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Edição e distribuição

Editora EMECaixa Postal 1820 – CEP 13360-000 – Capivari – SP

Telefones: (19) 3491-7000/[email protected] – www.editoraeme.com.br

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Capivari -SP— 2012 —

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© 2012 Pedro Santiago

Os valores referentes aos direitos autorais da venda desta edição serão revertidos em benefício das obras sociais do Núcleo Espírita Campo da Paz, em Salvador, Bahia. (CNPJ 07.582.231/0001-8).

A Editora EME mantém o Centro Espírita “Mensagem de Esperança”, colabora na manutenção da Comunidade Psicossomática Nova Consciência (clínica masculina para tratamento da dependência química), e patrocina, junto com outras empresas, a Central de Educação e Atendimento da Criança (Casa da Criança), em Capivari-SP.

CAPA | André StenicoDIAGRAMAÇÃO | Editora EMEPREPARAÇÃO DO tExtO E REvISÃO | Editora EME

1ª edição – dezembro/2012 – 6.000 exemplares

Ficha catalográfica elaborada na editora

Akibah, Dizzi. (Espírito) Filhos de ninguém / pelo espírito Dizzi Akibah; [psicografado por] Pedro Santiago – 1ª ed. dez. 2012 – Capivari, SP : Editora EME. 256 p.

ISBN 978-85-7353-498-6

1 – Literatura espírita. Romance mediúnico2 – Lei de causa e efeito. Amor ao próximo. Amor a Deus.

CDD 133.9

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Sumário

Palavras do autor espiritual .............................................................. 7

1. Vendo pra crer ................................................................................ 92. Tristeza e desalento ..................................................................... 193. Proveitoso diálogo ....................................................................... 274. Apoio mútuo ................................................................................. 395. Um novo sentimento ................................................................... 536. Efeitos positivos ........................................................................... 657. Reaquecendo o ânimo ................................................................. 778. Uma agradável surpresa ............................................................. 879. Ações benéficas........................................................................... 107

10. Mudança repentina .................................................................... 12711. Conflito com a realidade ........................................................... 14512. Pacificação ................................................................................... 163

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13. Desvendando a verdade ........................................................... 17714. Bilhete revelador ........................................................................ 18915. Aplainando os caminhos........................................................... 19716. Desfazendo intrigas ................................................................... 20517. Influências de Eulália ................................................................ 21318. Vitória do amor .......................................................................... 239

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PalavraS do autor eSPiritual

Paralelos aos alarmantes Processos de violência que assolam o planeta há profundos clamores de paz, estes, contudo, sem o re-sultado desejável, pois não se elabora a conquista da paz em sim-ples pedidos, e sim com autodeterminação, otimismo, paciência e fé, consubstanciada no raciocínio lógico.

Como a própria busca da paz já é uma conquista do ser em evo-lução, é indispensável manter a autoconfiança e o otimismo, pois, na longa jornada a ser empreendida, ele há de defrontar-se com situações adversas, ressoadas em sentimentos nocivos que avassa-lam a criatura humana, conduzindo-a ao desestímulo e à descrença em si. É indispensável empreender corajosamente a correção sis-temática, sempre que soar o alarme da consciência assinalando o pessimismo, pois a força interior é proporcional à importância que se dá ao objetivo a ser alcançado.

Assim, entendemos que, se a busca da paz passa pela supe-

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ração das dificuldades diversas, é de bom proveito que foquemos com atenção até o aparentemente pequeno, como uma simples rés-tia, porque pode ser ela o começo do caminho para a grande luz do amor, assim como uma palavra de bons sentimentos serve de estí-mulo para despertar potencialidades adormecidas; um gesto, por discreto que se apresente, pode ser o alerta que evita o perigo do precipício; o sorriso, por simples que nos pareça, para um ser ultra-jado pela tristeza pode ser o bálsamo reconfortante.

Soerguer-se para mais adiante firmar-se na satisfação da cons-ciência tranquila, no vibrar da alegria e na ventura do amor, é estar na vereda da paz. No entanto, como são vários os caminhos por onde podemos trilhar, e não havendo regra geral que norteie o aspirante, sugerimos a observação de algumas situações contidas nesta nova obra que passamos, com íntima alegria, a suas mãos – situações que podem servir de entendimento e estímulo à conquis-ta da paz; no decorrer da leitura, serão encontrados exemplos vi-vos do ato de perdoar, da persistência, da eficácia da lei de causa e efeito, e de como os espíritos que lidam na seara do Divino Mestre interferem, em nome do amor, em nossas vidas, orientando no mo-mento certo, mudando rumos e nos consolando, sem esquecerem o respeito que se deve à lei do livre-arbítrio; situações que podem de-monstrar como os valores materiais e as situações de poder e man-do não conseguem pacificar o íntimo dos que carregam dentro de si vestígio de insatisfação, de mágoa e de tristeza.

Externo, com gratidão, votos de proveitosa leitura, paz dura-doura e amor ao próximo, como prescreveu Jesus, a Luz do Mundo.

Dizzi AkibahPsicografado na noite do dia 25/01/2012

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vendo Para crer

Sem a experiência da prática, conhecimentos acu-mulados se tornam inócuos.

Dizzi Akibah

acomodado na Poltrona, em frente a uma janela do segundo piso de sua residência, no centro de São Paulo, Paulo José fazia um mergulho no passado, retornando pelo pensamento aos longos cami-nhos e às dificuldades que vivenciara até chegar à situação favorável em que vivia, como advogado e comerciante muito bem-sucedido.

Despertavam em sua mente lembranças do passado, o que ele usava para tentar afastar a preocupação que surgira, havia alguns meses, quando passou a ouvir vozes e ver vultos (um deles, o mais frequente, com aparência de mulher), o que o fazia imaginar-se, com muito desgosto, acometido de uma anomalia mental. Isso o atormentava de tal maneira, que já andava olhando para todos os lados, a ponto de chamar atenção de transeuntes, por onde passava.

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Assim, totalmente envolvido nas lembranças do passado, per-cebeu do seu lado o mesmo vulto com aparência feminina. Tentou levantar-se, mas sentiu-se imobilizado, porém, lúcido, passou a ver a imagem tornar-se mais nítida, para seu espanto. Em instan-tes, com aparência de uma idosa, o espírito desencarnado pergun-tou-lhe:

– Lembra-se de mim?Acometido de um grande pavor, nada respondeu.– Eulália, sua mãe pelo coração, pois eu não o recebi pela

maternidade. Cuidei de você e de sua irmã, até quando a morte me arrebatou.

Apesar do bloqueio psicológico que ele se deixara criar, a sur-presa levou-o a pensar:

– Se não é ela, quem é então, a minha mãe?O espírito silenciou e, depois de rápida pausa, disse-lhe:– É preciso ir a Assaré, para fazer justiça! Este é o caminho.Falou e, em instantes, dissipou-se numa forma vaporosa e, em

seguida, desapareceu. O advogado, sentindo que havia recupera-do as energias, ao se levantar rapidamente da poltrona assustou o gato, seu animal de estimação, que acabou transformando em pe-daços um vaso de cristal, considerado por Marlúcia uma relíquia, pois fora presenteado por sua avó materna, já desencarnada.

Bastante assustado, Paulo tratou de sair e procurar alguém... Um conhecido qualquer, para se sentir acompanhado, até que a esposa retornasse. Andando sem pressa, pois não lhe interessava para onde estava indo, e sim em não continuar em casa sozinho, lembrou-se de um conhecido que residia numa transversal da rua em que morava. Seguindo essa direção, viu-o em frente a uma casa conversando com algumas pessoas. Aproximou-se desajeitado,

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porque, depois de formado em direito e de ter alcançado o pedestal social onde se encontrava, não mais o havia procurado. Mas, para a sua surpresa, o velho conhecido, ao vê-lo, foi ao seu encontro cheio de alegria:

– Ora, ora, mas quem eu vejo! Dr. Paulo José! Há quanto tem-po! Deve estar em período de descanso, pois a sua presença por aqui é rara!

– Ó, o que é isso, Francisco?! Não chega a tanto! São ocupa-ções...

Francisco fixou o olhar no visitante e o interrompeu:– Receios... Apenas desvio de atenção, não é mesmo?Paulo sorriu. Eles apertaram as mãos, ambos já felizes pelo re-

encontro, e conversaram largamente.Num certo momento, Paulo respondia ao antigo colega:– Acho que você está certo. Mas o maior incômodo, para mim,

é o temor do desconhecido!– O que não deixa de ser um desafio para procurar desvendá-

-lo. Às vezes, o que parece assim tenebroso acaba sendo apenas oportunidade de nova aprendizagem.

– Francisco, por falar em coisas desconhecidas, você acredita na existência de alma do outro mundo?

– E deste também – disse, sorrindo, e prosseguiu o diálogo: – Por acaso o doutor conhece alguém que esteja a ver espíritos?

Paulo José olhou em volta, pôs a mão sobre o ombro de Fran-cisco, cuidadoso de si mesmo, deu alguns passos, afastando-o do grupo e falou bem junto ao ouvido do amigo:

– Infelizmente, eu mesmo! Embora minha crença de que a exis-tência de Deus e da vida pós-morte não tenha fundamento.

– Talvez isso seja um marco divisório na sua atual existência:

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antes e depois de ter visto, já que a sua crença na impossibilidade da vida continuar após a morte cai por terra com essa visão. Não seria sensato prosseguir negando a existência de Deus, pois, por exemplo, se a alma existe e tem vida perene, tem que haver um Criador, já que seria impossível ela criar a si mesma.

O advogado, bem falante e firmado nos conhecimentos adqui-ridos na faculdade, não esperava encontrar alguém que o fizesse calar por falta de argumento. Tanto, que, quando Francisco parou de falar, ele apenas sentenciou-se:

– Acabo de descobrir que ainda não sou o que imaginava ser.– Todo acontecimento, seja ele agradável ou desagradável, é

sempre uma oportunidade de adquirir nova experiência – respon-deu Francisco.

– Francisco, de onde você recolhe essas sábias ideias?– Sábio, que eu tenha conhecimento, é Jesus Cristo! Eu sou ape-

nas um estudante da vida, que ainda apanha muito, quando tem que colher o que semeou sem selecionar as sementes. Mas se você quer saber, o pouco de conhecimento que retenho foi recolhido de um estudo que eu e outras pessoas fazemos do Evangelho e da doutrina espírita. Nessas duas preciosas fontes, encontram-se, den-tre outras, explicações sobre a vida espiritual e os fenômenos liga-dos à ação dos espíritos desencarnados, inclusive esse que vem lhe ocorrendo, que se trata de mediunidade de clarividência.

– Nunca ouvi falar nisso!– Bem, de qualquer forma, pode ficar tranquilo, pois não se tra-

ta de insanidade mental, como talvez seja a sua impressão, tam-pouco é uma obsessão. Se você tiver interesse, podemos incluí-lo em nosso grupo de estudo.

– É o único recurso para livrar-me desse fenômeno?

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– Não para livrar-se, mas sim para aprender a conviver com ele.– Se é assim, é possível que seja algo bom para mim, contu-

do, terei que enfrentar algumas dificuldades. A minha esposa, por exemplo, frequenta uma igreja que adota a reforma luterana, e crê que a doutrina espírita nada mais é do que uma manifestação do demônio. Apesar da minha falta de conhecimento no assunto, não posso afirmar isso com a mesma convicção, pois conheço algumas pessoas de notáveis qualidades morais que se encontram nesse mo-vimento; vejo-as, porém, passar por dissabores diversos, gerados por familiares que não aceitam isso, e também por outras religiões que não escondem a sua posição contrária a esses princípios. Isso poderia atrapalhar as minhas atividades como advogado e afastar do meu comércio clientes que cultuam outras religiões.

Parou de falar e, instantes depois, concluiu:– Todavia, pior mesmo é ficar a ver pessoas que já morreram.

Uma hora dessas aí, morrerei eu também... de medo!Francisco respondeu-lhe sorrindo:– Pondere! Quando decidimos enfrentar a situação, o medo

desaparece. Se quiser, venha estudar conosco e conhecer de perto. Mas, enquanto você se decide, dê uma olhada nesse livro!

– Sim, depois o trago de volta.– Receba-o como um presente de amigo.Mais confortado, Paulo José abraçou o antigo amigo e, enquan-

to caminhava retornando à casa, passou a analisar: “Bem, se Fran-cisco estiver certo... Não se tratando, então, de um problema mental e tampouco de uma manifestação demoníaca... E já que o caminho para descobrir quem foi ou ainda é a minha mãe, se ainda viva, está no meu retorno a Assaré para fazer justiça, conforme disse o espíri-to... Embora essa possibilidade seja algo ainda desconhecido, acho

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que o melhor a fazer é acatar sua orientação e, com coragem, en-frentar o que vier, mesmo sem saber o que é, até descobrir se tudo isso não passa apenas de uma ilusão da minha mente”.

Assim pensando, ao chegar a casa já se encontrava determinado:– Que tal uma viagem? – perguntou à esposa e aguardou a rea-

ção, o que não veio de imediato, como esperava:– Antes, eu quero saber – disse, nervosa – o que aconteceu, que

acabou transformando em pedaços, a única lembrança que eu tinha da minha saudosa avó!

– Só pode ter sido o gato – respondeu ele sorrindo, apesar de ter notado lágrimas descendo rosto abaixo da esposa.

– Mas como, Paulo, o vaso grande, pesado... A não ser que ele tenha se assustado com algo fora da rotina aqui de casa!

– Pode ter sido uma alma do outro mundo!– É melhor não brincar com essas coisas!– Com medo, Marlúcia? Você não afirma que a alma, depois da

morte, nunca retorna? Não deve ter medo, então.– Tenho respeito. Mas, voltando ao assunto anterior, você está

planejando viajar para onde, com tantos compromissos?– Assaré, Ceará, minha terra natal.– Imaginei isso. Há tanto que você fala... Sabia que um dia aca-

baria indo. Que seja feita, primeiro, a vontade de Deus. Depois... Depois pode ser a sua!

– Brevemente, mar afora – disse ele sorridente, ao abraçar Mar-lúcia. Em seguida, segurou delicadamente as mãos da esposa e pro-pôs carinhosamente:

– Sentemos um pouco ali, pois eu quero muito lhe falar.Depois de instantes, com o olhar fixo num ponto, como se con-

templasse a distância, comentou:

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– Marlúcia – disse ele, olhando-a de frente –, quando nos conhe-cemos, eu já havia conseguido a duras penas a minha formatura, e já dava para sentir um futuro, em termos financeiros, tranquilo. Mas a minha vida, antes, não foi assim, com essa beleza de pétalas abertas e perfumes. Foi de muito espinho. Espinho do que fere e dói. Não como os ferimentos na pele, que logo, com um bom medicamento, cicatrizam, mas com muita dor moral... Sofrimento íntimo. Nunca falei do meu tempo de criança a você. Não achava necessário, e mes-mo você nunca manifestou interesse de saber. Também, eu achava que o passado já se encontrava nos escombros do tempo. Mas, ago-ra, penso que, mesmo estando assim, é possível que algum fragmen-to se liberte e nos busque. E quando isso acontece, o que era passado toma a feição de presente. Não sei ainda qual a verdadeira finalida-de desse fenômeno. Mas estou certo de que isso pode ocorrer.

Falou sem entrar em detalhes, se referindo às aparições do es-pírito que vinham ocorrendo nos últimos dias, das quais não gos-taria que a esposa tomasse conhecimento, pois não sabia qual sua possível reação, por causa de sua orientação religiosa, conforme vi-mos acima. Depois de rápida pausa, ele concluiu a conversa:

– Qualquer dia desses, eu lhe conto a minha história, se você desejar ouvir.

– Se há uma história que pode despertar o meu interesse, creio que seja apenas a nossa, desde quando nos conhecemos. Daí pra lá, pouco me chama atenção.

– Marlúcia, é possível que a soma de experiências vividas in-fluencie na formação dos caracteres e da personalidade. No decor-rer do tempo, imprimimos muitas mudanças no modo de viver, entretanto, continuamos sendo o mesmo ser existencial. Na Bíblia, que você lê todos os dias, não há mensagens que despertem uma atitude mais fraterna e salutar à boa convivência?

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Marlúcia se demonstrava insatisfeita, por causa da descrença de Paulo José em relação a existência de Deus e do claro desinte-resse em relação à sua religiosidade. Assim é que, sem nada dizer, saiu rapidamente da sala, mas ele a seguiu:

– Está apressada?– Um pouco. Vou à igreja, pois hoje é dia de culto.– Quer a minha companhia?– Para me deixar na porta e retornar, como das outras vezes...

Já que não deseja participar, está dispensado!Logo depois que ela saiu, Paulo José acomodou-se na mesma

poltrona e passou a reviver, como possível, um dos piores momen-tos da sua vida. Não tendo como esquecê-lo, acabou cultivando, ao longo do tempo, uma profunda amargura e, paralelamente, um sentimento de vingança contra certa mulher, a mentora de uma hu-milhação imposta tanto a ele quanto aos companheiros de desdita, quando crianças.

***Na semana seguinte, no dia e horário apontados por Fran-

cisco, Paulo José chegou ao local das reuniões, descrente e teme-roso. Por se tratar de algo para ele desconhecido, quis recuar, contudo, apoiado pelo velho amigo, acabou ficando. A primeira parte das atividades despertou no visitante muito interesse, mas também gerou dúvidas, já que o tema estudado se referia à psi-cofonia, que ele não sabia de que se tratava. Na segunda parte, porém, que se referia a mediunidade na prática, o advogado, que fora acomodado numa cadeira à parte, na sala mediúnica, como simples assistente, mantinha apenas curiosidade e receio. Na se-gunda comunicação psicofônica daquela noite, através de um médium, o mesmo espírito que vinha lhe aparecendo, se dirigiu, assim, a Paulo José:

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– Meu filho, não sei se você conhece esse ensinamento de Jesus: Não julgueis, para não serdes julgados.

Ele permaneceu em silêncio, e o espírito comunican-te prosseguiu:

– Naquela época, não havia condições, da sua parte, de enten-der a atitude desagradável da mulher, por ser você ainda criança. Agora, no entanto, que você já é um adulto, poderia compreender melhor, se a tendência fosse buscar as causas, para ter acesso à ver-dade propriamente dita, e não julgar pelos efeitos, como ainda age a maioria. Está me compreendendo?

Ele não falou nada, mas meneou positivamente com a cabeça.– Você não busca, no exercício da sua profissão, a veracidade

dos fatos, para tentar defender com mais segurança aqueles que contratam os seus serviços?

Ele fez o mesmo gesto de antes, e o espírito prosseguiu:– Então, meu filho, faça isso com você mesmo, sem autodefesa,

toda vez que pensar em alguém que supostamente tenha lhe preju-dicado ou até mesmo causado sofrimento. Os agravos nem sempre correspondem à tempestade íntima que nos permitimos, o que aca-ba originando sofrimento moral. Em lugar disso, enquanto estiver alheio às causas, use a terapia do amor em forma de perdão, pois é possível que o ofensor esteja passando por momentos de grande di-ficuldade, sem a necessária condição de manter o equilíbrio moral.

Alheio às ocorrências posteriores ao fato que tanto lhe marcara, Paulo José não poderia suspeitar que o conteúdo da comunicação espiritual que acabava de ouvir era, realmente, o que ocorria na época com a referida mulher, conforme acompanharemos no pró-ximo capítulo.