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Universidade de Lisboa Faculdade de Letras A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso Tânia Barbosa dos Reis Mestrado em Linguística 2018 Dissertação orientada por: Prof. Doutora Maria João Freitas Prof. Doutora Cristiane Lazzarotto-Volcão

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes-

Estudo de Caso

Tânia Barbosa dos Reis Mestrado em Linguística

2018

Dissertação orientada por:

Prof. Doutora Maria João Freitas Prof. Doutora Cristiane Lazzarotto-Volcão

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

2

Viver agora, com o coração...

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

I

AGRADECIMENTOS

O caminho até chegar a este momento foi longo....

Com este percurso intermitente e longo não posso deixar de agradecer pela

paciência e compreensão sem limites das minhas orientadoras, Prof. Doutora Maria

João Freitas e Prof. Doutora Cristiana Lazzarotto-Volcão. A ambas agradeço a

dedicação, a disponibilidade, a atenção, a partilha de todos os saberes, a motivação.

Pelo meio deste processo três meninos. O João de olhos doces, o Nuno de

olhos profundos e o Manuel de olhar maroto...Os três vieram encher o meu coração

e fazê-lo crescer sempre mais um pouco. Tornaram este caminho muito mais fácil,

mais divertido, mais pleno e com mais sentido que nunca. A eles tenho de agradecer

por me ensinarem todos os dias a descobrir um pouco mais de mim, a querer

sempre fazer diferente e melhor, a aprender todos os dias a ser por inteiro nesta

vida.

Ao MEU Zé ... o meu amor, tantos anos de partilha, tantos anos de

descobertas, tantos anos de amizade, tantos anos de companheirismo, tantos anos

de apoio, tantos anos de paixão, tantos anos de amor. A ti agradeço estares a meu

lado, sempre. Agradeço-te por me permitires ser.. sem limites.

Aos meus pais, João e Carolina...uff.. esta é difícil.... agradeço todo o

amor....agradeço estarem sempre mas sempre ao meu lado.. Agradeço por ter a

certeza que seja quais forem as minhas escolhas, vocês estarão aqui de braços e

coração aberto, sem julgamentos!

Aos meus irmãos, António e Luís ... dois homens fortes, determinados,

protetores. Sempre foram e serão uma referência para mim! Continuarei a ser a

vossa “Tanucha” e continuarão a ser vocês a pagar-me os jantares! Um beijo

gigante às minhas cunhadas, Maria Teresa e Maria Inês, por estarem ao seu lado.

Um muito especial à minha madrinha, afilhada, prima e quase irmã (continuo a não

gostar das palmeiras que fazias no meu cabelo!).

Aos meus sobrinhos sempre com sorrisos disponíveis com boa disposição e

prontos para uma boa brincadeira. Como cresceram...

Aos meus sogros, José e Maria Cristina pela total disponibilidade para nós e

pelo amor incondicional que tanto os caracteriza.

Ás minhas cunhadas e cunhado, Maria Inês, Maria João, Catarina, Liliana,

Nuno e Paulo, obrigada pelas gargalhadas, pelas tontices, pela paciência, pelo

presença sempre constante, pelo amor imenso.

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

II

Á Dina...a minha professora, a minha “chefa”, a minha amiga, a minha Dina.

Acho que nunca encontrarei palavras para agradecer tudo o que me possibilitaste,

tudo o que me deste, tudo o que partilhaste, tudo o que me ensinaste. Para além de

seres um poço de conhecimento, és das pessoas com maior coração que conheço.

Às minhas “miúdas giras”, Raquel e Ângela, agradeço todos os almoços na

galé ... e a compreensão de todos os que não pude estar. Obrigada pelos dias de

sol, pelas noites de diversão, pelas gargalhas intermináveis, obrigada por crescerem

bem junto a mim.. Tão bom ver o nosso caminho.

À Mia e ao Pedro... que me mostraram tão bem para onde caminhar... que

me trouxeram coragem para ir onde quero, viver como quero, correr atrás do que

sinto...deixando para trás o que não me pertence..

À minha colega Daniela Espadinha pela trabalho descomplicado e leve.

Aos dois meninos com quem tive o prazer de trabalhar para desenvolver este

trabalho e às suas famílias sempre colaboradoras. Espero poder continuar a fazer a

diferença na vida de cada menino ou menina que entre na minha vida.

A todos os colegas terapeutas da fala, educadores, psicólogos, professores a

quem tenho tido o enorme prazer de dar formação, com quem tenho tido a

oportunidade única de fazer chegar a minha prática clínica, os meus pensamentos e

o conhecimento construído ao longo destes anos. Agradeço o vosso envolvimento...

faz-me querer continuar .. faz-me querer mais!

Ao Campo de Flores por 12 anos de confiança, pela oportunidade de poder

fazer um trabalho fundamentado e diferenciado. A todas as educadoras,

professoras e psicólogas com quem tenho trabalhado que me desafiam a fazer

sempre mais e melhor.

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

III

RESUMO

Esta investigação tem como principal objetivo testar o modelo Padrão de

Aquisição de Contrastes (PAC-PE) em contexto clínico, bem como a sua utilização

na avaliação longitudinal, contribuindo assim para a avaliação de crianças com

Perturbação Fonológica portuguesas. Os estudos de aquisição fonológica têm dado

contributos importantes na àrea clínica, tanto na avaliação como na intervenção em

crianças com alterações fonológicas. Com a mudança de perspetiva relativa à

aquisição segmental, passando-se a assumir que este é um processo gradual que

envolve a combinação e organização de traços distintivos que caracterizam a

relação entre segmentos e estrutura prosódica (Lamprecht, 1986;

Hernandorena,1988, Stampe, 1973; Chomsky e Halle, 1968; Clements e Hume,

1995, Freitas, 2003; Clements 2009, Mota 2001, Duarte 2006), ocorre também uma

mudança na forma como se analisa o sistema fonológico de uma criança com

perturbação fonológica. Com base nesta ideia, Lazzarotto-Volcão (2009), partindo do

modelo de Clementes (2009), propõe uma escala de coocorrências de traços que

permite dar conta da emergência de contrastes fonológicos, responsáveis pelo

surgimento de segmentos – o modelo PAC - que permite determinar a presença de

alterações e possibilita a identificação da gravidade de uma alteração. Amorim

(2014) estuda a escala proposta para o português do Brasil, observando-a à luz dos

dados de aquisição fonológica típica do português europeu, pretendendo-se neste

trabalho, testar esta proposta para as crianças portuguesas com alterações

fonológicas dos sons da fala.

Este trabalho baseia-se nos dados de duas crianças com perturbação

fonológica, com idades compreendidas entre os 4;05 anos e 5;06 anos de idade.

Foram analisadas as produções destas crianças obtidas através da aplicação

do teste TFF-ALPE em três momentos distintos: avaliação inicial e dois momentos

de reavaliação, após intervenção. As produções foram sujeitas a uma análise que

incluiu a identificação do inventário fonético e uma análise fonológica através de: i)

identificação da ocorrência dos segmentos consonânticos em função dos

constituintes silábicos; ii) caracterização do tipo de erros encontrados em função dos

constituintes silábicos (de forma a aceder à representação fonológica da criança); iii)

identificação do inventário fonológico em função dos diferentes constituintes

silábicos; iv) identificação dos processos fonológicos presentes; v) análise do

sistema fonológico de cada criança através do modelo PAC-PE.

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

IV

Com base nos resultados obtidos, o modelo PAC-PE foi testado em contexto

clínico e de forma longitudinal, tendo-se confirmado a sua adequação diagnóstico de

Perturbação Fonológica, possibilitando a identificação de atrasos ou de desvios

fonológicos. O modelo proporciona ainda a identificação do grau de gravidade da

patologia. Através da utilização do modelo em análises longitudinais, observa-se a

possibilidade de identificar as aquisições de combinações de traços realizadas por

crianças com Perturbação Fonológica, bem como de aferir de forma objetiva o

desenvolvimento fonológico durante a intervenção clínica, recorrendo à identificação

do grau de gravidade. Da análise dos dados concluiu-se ainda que a análise silábica

é fundamental na avaliação dos sistemas fonológicos de crianças com Perturbação

Fonológica. Apesar da confirmação da adequação do modelo para utilização em

contexto clínico, o modelo modelo PAC-PE, precisa de algumas adaptações. Neste

trabalho será realizada uma proposta com os aspetos considerados pertinentes.

Palavras chave: perturbação fonológica; avaliação; contrastes; aquisição

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

V

ABSTRACT

This research aims to test the Contrasts Acquisition Pattern Model of EP

(PAC-PE) within a clinical context, as well as its application in longitudinal

assessment, thus contributing for the evaluation of Portuguese children with

Phonological Disorders. Phonological acquisition studies have made important

contributions in the clinical area, both in the evaluation and the intervention in

children with phonological disturbances. With the change in perspective regarding

segmental acquisition by assuming this is a gradual process involving the

combination and organization of distinctive features which characterize the

relationship between segments and prosodic structure (Lamprecht, 1986;

Hernandorena,1988, Stampe, 1973; Chomsky & Halle, 1968; Clements & Hume,

1995, Freitas, 2003; Clements 2009, Mota 2001, Duarte 2006), there is also a

change in the way in which the phonological system of a children with phonological

disorders is analysed. Based on this idea and on the Clements model, Lazzarotto-

Volcão (2009) propose a scale for the co-occurrence of features which allows to

register the emergence of phonological contrasts responsible for the occurrence of

segments – PAC model - which allows the determination of the presence of

disturbances and enables the identification of the severity of a disturbance. Amorim

(2014) studied the scale proposed to Brazilian Portuguese applied to the data of

phonological acquisition pertaining to European Portuguese with the objective of, in

this paper, testing this proposal in Portuguese children with speech phonological

disturbances.

This paper is based in the data of two children with phonological disorders,

with ages between 4:5 and 5:6 years.

The speech productions of these children, obtained through the application of

the TFF-ALPE (Phonetic & Phonologic Test - Preschool Language Assessment),

were analysed in three distinct moments: initial assessment and two reassessment

moments upon intervention. The speech productions were subject to an analysis that

included the identification of the phonetic inventory as well as a phonological analysis

through: i) the identification of the occurrence of consonantal segments according to

the syllabic constituents; ii) the characterization of the error types detected according

to the syllabic constituents (in order to access the child's phonological

representation); iii) the identification of the phonological inventory according to the

different syllabic constituents; iv) the identification of the phonological processes

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

VI

present; v) the analysis of the phonological system of each child through the PAC-PE

model.

Based on the results obtained, the PAC-PE model was tested in a clinical

context and with a longitudinal method. Its suitability for the diagnosis of Phonological

Disturbances was confirmed, thus enabling the identification of phonological

disturbances or disorders. The model also enables the identification of the

seriousness level of the pathology. Through the application of the model in

longitudinal analysis, there is a possibility of identifying the acquisition of combination

of features accomplished by children with Phonological Disorders, as well as

objectively assessing the phonological development during the clinical intervention by

using the identification of the level of severity. Upon analysis of the data, we

concluded that the syllabic analysis is paramount in the assessment of the

phonological systems of children with Phonological Disorders. Although it was

confirmed to be suitable to be used in a clinical context, the PAC-PE model requires

a few adjustments. In this paper, we shall present a proposal including the aspects

considered to be pertinent.

Keywords: phonological disorder; assessment; contrasts; acquisition

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

VII

SÍMBOLOS DO IPA (Intertational Phonetic Alphabet)

Consoantes Oclusivas [p] pala; [t] tom; [k] calo; [b] bala; [d] dom; [g] galo

Nasais [m] mata; [n] nata; [ɲ] sanha

Fricativas [f] fala; [s] selo; [ʃ] chá; [v] vala; [z] zelo; [Ʒ] já

Líquidas [l] lato; [ɫ] sal; [ʎ] malha; [ʀ] rato; [ɾ] caro

Vogais Orais [i] sino; [e] selo; [ɛ] neto; [a] bala; [ɔ] bola; [o]

sono; [u] bula; [ɐ] cano; [ɨ] pegar;

Nasais [ĩ] cinto; [ẽ] sent;o[ ̃ɐ ]c anto; [õ] conto; [ũ]

Semivogais Orais [j] pai; [w] pau

Acento ['] pala

Outros [ʔ]–oclusiva laríngea surda

[χ]–fricativa uvular surda

[ʁ]–fricativa uvular sonora

[r]–vibrante alveolar

[x]–fricativa velar sonora

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

VIII

ÍNDICE

I PARTE - ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1

CAPÍTULO 1. O SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS EUROPEU 1 1.1. PROPRIEDADES SEGMENTAIS DO SISTEMA CONSONÂNTICO 1 1.2. PROPRIEDADES DA ESTRUTURA SILÁBICA 13

CAPÍTULO 2. O DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO NO PORTUGUÊS

EUROPEU 17 2.1. DADOS SOBRE A AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES 17 2.2 DADOS SOBRE A AQUISIÇÃO DA ESTRUTURA SILÁBICA 24

CAPÍTULO 3. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES 32 3.1. FUNDAMENTAÇÃO E ARQUITETURA DO PAC 32 3.2. ETAPAS PROPOSTAS PELO MODELO PAC 34 3.3. O PAC NA AVALIAÇÃO FONOLÓGICA 41 3.4. CLASSIFICAÇÃO DAS PERTURBAÇÕES FONOLÓGICAS - PAC 44 3.5 PROCEDIMENTOS DE UTILIZAÇÃO DO PAC PARA A AVALIAÇÃO FONOLÓGICA 47 3.6. IMPLICAÇÕES DO MODELO NA INTERVENÇÃO 48

CAPÍTULO 4. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES DO

PORTUGUÊS EUROPEU – PAC-PE 49

CAPÍTULO 5. AS PERTURBAÇÕES DOS SONS DA FALA 57 5.1 A FALA E AS SUAS ALTERAÇÕES 58

II PARTE - METODOLOGIA 67

CAPÍTULO 6 . CRITÉRIOS MEDOTOLÓGICOS 67 6.1. QUESTÃO ORIENTADORA 67 6.2. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 68 6.3 INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS 73 6.4. PROCEDIMENTOS DO ESTUDO 74

III PARTE – DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS 88

CAPÍTULO 7 . APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 88

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

IX

7.1. SUJEITO 1 89 7.2. SUJEITO 2 136

IV PARTE – REFLEXÕES FINAIS 183

CAPÍTULO 8 – DISCUSSÃO 183 8.1.IMPLICAÇÕES DO MODELO PAC-PE NA AVALIAÇÃO CLÍNICA 184 8.2. O MODELO PAC-PE NA AVALIAÇÃO CLÍNICA LONGITUDINAL 187 8.3. ANÁLISE FONOLÓGICA – CONTRIBUTOS PARA UMA ANÁLISE DE MODELOS DE

AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO 188 8.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E TÓPICOS PARA INVESTIGAÇÃO FUTURA 195

BIBLIOGRAFIA 197

ANEXOS 206

ANEXO A: Formulário de Consentimento 205

ANEXO B: Transcições Fonéticas – Sujeito 1 211

ANEXO C: Transcrições Fonéticas – Sujeito 2 215

ANEXO D: Folhas de registo – Ocorrências de Consoantes 219

ANEXO E: Folhas de Registo – Cálculo para o inventário fonológico 221

ANEXO F: Folha de registo – Representação do Inventário Fonológico 223

ANEXO G: Folha de registo – Ocorrência de Processos fonológicos 225

ANEXO H: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE 227

ANEXO I: Folhas de Registo – Ocorrência de Consoantes– Sujeito 1 229

ANEXO J: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 1 233

ANEXO K: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 1 237

ANEXO L: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 1 241

ANEXO M : Folhas de registo – Ocorrência de Consoantes sujeito 2 245

ANEXO N: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 2 249

ANEXO O: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 2 253

ANEXO P : Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 2 257

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X

ÍNDICE DE QUADROS

QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO ARTICULATÓRIA TRADICIONAL DAS CONSOANTES DO

PORTUGUÊS EUROPEU (MATEUS, FALÉ E FREITAS, 2005:83) .................................. 2

QUADRO 2 - DISTRIBUIÇÃO DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU RELATIVAMENTE

À POSIÇÃO QUE OCUPAM NA PALAVRA. .................................................................... 4

QUADRO 3 - CARACTERIZAÇÃO DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU À LUZ DA

GEOMETRIA DE TRAÇOS (MATEUS E ANDRADE, 2000) ............................................. 5

QUADRO 4 - CLASSIFICAÇÃO FONOLÓGICA DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU . 6

QUADRO 5 - ESCALAS DE ROBUSTEZ PARA COOCORRÊNCIAS DE TRAÇOS PARA O

PORTUGUÊS DO BRASIL (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009) E PARA O PORTUGUÊS

EUROPEU (AMORIM, 2014) ................................................................................... 10

QUADRO 6 - CONTRASTES DO SISTEMA FONOLÓGICO PROPOSTOS PARA O PORTUGUÊS DO

BRASIL E PARA O PORTUGUÊS EUROPEU, À LUZ DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO

DE CONTRASTES (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009; AMORIM, 2014). .......................... 13

QUADRO 7 - ESTRUTURA DOS CONSTITUINTES SILÁBICOS DE ACORDO COM A PROPOSTA

DE ATAQUE-RIMA (FREITAS 2017:74) .................................................................... 14

QUADRO 8 - DISTRIBUIÇÃO DAS CONSOANTES DO PORTUGUÊS EUROPEU PELOS

CONSTITUINTES SILÁBICOS E POSIÇÃO DA PALAVRA EM QUE PODEM OCORRER. ...... 15

QUADRO 9 - DADOS DE AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU

(AMORIM, 2014 :284) ........................................................................................... 20

QUADRO 10 - DADOS DE AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU

(MENDES ET ALII., 2013) ...................................................................................... 20

QUADRO 11 - DADOS SOBRE O DESAPARECIMENTO DE PROCESSOS FONOLÓGICOS PARA O

PORTUGUÊS EUROPEU (MENDES ET ALII., 2013) .................................................... 21

QUADRO 12 - ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE

CONTRASTES DO PORTUGUÊS EUROPEU (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2016; AMORIM,

2014) .................................................................................................................. 22

QUADRO 13 - DESCRIÇÃO DA AQUISIÇÃO DAS CONSOANTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU

(RAMALHO, 2017) ................................................................................................ 24

QUADRO 14 – ESTÁDIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE NO PORTUGUÊS

EUROPEU (FREITAS, 1997, 2003, 2015) ............................................................... 26

QUADRO 15 - ESTÁDIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE NO PORTUGUÊS

EUROPEU (FREITAS, 1997, 2003, 2015) ............................................................... 27

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XI

QUADRO 16 - CRONOLOGIA DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE RAMIFICADO NO

PORTUGUÊS EUROPEU (MENDES ET ALII.) ............................................................. 27

QUADRO 17 - ESTÁGIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE RIMA NO PORTUGUÊS EUROPEU

(FREITAS, 1997) .................................................................................................. 29

QUADRO 18 - CRONOLOGIA DA AQUISIÇÃO DA CODA PARA O PORTUGUÊS EUROPEU

(MENDES ET AL.;2013; AMORIM, 2014; RAMALHO, 2017) ..................................... 29

QUADRO 19 - ESTÁDIOS DE AQUISIÇÃO DO CONSTITUINTE ATAQUE NO PORTUGUÊS

EUROPEU (FREITAS 2017: 90) .............................................................................. 30

QUADRO 20 - RESUMO DOS DADOS SOBRE A AQUISIÇÃO SEGMENTAL EM FUNÇÃO DO

CONSTITUINTE SILÁBICO, PARA O PORTUGUÊS EUROPEU, ADAPTADO DE RAMALHO

2017:28 .............................................................................................................. 31

QUADRO 21 - PRIMEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E

DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 35

QUADRO 22 - SEGUNDA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E

DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 36

QUADRO 23 - TERCEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E

DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 38

QUADRO 24 - QUARTA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, DAS COOCORRÊNCIAS FORMADAS, DOS CONTRASTES ESTABELECIDOS E

DOS SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 116 ... 39

QUADRO 25 - RESUMO DAS ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE

CONTRASTES, ADAPTADO DE LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:116 ............................ 40

QUADRO 26 - ÍNDICE DE ECONOMIA PARA CADA ETAPA DE AQUISIÇÃO, SEGUNDO O PAC

(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:119) ...................................................................... 46

QUADRO 27 - PRIMEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E

SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 50

QUADRO 28 - SEGUNDA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC-PE, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E

SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 51

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XII

QUADRO 29 - TERCEIRA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC-PE, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E

SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 52

QUADRO 30 - QUARTA ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC-PE, EM FUNÇÃO DOS TRAÇOS

MARCADOS, COOCORRÊNCIAS FORMADAS, CONTRASTES ESTABELECIDOS E

SEGMENTOS ADQUIRIDOS, ADAPTADO DE AMORIM, 2014:314 ................................ 53

QUADRO 31 - RESUMO DAS ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE

CONTRASTES PARA O PORTUGUÊS EUROPEU ......................................................... 54

QUADRO 32 -RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE R.R. COM BASE NA

APLICAÇÃO DO TALC ( SUA KAY & TAVARES, 2006) .............................................. 70

QUADRO 33 - RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DE L.R. COM BASE NA

APLICAÇÃO DO TALC (SUA KAY & TAVARES, 2006) .............................................. 72

QUADRO 34 - DESCRIÇÃO DE PROCESSOS FONOLÓGICOS (MENDES ET ALII., 2013) ........ 77

QUADRO 35 - DESCRIÇÃO DAS SESSÕES DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICAS DO SUJEITO 1

EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE SESSÕES, DOS ESTÍMULOS ALVO SELECIONADOS, DAAS

TAREFAS REALIZADAS E DAS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS. ......................................... 82

QUADRO 36 - DESCRIÇÃO DAS SESSÕES DE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICAS DO SUJEITO 2

EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE SESSÕES, DOS ESTÍMULOS ALVO SELECIONADOS, DAS

TAREFAS REALIZADAS E DAS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS. ......................................... 86

QUADRO 37 - IDADE (EM ANOS MESES) NO MOMENTO DAS AVALIAÇÕES - SUJEITO 1 ....... 89

QUADRO 38 - INVENTÁRIO FONÉTICO DO SUJEITO 1 NO MOMENTO DA PRIMEIRA

AVALIAÇÃO, AOS 5 ANOS E 6 MESES ...................................................................... 90

QUADRO 39 - INVENTÁRIO FONÉTICO DO SUJEITO 1 NO MOMENTO DA SEGUNDA

AVALIAÇÃO, AOS 6 ANOS E CINCO MESES ............................................................... 91

QUADRO 40 - INVENTÁRIO FONÉTICO DE R.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO, AOS

SETE ANOS E DOIS MESES ..................................................................................... 92

QUADRO 41 - PRODUÇÕES QUE REFLETEM A CAPACIDADE FONÉTICA DE R.R. AO LONGO

DOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ................................................................... 93

QUADRO 42 - OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM ATAQUE SIMPLES E EM

ATAQUE MEDIAL, NAS TRÊS AVALIAÇÕES DE R.R. ................................................... 96

QUADRO 43 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA

DE R.R. EM ATAQUE SIMPLES INICIAL E EM ATAQUE MEDIAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE

AVALIAÇÃO. ......................................................................................................... 98

QUADRO 44 - OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM FUNÇÃO DA POSIÇÃO DE

CODA NA PALAVRA, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO, EM R.R ....................... 100

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XIII

QUADRO 45 -EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA

DO R.R. EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO

......................................................................................................................... 101

QUADRO 46 - ATAQUES RAMIFICADOS NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO NO

SUJEITO 1 .......................................................................................................... 102

QUADRO 47 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA

DE R.R. EM ATAQUE RAMIFICADO, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ............... 103

QUADRO 48 - OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE R.R. EM ATAQUE

INICIAL E EM ATAQUE MEDIAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ..................... 104

QUADRO 49 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE

PRODUÇÃO PREFERENCIAIS DE R.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE INICIAL E EM

ATAQUE MEDIAL, NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ............................. 106

QUADRO 50 -OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE R.R. EM CODA MEDIAL

E EM CODA FINAL, NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ............................ 107

QUADRO 51 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE

PRODUÇÃO PREFERENCIAL DE R.R. PARA ERROS EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL,

NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO .................................................................. 108

QUADRO 52 - VALORES DE OCORRÊNCIA DOS PADRÕES DE ERRO PARA OS SEGMENTOS

AUSENTES EM ATAQUE SIMPLES, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO PARA O

SUJEITO 1 .......................................................................................................... 109

QUADRO 53 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE

PRODUÇÃO PREFERENCIAL DE R.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO, NOS

TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 110

QUADRO 54 -PROCESSOS FONOLÓGICOS PRESENTES NAS PRODUÇÕES DO SUJEITO 1, EM

FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ................................................................. 121

QUADRO 55 - PRODUÇÕES DO SUJEITO 1, ORGANIZADOS EM PROCESSOS FONOLÓGICO,

EM FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............................................................ 122

QUADRO 56 -SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC-PE), PARA O SUJEITO 1, NO

PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO .................................................................... 125

QUADRO 57 -CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS CONTRASTES

QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - SEVERO ........................................ 129

QUADRO 58 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 1, NO

MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 131

QUADRO 59 -CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS CONTRASTES

QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - LEVE ............................................. 132

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XIV

QUADRO 60 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 1, NO

MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 134

QUADRO 61 -IDADE (EM ANOS MESES) NO MOMENTO DAS AVALIAÇÕES – SUJEITO 2 ..... 136

QUADRO 62 -INVENTÁRIO FONÉTICO DE L.R. NO MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO, AOS

4 ANOS E 5 MESES DE IDADE. .............................................................................. 137

QUADRO 63 -INVENTÁRIO FONÉTICO DE L.R. NO MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO, AOS

4 ANOS E 8 MESES ............................................................................................. 138

QUADRO 64 -INVENTÁRIO FONÉTICO DE L.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO, AOS

5 ANOS E 6 MESES DE IDADE ............................................................................... 139

QUADRO 65 -EXEMPLOS DE PALAVRAS PARA OS DIFERENTES SEGMENTOS FONÉTICOS EM

FUNÇÃO DO MOMENTO DA AVALIAÇÃO, DE L.R. .................................................... 140

QUADRO 66 -SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM ATAQUE SIMPLES E EM ATAQUE MEDIAL PARA

L.R., NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................... 142

QUADRO 67 -EXEMPLOS DE PALAVRAS PARA OS DIFERENTES SEGMENTOS FONOLÓGICOS

EM FUNÇÃO DO MOMENTO DA AVALIAÇÃO DE L.R. ................................................ 144

QUADRO 68 - SEGMENTOS FONOLÓGICOS EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL PARA L.R.,

NOS DIFERENTES MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ....................................................... 145

QUADRO 69 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA

DE L.R. EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL ......................................................... 146

QUADRO 70 -OCORRÊNCIA DOS ATAQUES RAMIFICADOS NOS DIFERENTES MOMENTOS DE

AVALIAÇÃO, PARA L.R. ....................................................................................... 147

QUADRO 71 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM A CAPACIDADE FONOLÓGICA

DE L.R. EM ATAQUE RAMIFICADO NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ................ 148

QUADRO 72 - OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE L.R. EM ATAQUE

INICIAL E EM ATAQUE MEDIAL, EM FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............... 150

QUADRO 73- EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE

PRODUÇÃO PREFERENCIAIS DE L.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL

E EM ATAQUE RAMIFICADO MEDIAL, EM FUNÇÃO DOS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ... 152

QUADRO 74 - OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE L.R. EM CODA MEDIAL

E EM CODA FINAL, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ...................................... 154

QUADRO 75 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE

PRODUÇÃO PREFERENCIAIS DO SUJEITO 2, PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO

INICIAL E EM ATAQUE RAMIFICADO MEDIAL, EM FUNÇÃO DOS MOMENTOS DE

AVALIAÇÃO ........................................................................................................ 155

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XV

QUADRO 76- OCORRÊNCIA DOS DIFERENTES PADRÕES DE ERRO DE L.R. EM ATAQUE

RAMIFICADO, NOS TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO .............................................. 156

QUADRO 77 - EXEMPLOS DE PRODUÇÕES QUE DEMONSTRAM AS ESTRATÉGIAS DE

PRODUÇÃO PREFERENCIAL DE L.R. PARA OS ERROS EM ATAQUE RAMIFICADO, NOS

TRÊS MOMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 157

QUADRO 78 - PROCESSOS FONOLÓGICOS PRESENTES NAS PRODUÇÕES DO SUJEITO 2, EM

FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ................................................................. 168

QUADRO 79 - PRODUÇÕES DO SUJEITO 2, ORGANIZADOS EM PROCESSOS FONOLÓGICO,

EM FUNÇÃO DO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............................................................ 169

QUADRO 80 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC-PE), PARA O SUJEITO 2, NO

PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO .................................................................... 172

QUADRO 81 - CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS

CONTRASTES QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - SEVERO .................... 176

QUADRO 82 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 2, NO

MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 178

QUADRO 83 - CONTRASTES ESPERADOS NA AQUISIÇÃO SEM PATOLOGIA E OS

CONTRASTES QUE CARACTERIZAM O GRAU DE GRAVIDADE - LEVE ........................ 180

QUADRO 84 - SÍNTESE DO ACERTO DE CONTRASTES (PAC), PARA O SUJEITO 2, NO

MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 181

QUADRO 85 -EXEMPLOS DE PRODUÇÕES DE CRIANÇAS EM FUNÇÃO DOS CONSTITUINTES

SILÁBICOS NO PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO ............................................... 194

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XVI

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1- CONDIÇÕES PARA A ESPECIFICAÇÃO DE TRAÇOS ............................................ 7

FIGURA 2 - ESCALA DE ROBUSTEZ PARA OS TRAÇOS CONSONÂNTICOS (CLEMENTS,

2009:46-47) .......................................................................................................... 9

FIGURA 3 - ESQUEMA DA ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SÍLABA “MAR” ................................ 14

FIGURA 4 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ARQUITETURA DO MODELO PAC

(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:88) ........................................................................ 33

FIGURA 5 - ESQUEMA REPRESENTATIVO DA ARQUITETURA DO MODELO PAC –

CODIFICAÇÃO DE CORES EM FUNÇÃO DAS DIFERENTES ETAPAS (LAZZAROTTO-

VOLCÃO, 2009:117) ............................................................................................ 34

FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DA 1ª ETAPA DE AQUISIÇÃO DO PAC (LAZZAROTTO-

VOLCÃO, 2009:102) ............................................................................................ 36

FIGURA 7- REPRESENTAÇÃO DA SEGUNDA ETAPA (A VERMELHO) E DA SEGUNDA ETAPA (A

AZUL) DE AQUISIÇÃO DO PAC (LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:106) ......................... 37

FIGURA 8 - REPRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA (A VERMELHO), DA SEGUNDA (A AZUL) E A DA

TERCEIRA (A AMARELO) ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO PAC (LAZZAROTTO-VOLCÃO,

2009:109) ........................................................................................................... 38

FIGURA 9 - REPRESENTAÇÃO DA PRIMEIRA (A VERMELHO), DA SEGUNDA (A AZUL), DA

TERCEIRA (A AMARELO) E DA QUARTA (VERDE) ETAPAS DE AQUISIÇÃO DO PAC

(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009: 112) ..................................................................... 39

FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO DA AQUISIÇÃO DO SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS

EUROPEU À LUZ DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES

(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009; 2016; AMORIM, 2014) ........................................... 56

FIGURA 11 - REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS

DO BRASIL À LUZ DO MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES

(LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2009:117). ..................................................................... 56

FIGURA 12 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE R.R. NO MOMENTO DA

PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 111

FIGURA 13 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DO R.R. NO MOMENTO DA

PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 112

FIGURA 14 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE R.R. NO

MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 113

FIGURA 15 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE

RAMIFICADO MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO ................... 114

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XVII

FIGURA 16 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE R.R. NO MOMENTO DA

SEGUNDA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 115

FIGURA 17 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DO SUJEITO 1, NO MOMENTO

DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................................... 116

FIGURA 18 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE R.R. NO

MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 117

FIGURA 19 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE

RAMIFICADO MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO ................... 117

FIGURA 20 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE R.R. NO MOMENTO DA

TERCEIRA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 118

FIGURA 21 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA

TERCEIRA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 119

FIGURA 22 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE R.R. NO

MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 119

FIGURA 23 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE

RAMIFICADO MEDIAL DE R.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO ................... 120

FIGURA 24 -REPRESENTAÇÃO DO PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 1 NO

MODELO PAC-PE .............................................................................................. 130

FIGURA 25 -REPRESENTAÇÃO DO SEGUNDO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 1, DE

ACORDO COM O MODELO PAC-PE ...................................................................... 133

FIGURA 26 -REPRESENTAÇÃO DO TERCEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 1, DE

ACORDO COM O PAC-PE. .................................................................................. 135

FIGURA 27 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE L.R. NO MOMENTO DA

PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 158

FIGURA 28 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL DO SUJEITO 2 NO MOMENTO DA

PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 159

FIGURA 29 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL DE L.R., NO

MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO .................................................................... 160

FIGURA 30 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E EM ATAQUE

RAMIFICADO MEDIAL DE L.R., NO MOMENTO DA PRIMEIRA AVALIAÇÃO ................... 161

FIGURA 31 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE INICIAL DE L.R., NO MOMENTO DA

PRIMEIRA AVALIAÇÃO .......................................................................................... 162

FIGURA 32 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE MEDIAL, DE L.R., NO MOMENTO DA

SEGUNDA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 163

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XVIII

FIGURA 33 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DE L.R., EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL, NO

MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................................................................... 164

FIGURA 34 -INVENTÁRIO FONOLÓGICO EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E ATAQUE

RAMIFICADO MEDIAL DE L.R. NO MOMENTO DA SEGUNDA AVALIAÇÃO .................... 164

FIGURA 35 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2 EM ATAQUE INICIAL, NO MOMENTO DA

TERCEIRA AVALIAÇÃO ......................................................................................... 165

FIGURA 36 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2 EM ATAQUE MEDIAL, NO MOMENTO

DA TERCEIRA AVALIAÇÃO .................................................................................... 166

FIGURA 37 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2, EM CODA MEDIAL E EM CODA FINAL,

NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO ............................................................... 167

FIGURA 38 - INVENTÁRIO FONOLÓGICO DO SUJEITO 2, EM ATAQUE RAMIFICADO INICIAL E

EM ATAQUE RAMIFICADO MEDIAL DE L.R. NO MOMENTO DA TERCEIRA AVALIAÇÃO . 167

FIGURA 39 - REPRESENTAÇÃO DO PRIMEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 2 NO

MODELO PAC-PE .............................................................................................. 177

FIGURA 40 -REPRESENTAÇÃO DO SEGUNDO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 2, DE

ACORDO COM O MODEO PAC-PE ....................................................................... 180

FIGURA 41 - REPRESENTAÇÃO DO TERCEIRO MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO SUJEITO 2, DE

ACORDO COM O PAC-PE. .................................................................................. 182

FIGURA 42 - PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃO DO MODELO PAC-PE ............................. 192

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XIX

INTRODUÇÃO

O estudo dos processos relacionados com a aquisição fonológica, os

modelos teóricos desenvolvidos para explicar o funcionamento e a forma como as

unidades fonológicas são adquiridas pelos falantes de uma língua têm contribuído

para uma mudança importante na forma como são vistas as alterações de fala. Os

estudos desenvolvidos na área da Fonologia Clínica têm sido fundamentais para

uma mudança nos procedimentos de avaliação de crianças com alterações de fala

(incluindo na tomada de decisão do diagnóstico a estabelecer), para a forma como

os dados de avaliação são interpretados, refletindo-se também em novas

perspetivas sobre a intervenção. Com trabalhos como os de Lamprecht (1986) e de

Hernandorena (1988), ocorreu uma verdadeira mudança de paradigma no que se

refere à avaliação e intervenção em Perturbações dos Sons da Fala, especialmente

nas Perturbações Fonológicas (sub-tipo de Perturbações dos Sons da Fala, que

serão alvo deste trabalho).

Com a perspetiva decorrente de modelos como a Fonologia Natural (Stampe,

1973), a Fonologia Generativa Clássica (Chomsky e Halle, 1968) e a Fonologia

Autossegmental (Clements e Hume, 1995), alguns autores assumem que a

aquisição segmental ocorre através de um processo gradual no qual a criança vai

adquirindo, combinando e organizando os traços distintivos dentro da estrutura de

cada segmento. Freitas (2003), observa este processo gradual nas crianças

portuguesas para a aquisição das lateriais, verificando que num primeiro momento

as crianças portuguesas processam as laterais com especificação [coronal] no nó

ponto de articulação e um nó vocálico subsespecificado com informação de

altura/abertura. Numa segunda fase, são adquiridas informações fonológicas

correspondentes a níveis mais altos de representação da estrutura, dominando

[coronal] com distinção [±anterior], respeitante ao nó Ponto de articulação das

consoantes, com a emergência de /l/. Só depois são processadas informações de

níveis mais baixos da estrutura como o traço [coronal] do nó vocálico, possibiitanto a

emergência de /ʎ/ .

Decorrente dos trabalhos de Clements (2009), que contempla a Escala de

Robustez, com a proposta de organização de traços consonânticos em função dos

inventários das línguas do mundo, em que os traços que ocupam o topo da escala

são considerados os mais robustos, e são adquiridos em primeiro lugar; os que

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XX

ocupam a base são considerados menos robustos, sendo adquiridos posteriormente.

Tendo em conta este pressuposto, Lazzarotto-Volcão (2009) estuda o processo de

aquisição fonológica do português do Brasil, propondo uma escala de robustez, não

de traços isolados como a Escala de Robustez de Clements (2009) mas de

coocorrências de traços. Amorim (2014) analisa a escala proposta para o português

do Brasil, observando-a à luz dos dados de aquisição fonológica típica do português

europeu (Lazzarotto-Volcão, 2009; Amorim 2014). Deste trabalho, resulta uma

adaptação da escala ao português europeu.

Com base nos trabalhos de aquisição fonológica nas últimas quatro décadas,

a perspetiva relativamente às dificuldades com o processo de aquisição fonológica

passam a ser vistas de forma diferente. Passa-se a compreender que as crianças

com Perturbação Fonológica têm dificuldades na aquisição e na organização das

propriedades fonológicas pertinentes e distintivas da sua língua, apresentando

problemas com a combinação de traços e a organização interna dos segmentos

(Lamprecht, 1986; Hernandorena 1988). Esta mudança de paradigma tem uma

influência importante tanto no processo de avaliação como no planeamento da

intervenção terapêutica, embora nem sempre a prática clínica o espelhe.

Alguns trabalhos em Portugal têm-se centrado no estudo da aquisição

fonológica, tentando descrever este processo à luz de diferentes modelos teóricos.

Desta forma, considera-se pertinente entender de que forma a perspetiva fonológica

de construção gradual através de combinação de traços pode ser útil à avaliação e

intervenção terapêutica de crianças portuguesas com Perturbação Fonológica e de

que forma permite entender as aquisições feitas por estas crianças ao longo do

processo de intervenção.

Assim, com este trabalho pretende-se utilizar o modelo Padrão de Aquisição

de Contrastes (PAC), desenvolvido por Lazzarotto-Volcão (2009) e adaptado ao

português europeu (PAC-PE) por Amorim (2014), para a descrição do perfil

fonológico de crianças portuguesas com perturbação fonológica. Asim, foram

delineados os seguintes objetivos:

• testar o modelo PAC-PE em contexto clínico, junto a crianças

portuguesas;

• observar a eficácia do PAC-PE na avaliação longitudinal, das

mesmas crianças;

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A Avaliação Fonológica Na Perturbação dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

XXI

Na primeira parte do presente trabalho pretende-se fundamentar

teoricamente a investigação. No capítulo 1, será feita uma breve descrição das

propriedades fonológicas do português europeu seguida pela apresentação de

dados relativos ao desenvolvimento fonológico no português europeu. No capítulo 3

será apresentado o modelo PAC e, no capítulo 4, a sua adaptação ao português

europeu. No capítulo 5 pretende-se apresentar uma revisão sobre as Perturbações

dos Sons da Fala, com foco nas Perturbações Fonológicas.

Na segunda parte deste trabalho, no capítulo 6, serão descritos os

procedimentos metodológicos utilizados para esta investigação. No capítulo 7,

correspondente à terceira parte deste trabalho, serão apresentados os resultados

obtidos. Por fim, a quarta parte deste trabalho tem como objetivo apresentar

conclusões e reflexões finais.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

1

I PARTE - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 1. O SISTEMA FONOLÓGICO DO PORTUGUÊS EUROPEU

Nesta secção, com o objetivo de apresentar as ferramentas necessárias à

descrição e à discussão dos dados do presente trabalho, pretende-se caracterizar

sumariamente as propriedades fonológicas do português europeu relativamente a

dois aspetos: as propriedades segmentais das unidades consonânticas do sistema

consonântico (1.1) e à estruturação silábica (1.2).

1.1.Propriedadessegmentaisdosistemaconsonântico

Ao longo do tempo, a estrutura sonora do português europeu tem vindo a ser

descrita à luz de vários modelos. Os primeiros foneticistas recorreram a

classificações articulatórias, usadas até aos dias de hoje, baseadas nos movimentos

realizados pelas estruturas anatómicas envolvidas durante a produção de fala –

nível fonético. De acordo com a classificação tradicional, as consoantes do

português europeu podem ser classificadas i) quanto ao modo de articulação: em

oclusivas orais ([p, t, k, b, d, g]; oclusivas nasais ([m, n, ɲ]); fricativas ([f, s, ʃ, v, z, ʒ]);

laterais ([l, ʎ]); vibrantes ([ɾ, ʀ]). ii) Quanto ao ponto de articulação, em bilabiais,

labiodentais, dentais, alveolares, palatais, velares e uvulares, tal como ilustrado no

quadro 1. (Mateus, Falé e Freitas, 2005/2017).

Modo Oclusiva Fricativa Lateral Vibrante Ponto e voz. Oral Nasal

Bilabial Vozeada [b] [m]

Não-vozeada [p]

Labiodental Vozeada [v]

Não-vozeada [f]

Dental Vozeada [d] [z]

Não-vozeada [t] [s]

Alveolar Vozeada [n] [l] [ɾ]

Não-vozeada

Palatal Vozeada [ɲ] [ʒ] [ʎ]

Não-vozeada [ʃ]

Velar Vozeada [g] [ʀ]

Não-vozeada [k]

Uvular Vozeada Não-vozeada

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

2

Quadro 1 - Classificação articulatória tradicional das consoantes do Português europeu (Mateus, Falé e Freitas, 2005:83)

Os estudos sobre os aspetos fonéticos têm sido fundamentais para a

descrição e categorização dos sons da fala. No entanto, tal como referido por Freitas

et alii. (2012), para que uma sequência de fala seja reconhecida e compreendida, é

fundamental que obedeça aos princípios universais e às regras fonológicas de uma

língua. A descrição fonológica do sistema de uma dada língua pretende dar conta da

forma como funcionam e se relacionam as diferentes unidades fonológicas (grupos

entoacionais, grupos acentuais, palavras, sílabas e segmentos).

Freitas et alii (2012), bem como Mateus, Falé e Freitas (2005/2017), referem

que a atribuição de significado depende da organização de unidades fonológicas, tal

como proposto no âmbito da fonologia estruturalista. A alteração de significado é

originada pela comutação de unidades mínimas, procedimento usado para identificar

os fonemas de uma língua, na tradição estruturalista. Assim, segmentos como [p] e

[k] são unidades com função distintiva (/p/ versus /k/), já que permitem a alteração

de significado em pares de palavras como [‘sapu] <sapo> e [‘saku] <saco> (Freitas

et alii. (2015:40) em português europeu (dimensão fonológica). Para que os mesmos

sejam produzidos terão de ser articulados (dimensão fonética) de acordo com as

propriedades do sistema linguístico do falante, sejam elas variação dialetal, social ou

ideoletal. Assim, por exemplo, o fonema /s/ poderá ser realizado como [‘pasu]

<passo> ou [‘paçu] <passo>, de forma dental ou ápico-alveolar, respetivamente,

conforme o dialeto do Português europeu considerado (Mateus et alii., 2005:161).

Mateus e Andrade (2000) e Mateus et alii. (2005) assumem que o inventário

fonológico do português europeu é composto por 19 consoantes. Todas as

consoantes ocorrem em posição medial ou inicial de palavra, excepto a lateral /ʎ/ e a

vibrante /ɾ/, cuja ocorrência é restrita à posição medial de palavra. A posição final de

palavra é ocupada por um número restrito de consoantes: uma fricativa (/s/)1 e duas

1 A fricativa/s/em coda é realizada foneticamente como[ʃ]ou[ʒ],dependento do contexo adjacente como no exemplo[‘ʀaʒgɐ]

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3

líquidas (/l/2 e /ɾ/). No entanto, é importante referir que, foneticamente, qualquer

consoante pode ser encontrada em posição final de palavra, em consequência de

um fenómeno associado ao apagamento de vogais átonas finais, como em [‘lum]

<lume>. (Mateus e Andrade, 2000; Mateus et alii, 2005).

No português europeu, existe a possibilidade de duas (ou mais) realizações

fonéticas para o fonema /l/, dependendo da posição da sílaba em que ocorre. Assim,

podemos encontrar este fonema realizado como [l], articulado como alveolar, quando

surge em ataque simples, como, por exemplo, na palavra [‘ladu] <lado>: o mesmo

fonema pode ser realizado como [ɫ], articulado de forma velarizada, quando surge

em coda, como ilustrado pelos exemplos [‘saɫsɐ] <salsa> e [‘maɫ] <mal>. (Mateus et

alii., 2005:161; Rodrigues, 2015).

Outra característica pertinente relativa ao sistema consonântico do português

europeu é o fenómeno de assimilação do vozeamento, já que o segmento [ʒ] só é

realizado no constituinte coda quando é seguido de uma consoante vozeada, como

é o caso de [‘Raʒgɐ] <rasga>. Em todos os restantes casos, a fricativa que preenche

a posição de coda é a não vozeada [ʃ], tal como descrito por Mateus e Andrade

(2000).

No português europeu os róticos podem assumir diferentes realizações

fonéticas para os róticos. Rennicke e Martins (2013) descrevem 5 possibilidade de

realizações fonéticas para /ʀ/, incluindo as identificadas por Rodrigues3 (2015). Os

autores identificam as três variantes fonéticas mais comuns de /ʀ/, podendo a

mesma ser produzida como vibrante múltipla uvular [ʀ /], fricativa uvular vozeada [ʁ],

ou fricativa uvular não vozeada [X]. As duas últimas correspondem às formas mais

frequentemente encontradas nas produções. A forma fricativa da produção de /ʀ/ é

sustentada também pelos dados referidos por Amorim (2014), que observa

produções de /ʀ/ como fricativa uvular nos dados das crianças observadas.

2A lateral/l/é realizada foneticamente como [ɫ]em posição de coda, como no exemplo[‘maɫ]3 No seu trabalho, a autora refere ainda as variações fonéticas encontradas para /ʎ /, /ɾ/ e /l /

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4

O quadro 2, abaixo, contém o inventário das consoantes do português

europeu, em função da possibilidade de ocorrência das diferentes posições da

palavra.

Posição inicial #_V

Posição medial V_V

Posição final V_#

[p] x X [t] X X [k] X X [b] X X [d] X X [g] X X [f] X X

[s] X X

[ʃ] X X x [v] X X [z] X X [ʒ] X X X [m] X X [n] X X [l] X X [ɫ] x x [ʀ] X X [ʎ] X [ɲ] X [ɾ] X X

Quadro 2 - Distribuição das consoantes do Português europeu relativamente à posição que ocupam na palavra.

Os segmentos são unidades compostas por propriedades internas,

denominadas traços distintivos, que funcionam ou em modo binário (com o valor [+]

regista-se a presença de uma propriedade; com o valor [-] regista-se a ausência de

uma propriedade), ou em modo unário, de acordo com o modelo teórico adotado.

Jakobson, Fant e Halle (1952) fazem uma proposta de classificação dos sons da fala

em traços distintivos de base acústica usando um sistema binário. Em 1968, na obra

The Sound Pattern of English, Chomsky e Halle mantêm o uso binário dos traços

distintivos, mas adotam uma definição articulatória dos mesmos. Este modelo foi

adaptado, posteriormente, ao português europeu, por Mateus (1975) e por Andrade

(1977). Nesta proposta de Chomsky e Halle, os traços distintivos não estão

hierarquicamente organizados. Para além disso, traços que funcionam em conjunto

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5

num processo natural da língua (processo fonológico) não estão relacionados entre

si.

Clements e Hume (1995) propõem o modelo da Geometria de Traços,

adaptado ao português europeu por Mateus e Andrade (2000), que assume uma

organização dos traços que compõem os segmentos. De acordo com este modelo,

são usados traços unários e traços binários; os traços terminais (representados em

[] - parênteses retos) são agrupados em nós de classe que, por sua vez, se

encontram agrupados em vários níveis ligados ao nó mais alto, denominado nó raiz.

No seguimento da organização de traços das consoantes do português

europeu à luz da Geometria de Traços (Mateus e Andrade, 2000), apresenta-se a

caracterização das consoantes do português europeu, no quadro 3 (os nós

monovalentes estão registados com • quando estão presentes e deixados em branco

quando estão ausentes; os traços terminais, binários, estão registados com [+] ou [-],

dependendo da presença ou ausência da propriedade no segmento; os valores que

não necessitam de especificação são deixados em branco, indo ao encontro dos

princípios de simplicidade e economia que subjazem ao modelo teórico adotado.

p b t d k g m n ɲ f v s z ʃ ʒ l ʎ ɾ ʀ

[soante] - - - - - - + +

[contínuo] - - - - - - + + + + + +

[nasal] + + +

[lateral] + +

Laríngeo • • • • • • • • • • • •

[vozeado] - + - + - + - + - + - +

Labial • • • • • • •

Coronal • • • • • • • • • • •

[anterior] + + + - + + - - + - +

Dorsal • • •

[recuado] + + +

Quadro 3 - Caracterização das consoantes do português europeu à luz da Geometria de Traços (Mateus e Andrade, 2000)

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6

Desta forma, recorrendo a uma caracterização fonológica de base

articulatória do português europeu, podemos classificar as consoantes de acordo

com o quadro 4:

Labial Coronal [+ anterior] Coronal [-anterior] Dorsal

Oclusivas orais

[- contínuo; -soante] /p/, /b/ /t/, /d/ /k/, /g/

Oclusivas Nasais

[+nasal] /m/ /n/ /ɲ/

Fricativas

[+ contínuo; -soante] /f/, /v/ /s/, /z/ /ʃ/, /ʒ/

Laterais

[+ lateral] /l/ /ʎ/

Vibrantes

[+ soante] /ɾ / /ʀ/

Quadro 4 - Classificação fonológica das consoantes do Português europeu

Assim, quanto ao modo de articulação, as consoantes podem ser:

• oclusivas nasais ([+nasal]): /m, n, ɲ/;

• oclusivas orais ([-contínuo; -soante]): /p, b, t, d, k, g/;

• fricativas ([+contínuo; - soante]): /f, v, s, z, ʃ, ʒ/;

• vibrantes ([+soantes]): /ɾ, ʀ/;

• laterais ([+laterais)]: /l, ʎ,/.

Quanto ao ponto de articulação, as consoantes são caracterizadas como:

• labial: /p, b, m, f, v/;

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7

• coronal [+anterior]: /t, d, s, z, l, n, ɾ/;

• coronal [-anterior]: /ʃ, ʒ, ɲ, ʎ/;

• dorsal: /k, g, ʀ/.

Na continuidade dos estudos que pretendem descrever e explicar o

funcionamento dos sistemas fonológicos, bem como a sua aquisição, Clements

(2001, citado por Lazzarotto-Volcão, 2009) refere a existência de níveis distintos

para o funcionamento dos traços (níveis fonológico, lexical e fonético). Em cada

nível existem diferentes condições de especificação de traços, conforme é

apresentado na figura 1 (Clements, 2001, citado por Lazzaroto-Volcão, 2009:75)

• Nível Lexical: distintividade – um traço ou valor de

traço está presente no léxico apenas se for

distintivo

• Nível fonológico: atividade do traço – um traço ou

valor de traço está presente se forem necessários

para o estabelecimento de padrões fonológicos

• Nível fonético: Pronunciabilidade - valores de

traços estão presentes na fonética se forem

necessários para dar conta de aspetos relevantes

para a realização fonética

Figura 1- Condições para a especificação de traços

Para o autor, apenas os valores de traços marcados (traços que podem estar

ausentes em línguas naturais) estarão presentes a um nível lexical. De forma a

determinar como é feita a entrada dos traços na representação lexical, Clements

apresenta uma proposta, em 2001, denominada Hierarquia Universal de

Acessibilidade. Esta hierarquia de traços é denominada, em 2009, por Escala de

Robustez, tendo como pressuposto uma hierarquia de traços em que os primeiros

serão altamente favorecidos na construção do sistema fonológico. De acordo com

este modelo, através da Escala de Robustez, será selecionado o conjunto mínimo

de traços (ou os valores de traços) absolutamente necessários à representação das

unidades lexical e fonológica (economia representacional). Clements (2009)

apresenta ainda 5 princípios que representam tendências universais das línguas na

constituição dos sistemas fonológicos (não constituindo leis invioláveis): a limitação

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8

de traços4, a economia de traços5, a evitação de traços marcados6, a robustez7 e o

reforço fonológico8.

A Escala de Robustez proposta por Clements em 2009, que está na base do

modelo padrão de contrastes (PAC), proposto por Lazzarotto-Volcão (2009),

pressupõe a existência de uma hierarquia de traços que reflete as preferências das

línguas na construção dos seus sistemas fonológicos. Os traços mais robustos

encontram-se no topo da hierarquia, sendo os traços consonânticos mais comuns

nas línguas, encontrando-se presentes na maior parte das línguas e sendo

dominados em primeiro lugar pelas crianças durante o processo de aquisição do

sistema linguístico. Os traços menos robustos, que poderão não ocorrer em tantas

línguas e que emergem mais tardiamente no processo de aquisição fonológica das

crianças, encontram-se na base da escala, sendo a mesma organizada de forma

hierárquica.

Um pressuposto do princípio de robustez é a implicação entre os traços:

Clements (2009), defende que traços mais abaixo na escala dependem da

existência de traços numa posição mais alta. Desta forma, Matzenauer (2008)

propõe que esta escala seja utilizada para a identificação de alterações no processo

de aquisição fonológica, bem como para a identificação dos estímulos alvo a utilizar

na intervenção terapêutica.

4 Princípio da limitação de traços – os traços limitam o número de sons que uma língua pode ter, bem como o número de contrastes possível, já que o número máximo de sons de uma língua é o resultado da fórmula 2n , em que n é igual ao número de traços. Assim uma língua com 2 traços pode ter no máximo 4 sons contrastivos (22) (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:15-16); 5 Princípio da economia de traços – As línguas combinam os traços distintivos de forma económica, maximizando as combinações de traço, ou seja, aproveitando os traços já presentes no sistema, na construção dos seus inventários fonológicos. Assim, um traço deverá ser utilizado o maior número de vezes num sistema (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:17 e Lazzarotto-Volcão, 2009:78); 6 Princípio da evitação de traços marcados – este princípio relaciona-se com o de economia de traços, defendendo que as línguas tendem a evitar a ocorrência de traços marcados. Contudo, quando estão presentes são utilizados de forma económica, com combinações de traços não marcados. Assim se existe uma fricativa no sistema, existirão pelo menos duas distinções de ponto nessa classe. (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:17 e Lazzarotto-Volcão, 2009:79); 7 Princípio da robustez – postula a existência de uma hierarquia universal de traços, tendo em conta a marcação e contrastes estabelecidos entre traços (Clements, 2009 citado por Amorim, 2014:20-22 e Lazzarotto-Volcao, 2009:80-85); 8 Princípio do reforço fonológico – o reforço fonológico ocorre quando o valor marcado de um traço é enfatizado de forma a reforçar um contraste fraco do ponto de vista percetivo (Clements, 2009 citado por Amorim, 2014:23 e Lazzarotto-Volcão, 2009:86);

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9

Na figura 2, encontramos esquematizada a Escala de Robustez para os

traços consonânticos proposta por Clements (2009).

1. [±soante]

[labial]

[coronal]

[dorsal]9

2. [±contínuo]

[±posterior]

3. [±-vozeado]

[±nasal]

4. [±glotal]

5. [outros]

Figura 2 - Escala de robustez para os traços consonânticos (Clements, 2009:46-47)

Assumindo como matriz a escala proposta por Clements (2009) e tendo em

consideração os dados de aquisição do português do Brasil, Lazzarotto-Volcão

(2009) propõe uma adaptação da escala de robustez ao sistema do português do

Brasil. Amorim (2014), com base nos dados de aquisição do português europeu,

propõe uma adaptação da escala ao português europeu (ver quadro 5).

A escala de robustez proposta por Clementes (2009) está na base da

proposta de um modelo de análise denominado Padrão de Aquisição de Contrastes

(PAC), que será descrito mais detalhadamente no capítulo 3 do enquadramento

teórico. Neste modelo defende-se que o desenvolvimento fonológico é realizado

através da aquisição de contrastes e não através da aquisição de traços ou

segmentos isoladamente.

Desta forma, inerente ao modelo, está também a ideia de que a formação de

classes naturais de segmentos depende da coocorrências de traços. Tendo em

conta a robustez de traços, a coocorrência destes para formação de classes

naturais, bem como os dados de aquisição do português do Brasil, o modelo foi

organizado em quatro grandes etapas, caracterizadas pela aquisição de vários

contrastes que emergem pela coocorrência de traços.

9 [dorsal] neste caso corresponde a um traço consonântico – Clements (2005;2009), Lazzarotto-Volcão (2009) e Amorim (2014). Mateus e Andrade (2000) descrevem o sistema consonântico recorrendo a Dorsal como classificação segmental de propriedades de ponto.

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10

Em 2014, Amorim fez uma adaptação do modelo para o português europeu,

apresentando uma Escala de Robustez para a Coocorrência de Traços de

Consoantes no português europeu. No quadro 5, encontramos as propostas das

autoras.

Escala de Robustez para a Coocorrência de Traços de

Consoantes para o português do Brasil (Lazzarotto-

Volcão, 2009):

Escala de Robustez para a Coocorrência de Traços

de Consoantes para o Português europeu (Amorim,

2014):

• [±soante]

[-soante, -contínuo, coronal]

[-soante, -contínuo, labial]

[-soante, -contínuo, dorsal]

[-soante, -contínuo, ±vozeado]

[+soante, -aproximante, labial]

[+soante, -aproximante, coronal]

[+soante, - aproximante, coronal, ±anterior]

• [-soante, +-contínuo]

[-soante, + contínuo, coronal]

[-soante, +contínuo, labial]

[-soante, +contínuo, coronal, ±vozeado]

[-soante, +contínuo, labial, ±vozeado]

• [-soante, +contínuo, coronal , ±anterior]

[-soante, +-contínuo, coronal, -anterior, ±vozeado]

[+soante, +-aproximante]

• [+soante, +aproximante, ±contínuo]

[+soante, +aproximante, -contínuo, ±anterior]

[+soante, +aproximante, +contínuo, coronal]

[+soante], +aproximante, +contínuo, dorsal]

• [±soante]

[-soante, -contínuo, coronal]

[-soante, -contínuo, labial]

[-soante, -contínuo, dorsal]

[-soante, -contínuo, ±vozeado]

[+soante, -aproximante, labial]

[+soante, -aproximante, coronal]

• [+soante, - aprox, coronal, ±anterior]

[-soante, -contínuo, dorsal , ±vozeado]

[-soante, ±contínuo]

[-soante, +contínuo, coronal]

[-soante, +contínuo, labial]

[-soante, +contínuo, labial, ±vozeado]

• [-soante, +contínuo, coronal, ±vozeado]

[-soante, +contínuo, coronal, ±anterior]

[-soante, +contínuo, coronal, -anterior, ±vozeado]

[-soante, +contínuo, dorsal]

[+soante, ±aproximante]

• [-soante, +contínuo, coronal , +anterior, ±-

vozeado]

[+soante, +aproximante, ±contínuo]

[+soante, +aproximante, -contínuo, ±anterior]

[+soante, +aproximante, +contínuo, coronal]

[+soante, +aproximante, +contínuo, dorsal]

Quadro 5 - Escalas de Robustez para Coocorrências de Traços para o português do Brasil (Lazzarotto-Volcão, 2009) e para o português europeu (Amorim, 2014)

No quadro 5, é possível encontrar as Escalas de Robustez para

Coocorrências de Traços, propostas a partir da reanálise da Escala de Robustez de

Clements (Figura 2). Cada nível de coocorrências corresponde a uma das etapas de

aquisição propostas no modelo PAC, mostrando as coocorrências que vão sendo

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11

estabelecidas ao longo do processo de aquisição fonológica. Estas coocorrências,

tal como acontecia da escala proposta por Clements, encontram-se hierarquizadas,

sendo as mais robustas aquelas que se encontram no lugar mais alto da hierarquia.

Neste quadro, encontramos assinaladas a negrito as diferenças encontradas

nas duas escalas propostas para o português do Brasil (Lazzarotto-Volcão, 2009) e

para o português europeu (Amorim, 2014). É possível observar diferenças na

cronologia de aquisição de alguns contrastes, por serem menos robustos no

português europeu, como é o caso das coocorrências a negrito no grupo b

([+soante, - aproximante, coronal, ±anterior], [-soante, -contínuo, dorsal , ±vozeado]),

que refletem uma emergência mais tardia do contraste entre /n/ e /ɲ/, no primeiro

caso, e pela aquisição mais tardia do contraste entre /k/ e /g/, no segundo caso.

Acontece o mesmo com a combinação de traços que permite o contraste de

vozeamento entre fricativas coronais que integra o grupo c ([-soante, +contínuo,

coronal, ±vozeado]). Para além destas diferenças, as duas escalas diferem

especialmente em dois aspetos que se relacionam com o grau e robustez dos traços

que permitem o contraste das fricativas coronais, traduzindo-se em diferenças

significativas na cronologia de aquisição dos segmentos fricativos coronais

[±anterior]. A aquisição do contraste entre fricativas coronais [±anterior] no português

europeu revelou-se diferente do descrito para o português do Brasil. Amorim (2014)

refere que a fricativa coronal [-anterior] estabiliza primeiro do que a fricativa coronal

[+anterior], tanto para o par [+vozeado] como [-vozeado]. Esta diferença mostra

pouca robustez do traço [anterior].

A segunda diferença prende-se com a possibilidade de o traço [dorsal] se

estender à classe das fricativas (como pode ser observado a negrito no grupo c.).

Esta hipótese assume que o rótico dorsal, em português europeu, é representado

como obstruinte, pelo menos para algumas crianças e/ou especialmente numa

primeira fase de aquisição do segmento, sendo posteriormente categorizado como

aproximante. Por outras palavras, algumas crianças poderão ser mais sensíveis ao

modo fricativo, classificando o rótico desta forma, enquanto outras podem ser mais

sensíveis ao modo soante, categorizando-a como líquida. O facto de se encontrar

com frequência o padrão de substituição na produção de /ʀ/ como um oclusiva

parece indicar a mesma é tratada como [-soante]. Algumas crianças produzem /ɾ/

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12

em sua substituição, mostrando neste caso uma classificação [+soante]. Uma das

hipóteses de explicação para esta divergência será que a emergência do contraste

com o rótico coronal poderá motivar a alteração da representação fonológica,

estabelecendo-se a ligação do traço [+aproximante] nessa altura (Rodrigues 2015;

Amorim 2014).

Com base nas escalas de robustez adaptadas de Clements (2009),

Lazzarotto-Volcão (2009) faz a proposta do Modelo Padrão de Aquisição de

Constrastes, que será descrito de forma mais detalhada na secção 2 do presente

capítulo, e Amorim (2014) faz uma adaptação do modelo à luz da Escala de

Robustez proposta pela própria, para o português europeu. No quadro 6,

observamos os contrastes identificados para a aquisição do sistema fonológico em

função da etapa em que devem emergir.

Etapa Contrastes português do Brasil Contrastes português europeu

Etapa

Soantes vs. obstruintes

Oclusiva coronal vs. labial

Oclusiva coronal vs. dorsal

Oclusiva labial vs. dorsal

Nasal coronal vs. Labial

Nasais coronais anterior versus não-anterior

Oclusiva coronal surda vs. sonora

Oclusiva labial surda vs. Sonora

Oclusiva dorsal surda vs. sonora

Soantes vs. obstruintes

Oclusiva coronal vs. labial

Oclusiva coronal vs. dorsal

Oclusiva labial vs. dorsal

Nasal coronal vs. labial

Oclusiva coronal surda vs. sonora

Oclusiva labial surda vs. sonora

Etapa

Oclusivas vs. fricativas

Fricativa coronal vs. Labial

Fricativa coronais surda vs. sonora

Fricativa labial surda vs. sonora

Nasal coronal anterior vs. não anterior

Oclusiva dorsal surda vs. sonora

Oclusivas vs. fricativas

Fricativa labial surda vs. sonora

Fricativa coronal vs. labial

Etapa

Nasais vs líquidas

Fricativa coronal anterior vs. não anterior

Fricativa coronal não-anteriores surdas vs.

sonoras

Fricativa coronal anterior vs. não anterior

Fricativa coronal não anterior surda vs.

sonora

Oclusiva vs. fricativa dorsal

Nasais vs líquidas

Etapa

Líquidas laterais vs. não laterais

Líquida lateral anterior vs. não anterior

Líquida não-laterias coronal vs. dorsal

Líquidas laterais vs. não laterais

Líquida não lateral dorsal vs coronal

Fricativa coronal anterior vs. não

anterior

Líquida lateral anterior vs. não anterior

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13

Quadro 6 - Contrastes do sistema fonológico propostos para o português do Brasil e para o Português europeu, à luz do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (Lazzarotto-Volcão, 2009; Amorim, 2014).

Como se pode verificar no quadro 6, existem diferenças na proposta de

contrastes do sistema fonológico para o português europeu e para o português do

Brasil. Existem algumas diferenças do que respeita às etapas de aquisição em que

um contraste surge, tal como observado para os contrastes: nasal coronal anterior

vs. não anterior, oclusiva dorsal surda vs. sonora e fricativa coronal anterior vs. não

anterior. Entre os sistemas fonológicos das duas línguas observa-se ainda uma

diferença na presença de um contraste em português europeu que não é identificado

no português do Brasil: oclusiva vs. fricativa dorsal (relacionado com a forma como

os róticos dorsais são processados em português europeu, já mencionado durante a

descrição da Escala de Robustez).

1.2.Propriedadesdaestruturasilábica

A sílaba é considerada uma unidade fonológica que integra o conhecimento

fonológico, hierarquicamente organizada em constituintes internos, que contribui

para a organização prosódica das línguas. Esta organização desempenha um papel

fundamental no processamento linguístico, já que as unidades melódicas

representadas pela estrutura silábica são cruciais no processo de aquisição, sendo

intuitivamente identificadas pelos falantes de uma língua (Batista, 2015; Mateus e

Andrade, 2000; Veloso, 2003; Freitas, 2015, 2016).

Como se pode observar na figura 3, para o português europeu adotou-se o

modelo fonológico designado como modelo de “Ataque-Rima”, proposto por Selkirk

(1984) e adatado ao português europeu por Mateus & Andrade (2000). A sílaba (σ) é

constituída pelo ataque e pela rima, sendo que esta domina o núcleo e a coda. Cada

constituinte terminal está associado a uma ou duas posições de esqueleto, que se

ligam a material segmental, tal como se pode observar na figura 3. A sílaba é uma

unidade fonológica com uma estrutura que obedece aos princípios de boa formação

silábica. Os seus constituintes estabelecem relações hierárquicas entre si e com

outras unidades fonológicas (Freitas 1997, 2015; Mateus e Andrade, 2000; Mateus,

Falé e Freitas 2005, 2016; Afonso 2008, Batista, 2015, entre outros).

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

14

Nível da Sílaba σ

Nível da Rima Ataque Rima

Núcleo Coda

Nível do Esqueleto x x x

Nível dos Segmentos [‘m a ɾ ]

Figura 3 - Esquema da organização interna da sílaba “mar”

No português europeu, podemos identificar os seguintes constituintes

silábicos, tal como é ilustrado no quadro 7.

Ataque não ramificado

simples Ex: dá

vazio Ex: _é

ramificado Ex:cruz

Rima não ramificada núcleo

não ramificado Ex: pá

ramificado Ex:pai

ramificada núcleo + coda Ex: paz

Quadro 7 - Estrutura dos constituintes silábicos de acordo com a proposta de ataque-rima (Freitas 2017:74)

O ataque pode ser de três tipos: ataque vazio (não é preenchido com

material segmental), ataque simples (domina uma consoante), ataque ramificado

(domina duas consoantes). A rima pode ser: rima não ramificada (constituída pelo

núcleo) e rima ramificada (constituída pelo núcleo seguido por uma coda).

Relativamente ao núcleo, identificam-se: núcleo não ramificado (preenchido por uma

vogal) e núcleo ramificado (preenchido por uma vogal e uma semivogal) A coda, em

português europeu, é maioritariamente, não ramificada (associada apenas a uma

consoante) (Mateus & Andrade 2000; Mateus et alii., 2005, 2016; Freitas, 2017)

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15

O quadro 8 ilustra as possibilidades de preenchimento segmental para cada

constituinte silábico, em função da posição na palavra em que a estrutura surge.

Ataque

simples

inicial

Ataque

simples

medial

Ataque

ramificado

inicial (C1)

Ataque

ramificado

(C2)

Coda

medial

ou final

[p] X X X

[t] X X X

[k] X X X

[b] X X X

[d] X X X

[g] X X X

[f] X X X

[s] X X X

[ʃ] X X

[v] X X X

[z] X X

[ʒ] X X

[m] X X

[n] X X

[l] X X x X10

[ʀ] X X

[ʎ]11 X

[ɲ] X

[ɾ] X x X

Quadro 8 - Distribuição das consoantes do Português europeu pelos constituintes silábicos e posição da palavra em que podem ocorrer.

Como se pode verificar no quadro 8, todas as consoantes do português

europeu podem ocorrer em ataque simples, apesar de o segmento [ɾ] não surgir em

10/l/ realizado foneticamente como [ɫ]11A lateral palatal [L] em ataque simples inicial é limitada a um pequeno número de morfemas lexicais como “lhe” ou à palavra <lhanu>

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16

ataque simples inicial (início de palavra) e de os segmentos [ʎ] e [ɲ] serem muito

raros nesta posição. O ataque não ramificado (ataque simples) é a estrutura mais

frequente nas línguas do mundo, sendo denominada como não marcada. Pode

ocorrer em posição inicial e medial de palavra (Mateus, Falé e Freitas, 2005).

As consoantes que podem ocorrer em ataque ramificado como primeiro

segmento do constituinte (tanto em posição inicial de palavra como medial) são as

oclusivas e as fricativas, sendo as primeiras mais frequentes neste contexto silábico.

Apenas os segmentos [ɾ] e [l] podem surgir como segundo segmento de um ataque

ramificado, sendo mais comuns as combinações que contenham o segmento [ɾ].

Em síntese, de forma a dar conta das ferramentas necessárias à descrição e

discussão dos dados do presente trabalho, neste capítulo apresentámos, de forma

resumida, as propriedades dos segmentos consonânticos que compõem o inventário

fonológico do português europeu. No presente capítulo foi ainda caracterizada a

estrutura silábica do português europeu.

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17

CAPÍTULO 2. O DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO NO PORTUGUÊS

EUROPEU

Nesta secção, pretende-se fazer uma revisão sumária da literatura relativamente

à aquisição e ao desenvolvimento fonológicos, apresentando especialmente os

dados do Português europeu. Serão expostos os dados relativos à aquisição das

consoantes (2.1) e, posteriormente, serão descritos os dados encontrados na

literatura para aquisição de aspetos de estrutura prosódica relevantes para o

presente trabalho (2.2).

2.1.Dadossobreaaquisiçãodasconsoantes

A descrição e definição de padrões de aquisição fonológica é essencial para

a identificação e estudo do sistema fonológico típico ou desviante. De acordo com

Lamprecht (1999), só é possível determinar um desvio ou perturbação conhecendo o

desenvolvimento fonológico típico das crianças falantes de uma língua, de forma a

identificar e descrever diferenças individuais e verificar possíveis alterações. Apesar

da variação individual típica do processo de aquisição, é possível encontrar, na

literatura, uma descrição relativamente padronizada no que respeita à aquisição do

inventário consonântico. Ao longo do tempo, os estudos sobre a aquisição

fonológica têm vindo a utilizar os diferentes modelos teóricos para a análise dos

dados, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado sobre o

processamento e aquisição fonológicos, imprescindível para a avaliação e

intervenção nas alterações dos sons da fala.

Na avaliação fonológica infantil, um determinado segmento ou uma estrutura

silábica é classificada como adquirido (ou não) tendo em conta o índice de produção

de acordo com o alvo. Assim, um segmento ou constituinte silábico é considerado

adquirido quando o número de ocorrências convergentes com a forma-alvo é

superior a um limite. Esse valor varia entre 75% a 90%, dependente do considerado

pelo autor. Como exemplo, nos seus trabalhos, Matzenauer-Hernandorena &

Lamprecht (1997) definem, como limite, o percentagem de 90% de produção correta

para considerarem uma estrutura adquirida, enquanto Mendes et alii. (2013) utilizam

um critério diferente, considerando que um segmento deverá estar presente numa

faixa etária quando 75% dos informantes produzir esse segmento.

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18

No português europeu, tal como se verifica para outras línguas do mundo, as

primeiras classes de consoantes a emergirem são as oclusivas e as nasais,

encontrando-se adquiridas antes dos dois anos de idade, enquanto as fricativas e as

líquidas são adquiridas mais tardiamente. Relativamente ao ponto articulatório, as

crianças demonstram preferência pela produção de segmentos com pontos

anteriores, só depois iniciando a produção de segmentos posteriores. (Fikkert, 1994,

2005, 2007; Matzenauer - Hernandorena 1994, Freitas 1997; Lamprecht et al., 2004;

Bernahardt & Stemberger,1998; Costa 2010; Alves 2012; Amorim 2014)

Costa (2003) identificou, através de um estudo longitudinal com uma criança

até aos 3;0 anos de idade, as seguintes etapas de aquisição no que respeita aos

traços de modo articulatório e ponto articulatório das obstruintes: a estabilização do

traço [-contínuo], desde cedo, permite a emergência de oclusivas; dá-se em seguida,

a aquisição do traço [+contínuo], que possibilita a ocorrência de fricativas:

1) Ordem de aquisição para o Português europeu no que respeita ao modo

articulatório (Freitas, 1997; Costa 2003/2010; Amorim, 2014) :

1º [-contínuo] - Oclusivas orais / nasais

2º [+contínuo] - Fricativas

3ª - [+aproximante]- Líquidas

• Laterais

• Róticos

2) ordem de aquisição para o português europeu no que respeita ao ponto e modo

articulatório, em Costa (2003, 2010):

Obstruintes oclusivas orais

1º Labial e Coronal [+anterior]

2º Dorsal

Obstruintes oclusivas nasais

1º Labial e Coronal [+anterior]

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19

2º Coronal [-anterior]

Obstruintes fricativas

1º Labial

2º Coronal [-anterior]

3º Coronal [+anterior]

Costa (2010), refere que, no português europeu, se observa o mesmo que o

que acontece para o português do Brasil e nas línguas do mundo: i) as oclusivas e

as nasais são as duas primeiras classes adquiridas no português europeu e ii) as

fricativas e as líquidas são as últimas a emergir. No que respeita ao ponto

articulatório, constatou-se que a ordem de aquisição é tendencialmente [+anterior]

>> [-anterior], o que significa que os pontos labial e coronal [+anterior] das oclusivas

surgem primeiro do que o ponto dorsal. O mesmo se verifica para as nasais. Nas

fricativas, verificou que o ponto Labial surge numa primeira etapa, seguido do

Coronal [-anterior] e, posteriormente, do ponto Coronal [+anterior]. Para as Laterais,

coronal [+anterior] surge primeiro do que coronal [-anterior]. Da mesma forma, Costa

et alii., (2007) observam que, para o português europeu, os segmentos labiais são

mais precoces, tal como descrito para as línguas do mundo. Miranda (2007) e Costa

(2010) referem que, nas líquidas não-laterais, o ponto Dorsal surge primeiro do que

o Coronal [+anterior], ao contrário do que acontece com as restantes classes. Assim

[ʀ] tende a estabilizar primeiro do que [ɾ]. Amorim (2014) refere a emergência mais

precoce da líquida não-lateral com ponto Dorsal, originada pela coocorrência do

traço [dorsal] com [-soante, + contínuo], já presentes no sistema, sendo o rótico

representado como obstruinte para algumas crianças, durante o processo de

aquisição. A autora sugere que só com a emergência posterior do rótico coronal [ɾ] e

aquisição do traço [+ aproximante] é que a obstruinte passa a ser representada

como líquida, passando a existir uma oposição de traço de ponto para os dois

róticos, observando-se nos erros de algumas crianças a substituição entre róticos,

sendo integrada na classe das fricativas, até esse momento.

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20

Amorim (2014), em concordância com os resultados do trabalho de Costa

(2010), apresenta as idades de aquisição das diferentes consoantes, tal como se

pode observar no quadro 9.

Consoantes adquididas

Até aos 3 anos

Oclusivas /p/, /t/, /k/

Nasais: /m/, /n/; / ŋ/

Fricativas: /f/, /v/, /ʃ/

3;0 – 3;6

Fricativas: /s/, /ʒ/

Laterais: /l/

Róticos: /ʀ/

3;6 – 3;11 Róticos: /ɾ/

4;0 – 4;5 Fricativas: /z/

4;6 – 4;11 Laterais: /ʎ /

Quadro 9 - Dados de aquisição das consoantes para o português europeu (Amorim, 2014 :284)

Tal como referido anteriormente, excepto para uma criança, observa-se a

aquisição das oclusivas antes das nasais. Para todas as crianças, verifica-se que,

até aos 3;5 anos, estas duas classes estão completas, com preferência de

ocorrência de pontos articulatórios anteriores em idades mais precoces. Depois da

emergência das oclusivas, observa-se a emergência das fricativas, adquiridas até

aos 4;5 anos, e só depois a das líquidas (nesta classe estão adquiridas apenas a

lateral Coronal [+anterior] /l/ e a não lateral Dorsal /ʀ/).

Os dados obtidos por Mendes et alii., (2013) para o português europeu

revelam que, até aos 5 anos e 6 meses, a maioria das crianças já apresenta todas

as consoantes, tal como se pode verificar no quadro 10.

Segmento(s) Faixa etária

[p, t, k, b, d, g, f, s, ʃ, v, z, m, n, ɲ, ʀ] 3 – 3,06

[l, ʎ , ʃ] (final sílaba) 3,6 – 3,12

[z, ʒ , ɾ] 4 – 4,6

[ɾ] (final de sílaba) 4,6 – 4,12

[ɫ] (final de sílaba) 5,0 – 5,6

Quadro 10 - Dados de aquisição das consoantes para o português europeu (Mendes et alii., 2013)

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21

Neste quadro, observamos que, tal com verificado para outras línguas do

mundo, as líquidas surgem depois das oclusivas, das nasais e das fricativas.

Stampe (1979) utiliza o termo processos fonológicos para a descrição dos

padrões de erro encontrados em crianças com alterações na produção de fala,

embora este termo também seja utilizado para a descrição sobre o funcionamento

das unidades segmentais da língua alvo (Mateus e Andrade 2000). A identificação

da presença de processos fonológicos são uma das formas de avaliação de

produções de fala, em contexto clínico, procurando-se entender a natureza

sistemática das alterações que as crianças produzem (Miccio & Scarpino, 2008;

Guerreiro, 2007). No quadro 11, encontramos dados sobre as idades em que os

processos fonológicos, ou seja, padrões de erros identificados na aquisição de uma

língua, devem deixar de ocorrer para o português europeu:

Processos fonológicos Faixa etária

Posteriorização; anteriorização; oclusivização 3,0 – 3,06

despalatalização; palatalização 4,06 – 4,12

desvozeamento 5;0 – 5,06

Omissão da consoante final, cØc, semivocalização 6,0 – 6,12

Omissão da sílaba átona 6,0 – 6,12

Quadro 11 - Dados sobre o desaparecimento de processos fonológicos para o português europeu (Mendes et alii., 2013)

Nos dados de Mendes et alii., (2013), verifica-se que as oclusivas e as

fricativas estão adquiridas até aos 3;06 anos, uma vez que é nesta altura que deixa

de se observar a estratégia de oclusivização. Os pontos coronal e dorsal para as

oclusivas estão estabilizados até aos 3;06 anos de idade, deixando de se observar

anteriorização ou posteriorização nesta altura. As despalatalizações e

palatalizações, que traduzem a estabilização das consoantes fricativas coronais [s, z,

ʃ, e ʒ], acontecem até aos 4;06 meses. As propriedades relacionadas com o

vozeamento estabilizam até aos 5;06 anos. A líquida lateral pode ser adquirida até

aos 6;12 anos.

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22

Tal como referido no capítulo 4, Amorim (2014) propõe uma ordem de

aquisição fonológica dos segmentos que podem ocupar o ataque simples em

Português europeu, baseada no modelo Padrão de Aquisição de Contrastes. Esta

proposta tem como pressuposto os dados de aquisição de Costa (2010)

apresentados na presente secção. As etapas estão representadas no quadro que se

segue:

Segmentos adquiridos

1ª Etapa

(0-2 anos)

/p, t, k/

/m, n/

[ɲ>>n]

/b, d/

[g>>k]

2ª Etapa

(2-3 anos)

/ɲ/

/g/

/f, v/

/ ʃ /

[s>> ʃ], [ʒ >> ʃ],

[z>>s], [l>>w],

[ʀ>>k,g]

3ª Etapa

(3 – 3;5 anos)

/s/

/ ʒ /

/ʀ/

[z>>s, ʒ]

/l/

[ʎ>>j] [ʀ>> ɾ] [ɾ>>l]

4ª Etapa

(3;5 – 4;11 anos)

/ʀ/

/ɾ/

/z/

/ʎ /

Quadro 12 - Etapas de aquisição do modelo Padrão de Aquisição de Contrastes do Português europeu (Lazzarotto-Volcão, 2016; Amorim, 2014)

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23

Tal com se pode observar no quadro 12, Amorim (2014) refere que, até aos

dois anos, são adquiridos os contrastes que permitem a aquisição dos segmentos

/p, t, k, m, n, b, d/, podendo ainda surgir alterações com os segmentos /ɲ/ e /g/. À

semelhança do que acontece para outras línguas do mundo, as primeiras

consoantes a estabilizar no português europeu são as nasais e as oclusivas.

Dos dois aos três anos, os contrastes que emergem possibilitam a aquisição

de /ɲ, g, f, v, ʃ/. As crianças podem apresentar dificuldades com a estabilização do

ponto articulatório e/ou do vozeamento das fricativas coronais. É importante referir

que parece que a ordem de estabilização das fricativas no Português europeu

acontece no sentido [-anterior]>>[+anterior], ou seja, surge primeiro a fricativa

coronal [-anterior] [ʃ]. Esta ordem de aquisição pode ser explicada pelo facto de, no

português europeu, a marcação do plural ser feita através da realização fonética da

fricativa [ʃ]. Os dados de aquisição demonstram que a marcação do plural surge em

estágios muito iniciais do desenvolvimento linguísticos, pelas crianças portuguesas,

o que parece influenciar a emergência precoce da fricativa coronal [-anterior]

(Freitas, 1997; Costa, Almeida e Freitas, 2012).

Até aos 3;5 anos, as fricativas coronais estabilizam, emergindo a não lateral

dorsal /ʀ/, ao contrário do que seria esperado tendo em conta a tendência geral de

aquisição de ponto de articulação, em que os pontos anteriores emergem mais

precocemente. O ponto [dorsal] nos róticos parece coocorrer com [-soante, +

contínuo], sendo /ʀ/ tratado como fricativa nesta etapa de desenvolvimento, o que

vai ao encontro do descrito por Miranda (2007) sobre a aquisição destes segmentos.

Nesta altura emerge também a lateral coronal [+anterior] /l/. Na última etapa de

desenvolvimento, por volta dos 4;11 anos, surgem os segmentos anteriormente em

falta, nomeadamente /ɾ, z, ʎ /.

Ramalho (2017) observa, nos seus dados de crianças nas faixas etárias

entre os 30 e os 6; 6 anos, que as oclusivas estabilizam antes das nasais e estas

antes das fricativas. Estas classes naturais apresentam-se no sistema fonológico

logo em idades precoces. As líquidas podem emergir em idades precoces, no

entanto, de forma geral só estabilizam por completo em idades mais tardias. Em

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24

ataque simples, é possível encontrar os seguintes dados relativamente à aquisição

das consoantes, no português europeu (Ramalho, 2017):

Idade Segmentos adquiridos

Até aos 3 anos

1ª- Oclusivas: /p/, /t/, /b/,k/, /d/ e /g/

2ª - Nasais: /m/, /n/, /ɲ/ (a última pode não

ter estabilizado por completo)

3ª - Fricativas: /f/, /v/,

4ª - Líquidas: /ʀ/

Até aos 4 anos 1ª - Fricativas: /s/, /ʃ/, /z/

2ª - Líquidas /ɾ/

Até aos 5 anos 1ª- Fricativas: /ʒ/

Depois dos 5 anos 1ª - Líquidas: /l/ e /ʎ /

Quadro 13 - Descrição da aquisição das consoantes para o português europeu (Ramalho, 2017)

De acordo com os dados apresentados no quadro 13, verifica-se que, até

aos 3 anos, todas as oclusivas estão adquiridas, sendo os pontos articulatórios

anteriores os primeiros a emergir e os pontos posteriores, os últimos. Até aos 3

anos, e depois das oclusivas, observa-se a aquisição das nasais. Da mesma forma,

os pontos articulatórios anteriores são os primeiros a ser adquiridos. As fricativas

anteriores surgem também por volta dos 3 anos, bem como o rótico /ʀ/. Até aos 4

anos, as restantes fricativas são adquiridas, embora a fricativa vozeada /ʒ/ só

estabilize, completamente, por volta dos 5 anos. A líquida /ɾ/ surge estabilizada por

volta dos 4 anos, enquanto as líquidas laterais /l/ e /ʎ/ são completamente

dominadas depois dos 5 anos.

2.2Dadossobreaaquisiçãodaestruturasilábica

A sílaba é um constituinte prosódico integrado na componente fonológica da

gramática. Entre outros modelos, a sua estrutura interna tem sido representada

através do modelo Ataque- Rima, de Selkirk (1982), adaptado ao português europeu

por Mateus & Andrade (2000), descrito na secção 1.2. do capítulo 1. No contexto da

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25

Fonologia Prosódica (Nespor & Vogel 1986; 2007), a sílaba representa o primeiro

nível de estruturação prosódica das línguas sendo responsável pela organização da

sequências de segmentos. Assim, torna-se relevante entender como é que a

emergência dos diferentes constituintes silábicos acontece no desenvolvimento e

como é que essa aquisição se relaciona com a aquisição segmental.

A descrição dos dados de aquisição tem mostrado para várias línguas que

nem sempre a emergência de um mesmo segmento surge simultaneamente em

todas as posições da palavra ou em todos os constituintes silábicos. Veja-se a

possibilidade de uma criança já produzir o segmento /ɾ/ em ataque simples na

palavra <cara>, mas ainda ainda não o produzir em coda na palavra <barco>, ou

seja, um segmento pode estar adquirido numa posição ou constituinte silábico e não

noutro. Esta disponibilização de um segmento num constituinte silábico específico e

não noutros não se relaciona com capacidade articulatória (já que a criança produz o

segmento) mas antes com a disponibilização dos constituintes silábicos num

sistema fonológico, na representação mental do sistema linguístico em aquisição.

Assim, uma criança pode ser capaz de produzir /ɾ/ em ataque simples, em palavras

como <amarelo>, em ataque simples e ainda não produzir o mesmo segmento em

coda, como na palavra <barco>. Esta assimetria é observada para todas as

consoantes que preenchem a posição de ataque e coda, sejam elas líquidas ou

fricativas (Freitas, 1997). Como exemplo, verifica-se que a emergência das líquidas

[l e ɾ] em coda é muito posterior à emergência das mesmas em ataque simples.

Vários estudos têm vindo a argumentar a favor de um processamento top-

dow da informação fonológica, em que as categorias prosódicas (neste caso a sílaba

e os seus constituintes) podem ser determinantes na emergência de unidades mais

pequenas como os segmentos. Desta forma, torna-se imprescindível considerar

cada segmento em função de todos os constituintes silábicos que pode ocupar, na

realização de uma avaliação fonológica, já que uma avaliação centrada

exclusivamente no segmento não permitirá analisar o impacto que a estrutura

silábica tem na aquisição de um sistema fonológico alterado conduzindo a

estratégias de intervenção pouco dirigidas e possivelmente menos eficazes (Fikkert

1994; Freitas, 1997; Bernhardt &Stemberger, 1998, 2000; Freitas 2003; Batista,

2015).

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26

O processo de emergência segmental em diferentes estruturas silábicas, tal

como a aquisição segmental, é gradual, observando-se uma sequencialidade de

aquisição das diferentes estruturas em função no estatuto silábico das consoantes.

Este processo será descrito em função de cada constituinte silábico nas secções

que se seguem.

2.2.1Ataque

De acordo com Freitas (1997, 2016, 2017), no português europeu, a

aquisição da estrutura silábica é realizada através de quatro estádios, tal como

ilustrado no quadro abaixo.

Estádios Tipologia do ataque

Estádio 1 ataque não ramificado + rima não ramificada: CV/V

Estádio 2 ataque não ramificado + rima ramificada: (C)VCfricativa

Estádio 3 ataque ramificado: CCV

Quadro 14 – Estádios de aquisição do constituinte ataque no português europeu (Freitas, 1997, 2003, 2015)

De acordo com o quadro 14, verifica-se que, no desenvolvimento silábico, o

ataque simples (ataque não ramificado) encontra-se presente desde a primeira

etapa, estabilizando antes do ataque ramificado. Freitas (1997) observou que, num

primeiro estádio de desenvolvimento, o ataque não ramificado, no português

europeu, é preenchido por oclusivas e por nasais, seguidas das fricativas e das

líquidas. (Fikkert, 1994; Freitas, 1997; Costa, 2010).

Como referido anteriormente, a emergência do ataque ramificado no sistema

fonológico do português europeu dá-se depois da aquisição do ataque simples. A

primeira consoante do ataque ramificado pode ser ocupada por uma oclusiva ou por

uma fricativa, sendo a segunda consoantes deste constituinte silábico preenchida

por uma das líquidas /l/ e /ɾ/. No quadro que se segue podemos encontrar a ordem

de aquisição desta estrutura silábica.

Estádios Tipologia de aquisição do ataque ramificado

Estádio 0 alvos lexicais com estrutura ataque ramificado não são produzidos

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27

Quadro 15 - Estádios de aquisição do constituinte ataque no português europeu (Freitas, 1997, 2003, 2015)

Observa-se que, num primeiro momento, as palavras produzidas pelas

crianças não envolvem sílabas com ataques ramificados. Num segundo momento, a

produção deste constituinte silábico acontece com o apagamento da C2 ou com o

apagamento total da estrutura alvo. A produção desta estrutura silábica de forma

adequada ou em alternância com epêntese de uma vogal, corresponde ao terceiro

momento de desenvolvimento. Por fim, observa-se a produção de todos os

elementos que constituem o ataque ramificado.

Os dados do trabalho realizado por Mendes et alii., (2013), Ramalho (2017),

Guimarães et al. (2014) e Amorim (2014) mostram que os ataques ramificados

(grupos consonânticos) emergem entre os 4 e 5 anos podendo estabilizar mais

tarde, por volta dos 7 anos, observando-se, nesta altura, a ausência do processo

denominado como redução do grupo consonântico (C1C2à C1Ø).

Grupo consonântico Faixa etária

/pl/ [4;0 - 4,5]

/kl/ [4;0 - 4,5]

/fl/ [4;0 - 4,5]

/fɾ/ [4;6 - 4,11]

/vɾ/ [4;6 - 4,11]

/bɾ/ [4;6 - 4,11]

/kɾ/ [4;6 - 4,11]

/pɾ/ [5,0 – 5,5]

/tɾ/ [5,0 – 5,5]

/dɾ/ [5,0 – 5,5]

/gɾ/ [5,0 – 5,5]

Quadro 16 - Cronologia de aquisição do constituinte ataque ramificado no português europeu (Mendes et alii.)

Estádio I ataque ramificado CCV é reduzido, tornando-se CV ou ataque vazio Ø

Estádio II epêntese de vogal no ataque ramificado CVCV coocorre com ccv

Estádio III o ataque ramificado é produzido

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28

Tal como se pode observar nos dados do quadro 16, a produção de ataques

ramificados com /l/ como segunda consoante antecedem a produção deste

constituinte silábico quando o segmento /ɾ/ se encontra na mesma posição. Ramalho

(2017), no seu trabalho observa ocorrências superiores para a produção de /ɾ/ na

segunda posição do ataque ramificado do que as ocorrências de /l/, nesta posição.

2.2.2Coda

De acordo com o descrito sobre a estrutura silábica no português europeu, a

coda é um constituinte silábico preenchido apenas pelos segmentos /ʃ/, /l/ e /ɾ/

(Mateus, Falé e Freitas, 2005/16). Para o português europeu, Freitas (1997) relata o

facto de as codas fricativas serem o primeiro segmento a ocupar a posição final de

coda na aquisição. Neste constituinte silábico, este segmento emerge por volta dos

2;0 anos, encontrando-se adquirido em todas as posições até aos 3;06 anos de

idade (Freitas et al., 2001; Mendes et al. 2013).

No que respeita à coda fricativa, parecem existir variáveis linguísticas, tais

como posição na palavra, o acento da palavra e a natureza segmental e

morfofonológica, que se relacionam com a aquisição deste segmento em diferentes

etapas de desenvolvimento. Assim, a aquisição das codas fricativas, de acordo com

Freitas et. all (2001), segue a seguinte ordem:

I) Coda fricativa morfológica em final de palavra, acentuada e não acentuada

(por exemplo, bebés e copos, respetivamente);

II) Coda fricativa lexical em final de palavra, acentuada e não acentuada (por

exemplo, nariz e lápis, respetivamente), embora os dados disponíveis para estes

dois tipos de estruturas sejam escassos;

III) Coda fricativa lexical em sílaba acentuada em posição medial de palavra

(por exemplo, festa);

IV) Coda fricativa lexical em sílaba não acentuada em posição medial de

palavra (por exemplo, vestido).

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

29

Sabendo que as fricativas emergem primeiro do que as líquidas em coda, é

possível definir três estádios de desenvolvimento do que respeita a este constituinte

silábico, tal como se pode observar no quadro 17.

Estádios de desenvolvimento Tipologia de Rima

Estádio I Rima não ramificada

Estádio II Rima ramificada em núcleo + coda fricativa

Estádio III Rima ramificada em núcleo + coda líquida

Quadro17- Estágios de aquisição do constituinte rima no português europeu (Freitas, 1997)

Durante o processo de aquisição do PE, verifica-se que, tal como acontece

para outras línguas, as obstruintes precedem as soantes em coda, ou seja, as

fricativas antecedem as líquidas. No português europeu, o constituinte coda em final

de palavra deverá estabilizar até aos 5;6 anos, começando a ser produzida aos 2;0

anos com a fricativa, aos 4;6 anos com o rótico /ɾ/ e aos 5;0 anos com a líquida

lateral, verificando-se ausência de processos denominados como omissão da

consoante final (Freitas, 1997, Mendes et al., 2013, Ramalho, 2017) tal como

ilustrado no quadro 18.

Mendes et al. 2013 Amorim, 2014 Ramalho, 2017

/ʃ/ 3;06-3;12 3;00-3;05 4;00 - 4;12

/l/ 5;00-5;06 Depois dos 5;00 Depois dos 6;0

/ɾ/ 4;06-4;12 4;06-4;11 Depois dos 6;0

Quadro 18 - Cronologia da aquisição da coda para o português europeu (Mendes et al.;2013; Amorim, 2014; Ramalho, 2017)

Nos trabalhos de Amorim (2014), observa-se ainda que a estabilização do

constituinte silábico coda se encontra relacionado com a posição do mesmo na

palavra, tal como já descrito para a fricativa /ʃ/ na presente secção. De acordo com

Ramalho (2017), este efeito é verificado para os segmentos /l/ e /ɾ/, existindo uma

diferença cronológica na aquisição dos segmentos, em posição final, que precede a

ocorrência deste segmento em posição medial de palavra.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

30

Em síntese, Freitas (1997; 2017) descreve a sequência de emergência das

estruturas silábicas para o Português europeu, reformulando a escala proposta por

Fikkert (1994), de acordo com o quadro 19:

Estádios Tipologia do ataque

Estádio 1 ataque não ramificado + rima não ramificada: CV/V

Estádio 2 ataque não ramificado + rima ramificada: (C)VCfricativa

Estádio 3 núcleo ramificado: (C)VG /

(C)VC líquida ataque ramificado: CCV

Estádio 4 ataque ramificado: CCV Núcleo ramificado: (C)VC líquida

Quadro 19 - Estádios de aquisição do constituinte ataque no português europeu (Freitas 2017: 90)

De acordo com o quadro 19, podemos verificar a proposta de existência de 4

estágios no que respeita a cronologia de aquisição dos diferentes constituintes

silábicos para o português europeu.

Relativamente aos aspetos de aquisição, tal como referido anteriormente,

torna-se fundamental considerar a relação entre a emergência segmental e

aquisição dos constituintes silábicos, bem como a posição na palavra que os

mesmos podem ocupar. Esta relação em função das idades cronológicas de

aquisição pode ser observada resumidamente no quadro que se segue, que dá

conta das idades de aquisição das diferentes estruturas nos estudos de Mendes et

al. (2009/2013), Ramalho (2017), Amorim (2014):

Constituinte silábico Segmento Mendes et al.

(2009/2013) Ramalho, 2017 Amorim, 2014

Ataque simples

/p/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /b/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /t/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /d/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /k/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /g/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /m/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05 /n/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3;05

/ɲ/ Até 3;00-3;06 Até aos 3;00 embora estabilização mais tardia Até 3;00-3;05

/f/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05 /v/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05 /s/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05

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31

/z/ 4;00-4;06 4;00-4;12 Até 3;00-3-05 /ʃ/ até 3;00-3;06 Até aos 3;00 Até 3;00-3-05 /ʒ/ 4;00-4;06 5;00-6;06 Até 3;00-3-05

/l/ 3;06-3;12 5;00-6;06 mas nao estabilizado 3;00-3;05

/ʎ/ 3;06-3;12 5;00-6;06 mas nao estabilizado 4;06-4;11

/ɾ/ 4;00-4;06 4;00-4;12 3;06-3;11 /ʀ/ 3;00-3;06 Até aos 3;00 3;06-3;11

Ataque Ramificado

/pɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas

1ª da ordem de aquisição

não especificado

/bɾ/ 4;06-4;12 Idade não especificada mas

3ª da ordem de aquisição

não especificado

/tɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas

2ª da ordem de aquisição

não especificado

/dɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas

4ª da ordem de aquisição

não especificado

/kɾ/ 5;00-5;06 não especificado não especificado

/gɾ/ 5;00-5;06 Idade não especificada mas

7ª da ordem de aquisição

não especificado

/fɾ/ 4;06-4;12 Idade não especificada mas

5ª da ordem de aquisição

não especificado

/vɾ/ 4;06-4;12 Idade não especificada mas

6ª da ordem de aquisição

não especificado

/pl/ 4;00-4;06 Idade não especificada mas

8ª da ordem de aquisição

não especificado

/bl/ não testado Idade não especificada mas

11ª da ordem de aquisição

não especificado

/tl/ não testado não especificado não especificado

/kl/ 4;00-4;06 Idade não especificada mas

9* da ordem de aquisição

não especificado

/fl/ 4;00-4;06 Idade não especificada mas

10ª da ordem de aquisição

não especificado

AR /ɾ/ global

4;06-4;12 Depois dos 6;06 Inicial: 4;06-4;11

Medial: depois dos 5;00

AR /l/ global

4;00-4;06 Depois dos 6;06 4;00-4;05

Coda

/ʃ/ 3;06-3;12 4;00 - 4;12 3;00-3;05

/l/ 5;00-5;06 Depois dos 6;0 Medial: depois dos

5;00 Final: 4;00-4;05

/ɾ/ 4;00-4;06 Depois dos 6;0 Medial: 4;6-4;11 Final: 4;00-4;05

Quadro 20 - Resumo dos dados sobre a aquisição segmental em função do constituinte silábico, para o português europeu, adaptado de Ramalho 2017:28

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32

CAPÍTULO 3. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES

O presente capítulo pretende apresentar e descrever o Modelo Padrão de

Aquisição de Contrastes (PAC). De forma a responder a este objetivo, será

apresentada a fundamentação e arquitetura do modelo (3.1). As etapas de aquisição

propostas pelo modelo também serão apresentadas neste capítulo (3.2) bem como a

descrição do modelo na avaliação (3.3) e a sua pertinência na identificação de

padrões de aquisição normais, em atraso ou desviantes (3.3.1). Através do modelo

PAC, Lazzarotto-Volcão (2009) faz uma proposta de classificação da perturbações

fonológicas (3.4), pertinente para o diagnóstico neste domínio. Ainda neste capítulo,

serão apresentados os procedimentos de utilização do modelo para avaliação

fonológica (3.5) bem como as possibilidades de utilização na intervenção (3.6).

3.1.FundamentaçãoearquiteturadoPAC

A aquisição fonológica tem sido explicada, de forma geral, através da

aquisição dos segmentos isolados ou da aquisição de traços (Ver 1. no capítulo 1).

O modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (PAC), proposto por Lazzarotto-

Volcão (2009), pretende descrever e classificar as perturbações fonológicas através

da identificação de etapas de aquisição fonológica, com base na aquisição de

contrastes e no pressuposto de que a existência de classes naturais e de contrastes

depende da coocorrência de traços e não destes isoladamente. Este modelo foi

elaborado a partir da Escala de Robustez para Traços de Consoantes, proposta por

Clements (2009), resultante de um dos cinco princípios inerentes à fonologia das

línguas naturais, descritos anteriormente nas notas 4 a 7 da secção 1.1 do capítulo

1. Com base neste princípio, prevê-se que as crianças adquiram primeiro traços que

permitem a ocorrência de contrastes mais robustos e só depois realizam a aquisição

de traços que permitem a ocorrência de contrastes menos robustos. Em função de

dados empíricos e tendo em conta o proposto nesta escala (de acordo com o

descrito na secção 1.1 do capítulo 1), foram determinadas quatro etapas de

aquisição, períodos em que as crianças demonstram a aquisição dos contrastes

definidos (embora com possibilidade de emergências variadas, ou seja, sem ordem

fixa).

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33

Na arquitetura do modelo (figura 4), os retângulos representam as classes

naturais (ou subclasses de segmentos), as linhas horizontais evidenciam a presença

do contraste no sistema e as linhas verticais representam o contexto em que o

contraste emerge, bem como evidenciam a ocorrência de traços.

Figura 4 - Esquema representativo da arquitetura do modelo PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:88)

Na Figura 4 está representado o contraste entre consoantes contínuas e não-

contínuas, no contexto das não soantes. A linha horizontal demonstra a presença do

contraste entre não contínuas e contínuas e a linha vertical demonstra a presença

desse contraste no contexto das não-soantes.

A partir da Escala de Robustez (secção 1.1 do capítulo 1), elaborada

juntamente com os dados de aquisição disponíveis, surgem quatro etapas de

aquisição, identificadas por cores. Os contrastes correspondentes à primeira etapa

de aquisição correspondem aos retângulos vermelhos, os da segunda etapa são

representados pela cor azul, os contrastes da terceira etapa surgem com a cor

amarela e os contrastes da quarta, e última, etapa são representadas a verde. Os

retângulos preenchidos pretendem representar a presença do contraste no sistema,

os retângulos com riscas identificam instabilidade do contraste e os retângulos que

surgem sem preenchimento são referentes à ausência do contraste. A proposta de

codificação encontra-se resumida na figura 5, abaixo.

Não-Soantes

Contínuas Não-contínuas

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34

Figura 5 - Esquema representativo da arquitetura do modelo PAC – codificação de cores em função

das diferentes etapas (Lazzarotto-Volcão, 2009:117)

3.2.EtapaspropostaspeloModeloPAC

As etapas propostas por Lazzarotto-Volcão no Modelo PAC pretendem

representar características universais, mas simultaneamente captar as

características evidenciadas nos padrões de aquisição encontrados para o

português do Brasil. Apesar da definição de etapas necessárias para a identificação

de perturbações fonológicas, o modelo pretende ser flexível o suficiente para

explicar as diferenças individuais verificadas na aquisição fonológica.

• 1ª etapa

A primeira etapa de aquisição (quadro 21 e figura 6), que se prolonga até

cerca dos 1;8 anos, é caracterizada pela aquisição dos traços marcados [+soante],

[labial], [dorsal], [-anterior], [+vozeado], que, combinados, permitem a emergência de

contrastes entre as classes naturais soante e obstruinte, que, por sua vez, permitem

contrastes de ponto e de vozeamento nas oclusivas e ainda o contraste entre labiais

e coronais nas soantes. Assim, nesta etapa, as oclusivas orais e nasais já se

encontram totalmente adquiridas, bem como todos os contrastes de ponto e

nasalidade estabelecidos. Este modelo permite dar conta da variabilidade individual

e, por esse motivo, podemos encontrar sistemas fonológicos com diferentes perfis

dentro de cada etapa, tendo-se verificado, no entanto, que a sequência das etapas é

comum no desenvolvimento das crianças. Assim, todas as crianças seguem as

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35

quatro etapas, embora possam passar por sub-etapas diferentes. Uma criança

poderá ter presente as oclusivas nasais e as oclusivas coronais e labiais enquanto

outra, da mesma idade, poderá não ter ainda presente as oclusivas vozeadas.

Ambas cumprem a hierarquia do modelo, tendo adquirido os contrastes da primeira

etapa. Tendo em conta o descrito anteriormnet, nesta etapa de desenvolvimento

deverão estar presentes os fonemas /p, b, t, d, k, g, m, n, ɲ/. Desta forma, a

identificação da presença de classes ou traços marca a diferença entre uma análise

segmental (com base na presença e ausência de fonemas) e uma análise por

contrastes representados sob a forma de traços distintivos, presentes em mais do

que uma classe.

Traços marcados

adquiridos Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos

Segmentos

adquiridos

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[-anterior]

[+vozeado]

[+consonântico, +soante]

[-soante, labial]

[-soante, dorsal]

[+soante, labial]

[+soante, coronal, -

anterior]

[-soante, coronal,

+vozeado]

[-soante, labial, +vozeado]

[-soante, dorsal,

+vozeado]

Soantes vs. obstruintes

Oclusiva coronal vs. labial

Oclusiva coronal vs. dorsal

Oclusiva labial vs. dorsal

Nasal coronal vs. labial

Nasal coronal anterior vs. não

anterior

Oclusiva coronal surda vs.

sonora

Oclusiva labial surda vs. sonora

Oclusiva dorsal surda vs. sonora

/p/

/t/

/k/

/m/

/n/

/ɲ/

/b/

/d/

/g/

Quadro 21 - Primeira etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116

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36

Figura 6 – Representação da 1ª etapa de aquisição do PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:102)

• 2ª etapa

A segunda etapa de aquisição do modelo PAC (quadro 22 e figura 7), que

decorre entre as idades de 1;8 a 2;6 anos, prevê a aquisição do contraste não

contínuo versus contínuo, com a entrada do traço [+ contínuo]. Nesta etapa, a

coocorrência do traço [+vozeado] com os traços [-soante, +contínuo] e traços de

ponto já existentes assegura o contraste de sonoridade (excepto para as fricativas

coronais não anteriores versus anteriores), bem como contrastes entre fricativas

labiais e coronais. Neste sentido, é importante referir que a aquisição de um

contraste está obrigatoriamente vinculada à coocorrência de traços, pelo que a

emergência de um traço numa classe não implica obrigatoriamente que o mesmo

surja noutra classe em que ele opera como distintivo, justificando a ausência do

contraste entre as fricativas coronais, nesta altura, apesar de já existirem coronais

[+anteriores] e coronais [-anteriores] no sistema fonológico. No final desta etapa, o

modelo prevê a aquisição dos segmentos /f, v, s e z/.

Traços marcados

adquiridos Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos

Segmentos

adquiridos

[+contínuo]

[-soante, + contínuo]

[+contínuo, labial]

[+contínuo, coronal,

+vozeado]

[+contínuo, labial, +

vozeado]

Oclusivas vs. fricativas

Fricativa coronal vs. labial

Fricativa coronal surda vs.

sonora

Fricativas labial surda vs. sonora

/f/

/v/

/s/

/z/

Quadro 22 - Segunda etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116

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37

Figura 7- Representação da segunda etapa (a vermelho) e da segunda etapa (a azul) de aquisição do

PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:106)

• 3ª etapa

Relativamente à terceira etapa (quadro 23 e figura 8), com as aquisições

feitas entre os 2;8 e os 3;0 anos, dá-se a emergência do contraste entre as nasais e

as orais na classe das soantes, através da aquisição do traço marcado

[+aproximante]. Embora este contraste já existisse para as oclusivas, passa a existir

também para a distinção entre as oclusivas nasais e a líquidas. A autora propõe que

o traço [nasal] seja considerado redundante no contraste entre a classe das líquidas

e das nasais, sendo um traço que permite o contraste entre as oclusivas orais e

nasais deste muito cedo. Na descrição da fonologia do português europeu, Mateus e

Andrade (2000) consideram que as nasais se distinguem das líquidas pelo traço

[contínuo] e que, nas líquidas, o traço [lateral] é suficiente para distinguir as laterais

dos róticos. Lazzarotto-Volcão (2009) considera que as laterais são caracterizadas

pelo traço [-contínuo], que, juntamentente com o [+aproximante], permitem distinguir

estes segmentos dos róticos [+aproximante; +contínuo]. Assim, ainda nesta etapa,

com a aquisição de [+aproximante] e a coocorrência com [-contínuo], a emergência

do segmento /l/ ocorre. A emergência de /ʃ e ʒ/ ocorre nesta etapa, através de uma

nova combinação de traços já existentes [-soante, +contínuo, coronal, -anterior] e de

[-soante, +contínuo, coronal, -anterior, +vozeado], surgindo o contraste de

sonoridade entre as coronais [±anterior].

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38

Traços

marcados

adquiridos

Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos Segmentos

adquiridos

[+aproximante]

[+soante, +aproximante]

[-soante, +contínuo, coronal, -

anterior]

[-soante, +contínuo, coronal, -

anterior, +vozeado]

Nasais vs. líquidas

Fricativa coronal anterior vs.

não anterior

Fricativa coronal não anterior

surda vs. sonora

/l/

/ʃ/

/ʒ/

Quadro 23 - Terceira etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116

Figura 8 - Representação da primeira (a vermelho), da segunda (a azul) e a da terceira (a amarelo) etapas de aquisição do PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:109)

• 4ª etapa

A quarta e última etapa da aquisição fonológica (Quadro 24 e figura 9 ),

proposta pelo modelo PAC, prevê o surgimento do contraste entre laterais versus

não laterais, a distinção entre laterais não anteriores versus anteriores, e a distinção

de ponto dorsal versus coronal para não laterais, emergindo assim os segmentos /ʎ,

ʀ e ɾ/. Nesta etapa, não surgem novos traços, mas a sua utilização em diferentes

contextos ou coocorrências reflete-se no surgimento dos segmentos em falta. O

início desta etapa dá-se por volta dos 3;4 anos e estende-se até aos 4;2 anos.

Assim, com a coocorrência do traço [+aproximante], que surge na terceira

etapa, com [+contínuo] presente também no sistema fonológico, é possível a

distinção entre laterais e não laterais (róticos). A combinação destes traços com

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39

traços de ponto permite a ocorrência de laterais e não laterais com pontos [+anterior]

e [-anterior].

Traços

marcados

adquiridos

Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos Segmentos

adquiridos

[+aproximante, +contínuo]

[+aproximante, -cont, coronal,

-anterior]

[+aproximante, +contínuo,

dorsal]

Líquidas lateriais vs. não lateriais

Líquida lateral anterior vs. não

anterior

Líquida não lateral coronal vs.

dorsal

/ɾ/

/ʎ/

/ʀ/

Quadro 24 - Quarta etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, das coocorrências formadas, dos contrastes estabelecidos e dos segmentos adquiridos, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009: 116

Figura 9 - Representação da primeira (a vermelho), da segunda (a azul), da terceira (a amarelo) e da

quarta (verde) etapas de aquisição do PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009: 112)

As quatro etapas do PAC estão resumidas no quadro 25, abaixo.

Etapa

Traços

marcados

adquiridos

Coocorrências

formadas Contrastes estabelecidos

Segmentos

adquiridos

1ª etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[-anterior]

[+vozeado]

[+consonântico, +soante]

[-soante, labial]

[-soante, dorsal]

[+soante, labial]

[+soante, coronal, -

anterior]

Soantes vs. obstruintes

Oclusiva coronal vs. labial

Oclusiva coronal vs. dorsal

Oclusiva labial vs. dorsal

Nasal coronal vs. labial

Nasal coronal ant. vs. não

anterior

/p/

/t/

/k/

/m/

/n/

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40

[-soante, coronal,

+vozeado]

[-soante, labial, +vozeado]

[-soante, dorsal,

+vozeado]

Oclusiva coronal surda vs.

sonora

Oclusiva labial surda vs.

sonora

Oclusiva dorsal surda vs.

sonora

/ɲ/

/b/

/d/

/g/

Idade:

até aos

2;0

anos

Total da

etapa: 5 Total da etapa: 8 Total da etapa: 9

2ª etapa [+contínuo]

[-soante, + contínuo]

[+contínuo, labial]

[+contínuo, coronal,

+vozeado]

[+contínuo, labial, +

vozeado]

Oclusivas vs. fricativas

Fricativa coronal vs. labial

Fricativa coronal surda vs.

sonora

Fricativas labial surda vs.

sonora

/f/

/v/

/s/

/z/

Idade:

1;8 -2;6

anos

Total da

etapa: 1

Total do

sistema: 6

Total da etapa: 4

Total do sistema: 12

Total da etapa: 4

Total do sistema 13

3ª etapa [+aproximante]

[+soante, +aproximante]

[-soante, +contínuo,

coronal, -anterior]

[-soante, +contínuo,

coronal, -anterior,

+vozeado]

Nasais vs. líquidas

Fricativa coronal anterior vs.

não anterior

Fricativa coronal não anterior

surda vs. sonora

/l/

/ʃ/

/ʒ/ Idade:

2;8 -3;0

anos

Total da

etapa: 1

Total do

sistema: 7

Total da etapa: 3

Total do sistema: 15

Total da etapa: 3

Total do sistema 16

[+aproximante, +contínuo]

[+aproximante, -contínuo,

coronal, -anterior]

[+aproximante, +contínuo,

dorsal]

Líquidas lateriais vs. não

lateriais

Líquida lateral anterior vs.

não anterior

Líquida não lateral coronal

vs. dorsal

/ɾ/

/ʎ/

/ʀ/

Idade:

3;4- 4;2

anos

Total da

etapa: 0

Total do

sistema: 7

Total da etapa: 3

Total do sistema: 18

Total da etapa: 3

Total do sistema 19

Quadro 25 - Resumo das etapas de aquisição do Modelo padrão de Aquisição de contrastes, adaptado de Lazzarotto-Volcão, 2009:116

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

41

3.3.OPACnaavaliaçãofonológica

Atualmente, as análises fonológicas realizadas em sujeitos com suspeita de

Perturbação dos Sons da Fala, na prática clínica, passam, maioritariamente, por

uma análise contrastiva, com a comparação entre o sistema fonológico avaliado e o

sistema fonológico da língua-alvo, identificando a presença ou ausência dos

segmentos. Na avaliação clínica, é recorrente a análise através dos processos

fonológicos, que verifica os processos presentes na fonologia infantil, bem como a

contabilização do total de percentagem de consoantes corretas (PCC). Apesar de

ser uma análise presente em muitos estudos na área, a análise por traços que

consiste na identificação dos traços presentes no sistema de um sujeito, não é ainda

uma prática comum na avaliação clínica. De acordo com Lazzarotto-Volcão, a

análise através de processos fonológicos ou até através da percentagem de

consoantes corretas parece não permitirem um estudo mais aprofundado das

alterações, uma vez que não possibilitam uma descrição do sistema fonológico no

seu todo (por exemplo, não informando a respeito das classes naturais já presentes

num sistema) nem considerando os contextos em que uma alteração pode ocorrer

(por exemplo, o vozeamento poderá estar ativo apenas para as oclusivas). O modelo

PAC possibilita o reconhecimento da constituição de classes naturais, a identificação

gradual de segmentos ausentes pela análise dos contrastes em aquisição, bem

como a visualização da organização dos traços e a sua coocorrência e implicações.

De acordo com a autora, este modelo cumpre todos os pré-requisitos

estabelecidos por Grunwell (1990), no que respeita aos procedimentos para

avaliação das alterações fonológicas:

a) Descrição dos padrões fonéticos e fonológicos: o modelo capta padrões

fonológicos através da identificação de contrastes e padrões fonéticos, decorrente

do levantamento do inventário fonético (primeiro passo da análise através deste

modelo).

b) Identificação das diferenças entre os padrões da criança e os padrões do

sistema alvo: a arquitetura do modelo PAC é construída a partir dos padrões da

língua-alvo. As estruturas ausentes são evidenciadas pelo não preenchimento dos

retângulos.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

42

c) Indicação das implicações comunicativas (contrastibilidade): o modelo

PAC permite a identificação das possibilidades contrastivas, pressuposto básico do

modelo.

d) Avaliação da etapa do desenvolvimento e identificação de perfis de atraso

ou de desvio: o PAC identifica as etapas de desenvolvimento percorridas pela

criança, bem como os casos de atraso ou desvio fonológico.

e) Facilitação na identificação de metas para o tratamento clínico: através da

identificação dos padrões alterados, existe maior eficácia na previsibilidade e

planeamento da intervenção.

f) Capacidade de verificação de modificações no sistema, no momento das

reavaliações: o modelo torna a visualização da evolução fácil.

3.3.1-OPACnaidentificaçãodepadrõesdeaquisiçãonormais,ematrasooudesviantes

Pretende-se que o PAC seja uma ferramenta para a análise dos casos de

Perturbação Fonológica, sendo útil à identificação da aquisição fonológica normal

ou da aquisição com atrasos ou desvios. Através das etapas de aquisição propostas

pelo modelo PAC, definidas a partir dos dados de aquisição, espera-se encontrar no

processo de aquisição:

1) A primeira etapa do modelo completa até aos 1;08 anos de idade;

2) até aos 2;06 anos, a aquisição dos contrastes da segunda etapa;

3) a terceira etapa finalizada até aos 3;0 anos;

4) até aos 4;02 anos, a quarta etapa finalizada

A identificação de um desvio fonológico pode ser realizada através da

identificação de alterações no cumprimento dos princípios fonológicos esperados na

aquisição normal. De acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), autora do PAC, a

análise de crianças com desvio fonológico através do modelo permitiu verificar que

as crianças com alterações fonológicas não apresentam dificuldades na aquisição

de traços isolados, mas, antes, na combinação desses traços. Nas crianças com

desvio fonológico, a combinação de traços parece ocorrer de forma mais lenta e

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

43

muitas vezes de forma desviante, apresentando mais problemas. Existe uma

tendência para não obedecer ao Princípio de Economia de Traços, sendo possível

observar a presença de um número restrito de contrastes, manifestado pela redução

do inventário fonológico segmental, para o número de traços disponíveis no sistema.

Assim, num sistema fonológico alterado, poderemos encontrar o traço [+vozeado]

em combinação com os traços [coronal] [+anterior] emergindo o segmento /z/, mas

não ser possível observar a sua combinação com os traços [coronal] [-anterior],

tendo como consequência a ausência do segmento /ʒ/.

O Princípio de Evitação de Traços marcados parece também ser

problemático para as crianças com desvio fonológico, já que apresentam

frequentemente um número superior de segmentos marcados e ausência de traços

não marcados. Desta forma, poderemos encontrar o traço [+aproximante],

manifestado em produções de consoantes líquidas, encontrando-se ausente a

combinação dos traços não marcados [coronal] [+anterior], com falta das consoantes

oclusivas /d/ e /t/.

O Princípio de Robustez tende também a não ser cumprido, nas crianças

com desvio fonológico, uma vez que não respeitam a previsibilidade de aquisição

das diferentes etapas, inerente ao modelo PAC. As crianças com desvio fonológico

poderão apresentar etapas mais tardias, encontrando-se por completar a aquisição

de etapas mais precoces.

O modelo PAC possibilita, assim, a identificação de dois tipos de alteração

fonológica:

1) Atraso Fonológico – o perfil fonológico da criança mostra um

desfasamento entre as suas etapas de desenvolvimento e as esperadas para a

idade cronológica, embora sejam cumpridos os princípios fonológicos.

2) Desvio Fonológico - o perfil fonológico da criança mostra alterações que

implicam o não cumprimento dos princípios fonológicos

Tendo em conta a eficácia na identificação das alterações fonológicas pelo

modelo PAC, este torna-se uma ferramenta produtiva no processo de avaliação, já

que permite a descrição do perfil fonológico do sujeito e possibilita a determinação

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

44

de um diagnóstico mais preciso, fundamental para o planeamento da intervenção

terapêutica.

3.4.ClassificaçãodasPerturbaçõesFonológicas-PAC

Com base na proposta de Lazzarotto-Volcão e Matzenauer (2008),

Lazzarotto-Volcão (2009) propõe uma classificação através da determinação do grau

de severidade. Na proposta de classificação do PAC, os critérios são qualitativos

considerando a presença ou ausência de contrastes como unidade básica de

análise.

De acordo com a proposta, as perturbações fonológicas poderão ser

classificadas, de acordo com o grau de severidade, da seguinte forma:

Perturbação Severa – Se o sistema fonológico apresentar:

• ausência de contrastes da terceira e quarta etapas;

• presença de, no máximo, dois contrastes da segunda etapa;

• presença de, no máximo, seis contrastes da primeira etapa.

Assim, no sistema fonológico de uma criança com perturbação severa,

encontraremos consoantes nasais (podendo a coocorrência de ponto estar ausente),

consoantes oclusivas (podendo algumas coocorrências de ponto ou vozeamento

estar ausentes). Nas perturbações fonológicas, a classe das fricativas estará

completamente ausente ou podem surgir duas subclasses, como, por exemplo, o

contraste oclusivas vs fricativas e o contraste fricativas labiais surdas vs sonoras.

Perturbação moderada-severa – uma alteração será moderada-severa se o

sistema fonológico apresentar um nível médio de contrastes:

• presença dos contrastes da primeira etapa, podendo estar ausentes

no máximo três coocorrências de ponto e/ou vozeamento.

• presença de, no mínimo, dois e, no máximo, três contrastes da

segunda etapa;

• presença de, no mínimo, um e, no máximo, dois contrastes da

terceira etapa;

• ausência de contrastes da quarta etapa.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

45

Nos casos de crianças com Perturbação Fonológica moderada-severa,

encontramos no seu sistema fonológico as consoantes nasais, as oclusivas, as

fricativas labiais e as coronais anteriores (podendo estar ausente uma das seguintes

subclasses (apenas uma): i) fricativas labiais ou fricativas coronais anteriores ou ii)

fricativas labiais e coronais anteriores surdas). Encontram-se presentes as fricativas

coronais não-anteriores ou o contraste de sonoridade entre essas fricativas (mesmo

que os segmentos-alvo estejam ausentes na gramática) e/ou líquida lateral anterior.

Espera-se assim, que neste nível de gravidade, exista apenas uma coocorrência na

classe das líquidas (correspondente à terceira etapa) e deverão existir pelo menos

duas consoantes fricativas (correspondente a dois contrastes da segunda etapa).

Perturbação moderada – uma alteração moderada surge se o sistema

fonológico apresentar um nível médio-alto de contrastes, caracterizado por:

• presença de todos os contrastes das duas primeiras etapas;

• presença de, no mínimo, um contraste e, no máximo, dois contrastes

da terceira etapa;

• presença de, no máximo, um contraste na quarta etapa, podendo

estar todos ausentes.

De acordo com as características relativas à perturbação moderada, espera-

se que os sujeitos com este diagnóstico tenham, nos seus inventários fonológicos,

as seguintes classes de sons: nasais, oclusivas, fricativas labiais, fricativas coronais

anteriores e, pelo menos, uma líquida. Podem estar ausentes as duas fricativas

coronais não-anteriores (desde que o contraste de sonoridade entre elas esteja

presente), ou apenas uma delas (/ʃ/ ou /ʒ/) ou podem ainda estar ausentes as três

líquidas.

Perturbação leve – esta classificação surge nos casos em que o sistema

fonológico é caracterizado por:

• presença de todos os contrastes das duas primeiras etapas;

• presença de, no mínimo, dois contrastes da terceira etapa;

• presença de, no mínimo, dois contrastes da quarta etapa.

Perturbações leves serão caracterizadas pela presença de sons nasais,

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

46

oclusivas, fricativas (podendo estar ausente a subclasse das coronais não-anteriores

ou o contraste de sonoridade entre elas) e líquidas (pelo menos duas laterais e uma

não-lateral ou vice-versa).

Lazzarotto-Volcão (2009) propõe adicionalmente uma proposta de

classificação para os casos não enquadrados nas classificações anteriormente

propostas, como, por exemplo, crianças que apresentem apenas alterações nos

contrastes de vozeamento ou para crianças com idade inferior a 4;02 anos (já que

nesta altura não é esperado apresentar todas os contrastes em todas as etapas). A

autora sugere o cálculo quantitativo que denomina como fator de correção. Este fator

corresponde ao cálculo da percentagem de contrastes que estão presentes no

sistema em função do esperado. Este valor será analisado de acordo com o

proposto na tabela 26, que surge com base do corpus do trabalho de Lazzarotto-

Volcão (2009), juntamente com a classificação de Shriberg e Kwiatkowski (1982).

Nível de

gravidade da PF

Número mínimo

de contrastes

Percentagem

mínima de

contrastes

Número máximo

de contrastes

Percentagem

máxima de

contrastes

Severo 0 0 8 42%

Moderado-Severo 9 47% 14 74%

Moderado 15 79% 16 84%

Leve 17 89% 18 95%

Quadro 26 - Índice de economia para cada etapa de aquisição, segundo o PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009:119)

Assim, de acordo com a idade da criança, serão calculados os contrastes

que deveriam estar presentes no sistema, correspondendo esse valor a 100%.

Depois disso, contabiliza-se quantos contrastes foram já adquiridos, calculando a

percentagem de contrastes que permitirá a utilização desta proposta de

classificação.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

47

3.5ProcedimentosdeutilizaçãodoPACparaaavaliaçãofonológica

Para a descrição e análise linguística dos dados em contexto de Perturbação

Fonológica, deverá ser realizada, primeiramente, uma análise contrastiva, podendo-

se obter, assim, os inventários fonético e fonológico dos sujeitos. Para esta análise,

Lazzarotto-Volcão (2009) propõe a utilização dos procedimentos e critérios

considerados por Yavas, Matzenauer-Hernandorena e Lamprecht (1991). Após esta

análise, proceder-se-á ao apuramento de todos os contrastes presentes no sistema

fonológico da criança, fazendo a sua representação através do preenchimento ou

não dos retângulos no diagrama apresentado anteriormente em 3.1.

Para determinar o estado do contraste, são levados em conta os mesmos

critérios que os utilizados para a determinação do estado de cada segmento da

língua (adquirido, em concorrência ou ausente). Assim:

• Contraste adquirido: quando houver entre 76% e 100% de uso correto da

coocorrência de traços (ou traço) responsável pelo contraste;

• Contraste em aquisição: quando estiver presente no sistema, mas com uma

produção correta entre 51% e 75% das produções;

• Contraste ausente - quando a produção for igual ou inferior a 50%.

Após a determinação dos contrastes presentes num sistema, os mesmos

serão alvo de análise para a definição do tipo de alteração fonológica (atraso ou

perturbação), bem como para a sua classificação, de acordo com os critérios

descritos na secção anterior.

É importante referir que o modelo PAC, por analisar a aquisição de

contrastes e não de segmentos, torna possível a identificação de um contraste

mesmo que o segmento em que esse contraste existe ainda não seja produzido.

Assim, uma criança que produza [s, z] no lugar de /ʃ, ʒ/, não apresenta alterações no

contraste de vozeamento entre os segmentos /ʃ, ʒ/. Nesta alteração, observa-se

uma alteração que diz respeito às propriedades relacionadas com o ponto

articulatório e não com o contraste de vozeamento. Esta análise vai ao encontro da

ideia proposta por Hernandorena (1995) de que a construção gradual dos

segmentos é realizada através da ligação gradual de traços fonológicos à estrutura

interna dos fonemas.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

48

Destaca-se ainda que todos os princípios propostos por Clements (2005,

2009) podem ser evidenciados através do modelo, embora o Princípio de Robustez

seja o mais relacionado com a proposta. Assim, após identificação dos contrastes

estabelecidos num sistema, pode ser feita uma análise de forma a determinar se o

sistema em avaliação cumpre todos os princípios, o que pode ser muito útil no

planeamento da intervenção terapêutica.

3.6.ImplicaçõesdomodelonaIntervenção

Considerando o Princípio de Robustez, o Princípio de Economia de Traços e

o Princípio da Evitação de traços marcados, a análise através do modelo PAC

poderá contribuir para uma maior eficácia no planeamento da intervenção

terapêutica, já que será possível identificar os contrastes a considerar na

intervenção, de forma a estimulá-los e a obter generalizações a contrastes mais

robustos. Será possível identificar os traços que devem ser estimulados de modo a

que se combinem de forma mais económica, sabendo também que os menos

robustos implicam, em princípio, os mais robustos. O PAC considera que a aquisição

dos valores marcados dos traços permite a consequente aquisição dos não-

marcados, podendo orientar a intervenção neste sentido.

A sugestão da autora do modelo é a de que, no planeamento da intervenção

terapêutica, o modelo PAC possa servir de orientação na escolha do estímulo alvo a

trabalhar. Se a criança apresenta um atraso fonológico, devem ser escolhidos

estímulos de aquisição mais tardia, que possibilitarão a aquisição das propriedades

que já deveriam estar presentes, recorrendo ao conceito de aquisição implicacional

(Keske-Soarees, 1996, 2001). Numa Perturbação Fonológica, os estímulos alvo

terão de ser aqueles que possibilitarem a reorganização do sistema e o

cumprimentos dos princípios fonológicos, não tendo de ser, necessariamente, os de

aquisição mais tardia. A autora afirma que estas hipóteses, bem como a

possibilidade de utilizar o modelo em conjunto com outros modelos terapêuticos,

terão ainda de ser testadas e confirmadas.

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49

CAPÍTULO 4. O MODELO PADRÃO DE AQUISIÇÃO DE CONTRASTES DO

PORTUGUÊS EUROPEU – PAC-PE

Ao avaliar a adequação da Escala de Robustez para a coocorrência de

traços de consoantes à aquisição de contrastes do português europeu, Amorim

(2014) verificou que a proposta original não permitia explicar a totalidade dos dados

de aquisição do português europeu, embora se tenham verificado tendências gerais

com base na Escala de Robustez identificadas por Clements (2009) e por

Lazzarotto-Volcão (2009). A autora refere a necessidade de proceder a algumas

adaptações, de forma a dar conta das especificidades da língua, especialmente da

coocorrência de traços que, embora sejam mais robustos num contexto, se tornam

menos robustos numa coocorrência diferente, como é o caso do traço [+-anterior],

que, quando combinado com [+soante, -aproximante], é mais robusto do que quando

coocorre com [-soante, + contínuo, +voz]. A proposta apresentada por Amorim

(2014) mantém as características, objetivos e propósitos do modelo original,

concebido para o português do Brasil por Lazzarotto-Volcão (2009), tendo sido

adaptada à luz dos dados de aquisição do português europeu, por 5 informantes

avaliados longitudinalmente e por 80 informantes avaliados transversalmente (dados

espontâneos no primeiro caso (Costa, 2010) e experimentais no segundo (Amorim,

2014). Tendo em conta que os dados utilizados são referentes a um número

reduzidos de sujeitos, nas faixas etárias iniciais, a indicação das idades deverá ser

entendida como uma tendência genérica. Desta forma, Amorim (2014) propõe, à

semelhança do modelo PAC proposto para o português do Brasil, quatro etapas de

aquisição, em que os traços são adquiridos e combinados entre si, de forma a

originar contrastes que possibilitam a emergência dos segmentos.

• 1ª etapa – PAC-PE

A primeira etapa de aquisição (quadro 27), que decorre ao longo dos dois

primeiros anos de vida, é caracterizada pela aquisição dos traços marcados

[+soante], [labial], [dorsal], [+vozeado], que, combinados, permitem a emergência de

contrastes que estabelecem as classes naturais das soantes e das obstruintes.

Estes traços permitem estabelecer contrastes de ponto nas oclusivas surdas bem

como entre as soantes labiais e coronais. O traço [+vozeado] é utilizado apenas

para as oclusivas labiais e coronais

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50

Assim, nesta etapa, ao contrário do que acontece no português do Brasil, as

oclusivas orais e nasais ainda não se encontram totalmente adquiridas, já que os

segmentos /g/ e /ɲ/ são adquiridos mais tarde, sendo usualmente substituídos por /k/

e /n/, respetivamente, demonstrando que as combinações [dorsal, -contínuo,

+vozeado] e [coronal, -anterior] não estão ainda estabelecidas. Neste seguimento,

nesta etapa, não estão ainda estabelecidos todos os contrastes de ponto e modo

necessários para a emergência de todas as oclusivas e nasais, encontrando-se

presentes os fonemas /p, b, t, d, k, m, n/. Com esta análise em função dos traços e

das suas combinações, ilustra-se a diferença entre uma análise segmental (com

base na presença e ausência de fonemas) e uma análise em contrastes, o que

permite entender as relações existentes no sistema fonológico de uma criança,

independentemente dos segmentos que a mesma já é capaz de produzir.

Traços marcados

adquiridos

Coocorrênc

formadas Contrastes estabelecidos

Segmentos

adquiridos

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+vozeado]

[+consonântico, +soante]

[-soante, labial]

[-soante, dorsal]

[+soante, labial]

[-soante, coronal,

+vozeado]

[-soante, labial, +vozeado]

Soantes vs. obstruintes

Oclusiva coronal vs. labial

Oclusiva coronal vs. dorsal

Oclusiva labial vs. dorsal

Nasal coronal vs. labial

Oclusiva coronal surda vs.

sonora

Oclusiva labial surda vs. sonora

/p/

/t/

/k/

/m/

/n/

/b/

/d/

Quadro 27 - Primeira etapa de aquisição do PAC, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314

• 2ª etapa – PAC-PE

A aquisição da fonologia no português europeu segue com a segunda etapa

(quadro 28), entre os 2;0 e os 3;0 anos de idade, altura em que são adquiridos o

traço [-anterior], possibilitando a coocorrência com [+soante, coronal], emergindo o

segmento /ɲ/. Nesta altura, é também feita a aquisição do contraste entre oclusivas e

fricativas, com a entrada do traço [+ contínuo]. A combinação deste com o traço

[labial] (previamente adquirido) permite a distinção entre a fricativa labial e a coronal

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51

[-vozeado]. Nesta etapa, a coocorrência dos traços [-contínuo, +vozeado, dorsal]

permite a aquisição do contaste entre a oclusiva dorsal surda e a sonora, emergindo

o segmento /g/. A coocorrência entre os traços [+contínuo, +vozeado, labial] nesta

etapa possibilita a distinção entre a fricativa labial surda e a sonora.

É importante relembrar que a aquisição de um contraste está

obrigatoriamente vinculada à coocorrência de traços, pelo que a emergência de um

traço numa classe não implica obrigatoriamente que o mesmo surja noutra classe.

Assim, nesta etapa, embora o traço [-anterior] entre no sistema fonológico, permite

apenas a distinção entre as soantes coronais /n/ e /ɲ/, não coocorrendo, nesta fase,

com fricativas, por exemplo. Podem então observar-se fricativas coronais nas

crianças que se encontram na segunda etapa, ocorrendo oscilação relacionada com

o ponto articulatório. Amorim (2014), com base nos dados de Costa (2010), refere

que no português europeu o ponto coronal [-anterior] parece ser o primeiro a

estabilizar, no caso das fricativas. Desta forma, no final desta etapa, o modelo prevê

a aquisição dos segmentos /g, ɲ, f, v e ʃ/.

Traços marcados

adquiridos Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos

Segmentos

adquiridos

[+contínuo]

[-anterior]

[+soante, coronal, -

anterior]

[-soante, dorsal, +

vozeado]

[-soante + contínuo]

[+contínuo, labial, +voz]

[+contínuo, labial]

Nasal coronal anterior vs não

anterior

Oclusiva dorsal surda vs sonora

Oclusivas vs. Fricativas

Fricativas labial surda vs sonora

Fricativa coronal vs labial

/ɲ/

/g/

/f/

/v/

/ʃ/

Quadro 28 - Segunda etapa de aquisição do PAC-PE, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314

• 3ª etapa

Relativamente à terceira etapa (quadro 29), as aquisições são feitas entre os

3;0 e os 3;5 anos de idade, dando-se, da mesma forma que nas etapas descritas

para o português do Brasil, a emergência do contraste entre as nasais e orais na

classe das soantes, através da aquisição do traço marcado [+aproximante]. Com a

estabilização deste traço passa a existir a distinção entre as oclusivas as nasais e as

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52

líquidas com emergência do segmento /l/. Nesta etapa, a coocorrência entre

[+contínuo, -vozeado, coronal, -anterior] permite o contraste entre [±anterior] entre

fricativas coronais surdas. A coocorrência do traço [+vozeado] possibilita a distinção

entre fricativas coronais surdas e sonoras (não ocorrendo ainda distinção de ponto

entre as coronais sonoras, embora já exista para as coronais surdas). Ainda nesta

etapa emerge o segmento /ʀ/, pela aquisição do contraste [±contínuo] nas

obstruintes dorsais, através da combinação [dorsal] e [-soante, + contínuo]. Assim,

nesta epata são adquiridas as consoantes /s, ʒ e l/.

Traços

marcados

adquiridos

Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos

Segment

os

adquirido

s

[+aproximan

te]

[+ soante, + contínuo, coronral -

anterior]

[-soante, +contínuo, coronal,

+vozeado]

[-soante, + contínuo, dorssal]

[+soante. +aproximante]

Fricativas coronais anteriores vs não

anterires

Fricativa coronal não anterior surda

vs sonora

Oclusiva vs fricativa dorsal

Nasais vs líquidas

/s/

/ʒ/

/ʀ/

/l/

Quadro 29 - Terceira etapa de aquisição do PAC-PE, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314

• 4ª etapa – PAC-PE

Dos 3;5 anos aos 4;11 anos, ocorrem as aquisições correspondentes à

quarta etapa. Não são feitas aquisições de novos traços, mas ocorrem ainda novas

combinações que permitem a emergência de novos segmentos, tal como ilustrado

no quadro 30. Nesta altura o contraste [±anterior] entre fricativas coronais estabiliza

com a aquisição do segmento /z/. Novas coocorrências com [+ aproximante]

permitem o contraste entre laterais e róticos (o rótico /ʀ/ adquirido na etapa anterior

parece ser tratado naquela altura como fricativa e ainda não como aproximante). A

distinção entre o ponto articulatório dos róticos é estabelecido através da

combinação dos traços [dorsal] e [coronal] com [+aproximante, + contínuo]. Surge

também a distinção [±anterior] entre as laterais. Nesta última etapa são adquiridos,

assim, os segmentos /ʀ, ɾ, z e ʎ/. Torna-se pertinente, explicar que o segmento /ʀ/

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53

pode surgir na terceira etapa, para algumas crianças, quando o mesmo é

categorizado no sistema como fricativa dorsal. No entanto, /ʀ/ pode ser classificado

como aproximante para outra crianças, sendo dominado nesta quarta etapa de

aquisição com a combinação dos traços [-soante, +aproximante, +dorsal].

Traços

marcados

adquiridos

Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos

Segmento

s

adquirido

s

[+aproximante, + contínuo, dorsal]

[+aproximante, + contínuo, coronal]

[-soante, + contínuo, coronal, +

anterior, +vozeado]

[+aproximante, -contínuo, coronal, -

anterior]

Líquidas laterais vs não laterais

Líquda não lateral dorsal vs

coronal

Fricativa coronal anterior vs não

anterior

Líquida lateral anterior vs não

anterior

/ʀ/

/ɾ/

/z/

/ʎ/

Quadro 30 - Quarta etapa de aquisição do PAC-PE, em função dos traços marcados, coocorrências formadas, contrastes estabelecidos e segmentos adquiridos, adaptado de Amorim, 2014:314

No quadro 31, em baixo, encontram-se resumidas as quatro etapas de

aquisição identificadas para o português europeu:

Etapa

Traços

marcados

adquiridos

Coocorrências formadas Contrastes estabelecidos

Segme

ntos

adquiri

dos

1ª etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+vozeado]

[+consonântico, +soante]

[-soante, labial]

[-soante, dorsal]

[+soante, labial]

[-soante, coronal, +vozeado]

[-soante, labial, +vozeado]

Soantes vs. obstruintes

Oclusiva coronal vs. labial

Oclusiva coronal vs. dorsal

Oclusiva labial vs. dorsal

Nasal coronal vs. labial

Oclusiva coronal surda vs.

sonora

Oclusiva labial surda vs.

sonora

/p/

/t/

/k/

/m/

/n/

/b/

/d/

Idade: até

aos 2;0

anos

Total da etapa:

4 Total da etapa: 6 Total da etapa: 7

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

54

2ª etapa [+contínuo]

[-anterior]

[+soante, coronal, -anterior]

[-soante, dorsal, + vozeado]

[-soante + contínuo]

[+contínuo, labial, +vozeado]

[+contínuo, labial]

Nasal coronal anterior vs

não anterior

Oclusiva dorsal surda vs

sonora

Oclusivas vs. Fricativas

Fricativas labial surda vs

sonora

Fricativa cornoal vs labial

/ɲ/

/g/

/f/

/v/

/ʃ/

Idade: até

2;0 anos

Total da etapa:

2

Total do

sistema: 6

Total da etapa: 5

Total do sistema: 11

Total da etapa: 5

Total do sistema 12

3ª etapa [+aproximante]

[+ soante, + contínuo,

coronal -anterior]

[-soante, +contínuo, coronal,

+vozeado]

[-soante, + contínuo, dorsal]

[+soante. +aproximante]

Fricativas coronal anterior

vs não anterior

Fricativa coronal não

anterior surda vs sonora

Oclusiva vs fricativa dorsal

Nasais vs líquidas

/s/

/ʒ/

/ʀ/

/l/ Idade: <3 -

3;5 anos

Total da etapa:

1

Total do

sistema: 7

Total da etapa: 4

Total do sistema: 15

Total da etapa: 4

Total do sistema 16

4ªetapa

[+aproximante, + contínuo,

dorsal]

[+aproximante, + contínuo,

coronal]

[-soante, + contínuo, coronal,

+ anterior, +vozeado]

[+aproximante, -contínuo,

coronal, -anterior]

Líquidas lateriais vs não

lateriais

Líquda não lat dorsal vs

coronal

Fricativa coronal ant vs não

anterior

Líquida lateral anterior vs

não anterior

/ʀ/

/ɾ/

/z/

/ʎ/

Idade: 3;5-

4;11 anos

Total da etapa:

0

Total do

sistema: 7

Total da etapa: 4

Total do sistema: 18

Total da etapa: 4

Total do sistema 19

Quadro 31 - Resumo das etapas de aquisição do Modelo padrão de Aquisição de contrastes para o português europeu

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

55

Os contrastes, para o português europeu, são representados através da

estrutura do modelo PAC (figura 10), de acordo com os mesmos critérios de

representação descritos anteriormente no capítulo 3.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

56

Figura 10 - Representação da aquisição do sistema fonológico do português europeu à luz do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (Lazzarotto-Volcão, 2009; 2016 com base nos dados para o

português europeu (Amorim, 2014))

Tal como se pode observar, comparando as representações do português

europeu (imagem 10) e do português do Brasil (imagem 11), as duas diferem em

alguns aspetos. No português europeu, vemos representado a azul, correspondente

à segunda etapa, o contraste entre fricativas coronais anteriores e não anteriores,

que, no português do Brasil, se representa a amarelo, por corresponder a uma

aquisição respeitante à terceira etapa. Observa-se ainda que, enquanto no

português do Brasil o contraste as fricativas anteriores surdas e sonoras surge a

azul (segunda etapa), no português europeu, surge a verde, estabilizando na quarta

etapa. As estruturas diferem ainda quanto à emergência do contraste entre as

líquidas laterais e não laterais, que, para o português europeu, surge na terceira

etapa (a amarelo) e, para o português europeu, na quarta etapa (a verde).

Figura 11 - Representação da estrutura do sistema fonológico do Português do Brasil à luz do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (Lazzarotto-Volcão, 2009:117).

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

57

Neste capítulo, foi realizada a descrição das etapas de aquisição, de acordo

com o Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes, em função dos dados de

aquisição fonológica do português europeu.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

58

CAPÍTULO 5. AS PERTURBAÇÕES DOS SONS DA FALA

O presente capítulo pretende apresentar, resumidamente, o estado da arte

relativo às Perturbações dos Sons da Fala, mais especificamente no domínio das

Perturbações Fonológicas, com o objetivo de clarificar as definições teóricas

relacionadas com o termo, bem como clarificar os critérios para determinação do

diagnóstico nesta área. Com este intuito, será apresentada a definição do conceito

de Perturbações dos Sons da Fala (5.1), sendo enunciada e comentada de forma

breve a tipologia encontrada nas Perturbações dos Sons da Fala, incluindo as

Perturbações Fonológicas, que serão alvo de descrição mais detalhada neste

trabalho em (5.2)

5.1Afalaeassuasalterações

A fala é uma atividade cognitiva e motora complexa, que se manifesta

através da articulação de unidades linguísticas. A produção de palavras depende de

um planeamento motor (dependente do sistema nervoso central), da execução

motora (dependente dos órgãos fonoarticulatórios) e de um planeamento linguístico

(dependente da aquisição do sistema gramatical) (Goulart, 2002; Franco et al., 2003;

Gomes et al., 2006; Bacelar, 2013).

A fala é um processo complexo que se adquire de forma gradual ao longo

dos primeiros anos de vida, dependendo do desenvolvimento não só linguístico, mas

também do desenvolvimento motor. Ao longo deste processo, algumas crianças

demonstram dificuldade na produção da fala, não conseguindo realizar produções

de acordo com o que seria esperado para a sua faixa etária. Quando, na produção

de fala, se observam erros que não seriam esperados, é diagnosticada uma

perturbação na fala.

Ao longo dos anos, tanto as nomenclaturas como as definições utilizadas

para caracterizar as perturbações na fala têm sofrido várias alterações. As

perturbações da fala eram vistas como dificuldades articulatórias, sendo cada

segmento visto isoladamente e de forma periférica. Esta perspetiva tem vindo a ser

alterada à luz de modelos fonológicos, passando-se a olhar para a fala, não só numa

dimensão motora, isolada, como também numa dimensão fonológica. Esta mudança

de perspetiva teve manifestações no que respeita aos procedimentos de avaliação

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

59

bem como às nomenclaturas utilizadas para o diagnóstico. Durante muitos anos, as

crianças com alterações de fala eram diagnosticadas com distúrbio articulatório,

dislália ou perturbação articulatória funcional; mais tarde surgiram os diagnósticos de

atraso fonológico e de perturbação Fonológica. Atualmente, encontramos ainda o

termo “Perturbação Específica da Articulação” como uma das nomenclaturas para

fazer referência às perturbações da fala, representada pelo código F 80.0 do ICD-10

(Classificação Internacional de Doenças), definida como a dificuldade que a criança

apresenta, para a sua faixa etária, em utilizar corretamente os sons da fala, mas

sem evidenciar alterações de linguagem (Bacelar, 2013; Santos, 2015, Lousada

2012; Pagliarin, 2007).

No Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders V (DSM-V-TR,

2014), traduzido para português como Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais V, encontramos o termo Transtorno da Fala, sendo definido

como a dificuldade que um indivíduo tem na utilização dos diversos sons da fala,

não sendo causada por surdez, dificuldades cognitivas, etc. Atualmente o Transtorno

da Fala refere-se a crianças com “dificuldades no reconhecimento fonológico dos

sons da fala ou na capacidade de coordenar os movimentos para falar...”, podendo

subdividir-se em transtorno fonológico e transtorno da articulação.

A American Speech-Language-Hearing Association (ASHA, 2003) sugere a

utilização do termo Speech Sound Disorders - SSD (Perturbação dos Sons da Fala -

PSF), introduzido por Shriberg (2003). Esta nomenclatura é utilizada por outros

autores tais como Bowen (2017) e Hodd (1989, 2005). No entanto, a descrição

quanto aos sub-tipos de Perturbações dos Sons da Fala não é consensual. Alguns

autores consideram dois tipos de perturbação, Perturbação Articulatória e

Perturbação Fonológica, distinguindo as alterações de base motora das alterações

linguísticas. Este tipo de classificação não considera a etiologia das perturbações

dos sons da fala, ou a interação entre os aspetos motores e linguísticos implicados

na produção de fala. Alguns autores elaboraram propostas de forma a responder às

limitações da classificação comummente usada, propondo uma classificação de

base etiológica ou evocando o tipo de erros encontrados na fala (Vick et.al. 2014).

Para Gierut (1998), bem como para Grunwell (1990), as Perturbações da

Fala podem ter uma natureza fonética (dificuldade para articular sons da fala

decorrente de uma deficiência orgânica, ou não), envolvendo a componente motora,

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

60

ou ter uma natureza fonológica, envolvendo uma dificuldade na capacidade

cognitivo-linguística, caracterizada por desorganização, inadaptação ou alteração do

sistema fonológico.

Dodd et al. (1989) classificam as Perturbações dos Sons da Fala em três

tipos: atraso na aquisição fonológica, alteração sistemática com presença de

processos atípicos, alterações inconsistentes. Dodd (1995, 2005) propõe um modelo

baseado no perfil linguístico das crianças:

1) Atraso Fonológico - as crianças apresentam processos típicos, mas que

já não são esperados na sua idade;

2) Perturbação Fonológica Desviante e Consistente – as crianças

apresentam processos atípicos, demonstrando não dominar o sistema alvo;

3) Perturbação da Fala Inconsistente – as crianças apresentam processos

típicos não esperados na sua idade, juntamente com processos atípicos. Mostram

ainda uma variabilidade igual ou superior a 40% na produção da mesma palavra;

4) Perturbação Articulatória – A criança não consegue produzir fones

específicos;

5) Apraxia da Fala – A criança apresenta dificuldade em fazer o planeamento

motor da fala (apresentam características de fala semelhantes às encontradas na

perturbação de fala inconsistente).

As Perturbações dos Sons da Fala podem ser classificadas tanto quanto à

tipologia como à etiologia (Shriberg, 2010, Vick et al. 2014, Bacelar, 2016). Esta

classificação foi traduzida para o português como Sistema de Classificação de

Perturbações da Fala (Speech Disorders Classification System - SDCS). O Sistema

de Classificação de Perturbações da Fala – Tipologia divide as alterações de fala

em:

1) Aquisição normal de fala;

2) Atraso na fala - inclui crianças entre os 3;0 e 9;0 anos de idade com

omissões e substituições que são superadas com intervenção;

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

61

3) Alteração motora da fala - inclui crianças entre os 3;0 e 9;0 anos de idade

com omissões, substituições e distorções que podem não ser superadas com

intervenção;

4) Erros de fala - inclui crianças entre os 6;0 e 9;0 anos com distorção de

sons, especialmente sibilantes e/ou líquidas

O Sistema de Classificação de Perturbações da Fala – Etiologia divide as

alterações de fala em oito subtipos:

1) Altraso da fala;

a) atraso da fala transmitido geneticamente;

b) atraso na fala devido a otites médias de repetição;

c) atraso na fala com envolvimento do desenvolvimento psicossocial;

2) Alteração motora da fala;

a) apraxia do discurso;

b) disartria;

c) alteração motora da fala – não especificada;

3) Erros de fala;

a) erros de fala das sibilantes;

b) erros de fala no fonema /ɾ/.

Bowen (2011) enuncia diferentes níveis e tipos de dificuldades, tal como

ilustrado na figura 12:

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

62

Figura 12 – Os cinco níveis de função da fala e possíveis alterações (Bowen: 2011)

A autora descreve 5 níveis de dificuldade (anatómico/sensorial, motor,

percetivo, fonético e fonológico). Para cada um dos níveis há um tipo de dificuldade

que consiste num subtipo de Perturbação dos Sons da Fala (disartria, apraxia,

alteração articulatória ou alteração fonológica). De acordo com a autora, os

diferentes tipos de dificuldade podem coocorrer na mesma criança. Assim, uma

criança pode ter apraxia do discurso e também apresentar erros fonológicos

percetuais.

5.1.1Asperturbaçõesfonológicas

De acordo com Lamprecht, et al. (2004), até aos 5;0 anos de idade, de forma

gradual e individual, as crianças vão dominando o conhecimento fonológico da sua

língua. No entanto, existem crianças que apresentam diferenças na forma como o

seu sistema fonológico é construído, apresentando características que não seriam

esperadas na sua idade, na ausência de fatores que pudessem estar na origem da

dificuldade para a aquisição dos sons da fala. Esta dificuldade específica em

estabelecer, de forma adequada, as regras do sistema fonológico ou em usar os

fonemas de forma contrastiva, é denominada Perturbação Fonológica. Assim, as

alterações de fala poderão não ser causadas por uma dificuldade de execução

motora, ou seja, não constituem um problema articulatório ou fonético, mas antes

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

63

numa dificuldade cognitivo-linguística, manifestando-se em dificuldade na

organização fonológica e na utilização dos fonemas num contexto. (Ingram,1976;

Issler, 1996; Grunwell,1981,1990; Mota 2001; Pagliarin, 2007; Lazzarotto-Volcão

2009; Lamprecht, et. Al. 2004; Lima, 2008).

O sistema fonológico nas crianças com perturbações fonológicas não é

adquirido espontaneamente, existindo diferenças nas etapas percorridas pela

maioria das crianças de uma língua alvo (Giacchini,2009; Carlesso e Keske-Soares,

2007).

Wertzner (2004) define perturbações fonológicas como uma dificuldade de

fala, caracterizada pelo uso inadequado de sons, que podem envolver erros de

percepção, produção ou organização dos mesmos.

Wertzner et. al. (2007) refere que as crianças com Perturbação Fonológica

podem manifestar, nas suas produções, substituições, omissões e /ou distorções por

não terem adquirido as regras fonológicas do sistema linguístico da comunidade em

que estão inseridas. Embora o sistema fonológico seja inadequado ao esperado

para a sua faixa etária, Lamprech (2004) refere que as crianças com Perturbações

Fonológicas apresentam um sistema que não viola restrições fundamentais em

termos de traços e estruturas silábicas, embora as suas produções não atinjam

totalmente o sistema-alvo.

Para Grunwell (1981), as crianças com Perturbações Fonológicas

apresentam:

a) fala praticamente ininteligível, sendo as consoantes os segmentos

com maiores alterações;

b) idade superior a quatro anos, pois nessa idade a fala tem ser ser

entendida em qualquer situação de comunicação;

c) audição normal; 12

d) ausência de alterações anatómicas ou fisiológicas relacionadas com

os mecanismos de produção da fala;

12No que respeita à audição, torna-se fundamental refletir sobre a relação entre o impacto que perdas auditivas (causadas por otites médias) têm no desenvolvimento linguístico da criança que se encontra em avaliação, uma vez que Correia (2015), observa que o período de instalação das mesmas é decisivo no processo de aquisição e não só a presença ou ausência no momento. Correia (2015) verifica que as dificuldades fonológicas segmentais de crianças com otites médias se prenderem maioritariamente com o traço de vozemento na classe das fricativas e com a produção de laterais.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

64

e) ausência de problemas neurológicos relacionados com a produção da

fala;

f) capacidade intelectual adequada para o desenvolvimento da

linguagem falada;

g) linguagem expressiva e compreensiva adequada à faixa etária, no

que se refere aos restantes domínios linguísticos.

A autora refere que as crianças com Perturbação Fonológica apresentam

uma quantidade e variedade restrita de segmentos, redução de combinação de

traços fonéticos, quantidade limitada de fricativas e de ponto de articulação, trocas

surdo/sonoro e poucos grupos consonânticos.

Existem diferentes propostas para a classificação das Perturbações

Fonológicas, umas mais baseadas na inteligibilidade e grau de severidade, outras

baseadas em análises quantitativas (percentagem de consoantes corretas).

Grunwell (1997) propôs uma classificação das alterações fonológicas em três

categorias:

I - desenvolvimento atrasado - a criança desenvolve padrões de fala

de forma adequada, de acordo com etapas esperadas para a língua, mas

num ritmo mais lento;

II- desenvolvimento irregular - a criança utiliza padrões esperados em

diferentes fases de aquisição; uns podem estar de acordo com o esperado,

outros padrões podem ser esperados em idades mais avançadas ou idades

anteriores;

III - desenvolvimento incomum - a criança utiliza padrões que não se

esperam no desenvolvimento normal.

Ingram (1997) sugere uma tipologia de alterações fonológicas:

Tipo 1 – crianças com atraso fonológico - mostram padrões

fonológicos de crianças normais mais jovens e têm vocabulário relacionado

com as suas capacidades fonológicsa.

Tipo 2 – crianças com características de desenvolvimento distintas -

adquirem um vocabulário relativamente amplo, mas apresentam um sistema

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

65

fonológico severamente desorganizado;

Tipo 3 – crianças com padrões fonológicos influenciados socialmente

- são caracterizadas com padrão fonológico incomum;

Tipo 4 – crianças com alterações no desenvolvimento supralaríngeo -

são as que apresentam um desenvolvimento do traço [voz] avançado.

Keske-Soares (2001) propôs uma tipologia para a classificação dos desvios

fonológicos:

• sujeitos com desvios fonológicos com características incomuns: o

sistema fonológico do sujeito está bastante distante do esperado

relativamente ao sistema padrão de crianças mais jovens com

desenvolvimento normal, com processos incomuns (fricatização,

glotalização, apagamento de fricativa/oclusiva) e preferência

sistemática por um segmento; nesse caso, ocorre severa

ininteligibilidade de fala;

• sujeitos com desvios fonológicos com características iniciais: o

sistema fonológico do sujeito é semelhante ao encontrado no

desenvolvimento inicial da aquisição fonológica; apresenta alguns

processos iniciais (oclusivização, desvozeamento e anteriorização),

que persistem além da idade esperada; nesse caso, ocorre também

ininteligibilidade de fala, no entanto em grau menos severo;

• sujeitos com desvios fonológicos com características atrasadas: o

sujeito apresenta alterações que são evidenciadas no estádio final da

aquisição fonológica normal e apresenta alterações nas fricativas

palatais e líquidas e nas estruturas CVC e CCV;

• sujeitos com desvios fonológicos com características fonéticas

adicionais: o sujeito apresenta fatores fonéticos que interferem no

desenvolvimento e na adequação fonológica, podendo enquadrar-se

nos grupos com características incomuns, iniciais e atrasadas.

Shriberg & Kwiatkowski (1982) determinaram uma análise quantitativa para

verificar o grau de severidade das alterações fonológicas através dos resultados da

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

66

percentagem de consoantes corretas - PCC. Considerando esta medida, o desvio

pode ser classificado como:

• desvio médio (86 a 100%);

• desvio médio moderado (66 a 85%);

• desvio moderado-severo (51 a 65%);

• desvio severo (< 50%)

Lazzarotto-Volcão (2009) classificou os desvios fonológicos em função da

presença ou ausência de contrastes identificados através do Modelo Padrão de

Aquisição de Contrastes (descrito detalhadamente no capítulo 3 do presente

trabalho).

Em termos gerais, entende-se que a Perturbação Fonológica corresponde a

um sub-tipo de perturbação dos sons da fala. O conhecimento detalhado e profundo

sobre as características linguísticas bem como sobre a etiologia na Perturbação dos

Sons da Fala torna-se essencial para a interpretação dos dados de avaliação bem

como para o estabelecimento de um diagnóstico preciso, fundamental para o

planeamento adequado da intervenção terapêutica.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

67

II PARTE - METODOLOGIA

CAPÍTULO 6 . CRITÉRIOS METODOLÓGICOS

A fim de apresentar os critérios metodológicos desta investigação, no

segundo capítulo deste trabalho, apresentam-se a questão orientadora (6.1), a

caracterização da amostra (6.2), bem como os instrumentos utilizados para a

recolha dos dados (6.3). No presente capítulo, são apresentados os procedimentos

do estudo (6.4), através da descrição da forma como foram obtidas as autorizações

(6.4.1), da descrição da aplicação do instrumento e recolha de dados (6.4.2), dos

critérios adotados no tratamento e descrição dos dados (6.4.3). Ainda na secção

relativa aos procedimentos do estudo, serão retomados os objetivos a considerar na

discussão deste trabalho (6.4.4), já apresentados na introdução. De forma a

responder aos objetivos estabelecidos, serão descritos os modelos de análise que

servirão a discussão dos dados (6.4.4.1). É ainda feita a descrição da intervenção

terapêutica realizada ao longo do período de recolha dos dados (6.4.4.2).

6.1.QuestãoOrientadora

Tendo em conta a revisão bibliográfica apresentada no capítulo anterior,

surge a seguinte questão orientadora: “O modelo PAC-PE é ou não adequado à

avaliação nas Perturbações Fonológicas no português europeu”?. O PAC

(Lazzarotto-Volcão, 2009; Giachini, 2015) permitiu a descrição do perfil fonológico de

crianças brasileiras, possibilitando a definição de um diagnóstico mais preciso,

assim como o estabelecimento de graus de gravidade no português do Brasil. Neste

trabalho, espera-se que, com recurso ao modelo adaptado aos dados de aquisição

típica do português europeu (Amorim, 2014; Lazzarotto-Volcão 2009), seja possível

utilizar este modelo em crianças portuguesas com perturbações fonológicas. Para

refletir sobre a adequação da análise com base no PAC-PE, foram considerados

dados obtidos através de outros tipos de análise fonética-fonológica, tais como

inventário fonético, inventário fonológico e identificação dos processos fonológicos.

As aquisições realizadas ao longo do processo de intervenção dos sujeitos foram

descritas através do modelo PAC-PE, a fim de explicar a aquisição fonológica em

crianças com perturbação.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

68

6.2.Caracterizaçãodaamostra

Os dados para análise deste estudo foram recolhidos através dos resultados

de produção oral de dois sujeitos com Perturbação Fonológica.

Para o diagnóstico de Perturbação Fonológica, procedeu-se à clarificação

dos critérios com maior relevância para a investigação em desenvolvimento fonético

e fonológico que, de acordo com Grunwell (1981), Bernhardt, Stemberger e Major

(2006) e Holm e Crosbie (2006) são:

1. o histórico clínico do ouvido e da audição, causado sobretudo por

quadros infecciosos como a otite média, sendo importante a

identificação do período de instalação da condição clínica (Correia,

2015);

2. o histórico respiratório, especialmente quando medicado;

3. o estado do comportamento, da cognição e das funções executivas e

hiperatividade com terapêutica farmacológica;

4. a capacidade intelectual e competências de aprendizagem;

5. o desenvolvimento da linguagem em geral;

6. o desempenho em tarefas de percepção de fala e/ou de consciência

fonológica;

7. a capacidade de tarefas oromotoras bem como o funcionamento do

aparelho anatómico, fisiológico e neurológico relacionado com

produção de fala;

8. fatores pessoais e/ou ambientais com relação etiológica com o

desempenho em análise (fatores de risco como a baixa estimulação,

por exemplo) e/ou com relação condicional com o processo

terapêutico (como a disponibilidade para a terapia, por exemplo).

Assim, para que os sujeitos pudessem ser incluídos na amostra da

investigação, foi realizada uma avaliação formal da linguagem e uma avaliação de

discriminação auditiva. Foi ainda avaliada a função do aparelho estomatognático

(respiração, mastigação, sucção, deglutição e fala), bem como dos órgãos

fonoarticulatórios (lábios, língua, dentes, bochechas, palato duro e palato mole), com

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

69

especial atenção para as alterações de mobilidade, postura e tónus, que pudessem

comprometer a produção articulatória dos sons da fala. Dados de anamnese

(antecedentes familiares, desenvolvimento psicomotor, desenvolvimento orofacial,

sono, aprendizagem, gestação, etc.) foram recolhidos junto dos pais ou

responsáveis. Exames complementares não foram realizados após avaliação

terapêutica, por não se julgarem necessários por parte da pesquisadora, uma vez

que não existiam indicadores de alterações neurológicas ou psicológicas.

6.2.1.Sujeito1

De acordo com os dados de anamnese recolhidos, não se registaram

alterações de desenvolvimento na história clínica de R.R., o sujeito 1 deste estudo.

R.R. foi submetida a uma timpanostopia por presença de otites médias

frequentes com alterações audiométricas ligeiras aos 4;0 anos de idade (tendo

iniciado queixas de otites, por volta dos 3;0 anos, à entrada para a escola, período

de instalação considerado tardio para o impacto na qualidade perceptiva-fonológica).

No momento da avaliação, registavam-se mais de 6 meses de avaliações

audiométricas sem alterações, sem aparente evolução da qualidade das produções,

sendo possível observar melhorias da condição auditiva nos exames realizados. Não

foram mencionadas quaisquer preocupações relacionadas com alterações do

comportamento, da cognição, em geral, ou das funções executivas, quer por parte

dos pais, quer por educadores ou psicólogos do colégio frequentado por R.R.

R.R. nunca foi avaliada nem acompanhada em terapia da fala, não existindo

dados de uma avaliação nessa área. Contudo, face às preocupações apontadas

pela educadora e identificadas pelos pais, em termos do padrão de fala de R.R.,

procedeu-se a uma avaliação em terapia da fala.

Para determinar o diagnóstico foram ainda aplicadas as seguintes provas de

avaliação da linguagem e fala:

• PAOF - Protocolo de Avaliação Orofacial (Guimarães, 1995);

• Teste de discriminação auditiva de pares mínimos, com imagem

(Guimarães & Grilo, 1997);

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

70

• TALC – Teste de Avaliação da Linguagem na Criança (Sua Kay &

Tavares, 2006);

• TFF – ALPE - Teste Fonético-Fonológico (Mendes et al., 2013).

Na avaliação oromotora, não se verificaram alterações anatómicas ou

funcionais significativas que impedissem a função de fala.

No que respeita a sua capacidade de discriminação auditiva, R.R. não

revelou quaisquer dificuldades ao nível da identificação de pares mínimos de

palavras cujo contraste entre segmentos se encontra no vozeamento, ponto ou

modo de articulação dos fonemas em competição, tendo obtido 100% de sucesso no

instrumento aplicado.

Os resultados apurados a partir da aplicação do TALC encontram-se na

quadro 32.

Compreensão Expressão

Cotação atribuída (média e desvio-padrão esperados para a

idade de R.R.)

Vocabulário 12 valores (11,99 ±0,11)

24 valores (22,64 ±1,75)

12 valores (11,58 ±0,65)

18 valores (15,48 ±1,93)

Relações Semânticas 12 valores (11,06 ±1,22)

12 valores (10,10 ±1,74

-

Frases complexas 7 valores (4,69 ±2,11) -

Frases absurdas - 3 valores (2,03 ±1,10)

Constituintes morfossintáticos - 14 valores (9,88 ±1,88)

Intenções comunicativas - 6 valores (6,68 ±1,68)

TOTAL 67 valores (60,48 ±4,56) 53 valores (4212 ±4,26)

Quadro 32 -Resultados da avaliação da linguagem de R.R. com base na aplicação do TALC ( Sua Kay & Tavares, 2006)

Os resultados apurados na área da linguagem, em particular, nos domínios

da morfologia, sintaxe, semântica e pragmática, apresentaram valores adequados

para a idade de R.R., ao nível da expressão (52 valores, para uma média de 42,12

valores, com um desvio-padrão de 4,26), e ligeiramente acima da média na

compreensão (67 valores, para uma média de 60,48 valores com um desvio-padrão

de 4,56).

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

71

Os dados de fala analisados foram recolhidos através do TFF-ALPE (Mendes

et al., 2013), sendo a análise dos mesmos o próprio objeto deste trabalho, pelo que

os dados relativos à aplicação deste instrumento serão apresentados no capítulo

referente à apresentação de resultados.

6.2.2.Sujeito2

Na história clínica de L.R., o sujeito 2 deste trabalho, não se registam

alterações de desenvolvimento ou outras relevantes, com interferências na

linguagem ou no desempenho fonético-fonológico. Não foram mencionadas

quaisquer preocupações relacionadas com alterações do comportamento, da

cognição, em geral, ou das funções executivas, quer por parte dos pais, quer pelos

educadores ou psicólogos do colégio frequentado por L.R.

L.R. nunca foi avaliado nem acompanhado em terapia da fala, não existindo

dados de uma avaliação nessa área. Contudo, face às preocupações apontadas

pela educadora e identificadas pelos pais, em termos do padrão de fala de L.R.,

procedeu-se a uma avaliação em terapia da fala.

Da mesma forma que para o sujeito 1, foram aplicadas as seguintes provas

de avaliação da linguagem e fala:

• PAOF - Protocolo de Avaliação Orofacial (Guimarães, 1995);

• Teste de discriminação auditiva de pares mínimos, com imagem

(Guimarães & Grilo, 1997);

• TALC – Teste de Avaliação da Linguagem na Criança (Sua Kay &

Tavares, 2006);

• TFF - ALPE Teste Fonético-Fonológico (Mendes et al., 2013).

Nas provas aplicadas não se observaram alterações anatómicas ou

funcionais significativas que impedissem a função de fala.

No que respeita a sua capacidade de discriminação auditiva, L.R. não

revelou quaisquer dificuldades ao nível da identificação de pares mínimos de

palavras cujo contraste entre segmentos se encontre no vozeamento, ponto ou

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

72

modo de articulação dos fonemas em competição, tendo obtido 100% de sucesso no

instrumento aplicado.

Os resultados apurados a partir da aplicação do TALC encontram-se na

Tabela 33.

Compreensão Expressão

Cotação atribuída (média e desvio-padrão esperados para a

idade de L.R.)

Vocabulário 12 valores (11,99 ±0,11)

24 valores (22,64 ±1,75)

12 valores (11,58 ±0,65)

18 valores (15,48 ±1,93)

Relações Semânticas 12 valores (11,06 ±1,22)

12 valores (10,10 ±1,74

-

Frases complexas 7 valores (4,69 ±2,11) -

Frases absurdas - 3 valores (2,03 ±1,10)

Constituintes morfossintáticos - 13 valores (9,88 ±1,88)

Intenções comunicativas - 6 valores (6,68 ±1,68)

TOTAL 67 valores (60,48 ±4,56) 52 valores (4212 ±4,26)

Quadro 33 - Resultados da avaliação da linguagem de L.R. com base na aplicação do TALC (Sua Kay & Tavares, 2006)

Os resultados apurados na área da linguagem apresentaram valores

adequados para a idade de L.R., ao nível da expressão (52 valores, para uma média

de 42,12 valores, com um desvio-padrão de 4,26), e ligeiramente acima da média na

compreensão (67 valores, para uma média de 60,48 valores, com um desvio-padrão

de 4,56).

Os dados de fala, apresentados no parte III deste trabalho, foram recolhidos

através do instrumento de avaliação TFF-ALPE (Mendes et al., 2013), sendo a

análise dos mesmos o próprio objeto desta trabalho.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

73

De acordo com os resultados da avaliação apresentados, entende-se que

tanto o sujeito 1 como o sujeito 2 apresentam um perfil correspondente ao

diagnóstico de Perturbação Fonológica, uma vez que:

• Têm fala ininteligível (sendo possível observar um valor baixo de

PCC), com alterações mais significativas nos segmentos

consonânticos;

• Têm idade superior a 4;0 anos;

• Apresentam audição normal;

• Não se registam alterações anatómicas, fisiológicas ou neurológicas

relacionadas com produção de fala;

• Apresentam capacidade intelectual e de aprendizagem adequadas;

• Possuem capacidade nos restantes domínios linguísticos adequados

à faixa etária.

Esta amostra foi selecionada por conveniência, sendo o processo de

amostragem não probabilístico e intencional, uma vez que fazem parte da amostra

apenas os sujeitos que cumprem os critérios de inclusão e exclusão previamente

definidos.

6.3Instrumentoderecolhadedados

Para este estudo foi selecionado, como forma de recolha de dados, o

instrumento de avaliação o Teste Fonético - Fonológico – Avaliação de Linguagem

Pré-Escolar (TFF-ALPE), que permite avaliar a capacidade de articulação verbal, o

tipo e percentagem de ocorrência de processos fonológicos, bem como a

inconsistência nas produções da mesma palavra. Este instrumento foi

estandardizado a partir de uma amostra de 768 crianças (390 do sexo feminino e

378 do sexo masculino) com idades compreendidas entre os 3;0 e os 6;12 anos,

falantes do português europeu de 11 distritos de Portugal Continental e das duas

regiões autónomas (arquipélagos da Madeira e dos Açores).

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74

6.4.Procedimentosdoestudo

6.4.1Obtençãodasautorizações

Foi solicitada a permissão e autorização dos encarregados de educação para

a participação dos dois sujeitos nesta investigação (R.R. e L.R.), através de um

Consentimento Livre e Esclarecido, elaborado pela investigadora (ANEXO A).

6.4.2Aplicaçãodosinstrumentoserecolhadosdados

Os dados foram recolhidos de forma longitudinal através do instrumento de

avaliação TFF-ALPE, que tem como objetivo a avaliação do sistema fonético-

fonológico de crianças, tendo sido gravados através do programa de captação de

áudio disponível num SAMSUNG Grand Premium, para uma posterior transcrição

fonética a partir do Alfabeto Fonético Internacional (IPA). Os dados foram recolhidos

individualmente em três momentos distintos: a primeira avaliação e duas

reavaliações.

A avaliação fonético-fonológica dos sujeitos foi realizada através da

nomeação das imagens do instrumento selecionado. A prova foi aplicada no

gabinete de terapia da fala da escola no sujeito 1 e no gabinete da uma clínica

privada no sujeito 2. A investigadora e o sujeito permaneceram lado a lado e de

frente para o caderno de imagens. Durante a aplicação da prova, foram realizadas

anotações relativas à produção linguística da criança, assim como relativas às

estratégias necessárias para a produção oral (caso necessário).

6.4.3.Tratamentoedescriçãodosdados

Após a recolha dos dados, procedeu-se à sua transcrição fonética (ANEXO B

e C), com base nas gravações obtidas no momento de aplicação dos instrumentos,

assim como nas anotações retiradas nessa altura. Os dados obtidos e gravados

foram posteriormente transcritos pela investigadora e revistos por uma linguista com

treino em transcrição de dados de produções infantis, tendo-se verificado

concordância dos itens transcritos. Segundo Fortin (2009), quando o resultado da

concordância corresponde a uma percentagem que se situa entre os 80 e os 100%,

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

75

considera-se que existe acordo interjuízes.

Posteriormente, com o objetivo de descrever os dados recolhidos através do

Teste TFF-ALPE, foi realizada uma análise contrastiva (AC), que pretende comparar

as produções obtidas com as esperadas para os adultos da língua-alvo, de forma a

descrever os inventários fonético e fonológico dos sujeitos.

Os dados recolhidos foram inseridos numa tabela Excel (ANEXO D). Nesta

tabela, foi considerada uma análise SODA (Bowen, 2015): quando a produção

correspondia ao alvo, era colocado o número 1, quando não correspondia, utilizou-

se a letra D para distorção, a letra S para substituição (colocando qual o segmento

que substitui o pretendido) ou O para omissões.

Através do registo de ocorrências, foi realizada uma análise fonética, que

consiste na elaboração de um inventário fonético, tendo como objetivo identificar e

descrever a capacidade articulatória dos sujeitos. De acordo com Yavas,

Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), o inventário fonético consiste no

registo de todos os sons produzidos por uma criança, independentemente da sua

função fonológica no sistema linguístico da criança no momento de observação das

suas produções. Para que se inclua um som no inventário fonético da criança,

Rangel (1998) estabelece que é necessária apenas uma produção adequada desse

som. Na descrição do inventário fonético, é utilizada a terminologia utilizada na

fonética tradicional (Mateus, Falé & Freitas, 2005), que integra os seguintes aspetos

articulatórios: modo de articulação (oclusivas orais e nasais, fricativas, laterais e

vibrantes), ponto de articulação (bilabial, labiodental, dental, alveolar, palatal, velar e

uvular) e vozeamento (vozeada e não-vozeada).

Durante as transcrições fonéticas das gravações obtidas para o sujeito 1,

foram identificadas algumas dificuldades na transcrição das consoantes nasais,

motivo pela qual se considerou necessária a realização de uma análise acústica

centrada nas características físicas dos segmentos. Nesta análise, foram

identificadas as frequências dos anti-formantes característicos das consoantes

nasais de forma a clarificar o ponto articulatório destas nas produções de R.R.

Em seguida, foi elaborada uma análise fonológica, com o objetivo de

caracterizar o sistema fonológico dos sujeitos, de forma a compreender a sua

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76

capacidade em utilizar os sons da língua com valor contrastivo e de acordo com as

regras da língua. Para a determinação da presença ou ausência dos segmentos no

seu sistema, foram adotados critérios adaptados neste trabalho a partir de Yavas,

Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991) e de Lazzarotto-Volcão, (2009), que

demonstram não só a função distintiva dos sons da fala, como também a sua

adequação em relação ao sistema fonológico alvo. Esses critérios são apresentados

em (1).

(1) Critérios percentuais para definição de etapas no processo de aquisição

segmental:

• Menos de 50% de correspondência produção/alvo: segmento não

adquirido;

• Entre 51% a 75% de correspondência produção/alvo: segmento

instável ou em aquisição;

• Entre 76% a 100% de correspondência produção/alvo: segmento

adquirido.

Entende-se que existe correspondência produção/alvo sempre que a

produção feita pela criança corresponde ao segmento alvo presente na fala do

adulto (as autoras referem-se a este tipo de procedimento como análise contrastiva;

nesta análise as produções da criança são comparadas com o sistema alvo da

língua). Assim, por exemplo, se a criança produz [‘fakɐ] para [‘fakɐ] <faca>,

considera-se que tanto a fricativa labiodental [f] como a oclusiva velar [k] são

produzidas em conformidade com o esperado no sistema linguístico do português

europeu.

De forma a calcular a percentagem de sucesso de ocorrência de um

segmento, foram introduzidas as ocorrências de valor = 1, registadas na tabela de

“Ocorrências de consoantes” numa tabela Excel, denominada “Análise Fonológica”

(ANEXO E). Nesta tabela, foram também introduzidas as possibilidades de

ocorrência das consoantes (em função dos estímulos alvo considerados), nos

diferentes constituintes silábicos e nas diferentes posições de palavra em que

podem ocorrer. Através destas informações, obtém-se o valor de percentagem de

ocorrência de uma consoante, a fim de determinar o seu estatuto no inventário

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77

fonológico. Para além do cálculo de percentagem de ocorrências dos segmentos,

foram também registados, nesta tabela, os erros encontrados, determinando a sua

percentagem, possibilitando dar conta das estratégias preferenciais utilizadas no

lugar de um segmento alterado.

Com estas duas análises, a ocorrência de segmentos e a descrição dos

padrões de erros, é possível determinar o inventário fonológico dos sujeitos. O

inventário fonológico foi elaborado através dos esquemas propostos por Yavas,

Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), ilustrados no ANEXO F. No

presente trabalho, para além de considerar os constituintes silábicos ataque simples

e coda nas diferentes posições da palavra, já considerados pelas autoras, foram

adicionados esquemas relativos ao ataque ramificado, de forma a dar conta de todos

os constituintes silábicos existentes no português europeu.

Depois da elaboração desta análise, foi feita uma descrição do sistema

fonológico à luz dos processos fonológicos, contabilizados numa folha Excel

(ANEXO G). Nesta análise foram considerados os processos fonológicos propostos

por Mendes et al. (2013), descritos no quadro 34.

Processo Fonológico Definição Exemplo

Oclusão Substituição de uma fricativa por uma oclusiva

Faca /´fakɐ/ - [´pakɐ]

Assimilação A produção do fonema é

influenciada pelos sons que o antecedem ou precedem

Caneta /kɐ’netɐ/ - [kɐ’kekɐ]

Semivocalização de líquidas Consoantes líquidas são substituídas por semivogais

Bola

/’bɔlɐ/ - [‘bɔwɐ]

Anteriorização Substituição de uma velar por uma dental

Cabelo /kɐ´belu/ - [tɐ´belu]

Gato /´gatu/ - [´datu]

Posteriorização Substituição de uma dental por uma velar

Dedo /´dedu/ - [´gegu]

Palatalização Substituição de uma dental por uma palatal

Vassoura /vɐ´soɾɐ/ - [vɐ´ʃoɾɐ]

Despalatalização Substituição de uma palatal por uma dental

Chapéu /ʃɐ´pɛw/ - [sɐ´pɛw]

Desvozeamento Substituição de uma consoante por uma não vozeada

Mesa /´mezɐ/ - [´mesɐ]

Quadro 34 - Descrição de processos fonológicos (Mendes et alii., 2013)

No registo da tabela Excel (Anexo G), foi atribuída a cotação de 1 quando o

processo se encontra presente e 0 se não existe a ocorrência de um processo. O

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78

número de possibilidades foi também considerado com o objetivo de determinar a

percentagem de ocorrência de cada processo nos dados obtidos.

Por fim, os dados recolhidos foram analisados à luz do modelo PAC-PE

(Lazzarotto-Volcão, 2009, 2016 e Amorim, 2014). O PAC-PE, descrito no capítulo 4

do presente trabalho, estabelecido a partir da Escala de Robustez proposta por

Clements, 2009, propõe 4 etapas de aquisição, nas quais os contrastes são

adquiridos através da coocorrência de traços, que possibilitarão a emergência e

posterior estabilização dos segmentos. Pretende-se, desta forma, descrever as

aquisições fonológicas realizadas pelos sujeitos deste estudo, através da

determinação do estado de aquisição do contraste. Para determinar a presença de

um contraste no sistema, consideram-se os seguintes critérios descritos em (2):

(2) Critérios percentuais para a definição da presença de contraste:

• Menos de a 50% de acerto: contraste não adquirido;

• Entre 51% a 75% de acerto: contraste instável;

• Entre 76% a 100% de acerto – contraste adquirido.

No cálculo, o contraste é considerado presente se o erro encontrado nas

produções da criança não envolver o contraste reservado à propriedade alvo. Como

exemplo, para o caso do traço [vozeado], se a criança produz [d] para /g/, a

alteração encontrada envolve a não ocorrência do contraste oclusiva coronal versus

dorsal, no entanto se a criança produz [k] para /g/, o contraste anteriormente referido

encontra-se presente, no entanto, está implicado o contraste oclusiva vozeada

versus oclusiva não vozeada.

Para o cálculo de presença de contrastes, foi utilizada uma tabela Excel

(ANEXO H). Nesta tabela são registados todos os erros de contrastes, em função do

exemplo descrito anteriormente. De acordo com as possibilidades de ocorrência

desses contrastes, é determinado o estado adquirido, instável ou não adquirido do

contraste. No registo dos contrastes optou-se por excluir da cálculo os processos de

semivocalização encontrados uma vez que nos contrastes considerados no modelo

PAC, não está contemplado o contraste pertinente para dar conta deste processo.

A presença, ausência ou instabilidade dos contrastes fonológicos descritos

no PAC-PE é representado através de retângulos com diferentes cores

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

79

correspondentes às diferentes etapas de aquisição (já descritos no capítulo 3 da

primeira parte deste trabalho): a primeira etapa corresponde à cor vermelha, a

segunda etapa é representada pela cor azul, a terceira pela cor amarela e a quarta

etapa surge no esquema com a cor verde. Os retângulos totalmente preenchidos

com cor são utilizados para representar os contrastes adquiridos, os retângulos com

riscas correspondem aos contrastes instáveis e os retângulos sem fundo retratam os

contrastes não adquiridos.

6.4.4.Discussãodosdados

De acordo com a questão orientadora deste estudo, pretendemos entender

de que forma o modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (PAC-PE) pode

contribuir para a avaliação e para o diagnóstico de Perturbação Fonológica nas

crianças portuguesas, bem como verificar se o modelo permite analisar as

aquisições realizadas nos sistemas fonológicos pelas crianças com Perturbação

Fonológica, ao longo da intervenção terapêutica. Para responder à questão

orientadora, estabeleceram-se os seguintes objetivos:

• testar o modelo PAC-PE em contexto clínico;

• observar a eficácia do PAC-PE na avaliação longitudinal;

Como referido, de forma a cumprir estes objetivos, foram recolhidos dados

de fala de duas crianças diagnosticadas com Perturbação Fonológica, em três

momentos distintos, um primeiro momento de avaliação e dois de reavaliação. Os

dados recolhidos foram analisados de acordo com os procedimentos descritos

anteriormente, são apresentados no capítulo 7 e discutidos no capítulo 8 do

presente trabalho.

6.4.4.2AIntervençãoTerapêutica

As recolhas das produções dos sujeitos foram realizadas longitudinalmente,

ao longo de um período de intervenção, com o objetivo de identificar as aquisições

realizadas ao longo deste processo.

A intervenção em terapia da fala foi realizada, para os dois sujeitos, de forma

individual, com frequência semanal em sessões com duração de 45 minutos. Os

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

80

estímulos utilizados para intervenção, as tarefas realizadas bem como estratégias

utilizadas serão descritas de seguida, em função do sujeito.

a) Sujeito 1

Após a análise dos resultados da primeira avaliação, foi traçado um objetivo

terapêutico. No caso de R.R., a intervenção terapêutica teve como objetivo geral a

reabilitação e a adequação do sistema fonológico alterado. Para isso, foi

estabelecido um primeiro objetivo de intervenção - a emergência e a estabilização

de [+contínuo], por meio do fonema /ʒ/. Numa reanálise através de teorias

implicacionais, a investigadora optou por selecionar o fonema /ʀ/ como alvo, por

acreditar, que teria maior impacto nas generalizações ao restante sistema, tal como

descrito adiante na página 77. Selecionaram-se as tarefas fonológicas (i) promotoras

do desenvolvimento da competência fonológica e estratégias (ii) para representação

global do segmento, bem como das propriedades fonológicas a trabalhar (Alves &

Reis, 2011; 2014).

Após observação da aquisição do segmento /ʀ/ (bem como os restantes

segmentos cuja aquisição dependia do traço [+contínuo]), selecionou-se um novo

alvo de intervenção – o segmento /d/, com o objetivo de fazer emergir e estabilizar

os traços coronal [+anterior] para as oclusivas (embora coronal [+anterior se

encontre presente no seu sistema, ainda não surge combinado com [-contínuo],

necessário para a aquisição das oclusivas /d/ e /t/, ainda ausentes no sistema de

R.R.

Na segunda avaliação, após cumprimento dos objetivos estipulados, foi

necessária a escolha de um novo segmento para a estabilização de coronal [-

anterior], pelo que foi selecionado o fonema /ʒ/ como alvo.

O Quadro 35 sintetiza o conjunto de tarefas realizadas e de estratégias

utilizadas ao longo das sessões de intervenção.

Sessõe

s

Estímulo

Alvo Tarefas realizadas (i) Estratégias utilizadas (ii)

22.10.14 --- 1ª Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação do teste

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81

TFF-ALPE

Sessões

1 - 4 /ʒ/

• Perceção (deteção e

codificação)

• Identificação e localização

do som

• Tarefas de consciência

fonológica (segmentação

silábica, identificação e

localização do som alvo)

• Produção de palavras

isoladas

• Onomatopeia do ‘aspirador’

• Gesto da onomatopeia do

‘aspirador’

• Modulação

• Movimento articulatório mais

definido

• Produção prolongada do

segmento-alvo

• Ícone e cor associados a MA

(‘sons soprados’ para [+contínuo]

e ‘sons explosivos’ para [-

contínuo])

• Codificação das sílabas com

círculos e identificação da sílabas

que contenham o segmento-alvo

Sessões

5 -11 /ʀ/

• Perceção (deteção e

codificação)

• Tarefas de consciência

fonológica (segmentação

silábica, identificação e

localização do som alvo,

exclusão, rimas)

• Produção de palavras

isoladas e em frases

simples

• Construção de histórias com

palavras com estímulo alvo

• Onomatopeia do “leão”

• Gesto da onomatopeia do “leão”

• Modulação

• Produção prolongada do

segmento-alvo

• Ícone e cor associados a MA

(‘sons soprados’ para [+contínuo]

e ‘sons explosivos’ para

[+contínuo])

• Recurso à codificação das sílabas

com círculos. O círculo colorido

contém o som alvo.

Sessões

12 - 27 /d/

• Perceção (deteção e

codificação)

• Tarefas de consciência

fonológica (segmentação

silábica, identificação e

localização do som alvo,

exclusão, rimas)

• Produção de palavras

isoladas e em frases

simples

• Construção de histórias com

palavras com estímulo alvo

• Onomatopeia da “Campainha”

• Gesto da onomatopeia da

“Campainha”

• Modulação

• Produção prolongada do

segmento-alvo

• Ícone e cor associados a PA

(‘sons da ponta da língua’ para

coronal [+contínuo] e ‘sons da

garganta’ para [dorsal])

• Recurso à codificação das sílabas

com círculos. O círculo colorido

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

82

contém o som alvo.

04.09.15 --- 2ª Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação TFF-ALPE

Sessões

28 - 36 /ʒ/

• Perceção (deteção e

codificação)

• Tarefas de consciência

fonológica (segmentação

silábica, identificação e

localização do som alvo,

exclusão, rimas)

• Produção de palavras

isoladas e em frases

simples

• Construção de histórias com

palavras com estímulo alvo

• Onomatopeia do ‘aspirador’

• Gesto da onomatopeia do

‘aspirador’

• Modulação

• Movimento articulatório mais

definido

• Produção prolongada do

segmento-alvo

• Ícone e cor associados a PA

(‘sons do meio da língua’ para

coronal [-anterior] e ‘sons da ponta

da língua’ para coronal [+anterior])

• Codificação das sílabas com

círculos e identificação da sílabas

que contenham o segmento-alvo

15.12.15 Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação TFF-ALPE

Quadro 35 - Descrição das sessões de intervenção terapêuticas do sujeito 1 em função do número de sessões, dos estímulos alvo selecionados, daas tarefas realizadas e das estratégias utilizadas.

Ao longo do processo de intervenção foram realizadas 36 sessões de

intervenção. Após o primeiro momento de recolha de dados e análise dos mesmos,

a terapeuta responsável pela intervenção procedeu à seleção dos estímulos alvo a

utilizar na intervenção terapêutica. Esta seleção teve como base os modelos

implicacionais tais como o Modelo Implicacional de Complexidade de Traços (MICT),

de Mota (2001), e o Modelo Terapêutico Implicacional de Distância entre Traços

(MOTIDT), de Duarte (2006), com o objetivo de obter o maior número de

generalizações possíveis no sistema fonológico da criança, já que o alvo

selecionado deverá conter informação fonológica em falta no sistema. Desta forma,

o estímulo alvo /ʒ/ foi selecionado como primeiro segmento a estimular, uma vez que

contém o traço [+ contínuo], alterado no sistema fonológico de R.R.

Embora a intervenção tenha sido iniciada com o estímulo alvo /ʒ/, após

reanálise dos modelos implicacionais, considerou-se que a intervenção através do

segmento alvo /ʀ/ poderia promover maiores generalizações, já que, para além do

traço [+contínuo], R.R. ainda não tinha combinado o [dorsal] com [+contínuo] e, por

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

83

esse motivo, ainda se encontrava em falta o segmento [ʀ]. De forma a promover

esta combinação, optou-se pela alteração do alvo, passando a contemplar o traço

[+contínuo] e informação de ponto de articulação Dorsal no alvo selecionado. Após 7

sessões de intervenção, verificou-se a automatização do segmento com

generalização aos segmentos /z/, /s/, /ʒ/ produzido como [z], e /ʃ/ produzido como [s].

Desta forma, foi selecionado o segmento /d/ para dar continuidade à reorganização

do sistema fonológico, já que se encontravam em falta os traços coronal [+ anterior].

Após 15 sessões observaram-se generalizações aos segmentos /t/ e /n/. Por fim, foi

escolhido para intervenção o segmento /ʒ/, com o objetivo de estimular a ocorrência

de coronal [-anterior], que promoveu as aquisições de /ʃ/ e /ɲ/.

As sessões de estimulação com os diferentes estímulos alvo foram

estruturadas de forma muito semelhante, sendo realizadas tarefas de perceção

(deteção e codificação), de consciência fonológica (segmentação silábica,

localização do som alvo, identificação do som em palavras, etc.) e de produção de

palavras isoladas que contêm o som selecionado. As tarefas fonológicas eram

dinamizadas através de atividades “corta-cola”, labirintos, lotos, jogos de memória,

jogos do lince, jogos da glória, construção de frases, histórias, entre outras. As

palavras selecionadas continham o som em periferia esquerda na palavra, num

primeiro momento, e posteriormente, o mesmo surgia noutras posições da palavra.

Para reforço fonológico, foram utilizadas onomatopeias e gestos associados ao som

alvo. As unidades fonológicas foram codificadas com formas geométricas, tal como

proposto por Alves e Reis, 2011, 2014 (Os Sons d’A Relicário), para intervenção

fonológica. Para além disto, durante as tarefas de perceção foi utilizada a

modulação através do aumento da duração da produção dos sons para facilitar a

tarefa, bem como o exagero do movimento articulatório e sempre associado às

estratégias propostas por Alves (2014) e Alves e Reis (2011, 2014), Os Sons d’A

Relicário. Todas as estratégias foram gradualmente retiradas em função do sucesso

na execução das tarefas.

b) Sujeito 2

Com o objetivo de completar o sistema fonológico de L.R. no momento da

primeira avaliação, foi estabelecido um primeiro objetivo específico – promover a

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

84

emergência e coocorrência de [+contínuo] e [dorsal]. Pretendeu-se chegar a este

objetivo por meio do fonema /ʀ/, que contém os traços mencionados. Para este fim,

selecionaram-se as tarefas fonológicas (i) promotoras do desenvolvimento da

competência fonológica e estratégias (ii) para representação global do segmento,

bem como das propriedades fonológicas a trabalhar (Alves, 2014; Alves & Reis,

2011; 2014).

Através desta primeira estimulação, observou-se a emergência e

estabilização do traço [+contínuo] bem como a combinação do mesmo com outros

traços já presentes no sistema, o que permitiu o domínio de toda a classe das

fricativas. Apesar de se ter verificado esta generalização, a informação fonológica de

ponto de articulação Dorsal não obteve os mesmos resultados. No sentido de

promover o sucesso na aquisição das componentes fonológicas em falta no sistema

de L.R., foi selecionado como alvo de intervenção seguinte, o segmento /g/ que

contém a informação de ponto de articulação necessária (Dorsal). Após ser

observada a emergência de /g/ e generalização à dorsal não vozeada /k/, foi

escolhido o segmento /ʎ/ como alvo, de forma a promover a aquisição da informação

fonológica coronal [-anterior]. Depois deste percurso, L.R. interrompeu a intervenção

terapêutica, por motivos alheios ao processo de intervenção, tendo sido reavaliado

cerca de 3 meses depois.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

85

O Quadro 36 sintetiza o conjunto de tarefas realizadas e de estratégias

utilizadas ao longo das sessões de intervenção.

Data Estímul

o alvo Tarefas realizadas (I) Estratégias utilizadas (II)

22.10.14 Avaliação – Recolha de dados

Avaliação formal /aplicação do

teste TFF-ALPE

Sessões

1 – 7 /ʀ/

• Perceção (deteção e codificação)

• Produção de palavras isoladas e

em frases simples

• Identificação e localização do som

• Identificação das propriedades

fonológicas-alvo (de MA e de PA)

• Tarefas de consciência fonológica

(segmentação silábica,

identificação e localização do som

alvo, exclusão, rimas)

• Construção de histórias com

palavras com estímulo alvo

• Onomatopeia do ‘leão’

• Gesto da onomatopeia do

‘leão’

• Modulação

• Movimento articulatório mais

definido

• Produção prolongada do

segmento-alvo

• Ícone e cor associados a MA

(‘sons soprados’ para

[+contínuo] e ‘sons

explosivos’ para [-contínuo]

• Ícone e cor associados a PA

(‘sons da garganta’ para

Dorsal)

• Codificação das sílabas com

círculos e identificação da

sílabas que contenham o

segmento-alvo

Sessões

8 - 12 /g/

• Perceção (deteção e codificação)

• Produção de palavras isoladas e

em frases simples

• Identificação e localização do som

• Identificação das propriedades

fonológicas-alvo (de MA e de PA)

• Tarefas de consciência fonológica

(segmentação silábica,

identificação e localização do som

alvo, exclusão, rimas)

• Construção de histórias com

palavras com estímulo alvo

• Onomatopeia do ‘gongo’

• Gesto da onomatopeia do

‘gongo’

• Modulação

• Movimento articulatório mais

pronunciado

• Produção prolongada do

segmento-alvo

• Ícone e cor associados a PA

(‘sons da garganta’ para

Dorsal)

• Codificação das sílabas com

círculos e identificação da

sílabas que contenham o

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

86

segmento-alvo

04.09.15 Avaliação formal /aplicação TFF-

ALPE

Sessões

13 - 16 /ʎ /

• Perceção (deteção e codificação)

• Produção de palavras isoladas e

em frases simples

• Identificação e localização do som

• Tarefas de consciência fonológica

(segmentação silábica,

identificação e localização do som

alvo, exclusão, rimas)

• Onomatopeia do ‘gelado’

• Gesto da onomatopeia do

‘gelado’

• Modulação

• Movimento articulatório mais

definido

• Produção prolongada do

segmento-alvo

• Codificação das sílabas com

círculos e identificação da

sílabas que contenham o

segmento-alvo

15.12.15 Avaliação – Recolha de dados Avaliação formal /aplicação TFF-

ALPE

Quadro 36 - Descrição das sessões de intervenção terapêuticas do sujeito 2 em função do número de sessões, dos estímulos alvo selecionados, das tarefas realizadas e das estratégias utilizadas.

Tal como descrito para o sujeito 1, as sessões de estimulação com os

diferentes estímulos alvo foram estruturadas de forma muito semelhante sendo

realizadas tarefas de perceção (deteção e codificação), de consciência fonológica

(segmentação silábica, localização do som alvo, identificação do som em palavras,

etc.) e de produção de palavras isoladas que continham o som alvo. Os objetivos

terapêuticos e tarefas selecionadas foram dinamizadas através de atividades de

“corta-cola”, labirintos, lotos, jogos de memória, jogos do lince, jogos da glória,

construção de frases e exploração de histórias. As palavras selecionadas continham

o som-alvo em periferia esquerda, num primeiro momento, surgindo, posteriormente,

noutras posições da palavra, pois sabe-se que as posições periféricas são mais

fáceis de processar – sobretudo a esquerda -, o que facilita o processo de

modelação terapêutica. Para mediar a evocação do som-alvo e da unidade fonema,

foram utilizadas onomatopeias e gestos associados ao som alvo, e as unidades

fonológicas (sílaba e fonema) foram codificadas com formas geométricas, tal como

proposto no instrumento. Para a mediação e a estabilização das propriedades

fonológicas de Modo de Articulação e Ponto de Articulação visadas, recorreu-se às

estratégias propostas em Alves (2014) e em Alves e Reis (2011, 2014), por meio dos

respetivos ícones e cores.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

87

Ao longo do processo de intervenção, foram realizadas 16 sessões de

intervenção. Após o primeiro momento de recolha de dados e análise dos mesmos,

a terapeuta responsável pela intervenção procedeu à seleção dos estímulos alvo a

utilizar na intervenção terapêutica. Esta seleção teve como base os modelos

implicacionais tais como o Modelo Implicacional de Complexidade de traços (MICT),

de Mota (2001), e o Modelo Terapêutico Implicacional de Distância entre Traços

(MOTIDT), de Duarte (2006), com o objetivo de obter o maior número de

generalizações possíveis no sistema fonológico da criança, já que o alvo

selecionado deverá conter informação fonológica em falta no sistema.

Com base no descrito, a terapeuta responsável pela intervenção selecionou

o estímulo alvo /ʀ/ como primeiro segmento a estimular, uma vez que contém o traço

[+ contínuo] bem como a informação de ponto de articulação Dorsal, alterada no

sistema fonológico de L.R.

Após 7 sessões de intervenção com o segmento /ʀ/, observou-se

generalização do traço [+ contínuo] a toda a classe das fricativas através da

emergência dos segmentos /z/, /s/. Nesta altura, /ʒ/ e /ʃ/ surgem também com o traço

[+ contínuo] embora sendo ainda produzidos como [z] e [s], observando-se ainda

alteração relativa ao ponto de articulação (traços relacionados com Ponto de

Articulação não foram alvo de intervenção). Não se observando generalização da

informação fonológica de ponto de articulação Dorsal à classe das oclusivas, foram

realizadas 5 sessões de estimulação através do segmento alvo /g/. Após observação

da aquisição de /g/ e emergência de /k/ e /ɲ/, foram realizadas 4 sessões de

intervenção por meio do segmento alvo /ʎ/, com o objetivo de promover

coocorrências dos traços existentes no sistema e os traços coronal [-anterior], tendo-

se verificado a sua completa aquisição. No final da recolha de dados, o sistema

fonológico não se encontrava ainda completo, tendo sido recomendada a

continuidade de intervenção terapêutica (tendo em conta os procedimentos do

presente trabalho, foram selecionados apenas 3 momentos de avaliação).

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

88

III PARTE – DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS

CAPÍTULO 7 . APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo são descritos os dados que constituem a base empírica do

presente estudo, obtidos através da aplicação do teste TFF-ALPE (ver capítulo 2)

em cada momento de avaliação: primeira avaliação e duas reavaliações após

intervenção terapêutica, apresentadas no capítulo 2. Esta descrição dos resultados

será realizada através de uma análise fonética e de uma análise fonológica,

organizadas por sujeito e por momento de avaliação.

A análise fonética tem como objetivo identificar e descrever a capacidade

articulatória dos sujeitos, sendo obtida através da realização de um inventário

fonético, que, de acordo com Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht

(1991), consiste no registo de todos os sons produzidos por uma criança,

independentemente da sua função fonológica no sistema linguístico da criança no

momento de observação das suas produções. Na descrição do inventário fonético é

utilizada a terminologia utilizada na fonética articulatória tradicional (Mateus, Falé &

Freitas, 2005), que integra os seguintes aspetos: modo de articulação (oclusivas

orais e nasais, fricativas, laterais e vibrantes), ponto de articulação (bilabial,

labiodental, dental, alveolar, palatal, velar e uvular) e vozeamento (vozeada não-

vozeada).

A aquisição de uma língua implica não só a capacidade para articular os

sons da fala (dependente de uma estrutura anatomofisiológica) como também a

capacidade para utilizar esses sons de forma distintiva, usando-os adequadamente,

de acordo com as regras da língua (sistema fonológico). Para a realização do

inventário fonológico da criança, foram adoptados critérios adaptados neste trabalho

de acordo com o descrito na metodologia. Entende-se que existe correspondência

produção/alvo sempre que a produção feita pela criança corresponde ao segmento

alvo presente na fala do adulto (as autoras referem-se a este tipo de procedimento

como análise contrastiva; nesta análise, as produções da criança são comparadas

com o sistema alvo da língua). Assim, se a criança produz [‘fakɐ] para [‘fakɐ] <faca>,

verificamos que tanto a fricativa labiodental [f] como a oclusiva velar [k] são

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

89

produzidas em conformidade com o esperado no sistema linguístico do Português

Europeu.

O inventário fonológico é construído e descrito com base não só na

percentagem de acerto como também nos padrões de erro observados nas diversas

produções verbais.

Este capítulo está organizado em dois pontos principais. O primeiro ponto

refere-se à descrição dos dados do sujeito 1 (7.1) no que respeita à anamnese

(7.1.1), à análise fonética (7.1.2) e à análise fonológica (7.1.3), esta última dividida

em (7.1.3.1) descrição dos segmentos adquiridos, em aquisição e/ou ausentes,

organizada em função dos diferentes constituintes silábicos. Na análise fonológica

serão descritos os de padrões de erro (7.1.3.2) organizados também tendo em conta

os constituintes silábicos, será ainda realizado o inventário fonológico (7.1.3.3); por

fim, a análise fonológica irá incluir a descrição dos processos fonológicos

observados (7.1.3.4). O segundo ponto refere-se à descrição dos dados do sujeito 2

(7.2), organizado da mesma forma: dados da anamnese (7.2.1), análise fonética

(7.2.2) e análise fonológica (7.2.3), sendo esta dividida em descrição dos segmentos

adquiridos, em aquisição e/ou ausentes (7.2.3.1), descrição de padrões de erro

(7.2.3.2); inventário fonológico (7.2.3.3) e análise em processos fonológicos (7.2.3.4)

7.1.Sujeito1

7.1.1.DadosdeAnamnese

Os dados do primeiro sujeito (R.R.) correspondem a uma criança do sexo

feminino, residente em Corroios. As recolhas de produção foram realizadas no

intervalo dos 5;6 anos aos 7;02 anos de idade, de acordo com o referido no quadro I.

Esta menina foi submetida a uma timpanostopia por presença de otites médias

frequentes com alterações audiométricas ligeiras aos 4 anos de idade (tendo

iniciado queixas de otites, por volta dos 3 anos, à entrada para a escola). Nunca

frequentou Terapia da Fala anteriormente à primeira sessão de recolha de dados.

Primeira Avaliação Segunda Avaliação Terceira Avaliação

Idade do sujeito 1 5;06 anos 6:05 anos 7;02 anos

Quadro 37 - Idade (em anos meses) no momento das avaliações - sujeito 1

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

90

7.1.2.Análisefonética

Nos quadros 38, 39 e 40, estão registados os inventários fonéticos das consoantes de R.R. nos três momentos de avaliação, de acordo com a metodologia de Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991, p.48), demonstrando a capacidade de articulação dos diferentes fones do Português Europeu ao longo do período de intervenção. Tal como referido na metodologia, foi considerada apenas a presença dos diferentes fones, independentemente do número de ocorrências e da sua representação fonológica (bastaria uma ocorrência de um fone para que o mesmo fosse registado como integrando o inventário fonético da criança).

• Inventário fonético - Primeira avaliação

No quadro 38, encontram-se registados todos os fones produzidos pelo

sujeito 1, no momento da primeira avaliação. A descrição da capacidade articulátoria

encontra-se organizada em função do ponto e do modo articulatório, sendo usada a

descrição fonética articulatória tradicional para o efeito.

Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular

Oclusivas

Orais

[p] [b] - [d] [k] [g]

Fricativas [f] [v] - - [ʃ] -

Oclusivas

Nasais

[m] [n] [ɲ]

Laterais [l] [ɫ] -

Vibrantes [ɾ] -

Quadro 38 - Inventário fonético do sujeito 1 no momento da primeira avaliação, aos 5 anos e 6 meses

É possível verificar que o sujeito em estudo (R.R.), aos 5;06 anos de idade, não

apresenta os fones correspondentes à oclusiva dental não vozeada [t], às fricativas

dentais [s], [z], à palatal [ʒ] , à lateral palatal [ʎ] e à vibrante uvular [ʀ]. Os restantes

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91

fones foram produzidos pelo sujeito, mesmo que em contextos onde não deveriam

ocorrer como a produção de [d] em [dɐ’ʀafɐ] para a palavra <garrafa>.

• Inventário Fonético – Segunda avaliação

A capacidade articulatória do sujeito 1 no momento da segunda avaliação

encontra-se registada no quadro 39. Todos os fones produzidos nesta altura

encontram-se anotados em função do ponto e do modo articulatório, sendo usada a

descrição fonética articulatória tradicional para o efeito.

Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular

Oclusivas

Orais

[p] [b] [t] [d] [k] [g]

Fricativas [f] [v] [s] [z] [ʃ] -

Oclusivas

Nasais

[m] [n] -

Laterais [l] [ɫ] -

Vibrantes [ɾ] [ʀ]

Quadro 39 - Inventário fonético do sujeito 1 no momento da segunda avaliação, aos 6 anos e cinco meses

De acordo com o quadro 39, no momento da segunda avaliação, apesar de

ainda não apresentar todos os fones esperados, passam a fazer parte do inventário

fonético da criança os fones correspondentes à oclusiva dental não-vozeada [t], às

fricativas dentais [s] e [z], bem como à vibrante uvular [ʀ]. Estão ainda ausentes a

fricativa palatal vozeada [ʒ] e a lateral palatal [ʎ]. A nasal [ɲ] deixa de ser observada

nas produções realizadas pela criança, já que esta surgia em produções como [ɲɐ‘i]

para <nariz>, deixando de ocorrer na segunda avaliação.

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92

• Inventário fonético – terceira avaliação

A capacidade articulatória do sujeito 1 no momento da terceira avaliação

encontra-se resgitada no quadro 40, organizada tendo em conta o ponto e o modo

articulatório, sendo usada a descrição fonética articulatória tradicional para o efeito.

Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular

Oclusivas

Orais

[p] [b] [t] [d] [k] [g]

Fricativas [f] [v] [s] [z] [ʃ] [ʒ]

Oclusivas

Nasais

[m] [n] [ɲ]

Laterais [l] [ɫ] -

Vibrantes [ɾ] [ʀ]

Quadro 40 - Inventário fonético de R.R. no momento da terceira avaliação, aos sete anos e dois meses

No último momento de recolha de produções de R.R., aos 7;02 anos de idade,

observa-se a presença de mais dois fones no seu inventário fonético, a fricativa

palatal vozeada [ʒ] e a nasal palatal [ɲ]. A lateral palatal [ʎ] continua ausente, nunca

sendo produzida.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

93

Para ilustrar a evolução observada quanto à capacidade fonética do sujeito 1

veja-se o quadro 41, onde se encontram exemplos de produções feitas em cada

momento da avaliação.

Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação

Oclusivas

Orais

<porco> [‘poɾku]

<bola> [‘bɔlɐ]

<café> [kɐ’fɛ]

<garfo> [‘gaɾfu]

<sapato> [sɐ’patu]

<garrafa> [gɐ’Rafɐ]

<dedo> [‘dedu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[‘gaɾfu]

[kɐ’paku]**

[dɐ’ ʀafɐ]*

[‘gegu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[‘gafu]

[sɐ’patu]

[gɐ’ʀafɐ]

[‘dedu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[‘gafu]

[sɐ’patu]

[gɐ’Rafɐ]

[‘dedu]

Fricativas

<vidro> [‘vidɾu]

<formiga> [fuɾ’migɐ]

<peixe> [‘pɐjʃɨ]

<três> [‘tɾeʃ]

<jipe> [‘ʒipɨ]

<mesa> [‘mezɐ]

<vassoura> [va’soɾɐ]

[‘vidu]

[fu’migɐ]

[‘pɐjkɨ]**

[‘teʃ]

[‘dipɨ]**

[‘megɐ] **

[vɐ’koɾɐ]**

[‘vidu]

[fuɾ’migɐ]

[‘pɐjs ɨ]

[‘teʃ]

[‘zipɨ]

[‘mezɐ]

[va’soɾɐ]

[‘vidu]

[fɾumigɐ]

[‘pɐjʃɨ]

[‘tɾeʃ]

[‘ʒipɨ]

[‘mezɐ]

[va’soɾɐ]

Oclusivas Nasais

<cama> [‘kɐmɐ]

<unha> [‘uɲɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘kɐmɐ]

[‘ujnɐ]*

[ɲɐ’i]*

[‘kɐmɐ]

[‘ujnɐ]*

[nɐ’i]

[‘kɐmɐ]

[‘uɲɐ]

[nɐ’ɾiʃ]

Laterais

<palhaço> [pɐ’ʎasu]

<cabelo> [kɐ’belu]

<hospital> [ɔʃpi’taɫ]

[pɐ’jaku] **

[kɐ’belu]

[ɔpi’kaɫ]

[pɐ’jasu] **

[kɐ’belu]

[ɔʃpi’taɫ]

[pɐ’jasu] **

[kɐ’belu]

[ɔʃpi’taɫ]

Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]

<rato> [‘ʀatu]

[‘peɾɐ]

[‘gaku]**

[‘peɾɐ]

[‘ʀatu]

[‘peɾɐ]

[‘ʀatu]

Quadro 41 - Produções que refletem a capacidade fonética de R.R. ao longo dos três momentos de avaliação

* Exemplos de palavras em que a criança demonstra capacidade fonética para a realização de um

fone, independentemente da sua representação fonológica.

** Exemplos de palavras que demonstram que um segmento fonético nunca ocorre nas produções da

criança.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

94

Observando as produções de R.R., e como já referido, verifica-se que, no

momento da primeira avaliação, existem alguns fones que nunca são produzidos,

como é o caso da oclusiva [t], das fricativas [s], [z] e [ʒ], da líquida [ʎ] e da vibrante

[ʀ], não fazendo parte do seu inventário fonético. Outros fones são observados nas

produções da criança: as oclusivas [p], [b], [d], [g], [k], as fricativas [f], [v] e [ʃ], as

nasais [m], [n] e [ɲ], as laterais [l] e [ɫ] e a vibrante [ɾ].

É importante referir que o fone [ʃ] ocorre em produções como [‘teʃ] na

palavra <três>. Embora ainda não seja produzido em todos os contextos

fonológicos, a criança demonstra capacidade fonética para a produção do som e,

por esse motivo, o mesmo é contemplado no inventário fonético.

Alguns sons são observáveis em produções de palavras que não deveriam

conter esse segmento, sendo incluídos no inventário fonético (esta inadequação é

alvo de reflexão na análise fonológica). Vejam-se, para este efeito, o caso da

oclusiva [d], em produções como [dɐ’ɾafɐ] para <garrafa> ou [‘dipɨ] para <jipe>, e da

nasal [n], em produções como [‘ujnɐ] para <unha>, e [ɲ], em produção de palavras

como [ɲɐ’i] para <nariz>.

Na segunda avaliação, analisando os exemplos das palavras produzidas pela

criança, observam-se, por um lado, a capacidade de produção de novos fones no

sistema fonético: [t] na palavra [sɐ’patu] <sapato>, [s] em palavras como [vɐ’soɾɐ]

<vassoura>, [z] em [‘mezɐ] <mesa>, e [ʀ] na palavra [‘ʀatu] <rato>. Por outro lado,

nas produções realizadas pela criança neste momento, deixam de se registar

produções realizadas com a consoante nasal [ɲ] pois estas surgiam em produções

como [ɲɐ’i] para <nariz>, que deixam de ocorrer nesta altura.

Ao observar as produções realizadas por R.R. no terceiro momento de

recolha de dados, observa-se a presença de um novo som, a fricativa [ʒ] em

produções como [‘ʒipɨ] <jipe>, o [ɲ] é retomado, agora no contexto esperado, em

palavras como [‘uɲɐ] <unha> ficando ausente apenas a lateral [ʎ] com produções

como [pɐ’jasu] <palhaço>.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

95

7.1.3.AnáliseFonológica

7.1.3.1. Descrição dos segmentos em função das variáveis

prosódicasconstituintesilábicoeposiçãonapalavra.

De acordo com os critérios descritos anteriormente e adaptados a partir de

Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991) e de Lazzarotto-Volcão

(2009), nos quadros 42, 44 e 46, encontra-se registada a ocorrência das consoantes

em ataque simples, em coda e em ataque ramificado, em função da sua posição na

palavra (inicial, medial e final).

Os segmentos não adquiridos encontram-se a vermelho, os que se resgistam

como estando em aquisição são assinalados a verde e os segmendos considerados

adquiridos são destacados a preto.

7.1.3.1.1Ocorrênciadossegmentosemataquesimples

Neste primeiro quadro, de acordo com a escala descrita em (1) neste

capítulo, os valores surgem em percentagem de ocorrência, em conformidade com o

alvo, em ataque simples inicial (As I) e em ataque simples medial (As M). A soma de

ocorrências das duas posições prosódicas surge também para cada segmento

(total), sendo este o valor de referência utilizado para considerar se um segmento

está ou não adquirido.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

96

1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação As I As M Total As I As M Total As I As M Total

/p/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/b/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ t / 0% 0% 0% 67% 93% 88% 100% 100% 100%

/d/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/k/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/g/ 67% 100% 83% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/f / 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/v/ 100% 75% 83% 100% 50% 67% 100% 100% 100%

/s/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/z/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ʃ/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%

/ʒ/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%

/m/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/n/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ɲ/ --- 0% 0% --- 0% 0% 100% 100% 100%

/l/ 100% 67% 78% 100% 67% 78% 100% 83% 89%

/ʎ/ --- 0% 0% --- 0% 0% --- 0% 0%

/ɾ/ --- 67% 67% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ʀ/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Quadro 42 - Ocorrência dos segmentos fonológicos em ataque simples e em ataque medial, nas três avaliações de R.R.

Como se pode observar no quadro 42, na primeira avaliação de R.R. não se

encontram adquiridas as oclusivas /t/ e /d/ , ambas com 0% de ocorrência. As

fricativas /s/ , /z/ e /ʃ/ , /ʒ/, assim como as nasais /n/ e /ɲ/ estão também ausentes do

sistema fonológico de R.R., com um valor de ocorrência de 0%. Observa-se ainda

ausência total (0%) da lateral /ʎ/ e da vibrante /ʀ/. A vibrante /ɾ/ surge no sistema

fonológico de R.R., em aquisição, com um valor de ocorrência de 67%. É importante

referir que, para a maioria dos segmentos, não se verificam diferenças nos valores

de ocorrência dependentes da localização do segmento na palavra, como se pode

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97

observar no exemplo de ocorrências de / t/ , com 0% de sucesso quer em posição de

ataque simples inicial, quer em ataque simples medial. No entanto, verificam-se

diferenças de ocorrência dependentes da localização na palavra para o segmento

/v/, que apresenta maior sucesso em posição de ataque simples inicial, com 100%

de ocorrências, do que em ataque simples medial, com 75% de sucesso, na primeira

avaliação. Observam-se também, na primeira avaliação, diferenças nas ocorrências

do segmento /l/, sendo a taxa de sucesso superior em ataque simples inicial, com

um valor de 100%, do que em ataque simples medial, com 67% de ocorrências,

encontrando-se em aquisição.

No quadro 42, verifica-se ainda a instabilidade da oclusiva /g/, com

ocorrências de 67% em posição de ataque simples inicial (em aquisição), mas

adquirido, para o mesmo constituinte silábico, em posição medial de palavra.

No momento da segunda avaliação, observa-se a aquisição das oclusivas /t/

e /d/, com 88% e 100% de ocorrência, respetivamente, das fricativas /s/ /z/, com

100% de ocorrência, bem como da nasal /n/ e da vibrante /R/, com o mesmo valor de

ocorrência. Observa-se ainda a estabilização da vibrante /ɾ/, com 100% de

ocorrências. Verifica-se ainda instabilidade do segmento /v/ em posição de ataque

simples medial, embora os valores de ocorrência tenham descido de 75% para 50%

neste contexto prosódico. Da mesma forma, o segmento /l/ ainda não se encontra

estabilizado em ataque simples medial, sendo o valor de ocorrências igual ao

observado no momento da primeira avaliação. Diferenças de ocorrência entre

segmentos nas diferentes posições da palavra surgem também para a oclusiva /t/,

que surge com um valor de 67% de ocorrências em ataque simples inicial, e com

100% de ocorrências em ataque medial. Neste segundo momento de avaliação,

observa-se ainda ausência total (0%) das fricativas /ʃ/ e /ʒ/ , da nasal /ɲ/ e da lateral

/ʎ/ .

No terceiro momento de avaliação, verifica-se a ausência apenas da lateral

/ʎ/, com a completa aquisição dos segmentos anteriormente em falta.

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98

No quadro que se segue, podemos observar exemplos das produções

realizadas pelo R.R., em cada um dos momentos de avaliação, no que respeita aos

segmentos que podem ocorrer nas posições de ataque simples inicial e medial. A

consoante que está a ser analisada encontra-se registada a “negrito”. Com a cor

preto, encontram-se as palavras cujas produções assinaladas se encontram de

acordo com o esperado para a língua; a verde estão registadas as produções que

não correspondem ao esperado para a língua, mas cujos segmentos foram

considerados, na tabela 43, como em aquisição. Por fim, a vermelho encontramos

exemplos de produções que não correspondem ao esperado no sistema linguístico

alvo, estando ausentes do sistema da criança, de acordo com os critérios já

descritos.

Alvo 1ª Avaliação 2º Avaliação 3ª Avaliação

Oclusivas

Orais

<porco> [‘poɾku]

<bola> [‘bɔlɐ]

<café> [kɐ’fɛ]

<sapato> [sɐ’patu]

<garrafa> [gɐ’Rafɐ]

<dedo> [‘dedu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[kɐ’paku]

[dɐ’ɾafɐ]

[‘gegu]

[‘poɾku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[sɐ’patu]

[gɐ’Rafɐ]

[‘dedu]

[‘poɾku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[sɐ’patu]

[gɐ’Rafɐ]

[‘dedu]

Fricativas

<chave> [‘ʃav ɨ]

<formiga> [fuɾ’migɐ]

<peixe> [‘pɐjʃɨ]

<jipe> [‘ʒ ipɨ]

<mesa> [‘mezɐ]

<vassoura> [va’soɾɐ]

[‘taf]

[fu’migɐ]

[‘pɐjk ɨ]

[‘gipɨ]

[‘megɐ]

[vɐ’koɾɐ]

[‘ʃaf]

[fuɾ’migɐ]

[‘pɐjs ɨ]

[‘zipɨ]

[‘mezɐ]

[va’soɾɐ]

[‘ʃav ɨ]

[fɾu’migɐ]

[‘pɐjʃɨ]

[‘ʒipɨ]

[‘mezɐ]

[va’soɾɐ]

Oclusivas

Nasais

<cama> [‘kɐmɐ]

<unha> [‘uɲɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘kɐmɐ]

[‘ujnɐ]

[ɲɐ’i]

[‘kɐmɐ]

[‘ujnɐ]

[nɐɾ’i]

[‘kɐmɐ]

[‘uɲɐ]

[nɐ’ɾiʃ]

Laterais <palhaço> [pɐ’ʎasu]

<cabelo> [kɐ’belu]

[pɐ’jaku]

[kɐ’belu]

[pɐ’jasu]

[kɐ’belu]

[pɐ’jasu]

[kɐ’belu]

Vibrantes <nariz> [nɐ’ɾ iʃ]

<rato> [‘ʀatu]

[ɲɐ’i]

[‘gaku]

[nɐɾ’i]

[‘ʀatu]

[nɐ’ɾiʃ]

[‘ʀatu]

Quadro 43 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de R.R. em ataque simples inicial e em ataque medial, nos três momentos de avaliação.

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99

Observando o quadro 43, verificamos que o sujeito 1, no primeiro momento

de avaliação, consegue realizar produções de palavras com segmentos /p/, /b/, /k/,

/f/, /m/ e /l/, de acordo com o esperado, surgindo produções como [‘poku] <porco>,

[‘bɔlɐ] para <bola>, [kɐ’fɛ] <café>, [‘kɐmɐ] <cama>, [kɐ’belu] <cabelo>. Neste

momento, estão em aquisição os segmentos /g/, /v/ e /ɾ/ uma vez que surgem ainda

produções que não se encontram de acordo com esperado como [dɐ’ʀafɐ]

<garrafa>, [‘taf] <chave> e [ɲɐ’i] <nariz>. Os restantes segmentos encontram-se

ausentes do sistema fonológico do sujeito 1 podendo verificar-se produções tais

como [ki’gɨ] <tigre>, [‘gegu] <dedo>, [‘pɐjkɨ] <peixe>, [‘gipɨ] <jipe>, [‘megɐ] <mesa>,

[vɐ’koɾɐ] <vassoura>, [‘ujnɐ] <unha>, [ɲɐ’i] <nariz>, [pɐ’jaku] <palhaço>, [‘gaku]

<rato>.

No segundo momento de avaliação, tal como se pode observar no quadro

43, o sujeito 1, acrescentou ao seu sistema os segmentos /g/, /d/, /t/, /s/, /z/, /n/, /ɾ/ e

/ʀ/. Verificam-se ainda produções de palavras como [‘kajsɐ] para <caixa>, [kuzi’nar]

para <cozinhar> ou [pɐ’jasu] para <palhaço>, uma vez que se encontram ausentes

os segmentos /ʃ/, /ʒ/ e /ʎ/. O sujeito 1 realiza ainda produções como [‘kigɾɨ] para

<tigre> em ataque simples inicial, ou [‘saf] para <chave>.

No último momento de avaliação, junta às suas produções palavras palavras

como: [‘uɲɐ] <’unha>, [ʒɐ’nɛlɐ] <janela> e [‘kajʃɐ] <caixa> ficando por adquirir o

segmento /ʎ/ em produções como [pɐ’jasu] para <palhaço>.

7.1.3.1.2Ocorrênciadossegmentosemcoda

No quadro 44, são consideradas as produções das consoantes que podem

ocupar o constituinte silábico coda. Os valores de ocorrência obedecem aos critérios

descritos em (1) neste capítulo, sendo registados como não adquiridos (a vermelho),

em aquisição (a verde) e adquiridos (a preto) e em função da posição de coda na

palavra: coda medial (Cd M) e coda final (Cd F).

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1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total

/s/ 0% 75% 38% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ l / 100% 50% 86% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ɾ/ 17% 80% 45% 100% 100% 100% 71% 100% 83%

Quadro 44 - ocorrência dos segmentos fonológicos em função da posição de coda na palavra, nos três momentos de avaliação, em R.R

Como se pode constatar, R.R., no momento da primeira avaliação, não tem

adquirida a fricativa /s/ (realizada foneticamente como [ʃ]) em coda (tanto medial

como final), bem como a vibrante /ɾ/ em coda medial. É importante referir um valor

de produção para a forma /s/ em coda final muito superior ao valor encontrado para

o mesmo segmento em posição de coda medial. A vibrante /ɾ/ encontra-se em

aquisição em posição de coda final, com cerca de 80% de ocorrência, mas ausente

em posição medial. Apesar de, globalmente, o segmento /l/ se encontrar adquirido,

verifica-se um efeito do constituinte silábico e deste na posição da palavra para a

ocorrência da lateral que, apesar de adquirido em ataque simples (como descrito

anteriormente), se encontra em aquisição em contextos de coda em posição final de

palavra, com 50% de ocorrências.

Verifica-se a aquisição completa dos segmentos /s/, /l/ e /ɾ/ em todas as

posições de coda na palavra no segundo momento de avaliação.

Na última avaliação, verifica-se uma ligeira descida na ocorrência do

segmento /ɾ/ em coda medial, que parece corresponder à instabilidade originada

pela aquisição de uma nova estrutura silábica, ou seja, associada à produção de

sílabas com ataques ramificados (ver quadro 46).

No quadro 45, encontramos exemplos de palavras que ilustram a capacidade

fonológica do sujeito 1, relativamente aos segmentos que ocupam a posição de coda

final ou medial, em função dos momentos da avaliação.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

101

Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação

Fricativas Cd M

Cd F

<pasta> [‘paʃtɐ]

<três> [’tɾeʃ]

[pakɐ]

[’teʃ]

[‘paʃtɐ]

[’teʃ]

[‘paʃtɐ]

[’tɾeʃ]

Laterais Cd M

Cd F

<alto> [‘aɫtu]

<sol> [‘sɔɫ]

[‘aɫku]

[‘sɔlu]

[‘aɫtu]

[‘sɔɫ]

[‘aɫtu]

[‘sɔɫ]

Vibrantes Cd M

Cd F

<formiga> [fuɾ’migɐ]

<brincar> [bɾĩ’kaɾ]

[fu’migɐ]

[bĩ’kaɾ]

[fuɾ’migɐ]

[bɨɾĩ’kaɾ]

[fɾu’migɐ]

[bĩ’kaɾ]

Quadro 45 -Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica do R.R. em coda medial e em coda final, nos três momentos de avaliação

Os resultados descritos anteriormente registam-se em produções do tipo

[pakɐ] para <pasta>, [‘gafu] para formiga, [’teʃ] <três>, [bĩ’kaɾ] <brincar> que

exemplificam valores de ocorrência de /ʃ/ e /ɾ/ superiores, quando o constituinte coda

surge em posição final de palavra, sendo importante realçar que a fricativa nunca é

produzida em ataque simples (tal como descrito anteriormente). Ao contrário do que

acontece para estes segmentos, a produção de /l/ apresenta melhores resultados

em coda quando surge em posição medial. Assim, encontramos produções de

palavras como [‘kɔlu] para <sol>, não realizando o segmento como uma coda final.

No segundo momento de avaliação, não se observam produções alteradas,

no que respeita aos segmentos que ocupam o constituinte coda.

Relativamente ao último momento de avaliação, observam-se produções de

palavras como [fɾu’migɐ] para <formiga>, que demonstram a descida no valor de

ocorrências da produção do segmento /ɾ/ em coda em posição medial de palavra.

Esta alteração parece estar relacionada com a aquisição do constituinte ataque

ramificado, observando-se a sua emergência e alguma instabilidade nas suas

ocorrências.

7.1.3.1.3Ocorrênciadossegmentosemataqueramificado

No quadro 46, são consideradas as produções no constituinte silábico ataque

ramificado. O estatuto dos diferentes segmentos obedecem aos mesmos critérios

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102

descritos em (1) neste capítulo e considerados para os restantes constituintes

prosódicos, sendo registados como não adquiridos (a vermelho), em aquisição (a

verde) e adquiridos (a preto). Os resultados estão organizados em função dos

ataques ramificados presentes nos estímulos utilizados no instrumento e da posição

do constituinte na palavra: ataque ramificado inicial (Ar I), ataque ramificado medial

(Ar M). A organização de resultados tem ainda em conta os três momentos de

avaliação.

Quadro 46 - Ataques ramificados nos diferentes momentos de avaliação no sujeito 1

Observa-se a ausência completa deste constituinte silábico nas duas

primeiras avaliações. Na terceira avaliação, observa-se a aquisição categórica deste

constituinte silábico, excepto para /gɾ/ e /bɾ/ (que surge em aquisição), em que se

regista um efeito de posição na palavra, com 0% de ocorrência em ataque

ramificado inicial, em oposição a 100% de ocorrências em ataque ramificado medial.

1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação

Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total

/bɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 67% 100%

/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%

/pɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%

/fɾ / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%

/gɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 50%

/dɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%

/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100%

/vɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%

/cɾ / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%

/pl/ 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%

/f l / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%

/kl/ - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%

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103

Encontramos registados, no quadro 47, exemplos de palavras que ilustram

as produções que contêm ataque ramificado, realizadas pelo sujeito 1.

Quadro 47 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de R.R. em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação

Relativamente às produções realizadas pelo sujeito 1 no que respeita ao

constituinte silábico ataque ramificado, observam-se produções como [‘fãgu] para

<frango> demonstrando que o sujeito 1, não apresenta, no primeiro e segundo

momentos de avaliação produções que contenham este constituinte silábico.

Contrariamente, no terceiro momento de avaliação, surgem em praticamente todas

as possibilidades de ocorrência, produções com este constituinte. Na produção em

que o constituinte não se encontra de acordo com o esperado, o segmento que

ocupa a segunda posição do constituinte é produzido como coda em posição medial

de palavras como se pode verificar no exemplo [gɐɾ’vatɐ] para <gravata>. Esta

alteração já acontecia na segunda avaliação, tal como se pode verificar em

produções como [gɐɾ’gɐw̃] <dragão>.

Alvo 1ª

avaliação

avaliação

avaliação

/bɾ / <brincar> [bɾĩ’kaɾ] [bĩ’kaɾ] [bɨrĩ’kaɾ] [bĩ’kaɾ]

/ tɾ / <três> [‘tɾeʃ] [teʃ] [‘teʃ] [‘tɾeʃ]

/pɾ / <soprar> [su’pɾaɾ] [ku’par] [su’paɾ] [su’pɾaɾ]

/fɾ / <frango> [‘fɾãgu] [‘fãgu] [‘fãgu] [‘fɾãgu]

/gɾ / <gravata> [gɾɐ’vatɐ] [gɐ’vakɐ] [gɐɾ’vatɐ] [gɐɾ’vatɐ]

/dɾ / <dragão> [dɾɐ’gɐ̃w] [gɐ’gɐ̃w] [gɐɾ’gɐ̃w] [dɾɐ’gɐ̃w]

/vɾ / <livro> [‘livɾu] [‘livu] [‘livu] [‘livɾu]

/kɾ / <creme> [‘krɛmɨ] [‘kɛmɨ] [‘kɛmɨ] [‘krɛmɨ]

/kl/ <bicicleta>

[bisi’kɫɛtɐ] [bikikɨ’ɫɛkɐ] [bikikɨ’ɫɛkɐ] [bisi’kɫɛtɐ]

/fl / <flor> [‘fɫoɾ] [fɨ’ɫoɾ] [fɨ’ɫoɾ] [‘fɫoɾ]

/pl/ <planta> [‘pɫɐt̃ɐ] [pɨ’ɫɐt̃ɐ] [pɨ’ɫɐt̃ɐ] [‘pɫɐt̃ɐ]

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104

7.1.3.2Descriçãodopadrãodeerros

No quadro 48 podemos observar os padrões de erro encontrados nas

produções de R.R.. Os dados estão registados em percentagem correspondem aos

valores de ocorrência do erro para as consoantes em ataque inicial e medial.

7.1.3.2.1Descriçãodospadrõesdeerroemataquesimples

1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação

Alvo Erro AI AM Total AI A M total AI A M total

/t/ [k] 67% 100% 94% 33% 7% 11% 0% 0% 0%

[Ø] 33% 0% 6% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/d/ [g] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/g/ [d] 33% 0% 17% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/v/ [f] 0% 25% 17% 0% 50% 17% 0% 0% 0%

/s/ [k] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/z/ [g] 100% 67% 75% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[d] 0% 33% 25% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ʃ/ [k] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[s] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 0% 0% 0%

/ʒ/

[g] 50% 100% 67% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[z] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 0% 0% 0%

[d] 50 % 0% 33% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/n/ [ɲ] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ɲ/ [n] - 100% 100% - 100% 100% 0% 0% 0%

/l/ [Ø] 0% 33% 22% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[ɫ] 0% 0% 0% 0% 33% 22% 0% 17% 11%

/ʎ/ [j] - 100% 100% - 100% 100% -- 100% 100%

/ɾ/ [Ø] - 33% 33% - 0% 0% 0% 0% 0%

/ʀ/ [g] 100% 50% 67% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[ɾ] 0% 50% 33% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Quadro 48 - Ocorrência dos diferentes padrões de erro de R.R. em ataque inicial e em ataque medial, nos três momentos de avaliação

O quadro 48, permite verificar que, nas produções de R.R., no momento da

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105

primeira avaliação, em substituição dos segmentos não adquiridos /t/, /s/ e /ʃ/, a

criança recorre à oclusiva [k]. Para os segmentos ausentes /d/, /z/, /ʒ/ e /ʀ/, utiliza

preferencialmente a oclusiva [g].

Apesar de com uma ocorrência reduzida, observa-se a produção de [d] para

o segmento /g/. A criança produz sistematicamente a nasal [ɲ] para o alvo /n/, sendo

o contrário também observado, ou seja, a ocorrência da produção [n] para o alvo /ɲ/.

Verifica-se ainda que a lateral /ʎ/ é produzida como semivogal [j]. Nos segmentos

considerados em aquisição, como é o caso da fricativa /v/, observa-se a produção

de [f] no seu lugar. Na vibrante /ɾ/, a estratégia à qual a criança recorre

preferencialmente é a omissão. Quando o segmento /l/ não é produzido de acordo

com o esperado para o sistema alvo, a criança recorre à omissão.

No segundo momento de avaliação, os padrões de erro diminuem, sendo

possível observar ainda a produção das fricativas [z] e [s] para os alvos /ʒ/ e /ʃ/,

respetivamente, bem como da nasal [n] para a nasal /ɲ/. Verifica-se ainda a

produção da semivogal [j] no lugar da palatal /ʎ/.

No último momento de avaliação, observa-se ainda a produção da semivogal

[j] para o alvo /ʎ/.

No quadro que se segue, podemos observar exemplos de palavras não

convergentes com formato alvo, que ilustram os padrões de erro em ataque simples

inicial e medial, observados para o sujeito 1, nos diferentes momentos de avaliação.

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106

Alvo 1ª Avaliação 2º Avaliação 3ª Avaliação

Oclusivas Orais

<sapato> [sɐ’patu]

<garrafa> [gɐ’Rafɐ]

<dedo> [‘dedu]

[kɐ’paku]

[dɐ’ɾafɐ] ['gegu]

[‘kige]

Fricativas

<chave> [‘ʃav ɨ]

<peixe> [‘pɐjʃɨ]

<jipe> [‘ʒipɨ]

<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]

<mesa> [‘mezɐ]

<vassoura> [va’soɾɐ]

[‘taf]

[p’ajk ɨ]

[‘dipɨ]

[gɐ’ɲɛlɐ]

[‘megɐ]

[va’koɾɐ]

[‘saf]

[‘pajs ɨ]

[‘zipɨ]

Oclusivas Nasais <unha> [‘uɲɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘ujnɐ]

[ɲɐ’i]

[‘ujna]

Laterais <palhaço> [pɐ’ʎasu]

<televisão> [tɨlɨvi’zɐ̃w]

[pɐ’jaku]

[fi’dɐ̃w]

[pɐ’jasu]

[tɫvi’zɐ̃w]

[pɐ’jasu]

Vibrantes <rato> [‘Ratu]

<garrafa> [gɐ’ʀafɐ]

‘[gaku]

[dɐ’ɾafɐ]

Quadro 49 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferenciais de R.R. para os erros em ataque inicial e em ataque medial, nos diferentes momentos de avaliação

Observando os exemplos, e de acordo com o descrito anteriormente, verifica-

se que, preferencialmente, o sujeito 1, recorre a padrões de erros caracterizados por

substituição do segmento ausente no seu sistema. Na maioria dos casos, o

segmento que substitui o segmento ausente é consistente (sempre o mesmo). No

caso das vibrantes, o sujeito recorre a dois segmentos diferentes para a produção

do segmento ausente como se pode verificar em produções como [‘gaku] <gato>

ou [dɐ’ɾafɐ] <garrafa> em que o sujeito utiliza o segmento /g/ ou /ɾ/ para a produção

de /ʀ/. No primeiro momento de avaliação, o segmento alvo substituto pode

encontrar-se dentro da mesma classe, mas diferir quando ao ponto (como nas

oclusivas e das nasais). Este comportamento ocorre, por exemplo, na produção de

['gegu] para <dedo>, em que o segmento substituto é velar enquanto o segmento

ausente é alveolar, pertencendo os dois à classe das oclusivas orais. No caso das

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107

fricativas, o segmento utilizado em substituição difere quando ao ponto e quanto ao

modo também, tal como ilustrado em [‘megɐ] <mesa>, em que o segmento substituto

difere do alvo, por pertencer à classe das oclusivas e o ponto de articulação ser

velar, enquanto o segmento ausente pertence à classe das fricativas com ponto de

articulação alveolar.

No segundo momento de avaliação, as fricativas deixam de ser substituídas

por segmentos de outra classe (que diferem quanto ao modo), mantendo-se ainda a

escolha de um substituto que difere quanto ao ponto no caso de /ʃ/ e /ʒ/, como se

pode observar em produções como [‘zipɨ] <jipe>, em que os segmentos substitutos

pertencem à classe das fricativas sendo o ponto de articulação alveolar. No entanto,

do ponto de vista fonológico, partilham o mesmo ponto articulatório (coronal).

Em qualquer momento de avaliação, o sujeito 1 utiliza a semivogal para a

produção de /ʎ/, como se verifica em produções como [pɐ’jaku] <palhaço>.

7.1.3.2.2.Descriçãodospadrõesdeerroemcoda

No quadro 50, podemos observar os padrões de erro encontrados nas

produções de R.R. relativamente às consoantes em coda medial e em coda final,

nos diferentes momentos de avaliação. Os dados estão registados em percentagem

e correspondem aos valores de ocorrência do erro.

1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação

Alvo Erro Cd M Cd F Total Cd M Cd F total Cd M Cd F total

/s/ Ø 100% 25% 71% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/l/ /ɨ/ 0% 5% 14% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ɾ/ Ø 83% 20% 55% 0% 0% 0% 17% 0% 9%

Quadro 50 -Ocorrência dos diferentes padrões de erro de R.R. em coda medial e em coda final, nos diferentes momentos de avaliação

A análise do quadro 50 permite verificar que a supressão é a estratégia

preferencial à qual a criança recorre na ausência dos segmentos em codas mediais

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108

e finais, na primeira avaliação. No momento da segunda avaliação, verifica-se a

presença dos segmentos anteriormente ausentes, pelo que não se registam

ocorrências de erro. No último momento de avaliação verifica-se a ocorrência de

uma omissão para o segmento /ɾ/ em coda medial. Esta alteração da posição do

segmento corresponde a uma produção da palavra [fɾu’migɐ] para [fuɾmigɐ]. Ao

analisar outras produções tais como [gɐɾ’vatɐ] para [gɾɐ’vatɐ] (ver quadro 47 na

secção 7.1.3.1.3), entende-se que o erro aqui descrito corresponde à estabilização

dos constituintes silábicos e não propriamente à aquisição da consoante /ɾ/, já que a

alteração na sua produção parece depender do contexto silábico. Assim, R.R.

parece ter já aquisição completa de /ɾ/, no entanto ainda se encontra em fase de

aquisição dos diferentes constituintes silábicos.

No quadro que se segue, podemos observar exemplos de palavras em que

não existe a correspondência entre a produção da criança e os alvos que surgem

em coda medial ou em coda final, para os três momentos de avaliação.

Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação

Fricativas CM

CF

<pasta> [‘paʃtɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘pakɐ]

[nɐ’i]

Laterais CF <hospital> [ɔʃpi’taɫ] [ɔpi’kaɨ]

Vibrantes

CM

<garfo> [‘gaɾfu]

<formiga> [fuɾ’migɐ]

[‘gafu]

[fu’migɐ]

[fɾu’migɐ]

Quadro 51 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferencial de R.R. para erros em coda medial e em coda final, nos três momentos de avaliação

Observando os exemplos, verifica-se que a não produção da consoante

(supressão ou omissão) é a estratégia mais recorrente de R.R. para os segmentos

em coda no momento da primeira avaliação. A partir no segundo momento de

avaliação, observa-se apenas a metátese do segmento /ɾ/, que deveria estar a

ocupar coda final, para a segunda posição de ataque ramificado.

7.1.3.2.3.Descriçãodospadrõesdeerroemataqueramificado

No quadro 52, podemos observar os padrões de erro encontrados nas

produções de R.R. relativamente às consoantes em ataque ramificado inicial e

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109

medial, nos diferentes momentos de avaliação. Os dados estão registados em

percentagem e correspondem aos valores de ocorrência de erro.

Quadro 52 - Valores de ocorrência dos padrões de erro para os segmentos ausentes em ataque simples, nos três momentos de avaliação para o sujeito 1

A análise do quadro 52 permite verificar que a supressão é a estratégia

preferencial, no primeiro e segundo momentos de avaliação. O recurso a esta

estratégias ocorre na ausência dos segmentos pertencentes à classe das vibrantes

em ataque ramificado, tanto inicial com medial. Quando a consoante que ocupa o

constituinte silábico é a lateral, observa-se a inserção da vogal [ɨ] entre a primeira e

segunda posição do constituinte, na primeira e segunda avaliações. No último

momento de avaliação não se atestam produções de vogais epêntéticas ou

1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação

erro

ARI ARM Total ARI ARM Total ARI ARM Tot

al

/bɾ /

Ø 100% 100% 100% 0% 100% 50% 100% 0%

33

%

Inserção de [ɨ] 0% 0% 0% 100% 0% 50% 0% 0% 0%

/ tɾ / Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%

/pɾ / Ø - 100% 100% - 100% 100% - 0% 0%

/fɾ / Ø 100% - 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%

/gɾ /

Ø 100% 100% 100% 0% 100% 50% 0% 100%

50

%

[gɐr] 0% 0% 0% 100% 0% 50% 100% 0%

50

%

/dɾ / Ø 100% 100% 100% 0% 50% 50% 0% 0% 0%

[dɐr] 0% 0% 0% 100% 0% 50% 0% 0% 0%

/ tɾ / Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%

/vɾ / Ø - 100% 100% - 100% 100% - 0% 0%

/cɾ / Ø 100% - 100% 100% - 100% 0% - 0%

/pl/ Inserção de [ɨ] 100% - 100% 0% - 0% 0% - 0%

/fl / Inserção de [ɨ] 100% - 100% 100% - 100% 0% - 0%

/kl/ Inserção de [ɨ] - 100% 100% - 0% 0% - 0% 0%

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110

apagamento das vibrantes em ataque ramificado.

No quadro que se segue, podemos observar exemplos de palavras em que

não existe a correspondência entre a produção da criança e os alvos que surgem

em ataque ramificado.

Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação

Líquidas

<três> [‘tɾeʃ]

<livro>[‘livɾu]

<frango>[fɾɐg̃u]

<flor> [floɾ]

<planta> [‘pɫɐk̃ɐ]

<gravata> [gɾɐvatɐ]

[teʃ]

[‘livu]

[‘fãgu]

[fɨ’ɫoɾ]

[pɨlɐ̃kɐ]

[gɐ’vakɐ]

[‘teʃ]

[‘livu]

[‘fãgu]

[fɨloɾ]

[pɨlɐ̃kɐ]

[gɐɾ’vakɐ]

[gɐɾ’vatɐ]

Quadro 53 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferencial de R.R. para os erros em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação

No quadro 53, observa-se que, tal como referido anteriormente, na produção

de ataques ramificados, o sujeito recorre preferencialmente à omissão da líquida

vibrante, embora surja , pontualmente, a produção da vibrante numa posição silábica

diferente (passando a ser produzida como coda), como se pode verificar em

produções como [gɐɾ’vakɐ] <gravata>. Quando em ataque ramificado surge uma

lateral, R.R. recorre à produção deste constituinte silábico como ataque simples,

adicionando a vogal [ɨ] depois da primeira consoante.

7.1.3.3.Síntesedecaracterizaçãodosistemafonológico

Nesta secção, encontra-se informação relativa ao sistema fonológico dos três

momentos de avaliação, construído com base nos dados anteriormente descritos: a

percentagem de acerto das consoantes, de acordo com os critérios já descritos na

secção 3.1 deste capítulo, e os padrões de erro. A vermelho estão representados os

segmentos ausentes, a verde os segmentos em aquisição e a preto os segmentos

presentes no sistema fonológico da criança. Será registado o alvo fonológico bem

como os padrões de erro a que a criança recorre.

O inventário fonológico será apresentado por esquemas organizados de

acordo a posição do segmento na sílaba: ataque simples inicial, ataque simples

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111

media, coda medial, coda final e ataque ramificado.

7.1.3.3.1. Inventáriofonológicodosujeito1-PrimeiraAvaliação

Nas figuras 12, 13, 14 e 15, encontramos representado o inventário

fonológico de R.R. para os diferentes constituintes silábicos e posições na palavra.

A figura 13, representa o inventário fonológico para o ataque simples em

posição inicial de palavra.

Ataque simples inicial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[k]

/d/

[g]

/k/

[k]

/g/

[g] [d]

/f/

[f]

/v/

[v]

/s/

[k]

/z/

[g] [d]

/ʃ/

[k]

/ʒ/

[g]

/m/

[m]

/n/

[ɲ]

/ l /

[l]

/ʀ/

[g]

Figura 12 -Inventário fonológico em ataque inicial de R.R. no momento da primeira avaliação

Na figura 12, observa-se que nenhuma classe está completa no sistema de

R.R.. Encontram-se em falta segmentos relativos às oclusivas, às fricativas, às

nasais, às laterais e às vibrantes. Observa-se uma dificuldade no que respeita ao

modo, sendo as fricativas ausentes produzidas como oclusivas.

Se analisarmos o esquema relativamente ao ponto articulatório, verificamos

que o sujeito não tem qualquer dificuldade com os segmentos bilabiais, labiodentais,

e que os pontos dental, alveolar e palatal surgem como mais problemáticos. Embora

os pontos velar e uvular não se encontrem integralmente adquiridos, com a ausência

do segmento /ʀ/ e a instabilidade do segmento /g/, verifica-se que a dificuldade

inerente à produção de /ʀ/ não se prende com o ponto mas sim com o modo, sendo

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112

produzida uma oclusiva em vez de uma vibrante, enquanto a dificuldade inerente à

instabilidade de /g/ se relaciona com ponto articulatório, sendo o mesmo produzido

como [d].

É possível verificar ainda que não existe dificuldade na definição das classes

de vozeadas e de não vozeadas, nem na definição das classes das consoantes

orais e das consoantes nasais.

Na figura que se segue, encontraremos a representação do inventário

fonológico para o ataque simples em posição medial de palavra.

Ataque simples medial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[k] [Ø]

/d/

[g]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v] [f]

/s/

[k]

/z/

[g] [d]

/ʃ/

[k]

/ʒ/

[g]

/m/

[m]

/n/

[ɲ]

/ɲ/

[n]

/ l /

[l] [Ø]

/ʎ/

[ j]

/ɾ/

[ɾ] [Ø]

/ʀ/

[g] [ɾ]

Figura 13 -Inventário fonológico em ataque medial do R.R. no momento da primeira avaliação

Em ataque medial, o perfil do sujeito 1 não é muito diferente do já descrito

para os segmentos que ocorrem em ataque inicial, observando-se que nenhuma

classe se encontra completa. Da mesma forma que em ataque inicial, verifica-se

uma dificuldade no que respeita ao modo, sendo as fricativas ausentes produzidas

como oclusivas. Verificam-se alterações com todos os segmentos correspondentes

à classe das líquidas, não se encontrando nenhum totalmente adquirido. Nesta

classe, as líquidas alveolares estão instáveis no sistema, ao passo que as palatais e

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113

uvulares se encontram ainda ausentes.

No que respeita ao ponto articulatório, verificamos que o sujeito não tem

qualquer dificuldade com os segmentos bilabiais ou labiodentais, sendo os pontos

dental, alveolar e palatal os mais problemáticos. Em relação aos pontos

articulatórios velar ou uvular, verifica-se ausência da vibrante, sendo produzida

como [g], mantendo informação fonológica relativa ao ponto mas não ao modo, ou

como [ɾ] mantendo informação fonológica relativa ao modo mas não ao ponto. Nesta

posição silábica, a oclusiva velar não acrescenta dificuldades ao sujeito,

contrariamente ao que se verifica em posição de ataque inicial.

É possível verificar ainda que, nesta posição da palavra, o sujeito demonstra

dificuldade no estabelecimento da classe de vozeadas e não vozeadas para as

fricativas bilabiais. Não se observam problemas na definição da propriedade

vozeada ou não vozeada para as oclusivas orais. Não se verifica também dificuldade

no estabelecimento da classe das nasais.

Na figura 15, encontramos representado o inventário fonológico relativo ao

constituinte coda. A representação encontra-se organizada em função da posição na

palavra: coda medial e coda final.

Coda medial Coda Final

/s/

/s/

[Ø]

[Ø]

/ɾ/ / l /

/ɾ/ / l /

[ɾ] [Ø] [ɫ]

[ɾ] [Ø] [lɨ] [ɫ]

Figura 14 - Inventário fonológico em coda medial e em coda final de R.R. no momento da primeira avaliação

Na figura 14 é possível verificar a ausência da fricativa e da vibrante em coda

medial, encontrando-se a primeira ausente também em coda final e a última,

adquirida nesta posição silábica. A lateral surge como problemática em coda final.

Na figura 15, encontramos representado o inventário fonológico relativo ao

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114

constituinte silábico ataque ramificado. O inventário encontra-se esquematizado em

função da posição na palavra: ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial.

Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial

/cɾv/

/cɾv/

[Ø]

[Ø]

/clv/

/clv/

[Ø]

[Ø] Figura 15 - Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de R.R. no

momento da primeira avaliação

Na Figura 15 é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante em

ataque ramificado, em qualquer posição da palavra.

7.1.3.3.2.Inventáriofonológicodosujeito1-Segundaavaliação

Nas figuras 16, 17 e 18, encontra-se registado o sistema fonológico relativo à

segunda avaliação, de acordo com os critérios anteriormente descritos na

apresentação do inventário fonológico da primeira avaliação. As figuras encontram-

se organizadas em função do constituinte silábico e da sua posição na palavra:

ataque inicial, ataque medial, coda medial e coda final.

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115

Ataque simples inicial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t] [k]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v]

/s/

[s]

/z/

[z]

/ʃ/

[s]

/ʒ/

[z]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ l /

[l]

/ʀ/

[ʀ]

Figura 16 - Inventário fonológico em ataque inicial de R.R. no momento da segunda avaliação

No segundo momento de avaliação, e de acordo com o figura 16, observa-se

que, no que respeita a modo articulatório, as classes das oclusivas, das laterais e

dos róticos estão já completas no sistema. Encontram-se em falta segmentos

relativos às fricativas (/ʃ/ e /ʒ/). A ausência destes segmentos, neste momento de

avaliação, está relacionada com dificuldades relativas a ponto articulatório, já que os

segmentos são produzidos como [t] e [d], respetivamente. No que respeita às

oclusivas, ainda se observa instabilidade com o segmento /t/, ocorrendo alterações

de ponto articulatório.

Se analisarmos o esquema relativamente ao ponto articulatório, verificamos

que a criança já não apresenta qualquer dificuldade com os segmentos velares ou

uvulares, sendo ainda o ponto palatal o mais problemático. Verificam-se aquisições

de vários segmentos dentais e alveolares, anteriormente problemáticos, mantendo-

se resiliente uma dificuldade na produção de segmentos palatais, como /ʃ/e/ʒ/ .

Continua a ser possível observar que não existe dificuldade na definição das

classes de vozeadas e não vozeadas, nem dificuldades na definição das classes

das consoantes orais e das consoantes nasais.

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116

A representação do inventário fonológico respeitante aos segmentos que

podem ocupar ataque simples em posição medial de palavras, no segundo momento

de avaliação, encontra-se na figura 17.

Ataque simples medial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v] [f]

/s/

[s]

/z/

[z]

/ʃ/

[s]

/ʒ/

[z]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ɲ /

[n]

/ l /

[l]

/ʎ/

[ j]

/ɾ/

[ɾ]

/ʀ/

[ʀ]

Figura 17 - Inventário fonológico em ataque medial do sujeito 1, no momento da segunda avaliação

Em ataque medial, no segundo momento de avaliação, observa-se que a

classe das oclusivas e a dos róticos estão completas no sistema da criança.

Encontram-se ainda em falta segmentos relativos às fricativas, às nasais e às

laterais, existindo dificuldade com o ponto articulatório do segmentos em ausentes.

Se analisarmos o esquema relativamente ao ponto articulatório, verificamos

que a criança já não apresenta qualquer dificuldade com os segmentos velares ou

uvulares, sendo ainda o ponto palatal o mais problemático, tal como verificado em

ataque inicial. Verifica-se a aquisição de vários segmentos relativos aos pontos

dental e alveolar, quando comparando com o desempenho na primeira avaliação.

Em ataque medial, observa-se dificuldade na definição das classes de

vozeadas e não vozeadas para a fricativa labiodental vozeada, sendo produzida

como não vozeada. A distinção entre as classes das consoantes orais e a das

consoantes nasais está adquirida.

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117

Na figura 18, está representado o inventário fonológico relativo aos

segmentos que ocupam o constituinte silábico coda, em posição medial e final de

palavra.

Coda medial Coda Final

/s/

/s/

[ʃ]

[ʃ]

/ɾ/ /l/

/ɾ/ /l/

[ɾ] [ɫ]

[ɾ] [ɫ]

Figura 18 -Inventário fonológico em coda medial e em coda final de R.R. no momento da segunda avaliação

Neste segundo momento de avaliação, observa-se, através da figura 18,

que, em posição de coda (quer medial quer final), a aquisição segmental está

completa para todas as classes que podem ocupar este constituinte silábico.

A figura 19, esquematiza o inventário fonológico do sujeito 1 no que respeita

ao ataque ramificado, quer em posição inicial com medial.

Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial

/cɾv/

/cɾv/

[Ø]

[Ø]

/clv/

/clv/

[Ø]

[Ø] Figura 19 - Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de R.R. no

momento da segunda avaliação

Na Figura 19, é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante neste

constituinte silábico em qualquer posição da palavra.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

118

7.1.3.3.3.Inventáriofonológicodosujeito1–Terceiraavaliação

Da mesma forma que o realizado para o primeiro e segundo momentos de

avaliação de R.R., nas figuras 20, 21 e 22, regista-se o sistema fonológico relativo à

terceira avaliação. As figuras encontram-se organizadas em função do constituinte

silábico e da sua posição na palavra. As cores vermelho, verde e preto representam

os segmentos ausentes, instáveis e presentes, respetivamente.

O inventário fonológico relativo à terceira e última avaliação, para os

segmentos que ocupam o ataque simples inicial encontra-se representado na figura

20.

Ataque simples inicial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v]

/s/

[s]

/z/

[z]

/ʃ/

[ʃ]

/ʒ/

[ʒ]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ l /

[l]

/ʀ/

[ʀ]

Figura 20 -Inventário fonológico em ataque inicial de R.R. no momento da terceira avaliação

No esquema acima, observa-se que todas as classes se encontram

completas. Dificuldades com ponto articulatório, nesta posição silábica, já não são

verificadas. Da mesma forma, a classe das vozeadas e das não vozeadas surge

bem definida, assim como a classe das consoantes nasais e a das consoantes orais.

A figura 21 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 1 no que respeita

ao constituinte ataque simples, em posição medial de palavra, no momento da

terceira avaliação.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

119

Ataque simples medial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v]

/s/

[s]

/z/

[z]

/ʃ /

[ʃ]

/ʒ /

[ʒ]

/m/

[m]

/N/

[n]

/ɲ /

[ɲ]

/ l /

[l]

/ʎ/

[ j]

/ɾ /

[ɾ]

/ʀ/

[ʀ]

Figura 21 - Inventário fonológico em ataque medial de R.R. no momento da terceira avaliação

No esquema acima, observa-se que todas as classes se encontram

completas, excepto a das laterais, com dificuldades relativas ao ponto articulatório

palatal. Não se verificam dificuldades na definição da classe das vozeadas e das

não vozeadas ou na definição das classes das consoantes nasais e das consoantes

orais.

Na figura 22, encontramos representado o inventário fonológico relativo aos

segmentos que ocorrem em coda. O mesmo organiza-se tendo em conta a posição

na palavra, medial ou final.

Coda medial Coda Final

/s/

/s/

[ʃ]

[ʃ]

/ɾ/ / l /

/ɾ/ / l /

[ɾ] [ɫ]

[ɾ] [ɫ]

Figura 22 - Inventário fonológico em coda medial e em coda final de R.R. no momento da terceira avaliação

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

120

Nos esquemas da figura 22, é possível verificar que não existem dificuldades

com qualquer segmento que ocupe a posição de coda medial ou de coda final, tal

como já se observava no momento da segunda avaliação.

O inventário fonológico relativo ao ataque ramificado encontra-se

representado na figura 23, em função da posição da palavra em que o constituinte

silábico pode surgir.

Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial

/cɾv/

/cɾv/

[cɾv]

[cɾv]

/clv/

/clv/

[clv]

[clv] Figura 23 -Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de R.R. no

momento da terceira avaliação

Na figura 23, é possível verificar, no momento da terceira avaliação, a

aquisição tanto da lateral como da vibrante neste constituinte silábico em qualquer

posição da palavra.

7.1.3.4.Descriçãodosistemafonológicoatravésdeprocessosfonológicos–

Sujeito1

Nesta secção, os resultados relativos ao sistema fonológico serão descritos

recorrendo à terminologia de processos fonológicos e procedimentos de registo

descritos por Mendes et al. (2013) que contemplam os processos:

• Relativos à estrutura silábica: Omissão da consoante final (OCF); Reduçao

de sílaba átona pré-tónica (RSA); Redução de grupo consoâtico (RGC).

• Relativamente à estrutura segmental, as autoras consideral os seguintes

processos: Semivocalização de líquida (SL); Oclusão (OCL); Anterirorização

(ANT); Despalatalização (DES); Posteriorização (POS); Palatalização (PAL);

Desvozeamento (DESV) e Processos adicionais (PA).

Regista-se com 0 o processo não ocorre e com 1 quando o processo ocorre. Os

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

121

resultados serão apresentados para os três momentos de avaliação.

No quadro 78 encontram-se os resultados referentes aos processos fonológicos

do sujeito 2, no primeiro momento de avaliação.

7.1.3.4.1Descrição do sistema fonológico através de processosfonológicos–Primeiraavaliação

No quadro 54, encontram-se os resultados relativamente à presença de

processos fonológicos do sujeito 1, nos três momentos de avaliação.

Momento

de

avaliação

Estrutura silábica Estrutura Segmental / Substituição PA*

OCF RSA RGC SL OCL ANT DES POS PAL DESV

1ª 50% 0% 78% 10% 64% 0% 0% 100% 0% 40% 31%

2ª 0% 0% 61% 10% 0% 0% 50% 17% 0% 40% 21%

3ª 0% 0% 6% 10% 0% 0% 0% 0% 0% 40% 44%

Quadro 54 -Processos fonológicos presentes nas produções do sujeito 1, em função do momento de avaliação

*O valor de processos fonológicos adicionais foi determinado dentro do total de processos, ou

seja, no total de processos encontrados um valor corresponderá a processos adicionais.

De acordo com o quadro 54, verifica-se que, no momento da primeira

avaliação, o processo mais frequente corresponde à posteriorização (100% de

ocorrência, seguido da redução do grupo consonântico (com 78% de ocorrência). A

oclusivização é um processo muito recorrente também, com um valor de 64% de

ocorrência. Processos de omissão da consoante final apresentam uma ocorrência

de 50%, o processo de desvozeamento surge um uma taxa de 40% de ocorrência. A

semivocalização é um processo identificado também com um valor de 10% de

ocorrência. Os restantes processos identificados foram classificados como

adicionais.

Na segunda avaliação a ocorrência de processos diminui, alguns deixam de

ocorrer, surgindo um novo processo. Assim, observamos no quadro 54, que neste

momento de avaliação ainda se encontra presente o processo de redução do grupo

consonântico (61%), o processo de desvozeamento (40%), o processo de

posteriorização (17%) e de semivocalização (10%), Surge nesta altura o processo

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122

de despatalização com uma taxa de ocorrência de 50%. Processos adicionais

continuam a surgir (21%).

No último momento de avaliação mantém-se o processo de desvozeamento

(40%), o processo de semivocalização (10%). (10%) e o processo de redução do

grupo consonântico (6%). Processos adicionais continuam presentes (44%).

No quadro 55 encontram-se exemplos de produções do sujeito 1, que

ilustram a presença dos diferentes processos fonológics, organizados em função da

presença do processo e dos três momentos de avaliação.

Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação

OCF <porco> [‘poɾku] [‘poku]

RSA

RGC <tigre> [ti’gɾɨ] [ki’gɨ]

SL <palhaço> [pɐ’ʎasu] [pɐ’jaku]

OCL <mesa> [‘mezɐ] [‘megɐ]

ANT

DES <jipe> [‘ʒ ipɨ] [‘zipɨ]

POST <sapato> [sɐ’patu] [kɐ’paku]

DESV <chave> [‘ʃav ɨ] [‘taf] [‘ʃaf] [‘ʃaf]

PAL

PA

<garrafa> [gɐ’ʀafɐ]

<formiga> [fuɾ’migɐ]

<unha> [‘uɲɐ]

[dɐ’ɾafɐ]

[fu’migɐ]

[‘ujnɐ]

[‘ujnɐ]

[fɾu’migɐ]

Quadro 55 - Produções do sujeito 1, organizados em processos fonológico, em função do momento de avaliação

Os exemplos constantes no quadro 55 ilustram a presença dos processos

fonológicos anteriormente descritos nesta secção.

Produções como [‘poku] <porco>, [ki’gɨ] <tigre>, [pɐ’jaku] <palhaço>, [‘megɐ]

<mesa>, [kɐ’paku] <sapato> e [‘taf] <chave> constituem exemplos de processos de

omissão de consoante final, redução do grupo consonântico, semivocalização da

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

123

lateral, oclusivização, posteriorização e desvozeamento, respetivamante, presentes

no primeiro momento de avaliação, de acordo com o descrito atrás.

Todos os processos encontrados, que não correspondem ao definido para cada

um destes processos, foram considerados adicionais (mesmo quando aconteciam

para o mesmo segmento como é o caso de [‘megɐ] <meza>, em que para além do

processo de oclusivização ocorre uma alteração de ponto não contemplada nos

processo aqui utilizados). Assim encontramos adicionalmente, produções como

[dɐ’ɾafɐ] <garrafa>, [‘ujnɐ] <unha> e [fu’migɐ] <formiga>, entre outros.

7.1.3.5AnáliseatravésdomodeloPAC-PE–Sujeito1

O Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes (PAC), proposto por

Lazzarotto-Volcão (2009) com base na Escala de Robustez para Traços de

Consoantes, proposta por Clements (2009), pretende descrever e classificar as

perturbações fonológicas através da identificação de etapas de aquisição fonológica

com base na aquisição de contrastes e no pressuposto de que a existência de

classes naturais e de contrastes depende da aquisição e coocorrência de traços e

não da aquisição destes isoladamente. De acordo com a autora do modelo, é

possível que uma criança tenha adquirido um contraste mesmo sem que um

segmento relativo a esse contraste tenha emergido, reforçando a ideia de

construção gradual do segmento através da ligação gradativa de traços fonológicos

à estrutura interna dos fonemas (Hernandorena, 1995).

No âmbito do desenvolvimento do modelo a autora trabalha com dois

subtipos de alterações (atraso ou desvio) bem como com uma escala de gravidade

que será utilizada para caracterizar o perfil fonológico dos sujeitos em avaliaçãoo no

presente estudo.

7.1.3.5.1–AnáliseatravésdoPAC-PESujeito1

Os dados recolhidos foram analisados à luz do modelo PAC-PE, que

consiste na determinação da presença, ou não, dos contrastes identificados e

organizados em quatro etapas de aquisição. Nestas quatro etapas, são adquiridos

contrastes através da coocorrência de traços, que possibilitam também a

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

124

emergência de segmentos.

No quadro 56 podemos visualizar os valores de acerto dos contrastes

estabelecidos no PAC-PE para o sujeito 1 no momento da primeira avaliação,

registados de acordo com o descrito na secção 6.4.3 da II parte deste trabalho, onde

são apresentados os critérios metodológicos. Veja-se o seguinte exemplo: a criança

produz [k] para [g], o contraste Soante x Obstruinte está presente neste alvo, no

entanto, o contraste Oclusiva vozeada x não vozeada não está.

1ª AVALIAÇÃO

O quadro abaixo apresenta os resultados do sujeito 1 analisados através do

modelo PAC-PE, de acordo com os procedimentos descritos anteriormente.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

125

Etapa

Traços

Marcados

Adquiridos

Coocorrências de

traços Contraste

Acerto

do

contraste

Estado

etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+ vozeado]

[+consonântico; +

Soante]

[-soante; labial]

[-soante; dorsal]

[+soante; labial]

[-soante; coronal; +

vozeado]

[-soante; labial; +

vozeado]

Soante x Obstruinte 99,14 %

Adquirido

Oclusiva coronal x labial 100 % Adquirido

Oclusiva coronal x dorsal 50% Não

Adquirido

Oclusiva labial x dorsal 100% Adquirido

Nasal labial x coronal 100% Adquirido

Oclusiva coronal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusiva labial surda x sonora 100% Adquirido

etapa

[+ contínuo]

[- anterior]

[+soante; coronal; -

anterior]

[-soante, dorsal, +

vozeado]

[-soante, + contínuo]

[+contínuo; labial,; +

vozeado]

[+contínuio; labial]

Nasal coronal anterior x

coronal não anterior 0%

Não

Adquirido

Oclusiva dorsal surda x sonora 100% Adquirido

Oclusivas x fricativas 78% Adquirido

Fricativa labial surda x sonora 92% Adquirido

Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido

etapa

[+aproximante]

[-soante; + contínuo;

coronal -anterior]

Fricativa coronal anterior x

não anterior 38%

Não

Adquirido

[-soante; + contínuo;

coronal; +vozeado ]

Fricativa coronal não anterior

surda x sonora 100% Adquirido

[-soante; + contínuo;

dorsal ] Oclusivas x fricativa dorsal 37,5%

Não

Adquirido

[+soante; +

aproximante] Nasais x líquidas 99% Adquirido

etapa

[+aproximante; +

contínuo, dorsal] Líquida lateral x não lateral 69% Instável

[+aproximante; +

contínuo, coronal]

Líquida não lateral dorsal x

coronal 60% Instável

[-soante; + contínuo,

coronal; + anterior; +

vozeado]

Fricativa coronal anterior

sonora x não anterior sonora 57 % Instável

[+ aproximante: -

contínuo; coronal; -

anterior ]

Líquida lateral anterior x não

anterior 82% Adquirido

Quadro 56 -Síntese do acerto de contrastes (PAC-PE), para o sujeito 1, no primeiro momento de avaliação

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

126

Através do quadro 56, verifica-se que e o sistema fonológico do sujeito 1 se

encontra incompleto, com ausência de contrastes relativos às primeiras etapas de

aquisição:

• Oclusiva coronal x dorsal (1ª etapa), uma vez que as oclusivas

coronais são produzidas como dorsais, acontecendo o inverso

também;

• Nasal coronal anterior x coronal não anterior (2ª etapa), uma vez que

as nasais anteriores são produzidas como não anteriores e o inverso

também;

• Fricativa coronal anterior x não anterior (3* etapa), já que as fricativas

coronais anteriores são produzidas como dorsais

• Oclusiva x fricativa dorsal (3ª etapa), já que os róticos dorsais são

produzidos como oclusivas dorsais.

É possível observar ainda a instabilidade de contrastes relativos à última

etapa:

• Líquida lateral x não lateral, uma vez que as líquidas não laterais não

são produzidas

• Líquida não lateral coronal x dorsal, uma vez que a vibrante dorsal é

produzida como coronal

• Fricativa coronal anterior sonora x não anterior sonora, manifestada

pela produção menos anterior na fricativa coronal [+anterior]

No sistema fonológico de R.R., verifica-se a ausência dos segmentos /d/, /t/

e /n/, que se esperavam na primeira etapa de aquisição. Tal como ilustrado no

quadro 56, o facto de estes segmentos ainda não terem emergido ocorre pela

ausência do contraste Oclusiva coronal versus Dorsal. A dificuldade com este

contraste poderá estar relacionada com dificuldade na coorrência de traços,

especialmente com os traços não marcado [coronal] e [+anterior], necessário para a

estabilização completa deste contraste. Estas dificuldades são manifestadas por

produções como [ɲɐ’i] <nariz> ou [‘gegu] <dedo>.

Verifica-se também, neste momento de avaliação, a ausência dos segmentos

/ɲ/, correspondentes a segmentos esperados na segunda etapa de aquisição. Nesta

altura, observa-se que o contraste Nasal coronal anterior x coronal não anterior, uma

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127

vez que as nasais anteriores são produzidas como não anteriores e o inverso

também, assim, para além da dificuldade com a coocorrência de [coronal] e

[+anteriores] parece existir dificuldade também na coocorrência com o traço [-

anterior]. Observam-se assim produções como: [‘ujnɐ] ou [ɲɐ’i]

Nesta altura, embora o traço [+contínuo] já esteja presente no sistema

fonológico de R.R., veja-se o exemplo de produções com fricativas labiais como [f]

em produções como [kɐ’fɛ], o mesmo não assume uma coocorrência com os traços

[coronal] não permitindo um valor de ocorrência alto para o contraste Oclusivas Vs

Fricativas, ocorrendo produções como [kɐ’paku] <sapato>. O valor de 78%

relacionado com este contraste, que dá um estatuto de adquirido, acontece por

limitação do instrumento utilizado para a recolha de dados; uma amostra de discurso

espontâneo ou um maior número de palavras com o segmento alvo iriam

demonstrar, provavelmente, que este contraste ainda não está adquirido no sistema

de R.R).

Para a emergência do contraste Fricativa coronal anterior x não anterior, não

adquirido na terceira etapa, é necessária a combinação de vários traços,

nomeadamente o traço [+contínuo], que, de acordo com o descrito anteriormente,

parece trazer problemas ao sistema fonológico de R.R., bem como com os traços

não marcados [coronal] e [+anterior] e o traço marcado [-anterior]. R.R. demonstra

dificuldades com a coocorrência destes traços fazendo produções dorsais tais como:

[kɐ’paku] ou [‘pɐjkɨ].

O rótico /ʀ/ surge nesta altura como oclusiva dorsal, mostrando a falta da

coocorrência do traço [+contínuo], necessária para a emergência do contraste

Oclusiva x fricativa dorsal, surgindo produções como [‘gaku] <rato>.

Os contrastes referentes à quarta etapa encontram-se maioritariamente

instáveis, especialmente pela instabilidade de combinação de traços como [+

contínuo, + aproximante], observando-se ausência de segmentos como /ʎ/ e

omissões com /r/ e /ɾ/.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

128

• Atraso ou desvio

De acordo com referido na literatura (Lazzarotto-Volcão, 2009), uma criança

com atraso fonológico mostra um desfasamento entre as suas etapas de

desenvolvimento e as esperadas para a sua idade, embora apresente um perfil em

que são cumpridos os princípios fonológicos. Por outro lado, uma criança com um

desvio fonológica, para além de um desfasamento cronológico apresenta um

sistema caracterizado pelo não cumprimento dos princípios fonológicos.

Tendo em conta os dados observados no quadro 57, verifica-se que o sujeito 1

apresenta um desvio fonológico, que, de acordo com Lazzarotto-Volcão (2009),

corresponde a um perfil de crianças com alterações que implicam o não

cumprimento dos princípios fonológicos. Assim, R.R. apresenta poucos contrastes,

manifestado pela redução do inventário fonológico segmental, para o número de

traços disponíveis no sistema. Como exemplo, observa-se, no sistema fonológico de

R.R., o traço [+contínuo] em combinação com os traços [labial] [+vozeado],

emergindo o segmento /v/, mas não se observa a sua combinação com os traços

[coronal] [+anterior], tendo como consequência a ausência do segmento /z/, que é

realizado como [g].

R.R. apresenta um número superior de segmentos marcados e ausência de

traços não marcados. Encontramos assim o traço [+aproximante], manifestado em

produções de consoantes líquidas, encontrando-se ausente a combinação dos

traços não marcados [coronal] e [+anterior], com falta das consoantes oclusivas /d/ e

/t/.

Observa-se ainda que R.R. apresenta contrastes de etapas mais tardias,

encontrando-se por completar a aquisição de etapas mais precoces.

Assim, considera-se que R.R. apresenta uma perturbação fonológica

correspondente a um desvio e não a um atraso.

• Gravidade

De acordo com a escala de gravidade proposta por Lazzarotto-Volcão

(2009), descrita no capítulo 3 e representada no quadro 57, considera-se que o

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

129

sujeito 1 apresenta uma perturbação fonológica severa, já que, no sistema

fonológico, encontramos a ausência de contrastes das terceiras e quartas etapas, a

presença de 3 contrastes da segunda etapa e a presença de cinco contrastes da

primeira etapa. Considerou-se este grau de gravidade já que a autora refere que,

num sistema fonológico alterado de forma severa, se observa a ausência de

contrastes da terceira e quarta etapas, observado no sistema de R.R., a presença

de, no máximo, dois contrastes da segunda etapa (no caso de R.R. observamos

três) e a presença de, no máximo, seis contrastes da primeira etapa. Um grau

moderado/severo não foi considerado pois era necessária a presença de todos os

contrastes da primeira etapa, o que não é observado. Os critérios que permitem

apurar o grau de severidade do sistema fonológico de R.R. encontram-se no quadro

58. Esperado Grau Severo R.R.

1ª etapa 7 contrastes

Presença de

cinco

contrastes

Presença de

seis contrastes

2ª etapa 5 contrastes Presença de

três contrastes

Presença de

três contrastes

3ª etapa 4 contrastes Pelo menos

ausência de um

Presença de

dois contrastes

4ª etapa 4 contrastes Pelo menos

ausência de um Ausência de 3

Quadro 57 -Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - severo

• Representação do sistema do sujeito 1 - PAC-PE

A presença, ausência ou instabilidade dos contrastes fonológicos do sujeito 1

descritos em função do Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes, encontra-se

representado na figura 24. Esta representação é feita através de retângulos com

diferentes cores correspondentes às diferentes etapas de aquisição (sistema

representacional descrito em no capítulo 3): a primeira etapa corresponde à cor

vermelha, a segunda etapa é representada pela cor azul, a terceira pela cor amarela

e a quarta etapa surge no esquema com a cor verde. Os retângulos totalmente

preenchidos com cor são utilizados para representar os contrastes adquiridos, os

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

130

retângulos com riscas correspondem aos contrastes instáveis e os retângulos sem

fundo retratam os contrastes não adquiridos.

Figura 24 -Representação do primeiro momento de avaliação do sujeito 1 no modelo PAC-PE

2ª AVALIAÇÃO

Assim, após intervenção terapêutica, descrita no capítulo 2, através da

estimulação dos segmentos /ʒ/; /ʀ/ e /d/, verificamos que R.R. apresenta um sistema

fonológico com presença de todos os contrastes fonológicos, embora se verifique

ainda a instabilidade de contrastes relativos à segunda e terceira etapa (ver quadro

58):

• Nasal coronal anterior x coronal não anterior, uma vez que ainda se

observam produções mais anteriores das nasais coronais menos

anteriores;

• Fricativa coronal anterior x coronal não anterior, uma vez que as

fricativas coronais não anteriores são produzidas como anteriores.

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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131

Etapa

Traços

Marcados

Adquiridos

Coocorrências de

traços Contraste

Acerto

do

contraste

Estado

etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+ vozeado]

[+consonântico; +

Soante]

[-soante; labial]

[-soante; dorsal]

[+soante; labial]

[-soante; coronal; +

vozeado]

[-soante; labial; +

vozeado]

Soante x Obstruinte 100 %

Adquirido

Oclusiva coronal x labial 100 % Adquirido

Oclusiva coronal x dorsal 96% Adquirido

Oclusiva labial x dorsal 100%

Adquirido

Nasal labial x coronal 100% Adquirido

Oclusiva coronal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusiva labial surda x sonora 100% Adquirido

etapa

[+ contínuo]

[- anterior]

[+soante; coronal; -

anterior]

[-soante, dorsal, +

vozeado]

[-soante, + contínuo]

[+contínuo; labial,; +

vozeado]

[+contínuio; labial]

Nasal coronal anterior x

coronal não anterior 67% Instável

Oclusiva dorsal surda x sonora 100% Adquirido

Oclusivas x fricativas 100% Adquirido

Fricativa labial surda x sonora 84,61% Adquirido

Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido

etapa

[+aproximante]

[-soante; + contínuo;

coronal -anterior]

Fricativa coronal anterior x

não anterior 60% Instável

[-soante; + contínuo;

coronal; +vozeado ]

Fricativa coronal não anterior

surda x sonora 100% Adquirido

[-soante; + contínuo;

dorsal ] Oclusivas x fricativa dorsal 100% Adquirido

[+soante; +

aproximante] Nasais x líquidas 100% Adquirido

etapa

[+aproximante; +

contínuo, dorsal] Líquida lateral x não lateral 87,15% Adquirido

[+aproximante; +

contínuo, coronal]

Líquida não lateral dorsal x

coronal 100% Adquirido

[-soante; + contínuo,

coronal; + anterior; +

vozeado]

Fricativa coronal anterior

sonora x não anterior sonora 100% Adquirido

[+ aproximante: -

contínuo; coronal; -

anterior ]

Líquida lateral anterior x não

anterior 100% Adquirido

Quadro 58 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 1, no momento da segunda avaliação

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

132

De acordo com o observado, após o intervenção terapêutica, foi possível

promover a combinação dos traços não marcados [coronal], [+anterior] bem como do

traço [+contínuo], que permitiu a aquisição de vários contrastes anteriormente

ausentes. Manifestam-se ainda dificuldades relacionadas com a combinação

[coronal] [-anterior] na classe das nasais, das fricativas e das líquidas.

• Atraso ou desvio

O perfil de R.R. continua a mostrar-se desviante por não cumprir os princípios

fonológicos, uma vez que apresenta ainda um sistema fonológico com presença de

contrastes de etapas anteriores, tendo concluído a aquisição dos contrastes da

última etapa.

• Gravidade

Com as aquisições realizadas observa-se uma mudança no grau de severidade

da Perturbação Fonológica, que passa de severa a leve já que, de acordo com o

descrito na literatura (Lazzarotto-Volcão, 2009), numa perturbação fonológica leve

encontramos presença de todos os contrastes das duas primeiras etapas; presença

de, no mínimo, dois contrastes da terceira etapa; presença de, no mínimo, dois

contrastes da quarta etapa, o que acontece com R.R. (ver quadro 59).

Esperado Grau Leve R.R.

1ª etapa 7 contrastes Presença de sete

contrastes

Presença de sete

contrastes

2ª etapa 5 contrastes Presença de cinco

contrastes

Presença de cinco

contrastes

3ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois

contrastes

Presença de três

contrastes

4ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois

contrastes

Presença de quatro

contrastes

Quadro 59 -Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - leve

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133

• Representação do sistema do sujeito 1 - PAC-PE

O progresso do sistema de contrastes do sujeito 1 pode ser visualizado na

figura 25, manifestado pelo preenchimento de um maior número de retângulos, quer

as que correspondem à primeira, segunda, terceira ou quarta etapas.

Figura 25 -Representação do segundo momento de avaliação do sujeito 1, de acordo com o modelo

PAC-PE

3ª AVALIAÇÃO

Após intervenção através da estimulação dos segmentos /ʒ/, do segundo

para o terceiro momento de avaliação, tal como descrito no capítulo 6 secção

6.4.4.2, verificamos que R.R. apresenta um sistema fonológico com presença de

todos os contrastes fonológicos, tal como registado na tabela 60.

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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134

Etapa

Traços

Marcados

Adquiridos

Coocorrências de

traços Contraste

Acerto

do

contraste

Estado

etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+ vozeado]

[+consonântico; +

Soante]

[-soante; labial]

[-soante; dorsal]

[+soante; labial]

[-soante; coronal; +

vozeado]

[-soante; labial; +

vozeado]

Soante x Obstruinte 100 %

Adquirido

Oclusiva coronal x labial 100 % Adquirido

Oclusiva coronal x dorsal 96% Adquirido

Oclusiva labial x dorsal 100%

Adquirido

Nasal labial x coronal 100% Adquirido

Oclusiva coronal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusiva labial surda x sonora 100% Adquirido

etapa

[+ contínuo]

[- anterior]

[+soante; coronal; -

anterior]

[-soante, dorsal, +

vozeado]

[-soante, + contínuo]

[+contínuo; labial,; +

vozeado]

[+contínuio; labial]

Nasal coronal anterior x coronal

não anterior 100% Adquirido

Oclusiva dorsal surda x sonora 100% Adquirido

Oclusivas x fricativas 100% Adquirido

Fricativa labial surda x sonora 100% Adquirido

Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido

etapa

[+aproximante]

[-soante; + contínuo;

coronal -anterior]

Fricativa coronal anterior x não

anterior 100% Adquirido

[-soante; + contínuo;

coronal; +vozeado ]

Fricativa coronal não anterior

surda x sonora 100% Adquirido

[-soante; + contínuo;

dorsal ] Oclusivas x fricativa dorsal 100% Adquirido

[+soante; +

aproximante] Nasais x líquidas 100% Adquirido

etapa

[+aproximante; +

contínuo, dorsal] Líquida lateral x não lateral 87% Adquirido

[+aproximante; +

contínuo, coronal]

Líquida não lateral dorsal x

coronal 100% Adquirido

[-soante; + contínuo,

coronal; + anterior; +

vozeado]45

Fricativa coronal anterior

sonora x não anterior sonora 100% Adquirido

[+ aproximante: -

contínuo; coronal; -

anterior ]

Líquida lateral anterior x não

anterior 100% Adquirido

Quadro 60 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 1, no momento da terceira avaliação

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135

Os contrastes nasal coronal anterior x coronal não anterior e Fricativa

coronal anterior x não anterior surgem, neste momento de avaliação, como

adquiridos, após estimulação um segmento com a combinação de traços [coronal]

[anterior] que contém traços marcados como [+voz], correspondente a uma

combinação da quarta etapa. Apesar da aquisição destes contrastes e da presença

dos traços [+lat] e coronal [-ant] o segmento /ʎ/ ainda não se encontra presente no

inventário fonológico de L.R. no momento da Terceira avaliação, do capítulo 3 (esta

constitui uma limitação da análise através de PAC-PE, pois o erro realizado por R.R.

não é registado nos contrastes alterados por não corresponder a nenhum dos

estabelecidos)

Estas aquisições traduzem-se numa evolução relativamente ao diagnóstico,

tendo sido reorganizado por completo o sistema fonológico do sujeito 1.

Desta forma, parece que existe possibilidade de alguma generalização de

traços ao sistema, quando se selecionam estímulos alvo que possibilitam

coocorrências de traços, especialmente os responsáveis pelos contrastes mais

robustos, embora, desde o primeiro momento de avaliação até ao final da

reorganização do sistema fonológico se verifiquem dificuldades com o principio da

economia de traços.

• Representação do sistema do sujeito 1 - PAC-PE

Figura 26 -Representação do terceiro momento de avaliação do sujeito 1, de acordo com o PAC-PE.

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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136

Desta forma, a presente secção os dados de produção obtidos para o sujeito

1 foram apresentados à luz do modelo PAC-PE em função dos momentos dos três

momentos de avaliação.

7.2.Sujeito2

7.2.1.DadosdeAnamese

O sujeito 2 (L.R.) é uma criança do sexo masculino, nascido a 14 de Março

de 2011, com perturbação fonológica, residente em Lisboa, que frequentava o pré-

escolar da Escola Alemã na data da primeira avaliação e escola pública nos

restantes momentos de avaliação. Não se verificam quaisquer alterações de

desenvolvimento ou situações clínicas relevantes para a aquisição fonético-

fonológica, nunca tendo frequentado Terapia da Fala, anteriormente. As recolhas de

produção foram realizadas entre os 4 anos e 5 meses e os 5 anos e 6 meses de

idade, de acordo com o quadro 62.

Primeira Avaliação Segunda Avaliação Terceira Avaliação

Idade do sujeito 2 4;05 anos 4;08 anos 5;06 anos

Quadro 61 -Idade (em anos meses) no momento das avaliações – Sujeito 2

7.2.2.Análisefonética

Nos quadro 62, 63 e 64 estão registados os inventários fonéticos das

consoantes de L.R., nos três momentos de avaliação, de acordo com a metodologia

de Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), descrita anteriormente. O

inventário fonético pretende demonstrar a capacidade de articulação dos diferentes

fones do Português Europeu do sujeito 2, ao longo do período de observação. Tal

como referido na metodologia, a presença dos diferentes fones foi considerada

independentemente da sua relação com a representação fonológica e do número de

ocorrências. Assim, uma ocorrência será o suficiente para registar um fone como

integrando o inventário fonético da criança.

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137

• Inventário fonético - Primeira avaliação

O quadro 62, apresenta todos os fones produzidos pelo sujeito 2, no

momento da primeira avaliação.

Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular

Oclusivas

Orais

[p] [b] [t] [d] - -

Fricativas - - - - [ʃ] -

Oclusivas

Nasais

[m] [n] -

Laterais - -

Vibrantes - -

Quadro 62 -Inventário fonético de L.R. no momento da primeira avaliação, aos 4 anos e 5 meses de idade.

A análise deste quadro permite verificar um sistema fonético muito limitado,

com a ausência das oclusivas [k] e [g], de todas as fricativas [f], [v], [s], [z] e [ʒ], da

nasal [ɲ], das laterais [l] e [ʎ] e das vibrantes [ɾ] e [ʀ]. Das 19 consoantes do

Português, o sujeito 2 demonstra capacidade para produzir apenas 7.

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138

• Inventário Fonético - Segunda avaliação

A capacidade articulatória do sujeito 2, no momento da segunda avaliação,

está registada no quadro 63.

Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular

Oclusivas

Orais

[p] [b] [t] [d] [k] [g]

Fricativas [f] [v] - - [ʃ] [ʒ]

Oclusivas

Nasais

[m] [n] [ɲ]

Laterais [l] -

Vibrantes - [ʀ]

Quadro 63 -Inventário fonético de L.R. no momento da segunda avaliação, aos 4 anos e 8 meses

O quadro 63 mostra a aquisição de novos sons no inventário fonético de

L.R.: as oclusivas velares [k] e [g], as fricativas [f], [v], e [ʒ], a lateral [l], a nasal [ɲ]

e a vibrante [ʀ].

L.R. demonstra, neste momento de avaliação, capacidade para a produção

de 15 consoantes, encontrando-se ainda ausentes do seu sistema fonético as

consoantes correspondentes às fricativas [s] e [z], à lateral palatal [ʎ] e à vibrante

alveolar [ɾ].

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139

• Inventário fonético - terceira avaliação

No quadro 64 está registado o inventário fonético do sujeito 2, no momento

da terceira avaliação.

Bilabial/labiodental Dental/alveolar Palatal Velar/uvular

Oclusivas

Orais

[p] [b] [t] [d] [k] [g]

Fricativas [f] [v] - - [ʃ] [ʒ]

Oclusivas

Nasais

[m] [n] [ɲ]

Laterais [l] [ʎ]

Vibrantes - [ʀ]

Quadro 64 -Inventário fonético de L.R. no momento da terceira avaliação, aos 5 anos e 6 meses de idade

Observando o quadro 64, verifica-se a presença de um novo som no

inventário fonético de L.R., a lateral [ʎ]. A ausência de [s], [z] e [ɾ] mantêm-se.

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140

No quadro que se segue, encontram-se registados exemplos de produções

do sujeito L.R. nos três momentos de avaliação.

Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação

Oclusivas

Orais

<porco> [‘poɾku]

<bola> [‘bɔlɐ]

<café> [kɐ’fɛ]

<garfo> [‘gaɾfu]

<sapato> [sɐ’patu]

<dedo> [‘dedu]

[‘potu]

[‘bɔwɐ]

[tɐ’pɛ]

[‘dapu]

[tɐ’patu]

[‘dedu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[‘gafu]

[ʃɐ’patu]

[‘dedu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[‘gafu]

[ʃɐ’patu]

[‘dedu]

Fricativas

<vidro> [‘vidɾu]

<formiga> [fuɾ’migɐ]

<caixa> [‘kajʃɐ]

<jipe> [‘ʒipɨ]

<mesa> [‘mezɐ]

<vassoura> [va’soɾɐ]

[‘bidu]

[pu’migɐ]

[‘tajʃɐ]

[‘dipɨ]

[‘medɐ]

[bɐ’toɐ]

[‘vidu]

[fu’migɐ]

[‘kajʃɐ]

[‘ʒipɨ]

[‘meʒɐ]

[vɐ’ʃoɐ]

[‘vidu]

[fu’migɐ]

[‘kajʃɐ]

[‘ʒipɨ]

[‘meʒɐ]

[vɐ’ʃoɐ]

Oclusivas

Nasais

<cama> [‘kɐmɐ]

<unha> [‘uɲɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘kɐmɐ]

[‘ujɐ]

[nɐ’i]

[‘kɐmɐ]

[‘uɲɐ]

[nɐ’iʃ]

[‘kɐmɐ]

[‘uɲɐ]

[nɐ’iʃ]

Laterais

<palhaço> [pɐ’ʎasu]

<cabelo> [kɐ’belu]

<sol> [‘sɔɫ]

[pɐ’jatu] [kɐ’beu]

[‘sɔw]

[pɐ’jaʃu] [kɐ’belu]

[‘sɔɫ]

[pɐ’ʎaʃu]

[kɐ’belu]

[‘sɔɫ]

Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]

<rato> [‘ʀatu]

[‘peɐ]

[‘datu]

[‘peɐ]

[‘ʀatu]

[‘peɐ]

[‘ʀatu]

Quadro 65 -Exemplos de palavras para os diferentes segmentos fonéticos em função do momento da avaliação, de L.R.

Observando as produções do sujeito 2, e como referido anteriormente,

verifica-se que, no momento da primeira avaliação, existem muitos fones que nunca

são produzidos, como é o caso das oclusivas [k] e [g], das fricativas [f], [v], [s], [z] e

[ʒ], das líquidas [l], [ɫ] e [ʎ] e das vibrante [ɾ] e [ʀ], não fazendo estes sons parte do

seu inventário fonético. Outros fones são observados em produções da criança

como, [p], [b], [t], [d] e [ʃ] e as nasais [m] e [n]. Conforme se pode observar no

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141

quadro 65, neste momento de avaliação, o sujeito 2 realiza produções como [‘deba]

para <zebra> ou [‘dapu] para <garfo>, [tɐ’pɛ] para café, [‘ujɐ] para <unha>, [nɐ’i]

para nariz ou [‘datu] para <rato>.

Na segunda avaliação, observando os exemplos das palavras produzidas

pela criança (quadro 65), verificam-se, por um lado, a capacidade de produção de

novos fones no sistema fonético: [k] e [f] na palavra [kɐ’fɛ] <café>, [g] em produções

como [‘gafu] para <garfo>, [v] em exemplos como [‘ʃavɨ] , [ʒ] em [ʒɐ’nɛlɐ] para

<janela>, [ɲ] em produções como [‘uɲɐ] <unha> e [ʀ] na palavra [‘ʀatu] <rato>. Nas

produções de L.R. observamos ainda a produção de [ɫ] em palavras como [‘sɔɫ]

<sol>. Por outro lado, verifica-se ainda a ausência dos sons [z], [s], [ʎ] e [ɾ]. Desta

forma, observam-se produções como [‘meʒɐ] para <meza>, [pɐ’jaʃu] para <palhaço>

ou [‘poku] para <porco>.

Em produções como [pɐ’ʎaʃu] para <palhaço>, no momento da terceira

avaliação, é possível observar a produção do segmento [ʎ], anteriormente ausente.

Observa-se ainda a ausência das fricativas [z], [s] e da vibrante [ɾ] com produções

como [‘meʒɐ] para <meza> ou [‘peɐ] para <pêra>.

7.2.3.AnáliseFonológica

7.2.3.1. Descrição dos segmentos em função das variáveis

prosódicasconstituintesilábicoeposiçãonapalavra

De acordo com os critérios descritos anteriormente e propostos por Yavas,

Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991), estão registados no quadro 66 os

segmentos não adquiridos (a vermelho), em aquisição (a verde) e adquiridos (a

preto). Os valores surgem em percentagem de ocorrência em ataque simples, coda

e ataque ramificado, em função da posição na palavra (inicial, medial ou final).

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142

7.2.3.1.Ocorrênciadossegmentosemataquesimples

No quadro 66, e de acordo com a escala anteriormente descrita neste

capítulo, encontramos o registo dos valores de ocorrência das consoantes que

podem ocupar o constituinte silábico ataque simples. Os valores surgem nas duas

posições prosódicas em que o mesmo pode surgir, posições inicial e medial de

palavra.

1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação

A I A M Total A I A M Total A I A M Total

/p/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/b/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ t / 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/d/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/k/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/g/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/f / 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/v/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/s/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/z/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ʃ/ 0% 50% 25% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ʒ/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 50% 0% 33%

/m/ 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/n/ 100% 67% 75% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ɲ/ --- 0% 0% --- 100% 100% 100% 100% 100%

/ l / 0% 0% 0% 100% 67% 78% 100% 100% 100%

/ʎ/ --- 0% 0% --- 0% 0% 100% 100% 100%

/ɾ/ --- 0% 0% -- 0% 0% --- 0 % 0%

/ʀ/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Quadro 66 -Segmentos fonológicos em ataque simples e em ataque medial para L.R., nos três momentos de avaliação

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143

Como se pode observar no quadro 66, no primeiro momento de avaliação de

L.R., são vários os segmentos que não são produzidos de acordo com o esperado

na língua alvo, ou cuja produção se encontra abaixo dos 50%, sendo considerados,

por esse motivo, ausentes do sistema fonológico: as oclusivas /k/ e /g/, todas as

fricativas /f/, /v/, /s/, /z/, /ʃ/ e /ʒ/ a nasal /ɲ/, as laterais /l/ e /ʎ/ e as vibrantes /ɾ/ e /ʀ/.

Embora os valores de ocorrência quando um segmento está ausente sejam muito

consistentes no sistema fonológico do sujeito , verifica-se que o segmento /n/ está

em aquisição, como acontece na produção de [dɐ’ɛnɐ] para <janela>, em que o

segmento /n/ não ocorre na posição esperada.

Na segunda avaliação, verifica-se uma grande diferença no sistema

fonológico do sujeito 2, com presença de diversos segmentos anteriormente

ausentes: as oclusivas /k/ e /g/, todas as fricativas /f/, /v/, /ʃ/, /ʒ/, a lateral /l/, a nasal

/ɲ/ e a vibrante /ʀ/. A nasal /n/ surge já estabilizada, não se observando trocas como

as descritas na primeira avaliação. Permanecem ainda ausentes as fricativas /s/ e

/z/, a lateral /ʎ/ e a vibrante /ɾ/ .

No terceiro momento de avaliação, a aquisição do segmento /ʎ/ pode ser

observada. No entanto, verifica-se a ausência de um segmento já presente na

segunda avaliação, a fricativa /ʒ/, embora, como se poderá constatar posteriormente,

na descrição dos padrões de erro, o processo envolvido na produção deste

segmento não seja o mesmo que o verificado na primeira avaliação (a criança faz

produções como [ʃɐ’nɛlɐ] para <janela>). Ausentes do seu sistema fonológico

mantêm-se ainda os segmentos /s/, /z/ e /ɾ/ .

No quadro que se segue, encontramos registados exemplos das produções

do sujeito 2, ao longo dos três momentos de avaliação. A consoante que está a ser

analisada encontra-se registada a negrito. Com a cor preto e cinzento encontram-se

as palavras que contém os segmentos cujas produções correspondem ao esperado

na língua, ou seja, segmentos presentes no sistema fonológico da criança; a verde,

as produções que não correspondem ao esperado para mas cujos segmentos estão

em aquisição no sistema da criança; por fim, a vermelho, encontramos exemplos de

produções que não correspondem ao alvo, encontrando-se esses segmentos

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144

ausentes ou em aquisição no sistema fonológico do sujeito.

Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação

Oclusivas

Orais

<porco> [‘poɾku]

<bola> [‘bɔlɐ]

<café> [kɐ’fɛ]

<garfo> [‘gaɾfu]

<sapato> [sɐ’patu]

<dedo> [‘dedu]

[‘potu]

[‘bɔwɐ]

[tɐ’pɛ]

[‘dapu]

[tɐ’patu]

[‘dedu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[‘gafu]

[ʃɐ’patu]

[‘dedu]

[‘poku]

[‘bɔlɐ]

[kɐ’fɛ]

[‘gafu]

[ʃɐ’patu]

[‘dedu]

Fricativas

<chave> [‘ʃavɨ]

<vidro> [‘vidɾu]

<formiga> [fuɾ’migɐ]

<peixe> [‘pɐjʃɨ]

<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]

<mesa> [‘mezɐ]

<vassoura> [va’soɾɐ]

[‘tap ɨ]

[‘bidu]

[pu’migɐ]

[‘pɐjt ɨ]

[dɐ’ɛnɐ]

[‘medɐ]

[ba’toɐ]

[‘ʃavɨ]

[‘vidu]

[fu’migɐ]

[‘pɐjʃɨ]

[ʒɐ’nɛlɐ]

[‘meʒɐ]

[va’ʃoɐ]

[‘ʃavɨ]

[‘vidu]

[fu’migɐ]

[‘pɐjʃɨ]

[ʃɐ’nɛlɐ]

[‘meʒɐ]

[va’ʃoɐ]

Oclusivas

Nasais

<cama> [‘kɐmɐ]

<unha> [‘uɲɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘kɐmɐ]

[‘ujɐ]

[nɐ’i]

[‘kɐmɐ]

[‘uɲɐ]

[nɐ’iʃ]

[‘kɐmɐ]

[‘uɲɐ]

[nɐ’iʃ]

Laterais <palhaço> [pɐ’ʎasu]

<cabelo> [kɐ’belu]

[pɐ’jatu] [kɐ’beu] [pɐ’jaʃu] [kɐ’belu] [pɐ’ʎaʃu]

[kɐ’belu]

Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]

<rato> [‘ʀatu]

[‘peɐ]

[‘datu]

[‘peɐ]

[‘ʀatu]

[‘peɐ]

[‘ʀatu]

Quadro 67 -Exemplos de palavras para os diferentes segmentos fonológicos em função do momento da avaliação de L.R.

Observando as produções de L.R., e com referido anteriormente, verifica-se

no primeiro momento de avaliação, a ausência das oclusivas /k/ e /g/, das fricativas

/f/, /v/, /s/, /z/, /ʃ/, /ʒ/, da nasal /ɲ/, da lateral /ʎ/ e das vibrante /ʀ/ e /ɾ/, surgindo desta

forma produções como [‘tap ɨ] para <chave>, [‘dapu] para <garfo>, [‘datu] para

<rato>, entre outras.

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7.2.3.1.2.Ocorrênciadossegmentosemcoda

No quadro 68, estão registados os segmentos não adquiridos (a vermelho),

em aquisição (a verde) e adquiridos (a preto), considerando os critérios

mencionados anteriormente, para os segmentos que surgem em coda medial (Cd M)

e em coda final (Cd F).

1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação

Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total Cd M Cd F Total

/s/ 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ɫ/ 0% 0% 0% 0% 100% 29% 100% 100% 100%

/ɾ/ 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Quadro 68 - Segmentos fonológicos em coda medial e em coda final para L.R., nos diferentes momentos de avaliação

Como se pode reparar no quadro 68, no primeiro momento de avaliação,

todos os segmentos que deveriam ocupar a posição de coda medial ou coda final se

encontram ausentes.

Na segunda avaliação, a criança já produz a coda fricativa /s/ (realizada

foneticamente como [ʃ]) bem como a lateral /l/ posição final de sílaba. A produção da

vibrante, neste constituinte silábico contínua ausente.

Na terceira e última avaliação, a lateral /l/ surge já em qualquer posição da

palavra, encontrando-se ainda a vibrante /ɾ/ neste constituinte silábico,

independentemente da posição na palavra.

No quadro 69, encontramos exemplos de palavras que ilustram a capacidade

fonológica do sujeito 2 relativamente aos segmentos que ocupam a posição de coda

final ou de coda medial em função dos momentos da avaliação.

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Alvo 1º avaliação 2º avaliação 3ºavaliação

Fricativas CM

CF <pasta> [‘paʃtɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘patɐ] [n@i] [‘paʃtɐ]

[nɐ’iʃ]

[‘paʃtɐ] [nɐ’ɾiʃ]

Laterais CM

CF <alto> [aɫtu]

<hospital> [ɔʃpi’taɫ]

[‘awtu]

[ɔpi’ka]

[awtu]

[ɔʃpi’taɫ]

[aɫtu] [ɔʃpi’taɫ]

Vibrantes CM

CF <garfo> [‘gaɾfu] [‘dapu] [‘gafu] [‘gafu]

<brincar> [bĩ’kaɾ] [bĩ’ta] [bĩ’tal] [bĩ’tal]

Quadro 69 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de L.R. em coda medial e em coda final

Os exemplos constantes no quadro 69 refletem os resultados descritos

anteriormente, relativos aos segmentos que podem ocupar o constituinte coda, no

primeiro momento de avaliação. Produções como [‘patɐ] <pasta>, [‘awtu] <alto> ou

[‘dapu] <garfo>, mostram inexistência de fricativas, laterias ou vibrantes em coda. É

importante referir que a posição de coda para as laterais está ser preenchido por

uma semivogal, podendo ser esta uma primeira manifestação do desenvolvimento

da estrutura silábica.

No segundo momento de avaliação em produções como [‘paʃtɐ] <pasta>,

verificamos a aquisição do segmento /ʃ/ neste constituinte silábico. Produções como

[ɔʃpi’taɫ] para <hospital> e [‘awtu] <alto> mostram a aquisição do segmento /l/ mas

apenas em coda final, realizado como [ɫ], continuando a não ser produzido no

interior da palavra (em coda medial).

No último momento de avaliação, palavras como [aɫmu’fadɐ] <almofada> são

produzidas de acordo com o esperado para o sistema adulto, verificando-se a

completa aquisição do segmento /l/ em coda medial. É importante referir que a

lateral alveolar já ocorria em ataque inicial, ataque medial e em coda final no

momento da segunda avaliação, mostrando que a emergência dos segmentos se

relaciona com a estrutura silábica. Ausente do sistema fonológico de L.R. mantém-

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se a vibrante /ɾ/, tanto em coda medial como em coda final, ocorrendo ainda

produções como [‘poku] para <porco>.

7.2.3.1.3.Ocorrênciadossegmentosemataqueramificado

No quadro 71, são consideradas as produções no constituinte silábico ataque

ramificado. Os valores de ocorrência obedecem aos mesmos critérios descritos em

(1) neste capítulo e considerados para os restantes constituintes, sendo registados

como não adquiridos (a vermelho), em aquisição (a verde) e adquiridos (a preto). Os

resultados são apresentados em função dos três momentos de avaliação bem como

da posição na palavra em que o constituinte pode surgir: ataque ramificado inicial e

ataque ramificado medial.

Quadro 70 -Ocorrência dos ataques ramificados nos diferentes momentos de avaliação, para L.R.

Observa-se a ausência completa deste constituinte silábico nos dois

primeiros momentos de avaliação, verificando-se produções do mesmo no terceiro

1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação

Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total Ar I Ar M Total

/bɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/pɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 0% 0%

/fɾ / 0% - 0% 0% - 0% 0% - 0%

/gɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/dɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ tɾ / 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/vɾ / - 0% 0% - 0% 0% - 0% 0%

/cɾ / 0% - 0% 0% - 0% 0% - 0%

/pl/ 0% - 0% 0% - 0% 0% - 0%

/f l / 0% - 0% 0% - 0% 100% - 100%

/kl/ - 0% 0% - 0% 0% - 100% 100%

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momento de avaliação quando o constituinte é preenchido pela líquida lateral.

No quadro 71, estão registadas produções de palavras que ilustram a

capacidade fonológica de L.R. relativamente aos segmentos que ocupam a posição

de ataque ramificado.

Quadro 71 - Exemplos de produções que demonstram a capacidade fonológica de L.R. em ataque ramificado nos três momentos de avaliação

Tal como se pode verificar em exemplos como [te] <três> ou [pu’o] <flor>,

tanto no momento da primeira avaliação, como depois na segunda avaliação, o

sujeito 2 não faz qualquer produção de ataques ramificados. Este constituinte surge

com produções de acordo com esperado, apenas no terceiro momento de avaliação

mas apenas para os ataques ramificados preenchidos por segmentos laterais. É

importante referir que em ataque simples, no terceiro momento de avaliação, a

vibrante alveolar ainda se encontra ausente, o que poderá explicar a razão pela qual

este constituinte silábico tenha surgido preenchido por laterais mas não por

vibrantes.

Alvo 1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação

/bɾ/ <brincar> [bɾĩ’kaɾ] [bĩ’ta] [bĩ’kal] [bĩ’kal]

/tɾ/ <três> [‘tɾeʃ] [te] [‘teʃ] [‘teʃ]

/pɾ/ <soprar> [su’pɾaɾ] [tu’pa] [ʃu’pal] [ʃu’pal]

/fɾ/ <frango> [‘fɾãgu] [‘pãdu] [‘fãgu] [‘fãgu]

/gɾ/ <gravata> [gɾɐ’vatɐ] [gɐ’batɐ] [gɐ’vatɐ] [gɐ’vatɐ]

/dɾ/ <dragão> [dɾɐ’gɐw] [dɐ’dɐw] [dɐ’gɐw] [dɐ’gɐw]

/vɾ/ <livro> [‘livɾu] [‘libu] [‘livu] [‘livu]

/kɾ/ <creme> [‘krɛmɨ] [‘tɛmɨ] [‘kɛmɨ] [‘kɛmɨ]

/kl/ <bicicleta> [bisi’kɫɛtɐ] [biti’ɛtɐ] [biʃikɨ’ɫɛtɐ] [biSkɫɛtɐ]

/fl/ <flor> [‘fɫoɾ] [pu’o] [fɨ’ɫoɾ] [‘fɫo]

/pl/ - - [pɨ’lãtɐ]

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149

7.2.3.2.Descriçãodospadrõesdeerro

No quadro 72, 74 e 76, podemos observar os padrões de erro encontrados

nas produções de L.R. nos três momentos de avaliação. Os dados estão registados

em percentagem e correspondem aos valores de ocorrência do erro no que respeita

às consoantes que surgem nas diferentes posições silábicas e na palavra.

7.2.3.2.1.Descriçãodospadrõesdeerroemataquesimples

No quadro 73 estão registadas as estratégias (padrões de erro) a que o

sujeito 2 recorre, nos diferentes momentos de avaliação.

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1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação

Alvo Erro AI AM Total AI A M total AI A M total

/k/ [t] 92% 100% 94% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[p] 8% 0% 6% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/g/ [d] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/v/ [b] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/f / [p] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/s/ [t] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[ʃ] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/z/

[d] 100% 33% 50% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[ʃ] 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 33% 25%

[Ø] 0% 67% 50% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[ʒ] 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 67% 75%

/ʃ / [t] 100% 50% 75% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ʒ / [d] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[ʃ] 0% 0% 0% 0% 0% 0% 50% 100% 67%

/n/ [Ø] 0% 33% 25% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ɲ / [ɲ] - 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%

/ l /

[Ø] 67% 67% 67% 0% 33% 22% 0% 0% 0%

[w] 33% 17% 22% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

[ɫ] 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 14% 10%

[n] 0% 17% 11% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ʎ / [j] - 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0%

/ɾ / [Ø] - 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/ʀ/ [d] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Quadro 72 - Ocorrência dos diferentes padrões de erro de L.R. em ataque inicial e em ataque medial, em função do momento de avaliação

O quadro 72 permite verificar que, nas produções de L.R., no momento da

primeira avaliação, relativamente aos segmentos não adquiridos /k/, /g/, /s/, /z/, /ʃ/, /ʒ/

e /ʀ/, a criança recorre, preferencialmente, aos mesmos sons, as oclusivas [t] e [d],

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151

mantendo as propriedades de vozeamento. Apesar do vozeamento não ser alterado

observa-se que o segmento utilizado nas produções difere dos restantes quanto ao

ponto e no caso da vibrante, difere também quando ao modo. Mantendo

propriedades de vozeamento e de ponto, a criança recorre aos segmentos [p] e [b]

para substituir os segmentos ausentes, [f] e [v], respetivamente. O segmento /ɲ/ e

/ʎ/ são produzidos como semivogais [j]. A lateral /l/ e a vibrante /ɾ/ são

preferencialmente omitidas. Tal como registado no quadro 68, observa-se a omissão

da nasal /n/, no entanto, esta é produzida na sílaba seguinte, no lugar da consoante

/l/.

No segundo momento de avaliação, os padrões de erro diminuem, sendo

possível observar ainda que as fricativas /z/ e /s/ são produzidas como [ʒ] e [ʃ],

respetivamente. Verifica-se ainda a produção da semivogal [j] no lugar da palatal /ʎ/.

De acordo com o registado para o terceiro momento de avaliação, verifica-se

que L.R. mantém algumas das estratégias de erro, nomeadamente a produção de [ʃ]

para a fricativa /s/ e a omissão da vibrante /ɾ/. Observa-se uma mudança na

estratégia utilizada para a produção de /z/, sendo a mesma produzida como [ʒ] ou

[ʃ]. Verifica-se que este último processo, em que ocorre alteração do vozeamento, se

verifica também para a consoante /ʒ/, encontrando-se o segmento novamente

ausente do sistema fonológico.

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152

No quadro que se segue, constam exemplos de palavras em que não existe a

correspondência entre produção da criança e os alvos na língua.

Alvo 1ª Avaliação 2º Avaliação 3ª Avaliação

Oclusivas

Orais

<café> [kɐ’fɛ]

<comer> [kumeɾ]

<garfo> [‘gaɾfu]

[tɐ’pɛ]

[pu’me]

[‘dapu]

Fricativas

<vidro> [‘vidɾu]

<formiga> [fuɾ’migɐ]

<jipe> [‘ʒipɨ]

<peixe> [‘pɐjʃɨ]

<mesa> [‘mezɐ]

<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]

<vassoura> [va’soɾɐ]

[‘bidu]

[pu’midɐ]

[‘dipɨ]

[‘pɐjt ɨ]

[‘medɐ]

[dɐ’ɛnɐ]

[ba’toɐ]

[‘meʒɐ]

[va’ʃoɐ]

[‘meʒɐ]

[ʃɐ’nɛlɐ]

[va’ʃoɐ]

Oclusivas

Nasais

<unha> [‘uɲɐ]

<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]

[uja]

[daEna]

Laterais

<palhaço> [pɐ’ʎasu]

<cabelo> [kɐ’belu]

<lua> [‘luɐ]

<janela> [ʒɐ’nɛlɐ]

[pɐ’jatu]

[kɐ’bew]

[‘ua]

[dɐ’ɛnɐ]

[pɐ’jaʃu]

Vibrantes <pera> [‘peɾɐ]

<rato> [‘ʀatu]

[‘peɐ]

[gaku]

[‘peɐ]

[‘peɐ]

Quadro 73- Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferenciais de L.R. para os erros em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado medial, em função dos momentos de avaliação

Os padrões de erro, relativos ao primeiro momento de avaliação e descritos

anteriormente, poderão ser observados em exemplos de produções de palavras (ver

quadro 69) como [‘pɐjt ɨ] para <peixe>, [ba’toɐ] para <vassoura>, em que a oclusiva

[t] é utilizada para produções de /ʃ/ e /s/, sendo alteradas propriedades de modo e

ponto (no último caso). Em palavras como [‘dipɨ] para <jipe> e [‘gatu] para <Rato>,

verifica-se o recurso à oclusiva [d] para /ʒ/ ou /ʀ/, mantendo propriedades de

vozeamento, mas alterando propriedades relacionadas com ponto e modo. Nos

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153

segmentos ausentes /v/, /f/, mantendo propriedades de ponto e vozeamento, a

criança recorre a produções de [p] e [b], respetivamente. Exemplo disto é a

produção de [tɐ’pɛ] para <café> ou [‘bidu] para <vidro>, em que L.R. produz sons

labiais [p], para /f/, ambos não vozeados, e [b], para /v/, ambos vozeados. Neste

momento de avaliação observam-se ainda produções como [uja] <unha>, [pɐ’jatu]

<palhaço> e [kɐ’bew] <cabelo>, observando-se o recurso a semivogais para a

substituição da consoante nasal palatal e das laterais . A produção [‘peɐ] é um

exemplo da estratégia à qual o sujeito 2 recorre para palavras que contém o

segmento /ɾ/.

No segundo momento de avaliação é possível observar uma redução muito

significativa de erros, já que se observaram aquisições de vários segmentos. No

entanto produções como [‘meʒɐ] <mesa>, [pɐ’jaʃu] <palhaço> e [‘peɐ] <pera> ainda

se observam. Nesta altura é importante referir que, embora as fricativas alveolares

ainda não sejam produzidas de acordo com esperado, a estratégia à qual o sujeito 2

recorre é diferente da utilizada no primeiro momento de avaliação. O recurso a um

segmento da mesma classe que difere quanto ao ponto, revela aquisição de

propriedades importantes para o sistema fonológica, embora ainda não se traduza

num sistema completo e adequado.

No último momento de avaliação, produções como [pɐ’jaʃu] <palhaço> deixam

de acontecer passando a ser produzidas de forma adequada.

7.2.3.2.2.DescriçãodospadrõesdeerroemCoda

No quadro 74, encontram-se registados os padrões de erro encontrados nas

produções de L.R. relativamente às consoantes em coda medial e em coda final, nos

diferentes momentos de avaliação. Os dados estão registados em percentagem e

correspondem aos valores de ocorrência do erro.

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154

1º avaliação 2º avaliação 3º avaliação

Alvo Erro Cd M Cd F Total Cd M Cd F total Cd M Cd F total

/s/ [Ø] 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

/ l / [Ø] 20% 100% 43% 40% 0% 29% 0% 0% 0%

w 80% 0% 57% 60% 0% 43% 0% 0% 0%

/ɾ /

[Ø] 100% 100% 100% 100% 60% 82% 100% 25% 70%

[ɫ] 0% 0% 0% 0% 20% 10% 0% 25% 10%

[ɨ] 0% 0% 0% 0% 20% 10% 0% 25% 10%

Quadro 74 - Ocorrência dos diferentes padrões de erro de L.R. em coda medial e em coda final, nos três momentos de avaliação

No primeiro momento de avaliação, tal como se pode verificar no quadro 74,

a omissão é a estratégia preferencial da criança para os segmentos que ocupam as

codas final e medial, sendo a produção [w] utilizada para a produção de /l/ em coda

medial. No mesmo quadro, verifica-se que a fricativa /s/ deixa de sofrer alterações no

segundo momento da avaliação, persistindo erros de omissão para a vibrante /ɾ/. A

produção de [w] passa a ser sempre utilizada para /l/ e mais frequente em coda

final. No último momento de avaliação, os erros para a lateral /l/ já não são

observados continuando a verificar-se, preferencialmente, omissões para a vibrante

/ɾ/. No entanto, nesta altura, observam-se, para além da omissão, estratégias

diferentes em codas finais, como produções de [ɫ] (25%) e de [ɨ] (33%), que pode

indicar o processamento das consoantes.

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155

No quadro que se segue, encontram-se registadas produções que não

correspondem ao esperado para a língua em coda medial e coda final.

Alvo 1ªavaliação 2ªavaliação 3ªavaliação

Fricativas Cd M

Cd F

<pasta> [‘paʃtɐ]

<nariz> [nɐ’ɾiʃ]

[‘patɐ]

[n@i]

Laterais Cd M

Cd F

<alto> [aɫtu]

<calças> [‘kaɫʃɐʃ]

<hospital> [ɔʃpi’taɫ]

[‘awtu]

[‘kawʃɐʃ]

[ɔpi’ka]

[awtu]

[‘kaʃɐʃ]

Vibrantes Cd M

Cd F

<garfo> [‘gaɾfu] [‘dapu] [‘gafu] [‘gafu]

<brincar> [bĩ’kaɾ] [bĩ’ta] [bĩ’tal] [bĩ’tal]

<suprar> [tu’pa] [ʃu’paɨ] [ʃu’paɨ]

Quadro 75 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferenciais do sujeito 2, para os erros em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado medial, em função dos momentos de avaliação

Em coda observa-se, no primeiro momento de avaliação, que para a fricativa

/s/, para a vibrante /ɾ/ e para a lateral /l/ em coda final, o sujeito 2 prefere recorrer a

uma não produção enquanto que, para a lateral, em coda medial, L.R. produz a

semivogal [w]. Assim observam-se produções como [‘patɐ] para <pasta>, [‘dapu]

para garfo, [ɔpi’ka] <hospital> e [‘awtu] para <alto>.

Nos segundo e terceiro momentos de avaliação, observa-se a produção de

um maior número de segmentos em coda, observando-se ainda dificuldades com a

vibrante, que preferencialmente é suprimida como ilustrado em [‘gafu] <garfo>. No

entanto, em posição final de palavra surge, pontualmente, o preenchimento deste

constituinte silábico com a lateral [l] ou a semivogal [ɨ]. No segundo momento de

avaliação, surgem supressões da lateral quando em posição medial de palavra,

como se pode observar em produções como [‘kaʃɐʃ] <calças>.

7.2.3.2.3.DescriçãodospadrõesdeerroemAtaqueramificado

No quadro 76 podemos observar os padrões de erro encontrados nas

produções de L.R. relativamente às consoantes em ataque ramificado inicial e

ataque ramificado medial, nos diferentes momentos de avaliação. Os dados estão

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156

registados em percentagem e correspondem aos valores de ocorrência de erro.

Quadro 76- Ocorrência dos diferentes padrões de erro de L.R. em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação

A análise do quadro 76 permite verificar que a omissão é a estratégia

preferencial, em todos os momentos de avaliação, para os segmentos pertencentes

à classe das vibrantes em ataque ramificado, tanto inicial com o medial. Quando a

consoante que ocupa o constituinte silábico é a lateral observa-se a mesma

estratégia no primeiro momento de avaliação. Para esta consoante verifica-se a

inserção da vogal entre o segmento que ocupa a primeira posição do ataque

ramificado (C1) e o que ocupa a segunda posição do ataque ramificado (C2) no

segundo momento de avaliação. Esta estratégias vai deixando se ser utilizando,

1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação

erro ARI ARM Total ARI ARM Total ARI ARM Total

/bɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/tɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/pɾ/ Ø - 100% 100% - 100% 100% - 100% 100%

/fɾ/ Ø 100% - 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/gɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/dɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/tɾ/ Ø 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

/vɾ/ Ø - 100% 100% - 100% 100% - 100% 100%

/cɾ/ Ø 100% - 100% 100% - 100% 100% - 100%

/pl/ Ø - - 100% 0% - 0% 0% - 0%

Inserção de [ɨ] - - 0% 100% - 100% 100% - 100%

/fl/ Ø 100% - 100% 0% - 0% 0% - 0%

Inserção de [ɨ] 0% - 0% 100% - 100% 0% - 0%

/kl/ Ø - 100% 100% - 0% 0% - 0% 0%

Inserção de [ɨ] - 0% 0% - 100% 100% - 0% 0%

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

157

sendo menos frequente na terceira avaliação.

No quadro que se segue podemos observar exemplos de palavras em que

não existe a correspondência entre a produção da criança e os alvos que surgem

em ataque ramificado.

Alvo 1º avaliação 2º avaliação 3ºavaliação

Líquidas

<três> [‘tɾeʃ]

<planta> [‘pɫɐt̃ɐ]

<flor> [fɫoɾ]

[‘keʃ]

-

[puo]

[‘teʃ]

[pɨ’lɐ̃tɐ]

[fɨ’lo]

[‘teʃ]

[‘pɨɫɐt̃ɐ]

[‘flo]

Quadro 77 - Exemplos de produções que demonstram as estratégias de produção preferencial de L.R. para os erros em ataque ramificado, nos três momentos de avaliação

No quadro 77, observa-se que, tal como referido anteriormente, na produção

de ataques ramificados, o sujeito recorre preferencialmente à omissão das líquidas,

no primeiro momento de avaliação, como ilustrado em produções de [‘pɐk̃ɐ] para

<planta>.

Nos segundo e terceiro momentos de avaliação, a omissão continua a ser a

estratégia utilizada por L.R. para a vibrante. No entanto, para a lateral, no segundo

momento de avaliação, L.R. recorre à produção deste constituinte silábico como

ataque simples, adicionando a vogal [ɨ] depois da primeira consoante. No terceiro

momento de avaliação, observa-se adequação, quase completa, no que respeita à

produção de ataques ramificados com segmentos laterais. Verifica-se ainda

ausência deste constituinte silábico para a vibrante.

7.2.3.3.SíntesedecaracterizaçãodosistemafonológicodeL.R

Nesta secção, encontra-se informação relativa ao sistema fonológico de L.R.,

construído com base nos dados anteriormente descritos: a percentagem de acerto

das consoantes e a percentagem dos padrões de erro descritos, de acordo com o

proposto por Yavas, Matzenauer-Hernandorena & Lamprecht (1991). A vermelho

estão representados os segmentos ausentes, sendo colocado por baixo do

segmento alvo a estratégia que representa o padrão de erro ao qual a criança

recorre. A cor verde regista os segmentos em aquisição, sendo também colocada

por baixo a ou as estratégias de erro da criança. O sistema fonológico está

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158

representado por esquemas organizados de acordo a posição do segmento na

sílaba: ataque simples inicial, ataque simples medial, coda medial, coda final, ataque

ramificado inicial e ataque ramificado medial, para os três momentos de avaliação.

7.2.3.3.1Inventáriofonológicodosujeito2–Primeiraavaliação

Nas figuras 27, 28, 28 e 30, estão representados os resultados relativos ao

sistema fonológico de L.R., no momento da primeira avaliação. Como referido

anteriormente, os dados são apresentados em função do constituinte silábico e da

posição na palavra.

A figura 27, representa o inventário fonológico do sujeito relativamente aos

segmentos que ocorrem em ataque inicial, no primeiro momento de avaliação.

Ataque simples inicial

/P/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[t] [p]

/g/

[d]

/f/

[p]

/v/

[b]

/s/

[t]

/z/

[d]

/ʃ/

[t]

/ʒ/

[d]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ l /

[Ø]

/ʀ/

[d]

Figura 27 - Inventário fonológico em ataque inicial de L.R. no momento da primeira avaliação

No esquema da figura 27, observa-se que apenas a classe das nasais se

encontra completa. A classe das fricativas, a das laterais e a das vibrantes

encontram-se completamente ausentes, enquanto, na classe das oclusivas, estão

ausentes dois segmentos (/k/ e /g/). As dificuldades descritas parecem estar

relacionadas com o modo, uma vez que, por um lado, as fricativas e vibrante são

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159

produzidas como oclusivas, mantendo o mesmo ponto, com excepção das fricativas

palatais que são produzidas com segmentos alveolares. Por outro lado, a lateral é

omitida, existindo capacidade para a produção de segmentos com o mesmo ponto

articulatório.

Observa-se ainda que não existe dificuldade na definição das classes de

vozeadas e não vozeadas, bem como na das classes das consoantes orais e das

consoantes nasais.

O inventário fonológico relativo aos segmentos que ocorrem em ataque

medial encontram-se esquematizados na figura 28.

Ataque simples medial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[t]

/g/

[d]

/f/

[p]

/v/

[b]

/s/

[t]

/z/

[d] [Ø]

/ʃ/

[t]

/ʒ/

[d]

/m/

[m]

/n/

[n] [Ø]

/ɲ/

[j]

/ l /

[Ø] [w] [n]

/ʎ/

[ j]

/ɾ/

[Ø]

/ʀ/

[d]

Figura 28 - Inventário fonológico em ataque medial do sujeito 2 no momento da primeira avaliação

Relativamente à posição de ataque medial, pode-se constatar também um

inventário fonológico muito restrito. Na figura 28 observa-se que, nesta posição da

palavra, a classe das nasais não se encontra completa, ocorrendo a omissão da

consoante alveolar.

A classe das fricativas, a das laterais e a das vibrantes encontram-se

completamente ausentes, enquanto, na classe das oclusivas, estão ausentes dois

segmentos (/k/ e /g/). As dificuldades parecem estar relacionadas com o modo, uma

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

160

vez que, por um lado as fricativas e a vibrante velar são produzidas como oclusivas,

mantendo o mesmo ponto (mesmo as fricativas palatais que partilham o ponto

coronal com os segmentos que as estão a substituir). Por outro lado, as laterais e

vibrantes são omitidas ou é produzida uma semivogal no seu lugar. Como verificado

em posição inicial, observam-se dificuldades com todas as palatais.

Da mesma forma que em posição de ataque inicial, não existe dificuldade na

definição das classes de vozeadas e não vozeadas, bem como não se verificam

dificuldades na definição das classes das consoantes orais e das consoantes

nasais.

A figura 29, representa o inventário fonológico do sujeito 2 no que respeita

aos segmentos que ocupam o constituinte coda, em posição medial ou final de

palavra.

Coda medial Coda Final

/s/

/s/

[Ø]

[Ø]

/ɾ/ / l /

/ɾ/ / l /

[Ø] [Ø] [w]

[Ø] [Ø]

Figura 29 - Inventário fonológico em coda medial e em coda final de L.R., no momento da primeira avaliação

Na figura 29, é possível verificar a ausência total das classes que deveriam

surgir em coda medial e em coda final, sendo as consoantes omitidas. A lateral em

coda medial é, com frequência, produzida como [w].

Relativamente aos segmentos que podem ocupar o ataque ramificado, quer

em posição inicial como em posição medial de palavra, podemos observar na figura

30, uma representação do inventário fonológico do sujeito 2.

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161

Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial

/cɾv/

/cɾv/

[Ø]

[Ø]

/clv/

/clv/

[Ø]

[Ø] Figura 30 - Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado medial de L.R.,

no momento da primeira avaliação

Na figura 30 é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante em

ataque ramificado, em qualquer posição da palavra.

7.2.3.3.2.Inventáriofonológico-Segundaavaliação

O inventário fonológico relativo à segunda avaliação encontra-se registado

nas figuras 31, 32 e 33, de acordo com os critérios anteriormente descritos na

apresentação do inventário fonológico da primeira avaliação. As figuras encontram-

se organizadas em função do constituinte silábico e da sua posição na palavra:

ataque inicial, ataque medial, coda medial e coda final.

Na figura 31, encontra-se representado o inventário fonológico do sujeito 2 no

que respeita aos segmentos que podem surgir em ataque simples inicial.

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162

Ataque simples inicial

/P/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v]

/s/

[ʃ]

/z/

[ʒ]

/ʃ/

[ʃ]

/ʒ/

[ʒ]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ l /

[l]

/ʀ /

[ʀ]

Figura 31 - Inventário fonológico em ataque inicial de L.R., no momento da primeira avaliação

Relativamente ao ataque inicial, no segundo momento de avaliação, observa-

se a aquisição de segmentos que permitiram completar as classes das oclusivas e

das vibrantes. Relativamente ao ponto articulatório, persiste alguma dificuldade com

o ponto dento-alveolar nas fricativas, que pode ser observado em palavras como

[vɐ’ʃorɐ] para <vassora> ou [‘zipɨ] para <jipe>.

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163

A figura 32 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 2 relativamente ao

ataque simples em posição medial de palavra.

Ataque simples medial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v]

/s/

[ʃ]

/z/

[ʒ]

/ʃ/

[ʃ]

/ʒ/

[ʒ]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ɲ/

[ɲ]

/ l /

[l]

/ʎ/

[ j]

/ɾ/

[Ø]

/ʀ /

[ʀ]

Figura 32 - Inventário fonológico em ataque medial, de L.R., no momento da segunda avaliação

Observando o esquema representado na figura 32, verificamos que, no

momento da 2º avaliação, em ataque medial, a aquisição de segmentos permitiu

completar as classes das oclusivas e das nasais. Encontram-se ainda em falta

segmentos da classe das fricativas, /s/ e /z/, embora, nesta altura, as consoantes

utilizadas para a produção sejam /ʃ/ e / ʒ/, respetivamente. Estas, fazem parte da

mesma classe, contrariamente ao que acontecia na primeira avaliação, em que eram

produzidas oclusivas no lugar de fricativas. Apesar disto, a produção revela uma

dificuldade com o ponto articulatório (dento-alveolar vs palatal). Observam-se ainda

segmentos ausentes na classe das líquidas, a lateral /ʎ/ e a vibrante /ɾ/.

Relativamente ao ponto de articulação, deixam de se verificar dificuldades

relacionadas com os pontos labial, velar e uvular, persistindo alguma dificuldade

tanto com sons dento-alveolares como com sons palatais (embora estes último

sejam ambos coronais).

O inventário relativo aos segmentos em coda estão esquematizados na

figura 33, tendo em conta a posição na palavra.

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164

Coda medial Coda Final

/s/

/s/

[ʃ] [ʃ]

/ɾ/ /l/ /ɾ/ /l/

[Ø] [w] [Ø] [ɫ] [ɫ]

Figura 33 - Inventário fonológico de L.R., em coda medial e em coda final, no momento da segunda avaliação

No que respeita aos constituintes silábicos coda medial e coda final, é

possível constatar a aquisição da fricativa nas duas posições. A lateral passa a ser

produzida de acordo com o esperado para a língua em coda final, sendo ainda

produzida como [w] em coda medial. A vibrante ainda se encontra ausente neste

constituinte silábico, parecendo haver alguma tentativa de produção com a lateral [l].

A figura 34 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 2 para os ataques

ramificados em função da posição da palavra.

Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial

/cɾv/

/cɾv/

[Ø]

[Ø]

/clv/

/clv/

[Ø]

[Ø] Figura 34 -Inventário fonológico em ataque ramificado inicial e ataque ramificado medial de L.R. no

momento da segunda avaliação

Na Figura 34, é possível verificar a ausência da lateral e da vibrante em

ataque ramificado em qualquer posição da palavra.

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165

7.2.3.3.3.Inventáriofonológico-Terceiraavaliação

Nos esquemas que se seguem 35, 36 e 37, está representado o inventário

fonológico em função do constituinte silábico e da posição na palavra: ataque

simples inicial, ataque simples medial, coda medial, coda final, ataque ramificado

inicial, ataque ramificado medial. Os esquemas correspondem ao inventário de L.R.,

sujeito 2, no momento da terceira avaliação.

A representação do inventário fonológico do sujeito 2, relativa ao ataque

simples inicial pode ser observado da figura 36.

Ataque simples inicial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v]

/ʃ/

[ʃ]

/z/

[ʒ]

/ʃ/

[ʃ]

/ʒ/

[ʒ] [ʃ]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ l /

[l]

/R/

[R]

Figura 35 - Inventário fonológico do sujeito 2 em ataque inicial, no momento da terceira avaliação

Observando a figura 35, verificamos que, no momento da terceira avaliação,

em ataque medial, não foram feitas mais aquisições no sistema fonológico da

criança, mantendo-se ainda dificuldades com o ponto articulatório dento-alveolar

para as fricativas. Nesta avaliação, observa-se dificuldade na definição da classe de

vozeadas e não vozeadas, sendo produzida a fricativa palatal não vozeada [ʃ] para a

fricativa palatal vozeada /ʒ/.

A figura 36 esquematiza o inventário fonológico do sujeito 2 para as

consoantes que podem ocorrer em ataque simples em posição medial de palavra.

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166

Ataque simples medial

/p/

[p]

/b/

[b]

/ t /

[t]

/d/

[d]

/k/

[k]

/g/

[g]

/f/

[f]

/v/

[v]

/s/

[ʃ]

/z/

[ʒ] [ʃ]

/ʃ/

[ʃ]

/ʒ/

[ʒ]

/m/

[m]

/n/

[n]

/ɲ/

[ɲ]

/ l /

[l]

/ʎ/

[ j]

/ɾ/

[Ø]

/R/

[R]

Figura 36 - Inventário fonológico do sujeito 2 em ataque medial, no momento da terceira avaliação

Em ataque medial, no último momento de avaliação, observa-se a presença

da lateral /ʎ/, que se encontrava ausente. Neste momento de avaliação, para além

da dificuldade com o ponto articulatório das fricativas, observa-se uma alteração no

que respeita à propriedade de vozeamento nesta classe, ocorrendo dificuldades no

estabelecimento do vozeamento tanto para /z/ como para /ʒ/. Produções como

[‘meʃɐ] para <mesa> ilustram as dificuldades referidas. Mantêm-se dificuldades

relativas ao ponto articulatório alveolar nas vibrantes.

Na figura 37, encontra-se representado o inventário fonológico do sujeito 2 no

que respeita aos segmentos que podem surgir em coda, em função da posição na

palavra.

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167

Coda medial Coda Final

/s/

/s/

[ʃ]

[ʃ]

/ɾ/ / l /

/ɾ/ / l /

[Ø] [ɫ]

[Ø] [ɨ] [ɫ] [ɫ]

Figura 37 - Inventário fonológico do sujeito 2, em coda medial e em coda final, no momento da terceira avaliação

Relativamente ao constituinte silábico coda, tanto em posição medial como

final, deixaram de se observar dificuldades relativas à lateral. No entanto, mantém-

se alterações com a vibrante alveolar. Apesar disto, observando o padrão de erro de

L.R., verificam-se tentativas de produção deste segmento em coda final, embora

realizado por segmentos que não correspondem ao esperado para a língua: [bĩ’kaɫ]

para <brincar>, ou [ʃu’paɨ] para <soprar>.

O inventário fonológico do sujeito 2, no que respeita aos segmentos que

podem surgir em ataque ramificado, estão ilustrados na figura 38, em função da

posição na palavra.

Ataque ramificado Inicial Ataque ramificado Medial

/cɾv/

/cɾv/

[Ø]

[Ø]

/clv/

/clv/

[clv]

[clv] Figura 38 - Inventário fonológico do sujeito 2, em ataque ramificado inicial e em ataque ramificado

medial de L.R. no momento da terceira avaliação

Da mesma forma que o verificado nos momentos de avaliação anterior, a

Figura 38 representa a ausência da vibrante neste constituinte silábico em qualquer

posição da palavra e a aquisição da lateral, que surge em ataque ramificado.

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168

7.2.3.4.Descriçãodosistemafonológicoatravésdeprocessosfonológicos

Nesta secção, os resultados relativos ao sistema fonológico serão descritos

recorrendo à terminologia de processos fonológicos e procedimentos de registo

descritos por Mendes et al. (2013) que contemplam os processos:

• Relativos à estrutura silábica: Omissão da consoante final (OCF); Reduçao

de sílaba átona pré-tónica (RSA); Redução de grupo consoâtico (RGC).

• Relativamente à estrutura segmental, as autoras consideral os seguintes

processos: Semivocalização de líquida (SL); Oclusão (OCL); Anterirorização

(ANT); Despalatalização (DES); Posteriorização (POS); Palatalização (PAL);

Desvozeamento (DESV) e Processos adicionais (PA).

Regista-se com 0 o processo não ocorre e com 1 quando o processo ocorre. Os

resultados serão apresentados para os três momentos de avaliação.

No quadro 78 encontram-se os resultados referentes aos processos fonológicos

do sujeito 2, no primeiro momento de avaliação.

Av. Estrutura silábica Estrutura Segmental / Substituição

PA* OCF RSA RGC SL OCL ANT DES POS PAL DESV

1ª 83% 0% 94% 40% 100% 82% 0% 0% 0% 0% 23%

2ª 42% 0% 100% 5% 0% 0% 0% 0% 100% 20% 20%

3ª 35% 0% 89% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 20% 20%

Quadro 78 - Processos fonológicos presentes nas produções do sujeito 2, em função do momento de avaliação

*O valor de processos fonológicos adicionais foi determinado dentro do total de processos, ou

seja, no total de processos encontrados um valor corresponderá a processos adicionais.

No quadro 78, podemos verifica-se a presença de diferentes processos tais

como a omissão da consoante final (83% de ocorrência), a redução do grupo

consonântico (94%), a semivocalização das laterais (40%), a oclusivização (100%) e

a anteriorização (82%). Os restantes processos identificados são considerados

adicionais (23%), por não corresponderem a nenhum dos processos identificados

anteriormente, na presente secção.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

169

Os resultados da segunda avaliação são caracterizados por uma redução

importante dos processos fonológicos, mantendo-se presentes a omissão da

consoante final (embora agora com 42% de ocorrência em vez de 83%), a redução do

grupo consonântico (mantém-se com um valor elevado, correspondente a 100%), a

semivocalização das laterais (nesta altura com uma redução para 5% de ocorrência).

Os processos de olcusivização e anteriorização desaparecem, no entanto surge

sistematicamente o processo de palatalização (100%) e surge também o processo de

desvozeamento com uma representação de 20% de ocorrência. Mantém-se presentes

outros processo (20%).

No último momento de avaliação, mantém-se o processo de desvozeamento

(20%), o processo palatalização (100%). Desaparece o processo de semivocalização

das laterais e os valores relativos à omissão da consoante final e redução do grupo

consonântico, reduzem para 35% e 89%, respetivamente.

No quadro 79 encontram-se exemplos de produções do sujeito 1, organizados

em função da presença do processo e dos três momentos de avaliação.

Alvo 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação

OCF <porco> [‘poɾku] [‘potu]

RSA

RGC <tigre> [ti’gɾɨ] [ti’dɨ] [ti’gɨ] [ti’gɨ]

SL <palhaço> [pɐ’ʎasu] [pɐ’jaku] [pɐ’jaʃu]

OCL <mesa> [‘mezɐ] [‘medɐ]

ANT <café> [kɐ’fɛ] [tɐ’pɛ]

DES

POST

DESV <chave> [‘ʃav ɨ] [‘ʃaf] [‘ʃaf]

PAL <vassoura> [va’soɾɐ] [vɐ’ʃoɐ]

PA

<rato> [‘ʀatu]

<cabelo> [kɐ’belu]

<unha> [‘uɲɐ]

[‘datu] [kɐ’beu]

[‘ujɐ]

Quadro 79 - Produções do sujeito 2, organizados em processos fonológico, em função do momento de avaliação

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170

Os exemplos constantes no quadro 79 ilustram a presença dos processos

fonológicos anteriormente descritos nesta secção.

Produções como [‘potu] <porco>, [ti’dɨ] <tigre>, [pɐ’jatu] <palhaço>, [‘medɐ]

<mesa>, [tɐ’pɛ] <café>, ilustram os processos anteriormente idenficados nas

produções do sujeito 2: omissão da consoante final, a redução do grupo consonântico,

a semivocalização das laterais, a oclusivização, e a anteriorização Os restantes

processos identificados são considerados adicionais, por não corresponderem a

nenhuma das definições dos processos identificados anteriormente, na presente

secção. Estes foram considerados adicionais, mesmo quando aconteciam para o

mesmo segmento, como é o caso de [‘gatu] <rato>, em que para além do processo

semelhante ao de oclusivização (embora este processo não esteja definido para estes

segmentos) ocorre uma alteração de ponto não contemplada nos processo aqui

utilizados. Assim encontramos adicionalmente, produções como [kɐ’beu] <cabelo> e

[‘ujnɐ] <unha>, entre outros.

7.2.3.5AnáliseatravésdomodeloPAC-PE

De acordo com descrito no capítulo 1, o Modelo Padrão de Aquisição de

Contrastes (PAC), proposto por Lazzarotto-Volcão (2009) com base na Escala de

Robustez para Traços de Consoantes, proposta por Clements (2009), pretende

descrever e classificar as perturbações fonológicas através da identificação de

etapas de aquisição fonológica com base na aquisição de contrastes e no ideia de

que a existência de classes naturais e de contrastes depende da aquisição e

coocorrência de traços e não da aquisição destes isoladamente. De acordo com a

ideia de construção gradual de um segmento, através da ligação gradual dos traços

fonológicos na estutura interna dos fonemas (Hernandorena, 1995), através do PAC-

PE, pode observar-se a ausência de um segmento, mesmo que alguns contraste

que envolvem esse segmento tenham já surgido.

No âmbito do desenvolvimento do modelo a autora utiliza dois subtipos de

alterações (atraso ou desvio) bem como com uma escala de gravidade que será

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

171

utilizada para caracterizar o perfil fonológico dos sujeitos em avaliação no presente

estudo.

7.2.3.5.1–AnáliseatravésdoPAC-PE-Sujeito2

Os dados recolhidos foram analisados à luz do modelo PAC-PE, que consiste

na determinação da presença, ou não, dos contrastes identificados e organizados

em quatro etapas de aquisição. Nestas quatro etapas, são adquiridos contrastes

através da coocorrência de traços, que possibilitam também a emergência de

segmentos.

No quadro 80 podemos visualizar os valores de acerto dos contrastes

estabelecidos no PAC-PE, de acordo com os procedimentos já descritos no capítulo

6.

1ª AVALIAÇÃO

O quadro abaixo apresenta os resultados do sujeito 2 analisados através do

modelo PAC-PE no primeiro momento de avaliação.

Etapa

Traços

Marcados

Adquiridos

Coocorrências de

traços Contraste

Acerto

do

contraste

Estado

etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+ vozeado]

[+consonântico; +

Soante]

[-soante; labial]

[-soante; dorsal]

[+soante; labial]

[-soante; coronal; +

vozeado]

[-soante; labial; +

vozeado]

Soante x Obstruinte 97,2 %

Adquirido

Oclusiva coronal x labial 97,2 % Adquirido

Oclusiva coronal x

dorsal 47,61%

Não

Adquirido

Oclusiva labial x dorsal 100%

Adquirido

Nasal labial x coronal 100% Adquirido

Oclusiva coronal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusiva labial surda x

sonora 100% Adquirido

etapa

[+ contínuo]

[- anterior]

[+soante; coronal;

-anterior]

Nasal coronal anterior x

coronal não anterior 50%

Não

Adquirido

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172

[-soante, dorsal, +

vozeado]

[-soante, +

contínuo]

[+contínuo; labial,; +

vozeado]

[+contínuio; labial]

Oclusiva dorsal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusivas x fricativas 67,41% Não

adquirido

Fricativa labial surda x

sonora 100% Adquirido

Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido

etapa

[+aproximante]

[-soante; +

contínuo; coronal -

anterior]

Fricativa coronal

anterior x não anterior 75% Instável

[-soante; +

contínuo; coronal;

+vozeado ]

Fricativa coronal não

anterior surda x sonora 100% Adquirido

[-soante; +

contínuo; dorsal ]

Oclusivas x fricativa

dorsal 67% Instável

[+soante; +

aproximante] Nasais x líquidas 62% Instável

etapa

[+aproximante; +

contínuo, dorsal]

Líquida lateral x não

lateral 47,05%

Não

adquirido

[+aproximante; +

contínuo, coronal]

Líquida não lateral

dorsal x coronal 0%

Não

adquirido

[-soante; +

contínuo, coronal;

+ anterior; +

vozeado]

Fricativa coronal

anterior sonora x não

anterior sonora

57, 14% Instável

[+ aproximante: -

contínuo; coronal; -

anterior ]

Líquida lateral anterior x

não anterior 45,45%

Não

adquirido

Quadro 80 - Síntese do acerto de contrastes (PAC-PE), para o sujeito 2, no primeiro momento de avaliação

Através da análise do quadro 80, pode verificar-se um sistema fonológico

incompleto com ausência de contrastes relativos à primeira, segunda e quarta

etapas:

• Oclusiva coronal x dorsal (1ª etapa), uma vez que as oclusivas

dorsais são produzidas como coronais, embora o contrário não

aconteça;

• Nasal coronal anterior x coronal não anterior (2ª etapa), uma vez que

as nasais coronais não anteriores são produzidas como semivogais;

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173

• Oclusivas x fricativa dorsal (3ª etapa), com produções dos róticos

como como oclusivas coronais [+anteriores];

• Líquida lateral x não lateral (4ª etapa), com ausência de todas as

líquidas;

• Líquida lateral anterior x não anterior (4ª etapa), com ausência das

líquidas laterais;

• Líquida não lateral coronal x dorsal (4ª etapa), com produções do

rótico dorsal como coronal.

É possível observar ainda a instabilidade de contrastes:

• Oclusiva x fricativa (2ª etapa), uma vez que todas as fricativas são

produzidas como oclusivas;

• Fricativa coronal não anterior x anterio surda (3ª etapa), já que as

fricativas coronais não anteriores são produzidas como coronais

anteriores;

• Nasais x Líquidas (3ª etapa), embora não ocorram erros de contraste,

há um valor elevado de omissões das líquidas, não ficando a classe

das líquidas completas o que se reflete no contraste, embora não seja

possível afirmar que existe uma alteração do contraste referido;

• Fricativa coronal não anterior x anterior sonora (4ª etapa), já que as

fricativas coronais não anteriores são produzidas como coronais

anteriores.

No sistema fonológico de L.R. verifica-se a ausência do segmento /k/, que se

esperava na primeira etapa de aquisição. Através da análise com o modelo PAC-PE,

esta ausência, poderá ser justificada, pela alteração do contraste Oclusiva coronal

versus Dorsal, decorrente da dificuldade na coocorrência do traço não marcado

[dorsal] com o traço marcado [+soante], necessário para a estabilização deste

contraste. Esta dificuldade é manifestada por produções como [tɐ’pɛ].

O segmento /g/ que emerge na segunda etapa por combinação do traço

relacionado com vozeamento, encontra-se ausente pela mesma dificuldade

relacionada com a coocorrência do traço [dorsal] com [-soante] manifestando-se em

produções como [‘dapu] <garfo>.

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174

Produções como [‘bidu] <vidro>, são manifestações de alterações

relacionadas com a combinação do traço [+contínuo] que deveria acontecer na

segunda etapa de aquisição. Observa-se assim que o contraste Oclusivas versus

Fricativas não se encontra adquirido de forma completa. Ainda relativamente à

segunda etapa, observam-se dificuldades com a combinação dos traços [coronal]

[+soante] e o traço não marcado [-anterior], surgindo alteração com o contraste

Nasal coronal anterior x coronal não anterior, verificando-se produções como [uja]

<unha>.

A dificuldade com a coocorrência de traços [coronal] [-soante] [-anterior],

impede a emergência do contraste Fricativa coronal anterior surda x não anterior

surda, manifestando-se em produções como [‘pɐjtɨ] (para além da alteração do traço

[+contínuo], já descrita, observa-se uma produção coronal [+anterior]). O contraste

Oclusivas x fricativa dorsal encontra-se também ausente do sistema fonológico de

L.R. pela dificuldade na coocorrência de [+contínuo] [-soante]. Esta alteração traduz-

se em produções como [‘datu] <rato>.

Os contrastes relacionados com as líquidas encontram-se não adquiridos

pela ausência da coocorrência do traço marcado [+aproximante] com os traços de

ponto [coronal ±anterior]. Observa-se ainda dificuldade com o contraste Fricativa

coronal anterior surda x não anterior sonora por dificuldades com a coocorrência do

traço [-anterior], observando-se produções como [da’ɛna] <janela>.

• Atraso ou desvio

Uma criança com alterações de fala pode ter um perfil correspondente a um

atraso fonológico, que, de acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), consiste num

desfasamento entre as suas etapas de desenvolvimento e as esperadas para a sua

idade, embora apresente um perfil em que são cumpridos os princípios fonológicos.

Um perfil desviante corresponde a um sistema onde não são cumpridos todos

princípios fonológicos responsáveis pela organização do sistema segmental.

L.R. mostra um desfasamento cronológico no que respeita às aquisições

quando comparadas com o esperado para a sua idade. De acordo com os dados

obtidos por Amorim (2014), seria espectável que a primeira etapa de aquisição fosse

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175

concluída até aos 2;0 anos de idade e a segunda etapa até aos 3;0 anos de idade.

L.R, mostra ausência de segmentos e contrastes relativos tanto à primeira como

segunda etapa aos 5;06 anos de idade. Para além este desfasamento, verifica-se

que o seu sistema fonológico não cumpre os princípios fonológicos, perfil

característico de um desvio fonológico.

Assim, L.R. mostra que o seu sistema fonológico não obedece ao Princípio de

Economia de Traços, apresentando poucos contrastes, manifestado pela redução do

inventário fonológico segmental, para o número de traços disponíveis no sistema.

Como exemplo, observa-se, no sistema fonológico de L.R. que o traço [+contínuo]

não surge em combinação com nenhum outro traço, tendo como consequência a

ausência de toda a classe das fricativas e também dos róticos.

O Princípio de Evitação de Traços marcados que de acordo com a autora do

modelo parece também ser problemático para as crianças com Perturbação

Fonológica, não é cumprido por L.R., já que apresenta um número superior de traços

marcados e ausência dos traços não marcados. Assim, encontramos os traços

[+vozeado] combinado com [coronal] permitindo a distinção entre [t] [d], que é

utilizado no lugar das Dorsais, no entanto não se identifica o traço [dorsal], não

tendo emergido [k]. Ou seja existe a distinção de vozeamento (quando ocorre uma

substituição, a consoante selecionada mantém a propriedade relacionada com o

vozeamento), antes de ser combinado o traço de ponto que permite a emergência

das dorsais.

O Princípio de Robustez, que tende também a não ser cumprido, nas crianças

com perturbações fonológicas, uma vez que não respeitam a previsibilidade de

aquisição das diferentes etapas, inerente ao modelo PAC, também não é cumprido

pelo sujeito 1. L.R. apresenta contrastes de etapas mais tardias, encontrando-se por

completar a aquisição de etapas mais precoces.

• Gravidade

Os critérios que permitem apurar o grau de severidade do sistema fonológico

de L.R. encontram-se no quadro 81. Verifica-se que, de acordo com a escala de

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176

gravidade proposta por Lazzarotto-Volcão (2009), descrita na revisão teórica no

capítulo 3 deste trabalho, uma criança com perturbação fonológica severa

apresenta: ausência de contrastes da terceira e quarta etapas; presença de, no

máximo dois contrastes da segunda etapa; e presença de, no máximo, seis

contrastes da primeira etapa. L.R. apresenta ausência de contrastes da terceira e

quarta etapa, 2 contrastes da segunda etapa e cinco da primeira etapa,

correspondendo a um nível de gravidade severa.

Esperado Grau Severo L.R.

1ª etapa 7 contrastes Ausência de um

contraste

Presença de

seis contrastes

2ª etapa 5 contrastes Presença de

três contrastes

Presença de

três contrastes

3ª etapa 4 contrastes Pelo menos

ausência de um

Presença de

um contrastes

4ª etapa 4 contrastes Pelo menos

ausência de um

Presença de

um contraste

(instável)

Quadro 81 - Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - severo

• Representação do sistema do sujeito 2 - PAC-PE

Na figura 39. encontra-se a representação do sistema fonológico do sujeito 2

de acordo com o esquema proposto por Lazzarotto-Volcão (2009), e descrito

anteriormente em no capítulo 3, secção 3.1.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

177

Figura 39 - Representação do primeiro momento de avaliação do sujeito 2 no modelo PAC-PE

2ª AVALIAÇÃO

Após intervenção terapêutica, descrita no Capítulo 2, através da estimulação

dos segmentos /ʀ/ e /g/, cujo objetivo era a estimulação de coocorrências dos

trações [+contínuo] e [dorsal], verificamos que R.R. apresenta um sistema fonológico

com presença de um maior número de contrastes fonológicos, como pode ser

observado no quadro 84, abaixo:

Etapa

Traços

Marcados

Adquiridos

Coocorrências de

traços Contraste

Acerto

do

contraste

Estado

etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+ vozeado]

[+consonântico; +

Soante]

[-soante; labial]

[-soante; dorsal]

[+soante; labial]

[-soante; coronal; +

vozeado]

[-soante; labial; +

vozeado]

Soante x Obstruinte 100% Adquirido

Oclusiva coronal x labial 100% Adquirido

Oclusiva coronal x dorsal 100% Adquirido

Oclusiva labial x dorsal 100%

Adquirido

Nasal labial x coronal 100% Adquirido

Oclusiva coronal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusiva labial surda x

sonora 100% Adquirido

etapa

[+ contínuo]

[- anterior]

[+soante; coronal; -

anterior]

Nasal coronal anterior x

coronal não anterior 100% Adquirido

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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178

[-soante, dorsal, +

vozeado]

[-soante, +

contínuo]

[+contínuo; labial,; +

vozeado]

[+contínuio; labial]

Oclusiva dorsal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusivas x fricativas 100% Adquirido

Fricativa labial surda x

sonora 100% Adquirido

Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido

etapa

[+aproximante]

[-soante; +

contínuo; coronal -

anterior]

Fricativa coronal

anterior x não anterior 33,33%

Não

adquirido

[-soante; +

contínuo; coronal;

+vozeado ]

Fricativa coronal não

anterior surda x sonora 100% Adquirido

[-soante; +

contínuo; dorsal ]

Oclusivas x fricativa

dorsal 100% Adquirido

[+soante; +

aproximante] Nasais x líquidas 83% Adquirido

etapa

[+aproximante; +

contínuo, dorsal]

Líquida lateral x não

lateral 71% Instável

[+aproximante; +

contínuo, coronal]

Líquida não lateral dorsal

x coronal 50%

Não

adquirido

[-soante; +

contínuo, coronal; +

anterior; + vozeado]

Fricativa coronal anterior

sonora x não anterior

sonora

43% Não

adquirido

[+ aproximante: -

contínuo; coronal; -

anterior ]

Líquida lateral anterior x

não anterior 82% Adquirido

Quadro 82 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 2, no momento da segunda avaliação

De acordo com o registo do quadro 82, após o intervenção terapêutica, foi

possível promover a combinação dos traços marcados [dorsal] e [+ contínuo] com [-

soante], o que possibilitou a aquisição de vários contrastes anteriormente ausentes.

Observou-se a combinação de [coronal] [-anterior] na classe das nasais e das

fricativas. Após estimulação do sistema fonológico de L.R. observou-se ainda a

coocorrência do traço [+aproximante] que proporcionou a emergência do contraste

Nasais x líquidas.

Nesta altura, verifica-se ainda dificuldade com a coocorrência dos traços

[coronal] [+anterior] [+contínuo] [-soante], ou [+soante], continuando por emergir os

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179

contrastes entre fricativas coronais não anteriores x anteriores. Os contrastes líquida

lateral x não lateral e Líquida não lateral dorsal x coronal não se encontram

dominados, por dificuldades com combinação dos traços [coronal] [-anterior]

[+aproximante] ou [coronal] [-anterior] [+aproximante]. Estas alterações são

manifestadas por produções como: [va’ʃoɐ] ou [pɐ’jaʃu]

• Atraso ou desvio

O perfil de L.R. continua a mostrar-se desviante por não cumprir os princípios

fonológicos. Apresenta contrastes em falta de etapas anteriores e contrastes

presentes de etapas posteriores, apresenta uma redução do inventário fonológico

segmental, para o número de traços disponíveis no sistema.

• Gravidade

Com as aquisições realizadas observa-se uma mudança no grau de severidade

da Perturbação Fonológica, que passa de severa a leve já que, de acordo com o

descrito na literatura (Lazzarotto-Volcão, 2009) e representado anteriormente no

quadro X, numa perturbação fonológica leve encontramos presença de todos os

contrastes das duas primeiras etapas; presença de, no mínimo, dois contrastes da

terceira etapa; presença de, no mínimo, dois contrastes da quarta etapa, o que

acontece com L.R. (ver quadro 83).

Esperado Grau Leve L.R.

1ª etapa 7 contrastes Presença de sete

contrastes

Presença de sete

contrastes

2ª etapa 5 contrastes Presença de cinco

contrastes

Presença de cinco

contrastes

3ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois

contrastes

Presença de três

contrastes

4ª etapa 4 contrastes Mínimo de dois Presença de três

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180

contrastes contrastes (2 instáveis)

Quadro 83 - Contrastes esperados na aquisição sem patologia e os contrastes que caracterizam o grau de gravidade - leve

• Representação do sistema do sujeito 2 - PAC-PE

O progresso do sistema de contrastes do sujeito 2 pode ser visualizado na

figura 40, manifestado pelo preenchimento de um maior número de retângulos, quer

as que correspondem à primeira, segunda, terceira ou quarta etapas.

Figura 40 -Representação do segundo momento de avaliação do sujeito 2, de acordo com o modeo

PAC-PE

3ª AVALIAÇÃO

Neste momento de avaliação, verificamos que L.R. apresenta um sistema

fonológico com presença dos contrastes fonológicos registados na tabela 84.

Etapa

Traços

Marcados

Adquiridos

Coocorrências de

traços Contraste

Acerto

do

contraste

Estado

etapa

[+soante]

[labial]

[dorsal]

[+ vozeado]

[+consonântico; +

Soante]

[-soante; labial]

[-soante; dorsal]

Soante x Obstruinte 100% Adquirido

Oclusiva coronal x labial 100% Adquirido

Oclusiva coronal x dorsal 100% Adquirido

Oclusiva labial x dorsal 100%

Adquirido

Nasal labial x coronal 100% Adquirido

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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181

[+soante; labial]

[-soante; coronal; +

vozeado]

[-soante; labial; +

vozeado]

Oclusiva coronal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusiva labial surda x

sonora 100% Adquirido

etapa

[+ contínuo]

[- anterior]

[+soante; coronal; -

anterior]

[-soante, dorsal, +

vozeado]

[-soante, +

contínuo]

[+contínuo; labial,; +

vozeado]

[+contínuio; labial]

Nasal coronal anterior x

coronal não anterior 100% Adquirido

Oclusiva dorsal surda x

sonora 100% Adquirido

Oclusivas x fricativas 100% Adquirido

Fricativa labial surda x

sonora 100% Adquirido

Fricativa Coronal xs labial 100% Adquirido

etapa

[+aproximante]

[-soante; +

contínuo; coronal -

anterior]

Fricativa coronal anterior x

não anterior 33%

Não

Adquirido

[-soante; +

contínuo; coronal;

+vozeado ]

Fricativa coronal não

anterior surda x sonora 71% Instável

[-soante; +

contínuo; dorsal ]

Oclusivas x fricativa

dorsal 100% Adquirido

[+soante; +

aproximante] Nasais x líquidas 100% Adquirido

etapa

[+aproximante; +

contínuo, dorsal]

Líquida lateral x não

lateral 82% Adquirido

[+aproximante; +

contínuo, coronal]

Líquida não lateral dorsal

x coronal 50%

Não

Adquirido

[-soante; +

contínuo, coronal; +

anterior; +

vozeado]45

Fricativa coronal anterior

sonora x não anterior

sonora

43% Não

Adquirido

[+ aproximante: -

contínuo; coronal; -

anterior ]

Líquida lateral anterior x

não anterior 100% Adquirido

Quadro 84 - Síntese do acerto de contrastes (PAC), para o sujeito 2, no momento da terceira avaliação

Tal como pode ser observado no quadro 84, do segundo para o terceiro

momento de avaliação (período onde se verificou interrupção do acompanhamento

em terapia da fala, como descrito no capítulo 2) verifica-se um maior valor

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182

percentual de acertos do contraste líquida lateral x não lateral, encontrando-se agora

o estatuto de “adquirido”. Os contrastes anteriormente em falta mantém-se por

adquirir: Fricativa coronal anterior x não anterior e Líquida não lateral dorsal x

coronal. Nesta altura surgem algumas dificuldades com a coocorrência de [+voz]

[+contínuo] [coronal ] [-anterior], reduzindo o valor de acerto relativo ao contraste

Fricativa coronal não anterior surda x sonora.

• Representação do sistema do sujeito 2 - PAC-PE

Figura 41 - Representação do terceiro momento de avaliação do sujeito 2, de acordo com o PAC-PE.

Desta forma, na presente secção os dados de produção obtidos para o

sujeito 2 foram apresentados à luz do modelo PAC-PE em função dos momentos

dos três momentos de avaliação.

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

183

IV PARTE – REFLEXÕES FINAIS

Conforme formulado na introdução, o presente trabalho, cuja questão

orientadora é “O modelo PAC-PE é ou não adequado à avaliação nas Perturbações

Fonológicas no português europeu”?, pretendia: i) testar o modelo PAC-PE em

contexto clínico; ii) observar a eficácia do PAC-PE na avaliação longitudinal em

crianças com Perturbações dos Sons Fala. De forma a atingir os objetivos propostos

foram realizadas análises de produções de fala de crianças com este diagnóstico. As

produções de cada sujeito foram obtidas através do teste TFF-ALPE (Mendes et alii.,

2013), em três momentos diferentes do período de intervenção. As análises

realizadas envolveram: i) a elaboração do inventário fonético; ii) a determinação de

valores de ocorrência de consoantes e a análise de padrões de erro para

determinação do inventário fonológico; iii) a análise dos dados através do modelo

PAC-PE. Estas análises foram realizadas para as produções de duas crianças com

perturbações fonológicas. Os dois sujeitos encontravam-se entre as faixas etárias

4;05 e 5;06 anos.

No capítulo 3 foram descritos e analisados todos os dados em função dos

diferentes momentos de avaliação, sendo, em seguida, apresentadas as principais

reflexões e contribuições deste trabalho, bem como as suas limitações e as

questões suscitadas para investigação futura.

CAPÍTULO 8 – DISCUSSÃO

De forma a responder aos objetivos delineados neste trabalho, será feita,

neste capítulo, a discussão dos dados descritos no capítulo anterior relativamente à

aquisição das consoantes no sistema fonológico das duas crianças com

Perturbações Fonológicas observadas no presente estudo, ao longo do período de

intervenção terapêutica, com o objetivo de entender de que forma é que o modelo

PAC-PE contribui para a prática clínica. Pretende-se entender como é que o modelo:

a) possibilita a análise e descrição das alterações fonológicas para o

estabelecimento de um diagnóstico e do grau de gravidade da perturbação;

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

184

b) permite a análise das aquisições feitas durante o processo de intervenção

terapêutica.

Neste capítulo serão tidos em consideração o modelo PAC para o português

do Brasil (Lazzarotto-Volcão, 2009), a discussão deste modelo com base nos dados

de aquisição do português europeu (Amorim, 2014) e adaptação da representação

do PAC ao português europeu por Lazzarotto-Volcão (2016).

8.1.ImplicaçõesdomodeloPAC-PEnaavaliaçãoclínica

Um dos objetivos que estiveram na base da conceção do modelo PAC

(Lazzarotto-Volcão, 2009) foi a criação de um modelo que permitisse a identificação

de uma perturbação fonológica, ou seja, que permitisse diferenciar a aquisição

normal de uma aquisição com alterações. Uma vez que tanto o modelo PAC como a

sua adaptação ao português europeu prevêm etapas de aquisição, a partir dos

dados de aquisição normal, é possível determinar se um sistema fonológico se

encontra de acordo com o esperado ou não numa dada faixa etária. Assim, são

referidas as seguintes etapas identificadas no modelo PAC-PE (Amorim, 2014):

• Até aos 2;0 anos de idade - Primeira etapa

• 2;0 anos – 3;0 anos de idade – Segunda etapa

• < 3,0 anos – 3;05 anos de idade - Terceira etapa

• 3;05 anos – 4;11 anos de idade - Quarta etapa

Para além da ordem cronológica, e através da identificação das coocorrências

de traços distintivos e de contrastes presentes e ausentes, o modelo permite a

identificação do cumprimento de princípios fonológicos descritos por Clements

(2009), que poderão ter sido violados no sistema fonológico de crianças com

perturbação (Lazzarotto-Volcão, 2009).

Através da análise dos dois sujeitos deste trabalho, é possível verificar a

adequação do modelo PAC-PE (Amorim, 2014; Lazzarotto-Volcão, 2009), tendo sido

identificados, nos dois sujeitos, sistemas fonológicos que não apresentam as etapas

descritas para as crianças sem patologia, confirmando a eficácia do modelo na

determinação de alterações fonológicas. Ambos os sujeitos apresentavam ausência

de contrastes esperados para a sua faixa etária bem como ausência de contrastes

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

185

das primeiras etapas de aquisição quando já existiam contrastes de etapas

posteriores. Observa-se, como exemplo, para os dois sujeitos, dificuldades com o

contraste Oclusiva coronal x dorsal, da primeira etapa, verificando-se a presença do

contraste Fricativa coronal não anterior surda x sonora, correspondente a um

contraste da terceira etapa.

De acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), uma criança com alterações

fonológicas pode ter um atraso quando apresenta uma aquisição mais lenta no

sistema fonológico, ou um desvio quando se verifica uma desorganização no

sistema fonológico, observando-se o não cumprimento dos princípios fonológicos

(Clementes, 2009). Neste trabalho, para os dois sujeitos, observou-se o não

cumprimento de princípios fonológicos, reforçando a ideia proposta por Lazzarotto-

Volcão (2009) de que as crianças com Perturbações Fonológicas parecem, de facto,

apresentar dificuldades na organização da estrutura interna dos segmentos, não

fazendo o percurso esperado para uma criança sem perturbação. As dificuldades

relacionadas com os príncipios fonológicos, demonstradas tanto pelo sujeito 1 como

pelo sujeito 2, possibilitam também entender que as crianças com Perturbação

Fonológica não apresentam apenas dificuldades com a aquisição isolada de traços

mas sobretudo com a combinação de traços eventualmente já presentes no seu

sistema, que decorre do princípio da economia de traços13 (Clementes, 2009). Como

exemplo, refira-se R.R., que apresenta no seu sistema o traço [+ contínuo] para as

fricativas labiais, não sendo possível observar a sua coocorrência com os traços

relativos ao ponto de articulação das restantes fricativas ([coronal; ±anterior], não

cumprindo assim o príncípio da economia de traços. Já L.R. parece cumprir melhor o

princípio que dá conta da economia de traços (Clements, 2009) uma vez que as

dificuldades com traços parecem ter manifestações em todas as combinações.

Como exemplo veja-se o caso do traço [+contínuo], que não coocorre com nenhum

outro traço, resultando na ausência de todos os elementos da classe das fricativas.

Ainda assim, nesmo no caso de L.R., observa-se dificuldade com o cumprimento do

princípio de economia de traços quando, ao adquirir o traço [dorsal], o mesmo não

estabelece coocorrências dentro da classe das oclusivas.

De acordo com Lazzarotto-Volcão (2009), para além do princípio da

13Princípio da economia de traços – As línguas combinam os traços distintivos de forma económica, maximizando as combinações de traço, ou seja, aproveitando os traços já presentes no sistema, na construção dos seus inventários fonológicos. Assim, um traço deverá ser utilizado o maior número de vezes num sistema (Clements, 2009, citado por Amorim, 2014:17 e Lazzarotto-Volcão, 2009:78);

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

186

economia de traços, as crianças com Perturbação Fonológica brasileiras parecem

apresentar dificuldades com o princípio de robustez14 (Clements, 2009). O sistema

fonológico das crianças portuguesas estudadas no presente trabalho apresentam

ausência de traços mais robustos, mesmo quando traços menos robustos já estão

adquiridos, o que não acontece com crianças sem patologia. Esta dificuldade é

visível para o sujeito 1, que demonstra dificuldades com a combinação não marcada

[coronal] [+anterior], tendo já combinações realizadas com o traço marcado, e

menos robusto [dorsal]. Já no caso do sujeito 2, observamos dificuldades com um

traço menos robusto, [dorsal] com um domínio completo no que respeita a um traço

mais robusto [-vozeado] (conforme escala de robustez em Clements (2009),

Lazzarotto-Volcão (2009) e Amorim (2014)). Apesar destas semelhanças, através

desta análise, observam-se claramente perfis fonológicos diferentes. No caso do

sujeito 1, as dificuldades surgem logo com traços mais robustos (como exemplo,

[coronal] [+anterior]) enquanto que, para o sujeito 2, as dificuldades surgem para

menos robustos (como o caso [dorsal]). Estes dados permitem assim observar o

mesmo comportamento relativamente ao princípio de robustez no português

europeu.

Assim, verifica-se que o modelo PAC-PE permite apurar o diagnóstico de

Perturbação Fonológica, possibilitando identificar atrasos no processo de aquisição,

quando uma criança não apresenta todas as aquisições esperadas de acordo com o

descrito para o desenvolvimento típico, embora o processo seja realizado

respeitando a ordem de aquisição esperada. Por outras palavras, a criança pode

ainda não ter realizado todas as aquisições mas segue etapas sequencialmente de

acordo com o previsto pelo modelo. Para além disso, prevê problemas na

organização fonológica e, consequentemente, desvios no processo de aquisição,

que decorrem do não cumprimento dos princípios fonológicos (Clements, 2009).

Através da identificação da quantidade de traços presentes e ausentes dos

sujeitos 1 e 2, foi possível caracterizar o desvio fonológico quando à sua gravidade

de uma forma objetiva e mensurável, o que constitui um critério importante para o

diagnóstico. Os dois sujeitos apresentavam um desvio severo uma vez que

14Princípio da robustez – postula a existência de uma hierarquia universal de traços, tendo em conta a marcação e contrastes estabelecidos entre traços (Clements, 2009 citado por Amorim, 2014:20-22 e Lazzarotto-Volcao, 2009:80-85);

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

187

apresentavam as características correspondentes ao assumido para este nível de

gravidade, considerado em Lazzarotto-Volcão (2009): ausência de contrastes das

terceira e quarta etapas; presença de, no máximo, dois contrastes da segunda

etapa; presença de, no máximo, seis contrastes da primeira etapa. Dessa forma, o

modelo mostra-se como ferramenta importante para o processo de avaliação em

Terapia da Fala, tanto para o estabelecimento de diagnóstico e caracterização do

tipo de alteração como da sua gravidade.

8.2.OmodeloPAC-PEnaavaliaçãoclínicalongitudinal

Utilizando o modelo PAC-PE para a identificação da presença ou ausência

de coocorrências de traços, que permitem a emergência de contrastes fonológicos

num sistema, foi possível o estabelecimento de diagnóstico através da comparação

dos contrastes que deveriam estar presentes tendo em conta a idade de cada

sujeito. Esta comparação permitiu apurar a continuidade do diagnóstico ou a sua

evolução ao longo do processo terapêutico, tendo-se que observado, no sujeito 1,

que, após intervenção terapêutica, deixa de ser identificado o perfil que conduzia ao

estabelecimento de um diagnóstico de Perturbação dos Sons da Fala. No caso do

sujeito 2, o diagnóstico mantém-se, mesmo no último momento de avaliação, já que

se observa um perfil que não corresponde ainda ao esperado. Isto acontece,

provavelmente, pela interrupção feita durante o processo de intervenção, o que

demonstra e reforça a necessidade de reabilitação com um ritmo regular de um

sistema fonológico desviante.

O recurso ao modelo PAC-PE permitiu identificar, ao longo do processo de

intervenção, a forma como as crianças com patologia fazem as suas aquisições

fonológicas. Para os dois sujeitos, observou-se que a intervenção fonológica permite

observar novas combinações de traços e emergência de contrastes inicialmente

ausentes. No entanto, esta aquisição continua a ser um processo em que se

observa a não obediência aos princípios fonológicos (Clements, 2009; Lazzarotto-

Volcão, 2009), reforçando uma vez mais a ideia de que, nos desvios fonológicos, a

aquisição não acontece apenas de forma lentificada quanto à idade cronológica,

mas também que a aquisição pode não cumprir com princípios fonológicos. Assim,

observa-se, no segundo momento de avaliação, que, apesar de existir um maior

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

188

número de coocorrências e contrastes para ambos os sujeitos, se mantêm

dificuldades em cumprir os princípios fonológicos, especialmente por apresentarem

ainda dificuldades na coocorrência de traços mais robustos como [coronal]

[+anterior], na presença de domínio completo de traços menos robustos tais como

[+aproximante] .

Através da quantificação longitudinal da presença e ausência de traços

proporcionada pelo PAC-PE, é possível representar a alteração do grau de

gravidade das perturbações fonológicas, que pode ser evolutivo. Veja-se o caso do

sujeito 1, em que uma perturbação fonológica severa passa a leve para

posteriormente já não ser identificada. No caso do sujeito 2, a perturbação

anteriormente identificada como severa passa a leve.

Tendo sido interrompido o processo de intervenção, observa-se a

manutenção do grau de gravidade leve, reforçando a necessidade de intervenção

em crianças com perturbação, independentemente do grau de severidade.

8.3.AnáliseFonológica–Contributosparaumaanálisedemodelosde

avaliaçãoeintervenção

• Análise comparativa de modelos

A avaliação em Terapia da Fala no que respeita à Perturbação dos Sons da

Fala recorre maioritariamente a uma análise contrastiva com identificação da

ocorrência ou não de um som alvo ou a análise através dos processos fonológicos

presentes das produções de uma criança.

A primeira forma de análise, baseada na identificação do número de sons

corretamente produzidos, obtendo-se um valor percentual de consoantes corretas

(Shriberg & Kwiatkowski, 1982), não nos dá informação relativa à estrutura interna

dos segmentos. A análise contrastiva permite comparar a produção realizada com a

produção alvo mas não dos permite uma análise mais aprofundada sobre o sistema

fonológico da criança nem a identificação do que está na base dos processo

observados. Assim, relativamente ao sujeito 1, ao realizar apenas uma análise

contrastiva, iríamos entender que a criança não produz o alvo /d/. Mas esta

informação é insuficiente para entender o que se encontra de facto alterado no seu

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

189

sistema, já que é diferente se o erro cometido for a produção através de [g] ou de [t].

No primeiro caso, de acordo com o modelo PAC (Lazzarotto-Volcão, 2009), a

alteração poderá relacionar-se com a coocorrência de traços de ponto e modo que

permitem o contraste entre oclusivas coronais x dorsais e, no segundo, com o traço

[vozeado], que permite o contraste entre oclusivas coronais vozeadas x não

vozeadas. No caso de R.R., sujeito 1, a alteração relacionada com o alvo /d/ prende-

se com a alteração do contraste de ponto oclusivas coronais x dorsais por

dificuldades com a coocorrência dos traços [coronal] [+anterior] com [-contínuo; -

soante]. Já no sujeito 2, observam-se dificuldades na emergência do mesmo

contraste, mas por alterações com a combinação do traço [dorsal] com [-contínuo; -

soante] nas produções de [d] para [g]. Estas informações são fundamentais para

entender o perfil e funcionamento fonológico de uma criança, crucial para o

planeamento terapêutico.

A identificação da presença ou ausência de traços isolados (Jakobson, Fant

e Halle, 1952; Chomsky & Halle, 1968) num sistema fonológico não permite aceder

a informação relativa às classes naturais já organizadas num sistema, não

relacionando os diferentes contextos em que um traço pode ser recrutado. No dados

observados tanto para o sujeito 1, observa-se, como exemplo, a presença do traço

[+contínuo] na fricativas labiais, no entanto este traço não se encontra ativo para

todos os segmentos pertencentes à classe das fricativas, o que só pode ser

explicado através da coocorrência dos traços [+contínuo] [coronal] [dorsal],

representado num modelo que use traços distintivos, como o PAC-PE.

Uma análise através da identificação de processos fonológicos (Stampe,

1979; Mendes et al., 2013; Miccio & Scarpino, 2008; Guerreiro, 2007;) parece tornar-

se pouco económica bem como ser pouco eficiente no que respeita ao

reconhecimento da natureza da alteração fonológica num sistema, já que, como

exemplo, uma alteração relacionada com as líquidas não-laterais com ocorrência, no

seu lugar, de líquidas laterais e/ou semivogais, é entendida como duas operações

diferentes, neste caso, relacionadas com duas saídas fonéticas diferentes,

denominando-se “substituição de líquidas” ou “semivocalização”. O Modelo PAC- PE

propõe olhar para este tipo de alterações como um problema relacionado com a

aquisição do contraste entre líquidas laterais e não laterais e/ou entre consoantes e

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190

semivogais, existindo a necessidade de coocorrência de [+consoântico]

[+aproximante] [+contínuo].

Através dos resultados obtidos para o sujeito 1, em que se observa a

produção de [g] para /ʀ/ e de [g] para /z/, entende-se que, ao recorrer a uma análise

através de processos fonológicos, identificaríamos dois processos distintos, ambos

descritos como substituições de segmentos (“oclusivização” e “processos

adicionais”, de acordo com a proposta de Mendes et alii. (2003)). Utilizados os

pressupostos do modelo PAC-PE, concluímos que na base das duas alterações se

encontra potencialmente a mesma alteração: dificuldade na coocorrência dos traços

[-soante] [+contínuo] com traços de ponto [dorsal] ou [coronal]. O mesmo se observa

para o sujeito 2. As produções de [d] para /g/ e [d] para /ʀ/, à luz dos processos

fonológicos, corresponderiam a dois processos distintos (anteriorização e processos

adicionais), enquanto que o modelo PAC-PE explica esta alteração por dificuldades

na coocorrência do traço [dorsal] com os traços como [-soante] ou [+soante]

[+contínuo], respetivamente.

• O rótico dorsal no português europeu

Os róticos constituem uma classe difícil de ser definida em termos

fonológicos, especialmente pela diversidade fonética observada nas línguas do

mundo (Amorim & Veloso, no prelo). No português europeu, o rótico

tradicionalmente descrito como “vibrante múltipla”, pode ser articulado como uma

verdadeira vibrante (logo, como uma soante) ou como uma fricativa (ou seja, como

uma obstruinte). Neste caso, a articulação da fricativa pode ser feita com vibração

das cordas vocais ([ʁ]) ou não ([χ] ou [x]). Diversos estudos têm confirmado que a

articulação como fricativa uvular sonora ou surda é a realização mais comum no PE

atual (Mateus & d’Andrade, 2000; Jesus & Shadle, 2005; Rennicke & Martins, 2012).

A forma como as crianças processam o rótico dorsal parece não ser comum, já que

para algumas crianças é categorizado com obstruinte e, para outras, como

aproximante (Amorim & Veloso, no prelo).

No presente trabalho, a análise das estratégias utilizadas pelos dois sujeitos

permitiram observar a utilização preferencial de um segmento da classe das

obstruintes – preferencialmente uma oclusiva - no lugar do rótico em falta nos

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

191

sistemas fonológicos (este tipo de estratégias são frequentes durante o processo de

aquisição), o que pode reforçar a ideia de que as crianças processam o rótico /ʀ/ de

forma semelhante às fricativas, pelo menos numa fase inicial de aquisição (Miranda,

1996, 2007; Bonet e Mascaró, 1997; Costa, 2010, Amorim & Veloso, no prelo).

Na intervenção realizada para os dois sujeitos através do estímulo alvo /ʀ/,

observaram-se implicações na aquisição da classe das fricativas: através da

aquisição do traço [+contínuo] possibilitado pela aquisição de /ʀ/, todas as fricativas

surgiram nos sistemas fonológicos de ambos os sujeitos, sem ter um efeito tão

evidente na classe das soantes, reforçando o processamento do rótico como uma

fricativa na aquisição fonológica.

• Representação do modelo PAC com base nos dados de aquisição do

português europeu - Proposta

Na secção 1.1. do capítulo 1 são apresentados os contrastes considerados

no modelo PAC para o português do Brasil e para o português europeu (PAC-PE).

Na comparação das duas propostas existem algumas diferenças, que passamos a

referir. Nos contrastes considerados pertinentes no sistema fonológico das línguas,

Amorim (2014) propôs a adição do contraste oclusivas vs fricativas dorsais na

terceira etapa do modelo, já que, no português europeu, tal como referido

anteriormente, as crianças portuguesas parecem estar a processar o rótico dorsal

como uma fricativa. Tal como já referido, nos dois sujeitos deste estudo verifica-se

que o tipo de estratégia utilizada para produção de /ʀ/ é o recurso a uma oclusiva,

sendo esta uma substituição típica das consoantes pertencentes à classe das

fricativas. Estes dados mostram que estas crianças começam por processar /ʀ/

como obstruinte, o que não acontece com as restantes líquidas, constituindo uma

evidência empírica para a proposta de Amorim (2014), reforçando a necessidade da

adição deste contraste no PAC-PE.

Na sua proposta, Amorim (2014) regista algumas diferenças na ordem de

emergência dos contrastes nas diferentes etapas no português europeu,

nomeadamente nos contrastes Nasal coronal anterior vs. não anterior e Oclusiva

dorsal surda vs. sonora que, no português do Brasil, estão identificados na primeira

etapa e, no português europeu, se encontram na segunda etapa. Por outro lado, o

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

192

contraste entre fricativas coronais [±anteriores] parece não ter o mesmo

comportamento na aquisição do português do Brasil e do português europeu, sendo

as coronais [+anteriores] adquiridas primeiro para o português do Brasil. No

português europeu as coronais [-anteriores] são as primeiras a emergir, sendo as

coronais [+anterior] [-vozeado] adquiridas na terceira etapa e as coronais [+anterior]

[vozeado] adquiridas na quarta e última etapa. Ainda assim, Amorim (2014)

considera o contraste Fricativas coronais anteriores vs não anteriores adquirido na

terceira etapa, registando a emergência mais precoce das fricativas coronais não

anteriores.

Tendo em conta as diferenças descritas, Lazzarotto-Volcão (2016) faz uma

proposta de representação dos dados descritos em Amorim (2014) para o português

europeu, utilizada no presente trabalho. No entanto, esta proposta não permite dar

conta de todos aspetos supracitados (acréscimo do contraste Oclusivas vs fricativas

dorsais e alterações da sequencializaçao dos contrastes Nasal coronal anterior vs.

não anterior, Oclusiva dorsal surda vs. sonora, Fricativas coronais não anteriores vs

anteriores), que parecem ser relevantes para a descrição do perfil fonológico das

crianças portuguesas com perturbação fonológica. Assim, de seguida,

apresentamos, neste trabalho, uma proposta que pretende contemplar os aspetos

mencionados, a ser testada com dados de outras crianças com perturbação

fonológica.

Figura 42 - Proposta de representação do modelo PAC-PE

Considerando a proposta de Amorim (2014) para o modelo PAC à luz dos dados

de aquisição do português europeu (comparação das propostas de Amorim (2014) e

Consoantes

Soantes

Nasais

Labial Coronais

Anterior

Nãoanterior

Líquidas

Laterais

Anterior

Nãoanterior

Nãolaterais

Coronal

Dorsal

Nãosoantes

Oclusivas

Labial

NãoVozeada

vozeada

Coronal

NãoVozeada

Vozeada

Dorsal

Nãovozeada

Vozeada

FricativasDorsais Fricativas

Labial

Nãovozeada

Vozeada

Coronal

Anterior

Nãovozeada

Vozeada

Nãoanterior

Nãovozeada

Vozeada

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

193

Lazzarotto-Volcão (2009), realizada na secção 1.1. do capítulo 1, bem como a

respresentação desta proposta (Lazzarotto-Volcão, 2016), apresentamos na figura

42, uma nova sugestão de representação do modelo PAC-PE, de forma a

contemplar :

• A entrada do contraste Oclusivas vs fricativas dorsais;

• As diferenças relativas à sequencialidade dos contrastes:

§ Nasais coronais anteriores vs não anteriores

§ Oclusivas dorsais vozeadas vs não vozeadas

§ Fricativas coronais anteriores vs não anteriores

• Análise segmental vs análise silábica

Dado o impacto da estrutura silábica no desenvolvimento infantil, considerou-

se, neste trabalho, e tendo em conta a revisão da literatura, a necessidade de ter em

conta uma análise das consoantes em função dos diferentes constituintes silábicos,

já que a aquisição segmental é dependente da estrutura prosódica (Fikkert 1994;

Freitas 1997; Amorim, 2014; Ramalho 2017; Mendes et alii, 2013; Bernhardt &

Stemberger, 1998, 2000; Freitas 2003; Batista, 2015). A estrutura silábica foi um

critério tido em conta na análise fonológica realizada na descrição de resultados

(Capítulo 3) mas não foi alvo de análise à luz do modelo PAC-PE, uma vez que o

mesmo não contempla estas unidades prosódicas.

A análise dos dados, especialmente do sujeito 1 (R.R.), relativos à primeira

avaliação, reforçam a pertinência de considerar os diferentes constituintes silábicos

na avaliação segmental.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

194

Sujeito ASI ASM CdM CdF AR

% Exemplo % Exemplo % Exemplo % Exemplo % Exemplo

/l/ R.R. 100% [‘luɐ] <lua> 67%

[kɐ’belu] <cabelo>

100% [‘aɫku]

<alto> 50%

[ɔpi’kaɫ] <hospital>

0% [pɨlɐ̃kɐ] <planta>

L.R. 0% [‘uɐ] <lua> 0% [tɐ’beu]

<cabelo> 0%

[‘awtu] <alto>

0% [ɔpi’taw]

<hospital> 0%

[bi’tiɛtɐ] <bicicleta>

/ɾ / R.R. - . 67%

[vɐ’koɾɐ] <vassoura>

17% [fu’migɐ] <formiga>

80% [bĩ’kaɾ] <brincar>.

0% [bĩ’kaɾ] <brincar>

L.R. - - 0% [ba’toɐ]

<vassoura> 0%

[pu’midɐ] <formiga>

0% [ku’me]

<comer> 0%

[bĩ’ta] <brincar>

/ʃ / R.R. 0%

[Kuku’latɨ] <chocolate>

0% [‘pɐjkɨ]

<peixe> 0%

[pakɐ] <pasta>

75% [‘kaɫkɐʃ]

<calças> - -

L.R. 0% []

<chocolate> 50%

[‘tajʃɐ] <caixa>

0% [patɐ]

<pasta> 0%

[‘kawtɐ] <calças>

- -

Quadro 85 -Exemplos de produções de crianças em função dos constituintes silábicos no primeiro momento de avaliação

Como exemplo, ao analisar a aquisição do segmento /ɾ/, foi possível

observar valores de ocorrência diferentes em diferentes constituintes silábicos.

Assim, em ataque simples e em coda final, os valores de ocorrência permitem

determinar que o segmento está presente com valores que permitem afirmar que o

mesmo se encontra adquirido, embora não esteja completamente dominado.

Observem-se produções como [vɐ’koɾɐ] <vassoura> e [bĩ’kaɾ] <brincar>. Em coda

medial, o segmento /ɾ/ apresenta valores de ocorrência muito baixos, que lhe

conferem um estatuto fonológico de “não adquirido”; veja-se ainda o exemplo de

produções como [fu’migɐ] <formiga>. Em ataque ramificado o segmento /ɾ/ nunca é

produzido por R.R., como se pode observar em [bĩ’kaɾ] <brincar>.

No caso de L.R., como exemplo, observam-se padrões de erro diferentes,

para a produção de /l/, em função dos constituintes silábicos. Observam-se

omissões em ataque simples ou ataque ramificado como em [tɐ’beu] <cabelo> ou

[bi’tiɛtɐ] <bicicleta>. Em coda observam-se semivocalizações como em [‘awtu] <alto>

ou [ɔpi’taw] <hospital>

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

195

8.4Consideraçõesfinaisetópicosparainvestigaçãofutura

De acordo com a reflexão realizada, conclui-se que o modelo PAC-PE

possibilita a identificação do perfil fonológico de uma criança com alterações, dando

informação sobre a estrutura interna segmental e a forma como o sistema se

encontra organizado. Permite com facilidade identificar um atraso fonológico ou um

desvio através da análise da coocorrência de traços e a presença ou ausência de

contrastes. Esta análise adiciona ainda a possibilidade de classificar as alterações

de acordo com o grau de gravidade. Este estudo permitiu ainda observar a

vantagem na utilização do modelo PAC-PE durante o processo de reavaliação ao

longo da intervenção terapêutica. Desta forma, o presente trabalho permitiu utilizar e

testar o modelo PAC-PE em contexto clínico, através da análise de produções de

crianças com Perturbação Fonológica. Este estudo possibilitou ainda a análise das

aquisições realizadas por estas crianças ao longo da intervenção terapêutica,

mostrando ser útil e eficaz na avaliação longitudinal.

Como limitações do presente estudo refere-se a utilização de um instrumento

de recolha de dados com uma amostra de fala considerada pequena, já que as

ponderações percentuais podem ser influenciadas pelos dados de frequência de

ocorrência de um segmento. Para além disto, e como referido anteriormente, o

modelo não permitiu uma análise segmental em função dos constituintes silábicos,

que pode tornar-se muito relevante na avaliação e intervenção (Ramalho, 2017;

Amorim 2014).

Outra limitação identificada neste estudo relaciona-se com o registo, através

do modelo PAC-PE, da substituição de uma consoante ([ʎ], [ɲ], [ɾ], ou outra) por uma

semivogal (sendo a mais frequente no português europeu [j]), encontrando-se

alterado um contraste entre consoantes e semivogais que não se encontra

contemplado no modelo (Amorim 2014; Lazzarotto-Volcão, 2009; 2016). Nos seus

trabalhos, as semivocalizaçãos penalizam o contraste das líquidas ou das nasais.

No entanto, os contrastes existentes no modelo não contemplam o contraste entre

[±consonântico] envolvido na semivocalização. Neste trabalho considerámos que,

quando existisse uma semivocalização, este erro não entraria no resgisto de

contabilização de contrastes (ver metodologia), o que compromete o confronto dos

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

196

dados relativos à semivocalização de laterais entre os diferentes trabalhos. Uma

representação deste aspeto no PAC-PE carece de reflexão.

Sugere-se como possibilidades de próximos estudos, não só a adaptação do

modelo PAC a todos os constituintes silábicos, já iniciado para o português do Brasil

como o trabalho de Giacchini (2015), como a adaptação do modelo de forma a

responder à substituição de consoantes por semivogais, frequentes no português

europeu, bem como o estudo do impacto que o modelo pode ter na eficácia de

intervenção através da seleção dos estímulos alvo a trabalhar durante a intervenção.

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

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205

ANEXO A: Formulário de Consentimento

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

206

Informação e Consentimento Informado: Portuguese Europeu

Estudo sobre o desenvolvimento fonológico nas perturbações fonológicas

Equipa de investigação: Cristiane Lazzarotto-Volcão (Fonoaudióloga, Mestre e Doutora em Linguística Aplicada), M. João dos Reis de Freitas (PhD, Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) e com Tânia Barbosa dos Reis (terapeuta da fala, Mestranda em linguística na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), no sentido de estudar o desenvolvimento fonológico de crianças com perturbações fonológicas após estimulação. Objectivo central do estudo: O estudo permitir-nos-á saber mais sobre o desenvolvimento fonológico das crianças com patologia da linguagem através da intervenção terapêutica, sendo esta informação crucial para os terapeutas da fala que trabalham com estas crianças. O que lhe pedimos:

Se permitir que o/a seu/sua filho/filha participe neste estudo (por favor, veja os formulários em anexo), ele/a será convidado/a a participar em actividades de estimulação fonológica com o objetivo de adequar os resultados da sua produção verbal.

1. Em cada sessão terapêutica serão realizadas tarefas fonológicas através de diversas atividades (Corta, cola, jogos, etc..)

2. Será aplicado um instrumento de nomeação de imagens para recolha de dados de produção. Será aplicado sempre que se julgue necessária uma análise do sistema fonológico.

Tânia Reis encontrar-se-á com o/a seu/sua filho/filha, podendo, ou não, estar presente o encarregado de educação ou educadora, uma vez por semana, para a realização da sessão terapêutica. Cada sessão terá a duração de 30 a 45 minutos. As respostas do/da seu/sua filho/filha serão gravadas em formato áudio, para podermos trabalhar sobre elas mais tarde. Na possibilidade de virmos a incluir excertos das gravações áudio em apresentações efectuadas em conferências de natureza académica ou em sessões de formação de terapeutas da fala, apresentamos em anexo o formulário B, especificamente concebido para que nos autorize (ou não) a usar as gravações áudio do/da seu/sua filho/filha nestes dois contextos. Após a sessão: Pode solicitar cópia das sessões de gravação áudio e um breve relatório sobre os resultados obtidos pela criança. Confidencialidada e privacidade: O nome da sua família e o da sua criança, bem como o desempenho desta na aplicação dos testes, serão guardados como confidenciais. As gravações recolhidas serão usadas exclusivamente no âmbito do presente estudo ou, no caso de preencher os formulários B e C, poderão ser usadas em conferências, para objectivos educacionais ou partilhadas entre investigadores no PHONBANK (para mais informação sobre este banco de dados, consulte o formulário C). A informação relativa a cada criança será guardada num gabinete fechado, durante pelo menos cinco anos, na University of British Columbia, School of Audiology and Speech Sciences A cada criança será atribuído um número. Nomes reais e outras informações relativas à identificação da criança serão retiradas de qualquer registo em papel ou digital. O

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

207

registo que relaciona o número atribuído à identificação da criança será guardado num armário fechado no gabinete de M. João Freitas, no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Aos registos digitais apenas poderão aceder detentores da palavra-passe relevante. No caso de concordar com o uso dos registos áudio para fins educativos e de investigação, não haverá nunca referência ao nome do/da seu/sua filho/filha nesses materiais.

Participar neste projeto é uma escolha sua e do/da seu/sua filho/filha. Ambos/as podem decidir cancelar a participação no estudo a qualquer momento e sem quaisquer consequências. Se aceitar que o/a seu/sua filho/filha participe no estudo, por favor, preencha os formulários de consentimento informado (e o questionário, se assim o desejar) e entregue-os a Tânia Barbosa dos Reis.

Existem 3 formulários de consentimento informado a ter em consideração:

O Formulário A permite-lhe concordar ou não com a participação do/da seu/sua filho/filha neste estudo.

O Formulário B permite-lhe concordar ou não com o uso dos registos áudio feitos para fins académicos ou educacionais.

O Formulário C permite-lhe concordar ou não com o uso das transcrições e/ou dos registos áudio do/da seu/sua filho/filha para integração anónima no PHONBANK, parte da base de dados CHILDES, criada em 1984 pelo Professor Doutor Brian MacWhinney (Carnegie-Mellon University, Pittsburgh, PA, US). Toda a informação sobre esta base de dados está disponível em childes.psy.cmu.edu/phon; esta base de dados contém registos escritos e de áudio para investigação sobre a aquisição da linguagem em várias línguas. Investigadores de todo o mundo usam estes registos para saberem mais sobre desenvolvimento linguístico infantil. Todos os nomes das crianças (substituídos por códigos numéricos), bem como informações sobre locais da recolha, são eliminados dos registos de escrita e de áudio disponíveis na base de dados. Apenas informação sobre idade, género e língua(s) materna(s) da criança são disponibilizados. Para mais informação, por favor contacte Dr. B. May Bernhardt: 604-822-2319, [email protected]. No caso de dúvidas sobre os seus direitos como sujeito de investigação, pode contactar o Research Subject Information Line – University of British Columbia, Office of Research Services (604-822-8598; e-mail [email protected].) Muito obrigado! Contactos da Investigadora: Tânia Barbosa dos Reis Rua das Ágatas nº 31 2970-190 Sesimbra Portugal E-mail: [email protected]

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

208

Formulário de Autorização A: Consentimento para participação no estudo

Parte 1: Participação no estudo

Estudo sobre o desenvolvimento fonológico nas perturbações fonológicas

Verifique, por favor, a informação que se segue, confirmando com a sua assinatura. • A sua assinatura mostra que recebeu uma cópia desta folha para seu registo próprio. • A sua assinatura revela a sua concordância, ou não, com a participação do/a seu/sua

filho/filha neste projecto. A. Assinale, por favor, com uma (x), a opção que pretende:

q Autorizo que o/a meu/minha filho/filha ,______________________________________________,

(nome da criança) participe neste estudo.

q Não autorizo que o/a meu/minha filho/filha ,

_________________________________________, (nome da criança)

participe neste estudo. Nome do Encarregado de Educação: _______________________________________________________ Assinatura: __________________________________Data: _________________________ Parte 2. Questionário. Autorizo que seja preenchido o formulário para pais/educadores, com informação a usar exclusivamente em contexto de investigação; entendi que o seu preenchimento parcial ou total é completamente voluntário e não constitui um requisito do estudo.

q Autorizo o preenchimento do questionário opcional sobre a minha família e o desenvolvimento do/da meu/minha filho/a.

A sua assinatura indica que recebeu uma cópia desta página para ficar em seu poder. A sua assinatura indica que concorda com ou discorda do facto de o/ seu/sua filho/filha participar neste projecto.

O seu nome ______________________________________________________________ Assinatura __________________________________Data _________________________

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209

Formulário de Autorização B: Consentimento secundário para uso das transcrições e/ou registos áudio em

conferências e para fins académicos e educacionais no âmbito da formação/ensino de terapeutas da fala

Estudo sobre o desenvolvimento fonológico nas perturbações fonológicas

Verifique, por favor, a informação que se segue, confirmando com a sua assinatura.

• A sua assinatura mostra que recebeu uma cópia desta folha para seu registo próprio.

• A sua assinatura revela a sua concordância, ou não, com o uso da gravação áudio do/a seu/sua filho/a para fins académicos, científicos e educacionais, em conferências e na formação/ensino de terapeutas da fala.

B1. Assinale, por favor, com uma (x), a opção que pretende:

q Autorizo que os investigadores utilizem as transcrições e gravações do meu filho, __________________________________________ (nome da criança), com fins única e exclusivamente académicos, científicos e educacionais em conferências e na formação de terapeutas da fala.

q Não autorizo que os investigadores utilizem as transcrições e gravações do meu filho __________________________________________ (nome da criança), com fins única e exclusivamente académicos, científicos e educacionais em conferências e na formação de terapeutas da fala.

Nome do Encarregado de Educação:________________________________________________________ Assinatura: __________________________________Data: _________________________

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210

Formulário de Autorização C: Consentimento secundário para integração dos dados das crianças no PHONBANK

childes.psy.cmu.edu/phon.

Estudo interlinguístico sobre o desenvolvimento fonológico infantil: Português Europeu

Verifique, por favor, a informação que se segue, confirmando com a sua assinatura.

• A sua assinatura mostra que recebeu uma cópia desta folha para seu registo próprio.

• A sua assinatura revela a sua concordância, ou não, com a futura submissão das transcrições e registos áudio do/a seu/sua filho/a ao PHONBANK.

Assinale, por favor, com uma (x), a opção que pretende:

q Autorizo que os investigadores deste estudo submetam, de forma anónima, as transcrições escritas da fala do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.

q NÃO AUTORIZO que os investigadores deste estudo submetam, de forma

anónima, as transcrições escritas da fala do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.

q Autorizo que os investigadores deste estudo submetam, de forma anónima, os

registos áudio da fala (sendo todos os nomes e informação pessoal que o/a identifique eliminados) do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.

q NÃO AUTORIZO que os investigadores deste estudo submetam, de forma anónima, os registos áudio da fala (sendo todos os nomes e informação pessoal que o/a identifique eliminados) do/a meu/minha filho/a ____________________________________________ (nome da criança) ao site internacional PHONBANK (childes.psy.cmu.edu/phon.), para futuras investigações no âmbito da aquisição e desenvolvimento da linguagem.

Nome do Encarregado de Educação: _______________________________________________________ Assinatura: __________________________________Data: _________________________ Não havendo consentimento, da sua parte, para submissão de transcrições e/ou gravações áudio para o PHONBANK, estes dados encontrar-se-ão protegidos, não sendo enviados para o banco de dados.

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211

ANEXO B: Transcições Fonéticas – Sujeito 1

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212

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Peras Nomeação [‘peɾɐ]

Sapato Nomeação [kɐ’paku]

Jipe Repetição [‘dipɨ]

Televisão Nomeação [fi’dɐ̃w]

Rato Nomeação [‘gaku]

Pente Nomeação [‘p~ek]

Cabelo Nomeação [kɐ’belu]

Faca Nomeação [‘fakɐ]

Bola Nomeação [‘bɔlɐ]

Dedo Nomeação [‘gegu]

Balde Nomeação [‘baɫgɨ]

Gato Nomeação [‘gaku]

Garrafa Nomeação [dɐ’ɾafɐ]

Café Nomeação [kɐ’fɛ]

Vassoura Nomeação [vɐ’koɾɐ]

Chapéu Nomeação [kɐ’pɛw]

Caixa Nomeação [‘kajkɐ]

Peixe Nomeação [‘pɐjkɨ]

Chave Nomeação [‘kafɨ]

Zebra Nomeação [‘gebɐ]

Mesa Nomeação [‘megɐ]

Janela Nomeação [gɐ’ɲɛlɐ]

Queijo Nomeação [‘kɐjgu]

Cama Nomeação [‘kɐmɐ]

Nariz Nomeação [ɲɐ’iʃ]

Telefone Nomeação [kuɫfɔɲ]

Unha Nomeação [‘ujnɐ]

Cozinhar Nomeação [kugi’naɾ]

Comer Nomeação [ku’me]

Chocolate Nomeação [Kuku’latɨ]

Lua Nomeação [‘ua]

Sol Nomeação [‘sɔlu]

Olho Nomeação [‘oju]

Palhaço Nomeação [pɐ’jaku]

Brincar Nomeação [bĩ’kaɾ]

Serpente Nomeação [kɨ’p~ekɨ]

Três Nomeação [‘keʃ]

Quatro Nomeação [‘kwaku]

Estrela Nomeação [‘kelɐ]

Prato Nomeação [‘paku]

Soprar Nomeação [ku’paɾ]

Frango Nomeação [‘fãgu]

Gravata Nomeação [gɐ’vakɐ]

Tigre Repetição [‘kigɨ]

Dragão Nomeação [gɐ’gɐ̃w]

Vidro Nomeação [‘vidu]

Creme Nomeação [‘kɛmɨ]

Letra Repetição [‘lekɐ]

Livro Nomeação [‘livu] Planta Nomeação [pɨlɐ̃kɐ] Bicicleta Nomeação [bi’kɫɛkɐ]

Flor Nomeação [fɨ’ɫoɾ]

Porco Nomeação [‘poku]

Porta Nomeação [‘pɔkɐ]

Gordo Nomeação [‘gogu]

Carne Nomeação [‘kaɾɲ]

Forte Nomeação [‘fɔk]

Formiga Nomeação [fu’migɐ]

Garfo Nomeação [‘gaɾfu]

Alto Nomeação [‘aɫku]

Calças Nomeação [‘kaɫkɐʃ]

Colchão Nomeação [koɫ’kɐ̃w]

Polvo Nomeação [‘powvu]

Hospital Nomeação [ɔpi’kaɫ]

Pasta Nomeação [pakɐ]

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213

SEGUNDA AVALIAÇÃO

Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐ]

Sapato Nomeação [sɐ’patu]

Jipe Nomeação [‘zipɨ]

Televisão Nomeação [tɫvi’zɐ̃w]

Rato Nomeação [‘ʀatu]

Pente Nomeação [‘p~et]

Cabelo Nomeação [kɐ’belu]

Faca Nomeação [‘fakɐ]

Bola Nomeação [‘bɔlɐ]

Dedo Nomeação [‘dedu]

Balde Nomeação [‘baɫdɨ]

Gato Nomeação [‘gatu]

Garrafa Nomeação [gɐ’ʀafɐ]

Café Nomeação [kɐ’fɛ]

Vassoura Nomeação [vɐ’soɾɐ]

Chapéu Nomeação [sɐ’pɛw]

Caixa Nomeação [‘kajsɐ]

Peixe Nomeação [‘pɐjsɨ]

Chave Nomeação [‘safɨ]

Zebra Nomeação [‘zebɐ]

Mesa Nomeação [‘mezɐ]

Janela Nomeação [zɐ’nɛlɐ]

Queijo Nomeação [‘kɐjzu]

Cama Nomeação [‘kɐmɐ]

Nariz Nomeação [nɐ’ɾiʃ]

Telefone Nomeação [tuɫfɔn]

Unha Nomeação [‘ujnɐ]

Cozinhar Nomeação [kuzi’naɾ]

Carro Nomeação [‘kaʀu]

Comer Nomeação [ku’meɾ]

Lua Nomeação [‘luɐ]

Sol Nomeação [‘sɔɫ]

Olho Nomeação [‘oju]

Palhaço Nomeação [pɐ’jasu]

Brincar Nomeação [bɨɾĩ’kaɾ]

Serpente Nomeação [sɨɾ’p~etɨ]

Três Nomeação [‘teʃ]

Quatro Nomeação [‘kwatu]

Estrela Nomeação [ɨʃ‘telɐ]

Prato Nomeação [‘patu]

Soprar Nomeação [su’paɾ]

Frango Nomeação [‘fãgu]

Gravata Nomeação [gɐɾ’vatɐ]

Tigre Nomeação [‘kigɨ]

Dragão Nomeação [gɐɾ’gɐ̃w]

Vidro Nomeação [‘vidu]

Creme Nomeação [‘kɛmɨ]

Letra Nomeação [‘letɐ]

Livro Nomeação [‘lifu]

Planta Nomeação [pɫɐ̃tɐ]

Bicicleta Nomeação [bisi’kɫɛtɐ]

Flor Nomeação [fɨ’ɫoɾ]

Porco Nomeação [‘poɾku]

Porta Nomeação [‘pɔɾtɐ]

Gordo Nomeação [‘goɾgu]

Carne Nomeação [‘kaɾn ɨ]

Forte Nomeação [‘fɔɾtɨ]

Formiga Nomeação [fuɾ’migɐ]

Garfo Nomeação [‘gaɾfu]

Alto Nomeação [‘aɫtu]

Almofada Nomeação [‘aɫmufadɐ]

Calças Nomeação [‘kaɫsɐʃ]

Colchão Nomeação [koɫ’sɐ̃w]

Polvo Nomeação [‘poɫvu]

Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]

Pescar Nomeação [pɨʃ’kaɾ]

Pasta Nomeação [paʃ tɐ]

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214

TERCEIRA AVALIAÇÃO

Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐ]

Sapato Nomeação [sɐ’patu]

Jipe Nomeação [‘ʒipɨ]

Televisão Nomeação [tɫvi’zɐ̃w]

Rato Nomeação [‘ʀatu]

Pente Nomeação [‘p~et]

Cabelo Nomeação [kɐ’belu]

Faca Nomeação [‘fakɐ]

Bola Nomeação [‘bɔlɐ]

Dedo Nomeação [‘dedu]

Balde Nomeação [‘baɫdɨ]

Gato Nomeação [‘gatu]

Garrafa Nomeação [gɐ’ʀafɐ]

Café Nomeação [kɐ’fɛ]

Vassoura Nomeação [vɐ’soɾɐ]

Chapéu Nomeação [ʃɐ’pɛw]

Caixa Nomeação [‘kɐjʃɐ]

Peixe Nomeação [‘pɐjʃɨ]

Chave Nomeação [‘ʃɐfɨ]

Zebra Nomeação [‘zebɾɐ]

Mesa Nomeação [‘mezɐ]

Janela Nomeação [zɐ’nɛlɐ]

Queijo Nomeação [‘kɐjʒu]

Cama Nomeação [‘kɐmɐ]

Nariz Nomeação [nɐ’ɾiʃ]

Telefone Nomeação [tuɫfɔn]

Unha Nomeação [‘ujɲɐ]

Cozinhar Nomeação [kuzi’ɲaɾ]

Carro Nomeação [‘kaʀu]

Comer Nomeação [ku’meɾ]

lua Nomeação [‘luɐ]

Sol Nomeação [‘sɔɫ]

Olho Nomeação [‘oju]

Palhaço Nomeação [pɐ’jasu]

Brincar Nomeação [bĩ’kaɾ]

Serpente Nomeação [sɨ’pɾ~etɨ]

Três Nomeação [‘teʃ]

Quatro Nomeação [‘kwatɾu]

Estrela Nomeação [ɨʃ ‘tɾelɐ]

Prato Nomeação [‘pratu]

Soprar Nomeação [su’pɾaɾ]

Frango Nomeação [‘fɾãgu]

Gravata Nomeação [gɐɾ’vatɐ]

Tigre Nomeação [‘tigɾɨ]

Dragão Nomeação [dɾɐ’gɐ̃w]

Vidro Nomeação [‘vidɾu]

Creme Nomeação [‘kɾɛmɨ]

Letra Nomeação [‘letɾɐ]

Livro Nomeação [‘livɾu]

Planta Nomeação [pɫɐ̃tɐ]

Bicicleta Nomeação [bisi’kɫɛtɐ]

Flor Nomeação [‘fɫoɾ]

Porco Nomeação [‘poɾku]

Porta Nomeação [‘pɔɾtɐ]

Gordo Nomeação [‘goɾgu]

Carne Nomeação [‘kaɾn ɨ]

Forte Nomeação [‘fɔɾtɨ]

Formiga Nomeação [fuɾ’migɐ]

Garfo Nomeação [‘gaɾfu]

Alto Nomeação [‘aɫtu]

Almofada Nomeação [‘aɫmufadɐ]

Calças Nomeação [‘kaɫsɐʃ]

Colchão Nomeação [koɫ’ʃɐ̃w]

Polvo Nomeação [‘poɫvu]

Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]

Pescar Nomeação [pɨʃ’kaɾ]

Pasta Nomeação [‘paʃ tɐ]

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ANEXO C: Transcrições Fonéticas – Sujeito 2

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216

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Peras Nomeação [‘peɐ]

Sapato Nomeação [tɐ’patu]

Jipe Nomeação [‘dipɨ]

Televisão Nomeação [tibi’ɐ̃w]

Rato Nomeação [‘datu]

Pente Nomeação [‘p~etɨ]

Cabelo Nomeação [tɐ’beu]

Faca Nomeação [‘pakɐ]

Bola Nomeação [‘bɔwɐ]

Dedo Nomeação [‘dedu]

Balde Nomeação [‘badɨ]

Gato Nomeação [‘datu]

Garrafa Nomeação [dɐ’batɐ]

Café Nomeação [tɐ’pɛ]

Vassoura Nomeação [bɐ’toɐ]

Chapéu Nomeação [tɐ’pɛw]

Caixa Nomeação [‘tajʃɐ]

Peixe Nomeação [‘pɐjtɨ]

Chave Nomeação [‘tabɨ]

Zebra Nomeação [‘debɨɐ]

Mesa Nomeação [‘medɐ]

Janela Nomeação [dɐ’ɛnɐ]

Queijo Nomeação [‘tɐjdu]

Cama Nomeação [‘tɐmɐ]

Nariz Nomeação [nɐ’i]

Telefone Nomeação [tu’pɔn ɨ]

Unha Nomeação [‘ujɐ]

Cozinhar Repetição [tui’da]

Carro Nomeação [‘tadu]

Comer Nomeação [ku’me]

Lua Nomeação [‘uɐ]

Sol Nomeação [‘tɔlu]

Olho Nomeação [‘oju]

Palhaço Nomeação [pɐ’atu]

Brincar Nomeação [bĩ’ta]

Cobra Nomeação [‘tɔbɐ]

Três Nomeação [‘te]

Quatro Nomeação [‘twatu]

Estrela Nomeação [‘teɐ]

Prato Nomeação [‘patu]

Soprar Nomeação [tu’pa]

Frango Repetição [‘pãdu]

Gravata Nomeação [dɐ’batɐ]

Tigre Nomeação [‘tidɨ]

Dragão Nomeação [dɐ’dɐ̃w]

Vidro Nomeação [‘bidu]

Creme Repetição [‘tɛmɨ]

Letra Repetição [‘etɐ]

Livro Nomeação [‘libu]

Bicicleta Nomeação [bi’tiɛtɐ]

Flor Nomeação [pu’o]

Porco Nomeação [‘potu]

Porta Nomeação [‘pɔtɐ]

Gordo Nomeação [‘dodu]

Carne Nomeação [‘tan ɨ]

Forte Nomeação [‘pɔtɨ]

Formiga Nomeação [pu’midɐ]

Garfo Nomeação [‘dapu]

Alto Repetição [‘awtu]

Almofada Nomeação [‘awmupada]

Calças Repetição [‘tawtɐ]

Colchão Repetição [to’tɐ̃w]

Polvo Nomeação [‘powbu]

Hospital Repetição [ɔpi’taw]

Pesca Nomeação [‘pɛtɐ]

Pasta Nomeação [‘patɐ]

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A Avaliação Fonológica das Perturbações dos Sons da Fala – Modelo Padrão de Aquisição de Contrastes- Estudo de Caso

217

SEGUNDA AVALIAÇÃO

Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐʃ]

Sapato Nomeação [ʃɐ’patu]

Jipe Nomeação [‘ʒipɨ]

Televisão Nomeação [tivi’ʒɐ̃w]

Rato Nomeação [‘ʀatu]

Pente Nomeação [‘p~et]

Cabelo Nomeação [kɐ’belu]

Faca Nomeação [‘fakɐ]

Bola Nomeação [‘bɔlɐ]

Dedo Nomeação [‘dedu]

Balde Nomeação [‘bawdɨ]

Gato Nomeação [‘gatu]

Garrafa Nomeação [gɐ’ʀafɐ]

Café Nomeação [kɐ’fɛ]

Vassoura Nomeação [vɐ’ʃoɐ]

Chapéu Nomeação [sɐ’pɛw]

Caixa Nomeação [‘kajʃɐ]

Peixe Nomeação [‘pɐjʃɨ]

Chave Nomeação [‘ʃafɨ]

Zebra Nomeação [‘ʒebɐ]

Mesa Nomeação [‘mevɐ]

Janela Nomeação [ʒɐ’nɛlɐ]

Queijo Nomeação [‘kɐjʒu]

Cama Nomeação [‘kɐmɐ]

Nariz Nomeação [nɐ’iʃ]

Telefone Nomeação [tufɔn ɨ]

Unha Nomeação [‘unɐ]

Cozinhar Nomeação [kuʒi’ɲaɾ]

Carro Nomeação [‘kaʀu]

Comer Nomeação [ku’me]

lua Nomeação [‘luɐ]

Sol Nomeação [‘sɔɫ]

Olho Nomeação [‘oju]

Palhaço Nomeação [pɐ’jaʃu]

Brincar Nomeação [bĩ’kal]

Serpente Nomeação [‘kɔbɐ]

Três Nomeação [‘teʃ]

Quatro Nomeação [‘kwatu]

Estrela Nomeação [ɨʃ ‘telɐ]

Prato Nomeação [‘patu]

Soprar Nomeação [ʃu’pal]

Frango Nomeação [‘fãgu]

Gravata Nomeação [gɐ’vatɐ]

Tigre Nomeação [‘tigɨ]

Dragão Nomeação [dɐ’gɐ̃w]

Vidro Nomeação [‘vidu]

Creme Nomeação [‘kɛmɨ]

Letra Nomeação [‘letɐ]

Livro Nomeação [‘livu]

Planta Nomeação [pɨɫɐ̃tɐ]

Bicicleta Nomeação [biʃ i’kɨɫɛtɐ]

Flor Nomeação [fɨ’ɫoɾ

Porco Nomeação [‘poku]

Porta Nomeação [‘pɔtɐ]

Gordo Nomeação [‘gogu]

Carne Nomeação [‘kan ɨ]

Forte Nomeação [‘fɔtɨ]

Formiga Nomeação [fu’migɐ]

Garfo Nomeação [‘gafu]

Alto Nomeação [‘awtu]

Almofada Nomeação [‘awmufadɐ]

Calças Nomeação [‘kaʃɐʃ]

Colchão Nomeação [ko’ʃɐw]

Polvo Nomeação [‘powvu]

Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]

Pesca Nomeação [pɛʃ’ka]

Pasta Nomeação [paʃ tɐ]

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218

TERCEIRA AVALIAÇÃO Estímulo Alvo Nom. Rep. Produção Pera Nomeação [‘peɾɐʃ]

Sapato Nomeação [ʃɐ’patu]

Jipe Nomeação [‘ʒipɨ]

Televisão Nomeação [tivi’ʒɐ̃w]

Rato Nomeação [‘ʀatu]

Pente Nomeação [‘p~et]

Cabelo Nomeação [kɐ’belu]

Faca Nomeação [‘fakɐ]

Bola Nomeação [‘bɔlɐ]

Dedo Nomeação [‘dedu]

Balde Nomeação [‘baɫdɨ]

Gato Nomeação [‘gatu]

Àgua Nomeação [‘agwɐ]

Café Nomeação [kɐ’fɛ]

Vassoura Nomeação [vɐ’ʃoɐ]

Chapéu Nomeação [ʃɐ’pɛw]

Caixa Nomeação [‘kajʃɐ]

Peixe Nomeação [‘pɐjʃɨ]

Chave Nomeação [‘ʃafɨ]

Zebra Nomeação [‘ʒebɐ]

Mesa Nomeação [‘mevɐ]

Janela Nomeação [ʒɐ’nɛlɐ]

Queijo Nomeação [‘kɐjʒu]

Cama Nomeação [‘kɐmɐ]

Nariz Nomeação [nɐ’iʃ]

Telefone Nomeação [tɨɫfɔn ɨ]

Unha Nomeação [‘uɲɐ]

Cozinhar Nomeação [kuʒi’ɲaɾ]

Carro Nomeação [‘kaʀu]

Chocolate Nomeação [ʃuku’latɨ]

lua Nomeação [‘luɐ]

Sol Nomeação [‘sɔɫ]

Olho Nomeação [‘oʎu]

Palhaço Nomeação [pɐ’ʎaʃu]

Brincar Nomeação [bĩ’kal]

Serpente Nomeação [‘kɔbɐ]

Três Nomeação [‘teʃ]

Quatro Nomeação [‘kwatu]

Estrela Nomeação [ɨʃ ‘telɐ]

Prato Nomeação [‘patu]

Soprar Nomeação [ʃu’pal]

Frango Nomeação [‘fãgu]

Gravata Nomeação [gɐ’vatɐ]

Tigre Nomeação [‘tigɨ]

Dragão Nomeação [dɐ’gɐ̃w]

Vidro Nomeação [‘vidu]

Creme Nomeação [‘kɛmɨ]

Letra Nomeação [‘letɐ]

Livro Nomeação [‘livu]

Planta Nomeação [pɨɫɐ̃tɐ]

Bicicleta Nomeação [biʃ’klɛtɐ]

Flor Nomeação [‘fɫo]

Porco Nomeação [‘poku]

Porta Nomeação [‘pɔtɐ]

Gordo Nomeação [‘godu]

Carne Nomeação [‘kan ɨ]

Força Nomeação [‘foʃɐ]

Formiga Nomeação [fu’migɐ]

Garfo Nomeação [‘gafu]

Alto Nomeação [‘aɫtu]

Almofada Nomeação [‘aɫmufadɐ]

Calças Nomeação [‘kaɫʃɐʃ]

Colchão Nomeação [koɫ’ʃɐw]

Polvo Nomeação [‘poɫvu]

Hospital Nomeação [ɔʃpi’taɫ]

Pesca Nomeação [pɛʃ’ka]

Pasta Nomeação [paʃ tɐ]

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219

ANEXO D: Folhas de registo – Ocorrências de Consoantes

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220

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221

ANEXO E: Folhas de Registo – Cálculo para o inventário fonológico

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222

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223

ANEXO F: Folha de registo – Representação do Inventário Fonológico

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224

Ataque Simples

/p/

/b/

/ t /

/d/

/k/

/g/

/f /

/v/

/s/

/z/

/ʃ/

/ʒ/

/m/

/n/

/ɲ/

/ l /

/ʎ/

/ɾ/

/ʀ /

Coda

/s/

/ɾ/ /l/

Ataque Ramificado

/cɾv/

/clv/

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225

ANEXO G: Folha de registo – Ocorrência de Processos fonológicos

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226

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227

ANEXO H: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE

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228

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229

ANEXO I: Folhas de Registo – Ocorrência de Consoantes– Sujeito 1

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230

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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231

SEGUNDA AVALIAÇÃO

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232

TERCEIRA AVALIAÇÃO

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233

ANEXO J: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 1

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234

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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235

SEGUNDA AVALIAÇÃO

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236

TERCEIRA AVALIAÇÃO

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237

ANEXO K: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 1

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238

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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239

SEGUNDA AVALIAÇÃO

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240

TERCEIRA AVALIAÇÃO

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241

ANEXO L: Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 1

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242

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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243

SEGUNDA AVALIAÇÃO

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244

TERCEIRA AVALIAÇÃO

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245

ANEXO M : Folhas de registo – Ocorrência de Consoantes sujeito 2

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246

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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247

SEGUNDA AVALIAÇÃO

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248

TERCEIRA AVALIAÇÃO

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249

ANEXO N: Folhas de registo – Cálculo para inventário fonológico - sujeito 2

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250

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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251

SEGUNDA AVALIAÇÃO

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252

TERCEIRA AVALIAÇÃO

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253

ANEXO O: Folhas de registo – Cálculo Processos Fonológicos sujeito 2

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254

PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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255

SEGUNDA AVALIAÇÃO

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TERCEIRA AVALIAÇÃO

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ANEXO P : Folhas de registo – Cálculo de Contrastes PAC-PE sujeito 2

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PRIMEIRA AVALIAÇÃO

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SEGUNDA AVALIAÇÃO

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TERCEIRA AVALIAÇÃO