a conjunção subordinativa quando na perspectiva funcional - discursiva
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A CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA QUANDO NA PERSPECTIVA
FUNCIONAL � DISCURSIVA
Por
VANESSA PERNAS FERREIRA
Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa, apresentada
ao Programa de Pós � graduação em Letras Vernáculas, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em
Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).
Orientadora: Professora Doutora Violeta Virginia Rodrigues.
Rio de Janeiro, 1º semestre de 2008.
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BANCA Defesa de dissertação FERREIRA, Vanessa Pernas. A conjunção subordinativa quando na perspectiva funcional-
discursiva. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ, 2008. 130 p., mimeo. Dissertação de
Mestrado em Língua Portuguesa.
Banca Examinadora
_________________________________________________________________________ Professora Doutora Violeta Virginia Rodrigues (Letras Vernáculas � UFRJ)
(Orientadora)
_________________________________________________________________________ Professor Doutor José Carlos de Azeredo (UERJ)
_________________________________________________________________________
Professora Doutora Célia Regina dos Santos Lopes ( Letras Vernáculas � UFRJ)
_________________________________________________________________________ Professor Doutor Mário Eduardo Toscano Martelotta (Lingüística � UFRJ)
(Suplente)
_________________________________________________________________________ Professora Doutora Mônica Maria Rio Nobre (Letras Vernáculas � UFRJ)
(Suplente)
Defendida a dissertação Em ____/____/2008.
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À minha mãe,
razão de tudo.
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�Pesquisei, estudei, meditei (...). Esforcei-me
para tirar a limpo a verdade, separando-a
do que pudesse obscurecê-la. Com o andar
dos tempos e o encontro de novos subsídios,
haverá de certo o que modificar e depurar
ainda nesta história. Na atualidade, porém,
e auxiliando-me com as luzes que pude
colher, julgo que a devo publicar como a
senti, compreendi e imaginei�. (J.M.Pereira da Silva, História da fundação
do império brasileiro)
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AGRADEÇO, A Deus, minha força, meu caminho, minha luz, sem Ele nada seria possível. À minha mãe, meu porto seguro, minha maior incentivadora, aquela que sempre
acreditou na minha capacidade. Esse trabalho é muito mais seu do que meu. Ao meu pai que, esteja onde estiver, é minha estrela protetora. Tenho certeza que
você está muito orgulhoso de mim. Ao Adriano, meu companheiro de alegrias e tristezas, pela paciência, pelo silêncio
sábio, pelo carinho infinito e pelo amor de todas as horas. À Professora Doutora Violeta Virginia Rodrigues, pela amizade, pela atenção em
todos os momentos e por ser o meu maior exemplo profissional. Aos meus professores de graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelos ensinamentos e por todos os incentivos. Ao meu avô, aos meus queridos tios, tias e primos, pela força de sempre e pela
presença constante. À Danielle Motta, a irmã que Deus me deu depois de adulta, por torcer pelas minhas vitórias, mesmo longe. À Danielle Ribeiro e Daniele Robert, amigas da faculdade que continuaram e
continuarão em minha vida. Aos amigos de pesquisa acadêmica, em especial à Mayara, por �inventar moda�
junto comigo, pondo fim a algumas dúvidas e me trazendo muitas outras, e ao Anderson, por me incentivar, mesmo que do seu jeito. Enfim, a todos aqueles que estão presentes em minha vida, me ajudando a ser uma
pessoa um pouco melhor todos os dias, saibam que estão todos em meu coração.
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SINOPSE:
Análise e descrição dos usos da
conjunção subordinativa quando no
Português do Brasil, segundo o modelo
Funcionalista. Estudo sincrônico do
processo de gramaticalização do item.
Proposta de observação das relações
semânticas da conjunção subordinativa
quando.
FERREIRA, Vanessa Pernas. A conjunção subordinativa quando na perspectiva funcional-
discursiva. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ, 2008. 131 p., mimeo. Dissertação de
Mestrado em Língua Portuguesa.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10 1 APRESENTAÇÃO DO TEMA 13 1.1 O objeto da pesquisa 13 1.2 Pressupostos teóricos 14 1.3 Os corpora 17 2 AJUSTANDO O FOCO 19 2.1 O processo de subordinação 19
2.2 O processo de hipotaxe 28 2.3 Muito mais que elos: os conectores 31 2.4 A conjunção 34
3 O CONECTOR QUANDO 39
3.1 A palavra dos gramáticos 39 3.2 A palavra de outros estudiosos 43 3.3 Buscando respostas na diacronia 47 4 A GRAMATICALIZAÇÃO 58 4.1 Um pouco da teoria Funcionalista 58 4.1.1 Alguns princípios fundamentais 60 4.2 Principais teorias a respeito da gramaticalização 63 4.2.1 Breve histórico da teoria da gramaticalização 64 4.2.2 A definição de gramaticalização 65 4.2.3 O processo da gramaticalização 66 4.2.3.1 Os estágios da gramaticalização 67
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4.3 Princípios de gramaticalização 70 4.4 Gramaticalização X discursivização 75 4.5 Será a gramaticalização um fenômeno unidirecional? 77 5 ANÁLISE DOS DADOS 82 5.1 Quantificação dos dados 82 5.1.1 Quando � temporal 86 5.1.2 Quando � condicional 89 5.1.3 Quando � causal 93 5.1.4 Quando � concessivo 95 5.1.5 Quando � proporcional 96 5.2 Análise dos exemplos 97
CONSIDERAÇÕES FINAIS 116 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 119 BIBLIOGRAFIA 126
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Lista de quadros, gráficos e tabelas
Quadro 1: Orações subordinadas, segundo a NGB e Mateus et alii (2003) 26
Quadro 2: Processos de vinculação de orações, segundo Olímpio (2006) 29
Quadro 3: Propriedades relevantes para o declive de combinação de cláusulas,
segundo Hopper e Traugott (1993: 171) 30
Quadro 4: Esquema de classificação dos conectivos, segundo Câmara Jr. (2001) 32
Quadro 5: Classificação dos conectivos, segundo Luft (1983) 33
Quadro 6: Distribuição das classes de palavras de acordo com os gramáticos clássicos 48
Quadro 7: Processo de gramaticalização do quando, segundo Barreto (1999) 56
Quadro 8 :Fases da gramaticalização, segundo Lehmann (1995 [1982:13]) 69
Quadro 9: Estágios do processo de gramaticalização, segundo Bybee et al. (1994) 70
Quadro 10: Critérios para medir a autonomia de um signo, segundo Lehmann
( 1982 apud Castilho: 1997) 71
Quadro 11: Escala de unidirecionalidade da gramaticalização, segundo
Hopper & Traugott (1991) 78
Gráfico 1: Dados encontrados nos corpora pesquisados 83
Gráfico 2: Dados encontrados nos corpora � escritos e orais 84
Gráfico 3: Posição das orações subordinadas temporais iniciadas por quando 88
Gráfico 4: Dados de orações encabeçadas por quando condicional 89
Gráfico 5 : Posição das orações condicionais 92
Gráfico 6: Posição das orações causais 94
Tabela 1: Dados da conjunção subordinativa quando encontrados
nos corpora utilizados 85
Tabela 2: Tempos e modos verbais nas orações temporais encabeçadas por quando 87
Tabela 3: Tempos e modos verbais nas orações condicionais encabeçadas por quando 91
Tabela 4: Tempos e modos verbais nas orações causais encabeçadas por quando 94
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INTRODUÇÃO
Os recentes estudos lingüísticos se baseiam na observação da língua em uso,
tratando-a como um processo e não como um produto, ou seja, um mero conjunto de
funções e nomenclaturas; sendo assim, há uma preocupação com o discurso como um
produto coletivo. Essa postura pode ser notada, por exemplo, por meio dos pressupostos
teóricos do Funcionalismo, segundo o qual os estudos lingüísticos devem ser baseados no
uso, levando em conta não só as pressões dos contextos de uso, mas também fatores sociais
e interpessoais.
Seguindo o aporte funcionalista, surgem teorias em relação à evolução de itens
lingüísticos através do tempo e em decorrência do surgimento de novos usos. Uma das
teorias mais reconhecidas é a teoria da gramaticalização, conceito segundo o qual itens
tendem a se tornar mais gramaticais graças a novos usos.
Os pressupostos do Funcionalismo, assim como as teorias acerca da
gramaticalização, são a principal base teórica desta dissertação, uma vez que a presente
pesquisa nasceu da observação do crescente uso da conjunção subordinativa quando com
outros valores além do valor temporal, este considerado como prototípico.
Sendo assim, através desta observação e tomando-se por base as principais teorias
sobre a gramaticalização, seus princípios e funções na língua, faz-se, neste estudo, uma
descrição dos �novos� valores semânticos que a conjunção subordinativa quando vem
apresentando tanto na língua falada quanto na língua escrita.
Encontraram-se, na língua em uso, pelo menos cinco valores semânticos para a
conjunção subordinativa quando: 1º) temporal, 2º) condicional, 3º) causal, 4º) concessivo e,
ainda, 5º) proporcional. Com base nestes valores, pretende-se comprovar a hipótese de que
a conjunção subordinativa quando vem adquirindo novos usos e encontra-se em um ponto
do processo de gramaticalização, sobretudo no que se refere aos princípios de Hopper
(1991).
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A proposta de análise desenvolvida baseia-se no estudo das diferentes etapas do
continuum de gramaticalização, sobretudo no continuum apresentado por Traugott e König
(1991): TEMPO>CAUSA>CONCESSÃO, pelo qual o item passa. Observou-se, portanto,
cada um dos itens deste continuum e, ainda, os outros valores encontrados.
Além disso, para um melhor entendimento de alguns usos da conjunção quando,
dedicou-se parte do trabalho à verificação dos valores semânticos apresentados pela
gramática tradicional e por outros estudiosos contemporâneos.
Inicialmente, no primeiro capítulo, faz-se uma breve exposição dos objetivos da
pesquisa, bem como a definição dos pressupostos teóricos que serviram como base para o
estudo. Neste capítulo, definem-se, também, o objeto de trabalho e a metodologia que foi
adotada ao longo da dissertação, bem como os corpora analisados.
No capítulo seguinte, intitulado �Ajustando o foco�, faz-se uma revisão
bibliográfica sobre o processo de subordinação, de acordo com a gramática tradicional,
cujos conceitos são utilizados ao longo da dissertação. Dessa forma, são detalhadamente
examinados os conceitos de subordinação, conector, conjunção, além do processo de
hipotaxe.
O terceiro capítulo expõe as características da conjunção subordinativa quando na
perspectiva da gramática tradicional e de outros estudiosos da língua, buscando mostrar
como cada estudioso tratou, ou trata essa conjunção. Aborda ainda a polissemia e a
multifuncionalidade desta conjunção dentro da sintaxe da língua.
O quarto capítulo é dedicado às principais teorias sobre o Funcionalismo e sobre a
gramaticalização. Inicialmente, faz-se uma breve apresentação dos pressupostos da teoria
Funcionalista e de alguns elementos essenciais para ela. Em um segundo momento, trata-se
efetivamente dos estudos sobre a gramaticalização através do tempo e dos principais
princípios que designam as características do processo de gramaticalização.
Por último, dedica-se um capítulo à análise de exemplos dos corpora, ainda que
alguns destes exemplos tenham sido analisados ao longo do trabalho. Neste momento, além
de uma análise qualitativa dos dados, faz-se uma breve análise quantitativa dos 689
exemplos recolhidos nos três diferentes corpora usados na pesquisa: VARPORT, D&G �
RJ e O GLOBO. Estes corpora são descritos tanto nesse capítulo quanto no capítulo 1. Faz-
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se, ainda, uma breve descrição de cada um destes exemplos, separados de acordo com o
valor semântico da conjunção subordinativa quando.
Por fim, chega-se às considerações finais e às referências bibliográficas, momento
no qual se objetiva deixar claro que não se pretendeu esgotar o estudo sobre o item em
questão. Portanto, a descrição feita na presente dissertação é apenas uma possibilidade de
interpretação dessa conjunção, uma vez que há questões extremamente subjetivas e que
interferem na análise de alguns exemplos recolhidos. Assim, a intuição do falante nativo da
língua, muitas vezes, influenciou no estabelecimento das hipóteses e nas análises feitas ao
longo do trabalho.
De toda forma, ao final de tudo, deseja-se contribuir, com este estudo, para a
descrição lingüística da conjunção subordinativa quando em função de seus usos, buscando
demonstrar que, conforme afirma Decat (2001:123), a relação adverbial não se dá pela
análise do conectivo propriamente dito, mas sim pela relação que emerge através das
cláusulas1.
1 Decat (2001) considera como cláusula (ou oração) qualquer estrutura que possua verbo, ainda que só
formada por este elemento.
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1. APRESENTAÇÃO DO TEMA
1.1 O objeto da pesquisa
No português do Brasil, o item quando é considerado, pela Gramática Tradicional
(GT), o conector temporal prototípico. No entanto, ao analisar o português falado, podemos
verificar que o item aparece encabeçando uma série de orações subordinadas adverbiais
indicando outras circunstâncias, além da temporal; encontraram-se casos de condicionais e
causais. Alguns desses exemplos se estendem, inclusive, para a escrita, como é o caso das
orações subordinadas adverbiais condicionais, conforme ilustra o exemplo a seguir:
(1) �Brasileiro adora acompanhar futebol. Quando tem Copa do Mundo então, nem se fala�. ( O Globo- 04/06/06 � ANU)
Tal uso pode ser explicado por meio do Funcionalismo, uma vez que, com base na
teoria funcionalista, entende-se gramaticalização como o processo que leva itens lexicais e
construções sintáticas a assumirem funções referentes à organização interna do discurso.
Dessa forma, itens que antes eram considerados como parte do léxico tornam-se elementos
gramaticais, passando a fazer parte do âmbito da gramática. Tal processo é unidirecional,
isto é, os itens vão sempre do léxico para a gramática e, uma vez gramaticalizados,
continuam a desenvolver novas funções gramaticais.
Acredita-se, ainda, que, se o conteúdo semântico de uma forma lingüística pode
servir a propósitos metalingüísticos referentes à organização do texto de modo
relativamente natural, essa forma lingüística tem potencial para sofrer gramaticalização.
Relacionado ao processo de gramaticalização existe ainda o processo de
discursivização que diz respeito não apenas à passagem de um item do léxico para a
gramática, mas ao fato, por exemplo, de um determinado item assumir a função de
marcador discursivo.
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A discursivização é um processo que também está relacionado à organização do
discurso. Um determinado item torna-se marcador discursivo no momento que modaliza ou
reorganiza a fala, quando sua linearidade é momentaneamente perdida, ou quando serve
para preencher o vazio causado pela perda dessa linearidade.
Com base nesses dois processos, passou-se a observar o comportamento do item
quando, pois, a partir da leitura constante de jornais, notou-se que tal item, há bastante
tempo, vem sendo usado com outros valores além do temporal na sintaxe da língua
portuguesa, fornecendo indícios, para que se possa afirmar que está sofrendo algum dos
processos antes descritos.
Segundo Aristóteles (cf. Neves, 2005), grande pensador da Antigüidade, uma
conjunção não simplesmente significa (semaínei), mas cossignifica (syssemaínei), ou seja,
ela não tem valor autônomo, mas somente por meio de sua relação com as orações ou
partes de orações recebe seu verdadeiro conteúdo. Dessa forma, observam-se, neste
trabalho, quais os contextos que podem estar favorecendo as alterações semânticas que o
conector quando vem sofrendo.
Sendo assim, deseja-se, com o presente estudo, fazer uma análise minuciosa do
comportamento do item quando, a fim de demonstrar que tem sofrido algum processo de
cunho gramatical, processo este que pode se encaixar nos moldes da gramaticalização.
Pretende-se, ainda, demonstrar que o estudo das orações torna-se mais produtivo quando,
para sua classificação, deixa-se de priorizar a presença do conector e se passa a considerar a
relação existente entre as orações. Para tanto, faz-se necessário destacar algumas
considerações do Funcionalismo, principalmente no que se refere ao fenômeno da
gramaticalização.
1.2 Pressupostos teóricos e metodologia
Meillet (apud Thomazi, 2006:530) afirma que a classe das conjunções é dominada
por uma necessidade contínua de transformação. Tal afirmação reforça a idéia anterior de
Hermann Paul (apud Thomazi, 2006:530) de que as conjunções emergem a partir de
mudanças sofridas por advérbios e pronomes conjuncionais eventualmente ligados a outras
palavras.
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Segundo Thomazi (2006: 531), as afirmações de Meillet e Hermann Paul são
�reforçadas pela história da formação do sistema conjuncional do português�, no qual se
pode verificar uma coexistência de dois estágios: a redução do inventário das conjunções,
causado pela perda de algumas das conjunções herdadas do Latim e, ao mesmo tempo, uma
ampliação desse inventário, causado pela habilitação de palavras de natureza diversa �
como advérbios e pronomes � ao papel de conjunção, ainda, pela generalização do processo
de combinação da partícula que com palavras de diferentes categorias para a formação de
perífrases conjuncionais.
Tais processos podem explicar as diversas ocorrências do fenômeno da
gramaticalização no âmbito das conjunções, uma vez que, para a autora, a gramaticalização
pode ser tradicionalmente explicada como �um tipo particular de mudança lingüística em
que, por meio de um conjunto de alterações principalmente de ordem sintático-semântica,
itens lexicais plenos passam a funcionar como expressões que sinalizam relações
gramaticais específicas�, ou seja, uma das formas pelas quais a gramática de uma língua é
ampliada.
Thomazi (2006:532) ressalta, ainda, ao tratar da questão da unidirecionalidade, que
existem hierarquias que organizam o �caminho� percorrido por um determinado item
lexical. Especificamente no que diz respeito ao surgimento das conjunções, a autora cita a
hierarquia de Traugott e König (1991): TEMPO>CAUSA>CONCESSÃO; tal hierarquia é
aplicável aos estudos de gramaticalização, em especial ao estudo do conector quando.
No presente trabalho, entende-se gramaticalização como o fenômeno que �abriga
não apenas a evolução de um morfema lexical para um morfema gramatical, como também
a aquisição de novas propriedades por um elemento já gramatical� (cf. Lichtenberk, 1991
apud Neves, 2004).
Partindo destes pressupostos, pretende-se:
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Pesquisar, em corpora, de língua falada e escrita, as ocorrências do item
quando e analisá-lo através de uma perspectiva funcionalista;
Considerar as múltiplas �funções� da conjunção subordinativa quando tanto
em língua falada quanto em língua escrita;
Confirmar a obediência do item à hierarquia TEMPO > CAUSA >
CONCESSÃO, conforme a proposta de Traugott e König (1991) para as
conjunções;
Verificar por qual fenômeno passa o item quando, e, se for verdadeiramente
um caso de gramaticalização, em que momento do fenômeno o item está
alocado;
Descrever as possíveis funções desempenhadas pelo item no atual português
do Brasil.
Para desenvolver a pesquisa aqui proposta, seguem-se os pressupostos teóricos do
Funcionalismo norte-americano e o fundamento de que o processo de gramaticalização
abriga a aquisição de novas propriedades por um elemento já gramatical. Dessa forma,
acredita-se que o item quando deixou de ser apenas uma conjunção subordinativa
(adverbial temporal) e passou a ter outros valores semânticos, como de causa e concessão.
Sendo assim, o item estaria seguindo a hierarquia de Traugott e König (1991): TEMPO >
CAUSA > CONCESSÃO. O comportamento do item quando será analisado nos três
valores semânticos e, ainda, no valor condicional, valor que tem sido extremamente
relevante, por apresentar um número expressivo de ocorrências.
Como hipóteses para o desenvolvimento da pesquisa, tem-se que:
O item quando possui múltiplos valores nas linguagens culta e popular da
língua portuguesa;
Há muito o item quando deixou de ter a função estritamente temporal;
O item pode se encaixar na hierarquia proposta por Traugott e König (1991):
TEMPO > CAUSA > CONCESSÃO;
O item quando está sofrendo algum tipo de mudança lingüística.
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Será adotada, como metodologia de trabalho, a estratégia de ilustrar a teoria com
exemplos retirados dos corpora, embora haja, ao final da parte teórica um capítulo
dedicado à análise dos corpora. É importante ressaltar que, mesmo havendo uma
quantidade significativa de exemplos, o presente estudo busca observar a língua em uso,
sendo, portanto, um trabalho de cunho funcionalista, de caráter mais qualitativo do que
quantitativo.
Vale destacar, também, que este estudo não pretende prever rotulações/classificações
para o conector quando, mas sim observar os múltiplos papéis que o item pode exercer nos
mais variados contextos, aplicando para isso os pressupostos teóricos do Funcionalismo,
teoria que será tratada com mais detalhes adiante.
1.3 Os corpora
A análise dos corpora será feita ao longo de todo o trabalho, de modo a comprovar
as características de cada uma das realizações do item quando. E, conforme já mencionado
anteriormente, haverá um capítulo dedicado apenas à interpretação dos dados, no qual se
deseja comprovar a possibilidade de análise do item de acordo com a teoria que será
explicitada no decorrer do estudo.
Quanto aos corpora utilizados, trabalhamos com dados de língua falada e de língua
escrita, a fim de demonstrar que os �novos usos� de quando podem ser comprovados em
ambas as modalidades. Sendo assim, foram recolhidos exemplos de três fontes:
D&G � RJ (Projeto Discurso e Gramática): corpus de língua falada em que
são entrevistadas pessoas, do Rio de Janeiro, divididas por meio de seus
diferentes níveis de escolaridade (CA infantil, CA supletivo, ensino
fundamental, ensino médio e ensino superior);
VARPORT (Análise Contrastiva de Variedades do Português): projeto de
pesquisa de língua falada e escrita que tem como objetivo principal
confrontar a Língua Portuguesa de Portugal e do Brasil, de modo a descobrir
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se há, efetivamente, duas gramáticas distintas que regem cada uma das
variedades do língua. Para tal, o projeto trabalha com um corpus dividido
em Português do Brasil (PB) e Português Europeu (PE) � escrito e falado.
Neste trabalho, especificamente, foi utilizado o corpus do Português
Brasileiro (PB), falado e escrito, que contém inquéritos feitos na década de
70 e 90 (século XX) e, posteriormente, em um recontato, divididos em culto
e popular, e separado por faixas etárias;
JORNAL O GLOBO: corpus formado especificamente para esta dissertação,
composto por editoriais, anúncios e notícias coletados entre os dias 31/05/06
e 14/06/06.
Cabe ressaltar, novamente, que a proposta de trabalho adotada não é a variacionista,
visto que a análise dos dados não tem por finalidade fazer, por exemplo, uma abordagem
comparativa por variantes sócio-econômicas, embora haja contagem de dados. Interessa-
nos, portanto, apenas utilizar textos do português do Brasil, dos séculos XX e XXI, de
falantes dos gêneros masculino e feminino, oral e escrito, culto e popular, verificando os
usos do item quando.
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2. AJUSTANDO O FOCO
Neste capítulo, empreende-se uma análise das principais teorias acerca da função e
da significação dos chamados conectores, o que servirá, portanto, como ponto de partida
para a análise do item quando, especificamente. No entanto, antes da análise propriamente
dita do item, tecem-se comentários sobre o que as gramáticas consideram subordinação e
ainda qual é o tratamento dado aos conectores nesse processo sintático.
Pretende-se, nesta revisão bibliográfica inicial, delimitar as possíveis funções
exercidas pelo que a Gramática Tradicional chama de conectivo, mais especificamente as
exercidas pelas conjunções. Excluem-se, no caso deste trabalho, as preposições, porque
interessa mostrar o comportamento, apenas, dos conectores que fazem parte
prioritariamente do processo de subordinação e do processo de hipotaxe.
A intenção aqui não é esgotar todas as perspectivas acerca da sintaxe das orações,
mas sim �ajustar o foco� da pesquisa, fixando padrões para o que será conceituado ao longo
do trabalho, buscando um entendimento geral, através da determinação das nomenclaturas
que serão utilizadas.
2.1 O Processo de subordinação
Segundo Câmara Jr. (1998:226), entende-se por subordinação o �processo
lingüístico que cria o sintagma (conjugado binário) estabelecendo entre os constituintes
uma relação de determinado e determinante�. Sendo assim, podemos entender como função
primeira do processo de subordinação o estabelecimento da relação entre determinante e
determinado.
Para a Gramática Tradicional, a oração subordinada exerce, no período composto,
uma função sintática em relação à oração principal. Para que haja essa relação, a língua
possui uma série de mecanismos de conexão entre as orações; tais mecanismos podem ora
exercer função sintática distinta, como é o caso dos pronomes relativos, e ora possuir
função juntamente com a oração que encabeçam, como é o caso das conjunções.
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Bechara (2001:46) considera que existem quatro propriedades que estratificam a
estruturação gramatical: a superordenação (ou hipertaxe), a subordinação (ou hipotaxe), a
coordenação (ou parataxe) e a substituição (ou antitaxe). A subordinação (ou hipotaxe)2
seria o oposto da hipertaxe e consistiria �na possibilidade de uma unidade correspondente a
um estrato superior poder funcionar como um �membro� de outra oração�, seria, em outras
palavras, o que consideramos como a relação determinante/determinado apresentada por
Câmara Jr. (1998).
O autor leva em conta que, para que haja subordinação de orações ou de cláusulas
de estrutura oracional, são necessários dois instrumentos: um para marcar a subordinação,
ou seja, �para indicar que uma estrutura oracional de verbo flexionado funciona como
membro de uma oração� (cf. Bechara, 2001:47) e outro para indicar a função que a
estrutura exerce na oração complexa.
Para Bechara (2001:47), no português, a marca de subordinação é dada pelo
elemento que, que, na verdade, não tem a missão de unir duas orações, mas marcar o
processo que transpôs uma oração independente a funcionar, numa camada inferior, como
membro de outra oração. Dessa forma, os casos que chamamos tradicionalmente de
subordinação seriam orações complexas e só haveria períodos compostos na coordenação.
A subordinação seria, então, um caso a que ele chama de transposição.
Cunha & Cintra (2001:598) consideram que as orações subordinadas são orações
que não possuem autonomia gramatical, funcionam sempre como termos essenciais,
integrantes ou acessórios de outra oração, isto é, o período composto por subordinação
equivale a um período simples, a única diferença é que os termos que o compõem são
representados por orações.
Rocha Lima (2001:261) considera que �no período composto por subordinação, há
uma oração principal, que traz presa a si, como dependente, outra ou outras�. Considera-as
como dependentes porque cada uma delas tem seu papel como um dos termos da oração
principal. Tais orações figurarão, portanto, ora com funções próprias do substantivo, ora
com funções próprias do adjetivo e ora com funções próprias do advérbio.
2 Bechara (2001:47) considera hipotaxe e subordinação como termos sinônimos.
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As orações podem ser classificadas como substantivas, adjetivas ou adverbiais,
segundo sua função e como desenvolvidas, reduzidas ou justapostas, segundo sua forma. O
autor considera como desenvolvidas aquelas que trazem os verbos na forma finita e são
encabeçadas por conjunção, pronome relativo, ou por pronomes ou advérbios interrogativos
(no caso da interrogação indireta), caso de interpretação controversa entre os gramáticos.
Como reduzidas (ou implícitas), Rocha Lima (2001) considera aquelas que têm o verbo
numa das formas infinitas ou nominais e, como justapostas, considera aquelas que se ligam
à oração principal sem a mediação de um conectivo, tendo a forma de uma oração
independente.
Luft (2000:48-53) afirma que �subordinada é aquela que depende de uma principal.
É uma oração regida por outra, ou por um termo desta. (...) Onde há uma oração
subordinada há também uma principal; são termos correlativos: não há principal sem
subordinada, nem subordinada sem principal�. O autor ressalta, portanto, a
interdependência entre a oração principal e a sua subordinada; para ele, não é apenas a
oração subordinada que é dependente, mas também a sua principal.
Essa relação de dependência é ressaltada também por Melo (1978:148) que afirma
que a �subordinação é a relação de dependência3 entre as funções sintáticas. Em toda
oração normalmente constituída há necessariamente pelo menos um elo subordinativo, o
que prende ao sujeito o predicado. (...) Oração subordinada é aquela que exerce em outra
uma função ou subfunção, e que por isso não tem autonomia, não vale por si, é parte de
outra oração, chamada principal�. O autor alerta, ainda, para a necessidade de haver um elo
responsável pela conexão entre �sujeito e predicado�.
Por fim, Kury (2003:63) define o período composto por subordinação como aquele
que possui uma oração principal e uma ou mais orações subordinadas dependentes dela.
Para ele, pode haver também um período em que não haja uma oração principal, mas um
vocativo em seu lugar.
Como podemos verificar, apesar das diversas semelhanças, as definições dadas ao
processo de subordinação variam substancialmente. Kury (2003), por exemplo, é o único
gramático a fazer referência à possibilidade de haver subordinação de uma oração a um
vocativo. Alguns outros preferem apenas caracterizar o processo sem, no entanto, defini-lo.
3 A questão da dependência das orações será melhor estudada no capítulo referente à hipotaxe.
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Um ponto pacífico entre os gramáticos tradicionais é o fato de preceituarem que a
subordinação é definida em termos de dependência sintática, uma vez que a oração
subordinada consiste num termo que exerce função em uma oração dita principal. Levam
em conta também a semântica, pois afirmam que a oração subordinada não tem sentido
completo sem a oração principal.
Sendo assim, os critérios semântico e sintático estão presentes na maioria das
definições apresentadas anteriormente, mas estes critérios não se apresentam explicitados
objetivamente, havendo certa flutuação entre definições pautadas ora no critério semântico,
ora no critério sintático, o que pode ser extremamente perigoso, podendo confundir os que
delas se utilizam, dificultando uma análise gramatical mais criteriosa e sistemática.
Azeredo (2003:50) aborda o conceito de subordinação juntamente com o de
coordenação, enfatizando a necessidade de diferenciarmos uma definição baseada em
critérios semânticos de uma baseada em critérios sintáticos. O autor afirma que:
�Subordinação e coordenação não
correspondem sempre a conceitos claros e
inconfundíveis. Tradicionalmente é comum
identificar unidades coordenadas com unidades
independentes e unidades subordinadas com
unidades dependentes. Esta definição nada
esclarece até que se defina a natureza dessa
dependência que para uns é puramente sintática,
mas para outros deve dizer respeito antes ao
sentido.�
Outros estudiosos divergem da classificação adotada pela gramática tradicional,
dentre eles estão Abreu (1994), Castilho (2004) e Perini (2000). Tais autores apresentam
perspectivas diferentes de análise em relação às orações subordinadas.
Abreu (1994) define os processos de relação entre as orações como articulação
sintática, pois esse termo solucionaria os casos em que a diferenciação entre coordenação e
subordinação é problemática. Essa articulação sintática poderia ser, segundo Abreu
(1994:22), de cinco tipos:
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(1) Articulação sintática de oposição � incluiria os casos de coordenação
adversativa e subordinação adverbial concessiva;
(2) Articulação sintática de causa � grupo que abriga as orações subordinadas
adverbiais de causa;
(3) Articulação sintática de condição � papel reservado às orações subordinadas
adverbiais condicionais;
(4) Articulação sintática de fim � casos que possuem articuladores sintáticos4 de
fim;
(5) Articulação sintática de conclusão � incluiria as orações com articuladores
sintáticos como: logo, portanto, então, assim, por isso, por conseguinte, entre
outros.
Castilho (2004: 131), procurando descrever os usos da língua portuguesa, descarta a
noção de período composto e, em seu lugar, usa a noção de sentença complexa. Esse tipo
de sentença seria aquela formada por uma sentença matriz além de outras sentenças
encaixadas ou não. Entende-se como sentença matriz aquela que é a geradora da
dependência, o elemento modificado pelo elemento subordinado.
A partir da observação das sentenças complexas, Castilho (2004) investiga três tipos
de relação intersentencial: estruturas independentes (ou coordenadas), estruturas
dependentes (ou subordinadas) e estruturas interdependentes (ou correlatas), classificando
as sentenças complexas com base em cinco parâmetros:
(1) Sentenças complexas estruturadas por justaposição � as sentenças se relacionam
sem que haja nenhum nexo conjuncional;
(2) Sentenças complexas estruturadas por coordenação � há uma relação de
independência entre as sentenças, mas uma se liga à outra através de nexos
conjuncionais;
(3) Sentenças complexas estruturadas por encaixamento � são as sentenças que se
apresentam encaixadas umas às outras. Dividem-se em:
4 Articuladores sintáticos, para Abreu (1994), são os elementos viabilizadores da articulação sintática, a que a
tradição chama de conectivos.
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a) subordinadas substantivas: aquelas cujo encaixamento ocorreu no
sintagma verbal da oração matriz, estabelecendo uma relação argumental
entre eles;
b) subordinadas adjetivas (relativas): aquelas que estabelecem uma relação
de expansão, pois o encaixamento se dá no sintagma nominal da oração
matriz;
(4) Sentenças complexas estruturadas sem encaixamento � são as que se relacionam
por meio de adjunção, como as orações subordinadas adverbiais;
(5) Sentenças complexas interdependentes ou correlatas � sentenças estruturadas de
tal forma que a primeira apresenta uma correlação em relação à outra, verbalizando
dois atos de fala recíprocos.
A análise de Castilho (2004) apresenta alguns indícios de hipotaxe, mesmo que
através de um ponto de vista diferente.
A abordagem da gramática de cunho gerativista de Mateus et alii (2003) parece
trazer uma perspectiva mais funcional em relação à abordagem das orações subordinadas.
Para as autoras, as orações subordinadas são aquelas que desempenham na subordinante
uma função sintática e uma função temática, são aquelas, também, que possuem maior
mobilidade dentro do período. Tal definição é bastante inovadora em relação à maioria dos
gramáticos tradicionais uma vez que considera que a oração exerce também uma função
temática, ou seja, relacionada ao sentido.
As autoras não fazem a separação clássica entre substantivas, adjetivas e adverbiais,
mas criam uma classificação composta por quatro tipos básicos. A seguir, observaremos
detalhadamente a proposta de classificação defendida por Mateus et alii (2003):
(1) Orações subordinadas completivas � são as que se caracterizam pelo fato de a
frase subordinada constituir um argumento de um dos núcleos lexicais da frase
superior, tendo, assim, uma distribuição aproximada a das expressões nominais.
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(2) Orações subordinadas relativas � são as que, tradicionalmente, se iniciam por
�pronomes�, �advérbios� ou �adjetivos relativos�. Normalmente as relativas são
formas de modificação de uma expressão nominal antecedente, mas podem ser
também uma forma de modificação de outra oração. Existem também as chamadas
relativas livres, que são aquelas que se apresentam sem antecedente expresso.
(3) Orações subordinadas adverbiais � são aquelas em que a subordinada não é um
argumento do predicado da principal.
(4) Construções de graduação e comparação � são as que envolvem as proposições
relacionadas à expressão de grau.
O quadro a seguir permite uma comparação entre a classificação proposta por
Mateus et alii (2003) e a apresentada pela gramática tradicional5:
5 O quadro foi proposto por Rosário (2007).
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ORAÇÕES SUBORDINADAS
NGB MATEUS et alii (2003)
SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS SUBORDINAÇÃO COMPLETIVA Subjetiva Predicativa Verbal (em SN e em SV) Objetiva direta Objetiva indireta Adjetival Completiva nominal Apositiva Nominal SUBORDINADAS ADJETIVAS SUBORDINAÇÃO RELATIVA Restritivas Restritivas Explicativas Apositivas SUBORDINADAS ADVERBIAIS SUBORDINAÇÃO ADVERBIAL Causais Temporais Condicionais Condicionais Concessivas Causais Finais Finais Temporais Concessivas Conformativas Consecutivas Proporcionais
CONSTRUÇÕES DE GRADUAÇÃO
E COMPARAÇÃO Comparativas Consecutivas Conformativas Proporcionais
Quadro 1: Orações subordinadas, segundo a NGB e Mateus et alii (2003)
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Mateus et alii (2003:557) afirmam que �a distinção entre coordenação e
subordinação é sobretudo de ordem formal e não semântica�. Como já afirmamos
anteriormente, é uma proposta bastante inovadora, pois a classificação das autoras avança
em relação às demais, por exemplo, porque concebe o não encaixamento sintático de
algumas orações adverbiais, além de verificar que os processos de subordinação e
coordenação nem sempre são bem delimitados, diante de uma análise sintática criteriosa e
coerente.
A gramática de cunho funcionalista de Neves (2000:24) também apresenta
informações interessantes em relação à subordinação. A autora parte da análise das
conjunções e de outros articuladores sintáticos para classificá-los de acordo com as diversas
construções que os instanciam, sejam elas coordenadas ou subordinadas.
A classificação das subordinadas dada pela autora é um pouco diferente da
tradicional. Para ela, a subordinação estrita ocorre na complementação e na adjunção, que
seriam as subordinadas substantivas e adjetivas, respectivamente, na gramática tradicional.
Esses dois processos podem ocorrer, segundo a autora, quando as estruturas são
�introduzidas por conjunções integrantes e por pronomes relativos�.
A respeito das adverbiais, a autora considera o uso das conjunções subordinativas e
ressalta que, muitas vezes, a gramática tradicional não questiona a diferença entre uma
análise sintática e uma análise semântica, confundindo as duas. Para Neves (2000:601):
�Dentro da visão de uma gramática de usos,
as relações entre uma oração nuclear e uma oração
adverbial são vistas como análogas às relações
retóricas que constroem o texto. Assim, entende-se
que essas relações permeiam e governam todo o
texto, independentemente do nível das unidades
(micro ou macro-estruturais) envolvidas (sintagmas,
orações, enunciados, parágrafos, capítulos etc.),
penetrando nas suas subpartes como reflexo e
conseqüência da organização geral a que estão
subordinadas�.
Dessa forma, a autora defende um estudo da relação oração núcleo � oração
adverbial como um todo, entendendo que o significado está em toda sua estrutura.
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Uma outra autora funcionalista de suma importância para esta pesquisa é Decat
(2001), sua proposta apresenta uma classificação diversa das demais apontadas,
principalmente em relação à hipotaxe, conforme relataremos a seguir.
2.2 O Processo de hipotaxe
Conforme afirmamos, Decat (2001:103) apresenta uma classificação diferente das
apresentadas pela gramática tradicional. A autora considera que não existe um fenômeno
único de subordinação e focaliza em especial a hipotaxe adverbial. Segundo a sua
concepção, o processo de estruturação sintática pode ser dividido em dois grupos:
(a) Estruturas de encaixamento � formado por cláusulas6 que se integram
estruturalmente em outra, cuja dependência está relacionada à escolha do item lexical com
o qual a cláusula está em constituência no desempenho de um determinado papel
gramatical. Nesse tipo de estrutura encaixam-se as chamadas cláusulas-complemento (as
substantivas, segundo a GT) e as adjetivas restritivas;
(b) Estruturas de hipotaxe � são as cláusulas consideradas como independentes, ou
seja, aquelas que não estão sujeitas a uma integração sintática estrutural. Neste grupo,
temos as cláusulas adverbiais (excluem-se as que são argumentos do verbo), as participiais
(orações reduzidas de particípio) e as adjetivas não-restritivas (as tradicionais explicativas).
Decat (2001) segue a linha funcional�discursiva e, por isso, desconsidera as noções
de dependência ou subordinação, passando a observar o contexto discursivo em que as
cláusulas se inserem. A autora afirma que a combinação hipotática de cláusulas é
determinada pelo tipo de proposição relacional que emerge dessa articulação. Acrescenta,
ainda, que as hipotáticas adverbiais possuem uma gama de funções: avaliadora, guiadora,
anafórica, reparadora, resumitiva, de adendo e de fundo.
6 Decat (2001:103) considera como cláusula �qualquer estrutura provida de verbo, ainda que só esse elemento
aparecesse�. Considera, ainda, que as estruturas em que aparecem dois ou mais núcleos verbais repetidos
devem ser tratadas como uma só cláusula.
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A questão da hipotaxe das orações é discutida também por Olímpio (2006:617). A
autora baseia-se em estudos como os de Neves & Braga (1998) para reconhecer que nos
processos de articulação de orações existe um continuum que vai da parataxe, passa pela
hipotaxe e culmina com a subordinação, conjugando o eixo da dependência semântica
com o eixo da integração sintática.
Para a autora, entende-se parataxe como a oração com menor dependência
semântica e menor encaixamento, a hipotaxe como aquela que possui maior dependência
semântica e menor encaixamento, e a subordinação como a oração que possui maior
dependência semântica e maior encaixamento, conforme se vê pelo seguinte quadro:
PARATAXE (- dependência semântica; - encaixamento)
HIPOTAXE (+ dependência semântica; - encaixamento)
SUBORDINAÇÃO (+ dependência semântica; + encaixamento)
Quadro 2: processos de vinculação de orações, segundo Olímpio (2006)
Como podemos observar no quadro 2, entre as articulações entendidas como
processo de coordenação e as entendidas como processo de subordinação por
encaixamento, poderíamos evidenciar uma relação de dependência entre uma oração-
satélite7, adjunta, secundária e uma oração-núcleo, situada num nível mais alto de
hierarquia frasal. As orações tradicionalmente classificadas como subordinadas adverbiais
fariam parte da hipotaxe, ou seja, estariam nesse espaço intermediário, apresentando algum
nível de dependência e integração, mas sem encaixamento.
Hopper e Traugott (1993:169) também consideram que o contínuo de integração de
cláusulas é pensado através destes mesmos três processos:
I. Parataxe ou independência relativa;
II. Hipotaxe ou interdependência, em que há uma cláusula nuclear e uma ou mais
cláusulas dependentes, mas não encaixadas;
III. Subordinação ou, em sua forma extrema, encaixe, em que toda a cláusula é
constituinte da cláusula núcleo. 7 Oração-satélite é aquela que a gramática tradicional considera como oração subordinada e a oração-núcleo
seria a oração principal.
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Apoiados na idéia de que, segundo Givón (apud Hopper & Traugott: 1993), quanto
mais integrados semântica ou pragmaticamente forem dois eventos/estados, mais as
cláusulas estarão integradas gramaticalmente, os autores propõem o seguinte esquema para
representar o continuum de combinação de cláusulas do ponto de vista da gramaticalização:
parataxe ------------------------hipotaxe------------------------subordinação
núcleo-------------------------------------------------------------------margem
integração mínima----------------------------------------integração máxima
máxima combinação explícita--------------mínima combinação explícita
Quadro 3: propriedades relevantes para o declive de combinação de cláusulas, segundo Hopper
e Traugott (1993: 171)
Podemos observar, portanto, as seguintes características dos processos de
vinculação de cláusulas:
(1) Parataxe � o tipo mais simples de vinculação entre cláusulas é a justaposição em
que dois ou mais núcleos ocorrem com alguma proximidade e a relação entre as cláusulas é
dada através da inferência. É muito usada no registro informal e, normalmente, sem
conectivos. Na gramática tradicional, diz-se que tais cláusulas são coordenadas, uma vez
que são sintaticamente independentes.
(2) Hipotaxe � são os casos de cláusulas interdependentes, ou seja, as cláusulas não
são completamente dependentes, mas há certa integração entre elas e a oração núcleo. Tal
processo não se limita ao encadeamento de cláusulas, há uma relação entre a oração dita
marginal e sua oração-núcleo, mesmo que essa relação não seja de total dependência, pois a
primeira modifica a última. Este é o caso, por exemplo, das orações que a gramática
tradicional classifica como subordinadas adverbiais de tempo, causa, condição e concessão
e, ainda, das cláusulas relativas apositivas (as adjetivas explicativas da gramática
tradicional).
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(3) Subordinação � são as cláusulas dependentes de suas cláusulas matrizes8 de
vários modos. Seria o estágio mais avançado da gramaticalização, não tem força
ilocucionária diferente da matriz e são equivalentes aos constituintes que expressam, leia-
se, um sintagma nominal, no caso das cláusulas substantivas e um modificador de N (o
modificador de um nome), no caso das cláusulas relativas.
Sendo assim, podemos constatar que o estudo das relações entre orações que leva
em conta a hipotaxe adverbial parece ser muito mais viável aos nossos objetivos. Parece
muito mais coerente afirmar que a relação que existe entre algumas das orações adverbiais
e suas orações principais é diferente da tradicional concepção de que há uma relação de
total dependência. Esta relação parece ser muito mais de interdependência, uma vez que há
muito mais que um encadeamento de cláusulas, conforme afirmamos anteriormente. Dessa
forma, para a presente pesquisa adotar-se-á esta tripartição das relações intersentenciais.
2.3 Muito mais que elos: os conectores
Para que possamos dar prosseguimento ao estudo do item quando, faz-se necessária
a observação dos elementos responsáveis pela conexão entre orações. Tal necessidade
provém do grande número de classificações usadas com essa finalidade. Não há um
consenso entre o que pode ser chamado de conector, conjunção ou mesmo articulador
sintático.
De acordo com a NGB9 (cf. Kury: 1968), os conectivos não são considerados como
uma classe de palavras, mas sim como uma parte distinta destas por aparecerem
separadamente das dez classes normalmente elencadas.
Câmara Jr. (1998:79) define os conectivos como �vocábulos gramaticais, que, como
morfemas relacionais, estabelecem conexão entre palavras ou partes de uma frase�,
considerando que:
8 Cláusula matriz é o mesmo que oração núcleo, a que a tradição chama de oração principal. 9 Nomenclatura Gramatical Brasileira
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�Em português, há três espécies de conectivos: 1)
preposições para a subordinação de palavras ou
expressões lexicais; 2) pronome relativo, que além
do seu valor pronominal é um conectivo de
subordinação de orações; 3) conjunções, que,
conforme servem � a) à subordinação de orações,
ou � b) à coordenação de palavras, expressões
léxicas ou orações, são � a) subordinativas, ou � b)
coordenativas�.
Câmara Jr. (2001:79) faz uma análise mais sucinta destes elementos, considerando
os conectivos como �vocábulos cuja função essencial é relacionar uns com os outros, ou
entre si, os nomes, os verbos e os pronomes�. Propõe, assim, o seguinte esquema:
COORDENATIVOS
CONECTIVOS De vocábulos (preposições)
SUBORDINATIVOS
De sentenças (conjunções)
Quadro 4: Esquema de classificação dos conectivos, segundo Câmara Jr. (2001)
Luft (1983:138) também faz referência à classe dos conectivos; para ele, tais
elementos são �palavras que estabelecem conexão entre palavras, orações ou frases�. Essa
conexão pode ser coordenante, quando liga termos de mesmo valor e função, e
subordinante quando um termo (dito regido ou dependente) fica dependendo de outro (dito
regente ou determinado).
O autor propõe um quadro semelhante ao de Câmara Jr. (2001); no entanto, este se
mostra um pouco mais completo:
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Coordenativos: conjunções coordenativas Conectivos conj. subordinativas De oração pronomes relativos Subordinativos preposições De palavra verbo de ligação
Quadro 5: Classificação dos conectivos, segundo Luft (1983)
Perini (2002:333) classifica os conectivos como �palavras que funcionam como
elementos de conexão entre constituintes�. Engloba neste grupo as preposições e as
conjunções da gramática tradicional, além dos pronomes relativos. Classifica-os, também,
em subordinativos e coordenativos; os primeiros teriam como função sintática alterar a
classe de um sintagma nominal ou de uma oração e os últimos seriam responsáveis por
juntar dois ou mais constituintes de uma mesma classe.
Para Bechara (2001:319), os únicos elementos que poderiam ser considerados como
conectores seriam as conjunções coordenativas porque reúnem orações pertencentes a um
mesmo nível sintático, independentes umas das outras e que podem aparecer em
enunciados separados.
Melo (1978:106) afirma que os conectivos são palavras que estabelecem ligações,
que concretizam as relações sintáticas. Podem ser de dois tipos: os coordenantes e os
subordinantes; os primeiros estabelecem equivalência de funções ou valores sintáticos, já os
outros estabelecem dependência do elemento que eles ligam em relação a um outro termo,
dito subordinante. Este último grupo é formado pelas preposições, pelas conjunções
subordinativas e pelos pronomes relativos.
Conforme se viu, para a maioria dos autores estudados, os conectivos são
responsáveis pela conexão estabelecida não apenas entre orações, mas também entre
palavras e outros elementos que necessitem deste tipo de nexo. Sendo assim, abarcaremos
dentro da classe dos conectores todos esses elementos responsáveis pela articulação entre
palavras ou orações, mas, para esta pesquisa, nos deteremos em especial à classe das
conjunções por ser, tradicionalmente, aquela em que o item quando está inserido.
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2.4 A conjunção
As conjunções são amplamente estudadas não só por gramáticos tradicionais, mas
também por lingüistas, principalmente por ser a maior responsável pelo elo entre orações;
no entanto, há certa divergência na maneira como os estudiosos a tratam.
Câmara Jr. (1983: 81) considera as conjunções como:
�vocábulos gramaticais que, como conectivos,
estabelecem � a) uma coordenação entre duas
palavras, dois membros de oração ou duas orações
(conjunções coordenativas), b) uma subordinação
entre duas orações que, constituem um sintagma
oracional, em que uma, como determinante, fica
subordinada a outra, principal, como
determinado�.
Com esta definição, Câmara Jr. (1983) ressalta o valor de conectivo que as
conjunções apresentam, identificando-as como as responsáveis pela ligação de palavras,
membros de oração e orações.
Para Bechara (2001:319), esses elementos são �unidades� responsáveis por unir
duas orações em um mesmo segmento. Essas unidades seriam tradicionalmente chamadas
de conjunções e poderiam ser tanto coordenadas quanto subordinadas. As primeiras o autor
chama de conectores e às outras seriam transpositores.
Cunha & Cintra (2001: 579), por sua vez, consideram como conjunções os
vocábulos gramaticais que servem para relacionar dois termos ou orações semelhantes.
Quando esses termos (ou orações) têm a mesma função, as conjunções são chamadas de
coordenadas e quando ligam orações em que uma completa o sentido da outra, são
chamadas de subordinadas. Os autores têm, portanto, uma visão semelhante à de Bechara
(2001).
Visão semelhante tem, também, Rocha Lima (2001:184), pois ele considera que as
conjunções podem ligar dois elementos de mesma natureza como dois substantivos,
advérbios ou orações, ou duas orações de natureza diversa, das quais a encabeçada pela
conjunção completa o sentido da outra. O autor usa a mesma classificação que os autores
anteriores: coordenativas para o primeiro caso e subordinativas para o último.
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Nota-se, portanto, que, de uma maneira geral, o conceito de conjunção é semelhante
para a maioria dos autores. A classificação entre coordenadas (ou coordenativas) e
subordinadas (e subordinativas) também parece ser um ponto pacífico entre eles. No
entanto, essa classificação não apresenta elementos sintáticos que possam auxiliar na
diferenciação entre as que consideramos como coordenadas e as subordinadas. Mesmo que
apresentem relativa diferenciação, esta normalmente ocorre a partir de um ponto de vista
semântico, o que acaba dificultando, por exemplo, a análise das conjunções que introduzem
orações subordinadas substantivas, pois nem sempre elas apresentam algum valor
semântico.
Perini (2002:139) apresenta classificações distintas para os elementos que
encabeçam orações coordenadas e orações subordinadas. Para o autor, o termo conjunção
se aplica exclusivamente às conjunções subordinativas. As coordenativas seriam
classificadas como coordenadores. Sendo assim, a definição de conjunção seria um pouco
diferente da apresentada anteriormente:
�as conjunções são itens do léxico que, colocados
imediatamente antes de uma oração, formam com
ela um sintagma que é termo de alguma oração
maior�.
De acordo com essa definição, as conjunções fariam parte do sintagma oracional, ou
seja, da oração subordinada, marcando uma relação de dependência com a oração principal.
Perini (2002:139) trata, ainda, da oposição entre conjunções subordinativas (ou
integrantes) e conjunções adverbiais. Segundo ele, esta oposição é de base sintática, pois
considera como adverbiais as conjunções que seguidas de orações, formam um sintagma
adverbial, ou seja, aquele que pode desempenhar a função de adjunto circunstancial,
atributo ou adjunto oracional dentro de um período.
Azeredo (2004:145-146) conceitua as conjunções como �palavra invariável que
precede uma oração desenvolvida, convertendo-a em constituinte de uma oração maior�.
Tais conjunções poderiam, na concepção do autor, ser de duas espécies: conjunções
integrantes (ou nominalizadores), quando originam sintagmas nominais, ou conjunções
adverbiais, quando originam sintagmas adverbiais.
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O autor estabelece uma distinção entre conectivos de subordinação e conectivos de
coordenação; estes seriam responsáveis por ligar duas ou mais unidades que tenham a
mesma natureza gramatical, enquanto aqueles serviriam para criar estruturas sintaticamente
distintas das unidades ou construções que introduzem; englobariam, portanto, as
conjunções subordinativas e pronomes relativos. O quando, foco deste trabalho, faria parte
deste grupo.
Azeredo (2004:158) introduz ainda o conceito de subordinante, que seria ainda mais
amplo que o de conectivo subordinativo. Segundo ele, os subordinantes são:
�palavras gramaticais que introduzem sintagmas e
orações junto aos quais passa a formar novos
sintagmas distribuicionalmente distintos das
unidades a que se juntaram�.
As classes tradicionais que poderiam desempenhar este papel são:
Preposições � por serem capazes de originar sintagmas adjetivais e
adverbiais derivados;
Conjunções integrantes (ou nominalizadores) � por precederem orações na
formação de sintagmas nominais derivados;
Conjunções adverbiais � por precederem orações na formação de sintagmas
adverbiais derivados;
Pronomes relativos ou advérbios relativos � por introduzirem orações
convertidas em sintagmas adjetivais derivados;
Pronomes interrogativos ou advérbios interrogativos � por introduzirem
orações convertidas em sintagmas nominais derivados.
Na concepção do autor, as conjunções subordinativas estariam dentro dos
conectores subordinativos que estariam dentro dos subordinantes.
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Azeredo (2004:210) afirma que os subordinantes apresentam duas características
básicas: pertencerem às unidades que introduzem e servirem de marca formal da classe
dessas unidades. Propõe, ainda, o conceito de transposição, fenômeno que seria realizado
pelos transpositores:
�Chamamos de transposição ao processo pelo qual
se formam sintagmas derivados de outras unidades,
as quais podem ser sintagmas básicos ou orações.
[...] A transposição é um processo gramatical, e os
transpositores são unidades pertencentes a uma
lista finita, por meio das quais se obtém, todavia,
um número infinito de construções a serviço da
expressão dos conteúdos que o ser humano é capaz
de comunicar e de compreender�.
A transposição seria, portanto, um mecanismo que permite a expansão infinita de
enunciados através de um número limitado de meios (transpositores) e de relações
semânticas fundamentais. Dentre os transpositores teríamos as preposições (quando
originam sintagmas que ocupam o mesmo lugar dos sintagmas adjetivais), as conjunções
adverbiais, as conjunções integrantes (ou nominalizadores), os pronomes relativos, os
advérbios interrogativos e pronomes indefinidos e as desinências aspectuais.
Observando as definições e comentários de Azeredo (2004) acerca do mecanismo
de transposição, poderíamos considerar o quando como um transpositor.
Mateus et alii (2003:558) também chamam atenção para o fato de que não podemos
classificar os elementos responsáveis por unir orações coordenadas e os responsáveis por
unir orações subordinadas sob o mesmo rótulo, como faz a maioria dos gramáticos
tradicionais. As autoras classificam as conjunções como:
�palavras morfologicamente não flexionáveis que
veiculam prototipicamente valores de adição,
alternância ou contraste entre os termos
coordenados. {...} distinguem-se dos
complementadores (tradicionalmente designados
conjunções subordinativas) não só pelos valores
que veiculam mas também pelo fato de com eles
poderem ocorrer quando os membros coordenados
são frases subordinadas�.
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Assim, as conjunções seriam apenas aquelas que introduzissem orações
coordenadas, enquanto os elementos introdutores de orações subordinadas seriam os
complementadores.
Carone (1994:54) utiliza o termo palavra instrumental para nomear o elemento
responsável, segundo ela, pela conexão sintática das orações. Tal termo abarca as
preposições, as conjunções subordinativas e os pronomes relativos. As conjunções e as
preposições, de acordo com a autora, não exercem funções tradicionalmente conhecidas na
frase, elas têm uma função gramatical especificamente sintática, pois são fatores de
conexão em várias circunstâncias articulatórias.
Cabe ressaltar, ainda, neste capítulo que concerne às conjunções, o termo
articulador sintático, usado por Abreu (1994). Tal terminologia é usada para se referir a
todos os elementos que viabilizam a estruturação sintática, no âmbito da sentença complexa
(tradicionalmente, período composto). Por se tratar de um termo mais genérico, pode
abarcar todos os elementos tradicionalmente considerados como conectivos e diminui os
riscos de uma conceituação/classificação errônea. Engloba, inclusive, as locuções
(prepositivas e conjuntivas), os pronomes e os advérbios, tanto os relativos quanto os
interrogativos.
No presente trabalho, optaremos por utilizar o termo conjunção propriamente dito,
uma vez que procuraremos mostrar os valores semânticos do quando na oração, deixando
de lado, por ora, a análise de sua função sintática na oração.
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3 O CONECTOR QUANDO
Neste capítulo, apresentam-se as características principais do conector quando,
mostrando como gramáticos e lingüistas o descrevem; além disso, abordam-se também
aspectos da diacronia que estão diretamente relacionados a ele.
O item quando é, normalmente, tratado como uma mera conjunção temporal; no
entanto, ao observar o comportamento dos conectores nas orações subordinadas, podemos
notar que sua função vai além de simplesmente �ligar� duas orações.
3.1 A palavra dos gramáticos
Conforme indicado no capítulo anterior, a grande maioria dos gramáticos dedica um
capítulo de suas gramáticas à chamada classe das conjunções, mas, normalmente, o que se
vê é uma breve conceituação seguida de uma listagem de conjunções separadas de acordo
com seu �valor� na oração. O quando é normalmente apresentado como a principal
conjunção temporal, no entanto, alguns desses gramáticos fazem considerações
interessantes acerca deste item e da classe das conjunções, o que veremos a seguir.
Rocha Lima (2001:184), como já mencionado, define as conjunções como palavras
que relacionam entre si elementos de mesma natureza, como dois substantivos, ou duas
orações de diferente natureza, de maneira que aquela começada por conjunção completa a
outra.
É importante ressaltar, ainda, que, para o autor, o quando pronome relativo funciona
exclusivamente como adjunto adverbial de tempo. Aliás, segundo ele, o conector quando
pode ser considerado como �a mais geral das partículas�, porque dentro da oração
subordinada temporal, é usado para exprimir a ocasião em que se passa um fato de maneira
mais ou menos vaga, como, por exemplo, em:
(2) �São mortos quando não convém mais ou quando ameaçam abrir o bico para falar dos
�arranjos�que mantinham.� (�O Globo� � 31/05/06 � Editorial)
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Podemos notar que, de alguma maneira, Rocha Lima (2001) vislumbra certo
�esvaziamento semântico� no item quando, uma vez que o considerou a mais geral das
partículas.
A definição de conjunção apresentada por Cunha e Cintra (2001:579) é parecida
com a de Rocha Lima (2001). Para os autores, conjunções são vocábulos gramaticais que
servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração. Aquelas
que relacionam termos ou orações de mesma função são ditas coordenativas e as que ligam
duas orações em que uma das quais determina ou completa o sentido da outra são chamadas
subordinativas.
Os autores mencionam ainda o fato de algumas conjunções poderem ser
polissêmicas, ou seja, poderem pertencer a mais de uma classe. Nesse caso, o valor da
conjunção estaria condicionado ao contexto em que esta se insere, podendo haver casos de
ambigüidade, pois existem circunstâncias fronteiriças, como o fim e a conseqüência.
Entretanto, dentre as conjunções consideradas por eles como polissêmicas não encontramos
o quando.
Bechara (2001:319), como verificado em análise anterior, considera as conjunções
como unidades que têm a função de reunir orações em um mesmo enunciado. Todavia, usa
uma nomenclatura diferente para distinguir conjunções coordenativas e subordinativas.
Para o autor, as conjunções coordenativas reúnem orações pertencentes a um
mesmo nível sintático, independentes umas das outras e que podem aparecer em
enunciados separados, por isso, são consideradas conectores.
A conjunção subordinativa, por sua vez, tem a função de assinalar que, uma oração
que poderia ser sozinha um enunciado, está inserida num enunciado complexo em que
perde a característica de independente, passando a exercer a função de palavra. Desse
modo, este tipo de conjunção é um transpositor porque, passando à função de palavra, está
num nível inferior dentro da estruturação gramatical.
Bechara (2001) não faz considerações específicas em relação ao quando, apenas o
apresenta como um transpositor prototipicamente temporal.
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Luft (1983:141), em contrapartida, apresenta informações interessantes acerca do
conector quando. Segundo ele, conjunção é a palavra gramatical invariável que estabelece
coordenação ou subordinação entre dois membros de uma oração, entre uma palavra e uma
oração, entre duas orações, afirmando ainda que essa interligação pode ocorrer entre dois
períodos.
Para o autor, o quando é uma conjunção prototipicamente temporal que introduz
orações subordinadas temporais desenvolvidas, mas essas orações, na verdade, seriam
derivadas de adjetivas às quais se suprime o antecedente. Nesse sentido, o quando é, na
verdade, um pronome relativo sem antecedente. Pronome este que equivaleria a �em que�
quando precedido de palavras de tempo.
Sendo assim, na concepção de Luft (1983), o quando estaria mudando de classe, o
que, pelos pressupostos funcionalistas, seria um caso de gramaticalização.
Góis (1955:31) considera conectivo a expressão que liga uma oração à outra.
Segundo ele, o conectivo é de suma importância porque:
(1) indica o lugar onde começa a oração;
(2) é sinal de divisa entre orações;
(3) pode correlacionar orações, ligando uma à outra;
(4) facilita muito a divisão entre orações.
Para o autor, existem duas classes de conectivos: o coordenativo e o subordinativo.
A classe dos conectivos subordinativos, por sua vez, é constituída pelos pronomes relativos
e pelas conjunções subordinativas, sendo estas denominadas por Góis (1955) como de 2º
classe.
O quando é considerado pronome relativo apenas quando se refere a nome
antecedente e corresponde a em que, ou no qual, fora disso, o autor o considera advérbio ou
conjunção temporal.
Góis afirma que o quando é uma conjunção que sofre ubiqüidade, possui uma
espécie de onipresença, uma vez que pode ser:
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a) condicional, em lugar de se;
b) alternativa, quando repetida;
c) temporal;
d) concessiva, em lugar de ainda que, embora;
e) adversativa, em lugar de entretanto, e com idéia de objeção.
A proposta do autor é bastante interessante, pois inventaria usos de quando que não
eram comuns aos gramáticos da época e que ainda não são vistos por muitos gramáticos de
hoje.
Melo (1978:106) afirma que os conectivos são palavras que estabelecem ligações,
que concretizam as relações sintáticas. Podem ser de dois tipos: os coordenantes, e os
subordinantes; os primeiros estabelecem equivalência de funções ou valores sintáticos, já os
outros estabelecem dependência do elemento que eles ligam em relação a um outro termo,
dito subordinante. Este último grupo é formado pelas preposições, pelas conjunções
subordinadas e pelos pronomes relativos.
Para Melo (1978:106), conjunção é �a palavra ligadora, que exprime as relações de
paralelismo sintático, ou de dependência quando o elemento subordinado for uma oração�.
As conjunções coordenativas são as que ligam funções ou valores sintáticos iguais e as
conjunções subordinativas são as que estabelecem relação de dependência entre a oração
subordinada e o termo a que esta se refere.
O autor apresenta idéias próximas das defendidas por Góis (1955); contudo, não faz
nenhuma consideração em relação ao quando especificamente.
Como se viu, é ponto pacífico entre os gramáticos que cabe à conjunção a função de
ligar orações. Os gramáticos concordam ainda que o conector quando é uma conjunção
prototipicamente temporal, embora alguns deles já considerem algumas peculiaridades em
relação a ele.
Os lingüistas, por sua vez, também apresentam idéias interessantes em relação às
conjunções, conforme veremos a seguir.
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3.2 A palavra de outros estudiosos
Para alguns estudiosos, o tratamento dado à conjunção é um pouco diferente:
veremos que a grande maioria a considera não apenas um elo de ligação entre orações ou
períodos, mas um instrumento de grande valor na sintaxe da oração, conforme
mencionamos anteriormente.
Ao apresentar as orações subordinadas, Azeredo (2004: 229) caracteriza o conector
quando como a mais usada das conjunções temporais. Para o autor, a conjunção, quando
usada no seu sentido próprio de momento, ocasião, época, indica que dois fatos coexistem
no tempo.
Segundo Azeredo (2004:230), há uma série de conjunções temporais que permitem
subdividir as subordinadas temporais em orações com tempo simultâneo ou durativo,
tempo simultâneo freqüentativo, tempo posterior imediato, tempo posterior durativo, tempo
anterior durativo e tempo simultâneo pontual. No entanto, o conector quando não é usado
para exemplificar nenhum destes casos, o que leva a pensar que este é um item neutro, que
não possui marcas definidas e, por isso, não pertence a nenhuma das subdivisões temporais
feitas pelo teórico.
Para Carone (1994:54), as conjunções são palavras instrumentais que, na frase, não
exercem as funções descritas pela gramática tradicional, mas na verdade funcionam como
fatores de conexão em várias �circunstâncias articulatórias�.
As conjunções, para a autora, unem-se aos verbos, formando com eles um sintagma
conjuncional, nome dado por ela ao que a tradição chama de oração subordinada. Esse
sintagma conjuncional opera em seguida a articulação do conjunto da oração com um termo
exterior, que a tradição chama de oração principal.
Considera ainda o pronome relativo como um termo de dupla face que, na oração,
pode exercer a função de nome e sendo também pronome repete anaforicamente o conteúdo
semântico de uma palavra anterior. Enquanto a conjunção tem apenas a função oracional, o
pronome relativo exerce função intra-oracional.
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Neves (2000: 787) afirma que a análise das orações temporais pode ser representada
pela análise das conjunções iniciadas por quando, pois esta seria a principal conjunção
temporal.
Neves (2000:797) afirma também que as orações temporais podem apresentar
�relações de tipo lógico-semântico associadas à relação temporal que se estabelece entre
orações�. Para ela, essas relações são licenciadas por conectores neutros, como o quando, e
que se deve levar em conta o tempo e o modo verbal empregado em cada uma dessas
orações.
Podemos explicitar, com a autora, três relações lógico-semânticas que podem ser
estabelecidas com o item quando:
I.Relação temporal com sentido causal
(3) �Apesar de muitas reclamações, o gol foi confirmado e as vaias só cessaram quando Kewell quase empatou, com um chute forte por cima do travessão�. (�O Globo� � 13/06/06 � Notícia)
O exemplo sugere um sentido causal uma vez que se pode entender que as vaias só
cessaram porque o jogador Kewell quase empatou.
II. Relação temporal com sentido condicional
(4) �Decididamente, é preferível permanecer por aqui lendo e vendo, e escrevendo sobre como
deve ser trabalhoso cobrir a Copa do Mundo. Isso quando não usamos o espaço para reclamar
da cobertura�. (�O Globo� � 07/06/06 � Editorial)
Neste exemplo há uma relação causa/condição, pois a condição para não se escrever
sobre a Copa do Mundo é estar escrevendo reclamações sobre a cobertura jornalística do
evento.
III. Relação temporal com sentido concessivo
(5) �O resultado é que, este ano, Mato Grosso passou a ser o maior produtor de algodão do país
com uma produtividade de 220 arrobas por hectare, quando a média nacional é de 40�. (VARPORT � E � B � 94 � Je � 007)
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Pode-se considerar que houve uma quebra de expectativa no exemplo 5 uma vez
que a produtividade de 220 arrobas por hectare foi acima da esperada média nacional de 40
arrobas.
O primeiro caso estaria ligado ao aspecto perfectivo, o segundo poderia ser dividido
em eventual e factual, e o terceiro estaria relacionado ao aspecto imperfectivo.
Decat (2001:123) diz que o conector quando exerce função em todas estas relações
lógico-semânticas por estar passando por um processo de �esvaziamento semântico�. Tal
processo é comum na língua oral, mas já tem sido observado também na língua escrita,
como, por exemplo, em:
(6) �Essas diferenças de precipitações pluviais coincidem com a presença de outros elementos,
quando não os provocam diretamente�. (VARPORT � E � B � 92 � Je � 006)
O exemplo anterior não apresenta características prototípicas de uma oração
temporal, caracterizando-se o quando como uma conjunção esvaziada semanticamente.
Segundo a autora, poderíamos considerar a existência de dois itens lexicais
distintos, a que chama de quando 1 e quando 2, e cada um destes estaria veiculado a
significados distintos, como causa ou condição.
Para ela, essa perda de significação do conectivo colabora para a postulação de que
a relação adverbial não é dada pelo conectivo, mas sim pela proposição relacional que
existe entre as orações (a que chama cláusulas), reforçando a importância de uma análise
não apenas sintática, mas também semântica, levando em conta as inferências do leitor.
De acordo com Decat (2001), além das relações entre temporalidade e condição,
existem também as relações de concessão/condição, causa/condição e concessão/exclusão.
A autora ressalta, ainda, que Góis (1955) trata dessa questão do esvaziamento
semântico de forma indireta. O autor admite a �ubiqüidade� das conjunções, isto é, o fato
de estas poderem ter mais de uma classificação, conforme já foi explicitado anteriormente.
Para Decat (2001), essa postura decorre do fato de o autor ter percebido a possibilidade de
inferências em cláusulas iniciadas por um único tipo de conjunção.
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Mateus et alii (2003:558) afirmam, conforme já apresentado, que, na gramática, não
podem ser reunidos sob o mesmo rótulo os conectores da coordenação e os da
subordinação, pois estes apresentam comportamento diferenciado.
As conjunções (nome reservado apenas ao que chamamos de conjunções
coordenativas) seriam palavras �morfologicamente não flexionáveis� que se distinguem dos
complementadores (nome dado ao que tradicionalmente chamamos de conjunções
subordinativas).
As autoras mencionam o quando apenas dentre as orações temporais, que são
aquelas que localizam temporalmente um �estado de coisas� em relação ao intervalo de
tempo em que se situa o estado de coisas descrito na oração principal.
Consideram ainda que o quando é um complementador usado para:
a) exprimir estados de coisas simultâneos, isto é, aquele em que os dois
estados têm lugar exatamente no mesmo intervalo de tempo, ou ainda
quando um dos estados de coisa se realiza num intervalo de tempo que
intercepta o intervalo de tempo do outro;
b) em estados de coisas sucessivos, quando exprime a anterioridade ou a
posteridade de um estado de coisas em relação ao outro.
Segundo elas, conectores como o quando têm um valor nominal/adverbial e as
construções em que ocorrem não são homogêneas do ponto de vista estrutural. Em alguns
casos, uma oração com conector quando tem valor de SN e a sua sintaxe é próxima à das
relativas livres. Em outros tem propriedades de uma relativa com antecedente.
É interessante ressaltar ainda que Mateus et alii (2003) afirmam em nota que o
quando pode possuir outros valores além do temporal:
a) temporal e condicional (factual, hipotético e contrafactual, conforme os
tempos verbais);
b) temporal e concessivo.
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As idéias de Mateus et alii (2003) se assemelham às idéias de Neves (2000), uma
vez que ambas se pautam em relações lógico-semânticas, no entanto, esta menciona o valor
causal, valor este que não encontramos na teoria de Mateus et alii (2003).
Diante disso, percebe-se que alguns estudiosos já notaram a possibilidade de haver
mais do que uma classificação para um mesmo item. Muitos retomam classificações que já
eram previstas no português medieval, conforme verificaremos a seguir.
3.3 Buscando respostas na diacronia
Antes de abordarmos especificamente a conjunção quando na diacronia, é
necessário fazer um percurso histórico das classes de palavras, para que notemos suas
origens e principais características.
Muitos foram os gramáticos que estudaram as classes de palavras no decorrer da
história, muitos, ainda, foram os que deram atenção à chamada classe das conjunções,
englobando nelas outras classes de palavras por características semelhantes. O quadro a
seguir apresenta o tratamento de alguns gramáticos clássicos em relação às classes de
palavras:
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Platão Aristóteles Estóicos Dionísio Varrão
Classe dos
nomes
Classe dos
verbos e
adjetivos
Classe dos
nomes
Classe dos
verbos e
adjetivos
Classe das
conjunções
Nomes:
Nome
Adjetivo
Verbo
Conjunção
Conjunção
Preposição
Artigo
Nome
Verbo
Particípio
Pronome
Artigo
Preposição
Conjunção
Nome
Verbo
Particípio
Pronome
Interjeição
Advérbio
Preposição
Conjunção
Quadro 6: Distribuição das classes de palavras, de acordo com os gramáticos clássicos
Conforme o quadro 6, nota-se que a maioria dos autores clássicos menciona a
existência da conjunção.
Platão e Aristóteles foram os primeiros a perceber que as palavras poderiam ser
divididas em classes. Aristóteles, supostamente por acreditar que pronomes e preposições
também funcionassem como conectivos, agrupou-os junto com as conjunções sob o mesmo
rótulo. Agrupou ainda sob esse mesmo rótulo os artigos, talvez por notar o caráter
referencial destes, o que, de certa forma, também, mostra o fato de poderem estabelecer
conexão.
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Os estóicos subdividiram inicialmente as palavras em quatro classes: nome (nome e
adjetivo), verbo, conjunção (conjunção e preposição) e artigo; mais tarde dividiram a classe
dos nomes em nomes próprios e comuns, criando, assim, uma nova classe. Diferentemente
de Aristóteles, os estóicos notaram a diferença entre os artigos e os elementos de conexão,
mas continuaram a incluir os pronomes como parte integrante das conjunções.
Já Dionísio distinguiu oito classes de palavras, separando pronome, preposição
artigo e conjunção. Considerou as conjunções como elementos de ligação que ajudam na
interpretação do enunciado e as agrupou em oito espécies: copulativas, disjuntivas,
continuativas, subcontinuativas, causais, dubitativas, conclusivas e expletivas.
O gramático define conjunção como o elemento que liga com ordenação o
pensamento e revela vazios de expressão deste pensamento; repete, assim, a idéia dos
estóicos sobre a função conectiva das conjunções e, ainda, traz à tona a idéia, defendida por
Aristóteles, sobre a condição não-significativa destas. Não há, porém, nenhuma indicação
de que esta classe seja indeclinável.
Varrão, por sua vez, colocou em classes separadas, as conjunções e as preposições;
os artigos desapareceram, e em seu lugar surgiu a classe das interjeições. Os pronomes
relativos e os interrogativos, que antes eram englobados entre as conjunções, passaram a
pertencer à classe dos nomes e dos pronomes.
O alexandrino Apolônio Díscolo é considerado um ícone da sabedoria gramatical da
Antigüidade. É o primeiro a tratar especificamente da sintaxe, classificando de forma
sistemática, através de uma base filosófica, toda a matéria lingüística.
Para Apolônio, é o sentido da palavra, não a forma, que decide sua atribuição a uma
determinada classe. O gramático define a conjunção como uma parte do discurso que não
se declina, que reúne entre si as partes do discurso e que significa em comum com essas
partes do discurso, para marcar ordem ou valor.
A conjunção não apenas significa, mas também cossignifica, ou seja, por não
possuir valor autônomo, seu verdadeiro conteúdo só é perceptível através de sua relação
com as orações ou com as partes do discurso.
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Já no século II, Apolônio demonstra um fato que os lingüistas estudam hoje: a
conjunção não relaciona apenas orações, mas também palavras e partes do discurso. Faz
referência, ainda, a duas funções exercidas pela conjunção: táxis e dýnamis, o que para
Neves (2005) poderia querer lembrar a subordinação ao lado da coordenação.
Seguindo a classificação apresentada por Neves (2005), reunindo-se a obra de
Apolônio, tem-se a seguinte classificação das conjunções:
1. copulativa (symplektikós ou athroistikós), como exemplo a conjunção e; 2. causalis (aitiologikós), dividida em cinco espécies:
a) causalis (aitiologikós), como exemplo a conjunção porque; b) continuativa (synaptikós), como exemplo a conjunção se; c) subcontinuativa (parasyaptikós),como exemplo a conjunção já
que; d) adiunctiva (epizeuktikós), aquelas que ocorrem com subjuntivo, como para que e os nomes empregados com valor conjuntivo no sentido de causa, como por causa de; e) effectiva (apotelestikós), como exemplo a conjunção com efeito;
3. disiunctiva (diazauktikós), como exemplo a conjunção ou (exclusiva); 4. subdisiunctiva (paradiazeuktikós), como exemplo a conjunção ou (não -
exclusiva); 5. disertiva vel declarativa (diasaphetikós), como exemlo a partícula grega é
no sentido de �antes�, �de preferência�; 6. ablativa (perigraphikós), como exemplo as partículas gregas dé e ge
quando marcam uma restrição;
7. praesumptiva (prosleptikós), como exemplo as partículas gregas dé ou ge no sentido de �ora�;
8. adversativa (enantiomatikós), como exemplo as conjunções se bem que e
entretanto ; 9. approbativa (apodeiktikós), como exemplo a conjunção na verdade; 10. abnegativa (dynetikós), como exemplo as partículas gregas án e ken (indicativas de condição), sem equivalentes no latim; 11. collectiva, vel rationalis, vel illativa (syllogistikós)i, como exemplo as conjunções por conseguinte e de modo que;
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12. dubidativa (diaporetikós), como exemplo a partícula âra (� será quê?�); 13. confirmativa (diabebaiotikós), como exemplo a conjunção que, com a
função de unir uma oração complementar a uma principal; 14. epilogistikós ou anakephaloiotikós, como exemplo a conjunção oukoun (� bem, então�); 15. completiva, vel expletiva (paraleromatikós), como exemplo as partículas
mén, dé, per, que, segundo Neves (2005), não possuem tradução fora do
contexto.
Percebe-se na proposta de Apolônio, revisitada por Neves (2005), uma espécie de
polissemia, em que algumas partículas podem pertencer a diferentes sentidos, de acordo
com o contexto, situação que ocorre também hoje com as nossas conjunções.
O século XVI pode ser considerado como aquele em que começamos a notar certa
preocupação com o vernáculo na língua portuguesa. As gramáticas apresentam-se como
manuais de ensino, com descrições da língua e prescrições para o bom uso do português.
A Gramática da Língua Portuguesa, de João de Barros (1995), apresenta uma parte
dedicada à sintaxe a que diz ser �destinada a definiçam da gramática e as partes dela�.
Vemos aí um gramático inteiramente preocupado com a descrição da língua, procurando
valorizar o ensino desta.
João de Barros considera nove classes de palavras, colocadas por ele em uma
hierarquia:
Nível I � Nome (Pronome) Verbo (Advérbio)
Nível II � Artigo, Particípio, Conjunção, Preposição e Interjeição
As preposições são divididas em: preposições que regem o genitivo, que regem o
ablativo e que regem o acusativo, e são tratadas como uma classe separada das conjunções.
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As conjunções, por sua vez, são muitas, segundo Barros (1540):
E [h]ouvéssemos de tratár de quantas espéçias
i [h]á de conjunçám, seria curiosidade enojósa aos
ouvintes. Básta saber que temos duas conjuções
máis comuns. A uma chamam copulativa, que quér
dizer ajuntador, porque ajunta as pártes antre si; e
a outra, disjuntiva, a quál, máis pròpriamente, se
déve chamár disjunçám que con/junçám, porque
divide as pártes.
A copulativa ajunta as pártes per semelhante
exemplo: Alexandre e Çésar e Hanibál e Pompéo e
Pirro foram grandes capitães. E, por cáusa de
elegânçia, e nam repitirmos tantas vezes a
conjunçám e, com uma só, pósta ante a derradeira
párte, ajuntamos todalas outras preçedentes, antre
as quáes éla fica entendida. Como: Alexandre,
Çésar, Hanibál, Pompéo e Pirro foram grandes
capitães.
A outra, que chamamos disjuntiva, sérve nos
exemplos semelhantes: Dos filósofos, Sócrates ou
Platám ou Aristóteles, não sei quál diz que a
verdáde, àçerca dos hómens tem dous rostros: com
um ôs alégra e com outro ôs entristéçe.
Sendo assim, Barros (1540) destaca apenas dois tipos de conjunções, que hoje
consideramos como coordenativas: as copulativas (as nossas aditivas) e as disjuntivas
(nossas adversativas), citando como exemplos, apenas as conjunções e e ou. O gramático
faz menção, portanto, a dois tipos de conjunções já citados por Apolônio Díscolo na
Antigüidade.
A obra Minerva seu de Latinae linguae causis et elegantia ou simplesmente
Minerva, escrita por Francisco Sanchez de las Brozas, em 1587, é considerada de grande
interesse para alguns lingüistas por procurar estabelecer uma correlação entre gramática e
lógica.
Segundo Fávero (1996), é um trabalho teórico sobre a noção de gramaticalidade.
Para Sanchez (1587), uso e razão não devem ser confundidos. A razão é posta em primeiro
lugar e não é aceito nenhum princípio gramatical que não esteja baseado nela.
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É uma gramática cujo objetivo é descobrir as estruturas lógicas, as regras internas e
os primeiros princípios da língua latina. Compõe-se de quatro partes: a primeira dedicada às
partes da oração, a segunda e a terceira à construção dos nomes e verbos, e a quarta, às
figuras de construção.
No capítulo XVIII intitulado De la conjúncion, Sanchez (1587) descreve e classifica
esta classe. Para o gramático, a conjunção não une casos iguais, como normalmente se
ensina, mas somente orações. Afirma ainda que não é tarefa do gramático distinguir as
funções das conjunções porque, para a gramática, todas são conjunções, uma vez que,
mesmo que pareça ter sentido separá-las, todas têm função de unir. Por fim, considera que a
grande diferença entre as conjunções está no sentido e não na função.
A seguir, apresentamos a classificação dos tipos de conjunções, segundo Sanchez
(1587):
1. Copulativas absolutas: et �e�, que �e�, nec �não�, neque �e não�, ac �e�,
atque �e�, quoque �também�, etiam �também�, item �do mesmo�, itemque �e assim
mesmo�; 2. Copulativas condicionais: cum �como�, tum �então�, si � se�, se �ou se�,
nisi � se não�;
3. Disjuntivas: aut �ou�, uel �ou�, seu �ou�, siue �ou�, na �o�, necne �ou�,
utrum �ou� ( mas este, para Sanchez, é um nome.);
4. Adversativas; at �porém�, sed �porém�, porro �mas�, �contudo� tametsi
�contudo�, etsi �contudo�, licet �embora�, quamuis �embora�, autem �porém�;
5. Racionais de nexo ou unitiva as que precedem a causa: ergo �logo�, igitur
�assim pois�, ideo �por isto�, itaque � por conseguinte�, quorcica �pelo qual�, proinde
�portanto�, quare �pelo que�, quapropter �pelo qual�; 6. Causais (quando seguem à causa): nam �pois�, namque �pois�, enim
�pois�, eni muero �pois�, etenim � e em efeito�, quia �porque�, quoniam �porque�,
siquidem �posto que�, quippe �posto que�, utpote �posto que�, proptere quod � porque�,
segundo Sanchez, como pensam os gramáticos, mas sempre é relativo; é onde se entende a
preposição;
7. Declarativas: ut �que�, uti �que�, uelut �como�, ueluti �como�, sicut
�como�, ricuti �como�, céu �como se�, tanquam �como�.
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Diante da classificação apresentada por Sanchez (1587), notam-se algumas
semelhanças com as atuais classificações gramaticais, mas a diferença fundamental do
trabalho de Sanchez (1587) reside no fato de que sua classificação é feita muito mais por
meio do sentido do que da função, conforme ele mesmo afirma, ao dizer que as conjunções
se parecem na função e que a diferença fundamental entre elas reside no sentido que as
compõem.
Se compararmos a classificação estabelecida por Sanchez (1587) com o quadro
atual das conjunções, verificamos que o gramático não faz distinção entre conjunções
coordenativas ou subordinativas, mas as reúne por relação semântica, o que seria muito
mais lógico e coerente.
A Grammaire Générale et Raisonnée (doravante Gramática de Port-Royal) foi
produzida pelos humanistas Arnauld e Lancelot, ligados à confraria dos Solitários de Port-
Royal des Champs, uma importante abadia em Paris. Seus estudiosos dedicavam-se a
trabalhos lingüísticos e lógicos ligados ao ensino.
A Gramática de Port-Royal está dividida em duas partes:
a) o estudo das letras e dos caracteres da escrita, ou seja, uma parte dedicada
à fonética, à ortografia e à prosódia;
b) o estudo dos �princípios e das razões sobre os quais se apóiam as
diferentes formas de significação das palavras�, parte esta dedicada à morfologia e à
sintaxe, ainda com um apêndice sobre as figuras de construção.
A conjunção é apresentada, no capítulo XXIII, juntamente com a interjeição. O
capítulo é pequeno e não há muitas informações acerca dessas duas classes. Arnauld e
Lancelot analisam as conjunções como partículas que juntam ou separam as coisas.
Inserem dentre as conjunções, não apenas as palavras latinas como et, vel, si, mas
também partículas como ergo. É interessante mencionar que os autores acrescentam
advérbios como non à classe das conjunções, tal fato é bastante relevante hoje, uma vez que
algumas das conjunções mais recorrentes são provenientes de advérbios.
A gramática de Port-Royal se aproxima, em parte, das idéias de Sanchez (1587), pois,
como este, também distingue as conjunções não por uma relação funcional, mas por uma
relação semântica. O objetivo dos gramáticos franceses era aproximar a gramática
descritiva da lógica analítica, o que talvez seria o melhor caminho para buscar uma nova
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classificação gramatical pautada muito mais na relação de sentido do que na função
propriamente dita.
A Arte da grammatica da língua portugueza, de Antônio dos Reis Lobato, foi
publicada em 1770, com intuito de funcionar como um material que fornecesse
encaminhamentos para a prática pedagógica. É composta por paradigmas e não apresenta
grandes preocupações com a ortografia da língua, pois Reis Lobato (1770) acreditava que
já existiam muitos tratados acerca desta parte da gramática.
O capítulo relacionado às conjunções encontra-se na parte de sintaxe, mais
precisamente na lição III do Livro V, intitulado Das partes indeclináveis da Oração. Reis
Lobato (1770) define conjunção como uma parte indeclinável da oração que, sozinha, não
possui significação completa e que, por isso, precisa fazer parte do discurso. Nele, tem a
função de ajuntar os membros ou as partes que provêem do nome.
Para o autor, existem muitas conjunções e as demais expressões são:
1. Copulativa: e, também.
2. Disjunctiva: ou, nem.
3. Causais: porque, por quanto, pois.
4. Condicionais: se, ainda que, senão, com tanto que.
5. Conclusivas: logo, por conseqüência, pelo que, por tanto, por causa.
6. Declarativas: a saber, assim como, verbi gratia.
Reis Lobato (1770) afirma, ainda, que as conjunções são como os advérbios que
podem ser de duas naturezas, ou seja, já surgiram como conjunções ou são fruto da relação
entre uma preposição e um nome, como a conjunção por conseqüência. O gramático não
inclui, porém, as conjunções de natureza adverbial.
Encontra-se na tipologia de Reis Lobato (1770) alguma semelhança com a tipologia
atual, mas também aí não há uma separação entre conjunções subordinativas e conjunções
coordenativas, tal como vemos hoje.
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Conforme explicitado neste pequeno percurso diacrônico, não há referência alguma
à conjunção quando, no entanto, Barreto (1999) afirma que esta já era usada no Latim e
ocorre na língua portuguesa desde o século XII.
Segundo Barreto (1999:219), o quando é o acusativo feminino singular do relativo,
quam, adverbializado e somado à preposição indo-européia -do que significava �para�. No
Latim já era empregada como advérbio interrogativo-indefinido ou conjunção
subordinativa que oscilava de sentido, aparecendo com sentido temporal, em Plauto, e com
sentido causal, em textos de Terêncio e Cícero.
Para a autora, o sentido inicial do quando �para o qual�, referindo-se a tempo,
determinou, através de um processo metafórico, o sentido temporal da conjunção e do
advérbio interrogativo, fazendo decair o sentido causal. Com o valor temporal de �em que
época�, �em que ocasião�, o quando passou ao português também, como advérbio ou
conjunção.
A autora ressalta ainda que o item já sofreu, em algum momento, um processo de
gramaticalização, conforme podemos observar:
1. morfologização: quam + -do > quando
2. recategorização: pronome + preposição > advérbio e conjunção
Quadro 7: Processo de gramaticalização do quando, segundo Barreto (1999)
A conjunção quando, de acordo com Barreto (1999), pode introduzir sentenças com
verbos no indicativo ou no subjuntivo; no português falado contemporâneo, as orações
iniciadas por quando ocupam, preferencialmente, a posição inicial do período, precedidas
ou não por um encadeador, podendo, entretanto, ocorrer também em posição interfrástica.
O exemplo a seguir apresenta a conjunção quando em posição inicial:
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(7) �quando você tem um bonito peixe GRANDE... faz ASSADO... no FORNO... é uma delícia
recheado com farofa...�
(VARPORT � Oc � B � 70 � 2f � 001)
Barreto (1999) afirma que a conjunção quando gramaticalizou-se ainda no latim,
uma vez que passou ao português com a mesma forma e o conteúdo semântico temporal
que já possuía na língua de origem. Todavia, a análise dos dados mostra que este conteúdo
semântico deixou de ser apenas temporal e hoje já apresenta traços condicionais, causais e
concessivos, entre outros.
Se o conteúdo semântico de causa realmente voltou a existir em casos sincrônicos,
estaríamos nos deparando com um contra exemplo de unidirecionalidade? A conjunção
estaria sofrendo um novo processo de gramaticalização, uma vez que as cláusulas que
expressam condição são mais gramaticalizadas que as temporais? A diacronia nos trouxe
mais questionamentos do que respostas, entretanto, buscaremos elucidar estas e outras
questões na análise dos dados no capítulo 5. Por ora, faz-se necessária uma observação dos
princípios fundamentais do Funcionalismo, o que faremos no próximo capítulo.
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4 A GRAMATICALIZAÇÃO
No presente capítulo, intenta-se analisar o Funcionalismo como um todo. Primeiro
será feito um breve panorama histórico desta corrente lingüística, em seguida serão
destacadas algumas idéias acerca da teoria da gramaticalização, verificando especialmente
os princípios que a regem. A última parte do capítulo tratará das discussões em relação ao
fenômeno: o questionamento em relação a unidirecionalidade da gramaticalização e as
semelhanças e diferenças deste processo; e o polêmico processo da discursivização.
4.1 Um pouco da teoria funcionalista
Segundo Neves (2006:17), o Funcionalismo é �uma teoria que se liga acima de
tudo, aos fins que servem as unidades lingüísticas�, ou seja, �se ocupa das funções dos
meios lingüísticos de expressão�. Destaca, ainda, a autora, que o termo função não é apenas
uma �unidade sistemática�, mas a união entre o estrutural (sistêmico) e o funcional. A
reflexão do Funcionalismo está ligada não somente à organização de frases, mas também à
relação das estruturas lingüísticas com o que elas representam na comunicação. O foco
passa a ser o falante e sua necessidade de comunicação.
A teoria, por sua vez, não é recente, existem dados de que os trabalhos
funcionalistas surgiram há mais ou menos três décadas. Segundo Poggio (2002:27), o
conceito de Funcionalismo em Lingüística está ligado à primeira Escola de Praga, em que
os termos �função� e �funcional� são muito empregados, mesmo que apresentando
dificuldades de interpretação. Segundo Cunha, Oliveira & Martelotta (2003:20), o pólo
funcionalista da Escola de Praga caracteriza-se por conceber a língua como um instrumento
de comunicação que deve ser analisada como uma estrutura maleável, sujeita a pressões
externas que ajudam a determinar sua estrutura gramatical.
As idéias funcionalistas também podem ser vistas em algumas escolas lingüísticas
pós-saussureanas da Europa no século XX. Saussure influenciou mais de perto a Escola de
Genebra e essa influência chegou até Martinet que considerava que era preciso partir da
observação da comunicação na língua em sua primeira forma falada.
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Segundo Martinet (apud Poggio, 2002:28), a maneira como o mundo é percebido
depende de processos, segundo os quais, o homem comunica sua experiência ao próximo e,
ao funcionar, toda língua se impõe como um instrumento de comunicação da experiência.
Sendo assim, para descrevê-la de maneira adequada, é conveniente observar os elementos
que contribuem para a comunicação, o que é pertinente para esta.
O que caracteriza a concepção da linguagem, nessa fase, é seu caráter não apenas
funcional, mas também dinâmico. Funcional porque mantém a integração entre o sistema
lingüístico e seus elementos com as funções que necessitam preencher, e dinâmico porque
vê na variação da relação entre a estrutura e a função, a força dinâmica do constante
desenvolvimento da mesma.
A Escola Lingüística de Londres, por meio de Halliday, desenvolveu uma tendência
a estudar as línguas do ponto de vista funcional, tal estudo, segundo Mathiessen (apud
Neves, 1997:58), está baseado no �funcionalismo etnográfico e no contextualismo
desenvolvido por Malinowiski nos anos 20�. Na Holanda, os estudos funcionalistas
iniciados por Reichiling influenciaram a gramática de Dik, cujo interesse está nos processos
relacionados ao êxito dos falantes ao se comunicarem através de expressões lingüísticas.
No entanto, o presente trabalho segue as idéias do chamado Funcionalismo norte-
americano. A lingüística nos EUA foi dominada por uma forte tendência formalista que se
mantém até hoje com a lingüística gerativa. Paralelamente, houve uma inclinação para o
pólo funcionalista da linguagem através das idéias de Boas, Sapir e Whorf, Bolinger, Kuno,
Del Himes, Labov e outros chamados etno e sociolingüistas.
De acordo com Cunha, Oliveira & Martelotta (2003:23), o termo Funcionalismo
ganhou força a partir da década de 70, passando a servir de rótulo para os trabalhos de
Thompson, Hopper e Givón. Tais autores passaram a defender uma lingüística baseada no
uso, em que a tendência principal é �observar a língua do ponto de vista do contexto
lingüístico e da situação extralingüística�. De acordo com essa concepção, a sintaxe está em
constante mudança graças ao discurso, dessa maneira, para entender a sintaxe, faz-se
necessário estudar a língua em uso.
A visão funcionalista da linguagem pode ser bem resumida através das premissas
com que Givón (apud Martellota et alii 2003: 28) caracteriza tal concepção:
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A linguagem é uma atividade sociocultural;
A estrutura serve a funções cognitivas e comunicativas;
A estrutura é não-arbitrária, motivada, icônica;
Mudança e variação estão sempre presentes;
O sentido é contextualmente dependente e não � atômico;
As categorias não são discretas;
A estrutura é maleável e não � rígida;
As gramáticas são emergentes;
As regras de gramáticas permitem algumas exceções.
Tais premissas são regidas por princípios teóricos fundamentais, conforme veremos
adiante.
4.1.1 Alguns princípios teóricos fundamentais
Segundo o Funcionalismo, a estrutura é motivada pela situação comunicativa,
tornando-se assim uma variável dependente, pois são os usos que dão forma ao sistema.
Dentro da teoria funcionalista existem alguns pressupostos que a regem e que têm
importância fundamental dentro do processo de análise da língua em uso.
I. Iconicidade
A iconicidade é a correlação natural entre a forma e a função, entre o código
lingüístico e seu conteúdo. Para os funcionalistas, a estrutura da língua reflete, de algum
modo, a experiência do falante; uma vez que a linguagem é uma faculdade humana, supõe-
se que a estrutura lingüística revela as propriedades da conceitualização humana do mundo
ou as propriedades da mente humana.
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Segundo Neves (2006:23), é na �admissão da relação entre cognição e gramática
que se assenta a iconicidade, isto é, a consideração de uma motivação icônica para a forma
lingüística�. Trata-se de admitir o paralelismo entre a estrutura lingüística e o significado.
No entanto, esse paralelismo não é �biunívoco�, não se pode admitir que signo e
significante sejam idênticos.
II. Motivação
Conforme já afirmado anteriormente, a língua sofre pressões externas, que fazem
com que ela mude constantemente. Diante deste fato, postula-se que há uma interação de
forças externas e internas que entram em competição e se resolvem no sistema; sendo
assim, a gramática sofre pressões do uso para constituir uma estrutura cognitiva. Tais
pressões são chamadas de motivações.
Essas motivações, no entanto, podem estar em conflito, uma vez que um princípio
pode reger um determinado comportamento do enunciado enquanto outro pode agir
inversamente.
A consideração da existência dessas motivações, principalmente as externas, resulta
no reconhecimento de que a interação lingüística se organiza não apenas através da sintaxe
e da semântica, mas também da pragmática.
III. Transitividade
De acordo com Hopper e Thompson (apud Cunha, Oliveira e Martelotta, 2003:37),
a transitividade é concebida com �uma noção contínua, escalar�. Seriam dez parâmetros
sintáticos � semânticos independentes pelos quais se observam a transferência da ação em
uma porção diferente da sentença, por meio de diferentes ângulos. São parâmetros: os
participantes, a cinese (ação ou não-ação), o aspecto verbal (perfectivo ou não-perfectivo),
a punctualidade verbal, a intencionalidade do sujeito, a polaridade da oração (afirmativa ou
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negativa), a modalidade da oração (realis ou irrealis), a agentividade do sujeito, o
afetamento do objeto e a individuação do sujeito.
Esses parâmetros contribuem para a ordenação das orações em uma escala de
transitividade. Essa transitividade, que é oracional, está ligada ao modo como o falante
organiza o seu texto, pois este é determinado, em partes, pela percepção das necessidades
do interlocutor.
O grau de transitividade de uma oração reflete sua função discursiva característica.
Sendo assim, as orações de alta transitividade estão em porções centrais do texto e as de
baixa transitividade estão em porções periféricas do texto, conforme veremos a seguir.
IV. Planos discursivos
Para que a comunicação seja satisfatória é preciso que os interlocutores partilhem a
mesma perspectiva. O emissor orienta o receptor em relação àquilo que é central e
periférico em seu discurso. As noções de centralidade e perifericidade estão relacionadas à
distinção entre figura e fundo.
Entende-se por figura a porção que apresenta alta transitividade, ou seja, aquela que
apresenta eventos concluídos, pontuais, afirmativos, realis e sob a responsabilidade de um
agente. Já por fundo entende-se aquela porção que apresenta baixa transitividade, isto é,
eventos simultâneos à cadeia da figura, além da descrição de dados, da localização dos
participantes da narrativa e dos comentários avaliativos.
V. Informatividade
Cognitivamente, uma pessoa se comunica com intuito de levar a seu interlocutor
uma informação a respeito de alguma coisa, que pode ser do mundo externo ou interno
desse emissor, ou, até mesmo, uma tentativa de manipulação desse interlocutor. A
informatividade diz respeito ao que os interlocutores compartilham ou supõem que
compartilham durante a interação.
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Segundo Cunha, Oliveira e Martelotta (2003:43), a parte da cláusula que apresenta a
informação velha, ou seja, aquela que já é conhecida do interlocutor é denominada tema, já
a parte relativa à informação nova é denominada rema.
VI. Prototipia
Outra noção de extrema importância para o Funcionalismo é a de protótipo.
Considera-se como protótipo o elemento que possui o maior número de propriedades que
caracterizam uma categoria, determinando a classificação dos demais membros dessa
categoria, conforme a semelhança que tenham com ele.
No entanto, segundo Kleiber (1988 apud Neves, 2006:22), não é necessário que
todos os membros de uma categoria apresentem traços em comum com o protótipo, eles
podem até mesmo pertencer a subcategorias diferentes e, mesmo assim, constituir uma
mesma categoria, através de princípios de encadeamento e associação.
Segundo essa noção de similaridade com o protótipo, formam-se categorias
chamadas naturais por ação de analogia e de interpretação metafórica, com redefinição de
sentidos. Para Givón (apud Neves, 2006: 23), essa mudança metafórica dos protótipos é a
essência da gramaticalização, conforme observaremos mais detalhadamente a seguir.
4.2 Principais teorias a respeito da gramaticalização
A gramaticalização é um processo que vem sendo bastante estudado no
Funcionalismo. O fenômeno tem merecido tanta atenção porque reflete a relação entre o
sistema gramatical e o funcionamento discursivo, e porque se explica por meio da interação
entre motivações externas e internas ao sistema. Tais estudos, porém, não são recentes,
podemos traçar um breve histórico dos teóricos que trataram do assunto.
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4.2.1 Breve histórico da teoria da gramaticalização
A gramaticalização se difundiu como um paradigma no final da década de 1980,
mas se podem identificar estudos passíveis de serem relacionados ao tema a partir do século
X, na China. Tais estudos continuam a se desenvolver no século XVII com nomes como
Condillac e Russeau, na França, e Tooke, na Inglaterra. No século XVIII, esses estudos
continuaram na Alemanha, com Bopp, Schlegel, Humboldt e Gabelentz e, nos Estados
Unidos, com Whitney.
Os estudos de gramaticalização como concebemos hoje tiveram início no século XX
com o francês Meillet, responsável pela primeira definição a respeito do tema. Para ele, o
termo refere-se a �passagem de uma palavra autônoma à função de elemento gramatical�
(Meillet, 1912 apud Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão, 2007:19). Pode-se
observar nos estudos de Meillet a idéia de gramaticalização como uma ferramenta da
lingüística histórica, que procurava responder as questões relativas à origem e às mudanças
típicas envolvendo morfemas gramaticais. No entanto, observando melhor as palavras de
Meillet, podemos notar que ele dá conta também da possibilidade de entender a
gramaticalização também como um processo sincrônico.
A partir de Meillet, muitos lingüistas estudaram o tema, entre eles, os alemães
Lehmann, Heine, Claudi, e Hünnemeyer, e os americanos da Costa Oeste, Givón, Hopper,
Traugott, Bybee e Pagliuca, entre outros.
Segundo Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão (2007:19), todos esses
estudiosos partilham do mesmo pensamento:
Há uma distinção entre itens lexicais, signos lingüísticos plenos, classes de
palavras abertas, lexemas concretos e palavras principais, de um lado e itens
gramaticais, signos lingüísticos �vazios�, classes fechadas de palavras,
lexemas abstratos e palavras acessórias do outro;
As categorias que têm relação com os itens lexicais tendem a originar as
relacionadas aos itens gramaticais.
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Lehmann (apud Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão, 2007) foi
responsável pela segunda acepção de gramaticalização, este a concebe como um processo
de morfologização, que pode levar a mudança de não apenas um item lexical para
gramatical, mas também do menos para o mais gramatical. Esse conceito de
gramaticalização é o mais difundido até hoje.
Hopper e Traugott (1993:7) consideram que uma forma em processo de
gramaticalização segue um continuum de mudança que enfatiza o caráter categorial do
léxico, conforme podemos observar a seguir:
[item de conteúdo] > [palavra gramatical] > [clítico] > [afixo flexional]
Essa acepção traz ao conceito de gramaticalização uma formulação mais restrita, em
que podemos defini-la como um processo por meio do qual alguns elementos lexicais se
desenvolvem, no decorrer do tempo, e se tornam elementos gramaticais, podendo se tornar
mais gramaticais ainda.
4.2.2 A definição de gramaticalização
Segundo Neves (2004:115), a gramaticalização é um termo que não se define num
sentido exatamente igual por todos os seus estudiosos. São muitas as divergências e as
abrangências deste termo. Conforme pudemos verificar anteriormente, Meillet foi o
primeiro responsável por uma definição acerca do tema, seguido por Lehmann.
Traugott e Heine, de acordo com Neves (2004), centram seus estudos na idéia de
que o termo se refere à parte da teoria da linguagem que tem por objeto a interdependência
entre langue e parole, entre o categorial e o menos categorial, entre o fixo e o menos fixo
da língua, o que vai ao encontro das idéias da precursora teoria de Meillet. Entretanto, as
divergências relacionadas à gramaticalização começam na própria cunhagem do termo. Os
próprios Traugott e Heine usaram três termos diferentes: grammaticalization
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(gramaticalização), grammaticization (gramaticização) e grammatization (gramatização).
Tais termos, no entanto, parecem não ter a mesma acepção, o primeiro é o preferido pelos
autores, usado nos estudos mais representativos sobre o tema, o segundo é usado quando se
trata de assuntos do fenômeno do ponto de vista sincrônico, já o terceiro foi usado apenas
no título de um de seus trabalhos.
Existem alguns outros termos que vêm sendo usados para nomear o processo, mas
que, na verdade, designam aspectos particulares do processo, como: sintatização,
descoramento semântico, enfraquecimento semântico, desvanecimento semântico,
reanálise, condensação e redução, entre outros.
Na verdade, existem várias acepções abarcadas pelo termo gramaticalização. Heine
et alii (1991) seguem a mesma teoria defendida por Traugott e Heine e consideram dentro
do processo de gramaticalização o percurso de um morfema lexical para o gramatical e do
menos gramatical para o mais gramatical. Contudo, a acepção mais interessante para essa
pesquisa diz respeito ao ponto de vista de Lichtenberk (1991:38) que afirma que �o
fenômeno abriga não apenas a evolução de um morfema lexical para um morfema
gramatical, como também a aquisição de novas propriedades por um elemento já
gramatical�.
4.2.3 O processo de gramaticalização
Na atual literatura a respeito da gramaticalização, não há uma distinção clara dos
processos, princípios, mecanismos e critérios (ou parâmetros) que identificam formas já
gramaticalizadas ou em processo de gramaticalização.
Para alguns lingüistas, a gramaticalização é apenas um processo que ajuda na
constituição da língua, tal processo pode co-ocorrer com a semantização e a discursivização
e, juntos, têm relação direta com os módulos constituintes da língua: a gramática, a
semântica e o discurso. Castilho (2006 apud Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão,
2007:28) amplia esse conjunto, acrescentando aos processos de gramaticalização,
semantização e discursivização, o processo de lexicalização.
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O fato é que, para alguns, a gramaticalização é tratada, simplesmente, como um
processo que pode passar por todo percurso da mudança ou se interromper em um ponto
dessa escala. É tratada, ainda, como uma ferramenta lingüística necessária para recuperar o
percurso diacrônico de algumas formas lingüísticas, ou empregada para a reconstrução
interna da gramaticalidade de padrões sincrônicos. No entanto, o interessante para essa
pesquisa não é tratar da gramaticalização como fenômeno ou processo, mas observar os
estágios da mudança com o intuito de verificar se o item quando está passando por algum
destes estágios.
4.2.3.1 Os estágios da gramaticalização
Castilho (1997:31) entende por gramaticalização �o trajeto sintático empreendido
por um item lexical, ao longo do qual ele muda de categoria sintática (recategorização),
recebe propriedades funcionais na sentença, sofre alterações morfológicas, fonológicas e
semânticas, deixa de ser uma forma livre, estágio em que pode até mesmo desaparecer,
como conseqüência de uma cristalização extrema�. Para o autor, os seguintes estágios, ou
fases, podem ser identificados no processo de gramaticalização:
Sintaticização
Morfologização
Redução fonológica
Estágio zero
Alterações semânticas
Contudo, parece-nos mais interessante e simplificado, os estágios propostos por
Lehmann (1995 [1982]: 13). Para ele, teríamos três estágios: sintatização, morfologização e
desmorfemização, conforme veremos a seguir:
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Nível Discurso Sintaxe Morfologia Morfofonêmica
Técnica Isolante > Analítica > Sintético- > Sintético- > Zero
aglutinativa flexional
Fase ↑ ↑ ↑
Sintatização Morfologização Desmorfemização
Processo Gramaticalização
Quadro 8: Fases da gramaticalização segundo Lehmann (1995 [1982:13])
A sintatização diz respeito ao momento em que um item ou construção recorrente
no discurso começa a adquirir propriedades que o deslocam de sua classe de origem,
procedendo a uma recategorização. Essa fase marca a transição do nível do discurso para o
nível da sintaxe e da técnica isolante para a técnica analítica, em que a forma deixa de ser
analisável como uma forma livre.
O estágio seguinte corresponde a morfologização em que surgem, na língua, as
formas presas, sejam elas afixos flexionais ou desinenciais. Nessa fase de gramaticalização,
tem-se a passagem do nível da sintaxe para o nível da morfologia e da técnica analítica para
a sintético-aglutinante, em que as formas tendem a redução fonética.
A próxima fase é a da desmorfemização, que pode levar um morfema a desaparecer
por completo, sendo a sua função assumida por outros itens com os quais ele co-ocorre.
Uma forma sofre enfraquecimento a tal ponto que surge um zero em sua posição.
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De acordo com Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão (2007:33), uma outra
forma de observar a gramaticalização de um item (ou estrutura) é baseada nos valores
semânticos, em que há uma transferência de um sentido, a que chamam de �literal� para
outro �figurado� e de um domínio de conceptualização para outro. Essas transferências
promovem o deslizamento de um sentido mais concreto para um mais abstrato. Essa
movimentação é, normalmente, intermediada por uma ambigüidade semântica que, segundo
os autores, �representaria o �elo perdido� da recategorização�. Tal análise parece-nos mais
viável para o fenômeno que estudamos nesta pesquisa.
Os subsídios para este tipo de análise podem ser encontrados, ainda, em Bybee et al.
(1994, apud Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão, 2007:33) em que são tratados
os mecanismos motivadores da gramaticalização. Seriam eles:
Extensão metafórica;
Inferência;
Generalização;
Harmonia;
Absorção.
A extensão metafórica pode ser caracterizada por meio de duas propriedades: a
mudança de um domínio mais concreto para um domínio mais abstrato e a preservação de
algum traço da estrutura relacional original. A inferência remete à implicatura, uma vez que
enquanto o falante obedece ao principio da informatividade e da economia, o ouvinte extrai
todos os significados necessários à compreensão do enunciado. A generalização representa
a perda de traços específicos de significado como conseqüência da expansão de contextos
apropriados para o uso. A harmonia é um mecanismo restrito a elementos gramaticais que
se encontram desprovidos de grande parte de seu conteúdo semântico, sendo aplicada nos
estágios mais avançados da gramaticalização. Por fim, a absorção diz respeito à fase em
que há completa gramaticalização do item observado.
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Para Bybee (1994 apud Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão, 2007:34), os
mecanismos de mudança anteriormente citados atuam em estágios diferentes dentro do
processo de gramaticalização. Esses estágios podem ser representados da seguinte forma:
Iniciais Mediais Finais
____________metáfora ____ _ _
_________________________________inferência __________________________
______________________________generalização________________ _ _ _ _ _ _ _
___________________harmonia_____
_________________absorção____
Quadro 9: Estágios do processo de gramaticalização, segundo Bybee et al. (1994)
Conforme pudemos observar, a gramaticalização é um fenômeno dinâmico, que
reflete o movimento contínuo em torno da estrutura e é, ainda, uma atividade cognitiva com
reflexos na própria estrutura. Esse processo representa um continuum que envolve tanto a
variação contextual como a conceptual.
4.3 Princípios de gramaticalização
A gramaticalização, conforme afirmamos anteriormente, é um processo, sendo
assim, existem estágios. Alguns casos atingem todos os estágios, outros passam apenas por
alguns deles, mas estão em vias de serem considerados gramaticalizados.
Assim como não há um acordo entre os lingüistas em relação à teoria da
gramaticalização também não há em relação a seus princípios, no entanto, é possível
enumerar alguns princípios elaborados por alguns lingüistas.
Lehmann (1982) identificou cinco princípios: a paradigmatização, a
obrigatoriedade, a condensação, a coalescência e a fixação. De acordo com o princípio da
paradigmatização, as construções sintáticas se integram em paradigmas morfológicos; a
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obrigatoriedade diz respeito ao fato de que dentro do paradigma, a escolha de paridade
entre seus membros obedece a regras gramaticais; na condensação, quanto mais uma forma
se gramaticaliza, menos complexos se tornam os constituintes com os quais ele pode
combinar-se; o princípio da coalescência se manifesta da justaposição para uma alternância
�simbólica�; por fim, a fixação, em que um signo gramaticalizado tende a ocupar uma
posição fixa na sintaxe, primeiramente, e depois na morfologia, tornando-se um
preenchedor de espaços gramaticais.
Lehmann (apud Castilho, 1997:50) argumenta, ainda, que a �gramaticalização diz
respeito essencialmente à autonomia do signo. Quanto mais autônomo o signo, menos
gramaticalizado, e quanto menos autônomo mais gramaticalizado�.
Segundo o autor, existem três aspectos que permitem medir o grau de autonomia de
um signo:
O peso sintagmático, seu escopo, o número de construções das quais ele faz
parte e ajuda a formar;
A coesão paradigmática, o grau de integração de um signo no paradigma. É
denominada conexidade (bondedness), ou seja, o grau de sua adesão a
outros signos;
A variabilidade paradigmática, a possibilidade de usar outros signos em seu
lugar, ou mesmo a possibilidade de omiti-lo.
O seguinte quadro reúne os critérios que podem medir o grau de autonomia de um
signo:
Paradigmático Sintagmático
Peso Integridade Escopo
Coesão Paradigmaticidade Conexidade
Variabilidade Variabilidade
paradigmática
Variabilidade sintagmática
Quadro 10: Critérios para medir a autonomia de um signo , segundo Lehmann (1982 apud Castilho,
1997)
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Lehmann (apud Castilho, 1997:50) deixa claro que todos esses critérios dizem
respeito ao signo e que os graus com que eles afetam o signo estão relacionados ao
processo de gramaticalização, uma vez que este processo pode ser medido através da
observação desses critérios.
Um dos méritos da análise detalhada dos parâmetros de Lehmann é que ele mostra
que a gramaticalização está sujeita a uma graduação entre forte e fraca, aspecto que é
focalizado pelo princípio da continuidade e do gradualismo.
Hopper (1991 apud Castilho, 1997:51) também admite a existência de cinco
princípios:
Estratificação (layering): dentro de um domínio funcional amplo, novas
camadas emergem continuadamente. Quando isso acontece, não significa
que as camadas mais antigas deixem de existir, há, na verdade, uma
coexistência e uma interação com as camadas mais novas.
Divergência: quando uma forma lexical se gramaticaliza, a forma original
permanece como um elemento autônomo e sofre as mesmas mudanças que
um item lexical comum.
Especialização: dentro de um domínio funcional é possível haver em
determinado estágio uma variedade de formas com nuances semânticas
diferentes, já quando a gramaticalização ocorre, essas variedades se
estreitam e um número menor de formas selecionadas assume essas nuances
semânticas.
Persistência: quando uma forma se gramaticaliza, alguns de seus traços
tendem a aderir à nova forma gramatical, e detalhes de sua história lexical
podem refletir-se na sua distribuição gramatical.
Descategorização: formas em processo de gramaticalização tendem a
neutralizar marcas morfológicas e propriedades sintáticas das categorias
plenas.
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Castilho (1997:52) considera que os princípios de Hopper (1991) combinam em si
processos e estágios. De um lado existem os mecanismos que levam uma categoria lexical a
se transformar numa categoria gramatical e, de outro, há princípios gerais que regem essa
mudança de estatuto.
Para Heine (2003:579), a principal motivação para a gramaticalização é a comunicação.
Para esses princípios, uma estratégia possível é usar formas lingüísticas de sentido
concreto, facilmente acessível e claramente delimitável, para expressar conceitos mais
abstratos, mais facilmente acessíveis e menos claramente delineáveis. Sendo assim, a
gramaticalização de uma expressão lingüística envolve quatro mecanismos inter-
relacionados:
(1) Dessemantização (bleaching ou redução semântica) � é a perda do conteúdo
semântico de uma forma.
(2) Extensão (ou generalização de contextos) � o uso de uma forma em novos
contextos, diferentes dos contextos antigos.
(3) Decategorização � perda de propriedades características das formas fonte, incluindo
perda de status de forma independente (cliticização, afixação).
(4) Erosão (ou redução fonética) � perda de substância fonética.
Embora os mecanismos de dessemantização, decategorização e erosão envolvam perda
de propriedades, o mecanismo de extensão implica ganho de propriedades características de
seus usos em novos contextos. É importante ressaltar, ainda, que nenhum desses
mecanismos é específico da gramaticalização, mas a medida que, juntos, eles são
responsáveis pela gramaticalização, eles podem ser vistos como diferentes componentes de
um processo geral.
Para Castilho (1997:53), admitem-se quatro princípios que podem dar conta dos
estágios de gramaticalização:
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(1) Analogia: tem relação com a atração de formas preexistentes por outra construção
também já existente no sistema e envolve inovações ao longo do eixo paradigmático.
Castilho (1997) afirma que esse princípio leva à criação de formas não explicáveis se
tomadas no eixo sintagmático. A analogia não �cria� estruturas novas, ela estende
regras a itens ainda não atingidos, �uniformizando� as formas da língua. É importante
ressaltar, ainda, que a analogia e a reanálise podem confluir na gramaticalização de uma
mesma expressão.
(2) Reanálise: é o processo por meio do qual os falantes mudam sua percepção em
relação à forma como os constituintes da língua estão ordenados no eixo sintagmático.
Esse processo permite a criação de novas formas gramaticais, à medida que,
gradualmente, alteram-se as fronteiras dos constituintes da expressão, levando a forma a
ser analisada como uma categoria diferente da original. Segundo Hopper � Traugott
(1993:56 apud Castilho, 1997:55), a reanálise é �o desenvolvimento de novas estruturas
a partir de estruturas antigas�.
(3) Continuidade e gradualismo: segundo Kurylowicz (apud Lehmann: 1982), a
gramaticalização tende continuamente à inovação das estruturas das línguas, uma vez
que, dado o caráter cíclico da gramaticalização, a variação é uma conseqüência do
gradualismo da mudança lingüística, sendo ao mesmo tempo, ponto de partida e ponto
de chegada da mudança lingüística.
(4) Unidirecionalidade: a gramaticalização seria um processo unidirecional, ou seja,
irreversível e que só pode se desenvolver da direita para a esquerda. Muitos estudiosos
não concordam com essa idéia, defendendo que existem contra - exemplos para estes
casos. Tal assunto será discutido com maior profundidade no tópico 4.5: �Será a
gramaticalização um processo unidirecional?�.
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Os processos associados ao fenômeno da gramaticalização possuem uma série de
implicações associadas às estruturas lingüísticas surgidas por gramaticalização. Lehmann
(1985 apud Heine, 2003:588) propôs os seguintes processos concomitantes à
gramaticalização:
(1) Paradigmatização � tendência da forma gramatical de se arranjar em paradigmas;
(2) Obrigatoriedade � tendência de um uso opcional se tornar obrigatório;
(3) Condensação � diminuição das formas;
(4) Coalescência � desaparecimento de formas adjacentes;
(5) Fixação � ordenações mais livres se tornam mais fixas.
Segundo Heine (2003:589), outra conseqüência da gramaticalização na estrutura das
línguas está no fato de que itens pertencentes a paradigmas de classes abertas (aquelas
passíveis de variação) tornam-se itens de classe fechada (invariáveis).
4.4 Gramaticalização X discursivização
Diante das principais propriedades relacionadas ao fenômeno da gramaticalização,
apresentadas anteriormente, surgem questionamentos relacionados à diferença existente
entre o processo de gramaticalização e o processo de discursivização.
Para Castilho (1997: 59), existem três grandes processos que constituem a língua: a
gramaticalização, a semantização e a discursivização. Segundo ele, esses processos se
desencadeiam simultaneamente num mesmo item, sem excludência.
Em suas considerações, a gramaticalização é �um conjunto de fenômenos que
ocorrem simultaneamente, quando um item lexical passa a ter um papel significativo na
estrutura das línguas naturais�. Já o fenômeno da discursivização é visto como �o uso
discursivamente relevante de itens lexicais�. O fenômeno da semantização é definido por
Castilho (1997) como �a alteração semântica por que passam os itens em sua utilização
gramatical ou discursiva�.
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Na concepção de Castilho (1997), os três processos são ao mesmo tempo distintos e
concomitantes e podem co-ocorrer num mesmo elemento. Para alguns autores, no entanto,
os fenômenos de discursivização e gramaticalização ocorrem em elementos diferentes e se
excluem mutuamente, ou seja, onde um ocorre não pode haver a presença do outro.
Martellota et alii (1996:45) consideram que gramaticalização e discursivização
constituem processos especiais de mudança lingüística. Enquanto a gramaticalização �leva
itens lexicais e construções sintáticas a assumir funções referentes à organização interna do
discurso ou a estratégias comunicativas�, a discursivização � leva o item a assumir função
de marcador discursivo, modalizando ou reorganizando a produção da fala, quando a sua
linearidade é momentaneamente perdida , ou servindo para preencher vazio causado por
essa falta de linearidade.�
Segundo Martellota et alii (1996:45), com base em estudos anteriores, pode-se
afirmar que como resultado da ação desses dois processos, �o elemento pode se tornar mais
gramatical, ou seja, assumir posições mais fixas na cláusula, (...); ou menos gramatical, ou
seja, assumir funções relacionadas ao processamento do discurso (e conseqüentemente,
também interativas), perdendo as restrições gramaticais típicas de seus usos originais�.
Sendo assim, o primeiro processo diz respeito à gramaticalização e o segundo, à
discursivização.
Ainda de acordo com Martellota et alii (1996), pesquisas mostram a existência de
um processo paralelo ao processo de gramaticalização, este processo seria o que nomeamos
como discursivização. Tal processo leva elementos lingüísticos a perder suas restrições
gramaticais, principalmente relacionadas à ordenação vocabular, passando a assumir
restrições de caráter pragmático e interativo. Na concepção do autor, a discursivização deve
ser vista como um processo distinto da gramaticalização, pois abrange elementos que atuam
em um campo mais vasto do que o da gramática, marcando relações de caráter discursivo,
sem estabelecer, necessariamente, relações entre elementos da gramática.
Dessa forma, podemos concluir que a gramaticalização tende a estar relacionada a
elementos gramaticais, enquanto a discursivização se relaciona a elementos discursivos,
diferentemente do que propõe Castilho (1997). Entretanto, tais considerações serão tomadas
apenas para o presente trabalho, uma vez que podem ser consideradas precipitadas dado a
escassez de trabalhos definidores no que diz respeito ao fenômeno da discursivização.
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4.5 Será a gramaticalização um processo unidirecional?
Existe certa falta de consenso dos estudiosos do processo de gramaticalização em
relação à questão da unidirecionalidade. Segundo Thomazi (2006:532), os debates a
respeito da unidirecionalidade da gramaticalização têm como foco dois aspectos. O
primeiro diz respeito ao fato de que �a unidirecionalidade está inscrita na própria definição
de gramaticalização, o que pressupõe um aumento de gramaticalidade� e o segundo ao fato
de que �a unidirecionalidade se aplica aos mecanismos que facultam a gramaticalização�
(redução fonética, mudança sintática, e generalização de significados).
Para Neves (2004: 121), a unidirecionalidade da gramaticalização é tida como uma
característica básica do processo, partindo-se do princípio de que uma mudança que se dá
numa direção específica não pode ser revertida. De acordo com a autora, Heine et alii
(1991) subespecificam essa característica geral da unidirecionalidade em outras
características, tais como:
a) precedência do desvio funcional (conceptual ou semântico), sobre o formal
(morfossintático e fonológico);
b) descategorização de categorias lexicais prototípicas;
c) possibilidade de recategorização, com restabelecimento da iconicidade entre forma e
significado;
d) perda de autonomia de um elemento (uma palavra autônoma passa a clítica, um
clítico passa a afixo);
e) erosão ou enfraquecimento formal.
Para Neves (2004), a característica unidirecional da gramaticalização implica a
consideração de uma escala como a de Hopper & Traugott (1991):
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ITEM DE SIGNIFICADO PLENO > PALAVRA GRAMATICAL > CLÍTICO >
AFIXO FLEXIONAL
Quadro 11 : Escala de unidirecionalidade da gramaticalização, segundo Hopper & Traugott (1991).
Essa hierarquia, todavia, pode ser discutida. Thomazi (2006:532) privilegia o exame
da unidirecionalidade em relação às transformações sintáticas e semânticas. No que diz
respeito ao último mecanismo, a autora apresenta uma série de hierarquias de
gramaticalização que parecem se adequar a estudos distintos.
A hierarquia de Heine et al. (1991) lança mão de certo número de categorias
cognitivas as quais dispõe da seguinte forma: PESSOA> OBJETO > ATIVIDADE >
ESPAÇO > TEMPO > QUALIDADE. A relação entre essas categorias é de natureza
metafórica, pois cada categoria pode ser usada para conceituar outra categoria, desde que
esta esteja à sua direita.
A hierarquia de Shyldkrot (apud Thomazi 2006:532) foi criada especialmente para o
estudo da partícula polissêmica tout do francês. Essa categoria é formada pelos seguintes
elementos: QUANTIDADE > QUALIDADE > CONCESSÃO.
No entanto, a hierarquia que nos parece mais interessante e de maior utilidade para
o presente trabalho é a apresentada por Traugott & König (1991), criada para o estudo da
emergência das conjunções e que é formada pelos seguintes elementos: TEMPO > CAUSA
> CONCESSÃO. Essa hierarquia privilegia as categorias semânticas relacionadas às
conjunções e tem ligação direta com o estudo do item quando.
A autora ressalta, entretanto, que essas projeções metafóricas podem ser vantajosas
por predizerem a direção dos processos de gramaticalização, mas, ao mesmo tempo,
também, são desvantajosas porque sugerem que a emergência de uma categoria se dá pela
extinção da anterior, o que não respeitaria o principio da persistência de Hopper (1991).
Como solução, Traugott (1982) salienta a importância da interpretação contextual
que funciona por meio da inferenciação. Segundo ela, uma palavra ou construção pode
possuir um sentido A que recebe a inferência de um sentido B, em função da contigüidade
textual. Se, com o tempo, o sentido B se torna parte da palavra ou construção, podemos
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dizer que houve uma convencionalização de inferências, em que o que antes era apenas
inferido, passa a ser codificado.
A idéia de Traugott (1982) pode ser muito próxima de nossa pesquisa, uma vez que
parece haver uma inferência de sentidos como condicional e causal no sentido temporal do
conector quando, conforme veremos no capítulo que concerne à verificação dos dados.
Para Traugott (1982 apud Thomazi, 2006:532), existe uma série de tendências
gerais que explicariam a direção das mudanças semântico�pragmáticas implicadas na
gramaticalização. Para ela, há um componente �proposicional� que inclui elementos que
permitem falar do mundo extralingüístico, um componente �textual�, que inclui elementos
que permitem elaborar um discurso coeso e, ainda, um elemento �expressivo�, que exprime
as atitudes pessoais em relação ao discurso e em relação a outros participantes. Com base
nessa classificação, inspirada na classificação tripartida das funções da linguagem de
Halliday10(1994), Traugott (1982) sugere que as mudanças de significado nos processos de
gramaticalização tendem a respeitar a hierarquia: PROPOSICIONAL > TEXTUAL >
EXPRESSIVO.
Em Traugott e König (1991) essa hierarquia recebe uma formulação um pouco
diferente. Os autores assumem que a mudança tende a partir de significados identificáveis
nas situações extralingüísticas, passar por significados fundados na marcação textual e
seguir para significados fundados na atitude ou na crença do falante. Já em trabalhos mais
recentes Traugott (1999) entende que essas tendências estão inscritas em processos mais
globais de subjetivação e intersubjetivação. A primeira diz respeito ao processo pelo qual
os falantes da língua desenvolvem novos significados para lexemas já existentes e o
segundo ao processo pelo qual os significados, com o tempo, passam a codificar a atenção
do falante em relação às atitudes do ouvinte, ou seja, enquanto uma está centrada no
falante, a outra está centrada no ouvinte.
Essa aparente clareza em relação à unidirecionalidade da gramaticalização não é
ponto pacífico entre os pesquisadores, conforme afirmamos anteriormente. Martelotta e
10 M. A. K. Halliday considera três funções da linguagem: a ideacional, em que a linguagem serve para
organizar a experiência e a interpretação do real; a interpessoal em que a linguagem serve para estabelecer
relações entre as pessoas; e a textual que se refere à capacidade do falante em criar e reconhecer unidades
textuais.
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Areas (2003:27), por exemplo, assinalam a existência de estudos que se contrapõem à
atuação do princípio da unidirecionalidade:
(...) pesquisas em gramaticalização têm
demonstrado que, ao lado de fenômenos que mudam
com o tempo, existem determinados aspectos que
parecem manter-se ao longo da trajetória das
línguas. Em outras palavras, há um conjunto de
processos de mudança que atuam com relativa
regularidade sobre os elementos lingüísticos,
estendendo-lhes o sentido. De uma perspectiva
histórica, esses processos podem dar a impressão
de uma seqüência de mudanças ocorridas no
tempo; de uma perspectiva sincrônica, o que se
observa é um conjunto de polissemias coexistindo.
Pesquisas realizadas por Oliveira (1997), Votre (1999 e 2000) e Ferreira (2003),
questionam, com base nos resultados obtidos, a atuação do princípio da unidirecionalidade
assim como o caráter gradual da gramaticalização. Em seu trabalho, Ferreira (2003) cita sua
pesquisa em relação ao verbo poder e pesquisas de outros autores, que compartilham a
abordagem pancrônica11 e o pressuposto de que a estabilidade sintático-semântica dos itens
analisados em diferentes sincronias está relacionada, assim como a mudança, a princípios
gerais, de caráter atemporal, que refletem processos regulares e estáveis na mente dos
falantes. Fazendo referência ao trabalho de Votre (2000), que contrastou os usos dos verbos
ver, achar, pensar e saber em duas diferentes sincronias da língua portuguesa e no latim, a
autora comenta ter Votre (2000) observado que as configurações sintático-semânticas de
uso desses verbos no português estão intimamente relacionadas às configurações
correspondentes no latim, ou seja: o padrão geral que emerge da análise é regular e
contínuo.
Ferreira (2003:87) conclui seu trabalho, defendendo a perspectiva pancrônica de
estudos dos fatos lingüísticos � que �dá maior visibilidade aos aspectos relacionados à
continuidade e à estabilidade� � e preconizando a necessidade de se reverem as hipóteses
de trajetórias unidirecionais de desenvolvimento semântico-sintático:
11 A análise pancrônica é aquela que leva em consideração dados que são tanto de natureza sincrônica quanto
de natureza diacrônica.
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Como evidenciado nos trabalhos aqui relatados, as
hipóteses de trajetórias unidirecionais de
desenvolvimento semântico-sintático precisam ser
enfraquecidas, na medida em que, muitas vezes,
configurações semântico-sintáticas supostamente
�mais jovens� (porque mais abstratas) são
observadas na sincronia mais remota, coexistindo
ao lado de configurações mais concretas, que, por
sua vez, permanecem desafiando todas as pressões
históricas e culturais que poderiam ter levado ao
seu desaparecimento ou mudança. Resta-nos então
perguntar como isso acontece.
Em estudo recente, Traugott (2001) apresenta alguns contra-exemplos da
unidirecionalidade da gramaticalização que ela não acredita que reforcem a hipótese da
não-unidirecionalidade, por não serem simples e de difícil entendimento, mas que são
freqüentemente citados por muitos autores. Dentre estes contra-exemplos, a autora cita: o
caso da cliticização do genitivo �s em inglês, citado por Janda (1980 apud Traugott,
2001:6); o caso do instrumental em russo e o desenvolvimento de dare (to) estudado por
Beths (1999 apud Traugott, 2001:6) e Vincent (2001 apud Traugott, 2001: 6). A autora
cita, ainda, o caso do desenvolvimento do infinitivo to como um provável caso legítimo de
um contra-exemplo, mas são apenas probabilidades sem comprovações.
O fato é que existem estudos adiantados em relação à unidirecionalidade, inclusive
o caso estudado nesta pesquisa poderia ser observado com um contra-exemplo � conforme
veremos � mas não há ainda nenhuma comprovação e parece mais viável para as pesquisas
funcionalistas considerar o princípio da unidirecionalidade como um fato relevante.
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5. ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo, pretende-se fazer a análise de alguns dados recolhidos dos corpora
estudados, a fim de demonstrar os usos da conjunção subordinativa quando identificados ao
longo da pesquisa feita nesta dissertação.
Inicialmente, faz-se uma breve análise quantitativa12 dos dados, de modo que fique
claro o que, de fato, está ocorrendo com a conjunção quando em termos de uso. Assim,
ainda que o objetivo do trabalho não seja um estudo variacionista, conforme afirmado
anteriormente, pode-se, por meio dessa análise, descrever as ocorrências nos corpora
utilizados, bem como as formas mais produtivas de uso de quando levando em
consideração uma perspectiva sincrônica.
Cabe lembrar que os dados utilizados foram recolhidos de três corpora diferentes:
Jornal O GLOBO, corpus VARPORT e D&G, sendo o primeiro de língua escrita e os dois
últimos de língua falada e língua escrita.
5.1 Quantificação dos dados
Nos três corpora analisados foram encontrados 689 casos de uso da conjunção
subordinativa quando, distribuídos conforme o gráfico a seguir:
12 Cabe ressaltar que esta não é uma análise quantitativa nos moldes da Sociolingüística Laboviana, tendo em
vista que a quantificação dos dados foi feita com o objetivo de descrever os usos de quando de uma forma mais sistemática, permitindo, assim, uma melhor compreensão do seu funcionamento nos corpora pesquisados.
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83
70%
25%
5%
D&G
VARPORT
O Globo
Gráfico 1: Dados encontrados nos corpora pesquisados
Conforme se vê no gráfico 1, o maior número de dados pertence ao corpus D&G;
tal situação deve-se ao fato de este ser um corpus em que as entrevistas são mais extensas e,
ainda, pelo fato de tais entrevistas serem, em seguida, escritas pelo próprio entrevistado
com o objetivo de contrastar, assim, fala e escrita. Para esta pesquisa, foram utilizados os
inquéritos do corpus D&G referentes ao Rio de Janeiro, perfazendo um total de 93
inquéritos, divididos por escolaridade em: CA infantil, CA supletivo, 4º série (atual 5º ano)
e 8º série (atual 9º ano) do ensino fundamental, ensino médio e ensino superior.
Ainda no gráfico 1, percebe-se que 25% dos dados são do corpus do projeto
VARPORT. Tal corpus é formado por inquéritos de língua oral e escrita; os dados de
língua oral são divididos entre DID (diálogo entre informante e documentador), D2
(diálogo entre dois informantes) e EF (elocução formal); os dados de língua escrita são
divididos em editorias, notícias e anúncios. Para a presente pesquisa foram utilizados, em
língua oral, apenas os inquéritos do tipo DID, perfazendo um total de 59 inquéritos (35 de
linguagem culta e 24 de linguagem popular) e, em língua escrita, 295 textos, sendo 23
editoriais, 112 notícias e 160 anúncios.
O corpus que apresentou o menor número de ocorrências foi o do Jornal O GLOBO,
por ser este um corpus de menor extensão, utilizado aqui para reforçar o grande número de
dados de quando também na língua escrita deste século. Para este estudo foram utilizados
80 textos, distribuídos em 20 anúncios, 12 editoriais e 48 notícias.
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84
Embora o maior número de dados seja de língua oral, foram encontradas
ocorrências na língua escrita, conforme se verifica no gráfico a seguir:
0
50
100
150
200
250
300
350
D&G VARPORT O GLOBO
Escrita
Oral
Gráfico 2: dados encontrados nos corpora � escritos e orais
Com base na observação do gráfico 2, podemos afirmar que a maior parte dos
dados são de língua oral ( exceto no corpus O GLOBO que é apenas escrito); contudo, há
um número crescente de dados também de língua escrita.
Tais ocorrências da conjunção subordinativa quando nos corpora pesquisados,
conforme foi possível verificar no gráfico 2, foram elencadas com base nas propriedades
que cada um dos seus usos possui, identificando a freqüência de ocorrências de cada um
dos casos encontrados, conforme ilustra a tabela a seguir:
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85
TEMPO
RAL
CONDICIO
NAL
CAUSAL CONCESSI
VA
PROPORCI
ONAL
TOTAL
D&G 383
(78,5%)
84
(17,2%)
20
(4%)
1
(0,3%)
0 488
(100%)
VARPORT 121
(71,5%)
42
(24,8%)
4
(2,3%)
1
(0,7%)
1
(0,7%)
169
(100%)
O GLOBO 25
(78,2%)
5
(15,6%)
1
(3,1%)
1
(3,1%)
0 32
(100%)
TOTAL 529
(76,7%)
131
(19 %)
25
(3,6%)
3
(0,5%)
1
(0,2%)
689
(100%)
Tabela 1: dados da conjunção subordinativa quando encontrados nos corpora utilizados
Pelo que se pode observar na tabela 1, em um total de 689 ocorrências da conjunção
subordinativa quando, 76,7 % são de valor semântico temporal; 19 % são de valor
semântico condicional; 3,6 % são de valor semântico causal. Foram encontrados, ainda, 3
dados ( 0,5%) de quando com valor semântico concessivo e 1 caso ( 0,2 %) de quando com
valor semântico proporcional. O fato de haver um número muito maior de dados temporais
já era esperado, pois a conjunção subordinativa quando apresenta prototipicamente valor
temporal. Vale ressaltar que tais valores semânticos serão explicados detalhadamente mais
adiante, momento em que serão devidamente exemplificados.
O que parece interessante é o fato de haver um crescente número de dados com
valores diferentes do temporal. Tal fato pode ser explicado por meio de dois fatores: a
conjunção pode estar em um novo processo de gramaticalização e, ainda, tempos e modos
verbais podem estar influenciando diretamente na alteração destes valores semânticos, em
conformidade com a tese de Neves (2000), segundo a qual alguns tempos verbais podem
influenciar diretamente nos valores semânticos da conjunção subordinativa quando, como,
por exemplo, o pretérito perfeito do indicativo, que favoreceria uma interpretação causal da
conjunção.
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86
No entanto, antes mesmo de se passar à análise de alguns desses dados, é necessário
definir, através de propriedades semânticas, principalmente, quais são, efetivamente, os
valores semânticos que a conjunção subordinativa quando pode apresentar.
5.1.1 Quando � temporal
Para a análise tradicional, entende-se como oração subordinada adverbial temporal a
oração que é responsável por apresentar um acontecimento ocorrido antes, depois ou ao
mesmo tempo que outro. Apresenta-se, prototipicamente na posição anteposta e encabeçada
pela conjunção quando, considerada por Rocha Lima (2001: 281) �a mais geral das
partículas�.
Segundo Neves (2000:787), a construção temporal é constituída de uma oração
nuclear (principal) e uma oração temporal. Conforme dito anteriormente, segundo a autora,
a análise das construções temporais pode ser representada pela análise das construções
iniciadas por quando.
O quando com valor semântico temporal é o mais conhecido de todos,
principalmente por esta ser considerada a conjunção prototípica deste valor. De acordo
com Neves (2000:790), aparece, na maioria das vezes, acompanhado de verbos no modo
indicativo. Todavia, o modo subjuntivo também pode ser usado na oração com quando,
especialmente no futuro, quando expressa uma eventualidade. É possível observar melhor
os tempos verbais que aparecem em orações subordinadas adverbiais iniciadas por quando
na tabela a seguir:
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87
PRES. P. PERF. P.IMP. PRES.
SUBJ.
P. IMP.
SUBJ.
FUT.
SUBJ.
TOTAL
O GLOBO 8
(32%)
11
(44%)
3
(12%)
0 0 3
(12%)
25
(100%)
VARPORT 44
(36,4%)
41
(33,8%)
29
(24%)
2
(1,7%)
0 5
(4,1%)
121
(100%)
D&G 53
(13,8%)
214
(55,8%)
82
(21,5%)
0 3
(0,9%)
31
(8,0%)
31
(100%)
TOTAL 105
(19,8%)
266
(50,3%)
114
(21,5%)
2
(0,4%)
3
(0,6%)
39
(7,4%)
529
(100%)
Tabela 2: tempos e modos verbais nas orações temporais encabeçadas por quando
Como se pode notar lendo-se a tabela 2 a partir do eixo vertical, o pretérito perfeito
do indicativo é o tempo mais usado nas orações temporais encetadas pela conjunção
subordinativa quando, corroborando a análise de Neves (2000:790). Segundo a autora, a
correlação entre o pretérito perfeito na oração principal e na oração subordinada, configura
telicidade13, ou seja, é possível observar o aspecto perfectivo na construção, o que
configura dois eventos percebidos como pontuais e simultâneos, e ocorridos no passado,
como ocorre, por exemplo, nos casos a seguir:
(8) �Minha mãe e meu irmão foram visitar uns amigos nossos e quando chegaram, me contaram que um moleque forrou um pano branco na encruzilhada...�
(D&G � Inf.32 � PE � NR)
(9 ) � A Andréa quando chegou em casa, as oito horas da manhã, encontrou o pai dela já
acordado...�
( D&G � Inf.2 � PE � NEP)
13 De acordo com Thompson & Hopper (2001:270), a telicidade está ligada à noção de aspecto. Uma ação já
terminada possui o traço télico enquanto uma ação não terminada possui o traço não-télico.
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Em ambos os exemplos, destaca-se o uso do pretérito perfeito. Tanto no exemplo
(8) quanto no exemplo (9) observam � se eventos pontuais, ocorridos simultaneamente no
passado. Em (8), a mãe e o irmão contaram o fato ao falante no momento que chegaram da
visita que fizeram e em (9) Andréa encontrou o pai acordada no momento que chegou em
casa. Nenhum dos dois eventos perduraram até o presente.
Foram encontrados, ainda, dados nos tempos presente do indicativo e pretérito
imperfeito do indicativo. Neves (2000:791) considera que os usos de presente, pretérito
imperfeito e pretérito perfeito favorecem interpretações condicionais e causais,
respectivamente. No entanto, nos dados analisados, mesmo os casos com estes verbos
parecem apresentar características de orações adverbiais temporais.
Tal fato parece demonstrar que a configuração do tempo e do modo verbal de uma
determinada oração não influencia diretamente no valor semântico da conjunção
subordinativa quando.
Quanto à posição da oração, os dados pesquisados apresentam uma tendência à
anteposição, conforme se verifica no gráfico que segue:
0
50
100
150
200
250
300
Antep. Posp. Iterc.
D&G
VARPORT
O GLOBO
Gráfico 3: Posição das orações subordinadas temporais iniciadas por quando
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O gráfico 3 confirma a preferência pela anteposição das temporais, principalmente
no corpus D&G, que apresenta um grande número de dados de fala; no entanto, no corpus
O GLOBO, que é formado apenas por dados de língua escrita, também nota-se a
preferência pela anteposição, mostrando que a posição anteposta é a preferencial tanto para
fala quanto para a escrita.
5.1.2 Quando � condicional
Segundo a gramática tradicional, a oração condicional é aquela que apresenta uma
circunstância que é a condição para a realização de um fato contido na oração principal.
Costumeiramente, vem na posição anteposta e tem como prototípica a conjunção se.
Para Ferreira (2007:81), algumas orações encabeçadas por quando, a depender de
certos traços, podem estabelecer relação de condição entre cláusulas. Sendo assim, a
depender do contexto, segundo ela, uma cláusula pode ter tanto uma interpretação
condicional quanto temporal, ocorrendo, nesse caso, o que a autora chama de neutralização
de usos.
As orações iniciadas por quando com valor condicional são cada vez mais
numerosas na fala e já podem ser encontradas em grande número na escrita. Nos corpora
dessa pesquisa foram encontrados 132 dados distribuídos entre fala e escrita, conforme
demonstra o gráfico a seguir:
64%
36%
Oral Escrita
Gráfico 4: dados de orações encabeçadas por quando condicional
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Conforme se observa pelo gráfico 4, a porcentagem de orações condicionais
encabeçadas pela conjunção quando é maior na fala, como já era esperado, mas o alto
índice de orações condicionais iniciadas por quando também na escrita parece demonstrar
um crescente uso nesta modalidade, talvez demonstrando que a conjunção quando
encontra-se em um continuum de gramaticalização, uma vez que, segundo Neves & Braga
(1998), causa e condição seriam categorias mais gramaticalizadas do que a categoria de
tempo.
Harris (1986) afirma que uma frase temporal relacionada a um tempo passado ou
presente ou futuro, com uma leitura não duvidosa ou contrafactual, pode equivaler a uma
condição real. Já as orações temporais que não têm como certa uma verdadeira realização
são equivalentes a uma condição eventual. Deve-se a isso o fato de encontrarmos
conjunções temporais interpretadas como conjunções condicionais.
O fato exposto por Harris (1986) não teria valor se interpretássemos os dados
baseados na abordagem tradicional, pois esta considera que a classificação da oração está
diretamente ligada à conjunção que a encabeça. No entanto, nesta análise, que pretende ser
funcional-discursiva, tal fato é de bastante relevância porque abarca não apenas a
conjunção, mas a hipotaxe como um todo.
Para Neves (2000:798), as construções em que ocorre simultaneidade admitem uma
leitura condicional. Tal fato parece ser comprovado através dos seguintes exemplos:
(10 ) � não isso aí a gente salga quando quan quando é um peixe bom bom..�
(VARPORT � Op-B-90-1m-007)
( 11 ) �Quando eu não tenho nada para fazer e quando não tem ninguém para brincar eu vou para o
quarto da minha mãe para brincar de bolinhas de cutes�
(D&G � Inf. 49 � M � PE � DL)
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Nos dois exemplos, pode-se observar a simultaneidade de ações. Em (10), o falante
afirma que a condição para salgar o peixe é que ele seja bom, enquanto no exemplo ( 11 ) o
falante mostra que a condição para ir ao quarto da mãe brincar de bolinhas de gude é não
ter nada para fazer e nem ninguém para brincar. Tanto no primeiro quanto no segundo
exemplo, podemos observar que as ações de salgar o peixe bom e ir para o quarto da mãe
por não ter nada para fazer ocorrem simultaneamente.
Neves (2000:798) considera, ainda, que existem algumas outras características que
favorecem a interpretação da conjunção subordinativa quando como condicional, entre elas
o tempo verbal. A autora afirma que nesses casos ocorre tanto na oração principal quanto
na subordinada o presente ou o pretérito imperfeito. Contudo, na presente pesquisa, o
tempo verbal predominante nos casos de orações condicionais encetadas por quando foi o
presente, conforme é possível observar na tabela a seguir:
PRESENTE
P.PERF. P.IMPERF. FUT.SUBJ. TOTAL
O GLOBO
5
(100%)
0 0 0 5
(100%)
VARPORT
36
(85,7%)
1
(2,4%)
4
(9,5%)
1
(2,4%)
42
(100%)
D&G
70
(83,3%)
4
(4,7%)
5
(6%)
5
(6%)
84
(100%)
TOTAL
111
(84,8%)
5
(3,8%)
9
(6,9%)
6
(4,5%)
131
(100%)
Tabela 3: tempos e modos verbais nas orações condicionais encabeçadas por quando
Percebe-se, a partir da leitura da tabela 3 pelo eixo vertical, que 84,8 % dos dados
de orações condicionais encontrados nos corpora estão no presente do indicativo, diferente
do que aponta Neves (2000); não há, ainda, uma grande incidência de dados no pretérito
imperfeito.
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Quanto à posição da oração, a posição preferencial parece ser a anteposta, como se
verifica no gráfico que segue:
0
10
20
30
40
50
60
Antep. Posp. Interc.
D&G
VARPORT
O GLOBO
Gráfico 5 : Posição das orações condicionais
O gráfico 5 demonstra que a posição anteposta é a preferencial tanto para a fala
quanto para a escrita. Tal fato já foi comprovado por estudiosos como Ferreira (2007), que
identificou nos seus dados que as orações condicionais tendem a vir na posição anteposta.
No entanto, vale ressaltar que essa preferência pela anteposição ocorre também nos casos
das orações iniciadas pela conjunção subordinativa quando.
É importante afirmar que mesmo apresentando um valor condicional, estas orações
ainda mantêm certas características temporais, o que parece demonstrar que a conjunção
subordinativa quando está passando pelo princípio da persistência de Hopper (1991). De
acordo com tal princípio, os elementos que estão em processo de gramaticalização tendem
a conservar características do estágio anterior do continuum.
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5.1.3 Quando � causal
De acordo com Rocha Lima (2001:274), as orações causais são aquelas que indicam
um fato determinante para a realização (ou não) daquilo que se declara na oração principal.
Segundo o autor, tais orações costumam ser antepostas, quando iniciadas pela conjunção
como e pospostas quando encetadas pela conjunção porque.
Já segundo Neves (2000:804), as orações subordinadas adverbiais causais dizem
respeito à conexão �causa � efeito� ou �causa � conseqüência� entre dois eventos. Tal
relação implica a �subseqüência temporal do efeito em relação à causa�. Sendo assim, na
concepção de Neves (2000), a relação temporal está imbricada na relação de causa e efeito.
Neves (2000:797) afirma, ainda, que existem orações consideradas temporais,
iniciadas pela conjunção quando que propiciam uma leitura causal, com diferentes nuanças
de sentido. Apresentam, na maioria das vezes, o aspecto perfectivo e normalmente ocorrem
no pretérito perfeito, conforme o exemplo a seguir:
(12) �Quando os meus pais se separaram, eu fiquei muito chocada...�
(D&G � Inf.40 � F � PE � NEP)
No exemplo (12), a causa do choque do falante foi o fato de os pais terem se
separado, e as ações encontram-se no aspecto perfectivo, ou seja, findaram em um
momento anterior ao da escrita. Conforme afirmado por Neves (2000), os verbos das
orações encontram-se no pretérito perfeito do indicativo. A preferência por esse tempo
verbal pode ser visualizada na tabela a seguir:
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94
PRESENTE
PRET. PERF. PRET.
IMPERF.
TOTAL
O GLOBO
0 1
(100%)
0 1
(100%)
VARPORT
4
(100%)
0 0 4
(100%)
D&G
4
(20%)
12
(60%)
4
(20%)
20
(100%)
TOTAL
8
(33,3%)
12
(50%)
4
(16,7%)
25
(100%)
Tabela 4: tempos e modos verbais nas orações causais encabeçadas por quando
Apesar do pequeno número de dados, foi possível observar, na leitura através do
eixo vertical da tabela 4, que 50% das orações iniciadas por quando com valor semântico
causal apresentam verbo no pretérito perfeito do indicativo. O segundo tempo de maior
incidência de usos de quando causal foi o presente (33,3%) e depois o pretérito imperfeito
(16,7%). Não foram encontrados dados de orações com verbos no modo subjuntivo.
Em relação à posição, as orações causais seguem o comportamento das outras
orações iniciadas por quando já analisadas, ou seja, as temporais e as condicionais. Nesse
caso, a posição preferencial também é a anteposta, conforme se vê no gráfico a seguir:
0
5
10
15
20
Antep. Posp. Interc.
D&G
VARPORT
O GLOBO
Gráfico 6: Posição das orações causais
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Apesar da pequena quantidade de dados, como já afirmado anteriormente, percebe-
se que a maior parte das orações causais encontradas está na posição anteposta. Este fato
parece demonstrar uma preferência pela anteposição nas orações encabeçadas pela
conjunção subordinativa quando.
5.1.4 Quando � concessivo
De acordo com a análise tradicional, a oração concessiva é aquela que expressa um
fato (seja ele real ou não) que poderia se opor à realização de um outro fato expresso na
oração principal, e que não anulará sua realização. A concessiva possui mobilidade dentro
do período, mas normalmente, vem anteposta à principal.
Na concepção de Neves (2000: 799), a leitura concessiva é mais uma das
concepções permitidas pelas orações encabeçadas pela conjunção quando. Elas ocorrem
principalmente em orações com verbos no presente do indicativo e que se caracterizam pelo
aspecto imperfectivo.
Nos corpora estudados, foram encontrados apenas 3 dados de orações concessivas,
mas, nos três casos, os verbos das orações estão no presente do indicativo, confirmando a
tese defendida por Neves (2000) de que o presente do indicativo é um tempo verbal que
favorece a interpretação da conjunção subordinativa quando como concessiva, conforme é
possível observar em um dos três exemplos encontrados e apresentado a seguir:
(13 )�O resultado é que, este ano, o Mato Grosso passou a ser o maior produtor de algodão do país
com uma produtividade de 220 arrobas por hectare, quando a média nacional é de 40.� (VARPORT � E � B � 94 � Je � 007)
O exemplo (13) demonstra uma quebra de expectativa por parte do autor do
editorial. Tal exemplo será melhor observado na análise dos dados que será feita em 5.2.
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No que diz respeito à posição, as orações encontradas nos corpora apresentam-se
duas delas em posição posposta e uma em posição anteposta, no entanto, devido ao
pequeno número de dados não é possível tecer considerações acerca da posição preferencial
destas orações.
É importante ressaltar, ainda, que dentre as orações analisadas, duas são de textos
escritos e uma de texto oral.
5.1.5 Quando � proporcional
Entende-se por oração proporcional, segundo a gramática tradicional, aquela que
denota aumento ou diminuição em um mesmo sentido ou em sentidos opostos a outro
aumento ou diminuição. As proporcionais são consideradas correlatas, pois se valem de
expressões que exprimem correlação e não podem ser encontradas na forma reduzida.
Apesar de parecer uma interpretação duvidosa, a análise de uma oração encabeçada
pela conjunção quando como proporcional já é considerada por Houaiss (2001) que afirma
que esta pode ser substituída por à medida que ou ao passo que, exemplificando isso com
as orações:
( i ) �Quando iam entrando em casa, tiravam os sapatos.�
( ii ) �Quando o menino chorava, ela cantava mais alto�.
No exemplo ( i ) pode-se observar que o agente da oração tirava os sapatos à medida
que entrava em casa, enquanto em ( ii ) pode-se interpretar que alguém cantava mais alto à
medida que o menino chorava. Em ambos os casos ocorre correlação de orações.
O dicionário Aurélio (cf. Buarque de Holanda, 2004) confirma as afirmações desta
pesquisa e de Houaiss (2001), ao afirmar que a conjunção possui o mesmo valor de ao
passo que em orações como:
(iii) �Eles têm todas as regalias, quando nós só temos encargos.�
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No exemplo (iii) pode-se observar que à medida que alguns só possuem encargos, o
outro tem regalias. Pode-se entender aí também uma correlação de orações, traço comum às
orações proporcionais.
A oração proporcional destes corpora é de um texto escrito, conforme é possível
observar no exemplo abaixo, e pertence ao gênero textual editorial, no entanto,
considerações mais detalhadas acerca dos gêneros textuais serão feitas mais adiante no
decorrer da análise dos dados.
(14) � ... Alguma coisa tem de estar errada quando as remarcações se fazem em escala geométrica,
enquanto os salários sobem em escala aritmética. Um contra-senso que a lógica dos economistas não
sabe ou prefere não explicar.� (VARPORT � E � B � 94 � Je � 005)
O exemplo (14) estabelece uma correlação entre as remarcações que acontecem em
escala geométrica e os salários que sobem em escala aritmética, mas há, ainda, nuances do
valor temporal. Tal exemplo será melhor analisado a seguir.
5.2 Análise dos exemplos
Para uma melhor organização dos dados, a partir deste momento optou-se por
renumerar os exemplos, começando a numeração a partir do número (1), quebrando a
seqüência adotada ao longo da pesquisa. Essa nova numeração se justifica pelo fato de que,
nesta nova parte do trabalho, os exemplos serão separados de acordo com os diferentes usos
da conjunção subordinativa quando.
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Quando � temporal
Exemplo (1): A confusão começou quando os agentes e o policial federal abordaram Andréa Cristina de Faria Corrêa, de 35 anos, e duas menores, todas irmãs de Alexandre. (O GLOBO � NOT � 13/06/06)
O primeiro exemplo é um caso prototípico de oração subordinada adverbial
temporal iniciada pela conjunção subordinativa quando. Tal oração encontra-se posposta à
principal e ambas apresentam os verbos no pretérito perfeito do indicativo. Entende-se,
portanto, a ação como pontual e não-durativa. O fato se desencadeou no passado e não
perdurou até o presente. A conjunção recebe aí o valor temporal por ter o mesmo valor de
�no momento em que�.
O falante, ao narrar o fato, parece desejar ressaltar que a confusão começou no exato
momento em que os agentes e o policial federal abordaram Andréa e as outras duas
menores.
Normalmente, encontram-se orações subordinadas em períodos narrativos em que a
sucessão cronológica de fatos é importante para o encadeamento do texto. O exemplo (1)
foi retirado de uma notícia de jornal, gênero textual em que há predomínio de seqüências
narrativas, esse fato também se mostra importante para a classificação da oração iniciada
por quando como uma subordinada adverbial temporal.
Exemplo (2): Mas, em uma das viagens a São Paulo, foi uma viagem assim, [?] mas, uma pessoa reclamava
muito em todas as paradas, que a cadeira dela estava com defeito, a poltrona não estava abrindo direito , e aí
minha mulher ficou um pouco... e tudo isso...desagradou um pouco e quando nós chegamos em São Paulo ela
resolveu experimentar o avião. ( VARPORT � DID � Oc- B � 9R � 4m � 001) O exemplo (2), um caso de língua falada, apresenta um uso de conjunção
subordinativa quando com valor temporal. Pode-se observar que, nesse caso, a oração
subordinada adverbial encontra-se anteposta à oração principal, fato comum em língua
falada, uma vez que o falante tende a antepor a oração que deseja enfatizar.
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Quanto ao tempo verbal, tanto a oração subordinada quanto a principal apresentam
verbos no pretérito perfeito do indicativo. As ações, assim como no exemplo (1), ocorreram
no passado e não duraram até o presente, e a conjunção também tem valor próximo à
locução �no momento em que�.
Ao relatar um acontecimento de seu passado, o falante parece demonstrar que,
devido à sucessão de problemas ocorridos durante a viagem, sua esposa, no momento que
chegou a São Paulo, decidiu voltar para casa de avião para não enfrentar os mesmos
problemas.
Nesse exemplo, a narração ocorre dentro do gênero textual entrevista e o falante
apresenta uma sucessão de acontecimentos de sua viagem, fatos que corroboram para a
classificação da conjunção como subordinativa adverbial temporal.
Exemplo (3): Quando chega a hora de dizer adeus, anuncie nos classificados do Rio que vende mesmo. (O GLOBO � ANU � 06/06/06) Levando-se em conta que, na maioria das vezes, as orações subordinadas adverbiais
temporais prototípicas são encontradas em seqüências narrativas, o exemplo (3) não pode
ser considerado característico das orações subordinadas adverbiais temporais, por não
apresentar-se em um período cujo tipo textual é a narração. Aqui, não há um encadeamento
de fatos, mas uma seqüência em que há privilégio da argumentação, pois pretende-se
vender algo ao leitor do anúncio.
A oração principal pode ser considerada totalmente injuntiva, pois busca convencer
o leitor a anunciar nos classificados do Rio. No entanto, a oração subordinada pode ser
considerada uma adverbial temporal, pois o leitor só é convidado a anunciar nos
classificados do Rio no momento que decidir se desfazer de alguma coisa sua. Sendo assim,
pode-se observar que o valor semântico de uma determinada conjunção independe do tipo
textual14 ou do gênero textual15 em que a oração está inserida. Os tempos verbais estão
14 Segundo Marcuschi (2005), tipo textual �designa uma espécie de seqüência retórica subjacente definida
pela natureza lingüística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas,
estilo}. O tipo caracteriza-se muito mais como seqüências lingüísticas (seqüenciação de enunciados, um
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relacionados ao fato de a seqüência ser argumentativa: o verbo da oração subordinada no
presente do indicativo e o verbo da oração principal no imperativo afirmativo.
Como a maior parte das orações subordinadas encabeçadas pela conjunção quando
com valor temporal, essa oração também se encontra anteposta. O autor parece desejar
ressaltar o fato de que o consumidor deve procurar os classificados do Rio no momento que
desejar livrar-se de algum pertence.
Exemplo (4): O próprio Ronaldinho, considerado por eles o nosso melhor (ou menos ruim, dirão os
torcedores mais exaltados) jogador em campo ontem, continuou com sua misteriosa metamorfose, quando
joga com a camisa da seleção. (O GLOBO � EDT � 14/06/06) O exemplo (4) também apresenta um caso de conjunção subordinativa quando com
valor temporal em um gênero textual não narrativo. Neste caso, a oração encontra-se em
um editorial, gênero textual que, normalmente, apresenta a maior parte das seqüências com
o tipo textual argumentativo.
A presente seqüência se trata de um editorial sobre o mau desempenho da seleção
brasileira na copa do mundo da Alemanha e o período em que se encontra a oração
subordinada adverbial encabeçada por quando trata especificamente do jogador Ronaldinho
Gaúcho. O autor do editorial considera que o jogador apresenta problemas ao jogar pela
seleção brasileira.
A oração subordinada é considerada temporal, pois o autor pretende ressaltar que o
jogador sofre uma metamorfose no momento em que joga com a camisa da seleção
brasileira. O verbo no presente do indicativo parece indicar uma constância no fato, ou seja,
o jogador parece sofrer essa transformação sempre que joga pela seleção do Brasil.
modo retórico) do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais. Em geral, os tipos textuais
abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição,
descrição, injunção�. 15 Ainda, segundo Marcuschi (2005), gênero textual �refere os textos materializados em situações
comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos concretizados que encontramos em nossa vida
diária e que apresentam padrões sócio-comunicativos característicos definidos por composições funcionais,
objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. Em contraposição aos tipos, os gêneros são entidades empíricas em situações
comunicativas e se expressam em designações diversas constituindo em princípio listagens abertas�.
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A oração subordinada encontra-se posposta em relação à oração principal; o autor,
nesse caso, quer enfatizar a transformação sofrida pelo jogador. O verbo da oração
principal está no pretérito perfeito, porque embora o editorial seja um gênero
predominantemente argumentativo, ele também apresenta seqüências narrativas, como no
caso desta oração.
Exemplo (5): �... o Gonçalves Dias está a maior bagunça... parece até uma escola abandonada... nem que eu/
não estou... não estou falando isso para esculachar não... porque quando eu sair daqui... eu vou... eu vou pra lá
mesmo... né?� (D&G � Inf.66 � PO � RO)
O exemplo (5) apresenta um caso de oração subordinada adverbial temporal com
verbo no subjuntivo. Neves (2000:790) afirma que o modo subjuntivo pode aparecer em
orações temporais, principalmente no futuro, para expressar uma eventualidade. A oração
subordinada presente no exemplo parece expressar o fato de que se, eventualmente, o
falante vier a sair da escola que estuda, ele irá estudar na escola que ele diz estar
abandonada.
O falante faz uso da oração subordinada adverbial temporal para justificar o
comentário controverso que fez a respeito da escola Gonçalves Dias. O informante procura
ressaltar que não está falando mal do colégio, pois no momento que sair da escola que
estuda atualmente, terá que estudar no Gonçalves Dias.
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Exemplo (6): �Era um belo dia ensolarado, quando eu estava no muro de minha casa (...) Quando faltavam poucos minutos para as 3:00 hs eu tomei meu banho, me arrumei, me perfumei e fui a tal distribuição.� ( D&G � Inf.28 � PO � RO)
O exemplo (6) apresenta parte de uma narrativa feita em uma entrevista; o falante
deseja contar a experiência que teve em uma distribuição de ingressos para um evento. O
interessante deste exemplo é observar que o falante inicia seu turno exatamente como se
iniciam as narrativas clássicas, com o verbo ser no pretérito imperfeito do indicativo; dessa
forma, ele dá indícios de que fará uma narração.
Em sua narrativa, o falante usa o primeiro quando quase como um marcador de sua
fala, ele pode marcar a temporalidade, uma vez que o falante estava no muro de sua casa
em um dia de sol, mas poderia ser suprimido sem que o sentido fosse prejudicado. Já o
segundo quando apresenta características prototípicas de uma conjunção que encabeça uma
oração subordinada adverbial temporal, o falante pretende enumerar as ações praticadas por
ele antes das 3:00 hs e, por isso, usa a conjunção para expressar que, no momento em que
faltavam pouco minutos para o horário pretendido, ele tomou banho, arrumou-se,
perfumou-se e foi para a distribuição de ingressos da qual ele falava.
Exemplo (7): �e eu sempre morei por aqui... é muito engraçado isso... a L. minha mulher... morava aqui nessa
casinha mesmo... quando solteira... eu a conheci aqui...� ( VARPORT � Oc � B � 70 � 2m � 002) Se o exemplo (7) fosse observado à luz da perspectiva da gramática tradicional, não
poderia ser considerado um caso de subordinação, no entanto, através da perspectiva
funcional, é possível observar um caso de elipse verbal na oração subordinada. Nesse caso,
o verbo ser foi suprimido, o falante desejava expressar que a esposa morava naquela
mesma casa na época que era solteira. O verbo suprimido pode ser inferido pelo
interlocutor sem nenhum problema de compreensão de sentido.
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Quando � condicional
Exemplo (8): �O trunfo serve para cortar o jogo que está na mesa, mas só pode ser usado quando o jogador não tiver nenhuma carta do naipe que está sendo jogado.� (D&G � Inf.2 � PE � RP)
A partir da observação do exemplo (8), pode-se considerar este um caso em que a
conjunção subordinativa quando apresenta valor semântico condicional. Nesse caso há uma
relação de causa/condição entre a oração principal e a subordinada, a realização da ação
relatada na oração principal depende da condição imposta na oração subordinada.
No exemplo (8) o falante relata quais são os procedimentos necessários para alguém
aprender a jogar um jogo de cartas chamado sueca e, no período apresentado no exemplo,
ele apresenta especificamente a carta que chama de trunfo. O falante explica que é uma
carta superior a qualquer outra presente na mesa, mas informa que existe uma condição
para que ela seja usada: que o jogador não tenha nenhuma carta do naipe que está sendo
jogado na mesa. Assim sendo, a oração encabeçada pela conjunção quando apresenta a
condição necessária para que o jogador possa usar o trunfo durante um jogo de sueca.
Os gráficos apresentados na seção anterior demonstram que a posição preferencial
das orações condicionais iniciadas por quando é a anteposta, no entanto, no presente
exemplo a oração subordinada está posposta em relação à oração principal. Tal fato não
prejudica a relação semântica da oração; sendo assim, a posição da oração parece não
influenciar a relação semântica entre as orações, conforme afirmado anteriormente.
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Exemplo (9): �Eu sou um jovem muito calmo... só vou ao trabalho... e a noite vou ao colégio... e quando não
vou ao colégio... tenho que ir a igreja. Ser um jovem comportado.� (D&G � Inf. 74. � PE � RO)
O período apresentado no exemplo (9) possui a oração subordinada adverbial
condicional na posição anteposta, posição esta que pode ser considerada como preferencial
para as orações encetadas pela conjunção subordinativa quando. Quanto ao tempo verbal, a
oração também apresenta o tempo verbal que é visto como prototípico para este tipo de
relação semântica na concepção de Neves (2000), o presente do indicativo.
A oração subordinada adverbial iniciada pela conjunção quando pode ser
considerada condicional porque expressa, assim como no exemplo anterior, uma relação de
condição para a realização de um fato. O falante narra sua opinião em relação à religião e
aos estudos, informando em sua entrevista que ele deve ir à escola ou à igreja.A condição
para a realização de um fato é a não realização de outro: se ele vai à escola, então, ele não
vai à igreja e vice-versa. Para o falante, as duas atitudes revelam como deve ser um jovem
tido como comportado, ou seja, de boa índole.
Exemplo (10): �Quando uma empresa vê o seu trabalho reconhecido publicamente, primeiro se enche de
orgulho. Depois fica com uma vontade ainda maior de continuar provando que é possível fazer melhor a cada dia.� (VARPORT � E � B � 94 � Ja � 002)
Alguns gêneros textuais privilegiam a argumentação, um destes gêneros é o anúncio
publicitário em que o autor procura �convencer� seu interlocutor a comprar um
determinado produto. Para tal, é comum o uso da injunção.
Quanto à sintaxe, normalmente as orações são coordenadas, pois facilitam a
compreensão por parte do interlocutor. Quando ocorrem orações subordinadas iniciadas por
quando, na maioria das vezes, elas não são temporais, conforme o exemplo acima.
No exemplo (10), a oração iniciada por quando tem valor semântico condicional,
pois a condição para que a empresa apresentada no anúncio tenha orgulho de si mesma é
que seu trabalho seja reconhecido publicamente. Sendo assim, como nos casos anteriores,
há uma relação de condição para a realização do fato.
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A posição da oração subordinada é anteposta em relação à principal e os verbos se
encontram no presente do indicativo, como a maioria dos casos encontrados na presente
pesquisa.
Exemplo (11): �Partidos monolíticos ganham eleições quando o sistema é unipartidário.� (VARPORT � E � B � 94 � Je � 001)
Assim como no exemplo anterior, este é um exemplo cujo gênero textual também
privilegia a argumentação. Nesse caso, o período encontra-se em um editorial, gênero
textual encontrado em jornais e que expressa o ponto de vista do periódico � seja da
empresa jornalística em si ou da equipe de redação em geral � a respeito de temas,
sobretudo notícias, reportagens ou pesquisas veiculadas no jornal, geralmente no dia
anterior. Normalmente é publicado sem assinatura e não tem a obrigação de ser imparcial
como as notícias.
O responsável por escrever o editorial procura se posicionar em relação a temas
polêmicos, manifestando sua adesão ou rejeição perante o assunto; dessa maneira, o gênero
também apresenta características argumentativas, como o anúncio. O autor também
objetiva, de certa forma, convencer o leitor através de seu ponto de vista. Tal situação
propicia o aparecimento de orações subordinadas de caráter mais argumentativo, como a
condição.
No exemplo (11), da mesma forma que nos exemplos anteriores, também há uma
relação de condição para que um fato possa se realizar. Neste caso, o editorial trata de
política e o período trata especificamente do que chama de partidos monolíticos. Para o
autor do editorial, a condição para que esse tipo de partido ganhe uma eleição é que o
sistema eleitoral seja unipartidário. Tal caso se enquadra na relação �SE p ENTÃO q�, uma
vez que podemos considerar que SE o sistema é unipartidário ENTÃO os partidos
monolíticos ganham a eleição.
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Exemplo (12): �# I � são ilhas tem ilhas às vezes até um pro um até um navio serve de abrigo a gente entra
no abrigo do navio e amarra com com temporal até a a Marinha tem aqui o Boqueirão tem esses lugares aqui
proibidos mas quando há temporal eles são obrigados a dar abrigo ao pescador... (VARPORT � Op � B � 90 � 3m � 002)
No exemplo (12), a parte de interesse desta pesquisa se inicia após a conjunção
adversativa mas, �quando há temporal eles são obrigados a dar abrigo ao pescador�, neste
período é possível observar a conjunção subordinativa quando encabeçando uma oração
subordinada adverbial condicional anteposta à oração principal.
O exemplo foi retirado de uma entrevista de um pescador que falava sobre as ilhas
que cercam o lugar onde ele mora. Num dado momento da entrevista, o falante menciona a
ilha chamada Boqueirão, mas informa que esta é uma ilha restrita, no entanto, estabelece
uma condição para que os pescadores entrem nesta ilha, nos dias de temporal. Sendo assim,
a condição para que os marinheiros dêem abrigo aos pescadores é que haja um temporal.
A relação �SE p ENTÃO q� também pode ser observada neste exemplo, pois o
interlocutor pode inferir que SE há temporal ENTÃO a Marinha é obrigada a dar abrigo aos
pescadores na ilha do Boqueirão, estabelece-se assim uma relação de condição/efeito.
Exemplo (13): �e ela... quando ela não/ela::...não fazia o que a mãe pedia...a mãe batia nela até sangrar...� (D&G � Inf.90 � PO � NR)
O exemplo (13) apresenta um período cujo verbo da oração subordinada encontra-se
no pretérito imperfeito do indicativo. Conforme mostrado nos gráficos da seção anterior, os
casos de orações subordinadas adverbiais condicionais com verbos no pretérito imperfeito
do indicativo são mais freqüentes nesta pesquisa do que os casos de pretérito perfeito do
indicativo.
O período do exemplo (13) foi extraído do relato de uma narrativa que o falante
ouviu e está reproduzindo, nesta narrativa contam-se as histórias da mãe e da avó do
falante. Como o falante trata de fatos que eram recorrentes no passado de sua família,
privilegiou-se o uso do verbo no pretérito imperfeito do indicativo; todavia, a ação não é
durativa e trata-se de um fato já acabado e que, portanto, possui o traço télico.
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A conjunção pode ser interpretada como uma subordinativa de valor semântico
condicional por encabeçar uma oração considerada adverbial condicional. A condição para
que a avó do falante �batesse� em sua mãe até ela �sangrar� é que esta não fizesse algo que
a mãe havia pedido.
Exemplo (14): �... minha mãe falou que talvez... quando eu passasse/ se eu passasse pro segundo grau... ela ia me voltar pra lá...� ( D&G � Inf.28 � PO � RO)
No exemplo (14) é interessante observar que o próprio falante demonstra � mesmo
que involuntariamente � que está usando a conjunção subordinativa quando com valor
condicional. Durante seu turno, no período �quando eu parasse�, o falante hesita e repete a
mesma oração usando agora a conjunção prototípica das orações condicionais: �se eu
parasse�.
Tal fato parece demonstrar que na organização mental do falante já há algum
encadeamento entre a conjunção quando tida como temporal e seu uso como condicional.
Como é possível observar neste exemplo, não há nenhum fator sintático aí expresso que
desencadeie o uso do quando; na verdade, o falante troca as duas conjunções sem que haja
prejuízo de sentido.
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108
Quando � causal
Exemplo (15): �Era carnaval eu peguei a cadeira para botar no muro. Quando o bate-bola passou eu fui me abaixar. E a cadeira virou e eu furei perto do olho.� (D&G � Inf. 60 � PE � NEP)
As orações causais apresentam fatos que são determinantes para a realização ou não
daquilo que foi declarado na oração principal, são encabeçadas pelas conjunções porque e
como e normalmente vêm pospostas quando encabeçadas por uma e antepostas quando
encabeçadas por outra.
No exemplo (15) a oração iniciada por quando pode ser considerada como uma
oração subordinada adverbial causal por estabelecer uma relação de causa/conseqüência
com a oração principal. Na fala, retirada da transcrição que um falante fez de sua própria
entrevista, é possível observar no período �quando o bate-bola passou eu fui me abaixar�
esta relação de causa e conseqüência. O falante só se abaixou atrás do muro porque o bate �
bola estava passando.
É relevante, no entanto, observar que a relação de temporalidade também está
expressa nessa oração. Vale ressaltar que no continuum da gramaticalização há um período,
regido, de acordo com Hopper (1991), pelo princípio da persistência, em que as formas co-
existem, sendo assim pode ser perfeitamente aceitável que neste caso sejam encontrados os
valores causal e temporal.
Exemplo (16): �Quando minha caçula nasceu fiquei em casa um mês voltando a escola em maio de 92...� (D&G � Inf.19 � PE � NEP) O exemplo (16) é um caso semelhante ao do exemplo (15). Assim como no caso
anterior, o período foi extraído de uma entrevista e, neste caso, o falante transcreve uma
experiência pessoal relatada durante a entrevista.
Nesse exemplo, assim como no anterior, também é possível observar uma relação
causa/conseqüência entre a oração principal e a oração subordinada. O autor do texto narra
o período que ficou afastado da escola e informa que o motivo desse afastamento foi o
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109
nascimento de sua filha caçula. Sendo assim, é possível inferir que a pessoa se afastou da
escola porque sua filha nasceu, estabelecendo assim a relação causa/conseqüência
mencionada anteriormente.
Conforme ocorrido no exemplo (15), aqui também é possível observar um valor
temporal na conjunção, uma vez que o falante afastou-se da escola no momento que sua
filha nasceu. Entretanto, neste caso, o valor causal parece mais recorrente do que o
temporal.
Exemplo (17): �O motorista do caminhão não viu nada e só parou quando ouviu os gritos das pessoas que ali estavam.� ( D&G � Inf.23 � PE � NR) No exemplo (17) o princípio da persistência de Hopper (1991) parece vigorar, pois a
conjunção subordinativa parece possuir tanto o valor semântico temporal quanto o valor
causal.
Como a maior parte dos casos encontrados, este também é um caso de entrevista, no
entanto, é um caso de língua falada, diferente dos casos anteriores, que são transcrições de
entrevistas feitas pelos próprios falantes. O falante narra um evento acontecido com outra
pessoa, é uma narrativa a partir de outra e o falante conta um atropelamento assistido por
sua mãe.
O período em que a oração subordinada se encontra narra o momento em que o
motorista parou o caminhão para ver o que estava acontecendo. A conjunção pode ser
interpretada como temporal se for considerado que o motorista parou no momento em que
ouviu os gritos das pessoas que estavam ali; no entanto, os gritos também podem ser
considerados como a causa do homem ter parado o caminhão. Sendo assim, é possível
estabelecer também uma relação de causa/conseqüência entre a oração principal e a
subordinada, pois o motorista parou o caminhão porque ouviu os gritos das pessoas que ali
estavam.
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Exemplo (18): �I ( ) teve quase um ataque... ainda mais quando descobriu... como era o rapaz...� (D&G � Inf. 36 � PO � NR) Pensando-se na gramaticalização como um continuum é possível considerar o caso
do exemplo (18) como um ponto mais afastado deste continuum, uma vez que o valor
semântico aí expresso parece muito mais temporal do que causal; contudo, é relevante
observar que é possível inferir um valor causal nesta oração subordinada.
Partindo-se do pressuposto de que a pessoa quase teve um ataque no momento em
que descobriu como era o rapaz, é possível também inferir que essa descoberta também foi
a causa da pessoa em questão quase ter tido um ataque, sendo assim, há aí uma relação
causa/conseqüência.
O presente exemplo reforça, ainda, a teoria de Neves (2000:797) de que as orações
temporais com verbos no pretérito perfeito propiciam uma leitura causal da oração. Assim,
o verbo da oração subordinada �ainda mais quando descobriu...� está no pretérito perfeito
do indicativo, propiciando esta leitura causal da oração.
Exemplo (19): �... e com aquelas roupas super sinistras... quando entramos... todo mundo levou um susto...�
(D&G � Inf.11 � PO � NEP)
O exemplo (19) permite uma leitura semelhante a que foi feita no exemplo (18). Os
dois exemplos estão muito próximos, uma vez que, assim como no exemplo anterior, aqui a
nuance de temporalidade se mostra muito mais forte do que a de causa, mas o interessante é
que a inferência do valor semântico de causa também é possível nesse caso.
Assim como no caso do falante anterior, o informante deste inquérito também faz
uma narração, no entanto, seu relato é de uma situação vivida por ele próprio. Ao narrar a
entrada de seu grupo em um ônibus, o falante informa que as pessoas que ali estavam
levaram um susto. Tal informação permite duas inferências: as pessoas se assustaram no
momento em que o grupo entrou usando roupas esquisitas, mas também é possível concluir
que a causa do susto das pessoas que estavam no ônibus foi a entrada do grupo usando
roupas esquisitas.
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111
É interessante ressaltar, ainda, que assim como no exemplo anterior, o verbo da
oração subordinada também está no pretérito perfeito do indicativo. Tal situação poderia
indicar que, conforme afirmado por Neves (2000), esse tempo verbal propiciaria uma
leitura causal das orações. Entretanto, os gráficos encontrados na pesquisa demonstram que
este tempo verbal é o prototípico dentre as orações com valor semântico causal, mas não é
o único tempo verbal encontrado em orações deste tipo.
Exemplo (20): �... minha mãe tem aquele trabalho todo de arrumar o quarto e quando eu chego volta aquela bagunça toda...� ( D&G � Inf. 4 � PO � DL)
O exemplo (20) é um dos casos encontrados na pesquisa em que o tempo verbal é
diferente do prototípico, ou seja, do pretérito perfeito do indicativo. Neste exemplo, o
tempo verbal da oração subordinada é o presente do indicativo, mas é possível observar
uma leitura causal uma vez que se pode inferir que a chegada do falante é a causa da
bagunça em seu quarto.
Há assim duas leituras prováveis, a primeira em que se pode inferir que a bagunça
retornou ao quarto do informante no momento em que ele voltou para lá; e a segunda em
que se pode concluir que há uma relação de causa/conseqüência, pois a causa é a volta do
informante a seu quarto e a conseqüência é a volta da bagunça ao local.
Exemplo (21): �... agora QUEM quer se dar ao trabalho, você faz a GEMA de ovo CRUA... a gema de ovo cozido e vai pingando azeite... vai pingando azeite... ou então bate no liquidificador... fica aquela pasta...
MUI::TO mais gostosa quando é feita em casa naturalmente...agora essas prontas quebram muito o galho...� ( VARPORT - Op � B � 90 � 3m � 002)
No exemplo (21) o informante faz um relato de como proceder para fazer maionese
em casa e seu relato prossegue com uma declaração em relação à maionese feita em casa e
a comprada pronta.
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Assim como no exemplo anterior, tanto a oração subordinada quanto a oração
principal têm verbos no mesmo tempo e modo, o presente do indicativo. Tal fato parece
demonstrar que o tempo e o modo verbal não influenciam diretamente no valor semântico
da conjunção subordinativa quando.
A relação de causa/conseqüência pode ser observada através da idéia de que o
informante afirma que a maionese fica uma pasta muito mais gostosa porque é feita em
casa, tal relação semântica parece muito mais coerente do que pensar nessa conjunção
como uma temporal, uma vez que o fato da maionese ser feita em casa é o motivo dela ser
mais gostosa e não há aí uma relação de tempo, pois a maionese não se tornou mais gostosa
no momento em que foi feita em casa, mas sim porque foi feita em casa.
Exemplo (22): �... quando minha mãe vendeu a casa... minha mãe... ficou tão feliz que... eu também
chorei...� (D&G � Inf.37 � PO � NEP)
A oração subordinada adverbial encabeçada pela conjunção quando que está
presente no período do exemplo (22) pode ser considerada uma oração causal, pois há aí
também uma relação de causa/conseqüência que pode ser inferida pela idéia de que a mãe
ficou feliz porque vendeu a casa.
Tal oração pode possuir, ainda, o valor semântico temporal, uma vez que a mãe do
falante ficou feliz no momento em que vendeu a casa; sendo assim, dentro do continuum da
gramaticalização, é possível considerar que a conjunção quando está inserida no principio
da persistência de Hopper (1991), conforme já afirmado anteriormente.
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Quando � concessivo
Exemplo (24): �O Inmet já registrou em junho mais de 30 mm de chuva, quando a média é de 180 mm.� (O GLOBO � NOT � 13/06/06) As orações concessivas
16 são aquelas em que, normalmente, há uma �quebra� de
expectativa de um fato mencionado em relação a outro, ou seja, expressa um fato que
poderia se opor à realização de um outro fato expresso na oração principal e que não
anulará sua realização.
O exemplo (24), retirado de uma notícia de jornal, expressa a quebra de uma
expectativa, pois é possível observar que o esperado era que ocorresse uma média de
180mm de chuva, no entanto, apenas em junho já havia ocorrido mais de 30 mm. Sendo
assim, entende-se que haverá um aumento nestes números, uma vez que em apenas um
mês, um sexto deste número já havia ocorrido.
Neves (2000:799) considera a leitura concessiva como uma das prováveis leituras
para as orações encabeçadas por quando, tal leitura é propiciada especialmente por verbos
no presente do indicativo, como no caso do exemplo (24) em que a oração subordinada
adverbial apresenta um verbo neste tempo e modo verbal.
Exemplo (25): �O resultado é que, este ano, o Mato Grosso passou a ser o maior produtor de algodão do país
com uma produtividade de 220 arrobas por hectare, quando a média nacional é de 40.� (VARPORT � E � B � 94 � Je � 007) O exemplo (25) também segue o parâmetro concebido por Neves (2000) para as
orações com leitura concessiva: o verbo da oração subordinada encontra-se no presente do
indicativo, da mesma forma que o verbo da oração subordinada do exemplo anterior.
16 Os exemplos de orações concessivas aqui apresentados, já foram mencionados anteriormente na pesquisa,
todavia, optou-se por expô-los novamente com o intuito de explicá-los mais detalhadamente.
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Uma quebra de expectativa, comum nas orações concessivas, também pode ser
observada neste exemplo. O período foi retirado de um editorial que trata da produção
agrícola no Brasil e menciona que a média nacional da produção de algodão é de 40 arrobas
por hectare, contudo, há uma quebra de expectativa nesse fato porque o estado do Mato
Grosso produziu 220 arrobas de algodão por hectare, superando a média do país.
Vale ressaltar que, assim como no caso das orações causais iniciadas por quando, as
orações concessivas iniciadas por quando também apresentam nuances de valor semântico
temporal. Sendo assim, pode-se considerar que, assim como no primeiro caso, há aí uma
co-ocorrência de sentidos, já que o valor temporal permanece.
Exemplo (26): �... e eu... quando tenho dificuldade... também não tenho medo... que eu sei que não vai
acontecer nada comigo...� (D&G � Inf. 41 � PO � RO) Assim como o caso dos exemplos (18) e (19) relacionados às orações causais
iniciadas pela conjunção quando, o exemplo (26) também se encontra em um ponto mais
afastado dentro do continuum de gramaticalização.
O exemplo (26) apresenta um caso de concessão por inferência, pois a quebra da
expectativa só ocorre se houver conhecimento de mundo suficiente por parte do interlocutor
ao ponto dele inferir que as pessoas em geral sentem medo quando passam por
dificuldades. Partindo desse pressuposto, o interlocutor é capaz de inferir que há uma
quebra de expectativa, pois mesmo tendo dificuldades, o falante não sentiu medo.
O valor semântico temporal pode ser observado nesta oração subordinada, pois é
possível perceber que o informante afirma que também não tem medo quando tem
dificuldade, tal fato pode ser perfeitamente entendido através da idéia de que o falante não
tem medo nos momentos de dificuldade.
Sendo assim, o exemplo (26) também é um caso que pode ilustrar que a conjunção
subordinativa quando se encontra em um continuum de gramaticalização e, neste momento,
ela encontra-se na etapa em que as formas novas e antigas estão ocorrendo
simultaneamente.
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Quando � proporcional
Exemplo (27): � (...) O problema é simples de explicar: há empresas ou setores que arbitram seus valores sem maior critério, em completo desacordo com a realidade do País. Alguma coisa tem de estar errada quando as remarcações se fazem em escala geométrica, enquanto os salários sobem em escala aritmética. Um contra-senso que a lógica dos economistas não sabe ou prefere não explicar.� (VARPORT � E � B � 94 � Je � 005) A oração proporcional é aquela que denota aumento ou diminuição em um mesmo
sentido ou em sentidos opostos a outro aumento ou diminuição, são, portanto, orações
correlatas.
A oração subordinada adverbial iniciada por quando que se encontra no período
apresentado no exemplo (27) pode ser considerada um caso de oração subordinada
adverbial proporcional, pois há aqui uma inferência dessa relação entre aumento e
diminuição. Na oração, é possível substituir a conjunção quando pela locução conjuntiva à
medida que; tal substituição não ocorre sem prejuízo de sentido porque, conforme já
afirmado anteriormente, há apenas uma nuance de proporção, dentro de um valor que é
primeiramente temporal.
Vale ressaltar, neste caso, que o que é relevante para esta pesquisa é o fato da
conjunção quando apresentar valores (ou nuances de valores) semânticos diferentes do
valor temporal, tido como prototípico e, na concepção da gramática tradicional, visto como
único. Confirma-se assim, a tese defendida por Decat (2001:123) de que a conjunção
quando está passando por um processo de esvaziamento semântico. Corrobora, ainda, a
idéia da autora de que a relação adverbial não se dá apenas pela análise do conectivo, mas
sim pela �proposição relacional que emerge entre as cláusulas�.
Espera-se que, com a análise destes exemplos, tenham ficado claros alguns dos usos
(e inferências) possíveis da conjunção subordinativa quando, mas é evidente que nos 689
exemplos analisados ainda existem casos de difícil classificação e de interpretação bastante
subjetiva. Contudo, espera-se que os principais usos tenham sido contemplados na análise
destes exemplos, bem como em todos os exemplos presentes no decorrer da pesquisa.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho, pretendeu-se, antes de tudo, mostrar que o uso determina
diretamente a classificação de um item lingüístico. Dessa forma, espera-se que tenha ficado
claro que ao se observar o uso lingüístico pode-se classificar cada uma das ocorrências da
conjunção subordinativa quando.
Pelas análises feitas neste estudo, verificou-se que, embora as gramáticas
tradicionais considerem a conjunção subordinativa quando apenas como uma conjunção
temporal, esta pode apresentar uma gama de valores semânticos além deste valor temporal,
considerado prototípico.
Verificou-se que há realmente, controvérsias quanto à classificação pela qual passa
a conjunção subordinativa quando. Entretanto, mesmo sabendo-se que pode haver opiniões
contrárias, optou-se por analisar a conjunção à luz das teorias sobre gramaticalização pelo
fato de o fenômeno se encaixar nos princípios de gramaticalização propostos por Hopper
(1991), em especial no princípio da persistência, que preconiza que os elementos que estão
em processo de gramaticalização tendem a carregar em si características da classe a que
deixou de pertencer.
Foi possível verificar que fatores sintáticos como tempo e modo verbal, ou posição
da oração, tem valor dentro da análise da conjunção subordinativa quando, mas não
influenciam diretamente no seu valor semântico, comprovando a teoria de Decat (2001) de
que o quando está passando por um processo de esvaziamento semântico e, ainda, que, nos
casos de hipotaxe, o valor semântico da conjunção, ou a relação adverbial estabelecida por
esta, não é dada pelo conectivo usado na oração, mas sim pela relação que se estabelece
entre as cláusulas.
Outra observação importante diz respeito ao gênero textual: foi possível perceber
que ele tem grande importância na definição do valor semântico da oração encabeçada por
quando. Os gêneros textuais que apresentam o tipo narrativo tendem a possuir um número
maior de orações temporais e os gêneros que apresentam tipos textuais argumentativos
tendem a apresentar mais orações condicionais, causais e concessivas. No entanto, tal fato
não pode ser interpretado como determinante para a classificação das orações.
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Os casos de difícil classificação, ou fronteiriços, vêm confirmar a hipótese de que a
gramaticalização é um processo lingüístico abalizado no uso e que a conjunção
subordinativa quando está num continuum dentro deste processo; tal continuum vai desde o
valor temporal, considerado prototípico, até o valor proporcional - valor este que apresenta
apenas uma nuance � passando por valores como o condicional, o causal e o concessivo,
valores estes que vigoram na escala de gramaticalização TEMPO>CAUSA>CONCESSÃO,
descrita por Traugott e König (1991).
É importante ressaltar que esta é apenas uma parte do processo de observação da
conjunção subordinativa quando. O presente trabalho sanou muitas dúvidas, mas trouxe à
tona muitas outras que se pretende estudar a posteriori.
Em próximas pesquisas deseja-se estudar a conjunção à luz de uma perspectiva
diacrônica procurando solucionar a questão em relação ao valor semântico causal, que antes
era considerado como um dos valores da conjunção quando, mas que no decorrer do
percurso histórico perdeu-se. Buscar-se�ão respostas em relação a primeira
gramaticalização da conjunção, ocorrida ainda no Latim. Pretende-se ainda entender em
que período do continuum de gramaticalização encontra-se a conjunção quando.
Faz-se necessária, ainda, a verificação das outras possíveis funções do item quando,
como, por exemplo, seu funcionamento como pronome relativo ou, até mesmo, marcador
discursivo, função esta observada em diálogos dos corpora pesquisados para o presente
estudo, mas encontrados em número irrelevante.
Deseja-se, assim, que com este trabalho, tenha-se dado mais um passo em relação
aos estudos Funcionalistas, sem, contudo, termos esgotado o tema. Como foi afirmado
anteriormente, faz-se necessário um estudo diacrônico do item, em que seja recolhido um
maior número de dados de diferentes corpora, para que haja um maior entendimento em
relação ao processo como um todo.
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Espera-se, ainda, com este estudo, contribuir para uma interpretação e classificação
das orações subordinadas adverbiais que não seja baseada no valor específico da conjunção,
valor este que a classifica como prototípica da oração A ou da oração B, mas sim baseada
na relação entre orações, muito mais semântica do que sintática. Por ora, conclui-se
desejando que esta pesquisa possa contribuir para outros estudos sincrônicos em língua
portuguesa e na esperança de que os objetivos iniciais tenham sido satisfatoriamente
alcançados.
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FERREIRA, Vanessa Pernas.A conjunção subordinativa quando na perspectiva funcional-
discursiva. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ, 2008.131p.,mimeo. Dissertação de
Mestrado em Língua Portuguesa.
RESUMO
Baseado nos estudos funcionalistas acerca da gramaticalização, este
trabalho tem como objetivo a análise da conjunção subordinativa
quando no português do Brasil. Para tal, usa-se como corpora entrevistas, editoriais, notícias e anúncios, dos séculos XX e XXI e presentes no jornal O GLOBO, no corpus D&G/RJ e no corpus do projeto VARPORT. Parte-se da hipótese de que a conjunção há
muito deixou de ser estritamente de valor temporal e passou a apresentar outros usos além deste. Faz-se, ainda, a descrição dos usos de quando, com base na teoria de Hopper (1991), em especial do princípio da persistência e, também, do continuum de gramaticalização proposto por Traugott e König (1991), a respeito do
surgimento das conjunções, que pode ser aplicado em relação ao
quando: TEMPO>CAUSA>CONCESSÃO. Os resultados mostraram
que, apesar do valor temporal ainda ser o prototípico, existem outros
valores recorrentes como: condicional, causal, concessivo e proporcional. De acordo com estes resultados e à luz da teoria da
gramaticalização, entende-se que a conjunção subordinativa quando passa por um continuum e pode estar apresentando outros valores semânticos, além do prototípico, conforme vigora no princípio da
persistência de Hopper (1991) em que um item carrega
características do uso anterior ao passar para um novo uso. Espera-se, com esta pesquisa, possibilitar uma melhor descrição da
conjunção quando e, ainda, confirmar a teoria de Decat (2001) de que a relação adverbial não se dá pela análise do conectivo, mas sim
pela relação existente entre as orações.
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FERREIRA, Vanessa Pernas.A conjunção subordinativa quando na perspectiva funcional-
discursiva. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ, 2008.131p.,mimeo. Dissertação de
Mestrado em Língua Portuguesa.
ABSTRACT
Based on the functionalist studies concerning grammaticalization, this paper aims to analyse the subordinating conjunctive when in Brazilian Portuguese. To do this, the corpora are formed by interviews, editorials, news and advertisements from the XX and XIX centuries and found in the newspaper O GLOBO, in the D&G corpus and in the corpus from VARPORT project. The hypothesis is that the conjunction mentioned above has no longer a strictly time sense and started to present other usages besides that one. It is also done the description of the usages of when, based on Hopper�s
theory (1991), specially the principle of persistence and also the continuum of grammaticalization proposed by Traugott and König
(1991) regarding the appearance of the conjunctions and that can be applied in relation to the item: TIME>REASON>CONCESSION. The results showed that, despite of the fact that the time sense is still the prototypical one, there are other recurrent senses such as: conditional, reason, concessive and proportional. According to the results and in the light of the theory of grammaticalization, it is understood that the subordinating conjunction when passes through a continuum and it can be presenting other semantic values, besides the prototypical one, in accordance with Hopper�s principle of
persistence (1991) in which an item carries characteristics from the previous usage when it passes to a new usage. It is expected, with this research, to enable a better description of the conjunction when and also to confirm Decat�s theory (2001) that the adverbial relation is not represented by the analysis of the conjunctive marker, but by the relation that exists between the clauses.
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