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Universidade de Lisboa
Faculdade de Letras
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes-
Estudo de Caso
Tânia Barbosa dos Reis Mestrado em Linguística
2018
Dissertação orientada por:
Prof. Doutora Maria João Freitas Prof. Doutora Cristiane Lazzarotto-Volcão
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
2
Viver agora, com o coração...
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
I
AGRADECIMENTOS
O caminho até chegar a este momento foi longo....
Com este percurso intermitente e longo não posso deixar de agradecer pela
paciência e compreensão sem limites das minhas orientadoras, Prof. Doutora Maria
João Freitas e Prof. Doutora Cristiana Lazzarotto-Volcão. A ambas agradeço a
dedicação, a disponibilidade, a atenção, a partilha de todos os saberes, a motivação.
Pelo meio deste processo três meninos. O João de olhos doces, o Nuno de
olhos profundos e o Manuel de olhar maroto...Os três vieram encher o meu coração
e fazê-lo crescer sempre mais um pouco. Tornaram este caminho muito mais fácil,
mais divertido, mais pleno e com mais sentido que nunca. A eles tenho de agradecer
por me ensinarem todos os dias a descobrir um pouco mais de mim, a querer
sempre fazer diferente e melhor, a aprender todos os dias a ser por inteiro nesta
vida.
Ao MEU Zé ... o meu amor, tantos anos de partilha, tantos anos de
descobertas, tantos anos de amizade, tantos anos de companheirismo, tantos anos
de apoio, tantos anos de paixão, tantos anos de amor. A ti agradeço estares a meu
lado, sempre. Agradeço-te por me permitires ser.. sem limites.
Aos meus pais, João e Carolina...uff.. esta é difícil.... agradeço todo o
amor....agradeço estarem sempre mas sempre ao meu lado.. Agradeço por ter a
certeza que seja quais forem as minhas escolhas, vocês estarão aqui de braços e
coração aberto, sem julgamentos!
Aos meus irmãos, António e Luís ... dois homens fortes, determinados,
protetores. Sempre foram e serão uma referência para mim! Continuarei a ser a
vossa “Tanucha” e continuarão a ser vocês a pagar-me os jantares! Um beijo
gigante às minhas cunhadas, Maria Teresa e Maria Inês, por estarem ao seu lado.
Um muito especial à minha madrinha, afilhada, prima e quase irmã (continuo a não
gostar das palmeiras que fazias no meu cabelo!).
Aos meus sobrinhos sempre com sorrisos disponíveis com boa disposição e
prontos para uma boa brincadeira. Como cresceram...
Aos meus sogros, José e Maria Cristina pela total disponibilidade para nós e
pelo amor incondicional que tanto os caracteriza.
Ás minhas cunhadas e cunhado, Maria Inês, Maria João, Catarina, Liliana,
Nuno e Paulo, obrigada pelas gargalhadas, pelas tontices, pela paciência, pelo
presença sempre constante, pelo amor imenso.
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II
Á Dina...a minha professora, a minha “chefa”, a minha amiga, a minha Dina.
Acho que nunca encontrarei palavras para agradecer tudo o que me possibilitaste,
tudo o que me deste, tudo o que partilhaste, tudo o que me ensinaste. Para além de
seres um poço de conhecimento, és das pessoas com maior coração que conheço.
Às minhas “miúdas giras”, Raquel e Ângela, agradeço todos os almoços na
galé ... e a compreensão de todos os que não pude estar. Obrigada pelos dias de
sol, pelas noites de diversão, pelas gargalhas intermináveis, obrigada por crescerem
bem junto a mim.. Tão bom ver o nosso caminho.
À Mia e ao Pedro... que me mostraram tão bem para onde caminhar... que
me trouxeram coragem para ir onde quero, viver como quero, correr atrás do que
sinto...deixando para trás o que não me pertence..
À minha colega Daniela Espadinha pela trabalho descomplicado e leve.
Aos dois meninos com quem tive o prazer de trabalhar para desenvolver este
trabalho e às suas famílias sempre colaboradoras. Espero poder continuar a fazer a
diferença na vida de cada menino ou menina que entre na minha vida.
A todos os colegas terapeutas da fala, educadores, psicólogos, professores a
quem tenho tido o enorme prazer de dar formação, com quem tenho tido a
oportunidade única de fazer chegar a minha prática clínica, os meus pensamentos e
o conhecimento construído ao longo destes anos. Agradeço o vosso envolvimento...
faz-me querer continuar .. faz-me querer mais!
Ao Campo de Flores por 12 anos de confiança, pela oportunidade de poder
fazer um trabalho fundamentado e diferenciado. A todas as educadoras,
professoras e psicólogas com quem tenho trabalhado que me desafiam a fazer
sempre mais e melhor.
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III
RESUMO
Esta investigação tem como principal objetivo testar o modelo Padrão de
Aquisição de Contrastes (PAC-PE) em contexto clínico, bem como a sua utilização
na avaliação longitudinal, contribuindo assim para a avaliação de crianças com
Perturbação Fonológica portuguesas. Os estudos de aquisição fonológica têm dado
contributos importantes na àrea clínica, tanto na avaliação como na intervenção em
crianças com alterações fonológicas. Com a mudança de perspetiva relativa à
aquisição segmental, passando-se a assumir que este é um processo gradual que
envolve a combinação e organização de traços distintivos que caracterizam a
relação entre segmentos e estrutura prosódica (Lamprecht, 1986;
Hernandorena,1988, Stampe, 1973; Chomsky e Halle, 1968; Clements e Hume,
1995, Freitas, 2003; Clements 2009, Mota 2001, Duarte 2006), ocorre também uma
mudança na forma como se analisa o sistema fonológico de uma criança com
perturbação fonológica. Com base nesta ideia, Lazzarotto-Volcão (2009), partindo do
modelo de Clementes (2009), propõe uma escala de coocorrências de traços que
permite dar conta da emergência de contrastes fonológicos, responsáveis pelo
surgimento de segmentos – o modelo PAC - que permite determinar a presença de
alterações e possibilita a identificação da gravidade de uma alteração. Amorim
(2014) estuda a escala proposta para o português do Brasil, observando-a à luz dos
dados de aquisição fonológica típica do português europeu, pretendendo-se neste
trabalho, testar esta proposta para as crianças portuguesas com alterações
fonológicas dos sons da fala.
Este trabalho baseia-se nos dados de duas crianças com perturbação
fonológica, com idades compreendidas entre os 4;05 anos e 5;06 anos de idade.
Foram analisadas as produções destas crianças obtidas através da aplicação
do teste TFF-ALPE em três momentos distintos: avaliação inicial e dois momentos
de reavaliação, após intervenção. As produções foram sujeitas a uma análise que
incluiu a identificação do inventário fonético e uma análise fonológica através de: i)
identificação da ocorrência dos segmentos consonânticos em função dos
constituintes silábicos; ii) caracterização do tipo de erros encontrados em função dos
constituintes silábicos (de forma a aceder à representação fonológica da criança); iii)
identificação do inventário fonológico em função dos diferentes constituintes
silábicos; iv) identificação dos processos fonológicos presentes; v) análise do
sistema fonológico de cada criança através do modelo PAC-PE.
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IV
Com base nos resultados obtidos, o modelo PAC-PE foi testado em contexto
clínico e de forma longitudinal, tendo-se confirmado a sua adequação diagnóstico de
Perturbação Fonológica, possibilitando a identificação de atrasos ou de desvios
fonológicos. O modelo proporciona ainda a identificação do grau de gravidade da
patologia. Através da utilização do modelo em análises longitudinais, observa-se a
possibilidade de identificar as aquisições de combinações de traços realizadas por
crianças com Perturbação Fonológica, bem como de aferir de forma objetiva o
desenvolvimento fonológico durante a intervenção clínica, recorrendo à identificação
do grau de gravidade. Da análise dos dados concluiu-se ainda que a análise silábica
é fundamental na avaliação dos sistemas fonológicos de crianças com Perturbação
Fonológica. Apesar da confirmação da adequação do modelo para utilização em
contexto clínico, o modelo modelo PAC-PE, precisa de algumas adaptações. Neste
trabalho será realizada uma proposta com os aspetos considerados pertinentes.
Palavras chave: perturbação fonológica; avaliação; contrastes; aquisição
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V
ABSTRACT
This research aims to test the Contrasts Acquisition Pattern Model of EP
(PAC-PE) within a clinical context, as well as its application in longitudinal
assessment, thus contributing for the evaluation of Portuguese children with
Phonological Disorders. Phonological acquisition studies have made important
contributions in the clinical area, both in the evaluation and the intervention in
children with phonological disturbances. With the change in perspective regarding
segmental acquisition by assuming this is a gradual process involving the
combination and organization of distinctive features which characterize the
relationship between segments and prosodic structure (Lamprecht, 1986;
Hernandorena,1988, Stampe, 1973; Chomsky & Halle, 1968; Clements & Hume,
1995, Freitas, 2003; Clements 2009, Mota 2001, Duarte 2006), there is also a
change in the way in which the phonological system of a children with phonological
disorders is analysed. Based on this idea and on the Clements model, Lazzarotto-
Volcão (2009) propose a scale for the co-occurrence of features which allows to
register the emergence of phonological contrasts responsible for the occurrence of
segments – PAC model - which allows the determination of the presence of
disturbances and enables the identification of the severity of a disturbance. Amorim
(2014) studied the scale proposed to Brazilian Portuguese applied to the data of
phonological acquisition pertaining to European Portuguese with the objective of, in
this paper, testing this proposal in Portuguese children with speech phonological
disturbances.
This paper is based in the data of two children with phonological disorders,
with ages between 4:5 and 5:6 years.
The speech productions of these children, obtained through the application of
the TFF-ALPE (Phonetic & Phonologic Test - Preschool Language Assessment),
were analysed in three distinct moments: initial assessment and two reassessment
moments upon intervention. The speech productions were subject to an analysis that
included the identification of the phonetic inventory as well as a phonological analysis
through: i) the identification of the occurrence of consonantal segments according to
the syllabic constituents; ii) the characterization of the error types detected according
to the syllabic constituents (in order to access the child's phonological
representation); iii) the identification of the phonological inventory according to the
different syllabic constituents; iv) the identification of the phonological processes
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VI
present; v) the analysis of the phonological system of each child through the PAC-PE
model.
Based on the results obtained, the PAC-PE model was tested in a clinical
context and with a longitudinal method. Its suitability for the diagnosis of Phonological
Disturbances was confirmed, thus enabling the identification of phonological
disturbances or disorders. The model also enables the identification of the
seriousness level of the pathology. Through the application of the model in
longitudinal analysis, there is a possibility of identifying the acquisition of combination
of features accomplished by children with Phonological Disorders, as well as
objectively assessing the phonological development during the clinical intervention by
using the identification of the level of severity. Upon analysis of the data, we
concluded that the syllabic analysis is paramount in the assessment of the
phonological systems of children with Phonological Disorders. Although it was
confirmed to be suitable to be used in a clinical context, the PAC-PE model requires
a few adjustments. In this paper, we shall present a proposal including the aspects
considered to be pertinent.
Keywords: phonological disorder; assessment; contrasts; acquisition
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VII
SÍMBOLOS DO IPA (Intertational Phonetic Alphabet)
Consoantes Oclusivas [p] pala; [t] tom; [k] calo; [b] bala; [d] dom; [g] galo
Nasais [m] mata; [n] nata; [ɲ] sanha
Fricativas [f] fala; [s] selo; [ʃ] chá; [v] vala; [z] zelo; [Ʒ] já
Líquidas [l] lato; [ɫ] sal; [ʎ] malha; [ʀ] rato; [ɾ] caro
Vogais Orais [i] sino; [e] selo; [ɛ] neto; [a] bala; [ɔ] bola; [o]
sono; [u] bula; [ɐ] cano; [ɨ] pegar;
Nasais [ĩ] cinto; [ẽ] sent;o[ ̃ɐ ]c anto; [õ] conto; [ũ]
Semivogais Orais [j] pai; [w] pau
Acento ['] pala
Outros [ʔ]–oclusiva laríngea surda
[χ]–fricativa uvular surda
[ʁ]–fricativa uvular sonora
[r]–vibrante alveolar
[x]–fricativa velar sonora
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VIII
ÍNDICE
I PARTE - ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1
CAPÍTULO 1. O SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS EUROPEU 1 1.1. PROPRIEDADES SEGMENTAIS DO SISTEMA CONSONÂNTICO 1 1.2. PROPRIEDADES DA ESTRUTURA SILÁBICA 13
CAPÍTULO 2. O DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO NO PORTUGUÊS
EUROPEU 17 2.1. DADOS SOBRE A AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES 17 2.2 DADOS SOBRE A AQUISIÇÃO DA ESTRUTURA SILÁBICA 24
CAPÍTULO 3. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES 32 3.1. FUNDAMENTAÇÃO E ARQUITETURA DO PAC 32 3.2. ETAPAS PROPOSTAS PELO MODELO PAC 34 3.3. O PAC NA AVALIAÇÃO FONOLÓGICA 41 3.4. CLASSIFICAÇÃO DAS PERTURBAÇÕES FONOLÓGICAS - PAC 44 3.5 PROCEDIMENTOS DE UTILIZAÇÃO DO PAC PARA A AVALIAÇÃO FONOLÓGICA 47 3.6. IMPLICAÇÕES DO MODELO NA INTERVENÇÃO 48
CAPÍTULO 4. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES DO
PORTUGUÊS EUROPEU – PAC-PE 49
CAPÍTULO 5. AS PERTURBAÇÕES DOS SONS DA FALA 57 5.1 A FALA E AS SUAS ALTERAÇÕES 58
II PARTE - METODOLOGIA 67
CAPÍTULO 6 . CRITÉRIOS MEDOTOLÓGICOS 67 6.1. QUESTÃO ORIENTADORA 67 6.2. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 68 6.3 INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS 73 6.4. PROCEDIMENTOS DO ESTUDO 74
III PARTE – DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS 88
CAPÍTULO 7 . APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 88
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IX
7.1. SUJEITO 1 89 7.2. SUJEITO 2 136
IV PARTE – REFLEXÕES FINAIS 183
CAPÍTULO 8 – DISCUSSÃO 183 8.1.IMPLICAÇÕES DO MODELO PAC-PE NA AVALIAÇÃO CLÍNICA 184 8.2. O MODELO PAC-PE NA AVALIAÇÃO CLÍNICA LONGITUDINAL 187 8.3. ANÁLISE FONOLÓGICA – CONTRIBUTOS PARA UMA ANÁLISE DE MODELOS DE
AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO 188 8.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E TÓPICOS PARA INVESTIGAÇÃO FUTURA 195
BIBLIOGRAFIA 197
ANEXOS 206
ANEXO A: Formulário de Consentimento 205
ANEXO B: Transcições Fonéticas – Sujeito 1 211
ANEXO C: Transcrições Fonéticas – Sujeito 2 215
ANEXO D: Folhas de registo – Ocorrências de Consoantes 219
ANEXO E: Folhas de Registo – Cálculo para o inventário fonológico 221
ANEXO F: Folha de registo – Representação do Inventário Fonológico 223
ANEXO G: Folha de registo – Ocorrência de Processos fonológicos 225
ANEXO H: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE 227
ANEXO I: Folhas de Registo – Ocorrência de Consoantes– Sujeito 1 229
ANEXO J: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 1 233
ANEXO K: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 1 237
ANEXO L: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 1 241
ANEXO M : Folhas de registo – Ocorrência de Consoantes sujeito 2 245
ANEXO N: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 2 249
ANEXO O: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 2 253
ANEXO P : Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 2 257
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X
ÍNDICE DE QUADROS
QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO ARTICULATÓRIA TRADICIONAL DAS CONSOANTES DO
PORTUGUÊS EUROPEU (MATEUS, FALÉ E FREITAS, 2005:83) .................................. 2
QUADRO 2 - DISTRIBUIÇÃO DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU RELATIVAMENTE
À POSIÇÃO QUE OCUPAM NA PALAVRA. .................................................................... 4
QUADRO 3 - CARACTERIZAÇÃO DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU À LUZ DA
GEOMETRIA DE TRAÇOS (MATEUS E ANDRADE, 2000) ............................................. 5
QUADRO 4 - CLASSIFICAÇÃO FONOLÓGICA DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU . 6
QUADRO 5 - ESCALAS DE ROBUSTEZ PARA COOCORRÊNCIAS DE TRAÇOS PARA O
PORTUGUÊS DO BRASIL (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009) E PARA O PORTUGUÊS
EUROPEU (AMORIM, 2014) ................................................................................... 10
QUADRO 6 - CONTRASTES DO SISTEMA FONOLÓGICO PROPOSTOS PARA O PORTUGUÊS DO
BRASIL E PARA O PORTUGUÊS EUROPEU, À LUZ DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO
DE CONTRASTES (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009; AMORIM, 2014). .......................... 13
QUADRO 7 - ESTRUTURA DOS CONSTITUINTES SILÁBICOS DE ACORDO COM A PROPOSTA
DE ATAQUE-RIMA (FREITAS 2017:74) .................................................................... 14
QUADRO 8 - DISTRIBUIÇÃO DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU PELOS
CONSTITUINTES SILÁBICOS E POSIÇÃO DA PALAVRA EM QUE PODEM OCORRER. ...... 15
QUADRO 9 - DADOS DE AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU
(AMORIM, 2014 :284) ........................................................................................... 20
QUADRO 10 - DADOS DE AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU
(MENDES ET ALII., 2013) ...................................................................................... 20
QUADRO 11 - DADOS SOBRE O DESAPARECIMENTO DE PROCESSOS FONOLÓGICOS PARA O
PORTUGUÊS EUROPEU (MENDES ET ALII., 2013) .................................................... 21
QUADRO 12 - ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE
CONTRASTES DO PORTUGUÊS EUROPEU (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2016; AMORIM,
2014) .................................................................................................................. 22
QUADRO 13 - DESCRIÇÃO DA AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU
(RAMALHO, 2017) ................................................................................................ 24
QUADRO 14 – ESTÁDIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE NO PORTUGUÊS
EUROPEU (FREITAS, 1997, 2003, 2015) ............................................................... 26
QUADRO 15 - ESTÁDIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE NO PORTUGUÊS
EUROPEU (FREITAS, 1997, 2003, 2015) ............................................................... 27
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QUADRO 16 - CRONOLOGIA DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE RAMIFICADO NO
PORTUGUÊS EUROPEU (MENDES ET ALII.) ............................................................. 27
QUADRO 17 - ESTÁGIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE RIMA NO PORTUGUÊS EUROPEU
(FREITAS, 1997) .................................................................................................. 29
QUADRO 18 - CRONOLOGIA DA AQUISIÇÃO DA CODA PARA O PORTUGUÊS EUROPEU
(MENDES ET AL.;2013; AMORIM, 2014; RAMALHO, 2017) ..................................... 29
QUADRO 19 - ESTÁDIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE NO PORTUGUÊS
EUROPEU (FREITAS 2017: 90) .............................................................................. 30
QUADRO 20 - RESUMO DOS DADOS SOBRE A AQUISIÇÃO SEGMENTAL EM FUNÇÃO DO
CONSTITUINTE SILÁBICO, PARA O PORTUGUÊS EUROPEU, ADAPTADO DE RAMALHO
2017:28 .............................................................................................................. 31
QUADRO 21 - PRIMEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E
DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 35
QUADRO 22 - SEGUNDA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E
DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 36
QUADRO 23 - TERCEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E
DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 38
QUADRO 24 - QUARTA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E
DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 39
QUADRO 25 - RESUMO DAS ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE
CONTRASTES, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:116 ............................ 40
QUADRO 26 - ÍNDICE DE ECONOMIA PARA CADA ETAPA DE AQUISIÇÃO, SEGUNDO O PAC
(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:119) ...................................................................... 46
QUADRO 27 - PRIMEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E
SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 50
QUADRO 28 - SEGUNDA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC-PE, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E
SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 51
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XII
QUADRO 29 - TERCEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC-PE, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E
SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 52
QUADRO 30 - QUARTA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC-PE, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS
MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E
SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 53
QUADRO 31 - RESUMO DAS ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE
CONTRASTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU ......................................................... 54
QUADRO 32 -RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE R.R. COM BASE NA
APLICAÇÃO DO TALC ( SUA KAY & TAVARES, 2006) .............................................. 70
QUADRO 33 - RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE L.R. COM BASE NA
APLICAÇÃO DO TALC (SUA KAY & TAVARES, 2006) .............................................. 72
QUADRO 34 - DESCRIÇÃO DE PROCESSOS FONOLÓGICOS (MENDES ET ALII., 2013) ........ 77
QUADRO 35 - DESCRIÇÃO DAS SESSÕES DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICAS DO SUJEITO 1
EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE SESSÕES, DOS ESTÍMULOS ALVO SELECIONADOS, DAAS
TAREFAS REALIZADAS E DAS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS. ......................................... 82
QUADRO 36 - DESCRIÇÃO DAS SESSÕES DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICAS DO SUJEITO 2
EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE SESSÕES, DOS ESTÍMULOS ALVO SELECIONADOS, DAS
TAREFAS REALIZADAS E DAS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS. ......................................... 86
QUADRO 37 - IDADE (EM ANOS MESES) NO MOMENTO DAS AVALIAÇÕES - SUJEITO 1 ....... 89
QUADRO 38 - INVENTÁRIO FONÉTICO DO SUJEITO 1 NO MOMENTO DA PRIMEIRA
AVALIAÇÃO, AOS 5 ANOS E 6 MESES ...................................................................... 90
QUADRO 39 - INVENTÁRIO FONÉTICO DO SUJEITO 1 NO MOMENTO DA SEGUNDA
AVALIAÇÃO, AOS 6 ANOS E CINCO MESES ............................................................... 91
QUADRO 40 - INVENTÁRIO FONÉTICO DE R.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO, AOS
SETE ANOS E DOIS MESES ..................................................................................... 92
QUADRO 41 - PRODUÇÕES QUE REFLETEM A CAPACIDADE FONÉTICA DE R.R. AO LONGO
DOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ................................................................... 93
QUADRO 42 - OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM ATAQUE SIMPLES E EM
ATAQUE MEDIAL, NAS TRÊS AVALIAÇÕES DE R.R. ................................................... 96
QUADRO 43 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA
DE R.R. EM ATAQUE SIMPLES INICIAL E EM ATAQUE MEDIAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE
AVALIAÇÃO. ......................................................................................................... 98
QUADRO 44 - OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM FUNÇÃO DA POSIÇÃO DE
CODA NA PALAVRA, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO, EM R.R ....................... 100
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QUADRO 45 -EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA
DO R.R. EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO
......................................................................................................................... 101
QUADRO 46 - ATAQUES RAMIFICADOS NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO NO
SUJEITO 1 .......................................................................................................... 102
QUADRO 47 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA
DE R.R. EM ATAQUE RAMIFICADO, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ............... 103
QUADRO 48 - OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE R.R. EM ATAQUE
INICIAL E EM ATAQUE MEDIAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ..................... 104
QUADRO 49 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE
PRODUÇÃO PREFERENCIAIS DE R.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE INICIAL E EM
ATAQUE MEDIAL, NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ............................. 106
QUADRO 50 -OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE R.R. EM CODA MEDIAL
E EM CODA FINAL, NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ............................ 107
QUADRO 51 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE
PRODUÇÃO PREFERENCIAL DE R.R. PARA ERROS EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL,
NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO .................................................................. 108
QUADRO 52 - VALORES DE OCORRÊNCIA DOS PADRÕES DE ERRO PARA OS SEGMENTOS
AUSENTES EM ATAQUE SIMPLES, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO PARA O
SUJEITO 1 .......................................................................................................... 109
QUADRO 53 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE
PRODUÇÃO PREFERENCIAL DE R.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO, NOS
TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 110
QUADRO 54 -PROCESSOS FONOLÓGICOS PRESENTES NAS PRODUÇÕES DO SUJEITO 1, EM
FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ................................................................. 121
QUADRO 55 - PRODUÇÕES DO SUJEITO 1, ORGANIZADOS EM PROCESSOS FONOLÓGICO,
EM FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............................................................ 122
QUADRO 56 -SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC-PE), PARA O SUJEITO 1, NO
PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO .................................................................... 125
QUADRO 57 -CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS CONTRASTES
QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - SEVERO ........................................ 129
QUADRO 58 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 1, NO
MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 131
QUADRO 59 -CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS CONTRASTES
QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - LEVE ............................................. 132
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XIV
QUADRO 60 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 1, NO
MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 134
QUADRO 61 -IDADE (EM ANOS MESES) NO MOMENTO DAS AVALIAÇÕES – SUJEITO 2 ..... 136
QUADRO 62 -INVENTÁRIO FONÉTICO DE L.R. NO MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO, AOS
4 ANOS E 5 MESES DE IDADE. .............................................................................. 137
QUADRO 63 -INVENTÁRIO FONÉTICO DE L.R. NO MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO, AOS
4 ANOS E 8 MESES ............................................................................................. 138
QUADRO 64 -INVENTÁRIO FONÉTICO DE L.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO, AOS
5 ANOS E 6 MESES DE IDADE ............................................................................... 139
QUADRO 65 -EXEMPLOS DE PALAVRAS PARA OS DIFERENTES SEGMENTOS FONÉTICOS EM
FUNÇÃO DO MOMENTO DA AVALIAÇÃO, DE L.R. .................................................... 140
QUADRO 66 -SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM ATAQUE SIMPLES E EM ATAQUE MEDIAL PARA
L.R., NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................... 142
QUADRO 67 -EXEMPLOS DE PALAVRAS PARA OS DIFERENTES SEGMENTOS FONOLÓGICOS
EM FUNÇÃO DO MOMENTO DA AVALIAÇÃO DE L.R. ................................................ 144
QUADRO 68 - SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL PARA L.R.,
NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ....................................................... 145
QUADRO 69 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA
DE L.R. EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL ......................................................... 146
QUADRO 70 -OCORRÊNCIA DOS ATAQUES RAMIFICADOS NOS DIFERENTES MOMENTOS DE
AVALIAÇÃO, PARA L.R. ....................................................................................... 147
QUADRO 71 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA
DE L.R. EM ATAQUE RAMIFICADO NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ................ 148
QUADRO 72 - OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE L.R. EM ATAQUE
INICIAL E EM ATAQUE MEDIAL, EM FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............... 150
QUADRO 73- EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE
PRODUÇÃO PREFERENCIAIS DE L.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL
E EM ATAQUE RAMIFICADO MEDIAL, EM FUNÇÃO DOS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ... 152
QUADRO 74 - OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE L.R. EM CODA MEDIAL
E EM CODA FINAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ...................................... 154
QUADRO 75 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE
PRODUÇÃO PREFERENCIAIS DO SUJEITO 2, PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO
INICIAL E EM ATAQUE RAMIFICADO MEDIAL, EM FUNÇÃO DOS MOMENTOS DE
AVALIAÇÃO ........................................................................................................ 155
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XV
QUADRO 76- OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE L.R. EM ATAQUE
RAMIFICADO, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO .............................................. 156
QUADRO 77 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE
PRODUÇÃO PREFERENCIAL DE L.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO, NOS
TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 157
QUADRO 78 - PROCESSOS FONOLÓGICOS PRESENTES NAS PRODUÇÕES DO SUJEITO 2, EM
FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ................................................................. 168
QUADRO 79 - PRODUÇÕES DO SUJEITO 2, ORGANIZADOS EM PROCESSOS FONOLÓGICO,
EM FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............................................................ 169
QUADRO 80 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC-PE), PARA O SUJEITO 2, NO
PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO .................................................................... 172
QUADRO 81 - CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS
CONTRASTES QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - SEVERO .................... 176
QUADRO 82 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 2, NO
MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 178
QUADRO 83 - CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS
CONTRASTES QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - LEVE ........................ 180
QUADRO 84 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 2, NO
MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 181
QUADRO 85 -EXEMPLOS DE PRODUÇÕES DE CRIANÇAS EM FUNÇÃO DOS CONSTITUINTES
SILÁBICOS NO PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............................................... 194
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XVI
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 1- CONDIÇÕES PARA A ESPECIFICAÇÃO DE TRAÇOS ............................................ 7
FIGURA 2 - ESCALA DE ROBUSTEZ PARA OS TRAÇOS CONSONÂNTICOS (CLEMENTS,
2009:46-47) .......................................................................................................... 9
FIGURA 3 - ESQUEMA DA ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SÍLABA “MAR” ................................ 14
FIGURA 4 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ARQUITETURA DO MODELO PAC
(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:88) ........................................................................ 33
FIGURA 5 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ARQUITETURA DO MODELO PAC –
CODIFICAÇÃO DE CORES EM FUNÇÃO DAS DIFERENTES ETAPAS (LAZZAROTTO-
VOLCÃO, 2009:117) ............................................................................................ 34
FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DA 1ª ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC (LAZZAROTTO-
VOLCÃO, 2009:102) ............................................................................................ 36
FIGURA 7- REPRESENTAÇÃO DA SEGUNDA ETAPA (A VERMELHO) E DA SEGUNDA ETAPA (A
AZUL) DE AQUISIÇÃO DO PAC (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:106) ......................... 37
FIGURA 8 - REPRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA (A VERMELHO), DA SEGUNDA (A AZUL) E A DA
TERCEIRA (A AMARELO) ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO PAC (LAZZAROTTO-VOLCÃO,
2009:109) ........................................................................................................... 38
FIGURA 9 - REPRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA (A VERMELHO), DA SEGUNDA (A AZUL), DA
TERCEIRA (A AMARELO) E DA QUARTA (VERDE) ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO PAC
(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 112) ..................................................................... 39
FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO DA AQUISIÇÃO DO SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS
EUROPEU À LUZ DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES
(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009; 2016; AMORIM, 2014) ........................................... 56
FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS
DO BRASIL À LUZ DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES
(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:117). ..................................................................... 56
FIGURA 12 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE R.R. NO MOMENTO DA
PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 111
FIGURA 13 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DO R.R. NO MOMENTO DA
PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 112
FIGURA 14 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE R.R. NO
MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 113
FIGURA 15 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE
RAMIFICADO MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO ................... 114
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XVII
FIGURA 16 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE R.R. NO MOMENTO DA
SEGUNDA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 115
FIGURA 17 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DO SUJEITO 1, NO MOMENTO
DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................................... 116
FIGURA 18 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE R.R. NO
MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 117
FIGURA 19 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE
RAMIFICADO MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO ................... 117
FIGURA 20 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE R.R. NO MOMENTO DA
TERCEIRA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 118
FIGURA 21 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA
TERCEIRA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 119
FIGURA 22 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE R.R. NO
MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 119
FIGURA 23 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE
RAMIFICADO MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO ................... 120
FIGURA 24 -REPRESENTAÇÃO DO PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 1 NO
MODELO PAC-PE .............................................................................................. 130
FIGURA 25 -REPRESENTAÇÃO DO SEGUNDO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 1, DE
ACORDO COM O MODELO PAC-PE ...................................................................... 133
FIGURA 26 -REPRESENTAÇÃO DO TERCEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 1, DE
ACORDO COM O PAC-PE. .................................................................................. 135
FIGURA 27 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE L.R. NO MOMENTO DA
PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 158
FIGURA 28 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DO SUJEITO 2 NO MOMENTO DA
PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 159
FIGURA 29 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE L.R., NO
MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 160
FIGURA 30 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E EM ATAQUE
RAMIFICADO MEDIAL DE L.R., NO MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO ................... 161
FIGURA 31 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE L.R., NO MOMENTO DA
PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 162
FIGURA 32 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL, DE L.R., NO MOMENTO DA
SEGUNDA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 163
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XVIII
FIGURA 33 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DE L.R., EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL, NO
MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 164
FIGURA 34 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE
RAMIFICADO MEDIAL DE L.R. NO MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................... 164
FIGURA 35 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2 EM ATAQUE INICIAL, NO MOMENTO DA
TERCEIRA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 165
FIGURA 36 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2 EM ATAQUE MEDIAL, NO MOMENTO
DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................................... 166
FIGURA 37 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2, EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL,
NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO ............................................................... 167
FIGURA 38 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2, EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E
EM ATAQUE RAMIFICADO MEDIAL DE L.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO . 167
FIGURA 39 - REPRESENTAÇÃO DO PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 2 NO
MODELO PAC-PE .............................................................................................. 177
FIGURA 40 -REPRESENTAÇÃO DO SEGUNDO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 2, DE
ACORDO COM O MODEO PAC-PE ....................................................................... 180
FIGURA 41 - REPRESENTAÇÃO DO TERCEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 2, DE
ACORDO COM O PAC-PE. .................................................................................. 182
FIGURA 42 - PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO DO MODELO PAC-PE ............................. 192
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XIX
INTRODUÇÃO
O estudo dos processos relacionados com a aquisição fonológica, os
modelos teóricos desenvolvidos para explicar o funcionamento e a forma como as
unidades fonológicas são adquiridas pelos falantes de uma língua têm contribuído
para uma mudança importante na forma como são vistas as alterações de fala. Os
estudos desenvolvidos na área da Fonologia Clínica têm sido fundamentais para
uma mudança nos procedimentos de avaliação de crianças com alterações de fala
(incluindo na tomada de decisão do diagnóstico a estabelecer), para a forma como
os dados de avaliação são interpretados, refletindo-se também em novas
perspetivas sobre a intervenção. Com trabalhos como os de Lamprecht (1986) e de
Hernandorena (1988), ocorreu uma verdadeira mudança de paradigma no que se
refere à avaliação e intervenção em Perturbações dos Sons da Fala, especialmente
nas Perturbações Fonológicas (sub-tipo de Perturbações dos Sons da Fala, que
serão alvo deste trabalho).
Com a perspetiva decorrente de modelos como a Fonologia Natural (Stampe,
1973), a Fonologia Generativa Clássica (Chomsky e Halle, 1968) e a Fonologia
Autossegmental (Clements e Hume, 1995), alguns autores assumem que a
aquisição segmental ocorre através de um processo gradual no qual a criança vai
adquirindo, combinando e organizando os traços distintivos dentro da estrutura de
cada segmento. Freitas (2003), observa este processo gradual nas crianças
portuguesas para a aquisição das lateriais, verificando que num primeiro momento
as crianças portuguesas processam as laterais com especificação [coronal] no nó
ponto de articulação e um nó vocálico subsespecificado com informação de
altura/abertura. Numa segunda fase, são adquiridas informações fonológicas
correspondentes a níveis mais altos de representação da estrutura, dominando
[coronal] com distinção [±anterior], respeitante ao nó Ponto de articulação das
consoantes, com a emergência de /l/. Só depois são processadas informações de
níveis mais baixos da estrutura como o traço [coronal] do nó vocálico, possibiitanto a
emergência de /ʎ/ .
Decorrente dos trabalhos de Clements (2009), que contempla a Escala de
Robustez, com a proposta de organização de traços consonânticos em função dos
inventários das línguas do mundo, em que os traços que ocupam o topo da escala
são considerados os mais robustos, e são adquiridos em primeiro lugar; os que
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XX
ocupam a base são considerados menos robustos, sendo adquiridos posteriormente.
Tendo em conta este pressuposto, Lazzarotto-Volcão (2009) estuda o processo de
aquisição fonológica do português do Brasil, propondo uma escala de robustez, não
de traços isolados como a Escala de Robustez de Clements (2009) mas de
coocorrências de traços. Amorim (2014) analisa a escala proposta para o português
do Brasil, observando-a à luz dos dados de aquisição fonológica típica do português
europeu (Lazzarotto-Volcão, 2009; Amorim 2014). Deste trabalho, resulta uma
adaptação da escala ao português europeu.
Com base nos trabalhos de aquisição fonológica nas últimas quatro décadas,
a perspetiva relativamente às dificuldades com o processo de aquisição fonológica
passam a ser vistas de forma diferente. Passa-se a compreender que as crianças
com Perturbação Fonológica têm dificuldades na aquisição e na organização das
propriedades fonológicas pertinentes e distintivas da sua língua, apresentando
problemas com a combinação de traços e a organização interna dos segmentos
(Lamprecht, 1986; Hernandorena 1988). Esta mudança de paradigma tem uma
influência importante tanto no processo de avaliação como no planeamento da
intervenção terapêutica, embora nem sempre a prática clínica o espelhe.
Alguns trabalhos em Portugal têm-se centrado no estudo da aquisição
fonológica, tentando descrever este processo à luz de diferentes modelos teóricos.
Desta forma, considera-se pertinente entender de que forma a perspetiva fonológica
de construção gradual através de combinação de traços pode ser útil à avaliação e
intervenção terapêutica de crianças portuguesas com Perturbação Fonológica e de
que forma permite entender as aquisições feitas por estas crianças ao longo do
processo de intervenção.
Assim, com este trabalho pretende-se utilizar o modelo Padrão de Aquisição
de Contrastes (PAC), desenvolvido por Lazzarotto-Volcão (2009) e adaptado ao
português europeu (PAC-PE) por Amorim (2014), para a descrição do perfil
fonológico de crianças portuguesas com perturbação fonológica. Asim, foram
delineados os seguintes objetivos:
• testar o modelo PAC-PE em contexto clínico, junto a crianças
portuguesas;
• observar a eficácia do PAC-PE na avaliação longitudinal, das
mesmas crianças;
A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
XXI
Na primeira parte do presente trabalho pretende-se fundamentar
teoricamente a investigação. No capítulo 1, será feita uma breve descrição das
propriedades fonológicas do português europeu seguida pela apresentação de
dados relativos ao desenvolvimento fonológico no português europeu. No capítulo 3
será apresentado o modelo PAC e, no capítulo 4, a sua adaptação ao português
europeu. No capítulo 5 pretende-se apresentar uma revisão sobre as Perturbações
dos Sons da Fala, com foco nas Perturbações Fonológicas.
Na segunda parte deste trabalho, no capítulo 6, serão descritos os
procedimentos metodológicos utilizados para esta investigação. No capítulo 7,
correspondente à terceira parte deste trabalho, serão apresentados os resultados
obtidos. Por fim, a quarta parte deste trabalho tem como objetivo apresentar
conclusões e reflexões finais.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
1
I PARTE - ENQUADRAMENTO TEÓRICO
CAPÍTULO 1. O SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS EUROPEU
Nesta secção, com o objetivo de apresentar as ferramentas necessárias à
descrição e à discussão dos dados do presente trabalho, pretende-se caracterizar
sumariamente as propriedades fonológicas do português europeu relativamente a
dois aspetos: as propriedades segmentais das unidades consonânticas do sistema
consonântico (1.1) e à estruturação silábica (1.2).
1.1.Propriedadessegmentaisdosistemaconsonântico
Ao longo do tempo, a estrutura sonora do português europeu tem vindo a ser
descrita à luz de vários modelos. Os primeiros foneticistas recorreram a
classificações articulatórias, usadas até aos dias de hoje, baseadas nos movimentos
realizados pelas estruturas anatómicas envolvidas durante a produção de fala –
nível fonético. De acordo com a classificação tradicional, as consoantes do
português europeu podem ser classificadas i) quanto ao modo de articulação: em
oclusivas orais ([p, t, k, b, d, g]; oclusivas nasais ([m, n, ɲ]); fricativas ([f, s, ʃ, v, z, ʒ]);
laterais ([l, ʎ]); vibrantes ([ɾ, ʀ]). ii) Quanto ao ponto de articulação, em bilabiais,
labiodentais, dentais, alveolares, palatais, velares e uvulares, tal como ilustrado no
quadro 1. (Mateus, Falé e Freitas, 2005/2017).
Modo Oclusiva Fricativa Lateral Vibrante Ponto e voz. Oral Nasal
Bilabial Vozeada [b] [m]
Não-vozeada [p]
Labiodental Vozeada [v]
Não-vozeada [f]
Dental Vozeada [d] [z]
Não-vozeada [t] [s]
Alveolar Vozeada [n] [l] [ɾ]
Não-vozeada
Palatal Vozeada [ɲ] [ʒ] [ʎ]
Não-vozeada [ʃ]
Velar Vozeada [g] [ʀ]
Não-vozeada [k]
Uvular Vozeada Não-vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
2
Quadro 1 - Classificação articulatória tradicional das consoantes do Português europeu (Mateus, Falé e Freitas, 2005:83)
Os estudos sobre os aspetos fonéticos têm sido fundamentais para a
descrição e categorização dos sons da fala. No entanto, tal como referido por Freitas
et alii. (2012), para que uma sequência de fala seja reconhecida e compreendida, é
fundamental que obedeça aos princípios universais e às regras fonológicas de uma
língua. A descrição fonológica do sistema de uma dada língua pretende dar conta da
forma como funcionam e se relacionam as diferentes unidades fonológicas (grupos
entoacionais, grupos acentuais, palavras, sílabas e segmentos).
Freitas et alii (2012), bem como Mateus, Falé e Freitas (2005/2017), referem
que a atribuição de significado depende da organização de unidades fonológicas, tal
como proposto no âmbito da fonologia estruturalista. A alteração de significado é
originada pela comutação de unidades mínimas, procedimento usado para identificar
os fonemas de uma língua, na tradição estruturalista. Assim, segmentos como [p] e
[k] são unidades com função distintiva (/p/ versus /k/), já que permitem a alteração
de significado em pares de palavras como [‘sapu] <sapo> e [‘saku] <saco> (Freitas
et alii. (2015:40) em português europeu (dimensão fonológica). Para que os mesmos
sejam produzidos terão de ser articulados (dimensão fonética) de acordo com as
propriedades do sistema linguístico do falante, sejam elas variação dialetal, social ou
ideoletal. Assim, por exemplo, o fonema /s/ poderá ser realizado como [‘pasu]
<passo> ou [‘paçu] <passo>, de forma dental ou ápico-alveolar, respetivamente,
conforme o dialeto do Português europeu considerado (Mateus et alii., 2005:161).
Mateus e Andrade (2000) e Mateus et alii. (2005) assumem que o inventário
fonológico do português europeu é composto por 19 consoantes. Todas as
consoantes ocorrem em posição medial ou inicial de palavra, excepto a lateral /ʎ/ e a
vibrante /ɾ/, cuja ocorrência é restrita à posição medial de palavra. A posição final de
palavra é ocupada por um número restrito de consoantes: uma fricativa (/s/)1 e duas
1 A fricativa/s/em coda é realizada foneticamente como[ʃ]ou[ʒ],dependento do contexo adjacente como no exemplo[‘ʀaʒgɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
3
líquidas (/l/2 e /ɾ/). No entanto, é importante referir que, foneticamente, qualquer
consoante pode ser encontrada em posição final de palavra, em consequência de
um fenómeno associado ao apagamento de vogais átonas finais, como em [‘lum]
<lume>. (Mateus e Andrade, 2000; Mateus et alii, 2005).
No português europeu, existe a possibilidade de duas (ou mais) realizações
fonéticas para o fonema /l/, dependendo da posição da sílaba em que ocorre. Assim,
podemos encontrar este fonema realizado como [l], articulado como alveolar, quando
surge em ataque simples, como, por exemplo, na palavra [‘ladu] <lado>: o mesmo
fonema pode ser realizado como [ɫ], articulado de forma velarizada, quando surge
em coda, como ilustrado pelos exemplos [‘saɫsɐ] <salsa> e [‘maɫ] <mal>. (Mateus et
alii., 2005:161; Rodrigues, 2015).
Outra característica pertinente relativa ao sistema consonântico do português
europeu é o fenómeno de assimilação do vozeamento, já que o segmento [ʒ] só é
realizado no constituinte coda quando é seguido de uma consoante vozeada, como
é o caso de [‘Raʒgɐ] <rasga>. Em todos os restantes casos, a fricativa que preenche
a posição de coda é a não vozeada [ʃ], tal como descrito por Mateus e Andrade
(2000).
No português europeu os róticos podem assumir diferentes realizações
fonéticas para os róticos. Rennicke e Martins (2013) descrevem 5 possibilidade de
realizações fonéticas para /ʀ/, incluindo as identificadas por Rodrigues3 (2015). Os
autores identificam as três variantes fonéticas mais comuns de /ʀ/, podendo a
mesma ser produzida como vibrante múltipla uvular [ʀ /], fricativa uvular vozeada [ʁ],
ou fricativa uvular não vozeada [X]. As duas últimas correspondem às formas mais
frequentemente encontradas nas produções. A forma fricativa da produção de /ʀ/ é
sustentada também pelos dados referidos por Amorim (2014), que observa
produções de /ʀ/ como fricativa uvular nos dados das crianças observadas.
2A lateral/l/é realizada foneticamente como [ɫ]em posição de coda, como no exemplo[‘maɫ]3 No seu trabalho, a autora refere ainda as variações fonéticas encontradas para /ʎ /, /ɾ/ e /l /
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
4
O quadro 2, abaixo, contém o inventário das consoantes do português
europeu, em função da possibilidade de ocorrência das diferentes posições da
palavra.
Posição inicial #_V
Posição medial V_V
Posição final V_#
[p] x X [t] X X [k] X X [b] X X [d] X X [g] X X [f] X X
[s] X X
[ʃ] X X x [v] X X [z] X X [ʒ] X X X [m] X X [n] X X [l] X X [ɫ] x x [ʀ] X X [ʎ] X [ɲ] X [ɾ] X X
Quadro 2 - Distribuição das consoantes do Português europeu relativamente à posição que ocupam na palavra.
Os segmentos são unidades compostas por propriedades internas,
denominadas traços distintivos, que funcionam ou em modo binário (com o valor [+]
regista-se a presença de uma propriedade; com o valor [-] regista-se a ausência de
uma propriedade), ou em modo unário, de acordo com o modelo teórico adotado.
Jakobson, Fant e Halle (1952) fazem uma proposta de classificação dos sons da fala
em traços distintivos de base acústica usando um sistema binário. Em 1968, na obra
The Sound Pattern of English, Chomsky e Halle mantêm o uso binário dos traços
distintivos, mas adotam uma definição articulatória dos mesmos. Este modelo foi
adaptado, posteriormente, ao português europeu, por Mateus (1975) e por Andrade
(1977). Nesta proposta de Chomsky e Halle, os traços distintivos não estão
hierarquicamente organizados. Para além disso, traços que funcionam em conjunto
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
5
num processo natural da língua (processo fonológico) não estão relacionados entre
si.
Clements e Hume (1995) propõem o modelo da Geometria de Traços,
adaptado ao português europeu por Mateus e Andrade (2000), que assume uma
organização dos traços que compõem os segmentos. De acordo com este modelo,
são usados traços unários e traços binários; os traços terminais (representados em
[] - parênteses retos) são agrupados em nós de classe que, por sua vez, se
encontram agrupados em vários níveis ligados ao nó mais alto, denominado nó raiz.
No seguimento da organização de traços das consoantes do português
europeu à luz da Geometria de Traços (Mateus e Andrade, 2000), apresenta-se a
caracterização das consoantes do português europeu, no quadro 3 (os nós
monovalentes estão registados com • quando estão presentes e deixados em branco
quando estão ausentes; os traços terminais, binários, estão registados com [+] ou [-],
dependendo da presença ou ausência da propriedade no segmento; os valores que
não necessitam de especificação são deixados em branco, indo ao encontro dos
princípios de simplicidade e economia que subjazem ao modelo teórico adotado.
p b t d k g m n ɲ f v s z ʃ ʒ l ʎ ɾ ʀ
[soante] - - - - - - + +
[contínuo] - - - - - - + + + + + +
[nasal] + + +
[lateral] + +
Laríngeo • • • • • • • • • • • •
[vozeado] - + - + - + - + - + - +
Labial • • • • • • •
Coronal • • • • • • • • • • •
[anterior] + + + - + + - - + - +
Dorsal • • •
[recuado] + + +
Quadro 3 - Caracterização das consoantes do português europeu à luz da Geometria de Traços (Mateus e Andrade, 2000)
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
6
Desta forma, recorrendo a uma caracterização fonológica de base
articulatória do português europeu, podemos classificar as consoantes de acordo
com o quadro 4:
Labial Coronal [+ anterior] Coronal [-anterior] Dorsal
Oclusivas orais
[- contínuo; -soante] /p/, /b/ /t/, /d/ /k/, /g/
Oclusivas Nasais
[+nasal] /m/ /n/ /ɲ/
Fricativas
[+ contínuo; -soante] /f/, /v/ /s/, /z/ /ʃ/, /ʒ/
Laterais
[+ lateral] /l/ /ʎ/
Vibrantes
[+ soante] /ɾ / /ʀ/
Quadro 4 - Classificação fonológica das consoantes do Português europeu
Assim, quanto ao modo de articulação, as consoantes podem ser:
• oclusivas nasais ([+nasal]): /m, n, ɲ/;
• oclusivas orais ([-contínuo; -soante]): /p, b, t, d, k, g/;
• fricativas ([+contínuo; - soante]): /f, v, s, z, ʃ, ʒ/;
• vibrantes ([+soantes]): /ɾ, ʀ/;
• laterais ([+laterais)]: /l, ʎ,/.
Quanto ao ponto de articulação, as consoantes são caracterizadas como:
• labial: /p, b, m, f, v/;
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
7
• coronal [+anterior]: /t, d, s, z, l, n, ɾ/;
• coronal [-anterior]: /ʃ, ʒ, ɲ, ʎ/;
• dorsal: /k, g, ʀ/.
Na continuidade dos estudos que pretendem descrever e explicar o
funcionamento dos sistemas fonológicos, bem como a sua aquisição, Clements
(2001, citado por Lazzarotto-Volcão, 2009) refere a existência de níveis distintos
para o funcionamento dos traços (níveis fonológico, lexical e fonético). Em cada
nível existem diferentes condições de especificação de traços, conforme é
apresentado na figura 1 (Clements, 2001, citado por Lazzaroto-Volcão, 2009:75)
• Nível Lexical: distintividade – um traço ou valor de
traço está presente no léxico apenas se for
distintivo
• Nível fonológico: atividade do traço – um traço ou
valor de traço está presente se forem necessários
para o estabelecimento de padrões fonológicos
• Nível fonético: Pronunciabilidade - valores de
traços estão presentes na fonética se forem
necessários para dar conta de aspetos relevantes
para a realização fonética
Figura 1- Condições para a especificação de traços
Para o autor, apenas os valores de traços marcados (traços que podem estar
ausentes em línguas naturais) estarão presentes a um nível lexical. De forma a
determinar como é feita a entrada dos traços na representação lexical, Clements
apresenta uma proposta, em 2001, denominada Hierarquia Universal de
Acessibilidade. Esta hierarquia de traços é denominada, em 2009, por Escala de
Robustez, tendo como pressuposto uma hierarquia de traços em que os primeiros
serão altamente favorecidos na construção do sistema fonológico. De acordo com
este modelo, através da Escala de Robustez, será selecionado o conjunto mínimo
de traços (ou os valores de traços) absolutamente necessários à representação das
unidades lexical e fonológica (economia representacional). Clements (2009)
apresenta ainda 5 princípios que representam tendências universais das línguas na
constituição dos sistemas fonológicos (não constituindo leis invioláveis): a limitação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
8
de traços4, a economia de traços5, a evitação de traços marcados6, a robustez7 e o
reforço fonológico8.
A Escala de Robustez proposta por Clements em 2009, que está na base do
modelo padrão de contrastes (PAC), proposto por Lazzarotto-Volcão (2009),
pressupõe a existência de uma hierarquia de traços que reflete as preferências das
línguas na construção dos seus sistemas fonológicos. Os traços mais robustos
encontram-se no topo da hierarquia, sendo os traços consonânticos mais comuns
nas línguas, encontrando-se presentes na maior parte das línguas e sendo
dominados em primeiro lugar pelas crianças durante o processo de aquisição do
sistema linguístico. Os traços menos robustos, que poderão não ocorrer em tantas
línguas e que emergem mais tardiamente no processo de aquisição fonológica das
crianças, encontram-se na base da escala, sendo a mesma organizada de forma
hierárquica.
Um pressuposto do princípio de robustez é a implicação entre os traços:
Clements (2009), defende que traços mais abaixo na escala dependem da
existência de traços numa posição mais alta. Desta forma, Matzenauer (2008)
propõe que esta escala seja utilizada para a identificação de alterações no processo
de aquisição fonológica, bem como para a identificação dos estímulos alvo a utilizar
na intervenção terapêutica.
4 Princípio da limitação de traços – os traços limitam o número de sons que uma língua pode ter, bem como o número de contrastes possível, já que o número máximo de sons de uma língua é o resultado da fórmula 2n , em que n é igual ao número de traços. Assim uma língua com 2 traços pode ter no máximo 4 sons contrastivos (22) (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:15-16); 5 Princípio da economia de traços – As línguas combinam os traços distintivos de forma económica, maximizando as combinações de traço, ou seja, aproveitando os traços já presentes no sistema, na construção dos seus inventários fonológicos. Assim, um traço deverá ser utilizado o maior número de vezes num sistema (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:17 e Lazzarotto-Volcão, 2009:78); 6 Princípio da evitação de traços marcados – este princípio relaciona-se com o de economia de traços, defendendo que as línguas tendem a evitar a ocorrência de traços marcados. Contudo, quando estão presentes são utilizados de forma económica, com combinações de traços não marcados. Assim se existe uma fricativa no sistema, existirão pelo menos duas distinções de ponto nessa classe. (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:17 e Lazzarotto-Volcão, 2009:79); 7 Princípio da robustez – postula a existência de uma hierarquia universal de traços, tendo em conta a marcação e contrastes estabelecidos entre traços (Clements, 2009 citado por Amorim, 2014:20-22 e Lazzarotto-Volcao, 2009:80-85); 8 Princípio do reforço fonológico – o reforço fonológico ocorre quando o valor marcado de um traço é enfatizado de forma a reforçar um contraste fraco do ponto de vista percetivo (Clements, 2009 citado por Amorim, 2014:23 e Lazzarotto-Volcão, 2009:86);
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
9
Na figura 2, encontramos esquematizada a Escala de Robustez para os
traços consonânticos proposta por Clements (2009).
1. [±soante]
[labial]
[coronal]
[dorsal]9
2. [±contínuo]
[±posterior]
3. [±-vozeado]
[±nasal]
4. [±glotal]
5. [outros]
Figura 2 - Escala de robustez para os traços consonânticos (Clements, 2009:46-47)
Assumindo como matriz a escala proposta por Clements (2009) e tendo em
consideração os dados de aquisição do português do Brasil, Lazzarotto-Volcão
(2009) propõe uma adaptação da escala de robustez ao sistema do português do
Brasil. Amorim (2014), com base nos dados de aquisição do português europeu,
propõe uma adaptação da escala ao português europeu (ver quadro 5).
A escala de robustez proposta por Clementes (2009) está na base da
proposta de um modelo de análise denominado Padrão de Aquisição de Contrastes
(PAC), que será descrito mais detalhadamente no capítulo 3 do enquadramento
teórico. Neste modelo defende-se que o desenvolvimento fonológico é realizado
através da aquisição de contrastes e não através da aquisição de traços ou
segmentos isoladamente.
Desta forma, inerente ao modelo, está também a ideia de que a formação de
classes naturais de segmentos depende da coocorrências de traços. Tendo em
conta a robustez de traços, a coocorrência destes para formação de classes
naturais, bem como os dados de aquisição do português do Brasil, o modelo foi
organizado em quatro grandes etapas, caracterizadas pela aquisição de vários
contrastes que emergem pela coocorrência de traços.
9 [dorsal] neste caso corresponde a um traço consonântico – Clements (2005;2009), Lazzarotto-Volcão (2009) e Amorim (2014). Mateus e Andrade (2000) descrevem o sistema consonântico recorrendo a Dorsal como classificação segmental de propriedades de ponto.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
10
Em 2014, Amorim fez uma adaptação do modelo para o português europeu,
apresentando uma Escala de Robustez para a Coocorrência de Traços de
Consoantes no português europeu. No quadro 5, encontramos as propostas das
autoras.
Escala de Robustez para a Coocorrência de Traços de
Consoantes para o português do Brasil (Lazzarotto-
Volcão, 2009):
Escala de Robustez para a Coocorrência de Traços
de Consoantes para o Português europeu (Amorim,
2014):
• [±soante]
[-soante, -contínuo, coronal]
[-soante, -contínuo, labial]
[-soante, -contínuo, dorsal]
[-soante, -contínuo, ±vozeado]
[+soante, -aproximante, labial]
[+soante, -aproximante, coronal]
[+soante, - aproximante, coronal, ±anterior]
• [-soante, +-contínuo]
[-soante, + contínuo, coronal]
[-soante, +contínuo, labial]
[-soante, +contínuo, coronal, ±vozeado]
[-soante, +contínuo, labial, ±vozeado]
• [-soante, +contínuo, coronal , ±anterior]
[-soante, +-contínuo, coronal, -anterior, ±vozeado]
[+soante, +-aproximante]
• [+soante, +aproximante, ±contínuo]
[+soante, +aproximante, -contínuo, ±anterior]
[+soante, +aproximante, +contínuo, coronal]
[+soante], +aproximante, +contínuo, dorsal]
• [±soante]
[-soante, -contínuo, coronal]
[-soante, -contínuo, labial]
[-soante, -contínuo, dorsal]
[-soante, -contínuo, ±vozeado]
[+soante, -aproximante, labial]
[+soante, -aproximante, coronal]
• [+soante, - aprox, coronal, ±anterior]
[-soante, -contínuo, dorsal , ±vozeado]
[-soante, ±contínuo]
[-soante, +contínuo, coronal]
[-soante, +contínuo, labial]
[-soante, +contínuo, labial, ±vozeado]
• [-soante, +contínuo, coronal, ±vozeado]
[-soante, +contínuo, coronal, ±anterior]
[-soante, +contínuo, coronal, -anterior, ±vozeado]
[-soante, +contínuo, dorsal]
[+soante, ±aproximante]
• [-soante, +contínuo, coronal , +anterior, ±-
vozeado]
[+soante, +aproximante, ±contínuo]
[+soante, +aproximante, -contínuo, ±anterior]
[+soante, +aproximante, +contínuo, coronal]
[+soante, +aproximante, +contínuo, dorsal]
Quadro 5 - Escalas de Robustez para Coocorrências de Traços para o português do Brasil (Lazzarotto-Volcão, 2009) e para o português europeu (Amorim, 2014)
No quadro 5, é possível encontrar as Escalas de Robustez para
Coocorrências de Traços, propostas a partir da reanálise da Escala de Robustez de
Clements (Figura 2). Cada nível de coocorrências corresponde a uma das etapas de
aquisição propostas no modelo PAC, mostrando as coocorrências que vão sendo
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
11
estabelecidas ao longo do processo de aquisição fonológica. Estas coocorrências,
tal como acontecia da escala proposta por Clements, encontram-se hierarquizadas,
sendo as mais robustas aquelas que se encontram no lugar mais alto da hierarquia.
Neste quadro, encontramos assinaladas a negrito as diferenças encontradas
nas duas escalas propostas para o português do Brasil (Lazzarotto-Volcão, 2009) e
para o português europeu (Amorim, 2014). É possível observar diferenças na
cronologia de aquisição de alguns contrastes, por serem menos robustos no
português europeu, como é o caso das coocorrências a negrito no grupo b
([+soante, - aproximante, coronal, ±anterior], [-soante, -contínuo, dorsal , ±vozeado]),
que refletem uma emergência mais tardia do contraste entre /n/ e /ɲ/, no primeiro
caso, e pela aquisição mais tardia do contraste entre /k/ e /g/, no segundo caso.
Acontece o mesmo com a combinação de traços que permite o contraste de
vozeamento entre fricativas coronais que integra o grupo c ([-soante, +contínuo,
coronal, ±vozeado]). Para além destas diferenças, as duas escalas diferem
especialmente em dois aspetos que se relacionam com o grau e robustez dos traços
que permitem o contraste das fricativas coronais, traduzindo-se em diferenças
significativas na cronologia de aquisição dos segmentos fricativos coronais
[±anterior]. A aquisição do contraste entre fricativas coronais [±anterior] no português
europeu revelou-se diferente do descrito para o português do Brasil. Amorim (2014)
refere que a fricativa coronal [-anterior] estabiliza primeiro do que a fricativa coronal
[+anterior], tanto para o par [+vozeado] como [-vozeado]. Esta diferença mostra
pouca robustez do traço [anterior].
A segunda diferença prende-se com a possibilidade de o traço [dorsal] se
estender à classe das fricativas (como pode ser observado a negrito no grupo c.).
Esta hipótese assume que o rótico dorsal, em português europeu, é representado
como obstruinte, pelo menos para algumas crianças e/ou especialmente numa
primeira fase de aquisição do segmento, sendo posteriormente categorizado como
aproximante. Por outras palavras, algumas crianças poderão ser mais sensíveis ao
modo fricativo, classificando o rótico desta forma, enquanto outras podem ser mais
sensíveis ao modo soante, categorizando-a como líquida. O facto de se encontrar
com frequência o padrão de substituição na produção de /ʀ/ como um oclusiva
parece indicar a mesma é tratada como [-soante]. Algumas crianças produzem /ɾ/
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
12
em sua substituição, mostrando neste caso uma classificação [+soante]. Uma das
hipóteses de explicação para esta divergência será que a emergência do contraste
com o rótico coronal poderá motivar a alteração da representação fonológica,
estabelecendo-se a ligação do traço [+aproximante] nessa altura (Rodrigues 2015;
Amorim 2014).
Com base nas escalas de robustez adaptadas de Clements (2009),
Lazzarotto-Volcão (2009) faz a proposta do Modelo Padrão de Aquisição de
Constrastes, que será descrito de forma mais detalhada na secção 2 do presente
capítulo, e Amorim (2014) faz uma adaptação do modelo à luz da Escala de
Robustez proposta pela própria, para o português europeu. No quadro 6,
observamos os contrastes identificados para a aquisição do sistema fonológico em
função da etapa em que devem emergir.
Etapa Contrastes português do Brasil Contrastes português europeu
1ª
Etapa
Soantes vs. obstruintes
Oclusiva coronal vs. labial
Oclusiva coronal vs. dorsal
Oclusiva labial vs. dorsal
Nasal coronal vs. Labial
Nasais coronais anterior versus não-anterior
Oclusiva coronal surda vs. sonora
Oclusiva labial surda vs. Sonora
Oclusiva dorsal surda vs. sonora
Soantes vs. obstruintes
Oclusiva coronal vs. labial
Oclusiva coronal vs. dorsal
Oclusiva labial vs. dorsal
Nasal coronal vs. labial
Oclusiva coronal surda vs. sonora
Oclusiva labial surda vs. sonora
2ª
Etapa
Oclusivas vs. fricativas
Fricativa coronal vs. Labial
Fricativa coronais surda vs. sonora
Fricativa labial surda vs. sonora
Nasal coronal anterior vs. não anterior
Oclusiva dorsal surda vs. sonora
Oclusivas vs. fricativas
Fricativa labial surda vs. sonora
Fricativa coronal vs. labial
3ª
Etapa
Nasais vs líquidas
Fricativa coronal anterior vs. não anterior
Fricativa coronal não-anteriores surdas vs.
sonoras
Fricativa coronal anterior vs. não anterior
Fricativa coronal não anterior surda vs.
sonora
Oclusiva vs. fricativa dorsal
Nasais vs líquidas
4ª
Etapa
Líquidas laterais vs. não laterais
Líquida lateral anterior vs. não anterior
Líquida não-laterias coronal vs. dorsal
Líquidas laterais vs. não laterais
Líquida não lateral dorsal vs coronal
Fricativa coronal anterior vs. não
anterior
Líquida lateral anterior vs. não anterior
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
13
Quadro 6 - Contrastes do sistema fonológico propostos para o português do Brasil e para o Português europeu, à luz do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (Lazzarotto-Volcão, 2009; Amorim, 2014).
Como se pode verificar no quadro 6, existem diferenças na proposta de
contrastes do sistema fonológico para o português europeu e para o português do
Brasil. Existem algumas diferenças do que respeita às etapas de aquisição em que
um contraste surge, tal como observado para os contrastes: nasal coronal anterior
vs. não anterior, oclusiva dorsal surda vs. sonora e fricativa coronal anterior vs. não
anterior. Entre os sistemas fonológicos das duas línguas observa-se ainda uma
diferença na presença de um contraste em português europeu que não é identificado
no português do Brasil: oclusiva vs. fricativa dorsal (relacionado com a forma como
os róticos dorsais são processados em português europeu, já mencionado durante a
descrição da Escala de Robustez).
1.2.Propriedadesdaestruturasilábica
A sílaba é considerada uma unidade fonológica que integra o conhecimento
fonológico, hierarquicamente organizada em constituintes internos, que contribui
para a organização prosódica das línguas. Esta organização desempenha um papel
fundamental no processamento linguístico, já que as unidades melódicas
representadas pela estrutura silábica são cruciais no processo de aquisição, sendo
intuitivamente identificadas pelos falantes de uma língua (Batista, 2015; Mateus e
Andrade, 2000; Veloso, 2003; Freitas, 2015, 2016).
Como se pode observar na figura 3, para o português europeu adotou-se o
modelo fonológico designado como modelo de “Ataque-Rima”, proposto por Selkirk
(1984) e adatado ao português europeu por Mateus & Andrade (2000). A sílaba (σ) é
constituída pelo ataque e pela rima, sendo que esta domina o núcleo e a coda. Cada
constituinte terminal está associado a uma ou duas posições de esqueleto, que se
ligam a material segmental, tal como se pode observar na figura 3. A sílaba é uma
unidade fonológica com uma estrutura que obedece aos princípios de boa formação
silábica. Os seus constituintes estabelecem relações hierárquicas entre si e com
outras unidades fonológicas (Freitas 1997, 2015; Mateus e Andrade, 2000; Mateus,
Falé e Freitas 2005, 2016; Afonso 2008, Batista, 2015, entre outros).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
14
Nível da Sílaba σ
Nível da Rima Ataque Rima
Núcleo Coda
Nível do Esqueleto x x x
Nível dos Segmentos [‘m a ɾ ]
Figura 3 - Esquema da organização interna da sílaba “mar”
No português europeu, podemos identificar os seguintes constituintes
silábicos, tal como é ilustrado no quadro 7.
Ataque não ramificado
simples Ex: dá
vazio Ex: _é
ramificado Ex:cruz
Rima não ramificada núcleo
não ramificado Ex: pá
ramificado Ex:pai
ramificada núcleo + coda Ex: paz
Quadro 7 - Estrutura dos constituintes silábicos de acordo com a proposta de ataque-rima (Freitas 2017:74)
O ataque pode ser de três tipos: ataque vazio (não é preenchido com
material segmental), ataque simples (domina uma consoante), ataque ramificado
(domina duas consoantes). A rima pode ser: rima não ramificada (constituída pelo
núcleo) e rima ramificada (constituída pelo núcleo seguido por uma coda).
Relativamente ao núcleo, identificam-se: núcleo não ramificado (preenchido por uma
vogal) e núcleo ramificado (preenchido por uma vogal e uma semivogal) A coda, em
português europeu, é maioritariamente, não ramificada (associada apenas a uma
consoante) (Mateus & Andrade 2000; Mateus et alii., 2005, 2016; Freitas, 2017)
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
15
O quadro 8 ilustra as possibilidades de preenchimento segmental para cada
constituinte silábico, em função da posição na palavra em que a estrutura surge.
Ataque
simples
inicial
Ataque
simples
medial
Ataque
ramificado
inicial (C1)
Ataque
ramificado
(C2)
Coda
medial
ou final
[p] X X X
[t] X X X
[k] X X X
[b] X X X
[d] X X X
[g] X X X
[f] X X X
[s] X X X
[ʃ] X X
[v] X X X
[z] X X
[ʒ] X X
[m] X X
[n] X X
[l] X X x X10
[ʀ] X X
[ʎ]11 X
[ɲ] X
[ɾ] X x X
Quadro 8 - Distribuição das consoantes do Português europeu pelos constituintes silábicos e posição da palavra em que podem ocorrer.
Como se pode verificar no quadro 8, todas as consoantes do português
europeu podem ocorrer em ataque simples, apesar de o segmento [ɾ] não surgir em
10/l/ realizado foneticamente como [ɫ]11A lateral palatal [L] em ataque simples inicial é limitada a um pequeno número de morfemas lexicais como “lhe” ou à palavra <lhanu>
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
16
ataque simples inicial (início de palavra) e de os segmentos [ʎ] e [ɲ] serem muito
raros nesta posição. O ataque não ramificado (ataque simples) é a estrutura mais
frequente nas línguas do mundo, sendo denominada como não marcada. Pode
ocorrer em posição inicial e medial de palavra (Mateus, Falé e Freitas, 2005).
As consoantes que podem ocorrer em ataque ramificado como primeiro
segmento do constituinte (tanto em posição inicial de palavra como medial) são as
oclusivas e as fricativas, sendo as primeiras mais frequentes neste contexto silábico.
Apenas os segmentos [ɾ] e [l] podem surgir como segundo segmento de um ataque
ramificado, sendo mais comuns as combinações que contenham o segmento [ɾ].
Em síntese, de forma a dar conta das ferramentas necessárias à descrição e
discussão dos dados do presente trabalho, neste capítulo apresentámos, de forma
resumida, as propriedades dos segmentos consonânticos que compõem o inventário
fonológico do português europeu. No presente capítulo foi ainda caracterizada a
estrutura silábica do português europeu.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
17
CAPÍTULO 2. O DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO NO PORTUGUÊS
EUROPEU
Nesta secção, pretende-se fazer uma revisão sumária da literatura relativamente
à aquisição e ao desenvolvimento fonológicos, apresentando especialmente os
dados do Português europeu. Serão expostos os dados relativos à aquisição das
consoantes (2.1) e, posteriormente, serão descritos os dados encontrados na
literatura para aquisição de aspetos de estrutura prosódica relevantes para o
presente trabalho (2.2).
2.1.Dadossobreaaquisiçãodasconsoantes
A descrição e definição de padrões de aquisição fonológica é essencial para
a identificação e estudo do sistema fonológico típico ou desviante. De acordo com
Lamprecht (1999), só é possível determinar um desvio ou perturbação conhecendo o
desenvolvimento fonológico típico das crianças falantes de uma língua, de forma a
identificar e descrever diferenças individuais e verificar possíveis alterações. Apesar
da variação individual típica do processo de aquisição, é possível encontrar, na
literatura, uma descrição relativamente padronizada no que respeita à aquisição do
inventário consonântico. Ao longo do tempo, os estudos sobre a aquisição
fonológica têm vindo a utilizar os diferentes modelos teóricos para a análise dos
dados, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado sobre o
processamento e aquisição fonológicos, imprescindível para a avaliação e
intervenção nas alterações dos sons da fala.
Na avaliação fonológica infantil, um determinado segmento ou uma estrutura
silábica é classificada como adquirido (ou não) tendo em conta o índice de produção
de acordo com o alvo. Assim, um segmento ou constituinte silábico é considerado
adquirido quando o número de ocorrências convergentes com a forma-alvo é
superior a um limite. Esse valor varia entre 75% a 90%, dependente do considerado
pelo autor. Como exemplo, nos seus trabalhos, Matzenauer-Hernandorena &
Lamprecht (1997) definem, como limite, o percentagem de 90% de produção correta
para considerarem uma estrutura adquirida, enquanto Mendes et alii. (2013) utilizam
um critério diferente, considerando que um segmento deverá estar presente numa
faixa etária quando 75% dos informantes produzir esse segmento.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
18
No português europeu, tal como se verifica para outras línguas do mundo, as
primeiras classes de consoantes a emergirem são as oclusivas e as nasais,
encontrando-se adquiridas antes dos dois anos de idade, enquanto as fricativas e as
líquidas são adquiridas mais tardiamente. Relativamente ao ponto articulatório, as
crianças demonstram preferência pela produção de segmentos com pontos
anteriores, só depois iniciando a produção de segmentos posteriores. (Fikkert, 1994,
2005, 2007; Matzenauer - Hernandorena 1994, Freitas 1997; Lamprecht et al., 2004;
Bernahardt & Stemberger,1998; Costa 2010; Alves 2012; Amorim 2014)
Costa (2003) identificou, através de um estudo longitudinal com uma criança
até aos 3;0 anos de idade, as seguintes etapas de aquisição no que respeita aos
traços de modo articulatório e ponto articulatório das obstruintes: a estabilização do
traço [-contínuo], desde cedo, permite a emergência de oclusivas; dá-se em seguida,
a aquisição do traço [+contínuo], que possibilita a ocorrência de fricativas:
1) Ordem de aquisição para o Português europeu no que respeita ao modo
articulatório (Freitas, 1997; Costa 2003/2010; Amorim, 2014) :
1º [-contínuo] - Oclusivas orais / nasais
2º [+contínuo] - Fricativas
3ª - [+aproximante]- Líquidas
• Laterais
• Róticos
2) ordem de aquisição para o português europeu no que respeita ao ponto e modo
articulatório, em Costa (2003, 2010):
Obstruintes oclusivas orais
1º Labial e Coronal [+anterior]
2º Dorsal
Obstruintes oclusivas nasais
1º Labial e Coronal [+anterior]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
19
2º Coronal [-anterior]
Obstruintes fricativas
1º Labial
2º Coronal [-anterior]
3º Coronal [+anterior]
Costa (2010), refere que, no português europeu, se observa o mesmo que o
que acontece para o português do Brasil e nas línguas do mundo: i) as oclusivas e
as nasais são as duas primeiras classes adquiridas no português europeu e ii) as
fricativas e as líquidas são as últimas a emergir. No que respeita ao ponto
articulatório, constatou-se que a ordem de aquisição é tendencialmente [+anterior]
>> [-anterior], o que significa que os pontos labial e coronal [+anterior] das oclusivas
surgem primeiro do que o ponto dorsal. O mesmo se verifica para as nasais. Nas
fricativas, verificou que o ponto Labial surge numa primeira etapa, seguido do
Coronal [-anterior] e, posteriormente, do ponto Coronal [+anterior]. Para as Laterais,
coronal [+anterior] surge primeiro do que coronal [-anterior]. Da mesma forma, Costa
et alii., (2007) observam que, para o português europeu, os segmentos labiais são
mais precoces, tal como descrito para as línguas do mundo. Miranda (2007) e Costa
(2010) referem que, nas líquidas não-laterais, o ponto Dorsal surge primeiro do que
o Coronal [+anterior], ao contrário do que acontece com as restantes classes. Assim
[ʀ] tende a estabilizar primeiro do que [ɾ]. Amorim (2014) refere a emergência mais
precoce da líquida não-lateral com ponto Dorsal, originada pela coocorrência do
traço [dorsal] com [-soante, + contínuo], já presentes no sistema, sendo o rótico
representado como obstruinte para algumas crianças, durante o processo de
aquisição. A autora sugere que só com a emergência posterior do rótico coronal [ɾ] e
aquisição do traço [+ aproximante] é que a obstruinte passa a ser representada
como líquida, passando a existir uma oposição de traço de ponto para os dois
róticos, observando-se nos erros de algumas crianças a substituição entre róticos,
sendo integrada na classe das fricativas, até esse momento.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
20
Amorim (2014), em concordância com os resultados do trabalho de Costa
(2010), apresenta as idades de aquisição das diferentes consoantes, tal como se
pode observar no quadro 9.
Consoantes adquididas
Até aos 3 anos
Oclusivas /p/, /t/, /k/
Nasais: /m/, /n/; / ŋ/
Fricativas: /f/, /v/, /ʃ/
3;0 – 3;6
Fricativas: /s/, /ʒ/
Laterais: /l/
Róticos: /ʀ/
3;6 – 3;11 Róticos: /ɾ/
4;0 – 4;5 Fricativas: /z/
4;6 – 4;11 Laterais: /ʎ /
Quadro 9 - Dados de aquisição das consoantes para o português europeu (Amorim, 2014 :284)
Tal como referido anteriormente, excepto para uma criança, observa-se a
aquisição das oclusivas antes das nasais. Para todas as crianças, verifica-se que,
até aos 3;5 anos, estas duas classes estão completas, com preferência de
ocorrência de pontos articulatórios anteriores em idades mais precoces. Depois da
emergência das oclusivas, observa-se a emergência das fricativas, adquiridas até
aos 4;5 anos, e só depois a das líquidas (nesta classe estão adquiridas apenas a
lateral Coronal [+anterior] /l/ e a não lateral Dorsal /ʀ/).
Os dados obtidos por Mendes et alii., (2013) para o português europeu
revelam que, até aos 5 anos e 6 meses, a maioria das crianças já apresenta todas
as consoantes, tal como se pode verificar no quadro 10.
Segmento(s) Faixa etária
[p, t, k, b, d, g, f, s, ʃ, v, z, m, n, ɲ, ʀ] 3 – 3,06
[l, ʎ , ʃ] (final sílaba) 3,6 – 3,12
[z, ʒ , ɾ] 4 – 4,6
[ɾ] (final de sílaba) 4,6 – 4,12
[ɫ] (final de sílaba) 5,0 – 5,6
Quadro 10 - Dados de aquisição das consoantes para o português europeu (Mendes et alii., 2013)
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
21
Neste quadro, observamos que, tal com verificado para outras línguas do
mundo, as líquidas surgem depois das oclusivas, das nasais e das fricativas.
Stampe (1979) utiliza o termo processos fonológicos para a descrição dos
padrões de erro encontrados em crianças com alterações na produção de fala,
embora este termo também seja utilizado para a descrição sobre o funcionamento
das unidades segmentais da língua alvo (Mateus e Andrade 2000). A identificação
da presença de processos fonológicos são uma das formas de avaliação de
produções de fala, em contexto clínico, procurando-se entender a natureza
sistemática das alterações que as crianças produzem (Miccio & Scarpino, 2008;
Guerreiro, 2007). No quadro 11, encontramos dados sobre as idades em que os
processos fonológicos, ou seja, padrões de erros identificados na aquisição de uma
língua, devem deixar de ocorrer para o português europeu:
Processos fonológicos Faixa etária
Posteriorização; anteriorização; oclusivização 3,0 – 3,06
despalatalização; palatalização 4,06 – 4,12
desvozeamento 5;0 – 5,06
Omissão da consoante final, cØc, semivocalização 6,0 – 6,12
Omissão da sílaba átona 6,0 – 6,12
Quadro 11 - Dados sobre o desaparecimento de processos fonológicos para o português europeu (Mendes et alii., 2013)
Nos dados de Mendes et alii., (2013), verifica-se que as oclusivas e as
fricativas estão adquiridas até aos 3;06 anos, uma vez que é nesta altura que deixa
de se observar a estratégia de oclusivização. Os pontos coronal e dorsal para as
oclusivas estão estabilizados até aos 3;06 anos de idade, deixando de se observar
anteriorização ou posteriorização nesta altura. As despalatalizações e
palatalizações, que traduzem a estabilização das consoantes fricativas coronais [s, z,
ʃ, e ʒ], acontecem até aos 4;06 meses. As propriedades relacionadas com o
vozeamento estabilizam até aos 5;06 anos. A líquida lateral pode ser adquirida até
aos 6;12 anos.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
22
Tal como referido no capítulo 4, Amorim (2014) propõe uma ordem de
aquisição fonológica dos segmentos que podem ocupar o ataque simples em
Português europeu, baseada no modelo Padrão de Aquisição de Contrastes. Esta
proposta tem como pressuposto os dados de aquisição de Costa (2010)
apresentados na presente secção. As etapas estão representadas no quadro que se
segue:
Segmentos adquiridos
1ª Etapa
(0-2 anos)
/p, t, k/
/m, n/
[ɲ>>n]
/b, d/
[g>>k]
2ª Etapa
(2-3 anos)
/ɲ/
/g/
/f, v/
/ ʃ /
[s>> ʃ], [ʒ >> ʃ],
[z>>s], [l>>w],
[ʀ>>k,g]
3ª Etapa
(3 – 3;5 anos)
/s/
/ ʒ /
/ʀ/
[z>>s, ʒ]
/l/
[ʎ>>j] [ʀ>> ɾ] [ɾ>>l]
4ª Etapa
(3;5 – 4;11 anos)
/ʀ/
/ɾ/
/z/
/ʎ /
Quadro 12 - Etapas de aquisição do modelo Padrão de Aquisição de Contrastes do Português europeu (Lazzarotto-Volcão, 2016; Amorim, 2014)
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
23
Tal com se pode observar no quadro 12, Amorim (2014) refere que, até aos
dois anos, são adquiridos os contrastes que permitem a aquisição dos segmentos
/p, t, k, m, n, b, d/, podendo ainda surgir alterações com os segmentos /ɲ/ e /g/. À
semelhança do que acontece para outras línguas do mundo, as primeiras
consoantes a estabilizar no português europeu são as nasais e as oclusivas.
Dos dois aos três anos, os contrastes que emergem possibilitam a aquisição
de /ɲ, g, f, v, ʃ/. As crianças podem apresentar dificuldades com a estabilização do
ponto articulatório e/ou do vozeamento das fricativas coronais. É importante referir
que parece que a ordem de estabilização das fricativas no Português europeu
acontece no sentido [-anterior]>>[+anterior], ou seja, surge primeiro a fricativa
coronal [-anterior] [ʃ]. Esta ordem de aquisição pode ser explicada pelo facto de, no
português europeu, a marcação do plural ser feita através da realização fonética da
fricativa [ʃ]. Os dados de aquisição demonstram que a marcação do plural surge em
estágios muito iniciais do desenvolvimento linguísticos, pelas crianças portuguesas,
o que parece influenciar a emergência precoce da fricativa coronal [-anterior]
(Freitas, 1997; Costa, Almeida e Freitas, 2012).
Até aos 3;5 anos, as fricativas coronais estabilizam, emergindo a não lateral
dorsal /ʀ/, ao contrário do que seria esperado tendo em conta a tendência geral de
aquisição de ponto de articulação, em que os pontos anteriores emergem mais
precocemente. O ponto [dorsal] nos róticos parece coocorrer com [-soante, +
contínuo], sendo /ʀ/ tratado como fricativa nesta etapa de desenvolvimento, o que
vai ao encontro do descrito por Miranda (2007) sobre a aquisição destes segmentos.
Nesta altura emerge também a lateral coronal [+anterior] /l/. Na última etapa de
desenvolvimento, por volta dos 4;11 anos, surgem os segmentos anteriormente em
falta, nomeadamente /ɾ, z, ʎ /.
Ramalho (2017) observa, nos seus dados de crianças nas faixas etárias
entre os 30 e os 6; 6 anos, que as oclusivas estabilizam antes das nasais e estas
antes das fricativas. Estas classes naturais apresentam-se no sistema fonológico
logo em idades precoces. As líquidas podem emergir em idades precoces, no
entanto, de forma geral só estabilizam por completo em idades mais tardias. Em
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
24
ataque simples, é possível encontrar os seguintes dados relativamente à aquisição
das consoantes, no português europeu (Ramalho, 2017):
Idade Segmentos adquiridos
Até aos 3 anos
1ª- Oclusivas: /p/, /t/, /b/,k/, /d/ e /g/
2ª - Nasais: /m/, /n/, /ɲ/ (a última pode não
ter estabilizado por completo)
3ª - Fricativas: /f/, /v/,
4ª - Líquidas: /ʀ/
Até aos 4 anos 1ª - Fricativas: /s/, /ʃ/, /z/
2ª - Líquidas /ɾ/
Até aos 5 anos 1ª- Fricativas: /ʒ/
Depois dos 5 anos 1ª - Líquidas: /l/ e /ʎ /
Quadro 13 - Descrição da aquisição das consoantes para o português europeu (Ramalho, 2017)
De acordo com os dados apresentados no quadro 13, verifica-se que, até
aos 3 anos, todas as oclusivas estão adquiridas, sendo os pontos articulatórios
anteriores os primeiros a emergir e os pontos posteriores, os últimos. Até aos 3
anos, e depois das oclusivas, observa-se a aquisição das nasais. Da mesma forma,
os pontos articulatórios anteriores são os primeiros a ser adquiridos. As fricativas
anteriores surgem também por volta dos 3 anos, bem como o rótico /ʀ/. Até aos 4
anos, as restantes fricativas são adquiridas, embora a fricativa vozeada /ʒ/ só
estabilize, completamente, por volta dos 5 anos. A líquida /ɾ/ surge estabilizada por
volta dos 4 anos, enquanto as líquidas laterais /l/ e /ʎ/ são completamente
dominadas depois dos 5 anos.
2.2Dadossobreaaquisiçãodaestruturasilábica
A sílaba é um constituinte prosódico integrado na componente fonológica da
gramática. Entre outros modelos, a sua estrutura interna tem sido representada
através do modelo Ataque- Rima, de Selkirk (1982), adaptado ao português europeu
por Mateus & Andrade (2000), descrito na secção 1.2. do capítulo 1. No contexto da
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
25
Fonologia Prosódica (Nespor & Vogel 1986; 2007), a sílaba representa o primeiro
nível de estruturação prosódica das línguas sendo responsável pela organização da
sequências de segmentos. Assim, torna-se relevante entender como é que a
emergência dos diferentes constituintes silábicos acontece no desenvolvimento e
como é que essa aquisição se relaciona com a aquisição segmental.
A descrição dos dados de aquisição tem mostrado para várias línguas que
nem sempre a emergência de um mesmo segmento surge simultaneamente em
todas as posições da palavra ou em todos os constituintes silábicos. Veja-se a
possibilidade de uma criança já produzir o segmento /ɾ/ em ataque simples na
palavra <cara>, mas ainda ainda não o produzir em coda na palavra <barco>, ou
seja, um segmento pode estar adquirido numa posição ou constituinte silábico e não
noutro. Esta disponibilização de um segmento num constituinte silábico específico e
não noutros não se relaciona com capacidade articulatória (já que a criança produz o
segmento) mas antes com a disponibilização dos constituintes silábicos num
sistema fonológico, na representação mental do sistema linguístico em aquisição.
Assim, uma criança pode ser capaz de produzir /ɾ/ em ataque simples, em palavras
como <amarelo>, em ataque simples e ainda não produzir o mesmo segmento em
coda, como na palavra <barco>. Esta assimetria é observada para todas as
consoantes que preenchem a posição de ataque e coda, sejam elas líquidas ou
fricativas (Freitas, 1997). Como exemplo, verifica-se que a emergência das líquidas
[l e ɾ] em coda é muito posterior à emergência das mesmas em ataque simples.
Vários estudos têm vindo a argumentar a favor de um processamento top-
dow da informação fonológica, em que as categorias prosódicas (neste caso a sílaba
e os seus constituintes) podem ser determinantes na emergência de unidades mais
pequenas como os segmentos. Desta forma, torna-se imprescindível considerar
cada segmento em função de todos os constituintes silábicos que pode ocupar, na
realização de uma avaliação fonológica, já que uma avaliação centrada
exclusivamente no segmento não permitirá analisar o impacto que a estrutura
silábica tem na aquisição de um sistema fonológico alterado conduzindo a
estratégias de intervenção pouco dirigidas e possivelmente menos eficazes (Fikkert
1994; Freitas, 1997; Bernhardt &Stemberger, 1998, 2000; Freitas 2003; Batista,
2015).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
26
O processo de emergência segmental em diferentes estruturas silábicas, tal
como a aquisição segmental, é gradual, observando-se uma sequencialidade de
aquisição das diferentes estruturas em função no estatuto silábico das consoantes.
Este processo será descrito em função de cada constituinte silábico nas secções
que se seguem.
2.2.1Ataque
De acordo com Freitas (1997, 2016, 2017), no português europeu, a
aquisição da estrutura silábica é realizada através de quatro estádios, tal como
ilustrado no quadro abaixo.
Estádios Tipologia do ataque
Estádio 1 ataque não ramificado + rima não ramificada: CV/V
Estádio 2 ataque não ramificado + rima ramificada: (C)VCfricativa
Estádio 3 ataque ramificado: CCV
Quadro 14 – Estádios de aquisição do constituinte ataque no português europeu (Freitas, 1997, 2003, 2015)
De acordo com o quadro 14, verifica-se que, no desenvolvimento silábico, o
ataque simples (ataque não ramificado) encontra-se presente desde a primeira
etapa, estabilizando antes do ataque ramificado. Freitas (1997) observou que, num
primeiro estádio de desenvolvimento, o ataque não ramificado, no português
europeu, é preenchido por oclusivas e por nasais, seguidas das fricativas e das
líquidas. (Fikkert, 1994; Freitas, 1997; Costa, 2010).
Como referido anteriormente, a emergência do ataque ramificado no sistema
fonológico do português europeu dá-se depois da aquisição do ataque simples. A
primeira consoante do ataque ramificado pode ser ocupada por uma oclusiva ou por
uma fricativa, sendo a segunda consoantes deste constituinte silábico preenchida
por uma das líquidas /l/ e /ɾ/. No quadro que se segue podemos encontrar a ordem
de aquisição desta estrutura silábica.
Estádios Tipologia de aquisição do ataque ramificado
Estádio 0 alvos lexicais com estrutura ataque ramificado não são produzidos
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
27
Quadro 15 - Estádios de aquisição do constituinte ataque no português europeu (Freitas, 1997, 2003, 2015)
Observa-se que, num primeiro momento, as palavras produzidas pelas
crianças não envolvem sílabas com ataques ramificados. Num segundo momento, a
produção deste constituinte silábico acontece com o apagamento da C2 ou com o
apagamento total da estrutura alvo. A produção desta estrutura silábica de forma
adequada ou em alternância com epêntese de uma vogal, corresponde ao terceiro
momento de desenvolvimento. Por fim, observa-se a produção de todos os
elementos que constituem o ataque ramificado.
Os dados do trabalho realizado por Mendes et alii., (2013), Ramalho (2017),
Guimarães et al. (2014) e Amorim (2014) mostram que os ataques ramificados
(grupos consonânticos) emergem entre os 4 e 5 anos podendo estabilizar mais
tarde, por volta dos 7 anos, observando-se, nesta altura, a ausência do processo
denominado como redução do grupo consonântico (C1C2à C1Ø).
Grupo consonântico Faixa etária
/pl/ [4;0 - 4,5]
/kl/ [4;0 - 4,5]
/fl/ [4;0 - 4,5]
/fɾ/ [4;6 - 4,11]
/vɾ/ [4;6 - 4,11]
/bɾ/ [4;6 - 4,11]
/kɾ/ [4;6 - 4,11]
/pɾ/ [5,0 – 5,5]
/tɾ/ [5,0 – 5,5]
/dɾ/ [5,0 – 5,5]
/gɾ/ [5,0 – 5,5]
Quadro 16 - Cronologia de aquisição do constituinte ataque ramificado no português europeu (Mendes et alii.)
Estádio I ataque ramificado CCV é reduzido, tornando-se CV ou ataque vazio Ø
Estádio II epêntese de vogal no ataque ramificado CVCV coocorre com ccv
Estádio III o ataque ramificado é produzido
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
28
Tal como se pode observar nos dados do quadro 16, a produção de ataques
ramificados com /l/ como segunda consoante antecedem a produção deste
constituinte silábico quando o segmento /ɾ/ se encontra na mesma posição. Ramalho
(2017), no seu trabalho observa ocorrências superiores para a produção de /ɾ/ na
segunda posição do ataque ramificado do que as ocorrências de /l/, nesta posição.
2.2.2Coda
De acordo com o descrito sobre a estrutura silábica no português europeu, a
coda é um constituinte silábico preenchido apenas pelos segmentos /ʃ/, /l/ e /ɾ/
(Mateus, Falé e Freitas, 2005/16). Para o português europeu, Freitas (1997) relata o
facto de as codas fricativas serem o primeiro segmento a ocupar a posição final de
coda na aquisição. Neste constituinte silábico, este segmento emerge por volta dos
2;0 anos, encontrando-se adquirido em todas as posições até aos 3;06 anos de
idade (Freitas et al., 2001; Mendes et al. 2013).
No que respeita à coda fricativa, parecem existir variáveis linguísticas, tais
como posição na palavra, o acento da palavra e a natureza segmental e
morfofonológica, que se relacionam com a aquisição deste segmento em diferentes
etapas de desenvolvimento. Assim, a aquisição das codas fricativas, de acordo com
Freitas et. all (2001), segue a seguinte ordem:
I) Coda fricativa morfológica em final de palavra, acentuada e não acentuada
(por exemplo, bebés e copos, respetivamente);
II) Coda fricativa lexical em final de palavra, acentuada e não acentuada (por
exemplo, nariz e lápis, respetivamente), embora os dados disponíveis para estes
dois tipos de estruturas sejam escassos;
III) Coda fricativa lexical em sílaba acentuada em posição medial de palavra
(por exemplo, festa);
IV) Coda fricativa lexical em sílaba não acentuada em posição medial de
palavra (por exemplo, vestido).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
29
Sabendo que as fricativas emergem primeiro do que as líquidas em coda, é
possível definir três estádios de desenvolvimento do que respeita a este constituinte
silábico, tal como se pode observar no quadro 17.
Estádios de desenvolvimento Tipologia de Rima
Estádio I Rima não ramificada
Estádio II Rima ramificada em núcleo + coda fricativa
Estádio III Rima ramificada em núcleo + coda líquida
Quadro17- Estágios de aquisição do constituinte rima no português europeu (Freitas, 1997)
Durante o processo de aquisição do PE, verifica-se que, tal como acontece
para outras línguas, as obstruintes precedem as soantes em coda, ou seja, as
fricativas antecedem as líquidas. No português europeu, o constituinte coda em final
de palavra deverá estabilizar até aos 5;6 anos, começando a ser produzida aos 2;0
anos com a fricativa, aos 4;6 anos com o rótico /ɾ/ e aos 5;0 anos com a líquida
lateral, verificando-se ausência de processos denominados como omissão da
consoante final (Freitas, 1997, Mendes et al., 2013, Ramalho, 2017) tal como
ilustrado no quadro 18.
Mendes et al. 2013 Amorim, 2014 Ramalho, 2017
/ʃ/ 3;06-3;12 3;00-3;05 4;00 - 4;12
/l/ 5;00-5;06 Depois dos 5;00 Depois dos 6;0
/ɾ/ 4;06-4;12 4;06-4;11 Depois dos 6;0
Quadro 18 - Cronologia da aquisição da coda para o português europeu (Mendes et al.;2013; Amorim, 2014; Ramalho, 2017)
Nos trabalhos de Amorim (2014), observa-se ainda que a estabilização do
constituinte silábico coda se encontra relacionado com a posição do mesmo na
palavra, tal como já descrito para a fricativa /ʃ/ na presente secção. De acordo com
Ramalho (2017), este efeito é verificado para os segmentos /l/ e /ɾ/, existindo uma
diferença cronológica na aquisição dos segmentos, em posição final, que precede a
ocorrência deste segmento em posição medial de palavra.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
30
Em síntese, Freitas (1997; 2017) descreve a sequência de emergência das
estruturas silábicas para o Português europeu, reformulando a escala proposta por
Fikkert (1994), de acordo com o quadro 19:
Estádios Tipologia do ataque
Estádio 1 ataque não ramificado + rima não ramificada: CV/V
Estádio 2 ataque não ramificado + rima ramificada: (C)VCfricativa
Estádio 3 núcleo ramificado: (C)VG /
(C)VC líquida ataque ramificado: CCV
Estádio 4 ataque ramificado: CCV Núcleo ramificado: (C)VC líquida
Quadro 19 - Estádios de aquisição do constituinte ataque no português europeu (Freitas 2017: 90)
De acordo com o quadro 19, podemos verificar a proposta de existência de 4
estágios no que respeita a cronologia de aquisição dos diferentes constituintes
silábicos para o português europeu.
Relativamente aos aspetos de aquisição, tal como referido anteriormente,
torna-se fundamental considerar a relação entre a emergência segmental e
aquisição dos constituintes silábicos, bem como a posição na palavra que os
mesmos podem ocupar. Esta relação em função das idades cronológicas de
aquisição pode ser observada resumidamente no quadro que se segue, que dá
conta das idades de aquisição das diferentes estruturas nos estudos de Mendes et
al. (2009/2013), Ramalho (2017), Amorim (2014):
Constituinte silábico Segmento Mendes et al.
(2009/2013) Ramalho, 2017 Amorim, 2014
Ataque simples
/p/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /b/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /t/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /d/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /k/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /g/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /m/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /n/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05
/ɲ/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 embora estabilização mais tardia Até 3;00-3;05
/f/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05 /v/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05 /s/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
31
/z/ 4;00-4;06 4;00-4;12 Até 3;00-3-05 /ʃ/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05 /ʒ/ 4;00-4;06 5;00-6;06 Até 3;00-3-05
/l/ 3;06-3;12 5;00-6;06 mas nao estabilizado 3;00-3;05
/ʎ/ 3;06-3;12 5;00-6;06 mas nao estabilizado 4;06-4;11
/ɾ/ 4;00-4;06 4;00-4;12 3;06-3;11 /ʀ/ 3;00-3;06 Até aos 3;00 3;06-3;11
Ataque Ramificado
/pɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas
1ª da ordem de aquisição
não especificado
/bɾ/ 4;06-4;12 Idade não especificada mas
3ª da ordem de aquisição
não especificado
/tɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas
2ª da ordem de aquisição
não especificado
/dɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas
4ª da ordem de aquisição
não especificado
/kɾ/ 5;00-5;06 não especificado não especificado
/gɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas
7ª da ordem de aquisição
não especificado
/fɾ/ 4;06-4;12 Idade não especificada mas
5ª da ordem de aquisição
não especificado
/vɾ/ 4;06-4;12 Idade não especificada mas
6ª da ordem de aquisição
não especificado
/pl/ 4;00-4;06 Idade não especificada mas
8ª da ordem de aquisição
não especificado
/bl/ não testado Idade não especificada mas
11ª da ordem de aquisição
não especificado
/tl/ não testado não especificado não especificado
/kl/ 4;00-4;06 Idade não especificada mas
9* da ordem de aquisição
não especificado
/fl/ 4;00-4;06 Idade não especificada mas
10ª da ordem de aquisição
não especificado
AR /ɾ/ global
4;06-4;12 Depois dos 6;06 Inicial: 4;06-4;11
Medial: depois dos 5;00
AR /l/ global
4;00-4;06 Depois dos 6;06 4;00-4;05
Coda
/ʃ/ 3;06-3;12 4;00 - 4;12 3;00-3;05
/l/ 5;00-5;06 Depois dos 6;0 Medial: depois dos
5;00 Final: 4;00-4;05
/ɾ/ 4;00-4;06 Depois dos 6;0 Medial: 4;6-4;11 Final: 4;00-4;05
Quadro 20 - Resumo dos dados sobre a aquisição segmental em função do constituinte silábico, para o português europeu, adaptado de Ramalho 2017:28
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
32
CAPÍTULO 3. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES
O presente capítulo pretende apresentar e descrever o Modelo Padrão de
Aquisição de Contrastes (PAC). De forma a responder a este objetivo, será
apresentada a fundamentação e arquitetura do modelo (3.1). As etapas de aquisição
propostas pelo modelo também serão apresentadas neste capítulo (3.2) bem como a
descrição do modelo na avaliação (3.3) e a sua pertinência na identificação de
padrões de aquisição normais, em atraso ou desviantes (3.3.1). Através do modelo
PAC, Lazzarotto-Volcão (2009) faz uma proposta de classificação da perturbações
fonológicas (3.4), pertinente para o diagnóstico neste domínio. Ainda neste capítulo,
serão apresentados os procedimentos de utilização do modelo para avaliação
fonológica (3.5) bem como as possibilidades de utilização na intervenção (3.6).
3.1.FundamentaçãoearquiteturadoPAC
A aquisição fonológica tem sido explicada, de forma geral, através da
aquisição dos segmentos isolados ou da aquisição de traços (Ver 1. no capítulo 1).
O modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (PAC), proposto por Lazzarotto-
Volcão (2009), pretende descrever e classificar as perturbações fonológicas através
da identificação de etapas de aquisição fonológica, com base na aquisição de
contrastes e no pressuposto de que a existência de classes naturais e de contrastes
depende da coocorrência de traços e não destes isoladamente. Este modelo foi
elaborado a partir da Escala de Robustez para Traços de Consoantes, proposta por
Clements (2009), resultante de um dos cinco princípios inerentes à fonologia das
línguas naturais, descritos anteriormente nas notas 4 a 7 da secção 1.1 do capítulo
1. Com base neste princípio, prevê-se que as crianças adquiram primeiro traços que
permitem a ocorrência de contrastes mais robustos e só depois realizam a aquisição
de traços que permitem a ocorrência de contrastes menos robustos. Em função de
dados empíricos e tendo em conta o proposto nesta escala (de acordo com o
descrito na secção 1.1 do capítulo 1), foram determinadas quatro etapas de
aquisição, períodos em que as crianças demonstram a aquisição dos contrastes
definidos (embora com possibilidade de emergências variadas, ou seja, sem ordem
fixa).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
33
Na arquitetura do modelo (figura 4), os retângulos representam as classes
naturais (ou subclasses de segmentos), as linhas horizontais evidenciam a presença
do contraste no sistema e as linhas verticais representam o contexto em que o
contraste emerge, bem como evidenciam a ocorrência de traços.
Figura 4 - Esquema representativo da arquitetura do modelo PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:88)
Na Figura 4 está representado o contraste entre consoantes contínuas e não-
contínuas, no contexto das não soantes. A linha horizontal demonstra a presença do
contraste entre não contínuas e contínuas e a linha vertical demonstra a presença
desse contraste no contexto das não-soantes.
A partir da Escala de Robustez (secção 1.1 do capítulo 1), elaborada
juntamente com os dados de aquisição disponíveis, surgem quatro etapas de
aquisição, identificadas por cores. Os contrastes correspondentes à primeira etapa
de aquisição correspondem aos retângulos vermelhos, os da segunda etapa são
representados pela cor azul, os contrastes da terceira etapa surgem com a cor
amarela e os contrastes da quarta, e última, etapa são representadas a verde. Os
retângulos preenchidos pretendem representar a presença do contraste no sistema,
os retângulos com riscas identificam instabilidade do contraste e os retângulos que
surgem sem preenchimento são referentes à ausência do contraste. A proposta de
codificação encontra-se resumida na figura 5, abaixo.
Não-Soantes
Contínuas Não-contínuas
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
34
Figura 5 - Esquema representativo da arquitetura do modelo PAC – codificação de cores em função
das diferentes etapas (Lazzarotto-Volcão, 2009:117)
3.2.EtapaspropostaspeloModeloPAC
As etapas propostas por Lazzarotto-Volcão no Modelo PAC pretendem
representar características universais, mas simultaneamente captar as
características evidenciadas nos padrões de aquisição encontrados para o
português do Brasil. Apesar da definição de etapas necessárias para a identificação
de perturbações fonológicas, o modelo pretende ser flexível o suficiente para
explicar as diferenças individuais verificadas na aquisição fonológica.
• 1ª etapa
A primeira etapa de aquisição (quadro 21 e figura 6), que se prolonga até
cerca dos 1;8 anos, é caracterizada pela aquisição dos traços marcados [+soante],
[labial], [dorsal], [-anterior], [+vozeado], que, combinados, permitem a emergência de
contrastes entre as classes naturais soante e obstruinte, que, por sua vez, permitem
contrastes de ponto e de vozeamento nas oclusivas e ainda o contraste entre labiais
e coronais nas soantes. Assim, nesta etapa, as oclusivas orais e nasais já se
encontram totalmente adquiridas, bem como todos os contrastes de ponto e
nasalidade estabelecidos. Este modelo permite dar conta da variabilidade individual
e, por esse motivo, podemos encontrar sistemas fonológicos com diferentes perfis
dentro de cada etapa, tendo-se verificado, no entanto, que a sequência das etapas é
comum no desenvolvimento das crianças. Assim, todas as crianças seguem as
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
35
quatro etapas, embora possam passar por sub-etapas diferentes. Uma criança
poderá ter presente as oclusivas nasais e as oclusivas coronais e labiais enquanto
outra, da mesma idade, poderá não ter ainda presente as oclusivas vozeadas.
Ambas cumprem a hierarquia do modelo, tendo adquirido os contrastes da primeira
etapa. Tendo em conta o descrito anteriormnet, nesta etapa de desenvolvimento
deverão estar presentes os fonemas /p, b, t, d, k, g, m, n, ɲ/. Desta forma, a
identificação da presença de classes ou traços marca a diferença entre uma análise
segmental (com base na presença e ausência de fonemas) e uma análise por
contrastes representados sob a forma de traços distintivos, presentes em mais do
que uma classe.
Traços marcados
adquiridos Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos
Segmentos
adquiridos
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[-anterior]
[+vozeado]
[+consonântico, +soante]
[-soante, labial]
[-soante, dorsal]
[+soante, labial]
[+soante, coronal, -
anterior]
[-soante, coronal,
+vozeado]
[-soante, labial, +vozeado]
[-soante, dorsal,
+vozeado]
Soantes vs. obstruintes
Oclusiva coronal vs. labial
Oclusiva coronal vs. dorsal
Oclusiva labial vs. dorsal
Nasal coronal vs. labial
Nasal coronal anterior vs. não
anterior
Oclusiva coronal surda vs.
sonora
Oclusiva labial surda vs. sonora
Oclusiva dorsal surda vs. sonora
/p/
/t/
/k/
/m/
/n/
/ɲ/
/b/
/d/
/g/
Quadro 21 - Primeira etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
36
Figura 6 – Representação da 1ª etapa de aquisição do PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:102)
• 2ª etapa
A segunda etapa de aquisição do modelo PAC (quadro 22 e figura 7), que
decorre entre as idades de 1;8 a 2;6 anos, prevê a aquisição do contraste não
contínuo versus contínuo, com a entrada do traço [+ contínuo]. Nesta etapa, a
coocorrência do traço [+vozeado] com os traços [-soante, +contínuo] e traços de
ponto já existentes assegura o contraste de sonoridade (excepto para as fricativas
coronais não anteriores versus anteriores), bem como contrastes entre fricativas
labiais e coronais. Neste sentido, é importante referir que a aquisição de um
contraste está obrigatoriamente vinculada à coocorrência de traços, pelo que a
emergência de um traço numa classe não implica obrigatoriamente que o mesmo
surja noutra classe em que ele opera como distintivo, justificando a ausência do
contraste entre as fricativas coronais, nesta altura, apesar de já existirem coronais
[+anteriores] e coronais [-anteriores] no sistema fonológico. No final desta etapa, o
modelo prevê a aquisição dos segmentos /f, v, s e z/.
Traços marcados
adquiridos Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos
Segmentos
adquiridos
[+contínuo]
[-soante, + contínuo]
[+contínuo, labial]
[+contínuo, coronal,
+vozeado]
[+contínuo, labial, +
vozeado]
Oclusivas vs. fricativas
Fricativa coronal vs. labial
Fricativa coronal surda vs.
sonora
Fricativas labial surda vs. sonora
/f/
/v/
/s/
/z/
Quadro 22 - Segunda etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
37
Figura 7- Representação da segunda etapa (a vermelho) e da segunda etapa (a azul) de aquisição do
PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:106)
• 3ª etapa
Relativamente à terceira etapa (quadro 23 e figura 8), com as aquisições
feitas entre os 2;8 e os 3;0 anos, dá-se a emergência do contraste entre as nasais e
as orais na classe das soantes, através da aquisição do traço marcado
[+aproximante]. Embora este contraste já existisse para as oclusivas, passa a existir
também para a distinção entre as oclusivas nasais e a líquidas. A autora propõe que
o traço [nasal] seja considerado redundante no contraste entre a classe das líquidas
e das nasais, sendo um traço que permite o contraste entre as oclusivas orais e
nasais deste muito cedo. Na descrição da fonologia do português europeu, Mateus e
Andrade (2000) consideram que as nasais se distinguem das líquidas pelo traço
[contínuo] e que, nas líquidas, o traço [lateral] é suficiente para distinguir as laterais
dos róticos. Lazzarotto-Volcão (2009) considera que as laterais são caracterizadas
pelo traço [-contínuo], que, juntamentente com o [+aproximante], permitem distinguir
estes segmentos dos róticos [+aproximante; +contínuo]. Assim, ainda nesta etapa,
com a aquisição de [+aproximante] e a coocorrência com [-contínuo], a emergência
do segmento /l/ ocorre. A emergência de /ʃ e ʒ/ ocorre nesta etapa, através de uma
nova combinação de traços já existentes [-soante, +contínuo, coronal, -anterior] e de
[-soante, +contínuo, coronal, -anterior, +vozeado], surgindo o contraste de
sonoridade entre as coronais [±anterior].
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
38
Traços
marcados
adquiridos
Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos Segmentos
adquiridos
[+aproximante]
[+soante, +aproximante]
[-soante, +contínuo, coronal, -
anterior]
[-soante, +contínuo, coronal, -
anterior, +vozeado]
Nasais vs. líquidas
Fricativa coronal anterior vs.
não anterior
Fricativa coronal não anterior
surda vs. sonora
/l/
/ʃ/
/ʒ/
Quadro 23 - Terceira etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116
Figura 8 - Representação da primeira (a vermelho), da segunda (a azul) e a da terceira (a amarelo) etapas de aquisição do PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:109)
• 4ª etapa
A quarta e última etapa da aquisição fonológica (Quadro 24 e figura 9 ),
proposta pelo modelo PAC, prevê o surgimento do contraste entre laterais versus
não laterais, a distinção entre laterais não anteriores versus anteriores, e a distinção
de ponto dorsal versus coronal para não laterais, emergindo assim os segmentos /ʎ,
ʀ e ɾ/. Nesta etapa, não surgem novos traços, mas a sua utilização em diferentes
contextos ou coocorrências reflete-se no surgimento dos segmentos em falta. O
início desta etapa dá-se por volta dos 3;4 anos e estende-se até aos 4;2 anos.
Assim, com a coocorrência do traço [+aproximante], que surge na terceira
etapa, com [+contínuo] presente também no sistema fonológico, é possível a
distinção entre laterais e não laterais (róticos). A combinação destes traços com
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
39
traços de ponto permite a ocorrência de laterais e não laterais com pontos [+anterior]
e [-anterior].
Traços
marcados
adquiridos
Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos Segmentos
adquiridos
[+aproximante, +contínuo]
[+aproximante, -cont, coronal,
-anterior]
[+aproximante, +contínuo,
dorsal]
Líquidas lateriais vs. não lateriais
Líquida lateral anterior vs. não
anterior
Líquida não lateral coronal vs.
dorsal
/ɾ/
/ʎ/
/ʀ/
Quadro 24 - Quarta etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116
Figura 9 - Representação da primeira (a vermelho), da segunda (a azul), da terceira (a amarelo) e da
quarta (verde) etapas de aquisição do PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009: 112)
As quatro etapas do PAC estão resumidas no quadro 25, abaixo.
Etapa
Traços
marcados
adquiridos
Coocorrências
formadas Contrastes estabelecidos
Segmentos
adquiridos
1ª etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[-anterior]
[+vozeado]
[+consonântico, +soante]
[-soante, labial]
[-soante, dorsal]
[+soante, labial]
[+soante, coronal, -
anterior]
Soantes vs. obstruintes
Oclusiva coronal vs. labial
Oclusiva coronal vs. dorsal
Oclusiva labial vs. dorsal
Nasal coronal vs. labial
Nasal coronal ant. vs. não
anterior
/p/
/t/
/k/
/m/
/n/
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
40
[-soante, coronal,
+vozeado]
[-soante, labial, +vozeado]
[-soante, dorsal,
+vozeado]
Oclusiva coronal surda vs.
sonora
Oclusiva labial surda vs.
sonora
Oclusiva dorsal surda vs.
sonora
/ɲ/
/b/
/d/
/g/
Idade:
até aos
2;0
anos
Total da
etapa: 5 Total da etapa: 8 Total da etapa: 9
2ª etapa [+contínuo]
[-soante, + contínuo]
[+contínuo, labial]
[+contínuo, coronal,
+vozeado]
[+contínuo, labial, +
vozeado]
Oclusivas vs. fricativas
Fricativa coronal vs. labial
Fricativa coronal surda vs.
sonora
Fricativas labial surda vs.
sonora
/f/
/v/
/s/
/z/
Idade:
1;8 -2;6
anos
Total da
etapa: 1
Total do
sistema: 6
Total da etapa: 4
Total do sistema: 12
Total da etapa: 4
Total do sistema 13
3ª etapa [+aproximante]
[+soante, +aproximante]
[-soante, +contínuo,
coronal, -anterior]
[-soante, +contínuo,
coronal, -anterior,
+vozeado]
Nasais vs. líquidas
Fricativa coronal anterior vs.
não anterior
Fricativa coronal não anterior
surda vs. sonora
/l/
/ʃ/
/ʒ/ Idade:
2;8 -3;0
anos
Total da
etapa: 1
Total do
sistema: 7
Total da etapa: 3
Total do sistema: 15
Total da etapa: 3
Total do sistema 16
[+aproximante, +contínuo]
[+aproximante, -contínuo,
coronal, -anterior]
[+aproximante, +contínuo,
dorsal]
Líquidas lateriais vs. não
lateriais
Líquida lateral anterior vs.
não anterior
Líquida não lateral coronal
vs. dorsal
/ɾ/
/ʎ/
/ʀ/
Idade:
3;4- 4;2
anos
Total da
etapa: 0
Total do
sistema: 7
Total da etapa: 3
Total do sistema: 18
Total da etapa: 3
Total do sistema 19
Quadro 25 - Resumo das etapas de aquisição do Modelo padrão de Aquisição de contrastes, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009:116
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
41
3.3.OPACnaavaliaçãofonológica
Atualmente, as análises fonológicas realizadas em sujeitos com suspeita de
Perturbação dos Sons da Fala, na prática clínica, passam, maioritariamente, por
uma análise contrastiva, com a comparação entre o sistema fonológico avaliado e o
sistema fonológico da língua-alvo, identificando a presença ou ausência dos
segmentos. Na avaliação clínica, é recorrente a análise através dos processos
fonológicos, que verifica os processos presentes na fonologia infantil, bem como a
contabilização do total de percentagem de consoantes corretas (PCC). Apesar de
ser uma análise presente em muitos estudos na área, a análise por traços que
consiste na identificação dos traços presentes no sistema de um sujeito, não é ainda
uma prática comum na avaliação clínica. De acordo com Lazzarotto-Volcão, a
análise através de processos fonológicos ou até através da percentagem de
consoantes corretas parece não permitirem um estudo mais aprofundado das
alterações, uma vez que não possibilitam uma descrição do sistema fonológico no
seu todo (por exemplo, não informando a respeito das classes naturais já presentes
num sistema) nem considerando os contextos em que uma alteração pode ocorrer
(por exemplo, o vozeamento poderá estar ativo apenas para as oclusivas). O modelo
PAC possibilita o reconhecimento da constituição de classes naturais, a identificação
gradual de segmentos ausentes pela análise dos contrastes em aquisição, bem
como a visualização da organização dos traços e a sua coocorrência e implicações.
De acordo com a autora, este modelo cumpre todos os pré-requisitos
estabelecidos por Grunwell (1990), no que respeita aos procedimentos para
avaliação das alterações fonológicas:
a) Descrição dos padrões fonéticos e fonológicos: o modelo capta padrões
fonológicos através da identificação de contrastes e padrões fonéticos, decorrente
do levantamento do inventário fonético (primeiro passo da análise através deste
modelo).
b) Identificação das diferenças entre os padrões da criança e os padrões do
sistema alvo: a arquitetura do modelo PAC é construída a partir dos padrões da
língua-alvo. As estruturas ausentes são evidenciadas pelo não preenchimento dos
retângulos.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
42
c) Indicação das implicações comunicativas (contrastibilidade): o modelo
PAC permite a identificação das possibilidades contrastivas, pressuposto básico do
modelo.
d) Avaliação da etapa do desenvolvimento e identificação de perfis de atraso
ou de desvio: o PAC identifica as etapas de desenvolvimento percorridas pela
criança, bem como os casos de atraso ou desvio fonológico.
e) Facilitação na identificação de metas para o tratamento clínico: através da
identificação dos padrões alterados, existe maior eficácia na previsibilidade e
planeamento da intervenção.
f) Capacidade de verificação de modificações no sistema, no momento das
reavaliações: o modelo torna a visualização da evolução fácil.
3.3.1-OPACnaidentificaçãodepadrõesdeaquisiçãonormais,ematrasooudesviantes
Pretende-se que o PAC seja uma ferramenta para a análise dos casos de
Perturbação Fonológica, sendo útil à identificação da aquisição fonológica normal
ou da aquisição com atrasos ou desvios. Através das etapas de aquisição propostas
pelo modelo PAC, definidas a partir dos dados de aquisição, espera-se encontrar no
processo de aquisição:
1) A primeira etapa do modelo completa até aos 1;08 anos de idade;
2) até aos 2;06 anos, a aquisição dos contrastes da segunda etapa;
3) a terceira etapa finalizada até aos 3;0 anos;
4) até aos 4;02 anos, a quarta etapa finalizada
A identificação de um desvio fonológico pode ser realizada através da
identificação de alterações no cumprimento dos princípios fonológicos esperados na
aquisição normal. De acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), autora do PAC, a
análise de crianças com desvio fonológico através do modelo permitiu verificar que
as crianças com alterações fonológicas não apresentam dificuldades na aquisição
de traços isolados, mas, antes, na combinação desses traços. Nas crianças com
desvio fonológico, a combinação de traços parece ocorrer de forma mais lenta e
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
43
muitas vezes de forma desviante, apresentando mais problemas. Existe uma
tendência para não obedecer ao Princípio de Economia de Traços, sendo possível
observar a presença de um número restrito de contrastes, manifestado pela redução
do inventário fonológico segmental, para o número de traços disponíveis no sistema.
Assim, num sistema fonológico alterado, poderemos encontrar o traço [+vozeado]
em combinação com os traços [coronal] [+anterior] emergindo o segmento /z/, mas
não ser possível observar a sua combinação com os traços [coronal] [-anterior],
tendo como consequência a ausência do segmento /ʒ/.
O Princípio de Evitação de Traços marcados parece também ser
problemático para as crianças com desvio fonológico, já que apresentam
frequentemente um número superior de segmentos marcados e ausência de traços
não marcados. Desta forma, poderemos encontrar o traço [+aproximante],
manifestado em produções de consoantes líquidas, encontrando-se ausente a
combinação dos traços não marcados [coronal] [+anterior], com falta das consoantes
oclusivas /d/ e /t/.
O Princípio de Robustez tende também a não ser cumprido, nas crianças
com desvio fonológico, uma vez que não respeitam a previsibilidade de aquisição
das diferentes etapas, inerente ao modelo PAC. As crianças com desvio fonológico
poderão apresentar etapas mais tardias, encontrando-se por completar a aquisição
de etapas mais precoces.
O modelo PAC possibilita, assim, a identificação de dois tipos de alteração
fonológica:
1) Atraso Fonológico – o perfil fonológico da criança mostra um
desfasamento entre as suas etapas de desenvolvimento e as esperadas para a
idade cronológica, embora sejam cumpridos os princípios fonológicos.
2) Desvio Fonológico - o perfil fonológico da criança mostra alterações que
implicam o não cumprimento dos princípios fonológicos
Tendo em conta a eficácia na identificação das alterações fonológicas pelo
modelo PAC, este torna-se uma ferramenta produtiva no processo de avaliação, já
que permite a descrição do perfil fonológico do sujeito e possibilita a determinação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
44
de um diagnóstico mais preciso, fundamental para o planeamento da intervenção
terapêutica.
3.4.ClassificaçãodasPerturbaçõesFonológicas-PAC
Com base na proposta de Lazzarotto-Volcão e Matzenauer (2008),
Lazzarotto-Volcão (2009) propõe uma classificação através da determinação do grau
de severidade. Na proposta de classificação do PAC, os critérios são qualitativos
considerando a presença ou ausência de contrastes como unidade básica de
análise.
De acordo com a proposta, as perturbações fonológicas poderão ser
classificadas, de acordo com o grau de severidade, da seguinte forma:
Perturbação Severa – Se o sistema fonológico apresentar:
• ausência de contrastes da terceira e quarta etapas;
• presença de, no máximo, dois contrastes da segunda etapa;
• presença de, no máximo, seis contrastes da primeira etapa.
Assim, no sistema fonológico de uma criança com perturbação severa,
encontraremos consoantes nasais (podendo a coocorrência de ponto estar ausente),
consoantes oclusivas (podendo algumas coocorrências de ponto ou vozeamento
estar ausentes). Nas perturbações fonológicas, a classe das fricativas estará
completamente ausente ou podem surgir duas subclasses, como, por exemplo, o
contraste oclusivas vs fricativas e o contraste fricativas labiais surdas vs sonoras.
Perturbação moderada-severa – uma alteração será moderada-severa se o
sistema fonológico apresentar um nível médio de contrastes:
• presença dos contrastes da primeira etapa, podendo estar ausentes
no máximo três coocorrências de ponto e/ou vozeamento.
• presença de, no mínimo, dois e, no máximo, três contrastes da
segunda etapa;
• presença de, no mínimo, um e, no máximo, dois contrastes da
terceira etapa;
• ausência de contrastes da quarta etapa.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
45
Nos casos de crianças com Perturbação Fonológica moderada-severa,
encontramos no seu sistema fonológico as consoantes nasais, as oclusivas, as
fricativas labiais e as coronais anteriores (podendo estar ausente uma das seguintes
subclasses (apenas uma): i) fricativas labiais ou fricativas coronais anteriores ou ii)
fricativas labiais e coronais anteriores surdas). Encontram-se presentes as fricativas
coronais não-anteriores ou o contraste de sonoridade entre essas fricativas (mesmo
que os segmentos-alvo estejam ausentes na gramática) e/ou líquida lateral anterior.
Espera-se assim, que neste nível de gravidade, exista apenas uma coocorrência na
classe das líquidas (correspondente à terceira etapa) e deverão existir pelo menos
duas consoantes fricativas (correspondente a dois contrastes da segunda etapa).
Perturbação moderada – uma alteração moderada surge se o sistema
fonológico apresentar um nível médio-alto de contrastes, caracterizado por:
• presença de todos os contrastes das duas primeiras etapas;
• presença de, no mínimo, um contraste e, no máximo, dois contrastes
da terceira etapa;
• presença de, no máximo, um contraste na quarta etapa, podendo
estar todos ausentes.
De acordo com as características relativas à perturbação moderada, espera-
se que os sujeitos com este diagnóstico tenham, nos seus inventários fonológicos,
as seguintes classes de sons: nasais, oclusivas, fricativas labiais, fricativas coronais
anteriores e, pelo menos, uma líquida. Podem estar ausentes as duas fricativas
coronais não-anteriores (desde que o contraste de sonoridade entre elas esteja
presente), ou apenas uma delas (/ʃ/ ou /ʒ/) ou podem ainda estar ausentes as três
líquidas.
Perturbação leve – esta classificação surge nos casos em que o sistema
fonológico é caracterizado por:
• presença de todos os contrastes das duas primeiras etapas;
• presença de, no mínimo, dois contrastes da terceira etapa;
• presença de, no mínimo, dois contrastes da quarta etapa.
Perturbações leves serão caracterizadas pela presença de sons nasais,
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
46
oclusivas, fricativas (podendo estar ausente a subclasse das coronais não-anteriores
ou o contraste de sonoridade entre elas) e líquidas (pelo menos duas laterais e uma
não-lateral ou vice-versa).
Lazzarotto-Volcão (2009) propõe adicionalmente uma proposta de
classificação para os casos não enquadrados nas classificações anteriormente
propostas, como, por exemplo, crianças que apresentem apenas alterações nos
contrastes de vozeamento ou para crianças com idade inferior a 4;02 anos (já que
nesta altura não é esperado apresentar todas os contrastes em todas as etapas). A
autora sugere o cálculo quantitativo que denomina como fator de correção. Este fator
corresponde ao cálculo da percentagem de contrastes que estão presentes no
sistema em função do esperado. Este valor será analisado de acordo com o
proposto na tabela 26, que surge com base do corpus do trabalho de Lazzarotto-
Volcão (2009), juntamente com a classificação de Shriberg e Kwiatkowski (1982).
Nível de
gravidade da PF
Número mínimo
de contrastes
Percentagem
mínima de
contrastes
Número máximo
de contrastes
Percentagem
máxima de
contrastes
Severo 0 0 8 42%
Moderado-Severo 9 47% 14 74%
Moderado 15 79% 16 84%
Leve 17 89% 18 95%
Quadro 26 - Índice de economia para cada etapa de aquisição, segundo o PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:119)
Assim, de acordo com a idade da criança, serão calculados os contrastes
que deveriam estar presentes no sistema, correspondendo esse valor a 100%.
Depois disso, contabiliza-se quantos contrastes foram já adquiridos, calculando a
percentagem de contrastes que permitirá a utilização desta proposta de
classificação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
47
3.5ProcedimentosdeutilizaçãodoPACparaaavaliaçãofonológica
Para a descrição e análise linguística dos dados em contexto de Perturbação
Fonológica, deverá ser realizada, primeiramente, uma análise contrastiva, podendo-
se obter, assim, os inventários fonético e fonológico dos sujeitos. Para esta análise,
Lazzarotto-Volcão (2009) propõe a utilização dos procedimentos e critérios
considerados por Yavas, Matzenauer-Hernandorena e Lamprecht (1991). Após esta
análise, proceder-se-á ao apuramento de todos os contrastes presentes no sistema
fonológico da criança, fazendo a sua representação através do preenchimento ou
não dos retângulos no diagrama apresentado anteriormente em 3.1.
Para determinar o estado do contraste, são levados em conta os mesmos
critérios que os utilizados para a determinação do estado de cada segmento da
língua (adquirido, em concorrência ou ausente). Assim:
• Contraste adquirido: quando houver entre 76% e 100% de uso correto da
coocorrência de traços (ou traço) responsável pelo contraste;
• Contraste em aquisição: quando estiver presente no sistema, mas com uma
produção correta entre 51% e 75% das produções;
• Contraste ausente - quando a produção for igual ou inferior a 50%.
Após a determinação dos contrastes presentes num sistema, os mesmos
serão alvo de análise para a definição do tipo de alteração fonológica (atraso ou
perturbação), bem como para a sua classificação, de acordo com os critérios
descritos na secção anterior.
É importante referir que o modelo PAC, por analisar a aquisição de
contrastes e não de segmentos, torna possível a identificação de um contraste
mesmo que o segmento em que esse contraste existe ainda não seja produzido.
Assim, uma criança que produza [s, z] no lugar de /ʃ, ʒ/, não apresenta alterações no
contraste de vozeamento entre os segmentos /ʃ, ʒ/. Nesta alteração, observa-se
uma alteração que diz respeito às propriedades relacionadas com o ponto
articulatório e não com o contraste de vozeamento. Esta análise vai ao encontro da
ideia proposta por Hernandorena (1995) de que a construção gradual dos
segmentos é realizada através da ligação gradual de traços fonológicos à estrutura
interna dos fonemas.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
48
Destaca-se ainda que todos os princípios propostos por Clements (2005,
2009) podem ser evidenciados através do modelo, embora o Princípio de Robustez
seja o mais relacionado com a proposta. Assim, após identificação dos contrastes
estabelecidos num sistema, pode ser feita uma análise de forma a determinar se o
sistema em avaliação cumpre todos os princípios, o que pode ser muito útil no
planeamento da intervenção terapêutica.
3.6.ImplicaçõesdomodelonaIntervenção
Considerando o Princípio de Robustez, o Princípio de Economia de Traços e
o Princípio da Evitação de traços marcados, a análise através do modelo PAC
poderá contribuir para uma maior eficácia no planeamento da intervenção
terapêutica, já que será possível identificar os contrastes a considerar na
intervenção, de forma a estimulá-los e a obter generalizações a contrastes mais
robustos. Será possível identificar os traços que devem ser estimulados de modo a
que se combinem de forma mais económica, sabendo também que os menos
robustos implicam, em princípio, os mais robustos. O PAC considera que a aquisição
dos valores marcados dos traços permite a consequente aquisição dos não-
marcados, podendo orientar a intervenção neste sentido.
A sugestão da autora do modelo é a de que, no planeamento da intervenção
terapêutica, o modelo PAC possa servir de orientação na escolha do estímulo alvo a
trabalhar. Se a criança apresenta um atraso fonológico, devem ser escolhidos
estímulos de aquisição mais tardia, que possibilitarão a aquisição das propriedades
que já deveriam estar presentes, recorrendo ao conceito de aquisição implicacional
(Keske-Soarees, 1996, 2001). Numa Perturbação Fonológica, os estímulos alvo
terão de ser aqueles que possibilitarem a reorganização do sistema e o
cumprimentos dos princípios fonológicos, não tendo de ser, necessariamente, os de
aquisição mais tardia. A autora afirma que estas hipóteses, bem como a
possibilidade de utilizar o modelo em conjunto com outros modelos terapêuticos,
terão ainda de ser testadas e confirmadas.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
49
CAPÍTULO 4. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES DO
PORTUGUÊS EUROPEU – PAC-PE
Ao avaliar a adequação da Escala de Robustez para a coocorrência de
traços de consoantes à aquisição de contrastes do português europeu, Amorim
(2014) verificou que a proposta original não permitia explicar a totalidade dos dados
de aquisição do português europeu, embora se tenham verificado tendências gerais
com base na Escala de Robustez identificadas por Clements (2009) e por
Lazzarotto-Volcão (2009). A autora refere a necessidade de proceder a algumas
adaptações, de forma a dar conta das especificidades da língua, especialmente da
coocorrência de traços que, embora sejam mais robustos num contexto, se tornam
menos robustos numa coocorrência diferente, como é o caso do traço [+-anterior],
que, quando combinado com [+soante, -aproximante], é mais robusto do que quando
coocorre com [-soante, + contínuo, +voz]. A proposta apresentada por Amorim
(2014) mantém as características, objetivos e propósitos do modelo original,
concebido para o português do Brasil por Lazzarotto-Volcão (2009), tendo sido
adaptada à luz dos dados de aquisição do português europeu, por 5 informantes
avaliados longitudinalmente e por 80 informantes avaliados transversalmente (dados
espontâneos no primeiro caso (Costa, 2010) e experimentais no segundo (Amorim,
2014). Tendo em conta que os dados utilizados são referentes a um número
reduzidos de sujeitos, nas faixas etárias iniciais, a indicação das idades deverá ser
entendida como uma tendência genérica. Desta forma, Amorim (2014) propõe, à
semelhança do modelo PAC proposto para o português do Brasil, quatro etapas de
aquisição, em que os traços são adquiridos e combinados entre si, de forma a
originar contrastes que possibilitam a emergência dos segmentos.
• 1ª etapa – PAC-PE
A primeira etapa de aquisição (quadro 27), que decorre ao longo dos dois
primeiros anos de vida, é caracterizada pela aquisição dos traços marcados
[+soante], [labial], [dorsal], [+vozeado], que, combinados, permitem a emergência de
contrastes que estabelecem as classes naturais das soantes e das obstruintes.
Estes traços permitem estabelecer contrastes de ponto nas oclusivas surdas bem
como entre as soantes labiais e coronais. O traço [+vozeado] é utilizado apenas
para as oclusivas labiais e coronais
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
50
Assim, nesta etapa, ao contrário do que acontece no português do Brasil, as
oclusivas orais e nasais ainda não se encontram totalmente adquiridas, já que os
segmentos /g/ e /ɲ/ são adquiridos mais tarde, sendo usualmente substituídos por /k/
e /n/, respetivamente, demonstrando que as combinações [dorsal, -contínuo,
+vozeado] e [coronal, -anterior] não estão ainda estabelecidas. Neste seguimento,
nesta etapa, não estão ainda estabelecidos todos os contrastes de ponto e modo
necessários para a emergência de todas as oclusivas e nasais, encontrando-se
presentes os fonemas /p, b, t, d, k, m, n/. Com esta análise em função dos traços e
das suas combinações, ilustra-se a diferença entre uma análise segmental (com
base na presença e ausência de fonemas) e uma análise em contrastes, o que
permite entender as relações existentes no sistema fonológico de uma criança,
independentemente dos segmentos que a mesma já é capaz de produzir.
Traços marcados
adquiridos
Coocorrênc
formadas Contrastes estabelecidos
Segmentos
adquiridos
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+vozeado]
[+consonântico, +soante]
[-soante, labial]
[-soante, dorsal]
[+soante, labial]
[-soante, coronal,
+vozeado]
[-soante, labial, +vozeado]
Soantes vs. obstruintes
Oclusiva coronal vs. labial
Oclusiva coronal vs. dorsal
Oclusiva labial vs. dorsal
Nasal coronal vs. labial
Oclusiva coronal surda vs.
sonora
Oclusiva labial surda vs. sonora
/p/
/t/
/k/
/m/
/n/
/b/
/d/
Quadro 27 - Primeira etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314
• 2ª etapa – PAC-PE
A aquisição da fonologia no português europeu segue com a segunda etapa
(quadro 28), entre os 2;0 e os 3;0 anos de idade, altura em que são adquiridos o
traço [-anterior], possibilitando a coocorrência com [+soante, coronal], emergindo o
segmento /ɲ/. Nesta altura, é também feita a aquisição do contraste entre oclusivas e
fricativas, com a entrada do traço [+ contínuo]. A combinação deste com o traço
[labial] (previamente adquirido) permite a distinção entre a fricativa labial e a coronal
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
51
[-vozeado]. Nesta etapa, a coocorrência dos traços [-contínuo, +vozeado, dorsal]
permite a aquisição do contaste entre a oclusiva dorsal surda e a sonora, emergindo
o segmento /g/. A coocorrência entre os traços [+contínuo, +vozeado, labial] nesta
etapa possibilita a distinção entre a fricativa labial surda e a sonora.
É importante relembrar que a aquisição de um contraste está
obrigatoriamente vinculada à coocorrência de traços, pelo que a emergência de um
traço numa classe não implica obrigatoriamente que o mesmo surja noutra classe.
Assim, nesta etapa, embora o traço [-anterior] entre no sistema fonológico, permite
apenas a distinção entre as soantes coronais /n/ e /ɲ/, não coocorrendo, nesta fase,
com fricativas, por exemplo. Podem então observar-se fricativas coronais nas
crianças que se encontram na segunda etapa, ocorrendo oscilação relacionada com
o ponto articulatório. Amorim (2014), com base nos dados de Costa (2010), refere
que no português europeu o ponto coronal [-anterior] parece ser o primeiro a
estabilizar, no caso das fricativas. Desta forma, no final desta etapa, o modelo prevê
a aquisição dos segmentos /g, ɲ, f, v e ʃ/.
Traços marcados
adquiridos Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos
Segmentos
adquiridos
[+contínuo]
[-anterior]
[+soante, coronal, -
anterior]
[-soante, dorsal, +
vozeado]
[-soante + contínuo]
[+contínuo, labial, +voz]
[+contínuo, labial]
Nasal coronal anterior vs não
anterior
Oclusiva dorsal surda vs sonora
Oclusivas vs. Fricativas
Fricativas labial surda vs sonora
Fricativa coronal vs labial
/ɲ/
/g/
/f/
/v/
/ʃ/
Quadro 28 - Segunda etapa de aquisição do PAC-PE, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314
• 3ª etapa
Relativamente à terceira etapa (quadro 29), as aquisições são feitas entre os
3;0 e os 3;5 anos de idade, dando-se, da mesma forma que nas etapas descritas
para o português do Brasil, a emergência do contraste entre as nasais e orais na
classe das soantes, através da aquisição do traço marcado [+aproximante]. Com a
estabilização deste traço passa a existir a distinção entre as oclusivas as nasais e as
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
52
líquidas com emergência do segmento /l/. Nesta etapa, a coocorrência entre
[+contínuo, -vozeado, coronal, -anterior] permite o contraste entre [±anterior] entre
fricativas coronais surdas. A coocorrência do traço [+vozeado] possibilita a distinção
entre fricativas coronais surdas e sonoras (não ocorrendo ainda distinção de ponto
entre as coronais sonoras, embora já exista para as coronais surdas). Ainda nesta
etapa emerge o segmento /ʀ/, pela aquisição do contraste [±contínuo] nas
obstruintes dorsais, através da combinação [dorsal] e [-soante, + contínuo]. Assim,
nesta epata são adquiridas as consoantes /s, ʒ e l/.
Traços
marcados
adquiridos
Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos
Segment
os
adquirido
s
[+aproximan
te]
[+ soante, + contínuo, coronral -
anterior]
[-soante, +contínuo, coronal,
+vozeado]
[-soante, + contínuo, dorssal]
[+soante. +aproximante]
Fricativas coronais anteriores vs não
anterires
Fricativa coronal não anterior surda
vs sonora
Oclusiva vs fricativa dorsal
Nasais vs líquidas
/s/
/ʒ/
/ʀ/
/l/
Quadro 29 - Terceira etapa de aquisição do PAC-PE, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314
• 4ª etapa – PAC-PE
Dos 3;5 anos aos 4;11 anos, ocorrem as aquisições correspondentes à
quarta etapa. Não são feitas aquisições de novos traços, mas ocorrem ainda novas
combinações que permitem a emergência de novos segmentos, tal como ilustrado
no quadro 30. Nesta altura o contraste [±anterior] entre fricativas coronais estabiliza
com a aquisição do segmento /z/. Novas coocorrências com [+ aproximante]
permitem o contraste entre laterais e róticos (o rótico /ʀ/ adquirido na etapa anterior
parece ser tratado naquela altura como fricativa e ainda não como aproximante). A
distinção entre o ponto articulatório dos róticos é estabelecido através da
combinação dos traços [dorsal] e [coronal] com [+aproximante, + contínuo]. Surge
também a distinção [±anterior] entre as laterais. Nesta última etapa são adquiridos,
assim, os segmentos /ʀ, ɾ, z e ʎ/. Torna-se pertinente, explicar que o segmento /ʀ/
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
53
pode surgir na terceira etapa, para algumas crianças, quando o mesmo é
categorizado no sistema como fricativa dorsal. No entanto, /ʀ/ pode ser classificado
como aproximante para outra crianças, sendo dominado nesta quarta etapa de
aquisição com a combinação dos traços [-soante, +aproximante, +dorsal].
Traços
marcados
adquiridos
Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos
Segmento
s
adquirido
s
[+aproximante, + contínuo, dorsal]
[+aproximante, + contínuo, coronal]
[-soante, + contínuo, coronal, +
anterior, +vozeado]
[+aproximante, -contínuo, coronal, -
anterior]
Líquidas laterais vs não laterais
Líquda não lateral dorsal vs
coronal
Fricativa coronal anterior vs não
anterior
Líquida lateral anterior vs não
anterior
/ʀ/
/ɾ/
/z/
/ʎ/
Quadro 30 - Quarta etapa de aquisição do PAC-PE, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314
No quadro 31, em baixo, encontram-se resumidas as quatro etapas de
aquisição identificadas para o português europeu:
Etapa
Traços
marcados
adquiridos
Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos
Segme
ntos
adquiri
dos
1ª etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+vozeado]
[+consonântico, +soante]
[-soante, labial]
[-soante, dorsal]
[+soante, labial]
[-soante, coronal, +vozeado]
[-soante, labial, +vozeado]
Soantes vs. obstruintes
Oclusiva coronal vs. labial
Oclusiva coronal vs. dorsal
Oclusiva labial vs. dorsal
Nasal coronal vs. labial
Oclusiva coronal surda vs.
sonora
Oclusiva labial surda vs.
sonora
/p/
/t/
/k/
/m/
/n/
/b/
/d/
Idade: até
aos 2;0
anos
Total da etapa:
4 Total da etapa: 6 Total da etapa: 7
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
54
2ª etapa [+contínuo]
[-anterior]
[+soante, coronal, -anterior]
[-soante, dorsal, + vozeado]
[-soante + contínuo]
[+contínuo, labial, +vozeado]
[+contínuo, labial]
Nasal coronal anterior vs
não anterior
Oclusiva dorsal surda vs
sonora
Oclusivas vs. Fricativas
Fricativas labial surda vs
sonora
Fricativa cornoal vs labial
/ɲ/
/g/
/f/
/v/
/ʃ/
Idade: até
2;0 anos
Total da etapa:
2
Total do
sistema: 6
Total da etapa: 5
Total do sistema: 11
Total da etapa: 5
Total do sistema 12
3ª etapa [+aproximante]
[+ soante, + contínuo,
coronal -anterior]
[-soante, +contínuo, coronal,
+vozeado]
[-soante, + contínuo, dorsal]
[+soante. +aproximante]
Fricativas coronal anterior
vs não anterior
Fricativa coronal não
anterior surda vs sonora
Oclusiva vs fricativa dorsal
Nasais vs líquidas
/s/
/ʒ/
/ʀ/
/l/ Idade: <3 -
3;5 anos
Total da etapa:
1
Total do
sistema: 7
Total da etapa: 4
Total do sistema: 15
Total da etapa: 4
Total do sistema 16
4ªetapa
[+aproximante, + contínuo,
dorsal]
[+aproximante, + contínuo,
coronal]
[-soante, + contínuo, coronal,
+ anterior, +vozeado]
[+aproximante, -contínuo,
coronal, -anterior]
Líquidas lateriais vs não
lateriais
Líquda não lat dorsal vs
coronal
Fricativa coronal ant vs não
anterior
Líquida lateral anterior vs
não anterior
/ʀ/
/ɾ/
/z/
/ʎ/
Idade: 3;5-
4;11 anos
Total da etapa:
0
Total do
sistema: 7
Total da etapa: 4
Total do sistema: 18
Total da etapa: 4
Total do sistema 19
Quadro 31 - Resumo das etapas de aquisição do Modelo padrão de Aquisição de contrastes para o português europeu
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
55
Os contrastes, para o português europeu, são representados através da
estrutura do modelo PAC (figura 10), de acordo com os mesmos critérios de
representação descritos anteriormente no capítulo 3.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
56
Figura 10 - Representação da aquisição do sistema fonológico do português europeu à luz do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (Lazzarotto-Volcão, 2009; 2016 com base nos dados para o
português europeu (Amorim, 2014))
Tal como se pode observar, comparando as representações do português
europeu (imagem 10) e do português do Brasil (imagem 11), as duas diferem em
alguns aspetos. No português europeu, vemos representado a azul, correspondente
à segunda etapa, o contraste entre fricativas coronais anteriores e não anteriores,
que, no português do Brasil, se representa a amarelo, por corresponder a uma
aquisição respeitante à terceira etapa. Observa-se ainda que, enquanto no
português do Brasil o contraste as fricativas anteriores surdas e sonoras surge a
azul (segunda etapa), no português europeu, surge a verde, estabilizando na quarta
etapa. As estruturas diferem ainda quanto à emergência do contraste entre as
líquidas laterais e não laterais, que, para o português europeu, surge na terceira
etapa (a amarelo) e, para o português europeu, na quarta etapa (a verde).
Figura 11 - Representação da estrutura do sistema fonológico do Português do Brasil à luz do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (Lazzarotto-Volcão, 2009:117).
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
57
Neste capítulo, foi realizada a descrição das etapas de aquisição, de acordo
com o Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes, em função dos dados de
aquisição fonológica do português europeu.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
58
CAPÍTULO 5. AS PERTURBAÇÕES DOS SONS DA FALA
O presente capítulo pretende apresentar, resumidamente, o estado da arte
relativo às Perturbações dos Sons da Fala, mais especificamente no domínio das
Perturbações Fonológicas, com o objetivo de clarificar as definições teóricas
relacionadas com o termo, bem como clarificar os critérios para determinação do
diagnóstico nesta área. Com este intuito, será apresentada a definição do conceito
de Perturbações dos Sons da Fala (5.1), sendo enunciada e comentada de forma
breve a tipologia encontrada nas Perturbações dos Sons da Fala, incluindo as
Perturbações Fonológicas, que serão alvo de descrição mais detalhada neste
trabalho em (5.2)
5.1Afalaeassuasalterações
A fala é uma atividade cognitiva e motora complexa, que se manifesta
através da articulação de unidades linguísticas. A produção de palavras depende de
um planeamento motor (dependente do sistema nervoso central), da execução
motora (dependente dos órgãos fonoarticulatórios) e de um planeamento linguístico
(dependente da aquisição do sistema gramatical) (Goulart, 2002; Franco et al., 2003;
Gomes et al., 2006; Bacelar, 2013).
A fala é um processo complexo que se adquire de forma gradual ao longo
dos primeiros anos de vida, dependendo do desenvolvimento não só linguístico, mas
também do desenvolvimento motor. Ao longo deste processo, algumas crianças
demonstram dificuldade na produção da fala, não conseguindo realizar produções
de acordo com o que seria esperado para a sua faixa etária. Quando, na produção
de fala, se observam erros que não seriam esperados, é diagnosticada uma
perturbação na fala.
Ao longo dos anos, tanto as nomenclaturas como as definições utilizadas
para caracterizar as perturbações na fala têm sofrido várias alterações. As
perturbações da fala eram vistas como dificuldades articulatórias, sendo cada
segmento visto isoladamente e de forma periférica. Esta perspetiva tem vindo a ser
alterada à luz de modelos fonológicos, passando-se a olhar para a fala, não só numa
dimensão motora, isolada, como também numa dimensão fonológica. Esta mudança
de perspetiva teve manifestações no que respeita aos procedimentos de avaliação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
59
bem como às nomenclaturas utilizadas para o diagnóstico. Durante muitos anos, as
crianças com alterações de fala eram diagnosticadas com distúrbio articulatório,
dislália ou perturbação articulatória funcional; mais tarde surgiram os diagnósticos de
atraso fonológico e de perturbação Fonológica. Atualmente, encontramos ainda o
termo “Perturbação Específica da Articulação” como uma das nomenclaturas para
fazer referência às perturbações da fala, representada pelo código F 80.0 do ICD-10
(Classificação Internacional de Doenças), definida como a dificuldade que a criança
apresenta, para a sua faixa etária, em utilizar corretamente os sons da fala, mas
sem evidenciar alterações de linguagem (Bacelar, 2013; Santos, 2015, Lousada
2012; Pagliarin, 2007).
No Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders V (DSM-V-TR,
2014), traduzido para português como Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais V, encontramos o termo Transtorno da Fala, sendo definido
como a dificuldade que um indivíduo tem na utilização dos diversos sons da fala,
não sendo causada por surdez, dificuldades cognitivas, etc. Atualmente o Transtorno
da Fala refere-se a crianças com “dificuldades no reconhecimento fonológico dos
sons da fala ou na capacidade de coordenar os movimentos para falar...”, podendo
subdividir-se em transtorno fonológico e transtorno da articulação.
A American Speech-Language-Hearing Association (ASHA, 2003) sugere a
utilização do termo Speech Sound Disorders - SSD (Perturbação dos Sons da Fala -
PSF), introduzido por Shriberg (2003). Esta nomenclatura é utilizada por outros
autores tais como Bowen (2017) e Hodd (1989, 2005). No entanto, a descrição
quanto aos sub-tipos de Perturbações dos Sons da Fala não é consensual. Alguns
autores consideram dois tipos de perturbação, Perturbação Articulatória e
Perturbação Fonológica, distinguindo as alterações de base motora das alterações
linguísticas. Este tipo de classificação não considera a etiologia das perturbações
dos sons da fala, ou a interação entre os aspetos motores e linguísticos implicados
na produção de fala. Alguns autores elaboraram propostas de forma a responder às
limitações da classificação comummente usada, propondo uma classificação de
base etiológica ou evocando o tipo de erros encontrados na fala (Vick et.al. 2014).
Para Gierut (1998), bem como para Grunwell (1990), as Perturbações da
Fala podem ter uma natureza fonética (dificuldade para articular sons da fala
decorrente de uma deficiência orgânica, ou não), envolvendo a componente motora,
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
60
ou ter uma natureza fonológica, envolvendo uma dificuldade na capacidade
cognitivo-linguística, caracterizada por desorganização, inadaptação ou alteração do
sistema fonológico.
Dodd et al. (1989) classificam as Perturbações dos Sons da Fala em três
tipos: atraso na aquisição fonológica, alteração sistemática com presença de
processos atípicos, alterações inconsistentes. Dodd (1995, 2005) propõe um modelo
baseado no perfil linguístico das crianças:
1) Atraso Fonológico - as crianças apresentam processos típicos, mas que
já não são esperados na sua idade;
2) Perturbação Fonológica Desviante e Consistente – as crianças
apresentam processos atípicos, demonstrando não dominar o sistema alvo;
3) Perturbação da Fala Inconsistente – as crianças apresentam processos
típicos não esperados na sua idade, juntamente com processos atípicos. Mostram
ainda uma variabilidade igual ou superior a 40% na produção da mesma palavra;
4) Perturbação Articulatória – A criança não consegue produzir fones
específicos;
5) Apraxia da Fala – A criança apresenta dificuldade em fazer o planeamento
motor da fala (apresentam características de fala semelhantes às encontradas na
perturbação de fala inconsistente).
As Perturbações dos Sons da Fala podem ser classificadas tanto quanto à
tipologia como à etiologia (Shriberg, 2010, Vick et al. 2014, Bacelar, 2016). Esta
classificação foi traduzida para o português como Sistema de Classificação de
Perturbações da Fala (Speech Disorders Classification System - SDCS). O Sistema
de Classificação de Perturbações da Fala – Tipologia divide as alterações de fala
em:
1) Aquisição normal de fala;
2) Atraso na fala - inclui crianças entre os 3;0 e 9;0 anos de idade com
omissões e substituições que são superadas com intervenção;
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
61
3) Alteração motora da fala - inclui crianças entre os 3;0 e 9;0 anos de idade
com omissões, substituições e distorções que podem não ser superadas com
intervenção;
4) Erros de fala - inclui crianças entre os 6;0 e 9;0 anos com distorção de
sons, especialmente sibilantes e/ou líquidas
O Sistema de Classificação de Perturbações da Fala – Etiologia divide as
alterações de fala em oito subtipos:
1) Altraso da fala;
a) atraso da fala transmitido geneticamente;
b) atraso na fala devido a otites médias de repetição;
c) atraso na fala com envolvimento do desenvolvimento psicossocial;
2) Alteração motora da fala;
a) apraxia do discurso;
b) disartria;
c) alteração motora da fala – não especificada;
3) Erros de fala;
a) erros de fala das sibilantes;
b) erros de fala no fonema /ɾ/.
Bowen (2011) enuncia diferentes níveis e tipos de dificuldades, tal como
ilustrado na figura 12:
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
62
Figura 12 – Os cinco níveis de função da fala e possíveis alterações (Bowen: 2011)
A autora descreve 5 níveis de dificuldade (anatómico/sensorial, motor,
percetivo, fonético e fonológico). Para cada um dos níveis há um tipo de dificuldade
que consiste num subtipo de Perturbação dos Sons da Fala (disartria, apraxia,
alteração articulatória ou alteração fonológica). De acordo com a autora, os
diferentes tipos de dificuldade podem coocorrer na mesma criança. Assim, uma
criança pode ter apraxia do discurso e também apresentar erros fonológicos
percetuais.
5.1.1Asperturbaçõesfonológicas
De acordo com Lamprecht, et al. (2004), até aos 5;0 anos de idade, de forma
gradual e individual, as crianças vão dominando o conhecimento fonológico da sua
língua. No entanto, existem crianças que apresentam diferenças na forma como o
seu sistema fonológico é construído, apresentando características que não seriam
esperadas na sua idade, na ausência de fatores que pudessem estar na origem da
dificuldade para a aquisição dos sons da fala. Esta dificuldade específica em
estabelecer, de forma adequada, as regras do sistema fonológico ou em usar os
fonemas de forma contrastiva, é denominada Perturbação Fonológica. Assim, as
alterações de fala poderão não ser causadas por uma dificuldade de execução
motora, ou seja, não constituem um problema articulatório ou fonético, mas antes
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
63
numa dificuldade cognitivo-linguística, manifestando-se em dificuldade na
organização fonológica e na utilização dos fonemas num contexto. (Ingram,1976;
Issler, 1996; Grunwell,1981,1990; Mota 2001; Pagliarin, 2007; Lazzarotto-Volcão
2009; Lamprecht, et. Al. 2004; Lima, 2008).
O sistema fonológico nas crianças com perturbações fonológicas não é
adquirido espontaneamente, existindo diferenças nas etapas percorridas pela
maioria das crianças de uma língua alvo (Giacchini,2009; Carlesso e Keske-Soares,
2007).
Wertzner (2004) define perturbações fonológicas como uma dificuldade de
fala, caracterizada pelo uso inadequado de sons, que podem envolver erros de
percepção, produção ou organização dos mesmos.
Wertzner et. al. (2007) refere que as crianças com Perturbação Fonológica
podem manifestar, nas suas produções, substituições, omissões e /ou distorções por
não terem adquirido as regras fonológicas do sistema linguístico da comunidade em
que estão inseridas. Embora o sistema fonológico seja inadequado ao esperado
para a sua faixa etária, Lamprech (2004) refere que as crianças com Perturbações
Fonológicas apresentam um sistema que não viola restrições fundamentais em
termos de traços e estruturas silábicas, embora as suas produções não atinjam
totalmente o sistema-alvo.
Para Grunwell (1981), as crianças com Perturbações Fonológicas
apresentam:
a) fala praticamente ininteligível, sendo as consoantes os segmentos
com maiores alterações;
b) idade superior a quatro anos, pois nessa idade a fala tem ser ser
entendida em qualquer situação de comunicação;
c) audição normal; 12
d) ausência de alterações anatómicas ou fisiológicas relacionadas com
os mecanismos de produção da fala;
12No que respeita à audição, torna-se fundamental refletir sobre a relação entre o impacto que perdas auditivas (causadas por otites médias) têm no desenvolvimento linguístico da criança que se encontra em avaliação, uma vez que Correia (2015), observa que o período de instalação das mesmas é decisivo no processo de aquisição e não só a presença ou ausência no momento. Correia (2015) verifica que as dificuldades fonológicas segmentais de crianças com otites médias se prenderem maioritariamente com o traço de vozemento na classe das fricativas e com a produção de laterais.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
64
e) ausência de problemas neurológicos relacionados com a produção da
fala;
f) capacidade intelectual adequada para o desenvolvimento da
linguagem falada;
g) linguagem expressiva e compreensiva adequada à faixa etária, no
que se refere aos restantes domínios linguísticos.
A autora refere que as crianças com Perturbação Fonológica apresentam
uma quantidade e variedade restrita de segmentos, redução de combinação de
traços fonéticos, quantidade limitada de fricativas e de ponto de articulação, trocas
surdo/sonoro e poucos grupos consonânticos.
Existem diferentes propostas para a classificação das Perturbações
Fonológicas, umas mais baseadas na inteligibilidade e grau de severidade, outras
baseadas em análises quantitativas (percentagem de consoantes corretas).
Grunwell (1997) propôs uma classificação das alterações fonológicas em três
categorias:
I - desenvolvimento atrasado - a criança desenvolve padrões de fala
de forma adequada, de acordo com etapas esperadas para a língua, mas
num ritmo mais lento;
II- desenvolvimento irregular - a criança utiliza padrões esperados em
diferentes fases de aquisição; uns podem estar de acordo com o esperado,
outros padrões podem ser esperados em idades mais avançadas ou idades
anteriores;
III - desenvolvimento incomum - a criança utiliza padrões que não se
esperam no desenvolvimento normal.
Ingram (1997) sugere uma tipologia de alterações fonológicas:
Tipo 1 – crianças com atraso fonológico - mostram padrões
fonológicos de crianças normais mais jovens e têm vocabulário relacionado
com as suas capacidades fonológicsa.
Tipo 2 – crianças com características de desenvolvimento distintas -
adquirem um vocabulário relativamente amplo, mas apresentam um sistema
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
65
fonológico severamente desorganizado;
Tipo 3 – crianças com padrões fonológicos influenciados socialmente
- são caracterizadas com padrão fonológico incomum;
Tipo 4 – crianças com alterações no desenvolvimento supralaríngeo -
são as que apresentam um desenvolvimento do traço [voz] avançado.
Keske-Soares (2001) propôs uma tipologia para a classificação dos desvios
fonológicos:
• sujeitos com desvios fonológicos com características incomuns: o
sistema fonológico do sujeito está bastante distante do esperado
relativamente ao sistema padrão de crianças mais jovens com
desenvolvimento normal, com processos incomuns (fricatização,
glotalização, apagamento de fricativa/oclusiva) e preferência
sistemática por um segmento; nesse caso, ocorre severa
ininteligibilidade de fala;
• sujeitos com desvios fonológicos com características iniciais: o
sistema fonológico do sujeito é semelhante ao encontrado no
desenvolvimento inicial da aquisição fonológica; apresenta alguns
processos iniciais (oclusivização, desvozeamento e anteriorização),
que persistem além da idade esperada; nesse caso, ocorre também
ininteligibilidade de fala, no entanto em grau menos severo;
• sujeitos com desvios fonológicos com características atrasadas: o
sujeito apresenta alterações que são evidenciadas no estádio final da
aquisição fonológica normal e apresenta alterações nas fricativas
palatais e líquidas e nas estruturas CVC e CCV;
• sujeitos com desvios fonológicos com características fonéticas
adicionais: o sujeito apresenta fatores fonéticos que interferem no
desenvolvimento e na adequação fonológica, podendo enquadrar-se
nos grupos com características incomuns, iniciais e atrasadas.
Shriberg & Kwiatkowski (1982) determinaram uma análise quantitativa para
verificar o grau de severidade das alterações fonológicas através dos resultados da
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
66
percentagem de consoantes corretas - PCC. Considerando esta medida, o desvio
pode ser classificado como:
• desvio médio (86 a 100%);
• desvio médio moderado (66 a 85%);
• desvio moderado-severo (51 a 65%);
• desvio severo (< 50%)
Lazzarotto-Volcão (2009) classificou os desvios fonológicos em função da
presença ou ausência de contrastes identificados através do Modelo Padrão de
Aquisição de Contrastes (descrito detalhadamente no capítulo 3 do presente
trabalho).
Em termos gerais, entende-se que a Perturbação Fonológica corresponde a
um sub-tipo de perturbação dos sons da fala. O conhecimento detalhado e profundo
sobre as características linguísticas bem como sobre a etiologia na Perturbação dos
Sons da Fala torna-se essencial para a interpretação dos dados de avaliação bem
como para o estabelecimento de um diagnóstico preciso, fundamental para o
planeamento adequado da intervenção terapêutica.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
67
II PARTE - METODOLOGIA
CAPÍTULO 6 . CRITÉRIOS METODOLÓGICOS
A fim de apresentar os critérios metodológicos desta investigação, no
segundo capítulo deste trabalho, apresentam-se a questão orientadora (6.1), a
caracterização da amostra (6.2), bem como os instrumentos utilizados para a
recolha dos dados (6.3). No presente capítulo, são apresentados os procedimentos
do estudo (6.4), através da descrição da forma como foram obtidas as autorizações
(6.4.1), da descrição da aplicação do instrumento e recolha de dados (6.4.2), dos
critérios adotados no tratamento e descrição dos dados (6.4.3). Ainda na secção
relativa aos procedimentos do estudo, serão retomados os objetivos a considerar na
discussão deste trabalho (6.4.4), já apresentados na introdução. De forma a
responder aos objetivos estabelecidos, serão descritos os modelos de análise que
servirão a discussão dos dados (6.4.4.1). É ainda feita a descrição da intervenção
terapêutica realizada ao longo do período de recolha dos dados (6.4.4.2).
6.1.QuestãoOrientadora
Tendo em conta a revisão bibliográfica apresentada no capítulo anterior,
surge a seguinte questão orientadora: “O modelo PAC-PE é ou não adequado à
avaliação nas Perturbações Fonológicas no português europeu”?. O PAC
(Lazzarotto-Volcão, 2009; Giachini, 2015) permitiu a descrição do perfil fonológico de
crianças brasileiras, possibilitando a definição de um diagnóstico mais preciso,
assim como o estabelecimento de graus de gravidade no português do Brasil. Neste
trabalho, espera-se que, com recurso ao modelo adaptado aos dados de aquisição
típica do português europeu (Amorim, 2014; Lazzarotto-Volcão 2009), seja possível
utilizar este modelo em crianças portuguesas com perturbações fonológicas. Para
refletir sobre a adequação da análise com base no PAC-PE, foram considerados
dados obtidos através de outros tipos de análise fonética-fonológica, tais como
inventário fonético, inventário fonológico e identificação dos processos fonológicos.
As aquisições realizadas ao longo do processo de intervenção dos sujeitos foram
descritas através do modelo PAC-PE, a fim de explicar a aquisição fonológica em
crianças com perturbação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
68
6.2.Caracterizaçãodaamostra
Os dados para análise deste estudo foram recolhidos através dos resultados
de produção oral de dois sujeitos com Perturbação Fonológica.
Para o diagnóstico de Perturbação Fonológica, procedeu-se à clarificação
dos critérios com maior relevância para a investigação em desenvolvimento fonético
e fonológico que, de acordo com Grunwell (1981), Bernhardt, Stemberger e Major
(2006) e Holm e Crosbie (2006) são:
1. o histórico clínico do ouvido e da audição, causado sobretudo por
quadros infecciosos como a otite média, sendo importante a
identificação do período de instalação da condição clínica (Correia,
2015);
2. o histórico respiratório, especialmente quando medicado;
3. o estado do comportamento, da cognição e das funções executivas e
hiperatividade com terapêutica farmacológica;
4. a capacidade intelectual e competências de aprendizagem;
5. o desenvolvimento da linguagem em geral;
6. o desempenho em tarefas de percepção de fala e/ou de consciência
fonológica;
7. a capacidade de tarefas oromotoras bem como o funcionamento do
aparelho anatómico, fisiológico e neurológico relacionado com
produção de fala;
8. fatores pessoais e/ou ambientais com relação etiológica com o
desempenho em análise (fatores de risco como a baixa estimulação,
por exemplo) e/ou com relação condicional com o processo
terapêutico (como a disponibilidade para a terapia, por exemplo).
Assim, para que os sujeitos pudessem ser incluídos na amostra da
investigação, foi realizada uma avaliação formal da linguagem e uma avaliação de
discriminação auditiva. Foi ainda avaliada a função do aparelho estomatognático
(respiração, mastigação, sucção, deglutição e fala), bem como dos órgãos
fonoarticulatórios (lábios, língua, dentes, bochechas, palato duro e palato mole), com
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
69
especial atenção para as alterações de mobilidade, postura e tónus, que pudessem
comprometer a produção articulatória dos sons da fala. Dados de anamnese
(antecedentes familiares, desenvolvimento psicomotor, desenvolvimento orofacial,
sono, aprendizagem, gestação, etc.) foram recolhidos junto dos pais ou
responsáveis. Exames complementares não foram realizados após avaliação
terapêutica, por não se julgarem necessários por parte da pesquisadora, uma vez
que não existiam indicadores de alterações neurológicas ou psicológicas.
6.2.1.Sujeito1
De acordo com os dados de anamnese recolhidos, não se registaram
alterações de desenvolvimento na história clínica de R.R., o sujeito 1 deste estudo.
R.R. foi submetida a uma timpanostopia por presença de otites médias
frequentes com alterações audiométricas ligeiras aos 4;0 anos de idade (tendo
iniciado queixas de otites, por volta dos 3;0 anos, à entrada para a escola, período
de instalação considerado tardio para o impacto na qualidade perceptiva-fonológica).
No momento da avaliação, registavam-se mais de 6 meses de avaliações
audiométricas sem alterações, sem aparente evolução da qualidade das produções,
sendo possível observar melhorias da condição auditiva nos exames realizados. Não
foram mencionadas quaisquer preocupações relacionadas com alterações do
comportamento, da cognição, em geral, ou das funções executivas, quer por parte
dos pais, quer por educadores ou psicólogos do colégio frequentado por R.R.
R.R. nunca foi avaliada nem acompanhada em terapia da fala, não existindo
dados de uma avaliação nessa área. Contudo, face às preocupações apontadas
pela educadora e identificadas pelos pais, em termos do padrão de fala de R.R.,
procedeu-se a uma avaliação em terapia da fala.
Para determinar o diagnóstico foram ainda aplicadas as seguintes provas de
avaliação da linguagem e fala:
• PAOF - Protocolo de Avaliação Orofacial (Guimarães, 1995);
• Teste de discriminação auditiva de pares mínimos, com imagem
(Guimarães & Grilo, 1997);
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
70
• TALC – Teste de Avaliação da Linguagem na Criança (Sua Kay &
Tavares, 2006);
• TFF – ALPE - Teste Fonético-Fonológico (Mendes et al., 2013).
Na avaliação oromotora, não se verificaram alterações anatómicas ou
funcionais significativas que impedissem a função de fala.
No que respeita a sua capacidade de discriminação auditiva, R.R. não
revelou quaisquer dificuldades ao nível da identificação de pares mínimos de
palavras cujo contraste entre segmentos se encontra no vozeamento, ponto ou
modo de articulação dos fonemas em competição, tendo obtido 100% de sucesso no
instrumento aplicado.
Os resultados apurados a partir da aplicação do TALC encontram-se na
quadro 32.
Compreensão Expressão
Cotação atribuída (média e desvio-padrão esperados para a
idade de R.R.)
Vocabulário 12 valores (11,99 ±0,11)
24 valores (22,64 ±1,75)
12 valores (11,58 ±0,65)
18 valores (15,48 ±1,93)
Relações Semânticas 12 valores (11,06 ±1,22)
12 valores (10,10 ±1,74
-
Frases complexas 7 valores (4,69 ±2,11) -
Frases absurdas - 3 valores (2,03 ±1,10)
Constituintes morfossintáticos - 14 valores (9,88 ±1,88)
Intenções comunicativas - 6 valores (6,68 ±1,68)
TOTAL 67 valores (60,48 ±4,56) 53 valores (4212 ±4,26)
Quadro 32 -Resultados da avaliação da linguagem de R.R. com base na aplicação do TALC ( Sua Kay & Tavares, 2006)
Os resultados apurados na área da linguagem, em particular, nos domínios
da morfologia, sintaxe, semântica e pragmática, apresentaram valores adequados
para a idade de R.R., ao nível da expressão (52 valores, para uma média de 42,12
valores, com um desvio-padrão de 4,26), e ligeiramente acima da média na
compreensão (67 valores, para uma média de 60,48 valores com um desvio-padrão
de 4,56).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
71
Os dados de fala analisados foram recolhidos através do TFF-ALPE (Mendes
et al., 2013), sendo a análise dos mesmos o próprio objeto deste trabalho, pelo que
os dados relativos à aplicação deste instrumento serão apresentados no capítulo
referente à apresentação de resultados.
6.2.2.Sujeito2
Na história clínica de L.R., o sujeito 2 deste trabalho, não se registam
alterações de desenvolvimento ou outras relevantes, com interferências na
linguagem ou no desempenho fonético-fonológico. Não foram mencionadas
quaisquer preocupações relacionadas com alterações do comportamento, da
cognição, em geral, ou das funções executivas, quer por parte dos pais, quer pelos
educadores ou psicólogos do colégio frequentado por L.R.
L.R. nunca foi avaliado nem acompanhado em terapia da fala, não existindo
dados de uma avaliação nessa área. Contudo, face às preocupações apontadas
pela educadora e identificadas pelos pais, em termos do padrão de fala de L.R.,
procedeu-se a uma avaliação em terapia da fala.
Da mesma forma que para o sujeito 1, foram aplicadas as seguintes provas
de avaliação da linguagem e fala:
• PAOF - Protocolo de Avaliação Orofacial (Guimarães, 1995);
• Teste de discriminação auditiva de pares mínimos, com imagem
(Guimarães & Grilo, 1997);
• TALC – Teste de Avaliação da Linguagem na Criança (Sua Kay &
Tavares, 2006);
• TFF - ALPE Teste Fonético-Fonológico (Mendes et al., 2013).
Nas provas aplicadas não se observaram alterações anatómicas ou
funcionais significativas que impedissem a função de fala.
No que respeita a sua capacidade de discriminação auditiva, L.R. não
revelou quaisquer dificuldades ao nível da identificação de pares mínimos de
palavras cujo contraste entre segmentos se encontre no vozeamento, ponto ou
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
72
modo de articulação dos fonemas em competição, tendo obtido 100% de sucesso no
instrumento aplicado.
Os resultados apurados a partir da aplicação do TALC encontram-se na
Tabela 33.
Compreensão Expressão
Cotação atribuída (média e desvio-padrão esperados para a
idade de L.R.)
Vocabulário 12 valores (11,99 ±0,11)
24 valores (22,64 ±1,75)
12 valores (11,58 ±0,65)
18 valores (15,48 ±1,93)
Relações Semânticas 12 valores (11,06 ±1,22)
12 valores (10,10 ±1,74
-
Frases complexas 7 valores (4,69 ±2,11) -
Frases absurdas - 3 valores (2,03 ±1,10)
Constituintes morfossintáticos - 13 valores (9,88 ±1,88)
Intenções comunicativas - 6 valores (6,68 ±1,68)
TOTAL 67 valores (60,48 ±4,56) 52 valores (4212 ±4,26)
Quadro 33 - Resultados da avaliação da linguagem de L.R. com base na aplicação do TALC (Sua Kay & Tavares, 2006)
Os resultados apurados na área da linguagem apresentaram valores
adequados para a idade de L.R., ao nível da expressão (52 valores, para uma média
de 42,12 valores, com um desvio-padrão de 4,26), e ligeiramente acima da média na
compreensão (67 valores, para uma média de 60,48 valores, com um desvio-padrão
de 4,56).
Os dados de fala, apresentados no parte III deste trabalho, foram recolhidos
através do instrumento de avaliação TFF-ALPE (Mendes et al., 2013), sendo a
análise dos mesmos o próprio objeto desta trabalho.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
73
De acordo com os resultados da avaliação apresentados, entende-se que
tanto o sujeito 1 como o sujeito 2 apresentam um perfil correspondente ao
diagnóstico de Perturbação Fonológica, uma vez que:
• Têm fala ininteligível (sendo possível observar um valor baixo de
PCC), com alterações mais significativas nos segmentos
consonânticos;
• Têm idade superior a 4;0 anos;
• Apresentam audição normal;
• Não se registam alterações anatómicas, fisiológicas ou neurológicas
relacionadas com produção de fala;
• Apresentam capacidade intelectual e de aprendizagem adequadas;
• Possuem capacidade nos restantes domínios linguísticos adequados
à faixa etária.
Esta amostra foi selecionada por conveniência, sendo o processo de
amostragem não probabilístico e intencional, uma vez que fazem parte da amostra
apenas os sujeitos que cumprem os critérios de inclusão e exclusão previamente
definidos.
6.3Instrumentoderecolhadedados
Para este estudo foi selecionado, como forma de recolha de dados, o
instrumento de avaliação o Teste Fonético - Fonológico – Avaliação de Linguagem
Pré-Escolar (TFF-ALPE), que permite avaliar a capacidade de articulação verbal, o
tipo e percentagem de ocorrência de processos fonológicos, bem como a
inconsistência nas produções da mesma palavra. Este instrumento foi
estandardizado a partir de uma amostra de 768 crianças (390 do sexo feminino e
378 do sexo masculino) com idades compreendidas entre os 3;0 e os 6;12 anos,
falantes do português europeu de 11 distritos de Portugal Continental e das duas
regiões autónomas (arquipélagos da Madeira e dos Açores).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
74
6.4.Procedimentosdoestudo
6.4.1Obtençãodasautorizações
Foi solicitada a permissão e autorização dos encarregados de educação para
a participação dos dois sujeitos nesta investigação (R.R. e L.R.), através de um
Consentimento Livre e Esclarecido, elaborado pela investigadora (ANEXO A).
6.4.2Aplicaçãodosinstrumentoserecolhadosdados
Os dados foram recolhidos de forma longitudinal através do instrumento de
avaliação TFF-ALPE, que tem como objetivo a avaliação do sistema fonético-
fonológico de crianças, tendo sido gravados através do programa de captação de
áudio disponível num SAMSUNG Grand Premium, para uma posterior transcrição
fonética a partir do Alfabeto Fonético Internacional (IPA). Os dados foram recolhidos
individualmente em três momentos distintos: a primeira avaliação e duas
reavaliações.
A avaliação fonético-fonológica dos sujeitos foi realizada através da
nomeação das imagens do instrumento selecionado. A prova foi aplicada no
gabinete de terapia da fala da escola no sujeito 1 e no gabinete da uma clínica
privada no sujeito 2. A investigadora e o sujeito permaneceram lado a lado e de
frente para o caderno de imagens. Durante a aplicação da prova, foram realizadas
anotações relativas à produção linguística da criança, assim como relativas às
estratégias necessárias para a produção oral (caso necessário).
6.4.3.Tratamentoedescriçãodosdados
Após a recolha dos dados, procedeu-se à sua transcrição fonética (ANEXO B
e C), com base nas gravações obtidas no momento de aplicação dos instrumentos,
assim como nas anotações retiradas nessa altura. Os dados obtidos e gravados
foram posteriormente transcritos pela investigadora e revistos por uma linguista com
treino em transcrição de dados de produções infantis, tendo-se verificado
concordância dos itens transcritos. Segundo Fortin (2009), quando o resultado da
concordância corresponde a uma percentagem que se situa entre os 80 e os 100%,
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
75
considera-se que existe acordo interjuízes.
Posteriormente, com o objetivo de descrever os dados recolhidos através do
Teste TFF-ALPE, foi realizada uma análise contrastiva (AC), que pretende comparar
as produções obtidas com as esperadas para os adultos da língua-alvo, de forma a
descrever os inventários fonético e fonológico dos sujeitos.
Os dados recolhidos foram inseridos numa tabela Excel (ANEXO D). Nesta
tabela, foi considerada uma análise SODA (Bowen, 2015): quando a produção
correspondia ao alvo, era colocado o número 1, quando não correspondia, utilizou-
se a letra D para distorção, a letra S para substituição (colocando qual o segmento
que substitui o pretendido) ou O para omissões.
Através do registo de ocorrências, foi realizada uma análise fonética, que
consiste na elaboração de um inventário fonético, tendo como objetivo identificar e
descrever a capacidade articulatória dos sujeitos. De acordo com Yavas,
Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), o inventário fonético consiste no
registo de todos os sons produzidos por uma criança, independentemente da sua
função fonológica no sistema linguístico da criança no momento de observação das
suas produções. Para que se inclua um som no inventário fonético da criança,
Rangel (1998) estabelece que é necessária apenas uma produção adequada desse
som. Na descrição do inventário fonético, é utilizada a terminologia utilizada na
fonética tradicional (Mateus, Falé & Freitas, 2005), que integra os seguintes aspetos
articulatórios: modo de articulação (oclusivas orais e nasais, fricativas, laterais e
vibrantes), ponto de articulação (bilabial, labiodental, dental, alveolar, palatal, velar e
uvular) e vozeamento (vozeada e não-vozeada).
Durante as transcrições fonéticas das gravações obtidas para o sujeito 1,
foram identificadas algumas dificuldades na transcrição das consoantes nasais,
motivo pela qual se considerou necessária a realização de uma análise acústica
centrada nas características físicas dos segmentos. Nesta análise, foram
identificadas as frequências dos anti-formantes característicos das consoantes
nasais de forma a clarificar o ponto articulatório destas nas produções de R.R.
Em seguida, foi elaborada uma análise fonológica, com o objetivo de
caracterizar o sistema fonológico dos sujeitos, de forma a compreender a sua
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
76
capacidade em utilizar os sons da língua com valor contrastivo e de acordo com as
regras da língua. Para a determinação da presença ou ausência dos segmentos no
seu sistema, foram adotados critérios adaptados neste trabalho a partir de Yavas,
Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991) e de Lazzarotto-Volcão, (2009), que
demonstram não só a função distintiva dos sons da fala, como também a sua
adequação em relação ao sistema fonológico alvo. Esses critérios são apresentados
em (1).
(1) Critérios percentuais para definição de etapas no processo de aquisição
segmental:
• Menos de 50% de correspondência produção/alvo: segmento não
adquirido;
• Entre 51% a 75% de correspondência produção/alvo: segmento
instável ou em aquisição;
• Entre 76% a 100% de correspondência produção/alvo: segmento
adquirido.
Entende-se que existe correspondência produção/alvo sempre que a
produção feita pela criança corresponde ao segmento alvo presente na fala do
adulto (as autoras referem-se a este tipo de procedimento como análise contrastiva;
nesta análise as produções da criança são comparadas com o sistema alvo da
língua). Assim, por exemplo, se a criança produz [‘fakɐ] para [‘fakɐ] <faca>,
considera-se que tanto a fricativa labiodental [f] como a oclusiva velar [k] são
produzidas em conformidade com o esperado no sistema linguístico do português
europeu.
De forma a calcular a percentagem de sucesso de ocorrência de um
segmento, foram introduzidas as ocorrências de valor = 1, registadas na tabela de
“Ocorrências de consoantes” numa tabela Excel, denominada “Análise Fonológica”
(ANEXO E). Nesta tabela, foram também introduzidas as possibilidades de
ocorrência das consoantes (em função dos estímulos alvo considerados), nos
diferentes constituintes silábicos e nas diferentes posições de palavra em que
podem ocorrer. Através destas informações, obtém-se o valor de percentagem de
ocorrência de uma consoante, a fim de determinar o seu estatuto no inventário
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
77
fonológico. Para além do cálculo de percentagem de ocorrências dos segmentos,
foram também registados, nesta tabela, os erros encontrados, determinando a sua
percentagem, possibilitando dar conta das estratégias preferenciais utilizadas no
lugar de um segmento alterado.
Com estas duas análises, a ocorrência de segmentos e a descrição dos
padrões de erros, é possível determinar o inventário fonológico dos sujeitos. O
inventário fonológico foi elaborado através dos esquemas propostos por Yavas,
Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), ilustrados no ANEXO F. No
presente trabalho, para além de considerar os constituintes silábicos ataque simples
e coda nas diferentes posições da palavra, já considerados pelas autoras, foram
adicionados esquemas relativos ao ataque ramificado, de forma a dar conta de todos
os constituintes silábicos existentes no português europeu.
Depois da elaboração desta análise, foi feita uma descrição do sistema
fonológico à luz dos processos fonológicos, contabilizados numa folha Excel
(ANEXO G). Nesta análise foram considerados os processos fonológicos propostos
por Mendes et al. (2013), descritos no quadro 34.
Processo Fonológico Definição Exemplo
Oclusão Substituição de uma fricativa por uma oclusiva
Faca /´fakɐ/ - [´pakɐ]
Assimilação A produção do fonema é
influenciada pelos sons que o antecedem ou precedem
Caneta /kɐ’netɐ/ - [kɐ’kekɐ]
Semivocalização de líquidas Consoantes líquidas são substituídas por semivogais
Bola
/’bɔlɐ/ - [‘bɔwɐ]
Anteriorização Substituição de uma velar por uma dental
Cabelo /kɐ´belu/ - [tɐ´belu]
Gato /´gatu/ - [´datu]
Posteriorização Substituição de uma dental por uma velar
Dedo /´dedu/ - [´gegu]
Palatalização Substituição de uma dental por uma palatal
Vassoura /vɐ´soɾɐ/ - [vɐ´ʃoɾɐ]
Despalatalização Substituição de uma palatal por uma dental
Chapéu /ʃɐ´pɛw/ - [sɐ´pɛw]
Desvozeamento Substituição de uma consoante por uma não vozeada
Mesa /´mezɐ/ - [´mesɐ]
Quadro 34 - Descrição de processos fonológicos (Mendes et alii., 2013)
No registo da tabela Excel (Anexo G), foi atribuída a cotação de 1 quando o
processo se encontra presente e 0 se não existe a ocorrência de um processo. O
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
78
número de possibilidades foi também considerado com o objetivo de determinar a
percentagem de ocorrência de cada processo nos dados obtidos.
Por fim, os dados recolhidos foram analisados à luz do modelo PAC-PE
(Lazzarotto-Volcão, 2009, 2016 e Amorim, 2014). O PAC-PE, descrito no capítulo 4
do presente trabalho, estabelecido a partir da Escala de Robustez proposta por
Clements, 2009, propõe 4 etapas de aquisição, nas quais os contrastes são
adquiridos através da coocorrência de traços, que possibilitarão a emergência e
posterior estabilização dos segmentos. Pretende-se, desta forma, descrever as
aquisições fonológicas realizadas pelos sujeitos deste estudo, através da
determinação do estado de aquisição do contraste. Para determinar a presença de
um contraste no sistema, consideram-se os seguintes critérios descritos em (2):
(2) Critérios percentuais para a definição da presença de contraste:
• Menos de a 50% de acerto: contraste não adquirido;
• Entre 51% a 75% de acerto: contraste instável;
• Entre 76% a 100% de acerto – contraste adquirido.
No cálculo, o contraste é considerado presente se o erro encontrado nas
produções da criança não envolver o contraste reservado à propriedade alvo. Como
exemplo, para o caso do traço [vozeado], se a criança produz [d] para /g/, a
alteração encontrada envolve a não ocorrência do contraste oclusiva coronal versus
dorsal, no entanto se a criança produz [k] para /g/, o contraste anteriormente referido
encontra-se presente, no entanto, está implicado o contraste oclusiva vozeada
versus oclusiva não vozeada.
Para o cálculo de presença de contrastes, foi utilizada uma tabela Excel
(ANEXO H). Nesta tabela são registados todos os erros de contrastes, em função do
exemplo descrito anteriormente. De acordo com as possibilidades de ocorrência
desses contrastes, é determinado o estado adquirido, instável ou não adquirido do
contraste. No registo dos contrastes optou-se por excluir da cálculo os processos de
semivocalização encontrados uma vez que nos contrastes considerados no modelo
PAC, não está contemplado o contraste pertinente para dar conta deste processo.
A presença, ausência ou instabilidade dos contrastes fonológicos descritos
no PAC-PE é representado através de retângulos com diferentes cores
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
79
correspondentes às diferentes etapas de aquisição (já descritos no capítulo 3 da
primeira parte deste trabalho): a primeira etapa corresponde à cor vermelha, a
segunda etapa é representada pela cor azul, a terceira pela cor amarela e a quarta
etapa surge no esquema com a cor verde. Os retângulos totalmente preenchidos
com cor são utilizados para representar os contrastes adquiridos, os retângulos com
riscas correspondem aos contrastes instáveis e os retângulos sem fundo retratam os
contrastes não adquiridos.
6.4.4.Discussãodosdados
De acordo com a questão orientadora deste estudo, pretendemos entender
de que forma o modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (PAC-PE) pode
contribuir para a avaliação e para o diagnóstico de Perturbação Fonológica nas
crianças portuguesas, bem como verificar se o modelo permite analisar as
aquisições realizadas nos sistemas fonológicos pelas crianças com Perturbação
Fonológica, ao longo da intervenção terapêutica. Para responder à questão
orientadora, estabeleceram-se os seguintes objetivos:
• testar o modelo PAC-PE em contexto clínico;
• observar a eficácia do PAC-PE na avaliação longitudinal;
Como referido, de forma a cumprir estes objetivos, foram recolhidos dados
de fala de duas crianças diagnosticadas com Perturbação Fonológica, em três
momentos distintos, um primeiro momento de avaliação e dois de reavaliação. Os
dados recolhidos foram analisados de acordo com os procedimentos descritos
anteriormente, são apresentados no capítulo 7 e discutidos no capítulo 8 do
presente trabalho.
6.4.4.2AIntervençãoTerapêutica
As recolhas das produções dos sujeitos foram realizadas longitudinalmente,
ao longo de um período de intervenção, com o objetivo de identificar as aquisições
realizadas ao longo deste processo.
A intervenção em terapia da fala foi realizada, para os dois sujeitos, de forma
individual, com frequência semanal em sessões com duração de 45 minutos. Os
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
80
estímulos utilizados para intervenção, as tarefas realizadas bem como estratégias
utilizadas serão descritas de seguida, em função do sujeito.
a) Sujeito 1
Após a análise dos resultados da primeira avaliação, foi traçado um objetivo
terapêutico. No caso de R.R., a intervenção terapêutica teve como objetivo geral a
reabilitação e a adequação do sistema fonológico alterado. Para isso, foi
estabelecido um primeiro objetivo de intervenção - a emergência e a estabilização
de [+contínuo], por meio do fonema /ʒ/. Numa reanálise através de teorias
implicacionais, a investigadora optou por selecionar o fonema /ʀ/ como alvo, por
acreditar, que teria maior impacto nas generalizações ao restante sistema, tal como
descrito adiante na página 77. Selecionaram-se as tarefas fonológicas (i) promotoras
do desenvolvimento da competência fonológica e estratégias (ii) para representação
global do segmento, bem como das propriedades fonológicas a trabalhar (Alves &
Reis, 2011; 2014).
Após observação da aquisição do segmento /ʀ/ (bem como os restantes
segmentos cuja aquisição dependia do traço [+contínuo]), selecionou-se um novo
alvo de intervenção – o segmento /d/, com o objetivo de fazer emergir e estabilizar
os traços coronal [+anterior] para as oclusivas (embora coronal [+anterior se
encontre presente no seu sistema, ainda não surge combinado com [-contínuo],
necessário para a aquisição das oclusivas /d/ e /t/, ainda ausentes no sistema de
R.R.
Na segunda avaliação, após cumprimento dos objetivos estipulados, foi
necessária a escolha de um novo segmento para a estabilização de coronal [-
anterior], pelo que foi selecionado o fonema /ʒ/ como alvo.
O Quadro 35 sintetiza o conjunto de tarefas realizadas e de estratégias
utilizadas ao longo das sessões de intervenção.
Sessõe
s
Estímulo
Alvo Tarefas realizadas (i) Estratégias utilizadas (ii)
22.10.14 --- 1ª Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação do teste
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
81
TFF-ALPE
Sessões
1 - 4 /ʒ/
• Perceção (deteção e
codificação)
• Identificação e localização
do som
• Tarefas de consciência
fonológica (segmentação
silábica, identificação e
localização do som alvo)
• Produção de palavras
isoladas
• Onomatopeia do ‘aspirador’
• Gesto da onomatopeia do
‘aspirador’
• Modulação
• Movimento articulatório mais
definido
• Produção prolongada do
segmento-alvo
• Ícone e cor associados a MA
(‘sons soprados’ para [+contínuo]
e ‘sons explosivos’ para [-
contínuo])
• Codificação das sílabas com
círculos e identificação da sílabas
que contenham o segmento-alvo
Sessões
5 -11 /ʀ/
• Perceção (deteção e
codificação)
• Tarefas de consciência
fonológica (segmentação
silábica, identificação e
localização do som alvo,
exclusão, rimas)
• Produção de palavras
isoladas e em frases
simples
• Construção de histórias com
palavras com estímulo alvo
• Onomatopeia do “leão”
• Gesto da onomatopeia do “leão”
• Modulação
• Produção prolongada do
segmento-alvo
• Ícone e cor associados a MA
(‘sons soprados’ para [+contínuo]
e ‘sons explosivos’ para
[+contínuo])
• Recurso à codificação das sílabas
com círculos. O círculo colorido
contém o som alvo.
Sessões
12 - 27 /d/
• Perceção (deteção e
codificação)
• Tarefas de consciência
fonológica (segmentação
silábica, identificação e
localização do som alvo,
exclusão, rimas)
• Produção de palavras
isoladas e em frases
simples
• Construção de histórias com
palavras com estímulo alvo
• Onomatopeia da “Campainha”
• Gesto da onomatopeia da
“Campainha”
• Modulação
• Produção prolongada do
segmento-alvo
• Ícone e cor associados a PA
(‘sons da ponta da língua’ para
coronal [+contínuo] e ‘sons da
garganta’ para [dorsal])
• Recurso à codificação das sílabas
com círculos. O círculo colorido
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
82
contém o som alvo.
04.09.15 --- 2ª Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação TFF-ALPE
Sessões
28 - 36 /ʒ/
• Perceção (deteção e
codificação)
• Tarefas de consciência
fonológica (segmentação
silábica, identificação e
localização do som alvo,
exclusão, rimas)
• Produção de palavras
isoladas e em frases
simples
• Construção de histórias com
palavras com estímulo alvo
• Onomatopeia do ‘aspirador’
• Gesto da onomatopeia do
‘aspirador’
• Modulação
• Movimento articulatório mais
definido
• Produção prolongada do
segmento-alvo
• Ícone e cor associados a PA
(‘sons do meio da língua’ para
coronal [-anterior] e ‘sons da ponta
da língua’ para coronal [+anterior])
• Codificação das sílabas com
círculos e identificação da sílabas
que contenham o segmento-alvo
15.12.15 Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação TFF-ALPE
Quadro 35 - Descrição das sessões de intervenção terapêuticas do sujeito 1 em função do número de sessões, dos estímulos alvo selecionados, daas tarefas realizadas e das estratégias utilizadas.
Ao longo do processo de intervenção foram realizadas 36 sessões de
intervenção. Após o primeiro momento de recolha de dados e análise dos mesmos,
a terapeuta responsável pela intervenção procedeu à seleção dos estímulos alvo a
utilizar na intervenção terapêutica. Esta seleção teve como base os modelos
implicacionais tais como o Modelo Implicacional de Complexidade de Traços (MICT),
de Mota (2001), e o Modelo Terapêutico Implicacional de Distância entre Traços
(MOTIDT), de Duarte (2006), com o objetivo de obter o maior número de
generalizações possíveis no sistema fonológico da criança, já que o alvo
selecionado deverá conter informação fonológica em falta no sistema. Desta forma,
o estímulo alvo /ʒ/ foi selecionado como primeiro segmento a estimular, uma vez que
contém o traço [+ contínuo], alterado no sistema fonológico de R.R.
Embora a intervenção tenha sido iniciada com o estímulo alvo /ʒ/, após
reanálise dos modelos implicacionais, considerou-se que a intervenção através do
segmento alvo /ʀ/ poderia promover maiores generalizações, já que, para além do
traço [+contínuo], R.R. ainda não tinha combinado o [dorsal] com [+contínuo] e, por
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
83
esse motivo, ainda se encontrava em falta o segmento [ʀ]. De forma a promover
esta combinação, optou-se pela alteração do alvo, passando a contemplar o traço
[+contínuo] e informação de ponto de articulação Dorsal no alvo selecionado. Após 7
sessões de intervenção, verificou-se a automatização do segmento com
generalização aos segmentos /z/, /s/, /ʒ/ produzido como [z], e /ʃ/ produzido como [s].
Desta forma, foi selecionado o segmento /d/ para dar continuidade à reorganização
do sistema fonológico, já que se encontravam em falta os traços coronal [+ anterior].
Após 15 sessões observaram-se generalizações aos segmentos /t/ e /n/. Por fim, foi
escolhido para intervenção o segmento /ʒ/, com o objetivo de estimular a ocorrência
de coronal [-anterior], que promoveu as aquisições de /ʃ/ e /ɲ/.
As sessões de estimulação com os diferentes estímulos alvo foram
estruturadas de forma muito semelhante, sendo realizadas tarefas de perceção
(deteção e codificação), de consciência fonológica (segmentação silábica,
localização do som alvo, identificação do som em palavras, etc.) e de produção de
palavras isoladas que contêm o som selecionado. As tarefas fonológicas eram
dinamizadas através de atividades “corta-cola”, labirintos, lotos, jogos de memória,
jogos do lince, jogos da glória, construção de frases, histórias, entre outras. As
palavras selecionadas continham o som em periferia esquerda na palavra, num
primeiro momento, e posteriormente, o mesmo surgia noutras posições da palavra.
Para reforço fonológico, foram utilizadas onomatopeias e gestos associados ao som
alvo. As unidades fonológicas foram codificadas com formas geométricas, tal como
proposto por Alves e Reis, 2011, 2014 (Os Sons d’A Relicário), para intervenção
fonológica. Para além disto, durante as tarefas de perceção foi utilizada a
modulação através do aumento da duração da produção dos sons para facilitar a
tarefa, bem como o exagero do movimento articulatório e sempre associado às
estratégias propostas por Alves (2014) e Alves e Reis (2011, 2014), Os Sons d’A
Relicário. Todas as estratégias foram gradualmente retiradas em função do sucesso
na execução das tarefas.
b) Sujeito 2
Com o objetivo de completar o sistema fonológico de L.R. no momento da
primeira avaliação, foi estabelecido um primeiro objetivo específico – promover a
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
84
emergência e coocorrência de [+contínuo] e [dorsal]. Pretendeu-se chegar a este
objetivo por meio do fonema /ʀ/, que contém os traços mencionados. Para este fim,
selecionaram-se as tarefas fonológicas (i) promotoras do desenvolvimento da
competência fonológica e estratégias (ii) para representação global do segmento,
bem como das propriedades fonológicas a trabalhar (Alves, 2014; Alves & Reis,
2011; 2014).
Através desta primeira estimulação, observou-se a emergência e
estabilização do traço [+contínuo] bem como a combinação do mesmo com outros
traços já presentes no sistema, o que permitiu o domínio de toda a classe das
fricativas. Apesar de se ter verificado esta generalização, a informação fonológica de
ponto de articulação Dorsal não obteve os mesmos resultados. No sentido de
promover o sucesso na aquisição das componentes fonológicas em falta no sistema
de L.R., foi selecionado como alvo de intervenção seguinte, o segmento /g/ que
contém a informação de ponto de articulação necessária (Dorsal). Após ser
observada a emergência de /g/ e generalização à dorsal não vozeada /k/, foi
escolhido o segmento /ʎ/ como alvo, de forma a promover a aquisição da informação
fonológica coronal [-anterior]. Depois deste percurso, L.R. interrompeu a intervenção
terapêutica, por motivos alheios ao processo de intervenção, tendo sido reavaliado
cerca de 3 meses depois.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
85
O Quadro 36 sintetiza o conjunto de tarefas realizadas e de estratégias
utilizadas ao longo das sessões de intervenção.
Data Estímul
o alvo Tarefas realizadas (I) Estratégias utilizadas (II)
22.10.14 Avaliação – Recolha de dados
Avaliação formal /aplicação do
teste TFF-ALPE
Sessões
1 – 7 /ʀ/
• Perceção (deteção e codificação)
• Produção de palavras isoladas e
em frases simples
• Identificação e localização do som
• Identificação das propriedades
fonológicas-alvo (de MA e de PA)
• Tarefas de consciência fonológica
(segmentação silábica,
identificação e localização do som
alvo, exclusão, rimas)
• Construção de histórias com
palavras com estímulo alvo
• Onomatopeia do ‘leão’
• Gesto da onomatopeia do
‘leão’
• Modulação
• Movimento articulatório mais
definido
• Produção prolongada do
segmento-alvo
• Ícone e cor associados a MA
(‘sons soprados’ para
[+contínuo] e ‘sons
explosivos’ para [-contínuo]
• Ícone e cor associados a PA
(‘sons da garganta’ para
Dorsal)
• Codificação das sílabas com
círculos e identificação da
sílabas que contenham o
segmento-alvo
Sessões
8 - 12 /g/
• Perceção (deteção e codificação)
• Produção de palavras isoladas e
em frases simples
• Identificação e localização do som
• Identificação das propriedades
fonológicas-alvo (de MA e de PA)
• Tarefas de consciência fonológica
(segmentação silábica,
identificação e localização do som
alvo, exclusão, rimas)
• Construção de histórias com
palavras com estímulo alvo
• Onomatopeia do ‘gongo’
• Gesto da onomatopeia do
‘gongo’
• Modulação
• Movimento articulatório mais
pronunciado
• Produção prolongada do
segmento-alvo
• Ícone e cor associados a PA
(‘sons da garganta’ para
Dorsal)
• Codificação das sílabas com
círculos e identificação da
sílabas que contenham o
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
86
segmento-alvo
04.09.15 Avaliação formal /aplicação TFF-
ALPE
Sessões
13 - 16 /ʎ /
• Perceção (deteção e codificação)
• Produção de palavras isoladas e
em frases simples
• Identificação e localização do som
• Tarefas de consciência fonológica
(segmentação silábica,
identificação e localização do som
alvo, exclusão, rimas)
• Onomatopeia do ‘gelado’
• Gesto da onomatopeia do
‘gelado’
• Modulação
• Movimento articulatório mais
definido
• Produção prolongada do
segmento-alvo
• Codificação das sílabas com
círculos e identificação da
sílabas que contenham o
segmento-alvo
15.12.15 Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação TFF-
ALPE
Quadro 36 - Descrição das sessões de intervenção terapêuticas do sujeito 2 em função do número de sessões, dos estímulos alvo selecionados, das tarefas realizadas e das estratégias utilizadas.
Tal como descrito para o sujeito 1, as sessões de estimulação com os
diferentes estímulos alvo foram estruturadas de forma muito semelhante sendo
realizadas tarefas de perceção (deteção e codificação), de consciência fonológica
(segmentação silábica, localização do som alvo, identificação do som em palavras,
etc.) e de produção de palavras isoladas que continham o som alvo. Os objetivos
terapêuticos e tarefas selecionadas foram dinamizadas através de atividades de
“corta-cola”, labirintos, lotos, jogos de memória, jogos do lince, jogos da glória,
construção de frases e exploração de histórias. As palavras selecionadas continham
o som-alvo em periferia esquerda, num primeiro momento, surgindo, posteriormente,
noutras posições da palavra, pois sabe-se que as posições periféricas são mais
fáceis de processar – sobretudo a esquerda -, o que facilita o processo de
modelação terapêutica. Para mediar a evocação do som-alvo e da unidade fonema,
foram utilizadas onomatopeias e gestos associados ao som alvo, e as unidades
fonológicas (sílaba e fonema) foram codificadas com formas geométricas, tal como
proposto no instrumento. Para a mediação e a estabilização das propriedades
fonológicas de Modo de Articulação e Ponto de Articulação visadas, recorreu-se às
estratégias propostas em Alves (2014) e em Alves e Reis (2011, 2014), por meio dos
respetivos ícones e cores.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
87
Ao longo do processo de intervenção, foram realizadas 16 sessões de
intervenção. Após o primeiro momento de recolha de dados e análise dos mesmos,
a terapeuta responsável pela intervenção procedeu à seleção dos estímulos alvo a
utilizar na intervenção terapêutica. Esta seleção teve como base os modelos
implicacionais tais como o Modelo Implicacional de Complexidade de traços (MICT),
de Mota (2001), e o Modelo Terapêutico Implicacional de Distância entre Traços
(MOTIDT), de Duarte (2006), com o objetivo de obter o maior número de
generalizações possíveis no sistema fonológico da criança, já que o alvo
selecionado deverá conter informação fonológica em falta no sistema.
Com base no descrito, a terapeuta responsável pela intervenção selecionou
o estímulo alvo /ʀ/ como primeiro segmento a estimular, uma vez que contém o traço
[+ contínuo] bem como a informação de ponto de articulação Dorsal, alterada no
sistema fonológico de L.R.
Após 7 sessões de intervenção com o segmento /ʀ/, observou-se
generalização do traço [+ contínuo] a toda a classe das fricativas através da
emergência dos segmentos /z/, /s/. Nesta altura, /ʒ/ e /ʃ/ surgem também com o traço
[+ contínuo] embora sendo ainda produzidos como [z] e [s], observando-se ainda
alteração relativa ao ponto de articulação (traços relacionados com Ponto de
Articulação não foram alvo de intervenção). Não se observando generalização da
informação fonológica de ponto de articulação Dorsal à classe das oclusivas, foram
realizadas 5 sessões de estimulação através do segmento alvo /g/. Após observação
da aquisição de /g/ e emergência de /k/ e /ɲ/, foram realizadas 4 sessões de
intervenção por meio do segmento alvo /ʎ/, com o objetivo de promover
coocorrências dos traços existentes no sistema e os traços coronal [-anterior], tendo-
se verificado a sua completa aquisição. No final da recolha de dados, o sistema
fonológico não se encontrava ainda completo, tendo sido recomendada a
continuidade de intervenção terapêutica (tendo em conta os procedimentos do
presente trabalho, foram selecionados apenas 3 momentos de avaliação).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
88
III PARTE – DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS
CAPÍTULO 7 . APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo são descritos os dados que constituem a base empírica do
presente estudo, obtidos através da aplicação do teste TFF-ALPE (ver capítulo 2)
em cada momento de avaliação: primeira avaliação e duas reavaliações após
intervenção terapêutica, apresentadas no capítulo 2. Esta descrição dos resultados
será realizada através de uma análise fonética e de uma análise fonológica,
organizadas por sujeito e por momento de avaliação.
A análise fonética tem como objetivo identificar e descrever a capacidade
articulatória dos sujeitos, sendo obtida através da realização de um inventário
fonético, que, de acordo com Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht
(1991), consiste no registo de todos os sons produzidos por uma criança,
independentemente da sua função fonológica no sistema linguístico da criança no
momento de observação das suas produções. Na descrição do inventário fonético é
utilizada a terminologia utilizada na fonética articulatória tradicional (Mateus, Falé &
Freitas, 2005), que integra os seguintes aspetos: modo de articulação (oclusivas
orais e nasais, fricativas, laterais e vibrantes), ponto de articulação (bilabial,
labiodental, dental, alveolar, palatal, velar e uvular) e vozeamento (vozeada não-
vozeada).
A aquisição de uma língua implica não só a capacidade para articular os
sons da fala (dependente de uma estrutura anatomofisiológica) como também a
capacidade para utilizar esses sons de forma distintiva, usando-os adequadamente,
de acordo com as regras da língua (sistema fonológico). Para a realização do
inventário fonológico da criança, foram adoptados critérios adaptados neste trabalho
de acordo com o descrito na metodologia. Entende-se que existe correspondência
produção/alvo sempre que a produção feita pela criança corresponde ao segmento
alvo presente na fala do adulto (as autoras referem-se a este tipo de procedimento
como análise contrastiva; nesta análise, as produções da criança são comparadas
com o sistema alvo da língua). Assim, se a criança produz [‘fakɐ] para [‘fakɐ] <faca>,
verificamos que tanto a fricativa labiodental [f] como a oclusiva velar [k] são
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
89
produzidas em conformidade com o esperado no sistema linguístico do Português
Europeu.
O inventário fonológico é construído e descrito com base não só na
percentagem de acerto como também nos padrões de erro observados nas diversas
produções verbais.
Este capítulo está organizado em dois pontos principais. O primeiro ponto
refere-se à descrição dos dados do sujeito 1 (7.1) no que respeita à anamnese
(7.1.1), à análise fonética (7.1.2) e à análise fonológica (7.1.3), esta última dividida
em (7.1.3.1) descrição dos segmentos adquiridos, em aquisição e/ou ausentes,
organizada em função dos diferentes constituintes silábicos. Na análise fonológica
serão descritos os de padrões de erro (7.1.3.2) organizados também tendo em conta
os constituintes silábicos, será ainda realizado o inventário fonológico (7.1.3.3); por
fim, a análise fonológica irá incluir a descrição dos processos fonológicos
observados (7.1.3.4). O segundo ponto refere-se à descrição dos dados do sujeito 2
(7.2), organizado da mesma forma: dados da anamnese (7.2.1), análise fonética
(7.2.2) e análise fonológica (7.2.3), sendo esta dividida em descrição dos segmentos
adquiridos, em aquisição e/ou ausentes (7.2.3.1), descrição de padrões de erro
(7.2.3.2); inventário fonológico (7.2.3.3) e análise em processos fonológicos (7.2.3.4)
7.1.Sujeito1
7.1.1.DadosdeAnamnese
Os dados do primeiro sujeito (R.R.) correspondem a uma criança do sexo
feminino, residente em Corroios. As recolhas de produção foram realizadas no
intervalo dos 5;6 anos aos 7;02 anos de idade, de acordo com o referido no quadro I.
Esta menina foi submetida a uma timpanostopia por presença de otites médias
frequentes com alterações audiométricas ligeiras aos 4 anos de idade (tendo
iniciado queixas de otites, por volta dos 3 anos, à entrada para a escola). Nunca
frequentou Terapia da Fala anteriormente à primeira sessão de recolha de dados.
Primeira Avaliação Segunda Avaliação Terceira Avaliação
Idade do sujeito 1 5;06 anos 6:05 anos 7;02 anos
Quadro 37 - Idade (em anos meses) no momento das avaliações - sujeito 1
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
90
7.1.2.Análisefonética
Nos quadros 38, 39 e 40, estão registados os inventários fonéticos das consoantes de R.R. nos três momentos de avaliação, de acordo com a metodologia de Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991, p.48), demonstrando a capacidade de articulação dos diferentes fones do Português Europeu ao longo do período de intervenção. Tal como referido na metodologia, foi considerada apenas a presença dos diferentes fones, independentemente do número de ocorrências e da sua representação fonológica (bastaria uma ocorrência de um fone para que o mesmo fosse registado como integrando o inventário fonético da criança).
• Inventário fonético - Primeira avaliação
No quadro 38, encontram-se registados todos os fones produzidos pelo
sujeito 1, no momento da primeira avaliação. A descrição da capacidade articulátoria
encontra-se organizada em função do ponto e do modo articulatório, sendo usada a
descrição fonética articulatória tradicional para o efeito.
Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular
Oclusivas
Orais
[p] [b] - [d] [k] [g]
Fricativas [f] [v] - - [ʃ] -
Oclusivas
Nasais
[m] [n] [ɲ]
Laterais [l] [ɫ] -
Vibrantes [ɾ] -
Quadro 38 - Inventário fonético do sujeito 1 no momento da primeira avaliação, aos 5 anos e 6 meses
É possível verificar que o sujeito em estudo (R.R.), aos 5;06 anos de idade, não
apresenta os fones correspondentes à oclusiva dental não vozeada [t], às fricativas
dentais [s], [z], à palatal [ʒ] , à lateral palatal [ʎ] e à vibrante uvular [ʀ]. Os restantes
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
91
fones foram produzidos pelo sujeito, mesmo que em contextos onde não deveriam
ocorrer como a produção de [d] em [dɐ’ʀafɐ] para a palavra <garrafa>.
• Inventário Fonético – Segunda avaliação
A capacidade articulatória do sujeito 1 no momento da segunda avaliação
encontra-se registada no quadro 39. Todos os fones produzidos nesta altura
encontram-se anotados em função do ponto e do modo articulatório, sendo usada a
descrição fonética articulatória tradicional para o efeito.
Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular
Oclusivas
Orais
[p] [b] [t] [d] [k] [g]
Fricativas [f] [v] [s] [z] [ʃ] -
Oclusivas
Nasais
[m] [n] -
Laterais [l] [ɫ] -
Vibrantes [ɾ] [ʀ]
Quadro 39 - Inventário fonético do sujeito 1 no momento da segunda avaliação, aos 6 anos e cinco meses
De acordo com o quadro 39, no momento da segunda avaliação, apesar de
ainda não apresentar todos os fones esperados, passam a fazer parte do inventário
fonético da criança os fones correspondentes à oclusiva dental não-vozeada [t], às
fricativas dentais [s] e [z], bem como à vibrante uvular [ʀ]. Estão ainda ausentes a
fricativa palatal vozeada [ʒ] e a lateral palatal [ʎ]. A nasal [ɲ] deixa de ser observada
nas produções realizadas pela criança, já que esta surgia em produções como [ɲɐ‘i]
para <nariz>, deixando de ocorrer na segunda avaliação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
92
• Inventário fonético – terceira avaliação
A capacidade articulatória do sujeito 1 no momento da terceira avaliação
encontra-se resgitada no quadro 40, organizada tendo em conta o ponto e o modo
articulatório, sendo usada a descrição fonética articulatória tradicional para o efeito.
Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular
Oclusivas
Orais
[p] [b] [t] [d] [k] [g]
Fricativas [f] [v] [s] [z] [ʃ] [ʒ]
Oclusivas
Nasais
[m] [n] [ɲ]
Laterais [l] [ɫ] -
Vibrantes [ɾ] [ʀ]
Quadro 40 - Inventário fonético de R.R. no momento da terceira avaliação, aos sete anos e dois meses
No último momento de recolha de produções de R.R., aos 7;02 anos de idade,
observa-se a presença de mais dois fones no seu inventário fonético, a fricativa
palatal vozeada [ʒ] e a nasal palatal [ɲ]. A lateral palatal [ʎ] continua ausente, nunca
sendo produzida.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
93
Para ilustrar a evolução observada quanto à capacidade fonética do sujeito 1
veja-se o quadro 41, onde se encontram exemplos de produções feitas em cada
momento da avaliação.
Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação
Oclusivas
Orais
<porco> [‘poɾku]
<bola> [‘bɔlɐ]
<café> [kɐ’fɛ]
<garfo> [‘gaɾfu]
<sapato> [sɐ’patu]
<garrafa> [gɐ’Rafɐ]
<dedo> [‘dedu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[‘gaɾfu]
[kɐ’paku]**
[dɐ’ ʀafɐ]*
[‘gegu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[‘gafu]
[sɐ’patu]
[gɐ’ʀafɐ]
[‘dedu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[‘gafu]
[sɐ’patu]
[gɐ’Rafɐ]
[‘dedu]
Fricativas
<vidro> [‘vidɾu]
<formiga> [fuɾ’migɐ]
<peixe> [‘pɐjʃɨ]
<três> [‘tɾeʃ]
<jipe> [‘ʒipɨ]
<mesa> [‘mezɐ]
<vassoura> [va’soɾɐ]
[‘vidu]
[fu’migɐ]
[‘pɐjkɨ]**
[‘teʃ]
[‘dipɨ]**
[‘megɐ] **
[vɐ’koɾɐ]**
[‘vidu]
[fuɾ’migɐ]
[‘pɐjs ɨ]
[‘teʃ]
[‘zipɨ]
[‘mezɐ]
[va’soɾɐ]
[‘vidu]
[fɾumigɐ]
[‘pɐjʃɨ]
[‘tɾeʃ]
[‘ʒipɨ]
[‘mezɐ]
[va’soɾɐ]
Oclusivas Nasais
<cama> [‘kɐmɐ]
<unha> [‘uɲɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘kɐmɐ]
[‘ujnɐ]*
[ɲɐ’i]*
[‘kɐmɐ]
[‘ujnɐ]*
[nɐ’i]
[‘kɐmɐ]
[‘uɲɐ]
[nɐ’ɾiʃ]
Laterais
<palhaço> [pɐ’ʎasu]
<cabelo> [kɐ’belu]
<hospital> [ɔʃpi’taɫ]
[pɐ’jaku] **
[kɐ’belu]
[ɔpi’kaɫ]
[pɐ’jasu] **
[kɐ’belu]
[ɔʃpi’taɫ]
[pɐ’jasu] **
[kɐ’belu]
[ɔʃpi’taɫ]
Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]
<rato> [‘ʀatu]
[‘peɾɐ]
[‘gaku]**
[‘peɾɐ]
[‘ʀatu]
[‘peɾɐ]
[‘ʀatu]
Quadro 41 - Produções que refletem a capacidade fonética de R.R. ao longo dos três momentos de avaliação
* Exemplos de palavras em que a criança demonstra capacidade fonética para a realização de um
fone, independentemente da sua representação fonológica.
** Exemplos de palavras que demonstram que um segmento fonético nunca ocorre nas produções da
criança.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
94
Observando as produções de R.R., e como já referido, verifica-se que, no
momento da primeira avaliação, existem alguns fones que nunca são produzidos,
como é o caso da oclusiva [t], das fricativas [s], [z] e [ʒ], da líquida [ʎ] e da vibrante
[ʀ], não fazendo parte do seu inventário fonético. Outros fones são observados nas
produções da criança: as oclusivas [p], [b], [d], [g], [k], as fricativas [f], [v] e [ʃ], as
nasais [m], [n] e [ɲ], as laterais [l] e [ɫ] e a vibrante [ɾ].
É importante referir que o fone [ʃ] ocorre em produções como [‘teʃ] na
palavra <três>. Embora ainda não seja produzido em todos os contextos
fonológicos, a criança demonstra capacidade fonética para a produção do som e,
por esse motivo, o mesmo é contemplado no inventário fonético.
Alguns sons são observáveis em produções de palavras que não deveriam
conter esse segmento, sendo incluídos no inventário fonético (esta inadequação é
alvo de reflexão na análise fonológica). Vejam-se, para este efeito, o caso da
oclusiva [d], em produções como [dɐ’ɾafɐ] para <garrafa> ou [‘dipɨ] para <jipe>, e da
nasal [n], em produções como [‘ujnɐ] para <unha>, e [ɲ], em produção de palavras
como [ɲɐ’i] para <nariz>.
Na segunda avaliação, analisando os exemplos das palavras produzidas pela
criança, observam-se, por um lado, a capacidade de produção de novos fones no
sistema fonético: [t] na palavra [sɐ’patu] <sapato>, [s] em palavras como [vɐ’soɾɐ]
<vassoura>, [z] em [‘mezɐ] <mesa>, e [ʀ] na palavra [‘ʀatu] <rato>. Por outro lado,
nas produções realizadas pela criança neste momento, deixam de se registar
produções realizadas com a consoante nasal [ɲ] pois estas surgiam em produções
como [ɲɐ’i] para <nariz>, que deixam de ocorrer nesta altura.
Ao observar as produções realizadas por R.R. no terceiro momento de
recolha de dados, observa-se a presença de um novo som, a fricativa [ʒ] em
produções como [‘ʒipɨ] <jipe>, o [ɲ] é retomado, agora no contexto esperado, em
palavras como [‘uɲɐ] <unha> ficando ausente apenas a lateral [ʎ] com produções
como [pɐ’jasu] <palhaço>.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
95
7.1.3.AnáliseFonológica
7.1.3.1. Descrição dos segmentos em função das variáveis
prosódicasconstituintesilábicoeposiçãonapalavra.
De acordo com os critérios descritos anteriormente e adaptados a partir de
Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991) e de Lazzarotto-Volcão
(2009), nos quadros 42, 44 e 46, encontra-se registada a ocorrência das consoantes
em ataque simples, em coda e em ataque ramificado, em função da sua posição na
palavra (inicial, medial e final).
Os segmentos não adquiridos encontram-se a vermelho, os que se resgistam
como estando em aquisição são assinalados a verde e os segmendos considerados
adquiridos são destacados a preto.
7.1.3.1.1Ocorrênciadossegmentosemataquesimples
Neste primeiro quadro, de acordo com a escala descrita em (1) neste
capítulo, os valores surgem em percentagem de ocorrência, em conformidade com o
alvo, em ataque simples inicial (As I) e em ataque simples medial (As M). A soma de
ocorrências das duas posições prosódicas surge também para cada segmento
(total), sendo este o valor de referência utilizado para considerar se um segmento
está ou não adquirido.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
96
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação As I As M Total As I As M Total As I As M Total
/p/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/b/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ t / 0% 0% 0% 67% 93% 88% 100% 100% 100%
/d/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/k/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/g/ 67% 100% 83% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/f / 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/v/ 100% 75% 83% 100% 50% 67% 100% 100% 100%
/s/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/z/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ʃ/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%
/ʒ/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%
/m/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/n/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ɲ/ --- 0% 0% --- 0% 0% 100% 100% 100%
/l/ 100% 67% 78% 100% 67% 78% 100% 83% 89%
/ʎ/ --- 0% 0% --- 0% 0% --- 0% 0%
/ɾ/ --- 67% 67% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ʀ/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Quadro 42 - Ocorrência dos segmentos fonológicos em ataque simples e em ataque medial, nas três avaliações de R.R.
Como se pode observar no quadro 42, na primeira avaliação de R.R. não se
encontram adquiridas as oclusivas /t/ e /d/ , ambas com 0% de ocorrência. As
fricativas /s/ , /z/ e /ʃ/ , /ʒ/, assim como as nasais /n/ e /ɲ/ estão também ausentes do
sistema fonológico de R.R., com um valor de ocorrência de 0%. Observa-se ainda
ausência total (0%) da lateral /ʎ/ e da vibrante /ʀ/. A vibrante /ɾ/ surge no sistema
fonológico de R.R., em aquisição, com um valor de ocorrência de 67%. É importante
referir que, para a maioria dos segmentos, não se verificam diferenças nos valores
de ocorrência dependentes da localização do segmento na palavra, como se pode
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
97
observar no exemplo de ocorrências de / t/ , com 0% de sucesso quer em posição de
ataque simples inicial, quer em ataque simples medial. No entanto, verificam-se
diferenças de ocorrência dependentes da localização na palavra para o segmento
/v/, que apresenta maior sucesso em posição de ataque simples inicial, com 100%
de ocorrências, do que em ataque simples medial, com 75% de sucesso, na primeira
avaliação. Observam-se também, na primeira avaliação, diferenças nas ocorrências
do segmento /l/, sendo a taxa de sucesso superior em ataque simples inicial, com
um valor de 100%, do que em ataque simples medial, com 67% de ocorrências,
encontrando-se em aquisição.
No quadro 42, verifica-se ainda a instabilidade da oclusiva /g/, com
ocorrências de 67% em posição de ataque simples inicial (em aquisição), mas
adquirido, para o mesmo constituinte silábico, em posição medial de palavra.
No momento da segunda avaliação, observa-se a aquisição das oclusivas /t/
e /d/, com 88% e 100% de ocorrência, respetivamente, das fricativas /s/ /z/, com
100% de ocorrência, bem como da nasal /n/ e da vibrante /R/, com o mesmo valor de
ocorrência. Observa-se ainda a estabilização da vibrante /ɾ/, com 100% de
ocorrências. Verifica-se ainda instabilidade do segmento /v/ em posição de ataque
simples medial, embora os valores de ocorrência tenham descido de 75% para 50%
neste contexto prosódico. Da mesma forma, o segmento /l/ ainda não se encontra
estabilizado em ataque simples medial, sendo o valor de ocorrências igual ao
observado no momento da primeira avaliação. Diferenças de ocorrência entre
segmentos nas diferentes posições da palavra surgem também para a oclusiva /t/,
que surge com um valor de 67% de ocorrências em ataque simples inicial, e com
100% de ocorrências em ataque medial. Neste segundo momento de avaliação,
observa-se ainda ausência total (0%) das fricativas /ʃ/ e /ʒ/ , da nasal /ɲ/ e da lateral
/ʎ/ .
No terceiro momento de avaliação, verifica-se a ausência apenas da lateral
/ʎ/, com a completa aquisição dos segmentos anteriormente em falta.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
98
No quadro que se segue, podemos observar exemplos das produções
realizadas pelo R.R., em cada um dos momentos de avaliação, no que respeita aos
segmentos que podem ocorrer nas posições de ataque simples inicial e medial. A
consoante que está a ser analisada encontra-se registada a “negrito”. Com a cor
preto, encontram-se as palavras cujas produções assinaladas se encontram de
acordo com o esperado para a língua; a verde estão registadas as produções que
não correspondem ao esperado para a língua, mas cujos segmentos foram
considerados, na tabela 43, como em aquisição. Por fim, a vermelho encontramos
exemplos de produções que não correspondem ao esperado no sistema linguístico
alvo, estando ausentes do sistema da criança, de acordo com os critérios já
descritos.
Alvo 1ª Avaliação 2º Avaliação 3ª Avaliação
Oclusivas
Orais
<porco> [‘poɾku]
<bola> [‘bɔlɐ]
<café> [kɐ’fɛ]
<sapato> [sɐ’patu]
<garrafa> [gɐ’Rafɐ]
<dedo> [‘dedu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[kɐ’paku]
[dɐ’ɾafɐ]
[‘gegu]
[‘poɾku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[sɐ’patu]
[gɐ’Rafɐ]
[‘dedu]
[‘poɾku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[sɐ’patu]
[gɐ’Rafɐ]
[‘dedu]
Fricativas
<chave> [‘ʃav ɨ]
<formiga> [fuɾ’migɐ]
<peixe> [‘pɐjʃɨ]
<jipe> [‘ʒ ipɨ]
<mesa> [‘mezɐ]
<vassoura> [va’soɾɐ]
[‘taf]
[fu’migɐ]
[‘pɐjk ɨ]
[‘gipɨ]
[‘megɐ]
[vɐ’koɾɐ]
[‘ʃaf]
[fuɾ’migɐ]
[‘pɐjs ɨ]
[‘zipɨ]
[‘mezɐ]
[va’soɾɐ]
[‘ʃav ɨ]
[fɾu’migɐ]
[‘pɐjʃɨ]
[‘ʒipɨ]
[‘mezɐ]
[va’soɾɐ]
Oclusivas
Nasais
<cama> [‘kɐmɐ]
<unha> [‘uɲɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘kɐmɐ]
[‘ujnɐ]
[ɲɐ’i]
[‘kɐmɐ]
[‘ujnɐ]
[nɐɾ’i]
[‘kɐmɐ]
[‘uɲɐ]
[nɐ’ɾiʃ]
Laterais <palhaço> [pɐ’ʎasu]
<cabelo> [kɐ’belu]
[pɐ’jaku]
[kɐ’belu]
[pɐ’jasu]
[kɐ’belu]
[pɐ’jasu]
[kɐ’belu]
Vibrantes <nariz> [nɐ’ɾ iʃ]
<rato> [‘ʀatu]
[ɲɐ’i]
[‘gaku]
[nɐɾ’i]
[‘ʀatu]
[nɐ’ɾiʃ]
[‘ʀatu]
Quadro 43 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de R.R. em ataque simples inicial e em ataque medial, nos três momentos de avaliação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
99
Observando o quadro 43, verificamos que o sujeito 1, no primeiro momento
de avaliação, consegue realizar produções de palavras com segmentos /p/, /b/, /k/,
/f/, /m/ e /l/, de acordo com o esperado, surgindo produções como [‘poku] <porco>,
[‘bɔlɐ] para <bola>, [kɐ’fɛ] <café>, [‘kɐmɐ] <cama>, [kɐ’belu] <cabelo>. Neste
momento, estão em aquisição os segmentos /g/, /v/ e /ɾ/ uma vez que surgem ainda
produções que não se encontram de acordo com esperado como [dɐ’ʀafɐ]
<garrafa>, [‘taf] <chave> e [ɲɐ’i] <nariz>. Os restantes segmentos encontram-se
ausentes do sistema fonológico do sujeito 1 podendo verificar-se produções tais
como [ki’gɨ] <tigre>, [‘gegu] <dedo>, [‘pɐjkɨ] <peixe>, [‘gipɨ] <jipe>, [‘megɐ] <mesa>,
[vɐ’koɾɐ] <vassoura>, [‘ujnɐ] <unha>, [ɲɐ’i] <nariz>, [pɐ’jaku] <palhaço>, [‘gaku]
<rato>.
No segundo momento de avaliação, tal como se pode observar no quadro
43, o sujeito 1, acrescentou ao seu sistema os segmentos /g/, /d/, /t/, /s/, /z/, /n/, /ɾ/ e
/ʀ/. Verificam-se ainda produções de palavras como [‘kajsɐ] para <caixa>, [kuzi’nar]
para <cozinhar> ou [pɐ’jasu] para <palhaço>, uma vez que se encontram ausentes
os segmentos /ʃ/, /ʒ/ e /ʎ/. O sujeito 1 realiza ainda produções como [‘kigɾɨ] para
<tigre> em ataque simples inicial, ou [‘saf] para <chave>.
No último momento de avaliação, junta às suas produções palavras palavras
como: [‘uɲɐ] <’unha>, [ʒɐ’nɛlɐ] <janela> e [‘kajʃɐ] <caixa> ficando por adquirir o
segmento /ʎ/ em produções como [pɐ’jasu] para <palhaço>.
7.1.3.1.2Ocorrênciadossegmentosemcoda
No quadro 44, são consideradas as produções das consoantes que podem
ocupar o constituinte silábico coda. Os valores de ocorrência obedecem aos critérios
descritos em (1) neste capítulo, sendo registados como não adquiridos (a vermelho),
em aquisição (a verde) e adquiridos (a preto) e em função da posição de coda na
palavra: coda medial (Cd M) e coda final (Cd F).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
100
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total
/s/ 0% 75% 38% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ l / 100% 50% 86% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ɾ/ 17% 80% 45% 100% 100% 100% 71% 100% 83%
Quadro 44 - ocorrência dos segmentos fonológicos em função da posição de coda na palavra, nos três momentos de avaliação, em R.R
Como se pode constatar, R.R., no momento da primeira avaliação, não tem
adquirida a fricativa /s/ (realizada foneticamente como [ʃ]) em coda (tanto medial
como final), bem como a vibrante /ɾ/ em coda medial. É importante referir um valor
de produção para a forma /s/ em coda final muito superior ao valor encontrado para
o mesmo segmento em posição de coda medial. A vibrante /ɾ/ encontra-se em
aquisição em posição de coda final, com cerca de 80% de ocorrência, mas ausente
em posição medial. Apesar de, globalmente, o segmento /l/ se encontrar adquirido,
verifica-se um efeito do constituinte silábico e deste na posição da palavra para a
ocorrência da lateral que, apesar de adquirido em ataque simples (como descrito
anteriormente), se encontra em aquisição em contextos de coda em posição final de
palavra, com 50% de ocorrências.
Verifica-se a aquisição completa dos segmentos /s/, /l/ e /ɾ/ em todas as
posições de coda na palavra no segundo momento de avaliação.
Na última avaliação, verifica-se uma ligeira descida na ocorrência do
segmento /ɾ/ em coda medial, que parece corresponder à instabilidade originada
pela aquisição de uma nova estrutura silábica, ou seja, associada à produção de
sílabas com ataques ramificados (ver quadro 46).
No quadro 45, encontramos exemplos de palavras que ilustram a capacidade
fonológica do sujeito 1, relativamente aos segmentos que ocupam a posição de coda
final ou medial, em função dos momentos da avaliação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
101
Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação
Fricativas Cd M
Cd F
<pasta> [‘paʃtɐ]
<três> [’tɾeʃ]
[pakɐ]
[’teʃ]
[‘paʃtɐ]
[’teʃ]
[‘paʃtɐ]
[’tɾeʃ]
Laterais Cd M
Cd F
<alto> [‘aɫtu]
<sol> [‘sɔɫ]
[‘aɫku]
[‘sɔlu]
[‘aɫtu]
[‘sɔɫ]
[‘aɫtu]
[‘sɔɫ]
Vibrantes Cd M
Cd F
<formiga> [fuɾ’migɐ]
<brincar> [bɾĩ’kaɾ]
[fu’migɐ]
[bĩ’kaɾ]
[fuɾ’migɐ]
[bɨɾĩ’kaɾ]
[fɾu’migɐ]
[bĩ’kaɾ]
Quadro 45 -Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica do R.R. em coda medial e em coda final, nos três momentos de avaliação
Os resultados descritos anteriormente registam-se em produções do tipo
[pakɐ] para <pasta>, [‘gafu] para formiga, [’teʃ] <três>, [bĩ’kaɾ] <brincar> que
exemplificam valores de ocorrência de /ʃ/ e /ɾ/ superiores, quando o constituinte coda
surge em posição final de palavra, sendo importante realçar que a fricativa nunca é
produzida em ataque simples (tal como descrito anteriormente). Ao contrário do que
acontece para estes segmentos, a produção de /l/ apresenta melhores resultados
em coda quando surge em posição medial. Assim, encontramos produções de
palavras como [‘kɔlu] para <sol>, não realizando o segmento como uma coda final.
No segundo momento de avaliação, não se observam produções alteradas,
no que respeita aos segmentos que ocupam o constituinte coda.
Relativamente ao último momento de avaliação, observam-se produções de
palavras como [fɾu’migɐ] para <formiga>, que demonstram a descida no valor de
ocorrências da produção do segmento /ɾ/ em coda em posição medial de palavra.
Esta alteração parece estar relacionada com a aquisição do constituinte ataque
ramificado, observando-se a sua emergência e alguma instabilidade nas suas
ocorrências.
7.1.3.1.3Ocorrênciadossegmentosemataqueramificado
No quadro 46, são consideradas as produções no constituinte silábico ataque
ramificado. O estatuto dos diferentes segmentos obedecem aos mesmos critérios
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
102
descritos em (1) neste capítulo e considerados para os restantes constituintes
prosódicos, sendo registados como não adquiridos (a vermelho), em aquisição (a
verde) e adquiridos (a preto). Os resultados estão organizados em função dos
ataques ramificados presentes nos estímulos utilizados no instrumento e da posição
do constituinte na palavra: ataque ramificado inicial (Ar I), ataque ramificado medial
(Ar M). A organização de resultados tem ainda em conta os três momentos de
avaliação.
Quadro 46 - Ataques ramificados nos diferentes momentos de avaliação no sujeito 1
Observa-se a ausência completa deste constituinte silábico nas duas
primeiras avaliações. Na terceira avaliação, observa-se a aquisição categórica deste
constituinte silábico, excepto para /gɾ/ e /bɾ/ (que surge em aquisição), em que se
regista um efeito de posição na palavra, com 0% de ocorrência em ataque
ramificado inicial, em oposição a 100% de ocorrências em ataque ramificado medial.
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação
Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total
/bɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 67% 100%
/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%
/pɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%
/fɾ / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%
/gɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 50%
/dɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%
/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%
/vɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%
/cɾ / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%
/pl/ 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%
/f l / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%
/kl/ - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
103
Encontramos registados, no quadro 47, exemplos de palavras que ilustram
as produções que contêm ataque ramificado, realizadas pelo sujeito 1.
Quadro 47 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de R.R. em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação
Relativamente às produções realizadas pelo sujeito 1 no que respeita ao
constituinte silábico ataque ramificado, observam-se produções como [‘fãgu] para
<frango> demonstrando que o sujeito 1, não apresenta, no primeiro e segundo
momentos de avaliação produções que contenham este constituinte silábico.
Contrariamente, no terceiro momento de avaliação, surgem em praticamente todas
as possibilidades de ocorrência, produções com este constituinte. Na produção em
que o constituinte não se encontra de acordo com o esperado, o segmento que
ocupa a segunda posição do constituinte é produzido como coda em posição medial
de palavras como se pode verificar no exemplo [gɐɾ’vatɐ] para <gravata>. Esta
alteração já acontecia na segunda avaliação, tal como se pode verificar em
produções como [gɐɾ’gɐw̃] <dragão>.
Alvo 1ª
avaliação
2ª
avaliação
3ª
avaliação
/bɾ / <brincar> [bɾĩ’kaɾ] [bĩ’kaɾ] [bɨrĩ’kaɾ] [bĩ’kaɾ]
/ tɾ / <três> [‘tɾeʃ] [teʃ] [‘teʃ] [‘tɾeʃ]
/pɾ / <soprar> [su’pɾaɾ] [ku’par] [su’paɾ] [su’pɾaɾ]
/fɾ / <frango> [‘fɾãgu] [‘fãgu] [‘fãgu] [‘fɾãgu]
/gɾ / <gravata> [gɾɐ’vatɐ] [gɐ’vakɐ] [gɐɾ’vatɐ] [gɐɾ’vatɐ]
/dɾ / <dragão> [dɾɐ’gɐ̃w] [gɐ’gɐ̃w] [gɐɾ’gɐ̃w] [dɾɐ’gɐ̃w]
/vɾ / <livro> [‘livɾu] [‘livu] [‘livu] [‘livɾu]
/kɾ / <creme> [‘krɛmɨ] [‘kɛmɨ] [‘kɛmɨ] [‘krɛmɨ]
/kl/ <bicicleta>
[bisi’kɫɛtɐ] [bikikɨ’ɫɛkɐ] [bikikɨ’ɫɛkɐ] [bisi’kɫɛtɐ]
/fl / <flor> [‘fɫoɾ] [fɨ’ɫoɾ] [fɨ’ɫoɾ] [‘fɫoɾ]
/pl/ <planta> [‘pɫɐt̃ɐ] [pɨ’ɫɐt̃ɐ] [pɨ’ɫɐt̃ɐ] [‘pɫɐt̃ɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
104
7.1.3.2Descriçãodopadrãodeerros
No quadro 48 podemos observar os padrões de erro encontrados nas
produções de R.R.. Os dados estão registados em percentagem correspondem aos
valores de ocorrência do erro para as consoantes em ataque inicial e medial.
7.1.3.2.1Descriçãodospadrõesdeerroemataquesimples
1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação
Alvo Erro AI AM Total AI A M total AI A M total
/t/ [k] 67% 100% 94% 33% 7% 11% 0% 0% 0%
[Ø] 33% 0% 6% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/d/ [g] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/g/ [d] 33% 0% 17% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/v/ [f] 0% 25% 17% 0% 50% 17% 0% 0% 0%
/s/ [k] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/z/ [g] 100% 67% 75% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[d] 0% 33% 25% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ʃ/ [k] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[s] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 0% 0% 0%
/ʒ/
[g] 50% 100% 67% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[z] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 0% 0% 0%
[d] 50 % 0% 33% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/n/ [ɲ] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ɲ/ [n] - 100% 100% - 100% 100% 0% 0% 0%
/l/ [Ø] 0% 33% 22% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[ɫ] 0% 0% 0% 0% 33% 22% 0% 17% 11%
/ʎ/ [j] - 100% 100% - 100% 100% -- 100% 100%
/ɾ/ [Ø] - 33% 33% - 0% 0% 0% 0% 0%
/ʀ/ [g] 100% 50% 67% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[ɾ] 0% 50% 33% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Quadro 48 - Ocorrência dos diferentes padrões de erro de R.R. em ataque inicial e em ataque medial, nos três momentos de avaliação
O quadro 48, permite verificar que, nas produções de R.R., no momento da
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
105
primeira avaliação, em substituição dos segmentos não adquiridos /t/, /s/ e /ʃ/, a
criança recorre à oclusiva [k]. Para os segmentos ausentes /d/, /z/, /ʒ/ e /ʀ/, utiliza
preferencialmente a oclusiva [g].
Apesar de com uma ocorrência reduzida, observa-se a produção de [d] para
o segmento /g/. A criança produz sistematicamente a nasal [ɲ] para o alvo /n/, sendo
o contrário também observado, ou seja, a ocorrência da produção [n] para o alvo /ɲ/.
Verifica-se ainda que a lateral /ʎ/ é produzida como semivogal [j]. Nos segmentos
considerados em aquisição, como é o caso da fricativa /v/, observa-se a produção
de [f] no seu lugar. Na vibrante /ɾ/, a estratégia à qual a criança recorre
preferencialmente é a omissão. Quando o segmento /l/ não é produzido de acordo
com o esperado para o sistema alvo, a criança recorre à omissão.
No segundo momento de avaliação, os padrões de erro diminuem, sendo
possível observar ainda a produção das fricativas [z] e [s] para os alvos /ʒ/ e /ʃ/,
respetivamente, bem como da nasal [n] para a nasal /ɲ/. Verifica-se ainda a
produção da semivogal [j] no lugar da palatal /ʎ/.
No último momento de avaliação, observa-se ainda a produção da semivogal
[j] para o alvo /ʎ/.
No quadro que se segue, podemos observar exemplos de palavras não
convergentes com formato alvo, que ilustram os padrões de erro em ataque simples
inicial e medial, observados para o sujeito 1, nos diferentes momentos de avaliação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
106
Alvo 1ª Avaliação 2º Avaliação 3ª Avaliação
Oclusivas Orais
<sapato> [sɐ’patu]
<garrafa> [gɐ’Rafɐ]
<dedo> [‘dedu]
[kɐ’paku]
[dɐ’ɾafɐ] ['gegu]
[‘kige]
Fricativas
<chave> [‘ʃav ɨ]
<peixe> [‘pɐjʃɨ]
<jipe> [‘ʒipɨ]
<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]
<mesa> [‘mezɐ]
<vassoura> [va’soɾɐ]
[‘taf]
[p’ajk ɨ]
[‘dipɨ]
[gɐ’ɲɛlɐ]
[‘megɐ]
[va’koɾɐ]
[‘saf]
[‘pajs ɨ]
[‘zipɨ]
Oclusivas Nasais <unha> [‘uɲɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘ujnɐ]
[ɲɐ’i]
[‘ujna]
Laterais <palhaço> [pɐ’ʎasu]
<televisão> [tɨlɨvi’zɐ̃w]
[pɐ’jaku]
[fi’dɐ̃w]
[pɐ’jasu]
[tɫvi’zɐ̃w]
[pɐ’jasu]
Vibrantes <rato> [‘Ratu]
<garrafa> [gɐ’ʀafɐ]
‘[gaku]
[dɐ’ɾafɐ]
Quadro 49 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferenciais de R.R. para os erros em ataque inicial e em ataque medial, nos diferentes momentos de avaliação
Observando os exemplos, e de acordo com o descrito anteriormente, verifica-
se que, preferencialmente, o sujeito 1, recorre a padrões de erros caracterizados por
substituição do segmento ausente no seu sistema. Na maioria dos casos, o
segmento que substitui o segmento ausente é consistente (sempre o mesmo). No
caso das vibrantes, o sujeito recorre a dois segmentos diferentes para a produção
do segmento ausente como se pode verificar em produções como [‘gaku] <gato>
ou [dɐ’ɾafɐ] <garrafa> em que o sujeito utiliza o segmento /g/ ou /ɾ/ para a produção
de /ʀ/. No primeiro momento de avaliação, o segmento alvo substituto pode
encontrar-se dentro da mesma classe, mas diferir quando ao ponto (como nas
oclusivas e das nasais). Este comportamento ocorre, por exemplo, na produção de
['gegu] para <dedo>, em que o segmento substituto é velar enquanto o segmento
ausente é alveolar, pertencendo os dois à classe das oclusivas orais. No caso das
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
107
fricativas, o segmento utilizado em substituição difere quando ao ponto e quanto ao
modo também, tal como ilustrado em [‘megɐ] <mesa>, em que o segmento substituto
difere do alvo, por pertencer à classe das oclusivas e o ponto de articulação ser
velar, enquanto o segmento ausente pertence à classe das fricativas com ponto de
articulação alveolar.
No segundo momento de avaliação, as fricativas deixam de ser substituídas
por segmentos de outra classe (que diferem quanto ao modo), mantendo-se ainda a
escolha de um substituto que difere quanto ao ponto no caso de /ʃ/ e /ʒ/, como se
pode observar em produções como [‘zipɨ] <jipe>, em que os segmentos substitutos
pertencem à classe das fricativas sendo o ponto de articulação alveolar. No entanto,
do ponto de vista fonológico, partilham o mesmo ponto articulatório (coronal).
Em qualquer momento de avaliação, o sujeito 1 utiliza a semivogal para a
produção de /ʎ/, como se verifica em produções como [pɐ’jaku] <palhaço>.
7.1.3.2.2.Descriçãodospadrõesdeerroemcoda
No quadro 50, podemos observar os padrões de erro encontrados nas
produções de R.R. relativamente às consoantes em coda medial e em coda final,
nos diferentes momentos de avaliação. Os dados estão registados em percentagem
e correspondem aos valores de ocorrência do erro.
1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação
Alvo Erro Cd M Cd F Total Cd M Cd F total Cd M Cd F total
/s/ Ø 100% 25% 71% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/l/ /ɨ/ 0% 5% 14% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ɾ/ Ø 83% 20% 55% 0% 0% 0% 17% 0% 9%
Quadro 50 -Ocorrência dos diferentes padrões de erro de R.R. em coda medial e em coda final, nos diferentes momentos de avaliação
A análise do quadro 50 permite verificar que a supressão é a estratégia
preferencial à qual a criança recorre na ausência dos segmentos em codas mediais
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
108
e finais, na primeira avaliação. No momento da segunda avaliação, verifica-se a
presença dos segmentos anteriormente ausentes, pelo que não se registam
ocorrências de erro. No último momento de avaliação verifica-se a ocorrência de
uma omissão para o segmento /ɾ/ em coda medial. Esta alteração da posição do
segmento corresponde a uma produção da palavra [fɾu’migɐ] para [fuɾmigɐ]. Ao
analisar outras produções tais como [gɐɾ’vatɐ] para [gɾɐ’vatɐ] (ver quadro 47 na
secção 7.1.3.1.3), entende-se que o erro aqui descrito corresponde à estabilização
dos constituintes silábicos e não propriamente à aquisição da consoante /ɾ/, já que a
alteração na sua produção parece depender do contexto silábico. Assim, R.R.
parece ter já aquisição completa de /ɾ/, no entanto ainda se encontra em fase de
aquisição dos diferentes constituintes silábicos.
No quadro que se segue, podemos observar exemplos de palavras em que
não existe a correspondência entre a produção da criança e os alvos que surgem
em coda medial ou em coda final, para os três momentos de avaliação.
Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação
Fricativas CM
CF
<pasta> [‘paʃtɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘pakɐ]
[nɐ’i]
Laterais CF <hospital> [ɔʃpi’taɫ] [ɔpi’kaɨ]
Vibrantes
CM
<garfo> [‘gaɾfu]
<formiga> [fuɾ’migɐ]
[‘gafu]
[fu’migɐ]
[fɾu’migɐ]
Quadro 51 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferencial de R.R. para erros em coda medial e em coda final, nos três momentos de avaliação
Observando os exemplos, verifica-se que a não produção da consoante
(supressão ou omissão) é a estratégia mais recorrente de R.R. para os segmentos
em coda no momento da primeira avaliação. A partir no segundo momento de
avaliação, observa-se apenas a metátese do segmento /ɾ/, que deveria estar a
ocupar coda final, para a segunda posição de ataque ramificado.
7.1.3.2.3.Descriçãodospadrõesdeerroemataqueramificado
No quadro 52, podemos observar os padrões de erro encontrados nas
produções de R.R. relativamente às consoantes em ataque ramificado inicial e
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
109
medial, nos diferentes momentos de avaliação. Os dados estão registados em
percentagem e correspondem aos valores de ocorrência de erro.
Quadro 52 - Valores de ocorrência dos padrões de erro para os segmentos ausentes em ataque simples, nos três momentos de avaliação para o sujeito 1
A análise do quadro 52 permite verificar que a supressão é a estratégia
preferencial, no primeiro e segundo momentos de avaliação. O recurso a esta
estratégias ocorre na ausência dos segmentos pertencentes à classe das vibrantes
em ataque ramificado, tanto inicial com medial. Quando a consoante que ocupa o
constituinte silábico é a lateral, observa-se a inserção da vogal [ɨ] entre a primeira e
segunda posição do constituinte, na primeira e segunda avaliações. No último
momento de avaliação não se atestam produções de vogais epêntéticas ou
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação
erro
ARI ARM Total ARI ARM Total ARI ARM Tot
al
/bɾ /
Ø 100% 100% 100% 0% 100% 50% 100% 0%
33
%
Inserção de [ɨ] 0% 0% 0% 100% 0% 50% 0% 0% 0%
/ tɾ / Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%
/pɾ / Ø - 100% 100% - 100% 100% - 0% 0%
/fɾ / Ø 100% - 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%
/gɾ /
Ø 100% 100% 100% 0% 100% 50% 0% 100%
50
%
[gɐr] 0% 0% 0% 100% 0% 50% 100% 0%
50
%
/dɾ / Ø 100% 100% 100% 0% 50% 50% 0% 0% 0%
[dɐr] 0% 0% 0% 100% 0% 50% 0% 0% 0%
/ tɾ / Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%
/vɾ / Ø - 100% 100% - 100% 100% - 0% 0%
/cɾ / Ø 100% - 100% 100% - 100% 0% - 0%
/pl/ Inserção de [ɨ] 100% - 100% 0% - 0% 0% - 0%
/fl / Inserção de [ɨ] 100% - 100% 100% - 100% 0% - 0%
/kl/ Inserção de [ɨ] - 100% 100% - 0% 0% - 0% 0%
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
110
apagamento das vibrantes em ataque ramificado.
No quadro que se segue, podemos observar exemplos de palavras em que
não existe a correspondência entre a produção da criança e os alvos que surgem
em ataque ramificado.
Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação
Líquidas
<três> [‘tɾeʃ]
<livro>[‘livɾu]
<frango>[fɾɐg̃u]
<flor> [floɾ]
<planta> [‘pɫɐk̃ɐ]
<gravata> [gɾɐvatɐ]
[teʃ]
[‘livu]
[‘fãgu]
[fɨ’ɫoɾ]
[pɨlɐ̃kɐ]
[gɐ’vakɐ]
[‘teʃ]
[‘livu]
[‘fãgu]
[fɨloɾ]
[pɨlɐ̃kɐ]
[gɐɾ’vakɐ]
[gɐɾ’vatɐ]
Quadro 53 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferencial de R.R. para os erros em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação
No quadro 53, observa-se que, tal como referido anteriormente, na produção
de ataques ramificados, o sujeito recorre preferencialmente à omissão da líquida
vibrante, embora surja , pontualmente, a produção da vibrante numa posição silábica
diferente (passando a ser produzida como coda), como se pode verificar em
produções como [gɐɾ’vakɐ] <gravata>. Quando em ataque ramificado surge uma
lateral, R.R. recorre à produção deste constituinte silábico como ataque simples,
adicionando a vogal [ɨ] depois da primeira consoante.
7.1.3.3.Síntesedecaracterizaçãodosistemafonológico
Nesta secção, encontra-se informação relativa ao sistema fonológico dos três
momentos de avaliação, construído com base nos dados anteriormente descritos: a
percentagem de acerto das consoantes, de acordo com os critérios já descritos na
secção 3.1 deste capítulo, e os padrões de erro. A vermelho estão representados os
segmentos ausentes, a verde os segmentos em aquisição e a preto os segmentos
presentes no sistema fonológico da criança. Será registado o alvo fonológico bem
como os padrões de erro a que a criança recorre.
O inventário fonológico será apresentado por esquemas organizados de
acordo a posição do segmento na sílaba: ataque simples inicial, ataque simples
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
111
media, coda medial, coda final e ataque ramificado.
7.1.3.3.1. Inventáriofonológicodosujeito1-PrimeiraAvaliação
Nas figuras 12, 13, 14 e 15, encontramos representado o inventário
fonológico de R.R. para os diferentes constituintes silábicos e posições na palavra.
A figura 13, representa o inventário fonológico para o ataque simples em
posição inicial de palavra.
Ataque simples inicial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[k]
/d/
[g]
/k/
[k]
/g/
[g] [d]
/f/
[f]
/v/
[v]
/s/
[k]
/z/
[g] [d]
/ʃ/
[k]
/ʒ/
[g]
/m/
[m]
/n/
[ɲ]
/ l /
[l]
/ʀ/
[g]
Figura 12 -Inventário fonológico em ataque inicial de R.R. no momento da primeira avaliação
Na figura 12, observa-se que nenhuma classe está completa no sistema de
R.R.. Encontram-se em falta segmentos relativos às oclusivas, às fricativas, às
nasais, às laterais e às vibrantes. Observa-se uma dificuldade no que respeita ao
modo, sendo as fricativas ausentes produzidas como oclusivas.
Se analisarmos o esquema relativamente ao ponto articulatório, verificamos
que o sujeito não tem qualquer dificuldade com os segmentos bilabiais, labiodentais,
e que os pontos dental, alveolar e palatal surgem como mais problemáticos. Embora
os pontos velar e uvular não se encontrem integralmente adquiridos, com a ausência
do segmento /ʀ/ e a instabilidade do segmento /g/, verifica-se que a dificuldade
inerente à produção de /ʀ/ não se prende com o ponto mas sim com o modo, sendo
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
112
produzida uma oclusiva em vez de uma vibrante, enquanto a dificuldade inerente à
instabilidade de /g/ se relaciona com ponto articulatório, sendo o mesmo produzido
como [d].
É possível verificar ainda que não existe dificuldade na definição das classes
de vozeadas e de não vozeadas, nem na definição das classes das consoantes
orais e das consoantes nasais.
Na figura que se segue, encontraremos a representação do inventário
fonológico para o ataque simples em posição medial de palavra.
Ataque simples medial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[k] [Ø]
/d/
[g]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v] [f]
/s/
[k]
/z/
[g] [d]
/ʃ/
[k]
/ʒ/
[g]
/m/
[m]
/n/
[ɲ]
/ɲ/
[n]
/ l /
[l] [Ø]
/ʎ/
[ j]
/ɾ/
[ɾ] [Ø]
/ʀ/
[g] [ɾ]
Figura 13 -Inventário fonológico em ataque medial do R.R. no momento da primeira avaliação
Em ataque medial, o perfil do sujeito 1 não é muito diferente do já descrito
para os segmentos que ocorrem em ataque inicial, observando-se que nenhuma
classe se encontra completa. Da mesma forma que em ataque inicial, verifica-se
uma dificuldade no que respeita ao modo, sendo as fricativas ausentes produzidas
como oclusivas. Verificam-se alterações com todos os segmentos correspondentes
à classe das líquidas, não se encontrando nenhum totalmente adquirido. Nesta
classe, as líquidas alveolares estão instáveis no sistema, ao passo que as palatais e
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
113
uvulares se encontram ainda ausentes.
No que respeita ao ponto articulatório, verificamos que o sujeito não tem
qualquer dificuldade com os segmentos bilabiais ou labiodentais, sendo os pontos
dental, alveolar e palatal os mais problemáticos. Em relação aos pontos
articulatórios velar ou uvular, verifica-se ausência da vibrante, sendo produzida
como [g], mantendo informação fonológica relativa ao ponto mas não ao modo, ou
como [ɾ] mantendo informação fonológica relativa ao modo mas não ao ponto. Nesta
posição silábica, a oclusiva velar não acrescenta dificuldades ao sujeito,
contrariamente ao que se verifica em posição de ataque inicial.
É possível verificar ainda que, nesta posição da palavra, o sujeito demonstra
dificuldade no estabelecimento da classe de vozeadas e não vozeadas para as
fricativas bilabiais. Não se observam problemas na definição da propriedade
vozeada ou não vozeada para as oclusivas orais. Não se verifica também dificuldade
no estabelecimento da classe das nasais.
Na figura 15, encontramos representado o inventário fonológico relativo ao
constituinte coda. A representação encontra-se organizada em função da posição na
palavra: coda medial e coda final.
Coda medial Coda Final
/s/
/s/
[Ø]
[Ø]
/ɾ/ / l /
/ɾ/ / l /
[ɾ] [Ø] [ɫ]
[ɾ] [Ø] [lɨ] [ɫ]
Figura 14 - Inventário fonológico em coda medial e em coda final de R.R. no momento da primeira avaliação
Na figura 14 é possível verificar a ausência da fricativa e da vibrante em coda
medial, encontrando-se a primeira ausente também em coda final e a última,
adquirida nesta posição silábica. A lateral surge como problemática em coda final.
Na figura 15, encontramos representado o inventário fonológico relativo ao
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
114
constituinte silábico ataque ramificado. O inventário encontra-se esquematizado em
função da posição na palavra: ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial.
Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial
/cɾv/
/cɾv/
[Ø]
[Ø]
/clv/
/clv/
[Ø]
[Ø] Figura 15 - Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de R.R. no
momento da primeira avaliação
Na Figura 15 é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante em
ataque ramificado, em qualquer posição da palavra.
7.1.3.3.2.Inventáriofonológicodosujeito1-Segundaavaliação
Nas figuras 16, 17 e 18, encontra-se registado o sistema fonológico relativo à
segunda avaliação, de acordo com os critérios anteriormente descritos na
apresentação do inventário fonológico da primeira avaliação. As figuras encontram-
se organizadas em função do constituinte silábico e da sua posição na palavra:
ataque inicial, ataque medial, coda medial e coda final.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
115
Ataque simples inicial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t] [k]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v]
/s/
[s]
/z/
[z]
/ʃ/
[s]
/ʒ/
[z]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ l /
[l]
/ʀ/
[ʀ]
Figura 16 - Inventário fonológico em ataque inicial de R.R. no momento da segunda avaliação
No segundo momento de avaliação, e de acordo com o figura 16, observa-se
que, no que respeita a modo articulatório, as classes das oclusivas, das laterais e
dos róticos estão já completas no sistema. Encontram-se em falta segmentos
relativos às fricativas (/ʃ/ e /ʒ/). A ausência destes segmentos, neste momento de
avaliação, está relacionada com dificuldades relativas a ponto articulatório, já que os
segmentos são produzidos como [t] e [d], respetivamente. No que respeita às
oclusivas, ainda se observa instabilidade com o segmento /t/, ocorrendo alterações
de ponto articulatório.
Se analisarmos o esquema relativamente ao ponto articulatório, verificamos
que a criança já não apresenta qualquer dificuldade com os segmentos velares ou
uvulares, sendo ainda o ponto palatal o mais problemático. Verificam-se aquisições
de vários segmentos dentais e alveolares, anteriormente problemáticos, mantendo-
se resiliente uma dificuldade na produção de segmentos palatais, como /ʃ/e/ʒ/ .
Continua a ser possível observar que não existe dificuldade na definição das
classes de vozeadas e não vozeadas, nem dificuldades na definição das classes
das consoantes orais e das consoantes nasais.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
116
A representação do inventário fonológico respeitante aos segmentos que
podem ocupar ataque simples em posição medial de palavras, no segundo momento
de avaliação, encontra-se na figura 17.
Ataque simples medial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v] [f]
/s/
[s]
/z/
[z]
/ʃ/
[s]
/ʒ/
[z]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ɲ /
[n]
/ l /
[l]
/ʎ/
[ j]
/ɾ/
[ɾ]
/ʀ/
[ʀ]
Figura 17 - Inventário fonológico em ataque medial do sujeito 1, no momento da segunda avaliação
Em ataque medial, no segundo momento de avaliação, observa-se que a
classe das oclusivas e a dos róticos estão completas no sistema da criança.
Encontram-se ainda em falta segmentos relativos às fricativas, às nasais e às
laterais, existindo dificuldade com o ponto articulatório do segmentos em ausentes.
Se analisarmos o esquema relativamente ao ponto articulatório, verificamos
que a criança já não apresenta qualquer dificuldade com os segmentos velares ou
uvulares, sendo ainda o ponto palatal o mais problemático, tal como verificado em
ataque inicial. Verifica-se a aquisição de vários segmentos relativos aos pontos
dental e alveolar, quando comparando com o desempenho na primeira avaliação.
Em ataque medial, observa-se dificuldade na definição das classes de
vozeadas e não vozeadas para a fricativa labiodental vozeada, sendo produzida
como não vozeada. A distinção entre as classes das consoantes orais e a das
consoantes nasais está adquirida.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
117
Na figura 18, está representado o inventário fonológico relativo aos
segmentos que ocupam o constituinte silábico coda, em posição medial e final de
palavra.
Coda medial Coda Final
/s/
/s/
[ʃ]
[ʃ]
/ɾ/ /l/
/ɾ/ /l/
[ɾ] [ɫ]
[ɾ] [ɫ]
Figura 18 -Inventário fonológico em coda medial e em coda final de R.R. no momento da segunda avaliação
Neste segundo momento de avaliação, observa-se, através da figura 18,
que, em posição de coda (quer medial quer final), a aquisição segmental está
completa para todas as classes que podem ocupar este constituinte silábico.
A figura 19, esquematiza o inventário fonológico do sujeito 1 no que respeita
ao ataque ramificado, quer em posição inicial com medial.
Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial
/cɾv/
/cɾv/
[Ø]
[Ø]
/clv/
/clv/
[Ø]
[Ø] Figura 19 - Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de R.R. no
momento da segunda avaliação
Na Figura 19, é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante neste
constituinte silábico em qualquer posição da palavra.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
118
7.1.3.3.3.Inventáriofonológicodosujeito1–Terceiraavaliação
Da mesma forma que o realizado para o primeiro e segundo momentos de
avaliação de R.R., nas figuras 20, 21 e 22, regista-se o sistema fonológico relativo à
terceira avaliação. As figuras encontram-se organizadas em função do constituinte
silábico e da sua posição na palavra. As cores vermelho, verde e preto representam
os segmentos ausentes, instáveis e presentes, respetivamente.
O inventário fonológico relativo à terceira e última avaliação, para os
segmentos que ocupam o ataque simples inicial encontra-se representado na figura
20.
Ataque simples inicial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v]
/s/
[s]
/z/
[z]
/ʃ/
[ʃ]
/ʒ/
[ʒ]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ l /
[l]
/ʀ/
[ʀ]
Figura 20 -Inventário fonológico em ataque inicial de R.R. no momento da terceira avaliação
No esquema acima, observa-se que todas as classes se encontram
completas. Dificuldades com ponto articulatório, nesta posição silábica, já não são
verificadas. Da mesma forma, a classe das vozeadas e das não vozeadas surge
bem definida, assim como a classe das consoantes nasais e a das consoantes orais.
A figura 21 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 1 no que respeita
ao constituinte ataque simples, em posição medial de palavra, no momento da
terceira avaliação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
119
Ataque simples medial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v]
/s/
[s]
/z/
[z]
/ʃ /
[ʃ]
/ʒ /
[ʒ]
/m/
[m]
/N/
[n]
/ɲ /
[ɲ]
/ l /
[l]
/ʎ/
[ j]
/ɾ /
[ɾ]
/ʀ/
[ʀ]
Figura 21 - Inventário fonológico em ataque medial de R.R. no momento da terceira avaliação
No esquema acima, observa-se que todas as classes se encontram
completas, excepto a das laterais, com dificuldades relativas ao ponto articulatório
palatal. Não se verificam dificuldades na definição da classe das vozeadas e das
não vozeadas ou na definição das classes das consoantes nasais e das consoantes
orais.
Na figura 22, encontramos representado o inventário fonológico relativo aos
segmentos que ocorrem em coda. O mesmo organiza-se tendo em conta a posição
na palavra, medial ou final.
Coda medial Coda Final
/s/
/s/
[ʃ]
[ʃ]
/ɾ/ / l /
/ɾ/ / l /
[ɾ] [ɫ]
[ɾ] [ɫ]
Figura 22 - Inventário fonológico em coda medial e em coda final de R.R. no momento da terceira avaliação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
120
Nos esquemas da figura 22, é possível verificar que não existem dificuldades
com qualquer segmento que ocupe a posição de coda medial ou de coda final, tal
como já se observava no momento da segunda avaliação.
O inventário fonológico relativo ao ataque ramificado encontra-se
representado na figura 23, em função da posição da palavra em que o constituinte
silábico pode surgir.
Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial
/cɾv/
/cɾv/
[cɾv]
[cɾv]
/clv/
/clv/
[clv]
[clv] Figura 23 -Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de R.R. no
momento da terceira avaliação
Na figura 23, é possível verificar, no momento da terceira avaliação, a
aquisição tanto da lateral como da vibrante neste constituinte silábico em qualquer
posição da palavra.
7.1.3.4.Descriçãodosistemafonológicoatravésdeprocessosfonológicos–
Sujeito1
Nesta secção, os resultados relativos ao sistema fonológico serão descritos
recorrendo à terminologia de processos fonológicos e procedimentos de registo
descritos por Mendes et al. (2013) que contemplam os processos:
• Relativos à estrutura silábica: Omissão da consoante final (OCF); Reduçao
de sílaba átona pré-tónica (RSA); Redução de grupo consoâtico (RGC).
• Relativamente à estrutura segmental, as autoras consideral os seguintes
processos: Semivocalização de líquida (SL); Oclusão (OCL); Anterirorização
(ANT); Despalatalização (DES); Posteriorização (POS); Palatalização (PAL);
Desvozeamento (DESV) e Processos adicionais (PA).
Regista-se com 0 o processo não ocorre e com 1 quando o processo ocorre. Os
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
121
resultados serão apresentados para os três momentos de avaliação.
No quadro 78 encontram-se os resultados referentes aos processos fonológicos
do sujeito 2, no primeiro momento de avaliação.
7.1.3.4.1Descrição do sistema fonológico através de processosfonológicos–Primeiraavaliação
No quadro 54, encontram-se os resultados relativamente à presença de
processos fonológicos do sujeito 1, nos três momentos de avaliação.
Momento
de
avaliação
Estrutura silábica Estrutura Segmental / Substituição PA*
OCF RSA RGC SL OCL ANT DES POS PAL DESV
1ª 50% 0% 78% 10% 64% 0% 0% 100% 0% 40% 31%
2ª 0% 0% 61% 10% 0% 0% 50% 17% 0% 40% 21%
3ª 0% 0% 6% 10% 0% 0% 0% 0% 0% 40% 44%
Quadro 54 -Processos fonológicos presentes nas produções do sujeito 1, em função do momento de avaliação
*O valor de processos fonológicos adicionais foi determinado dentro do total de processos, ou
seja, no total de processos encontrados um valor corresponderá a processos adicionais.
De acordo com o quadro 54, verifica-se que, no momento da primeira
avaliação, o processo mais frequente corresponde à posteriorização (100% de
ocorrência, seguido da redução do grupo consonântico (com 78% de ocorrência). A
oclusivização é um processo muito recorrente também, com um valor de 64% de
ocorrência. Processos de omissão da consoante final apresentam uma ocorrência
de 50%, o processo de desvozeamento surge um uma taxa de 40% de ocorrência. A
semivocalização é um processo identificado também com um valor de 10% de
ocorrência. Os restantes processos identificados foram classificados como
adicionais.
Na segunda avaliação a ocorrência de processos diminui, alguns deixam de
ocorrer, surgindo um novo processo. Assim, observamos no quadro 54, que neste
momento de avaliação ainda se encontra presente o processo de redução do grupo
consonântico (61%), o processo de desvozeamento (40%), o processo de
posteriorização (17%) e de semivocalização (10%), Surge nesta altura o processo
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
122
de despatalização com uma taxa de ocorrência de 50%. Processos adicionais
continuam a surgir (21%).
No último momento de avaliação mantém-se o processo de desvozeamento
(40%), o processo de semivocalização (10%). (10%) e o processo de redução do
grupo consonântico (6%). Processos adicionais continuam presentes (44%).
No quadro 55 encontram-se exemplos de produções do sujeito 1, que
ilustram a presença dos diferentes processos fonológics, organizados em função da
presença do processo e dos três momentos de avaliação.
Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação
OCF <porco> [‘poɾku] [‘poku]
RSA
RGC <tigre> [ti’gɾɨ] [ki’gɨ]
SL <palhaço> [pɐ’ʎasu] [pɐ’jaku]
OCL <mesa> [‘mezɐ] [‘megɐ]
ANT
DES <jipe> [‘ʒ ipɨ] [‘zipɨ]
POST <sapato> [sɐ’patu] [kɐ’paku]
DESV <chave> [‘ʃav ɨ] [‘taf] [‘ʃaf] [‘ʃaf]
PAL
PA
<garrafa> [gɐ’ʀafɐ]
<formiga> [fuɾ’migɐ]
<unha> [‘uɲɐ]
[dɐ’ɾafɐ]
[fu’migɐ]
[‘ujnɐ]
[‘ujnɐ]
[fɾu’migɐ]
Quadro 55 - Produções do sujeito 1, organizados em processos fonológico, em função do momento de avaliação
Os exemplos constantes no quadro 55 ilustram a presença dos processos
fonológicos anteriormente descritos nesta secção.
Produções como [‘poku] <porco>, [ki’gɨ] <tigre>, [pɐ’jaku] <palhaço>, [‘megɐ]
<mesa>, [kɐ’paku] <sapato> e [‘taf] <chave> constituem exemplos de processos de
omissão de consoante final, redução do grupo consonântico, semivocalização da
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
123
lateral, oclusivização, posteriorização e desvozeamento, respetivamante, presentes
no primeiro momento de avaliação, de acordo com o descrito atrás.
Todos os processos encontrados, que não correspondem ao definido para cada
um destes processos, foram considerados adicionais (mesmo quando aconteciam
para o mesmo segmento como é o caso de [‘megɐ] <meza>, em que para além do
processo de oclusivização ocorre uma alteração de ponto não contemplada nos
processo aqui utilizados). Assim encontramos adicionalmente, produções como
[dɐ’ɾafɐ] <garrafa>, [‘ujnɐ] <unha> e [fu’migɐ] <formiga>, entre outros.
7.1.3.5AnáliseatravésdomodeloPAC-PE–Sujeito1
O Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (PAC), proposto por
Lazzarotto-Volcão (2009) com base na Escala de Robustez para Traços de
Consoantes, proposta por Clements (2009), pretende descrever e classificar as
perturbações fonológicas através da identificação de etapas de aquisição fonológica
com base na aquisição de contrastes e no pressuposto de que a existência de
classes naturais e de contrastes depende da aquisição e coocorrência de traços e
não da aquisição destes isoladamente. De acordo com a autora do modelo, é
possível que uma criança tenha adquirido um contraste mesmo sem que um
segmento relativo a esse contraste tenha emergido, reforçando a ideia de
construção gradual do segmento através da ligação gradativa de traços fonológicos
à estrutura interna dos fonemas (Hernandorena, 1995).
No âmbito do desenvolvimento do modelo a autora trabalha com dois
subtipos de alterações (atraso ou desvio) bem como com uma escala de gravidade
que será utilizada para caracterizar o perfil fonológico dos sujeitos em avaliaçãoo no
presente estudo.
7.1.3.5.1–AnáliseatravésdoPAC-PESujeito1
Os dados recolhidos foram analisados à luz do modelo PAC-PE, que
consiste na determinação da presença, ou não, dos contrastes identificados e
organizados em quatro etapas de aquisição. Nestas quatro etapas, são adquiridos
contrastes através da coocorrência de traços, que possibilitam também a
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
124
emergência de segmentos.
No quadro 56 podemos visualizar os valores de acerto dos contrastes
estabelecidos no PAC-PE para o sujeito 1 no momento da primeira avaliação,
registados de acordo com o descrito na secção 6.4.3 da II parte deste trabalho, onde
são apresentados os critérios metodológicos. Veja-se o seguinte exemplo: a criança
produz [k] para [g], o contraste Soante x Obstruinte está presente neste alvo, no
entanto, o contraste Oclusiva vozeada x não vozeada não está.
1ª AVALIAÇÃO
O quadro abaixo apresenta os resultados do sujeito 1 analisados através do
modelo PAC-PE, de acordo com os procedimentos descritos anteriormente.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
125
Etapa
Traços
Marcados
Adquiridos
Coocorrências de
traços Contraste
Acerto
do
contraste
Estado
1ª
etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+ vozeado]
[+consonântico; +
Soante]
[-soante; labial]
[-soante; dorsal]
[+soante; labial]
[-soante; coronal; +
vozeado]
[-soante; labial; +
vozeado]
Soante x Obstruinte 99,14 %
Adquirido
Oclusiva coronal x labial 100 % Adquirido
Oclusiva coronal x dorsal 50% Não
Adquirido
Oclusiva labial x dorsal 100% Adquirido
Nasal labial x coronal 100% Adquirido
Oclusiva coronal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusiva labial surda x sonora 100% Adquirido
2ª
etapa
[+ contínuo]
[- anterior]
[+soante; coronal; -
anterior]
[-soante, dorsal, +
vozeado]
[-soante, + contínuo]
[+contínuo; labial,; +
vozeado]
[+contínuio; labial]
Nasal coronal anterior x
coronal não anterior 0%
Não
Adquirido
Oclusiva dorsal surda x sonora 100% Adquirido
Oclusivas x fricativas 78% Adquirido
Fricativa labial surda x sonora 92% Adquirido
Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido
3ª
etapa
[+aproximante]
[-soante; + contínuo;
coronal -anterior]
Fricativa coronal anterior x
não anterior 38%
Não
Adquirido
[-soante; + contínuo;
coronal; +vozeado ]
Fricativa coronal não anterior
surda x sonora 100% Adquirido
[-soante; + contínuo;
dorsal ] Oclusivas x fricativa dorsal 37,5%
Não
Adquirido
[+soante; +
aproximante] Nasais x líquidas 99% Adquirido
4ª
etapa
[+aproximante; +
contínuo, dorsal] Líquida lateral x não lateral 69% Instável
[+aproximante; +
contínuo, coronal]
Líquida não lateral dorsal x
coronal 60% Instável
[-soante; + contínuo,
coronal; + anterior; +
vozeado]
Fricativa coronal anterior
sonora x não anterior sonora 57 % Instável
[+ aproximante: -
contínuo; coronal; -
anterior ]
Líquida lateral anterior x não
anterior 82% Adquirido
Quadro 56 -Síntese do acerto de contrastes (PAC-PE), para o sujeito 1, no primeiro momento de avaliação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
126
Através do quadro 56, verifica-se que e o sistema fonológico do sujeito 1 se
encontra incompleto, com ausência de contrastes relativos às primeiras etapas de
aquisição:
• Oclusiva coronal x dorsal (1ª etapa), uma vez que as oclusivas
coronais são produzidas como dorsais, acontecendo o inverso
também;
• Nasal coronal anterior x coronal não anterior (2ª etapa), uma vez que
as nasais anteriores são produzidas como não anteriores e o inverso
também;
• Fricativa coronal anterior x não anterior (3* etapa), já que as fricativas
coronais anteriores são produzidas como dorsais
• Oclusiva x fricativa dorsal (3ª etapa), já que os róticos dorsais são
produzidos como oclusivas dorsais.
É possível observar ainda a instabilidade de contrastes relativos à última
etapa:
• Líquida lateral x não lateral, uma vez que as líquidas não laterais não
são produzidas
• Líquida não lateral coronal x dorsal, uma vez que a vibrante dorsal é
produzida como coronal
• Fricativa coronal anterior sonora x não anterior sonora, manifestada
pela produção menos anterior na fricativa coronal [+anterior]
No sistema fonológico de R.R., verifica-se a ausência dos segmentos /d/, /t/
e /n/, que se esperavam na primeira etapa de aquisição. Tal como ilustrado no
quadro 56, o facto de estes segmentos ainda não terem emergido ocorre pela
ausência do contraste Oclusiva coronal versus Dorsal. A dificuldade com este
contraste poderá estar relacionada com dificuldade na coorrência de traços,
especialmente com os traços não marcado [coronal] e [+anterior], necessário para a
estabilização completa deste contraste. Estas dificuldades são manifestadas por
produções como [ɲɐ’i] <nariz> ou [‘gegu] <dedo>.
Verifica-se também, neste momento de avaliação, a ausência dos segmentos
/ɲ/, correspondentes a segmentos esperados na segunda etapa de aquisição. Nesta
altura, observa-se que o contraste Nasal coronal anterior x coronal não anterior, uma
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
127
vez que as nasais anteriores são produzidas como não anteriores e o inverso
também, assim, para além da dificuldade com a coocorrência de [coronal] e
[+anteriores] parece existir dificuldade também na coocorrência com o traço [-
anterior]. Observam-se assim produções como: [‘ujnɐ] ou [ɲɐ’i]
Nesta altura, embora o traço [+contínuo] já esteja presente no sistema
fonológico de R.R., veja-se o exemplo de produções com fricativas labiais como [f]
em produções como [kɐ’fɛ], o mesmo não assume uma coocorrência com os traços
[coronal] não permitindo um valor de ocorrência alto para o contraste Oclusivas Vs
Fricativas, ocorrendo produções como [kɐ’paku] <sapato>. O valor de 78%
relacionado com este contraste, que dá um estatuto de adquirido, acontece por
limitação do instrumento utilizado para a recolha de dados; uma amostra de discurso
espontâneo ou um maior número de palavras com o segmento alvo iriam
demonstrar, provavelmente, que este contraste ainda não está adquirido no sistema
de R.R).
Para a emergência do contraste Fricativa coronal anterior x não anterior, não
adquirido na terceira etapa, é necessária a combinação de vários traços,
nomeadamente o traço [+contínuo], que, de acordo com o descrito anteriormente,
parece trazer problemas ao sistema fonológico de R.R., bem como com os traços
não marcados [coronal] e [+anterior] e o traço marcado [-anterior]. R.R. demonstra
dificuldades com a coocorrência destes traços fazendo produções dorsais tais como:
[kɐ’paku] ou [‘pɐjkɨ].
O rótico /ʀ/ surge nesta altura como oclusiva dorsal, mostrando a falta da
coocorrência do traço [+contínuo], necessária para a emergência do contraste
Oclusiva x fricativa dorsal, surgindo produções como [‘gaku] <rato>.
Os contrastes referentes à quarta etapa encontram-se maioritariamente
instáveis, especialmente pela instabilidade de combinação de traços como [+
contínuo, + aproximante], observando-se ausência de segmentos como /ʎ/ e
omissões com /r/ e /ɾ/.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
128
• Atraso ou desvio
De acordo com referido na literatura (Lazzarotto-Volcão, 2009), uma criança
com atraso fonológico mostra um desfasamento entre as suas etapas de
desenvolvimento e as esperadas para a sua idade, embora apresente um perfil em
que são cumpridos os princípios fonológicos. Por outro lado, uma criança com um
desvio fonológica, para além de um desfasamento cronológico apresenta um
sistema caracterizado pelo não cumprimento dos princípios fonológicos.
Tendo em conta os dados observados no quadro 57, verifica-se que o sujeito 1
apresenta um desvio fonológico, que, de acordo com Lazzarotto-Volcão (2009),
corresponde a um perfil de crianças com alterações que implicam o não
cumprimento dos princípios fonológicos. Assim, R.R. apresenta poucos contrastes,
manifestado pela redução do inventário fonológico segmental, para o número de
traços disponíveis no sistema. Como exemplo, observa-se, no sistema fonológico de
R.R., o traço [+contínuo] em combinação com os traços [labial] [+vozeado],
emergindo o segmento /v/, mas não se observa a sua combinação com os traços
[coronal] [+anterior], tendo como consequência a ausência do segmento /z/, que é
realizado como [g].
R.R. apresenta um número superior de segmentos marcados e ausência de
traços não marcados. Encontramos assim o traço [+aproximante], manifestado em
produções de consoantes líquidas, encontrando-se ausente a combinação dos
traços não marcados [coronal] e [+anterior], com falta das consoantes oclusivas /d/ e
/t/.
Observa-se ainda que R.R. apresenta contrastes de etapas mais tardias,
encontrando-se por completar a aquisição de etapas mais precoces.
Assim, considera-se que R.R. apresenta uma perturbação fonológica
correspondente a um desvio e não a um atraso.
• Gravidade
De acordo com a escala de gravidade proposta por Lazzarotto-Volcão
(2009), descrita no capítulo 3 e representada no quadro 57, considera-se que o
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
129
sujeito 1 apresenta uma perturbação fonológica severa, já que, no sistema
fonológico, encontramos a ausência de contrastes das terceiras e quartas etapas, a
presença de 3 contrastes da segunda etapa e a presença de cinco contrastes da
primeira etapa. Considerou-se este grau de gravidade já que a autora refere que,
num sistema fonológico alterado de forma severa, se observa a ausência de
contrastes da terceira e quarta etapas, observado no sistema de R.R., a presença
de, no máximo, dois contrastes da segunda etapa (no caso de R.R. observamos
três) e a presença de, no máximo, seis contrastes da primeira etapa. Um grau
moderado/severo não foi considerado pois era necessária a presença de todos os
contrastes da primeira etapa, o que não é observado. Os critérios que permitem
apurar o grau de severidade do sistema fonológico de R.R. encontram-se no quadro
58. Esperado Grau Severo R.R.
1ª etapa 7 contrastes
Presença de
cinco
contrastes
Presença de
seis contrastes
2ª etapa 5 contrastes Presença de
três contrastes
Presença de
três contrastes
3ª etapa 4 contrastes Pelo menos
ausência de um
Presença de
dois contrastes
4ª etapa 4 contrastes Pelo menos
ausência de um Ausência de 3
Quadro 57 -Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - severo
• Representação do sistema do sujeito 1 - PAC-PE
A presença, ausência ou instabilidade dos contrastes fonológicos do sujeito 1
descritos em função do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes, encontra-se
representado na figura 24. Esta representação é feita através de retângulos com
diferentes cores correspondentes às diferentes etapas de aquisição (sistema
representacional descrito em no capítulo 3): a primeira etapa corresponde à cor
vermelha, a segunda etapa é representada pela cor azul, a terceira pela cor amarela
e a quarta etapa surge no esquema com a cor verde. Os retângulos totalmente
preenchidos com cor são utilizados para representar os contrastes adquiridos, os
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
130
retângulos com riscas correspondem aos contrastes instáveis e os retângulos sem
fundo retratam os contrastes não adquiridos.
Figura 24 -Representação do primeiro momento de avaliação do sujeito 1 no modelo PAC-PE
2ª AVALIAÇÃO
Assim, após intervenção terapêutica, descrita no capítulo 2, através da
estimulação dos segmentos /ʒ/; /ʀ/ e /d/, verificamos que R.R. apresenta um sistema
fonológico com presença de todos os contrastes fonológicos, embora se verifique
ainda a instabilidade de contrastes relativos à segunda e terceira etapa (ver quadro
58):
• Nasal coronal anterior x coronal não anterior, uma vez que ainda se
observam produções mais anteriores das nasais coronais menos
anteriores;
• Fricativa coronal anterior x coronal não anterior, uma vez que as
fricativas coronais não anteriores são produzidas como anteriores.
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
131
Etapa
Traços
Marcados
Adquiridos
Coocorrências de
traços Contraste
Acerto
do
contraste
Estado
1ª
etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+ vozeado]
[+consonântico; +
Soante]
[-soante; labial]
[-soante; dorsal]
[+soante; labial]
[-soante; coronal; +
vozeado]
[-soante; labial; +
vozeado]
Soante x Obstruinte 100 %
Adquirido
Oclusiva coronal x labial 100 % Adquirido
Oclusiva coronal x dorsal 96% Adquirido
Oclusiva labial x dorsal 100%
Adquirido
Nasal labial x coronal 100% Adquirido
Oclusiva coronal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusiva labial surda x sonora 100% Adquirido
2ª
etapa
[+ contínuo]
[- anterior]
[+soante; coronal; -
anterior]
[-soante, dorsal, +
vozeado]
[-soante, + contínuo]
[+contínuo; labial,; +
vozeado]
[+contínuio; labial]
Nasal coronal anterior x
coronal não anterior 67% Instável
Oclusiva dorsal surda x sonora 100% Adquirido
Oclusivas x fricativas 100% Adquirido
Fricativa labial surda x sonora 84,61% Adquirido
Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido
3ª
etapa
[+aproximante]
[-soante; + contínuo;
coronal -anterior]
Fricativa coronal anterior x
não anterior 60% Instável
[-soante; + contínuo;
coronal; +vozeado ]
Fricativa coronal não anterior
surda x sonora 100% Adquirido
[-soante; + contínuo;
dorsal ] Oclusivas x fricativa dorsal 100% Adquirido
[+soante; +
aproximante] Nasais x líquidas 100% Adquirido
4ª
etapa
[+aproximante; +
contínuo, dorsal] Líquida lateral x não lateral 87,15% Adquirido
[+aproximante; +
contínuo, coronal]
Líquida não lateral dorsal x
coronal 100% Adquirido
[-soante; + contínuo,
coronal; + anterior; +
vozeado]
Fricativa coronal anterior
sonora x não anterior sonora 100% Adquirido
[+ aproximante: -
contínuo; coronal; -
anterior ]
Líquida lateral anterior x não
anterior 100% Adquirido
Quadro 58 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 1, no momento da segunda avaliação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
132
De acordo com o observado, após o intervenção terapêutica, foi possível
promover a combinação dos traços não marcados [coronal], [+anterior] bem como do
traço [+contínuo], que permitiu a aquisição de vários contrastes anteriormente
ausentes. Manifestam-se ainda dificuldades relacionadas com a combinação
[coronal] [-anterior] na classe das nasais, das fricativas e das líquidas.
• Atraso ou desvio
O perfil de R.R. continua a mostrar-se desviante por não cumprir os princípios
fonológicos, uma vez que apresenta ainda um sistema fonológico com presença de
contrastes de etapas anteriores, tendo concluído a aquisição dos contrastes da
última etapa.
• Gravidade
Com as aquisições realizadas observa-se uma mudança no grau de severidade
da Perturbação Fonológica, que passa de severa a leve já que, de acordo com o
descrito na literatura (Lazzarotto-Volcão, 2009), numa perturbação fonológica leve
encontramos presença de todos os contrastes das duas primeiras etapas; presença
de, no mínimo, dois contrastes da terceira etapa; presença de, no mínimo, dois
contrastes da quarta etapa, o que acontece com R.R. (ver quadro 59).
Esperado Grau Leve R.R.
1ª etapa 7 contrastes Presença de sete
contrastes
Presença de sete
contrastes
2ª etapa 5 contrastes Presença de cinco
contrastes
Presença de cinco
contrastes
3ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois
contrastes
Presença de três
contrastes
4ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois
contrastes
Presença de quatro
contrastes
Quadro 59 -Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - leve
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
133
• Representação do sistema do sujeito 1 - PAC-PE
O progresso do sistema de contrastes do sujeito 1 pode ser visualizado na
figura 25, manifestado pelo preenchimento de um maior número de retângulos, quer
as que correspondem à primeira, segunda, terceira ou quarta etapas.
Figura 25 -Representação do segundo momento de avaliação do sujeito 1, de acordo com o modelo
PAC-PE
3ª AVALIAÇÃO
Após intervenção através da estimulação dos segmentos /ʒ/, do segundo
para o terceiro momento de avaliação, tal como descrito no capítulo 6 secção
6.4.4.2, verificamos que R.R. apresenta um sistema fonológico com presença de
todos os contrastes fonológicos, tal como registado na tabela 60.
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
134
Etapa
Traços
Marcados
Adquiridos
Coocorrências de
traços Contraste
Acerto
do
contraste
Estado
1ª
etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+ vozeado]
[+consonântico; +
Soante]
[-soante; labial]
[-soante; dorsal]
[+soante; labial]
[-soante; coronal; +
vozeado]
[-soante; labial; +
vozeado]
Soante x Obstruinte 100 %
Adquirido
Oclusiva coronal x labial 100 % Adquirido
Oclusiva coronal x dorsal 96% Adquirido
Oclusiva labial x dorsal 100%
Adquirido
Nasal labial x coronal 100% Adquirido
Oclusiva coronal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusiva labial surda x sonora 100% Adquirido
2ª
etapa
[+ contínuo]
[- anterior]
[+soante; coronal; -
anterior]
[-soante, dorsal, +
vozeado]
[-soante, + contínuo]
[+contínuo; labial,; +
vozeado]
[+contínuio; labial]
Nasal coronal anterior x coronal
não anterior 100% Adquirido
Oclusiva dorsal surda x sonora 100% Adquirido
Oclusivas x fricativas 100% Adquirido
Fricativa labial surda x sonora 100% Adquirido
Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido
3ª
etapa
[+aproximante]
[-soante; + contínuo;
coronal -anterior]
Fricativa coronal anterior x não
anterior 100% Adquirido
[-soante; + contínuo;
coronal; +vozeado ]
Fricativa coronal não anterior
surda x sonora 100% Adquirido
[-soante; + contínuo;
dorsal ] Oclusivas x fricativa dorsal 100% Adquirido
[+soante; +
aproximante] Nasais x líquidas 100% Adquirido
4ª
etapa
[+aproximante; +
contínuo, dorsal] Líquida lateral x não lateral 87% Adquirido
[+aproximante; +
contínuo, coronal]
Líquida não lateral dorsal x
coronal 100% Adquirido
[-soante; + contínuo,
coronal; + anterior; +
vozeado]45
Fricativa coronal anterior
sonora x não anterior sonora 100% Adquirido
[+ aproximante: -
contínuo; coronal; -
anterior ]
Líquida lateral anterior x não
anterior 100% Adquirido
Quadro 60 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 1, no momento da terceira avaliação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
135
Os contrastes nasal coronal anterior x coronal não anterior e Fricativa
coronal anterior x não anterior surgem, neste momento de avaliação, como
adquiridos, após estimulação um segmento com a combinação de traços [coronal]
[anterior] que contém traços marcados como [+voz], correspondente a uma
combinação da quarta etapa. Apesar da aquisição destes contrastes e da presença
dos traços [+lat] e coronal [-ant] o segmento /ʎ/ ainda não se encontra presente no
inventário fonológico de L.R. no momento da Terceira avaliação, do capítulo 3 (esta
constitui uma limitação da análise através de PAC-PE, pois o erro realizado por R.R.
não é registado nos contrastes alterados por não corresponder a nenhum dos
estabelecidos)
Estas aquisições traduzem-se numa evolução relativamente ao diagnóstico,
tendo sido reorganizado por completo o sistema fonológico do sujeito 1.
Desta forma, parece que existe possibilidade de alguma generalização de
traços ao sistema, quando se selecionam estímulos alvo que possibilitam
coocorrências de traços, especialmente os responsáveis pelos contrastes mais
robustos, embora, desde o primeiro momento de avaliação até ao final da
reorganização do sistema fonológico se verifiquem dificuldades com o principio da
economia de traços.
• Representação do sistema do sujeito 1 - PAC-PE
Figura 26 -Representação do terceiro momento de avaliação do sujeito 1, de acordo com o PAC-PE.
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
136
Desta forma, a presente secção os dados de produção obtidos para o sujeito
1 foram apresentados à luz do modelo PAC-PE em função dos momentos dos três
momentos de avaliação.
7.2.Sujeito2
7.2.1.DadosdeAnamese
O sujeito 2 (L.R.) é uma criança do sexo masculino, nascido a 14 de Março
de 2011, com perturbação fonológica, residente em Lisboa, que frequentava o pré-
escolar da Escola Alemã na data da primeira avaliação e escola pública nos
restantes momentos de avaliação. Não se verificam quaisquer alterações de
desenvolvimento ou situações clínicas relevantes para a aquisição fonético-
fonológica, nunca tendo frequentado Terapia da Fala, anteriormente. As recolhas de
produção foram realizadas entre os 4 anos e 5 meses e os 5 anos e 6 meses de
idade, de acordo com o quadro 62.
Primeira Avaliação Segunda Avaliação Terceira Avaliação
Idade do sujeito 2 4;05 anos 4;08 anos 5;06 anos
Quadro 61 -Idade (em anos meses) no momento das avaliações – Sujeito 2
7.2.2.Análisefonética
Nos quadro 62, 63 e 64 estão registados os inventários fonéticos das
consoantes de L.R., nos três momentos de avaliação, de acordo com a metodologia
de Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), descrita anteriormente. O
inventário fonético pretende demonstrar a capacidade de articulação dos diferentes
fones do Português Europeu do sujeito 2, ao longo do período de observação. Tal
como referido na metodologia, a presença dos diferentes fones foi considerada
independentemente da sua relação com a representação fonológica e do número de
ocorrências. Assim, uma ocorrência será o suficiente para registar um fone como
integrando o inventário fonético da criança.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
137
• Inventário fonético - Primeira avaliação
O quadro 62, apresenta todos os fones produzidos pelo sujeito 2, no
momento da primeira avaliação.
Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular
Oclusivas
Orais
[p] [b] [t] [d] - -
Fricativas - - - - [ʃ] -
Oclusivas
Nasais
[m] [n] -
Laterais - -
Vibrantes - -
Quadro 62 -Inventário fonético de L.R. no momento da primeira avaliação, aos 4 anos e 5 meses de idade.
A análise deste quadro permite verificar um sistema fonético muito limitado,
com a ausência das oclusivas [k] e [g], de todas as fricativas [f], [v], [s], [z] e [ʒ], da
nasal [ɲ], das laterais [l] e [ʎ] e das vibrantes [ɾ] e [ʀ]. Das 19 consoantes do
Português, o sujeito 2 demonstra capacidade para produzir apenas 7.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
138
• Inventário Fonético - Segunda avaliação
A capacidade articulatória do sujeito 2, no momento da segunda avaliação,
está registada no quadro 63.
Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular
Oclusivas
Orais
[p] [b] [t] [d] [k] [g]
Fricativas [f] [v] - - [ʃ] [ʒ]
Oclusivas
Nasais
[m] [n] [ɲ]
Laterais [l] -
Vibrantes - [ʀ]
Quadro 63 -Inventário fonético de L.R. no momento da segunda avaliação, aos 4 anos e 8 meses
O quadro 63 mostra a aquisição de novos sons no inventário fonético de
L.R.: as oclusivas velares [k] e [g], as fricativas [f], [v], e [ʒ], a lateral [l], a nasal [ɲ]
e a vibrante [ʀ].
L.R. demonstra, neste momento de avaliação, capacidade para a produção
de 15 consoantes, encontrando-se ainda ausentes do seu sistema fonético as
consoantes correspondentes às fricativas [s] e [z], à lateral palatal [ʎ] e à vibrante
alveolar [ɾ].
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
139
• Inventário fonético - terceira avaliação
No quadro 64 está registado o inventário fonético do sujeito 2, no momento
da terceira avaliação.
Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular
Oclusivas
Orais
[p] [b] [t] [d] [k] [g]
Fricativas [f] [v] - - [ʃ] [ʒ]
Oclusivas
Nasais
[m] [n] [ɲ]
Laterais [l] [ʎ]
Vibrantes - [ʀ]
Quadro 64 -Inventário fonético de L.R. no momento da terceira avaliação, aos 5 anos e 6 meses de idade
Observando o quadro 64, verifica-se a presença de um novo som no
inventário fonético de L.R., a lateral [ʎ]. A ausência de [s], [z] e [ɾ] mantêm-se.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
140
No quadro que se segue, encontram-se registados exemplos de produções
do sujeito L.R. nos três momentos de avaliação.
Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação
Oclusivas
Orais
<porco> [‘poɾku]
<bola> [‘bɔlɐ]
<café> [kɐ’fɛ]
<garfo> [‘gaɾfu]
<sapato> [sɐ’patu]
<dedo> [‘dedu]
[‘potu]
[‘bɔwɐ]
[tɐ’pɛ]
[‘dapu]
[tɐ’patu]
[‘dedu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[‘gafu]
[ʃɐ’patu]
[‘dedu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[‘gafu]
[ʃɐ’patu]
[‘dedu]
Fricativas
<vidro> [‘vidɾu]
<formiga> [fuɾ’migɐ]
<caixa> [‘kajʃɐ]
<jipe> [‘ʒipɨ]
<mesa> [‘mezɐ]
<vassoura> [va’soɾɐ]
[‘bidu]
[pu’migɐ]
[‘tajʃɐ]
[‘dipɨ]
[‘medɐ]
[bɐ’toɐ]
[‘vidu]
[fu’migɐ]
[‘kajʃɐ]
[‘ʒipɨ]
[‘meʒɐ]
[vɐ’ʃoɐ]
[‘vidu]
[fu’migɐ]
[‘kajʃɐ]
[‘ʒipɨ]
[‘meʒɐ]
[vɐ’ʃoɐ]
Oclusivas
Nasais
<cama> [‘kɐmɐ]
<unha> [‘uɲɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘kɐmɐ]
[‘ujɐ]
[nɐ’i]
[‘kɐmɐ]
[‘uɲɐ]
[nɐ’iʃ]
[‘kɐmɐ]
[‘uɲɐ]
[nɐ’iʃ]
Laterais
<palhaço> [pɐ’ʎasu]
<cabelo> [kɐ’belu]
<sol> [‘sɔɫ]
[pɐ’jatu] [kɐ’beu]
[‘sɔw]
[pɐ’jaʃu] [kɐ’belu]
[‘sɔɫ]
[pɐ’ʎaʃu]
[kɐ’belu]
[‘sɔɫ]
Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]
<rato> [‘ʀatu]
[‘peɐ]
[‘datu]
[‘peɐ]
[‘ʀatu]
[‘peɐ]
[‘ʀatu]
Quadro 65 -Exemplos de palavras para os diferentes segmentos fonéticos em função do momento da avaliação, de L.R.
Observando as produções do sujeito 2, e como referido anteriormente,
verifica-se que, no momento da primeira avaliação, existem muitos fones que nunca
são produzidos, como é o caso das oclusivas [k] e [g], das fricativas [f], [v], [s], [z] e
[ʒ], das líquidas [l], [ɫ] e [ʎ] e das vibrante [ɾ] e [ʀ], não fazendo estes sons parte do
seu inventário fonético. Outros fones são observados em produções da criança
como, [p], [b], [t], [d] e [ʃ] e as nasais [m] e [n]. Conforme se pode observar no
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
141
quadro 65, neste momento de avaliação, o sujeito 2 realiza produções como [‘deba]
para <zebra> ou [‘dapu] para <garfo>, [tɐ’pɛ] para café, [‘ujɐ] para <unha>, [nɐ’i]
para nariz ou [‘datu] para <rato>.
Na segunda avaliação, observando os exemplos das palavras produzidas
pela criança (quadro 65), verificam-se, por um lado, a capacidade de produção de
novos fones no sistema fonético: [k] e [f] na palavra [kɐ’fɛ] <café>, [g] em produções
como [‘gafu] para <garfo>, [v] em exemplos como [‘ʃavɨ] , [ʒ] em [ʒɐ’nɛlɐ] para
<janela>, [ɲ] em produções como [‘uɲɐ] <unha> e [ʀ] na palavra [‘ʀatu] <rato>. Nas
produções de L.R. observamos ainda a produção de [ɫ] em palavras como [‘sɔɫ]
<sol>. Por outro lado, verifica-se ainda a ausência dos sons [z], [s], [ʎ] e [ɾ]. Desta
forma, observam-se produções como [‘meʒɐ] para <meza>, [pɐ’jaʃu] para <palhaço>
ou [‘poku] para <porco>.
Em produções como [pɐ’ʎaʃu] para <palhaço>, no momento da terceira
avaliação, é possível observar a produção do segmento [ʎ], anteriormente ausente.
Observa-se ainda a ausência das fricativas [z], [s] e da vibrante [ɾ] com produções
como [‘meʒɐ] para <meza> ou [‘peɐ] para <pêra>.
7.2.3.AnáliseFonológica
7.2.3.1. Descrição dos segmentos em função das variáveis
prosódicasconstituintesilábicoeposiçãonapalavra
De acordo com os critérios descritos anteriormente e propostos por Yavas,
Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), estão registados no quadro 66 os
segmentos não adquiridos (a vermelho), em aquisição (a verde) e adquiridos (a
preto). Os valores surgem em percentagem de ocorrência em ataque simples, coda
e ataque ramificado, em função da posição na palavra (inicial, medial ou final).
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
142
7.2.3.1.Ocorrênciadossegmentosemataquesimples
No quadro 66, e de acordo com a escala anteriormente descrita neste
capítulo, encontramos o registo dos valores de ocorrência das consoantes que
podem ocupar o constituinte silábico ataque simples. Os valores surgem nas duas
posições prosódicas em que o mesmo pode surgir, posições inicial e medial de
palavra.
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação
A I A M Total A I A M Total A I A M Total
/p/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/b/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ t / 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/d/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/k/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/g/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/f / 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/v/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/s/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/z/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ʃ/ 0% 50% 25% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ʒ/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 50% 0% 33%
/m/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/n/ 100% 67% 75% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ɲ/ --- 0% 0% --- 100% 100% 100% 100% 100%
/ l / 0% 0% 0% 100% 67% 78% 100% 100% 100%
/ʎ/ --- 0% 0% --- 0% 0% 100% 100% 100%
/ɾ/ --- 0% 0% -- 0% 0% --- 0 % 0%
/ʀ/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Quadro 66 -Segmentos fonológicos em ataque simples e em ataque medial para L.R., nos três momentos de avaliação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
143
Como se pode observar no quadro 66, no primeiro momento de avaliação de
L.R., são vários os segmentos que não são produzidos de acordo com o esperado
na língua alvo, ou cuja produção se encontra abaixo dos 50%, sendo considerados,
por esse motivo, ausentes do sistema fonológico: as oclusivas /k/ e /g/, todas as
fricativas /f/, /v/, /s/, /z/, /ʃ/ e /ʒ/ a nasal /ɲ/, as laterais /l/ e /ʎ/ e as vibrantes /ɾ/ e /ʀ/.
Embora os valores de ocorrência quando um segmento está ausente sejam muito
consistentes no sistema fonológico do sujeito , verifica-se que o segmento /n/ está
em aquisição, como acontece na produção de [dɐ’ɛnɐ] para <janela>, em que o
segmento /n/ não ocorre na posição esperada.
Na segunda avaliação, verifica-se uma grande diferença no sistema
fonológico do sujeito 2, com presença de diversos segmentos anteriormente
ausentes: as oclusivas /k/ e /g/, todas as fricativas /f/, /v/, /ʃ/, /ʒ/, a lateral /l/, a nasal
/ɲ/ e a vibrante /ʀ/. A nasal /n/ surge já estabilizada, não se observando trocas como
as descritas na primeira avaliação. Permanecem ainda ausentes as fricativas /s/ e
/z/, a lateral /ʎ/ e a vibrante /ɾ/ .
No terceiro momento de avaliação, a aquisição do segmento /ʎ/ pode ser
observada. No entanto, verifica-se a ausência de um segmento já presente na
segunda avaliação, a fricativa /ʒ/, embora, como se poderá constatar posteriormente,
na descrição dos padrões de erro, o processo envolvido na produção deste
segmento não seja o mesmo que o verificado na primeira avaliação (a criança faz
produções como [ʃɐ’nɛlɐ] para <janela>). Ausentes do seu sistema fonológico
mantêm-se ainda os segmentos /s/, /z/ e /ɾ/ .
No quadro que se segue, encontramos registados exemplos das produções
do sujeito 2, ao longo dos três momentos de avaliação. A consoante que está a ser
analisada encontra-se registada a negrito. Com a cor preto e cinzento encontram-se
as palavras que contém os segmentos cujas produções correspondem ao esperado
na língua, ou seja, segmentos presentes no sistema fonológico da criança; a verde,
as produções que não correspondem ao esperado para mas cujos segmentos estão
em aquisição no sistema da criança; por fim, a vermelho, encontramos exemplos de
produções que não correspondem ao alvo, encontrando-se esses segmentos
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
144
ausentes ou em aquisição no sistema fonológico do sujeito.
Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação
Oclusivas
Orais
<porco> [‘poɾku]
<bola> [‘bɔlɐ]
<café> [kɐ’fɛ]
<garfo> [‘gaɾfu]
<sapato> [sɐ’patu]
<dedo> [‘dedu]
[‘potu]
[‘bɔwɐ]
[tɐ’pɛ]
[‘dapu]
[tɐ’patu]
[‘dedu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[‘gafu]
[ʃɐ’patu]
[‘dedu]
[‘poku]
[‘bɔlɐ]
[kɐ’fɛ]
[‘gafu]
[ʃɐ’patu]
[‘dedu]
Fricativas
<chave> [‘ʃavɨ]
<vidro> [‘vidɾu]
<formiga> [fuɾ’migɐ]
<peixe> [‘pɐjʃɨ]
<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]
<mesa> [‘mezɐ]
<vassoura> [va’soɾɐ]
[‘tap ɨ]
[‘bidu]
[pu’migɐ]
[‘pɐjt ɨ]
[dɐ’ɛnɐ]
[‘medɐ]
[ba’toɐ]
[‘ʃavɨ]
[‘vidu]
[fu’migɐ]
[‘pɐjʃɨ]
[ʒɐ’nɛlɐ]
[‘meʒɐ]
[va’ʃoɐ]
[‘ʃavɨ]
[‘vidu]
[fu’migɐ]
[‘pɐjʃɨ]
[ʃɐ’nɛlɐ]
[‘meʒɐ]
[va’ʃoɐ]
Oclusivas
Nasais
<cama> [‘kɐmɐ]
<unha> [‘uɲɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘kɐmɐ]
[‘ujɐ]
[nɐ’i]
[‘kɐmɐ]
[‘uɲɐ]
[nɐ’iʃ]
[‘kɐmɐ]
[‘uɲɐ]
[nɐ’iʃ]
Laterais <palhaço> [pɐ’ʎasu]
<cabelo> [kɐ’belu]
[pɐ’jatu] [kɐ’beu] [pɐ’jaʃu] [kɐ’belu] [pɐ’ʎaʃu]
[kɐ’belu]
Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]
<rato> [‘ʀatu]
[‘peɐ]
[‘datu]
[‘peɐ]
[‘ʀatu]
[‘peɐ]
[‘ʀatu]
Quadro 67 -Exemplos de palavras para os diferentes segmentos fonológicos em função do momento da avaliação de L.R.
Observando as produções de L.R., e com referido anteriormente, verifica-se
no primeiro momento de avaliação, a ausência das oclusivas /k/ e /g/, das fricativas
/f/, /v/, /s/, /z/, /ʃ/, /ʒ/, da nasal /ɲ/, da lateral /ʎ/ e das vibrante /ʀ/ e /ɾ/, surgindo desta
forma produções como [‘tap ɨ] para <chave>, [‘dapu] para <garfo>, [‘datu] para
<rato>, entre outras.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
145
7.2.3.1.2.Ocorrênciadossegmentosemcoda
No quadro 68, estão registados os segmentos não adquiridos (a vermelho),
em aquisição (a verde) e adquiridos (a preto), considerando os critérios
mencionados anteriormente, para os segmentos que surgem em coda medial (Cd M)
e em coda final (Cd F).
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação
Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total
/s/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ɫ/ 0% 0% 0% 0% 100% 29% 100% 100% 100%
/ɾ/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Quadro 68 - Segmentos fonológicos em coda medial e em coda final para L.R., nos diferentes momentos de avaliação
Como se pode reparar no quadro 68, no primeiro momento de avaliação,
todos os segmentos que deveriam ocupar a posição de coda medial ou coda final se
encontram ausentes.
Na segunda avaliação, a criança já produz a coda fricativa /s/ (realizada
foneticamente como [ʃ]) bem como a lateral /l/ posição final de sílaba. A produção da
vibrante, neste constituinte silábico contínua ausente.
Na terceira e última avaliação, a lateral /l/ surge já em qualquer posição da
palavra, encontrando-se ainda a vibrante /ɾ/ neste constituinte silábico,
independentemente da posição na palavra.
No quadro 69, encontramos exemplos de palavras que ilustram a capacidade
fonológica do sujeito 2 relativamente aos segmentos que ocupam a posição de coda
final ou de coda medial em função dos momentos da avaliação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
146
Alvo 1º avaliação 2º avaliação 3ºavaliação
Fricativas CM
CF <pasta> [‘paʃtɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘patɐ] [n@i] [‘paʃtɐ]
[nɐ’iʃ]
[‘paʃtɐ] [nɐ’ɾiʃ]
Laterais CM
CF <alto> [aɫtu]
<hospital> [ɔʃpi’taɫ]
[‘awtu]
[ɔpi’ka]
[awtu]
[ɔʃpi’taɫ]
[aɫtu] [ɔʃpi’taɫ]
Vibrantes CM
CF <garfo> [‘gaɾfu] [‘dapu] [‘gafu] [‘gafu]
<brincar> [bĩ’kaɾ] [bĩ’ta] [bĩ’tal] [bĩ’tal]
Quadro 69 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de L.R. em coda medial e em coda final
Os exemplos constantes no quadro 69 refletem os resultados descritos
anteriormente, relativos aos segmentos que podem ocupar o constituinte coda, no
primeiro momento de avaliação. Produções como [‘patɐ] <pasta>, [‘awtu] <alto> ou
[‘dapu] <garfo>, mostram inexistência de fricativas, laterias ou vibrantes em coda. É
importante referir que a posição de coda para as laterais está ser preenchido por
uma semivogal, podendo ser esta uma primeira manifestação do desenvolvimento
da estrutura silábica.
No segundo momento de avaliação em produções como [‘paʃtɐ] <pasta>,
verificamos a aquisição do segmento /ʃ/ neste constituinte silábico. Produções como
[ɔʃpi’taɫ] para <hospital> e [‘awtu] <alto> mostram a aquisição do segmento /l/ mas
apenas em coda final, realizado como [ɫ], continuando a não ser produzido no
interior da palavra (em coda medial).
No último momento de avaliação, palavras como [aɫmu’fadɐ] <almofada> são
produzidas de acordo com o esperado para o sistema adulto, verificando-se a
completa aquisição do segmento /l/ em coda medial. É importante referir que a
lateral alveolar já ocorria em ataque inicial, ataque medial e em coda final no
momento da segunda avaliação, mostrando que a emergência dos segmentos se
relaciona com a estrutura silábica. Ausente do sistema fonológico de L.R. mantém-
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
147
se a vibrante /ɾ/, tanto em coda medial como em coda final, ocorrendo ainda
produções como [‘poku] para <porco>.
7.2.3.1.3.Ocorrênciadossegmentosemataqueramificado
No quadro 71, são consideradas as produções no constituinte silábico ataque
ramificado. Os valores de ocorrência obedecem aos mesmos critérios descritos em
(1) neste capítulo e considerados para os restantes constituintes, sendo registados
como não adquiridos (a vermelho), em aquisição (a verde) e adquiridos (a preto). Os
resultados são apresentados em função dos três momentos de avaliação bem como
da posição na palavra em que o constituinte pode surgir: ataque ramificado inicial e
ataque ramificado medial.
Quadro 70 -Ocorrência dos ataques ramificados nos diferentes momentos de avaliação, para L.R.
Observa-se a ausência completa deste constituinte silábico nos dois
primeiros momentos de avaliação, verificando-se produções do mesmo no terceiro
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação
Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total
/bɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/pɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 0% 0%
/fɾ / 0% - 0% 0% - 0% 0% - 0%
/gɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/dɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/vɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 0% 0%
/cɾ / 0% - 0% 0% - 0% 0% - 0%
/pl/ 0% - 0% 0% - 0% 0% - 0%
/f l / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%
/kl/ - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
148
momento de avaliação quando o constituinte é preenchido pela líquida lateral.
No quadro 71, estão registadas produções de palavras que ilustram a
capacidade fonológica de L.R. relativamente aos segmentos que ocupam a posição
de ataque ramificado.
Quadro 71 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de L.R. em ataque ramificado nos três momentos de avaliação
Tal como se pode verificar em exemplos como [te] <três> ou [pu’o] <flor>,
tanto no momento da primeira avaliação, como depois na segunda avaliação, o
sujeito 2 não faz qualquer produção de ataques ramificados. Este constituinte surge
com produções de acordo com esperado, apenas no terceiro momento de avaliação
mas apenas para os ataques ramificados preenchidos por segmentos laterais. É
importante referir que em ataque simples, no terceiro momento de avaliação, a
vibrante alveolar ainda se encontra ausente, o que poderá explicar a razão pela qual
este constituinte silábico tenha surgido preenchido por laterais mas não por
vibrantes.
Alvo 1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação
/bɾ/ <brincar> [bɾĩ’kaɾ] [bĩ’ta] [bĩ’kal] [bĩ’kal]
/tɾ/ <três> [‘tɾeʃ] [te] [‘teʃ] [‘teʃ]
/pɾ/ <soprar> [su’pɾaɾ] [tu’pa] [ʃu’pal] [ʃu’pal]
/fɾ/ <frango> [‘fɾãgu] [‘pãdu] [‘fãgu] [‘fãgu]
/gɾ/ <gravata> [gɾɐ’vatɐ] [gɐ’batɐ] [gɐ’vatɐ] [gɐ’vatɐ]
/dɾ/ <dragão> [dɾɐ’gɐw] [dɐ’dɐw] [dɐ’gɐw] [dɐ’gɐw]
/vɾ/ <livro> [‘livɾu] [‘libu] [‘livu] [‘livu]
/kɾ/ <creme> [‘krɛmɨ] [‘tɛmɨ] [‘kɛmɨ] [‘kɛmɨ]
/kl/ <bicicleta> [bisi’kɫɛtɐ] [biti’ɛtɐ] [biʃikɨ’ɫɛtɐ] [biSkɫɛtɐ]
/fl/ <flor> [‘fɫoɾ] [pu’o] [fɨ’ɫoɾ] [‘fɫo]
/pl/ - - [pɨ’lãtɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
149
7.2.3.2.Descriçãodospadrõesdeerro
No quadro 72, 74 e 76, podemos observar os padrões de erro encontrados
nas produções de L.R. nos três momentos de avaliação. Os dados estão registados
em percentagem e correspondem aos valores de ocorrência do erro no que respeita
às consoantes que surgem nas diferentes posições silábicas e na palavra.
7.2.3.2.1.Descriçãodospadrõesdeerroemataquesimples
No quadro 73 estão registadas as estratégias (padrões de erro) a que o
sujeito 2 recorre, nos diferentes momentos de avaliação.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
150
1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação
Alvo Erro AI AM Total AI A M total AI A M total
/k/ [t] 92% 100% 94% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[p] 8% 0% 6% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/g/ [d] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/v/ [b] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/f / [p] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/s/ [t] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[ʃ] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/z/
[d] 100% 33% 50% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[ʃ] 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 33% 25%
[Ø] 0% 67% 50% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[ʒ] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 67% 75%
/ʃ / [t] 100% 50% 75% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ʒ / [d] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[ʃ] 0% 0% 0% 0% 0% 0% 50% 100% 67%
/n/ [Ø] 0% 33% 25% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ɲ / [ɲ] - 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%
/ l /
[Ø] 67% 67% 67% 0% 33% 22% 0% 0% 0%
[w] 33% 17% 22% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
[ɫ] 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 14% 10%
[n] 0% 17% 11% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ʎ / [j] - 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%
/ɾ / [Ø] - 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/ʀ/ [d] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
Quadro 72 - Ocorrência dos diferentes padrões de erro de L.R. em ataque inicial e em ataque medial, em função do momento de avaliação
O quadro 72 permite verificar que, nas produções de L.R., no momento da
primeira avaliação, relativamente aos segmentos não adquiridos /k/, /g/, /s/, /z/, /ʃ/, /ʒ/
e /ʀ/, a criança recorre, preferencialmente, aos mesmos sons, as oclusivas [t] e [d],
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
151
mantendo as propriedades de vozeamento. Apesar do vozeamento não ser alterado
observa-se que o segmento utilizado nas produções difere dos restantes quanto ao
ponto e no caso da vibrante, difere também quando ao modo. Mantendo
propriedades de vozeamento e de ponto, a criança recorre aos segmentos [p] e [b]
para substituir os segmentos ausentes, [f] e [v], respetivamente. O segmento /ɲ/ e
/ʎ/ são produzidos como semivogais [j]. A lateral /l/ e a vibrante /ɾ/ são
preferencialmente omitidas. Tal como registado no quadro 68, observa-se a omissão
da nasal /n/, no entanto, esta é produzida na sílaba seguinte, no lugar da consoante
/l/.
No segundo momento de avaliação, os padrões de erro diminuem, sendo
possível observar ainda que as fricativas /z/ e /s/ são produzidas como [ʒ] e [ʃ],
respetivamente. Verifica-se ainda a produção da semivogal [j] no lugar da palatal /ʎ/.
De acordo com o registado para o terceiro momento de avaliação, verifica-se
que L.R. mantém algumas das estratégias de erro, nomeadamente a produção de [ʃ]
para a fricativa /s/ e a omissão da vibrante /ɾ/. Observa-se uma mudança na
estratégia utilizada para a produção de /z/, sendo a mesma produzida como [ʒ] ou
[ʃ]. Verifica-se que este último processo, em que ocorre alteração do vozeamento, se
verifica também para a consoante /ʒ/, encontrando-se o segmento novamente
ausente do sistema fonológico.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
152
No quadro que se segue, constam exemplos de palavras em que não existe a
correspondência entre produção da criança e os alvos na língua.
Alvo 1ª Avaliação 2º Avaliação 3ª Avaliação
Oclusivas
Orais
<café> [kɐ’fɛ]
<comer> [kumeɾ]
<garfo> [‘gaɾfu]
[tɐ’pɛ]
[pu’me]
[‘dapu]
Fricativas
<vidro> [‘vidɾu]
<formiga> [fuɾ’migɐ]
<jipe> [‘ʒipɨ]
<peixe> [‘pɐjʃɨ]
<mesa> [‘mezɐ]
<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]
<vassoura> [va’soɾɐ]
[‘bidu]
[pu’midɐ]
[‘dipɨ]
[‘pɐjt ɨ]
[‘medɐ]
[dɐ’ɛnɐ]
[ba’toɐ]
[‘meʒɐ]
[va’ʃoɐ]
[‘meʒɐ]
[ʃɐ’nɛlɐ]
[va’ʃoɐ]
Oclusivas
Nasais
<unha> [‘uɲɐ]
<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]
[uja]
[daEna]
Laterais
<palhaço> [pɐ’ʎasu]
<cabelo> [kɐ’belu]
<lua> [‘luɐ]
<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]
[pɐ’jatu]
[kɐ’bew]
[‘ua]
[dɐ’ɛnɐ]
[pɐ’jaʃu]
Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]
<rato> [‘ʀatu]
[‘peɐ]
[gaku]
[‘peɐ]
[‘peɐ]
Quadro 73- Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferenciais de L.R. para os erros em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado medial, em função dos momentos de avaliação
Os padrões de erro, relativos ao primeiro momento de avaliação e descritos
anteriormente, poderão ser observados em exemplos de produções de palavras (ver
quadro 69) como [‘pɐjt ɨ] para <peixe>, [ba’toɐ] para <vassoura>, em que a oclusiva
[t] é utilizada para produções de /ʃ/ e /s/, sendo alteradas propriedades de modo e
ponto (no último caso). Em palavras como [‘dipɨ] para <jipe> e [‘gatu] para <Rato>,
verifica-se o recurso à oclusiva [d] para /ʒ/ ou /ʀ/, mantendo propriedades de
vozeamento, mas alterando propriedades relacionadas com ponto e modo. Nos
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
153
segmentos ausentes /v/, /f/, mantendo propriedades de ponto e vozeamento, a
criança recorre a produções de [p] e [b], respetivamente. Exemplo disto é a
produção de [tɐ’pɛ] para <café> ou [‘bidu] para <vidro>, em que L.R. produz sons
labiais [p], para /f/, ambos não vozeados, e [b], para /v/, ambos vozeados. Neste
momento de avaliação observam-se ainda produções como [uja] <unha>, [pɐ’jatu]
<palhaço> e [kɐ’bew] <cabelo>, observando-se o recurso a semivogais para a
substituição da consoante nasal palatal e das laterais . A produção [‘peɐ] é um
exemplo da estratégia à qual o sujeito 2 recorre para palavras que contém o
segmento /ɾ/.
No segundo momento de avaliação é possível observar uma redução muito
significativa de erros, já que se observaram aquisições de vários segmentos. No
entanto produções como [‘meʒɐ] <mesa>, [pɐ’jaʃu] <palhaço> e [‘peɐ] <pera> ainda
se observam. Nesta altura é importante referir que, embora as fricativas alveolares
ainda não sejam produzidas de acordo com esperado, a estratégia à qual o sujeito 2
recorre é diferente da utilizada no primeiro momento de avaliação. O recurso a um
segmento da mesma classe que difere quanto ao ponto, revela aquisição de
propriedades importantes para o sistema fonológica, embora ainda não se traduza
num sistema completo e adequado.
No último momento de avaliação, produções como [pɐ’jaʃu] <palhaço> deixam
de acontecer passando a ser produzidas de forma adequada.
7.2.3.2.2.DescriçãodospadrõesdeerroemCoda
No quadro 74, encontram-se registados os padrões de erro encontrados nas
produções de L.R. relativamente às consoantes em coda medial e em coda final, nos
diferentes momentos de avaliação. Os dados estão registados em percentagem e
correspondem aos valores de ocorrência do erro.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
154
1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação
Alvo Erro Cd M Cd F Total Cd M Cd F total Cd M Cd F total
/s/ [Ø] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
/ l / [Ø] 20% 100% 43% 40% 0% 29% 0% 0% 0%
w 80% 0% 57% 60% 0% 43% 0% 0% 0%
/ɾ /
[Ø] 100% 100% 100% 100% 60% 82% 100% 25% 70%
[ɫ] 0% 0% 0% 0% 20% 10% 0% 25% 10%
[ɨ] 0% 0% 0% 0% 20% 10% 0% 25% 10%
Quadro 74 - Ocorrência dos diferentes padrões de erro de L.R. em coda medial e em coda final, nos três momentos de avaliação
No primeiro momento de avaliação, tal como se pode verificar no quadro 74,
a omissão é a estratégia preferencial da criança para os segmentos que ocupam as
codas final e medial, sendo a produção [w] utilizada para a produção de /l/ em coda
medial. No mesmo quadro, verifica-se que a fricativa /s/ deixa de sofrer alterações no
segundo momento da avaliação, persistindo erros de omissão para a vibrante /ɾ/. A
produção de [w] passa a ser sempre utilizada para /l/ e mais frequente em coda
final. No último momento de avaliação, os erros para a lateral /l/ já não são
observados continuando a verificar-se, preferencialmente, omissões para a vibrante
/ɾ/. No entanto, nesta altura, observam-se, para além da omissão, estratégias
diferentes em codas finais, como produções de [ɫ] (25%) e de [ɨ] (33%), que pode
indicar o processamento das consoantes.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
155
No quadro que se segue, encontram-se registadas produções que não
correspondem ao esperado para a língua em coda medial e coda final.
Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação
Fricativas Cd M
Cd F
<pasta> [‘paʃtɐ]
<nariz> [nɐ’ɾiʃ]
[‘patɐ]
[n@i]
Laterais Cd M
Cd F
<alto> [aɫtu]
<calças> [‘kaɫʃɐʃ]
<hospital> [ɔʃpi’taɫ]
[‘awtu]
[‘kawʃɐʃ]
[ɔpi’ka]
[awtu]
[‘kaʃɐʃ]
Vibrantes Cd M
Cd F
<garfo> [‘gaɾfu] [‘dapu] [‘gafu] [‘gafu]
<brincar> [bĩ’kaɾ] [bĩ’ta] [bĩ’tal] [bĩ’tal]
<suprar> [tu’pa] [ʃu’paɨ] [ʃu’paɨ]
Quadro 75 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferenciais do sujeito 2, para os erros em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado medial, em função dos momentos de avaliação
Em coda observa-se, no primeiro momento de avaliação, que para a fricativa
/s/, para a vibrante /ɾ/ e para a lateral /l/ em coda final, o sujeito 2 prefere recorrer a
uma não produção enquanto que, para a lateral, em coda medial, L.R. produz a
semivogal [w]. Assim observam-se produções como [‘patɐ] para <pasta>, [‘dapu]
para garfo, [ɔpi’ka] <hospital> e [‘awtu] para <alto>.
Nos segundo e terceiro momentos de avaliação, observa-se a produção de
um maior número de segmentos em coda, observando-se ainda dificuldades com a
vibrante, que preferencialmente é suprimida como ilustrado em [‘gafu] <garfo>. No
entanto, em posição final de palavra surge, pontualmente, o preenchimento deste
constituinte silábico com a lateral [l] ou a semivogal [ɨ]. No segundo momento de
avaliação, surgem supressões da lateral quando em posição medial de palavra,
como se pode observar em produções como [‘kaʃɐʃ] <calças>.
7.2.3.2.3.DescriçãodospadrõesdeerroemAtaqueramificado
No quadro 76 podemos observar os padrões de erro encontrados nas
produções de L.R. relativamente às consoantes em ataque ramificado inicial e
ataque ramificado medial, nos diferentes momentos de avaliação. Os dados estão
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
156
registados em percentagem e correspondem aos valores de ocorrência de erro.
Quadro 76- Ocorrência dos diferentes padrões de erro de L.R. em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação
A análise do quadro 76 permite verificar que a omissão é a estratégia
preferencial, em todos os momentos de avaliação, para os segmentos pertencentes
à classe das vibrantes em ataque ramificado, tanto inicial com o medial. Quando a
consoante que ocupa o constituinte silábico é a lateral observa-se a mesma
estratégia no primeiro momento de avaliação. Para esta consoante verifica-se a
inserção da vogal entre o segmento que ocupa a primeira posição do ataque
ramificado (C1) e o que ocupa a segunda posição do ataque ramificado (C2) no
segundo momento de avaliação. Esta estratégias vai deixando se ser utilizando,
1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação
erro ARI ARM Total ARI ARM Total ARI ARM Total
/bɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/tɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/pɾ/ Ø - 100% 100% - 100% 100% - 100% 100%
/fɾ/ Ø 100% - 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/gɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/dɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/tɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
/vɾ/ Ø - 100% 100% - 100% 100% - 100% 100%
/cɾ/ Ø 100% - 100% 100% - 100% 100% - 100%
/pl/ Ø - - 100% 0% - 0% 0% - 0%
Inserção de [ɨ] - - 0% 100% - 100% 100% - 100%
/fl/ Ø 100% - 100% 0% - 0% 0% - 0%
Inserção de [ɨ] 0% - 0% 100% - 100% 0% - 0%
/kl/ Ø - 100% 100% - 0% 0% - 0% 0%
Inserção de [ɨ] - 0% 0% - 100% 100% - 0% 0%
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
157
sendo menos frequente na terceira avaliação.
No quadro que se segue podemos observar exemplos de palavras em que
não existe a correspondência entre a produção da criança e os alvos que surgem
em ataque ramificado.
Alvo 1º avaliação 2º avaliação 3ºavaliação
Líquidas
<três> [‘tɾeʃ]
<planta> [‘pɫɐt̃ɐ]
<flor> [fɫoɾ]
[‘keʃ]
-
[puo]
[‘teʃ]
[pɨ’lɐ̃tɐ]
[fɨ’lo]
[‘teʃ]
[‘pɨɫɐt̃ɐ]
[‘flo]
Quadro 77 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferencial de L.R. para os erros em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação
No quadro 77, observa-se que, tal como referido anteriormente, na produção
de ataques ramificados, o sujeito recorre preferencialmente à omissão das líquidas,
no primeiro momento de avaliação, como ilustrado em produções de [‘pɐk̃ɐ] para
<planta>.
Nos segundo e terceiro momentos de avaliação, a omissão continua a ser a
estratégia utilizada por L.R. para a vibrante. No entanto, para a lateral, no segundo
momento de avaliação, L.R. recorre à produção deste constituinte silábico como
ataque simples, adicionando a vogal [ɨ] depois da primeira consoante. No terceiro
momento de avaliação, observa-se adequação, quase completa, no que respeita à
produção de ataques ramificados com segmentos laterais. Verifica-se ainda
ausência deste constituinte silábico para a vibrante.
7.2.3.3.SíntesedecaracterizaçãodosistemafonológicodeL.R
Nesta secção, encontra-se informação relativa ao sistema fonológico de L.R.,
construído com base nos dados anteriormente descritos: a percentagem de acerto
das consoantes e a percentagem dos padrões de erro descritos, de acordo com o
proposto por Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991). A vermelho
estão representados os segmentos ausentes, sendo colocado por baixo do
segmento alvo a estratégia que representa o padrão de erro ao qual a criança
recorre. A cor verde regista os segmentos em aquisição, sendo também colocada
por baixo a ou as estratégias de erro da criança. O sistema fonológico está
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
158
representado por esquemas organizados de acordo a posição do segmento na
sílaba: ataque simples inicial, ataque simples medial, coda medial, coda final, ataque
ramificado inicial e ataque ramificado medial, para os três momentos de avaliação.
7.2.3.3.1Inventáriofonológicodosujeito2–Primeiraavaliação
Nas figuras 27, 28, 28 e 30, estão representados os resultados relativos ao
sistema fonológico de L.R., no momento da primeira avaliação. Como referido
anteriormente, os dados são apresentados em função do constituinte silábico e da
posição na palavra.
A figura 27, representa o inventário fonológico do sujeito relativamente aos
segmentos que ocorrem em ataque inicial, no primeiro momento de avaliação.
Ataque simples inicial
/P/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[t] [p]
/g/
[d]
/f/
[p]
/v/
[b]
/s/
[t]
/z/
[d]
/ʃ/
[t]
/ʒ/
[d]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ l /
[Ø]
/ʀ/
[d]
Figura 27 - Inventário fonológico em ataque inicial de L.R. no momento da primeira avaliação
No esquema da figura 27, observa-se que apenas a classe das nasais se
encontra completa. A classe das fricativas, a das laterais e a das vibrantes
encontram-se completamente ausentes, enquanto, na classe das oclusivas, estão
ausentes dois segmentos (/k/ e /g/). As dificuldades descritas parecem estar
relacionadas com o modo, uma vez que, por um lado, as fricativas e vibrante são
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
159
produzidas como oclusivas, mantendo o mesmo ponto, com excepção das fricativas
palatais que são produzidas com segmentos alveolares. Por outro lado, a lateral é
omitida, existindo capacidade para a produção de segmentos com o mesmo ponto
articulatório.
Observa-se ainda que não existe dificuldade na definição das classes de
vozeadas e não vozeadas, bem como na das classes das consoantes orais e das
consoantes nasais.
O inventário fonológico relativo aos segmentos que ocorrem em ataque
medial encontram-se esquematizados na figura 28.
Ataque simples medial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[t]
/g/
[d]
/f/
[p]
/v/
[b]
/s/
[t]
/z/
[d] [Ø]
/ʃ/
[t]
/ʒ/
[d]
/m/
[m]
/n/
[n] [Ø]
/ɲ/
[j]
/ l /
[Ø] [w] [n]
/ʎ/
[ j]
/ɾ/
[Ø]
/ʀ/
[d]
Figura 28 - Inventário fonológico em ataque medial do sujeito 2 no momento da primeira avaliação
Relativamente à posição de ataque medial, pode-se constatar também um
inventário fonológico muito restrito. Na figura 28 observa-se que, nesta posição da
palavra, a classe das nasais não se encontra completa, ocorrendo a omissão da
consoante alveolar.
A classe das fricativas, a das laterais e a das vibrantes encontram-se
completamente ausentes, enquanto, na classe das oclusivas, estão ausentes dois
segmentos (/k/ e /g/). As dificuldades parecem estar relacionadas com o modo, uma
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
160
vez que, por um lado as fricativas e a vibrante velar são produzidas como oclusivas,
mantendo o mesmo ponto (mesmo as fricativas palatais que partilham o ponto
coronal com os segmentos que as estão a substituir). Por outro lado, as laterais e
vibrantes são omitidas ou é produzida uma semivogal no seu lugar. Como verificado
em posição inicial, observam-se dificuldades com todas as palatais.
Da mesma forma que em posição de ataque inicial, não existe dificuldade na
definição das classes de vozeadas e não vozeadas, bem como não se verificam
dificuldades na definição das classes das consoantes orais e das consoantes
nasais.
A figura 29, representa o inventário fonológico do sujeito 2 no que respeita
aos segmentos que ocupam o constituinte coda, em posição medial ou final de
palavra.
Coda medial Coda Final
/s/
/s/
[Ø]
[Ø]
/ɾ/ / l /
/ɾ/ / l /
[Ø] [Ø] [w]
[Ø] [Ø]
Figura 29 - Inventário fonológico em coda medial e em coda final de L.R., no momento da primeira avaliação
Na figura 29, é possível verificar a ausência total das classes que deveriam
surgir em coda medial e em coda final, sendo as consoantes omitidas. A lateral em
coda medial é, com frequência, produzida como [w].
Relativamente aos segmentos que podem ocupar o ataque ramificado, quer
em posição inicial como em posição medial de palavra, podemos observar na figura
30, uma representação do inventário fonológico do sujeito 2.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
161
Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial
/cɾv/
/cɾv/
[Ø]
[Ø]
/clv/
/clv/
[Ø]
[Ø] Figura 30 - Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado medial de L.R.,
no momento da primeira avaliação
Na figura 30 é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante em
ataque ramificado, em qualquer posição da palavra.
7.2.3.3.2.Inventáriofonológico-Segundaavaliação
O inventário fonológico relativo à segunda avaliação encontra-se registado
nas figuras 31, 32 e 33, de acordo com os critérios anteriormente descritos na
apresentação do inventário fonológico da primeira avaliação. As figuras encontram-
se organizadas em função do constituinte silábico e da sua posição na palavra:
ataque inicial, ataque medial, coda medial e coda final.
Na figura 31, encontra-se representado o inventário fonológico do sujeito 2 no
que respeita aos segmentos que podem surgir em ataque simples inicial.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
162
Ataque simples inicial
/P/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v]
/s/
[ʃ]
/z/
[ʒ]
/ʃ/
[ʃ]
/ʒ/
[ʒ]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ l /
[l]
/ʀ /
[ʀ]
Figura 31 - Inventário fonológico em ataque inicial de L.R., no momento da primeira avaliação
Relativamente ao ataque inicial, no segundo momento de avaliação, observa-
se a aquisição de segmentos que permitiram completar as classes das oclusivas e
das vibrantes. Relativamente ao ponto articulatório, persiste alguma dificuldade com
o ponto dento-alveolar nas fricativas, que pode ser observado em palavras como
[vɐ’ʃorɐ] para <vassora> ou [‘zipɨ] para <jipe>.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
163
A figura 32 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 2 relativamente ao
ataque simples em posição medial de palavra.
Ataque simples medial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v]
/s/
[ʃ]
/z/
[ʒ]
/ʃ/
[ʃ]
/ʒ/
[ʒ]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ɲ/
[ɲ]
/ l /
[l]
/ʎ/
[ j]
/ɾ/
[Ø]
/ʀ /
[ʀ]
Figura 32 - Inventário fonológico em ataque medial, de L.R., no momento da segunda avaliação
Observando o esquema representado na figura 32, verificamos que, no
momento da 2º avaliação, em ataque medial, a aquisição de segmentos permitiu
completar as classes das oclusivas e das nasais. Encontram-se ainda em falta
segmentos da classe das fricativas, /s/ e /z/, embora, nesta altura, as consoantes
utilizadas para a produção sejam /ʃ/ e / ʒ/, respetivamente. Estas, fazem parte da
mesma classe, contrariamente ao que acontecia na primeira avaliação, em que eram
produzidas oclusivas no lugar de fricativas. Apesar disto, a produção revela uma
dificuldade com o ponto articulatório (dento-alveolar vs palatal). Observam-se ainda
segmentos ausentes na classe das líquidas, a lateral /ʎ/ e a vibrante /ɾ/.
Relativamente ao ponto de articulação, deixam de se verificar dificuldades
relacionadas com os pontos labial, velar e uvular, persistindo alguma dificuldade
tanto com sons dento-alveolares como com sons palatais (embora estes último
sejam ambos coronais).
O inventário relativo aos segmentos em coda estão esquematizados na
figura 33, tendo em conta a posição na palavra.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
164
Coda medial Coda Final
/s/
/s/
[ʃ] [ʃ]
/ɾ/ /l/ /ɾ/ /l/
[Ø] [w] [Ø] [ɫ] [ɫ]
Figura 33 - Inventário fonológico de L.R., em coda medial e em coda final, no momento da segunda avaliação
No que respeita aos constituintes silábicos coda medial e coda final, é
possível constatar a aquisição da fricativa nas duas posições. A lateral passa a ser
produzida de acordo com o esperado para a língua em coda final, sendo ainda
produzida como [w] em coda medial. A vibrante ainda se encontra ausente neste
constituinte silábico, parecendo haver alguma tentativa de produção com a lateral [l].
A figura 34 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 2 para os ataques
ramificados em função da posição da palavra.
Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial
/cɾv/
/cɾv/
[Ø]
[Ø]
/clv/
/clv/
[Ø]
[Ø] Figura 34 -Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de L.R. no
momento da segunda avaliação
Na Figura 34, é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante em
ataque ramificado em qualquer posição da palavra.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
165
7.2.3.3.3.Inventáriofonológico-Terceiraavaliação
Nos esquemas que se seguem 35, 36 e 37, está representado o inventário
fonológico em função do constituinte silábico e da posição na palavra: ataque
simples inicial, ataque simples medial, coda medial, coda final, ataque ramificado
inicial, ataque ramificado medial. Os esquemas correspondem ao inventário de L.R.,
sujeito 2, no momento da terceira avaliação.
A representação do inventário fonológico do sujeito 2, relativa ao ataque
simples inicial pode ser observado da figura 36.
Ataque simples inicial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v]
/ʃ/
[ʃ]
/z/
[ʒ]
/ʃ/
[ʃ]
/ʒ/
[ʒ] [ʃ]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ l /
[l]
/R/
[R]
Figura 35 - Inventário fonológico do sujeito 2 em ataque inicial, no momento da terceira avaliação
Observando a figura 35, verificamos que, no momento da terceira avaliação,
em ataque medial, não foram feitas mais aquisições no sistema fonológico da
criança, mantendo-se ainda dificuldades com o ponto articulatório dento-alveolar
para as fricativas. Nesta avaliação, observa-se dificuldade na definição da classe de
vozeadas e não vozeadas, sendo produzida a fricativa palatal não vozeada [ʃ] para a
fricativa palatal vozeada /ʒ/.
A figura 36 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 2 para as
consoantes que podem ocorrer em ataque simples em posição medial de palavra.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
166
Ataque simples medial
/p/
[p]
/b/
[b]
/ t /
[t]
/d/
[d]
/k/
[k]
/g/
[g]
/f/
[f]
/v/
[v]
/s/
[ʃ]
/z/
[ʒ] [ʃ]
/ʃ/
[ʃ]
/ʒ/
[ʒ]
/m/
[m]
/n/
[n]
/ɲ/
[ɲ]
/ l /
[l]
/ʎ/
[ j]
/ɾ/
[Ø]
/R/
[R]
Figura 36 - Inventário fonológico do sujeito 2 em ataque medial, no momento da terceira avaliação
Em ataque medial, no último momento de avaliação, observa-se a presença
da lateral /ʎ/, que se encontrava ausente. Neste momento de avaliação, para além
da dificuldade com o ponto articulatório das fricativas, observa-se uma alteração no
que respeita à propriedade de vozeamento nesta classe, ocorrendo dificuldades no
estabelecimento do vozeamento tanto para /z/ como para /ʒ/. Produções como
[‘meʃɐ] para <mesa> ilustram as dificuldades referidas. Mantêm-se dificuldades
relativas ao ponto articulatório alveolar nas vibrantes.
Na figura 37, encontra-se representado o inventário fonológico do sujeito 2 no
que respeita aos segmentos que podem surgir em coda, em função da posição na
palavra.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
167
Coda medial Coda Final
/s/
/s/
[ʃ]
[ʃ]
/ɾ/ / l /
/ɾ/ / l /
[Ø] [ɫ]
[Ø] [ɨ] [ɫ] [ɫ]
Figura 37 - Inventário fonológico do sujeito 2, em coda medial e em coda final, no momento da terceira avaliação
Relativamente ao constituinte silábico coda, tanto em posição medial como
final, deixaram de se observar dificuldades relativas à lateral. No entanto, mantém-
se alterações com a vibrante alveolar. Apesar disto, observando o padrão de erro de
L.R., verificam-se tentativas de produção deste segmento em coda final, embora
realizado por segmentos que não correspondem ao esperado para a língua: [bĩ’kaɫ]
para <brincar>, ou [ʃu’paɨ] para <soprar>.
O inventário fonológico do sujeito 2, no que respeita aos segmentos que
podem surgir em ataque ramificado, estão ilustrados na figura 38, em função da
posição na palavra.
Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial
/cɾv/
/cɾv/
[Ø]
[Ø]
/clv/
/clv/
[clv]
[clv] Figura 38 - Inventário fonológico do sujeito 2, em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado
medial de L.R. no momento da terceira avaliação
Da mesma forma que o verificado nos momentos de avaliação anterior, a
Figura 38 representa a ausência da vibrante neste constituinte silábico em qualquer
posição da palavra e a aquisição da lateral, que surge em ataque ramificado.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
168
7.2.3.4.Descriçãodosistemafonológicoatravésdeprocessosfonológicos
Nesta secção, os resultados relativos ao sistema fonológico serão descritos
recorrendo à terminologia de processos fonológicos e procedimentos de registo
descritos por Mendes et al. (2013) que contemplam os processos:
• Relativos à estrutura silábica: Omissão da consoante final (OCF); Reduçao
de sílaba átona pré-tónica (RSA); Redução de grupo consoâtico (RGC).
• Relativamente à estrutura segmental, as autoras consideral os seguintes
processos: Semivocalização de líquida (SL); Oclusão (OCL); Anterirorização
(ANT); Despalatalização (DES); Posteriorização (POS); Palatalização (PAL);
Desvozeamento (DESV) e Processos adicionais (PA).
Regista-se com 0 o processo não ocorre e com 1 quando o processo ocorre. Os
resultados serão apresentados para os três momentos de avaliação.
No quadro 78 encontram-se os resultados referentes aos processos fonológicos
do sujeito 2, no primeiro momento de avaliação.
Av. Estrutura silábica Estrutura Segmental / Substituição
PA* OCF RSA RGC SL OCL ANT DES POS PAL DESV
1ª 83% 0% 94% 40% 100% 82% 0% 0% 0% 0% 23%
2ª 42% 0% 100% 5% 0% 0% 0% 0% 100% 20% 20%
3ª 35% 0% 89% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 20% 20%
Quadro 78 - Processos fonológicos presentes nas produções do sujeito 2, em função do momento de avaliação
*O valor de processos fonológicos adicionais foi determinado dentro do total de processos, ou
seja, no total de processos encontrados um valor corresponderá a processos adicionais.
No quadro 78, podemos verifica-se a presença de diferentes processos tais
como a omissão da consoante final (83% de ocorrência), a redução do grupo
consonântico (94%), a semivocalização das laterais (40%), a oclusivização (100%) e
a anteriorização (82%). Os restantes processos identificados são considerados
adicionais (23%), por não corresponderem a nenhum dos processos identificados
anteriormente, na presente secção.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
169
Os resultados da segunda avaliação são caracterizados por uma redução
importante dos processos fonológicos, mantendo-se presentes a omissão da
consoante final (embora agora com 42% de ocorrência em vez de 83%), a redução do
grupo consonântico (mantém-se com um valor elevado, correspondente a 100%), a
semivocalização das laterais (nesta altura com uma redução para 5% de ocorrência).
Os processos de olcusivização e anteriorização desaparecem, no entanto surge
sistematicamente o processo de palatalização (100%) e surge também o processo de
desvozeamento com uma representação de 20% de ocorrência. Mantém-se presentes
outros processo (20%).
No último momento de avaliação, mantém-se o processo de desvozeamento
(20%), o processo palatalização (100%). Desaparece o processo de semivocalização
das laterais e os valores relativos à omissão da consoante final e redução do grupo
consonântico, reduzem para 35% e 89%, respetivamente.
No quadro 79 encontram-se exemplos de produções do sujeito 1, organizados
em função da presença do processo e dos três momentos de avaliação.
Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação
OCF <porco> [‘poɾku] [‘potu]
RSA
RGC <tigre> [ti’gɾɨ] [ti’dɨ] [ti’gɨ] [ti’gɨ]
SL <palhaço> [pɐ’ʎasu] [pɐ’jaku] [pɐ’jaʃu]
OCL <mesa> [‘mezɐ] [‘medɐ]
ANT <café> [kɐ’fɛ] [tɐ’pɛ]
DES
POST
DESV <chave> [‘ʃav ɨ] [‘ʃaf] [‘ʃaf]
PAL <vassoura> [va’soɾɐ] [vɐ’ʃoɐ]
PA
<rato> [‘ʀatu]
<cabelo> [kɐ’belu]
<unha> [‘uɲɐ]
[‘datu] [kɐ’beu]
[‘ujɐ]
Quadro 79 - Produções do sujeito 2, organizados em processos fonológico, em função do momento de avaliação
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
170
Os exemplos constantes no quadro 79 ilustram a presença dos processos
fonológicos anteriormente descritos nesta secção.
Produções como [‘potu] <porco>, [ti’dɨ] <tigre>, [pɐ’jatu] <palhaço>, [‘medɐ]
<mesa>, [tɐ’pɛ] <café>, ilustram os processos anteriormente idenficados nas
produções do sujeito 2: omissão da consoante final, a redução do grupo consonântico,
a semivocalização das laterais, a oclusivização, e a anteriorização Os restantes
processos identificados são considerados adicionais, por não corresponderem a
nenhuma das definições dos processos identificados anteriormente, na presente
secção. Estes foram considerados adicionais, mesmo quando aconteciam para o
mesmo segmento, como é o caso de [‘gatu] <rato>, em que para além do processo
semelhante ao de oclusivização (embora este processo não esteja definido para estes
segmentos) ocorre uma alteração de ponto não contemplada nos processo aqui
utilizados. Assim encontramos adicionalmente, produções como [kɐ’beu] <cabelo> e
[‘ujnɐ] <unha>, entre outros.
7.2.3.5AnáliseatravésdomodeloPAC-PE
De acordo com descrito no capítulo 1, o Modelo Padrão de Aquisição de
Contrastes (PAC), proposto por Lazzarotto-Volcão (2009) com base na Escala de
Robustez para Traços de Consoantes, proposta por Clements (2009), pretende
descrever e classificar as perturbações fonológicas através da identificação de
etapas de aquisição fonológica com base na aquisição de contrastes e no ideia de
que a existência de classes naturais e de contrastes depende da aquisição e
coocorrência de traços e não da aquisição destes isoladamente. De acordo com a
ideia de construção gradual de um segmento, através da ligação gradual dos traços
fonológicos na estutura interna dos fonemas (Hernandorena, 1995), através do PAC-
PE, pode observar-se a ausência de um segmento, mesmo que alguns contraste
que envolvem esse segmento tenham já surgido.
No âmbito do desenvolvimento do modelo a autora utiliza dois subtipos de
alterações (atraso ou desvio) bem como com uma escala de gravidade que será
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
171
utilizada para caracterizar o perfil fonológico dos sujeitos em avaliação no presente
estudo.
7.2.3.5.1–AnáliseatravésdoPAC-PE-Sujeito2
Os dados recolhidos foram analisados à luz do modelo PAC-PE, que consiste
na determinação da presença, ou não, dos contrastes identificados e organizados
em quatro etapas de aquisição. Nestas quatro etapas, são adquiridos contrastes
através da coocorrência de traços, que possibilitam também a emergência de
segmentos.
No quadro 80 podemos visualizar os valores de acerto dos contrastes
estabelecidos no PAC-PE, de acordo com os procedimentos já descritos no capítulo
6.
1ª AVALIAÇÃO
O quadro abaixo apresenta os resultados do sujeito 2 analisados através do
modelo PAC-PE no primeiro momento de avaliação.
Etapa
Traços
Marcados
Adquiridos
Coocorrências de
traços Contraste
Acerto
do
contraste
Estado
1ª
etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+ vozeado]
[+consonântico; +
Soante]
[-soante; labial]
[-soante; dorsal]
[+soante; labial]
[-soante; coronal; +
vozeado]
[-soante; labial; +
vozeado]
Soante x Obstruinte 97,2 %
Adquirido
Oclusiva coronal x labial 97,2 % Adquirido
Oclusiva coronal x
dorsal 47,61%
Não
Adquirido
Oclusiva labial x dorsal 100%
Adquirido
Nasal labial x coronal 100% Adquirido
Oclusiva coronal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusiva labial surda x
sonora 100% Adquirido
2ª
etapa
[+ contínuo]
[- anterior]
[+soante; coronal;
-anterior]
Nasal coronal anterior x
coronal não anterior 50%
Não
Adquirido
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
172
[-soante, dorsal, +
vozeado]
[-soante, +
contínuo]
[+contínuo; labial,; +
vozeado]
[+contínuio; labial]
Oclusiva dorsal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusivas x fricativas 67,41% Não
adquirido
Fricativa labial surda x
sonora 100% Adquirido
Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido
3ª
etapa
[+aproximante]
[-soante; +
contínuo; coronal -
anterior]
Fricativa coronal
anterior x não anterior 75% Instável
[-soante; +
contínuo; coronal;
+vozeado ]
Fricativa coronal não
anterior surda x sonora 100% Adquirido
[-soante; +
contínuo; dorsal ]
Oclusivas x fricativa
dorsal 67% Instável
[+soante; +
aproximante] Nasais x líquidas 62% Instável
4ª
etapa
[+aproximante; +
contínuo, dorsal]
Líquida lateral x não
lateral 47,05%
Não
adquirido
[+aproximante; +
contínuo, coronal]
Líquida não lateral
dorsal x coronal 0%
Não
adquirido
[-soante; +
contínuo, coronal;
+ anterior; +
vozeado]
Fricativa coronal
anterior sonora x não
anterior sonora
57, 14% Instável
[+ aproximante: -
contínuo; coronal; -
anterior ]
Líquida lateral anterior x
não anterior 45,45%
Não
adquirido
Quadro 80 - Síntese do acerto de contrastes (PAC-PE), para o sujeito 2, no primeiro momento de avaliação
Através da análise do quadro 80, pode verificar-se um sistema fonológico
incompleto com ausência de contrastes relativos à primeira, segunda e quarta
etapas:
• Oclusiva coronal x dorsal (1ª etapa), uma vez que as oclusivas
dorsais são produzidas como coronais, embora o contrário não
aconteça;
• Nasal coronal anterior x coronal não anterior (2ª etapa), uma vez que
as nasais coronais não anteriores são produzidas como semivogais;
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
173
• Oclusivas x fricativa dorsal (3ª etapa), com produções dos róticos
como como oclusivas coronais [+anteriores];
• Líquida lateral x não lateral (4ª etapa), com ausência de todas as
líquidas;
• Líquida lateral anterior x não anterior (4ª etapa), com ausência das
líquidas laterais;
• Líquida não lateral coronal x dorsal (4ª etapa), com produções do
rótico dorsal como coronal.
É possível observar ainda a instabilidade de contrastes:
• Oclusiva x fricativa (2ª etapa), uma vez que todas as fricativas são
produzidas como oclusivas;
• Fricativa coronal não anterior x anterio surda (3ª etapa), já que as
fricativas coronais não anteriores são produzidas como coronais
anteriores;
• Nasais x Líquidas (3ª etapa), embora não ocorram erros de contraste,
há um valor elevado de omissões das líquidas, não ficando a classe
das líquidas completas o que se reflete no contraste, embora não seja
possível afirmar que existe uma alteração do contraste referido;
• Fricativa coronal não anterior x anterior sonora (4ª etapa), já que as
fricativas coronais não anteriores são produzidas como coronais
anteriores.
No sistema fonológico de L.R. verifica-se a ausência do segmento /k/, que se
esperava na primeira etapa de aquisição. Através da análise com o modelo PAC-PE,
esta ausência, poderá ser justificada, pela alteração do contraste Oclusiva coronal
versus Dorsal, decorrente da dificuldade na coocorrência do traço não marcado
[dorsal] com o traço marcado [+soante], necessário para a estabilização deste
contraste. Esta dificuldade é manifestada por produções como [tɐ’pɛ].
O segmento /g/ que emerge na segunda etapa por combinação do traço
relacionado com vozeamento, encontra-se ausente pela mesma dificuldade
relacionada com a coocorrência do traço [dorsal] com [-soante] manifestando-se em
produções como [‘dapu] <garfo>.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
174
Produções como [‘bidu] <vidro>, são manifestações de alterações
relacionadas com a combinação do traço [+contínuo] que deveria acontecer na
segunda etapa de aquisição. Observa-se assim que o contraste Oclusivas versus
Fricativas não se encontra adquirido de forma completa. Ainda relativamente à
segunda etapa, observam-se dificuldades com a combinação dos traços [coronal]
[+soante] e o traço não marcado [-anterior], surgindo alteração com o contraste
Nasal coronal anterior x coronal não anterior, verificando-se produções como [uja]
<unha>.
A dificuldade com a coocorrência de traços [coronal] [-soante] [-anterior],
impede a emergência do contraste Fricativa coronal anterior surda x não anterior
surda, manifestando-se em produções como [‘pɐjtɨ] (para além da alteração do traço
[+contínuo], já descrita, observa-se uma produção coronal [+anterior]). O contraste
Oclusivas x fricativa dorsal encontra-se também ausente do sistema fonológico de
L.R. pela dificuldade na coocorrência de [+contínuo] [-soante]. Esta alteração traduz-
se em produções como [‘datu] <rato>.
Os contrastes relacionados com as líquidas encontram-se não adquiridos
pela ausência da coocorrência do traço marcado [+aproximante] com os traços de
ponto [coronal ±anterior]. Observa-se ainda dificuldade com o contraste Fricativa
coronal anterior surda x não anterior sonora por dificuldades com a coocorrência do
traço [-anterior], observando-se produções como [da’ɛna] <janela>.
• Atraso ou desvio
Uma criança com alterações de fala pode ter um perfil correspondente a um
atraso fonológico, que, de acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), consiste num
desfasamento entre as suas etapas de desenvolvimento e as esperadas para a sua
idade, embora apresente um perfil em que são cumpridos os princípios fonológicos.
Um perfil desviante corresponde a um sistema onde não são cumpridos todos
princípios fonológicos responsáveis pela organização do sistema segmental.
L.R. mostra um desfasamento cronológico no que respeita às aquisições
quando comparadas com o esperado para a sua idade. De acordo com os dados
obtidos por Amorim (2014), seria espectável que a primeira etapa de aquisição fosse
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
175
concluída até aos 2;0 anos de idade e a segunda etapa até aos 3;0 anos de idade.
L.R, mostra ausência de segmentos e contrastes relativos tanto à primeira como
segunda etapa aos 5;06 anos de idade. Para além este desfasamento, verifica-se
que o seu sistema fonológico não cumpre os princípios fonológicos, perfil
característico de um desvio fonológico.
Assim, L.R. mostra que o seu sistema fonológico não obedece ao Princípio de
Economia de Traços, apresentando poucos contrastes, manifestado pela redução do
inventário fonológico segmental, para o número de traços disponíveis no sistema.
Como exemplo, observa-se, no sistema fonológico de L.R. que o traço [+contínuo]
não surge em combinação com nenhum outro traço, tendo como consequência a
ausência de toda a classe das fricativas e também dos róticos.
O Princípio de Evitação de Traços marcados que de acordo com a autora do
modelo parece também ser problemático para as crianças com Perturbação
Fonológica, não é cumprido por L.R., já que apresenta um número superior de traços
marcados e ausência dos traços não marcados. Assim, encontramos os traços
[+vozeado] combinado com [coronal] permitindo a distinção entre [t] [d], que é
utilizado no lugar das Dorsais, no entanto não se identifica o traço [dorsal], não
tendo emergido [k]. Ou seja existe a distinção de vozeamento (quando ocorre uma
substituição, a consoante selecionada mantém a propriedade relacionada com o
vozeamento), antes de ser combinado o traço de ponto que permite a emergência
das dorsais.
O Princípio de Robustez, que tende também a não ser cumprido, nas crianças
com perturbações fonológicas, uma vez que não respeitam a previsibilidade de
aquisição das diferentes etapas, inerente ao modelo PAC, também não é cumprido
pelo sujeito 1. L.R. apresenta contrastes de etapas mais tardias, encontrando-se por
completar a aquisição de etapas mais precoces.
• Gravidade
Os critérios que permitem apurar o grau de severidade do sistema fonológico
de L.R. encontram-se no quadro 81. Verifica-se que, de acordo com a escala de
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
176
gravidade proposta por Lazzarotto-Volcão (2009), descrita na revisão teórica no
capítulo 3 deste trabalho, uma criança com perturbação fonológica severa
apresenta: ausência de contrastes da terceira e quarta etapas; presença de, no
máximo dois contrastes da segunda etapa; e presença de, no máximo, seis
contrastes da primeira etapa. L.R. apresenta ausência de contrastes da terceira e
quarta etapa, 2 contrastes da segunda etapa e cinco da primeira etapa,
correspondendo a um nível de gravidade severa.
Esperado Grau Severo L.R.
1ª etapa 7 contrastes Ausência de um
contraste
Presença de
seis contrastes
2ª etapa 5 contrastes Presença de
três contrastes
Presença de
três contrastes
3ª etapa 4 contrastes Pelo menos
ausência de um
Presença de
um contrastes
4ª etapa 4 contrastes Pelo menos
ausência de um
Presença de
um contraste
(instável)
Quadro 81 - Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - severo
• Representação do sistema do sujeito 2 - PAC-PE
Na figura 39. encontra-se a representação do sistema fonológico do sujeito 2
de acordo com o esquema proposto por Lazzarotto-Volcão (2009), e descrito
anteriormente em no capítulo 3, secção 3.1.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
177
Figura 39 - Representação do primeiro momento de avaliação do sujeito 2 no modelo PAC-PE
2ª AVALIAÇÃO
Após intervenção terapêutica, descrita no Capítulo 2, através da estimulação
dos segmentos /ʀ/ e /g/, cujo objetivo era a estimulação de coocorrências dos
trações [+contínuo] e [dorsal], verificamos que R.R. apresenta um sistema fonológico
com presença de um maior número de contrastes fonológicos, como pode ser
observado no quadro 84, abaixo:
Etapa
Traços
Marcados
Adquiridos
Coocorrências de
traços Contraste
Acerto
do
contraste
Estado
1ª
etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+ vozeado]
[+consonântico; +
Soante]
[-soante; labial]
[-soante; dorsal]
[+soante; labial]
[-soante; coronal; +
vozeado]
[-soante; labial; +
vozeado]
Soante x Obstruinte 100% Adquirido
Oclusiva coronal x labial 100% Adquirido
Oclusiva coronal x dorsal 100% Adquirido
Oclusiva labial x dorsal 100%
Adquirido
Nasal labial x coronal 100% Adquirido
Oclusiva coronal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusiva labial surda x
sonora 100% Adquirido
2ª
etapa
[+ contínuo]
[- anterior]
[+soante; coronal; -
anterior]
Nasal coronal anterior x
coronal não anterior 100% Adquirido
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
178
[-soante, dorsal, +
vozeado]
[-soante, +
contínuo]
[+contínuo; labial,; +
vozeado]
[+contínuio; labial]
Oclusiva dorsal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusivas x fricativas 100% Adquirido
Fricativa labial surda x
sonora 100% Adquirido
Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido
3ª
etapa
[+aproximante]
[-soante; +
contínuo; coronal -
anterior]
Fricativa coronal
anterior x não anterior 33,33%
Não
adquirido
[-soante; +
contínuo; coronal;
+vozeado ]
Fricativa coronal não
anterior surda x sonora 100% Adquirido
[-soante; +
contínuo; dorsal ]
Oclusivas x fricativa
dorsal 100% Adquirido
[+soante; +
aproximante] Nasais x líquidas 83% Adquirido
4ª
etapa
[+aproximante; +
contínuo, dorsal]
Líquida lateral x não
lateral 71% Instável
[+aproximante; +
contínuo, coronal]
Líquida não lateral dorsal
x coronal 50%
Não
adquirido
[-soante; +
contínuo, coronal; +
anterior; + vozeado]
Fricativa coronal anterior
sonora x não anterior
sonora
43% Não
adquirido
[+ aproximante: -
contínuo; coronal; -
anterior ]
Líquida lateral anterior x
não anterior 82% Adquirido
Quadro 82 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 2, no momento da segunda avaliação
De acordo com o registo do quadro 82, após o intervenção terapêutica, foi
possível promover a combinação dos traços marcados [dorsal] e [+ contínuo] com [-
soante], o que possibilitou a aquisição de vários contrastes anteriormente ausentes.
Observou-se a combinação de [coronal] [-anterior] na classe das nasais e das
fricativas. Após estimulação do sistema fonológico de L.R. observou-se ainda a
coocorrência do traço [+aproximante] que proporcionou a emergência do contraste
Nasais x líquidas.
Nesta altura, verifica-se ainda dificuldade com a coocorrência dos traços
[coronal] [+anterior] [+contínuo] [-soante], ou [+soante], continuando por emergir os
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
179
contrastes entre fricativas coronais não anteriores x anteriores. Os contrastes líquida
lateral x não lateral e Líquida não lateral dorsal x coronal não se encontram
dominados, por dificuldades com combinação dos traços [coronal] [-anterior]
[+aproximante] ou [coronal] [-anterior] [+aproximante]. Estas alterações são
manifestadas por produções como: [va’ʃoɐ] ou [pɐ’jaʃu]
• Atraso ou desvio
O perfil de L.R. continua a mostrar-se desviante por não cumprir os princípios
fonológicos. Apresenta contrastes em falta de etapas anteriores e contrastes
presentes de etapas posteriores, apresenta uma redução do inventário fonológico
segmental, para o número de traços disponíveis no sistema.
• Gravidade
Com as aquisições realizadas observa-se uma mudança no grau de severidade
da Perturbação Fonológica, que passa de severa a leve já que, de acordo com o
descrito na literatura (Lazzarotto-Volcão, 2009) e representado anteriormente no
quadro X, numa perturbação fonológica leve encontramos presença de todos os
contrastes das duas primeiras etapas; presença de, no mínimo, dois contrastes da
terceira etapa; presença de, no mínimo, dois contrastes da quarta etapa, o que
acontece com L.R. (ver quadro 83).
Esperado Grau Leve L.R.
1ª etapa 7 contrastes Presença de sete
contrastes
Presença de sete
contrastes
2ª etapa 5 contrastes Presença de cinco
contrastes
Presença de cinco
contrastes
3ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois
contrastes
Presença de três
contrastes
4ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois Presença de três
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
180
contrastes contrastes (2 instáveis)
Quadro 83 - Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - leve
• Representação do sistema do sujeito 2 - PAC-PE
O progresso do sistema de contrastes do sujeito 2 pode ser visualizado na
figura 40, manifestado pelo preenchimento de um maior número de retângulos, quer
as que correspondem à primeira, segunda, terceira ou quarta etapas.
Figura 40 -Representação do segundo momento de avaliação do sujeito 2, de acordo com o modeo
PAC-PE
3ª AVALIAÇÃO
Neste momento de avaliação, verificamos que L.R. apresenta um sistema
fonológico com presença dos contrastes fonológicos registados na tabela 84.
Etapa
Traços
Marcados
Adquiridos
Coocorrências de
traços Contraste
Acerto
do
contraste
Estado
1ª
etapa
[+soante]
[labial]
[dorsal]
[+ vozeado]
[+consonântico; +
Soante]
[-soante; labial]
[-soante; dorsal]
Soante x Obstruinte 100% Adquirido
Oclusiva coronal x labial 100% Adquirido
Oclusiva coronal x dorsal 100% Adquirido
Oclusiva labial x dorsal 100%
Adquirido
Nasal labial x coronal 100% Adquirido
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
181
[+soante; labial]
[-soante; coronal; +
vozeado]
[-soante; labial; +
vozeado]
Oclusiva coronal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusiva labial surda x
sonora 100% Adquirido
2ª
etapa
[+ contínuo]
[- anterior]
[+soante; coronal; -
anterior]
[-soante, dorsal, +
vozeado]
[-soante, +
contínuo]
[+contínuo; labial,; +
vozeado]
[+contínuio; labial]
Nasal coronal anterior x
coronal não anterior 100% Adquirido
Oclusiva dorsal surda x
sonora 100% Adquirido
Oclusivas x fricativas 100% Adquirido
Fricativa labial surda x
sonora 100% Adquirido
Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido
3ª
etapa
[+aproximante]
[-soante; +
contínuo; coronal -
anterior]
Fricativa coronal anterior x
não anterior 33%
Não
Adquirido
[-soante; +
contínuo; coronal;
+vozeado ]
Fricativa coronal não
anterior surda x sonora 71% Instável
[-soante; +
contínuo; dorsal ]
Oclusivas x fricativa
dorsal 100% Adquirido
[+soante; +
aproximante] Nasais x líquidas 100% Adquirido
4ª
etapa
[+aproximante; +
contínuo, dorsal]
Líquida lateral x não
lateral 82% Adquirido
[+aproximante; +
contínuo, coronal]
Líquida não lateral dorsal
x coronal 50%
Não
Adquirido
[-soante; +
contínuo, coronal; +
anterior; +
vozeado]45
Fricativa coronal anterior
sonora x não anterior
sonora
43% Não
Adquirido
[+ aproximante: -
contínuo; coronal; -
anterior ]
Líquida lateral anterior x
não anterior 100% Adquirido
Quadro 84 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 2, no momento da terceira avaliação
Tal como pode ser observado no quadro 84, do segundo para o terceiro
momento de avaliação (período onde se verificou interrupção do acompanhamento
em terapia da fala, como descrito no capítulo 2) verifica-se um maior valor
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
182
percentual de acertos do contraste líquida lateral x não lateral, encontrando-se agora
o estatuto de “adquirido”. Os contrastes anteriormente em falta mantém-se por
adquirir: Fricativa coronal anterior x não anterior e Líquida não lateral dorsal x
coronal. Nesta altura surgem algumas dificuldades com a coocorrência de [+voz]
[+contínuo] [coronal ] [-anterior], reduzindo o valor de acerto relativo ao contraste
Fricativa coronal não anterior surda x sonora.
• Representação do sistema do sujeito 2 - PAC-PE
Figura 41 - Representação do terceiro momento de avaliação do sujeito 2, de acordo com o PAC-PE.
Desta forma, na presente secção os dados de produção obtidos para o
sujeito 2 foram apresentados à luz do modelo PAC-PE em função dos momentos
dos três momentos de avaliação.
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
183
IV PARTE – REFLEXÕES FINAIS
Conforme formulado na introdução, o presente trabalho, cuja questão
orientadora é “O modelo PAC-PE é ou não adequado à avaliação nas Perturbações
Fonológicas no português europeu”?, pretendia: i) testar o modelo PAC-PE em
contexto clínico; ii) observar a eficácia do PAC-PE na avaliação longitudinal em
crianças com Perturbações dos Sons Fala. De forma a atingir os objetivos propostos
foram realizadas análises de produções de fala de crianças com este diagnóstico. As
produções de cada sujeito foram obtidas através do teste TFF-ALPE (Mendes et alii.,
2013), em três momentos diferentes do período de intervenção. As análises
realizadas envolveram: i) a elaboração do inventário fonético; ii) a determinação de
valores de ocorrência de consoantes e a análise de padrões de erro para
determinação do inventário fonológico; iii) a análise dos dados através do modelo
PAC-PE. Estas análises foram realizadas para as produções de duas crianças com
perturbações fonológicas. Os dois sujeitos encontravam-se entre as faixas etárias
4;05 e 5;06 anos.
No capítulo 3 foram descritos e analisados todos os dados em função dos
diferentes momentos de avaliação, sendo, em seguida, apresentadas as principais
reflexões e contribuições deste trabalho, bem como as suas limitações e as
questões suscitadas para investigação futura.
CAPÍTULO 8 – DISCUSSÃO
De forma a responder aos objetivos delineados neste trabalho, será feita,
neste capítulo, a discussão dos dados descritos no capítulo anterior relativamente à
aquisição das consoantes no sistema fonológico das duas crianças com
Perturbações Fonológicas observadas no presente estudo, ao longo do período de
intervenção terapêutica, com o objetivo de entender de que forma é que o modelo
PAC-PE contribui para a prática clínica. Pretende-se entender como é que o modelo:
a) possibilita a análise e descrição das alterações fonológicas para o
estabelecimento de um diagnóstico e do grau de gravidade da perturbação;
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
184
b) permite a análise das aquisições feitas durante o processo de intervenção
terapêutica.
Neste capítulo serão tidos em consideração o modelo PAC para o português
do Brasil (Lazzarotto-Volcão, 2009), a discussão deste modelo com base nos dados
de aquisição do português europeu (Amorim, 2014) e adaptação da representação
do PAC ao português europeu por Lazzarotto-Volcão (2016).
8.1.ImplicaçõesdomodeloPAC-PEnaavaliaçãoclínica
Um dos objetivos que estiveram na base da conceção do modelo PAC
(Lazzarotto-Volcão, 2009) foi a criação de um modelo que permitisse a identificação
de uma perturbação fonológica, ou seja, que permitisse diferenciar a aquisição
normal de uma aquisição com alterações. Uma vez que tanto o modelo PAC como a
sua adaptação ao português europeu prevêm etapas de aquisição, a partir dos
dados de aquisição normal, é possível determinar se um sistema fonológico se
encontra de acordo com o esperado ou não numa dada faixa etária. Assim, são
referidas as seguintes etapas identificadas no modelo PAC-PE (Amorim, 2014):
• Até aos 2;0 anos de idade - Primeira etapa
• 2;0 anos – 3;0 anos de idade – Segunda etapa
• < 3,0 anos – 3;05 anos de idade - Terceira etapa
• 3;05 anos – 4;11 anos de idade - Quarta etapa
Para além da ordem cronológica, e através da identificação das coocorrências
de traços distintivos e de contrastes presentes e ausentes, o modelo permite a
identificação do cumprimento de princípios fonológicos descritos por Clements
(2009), que poderão ter sido violados no sistema fonológico de crianças com
perturbação (Lazzarotto-Volcão, 2009).
Através da análise dos dois sujeitos deste trabalho, é possível verificar a
adequação do modelo PAC-PE (Amorim, 2014; Lazzarotto-Volcão, 2009), tendo sido
identificados, nos dois sujeitos, sistemas fonológicos que não apresentam as etapas
descritas para as crianças sem patologia, confirmando a eficácia do modelo na
determinação de alterações fonológicas. Ambos os sujeitos apresentavam ausência
de contrastes esperados para a sua faixa etária bem como ausência de contrastes
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
185
das primeiras etapas de aquisição quando já existiam contrastes de etapas
posteriores. Observa-se, como exemplo, para os dois sujeitos, dificuldades com o
contraste Oclusiva coronal x dorsal, da primeira etapa, verificando-se a presença do
contraste Fricativa coronal não anterior surda x sonora, correspondente a um
contraste da terceira etapa.
De acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), uma criança com alterações
fonológicas pode ter um atraso quando apresenta uma aquisição mais lenta no
sistema fonológico, ou um desvio quando se verifica uma desorganização no
sistema fonológico, observando-se o não cumprimento dos princípios fonológicos
(Clementes, 2009). Neste trabalho, para os dois sujeitos, observou-se o não
cumprimento de princípios fonológicos, reforçando a ideia proposta por Lazzarotto-
Volcão (2009) de que as crianças com Perturbações Fonológicas parecem, de facto,
apresentar dificuldades na organização da estrutura interna dos segmentos, não
fazendo o percurso esperado para uma criança sem perturbação. As dificuldades
relacionadas com os príncipios fonológicos, demonstradas tanto pelo sujeito 1 como
pelo sujeito 2, possibilitam também entender que as crianças com Perturbação
Fonológica não apresentam apenas dificuldades com a aquisição isolada de traços
mas sobretudo com a combinação de traços eventualmente já presentes no seu
sistema, que decorre do princípio da economia de traços13 (Clementes, 2009). Como
exemplo, refira-se R.R., que apresenta no seu sistema o traço [+ contínuo] para as
fricativas labiais, não sendo possível observar a sua coocorrência com os traços
relativos ao ponto de articulação das restantes fricativas ([coronal; ±anterior], não
cumprindo assim o príncípio da economia de traços. Já L.R. parece cumprir melhor o
princípio que dá conta da economia de traços (Clements, 2009) uma vez que as
dificuldades com traços parecem ter manifestações em todas as combinações.
Como exemplo veja-se o caso do traço [+contínuo], que não coocorre com nenhum
outro traço, resultando na ausência de todos os elementos da classe das fricativas.
Ainda assim, nesmo no caso de L.R., observa-se dificuldade com o cumprimento do
princípio de economia de traços quando, ao adquirir o traço [dorsal], o mesmo não
estabelece coocorrências dentro da classe das oclusivas.
De acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), para além do princípio da
13Princípio da economia de traços – As línguas combinam os traços distintivos de forma económica, maximizando as combinações de traço, ou seja, aproveitando os traços já presentes no sistema, na construção dos seus inventários fonológicos. Assim, um traço deverá ser utilizado o maior número de vezes num sistema (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:17 e Lazzarotto-Volcão, 2009:78);
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
186
economia de traços, as crianças com Perturbação Fonológica brasileiras parecem
apresentar dificuldades com o princípio de robustez14 (Clements, 2009). O sistema
fonológico das crianças portuguesas estudadas no presente trabalho apresentam
ausência de traços mais robustos, mesmo quando traços menos robustos já estão
adquiridos, o que não acontece com crianças sem patologia. Esta dificuldade é
visível para o sujeito 1, que demonstra dificuldades com a combinação não marcada
[coronal] [+anterior], tendo já combinações realizadas com o traço marcado, e
menos robusto [dorsal]. Já no caso do sujeito 2, observamos dificuldades com um
traço menos robusto, [dorsal] com um domínio completo no que respeita a um traço
mais robusto [-vozeado] (conforme escala de robustez em Clements (2009),
Lazzarotto-Volcão (2009) e Amorim (2014)). Apesar destas semelhanças, através
desta análise, observam-se claramente perfis fonológicos diferentes. No caso do
sujeito 1, as dificuldades surgem logo com traços mais robustos (como exemplo,
[coronal] [+anterior]) enquanto que, para o sujeito 2, as dificuldades surgem para
menos robustos (como o caso [dorsal]). Estes dados permitem assim observar o
mesmo comportamento relativamente ao princípio de robustez no português
europeu.
Assim, verifica-se que o modelo PAC-PE permite apurar o diagnóstico de
Perturbação Fonológica, possibilitando identificar atrasos no processo de aquisição,
quando uma criança não apresenta todas as aquisições esperadas de acordo com o
descrito para o desenvolvimento típico, embora o processo seja realizado
respeitando a ordem de aquisição esperada. Por outras palavras, a criança pode
ainda não ter realizado todas as aquisições mas segue etapas sequencialmente de
acordo com o previsto pelo modelo. Para além disso, prevê problemas na
organização fonológica e, consequentemente, desvios no processo de aquisição,
que decorrem do não cumprimento dos princípios fonológicos (Clements, 2009).
Através da identificação da quantidade de traços presentes e ausentes dos
sujeitos 1 e 2, foi possível caracterizar o desvio fonológico quando à sua gravidade
de uma forma objetiva e mensurável, o que constitui um critério importante para o
diagnóstico. Os dois sujeitos apresentavam um desvio severo uma vez que
14Princípio da robustez – postula a existência de uma hierarquia universal de traços, tendo em conta a marcação e contrastes estabelecidos entre traços (Clements, 2009 citado por Amorim, 2014:20-22 e Lazzarotto-Volcao, 2009:80-85);
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
187
apresentavam as características correspondentes ao assumido para este nível de
gravidade, considerado em Lazzarotto-Volcão (2009): ausência de contrastes das
terceira e quarta etapas; presença de, no máximo, dois contrastes da segunda
etapa; presença de, no máximo, seis contrastes da primeira etapa. Dessa forma, o
modelo mostra-se como ferramenta importante para o processo de avaliação em
Terapia da Fala, tanto para o estabelecimento de diagnóstico e caracterização do
tipo de alteração como da sua gravidade.
8.2.OmodeloPAC-PEnaavaliaçãoclínicalongitudinal
Utilizando o modelo PAC-PE para a identificação da presença ou ausência
de coocorrências de traços, que permitem a emergência de contrastes fonológicos
num sistema, foi possível o estabelecimento de diagnóstico através da comparação
dos contrastes que deveriam estar presentes tendo em conta a idade de cada
sujeito. Esta comparação permitiu apurar a continuidade do diagnóstico ou a sua
evolução ao longo do processo terapêutico, tendo-se que observado, no sujeito 1,
que, após intervenção terapêutica, deixa de ser identificado o perfil que conduzia ao
estabelecimento de um diagnóstico de Perturbação dos Sons da Fala. No caso do
sujeito 2, o diagnóstico mantém-se, mesmo no último momento de avaliação, já que
se observa um perfil que não corresponde ainda ao esperado. Isto acontece,
provavelmente, pela interrupção feita durante o processo de intervenção, o que
demonstra e reforça a necessidade de reabilitação com um ritmo regular de um
sistema fonológico desviante.
O recurso ao modelo PAC-PE permitiu identificar, ao longo do processo de
intervenção, a forma como as crianças com patologia fazem as suas aquisições
fonológicas. Para os dois sujeitos, observou-se que a intervenção fonológica permite
observar novas combinações de traços e emergência de contrastes inicialmente
ausentes. No entanto, esta aquisição continua a ser um processo em que se
observa a não obediência aos princípios fonológicos (Clements, 2009; Lazzarotto-
Volcão, 2009), reforçando uma vez mais a ideia de que, nos desvios fonológicos, a
aquisição não acontece apenas de forma lentificada quanto à idade cronológica,
mas também que a aquisição pode não cumprir com princípios fonológicos. Assim,
observa-se, no segundo momento de avaliação, que, apesar de existir um maior
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
188
número de coocorrências e contrastes para ambos os sujeitos, se mantêm
dificuldades em cumprir os princípios fonológicos, especialmente por apresentarem
ainda dificuldades na coocorrência de traços mais robustos como [coronal]
[+anterior], na presença de domínio completo de traços menos robustos tais como
[+aproximante] .
Através da quantificação longitudinal da presença e ausência de traços
proporcionada pelo PAC-PE, é possível representar a alteração do grau de
gravidade das perturbações fonológicas, que pode ser evolutivo. Veja-se o caso do
sujeito 1, em que uma perturbação fonológica severa passa a leve para
posteriormente já não ser identificada. No caso do sujeito 2, a perturbação
anteriormente identificada como severa passa a leve.
Tendo sido interrompido o processo de intervenção, observa-se a
manutenção do grau de gravidade leve, reforçando a necessidade de intervenção
em crianças com perturbação, independentemente do grau de severidade.
8.3.AnáliseFonológica–Contributosparaumaanálisedemodelosde
avaliaçãoeintervenção
• Análise comparativa de modelos
A avaliação em Terapia da Fala no que respeita à Perturbação dos Sons da
Fala recorre maioritariamente a uma análise contrastiva com identificação da
ocorrência ou não de um som alvo ou a análise através dos processos fonológicos
presentes das produções de uma criança.
A primeira forma de análise, baseada na identificação do número de sons
corretamente produzidos, obtendo-se um valor percentual de consoantes corretas
(Shriberg & Kwiatkowski, 1982), não nos dá informação relativa à estrutura interna
dos segmentos. A análise contrastiva permite comparar a produção realizada com a
produção alvo mas não dos permite uma análise mais aprofundada sobre o sistema
fonológico da criança nem a identificação do que está na base dos processo
observados. Assim, relativamente ao sujeito 1, ao realizar apenas uma análise
contrastiva, iríamos entender que a criança não produz o alvo /d/. Mas esta
informação é insuficiente para entender o que se encontra de facto alterado no seu
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
189
sistema, já que é diferente se o erro cometido for a produção através de [g] ou de [t].
No primeiro caso, de acordo com o modelo PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009), a
alteração poderá relacionar-se com a coocorrência de traços de ponto e modo que
permitem o contraste entre oclusivas coronais x dorsais e, no segundo, com o traço
[vozeado], que permite o contraste entre oclusivas coronais vozeadas x não
vozeadas. No caso de R.R., sujeito 1, a alteração relacionada com o alvo /d/ prende-
se com a alteração do contraste de ponto oclusivas coronais x dorsais por
dificuldades com a coocorrência dos traços [coronal] [+anterior] com [-contínuo; -
soante]. Já no sujeito 2, observam-se dificuldades na emergência do mesmo
contraste, mas por alterações com a combinação do traço [dorsal] com [-contínuo; -
soante] nas produções de [d] para [g]. Estas informações são fundamentais para
entender o perfil e funcionamento fonológico de uma criança, crucial para o
planeamento terapêutico.
A identificação da presença ou ausência de traços isolados (Jakobson, Fant
e Halle, 1952; Chomsky & Halle, 1968) num sistema fonológico não permite aceder
a informação relativa às classes naturais já organizadas num sistema, não
relacionando os diferentes contextos em que um traço pode ser recrutado. No dados
observados tanto para o sujeito 1, observa-se, como exemplo, a presença do traço
[+contínuo] na fricativas labiais, no entanto este traço não se encontra ativo para
todos os segmentos pertencentes à classe das fricativas, o que só pode ser
explicado através da coocorrência dos traços [+contínuo] [coronal] [dorsal],
representado num modelo que use traços distintivos, como o PAC-PE.
Uma análise através da identificação de processos fonológicos (Stampe,
1979; Mendes et al., 2013; Miccio & Scarpino, 2008; Guerreiro, 2007;) parece tornar-
se pouco económica bem como ser pouco eficiente no que respeita ao
reconhecimento da natureza da alteração fonológica num sistema, já que, como
exemplo, uma alteração relacionada com as líquidas não-laterais com ocorrência, no
seu lugar, de líquidas laterais e/ou semivogais, é entendida como duas operações
diferentes, neste caso, relacionadas com duas saídas fonéticas diferentes,
denominando-se “substituição de líquidas” ou “semivocalização”. O Modelo PAC- PE
propõe olhar para este tipo de alterações como um problema relacionado com a
aquisição do contraste entre líquidas laterais e não laterais e/ou entre consoantes e
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
190
semivogais, existindo a necessidade de coocorrência de [+consoântico]
[+aproximante] [+contínuo].
Através dos resultados obtidos para o sujeito 1, em que se observa a
produção de [g] para /ʀ/ e de [g] para /z/, entende-se que, ao recorrer a uma análise
através de processos fonológicos, identificaríamos dois processos distintos, ambos
descritos como substituições de segmentos (“oclusivização” e “processos
adicionais”, de acordo com a proposta de Mendes et alii. (2003)). Utilizados os
pressupostos do modelo PAC-PE, concluímos que na base das duas alterações se
encontra potencialmente a mesma alteração: dificuldade na coocorrência dos traços
[-soante] [+contínuo] com traços de ponto [dorsal] ou [coronal]. O mesmo se observa
para o sujeito 2. As produções de [d] para /g/ e [d] para /ʀ/, à luz dos processos
fonológicos, corresponderiam a dois processos distintos (anteriorização e processos
adicionais), enquanto que o modelo PAC-PE explica esta alteração por dificuldades
na coocorrência do traço [dorsal] com os traços como [-soante] ou [+soante]
[+contínuo], respetivamente.
• O rótico dorsal no português europeu
Os róticos constituem uma classe difícil de ser definida em termos
fonológicos, especialmente pela diversidade fonética observada nas línguas do
mundo (Amorim & Veloso, no prelo). No português europeu, o rótico
tradicionalmente descrito como “vibrante múltipla”, pode ser articulado como uma
verdadeira vibrante (logo, como uma soante) ou como uma fricativa (ou seja, como
uma obstruinte). Neste caso, a articulação da fricativa pode ser feita com vibração
das cordas vocais ([ʁ]) ou não ([χ] ou [x]). Diversos estudos têm confirmado que a
articulação como fricativa uvular sonora ou surda é a realização mais comum no PE
atual (Mateus & d’Andrade, 2000; Jesus & Shadle, 2005; Rennicke & Martins, 2012).
A forma como as crianças processam o rótico dorsal parece não ser comum, já que
para algumas crianças é categorizado com obstruinte e, para outras, como
aproximante (Amorim & Veloso, no prelo).
No presente trabalho, a análise das estratégias utilizadas pelos dois sujeitos
permitiram observar a utilização preferencial de um segmento da classe das
obstruintes – preferencialmente uma oclusiva - no lugar do rótico em falta nos
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
191
sistemas fonológicos (este tipo de estratégias são frequentes durante o processo de
aquisição), o que pode reforçar a ideia de que as crianças processam o rótico /ʀ/ de
forma semelhante às fricativas, pelo menos numa fase inicial de aquisição (Miranda,
1996, 2007; Bonet e Mascaró, 1997; Costa, 2010, Amorim & Veloso, no prelo).
Na intervenção realizada para os dois sujeitos através do estímulo alvo /ʀ/,
observaram-se implicações na aquisição da classe das fricativas: através da
aquisição do traço [+contínuo] possibilitado pela aquisição de /ʀ/, todas as fricativas
surgiram nos sistemas fonológicos de ambos os sujeitos, sem ter um efeito tão
evidente na classe das soantes, reforçando o processamento do rótico como uma
fricativa na aquisição fonológica.
• Representação do modelo PAC com base nos dados de aquisição do
português europeu - Proposta
Na secção 1.1. do capítulo 1 são apresentados os contrastes considerados
no modelo PAC para o português do Brasil e para o português europeu (PAC-PE).
Na comparação das duas propostas existem algumas diferenças, que passamos a
referir. Nos contrastes considerados pertinentes no sistema fonológico das línguas,
Amorim (2014) propôs a adição do contraste oclusivas vs fricativas dorsais na
terceira etapa do modelo, já que, no português europeu, tal como referido
anteriormente, as crianças portuguesas parecem estar a processar o rótico dorsal
como uma fricativa. Tal como já referido, nos dois sujeitos deste estudo verifica-se
que o tipo de estratégia utilizada para produção de /ʀ/ é o recurso a uma oclusiva,
sendo esta uma substituição típica das consoantes pertencentes à classe das
fricativas. Estes dados mostram que estas crianças começam por processar /ʀ/
como obstruinte, o que não acontece com as restantes líquidas, constituindo uma
evidência empírica para a proposta de Amorim (2014), reforçando a necessidade da
adição deste contraste no PAC-PE.
Na sua proposta, Amorim (2014) regista algumas diferenças na ordem de
emergência dos contrastes nas diferentes etapas no português europeu,
nomeadamente nos contrastes Nasal coronal anterior vs. não anterior e Oclusiva
dorsal surda vs. sonora que, no português do Brasil, estão identificados na primeira
etapa e, no português europeu, se encontram na segunda etapa. Por outro lado, o
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
192
contraste entre fricativas coronais [±anteriores] parece não ter o mesmo
comportamento na aquisição do português do Brasil e do português europeu, sendo
as coronais [+anteriores] adquiridas primeiro para o português do Brasil. No
português europeu as coronais [-anteriores] são as primeiras a emergir, sendo as
coronais [+anterior] [-vozeado] adquiridas na terceira etapa e as coronais [+anterior]
[vozeado] adquiridas na quarta e última etapa. Ainda assim, Amorim (2014)
considera o contraste Fricativas coronais anteriores vs não anteriores adquirido na
terceira etapa, registando a emergência mais precoce das fricativas coronais não
anteriores.
Tendo em conta as diferenças descritas, Lazzarotto-Volcão (2016) faz uma
proposta de representação dos dados descritos em Amorim (2014) para o português
europeu, utilizada no presente trabalho. No entanto, esta proposta não permite dar
conta de todos aspetos supracitados (acréscimo do contraste Oclusivas vs fricativas
dorsais e alterações da sequencializaçao dos contrastes Nasal coronal anterior vs.
não anterior, Oclusiva dorsal surda vs. sonora, Fricativas coronais não anteriores vs
anteriores), que parecem ser relevantes para a descrição do perfil fonológico das
crianças portuguesas com perturbação fonológica. Assim, de seguida,
apresentamos, neste trabalho, uma proposta que pretende contemplar os aspetos
mencionados, a ser testada com dados de outras crianças com perturbação
fonológica.
Figura 42 - Proposta de representação do modelo PAC-PE
Considerando a proposta de Amorim (2014) para o modelo PAC à luz dos dados
de aquisição do português europeu (comparação das propostas de Amorim (2014) e
Consoantes
Soantes
Nasais
Labial Coronais
Anterior
Nãoanterior
Líquidas
Laterais
Anterior
Nãoanterior
Nãolaterais
Coronal
Dorsal
Nãosoantes
Oclusivas
Labial
NãoVozeada
vozeada
Coronal
NãoVozeada
Vozeada
Dorsal
Nãovozeada
Vozeada
FricativasDorsais Fricativas
Labial
Nãovozeada
Vozeada
Coronal
Anterior
Nãovozeada
Vozeada
Nãoanterior
Nãovozeada
Vozeada
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
193
Lazzarotto-Volcão (2009), realizada na secção 1.1. do capítulo 1, bem como a
respresentação desta proposta (Lazzarotto-Volcão, 2016), apresentamos na figura
42, uma nova sugestão de representação do modelo PAC-PE, de forma a
contemplar :
• A entrada do contraste Oclusivas vs fricativas dorsais;
• As diferenças relativas à sequencialidade dos contrastes:
§ Nasais coronais anteriores vs não anteriores
§ Oclusivas dorsais vozeadas vs não vozeadas
§ Fricativas coronais anteriores vs não anteriores
• Análise segmental vs análise silábica
Dado o impacto da estrutura silábica no desenvolvimento infantil, considerou-
se, neste trabalho, e tendo em conta a revisão da literatura, a necessidade de ter em
conta uma análise das consoantes em função dos diferentes constituintes silábicos,
já que a aquisição segmental é dependente da estrutura prosódica (Fikkert 1994;
Freitas 1997; Amorim, 2014; Ramalho 2017; Mendes et alii, 2013; Bernhardt &
Stemberger, 1998, 2000; Freitas 2003; Batista, 2015). A estrutura silábica foi um
critério tido em conta na análise fonológica realizada na descrição de resultados
(Capítulo 3) mas não foi alvo de análise à luz do modelo PAC-PE, uma vez que o
mesmo não contempla estas unidades prosódicas.
A análise dos dados, especialmente do sujeito 1 (R.R.), relativos à primeira
avaliação, reforçam a pertinência de considerar os diferentes constituintes silábicos
na avaliação segmental.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
194
Sujeito ASI ASM CdM CdF AR
% Exemplo % Exemplo % Exemplo % Exemplo % Exemplo
/l/ R.R. 100% [‘luɐ] <lua> 67%
[kɐ’belu] <cabelo>
100% [‘aɫku]
<alto> 50%
[ɔpi’kaɫ] <hospital>
0% [pɨlɐ̃kɐ] <planta>
L.R. 0% [‘uɐ] <lua> 0% [tɐ’beu]
<cabelo> 0%
[‘awtu] <alto>
0% [ɔpi’taw]
<hospital> 0%
[bi’tiɛtɐ] <bicicleta>
/ɾ / R.R. - . 67%
[vɐ’koɾɐ] <vassoura>
17% [fu’migɐ] <formiga>
80% [bĩ’kaɾ] <brincar>.
0% [bĩ’kaɾ] <brincar>
L.R. - - 0% [ba’toɐ]
<vassoura> 0%
[pu’midɐ] <formiga>
0% [ku’me]
<comer> 0%
[bĩ’ta] <brincar>
/ʃ / R.R. 0%
[Kuku’latɨ] <chocolate>
0% [‘pɐjkɨ]
<peixe> 0%
[pakɐ] <pasta>
75% [‘kaɫkɐʃ]
<calças> - -
L.R. 0% []
<chocolate> 50%
[‘tajʃɐ] <caixa>
0% [patɐ]
<pasta> 0%
[‘kawtɐ] <calças>
- -
Quadro 85 -Exemplos de produções de crianças em função dos constituintes silábicos no primeiro momento de avaliação
Como exemplo, ao analisar a aquisição do segmento /ɾ/, foi possível
observar valores de ocorrência diferentes em diferentes constituintes silábicos.
Assim, em ataque simples e em coda final, os valores de ocorrência permitem
determinar que o segmento está presente com valores que permitem afirmar que o
mesmo se encontra adquirido, embora não esteja completamente dominado.
Observem-se produções como [vɐ’koɾɐ] <vassoura> e [bĩ’kaɾ] <brincar>. Em coda
medial, o segmento /ɾ/ apresenta valores de ocorrência muito baixos, que lhe
conferem um estatuto fonológico de “não adquirido”; veja-se ainda o exemplo de
produções como [fu’migɐ] <formiga>. Em ataque ramificado o segmento /ɾ/ nunca é
produzido por R.R., como se pode observar em [bĩ’kaɾ] <brincar>.
No caso de L.R., como exemplo, observam-se padrões de erro diferentes,
para a produção de /l/, em função dos constituintes silábicos. Observam-se
omissões em ataque simples ou ataque ramificado como em [tɐ’beu] <cabelo> ou
[bi’tiɛtɐ] <bicicleta>. Em coda observam-se semivocalizações como em [‘awtu] <alto>
ou [ɔpi’taw] <hospital>
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
195
8.4Consideraçõesfinaisetópicosparainvestigaçãofutura
De acordo com a reflexão realizada, conclui-se que o modelo PAC-PE
possibilita a identificação do perfil fonológico de uma criança com alterações, dando
informação sobre a estrutura interna segmental e a forma como o sistema se
encontra organizado. Permite com facilidade identificar um atraso fonológico ou um
desvio através da análise da coocorrência de traços e a presença ou ausência de
contrastes. Esta análise adiciona ainda a possibilidade de classificar as alterações
de acordo com o grau de gravidade. Este estudo permitiu ainda observar a
vantagem na utilização do modelo PAC-PE durante o processo de reavaliação ao
longo da intervenção terapêutica. Desta forma, o presente trabalho permitiu utilizar e
testar o modelo PAC-PE em contexto clínico, através da análise de produções de
crianças com Perturbação Fonológica. Este estudo possibilitou ainda a análise das
aquisições realizadas por estas crianças ao longo da intervenção terapêutica,
mostrando ser útil e eficaz na avaliação longitudinal.
Como limitações do presente estudo refere-se a utilização de um instrumento
de recolha de dados com uma amostra de fala considerada pequena, já que as
ponderações percentuais podem ser influenciadas pelos dados de frequência de
ocorrência de um segmento. Para além disto, e como referido anteriormente, o
modelo não permitiu uma análise segmental em função dos constituintes silábicos,
que pode tornar-se muito relevante na avaliação e intervenção (Ramalho, 2017;
Amorim 2014).
Outra limitação identificada neste estudo relaciona-se com o registo, através
do modelo PAC-PE, da substituição de uma consoante ([ʎ], [ɲ], [ɾ], ou outra) por uma
semivogal (sendo a mais frequente no português europeu [j]), encontrando-se
alterado um contraste entre consoantes e semivogais que não se encontra
contemplado no modelo (Amorim 2014; Lazzarotto-Volcão, 2009; 2016). Nos seus
trabalhos, as semivocalizaçãos penalizam o contraste das líquidas ou das nasais.
No entanto, os contrastes existentes no modelo não contemplam o contraste entre
[±consonântico] envolvido na semivocalização. Neste trabalho considerámos que,
quando existisse uma semivocalização, este erro não entraria no resgisto de
contabilização de contrastes (ver metodologia), o que compromete o confronto dos
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
196
dados relativos à semivocalização de laterais entre os diferentes trabalhos. Uma
representação deste aspeto no PAC-PE carece de reflexão.
Sugere-se como possibilidades de próximos estudos, não só a adaptação do
modelo PAC a todos os constituintes silábicos, já iniciado para o português do Brasil
como o trabalho de Giacchini (2015), como a adaptação do modelo de forma a
responder à substituição de consoantes por semivogais, frequentes no português
europeu, bem como o estudo do impacto que o modelo pode ter na eficácia de
intervenção através da seleção dos estímulos alvo a trabalhar durante a intervenção.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
197
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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
205
ANEXO A: Formulário de Consentimento
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
206
Informação e Consentimento Informado: Portuguese Europeu
Estudo sobre o desenvolvimento fonológico nas perturbações fonológicas
Equipa de investigação: Cristiane Lazzarotto-Volcão (Fonoaudióloga, Mestre e Doutora em Linguística Aplicada), M. João dos Reis de Freitas (PhD, Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) e com Tânia Barbosa dos Reis (terapeuta da fala, Mestranda em linguística na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), no sentido de estudar o desenvolvimento fonológico de crianças com perturbações fonológicas após estimulação. Objectivo central do estudo: O estudo permitir-nos-á saber mais sobre o desenvolvimento fonológico das crianças com patologia da linguagem através da intervenção terapêutica, sendo esta informação crucial para os terapeutas da fala que trabalham com estas crianças. O que lhe pedimos:
Se permitir que o/a seu/sua filho/filha participe neste estudo (por favor, veja os formulários em anexo), ele/a será convidado/a a participar em actividades de estimulação fonológica com o objetivo de adequar os resultados da sua produção verbal.
1. Em cada sessão terapêutica serão realizadas tarefas fonológicas através de diversas atividades (Corta, cola, jogos, etc..)
2. Será aplicado um instrumento de nomeação de imagens para recolha de dados de produção. Será aplicado sempre que se julgue necessária uma análise do sistema fonológico.
Tânia Reis encontrar-se-á com o/a seu/sua filho/filha, podendo, ou não, estar presente o encarregado de educação ou educadora, uma vez por semana, para a realização da sessão terapêutica. Cada sessão terá a duração de 30 a 45 minutos. As respostas do/da seu/sua filho/filha serão gravadas em formato áudio, para podermos trabalhar sobre elas mais tarde. Na possibilidade de virmos a incluir excertos das gravações áudio em apresentações efectuadas em conferências de natureza académica ou em sessões de formação de terapeutas da fala, apresentamos em anexo o formulário B, especificamente concebido para que nos autorize (ou não) a usar as gravações áudio do/da seu/sua filho/filha nestes dois contextos. Após a sessão: Pode solicitar cópia das sessões de gravação áudio e um breve relatório sobre os resultados obtidos pela criança. Confidencialidada e privacidade: O nome da sua família e o da sua criança, bem como o desempenho desta na aplicação dos testes, serão guardados como confidenciais. As gravações recolhidas serão usadas exclusivamente no âmbito do presente estudo ou, no caso de preencher os formulários B e C, poderão ser usadas em conferências, para objectivos educacionais ou partilhadas entre investigadores no PHONBANK (para mais informação sobre este banco de dados, consulte o formulário C). A informação relativa a cada criança será guardada num gabinete fechado, durante pelo menos cinco anos, na University of British Columbia, School of Audiology and Speech Sciences A cada criança será atribuído um número. Nomes reais e outras informações relativas à identificação da criança serão retiradas de qualquer registo em papel ou digital. O
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
207
registo que relaciona o número atribuído à identificação da criança será guardado num armário fechado no gabinete de M. João Freitas, no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Aos registos digitais apenas poderão aceder detentores da palavra-passe relevante. No caso de concordar com o uso dos registos áudio para fins educativos e de investigação, não haverá nunca referência ao nome do/da seu/sua filho/filha nesses materiais.
Participar neste projeto é uma escolha sua e do/da seu/sua filho/filha. Ambos/as podem decidir cancelar a participação no estudo a qualquer momento e sem quaisquer consequências. Se aceitar que o/a seu/sua filho/filha participe no estudo, por favor, preencha os formulários de consentimento informado (e o questionário, se assim o desejar) e entregue-os a Tânia Barbosa dos Reis.
Existem 3 formulários de consentimento informado a ter em consideração:
O Formulário A permite-lhe concordar ou não com a participação do/da seu/sua filho/filha neste estudo.
O Formulário B permite-lhe concordar ou não com o uso dos registos áudio feitos para fins académicos ou educacionais.
O Formulário C permite-lhe concordar ou não com o uso das transcrições e/ou dos registos áudio do/da seu/sua filho/filha para integração anónima no PHONBANK, parte da base de dados CHILDES, criada em 1984 pelo Professor Doutor Brian MacWhinney (Carnegie-Mellon University, Pittsburgh, PA, US). Toda a informação sobre esta base de dados está disponível em childes.psy.cmu.edu/phon; esta base de dados contém registos escritos e de áudio para investigação sobre a aquisição da linguagem em várias línguas. Investigadores de todo o mundo usam estes registos para saberem mais sobre desenvolvimento linguístico infantil. Todos os nomes das crianças (substituídos por códigos numéricos), bem como informações sobre locais da recolha, são eliminados dos registos de escrita e de áudio disponíveis na base de dados. Apenas informação sobre idade, género e língua(s) materna(s) da criança são disponibilizados. Para mais informação, por favor contacte Dr. B. May Bernhardt: 604-822-2319, [email protected]. No caso de dúvidas sobre os seus direitos como sujeito de investigação, pode contactar o Research Subject Information Line – University of British Columbia, Office of Research Services (604-822-8598; e-mail [email protected].) Muito obrigado! Contactos da Investigadora: Tânia Barbosa dos Reis Rua das Ágatas nº 31 2970-190 Sesimbra Portugal E-mail: [email protected]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
208
Formulário de Autorização A: Consentimento para participação no estudo
Parte 1: Participação no estudo
Estudo sobre o desenvolvimento fonológico nas perturbações fonológicas
Verifique, por favor, a informação que se segue, confirmando com a sua assinatura. • A sua assinatura mostra que recebeu uma cópia desta folha para seu registo próprio. • A sua assinatura revela a sua concordância, ou não, com a participação do/a seu/sua
filho/filha neste projecto. A. Assinale, por favor, com uma (x), a opção que pretende:
q Autorizo que o/a meu/minha filho/filha ,______________________________________________,
(nome da criança) participe neste estudo.
q Não autorizo que o/a meu/minha filho/filha ,
_________________________________________, (nome da criança)
participe neste estudo. Nome do Encarregado de Educação: _______________________________________________________ Assinatura: __________________________________Data: _________________________ Parte 2. Questionário. Autorizo que seja preenchido o formulário para pais/educadores, com informação a usar exclusivamente em contexto de investigação; entendi que o seu preenchimento parcial ou total é completamente voluntário e não constitui um requisito do estudo.
q Autorizo o preenchimento do questionário opcional sobre a minha família e o desenvolvimento do/da meu/minha filho/a.
A sua assinatura indica que recebeu uma cópia desta página para ficar em seu poder. A sua assinatura indica que concorda com ou discorda do facto de o/ seu/sua filho/filha participar neste projecto.
O seu nome ______________________________________________________________ Assinatura __________________________________Data _________________________
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
209
Formulário de Autorização B: Consentimento secundário para uso das transcrições e/ou registos áudio em
conferências e para fins académicos e educacionais no âmbito da formação/ensino de terapeutas da fala
Estudo sobre o desenvolvimento fonológico nas perturbações fonológicas
Verifique, por favor, a informação que se segue, confirmando com a sua assinatura.
• A sua assinatura mostra que recebeu uma cópia desta folha para seu registo próprio.
• A sua assinatura revela a sua concordância, ou não, com o uso da gravação áudio do/a seu/sua filho/a para fins académicos, científicos e educacionais, em conferências e na formação/ensino de terapeutas da fala.
B1. Assinale, por favor, com uma (x), a opção que pretende:
q Autorizo que os investigadores utilizem as transcrições e gravações do meu filho, __________________________________________ (nome da criança), com fins única e exclusivamente académicos, científicos e educacionais em conferências e na formação de terapeutas da fala.
q Não autorizo que os investigadores utilizem as transcrições e gravações do meu filho __________________________________________ (nome da criança), com fins única e exclusivamente académicos, científicos e educacionais em conferências e na formação de terapeutas da fala.
Nome do Encarregado de Educação:________________________________________________________ Assinatura: __________________________________Data: _________________________
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
210
Formulário de Autorização C: Consentimento secundário para integração dos dados das crianças no PHONBANK
childes.psy.cmu.edu/phon.
Estudo interlinguístico sobre o desenvolvimento fonológico infantil: Português Europeu
Verifique, por favor, a informação que se segue, confirmando com a sua assinatura.
• A sua assinatura mostra que recebeu uma cópia desta folha para seu registo próprio.
• A sua assinatura revela a sua concordância, ou não, com a futura submissão das transcrições e registos áudio do/a seu/sua filho/a ao PHONBANK.
Assinale, por favor, com uma (x), a opção que pretende:
q Autorizo que os investigadores deste estudo submetam, de forma anónima, as transcrições escritas da fala do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.
q NÃO AUTORIZO que os investigadores deste estudo submetam, de forma
anónima, as transcrições escritas da fala do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.
q Autorizo que os investigadores deste estudo submetam, de forma anónima, os
registos áudio da fala (sendo todos os nomes e informação pessoal que o/a identifique eliminados) do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.
q NÃO AUTORIZO que os investigadores deste estudo submetam, de forma anónima, os registos áudio da fala (sendo todos os nomes e informação pessoal que o/a identifique eliminados) do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Nome do Encarregado de Educação: _______________________________________________________ Assinatura: __________________________________Data: _________________________ Não havendo consentimento, da sua parte, para submissão de transcrições e/ou gravações áudio para o PHONBANK, estes dados encontrar-se-ão protegidos, não sendo enviados para o banco de dados.
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
211
ANEXO B: Transcições Fonéticas – Sujeito 1
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
212
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Peras Nomeação [‘peɾɐ]
Sapato Nomeação [kɐ’paku]
Jipe Repetição [‘dipɨ]
Televisão Nomeação [fi’dɐ̃w]
Rato Nomeação [‘gaku]
Pente Nomeação [‘p~ek]
Cabelo Nomeação [kɐ’belu]
Faca Nomeação [‘fakɐ]
Bola Nomeação [‘bɔlɐ]
Dedo Nomeação [‘gegu]
Balde Nomeação [‘baɫgɨ]
Gato Nomeação [‘gaku]
Garrafa Nomeação [dɐ’ɾafɐ]
Café Nomeação [kɐ’fɛ]
Vassoura Nomeação [vɐ’koɾɐ]
Chapéu Nomeação [kɐ’pɛw]
Caixa Nomeação [‘kajkɐ]
Peixe Nomeação [‘pɐjkɨ]
Chave Nomeação [‘kafɨ]
Zebra Nomeação [‘gebɐ]
Mesa Nomeação [‘megɐ]
Janela Nomeação [gɐ’ɲɛlɐ]
Queijo Nomeação [‘kɐjgu]
Cama Nomeação [‘kɐmɐ]
Nariz Nomeação [ɲɐ’iʃ]
Telefone Nomeação [kuɫfɔɲ]
Unha Nomeação [‘ujnɐ]
Cozinhar Nomeação [kugi’naɾ]
Comer Nomeação [ku’me]
Chocolate Nomeação [Kuku’latɨ]
Lua Nomeação [‘ua]
Sol Nomeação [‘sɔlu]
Olho Nomeação [‘oju]
Palhaço Nomeação [pɐ’jaku]
Brincar Nomeação [bĩ’kaɾ]
Serpente Nomeação [kɨ’p~ekɨ]
Três Nomeação [‘keʃ]
Quatro Nomeação [‘kwaku]
Estrela Nomeação [‘kelɐ]
Prato Nomeação [‘paku]
Soprar Nomeação [ku’paɾ]
Frango Nomeação [‘fãgu]
Gravata Nomeação [gɐ’vakɐ]
Tigre Repetição [‘kigɨ]
Dragão Nomeação [gɐ’gɐ̃w]
Vidro Nomeação [‘vidu]
Creme Nomeação [‘kɛmɨ]
Letra Repetição [‘lekɐ]
Livro Nomeação [‘livu] Planta Nomeação [pɨlɐ̃kɐ] Bicicleta Nomeação [bi’kɫɛkɐ]
Flor Nomeação [fɨ’ɫoɾ]
Porco Nomeação [‘poku]
Porta Nomeação [‘pɔkɐ]
Gordo Nomeação [‘gogu]
Carne Nomeação [‘kaɾɲ]
Forte Nomeação [‘fɔk]
Formiga Nomeação [fu’migɐ]
Garfo Nomeação [‘gaɾfu]
Alto Nomeação [‘aɫku]
Calças Nomeação [‘kaɫkɐʃ]
Colchão Nomeação [koɫ’kɐ̃w]
Polvo Nomeação [‘powvu]
Hospital Nomeação [ɔpi’kaɫ]
Pasta Nomeação [pakɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
213
SEGUNDA AVALIAÇÃO
Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐ]
Sapato Nomeação [sɐ’patu]
Jipe Nomeação [‘zipɨ]
Televisão Nomeação [tɫvi’zɐ̃w]
Rato Nomeação [‘ʀatu]
Pente Nomeação [‘p~et]
Cabelo Nomeação [kɐ’belu]
Faca Nomeação [‘fakɐ]
Bola Nomeação [‘bɔlɐ]
Dedo Nomeação [‘dedu]
Balde Nomeação [‘baɫdɨ]
Gato Nomeação [‘gatu]
Garrafa Nomeação [gɐ’ʀafɐ]
Café Nomeação [kɐ’fɛ]
Vassoura Nomeação [vɐ’soɾɐ]
Chapéu Nomeação [sɐ’pɛw]
Caixa Nomeação [‘kajsɐ]
Peixe Nomeação [‘pɐjsɨ]
Chave Nomeação [‘safɨ]
Zebra Nomeação [‘zebɐ]
Mesa Nomeação [‘mezɐ]
Janela Nomeação [zɐ’nɛlɐ]
Queijo Nomeação [‘kɐjzu]
Cama Nomeação [‘kɐmɐ]
Nariz Nomeação [nɐ’ɾiʃ]
Telefone Nomeação [tuɫfɔn]
Unha Nomeação [‘ujnɐ]
Cozinhar Nomeação [kuzi’naɾ]
Carro Nomeação [‘kaʀu]
Comer Nomeação [ku’meɾ]
Lua Nomeação [‘luɐ]
Sol Nomeação [‘sɔɫ]
Olho Nomeação [‘oju]
Palhaço Nomeação [pɐ’jasu]
Brincar Nomeação [bɨɾĩ’kaɾ]
Serpente Nomeação [sɨɾ’p~etɨ]
Três Nomeação [‘teʃ]
Quatro Nomeação [‘kwatu]
Estrela Nomeação [ɨʃ‘telɐ]
Prato Nomeação [‘patu]
Soprar Nomeação [su’paɾ]
Frango Nomeação [‘fãgu]
Gravata Nomeação [gɐɾ’vatɐ]
Tigre Nomeação [‘kigɨ]
Dragão Nomeação [gɐɾ’gɐ̃w]
Vidro Nomeação [‘vidu]
Creme Nomeação [‘kɛmɨ]
Letra Nomeação [‘letɐ]
Livro Nomeação [‘lifu]
Planta Nomeação [pɫɐ̃tɐ]
Bicicleta Nomeação [bisi’kɫɛtɐ]
Flor Nomeação [fɨ’ɫoɾ]
Porco Nomeação [‘poɾku]
Porta Nomeação [‘pɔɾtɐ]
Gordo Nomeação [‘goɾgu]
Carne Nomeação [‘kaɾn ɨ]
Forte Nomeação [‘fɔɾtɨ]
Formiga Nomeação [fuɾ’migɐ]
Garfo Nomeação [‘gaɾfu]
Alto Nomeação [‘aɫtu]
Almofada Nomeação [‘aɫmufadɐ]
Calças Nomeação [‘kaɫsɐʃ]
Colchão Nomeação [koɫ’sɐ̃w]
Polvo Nomeação [‘poɫvu]
Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]
Pescar Nomeação [pɨʃ’kaɾ]
Pasta Nomeação [paʃ tɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
214
TERCEIRA AVALIAÇÃO
Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐ]
Sapato Nomeação [sɐ’patu]
Jipe Nomeação [‘ʒipɨ]
Televisão Nomeação [tɫvi’zɐ̃w]
Rato Nomeação [‘ʀatu]
Pente Nomeação [‘p~et]
Cabelo Nomeação [kɐ’belu]
Faca Nomeação [‘fakɐ]
Bola Nomeação [‘bɔlɐ]
Dedo Nomeação [‘dedu]
Balde Nomeação [‘baɫdɨ]
Gato Nomeação [‘gatu]
Garrafa Nomeação [gɐ’ʀafɐ]
Café Nomeação [kɐ’fɛ]
Vassoura Nomeação [vɐ’soɾɐ]
Chapéu Nomeação [ʃɐ’pɛw]
Caixa Nomeação [‘kɐjʃɐ]
Peixe Nomeação [‘pɐjʃɨ]
Chave Nomeação [‘ʃɐfɨ]
Zebra Nomeação [‘zebɾɐ]
Mesa Nomeação [‘mezɐ]
Janela Nomeação [zɐ’nɛlɐ]
Queijo Nomeação [‘kɐjʒu]
Cama Nomeação [‘kɐmɐ]
Nariz Nomeação [nɐ’ɾiʃ]
Telefone Nomeação [tuɫfɔn]
Unha Nomeação [‘ujɲɐ]
Cozinhar Nomeação [kuzi’ɲaɾ]
Carro Nomeação [‘kaʀu]
Comer Nomeação [ku’meɾ]
lua Nomeação [‘luɐ]
Sol Nomeação [‘sɔɫ]
Olho Nomeação [‘oju]
Palhaço Nomeação [pɐ’jasu]
Brincar Nomeação [bĩ’kaɾ]
Serpente Nomeação [sɨ’pɾ~etɨ]
Três Nomeação [‘teʃ]
Quatro Nomeação [‘kwatɾu]
Estrela Nomeação [ɨʃ ‘tɾelɐ]
Prato Nomeação [‘pratu]
Soprar Nomeação [su’pɾaɾ]
Frango Nomeação [‘fɾãgu]
Gravata Nomeação [gɐɾ’vatɐ]
Tigre Nomeação [‘tigɾɨ]
Dragão Nomeação [dɾɐ’gɐ̃w]
Vidro Nomeação [‘vidɾu]
Creme Nomeação [‘kɾɛmɨ]
Letra Nomeação [‘letɾɐ]
Livro Nomeação [‘livɾu]
Planta Nomeação [pɫɐ̃tɐ]
Bicicleta Nomeação [bisi’kɫɛtɐ]
Flor Nomeação [‘fɫoɾ]
Porco Nomeação [‘poɾku]
Porta Nomeação [‘pɔɾtɐ]
Gordo Nomeação [‘goɾgu]
Carne Nomeação [‘kaɾn ɨ]
Forte Nomeação [‘fɔɾtɨ]
Formiga Nomeação [fuɾ’migɐ]
Garfo Nomeação [‘gaɾfu]
Alto Nomeação [‘aɫtu]
Almofada Nomeação [‘aɫmufadɐ]
Calças Nomeação [‘kaɫsɐʃ]
Colchão Nomeação [koɫ’ʃɐ̃w]
Polvo Nomeação [‘poɫvu]
Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]
Pescar Nomeação [pɨʃ’kaɾ]
Pasta Nomeação [‘paʃ tɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
215
ANEXO C: Transcrições Fonéticas – Sujeito 2
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
216
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Peras Nomeação [‘peɐ]
Sapato Nomeação [tɐ’patu]
Jipe Nomeação [‘dipɨ]
Televisão Nomeação [tibi’ɐ̃w]
Rato Nomeação [‘datu]
Pente Nomeação [‘p~etɨ]
Cabelo Nomeação [tɐ’beu]
Faca Nomeação [‘pakɐ]
Bola Nomeação [‘bɔwɐ]
Dedo Nomeação [‘dedu]
Balde Nomeação [‘badɨ]
Gato Nomeação [‘datu]
Garrafa Nomeação [dɐ’batɐ]
Café Nomeação [tɐ’pɛ]
Vassoura Nomeação [bɐ’toɐ]
Chapéu Nomeação [tɐ’pɛw]
Caixa Nomeação [‘tajʃɐ]
Peixe Nomeação [‘pɐjtɨ]
Chave Nomeação [‘tabɨ]
Zebra Nomeação [‘debɨɐ]
Mesa Nomeação [‘medɐ]
Janela Nomeação [dɐ’ɛnɐ]
Queijo Nomeação [‘tɐjdu]
Cama Nomeação [‘tɐmɐ]
Nariz Nomeação [nɐ’i]
Telefone Nomeação [tu’pɔn ɨ]
Unha Nomeação [‘ujɐ]
Cozinhar Repetição [tui’da]
Carro Nomeação [‘tadu]
Comer Nomeação [ku’me]
Lua Nomeação [‘uɐ]
Sol Nomeação [‘tɔlu]
Olho Nomeação [‘oju]
Palhaço Nomeação [pɐ’atu]
Brincar Nomeação [bĩ’ta]
Cobra Nomeação [‘tɔbɐ]
Três Nomeação [‘te]
Quatro Nomeação [‘twatu]
Estrela Nomeação [‘teɐ]
Prato Nomeação [‘patu]
Soprar Nomeação [tu’pa]
Frango Repetição [‘pãdu]
Gravata Nomeação [dɐ’batɐ]
Tigre Nomeação [‘tidɨ]
Dragão Nomeação [dɐ’dɐ̃w]
Vidro Nomeação [‘bidu]
Creme Repetição [‘tɛmɨ]
Letra Repetição [‘etɐ]
Livro Nomeação [‘libu]
Bicicleta Nomeação [bi’tiɛtɐ]
Flor Nomeação [pu’o]
Porco Nomeação [‘potu]
Porta Nomeação [‘pɔtɐ]
Gordo Nomeação [‘dodu]
Carne Nomeação [‘tan ɨ]
Forte Nomeação [‘pɔtɨ]
Formiga Nomeação [pu’midɐ]
Garfo Nomeação [‘dapu]
Alto Repetição [‘awtu]
Almofada Nomeação [‘awmupada]
Calças Repetição [‘tawtɐ]
Colchão Repetição [to’tɐ̃w]
Polvo Nomeação [‘powbu]
Hospital Repetição [ɔpi’taw]
Pesca Nomeação [‘pɛtɐ]
Pasta Nomeação [‘patɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
217
SEGUNDA AVALIAÇÃO
Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐʃ]
Sapato Nomeação [ʃɐ’patu]
Jipe Nomeação [‘ʒipɨ]
Televisão Nomeação [tivi’ʒɐ̃w]
Rato Nomeação [‘ʀatu]
Pente Nomeação [‘p~et]
Cabelo Nomeação [kɐ’belu]
Faca Nomeação [‘fakɐ]
Bola Nomeação [‘bɔlɐ]
Dedo Nomeação [‘dedu]
Balde Nomeação [‘bawdɨ]
Gato Nomeação [‘gatu]
Garrafa Nomeação [gɐ’ʀafɐ]
Café Nomeação [kɐ’fɛ]
Vassoura Nomeação [vɐ’ʃoɐ]
Chapéu Nomeação [sɐ’pɛw]
Caixa Nomeação [‘kajʃɐ]
Peixe Nomeação [‘pɐjʃɨ]
Chave Nomeação [‘ʃafɨ]
Zebra Nomeação [‘ʒebɐ]
Mesa Nomeação [‘mevɐ]
Janela Nomeação [ʒɐ’nɛlɐ]
Queijo Nomeação [‘kɐjʒu]
Cama Nomeação [‘kɐmɐ]
Nariz Nomeação [nɐ’iʃ]
Telefone Nomeação [tufɔn ɨ]
Unha Nomeação [‘unɐ]
Cozinhar Nomeação [kuʒi’ɲaɾ]
Carro Nomeação [‘kaʀu]
Comer Nomeação [ku’me]
lua Nomeação [‘luɐ]
Sol Nomeação [‘sɔɫ]
Olho Nomeação [‘oju]
Palhaço Nomeação [pɐ’jaʃu]
Brincar Nomeação [bĩ’kal]
Serpente Nomeação [‘kɔbɐ]
Três Nomeação [‘teʃ]
Quatro Nomeação [‘kwatu]
Estrela Nomeação [ɨʃ ‘telɐ]
Prato Nomeação [‘patu]
Soprar Nomeação [ʃu’pal]
Frango Nomeação [‘fãgu]
Gravata Nomeação [gɐ’vatɐ]
Tigre Nomeação [‘tigɨ]
Dragão Nomeação [dɐ’gɐ̃w]
Vidro Nomeação [‘vidu]
Creme Nomeação [‘kɛmɨ]
Letra Nomeação [‘letɐ]
Livro Nomeação [‘livu]
Planta Nomeação [pɨɫɐ̃tɐ]
Bicicleta Nomeação [biʃ i’kɨɫɛtɐ]
Flor Nomeação [fɨ’ɫoɾ
Porco Nomeação [‘poku]
Porta Nomeação [‘pɔtɐ]
Gordo Nomeação [‘gogu]
Carne Nomeação [‘kan ɨ]
Forte Nomeação [‘fɔtɨ]
Formiga Nomeação [fu’migɐ]
Garfo Nomeação [‘gafu]
Alto Nomeação [‘awtu]
Almofada Nomeação [‘awmufadɐ]
Calças Nomeação [‘kaʃɐʃ]
Colchão Nomeação [ko’ʃɐw]
Polvo Nomeação [‘powvu]
Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]
Pesca Nomeação [pɛʃ’ka]
Pasta Nomeação [paʃ tɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
218
TERCEIRA AVALIAÇÃO Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐʃ]
Sapato Nomeação [ʃɐ’patu]
Jipe Nomeação [‘ʒipɨ]
Televisão Nomeação [tivi’ʒɐ̃w]
Rato Nomeação [‘ʀatu]
Pente Nomeação [‘p~et]
Cabelo Nomeação [kɐ’belu]
Faca Nomeação [‘fakɐ]
Bola Nomeação [‘bɔlɐ]
Dedo Nomeação [‘dedu]
Balde Nomeação [‘baɫdɨ]
Gato Nomeação [‘gatu]
Àgua Nomeação [‘agwɐ]
Café Nomeação [kɐ’fɛ]
Vassoura Nomeação [vɐ’ʃoɐ]
Chapéu Nomeação [ʃɐ’pɛw]
Caixa Nomeação [‘kajʃɐ]
Peixe Nomeação [‘pɐjʃɨ]
Chave Nomeação [‘ʃafɨ]
Zebra Nomeação [‘ʒebɐ]
Mesa Nomeação [‘mevɐ]
Janela Nomeação [ʒɐ’nɛlɐ]
Queijo Nomeação [‘kɐjʒu]
Cama Nomeação [‘kɐmɐ]
Nariz Nomeação [nɐ’iʃ]
Telefone Nomeação [tɨɫfɔn ɨ]
Unha Nomeação [‘uɲɐ]
Cozinhar Nomeação [kuʒi’ɲaɾ]
Carro Nomeação [‘kaʀu]
Chocolate Nomeação [ʃuku’latɨ]
lua Nomeação [‘luɐ]
Sol Nomeação [‘sɔɫ]
Olho Nomeação [‘oʎu]
Palhaço Nomeação [pɐ’ʎaʃu]
Brincar Nomeação [bĩ’kal]
Serpente Nomeação [‘kɔbɐ]
Três Nomeação [‘teʃ]
Quatro Nomeação [‘kwatu]
Estrela Nomeação [ɨʃ ‘telɐ]
Prato Nomeação [‘patu]
Soprar Nomeação [ʃu’pal]
Frango Nomeação [‘fãgu]
Gravata Nomeação [gɐ’vatɐ]
Tigre Nomeação [‘tigɨ]
Dragão Nomeação [dɐ’gɐ̃w]
Vidro Nomeação [‘vidu]
Creme Nomeação [‘kɛmɨ]
Letra Nomeação [‘letɐ]
Livro Nomeação [‘livu]
Planta Nomeação [pɨɫɐ̃tɐ]
Bicicleta Nomeação [biʃ’klɛtɐ]
Flor Nomeação [‘fɫo]
Porco Nomeação [‘poku]
Porta Nomeação [‘pɔtɐ]
Gordo Nomeação [‘godu]
Carne Nomeação [‘kan ɨ]
Força Nomeação [‘foʃɐ]
Formiga Nomeação [fu’migɐ]
Garfo Nomeação [‘gafu]
Alto Nomeação [‘aɫtu]
Almofada Nomeação [‘aɫmufadɐ]
Calças Nomeação [‘kaɫʃɐʃ]
Colchão Nomeação [koɫ’ʃɐw]
Polvo Nomeação [‘poɫvu]
Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]
Pesca Nomeação [pɛʃ’ka]
Pasta Nomeação [paʃ tɐ]
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
219
ANEXO D: Folhas de registo – Ocorrências de Consoantes
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
220
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
221
ANEXO E: Folhas de Registo – Cálculo para o inventário fonológico
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
222
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
223
ANEXO F: Folha de registo – Representação do Inventário Fonológico
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
224
Ataque Simples
/p/
/b/
/ t /
/d/
/k/
/g/
/f /
/v/
/s/
/z/
/ʃ/
/ʒ/
/m/
/n/
/ɲ/
/ l /
/ʎ/
/ɾ/
/ʀ /
Coda
/s/
/ɾ/ /l/
Ataque Ramificado
/cɾv/
/clv/
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
225
ANEXO G: Folha de registo – Ocorrência de Processos fonológicos
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
226
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
227
ANEXO H: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
228
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
229
ANEXO I: Folhas de Registo – Ocorrência de Consoantes– Sujeito 1
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
230
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
231
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
232
TERCEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
233
ANEXO J: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 1
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
234
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
235
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
236
TERCEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
237
ANEXO K: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 1
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
238
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
239
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
240
TERCEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
241
ANEXO L: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 1
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
242
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
243
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
244
TERCEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
245
ANEXO M : Folhas de registo – Ocorrência de Consoantes sujeito 2
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
246
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
247
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
248
TERCEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
249
ANEXO N: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 2
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
250
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
251
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
252
TERCEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
253
ANEXO O: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 2
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
254
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
255
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
256
TERCEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
257
ANEXO P : Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 2
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
258
PRIMEIRA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
259
SEGUNDA AVALIAÇÃO
A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso
260
TERCEIRA AVALIAÇÃO