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Informativo Técnico Rede de Sementes da Amazônia Nº 2, 2004 Andirobinha Carapa procera D.C. Identificação Família: Meliaceae. Nomes vulgares: andirobinha, andiroba, andirobinha- branca, andiroba-do-igapó, carape, jandiroba, penaiba, entre outras. Sinonímia: Carapa surinamensis Miquel, C. guyanensis sensu Oliver, C. guineensis Sweet, entre outras. Espécies relacionadas de maior interesse: as espécies Carapa procera e C. guianensis são conhecidas pelos mesmos nomes vulgares, sendo utilizadas no comércio sem distinção. Uma possível hibridação ainda não foi verificada nos locais onde ambas ocorrem. As duas espécies podem ser diferenciadas pelo porte da árvore, sendo a C. procera menor; as plântulas e as sementes são distintas. Usos da espécie É uma espécie de uso múltiplo; a madeira e o óleo extraído das sementes são dois dos produtos mais importantes. A madeira é considerada nobre e sucedânea do mogno. O óleo é utilizado do mesmo modo que o da andiroba (C. guianensis). Popularmente, o chá da casca e das flores é usado como remédio para combater infecção bacteriana e o chá do cerne como fungicida. Descrição botânica Árvore de pequeno a médio porte, atingindo até 30m de altura, com fuste cilíndrico e reto de até 15m. A casca é grossa e amarga, de cor avermelhada ou acinzentada e desprende-se em grandes placas. A copa, de tamanho médio, é densa e composta por ramos eretos. As folhas são alternas, compostas e paripinadas, com vestígio de 1 folíolo terminal, tomentoso e glandular; variam muito em seu tamanho (30 a 90cm) e podem chegar a 110cm. Os folíolos são opostos ou sub-opostos, em 5-9 pares, medindo 24-50cm de comprimento; a face superior é verde-escura brilhante e a inferior glabra, com pêlos simples e esparsos na nervura central; as margens são inteiras; o ápice varia entre arredondado, mucronado e emarginado, e apresenta 1 nectário extra-floral na extremidade; a base é arredondada ou desigual e levemente assimétrica. A inflorescência é uma panícula ramificada de 30-90cm de comprimento, sustentada por brácteas pontiagudas; as flores são unissexuais com 5-6 meras, de cor branca a creme, levemente perfumadas e 3-8mm de comprimento. A planta é monóica. O fruto é uma cápsula globosa ou sub-globosas com até 6 valvas, indeiscente ou deiscente, pois as valvas separam-se com o impacto da queda do fruto. Mede geralmente entre 5 e 10cm de diâmetro e pesa entre 70 e 340g; cada fruto pode conter entre 1 e 20 sementes. As sementes de cor marrom podem apresentar uma grande variação de forma e tamanho; foram encontradas sementes pesando entre 1 e 40g e medindo entre 1 e 5cm de comprimento. As sementes de Carapa procera apresentam hilo menor do que as de C. guianensis ; o hilo tem uma saliência delimitante de coloração mais clara, com formato cuneiforme em uma extremidade e arredondado em outra, sendo livre de resíduos de outros tecidos. A plântula apresenta epicótilo com 7-11cm de altura quando surgem as primeiras folhas, que são alternas e glabras; normalmente apresenta 6 folhas simples, antes de emitir as folhas compostas que são paripinadas ou imparipinadas. O hipocótilo não se desenvolve e os cotilédones permanecem na semente. Neste estágio, a raiz primária é comprida, lenhosa, resistente e de coloração marrom; as raízes secundárias são finas, densas e de cor castanho-claro. Ecologia Ocorre na África e nos Neotrópicos. Na África, apresenta ampla distribuição na região central e oeste do continente. Nos Neotrópicos, ocorre ao norte da América do Sul, abrangendo o Brasil, o Suriname e a Guiana Francesa. No Brasil, foi registrada, até agora, somente no Estado do Amazonas. Os habitats de Carapa procera são similares ao de C. guianensis: floresta de terra firme, ao longo dos rios e riachos e, muitas vezes, em solos arenosos. As sementes são flutuantes e podem ser dispersas através da correnteza dos cursos d’água. Porém, em floresta de terra firme, a maioria dos frutos e sementes é encontrada embaixo da árvore-matriz. No período de dispersão, as sementes são muito predadas por roedores, tatus, porcos-do-mato, pacas, veados, cotias, etc. Floração e frutificação Na região de Manaus, floresce anualmente entre dezembro e março (época chuvosa) e os frutos podem ser coletados entre abril e julho (final da época chuvosa). Porém, em casos isolados, foram observados frutos maduros ao longo do ano. Informativo Técnico Versão impressa ISSN 1679-6500 Versão on-line ISSN 1679-8058

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Page 1: 2_Andirobinha

Informativo Técnico Rede de Sementes da Amazônia Nº 2, 2004

AndirobinhaCarapa procera D.C.

IdentificaçãoFamília: Meliaceae.Nomes vulgares: andirobinha, andiroba, andirobinha-branca, andiroba-do-igapó, carape, jandiroba, penaiba,entre outras.Sinonímia: Carapa surinamensis Miquel, C. guyanensis sensuOliver, C. guineensis Sweet, entre outras.Espécies relacionadas de maior interesse: as espéciesCarapa procera e C. guianensis são conhecidas pelos mesmosnomes vulgares, sendo utilizadas no comércio semdistinção. Uma possível hibridação ainda não foiverificada nos locais onde ambas ocorrem. As duasespécies podem ser diferenciadas pelo porte da árvore,sendo a C. procera menor; as plântulas e as sementes sãodistintas.

Usos da espécieÉ uma espécie de uso múltiplo; a madeira e o óleo

extraído das sementes são dois dos produtos maisimportantes. A madeira é considerada nobre e sucedâneado mogno. O óleo é utilizado do mesmo modo que o daandiroba (C. guianensis). Popularmente, o chá da casca edas flores é usado como remédio para combater infecçãobacteriana e o chá do cerne como fungicida.

Descrição botânicaÁrvore de pequeno a médio porte, atingindo até 30m

de altura, com fuste cilíndrico e reto de até 15m. A cascaé grossa e amarga, de cor avermelhada ou acinzentada edesprende-se em grandes placas. A copa, de tamanhomédio, é densa e composta por ramos eretos. As folhassão alternas, compostas e paripinadas, com vestígio de 1folíolo terminal, tomentoso e glandular; variam muitoem seu tamanho (30 a 90cm) e podem chegar a 110cm.Os folíolos são opostos ou sub-opostos, em 5-9 pares,medindo 24-50cm de comprimento; a face superior éverde-escura brilhante e a inferior glabra, com pêlossimples e esparsos na nervura central; as margens sãointeiras; o ápice varia entre arredondado, mucronado eemarginado, e apresenta 1 nectário extra-floral naextremidade; a base é arredondada ou desigual elevemente assimétrica. A inflorescência é uma panícularamificada de 30-90cm de comprimento, sustentada porbrácteas pontiagudas; as flores são unissexuais com 5-6meras, de cor branca a creme, levemente perfumadas e3-8mm de comprimento. A planta é monóica. O fruto é

uma cápsula globosa ou sub-globosas com até 6 valvas,indeiscente ou deiscente, pois as valvas separam-se como impacto da queda do fruto. Mede geralmente entre 5 e10cm de diâmetro e pesa entre 70 e 340g; cada frutopode conter entre 1 e 20 sementes. As sementes de cormarrom podem apresentar uma grande variação deforma e tamanho; foram encontradas sementes pesandoentre 1 e 40g e medindo entre 1 e 5cm de comprimento.As sementes de Carapa procera apresentam hilo menor doque as de C. guianensis; o hilo tem uma saliênciadelimitante de coloração mais clara, com formatocuneiforme em uma extremidade e arredondado emoutra, sendo livre de resíduos de outros tecidos. A plântulaapresenta epicótilo com 7-11cm de altura quando surgemas primeiras folhas, que são alternas e glabras;normalmente apresenta 6 folhas simples, antes de emitiras folhas compostas que são paripinadas ouimparipinadas. O hipocótilo não se desenvolve e oscotilédones permanecem na semente. Neste estágio, araiz primária é comprida, lenhosa, resistente e decoloração marrom; as raízes secundárias são finas, densase de cor castanho-claro.

EcologiaOcorre na África e nos Neotrópicos. Na África,

apresenta ampla distribuição na região central e oeste docontinente. Nos Neotrópicos, ocorre ao norte da Américado Sul, abrangendo o Brasil, o Suriname e a GuianaFrancesa. No Brasil, foi registrada, até agora, somenteno Estado do Amazonas.

Os habitats de Carapa procera são similares ao de C.guianensis: floresta de terra firme, ao longo dos rios e riachose, muitas vezes, em solos arenosos. As sementes sãoflutuantes e podem ser dispersas através da correntezados cursos d’água. Porém, em floresta de terra firme, amaioria dos frutos e sementes é encontrada embaixo daárvore-matriz. No período de dispersão, as sementes sãomuito predadas por roedores, tatus, porcos-do-mato,pacas, veados, cotias, etc.

Floração e frutificaçãoNa região de Manaus, floresce anualmente entre

dezembro e março (época chuvosa) e os frutos podem

ser coletados entre abril e julho (final da época chuvosa).

Porém, em casos isolados, foram observados frutos

maduros ao longo do ano.

Informativo Técnico

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Informativo Técnico Rede de Sementes da AmazôniaNº 2, 2004

Obtenção de sementesOs frutos ou as sementes são coletados embaixo das

árvores-matrizes, preferencialmente logo após a quedanatural. Para evitar acidentes, nesta ocasião recomenda-se o uso de capacetes, devido ao grande peso dos frutos.

As sementes não toleram dessecamento, portantorecomenda-se o transporte em sacos plásticos.

BeneficiamentoA extração das sementes deve ser feita o mais breve

possível, abrindo as cápsulas através de um leve impactoe liberando as sementes manualmente. O teor de águadas sementes recém-coletadas varia entre 42 e 62%, 1.000sementes pesam entre 10 e 20kg e 1kg pode conter 50-100 sementes.

Armazenamento das sementesAs sementes são recalcitrantes, sendo que o

dessecamento abaixo de 20% de água é letal. Atualmente,o melhor resultado foi obtido com sementes recém-coletadas armazenadas com alto teor de água, por 7meses, em sacos plásticos finos sob ambiente com ar-condicionado (37% de germinação). As sementesmantidas em geladeira, durante o mesmo período, nãosobreviveram.

Germinação das sementesA germinação é hipógea e criptocotiledonar.

Normalmente, não se aplica tratamento pré-germinativo.As sementes iniciam o processo a partir de 11 dias e podemapresentar elevada taxa de germinação (>90%), apósalgumas semanas. A retirada do tegumento, após levesecagem à sombra, por no máximo 2 dias, pode acelerara germinação. A semeadura pode ser feita em sementeira,

contendo areia ou solo, ou diretamente em sacosplásticos, contendo solo.

Propagação vegetativaNão foram encontradas informações sobre métodos

vegetativos.

Produção de mudas no viveiroRecomenda-se utilizar substrato rico em material

orgânico. A partir de 4 meses, as mudas podem sertransferidas ao local definitivo. Devido ao tamanho dassementes e ao rápido desenvolvimento das plântulas, asemeadura direta no campo é outro método fácil eeficiente, quando não há o risco de predação.

FitossanidadeA broca Hypsipyla ferrealis infesta principalmente o

fruto, danificando as sementes. Recomenda-se colocaras sementes, após a sua extração do fruto, imersas emágua, por pelo menos 24h, para eliminar as larvas porafogamento. O plantio pode sofrer o ataque da broca-do-ponteiro (Hypsipyla grandella), mas em menorintensidade do que os de cedro ou mogno. Os plantiosem ambientes abertos são significativamente maisatacados por insetos do que os de ambientes sombreados.

AutoraIsolde Dorothea Kossmann [email protected] Nacional de Pesquisas da AmazôniaCaixa Postal 478, CEP 69011-970,Manaus-AM, BrasilTel: (92) 643-1839Fax: (92) 642-3430

Informativo Técnico Rede de Sementes da Amazônia é uma publicação da Rede de Sementesda Amazônia, projeto financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente/MMA. Este informativo,assim como as fotos, estão disponíveis no endereço: http://www.rsa.ufam.edu.brInstituições parceirasUniversidade Federal do Amazonas (UFAM); Universidade Federal do Acre (UFAc); UniversidadeEstadual do Amazonas (UTAM); Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); InstitutoNacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa/AM/PA/RR); Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC); Instituto Rondônia deAlternativas de Desenvolvimento (IRAD); Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas doAmapá (IEPA); Associação das Empresas Exportadoras do Pará (AIMEX); Agência deDesenvolvimento da Amazônia (ADA); e Centro de Pesquisas Ecológicas da Amazônia (CEPEAM).Conselho EditorialIsolde D. K. Ferraz, Sidney A. N. Ferreira e Daniel F. O. Gentil - INPA, Manaus-AMCoordenação do projeto: Manuel Lima - UFAM, Manaus-AMProjeto gráfico e Editoração: Tito Fernandes

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Connor, K.F. et al. 1998. Effects of desiccation on seeds ofCarapa guianensis Aubl. and Carapa procera D.C. SeedTechnology, 20: 71-82.

Ferraz, I.D.K. et al. 2002. Sementes e plântulas de andiroba(Carapa guianensis Aubl. e Carapa procera D.C. ): aspectosbotânicos, ecológicos e tecnológicos. Acta Amazonica,32: 647-661.

Ferraz, I.D.K. & Sampaio, P.T.B. 1996. Métodos simples de

armazenamento das sementes de Andiroba (Carapaguianensis Aubl. e Carapa procera D.C. – Meliaceae). ActaAmazonica, 26: 137-144.

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Bibliografia