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Artigo cientifico.

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  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 41

    Avaliao da hidratao de pastas cimentcias com elevados teores de

    adies minerais

    Marcos A. S. Anjos1,

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Directoria de

    Construo Civil, Campus-Natal. Tirol, P 59056-000 Natal, RN, Brasil

    Aires Cames2, Carlos Jesus

    3

    C-TAC, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil

    Azurm, P 4800-058 Guimares, Portugal

    Fernando Duarte4

    Universidade do Minho, Departamento de Engenharia de Polmeros

    Azurm, P 4800-058 Guimares, Portugal

    RESUMO

    O uso de adies minerais uma prtica comum na produo de materiais cimentcios.

    No entanto, a possibilidade de substituir elevados teores de cimento Portland por adies

    minerais em betes torna pertinente e necessrio o estudo da interaco qumica dessas

    adies na hidratao conjunta com o cimento. Este artigo avalia a hidratao de misturas de

    cimento Portland e adies minerais, recorrendo a tcnicas de TG/DTG, difraco de raios X

    e resistncia compresso. Foram analisadas substituies de 50% a 70% da massa de ligante

    (entendido como a soma do cimento e das adies minerais usadas) por combinaes de

    cinzas volantes e metacaulino, tendo sido ainda avaliadas duas pastas sem adio mineral e

    duas pastas com a adio de cal. Os resultados demostram que as tcnicas de TG/DTG e DRX

    so indicadas para avaliao da cintica das reaces de hidratao dos materiais cimentcios,

    sendo possvel quantificar a forte reduo nos teores de portlandite nas pastas hidratadas com

    adies minerais em comparao com aquelas sem a adio.

    1 Professor do IFRN

    Autor para correspondncia ([email protected])

    2 Professor Auxiliar

    3 Engenheiro Civil

    4 Professor Auxiliar

  • 42 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    1. INTRODUO

    As reaces de hidratao do cimento so interaes qumicas que ocorrem entre a

    gua e os silicatos e aluminatos presentes no cimento anidro. So dois os mecanismos de

    hidratao do cimento: o primeiro, que ocorre numa fase inicial, o de dissoluo-

    precipitao, onde ocorre a dissoluo dos compostos anidros nos seus constituintes inicos e

    a formao dos hidratos na soluo, onde, devido sua baixa solubilidade, acontece a

    precipitao dos produtos hidratados; no segundo mecanismo, denominado de hidratao no

    estado slido do cimento, as reaes ocorrem diretamente na superfcie dos componentes do

    cimento anidro, sem que estes entrem em soluo (Nelson, 1990; Neville, 1997; Mindess et

    al, 2003; Mehta e Monteiro, 2008).

    O mecanismo de hidratao de materiais cimentcios bastante conhecido, no entanto,

    para betes com elevados teores de adies minerais ainda necessrio um estudo mais

    aprofundado. Sabe-se que o ganho de resistncia de betes com adio mineral mais lento

    devido ao aumento no tempo inicial e final da presa que pode chegar a mais de 100% em

    pastas de cimento e cinza volante, em propores de 62,5% e 37,5% em massa (Alonso e

    Wesche, 1991). Este nvel de substituio do cimento pode ser considerado como

    convencional, uma vez que, na prtica, so j correntes teores de adio de at 40% da massa

    de ligante (Alonso e Wesche, 1991) e, portanto, teores acima deste podem ser considerados

    como sendo elevados teores de adies (Filho et al, 2013). Malhotra (2002) e Malhotra e

    Ramezanianpour (1994) propuseram a diviso dos betes com cinzas volantes em duas

    classes, tendo em conta a quantidade de cimento substitudo: betes com cinzas volantes percentagem de substituio de cimento por cinzas volantes (em massa) inferior a 50%;

    betes com elevado volume de cinzas volantes percentagem de substituio de cimento por cinzas volantes (em massa) superior a 50%.

    Os principais compostos resultantes da hidratao do cimento Portland so o silicato

    de clcio hidratado (C-S-H), o hidrxido de clcio (CH) e os sulfoaluminatos de clcio, alm

    de partculas de clnquer no hidratadas.

    O C-S-H constitui entre 50 a 60% do volume de slidos de uma pasta de cimento

    Portland completamente hidratada, sendo o principal responsvel pelas suas propriedades

    mecnicas. A estrutura do C-S-H varia desde formas semicristalinas at altamente cristalinas,

    no tendo sido ainda completamente descobertas todas as estruturas possveis para esta fase,

    embora uma larga gama de C-S-H j seja conhecida, sabendo-se que as suas fases cristalinas

    so formadas a altas temperaturas (Black et al, 2003; Anjos et al, 2011) e as fases

    semicristalinas a amorfas esto presentes nas hidrataes a temperatura ambiente.

    O CH, tambm conhecido com portlandite, representa 20 a 25% do volume de slidos

    de uma pasta de cimento hidratada. Em comparao com o C-S-H o CH tem pouca

    contribuio na resistncia, alm de afetar desfavoravelmente a resistncia qumica dos

    materiais cimentcios quando submetidos ao de solues cidas (Mehta e Monteiro,

    2008).

    O comportamento mecnico e de durabilidade dos betes com elevados teores de

    adies minerais dependente do processo de hidratao da mistura cimento-adies, pois as

    adies minerais, em substituio do cimento, podem provocar uma diminuio na resistncia

    inicial, afetando a resistncia aos 28 dias, em comparao com betes sem adio mineral

    (Cames, 2006; ahmaran et al, 2009). No entanto, ao longo do tempo, expectvel que se verifique alguma recuperao da resistncia devido lentido da reao pozolnica das

    adies que decorrente da disponibilizao de CH proveniente da reao de hidratao do

    cimento (Malhotra, 2002).

    As cinzas volantes (CV) so largamente utilizadas na produo de betes devido sua

    grande disponibilidade e s suas propriedades pozolnicas (Mehta e Monteiro, 2008; Swamy e

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 43

    Barbosa, 1998). As CV so resduos da combusto do carvo em centrais termoeltricas e a

    sua aptido para o uso em betes encontra-se normalizada (NP EN 450-1, 2012; ASTM C

    618, 2003). As CV so materiais amorfos com partculas muito finas, com dimetros mdios

    inferiores a 0,075 mm e rea superficial variando entre 170 a 1000 m2/kg (Ahmaruzzaman,

    2010). Estas caractersticas fazem das CV uma das principais adies minerais utilizadas em

    materiais cimentcios.

    Um fator a ser estudado em betes com elevados teores de adies minerais pode ser a

    escassez, ou mesmo ausncia, de CH em idades prximas ou acima dos 28 dias, pois

    possivel, e mesmo expectvel, que todo o CH produzido pela hidratao do cimento seja

    consumido por parte das adies minerais logo at aos 28 dias e, desta forma, as adies

    minerais colocadas em excesso podem no estar a reagir quimicamente, funcionando apenas

    como material de enchimento.

    Os principais produtos de hidratao do cimento podem ser determinados por

    TG/DTG, conforme citado por Taylor (1997) que considera esta a tcnica mais apropriada

    para a quantificao do teor de hidrxido de clcio de uma pasta de cimento, j que a

    decomposio do Ca(OH)2 em CaO + H2O caracterizada por uma perda de massa entre a

    faixas de temperatura de 425 C a 550 C.

    A curva DTG fornece a primeira derivada da curva termogravimtrica, em funo do

    tempo ou da temperatura. Portanto, uma mudana na inclinao da curva TG refletida com

    um pico na da DTG. Desta forma, facilitada a leitura dos eventos relacionados com a

    desidratao, desidroxilao ou decarbonatao e ocorridos numa pasta de cimento hidratado

    (Alarcon-Ruiz et al, 2005).

    O presente trabalho visa avaliar a hidratao de misturas de cimento Portland, adies

    minerais, como as CV e o metacaulino, utilizadas em elevados teores de substituio do

    cimento e a cal hidratada como forma de dotar as pastas de uma reserva alcalina e, assim,

    proporcionar a reao pozolnica das adies com o CH presente na cal. A avaliao da

    hidratao visa complementar estudos anteriores realizados por Cames (2006) em betes

    com elevados volumes de cinza volante. Para tal, foram formuladas matrizes cimentcias

    daqueles betes e utilizadas anlises termogravimtricas (TG/DTG), com o intuito de

    quantificar os teores de CH presentes nas misturas, e difrao de raios X, para verificar os

    tipos de produtos hidratados formados.

    2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

    2.1 Materiais

    As pastas cimentcias foram produzidas com cimento Portland CEM I 42.5R (C),

    cinzas volantes (CV), metacaulino (Mtk), cal hidratada (CalH), gua e um superplastificante

    base de policarboxilatos. A Tabela 1 apresenta a composio qumica dos materiais

    constituintes das pastas. As cinzas volantes so oriundas da provincia de Lon, Espanha,

    provenientes da Unidad de Produccin Trmica de Compostilla, pertencem categoria B de

    perda ao fogo e classe de finura da categoria N, de acordo com a NP EN 450-1 (2012) e

    enquadram-se na categoria C da ASTM C 618 (2003). O metacaulino foi fabricado a partir de

    caulinos da regio de Barqueiros, Barcelos, Portugal.

    Na Figura 1 apresentam-se os difratogramas de raios X das cinzas volantes, da cal e do

    metacaulino. Verifica-se nestes difratogramas que a cinza volante e a metacaulino apresentam

    certa amorficidade, com alguns picos de slica (S) e aluminossilicatos cristalinos, como a

    mulita (M), na cinza volante, e de slica e minerais de argila no metacaulino (I e ), que pode ser prejudicial a atividade pozolnica destes materiais.

  • 44 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    Tabela 1 Composio qumica dos materiais constituintes das pastas

    Material SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO SO3 Na2O K2O Ca(OH)2 PF

    C (%) 19.92 4.36 3.51 62.92 1.83 2.86 - - - 3.12

    CV (%) 45.31 28.42 8.77 8.30 1.06 0.81 - 1.41 - 2.91

    CalH

    (%)

    0.33 0.45 0.08 - 0.84 - - - 97.75 -

    Mtk

    (%)

    47.00 37.10 1.30 0.10 0.15 - 0.20 2.00 - 12.75

    PF - perda ao fogo

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    P

    P

    C

    P

    CC

    P

    C = CaCO3

    C

    P

    P

    CalH

    CV

    S

    S = SiO2

    M = Al2(Al

    2.5Si

    1.5)O

    9.75

    S

    SM

    inte

    nsity (

    cp

    s)

    2 theta ()

    MS

    M MM M

    SM S

    S

    = K0.5

    (Al,Fe,Mg)3(Si,Al)

    4O

    10(OH)

    2

    = Na0.3

    (Al,Mg)2.Si

    4O

    10(OH)

    2!8H

    2O

    Mtk

    P = Ca(OH)2

    C = CaCO3

    Figura 1 DRX da cinza volante, metacaulino e cal hidratada

    A Figura 2a mostra a morfologia das CV onde se verifica a forma esfrica das

    partculas slidas e de diferentes tamanhos. A Figura 2b mostra as CV aderidas a partculas de

    carbono no alteradas devido a combusto incompleta como sugere Paya et al (1998), o que

    foi confirmado pela aparncia suja da cinza, que segundo Metha e Monteiro (2008) devido

    presena de sulfatos alcalinos na superfcie das partculas esfricas.

    Figura 2 Microscopia eletrnica de varrimento das cinzas volantes.

    a b

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 45

    2.2 Preparao das amostras e anlises efetuadas

    As adies minerais foram utilizadas em substituio parcial do cimento e em teores

    de 50%, 60% e 70% da massa de ligante, tendo sido preparadas, ainda, duas formulaes de

    referncia, sem adio mineral, e duas formulaes com adio de 3% e 5% de cal hidratada

    sobre a massa do ligante (%SML). A escolha destes teores baseia-se em trabalhos anteriores

    realizados na Universidade do Minho (Cames, 2005; 2006) e em estudos utilizando cal como

    reserva alcalina em sistemas cimentcios (Antiohos e Tsimas, 2004). As composies testadas

    so apresentadas na Tabela 2.

    Foram formuladas pastas com razo gua-ligante igual a 0,30, com aditivo

    superplastificante base de policarboxilatos para proporcionar melhor disperso da mistura.

    Uma das formulaes de referncia, sem adio mineral, foi preparada com razo gua-

    ligante igual a 0,75 (C100b), com o intuito de avaliar a influncia da maior quantidade de

    gua na hidratao da pasta e como forma de compar-la com a pasta CV60.

    Tabela 2 Composio das pastas cimentcias

    Mistura C

    (g)

    CV

    (g)

    Mtk

    (g)

    CalH

    (%SML)

    gua/cimento

    (A/C)

    gua/ligante

    (A/L)

    Superplastificante

    (%SML)

    C100 1 - - - 0,30 0,30 1,25

    C100b 1 - - - 0,75 0,75 1,25

    CV50 0,5 0,5 - - 0,60 0,30 1,25

    CV60 0,4 0,6 - - 0,75 0,30 1,25

    CV70 0,3 0,7 - - 1,00 0,30 1,25

    M20CV50 0,3 0,5 0,2 - 1,00 0,30 1,25

    CV60CH3 0,4 0,6 - 3,0 0,77 0,30 1,25

    CV60CH5 0,4 0,6 - 5,0 0,79 0,30 1,25

    A amassadura das pastas foi realizada numa misturadora conforme o descrito na

    NP EN 196-1 (2000), tendo sido moldados nove provetes cbicos com 50 mm de aresta para

    cada formulao. Aps desmoldagem, efetuada no dia seguinte ao da amassadura, todos os

    provetes foram curados imersos em gua at data de realizao dos ensaios.

    Aps cura por 7 e 28 dias, as pastas foram ensaiadas compresso simples sendo,

    posteriormente, para todas as pastas, retiradas amostras para ensaios de difrao de raios X e

    termogravimetria.

    As amostras foram caracterizadas por difrao de raios X num equipamento Bruker

    D8 Discover . Os resultados foram obtidos com a velocidade do gonimetro de 0,04 2 por passo com tempo de contagem de 1,0 segundo por passo e recolhidos de 5 a 60 2, utilizando o spin cm 60 rpm para diminuir erros causados pela orientao preferencial. A interpretao

    qualitativa do espectro foi efetuada por comparao com padres contidos na base de dados

    ICDD/JCPDS.

    As anlises termogravimtricas foram realizadas numa balana termogravimtrica TA

    Instruments Q500, sob atmosfera de nitrognio com vazo de 50 mL/min e taxa de

    aquecimento de 10C/min, com intervalo de temperatura compreendido entre 35 C e

    1000 C, tendo sido realizada uma isoterma a 35 C por 2 minutos antes de submeter as

    amostras taxa de aquecimento.

    Nota-se, no grfico de DTG apresentado na Figura 3, tpico de uma pasta de cimento

    portland hidratada submetida ao ensaio de TG/DTG, quatro picos bem caractersticos, os

    quais so descritos como:

  • 46 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    DTGpico1 = perda de gua no combinada (Bhatty e Reid, 1985; Ramachandran et al, 2002;

    Alarxon-Ruiz et al, 2005);

    DTGpico2 = desidroxilao do Ca(OH)2 (Dweck et al, 2000; Ramachandran et al, 2002;

    Esteves, 2011);

    DTGpico3 e DTGpico4 = decarbonatao (Dallimore et al, 2000; Ramachandran et al, 2002;

    Schnitzler et al, 2009). A DTGpico3 est associado decomposio da vaterite e aragonite mal

    cristalizados, enquanto a DTGpico4 decomposio da calcita (Dweck et al, 2000).

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    C100-7d

    Deriv. Weight

    Temperature (C)

    We

    ight

    (%)

    1

    2

    3

    4

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0

    1,2

    1,4

    1,6

    De

    riv.

    We

    igh

    t (%

    /min

    )

    Figura 3 Curva TG/DTG tpica para pasta de cimento Portland

    Os teores de hidrxido de clcio livre (CHL) presentes nas pastas aps a hidratao

    podem ser calculados atravs da equao 1. A hidratao total, ou seja, o teor de gua

    quimicamente combinada determinado de acordo com a equao 2 (Baert et al, 2008).

    OH

    OHCa

    OHCaLMM

    MMMLOHCaCH

    2

    2

    2

    )(

    )(2 [%].[%])( (1)

    cccombQ lossmasslossmassOH 1051000.2 %)(%)( (2)

    Onde:

    LCH = Teor de hidrxido clcio livre produzido durante a hidratao da pasta;

    2)(OHCaML = perda de massa em % verificada na curva TG para Ca(OH)2;

    2)(OHCaMM = massa molecular do Ca(OH)2;

    OHMM 2 = massa molecular do H2O;

    combQOH .2 gua quimicamente combinada;

    clossmass 1000%)( Perda de massa total entre 0 e 1000 C; clossmass 105%)( Perda de massa referente a gua livre, entre 35 e 105 C.

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 47

    3. APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS

    As anlises foram executadas com o intuito de avaliar a influncia da incluso de

    elevados teores de adies minerais (50% a 70% de substituio da massa de ligante) na

    hidratao de misturas constitudas por cimento, adies minerais e gua. Para este propsito,

    foram realizados ensaios de resistncia compresso, anlises termogravimtricas e de

    difrao de raios X, objetivando quantificar o teor de hidrxido de clcio gerado durante a

    hidratao do cimento ao longo do tempo e verificar os tipos de produtos hidratados

    formados.

    3.1 Anlise termogravimtrica

    A Figura 4 apresenta as curvas TG/DTG das pastas hidratadas com 7 dias de idade. Os

    perfis TG/DTG demonstram reaes tpicas que ocorrem em pastas de cimento hidratadas

    quando submetidas a um programa de aumento contnuo de temperatura. Estas curvas so

    semelhantes s curvas correspondentes aos 28 dias de cura, com diferenas apenas no valor

    das perdas de massas verificadas para cada produto hidratado, como apresentado na Tabela 3,

    onde so indicados os valores das perdas de massa verificados nas pastas aos 7 e 28 dias de

    idade.

    A gua presente nas pastas de cimento hidratadas pode ser classificada de acordo com

    o grau de facilidade com que pode ser removida, sendo diferenciados quatro tipos: gua

    capilar, gua adsorvida, gua interlamelar e gua quimicamente combinada (Mehta e

    Monteiro, 2008; Neville, 1997).

    O primeiro evento (DTGpico1), verificado nos grficos de TG/DTG, est relacionado

    com a perda de gua no combinada, que ocorre entre 0-105 C. Verifica-se que esta gua

    perdida em dois estgios: o primeiro, entre 35 C e 70 C, onde evaporada a gua presente

    nos poros maiores que 0,05 m; e o segundo estgio, entre 70-105 C, onde libertada a gua

    retida por tenso capilar em poros capilares. A gua livre, ou seja, a gua no combinada

    quimicamente, no utilizada nos clculos do grau de hidratao (Bhatty e Reid, 1985; L.

    Alarcon-Ruiz et al, 2005; G. Baert et al, 2008).

    Diversos procedimentos para o clculo do grau de hidratao ou determinao dos

    teores de produtos hidratados em pastas de cimentos atravs de tcnicas de TG/DTG foram

    utilizados por diferentes autores (Midgley, 1979; Dweck et al, 2000; L. Alarcon-Ruiz et al,

    2005; Knapen et al, 2009; Esteves, 2011), no havendo ainda consenso sobre o tema.

    A utilizao dos diferentes mtodos de clculo citados pode gerar valores de

    hidratao total ou contedos de hidrxido de clcio muito diferentes para uma mesma

    mistura. No entanto, todos os mtodos so teis para comparar formulaes diferentes atravs

    da substituio parcial do cimento por materiais pozolnicos, visto que estes mtodos se

    baseiam na perda de massa total, que est relacionada com a hidratao total e com as perdas

    de massa relacionadas com os diferentes produtos de hidratao do cimento.

  • 48 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    C100-7d

    Deriv. Weight

    Temperature (C)

    Weig

    ht (%

    )

    1

    2

    3

    4

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0

    1,2

    1,4

    1,6

    Deriv. W

    eig

    ht (%

    /min

    )

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    C100b

    Deriv. Weight (%/C)

    Temperature (C)

    Weig

    th (

    %)

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0

    1,2

    1,4

    1,6

    43

    2

    DT

    G (

    %/m

    in)

    1

    (a) Pasta C100 (b) Pasta C100b

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    CV50

    Deriv. Weight (%/C)

    Temperature (C)

    Weig

    th (

    %)

    1

    2

    3

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0

    1,2

    1,4

    1,6

    DT

    G (

    %/m

    in)

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    CV60

    Deriv. Weight

    C1 (C)

    Weig

    ht (%

    )

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0

    1,2

    1,4

    1,6

    Deriv. W

    eig

    ht (%

    /min

    )

    1

    2

    34

    (c) Pasta CV50 (d) Pasta CV60

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    CV70

    Deriv. Weight

    Temperature (C)

    Weig

    ht (%

    )

    1 2

    3

    4

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0

    1,2

    1,4

    1,6

    Deriv. W

    eig

    ht (%

    /min

    )

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    M20CV50

    DTG

    Temperature (C)

    Weig

    th (

    %)

    1

    2 3 4

    -0,1

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    DT

    G (

    %/m

    in)

    (e) Pasta CV70 (f) Pasta M20CV50

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    C60CH3-7d(P8)

    Deriv. Weight (%/C)

    Temperature (C)

    Weig

    ht (%

    )

    1 2

    3

    -0,1

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    De

    riv. W

    eig

    ht (%

    /C

    )

    0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    C60CH5-7d(P9)

    Deriv. Weight (%/C)

    Temperature (C)

    Weig

    ht (%

    )

    -0,1

    0,0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    De

    riv. W

    eig

    ht (%

    /C

    )

    1 2

    3

    (g) Pasta CV60CH3% (h) Pasta CV60CH5%

    Figura 4 Curvas TG/DTG das pastas aos 7 dias de idade

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 49

    Tabela 3 Perdas de massa aos 7 e aos 28 dias de idade

    Pasta

    gua no combinada

    (35-105 C)

    Ca(OH)2

    (400-450 C)

    Perda de massa total

    (35-1000 C)

    7d 28d 7d 28d 7d 28d

    C100 5,91 5,48 1,91 1,95 20,40 26,53

    C100b 8,28 11,46 3,22 3,66 21,71 27,22

    CV50 5,27 4,38 0,60 1,70 15,44 15,49

    CV60 4,71 4,62 0,73 0,28 13,81 14,56

    CV70 2,99 4,23 1,25 0,34 11,23 12,98

    M20CV50 4,49 5,11 0,39 0,13 12,96 13,95

    CV60CH3 3,24 4,18 1,49 1,36 13,28 14,64

    CV60CH5 3,13 4,65 1,51 1,77 12,76 14,85

    Na Figura 5 apresentam-se os teores de gua quimicamente combinada (Eq. 2)

    presente nas pastas aps 7 e 28 dias de cura, onde se demonstra que o teor de gua

    quimicamente combinada das pastas com elevados teores de adies apresenta um

    crescimento muito menor que o verificado para as pastas contendo apenas cimento, quando

    avaliado entre os 7 e os 28 dias de idade. Tal, deve-se pequena quantidade de cimento e

    presena do material pozolnico (CV e Mtk).

    C100 C100b CV50 CV60 CV70 M20CV50 CV60CH3% CV60CH5%

    0

    4

    8

    12

    16

    20

    24

    9,610,210,510,0

    8,88,5

    11,110,1

    8,78,2

    9,99,1

    13,4

    15,8

    21,0

    H2O

    Qcom

    b (

    %)

    Pastas

    7 dias

    28 dias

    14,5

    Figura 5 Teores de gua quimicamente combinada aps 7 e 28 dias de cura

    A taxa de aumento do teor de gua quimicamente combinada entre os 7 e os 28 dias

    foi de 45% e 17% para as pastas de cimento C100 e C100b, respetivamente, enquanto as

    pastas CV50 e CV60CH5 obtiveram um aumento de 9% e 6%, respetivamente.

    O baixo aumento do teor de combQOH .2 das pastas com elevados teores de adio est

    relacionado com a pequena quantidade de cimento e a elevada relao gua-cimento existente

    nestas pastas, o que proporciona uma menor quantidade de produtos hidratados e,

    consequentemente, menores perdas de massa so verificadas nas curvas TG/DTG.

    O hidrxido de clcio formado logo nas primeiras idades devido hidratao do C3S

    e do C2S, sendo relatado que 80% do seu contedo total, para um cimento CEM I 42,5R,

  • 50 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    formado aos 3 dias (Sisomphon e Franke, 2011). Portanto, matrizes cimentcias com elevados

    teores de adio mineral como as cinzas volantes e o metacaulino tero suas reaes

    pozolnicas iniciadas, normalmente, aps os 3 e 7 dias de hidratao do cimento quando a

    maior parte do CH est formado.

    O principal evento verificado nas curvas TG/DTG das pastas hidratadas (Figura 4)

    corresponde perda de massa relacionada com a desidroxilao do Ca(OH)2, que ocorre entre

    as temperaturas de 400 C a 450 C (DTGpico2 = 420 C).

    Por observao da Figura 4, verifica-se que a temperatura de incio e fim da

    decomposio do Ca(OH)2 varia um pouco de acordo com a entalpia da reao que est

    relacionada com o tempo de hidratao da pasta (idade de cura), tipo e quantidade de cimento

    e adio utilizadas na pasta, alm da relao gua/cimento da mistura, ou seja, da quantidade

    de gua disponvel para a hidratao (El-Shimy et al, 2000; Dweck et al, 2000; Pane e

    Hansen, 2005; Alarcon-Ruiz et al, 2005).

    O teor de hidrxido de clcio livre (CHL), apresentado na Figura 6, outro parmetro

    importante para a avaliao da hidratao, pois sabe-se que este teor aumenta com a idade

    para pastas sem adies minerais e diminui com a mesma quando so adicionados materiais

    pozolnicos como as cinzas volantes (Malhotra, 1995).

    Alm disso, quanto maior for a relao gua-cimento da mistura, maiores sero os

    contedos de CHL, conforme documenta a Figura 6, quando analisadas as pastas C100 e

    C100b, onde se atesta que esta ltima apresentou maiores teores de CHL devido sua maior

    relao gua-cimento e que, em ambas as pastas, o teor de CHL aumentou dos 7 para os 28

    dias.

    As pastas CV60, CV70, M20CV50 e CV60CH3 sofreram redues nos teores de CHL

    com o aumento da idade de hidratao, o que confirma a reao destas adies com o CH

    produzido pela hidratao do cimento e com a cal adicional colocada na pasta CV60CH3.

    A pasta CV50 apresenta um aumento no teor de CHL o que sugere que, mesmo com

    uma substituio de 50% da quantidade de cimento, h uma produo elevada de Ca(OH)2 e,

    desta forma, as CV no foram capazes de reduzir o teor de CHL aos 28 dias.

    C100 C100b CV50 CV60 CV70 M20CV50 CV60CH3% CV60CH5%

    0

    5

    10

    15

    20

    6,27,3

    5,66,1

    0,5

    1,6

    7,0

    2,5

    1,4

    5,1

    1,2

    3,0

    13,2

    15,0

    8,0

    CH

    L (

    %)

    Pastas

    7 dias

    28 dias

    7,9

    Figura 6 Teor de Ca(OH)livre nas pastas em funo da idade

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 51

    Malhotra (1995) relata teores de hidrxido de clcio de 7% e 6%, aos 7 e 28 dias,

    respetivamente, em pastas com elevados teores de CV, enquanto que em pastas produzidas

    apenas com cimento e mantendo constante a razo A/L = 0,35 esses valores foram de 11% e

    12% nas idades de 7 e 28 dias. Estes valores aparentam ser compatveis com os resultados

    determinados de acordo com a equao 1 e mostrados na Figura 6, o que demonstra a

    capacidade da CV e do Mtk utilizados em reagir com o Ca(OH)2 proveniente da reao do

    cimento e, tambm, com a cal adicional colocada na pasta CV60.

    A cal adicional colocada na pasta CV60, nas quantidades de 3% e 5%, teve o intuito

    de avaliar se as CV so capazes de reagir com esses teores extras de Ca(OH)2. Os resultados

    obtidos permitem concluir que a adio de cal provocou um aumento significativo nos teores

    de CHL nas pastas hidratadas aps 7 e 28 dias, em comparao com a pasta CV60, o que

    indica a existncia de uma reserva alcalina para posterior reao pozolnica.

    3.2 Resistncia compresso

    A Figura 7 apresenta os resultados do ensaio de resistncia compresso, onde se

    verifica uma tendncia de diminuio da resistncia com o aumento do teor de adio. No

    entanto, deve-se notar que as pastas com adio mineral apresentam maiores relaes gua-

    cimento e, como esta relao a principal responsvel pela resistncia compresso em

    materiais cimentcios, as anlises devem ter, tambm, em considerao a relao gua-

    cimento.

    C100 C100b CV50 CV60 CV70 M20CV50 CV60CH3 CV60CH5 --

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    110

    61,5

    64,665,565,5

    50,8

    80,9

    50,7

    98,0

    41,2 40,941,1

    32,7

    62,2

    48,3

    35,0

    RC

    (M

    Pa

    )

    Pastas

    7 dias

    28 dias

    87,3

    Figura 7 Resistncia compresso e respetivo desvio padro das pastas em funo da idade

    Atribui-se o maior ganho na resistncia compresso das pastas com elevados teores

    de adies minerais converso do Ca(OH)2 em C-S-H afeto reao pozolnica, como pode

    ser visto na Figura 6, que representa a variao do teor de Ca(OH)livre nas pastas em funo da

    idade e onde ocorreu uma diminuio substancial nos teores de hidrxido de clcio livre

    (CHL) das composies com elevado volume de adies. Desta forma, verificou-se um ganho

    na resistncia compresso, uma vez que o Ca(OH)2 contribui pouco para esta propriedade

    devido sua baixa rea superficial, comparativamente ao C-S-H que tem rea superficial

    elevada e grande contribuio na resistncia (Mehta e Monteiro, 2008).

  • 52 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    A substituio de 60% de cimento por CV numa pasta com gua/ligante = 0,30 e razo

    gua/cimento = 0,75, resultou numa resistncia compresso semelhante da pasta C100b,

    sem adio, mas com a mesma relao A/C = 0,75, mostrando que possvel atingir

    resistncias satisfatrias mesmo com elevados teores de adio, sendo importante ter em

    ateno a relao gua-cimento da mistura, pois esta relao quem comanda a resistncia

    compresso.

    Os resultados obtidos nas pastas CV50, CV60, CV60CH3 e CV60CH5 evidenciam

    que possvel obter betes de elevadas resistncia aos 28 dias (>60 MPa), uma vez que as

    resistncias das pastas e dos betes esto relacionadas como verificou Poon et al (2000) em

    pastas e betes com 45% de cinzas volantes e que atingiram resistncias da ordem dos 90

    MPa aos 28 dias de idade.

    Verifica-se, tambm, que no h relao direta entre o aumento no teor de gua

    quimicamente combinada das pastas e o ganho de resistncia compresso dos 7 para os 28

    dias (Figura 7), uma vez que a pasta C100 que apresentou maior ganho no teor de combQOH .2

    (cerca de 45%) obteve o menor ganho de resistncia (12%). Mais ainda, a pasta CV60CH3 foi

    a que obteve menor aumento no teor de combQOH .2 (cerca de 4%) e apresentou maior aumento

    na resistncia compresso (cerca de 60%).

    3.3 Difrao de raios X

    A Figura 8 mostra os difratogramas da pasta C100 aps cura por imerso durante 7 e

    28 dias de idade, onde se verifica a ocorrncia de picos de C2S e C3S na pasta curada durante

    7 dias, o que demostra a presena de gros de cimento no hidratados. No entanto, aos 28 dias

    de cura, os picos de C3S desparecem devido maior velocidade de reao deste composto em

    relao ao C2S, proporcionando a formao de quantidades adicionais de Portlandite.

    O difratograma da pasta C100b aos 7 e 28 dias de cura, ilustrado na Figura 9,

    apresenta apenas picos de portlandite, etringite, calcite e C-S-H ( OxHSiOCa 25,35,1 ),

    permitindo concluir que a maior relao gua-cimento desta pasta proporcionou a completa

    hidratao do cimento nestas idades, devido ausncia de C2S e C3S no DRX.

    A Tabela 4 apresenta um resumo dos picos encontrados no DRX de todas as pastas

    analisadas, indicando as frmulas qumicas e cartas JPCDF correspondentes.

    O DRX da pasta CV50 apresentado na Figura 10. Comparando-o com os DRX das

    pastas C100 e C100b, nota-se que a pasta CV50 apresenta picos de portlandite menos intensos

    que os verificados para as outras pastas, o que comprova que h uma menor quantidade deste

    composto. A pasta CV50 apresenta picos de slica (SiO2) proveniente das CV, o que indica

    que ainda h CV na pasta sem reagir.

    Verifica-se, ainda, que os picos de todos os compostos hidratados so mais intensos na

    pasta C100 do que nas pastas C100b e CV50, o que indica maior hidratao da mesma,

    corroborando com os resultados do teor de gua quimicamente combinada, obtidos por TG.

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 53

    5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    66

    C100-7d

    inte

    nsity (

    cp

    s)

    2 theta ()

    1

    2

    3

    3; 4

    4 5

    2

    5 3

    2

    5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    0

    50

    100

    150

    200

    2506 = C

    3S

    5

    5 = C2S

    4

    2

    33 3

    3; 4

    3

    1

    22

    C100-28d

    inte

    nsity (

    cp

    s)

    1= Etringita

    2 = Portlandita

    3 = Calcita

    4 = C-S-H

    Figura 8 DRX da pasta C100 aps 7 e 28 dias de cura

    5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    2

    C100b - 7d

    P7-7d

    inte

    nsity (

    cp

    s)

    2 theta ()

    1

    113, 4 2

    21

    5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    C100b - 28d

    1114

    3, 4 2

    2

    2

    1

    P7-28d

    inte

    nsity (

    cp

    s)

    2 theta ()

    Figura 9 DRX da pasta C100b aps 7 e 28 dias de cura

    Tabela 4 Identificao das fases dos difratogramas de raios X

    Id. Fase Frmula qumica Carta

    JPCDF

    1 Etringite Ca6.Al2.(SO4)3.(OH)12.26H2O 41-1451

    2 Portlandite Ca(OH)2 04-0733

    3 Calcite CaCO3 05-0586

    4 Silicato de clcio hidratado (C-S-H) Ca1,5.SiO3,5.xH2O 33-0306

    5 Silicato biclcico Ca2SiO4 33-0303

    6 Silicato triclcico Ca3SiO5 42-0551

    7 Slica SiO2 33-1161

    8 Silico-aluminato hidratado de clcio CaAl2Si7O18 1.7H2O 21-0132

    9 Sulfo-aluminato hidratado de clcio 3CaO Al2O3 3Ca ( OH )2

    32H2O 41-0216

  • 54 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    -100

    -50

    0

    50

    100

    150

    4

    4

    4

    21

    131

    1

    3

    2

    3

    27

    7

    21

    CV50

    C100b

    C100

    inte

    nsity (

    cp

    s)

    2 theta ()

    P7

    P5_28d

    P1-28d

    1

    3 3 31 3

    2

    1

    Figura 10 DRX das pastas C100, C100b e CV50 aps 28 dias de cura

    As pastas com incorporao de elevados teores de adies (CV60, CV70 e M20CV50)

    no apresentam picos de portlandite aos 28 dias, como pode ser observado nos difratogramas

    de raios X apresentados na Figura 11, o que indica que as quantidades calculadas por

    TG/DTG, so muito pequenas e no foram detetadas por DRX. Nota-se, ainda, que a pasta

    M20CV50 apresenta picos bem menos intensos.

    As anlises de DRX realizadas nas pastas CV60, CV70 e M20CV60 atestaram a

    diminuio gradativa da presena de slica (SiO2) nestas pastas, o que comprova que a SiO2

    que era oriunda das CV e do Mtk foi consumida pela reao pozolnica.

    Verificou-se a presena de sulfo-aluminato hidratado de clcio

    (3CaO Al2O3 3Ca (OH)2 32H2O) e silico-aluminato hidratado de clcio (CaAl2Si7O18

    1.7H2O), que s aparece nestas pastas com elevados teores de adies aos 28 dias, o que

    pode ser considerado como um indicativo da reao pozolnica da slica presente nas CV e no

    Mtk com o CHL proveniente da hidratao do cimento.

    A Figura 12 apresenta os difratogramas das pastas CV60CH3 e CV60CH5 onde se

    pode visualizar a presena de portlandite devido incluso de cal nestas pastas, corroborando

    assim os resultados de TG/DTG, onde foi determinado um aumento substancial do teor de

    CHL presente nestas pastas aos 28 dias, comparativamente com a pasta CV60.

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 55

    5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    9

    1

    1

    9

    3

    3

    9

    3

    3

    3

    7

    7

    7

    7

    1

    8

    1

    1

    1

    1

    1

    M20CV50

    CV70

    inte

    nsity (

    cps)

    2 theta ()

    M20CV60-28dias

    CV70-28dias

    CV60-28d

    CV60

    Figura 11 DRX das pastas CV60, CV70 e M20CV50 aps 28 dias de cura

    5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    0

    50

    100

    150

    CV60CH3

    2

    2

    2

    4

    4

    72

    1

    inte

    nsity (

    cp

    s)

    2 theta ()

    CV60CH5

    Figura 12 DRX das pastas CV60CH3 e CV60CH5 aps 28 dias de cura

    4. CONCLUSES

    Com base nos resultados obtidos verificou-se que no h relao direta entre o teor de

    combQOH .2 e a resistncia compresso. Esta propriedade est mais relacionada com a relao

    gua-cimento (A/C), uma vez que pastas com relaes A/C semelhantes (C100b, CV60,

    CV60CH3 e CV60CH5) apresentaram resistncias praticamente iguais aos 7 e aos 28 dias e

    idade, mesmo com diferentes teores de cimento.

    As anlises de TG/DTG demostraram que as pastas com menores teores de cimento e

    maiores relaes A/C apresentam muito pouca portlandite aos 28 dias e que no foi possvel

    detetar este composto nos difractogramas de raios X das pastas CV60, CV70 e M20CV50,

  • 56 Engenharia Civil UM Nmero 44, 2012

    demonstrando a importncia da juno das tcnicas para correta avaliao da hidratao em

    pastas com elevados teores de adies.

    Neste trabalho verificou-se que o teor de substituio do cimento por 50% de CV

    apresentou uma melhor resistncia compresso e uma maior reserva alcalina para fornecer

    CHL (CHL=7) para reagir com as CV em idades superiores a 28 dias. J nas pastas com 60 e

    70% de substituio de cimento praticamente no foi detetada reserva alcalina para reaes

    futuras (CHL

  • Nmero 44, 2012 Engenharia Civil UM 57

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