a ciência alagoana em festa

36
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas Ano 1 | Número 2 | Dezembro de 2015 | ISSN 2446-9920 Revista Trimestral | Distribuição Gratuita A Bélgica conhece Alagoas Jovem estudante alagoano abandona a enxada para ser premiado em Bruxelas O documentário Entre Céus e as belas imagens de quando o nordeste era a “maravilha” dos holandeses. A ciência alagoana em festa

Upload: fapeal

Post on 24-Jul-2016

222 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

A FAPEAL é uma fundação de amparo cujo objetivo visa fomentar atividades ligadas à ciência, tecnologia e inovação no Estado de Alagoas. Nesse sentido, a “Fapeal em Revista” foi idealizada e editada por acadêmicos pesquisadores, buscando uma forma mais popular e menos “academicista” de divulgar os resultados da pesquisa alagoana. A “Fapeal em Revista” dá voz aos pesquisadores, apresentando à sociedade o que é, na prática, uma fundação de amparo e os resultados de suas iniciativas.

TRANSCRIPT

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de AlagoasAno 1 | Número 2 | Dezembro de 2015 | ISSN 2446-9920

Revista Trimestral | Distribuição Gratuita

A Bélgica conhece Alagoas Jovem estudantealagoano abandona a enxada para ser premiado em Bruxelas

O documentário Entre Céus e as belas imagens de quando o nordeste era a “maravilha” dos holandeses.

A ciência alagoana em festa

capa.indd 1 18/12/2015 13:15:28

Com saúde não se brinca.

Da saúde

se cuida.

Há 25 anos, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-tado de Alagoas auxilia e incentiva projetos inovado-res em diversas áreas do conhecimento. Desde 2001, a FAPEAL vem participando efetivamente do Progra-ma Pesquisa para o SUS (PPSUS) fortalecendo e con-solidando as ações do Sistema Único de Saúde para o Estado. Uma possibilidade desenhada com cuidado e responsabilidade de muitos para todos.

Quer saber mais sobre as linhas e o Programa?

www.fapeal.br

Elab

oraç

ão: H

ylla

ne S

algu

eiro

capa.indd 2 18/12/2015 13:15:31

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL) tem muito a dizer e a apresentar aos alagoanos. Daí a ideia de uma revista que “des-mistificasse” a Fundação e a tornasse pop. Assim, tendo como objetivo traduzir para o cidadão comum assuntos que noutras publicações ficariam restritas aos círculos acadêmicos, miramos principalmente os estudantes a partir dos Ensinos Médio e Técnico, nossos futuros pesquisadores, e toda a comunidade ligada a esses jovens. O trabalho parece ter agradado, haja vista as reações positivas ao lançamento. Com uma tiragem inicial de 3 mil exemplares, a Fapeal em Revis-ta é distribuída gratuitamente em praticamente todos os setores da sociedade: deputados estaduais, vereadores de Maceió, as 13 Gerências Regionais de Ensi-no, as 102 prefeituras alagoanas, os veículos de comunicação do estado, diver-sas empresas alagoanas, universidades e faculdades de Alagoas e as secretarias estaduais. Temos também um elo especial com nossa primeira escola de tempo integral: lá a revista faz parte de um programa de incentivo à leitura. Estímulos, desafios, inovação: isso é o que move nossa Fundação no exercício contínuo de fazer jus ao seu nome. E a Fapeal em Revista é uma gran-de vitrine disso tudo. O desafio agora é manter o ritmo e tentar “condensar” numa revista a importância de uma fundação que – há 25 anos recém-completa-dos – tem a excelência como alvo.

Ao Leitor...

www.fapeal.br Fábio Guedes Gomes

Diretor-presidente

CONSELHO SUPERIOR DA FAPEALFábio Guedes GomesPresidenteCarlos Guedes de LacerdaVice-presidenteCícero Péricles de Oliveira CarvalhoCiências da Educação, Saúde e Meio AmbienteHélvio Braga Vilas BoasAtividades EmpresariaisMarcelo Leite LyraCiências Exatas, Naturais, Tecnológicas e AgráriasMaria Alayde Mendonça da SilvaCiências Biológicas e da SaúdeRenato Luis Pinto MirandaCiências Sociais e HumanasMário César JucáCiências Sociais e HumanasNídia Noemi FabréCiências Biológicas e da SaúdePablo Viana da SilvaSecretário de Estado da Ciência, da Tecnologia e da InovaçãoSandra Helena Vieira de CarvalhoCiências Exatas, Naturais, Tecnológicas e Agrárias

Diretor Executivo de Ciência e Tecnologia: João Vicente Ribeiro Barroso da Costa Lima

Assessor Executivo de Gestão Interna: Georginei Souza Neri

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas – FAPEAL

Rua Melo Moraes, 354, Centro, Maceió – AL, CEP: 57020-330

Telefone: (82) 3315-2200

Governador Renan Calheiros Filho

Jornalista responsávelFabiano Melo Quirino(MTE 1508/AL)

Editora de arte Hyllane Maria Salgueiro Lopes

Relações Públicas e “Social Media”Pollyanna Karine da Silva Martins

Revisão e Edição de ConteúdoDr. Fábio Guedes Gomes Dr. João Vicente R. Barroso da C. Lima

Fapeal em Revista é uma publicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL). Idealizada e editada por aca-dêmicos pesquisadores, busca uma forma mais popular e menos “academicista” de divulgar os resultados da pesquisa alagoana. A Fapeal em Revista dá voz aos pesquisadores, apresentando à sociedade o que é, na prática, uma fundação de amparo e os resultados de suas iniciativas. São os cientistas apoiados pela FAPEAL e os impactos sociais de seus trabalhos que norteiam o conteúdo da revista. Os textos não assinados são de autoria do jornalista responsável.

A redação

Colaboração Maria Santana Barbosa Nogueira (Pesquisa)

Para soprar as velinhas, convidamos as estudantes do IFAL-

Maceió Jeniffer Mclaine Darte de Freitas, Eleine Batinga Rodri-

gues Torres e Elenice Mendes Silva Gomes, jovens da mesma

“faixa-etária” de nossa Fundação, numa imagem que simboliza

um dos nortes da Fapeal: mirar os jovens – pesquisadores em

potencial – enquanto apoia maciçamente os cientistas que já

estão no batente. A foto foi realizada no Laboratório de Eletro-

química do IFAL, onde são desenvolvidos biossensores e que,

segundo o professor Demetrius P. Morilla, conta com equipa-

mentos de ponta – presentes inclusive na indústria – para servir

a estudantes de qualquer nível de ensino do Instituto Federal. O reitor da instituição, professor Sérgio Teixeira Costa, parabeniza a

Fapeal não só por seus 25 anos, mas “por esse novo olhar voltado a mais produtoras de pesquisa, contemplando agora também outras

instituições de Alagoas como fontes de conhecimento e importantes para a mudança da realidade alagoana. A Fapeal é de suma im-

portância para o IFAL; já tínhamos parcerias com a Fundação e novas estão sendo criadas e fortalecidas”.

Foto da capa: “A festa da ciência”

capa.indd 3 18/12/2015 13:15:35

2 3FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

De Alagoas para o mundo. São mais de duas décadas apostando no novo, buscando soluções, indicando rumos e criando caminhos para a inovação e o desenvolvimento de tecnologias. Uma trajetória feita por centenas de protagonistas, com êxitos que ultrapassaram barreiras.

FAPEAL, 25 anos.Idade de prata. Uma história de ouro.

Max

Mill

er U

gá L

una

| Fa

bian

o M

elo

Qui

rino

sumário.indd 2-3 05/08/2015 11:21:56anúncio_página4_página5.indd 2 21/12/2015 09:52:27

2 3FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

De Alagoas para o mundo. São mais de duas décadas apostando no novo, buscando soluções, indicando rumos e criando caminhos para a inovação e o desenvolvimento de tecnologias. Uma trajetória feita por centenas de protagonistas, com êxitos que ultrapassaram barreiras.

FAPEAL, 25 anos.Idade de prata. Uma história de ouro.

Max

Mill

er U

gá L

una

| Fa

bian

o M

elo

Qui

rino

sumário.indd 2-3 05/08/2015 11:21:56Sem título-5 3 20/12/2015 15:36:38

Os destaques da ciência alagoana.Disponíveis para TODOS.Uma publicação daFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas.

Revista Online da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas

Ano 1 | Número 2 | Setembro/Outubro de 2012

Revista Online da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas

Ano 1 | Número 2 | Setembro/Outubro de 2012

Quando o mercado encontra

a pesquisa científica

Como o projeto Pescadores de Mel modificaram a vida

de pequenos produtos do Pontal

pesquisa

conh

ecim

ento

ciência

economia

sociedade

projeto

inovação sa

ber

pesquis

ainovação

econom

ia

pesquisa

conh

ecim

ento

ciência

economia

sociedade

projeto

inovação

conhecimentosaber

pesquis

ainovação

econom

ia

gestão

resultados

produçãodedicação

ciência

produçãodedicação

ciênciaeconomia

produção

economia

econom

ia

gestão

gestão

identidadeidentidade

economia HÁ LAGOAS E

HÁ MEMÓRIA

INOVAÇÃO E

TECNOLOGIA

CIÊNCIA DESDE

PEQUENO

Conheça a preservação da

história Alagoana

através do Arquivo Público

do Estado

1º Caiité reúne

instituições alagoanas

e integra conhecimento

acadêmico e mercado

Convênios com Progra-

mas da FAPEAL

pretendem viabilizar

bolsas para Educação

Básica

Revista Online da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas

Ano 2 | Número 4 | Novembro/Dezembro de 2012

capa.indd 1

24/07/2015 11:42:10

anúncio_revista.indd 1 18/12/2015 18:13:46

Nesta edição: Especial 25 anos | Educação | História | De nossos leitores

Sumário

[email protected]/fapealemrevista

Há 25 anos...

A Fapeal em três perguntas

E se a Fapeal não existisse...

No princípio, era a pesquisa

Convite à filosofia

De nossos leitores

Como era nosso estado quando foi criada a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

Numa breve entrevista com três de nossos pioneiros, tentamos resumir a importância da Fundação

Convidamos alguns professores pesquisadores para imagi-nar como seria Alagoas sem a Fapeal

Exposição em shopping center celebra 25 anos da ciência genuinamente alagoana

Dedicado aos estudos, jovem estudante alagoano dribla a pobreza e recebe medalha de ouro na Bélgica

“Não acreditaria nestas maravilhasse não as contemplasse”

Assim escreveu, “pasmo”, em 1637, Maurício de Nassau durante viagem pelo interior de Alagoas. É com esse olhar

que o documentário Entre Céus convida a enxergar nossa história e cultura

A avaliação de quem lê a Fapeal em Revista

8

10

16

20

24

30

34

sumário.indd 1 18/12/2015 13:46:27

CAPA

Há25Anos...

por FÁBIO GUEDES GOMES* arte HYLLANE SALGUEIRO

A década de 1990 começa em Alagoas com grandes mudanças políticas e econômicas. O governador Fernando Collor é surpreen-dentemente eleito presidente da República,

no primeiro pleito realizado após o regime militar. Mo-acir Andrade, que assumiu o governo de Alagoas após a renúncia de Collor para se candidatar à presidência, apoiou Geraldo Bulhões, que venceu aqui no estado em disputa questionada nas denúncias de urnas “grávidas”. Brasília é invadida pela chamada “República das Alagoas”. E não tivemos boas lembran-ças disso. Após a Constituinte estadual, que teve o deputado José Medeiros como presidente da Comissão Constitucional – algo que redundaria na criação da Funda-ção de Amparo à Pesquisa (Fapeal), um fato auspicioso para o estado – assistimos à chegada do neoliberalismo e o esfacelamento da máquina pública. O acordo dos usineiros foi um golpe devastador nas finanças do es-tado, fragilizando ainda mais o Erário. Foi uma década perdida que não deixou saudades, exceto pelo surgi-mento de nossa agência de fomento.

Dr. Douglas Apratto TenórioHistoriador. Professor licenciado pela

Universidade Federal de Alagoas

“Naquele cenário de parcial desalento, surge a FAPEAL, fruto de um esforço conjunto de professores da UFAL, com pesquisadores do estado e com o apoio de políticos de forte visão”.Dra. Marília Goulart

há25anos....indd 1 20/12/2015 14:29:59

8

ESPECIAL 25 ANOS

Em 1989, em meio a uma greve, os professores da Universidade Federal de Ala-goas usaram o tempo longe das salas de aula para as reivindicações típicas da paralisação e para se dedicar a uma demanda urgente de nosso estado. Organizados junto à ADUFAL (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas), iniciaram as discussões para fundar aqui em Alagoas uma instituição nos moldes da FAPESP, a famosa e influente Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, criada em 1962 e tida como referência na criação de todas as outras fun-dações do tipo Brasil afora. Se dera certo lá, certamente a experiência seria bem-sucedida aqui também. E esse foi um dos argumentos usados pelos professores à época para tentar sensibilizar os deputados estaduais. Os pro-fessores sabiam que precisavam ser rápidos: a Assembleia Legislativa de Alagoas estabe-lecera a Constituinte do Estado e um capí-tulo específico relativo à Ciência e à Tecno-logia precisava ser incluído na Constituição Estadual, cuja criação era iminente. E assim se deu.

O presidente da Comissão Constitu-cional, Dr. José Medeiros, tinha um histórico de envolvimento com o assunto e encampou pessoalmente o projeto, indo de gabinete em gabinete a fim de convencer seus colegas deputados sobre a importância do tema para

um estado tão carente como Alagoas (Sobre o Dr. Medeiros, ver “O significado de serpioneiro”, na primeira edição desta revista,páginas 14 e 15).

A doutora Marília Goulart, profes-sora de Química da UFAL, defendeu o pro-jeto de criação da FAPEAL no plenário da Assembleia no dia 5 de julho de 1989. Pois bem, os esforços conjuntos dos docentes da UFAL e do Dr. Medeiros foram bem-suce-didos: a emenda popular para a inclusão do tema “ciência e tecnologia” como prioritá-rio para Alagoas recebeu apoio unânime dos parlamentares e em 27 de setembro de 1990 a Assembleia Legislativa promulgou a Lei Complementar número 5, criando a Fun-dação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas. Hoje em dia, mesmo necessitando ser mais “popular” e ter suas atividades cada vez mais divulgadas, a FAPEAL não é uma total desconhecida das novas gerações. Que o diga Eleine Batinga Torres, 25 anos, licen-ciada em Química pelo IFAL-Maceió e umadas jovens pesquisadoras a ilustrar a capadesta edição: “A FAPEAL hoje é a maiorincentivadora da pesquisa no nosso Estado,o que possibilita, a nós estudantes, adquirirexperiência no âmbito científico, realizandocada atividade com muito afinco. Isso con-tribui decisivamente no desenvolvimentoacadêmico e na inserção de um profissionalqualificado no mercado de trabalho. Logo, aFAPEAL é essencial para alavancar a ciên-cia em Alagoas, colaborando, assim, para oseu crescimento”.

Longe de querer esgotar o assunto, a “Fapeal em Revista” faz aqui um breve re-sumo de uma história de muitos detalhes e vários protagonistas. Assim, tentamos neste pequeno especial contar os 25 anos da FA-PEAL de uma maneira leve e despretensio-sa (para um relato mais aprofundado sobre o assunto, veja a brochura “Fapeal – umahistória em construção”, publicada por estaFundação em 2005). Alguns dos pioneirosda FAPEAL conversaram conosco, dividin-do uma parte dessa trajetória de quase trêsdécadas. O resultado está nas próximas pá-ginas.

*Dr. Fábio Guedes Gomesé Diretor-presidente da FAPEALReprodução de jornal do início da década de 1990, em que

é noticiada a criação da FAPEAL e na qual se apresenta o primeiro Diretor-presidente da Fundação, Dr. José Medeiros, falando da “fase de estruturação”

há25anos....indd 2 20/12/2015 14:30:01

9

Foto

: Vilm

a N

aísia

Xav

ier

tríplice.indd 1 20/12/2015 14:32:48

ESPECIAL 25 ANOS

A FAPEAL em três perguntasEm setembro de 2015 a FAPEAL completou 25 anos. Numa efeméride desse tipo, é impossível ignorar toda a árdua trajetória que possibilitou a passagem de mais de duas décadas de apoio à pesquisa alagoana. Assim, a Fapeal em Revista foi em bus-ca de alguns dos cientistas que participaram da criação e das primeiras atividades da Fundação. Os três doutores responderam às mesmas perguntas desta entrevista,

com falas que se complementam e que dão significado à comemoração, revelando um histórico de muita dedicação.

Antes da criação da FAPEAL, qual era a situação da pesqui-sa acadêmica em Alagoas?

Dra. Marília: O primeiro doutor da UFAL chegou em 1974. De-pois, Física e Letras começaram a formar seus próprios doutores. Então, a pesquisa – na UFAL – é muito recente, mais recente que em outras universidades. O que nós tínhamos: recursos do CNPq, também da CAPES e muitas vezes da FINEP, por con-ta de doutores que vieram após aquele primeiro de 74. Fundada a FAPEAL, as coisas ficaram mais fáceis, principalmente na questão de formação de recursos humanos; a Fundação sempre deu apoio aos novos cursos de formação. Ou seja, se era cria-do um curso de pós-graduação, a FAPEAL era a primeira a dar bolsas para esse curso, porque quando o curso é muito recen-te, é mais difícil que a CAPES e o CNPq auxiliem. Por isso a necessidade de uma fundação estadual.

Dra. Denilda: Bom, difícil de responder e ao mesmo tempo muito fácil. A única universidade pública – à época – era a UFAL. Quando eu entrei aqui na Uni-versidade Federal de Alagoas, eu comecei como pesquisadora

do CNPq. Posteriormente, criei o PET na área de Letras e Lin-guística, que era a minha área.Foi o primeiro. Hoje existem 8ou 9. Eu deixei de ser pesquisa-dora do CNPq – pois não podiahaver acúmulo de bolsa – paraimplantar o PET na UFAL. Issofoi muito importante, pois per-mite a entrada de 12 bolsistas,mantidos com bolsa da CAPES,que podem se dedicar à pesquisae ao ensino. Antes da criação daFAPEAL, a pesquisa dependia“unicamente” da UFAL, porquena verdade eram os professorespesquisadores que tinham inte-resse e que procuravam agên-cias de fomento lá fora, como aCAPES e o CNPq, para realizarsuas pesquisas. A própria UFALnão valorizava a pesquisa, e atéhoje isso é uma questão muitoclara: a valorização é mais parao ensino de graduação.

Dr. Wilbert: A pesquisa era basicamente financiada pelo CNPq, o FINEP, o BNDES e vários outros programas de ca-

por FABIANO MELO QUIRINO arte HYLLANE SALGUEIRO

Quem respondeMarília Oliveira Fonseca

Goulart, pós-doutora em Química e professora da UFAL, participou da cria-ção da FAPEAL e foi sua segunda diretora científi-ca; Maria Denilda Moura, pós-doutora em Letras e Linguística, professora da

UFAL, sucedeu a professo-ra Marília, sendo a tercei-

ra diretora científica da Fundação; José Wilbert de Lima, doutor em Matemá-tica e professor da UFAL, participou da criação da

FAPEAL e foi seu primeiro diretor científico.

tríplice.indd 2 20/12/2015 14:32:49

11

ESPECIAL 25 ANOS

racterísticas não periódicas. A FAPEAL não começou com in-vestimento de peso na pesqui-sa, ela começou muito devagar. Procurou primeiro se estruturar; pre-cisava ter também um objetivo, que não tinha ainda; precisava montar seu Conselho Su-perior e criar uma proposta de desen-volvimento cientí-fico e tecnológico para Alagoas. Isso nunca tinha sido pensado anterior-mente; havia, cla-ro, várias propostas de planeja-mento de Estado – a Secretaria de Planejamento já existia, ob-viamente – mas política de ci-ência e tecnologia nunca havia sido explicitada até então. As-sim, a FAPEAL precisou de bas-tante tempo para aprender como desenvolver uma política de ci-ência e tecnologia para o estado de Alagoas. E, considerando as

especificidades do estado, não se tratava apenas de uma política de ciência e tecnologia, mas de uma que atendesse à realidade

alagoana.

Vivemos numa sociedade em que todos parecem correr atrás de seu “lugar ao sol”, concluindo uma graduação – por exemplo – e indo logo em bus-ca de uma vaga no mercado de trabalho. Reco-

nhecendo essa realidade, por que fazer pesquisa, afinal?

Dra. Marília: Ora, sem ela nós não temos a pesquisa aplicada! Ela é a base de tudo, assim como a educação, a pesquisa acadêmi-ca é base para o conhecimento. Tudo é uma relação entre infor-mação, analisada com inteligên-cia, levando ao conhecimento, e a sabedoria, que é a utilização desse conhecimento para o bem público. As pessoas têm de se preparar para disputar uma vaga tendo mérito. Então é uma ques-tão mesmo meio sociológica de valorização da qualidade e um

“As pessoas precisam saber que nós estamos sendo financiados com recursos públicos, e nós temos de dar de volta à população um bom ensino, ter preocupação com quem nós vamos for-mar e com a aplicação relevante e responsável da nossa pesquisa”. Profa. Marília Goulart

CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (até 1971 Conselho Nacional de Pesquisa, cuja sigla, CNPq, se manteve). Fundado em 1951, é um órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia que incentiva a pesquisa científica no Brasil.

FINEP: Financiadora de Estudos e Projetos – ligada ao Ministério da Ciência, Tec-nologia e Inovação – tem como objetivo transformar o Brasil por meio da inovação e promover o desenvolvimento econômico e social do país por meio do fomento público à ciência, à tecnologia e à inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas.

Foto

: Div

ulga

ção

CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. É o “bra-ço” do MEC responsável pelos programas de mestrado e doutorado. É a CAPES que avalia regularmente os cursos já existentes e aprova ou não a abertura de novos.

Saiba+

No plenário da Câmara Estadual, em 1989, Marília Goulart, profes-

sora de Química da UFAL, defende o projeto de criação da FAPEAL.

Dentre os diversos pesquisadoresque participaram das discussões àquela época, a doutora Marília

foi escolhida por – dentre outras características notáveis – ser deten-tora do Prêmio Jovem Cientista, algo

emblemático para a então incipiente ciência alagoana.

tríplice.indd 3 20/12/2015 14:32:50

12

ENTREVISTA

senso de dever. As pessoas pre-cisam saber que nós estamos sendo financiados com recursos públicos, e nós temos de dar de volta à população um bom en-sino, ter preocu-pação com quem nós vamos formar e com a aplicação relevante e respon-sável da nossa pes-quisa.

Dra. Denilda: Se você quer cres-cer dentro da sua área de atuação, então você precisa pesquisar. Porque uma coisa é você estudar e reprodu-zir as ideias dos outros, pois você vai ler o que já foi construído. Mas há muita coisa a ser construída e a pesquisa colabora exatamente nisso, a descoberta das coisas, você tentar ver com outros olhos um objeto do qual você tinha uma visão “X” ou “Y” e isso se desenvolve duma forma que precisa ser explicada. Então, daí a pesquisa! Por exemplo, eu sou pós-doutora, mas ainda hoje faço pesquisa, porque acho que

ainda há muita coisa a se conhe-cer e a se mostrar. Há alunos da graduação com bolsa de inicia-ção científica (PIBIC); ou seja, você está fazendo a graduação

mas está também pesquisando. Então vai se formando esse aluno desde a graduação; quando ele conclui o curso, claro que ele quer ir para a pós-gra-duação. Por outro lado, há pessoas que vêm aqui – so-bretudo nos cursos noturnos, período em que a maioria das pessoas já tra-balham – que só querem o título. A questão da forma-ção acadêmica é fundamental para você saber o que

realmente quer da vida. Você quer só o emprego e ter o salá-rio? Então faz um curso à distân-cia (EAD) e tenha o título.

Dr. Wilbert: Existe esse anseio de você chegar rapidamente ao mercado de trabalho. É um an-seio legítimo; é quase sinôni-mo de se estabilizar financeira-

mente, crescer como indivíduo, como casal etc. Isso não se opõe à pesquisa. O que me parece fora de propósito é essa ansiedade de terminar logo, de chegar logo. Você ir para o mercado de tra-balho mal formado é um duplo desperdício: houve um investi-mento público – que foi para o lixo – e há o desperdício maior, que é o pessoal, de sua vida tam-bém ir para o lixo. Pois você não vai conseguir bons empregos se não tiver uma boa educação; seu emprego vai ser compatível com o seu conhecimento. Isso estácada vez mais forte neste mo-mento que vivemos, a “socieda-de da informação”: quanto maiorsua “informação”, mais valio-so é você. Isso passa primeiropor uma boa educação, que nósainda não temos; a educaçãooferecida pelas universidadesbrasileiras ainda é de qualidadeduvidosa. Se você entrar numprograma de iniciação científica(PIBIC) é certo que você vai teruma boa qualidade de ensino ede orientação. Existem váriosincentivos para esses indivíduos.Para aquele que não vai se diri-gir à pesquisa, a “programação”é menor, mas há – por exemplo– a bolsa PET, que não é neces-sariamente para quem vai para a

“Se você quer crescer dentro da sua área de atuação, então você precisa pesquisar. Por-que uma coisa é você estudar e reproduzir as ideias dos outros, pois você vai ler o que já foi construído. Mas há muita coisa a ser construída e a pesquisa colabora exatamente nisso, a descoberta das coisas, você tentar ver com outros olhos um objeto do qual você tinha uma visão “X” ou “Y” e isso se desen-volve duma forma que precisa ser explicada. Então, daí a pesquisa!”. Profa. Denilda Moura

PIBIC: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. Iniciativa do CNPq que paga uma bolsa de estudos a graduandos que se envolvem em pesquisa – orientados por doutores da universidade – enquanto cursam a faculdade.

BNDES: O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma empresa pública federal cujo principal objetivo é financiar em longo prazo a realização de investimentos em todos os segmentos da economia, de âmbito social, regional e ambiental.

Saiba+

tríplice.indd 4 20/12/2015 14:32:51

13

ENTREVISTA

pesquisa.

A FAPEAL parece não ser tão conhecida quanto deve-ria, dada sua importância para Alagoas. A que se deve isso?

Dra. Marília: É a questão do desco-nhecimento da im-portância da ciên-cia, da tecnologia e da inovação no estado de Alago-as. É uma questão de educação, que ainda não é privi-legiada no estado. Então isso repercu-te em todos os ní-veis, porque isso é a base: se você não cuida da educação, você não vai ter um pessoal preparado para vivenciar os avanços da ciência, da tecnologia e da ino-vação. A FAPEAL é imprescin-dível, eu digo até essencial para o estado. Mas não é conhecidajustamente por termos essa con-dição de não haver privilégio àeducação. Então, é uma questãopolítica: educação em primeirolugar! Isso nós não estamos ven-do...

Dra.Denilda: Esta foi a grande questão de quando eu estava na FAPEAL. O pessoal da Funda-ção temia muito que quando

soubessem que a FAPEAL tinha algum recurso, as pessoas liga-das ao governo do estado supos-tamente se beneficiariam e não

o estado como umtodo. Então as pes-soas tinham medode divulgar o queera feito pela FA-PEAL. A coisa eramuito mais restrita.Mas nós começa-mos a divulgar, ena verdade não foifácil: eu falei como presidente, faleicom o pessoal dossetores de apoio, econseguimos lan-çar o primeiro bo-letim da FAPEAL;à época foi criadoinclusive o primei-ro evento de pro-jetos integradores,foi a primeira vezque houve no esta-

do, e foi muito importante por-que a partir daí houve contato com outros órgãos estaduais e, através da participação em even-tos nacionais, houve também o apoio da CAPES e do CNPq,instituições que apoiavam ape-nas a FAPESP (FAP do estadode São Paulo), mas aos poucoseles também deram apoio àsFAPs (Fundações de Amparoà Pesquisa) que foram criadasapós a FAPESP. Então, a par-tir da divulgação eu acho queas coisas começam a fluir maisnaturalmente e as pessoas passa-

“Existe esse anseio de você chegar rapida-mente ao mercado de trabalho. O que me parece fora de propósi-to é essa ansiedade de terminar logo, de che-gar logo. Você ir para o mercado de trabalhomal formado é um du-plo desperdício: houve um investimento públi-co – que foi para o lixo – e há o desperdíciomaior, que é o pessoal, de sua vida também ir para o lixo. Pois você não vai conseguir bons empregos se não tiver uma boa educação; seu emprego vai ser compatível com o seu conhecimento”. Prof. Wilbert de Lima

Foto

s: A

na B

eatr

iz M

elo

Maria Denilda Moura, Marília Goulart e Wilbert de Lima foram alguns dos membros das discussões que, em meados de 1989, propu-nham estratégias para a inclusão na Constituição Estadual do projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL), algo concretizado em setembro de 1990.

tríplice.indd 5 20/12/2015 14:32:53

14

ram também a confiar que não era apenas o pessoal ligado ao es-tado, mas que qualquer pesquisador de Alagoas poderia fazer uma solicitação de auxílio.

Dr. Wibert: São duas populações distintas: para a população aca-dêmica ela é bem conhecida, ela é bem notória, e é o alvo da FAPE-AL. Ela não é conhecida pela população do estado em geral, mes-mo porque ela não atua diretamente na população; a Fundação atua numa área muito específica e que interessa a grupos muito espe-cíficos, como a área de ciência e tecnolo-gia. Ela ainda não é bem conhecida nem mesmo no próprio governo do estado. Ficou concentrada na Academia. Então, num certo sentido, é natu-ral que ela não seja conhecida nos outros setores. Isso não impede (e logo no início da FAPEAL eu fiz propostas nesse sentido, que não foram levadas adiante) de trabalharmos – abrirmos programas – para a população, imitando iniciativas existentes em outros esta-dos, trabalhar nas escolas públicas, ampliar o programa de bolsasdo Ensino Médio (PIBIC-Jr). Ou seja, haveria a necessidade dea FAPEAL começar a pensar uma política de ciência e tecnologiapara o estado de Alagoas, como um todo, e não somente para auniversidade.

PET: Ao ser fundado, em 1979, o PET era a sigla de “Programa Especial de Treinamento”. Esteve ligado à CAPES até 1999, passando então à pasta do Ministério da Educação. Com isso, o programa foi renomea-do, passando a chamar-se “Programa de Educação Tutorial”. O PET ofere-ce bolsas aos estudantes com o intui-to de descobrir e construir talentos, contribuindo para o desenvolvimento intelectual de seus participantes e da estrutura do curso de graduação, sob o princípio da indissociabilidade entreensino, pesquisa e extensão.

ENTREVISTA

Saiba+

PIBIC-JR: É a versão para o Ensino Básico do PIBIC tradicional. Em Alagoas, apenas os alunos do Ensino Médio são contemplados por en-quanto. O estudante contemplado – selecionado por meio de provas –recebe R$100 mensais para atuar noslaboratórios das universidades comopesquisador júnior.

Foto: Vilma N

aísia

Investindo nas bases, como deve ser, a FAPEAL – ao passo em que segue apoiando fortemente os pesquisadores cujos trabalhos são divulgados nesta revista – está mais que atenta aos nossos futuros cientistas, hoje no Ensino Médio. Para esses, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas direciona o PIBIC-JR. Na foto ao lado, jovens estudantes num dos cor-redores do imenso prédio do IFAL-Maceió, nas dependênciasdo qual são realizadas as provas seletivas para o Programa daFAPEAL. Em 2015, o Instituto Federal de Alagoas completou106 anos, coincidentemente no mesmo mês em que nossa Fun-dação fez 25 anos. Com a palavra, Dr. Fábio Guedes Gomes,nosso Diretor-presidente: “Se existe uma instituição que está in-crustada em grande parte da história da formação da sociedadealagoana, essa instituição é o IFAL. Sua nomenclatura mudoupor exigência da modernização do setor público e dos novos de-safios que lhe foram imputados, reconhecendo sua competênciaem continuar contribuindo para que Alagoas possa superar suasdificuldades sociais, principalmente no campo da educação. Pa-rabéns aos 106 anos do IFAL!”

“Fundada a FAPEAL, as coisas ficaram mais fáceis, principalmente na questão de formação de recursos humanos” – Dra. Marília Goulart

“Antes da criação da FAPEAL, a pes-quisa dependia ‘unicamente’ da UFAL, porque eram os professores pesquisa-dores que tinham interesse e que pro-

curavam agências de fomento lá fora”. Dra. Denilda Moura

tríplice.indd 6 20/12/2015 14:32:54

15

ESPECIAL 25 ANOS

Convidamos ex-dirigentes da FAPEAL para responder à pergunta acima a partir de uma Alagoas imaginária em que nossa Fundação não tivesse sido criada exatos 25 anos atrás

por FABIANO MELO QUIRINO arte HYLLANE SALGUEIROCom depoimentos e fotos gentilmente cedidos pelos professores.

E se a Fapeal não existisse?

“Não teria havido condições para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação em nosso estado. A FAPEAL foi de fundamental importância para a for-mação de recursos humanos em Alagoas, com apoio incondicional aos novos cursos de pós-graduação. Promoveu a vinda de vários pesquisadores e permitiu que eles se fixassem no estado, não só em Maceió, mas em muitas outras cidades alagoanas. Apoiou grupos emergentes que se consolidaram e foi extremamente relevante para os grupos de excelência da UFAL. Permitiu a aproximação com os órgãos financia-dores nacionais, como CAPES, CNPq, FINEP e outros, com a vinda de recursos e de consultores. Apoiou o empreendedorismo, permitiu a criação de empregos de forte base tecnológica. Tenho orgulho de colocar o nome da FAPEAL em todos os meus trabalhos, pois, sem dúvida, houve forte contribuição. Em 25 anos, considero a sua criação, a manutenção de seus fundamentos e princípios éticos, uma das atitudes mais positivas do governo de Alagoas. O nosso futuro como pesquisadores e, em consequência, da ciência, da tecnologia e da inovação em Alagoas depende, em grande extensão, da FAPEAL”.

Profa. Marilia Goulart, doutora em Química, foi diretora-científica da FAPEAL entre 1995 e 1996.

Aproveito esta oportunidade para agradecer ao saudoso professor José Medeiros, que com bastante lucidez atendeu à solicitação de pesquisadores da UFAL, incluindo no texto

constitucional a criação da FAPEAL.

Prof. José Marcio Malta Lessa“

“As concessões de milhares de bolsas de estudo e milhares de auxílios à pesqui-sa fizeram da FAPEAL um símbolo do desenvolvimento do Estado de Alagoas, apesar de dificuldades enfrentadas em alguns períodos de sua existência. Se ela não existisse, Alagoas estaria em um nível cultural, científico e tecnológico bas-tante inferior ao atual. Portanto é imprescindível que a FAPEAL receba o apoio irrestrito do governo do Estado para a consecução plena de seus objetivos”.Prof. José Euclides de Oliveira, Doutor em Física, ex-diretor-presidente e ex-diretor-científico

eseafapealnãoexistisse.indd 1 20/12/2015 14:37:20

16

E SE A FAPEAL NÃO EXISTISSE?

Saiba+CAPES CNPq FINEPCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. É o “braço” do MEC responsável pelos programas de mestrado e doutorado. É a CAPES que avalia regularmente os cursos já existentes e aprova ou não a abertura de novos.

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (até 1971 Conselho Nacional de Pesquisa, cuja sigla, CNPq, se manteve). Fundado em 1951, é um órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia para incentivo à pesquisa científica no Brasil.

Financiadora de Estudos e Projetos tem como objetivo transformar o Brasil por meio da inovação e promover o desenvolvimento econômico e social do país por meio do fomento público à ciência, à tecnologia e à inovação em empresas, universidades, institu-tos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas.

Prof. José Marcio Malta Lessa, Mestre em Biologia, foi diretor-presidente da FAPEAL de 2000 a 2005

“Sem a FAPEAL, Alagoas perderia na formação de recursos humanos, tanto na graduação como na pós-graduação; na concessão de bolsas de estudo para cursos de especialização, mestrado, doutorado e até pós-doutorado, no Brasil e no exterior; na aplicação de recursos em projetos de pesquisa, tanto os iniciais como os de excelência; na celebração de convênios com órgãos financiadores como CAPES, CNPq, FINEP, entre outros, por falta, principalmente, de garan-tias dos recursos de contrapartida; na ajuda de custo para estudantes, profes-sores e pesquisadores terem acesso a eventos científicos e culturais fora do estado; no fortalecimento das instituições de ensino superior, principalmente as estaduais; no apoio aos arranjos produtivos locais de interesse do estado. Enfim, teria sido um grande retrocesso, com prejuízos inestimáveis nas áreas científica, cultural e econômica do estado”.

Se a FAPEAL não existisse, Ala-goas estaria em um nível cultu-ral, científico e tecnológico bas-tante inferior ao atual. Portanto é imprescindível que ela receba

o apoio irrestrito do Governodo Estado para a consecução

plena de seus objetivos.

“Prof. José Euclides de Oliveira Lessa

Considero a FAPEAL uma inven-ção maravilhosa de um conjun-to de excelentes pesquisadores da UFAL. Dessas invenções que transformam nosso espaço de interações e de possibilidades, oferecendo significativas opor-

tunidades para Alagoas.

“Profa Sandra Nunes Leite

eseafapealnãoexistisse.indd 2 20/12/2015 14:37:22

17

E SE A FAPEAL NÃO EXISTISSE?

“Não fosse a FAPEAL, Alagoas estaria com 25 anos de atraso no processo de desenvolvimento científico-tecnológico. Não teria aumentado substancialmente o número de mestres, doutores e pós-doutores em suas instituições de ensino e demais

órgãos públicos e privados. Nosso estado não teria estimulado um consistente pro-grama de iniciação científica na comunidade escolar de Ensino Médio em Alagoas.

Não teria estimulado e desenvolvido um número expressivo de pesquisas e experiências científicas. Não teria demonstrado que é possível administrar

e gerenciar um órgão público com racionalidade, sem empreguismo, sem propinas e com seriedade”.

Prof. Audalio Candido dos Santos, advogado e linguista, foi diretor--administrativo, vice-presidente e diretor-presidente da FAPEAL

nos seus primeiros 10 anos.

Saiba+

O Serviço Brasileiro de Apoio às Mi-cro e Pequenas Empresas (Sebrae) é uma entidade privada que, há mais de 40 anos, promove a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos empreendimentos de micro e peque-no porte – aqueles com faturamento bruto anual de até R$ 3,6 milhões.

Federação das Indústrias do Esta-do de Alagoas. Tem como objetivo Consolidar-se como a organização empresarial líder na promoção do crescimento e da competitividade da indústria alagoana, atuando como agente indutor para o desenvolvi-mento sustentável do Estado.

FIEA SEBRAE

“Sem dúvida, seria pior que na atualidade. Para o público ao qual falamos, essa constatação pode parecer óbvia, mas o desafio foi fazer chegar a quem não conhe-cia a importância desse órgão de fomento. De 1995 a 2001 fiz parte do Conselho Superior da FAPEAL, tendo no período ocupado a presidência em três governos e escrito – em parceria com Luciana Maria de Andrade Mello, ex-assessora técnica da Fundação – “O papel do Estado na Indução da Ciência e Tecnologia”, traçando um panorama histórico e identificando pontos a serem trabalhados nessa área. Percebemos as deficiências básicas que na época nos fizeram buscar a CAPES para o “Pró-Ciências”, visando aprimorar o conhecimento dos professores do EnsinoMédio. Já o convênio com a Fapesp, para o “Projeto Genoma Cana-de-Açúcar”,passando pelas parcerias com a FIEA, SEBRAE e Banco do Nordeste para os pro-jetos induzidos, financiando aqueles mais úteis para AL, foram voos mais altos daFAPEAL à época”.

Dr. Fernando Antonio Barreiros de Araujo, médico gastroenterologista, diretor-presidente da FAPEAL entre 1995 e 2000

eseafapealnãoexistisse.indd 3 20/12/2015 14:37:22

18

E SE A FAPEAL NÃO EXISTISSE?

A FAPEAL redigiu, apre-sentou, defendeu e conseguiu aprovar uma ‘Lei de Ciência e Tecno-logia’ para o estado de Alagoas.

Prof. José Wilbert Lessa

“Sem a participação ativa da FA-PEAL, os seguintes fatos provavel-mente não teriam ocorrido. 1. Colaboração efetiva com o CNPq e a presidência da Chesfpara a criação e a estruturação do Instituto Xingó;2. Colaboração estreita na elaboração da ‘Lei de Incentivos Fiscais’ para a instalação de empresas no estado, quando conseguimos incluirno texto final as “Empresas de Base Tecnológica”;3. A FAPEAL redigiu, apresentou, defendeu e conseguiu aprovar uma“Lei de Ciência e Tecnologia” para o estado de Alagoas;4. A existência da Fapeal também foi decisiva na criação da Secre-taria de C&T, Recursos Hídricos e Meio Ambiente do município deDelmiro Gouveia;5. O mesmo pode-se dizer da criação da Fundação de Amparo à Pes-quisa (FAP) do Município de Delmiro Gouveia;6. Uma estrutura semelhante FAP Delmiro Gouveia foi tambémaprovada pela Câmera de Vereadores de Marechal Deodoro,experiência descontinuada pelos prefeitos que se seguiram;8. A FAPEAL, em parceria com a USP, iniciou um processo de levan-tamento do nosso potencial mineral (ouro, gesso industrial, materiaispesados etc.). Esse projeto foi descontinuado por razões que desco-nheço”.

Prof. José Wilbert de Lima, doutor em Matemática, foi diretor-científico da FA-PEAL entre 1991 e 1995.

Em 25 anos, considero a sua criação, a manuten-ção de seus fundamentos e princípios éticos, uma das atitudes mais positi-vas do governo de Alago-as. O nosso futuro como pesquisadores e, em consequência, da ciência, da tecnologia e da inova-ção em Alagoas depende, em grande extensão, da FAPEAL.

“Profa. Marilia Goulart

Não fosse a FAPEAL, Alagoas estaria com 25 anos de atraso no processo de desenvolvimento científico-tecnológico.

““Prof. Audalio Candido

“Considero a FAPEAL uma invenção maravilhosa de um conjunto de excelentes pes-quisadores da UFAL. Dessas invenções que transformam nosso espaço de interações e de possibilidades, oferecendo significativas oportunidades para o Estado, através do apoio ao surgimento e ao desenvolvimento das pesquisas e de pesquisadores alago-anos. Diante disso, talvez “seja tarefa fácil” imaginar esses 25 anos sem essa maravi-lhosa “invenção”. Mas o mais importante é buscar incessantemente manter o invento como ele foi idealizado, em essência. É ser fiel ao seu protótipo, no que diz respeito ao seu propósito. É não permitir que aconteçam descaminhos. E assim podemos dizer: ela é essencial para Alagoas”.

Profa. Sandra Nunes Leite, doutora em Comunicação, diretora-científica da FAPEAL entre 2012 e 2013.

eseafapealnãoexistisse.indd 4 20/12/2015 14:37:24

19

ESPECIAL 25 ANOS

No princípio, era a pesquisa...Exposição em shopping center celebra 25 anos da ciência genuinamente alagoanapor FABIANO MELO QUIRINO arte HYLLANE SALGUEIRO

Uma delicada senhora, acompanhada da filha, se aproxima de um dos guias da exposição e questiona, meio impaciente: - Boa tarde! Gostaria de saber quem deu permissão a vocês para usarem a foto da minha

casa nesta exposição.A idosa, vinda de Penedo – cidade alagoana conhecida por sua arquitetura colonial – es-

tava irredutível na certeza de que aquela foto era a de sua casa e ponto final, apesar dos esforços do espantado rapaz, que arrazoava com a visitante que a imagem era a do belo prédio da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, fato que poderia ser facilmente confirmado no conhecido endereço da FAPEAL. Ao final, mesmo após dar-se conta do equívoco, saiu-se com esta: “Pois o prédio é igualzinho. Passar bem!”, despedindo-se visivelmente satisfeita com o que vira lá dentro.

Essa foi apenas uma das centenas de curiosas reações durante a exposição 25 Anos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, realizada de 23 de setembro a 11 de ou-tubro de 2015, iniciativa nascida da árdua tarefa de tentar “apresentar” à sociedade alagoana uma fundação que existe há 25 anos, completados em 27 de setembro de 2015. Com esse objetivo, a FAPEAL montou uma força-tarefa que concebeu uma estratégia visual arrojada, visando sen-sibilizar os diversos públicos: pais acompanhados de filhos; avós pacientemente guiando netos

Vilm

a N

aísia

Xav

ier

sessãomemória.indd 2 20/12/2015 14:39:40

20

saltitantes; casais enamorados a tirar suas selfies aproveitando o “fundo científico”; eufóricos gru-pos de adolescentes com aquele proverbial brilho nos olhos e – claro – o pragmático crivo de gesto-res, doutores e professores ali presentes.

Numa descrição rápida, o espaço da mostra foi basicamente dividido em três passos: logo na entrada, o visitante era imerso nos primórdios da Fundação, com seus pioneiros em fotos antigas de jornais da época, bem como o porquê de sua exis-tência e fatos marcantes desses 25 anos. Saindo desse “corredor histórico”, a próxima etapa ficava a cargo de um vídeo de 4 minutos que, começando por asseverar que somos todos “poeira de estrelas”, fazia o entrelaçamento entre uma instituição como a FAPEAL e as maravilhas possibilitadas pela ci-ência. Com uma narrativa dinâmica e empolgante, a pequena animação sobre ciência fez imenso su-cesso, o que garantiu sua futura disponibilização no Youtube e no próprio site da fundação. Neste jornalista que vos escreve, o vídeo causou uma inquietação em particular, a saber: havendo um

Vilm

a N

aísia

Xav

ier

Vilm

a N

aísia

Xav

ier

Alunos da primeira escola alagoana de tempo integral durante a projeção da instigante animação sobre ciência,

segunda “etapa” da exposição

“Mamãe, decidi: quero ser astrônoma!”

ESPECIAL 25 ANOS

sessãomemória.indd 3 20/12/2015 14:39:44

21

Vilm

a N

aísia

Xav

ier

2015 foi proclamado o Ano Internacional da Luz e das Tecnologias baseadas em Luz (International Year of Light and Light-based Technologies – IYL 2015) na 68ª Assembleia Geral da ONU em 2013. Trata-se de uma iniciativa mundial para destacar a importância da luz e das tecnologias ópticas navida dos cidadãos, assim como no futuro e no desenvolvimento das sociedades de todo o mundo. Ao proclamar um Ano Internacional com foco na ciência óptica e em suas aplicações, as Nações Unidas reconhecem a importância da conscientização mundial sobre como as tecnologias baseadas na luz promovem o desenvolvimento sustentável e fornecem soluções para os desafios mundiais nas áreas de energia, educação, agricultura, comunicação e saúde. A luz exerce um papel essencial no nosso cotidiano e é uma disciplina científica transversal obrigatória para o século XXI. Ela vem revolucionando a medicina, abrindo acomunicação internacional por meio da internet e continua a ser primordial para vincular aspectos culturais, econômicos e políticos da sociedade mundial.

Fonte: Unesco

Ser Supremo Todo-poderoso – que não precisou fazer pesquisa e apenas disse “Haja!” – Ele tal-vez nos dotou desse senso questionador incrível que nos permite manipular a realidade e avançar cada vez mais, em todos os sentidos, mimetizan-do nosso Criador; por outro lado, não havendo um Deus onipotente, desenvolvemos – durante milhões de anos de evolução – essa prodigiosa capacidade de buscar respostas,que é o âmago da pesquisa científica e algo essencial à nossa so-brevivência como espécie. Por último, a “cereja do bolo”: comemorando o Ano Internacional da Luz, montou-se um espaço de intenso estímu-lo visual, uma sala cintilante, com suas luzes e espelhos inspirados no trabalho da artista pop japonesa Yayoi Kusama. Envoltos por aquele “corredor de fótons” – e embalados pelas melo-

diosas composições do francês Erik Satie – era inevitável conter a euforia, sendo obrigatório um registro fotográfico naquela quase “miniatura de galáxia”. Na saída, foram entregues exemplares desta revista a todos.

O famoso shopping center – consideran-do o caráter não lucrativo do evento – não apenas cedeu gentilmente o espaço à FAPEAL, como pediu que a exposição fosse estendida, dado seu enorme sucesso e o ineditismo da iniciativa: ao final, 2.400 pessoas haviam prestigiado esse belo lembrete de que a ciência alagoana esteve pro-dutiva todos esses anos e tem sido resguardada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas desde aquele histórico setembro de 1990.

Saiba+

Estudante diante de uma das peças da primeira parte da exposição

ESPECIAL 25 ANOS

sessãomemória.indd 4 20/12/2015 14:39:47

22

Nosso negócio é inovação.Os resultados estão ao redor.

O Tecnova é um programa que apoia a inovação em empresas de micro e pequeno porte. Afinal, além da possibilidade de

novos negócios, o desenvolvimento tecnológico gera também impactos sociais.

Saiba mais emwww.fapeal.br

Hyll

ane

Salgu

eiro

| M

ax M

iller U

gá L

una

| Fa

bian

o M

elo

Qui

rino

Sem título-1 1 18/12/2015 18:15:42

EDUCAÇÃO

Convite à FilosofiaDedicado aos estudos, o jovem alago-ano Ismair de Oliveira dribla a pobreza e recebe medalha de ouro na Bélgica com pesquisa sobre Filosofia

No sítio Patos, nos arredores da pequena cidade alagoana de São Sebastião, viceja uma pequena plantação de onde teria de sair o sustento de pelo menos 8 crianças. O vento morno do agreste alagoano faz balouçar pequenos milharais e pés de mandioca ao redor de uma humilde casa onde os netos daquele velho lavrador brincam no terreiro enquanto aguar-dam sua vez de também irem para a lavoura.

Num lugar onde a eletricidade só chegou em 2005, através do “Programa Luz para Todos”, e no qual a internet ainda é coisa de outro mundo, até a rodovia passa longe, bem longe. E, quando chove, o lamaçal resultante dificulta ainda mais caminhar até a pista em busca de um transpor-te para onde quer que seja. Bom, nesse “fim do mundo”, restava se resignar a dormir e acordar pensando apenas em plantar e colher. Mas José Ismair de Oliveira dos Santos, um daqueles oito meninos, ousou querer mais. Não, nada de sonhar em participar de realities shows, ser can-tor sertanejo, jogador de futebol ou “personalidade da mídia”, coisas tão em voga atualmente. Ismair decidiu ESTUDAR. Aluno da rede pública local, havia sido alfabetizado na es-cola indígena Itapó, onde fez até o quinto ano, numa aldeia ao lado do sítio onde seu avô Abel, de 86 anos, complementa a exígua aposentadoria com as pequenas colheitas.

Antes mesmo de concluir o Ensino Fundamental, o adolescente alto, magro e trigueiro já demonstrava que seguiria rumos diferentes dos de seus pais e avós. Foi aprovado no concurso para Jovem Aprendiz da Eletrobras, função que exerceu por dois anos enquanto matutava noutro objetivo: conquistar uma vaga no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) de Arapiraca, município vizinho de sua cidade natal, algo que se concretizou na segunda ten-tativa, em 2012. Segundo Ismair, o IFAL o atraiu não só pela notória qualidade do ensino, mas também pela oportunida-de de receber o auxílio-transporte oferecido pelo instituto, apoio crucial para um rapaz em sua situação. Ali escolheu conjugar o Ensino Médio com o curso técnico de Eletroe-letrônica.

fotos e arte HYLLANE SALGUEIROpor FABIANO MELO QUIRINO

conviteafilosofia.indd 2 20/12/2015 15:04:29

24

Conversando com Is-mair, nome escolhido por seu falecido pai em homenagem a um amigo, é difícil não se encantar com a determinação de um menino movido pela premência de, através dos es-tudos, fugir da extrema po-breza – “do cabo da enxada”, como ele mesmo diz – e com o deslumbramento de um es-tudante decidido a aprendercada vez mais. Tal inquietaçãose mostrou ainda no primeiroano de sua tão sonhada passa-gem pelo IFAL: identificando--se com Filosofia (que – juntode Sociologia – é disciplinaobrigatória no currículo desde2008), tratou de se aproximarda professora responsável pe-las aulas, a mestra em Educa-ção pela UFAL Ellen MaianeSantos Ramalho – para anima-das conversas que resultaramnuma proposta de pesquisasobre Filosofia, área prediletados dois. Assim, durante umano, a professora e seu pupilo“filosofaram” a partir do tema

“O ensino de Filosofia e o desenvolvimento do pensar com autono-mia: uma análise do ensino da Filosofia nas escolas de Arapiraca”, tendo como principal referência teórica o filósofo norte-americano Matthew Lipman. “Somos muito agradecidos à FAPEAL porque se não fosse a Fundação nós não teríamos começado a desenvolver esse projeto. Foi depois da concessão da bolsa que começamos de fato a orientação e as visitas às escolas”, pondera Ellen. A profes-sora se refere ao programa PIBIC-JR, voltado especificamente a estudantes como Ismair. Para ele, a bolsa concedida pela FAPEAL ajuda o jovem a se concentrar apenas na pesquisa, sem a preocu-pação imediata de buscar um meio de se sustentar. Com a pequena remuneração mensal, o rapaz complementava o auxílio já recebido pelo IFAL e contornava de uma vez seu maior problema de então: o transporte diário para as aulas.

O objetivo principal da pesquisa, segundo a professora, era pôr à prova a hipótese – defendida por ela como “bandeira de tra-balho” (algo que, faz questão de frisar, herdou de seu orientador no mestrado, o Dr. Walter Matias Lima, professor da UFAL e pa-recerista da FAPEAL) – de que a Filosofia, quando ministrada no Ensino Médio, conseguiria desenvolver no estudante certa autono-mia de pensamento, ou um pensamento crítico e criativo. Isso faz lembrar a ponderação do literato estadunidense Harold Bloom, com seu alerta sobre o excesso de informação numa sociedade esqueci-da de buscar a sabedoria. A motivação de Ismair e de sua orientado-ra está em consonância, também, com as ideias do filósofo alemão Immanuel Kant, segundo o qual o estudante não deve aprender pen-samentos, e sim aprender a pensar; não devemos “transportá-lo”, mas ajudá-lo, se quisermos que seja capaz de encontrar seu próprio caminho.

Com o apoio e incentivo de sua orientadora, Profa. Ellen Maiane Santos Ramalho, e com o suporte oferecido pelo IFAL, Ismair começou a inscrever o trabalho para participação em congressos e feiras. Assim, o menino que nunca havia sequer saído de Alagoas agora tinha à frente uma agitada rotina de viagens – Brasil e exterior – após a sucessiva aceitação de sua pesquisa num evento científico após outro.

conviteafilosofia.indd 3 20/12/2015 15:04:31

25

EDUCAÇÃO

capaz de encontrar seu pró-prio caminho.

E foi exatamente essa a proposta da pesquisa: “Par-tindo do método próprio da disciplina, determinamos não ensinar tão somente a histó-ria da Filosofia, mas mostrar aos alunos como questionar a sua realidade, como produzir uma questão filosófica, mos-trando para eles que podem ser, sim, pequenos filósofos, formulando problemas e ten-tando resolvê-los”, pondera a educadora.

Quando perguntado sobre que filósofos seriam suas principais referências, Ismair afirma não ter “pre-feridos”, mas logo começa a citar – sem vacilar – Matthew Lipman, Sócrates, Aristóte-les, Platão, Karl Marx...

– Seria interessantevocê falar de como era antes da pesquisa – interrompe a orientadora, referindo-se às mudanças vividas pelo jovem e notadas pelos professores.

“Antes” – começa Is-mair, com a resposta na ponta da língua – “eu tinha um con-ceito deturpado do que seria a Filosofia. Passei a ler outras obras, a ter outra visão, a de-senvolver autonomia intelec-tual e criticidade”. Ele conti-nua, empolgado, fazendo um verdadeiro “chamado” aos seus colegas de mesma idade: “Todos os jovens deveriam se interessar pela Filosofia, pois – voltada à criticidade – ela faz com que eles des-

pertem para a realidade, que saiam do conformismo, do comodismo. Então nós, que somos tidos como futuro do país, deveríamos nos voltar à Filosofia, pois uma de suas funções seria fazer com que o jovem seja um transforma-dor, passando a influenciar omeio social em que vive, noqual atua”.

Terminada a pesquisa, era chegada a hora de exibir os resultados. Com o apoio e incentivo de sua orientadora, Ismair começou a inscrever o trabalho para participação em congressos e feiras. Assim, o menino que nunca havia se-quer saído de Alagoas agora tinha à frente uma agitada ro-tina de viagens – Brasil e ex-terior – após a sucessiva acei-tação de sua pesquisa num evento após outro.

Estamos falando de um projeto de Filosofia dis-putando prêmios entre em-preitadas científicas de di-versas áreas, como Medicina, Ciências Exatas e da Terra, por exemplo. Ou seja, a pró-pria professora e seu pupilo ficaram surpresos quando começaram a se destacar em meio a tantos outros trabalhos excelentes. A consagração veio, por fim, em Bruxelas (veja o quadro “As viagens de Ismair”). Como era de se esperar, ao voltar da Europa o neto de “seu” Abel teve seus méritos reconhecidos tam-bém com a imensa atenção local: já foi requisitado para

“O objetivo da educação não é ensinar coisas porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. O objetivo da educação deve ser ensinar a pensar”.Rubem Alves, filósofo, pedagogo, poeta, teólogo e psicanalista. Professor emérito da Unicamp falecido em julho de 2014.

diversas “palestras motiva-cionais” na escola municipal onde estudou; teve inúmeras vezes suas medalhas foto-grafadas por colegas, pro-fessores, vizinhos e demais admiradores; foi convidado para ser coordenador volun-tário da congênere alagoana da ABRITEC (Associação Brasileira de Incentivo à Tecnologia e Ciência) e até chamado para conhecer pes-soalmente o governador de Alagoas.

Segundo a professora Ellen Maiane Santos Ramalho, “a Milset é uma instituição internacional que tem como objetivo fo-mentar feiras de ciência exclusivamente voltadas para jovens, para que produzam, sejam avaliados por equipes qualificadas e que se-jam premiadas e tenham seus trabalhos reconhecidos internacio-nalmente”.

www.milset.org

conviteafilosofia.indd 4 20/12/2015 15:04:31

26

EDUCAÇÃO“Ficamos felizes com

essa repercussão, pois ser-ve de exemplo para que ou-tras pessoas entendam que, independentemente de suas condições, podem conseguir mudar sua re-alidade, assim como aconteceu com o Ismair”, comemora El-len. Superdota-do? De jeito ne-nhum! Trata-se tão somente de um jovem mui-to determina-do, que chega a dormir apenas 4 horas por noite para dar conta de sua autoim-posta rotina de estudos. Ismair lembra das incontáveis vezes em que acordava pouco depois das 4 da manhã, engolia algumas bolachas com café preto antes de se despedir de seu avô e se dirigir à rodovia para pegar a

van que o levaria até o IFAL. Conversando com o jovem, tem-se a impressão de que sua energia é inesgotável e de que nada o impedirá de conseguir o que quer: Jovem Aprendiz

da Eletrobras; bolsista PIBIC--JR/FAPEAL;medalhista em vários congres-sos; aprovado como assistente administrativo no concurso da UNCISAL-Ma-ceió; bolsista Petrobras, em-presa na qual desenvolve um projeto de pes-quisa; bolsista do mais tradi-cional cursinho

pré-vestibular de Arapiraca, vaga conquistada depois de se submeter a uma acirrada sele-ção; vencedor de um concur-so de crônicas promovido em 2012 pela Eletrobras entre seus jovens aprendizes; teve seu ar-

tigo “O lugar onde vivo” – em que trata de educação – publi-cado no jornal do município de São Sebastião; em 2015 é o representante do IFAL numgrande concurso de redaçõespromovido pelo município deArapiraca.

E tem fôlego para mais! Por ocasião da publicação des-ta matéria, Ismair - contando apenas 19 anos - aguardava o resultado de sua tentativa de entrar em Medicina na UFAL, após sua boa pontuação no ENEM 2015. Mas tentará uma vaga também em Medicina na UNCISAL (Universidade Es-tadual de Ciências da Saúde de Alagoas). Sua mãe vive toda serelepe a falar para vizinhas e amigas sobre as conquistas do filho es-tudioso. “A família de Ismair, por não fazer parte desse mun-do acadêmico, não entende a repercussão do recebimento de um prêmio desse tipo”, con-temporiza a orientadora. Na verdade, a breve e bri-lhante trajetória de Ismair ser-

“Somos muito agradeci-dos à FAPEAL porque se não fosse a Fundação nós não teríamos começado a desenvolver esse projeto. Foi depois da concessão da bolsa que começamos de fato a orientação e as visitas às escolas”. Profa. Ellen Maiane Santos Ramalho

Sem negar sua verve filosófica, Ismair se diz inco-modado com os conceitos de “sucesso” e “vitória” a ele atri-buídos, definindo a si mesmo como um campeão disfarçado de “merecedor”. “Quando ganho algum prêmio, dizem que sou “merecedor”. Eu não concordo com essa palavra. Afinal, quem não merece? Um campeão não traja só mere-cimento, ele anda armado de perseverança” – arremata o jovem que, mesmo carregado de medalhas, se nega a perder sua simplicidade.

conviteafilosofia.indd 5 20/12/2015 15:04:33

27

EDUCAÇÃO

“Gostaria de parabenizar a FAPEAL por seus 25 anos; uma instituição com a qual - assim que

cheguei em Alagoas, vinda da Bahia - já fui tendo contato e aprendendo a admirar como uma

Fundação que realmente fomenta a pesquisa num estado que - de fato - precisa muito desse incen-tivo, pois com o desenvolvimento científico tam-

bém há o desenvolvimento econômico-social” Profa. Ellen Maiane Santos Ramalho O jovem Ismair Oliveira, ao meio, lade-

ado por sua orientadora, a professora Ellen Maia-ne Santos Ramalho; o coorientador, professor Vagner Ramalho (de óculos); Fábio Ribeiro, dire-tor-geral do IFAL Arapiraca; e José Enildo Freire Costa, chefe do Departamento Acadêmico.

ve de exemplo de como o esforço pessoal de um jovem - guarnecido pelo apoio doPoder Público - pode ensejara ascensão social na dita so-ciedade “meritocrática” emque as oportunidades não sãotão fartas assim. A Fundaçãode Amparo à Pesquisa doEstado de Alagoas está aten-ta e aberta a novas históriasde sucesso como as relatadaaqui. Sabe aquele velho adá-gio “estude para ser alguémna vida”? A FAPEAL acre-dita nisso. E nosso Ismair é aprova viva de que esse ditadodefinitivamente não cadu-cou.

conviteafilosofia.indd 6 20/12/2015 15:04:36

28

EDUCAÇÃO

“Matthew Lipman (1923-2010), o filósofo escolhido pela profes-sora Ellen para nortear a pesquisa, acreditava que a Filosofia, ao

orientar o homem em todos os sentidos e facilitar a possibilidade de conhecimento de outras áreas com maior rigor, pode criar um

ambiente mais favorável para que cada pessoa torne-se sujeito da História e de sua própria história. Por isso, o autor quis a presença da Filosofia na escola desde as primeiras séries e criou o Programa de Filosofia para Crianças. Dessa forma, a educação envolveria to-dos os estágios da vida humana, possibilitando o pensamento críti-

co. Ainda segundo Lipman, as crianças podem aprender a pensar e “conceitualizar” se desde pequenas forem colocadas em situação de

refletir e discutir questões filosóficas. Matthew Lipman desenvol-veu uma metodologia, a “filosofia para crianças”, que demonstrou

sua eficácia no mundo inteiro”.Fontes: Claudio Roberto Brocanelli, Matthew Lipman - Educação para o

Pensar Filosófico na Infância, Editora Vozes, 2010.Claudine Leleux, Filosofia para Crianças - O Modelo de Matthew Lipman em

Discussão, Editora Penso, 2008.

AS VIAGENS DE ISMAIRO jovem estudante e seus périplos de apresentações

BAHIA – Salvador – 2013 Ismair começa a apresentar seu trabalho no 1º Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa e Extensão dos Institutos Federais.

CEARÁ – Fortaleza – 2014 Na Expo Milset Brasil (www.milsetbrasil.com), a pesquisa de Ismair foi des-taque na área de Ciências Humanas, algo que catapultou o trabalho para sua apresentação fora do Brasil.

PARAGUAI – Assunção – Outubro de 2014 Dentre todas as áreas partícipes do CIENCAP, famosa feira de ciências latino--americana (www.cnae.edu.py/ciencap), a pesquisa do jovem alagoano é pre-miada com o 1º lugar.

BÉLGICA – Bruxelas – julho de 2015 Na Expo Milset Mundial (www.milset.org), ou ESI MUNDI (Expo-Sciences International), evento que reúne as melhores pesquisas do mundo, o trabalho de Ismair e sua orientadora foi consagrando com medalha de ouro.

PORTUGAL Ainda na Bélgica, Ismair foi convidado a participar, com sua pesquisa, de uma Olimpíada de Ciência e Tecnologia no país de Eça de Queiroz, mas declinou do convite por já estar concluindo o Ensino Médio e empenhado na prepara-ção para o ENEM com vistas cursar de Medicina.

“Eu não tinha dúvidas de que as crianças pensavam tão naturalmente como falavam

e respiravam. Mas como conseguir que pen-sassem bem? A Filosofia oferece um fórum, no qual as crianças podem descobrir, por si

mesmas, a relevância para suas vidas dos ideais que norteiam a vida das pessoas”

Mathew Lipman

conviteafilosofia.indd 7 20/12/2015 15:04:37

29

HISTÓRIA

O olhar holandês e o novo mundo, Maria Angé-lica da Silva,

Edufal, Maceió,

2011.

Saiba+

Reprodução de uma das telas de Franz Post

história.indd 2 20/12/2015 15:22:25

Entre 1630 e 1654 os holandeses tiveram aqui no nordeste uma colônia chamada Nova Ho-landa, ou Brasil Holandês, que ocupou grande parte da região. Lendo os deliciosos relatos a

respeito desse fascinante período de nossa história, é difícil conter o desejo de especular: se os integrantes da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais não tivessem sido expulsos pelos portugueses, teria o Brasil hoje uma província holandesa tal qual o Canadá tem uma francesa, a de Quebec? Ou quem sabe nossa re-gião tivesse se tornado território independente? “Isso é uma incógnita, pois parece que todos os lugares que os holandeses colonizaram não se desenvolveram tanto”, arrisca a Dra. Maria Angélica da Silva, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universida-de Federal de Alagoas (UFAL). “É difícil saber aqui no Brasil o que teria acontecido, como é que o Brasil teria reagido; estamos falando de populações e situações dis-tintas. Mas é importante considerar que aqui tivemos a presença de João Maurício de Nassau, que era uma figura diferenciada, de mentalidade liberal, tolerante. Ele certamente queria fazer daqui um lugar diferente”. Graduada em Arquitetura, Mestra, Doutora e Pós-dou-tora em História, a pesquisadora fala com o vigor de quem, desde 1998, é fascinada pelo material iconográ-fico produzido pelos holandeses, tema que já ensejou muitos projetos através do Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem, por ela coordenado e vinculado à UFAL, que a doutora constitui com cerca de 20 outros acadê-micos da mesma instituição (www.estudosdapaisagem.com.br). Alguns estão no grupo há mais de quinze anos, permanecendo mesmo depois de inseridos no mercado profissional. Outros iniciaram a trajetória de pesquisa na graduação como bolsistas da Fapeal, chegando ao doutorado ainda contando com o suporte da Fundação.

Durante esses anos de trabalho, muito material foi amealhado em diversas viagens pelo Brasil e pela Europa, resultando num conjunto de imagens e registros escritos que já deu origem a artigos, livros e exposições no Brasil e no exterior. Nesse meio tempo, foi publicado o livro O olhar holandês e o novo mundo (Edufal, Maceió, 2011) e realizados eventos como o Brasil+Holanda,

HISTÓRIA

arte HYLLANE SALGUEIRO

“Não acreditaria nestas maravilhas se não as contemplasse”Assim escreveu, “pasmo”, em 1637, o conde Maurício de Nassau durante viagem entre as vilas alagoanas de Porto Calvo e Penedo. É com esse mesmo olhar que o documentário Entre Céus nos convida a enxergar nossa história e cultura.

por FABIANO MELO QUIRINO

dentre outros. A última empreitada foi o premia-do documentário Entre Céus (Maceió, 2014), da arquiteta e cineasta Alice Jardim, também inte-grante do grupo que, além de realizar pesquisas, tem também como objetivo a socialização de seus resultados. “Às vezes a gente faz tanta coisa na universidade que não é divulgada...Temos como principal ferramenta de pesquisa as viagens: co-nhecer para depois produzir conhecimento; antes dos livros, a experiência pessoal. Visitamos mais de 20 cidades do interior do nordeste buscando entender como era sua fisionomia antiga. O mate-rial foi comparado com os precisos registros ho-landeses e outras fontes de imagens. Então resol-vemos fazer o vídeo mostrando como tais cidades conversam entre si e para socializar parte de todo esse material, ainda pouco divulgado no nosso Estado”, esclarece a professora, referindo-se ao belíssimo documentário de 12 minutos, que já re-presentou Alagoas em diversos eventos no Brasil e lá fora. Para apreciação dos estrangeiros, o filme recebeu o título em inglês de Between Lands.

Numa época em que estamos habituados ao formato blockbuster de Hollywood, meio vi-deoclipe, a ponderação da professora a respeito do curta-metragem alagoano é quase uma ressal-va: “Buscamos fazer um documentário que fosse acessível a todos, uma das razões por que privi-legiamos mais as imagens do que as falas, embo-ra essas também sejam importantes. O vídeo se constitui da sucessiva apresentação das imagens holandesas sobre o Brasil com narração de textos também deles, somadas às colhidas nas viagens de nosso grupo”. A Dra. Angélica completa, tal-vez preparando o espectador para uma experiên-cia no mínimo inusual: “O vídeo não é didático, por assim dizer; não tem aquela lógica típica de filmes comerciais, com começo, meio e fim. Afi-nal, trata-se da imbricação entre trabalho cientí-fico e arte. Às vezes, a narração parece não con-dizer com as imagens. A narrativa vai divagando, meio “solta”, bem livre, para cada um fazer seus links. Acreditamos que o conhecimento é sempre

história.indd 3 20/12/2015 15:22:25

31

“preenchido” por quem está ali intera-gindo.” São justamente as imagens do céu, onipresentes nos retratos feitos pe-los holandeses e único espaço a “unir” as duas terras, que inspiram o nome do filme. Realmente, a estratégia narrati-va de Entre Céus é ousada e certeira, pois propõe outra forma de recepção do conhecimento. Logo no início, o espectador é convidado a tentar ver as coisas que temos como comezinhas com os olhos daqueles que vieram de longe: “Ver a olho de pássaro, do alto; mas também ver o detalhe. O que ocor-reu quando eles olharamoutras terras, outros ma-res?” – provoca uma vozfeminina, ao introduzirum trabalho que remetea um notório hábito dosconquistadores holan-deses: “ver, classificar,modelar, descrever”, conforme revela MariaAngélica no capítulointitulado “A conquistapela visão: mapas e pin-turas” do já mencionado livro de sua autoria, em parceria com outros seis membros do grupo de pes-quisa. A doutora resume: “Os holande-ses sempre registraram com minúcias

e detalhes – em desenho e pintura – o que viram no nordeste, para eles uma terra encantadora. Encontramos, por exem-plo, fauna e flora catalogadas por eles em vários livros, com nomes indígenas. Como arquitetos, estudamos História, mas buscamos não usar imagens apenas como ilustração. Daí irmos aos arquivos em Portugal e na Holanda, em busca da

alta resolução, pegar o “zoom”, ver todos os deta-lhes e traduzir as legendas do Holandês antigo, tarefa da qual se incumbiu Nico-laas Gosse Vale, professor aposentado da UFAL e co-laborador do grupo”. O filme foi realizado en-tre 2013 e 2014, com fil-magens nas cidades de Marechal Deodoro, Pene-do e Porto Calvo – aqui em Alagoas – e nas cida-des pernambucanas de Cabo de Santo Agostinho, Igarassu, Itamaracá, Olin-da, Recife e Serinhaém. Lançado na Holanda em 2014, Entre Céus come-çou a fazer sucesso no mesmo ano, na V Mostra

Sururu de Cinema Alagoano, ocasião em que recebeu 4 prêmios. Aí vieram o 26º Festival Internacional de CurtasMetragens de São Paulo (2015), o Ar-

“A FAPEAL foi essencial para ala-vancar a ciência e a tecnologia aqui no estado. Quando pensamos em Alagoas, vemos tantos problemas prementes, dificuldades enormes, miséria, baixo índice de IDH...Mas isso a gente pode vencer também com a pesquisa. A universidade passaria por grandes dificuldades sem o apoio da FAPEAL: não haveria bolsas ou projetos nem os muitos auxílios hoje disponibi-lizados. Eu acho realmente que a criação da Fundação é um divisor de águas: podemos falar de Alagoas antes e depois da FAPEAL”.

Dra. Maria Angélica da Silva

Integrantes do Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem, coordenado pela Dra. Maria Angélica da Silva. Durante anos de trabalho, muito material foi amealhado em diversas

viagens pelo Brasil e pela Europa, resultando num conjunto de imagens e registros escritos que já deu origem a artigos, livros e exposições aqui e no exterior.

história.indd 4 20/12/2015 15:22:27

32

quiteturas Film Festival Lisboa 3ª edição (2015), o 7º Festival Internacional de Cinema da Fronteira (2015), o 4º Curta Brasília (2015) e o Festival In-ternacional da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2015).

Durante a conversa com a Fapeal em Revista, a pesqui-sadora fez questão de dar cré-dito a quem possibilitou tantos anos de conquistas: “Desde que começamos a pesquisa, desde as primeiras viagens, temos apresentado projetos para a FA-PEAL e sendo contemplados nos editais. Assim, os vários

No curta-metragem En-tre Céus, a cineasta alagoana por vezes imita, com sua len-te, os registros pitorescos reali-zados por quem dispunha – há 400 anos – apenas da pintura e da escrita como “tecnologias” para representação da realidade. Muito mais que um deleite para os olhos, faz-se ali uma graciosa “animação” das históricas telas holandesas. Ao final dos inspira-dores 12 minutos, tempo no qual são “compartilhadas” as prová-veis emoções de Nassau e de seus companheiros ao avistarem esse “mundo novo”, parece não ser apropriado dizer que se viu um filme, mas sim que se sentiu parte de uma história. Manoel Bernar-dino, professor de Direito da Fa-culdade CESMAC do Agreste, a convite da Fapeal em Revista, faz uma análise mais “acadêmica” do trabalho: “A narrativa do século XVII protagoniza o primoroso documentário de Alice Jardim. O Brasil textualmente resgatado dos tempos batávicos contrasta com as imagens singelas do cotidia-no contemporâneo. Entre Céus é um exercício genealógico que permite compreender, ao assumir a posição do outro, a nossa pró-pria identidade cultural.” Como o filme ainda estava participandode festivais por ocasião do fecha-mento desta edição, ainda não eraaventada sua disponibilização noYoutube. Entretanto, para vê-lo,basta acessar www.estudosda-paisagem.com.br/betweenlands eutilizar a senha dutchbrazil.

estudos que a gente fez foi com recursos da Fundação, sendo os últimos – incluindo o vídeo – através do PRONEM”. O livro O olhar holandês e o novo mun-do teve sua publicação financia-da pela FAPEAL. Já a produção do documentário Entre Céus, além desta Fundação, teve apoio da UFAL e da Embaixada do Reino dos Países Baixos (nome oficial da Holanda). A professora Maria Angélica conclui: “Temos projetos aprovados pelo CNPq, pela Petrobras, pelo IPHAN e outros. Mas é a FAPEAL que está no nosso dia a dia”.

Costuma-se confundir o domínio holandês com a personalidade do príncipe Mau-rício de Nassau, militar e administrador de origem alemã, governante da região entre 1637 e 1645. Endividado depois de construir o Palácio Mauritius, aceitou – em 1636 – a proposta da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais paraadministrar a recém-conquistada colônia holandesa no Brasil, que se estende dolitoral de Sergipe ao do Maranhão. Conseguiu a simpatia dos senhores de terraao propor financiamentos para a recuperação de engenhos e plantações de açúcar.Em sua administração, promoveu melhorias urbanas na vila do Recife e assegu-rou a liberdade de culto. Nassau era aquilo que hoje chamaríamos de humanista,com inegável amor pelas artes e pela cultura, algo que o levou a trazer até Per-nambuco cientistas e artistas como Franz Post e Eckout. Havia então espaço paraa dissidência religiosa e até para a heresia, representada pelos judeus. Levadosao Recife para negociar e financiar todo tipo de atividade, ali os judeus fundarama primeira sinagoga do continente. Essa postura marca uma diferença notávelquando se recorda que, durante o domínio espanhol sobre Portugal, a Inquisiçãoproduziu perseguições em larga escala contra judeus e muçulmanos.(Fonte: Almanaque Quem é quem na história do Brasil, Editora Abril, 2000, pp.22, 23 e 343).

Se não foi difícil vencer militarmente os holandeses em Pernambuco, seria com-plicado para Portugal enfrentar um ajuste de contas na Europa, com aquela que era uma das grandes potências na época. A saída foi negociar uma indenização – a Holanda ficaria sem sua fatia do Brasil, mas receberia uma boa soma por isso. A explicação para a derrota militar de uma potência como a Holanda para tropas mal arrumadas e guerrilheiros caboclos, que integravam as fileiras de Felipe Camarão, Henrique Dias e João Fernandes Vieira, está na diferença de caráter entre a coloni-zação portuguesa e a dominação holandesa. Os portugueses vieram ao Brasil para fundar uma nova sociedade: constituíram família, trouxeram usos e costumes e instituições próprias. Os holandeses encaravam o Brasil como um simples empre-endimento comercial. O colapso dessa empreitada teve causas imediatas e diretas. Em primeiro lugar, os investimentos nunca deram o retorno esperado. Depois, com a produção nas Antilhas, o preço do açúcar despencou. Epopeia militar de maior relevo no período colonial, o Brasil holandês foi um fiasco econômico.(Fonte: Almanaque Quem é quem na história do Brasil, Editora Abril, 2000, pp. 22, 23 e 343).

Saiba+

Saiba+

O documentário

história.indd 5 20/12/2015 15:22:27

DE NOSSOS LEITORES

“Não deu pra parar de ler: que revista boa! Espero que assim permaneça, que melhore a cada edição. Gostei especialmente da matéria a respeito do Canal do Sertão. Fiquei emocionado ao saber a respeito do Dr. Medeiros, que eu não conhecia. Vida longa à revista!”

Reginaldo Oliveira, professor de Teatro da Universidade

Federal de Alagoas

“Gostei muito do novo formato da Fapeal em Revista, e quero parabenizar a toda a equipe pela excelente qualidade da revista. As opções utilizadas para diagramação, o papel e o formato me fazem pensar que esta escolha se alinha a uma concepção que o conhecimento deve ser tratado de forma moderna, flexível e inovadora. Além da aparência, me chamou a atenção a linguagem utilizada: escrita de forma acessível sem perder a dimensão acadêmica dos trabalhos publicados. As informações escolhidas para compor o primeiro número da revista certamente ajudarão os lei-tores a conhecerem mais sobre o trabalho desenvolvido pela Fapeal, possibilitando a divulgação do conhecimento produzido em Alagoas e favorecendo ao engajamento dos leitores da revista na discussão acerca das ações que as instituições de ensino e pesquisa podem desenvolver para termos uma Alagoas cada vez melhor. Sucesso à equipe é o que desejo”.

Profa. Dra. Lenilda Austrilino, Coordenadora do ComuniCT, Núcleo de Divulgação e Popularização da Ciência e Tecnologia.

“Se trata de una re-vista dinámica y que permite su lectura de manara interesante pues habla de los temas de ciencia y tecnologia. No es solo de acceso a los universitarios si no al publico en gene-ral”.

Dra. Gabriela Del Valle Díaz Muñoz, professora de Física da Universidad Autónoma

Metropolitana Azcapotzalco, México.

“A divulgação dos resultados das pesquisas financiadas pela FAPEAL é extremamen-te importante, não só para a comunidade científica como para a população em geral. Assim, a Fapeal em Revis-ta favorece essa divulgação com textos de alta qualidade, permitindo uma leitura muito fácil e agradável”.

Dra. Juliana Ueda, professora do curso de Medicina do CESMAC, durante Oficina de Prioridades do PPSUS, realizada nos dias 9 e 10 de setembro de 2015, no Hotel Ponta Verde, Maceió.

Vilm

a N

aysia

Xav

ier

Vilma N

aysia Xavier

[email protected]/fapealemrevista

Hyl

lane

Salg

ueiro

“Foi uma surpresa saber que existe uma revista que apresenta uma Alagoas produtiva e competitiva. É certo que nosso estado ainda precisa melhorar em MUITA COISA, deixando de vez a imagem de miserável e dependente, mas lendo a Fapeal em Revista fica a impressão de que há pessoas trabalhando muito nos bastidores para que tais melhorias aconteçam. A ciência e a pesquisa – como bem apresenta a sua publicação – têm um papel crucial nesse processo. Parabéns!”

Joelma Correia de Sena, estudante de Psicologia da UFAL

Com depoimentos enviados via Facebook e e-mail.

sessãomemória.indd 1 20/12/2015 14:39:36

34

Sem título-6 2 20/12/2015 15:34:42

Sem título-6 3 20/12/2015 15:34:43