a cor do rio

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A prefeitura do Rio traz para você, amante do Rio, quatro edições de revistas inspiradas nas cores da nossa cidade, mostrando muito além dos pontos turísticos. As edições trimestrais levarão todos a conhecer a beleza, diversão e toda variedade que há na cidade maravlhosa, fora dos cartões postais, sendo escolhidas através das cores Vermelho, Verde, Amarelo e Azul.

Clara Almeida coordenadora/redatoraClara Wardi editora/redatoraOsiel Sousa produtor/redatorArthur Antunes revisor/redatorThiago Flores redatorArnon Segal designer/redatorVitor Garcia designerDaniel Pinto designerNadine Ximenes designer

equipe

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Acordar. Preguiça que se estende ao querer me trazer aos poucos para o mundo de cá em mais uma manhã.

Recebo as boas vindas com as cores, as mais suaves anfitriãns que não passam meramente da impressão que a luz refletida ou absor-vida pelos corpos produz nos meus olhos, ou se preferir, acordo com as cores que são percepções visuais através das células cones, que transmitem ao meu nervo ótico as im-pressões que vão direto ao sistema nervoso. E assim, partindo dessa invasão de alquimia colorida, vejo o degradê de azul que vai do

editorial

limite da costa até o infinito do céu. Ah, com certeza eles não só se beijam... Essa relação tão intrínseca me mostra que o espectro do azul pode ser encontrado não só nas paletas de cores de quando se vai pintar a parede da sala ou em algum programa de computador, mas no Rio de Janeiro. A cor do Rio, acordo toda Rio, acordo toda e rio! Cidade que dis-põe da saturação de programas e culturas, do brilho das pessoas e principalmente do con-traste entre montanha, mar, prédios e favelas. Quer mais cor do que isso? Vamos fazer um acordo, você vai por aí e eu te digo por onde.

por Clara Wardi

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Caminho em um Rio de Janeiro de paisagens, de pessoas, de pas-sagens, de estadias e utopias. De tantas cores e vida. Na região no-

bre da cidade, contemplo o amarelo do sol, o verde da Floresta da Tijuca e o azul do céu. Vejo-os em uma celebração à cidade, banha-da pelas águas da baía de Guanabara e do Atlântico Sul. No entanto, em uma área mar-cada pelo vermelho dos conflitos armados e lutas por território, me deparo com um ícone estadunidense que sobrevive a um ambiente caótico e hostil: A estátua da liberdade. Sim, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro tem sua versão do monumento mais adorado entre os americanos, e ela está localizada na Zona Oeste da cidade, mais precisamente, na Vila Kennedy.

Ao circular pelas ruas movimentadas do bairro, pude me deparar com um senhor excêntrico, mas bem conhecido na localida-de: Joviano Martins, o Conde de Belamorte. Por trás daquele sujeito com aparência nada amistosa e costumes sombrios, havia um ho-mem simples que fez questão de contar-me inúmeras histórias sobre seus 48 anos de vi-vência nas cercanias.

Seu Joviano me revelou que o bairro, considerado por muitos favelizado, nasceu no projeto do governo americano “Aliança para o Progresso”. Esta empreitada foi financiada pela Casa Branca com o intuito de evitar o

vila kennedy e seu legado

avanço do comunismo na América Latina. O dinheiro, repassado peloTio Sam ao gover-no Federal, foi empregado na construção de bairros proletários, que receberam milhares de pessoas provenientes da remoção das ha-bitações do morro do Pasmado, na Zona Sul.

Ao continuar minha caminhada pela Vila Kennedy, que leva o nome do criador

texto por Arthur Antunes

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“Considerado por muitos um bairro favelizado, a Vila Kennedy nasceu do projeto do governo americano ‘Aliança para o Progresso’”

do projeto “aliança” e 35º presidente dos EUA, logo pude avistar o marco de inter-venção americana em plena Zona Oeste carioca. Em escala, a estátua da Liberdade, cunhada em níquel maciço e doado pelo ar-tista francês Frédéric Auguste Bartholdi - o mesmo que criou a estátua original -, ocupa

espaço nobre na pacata praça Miami.A obra, que tem 2 metros de altura e tem o status de única réplica catalogada da América Latina, foi colocada no local em 1964, para marcar a “inauguração” do bairro.

No entanto, Seu Joviano nos confiden-ciou que, após alguns anos de seguidos atos de vandalismo e a ação implacável do tem-po, a estátua esteve abandonada e apresen-tou sérios riscos de queda, por conta de sua combalida estrutura. Porém, a prefeitura do Rio retirou a belíssima relíquia, restaurou e a colocou em seu lugar de direito.

Arraigada em solo nacional, a imponen-te, simbólica, representativa e icônica obra é a demarcação da sujeição do governo tupi-niquim à conjuntura econômica dos Estados Unidos. Talvez, os moradores não entendam o real significado da escultura para a nar-rativa da consolidação capitalista no país. Entretanto, a obra não é, somente, um or-namento em meio a um cenário conturbado. É um monumento de inspiração artística aos jovens cidadãos que buscam expressar sua verdade.

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a magia da prainha

Aminha carona chega. Seguimos rumo à Prainha, que fica no bair-ro Recreio, zona oeste do Rio. O transporte público para lá é pre-

cário, já que a praia se encontra em uma ser-ra mais afastada, por isso, minha amiga e eu concordamos em dividir o preço da gasolina. Para quem quiser ir, sugiro dividir carona com algum amigo ou fazer uma vaquinha e alugar uma van junto com alguma galera, já que nenhuma linha de bus passa nessa par-te da serrinha Depois de um bom tempo no carro ouvindo os melhores do reggae para entrar no clima do passeio, chegamos enfim no que eu diria, sem exagerar, ser a praia mais paradisíaca do Rio de Janeiro. A cor da água é de outro mundo. Um verde esmeralda que faz um degradê incrível com distintas tonali-dades de azul. Para deixar tudo mais especial, a praia é cercada pela Mata Atlântica., graças ao Parque da Pedra Branca.

Eram 8h30 da manhã, mas o mar já tinha um número considerável de surfistas. Várias pranchas coloridas enfeitavam a praia. Além de ser um esconderijo do lado urbano da cidade, descobrimos também que a Prai-nha é o point de surfistas e jovens descolados, que adoram um contato com a natureza.

Conversamos com um pessoal que nos apresentou a mais um encanto do local: uma trilha atrás da praia, que fica dentro da re-serva. Resolvemos topar a aventura. Pegamos nossa mochila, recolhemos nossas cangas e fomos em direção à trilha. Com duração de meia-hora (no caso eu e minha amiga le-vamos o dobro do tempo pois não tivemos nenhuma pressa), a trilha aproxima a Mata Atlântica de seus visitantes. O ar fresco e a sombra das árvores aliviam o calor que sen-timos lá embaixo, na areia. Apesar de não ser demorada, deu para perder boas calorias. A

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vista de cima é sublime, enxergar aquele mar maravilhoso do alto não tem preço. A trilha pode ser feita por pessoas de todas as idades por ser bem tranquila, mas sempre com uma garrafa de água para hidratar e para os alér-gicos a insetos, um bom repelente também é o ideal.

Quando chegamos lá embaixo, a nossa fome já se encontrava em um estado crítico. Resolvemos então parar no quiosque mais movimentado e bonito . O Brother Prainha, além de ser uma graça, é o lugar que a galera se reúne, seja para apreciar a vista, para jogar papo fora ou para recompor as energias. Eles servem comidinhas artesanais, como saladas e sanduíches. Experimentei o sanduíche de frango (R$ 6,50) e para beber, água de coco (R$ 5). Estava tudo uma delícia, e o atendi-mento é maravilhoso. A faixa de preço de lá em geral é acessível, porém não espere nada

muito barato. Outras opções como macarrão integral ao molho pesto também me parece-ram bem apetitosas, mas fica para a próxima.

Fomos embora por volta das quatro da tarde. O tempo simplesmente passou e não sentimos. Por algumas horas, eu e minha amiga tivemos a sensação que fomos tele-transportadas para fora do Rio. Se dependes-se da minha vontade, ficaria até o escurecer, mas os compromissos nos chamam de volta para a realidade, e rapidamente me lembro de que não estou de férias e que a poucos quilômetros dali, problemas como trânsito caótico, prazos, stress e correria fluem ener-gicamente. Me despeço então, já sentindo saudade, desse pequeno e fascinante pedaço do paraíso, com a promessa de voltar o quan-to antes possível.

texto por Clara Almeida

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revitalização do centro

É domingo de manhã no centro da cidade. Parece um cenário de fil-me. Desabitado, o centro se mostra como um lugar frio, distante. Ape-

sar de guardar patrimônios culturais como a Biblioteca Nacional, o Teatro Municipal e o Palácio Tiradentes, o centro sofre o grave problema de abandono. Suas ruas nos dias da semana, são sempre movimentadas por empresários, comerciantes e turistas. Mas tirando estes últimos, nos feriados e domin-gos, o centro é esquecido pelos moradores da cidade maravilhosa de uma forma em ge-ral. O que leva a esse abandono, é fácil de se perceber andando pelas ruas vazias. Falta de infra-estrutura urbana, medo pela falta de segurança e ausência de atrativos para os

cariocas, além de uma certa precariedade de transportes para quem mora em zonas mais afastadas.

Pensando em valorizar o centro, nasce o projeto Porto Maravilha. Explicando rapi-damente, ele tem o objetivo de revitalizar o centro e o porto, com o intuito maior de rea-proximar a região com o restante da cidade. Algumas medidas já foram tomadas, e vemos como poucas mudanças já trazem um ar de novidade e inovação que ajudam a criar uma nova percepção para o centro.

Essas diferenças do antigo e novo po-dem ser percebidos nos mínimos detalhes. O Jardim do Valongo, por exemplo, abandona-do por anos, foi restaurado e hoje é um lugar

texto por Clara Almeida

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“Mais do que lutar contra a decadência, essas mudanças

permitem novas áreas a serem exploradas e novas

experiências a serem vividas.”

encantador. Conforme ando, me deparo com construções mais atuais , que de alguma for-ma dialogam com os prédios antigos e criam um contra-ponto interessante na cidade. Mostra o que já fomos e o que queremos ser. O MAR (Museu de Arte do Rio), que fica na zona portuária, é a exemplificação perfeita dessa antítese. Ao lado do Palacete D. João VI, uma construção modernista por essência, enfeita a paisagem do Rio com o belo con-traste de épocas diferentes.

Outras obras como o Museu do Ama-nhã, o VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) - que é um bondinho mais moderno - prome-tem mudar a paisagem do centro, integrando

o presente e o passado. Andando perto dos arcos da lapa, vejo que o conceito dos gran-des condomínios com a sua própria área de lazer agora já alcança o centro, mesmo em uma zona mais conhecida pela sua boemia. O condomínio Cores da Lapa quebra a tra-dição do local, e ao mesmo tempo que faz isso, traz a oportunidade de novas formas ha-bitacionais no centro, o que acaba trazendo mais investimento na região.

Apesar de gostar das tradições, percebo que existe uma necessidade bem visível de uma renovação no centro. Mais do que lutar contra a decadência, essas mudanças permi-tem novas áreas a serem exploradas e novas experiências a serem vividas. Por um Rio com mais histórias, mais momentos e mais lembranças. Mas tudo isso, é claro, sem apa-gar as memórias que já temos do passado.

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O relógio desperta por volta de 2h30 da manhã. Meus amigos já me esperam ansiosos lá fora. Acerto os últimos detalhes e saio.

Ao entrar no carro, sinto a mochila leve de-mais e me dou conta que esqueci meus san-duíches em cima da mesa. Depois de pegar meu precioso lanche, saímos em três carros em direção a um dos lugares mais lindos do Rio: O Morro Dois Irmãos. A trilha fica

na divisão entre as belíssimas praias de São Conrado e Leblon. Alguns lugares dão aces-so à trilha, mas o acesso ideal é pelo Vidigal. Pra se chegar lá, o indicado é pegar um táxi ou qualquer linha de ônibus que passe pela Av. Niemeyer.

O meio de transporte mais utilizado para se locomover de um ponto a outro nas favelas cariocas hoje em dia, é o mototáxi e no Vidigal não é diferente. De moto chega-

trilha do morro dois irmãos

texto por Osiel Sousa

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mos até o Sobradinho, ponto mais alto da fa-vela e local que dá acesso à trilha. Descemos das motos e o grupo está bastante animado. Paulo, o guia responsável por nos levar pela trilha, faz as últimas checagens e nos aler-ta sobre o início do percurso que afirma ele ser bem complicado. Uma dica: o uso de um guia é essencial.

Com a promessa de grande aventura e contemplação de belas paisagens, iniciamos a caminhada. Como Paulo já havia nos orien-

tado, encontramos bastante dificuldade no trecho da trilha conhecida como paredão, uma obra de contenção não finalizada pela prefeitura que fica entre o limite da favela e a área de mata. Nesse ponto é necessário se equilibrar sobre uma parede de concreto com o risco de cair de uma altura de quatro metros.

O pior aparentemente passa e agora já estamos na área de mata. Numa fileira de quinze pessoas, todos sobem bem próximos uns aos outros pra que ninguém se perca em meio à escuridão. Sem as lanternas, não en-xergaríamos um palmo à nossa frente. O si-lêncio é total. Nada se escuta a não ser o ruí-

“No cume do Morro nos deparamos

com uma das vistas mais

deslumbrantes que alguém pode

ter na vida.”

do que os nossos tênis fazem ao pisar folhas e galhos secos. O Rio é um dos poucos lugares do mundo em que se nota um contraste tão vivo entre área urbana e a área de mata. Há poucos minutos estávamos no meio urbano, alguns passos depois, numa “floresta tropi-cal”.

O restante do percurso é tão desafiador quanto o trecho do paredão, um pequeno de-talhe que o nosso guia esqueceu mencionar. Existem partes tão íngremes que em certos momentos é necessário o auxílio das mãos para não escorregar. Não vou mentir, é ne-cessário um mínimo de preparo físico, pois a subida completa é de aproximadamente duas horas e meia.

Finalmente, por volta de 5h30 da ma-nhã, a recompensa. No cume do Morro nos deparamos com uma das vistas mais des-lumbrantes que alguém pode ter na vida. O Sol, lentamente, começa a sair no horizonte como se nos saudasse. Os primeiros raios nos alcançam e por um breve momento trago a memória o filme do Super Man, aquela cena que depois de ser exposto a criptonita e estar muito fraco, consegue de alguma maneira voar e ultrapassando a atmosfera da terra é abraçado pela luz do Sol que renova as suas forças. Bem, essa era a sensação.

As câmeras disparam, todos querem re-gistrar esse momento, afinal, não é todo dia que alguém se depara com tamanho encanto. Quanto mais alto vai o Sol, mais a beleza da cidade é revelada. Em momentos como esses é que se compreende porque o Rio é conhe-cido como cidade maravilhosa.

Depois de umas duas horas admirando aquela paisagem, chega o momento de ir-mos embora. Posamos para uma última foto e Paulo reúne todos pra começarmos a des-cida. Confesso que deixar pra trás um lugar tão lindo não é fácil. Saímos dali com a cer-teza que não demoraria muito e estaríamos de volta.

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manguaça game show

Eram oito e meia da noite, de uma quinta feira, quando cheguei ao Boteco Salvação e subi as escadas. Diferentemente do andar de baixo,

onde havia apenas dois ou três casais, encon-trar uma mesa livre no segundo andar seria uma missão impossível, mas meus amigos já esperavam por mim em uma mesa no canto. O quiz ainda não havia começado o que nos permitiu dar uma olhada no menu.

Pedi a especialidade da casa, um Heavy

Metal Burguer (R$ 26,50) e uma coca (R$ 6,50) e ficamos conversando. Papí Fajardo (ver entrevista na página 14) veio à nos-sa mesa para garantir que estávamos sendo bem recebidos. Acontece que o game show do Boteco Salvação tem um público fiel e apenas a nossa mesa e mais uma eram de no-vatos e, por isso, Papí faz questão de dar uma atenção especial quando vê um grupo de ros-tos desconhecidos. A comida chegou pouco antes do jogo começar e estava sensacional.

texto por Arnon Segal e Nadine Ximenes

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“OManguaça Game Show consiste em uma série de jogos que são disputados pelas mesas, uma

contra a outra, em busca da glória e se dizer campeão da noite.”

O Manguaça Game Show consiste em uma série de jogos que são disputados pelas mesas, uma contra a outra, em busca da gló-ria de se dizer campeão da noite. Esta glória vem acompanhada de uma garrafa de espu-mante e cada jogo tem prêmios menores. In-dependente de ganhar o grande prêmio da noite ou os prêmios de cada rodada, a diver-são é garantida para todos.

Papí se dirigiu à frente e a sala se pôs em

silêncio momentaneamente. Nós acompa-nhamos a massa e também paramos de falar. Este silêncio foi quebrado logo em seguida, pela conversa animada e eufórica, enquan-to cada mesa trabalhava em conjunto para ganhar a primeira atividade, que consistia em dar os nomes de dez famosos que eram apresentados em um telão. O clima todo era muito agradável e jogo após jogo o tempo foi passando rapidamente enquanto nos empe-nhávamos em descobrir as marcas às quais os logos pertenciam, os nomes dos personagens de séries de TV e times de futebol de cele-bridades.

Entre as provas, trouxeram à nossa mesa cinco copos de cerveja numerados para o jogo do teste cego, no qual falhamos mise-ravelmente. Na verdade, os outros grupos es-tavam tão preparados para a competição, que falhamos miseravelmente em quase tudo, conseguindo ganhar somente a rodada de mímicas de filme com grande ajuda da sorte

e uma diferença de apenas 8 centésimos para o segundo lugar. No final das contas, fica-mos em quarto lugar, o que para nós teve um certo sabor de vitória por serem oito grupos participantes no dia. Um dos integrantes da mesa campeã veio falar conosco:

-“Não se preocupem, é normal não ir bem a primeira vez... Nós demoramos mais de um mês para ganhar a primeira vez. Ago-ra estamos sempre aqui.”

No final das contas, apesar de ser uma competição, o clima é de absoluta camarada-gem e descontração entre todas as equipes. Papí é o responsável por criar esse clima e consegue levar o quiz de forma bem humo-rada e carismática. Um de seus momentos favoritos – e por isso uma das poucas provas que estão em todas as edições – é o jogo do anagrama, em que o nome de uma celebrida-de é embaralhado formando uma nova pa-lavra e ganha o primeiro que conseguir des-vendar o nome original. Este jogo foi o único momento da noite em que a tensão estava presente na sala, todos os olhos voltados para o telão e a respiração pesada.

O quiz acabou por volta das onze da noite, mas só saímos de lá bem depois. Foi uma noite incrível e já marcamos com os no-vos amigos que fizemos por lá de voltar em breve.

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Depois de passar por todas as outras mesas e entrar em conversas longas e animadas, Papí vem até nós enquanto o bar começa a esvaziar um pouco. É um homem de sorriso amigável e que gosta de falar. Seus interesses são os mais diversos possíveis: é professor de Geografia, colecionador de cachaça, amante do rock e de grande parte da cultura nerd. Comenta em tom bem humorado que já chegou a ter cinco profissões diferentes na mesma semana.

O Manguaça Game Show surgiu há um ano e meio quando ele e Erich, amigo de longa data, se juntaram ao grupo Matriz, aoqual pertence o lugar e amigos de Papí da cena underground carioca, de acordo com ele. Papí já participava de quizes desde os anos 2000, época em que Erich já apresen-tava alguns destes eventos pela cidade. Em 2010, quando Erich retornou de Minas Ge-rais onde estava morando há alguns anos, os amigos perceberam que não havia nenhum quiz que gostassem na cidade do Rio. A so-lução era criar um por eles próprios. Assim nasceu o Brainstorm Quiz Show, no Bar Belmiro (informações abaixo). Papí e Eri-ch, apesar do sucesso do Brainstorm, não se deram por satisfeitos e resolveram ampliar a ideia de quiz para novos horizontes, nascen-do assim um novo modelo de evento, com outro tipo de provas (muitas delas ligadas a bebida) e apresentação, direcionado a um público mais jovem.

O apresentador fala com orgulho de cada uma das 73 edições do evento que só

Bate Papo com Papí Fajardo

parou por uma semana quando o jogo do Brasil na Copa caiu numa quinta feira. As provas sempre mudam, apesar de algumas clássicas aparecerem sempre. Papí mostra em seu laptop algumas fotos do evento temático sobre Disney, em que muitos dos participan-tes vieram fantasiados de seus personagens favoritos. Outro de seus preferidos foi a edi-ção de número 69 que ocorreu no dia 11 de setembro e em que todas as perguntas eram relacionadas, nas palavras dele, a terrorismo ou ao sexo. As fontes de pesquisa para criar as perguntas são as mais diversas e ele diz usar desde a Wikipédia até o Ego.

Olhando para o futuro, Papí se mostra animado para uma possível parceria que está tentando realizar com uma cachaçaria. Além disso, se prepara para a edição de Halloween que irá ocorrer no dia 30 de outubro. Ou-vimos outros participantes comentarem so-bre esta edição ao longo de toda a noite e o conselho é unânime: ligar e reservar uma mesa com antecedência. Antes de ir embo-ra pedimos ao criador do Game Show dicas para quem estivesse vindo pela primeira vez. Ele coça a barba pensativo e responde final-mente:

-“Estudar os aniversariantes da sema-na... E treinar o fígado!”

Manguaça Game Show

Onde é: Boteco Salvação, Rua Henrique de Novaes 55, Botafogo.

Dia e horário: quinta-feira às 20h

Preço: R$ 8,00

Indicado para maiores de 18 anos.

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sobre um menino e um píer

São 18hs e o sol de um amarelo-ala-ranjado deitando-se ao horizonte atrapalha um tanto a visão. Não es-tivéssemos no horário de verão, o céu

já haveria escurecido e o fluxo de pessoas se-guindo pela Teixeira de Melo sentido à praia haveria se dissipado. Entretanto, esse resti-

“Houvesse ainda o píer, com suas grandes colunas marrons cobertas de algas, haveria por ali, certamente, um menino loiro de grandes olhos verdes, dragão tatuado no braço.”

nho de sol e o calor do verão que se aproxima convidam cariocas e turistas a desfrutar mais alguns minutos da charmosa orla de Ipane-ma.

A Rua Teixeira de Melo me entrega às proximidades do posto 8. Sigo à direita,

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em direção à Farme de Amoedo. Em algum ponto entre essas duas ruas, em 1971, quem mirasse as águas do Atlântico avistaria um grande píer, suporte para um emissário sub-marino que despejava longe, no oceano, os dejetos do bairro. O que o Governo do Esta-do da Guanabara provavelmente não espera-va, era que a obra, decorrente do plano de sa-neamento básico do bairro de Ipanema, daria origem a grandes ondas. E essas ondas, lo-gicamente, atrairiam surfistas, que atrairiam belas meninas, que por sua vez atrairiam o restante da juventude carioca. Logo o píer de Ipanema se tornaria o point de uma geração.

Sento-me à mesa de um quiosque e, enquanto o garçom prepara-me uma água de coco, observo algumas garotinhas de Ipane-ma, vagando pela areia num nem-tão-doce balanço atrás de uma bola de futebol. Hou-

vesse ainda o píer, com suas grandes colunas marrons cobertas de algas, haveria por ali, certamente, um menino loiro de grandes olhos verdes, dragão tatuado no braço. José Artur Machado, “Petit” para os amigos, era um dos símbolos dessa geração de surfistas. Mas, apesar do grande talento para o espor-te, Petit gostava mesmo era de fazer novas amizades e fumar um baseado com quem estivesse disposto a dividir. As drogas, aliás, eram algo previsível em um local que era o ponto de encontro de intelectuais, artistas e jornalistas. De Gabeira - vestindo uma pe-quena tanga e com seus pelos pubianos à mostra - a Gal Costa e Evandro Mesquita, vários nomes hoje popularmente conhecidos circulavam por lá. Numa dessas, Petit co-nheceu um compositor magrelo e de cabelos esvoaçantes, que anos mais tarde lhe imorta-lizaria em uma canção que ainda se tornaria

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tema de novela. “Menino do Rio” é não só o retrato perfeito de Petit, como de todos os jovens bronzeados do píer de Ipanema. Cae-tano Veloso conseguiu fotografar em pala-vras o espírito carioca do começo dos anos 70.

Para além daquelas areias, a ditadura militar vivia seu auge com o presidente Mé-dici, num período historicamente marcado

por torturas e assassinatos. Nas “Dunas da Gal”, formadas com o que foi retirado do fundo do oceano para construção das funda-ções do píer, a contracultura se fazia presente pelos ideais tropicalistas. Jorge Mautner dis-se certa vez que o que os iluminava ali era o desejo de democracia, as liberdades indivi-duais e sexuais, a realização dos direitos hu-manos e a desobediência civil. Não era uma luta armada. E, talvez por isso, não houvesse

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ali repressão. Livres, as idéias tomavam for-ma e se expandiam para outros lugares. Bem como a moda, a música e o comportamento de uma forma geral.

Em 1975, o píer, já com fama interna-cional, foi desarmado. Petit, que nunca havia comprado uma prancha, sofreu grave aciden-te de moto em 27 de agosto de 1987, aos 30 anos de idade, ficando em coma por 40 dias.

Acordou com já esperadas sequelas: o lado direito de seu corpo ficara paralisado. A par-tir dali, apenas meio Petit continuaria vivo. À noite de 7 de março de 1989 ele come-teria suicídio, enforcando-se com uma faixa de jiu-jitsu; a efemeridade de sua existência confundindo-se com a brevidade daqueles verões, onde as ondas do mar eram mero pre-texto pro desfrute pleno da liberdade.

texto por Thiago Flores

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fim de semana na rocinha

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É uma ensolarada manhã de sábado na maior favea carioca. Acordo com aquela sensação maravilhosa de fim de semana. Família, amigos,

sol, praia, Churrasco, futebol e festa. Isso é tudo o que vem à cabeça. E, claro, como pra todo bom carioca, a praia é o primeiro des-tino do dia.

Pelada na areia com os amigos, corpos

sarados, um mergulho revigorante no mar. Aos pés da pedra da Gávea a praia de São Conrado é uma das mais lindas do Rio e des-de sempre um dos programas favoritos dos moradores da Rocinha.

Com o ponteiro do relógio marcan-do 12h e a fome batendo à porta, é hora do almoço. Da praia vamos direto para o res-taurante mais frequentado da comunidade,

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o Varandas. Inclusive, vale destacar que no mapa gastronômico carioca a Rocinha com certeza é destaque. Na Rua Via Ápia são inúmeras as opções de restaurantes, Pizza-rias, redes de Fast Food etc. Come-se bem e barato com pratos com um custo que varia entre R$15,00 e R$20,00.

Depois de uma farta refeição voltamos pra casa e o famoso samba no bar do Seu Carlos tá bombando. Cerveja, churrasco e

“No morro tem uma máxima que é levada

ao pé da letra: aqui ninguém é melhor do

que ninguém”pagode. É a combinação perfeita. O clima de festa e o ambiente de camaradagem na favela são inigualáveis. Todo mundo conhece todo mundo, todos são amigos de todos e aquele

churrasco que três ou quatro pagam, todos comem. No morro tem uma máxima que é levada ao pé da letra: aqui ninguém é melhor do que ninguém.

A noite vai chegando na favela e se-guimos com ela em direção a mais diversão. Gente bonita, clima de azaração, com certe-za já passa das 22h. A “night” na Rocinha é agitada são cinco casas de show e pelo menos dez bares que recebem DJs, inclusive os fa-mosos, toda semana. A quadra do Acadêmi-cos da Rocinha é o point mais badalado e consequentemente o mais frequentado, sem-pre com grandes atrações que contemplam todos os gostos, ou seja, do forró ao Eletrôni-co a festa madrugada à dentro é garantida.

Infelizmente a noite chega ao fim, mas e daí? O sol vai nascendo no mar de São Con-rado trazendo junto com ele o domingo e na Rocinha domingo é tão “festa” quanto o sábado. E mais “festa” ainda é quando o dia oficial do descanso vem acompanhado de uma bela partida de futebol, principalmente quando o jogo é do Mengão.

Depois de 4x1 pra cima do Vasco, o que fecha com chave de ouro um fim de semana sensacional, a noite chega e as energias co-meçam a ser poupadas pra mais uma semana de batalha, mas não tem problema, cinco dias passam voando e outro fim de semana chega trazendo mais momentos felizes.

texto por Osiel Sousa

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‘’Isto é janeiro e é Rio de Janeirojaneiramente flor por todo lado.Você já viu? Você já reparou?Andou mais devagar para curtiressa inefável fonte de prazer:a forma organizadarigorosaesculpintura da natureza em festa, puro agradoda Terra para os homens e mulheresque faz do mundo obra de artetotal universal, para quem sabe(e é tão simples)ver?’’

Carlos Drummond de Andrade

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