a estruturaÇÃo e a formaÇÃo do eu a partir da construÇÃo da imagem

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A ESTRUTURAÇÃO A ESTRUTURAÇÃO E E A FORMAÇÃO DO EU A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA IMAGEM

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Page 1: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A ESTRUTURAÇÃO A ESTRUTURAÇÃO E E

A FORMAÇÃO DO EU A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR A PARTIR

DA CONSTRUÇÃO DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA IMAGEM

Page 2: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

O bebê humano precisa de O bebê humano precisa de cuidados essenciais para o seu cuidados essenciais para o seu

desenvolvimento, ele sozinho não desenvolvimento, ele sozinho não pode ter a experiência de existir. pode ter a experiência de existir.

No primeiro momento No primeiro momento da vida de um bebê, a da vida de um bebê, a

vivência é de vivência é de desamparo e de falta de desamparo e de falta de

unidade corporal. unidade corporal.

Page 3: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Para que um sujeito se constitua, é preciso que tenha alguém que o olhe e veja aí o futuro sujeito que virá.

Page 4: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

ESTE FILHO PODE SER PARA SUA MÃE:ESTE FILHO PODE SER PARA SUA MÃE: Um objeto maravilhoso; Um objeto maravilhoso; Um objeto supérfluo ou algo que ela não deseja;Um objeto supérfluo ou algo que ela não deseja; Um objeto onde ela condensa a mágoa dirigida Um objeto onde ela condensa a mágoa dirigida a seu marido ou sua mãe;a seu marido ou sua mãe;

Um objeto que sobrevém de um mau momento.Um objeto que sobrevém de um mau momento.

A criança apodera-se desta imagem A criança apodera-se desta imagem constituída no constituída no olharolhar do Outro e faz dela a do Outro e faz dela a matriz do que será sua possibilidade de matriz do que será sua possibilidade de

serser

Page 5: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

É a imagem proposta pelo olhar materno que recobre o naco de carne e constitui o corpo do sujeito a advir.

Page 6: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A imagem – A imagem – inconsciente – com inconsciente – com que a mãe recobre que a mãe recobre seu filho é decisiva seu filho é decisiva para o seu futuro.para o seu futuro.

É uma marca que ele É uma marca que ele porta, o enquadre porta, o enquadre que determina sua que determina sua posição no mundo posição no mundo

pela vida afora.pela vida afora.

Page 7: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

O filho nasce primeiro numa projeção do Outro; miragem antecipada no seu erotismo.

Page 8: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A conquista do corpo próprio se dá A conquista do corpo próprio se dá graças a uma antecipação visual da graças a uma antecipação visual da

imagem que se sobrepõe à imagem que se sobrepõe à experiência do corpo despedaçado. experiência do corpo despedaçado.

Page 9: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A imagem do bebê não existirá, senão pelo A imagem do bebê não existirá, senão pelo efeito de uma representação parental.efeito de uma representação parental.

Seu corpo é, de início, a articulação entre o Seu corpo é, de início, a articulação entre o real do organismo vivo e alguma coisa que real do organismo vivo e alguma coisa que vem aí a se incorporar; uma imagem que, vem aí a se incorporar; uma imagem que,

pelo efeito do pelo efeito do olharolhar e da e da vozvoz do Outro, do Outro, pode aí se conjugar.pode aí se conjugar.

Page 10: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

À natureza não temos acesso; a realidade é pura À natureza não temos acesso; a realidade é pura representação.representação.

Magritte – Condição HumanaMagritte – Condição Humana

Page 11: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

““No campo escópico sou olhado, quer dizer, sou quadro. O No campo escópico sou olhado, quer dizer, sou quadro. O olhar está no outro e me determina no campo do visível”.olhar está no outro e me determina no campo do visível”.

Lacan, seminário 11Lacan, seminário 11

O mimetismo animal nos ensina sobre como o O mimetismo animal nos ensina sobre como o sujeito se insere no quadro, como encontra um sujeito se insere no quadro, como encontra um

lugar para si no olhar do outro lugar para si no olhar do outro para fisgar o seu gozo.para fisgar o seu gozo.

Page 12: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Isso implica, por um lado, em uma mortificação. Isso implica, por um lado, em uma mortificação. Em um primeiro momento, ele é apenas objeto para o Outro. Em um primeiro momento, ele é apenas objeto para o Outro.

Essa é uma passagem necessária, pois é a partir daí que o Essa é uma passagem necessária, pois é a partir daí que o infansinfans, aquele que ainda não fala, terá a possibilidade de , aquele que ainda não fala, terá a possibilidade de organizar uma imagem própria.organizar uma imagem própria.

Page 13: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Mas, assim como é importante ter um lugar Mas, assim como é importante ter um lugar na vida desta mãe, é importante, também, na vida desta mãe, é importante, também,

que a criança possa sair do lugar de objeto da que a criança possa sair do lugar de objeto da suposta completude materna. suposta completude materna.

Page 14: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Como indicador deste tempo, Como indicador deste tempo, temos o momento jubilátorio em temos o momento jubilátorio em que a criança (seis a dezoito que a criança (seis a dezoito meses), ao “olhar-se no espelho, meses), ao “olhar-se no espelho, volta-se para aquele que a segura, volta-se para aquele que a segura, a suporta, a sustenta, o adulto, a suporta, a sustenta, o adulto, aquele que aí representa o grande aquele que aí representa o grande Outro, para obter, de alguma Outro, para obter, de alguma forma, seu assentimento. Vira a forma, seu assentimento. Vira a cabeça e depois retorna à imagem cabeça e depois retorna à imagem que vê no espelho, como que que vê no espelho, como que pedindo para que este Outro pedindo para que este Outro ratifique o valor desta imagem.” ratifique o valor desta imagem.”

J. Lacan- Seminário: A AngústiaJ. Lacan- Seminário: A Angústia

Page 15: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Primeiramente, a criança toma consciência do Primeiramente, a criança toma consciência do seu corpo, concebido como objeto exterior; seu corpo, concebido como objeto exterior;

Num segundo momento, ela tenta agarrar essa Num segundo momento, ela tenta agarrar essa imagem, mas descobre que nada há por detrás imagem, mas descobre que nada há por detrás do espelho: este eu "refletindo-refletido" não do espelho: este eu "refletindo-refletido" não remete para qualquer objeto exterior; remete para qualquer objeto exterior;

Por fim, compreende não somente que o outro Por fim, compreende não somente que o outro do espelho é uma imagem, mas também ser, do espelho é uma imagem, mas também ser, essa imagem, a sua. essa imagem, a sua.

Do ponto de vista da estrutura do indivíduo, Do ponto de vista da estrutura do indivíduo, aquilo que Lacan chama "estádio do espelho" aquilo que Lacan chama "estádio do espelho"

assinala um momento fundamental :assinala um momento fundamental :

Page 16: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

"A assunção jubilatória da imagem especular "A assunção jubilatória da imagem especular pelo ser ainda submergido na impotência pelo ser ainda submergido na impotência

motriz e a dependência da amamentação que motriz e a dependência da amamentação que é o pequeno homem nesse estádio é o pequeno homem nesse estádio infans,infans,

parecer-nos-á manifestar, desde então, numa parecer-nos-á manifestar, desde então, numa situação exemplar, a matriz simbólica onde o situação exemplar, a matriz simbólica onde o eu se precipita numa forma primordial, antes eu se precipita numa forma primordial, antes de objetivar-se na dialética da identificação de objetivar-se na dialética da identificação com o outro e da linguagem lhe restituir no com o outro e da linguagem lhe restituir no

universal a sua função de sujeito“universal a sua função de sujeito“ LacanLacan

Page 17: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A criança percebe na imagem especular uma forma em A criança percebe na imagem especular uma forma em que antecipa uma unidade corporal que lhe falta: que antecipa uma unidade corporal que lhe falta:

identifica-se com essa imagem. identifica-se com essa imagem.

Esta experiência inaugural de reconhecimento se inscreve Esta experiência inaugural de reconhecimento se inscreve no inconsciente e permite instituir o outro, o eu e os no inconsciente e permite instituir o outro, o eu e os

objetos. objetos.

A imagem despedaçada do corpo assume uma forma A imagem despedaçada do corpo assume uma forma ortopédica que pode se chamar de “eu”. Uma armadura de ortopédica que pode se chamar de “eu”. Uma armadura de

uma identidade alienante que vai marcar todo o seu uma identidade alienante que vai marcar todo o seu desenvolvimento mental.desenvolvimento mental.

Page 18: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Mas se por um lado ser Mas se por um lado ser objeto do desejo materno objeto do desejo materno é a condição primeira da é a condição primeira da

entrada do sujeito no entrada do sujeito no discurso, na vida, discurso, na vida,

ser tudoser tudo para essa mãe para essa mãe representaria para este representaria para este

futuro sujeito um futuro sujeito um aprisionamento aprisionamento excessivo, uma excessivo, uma

dificuldade de se ver dificuldade de se ver enquanto enquanto eueu, separado , separado

de sua mãe.de sua mãe.

Page 19: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Por isso é necessário um Por isso é necessário um cortecorte. E quem cumpre esta . E quem cumpre esta função é o pai. função é o pai. O pai, em sua funçãoO pai, em sua função, vem perturbar a , vem perturbar a harmonia alienante entre a mãe e o bebê.harmonia alienante entre a mãe e o bebê.

Toda relação dual, imaginária é sem saída: ela cria um Toda relação dual, imaginária é sem saída: ela cria um mundo fechado que não suporta a existência de um rival.mundo fechado que não suporta a existência de um rival.

Page 20: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A entrada do pai desfaz essa relação imaginária, permite A entrada do pai desfaz essa relação imaginária, permite à criança abrir-se ao outro, inscrever-se no universo da à criança abrir-se ao outro, inscrever-se no universo da

cultura e da linguagem.cultura e da linguagem.

Sem a intervenção do simbólico, sob a forma da lei, a relação Sem a intervenção do simbólico, sob a forma da lei, a relação imaginária pode tornar-se patológica.imaginária pode tornar-se patológica.

Page 21: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A tradução do desejo A tradução do desejo da mãe pelo pai da mãe pelo pai introduz na vida do introduz na vida do filho um filho um funcionamento pela funcionamento pela via do significante. via do significante. Esta é a Esta é a operação operação metafóricametafórica que que possibilita a possibilita a articulação da articulação da subjetividade subjetividade nono e e pelopelo discurso. A palavra discurso. A palavra abre a possibilidade de abre a possibilidade de equívocos.equívocos.

Page 22: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A significação, indicada pelo pai, A significação, indicada pelo pai, desloca a criança do lugar de alienação desloca a criança do lugar de alienação ao gozo materno, e do aprisionamento ao gozo materno, e do aprisionamento ao signo de seu olhar, para o lugar de ao signo de seu olhar, para o lugar de

significante do seu desejo. significante do seu desejo.

A presença deste significante permite A presença deste significante permite um jogo muito diferente daquele que se um jogo muito diferente daquele que se faz com as imagens, o jogo simbólico. faz com as imagens, o jogo simbólico.

Page 23: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

O sujeito surgeO sujeito surgecomo um doscomo um dosefeitos desteefeitos desteacesso aoacesso aosimbólico.simbólico.

O sujeito ficaO sujeito ficamediado, nomediado, noregistro doregistro dosimbólico, pelasimbólico, pelapalavra (pronomepalavra (pronomepessoal, nomepessoal, nomepróprio etc.). próprio etc.).

Page 24: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Essa função paterna é sempre falha em alguma Essa função paterna é sempre falha em alguma medida, mas seu vigor é fundamental para que a medida, mas seu vigor é fundamental para que a

criança não fique abandonada aos caprichos criança não fique abandonada aos caprichos maternos, aprisionada no visgo do olhar e prisioneira maternos, aprisionada no visgo do olhar e prisioneira

do jogo das imagens, sendo lançada no puro do jogo das imagens, sendo lançada no puro desamparo.desamparo.

Se o pai é aquele que livra a criança da ameaça de Se o pai é aquele que livra a criança da ameaça de ser puro objeto a ser devorado pela mãe, a ser puro objeto a ser devorado pela mãe, a

frouxidão dessa função deixará frágil a demarcação frouxidão dessa função deixará frágil a demarcação do lugar de cada um, e o outro, impedido de se do lugar de cada um, e o outro, impedido de se

constituir como Outro, ligar da constituir como Outro, ligar da alteridadealteridade, de onde , de onde pode advir toda pode advir toda autoridadeautoridade, permanecerá sempre , permanecerá sempre

o o intrusointruso, , invasorinvasor e e ameaçadorameaçador..

Page 25: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

O NASCIMENTO DA O NASCIMENTO DA AGRESSIVIDADE HUMANAAGRESSIVIDADE HUMANA

Page 26: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

QUAL É O PAPEL DA AGRESSIVIDADE QUAL É O PAPEL DA AGRESSIVIDADE NA ECONOMIA PSÍQUICA?NA ECONOMIA PSÍQUICA?

Nas crianças, a agressividade não deve ser Nas crianças, a agressividade não deve ser somente vista como manifestação lúdica somente vista como manifestação lúdica

do exercício de forças, deve ser do exercício de forças, deve ser compreendida de forma mais ampla. Há aí compreendida de forma mais ampla. Há aí uma primeira captação da imagem, onde uma primeira captação da imagem, onde

se esboça o primeiro momento da dialética se esboça o primeiro momento da dialética das identificações.das identificações.

Page 27: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A origem fundamental da agressividade não é, para Lacan, A origem fundamental da agressividade não é, para Lacan, como em outros, a frustração. O ponto medular da como em outros, a frustração. O ponto medular da agressividade estaria focalizado na ruptura da identificação agressividade estaria focalizado na ruptura da identificação imaginária. imaginária.

Na ordem imaginária não se Na ordem imaginária não se dá uma distinção entre dá uma distinção entre significante e significado.significante e significado.

Tudo o que a questiona, engendra Tudo o que a questiona, engendra agressividade. A própria agressividade. A própria identificação narcisista faz parte da identificação narcisista faz parte da agressividade.agressividade.

Page 28: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A AGRESSIVIDADE, A AGRESSIVIDADE, NÓS A CONSTATAMOS NÓS A CONSTATAMOS

FREQUENTEMENTE NA AÇÃO FREQUENTEMENTE NA AÇÃO FORMADORA DE UM INDIVÍDUO FORMADORA DE UM INDIVÍDUO

““Basta escutar a fabulação e as Basta escutar a fabulação e as brincadeiras das crianças, isoladas ou brincadeiras das crianças, isoladas ou entre si, entre os dois e os cinco anos, entre si, entre os dois e os cinco anos, para saber que arrancar a cabeça e furar para saber que arrancar a cabeça e furar a barriga são temas espontâneos de sua a barriga são temas espontâneos de sua imaginação, que a experiência da boneca imaginação, que a experiência da boneca desmantelada só faz satisfazer.”desmantelada só faz satisfazer.”

LacanLacan

Page 29: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A criança, nessas ocasiões, A criança, nessas ocasiões, antecipa no plano mental a antecipa no plano mental a

conquista da unidade conquista da unidade funcional de seu próprio funcional de seu próprio corpo, ainda inacabado, corpo, ainda inacabado,

nesse momento, no plano nesse momento, no plano da motricidade voluntária.da motricidade voluntária.

Page 30: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A natureza da AGRESSIVIDADE humana está A natureza da AGRESSIVIDADE humana está diretamente ligada com a origem da relação diretamente ligada com a origem da relação com o formalismo de seu eu e dos objetos. com o formalismo de seu eu e dos objetos.

Como vimos, o indivíduo humano, para Como vimos, o indivíduo humano, para existir, como sujeito, se fixa numa imagem existir, como sujeito, se fixa numa imagem que o que o alienaaliena em si mesmo no outroem si mesmo no outro, é daí , é daí que ele tira a forma de onde se origina a que ele tira a forma de onde se origina a

organização passional que ele irá chamar de organização passional que ele irá chamar de eu.eu.

Essa forma se cristalizará, com efeito, na Essa forma se cristalizará, com efeito, na tensão conflitiva interna ao sujeito, que tensão conflitiva interna ao sujeito, que

determina o despertar de seu desejo pelo determina o despertar de seu desejo pelo objeto do desejo do outro. objeto do desejo do outro.

Page 31: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Num momento arcaico da existência, quando a Num momento arcaico da existência, quando a tradução estabelecida pelo pai do que teria sido o tradução estabelecida pelo pai do que teria sido o desejo da mãe não foi confirmada delimitando o desejo da mãe não foi confirmada delimitando o lugar da criança, ela vive momentos de confusão lugar da criança, ela vive momentos de confusão com a imagem do semelhante. O que sou eu? O com a imagem do semelhante. O que sou eu? O

que é o outro? que é o outro?

Page 32: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

É através da imagem do outro, rival e É através da imagem do outro, rival e intruso, que a imagem do homem se ordena. intruso, que a imagem do homem se ordena.

Razão pela qual seu desejo será sempre o Razão pela qual seu desejo será sempre o desejo do Outro. A indistinção com o desejo do Outro. A indistinção com o

parceiro de brincadeiras, o semelhante em parceiro de brincadeiras, o semelhante em torno do qual faz suas primeiras torno do qual faz suas primeiras

identificações, instala uma guerra onde a identificações, instala uma guerra onde a existência de um exige anular a existência existência de um exige anular a existência

do outro. do outro.

Page 33: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Ou eu existo ou quem tem lugar é o Ou eu existo ou quem tem lugar é o intruso que se confunde com a minha intruso que se confunde com a minha imagem. Ou defendo a minha imagem. Ou defendo a minha existência ou sou eliminado pela existência ou sou eliminado pela existência do outro. O reino da existência do outro. O reino da violência se inscreve e demarca o violência se inscreve e demarca o território da agressividade humana território da agressividade humana neste tempo primeiro. Na verdade, a neste tempo primeiro. Na verdade, a criança exercita uma estrutura criança exercita uma estrutura humana fundamental no plano humana fundamental no plano imaginário onde é preciso destruir imaginário onde é preciso destruir aquele que é a sede da alienação.aquele que é a sede da alienação.

Page 34: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Se há um pai, em sua função, haverá a lei organizadora que define e Se há um pai, em sua função, haverá a lei organizadora que define e diferencia o lugar de cada um, estabelecendo acordos e tratados de diferencia o lugar de cada um, estabelecendo acordos e tratados de

paz. Sempre que a existência subjetiva aí conquistada for respeitada, paz. Sempre que a existência subjetiva aí conquistada for respeitada, os incômodos na relação com o outro poderão ser contornados. Mas os incômodos na relação com o outro poderão ser contornados. Mas as barreiras que impedem as manifestações de crueldade e violência as barreiras que impedem as manifestações de crueldade e violência

serão suspensas cada vez que o lugar de sujeito nos for negado. serão suspensas cada vez que o lugar de sujeito nos for negado.

Page 35: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

A Agressividade, compreendida como significativa A Agressividade, compreendida como significativa de um desenvolvimento do eu, deve ser tida como de um desenvolvimento do eu, deve ser tida como sendo de um uso social indispensável, pois ela traz sendo de um uso social indispensável, pois ela traz

indícios da particularidade de um sujeito. indícios da particularidade de um sujeito.

A ela porém, devemos oferecer o diálogo. A ela porém, devemos oferecer o diálogo. O diálogo em si parece constituir uma renúncia à O diálogo em si parece constituir uma renúncia à

agressividade.agressividade.

Page 36: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Somente através do diálogo Somente através do diálogo a conciliação é possívela conciliação é possível

A conciliação é o ato de pôr em acordo, A conciliação é o ato de pôr em acordo, pessoas em conflito, em discordância. pessoas em conflito, em discordância.

O acordo se faz pela palavra, pelo O acordo se faz pela palavra, pelo diálogo entre as partes. Cada lado diálogo entre as partes. Cada lado deve ler a situação segundo seu deve ler a situação segundo seu

ponto de vista e, em alguma medida, ponto de vista e, em alguma medida, ceder para que se estabeleça um ceder para que se estabeleça um pacto. Cada um deve reconhecer, pacto. Cada um deve reconhecer, escutar e respeitar a posição do escutar e respeitar a posição do

outro. outro.

Todo diálogo implica no Todo diálogo implica no reconhecimento da reconhecimento da boa féboa fé do outro, do outro,

da sua posição de sujeito. da sua posição de sujeito.

Page 37: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Mas o fracasso da Mas o fracasso da dialética verbal tem dialética verbal tem comparecido com comparecido com

imensa frequência. imensa frequência. Podemos ver que Podemos ver que basta o pretexto basta o pretexto

mais fortuito para mais fortuito para provocar gestos e provocar gestos e

intenções dos mais intenções dos mais violentos.violentos.

Page 38: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

Temos que analisar estas Temos que analisar estas questões ao lado do questões ao lado do

declínio da imagem do declínio da imagem do pai, vivido na atualidade.pai, vivido na atualidade.

Na época em que vivemos, cada vez mais o sujeito não é Na época em que vivemos, cada vez mais o sujeito não é reconhecido, pois que, inicialmente, reconhecido, pois que, inicialmente, ele não se instalouele não se instalou. Então, . Então, sobrevém a violência, o uso exacerbado de drogas, todas as sobrevém a violência, o uso exacerbado de drogas, todas as espécies de compulsões e patologias. espécies de compulsões e patologias.

Page 39: A ESTRUTURAÇÃO E A FORMAÇÃO DO EU A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM

No nível do eu, é a validade da presença no mundo No nível do eu, é a validade da presença no mundo de cada um que se encontra discutível, já que ela de cada um que se encontra discutível, já que ela só poderia ser verificada enquanto se é capaz de só poderia ser verificada enquanto se é capaz de altas performances, quer dizer, enquanto a altas performances, quer dizer, enquanto a participação no jogo social ou na atividade participação no jogo social ou na atividade econômica se encontra efetivamente reconhecida. econômica se encontra efetivamente reconhecida. Na falta da referência, do referente, seja ele Na falta da referência, do referente, seja ele ancestral ou não, que permite ao sujeito afirmar ancestral ou não, que permite ao sujeito afirmar sua validade e sua continuidade, seu tônus, a sua validade e sua continuidade, seu tônus, a despeito dos avatares de seu destino pessoal, esse despeito dos avatares de seu destino pessoal, esse reconhecimento vem, evidentemente, a faltar. reconhecimento vem, evidentemente, a faltar. Simultaneamente o sujeito, ou melhor, o eu se vê Simultaneamente o sujeito, ou melhor, o eu se vê exposto, frágil, deprimido, porque seu tônus não exposto, frágil, deprimido, porque seu tônus não está agora organizado, garantido por uma espécie está agora organizado, garantido por uma espécie de referência fixa, estável, segura, por um nome de referência fixa, estável, segura, por um nome próprio, tendo necessidade de ser confirmado próprio, tendo necessidade de ser confirmado incessantemente. incessantemente.

((O homem sem gravidade, O homem sem gravidade, pág 40)pág 40)