2013 v edea anais
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Universidade Federal do Rio Grande FURG
Instituto de Educao - IE Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental - PPGEA
V EDEA Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental
Volume 1 Trabalhos Completos
Organizadores
Cludia da Silva Cousin Caio Floriano dos Santos
Wagner Valente dos Passos Carlos Roberto da Silva Machado
Humberto Calloni Filipi Vieira Amorim
Tamires Lopes Podewils Alana das Neves Pedruzzi
Anacirema da Silva Porciuncula Joselline Elena Rudez Guzman
Leidy Gabriela Ariza Claudionor Ferreira Arajo
Stfani do Nascimento Srgio Ronaldo Pinho Junior
EDIGRAF/FURG Rio Grande/RS
2013
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Universidade Federal do Rio Grande - FURG Instituto de Educao - IE
Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental - PPGEA
V EDEA Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental
A Educao Ambiental e os desafios da contemporaneidade
Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil 02 a 03 de dezembro de 2013
ISBN: 978-85-7566-312-7
EDIGRAF/FURG
Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental. Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil: FURG, 02 e 03 de dezembro de 2013.
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E56 Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental (5.: 2013 : Rio Grande, RS). Anais do V EDEA - Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental / Claudia da Silva Cousin ...[et al.] (org) - Rio Grande, RS, Editora da FURG, 2013.
2v.
Contedo: 1.v.: Trabalhos completos. 2.v.: Palestras. Evento realizado na Universidade Federal do Rio Grande - FURG, no perodo de 02 a 03 de dezembro de 2013.
Modo de acesso: http://www.educacaoambiental.furg.br/ ISBN: 978-85-7566-312-7
1. Educao. 2. Educao Ambiental. I. Cousin, Claudia da Silva. II. Santos, Caio Floriano dos. III. Passos, Wagner Valente dos. IV.
Machado, Carlos Roberto da. V. Calloni, Humberto. VI. Amorin, Filipi Vieira. VII. Podewils, Tamires Lopes. VIII. Pedruzzi, Alana das Neves. IX. Porciuncula, Anacirema da Silva. X. Guzman, Joselline Elena Rudez. XI. Ariza, Leidy Gabriela. XII. Arajo, Claudionor Ferreira. XIII. Nascimento, Stfani do. XIV. Pinho Junior, Srgio Ronaldo. XVI. Ttulo
CDD: 372.357
Os trabalhos publicados nos Anais do V EDEA Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental, no que se refere a contedo, correo lingstica e estilo so de inteira responsabilidade dos respectivos autores (as).
FICHA CATALOGRFICA Catalogao na fonte: Maria Helena Machado de Moraes - CRB 10/2142
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FICHA TCNICA Comisso Geral Wagner Valente dos Passos - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Caio Floriano dos Santos - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Humberto Calloni - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Claudia da Silva Cousin - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Carlos Roberto da Silva Machado - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Leidy Gabriela Ariza - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Joselline Elena Rudez Guzman - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Srgio Ronaldo Pinho Junior - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Claudionor Araujo- Universidade Federal do Rio Grande - FURG Comisso de Inscrio e Financeira Wagner Valente dos Passos - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Anacirema da Silva Porciuncula - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Caio Floriano dos Santos - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Comisso Cientfica Alana das Neves Pedruzzi - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Filipi Vieira Amorim - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Stfani do Nascimento - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Tamires Lopes Podewils - Universidade Federal do Rio Grande - FURG Editorao Eletrnica Maria Helena Machado de Moraes - Universidade Federal do Rio Grande - FURG
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PROGRAMAO 02/12 - Segunda-feira 8:00 - Credenciamento 8:30 s 9:00 - Solenidade de Abertura 9:00 s 12:00 - Mesa redonda "A Educao Ambiental e os desafios da contemporaneidade" com: Prof. Dr. Srio Lopez Velasco Prof. Dr. Humberto Calloni Prof. Dr. Vanessa Hernandez Caporlingua Mediadora: Prof. Dr. Elisabeth Brando Schmidt 12:00 s 14:00 - Intervalo e Visita a Sala Verde Judith Corteso 14:00 s 17:30 - Apresentao de Trabalhos Grupo de Trabalho 1 - Fundamentos da Educao Ambiental Grupo de Trabalho 2 - Educao Ambiental: Ensino e Formao de Educadores Grupo de Trabalho 3 - Educao Ambiental no formal 17:30 s 18:30 - Atividade cultural e lanamento de livros 19:00 s 21:00 - Avaliao interna do Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental (atividade destinada apenas para docentes e discentes do PPGEA) 03/12 - Tera-feira 8:30 s 12:00 - Apresentao de Trabalhos Grupo de Trabalho 1 - Fundamentos da Educao Ambiental Grupo de Trabalho 2 - Educao Ambiental: Ensino e Formao de Educadores Grupo de Trabalho 3 - Educao Ambiental no formal 12:00 s 14:00 - Intervalo e Visita a Sala Verde Judith Corteso 14:00 s 17:00 - Mesa redonda "A Educao Ambiental e os desafios da contemporaneidade" com: Prof. Dr. Luis Fernando Minasi Prof. Dr. Paula Corra Henning Prof. Dr. Maria do Carmo Galiazzi Mediador: Prof. Dr. Carlos Roberto da Silva Machado 17:00 s 18:00 - Sntese dos Grupos de Trabalho e lanamento do site do Observatrio dos Conflitos Socioambientais do Extremo Sul do Brasil. 18:00 s 19:00 - Atividade cultural e lanamento de livros 19:30 s 21:00 - Avaliao interna do Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental. (atividade destinada apenas para docentes e discentes do PPGEA)
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APRESENTAO
Caio Floriano dos Santos1
Wagner Valente dos Passos
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Claudia da Silva Cousin
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O V Encontro Dilogos com a Educao Ambiental EDEA foi realizado nos dias
02 e 03 de dezembro de 2013, organizado pelos discentes e docentes do Programa de Ps-
Graduao em Educao Ambiental PPGEA, na Universidade Federal do Rio Grande
FURG.
O evento teve como tema "A E ducao A mbiental e os d esafios d a
contemporaneidade", a fim de refletir sobre o papel da Educao Ambiental (EA) no
cenrio das jornadas de junho4
Entendemos com isso, que esse era um momento de se realizar tal anlise e
explicitar o que o PPGEA tem produzido, bem como identificar as diferentes formas de se
entender e trabalhar com a EA e, ainda, como essa diversidade constitui o campo
e tentando realizar um debate aberto sobre EA e suas aes.
Para isso, foi pensado um evento que discutisse as diversas questes, ali lanadas, a partir
do PPGEA. Ou seja, qual o papel do PPGEA nesse cenrio? O que o PPGEA tem
produzido no que se refere a tais questes?
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Assim, o evento foi composto em suas mesas por membros do corpo docente do
PPGEA, pertencentes s diferentes linhas de pesquisa, os quais apresentaram suas
perspectivas tericas e prticas sobre o fazer da EA (Volume II dos anais do evento). Os
trabalhos apresentados (Volume I dos Anais) seguiram as trs linhas de pesquisas do
PPGEA, intituladas: Educao Ambiental no Formal, Fundamentos da Educao
Ambiental, Educao Ambiental: Ensino e Formao de Educadores.
do
conhecimento da EA.
Para qualificar e intensificar o dilogo de saberes, foram organizadas rodas de
conversas que privilegiaram o apresentador e seu relato de experincia, buscando, com
1 Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande (PPGEA/FURG). Bolsista FAPERGS/CAPES. Pesquisador voluntrio do Observatrio dos Conflitos do Extremo Sul do Brasil. 2 Cartunista. Mestre em Educao Ambiental (PPGEA/FURG). 3 Doutora em Educao Ambiental. Coordenadora Adjunta do Programa de Ps-graduao em Educao Ambiental. Professora do Instituto de Educao da Universidade Federal do Rio Grande FURG. 4 Forma como foram chamadas as manifestaes de junho e julho de 2013 no Brasil no livro "Cidades Rebeldes" da Editora Boitempo, lanado no ano de 2013. 5 Campos so os lugares de relaes de foras que implicam tendncias imanentes e probabilidades objetivas. Um campo no se orienta totalmente ao acaso. Nem tudo nele igualmente possvel e impossvel em cada momento (Bourdieu, 2004, p. 27). In: BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da cincia: por uma sociologia clnica do campo cientfico. So Paulo: Editora UNESP. 2004.
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isso, entender as diferentes formas do fazer da EA. Com isso, esperamos que os trabalhos
apresentados na modalidade de comunicao oral e os textos das mesas redondas possam
contribuir com o pensar sobre EA e seu papel frente realidade posta, seja ela a da crise
ambiental ou a dos conflitos socioambientais.
Desejamos a todos uma excelente leitura e reflexo.
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INTRODUO
Alana das Neves Pedruzzi6Filipi Vieira Amorim
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Stfani do Nascimento
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Tamires Lopes Podewils
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As discusses em torno da sade e da sustentabilidade do Planeta como
problemtica ambiental contempornea e globalizada tm aumentado consideravelmente
nas ltimas dcadas. Desse modo, inmeras so as propostas e reflexes para o
enfrentamento desta, que surgem de todos os campos do conhecimento. O horizonte
comum dessa multiplicidade de reas enfatiza a (pr) ocupao comum com a manuteno
da vida humana na Terra. Nesse contexto, a Educao, entre as mltiplas reas envolvidas
com a problemtica ambiental, tambm est incumbida de contribuir com propostas que
levem superao e transformao do que est legitimado enquanto crise scio-ecolgica-
ambiental, sob a perspectiva denominada Educao Ambiental.
Nesse cenrio, o V Encontro e Dilogos com a Educao Ambiental - EDEA,
baseado nas trs linhas de pesquisas que orientam o Programa de Ps-Graduao em
Educao Ambiental - PPGEA, da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, e
organizado por docentes e discentes do referido programa, buscou discutir o que, em
mbito nacional, tem se construdo, constitudo, pensado e refletido, no cerne dos desafios
sociais (econmicos, polticos e culturais) contemporneos, em sua ntima ligao com a
Educao Ambiental. Da a origem do tema gerador do evento: A Educao Ambiental e
os Desafios da Contemporaneidade.
Os artigos completos, apresentados neste e-book, esto dispostos conforme os
Grupos de Trabalho do evento onde cada texto foi apresentado por seus autores e autoras.
uma gama de ensaios frutos de pesquisas em diferentes nveis, da educao formal
educao no formal, resultantes de trabalhos de iniciao cientfica, de graduao, ps-
graduao e iniciativas no formais ligadas Educao Ambiental, a saber: i) GT 1 -
6 Bacharel em Histria; Mestranda em Educao Ambiental (PPGEA-FURG); [email protected] 7Licenciado em Cincias Biolgicas; Mestre em Educao; Doutorando em Educao Ambiental (PPGEA-FURG); [email protected] 8Licenciada em Pedagogia; Mestranda em Educao Ambiental (PPGEA-FURG); [email protected] 9 Licenciada em Cincias Biolgicas; Mestranda em Educao Ambiental (PPGEA-FURG); [email protected]
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Fundamentos da Educao Ambiental; ii) GT 2 - Educao Ambiental: ensino e formao
de educadores e educadoras; iii) GT 3 - Educao Ambiental no formal.
Os possveis interlocutores e interlocutoras deste e-book encontraram, nos trabalhos
do GT 1- Fundamentos da Educao Ambiental, abordagens ligadas discusso
epistemolgica, filosfica, tica, histrica, antropolgica, sociolgica da Educao
Ambiental. Os trabalhos reunidos nesse grupo trazem importantes definies e variadas
compreenses entre as relaes estabelecidas no metabolismo Sociedade-Natureza, e
favorecem a atualizao de discusses que permeiam a atual crise scio-ecolgica-
ambiental.
Os trabalhos com abordagens voltadas aos contextos educativos institucionalizados
e com objetivos direcionados a formao docente esto reunidos no GT 2 - Educao
Ambiental: ensino e formao de educadores e educadoras. No cerne dessas propostas
encontraremos o horizonte comum da Educao Ambiental nos aspectos educativos e
pedaggicos referentes s questes ambientais emergentes nesta contemporaneidade.
O GT 3- Educao Ambiental no formal, remete os leitores e leitoras ao que se
tem pensado no conjunto estabelecido entre a Educao Ambiental e os movimentos
sociais, bem como entre questes de diversidade e alteridade desses grupos. Nessa esteira,
as discusses transpassam gneros e geraes humanas, compreenses sobre sade coletiva
e qualidade de vida, relatos de pesquisas em comunidades tradicionais e processos na
ordem da gesto e do licenciamento ambiental.
Durante todo o evento, dilogos foram sistematizados em nome de novas
compreenses e possibilidades de intervenes na realidade com a Educao Ambiental.
Mas, sobretudo, alm dos esforos tecidos em prl da legitimao de uma Educao
Ambiental engajada aos ideais intencionais que alimentam a crena e a compreenso de
que uma outra realidade tanto possvel quanto necessria, inmeros desafios ficaram
inscritos e entendidos como problemas ainda sem respostas. Destarte, nesse reconhecido
esforo coletivo em nome da compreenso, interveno, e transformao da realidade, ao
mesmo tempo, identificamos que a diversidade de saberes em torno dos desafios da
contemporaneidade podem subtrair as reais e especficas necessidades das comunidades
humanas em nome de interesses individuais e de mercado. O fato que, embora sejamos
defensores da multipluralidade da Educao Ambiental, esta permite que algumas lacunas
sejam preenchidas por perspectivas terico-prticas no solidrias, no coletivas, no
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sustentveis, em nome dos ideais capitalistas: economicamente desiguais e ecologicamente
insustentveis.
Outro ponto digno de meno o resultado do afloramento da chamada crise
ambiental contempornea e a emergncia dos temas em torno da Natureza. A Educao
Ambiental, pensando essa problemtica, tem sobreposto, por vezes, ideias
conservacionistas e pragmticas, em nome de uma preservao salvacionista. Assim, tais
abordagens ganham destaque em detrimento de propostas com vistas amplas ao que
estritamente condizente ao carter social (econmico, poltico e cultural) da crise e
necessidade de uma transformao desta. Isso ocorre justamente porque as primeiras
tratam, prioritariamente, de respostas imediatas, enquanto as segundas buscam, cada uma a
seu modo, valorizar a pergunta em nome da compreenso da realidade para, em seguida,
encaminhar as possibilidades de mudanas, buscas de respostas e transformaes.
Os possveis interlocutores e interlocutoras desse e-book tero a oportunidade de
identificar a denncia que fizemos acima, observando que o conjunto de artigos completos
aqui publicados, so, em geral, complementares uns aos outros. Encontrar-se-, na
totalidade da disposio dos grupos de trabalho, artigos que trilham perspectivas mais
conservadoras e pragmticas, outrossim, artigos com enfoques epistemolgicos e com
postulados longo prazo, de formao de educadores, de transies paradigmticas, mas
todos com objetivo comum: legitimar o potencial transformador da Educao Ambiental.
Igualmente e nesse sentido, deu-se as rodas de dilogos, com o reconhecimento da
necessidade de buscarmos comunicao entre particulares diferentes e complementares,
tornando salutar a diversidade de enfoques na Educao Ambiental.
Por fim, desejamos aos leitores e leitoras uma leitura produtiva, crtica e profcua,
para que possamos, cada vez mais, ampliar o debate e o dilogo na construo e
legitimao ininterruptas da Educao Ambiental.
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Sumrio
GT 1 - Fundamentos da Educao Ambiental
A natureza pampeana narrada na msica gacha......................................................................15
Virgnia Tavares Vieira, Paula Corra Henning Alguns discursos sobre Educao Ambiental em exame: fabricao de sujeitos na atualidade...........................................................................................................................................................24
Brbara Hees Garr, Paula Corra Henning, Priscila Oliveira da Silva
Cidade, identidade e ecologia..........................................................................................................35
Fabiane Pianowski Educao ambiental como poltica pblica: a construo da Agenda 21 Escolar nas e scolas municipais de Vacaria RS............................................................................................................44
Carolina Moretti Berto, Lcia Ceccato de Lima Educao ambiental e sujeitos miditicos.....................................................................................54
Renata Lobato Schlee, Virginia Tavares Vieira, Albina Peres Bernardes Educao ambiental, um olhar crtico no Ensino de Cincias.....................................................63
Manoella Ribeiro de Oliveira, Cleonice Puggian, Ana Francisca Leo da Costa Entre a pesca e a barbrie: experincia e saber da experincia diante do assdio do capital... ...........................................................................................................................................................74
Maicon Dourado Bravo
Os conflitos em torno da apropriao territorial e a q uesto ambiental no Pontal da Barra, Pelotas/RS, desde a perspectiva etnogrfica de mapeamento dos atores sociais.......................85
Gitana Cardoso da Silveira Nebel
Problematizando enunciaes nos Gibis do Chico Bento: ditos sobre a natureza....................97
Sergio Ronaldo Pinho, Rodrigo Silva Simes, Paula Corra Hennig Sustentabilidade ambiental e princpios da Termodinmica: uma reflexo l uz da obra de Nicholas Georgescu-Roegen..........................................................................................................105
Leila Cristina Aoyama Barbosa, Carlos Alberto Marques
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Teoria crtica, Ao Comunicativa e Educao Ambiental: contribuies para umaracionalidade ambiental................................................................................................................114
Jacqueline Carrilho Eichenberger, Vilmar Alves Pereira
GT 2 - Educao Ambiental: Ensino e Formao de Educadores e Educadoras
A Educao Ambiental na formao de educadores no Movimento Social da Agricultura Familiar..........................................................................................................................................124 Ionara Cristina Albani, Cludia da Silva Cousin
Anlise s obre a s C oncepes Filosficas relacionadas ao M eio A mbiente d os estudantes de Licenciatura em Fsica do IFSul...................................................................................................135
Gabriela Susana Andrade, Christiano Nogueira
Categoras de anlisis de la dimensin ambiental en programas de formacin de profesores de Qumica......................................................................................................................................145
Diana L. Parga Lozano, William M. Mora P., Yiny P. Crdenas R. Conhecer e compartilhar a realidade para sensibilizar a comunidade escolar numa proposta de aprendizagem transformadora em Educao Ambiental.....................................................154
Fabio Jos Klafke, Luciani Wienke Beiersdorff, Danielle Monteiro Behren Contextualizando a E ducao A mbiental n a e scola, c om b ase n a teoria S cio-Histrica.........................................................................................................................................165
Lilian Brasil Pereira, Iara Beatriz Voughan Pereira Educao Ambiental e currculo impasses e desafios..............................................................175
Maristela Dutra Educao Ambiental problematizadora na perspectiva de Paulo Freire.................................185
Renan Ribeiro Pimentel, Brbara Pereira Terres Justia ambiental, educao e tecnologias na Baixada Fluminense: resultados preliminares....................................................................................................................................194
Cleonice Puggian, Ellen Midi Lima da Silva, Jefferson Lima da Silva Percepo de duas professoras sobre as suas prticas em Educao Ambiental.....................205
Maria Jos Rodrigues, Lus Castanheira, Vtor Manzke
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Repensando a Educao Ambiental n a formao complementar e c ontinuada de professores......................................................................................................................................216
Jaqueline Gomes Nunes, Cassiano Pamplona Lisboa Repensando a formao do educador ambiental a partir de uma experincia de trabalho no Departamento Municipal de guas e Esgotos de Porto Alegre, RS, Brasil.............................224
Cassiano Pamplona Lisboa, Fernanda Saretta Subprojeto Pibid interdisciplinar Educao Ambiental: Aes que contribuem na formao de educadores ambientais..............................................................................................................232
Danielle Monteiro Behrend
GT 3 - Educao Ambiental No Formal
A Construo do Conhecimento Socioambiental um Estudo Interdisciplinar sobre o Potencial Ecoturstico de Cambar do Sul/RS............................................................................240
Andrea da Silva, Luzia Klunk A experincia dos parceiros ambientais.......................................................................................252
Marina Patricio de Arruda, Lucia Ceccato de Lima, Kau Tortato Alves A t emtica gua em questo: conceitos de a lunos do ensino fundamental durante o estgio supervisionado em Cincias..........................................................................................................260
Kassiana Miguel, Anelize Queiroz Amaral, Brbara Tobaldini A utilizao de cartilhas como instrumentos de Educao Ambiental na Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil........................................................................................................268
Carlos Alberto Genz Aes de Educao Ambiental em Unidades de C onservao Estaduais do Rio Grande do Sul....................................................................................................................................................278
Rita Paradeda Muhle Diagnstico preliminar sobre a aplicao da metodologia do aprendizado sequencial em atividades de Educao Ambiental vivencial...............................................................................289
Arianne Brianezi, Zysman Neiman Direitos Humanos Fundamentais e Cidadania: uma abordagem mediada pela Educao Ambiental........................................................................................................................................298
Simone Grohs Freire, Vanessa Hernandez Caporlngua
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Educao ambiental no formal na Cidade de Duque de Caxias: dilogo entre Instituies de Ensino Superior e organizaes sociais da Baixada Fluminense...............................................308
Leila Salles da Costa, Sebastio Fernandes Raulino, Milton Trajano de Oliveira Educao Ambiental: o aprendizado sequencial como experincia escolar alternativa.......................................................................................................................................319
Amanda Nascimento da Silva, Paulo Romeu Moreira Machado, Sandra Grohe Educao Ambiental para a participao cidad na formulao de polticas pblicas do setor pesqueiro artesanal........................................................................................................................329
Janaina Agostini Braido, Vanessa Hernandez Caporlingua Educao Ambiental, Histria Oral e Economia Solidria: imagens do mundo do trabalho na pesca artesanal...............................................................................................................................340
Caroline Terra de Oliveira, Victor Hugo Guimares Rodrigues Esportes surdos na constituio do ser social: o resgate histrico sob a perspectiva da Educao Ambiental......................................................................................................................348
Marco Aurlio Rocha di Franco, Gisele Maciel Monteiro Rangel, Lorena de Lima Oppelt Gnero na Contemporaneidade: suas controvrsias e complementaridades...........................357
Brbara Pereira Terres, Renan Ribeiro Pimentel O aluno interno do CaVG/IFSul sob uma perspectiva ambiental............................................366
Leandro Rodrigues da Silva, Angelita Soares Ribeiro, Luciane Soares Ribeiro Percepo ambiental no ensino de Biologia................................................................................376
Jefferson Lima da Silva, Manoela Ribeiro de Oliveira, Ellen Midi Lima da Silva Percepo e pertencimento: um estudo de caso sobre a relao dos cidados com o espao da cidade..............................................................................................................................................386
Luciele Nardi Comunello, Chalissa Beatriz Wachholz
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1. Fundamentos da Educao Ambiental
A natureza pampeana narrada na msica gacha1
Virgnia Tavares Vieira2
Paula Corra Henning3
Resumo O presente estudo tem como pretenso investigar a forma como vem sendo narrada a natureza, o meio
ambiente e a relao do homem com a paisagem natural na regio do pampa gacho, por meio da msica?
Para dar conta de responder a essa investigao, tomaremos como corpus discursivo, diferentes letras
compostas por artistas que estavam e esto intimamente atrelados a cultura de nosso Estado para colocar em
suspenso as enunciaes de natureza, de meio ambiente e homem. Neste estudo selecionamos como
metodologia algumas ferramentas da anlise do discurso a partir de Michel Foucault, operando
especificamente com os conceitos de discurso e enunciado. Sendo assim, apoiada em autores como Michel
Foucault, Maria Lcia Wortamann e Leandro Belinaso Guimares o estudo aponta para a msica como um
importante artefato cultural que auxilia na (re) produo de discursos, bem como coloca em operao uma
relao de poder ao fabricar verdades, produzir sentidos e constituir sujeitos.
Palavras-chave: Educao Ambiental. Msica. Natureza.
1 Esta pesquisa contou com financiamento do Programa Observatrio da Educao CAPES/INEP. 2 Bacharel em Msica pela Universidade Federal de Pelotas, Mestre em Educao Ambiental pela Universidade Federal
do Rio Grande - FURG e Doutoranda deste mesmo Programa de Ps-Graduao.
Participante do Grupo de Pesquisa Cultura, Subjetividade e Polticas de Formao. E-mail: [email protected] 3Professora Adjunta do Instituto de Educao, do PPG Educao em Cincias e do PPG Educao Ambiental da
Universidade Federal do Rio Grande FURG. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa de Cultura, Subjetividades e Polticas de Formao da PUCRS. Trabalha especialmente com Educao Ambiental e Mdias nos espaos escolares. E-mail:
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Introduo
Nas ltimas dcadas a msica cada vez mais desperta o interesse de pesquisadores
como um instrumento de grande relevncia para compreendermos a nossa histria e a
realidade que nos cerca. Alm disso, tratamos a msica como artefato cultural que (re)
produz saberes e verdades que nos interpelam e nos constituem enquanto sujeitos de um
determinado tempo social e cultural. Seguindo nesta mesma correnteza, podemos dizer que
na e pela cultura que vamos estabelecendo modos de ser, pensar, ver e agir no meio em
que vivemos.
Nossa proposta com o estudo que vimos realizando, convidar o leitor a refletir
sobre a importncia desta arte para problematizarmos como, por meio da msica, podemos
apreender a forma como vem sendo narrada a natureza na regio do Pampa, mais
especificamente, no sul do Rio Grande do Sul. Para isso, tomaremos como corpus
discursivo algumas obras de artsticas que estavam e esto intimamente atrelados a cultura
de nosso Estado. Podemos dizer que por meio da msica vamos sendo ensinados a olhar s
paisagens naturais do Pampa, bem como os hbitos e costumes do homem com esse
cenrio natural. Sendo assim, escolhemos dialogar entre o campo de saber da Educao
Ambiental e o da msica tradicionalista gacha, por entender que esta arte expressa a vida
e a cultura desses sujeitos e suas relaes com as paisagens naturais. Diante disso,
entendemos que tais obras vm produzindo discursos, saberes e verdades ante essa
natureza to enaltecida narrada pela msica gacha. Ressaltamos que o estilo de msica
pampeana escolhido para este estudo, so os ritmos como a Milonga, o Chamam, a
Chamarrita, entre outros.
Cultura e natureza
um manancial de alegria/A inspirao que extravasa/Quando a gente d de casa/Pra escutar um Buenos dias/ Cincerros de melodias/ Depois tudo se entrevera/ Num soluo de beleza/ Pra saudar a natureza/ Vestida de Primavera/ o quadro vivo mais lindo/ Que enternecido contemplo[...] O lindo capim
mimoso/ Prossegue o rodzio eterno/ De se queimar no inverno/ Pra renascer mais vioso no ciclo
maravilhoso/ Da tbua das estaes/[...] Na melodia campeira/ Que se faz cancha no espao/ Como
marcando o compasso/ Junto ao sabi-laranjeira/ H tanta autenticidade/ Nas vozes da natureza/ Que
resumem a beleza/ Da prpria simplicidade/ [...] O bordoneio da sanga/ Mas no s nos descampados/ A
Primavera incendeia/ Ela se enfeita e passeia/ Nas vilas e nos povoados/ Nos ambientes asfaltados/ Cidades
e capitais/ Pombas, bem-te-vi's, pardais em melodiosos arrulhos/ Repetem doces barulhos/ De tempos
imemoriais/ O domnio absoluto/ Que tem da gente e do mundo/ E o homem defronte a isso/ At parece
impossvel/ Vai se tornando insensvel/ Por fora de algum feitio/ um criminoso, um omisso/ Da forma
mais inconsciente/ Gente que j no gente buscando outra trajetria/ Depois da triste vitria/ De matar o
meio ambiente [...] (Payada Das Primavera - Jayme Caetano Braun, 1994).
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Somos constitudos por um discurso naturalista e romntico de natureza que se
instalou em nossa sociedade, principalmente a partir do sculo XVIII, com o movimento
da virada cultural e reforado pelo movimento romntico do sculo XIX. Mas no foi
sempre assim! Segundo Guimares, h uma multiplicidade de formas de ver, narrar e se
relacionar com a natureza (2008, p. 88). Segundo o autor, essas diferentes vises so
dadas a partir da histria e da cultura na qual estamos inseridos. Se adentrarmos a histria
do mundo ocidental, veremos as diferentes formas pela qual a natureza vm sendo contada
e significada na cultura, desde as grandes navegaes dos sculos XV e XVI: ora uma
natureza paradisaca, exuberante, ora uma natureza selvagem, temida. Foi com o projeto
civilizatrio, em contraposio ao prottipo medieval, que a natureza passou a ser vista
como o perodo das trevas, do inculto. Os ambientes considerados como naturais, ou
seja, matas, florestas e montanhas, no condiziam com a ideia de progresso que inaugurava
a virada cultural da modernidade. Porm, no sculo XVIII, com o fenmeno denominado
de novas sensibilidades, que a natureza passou a ser vista como boa e bela, quando as
paisagens naturais passaram a ser valorizadas e apreciadas pelo homem.
Esse culto natureza foi ainda mais realado com o aparecimento do movimento
romntico no sculo XVIII e XIX, que buscava ilustrar o lirismo e o sonho de um cenrio
devastado pela Revoluo Industrial. Diante disso, podemos evidenciar o quanto o ideal
que temos de meio ambiente e natureza construdo culturalmente.
Pensando a atualidade, gostaramos com este estudo, problematizar a viso que
hoje temos de natureza, principalmente no que tange a regio pampeana, alocada
especificamente no sul do Rio Grande do Sul. Quais as questes sociais, econmicas,
ambientais e culturais se entrelaam na construo de tais enunciaes? Podemos dizer que
na msica pampeana encontraremos enunciaes que nos remetero a uma separao entre
mundo natural e mundo humano?
Um campo a se estender imenso e plano onde cu e campo se encontram no
horizonte desta paisagem que gostaramos de falar um pouco. A regio do Pampa,
cenrio de mltiplos processos histricos-culturais, herana dos diversos povos que
habitaram estas regies, at nossos contemporneos, contriburam significativamente para
a construo da cultura pampeana. Para entendermos um pouco sua geografia, bem como
tais procedimentos culturais, trazemos sucintamente algumas consideraes deste campo
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imenso que foi cenrio/palco de grandes artistas, que por meio da msica, ao longo dos
tempos vm narrando o Pampa.
Em uma pesquisa prvia, pudemos observar o quanto se faz presente na msica
tradicionalista gacha peculiaridades que descrevem os hbitos e costumes dos sujeitos
pampeanos, principalmente em sua relao com a paisagem natural. Msicas estas que tem
por caractersticas cantar as coisas natureza e do meio ambiente. Com isso, ressaltamos a
importncia de olharmos para msica como um instrumento que capaz de produzir
discursos e verdades diante desse entrelaamento entre cultura e sociedade.
De acordo com Dos-Santos (2012), o pampa horizonte do viver e das relaes
socioculturais de diversos povos que ali se encontraram ao longo dos anos, desde os
indgenas at os nossos contemporneos (p. 51). Para o autor ela peculiar e
caracterstica, pois carregamos a herana de nossas colonizaes luso-espanhola,
indgena, africana, alem e italiana.
com esse intuito que o estudo se apresenta. Estabelecer um entrelaamento entre
msica, cultura e Educao Ambiental para problematizarmos: que ideal de natureza est
posto nas letras colocadas em suspenso? Qual relao existente entre o homem e as
paisagens naturais da regio sulina que compem e delineiam o Pampa? Jayme Caetano
Braun (1998) nos descreve um pouco desses campos nos dizendo que,
Pampa a plancie sem fim que vai do Rio Grande do Sul aos contrafortes dos
Andes na taiga da Cordilheira. o campo imenso a predeira, dos centauros campesinos, rio-grandenses e platinos, tits da raa campeira. Vem do Quchua e quer dizer, o campo aberto a planura, o descampado a lonjura, a vrzea que se destampa. Nele a liberdade acampa e o civismo no estanca. Animal cabea
branca tambm chamado de Pampa (p. 254 - 255).
De origem indgena o termo Pampa representa mais do que terras divididas
geograficamente entre esses pases. Esse amplo espao de terras compartilha culturas,
hbitos de vida e costumes que fazem parte da nossa histria, bem como da cultura do
gacho e desse povo pampeano que atravessam as fronteiras. A regio do Pampa foi alvo
de muitas disputas, principalmente entre portugueses e espanhis, naes essas que
lutavam pelo predomnio dessas terras, e que foram definindo suas fronteiras
principalmente aps os Tratados de Madri (1750), Santo Ildefonso (1777) e Badajs
(1811).
Inicialmente essas terras eram habitadas por ndios como os Charruas e Minuanos.
Com a chegada dos Jesutas espanhis que atravessaram o rio Uruguai com o desgnio de
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catequizar os ndios, muitas lutas se travaram. At a chegada dos Jesutas, os povos que
habitavam estes campos viviam da caa, da pesca e tambm da agricultura utilizando a
tcnica da coivara4. Produtos como a mandioca, o milho, a batata doce, o fumo, o feijo e a
erva-mate foram herdados dos ndios Guarani. Segundo Baioto e Quevedo (1997), foram
os Jesutas de So Miguel juntamente com os ndios guaranis, que introduziram nos vastos
campos das Misses as primeiras cabeas de gado, dando incio as estncias rio-
grandenses, caracterstica econmica do Pampa e que permanecem at os dias atuais.
No excerto abaixo, com a msica Me comparando ao Rio Grande apresentamos
um pouco do pampa.
Sou grito do quero-quero/No alto de uma coxilha/Sou herana das batalhas/Da
epopeia farroupilha/Sou rangido de carreta/Atravessando picadas/Sou o prprio
carreteiro/ra boi, ra boiada [...] Sou a cor verde do pampa/Nas manhs de
primavera/Sou cacimba de gua pura/Nos fundos de uma tapera/Sou lua,
sou cu, sou terra/Sou planta que algum plantou/Sou a prpria
natureza/Que o patro velho criou/ra ra boi Brasino/ra ra boi Pitanga/Boi
Fumaa, Jaguar/Olha a canga [...] (Me comparando ao Rio Grande Iedo Silva) [Grifos nossos].
A proposta de colocar em suspenso s enunciaes de natureza descritas em tantas
letras de msicas de artistas da regio pampeana se d no intuito de problematizarmos a
forma como vem sendo narrada a paisagem natural do pampa. O trecho apresentado nos
salienta elementos bastante comuns ao homem do campo e que contribui para a
constituio da paisagem natural destas terras como o quero-quero, a boiada, as coxilhas,
o rangido das carretas e a cor verde do pampa.
Com isso, ressaltamos mais uma vez a importncia de olharmos para msica
como um instrumento que capaz de (re) produzir discursos, modos de ser e viver diante
desse entrelaamento entre cultura e sociedade.
Na regio do Pampa, Fante (2012) ressalta que as grandes extenses de
monocultura na regio pampeana vm trazendo grandes prejuzos aos trabalhadores rurais
no que tange as questes de desemprego e danos sade provocados pelo uso de
agrotxicos. Alm disso, a substituio de campos nativos por extensas plantaes de
rvores como o eucalipto vem acarretando tambm nas mudanas relativas a questes
culturais em decorrncia das modificaes das paisagens naturais.
Diante das problemticas sociais, polticas, culturais e ambientais pela qual
estamos sendo atravessados, importante problematizarmos questes como as que aqui
4 Segundo Baioto e Quevedo esta tcnica consistia na limpeza do terreno para o plantio, atravs da derrubada da mata e
queima dos galhos (1997, p. 7).
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esto colocadas sob exame, to vigentes na atualidade e que muitas vezes so dadas como
j conhecidas, desbravadas e dominadas por ns. Que verdades nos atravessam e nos
fazem olhar para mundo de determinadas formas?
Entendemos que a verdade produzida, fabricada a partir de discursos que
fazemos circular como verdadeiro, ou seja, quando elegemos aquilo que deve ou no
funcionar como verdade. Foucault (2011) ao discorrer sobre a verdade nos diz que,
O importante, creio, que a verdade no existe fora do poder ou sem poder [...].
A verdade deste mundo; ela produzida nele raas a mltiplas coeres e nele
produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de
verdade, sua poltica geral de verdade: isto , os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instncias que
permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se
sanciona uns e outros; as tcnicas e os procedimentos que so valorizados para a
obteno da verdade; o estatuto daqueles que tm o encargo de dizer o que
funciona como verdadeiro (p. 12) [grifo do autor].
Diante disso, entendemos a arte, aqui especificamente a msica produzida nestas
regies do Pampa, como um importante artefato cultural que vem produzindo discursos e
verdades de uma cultura no qual esses sujeitos do Pampa esto inseridos. Como nos diz
Teixeira (1978) na msica Cu, Sol, Sul, Terra e Cor [...] Fazer versos cantando as belezas
desta natureza sem par/E mostrar para quem quiser ver, um lugar pra viver sem chorar
[...] este o Pampa, este o meu Rio Grande do Sul. So narrativas como essas e tantas
outras que descrevem o Pampa. Coxilhas, ps roseteados de campos, terra e cor, enfim,
uma natureza sem par! colocando em suspenso verdades como essas, descrita em letras
de msica que ao longo da histria vm nos ensinando o que o Pampa e como se d a
relao desses sujeitos com as paisagens naturais. O exemplo referenciado acima, nos
reporta a ideia que h um mundo natural constitudo em oposio ao mundo humano. H
tambm uma viso de natureza verde, onde tudo que se planta cresce e na qual o homem
aparece como um ser no pertencente a esse espao natural. Diante disso, questionamos: h
uma nica forma de olharmos para o mundo, para o meio que vivemos, para a natureza?
Ao discorrer sobre a importncia da cultura e as multiplicidades de vermos,
narrarmos e relacionarmo-nos com a natureza, Guimares ressalta que;
[...] na cultura, nesse espao de circulao e de compartilhamento de
significados, que vamos aprendendo a lidar com a natureza e, tambm, vamos
estabelecendo nosso lugar no mundo, ou seja, sabendo quem nos tornamos dia a
dia. Essa nossa insero na cultura, no momento histrico em que vivemos, nos
faz ver e estabelecer relaes com a natureza de determinadas formas. Nesta
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direo, podemos nos perguntar: h uma nica maneira de narrar, ler e ver a
natureza? (GUIMARES, 2008, p. 88).
Ao colocar em circulao enunciaes referentes a natureza, a forma como nos
relacionamos com o mundo natural, com o meio ambiente e a ao do homem no planeta,
entendemos que artefatos culturais como a msica, vo reproduzindo e constituindo
discursos e verdades relacionados ao campo da Educao Ambiental.
Logo abaixo apresentamos a forma como muitas vezes tal estilo musical vem
narrando o Pampa e assim fabricando verdades referentes a esta regio.
Um medo de andar solito, ouvindo vozes e gritos/E at do barco um apito na sua
imaginao/Olhos esbugalhados do moleque assustado, olhando aquele mar
bravo/Ora doce, ora salgado, num temporal de vero/Sem camisa na beirada
bombachita arremangada/Botou petio na estrada quando a areia lhe
guasqueou/Sentiu um arrepio com aquele ar frio que o aude e rio/E as guas que
ele viu no lhe provocou/Coqueiro e figueira dos matos e a bela Lagoa dos Patos
verdadeiro tesouro/Lago verde e azul que na Amrica do Sul/Deus botou pra
bebedouro/Tempos que ainda tinham o bailado da tainha/Quando o boto vinha
com gaivota em revoada/E entre outros animais no meio dos juncais/Surgiam
patos baguais e hoje no se v mais este smbolo da aguada/ Nas noites de lua
cheia, a gente sentava na areia/Para ver se ouvia a sereia entre as ondas
cantando/E hoje eu volto ali, no lugar em que eu vivi/Onde nasci quando guri me
olho lagoa em ti e me enxergo chorando (Lago Verde Azul Helmo de Freitas).
Mas que pampa essa que eu recebo agora/ Com a misso de cultivar razes/ Se
dessa pampa que me fala a histria/ No me deixaram nem se quer matizes?
Passam s mos da minha gerao/ Heranas feitas de fortunas rotas/ Campos
desertos que no geram po/ Onde a ganncia anda de rdeas soltas/ [...] Herdei
um campo onde o patro rei/ Tendo poderes sobre o po e as guas/ Onde
esquecido vive o peo sem leis/ De ps descalos cabrestiando mgoas/ O que
hoje eu herdo da minha grei xirua/ um desafio que a minha idade afronta/ Pois
me deixaram com a guaiaca nua/ Pra pagar um poro de contas/ Se for preciso,
eu volto a ser caudilho/ Por essa pampa que ficou pra trs/ Porque eu no quero
deixar pro meu filho/ A pampa pobre que herdei de meu pai [...] (Herdeiro da
Pampa Pobre, Gacho da Fronteira).
A primeira cano nos traz enunciaes de uma natureza bela, destacando
principalmente a Lagoa dos Patos, o lago verde e azul, como um dos grandes tesouros da
Amrica do Sul que ainda embeleza nossas terras, mas que no mais cenrio do bailado
das tainhas e de outros tantos animais, o que provoca uma grande tristeza refletida na
lagoa. J a segunda msica expe um Pampa que vem sofrendo modificaes, um Pampa
considerado rico, onde os campos feitos de fortunas rotas, hoje desertos j no geram
mais po. Dessa forma, vale provocar, suscitar, problematizar enunciaes como essas que
nos atravessam e nos constituem enquanto sujeitos deste tempo.
So enunciaes como essas que circulam em artefatos culturais como a msica e,
dessa forma, constituem discursos e verdades relacionados ao campo da Educao
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Ambiental. E assim, diante de tais enunciaes tidas como verdadeiras em nossa sociedade
sobre a Educao Ambiental, constituindo e fabricando modos de ser neste mundo,
entendemos que esses artefatos culturais colocam em funcionamento uma operao de
poder. Para Foucault (2010),
[...] numa sociedade como a nossa [...] mltiplas relaes de poder perpassam,
caracterizam, constituem o corpo social; elas no podem dissociar-se, nem
estabelecer-se, nem funcionar sem uma produo, uma acumulao, uma
circulao, um funcionamento do discurso verdadeiro. No h exerccio do poder
sem uma certa economia dos discursos de verdade que funcionam nesse poder, a
partir e atravs dele. Somos submetidos pelo poder produo da verdade e s
podemos exercer o poder mediante a produo da verdade (FOUCAULT, 2010,
p. 22).
Diante disso, se torna importante questionar: de que forma somos interpelados por
esses discursos ditos como verdadeiros que nos capturam e nos constituem enquanto
sujeitos?
por entender a importncia da cultura, dos artefatos culturais que ao
constiturem discursos e verdades vo moldando o mundo nos quatro cantos desse planeta,
que olhamos para a msica do Sul do Rio Grande do Sul, arte expressiva na regio
pampeana e que circula o mundo narrando o Pampa gacho.
Consideraes finais
Nossas perspectivas com este estudo que por meio da msica pudssemos
suscitar o pensamento, provocando novas discusses no campo da Educao Ambiental,
entendendo esta arte como uma importante ferramenta para pensarmos como vem se dando
a constituio de saberes referentes a natureza e a relao do homem com a paisagem
natural na regio do Pampa. Queremos atentar para novas discusses acerca de questes
pouco problematizadas por ns: que entendimento se tem de natureza, meio ambiente,
homem e cultura? Como salienta Guimares (2008), que possamos nos instaurar nas
fissuras da Educao Ambiental, pensando polticas que possam nos remeter a construo
de coletivos de natureza e culturas no permeados (p. 99). Talvez Foucault nos ajude a
entender essas fabricaes de verdades que vo constituindo modos de ser, viver e se
relacionar no mundo. Que pudssemos voltar nosso olhar para arte, entendendo-a como um
artefato cultural de funo poltica e social capaz de criar novos modos de relao entre
sujeito, sociedade, natureza e meio ambiente.
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Referncias
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Livreiro, 1997.
BRAUN, Jayme Caetano. Ptrias foges legendas Vocabulrio Pampeano. Porto Alegre: Edigal, 1998.
CARVALHO, Isabel. Educao Ambiental: a formao do sujeito ecolgico. Ed. So
Paulo: Cortez, 2008.
DOS-SANTOS, Jos Daniel Telles. Lcio Yanel e o Violo Pampeano:
memria(s),histria(s) e identidade(s) de um fazer musical no sul do Brasil. Dissertao
(Mestrado) Universidade Federal de Pelotas, Programa de Ps-Graduao em Memria Social e Patrimnio Cultural, Pelotas, 2012.
FANTE, Eliege Maria. As representaes sociais sobre o bioma pampa no Jornalismo de
referncia sul-rio-grandense. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, Programa de Ps-
Graduao em Comunicao e Informao, Porto Alegre, BR-RS, 2012.
FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. Rio de Janeiro: Edies Graal, 2011.
________. Em defesa da Sociedade: curso no Collge de France (1975-1976). 4 tiragem.
So Paulo: Martins Fontes, 2010.
GOLIN, Tau. O povo do pampa. Passo Fundo, RS: Ed: UPF, 2004.
GUIMARES, Leandro Belinaso. A importncia da histria e da cultura. Inter-Ao: Ver.
Fac. Educ. UFG, v.33, n. 1, p. 87-101, jan./jun. 2008.
SCHNADELBACH, Carla villanova. O pampa em disputa. A biodiversidade ameaada
pela expanso das monoculturas de rvores 2010. Disponvel em: WWW.natbrasil.org.br.
Acesso em: 15 de outubro de 2012.
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Alguns discursos sobre Educao Ambiental em exame: fabricao de
sujeitos na atualidade
Brbara Hees Garr1
Paula Corra Henning2
Priscila Oliveira da Silva3
Resumo O trabalho aqui apresentado um recorte de Pesquisa que tem como propsito investigar a constituio do
discurso de Educao Ambiental a partir de diferentes mdias. Tal recorte analisa alguns extratos da revista
Veja, trazendo para discusso enunciaes marcadas pelo direcionamento de como os sujeitos devem agir
diante da crise ambiental que se instala na atualidade. A discusso proposta se d na interlocuo potente
entre o campo de saber da Educao Ambiental e os estudos da mdia como artefato cultural que vem
produzindo formas de existir e viver no mundo contemporneo. Compreende-se que a temtica ambiental
est fortemente presente em nossas vidas cotidianas e em constante relao com nossa constituio enquanto
sujeitos desse tempo. Pretende-se provocar o pensamento sobre tais discursos, entendendo-os atrelados as
relaes de saber-poder, no intuito de preservar o meio ambiente.
Palavras-chave: Educao Ambiental. Mdia. Relaes de Poder.
Introduo
A Educao Ambiental tornou-se questo central e de ampla penetrao nos
espaos educacionais, polticos, econmicos e culturais do mundo de uma forma geral. J
no se trata de uma problemtica interna de bairros, cidades, estados ou de um nico pas.
A crise ambiental que acomete a cada um de ns, diz respeito a um cenrio mundial.
Nesse texto, apresentamos alguns extratos de anlise de uma pesquisa que visa
investigar o discurso da Educao Ambiental que vem constituindo este campo a partir de
diferentes mdias. Assim, esse estudo se d na interlocuo potente entre o campo de saber
da Educao Ambiental e os estudos da mdia como artefato cultural que vem produzindo
formas de existir e conviver no mundo contemporneo. Para isso, colocamos sob exame
alguns enunciados que se proliferam na Educao Ambiental. Olhamos para algumas
propagandas, de maneira especial, veiculadas no rdio, na televiso e na internet; para
reportagens da mdia impressa; para histrias em quadrinhos e para filmes de animao.
1 Doutoranda do PPG Educao Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande/FURG, Mestre em Educao em Cincias pela
Universidade Federal do Rio Grande/FURG, Pedagoga e Professora do IFSUL campus Pelotas. [email protected] 2 Doutora em Educao, Professoras dos Programas de Ps-Graduao em Educao Ambiental e Educao em Cincias da
Universidade Federal do Rio Grande/FURG. [email protected] 3 Acadmica do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande/FURG. [email protected]. Pesquisa financiada pelo Programa Observatrio da Educao/CAPES.
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Pretendemos provocar o pensamento sobre tais discursos, entendendo-os atrelados as
relaes de saber-poder, no intuito de preservar o meio ambiente.
Como recorte desse estudo, apresentamos neste momento extratos de anlise da
Revista Veja, trazendo para discusso enunciaes marcadas pelo direcionamento de como
devemos agir diante da crise ambiental que se instala na atualidade. Dessa maneira, o
trabalho aqui apresentado traz para discusso, inicialmente, o conceito de meio ambiente e
Educao Ambiental que alguns dos importantes autores desse campo nos evidenciam. A
partir disso, selecionamos alguns extratos miditicos da Revista Veja e chamamos a
ateno para as estratgias biopolticas (FOUCAULT, 2005, 2008a, 2008b) que circulam
fortemente nas enunciaes acerca da Educao Ambiental hoje. Para finalizar,
convidamos o leitor a pensar sobre o emaranhado do discurso ambiental to em voga em
nossas vidas, estejamos ns interessados ou no em constituirmo-nos sujeitos ambientais
contemporneos.
Algumas concepes de EA em evidncia
Para iniciarmos nossa discusso, gostaramos de apresentar alguns entendimentos
de Educao Ambiental (EA) que vimos recorrentemente constiturem-se na mdia e na
sociedade de uma forma geral. Assim, trazemos alguns importantes autores que nos
provocam a pensar o conceito de natureza e meio ambiente.
O campo da EA vem crescendo nas ltimas dcadas em decorrncia dos
acontecimentos ocorridos em relao ao meio ambiente como o aquecimento global e
consequentemente o derretimento das geleiras, as questes climticas, a poluio do ar e
do solo, entre outros. Atrelado a este crescimento vimos recorrentemente enunciaes
acerca de novas atitudes diante de nossas aes com o meio ambiente, preocupaes com a
vida no Planeta Terra, consumo consciente dos recursos naturais, etc.
Segundo Bezerra (2007), a EA um fenmeno social que se localiza na interseo
entre sociedade, educao e natureza e como outros assuntos relacionados s questes
ambientais. Sua abordagem no se limita a um nico pas, este um campo de saber que
atravessa o mundo de forma ampla, pois as modificaes climticas, a degradao
ambiental so preocupaes contemporneas que constituem a cada habitante do Planeta.
A partir de 1942, comea a ocorrer uma srie de eventos internacionais a fim de abordar os
problemas ambientais e tambm a preservao dos aspectos naturais do planeta.
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No Brasil, a EA ganhou forte destaque a partir da dcada de 90, durante o Rio/92.
Desde ento, este campo de saber passou a fazer parte dos currculos escolares como tema
transversal (PCN, 1998). A partir desta dcada aconteceram os primeiros encontros
nacionais, simpsios regionais e locais. Atualmente, vale lembrar dos movimentos
recentemente ocorridos no cenrio mundial: a Reunio de Copenhagen, preocupada com o
aquecimento global (2009) e a Rio + 20, interessada na sustentabilidade do Planeta,
ocorrida em junho deste ano.
De acordo com Tozoni-Reis (2006), h diferentes formas de conceituar a EA como,
por exemplo, o conceito a partir de um cunho disciplinatrio e moralista que visa a
promoo de mudanas de comportamentos considerados ambientalmente inadequados.
possvel encontrar tambm a EA como transmissora de conhecimentos tcnico-cientficos,
com a finalidade de desenvolver relaes mais adequadas com o ambiente. A pesquisadora
aponta ainda este campo de saber como sendo um processo poltico que tem por objetivo a
construo de uma sociedade sustentvel. Desse modo, no acreditamos que seja possvel
traduzir ou reduzir as mltiplas orientaes numa nica educao ambiental: uma espcie
de esperanto ou pensamento nico ambiental (CARVALHO, 2004).
Reigota (2006) afirma que o problema ambiental est no excessivo consumo dos
recursos naturais e no desperdcio realizado por uma pequena parcela da populao. O que
deve ser priorizado so as relaes econmicas e culturais entre a humanidade e a natureza.
Deste modo, refletir sobre EA to importante quanto agir e comportar-se de forma
ecologicamente correta. Uma questo relevante anunciada pelo pesquisador o fato de
muitas pessoas no se considerarem como um elemento da natureza, mas como um ser
parte que apenas observa e/ou explora. Carvalho (2008) concorda com a ideia quando diz
que assim se constri a imagem de uma relao antagnica e excludente onde de um lado
estaria a Natureza e do outro a Humanidade, a Cultura, as relaes sociais.
Podemos relacionar isso a uma viso naturalista da natureza. Segundo Carvalho
(2008), os artefatos miditicos evocam ideias de natureza, vida biolgica, vida selvagem,
flora e fauna.
Essas imagens de natureza no so como pretendem se apresentar, um retrato
objetivo e neutro, um espelho do mundo natural, mas traduzem certa viso de
natureza que termina influenciando bastante o conceito de meio ambiente
disseminado no conjunto da sociedade. Essa viso naturalizada tende a ver a natureza como o mundo da ordem biolgica, essencialmente boa, pacificada,
equilibrada, estvel em suas interaes ecossistmicas, o qual segue vivendo
como autnomo e independente da interao com o mundo cultural humano.
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Quando essa interao focada, a presena humana amide aparece como
problemtica e nefasta para a natureza. (CARVALHO, 2008, p.35) [grifo da
autora]
Por ser um espao de inter-relaes entre sociedade e natureza, o campo ambiental,
ao ser visto apenas sob um vis naturalista-conservacionista, sofre consequncias, pois se
ignora a permanente interao entre as pessoas e o meio ambiente. Carvalho (2008)
defende uma viso socioambiental da natureza, onde esta e os humanos, bem como a
sociedade e o ambiente estabelecem uma relao interativa e de co-pertena. Segundo a
autora, tal perspectiva pensa o meio ambiente no com sinnimo de natureza intocada, mas
como um campo de interaes entre cultura e sociedade que se modificam de maneira
mtua e dinmica. Assim, a presena humana percebida de forma pertencente ao
conjunto de relaes de vida social, natural e cultural, longe de ser considerada como
intrusa ou destruidora.
Partindo do pressuposto que a EA no possui um nico conceito, por ser um fato
social e histrico, depender sempre do olhar que as pessoas lanam em sua direo e
tambm de como entendem este tipo de educao e o meio ambiente. Reigota (2006),
afirma que a EA deve estar presente em todos os espaos que educam, tais como escolas,
parques, mdia, universidades. No entanto, para realizar um trabalho de EA, necessrio
que se conhea as concepes de meio ambiente dos sujeitos envolvidos no processo. Para
ele meio ambiente
(...) um lugar determinado e/ou percebido onde esto em relaes dinmicas e
em constante interao os aspectos naturais e sociais. Essas relaes acarretam
processos de criao cultural e tecnolgica e processos histricos e polticos de
transformao da natureza e sociedade. (REIGOTA, 2006, p.21).
Sendo a escola um local privilegiado para realizar a educao ambiental, de suma
importncia observar de que maneira ela ser apresentada aos estudantes. Este campo de
saber pode estar presente em todas as disciplinas ao analisar temas que permitem enfocar
as relaes entre a humanidade e o meio natural, como tambm as relaes sociais
(REIGOTA, 2006, p.25).
No entanto, preocupante pensar que ela possa tornar-se uma disciplina isolada.
Perderia o sentido, j que acreditamos que ela deve perpassar todas as reas do
conhecimento, sendo responsabilidade de todos. Tem-se a ideia de que para trabalhar com
EA preciso estar sempre em contato com a natureza em ambientes externos, como
jardins, praas, parques ou reservas ecolgicas. Porm, deve-se ter o cuidado de enfatizar
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tambm as relaes existentes entre homem e natureza abordando tambm os aspectos
polticos, econmicos, sociais e culturais para no correr o risco de dicotomizar as relaes
humanas e o ambiente.
Nessa perspectiva, para trabalhar a Educao Ambiental atrelada s questes
sociais e humanas necessrio que se considere as relaes com a cultura. Considerando
que atravs dela que so produzidos modos de ser, pensar e agir. Assim, provocar
reflexes e questionamentos acerca das temticas ambientais abrange o estabelecimento de
relaes sociais, polticas, econmicas e culturais que se travam na atualidade. Olhar,
problematizar, compreender a EA perpassa pela forma como fomos nos constituindo
enquanto sujeitos e que entendimentos temos de cultura, sociedade, meio ambiente e
natureza.
Vemos que cada vez mais a Educao Ambiental no um tema apenas de ONGs
preocupadas com as questes ecolgicas. Ela vivida diariamente, nos diversos espaos
que frequentamos, seja atravs da implementao de polticas pblicas (como as j
mencionadas neste texto), de campanhas publicitrias, de propagandas miditicas, de
filmes, de histrias em quadrinhos, de outdoors espalhados pelas cidades, de reportagens
televisivas e impressas e de tantas outras formas. Por onde circulamos, ela se faz presente.
At mesmo na hora de escolhermos produtos no supermercado, geralmente o apelo para
que se compre um que seja menos agressivo ao meio ambiente.
Assim, a temtica ambiental est fortemente presente em nossas vidas cotidianas e
em constante relao com nossa constituio enquanto sujeitos desse tempo. H que se
problematizar quais os conhecimentos que produzem tal campo de saber ao mesmo tempo
em que so produzidos por ele. Dessa forma, no h como pensar a EA dissociada de um
contexto mais amplo. necessrio que se estabelea uma rede de relaes entre as
questes ambientais, culturais, sociais, polticas e econmicas na atualidade.
Extratos miditicos sob anlise: constituindo sujeitos ambientais contemporneos
Neste texto apresentamos como proposta analisar algumas enunciaes que tratam
da temtica ambiental na mdia, mais especificamente na mdia impressa. Para tal operao
situamos as anlises em algumas reportagens de capa da Revista Veja revista semanal
brasileira da Editora Abril e de maior circulao no Brasil. Escolhemos tal revista como
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corpus discursivo desta pesquisa por sua ampla circulao em nvel nacional e por se
constituir em um dos mais conhecidos veculos de comunicao em nosso pas.
No trabalho aqui apresentado tomamos a mdia como um importante campo de
produo de subjetividades, que interpela os sujeitos e vai constituindo suas formas de ser,
de viver e de preservar o ambiente no mundo contemporneo. A partir de alguns estudos
vimos olhando para a mdia como um dispositivo pedaggico, conforme assinala Rosa
Fischer (2002). Tal dispositivo opera modos de ser e estar dos sujeitos na cultura em que
vivem e dessa forma, participa efetivamente na produo de sujeitos, subjetividades e
sentidos. Essa operao se d a partir de estratgias de interpelao que a mdia coloca em
funcionamento atravs de seus ensinamentos que atingem aos indivduos e participam de
sua formao.
Assim, o dispositivo pedaggico da mdia reafirma constantemente verdades, aqui
nos referimos as verdades do campo da Educao Ambiental. Tal repetio refora esses
ditos e posicionam os sujeitos a agirem de determinas formas, economizando os recursos
naturais, reciclando o lixo, consumindo de forma sustentvel, por exemplo. Vejamos
alguns exemplares de peas miditicas da revista Veja:
A vida sem papel higinico
[...] se submete h um ano experincia de viver sem causar nenhum dano a
natureza. Isso inclui dispensar o papel higinico, iluminar a casa com velas,
evitar os eletrodomsticos e s andar a p ou de bicicleta (Veja, outubro de
2007, p. 93) [grifos meus].
Carros Eltricos e Hbridos
Esses veculos emitem at 30% menos CO2, mas custam at 25% mais que seus
rivais compactos e poluidores. Subsidi-los lucro para qualquer metrpole.
Reduo: um carro de passeio joga 2 toneladas de carbono por ano na
atmosfera, valor igual quantidade capturada por 170 rvores durante dez anos.
(2009, p. 136)
Consumir menos
Uma lmpada feita com os modernos LEDs (sigla em ingls para Light Emitting
Diode) emite a mesma quantidade de luz de uma lmpada incandescente
tradicional usando apenas 25 % de energia. Alm disso, sua vida til estimada
em 50000 horas, contra apenas 1000 horas das concorrentes. Mas ela ainda custa
at vinte vezes mais do que as lmpadas comuns. Subsidi-la pode ser uma sada.
Reduo: se todas as lmpadas de Nova York fossem substitudas por LEDs, a
economia seria de 264 TW/h, que, gerados por usinas termeltricas, jugam na
atmosfera 200000 toneladas mtricas de gs carbnico por ano, o equivalente ao
consumo anual de uma frota de 36000 veculos. (2009, p. 137)
As enunciaes destacadas acima do visibilidade a forma como a mdia interpela
os sujeitos a agirem de maneira consciente, preservando a natureza e seus recursos. Tais
enunciaes so repetidas constantemente de diferentes formas, seja na revista aqui
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colocada em anlise, seja em propagandas de televiso, em desenhos animados ou como
notcia de programas televisivos. Dessa forma, as questes ambientais apresentadas pela
mdia instauram o visvel e o enuncivel, seja pelas imagens assustadoras apresentadas,
seja pelas afirmaes apelativas que colocam em risco a vida do planeta. Assim, a mdia
vai nos convidando a ver e a falar sobre a problemtica ambiental, como podemos
visualizar nas imagens abaixo, referente a capas da Revista Veja, nas quais somos
interpelados por imagens emblemticas e terroristas que colocam em dvida a
continuidade de vida na terra.
Entendemos que os discursos miditicos colocados em circulao legitimam
verdades que se reverberam como opinio pblica e esses jogos de verdade acabam por
engendrar e produzir modos de vida. Vimos que a Educao Ambiental constitui-se como
um desses discursos legitimados pela mdia e que operam no nvel do coletivo para atingir
o indivduo em suas aes dirias. A mdia vai ensinando as formas corretas de agir e se
comportar frente a problemtica ambiental, como podemos visualizar nos excertos abaixo:
SOS TERRA
Pases e pessoas agem...
... mas alguns ainda duvidam (Veja, outubro de 2007).
A realidade do aquecimento global criou uma preocupao com o ambiente
como nunca se viu: todo mundo quer fazer a sua parte para salvar o planeta
(Veja, outubro de 2007, p. 87) [grifos nossos].
Pagar para no derrubar
Reflorestar
Energias alternativas
Carros eltrico e Hbridos (Veja, dezembro 2009, p. 136).
Visualizamos nos excertos acima o quanto a mdia ensina e constitui formas de ser
e viver atravs de uma Pedagogia. Ela dita o que fazer e como fazer e assim vai
direcionando e conduzindo a vida de cada um. Olhamos para essas e outras tantas
enunciaes miditicas e colocamo-nos a pensar sobre a fabricao de verdades no campo
da Educao Ambiental. Olhamos para este campo de saber como estratgia de controle da
vida social, to bem difundidas pelos meios de comunicao, aqui especialmente a Revista
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Veja. Articulamos tal estratgia ao que Foucault conceituou de biopoder (2005; 2008a;
2008b), um poder sobre a vida, agindo com tcnicas de preveno e seguridade pelo bem-
estar da massa de indivduos. O biopoder tem como alvo a populao, mas para isso
precisa capturar individualmente cada sujeito, para que juntos ajam em prol do planeta.
Todos e cada um fazem parte desse jogo.
Assim, os discursos proliferados na mdia acerca das problemticas ambientais e da
recorrente preocupao com o fim do planeta nos levam a pensar que tais ditos no se
dirigem apenas para um sujeito, mas para o coletivo que deve, junto, se mobilizar para que
aes individuais repercutam na transformao do meio ambiente e contribuam para a
Salvar a Terra (Veja, reportagem de capa, outubro de 2007). Percebemos ento uma
forte articulao com o biopoder um poder sobre a vida uma tecnologia de poder que
estaria relacionada e endereada a populao. Dessa forma, passamos a olhar alguns
discursos de Educao Ambiental, to divulgados na mdia, que colocam em operao
tanto a tecnologia do biopoder quanto a tecnologia disciplinar. No excerto abaixo
apresentamos o quanto a disciplina e o biopoder se exercem conjuntamente em alguns
enunciados.
Salvar a Terra como essa ideia triunfou Militncia ecolgica: dos verdes aos radicais do planeta sem gente Conscincia ambiental: filho nico; camiseta de fibra reciclada; sacola d fibra
natural; fralda de pano; alimentos orgnicos; cantil (para evitar garrafas pet);
cala de algodo orgnico feita mo; bicicleta 0 de CO; sandlias com lona de
pneu reciclado (Veja, reportagem de capa, outubro de 2007).
Nas estratgias disciplinares torna-se necessrio que cada um faa a sua parte pelo
planeta, comprando e consumindo produtos ecologicamente corretos, andando de
bicicleta para no poluir o ar, tendo apenas um filho. Com tais aes o planeta terra e,
consequentemente, a populao sero beneficiados. Percebemos com chamadas como esta
um forte apelo para que o sujeito disciplinado atenda ao convite, realizando aes
diariamente, pensando no bem-estar da maioria dos indivduos. Assim, o biopoder e a
disciplina capturam-nos para que em nosso cotidiano faamos o melhor para a
continuidade da vida no planeta. Olhamos para a Educao Ambiental e os discursos to em
voga na mdia e visualizamos estratgias de gerenciamento da vida em operao, convocando cada
um e todos a fazerem a sua parte para que no ocorra O Fim do Mundo (Veja, reportagem de
capa, dezembro de 2009).
Importante destacar ainda que recorrentemente vemos emergir enunciaes que
reforam uma viso reducionista acerca da relao homem x natureza, anunciando uma
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viso naturalista. Em tais enunciaes o homem est dissociado do mundo natural, sua
interferncia sempre negativa, como podemos visualizar nos excertos abaixo:
A comear por seus bens mais preciosos , a gua e o ar, o balano da atividade
humana mostra uma tendncia suicida. (Veja, abril de 2001, p. 93)
Com a mesma insolncia de quem joga uma casca de banana ou uma lata de
refrigerante pela janela do carro pensando que est livrando da sujeira, a
humanidade despeja na natureza todos os anos 30 bilhes de toneladas de lixo.
(Veja, abril de 2001, p. 94)
Nas reportagens das prximas pginas, Veja traa um panorama das armadilhas
produzidas pelos homens para si mesmos, desde a exausto dos recursos vitais
como a gua at os efeitos incontornveis do aquecimento global, que podem ser
amenizados na melhor das hipteses, ou agravados em propores dantescas, na
pior. Duas reportagens registram tambm pequenas rstias de esperana que
podem vir a ser a salvao do planeta. (Veja, outubro de 2005, p. 85)
A mo do homem na matana das focas, na desolao do morador devastado
pelo Katrina e na poluio chinesa: capacidade demudar o planeta em escala
geolgica. (Veja, outubro de 2005, p. 87)
Olhamos para enunciaes como estas e retomamos os estudos de Carvalho (2008)
quando faz uma crtica para a forma como a natureza vem sendo representada, muitas
vezes nos remetendo a ideia de um mundo natural e biolgico. Segundo a autora, em
muitos contextos o homem aparece como um ameaa destrutiva a natureza, que boa, pura
e pacfica. Prope uma reflexo sobre os conceitos de natureza e meio ambiente contidos
em tais iderios. Argumenta que estes se fundamentam numa viso que denomina como
naturalista que baseia-se principalmente na percepo da natureza como fenmeno
estritamente biolgico, autnomo, alimentando a ideia de que h um mundo natural
constitudo em oposio ao mundo humano (2008, p. 35). Em contrapartida, apresenta
uma outra abordagem j apresentada neste texto , a qual se prope a estudar e que
chama de socioambiental. Aqui a natureza e os humanos, bem como a sociedade e o
ambiente, estabelecem uma relao de mtua interao e co-pertena, formando um nico
mundo (2008, p. 36).
Nessa perspectiva a Educao Ambiental estabelece relaes entre o homem e a
natureza, entendendo que ambos no esto dissociados, mas que se integram, se produzem
e se modificam na cultura. Tal entendimento considera a importncia da tica nas relaes
sociais e nas relaes com a natureza. Assim, a EA estaria profundamente relacionada com
as questes culturais, que produzem nossas vidas e com as quais convivemos e
modificamos diariamente. Assim, no teria sentido tratar o homem de forma isolada em
relao a natureza. Aqui natureza e homem se produzem e so produzidos.
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No queremos com tais anlises dizer que a problemtica ambiental no algo real,
entendemos que existe uma materialidade da crise e no podemos negar todos os
acontecimentos ambientais que nos acometem nos ltimos anos como as chuvas e
tempestades que inundam as cidades e deixam milhares de pessoas desalojadas; os grandes
terremotos que destroem cidades inteiras; as terrveis secas que atacam agricultores no
pas; a escassez de gua que leva as pessoas a fazer racionamento em alguns locais do
Brasil e tantos outros. Nossa inteno nesse trabalho foi colocar em anlise a forma como
essa crise vem sendo narrada, quais estratgias de poder so operadas e de que forma os
sujeitos so posicionados a partir de uma produo discursiva colocada em funcionamento
na mdia impressa.
Provocaes finais
Nosso texto caminha na direo de pensar para alm de aes ecologicamente
corretas. No queremos, com isso, dizer que no devemos agir pensando no futuro. Talvez
pensar nessas aes seja fundamental para a existncia da vida na Terra. No entanto,
queremos pensar para alm disso isso j tem farta exposio na mdia! Qual fora e
produtividade e no negatividade como estamos acostumados a pensar tm os discursos
miditicos que nos conduzem a aes e pensamentos diante do cenrio contemporneo?
Indo alm, talvez Foucault nos ajude a entender esse mecanismo de poder, to evidente na
mdia brasileira, como uma ferramenta que produz coisas, forma sujeitos, constitui o
espao-tempo atual.
Diante disso, gostaramos que nosso texto pudesse provocar novas discusses no
campo da Educao Ambiental, entendendo-a como um importante instrumento para o
gerenciamento da sociedade atual. Talvez ele pudesse tornar-se uma possibilidade de
resistncia e criao, ao olhar a Educao Ambiental para alm de um discurso naturalista,
ecolgico ou de preservao do planeta. Talvez pudssemos pensar na criao de uma
ecosofia (GUATTARI, 1990), promovendo espaos de resistncia, produzindo estratgias
de poder que possibilitam a subverso e a produo de espaos ticos e polticos para o
campo da Educao Ambiental.
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Cidade, identidade e ecologia
Fabiane Pianowski
1
Resumo
No decorrer do processo histrico de estabelecimento da cidade, o afastamento gradativo
do homem em relao natureza resultou no caos ecolgico em que o planeta se encontra,
no qual visvel tanto a degradao do meio ambiente (construdo ou natural) quanto a
falta de identidade em relao ao mesmo. Uma das formas possveis de se pensar a questo
da identidade se faz atravs da leitura arquitetnica/espacial da cidade, sob a perspectiva
ecolgica, permitindo a verificao/constatao do afastamento do homem moderno do
ambiente natural, uma vez que a construo da cidade se d de forma dialgica com a
construo da identidade. Para que isto se torne vivel, a cidade deve ser pensada alm de
sua forma. O presente trabalho estabelece as relaes tericas entre cidade, identidade e
ecologia, na tentativa de demonstrar em que medida a configurao da cidade um ndice
revelador do processo de construo da identidade.
Palavras-chave: Cidade. Identidade. Educao ambiental.
Cidade e educao ambiental
Ao conceituar a ecosofia sob a perspectiva das trs ecologias: do meio ambiente,
das relaes sociais e da subjetividade humana, Flix Guattari (1989) sintetizou as
questes que tangem vida como correlacionadas em cadeia. Desse modo, objetivou sem
deixar menos complexa a rede que configura a educao ambiental contempornea.
Portanto, se pensarmos ecologia sob a definio de Manuel Castro (1992): ecologia um
problema de relao do homem consigo mesmo, com os outros e com as coisas, nos
aproximamos da ecosofia de Guattari e podemos, ento, vincular educao ambiental
ecologia, mas a uma ampla ecologia e no mais restrita ecologia do meio ambiente. Sob
este aspecto, a educao ambiental passa a ser uma forma de questionamento, de busca e
de construo do modo de ser, estar e viver do homem moderno.
Ampliando-se o enfoque da educao ambiental, ampliam-se tambm seus objetos
de estudo. Assim, os ambientes natural e construdo passam a ter o mesmo valor de
importncia; mais do que isso, dialogam na construo do conhecimento ambientalista, no
momento em que compem os fios de uma mesma teia de relaes. So estes ambientes,
1 Professora assistente da Universidade Federal do Vale do So Francisco (UNIVASF), Arte/Educadora, Mestre em Educao Ambiental
pela FURG e doutoranda em Histria da Arte pela Universidad de Barcelona. Contato: [email protected]
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contra e justapostos, o substrato fsico/matrico da ao da ecosofia de Guattari, no s
enquanto o ambiente em que estamos presentes, mas como o local onde a ao se
desenrola, ou seja, o palco das relaes sociais e da concretizao da subjetividade
humana. Tornam-se, portanto, objetos passveis de estudo, de maneira que, ao
compreend-los, a atuao neles se faz mais profunda e, conseqentemente, mais
competente. Como afirma Crivellaro et al (2001, p.18), o estudo do meio, um dos
principais recursos em educao ambiental, nos revela as potencialidades e fragilidades do
ambiente, seja ele natural ou urbano, possibilitando captar informaes sobre sua dinmica
e as caractersticas peculiares que do identidade a cada comunidade.
Dessa forma, fica claro que pensar cidade tambm pensar educao ambiental, e
vice-versa. Mas assim como esta no pode ser pensada somente pelo enfoque biolgico,
aquela tambm deve ser pensada alm de sua forma. Desse modo, deve-se estudar a cidade
"por dentro", como afirma Carlos (1997), ou seja, refletir sobre sua natureza, considerar
seu contedo e seus processos; voltar-se para uma dimenso especfica da cidade: a sua
dimenso visual/espacial, que se configura como o espao da realizao fsica/concreta das
relaes sociais e da subjetividade humana.
A cidade, enquanto resultado da produo humana, presta-se como objeto de
anlise na busca do conhecimento identitrio. O enfoque dado o da ecologia que objetiva
a preservao da habitao, entendida como o lugar externo e interno da ao humana.
Desse modo, a cidade, como lugar de moradia, e a identidade, como lugar de existncia,
so duas faces de uma mesma moeda: a cultura. Esta no s pode, como deve ser
preservada, configurando-se, portanto, como uma questo de ordem ecolgica.
O caos est instaurado e seu mais bvio reflexo a alienao do homem de si
mesmo e do mundo. Para o desvendamento dessa problemtica, muitos caminhos se
apresentam, o escolhido aqui o que reconhece essa crise catica como uma crise de
identidade. A identidade apresenta-se numa relao dialgica com a configurao
espacial/arquitetnica da urbe, que se faz como produto da relao homem-natureza.
Tanto cidade como identidade, entendidas como cultura, quanto a ecologia so
assuntos que esto na ordem do dia. No movimento paradoxal de separ-las para entrela-
las, busca-se dar conta de sua complexa teia de inter-relaes.
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Ecologia: interseco entre natureza e cultura
Tudo vai, tudo volta;
eternamente gira a roda do ser...
Tortuoso o caminho da eternidade.
Nietzsche
O homem moderno carrega o estigma de ter se afastado da natureza a ponto de no
mais se reconhecer nela. Sua atitude de alienao do mundo e de si mesmo, sentindo-se
como que deslocado, em descompasso com o mundo que o rodeia; ou ao contrrio,
sentindo que o mundo que o rodeia que est descompassado em relao ao seu ritmo. H
nesta relao um desconforto que gera a crise. Crise que leva ao caos. O caos amplia a
ruptura, que aumenta a crise, que adensa o caos... Configura-se um moto-contnuo que
levaria autodestruio, no fossem os movimentos tangenciais engrenagem que
desviam o fluxo e promovem o ajuste responsvel pela manuteno da vida.
A vida se apresenta aqui como um