre
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-Água Oxigenada
-Água
-Potes de Vidro sem tampa
Métodos experimentais
A. Degradação da fibra em diferentes meios
Para este experimento, foram quatro recipientes de vidro sem tampa, sendo um com
meio neutro (água, PH=7,0), outro com meio básico (clara de ovo, PH = 8,0) =, outro com
meio ácido (vinagre de maçã verde, PH = 2,76) e por fim um com solução de água oxigenada.
Em cada recipiente foram mergulhados pedaços de fibras de folha de carnaúba (sem a presença
de produtos químicos) e uma quantidade foi armazenada para fazer o controle após o
experimento. Com isso feito os recipientes foram deixados por 24 horas em temperatura
ambiente em local com incidência de luz solar. Ao final do tempo previsto, as fibras foram
colocadas em papel toalha durante 2 horas para que estas fossem comparadas com as fibras de
controle de forma seca, para que a umidade não seja um fator na alteração da coloração.
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Figura 5. As soluções (clara de ovo, água, vinagre e água oxigenada) com as fibras.
Figura 6. Os pedaços de fibra utilizados antes do experimento.
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Figura 7. As fibras imersas em suas soluções.
Resultados e Discussão
Degradação da fibra em diferentes meios
Após o experimento, conclui-se que a partir do pH não foi viável realizar o
clareamento do pedaço de fibra. Todos apresentaram um escurecimento da fibra.
Entretanto, foi possível visualizar que quanto mais básico é o meio, mais escura a
fibra se torna.
Ao realizar o mesmo experimento, no entanto com a água oxigenada sendo a
solução da vez, foi perceptível que houve um clareamento da fibra. Porém, não foi
viável o clareamento ideal para ser uma alternativa das fibras sintéticas. Uma
solução viável para esse problema é aumentar o tempo de descanso da fibra no
meio. Caso, esse não seja eficaz, é necessário buscar outras alternativas.
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Além disso, foi visto que a fibra retém o odor de sua solução, logo ao buscar
alternativas para a coloração da fibra é necessário enfatizar a questão de mudança
no odor das fibras. Outro aspecto importante, é a questão da textura, uma vez que,
ao colocar no meio de claras de ovos, a fibra mudou sua textura, ficando mais
aderentes entre uma e outra.
Em comparação com as fibras do controle:
Meio Coloração Textura Odor
Clara de Ovo (Básico) Escureceu As fibras ficaram aderentes Odor de clara de ovo
Água (Neutro) Escureceu Não houve mudança Não houve mudança
Vinagre (Ácido) Escureceu Não houve mudança Odor forte de vinagre
Água Oxigenada Clareou Não houve mudança Não houve mudança
Tabela 1. Resultados da degradação das fibras
Figura 9. Fibra original e após a solução em clara de ovo.
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Figura 10. Fibra original e após a solução em água.
Figura 11. Fibra original e após a solução em vinagre.
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Figura 12. Fibra original e após a solução em água oxigenada.
Referências Bibliográficas 1) Forzza, R.C.; Costa, A.; Siqueira Filho, J.A.; Martinelli, G.; Monteiro, R.F.; Santos-Silva, F.; Saraiva, D. P.; Paixão-Souza, B.; Louzada, R.B.; Versieux, L. Bromeliaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 30 Jul. 2014. 2) FERREIRA , Gilvania de S. Uso de película de fécula de mandioca e cera de carnaúba na conservação pós-colheita de pimentão. 3) VICENTINI, N.M.; CEREDA, M.P.; CÂMARA, F.L.A. 1999. Revestimento de fécula de mandioca, perda de massa e alteração de cor de frutos de pimentão. Scientia Agrícola, Piracicaba, v.56, n.3, p.713-716. 4) Banco do Nordeste do Brasil. Departamento de Estudos Econômicos do Nordeste.A carnaubeira e seu papel como uma planta econômica.1987