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INV.URG-GE.00-IT.4001-(P) Página: 94/1077 Revisão: 3 Data: 05/07/10 2.2 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS 2.2.1 Fisiografia Fluvial 2.2.1.1 Características gerais da bacia do rio Uruguai O rio Uruguai (do guarani "uruguá-y", significa caracol de água, ou seja, rio dos caracóis) nasce nos contrafortes ocidentais da Serra do Mar, Brasil, perto da costa atlântica, a 1.800 m de altura, está formado pela confluência do rio Pelotas e do rio Canoas, percorrendo 2.200 km até sua desembocadura no rio da Prata. Seu leito é rochoso e arenoso e apresenta uma sucessão de corredeiras e rápidos, caracterizando-se por suas notáveis variações de vazão (MMA, 2006). O rio Uruguai divide os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em território brasileiro. Ao receber as águas do Pepirí Guazú toma direção sudoeste, constituindo o trecho fronteiriço com a Argentina até sua confluência com o rio Quareim (Quaraí, em português), limite geográfico entre Brasil e Uruguai, adotando direção sul e constituindo-se na divisória política entre Argentina e Uruguai até sua desembocadura no rio da Prata (Figura 2.2.1.1-1). A área drenada pelo rio que configura a Bacia Hidrográfica do rio Uruguai compreende 385.000 km 2 , deles, 45% está em território brasileiro (MMA, 2006, Chalar, 2006). Originalmente, a vegetação de suas nascentes, no Brasil caracterizava-se pelos Campos e Selva Ombrófila Mista com Araucária. Na porção sudoeste Argentino-Brasileira, pela Mata Atlântica e na porção orientada ao sul argentino-uruguaia, por pradarias naturais. Atualmente, os dois primeiros trechos se encontram intensamente desmatados, e só em regiões muito restringidas, aprecia-se a vegetação original (Chalar, 2006). As principais alterações se devem à expansão agrícola (arroz irrigado, trigo e soja) e, em menor proporção, a criação de gado bovino, suínos e aves nos minifúndios localizados junto aos vales e pradarias (SEMA, 2004, INDEC, 2005). O rio Uruguai corre em direção leste-oeste e recebe importantes afluentes, os principais se situam em território brasileiro, os rios Canoas e Pelotas (cuja confluência é seu nascimento), Peixe, Chapecó, Passo Fundo, Várzea, Turvo, Santa Rosa, Santo Cristo, Ijuí, Icamaquã, Piratini, Butuí e Ibicuí, e o Pepiri-Guazú que serve de limite entre Brasil e Argentina, e pela margem direita argentina recebe o Yabotí, El Soberbio, Chimiray, Aguapey, Miriñay, Mocoretá; e em território uruguaio ao Quareim (no limite com Brasil), Arapey, Dayman, Queguay, Negro e Salvador. Entre a desembocadura do Pepirí Guazú e o Yabotí, uma falha no substrato basáltico em sentido longitudinal ao rio forma os conhecidos Saltos del Moconá (Yucumá), sobre 3.000 m de extensão e quedas de água de 5 a 7 metros de altura (Margalot, 1985). O rio Uruguai não tem alcançado seu nível de equilíbrio, por isso oferece muitas corredeiras e um curso sinuoso, com presença de pequenas ilhas rochosas e vários rápidos (Margalot, 1985). A constituição de seu leito tortuoso, com numerosos saltos e restingas, faz com que só seja navegável a partir de Concordia (província de Entre Rios) (Onna, 1978).

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2.2 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS

2.2.1 Fisiografia Fluvial

2.2.1.1 Características gerais da bacia do rio Urug uai

O rio Uruguai (do guarani "uruguá-y", significa caracol de água, ou seja, rio dos caracóis) nasce nos contrafortes ocidentais da Serra do Mar, Brasil, perto da costa atlântica, a 1.800 m de altura, está formado pela confluência do rio Pelotas e do rio Canoas, percorrendo 2.200 km até sua desembocadura no rio da Prata. Seu leito é rochoso e arenoso e apresenta uma sucessão de corredeiras e rápidos, caracterizando-se por suas notáveis variações de vazão (MMA, 2006).

O rio Uruguai divide os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em território brasileiro. Ao receber as águas do Pepirí Guazú toma direção sudoeste, constituindo o trecho fronteiriço com a Argentina até sua confluência com o rio Quareim (Quaraí, em português), limite geográfico entre Brasil e Uruguai, adotando direção sul e constituindo-se na divisória política entre Argentina e Uruguai até sua desembocadura no rio da Prata (Figura 2.2.1.1-1).

A área drenada pelo rio que configura a Bacia Hidrográfica do rio Uruguai compreende 385.000 km2, deles, 45% está em território brasileiro (MMA, 2006, Chalar, 2006).

Originalmente, a vegetação de suas nascentes, no Brasil caracterizava-se pelos Campos e Selva Ombrófila Mista com Araucária. Na porção sudoeste Argentino-Brasileira, pela Mata Atlântica e na porção orientada ao sul argentino-uruguaia, por pradarias naturais. Atualmente, os dois primeiros trechos se encontram intensamente desmatados, e só em regiões muito restringidas, aprecia-se a vegetação original (Chalar, 2006). As principais alterações se devem à expansão agrícola (arroz irrigado, trigo e soja) e, em menor proporção, a criação de gado bovino, suínos e aves nos minifúndios localizados junto aos vales e pradarias (SEMA, 2004, INDEC, 2005).

O rio Uruguai corre em direção leste-oeste e recebe importantes afluentes, os principais se situam em território brasileiro, os rios Canoas e Pelotas (cuja confluência é seu nascimento), Peixe, Chapecó, Passo Fundo, Várzea, Turvo, Santa Rosa, Santo Cristo, Ijuí, Icamaquã, Piratini, Butuí e Ibicuí, e o Pepiri-Guazú que serve de limite entre Brasil e Argentina, e pela margem direita argentina recebe o Yabotí, El Soberbio, Chimiray, Aguapey, Miriñay, Mocoretá; e em território uruguaio ao Quareim (no limite com Brasil), Arapey, Dayman, Queguay, Negro e Salvador.

Entre a desembocadura do Pepirí Guazú e o Yabotí, uma falha no substrato basáltico em sentido longitudinal ao rio forma os conhecidos Saltos del Moconá (Yucumá), sobre 3.000 m de extensão e quedas de água de 5 a 7 metros de altura (Margalot, 1985).

O rio Uruguai não tem alcançado seu nível de equilíbrio, por isso oferece muitas corredeiras e um curso sinuoso, com presença de pequenas ilhas rochosas e vários rápidos (Margalot, 1985). A constituição de seu leito tortuoso, com numerosos saltos e restingas, faz com que só seja navegável a partir de Concordia (província de Entre Rios) (Onna, 1978).

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Figura 2.2.1.1-1 – Bacia hidrográfica do rio Urugua i

Fonte: Peso-Meichtry, 2009.

2.2.1.2 Aspectos Fisiográficos

O trecho internacional do rio Uruguai, entre Brasil e Argentina, pode ser dividido em dois segmentos: o primeiro, a montante, abrangendo a porção norte do Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, e toda a província de Misiones e o setor oriental da província de Corrientes, na Argentina. É uma Região Planáltica (a Chapada Misionera), profundamente esculpida pelo rio Uruguai, que corre conforme direção geral SO, formando numerosos meandros, apresentando, assim, um forte controle estrutural da drenagem.

O recorte forma vales profundos em “V”, com desníveis topográficos que alcançam valores da ordem de 200 m a 300 m e que, a medida que avança em direção a sua desembocadura, apresenta um relevo mais suavizado. Esse entalhe também se reflete nos afluentes, o que provoca a desertificação do altiplano, formando relevo serrano.

No segmento a montante, compreendido pela porção sul do Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, e pela província de Corrientes, na Argentina, observa-se do lado brasileiro uma transição para uma Superfície Aplanada Inferior, com alto grau de denudação e, junto às drenagens, por superfícies em formação com dinâmica ativa. Do lado argentino predomina a Zona Ribeirinha do rio Uruguai e, particularmente, a Planície de Apóstoles. Destaca-se como aspecto fisiográfico mais importante os “Esteros del Iberá”, constituído por um complexo de pequenas drenagens, riachos, lagos e pântanos que se projetam diagonalmente desde Ituzaingó até as nascentes do rio Corrientes, com uma longitude aproximada de 200 km e

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largura de 65 km. Em geral, o relevo se apresenta suavemente ondulado com direção NE-SO (EBISA, 2008).

Geologicamente está constituído por rochas eruptivas vulcânicas da formação de Serra Geral, constituindo a unidade dominante regional. Este manto vulcânico é o resultado de reiteradas erupções que datam do Jurássico, com grandes efusões de lava sobre as areias depositadas nos longos intervalos entre erupções, produzindo-se, assim os dois tipos de rochas características: os arenitos de quartzo e as rochas basálticas (Margalot, 1985). Os basaltos toleíticos de natureza básica de coloração cinza escuro e textura afanítica, sendo comum a presença de arenitos “intertrapp”.

Os movimentos de ascensão relativos produziram desníveis que deram lugar a saltos e cascadas de diferentes magnitudes, conforme as rochas subjacentes. Conjuntamente, o trabalho dos rios deu origem a uma densa rede de drenagem que foi modelando a paisagem natural atual (PRODIA, 1999).

Do lado argentino, na província de Corrientes predominam os sedimentos Plio-Pleistocênicos de várias formações, e os sedimentos fluviais modernos depositados sobre as rochas da formação Serra Geral, que afloram na região de Curuzú-Quatiá.

As ribeiras do rio Uruguai apresentam características diferentes. A jusante da confluência com o Pepirí-Guazú, a margem esquerda do rio em território brasileiro apresenta uma extensa superfície de rochas basálticas muito escuras, quase pretas, aflorando no rebordo da barranca fluvial e costa adentro. Em troca, a margem argentina apresenta o basalto alterado e erodido que forma os solos vermelhos (Cammarata, 1985).

O clima, conforme a classificação de Köppen, é subtropical chuvoso, temperado, sem estação seca (Guadagnin, 1994), com precipitações praticamente homogêneas durante todo o ano que variam entre 2.000 mm no nordeste, até 1.600 perto do limite com Corrientes. Os meses de outono e primavera costumam ser mais chuvosos. A temperatura média varia entre 20 e 21°C, sendo os invernos suaves e os verões não excessivamente quentes devido às frequentes chuvas (Cabrera, 1976). A formação de geadas acontece eventualmente entre maio e setembro.

Existe diferença entre as condições climáticas das faixas ribeirinhas do rio Uruguai e do Paraná. Pela interposição das alturas centrais, a costa do Uruguai não recebe a influência dos ventos do norte, em consequência possui uma maior moderação climática, recebendo mais diretamente a influência do oceano Atlântico (Margalot, 1985). Em todo o vale do rio Uruguai as névoas são frequentes.

2.2.1.3 Área de estudo

Compreende o trecho do rio Uruguai compartilhado entre Brasil e Argentina, abrangendo a porção oeste do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, e as províncias de Misiones e Corrientes, na região nordeste da Argentina. Os limites norte e nordeste correspondem ao rio Pepirí-Guazú e sua sub-bacia (Figura 2.2.1.3-1).

As principais sub-bacias da área de estudo são, na margem esquerda: Ijuí, Piratini e Ibicuí, e na margem direita se destacam os arroios da província de Misiones (27 sub-bacias) e a sub-bacia do rio Aguapey, na província de Corrientes.

O rio Uruguai, nesta área, apresenta uma grande quantidade de acidentes motivados pelas características topográficas do leito, sendo as mais usuais os rápidos ou corredeiras que

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dificultam enormemente a navegação. Ao ingressar ao território argentino forma um salto muito particular, dado a que o corte se encontra em sentido longitudinal ao curso, o qual origina uma queda de 3 km de extensão, os Saltos del Moconá (Yucumã).

Figura 2.2.1.3-1. Área delimitada da bacia hidrográ fica do rio Uruguai para os estudos de Inventário Hidrelétrico

Fonte: Peso-Meichtry, 2009

Ao longo do curso, atravessando-o em forma normal e oblíqua, detecta-se a existência de um grande número de rápidos de distinta ordem de importância, que estão presentes no perfil longitudinal do rio Uruguai. Em alguns casos é evidente que as discordâncias topográficas indicadas têm migrado a montante mediante o processo de erosão retrocedente. O mecanismo indicado poderia explicar as notáveis variações que apresenta a largura do canal fluvial deste rio,

ARGENTINA

BRASIL

Corrientes

Misiones

Rio Grande do Sul

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as quais, em alguns casos, são muito abruptas (ex. A partir de Garruchos; desembocadura do rio Comandaí; etc.). Em geral não há concordância entre os ressaltos indicados e as linhas de fratura locais ou principais, pelo qual é provável que o controle estrutural seja de caráter litológico. De acordo com este critério, o ressalto se originaria devido à erosão de um banco tenaz que subjaz a outro mais resistente (Margalot, 1985). As corredeiras típicas do rio Uruguai mais importantes são: De las Tejas, De la Viuda, Chafaríz, Tararira, Yacaré, Murciélago, Salto Roncador, Cumandaí.

Também um grande número de ilhas de diversos tamanhos se localiza sobre o rio Uruguai no trecho internacional. Têm características morfológicas superficiais e deposicionais similares aos terraços. As de maior desenvolvimento também apresentam numerosos paleoleitos interconectados. Compõem-se de acumulações aluviais de silte e areias finas a médias com estrutura paralela e entrecruzada em cubeta.

A estrutura paralela apresenta laminação e granulometria muito fina, indicadores de fácies correspondentes a processos de inundação. Sem dúvida tratam-se de antigos níveis de planície aluvial (terraços), que por efeito dos processos erosivos que atuaram sobre eles foram desertificados e separados de ambas as margens do rio Uruguai. Entre elas se encontram: ilhota de Pepirí-Guazú, as ilhas de Dina ou Nao, Pucha para Atrás, Chafariz, Canal Tuerto (ilhota), do Borracho, Chico Alférez (ilhota), San Javier, Argentina ou Itaquararé Chica, Ijuhy (ilhota), San Isidro (ilhota) Piratiny, Cerrito e San Lucas Grande. As de maior desenvolvimento são San Lucas Grande, Itaquararé e Itaquararé Grande (Margalot, 1985).

As variações na altura da água do rio Uruguai podem dever-se não só às precipitações caídas ao longo de sua bacia, mas também ao efeito das represas hidrelétricas instaladas em seu curso e à falta de cobertura selvática nos solos. (PRODIA, 1999), já que em toda a bacia houve uma drástica redução da cobertura vegetal original (Guadagnin, 1994). No Alto Uruguai, em território brasileiro, existem atualmente em funcionamento várias represas, entre elas as UHEs de Itá e Machadinho.

Quanto à variação das vazões durante o ano, a bacia apresenta dois máximos, um no inverno e outro na primavera (junho e outubro) e um mínimo em verão (janeiro-fevereiro). As vazões médias determinadas para o rio Uruguai tomam os seguintes valores, no curso Alto antes da desembocadura do Pepirí-Guazú: 1.200 m3 seg-1, à altura de Santo Tomé (Corrientes): 2.260 m3 seg-1, em Concordia (Entre Ríos): 4.708 m3 seg-1 e em sua desembocadura no rio da Prata: 5.000 m3 seg-1. Conforme os dados disponibilizados por Jaime e Menendez (2002), a descarga média do rio Uruguai, durante o período 1931 a 2001, em Concordia, foi de 4.688 m3 seg-1.

Quanto à carga anual de material em suspensão que transporta o rio até sua desembocadura é da ordem de 17 milhões de toneladas, enquanto que a carga anual de sólidos dissolvidos é de, aproximadamente, 8 milhões de toneladas, totalizando uma carga total anual de 25 milhões de toneladas (Bonetto, 1972).

a) Sub-bacias da área de estudo em território arge ntino

• Afluentes na Província de Misiones

O sistema fisiográfico da província de Misiones se caracteriza em grande parte por possuir uma chapada gerada a partir do magma basáltico, constituindo o elemento litológico principal. A área de estudo abrange as seguintes regiões fisiográficas: Faixa ribeirinha do Uruguai, Sierras Centrales, Paleoplanície de Irigoyen e a Planície de Apóstoles (Aeroterra, 1977). Figura 2.2.1.3-2 (a).

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A Faixa ribeirinha do Uruguai se caracteriza, do ponto de vista fotomórfico, por apresentar uma marcada degradação. É uma faixa estreita de uns 100 km de comprimento e uns 10 km de largura, implantada sobre a margem direita do rio Uruguai, onde se localizam todas as sub-bacias da província de Misiones em seu trecho final, antes de sua desembocadura, com exceção do Arroio Yabotí. Estende-se do paralelo de 27º até o limite com a província de Corrientes. Esta faixa apresenta uma hidrografia profusa, de predomínio meândrico ajustada à intensa atividade tectônica do setor de neto predomínio NO-SE. Os solos vermelhos argilosos preenchem as depressões da chapada elevada gradualmente como bloco a partir de dois grandes alinhamentos que a conformam: o rio Paraná e o rio Uruguai. Ao sul de San Javier começa o alargamento conjuntamente com a gradual acumulação de sedimentos. Estes provêm de disponibilizações das ladeiras das serras de Misiones através da ação fluvial.

As Sierras Centrales correspondem a uma chapada degradada diferencialmente, conforme planos de blocos elevados e arrasados. A divisória de água, deste modo, ajusta-se à topografia irregular da chapada basáltica central, dando origem à maioria das sub-bacias da província de Misiones. O vulcanismo fissural, de maior incidência aparente na região central da província de Misiones, tem gerado os efeitos topográficos diretos e tem perturbado as rochas sedimentárias preexistentes. A intensa meteorização que afetou posteriormente as extensas coladas basálticas deu lugar à formação de solos de cor vermelha intensa, tipo laterítico, muito ricos em componentes ferromagnésicos.

A Paleoplanície de Irigoyen apresenta um relevo de escassa elaboração superficial pelos processos geomórficos. O embasamento basáltico mostra um relevo escassamente ondulado, atravessado longitudinalmente por um sistema de rios de características meândricas. Esta região fisiográfica adota a forma de um triângulo com vértice na localidade de Bernardo de Irigoyen e base no arroio Yabotí Guazú, ao longo de 60 km ao noroeste, desde sua confluência com o rio Uruguai. Zona com escassa exploração antrópica em relação a o observado em território brasileiro. O limite oriental é o arroio Pepirí Guazú, e o ocidental corresponde à linha divisória de águas. A atividade tectônica é muito marcada e se delinearam traços típicos de estrutura dômica de grande singularidade na região.

A Planície de Apóstoles é uma faixa tabular que se estende do arroio Yabotí Guazú até o limite com a província de Corrientes, alcança uma longitude de 200 km e uma largura aproximada de 30 km. Ao oriente limita com a faixa ribeirinha do rio Uruguai e ao poente com as ladeiras baixas das Sierras Centrales. O setor norte apresenta um densidade maiormente selvática, e o setor sul com uma intensa degradação acelerada pela atividade antrópica, com solos ligeiramente cinzas amarelados com alta porcentagem da fração silte-argilosa. Os vales dos arroios e rios desta região, em especial os do sul, apresentam um grande desenvolvimento, dando lugar a acumulações fluviais laterais nas estruturas meândricas. A Planície de Apóstoles é relativamente baixa em relação às outras unidades fisiográficas. O relevo é suavemente ondulado com predomínio de algumas colinas na porção setentrional da região. Compreende o trecho médio da maioria dos arroios em território de Misiones. As ribeiras dos rios que a sulcam são suaves albardões, denotando a maturidade dos vales. A intensa degradação e o transporte fluvial têm decapitado a cobertura húmica, acarreando sérias dificuldades à intensificação da atividade agrícola.

O rio Uruguai, na província de Misiones, recebe a contribuição de 27 arroios (sub-bacias) de segunda e terceira ordem (Aeroterra, 1977), conforme se observa na Figura 2.2.1.3-2 (b).

1. Sub-bacia PEPIRÍ-GUAZÚ: ocupa a porção mais setentrional, serve de limite com o Brasil, na localidade de Bernardo de Irigoyen, caracteriza-se por arroios de escasso desenvolvimento cujas águas fluem em um percurso muito sinuoso com

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números saltos, com rumo N-S a NO-SE, destacando-se como mais importantes pelo lado argentino os arroios tributários: Inocentes, Dos Hermanas, Manduví, Toro, e três pela margem brasileira: Separação, Taglas e Das Flores.

2. Sub-bacia YABOTÍ é a maior sub-bacia do rio Uruguai. O principal coletor é o Yabotí Miní com um intrincado desenho meândrico irregular. Nele desaguam os arroios Invernada, Liso, Garibaldi, Yabotí Guazú, Fortaleza, Competidor e Flórida.

3. Sub-bacia PARAÍSO: sub-bacia de forma tabular, as águas fluem com direção N-S, com numerosos afluentes, como o Casualidade e o Yerbas do Paraíso.

4. Sub-bacia ALEGRE: de escassa dimensão integrada por pequenos arroios.

5. Sub-bacia SOBERBIO (ou Guarambocá): sub-bacia de forma tabular (desenho de desaguamento um pouco mais regular). Integrada pelo arroio El Soberbio como coletor principal e um denso conjunto de outros pequenos arroios, tais como: Iguanupia e Guaranaiba, desembocando a montante da localidade de El Soberbio.

6. Sub-bacia GRANDE: pequena sub-bacia (33 km).

7. Sub-bacia CHAFARIZ: sub-bacia alargada com rumo NO-SE, integrada pelos arroios Chafariz Chico e Chafariz Grande, ambos confluem para constituir o arroio Chafariz que logo desagua no rio Uruguai.

8. Sub-bacia TARARIRA (ou arroio De los Muertos): a faixa retangular desta sub-bacia está afetada por um intenso diastrofismo.

9. Sub-bacia DORADO: integrada pelos arroios Dorado e Macacos.

10. Sub-bacia SALTITO: de forma triangular. Onde as águas de seus arroios fluem com marcada direção N-S e seguindo as linhas de fratura. Arroios mais importantes Macuco, Saltito Chico e Saltito.

11. Sub-bacia PINDAITÍ: Integrada, principalmente, pelo arroio Pindaití e seus pequenos afluentes. As águas fluem em direção N-S.

12. Sub-bacia CANAL TORTO ou ALEGRE: de aspecto tabular, formada pelo arroio Alegre (coletor principal) e os arroios San Luis e Tamanduá. A sub-bacia tem suas nascentes nas ladeiras orientais da Sierra de Misiones, Foto 2.2.1.3-1 (b).

13. Sub-bacia ACARAGUA (ou Barra Bonita): que recebe boa parte dos desaguadouros dos Cerros do Chapá (400 msnm), tem um salto em seu curso superior chamado Salto Chavez de 20 m de altura e um pouco mais de 40 m de largura. Integrada pelos arroios Grapia, do Medio, a Cruz, Yazá, Acaraguá Chico. Na confluência deles se origina o Acaraguá (coletor principal), sua direção ao rio Uruguai é N-S, em um desenho de cursos paralelos, Foto 2.2.1.3-1 (a).

14. Sub-bacia RAMÓN (ou Selva Quemada): nasce perto de Oberá e margeando o Cerro Borracho desemboca a montante de Panambi. Integrada pelos arroios Pardo, Guay Averá, Guaraypú, Zacarias, Selva e Ramón (coletor principal). Longitude total de seus arroios é de 207 km e abrange uma superfície de 346 km2, resultando uma baixa densidade de desaguamento expressada em um valor de 0,59. A partir desta sub-bacia trocam paulatinamente de rumo até tomar direção NO-SO, Foto 2.2.1.3-1 (c).

15. Sub-bacia SEGREDO: integrada por uns poucos arroios de desenho paralelo que confluem independentemente no rio Uruguai.

16. Sub-bacia CHICO ALFEREZ: nasce ao sul da localidade de Los Helechos no departamento de Oberá, desemboca a montante da cidade de Panambi.

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17. Sub-bacia ONCE VUELTAS (Mbororé): tem suas nascentes nas Sierras do Imán e está conformado no setor de cabeceiras pelos arroios Los Hermanos e Pesiguero, os quais ao juntar-se com o arroio Zamambaya (afluente principal) originam o Once Vueltas (coletor principal), assim denominado por desenvolver numerosas voltas semicirculares, em direção N-S, por um curso curto e tortuoso. Responde a um desenho dendrítico, longitude 262 km, área de 403 km2, Foto 2.2.1.3-1 (e).

18. Sub-bacia ALIPIO: integrada por dois arroios, dentre os quais se destaca o Alipio.

19. Sub-bacia GUERRERO (ou Monje): integrada pelos arroios López e Guerrero.

20. Sub-bacia PORTERO: de escasso desenvolvimento.

21. Sub-bacia ITACARUARÉ: integrada por este (coletor principal) e o arroio do Medio. Tem suas cabeceiras nas ladeiras orientais da Sierra del Imán ou Itaquara, Foto 2.2.1.3-1 (d).

22. Sub-bacia SANTA MARIA: pequena sub-bacia integrada por este arroio, Foto 2.2.1.3-1 (f).

23. Sub-bacia PESIGUERO (ou Durazno): de forma tabular.

24. Sub-bacia BARRERO: está situada em uma zona de intensa acumulação, integrada por arroios de muito escasso desenvolvimento.

25. Sub-bacia CONCEPCIÓN: de forma tabular, os cursos fluem com direção N-S ao rio Uruguai. O coletor principal é o arroio Concepción.

26. Sub-bacia TUNAS: se localiza ao sul do departamento de Apóstoles, e nasce ao sudeste das Serras de San José, direção N-S, percorre 35 km para finalizar no rio Uruguai. De forma triangular, integrada pelos arroios Pedregoso, Tunitas, Chancho, León e Tunas. Este último é o coletor principal.

27. Sub-bacia CHIMIRAY: na zona sul de Misiones, serve de limite com a província de Corrientes, com a qual compartilha seu sistema de desaguamento. Os arroios mais importantes do setor correspondem à província de Misiones, são o Angico e o Horqueta.

Os arroios e rios mais importantes por suas vazões são o Pepirí Guazú, que serve como limite entre Brasil e Argentina. O Pepiri Mini e o Yabotí Miní com um intrincado desenho meândrico irregular, o arroio El Soberbio de desenho de desaguamento um pouco mais regular, e o arroio Chafariz de menor expressão que os anteriores.

Os afluentes da seção norte são de maior longitude que os localizados ao sul do arroio Acaraguá (Quadro 2.2.1.3-1). (IRN, http://www.mineria.gov.ar/estudos/irn).

Entre o arroio Pepirí Guazú e San Javier todos os cursos tributários da bacia apresentam descontinuidades de distintos tipos em seus percursos, exibindo saltos de variáveis alturas, barras e restingas. A espessura do horizonte de solos vermelhos é menor que o da região costeira do Paraná e apresenta traços de imaturidade, com relação ao grau de desenvolvimento dos processos erosivos. Isto poderia dever-se a que embora aconteçam também abundantes precipitações, as temperaturas são mais moderadas.

Os arroios situados mais ao sul da província de Misiones: Itacaruaré, Santa Maria, Pesiguero, Concepción, Tunas e Chimiray, encontram-se em ambientes de baixa pendente (com potencial morfodinâmico deprimido), que dá lugar a um sistema de circulação superficial e restringido. O resultado final é uma condução fluvial de baixa velocidade, sem poder erosivo, caracterizada pela existência de grandes áreas alagadas.

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Figura 2.2.1.3-2 (a) – Mapa fisiográfico da provínc ia de Misiones

Fonte: Aeroterra, 1977.

Sierras Centrales

Faja Ribereña del Paraná

Paleoplanície de Irigoyen

Planície de Apóstoles

Faja Ribereña del Uruguai

Paragua i

Brasil

Rio Uruguai

Rio Paraná

Límite de la Cuenca

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Figura 2.2.1.3-2 (b) – Mapa hidrográfico: rio Urugu ai e afluentes da província de Misiones

Fonte: www.visitingargentina.com.ar – 2009

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Foto 2.2.1.3-1. Arroios de Misiones, Argentina. (a) A. Acaraguá (b) A. Torto

(c) A. Ramón (d) A. Itacaruaré

(e) A. Once Vueltas (f) A. Santa María

Fonte: Meichtry-Martens-Peso, 2009.

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Quadro 2.2.1.3-1. Características das sub-bacias do rio Uruguai na província de Misiones

Pepiri Guazu Yaboty Paraíso Alegre Soberbio Grande Chafariz Tararira Dorado Ordem 2ª 2ª 2ª 3ª 2ª 3ª 2ª 2ª 3ª

Tipo de Desenho

Dendrítico-paralelo-

meândrico

Dendrítico-paralelo Dendrítico Paralelo Dendrítico-

paralelo Paralelo Dendrítico pinnado Angular Dendrítico

Anomalias Principais

Embasamento fenobasáltico

fraturado

Coladas vulcânicas

Não observáveis

Zona de fratura

Coladas fenobasálticas

Zona de intensa fratura

Zona de fratura

Zona de fratura

Não observáveis

Longitude 1.140 km 1.979 km 592 km 69 km 1.024 km 33 km 281 km 104 km 110 km Área 847 km2 2.039 km2 658 km2 110 km2 1.098 km2 70 km2 375 km2 174 km2 194 km2 Densidade de Desaguamento 1,34 (alta) 0,97 0,89 0,62 0,93 (alta) 0,47 0,74 0,59 0,56

Módulo Anual m3 seg -1

32 33 13,5 18,2

Fonte: Elaboração Consórcio CNEC-ESIN-Proa, 2009 com base em dados de Aeroterra, 1977, Margalot, 1985, IRN, http://www.mineria.gov.ar/estudios/irn, 2009.

Quadro 2.2.1.3-1 (cont.) – Características das sub- bacias do rio Uruguai na província de Misiones

Saltito Pindaiti Canal Torto (Alegre) Acaragua Ramon Sagredo Alferez Once Vueltas Alipio

Ordem 2ª 2ª 2ª 2ª 2ª 3ª 2ª 3ª 3ª Tipo de Desenho

Angular-dendrítico

Dendrítico-paralelo

Dendrítico-paralelo

Angular-dendrítico

Dendrítico Paralelo Dendrítico Dendrítico Paralelo

Anomalias Principais

Coladas fenobasálticas

fraturadas

Coladas fenobasálticas

fraturadas

Coladas fenobasálticas

fraturadas

Zona de fratura

Zona de fratura

Zona de intensa fratura

Não observáveis

Zona de fratura

Zona de acumulação e

fratura Longitude 650 km 368 (638) km 664 km 554 km 207 km 37 km 49 km 262 km 25 km Área 902 km2 493 km2 779 km2 800 km2 346 km2 73 km2 113 km2 403 km2 89 km2

Densidade de Desaguamento 0,72 0,74 0,85

0,68 (mediana densidade de

desaguamento) 0,59 0,50 0,43 0,65 0,28

Módulo Anual m3 seg -1

14 11,8 7,2

Fonte: Elaboração Consórcio CNEC-ESIN-Proa, 2009 com base em dados de Aeroterra, 1977, Margalot, 1985, IRN, http://www.mineria.gov.ar/estudios/irn, 2009.

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Quadro 2.2.1.3-1 (cont.) – Características das sub- bacias do rio Uruguai na província de Misiones

Guerrero Portero Itaquarare Santa Maria Pesiguero Barrero Concepcion Tunas Chimiray

Ordem 3ª 3ª 3ª 3ª 2ª 3ª 3ª 2ª 2ª Tipo de Desenho Paralelo Dendrítico Dendrítico Dendrítico Dendrítico Dendrítico Dendrítico

pinnado Dendrítico Dendrítico

Anomalias Principais

Zona de acumulação e

fratura

Zona de acumulação

Zona de fratura Zona de fratura

Zona de fratura

Zona de intensa

acumulação

Zona de acumulação

Zona de acumulação

Zona de acumulação

Longitude 100 42 283 112 192 39 84 257 152 Área 173 105 498 207 373 103 155 430 229

Densidade de Desaguamento 0,28 0,40 0,56 0,54 0,51 0,39 0,54 0,59 0,66

Módulo Anual m3 seg -1

8,5 4,6

Fonte: Elaboração Consórcio CNEC-ESIN-Proa, 2009 com base em dados deAeroterra, 1977, Margalot, 1985, IRN, http://www.mineria.gov.ar/estudios/irn, 2009.

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• Afluentes na Província de Corrientes

A Província de Corrientes se caracteriza por seus extensos recursos hídricos superficiais, consistentes em sistemas de rios, arroios, lagunas, esteiros, banhados, cujas águas são originadas basicamente por chuvas abundantes acumulando-se devido à escassa pendente, dificultosa drenagem, e em numerosos casos, à presença de camadas sedimentárias impermeáveis. Morfologicamente, seu território é predominantemente plano, exceto na porção centro-sul e no extremo nordeste. Neste sentido, podem-se diferenciar duas grandes regiões: a ocidental-norocidental e a oriental, separadas por um elemento hidrográfico distintivo desta província: o Sistema de Lagunas e Esteros del Iberá, junto com seu componente de evacuação principal, o rio Corrientes. Todo este conjunto tem uma alinhação NE-SO, desertificando praticamente o território provincial, com características tão peculiares que determinam a possibilidade de diferenciar uma terceira região, a central (IRN, http://www.mineria.gov.ar/estudos/irn - 2009).

Região Oriental : Está separada da ocidental pelo Sistema do Iberá, trata-se de uma região de morfologia bastante plana (cotas entre 55 e 70 msnm), que se elevam no âmbito das zonas de Mercedes, Mariano Loza e Curuzú Quatiá a 100-130 msnm e a 90–100 no departamento de Santo Tomé. As maiores elevações se localizam em três Cerros com 180 m, próximo à localidade de La Cruz, com afloramentos relictuais de basaltos e arenitos. Nesta região, o desenho de desaguamento é de tipo dendrítico, com cursos mais definidos e com largos vales de inundação em sua grande maioria, confluindo à bacia do rio Uruguai. Desta região, destacam-se os rios Aguapey, Miriñay e Mocoretá. Entre elas, a mais importante incluída na área de estudo, é a do rio Aguapey.

Bacia do rio Aguapey : Nasce ao sul da localidade de San Carlos, quase no limite com a província de Misiones, com orientação SE-NO. Escorre através de um dos pediplanos típicos da Chapada Sul Misionera-Noreste Correntina, em meio de uma série de banhados, recebendo por sua margem direita um de seus escassos tributários, o arroio Santo Tomás. Seu vale, assim como o rio Miriñay, corre sobre uma vasta planície quase plana, margeado por amplos esteiros e banhados de entre 2 e 5 km de largura em cada margem, com solos de tipo argiloso, do tipo ou família dos “Malezales Correntinos”. Após percorrer 260 km sobre esta vasta e quase deserta planície correntina, desemboca ao leste da localidade de Alvear no rio Uruguai (Figura 2.2.1.3-3, Foto 2). Seu módulo para o período 1988-97 foi de 83,6 m3 seg-1 no máximo de 139 e no mínimo de 20,5 m3 seg-1. (IRN).

O Aguapey, assim como o rio Ibicuí, situa-se em áreas deprimidas e, portanto, com baixa velocidade das águas. A bacia do rio Aguapey é considerada uma área de importância para a conservação das aves (AICAs) e das pastagens naturais do norte argentino. Este local está incluído em uma estratégia de conservação e usos sustentáveis dos humedales fluviais da Bacia do Prata, no âmbito da convenção RAMSAR. (www.ambiente.gov.ar/default.asp?IdArticulo=8215)

Bacias superficiais da área Nordeste : Localizam-se no extremo E-NE do departamento de Ituzaingó e Santo Tomé, a exceção do rio Aguapey de jurisdição mais ampla. O traço geomorfológico mais saliente e que condiciona a configuração das redes de drenagem desta região, especialmente a do rio Aguapey, é a presença de superfícies de erosão de antigos pediplanos e pedimentos, que dão à paisagem um aspecto de suaves colinas escalonadas. As características das bacias de drenagem são dendrítico-angulares, formando bacias convergentes.

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De SO a NE aparecem nesta zona os arroios Ibirá-Ocay, Yohazá, Ciriaco, Garabí e Chimiray (este último atua de limite político com a província de Misiones). Todos eles integram sub-bacias do rio Uruguai (Figura 2.2.1.3-3).

O arroio Yohazá nasce perto da cidade de Virasoro, no departamento de Santo Tomé, com rumo sudeste desemboca no rio Uruguai, a jusante da localidade de Colonia José Rafael Gómez. O arroio Ciriaco nasce ao sul da localidade de Virasoro e desemboca perto do anterior. O arroio Garabí nasce perto da localidade de Playadito, no departamento de Santo Tomé, dirige-se com rumo sudeste até desembocar no rio Uruguai, a jusante da localidade de Garruchos.

Figura 2.2.1.3-3 – Mapa hidrográfico: rio Uruguai e afluentes da província de Corrientes (Argentina)

Fonte: www.visitingargentina.com.ar - 2009

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Foto 2.2.1.3-2 – Rio Aguapey, Corrientes, Argentina

Fonte: J. Peso, 2009.

b) Sub-bacias da área de estudo em território brasi leiro

A Lei 9433/1997 institui a determinação constitucional criada pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos definidos como planos diretores para fundamentar e orientar a Política Nacional de Recursos Hídricos e seu gerenciamento. Os mesmos serão elaborados nos níveis da bacia, da província e nacional.

O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) constitui um planejamento estratégico para o período 2005–2020 que estabelecerá diretrizes, metas e programas pautados socialmente para o manejo integrado dos recursos hídricos.

O PNRH seguindo a Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, CNRH 30/2002 adota como recorte geográfico a divisão hidrográfica nacional que define 12 regiões para o país. Entre elas, a região Hidrográfica do rio Uruguai foi caracterizada pela ótica da utilização de seus recursos.

O rio Uruguai se caracteriza por possuir uma baixa capacidade de armazenamento devido às características geomorfológicas predominantes, com solos pouco profundos, que fazem com que o rio escorra sobre leito rochoso, provocando um regime de vazão muito variável, dependendo da ocorrência de chuvas, dificultando o planejamento da utilização da água na bacia.

A região hidrográfica do rio Uruguai foi dividida em quatro sub-bacias de nível 1, estas por sua vez foram subdivididas em 10 unidades, chamadas sub-bacias de nível 2 da seguinte maneira -Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, CNRH 32/2003- (MMA e SRH, 2006, ANA, 2006), conforme a Figura 2.2.1.3-4:

− SUB-BACIA do rio Uruguai – Trecho Alto:

o Sub-bacia do rio Pelotas

o Sub-bacia do rio Canoas

o Sub-bacia do rio Uruguai (trecho brasileiro)

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− SUB-BACIA do rio Uruguai – Trecho Médio:

o Sub-bacia do rio Uruguai 1 (Turvo e outros)

o Sub-bacia do rio Ijuí,

o Sub-bacia do rio Uruguai 2 (Butuí, Piratini e outros),

o Sub-bacia do rio Quaraí (e outros).

− SUB-BACIA do rio Ibicuí:

o Sub-bacia do rio Santa Maria

o Sub-bacia Uruguai 3 (Ibicuí).

− SUB-BACIA do Rio Negro:

o Sub-bacia do rio Negro

Figura 2.2.1.3-4 – Bacia hidrográfica do rio Urugua i, em território brasileiro: Subdivisão das Sub-bacias (MMA/ANA 2003)

Fonte: Bases do PNRH (2005).

A área de estudo de inventário do rio Uruguai inclui as sub-bacias do rio Uruguai Trecho Médio e a sub-bacia do Ibicuí, como se observa na Figura 2.2.1.3-5.

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Figura 2.2.1.3-5 – Área de estudo de inventário do rio Uruguai em território Brasileiro.

Fonte: Peso-Meichtry, 2009.

• Sub-bacia do rio Uruguai – Trecho Médio

Nesta sub-bacia se encontram rios com um grande potencial hidrelétrico, como o Ijuí, e também áreas para irrigação de arroz, como a sub-bacia do rio Quaraí.

Sub-bacia do Uruguai 1: a bacia se localiza na província hidrogeológica do Planalto Meridional, ocupa uma área de 10.810 km2, compreende um conjunto de 7 sub-bacias contíguas afluentes do rio Uruguai: rios Turvo, Lajeado Grande, Buricá, Santa Rosa, Santo Cristo, Amandaú e Comandaí. Tratam-se de pequenos cursos de água com no máximo 2.500 km2 de área de drenagem, com baixo potencial hidrelétrico. Nesta sub-bacia se destaca o Parque Estadual do Turvo no extremo norte, onde se encontram as cataratas de Yucumá (Saltos del Moconá) que marcam a divisória entre o trecho alto e médio do rio Uruguai.

Sub-bacia do rio Ijuí: localiza-se na Região do Planalto Meridional, possui uma área de 10.849 km2, este rio se caracteriza por um enorme potencial hidrelétrico ainda pouco explorado. Constitui um dos cursos tributários do rio Uruguai de maior importância, mostrando um hábito sinuoso, meandriforme. A elevada sinuosidade está dada por um severo controle estrutural, exercido pelos

ARGENTINA

BRASIL

Misiones

Corrientes

Rio Grande do Sul

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alinhamentos tectônicos e nele participam fundamentalmente os jogos de fraturas de ordem principal. É comum a presença de ilhas, níveis de terraço (inferiores e superiores), paleoleitos e inclusive ressaltos no perfil longitudinal que chegam a ser de grande magnitude.

A natureza sedimentológica dos depósitos associados com os níveis de terraço está integrada por siltes, areias finas, areias medianas e até areias grossas e, inclusive, conglomerados. As granulometrias de maior tamanho se localizam na base da sequência e apresentam certa litificação e cimentação incipiente.

Sub-bacia do Uruguai 2: Caracteriza-se como uma região de transição entre o Planalto e a Campanha. Conforma uma área de 16.465 km2, configurando a maior unidade da sub-bacia do Uruguai Médio. Os rios principais são: Butuí, Piratini, Icamaquá. O Piratini constitui um dos cursos mais importantes afluentes do rio Uruguai, com um percurso de aproximadamente 120 km, de hábito sinuoso pronunciado, meandriforme. Em seu curso é comum a presença de ilhas, níveis de terraços e saltos no perfil longitudinal.

O Icamaquá é um rio com potencial para geração de energia e a bacia do Butuí para o cultivo de arroz. Merece destacar a região do banhado San Donato, na porção sudeste da bacia.

• Sub-bacia do rio Ibicuí

O rio Ibicuí: pertence à região de Campanha, é um dos maiores afluentes do rio Uruguai, com uma área de drenagem de 47.320 km2, uma longitude de 290 km e uma vazão de 900 a 1.000 m3/s. A bacia do rio Ibicuí e seu afluente principal, o rio Santa Maria, com uma área de 15.784 km2, e a sub-bacia do Uruguai 3, que corresponde aos demais afluentes do rio Ibicuí, Ibicuí-Mirim, Toropi, Jaguari, Itu, Ibirapuitã, Inhanduí e Ibirocaí, cobrindo uma área de 31.536 km2. Relevo plano a suavemente ondulado, com vulnerabilidade à erosão. A Foto 2.2.1.3-3 mostra esse rio.

Foto 2.2.1.3-3 – Desembocadura do rio Ibicuí

Fonte: J. Peso, 2009.

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2.1.1.1 Usos da Água e Eventos Críticos

O uso dos recursos hídricos superficiais está associado tanto às características do curso (vazão, qualidade, normativas vigentes, etc.) como ao crescimento populacional, o desenvolvimento industrial e a intensificação das atividades agrícolas, que contribuem em uma maior utilização do recurso.

A intensificação do uso da água acarreta um aumento dos vertidos aos cursos superficiais, os quais em função de suas características particulares, disponibilizam substâncias que alteram a qualidade da água e, portanto, podem impossibilitar e/ou dificultar seu uso a montante. Das atividades que se desenvolvem na bacia, as que contribuem fortemente à alteração da qualidade são as agrícolas e sobre tudo aqueles cultivos que usam agroquímicos e/ou pesticidas, os quais são arrastados com a escorrentia natural aos arroios afluentes do curso principal ou diretamente a este.

Os principais usos da água são: abastecimento público e industrial; receptor de efluentes industriais e urbanos tratados; desenvolvimento de atividades recreativas (com contato direto, indireto, estético, pesca esportiva); navegação (comercial e esportiva); geração de energia elétrica, irrigação; preservação e desenvolvimento da fauna íctica e atividades de pesca comercial.

A seguir será feita uma breve descrição e menção dos antecedentes disponível quanto ao uso do rio Uruguai em ambas as margens.

No Brasil, entre os cultivos mais explorados na margem esquerda, estão a soja e o milho, e dependem fundamentalmente das condições naturais das precipitações; o trigo como cultivo de inverno, tolera a falta de água. Os cultivos que não resistem a escassez de água são o feijão e o arroz, sendo de interesse este último, por ser um cultivo de irrigação que ocupa uma área considerável na zona de estudo, abrangendo as sub-bacias Ijuí, Uruguai 2, Uruguai 3 e Santa Maria, com maior ênfase nas duas últimas.

Na sub-bacia do rio Ibicuí a base econômica preponderante é a agropecuária, destacando-se o cultivo de arroz irrigado, que é também o principal usuário dos recursos hídricos. Este cultivo é gerador de efluentes ricos em nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) que podem comprometer a qualidade da água e, conseqüentemente, seus usos.

Conforme a ANA (2005), o principal uso da água no Uruguai Médio é a irrigação de cultivos, especialmente arroz por inundação. Este cultivo é responsável pelo maior consumo de água da região, até 92% do total de usos consuntivos.

Quanto à demanda de água para o uso na pecuária e avicultura, seria da mesma ordem de magnitude que a demanda da população urbana na região hidrográfica do rio Uruguai.

Conforme a informação disponível, a captação de água para o abastecimento público se realiza de fontes superficiais (rios Uruguai, Ijuí, Itaguarichim, Ximbocozinho) e de perfurações. No primeiro caso (fonte superficial) encontram-se as localidades de Ijuí, Panambi, Porto Xavier, Santo Antônio das Missões, Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga, Itaqui, São Borja e Uruguaiana, e de água subterrânea se abastecem as localidades de São Nicolau, São Luiz Gonzaga, Santo Cristo, Roque Gonzáles, Porto Lucena, Guarani das Missões, Cerro Largo, Catuípe, Campina das Missões, Caibate e Bassoroca.

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O principal uso industrial é na indústria de alimentos que utiliza intensamente os recursos hídricos como insumo essencial para a higiene e limpeza de matérias primas. O abastecimento se realiza através da rede pública de água ou de poços profundos.

Com respeito à navegação fluvial longitudinal na região, é praticamente inexistente devido aos desníveis do terreno, variações significativas na descarga e os problemas de sedimentação. Não obstante, deve-se mencionar que o rio Uruguai é navegável ao longo de todo o trecho da fronteira Uruguai-Argentina até a represa de Salto Grande, e, posteriormente do lago formado, por este dique até a desembocadura do rio Quareim, na tripla fronteira de Uruguai, Argentina e Brasil. A navegação fluvial existente é basicamente a de tipo transversal com respeito ao rio, dada a simetria existente entre as localidades assentadas em ambas as margens e o serviço é por balsas para veículos e lanchas de passageiros.

Quanto a produção de energia, toda a bacia do rio Uruguai possui um potencial da ordem de 41 kW médio/km2. Na parte brasileira da bacia, além de algumas pequenas centrais hidrelétricas, os aproveitamentos de maior porte existentes são: UHE de Passo Fundo, Itá, Machadinho, Quebra-Queixo, Barra Grande e Campos Novos.

Devido à baixa capacidade de armazenamento da bacia, a profundidade dos mananciais subterrâneos mais volumosos ou o regime de vazões, o rio Uruguai é muito dependente do regime de chuvas. Os períodos de maiores secas na bacia estão associados a períodos de baixa ocorrência de precipitações. Os eventos de estiagens, como os registrados no verão 2003/2004 e 2004/2005, assinalam que os usos da água na bacia operam com um elevado índice de risco.

Conforme a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, no verão 2004/2005, praticamente a totalidade dos Municípios da bacia decretaram uma situação de emergência devido à estiagem. Os casos mais graves se registraram no trecho médio, onde a água se utiliza para irrigação de arroz, que apresentou grandes perdas na colheita, e nas áreas de cultivo de soja, onde a falta de irrigação provocou grandes perdas. Houve problemas de abastecimento de água na região norte da bacia onde a água foi racionada.

Assim percebe-se que em eventos de estiagens extremas se potencializam os problemas pela elevada utilização dos recursos hídricos na bacia. Não existe informação sistematizada sobre este tema de modo a dispor de um registro histórico, mas se percebe que vão assumindo uma tendência a tornarem-se cíclicos.

Quanto à Margem Direita, na Argentina , as águas do rio Uruguai estão pouco exploradas no que se refere a tomas de água crua para potabilização no trecho da província de Misiones. Em troca, na província de Corrientes são utilizadas como fonte de abastecimento para diversas localidades de importância e para irrigação, fundamentalmente para o cultivo de arroz.

As fontes mais comuns para o fornecimento de água para os distintos usos e aos distintos municípios na região são os arroios que contam com uma vazão importante e permanente, as perfurações (atualmente se vem realizando diversas perfurações para a utilização do Aquífero Guarani) e o rio Uruguai.

Na área de estudo correspondente à província de Misiones, a maioria dos municípios captam a água dos arroios (Ramón, Chimiray, Arriane, Victoria, Alegria, Águas Dulce, Macuco, Concepción, De los Toros); enquanto que os municípios de El Soberbio e Panambi, o fazem do rio Uruguai. As demais localidades utilizam água de perfurações.

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Quanto à província de Corrientes, as localidades de Santo Tomé, Garruchos, Monte Caseros e Paso de los Libres utilizam como fonte de fornecimento de água crua o rio Uruguai, e as restantes o fazem do arroio Chimiray e de fontes subterrâneas.

Embora na área que se está considerando exista uma diversidade de estabelecimentos industriais (serrarias, ervateiros, elaboração de conservas, engenho açucareiro, fábrica de sucos cítricos, extração de óleos essenciais, etc.), deve-se destacar que a atividade industrial mais importante é a que realiza o Engenho Açucareiro de San Javier, localizado na beira do rio Uruguai e onde atualmente se produz açúcar comum e orgânico, álcool, melaço e licores. O consumo de água de processo proveniente do rio Uruguai é da ordem dos 600 m3/h.

Considerando a tradição agrícola em margem direita onde sobressaem os cultivos de chá, erva mate, cítricos, plantas de essências, frutais, os mesmos não são um fator importante quanto ao consumo de água para irrigação; os que demandam um consumo importante de água são os cultivos de arroz. Além da água de chuva, a pesar de que o arroz seja cultivado nos períodos Novembro-Março, período chuvoso, a irrigação por inundação é imprescindível para assegurar o pleno desenvolvimento do cultivo, pois nesse período as temperaturas são mais elevadas, as insolações maiores, a umidade relativa do ar mais baixa e os solos são rasos com pequena capacidade de armazenar água. A informação disponível indica diferenças significativas entre as demandas atuais de uso da água em margem direita; sendo nesta última muito maior no setor de Corrientes (Departamento de Santo Tome) que no de Misiones.

A perspectiva do uso da água com fins recreativos (com contato direto), embora não apresente uma planificação estrita quanto à construção de balneários e clubes de pesca, canoagem, náuticos, etc., poderia-se considerar como potencial em toda a bacia do rio Uruguai. Em geral, nas diversas comunidades os arroios são a área de preferência para as atividades recreativas, o que acarreta que os cursos interiores mais importantes e, inclusive os pequenos, contam com balneários, camping, etc. Porém a partir do ano 2002, o forte perfil turístico adotado pelas autoridades provinciais para a região, a partir da construção da ruta Provincial Nº 2, cujo traço acompanha o percurso do rio Uruguai, e a criação da “Ruta Parque Costera del Río Uruguay” (“Parkway”), estabelecem as condições para o desenvolvimento de uma importante infraestrutura recreativa, todo o qual potenciará assim o uso do recurso para o lazer, sendo isto tanto de interesse municipal, como provincial.

2.2.2 Qualidade da água

2.2.2.1 Qualidade das águas superficiais

Caracterização geral da qualidade da água

A qualidade da água na área de estudo foi analisada com base em dados secundários disponíveis. Os mesmos abrangeram aspectos físico-químicos, de fontes de poluição e biológicos. Estes dados foram complementados com uma campanha de amostragem realizada pelo Consórcio CNEC-ESIN-PROA em 26 estações localizadas sobre o rio Uruguai e tributários, tanto da margem argentina como da brasileira, no mês de maio de 2010. Estes dados pontuais podem servir como referência para uma série de amostragens sistemáticas que incluam diferentes condições climáticas e hidrológicas, a fim de obter um espectro da variabilidade dos dados de qualidade da água na área de estudo.

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Na margem argentina, a maior quantidade de dados existentes correspondem aos anos 1988-1990, conforme estes estudos, a qualidade da água apresentava uma alta concentração de oxigênio e de nutrientes, baixa transparência, elevada turbidez e concentração de sólidos suspensos. Registraram-se valores baixos de contaminantes (compostos fenólicos, óleos, graxas, pesticidas organoclorados, entre outros) e as concentrações de metais detectadas foram consideradas como baixas que não apresentariam problemas para a qualidade de água, já que se encontram muito abaixo dos níveis de aceitação para os diferentes usos (Resol. CONAMA Nº 20, 1986; Australian Water Resources Council, 1974; U.S.EPA, 1980; Canadian Council of Resource and Environment Ministers, 1987). Dispõem-se de alguns dados pontuais de qualidade da água mais recentes, relacionados principalmente com florações algais no trecho do Uruguai Médio.

Na margem brasileira, a qualidade da água do rio Uruguai, conforme os estudos efetuados para subsidiar a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), e apresentado no Caderno de Regiões Hidrográficas (2006), pode ser considerada boa, quando for comparada com outras regiões hidrográficas do Brasil. Aqui, as principais fontes de poluição provêm do derramamento de efluentes domésticos sem tratamento, industriais e de atividades pecuárias (cria de porcos, aves) concentradas na sub-bacia do Alto Uruguai, e agrícolas provenientes de áreas de cultivo de soja, milho, trigo e arroz, no Uruguai Médio. Na Argentina, a atividade agrícola é menor, mas não por isso menos importante, considerando o uso de agroquímicos nos cultivos de tabaco.

A concentração de nutrientes do rio Uruguai é elevada em comparação com o rio Paraná, os afluentes da margem brasileira disponibilizam uma alta carga de fósforo, originadas por erosão e carreamento superficial em zonas de intensa atividade agrícola. Os teores de fósforo resultaram mais elevados na época de plantio de soja, como também os compostos nitrogenados, os quais poderiam dever-se ao uso de fertilizantes. As variações de concentrações de nutrientes guardariam uma estreita relação com o regime hidrológico.

Existe informação sobre a ocorrência de florações de algas potencialmente tóxicas no Uruguai Médio desde o ano 2000. Em 2008 e 2009, registraram-se problemas na potabilização da água, causando impactos no uso pelo cheiro e sabor desagradável. A coincidência da fase de águas baixas com o verão favorece o desenvolvimento destas algas durante esses meses, por serem as condições ambientais mais propícias. Os problemas que estas algas podem ocasionar sobre a saúde da população dependerão do tempo de exposição e da concentração de toxinas na água. As hepatotoxinas que são as mais comuns e amplamente distribuídas podem causar efeitos prejudiciais quando estão presentes na água de consumo, provocando reações alérgicas, irritação das conjuntivas, diarréias, vômitos, febre, mal-estar estomacal. O mesmo pode ocorrer nas aves e outros animais que venham a ingerir água com altas concentrações de toxinas.

a) Características Físicas e Químicas

Em função das diferentes fontes de informação consultadas, os dados foram ordenados cronologicamente e por projeto de estudo.

Projeto Estudos de Qualidade da água na área de inf luência do Projeto Garabí : este estudo de qualidade da água foi realizado na área de influência direta do projeto Garabí, durante o período compreendido entre julho de 1988 e abril de 1989, mediante um convênio entre a Universidade Nacional de Misiones e o Consórcio Hidroservice-Hidrened. Estudou-se a qualidade da água do rio Uruguai, com base em dados obtidos em 10 amostragens realizadas com frequência mensal. As amostras foram coletadas em 3 estações localizadas sobre o curso principal do rio no trecho Panambi e Santo Tomé, em 3 tributários da margem esquerda, rio

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Comandaí, Ijuí, Piratini e um da margem direita arroio Chimiray (Russo et al., 1988,1989). Figura 2.2.2.1-1.

Figura 2.2.2.1-1 – Área de influência direta do pro jeto Garabí e principais estações de amostragem. Convênio Hidroservice-Hidrened-UnaM

Fonte: Peso-Meichtry, 2009

No quadro seguinte podem observar-se os dados obtidos para as estações da área de estudo.

REFERÊNCIAS

Estação de Monitoramento

Misiones

Corrientes

Río Grande do Sul

ARGENTINA

BRASIL

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Quadro 2.2.2.1-1. Valor mínimo, máximo, média (x) e desvio standard (DS) das variáveis ambientais na área de influência direta do projeto Garabí entre julho de 1988 e abril de 1989

Estações

Variáveis

E-7 Panambi

E-2 Garruchos

E-1 Santo Tomé

E-6 Comandaí

E-5 Ijuí

E-4 Piratini

E-3 Chimiray

Temp. água °C

Mín - Máx x - DS

11.50 - 28 22,67 - 5.20

14 - 29 23.1 - 5.21

13 - 30 22.87 - 5.78

12.80 - 29 22.48 - 5.42

12.2 - 28.5 22.52 - 5.56

13 - 28 22.32 - 5.22

11 - 25 19.78 - 4.67

Oxigênio Dis. mg / l

Mín - Máx x - DS

8 - 12.90 9.30 - 1.39

7.8 - 13.4 9.13 - 1.65

8 - 12.3 9.19 - 1.23

7.6 - 13 8.89 - 1.55

7.8 - 12.8 9.14 - 1.38

7.7 - 12.6 8.84 - 1.40

6.7 - 11 8.39 - 1.30

pH UpH

Mín - Máx x - DS

6.50 - 7.60 6.98 - 0.35

6.3 - 7.6 6.93 - 0.36

6.4 - 7.5 6.94 - 0.32

6.4 - 7.8 7.09 - 0.42

5 - 7.8 6.85 - 0.79

6.6 - 7.6 6..96 - 0.34

6.30 - 7.20 6.82 - 0.35

Transparência Cm

Mín - Máx x - DS

0.15 - 1.30 0.49 - 0.34

0.1 - 1.2 0.54 - 0.36

0.15 - 0.90 0.43 - 0.28

0.03 - 0.7 0.41 - 0.18

0.05 - 1.10 0.40 - 0.35

0.1 - 0.9 0.43 - 0.29

0.2 - 0.9 0.63 - 0.24

Turbidez UTN

Mín - Máx x - DS

6.20 - 100 32.57 - 28

21 - 57 32.3 - 12.69

18 - 72 39.05 - 17.04

12 - 210 47.75 - 59.6

13 - 140 54.4 - 44.9

13.8 - 140 45.48 - 35.41

9 - 38 25 - 9.47

Cor

Mín - Máx x - DS

25.6 - 240 75.52 - 63.5

30.4 - 184 88.46 - 51.9

30.40 - 200 87.14 – 63

30 - 480 120 - 137

25.6 - 400 142 - 117

25.6 - 368 102 - 104

26 - 120 61 - 32

Sól. Susp.Tot. mg / l

Mín - Máx x - DS

44 - 216 118.6 - 54.2

40 - 198 146 - 56.66

54 - 216 133.4 - 55.84

80 - 526 200 - 160

82 - 442 207 - 130

74 - 270 159 - 62

52 - 164 113 - 39

Alcalinidade mg / l

Mín - Máx x - DS

12 - 20 17.12 - 2.44

15 - 21 17.97 - 1.9

16 - 21 18.32 - 1.64

18.4 - 39 31.07 - 6.29

13 - 31 22.25 - 6.25

12.1 - 34 23.7 - 7.22

10.8 - 32 21.76 - 7

Condut. µS cm-1

Mín - Máx x - DS

35 - 70 54.9 - 11.6

40 - 75 57.5 - 10.6

40 -75 58 - 11.83

55 - 100 80.20 - 15.4

35 - 100 62.2 - 22

40 - 95 63 - 20.8

35 - 80 57.3 - 15.5

Sílice mg / l

Mín - Máx x - DS

6.10 - 2.20 9.44 - 2.34

6.79 - 13.1 10.62 - 1.99

7.10 - 16.30 11.29 - 2.86

9.6 - 21.8 13.78 - 3.57

10.6 - 24.6 15.25 - 4.59

12.5 - 19.8 15.23 - 2.23

12 - 17.4 14.04 - 1.45

Fósf. Total mg / l

Mín - Máx x - DS

0.026 - 0.179 0.07 - 0.05

0.031 - 0.153 0.08 - 0.04

0.025 - 0.188 0.08 - 0.05

0.026 - 0.55 0.15 - 0.20

0.03 - 0.501 0.16 - 0.17

0.037 - 0.172 0.08 - 0.05

0.031 - 0.08 0.05 - 0.018

Ortofosfato mg / l

Mín - Máx x - DS

0.004 - 0.038 0.02 - 0.009

0.008 - 0.032 0.02 - 0.007

0.005 - 0.036 0.01 - 0.009

0.005 - 0.037 0.02 - 0.011

0.007 - 0.095 0.03 - 0.027

0.006 - 0.035 0.02 - 0.009

0.005 - 0.026 0.02 - 0.007

Nitrato µg / l

Mín - Máx x - DS

0.04 - 0.36 0.19 - 0.11

0.05 - 0.7 0.29 - 0.21

0.05 - 0.76 0.28 - 0.24

0.04 - 1.67 0.40 - 0.48

0.03 - 0.78 0.28 - 0.22

0.03 - 0.4 0.13 - 0.12

0.03 - 0.06 0.04 - 0.013

Nitrito mg / l

Mín - Máx x - DS

0.01 - 0.11 0.06 - 0.03

0.01 - 0.26 0.07 - 0.07

0.01 - 0.3 0.08 - 0.087

0.01 - 0.21 0.06 - 0.061

0.01 - 0.73 0.15 - 0.21

0.01 - 0.26 0.09 - 0.08

0.01 - 0.14 0.06 - 0.036

Amoniacal bmg / l

Mín - Máx x - DS

0.009 - 0.28 0.08 - 0.09

0.001 - 0.24 0.07 - 0.076

0.02 - 0.14 0.07 - 0.05

0.009 - 0.14 0.07 - 0.054

0.001 - 0.17 0.08 - 0.06

0.02 - 0.4 0.1 - 0.112

0.001 - 0.2 0.08 - 0.06

Nitrog. Total mg / l

Mín - Máx x - DS

0.23 - 0.65 0.46 - 0.14

0.37 - 0.85 0.54 - 0.16

0.36 - 0.89 0.55 - 0.19

0.24 - 0.9 0.48 - 0.19

0.28 - 0.75 0.54 - 0.16

0.28 - 0.82 0.5 - 0.15

0.32 - 0.67 0.43 - 0.115

DBO mg / l

Mín - Máx x - DS

0.2 - 1.9 0.9 - 0.50

0.2 - 2.4 0.92 - 0.64

0.40 - 2.70 1.16 - 0.62

0.2 - 2.60 1.08 - 0.86

0.20 - 1.90 0.86 - 0.60

0.1 - 8.4 1.43 - 2.5

0.2 - 1.3 0.65 - 0.33

Fonte: elaborado pelo Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomados de Russo, et al. 1989, 1990 e Meichtry de Zaburlín, 1989, 1990.

Neste estudo a temperatura da água variou entre 11 e 30ºC, com valores médios na maioria das estações compreendidas entre 22 e 23ºC, com exceção do arroio Chimiray com um valor médio de 20ºC.

Os valores de oxigênio dissolvido foram elevados durante todo o período e demonstram a alta oxigenação da água, oscilaram entre 6,7 e 13,4 mg / l com valores médios superiores a 8 mg / l

(Russo et al., 1988, 1989).

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Os valores de pH no curso principal oscilaram entre 6,3 e 7,6, e entre 5 e 7,8 nos tributários, conforme se apresenta no Quadro 2.2.2.1-1.

A condutividade elétrica da água apresentou valores similares entre as estações do curso principal, variou entre 35 e 75 µScm, com valores mais elevados nos tributários de margem esquerda (Brasil). Os parâmetros associados, como as concentrações de sódio e potássio que neste último caso, resultaram muito baixas.

A transparência da água variou entre 10 e 130 cm (Gráfico 2.2.2.1-1), com valores médios que oscilaram ao redor de 50 cm. A baixa transparência da água foi consequência direta da alta turbidez e cor da água, o que limitaria em algumas ocasiões a produtividade primária destes ambientes.

Tanto os resíduos totais, como a turbidez, a cor, a alcalinidade e os sólidos suspensos apresentaram variações consideráveis, regidas em geral pelas variações do nível do rio (Gráfico 2.2.2.1-2) e a vazão. Nas estações localizadas sobre o rio Uruguai, entre Panambi e Garruchos, verificou-se um incremento dos resíduos totais, sólidos suspensos e a cor, devido principalmente à contribuição dos tributários da margem esquerda (Brasil). Os valores médios mais altos de concentração de sólidos e cor da água se registraram nos rios Ijuí e Comandaí, com valores um pouco mais baixos no rio Piratini. Entre a estação de Garruchos e Santo Tomé se produz uma diminuição dos valores destes parâmetros, devido, provavelmente, à grande quantidade de sólidos suspensos que contém a água na estação Garruchos, diminui por sedimentação como consequência a uma menor velocidade de escorrimento das águas entre ambos os pontos. O Quadro 2.2.2.1-1 e os Gráficos 2.2.2.1-3 e 2.2.2.1-4 apresentam os dados comentados neste parágrafo.

A turbidez da água do rio Uruguai também se incrementou consideravelmente após a contribuição dos rios Comandaí, Ijuí e Piratini, podendo ser considerada alta. Entre eles, o valor médio mais elevado, observou-se no rio Ijuí (54 UTN), como se observa no Quadro 2.2.2.1-1.

As concentrações de fósforo totais foram significativas, variando entre 0,025 e 0,550 mg / l, enquanto que as de ortofosfato solúvel foram sensivelmente inferiores, entre 0,004 e 0,095 mg / l, indicando que a maior parte de fósforo estaria presente em formas não disponíveis para o crescimento algal. Uma grande parte do fósforo está presente em forma particulada, o qual se reflete na boa correlação obtida entre os sólidos suspensos e a concentração de fósforo total, para as estações localizadas sobre o rio Uruguai e tributários, respectivamente (Gráfico 2.2.2.1-5). Não obstante, as concentrações de nutrientes superaram amplamente os teores necessários para o desenvolvimento de fitoplâncton. Apesar disso, a presença do plâncton não resultou tão elevada devido fundamentalmente à turbidez e à velocidade da água. Os afluentes da margem brasileira, especialmente os rios Ijuí e Piratini, disponibilizaram uma elevada carga de fósforo, que se encontrava em sua maior parte em forma particulada.

Se compararmos a variação temporal da concentração de fósforo total com as vazões registradas no momento do monitoramento, pode-se observar que as concentrações máximas se detectaram nos meses onde as vazões também foram maiores, excetuando o caso do mês de novembro, onde a concentração média é alta e não se corresponde à vazão registrada nesse momento. As altas concentrações registradas neste mês se devem a que, entre outubro e novembro, realiza-se a preparação e fertilização dos solos para o cultivo da soja, o qual requer a utilização intensiva de fertilizantes, o que se reflete nas concentrações detectadas. (IRN, http: //www.mineria.gov.ar/estudos/irn). Isto é coincidente, além disso, com as chuvas nesses meses que provocam a lavagem do solo e a transferência de sólidos e insumos

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agrícolas gerados na área à bacia. Ao final do período de estiagem as vazões são reduzidas e se registra um aumento na concentração de nutrientes, especialmente de fósforo.

A variação temporal de N-nitratos guardou uma estreita correspondência com o padrão seguido pelo fósforo total, embora no caso do N-nitratos as variações sejam ainda mais marcadas (Russo et al., 1988, 1989).

Do exposto, pode-se concluir que as variações de concentrações registradas no período de monitoramento guardam uma estreita relação com o regime hidrológico dos recursos hídricos avaliados, excetuando no período de preparação e fertilização dos solos parta o cultivo da soja, no qual a contribuição de sólidos e nutrientes resulta bastante superior ao esperado em função das vazões registradas no momento dos monitoramentos.

Outro grupo de parâmetros vinculados ao aspecto sanitário da água, ou seja, seu conteúdo de matéria orgânica, nitrogênio amoniacal, nitratos, nitrogênio orgânico, conteúdo bacteriano e de oxigênio dissolvido, indicaram um baixo grau de contaminação das águas, sendo também aceitável a contagem de microrganismos coliformes, não constituindo um problema para a saúde da população humana, com qualidade aceitável para sua potabilização com tratamento convencional (Gráficos 2.2.2.1-6 e 2.2.2.1-7)

Cabe mencionar que se realizaram algumas determinações de cianuretos, fluoretos, boro, agentes tensoativos, compostos fenólicos, óleos, graxas, pesticidas organoclorados, que foram suspensos após comprovar-se sua presença em concentrações extremamente baixas ou nulas.

Com respeito à presença de metais, as concentrações detectadas devem ser consideradas como baixas que não apresentariam problemas de qualidade de água, já que se encontram muito abaixo dos níveis de aceitação para os diferentes usos.

O padrão de comportamento da clorofila “a” esteve fortemente relacionado com o ciclo estacional do fitoplâncton, resultando de particular significação os teores obtidos na época estival. Cabe assinalar que para o período 1988/89, as concentrações mais elevadas de clorofila coincidem com maiores transparências e vazões baixas. O valor máximo se registrou durante a estiagem no verão no rio Piratini com 5,6 mg m-3, este tributário foi o que apresentou o maior valor médio para este estudo (Gráfico 2.2.2.1-8).

Também se registrou um elevado valor no mês de agosto/88 chegando a 5 mg m-3 durante uma proliferação de algas verdes, no qual se registrou um número de células/ml extremamente alto. A comparação espacial entre estações localizadas sobre o curso principal deixou expresso que as estações de Santo Tomé/São Borja apresentaram as maiores concentrações médias, com valores que oscilaram entre 0,09 e 3,2 mg m-3. O arroio Chimiray apresentou os menores registros, confirmando os resultados obtidos nas análises quali-quantitativas de fitoplâncton que mostraram a menor densidade e produtividade deste curso de água (Meichtry de Zaburlín, 1988, 1989).

As profundidades do disco de Secchi estão altamente influenciadas pelas variações de vazão, devido às águas conterem uma elevada turbidez mineral. Ao diminuir as vazões e a velocidade da corrente, aumenta a sedimentação, diminuindo a turbidez com o consequente aumento da transparência da água, o que favoreceria um maior crescimento do fitoplâncton. (http://www.mineria.gov.ar/estudos/irn - 2009).

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Gráfico 2.2.2.1-1 – Variação da transparência da ág ua (m) nas estações do curso principal do rio Uruguai e nos tributários da margem esquerda. Perío do julho de 1988 a abril de 1989

Gráfico 2.2.2.1-2 – Variação do nível hidrométrico do rio Uruguai (m) na localidade de Panambi

durante o período de estudo 1988-1989

Fonte: Elaborado pelo Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomados de Russo, et al. 1989, 1990 e Meichtry de Zaburlín, 1989, 1990.

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Gráfico 2.2.2.1-3 – Variação da concentração de sól idos suspensos (mg / l) e turbidez da água (UTN) nas estações do curso principal e nos tributá rios da margem esquerda do rio Uruguai –

Período julho de 1988 a abril de 1989

Fonte: Elaborado pelo Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomados de Russo, et al. 1989, 1990 e Meichtry de Zaburlín, 1989, 1990.

Gráfico 2.2.2.1-4 – Análise comparativa da variação da concentração de sólidos suspensos totais (mg/l) entre as estações do curso principal (esquer da) e os tributários (direita)

Fonte: Elaborado pelo Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomados de Russo, et al. 1989, 1990.

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Gráfico 2.2.2.1-5 – Variação da concentração de fós foro total e ortofosfato (mg / l) no curso principal do rio Uruguai

A: E7.- Panambi; B: E2 - Garruchos; C: E1 - Santo Tomé, e nos afluentes da margem esquerda, D: (Rio Comandaí); E: (E5 Rio Ijuí); F: (E4 Rio Piratini), G: E3-Arroio Chirimay. Fonte: Elaborado pelo Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomado de Russo, et al. 1989, 1990

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Gráfico 2.2.2.1-6 – (a) Variação da concentração Ba cteriológica total (nmp) e (b) Coliformes totais nas diferentes estações de amostragem

Fonte: Elaborado por Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomados de Russo, et al. 1989, 1990.

Gráfico 2.2.2.1-7 – (a) Variação da concentração de Coliformes fecais (nmp) e (b) Streptococos Fecais (nmp) nas diferentes estaçõ es de amostragem

Fonte: Elaborado por Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomados de Russo, et al. 1989, 1990.

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Gráfico 2.2.2.1-8 – Variação da concentração de clo rofila a (mg m -3) no curso principal e nos tributários da margem brasileira

Fonte: Elaborado por Consórcio CNEC-ESIN-PROA, 2009. Dados tomados de Russo, et al. 1989, 1990 e Meichtry de Zaburlín, 1989, 1990.

A seguir se apresentam os dados de qualidade da água efetuados por duas instituições distintas (CARU, AiEE-INCYTH). Para determinados parâmetros se encontraram divergências, no entanto, não puderam ser justificados. A CARU (Comissão Administradora do Rio Uruguai, 1994) sobre amostras obtidas entre 1987 e 1990, no trecho do rio Uruguai compreendido entre a localidade de Monte Caseros e Gualeguaychú, a montante da área de estudo (Figura 2.2.2.1-2), nas análises efetuadas não se detectaram concentrações de metais pesados considerados contaminantes (cádmio, mercúrio, chumbo), e os praguicidas estiveram abaixo dos valores estabelecidos pelos standards. Consideram o curso principal do rio como “limpo”, não apresentando maiores problemas de contaminação (CARU, 1994).

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Figura 2.2.2.1-2 – Estações de amostragens sobre o rio Uruguai, CARU, 1987- 1990

Fonte: Image 2009. DigitalGlobe. Google Earth.

A e EE (Água y Energía de la Nación Argentina) e o INCYTH (Instituto Nacional de Ciencia y Tecnología Hídrica) obtiveram informação sobre a qualidade da água a partir de uma série de campanhas de amostragens efetuadas durante os meses de fevereiro, maio, agosto e novembro do ano 1990.

As amostras foram coletadas em uma transecta localizada à altura da cidade de El Soberbio. O resumo dos resultados se apresenta no Quadro 2.2.2.1-2, onde se pode observar que as concentrações de oxigênio dissolvido foram elevadas, assim como a concentração de fósforo total e a turbidez da água, a condutividade elétrica foi baixa e o pH oscilou entre 6,4 e 7,2. As análises mostraram a presença de uma série de elementos, tais como: arsênico, amônia, cádmio, cobre, e cromo, com concentrações no limite de tolerância permitido. É provável que ditos elementos provenham das bacias superiores do rio Uruguai, em seu trecho brasileiro (IRN).

Quadro 2.2.2.1-2 – Variáveis físico-químicas do rio Uruguai em uma transecta localizada à altura do El Soberbio (Misiones), 1990

Parâmetros Un. Fevereiro Maio Agosto Novembro

Curso Margem Esquerda Curso Margem

Esquerda Curso Margem Esquerda Curso Margem

Esquerda

Condutividade elétrica US/CM 40,2 40,6 63,5 66,2 56,0 75,1 74,7 -73,7

Cloretos

mg/l

0,5 2,5 3,0 3,0 - - 6,7 5,0

Oxigênio Dissolvido

- - - 12,0 11,7 11,5 11,1 9,9

pH UpH 7,2 6,4 7,2 - - - - -

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Parâmetros Un. Fevereiro Maio Agosto Novembro

Curso Margem Esquerda Curso Margem

Esquerda Curso Margem Esquerda Curso Margem

Esquerda

Temperatura GC 25,8 29,5 15,0 - - - - -

Turbidez UNT 14,0 12,0 26,0 23,0 52,0 57,0 70,0 63,0

D. G.O.

mg/l

- - 17,5 21,3 - - 27,5 27,5

Fósforo Total 0,190 0,310 0,330 0,220 1,200 0,96 0,400 0,400

Nitrogênio-Amônia

L 0,010 0,010 0,020 0,090 L 0,010 L 0,010 0,007 0,007

N-NO2 - - 0,006 0,014 0,007 0,003 - -

N-NO3 0,980 1,230 0,920 0,870 1,050 1,080 2,200 2,200

Detergentes 0,010 0,015 0,013 0,010 L 0,010 L 0,010 - -

Hidroc. Totais 0,400 - - - - - - -

Fenóis 0,002 0,007 0,007 0,008 0,002 0,012 - -

As DISSOLVIDO

L 0,005 L 0,005 L 0,005 L 0,005 L 0,005 L 0,005 0,013 0,013

As em S.S. L 0,005 L 0,005 L 0,005 L 0,005 L 0,005 L 0,005 0,060 0,060

CAD. DIS. L 0,002 L 0,002 0,002 L 0,005 0,001 0,005 - -

CAD. DIS. L 0,002 - 0,002 - 0,002 - - -

Cd em S.S. L 0,002 L 0,002 0,002 L 0,005 - - - -

Cd em S.S. L 0,002 - 0,001 - - - - -

Zn Dissolvido 0,003 0,007 0,020 0,022 0,038 0,023 - -

Zn Dissolvido 0,003 - 0,024 - 0,039 - - -

Zn em S.S. 0,009 0,004 0,041 0,022 - - - -

Zn em S.S. 0,004 - 0,025 - - - - -

Cu Dissolvido L 0,002 0,014 0,003 0,005 0,005 0,004 - -

Cu Dissolvido 0,006 - 0,004 - 0,006 - - -

Cu em S.S. 0,007 0,009 0,003 0,003 - - - -

Cu em S.S. 0,012 - 0,003 - - - - -

Cr Dissolvido L 0,005 L 0,005 0,007 0,008 0,012 0,014 - -

Cr Dissolvido L 0,005 - 0,007 - 0,006 - - -

Cr em S.S. L 0,005 L 0,005 L 0,002 L 0,006 - - - -

Cr em S.S. L 0,005 - 0,003 - - - - -

Fe Dissolvido - - 0,250 0,360 0,700 0,770 - -

Fe Dissolvido - - 0,360 - 0,750 - - -

Fe em S.S. - - 0,890 0,980 - - - -

Fe em S.S. - - 0,920 - - - - -

Pb Dissolvido 0,030 0,065 0,018 0,017 0,028 0,029 - -

Pb Dissolvido 0,039 - 0,020 - 0,030 - - -

Pb em S.S. 0,028 0,022 0,021 0,029 - - - -

Pb em S.S. 0,028 - 0,026 - - - - -

Fonte: AyE, INCYTH, 1990 (http://www.mineria.gov.ar/estudios/irn/misiones/tablas_hidro.asp?pr=t315&dir=M-3).

Dados mais recentes sobre a qualidade da água provêm de amostragens realizadas a montante do rio Uruguai na represa de Salto Grande (Figura 2.2.2.1-2), o qual foi classificado

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como meso-eutrófico, com concentrações de fósforo e sólidos suspensos mais elevados no inverno (De León e Chalar, 2003).

Outros estudos na área de localização da processadora de celulose de Botnia (Figura 2.2.2.1-2), pela Dirección Nacional de Medio Ambiente , República Oriental do Uruguai (2007). O objetivo do mesmo foi obter um diagnóstico sobre a qualidade ambiental do rio. A maioria dos parâmetros analisados (sulfatos, cloretos, detergentes, nitratos, nitrito, amônia) não superaram a norma de qualidade estabelecida pelo Digesto da CARU para Uso 4.

As concentrações de metais monitorados não superaram os standards estabelecidos pela CARU e a OMS.

Na zona de estudo se dispõe de alguns monitoramentos pontuais realizados por Prefeituras, Municípios, Dirección de Industria de la Provincia de Misiones, Empresa de Aguas de Corrientes e a Universidad Nacional de Misiones (2008, 2009), e estiveram relacionados com problemas detectados na água destinada ao abastecimento da população. Registraram-se mudanças nas características organolépticas da água (cheiros e sabores desagradáveis, a Gamexane), que provocaram reações e pedidos de relatórios sobre a qualidade da água destinada ao consumo, em populações localizadas nas ribeiras do rio Uruguai (Figura 2.2.2.1-4).

Os cheiros e sabores desagradáveis surgiram como consequência de um aumento considerável na densidade de cianobactérias (“blooms” ou florações de algas potencialmente tóxicas) no rio. A toxicidade está associada ao tamanho da floração e à presença de cepas tóxicas. Quando as condições ambientais são desfavoráveis estas algas morrem, produzindo-se a lise celular e a liberação de toxinas ao meio aquático, ocasionando diversos problemas sobre a saúde da população que consome a água com toxinas, como também de outros animais como aves e mamíferos.

As cianotoxinas foram classificadas conforme os efeitos que causam aos humanos e animais, sendo as mais relevantes as neurotoxinas, hepatotoxinas e as dermatotoxinas. Entre elas, as mais comuns e amplamente distribuídas são as hepatotoxinas, que em baixas concentrações podem provocar reações alérgicas, irritação das conjuntivas, diarréias, vômitos, febre, mal-estar estomacal. Embora possam produzir intoxicações agudas fulminantes, não é de menor importância o fato de que possam ocasionar intoxicações crônicas em baixas concentrações e produzir carcinogênese e teratogênese. As neurotoxinas, em troca, são potentes bloqueadores neuromusculares e produzem a morte por paralisia respiratória e as dermatotoxinas provocam severas dermatites nos banhistas, inflamação oral e gastrointestinal.

No Quadro 2.2.2.1-3 se apresenta os dados ambientais coletados em Panambi neste último período (2008), provenientes das amostragens e são comparados com dados prévios.

Quadro 2.2.2.1-3 – Valores mínimos e máximos de alg umas variáveis ambientais do rio Uruguai na zona de Panambi e El Soberbio em distintos períodos de tempo

Variáveis Unidade Panambi

(Russo, et al. E Meichtry, 1988/89)

El Soberbio (AyE, INCYTH,

1990)

Panambi (set-dez/2008)

Temperatura °C 11.5 – 30 15 – 29.5 Oxigênio dissolvido mg / l 7.8 - 13.4 9.9 - 12 Transparência cm 0.15 - 1.30

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Variáveis Unidade Panambi

(Russo, et al. E Meichtry, 1988/89)

El Soberbio (AyE, INCYTH,

1990)

Panambi (set-dez/2008)

Sólidos susp. mg / l 44 – 216 Condutividade uScm 35 – 75 40.2 – 75.1 40 – 50,6 pH 6.4 - 7.6 6.4 – 7.2 5.88 – 7.1 Turbidez UTN 6.20 – 100 12 – 70 3.7 – 35.9 Cor 25.6 – 240 Sílice mg / l 6.10 - 16.30 Nitrogênio Total mg / l 0.23 - 0.89 Nitritos mg / l 0.01 - 0.3 0.003 – 0.014 <0.01 Nitratos mg / l 0.05 - 0.76 0.87 – 2.20 2 – 5 Amoníaco mg / l 0.001 – 0,28 0.007 – 0.010 <0.10 Ortofosfato mg / l 0.004 - 0.038 Fósforo Total mg / l 0.025 - 0.188 0.190 – 1.2 Alcalinidade mg / l 12 – 21 16 – 22 Cloretos mg / l 0.5 – 6.7 1 – 5 Detergentes 0.010 0.015

Fonte: Elaborado por Consórcio CNEC-ESIN-Proa, 2009. Fonte: Russo, et al. 1988,1989; Meichtry, 1988, 1989; Koch, 2008; AyE, INCYTH, 1990.

No Brasil , como já foi mencionado, conforme o relatório Caderno da Região Hidrográfica do Uruguai (2006), baseado em dados tomados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), 1998, SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente), 2002, SDM (Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano e Meio Ambiente de Santa Catarina), 1997 e DBR-PNRH (Documento Base de Referência do Plano Nacional de Recursos Hídricos), 2003, a qualidade da água na região hidrográfica do Uruguai pode ser considerada boa, principalmente quando é comparada com outras regiões hidrográficas do Brasil. Neste trabalho, a caracterização da qualidade da água foi realizada a partir da análise de duas variáveis: a concentração de oxigênio dissolvido e a demanda bioquímica de oxigênio, nas cercanias dos aglomerados populacionais.

Os dados foram proporcionados pela Agência Nacional de Água (ANA), consideraram-se 1822 amostras provenientes de 93 estações (1978-2003) do rio Uruguai Alto e Médio, e principais afluentes.

Para isso foram utilizados os padrões de qualidade de água determinados pela Resolução CONAMA 357/2005 . Para o oxigênio dissolvido (OD), 80% dos dados se encontram na classe 2 (OD>4-5 mg/l), 11 amostras ficaram fora de classe com uma concentração de OD inferior a 2 mg/l. As sub-bacias melhor classificadas foram as do rio Pelotas, Ijuí e Negro, incluídas todas em classe 1. As demais receberam classe 2. Conforme os dados disponíveis para o oxigênio dissolvido, as águas da bacia hidrográfica do rio Uruguai Médio foi classificada como classe 2 (78%) e 22% como classe 1, o que é totalmente compatível com os principais usos.

Para a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) não houve dados disponíveis de monitoramento. Calcularam-se a partir da carga gerada e remanescente na bacia, de 143,5 toneladas de DBO que origina a população por dia. As concentrações estimadas destacaram um alto índice de carga na região de maior concentração da atividade suína no Alto Uruguai e Uruguai 1 (sub-bacias de Turvo, Santo Cristo e Santa Rosa) e nas áreas de maior densidade de população urbana e industrial, Alto Uruguai, Canoas, nas nascentes das bacias de Quaraí, Santa Maria e Uruguai 3, que corresponde à bacia do rio Ibicuí em nosso estudo.

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Também se conta com dados da Agência Nacional de Água, disponível em sua página web (www.hidroweb.ana.gov.br) onde se analisaram 9 estações de amostragem, durante períodos variáveis, compreendidos entre os anos 1978 a 2007. No Quadro 2.2.2.1-4, apresentam-se os valores mínimos, máximos e médio de cada variável analisada. As estações de amostragem Puerto Lucena, Garruchos, Paso São Borja e Uruguaiana correspondem à área de estudo, as quais foram monitoradas durante o período 1985 a 1998.

No Alto Uruguai (UHE de Itá) se avaliou a concentração de metais pesados durante o ano 2004 e 2005 em distintos pontos da represa de Itá. Os resultados mostraram altas concentrações de ferro em todos os pontos, o que é característico da formação geológica da bacia de drenagem. Também se registraram altas concentrações de zinco e cobre em alguns pontos, isto se relacionou com a intensa atividade agrícola e com áreas dedicadas à criação de suínos. Os resultados sugerem a entrada de contaminantes provenientes do mal manejo do solo na bacia de drenagem (Magro et al., 2006).

Também em estudos realizados na represa de Machadinho por Porto Filho e colaboradores entre o ano 2002 e 2006, caracterizaram a represa como mesotrófica conforme as concentrações de fósforo, com estratificação térmica prolongada e uma permanente anoxia no hipolímnio.

Outra informação disponível sobre qualidade de água da sub-bacia do Uruguai Médio , foram os estudos feitos pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) e Fundação de Apoio de Universidades Federais do Rio Grande do Sul (FAURGS) (Consórcio Themag – Andrade / Canellas – Bourscheid, 2006). Esta última realizou uma análise sobre fragilidade ambiental, diagnosticando e discutindo os impactos provenientes de hidrelétricas já existentes e projetadas. Devido à carência de monitoramento sistemático da qualidade de água, a análise buscou indicadores representativos como as cargas de DBO provenientes dos efluentes urbanos e industriais.

Quadro 2.2.2.1-4 – Valores mínimos, máximos e médio de cada variável analisada, monitoradas durante o período 1978 ao 2007

ESTAÇÃO MARCELINO RAMOS ITÁ PASSO CAXAMBU

CÓDIGO 73.010.000 73200000 73550000

PERÍODO DE MONITORAMENTO 25-01-79 ao 30-09-99 25-03-80 ao 22-11-84 13-03-79 ao 15-07-05

Latitude 27°28'12'' 27°16'36'' 27°10'12''

Longitude 51°53'60'' 52°19'35'' 52°52'12''

PARÂMETROS MARCELINO RAMOS ITÁ PASSO CAXAMBU

MÁX MÍN P MÉD MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD

Temp de Amostra 28,00 10 19,56 27,00 12,00 18,88 30,00 6,00 19,67

pH 8,20 6 7,16 8,20 7,00 7,52 10,10 5,20 7,13

Cor 175,00 15 56,52 175,00 25,00 61,90

Turbidez 112,00 3 25,05 71,00 1,20 26,27

Condutividade Elétrica 123,00 29 49,70 72,00 30,00 50,57 157,70 32,00 61,38

Dureza Total 41,00 11 19,04 26,00 8,00 17,51

DQO 20,80 2 9,80 34,90 1,60 9,57

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PARÂMETROS MARCELINO RAMOS ITÁ PASSO CAXAMBU

MÁX MÍN P MÉD MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD

DBO 11,00 0 1,29 1,00 0,10 0,59

OD 10,00 4 7,67 8,80 5,40 7,15 9,80 3,20 6,99

Sol. Suspensão Totais 41,20 1 11,91 168,00 2,60 29,09

Detergentes 24,00 0 1,54 0,12 0,01 0,06

Alcalinidade CO3

Alcalinidade HCO3 24,00 24 24,00 25,00 25,00 25,00

FosfatoTotal 0,17 0 0,12 0,37 0,06 0,22

Nitrogênio Amoniacal 0,30 0 0,14 2,50 0,10 0,33

Nitratos 2,50 0 1,09 3,60 0,08 1,63

Nitritos 0,03 0 0,01 0,05 0,01 0,02

Cádmio 1,00 1 1,00

Chumbo 0,01 0 0,01 10,00 0,01 5,01

Mercúrio 0,10 0 0,10 9,00 1,10 5,05

Índice Fenóis 0,90 0 0,10 1,30 0,01 0,26

Coliformes Totais 130.000 4 3.580 24.000 240 2855

Coliformes Fecais 5.000 1 181 24.000 13 409

Óleos Graxas 13,50 1 8,34 33,70 1,40 9,10

Alcalinidade Total 34,00 12 17,60 23,00 12,00 17,54

Carbono Orgânico Total 4,60 3 4,00 2,80 2,80 2,80

Ortofosfato Total 0,24 0 0,06 0,49 0,02 0,09

Ferro Total 1,40 1 1,40

Descarga Líquida 2.488,00 69 758,40 2.167,00 49,40 786,99

Quadro 2.2.2.1-4 – Valores mínimos, máximos e médio de cada variável analisada, monitoradas durante o período 1978 ao 2007 (cont.)

ESTAÇÃO IRAÍ ALTO URUGUAI PORTO LUCENA

CÓDIGO 74100000 74500000 74800000

PERÍODO DE MONITORAMENTO 07-01-1978 ao 13-03-2007 23-09-1992 ao 27-04-1998 19-06-1985 ao 31-05-1998

Latitude 27°10'48'' 27°18'0'' 27°51'00''

Longitude 53°15'00'' 54°07'12'' 55°01'12''

PARÂMETROS IRAÍ ALTO URUGUAI PORTO LUCENA

MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD

Temp de Amostra 32,00 5,00 21,11 24,00 13,00 20,20 29,00 13,00 19,76

pH 9,80 4,10 7,26 7,70 6,90 7,26 7,70 6,32 7,14

Cor 250,00 6,00 96,50 150,00 50,00 109,00 165,00 13,00 95,20

Turbidez 115,00 1,10 29,43 35,00 18,00 25,20 100,00 2,80 34,99

Condutividade Elétrica 145,00 28,00 48,61 53,20 42,70 49,17 68,40 43,6 49,7692

Dureza Total 31,00 13,00 17,50 23,00 19,00 21,20 44,00 16,00 21,93

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PARÂMETROS IRAÍ ALTO URUGUAI PORTO LUCENA

MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD

DQO 31,00 2,00 8,68 6,40 3,10 5,60 24,70 0,07 7,67

DBO 7,10 0,10 1,09 0,60 0,20 0,38 4,60 0,20 0,85

OD 11,00 3,60 7,86 11,40 6,60 8,32 10,00 4,60 7,71

Sol. Totais 279,00 12,00 97,70

Sol. Suspensão Totais 259,60 1,00 27,24 18,00 8,80 12,72 62,70 1,20 16,29

Detergentes 0,25 0,01 0,05 0,02 0,02 0,02 0,07 0,01 0,03

Alcalinidade CO3 34,00 34,00 34,00

Alcalinidade HCO3 15,00 15,00 15,00 40,00 40,00 40,00

Fosfato Total 1,02 0,01 0,11 0,08 0,08 0,08 0,37 0,34 0,36

Nitrogênio Total 1,47 0,02 0,63

Nitrogênio Amoniacal 1,50 0,01 0,13 0,20 0,10 0,13 0,20 0,05 0,11

Nitratos 3,10 0,10 1,11 2,90 1,60 2,47 5,20 0,64 2,82

Nitritos 0,14 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,18 0,01 0,03

Alumínio 5,50 2,80 4,26

Arsênico 0,05 0,05 0,05

Cádmio 2,10 0,80 1,45

Chumbo 20,00 0,01 1,07 0,01 0,01 0,01

Cobre 0,10 0,01 0,02

Cromo Hexavalente 0,01 0,01 0,01

Ferro Solúvel 12,50 0,20 4,23

Manganês 0,30 0,03 0,11

Mercúrio 0,30 0,30 0,30 9,00 0,10 6,03

Níquel 0,01 0,01 0,01

Zinco 1,50 0,01 0,10

Índice Fenóis 1,00 0,01 0,06 0,01 0,01 0,01 0,10 0,01 0,03

Coliformes Totais 240.000 1 286 7.900 450 1.700 11.000 110 1100

Coliformes Fecais 17.000 1 22 5.000 1 63

Óleos Graxas 10,00 1,00 7,18 10,00 10,00 10,00 13,00 1,30 8,64

Alcalinidade Total 23,00 13,00 17,37 23,00 15,00 19,00 28,00 17,00 19,67

Carbono Orgânico Total 2,80 2,10 2,45 2,40 2,40 2,40

Ortofosfato Total 1,03 0,01 0,14 0,06 0,03 0,04 0,18 0,01 0,07

Cromo Total 0,04 0,01 0,01

Nitrogênio Orgânico 0,74 0,34 0,56

Oxigeno Médio Ácido 8,40 3,70 7,07

Sódio Total 2,40 1,55 1,94

Magnésio Total 1,72 0,38 1,02

Sílica Dissolvida 13,00 7,00 11,57

Potássio Total 1,35 0,80 1,08

Cálcio Total 5,08 4,08 4,72

Ferro Total 14,50 0,20 2,78

Descarga Líquida 6.593,00 369,00 2.054,47 84,80 69,40 77,70 40,80 40,80 40,80

Fósforo Total 0,10 0,03 0,05

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Quadro 2.2.2.1-4 – Valores mínimos, máximos e médio de cada variável analisada, monitoradas durante o período 1978 ao 2007 (cont.)

ESTAÇÃO GARRUCHOS PASSO SÃO BORJA URUGUAIANA

CÓDIGO 75550000 75780000 77150000

PERÍODO DE MONITORAMENTO 13-06-1985 ao 23-04-1998 12-06-1985 ao 01-12-1997 29-05-1985 ao 21-08-2007

Latitude 28°10'57'' 28°37'48'' 29°45'00''

Longitude 55°38'36'' 56°02'22'' 57°04'12''

PARÂMETROS GARRUCHOS PASSO SÃO BORJA URUGUAIANA

MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD MÁX MÍN MÉD

Temp de Amostra 29,00 15,00 21,10 29,00 12,00 19,52 33,00 10,00 20,24

pH 8,60 6,70 7,37 7,5 6,5 7,05 7,76 6,33 7,19

Cor 210,00 25,00 105,56 420,00 50,00 146,50 250,00 55,00 116,50

Turbidez 110,00 6,30 45,96 251,00 19,00 70,44 125,00 17,00 53,22

Condutividade Elétrica 58,6 37,3 49,05 100 28,50 49,81 123,00 40,30 72,77

Dureza Total 30,00 15,00 21,06 70,00 13,00 24,40 60,00 12,00 26,65

DQO 16,70 3,10 8,48 29,30 1,60 13,30 51,20 6,20 17,77

DBO 1,60 0,20 0,60 3,50 0,30 0,92 3,60 0,40 1,44

OD 10,00 4,80 7,75 9,80 4,80 7,43 10,00 4,60 7,17

Sól. Totais 30,00 30,00 30,00

Sól. SuspensãoTotais 190,40 1,20 35,64 349,00 9,20 68,62 847,00 14,20 140,71

Sól. Suspensão Fixos 108,80 5,80 34,58

Sól. Dissolvidos Totais 267,00 35,00 151,00

Detergentes 0,11 0,01 0,05 15,60 0,01 1,07 0,08 0,01 0,03

Alcalinidade CO3 31,00 17,00 23,50

Alcalinidade HCO3 28,00 28,00 28,00 47,00 47,00 47,00

Fosfato Total 0,56 0,04 0,25 0,62 0,23 0,41 0,38 0,14 0,21

Nitrogênio Amoniacal 0,10 0,03 0,08 1,80 0,03 0,22 1,40 0,07 0,29

Nitratos 3,52 0,90 2,03 3,74 1,10 1,96 3,30 0,12 1,63

Nitritos 0,02 0,01 0,01 0,08 0,01 0,02 0,11 0,01 0,03

Cádmio 1,30 1,30 1,30

Chumbo 20,00 0,01 4,01 0,02 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01

Mercúrio 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00 9,00

Índice Fenóis 0,02 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01

Coliformes Totais 70.000 490 5857 170.000 330 7490 240.000 80 4382

Coliformes Fecais 4.900 1 80 800 3 47 280.000 35 3130

Óleos Graxas 17,00 2,30 9,94 23,00 1,60 9,74 12,00 1,10 8,36

Alcalinidade Total 29,00 15,00 20,29 40,00 10,00 19,90 36,00 17,00 25,36

Carbono Orgânico Total 4,60 2,10 3,35 3,40 2,10 2,97 8,60 4,00 6,30

Ortofosfato Total 0,29 0,01 0,09 0,29 0,04 0,10 1,11 0,07 0,21

Descarga Líquida 89,80 54,20 72,00 90,40 90,40 90,40 16.785,00 2,21 4.544,22

Fonte: Elaborado por CNEC- ESIN-Proa, 2009. Fonte: Dados disponíveis na página www.hidroweb.ana.gov.br

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Também se conta com informação de EIA/RIMA, do ano 2004, dos aproveitamentos hidrelétricos Paso San Juan e San José, situados no trecho inferior do rio Ijuí (Figura 2.2.2.1-3). Realizaram-se 4 campanhas, analisando-se parâmetros físicos, químicos e biológicos em 9 locais selecionados (7 no curso principal e 2 em tributários), analisou-se Temperatura, pH, Condutividade, OD, DBO, DQO, coliformes fecais e totais e dados biológicos de fitoplâncton e zooplâncton.

Os resultados mostraram pouca variabilidade espacial, em troca, as variações estacionais estiveram relacionadas à vazão e à ocorrência de chuvas na bacia. O pH variou entre 6 e 7, os valores de condutividade não foram elevados, o oxigênio mostrou concentrações mais críticas no inverno (3,7 e 4,9 mg/l, valores localizados abaixo do permitido pela Resol. CONAMA para a classe 2), com valores mais altos na primavera (7,3 e 8,4 mg/l). Os valores de DBO, DQO, nutrientes, coliformes fecais e totais não apresentaram resultados elevados (Consórcio Themag – Andrade / Canellas – Bourscheid, 2006).

Figura 2.2.2.1-3 – Localização geográfica dos aprov eitamentos hidrelétricos Paso San Juan e San José no trecho inferior do Rio Ijuí

Fonte: Elaboração Consórcio CNEC-ESIN-PROA.

Os resultados revelaram, em geral, pouca variabilidade espacial. As mudanças estacionais foram evidentes para alguns parâmetros como a temperatura. Outros parâmetros estiveram relacionados com a vazão e, portanto, com as chuvas na bacia hidrográfica. As vazões mais elevadas corresponderam aos meses de setembro, outubro e junho. Destaca-se o predomínio de diatomeas na comunidade fitoplanctônica e baixa densidade do zooplâncton. O estudo englobou outros usos da água.

Além dos empreendimentos mencionados por EIA/RIMA nesta sub-bacia há três hidrelétricas binacionais em fase de planejamento: UHE Garabí, UHE Roncador e UHE São Pedro. Da área de influência destes empreendimentos não se dispõem de dados relativos à qualidade da água.

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Na bibliografia consultada sobre a bacia do rio Ibicuí (em ANA, 2005, Consórcio Themag – Andrade / Canellas – Bourscheid, 2006), não se dispõe de muita informação sobre a qualidade da água, conta-se com os trabalhos desenvolvidos por Gastaldini et al. (op. cit.) e alguma outra informação obtida do projeto Brasil das Águas.

Do trabalho efetuado pelo Projeto Brasil das Águas só dois dos locais pertencem à área de estudo (Garruchos, São Borja). Estudaram-se 30 parâmetros obtidos de uma única amostragem realizada em janeiro de 2004. As concentrações de oxigênio dissolvido foram baixas, a condutividade e o pH apresentaram valores elevados, ambas estações foram classificadas como mesotróficas, com elevados valores de clorofila “a”.

O trabalho de Gastaldini e colaboradores se refere a um modelo matemático para avaliar a futura qualidade da água do rio Ibicuí, em um horizonte de 10 anos. Utilizou-se o modelo QUAL 2E, considerando os seguintes parâmetros: OD, DBO e Coliformes fecais. O modelo foi calibrado para condições de fluxo próximas à média. Os dados de entrada do modelo resultaram da campanha em setembro de 1998, em 6 localidades. A simulação matemática considerou um trecho de 350 km do rio Ibicuí desde seu nascimento até sua desembocadura. Outras informações com respeito à qualidade da água do rio Ibicuí consistem nos resultados do Projeto Brasil das Águas, em uma amostragem realizada em janeiro de 2004. As concentrações de oxigênio dissolvido detectadas foram inferiores às encontradas por Gastaldini e colaboradores (2002) no rio Ibicuí, os valores de fósforo foram elevados, superiores à classe 2 estabelecida pela Resol. CONAMA 357. O pH mostrou valores altos, assim como a condutividade em todas as estações. A concentração de metais pesados foi baixa, não superando o limite da classe 1 (Consórcio Themag – Andrade / Canellas – Bourscheid, 2006).

Chalar (2006) ressaltou a grande vulnerabilidade dos recursos aquáticos da bacia do Uruguai devido ao aporte de alta carga de fósforo total no sistema, originadas por erosão e carreamento superficial (por causa da atividade agrícola como principal fonte de fósforo). O aumento das precipitações associadas à mudança climática aumentaria ditos processos e as contribuições de nutrientes, o que cria um ambiente altamente favorável para o surgimento de florações de cianobactérias. O modelo de desenvolvimento agrícola atual seria uma das causas mais importantes da eutrofização dos cursos de água.

O consórcio CNEC – ESIN – PROA realizou no mês de maio de 2010 uma campanha de amostragem de qualidade de água em 16 estações localizadas sobre o curso principal do rio Uruguai e 10 tributários, no trecho compreendido entre a desembocadura do rio Pepirí Guazú e a desembocadura do rio Quaraí.

O monitoramento se realizou com o fim de coletar dados das principais variáveis ambientais e biológicas, e de dar início aos estudos de qualidade de água na bacia, que deverão ser complementados posteriormente com novas campanhas realizadas através do ciclo anual, de maneira a incluir diferentes condições hidrológicas e estações do ano para poder avaliar a variabilidade dos dados.

Os resultados das determinações realizadas se compararam com as seguintes Normas e Valores guias de qualidade de água: Normas da Argentina: “Níveis guia de Qualidade de Água em função dos diferentes usos do recurso”. Secretaria de Recursos Hídricos da Bacia do Prata. Uso I: Fonte de Água para consumo humano com tratamento convencional. Uso II: Água para atividades recreativas com contato direto. Uso III: Água para atividades agropecuárias. Uso IV: Proteção de vida aquática; “Lei de resíduos perigosos Nº 24.051” Anexo 2. Tabela 1 - Níveis guia de qualidade de água para fontes de água potável de bebida

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humana com tratamento convencional. Tabela 2 - Níveis guia de qualidade de água para proteção de vida aquática – Água doce superficial. Normas do Brasil: Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) – Resolução CONAMA Nº 357: Tabela I – Água classe I – Águas superficiais doces e Tabela III – Águas classe III – Águas superficiais doces. Resolução CONAMA Nº 274: Águas doces, salobres e salinas destinadas à recreação com contato primário.

A fim de se efetuar uma síntese dos resultados obtidos, e com a ressalva de que se trata de valores únicos pontuais, por si insuficientes para uma adequada caracterização do meio, indicam-se no Quadro 2.2.2.1-5 os valores máximos e mínimos de alguns parâmetros significativos e sua localização.

Quadro 2.2.2.1-5. Mínimo e máximo das principais va riáveis físicas e químicas registradas no curso principal do rio Uruguai e tributários. Maio de 2010.

Parâmetro Unidade Máx. Ponto de amostragem Mín. Ponto de amostragem

pH UpH 7,19 U-MD C. Roncador 5,94 U-MD C. Garabí 7,17 T- Río Comandaí 5,26 T- Aº Chimiray

ST mg/l 116 U-MI C. Garabí 30 U-MD C. Santa Rosa 96 T- Río Quaraí 32 T- Aº Yaboty

OD mgO2/l 9,53 U-MD C. Roncador 6,90 U-MD AA Alvear/Itaquí 9,43 T- Rio Ijuí 6,95 T-Aº Chimiray

DBO5 mgO2/l 3,0 U - C. Santa Rosa < 2 U – Pontos restantes 2,0 T- Aº Pepirí Guazú <=2 T - Pontos restantes

DQO mgO2/l 7,8 U-MD C. Panambi 4,1 U- C. Santa Rosa 7,3 T- Rio Ibicuí 3,2 T – Comandaí / Ijuí

Fósforo T. mgP/l 0,067 U- MD C. Panambi 0,022 U – MD C. Santa Rosa 0,041 T – Aº Aguapey 0,014 T- Aº Yaboty

Nitritos mgN/l 0,013 U-MI C.Santa Rosa 0,005 U-MD C. Panambi 0,016 T – Rio Santa Rosa 0,003 T – Rio Turvo

Coliformes NMP/ 5.000 U- MI C. Panambi 270 U-MD AA Alvear/Itaquí Totais 100 ml 2.400 T- Rio Santa Rosa 80 T – Río Ibicui Coliformes NMP/ 3.000 U- MI C. Panambi 140 U-MD AA Alvear/Itaquí

Fecais 100 ml 800 T – Rio Turvo 40 T – Rio Ibicuí T – Rio Comandaí

Cobre ug/l 7,4 U-MD C.Santa Rosa < 6 U - Pontos restantes 7,2 T – Rio Santa Rosa < 6 T- Pontos restantes

Cromo T. ug/l 3,0 U- MI C.Santa Rosa ND U - Resto <3 e ND <3 T-Rios Sta.Rosa/Turvo ND T- Pontos restantes

Chumbo ug/l ND ND Cádmio ug/l ND ND Zinco mg/l ND ND

Fonte: Consórcio CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010

Nos Quadros 2.2.2.1-6 e 2.2.2.1-7 se apresentam os dados das variáveis físicas e químicas analisadas no curso principal e tributários.

Os valores de transparência da água foram baixos devido às altas vazões e concentração de sólidos relacionados com as intensas chuvas ocorridas durante os dias prévios, e durante a amostragem que davam à água uma coloração escura.

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A concentração de oxigênio dissolvido foi alta em todas as estações analisadas, estando por cima dos valores para água doce de classe 1 da Resolução CONAMA 357/2005 e as normativas da Argentina.

O pH, em quase todos os pontos de amostragem, encontram-se dentro dos limites estabelecidos pela Norma brasileira, com exceção do ponto correspondente ao Aº Chimiray e rio Uruguai – Barramento Garabí MD. Considerando os níveis guia da secretaria da Bacia do Prata, os pontos de amostragem que estariam abaixo do nível guia seriam os correspondentes a: Rio Uruguai – Barramento Santa Rosa MD; rio Uruguai – Barramento Garabí MD, C, MI; rio Santa Rosa; Aº Pepirí Guazú; rio Uruguai a montante do Pepirí Guazú; rio Turvo; rio Piratini; Aº Chimiray; Aº Aguapey; rio Ibicuí.

A condutividade foi baixa com valores um pouco mais altos nos tributários da margem esquerda (Brasil).

As concentrações de sólidos totais apresentaram valores mais elevados no barramento Garabí. Entre os tributários os valores mais altos se registraram no rio Quaraí e no arroio Aguapey. Comparando com valores obtidos em outros cursos de águas doces, os valores estão dentro do normal. Quanto aos sólidos dissolvidos totais, as normas argentinas não contemplam o parâmetro, e para a normativa brasileira, todos os valores estariam dentro da norma e com valores muito debaixo do nível guia estabelecido.

Em geral os parâmetros pH, condutividade, oxigênio dissolvido, transparência da água, apresentaram valores similares aos registrados em estudos anteriores.

Os valores de DBO estiveram abaixo do valor limite para corpos de água classe 1 da Resolução CONAMA 357/2005, cumprindo, em todos os pontos de amostragem, com todas as normativas avaliadas. Com respeito aos valores de DQO, este parâmetro não é contemplado nas normas utilizadas e, comparando-os com valores obtidos em outros cursos de águas doces, os valores estão dentro do normal.

Quanto às substâncias fenólicas totais se encontram em todos os pontos de amostragem acima dos valores guia recomendados pelas normas utilizadas nesta breve avaliação.

Os dados de Cloretos e Alumínio cumprem em todos os pontos de amostragem com todas as normativas avaliadas. Os valores de ferro total obtidos ultrapassam os níveis guia estabelecidos pela Secretaria de Recursos Hídricos para USO IV (proteção de vida aquática), e também para níveis guia da lei de resíduos perigosos para fonte de água potável com tratamento convencional. As normas brasileiras do CONAMA não estabelecem valores para Ferro total, se não para Ferro dissolvido, o que não se determinou. Para o Manganês, todos os valores obtidos superam os valores guias estabelecidos pelas normas consultadas de ambos os países.

As concentrações de nutrientes, em especial o fósforo total e ortofosfato, foram mais elevadas no barramento Panambi e Roncador, com valores mais baixos no barramento Santa Rosa. Os valores estão na ordem dos encontrados em estudos anteriores, sendo inferiores aos registrados pelo INCYTH (1990) para alguns setores do trecho considerado. As concentrações de fósforo total superam em quase todos os pontos os valores guia estabelecidos pelas normas brasileiras para ambientes lênticos e intermediários, embora estivessem por baixo dos valores guia estabelecidos para ambientes lóticos e tributários de ambientes intermediários. As normas argentinas não contemplam estes valores. As concentrações de ortofosfato estão dentro do habitual. Quanto aos dados de nitrato, nitrito e nitrogênio amoniacal, em todos os pontos de

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amostragem, apresentam valores abaixo dos valores guia estabelecidos nas normas de ambos os países.

Os valores de Clorofila “a” não estão contemplados nas normas argentinas. Nas normas brasileiras se admite até 10 µg/L para águas doces classe I, e 60 µg/L em águas doces classe III. De acordo com estes valores guia, todos os pontos se ajustam às águas doces tipo I, exceto em 3 pontos do rio Uruguai: barramento Panambi MD, barramento Roncador C, barramento Garabí C e rio Ibicuí onde se encontram ligeiramente acima de 10 µg/L, embora muito abaixo dos 60 µg/L admitidos para águas doces classe III.

A contagem de organismos coliformes totais e fecais foi mais alta nas estações do curso principal e mais baixa nos tributários. Quadro 2.2.2.1-8. Considerando os Coliformes fecais ou termotolerantes, já que os totais não estão considerados nas normas brasileiras, os resultados são muito variáveis. Em vários dos pontos de amostragem do rio Uruguai se ultrapassam os limites estabelecidos para águas recreativas com contato primário com categoria Excelente (Máx 250 por cada 100 ml) ou Muito Boa (Máx 500 por cada 100 ml), embora estivessem dentro das consideradas categoria Satisfatória (Máx 1000 por cada 100 ml) para as normas brasileiras. Enquanto que para as normas argentinas, sobretudo considerando atividades recreativas com contato direto (200 NMP/100 ml), estariam, em vários pontos do rio Uruguai, fora das normas, e o mesmo ocorreria com os tributários. Embora também deva considerar-se que foi realizada só uma amostragem, e as normas estabelecem que devem encontrar-se os valores com ao menos 5 amostragens realizadas durante 5 semanas consecutivas, e das quais 80% das amostras devem cumprir com os valores guias.

Quanto aos compostos orgânicos não se detecta presença em nenhum dos pontos de amostragem, nem do rio Uruguai, nem dos tributários, embora em alguns parâmetros (Aldrin, alfa-Clordano, Dieldrin, Hexaclorobenceno, Malatión) os Limites de detecção da técnica empregada se encontram por cima dos valores guias estabelecidos nas normas de ambos os países. Isto não implica necessariamente a inexistência destas substâncias, ou a impossibilidade de sua detecção para outras condições hidrológicas, ou em outras épocas do ano, daí a importância das amostragens durante o ciclo anual.

Os metais pesados Chumbo, Cádmio e Zinco não foram detectados em nenhum dos pontos analisados nesta época do ano, em troca, o Cobre esteve presente na maioria das estações com valores compreendidos entre <6 µg/l e, no máximo, 15 µg/l na margem direita do barramento Alvear Itaqui. Na maioria dos pontos os valores encontrados estariam acima dos estabelecidos pelas normas argentinas quanto à proteção de vida aquática que admite até 2 µg/l. Embora cumprissem com a norma brasileira para águas doces superficiais classe I que admite até 9 µg/l. O Cromo também foi detectado, principalmente nas estações localizadas sobre o rio Uruguai entre o trecho Barramento Santa Rosa a Barramento Alvear Itaqui, superando o limite estabelecido pelas normas argentinas para proteção de vida aquática que admite também até 2 µg/l Quadro 2.2.2.1-9.

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Quadro 2.2.2.1-6. Variáveis físicas e químicas regi stradas no curso principal do rio Uruguai (RU). Mai o de 2010.

RU aa Pepirí Guazú

RU Barramento Santa Rosa

RU Barramento Panambi

RU Barramento Roncador

RU Barramento Garabí

RU Barramento Alvear-Itaquí

Parâmetros Unidades MD C ME MD C ME MD C ME MD C ME MD C ME Temp. do ar ºC 23,0 18,0 18,0 17,0 18,0 19,0 18,0 17,0 18,0 18,0 20,0 21,0 22,0 19,0 19,0 21,0 Temp. da água ºC 20,5 19,7 20,1 20,2 19,0 18,9 19,0 19,3 19,4 19,3 18,7 18,8 18,9 19,2 19,1 19,3 Transparência Cm 70 50 50 40 40 30 40 40 30 30 30 30 30 50 50 50 pH u pH 6,44 6,02 6,92 6,92 6,66 6,80 6,95 7,19 6,88 6,76 5,94 6,25 6,16 7,04 6,75 6,60 OD mgO2/l 7,36 8,83 8,40 7,42 8,80 9,25 9,15 9,53 8,90 8,10 8,61 7,50 8,08 6,90 6,99 7,83 Turbidez NTU 10 16 18 18 24 26 22 20,0 22,0 22,0 26,0 24,0 36,0 18,0 18,0 16,0

Condut. Específica µS/cm 54,8 44,4 35,4 45,7 44,3 44,9 44,3 44,4 42,9 42,6 44,9 45,2 45,8 43,7 43,3 43,8

Sólidos totais mg/l 56 30 64 44 64 52 78 54 62 68 76 84 116 84 86 74 Sól. Susp. Totais mg/l <10 16 19 17 38 37 <10 25 24 36 39 31 <10 15 21 20 DBO5 mgO2/l 2,0 3,0 3,0 3,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 DQO mgO2/l 4,1 4,1 4,3 4,1 7,8 7,5 7,1 5,3 4,9 4,7 7,7 7,4 7,2 4,7 5,0 5,4 Sust. Fenólicas mg/l 0,004 0,007 0,006 0,009 0,005 0,009 0,008 0,006 0,004 0,009 0,005 0,008 0,006 0,006 0,005 0,005 Cl- mg/l 2,0 1,0 1,0 1,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 Al+++ mg/l <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 Ferro total mg/l 0,77 0,81 0,93 0,77 0,96 0,91 0,80 0,78 0,97 0,86 0,92 0,88 1,00 0,76 0,82 0,73 Manganês mg/l 0,42 0,45 0,54 0,36 0,48 0,11 0,48 0,55 0,57 0,44 0,50 0,41 0,51 0,44 0,44 0,41 Fósforo total mgP/l 0,027 0,022 0,025 0,026 0,067 0,057 0,046 0,056 0,057 0,050 0,024 0,059 0,027 0,039 0,032 0,038 Ortofosfato mgP/l 0,012 0,007 0,011 0,010 0,018 0,017 0,020 0,016 0,017 0,015 0,019 0,019 0,010 0,020 0,022 0,018 Nitrogênio total mgN/l 0,83 0,58 0,55 0,55 0,56 0,42 0,33 0,79 0,70 0,96 0,49 0,51 0,54 0,76 0,88 0,87 N-Nitratos mgN/l 0,8 2,0 1,8 1,9 1,5 1,4 1,3 1,7 1,7 1,6 1,6 1,7 1,6 1,7 1,8 1,6 N-Nitritos mgN/l 0,013 0,010 0,011 0,013 0,005 0,008 0,009 0,006 0,007 0,007 0,008 0,008 0,008 0,009 0,009 0,009 N-Amoniacal mgN/l 0,03 0,03 0,03 0,04 0,04 0,04 0,05 0,06 0,07 0,06 0,03 0,02 0,02 0,05 0,06 0,04 Clorofila “a” mg/m3 2,6 <0,2 2,1 1,7 1,7 2,3 10,3 1,9 11,7 1,7 1,9 15,5 3,2 1,6 0,9 3,1

Fonte: Consórcio CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010

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Cuadro 2.2.2.1-7. Variáveis físicas e químicas regi stradas no curso principal do rio Uruguai (RU). Mai o de 2010.

Parâmetros UN Arroio Yaboty

Rio Turvo

Rio Santa Rosa

Rio Comandaí Rio Ijuí Rio

Piratini Arroio

Chimiray Arroio

Aguapey Rio Ibicuí Rio Quaraí

Rio Pepirí Guazú

Temp. do ar ºC 20,0 25,0 19,0 16,0 20, 15,0 23,0 21,0 20,0 20,0 23,0 Temp. da água ºC 19,6 19,2 19,3 16,7 18,3 17,3 16,0 195 17,9 17,8 20,5 Transparência Cm 130 60 -- 60 70 60 80 60 60 50 70 pH u pH 6,51 6,30 6,03 7,17 6,51 6,41 5,26 6,26 6,28 7,13 6,44 OD mgO2/l 8,35 8,27 8,07 7,38 9,43 7,82 6,95 7,43 9,18 9,21 7,36 Turbidez NTU 5,6 12 12,0 10 12,0 14,0 16,0 12,0 14,0 10

Condut. Específica µS/cm 33,8 46,0 72,9 66,0 55,7 52,0 37,0 45,6 45,1 60,1 54,8

Sólidos totais mg/l 32 38 66 64 62 46 62 84 70 96 56 Sól. Susp. Totais mg/l <10 12 13 <10 <10 <10 16 <10 15 18 <10 DBO5 mgO2/l <2,0 <2,0 2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 2,0 DQO mgO2/l 5,1 3,6 6,2 3,2 3,2 5,1 6,0 5,0 7,3 6,9 4,1 Sust. Fenólicas mg/l 0,009 0,007 0,008 0,009 0,008 0,007 0,005 0,006 0,005 0,006 0,004 Cl- mg/l 1,0 2,0 3,0 2,0 2,0 2,0 1,0 2,0 2,0 2,0 2,0 Al+++ mg/l <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 Ferro total mg/l 0,53 0,89 0,85 0,74 0,73 0,69 0,66 0,95 0,76 0,74 0,77 Manganês mg/l 0,13 0,37 0,40 0,28 0,22 0,35 0,30 0,41 0,22 0,44 0,42 Fósforo total mgP/l 0,014 0,020 0,020 0,038 0,040 0,039 0,024 0,041 0,040 0,047 0,027 Ortofosfato mgP/l 0,006 0,005 0,008 0,015 0,018 0,019 0,018 0,018 0,017 0,022 0,012 Nitrogênio total mgN/l 0,44 0,78 0,83 0,56 0,70 0,46 0,66 0,81 0,78 0,38 0,83 N-Nitratos mgN/l 1,2 1,6 2,7 1,4 1,0 0,4 1,1 1,8 0,6 4,5 0,8 N-Nitritos mgN/l 0,006 0,003 0,016 0,010 0,010 0,013 0,007 0,010 0,011 0,011 0,013 N-Amoniacal mgN/l 0,04 0,05 0,05 0,04 0,02 <0,01 0,04 0,06 0,02 0,08 0,03 Clorofila “a” mg/m3 1,2 1,7 <0,2 2,2 2,6 0,7 0,2 0,8 15,4 2,9 2,6

Fonte: Consórcio CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010

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Quadro 2.2.2.1-8. Valores das análises microbiológi cas realizadas no canal principal do rio Uruguai e tributários. Maio de 2010.

RU aa Pepirí Guazú

RU Barramento Santa Rosa RU Barramento Panambi RU Barramento Roncador RU Barramento Garabí RU Barramento

Alvear-Itaquí

Parâmetros Unidades MD C ME MD C ME MD C ME MD C ME MD C ME Coliformes

totais NMP/100

ml 2,4x103 1,3x103 500 800 1,3x103 2,4x103 5,0x103 1,3x103 1,3x103 3,0x103 2,4x103 1,3x103 1,3x103 270 500 300

Coliformes fecais

NMP/100 ml 300 220 170 300 800 800 3,0x103 800 800 2,4x103 1,3x103 800 800 140 220 170

Fonte: Consórcio CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010.

Parâmetros Unidades Arroio Yaboty

Rio Turvo

Rio Santa Rosa

Rio Comandaí Rio Ijuí Rio

Piratini Arroio

Chimiray Arroio

Aguapey Rio Ibicuí Rio Quaraí

Rio Pepirí Guazú

Parâmetros Unidades

Coliformes totais NMP/100 ml

500 1,3x103 2,4x103 1,3x103 500 500 500 140 80 800 300

Coliformes fecais NMP/100

ml 170 800 300 800 300 300 300 110 40 500 170

Fonte: Consórcio CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010.

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Quadro 2.2.2.1-9.- Valores obtidos das análises de Metais Pesados no curso principal do rio Uruguai e tributários. Maio de 2010.

RU aa Pepirí Guazú

RU Barramento Santa Rosa

RU Barramento Panambi

RU Barramento Roncador

RU Barramento Garabí

RU Barramento Alvear-Itaquí

Parâmetros Unidades MD C ME MD C ME MD C ME MD C ME MD C ME Cobre µg/L <6 7,4 6,6 6,9 <6 <6 7 <6 ND <6 8,8 7,5 6,3 15 <6 7 Cromo total µg/L ND 3 ND ND <3 <3 3 <3 ND <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 Chumbo µg/L ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND Cádmio µg/L ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND Zinco mg/L ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND

Fonte: Consórcio: CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010

Parâmetros UN Arroio Yaboty

Rio Turvo Rio Santa Rosa

Rio Comandaí

Rio Ijuí

Rio Piratini

Arroio Chimiray

Arroio Aguapey Rio Ibicuí Rio Quaraí

Cobre µg/L <6 <6 7,2 <6 <6 ND <6 <6 <6 <6 Cromo total µg/L ND <3 <3 ND ND ND <3 ND ND <3 Chumbo µg/L ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND Cádmio µg/L ND ND ND ND ND ND <0,6 ND ND ND Zinco mg/L ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND

Fonte: Consórcio: CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010

Referências: LD: Limite de detecção, LQ: Limite de quantificação. Fonte: Consórcio: CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010.

Parâmetros Unidades Método aplicado LD LQ

Cobre µg/L Espectrométrico de AA 2 6 Cromo total µg/L Espectrométrico de AA 1 3 Chumbo µg/L Espectrométrico de AA 4 12 Cádmio µg/L Espectrométrico de AA 0,2 0,6 Zinco mg/L Espectrométrico de AA 0,03 0,09

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b) Principais Fontes de Poluição

Em geral se pode dizer que a contribuição de contaminantes pelas atividades antrópicas aos cursos de águas, tanto subterrâneas como superficiais, reconhece duas fontes: as pontuais e as difusas.

As primeiras descarregam em pontos perfeitamente localizados através de tubulações, esgotos, bueiros e são exemplos característicos as descargas das plantas industriais, as plantas de tratamento de águas residuais, as redes coletoras de desaguadouros pluviais, etc. Enquanto que as fontes difusas não se podem localizar em um só local de disponibilização ou descarga, como as águas de escoamento superficial de solos cultivados onde se aplicaram agroquímicos, as provenientes de atividades agropecuárias, a evacuação de resíduos e efluentes domésticos, que se realiza principalmente pelo sistema de poços negros, que chegam às camadas subterrâneas e, que através destas, podem chegar às águas superficiais, etc.

Qualquer que seja a forma de contribuição, o grau de incidência dos contaminantes será mais ou menos importante, de acordo com a relação que se estabeleça entre a carga contaminante e o corpo receptor, mas é inegável que os efluentes, qualquer que seja seu tipo, podem incidir negativamente sobre a qualidade nas águas dos diversos cursos.

Assim, têm-se que os vertidos urbanos se caracterizam por sua contaminação orgânica, dissolvida ou suspensa, que se mede, entre outros parâmetros, por sua demanda química de oxigênio (DQO) e sua demanda biológica de oxigênio (DBO). Além disso, o sistema de esgotos das cidades arrasta todo tipo de substâncias, tais como: hidrocarbonetos, chumbo, outros metais (emissões dos automóveis), sais, ácidos, etc.

Os resíduos urbanos estão formados por água e sólidos em suspensão e solução. Estes sólidos podem classificar-se em orgânicos e inorgânicos. Os sólidos inorgânicos estão formados, principalmente, por nitrogênio, fósforo, cloretos, sulfatos, carbonatos, bicarbonatos e algumas substâncias tóxicas como: arsênico, cianureto, cádmio, cromo, cobre, mercúrio, chumbo e zinco. Enquanto que os sólidos orgânicos podem ser classificados, por sua vez, em nitrogenados (proteínas, uréias, aminas e aminoácidos) e não nitrogenados (celulose, graxas e sabões). Já os efluentes industriais variam conforme o tipo de indústria, pois as mesmas provocam diferentes tipos de resíduos, as indústrias que não possuem eficazes sistemas de depuração de seus resíduos podem provocar importantes danos aos cursos de água, os quais são fontes receptoras dos mesmos.

Quanto aos efluentes gerados pelas atividades agrícolas e pecuárias, constituem-se por pesticidas, fertilizantes e restos orgânicos de animais e plantas que contaminam de uma forma difusa, mas muito notável, as águas (Foto 2.2.2.1-1). É necessário remarcar que em estudos realizados em anos anteriores foi detectada a presença e concentrações de compostos organoclorados, que embora não alcançassem valores significativos para alterar a preservação da vida aquática, sugeria-se controlar a evolução dos mesmos.

No Brasil , conforme o relatório Caderno da Região Hidrográfica do Uruguai (2006), baseado em dados tomados de FGV, 1998, SEMA, 2002, SDM, 1997 e DBR-PNRH, 2003, as principais fontes de poluição na bacia são de 4 naturezas:

− Efluentes domésticos provenientes de centros urbanos que não dispõem de sistemas adequados de tratamento de efluentes de esgoto e se distribuem em toda a bacia;

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− Efluentes industriais provenientes da região com maior atividade industrial: indústria do papel, celulose, agroindústria de porcos e aves, ambas concentradas na sub-bacia do Alto Uruguai;

− Efluentes da criação de porcos no Alto Uruguai e Uruguai 1;

− Efluentes agrícolas provenientes, principalmente, de áreas de cultivo de arroz, em especial a sub-bacia do rio Ibicuí.

A maioria dos efluentes de esgoto e urbanos é despejado nos cursos de água “in natura”, sem tratamento, aumentando a carga orgânica em certos trechos.

Na sub-bacia do Uruguai 1, o uso do solo está destinado, principalmente, ao cultivo de soja em rotação com milho e outros cultivos, como: feijões, trigo, aveia. Também reveste importância a pecuária para produção de carne e leite e a suinocultura (cria de porcos), esta última com forte potencial de poluição de mananciais, inclusive os utilizados para abastecimento público.

O uso de agroquímicos na zona, especialmente sobre a margem brasileira (Uruguai Médio, Turvo e outros, Ijuí, Piratini), representa uma ameaça crescente de contaminação pelo uso cada vez mais intensivo de tais produtos, determinados pelo grande aumento de áreas cultivadas com monocultivos, sucessão soja-trigo, principalmente (IRN http://www.mineria.gov.ar/estudos/irn-2009, Consórcio Themag – Andrade / Canellas – Bourscheid, 2006).

Foto 2.2.2.1-1 – Zonas desmatadas onde se podem obs ervar plantações de pinhos, próximo à cidade de Santo Tomé

Fonte: Peso, 2009.

O fator de erosão na bacia do rio Ijuí é alto e o manejo do solo na área gera sedimentos finos que são transportados aos cursos de água, assim como os insumos utilizados nas distintas atividades. Esta bacia é a mais degradada devido à ocupação do entorno, com uma intensa atividade agrícola-pecuária, industrialização e numerosos empreendimentos hidrelétricos de pequeno porte.

Conforme MMA e ANA (2006), o potencial de contaminação associado à utilização de agroquímicos nas áreas de cultivo de arroz é grande e pouco conhecido devido a limitações tecnológicas de monitoramento destes componentes nos cursos de água e à falta de estudos.

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Resultados obtidos pela FEPAM e FAURGS (Consórcio Themag – Andrade / Canellas – Bourscheid, 2006) de estudos nos rios Ijuí, Butuí, Piratinim e Icamaquã, no Rio Grande Do Sul, revelaram que os efluentes de maior carga orgânica corresponderam aos originados pelos vertidos domiciliários, industriais e rebanhos, apresentando esta última uma maior relevância na zona, além dos provenientes de outros usos do solo como áreas cultivadas, erosão e mineração.

O estudo indica que a sub-bacia do rio Butuí é a mais preservada (donde se encontra a Reserva Biológica Banhado do São Donato) e a menos favorável à implantação de empreendimentos hidrelétricos. Em troca, consideram a bacia do rio Ijuí como a mais favorável à instalação de hidrelétricas, tendo em vista a degradação do entorno e o grande número de empreendimentos já existentes.

Na sub-bacia do rio Ibicuí o consumo industrial da água é insignificante. A qualidade da água é afetada, principalmente, pelas atividades agropecuárias e pelos efluentes domésticos e resíduos sólidos urbanos (Gastaldini et al., 2002). Quanto à atividade de mineração da bacia (em ANA, 2005) são exploradas argila, ágata e ametista, nas cabeceiras do rio Ibirapuitã, localizado em Santana do Livramento, produzindo uma degradação da qualidade da água dos mananciais. Deste rio também se extrai areia e cascalho que também causam impactos localizados por alterar o leito e as margens do rio.

Na margem argentina a situação não difere da margem esquerda e se destacam as atividades agrícolas com o uso de agroquímicos; desboques de áreas próximas aos cursos de águas gerando problemas de erosão, descargas de efluentes provenientes de atividades industriais, resíduos das atividades agropecuárias, disposição de resíduos sólidos domiciliários sem adequado tratamento, assim como os efluentes líquidos domiciliários, etc.

As descargas pontuais (efluentes de esgoto e industriais) não são muito significativas, se considerarmos o curso principal como principal receptor, devido a que, embora na área de estudo exista uma diversidade de estabelecimentos industriais (serrarias, ervateiros, elaboração de conservas, fábrica de sucos cítricos, extração de óleos essenciais, etc.), suas contribuições se realizam nos cursos interiores e incidem sobre a qualidade destes em maior ou menor medida, em função da vazão disponibilizada e a composição do efluente. Das indústrias, que, como já foi indicado, localizam-se na margem direita do rio Uruguai, encontra-se o Engenho San Javier, que produz açúcar comum e orgânico, álcool, melaço e licores. Seus efluentes são descarregados ao rio, passando previamente por um sistema de lagunas, com tratamento precário.

Com respeito aos efluentes de esgoto que são tratados, encontram-se em Corrientes, as localidades de: Gobernador Virasoro, Santo Tomé, Monte Caseros, Mocoretá, Colonia Libertad, La Cruz, Paso de los Libres e, em Misiones, são: Oberá, Apóstoles e Guaraní. Em todos os casos com diversos graus de cobertura de população servida e, em geral, os tratamentos são pelo sistema de lagunas de estabilização ou plantas compactas.

Nas outras comunidades, a evacuação de resíduos e efluentes domésticos se realiza, principalmente, pelo sistema de poços negros (fonte difusa), razão pela qual só pode ter uma contribuição contaminante nos mantos subterrâneos da zona, os quais poderão chegar a descarregar no rio Uruguai. Os antecedentes disponíveis não permitem conhecer o comportamento da qualidade das águas de mantos em relação ao hidrológico do rio.

Considerando a importância das diversas atividades agrícolas que se desenvolvem na região, onde sobressaem os cultivos de arroz, erva mate, cana de açúcar, chá, tabaco, essências, cítricos, florestais, não se pode esquecer o uso de inseticidas, herbicidas, fungicidas, fertilizantes, que, através de distintos mecanismos (escoamento superficial, infiltração),

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contaminam de forma difusa as águas superficiais e subterrâneas. Por exemplo, nos cultivos de erva mate se usam praguicidas para combater o “rulo” (psílido da erva); no chá, contra os ácaros; na cana de açúcar, inseticidas; em florestamento, praguicidas para o combate da formiga. Um parágrafo especial corresponde ao tabaco, que é talvez o cultivo de maior consumo de agroquímicos, os quais se utilizam desde a desinfecção dos almácigos até o cuidado das folhas. Também são muito usados diversos herbicidas, como o glifosato.

Conforme os antecedentes disponíveis, correspondentes às campanhas de monitoramento realizadas no período 1987/1988, em distintos pontos da bacia do rio Uruguai, não se detectou presença de compostos organofosforados; o que não ocorre com os organoclorados, derivados de diversos pesticidas (Lindano, Dieldrin, Aldrin, Endosulfan, Cloradano, entre outros). Quanto às concentrações encontradas, em alguns casos superavam os valores guias para a proteção da vida aquática (Resol. CONAMA Nº 20, 1986; U.S.EPA, 1980, Canadian Council of Resource and Environment Ministers, 1987); mas a frequência com que foram detectados faz, conforme o relatório, que não representem um perigo substancial para os distintos usos. Não obstante, é muito importante que se promova um seguimento sistemático à evolução de ditos compostos na bacia do rio Uruguai.

A estas contribuições se devem adicionar os restos orgânicos de animais e plantas, provenientes de outras atividades agropecuárias na bacia, que disponibilizam efluentes ricos em nutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio) e que podem comprometer a qualidade das águas e, assim, seus usos.

c) Caracterização da Biota Aquática

Comunidade fitoplanctônica

Entre os antecedentes sobre o fitoplâncton do rio Uruguai se destaca um estudo pioneiro realizado por Onna (1978) prévio à construção da represa de Salto Grande (Argentina-Uruguai), e que incluiu 23 estações distribuídas ao longo do rio Uruguai, localizadas entre a localidade de Bernardo de Irigoyen e sua desembocadura no rio da Prata. As amostragens se efetuaram durante 4 campanhas trimestrais entre 1976/1977.

Registraram-se 71 gêneros, dos quais 31 são de Chlorophyta e 28, de Bacillariophyta. Os gêneros que apresentaram uma distribuição mais uniforme foram Melosira, Pinnularia, Cymbella, Navicula, Eunotia, Gomphonema, Synedra entre as Bacillariophyta, Scenedesmus, Pediastrum, Closterium e Cosmarium entre as Chlorophyta. Com respeito à densidade do fitoplâncton os valores foram baixos oscilando entre 2 e 70 ind. m/ l, com predomínio de diatomeas (especialmente Aulacoseira granulata, A. italica e Melosira varians), que constituíram, na maioria dos casos, mais de 80% do total, seguindo-lhes em importância, as Chlorophyta com porcentagens compreendidas entre 2 e 15%. O fitoplâncton do rio Uruguai foi escasso e típico de águas com baixa concentração de nutrientes e escassa contaminação orgânica.

O único estudo sobre o fitoplâncton na área de influência direta da área de estudo foi realizado por Meichtry de Zaburlín (1988, 1989), no âmbito de um convênio entre a Universidad Nacional de Misiones (UNaM) e o Consórcio Hidroservice Hidrened. As amostragens se realizaram com frequência mensal em três estações localizadas sobre o curso principal do rio, no trecho entre Panambi e Santo Tomé, em 3 tributários da margem esquerda, rio Comandaí, Ijuí, Piratini e um da margem direita, arroio Chimiray, entre julho de 1988 e abril de 1989.

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Durante este estudo se identificaram 209 taxa, sendo as Chlorophyceae e Bacillariophyceae as de maior riqueza (82 e 56 espécies respectivamente). No curso principal se detectaram 148 taxa e nos tributários 185 espécies (Meichtry de Zaburlín, 1989,1990). A riqueza por amostra variou entre 8 e 59 espécies com uma média de 26, a maior riqueza se detectou em águas baixas (Quadro 2.2.2.1-5). A composição do fitoplâncton foi bastante heterogênea durante o período de estudo, sendo a maioria das espécies de presença ocasional (presentes em menos de 30% dos inventários). As espécies mais constantes foram Synedra ulna, Melosira varians e Melosira sp. presentes em mais de 70% dos inventários. Nitzschia, Cryptomonas, Navicula, Gomphonema, Nitzschia acicularis Surirella guatimalensis, Scenedesmus quadricauda e Monoraphidium sp. foram encontradas em 45-70% das amostras.

A densidade no curso principal foi baixa (média = 190 ind. m/ l), oscilou entre 36 e 616 ind. m/ l. As Bacillariophyceae foram as dominantes numéricas com porcentagens de participação compreendidas entre 26 e 93%. As espécies mais abundantes foram as diatomeas cêntricas especialmente Melosira varians e Aulacoseira granulata, e entre as pennadas Nitzschia acicularis e Synedra ulna. As Chlorophyceae foram subdominantes (2-50%), seguindo-lhes em importância as Cryptophyceae.

Quadro 2.2.2.1-5 – Valor mínimo, máximo, média e de svio standard dos principais atributos do fitoplâncton (densidade, riqueza, diversidade) e da clorofila a. Convênio UNaM-Hidroservice-

Hidrened, 1989-1990

Estações

Variáveis

E-7 Panambi

E-2 Garruchos

E-1 Santo Tomé

E-6 Comandaí

E-5 Ijuí

E-4 Piratini

E-3 Chimiray

Densidade (ind/ml)

Mín - Máx X - DS

36 - 616 193 - 192

56 - 520 188 – 152

41 - 324 188 – 108

29 - 455 166 – 133

36 - 371 99 - 108

30 - 13532 1598 - 4220

28 - 175 70 - 51.3

Riqueza específica

Mín - Máx X - DS

10 - 51 29 - 12.7

14 - 44 26 - 9.52

13 - 59 30 -14.17

14 - 54 28 - 14.1

8 - 41 19 - 10

9 - 56 26 - 17.39

13 - 43 25 - 11.4

Diversidade (bits)

Mín - Máx X - DS

2.96 - 4.65 3.95 - 0.59

1.92 - 4.36 3.7 - 0.82

2.52 - 5.28 3.77 - 0.83

2.94 - 4.84 4.08 - 0.61

2.85 - 4.76 3.72 - 0.62

2.03 - 5.04 3.51 - 0.89

3.14 - 5.11 4.15 - 0.73

Clorofila a (mg/m3)

Mín - Máx x - DS

0.09 - 2.6 0.48 - 0.86

0.09 -2.2 0.89 - 0.88

0.09 - 3.2 0.88 - 1.08

0.09 - 3.2 0.88 - 1.19

0.09 - 1.4 0.39 - 0.56

0.09 - 5.6 1.48 - 2.37

0.09 - 1.5 0.37 - 0.53

Fonte: Meichtry, et al. 1989, 1990.

A maior densidade se registrou em períodos de estiagem, com menor velocidade da corrente, maior transparência e baixa concentração de sólidos suspensos e a menor, durante a crescente do mês de janeiro, com chuvas na bacia, baixa transparência e alta turbidez em todas as estações. As concentrações de algas médias registradas nas estações do curso principal e os tributários foram baixas, a exceção do rio Piratini, que apresentou os valores mais altos devido a um valor excepcionalmente elevado de 13532 ind/ml no mês de agosto, com dominância de Chlorophyceae (Monoraphidium arquatum e M. contortum). O rio Piratini e Comandaí apresentaram densidades mais baixas que as do rio Uruguai (Quadro 2.2.2.1-5), enquanto que o arroio Chimiray apresentou durante todo o ano a menor densidade de alga média (70 ind/ml).

As variações da vazão, velocidade da corrente, baixa transparência, alta concentração de sólidos suspensos e turbidez, atuaram como fatores limitantes para o crescimento do fitoplâncton.

O índice de diversidade específica apresentou valores elevados e homogêneos com uma média de 3,8 bits e um baixo coeficiente de variação (CV 18%). Foram raros os índices por

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baixo de 3 bits, o qual seria indicador de uma importante diversidade específica para a área estudada, fato que estaria vinculado à heterogeneidade ambiental. Em geral, nas amostras analisadas coexistiu um número apreciável de espécies presentes, em sua maioria, em baixas concentrações, ocasionalmente se apresentou uma só espécie que fosse dominante, esta mistura de diversas populações contribui a manter uma diversidade elevada.

Pelo expressado anteriormente, é interessante o valor deste parâmetro como um indicador a mais de qualidade de água (conjuntamente com a concentração de fitoplâncton, biomassa, fósforo, nitrogênio, clorofila, etc.). Índices baixos de diversidade (menor de 2 bits/cél) geralmente se dão em águas contaminadas, lagos eutróficos e em ambientes em estado de transição. A concentração de nutrientes na água se encontraria em excesso com respeito aos requerimentos do escasso fitoplâncton presente.

Estudos realizados posteriormente por O’Farrel e Izaguirre (1994), a montante da represa de Salto Grande detectaram uma elevada riqueza florística (730 espécies), com densidades que variaram entre 30 e 8543 ind. m/ l, dominância de Bacillariophyceae e com valores mais elevados nos tributários.

No Projeto Brasil das Águas (2003-2004) na amostragem realizada em janeiro de 2004, incluíram-se duas estações localizadas no trecho de estudo do rio Uruguai, Garruchos e São Borja, as quais foram classificadas como mesotróficas, conforme o Índice de Estado Trófico de Carlson. A comunidade fitoplanctônica mostrou valores baixos de densidade e moderada diversidade em ambas as estações.

Dados atualizados disponíveis sobre a densidade do fitoplâncton, especialmente cianobactérias, na área de estudo, provêm de amostragens pontuais em tempo e espaço, no trecho do rio Uruguai localizado entre as localidades de Panambi e Monte Caseros (Meichtry de Zaburlín e Llano, 2008, Koch, com. Pers. 2008, 2009).

Os dados foram relacionados com problemas de qualidade de água ocorridos durante o verão e princípios do outono, em populações ribeirinhas, como consequência do aumento de cianobactérias no rio (florações de algas potencialmente tóxicas), que provocaram queixas na população por problemas de cheiro e sabor na água potável, produzidos pela liberação de metabolitos olorosos produzidos por estas algas na água. Entre os meses de março e abril de 2008, registraram-se florações de cianobactérias potencialmente toxigênicas nos mesmos pontos de amostragem da bacia média do rio Uruguai, em coincidência com uma grande descida do rio. Na Figura 2.2.2.1-4 se apresentam as estações de amostragem.

Na zona de Panambi a densidade foi alta, variou entre 611 e 60.270 ind/ml, com uma concentração de células de cianobactérias muito elevada (principalmente Aphanizomenon schindleri, Microcystis spp., Raphidiopsis mediterranea) alcançando 1.500.000 cél/ml, superando amplamente os valores guias e níveis de alerta, tanto para a utilização como água potável, quanto como para atividades recreativas (Meichtry de Zaburlín, et al. 2008). Problemas similares se registraram nas localidades de Santo Tomé, Paso de los Libres e Monte Caseros, detectando-se a presença destas algas na água de rede de algumas cidades que tomam a água do rio Uruguai (Meichtry de Zaburlín e Llano, 2008). Na localidade de Monte Caseros se registrou, em abril de 2009, uma nova floração de cianobactérias com valores que superaram as 300.000 cél/ml.

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As concentrações de células registradas superaram amplamente a categoria de risco muito ALTO, nível de Alerta III da Organização Mundial da Saúde (OMS)(>100 000), tanto para água usada com fins recreativos como para consumo humano. Conforme a Legislação vigente no Brasil (Portaria do Ministério da Saúde, Nº 518/04), recomenda-se o monitoramento com frequência semanal e efetuar as análises de toxinas quando as concentrações de células superam as 20.000 cél/ml.

A respeito, o prefeito da localidade de Panambi disse ante às queixas dos habitantes da zona, que as represas brasileiras produzem problemas de cor e cheiro na água do rio Uruguai, assim como o que ocorreu no ano anterior (09/03/09 Noticias do 6.com).

Dados registrados durante agosto de 2008 e março de 2009 sobre o rio Uruguai, na localidade de Panambi, mostraram uma baixa densidade entre os meses de agosto e novembro, com dominância de Bacillariophyceae, especialmente Aulacoseira granulata. Ao final do mês de dezembro, registrou-se um importante aumento, com abundâncias que variaram entre 2344 e 3980 cél/ml. Nos meses de janeiro e fevereiro a densidade total se manteve com valores baixos e dominância de Chlorophyceae. A partir de março houve um novo aumento da densidade, com dominância de cianobactérias que alcançaram um valor máximo de 248.000 cél/ml. As espécies mais abundantes foram Anabaena spiroides, Aphanizomenon schindleri e com densidades mais baixas Microcystis aeruginosa, Anabaena planctonica e Cylindrospermopsis raciborskii (M. Koch, com. Pers.).

Com referência ao Alto Uruguai, os dados obtidos na represa de Itá mostram que a qualidade da água é afetada pelo despejo de efluentes industriais e urbanos, além dos provenientes da criação de porcos e aves com importantes contribuições de fósforo, nitrogênio e matéria orgânica (Arcari et al., 2006). A represa foi classificada como mesotrófica, com baixas concentrações de oxigênio no hipolímnio, apresentou um plâncton diverso e a comunidade bentônica foi escassa, com dominância de Oligoquetos e Quironômidos. Uma situação similar se registrou na represa de Machadinho, com maior abundância de cianobactérias na região próxima à represa (Porto Filho et al., 2006).

Conforme Porto Filho e Arcari (2006), os reservatórios do Alto Uruguai podem ser caracterizados como mesotróficos. Ferreira e colaboradores (2006) registraram 201 taxa de algas na represa de Machadinho durante as amostragens efetuadas entre 2004 e 2005, as diatomeas e algas verdes foram as de maior riqueza, e as cianobactérias foram registradas em todas as estações com densidades mais elevadas na região próxima à represa, especialmente de Microcystis aeruginosa.

Também a represa de Salto Grande, localizada a montante da área de estudo, foi classificada como uma represa meso – eutrófico (De León e Chalar, 2003). Durante o período de estudo identificaram 187 taxa, com um alto número de espécies raras (53%). A densidade variou entre 16 e 1963 ind. m/ l, com valores mais altos durante o verão nos braços. As espécies mais abundantes foram as diatomeas cêntricas Aulacoseira sp., A. Ambigua, e as cianobactérias Anabaena planctonica e Raphidiopsis mediterranea. As maiores densidades de cianobactérias potencialmente tóxicas se registraram nos braços laterais. Na mencionada represa, as maiores vazões durante o outono, inverno e primavera reduzem o tempo de residência e impedem o desenvolvimento do fitoplâncton. No verão, as menores contribuições e o aumento do tempo de residência favorecem o rápido crescimento das populações de microalgas. É neste período mais crítico que devemos esperar os maiores problemas de disponibilidade e qualidade de água (Chalar, 2006).

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Figura 2.2.2.1-4 – Localização geográfica das estaç ões de amostragem onde foram registradas florações de cianobactérias na bacia media do rio U ruguai

Fonte: Image 2009. DigitalGlobe. Google Earth.

No mês de maio de 2010, o consórcio CNEC-ESIN-PROA realizou uma campanha de amostragem de qualidade de água em 16 estações localizadas sobre o curso principal do rio Uruguai e 10 tributários, no trecho compreendido entre a desembocadura do rio Pepirí Guazú e a desembocadura do rio Quaraí. O monitoramento se realizou com o fim de coletar dados das principais variáveis ambientais e biológicas, e de dar início aos estudos de qualidade de água na bacia, que deverão ser complementados posteriormente com novas campanhas realizadas através do ciclo anual, de maneira a incluir diferentes condições hidrológicas e estações do ano para poder avaliar a variabilidade dos dados. Cabe ressaltar que a mesma se efetuou em fase de águas altas, como consequência das abundantes chuvas ocorridas na bacia.

Quanto às análises da comunidade fitoplanctônica, realizou-se a identificação de espécies, contagem de organismos e cálculo do índice de diversidade específica e igualdade.

Nesta amostragem, a comunidade fitoplanctônica apresentou, em geral, uma elevada riqueza nas distintas estações, com valores que variaram entre 29 e 60 espécies (Quadro 2.2.2.1-6). O valor mais elevado se registrou no rio Ibicuí e na margem direita do rio Uruguai (Barramento Roncador). O grupo mais diversificado correspondeu às algas verdes (Chlorophyceae) e diatomeas (Bacillariophyceae).

A densidade do fitoplâncton foi baixa na maioria das estações do curso principal (<600 ind/ml), associado ao efeito de diluição pelo aumento da vazão do rio durante os dias de amostragem, como consequência das abundantes chuvas ocorridas na bacia. O valor máximo se registrou na estação localizada a montante da desembocadura do rio Pepirí Guazú com 579 ind/ml. A

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densidade foi mais elevada nos tributários da margem brasileira, principalmente nos rios Ibicuí e Quaraí, com 1.937 e 1.035 ind/ml, respectivamente. O resto dos tributários analisados apresentou densidades mais baixas, não superando os 600 ind/ml. Nas estações localizadas sobre o rio Uruguai foram dominantes, em geral, as Bacillariophyceae e Chlorophyceae, só no barramento Alvear-Itaqui se registrou um predomínio de Cryptophyceae. As espécies mais abundantes foram Chroomonas acuta, Cryptomonas caudata, Aulacoseira distans e Nitzschia spp.

Nos tributários, as Bacillariophyceae e Cryptophyceae foram mais abundantes, e subdominantes, em geral, as Chlorophyceae. As espécies mais abundantes foram as diatomeas pennadas (Cymbella spp., Cyclotella spp e Nitzschia spp), Chroomonas acuta, Cryptomonas caudata.

Comparativamente aos valores encontrados em estudos anteriores, os dados obtidos não diferem maiormente aos registrados em fase de águas altas, na qual, pelo efeito de diluição, as densidades são baixas e não podem considerar-se representativas do ambiente em estudo. Em comparação com os estudos prévios, encontrou-se uma maior riqueza de espécies por amostra e um incremento no predomínio das algas verdes. Com respeito às Cianobactérias, na maioria das estações analisadas foram identificadas algas verde azuis potencialmente tóxicas, mas presentes em baixas densidades, as fases de águas altas e a época do ano, não favorecem o crescimento destas algas que necessitam de períodos de estabilidade da coluna de água (estiagens) e temperaturas mais elevadas.

Quanto ao índice de diversidade específica, os valores foram altos em todas as estações do curso principal, com valores acima de 4,5 bits, e a igualdade variou entre 0,87 e 0,94, evidenciando uma alta uniformidade na composição específica. Em águas altas, os valores de ambos os índices foram elevados pelas altas vazões que homogeneiza a comunidade. Nos cursos secundários a diversidade mais baixa se registrou nos rios Ibicuí e Quaraí, com valores próximos a 3 bits. A igualdade foi também menor nestes tributários, devido ao predomínio numérico de Bacillariophyceae e Cryptophyceae nessas amostras.

A maior riqueza específica, elevada diversidade e densidade de algas registradas em alguns tributários, evidenciam um maior desenvolvimento do plâncton, provavelmente relacionada às características físicas e químicas destes cursos, com menor velocidade da corrente e concentração de nutrientes suficientes, permitiu um maior crescimento e reprodução do fitoplâncton.

Nesta amostragem, a condição de águas altas do curso principal, com uma elevada velocidade da corrente, baixa transparência, elevado transporte de sedimentos e partículas em suspensão, apresentou condições limitantes para um maior desenvolvimento do fitoplâncton.

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Quadro 2.2.2.1-6. Densidade (Den), riqueza específi ca (RE), diversidade (H) e igualdade (E) do fitoplâncton nas distintas estações de amostragem. Maio de 2010.

Estações FITOPLÂNCTON

Den. RE H E Rio Uruguai a montante do Pepirí Guazú 579 45 4,84 0,88 Rio Uruguai- Barramento Santa Rosa MD 273 34 4,64 0,91 Rio Uruguai- Barramento Santa Rosa C 190 33 4,76 0,94 Rio Uruguai- Barramento Santa Rosa MI 288 43 5,13 0,94 Rio Uruguai- Barramento Panambi MD 305 42 5,08 0,94 Rio Uruguai- Barramento Panambi C 336 50 4,95 0,88 Rio Uruguai- Barramento Panambi MI 346 52 5,12 0,90 Rio Uruguai- Barramento Roncador MI 210 36 4,78 0,92 Rio Uruguai- Barramento Roncador C 213 33 4,68 0,93 Rio Uruguai- Barramento Roncador MD 322 59 5,13 0,87 Rio Uruguai- Barramento Garabí MI 212 42 5,03 0,93 Rio Uruguai- Barramento Garabí C 270 43 4,89 0,90 Rio Uruguai- Barramento Garabí MD 298 44 5,06 0,93 Rio Uruguai- Barramento Alvear- Itaqui C 305 42 4,92 0,91 Rio Uruguai- Barramento Alvear- Itaqui MD 309 44 4,96 0,91 Rio Uruguai- Barramento Alvear- Itaqui MI 378 49 5,11 0,91 Arroio Yaboty 82 25 4,49 0,97 Rio Turvo 278 43 5,06 0,93 Rio Santa Rosa 184 49 4,74 0,84 Rio Comandaí 153 52 5,10 0,89 Rio Ijuí 223 41 4,91 0,92 Rio Piratini 224 45 5,10 0,93 Arroio Chimiray 228 29 4,05 0,83 Arroio Aguapey 596 49 5,17 0,92 Rio Ibicuí 1.937 60 3,03 0,51 Rio Quaraí 1.035 33 3,07 0,61

Fonte: Consórcio: CNEC-ESIN-PROA campanha Maio/2010.

• Comunidade zooplanctônica

A densidade do zooplâncton foi estudada entre julho de 1988 e abril de 1989 por Garrido e Gazzano (1988, 1989) e Garrido (1991) em 7 estações localizadas no rio Uruguai e tributários na área de estudo (Figura 2.2.2.1-1). A comunidade zooplanctônica esteve representada por 29 taxa, pertencentes 22 a Rotíferos, 5 Cladóceros e 2 a Copépodos. A riqueza específica oscilou entre 0 e 10 espécies por amostra com altos coeficientes de variação.

O zooplâncton se caracterizou por sua baixa densidade, com valores que oscilaram entre 0 e 7,8 org/l (Garruchos, Agosto 88), com um alto coeficiente de variação, o que sugere o grau de heterogeneidade de distribuição dos organismos que constituem o zooplâncton da zona estudada.

Os Rotíferos foram o grupo dominante e as espécies mais abundantes foram Keratella cochlearis, K. Americana e Epiphanes senta. Os cladóceros foram escassos, representados pela espécie Bosmina hagmanni e os copépodos encontrados corresponderam a formas larvais nauplii e copepodito. A diversidade específica apresentou valores médios relativamente baixos,

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oscilando entre 0 e 3,0 bits com uma média para todas as estações consideradas de 1,8 bits. Os índices encontrados são muito inferiores aos obtidos para o rio Paraná.

No Alto Uruguai, na represa de Machadinho, estudou-se o zooplâncton durante o ano de 2004 e de 2005, a comunidade esteve integrada por 125 taxa, os Rotíferos e Protozoários foram os grupos dominantes. Os Cladóceros e Copépodos foram mais abundantes no verão (Ferreira et al., 2006).

Dados obtidos a montante da área de estudo, na represa de Salto Grande, provenientes de 12 amostragens efetuadas durante os anos 2000 e 2002, mostraram que a densidade do zooplâncton difere entre o curso principal e os braços laterais, sendo mais elevada nestes últimos. Os valores foram elevados com abundâncias médias que variaram entre 90 e 280 org / l. A composição foi similar em ambos, com dominância do microzooplâncton, nos braços foram mais abundantes os Rotíferos, e no curso principal se apresentou uma codominância entre organismos do micro e mesozooplâncton, estes últimos representados, principalmente, por Cladóceros, especialmente Moina minuta e Bosminopse deitersii. Os máximos registros ocorreram no verão, e os mínimos na primavera e no outono (Chalar et al., 2002).

Com a finalidade de complementar os dados existentes, realizou-se no mês de maio de 2010, pelo consórcio CNEC-ESIN-PROA, uma campanha de amostragem de qualidade de água em 16 estações localizadas sobre o curso principal do rio Uruguai e 10 tributários. Este monitoramento tem por objeto dar início aos estudos de qualidade de água e comunidades aquáticas, os quais deverão ser complementados posteriormente com novas campanhas realizadas através do ciclo anual, de maneira a incluir diferentes condições hidrológicas e estações do ano para poder avaliar a variabilidade dos dados

As amostras da comunidade zooplanctônica foram coletadas em 16 locais localizados sobre o curso principal do rio Uruguai e em 10 tributários. Nesta amostragem o zooplâncton esteve representado por 30 taxa, dos quais 20 pertenceram aos rotíferos, 5 aos cladóceros e 5 aos copépodos.

Os gêneros mais frequentes no curso principal foram Keratella, Polyarthra e Trichocerca. As espécies Keratella americana, K. cochlearis, K. quadrata e Lecane monostyla foram constantes na maioria das estações do curso principal.

Entre os crustáceos, os cladóceros apresentaram maior diversidade taxonômica, enquanto que os copépodos estiveram representados, principalmente, por estados larvais.

A riqueza específica do zooplâncton nas estações do curso principal oscilou entre 2 e 10 entidades taxonômicas. O maior valor se registrou no rio Uruguai Barramento Santa Rosa C e o menor no rio Uruguai Barramento Alvear – Itaqui C. O zooplâncton dos arroios tributários Ibicuí e Quaraí apresentaram a maior riqueza de espécies com valores de 13 e 12 táxons respectivamente (Quadro 2.2.2.1-7).

A densidade foi baixa na maioria das estações do curso principal, o valor máximo se registrou na estação rio Uruguai Barramento Santa Rosa C com 7.84 org/l. A densidade foi mais elevada nos tributários, especialmente nos rios Ibicuí e Quaraí. No rio Ibicuí a densidade do zooplâncton foi de 12.15 org/l. Predominaram os rotíferos Keratella americana, K. cochlearis, Synchaeta sp. e Polyarthra vulgaris. Os cladóceros apresentaram o maior de número de táxons entre as demais estações, sendo Bosminopsis deitersi a espécie com maior abundância.

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O rio Quaraí apresentou um zooplâncton diverso e abundante. A densidade foi de 13.35 org/l e predominaram os rotíferos Keratella cochlearis e Polyarthra vulgaris e entre os cladóceros Bosminopsis deitersi e Diaphanosoma birgei. Os copépodos foram escassos e predominaram os estados larvais. Entre os demais cursos secundários, o rio Turvo apresentou um zooplâncton ligeiramente mais abundante que o resto. As densidades não superaram 3 org/l. Nos rios Comandaí, Santa Rosa, Ijuí, Piratini, Chimiray e Aguapey.

A diversidade específica no curso principal não superou 3 bits e a igualdade foi próxima a 1 na maioria das estações, evidenciando uma alta uniformidade na composição específica. Nos cursos secundários a diversidade mais elevada se registrou nos rios Ibicuí e Quaraí, com valores de 3.48 e 3.05 bits, respectivamente. A igualdade foi menor no rio Quaraí devido ao predomínio numérico do rotífero Keratella cochlearis.

Comparativamente a períodos anteriores, os valores da densidade do zooplâncton estiveram na ordem dos encontrados neste trecho. Embora correspondam a uma única amostragem em águas altas, na qual por efeito de diluição, provavelmente, a densidade não seja representativa.

A maior riqueza específica, elevada diversidade e densidade de organismos do zooplâncton registrada nos rios tributários, evidenciaram um maior desenvolvimento do plâncton, provavelmente relacionada às características físicas e químicas destes cursos, com menor velocidade da corrente, permitindo o crescimento e reprodução dos organismos do plâncton.

O curso principal, em águas altas, com maior velocidade da corrente, elevado transporte de sedimentos e partículas em suspensão, apresentou condições limitantes para o desenvolvimento elevado do plâncton.

Quadro 2.2.2.1-7. Densidade (Den), riqueza específi ca (RE), diversidade (H) e igualdade (E) do zooplâncton nas distintas estações de amostragem. M aio de 2010.

Estações ZOOPLÂNCTON

Den. RE H E Rio Uruguai a montante do Pepirí Guazú 4,2 5 2,24 0,96 Rio Uruguai- Santa Rosa MD 4,95 9 2,9 0,91 Rio Uruguai- Santa Rosa C 7,84 10 2,97 0,89 Rio Uruguai- Santa Rosa MI 3,68 7 2,64 0,94 Rio Uruguai- Panambi MD 4,05 6 2,41 0,93 Rio Uruguai- BPanambi C 4,35 7 2,54 0,90 Rio Uruguai- Barramento Panambi MI 4,95 6 2,35 0,91 Rio Uruguai- Barramento Roncador MI 5,40 9 2,98 0,94 Rio Uruguai- Barramento Roncador C 3,20 5 2,15 0,93 Rio Uruguai- Barramento Roncador MD 4,04 6 2,53 0,98 Rio Uruguai- Barramento Garabí MI 4,20 8 2,88 0,96 Rio Uruguai- Barramento Garabí C 7,25 8 2,8 0,93 Rio Uruguai- Barramento Garabí MD 4,95 7 2,73 0,97 Rio Uruguai- Alvear- Itaqui C 1,38 2 1,0 1 Rio Uruguai- Alvear- Itaqui MD 4,4 8 2,96 0,99 Rio Uruguai- Alvear- Itaqui MI 1,19 3 1,55 0,98 Arroio Yaboty 2,20 3 1,5 0,95 Rio Turvo 3,88 5 2,19 0,94 Rio Santa Rosa 2,8 6 2,55 0,99 Rio Comandaí 1,2 3 1,2 0,76

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Estações ZOOPLÂNCTON

Den. RE H E Rio Ijuí 1,25 3 1,37 0,86 Rio Piratini 1,05 3 1,51 0,95 Arroio Chimiray 2,01 6 2,47 0,96 Arroio Aguapey 2,4 3 1,45 0,91 Rio Ibicuí 12,15 13 3,48 0,94 Rio Quaraí 13,35 12 3,05 0,85

Fonte: Consórcio CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010

• Comunidade bentônica

Com relação à comunidade bentônica, os dados existentes são escassos e correspondem ao período compreendido entre agosto de 1988 a abril 1989 para a área mencionada anteriormente (Fig. 2.2.2.1-1), de influência direta do área de estudo (Peso, 1988, 1989). Durante o período de estudo se registraram 50 espécies, o arroio Chimiray apresentou a maior riqueza com 23 taxa. O grupo melhor representado foi o dos Insetos (Dípteros Quironômidos) com os gêneros Polypedilum, Diamesa, Ablabesmyia e Cryptochironomus e os Oligoquetos com as espécies Limnodrilus hoffmeisteri, Pristina americana, Bothrioneurum americanum e Eiseniella tetraedra. A densidade oscilou entre 161 e 1240 ind m-2 no curso principal, e entre 134 e 4425 ind m-2 nos tributários. A riqueza por amostra variou entre 1 e 16 espécies e a diversidade foi baixa, 0,6 e 2,1 no curso principal, e entre 0,3 e 3,1 bits nos tributários. Em geral se observou uma maior riqueza e densidade nos tributários do que no curso principal. Os Quironômidos e Oligoquetos foram mais abundantes em solos arenoso-argilosos, como em cascalho, enquanto que nos substratos francamente arenosos, os Moluscos alcançaram maior representatividade.

Com relação à comunidade bentônica no Alto Uruguai, represa de Itá (Costa et al., 2006) mostrou-se que a densidade foi muito variável e os principais grupos registrados foram também os Oligoquetos e Quironômidos.

Os dados mais recentes disponíveis da bacia se referem a levantamentos realizados em represas localizadas a montante, no trecho alto (Itá, Machadinho) e a montante (Salto Grande, zona de localização da fábrica de papel Botnia) não existindo praticamente dados para a zona de estudo.

A informação disponível foi insuficiente para avaliar satisfatoriamente a qualidade da água ao momento atual, devido ao reduzido número de investigações e estudos realizados nos últimos anos na região, sobretudo na margem argentina, referida a comunidades aquáticas e qualidade da água. Isso gera a necessidade de efetuar amostragens, a fim de atualizar e fortalecer a informação requerida para analisar a qualidade da água na área de implantação do futuro projeto.

Com o fim de complementar os dados existentes, realizou-se no mês de maio de 2010, pelo consórcio CNEC-ESIN-PROA, uma campanha de amostragem de qualidade de água em 26 estações localizadas sobre o curso principal do rio Uruguai e tributários. Este monitoramento tem por objeto dar início aos estudos de qualidade de água e comunidades aquáticas, os quais deverão ser complementados posteriormente com novas campanhas realizadas através do ciclo anual, de maneira a incluir diferentes condições hidrológicas e estações do ano para poder avaliar a variabilidade dos dados

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Identificaram-se 72 espécies, onde 46 corresponderam ao curso principal do rio e 56 aos tributários, considerando ambas as margens. O número de espécies por amostra oscilou entre 4 e 18, encontrando-se os valores mais altos, na maioria dos casos, nos rios tributários (Quadro 2.2.2.1-13).

Os insetos, com representantes das ordens Collembola, Ephemeroptera, Odonata, Coleoptera, Trichoptera e sobretudo da ordem Diptera, constituíram o grupo mais rico em espécies em toda a área estudada, com 30 espécies nos cursos de água secundários e 24 no curso principal do rio. Os Oligochaeta ocuparam o segundo grupo em importância, com 11 e 9 espécies, respectivamente.

A classe Mollusca constitui um grupo de grande interesse na bacia por possuir uma grande diversidade de espécies, algumas delas endêmicas, como: Pomella megastoma, característica que dá nome ao rio Uruguai (rio dos caracóis). Nas amostras analisadas se identificou 5 espécies nativas, Diplodon sp., Pisidium sp., Biomphalaria sp., Pomella americanista e Potamolithus sp. e 3 espécies invasoras, como: Corbicula fluminea, Limnoperna fortunei e Melanoides tuberculatus. Esta última foi encontrada na margem direita, no barramento Santa Rosa, Barramento Panambi e no Barramento Roncador, constituindo os primeiros registros desta espécie na margem argentina do rio Uruguai.

A densidade dos organismos variou entre 304 e 6054 ind m-2 no curso principal do rio Uruguai, e entre 387 e 44.251 ind m-2 nos tributários. Os rios Ibicuí e Quaraí apresentaram densidades muito elevadas. No primeiro caso, devido à presença em grande número de uma espécie de oligoqueto, Narapa bonettoi. Esta espécie está associada a substratos de areia fina e possui distribuição agregada ou contagiosa que explica sua alta densidade; o segundo caso se trata de um ambiente muito enriquecido organicamente, o que favorece o desenvolvimento de espécies como Limnodrilus hoffmeisteri, comum de vários hábitats, especialmente de ambientes poluídos. Esta espécie também foi encontrada em altas concentrações nos barramentos Panambi MI, e Roncador MI. O rio Santa Rosa, enriquecido organicamente, favoreceu o desenvolvimento em altas densidades da espécie Bothrioneurum americanum.

A diversidade no curso principal variou entre 0.70 (barramento Santa Rosa C) e 3.47 bits (Barramento Garabí, margem esquerda) e nos tributários oscilou entre 1.03 (rio Ibicuí) e 3.33 bits (arroio Chimiray). Os valores altos de diversidade estiveram acompanhados de uma alta riqueza de espécies. Em geral, nos locais onde se observou uma clara dominância de uma espécie, o valor do índice de diversidade foi baixo.

Quadro 2.2.2.1-13. Densidade (Den), riqueza específ ica (RE) e diversidade (H) do Zoobentos nas distintas estações de amostragem. Maio de 2010.

Estações ZOOBENTOS

Den. RE H Rio Uruguai a montante do Pepirí Guazú 827 7 2,33 Rio Uruguai- Santa Rosa MD 1.625 9 1,53 Rio Uruguai- Santa Rosa C 6.054 10 0,70 Rio Uruguai- Santa Rosa MI 940 12 3,14 Rio Uruguai- BarramentoPanambi MD 388 9 2,96 Rio Uruguai- Barramento Panambi C 304* 5 2,04 Rio Uruguai- Barramento Panambi MI 3.439 7 1,13 Rio Uruguai- Barramento Roncador MI 1.405 9 1,95 Rio Uruguai- Barramento Roncador MD 443 7 2,48 Rio Uruguai- Barramento Garabí MI 1.875 17 3,47

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Estações ZOOBENTOS

Den. RE H Rio Uruguai- Barramento Garabí C 855* 10 2,85 Rio Uruguai- Barramento Garabí MD 3937 12 2,17 Rio Uruguai- Alvear- Itaqui C 358* 4 1,74 Rio Uruguai- Alvear- Itaqui MD 965 5 1,89 Rio Uruguai- Alvear- Itaqui MI 772 8 2,47 Arroio Yaboty 1.708 8 1,22 Rio Turvo 552 6 2,20 Rio Santa Rosa 2.922 18 2,95 Rio Comandaí 2.258 13 2,81 Rio Ijuí 471 8 2,47 Rio Piratini 387 5 2,02 Arroio Chimiray 1.792 17 3,33 Arroio Aguapey 1.239 5 1,36 Rio Ibicuí 44.251 12 1,03 Rio Quaraí 10.730 17 3,00 Rio Pepirí Guazú 664 12 3,32

* Correspondem a amostras extraídas nas margens mais próximas ao centro por ausência de sedimento no centro do curso. Fonte: Consórcio CNEC-ESIN-PROA, campanha Maio/2010.

2.2.3 Fauna Íctica

Do ponto de vista ictiogeográfico, o rio Uruguai se localiza na Região Guayano-Brasílica, província Parano-Platense, cujo limite sul é o rio da Prata. Existe uma grande afinidade entre a ictiofauna do rio Uruguai e a do sistema do Paraná, cujos elementos predominantes pertencem às ordens Characiformes e Siluriformes, os que têm experimentado a mais importante radiação adaptativa nos sistemas fluviais da América do Sul e se distribuem em diversos ambientes e nichos ecológicos (Ringuelet, 1975).

Como em outros grandes rios neotropicais, muitos dos Characiformes e Siluriformes do Uruguai apresentam adaptações que aprimoram o sucesso reprodutivo mediante a utilização de áreas separadas para as funções de desova, criação e alimentação; pelo qual os adultos se deslocam por migração ativa e os ovos e larvas por deriva a favor da corrente.

A zona de reprodução se encontra normalmente a montante das áreas de criação e de alimentação. A estratégia reprodutiva dessas espécies envolve a liberação de grande quantidade de ovos em águas abertas e a utilização da corrente e o transbordamento aos corpos de água marginais (Sverlij et al., 1998)

O alto e médio rio Uruguai apresentam características hidrológicas e morfométricas bem distintas em comparação com outros rios da Bacia do Prata, nessa região não se apresentam lagunas marginais, pelo qual os ambientes gerados na desembocadura dos tributários adquirem relevância para as espécies com ciclo migratório.

Atualmente o rio Uruguai desenvolve um trecho lótico de, aproximadamente, 1100 quilômetros compreendido entre as represas de Itá (Brasil) e a de Salto Grande (Argentina), este setor livre de represas tem permitido manter a diversidade íctica: a importância desta característica se reflete em trabalhos de marcação e detecção por biotelemetria realizados por investigadores da Universidade Federal de Santa Catarina, que registraram os exemplares de maior tamanho de dourado (Salminus brasiliensis) na zona próxima aos Saltos del Moconá e determinaram para o

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salmão de rio (Brycon orbignyanus) uma distribuição restringida ao Parque do Turvo. Ambas as espécies migradoras estão citadas na Lista Vermelha do Rio Grande do Sul (Zaniboni e Pires, 2008).

Embora a fauna íctica do rio Uruguai seja uma só, as características ecossistêmicas das diferentes sub-bacias de ambas as margens merecem uma análise detalhada para cada margem conforme se apresenta a seguir.

2.2.3.1 Composição e Distribuição da Ictiofauna na Margem Brasileira

Conforme o Relatório do Consórcio Themag - Andrade & Canellas – Bourscheid (2008), e de acordo a dados relevados de uma ampla base bibliográfica, a fauna íctica do rio Uruguai está integrada por 219 espécies (Anexo 1), é diversa em número de espécies, famílias e ordens taxonômicos e possui uma distribuição peculiar a escala regional. A representatividade de cada ordem é semelhante entre as regiões.

As 136 espécies identificadas no trecho alto se distribuem em 8 ordens, sendo Characiformes e Siluriformes os melhor representados e 29 famílias. As 30 espécies com uma ocorrência inferior a 20% sobre o total das capturas foram consideradas raras. Outras são espécies ameaçadas, seja em perigo ou vulneráveis, entre as que se citam as grandes migradoras e de interesse comercial, sete em total, entre elas Brycon orbignianus, Pseudoplatystoma coruscans e Salminus brasiliensis, cuja pesca está proibida em toda a bacia. Por outra parte, registraram-se 20 espécies endêmicas incluídas em quatro ordens e quatro exóticas, entre elas a carpa e a tilápia.

No trecho médio se identificaram 158 espécies pertencentes a 7 ordens, dos quais Characiformes e Siluriformes são os de maior representatividade, enquanto que Clupeiformes e Pleuronectiformes são exclusivos deste trecho. Citam-se também espécies acidentais (4), ameaçadas ou em perigo (7), 3 delas com proibição de pesca, 10 espécies endêmicas e a carpa como única espécie exótica.

No relatório de avaliação se menciona que a falta de coletas sistemáticas impossibilita estabelecer uma lista de espécies raras para este trecho e se citam quatro espécies acidentais (Pterodoras granulosus, Pterodoras sp., Salminus brasiliensis e Schizodon platae) e quatro ameaçadas (S. brasiliensis, Pseudoplatystoma corruscans e Steindachneridion, scripta com caráter de vulneráveis e Brycon orbygnianus como criticamente em perigo). Em ambos os casos, esclarece-se que a informação provém de fontes muito heterogêneas e que provavelmente se tenham usado procedimentos de análise diferentes.

Existe uma análise de padrões espaciais de distribuição realizada com base em dados provenientes de fontes diversas nas que se consideraram diferentes metodologias, períodos e esforços de captura, portanto, recomenda-se tomá-los como uma tendência que deveria ser confirmada.

Uma elevada porcentagem de espécies apresenta distribuição geográfica limitada a algum setor da bacia. 49% das 158 espécies do Uruguai Médio esteve restringida a dito trecho, assim como 40% das 136 espécies registradas no Alto rio Uruguai se localizam exclusivamente neste setor. Por outra parte, há 81 espécies distribuídas em ambas as regiões, representando 38% do total das espécies da bacia.

Todas as ordens, com exceção das pertencentes à ordem Synbranchiformes, apresentam espécies restringidas a uma das regiões. As ordens Siluriformes, Characiformes e Perciformes

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com a família Cichlidae, destacam-se por apresentar muitas espécies com distribuição geográfica limitada. Por exemplo, 48% das 62 espécies de Siluriformes identificadas no Uruguai Médio têm sua distribuição limitada a dita região, enquanto que no Alto Uruguai, 46% dos 59 siluridos são espécies restringidas geograficamente, este padrão está influenciado pelo alto endemismo das “viejas de agua” da família Loricaridae.

No Uruguai Médio se mencionam 62 espécies de Characiformes de distribuição restrita, enquanto que no Alto Uruguai são 18 das 51 espécies citadas estão restritas a região. Estes valores se relacionam especialmente com a distribuição de diversas espécies da família Characidae.

a) Abundância

Conforme o Relatório antes mencionado, realizado com base em coletas realizadas por especialistas do LAPAD em dez regiões do Alto Uruguai 16 espécies somam 90% das capturas. As mais abundantes são de pequeno e mediano porte, como Steindachnerina brevipinna, Hypostomus isbrueckeri, Bryconamericus stramineus, Acestrorhynchus pantaneiro e Astyanax scabripinnis, que constituem 50% da abundância total. Diversas espécies de “viejas de água” e tilápias compõem a fauna dominante em pequenos tributários. O bagre sapo (Rhamdia quelen), com 4% do total, foi a espécie migradora mais abundante.

Nos tributários primários do rio Uruguai, 23 espécies contribuíram com 91% da abundância, S. brevipinna representou 15%. Algumas migradoras como Pimelodus maculatus (1,8%), P. Absconditus (1,7%) e R. quelen (1,5%) estiveram entre as de maior captura, e das grandes migradoras, as principais foram o sabalo (0,7%) e o dourado (0,4%).

As espécies migradoras do canal foram menos abundantes, entre elas o surubí S. Scripta (0,18%), Salminus brasiliensis (0,1%), Leporinus obtusidens (0,1%) e Prochilodus lineatus (0,08%).

No canal do rio Uruguai, 18 espécies representaram 85% das capturas, as principais foram de pequeno porte e apresentaram distribuições similares em abundâncias (5,5 - 8,5%), tais como Hypostomus isbrueckeri, Astyanax bimaculatus, Loricariichthys anus, Iheringichthys labrosus, Bryconamericus stramineus, S. brevipinna, Schizodon nasutus, Apareiodon affinis e Astyanax gr. Scabripinnis.

Uma distribuição desigual foi observada nas represas do rio Uruguai, assim a pesar de que 18 espécies somaram 91% da abundância total, A. Scabripinnis representou 27%, as restantes foram Parapimelodus valenciennis (9,8%), S. brevipinna (8,6%), Astyanax fasciatus (7,5%) e A. bimaculatus (6,1%) A. Pantaneiro (6,6%).

Entre as principais espécies migradoras de tributários se citaram a P. maculatus (1,4%) e P. Absconditus (0,4%), R. quelen (0,7%). As grandes migradoras tiveram baixa representatividade, o sabalo (0,08%), o surubí (0,08%), as bogas (0,01%) e o dourado (0,01%).

Algumas espécies de baixa abundância no canal praticamente desaparecem nas represas, isto ocorreu com Hypostomus roseopunctatus, Loricaria sp., Paraloricaria vetula e Hypostomus regani, Auchenipterus sp., Pachyurus bonariensis, e entre as migradoras, o dourado S. brasiliensis e o sabalo P. lineatus. Por outra parte, 11 espécies que apresentavam baixa abundância no canal principal não foram registradas nas represas, como Itá e Machadinho, incluindo as migradoras Luciopimelodus pati e Rhaphiodon vulpinus.

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b) Biologia e Ecologia das Espécies

• Estratégias Reprodutivas

Em termos gerais, e considerando a composição referida a gêneros e famílias, a fauna íctica da bacia do rio Uruguai é muito semelhante à do Paraná. Esta particularidade se deriva em características ecológicas, pois as estratégias reprodutivas também são similares.

Em relação às estratégias reprodutivas e com base em informação existente para a ictiofauna do Paraná, Suzuki et al. (2004) e Suzuki et al. (2005) descrevem dois grandes grupos, o das espécies não migradoras ou que realizam movimentos de curta distância, e o daquelas que desenvolvem migrações reprodutivas.

As espécies não migradoras podem ser de fecundação externa, exibindo ou não cuidado parental, ou de fecundação interna, podendo ter desenvolvimento interno ou externo dos ovos ou larvas.

As espécies não migradoras com fecundação externa geralmente são de pequeno a mediano porte, e habitam distintos ambientes, apresentam táticas reprodutivas variadas que incluem desova total ou parcial e a duração do período reprodutivo, embora seja bastante estacional, pode variar entre as espécies.

Do grupo de espécies sem cuidado parental, muitas não apresentam cuidados parentais e têm comportamento reofílico, ou seja, desovam na coluna de água ou sobre o substrato, podendo às vezes ocultar os ovos. Outras preferem lugares abrigados mais próximos às costas de rios, lagunas ou represas, exibindo cuidado seja de ovos, larvas ou juvenis e os estilos são diversos, por exemplo, construção de ninhos, proteção da prole ou de ovos ou de larvas.

As espécies não migradoras com fecundação interna costumam ser de pequeno a mediano porte, e apresentam modificações em raios das barbatanas peitorais ou da anal destinadas à transferência de gametas. Neste caso, o cuidado consiste no traslado de ovos quando o desenvolvimento é externo ou de alevinos quando é interno.

No rio Uruguai, 48% das espécies não migradoras de fecundação externa não exibem cuidados parentais e pertencem principalmente às ordens Characiformes e Siluriformes. Algumas deste grupo são reofílicas como bogas de pequeno porte, dentudos, diversas tilápias e bagres, completam o grupo de espécies parasitas, e Cynolebias periodicus que necessita de ambientes como lagunas e poças temporais que secam periodicamente, para que seu ciclo de vida se complete (Costa, 2002). Também se incluem neste grupo espécies ancestrais marinhas, tais como o linguado (Catathyridium sp.), a sardinha (Lycengraulis grossidens) e a corvina (Pachyurus bonariensis). Enquanto que 32% apresenta cuidado parental e o pertencem às ordens Siluriformes, Gymnotiformes e Perciformes.

As espécies não migradoras com fecundação interna representaram 6% e foram da ordem Siluriformes das famílias Auchenipteridae e Cetopsidae. Só 2% das espécies apresentou a estratégia fecundação e desenvolvimento interno, todas de pequeno porte da ordem Cyprinodontiformes registradas nas zonas marginais abrigadas de rios, riachos, lagunas e represas.

As espécies com estratégia reprodutiva migradora em sua maioria são as mesmas que se encontram na bacia do Paraná e suas características relevantes são o tamanho corporal que varia entre mediano e grande porte, o percurso de grandes distâncias para a reprodução, a

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fecundação externa com um período reprodutivo marcadamente estacional com produção de uma grande quantidade de ovos, desova geralmente total e ausência de cuidados parentais.

As espécies migradoras do Uruguai realizam longos deslocamentos no período reprodutivo ao trecho superior do rio e a seus tributários, no baixo Uruguai os jovens utilizam lagunas marginais da planície de inundação. No trecho médio, devido a o rio ter trechos muito encaixados em diversos tributários, estas espécies utilizam o canal principal e a parte inferior dos mesmos (Zaniboni-Filho e Schulz, 2003). Alguns aspectos relacionados com a reprodução ficam alterados pela ausência de lagunas marginais e de habitats necessários para o desenvolvimento de jovens (Gomes e Agostinho, 1997), e pela hidrologia variável do Uruguai que não possui um período de crescentes bem definido.

Podem-se distinguir dois tipos de comportamento migratório, o das espécies que se deslocam com movimentos ascendentes e descendentes pelo canal principal e as que o fazem pelos tributários (Zaniboni-Filho e Schulz, 2003). No primeiro grupo se destacam espécies de maior porte, como: Leporinus obtusidens, Brycon orbignyanus, Raphiodon vulpinus, Salminus brasiliensis, Pterodoras granulosus, Pseudoplatystoma corruscans, Sorubim lima, enquanto no segundo, espécies de menor porte, como: Rhamdia quelen e algumas pertencentes aos gêneros Pimelodus e Luciopimelodus.

Tendo em conta o trecho brasileiro da bacia do Uruguai, das 213 espécies de peixes registradas, 80% (171 espécies) têm estratégia não migradora com fecundação externa, 24 espécies migradoras representaram 11%, seguidas por 18 espécies não migradoras com fecundação interna (9%).

Nos setores Alto e Médio da bacia, o percentual de espécies de cada estratégia reprodutiva é semelhante ao observado para a bacia em geral. Assim, no Alto Uruguai 108 espécies foram não migradoras com fecundação externa, 18 migradoras com fecundação externa e 10 não migradoras com fecundação interna. Entre as primeiras, as que não apresentam cuidados parentais foram as mais abundantes (58), enquanto que as restantes os apresentam (50).

A estratégia reprodutiva mais desenvolvida pelas 158 espécies registradas no Uruguai Médio correspondeu ao tipo não migradoras de fecundação externa que representou 81%, distinguiram-se as variantes com e sem cuidado parental, representando 33 e 48%, respectivamente, seguido pelas migradoras (11%) e as de fecundação interna com 8%, sendo a maior parte delas da família Auchenipteridae.

Registraram-se 5 espécies com fecundação e desenvolvimento interno, todas da ordem Cyprinodontiformes.

Devido à existência de grande quantidade de represas sobre o rio Uruguai é possível encontrar variações quanto à representatividade de cada estratégia nos diferentes ambientes lóticos e lênticos. Algumas espécies de fecundação externa são capazes de ajustar-se melhor a ambientes formados por represamentos, resultando em um aumento nos valores de sua abundância relativa.

Em termos gerais, o número de espécies não migradoras com fecundação externa foi predominante em todos os ambientes, seguido pelas migradoras. A porcentagem de espécies com fecundação externa com cuidado parental tende a ser maior nas represas, assim como as não migradoras com fecundação externa e sem cuidado parental.

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• Estratégias Alimentares

Do ponto de vista trófico, as espécies do Uruguai também se parecem com as da bacia do Paraná. A descrição das estratégias alimentares se baseia em agrupamentos tróficos baseados em Hahn et al. (2004), e uma caracterização de espécies conforme estes grupos de acordo a Giora e Fialho (2003), Zaniboni-Filho e Schulz (2003), Barros (2004), Hahn et al. (2004) e Hermes-Silva et al. (2004).

Os grupos tróficos considerados foram: herbívoro, detritívoro, zooplanctívoro, invertívoro, onívoro, carnívoro e piscívoro.

Considerando as regiões Alto e Médio Uruguai, das 213 espécies registradas, só puderam ser categorizadas 188. A maioria destas é onívora (22,3%), seguidas pelas invertívoras (21,3%), as detritívoras (18,6%), piscívoras (13,8%), carnívoras (13,8%), herbívoras (8,5%) e as zooplanctívoras com 1,6%.

O elevado número de peixes onívoros (42 espécies) se deve a que são menos seletivos, não exigem itens alimentares particulares e exploram de maneira menos restringida a oferta alimentícia disponível no ambiente. As invertívoras (40 espécies) consomem em geral pequenos invertebrados que constituem o zooplâncton e zoobentos, em geral predominam os insetos. Registraram-se 35 espécies com hábitos detritívoros que utilizam o detrito como principal fonte alimentícia, sendo um material em decomposição de origem autóctone ou alóctone e que se consome, geralmente, acompanhado de bactérias protozoárias e algas.

As espécies piscívoras foram 26 e consomem peixes inteiros, fragmentados ou escamas. As de hábito alimentar carnívoro somaram 26, utilizam recursos de origem animal, incluindo invertebrados ou fragmentos de peixes, carne e escamas. Comparando-se com os demais grupos, a categoria dos herbívoros é menos representada na bacia do Uruguai, somente foram registradas 16 espécies, e estas consomem primariamente recursos de origem vegetal como algas e vegetais superiores aquáticos ou terrestres autóctones ou alóctones. No grupo das zooplantívoras somente se registraram 3 espécies, estas são muito escassas na fauna sul-americana, possuem adaptações como estruturas bocais e de filtração para o consumo de invertebrados zooplanctônicos, especialmente microcrustáceos.

Apesar das variações na composição de espécies entre regiões do Alto e Médio Uruguai, as proporções de espécies por categorias tróficas são semelhantes. A maior variação acontece entre invertívoras e onívoras, a porcentagem de espécies invertívoras foi maior no Alto Uruguai que no médio (23% e 18%, respectivamente) e o de onívoros foi no Uruguai Médio (24%), isto se deveria principalmente à presença de bagres da família Doradidae, e a alguns Cyprinodontiformes e Cichlidos restringidos a esta região. A relação entre as restantes categorias se mantém em ambas as regiões.

Em relação à representatividade numérica das categorias tróficas e as reprodutivas, uma grande porcentagem de espécies com fecundação externa pertence às categorias de invertívoros e onívoros.

A maioria das espécies de fecundação externa com cuidados parentais pertence às categorias de detritívoros e carnívoros.

Com relação à estratégia migradora, a maioria das espécies pertence aos grupos tróficos dos onívoros e piscívoros.

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c) Produtividade Pesqueira

De acordo com o Ministério de Meio Ambiente (2005), Rio Grande do Sul (RS), Brasil, não conta com registros de pesca comercial, mas sim artesanal. Como não têm dados para o Uruguai Médio, tomam os dados do Baixo Uruguai como de uso potencial das seguintes espécies: o armado (Pterodoras granulosus), o biru (Cyphocharax sp.), o cará (Geophagus sp. Ou Gymnogeophagus sp.), a carpa (Cyprinius carpio), o cascudo (Hypostomus sp.), o dourado (Salminus brasiliensis), o sabalo (Prochilodus lineatus), a juanita (Crenicichla sp.), o bagre sapo (Rhamdia sp.), o pati (Luciopimelodus pati), o peixe-rei (Odonthesthes sp.), a boga (Leporinus obtusidens), o surubi ou surubim (Pseudoplatystoma corruscans), o tambicu (Galeocharax sp. E/ou Oligosarcus sp.), a tararira (Hoplias sp.) e a viola (Loricariichthys sp.).

Conforme um diagnóstico realizado pela Secretaria de Agricultura e Pecuária, o Rio Grande do Sul (RS), Brasil, tem 7 macro-regiões de pesca artesanal (Figura 2.2.3.1-1). A que corresponde a este estudo se denomina Região do Uruguai e nela operam 1032 pescadores artesanais, (Quadro 2.2.3.1-1).

Figura 2.2.3.1-1 – Macro regiões de pesca artesanal do Estado do Rio Grande do Sul

Fonte: Garcez, 2001.

Neste mesmo relatório se indica que a pressão de pesca aumenta ao aumentar os jovens em atividade. Reconhece-se que não se respeitam as normativas de tamanho de redes, época de vedação, zonas de pesca, etc. O IBAMA e PATRAM possuem só ação repressora.

As 10 espécies mais capturadas são: armado comum (Pterodoras granulosus), cascudo (Hypostomus sp.), dourado (Salminus brasiliensis), sabalo, grumatã (Prochilodus lineatus), bagre sapo ou jundiá (Rhamdia sp.), pati (Luciopimelodus pati), boga, piava (Leporinus obtusidens), surubi ou surubim (Pseudoplatystoma corruscans), bagre amarelo, pintado (Pimelodus maculatus), tararira, traíra (Hoplias sp.)

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Neste relatório se estabelece a diminuição das capturas como consequência da contaminação por agroquímicos, efluentes domésticos, industriais, eliminação de vegetação marginal, construção de represas que impedem a migração dos peixes às áreas de desova, neste caso, tributários.

d) Visita à Área de Estudo

Atualmente, para a gestão das águas, o território do Rio Grande do Sul está dividido em 25 unidades espaciais. A que se encontra diretamente relacionada com este estudo é a REGIÃO HIDROGRÁFICA DO URUGUAI (Figura 2.2.3.1-2), que abrange uma área de, aproximadamente, 126.964,24 km2, equivalente a 45% do Estado. A população total é de 2.448.778 habitantes distribuídos em 228 municípios, com uma densidade demográfica aproximada de 19,29 hab/km2 (Relatório Anual sobre a Situação dos Recursos Hídricos no Estado do Rio Grande do Sul – ano 2008).

Percorreu-se parte da zona de estudo e se realizaram entrevistas no mês de junho de 2009 a diversos funcionários públicos com o fim de conhecer as atividades pesqueiras desenvolvidas no rio Uruguai e as sub-bacias Butuí-Icamaquã; Piratinim e Turvo-Santa Rosa-Santo Cristo (Figura 2.2.3.1-2).

Figura 2.2.3.1-2 – Sub-bacias na Região Hidrográfic a do Uruguai

Sub-bacias: 1. Quaraí. 2. Ibicuí. 3. Butuí-Icamaquã, 4- Piratinim e 5- Turvo-Santa Rosa-Santo Cristo. Fonte: Relatório Anual sobre a Situação dos Recursos Hídricos no Estado do Rio Grande do Sul – ano 2008.

1

2

3

4 5

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e) Pesca esportiva

Na entrevista realizada no mês de junho de 2009 às autoridades do Yacht Club “Bernardino Ferreira” São Borja, informaram que na zona, o único torneio de pesca é o correspondente a uma etapa da pesca Esportiva do Rio Grande do Sul.

Por outra parte, pratica-se a pesca esportiva com devolução durante os fins de semana e não têm registros de quanto nem o que se pesca.

Em entrevista à Secretaria Executiva Rota do Rio Uruguai de Santa Rosa se verificou que através desta Associação se organizam os torneios de pesca no rio Uruguai (margem esquerda) durante o ano, na atualidade se está realizando o 5º Circuito de Pesca Esportiva com devolução, o qual consta de seis etapas (Figura 2.2.3.1-3).

Figura 2.2.3.1-3 – Folheto informativo da pesca esp ortiva no rio Uruguai ano 2009

Esta atividade reúne não só pescadores esportivos do rio Uruguai, mas também em cada lugar onde se realiza se comercializam os produtos dos açudes, e se realizam atividades relacionadas ao desenvolvimento turístico.

Além disso, todos os anos se levam adiante ações de preservação e cuidado do ambiente, assim, este ano, em cada uma das etapas há um horário onde os pescadores têm a obrigação de recolher lixo do rio e para esta tarefa é conferida uma pontuação.

No Quadro 2.2.3.1-2 se apresentam os registros relacionados com as capturas totais das espécies representadas nos torneios da edição 2008, dados cedidos gentilmente pela Associação Rota do Rio Uruguai.

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Quadro 2.2.3.1-2 – Captura total por espécies prove nientes de capturas realizadas em torneios de pesca

ESPÉCIE Nome comum

CAPTURA TOTAL (Número de indivíduos)

Armado 48 Espada tuvira/morena 35 Joana/juanita - boca amarga 112 Lambari/ tilápia 246 Palometa 12 Piava/ boga 21 Traíra/tararira 12 Bagre mole 78 Pintado amarelo/ bagre amarelo 150 Jundia/virreina 103 Mandi-beiçudo/ bagre trompudo 217 Pati Branco/pati 116 Voga/boga 13 Tamanco 2 Dourado 3

Fonte: Asociación Rota del río Uruguay

f) Pesca artesanal

A atividade pesqueira no rio Uruguai é intensa, a Policía Ambiental – Brigada Ambiental está encarregada do controle e fiscalização.

A Delegação 2º de São Borja manifestou a existência de 180 pescadores na região e se pesca, tanto no rio Uruguai como nos arroios Icamaquã, Butuí e Ibicuí (Figura 2.2.3.1-1, ponto 3), este último é um afluente de grandes dimensões e muito utilizado pelas espécies migradoras para os sucessos reprodutivos.

Na cidade de Santa Rosa, a 3ª Brigada Ambiental está encarregada do controle e fiscalização desde Garruchos (Fotos 2.2.3.1-1, 2.2.3.1-2 e 2.2.3.1-3) até os Saltos de Yucumã (Moconá). Neste setor do rio Uruguai operam, aproximadamente, 400 pescadores e uma estimação de captura anual indica uma extração de 1,5 a 2 toneladas/pescador nos portos de Garruchos e Porto Xavier.

Fundamentando-se no status de vulnerabilidade e de proibição de pesca do dourado e surubim, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) organizou uma reunião no dia 19-05-2009, com o objetivo de preparar um projeto para o estudo das populações destas espécies no estado do Rio Grande do Sul, com a participação do Polo de Aquic. Pesca – FIDENE/UNIJUI – Ijuí.

Em entrevistas realizadas em junho de 2009, foi manifestada a preocupação quanto à legislação pesqueira porque não coincidem os tempos de proibição entre os países que compartem o recurso. Assim, no Brasil, a proibição se estabelece desde outubro até janeiro, além de estar proibida a pesca de dourado e surubim, enquanto que na Argentina a proibição abrange o bimestre novembro-dezembro e não se proíbe a pesca de ditas espécies. Esta situação dispar torna muito difícil o controle por parte das autoridades.

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Foto 2.2.3.1-1 – Porto Garruchos (Brasil)

Fonte: Polícia Ambiental - Brigada Ambiental

Foto 2.2.3.1-2 – Rio Uruguai- Volta Grande e desemb ocadura do Arroio Pepirí

Fonte: Polícia Ambiental - Brigada Ambiental

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Foto 2.2.3.1-3 – Saltinho

Fonte: Polícia Ambiental - Brigada Ambiental

Em um relatório sobre Monitoramento de qualidade de água das bacias dos rios Turvo - Santa Rosa- Santo Cristo (Programa Nacional de Meio Ambiente, 2004), cedido gentilmente pelo comitê da Bacia hidrográfica do rio Uruguai (Santa Rosa), relata-se que a região que drena o rio Uruguai não possui maior importância pesqueira para o estado do Rio Grande do Sul (Bertoletti, 1986). Este autor aponta como os principais problemas para o potencial pesqueiro a contaminação, a navegação e a pesca predatória. Apesar de que a pesca comercial não seja significativa na região, a pesca esportiva é uma atividade comum entre a população local. Por sua parte, Schütz et al. (em Zaniboni e Olivera, 2008), em estudos de telemetria de peixes migradores recentemente realizados no Alto Uruguai, sustenta que, embora a pesca nunca tenha sido o forte da região, na atualidade a pesca esportiva e artesanal está mais presente. Temos podido comprovar isto com as breves entrevistas e recompilação de informação in situ. Isto nos demonstra a necessidade de amostragens de campo diante da falta de dados atualizados e de encontrar espaços vazios de informação em diversos aspectos.

g) Regulamentação da Pesca

O IBAMA regulamenta a pesca artesanal e esportiva. Esta Regulamentação se baseia em critérios de tamanho, posse de licença de pesca e tipos de artes que se podem utilizar. Está proibida a captura do dourado (Salminus brasiliensis), surubim (Pseudoplatystoma coruscans), pira para (Pseudoplatystoma reticulatum) e o salmão (Brycon orbignianus), em todo o rio Uruguai. Nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, fixa-se anualmente o período de proibição da pesca desde o 1º de outubro ao 31 de janeiro.

Mencionam-se as seguintes espécies ameaçadas.

1. Salminus brasiliensis dourado (vulnerável);

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2. Pseudoplatystoma coruscans surubim (vulnerável);

3. Pseudoplatystoma fasciatum surubim (vulnerável);

4. Austrolebias ibicuiensis (espécie endêmica);

5. Austrolebias periodicus (espécie endêmica);

6. Brycon orbygnianus salmão de rio (críticamente em perigo).

h) Áreas Sensíveis ou Críticas

A utilização de uma bacia hídrica deve ser precedida por estudos sobre os ciclos de vida dos peixes. Investigações preliminares indicam que algumas regiões ou trechos do rio Uruguai são de importância para o desenvolvimento do ciclo de vida de algumas populações de peixes. Isto ocorre na região do Alto Uruguai, onde não existem lagunas marginais e a desembocadura dos tributários cumpre este papel.

Os tributários do trecho Alto apresentam cursos pequenos e bastante encaixados, dificultando o movimento dos peixes do rio à parte média e alta dos afluentes e vice-versa, desta maneira, o ciclo de vida das espécies migradoras se restringe ao rio principal e à desembocadura dos tributários.

Por esta razão é necessário estabelecer medidas para a conservação das desembocaduras dos tributários, principalmente onde as lagunas marginais não estão presentes, como forma de preservar as áreas de criação de várias espécies.

Um estudo da FEPAM/UFRGS (2004)1 assinala a fragilidade ambiental que possuem as sub-bacias do Uruguai em território brasileiro pela grande demanda hídrica para os cultivos, uma das mais afetadas é a do rio Ijuí, pela ocupação do entorno, a industrialização e o grande número de empreendimentos existentes.

A outra sub-bacia de importância do Uruguai na área de estudo é a do rio Ibicuí. Esta, em troca, possui ambientes mais conservados, e ainda há uma pequena exploração de recursos naturais, sendo o fator relevante para a conservação desta bacia a existência da Reserva Biológica do Banhado de São Donato que abrange os municípios de Itaqui e Maçambará, contando com uma importante flora e fauna.

2.2.3.2 Composição e Distribuição da Ictiofauna da Margem Argentina

Os estudos da ictiofauna do rio Uruguai são menores com respeito a outros rios continentais como os realizados no sistema Paraná-Paraguai. O estabelecimento da represa de Salto Grande tem impulsado uma série de estudos ecológicos e sua publicação na série de divulgação publicados pela Comissão Administradora do rio Uruguai (CARU) e a Comissão Técnica Mista de Salto Grande.

A represa de Salto Grande está localizada sobre o rio Uruguai a 15 km da localidade de Salto (Uruguai) e de Concordia (Entre Rios, Argentina). Apresenta 5 braços principais com caracterísiticas limnológicas que os diferenciam entre si e com o curso principal.

1 FEPAM. Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler e UFRGS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2004, Análise de Fragilidades Ambientais e da Viabilidade de Licenciamento de Aproveitamentos Hidrelétricos das Bacias Hidrográficas dos Rios Ijuí e Butuí-Piratinim-Icamaquã, Região Hidrográfica do Rio Uruguai – RS, FEPAM/UFRGS, Porto Alegre, 138p.

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A montante de Salto Grande, a informação sobre a comunidade íctica é escassa e os únicos dados coletados, que provêm dos estudos de pesca experimental, são os do Projeto Biologia Pesqueira Regional, durante o período 1987-1988, mediante o convênio Hidroservice-Hidrened –FCEQYN, UNaM, na área de influência do Projeto Garabí, desde Santo Tomé (Corrientes) até Panambi (Argentina). Embora esta informação de base disponibilizada constitua um dos escassos estudos realizados na área, pode-se considerar desatualizada e, provavelmente, incompleta.

A seguir se apresenta parte da informação contida nos relatórios oportunamente elevados ao consórcio Hidroservice-Hidrened (Roa, et al. 1989). Os trabalhos se realizaram nos seguintes pontos de amostragem situados no curso principal: Puerto Garruchos (Corrientes), Puerto San Isidro, Puerto San Javier e Puerto Panambi (Misiones), e a desembocadura dos arroios Yohaza, Chimiray, Persiguero e Itacaruare.

Na área de estudo (Figura 2.2.3.2-1) o rio percorre uma porção de bioma de tipo selvático multiestratificado, caracterizado pela presença de pino Paraná (Araucária angustifolia) e samambaias arborescentes, empobrecendo-se em espécies arbóreas na denominada formação do Urunday para dar lugar a uma subunidade de tipo ecotonal, onde domina o estrato arbóreo e herbáceo, finalmente ao sul se ingressa ao bioma do espinal com um estrato arbóreo dominado pelo nhanduvai.

Figura 2.2.3.2-1 – Rio Uruguay en el tramo entre Pa nambí y São Borja

Na Foto 2.2.3.2-1 se observam os arroios típicos da província de Misiones, com leitos de basalto que, em alguns trechos, alteram o percurso formando saltos, corredeiras e cascatas.

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Foto 2.2.3.2-1 – Arroios Típicos da Província de Mi siones

a) Composição Taxonômica

Registrou-se a presença de 83 espécies (Quadro 2.2.3.2-1), das quais 15 entidades foram constantes em todos os pontos de amostragem (Roa et al. 1988)

Pode-se caracterizar o conjunto de espécies com base em suas características ecológicas (Roa et al., 1988), como: 1) Flutuante em número, 2) associações de correntada e 3) associações de afluentes e remansos. O número de espécies de cada uma das zonas está relacionado com a capacidade de porte do meio físico.

Roa et al. (1988) assinala 83 espécies para o trecho médio na área de estudo, das quais se identificaram 18 espécies comuns aos trechos inferior e superior.

Lopez et al. (2002) menciona um total de aproximadamente 133 espécies aproximadamente para o rio Uruguai no trecho argentino, que corresponde a 30% do total de peixes de bacias da República Argentina. Do total mencionado para o rio Uruguai, 15 espécies foram registradas em tributários da província de Misiones.

As espécies de interesse econômico atual e potencial registrada foram: Pimelodus maculatus (bagre amarelo), Leporinus striatus e Leporinus obtusidens (bogas), Schizodon platae (boga), Ieringhichtys labrosus (bagre trompudo), Raphiodon vulpinus (pira yagua), Prochilodus lineatus e Prochilodus scrofa (sabalo), Auchenipterus nuchalis (bagre) e Salminus maxillosus (dourado).

Arro io Tunas Arroi o Itacaruarar é

Arroi o Chimiray

Arroi o Chimiray

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Quadro 2.2.3.2-1 – Lista de Espécies Registradas na área de Estudo

ORDEM RAJIFORMES Família Potamotrygonidae Potamotrygon brachyurus ORDEM CLUPEIFORMES Família Engraulidae Lycengraulis grosidens ORDEM CHARACIFORMES Família Acestrorhynchidae Acestrorhynchus pantaneiro Família Parodontidae Apareiodon affinis

Apareiodon spp.

Família Curimatidae Curimata platana Curimata nitens

ORDEM CHARACIFORMES Curimata sp Curimatella cf australis

Família Erythrinidae Hoplias malabaricus Família Prochilodontidae Prochilodus scrofa

Prochilodus platensis Família Anostomidae Leporinus obtusidens

Leporinus striatus Leporellus pictus Schizodon fasciatus fasciatus Schizodon platae Schizodon sp

Família Characidae Sub Família Characinae Roeboides prognatus Sub Família Cynopotaminae Cynopotamus argenteus

Cynopotamus kincaidi Cynopotamus humeralis Cyrtocharax gibosus Cyrtocharax argenteus Cyrtocharax squamosus Galeocharax kneri Galeocharax humeralis

Sub Família Bryconinae Brycon orbignyanus Sub Família Salmininae Salminus maxillosus Sub Família Triportheinae Triportheus paranensis Sub Família Tetragonopterinae Astyanax bimaculatus

Astyanax fasciatus Astyanax spp.

ORDEM CHARACIFORMES Família Serrasalmidae

Sub Família Serrasalminae Serrasalmus spilopleura Família Cynodontidae Raphiodon vulpinus ORDEM SILURIFORMES Família Loricariidae

Sub Família Loricariinae Loricaria sp Loricaria anus Loricaria macrops

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Loricaria vetula Loricariichthys platymetopon Loricariichthys sp Paraloricaria sp

Sub Família Hypostominae Hypostomus cochliodon Hypostomus luteomaculatus Hypostomus piratatu Hypostomus regani Hypostomus sp

Família Doradidae Pterodoras granulosus Rhinodoras d'orbignyi Rhinodoras sp

Família Auchenipteridae Tracheliopterus galeatus Auchenipterus nuchalis Ageneiosus brevifilis Ageneiosus valenciennesi

Família Pimelodidae SubFamília Pimelodinae Iheringichthys labrosus

Luciopimelodus patí Megalonema platanun

ORDEM SILURIFORMES Parapimelodus valenciannesis Pimelodus (I) labrosus Pimelodus maculatus Pseudoplatystoma coruscans Sorubim lima Steindachneridion inscripta Pseudopimelodus zungaro

Sub Família Heptatpterinae Pimelodella gracilis Pimelodella sp Rhamdia hilari Rhambdia microps

Família Cetopsidae Pseudocetopsis gobioides ORDEM PERCIFORMES Família Sciaenidae Pachyurus bonariensis

Pachyurus paranensis Família Cichlidae Crenicichla lepidota

Crenicichla spp. ORDEM PLEURONECTIFORMES Família Achiridae Catathyridium jenynsii ORDEM GYMNOTIFORMES Família Apteronotidae Apteronotus brasiliensis Família Sternopygidae Eigenmania viriscens Família Gymnotidae Gymnotus garapo

Fonte: Roa et al., 1989.

b) Riqueza Específica

A variação da riqueza específica indica que nos portos San Isidro e Garruchos sobre o curso principal, constituíram-se locais com maior número de espécies de peixes, e entre os afluentes, o arroio Itacaruaré, (Quadro 2.2.3.2-2), (Figura 2.2.3.2-3, 2.2.3.2-4).

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Quadro 2.2.3.2-2 – Riqueza Específica da Fauna Ícti ca Registrada no Período 1987-1989

Campanha Afluente Itacaruaré

Afluente Chimiray

Afluente Persiguero

Yohaza (a jusante )

Panambi (fim do

reservatório )

San Isidro Garruchos

1 22 21 25 2 9 16 3 3 9 16 37 23 4 18 23 27 22 5 22 22 30 25 6 10 19 28 26 7 19 21 25 9 8 23 9 28 15 35 28 9 20 21 28 21 22 26 10 25 21 28 4 21 30 11 13 5 17 19 20

Fonte: Projeto Biologia Pesqueira Regional. Convênio Hidroservice-Hidrened.

Gráfico 2.2.3.2-1 – Número de Espécies da Ictiofaun a de Arroios Tributários do rio Uruguai na Margem Argentina

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Gráfico 2.2.3.1-2 – Riqueza de Espécies da Ictiofau na Coletada em Estações do Curso Principal do rio Uruguai

c) Rendimento Pesqueiro

O registro do rendimento pesqueiro nos distintos pontos de amostragem evidencia uma flutuação temporal, evidenciando-se um maior rendimento no porto San Isidro nos meses de outono e inverno, e os menores rendimentos se registraram nos portos de San Javier, Itacaruaré e Panambi.

A espécie mais abundante foi o bagre amarelo, Pimelodus (I) labrosus. No grupo de importância comercial se destacaram o sabalo Prochiludos lineatus e a boga Leporinus obtusidens e Schizodon nasutus. É destacável a elevada concentração de sabalos no arroio Chimiray e da boga em Garruchos .

As oscilações dos rendimentos são consideráveis e a pesca não pode sustentar mais que uma atividade de subsistência (marginal ou de ocasião), conforme os dados obtidos nos portos de pesca da margem argentina. Devido a isso, resulta oportuno alertar sobre a necessidade de estudos complementares de desenvolvimento de cultivo de peixes regionais.

d) Marcação de Peixes

A marcação de peixes se realizou durante os meses de setembro e outubro de 1988, coincidente com o início do período de crescida do rio Uruguai (desde 1 m em Santo Tomé até 8,42 em dez dias).

Marcaram-se 592 exemplares de Pimelodus maculatus, Pterodoras granulosus, Pseudopimelodus zungaro, Luciopimelodus pati, Megalonema platanum, Leporinus obtusidens, Pimelodus (I) labrosus e Rhinodoras d´orbignyi.

Recuperaram-se quatro marcas, uma delas foi de um bagre amarelo (P. maculatus, de 32 cm), 135 km a montante (Pto. Vera Cruz) do lugar de marcação (Garruchos), após 64 dias, o que define uma média 2,5 km por dia. Outra marca recuperada correspondeu a uma boga (L. obtusidens) após um percurso de 70 km; outra marca de Luciopimelodus pati após 100 km de percurso e outro bagre P.maculatus, 120 km a montante (Yohaza)

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e) Endemismos

Menciona-se 29 espécies endêmicas para a bacia do rio Uruguai. O trecho do Alto Uruguai apresenta o maior número de espécies endêmicas, igual a 23 espécies distribuídas em seis famílias: Loricariidae (8spp), Cichlidae (8 spp), Characidae (2 spp), Crenuchidae (2), Pimelodidae (2) e Rivulidae (1). No trecho médio se registraram 11 espécies endêmicas representadas pelas famílias Characidae (3), Crenuchidae (2), Loricariidae (1) e Cichlidae (5). O baixo Uruguai apresentou só 2 espécies exclusivas deste trecho, Characidae e Loricariidae.

O significante endemismo das espécies ícticas do rio Uruguai, com respeito a outros rios da bacia Parano-Platense, poderia dever-se ao isolamento geológico passado, assim como às características geomorfológicas dos tributários, particularmente dos trechos superior e médio, com cursos curtos, com saltos e cascadas, que atuam como barreiras de isolamento.

Entre as espécies endêmicas mencionadas para o trecho do Alto Uruguai se encontram Astyanax ojiara (Figura 2.2.3.2-5) registrada em um tributário do rio Uruguai (Azpelicueta & Garcia, 2000) e Cichlasoma tembe. (Figura 2.2.3.2-5), (Lopez et al., 2002), entre outros. O Quadro 2.2.3.2-3 apresenta a lista de espécies de peixes endêmicas do rio Uruguai.

Foto 2.2.3.2-2 – Espécies Endêmicas Mencionadas par a o Trecho do Alto Uruguai

Cichlasoma tembe Fonte: Lopez et al., 2002

Astyanax ojiara Fonte: Azpelicueta & Garcia, 2000

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Quadro 2.2.3.2-3 – Lista de Espécies de Peixes Endê micas do rio Uruguai

Espécies Rio Uruguai

Alto Médio Baixo

Ordem Characiformes

Família Characidae

Astyanax brachypterygium X

A. ojiara X (A)

Bryconamericus uporas X (A)

Heterocheirodon yatay X (A)

Hypobrycon maromba X

H. poi X (A)

Família Crenuchidae

Characidiun occidentale X (B)

Ch. serrano X

Ch. vestigipinne X X (B)

Ordem Siluriformes

Família Pimelodidae

Microglanis eurystoma X

Pimelodus atrobrunneus X

Família Loricariidae

Eurycheilichthys pantherinus X

Hemiancistrus chlorostictus X

H. fulginosus X X (A)

Hemipsilichthys vestigipinnis X

Hisonotus ringueleti X

Hypostomus roseopunctatus X

H. isbrueckeri X

Loricariichthys edentatus X (B)

Pogonopoma obscurum X

Orden Cyprinodontiformes

Família Rivulidae X

Orden Perciformes

Família Cichlidae

Crenicichla celidochilus X X (A, U)

C. gaucho X X (A)

C. igara X

C. jurubi X

C. minuano X X (A, B)

C. missioneira X X (A, B)

C. prenda X

C. tendybaguassu X X (A, B)

(A) Argentina; (B) Brasil (U) Uruguai Fonte: Miquelarena & Lopez, 2003.

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f) Ictiofauna da Represa Salto Grande

No Plano de atividades do Programa de Conservação da Fauna Íctica e os Recursos Pesqueiros do rio Uruguai correspondente ao ano 2006 se priorizaram os aspectos de avaliação dos recursos pesqueiros e as pescarias através do monitoramento da pesca artesanal, a avaliação da atividade reprodutiva das principais espécies de interesse econômico e a identificação de populações com técnicas bioquímicas no trecho compreendido entre as localidades de Monte Caseros (Corrientes, Argentina) e Concordia (Entre Rios, Argentina).

O monitoramento da pesca artesanal fornece estimações da captura total, informação biológica das espécies e indicadores de abundância baseados na captura por unidade de esforço com uma ampla cobertura no tempo e no espaço. A esta informação se agrega a fornecida pela avaliação da reprodução de peixes migratórios e os índices de abundância larval (IAL), estreitamente relacionados com o estado das populações, e independentes das avaliações de captura e esforço. (CARU, 2007).

A composição específica está conformada principalmente pelas ordens Characiformes e Siluriformes e entre as espécies comumente representadas se encontram Lycengraulis grossidens, Synbranchus marmoratus, Oxydoras kneri, Pterodoras granulosus, Rhinodoras dorbignyi, Parapimelodus valenciennes, Pimelodus maculatus, Heptapterus mustelinus, Pimelodus albicans, Steindachneridion inscripta, Pimelodella gracilis, Iheringichthys labrosus, Netumba barba, Rhamdia quelen, Eigenmania virescens, Schizodon borelli, Schizodon nasutus, Leporinus obtusidens, Rhamphichthys rostratus, Auchenipterus nuchalis, Crenicichla sp., Cyprinus carpio, Rhaphiodon vulpinus, Gymnogeophagus australis, Hoplosternum littoralis, Pachyurus bonariensis, Sorubim lima, Oligosarcus oligolepis, Cynopotamus argenteus, Acestrorhynchus pantaneiro, Galeocharax humeralis Salminus maxillosus, Pellona flavipinnis, Catathyridium jenynsi, Ageneiosus brevifilis, Ramnogaster melanostoma, Ageneiosus valenciennesi, Zungaro zungaro, Holostesthes pequita, Astyanax fasciatus, Apteronotus sp., Gymnotus carapo, Serrasalmus marginatus, Serrasalmus spilopleura, Luciopimelodus pati, Odontesthes bonariensis, Pygocentrus nattereri, Potamotrygon motoro, Potamotrygon brumi, Cyphocharax platanus, Steindachnerina brevipinna, Prochilodus lineatus, Brycon orbignyanus, Pseudoplatystoma fasciatum, Pseudoplatystoma coruscans, Corydoras paleatus, Hoplias malabaricus, Trachelyopterus galeatus, Characidium fasciatum, Loricariichthys anus, Hypostomus commersoni, Megalancistrus aculeatus, Apareiodon affinis.

g) Pescarias

A quantidade de embarcações envolvidas mostrou uma tendência crescente, um total de 308 embarcações (somando ambas as margens argentina e uruguaia) e uma captura total estimada em 1900 toneladas (20% e 22% mais que as estimadas em 2004 e 2005, respectivamente).

Quanto à composição específica das capturas, os dados disponíveis, correspondentes aos três últimos anos (2004 a 2006) mostram um predomínio do sabalo , e uma tendência à redução na participação da boga e particularmente do armado comum (Pterodoras granulosus), compensada com o incremento de outras espécies, como os bagres branco e amarelo .

h) Reprodução

Os resultados do monitoramento de ictioplâncton indicam que, da temporada reprodutiva 2004-2005, o fluxo de larvas de peixes no rio Uruguai foi reduzido de maneira considerável, provavelmente por causa dos menores estímulos hidrométricos. Nas duas últimas temporadas

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de reprodução (2004-2005 e 2005-2006) a abundância de larvas de sabalo e boga se manteve em valores mais baixos que os observados no período 2000-2004. No caso dos armados o fenômeno é ainda mais pronunciado. No período 2000-2003, o fluxo de larvas deste grupo superava inclusive o dos sabalos. Durante os últimos dois períodos (2004-2006), outros grupos de siluriformes, como os bagres, mantiveram sua presença no verão, enquanto que os armados estiveram quase totalmente ausentes do ictioplâncton.

Esta situação coincide com a extensa e severa mortandade de armados registrada desde princípios de 2005 e com as menores vazões durante os verões, o que produz um cenário desfavorável para a reprodução da maioria das espécies migratórias. É provável que a reprodução dos armados seja especialmente sensível aos baixos níveis hidrométricos nos meses de verão, época na qual tende a apresentar os máximos de sua atividade reprodutiva.

Os verões dos últimos anos mostram estiagens cada vez mais estendidas. Nestes períodos é provável que um segmento importante das populações de espécies como o sabalo e a boga, e talvez a maior parte dos armados do rio Uruguai vejam frustrada sua reprodução.

i) Marcação e Migrações de Peixes

As investigações sobre migrações de peixes mediante técnicas de marcação e recaptura têm-se desenvolvido como parte do Programa de Conservação da Fauna Íctica e os Recursos Pesqueiros do rio Uruguai, desde 1985. As marcações se realizaram principalmente na área principal de pesca do trecho compartilhado do rio Uruguai, compreendida entre os km 0 e 90 (desembocadura do rio Gualeguaychú).

Os resultados mostraram que ao menos uma parte importante das populações das espécies migratórias mais abundantes, sabalo e boga realizam extensas migrações em um circuito que abrange o rio Paraná inferior e médio em deslocamentos que oscilam entre 300 e 500 km, embora excepcionalmente se obtivessem recapturas em lugares distantes até 1.100 km do local de marcação (Espinach Ros et al., 1998; Espinach Ros, 1999). Muito poucas das recapturas mostraram movimentos ascendentes pelo rio Uruguai, sugerindo que ao menos as principais populações das espécies mencionadas têm suas áreas de desova e criação no rio Paraná.

Estes resultados, no entanto, podem estar distorcidos por diferenças na pressão de pesca e a falta de operações de marcação em trechos do rio mais próximos à represa de Salto Grande, onde os estudos de ovos e larvas têm revelado a existência de zonas de reprodução (Mantero e Fuentes, 1997; Fuentes e Espinach Ros, 1988).

j) Visita da Área de Estudo

Com o objetivo de coletar informação sobre atividade pesqueira, realizaram-se entrevistas com pessoal destacado da Prefectura Naval de Puerto Garruchos e Puerto Garabí (Corrientes) e nos Portos Concepción e San Javier (Misiones).

Em Panambi e Alba Posse se obteve informação de trabalhadores da Gendarmeria Nacional e dos habitantes locais, assim como dos operadores da balsa na região do porto.

Em todos os portos visitados a informação obtida foi escassa devido à temporada de vedação imposta pelos organismos fiscalizadores (Ministério de Ecologia em Misiones e Dirección de Fauna em Corrientes), por causa da descida extraordinária do rio Uruguai.

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Entre os portos da província de Corrientes visitados, o Puerto Garabí se utiliza com maior frequência como zona de pesca esportiva, tanto de costa como embarcada, fez-se o censo de, aproximadamente, 10 embarcações.

Na zona podem ser reconhecidos diferentes ambientes propícios para a pesca, como a desembocadura do arroio Garabí e do Ciriaco, as cachoeiras de Roncador, zonas de “ollas” (rodamoinhos) e ilhotas vegetadas no curso principal.

Como artes de pesca se utilizam chamarizes e como isca, minhoca e milho.

A espécie capturada com maior frequência corresponde à boga, e, ocasionalmente, dourado e surubim.

Entre os Portos da província de Misiones, Puerto Concepción e Puerto Niz são lugares habituais de pesca esportiva dos povoadores da localidade de Concepción de la Sierra.

Utilizam-se habitualmente embarcações (canoas de madeira), lanchas, e também é habitual a pesca de costa. As embarcações às quais se fizeram censo ascendem a 8 e as espécies frequentes nas captura foram boga, dourado e manguruju.

Nas cercanias ao destacamento Puerto Niz se encontra a desembocadura do arroio Persiguero, lugar utilizado como área de pesca esportiva.

No destacamento do Puerto San Javier, os entrevistados dão conta de uma atividade pesqueira reduzida à pesca de costa, com linhas, utilizando milho como isca. Em geral há maior quantidade de pescadores de origem brasileira.

A espécie de interesse capturada com maior frequência corresponde à boga.

Outra zona utilizada para a pesca é a Ilha de Itacaruaré, em cercanias de San Javier.

No Puerto Panambi se conta com dados de capturas de bogas, dourado e surubim. Com menor frequência armado e raias. A modalidade é embarcada e de costa, predominando neste lugar a captura de tilápias.

A isca utilizada foi milho e caracóis.

Entre os arroios tributários visitados, sobre o arroio Chimiray se observa placas que indicam a realização da “fiesta de la mojarrita”, em alusão à pesca desta espécie durante o verão.

Nas ribeiras do arroio Canal Torto se encontraram restos de escamas de sabalo.

Sobre o arroio Itacaruaré se observou a presença de um espécime morto que correspondeu ao cíclido do gênero Gymnogeophagus. O Ministerio de Ecología, Recursos Naturales Renovables y Turismo de la Provincia de Misiones conta com um registro de pescadores de subsistência do rio Uruguai no trecho de Misiones, (Quadro 2.2.3.2-4).

Detalha-se a seguir os locais e número de pescadores.

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Quadro 2.2.3.2-4. Número de Pescadores Artesanais ou de Subsistência na Área de Estudo – Municípios de Misiones.

Local de Residência N° pescadores

Colonia Aurora 54 San Javier 63 Itacaruaré 26 Concepción de la Sierra 8 Apóstoles 9 Panambi 8 Santa María 6 Tres Capones 1 Leandro N. Alem 1

Total 176

Fonte: Ministerio de Ecología y Recursos Renovables de Misiones, 2010.

Um dos principais problemas ambientais é constituído pela pesca ilegal, seja com artes proibidas ou em datas de vedação. Adjunta-se a seguir uma série de notas publicadas nos meios de difusão da província de Misiones (Fotos 2.2.3.2-3, 2.2.3.2-4 e 2.2.3.2-5).

Foto 2.2.3.2-3 – Pesca furtiva: sequestro de mercad oria por infringir a vedação de pesca, em Panambi

Fonte: El Paranaense 1/12/2008 (http://www.elparanaense.com.ar).

Foi durante um operativo de controle que realiza o Departamento de Fauna do Ministerio de Ecología de la Provincia, e “que culminou com a captura de 150 quilogramas de peixes encontrados em um local comercial da localidade de Panambí, Misiones, que foram capturados em plena proibição de pesca”. Detalharam funcionários da área que “o operativo aconteceu na semana passada, em locais comerciais das localidades de Alba Posse, Santa Rita e Panambí, onde os inspetores constataram que não se comercializam peças capturadas durante o tempo de proibição, que no rio Uruguai se estende até o fim de janeiro”. “Durante a inspeção, se detectou um freezer repleto de surubis, dourados, bogas e sabalos no local de Panambí,

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capturados por pescadores não autorizados; e, além disso, constatou-se a existência de exemplares com tamanhos não autorizados para sua extração e menos para sua comercialização”.

Foto 2.2.3.2-4 – Elementos de Pesca Confiscados pel a Polícia

Fonte: www.misionesonline.net.

A Gendarmería (polícia) em San Javier confiscou grande quantidade de elementos de pesca, como resultado das tarefas de prevenção e repressão contra a depredação íctica, realizadas no transcurso do presente mês. Os operativos foram focados no curso do rio Uruguai, considerado não navegável e em jurisdição do Esquadrão 8 “Alto Uruguai”, assento do grupo “Mbororé” dependente da unidade. Como consequência disso, as autoridades procederam a lavrar 30 atas em infração à lei 1040, com a confiscação de 21 espinhéis e esperas armadas com 176 anzóis de diferentes tamanhos, 19 redes de nylon armadas e 1 canoa de madeira a remo.

A detecção deste tipo de ilícito tem como finalidade evitar a depredação massiva da fauna íctica. Os elementos dos procedimentos descritos se encontram à disposição do Ministerio de Ecología y Recursos Naturales Renovables y Turismo, Flora y Fauna de la Provincia de Misiones, delegação San Javier.

O operativo de controle conjunto entre guardas-florestais do parque provincial Moconá e do parque Estadual do Turvo, junto à Policia Militar do Brasil se realizou sobre o rio Uruguai, no trecho compreendido entre os Saltos del Moconá e a ilha Dinos, localizada a cerca de 15 quilômetros a montante do porto de El Soberbio. O operativo se realizou no marco de um convênio de cooperação existente entre a Província de Misiones e o estado brasileiro do Rio Grande do Sul, e em virtude da vedação de pesca que rege na região, que no caso do rio Uruguai se estende desde o dia 1 de novembro e até 31 de janeiro.

No entanto, para o resto dos cursos de Misiones, a vedação compreende até o dia 20 de dezembro. O grupo se mobilizou em duas embarcações com motor fora de borda, de onde

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confiscaram 600 metros de redes, 25 esperas e uma canoa de madeira com motor fora de borda.

No trecho do rio por onde se realizou o controle, desaguam os arroios Yabotí Guazú ou Pepirí miní e o Paraíso, do lado argentino, enquanto que do lado brasileiro desemboca o arroio Turvo. Estes lugares são de suma importância para a reprodução da fauna íctica e, além disso, do lado argentino formam parte da Reserva de Biosfera Yabotí e do Parque brasileiro.

Foto 2.2.3.2-5 – Confiscação de redes de pesca no r io Uruguai em época de vedação

Fonte: www.misionesonline.net, Ecologia | 25-11-2008

2.2.3.3 Síntese do Diagnóstico de Ictiofauna

A análise da informação sobre a fauna íctica permite destacar os seguintes aspectos:

− A fauna íctica do rio Uruguai está integrada por 219 espécies, sendo diversa em número de espécies, famílias e ordens taxonômicas com uma distribuição peculiar a escala regional. A representatividade de cada ordem foi semelhante entre as regiões, sendo os melhores representados os Characiformes e Siluriformes.

− O rio Uruguai representa uma área de endemismo para 29 espécies de peixes dentro da Bacia do Prata, pelo qual requer políticas de conservação e manejo.

− Do ponto de vista reprodutivo, 80% das espécies do trecho brasileiro tem estratégia não migradora com fecundação externa, enquanto que 11 % são migradoras e 9% não migradoras com fecundação interna.

− O número de espécies não migradoras com fecundação externa foi predominante em todos os ambientes, seguido pelas migradoras. A porcentagem de espécies com fecundação externa com cuidado parental tende a ser maior nos reservatórios, assim como as não migradoras com fecundação externa sem cuidado parental.

− Verificaram-se rotas migratórias por meio de experiências de marcação de peixes no trecho Santo Tomé e Panambi. Comprovou-se o deslocamento tanto a montante

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como a montante. A recuperação de marcas evidenciou deslocamentos de mais de 100 km a montante pelo curso principal de espécies de silúridos e em menor proporção carácidos. O início da migração foi coincidente com o início da crescente hidrológica.

− Os estados de maturação gonadal na maioria das espécies evidenciaram estados maduros entre outubro e dezembro, pelos quais as migrações seriam basicamente reprodutivas.

− A ausência de planície de inundação nos trechos superiores revalorizaram a importância dos arroios tributários como áreas de criação de numerosas espécies ícticas.

− A qualidade de água é de fundamental importância, a fim de garantir o desenvolvimento dos ciclos biológicos, pelo qual o uso da terra (zona agrícola, desmatada, cultivada, uso de agroquímicos, nutrientes) forma parte da análise integral da bacia.

− São importantes os estudos sobre a composição do plâncton como recurso alimentar dos primeiros estados de desenvolvimento.

− Existem espécies catalogadas como vulneráveis e/ou em estado crítico de conservação, pelo qual sua pesca está proibida no Brasil. Entre as espécies vulneráveis se pode mencionar o dourado (Salminus brasiliensis), surubim (Pseudoplatystoma coruscans), surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), e outras espécies, tais como: Austrolebias ibicuiensis e Austrolebias periodicus são catalogadas como endêmicas, enquanto que o salmão de rio (Brycon orbygnianus) está críticamente em perigo.

− Na pesca artesanal as espécies mais capturadas são: armado comum (Pterodoras granulosus), cascudo (Hypostomus sp.), dourado (Salminus brasiliensis), sabalo (Prochilodus lineatus), bagre sapo ou jundiá (Rhamdia sp.), pati (Luciopimelodus pati), boga, piava (Leporinus obtusidens), surubí ou surubim (Pseudoplatystoma coruscans), bagre amarelo, pintado (Pimelodus maculatus) e tararira-traíra (Hoplias sp.).

− Conforme um diagnóstico realizado pela Secretaria de Agricultura e Pecuária do RS na macro-região do Uruguai operam 1032 pescadores.

− Os dados disponíveis das pescarias esportiva e artesanal estão desatualizados e os registros existentes são incompletos ou não estão sistematizados

− Conforme os dados fornecidos pelo Ministerio de Ecología Recursos Renovables y Biodiversidad de la Província de Misiones Argentina, o número de pescadores de subsistência sobre o rio Uruguai no trecho de Misiones ascendem a 176.

− Um dos problemas frequentes na área de estudo constitui infração à lei 1040, que determina a época de vedação imposta pelo Ministerio de Ecología Recursos Renovables de la Província de Misiones, Argentina.

− Há desigualdade na legislação pesqueira entre os estados do Rio Grande do Sul (Brasil) - Misiones e Corrientes (Argentina) pelo qual se sugere que se propiciem os meios para compatibilizar as leis entre ambos os países, com o fim de preservar o recurso pesqueiro que é um só e não tem fronteiras.

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2.2.4 Subáreas dos Ecossistemas Aquáticos

A divisão da bacia de estudo em subáreas se baseou na identificação de elementos semelhantes ou que se distinguem dos demais e que concorrem para a delimitação de partições homogêneas de um determinado tema.

Para o Componente Síntese Ecossistemas Aquáticos se considerou como o principal critério para definir as subáreas as características hidrográficas, associadas à fisiografia e à qualidade da água. Nas subáreas que não se dispõem de dados de qualidade da água se teve em conta as atividades desenvolvidas na bacia, as características da vegetação e usos do solo a fim de inferir sua qualidade.

A partir da informação secundária recompilada, obtida em distintas publicações, artigos científicos, relatórios de investigação, teses, relatórios técnicos, definiram-se e caracterizaram-se oito subáreas:

− Subárea Sierras de Misiones e Turvo;

− Subárea da Planície;

− Subárea do Aguapey;

− Subárea Fluvial;

− Subárea Santa Rosa;

− Subárea Ijuí;

− Subárea Piratini;

− Subárea Ibicuí.

O Quadro 2.2.4-1 apresenta as principais características das subáreas que podem ser visualizadas na Figura 2.2.4-1 e no mapa INV.URG-GE.77-MP4008, apresentado no Tomo 21, em escala 1:1.000.000 que integra o Tomo 21 do presente relatório. A seguir são descritas cada uma das subáreas

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Figura 2.2.4-1 – Divisão da área de estudo em 8 sub áreas

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Quadro 2.2.4-1 – Caracterização das subáreas do com ponente-síntese Ecossistemas Aquáticos.

Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Precipitações (total anual)

2025 mm (Yabotí). Precipitações

homogêneas durante todo o ano.

De 2000 mm no norte a 1600 mm no

sul.

1564 mm (Santo Tomé).

Total anual de 2000 mm no nordeste a

1600 em Corrientes.

De 1900 mm em Palmeira das

Missões a1665 mm anual,

Santa Rosa.

1800 mm anuais.

1700 mm anuais.

Precipitação média anual de 1672 mm.

Vazão média (m3/s) Yabotí 33 m3/s

Soberbio 18,2, Saltito 14, Acaraguá 12 m3/s

Dados disponíveis entre 4,6

(Pesiguero) e 8,5 m3/s (Itacaruaré)

Aguapey: 83,6 m3/s

Fluxo variável. Santo Tomé 2260 m3/s, Concordia

4700 m3/s, desembocadura no rio da Prata 5000

m3/s.

274,94 m3/s Ijuí 298 m3/s

Piratini 189,6 m3/s; Icamaquã

182 m3/s

Ibicuí 707 m³/s, Santa Maria 243

m³/s

Altitude nascente principal

Arroios de maior pendente

Turvo 540 m

Ambientes de baixa pendente Baixa pendente.

130 msnm, percorre 800 km com um declive médio do

0,16%. Apresentando

trechos com águas rápidas.

De 500 a 100 m.

Ijuí: 560 m.

De 500 a 160 m. Rios Butuí 160 m, Icamaquã

360 m, Piratini: 480 m

Rio Ibicuí-Mirim 500 m, Rio Jaguari 520

m

Classificação fluvial

Sub-bacias de maior longitude que a

subárea dos campos. Desenho dendrítico.

Apresenta descontinuidades em seu percurso: saltos,

restingas.

Sub-bacias relativamente

pequenas, arroios de menor longitude,

de desenho dendrítico.

Rio de planície, com amplos esteiros e

banhados. Áreas deprimidas com baixa velocidade

das águas.

Hidrografia profusa com predomínio

meândrico. Ao sul de San Javier

começa a alargar-se e são freqüentes as

acumulações de sedimentos.

Presença de ilhas.

Cursos de água pequenos com

no máximo 2500 km2

Bacia de grande tamanho, 10849

km2. Rio meandriforme,

apresentam ilhas, níveis de terraço e saltos.

Bacias contíguas. Rios meandriforme apresentam

ilhas, níveis de terraço e saltos.

Similar ao Aguapey, localizado em áreas

deprimidas. Com planície de

inundação, sem corredeiras, cursos

largos.

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Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Características geomorfológicas

Relevo ondulado (cuchillas). Zona de

basaltos cobertos por reduzidos espessuras

de solos, lateríticos

Zona baixa, relevo suavemente

ondulado, basaltos cobertos por solos

de maior espessura, lateríticos

Área deprimida, relevo plano, solo

argiloso.

Relevo acidentado, de ondulado a

plano, alta vulnerabilidade à

erosão. Formação basáltica.

Província geomorfológica

Planalto das Missões. Área intensamente

explorada e com alta

vulnerabilidade à erosão.

Planalto das Missões. Área intensamente

explorada e com alta

vulnerabilidade à erosão.

Região de transição entre o

planalto e a campanha.

Área intensamente

explorada e com alta

vulnerabilidade à erosão.

Planalto Meridional e depressão

Central. Relevo plano a

suavemente ondulado, alta

vulnerabilidade à erosão. Presença

de arenito de Botucatu

Qualidade das águas superficiais Variáveis físicas e químicas.

Ausência de monitoramentos sistemáticos de

qualidade de água. Nos cursos dos que se dispõe de dados: alta transparência e

concentração de OD, baixa disponibilidade de nutrientes. Água

em estado oligotrófico.

Ausência e monitoramentos

sistemáticos, maior atividade antrópica. Agrícola florestal,

maior densidade de população e

concentração de nutrientes.

Denúncias por contaminação do Aº

Pesiguero. Aº Chimiray: moderada

transparência, boa concentração de OD e nutrientes similar ao curso

principal.

Ausência de dados.

Águas bem oxigenadas, pH neutro, elevada

turbidez, alta concentração de

nutrientes, presença de elementos contaminantes

arsênico, amônia, cádmio, cobre e

cromo provenientes da alta bacia. Problemas de florações de

cianobactérias durante o verão e

outono. Mesotrófico.

Carência de monitoramentos sistemáticos de

qualidade da água, com

contribuições contaminantes pela atividade

industrial e agrícola,

suinocultura.

Carência de monitoramentos sistemáticos de

qualidade da água. Rio Ijuí

mais degradado, valores baixos

de OD no inverno.

Carência de monitoramentos sistemáticos de

qualidade da água. Qualidade

satisfatória especialmente

no rio Butuí que é um dos

ambientes mais preservados.

Não se dispõe de muita informação sobre a qualidade

da água. A qualidade da água é

afetada pelas atividades

agropecuárias, vertido de efluentes

domésticos e resíduos urbanos. Também provável alteração devido à

exploração de mineração.

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Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Usos da água

Abastecimento rural, urbano, diluição de

efluentes. Atividades recreativas, pesca.

Abastecimento rural, urbano,

diluição de efluentes. Atividades

agropecuárias, florestal. Atividades recreativas, pesca.

Atividades recreativas,

pesca.

Abastecimento urbano, rural, agropecuário,

industrial, diluição de efluentes. Atividades

recreativas, pesca.

Diversos usos: agrícolas,

suinocultura. Abastecimento

urbano, industrial, rural e

animal.

Diversos usos: lazer, pesca, energia, uso

pecuário. Disponibilidade hídrica baixa,

com predomínio do uso para

irrigação, abastecimento

urbano, industrial, rural e

animal.

Diversos usos: lazer, pesca, energia, uso

pecuário. Disponibilidade hídrica baixa,

com predomínio do uso para irrigação de

arroz no Butuí. Abastecimento

urbano, industrial, rural e

animal.

Disponibilidade hídrica baixa, com predomínio do uso

para irrigação. Abastecimento

urbano, industrial, rural e animal.

Atividades recreativas, pesca.

Fitoplâncton densidade, riqueza, diversidade, dominância, florações.

Praticamente não existem dados

disponíveis. Só para o arroio

Ramón há um registro de florações de

cianobactérias no verão em períodos de

seca.

Dados escassos, desatualizados.

Baixa densidade, dominância de

Bacillariophyceae, alta diversidade.

Florações no verão em períodos de

seca.

Não existem dados disponíveis.

Dados escassos. Em geral baixa densidade de

agosto a novembro, com dominância de Bacillariophyceae,

aumento da abundância a partir

de dezembro. Florações de

Cianobactérias em verão e outono. Alta diversidade. Maior

densidade em águas baixas. 148

taxa.

Dados escassos e

desatualizados. Baixa densidade em Comandaí, com dominância de diatomeas,

ocasionalmente Chlorophyceae. Alta diversidade.

Dados escassos e

desatualizados. Predomínio de

diatomeas. Baixa

densidade.

Dados escassos.

Predomínio de diatomeas,

seguidas pelas algas verdes.

No Piratini densidade mais elevada, com florações. Alta diversidade.

Escassos dados, valores de clorofila elevados (Classe 2,

CONAMA), alta concentração de

cianobactérias em alguns setores,

(Anabaena crassa)

Zooplâncton densidade, riqueza, dominância.

Não existem dados disponíveis.

23 espécies no Aº Chimiray

Não existem dados disponíveis.

29 espécies. Dominância de Rotíferos. Baixa

densidade e moderada riqueza e

diversidade.

Dados escassos. Baixa

densidade do zooplâncton,

com dominância de Rotíferos.

Moderada riqueza.

Dados escassos. Moderada

riqueza e baixa densidade do zooplâncton,

com dominância de Rotíferos.

Dados escassos. Baixa

densidade do zooplâncton,

dominância de Rotíferos. Moderada riqueza.

Não existem dados disponíveis

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Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Bentos densidade, diversidade, riqueza, dominância

Escassos dados disponíveis. Fauna tipicamente reófila.

Dados escassos. 23 espécies no Aº

Chimiray. Fauna tipicamente

reófila.

Não existem dados

disponíveis.

Densidade moderada. Baixa

diversidade. Quironômidos e

Oligoquetos mais abundantes.

Maior riqueza e densidade que

o curso principal do rio

Uruguai, diversidade moderada.

Maior riqueza e densidade que

o curso principal do rio

Uruguai, diversidade moderada.

Maior riqueza e densidade que

o curso principal do rio

Uruguai, diversidade moderada.

Não existem dados disponíveis.

Fauna Íctica

Escassos estudos ictiofaunísticos. No arroio Yabotí

foram registradas 59 espécies, as ordens com maior número de espécies foram Characiformes (31 sp.) e Siluriformes

(18 sp.)

Escassos estudos ictiofaunísticos.

Ausência de estudos

ictiofaunísticos extensivos.

Existem dados sobre estudos citogenéticos e

evolutivos sobre: Hoplias

malabaricus, Rhamdia hilarii,

R. quelen, Moenkhausia

sanctae filomenae

Escassos estudos ictiofaunísticos extensivos. 7 Ordens, 22

Famílias, 49 Gêneros e 78

espécies. Com relação às áreas

críticas no ciclo de vida necessidade

de conservar a parte baixa dos

tributários, como forma de manter

as áreas de criação dos

alevinos de várias espécies,

especialmente onde não há

lagunas marginais.

Ausência de estudos

ictiofaunísticos extensivos.

Não se dispõe de dados da

bacia, assume-se que tem a

mesma ictiofauna que o rio Uruguai. Áreas críticas

no ciclo de vida conservar a

parte baixa dos tributários para

manter as áreas de

criação dos alevinos onde

não há lagunas marginais.

Ausência de estudos

ictiofaunísticos extensivos. A maioria das

espécies possui

estratégia reprodutiva não

migradora. Necessidade

de conservar a parte baixa dos

tributários, para manter as

áreas de criação dos

alevinos, especialmente onde não há

lagunas marginais.

Ausência de estudos

ictiofaunísticos extensivos. A maioria das

espécies possui

estratégia reprodutiva não

migradora. Necessidade

de conservar a parte baixa dos tributários para

manter as áreas de

criação de várias

espécies, onde não há lagunas

marginais.

É uma das mais desconhecidas do estado. Ausência

de estudos ictiofaunísticos

extensivos. 160 espécies,

distribuídas em 11 ordens.

Possui muitas espécies de

elevado valor econômico, tanto

para a pesca como para a piscicultura.

Riqueza

Yabotí 59 espécies. Desconhece-se para

o resto das sub-bacias.

Aº Persiguero: 20 espécies; Aº Itacaruaré:25 espécies; Aº Chimiray: 23

espécies.

Não existem dados

disponíveis.

Se têm registrado 227 espécies na bacia, delas 87

espécies registradas

somente para esta região média.

170 se têm registrado no

Uruguai Médio, principalmente Characiformes e Siluriformes.

87 espécies registradas

somente para a região média.

170 se têm registrado no

Uruguai Médio, principalmente Characiformes e Siluriformes.

87 espécies registradas

somente para a região média.

170 se têm registrado no

Uruguai Médio, principalmente Characiformes e Siluriformes.

87 espécies registradas

somente para a região média.

Toda a sub-bacia tem 160 espécies. Rio Ibicui-Mirim: 81 espécies (8 ordens), Santa

Maria: 53 espécies (7 ordens), Ibicuí: 111 espécies (10

ordens).

Diversidade Yabotí alta Moderada. Não existem

dados. Alta. Não se tem informação.

Não se tem informação.

Não se tem informação. Alta.

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Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Endemismos, Espécies Exclusivas

2 espécies (Aº Yabotí).

Desconhece-se para o resto das sub-

bacias.

Não existem dados disponíveis.

Não existem dados disponíveis.

20 espécies endêmicas incluídas em quatro ordens e

quatro exóticas, entre elas a carpa e

a tilápia.

Não se tem informação.

Não se tem informação.

Não se tem informação.

Três espécies endêmicas

Austrolebias ibicuiensis, A.

Periodicus, Hypobrycon sp.

(não descritas para a ciência).

Espécies Raras, em Extinção

Dourado (Salminus brasiliensis), salmão

de rio (Brycon orbignianus). Não

existem dados para as outras sub-bacias.

Não existem dados disponíveis.

Não existem dados disponíveis.

5 espécies ameaçadas. Em perigo:

Dourado, (Salminus brasiliensis) surubim (Pseudoplatystoma coruscans), salmão

de rio (Brycon orbignianus).

Em perigo: Dourado, (Salminus

brasiliensis) surubim

(Pseudoplatystoma coruscans), salmão de rio

(Brycon orbignianus).

Em perigo: Dourado, (Salminus

brasiliensis) surubim

(Pseudoplatystoma coruscans), salmão de rio

(Brycon orbignianus).

Em perigo: Dourado, (Salminus

brasiliensis) surubim

(Pseudoplatystoma coruscans), salmão de rio

(Brycon orbignianus).

Em perigo: Dourado, (Salminus

brasiliensis) surubim

(Pseudoplatystoma coruscans), salmão

de rio (Brycon orbignianus).

Áreas de Desova

Desembocadura arroio Yabotí e

tributários maiores (Paraíso, Soberbio,

Canal Torto, Acaraguá).

Tributários maiores e nas escassas

lagunas adjacentes ao curso principal.

Não existem dados disponíveis.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Migração

Presença de 8 espécies migradoras marcadas: Pimelodus

maculatus, P. labrosus, Pterodoras

granulosus, Pseudopimelodus

zungaro,Luciopimelodus pati, Megalonema platanum, Leporinus

obtusidens, Rhinodoras d´orbignyi.

Presença de 8 espécies

migradoras marcadas: Pimelodus

maculatus, P. labrosus,

Pterodoras granulosus,

Pseudopimelodus zungaro,Luciopimel

odus pati, Megalonema

platanum, Leporinus obtusidens, Rhinodoras d´orbignyi.

Não existem dados disponíveis.

Dez espécies migradoras.

Com espécies migradoras.

Com espécies migradoras.

Com espécies migradoras.

Dez espécies migradoras de larga distância 6,23% do

total.

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Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Espécies de Valor Comercial

Espécies de valor comercial: Boga, Sabalo, Dourado,

Surubim e espécies de peixes

ornamentais (aquarismo). Tipo de

pesca: de subsistência e

esportiva.

Espécies de valor comercial: Boga, Sabalo, Dourado,

Surubim e espécies de peixes

ornamentais (aquarismo).

Espécies de peixes

ornamentais (aquarismo). Tipo

de pesca: de subsistência e

esportiva.

Uruguai Médio e inferior: 10 espécies

de importância comercial, 371

pescadores artesanais sem

licença e 670 com licença.

Garruchos e Porto Xavier (Brasil) (1 a 2 toneladas máximo

por pescador).

Dez espécies de importância

comercial / 181 pescadores artesanais.

Dez espécies de importância

comercial / 190 pescadores artesanais.

Dez espécies de importância

comercial / 150 pescadores artesanais.

Dez espécies de importância comercial.

40 pescadores artesanais.

Impactos

Importantes por seus enormes recursos naturais, de água

doce, atrativos turísticos, áreas

protegidas, escassa intervenção antrópica,

alta diversidade de flora e fauna. Área insuficientemente

conhecida.

Importantes por seus recursos

naturais, de água doce, notável

diversidade de flora e fauna, pastagens.

Com maior intervenção antrópica.

Importantes por seus enormes

recursos de água doce e notável diversidade de flora e fauna. Ambientes especiais: banhados, lagunas de

inundação, áreas de transição.

Importante pela grande diversidade

de habitats, corredeiras,

rodamoinhos, ilhas. Áreas litorais do rio e ilhas importantes

ambientes de refúgio e

alimentação.

Ambientes especiais, habitats de corredeiras,

banhados. Com intensa atividade

antrópica na área.

Ambientes especiais, habitats de corredeiras,

banhados. Com intensa atividade

antrópica na área.

Ambientes especiais, habitats de corredeiras,

banhados. Com intensa atividade

antrópica na área.

Banhados e áreas inundadas, lagos e açudes. Planícies de inundação e

áreas de transição de planícies de

inundação. Com importante atividade antrópica na bacia.

Vegetação Marginal e Macrófitas

Selva em galeria, (hidrófila) ou bosque ribeirinho com alta

diversidade de espécies. Habitats de

corredeiras com populações

exclusivas (Dyckia distachya, D.

brevifolia)

Campos com ilhotas de monte. Alta diversidade de espécies em

campos mesófilos e hidrófilos.

Albardão com bosque marginal de inundação,

capinzal periférico com alagamento

periódico, pirizais, plantas flutuantes

e submersas.

Bosque e selva em galeria, ilhas com bosque hidrófilo e

capinzais, macrófitas, reófitas.

Capinzais de Panicum spp. Pradarias de

Axonopus spp. Pequenos esteiros. Faixa ribeirinha com

marcada degradação.

Vegetação marginal

rupícola e de banhado, ilhas de vegetação e

macrófitas flutuantes.

Vegetação marginal

rupícola e de banhado, ilhas de vegetação e

macrófitas flutuantes.

Vegetação marginal

rupícola e de banhado, ilhas de vegetação e

macrófitas flutuantes.

Vegetação marginal preponderantemente

arbustiva, representada por

Calliandra tweediei, C. Selloi,

Phyllanthus sellowianus.

Vegetação de banhado e macrófitas flutuantes

(Eichornia, Salvinia, Azolla, Pistia).

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Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Ambientes Ecologicamente Estratégicos ou Particularmente Importantes

Desembocadura arroio Yabotí e

tributários maiores (Paraíso, Soberbio,

Canal Torto, Acaraguá).

Tributários maiores e nas escassas

lagunas adjacentes ao curso principal.

Não existem dados disponíveis.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Não se conhece com certeza,

possivelmente zonas da

desembocadura de tributários.

Espécies raras, vulneráveis, endêmicas e ameaçadas

Araucaria angustifolia, Calyptranthes tricona, Dalhedtsia sp. Dyckia

sp., Zephyranthes flavissima, Laffoensia

nummularifolia, samambaias

arborescentes, Podocarpus lambertii,

todos do Parque Moconá. Do outro trecho sem dados

disponíveis.

Butia yatay subsp paraguariensis. Grandes trechos

sem dados disponíveis.

No há dados disponíveis.

De Moconá e Turvo (ver Anexo Flora). O resto do trecho sem dados disponíveis.

Numerosas espécies (ver

Anexo I Flora).

Numerosas espécies (ver

Anexo I Flora).

Numerosas espécies (ver

Anexo I Flora).

Numerosas espécies (ver Anexo

I Flora).

Identificação do Estado de Conservação

Conservam-se os remanescentes mais contínuos e menos alterados da Selva. Ambiente único de

selva, papel fundamental na conservação.

Zona com maior atividade antrópica e degradação da Selva, campos e

malezales, remanescentes de selva com diferente

estado de conservação.

Extensas áreas com alta

biodiversidade, de papel fundamental na conservação.

Sem caracterização estrutural e

florística, o setor da Selva em Galeria do

rio Uruguai foi considerada como AICAs e corredor biológico. Sem dados sobre as

ilhas do rio Uruguai.

Pouca caracterização

estrutural e florística,

degradação das faixas de bosque

em galeria. Vegetação

degradada devido à ocupação do

entorno e a evolução dos processos de

industrialização.

Pouca caracterização

estrutural e florística,

degradação das faixas de bosque

em galeria (drenagens e

represamentos) Sub-bacia do Ijuí

é a mais degradada devido

à ocupação do entorno, a

evolução dos processos de

industrialização.

Pouca caracterização

estrutural e florística,

degradação das faixas de bosque

em galeria (drenagens e

represamentos) Vegetação

degradada devido à ocupação do

entorno, a evolução dos processos de

industrialização.

Sem caracterização estrutural e florística.

Sub-bacia do Ibicuí inclui os ambientes mais conservados por ser menor a exploração dos

recursos naturais e pela existência da Reserva Biológica

de São Donato.

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Subáreas Características

Sierras de Misiones e Turvo Da Planície Del Aguapey Subárea Fluvial

(rio e ilhas) Santa Rosa Ijuí Piratini Ibicuí

Ocorrência de Unidades de Conservação e Áreas Legalmente Protegidas

Parque Provincial Moconá, Reserva de

Biósfera Yabotí, Parque Prov.

Araucária, Reserva Florestal Guarani, Reserva Priv. San

Miguel da Fronteira, Res. de Uso Múltiplo

Cuartel Victoria, Refúgios de Vida

Silvestre Chancay, Chachí na Argentina.

No Brasil, Parque Estadual do Turvo

Reserva Uso Múltiplo Cerro Azul.

Monumento Nacional Saltos del

Moconá.

Reserva Biológica de

Ibirapuitã (Alegrete),

Estância Santa Isabel do Butuí.

Reserva Biológica

Banhado de São Donato

Existem várias áreas de reservas biológicas, entre elas a Reserva

Biológica de Ibicuí Mirim, PE do

Espinilho e áreas de preservação permanente

especialmente de vegetação marginal.

Áreas de Interesse Ecologicamente Relevante

Ruínas Jesuíticas .

Área valiosa de Pastagem

proposta para conservação.

Também pela alta riqueza de aves.

Monumento Nacional Saltos del

Moconá. Mata Atlântica protegida no Brasil por Lei

11428.

Mata Atlântica protegida no Brasil por Lei

11428.

Mata Atlântica protegida no Brasil por Lei

11428.

Mata Atlântica protegida no Brasil por Lei

11428.

Usos do Solo

Atividade florestal. No sul da região cultivo de tabaco, essência, cítricos, erva mate,

chá.

Exploração florestal e agrícola intensiva. Cultivo de cana de açúcar, erva mate. Atividade florestal e

pecuária. Em Corrientes arroz, chá, erva mate,

atividade florestal e pecuária.

Avance da fronteira florestal e pecuária. Cultivo

de arroz.

Exploração florestal e agrícola.

Cultivos anuais de soja, milho, trigo e feijões, aveia, impõe

regas de contaminação por pesticidas. Gado bovino, porcos e aves

de curral.

Cultivos anuais, principalmente

soja com irrigação. Riscos

de contaminação

por agrotóxicos Também milho,

trigo, feijão, mandioca. Gado bovino, porcos e aves de curral.

Cultivos anuais de soja, milho, trigo, arroz. No Butuí plantação

de arroz irrigado. Com

riscos de contaminação e

disputas pelo uso da água. Gado bovino, porcos e aves

de curral.

Prevalece a atividade pecuária e

cultivo de arroz. Também soja e

trigo. Solos com alta suscetibilidade à

erosão. Gado bovino e suíno.

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2.2.4.1 Subárea de Misiones e Turvo

Na Argentina compreende a área da província de Misiones que se estende do arroio Yabotí ao norte, até o arroio Once Vueltas ao sul, e no Brasil inclui o Parque Estadual do Turvo.

Localizada no Bioma Mata Atlântica, é uma subárea onde se conservam os remanescentes mais contínuos e menos alterados da Selva Mista com uma elevada riqueza de espécies e um local prioritário para a conservação. Incluem-se dentro desta região extensas áreas protegidas como a reserva Biósfera Yabotí, Parque Nacional Moconá e Estadual do Turvo.

Os cursos tributários das serras de Misiones se caracterizam por sua maior longitude com respeito à subárea da Planície, as sub-bacias apresentam águas cristalinas, bem oxigenadas, fundos rochosos e descontinuidades de distintos tipos em seu percurso, exibindo saltos e corredeiras de variáveis alturas, entre as quais se desenvolvem poças e remansos. Quando se produzem as chuvas, suas águas viram turvas pelo sedimento e começa a crescer a grande velocidade pelo efeito represa, somado à profunda depressão que formou com sua progressiva erosão hídrica. Isto provoca um aumento da altura das águas em forma repentina. Entre os mais importantea pela área da bacia e vazão são: o arroio Yabotí, Paraíso, El Soberbio, Saltito, Canal Torto e Acaraguá.

Praticamente não se contam com dados de qualidade da água, plâncton, bentos e peixes destas sub-bacias. Apesar do escasso volume de informação disponível na subárea, é possível inferir, com base na qualidade da água, que o oxigênio dissolvido é satisfatório, o que favorece o estabelecimento da fauna aquática aeróbica. O maior problema é a concentração de fósforo que aumenta consideravelmente o nível de eutrofização, com potencial desenvolvimento de cianobactérias, como foi registrado em algumas subáreas. Tampouco existe informação atualizada (baseada em amostragens a campo) sobre a vegetação, a exceção do Parque Provincial Moconá. Com respeito ao Parque Estadual do Turvo, onde se encontram os saltos de Moconá, compreende uma área de 17.491 hectares, e é praticamente o único lugar na margem esquerda do rio Uruguai que conserva a selva ou mata primária, pois no resto da região foi substituída por cultivos.

Nos últimos anos se têm registrado longos períodos de seca, principalmente no verão, ocasionando sérios problemas pela escassez de água na zona sul desta subárea, e pela aparição de proliferações de cianobactérias durante os períodos sem chuvas e com altas temperaturas, como o registrado na toma de água do arroio Ramón.

2.2.4.2 Subárea da Planície

Estende-se do arroio Once Vueltas ao norte até a sub-bacia do rio Aguapey, compreende os arroios do sul de Misiones, em território argentino, (entre eles o arroio Alipio, Guerrero, Portero, Itacaruaré, Santa Maria, Pesiguero, Barrero, Concepción e Tunas), o arroio Chimiray, que constitui o limite com a província de Corrientes, e outros arroios pequenos do norte de Corrientes, como o Garabí, o Ciriaco, o San Pedro e o Johazá.

Desde Panambi, ao sul, até Garruchos, estendem-se os campos naturais e malezales, com predomínio de capinzais mesófilos e higrófilos, alternando com alguns remanescentes de selva.

Estas sub-bacias se localizam em uma zona com maior degradação por atividade antrópica. As sub-bacias desta unidade de análise são relativamente menores, de baixa pendente, menor velocidade da corrente com baixo poder erosivo e baixa densidade de desaguamento. Localizam-se em zonas de fratura e com intensa acumulação.

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A informação sobre os ecossistemas aquáticos, incluindo plâncton, bentos e ictiofauna desta região, é escassa e em geral desatualizada, nos últimos anos se registraram problemas pela escassez de água e pela aparição de florações de cianobactérias durante os períodos de secas e de altas temperaturas. Não há informação primária atualizada sobre as espécies vegetais da zona dos campos desta subárea, principalmente desde San Javier (Misiones) a Santo Tomé (Corrientes).

2.2.4.3 Subárea do Aguapey

Compreende a sub-bacia do arroio Aguapey na província de Corrientes, Argentina, e assim como o rio Ibicuí, situa-se em uma área deprimida e, portanto, com baixa velocidade da corrente. Escorre através de um dos pediplanos típicos da Chapada Sul Misionera - Nordeste Correntina que dão à paisagem um aspecto de suaves colinas escalonadas, em meio a uma série de banhados, recebendo por sua margem direita um de seus escassos tributários, o arroio Santo Tomás. Seu vale corre sobre uma vasta planície quase plana, margeado por amplos esteiros e banhados de entre 2 e 5 km de largura em cada margem, com solos de tipo argiloso, do tipo ou família dos Malezales Correntinos. Após percorrer 260 km sobre esta vasta e quase deserta planície de Corrientes, desemboca ao leste da localidade de Alvear, no rio Uruguai. Este tributário apresenta a maior vazão média (84 m3/s) dos afluentes da margem argentina considerados neste estudo.

Não se dispõe de informação sobre a qualidade da água e comunidades aquáticas deste arroio. Tampouco sobre a composição florística das bordas de cursos e corpos de água, de macrófitas (palustres e flutuantes entre outras), baseada em levantamentos de campo.

2.2.4.4 Subárea Fluvial

Compreende o curso principal do rio Uruguai, saltos, corredeiras e ilhas. Estas características geomorfológicas se mantêm ao longo de todo a área de estudo, desta forma, esta subárea abrange o trecho do rio desde sua confluência com o arroio Pepirí Guazú até a desembocadura do rio Quaraí, e constitui o limite entre Argentina e Brasil. A montante da confluência com o arroio Pepirí Guazú, 5 km, encontram-se os Saltos del Moconá (Yucumá), produzidos por um derrame lateral, em sentido longitudinal ao curso, de 3 km de longitude.

A espessura do horizonte de solos vermelhos é menor que o da região costeira do Paraná e apresenta traços de imaturidade, com relação ao grau de desenvolvimento dos processos erosivos.

Ao longo do rio Uruguai se detecta a existência de um grande número de rápidos. Trata-se de ressaltos (localmente denominados “corredeiras”) de distinta ordem de importância que estão presentes no perfil longitudinal do rio. Em alguns casos é evidente que as discordâncias topográficas indicadas têm migrado a montante mediante o processo de erosão retrocedente. Este mecanismo poderia explicar as notáveis variações que apresenta a largura do canal fluvial deste rio, as que em alguns casos são muito abruptas (ex. a partir de Garruchos; desembocadura do rio Comandaí; etc.).

Um grande número de ilhas de diversos tamanhos se localiza sobre o rio Uruguai, entre as mais importantes estão: ilha de Dina, Pucha para Atrás, Chafariz, Del Borracho, San Javier, Itacaruaré Grande, Itacaruaré Chica, Piratiny, Cerrito e San Lucas Grande. Têm características morfológicas superficiais e deposicionais.

Contam-se com alguns dados de monitoramentos sistematizados de qualidade de água, em geral desatualizados. O rio se caracterizou por possuir águas bem oxigenadas, elevada concentração de sólidos e turbidez, nutrientes mais elevados que os do rio Paraná, valores baixos a moderados de clorofila a, densidade do fitoplâncton baixa em outono e inverno e mais alta no verão.

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A partir do ano 2004 foram mais frequentes as florações de cianobactérias potencialmente tóxicas, registradas em todo o trecho desde Panambi a Monte Caseros, nos meses de verão e princípios do outono (existem registros dos anos 2000, 2004, 2005, 2008 e 2009).

São escassos os estudos ictiofaunísticos extensivos, como também se carece de monitoramentos sistemáticos das comunidades planctônicas e bentônicas. Desconhece-se a composição da flora associada a corredeiras e ilhas e não se dispõem de estudos primários sobre a vegetação ribeirinha do rio Uruguai e diferentes afluentes.

2.2.4.5 Subárea Santa Rosa

Esta região compreende um conjunto de 7 sub-bacias contíguas afluentes da margem esquerda (brasileira) do rio Uruguai (Rios Turvo, Lajeado Grande, Buricá, Santa Rosa, Santo Cristo, Amandaú e Comandaí). Tratam-se de cursos de água pequenos com um máximo de 2.500 km2 de área de drenagem e baixo potencial hidrelétrico.

As bacias se localizam na província hidrogeológica do Planalto Meridional, o clima predominante é temperado, chuvoso, com uma temperatura média anual de 20ºC e uma precipitação média de 1.900 mm.

O uso do solo da subárea está destinado principalmente ao cultivo de soja, em rotação com milho, feijões, trigo e aveia e também a pecuária para produção de carne e leite. Outro uso importante pelo forte poder de poluição dos mananciais é a suinocultura. O fator de erosão na área é alto. Os principais usos da água são: irrigação, urbano, industrial, rural e animal.

Existem escassos estudos sobre a qualidade da água e ausência de investigações extensivas referida à ictiofauna destes cursos hídricos.

2.2.4.6 Subárea Ijuí

Esta região compreende a sub-bacia do rio Ijuí sobre margem brasileira e constitui um dos cursos tributários do rio Uruguai de maior importância, com uma área de drenagem de 10734 km2. Caracteriza-se por possuir um enorme potencial hidrelétrico ainda pouco explorado.

O clima predominante é temperado, chuvoso, com uma temperatura média de 20ºC e uma precipitação média anual de 1.800 mm. Localiza-se na zona do Planalto do Rio Grande do Sul, discorre sobre rochas vulcânicas basálticas e ácidas. Os padrões de drenagem superficial exibem formas retangulares angulosas, devido ao forte controle estrutural exercido pelos alinhamentos tectônicos e com uma densidade de drenagem elevada. O rio é sinuoso, e é comum a presença de ilhas, níveis de terraços e saltos de diferente magnitude.

O fator de erosão é alto e o manejo do solo na área gera sedimentos finos que são transportados pelo rio. A bacia do rio Ijuí é a mais degradada no aspecto ambiental, devido à grande ocupação do entorno e à evolução dos processos de industrialização, com numerosos empreendimentos hidrelétricos de pequeno porte. Há uma intensa atividade agrícola pecuária, com cultivos de soja, trigo, milho, feijão, mandioca e gado para carne e leite.

Uso da água destinada principalmente para: irrigação, urbano, industrial, rural e animal. Existem riscos de contaminação pelo uso de agroquímicos.

Os estudos sobre a qualidade da água são escassos e se carece de estudos ictiofaunísticos extensivos nestes cursos de água.

Page 105: 2.2 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS · indicadas têm migrado a montante mediante o processo de erosão retrocedente. O mecanismo

INV.URG-GE.00-IT.4001-(P)

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2.2.4.7 Subárea Piratini

Esta região compreende um conjunto de sub-bacias contíguas de afluentes do rio Uruguai sobre a margem brasileira, que ocupam uma área aproximada de 16.000 km2, os rios principais são o Piratini, Icamaquã e Butuí. O clima predominante é temperado, chuvoso, com uma temperatura média de 20ºC e uma precipitação média anual de 1.700 mm. As bacias se localizam em uma região de transição entre o Planalto e a Campanha. Entre eles o Piratini é o afluente mais importante, de hábito sinuoso, meandriforme, com ilhas, níveis de terraços e saltos no perfil longitudinal. O rio Icamaquã possui potencial de geração de energia, em troca, a bacia do Butuí é utilizada para a plantação de arroz.

O manejo do solo das sub-bacias, especialmente do Piratini, gera sedimentos finos que são transportados pelo rio, com alto fator de erosão. A região se caracteriza por solos de alta fertilidade, destaca-se o cultivo de soja, trigo, milho e arroz irrigado por inundação. Existem muitas represas para acumulação de água.

São escassos os estudos sobre a qualidade da água e a ictiofauna nestes cursos de água. A qualidade da água é satisfatória especialmente no Butuí, que é um dos ambientes mais preservados.

O uso da água está destinado principalmente para: irrigação, urbano, industrial, rural e animal. Existe a possibilidade de disputas pelo uso da água nas zonas de cultivo de arroz.

Nesta subárea se localiza uma zona prioritária para a conservação da Biodiversidade, os “Campos da Campanha”, para o qual há pouca informação sobre as espécies que compõem sua flora. Também se encontra a reserva biológica de São Donato, importante pela riqueza de sua flora e fauna.

2.2.4.8 Subárea Ibicuí

Corresponde à bacia do rio Ibicuí sobre margem brasileira, com uma área de drenagem aproximada de 50000 km2. Trata-se de uma bacia característica de rios de Campanha, localizado em uma área deprimida, cursos largos com planície de inundação, sem corredeiras. O clima predominante é temperado, chuvoso, com uma temperatura média anual de 18,8ºC e uma precipitação anual de 1.672 mm. O fator de erosão é alto e a concentração média anual de sedimentos é superior a 100 mg/m3.

A base econômica preponderante é a agropecuária, destacando-se, principalmente, o cultivo de arroz irrigado, que é o principal usuário do recurso hídrico. A atividade pecuária para carne, leite e o consumo industrial é insignificante nesta subárea.

O uso significativo dos recursos hídricos e a construção de represas para irrigação de arroz tem gerado conflitos com o abastecimento público em épocas de estiagens extremas. Há também atividade de mineração (argila, ágata e ametista), a qual colabora na degradação da qualidade dos mananciais e o aumento dos depósitos de sedimentos, obstruindo a drenagem dos rios. A sub-bacia está afetada principalmente pelas atividades agropecuárias, despejo de efluentes de esgoto, domésticos e resíduos sólidos urbanos.

No há muita informação sobre qualidade da água superficial desta sub-bacia, os dados disponíveis indicam uma baixa carga orgânica, boa concentração de oxigênio dissolvido. Existem dados de ocorrência de florações de cianobactérias em alguns trechos do rio. Os estudos ictiofaunísticos foram escassos na bacia, constituindo uma das mais desconhecidas do estado.