326a EDiÇÃO 1JULHO 12021

MANEJO DA PODA HIBERNAL EM POMARES DE MACIEIRA

A obtenção de frutas de qualidade, aliada a altas produtividades,é fundamental na produção comercial de maçãs. O sucesso naatividade depende da adequada execução de uma série de práticasculturais ao longo de todo o ciclo produtivo. A eficiência de muitasdessas práticas executadas no pomar é dependente da arquitetura deplantas e do manejo do dossel, pela execução da poda, éparticularmente importante. As podas, nas suas diferentesmodalidades, têm por objetivo definir a estrutura produtiva dasplantas, com a seleção das estruturas de interesse à produção defrutos, proporcionando aumento da exposição das estruturasprodutivas à luz, além de facilitar o controle fitos sanitário e as demaisintervenções no pomar, como a colheita de frutos.

A execução da poda é variável de acordo com o sistema decondução adotado no pomar. Os pomares sob novos sistemas decondução (multieixos, V-trellis, bidimensional e suas variações)tendem a concentrar os manejos de poda durante o período decrescimento vegetativo (poda verde), tendo reduzida necessidade depoda no período hibernal (outonolinverno). A realização de podashibernais nos novos sistemas de condução em adoção no Brasil serestringe a retirada de alguns ramos mal posicionados e a realizaçãode alguns despontes e cortes em bandej a para estimular a formação deramos de maior vigor em porções específicas da planta.

A poda hibernal tem grande importância nos pomares sobsistema de condução em líder central e suas variações ('tall spindle',

safra 2020/2021, com grande proporção de pomares com altaprodutividade e pelas condições de estiagem ao longo do ciclo,sobretudo após a colheita de maçãs 'Gala', o crescimento vegetativofoi reduzido, apresentando menor demanda de retirada de ramosvigorosos. Outro ponto a destacar, é a qualidade do período deoutono/inverno de 2020, que proporcionou altos índices de brotaçãode gemas laterais, contribuindo decisivamente para a maiorformação de esporões e ramos de menor vigor.

Quando existe a retirada de ramos vigorosos no líder central, arealização dos cortes a cerca de 4 a 7 em a partir da inserção do ramono tronco pode ser utilizada com o objetivo de renovação deramificações. A partir dos segmentos de ramos remanescentes ocorrea formação de novas ramificações, o qual devem ser devidamentearqueadas quando atingirem comprimento adequado, direcionando-os para preenchimento das porções com deficiência de ramificações.Aliado a retirada de ramos concorrentes e de ramos verticalizados, aintensificação do arqueamento de ramos é indispensável para oaumento da formação de ramos produtivos. O arqueamento deramos, pela diminuição da dominância apical, implicará no aumentoda eficiência dos tratamentos para indução de brotação de gemas nopróximo ciclo produtivo. O aumento da proporção de gemas brotadase da uniformidade de desenvolvimento inicial proporcionará maiorformação de estruturas de frutificação, determinando plantas maisequilibradas.

- --A poda hibernal tem grande importância nos pomares sob

sistema de condução em líder central e suas variações ('tall spindle','solaxe'). Apesar de não ser possível estabelecer uma única regra parapoda hibernal de pomares, existem princípios básicos paraorientarem a execução da poda, levando-se em consideração asparticularidades de cada pomar. A poda hibernal deve ser realizada demodo a retirar ramos verticalizados e mal posicionados no interior dacopa e que limitam a interceptação de luz no interior do dossel. Damesma forma, a retirada de ramos envelhecidos e com estruturas defrutificação concentradas na porção terminal dos ramos, devem sersistematicamente retirados para renovação das estruturas defrutificação e concentrar as estruturas de frutificação mais próximasao líder central. A gradativa renovação dos ramos, mantendo-se asestruturas mais próximas ao eixo principal da planta aumentamsignificativamente a interceptação da luz no interior do dossel,aumento da qualidade das gemas formadas e proporcionandoaumento da qualidade dos frutos e da eficiência operacional decolheita. O estreitamento das plantas pela poda e a redução dasobreposiçãolentrelaçamento de ramos é fundamental para reduzir oauto sombreamento das plantas no período de crescimentovegetativo. Em pomares com baixas densidades de plantio, oestreitamento das plantas, não deve ser demasiado, pois pode limitarem redução significativa do potencial produtivo pela diminuição dasuperficie produtiva das plantas.

A intensidade de poda hibernal é dependente do número deramos existentes ao final do período de crescimento, estabelecendo arelação do número de gemas que devem permanecer na planta, a fimde proporcionar produtividades compatíveis a estrutura de planta. Apartir da adequada formação de plantas e priorizando práticas paraadequado ajuste do crescimento vegetativo e produção (indução debrotação, manejo de carga frutal e uso de reguladores de crescimentopara controle do vigor), normalmente a demanda de poda hibernal éde intensidade reduzida. Considerando as condições climáticas da

formação de estruturas de frutificação, determinando plantas maisequilibradas.

A definição da altura das plantas deve ser priorizada com o uso doarqueamento do líder, de modo a formar ramos esporonados naporção terminal das plantas, de maneira a proporcionar regularidadeprodutiva, minimizando a necessidade de intervenções de poda. Essemanejo é facilitado pelo uso de reguladores de crescimento no terçosuperior das plantas. Contudo, em algumas situações, sobretudo empomares sob proteção antigranizo, intervenções de poda sãonecessárias para limitar que os ramos ultrapassem a altura desejada ealcancem a tela antigranizo. Nessas situações, o ajuste de altura deplantas deve ser preconizado, preferencialmente, na modalidade depoda verde, ao final do verão e início de outono, a fim de minimizar ocrescimento vegetativo da porção superior da copa e obter ramosmais curtos e equilibrados. A realização de poda intensa na porçãosuperior das plantas no período de inverno, sobretudo em plantasvigorosas, tende a aumentar demasiadamente o crescimentovegetativo no ciclo seguinte, aumentando sensivelmente anecessidade de intervenções para controle vegetativo. Nas situaçõesde pomares com alto crescimento no terço superior das plantas, compredominância de ramos verticalizados e com baixa proporção degemas floríferas, é preferível realizar as intervenções de poda naprimavera, assim que iniciada a brotação das plantas.

As condições climáticas do período de outonolinverno de 2021têm proporcionado alta lignificação e senescência foliar dasmacieiras. Contudo, a indução de desfolha é indicada em pomarescom grande proporção de folhas remanescentes, a exemplo depomares jovens, pomares com excessivo vigor e pomaresconduzidos sob tela antigranizo. A permanência de folhas nos mesessubsequentes não é desejada em função do manejo fitossanitário epor suprimir parte do efeito das baixas temperaturas no processo desuperação de dormência das gemas.

A realização de análise da fertilidade de gemas é uma ferrament

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interessante para subsidiar a realização da poda, a fim de verificar aproporção de gemas floríferas formadas. Altas produtividadesobtidas no ciclo 2020/21, combinadas à colheita tardia, em um cicloprodutivo marcado por períodos de severa estiagem, resultaram emplantas com gemas mais fracas em algumas situações. Os índices defertilidade de gemas tendem a ser satisfatórios para o ciclo 2021/22,mas é importante tomar maior atenção em pomares de macieiras'Fuji', pomares sob tela antigranizo e pomares com elevadasprodutividades no ciclo passado e manejadas para colheita tardia.Para tanto, importante avaliar adequadamente a qualidade dasgemas, pomar a pomar, para proceder a poda de maneira a dispor degemas suficientes para produções satisfatórias nos próximos ciclosprodutivos. Considerando as condições climáticas do período deoutono/inverno de 2021 até o momento, e os prognósticos climáticosindicando satisfatório acúmulo de frio nos meses subsequentes.Dessa forma, são esperados níveis de brotação mais elevados do quea média dos anos, demandando menor número de gemas paraobtenção de número de frutos desejável por planta, possibilitandomaior retirada de ramos na poda. Contudo, é importante relembrarque em anos de maior acúmulo em frio, o período debrotação/florescimento tende a ser mais concentrado, o que podeimplicar em redução da frutificação efetiva, sobretudo em macieiras'Gala'. Assim, é particularmente importante avaliar aspectosrelacionados ao manejo de frutificação efetiva (densidade depolinizadoras, cultivares polinizadoras e presença de telaantigranizo) para que a intensidade de poda e o número de gemasfloríferas remanescentes na planta seja compatível a situação de cadapomar.

Salienta-se a importância de aumento da adoção de tesouraselétricas e pneumáticas, poda mecânica, assim como a utilização deplataformas em substituição ao uso de escadas, de maneira a otimizaro uso de mão de obra, reduzir o tempo dispendido e aumentar aqualidade de execução da poda, dentro das possibilidades de cadapomar/região de cultivo. A manutenção das ferramentas de poda deveser constante durante a realização da poda, mantendo-as sempreafiadas, a fim de evitar cortes irregulares que aumentam aspossibilidades de desenvolvimento de doenças nas plantas.Limpezas frequentes ao longo da jornada de trabalho e na transiçãode fileiras e quadras são recomendadas a fim de limitar adisseminação de doenças pelos cortes de poda.

A proteção dos cortes de poda com a aplicação de pastasfungicidas, assim que realizada a poda, é indispensável no manejodos pomares. Deve ser efetuado repasse da atividade nocaminhamento inverso a execução da poda, a fim de facilitar avisualização de cortes que ainda demandam proteção. Os ramospodados devem ser retirados do pomar e triturados para acelerar suadecomposição. Os ramos doentes, especificamente com cancroeuropeu, devem ser eliminados e incinerados, seguindo as medidasespecificadas na Portaria N° 319 (26 de maio de 2021), que instituiu oprograma nacional de prevenção e controle do cancro europeu -PNCE.

Dr. F emando José Hawerroth I

I Pesquisador em Fitotecnia, Manejo e fisiologia de frutíferas de clima temperado,

Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado - Embrapa Uva e Vinho -

Vacaria, RS. femando.hawerroth@embrapa.br;