a dança no culto cristão
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UNIVERSIDADE CATLICA DE GOIS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
MESTRADO EM CINCIAS DA RELIGIO
A DANA NO CULTO CRISTO
Luciana R. Pinheiro Torres
GOINIA2007
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UNIVERSIDADE CATLICA DE GOIS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
MESTRADO EM CINCIAS DA RELIGIO
A DANA NO CULTO CRISTO
Luciana R. Pinheiro Torres
Dissertao de mestrado apresentada ao ProgramaDe Ps-Graduao em Cincias da Religio
como requisito para obteno do grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Haroldo Reimer.
GOINIA2007
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T693d Torres, Luciana R. Pinheiro.A dana no culto cristo / Luciana R. Pinheiro Torres.
2007.125 f.
Dissertao (mestrado) Universidade Catlica de Gois,Mestrado em Cincias da Religio, 2007.
Orientador: Prof. Dr. Haroldo Reimer.
1. Dana culto cristo. 2. Arte. 3. Cristianismo. 4.
Religio. 5. Corpo. I. Ttulo.CDU: 291.315.6
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RESUMO
TORRES, Luciana Rodrigues Pinheiro. Dana no culto cristo.Goinia: (Mestrado emCincias da Religio) Universidade Catlica de Gois, 2007.
A arte como expresso da plenitude do ser sempre esteve relacionada ao rito. A danacomo expresso artstica e participante do rito se desenvolve em cada cultura, de formaa ser a expresso do amadurecimento de conceitos e valores culturais de um povo. Elase torna um reflexo da sociedade em que est inserida. O presente estudo quer fazeruma anlise em relao dana como expresso de culto ao Sagrado, apontando
discusses sobre o processo de desapropriao da dana como forma de culto porparte do cristianismo e sobre o fenmeno contemporneo de reapropriao da mesma.
As concluses finais buscam conduzir a uma reflexo do fenmeno no presente.
Palavras-Chave: Dana, culto, cultura, arte, cristianismo, sagrado, religio e corpo.
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ABSTRACT
TORRES, Luciana Rodrigues Pinheiro. Dance in Cristian Worship.Goinia: (Mestradoem Cincias da Religio) Universidade Catlica de Gois, 2007.
Arts as an expression of the human being as a whole has always been directly related torituals. The dance as an artistic expression, and as part of those rituals, develops it selfin each culture as a means of expressing the maturing concepts cultural values of apeople. It becomes a mirror of the society from which it comes. This study endeavours toanalyse dance as an expression of worship to deity (the sacred). It looks to discuss theprocess which took place as dance lost its fundamental place as part of Christian
worship. Furthermore it looks at how dance regained its place in the current Christianworship trend. The study also endeavours to encourage a timely reflection on thiscurrent phenomena.
Key Words: dance, worship, culture, arts, Christian, sacred, religion and body.
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SUMRIO
INTRODUO................................................................................................................10
CAPTULO I
A DANA COMO MANIFESTAO CULTURAL E RELIGIOSA DO SER HUMANO.13
1.1 A CULTURA E O SIMBOLISMO..............................................................................13
1.2 A ARTE DE DANAR...............................................................................................17
1.3 O MOVIMENTO CORPORAL...................................................................................19
1.4 POR UMA CONCEPO DE CORPO.....................................................................21
1.5 CARACTERSTICAS DAS DANAS DE DIFERENTES POVOS ...........................26
1.6. A DANA SAGRADA...............................................................................................28
1.7 O ETHOS E A DANA .............................................................................................30
1.8 A DANA COMO EXPRESSO DE LOUVOR E ADORAO NO CULTO
CRISTO.........................................................................................................................32
1.9 SNTESE...................................................................................................................33
CAPTULO II
A DANA NA CULTURA HEBRAICA E A GRADATIVA SUPRESSO DA DANA NO
CULTO CRISTO...........................................................................................................35
2.1 AS DANAS RELIGIOSAS E AS DANAS TEATRAIS ..........................................35
2.2 A DANA NA CULTURA HEBRAICA.......................................................................38
2.2.1 As festas hebraicas.....................................................................................38
2.2.2 A dana hebraica ........................................................................................42
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2.2.3 Uma perspectiva de corpo e movimento na cultura Hebraica.....................45
2.3 A DANA NA CULTURA GRECO-ROMANA...........................................................51
2.3.1 A influncia grega........................................................................................51
2.3.1 A influncia romana.....................................................................................57
2.4 A DANA NO CRISTIANISMO.................................................................................61
2.4.1 A Dana no Novo Testamento.....................................................................61
2.4.2 A Dana no cristianismo primitivo ...............................................................62
2.5 SNTESE...................................................................................................................71
CAPTULO III
A DANA NO CRISTIANISMO EVANGLICO CONTEMPORNEO...........................72
3.1 O AMBIENTE PS-MODERNO................................................................................72
3.2 A REDESCOBERTA DA DANA NO CULTO EVANGLICO ATUAL.....................74
3.2.1 Concepo de dana...................................................................................76
3.2.2 Tipos de dana realizada no ambiente eclesistico....................................77
3.2.3 A direo do louvor com danas..................................................................80
3.2.4 O fenmeno da dana no culto....................................................................83
3.2.5 O simbolismo nas roupas, objetos e desenhos coreogrficos....................84
3.3 O CAMINHO DA REDESCOBERTA DA DANA NO BRASIL.................................85
3.4 PESQUISA JUNTO A GRUPOS EVANGLICOS DE DANA ...............................87
3.4.1 Dificuldades.................................................................................................89
3.4.2 Retorno da dana........................................................................................92
3.4.3 O corpo no mundo evanglico atual............................................................93
3.5 CIA.RHEMA...............................................................................................................94
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3.6 EVENTOS EVANGLICOS DE DANA NO BRASIL...............................................96
3.7 SNTESE ..................................................................................................................98
CONCLUSO...............................................................................................................100
REFERNCIAS.............................................................................................................104
ANEXOS.......................................................................................................................108
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INTRODUO
Presente na vida de tantos povos, tanto nos momentos de lazer quanto nos
momentos de adversidades, a dana a expresso de uma comunidade, canal de
sociabilizao, fonte de lazer e tambm de Adorao. Para as pessoas que se deixam
expressar atravs dela, h uma certeza: que a dana da vida deve ser celebrada,
festejada em forma de agradecimento a quem a doa.
Ao percorrer o caminho de uma cultura, de uma religio, de um povo com sua
histria e valores, se descobre a dana. Carregada de um simbolismo comum a cada
comunidade, a dana descreve uma histria, revela os valores mais indizveis de quem
a executa. Permeada pelo ambiente incontestvel da cultura, a dana de um povo
transmite pelas geraes sua histria e o seu ethos, se revelando no somente como
canal de manifestao cultural e religiosa, mas como perpetuadora dos mesmos.Em se tratando do cristianismo, percebe-se que diferente das outras religies, a
sua dana, possui mais um carter cultural do que cultual. Nas festas catlicas, nas
danas folclricas e nas cantigas de roda, a nfase dada mais para o divertimento do
que para ao aspecto religioso em si. No protestantismo, somente na ps-modernidade
que se percebe a presena da dana como forma de culto, no se tendo indcios de sua
presena em qualquer outro momento vivenciado por esta religio. As caractersticas de
sua raiz judaica, com suas festividades que provavelmente eram acompanhadas por
danas, foram perdidas ao longo do tempo, restando em sua prtica somente vestgios
de movimento, deixados no ato de se ajoelhar, se curvar e levantar as mos.
A presente pesquisa procura discernir o momento e a razo pela qual o
cristianismo evanglico se absteve da dana como forma de culto, alm de buscar o
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caminho da reapropriao da mesma. Para tal, a pesquisa ser dividida em trs
captulos.
No primeiro captulo, se discorre sobre questes que permeiam o tema da dana,
como arte, cultura, movimento, concepes de corpo, dana sagrada e ethos.
Destacam-se ainda as caractersticas das danas em diferentes povos, fazendo
afirmaes iniciais sobre a dana no ambiente do culto cristo.
No segundo captulo, a pesquisa direcionada para o tema da dana na cultura
hebraica como bero do cristianismo, discorrendo sobre suas festas, sua dana, sua
concepo de corpo e ainda sobre a influncia que as culturas grega e romana,
exerceram sobre sua dana. Finalmente, discorre de forma direta sobre a dana no
Novo Testamento e no cristianismo evanglico.
O terceiro captulo trata inicialmente da redescoberta da dana por parte do
cristianismo evanglico protestante, destacando a maneira como a dana comeou a
ser implantada nas igrejas protestantes do Brasil. Em seguida, se discorre sobre a
maneira como os cristos evanglicos da atualidade concebem e realizam a dana em
seu culto, na busca da compreenso do significado da mesma para esta religio.
Finalmente, o terceiro captulo trata da pesquisa feita junto a doze grupos evanglicos
de dana que tem atuado no Brasil, na tentativa de, a partir destes, discernir como a
dana tem sido apropriada pelos cristos evanglicos na contemporaneidade. Alguns
grupos responderam pessoalmente ao questionrio, no momento em que estavam
presentes em um evento nacional de dana que acontece em Goinia, chamado
Festival Rhema, enquanto que outros foram colhidos via internet.
A inteno que esta dissertao oferea uma viso panormica sobre o tema
em questo, na tentativa de esclarecer que a dana que tem sido realizada no ambiente
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eclesistico evanglico uma manifestao natural do ser humano na expresso do
seu amor e dedicao a Deus. Os evanglicos contemporneos se apropriam da
dana, na sua mais profunda forma de se comunicar com o Sagrado: na adorao.
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CAPTULO I
A DANA COMO MANIFESTAO CULTURAL E RELIGIOSA DO SER HUMANO
Desde a Antigidade, o ser humano tem apresentado uma necessidade de
expresso de valores e crenas, que se revela nas festas culturais celebradas
geralmente com danas. O presente captulo discorre sobre como a dana se encaixa
dentro do universo simblico do ser humano, apontando para como esta foi apropriada
por alguns povos primitivos. Conceitos ligados ao tema da dana tambm so citados
no presente captulo, buscando a compreenso dos termos e sua aplicao dentro do
tema em questo.
1.1 A CULTURA E O SIMBOLISMO
Nas diversas manifestaes do ser humano, tanto nas de ordem pessoal quanto
nas manifestaes em grupo, ele se mostra como um ser que simboliza. Seu cotidiano
est repleto da presena de smbolos, que exprimem valores religiosos e morais,
armazenados durante sua existncia, exprimindo seu ethos, suas crenas, valores e
ideais de vida. O smbolo se mostra carregado de significados, relaciona o eu real do
ser humano com uma significao de mundo. Simbolizar uma maneira de situar o eu
no mundo ao redor, um tipo de cosmogonia, uma organizao de mundo realizada
esteticamente.
Eliade (1992, p. 126) aponta que o homem arcaico se comunica com o mundo,
porque utiliza a mesma linguagem: o smbolo. Se o mundo lhe fala atravs das
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estaes do ano, das estrelas, o homem lhe responde por meio de seus sonhos, sua
vida imaginativa e seus rituais. Desta forma, ele tambm se sente olhado e
compreendido pelo mundo. O smbolo, ento, se mostra no somente como uma
expresso de valores, mas como uma maneira de se comunicar com o mundo
espiritual, de trazer o no-palpvel para o mundo real, de compreender e ser
compreendido pelo no dizvel.
Para Ricoeur, interpretao o trabalho de pensamento que consiste em
decifrar o sentido oculto no sentido aparente, em desdobrar os nveis de significao
implicados na significao literal (RICOEUR, 1978, p. 15). A interpretao dos
smbolos revelados em uma manifestao cultural , muitas vezes, uma interpretao
que no se revela em palavras, mas no sentimento da pessoa que assiste e da que
participa daquela manifestao. o valor expresso no smbolo e revelado no
sentimento de quem v e de quem participa.
As expresses simblicas realizadas em uma determinada religio so um
produto da cultura; so um ingrediente da mesma que expressa de forma abstrata os
valores de uma sociedade. A produo cultural de um povo, a dana, a msica e a
pintura expressa crenas, necessidades, anseios e padres de comportamento.
Parker (1996, p.52) define cultura como:
O conjunto de prticas coletivas significativas baseadas nosprocessos de trabalho em funo da satisfao da vasta gama denecessidades humanas, que se institucionalizam nas estruturas designos e de smbolos, que so transmitidas por uma srie deveculos de comunicao e internalizadas em hbitos, costumes,formas de ser, de pensar e de sentir.
A dana cultural de um povo vem carregada de simbolismo. Os movimentos, sua
intensidade, ritmo, as cores e formas do figurino utilizado, as formas coreogrficas, o
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roteiro, a atitudes dos bailarinos e a intensidade com que interpretado um
personagem, tudo isto uma forma de expressar crenas e valores. medida que sua
crena externada atravs dos smbolos, o ser humano se encaixa no mundo,
encontrando seu significado, realizando a cosmogonia.
Atravs das danas realizadas em festas culturais se d uma perpetuao de
conceitos e valores, que promovem o cultivo de costumes e crenas. Quando o povo
hebreu, por exemplo, festeja a abundncia da colheita est firmando sua f no Sagrado,
dizendo s novas geraes que a proviso da colheita veio do seu Deus. Assim
tambm no catolicismo, quando se festeja a festa da quadrilha, est sendo perpetuado
s novas geraes a crena em So Joo. interessante observar que tais festas tm
um forte aspecto de diverso, porm por trs deste se encontram outros dois aspectos
intrnsecos. Primeiro que estas festas promovem o cultivo da crena na Divindade, uma
vez que ao festejar para uma divindade, a pessoa vivifica a crena, aprendendo os
argumentos que a rodeiam. Um segundo aspecto o da necessidade de ser aceito em
uma sociedade, atravs do ato de se seguir religio proeminente na regio. H uma
identificao, nos cdigos semnticos populares, do ser cristo com o ser membro da
sociedade (PARKER, 1996, p.149).
A cultura de um povo tem um forte poder de direcionar atitudes, pois de um
modo geral a cultura no questionvel. Simplesmente se vive dentro de uma cultura,
com seus smbolos, valores e crenas que foram passados de gerao em gerao,
sem se questionar se so pertinentes ou no. A dana acompanhada de alucingenos
e com o corpo desenhado e invocando espritos, que era realizada pelos ndios
delaware, os shawnees e os illinois, que vivem ao leste dos Estados Unidos
(Enciclopdia Encarta, 2001), era feita aps batalhas realizadas para a glorificao
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pessoal ou do grupo. Como toda outra crena expressa em atitude cultural, era
passada de gerao em gerao, sem o questionamento do certo ou errado, do
verdadeiro ou falso. Era uma atitude cultural, recheada de significado religioso. neste
ponto que fica explcita a forte ligao existente entre religio e cultura, A religio
direciona o ethos ou a viso de mundo de um povo; a cultura, por sua vez, expressa e
perpetua este ethos. Como aponta Parker, nos diferentes modelos e formas culturais,
incluindo seus componentes explicitamente religiosos, existem concepes do mundo
(PARKER, 1996, p. 56).
A arte de um modo geral est repleta de um simbolismo, atravs das cores,
formas, desenhos e movimentos. Este simbolismo reflete e sustenta os valores
humanos; em outras palavras, atravs da arte, uma crena pode ser perpetuada.
Comprovando esta afirmao, observa-se a afirmao de Eliade quando aponta que,
em Alexandria e Roma, a arte foi responsvel por permitir a perpetuao dos deuses
homricos, atravs da alegoria.
Graas sobretudo ao fato de toda a literatura e todas as artesplsticas se terem desenvolvido em torno dos mitos divinos ehericos, os deuses e heris gregos no ficaram relegados aoesquecimento aps o longo processo de desmistificao, nem apso triunfo do cristianismo. [...] essa herana mitolgica pode ser
aceita e assimilada pelo cristianismo. Ela se convertera numtesouro cultural. Em ltima anlise, a herana clssica foi salvapelos poetas, pelos artistas e filsofos (ELIADE, 1992, p.136-137).
A dana religiosa, ento, atravs de um simbolismo nas formas, desenhos,
figuras, cores de roupas, histrias, perpetua a religio, transmite crenas, assegurando
o cultivo das mesmas. Assim mostra-se extremamente importante como manifestao
cultural e simblica de um povo.
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1.2 A ARTE DE DANAR
O termo arte deriva do latim ars, que significa habilidade na realizao de
aes especializadas (Enciclopdia Microsoft encarta). O conceito de arte se refere
tanto habilidade tcnica quanto ao talento criativo, podendo se limitar primeira ou
ampliar-se a ponto de expressar uma viso de mundo. A arte atividade espiritual,
criadora, no subordinada a qualquer modelo ou conceito; conhecimento intuitivo e
no racional, expresso do esprito no sensvel (MONTERADO, 1968, p.7).
Arte significa mo de obra qualificada, habilidade, domnio daforma, criao, associao entre forma e idia e entre tcnicas emateriais. O termo arte, portanto, traz em si um imperativo pararealar a natureza e no imit-la, e a arte serve como instrumentotcnico e criador aos anseios e realizaes humanas (VINCENT,1968, p.13).
A arte proporciona experincias estticas, emocionais e intelectuais, sendo um
forte canal de expresso da plenitude do ser humano. Tal afirmao pode ser a
explicao da ntima ligao que se observa entre a arte e a religio. O ethos, a viso
de mundo, a cultura e a religio de um povo podem ser manifestas e at apropriadas
atravs de suas expresses artsticas. As expresses artsticas sempre estiveram
presentes nas sociedades, sendo o reflexo dos valores e a manifestao da vida
cultural dos povos. Toda obra de arte filha de seu tempo e, muitas vezes, me dos
nossos sentimentos (FONTES, 1990, p.27).
A dana como linguagem da arte seria, ento, uma intensa manifestao de
expresso do ser, de suas relaes sociais e religiosas. A dana a arte do
movimento e da expresso, onde a esttica e a musicalidade prevalecem (ACHCAR,
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1998 p.15). O ser humano tem a necessidade de se expressar e se expressa quando
dana. O significado da palavra dana deriva da raiz lingstica tanque, em snscrito,
significa tenso. O homem se expressa com intensidade quando dana.
A dana nada mais do que a primeira e mais antiga manifestaode expresso natural do homem, que desde a pr-histria foiutilizada de forma decisiva para a sua fixao, adaptao,sobrevivncia e desenvolvimento (BERTONI, 1992, p.55).
Nos conceitos de dana, observa-se que a expresso corporal uma forma de
comunicao e expresso, imprimindo um aspecto artstico aos movimentos cotidianos,
extraindo destes valores e anseios de determinado grupo social.
Dana, movimentos corporais rtmicos, geralmente acompanhadosde msica, que seguem um padro e funcionam como forma de
comunicao ou expresso. A dana a transformao de funesnormais e expresses corriqueiras em movimentos fora do comumcom propsitos extraordinrios (Enciclopdia, 1993-2001Microsoft).
Segundo Bertoni, a dana uma forma de expresso, um caminho de
manifestao natural, sobre o qual o ser humano desencadeia o seu desenvolvimento
integral. Ele cita a dana como a primeira expresso do ser humano, como elemento
responsvel pela sua sociabilidade. Ele afirma:
...esta forma de expresso tem sido o caminho de manifestaonatural, sobre o qual, desde o incio, o desenvolvimentointegral do homem foi desencadeado. A dana foi realmenteo elemento responsvel pela sociabilidade do homem(BERTONI,1992, p. 8).
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O ser humano sempre se apropriou da dana como forma de linguagem,
presidindo acontecimentos importantes como: nascimentos, mortes, casamentos,
colheitas, caas, iniciaes religiosas, chegadas de estaes, festas religiosas e rituais
tribais. A dana promove atravs dos movimentos a manifestao do indizvel, uma
comunicao no verbal que atravessa as barreiras de lnguas e dialetos.
1.3 O MOVIMENTO CORPORAL
A linguagem simblica precede linguagem verbal, expressando valores
intrnsecos do indivduo e de uma sociedade. O movimento , ento, uma linguagem
no verbal e simblica, atravs da qual se expressa o que as palavras no conseguem
dizer.
Desde o seu nascimento, o ser humano utiliza o movimento para se comunicar e
para expressar necessidades, emoes e sentimentos. Atravs deste, o ser humano
aprende sobre sua sociedade e sobre si mesmo. O homem necessita de um mundo de
movimento para manter-se orgnica e emocionalmente sadio. Ele a essncia da vida,
faz parte da complexidade constituio do ser humano (NANNI, 1995, p. 10).
A atividade motora do ser humano se expressa desde os movimentos chamados
naturais como andar, correr, saltar e pular, at os movimentos realizados durante
estados emocionais diversos como o se contrair ao se sentir amedrontado ou afrontado,
o rastejar ao desejar no ser observado, o se curvar ao reconhecer-se pequeno diante
de uma divindade e o saltar para expressar alegria extrema. medida em que o
movimento se sistematiza em uma dana, ele comea a ser aprimorado atravs de uma
tcnica especfica. A evoluo do comportamento motor do ser humano chegou at s
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tcnicas tradicionais conhecidas na contemporaneidade, que possuem um aspecto
mais voltado para a apresentao, continuando, porm, a ser a expresso da
sociedade, seus valores e suas crenas.
Heidegger aponta que o fundamento ontolgico existencial da linguagem o
discurso. Todo discurso possui um carter de pronunciamento, onde a presena se
pronuncia. O discurso a articulao em significaes da compreensibilidade inserida
na disposio do ser-no-mundo (HEIDEGGER, 1997, p. 221). No discurso de uma
pessoa, pode-se observar sua concepo de mundo e, muitas vezes, atravs do
discurso que o ser se compreende. A pesquisa chama a ateno para o discurso que
se d atravs da linguagem do movimento. A dana ento um discurso, uma maneira
de falar atravs de movimentos, cores e formas. Mesmo quando a dana imitativa, ela
contm particularidades do indivduo e da sociedade. Tal discurso realizado de forma
instintiva, no passando pelo mbito da razo. A maneira como uma pessoa se move,
ento, aponta para quem ela . O homem no desempenho de seus movimentos
intencionais coordena durante o desempenho de uma habilidade motora, a inter relao
de movimentos dos domnios psicomotores, cognitivos e scio-afetivos (NANNI, 1995,
p.15)
As citaes bblicas dos movimentos realizados por personagens bblicos, como,
por exemplo, Moiss, mostram a valorizao que autores dos textos fazem dos
movimentos como forma de linguagem no verbal que expressa a essncia do ser
humano. Pode ser citado como exemplo o texto da abertura do Mar Vermelho, feita pelo
movimento de Moiss ao levantar as mos (Ex 14,21) e a vitria conquistada por Josu
(Ex 17,11-13) aps Moiss passar todo o dia com os braos levantados sendo
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sustentados por Aro e Ur. O movimento ou mesmo a dana poderia, ento, no
contexto bblico, possuir grande valor simblico e espiritual.
No culto cristo, o mbito dos movimentos citado por Allmen de forma bastante
definida em padres rgidos de postura, como por exemplo, o pr-se de p, assentar-se
e ajoelhar, o que demonstraria que no cristianismo o movimento do corpo durante o
culto, deveria ser algo programado, sem espontaneidade, sem oportunidade para o que
poderia se chamar de dana. Mas, este autor tambm afirma sobre o movimento que
[...] sem eles [os gestos], porm, a liturgia da Igreja tambm corre o risco de tornar-se
vazia de contedo, ou porque no dispe de continente, ou porque o continente
contradiz o contedo. Assim como a f pode vir a secar-se quando no definida e
amparada por uma doutrina (ALLMEN, 1968, p. 108). Allmen afirma ainda que mais do
que mera forma [o gesto] um ato denatureza muito pessoal, que produz uma reao
imediata naquele que o faz. No se limita a exprimir um encontro; ele o produz. Rejeitar
o uso de gestos equivale a diminuir a intensidade do encontro litrgico entre Deus e seu
povo (ALLMEN, 1968, p. 109). Em outras palavras, o autor reconhece que o
movimento a expresso natural, que o corpo humano realiza no momento de um
encontro deste com o Sagrado, porm dentro do culto cristo, o movimento no teve a
possibilidade de se desenvolver a ponto de se tornar o que poderia se chamar de
dana. Esta se resumiu em manifestaes culturais e festivas do cristianismo.
1.4 POR UMA CONCEPO DE CORPO
Nas civilizaes primitivas, o ser humano no separava a dimenso corprea da
dimenso da alma, ou mesmo do esprito, assim como no se separava do mundo ao
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seu redor. Ftima (2001, p.10) afirma que, na medida em que o ser humano foi se
desenvolvendo, comeou a construir o dualismo corpo e alma, perdendo a unidade
primitiva.
Por volta do sculo IV e V a.C. se refora a quebra desta unidade, quando os
grandes filsofos gregos destacam uma divergncia existente entre o corpo e a alma.
Pitgoras sustentava a distino entre esprito e matria, harmonia e discordncia, bem
e mal (BERTONI,1992, p.31). Scrates destacava o corpo como um obstculo alma
(FTIMA, 2001, p.11). Em Plato podemos observar a mesma oposio da alma em
relao ao corpo. O corpo como algo mortal, impuro e degradante, seria a priso da
alma que, por sua vez, era vista como eterna, pura e sbia. Aristteles possua uma
viso mais positiva em relao ao corpo, porm reforando sua dualidade, afirmando
que a unio da matria e do esprito daria ao universo o seu carter essencial
(BERTONI,1992, p.33).
Falando do povo hebreu, a importncia do corpo para estes consiste em seu
carter mediador na expresso do Sagrado entre os indivduos (FARIA, 2004, p.27).
Pode-se observar a concepo de corpo pelos textos bblicos uma vez que as
escrituras direcionavam seu ethos.
O corpo representa o templo em que o Sagrado pode se manifestar existe,
porm, a necessidade que este corpo esteja dentro dos padres de pureza
estabelecidos por tais leis.
O surgimento do cristianismo traz consigo uma nova concepo da pessoa
humana, que comea a ser vista no somente em um universo fsico, mas em uma
perspectiva transcendental, oposta ao domnio da razo predominante at ento pela
perspectiva grega.
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Pode-se observar que a relao do cristianismo com o corpo possui duas
vertentes. Por um lado se observa uma valorizao, no momento em que Deus que se
torna corpo carne, na pessoa de Jesus Cristo. Um Deus puro esprito se torna
corpreo, contrariando a hostilidade ao corpo existente na poca. Os relatos bblicos
das pregaes de Jesus Cristo, onde toca os corpos de pessoas enfermas trazendo-
lhes a cura, subverte os conceitos judaicos de puro e impuro, e exprime a valorizao
de corpo. Por outro lado, se observa a desvalorizao neste conceito, tanto pela
influncia dos conceitos judaicos de impureza, quanto pela ausncia da dana no
referido contexto.
Ento vieram de Jerusalm a Jesus alguns fariseus e escribas eperguntaram: Por que transgridem os teus discpulos a tradio dosancios? Pois no lavam as mos, quando comem.Jesus porm disse: Tambm vs no entendeis ainda? No
compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventree, depois, lanado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vemdo corao, e isso que contamina o homem. Porque do coraoprocedem os maus desgnios, homicdios, adultrios, prostituio,furtos, falsos testemunhos, blasfmias. So estas coisas quecontaminam o homem; mas o comer sem lavar as mos no ocontamina (Mt 15,1.16-20).
Para o apstolo Paulo, o corpo ocupa importante papel no lugar de encontro
entre Deus e o homem. Apresentei os vossos corpos por sacrifcio vivo, santo e
agradvel a Deus, que o vosso culto racional. No captulo trs da carta aos Romanos,
Paulo mostra o corpo como lugar de manifestao do pecado. A garganta deles
sepulcro aberto; com a lngua urdem engano, veneno de vbora est nos seus lbios, a
boca, eles a tem cheia de maldio e de amargura; so os seus ps velozes para
derramar sangue (Rm 3,13-15). J no captulo seis, o apstolo mostra o corpo como
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lugar da manifestao da vida de Deus ...oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre
os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justia (Rm 6,13).
Baseados nestas afirmaes, podemos perceber que o apstolo Paulo reafirma o
pensamento de Jesus Cristo, na concepo de que o corpo lugar de manifestao da
alma do ser humano, podendo ser santificado se a alma est santificada e por outro
lado portador de depravao e maldio, se a alma assim o est tambm. Em outras
palavras, o corpo como um instrumento, um veculo atravs do qual a essncia do ser
humano se expressa. como um saxofone nas mos de um msico, trazendo para o
mundo audvel o tipo de msica que o saxofonista deseja tocar. Ento, o corpo em si
no pecaminoso ou santo, mas o lugar de manifestao da essncia do ser
humano.
Na evoluo do cristianismo, a igreja deixou de lado as leis de pureza
tradicionais referentes ao trato com morte e alimento, mas a categoria da pureza sexual
foi retomada, o que acarretou em conseqncia para as mulheres que com base nas
impurezas latentes em seu corpo, ficavam longe dos sacramentos. Para os homens no
havia problemas, seno a necessidade de absteno de relaes sexuais. O ministrio
sacerdotal ficara restrito a eles. Segundo Pereira (1997, p.63), o cristianismo assumiu
as idias dualistas de corpo /alma, corpo/esprito, provenientes do mundo greco-
romano, abandonando o pensamento hebraico que marcou o Novo Testamento, para o
qual no havia separao entre corpo e alma.
No perodo medieval, mesmo que o pensamento cristo defendesse a dignidade
do corpo como criao divina e local de manifestao do mesmo, se manteve a idia de
que a verdadeira essncia do ser humano est na alma. O trabalho fsico, por exemplo,
era servio dos escravos e dos mais pobres. ...a carne estava associada ao pecado, e
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se costumava castig-la para sua purificao (FTIMA, 2001, p.13). Freire cita que, em
Roma, a expresso corporal no era uma atividade para pessoas srias (FREIRE,
2005, p.47 e 48).
Com a reforma protestante se aboliu o celibato e se proclamou o sacerdcio a
todos os fiis, rompendo com os tabus de pureza (PEREIRA, 1997, p.65). Mas, mesmo
com a crena na encarnao de Deus em Jesus Cristo, que poderia significar uma nova
concepo de corpo, o protestantismo continuava a ser influenciado pela filosofia grega,
uma vez que a expresso corporal nos cultos protestantes se restringiu ao ajoelhar-se,
curvar-se e levantar as mos. O corpo no poderia mais ser visto como crcere da
alma, ou algo pecaminoso, pois foi nele que a Divindade se manifestou. Porm durante
muito tempo o protestantismo se absteve da expresso corporal, e as influncias da
filosofia grega, somado ao medo do pecado, foram mais fortes que esta a concepo
indicada no Novo Testamento.
Na modernidade, o corpo passa a ser objeto do conhecimento, no surgimento da
cincia da anatomia e medicina cientfica. Com o advento do capitalismo, o corpo se
tornou instrumento de produo, e surge uma nova concepo ideolgica, a corpolatria
ou o culto ao corpo. O conhecimento cientfico separa o corpo da alma, ressaltando a
antiga dicotomia, porm o corpo agora passa por uma revalorizao.
No mundo protestante contemporneo existem duas vertentes em relao
concepo do ser humano. Este pode ser visto sob uma perspectiva dualista, sendo
alma e corpo, ou sob uma perspectiva triuna, sendo esprito, alma e corpo. Porm,
ambas so separadas somente para efeitos de compreenso, pois o ser comea a ser
percebido como um todo. A valorizao do corpo da modernidade, comea a dar lugar
para uma redescoberta na corporeidade do ser humano.
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A presena da dana nas igrejas protestantes da atualidade, especialmente nas
neo-pentecostais, pode significar uma redescoberta do corpo como possibilidade do
encontro deste com Deus. Os fatores que geraram este acontecimento podem ter sido a
soma da valorizao que o Novo Testamento oferece ao corpo humano, uma vez que
este direciona o ethos protestante, com a valorizao do corpo na contemporaneidade.
Isso seria o ser humano em sua totalidade, se expressando e se encontrando com o
seu criador.
1.5 CARACTERSTICAS DAS DANAS DE DIFERENTES POVOS
Em diferentes civilizaes primitivas, a dana apresenta carter espiritual,
litrgico e de diverso.
A dana no Egito apresentava no princpio caractersticas sagradas e,
posteriormente, possua caractersticas de diverso (BERTONI, 1992, p.22).
Na Mesopotmia, a dana era extremamente religiosa, sendo sua concepo de
carter ritualstico e alegrico, feita para deuses como Mabo, Moloch, Astarte e Baal.
Para os gregos, a dana estava inserida na essncia ideolgica, cultural, poltica
e cotidiana. Bertoni cita o pensamento de Plato, dizendo: ... a dana um dom dos
deuses. Ela deve ser consagrada aos deuses que a criaram. E ainda a afirmao de
Herclito: ...O mundo fogo eternamente vivo, que acende e se apaga em ritmo certo
(BERTONI, 1992, p.38).
A dana dionisiana, que era realizada e oferecida ao deus Dionsio, durante o ato
de pisar as uvas, a mais antiga das danas gregas e deu origem ao teatro, no
momento em que comeou a ser assistida por um pblico que se posicionava em forma
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de teatro de arena, para assistir ao ritual. Tal dana foi convertida posteriormente em
dana litrgica no calendrio grego (SILVA, 2004, p.188).
A dana entre os hebreus era de carter religioso. O povo hebreu era um povo
que possua em sua cultura muitas festas para celebrar uma srie de acontecimentos
do dia a dia. Porm, mesmo sendo festas sociais, estas possuam sempre um cunho
religioso.
E muitas de suas festas duravam cerca de uma semana, durante a
qual eles podiam extravasar seus profundos e sincerossentimentos. Nessas ocasies, o povo arrependido de seuspecados, buscava o perdo e a bno de Deus; era o momento depurificar a alma e marcar um novo comeo. O povo expressavagrande gratido a Deus, e o fazia danando pelas ruas(COLEMAN,1991, p.263).
No seu livro sobre os costumes bblicos, Colemam deixa claro que o povo hebreu
gostava muito de se expressar atravs do corpo, danando e cantando nas muitas
festas. A dana era estritamente de carter religioso. Possua caractersticas
ritualsticas, com determinado limite de esquematizao como rodas, danas em fila,
danas giratrias; tambm havia a improvisao. Sempre que as colheitas eram
abundantes, os hebreus demonstravam sua gratido a Deus, celebrando pelas ruas,
fazendo festas com momentos de regozijo, muita msica, banquetes e ainda momentos
de orao e meditao. Estas festas tinham um cunho educativo, pois continham lies
sobre a histria da nao, suas esperanas, vitrias e derrotas.
A dana entre os romanos possua caractersticas diferentes das j citadas. A
civilizao romana conseguiu eclipsar a dana dentro do seu momento histrico, uma
vez que os valores estavam mais voltados s conquistas das guerras, talvez pela
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rudez intrnseca de um povo com esprito conquistador como o romano, povo de
soldados, voltados administrao e legislatura (BERTONI, 1992, p. 47).
Ao observarmos tais aspectos da dana nas referidas civilizaes, podemos
perceber algumas caractersticas da mesma antes do surgimento das tcnicas
tradicionais, como por exemplo o ballet clssico: a importante presena da dana
dentro dos rituais e da vida religiosa das civilizaes citadas; a no-predominncia do
carter contemplativo na dana, exceto na dana dionisiana quando comea a surgir o
binmio bailarino - espectador; e finalmente a ausncia de uma tcnica comum que
padronizasse o ato de danar. A dana de um modo geral era natural e instintiva.
1.6 A DANA SAGRADA
A dana sagrada permite que o ser-humano transcenda, uma vez que possibilita
a expresso do indizvel. A dana vem da necessidade de dizer o que as palavras no
dizem. um meio eficiente de encontro consigo e com o prximo, com a criao e o
criador. uma forma de orao, um ritual social e sagrado (FTIMA, 2001, p.51).
Bernhard Wosien descreve o movimento na dana como uma orao silenciosa que
somente a f compreende.
A orao designada como a via de comunicao da almahumana com Deus. Injustamente, pois na orao, tanto a almaquanto o corpo participam. Uma orao puramente espiritual adequada aos anjos, mas no s pessoas, com sua naturezaesprito-corporal. As formas corporais correspondentes s rezasinteriores que pertencem orao humana [sic!] (WOSIEN, 2000,p. 27).
Eliade (1992) aponta o Sagrado como uma realidade de ordem diferente das
realidades naturais; equivale ao transcendente, ao poder e se ope ao profano. O
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profano por sua vez se refere ao mundo natural, a tudo o que est destitudo do
sagrado. Afirma, ainda, que existem dois modos de ser no mundo: sagrado ou profano.
Partindo deste modo de ver o mundo, a dana sagrada seria aquela direcionada ao
Sagrado, ao transcendente, sem a inteno direta de se dirigir ao mundo natural. Por
outro, lado a dana profana seria aquela que direcionada ao mundo natural, s
causas culturais, sociais e ldicas. Esta distino entre dana sagrada e profana se d
mais por um aspecto cultural, ou seja, as pessoas acham que ao se divertir no esto
realizando uma dana sagrada e sim profana. Mas, toda arte transcende e na dana
sempre h uma transcendncia, mesmo que o bailarino no saiba, mesmo que a dana
no seja uma liturgia, mesmo que a transcendncia no se faa em direo a uma
determinada doutrina, mesmo que sem uma inteno direta de se relacionar com o
sagrado, todo tipo de dana direcionado a uma divindade, e quem a dana se
relaciona com ela.
O Sagrado se insere na vida do ser humano atravs da experincia religiosa,
mesmo que esta experincia esteja totalmente baseada em f, ou seja, em uma crena
e no necessariamente em uma experincia palpvel. A experincia da dana sagrada
na vida do ser humano pode vir a ser como a experincia da orao, realizada porm
de forma irracional, no sentido de ser uma linguagem simblica carregada de
sentimentos.
Baseados no pensamento de Wosien, podemos entender que a dana sagrada
proporciona um momento em que se explora a espiritualidade atravs de algo fsico: o
corpo que dana. O poder que a dana possui de elevar o ser humano a um plano de
liberdade de expresso dos sentimentos permite quele que dana a experincia
religiosa, no momento em que uma linguagem que desenha no ar aquilo que as
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palavras no conseguem dizer. Ou seja, as necessidades da alma humana, os anseios,
os temores, a reverncia, a venerao e a adorao a aquilo que se chama de Sagrado
tambm podem ser expressos atravs dos movimentos. A dana seria uma orao
onde no se usa somente a linguagem verbal, mas tambm a linguagem corporal. A
dana seria, ento, mais uma maneira de orar.
1.7 O ETHOS E A DANA
Para Geertz (1989), ethos uma concepo de mundo, em conformidade com
um estado emocional admitido como expresso autntica das coisas pertencentes
sua viso de mundo. o conjunto de motivaes e orientaes de um povo,
identificando o carter e o estilo moral e de vida.
As manifestaes artsticas e culturais de um povo permitem ver seus valores
mais antigos, seu ethos. Percebendo que o sentido verdadeiro de uma obra de arte
um processo infinito e em constante movimento e ampliao, observar como um povo
dana pode, ento, ser a maneira mais clara de se compreender seu ethos e sua
sociedade.
...esta forma de expresso tem sido o caminho de manifestao
natural, sobre o qual, desde o incio, o desenvolvimentointegral do homem foi desencadeado. A dana foi realmente oelemento responsvel pela sociabilidade do homem(BERTONI,1992, p. 8).
A dana de um povo revela o grfico de sua cultura e religio. partindo deste
pensamento que percebemos que a dana de um povo traz consigo a marca do seu
ethos. Wosien destaca esta marca, quando aponta que o ser humano no dana
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sozinho, mas com o mundo ao seu redor, com o grupo, o que sugere que, ao danar, o
ser humano se move dentro de padres e concepes, direcionadas pelo ethos. Em
nenhum lugar o homem to exigido em sua totalidade. Aqui, por fim, ele se encontra
no s consigo mesmo, mas tambm com o Tu, com o mundo em redor, com o grupo,
com a alteridade, to simplesmente (WOSIEN, 2000, p.28). O estudo da apropriao
da dana na experincia religiosa do mundo contemporneo permite ver a cultura e
valores de determinado grupo social.
Uma das crenas ou vises de mundo do protestantismo que a vida neste
mundo ir passar, havendo, ento, uma vida aps a morte. A salvao ou o adquirir a
vida eterna no consiste em fazer boas obras ou no ser uma pessoa boa, mas em
aceitar a Cristo como Senhor e Salvador. Porm, deve-se viver a vida dentro de
padres de santidade e pureza, dirigindo a ateno para a vida aps a morte. A busca
de santificao tambm um pr-requisito para que na vida terrena se possa desfrutar
de um relacionamento com o Sagrado.
A busca pela santificao, presente no protestantismo, pode ser um dos fatores
que influenciaram na sua rejeio dana. Quando esta nova tradio religiosa surgiu,
se levantou contra as prticas sociais mundanas que estavam sendo amplamente
difundidas entre os crculos do mundo cristo. No seu ethos, os protestantes se movem
dentro dos padres de santidade e pureza previamente estabelecidos e a dana no
poderia fazer parte deste padro uma vez que, no perodo do surgimento do mesmo,
estava misturada a prticas consideradas pecaminosas. Ftima (2001) cita que no
Conclio de Wursburg, a dana foi totalmente banida do ambiente do culto, indo ento
para as praas, para o meio do povo, de onde saiu para as cortes sendo academizada,
se tornando o ballet.
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A religiosidade do ser humano est condicionada ao seu ethos, ou seja, a
maneira como o indivduo adora e invoca o Sagrado depende de sua viso de mundo.
A apropriao da dana no culto por parte das diferentes igrejas protestantes,
principalmente das neopentecostais, pode significar algum tipo de alterao em seu
ethos, sua viso de mundo. Tal alterao pode ter sido influenciada pela revalorizao
do corpo na modernidade, que abriu caminho para que as atitudes de Cristo em relao
ao corpo, somadas s palavras de Paulo, relatadas nos textos do Novo Testamento,
fossem compreendidas de forma nova na contemporaneidade, aps terem sido
abafadas pela filosofia e cultura do perodo medieval.
1.8 A DANA COMO EXPRESSO DE LOUVOR E ADORAO NO CULTO
CRISTO
No cenrio protestante da atualidade, a dana se destaca como forma de louvor
e adorao, se fazendo presente nos momentos de louvor durante as celebraes do
culto a Deus. Alm de possuir grupos musicais que dirigem a congregao em
animados momentos de louvor e adorao, agora as igrejas tambm possuem grupos
de dana com a mesma finalidade. A dana antes tida como algo pecaminoso e fora do
contexto protestante tem sido canal de celebrao para os cristos evanglicos.
Este movimento que tem acontecido nos ltimos 15 anos, envolvendo igrejas
neo-pentecostais, pentecostais, tradicionais e histricas, iniciou no Brasil no momento
em que alguns bailarinos brasileiros que danavam na festa dos Tabernculos em
Israel, pela Embaixada Crist em Jerusalm, comearam a difundir pelo pas a dana
no culto. Vrios grupos de dana, que j atuavam em igrejas evanglicas danando,
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porm, como forma de apresentao para ilustrar pregaes ou mesmo proclamar o
evangelho, tiveram a oportunidade de se apropriar da dana no somente como
apresentao, mas como parte do culto a Deus.
O movimento ganhou fora e hoje a grande maioria das igrejas evanglicas
possui uma certa abertura dana. A procura de congressos que enfoquem o ensino
da dana no culto tem crescido cada dia mais, sendo que o centro dos estudos a
Bblia Sagrada. A forte presena da dana na cultura do povo hebreu, citada nos textos
bblicos, somada valorizao do corpo na contemporaneidade, legitima a dana no
cristianismo evanglico da atualidade.
1.9 SNTESE
A dana de um povo veculo de expresso cultural e religiosa. Atravs do
universo simblico contido na sua produo cultural, em meio a motivos festivos, o ser
humano revela sua necessidade de expressar valores e crenas.
A manifestao cultural de um povo se mostra tambm como agente perpetuador
destes valores e crenas, uma vez que vem carregada de um aparato simblico, que
atravs da cultura transmitido de gerao em gerao.
A dana por sua vez a mais antiga manifestao de expresso natural do ser
humano. Um beb, mesmo antes de andar e falar, j se expressa se movendo de forma
ritmada. O ser humano, ento, se sociabiliza, expressa e perpetua valores atravs da
dana, uma vez que esta se faz presente nas vrias manifestaes culturais e religiosas
dos povos. A dana sagrada proporciona para o indivduo uma experincia semelhante
a da orao, uma via de comunicao com o Sagrado. Porm dentro do cristianismo, a
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dana no encontra um caminho de liberdade de expresso e manifestao, se
reduzindo a simples movimentos como se ajoelhar, levantar as mos e se curvar.
Ao longo da histria, a concepo de corpo do ser humano caminha desde um
perodo de uma primitiva valorizao do mesmo, seguida de uma desvalorizao no
perodo medieval, chegando finalmente a uma revalorizao fortalecida pela
contemporaneidade. Tal revalorizao pode ter sido o canal de alterao no ethos
cristo, que veio proporcionar a compreenso das palavras de Cristo em relao ao
valor do ser humano como um todo, esprito, alma e corpo. Ao perceber-se como um
todo, o ser humano se sente livre para achegar-se divindade se expressando em sua
plenitude, com sua arte, com sua dana.
Passamos agora ao segundo captulo, analisando a dana na cultura hebraica e
o desenvolvimento da dana no cristianismo.
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CAPTULO II
A DANA NA CULTURA HEBRAICA E A GRADATIVA SUPRESSO DA DANA NO
CULTO CRISTO
Neste captulo, a pesquisa inicialmente faz um paralelo entre as danas
religiosas e as teatrais, discorrendo posteriormente sobre a dana na cultura hebraica,
bem como os valores desta cultura em relao ao conceito do corpo que se expressa
na dana; tambm ser enfocada a dana na cultura romana e grega, com seus
costumes e conceitos filosficos que influenciaram o povo hebreu; e, finalmente, se
abordar a dana nos cristianismos, apontando para a influncia que estas culturas
imputaram nas manifestaes artsticas de dana.
2.1 AS DANAS RELIGIOSAS E AS DANAS TEATRAIS
A histria da dana est relacionada com a histria dos povos, uma vez que se
mostra como a expresso de seus valores e crenas. Nas diferentes culturas, a dana
sempre esteve presente como integrante das cerimnias religiosas. Faro (1996, p.13),
afirma que a dana nasceu da religio, se que no nasceu junto com ela. Este
mesmo autor afirma ainda que, se a arquitetura veio da necessidade de morar, a dana,
provavelmente, veio da necessidade de aplacar os deuses ou de exprimir a alegria por
algo de bom concedido pelo destino ou pela divindade.
A pesquisa aponta a dana de duas formas distintas: as danas religiosas e as
danas teatrais. As danas religiosas so as danas tnicas e folclricas realizadas
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pelos diferentes povos, tanto em cerimnias religiosas quanto em manifestaes
culturais. De um modo geral, as danas religiosas de diversas manifestaes tnicas
estiveram sempre ligadas s religies primitivas e eram inicialmente realizadas pelos
sacerdotes e iniciados dos grupos. Com o tempo, os sacerdotes foram permitindo que
as cerimnias fossem realizadas em locais pblicos e no mais dentro dos templos,
passando do domnio dos sacerdotes para o domnio do povo. Desta forma, as
manifestaes religiosas comearam a se tornar manifestaes populares,
desaparecendo o seu significado religioso, o que deu origem s danas folclricas.
Outra caracterstica interessante destas danas que, inicialmente, eram realizadas
somente pelos representantes do sexo masculino; s muito mais tarde as mulheres
tambm comearam a participar ativamente das danas folclricas. As danas teatrais
so as danas que possuem uma tcnica especfica; so voltadas para a apresentao,
como por exemplo, o ballet, o jazz e a dana moderna.
As danas eram originalmente utilizadas como forma de culto por diversos povos
primitivos. No havia a necessidade de um espectador, pois era uma forma de se
relacionar com os deuses. Os fiis, durante o ritual, no representam para os deuses,
mas dialogam com eles... (SILVA, 2004, p.187). No entanto, podemos dizer que o
aspecto religioso deu origem ao aspecto de apresentao quando, j na Grcia Antiga,
as emoes passaram a ser vividas no somente entre os fiis e os deuses, mas entre
um ator e um espectador. Em relao a este assunto, Silva aponta que no culto ao deus
Dionso, durante o feitio do vinho no perodo do sculo V a.C., surge este aspecto de
apresentao no momento em que pessoas passam a participar do ritual assistindo, o
que d origem ao coro.
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O coro saiu do tonel das uvas. No saiu como espetculo, j que adistino entre espectador e artista posterior. Saiu como festa
religiosa, de que todos os presentes participavam, mas comdiferentes nveis de participao, vale dizer, alguns participavamassistindo, provvel origem da platia (SILVA, 2004, p.188).
Aps o surgimento do teatro, veio o surgimento das danas teatrais, nos sales
da corte, no perodo da transio da Idade Mdia para o Renascimento, acompanhando
a tendncia ao racionalismo e a busca pelo reconhecimento. Os bailarinos danavam
para o deleite dos soberanos e da nobreza. Segundo Achcar, a dana deixava de estar
somente nas praas e feiras, em domnio do povo como manifestao tnica e cultural,
e comeava a ser executada em forma de apresentao para a nobreza
(ACHCAR,1998, p.13).A dana deixou, assim, de ter o aspecto de culto e passou a ter
o aspecto de apresentao.
No meio evanglico contemporneo podemos ver que a dana possuicaractersticas religiosas, no sentido de no ter o objetivo de ser uma apresentao,
mas uma ministrao. Porm, fica explcito que a forte presena das danas teatrais na
contemporaneidade, seguidas do apelo comercial ps-moderno, fazem com que muitos
grupos, que iniciam com uma proposta de ministrar ao sagrado, caminhem para o
aspecto de danas teatrais voltadas para a apresentao. Por outro lado, o fato de
possuir caractersticas de apresentao, uma vez que realizada frente de um
pblico que no somente participa, mas tambm assiste, no tira o aspecto religioso da
dana. A inteno do bailarino ao danar que vai indicar se a dana estritamente de
apresentao ou se direcionada ao sagrado.
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2.2 A DANA NA CULTURA HEBRAICA
A importncia do estudo sobre a dana na cultura hebraica se d pelo fato de ser
a cultura que bero do cristianismo, contendo assim valores que possivelmente
influenciam na dana que tem sido realizada no meio evanglico protestante.
2.2.1 As festas hebraicas
Na longa e rica histria do povo hebreu, destacam-se as inmeras celebraes
que marcavam acontecimentos histricos, ou mesmo corriqueiros, servindo tambm
como forma de cultuar a Deus, oferecendo-lhe agradecimento pelos seus feitos, ou
como forma de orao, buscando sua presena e suas bnos.
As festas hebraicas tinham diversos propsitos. Possuam um carter religioso,
um carter ldico e ainda, um cunho educativo, com efeito didtico. O carter religioso
da dana do povo hebreu se mostrava no fato de que as danas sempre aconteciam
para louvar a Deus (COLEMAN,1991, p.262). Sempre que as colheitas eram
abundantes, os hebreus demonstravam sua gratido a Deus celebrando pelas ruas,
fazendo festas com momentos de regozijo, muita msica, banquetes e ainda momentos
de orao e meditao. Muitas de suas festas duravam cerca de uma semana, durante
a qual podiam extravazar seus profundos sentimentos. Matias (2006, p.104) afirma que
as festas eram consideradas pelos hebreus como um momento privilegiado de
entrevista com Deus. Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas que
proclamareis, so as minhas assemblias (Lv 23,2). A celebrao com msicas e
danas era tida como uma maneira de orar, de se comunicar com Deus. As festas
tambm possuam um cunho educativo, pois continham lies sobre a histria da
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nao, suas esperanas, vitrias e derrotas. Na medida em que novas geraes vo
surgindo, as festas judaicas vo mantendo a sua cultura, suas tradies e crenas,
revivendo a histria medida em que celebram suas festas.
Sendo um povo por natureza festivo, os israelitas apreciavam msica ritmada e
no ficavam parados para ouv-la. Gostavam de expressar livremente suas emoes,
tanto as alegrias quanto as tristezas, atravs das danas e o faziam nas suas festas.
Muitas vezes os seus gritos de angstia eram to ruidosos como os gritos de alegria e
aes de graa (COLEMAN, 1991, p.279).
As principais festas hebraicas sero colocadas a seguir, com suas respectivas
datas e motivos de celebrao, destacando o aspecto religioso que as acompanha.
Rosh Hodesh Festa de consagrao do incio de cada ms.
Pesah - Pscoa, celebrada dia 14 de Nisan (Abril). Esta festa de grande
importncia ao povo hebreu. Est presente em todo o Antigo Testamento, tendo-se
estendido era crist, onde veio a constituir as bases da igreja primitiva. A festa da
pscoa recorda que um dia os hebreus foram escravos do Egito, mas foram libertos e
protegidos por Deus. Os hebreus foram livres da dcima praga do Egito, que seria a
matana dos primognitos pelo anjo da morte. Orientados por Deus atravs de Moiss,
mataram um cordeiro passando sangue nos umbrais das portas de suas casas. Foram
livrados da praga e libertos pelo Fara. A festa tambm aponta para a vinda do
Messias.
Omer - Primcias da Colheita. Nesta ocasio, os hebreus ofereciam feixes das
primcias da colheita de cevada, do dia seguinte a Pesah at Shavuot.
Shavuot - Festa de Pentecostes- Celebrada no dia 6 de Siv (Junho). A festa
realizada cinqenta dias aps a poca da colheita de cevada que era na pscoa; vinha
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ento, a colheita do trigo. Esta festa comeou nos tempos de Moiss (Ex 34,22),
celebrava alegria pela colheita do cereal. Dentro do cristianismo, a referida festa
marcou o incio de uma nova fase, quando aps a ascenso de Jesus, os crentes
estavam reunidos para esperar novas instrues e ao cumprir-se o dia de pentecostes
foram cheios do Esprito Santo (At 2,1-4). A partir deste momento foram espalhar o
cristianismo por todos os povos.
Sukkot Festa dos Tabernculos, tambm chamada posteriormente de Festa
das tendas, da colheita e festa do Senhor. Celebrada do dia 15 a 21 de Tishri (outubro).
Relembrava que YAHWEH um dia tirou os hebreus do Egito e os fez habitar em tendas.
Celebrava tambm a colheita das uvas e azeitonas. Nesta poca, todos os judeus
devotos deveriam ir a Jerusalm (X 23,16-17). Havia grande regozijo e esperava-se
que todos trouxessem uma oferta de gratido ao Senhor. A festa continuava por sete
dias, sendo que o primeiro e o oitavo dia eram guardados como sbados cerimoniais
(Lv 13,36-39).
Elul Durante todo o ms de Elul (Agosto), os hebreus celebravam o amor de
Deus por Israel. Antes do romper da aurora, recitavam pedidos de perdo e splicas.
Rosh Hashanah - Dos dias 1 a 3 de Tishri (outubro). Celebravam o comeo do
ano judaico.
Yamim Nora In - Dez dias de temor, feitos no intervalo entre Rosh Hashanah e
Kippur, declarando que Deus d ao ser humano a oportunidade de receber o perdo
em Kippur.
Kippur O dia do perdo era uma festa feita em 10 de Tishrei (Outubro). Nesta
festa, os hebreus buscam o perdo de Deus, fazendo uma pausa para refletir sobre os
pecados cometidos. O significado desta festa para o cristianismo aponta para o dia da
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expiao quando Jesus assume a funo de Sumo Sacerdote. Aps dias de profundos
sentimentos de remorso e tristeza, os participantes se entregavam alegria da festa
dos tabernculos.
Hanukkah - Festas das candeias, proclamando s naes que a nica luz neste
mundo a luz que Deus faz brilhar. Celebra-se a conquista do templo por Judas
Macabeus, aps sua profanao pelos gregos em 167 a.C. A festa celebrada em 25
de Chisley (novembro). A tradio diz que Judas encontrou um vaso de cermica com
azeite que deveria durar um dia e que durou sete dias. Na festa acendiam-se luzes, que
eram mantidas acesas por sete dias.
Tu B Shevat - Ao de graas pelos frutos das rvores, no dia 15 de Shevat
(Janeiro).
Purim - Dia de Mardoqueu, em 15 de Adar (Maro). uma festa que se
comemora o livramento que Deus deu ao seu povo nos dias de Assuero, atravs da
interveno da rainha Ester a favor do povo Judeu.
Tish - Lamentao pela destruio do primeiro templo por Nabucodonossor, em
9 de Av (Julho).
Yom Hatzmaut - Dia da independncia e proclamao do Novo Estado Judeu - 5
de Iyar (maio) de 1948.
Shabbat - Sbado, dia de santidade e descanso. A festa realizada em
memorial criao e em sinal do pacto entre Deus e o povo hebreu, porque, em seis
dias, fez o SENHOR os cus e a terra, o mar e tudo o que neles h e, ao stimo dia,
descansou; por isso, o SENHOR abenoou o dia de sbado e o santificou (Ex 20,11).
Segundo Reimer (1999, p.38), a palavra santificar significava manter algo como
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separado, como algo especialmente dedicado (1999, p.43). O sbado se tornou uma
marca constitutiva do povo de Israel, respectivamente do povo judeu.
2.2.2. A dana hebraica
A dana do povo hebreu tinha caractersticas religiosas e de manifestao
tnica. Notamos que os hebreus danavam de forma geralmente intensa em todas as
situaes, fazendo com que a dana estivesse presente no culto ao Sagrado. Segundo
Coleman, entre o povo hebreu a dana era estritamente de carter religioso. Tinha
caractersticas ritualsticas, com determinado limite de esquematizao como rodas,
danas em fila, danas giratrias, tambm havia a improvisao. A dana deste povo
vinha carregada de smbolos tirados de suas tradies. Utilizavam-se tecidos que
significavam: gua, sangue, vento, toque, envolver, cobrir e proteger. Havia fitas
coloridas que lembravam alegria, fogo, intensidade e fervor. Tambm eram utilizados
pandeiros, fazendo aluso a Miri que danou com centenas de mulheres aps a
travessia do Mar Vermelho, simbolizando a vitria frente aos inimigos (COLEMAN,1991,
p.262).
Os termos hebraicos para a dana citados no Antigo Testamento so:
Meholah (de hwl):dana de roda, dana (Ex 15,20);
Hwl: rodear, vibrar, voltar-se (contra); danar em roda;
Rqd:saltitar (Ecl 3,4; Sl 114,4);
Shw: brincar, agir de maneira desajeitada, rir, sorrir;
Krr:danar (saltar, tripudiar) (2 Sm 6,14.16);
Pzz: ser gil, e ainda saltear, danar (2 Sm 6,16);
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Psh: mancar, coxear (1 Rs 18,26).
As aluses de dana nesta civilizao so muitas. Ossona (1988, p.56) indica
que o Antigo Testamento uma fonte que documenta a dana hebraica na Antiguidade.
Alguns registros bblicos trazem as citaes de danas do povo hebreu:
Louvem-lhe o nome com dana, cante-lhe salmos com adufe e harpa (Sl 149,3). Neste
texto, podemos perceber que o povo hebreu utilizava a dana como maneira de
expressar louvor e adorao no culto ao Sagrado.
Sempre que se l um texto bblico sobre arte na histria dos hebreus, se observa
que esta estava ligada a lderes espirituais como levitas e sacerdotes. Disse Moiss
aos filhos de Israel: Eis que o SENHOR chamou pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho
de Hur, da tribo de Jud, e o Esprito de Deus o encheu com o seu Esprito e lhe deu
inteligncia, competncia e habilidade para fazer todo tipo de trabalho artstico (Ex
35,31). A celebrao do rei Davi e todo o povo, ao levar a arca da aliana para
Jerusalm: Davi danava com todas as suas foras diante do SENHOR; e estava
cingido de uma estola sacerdotal de linho. Assim, Davi, com todo o Israel, fez subir a
arca do SENHOR, com jbilo e ao som de trombetas (2 Sm 6,13-15). Mesmo no
sendo a funo de um rei fazer os servios sacerdotais, Davi assume esta funo ao
danar com uma estola sacerdotal. Silva e Vasconcelos ( 2003, p. 101) apontam que
uma das caractersticas do reinado de Davi era a centralizao do poder em suas
mos. Com danas, Davi leva a arca para Jerusalm, estabelecendo-a como capital
espiritual do reino e, como conseqncia, fortalecendo o seu reinado. A presena da
dana neste ritual to importante para o reinado de Davi, bem como as referncias que
apontam para o fato de haver outra liderana religiosa a conduzindo, mostra a sua
importncia para o povo hebreu.
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Outros textos bblicos citam a personagem Miri liderando uma dana junto s
mulheres hebraicas. A passagem mostra o festejo com danas que o povo hebreu
normalmente fazia ao celebrar suas vitrias:A Profetiza Miri, irm de Aro, tomou um
tamborim, e todas as mulheres saram atrs dela com tamborins e com danas (Ex
15,20-21).
Outro exemplo dos festejos com danas a dana em louvor a Deus, depois da
batalha bem-sucedida do exrcito de Saul contra o povo filisteu: Sucedeu, porm, que,
vindo Saul e seu exrcito, e voltando tambm Davi de ferir os filisteus, as mulheres de
todas cidades de Israel saram ao encontro do rei Saul, cantando e danando, com
tambores, com jbilo e com instrumentos de msica(1 Samuel 18,6).
Temos tambm relatos bblicos de danas realizadas pelos hebreus a outros
deuses, como por exemplo a dana ao redor do bezerro de ouro, que foi condenada por
Moiss:E aconteceu que, chegando Moiss ao arraial, e vendo o bezerro e as danas,
acendeu-se-lhe o furor, e arremessou as tbuas das suas mos, e quebrou-as ao p do
monte (Ex 32,19).
Algumas citaes demonstram a presena das danas em situaes diversas
como em Jz 11,34:E voltou Jeft a Masfa, a sua casa, e eis que a sua filha saiu para
encontr-lo com tamborins e com danas. Quando aps Davi matar o filisteu, ...
saram as mulheres de todas as cidades de Israel, para cantar e danar ao encontro de
Saul, o rei, com tamborins, com alegria e com instrumentos de msica (1 Sm 18,6).
A ausncia de dana era um sinal de tristeza: Cessou o jbilo de nosso corao,
converteu-se em lamentaes a nossa dana (Lm 5,15).
Na Bblia, a dana tambm citada como um cumprimento proftico, como
manifestao de algo bom que viria a acontecer: Ento a virgem se alegrar na dana,
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e tambm os jovens e os velhos; tornarei o seu pranto em jbilo e os consolarei;
transformarei em regozijo a sua tristeza (Jr 31,13).
A quantidade de registros bblicos existentes, citando o tema da dana, deixa
claro a forte presena desta na comunidade hebraica, em suas festas sociais e
celebraes religiosas. A dana se destaca, ento, como uma notvel integrante desta
cultura da qual surgiu a religio crist. Baseado nesta afirmao pode-se concluir que a
ausncia da dana vivida pelo mundo cristo protestante no aconteceu por uma
herana hebraica, uma vez que, nesta cultura, a dana se mostrava como parte
integrante de sua religio. A ausncia da dana no cristianismo pode ter sido provocada
por acontecimentos posteriores ou mesmo contemporneos sua origem. Tal perodo
ser abordado no item 2.4.
2.2.3 Uma perspectiva de corpo e movimento na cultura Hebraica
O movimento uma linguagem no verbal e simblica, atravs da qual se
expressa o que as palavras no conseguem dizer. Eliade afirma que o homem se
comunica com o mundo atravs dos smbolos (1992, p.126). A linguagem simblica
precede linguagem verbal, expressando valores intrnsecos do indivduo e de uma
sociedade. Estudar o simbolismo de corpo da sociedade hebraica pode facilitar a
compreenso do valor da dana para esta sociedade.
Pereira discorre sobre o senso comum que foi construdo no imaginrio social a
partir das tradies bblicas, indicando que se percebe um deus incorpreo, puro
esprito, e homens e mulheres cheios de ordenanas em seus corpos pecadores e
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mortais (PEREIRA, 2001, p. 6 ). Este aspecto aponta para uma valorizao do aspecto
espiritual em detrimento do aspecto fsico.
Coleman (1991, p.263) afirma que, atravs das danas, o povo hebreu buscava
o perdo e a bno de Deus; a dana era o momento de purificar a alma e marcar um
novo comeo. As danas no meio do povo hebreu faziam, ento, parte do ritual de
purificao e tambm de atos de louvor e adorao a Deus.
Faria afirma que, para os hebreus, o corpo representa o templo em que o
sagrado pode se manifestar, tornando-se real (2004, p.27). Para o homem religioso
extremamente importante a presena do real para atestar a existncia do Sagrado,
promovendo a comunho com o mesmo.
Para o hebreu, a vida do corpo se manifesta essencialmente na respirao
(neshama) e no sangue (dam). A respirao ou o neshama a caracterstica do
homem vivo diferena do morto; ele mostra o homem em unio com Yahveh, uma vez
que este o criou com seu flego de vida (Gn 2,15). Assim a respirao, como a funo
bsica da vida humana, se destinava a conservar o homem unido como o seu criador
(WOLFF, 1978, p.89). O louvor a Deus uma tarefa a todo o ser que respira (Sl 150,6).
O sangue ou o dam tambm representa a vida do homem; no tem a ver com a vida
emocional ou intelectual. O sangue no poderia ser ingerido, pois ao homem compete a
carne, mas o sangue, a vida, compete somente a Deus. Segundo Wolff, o
derramamento de sangue humano salientado como crime contra a imagem de Deus
(1978, p.90). a respirao e o sangue esto relacionados com Jav, e que por isto a
vida sem unio constante com ele e orientao ltima para ele no vida propriamente
(Wolf, 1978, p.91).
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O corpo representava a plenitude da vida do ser humano, podendo sim ser
considerado algo bom, cabvel de ser oferecido a Deus em adorao e louvor, atravs
de movimentos. A principal palavra hebraica que traduzida como corpo gewyy, que
significa corpo humano vivo, ou cadver que corpo morto (WOLFF, 1978, p.46).
A palavra carne em hebraico basar.Wolff indica que a palavra basardesigna a
parte visvel do corpo humano, podendo significar todo o corpo humano. basarindica o
homem como tal, agora e o faz sob o aspecto corporal (Wolff, 1978, p.47). Wolff indica
ainda que basar aponta para a caracterstica fraca e caduca da vida humana. J no
Antigo Testamento, basar no s significa a falta de fora da criatura mortal, mas
tambm a sua fraqueza quanto fidelidade e obedincia em face da vontade de Deus
(Wolff, 1983, p.50).
No texto de Isaas podemos observar que existe uma certa distino
apresentada entre carne e esprito ...carne e no esprito (Is 31,3). No hebraico, esta
palavra tem um senso de emoo, uma provvel aproximao daquilo que se entende
por esprito meu corao e a minha carne exultam pelo Deus vivo (Sl 84,2). Talvez os
textos de Isaas e o Salmo tenham influenciado Paulo quando utiliza o termo carne,
quando o coloca distinto do corpo ao escrever em Romanos 8,8 que ...os que esto na
carne no podem agradar a Deus. Esta distino entre corpo e carne importante
sobre o aspecto das danas no cristianismo, uma vez que o apstolo no est
apontando a condenao para o corpo, mas para atitudes pecaminosas, que o ser
humano por inteiro pode cometer (1 Pe 2,11).
Certas partes do corpo so referidas nos textos bblicos como se tivessem certa
independncia de ao.
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Se o teu olho direito te faz tropear, arranca-o e lana-o de ti, poiste convm que se perca um dos teus membros, e no seja todo o
seu corpo lanado no inferno. E, se a tua mo direita te faztropear, corta-a e lana-a de ti; pois te convm que se perca umdos teus membros, e no v todo o teu corpo para o inferno (Mt5,29-30).
Em alguns textos bblicos, atitudes em relao a algumas partes do corpo fazem
aluso a diferentes situaes. A cabea ilustra liderana. Quero, entretanto, que
saibais ser Cristo o cabea de todo homem, e o homem, o cabea da mulher, e Deus, o
cabea de Cristo (1 Co 11,3). Cabea levantada simboliza alegria, confiana, orgulho,
exaltao. ...s a minha glria e o que exaltas a minha cabea (Sl 3,3). Os ps eram
batidos no cho em ocasies de extrema alegria ou tristeza. Bate as palmas, bate com
o p e dize Ah! Por todas as terrveis abominaes da casa de Israel! (Ez 6,11). Ainda
que sejam figuras de linguagem, partes do corpo sempre so citadas nos textos bblicos
de forma a representarem aspectos definidos do homem. Esta diviso no tira o
simbolismo do Eu indivisvel, pois as funes corporais tm significado em estreita e
ntima relao com o que sagrado. Levando este pensamento para o aspecto da
dana dos hebreus, lembra-se que danar seria uma maneira de oferecer Divindade
cada parte do corpo que movida diante desta. Esta dana seria, ento, uma maneira
de consagrar as atitudes do dia a dia, na medida em que se move a parte do corpo
frente divindade. Um exemplo disto o movimento cadenciado que os hebreus fazem
at hoje diante do muro das lamentaes, movendo-se pra trs e para frente,
oferecendo divindade suas vidas em adorao.
No Antigo Testamento, as leis levticas que impe os conceitos de puro e impuro,
influenciam na concepo de corpo do povo hebreu. Este conceito se baseia nos
seguintes fatores: Da ingesto de alimentos, pois a pessoa era considerada impura se
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ingerisse certos tipos de alimentos (Lv 11, 9 -12), se no lavasse as mos antes de
inger-lo; se houvesse contato com os mortos (Nm 19,11); a circunciso, que era uma
marca feita no corpo, determinava que a pessoa tinha uma aliana com Deus; (Gn 17,9-
11); a menstruao e a gravidez deixavam a mulher impura por alguns dias (Lv 12,5).
Pode-se observar, ento, uma concepo de corpo, que valorizado a medida que se
coloca dentro dos padres de pureza e santidade, impostos no conceito de puro e
impuro.
Os hebreus rejeitaram a crena em divindades corporificadas, o que poderia
significar uma desvalorizao no conceito de corpo frente s ordenanas de no poder
ver a face de Deus e ainda, no Declogo, o mandamento de no fazer imagem do que
h no cu. No far para ti imagem de escultura, nem semelhana alguma do que h
em cima nos cus... (x 20,4). Mas, biblicamente, se percebe mais uma vez, o aspecto
oposto, indicando valorizao do corpo, pelo fato de a figura de Deus sempre estar
relacionada com partes do corpo. Desde o princpio da criao: Deus criou o ser
humano sua imagem (Gn 1,27), em Is 50, 1 quando diz que: a mo do Senhor no
est encolhida, para que no possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para no poder
ouvir. At na encarnao de Deus em Cristo Jesus: porquanto nele habita
corporalmente toda a plenitude da Divindade (Cl 2,9). Em seu texto sobre a
corporeidade de Deus na bblia hebraica, Reimer indica que existe uma linha dominante
de que no se pode ver, nem representar a presena de Yahveh ou de sua
corporeidade, mas que h alguns textos que constituem uma notvel exceo. Em Ex
24,10 onde Moiss e outros viram o Deus de Israel. Ex 32, 22-23, onde Yahveh
concede a Moiss o pedido de v-lo pelas costas. Em Nm 12,6-8 existe a afirmao
de que Yahveh fala com Moiss face a face. As informaes dadas so suficientes
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para deduzir que a divindade imaginada como tendo forma humana (EILBERG-
SCHWARTZ apud REIMER, 2005, p.16). A indicao sobre a corporeidade de Yahveh,
indica uma possvel valorizao do corpo, no momento em que o corpo se mostra
sendo utilizado para uma atitude honrosa, que seria manifestar o sagrado, o que se
relaciona com o espiritual e no somente manifestar o que natural e terreno.
Os hebreus utilizavam aes corporais para se manifestar ao Sagrado. Um dos
exemplos destas aes a movimentao corporal que os judeus realizam frente ao
muro das lamentaes, realizando movimentos cadenciados na medida em que fazem
suas oraes. Esta ao realizada tambm na contemporaneidade. os hebreus
manifestavam temor reverente, admirao e respeito prprios da atitude e do
significado primeiro de adorao em seu relacionamento com o Senhor traduzido,
inclusive, por aes corporais. (DOUGLAS apud COIMBRA, 2003, p. 23).
A cultura hebraica aponta, ento, para um corpo que ao ser considerado puro,
poderia ser local de comunho e manifestao ao Sagrado. O movimento corporal da
dana ento aceito na cultura hebraica, a partir do momento em que o corpo que
dana se encontra dentro dos padres de santidade e pureza dos hebreus. Em outras
palavras, o povo hebreu tem a dana como forma lcita de adorar a Deus e tambm de
se manifestar culturalmente. Porm, na medida em que este povo foi sendo
influenciado por outras culturas, sua dana tambm foi sendo influenciada, adquirindo
assim, caractersticas consideradas pecaminosas, o que posteriormente pode ter sido
um dos fatores que proporcionaram a supresso da dana nas culturas que tiveram raz
hebraica, como por exemplo, o cristianismo.
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2.3 A DANA NA CULTURA GRECO-ROMANA
Havia para os gregos, um ideal de perfeio na harmonia entre esprito e corpo,
tal ideal foi herdado em grande parte pelos romanos, porm para o mundo judaico-
cristo, o corpo foi encarado como veculo do pecado, o que sufocou a espontaneidade
das expresses corporais.
O corpo foi encarado como veculo do pecado e degradao e, emnome desse conceito, no que diz respeito dana, em que pese abeleza dos movimentos arquitetnicos gtico e romnico, grande
parte da magia, poesia, liberdade e espontaneidade foi sufocadadurante um longo perodo da histria da humanidade (CAMINADA,1999, p.69).
Na concepo grega clssica, o belo exigia um corpo trabalhado no esporte, a
dana ento integrava a formao do soldado e do cidado. Em Atenas o homem
educado era aquele que alm de filosofia e poltica, tambm aprendia um instrumento,
canto e dana (CAMINADA, 1999, p.69).
Por volta do sculo VI a.C., a mulher foi reduzida a condio de procriadora,
recebendo instruo mnima, o que a excluiu do teatro e da dana. Foram excludos
tambm os escravos e estrangeiros. Mas a mulher continuou danando em festas
religiosas, de comunidade e nos rituais dionisacos. Em meados do sculo XII, a mulher
voltou a ter seu lugar nos espetculos.
Por volta do sculo III a.C., a dana comea a perder o sentido de encenao,
quando lhe permitido fazer uma dana sem texto.
2.3.1 A influncia grega
Para os gregos, a dana representava os atributos das divindades, se
apresentando carregada de valor simblico. A dana era o foco de ateno mais
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intensa nos rituais cerimoniais. Haviam profissionais da dana, que eram os escravos
ou mesmo um liberto, que eram contratados para alegrar festas e banquetes. Ossona
(1988, p.57) afirma que alguns convidados traziam para as festas seus prprios
bailarinos. Mas como regra geral, estes bailarinos dedicavam seu talento para servir a
uma divindade.
A Grcia foi o bero da arte ocidental. Muitos conceitos que temos at os dias de
hoje, tiveram origem neste na arte grega, como o conceito de belo, de tica, de
desempenho e de purificao atravs da arte. (CAMINADA, 1999, p.47). As poucas
obras de dana existentes deste perodo, mostram como ela foi importante na vida
cvica daquele povo.
As danas religiosas gregas eram realizadas para celebrar divindades como
Dionsio, rtemis, Atena, Zeus, Apolo e as musas Gregas. A dana grega dionisaca,
de onde nasceu o teatro, surgiu nas aldeias de agricultores, onde se pisava a colheita
de uvas, trazidas praa e dispostas em lagares imensos. Segundo Silva (2004, p.
187) o vinho tem seus registros mais antigos em torno de 2500 anos a.C. no Egito. Os
trabalhadores deslocavam-se de forma ritmada dentro dos lagares, esmagando a uva
com os ps, com movimentos sustentados e cadenciados, ao som de seus prprios
cantos. Em volta dos lagares, em bancos de pedra, ficavam os pisadores substitutos,
que iam sendo inseridos no grupo. Em torno destes bancos, numa segunda e tambm
em sucessivas filas, sentados em degraus, estava a populao, contagiada pela
participao nos cantos e nas danas. A origem da Tragdia Grega e o culto a Dionsio
podem ter tido relao com as celebraes da praa de Atenas, onde os atores
vivenciavam a criao do vinho. A dana dionisaca em sua origem era uma dana
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sagrada espontnea, que posteriormente converte-se em uma dana sistematizada, ou
litrgica do calendrio grego (BERTONI, 1992, p.41).
Nas narraes de Homero, um grande poeta pico, se destacam cnticos e
danas de aqueus e fecios em luta contra Tria. Na Iladae na Odissia, temos vrias
referncia a danas blicas, funerrias, agrcolas, nupciais e astrais. Homrico
mencionava ainda a dana de mulheres cretenses em volta de altares.
O ditirambo era uma dana circular em torno de um altar de Dionsio, sobre o
qual se celebrava um sacrifcio sangrento; as danas por vezes eram acompanhadas
de orgias. Compunha-se de uma dana de saltos, acompanhada de movimentos
dramticos e dotada de hinos apropriados. As palavras associadas s danas
ditirmbicas, contriburam para a evoluo da poesia grega. Segundo Caminada (1999,
p.50) do ditiranbo nasceram dois ramos do teatro cantado e danado no helenismo e
vigente at os dias de hoje: a tragdia (tragos: bode e od: canto) e a comdia (comos:
desfile, cortejo e od: canto).
A idia de morte e ressurreio de um deus, que foi elaborada pelo cristianismo,
tambm estava presente nas danas gregas. Na boufonia, um escravo representando
um boi fome, era espancado e lanado para fora da cidade, enquanto gritavam: fora
com o boi fome, entrem a riqueza e a sade. A dana dramtica bumba-meu-boi, um
touro morto, posteriormente um sacerdote dana vestido da pele do boi, provando
que o boi estava vivo.
Apolo simbolizava o sol e a elevao celeste. A unio entre as danas para
Apolo e Dionsio simbolizava uma verdadeira unio entre o que seria terreno e as
imagens celestes. As musas gregas tambm estavam presentes nestas celebraes.
Dentre elas destaca-se Terpscore, musa da dana e do teatro coral.
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Os coros danados estavam presentes nas obras de squilo (525-426 a.C.) onde
dialogavam com um ator, utilizando gestos expressivos e danas. Sobre Sfocles (496
406 a.C.), conta-se que dirigiu um coro de adolescentes que danavam nus para
honrar Apolo.
A tragdia, a comdia, os dramas satricos, as pantomimas marcaram este
perodo tendo se desenvolvido dentro dos ritos aos deuses gregos. Alguns destes,
mantm suas caractersticas, at os dias de hoje. Cito como exemplo a comdia que
partindo de um rito sexual, tinha atores e danarinos que vestidos de animais,
zombavam dos personagens e cidados conhecidos. Era uma maneira de fazer rir para
pensar.
Por fim, pode-se mencionar as danas cotidianas que acompanhavam os
momentos da vida dos gregos como danas de nascimento, de funeral, nupciais e
danas de banquetes.
No ano de 332 aC, os exrcitos de Alexandre Magno dominaram Israel,
introduzindo gradualmente elementos da cultura helnica no povo hebraico (PACKER;
TENNEY; WITE, 1988, p.85). Os judeus comearam a adotar a lngua e os costumes
dos gregos. A dana grega como parte dos seus costumes foi, logicamente, comeando
a influenciar a cultura dos judeus.
A helenizao dos hebreus, que se acentuou no perodo dos Selucidas (187-
175 a.C.) trouxe para dentro da cultura hebraica caractersticas das danas que eram
realizadas para outros deuses e tidas como profanas. O helenismo predominou sobre
todo o chamado Oriente Mdio. A cultura grega, ocidental, impregnou vrias culturas
orientais, impondo a lngua grega, os costumes e, enfim, todo o modo de vida helenista
(SILVA; VASCONCELLOS, 2003, p.195). Em 167 a.C., o processo de helenizao se
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torna legalizado, pela imposio de Antoco IV. Os judeus so obrigados a participar da
festa de Dionsio e do sacrifcio mensal em honra do aniversrio do rei. Ocorre o incio
de uma verdadeira cruzada contra a lei. A dana a outros deuses era um dos elementos
da cultura grega, uma vez que nesta cultura se cria na presena dos deuses interagindo
na vida dos mortais. Tal cultura influenciava a dana dos judeus. A influncia da dana
grega na cultura dos judeus pode ser observada tambm pela meno da mesma nos
textos do Novo Testamento, uma vez que, como fonte histrica, este livro relata
acontecimentos relacionados ao ambiente em que se encontrava o povo judeu, no
perodo prximo em questo. danou a filha de Herodias diante de todos e agradou a
Herodes (Mt 14,6).
Os pensamentos dos filsofos gregos, tambm influenciaram o povo judeu e os
cristos em seu aspecto cultural e isto inclua a dana. Vejamos o pensamento de
alguns filsofos sobre esta questo:
Plato (428 347 a.C.) cita a dan