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51 setembro/September 2013 - Revista O Papel Technical Article / Peer-reviewed Article O PAPEL vol. 74, num. 9, pp. - SEP 2013 A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA SUL-AMERICANA DE CELULOSE E PAPEL: FOCO NO BRASIL, CHILE E URUGUAI 1 Autor*: Maria Barbosa Lima-Toivanen 2 * Referências do autor: VTT – Technological Research Centre of Finland, Espoo, Finland. - E-mail: [email protected] 1. Este artigo se baseia em Lima-Toivanen (2012). 2. A autora deseja agradecer à Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) por permitir o acesso virtual a seu Núcleo de Informações Técnicas, e à Risiinfo, pelo compartilhamento de dados sobre as produções dos países, embora estas instituições não sejam responsáveis pela utilização de qualquer uma das informações fornecidas ou às quais permitiram acesso. INTRODUÇÃO Investimentos em tecnologia, para obter maior produção de, so- bretudo, plantações de eucaliptos, são uma das principais razões para se procurar conhecer a evolução da indústria de celulose e papel na América do Sul. A região emergiu como um fabricante de categoria mundial de alta qualidade - principalmente de celulose de madeira de fibra curta de eucalipto - e através de padrões de cultivo muito produtivos e liderança em custos e produtividade, embora a sua história seja recente, remontando a meados do século XX. Três países, Brasil, Chile e Uruguai, principalmente, investiram na indús- tria, merecendo que se discorra sobre eles mais detalhadamente. Es- ses três países são casos bem-sucedidos, diferentes de outros países da região, que potencialmente têm as mesmas vantagens comparati- vas - recursos naturais semelhantes - como a Argentina, a Colômbia e a Venezuela (Katz et al., 1999). A evolução da ICP (indústria de celulose e papel) na Améri- ca do Sul está vinculada a tendência presente em economias latino-americanas, a de se distanciar de industrialização para subs- tituição de importações e se direcionar para a produção em larga escala e a exportação de commodities industriais a partir da disponi- bilidade de recursos naturais (Herbert-Copley, 1998). A expansão dos investimentos na ICP da América Latina está direcionada a mercados externos e usa basicamente florestas plantadas de Pinus radiata e de Eucalyptus como matérias-primas. A introdução destas duas es- pécies, exógenas à América Latina, foi objeto de muita condenação, assim como de muita apreciação (Toivanen e Lima-Toivanen, 2009; Lima-Toivanen e Mikkilä, 2006). Com referência ao desenvolvimento tecnológico e ao rendimento de produção, a ICP na América do Sul se tem desenvolvido de modo pouco uniforme. Comum a quase todos os países é o fato de a In- dústria ter-se beneficiado de políticas governamentais que impulsio- naram o reflorestamento, com base em espécies de alto rendimento, sobretudo para utilização na produção de celulose. Portanto, a região se tornou muito atraente para o investimento estrangeiro, e a sua história é considerada como uma experiência bem-sucedida no que se refere à produção de celulose de mercado. Tal sucesso é resultado de uma combinação de vantagens em termos de recursos naturais, políticas promocionais, melhorias nos níveis de produtividade, devi- do a investimento de capital novo e à escala crescente das fábricas (Herbert-Copley,1 998), e a inovação no cultivo e gerenciamento flo- restal (Toivanen e Lima-Toivanen, 2009). Durante o final da década de 1980 e início da de 1990, investi- mentos no setor florestal se basearam principalmente em investi- mento doméstico direto. A partir da abertura de muitas das econo- mias latino-americanas, o investimento estrangeiro direto começou a desempenhar um papel mais significativo. Por motivos estratégicos referentes a manutenção do fornecimento de fibras, o investimento estrangeiro direto, assim como empresas locais, optou pelo estabele- cimento de negócios de maneira verticalmente integrada, iniciando pelas plantações de florestas, que têm sido decorrência de políticas governamentais de incentivo. Está previsto que a região aumente sua área de florestas plantadas de 12,5 milhões de hectares, em 2006, para 17,3 milhões em 2020 (FAO, 2009). Devido à disponibilidade de terras adequadas e de um clima favorável ao investimento, a América do Sul manterá sua vanta- gem competitiva em silvicultura de plantio, bem como em produção de celulose, tendo em vista os investimentos feitos recentemente. A seguir, uma abordagem por país, demonstrando como a indús- tria se desenvolveu no Brasil, no Chile e no Uruguai, embora não pre- tenda ser um relato completo dessa evolução. Numa série contínua do grau de desenvolvimento realizado em tecnologias da indústria e da silvicultura, os países citados poderiam ser classificados como baixo - caso do Uruguai -, médio - caso do Chile -, até alto, caso do Brasil. Os casos de Chile e Brasil são discutidos mais detalhada- mente, enquanto o do Uruguai é usado como exemplo de desafios contemporâneos com que a indústria, especialmente o investimento estrangeiro direto, poderá se defrontar na região. A ICP no Chile A ICP chilena está intensamente orientada para a exportação, no- tadamente a de celulose e papel-jornal. A fabricação de produtos de papel de maior valor agregado é menos importante, e a indústria doméstica de máquinas e equipamentos para fabricação de papel é relativamente fraca, comparativamente a padrões internacionais (Herbert-Copley, 1998). Apenas dois grupos - Angelini e Matte - do-

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51setembro/September 2013 - Revista O Papel

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O PAPEL vol. 74, num. 9, pp. - SEP 2013

A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA SUL-AMERICANA DE CELULOSE E PAPEL: FOCO NO BRASIL, CHILE E URUGUAI1

Autor*: Maria Barbosa Lima-Toivanen2

* Referências do autor:VTT – Technological Research Centre of Finland, Espoo, Finland. - E-mail: [email protected]

1. Este artigo se baseia em Lima-Toivanen (2012).

2. A autora deseja agradecer à Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) por permitir o acesso virtual a seu Núcleo de Informações Técnicas, e à Risiinfo, pelo compartilhamento de dados sobre as produções dos países, embora estas instituições não sejam responsáveis pela utilização de qualquer uma das informações fornecidas ou às quais permitiram acesso.

INTRODUÇÃOInvestimentos em tecnologia, para obter maior produção de, so-

bretudo, plantações de eucaliptos, são uma das principais razões para se procurar conhecer a evolução da indústria de celulose e papel na América do Sul. A região emergiu como um fabricante de categoria mundial de alta qualidade - principalmente de celulose de madeira de fibra curta de eucalipto - e através de padrões de cultivo muito produtivos e liderança em custos e produtividade, embora a sua história seja recente, remontando a meados do século XX. Três países, Brasil, Chile e Uruguai, principalmente, investiram na indús-tria, merecendo que se discorra sobre eles mais detalhadamente. Es-ses três países são casos bem-sucedidos, diferentes de outros países da região, que potencialmente têm as mesmas vantagens comparati-vas - recursos naturais semelhantes - como a Argentina, a Colômbia e a Venezuela (Katz et al., 1999).

A evolução da ICP (indústria de celulose e papel) na Améri-ca do Sul está vinculada a tendência presente em economias latino-americanas, a de se distanciar de industrialização para subs-tituição de importações e se direcionar para a produção em larga escala e a exportação de commodities industriais a partir da disponi-bilidade de recursos naturais (Herbert-Copley, 1998). A expansão dos investimentos na ICP da América Latina está direcionada a mercados externos e usa basicamente florestas plantadas de Pinus radiata e de Eucalyptus como matérias-primas. A introdução destas duas es-pécies, exógenas à América Latina, foi objeto de muita condenação, assim como de muita apreciação (Toivanen e Lima-Toivanen, 2009; Lima-Toivanen e Mikkilä, 2006).

Com referência ao desenvolvimento tecnológico e ao rendimento de produção, a ICP na América do Sul se tem desenvolvido de modo pouco uniforme. Comum a quase todos os países é o fato de a In-dústria ter-se beneficiado de políticas governamentais que impulsio-naram o reflorestamento, com base em espécies de alto rendimento, sobretudo para utilização na produção de celulose. Portanto, a região se tornou muito atraente para o investimento estrangeiro, e a sua história é considerada como uma experiência bem-sucedida no que se refere à produção de celulose de mercado. Tal sucesso é resultado de uma combinação de vantagens em termos de recursos naturais, políticas promocionais, melhorias nos níveis de produtividade, devi-

do a investimento de capital novo e à escala crescente das fábricas (Herbert-Copley,1 998), e a inovação no cultivo e gerenciamento flo-restal (Toivanen e Lima-Toivanen, 2009).

Durante o final da década de 1980 e início da de 1990, investi-mentos no setor florestal se basearam principalmente em investi-mento doméstico direto. A partir da abertura de muitas das econo-mias latino-americanas, o investimento estrangeiro direto começou a desempenhar um papel mais significativo. Por motivos estratégicos referentes a manutenção do fornecimento de fibras, o investimento estrangeiro direto, assim como empresas locais, optou pelo estabele-cimento de negócios de maneira verticalmente integrada, iniciando pelas plantações de florestas, que têm sido decorrência de políticas governamentais de incentivo.

Está previsto que a região aumente sua área de florestas plantadas de 12,5 milhões de hectares, em 2006, para 17,3 milhões em 2020 (FAO, 2009). Devido à disponibilidade de terras adequadas e de um clima favorável ao investimento, a América do Sul manterá sua vanta-gem competitiva em silvicultura de plantio, bem como em produção de celulose, tendo em vista os investimentos feitos recentemente.

A seguir, uma abordagem por país, demonstrando como a indús-tria se desenvolveu no Brasil, no Chile e no Uruguai, embora não pre-tenda ser um relato completo dessa evolução. Numa série contínua do grau de desenvolvimento realizado em tecnologias da indústria e da silvicultura, os países citados poderiam ser classificados como baixo - caso do Uruguai -, médio - caso do Chile -, até alto, caso do Brasil. Os casos de Chile e Brasil são discutidos mais detalhada-mente, enquanto o do Uruguai é usado como exemplo de desafios contemporâneos com que a indústria, especialmente o investimento estrangeiro direto, poderá se defrontar na região.

A ICP no ChileA ICP chilena está intensamente orientada para a exportação, no-

tadamente a de celulose e papel-jornal. A fabricação de produtos de papel de maior valor agregado é menos importante, e a indústria doméstica de máquinas e equipamentos para fabricação de papel é relativamente fraca, comparativamente a padrões internacionais (Herbert-Copley, 1998). Apenas dois grupos - Angelini e Matte - do-

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minam a indústria, sendo bastante poderosos, pois também possuem importantes investimentos em vários outros setores econômicos, as-sim como influência política no País. Na ICP detêm posição domi-nante, a saber: celulose e madeira serrada de pinho, os principais produtos exportados pelo setor (Fazio, 2000).

O estudo da ICP chilena pode ser explicado pelo seu sucesso em explorar suas vantagens comparativas para a produção de madeira de construção, pelas reformas econômicas do governo visando atrair investimento privado para o setor e pela introdução de incentivos ao plantio de árvores, por um custo de mão de obra inferior à média inter-nacional, pela capacidade da indústria de adaptar-se a forças de mer-cado internacionais, pela proximidade de transporte por hidrovias e por um conjunto de gestores bem treinado, capaz de definir estratégias comerciais baseadas em vantagens locais e oportunidades externas (Borregaard et al., 2008; Gonzáles, 2005, in Catalán e Cozzens, 2009). A despeito de seu sucesso, não houve a formação de uma cadeia pro-dutiva complexa, uma rede Industrial ou importantes interações entre os atores e componentes do espaço sócio-produtivo (Katz et al., 1999).

O surto de crescimento orientado para a exportação no Chile, du-rante as três últimas décadas, até o final da década de 1990, é co-mumente atribuído a rigorosas políticas de laissez-faire: estabilidade macroeconômica, evitação de taxa de câmbio excessivamente alta e a eliminação de barreiras comerciais. Estes foram fatores cruciais, mas que não podem ser isolados do papel do governo na promoção de um crescimento orientado para a exportação já anterior a 1973, e das políticas que fomentaram e sustentaram o crescimento das exportações (Herbert-Copley, 1998).

A indústria florestal desenvolveu-se no Chile graças à introdução de duas espécies de árvores exóticas para regenerar terras do país que estavam degradadas devido ao cultivo intensivo de cereais: pi-nheiro (Pinus radiata) e eucalipto (Eucalyptus globulus e Eucalyptus nitens). Estas duas espécies compõem cerca de 70% das plantações florestais do Chile. Pinus radiata, também conhecido por Monterrey pine, foi introduzido no Chile procedente da Califórnia, em fins do sé-culo XIX, sem qualquer aplicação industrial planejada, e foi um gol-pe de sorte. Foi Arturo Junge, alemão de origem, proprietário de um parque em Concepción, Chile, e que estava realizando experimentos com muitas coníferas americanas, recebeu por engano um lote de Pinus radiata. Devido ao fato de que esta espécie crescia mais rapi-damente do que as que havia encomendado adquiriu uma quantida-de maior das mesmas. O empresário florestal alemão Conrad Peters, impressionado pelo rendimento da espécie decidiu adotar a planta como fonte de escoras em minas, em operações da mineração de carvão, na Zona de Coronel y Lota, na Região XIII. Entre 1907 e 1912 plantou 400 ha de Pinus radiata, a primeira plantação industrial do Chile. Por volta de 1865 foram introduzidas no Chile as primeiras árvores de eucalipto. A espécie Eucalyptus globulus foi plantada ao longo de paddocks nas regiões agrícolas do Chile Central (Morales, 2003). O extenso cultivo do eucalipto foi introduzido na década de

1960, seguido por experiências com outras espécies de menor impor-tância (Luraschi, 2007).

A primeira companhia de papel instalada no Chile, no ano de 1920, foi a Papeles Cordillera de propriedade da Campañia Manu-facturera de Papeles y Cartones S.A. (CMPC). Empresa criada pela fu-são entre a Comunidad Fábrica de Cartón, estabelecida em 1918 por Luís Matte Larrain, um empresário local, e a fábrica de papel e pa-pelão La Esperanza, de propriedade da empresa alemã Ebbinghaus (Encyclopedia of Business, 2003 [Enciclopédia Comercial, 2003]). A Papeles Cordillera tinha capacidade inicial de 2.200 t/ano de papéis de embalagem e de papelão produzidos por duas máquinas de pa-pel. Já por aquela época foi implantado um estilo de austeridade e reinvestimento na empresa. Em 1923, investimentos em maquinaria e instalações elevaram a capacidade da empresa em 50%. O objetivo da CMPC era de suprir a demanda chilena de todos os tipos de papel (CMPC, 2011). A evolução da indústria pode ser acompanhada nos períodos subsequentes.

Instituição dos fundamentos da silvicultura e da ICP no Chile: 1931–1973

Este período abrange desde o desenvolvimento de plantações ao estabelecimento das primeiras empresas e até os acordos institucio-nais que financiaram a indústria. O governo desempenhou o papel principal até mesmo no caso de o setor privado estar se opondo a algumas de suas iniciativas. Os fundamentos da indústria tiveram iní-cio em 1931, quando foi sancionada a Lei da Silvicultura de N° 4363. Esta lei tratava de aspectos ambientais de operações florestais e da definição de terras florestais, sendo uma primeira tentativa de pro-mover a silvicultura de plantio permitindo isenção de impostos sobre terras declaradas florestais por período de 30 anos (Morales, 2003). Além disso, foram dispostos outros instrumentos de regulamentação (sobre tipologia florestal e exploração de floresta nativa), as primei-ras escolas de engenharia florestal3 foram fundadas na década de 1950, e foram estabelecidas duas instituições de serviços florestais (INFOR e CONAF) (Donoso e Otero, 2005).

O governo agiu promovendo diretamente a ICP, principalmente en-tre a década de 1940 e 1973; as suas políticas propuseram uma inter-venção protecionista contra competição externa impondo altos impos-tos sobre importações de produtos florestais, concedendo benefícios sobre importações de maquinários, proibindo a exportação de madeira bruta e o abate de florestas jovens (Carmona e Garretón, 2004) e re-alizou a maior parte do reflorestamento e das atividades de pesquisa (Carmona e Garretón, 2004). Após esse período, de 1974 em diante a política se tem caracterizado mais por ação promocional indireta.

A CORFO, Corporación de Fomento de la Producción, fundada em 1939, desempenhou um papel essencial na promoção do setor flo-restal e indústrias associadas (Luraschi, 2007; Katz et al., 1999). Em 1942, com base em resultados obtidos por peritos florestais norte--americanos contratados para avaliar a utilização potencial da floresta

3 As duas escolas foram estabelecidas na Universidad de Chile e na Universidad Austral de Chile. Elas foram fundamentais para a criação dos acordos institucionais e da indústria florestal do Chile (Donoso e Otero, 2005).

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chilena em operações industriais, a CORFO estabeleceu o Plano de De-senvolvimento do Setor Florestal, que incluiu a instalação de serrarias permanentes, uma planta química para o processamento de celulose de fibra longa, uma planta de placas de fibras de madeira e uma planta de impregnação de madeira (Katz et al., 1999). Contudo, o Plano de Desenvolvimento do Setor Florestal não recebeu apoio do setor pri-vado. Principalmente no caso da planta de celulose, a CMPC, a única empresa que poderia ter assumido o empreendimento, considerou-o arriscado demais. Exigia-se da planta proposta que suprisse primeira-mente o mercado interno como meio de implementar uma estratégia de substituição de importações (à época, quase toda a celulose era importada da Suécia e da Finlândia). A CMPC, todavia, estava ima-ginando uma planta de média a alta capacidade, ao contrário dos padrões globais da época. O papel da CORFO na negociação com o Banco Mundial para a obtenção de recursos financeiros foi decisivo no sentido de levar a CMPC4 a construir a planta de celulose Laja e a planta de papel-jornal Bío Bío em meados da década de 1950 (Her-bert-Copley, 1998; Katz et al., 1999). Com a mobilização e o apoio da CORFO, outras plantas e empresas foram construídas, tais como a planta de papel-jornal Inforsa, a planta de impregnação de madeira Impregna, a Forestal Pilpilco, a Laminsa, a Masisa (tábuas de madeira) e as iniciativas principais: a construção das plantas de celulose de fibra longa Arauco e Constitución (Katz et al., 1999).

O Estado ficou diretamente envolvido com as plantações através da CONAF, Corporación Nacional Forestal, criada em 1970 como Cor-poração de Reflorestamento, vinculada ao Ministério da Agricultura. Entre 1970 e 1973 a CONAF possuía 67% dos 112.847 ha da área re-florestada do país (Katz et al., 1999). O Decreto-Lei 18348, de 1984, definia como seu objetivo contribuir para a conservação, proteção, gerenciamento e aumento de utilização dos recursos naturais reno-váveis do país (CONAF, 2011).

O INFOR, o Instituto Forestal, resultou do apoio resultante de uma sólida colaboração entre a FAO - Fundo das Nações Unidas para Ali-mento e Agricultura - e a CORFO. Enquanto na década de 1960 o Chile ainda era desconhecido no mercado florestal global, o INFOR desempenhava um papel relevante na mecanização de tarefas, no gerenciamento de plantações, na introdução de espécies genetica-mente melhoradas e no estabelecimento de técnicas e propriedades da madeira, no incentivo para o uso de madeira em construções e permanentes informações estatísticas sobre recursos, produção e comércio (Carmona e Garretón, 2004). O papel do Estado no desen-volvimento do setor florestal no Chile, nesse período, pode ser resu-mido pelo fato de que, em 1973, a CORFO controlava a maioria das plantas de celulose e papel (exceto a CMPC), as principais serrarias e as principais fábricas de painéis, além de sua intensa participação acionária em plantações florestais (Katz et al., 1999).

O pessoal técnico envolvido na indústria criou a sua própria as-sociação em 1972, a Asociación Técnica de la Celulosa y del Papel (ATP-Chile). A ATP foi estabelecida como corporação privada, objeti-

vando promover o desenvolvimento técnico, tecnológico e científico de empresas, universidades e escolas técnicas e privadas vinculadas à silvicultura e à ICP do Chile (ATP Chile, 2011).

O estabelecimento da ICP: 1974–1996Este período compreende a ascensão do General Pinochet ao po-

der, uma fase de depressão econômica, e também uma nova onda de acelerado crescimento industrial. A partir de 1974 o governo adotou uma posição a favor do mercado livre e privatizou a maior parte das empresas que ele havia detido até então. Como efeitos imediatos permitiu-se às empresas exportar madeira bruta e semiprocessada, o que motivou novos investimentos no setor florestal e indústrias asso-ciadas, como, por exemplo, serrarias e celulose. A supressão de bar-reiras de importação tornou possível para as empresas a aquisição de matérias-primas e bens de capital a preços melhores, além do que, as empresas tiveram de fechar os olhos à concorrência estrangeira, e empresários do setor tiveram de adotar uma mentalidade orientada para a exportação (Katz et al., 1999).

A Lei Florestal de 1931 foi substituída pelo Decreto-Lei 701, de 1974, que enfatizava os aspectos econômicos das plantações e es-tabelecia alguma responsabilidade ambiental correspondente, como, por exemplo, a responsabilidade pelo reflorestamento da área des-florestada (Luraschi, 2007; Borregaard et al., 2008).

Com referência ao setor florestal, este período pode ser subdividido em três subperíodos (Katz et al., 1999). A primeira fase, que se estende de 1974 a 1981, abrange desde a mudança do regime político até o último ano de crescimento anterior à crise da dívida internacional e o colapso da economia chilena, em 1982. Pode-se considerá-lo como o período em que os investimentos na ICP amadureceram, sendo então privatizados. Foi posta em prática uma onda de privatização na econo-mia chilena, que também afetou o setor florestal com a privatização das participações acionárias da CORFO e das plantações da CONAF. Assim, a Celulosa Arauco, a Forestal Arauco, a Celulosa Constitución e a Forestal Celco foram transferidas para a holding Cruzat-Larraín. Em 1976 a holding Vial adquiriu a Inforsa e seus 81.000 ha de florestas. Estas empresas pagaram preços subsidiados para suas aquisições. Em-bora os benefícios dos subsídios se tenham tornado duvidosos, foi através dessas transferências que importantes grupos econômicos domésticos foram fortalecidos e passaram a se interessar em inves-tir no setor, demonstrando mudança de atitude bastante importante (Katz et al., 1999; Borregaard et al., 2008). A produção da indústria florestal no Chile cresceu nesse subperíodo bem acima da média da Indústria de transformação (9,2% contra 1,4%), e houve importan-tes investimentos, especialmente na produção de celulose, como a entrada em operação das plantas de Celulosa Arauco (1972) e Celu-losa Constitución (1975). Essas plantas foram capazes de competir inclusive internacionalmente, e a otimização e a racionalização das plantas privatizadas contribuiu para a produtividade global do setor, que atingiu 14%/ano (Katz et al., 1999).

4 A CMPC pertence ao Grupo Matte, o qual, devido a uma política de investimento de caráter conservador, e estando concentrado em operações produti-vas e de exportação, sobreviveu até a grave crise econômica da década de 1980. Essa crise ocasionou importantes mudanças de propriedade no setor florestal.

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O segundo subperíodo se refere à entrada de capital estrangei-ro na indústria e às mudanças de concentração que ocorreram de 1982 a 1991. Ele se caracterizou pela recuperação econômica e um movimento posterior no sentido de uma economia de mercado livre. Como um meio de tomar providências para a recuperação econô-mica, o governo central reassumiu o controle de antigas empresas estatais e as reprivatizou. Nessa ocasião os dois principais grupos econômicos do país, Angelini e Matte, realizaram importantes in-vestimentos no setor florestal e passaram a dominar a estrutura de propriedade da indústria, uma situação que persiste até os dias de hoje. Após 1982 uma série de significativos investimentos estrangei-ros diretos no setor florestal ingressou no Chile, com frequência em parceria com grupos domésticos, quando o governo permitiu o uso de frações de dívidas para transações comerciais.

Devido à crise econômica que afetou o Chile em 1981, o governo renacionalizou muitas empresas que tinham sido privatizadas entre 1974 e 1978.

Em nova fase de privatização iniciada em 1984, o Grupo Angeli-ni adquiriu o controle da COPEC5, o maior conglomerado do Chile, e seus ativos florestais (Celulosa Arauco, Forestal Arauco, Celulosa Constitución y Forestal Constitución) em 1985. Esta aquisição de par-ticipação na Copec foi fundamental para a formação e consolidação do Grupo Angelini. Na Copec estava associado à Carter Holt Harvey International Ltd., que, em 1992, vendeu seu interesse no negócio para a International Papel (Fazio, 1997). O Grupo Angelini também fundou ou adquiriu participações em outras empresas do setor flo-restal, abrangendo desde plantações até diferentes operações de processamento de madeira, tais como serrarias, painéis e madeira serrada (Fazio, 1997).

A CMPC é o principal conglomerado do Grupo Matte no setor flo-restal. Ela produz e comercializa celulose e participa em mercados de papel tissue, de impressão, madeira serrada, papel-jornal e derivados da madeira e do papel (CMPC, 2010). Em operações de internaciona-lização na década de 1990, a CMPC estabeleceu uma parceria com a Procter & Gamble visando a fabricação e comercialização de fral-das descartáveis e toalhas sanitárias no Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai. Esta associação permitiu-lhe o acesso a novas tecnologias e novas maneiras de colocar seus produtos no mercado. Na década de 1990 ela também aumentou consideravelmente sua capacidade de produção de papéis tissue no Chile e no exterior (Fazio, 1997). Du-rante o final da década de 1980, principalmente após 1985 o investi-mento estrangeiro direto se tornou um fator de importância crescen-te na indústria, em parte devido às oportunidades para investimentos através de permutas de dívidas (Herbert-Copley, 1998). Em 1985, o Banco Central chileno introduziu o Capítulo XIX do Compêndio de Regulamentações para Intercâmbios Internacionais, o que atraiu im-portantes investimentos estrangeiros diretos, com muita freqüência associados a investidores locais. Esse compêndio, comparado com o

Decreto-Lei 600, foi mais bem sucedido em atrair investimentos no setor florestal. A partir de 1974 os investimentos estrangeiros diretos na silvicultura, sob o Decreto-Lei 600, responderam por 2,7% de to-dos os investimentos estrangeiros diretos (Borregaard et al., 2008). Outra consequência do surto de investimentos na ICP, no final da dé-cada de 1980 e no início da de 1990, foi a motivação do crescimento da capacidade local em serviços de consultoria. No início do período, o trabalho básico de projeto era feito por firmas estrangeiras, quer escandinavas, quer canadenses, e somente a engenharia de detalha-mento era realizada localmente. Com o tempo, firmas de consultoria locais chegaram a assumir a liderança em todas as fases do trabalho de projeto devido a vantagens de custo em relação a firmas estran-geiras, além de maior familiaridade com a espécie local do Pinus radiata (Herbert-Copley, 1998).

O terceiro subperíodo, que vai de 1990 a 1996, caracteriza-se pela concentração da ICP, tanto no setor florestal quanto no de celulose e papel, bem como pelo processo de internacionalização, no qual as empresas expandiram suas operações para a parte meridional da América do Sul, principalmente para a Argentina, o Uruguai e o Brasil. Internamente, a produção e a produtividade da indústria para o período aumentaram consideravelmente, para 11,9% e 7,9% anualmente (Katz et al., 1999). Em termos de celulose e papel as produções foram até mesmo mais altas (15,3% para a produção e 10,7% para a produtividade, por ano) devido à entrada em operação plena de quatro novas plantas de celulose e à expansão de plan-tas de papel (Katz et al., 1999). As empresas investiram em outros países latino-americanos de maneira verticalmente integrada a fim de facilitar o fornecimento de insumos entre as diferentes áreas co-merciais (serrarias, celulose, papel e painéis) e para negociar me-lhores acordos com fornecedores e clientes através de estratégia de busca no mercado (Calderón, 2007).

Consolidação, internacionalização e especializaçãoA partir do final da década de 1990 o setor florestal do Chile tem

estado mais verticalmente integrado e concentrado do que nunca, nas mãos dos grupos Matte e Angelini (a CMPC e a Arauco, res-pectivamente). Esse processo de concentração levou ao êxodo de muitos investimentos estrangeiros diretos, que tinham ingressado no Chile na década de 1990 e, embora ainda existam investimen-tos estrangeiros diretos no setor, isto ocorre somente em pequena escala em comparação com as grandes empresas domésticas. Por exemplo, investimentos estrangeiros diretos dos Estados Unidos se têm concentrado no subsetor de madeira serrada e em certas ativi-dades de refabricação. A Masisa S.A., que resultou de fusão entre a Nasisa e a Terranova em associação ao grupo suíço Schmidheiny, pertence agora em 53% ao Grupo Nueva, também associado ao Grupo Schmidheiny, que detém uma posição modesta no subsetor de madeira serrada (Borregaard et al., 2008).

5 A Copec foi fundada em 1934, tendo ingressado no setor florestal em 1976 com a aquisição e subsequente fusão das empresas que formavam a Celulosa Arauco y Constitu-ción. A International Papel disputou a participação na gestão da Copec após ter adquirido a participação de Carter Holt Harvey na empresa. Não se lhe permitiu fazê-lo após algumas manobras realizadas pelo Grupo Angelini (Fazio, 1997).

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Seguindo as mudanças de concentração na ICP, a posse de terras para plantio também está maciçamente concentrada em termos de propriedade e espécies exploradas. No caso de Pinus radiata 71,1% das plantações são de propriedade de 2% entre todos os proprie-tários da área florestal com propriedades acima de 1.000 ha; duas empresas possuem, sozinhas, mais de 75% dessas plantações, com condições semelhantes na propriedade de plantações de eucalipto. No setor de madeira serrada três empresas (a Celco, a CMPC e a Masisa S.A.) possuem 100% da produção (Borregaard et al., 2008). Para os propósitos deste artigo, as Tabelas 1 e 2 apresentam as características das empresas chilenas da ICP.

Além da concentração e expansão da produção, os desenvolvi-mentos mais importantes desse período correspondem ao domínio da regulamentação e cumprimento da lei. A produção de celulose atingida no final desse período apresentou o aumento mais signifi-cativo de todos os tempos, quase duas e meia vezes superior àquela

Tabela 2. Plantas de papel em operação no Chile – 2010

Planta Start up Localização Proprietário Produto Capacidade(1000 t)

Cartulinas Maule 1998 VII Região

CMPC

Papelão para caixas 360

Inforsa7 1964 VIII Região Papel-jornal 200

Cartulinas Valdívia 1951 X Região Papelão para caixas 70

Papeles Cordillera 1920 Puente Alto Embalagem e tissue 330

Norske SkogBío Bío

19578 VIII Região Norske SkogPapel-jornal 120

Papel para Imprimir e de parede 6

Fonte: Websites das empresas.

Tabela 1. Plantas de celulose em operação no Chile - 2010

Planta Start up Localização Proprietário Tipo6 Capacidade (1000 t)

Licancel 1994 VII Região

Celco

BSKP/BEKP 140

Arauco I 1971 VIII Região BKP 290

Arauco II 1991 VIII Região BKP 500

Valdívia 2004 X Região BKP 550

Celco 1975 VII Região USP 355

Nueva Aldea 2006 VIII Região BKP 1027

Santa Fé 1 1991 VIII Região

CMPC

BEKP 376

Santa Fé 2 2006 VIII Região BEKP 780

Pacífico 1992 IX Região BSKP 500

Laja 1958 VIII Região BSKP/USKP 360

Total 4778

Fonte: Atualizado a partir de Luraschi (2007), com informações dos websites das empresas.

obtida em anos anteriores, isso devido à abertura das plantas de Valdivia e Santa Fé 2, em 2004 e 2006, respectivamente.

Os impactos ambientais da ICP no Chile foram objeto de maior atenção a partir da adoção de regulamentação ambiental mais ri-gorosa e aumento da conscientização pública. Por um lado, a con-centração da ICP e sua orientação para a exportação teve impactos positivos sobre o meio ambiente: através da obtenção de maior efi-ciência econômica, também adotou uso mais eficiente dos recursos naturais e, focando nos mercados de economias mais desenvolvidas, as exigências postas por essas economias foram positivas em termos de atenção à observação da legislação ambiental. Isto acelerou a modernização da indústria (Luraschi, 2007). Por outro lado, a cria-ção de riqueza não levou necessariamente a melhoria da igualdade ou de indicadores sociais. Além disso, a concentração da produção nas mãos de poucas empresas resultou no colapso de empresas me-nos competitivas e de setores de baixo rendimento, tais como as

6BSKP= Bleached softwood kraft pulp-Celulose kraft de fibra longa, branqueada; BEKP=Bleached eucalyptus kraft pulp-Celulose kraft de eucalipto, branqueada; BKP=Bleached kraft pulp-Ce-lulose kraft branqueada; USP=Unbleached softwood pulp-Celulose de fibra longa, não-branqueada; USKP=Unbleached softwood kraft pulp-Celulose kraft de fibra longa, não-branqueada 7Em 1° de setembro de 2011 houve a fusão da Inforsa com a CMPC. Todos os ativos industriais e obrigações financeiras foram incorporados na recém criada Papeles Rios Vergara S.A. (CMPC, 2011)8Melhoramentos de grande envergadura foram feitos em 1990 e 1995 (Norske Skog BíoBío, 2011)

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pequenas e médias empresas do setor de papelão. Também implicou a perda de empregos e oportunidades para negócios de pequena escala (Luraschi, 2007). Os casos de Valdivia e Itata, da CELCO, que estiveram implicadas em poluição ambiental na década de 2000, de-monstram que significativos problemas ambientais e sociais ainda constituem preocupações públicas com referência à substituição da floresta nativa, aos direitos de propriedade e aos direitos dos povos indígenas (Borregaard et al., 2008, WWF, 2005).

Uma nova lei sobre silvicultura foi sancionada em 2007 em se-guida a discussões para a recuperação de uma floresta nativa e a um projeto de lei para o desenvolvimento florestal, contemplando a proteção, a regeneração e o aprimoramento de florestas nativas para assegurar a sustentabilidade florestal e a política ambiental. Houve críticas de que a ação de lobby de ambos os grupos ligados à silvicul-tura - Angelini e Matte - foi responsável por postergar a aprovação da lei sobre silvicultura ao longo de 15 anos (Kerosky, 2007).

Tendo em vista o fato de os padrões de desenvolvimento tecno-lógico da ICP do Chile ainda estarem defasados em relação aos dos melhores países desenvolvidos, é importante destacar que a indústria deverá arriscar-se a entrar em colaboração mais avançada com produ-tores de conhecimentos e investir por sua própria conta e risco para atingir padrões de inovação setorial equiparáveis àqueles dos países desenvolvidos. Embora não haja até agora nenhum grupo florestal ou sistema de inovação setorial, o país pode contar com um conjunto de instituições que poderia tornar essa realização possível. Uma amostra das capacidades de pesquisa existentes que poderiam ser usadas pela e para a indústria pode ser vista no Apêndice 1. Parece que a concen-tração que aconteceu no setor seja o principal fator a impedir desen-volvimentos, havendo necessidade de um ator central para coordenar iniciativas no sentido de promover inovação no setor.

A despeito da falta de desenvolvimentos domésticos, empresas destacaram a necessidade de se proceder a um melhoramento ge-nético das espécies usadas na indústria, principalmente da Pinus ra-diata. O exemplo que enfatiza esta preocupação é a Arauco S.A., que criou sua própria empresa para realizar esse trabalho - a Bioforest S.A. Uma das principais realizações da empresa foi a incorporação da tecnologia de propagação de plantas, em 1999, o que foi feito em parceria com uma instituição canadense perita em biotecnologia florestal (Rodríguez et al., 2008).

O anúncio da joint venture da CMPC com a companhia finlandesa Stora Enso, no final da década de 2000, chama a atenção para a nova estratégia que a empresa está adotando. Será esta uma maneira de a CMPC tornar-se global? Se os modelos nórdicos de desempenho am-biental tiverem de ser seguidos, assim como a proximidade cultural entre chilenos e uruguaios, se esses forem fatores que não foram su-ficientemente considerados pela Metsä-Botnia na construção de sua planta no Uruguai, mas forem agora cuidados na nova iniciativa, ela poderá ser bem sucedida. Seja como for, a CMPC defrontar-se-á com uma cultura organizacional diferente, que é mais bem vivenciada ao

9Uma versão ampliada deste capítulo foi apresentada em Toivanen e Lima-Toivanen ( 2011).

serem feitos negócios de forma global e capaz de oferecer mais ex-periência se decidir atuar mais globalmente no futuro.

A ICP chilena é um claro exemplo de como o comércio e a libera-lização levaram a aumento nos níveis de atividade da indústria e a uma maior eficiência econômica das plantas. A indústria se desenvol-veu da iniciativa empresarial governamental para a iniciativa privada com base na exploração de, sobretudo, vantagens comparativas na-turais (clima, solo, localização geográfica das florestas e proximida-de da infraestrutura de transporte) para o benefício da indústria. O pequeno mercado doméstico atuou, contudo, como uma força para impulsionar a indústria para o exterior e para produtos de maior va-lor agregado (celulose, papel, madeira serrada e painéis). O desafio remanescente para a indústria é a realização da formação de um sistema de inovação setorial para expandir a sua competitividade.

A ICP no Brasil9

O Brasil é um participante de peso no mercado global de celulose, ocupando o quarto lugar entre os maiores produtores dessa commo-dity - especialmente no que se refere a produto de fibra curta - e o nono lugar na produção de papel (Bracelpa, 2013). A ICP brasileira é altamente concentrada. Ainda que haja 220 empresas produzin-do celulose e papel, entre os produtores de celulose cerca de oito empresas produzem 90,5% da produção total. A produção de papel está concentrada no Sudeste (49,1%) e no Sul (41,3%). As empresas usam florestas plantadas principalmente de eucaliptos, que também estão concentradas no Sudeste e no Sul do país (Bracelpa, 2011). Seis entre nove empresas-chave estão verticalmente integradas, pro-duzindo tanto celulose quanto papel.

A evolução da ICP no Brasil remonta a 1808, ano da imigração da família real portuguesa para o Brasil, quando se discutiu a necessida-de de produzir papel internamente para a impressão de cédulas ban-cárias, jornais e documentos oficiais. Há registro de algumas plantas em São Paulo na última década do século XIX (ABTCP, 2008), mas não se conhecem detalhes.

A iniciativa de desenvolver uma ICP nacional no Brasil nasceu com as tentativas de desenvolver celulose de eucalipto graças a pessoal empresarial dedicado em empresas, institutos de pesquisa e universidades, bem como ao governo, no início do século XX. A indústria se desenvolveu em torno de uma espécie completamen-te desconhecida, que veio a ser usada como matéria-prima para a indústria e que levou ao desenvolvimento de tecnologia específica para a sua exploração.

Aumento da demanda e estabelecimento de uma rede de aprendizado sobre a celulose de eucalipto: 1900–1955

O principal desafio para estabelecer uma ICP no Brasil foi encon-trar plantas nativas adequadas para a produção de celulose. Com estímulo governamental para a pesquisa, foram testadas várias matérias-primas locais, que não apresentaram rendimento razoável

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(ABTCP, 2004). Foi com a exploração do eucalipto que a indústria veio a ser mundialmente conhecida.

O eucalipto foi introduzido no Brasil em 1864, e as primeiras plantações produziram dormentes para estradas de ferro e carvão para locomotivas. Foi Edmundo Navarro de Andrade quem iniciou, em princípios do século XX, um trabalho científico sistemático para descobrir a variedade de eucalipto mais adequada ao meio ambiente biológico brasileiro e a sua exploração industrial. No início do século XX, no Brasil, celulose e papel eram irrelevantes para o eucalipto por causa da falta da tecnologia adequada para conversão em celulo-se. O padrão global predominante, o processo de celulose sulfitada, permitia a exploração do abeto e outras madeiras de fibra longa, que produziam papel da melhor qualidade. A celulose de eucalipto continuou sendo uma curiosidade como produto industrial e objeto de pesquisa até a Segunda Guerra Mundial, quando a escassez de matérias-primas e a difícil dependência de importações de celulose induziram o governo brasileiro a oferecer incentivos para a pesquisa de novas fontes de fibras.

Introdução de uma política de inovação governamental abrangente: 1955–1970

Desde a década de 1950, três fatores impeliram a indústria bra-sileira de papel a investir de forma crescente em pesquisa e desen-volvimento da cultura do eucalipto e do processo de obtenção de celulose. Primeiramente, a ascensão de Juscelino Kubitschek à Pre-sidência da República, em 1955, revigorou ambiciosas políticas in-dustriais. Na ICP, por exemplo, Kubitschek imaginou um programa intensivo de industrialização nacional com vistas à substituição de importações de bens duráveis e intermediários, pretendendo tornar o Brasil autossuficiente em celulose de madeira e papel até 1960. Em segundo lugar, a piora da escassez global de celulose, materializada num aumento do preço de mercado superior a 150%, paralisou as importações ultramarinas para o Brasil e induziu ao interesse em novas fontes de fibras. O terceiro fator, o decisivo, foi a maturação da tecnologia do processo de celulose sulfatada após décadas de uma onda de inovação global e de sua emergência como tecnologia de produção em massa de celulose, dominante já na década de 1950.

Entre 1955 e 1970 o governo construiu instituições de criação e transferência de conhecimentos, tais como institutos de pesquisa e universidades. Também ampliou a política de inovação e criou novos instrumentos de políticas que focavam na implementação de novos conhecimentos e tecnologias. Esses instrumentos incluíam iniciativas de silvicultura nas esferas estadual e federal, subsídios governamentais como incentivos para investimentos em nova ca-pacidade de produção de celulose e papel e outras iniciativas de regulamentação e legais.

O mais importante impulso dado à ICP brasileira foi a afirmação do processo de celulose sulfatada como padrão global em tecnologia de produção em massa. Ela proporcionou grandes oportunidades a firmas brasileiras, mas sua aplicação bem sucedida requereu intensi-va aprendizagem tecnológica, em nível industrial, do novo processo

e de sua adaptação a fontes brasileiras de fibras virgens: a Araucária angustifolia e, mais notadamente, o eucalipto. Uma aprendizagem em âmbito industrial de novas tecnologias celulósicas durante a dé-cada de 1950 aumentou a participação da produção de fibras curtas, quase unicamente constituída de eucalipto, de uma minúscula pro-dução total de celulose de 4%, em 1950, para 60% até 1960.

Os principais veículos dessa inovação foram as novas políticas in-dustriais, que incentivaram novas instituições a partir do início da década de 1950. Uma ferramenta crítica da nova política foi o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - o Banco de Desenvolvimento brasileiro). Ele desenvolveu novos instrumentos financeiros para financiar a indústria, fomentou economias de escala e o aprimoramento do know-how tecnológico na indústria.

Além disso, uma grande quantidade de novas instituições edu-cacionais, universidades e institutos de pesquisa setorial - governa-mentais e privados - começaram a contribuir para o setor de celulose e papel. Um marco importante foi a inauguração da primeira escola brasileira de silvicultura na Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 1960, a qual, além de prover educação, se converteu rapidamente num importante centro de transferência de pesquisa e tecnologia. Diversas universidades seguiram este exemplo e abriram cursos de engenharia florestal, silvicultura e outros aspectos da cultura do eu-calipto. As escolas educaram forças de trabalho científica e tecnica-mente avançadas, aceleraram a difusão de conhecimento e tecnolo-gia e aprimoraram os contatos internacionais para brasileiros.

Um exemplo digno de nota foi o da Indústria de Papel Leon Feffer S.A. (atualmente Cia. Suzano de Papel e Celulose), que deu início a suas pesquisas em 1954 a fim de aprimorar o processo de produção com a utilização de 100% celulose de eucalipto. Em 1957 produziram, pela primeira vez, 120 toneladas diárias de celulose de fibra curta em escala industrial. Não obstante, a produção era superior à demanda, e a empresa adquiriu outra fábrica para consumir sua celulose. Tal pro-cedimento serviu de estímulo a outras empresas, como Papel Simão e Champion Celulose e Papel S.A., que transformaram o eucalipto na principal matéria-prima na fabricação brasileira de papel.

Com a expansão da produção doméstica o Brasil começou a ex-portar celulose e papel produzidos com madeira de eucalipto, atrain-do novos empresários para este ramo de negócios. Para possibilitar o estabelecimento de aprendizagem e inovação em nível industrial, novas políticas industriais originaram mais instituições a partir do início da década de 1950. Nessa mesma linha, o BNDES ampliou muito o auxílio financeiro do governo e coordenou amplamente in-vestimentos industriais nacionais desde o seu estabelecimento em 1952. Até 1967 o BNDES ofereceu somente garantias de empréstimo a firmas de celulose e papel. Não obstante, seus projetos demons-traram-se estrategicamente importantes para a emergente indústria de celulose de eucalipto, começando pelos pioneiros programas de pesquisas no longo prazo da Cia. Suzano de Papel e da Papel Simão.

Em 1957, o banco lançou o seu terceiro projeto no âmbito da ICP e providenciou financiamento para a Panamericana Têxtil, que foi vendida, em 1961, para a Champion Paper Company, sediada nos

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EUA. A Champion desenvolveu a fábrica numa unidade de pesquisa e desenvolvimento em larga escala em cultura do eucalipto, genética e fabricação de pasta química.

Seguindo os desenvolvimentos da indústria, o BNDES introduziu sua política de provisão de fundos e, até 1968, começou também a solicitar às empresas que obtivessem de suas próprias florestas pelo menos a metade de toda a madeira para celulose, que empreen-dessem um processo sistêmico de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de processo de eucalipto e que aprimorassem os tipos de papel. Além disso, o banco motivou a especificação de normas téc-nicas através da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a organização nacional de normas técnicas.

Na área institucional, uma série de novas leis removeu obstáculos às plantações de eucalipto e pinheiro e estabeleceu novos incentivos fiscais ao reflorestamento industrial. Grande parte deste trabalho culminou na lei sobre silvicultura, o Código Florestal (Lei 4771 de 15/9/1965). Este código permitia o uso em larga escala de eucaliptos e pinheiros para reflorestamento, e permitia a empresas a dedução de impostos sobre reflorestamento, embora isto tenha acontecido somente em 1970.

A formação de uma parceria público-privada na ICP, cujo primei-ro exemplo foi o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF) estabelecido em 1968 na Faculdade de Agronomia da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), deu origem a joint venture em pesquisa e desenvolvimento na indústria. O IPEF providenciou um modelo para parcerias público-privadas na área de P&D da ICP, e outras escolas de silvicultura seguiram este exemplo.

Inovação, crescimento industrial e empreendedorismo: 1970–1985

No final da década de 1960 os elementos necessários para o rápi-do crescimento da ICP brasileira estavam nos lugares certos, inclusi-ve a tecnologia da celulose sulfatada de produção em massa, plan-tações de florestas de espécies selecionadas de eucalipto, grupos de forças de trabalho científica e tecnologicamente avançadas, um sistema abrangente de inovação setorial e uma economia política ex-celente e vantajosa. A produção doméstica de celulose de fibra curta também aumentou tremendamente, e a indústria de papel era capaz de praticamente eliminar sua dependência anterior a importações de celulose. Houve um enorme aumento de produção de eucalipto a partir do final da década de 1970, e a produção de celulose de fibra curta aumentou em mais de 330% entre 1970 e 1980, e em 18% entre 1980 e 1985. A participação da fibra curta na produção total brasileira de celulose aumentou igualmente de 60% para 74%, em-bora, quando em período de crescimento modesto, tenha declinado para 69% em 1985 (Bracelpa, de vários anos).

Novas firmas e empresários definiram por completo novas es-tratégias corporativas, quase se afastaram radicalmente daquelas das firmas brasileiras já existentes. Firmas empresariais focaram na exportação de celulose de eucalipto e perseguiram uma estratégia baseada numa inovadora cultura dessa árvore, processos de celulose

sulfatada modernos, mercados de exportação e economias de esca-la. Desconsideraram a ênfase tradicional da indústria na integração vertical da produção de celulose e papel.

A Aracruz e a Cenibra, por exemplo, lançaram maciças operações de silvicultura com o intuito de estabelecer subsequentemente fá-bricas de celulose em larga escala e obtiveram uma rápida trans-formação industrial no Brasil. Elas lideraram uma nova estratégia e um novo modelo comercial nas perspectivas brasileira e global, pois adotaram a cultura do eucalipto, economias de escala e co-mércio global de exportação, em contraposição a firmas de celu-lose e papel tradicionais, que produziam celulose principalmente para sua própria produção de papel. Uma culminância desta es-tratégia foi a transformação, em 1985, do porto de exportação da Aracruz e da Cenibra (Portocel), no Espírito Santo, num porto de ex-portação de celulose tecnologicamente avançado e exclusivo. Uma joint venture da Cenibra e da Aracruz substancialmente financiada pelo BNDES, a Portocel incluía, especialmente, moderna ferrovia, rodovia e comunicações hidroviárias com as fábricas de celulose da Cenibra e da Aracruz e criava novas economias de escala em expor-tações de celulose. Ambas as firmas também receberam importante apoio do governo através de medidas especiais de amparo à ICP no segundo Plano Nacional para o Desenvolvimento, entre 1975 e 1979. As duas fábricas produziam, sozinhas, acima de 650.000 t/ano após entrarem em plena operação- o que levou alguns anos-, o suficiente para aumentar a produção brasileira de celulose de fibra curta 75% acima do nível de 1976.

Iniciativa privada e a resposta do governo: 1967–1990A decolagem da indústria de celulose de eucalipto deu origem

a uma nova dinâmica de aprendizagem no sistema de inovação setorial da ICP brasileira. Enquanto o governo inaugurava frontei-ras de pesquisa em silvicultura, estimulava capacidades científicas e tecnológicas e concedia outros incentivos a fim de gerar inte-resse privado pela indústria nascente, novas firmas de eucalipto investiam maciçamente em P&D. Elas atuaram como pioneiros em termos de novas pesquisas biotecnológicas e inovações no Brasil, que se transformaram direta e imediatamente em novas estraté-gias comerciais e operações industriais. No final da década de 1960 a Aracruz e a Cenibra reconheceram que a biotecnologia possibi-litava um controle aprimorado da linhagem do eucalipto e, desta maneira, aumentava a produtividade. Particularmente, novas técni-cas de reprodução assexuada marcaram um importante avanço na produção de florestas de eucalipto padronizadas e controladas, e contribuíram para grandes melhorias de produtividade na cultura do eucalipto após 1970.

Investimentos em P&D de eucalipto produziram rapidamente re-tornos impressionantes. A linhagem padronizada aprimorou a resis-tência a moléstias, melhorou as economias de escala em silvicultura e manejo de madeira e facilitou o gerenciamento do processo de pol-pação da madeira. Além disso, a inovação biotecnológica aumentou os rendimentos em termos de crescimento. As primeiras árvores de

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eucalipto da Aracruz levaram 12 anos para crescer até o tamanho de abate, mas o programa sistemático de pesquisa e desenvolvimento da empresa reduziu o ciclo de crescimento médio para sete anos até meados da década de 1980. O IPEF estimou que a produção anual média das florestas plantadas brasileiras tenha aumentado de 15 m3/ha, em 1970, para quase 35 em 1985. Em 2010 este indicador chegou a 41 m3/ha (Bracelpa, 2011).

Em nível estadual as ações postas em prática, especialmente em São Paulo, foram importantes. O Instituto de Pesquisas Tecnológi-cas do Estado de São Paulo (IPT), vinculado à Secretaria para o Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, montou um laboratório de testes para atender a soli-citações de agências governamentais e de empresas privadas. No início da década de 1960 o laboratório foi incorporado à divisão de madeira na forma de dois laboratórios: um laboratório para pro-dutos florestais e um para derivados (extrativos). Em parceria com a empresa finlandesa Jaakko Pöyry, na década de 1970 a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) financiou o aprimoramento de conhecimentos e práticas relacionados com a celulose e o papel no IPT. Em consequência desses esforços o IPT estabeleceu, em 1967, o Centro Técnico para Celulose e Papel (CTCP) e, em 1981, inaugurou uma planta piloto para celulose de alto rendimento, com capacidade de 8 t/dia, com recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) canalizados através da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a Agência Brasileira de Inovação.

As iniciativas públicas e privadas deram um importante subsídio ao desenvolvimento tecnológico e ao crescimento da indústria. Tanto o setor privado quanto o público criaram institutos para o progresso da área de P&D relacionada ao eucalipto. O mais importante, a EM-BRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estabeleceu, em 1978, o Centro Nacional de Pesquisa Florestal (CNPF) a fim de corresponder ao aumento de interesse pela cultura do eucalipto.

Em termos globais as plantações de eucalipto aumentaram de um milhão de hectares, em 1970, para 3,6 milhões, até 1990, e em sua maior parte o crescimento resultou de plantações de espécies biotecnologicamente aprimoradas de Eucalyptus saligna e Eucalyp-tus grandis. A Aracruz deu início à pesquisa silvicultural em 1967, quando realizou suas primeiras plantações industriais de eucaliptos usando mudas importadas em princípios do século XX. O programa de clonagem produziu rápidos melhoramentos em termos de resis-tência a moléstias e qualidades de fabricação de pasta, e permitiu a padronização intensificada de matéria-prima fibrosa.

No Brasil, o IPEF e a Universidade de São Paulo, em Piracicaba, realizaram experimentos com a tecnologia de clonagem a partir de 1975, tendo também elaborado um programa de pesquisa sistemá-tica sobre o assunto. Outras empresas, tais como a Cia. Vale do Rio Doce, a Cia. Suzano, a Duratex Florestal e a Klabin, também elabora-ram programas de clonagem, que foram confiados a divisões espe-cializadas de silvicultura, tais como a Florestal Cenibra, estabelecida em 1983 (Cenibra, 2011).

Dinâmica de aprendizagem de equiparação: sistema de inovação de segunda geração e expansão: 1990–

A partir de 1985 a evolução da ICP brasileira se tem caracteriza-do por busca de equiparação com empresas globais existentes pio-neiras em celulose de eucalipto e na consolidação. Empresas que ingressaram tardiamente no negócio do eucalipto se beneficiaram do sistema avançado de inovação setorial da indústria - que difun-diu rapidamente as mais recentes inovações e conhecimentos - e políticas governamentais, embora o sucesso não possa ser atribuído exclusivamente a esses fatores. Empresas de papel em larga escala já estabelecidas apresentavam capacidades organizacionais excepcio-nais e influência política para ingressar no negócio do eucalipto, isso num momento em que as operações e o porte da indústria atingiram escala sem precedentes no Brasil. Entre 1985 e 2005, a ICP de euca-lipto se expandiu de forma constante, e a produção anual brasileira de celulose de fibra curta aumentou em 60% entre 1985 e 1995, e em 81% entre 1995 e 2005. A produção anual total de celulose elevou-se de 3,7 milhões de toneladas, em 1985, para mais de 10 milhões de toneladas em 2005 (Bracelpa, vários anos).

Esta expansão maciça acarretou profundas mudanças na estrutura organizacional da indústria, pois as empresas brasileiras existentes começaram a emular a estratégia das firmas empresariais pioneiras e emparelharam com as mesmas. Não somente as empresas brasi-leiras de celulose e papel já existentes no mercado ingressaram no negócio do papel de eucalipto, mas muitos líderes da indústria global ingressaram no Brasil. No ano 2000 a empresa fino-sueca Stora Enso, à época a segunda maior empresa de celulose e papel do mundo, iniciou uma joint venture com a Aracruz, que foi incorporada pela Votorantim Celulose e Papel (VCP) constituindo a Fibria em 2009 e desde então marcou sua presença na América Latina.

As duas empresas têm a propriedade conjunta da Veracel Celulose, cuja fábrica de celulose kraft de eucalipto, na Bahia, foi disponibili-zada online em 2005 e era até esta data a maior do mundo, com capacidade de produção anual de 900.000 toneladas. A joint ventu-re marcou o ingresso da Stora Enso na América Latina e assegurou acesso a know-how de ponta referente ao eucalipto. As duas empre-sas compartilham a produção da Veracel, e enquanto a VCP vende celulose de mercado a Stora Enso usa toda sua quota de participa-ção em substituição a celulose de bétula em suas fábricas de papel da Europa. Neste sentido, a joint venture tem sido uma importante experiência de aprendizagem para a empresa escandinava, pois ela pôde proceder a experimentos com uma nova fonte de celulose e ajustar as fábricas europeias de papel de imprimir à nova fibra.

O ingresso de empresas anteriormente existentes no negócio da cultura e da celulose de eucalipto e a subsequente onda de fusões alterou a estrutura organizacional da indústria. Na década de 1990 a ICP brasileira caracterizou-se por uma onda de consolidações, pois mais de 30 fusões de peso ocorreram entre 1992 e 2001. A Aracruz, a Cenibra, a Celmar, a Veracel e a Jari permaneceram focadas na pro-dução de celulose e nos mercados de exportação, tendo respondido por 71% da produção de celulose de mercado em 2002.

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A resposta do sistema brasileiro de inovação setorial ao recente avanço da pesquisa do genoma e aprimoramento do eucalipto acom-panhou, em larga medida, precedentes históricos. Empresas, asso-ciações industriais, governos regionais e governo federal lançaram iniciativas de cooperação que coordenam os esforços nacionais de pesquisa e transferência de tecnologia. A pesquisa do genoma do eucalipto se estabeleceu no Brasil quando alguns dos institutos de pesquisa em posição de liderança, tais como o IPEF, advogaram as possibilidades da tecnologia genética para a silvicultura em meados da década de 1980. Contudo, um momento decisivo real ocorreu no início da década de 1990, marcado por avanços globais em pesquisa de genômica. A partir de 1994 a indústria tem reivindicado maior par-ticipação do governo e o início de um projeto nacional de mapeamen-to do genoma do eucalipto, finalmente lançado na virada do milênio.

A pesquisa do genoma do eucalipto é financiada, no Brasil, por in-vestimentos particularmente maciços. Em 1997 a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) criou a Organização para Sequenciamento de Nucleotídeos e rede de análises, que abrange 30 laboratórios em todo o Estado. Além disso, o Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financiou diversos pro-jetos de pesquisa, e o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) lançou, no ano 2000, o Projeto Brasileiro de Genomas. Suas muitas iniciativas de mapeamento exclusivo de genomas incluíram o projeto Genolyp-tus – a Rede Brasileira do Genoma do Eucalipto - lançado em 2002, como um projeto primordial de cooperação, envolvendo associações comerciais, universidades, institutos de pesquisa e corporações go-vernamentais. O projeto Genolyptus reflete uma ambição mais ampla do governo, no sentido de criar competitividade industrial através de programas de pesquisas biotecnológicas e de inovação, e ele poderá finalmente produzir a primeira espécie transgênica de eucalipto.

A expansão de biotecnologias relacionadas com a silvicultura tem sido acompanhada por aumento de crítica ambiental, social e ética da clonagem e do trabalho de pesquisa e desenvolvimento de genomas. Isso induziu o governo a introduzir claras limitações ambientais e bio-éticas. Uma lei específica de biossegurança regulamentando diversos aspectos de biotecnologias agrícolas e inovação foi introduzida em meados da década de 1990, entrando em vigor em 2005 após muitas críticas (Lei Brasileira de Biossegurança 11105). Movimentos de ex-pansão e consolidação ainda foram bem significativos na América do Sul no final da primeira década do século XXI. O mais impressionante foi a incorporação da Aracruz Celulose S.A. pela Votorantim Celulose e Papel S.A. A empresa resultante, a Fibria S.A., que iniciou suas ope-rações em setembro de 2009, tornou-se a empresa-líder mundial na produção de celulose de mercado atingindo 5.177 mil toneladas em 2009, o que correspondia a 38,9% do total da produção brasileira. A Fibria opera 5 plantas com capacidade anual total de 5,4 milhões de toneladas de celulose e 313 mil toneladas de papel. Ao adquirir os ativos da Aracruz, a Fibria também comprou sua participação na Veracel (retendo 50% da joint venture). Em 2009 a Fibria vendeu sua planta de Guaíba à CMPC e, em 2011, sua quota de 50% na Conpa-cel à Suzano (Pöyry, 2011).

Um claro exemplo da expansão de novas plantas e da concentra-ção local de tais implantações é o complexo da ICP que está surgindo na cidade de Três Lagoas, no Estado de Mato Grosso do Sul. Inaugu-rada em março de 2009, a planta da Fibria, iniciada como um projeto da VCP, foi posta em funcionamento com capacidade de 1,3 milhão de toneladas/ano, e a empresa planeja ampliar esta planta median-te uma segunda linha para produzir 1,75 milhão de toneladas/ano (Pöyry, 2012). A International Paper também construiu uma fábrica de papel com capacidade de 200.000 toneladas/ano em 2009. Fi-nalmente, a empresa Eldorado Brasil construiu a maior planta de celulose de linha de fibras única do mundo, com capacidade de 1,5 milhão de toneladas/ano, posta em serviço no final de 2012. A capa-cidade de produção de celulose instalada numa única cidade, depois que todas as plantas estiverem em operação, importará em 4,55 mi-lhões de toneladas/ano. O suprimento de madeira para essas plantas está sendo produzido na região circunvizinha. Considerando todas as atividades e o pessoal necessário para dar apoio às operações dessas plantas, além das atividades econômicas indiretas realizadas por causa ou por influência de seus negócios, um estudo sobre a forma pela qual o meio ambiente poderá enfrentar a pressão sempre crescente sobre seus recursos e os consequentes impactos sociais e econômicos daí decorrentes será de importância na orientação de futuras intervenções desse tipo, bem como sobre a responsabilidade social corporativa das empresas.

Poder-se-ia argumentar que impactos positivos já estão ocorrendo quando considerados os resultados da Fibria. Ao justificar a expan-são de sua capacidade de produção, a Fibria alegou que já contribuiu para o desenvolvimento econômico da região por via dos impostos recolhidos, um crescimento de 300% do produto interno bruto da cidade de Três Lagoas e de 13% de todo o Estado do Mato Grosso do Sul, além de investimentos em infraestrutura e programas sociais, tais como amparo social e educação, como meio de cumprir seus compromissos de responsabilidade social corporativa (Pöyry, 2011) e o uso que as empresas estão fazendo das possibilidades para uso sustentável de recursos. Seguramente, contribuiu para o aumento da produção da indústria. Não é possível, contudo, avaliar no futuro próximo o alcance completo de impactos potenciais na região ou no país com a operação de projetos de tal magnitude.

A ICP no UruguaiEscassa compreensão da evolução do sistema de inovação que

ampara a ICP no Uruguai pode ser aqui proporcionada, isso devido ao fato de essa indústria ser relativamente nova no país. O Uruguai e as plantas de celulose em seu território figuraram regularmente na mídia por causa de protestos contra a instalação de fábricas de celulose na margem do Rio Uruguai em meados da década de 2000. As diversas motivações para os protestos e as razões sub-jacentes foram um tema de discussão, especialmente em relação à responsabilidade corporativa. Uma descrição do caso pode ser encontrada em Lima-Toivanen e Mikkilä (2006), Red (2006) e Koso-nen (2008), por exemplo.

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De fato, em meados da década de 1980 o governo começou a encorajar plantações florestais, o que tornou possível aumentar a produção da ICP do país de aproximadamente 37.000 tone-ladas de celulose de madeira em 2005, para 938.000 tonela-das em 2008 (RISIINFO, 2009), e para quantidade projetada de 2.400 mil toneladas por ano com a construção de 2–3 novas plantas, tendo em conta os anúncios liberados pela indústria, conforme Tabela 3. Isto colocará o Uruguai entre os líderes mundiais por tamanho de operações em produção de celulose (celulose kraft branqueada de madeira de fibra curta).

Quando a planta de celulose da Botnia entrou em operação, em novembro de 2007, a ICP do Uruguai apresentava um nível de produção muito baixo comparado com o de outros países sul-americanos. Até 2006 o país tinha somente três empresas de celulose e papel: a Fábrica Nacional de Papel S.A. (Fanapel), pro-dutora de celulose e papel, a Papelera Mercedes S.A. (PAMER) e a Industria Papelera Uruguaya S.A. (IPUSA), as duas últimas produ-toras de somente papel. A produção combinada dessas empresas era de cerca 46.000 toneladas/ano de celulose e de 11.200 tone-ladas ano de papel e papelão (Lima-Toivanen e Mikkilä, 2006). Basicamente, pode-se dizer que a ICP do Uruguai começou, para a audiência mundial, com a construção da fábrica da Botnia, atual UPM. Até 2005 o Uruguai tinha 0,8 milhão de hectares de flores-tas plantadas e uma taxa anual de plantio de 50.000 ha (FAO, 2009). Os investimentos para a produção de celulose realizados no Uruguai foram planejados para serem posteriores a investi-mentos ou aquisição realizados em reflorestamento.

Na arena institucional, a estrutura que deu apoio ao desenvolvi-mento florestal no país teve início com o Departamento Forestal, atu-almente o Ministério de Pecuária, Agricultura e Pesca. A primeira lei de silvicultura do Uruguai, a lei 13723, foi promulgada em 1968, e o Departamento de Silvicultura tornou-se o corpo executivo no campo da política da silvicultura (Polla, 1998). A partir de 1987, com a san-ção da Lei de Silvicultura 15939, o governo tem financiado florestas plantadas concedendo benefícios fiscais quando fossem estabeleci-das em Áreas Prioritárias para a Silvicultura (estendendo-se de mais de 2,5 milhões a 3 milhões de hectares) (FAO, 2009). A disponibilida-de de terreno plano barato e clima e solo favoráveis proporcionaram condições ideais para o aumento das plantações.

As operações da empresa finlandesa Botnia tiveram início no Uru-guai com a compra de 60% da empresa uruguaia Compañía Forestal Oriental S.A. (anteriormente FOSA) da Shell International Renewa-bles B.V. (Shell). Originalmente, a FOSA foi fundada na década de

1990 pela UPM Kymmene Oye e pela Shell. A Forestal Oriental é uma das maiores proprietárias de florestas do Uruguai e ao mesmo tem-po uma pioneira no cultivo do eucalipto e na produção de mudas. Em 2008 a Forestal Oriental tinha aproximadamente 100.000 ha de plantações de eucaliptos, que eram suficientes para suprir cerca de 70% da madeira necessária para a produção da fábrica. O resto era suprido mediante aquisições de proprietários de terras privados, através de acordos de longo prazo. Para a Botnia, os fatores impor-tantes para suas operações no Uruguai foram a disponibilidade de madeira e seu acesso, além de ter-lhe sido concedida a condição de zona de livre comércio (Kosonen, 2008).

A fábrica de celulose projetada pela Botnia S.A. foi fundada no Uruguai pela Metsä-Botnia (82,1%), pela UPM-Kymmene (12,4%) e pela Metsäliitto (5,5%), bem como pelo Grupo Otegui, um parceiro local (9%). Em dezembro de 2009 os ativos da Metsäliitto, M-Real, Botnia e Forestal Oriental foram vendidos para a finlandesa UPM, que passou a ser a proprietária de 91% da fábrica de celulose Fray Bentos e de 100% da Forestal Oriental.

A espanhola Ence começou a investir no Uruguai em 1990 com o estabelecimento de uma subsidiária, denominada Euroflores, desti-nada a conduzir operações de plantio e gerir suas florestas naturais. A empresa possuía 94% de 53.000 ha de floresta e era a principal exportadora de produtos de madeira do Uruguai. A Euroflores é tam-bém uma acionista no terminal logístico de M’Bopicuá, igualmente localizado em Fray Bentos; na Maserlit, uma serraria que trabalha com Eucalyptus grandis produzindo 35.000 m3 de madeira serrada por ano, e opera também um centro de logística na cidade de Peña-rol, onde possui uma planta de picagem de madeira (Lima-Toivanen e Mikkilä, 2006). Os seus ativos foram vendidos para a finlandesa Stora Enso e a chilena Arauco, que constituíram a joint venture Mon-tes del Plata em outubro de 2009 objetivando construir uma planta com capacidade de 1,3 milhão de toneladas/ano. No início de 2011 o governo do Uruguai concedeu às empresas a licença ambiental para prosseguir com os estudos de construção da planta.

As empresas que construíram fábricas de celulose no Uruguai anunciaram que seus investimentos eram realizados segundo as melhores tecnologias disponíveis para a produção e o gerenciamen-to ambiental, com aplicação do processo de branqueamento livre de cloro elementar (ECF), por exemplo, com vistas ao suprimento de suas próprias operações de produção de papel na Europa. Isso deveria proporcionar-lhes o apoio necessário como credenciais para suas operações e normas ambientais. Todavia, não deveriam nutrir absoluta certeza de que isto os livrará de críticas.

Tabela 3. Investimentos planejados na ICP do Uruguai

Empresa Cidade Capacidade (t/ano) Fase Data de

Participação Final Investimento(Milhões de US$)

Montes del Plata (Stora Enso & Arauco)

Punta Pereira 1.300.000 Construção 7/2004 2013 1. 900,00

Celulosa Argentina Não decidido 700.000 Estudo 2021 –Adaptado de Lima-Toivanen e Mikkilä (2006), fonte dos dados: adaptados de Risiinfo (2006) e Pöyry (2012)

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O meio ambiente desafiador para a ICP no Uruguai e a res-ponsabilidade social corporativa

As empresas atualmente investindo no Uruguai contam com alguma situação precedente para servir de base na montagem de suas estratégias. O clima comercial no país é razoavelmente estável, mas o projeto da Botnia foi afetado pela política regional, que constituiu um empecilho para a aprovação das operações da empresa. A oferta local de conhecimento e tecnologias constitui outro desafio.

Em relação a desafios para negócios, embora a disputa entre Uruguai e Argentina sobre a instalação das plantas de celulose no Uruguai tivesse se tornado uma preocupação, principalmente para os ambientalistas, ela também é apropriada à discussão de conflitos políticos que impactam negócios e a responsabilidade social das empresas. Ainda que o caso tenha sido específico ao Uruguai e à Argentina, ele indica que há um elevado nível de conscientização ambiental entre pessoas e organizações envol-vidas na aprovação e na validação social de investimentos desta natureza na América do Sul, e não somente no caso do Uruguai.

Conforme já se mencionou, a Ence cancelou seus investimentos no Uruguai e vendeu seus ativos para a Stora Enso e a Arau-co, que decidiram instalar sua fábrica de celulose em regime de joint venture em Punta Pereira ao invés de Fray Bentos, conforme planejado pela Ence. A planta da Botnia começou a produzir em novembro de 2007. A disputa política e legal entre Argentina e Uruguai foi resolvida em 14 de novembro de 2010, data a partir da qual ambos os países passaram a compartilhar o monitora-mento da planta da UPM através da Comisión Administradora del Rio Uruguay10. Com a concessão da licença ambiental à Stora Enso e Arauco, a reação dos argentinos é uma expectativa para a mídia e as próprias empresas (YLE, 2011), embora isto ainda não tenha sido sentido.

P&D para as fábricas de celuloseCom relação à oferta de recursos humanos competentes e ins-

talações para a indústria florestal, o Uruguai ainda está defasado. Conforme Foelkel (2008), os problemas principais consistem na falta de P&D e de instituições de ensino, bem como na necessida-de de ajustes e adaptações da tecnologia florestal, desde tecno-logias de cultivo de árvores até práticas silviculturais e processos produtivos industriais e melhores práticas. Como exemplo destas últimas, a produtividade florestal varia de 10 a 32 metros cúbicos por hectare por ano, bastante abaixo dos 40–50 obtidos no Brasil, isso embora algumas empresas florestais estejam adotando téc-nicas de clonagem (Foelkel, 2008).

As poucas instituições uruguaias de destaque que poderiam fornecer P&D e profissionais qualificados são a Universidad de la República (UdelaR), o Laboratorio Tecnológico de Uruguay (LATU) e o Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria

(INIA), ainda que não tenham qualquer tradição em participar de parcerias para o fornecimento de soluções a demandas espe-cializadas deste tipo. A fim de proporcionar soluções, a indústria local está investindo no aprimoramento de recursos humanos. Estão sendo criados cursos de graduação orientados para tec-nologias de silvicultura e da madeira. Um exemplo das soluções pode ser visto através do recém estabelecido curso profissional de mestrado em ciência e tecnologia da celulose e do papel, numa parceria entre o Departamento de Engenharia de Produ-tos Florestais da Universidad de la República, a Universidade de Helsinque de Ciências Aplicadas (Finlândia), o LATU e empresas de base florestal assim como fornecedores deste segmento in-dustrial (Foelkel, 2008).

A ICP do Uruguai está passando por um processo de reestrutura-ção da propriedade e de construção intensiva de plantas de celulose. As empresas estão contando com a perícia doméstica para o forneci-mento de soluções tecnológicas e têm de fornecer educação técnica aos habitantes locais a fim de garantir oferta de mão de obra. O “caso uruguaio” é um caso a ser acompanhado, não somente para verificar os resultados políticos e legais, mas também devido à possi-bilidade de ser verificado o impacto que tal concentração de plantas poderá ter sobre o meio ambiente.

Pode também servir de modelo que venha a influenciar tomado-res de decisões, no âmbito governamental e empresarial, quanto à conveniência de apoiar iniciativas relacionadas com a localização de novas plantas da ICP.

Considerações finaisOs casos apresentados neste trabalho são representativos da tra-

jetória de desenvolvimento da ICP sul-americana e dos recentes mo-vimentos no sentido de uma concentração das operações produtoras de celulose na região e da perícia estabelecida a fim de assegurar a sua vantagem competitiva. As diferentes trajetórias escolhidas pelas indústrias brasileira e chilena, elas próprias retardatárias no domínio da ICP, podem parecer bem avançadas quando comparadas com os remotos primórdios da história da própria ICP.

No caso das empresas brasileiras pode-se ver que o crescimen-to da indústria ocorreu simultaneamente com o estabelecimento de instituições tecnológicas e de ensino, frequentemente com a partici-pação de empresas nos conselhos dessas instituições, que vieram a desempenhar um papel importante no desenvolvimento das próprias empresas. A estratégia de emparelhamento que a indústria adotou desde os primórdios e que teve sua origem nas mentes de empre-sários, no governo, nas empresas e nas instituições de pesquisa, foi o principal motivo para a adoção de tecnologia como o elemento propulsor para o crescimento e a perícia. O fator crucial foi, definiti-vamente, a adoção do eucalipto como matéria-prima, o que reque-reu a montagem de uma estrutura de criação de conhecimentos a

10Comissão argentino-uruguaia, encarregada de promover o desenvolvimento e o gerenciamento do Rio Uruguai.

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ser explorada. O instinto visionário dos primeiros exploradores da madeira merece o crédito pelo empreendimento. Tendo garantido o emparelhamento com a corrente principal, as empresas estão agora se beneficiando das vantagens competitivas configuradas a fim de ampliar as suas operações e participar de forma crescente do merca-do mundial, especialmente na área de produção de celulose.

O crescimento da indústria não se deu sem críticas de vários setores da sociedade. Embora não tenha sido com a mesma intensidade como ocorrido no Uruguai, tem havido movimentos indicando a insuficiência das posturas ambiental e social que as empresas assumiram na condu-ção do seu ramo de negócios em nível local. Existem, contudo, muitos exemplos positivos de como o compromisso em termos de responsa-bilidade social corporativa tenha facilitado a aceitação das empresas pelas comunidades afetadas, especialmente agora, que as plantas são construídas distantes dos principais centros urbanos e que se acredita contribuam para a redução de desigualdades regionais.

No caso do Chile, interações para o desenvolvimento tecnológico da indústria não aconteceram com a frequência suficiente, pois as empresas optaram por não desenvolver suas próprias tecnologias e investem principalmente em vantagens comparativas, tais como disponibilidade de matérias-primas e custos mais baixos de mão de obra, construindo sobre o seu conhecimento local do ambiente co-mercial. A concentração e até certo ponto a falta de competição no mercado doméstico levaram as empresas a esta posição um tanto confortável. A concentração da indústria e as razões pelas quais ela ocorreu mostraram mais da realização do instinto político e econô-mico dos empresários que lhe deram origem do que de seu interesse em tomar parte no progresso tecnológico da indústria .

O governo foi mais empreendedor no sentido de dar início às pri-meiras operações no país. As empresas industriais não desafiaram a si mesmas de modo a promover novidades em qualquer aspecto de suas operações. A joint venture da CMPC com a Stora Enso em sua

planta uruguaia pode ser de natureza conflitante se consideradas as diferenças nos padrões tecnológicos das empresas. As empresas, todavia, estão assumindo menos riscos, pois uma possui o domínio da tecnologia, ao passo que a outra domina a fundo o conhecimento local. Será um caso bem-sucedido, não tão midiaticamente frenético como a planta da UPM foi no passado recente?

No caso do Uruguai pouco se pôde mostrar em termos da situação competitiva da indústria porque não houve quase desenvolvimento algum até a recente onda de investimentos registrada no país. De qualquer forma, o caso permanece interessante no que se refere à maneira pela qual as empresas recém instaladas enfrentarão a falta de capacidade tecnológica local. Assim, os desafios que a nova plan-ta da UPM tem enfrentado poderiam ser de interesse para outras empresas que estivessem comprando propriedades e planejando a abertura de plantas no país. Se o desenvolvimento e a aquisição de tecnologia não forem problemas emergentes, elas poderão introduzir a sua própria tecnologia e educar pessoas com a habilidade neces-sária; as características de identidade local desempenham um papel mais relevante na condução do negócio do que o esperado.

Havendo apresentado os casos, fica uma questão em aberto: qual será o futuro da ICP na América do Sul como um todo? As empre-sas ampliam suas operações e como se adaptarão a isso os recursos dos países? Particularmente, regulamentos de que tipo entrarão em vigor? Como as regras que disciplinam a exploração ambiental, o impacto e a preservação têm sido recentemente o principal assunto de debate, movimentos no sentido de concentração e o porte das empresas podem requerer ação por parte dos reguladores econô-micos, regulamentando também a prevenção de monopólios. Desta breve história da ICP na América do Sul pode-se esperar por estudos mais detalhados que abordem essas questões, assim como sobre a avaliação de diferentes classes de impactos das operações das em-presas e sobre toda a ecologia da própria indústria.

CALHAU ABTCP

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Apêndice 1. Instituições de pesquisa com aplicação potencial para a indústria florestal no Chile

Instituições de Pesquisa e Educação Linhas de Pesquisa

INFOR

Outras (INIA)

– Mitigação da e adaptação à mudança climática

– Bioenergia

– Inventário e monitoramento de recursos florestais

– Recuperação e gerenciamento de florestas

– Produtividade e diversificação de plantações florestais

– Tecnologia e indústria madeireira

– Cultivo de florestas e biotecnologia

– Sistemas de agrossilvicultura

– Produção e estabelecimento de plantas

– Produtos florestais exceto madeira de construção

– Meio ambiente e serviços ambientais

– Informações sobre silvicultura e análise econômica

Bioforest S.A.

Forestal MinincoOutras

– Produtividade da área

– Gerenciamento de plantações

– Propriedades da madeira

– Aprimoramento genético de Pinus radiata e Eucalyptus globulus

– Proteção fitossanitária

Fundación Chile

– Floresta e ecossistemas

– Carbono, produtos e serviços

– Desenvolvimento e mudança climática

– Certificação ambiental

– Construção de madeira e agregação de valor

Universidad de Chile

Universidad Austral

Universidad Católica de Chile

Universidad Católica de Temuco

Universidad Católica de Maule

Universidad de Concepción

Universidad de la Frontera

Universidad de Talca

Universidad del Bío Bío

Universidad Mayor

– Gerenciamento e colheita

– Gerenciamento de Processos

– Silvicultura

– Ecologia

– Propriedade da madeira, biodeterioração e preservação

– Aplicações da madeira

– Inventário e Sistemas de Informação de Geoposicionamento (GIS)

– Simulação

– Silvicultura urbana

– Produtos

– Genética

– Meio Ambiente

– Ergonomia

– Desenvolvimento rural

– Geração de recursos

– Solos

– Aplicação química em madeira

– Outras

Fonte: Baseado em Carmona e Garretón (2004), Fundación Chile (2011)

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