23 vegetacao e fauna

Upload: luiz-claudio

Post on 12-Oct-2015

13 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 33

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA 2VEGETAO E FAUNA

    2.3 VEGETAO E FAUNA

    A cobertura vegetal do Litoral Norte de Pernambuco, em sua composio original, corresponde Floresta Atlntica,cuja vegetao exuberante e diversidade biolgica tm sido, desde os tempos coloniais, destrudas pela cultura dacana-de-acar e do coco. Nos dias atuais, essa destruio vem sendo efetuada pela implantao de loteamentospara granjas e chcaras de recreio e pela extrao de madeira e lenha para consumo nas reas urbanas e rurais.

    O saldo dessa devastao est representado por alguns remanescentes de mata que, em geral, recobrem encostasde tabuleiros e morros com alta declividade e, em menor proporo, colinas e modelados suaves da porooriental da rea, onde a ocupao urbana e o parcelamento da terra para granjas e chcaras motivaram a destruioquase total das matas, ali, existentes.

    Os remanescentes de mata mais extensos do Litoral Norte localizam-se a oeste da BR-101 e dos ncleos urbanosque margeiam essa rodovia. Concentram-se nos municpios de Abreu e Lima, Igarassu, Itamarac, Paulista esudeste de Itaquitinga, ao passo que constituem ocorrncias esparsas, no restante da rea (figura 03).

    Em Paulista, Abreu e Lima e Igarassu tais remanescentes ocorrem, em geral, na poro ocidental dos vales dosrios Paratibe, Barro Branco, Utinga, Bonana, Tabatinga, Arataca e Botafogo bem como no tabuleiro de Ara eCh da Cruz. Retalhos de vegetao em recomposio interligam, por vezes, esses remanescentes. Na porooriental desses municpios, as matas localizam-se no interior da mancha urbana ou nas proximidades desta,associadas, em alguns casos, a capoeiras de diferentes portes.

    No municpio de Itamarac, as matas mais expressivas ocorrem na poro ocidental da ilha, em terras pblicas,integrantes da rea dos presdios e esto interligadas pela vegetao em recomposio que recobre a quasetotalidade dessas terras e aparece tambm, na poro sul do territrio insular.

  • 34

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA

    VEGETAO E FAUNA2

    FIGURA 03 - COBERTURA VEGETAL DO LITORAL NORTE

  • 35

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA 2VEGETAO E FAUNA

    No municpio de Goiana, os remanescentes so escassos e esto localizados no vale do rio Tracunham, a oesteda BR-101 (matas da Usina Santa Tereza), ao norte da vila de Tejucopapo (mata de Mega) e, no entorno da BR-101, entre o rio Capibaribe Mirim e a divisa de Pernambuco com a Paraba. Alguns fragmentos de mata ocorremtambm na poro centro-oriental do municpio (entre o povoado de So Loureno e a vila de Ponta de Pedras)e entre a BR-101 e o rio Itapessoca. Em Itaquitinga, as poucas matas existentes concentram-se na poro oriental,na divisa desse municpio com Goiana e Igarassu.

    Dentre as matas acima mencionadas, algumas so Reservas Ecolgicas criadas pela Lei no 9 989 de 13 de janeirode 1987. So elas: a mata da Usina So Jos, em Igarassu; as matas de Lano dos Caes, Santa Cruz, Jaguaribe,Engenho Macaxeira, Engenho So Joo e Amparo, em Itamarac; Miritiba e So Bento, em Abreu e Lima; Janga,Jaguarana e Caets, em Paulista (quadro 01 e foto 09). A mata do Janga constitui um dos ltimos remanescentesde mata de restinga do Estado de Pernambuco (Andrade Lima, 1960, p. 315). Das Reservas Ecolgicas acimarelacionadas, apenas a de Caets foi implantada, em 1991 e sofreu mudana de categoria, sendo transformadaem Estao Ecolgica pela Lei Estadual no 11 622/98. As demais, por no terem sido, ainda, implantadas, continuamsubmetidas a alguma forma de degradao, sofrendo reduo da rea e, mesmo, tendendo a desaparecer. Umexemplo disto o que ocorreu com a mata de So Bento que, h mais de dez anos, foi invadida por trabalhadoresrurais sem terra, coordenados pela Federao dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Pernambuco(FETAPE), restando, atualmente, menos de 10% da mesma (Falco, 1999, p. 4).

    Alm dessas unidades de conservao, existem, no Litoral Norte, no municpio de Goiana, uma Reserva Particulardo Patrimnio Natural (RPPN) com 19,23 ha, localizada na Fazenda Tabatinga e uma rea de 476,0 ha pertencente Companhia Agro-industrial de Goiana (Usina Santa Tereza) que foi, informalmente, enquadrada pelo proprietriocomo Reserva Particular. Cabe ressaltar tambm a existncia, no municpio de Igarassu, de 60 ha de MataAtlntica, constitutivos do Refgio Ecolgico Charles Darwin e preservados com o objetivo de estudo de espciesanimais e vegetais daquele ecossistema.

  • 36

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA

    VEGETAO E FAUNA2

    QUADRO 01 - RESERVAS ECOLGICAS DO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO

  • 37

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA 2VEGETAO E FAUNA

    FOTO 09 Reservas Ecolgicas da Macaxeira, ao centro (por trs do Presdio Barreto Campelo, emItamarac) e de Santa Cruz (ao fundo). Cobertura vegetal em recomposio, no primeiro plano.

    Com base em pesquisa de campo e estudos realizados pela Gerncia de reas Protegidas da CPRH, procedeu-sea classificao preliminar de alguns remanescentes da Mata Atlntica do Litoral Norte de Pernambuco, segundo oestado de conservao dos mesmos (figura 03). De acordo com essa classificao, foram consideradas em bomestado de conservao as matas do Amparo e Santa Cruz (Itamarac), da Usina Santa Tereza (Goiana), da UsinaSo Jos, do Refgio Ecolgico Charles Darwin, do Engenho Cumb de Baixo (foto 10) e do Parque Petribom(Igarassu).

    Em estado crtico de conservao foram consideradas as matas Lano dos Caes (Itamarac), Ronca (Paulista),ambas bastante ameaadas pela expanso urbana; a mata de So Bento (Abreu e Lima) e matas localizadas no valedo rio Bonana, entre os assentamentos Pitanga I e II (foto 11), ameaadas pela expanso das reas de policultura;as matas localizadas no vale do riacho Mumbeca (Paulista) e no vale do rio Barro Branco, sobretudo ao norte e aoeste da vila Caets I (Abreu e Lima), essas ltimas ameaadas pela expanso dos loteamentos de granjas echcaras e pela ocupao urbana espontnea (invases), respectivamente.

    As matas de Mega e do Engenho Massaranduba (Goiana), de Jaguaribe, do Engenho Macaxeira, do Engenho SoJoo e do Engenho Amparo (Itamarac), de Jaguarana (foto 12), do Janga e de Caets (Paulista) bem como daCondelaria (Araoiaba), foram classificadas em estado regular de conservao, devido ocorrncia, no interiorou na borda dessas matas, de trechos degradados em conseqncia de retirada excessiva de madeira e de disposiode lixo.

  • 38

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA

    VEGETAO E FAUNA2

    FOTO 10 Mata em bom estado de conservao, localizada a nordeste da sededo Engenho Cumb de Baixo (Igarassu).

    Para os demais remanescentes, no foi possvel estabelecer o estado de conservao, visto no se dispor deinformaes suficientes para realizar tal classificao. Entretanto, esses remanescentes tm em comum opermanente risco de destruio pelas atividades/usos desenvolvidos em seu entorno. Quando em rea canavieira,so atingidos pelas queimadas efetuadas em sua periferia. Quando em reas de policultura ou em reas de granjase chcaras ou, ainda, nas proximidades dos ncleos urbanos, so degradadas pela extrao de lenha para queimaem fornos e para produo de carvo ou so devastadas para expanso daqueles usos, comprometendo no s aproteo do solo e do relevo mas, tambm, a manuteno dos recursos hdricos superficiais e a recarga dosmananciais subterrneos.

  • 39

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA 2VEGETAO E FAUNA

    FOTO 11 Mata em estado crtico de conservao (Assentamento Pitanga I, em Igarassu).

    FOTO 12 Mata em estado regular de conservao (Reserva Ecolgica de Jaguarana, Paulista).

  • 40

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    Nas matas do Litoral Norte, so encontradas, entre outras espcies, a cupiba (Tapirira guianensis), cabot-de-leite (Thyrsodium schomburkianum), sucupira branca (Bowdichia virgiloides), louros (Ocotea spp), embiriba(Eschwelera ovata), murici da mata (Byrsonima sericea), barbatimo (Abarema cochliocarpos), ing (Inga spp),visgueiro (Parkia pendula), embaba (Cecropia adenopus), cajueiro (Anacardium occidentale), paquevira (Heliconiaangustifolia), pereira da mata (Luchea ochrophylla), pau darco (Tabebuia sp), camaari (Caraipa densifolia), munguba(Bombax gracilipes), embiridiba (Buchenavia capitata) (CPRH, 1991 e 1998 e Pesquisa de campo, 1999).

    Com relao fauna do Litoral Norte de Pernambuco, a literatura cita a ocorrncia, ali, de aproximadamenteduzentas espcies animais, incluindo mamferos, aves, rpteis e anfbios. Atravs de informaes coletadas junto populao local, durante a pesquisa de campo, constatou-se ocorrncia, na rea, de algumas dessas espcies,tais como: anu-preto (Crotophaga ani), anu-branco (Guira guira), bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), urubu (Coragypsatratus), pardal (Passer domesphuratus), sagi (Callithrix jacchus), preguia (Bradypus variegatus), tatu (Dasypusnovemcintus), paca (Agouti paca), cutia (Dasyprocta sp), pre (Cavia aparea), camaleo (Iguana iguana) e calango(Ameiva ameiva).

    Embora, alguns remanescentes de mata existentes no Litoral Norte constituam, pela sua extenso, provveisrefgios de fauna silvestre, os desmatamentos e a caa predatria tm acarretado a reduo das espcies vegetaise animais, ameaando, dessa forma, a diversidade florstica e faunstica que ainda existe na rea.

    Na faixa litornea, nos terrenos submetidos influncia constante das mars, desenvolve-se a vegetao demangue, na qual figuram como espcies mais comuns o mangue vermelho (Rhizophora mangle), o mangue branco(Laguncularia racemosa) e o mangue siriba (Avicennia), alm de espcies menos freqentes tais como o manguede boto (Conocarpus erectus) a samambaia do mangue (Acrostichum aureum), o junco (Eleocharis), a tiririca(Scleria bracteata), entre outras. Nas reas brejosas a montante do mangue, desenvolve-se uma vegetao higrfilatpica, muitas vezes dominada pela aninga (Montrichardia linifera).

    Os manguezais mais extensos do Litoral Norte, localizam-se nos municpios de Goiana, Itapissuma, Igarassu eItamarac, margeando os rios Goiana (foto 13), Mega, Itapessoca e o Canal de Santa Cruz, onde ocupam umarede de rios e canais naturais (quadro 02). Merece destaque, pela exuberncia e beleza, o manguezal do rioTimb, em Paulista e Abreu e Lima.

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA

    VEGETAO E FAUNA2

    FOTO 13 Manguezal da margem direita do rio Goiana.

  • 41

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA 2VEGETAO E FAUNA

    Associada vegetao de mangue ocorre uma fauna bastante diversificada, composta, em geral, por moluscoscomo marisco-pedra (Anomalocardia brasiliana), marisco-rei (Protothaca pectorina), marisco-redondo (Lucinapectinata), sururu (Mytella falcata), unha-de-velho (Tagelus plebeius), ostra (Crassostrea rizophorae); crustceoscomo camaro (Panacus subtilis), siris (Callicnetes spp), guaiamum (Cardisoma guanhumi), aratu (Goniopsiscruentata), caranguejo-u (Ucides cordatus); e peixes como sardinha (Opisthonema oglium), tainha (Mugil curema),curim (Mugil liza), camurim (Centropomus undecimalis), carapeba (Eugerres brasilianus), manjuba (Anchoviellalepidentostole)(CPRH, 1998, p. 28 e Pesquisa de campo, 1999), cuja captura cumpre importante papel naalimentao da populao local e na economia dos municpios costeiros da rea.

    QUADRO 02 - REAS ESTUARINAS DO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO

    No mangue do Canal de Santa Cruz observa-se a ocorrncia de aves residentes, tais como: soc (Butoridesstriatus), saracura-trs-potes (Aramides cajanea), martim-pescador-grande (Ceryle torquata), martim-pescador-pequeno (Chloroceryle americana),andorinha-do-rio (Tachycineta albiventer) e as garas (Casmerodius albus eEgretha thula) que buscam o mangue para se alimentarem (Azevedo Jnior,1993 apud CPRH,1998, p. 29). Ocorretambm peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) mamfero bastante ameaado (Silva et al, 1991 apud CPRH,1998, p.31).

  • 42

    PUBLICAES CPRH / MMA - PNMA11

    DIAGNSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE

    O MEIO FSICO DA REA

    VEGETAO E FAUNA2

    Embora esse ecossistema desempenhe uma importante funo como filtro biolgico e qumico das guascontaminadas por resduos industriais e domsticos e como viveiro natural para muitas espcies marinhas (Alheiros,1998, p. 67), tem sido bastante agredido (foto 14) pela ocupao urbana desordenada, pela pesca predatria, peladisposio de lixo e, nos dias atuais, pelo avano dos empreendimentos de carcinicultura.

    FOTO 14 Mangue degradado por aterro e construo de acesso virio, reduzindo a entradade gua salgada (incio da Praia do Janga, Paulista).

    Apesar de protegidas pela Lei 9 931/86, as reas estuarinas do Litoral Norte no ficam isentas de usos/atividadesque degradam esse ecossistema, como mostra o quadro 02. Segundo Bryon (1994, p. 120),os usos residenciais ea implantao de infra-estrutura para o turismo so os que mais degradaram os esturios em toda a RegioMetropolitana do Recife.

    Ainda, na Plancie Costeira, a vegetao de praia composta basicamente por espcies herbceas, foi substituda,em grande parte, pela ocupao urbana, encontrando-se essa cobertura vegetal, nos dias atuais, reduzida a estreitafaixa descontnua, situada ao longo da costa, sobretudo em Itamarac - nas praias do Sossego e do Bairro Novo(ao sul de Pilar) e no trecho entre o Forte Orange e a praia de So Paulo - e, ainda, ao norte da praia de Ponta dePedras, em Goiana. Mesmo assim, essa vegetao continua ameaada pelas construes irregulares e pela instalaode pontos comerciais (barracas) nas praias.

    Refletindo a preocupao em garantir a preservao do que ainda resta do patrimnio natural do Litoral Norte dePernambuco, foi criada, em 1995, uma rea piloto da Reserva da Biosfera da Mata Atlntica, compreendendo osmunicpios de Itapissuma, Itamarac e Igarassu. Essa rea engloba, alm das sete Reservas Ecolgicas situadasnaqueles municpios e das reas estuarinas do rio Timb, do rio Jaguaribe e dos rios que desguam no Canal deSanta Cruz, o Refgio Ecolgico Charles Darwin, em Igarassu e trs bases de pesquisa: a Base de Pesquisa de AvesMigratrias da Universidade Federal Rural de Pernambuco, na Coroa do Avio, em Igarassu, a Base de Pisciculturado Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco e o Centro Peixe-boi Marinho doIBAMA, ambos em Itamarac, bem como a base e sementeira do Projeto Vivendo a Mata Atlntica, da SociedadeNordestina de Ecologia, em Itapissuma (Costa Lima, 1998, p. 27).