635 - 24.05.2011

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[email protected] @jornallona lona.up.com.br O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Ano XII - Número 635 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Do lazer ao vício. Quando a diver- são do jogo de cartas se transfor- ma em doença Pág. 4 e 5 Coluna Especial Nova associação busca disseminar a prática ciclística em Curitiba Óscar Cidri Balanço do número de mulheres no cenário político Encanador e tran- sexual. Lisboa e a superação do preconceito Pág. 8 Perfil A paixão argen- tina pelo futebol e o fascínio pelo Brasil Pág. 6 Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011 Mais de 50 ciclistas curitibanos prestigiarama a fundação da Associação de Ciclis- tas do Alto Iguaçu neste último domingo, 22. O evento aconteceu no Solar do Barão e também marcou o encerramento da exposição MOB - Arte, Bicicleta e Mo- bilidade. Pág. 3

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Jornal-laboratório diário do curso de Jornalismo da Universidade Positivo.

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011

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lona.up.com.br

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Ano XII - Número 635Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade Positivo

Do lazer ao vício. Quando a diver-são do jogo de cartas se transfor-ma em doença

Pág. 4 e 5

Coluna

Especial

Nova associação busca disseminar a prática ciclística em Curitiba

Óscar Cidri

Balanço do número de mulheres no cenário político

Encanador e tran-sexual. Lisboa e a superação do preconceito

Pág. 8

Perfi l

A paixão argen-tina pelo futebol e o fascínio pelo Brasil

Pág. 6

Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011

Mais de 50 ciclistas curitibanos prestigiarama a fundação da Associação de Ciclis-tas do Alto Iguaçu neste último domingo, 22. O evento aconteceu no Solar do Barão e também marcou o encerramento da exposição MOB - Arte, Bicicleta e Mo-bilidade.

Pág. 3

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011 2

Expediente

Reitor José Pio Martins

Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto

Pró-Reitora de Graduação Marcia Sebastiani

Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Bruno Fernandes

Coordenação dos Cursos de Comunicação SocialAndré Tezza Consentino

Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira

Professores-orientadores Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima

Editores-chefes Daniel Zanella, Laura Bordin, Priscila Schip

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universi-dade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 -

Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba -PR CEP 81280-30

Fone: (41) 3317-3044.

EditorialNão é uma novidade, sequer

uma constatação surpreenden-te: uma parcela significativa dos estudantes do curso de Jornalis-mo da UP - muitos diretamente ligados ao processo de produção - não leem as edições diárias do Lona.

São diversos os fatores que podem explicar esse panorama. Investigá-los é até uma forma de tentar entender o jornalismo contemporâneo referente ao im-presso.

Na década de 2000, os gran-des impressos foram sacudidos pela disseminação da internet. Capaz de oferecer a notícia mi-nuto a minuto e uma amplitude de possibilidades teoricamente infinitas, a internet transformou o jeito de receber a informação - e os impressos não conseguiram encontrar um caminho seguro de fidelização de seus leitores diante dessa nova dinâmica. (Para entender o tamanho do rombo, a Folha de S.Paulo, por exemplo, em 1995 chegou a ro-dar uma edição de domingo com um milhão e 300 mil exemplares. Atualmente, sua tiragem percor-re a faixa de 400 mil diários).

Além da falta de interface com os leitores, o jornalismo im-presso não conseguiu cativar a

faixa de leitores renováveis. São poucos os jovens que cultivam atualmente o hábito diário de lei-tura de jornais. Conclusão ligeira: o público fiel envelhece e o novo público consumidor encara o im-presso como um antiquário.

Outro fator importante é a dificuldade dos impressos de “venderem” suas vantagens. Se são translúcidos os benefícios da internet e de outros meios ins-tantâneos, o jornalismo impresso possui características próprias capazes de justificar a sua exis-tência: potencial de análise, de permanência, de credibilidade de aferição e historicidade. (Van-tagens que o rádio, a sua manei-ra, soube explorar após o impac-to severo da televisão sobre sua audiência.)

O que estamos buscando nesse processo - e com a nossa localização específica de jornal-laboratório - é trazer os leitores jovens, nossos amigos, nossos companheiros de redação, nos-sos colegas de curso, ao convívio com o papel.

Não sabemos se essa é uma missão possível, sequer se é esse um discurso capaz de atingir a nossa geração.

Mas vamos tentar.Boa leitura a todos.

Carga tributária elevadaAna Elisa Silva

Opinião

A carga tributária do Brasil é uma das mais altas do mundo, atingindo todos os setores e todas as pessoas. Para saber disso não é necessário ser um leitor assíduo das editorias de economia: essa é uma informação que certamente qualquer brasileiro conhece. Em outros países a carga tributária é muito mais branda. Tanto nos serviços básicos, como o forneci-mento de água, telefone e energia elétrica (a conta de luz do brasi-leiro é mais cara do que muitos países considerados ricos, como França, Suíça, Reino Unido, Ja-pão e Itália), quanto nos produtos mais supérfluos, como perfumes, roupas e eletroeletrônicos. Pro-va dessa discrepância de taxas cobradas é o grande número de pessoas que trazem produtos do exterior para revender no Brasil. Essas pessoas compram as mer-cadorias, colocam uma margem relativamente alta sobre elas, e ain-da assim o preço praticado acaba sendo mais barato do que um cor-retamente importado e tributado.

Mas para onde vai esse di-nheiro todo que é arrecadado? Para que tanto dinheiro? Fre-quentemente chegam até nós dados que comparam a carga tri-butária nacional. Em 2009 o Brasil

ocupou o 22º lugar no ranking de arrecadação, e à frente da nação havia, entre outros, 14 países eu-ropeus desenvolvidos. A Norue-ga tinha uma carga tributária de 43,6%, enquanto no Brasil esse número era de 38,4%.

Na Noruega, as escolas são de qualidade e públicas, até existem algumas no setor privado, porém elas se diferenciam apenas no as-pecto da metodologia aplicada, jamais na qualidade. A saúde também segue o mesmo rumo, não existem problemas de mora-dia e nem de saneamento básico. Em 2009, a Noruega arrecadou 25 mil dólares per capita, ao mesmo tempo em que o governo brasi-leiro arrecadava 4 mil dólares per capita.

No Brasil sonhamos com os mesmos serviços públicos da Noruega, mas temos que concor-dar que é impossível fornecer um serviço de 25 mil dólares arreca-dando 4 mil. E ainda pensando na questão “per capita” devemos levar em conta o PIB de cada país, porque se o país tem um PIB per capita alto, ele pode até se dar ao luxo de ter uma carga tributária menor, porque o total arrecada-do é grande. O que não é uma realidade para todos os países

1,5 detentos por vaga dispo-nível. O ambiente de super-lotação gera nos presos um sentimento de desrespeito e de revolta. A ociosidade é ou-tro grande problema. De ma-neira geral, não são oferecidos aos detentos trabalhos de ca-pacitação que irão contribuir para sua posterior reinser-ção no mercado de trabalho.

Essa combinação de fatores, somada à falta de critérios de divisão dos presos nas celas, estimula o desenvolvimento de um ambiente ainda mais violento. Presos que comete-ram crimes graves são postos na mesma cela de outros que são réus primários e estão ali apenas por um pequeno furto.

O livro “Estação Carandi-ru”, escrito pelo médio Dráu-zio Varella, relata a experiência do autor na Casa de Deten-ção de São Paulo, onde reali-zou um trabalho voluntário de prevenção à Aids. Duran-te o tempo de convivência foi possível entender o funciona-mento e as regras internas da

Brasil: a terceira maior população carcerária do mundo

prisão, destivada anos mais tarde. A quantidade de guar-das era mínima para cuidar de uma população de 7.200 pre-sos. A falta de controle inter-no fazia com que os detentos criassem suas próprias regras e as drogas eram a principal moeda de troca do presídio.É necessária a ação do governo no sentido de reformular essa estrutura visivelmente falida. As famílias dos presos recebem uma pensão durante todo o período que este estiver cum-prindo regime fechado. Esse dinheiro sai do bolso do con-tribuinte. Mesmo que falido, este sistema é sustentado pelos cidadãos que pagam impostos.Não é mais possível que a po-pulação brasileira aceite que o dinheiro de seus impostos seja investido em algo que não dá retorno positivo. O número de presos aumenta casa vez mais e, ao invés da penitenciária cum-prir o papel de possibilitar uma regeneração e posterior reinser-ção dos detentos na sociedade, acaba excluindo-os ainda mais.

O sistema carcerário bra-sileiro é há muitos anos ine-ficiente e ultrapassado. Entre os principais problemas es-tão a falta de infraestrutura para atender à demanda de presos, a superlotação e as condições de vida absoluta-mente desumanas.

Segundo dados divulgados pelo Departamento Penitenciá-rio Nacional (Depen), no ano de 2009 havia 469 mil presos nas cadeias brasileiras, mas só ha-via 299 mil vagas disponíveis. Essa estatística aponta um ex-cedente de 170 mil presidiários.

Nos últimos cinco anos o número de presos aumentou 37% nas cadeias brasileiras. O Brasil possui hoje a tercei-ra maior população carcerária do mundo, atrás, apenas, dos Estados Unidos e da China.

O governo parece ter fe-chado os olhos para esse que é um grande problema civil. As autoridades, além de não in-vestirem na reforma carcerária, também se mantêm omissas.

Atualmente existe cerca de

desenvolvidos, visto que alguns, como a Noruega praticam uma elevada carga tributária.

E vale lembrar que a sonega-ção no Brasil é tão alta, senão for maior, quanto a carga tributária. Não falo apenas das pequenas sonegações do imposto de ren-da, falo também de todas aquelas outras de empresas de qualquer porte que acabam se somando. A Receita, a cada ano, promete que vai apertar na malha fina, mas mesmo assim, o sistema ainda é falho e muitos praticam o crime de sonegação fiscal. Aquele que sonega, corre o risco de ser fla-grado pela Receita Federal e so-frer punições, em contrapartida a sociedade toda é quem sofre. Pois o governo tem a necessi-dade de cumprir uma série de compromissos financeiros, e se o montante arrecadado não for suficiente o aumento da carga tri-butária deixa de ser opção para se tornar uma necessidade.

Além dos compromissos fi-nanceiros, vale lembrar que o país precisa ter dinheiro em caixa para poder investir em aspectos básicos, como educação, moradia e saúde. Quando se deixa de pa-gar impostos, a população é pre-judicada.

Gabriela Junqueira

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011

SUSTENTABILIDADE 3

Mais de 50 ciclistas curi-tibanos assinaram a ata de fundação da Associação de Ciclistas do Alto Igua-çu, no último domingo (22), no Solar do Barão. A data marcou também o encerra-mento da exposição MOB - Arte, Bicicleta e Mobilidade.

Curitiba é conhecida in-ternacionalmente como a Capital Ecológica, mas no dia a dia quem precisa se locomover percebe que a ci-dade já se tornou a capital do caos motorizado. Dados do Censo 2010 promovido pelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), revelam que Curitiba é a capital com maior número de veículos por habitante. O transporte coletivo - que no passado já foi considerado modelo -, hoje é obsoleto e um dos mais caros do Bra-sil. Atende precariamente seus mais de dois milhões de usuários, e é nesse cenário que a nova associação nasce.

A entidade tem sua ori-gem em um movimento co-letivo e espontâneo, a Bicicle-tada. Dela saem os principais idealizadores da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu. O ciclista e jornalista Jaques Brand, em seu animado dis-curso, destacou a importân-cia da Bicicletada, enquanto embrião da Associação. Já Thiago Assunção, advogado e mestre em Educação, desta-ca o papel cultural e de cons-cientização que a entidade irá desenvolver. Ele será um dos coordenadores do Núcleo de Educação. Carlos Bellotto, coordenador do Ciclovida da UFPR, pautou uma primeira grande ação: divulgar de ma-neira ostensiva o Artigo 58 do Código de Trânsito que de-termina a preferência das bi-cicletas em vias que não exis-tam ciclovias ou ciclofaixas.

Em uma recente pesqui-sa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) são apresentados dados que se referem a uma média na-cional dos transportes utili-

Associação de Ciclistas é criada em CuritibaEvento aconteceu no último domingo e contou com mais de 50 adeptos das bicicletas

Óscar Cidri

Grupo se reuniu para oficializar a associação de ciclistas

Óscar Cidri

zados nas grandes cidades. Segundo o levantamento, apenas 1,64% das pessoas utilizam a bicicleta para seus deslocamentos diários. Este número poderia ser signifi-cativamente maior se hou-vessem vias para bicicletas e uma cultura de respeito aos ciclistas como destaca Jorge Brand, o Goura. “A Associa-

ção tem por objetivo fomen-tar a cultura da bicicleta e também servir de um canal de diálogo com o poder pú-blico da cidade”, diz. Refor-çando esta ideia, o poeta e organizador dos trâmites le-gais da Associação, Rodolfo Jaruga, falou da importância e significado que a entida-de traz à luta por melhores

condições para os ciclistas.Encontro

Na próxima sexta-feira (27), às 19h na Reitoria da UFPR, acontece mais uma reunião que tem como objetivo finalizar o es-tatuto da Associação e compor a mesa diretora. Os ciclistas que tiverem interesse em partici-par podem procurar o grupo.

Alguns dias atrás, con-versando com amigos de São Paulo, ouvia seguinte frase: “Curitiba é cidade de ponta, alto nível de infraestrutura e urbanismo”. Eu concor-dei, até porque nessas horas a gente sempre fica com or-gulho da nossa cidade, mas a verdade é que estamos tão mal acostumados com tanta zona, que passamos a achar que as cidades menos caóticas são as mais perfeitas. Errado.

Costumo dizer que sou uma falsa-ciclista, porque ando

bem menos de bicicleta do que gostaria de andar. Geralmente só nos finais de semana, quan-do não vou muito longe (a ponto de competir com os car-ros) e posso voltar cedo (com a segurança da luz do dia).

É por isso que acho interes-sante qualquer iniciativa que busque a mudança desse cená-rio. Mobilizações como a Bici-cletada, a Associação de Ciclis-tas do Alto Iguaçu, exposições do MOB, ações que visam esclarecer a importância de veículos alternativos e, prin-cipalmente, desejam o desen-volvimento sustentável dessa cidade tão “de ponta” como

é vista nos outros estados.Sendo assim, quando in-

centivo meus amigos a apoia-rem esses projetos, eu tento deixar claro que por mais que nossos trabalhos sejam longe, por mais que a gente divida o carro em cinco pessoas ou só utilize transporte públi-co, é importante lembrar que há outro assunto em pauta: o desenvolvimento. Estamos preparados para o título de ca-pital ecológica? De desenvol-vimento urbano planejado?

Nesse âmbito, mudanças podem finalmente nos dar a se-gurança de afirmar: “sim, nossa cidade é exemplo para o país”.

Sobre bicicleta, mobilização e orgulhoSofia Ricciardi

A Bicicletada é um movi-mento espontâneo, sem líderes instituídos, crítico, autônomo e consciente. Ma-nifesta-se a favor dos meios de transporte com propulsão humana - de-stacadamente a bicicleta. O evento é alegre, descontraído e muitas vezes irreverente, sem perder o teor e a incisiva vo-cação política do movimento.

Num mundo mergulhado em escândalos de corrupção e desrespeito à vida – em to-dos os níveis – a Bicicletada visa despertar em seus par-ticipantes a consciência de que outras formas de orga-nização social são possíveis.

Massa Crítica (Critical

Mass) é o nome que o movi-mento recebe em outros países. Por exemplo, Porto Alegre adota o nome Massa Crítica, assim como diver-sos lugares. Em Curitiba, São Paulo e outras cidades as pessoas que primeiro orga-nizaram a ação adotaram a denominação de Bicicletada.

Em Curitiba, as pessoas se concentram a partir das 9h30min no pátio da reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), entre as ruas General Carneiro e Dr. Faivre, todo último sábado do mês e saem em passeio pelas princi-pais vias do centro da cidade.

Explicando a Bicicletada Serviço: Quem quiser conhecer mais sobre a Bicicletada pode acessar o site do grupo pelo endereço: http://www.bicicletadacuritiba.org

OpiniãO

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011 4

Começou neste final de semana, a 41° edição do Campe-onato Brasileiro de Futebol. A competição contará com 20

clubes que competirão em sistema de turno e returno. O clube com mais pontos ao longo das trinta e oito rodadas é

o campeão. Se contarmos com a Taça Brasil e o Torneio Ro-berto Gomes Pedrosa – a CBF computa esses campeonatos

como títulos nacionais – essa é a 56ª edição do Nacional.

Nesta temporada, os primeiros quatro clubes classificam-se para a Copa Libertadores da América de 2012, o mais impor-

tante torneio continental das Américas. Caso o Santos seja o campeão da edição atual do torneio – está classificado para a semifinal e jogará contra o Cerro Porteno – e chegue entre

os quatro do Brasileirão, abre vaga para o quinto colocado geral. O mesmo vale no caso de um campeão da Copa Sul

Americana ser brasileiro.

Campeonato Brasileiro 2011 Copa Libertadores da América

Passatempo de raciocínio x Jogo de azar

O baralho é um jogo de estratégia, raciocínio e sorte, praticado no mundo todo. In-ventado há séculos, ele é mais do que um simples passa-tempo. Desde a antiguidade está presente na sociedade e é um hábito constante do ser humano. As cartas oferecem possibilidade de prática de mais de trinta jogos distintos. Não há uma faixa etária espe-cifica: crianças, jovens, adul-tos e idosos costumam jogar.

Os jogos podem ser pra-ticados individualmente ou em grupo, pessoalmente ou através do computador. Inú-meros são os campeonatos e prêmios que dão oportu-nidade às pessoas para de-monstrar seu talento. Porém, o problema surge quando há envolvimento de apostas em dinheiro nas partidas: o que era um simples lazer passa a ser um jogo de azar.

A psicóloga Cristina Ma-chado afirma que muitos são os casos de pessoas vi-ciadas no carteado. Um dos motivos é a facilidade para jogar, outro porque as pes-soas não percebem que estão viciadas. “O viciado é aque-le em que o dia não pode começar nem terminar sem uma mesa de jogo. Perde o dia de trabalho ou quantias altas em dinheiro. Eles não

percebem que a questão já saiu de controle”, explica ela.

É o que aconteceu com o professor Uilton Ribeiro. Ele admite que foi muito difícil largar o vício. “Jogava ba-ralho todas as noites e saía cada vez mais endividado”. Ribeiro conta que quase per-deu sua casa em uma mesa de jogo. “O pior de tudo não foi a quase perda do imóvel, e sim a ameaça de minha mu-lher de ir embora com nosso filho mais velho. Na épo-ca eu também bebia”, lem-bra com lágrimas nos olhos.

“O viciado é aquele que o dia não pode

começar nem termi-nar sem uma mesa

de jogo. Perde o dia de trabalho ou quantias altas em

dinheiro.” Psicóloga

Cristina Machado

Viciados em jogos não têm tratamento especializado

Grupo de Jogadores Anônimos (JA) instalado em Curitiba há seis anos

Tatiane Godinho Juliane Moura

Enquanto os estabeleci-mentos e os campeonatos de jogos, envolvendo apostas, crescem por todo Paraná, o mesmo não ocorre com o nú-mero de locais que oferecem tratamento especializado para aqueles que desenvolvem uma doença reconhecida pelos mé-dicos como jogo patológico. No estado, as pessoas que buscam ajuda para se curar desse distúrbio, precisam ficar em clínicas ou hospitais volta-dos ao tratamento de depen-

Jogos de cartas

dentes químicos e alcoólatras. O estudante C.M.L., de 24

anos, que não quer se iden-tificar, é um exemplo disso. Ele ficou sete meses internado em uma clínica ao lado de de-pendentes químicos. “Tentei desistir várias vezes do tra-tamento, pois me sentia um peixe fora d’água”, desabafou.

O primeiro contato que ele teve com o jogo foi aos 14 anos. Na época, o jovem trabalhava como office-boy e gastava todo seu salário em rodadas de jo-

O professor somente lar-gou o vício por medo de perder a família. Há mais de 12 anos sem jogar, ele afir-ma que não sente nenhum tipo de desejo pela jogatina.

Porém, nem todos os pra-ticantes do baralho se tor-nam viciados. O estudante de agronomia Alexandre Gui-

marães, participa de inúmeros campeonatos de truco e diz, entre uma partida e outra, que nunca deixou que esse hábi-to se tornasse compulsão em sua vida. “Participo de cam-peonatos há três anos, já ga-nhei alguns troféus e levo isso como um hobby”, garante ele com uma certa tranquilidade.

Há ainda quem leve essa prática como uma profissão e ganhe a vida com isso. Luis Carlos de Moraes é um de-les. Jogador profissional de poker, tem patrocínio e viaja pelo mundo para competir. “Já recebi bons prêmios e não me vejo fazendo outra coisa”.

Tatiane Godinho

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011

Dois clubes paranaenses participam do Brasileirão. O Atlético Paranaense estreou contra o Atlético

Mineiro, na Arena do Jacaré, neste último sábado e foi impiedosamente goleado por 3 a 0. O Coritiba

também largou com derrota no campeonato ao perder em casa para o Atlético Goianiense por 1 a 0. O Coxa ainda não havia perdido em casa nessa

temporada.

Atlético e CoritibaNeste final de semana também começou a Série B do

Campeonato Brasileiro. O Paraná Clube é o represent-ante do estado na competição, que funciona nos mesmos moldes da Série A. O tricolor jogou no sábado, às 21hrs – horário conhecido no meio futebolístico como horário de

boate - contra o Ituiutaba, em Varginha. Venceu por 2 a 1 e amenizou um pouco a crise instalada após o descenso para

a 2° divisão do Campeonato Paranaense.

Paraná

Surgimento dobaralho e dos naipes

Não se sabe ao certo nem quando nem onde os jogos de cartas apareceram pela primeira vez. Estudos reve-lam que, provavelmente, as cartas surgiram na China, no século X. No início eram simples tiras de papel, mar-cadas por pedras, flechas e ossos. Eram usadas apenas em rituais de adivinhação.

Por volta do ano 1300, as cartas chegaram à Europa, levadas pelos árabes. Eram conhecidos como tarot e os baralhos tinham 22 cartas. Só no final do século XVI, apareceu o baralho moder-no, com 52 cartas, deixan-do o tarot apenas para as previsões e adivinhações.

Segundo os historiado-res e estudiosos dos jogos de cartas, os soldados árabes que invadiram o sul da Itália no século XIV, praticavam

um jogo chamado naib, que aparentemente deu origem à palavra naipe. Nem sempre os baralhos tiveram os mes-mos naipes conhecidos hoje. Na Índia antiga, por exem-plo, existiam 10 naipes, cada um representando uma en-carnação ou uma divindade.

Com a popularização crescente dos jogos de car-tas, alguns países europeus, como a França, Itália e Es-panha, passaram a usar os naipes que hoje estão pre-sentes no mundo todo: paus, copas, ouro e espadas.

A padronização dos nai-pes foi fator importante para a disseminação dos jo-gos de cartas pelo mundo, pois abriu a possibilidade da criação de novos jogos e a adaptação e moderniza-ção de outros que estavam esquecidos pelos jogadores.

No cinema - O carteado ficou tão famoso com o pas-sar do tempo que foi parar nas telonas do cinema. O site Ludopoli (http://www.ludopoli.br.com), especia-lizado no assunto, explica a importância do carteado, pois é um jogo de raciocínio, frieza e baseado no cálculo de probabilidades. “O poker possui um impacto narrativo mais forte que dos outros jo-gos de cartas, antes de tudo, pelo histórico que traz consi-go, é na verdade considerado um jogo de ‘durões’, dispos-tos a arriscar pequenas for-tunas sem piscar os olhos”.

A trilogia “11 homens e um segredo”, “007 – Cas-sino Royale”, entre outros, são exemplos de filmes que abordam o tema. De acordo com o dono do site, Manoel Ferreira, o jogo mental que acontece dentro do jogo real é o que fascina e dá moti-vos para que tantos filmes, famosos ou desconhecidos, tenham esse tema. “Sincera-mente, nós esperamos con-tinuar vendo nestes filmes e nos próximos, esse lado mais

Um jogo popular que atraí cada vez mais

admiradores, os quais buscam não só uma

distração como também a diversão.

Campeonato de truco. Na mesa, quatro jogadores disputando o primeiro lugar em busca da vitória e do trofeu

gos. Ele conta que passou a vender seus utensílios domés-ticos e usar dinheiro dos pais para manter o vício. “No início jogávamos cada partida valen-do dez reais, até que esse valor foi aumentando. Eu faltava até no trabalho para jogar. Come-cei a ter consciência que estava viciado e resolvi me internar”, disse ele, enquanto pressio-nava uma mão sobre a outra.

Por não ser uma clíni-ca especializada em jogos, C.M.L não encontrou a cura. Hoje busca amparo no gru-po Jogadores Anônimos (J.A). Instalado em Curitiba há seis anos, o projeto pro-move duas vezes por sema-na encontros com objetivo de minimizar as angústias daqueles que compartilham o mesmo problema: jogos

compulsivos. A organização existe em sete estados brasi-leiros e no Distrito Federal.

“Assim como C.M.L, mui-tas outras pessoas procuram o grupo para sair do vício dos jogos. Os resultados são sa-tisfatórios”, conta a coorde-nadora e palestrante do Joga-dores Anônimos Silva Freitas.

A exemplo de instituições como os Alcoólicos Anônimos (AA), o J.A também organiza palestras com especialistas e outros eventos. O progra-ma de recuperação apresen-ta 12 passos para a realidade dos compulsivos por jogo.

As reuniões acontecem todas as terças e sextas-fei-ras, às 19h30, na Rua Tra-jano Reis, 457. O telefone-do grupo é (41) 3354-4020.

fascinante, e também ro-mântico e maldito do poker, que existe”, explicou ele.

O jogo – Ao acompanhar uma partida realizada em um bar no centro da cidade de Curitiba, pudemos perceber o clima que rodeia os jogado-res. Odores de diversos tipos de cigarros e charutos po-diam ser sentidos e a nuvem de fumaça era visível logo ao adentrar o estabelecimen-to, características marcan-tes ao citar este tipo de jogo.

O olhar atento às cartas

mostrava a tensão que rode-ava a mesa branca, composta por quatro jogadores. Sinais discretos eram trocados entre as duplas do truco. Ao final de cada partida havia gritos e risadas, dados pelos maio-

res pontuadores do jogo, em sinal de comemoração; em contrapartida, a decep-ção era notada na feição dos participantes perdedores.

Entre os jogadores estava presente um casal. Marido e mulher compartilhavam juntos a alegria de vencer várias partidas consecuti-vas em um mesmo dia. “Por mais que a gente sempre jo-gue e vença quase sempre, a emoção de sair vitorioso é indescritível e muito co-memorada a cada partida”, disse a comerciante Vera Martins, com um enorme sor-riso estampado em sua face.

A cada etapa uma du-pla era eliminada. Algumas pessoas deixavam o recinto inconformados com a per-da, reclamando de supostas jogadas injustas que acon-teceram durante a partida.

O fascínio pelo jogo era tamanho que a maioria dos participantes perma-necia no local, sem se dar conta que o dia amanhe-cia mesmo com o passar de muitas horas – com exce-ção de alguns perdedores.

Tatiane Godinho

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011

Lugar de mulher

é na PolíticaPelé, Maradona... e Ayrton Senna!

Apesar de representarem 51,8% do eleitorado brasileiro, a participa-ção das mulheres no cenário político ainda é tímida. A representação fe-minina não consegue nem mesmo preencher a cota mínima de 30% de candidatas ao Legislativo. Mesmo assim, com a eleição da primeira mulher para a Presidência da Re-pública e o aumento expressivo no número de mulheres ocupando car-gos elevados no governo federal, temos uma mudança no quadro de representação política. Esses avan-ços refletem diretamente na igual-dade de gênero: de um lado a maior participação é um passo decisivo para criar políticas públicas volta-das para as mulheres; de outro lado também tem uma importância sim-bólica, ao familiarizar a sociedade com a ideia de mulheres no poder.

Nas últimas eleições para a Câ-mara dos Deputados, o percentual de candidatas passou de 13% para 21%. Mas esse aumento se traduziu apenas muito modestamente nos resultados das eleições. Hoje são apenas 45 mulheres em meio a 513 deputados, ou seja, apenas 8% de representação feminina. No Senado o índice sobe para 13%, mas ainda é pouco expressivo. O porcentual de mulheres na Câmara e no Sena-do brasileiros é um dos mais baixos da América Latina e do mundo.

A criação da cota de 30% para mulheres candidatas nos partidos não garantiu a efetiva participação feminina na vida política. Um dos motivos desse fracasso é que o país não adotou simultaneamente o sis-tema de lista fechada nas eleições. A lista fechada obrigaria que, a cada três nomes, os partidos indicassem obrigatoriamente uma mulher com condições reais de ser eleita. Com o sistema de lista aberta, muitas mulheres são incluídas na disputa apenas para figuração. Além disso,

Foram poucos dias em Buenos Aires, mas sufi-cientes para aprender um pouco mais da cultura local. Acreditem ou não, são mais apaixonados do que nós pelo futebol! Qualquer lugar que seja, loja, balada, restaurante, a pergunta mais feita pelos argentinos é: Pelé ou Ma-radona? Como bons brasi-leiros, respondemos Pelé.

O principal objetivo da viagem dos profes-sores e alunos do curso de Jornalismo da UP era a visita ao Clarín, mas para mim era conhecer a redação do Olé – o maior diário esportivo da Argentina. Eis que den-tro do Olé uma simples imagem me fez perceber que eles nos idolatram e sentem uma pontinha de inveja de não serem brasileiros, uma imagem da marcante vitória de Ayrton Sen-na no GP do Brasil de 1991, quando ficou sem a maioria das marchas do carro e ganhou de forma esplêndida.

Pensei: uma foto do Senna, um simples tricampeão mundial de Fórmula 1, na redação de um jornal argentino que tem como ídolo no automobilismo Juan Manuel Fan-gio, que é pentacampeão na F-1! É um orgulho imenso para um brasi-leiro ver aquilo, sem contar a ima-gem de um drible de Ronaldinho Gaúcho em cima de um jogador da Croácia. Aposto que no Brasil não vamos nunca ver uma imagem do Messi comemorando algum gol es-tampada na parede de um jornal.

No Brasil não vemos camisas da seleção espalhadas pelas vitri-nes das lojas esportivas. Não estou aqui para falar que a Argentina é modelo a ser seguido, longe dis-so, mas o que me impressionou foi o patriotismo deles. Quem visita o estádio do Boca Juniors, logo de

Gênero

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os partidos não são punidos quan-do não cumprem a exigência legal.

Além de essa estrutura parti-dária impedir que mais mulheres entrem na política, outros fatores também colaboram com a falta de interesse, por parte delas, em mu-dar esse quadro. As mulheres não são educadas para ocupar espa-ços públicos. Na educação fami-liar, religiosa e até mesmo escolar, as meninas são educadas para o ambiente privado. Reforçando a visão sexista de que a mulher deve ser passiva, reservada, gra-ciosa e delicada. Só os meninos são estimulados a exercer lide-rança e ocupar espaços públicos.

Essa visão está tão enraizada em nossa cultura que até as mu-lheres acabam exercendo precon-ceito contra si mesmas e preferem votar em homens. Existe um con-ceito inconsciente de que política é algo masculino. Em vez de ten-tar mudar o poder, a mulher aca-ba não valorizando a si própria. Por isso, apesar de termos uma população majoritariamente femi-nina, a participação de mulheres na política ainda é inexpressiva.

A democracia deve ser apren-dida e exercida por todos. No caso das mulheres e de outros segmen-tos excluídos, a verdadeira demo-cracia requer o acesso ao poder político. O Brasil cidadão precisa ter uma maior representação fe-minina. E a emancipação efetiva só será realidade quando atingir todas as mulheres, em todas as classes sociais. Enquanto houver violência doméstica, discriminação no trabalho fora do lar e abusos se-xuais, nenhuma sociedade poderá dizer que a igualdade de gênero foi alcançada. Por isso, as mulhe-res precisam ter uma presença em massa no Parlamento para impri-mir sua marca na política nacional.

cara se depara com uma estátua de Diego Armando Maradona.

Por falar em Boca Juniors, o Estádio La Bombonera é coisa de outro mundo, fantástico. Passei cerca de uns cinco minutos senta-do só observado a beleza e mons-truosidade do lugar, ainda mais sabendo que um dia após a visita teria o jogo do Boca contra o River Plate - o maior clássico argentino.

Andando pelo bairro de La Boca rumo a Caminito, encontro um campo de futebol, que, assim como no Brasil, estava cheio de crian-ças correndo atrás de uma bola. Vontade de entrar no meio e jogar com os ‘hermaninhos’ não faltou.

Mas o leitor nesse momento deve estar imaginando: “Poxa, o cara vai pra Argentina e volta querendo ser igual a eles!” Pelo contrário, após a curta estadia na terra do tango, meu orgulho de ser brasileiro só aumentou. Podemos não ser tão patriotas quanto eles, mas o nosso céu tem mais estrelas, cinco ao todo. E enquanto dentro das quatro linhas eles dançam tango, nós sambamos e fazemos gingas que o mundo tem inveja. Só tenho mais certeza ainda que a rivalidade Brasil e Argentina existe em tudo quanto é disputa!

Divulgação

Dilcélia Queiroz@dilceliaqueiroz

Cursa o 3ºperíodo da noite.

Esporte

Danilo Georgete@danilogeorgete

Cursa o 5º período da noite e publica seus textos no endereço http://www.danilogeorgete.blogspot.com

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 2011

PERFIL7

Lisboa: o que era preconceito virou felicidadeAmanda Fernandes

José Lisboa Valicosqui Neto, conhecido como Lis-boa, é encanador e eletri-cista. Iniciou na profissão aos 17 anos e sempre traba-lhou com isso. Quem fala com ele pelo telefone não faz ideia da pessoa diver-tida e alegre que Lisboa é.

À primeira vista assus-ta um pouco: uma pessoa de 1,80 m, cabelos pintados, no comprimento do pesco-ço, faixa no cabelo, brincos compridos, maquiagem nos olhos, unhas pintadas e ca-pacete cor de rosa. Transexu-al, nascido em Santa Cecília, Santa Catarina, Lisboa foi para Colombo, Paraná, aos 24 anos, onde mora até hoje.

Foi casado durante 14 anos, teve duas filhas e ado-tou dois meninos. Os filhos cresceram achando normal a sexualidade do pai, no en-tanto, Lisboa sofreu precon-ceito quando era mais jovem.

Quando tinha 12 anos, desco-briu sua sexualidade. Como nos anos 70 a questão da se-xualidade era mais compli-cada do que hoje, os pais de Lisboa ficaram impressiona-dos em ter um filho com um comportamento diferente do que esperavam. Além disso, ele apresentava desequilíbrio hormonal, que foi descoberto após ser levado ao médico.

Logo no início, Lisboa apanhou muito, até que seu pai incorporasse a ideia de ter um filho “diferente”. Ele conta que sofreu em casa e na rua, mas que com o passar dos anos os pais foram aceitando o seu jeito. “Antes de morrer, meu pai me disse que eu me daria bem na vida. Por mais que as pessoas me vissem de uma forma diferente, por mais que eu sofresse precon-ceito, meu pai dizia que, por ser uma pessoa boa e hones-ta, tudo daria certo”, lembra.

Atualmente, Lisboa tem cinco netos: quatro meni-

nas e um menino. A neta mais velha, de três anos, adora mexer nas coisas do avô. “Gosto muito dos meus netos.A minha (neta) mais velha adora brincar com as minhas maquiagens”, conta.

Em relação a sofrer pre-conceito na profissão, Lisboa conta que no trabalho as pes-soas o respeitam e normal-mente não têm problemas com a sua sexualidade, mas já aconteceu de chegar em al-gumas casas para realizar um reparo e não quererem deixar que ele entre. Já aconteceram também ligações de clientes para a empresa para a qual trabalha com reclamações não relacionadas a seu ser-viço. Lisboa fala da sua pro-fissão com orgulho: “É um cartão-postal o meu trabalho. É um trabalho que o mundo vê. Sou muito caprichoso.”

O transexual diz, com sim-

Transexual, Lisboa se considera uma pessoa feliz apesar do preconceito

Amanda Fernandes

Edi Mary Meneguel de Lara é gerente administra-tiva da empresa Meneguel, na qual Lisboa é funcionário. Ela conta que Lisboa trabalha na firma há cinco anos e que seu trabalho é muito bem fei-to. “Ele é um excelente pro-fissional, muito carismático e às vezes um pouco irritado, mas traz muitos elogios para a empresa”, conta a gerente. Apesar do serviço bem fei-to, já aconteceram algumas vezes de receberem reclama-ções. Edi Mary conta que uma vez, um senhor de aproxima-damente 80 anos, não quis re-ceber Lisboa em sua casa por preconceito e disse que ele fi-caria falado no edifício onde morava. Disse também que a figura de Lisboa era um des-respeito à sociedade. Depois da reclamação, o filho do se-nhor ligou para a empresa, pediu desculpas e um ou-tro funcionário foi enviado.

Quando perguntada sobre como foi a primeira vez que conheceu o funcionário, Edi Mary diz que inicialmente Lisboa havia ligado para a empresa para divulgar seu trabalho e deixou o telefone. Mais tarde, a gerente iniciou uma seleção, e quando foi en-trevistar Lisboa, apesar dele estar vestido com calça jeans e roupas normais, notou que ele era diferente pelos traços do rosto, pelo uso de brin-cos grandes e da sobrancelha fina. Lisboa passou na entre-vista e fez um período de ex-periência de 90 dias, pelo qual também foi aprovado. “Não descartei Lisboa sem primei-ro o conhecer”, diz Edi Mary.

No trabalho, a gerente conta que Lisboa tem amiza-de com todos e que todos o respeitam. Quando chega no serviço, ele normalmente está de salto, com roupas femini-nas e de peruca; em seguida se troca, coloca o uniforme da empresa e tira o excesso da maquiagem, mas continua usando brincos e acessórios.

Edi Mary disse também que já recebeu ligação do tipo “o que é aquilo que veio aqui?” A resposta é simples: “A pessoa que foi aí se chama Lisboa e ele é encanador”. A gerente diz que infelizmen-te o preconceito prevalece e não é só com transexuais e, por outro lado, também existem pessoas que chegam a esperar uma semana para serem atendidas por Lisboa. “A empresa recebe parabéns dos clientes”, acrescenta.

plicidade, que seu maior sonho é abrir a própria empresa de prestação de serviços. Indaga-do sobre a eventualidade de fazer cirurgia para mudança de sexo, ele conta que vontade tem, mas que quando podia não tinha dinheiro, e agora o problema é a diabetes. Desco-briu a doença em um acidente de moto, após ser levado ao hospital. No entanto, ele afir-ma que isso não afetou sua vida, o que marcou foi o aci-dente, que deixou um trauma.

Nas horas vagas, o que Lisboa gosta mesmo de fazer é dançar, mas com uma par-ticularidade: somente música gaúcha. Costuma frequentar os bailes de Colombo e sua comida preferida é caseira, bem simples. Uma das coisas que gosta de fazer é andar de moto. “Carro é só para os fins de semana”, acrescenta .

No final da entrevista, a pergunta foi sobre felicidade. A resposta veio rápida e com sinceridade: “Hoje sou feliz, mas antes não era. O precon-ceito era muito forte, foi algo que mudou minha vida.”

Na transexualidade a pessoa possui uma identi-dade que não corresponde ao seu sexo, e tem vontade de viver e agir como o sexo oposto. Para ser considera-do transexual a pessoa não precisa apresentar trans-tornos mentais nem estar associada a anormalidade genética. Em alguns casos as mudanças provocadas por tratamentos hormo-nais podem qualificar o uso do termo transexual.

A definição do sexo dos seres humanos depende da genética, da anatomia, e da identidade sexual do indivíduo. A determina-ção genética é estabelecida na fertilização e na dife-renciação dos órgãos se-xuais. A identidade sexual psicológica é desenvolvi-da durante o amadureci-mento da personalidade com a produção dos hor-mônios sexuais, que acon-tece na adolescência.

Normalmente, a tran-sexualidade se manifesta por volta dos seis anos, quando as crianças pas-sam a expressar interesses por atividades de crian-ças do sexo oposto. Con-tudo, em parte dos casos os sinais de transexuali-dade podem desaparecer ao longo da adolescência.

Transexualidade

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Curitiba, terça-feira, 24 de maio de 20118

O que o vermelho pode significar?

NAThALiA CAVALCANTE

Acalmar ou irritar. As cores podem agregar no cotidiano das pessoas diferentes sensações. O vermelho, por exemplo, é lembrado como cor revolucionária e representante da paixão. Mas, além disso, também pode despertar alegria, atenção, atração, energia e indicar que algo é proibido. “O vermelho pode ativar o sistema de alerta da pessoa e influenciar na forma como ela pensa ou faz algo”. The New York Times (06/02/2009)O ensaio fotográfico de Nathalia Cavalcante busca explorar ao extremo essa dicotomia envolvendo o vermelho e a sua simbologia.

ENSAIO FOTOGRÁFICO