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125
UNIVERSIDADE DE BRASILIA - UNB FACULDADE EDUCAÇÃO FÍSICA - FE IDENTIFICAÇÃO DOS LIMIARES DE LACTATO, VENTILATÓRIOS E ELETROMIOGRÁFICOS DE SUPERFÍCIE EM EXERCÍCIO RESISTIDO Suellen Vaz Nasser Orientadora: Keila Elizabeth Fontana BRASÍLIA – DF 2010

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  • UNIVERSIDADE DE BRASILIA - UNB

    FACULDADE EDUCAO FSICA - FE

    IDENTIFICAO DOS LIMIARES DE LACTATO,

    VENTILATRIOS E ELETROMIOGRFICOS DE SUPERFCIE

    EM EXERCCIO RESISTIDO

    Suellen Vaz Nasser

    Orientadora: Keila Elizabeth Fontana

    BRASLIA DF

    2010

  • ii

    SUELLEN VAZ NASSER

    IDENTIFICAO DOS LIMIARES DE LACTATO,

    VENTILATRIOS E ELETROMIOGRFICOS EM EXERCCIO

    RESISTIDO

    Dissertao apresentada Faculdade de Educao Fsica da Universidade de Braslia, como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Educao Fsica.

    ORIENTADORA: KEILA ELIZABETH FONTANA

    BRASLIA DF

    2010

  • iii

  • iv

    SUELLEN VAZ NASSER

    IDENTIFICAO DOS LIMIARES DE LACTATO, VENTILATRIOS E

    ELETROMIOGRFICOS DE SUPERFCIE EM EXERCCIO RESISTIDO

    Dissertao aprovada no Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Educao Fsica da Universidade de Braslia, pela Banca Examinadora formada pelos professores: Presidente da Banca: Prof Dr. Keila Elizabeth Fontana

    Membro Interno: Prof Dr. Wilson Henrique

    Veneziano

    Membro Externo: Prof Dr. Vilmar Baldissera

    Membro Suplente Prof Dr. Alexandre Luiz

    Gonalves de Rezende

    Braslia, 20 de setembro de 2010.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Dedico esse trabalho a Deus, Aquele que me fortalece. A minha famlia, em

    especial minha me, Estela Vaz dos Santos, pela presena e apoio em todos os

    momentos, a meu irmo, Vitor Augusto Nasser e meu av, Osman Vaz, pelo

    incentivo.

    Agradeo a minha orientadora, professora doutora Keila Elizabeth Fontana,

    pela cautela e dedicao apresentada quanto construo e ao

    desenvolvimento dos meus conhecimentos acadmicos.

    Agradeo aos amigos colaboradores, professores doutores Ricardo Queiroz

    e Marcelino Andrade, professor mestre Fabiano Arajo Soares, Jefferson

    Pimentel Jnior, Edgard Soares, Vincius Amaral, Kaio Ferreira e Marcelo

    Barroso, sem os quais esse trabalho no teria existido.

  • vi

    SUMRIO

    Pgina LISTA DE TABELAS................................................................................. v LISTA DE FIGURAS................................................................................. vi LISTA DE GRFICOS.............................................................................. viii RESUMO.................................................................................................. x ABSTRACT ............................................................................................. xi CAPTULO 1 INTRODUO................................................................. 1 CAPTULO 2 FUNDAMENTAO TERICA....................................... 5 2.1 - Limiares Metablicos Lactacidemia............................................... 5 2.2 - Limiares Ventilatrios Ergoespirometria........................................ 8 2.3 - Limiares EMGS Eletromiografia de Superfcie.............................. 12 2.3.1 - Funo motora............................................................................... 12 2.3.2 - Sistema Nervoso Central (SNC) e as contraes musculares...... 12 2.3.3 - Especificidades morfofuncionais das UMs................................... 13 2.3.4 - Sinpse exitatria- Potencial de Ao (PA)................................... 14 2.3.5 - Mecanismos da contrao muscular............................................. 15 2.4 - Contextualizao - Limiares nos exerccios resistidos .................... 23 2.5 - Objetivos do estudo.......................................................................... 25 CAPTULO 3 METODOLOGIA.............................................................. 26 3.1- Aspectos ticos................................................................................. 26 3.2 - Local de Realizao dos Testes....................................................... 26 3.3 Amostra........................................................................................... 26 3.3.1- Critrios de Incluso...................................................................... 26 3.3.2- Critrios de Excluso...................................................................... 27 3.3.3- Perda amostral............................................................................... 27 3.4 - Procedimentos para a coleta de dados............................................ 28 3.4.1- 1 Parte: Laboratrio de Cineantropometria................................... 28 3.4.2 - 2 Parte: Determinao da carga de teste..................................... 28 3.4.3 - 3 Parte: Protocolo de Carga Crescente....................................... 31 3.4.4 - Coleta sangunea.......................................................................... 32 3.4.5 - Anlise Sangunea Lactacidemia............................................... 32 3.4.6 Ergoespirometria.......................................................................... 33 3.4.7 - Eletromiografia de Superfcie................................................ ........ 35 3.4.8 - Integrao dos trs protocolos...................................................... 41 3.5 - Processamento dos dados e determinao dos limiares................. 42 3.5.1 - Lactacidemia- Limiares de Lactato................................................ 42 3.5.2 Ergoespirometria........................................................................... 44 3.5.3 Eletromiografia.............................................................................. 45 3.6 - Anlise de dados.............................................................................. 47 CAPTULO 4 RESULTADOS................................................................. 49 CAPTULO 5 DISCUSSO.................................................................... 62 5.1.0 - Panorama da pesquisa.................................................................. 62 5.1.1 - Contextualizao com os exerccios aerbios............................... 62 5.1.2 - Contextualizao com os exerccios resistidos............................. 63 5.2 - Comportamento dos limiares nos diferentes mtodos aplicados............ 67 5.3 - Anlise de concordncia entre os mtodos...................................... 68 5.4 - Validao das metodologias............................................................ 72 5.5 - Consideraes acerca dos limiares em termos de FC e VO2 relativo......................................................................................................

    73

    CAPTULO 6 CONCLUSO.................................................................. 75

  • vii

    REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................... 77 ANEXOS................................................................................................... 93 APENDICES............................................................................................. 96

  • viii

    LISTA DE TABELAS

    Pgina

    Tabela 1 - Caracterizao da amostra................................................ 28

    Tabela 2 - Representao do modelo adotado para expressar os

    limiares de lactato em funo do tempo............................. 44

    Tabela 3 - Descrio do primeiro limiar (L1) nas variveis estudadas 49

    Tabela 4 - Descrio de L2 nas variveis estudadas.......................... 49

    Tabela 5 - Resultados da Anova (Teste de Mauchly) para L1............. 50

    Tabela 6 - Resultados da Anova (Teste de Mauchly) para L2............. 51

    Tabela 7 - Anlise comparativa de L1 entre os mtodos, para cada

    varivel estudada por meio do post hoc de Bonferroni ...... 51

    Tabela 8 - Anlise comparativa de L2 entre os mtodos, para cada

    varivel estudada por meio do pareamento de Bonferroni 52

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    Pgina Figura 01 - Engrenagens: integrao entre sistemas muscular,

    pulmonar e cardiovascular.................................................

    8

    Figura 02 - Correlao entre limiares metablicos e ventilatrios....... 11

    Figura 03 - Representao esquemtica dos mecanismos bsicos

    envolvidos no controle motor e seus componentes...........

    13

    Figura 04 - Organizao esquemtica da interao Sistema Nervoso

    Central (SNC) e muscular juno neuromuscular,

    sinapse qumica.................................................................

    14

    Figura 05 - Estruturas responsveis pela contrao muscular............ 16

    Figura 06 - Mecanismos da contrao muscular................................. 16

    Figura 07 - Diagrama esquemtico dos fatores que afetam o sinal

    em eletromiografia de superfcie.......................................

    20

    Figura 08 - Possveis consequncias metablicas e eletrofisiolgicas

    induzidas pela fadiga muscular.........................................

    21

    Figura 09 - Movimento rosca bceps barra reta. Amplitude mxima

    de 180, mnima de 40 e ngulo de recorte

    eletromiogrfico de 89,99 a 90,01..................................

    30

    Figura 10 - Coleta sangunea no lobo da orelha.................................. 32

    Figura 11 - Equipamento de anlise das concentraes de lactado

    sanguneo..........................................................................

    33

    Figura 12 - Ergoespirometria: Crtex, mscara e eletrodos................ 33

    Figura 13 - Dados ergoespiromtricos e eletromiogrficos................. 34

    Figura 14 - Eletromigrafo EMG-16 (LISiN Ot Bioelettronica

    Torino, Itlia)......................................................................

    35

    Figura 15 - Eletrodo de mapeamento rgido com barras de prata

    clorada com 1 mm de largura por 5 mm de comprimento

    e distncia inter-eletrodica de 5 mm (Ottino

    Bioelettronica, Torino, Itlia)..............................................

    36

    Figura 16 - Mapeamento com eletrodo rgido...................................... 36

    Figura 17 - Mapeamento captado pelo arranjo rgido de 16 canais

    pelo software EmgAcq - LISIN e padro de propagao

    do sinal EMGS...................................................................

    37

    Figura 18 - Indicadores fornecidos pelo software (EmgAcq/ LISiN 38

  • x

    Ot Bioelettronica Torino, Itlia) e utilizados na anlise

    quantitativa do mapeamento muscular..............................

    Figura 19 - Colocao do eletrodo flexvel na zona mapeada............. 38

    Figura 20 - Representao esquemtica do eletrodo de arranjo

    linear semi-flexvel com oito canais e dos procedimentos

    de colocao do mesmo....................................................

    39

    Figura 21 - Placa conversora analgico-digital de aquisio de

    dados PCMCIA..................................................................

    40

    Figura 22 - A- Sinal do eletrogonimetro e B Sinal recortado pelo

    eletrogonimetro................................................................

    40

    Figura 23 - Eletrogonimetro acoplado ao microprocessador............. 41

    Figura 24 - Disposio esquemtica de todos os equipamentos utilizados na coleta...........................................................

    41

  • xi

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01 - Curva de lactato em funo do tempo, identificao dos

    LL pelo mtodo da inspeo visual com QL......................

    43

    Grfico 02 - Curva da ventilao e dos equivalentes ventilatrios em

    funo do tempo, identificao dos limiares ventilatrios

    pelo mtodo da inspeo visual........................................

    45

    Grfico 03 - Determinao dos limiares eletromiogrficos pelo

    mtodo da inspeo visual grfica pelos valores do

    coeficiente angular obtidos pela VC..................................

    47

    Grfico 04 - Grau de concordncia (Bland Altman) e coeficiente de

    correlao de Pearson para L1 em funo do tempo........

    54

    Grfico 05 - Grau de concordncia (Bland Altman) e coeficiente de

    correlao de Pearson para L1 em funo da VO2

    (mL.kg-1.min-1)....................................................................

    55

    Grfico 06 - Grau de concordncia (Bland Altman) e Coeficiente de

    Correlao de Pearson para L1 em funo da frequncia

    cardaca (bpm)...................................................................

    56

    Grfico 07 - Grau de concordncia (Bland Altman) e

    Coeficiente de Correlao de Pearson para L1 em

    funo da carga de trabalho (kg).......................................

    57

    Grfico 08 - Grau de concordncia (Bland Altman) e correlao de

    Pearson para L2 em funo do tempo (s).........................

    58

    Grfico 09 - Grau de concordncia (Bland Altman) e correlao de

    Pearson para a determinao de L2 em funo do VO2

    (ml.kg-1.min-1).....................................................................

    59

    Grfico 10 - Grau de concordncia (Bland Altman) e Coeficiente de

    Correlao de Pearson na determinao de L2 em

    funo da FC (bpm)...........................................................

    60

    Grfico 11 - Grau de concordncia (Bland Altman) e Coeficiente de

    Correlao de Pearson para L2 em funo da CT (kg).....

    61

  • xii

    LISTAS DE SIGLAS, ABREVIAES E SMBOLOS ADP Difosfato de adenosina

    ATP Trifosfato de adenosina

    Ca++ ons de clcio

    CO2 Dixido de carbono

    CP Creatina fosfato

    CT Carga de Trabalho

    EMGS Eletromiografia de superfcie

    ER Exerccios Resistidos

    FC Frequncia cardaca

    FM Frequncia Mdia

    FMD Frequncia Mediana

    H+ ons de hidrognio

    K+ ons de potssio

    L1 Primeiro limiar

    L2 Segundo limiar

    LL1 Primeiro limiar de lactato

    LL2 Segundo limiar de lactato

    LEMG1 Primeiro limiar eletromiogrfico

    LEMG2 Segundo limiar eletromiogrfico

    LVC1 Primeiro limiar de velocidade de conduo

    LVC2 Segundo limiar de velocidade de conduo

    LV1 Primeiro limiar ventilatrio

    LV2 Segundo limiar ventilatrio

    NADH+ Nicotinamida dinucleotdeo

    O2 Oxignio

    Pi Fosfato inorgnico

    1RM Uma repetio mxima

    RMS Root Mean Square (raiz quadrtica mdia)

    V Ventilao

    VC Velocidade de conduo

    VCO2 Produo dixido de carbono

    V/VCO2 Equivalente ventilatrio de gs carbnico

    VO2 Consumo de oxignio

    V/VO2 Equivalente ventilatrio de oxignio

  • xiii

    RESUMO

    O treinamento resistido (TR) tem sido alvo de muitos estudos cientficos, pois o

    que antes era praticado to somente para fins estticos, agora se destaca pela

    abrangente contribuio na promoo da sade e no mbito esportivo. Para

    compreender os fatores determinantes do desempenho fsico necessrio analisar os

    fenmenos bioqumicos, biomecnicos e fisiolgicos desencadeados em decorrncia

    de cada atividade fsica proposta. Tendo em vista a pequena quantidade de estudos

    publicados a esse respeito, o objetivo desta pesquisa foi Identificao dos limiares de

    lactato, ventilatrios e eletromiogrficos em exerccios resistidos de rosca bceps. Trs

    mtodos, (lactacidemia, ergoespirometria e eletromiografia) foram simultaneamente

    empregados na identificao dos limiares. A coincidncia entre os mtodos foi

    analisada por ANOVA de medidas repetidas e Bland-Altman, na perspectiva de

    validao da eletromiografia de superfcie (EMGS) como mtodo adequado. Treze

    jovens com idade de 21,3 2,6 anos e estatura 174,4 6,0 cm realizaram um

    protocolo dinmico incremental escalonado em fraes de 1RM. Foram coletadas

    amostras sanguneas, dados ventilatrios, de frequncia cardaca e eletromiogrficos.

    Os limiares foram determinados por inspeo visual da curva de lactato, ventilao,

    equivalentes ventilatrios de O2 e CO2 e velocidade de conduo (VC) do impulso

    nervoso em funo do tempo. Ao final, os ndices foram expressos e comparados em

    termos de VO2, FC, carga de trabalho relativo (%1RM) e absoluto (kg). Foi possvel

    identificar dois pontos de mudana de comportamento da curva nos trs mtodos (L1

    e L2). A EMGS foi considerada vlida na determinao de L1 para todas as variveis

    em anlise considerando a lactacidemia como o padro ouro. No entanto, para L2 a

    ergoespirometria mostrou-se confivel em relao ao padro ouro. Mais estudos

    precisam ser desenvolvidos para a padronizao dos procedimentos envolvidos na

    determinao e anlise dos limiares 1 e 2.

    Palavras chave: treinamento de fora, limiar anaerbio, rosca bceps, arranjos

    lineares, velocidade de conduo, consumo de oxignio e frequncia cardaca.

  • xiv

    ABSTRACT

    Resistance training (RT) has been subject of several scientific studies, since its

    application not only for aesthetic purposes, but in health promotion and sports

    activities. To understand the determinants of physical performance is necessary to

    analyze biochemical, biomechanical and physiological phenomena triggered as a result

    of each physical activity proposed. Due to the small number of published studies in this

    regard the main of this study was the identification of lactate threshold, ventilatory and

    electromyographic, in resistance exercise on biceps curl. Three methods (blood lactate

    concentration, ergospirometry and electromyography suitable) were simultaneously

    used to determine the thresholds. The coincidence between the methods was analyzed

    by repeated measures ANOVA and Bland-Altman, aiming the validation of surface

    electromyography (EMGS) as a suitable instrumentation. Thirteen youths aged 21.3

    2.6 years and height 174.4 6.0 cm performed a dynamic incremental protocol spread

    over parts of 1RMs worklloads. Blood samples, ventilatory, heart rate and

    electromyographic suitable data were collected. The thresholds were determined by

    visual inspection of the curve of lactate, ventilation, oxygen and carbon dioxide

    equivalents and speed conduction of the nerve impulse over the time. At the end, the

    rates were expressed and compared in terms of VO2, HR, relative (%1RM) and

    absolute (kg) workload. Two points of change in the pattern of the curve in the three

    methods (L1 and L2) were identified. The EMGS was considered valid in determining

    L1 for all variables analyzed, considering lactate curve as the gold standard. However,

    for L2, the ergospirometry was reliable compared to the gold standard. More studies

    are necessary to develop a standard procedures involved in the determination and

    analysis of anaerobic thresholds.

    Key-words: strength training, anaerobic threshold, biceps curl, lineal arrangements,

    speed conduction, oxygen consumption and heart rate.

  • CAPTULO 1 - INTRODUO

    O treinamento resistido (TR), popularmente conhecido por musculao, consiste

    em exerccios que impem aos msculos movimentos contra uma fora de oposio,

    normalmente representada por algum tipo de equipamento ou objeto (FLECK &

    KRAEMER, 1999). Essa atraente modalidade esportiva tem sido alvo de muitos

    estudos cientficos, pois o que antes era praticado to somente para fins estticos,

    atualmente se destaca pela abrangente contribuio na promoo da sade e no

    mbito esportivo.

    O Colgio Americano de Medicina do Esporte ACSM (2009) recomenda a

    incluso dos exerccios resistidos (ER) nos programas de atividade fsica. Isto se deve

    aos efeitos positivos gerados nas funes metablicas, neuromusculares,

    cardiovasculares, pulmonares e na constituio corporal, tanto em grupos normais

    quanto especiais. Alm disso, os ER podem prevenir leses e proporcionar bem estar

    psico-social (JORGE et al., 2009). O ACSM tambm afirma que capacidades fsicas

    influentes no desempenho esportivo, tais como velocidade, agilidade, equilbrio,

    coordenao, potncia e flexibilidade podem ser melhoradas por meio de um

    programa de ER. Portanto o TR tem a peculiaridade de aprimorar o rendimento de

    atletas com alto nvel nas mais diversas modalidades (LYNCH et al., 2000).

    Para compreender os fatores determinantes do desempenho fsico, em

    qualquer atividade, necessrio analisar os fenmenos bioqumicos, biomecnicos e

    fisiolgicos desencadeados em decorrncia de cada atividade proposta (GLEESON et

    al., 2000; McGINNIS et al., 2002, McARDLE, 2003; OKANO, 2004). Nesse contexto

    est inserida a importncia de se investigar os padres comportamentais

    caractersticos de cada etapa do exerccio, tais como as vias metablicas, os

    substratos energticos e tipos de fibras musculares predominantes, alteraes de pH,

    temperatura e estado inico celular, alm das variaes nos padres de recrutamentos

    neuromotores. Estes fenmenos fornecem subsdios para o estabelecimento dos

    chamados parametros de desempenho, ao mesmo tempo em que fornecem

    embasamento para as interpretaes dos mesmos.

    Dois parmetros de desempenho amplamente empregados no mbito

    desportivo so os Limiares Metablicos (LM) tambm conhecidos por Limiares de

    Lactato (LL). Esses pontos so considerados indicadores do estresse fisiolgico, pois

    retratam os mecanismos associados fadiga em funo do acmulo de ons H+

  • 2

    ocasionado pela hipxia tecidual (RIBEIRO, 1995; DENADAI, 2000; MARQUEZI,

    2006).

    Devido natureza invasiva da determinao dos LM, Wasserman et al. (1973)

    desenvolveram um novo mtodo de identificao dos limiares, validado e no invasivo

    utilizando parmetros ventilatrios. Desde ento, essa metodologia tem sido

    amplamente adotada e empregada por meio da ergoespirometria. Nesse contexto os

    limiares recebem o nome de Limiares Ventilatrios (LV1 e LV2), demonstrando haver

    relao de causa e efeito com os LM discutidos anteriormente (RIBEIRO, 1995). Os

    ajustes ventilatrios ocorrem como mecanismo de proteo do organismo em resposta

    ao acmulo de lactato e CO2 no sangue. Esses, por sua vez, so viabilizados pela

    ao integrada dos sistemas muscular, cardiovascular e pulmonar (engrenagens de

    Wassermam) (MCARDLE, et al., 2003; Wasserman et al., 1973).

    Segundo Merletti & Parker (2004), a eletromiografia de superfcie (EMGS) o

    registro das atividades eltricas geradas por um conjunto de unidades motoras ativas

    que proporciona o entendimento dos mecanismos relacionados s contraes

    musculares e ao controle motor. Esta tecnologia normalmente empregada no estudo

    da fadiga muscular devido sua relao com a reduo da capacidade em gerar fora

    (SIlVA & GONALVES, 2003; DIMITROV et al., 2006).

    Estudos relatam haver alteraes nos parmetros EMGS de amplitude (RMS),

    frequncia de disparo das fibras musculares (FPMd) e velocidade de conduo (VC)

    medida em que a fadiga se desenvolve (ANDRADE, 2006). Por isso, uma nova

    abordagem aponta para a possibilidade de utilizao da EMGS como mtodo

    alternativo na determinao dos limiares referidos. Em 1982 DeVries e colaboradores

    no encontraram diferenas significativas entre o LV1 e o Limiar eletromiogrfico 1

    (LEMGS1) dado pelo ponto de primeira quebra na linearidade dos parmetros EMGS,

    ou seja, intensidade mxima na qual no se iniciam os processos fatigantes. Alm

    disso, os fatores de correlao foram altos (r=0,90). O mesmo ocorreu no estudo de

    Matsumoto, em 1991, onde a correlao foi de 0,82 (DENADAI, 2000). Por outro lado,

    Lcia et al. (1999) identificaram, por meio da anlise do RMS, dois limiares EMGS

    coincidentes com os metablicos e ventilatrios concluindo que a EMGS pode ser

    utilizada como instrumento de determinao dos limiares. Moritani et al. (1993) e

    Merletti et al. (2004) demonstraram haver relaes entre as concentraes de O2 e de

    lactato com as alteraes das variveis eletromiogrficas uma vez que o padro de

    comportamento neuromotor varia em conformidade com os tipos de vias metablicas e

  • 3

    fibras musculares solicitadas. Pozzi et al. (2006) detectaram a possibilidade de

    identificar o L1 por EMGS comparando o LV1 com o LEMGS1.

    A eletromiografia de superfcie vem sendo considerada como instrumentao

    vlida na avaliao direta e no invasiva do L1 (HNNINEN et al., 1989; BIJKER et al.,

    2002; KENDALL et al., 2010). Essas vantagens tornam a EMGS um tanto quanto

    atraente, visto que a lactacidemia aplica-se de forma invasiva e a ergoespirometria

    utiliza-se de equipamentos sofisticados e de alto custo. importante ressaltar que os

    equipamentos da EMGS oneram menores custos operacionais do que a

    ergoespirometria, so menores e mais leves, o que facilita o transporte, e no causam

    desconforto aos voluntrios durante a aplicao dos testes, como o caso da mscara

    coletora fixada face para a captao dos gases inspirados e expirados (PESSOTTI,

    2005; FONTES, 2008).

    Nos estudos citados at o presente momento, os limiares metablicos,

    ventilatrios e eletromiogrficos tm sido empregados como parmetros de avaliao

    da capacidade funcional e utilizados na prescrio segura dos exerccios

    considerados aerbios. No entanto, o estudo dos limiares em ER vem dando seus

    primeiros passos no mbito cientfico. Por isso ainda um tema polmico, causador

    de questionamentos quanto consistncia dos resultados e das suas implicaes

    prticas (TAKEHARA & LIBERATORE, 2009).

    Essa questo merece maior ateno dada as suas implicaes prticas, pois

    parmetros fisiolgicos que permitem prolongar os esforos como LL1, LV1 ou de

    frequncia cardaca (FC), parecem ter maior relao com a qualidade de vida do que

    valores elevados de potncia aerbia, fundamental ao desempenho esportivo

    Santarm et al. (1999). Dessa maneira, o L1 tornou-se ferramenta de prescrio

    segura dos exerccios fsicos, permitindo uma boa avaliao do estado fsico atual do

    indivduo ou grupo, tanto para tarefas aerbias como para anaerbias, como o caso

    dos exerccios resistidos (WEINECK, 1999).

    Alguns estudos relatam a existncia dos limiares em ER. No estudo

    desenvolvido por Barros et al. (2004), o LL1 ocorreu entre 28% e 32% de 1RM.

    Azevedo et al. (2005) encontraram o LL1 aos 28% de 1RM em dois movimentos

    diferentes, um envolvendo membros superiores (rosca bceps) e outro membros

    inferiores (mesa flexora). Oliveira et al. (2006) concluiram que possvel identificar o

    limiar de lactato e glicmico em ER incremental encontrando correlao entre estes de

    r=0,80. Lamonier et al. (2006) estudaram o comportamento do LL1 enquanto os

  • 4

    voluntrios executavam o exerccio supino reto. Os autores encontraram melhoras

    nesta varivel ao relacion-la suplementao com creatina.

    Oliveira (2006) desenvolveu um estudo com utilizao do LEMGS1, baseado no

    conceito de L1, na prescrio da intensidade do treinamento resistido ao longo de oito

    semanas. Aps a interveno houve reduo nos valores de RMS para o mesmo

    ponto, alm de ganhos de fora e resistncia muscular localizada. O autor pde

    concluir que o LEMGS1, baseado nos valores do RMS, pode ser um parmetro de

    prescrio para o TR.

    Como pode ser visto, o estudo dos limiares em ER vem dando seus primeiros

    passos no mbito cientfico. Por isso o presente estudo foi elaborado na perspectiva

    de contribuir para o desenvolvimento do TR, apresentando informaes a respeito dos

    efeitos biolgicos agudos dos ER. A constatao de poucas evidncias sobre

    procedimentos que validassem metodologias de determinao de limiares em ER foi o

    outro fator preponderante.

  • 5

    CAPTULO 2 - FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 - Limiares Metablicos Lactacidemia

    O exerccio fsico impe ao organismo o aumento na demanda energtica

    ocasionando uma srie de alteraes sistmicas e bioqumicas inter-relacionadas.

    Essas adaptaes variam de acordo com a dificuldade imposta pela atividade em

    questo. Se a intensidade for de baixa a moderada (40% VO2max) o suprimento de

    energia (formao de ATP) ser proveniente prioritariamente da via aerbia, na

    presena de O2 (WASSERMAN et al., 2005). Neste caso, considerando-se somente o

    estado energtico, se o combustvel no esgotasse (carboidratos, lipdeos e protenas)

    a atividade poderia ser mantida infinitamente, ou seja, a atividade seria mantida em

    estado estvel (McARDLE, 2000).

    O mesmo no acontece em atividades mais extenuantes (80 a 85% VO2max) nas

    quais a distribuio de O2 para os msculos ativos parece no ser eficiente,

    comprometendo a produo de ATP e, portanto, a continuidade da tarefa (KNECHTLE

    et al., 2004 e WASSERMAN et al., 2005). Assim, ainda que a oferta ambiente de O2

    esteja adequada, o quadro de hipxia tecidual se instala tendo em vista a rpida

    passagem do sangue pelos pulmes e msculos ativos. Acredita-se que nestas

    condies o organismo priorize o sistema glicoltico ltico para suprir a demanda de

    ATP, por se tratar de uma via metablica rpida e que independe de O2 (HILL &

    LUPTON apud BERTUZZI, 2004).

    A literatura classicamente defende que o quadro de hipxia apresenta relao

    direta com o acmulo de H+ e, conseqente, reduo do pH no meio celular e

    sanguneo (WASSERMAN et al., 2005). Neste caso a hipxia funciona como um

    gatilho acelerador da atividade glicoltica anaerbia ocasionando perda na eficincia

    da lanadeira glicerol-fosfato (responsvel pelo transporte de ons H+ do citosol para a

    mitocndria) e das enzimas mitocondriais envolvidas nos processos oxidativos

    (STAINSBY, 1986 e GRASSI et al., 1998). Este mecanismo incide no esgotamento

    das coenzimas NADs, que so responsveis pela captao e transporte dos H+ do

    citosol mitocndria, formando NADH+. Na busca de reverter este quadro gerador de

    acidose as molculas de piruvato aceitam os H+ produzidos em excesso, quando ento

    so liberados na corrente sangunea na forma de lactato (GOLLNICK et al., 1986).

    A reduo no desempenho fsico tradicionalmente associada ao aumento das

    concentraes celulares de H+ e, consequentemente, da concentrao sangunea de

    lactato. Uma das explicaes mais difundidas baseia-se no fato do H+ concorrer com o

  • 6

    Ca++ na ligao com o stio TNC da troponina, mecanismo fundamental para a efetiva

    ligao acto-miosnica, ou seja, ao processo contrtil (CAIRNS, et al., 2006; DUARTE

    et al., 2008 e ALLEN et al., 2008). Outra hiptese seria que a reduo no pH celular

    induz a inibio das enzimas reguladoras da gliclise (fosforilase e fosfofrutoquinase)

    comprometendo a capacidade em gerar tenso muscular e de produzir energia

    (MARQUEZI, 2006).

    Alguns estudiosos defendem que a hipxia no a nica causa do aumento de

    lactato no sangue, sugerindo que este vinculado presena de sinalizadores

    sanguneos hormonais, tal como a epinefrina, ou ainda a quimiorreceptores III e IV das

    vias aferentes (BROOKS, 2001; WESTERBLAD et al., 2002). Apesar de haver

    discordncias acerca dos fenmenos relacionados formao do cido ltico e das

    suas implicaes frente ao exerccio, a literatura concorda com a existncia de relao

    entre fadiga muscular e variao nas concentraes do lactato sanguneo. Por isso

    tais mecanismos vm justificando a continuidade da utilizao da lactacidemia

    sangunea como metodologia clssica de anlise direta do stress metablico.

    Analisar a curva de lactato durante exerccios dinmicos progressivos incorre na

    possibilidade de estudar momentos transicionais entre as vias energticas (SIMES et

    al., 1999). No repouso, a concentrao de lactato sanguneo e muscular de

    aproximadamente 1 mmol/L. Quando o corpo entra em atividade progressiva a

    demanda energtica satisfatoriamente suprida pelos mecanismos oxidativos at o

    momento em que a via glicoltica ltica passa a ter importante participao. No entanto

    ainda no h acmulo efetivo de lactato no sangue (reduo do pH) devido ao

    tamponante do bicarbonato e da utilizao deste por parte de msculos vizinhos e

    corao, nestas condies existe um equilbrio entre a formao e remoo de lactato

    (BERTUZZI, et al., 2004; SIMES et al., 2005). Neste ponto as concentraes de

    HCO3 plasmtico diminuem proporcionalmente ao aumento nas concentraes de

    lactato liberando H2O e CO2. . A equao 1 descreve o processo de ao do tampo

    bicarbonato.

    Equao 1

    a) Lactato + H+ + HCO3 H2CO3 CO2 + H2O

    b) [H+] e [CO2] no sangue ajustes ventilatrios

    Em 1964, Wasserman et al. nomearam o referido ponto de Limiar Anaerbio

    (L1) caracterizando-o como parametro de avaliao da capacidade aerbia, indicando

  • 7

    a mxima produo energtica eminentemente oxidativa. Outras nomenclaturas

    sinnimas podem ser encontradas tais como Primeiro Limiar de Lactato (LL1) e Limiar

    Ventilatrio 1 (LV1).

    medida que o exerccio torna-se mais intenso as concentraes celulares de

    ATP vo reduzindo e, consequentemente, as de ADP, AMP, PI aumentando. Essas

    molculas funcionam como moduladores positivos da atividade de enzimas

    reguladoras da gliclise, a fosfofrutoquinase e a fosforilase (BERTUZZI et al., 2009).

    Alm disso, fibras musculares do Tipo IIa e IIb (anaerbias) vo sendo cada vez mais

    requisitadas e a secreo de hormnios que aceleram a glicogenlise e gliclise

    aumentada. A associao desses fatores implica no acrscimo progressivo da

    atividade glicoltica ltica afetando o equilbrio entre a produo e remoo do lactato,

    culminando no aumento no linear das suas concentraes e consequente reduo no

    pH sanguneo (ROGNMO, 2008). Este ponto considerado como Segundo Limiar de

    Lactato (LL2) ou Ponto de Compensao Respiratria (PCR) (WASSERMAN et al.,

    2005). Segundo Binder et al. (2008) a diversidade de nomenclaturas relacionadas a

    esses dois pontos (LL1 e LL2) uma problemtica causadora de muita confuso. Com

    o propsito de facilitar a identificao e as interpretaes referentes aos limiares, o

    presente estudo adotou a padronizao estabelecida por Wasserman et al. (2005).

    As metodologias de determinao dos limiares de lactato baseiam-se no

    comportamento da curva do lactato sanguneo em relao intensidade do esforo.

    Este, por sua vez, pode ser descrito em funo da carga de trabalho, do tempo de

    esforo, da frequncia cardaca, do consumo de O2, dentre outros. O mtodo

    tradicionalmente empregado o da identificao dos pontos de quebra pela anlise

    visual (WASSERMAN et al, 1979). Outros modelos, tais como concentraes fixas de

    lactato, mtodo log log, modelos matemticos 45 tangente com a regresso

    exponencial, Dmx (maximal distance) tambm so empregados (CONCONI et al.,

    1982; BEAVER et al., 1985; HECK et al., 1985; CHENG et al., 1995 ). De modo geral

    os estudos demonstram haver correlaes significantes entre os mtodos ao mesmo

    tempo em que sugerem que novos estudos precisam ser realizados. Por isso, ainda

    que exista o fator subjetividade interferindo no mtodo da inspeo visual, ele continua

    sendo considerado padro ouro (HOFFMAN et al., 2006; BUNC et al., 2006; POZZI

    et al., 2006).

  • 8

    2.2 - Limiares Ventilatrios Ergoespirometria

    A determinao da resposta do lactato sanguneo o mecanismo direto que

    vem sendo considerado padro ouro na identificao dos limiares metablicos.

    Todavia, essa metodologia requer que uma srie de coletas sanguneas programadas

    seja realizada, portanto sua caracterstica invasiva ocasiona desconforto aos

    avaliados. Por isso, o meio cientfico vem investindo no desenvolvimento de mtodos

    alternativos e eficazes para a determinao dos limiares (SILVA & SANTOS, 2004).

    O subproduto gerado pela ao tamponante do bicarbonato para reduzir a

    acidose ltica H2O e CO2. Portanto, as concentraes de CO2 sanguneo aumentam

    para alm daquelas formadas no metabolismo oxidativo e em proporo direta

    atividade glicoltica ltica (COSO et al., 2009). No entanto, o CO2 produzido em

    excesso tambm considerado nocivo ao organismo humano, pois ele pode reagir

    facilmente com a gua para formar cido carbnico gerando novo aumento nas

    concentraes de H+ arterial. Para compensar a acidose metablica, o organismo

    desenvolve uma alcalose ventilatria essa, de acordo com Wasserman et al. (2005),

    possibilitada pela ao integrada de trs sistemas: muscular, cardiovascular e

    pulmonar. O autor sugere o termo engrenagens para destacar a influncia que cada

    um desses sistemas tem no desempenho fsico, demonstrando, por exemplo, que a

    efetiva ao tamponante ocorre quando estes esto em bom funcionamento e atuando

    de maneira integrada.

    Figura 01 - Engrenagens: integrao entre sistemas muscular, pulmonar e

    cardiovascular [Fonte: Neder & Nery, (2003)].

    Neder & Nery, (2003) e Wasserman et al. (2005) concordam na afirmativa de

    que os sistemas respiratrio e cardiovascular tem como funo primordial realizar

  • 9

    manuteno da troca gasosa celular, da demanda energtico-metablica e do

    equilbrio cido-base. A Figura 1 ilustra a interdependncia entre os 3 sistemas

    referidos. O sistema de ao reflexa responsvel por sinalizar qualquer variao

    fsico-qumica que houver no corpo levando as informaes ao sistema nervoso

    central para ento serem processadas. Assim uma resposta central coordenativa

    emitida s engrenagens a fim de regular o desequilbrio homeosttico ocasionado pela

    atividade fsica. Uma das adaptaes evidenciadas o aumento na ventilao em

    resposta a elevao na PCO2 (COSO et al., 2009). Contudo, os mecanismos atrelados

    a esse sistema ainda so alvo de muitas discusses (TURNER et al., 1997). De

    acordo com Wasserman et al. (2005) os nicos quimiorreceptores correlacionados

    com aumentos na ventilao por exerccio, so os corpos carotdeos sensveis aos

    aumentos nas concentraes de PCO2, K+ , H+, catecolaminas, osmolaridade e

    adenosina. Todavia a evidncia desse mecanismo ocorre em intensidade acima do L1,

    o que no poderia explicar o primeiro aumento na ventilao. H evidencias de que

    parte do aumento na ventilao em funo principalmente do incio do exerccio pode

    ser atribuda ao reflexo condicionado, ou seja, ocorre um controle superior (crtex

    cerebral) sem mediao perifrica (FINK et al., 1995; DENADAI et al., 2000). Kaufman

    et al. (1984) citado por Wasserman et al. (2005) demonstraram haver relao entre a

    ativao da ventilao por ao de mecanorreceptores (fusos musculares - aferentes

    III e IV), no entanto, FERNANDES et al. (1990), BRICE et al. (1988) e ADAMS et al.

    (1984) demonstraram que o rompimento total dessas vias no alteram

    consideravelmente a resposta ventilatria.

    Em 1930, Owles et al. verificaram a relao entre o aumento da concentrao

    de lactato sanguneo e aumentos exponencial da ventilao e do volume expirado de

    CO2. Em contrapartida, Hagberg et al. (1982), citados por Molina, (2006)

    demonstraram que portadores da Sndrome de McArdle (pacientes com ausncia da

    enzima fosforilase responsvel por catalisar glicognio a glicose e consequentemente

    a lactato) apresentam as mesmas respostas ventilatrias que pessoas normais. Outros

    fatores podem estar gerando informaes aos centros respiratrios quanto s

    alteraes relativas ao exerccio.

    Em 1964, Wasserman et al. desenvolveram a metodologia de determinao dos

    limiares metablicos atravs da anlise gasosa (ergoespirometria). Esta passou por

    refinamentos nas dcadas de 1970 e 1980 e at os dias atuais classicamente

    empregada. Wasserman et al. (1973) modificaram o conceito de LL1 para a

    intensidade de exerccio acima da qual h um incio no aumento da concentrao

  • 10

    sangunea de lactato e a ventilao pulmonar se intensifica tambm de maneira no

    linear ao oxignio consumido. O LL1, assim obtido, ficou padronizado como Limiar

    Ventilatrio 1 (LV1). Com a continuidade do exerccio percebe-se ainda outro limiar

    definido pelo momento em que ocorre o acmulo na concentrao sangunea de

    lactato (LL2), gerando uma adaptao fisiolgica pulmonar conhecida por

    hiperventilao onde se constata o PCR (WASSERMAN et al., 2005). A determinao

    dos limiares por anlise gasosa e pela lactacidemia tem sido altamente correlacionada

    (DAVIS et al., 1976; YOSHIDA et al., 1981; CAIOZZO et al., 1982; JONES & DOUST,

    1998 apud DENADAI et al., 2000; KINDERMANN et al., 1979; REINHARD et al., 1979;

    McLELLAN 1980; WALSH et al, 1988; WESTON et al., 2002 apud MARQUEZI, 2006).

    Simon et al. (1986) propuseram que a relao de causa-efeito entre lactato e o

    aumento da ventilao pode estar voltada para o nvel de treinamento dos sujeitos. Em

    seu estudo eles identificaram coincidncia entre os limiares metablicos e ventilatrios

    em ciclistas treinados o que no ocorreu no grupo dos no treinados em que o

    ventilatrio antecedeu ao metablico. Entretanto, Chicharro et al. (1997) obtiveram o

    resultado oposto, ou seja, em ciclistas treinados o LV1 antecedeu ao primeiro limiar

    metablico. Okano et al. (2006), em estudo realizado com ciclistas, no encontraram

    diferenas significativas entre o Limiar anaerbio Individual (IAT) e o Limiar Ventilatrio

    2. Nesse estudo os valores foram apresentados em termos de consumo de oxignio

    (VO2), potncia (W) e frequncia cardaca (FC) com correlaes significantes de r

    =0,90, r = 0,84 e r = 0,97 respectivamente.

    Os protocolos de determinao dos limiares ventilatrios utilizam variveis

    respiratrias adquiridas durante o teste ergoespiromtrico em funo da carga de

    trabalho e ou do consumo de oxignio. Considerando a ventilao, quociente

    respiratrio, presso parcial de O2 e CO2, frao expirada de O2 e CO2 e VO2 e de

    VCO2, o LV1 e LV2 definido pelo ponto de primeira e segunda quebra na linearidade

    da curva respectivamente. Os equivalentes ventilatrios do O2 e CO2 (VE/VO2 e

    VE/VCO2) tambm podem ser utilizados, sendo que para LV1 considera-se o aumento

    da VE/VO2 sem aumento concomitante de VE/VCO2, e para LV2 considera-se o

    aumento concomitante de VE/VO2 bem como de VE/VCO2 (WASSERMAN & KOIKE,

    1992; YAZBEK et al., 1998). O presente estudo considerou a varivel ventilao bem

    como os equivalentes respiratrios na determinao dos limiares ventilatrios, tanto

    em funo da intensidade (%1RM) como do VO2 (L/min).

    O modelo da inspeo visual o mtodo de identificao dos limiares

    ventilatrios mais empregado, todavia devido a existncia do fator limitante

  • 11

    subjetividade modelos matemticos vem sendo desenvolvidos (BEAVER et al., 1986;

    ORR et al., 1982 apud PIRES et al., 2005). Em estudo realizado por Santos e

    Giannella (2004) foi demonstrado no haver diferenas significativas (p

  • 12

    2.3 - Limiares EMGS Eletromiografia de Superfcie

    2.3.1 - Funo motora

    No processo da contrao muscular ocorre um conjunto de atividades

    bioqumicas complexas e integradas que incorporam o controle central, a conduo do impulso

    nervoso, a ativao eltrica das unidades motoras e a transmisso destas atividades s fibras

    musculares, por intermdio das junes neuromusculares. Quando esse estmulo amplo o

    suficiente para causar uma despolarizao, o potencial de ao (PA) conduzido ao

    longo da membrana at atingir o interior das clulas e gerar contrao muscular. Para

    que a contrao seja mantida, esse processo deve ocorrer repetidas vezes resultando

    numa sequncia (trem) de potenciais de ao (MERLETTI & PARKER, 2004).

    2.3.2 - Sistema Nervoso Central (SNC) e as contraes musculares

    O controle do SNC sobre as funes musculares ocorre pela ao hierrquica e

    integrada de subunidades que o constitui. Assim, os movimentos so coordenados

    pelo crtex motor contando com o envolvimento do cerebelo, gnglios da base,

    mesencfalo, ponte, substncia reticular do bulbo e da medula espinhal. Estruturas

    perifricas (receptores) emitem informaes referentes ao estado das fibras

    musculares para o SNC pelas vias aferentes. Dessa maneira, o SNC poder elaborar

    o comando adequado e envi-lo aos msculos atravs das vias motoras eferentes

    (GUYTON & HALL, 1998). Os dois principais receptores envolvidos no controle

    neuromuscular so:

    1. Fuso neuromuscular - so receptores de tenso localizados em paralelo

    com as fibras musculares tendo suas extremidades fixadas ao

    endomsio. Eles sinalizam tanto o comprimento quanto a velocidade de

    alterao dos msculos.

    2. rgo tendinoso de golgi (OTG) - so receptores distribudos em srie

    com os msculos e se localizam em torno dos feixes das fibras

    colgenas tendinosa. Devido a essa localizao, os OTG so sensveis

    ao estiramento e ao encurtamento muscular o que lhes confere a

    capacidade de sinalizar as variaes dos nveis de fora.

    A unidade motora (UM) a estrutura integradora que realiza a mediao entre o

    SNC e as fibras musculares. Conceitualmente, UM o conjunto de fibras musculares

    inervadas por um motoneurnio . importante ressaltar que esse motoneurnio fica

    localizado na medula espinal, onde recebe inervaes tanto dos receptores

  • 13

    musculares (fuso muscular e OTG) quanto dos rgos neuronais superiores (BERNE

    & LEVY, 1996). A Figura 3 ilustra os mecanismos de controle do SNC sobre as aes

    musculares. As setas descendentes representam as vias eferentes e as ascendentes

    so as informaes captadas pelos receptores do sistema muscular.

    Figura 03 - Representao esquemtica dos mecanismos bsicos envolvidos

    no controle motor e seus componentes [Fonte: Merletti & Parker (2004)].

    2.3.3 - Especificidades morfofuncionais das UMs

    Literariamente as UMs podem ser classificadas de acordo com as diferenas

    morfofisiolgicas, sendo que os motoneurnios e as fibras que eles inervam

    apresentam caractersticas correspondentes. Esse sistema est diretamente

    relacionado s vias de fornecimento energtico (MCARDLE et al., 2003). Merletti &

    Parker (2004), propem a existncia de trs tipos de UM. O sistema de contrao

    lenta formado por motoneurnios com dimetro menor, onde a velocidade de

    conduo tambm menor e as fibras que eles inervam so de contrao lenta (tipo

    I). Essas fibras so muito resistentes fadiga, tm baixa atividade ATPsica, so

    altamente capilarizadas, com altas concentraes de mioglobinas e mitocndrias e o

    fornecimento de energia aerbio. O mesmo no ocorre com o sistema de contrao

    rpida em que motoneurnios com dimetro maior, conduzem mais rapidamente o

  • 14

    impulso nervoso at as fibras de contrao rpida (tipo IIa e IIb ). As fibras do tipo IIa

    diferem das IIb somente no fato de serem resistentes fadiga, visto que as IIb so

    fatigveis. No mais, ambas tm alta atividade ATPsica, so menos capilarizadas,

    com baixas concentraes de mioglobinas e mitocndrias e o fornecimento energtico

    ocorre anaerobiamente. Dimitrov et al. (2006) classificaram as UM em quatro tipos, as

    de contraes lentas e resistente fadiga e as de contraes rpidas com trs sub-

    categorias: a) resistente fadiga, b) rpidas intermedirias e c) rpidas fatigveis.

    2.3.4 - Sinpse exitatria- Potencial de Ao (PA)

    O neurnio motor apresenta uma regio capsular (placa terminal) na sua poro

    distal, a qual ir interagir com a membrana das clulas musculares (ps-sinpticas). A

    esse fenmeno d-se o nome de sinapse qumica, conforme ilustrado na Figura 4.

    Figura 04 - Organizao esquemtica da interao Sistema Nervoso Central

    (SNC) e muscular juno neuromuscular, sinapse qumica [Fonte: CSAR & CEZAR,

    (2002)].

    A chegada do potencial de ao na placa terminal estimula a abertura dos

    Canais de Clcio Voltagem Dependente onde ocorre a difuso de Ca++ para o interior

    do terminal. Isso estimular a exocitose dos neurotransmissores (acetilcolina) contidos

    nas vesculas para a fenda sinptica (zona de interao composta de material amorfo

    rico em carboidratos). Ento, a acetilcolina se liga reversivelmente a receptores

  • 15

    especficos da membrana ps-sinptica gerando a sinalizao. Em seguida ela sofre

    hidrlise, pela ao da acetilcolinesterase, para que a estimulao seja finalizada. Os

    neurotransmissores e o Ca++ so rapidamente reestocados nas vesculas pr-

    sinpticas. Esse processo realizado por transporte ativo com atuao de protena

    plasmtica (provavelmente com ao oxidativa, tendo em vista a presena de

    mitocndrias na cpsula pr-sinptica) (BERNE & LEVY, 1996).

    2.3.5 - Mecanismos da contrao muscular

    A informao excitatria gerada na membrana ps-sinptica promove a

    abertura dos canais de Na+ (influxo) e K+ (efluxo) causando alteraes eletroqumicas,

    deflagrando no PA que, por diferena de potencial se propaga ao longo das fibras em

    todas as direes. Rapidamente entra em ao a bomba de sdio e potssio que por

    transporte ativo viabiliza o retorno dos ons aos locais de estabilidade celular (condio

    importante para a ocorrncia de um novo PA) (GUYTON & HALL, 1998).

    Com a passagem do PA pelo retculo sarcoplasmtico e atravs dos tbulos T,

    ocorrem alteraes inicas que estimulam a liberao do Ca++ contido nas cisternas

    terminais para o interior das clulas. O Ca++ ir fazer ligao com a actina atravs do

    stio de interao com clcio (TNC), provocando alterao na conformao dessa

    estrutura molecular, permitindo a interao acto-miosnica e, consequentemente, a

    contrao muscular (McARDLE et al., 2003).

    As Figuras 5 e 6 ilustram os mecanismos da contrao muscular. O processo

    envolve a hidrlise de molculas de ATP configurando numa transduo qumico-

    mecnica na qual a energia qumica advinda dos nutrientes convertida em mecnica

    pelos msculos. As principais estruturas musculares responsveis pela contrao so

    a actina e a miosina. A miosina apresenta ADP + Pi unidos s suas cabeas o que lhe

    confere alta afinidade pela actina. Quando a miosina e a actina se unem, esses ADP

    e Pi so liberados formando ATP. O ATP por sua vez ser hidrolisado, pois o

    complexo actomiosina uma ATPase muito ativa nos msculos. Ento, a afinidade

    entre miosina actina reduz grandemente o que resulta na dissociao entre actina e

    miosina retomando o estado anterior (ADP Pi ligados miosina), reiniciando o ciclo. O

    esgotamento de ATP poderia provocar a interrupo desse ciclo, contudo essa

    condio considerada anormal nas clulas musculares visto que isto resultaria na

    rigidez muscular. Por isso, o mecanismo de interrupo do ciclo (relaxamento

    muscular) d-se pelo bombeamento do Ca++ mioplasmtico de volta para as cisternas

  • 16

    terminais pela ao da calsequestrina. Ou seja, tanto a contrao quanto o

    relaxamento muscular requerem gasto energtico (BERNE & LEVY, 1996).

    Figura 05 - Estruturas responsveis pela contrao muscular [adaptado de

    McArdle et al. (2003)].

    A Contrao e o ATP

  • 17

    Figura 06 - Mecanismos da contrao muscular [Fonte: Berne & Levy et al.

    (1996)].

    A eletromiografia de superfcie (EMGS) um instrumento que fornece

    informao acerca do controle motor do movimento pela captao dos potenciais de

    ao na superfcie da pele (MERLETTI & PARKER, 2004; CAMATA et al., 2008).

    Konrad, (2005) explica que os potenciais de ao provenientes do msculo podem

    fornecer informaes que contribuem para o entendimento da ao muscular. Assim,

    possvel estudar a atividade neuromuscular relacionada a comportamentos

    especficos, segundo as tarefas musculares requeridas para determinadas cargas de

    trabalho por perodo de tempo (DENADAI et al., 2000). Por isso a EMGS

    considerada ferramenta extremamente importante no estudo da fisiologia

    neuromuscular (BASMAJIAN & DE LUCA, 1985).

    Segundo Bijker et al. (2002) e Merletti & Parker et al. (2004), a eletromiografia

    de superfcie um mtodo de avaliao direta e no invasiva da fadiga muscular

    (CAMATA et al., 2008). Este mtodo pode ser inovador na determinao dos limiares

    aerbio e anaerbio, visto que apresentam caractersticas que definem a instalao da

    fadiga (GONALVES, 2006). Segundo Basmajian et al. (1985), este tipo de anlise

    tem importante contribuio no estudo dos limiares porque expressa o fenmeno sob

    um ponto de vista ainda pouco conhecido, a integrao neuromotora, ou seja, o

    controle do sistema nervoso frente atividade imposta ao organismo. Os autores

    destacam que fadiga neural parece estar intimamente ligada metablica,

    demonstrando assim que estudar os limiares por meio da EMGS implica num

    entendimento diferenciado sobre os processos relativos ao desempenho fsico.

    Fontana (2003) e Walkeling et al. (2007) discorrem que a ativao das UMs

    ocorre seguindo o princpio do tamanho. Isso significa que quanto maior for a UM

    maior ser a capacidade de produzir fora, ao mesmo tempo em que maior ser o seu

    limiar de ativao. Isso implica em dizer que, para essas UMs serem ativadas

    (formao do PA) necessrio que o estmulo neural tenha magnitude maior.

    Considerando um exerccio incremental, como no caso dos testes exigidos na

    determinao dos limiares, as UMs inicialmente recrutadas so as menores (limiares

    de ativao mais baixo, as do tipo I). A continuidade da tarefa exige que novas UM

    venham a ser ativadas, pois a fadiga comea a se instalar ao mesmo tempo em que

    exigido aumento da capacidade em gerar fora. Sendo assim, cada vez mais UMs de

    calibre maior (limiares de ativao mais altos, as do tipo IIa e IIb) vo sendo

  • 18

    recrutadas, portanto a magnitude do PA segue crescente at que a exausto impea a

    continuidade da tarefa. Walkeling et al (2007) complementam que este padro de

    recrutamento pode sofrer modulao de interneurnios localizados na medula espinal.

    A mesma relao foi considerada por Dimitrov et al. (2006), contudo os autores

    avaliaram quanto aos nveis de atividades capazes de gerar fadiga nos diferentes tipos

    de UMs. Segundo as colocaes, esperado que cada tipo de UM requer um tempo

    diferente para ser fatigada e que enquanto uma est esgotando em fadiga outra est

    apenas iniciando o processo.

    Essas variaes so captadas pela EMGS e, aps serem processadas com a

    aplicao de estimadores matemticos sensveis a eventos fisiolgicos, podem ser

    analisadas (MERLETTI & PARKER, 2004). Uma das possibilidades de estudo da

    condio do sistema neuromuscular por meio da Velocidade de Conduo (VC). Ela

    pode ser estimada com base nos sinais captados por dois ou mais eletrodos, refletindo

    assim, as propriedades das membranas das fibras musculares (SALOMONI et al.,

    2007).

    No exerccio progressivo espera-se que a VC aumente medida que o

    recrutamento adicional de UMs maiores aumenta. Merletti & Parker (2004) apontam a

    relao existente entre UMs maiores, dimetro dos axnios maiores, fibras de

    contrao rpida, aumento na fora e da VC. O Quadro 1 relaciona as propriedades

    morfofisiolgicas das UMs e a varivel VC.

    Quadro 1 - Sumrio das diferentes UMs e suas propriedades morfofisiolgicas

    [Fonte: adaptado de Merletti & Parker, (2004)].

    Tipo de Unidade Motora

    Propriedades

    histoqumicas e metablicas

    Propriedades

    mecnicas

    Propriedades

    eltricas

    Outras

    Tipo I

    Oxidativa e no

    trabalha em condies isqumicas

    Fibras de

    contrao lenta e com dimetro

    pequeno, pouca fora e resistente

    fadiga

    Baixo nvel de velocidade de

    conduo

    Baixos nveis de

    fora

    Tipo IIa

    Oxidativa e glicolitica

    Contrao rpida

    e resistente a fadiga

    Nvel

    intermedirio de velocidade de

    conduo

    Nvel de fora

    moderado

    Tipo IIb

    Glicolitica e trabalha em condies isqumicas

    Fibras de

    contrao rpida e com dimetro grande, muito forte, fatigvel.

    Alto nvel de

    velocidade de conduo

    Alto nvel de

    fora

  • 19

    No entanto, essa relao no pode ser feita isoladamente uma vez que com a

    progresso da atividade ocorre, alm dos eventos anteriormente relacionados, a

    progresso da fadiga muscular. O exerccio progressivo com quadro de fadiga

    muscular pode causar alteraes bioeltricas na membrana miocelular em decorrncia

    de aumentos nas concentraes dos produtos metablicos intracelular. No estudo de

    Veneziano (2006) foram consideradas condies de contrao dinmica (flexo e

    extenso de cotovelo) em ambiente subaqutico e terrestre. Em ambas as condies o

    autor encontrou reduo na VC em funo do tempo, em conformidade com o

    desenvolvimento da fadiga. Brody el al. (1991) e Bonato el al. (2001) citam que a VC

    reduz medida em que ocorre aumento nas concentraes de acido ltico. Alm

    disso, outros fatores associados fadiga tais como acmulo de fosfato inorgnico (Pi)

    e amnia (NH4+), variaes na temperatura muscular e a taxa de disparo das UMs,

    podem estar associados a esse declneo. Salomoni et al. (2008) discutiram que a VC

    pode representar o estimador mais confivel na analise da fadiga muscular, porque ela

    fornece informaes tanto sobre amplitude quanto frequncia. Assim o diferencial est

    na capacidade de representar em um s estimador (VC) dois comportamentos

    diferentes, normalmente abordados somente atravs de um estimador matemtico ou

    RMS (amplitude) ou FM e FMD (frequncia). Os autores, ao citarem DeLuca (1984) e

    Solomonow et al. (1990), relatam que o comportamento decrescente da VC se

    correlaciona com a diminuio da FM e aumento do RMS em funo da fadiga.

    Dimitrov et al. (2006) discutem que a fadiga pode estar atrelada s condies

    de hipxia tecidual desenvolvida progressivamente nos testes incrementais. vlido

    lembrar que essas mesmas condies levaram Wasserman et al. (1964) a

    fundamentarem a compatibilidade entre os limiares metablicos e ventilatrios.

    Tradicionalmente a anlise da fadiga muscular por EMGS de superfcie feita

    por meio de procedimentos matemticos classicamente empregados para contrao

    do tipo isomtrica. Dois modelos amplamente aplicados so a amplitude (RMS, com

    comportamento normalmente crescente) e a frequncia. Esta ltima podendo ser

    mediana ou mdia (FMd ou FM com comportamento normalmente decrescente)

    (MERLETTI & PARKER, 2004; ANDRADE, 2006; CAMIC et al., 2010).

    O aumento da amplitude RMS parece estar associado a um recrutamento

    adicional das unidades motoras e/ou maior sincronizao entre elas. Tal mecanismo

    explicado como sendo a uma forma de compensar a perda da fora dada pela fadiga

    das UM (CAMATA et al., 2008; CAMIC et al., 2010). A reduo nas frequncias tem

  • 20

    sido relacionada a uma diminuio na taxa de disparo, mudanas na sincronizao e

    diminuio da velocidade de conduo (ERFANIAN et al., 1994; CHRISTENSEN et al.,

    1995; CAMIC et al., 2010). A Figura 7 esquematiza os fatores causativos,

    intermedirios e determinsticos relacionados s variveis eletromiogrficas.

    Figura 07 - Diagrama esquemtico dos fatores que afetam o sinal em

    eletromiografia de superfcie [Fonte: De Luca (1997)].

    As caractersticas morfofisiolgicas do sistema neuromotor e suas relaes com

    os sistemas de fornecimento de energia remetem possibilidade de relacionar os

    limiares EMGS com os tradicionais (metablicos e ventilatrios). Eles parecem estar

    diretamente ligados aos processos bioqumicos de formao do ATP, aos fsico-

    qumicos da contrao muscular e, portanto, ao desenvolvimento da atividade fsica.

    Com isso espera-se que as transies metablicas identificveis pela anlise

    sangunea e gasosa durante um exerccio incremental (limiares) tambm possam ser

    definidas eletromiogrficamente. A Figura 8, proposta por Merletti & Parker (2004), faz

    relaes referentes a essa temtica.

  • 21

    Figura 08 - Possveis consequncias metablicas e eletrofisiolgicas induzidas

    pela fadiga muscular [Fonte: Merletti & Parker (2004)]

    Correlaes entre variveis eletromiogrficas, limiares de lactato e ventilatrios

    tm sido verificadas em protocolos de testes incrementais no cicloergmetro. Lucia et

    al (1999) demonstraram haver validade e confiabilidade na determinao destes

    parmetros pela EMGS em ciclistas de elite. Miyashita et al. (1981) verificaram que a

    atividade EMGS aumenta linearmente com a carga de trabalho at o L1, quando

    ento, a relao passa a ser curvilnea. DeVries (1982) no encontrou diferenas

    significativas entre o LV1 e o limiar de fadiga eletromiogrfico (Vslop), alm de

    constatar valores altos de correlao (r = 0,90). TYKA et al. (2009) em seu estudo

    encontraram alta correlao (r = 0,91-0,97) entre o LL1 e o LEMGS1 e puderam

    concluir que a EMGS pode ser usada como um mtodo prtico, confivel e no

    invasivo para a avaliao do L1.

    Em estudo realizado por Kendal et al. (2010) com homens universitrios os

    LEMGS1 e LV1 foram determinados durante um protocolo de rampa em

    cicloergometro em trs momentos. Antes da interveno, aps trs semanas e aps

    seis semanas de treinamento intervalado. Os autores no encontraram diferenas

    ALTA ATIVIDADE MUSCULAR

    ACMULO DE PRODUTOS [LACTATO], [H+],[Pi], [NH3] e [NH3]

    REDUCAO DA EXITABILIDADE DA MEMBRANA

    Na: K+ , extracelular K+

    Gerao do PA

    PAR DE ACOPLAMENTO

    Potencial de Propagao Tbulos-T Ca++ Difuso e pico de quebra Ca++ Interao actomiosinica

    Velocidade de contrao e relaxamento

    DECRSCIMO DA CONTRATIBILIDADE (FADIGA MUSCLAR)

  • 22

    significativas entre os limiares determinados nos dois primeiros casos, mas somente

    aps seis semanas de interveno. Os resultados sugerem que essas variveis

    tornam-se menos compatveis medida que os sujeitos tornam-se mais treinados.

    A utilizao dos estimadores matemticos citados no processamento de sinais

    referentes a contraes dinmicas ainda alvo de muitas discusses. Isso porque

    essas ferramentas so adequadas para avaliar movimentos estacionrios

    (estocsticos) sendo que os exerccios isomtricos so os que mais se aproximam

    desta condio. Em todos os casos, Merletti & Parker (2004) recomendam a

    realizao de recortes em torno de um segundo para que a condio de

    estacionaridade possa ser aceita. Os mesmos autores encontraram resultados

    semelhantes quanto a varincia e vis de estimao para ambas as condies

    (dinmico-isomtrico) para FM e FMd. Mesmo assim, as tcnicas tm sido aplicadas

    aos movimentos isotnicos.

    Vollestad (1997) observou aumento gradativo do RMS nos esforos dinmicos

    com contraes submximas. Clark et al. (2003) consideram que a fadiga muscular

    pode ser estudada pela anlise dos valores de amplitude (RMS) do sinal

    eletromiogrfico em contraes isomtricas e isotnicas. Oliveira e Gonalves (2007),

    em estudo sobre L1, utilizaram as tcnicas RMS e FM para identificar carga de treino

    durante um teste progressivo dinmico. Pozzi et al. (2006), em estudo realizado com

    idosos, utilizaram o RMS para avaliar o L1 numa perspectiva mioeltrica mediante um

    teste contnuo do tipo rampa. Kendal et al. (2010) realizaram estudo com

    universitrios onde propuseram a determinao do LEMGS1 e LV1 durante um

    exerccio progressivo mximo.

    Andrade (2006), ao questionar a utilizao das referidas ferramentas em

    exerccios isotnicos, props analis-las em diferentes protocolos (isomtrico e

    dinmico), na expectativa de desenvolver mtodos que melhor se adequassem aos

    exerccios dinmicos. O estudo relacionou dois novos mtodos (RACEA - Raiz da rea

    da curva de energia acumulada e MdCEA - Mediana da curva de energia acumulada)

    com os tradicionais. O padro de comportamento apresentado pelos modelos

    tradicionais se manteve nos dois tipos de exerccios, ou seja, inclinaes mdias

    positivas para o RMS e negativas FMd. Ainda assim, o autor indicou a necessidade de

    maiores investigaes. Apesar das indagaes apresentadas, o contexto atual revela

    que os modelos apresentados continuam sendo ferramentas aplicveis aos dois tipos

    de exerccios. Mediante a atual aceitao de que a VC pode representar o estimador

    mais confivel na analise da fadiga muscular (Salomoni et al.,2008), o presente estudo

  • 23

    optou por adotar a mesmo para elucidar o comportamento motor durante um protocolo

    dinmico escalonado.

    2.4 - Contextualizao - Limiares nos exerccios resistidos

    Existem inmeras pesquisas relativas aos limiares de lactato (LL) durante

    atividades de corrida, ciclismo, natao e outras, mas poucas so as informaes

    sobre estes parmetros durante exerccios resistidos. Logo, h importncia o

    desenvolvimento de estudos sobre tais fenmenos nestas atividades (BARROS 2004;

    OLIVEIRA, 2006; MOREIRA et al., 2008).

    Alguns estudos abordam os efeitos que o treinamento de fora pode

    proporcionar potncia e resistncia aerbia que se traduzem na melhoria do

    VO2mx e limiares. MARCINICK et al. (1991) observaram que o treinamento de fora

    em homens saudveis no treinados gerou aumento significativo no LL1. No estudo de

    Santa-Clara et al. (2002), a adio do ER aos exerccios aerbios proporcionou

    melhoras somente no limiar aerbio sem prover alteraes significativas no VO2mx.

    Contudo, Chtara et al. (2005), ao submeterem sujeitos a quatro tipos de treinamentos

    diferentes, aerbio, fora, fora mais aerbio e aerbio mais fora, encontraram

    melhoras em ambas as variveis. Ferrara et al. (2005) compararam um grupo que

    treinava aerbio somado a 4 meses de ER com outro grupo que praticava somente

    exerccios aerbios, no encontrando diferenas entre eles quanto ao VO2mx. Greco

    & Denadai (2006) avaliaram o LL1 aps 8 semanas de treinamento combinado de

    endurance, ER e pliomtrico, em jogadores de basquetebol, no encontrando

    mudanas significativas.

    notvel que nos estudos citados a abordagem deu-se com a inteno de

    avaliar o efeito dos ER, associados ou no aos aerbios, sobre o VO2mx e limiares.

    Contudo, a avaliao foi realizada com a aplicao de testes compostos de exerccios

    somente do tipo aerbio. Existe a necessidade em promover um ajuste metodolgico

    no protocolo de teste quando se deseja estudar os limiares nos ER, haja vista que

    estas atividades apresentam comportamentos fisiolgicos, bioqumicos e

    biomecnicos distintos.

    Nesta perspectiva, Agostini desenvolveu em 2000 um protocolo de teste de ER

    progressivo escalonado pelo fracionamento das cargas em funo de 1RM,

    viabilizando o estudo dos limiares em concordncia com o princpio da especificidade.

    Oliveira (2002), ao adotar o mesmo protocolo de Agostini (2000), concordou em

    afirmar que, devido semelhana no padro do comportamento da cintica do lactato

  • 24

    entre o ER crescente (musculao) e os exerccios dinmicos cclicos crescentes

    (natao, ciclismo, corrida...), o tratamento utilizado na verificao dos limiares em

    funo da intensidade de esforo pode ser o mesmo.

    Desde ento, estudos com a aplicao desse tipo de protocolo vm sendo

    desenvolvidos. Fontana (2003) concluiu que possvel determinar o LL1 e LV1

    durante o protocolo de teste proposto por Agostini (2000), encontrando-os entre 23,0 e

    32,0% da 1RM, com valor mdio de 28,1% no exerccio leg press e de 26,7% na rosca

    direta. Nas mesmas circunstncias Azevedo et al. (2005) e Barros et al. (2004)

    encontraram o LL1 e o LV1 entre 28% e 36% de 1RM, independente do exerccio e da

    massa muscular total envolvida. Os autores fundamentam que esses valores podem

    estar atrelados hipxia tecidual causada pelo colabamento dos vasos sanguneos

    em funo da presso intramuscular ser maior que a do capilar.

    Em estudo realizado com sujeitos portadores de poliomielite, o LL1 foi

    determinado segundo a metodologia proposta por Wasserman et al. (1986). O

    protocolo incremental ocorreu durante a execuo do exerccio supino reto com barra.

    Os autores identificaram o LL1 aos 30% de 1RM (LAMONIER et al., 2006). Rafo et al.

    (2008) realizaram o mesmo tipo de protocolo em sujeitos sadios e encontraram o LL1

    aos 40% de 1RM (mesmo quando expresso em funo da frequncia cardaca FC).

    Moreira et al. (2008) realizaram um estudo para identificar o LL1 alm do limiar

    glicmico em portadores de diabetes do tipo 2 durante o protocolo incremental de ER

    adaptado de Agostini (2000). O LL1 ocorreu em mdia entre 30% e 31% de 1RM para

    leg press e supino reto. Os autores encontraram correlaes significativas ao

    relacionar os limiares determinados em ER (membros inferiores e superiores) com os

    limiares determinados em exerccio aerbio tradicional (cicloergmetro).

    Em 2007 Oliveira e Gonalves realizaram um estudo para avaliar se o LEMGS1

    poderia ser utilizado como parmetro de prescrio em ER. Nesta pesquisa o

    protocolo de teste foi com ER do tipo incremental escalonado semelhante ao de

    Agostini (2000). Antes da interveno, o LEMGS1 em funo do RMS ocorreu aos

    27,5%1RM para o bceps braquial e 29,3%1RM para o braquiorradial. Aps a

    interveno, redues significativas em ambos os exerccios foram encontradas

    (32,1%1RM e 31,3%1RM respectivamente). Esta resposta pode ser um indicativo de

    adaptao em termos da economia do esforo, ou seja, diminuio do nmero de

    unidades motoras ativadas para a realizao de um maior trabalho motor. Alm disso,

    os autores encontraram significativos aumentos na fora (1RM para rosca bceps)

    aps a interveno, demonstrando a possibilidade de haver relevncia deste

  • 25

    parmetro na prescrio de ER bem como na avaliao da aptido especfica da

    modalidade.

    2.5 - Objetivos do estudo

    Mediante a importncia dos fenmenos mencionados, pretende-se com este

    estudo proporcionar a esta categoria de atividade fsica recursos fisiolgicos,

    bioqumicos e biomecnicos que ampliem o entendimento acerca do desempenho dos

    praticantes de musculao e de sua influncia nos outros esportes, bem como na

    melhoria da qualidade de vida da populao em geral. Para tanto, destacam-se os

    objetivos descritos a seguir.

    Objetivo Geral:

    Identificar os Limiares de Lactato, Ventilatrios e Eletromiogrficos em

    exerccios resistidos.

    Objetivos Especficos:

    Identificar os LL, LV e os LEMGS durante a execuo do exerccio de rosca

    bceps com barra reta.

    Analisar se os LL1, LV1 e o LEMGS1 apresentam concordncia

    estatisticamente significativa, bem como os LL2, LV2 e o LEMGS2, ou seja, se os trs

    mtodos identificam os mesmos fenmenos.

    Se a identificao dos LEMGS em exerccios resistidos se mostrar possvel,

    pretende-se ainda investigar a possibilidade de sua validao.

  • 26

    CAPTULO 3 - METODOLOGIA

    3.1- Aspectos ticos

    Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa com Seres

    Humanos da Faculdade de Cincias da Sade da Universidade de Braslia FS/UnB,

    registro: 03/09 (Anexo 1).

    Os voluntrios foram informados sobre os procedimentos experimentais do

    estudo, ficando esclarecidos sobre o carter invasivo da coleta sangunea bem como

    do sigilo das informaes coletadas. Feito isso, assinaram um termo de consentimento

    livre e esclarecido (TCLE Apndice B), apresentaram um atestado mdico bsico de

    liberao para a prtica de atividades fsicas e no assinalaram nenhuma alternativa

    ao responderem o Questionrio de Prontido para Atividade Fsica (Physical Activity

    Readiness Questionnaire PAR-Q) da Sociedade Canadense de Fisiologia do

    Exerccio (Anexo 01).

    3.2 - Local de Realizao dos Testes

    Os testes experimentais foram realizados no Laboratrio de Fisiologia do

    Exerccio e Cineantropometria da Faculdade de Educao Fsica da Universidade de

    Braslia, UnB. Alguns testes de 1RM foram realizados nas academias onde os

    voluntrios treinavam para evitar mais deslocamentos at os laboratrios, porm, a

    metodologia do teste foi rigidamente obedecida, evitando vis.

    3.3 Amostra

    A amostra inicial foi composta por 28 voluntrios segundo os critrios descritos

    a seguir:

    3.3.1- Critrios de Incluso:

    Para participar desta pesquisa os sujeitos deveriam:

    1. Ser do sexo masculino com idade entre 18 e 30 anos;

    2. Ser praticante de musculao (com experincia mnima de trs meses e

    frequncia semanal de duas sesses, no mnimo);

    3. Apresentar atestado mdico atualizado (vlido por seis meses)

    declarando estar apto a prtica de exerccios fsicos e

    4. Responder negativamente a todas perguntas do Questionrio de

    Prontido para Atividade Fsica (Physical Activity Readiness Questionnaire PAR-Q)

    desenvolvido pela Sociedade Canadense de Fisiologia do Exerccio (Anexo 2).

  • 27

    3.3.2- Critrios de Excluso:

    No puderam participar da pesquisa os sujeitos que:

    1. Tiveram uma ou mais respostas afirmativas no PAR-Q;

    2. Estavam resfriados nos dias das aplicaes dos testes ou

    3. Fizeram uso de substncias estimulantes at quarenta e oito horas

    antecedentes aos testes. Exemplos: cafena, guaran, ervas, suplementos e outros.

    Esse controle foi realizado por comunicado prvio oral e via email (Anexo 02).

    3.3.3- Perda amostral:

    O estudo contou com a participao efetiva de 13 sujeitos. Os fatores que

    geraram a perda amostral esto relacionados a seguir:

    1. Desistncias por parte dos voluntrios aps terem iniciado os procedimentos

    laboratoriais:

    a) No comparecimento segunda visita conforme agendamento prvio;

    b) Intolerncia coleta sangunea com relato de mal estar;

    c) Impossibilidade de permanecerem no laboratrio durante o perodo

    necessrio (em torno de duas horas). Mesmo tendo recebido orientaes sobre esses

    procedimentos na primeira visita.

    2. Impossibilidade de se prosseguir com a EMGS em decorrncia de

    sensibilidade a interferncia eletromagntica por parte do equipamento. Tais

    interferncias ocorriam de forma espordica (aleatria) no instituto onde eram feitas as

    coletas;

    3. Impossibilidade de se prosseguir com a EMGS aps a constatao de que os

    padres iniciais de qualidade do sinal no foram atingidos (correlao 0,70 e VC

    entre 2 e 7m/s). Provavelmente devido ao tecido adiposo nos msculos a serem

    estudados.

    4. Impossibilidade de se prosseguir com a ergoespirometria devido a no

    estabilizao das variveis ventilatrias segundo os padres de normalidade (YAZBEK

    et al., 1998) como: consumo de O2 de repouso prximo a 3,6 ml.kg-1.min-1, QR entre

    0,75 e 0,85, ventilao entre 8 e 15 L/min, equivalente de O2 entre 23 a 26 L/min e de

    CO2 por volta de 30 L/min;

    5. Perda de amostras sanguneas em funo de problemas tcnicos durante as

    coletas e anlise;

    6. Deslocamento indevido do eletrodo semi-flexvel de EMGS durante o perodo

    da coleta;

  • 28

    7. Durante o processamento dos sinais tambm houve um novo descarte dos

    sujeitos cujos sinais eletromiogrficos estavam contaminados por rudo eltrico;

    8. Quando o sinal do eletrogonimetro no apresentou comportamento

    fisiolgico os sinais eletromiogrficos foram descartados;

    9. Houve perdas em virtude de problemas tcnicos apresentados pela

    ergoespirometria durante a coleta.

    3.4 - Procedimentos para a coleta de dados:

    3.4.1- 1 Parte: Laboratrio de Cineantropometria.

    Realizou-se a aplicao prvia de questionrio contendo dados pessoais e

    antropomtricos dos sujeitos (Apndice 01) do PAR-Q e TCLE.

    Foram realizadas medidas de massa corporal e estatura para descrever as

    propores corporais dos sujeitos e avaliar as possveis interferncias das mesmas

    nos resultados. A massa corporal (MC) foi medida atravs de uma balana digital

    (Tolledo do Brasil) com 50 g de preciso e a estatura foi medida por um estadimetro

    de parede (Sanny, American Medical do Brasil, Brasil) com 0,5 cm de preciso.

    A Tabela 1 apresenta as caractersticas antropomtricas e de fora mxima da

    amostra.

    Tabela 1 - Caracterizao da amostra (n=13)

    Idade (anos) MC (kg) Estatura (cm) CMB 1RM (kg) 21,3 2,6 75,7 6,7 174,4 6,0 33,6 2,9 46,9 7,2

    Valores: mdia e desvio padro, MC: massa corporal, CMB: circunferncia muscular do brao, 1RM: carga mxima ou fora mxima individual definida por 1 repetio mxima.

    Para estimar a circunferncia muscular do brao (CMB) conforme Equao 2,

    segundo proposto por Ferreira (2008) apud Silva & Naves (1999) foram utilizadas as

    medidas de dobra cutnea triciptal (DCT) que indica a espessura adiposa do brao

    direito, medida por meio de um adipmetro (Harpenden Skinfold Caliper, Baty

    International, England), com 0,2 mm de preciso e a circunferncia do mesmo brao

    tenso (CBT) determinada por fita antropomtrica (Sanny, American Medical do Brasil,

    Brasil) com preciso de 1 mm.

    CMB = CBT- (0,314 x DCT) Equao 2

    3.4.2 - 2 Parte: Determinao da carga de teste:

    Tendo em vista que poucos estudos foram realizados sobre a determinao dos

    limiares anaerbios em exerccios resistidos, a proposta desse estudo foi a de avali-

    los em exerccio de rosca bceps, visto que j foi protocolado por Azevedo (2005).

  • 29

    Trata-se de um movimento uni-articular envolvendo um grupo muscular, portanto, com

    melhor aplicabilidade sob o ponto de vista da EMGS de superfcie.

    O primeiro teste fsico realizado pelos sujeitos foi na determinao da fora

    mxima individual, diagnosticada pelo teste de uma repetio mxima (1RM). Este

    consiste em determinar a carga mxima concntrica em uma, e somente uma

    repetio completa. Tal mtodo amplamente adotado nos estudos cientficos por se

    tratar de uma medida de fcil acesso, com utilidade diagnstica e de monitoramento

    da fora, alm de proporcionar a prescrio individualizada do treinamento (SIMO et.

    al., 2004). Nesse estudo o exerccio selecionado foi rosca bceps (RB) com a barra

    reta. Para isso, foram utilizadas uma barra reta cromada com 6,2 kg, anilhas aos pares

    de (0,25, 0,50, 1, 2, 3, 4, 5, e 10 kg) e duas presilhas fixadoras de peso.

    Esse ndice foi utilizado posteriormente como base para o fracionamento das

    cargas utilizadas no teste incremental, em termos percentuais, respeitando o princpio

    da individualidade biolgica.

    Para evitar possveis interferncias nos resultados, os sujeitos foram

    previamente orientados a no realizarem treinamento de musculao que envolvesse

    a ativao primria dos flexores do cotovelo nas 48 horas precedentes ao teste. Alm

    disso, eles no puderam ingerir caf, chocolate, mate, guaran, refrigerante cola ou

    guaran (estimulantes) e bebidas alcolicas nas ltimas 24 horas.

    Descrio do teste de 1RM proposto por Fleck & Kraemer, (1999).

    1. Antecedncia do teste de 1RM em relao ao teste incremental de 24 a

    48 horas;

    2. Aquecimento msculo-especfico com 20 repeties completas, somente

    com o peso da barra (6,2 kg) observando a tcnica correta de execuo;

    3. Aplicao da carga supostamente prxima capacidade mxima do

    indivduo, que teve que realizar uma repetio completa do exerccio,

    sem conseguir executar a segunda repetio do movimento, desta forma

    foi considerada como carga mxima. Nos casos em que o avaliado

    conseguia executar mais de uma repetio completa, a carga foi

    aumentada e, aps intervalo de 5 minutos, fazia nova tentativa

    (recuperao do grupo muscular). Foram permitidas somente 3

    tentativas (American College of Sports Medicine, 2006).

    Movimento selecionado:

    Rosca Bceps Barra Reta: exerccio monoarticular envolvendo a articulao do

    cotovelo, com a ao coordenada do bceps braquial e braquiorradial. Os indivduos

  • 30

    iniciavam na posio de p, semi-flexo do joelho e costas apoiadas na parede. A

    barra partia abaixo da linha do quadril, e com os cotovelos totalmente estendidos

    (Figura 9 - A). A flexo dos cotovelos foi completa por meio da ao concntrica do

    bceps, sem que o indivduo pudesse retirar as costas do apoio e, em seguida,

    retornava posio inicial excentricamente (AZEVEDO, 2005).

    Figura 09 - Movimento rosca bceps barra reta. Amplitude mxima de 180 (A),

    mnimo de 40 (B) e ngulo de recorte eletromiogrfico de 89,99 a 90,01 (C).

    A

    B

    C

  • 31

    3.4.3 - 3 Parte: Protocolo de Carga Crescente:

    Devido escassez de estudos desta natureza nos exerccios resistidos, o

    presente protocolo foi desenvolvido com o propsito de apresentar caracterstica

    aerbia. Para tanto, as intensidades foram crescentes, de forma escalonada, s

    semelhanas do padro de comportamento dos exerccios dinmicos cclicos, tambm

    crescentes (natao, ciclismo, corrida...), os quais se desenvolvem at a instalao da

    fadiga. Essa semelhana comportamental fisiolgica entre os exerccios indagam a

    possibilidade de identificao dos limiares em exerccios resistidos, j que ocorrem em

    funo da intensidade e ao longo do tempo.

    Segundo Azevedo (2005), em estudos piloto, o LL1 ocorreu entre 28 e 35% de

    1 RM. Nestes, os protocolos eram com 20 repeties em 1 minuto. Cada repetio

    durava 3 segundos, e o intervalo de recuperao entre um estgio e outro era de 2

    minutos. O protocolo utilizado no presente estudo foi adaptado de Fontana (2003),

    Azevedo (2005) e Oliveira (2006) conforme descrito a seguir:

    1. As cargas de execuo foram fracionadas para 20, 25, 30, 35, 40, 50, 60,

    70, 80, 90% de 1 RM;

    2. Cada repetio teve durao de 3 segundos (1 para a fase concntrica e

    2 para a excntrica). O controle da velocidade foi realizado por um

    metrnomo digital da marca Seiko modelo DM50.

    3. Cada estgio durou um minuto, completando vinte repeties;

    4. O intervalo entre os estgios foi de 2 minutos. Esse intervalo foi utilizado

    para a realizao da coleta sangunea e do ajuste da carga para o

    estgio seguinte;

    5. Os testes foram interrompidos quando se caracterizava a incapacidade

    em realizar o movimento dentro da mecnica correta do exerccio, pela

    incapacidade em realizar o nmero de repeties completas (falha

    concntrica) no tempo referido para o estgio ou ainda por vontade do

    avaliado.

    Novamente os sujeitos foram previamente orientados a no realizarem

    treinamento de musculao com ativao dos msculos envolvidos na flexo do

    cotovelo como motores primrios nas 48 horas precedentes ao teste.

    Para evitar possveis interferncias quanto fora muscular (perodo de

    recuperao e/ou ganhos de fora ps-treinos), o intervalo mnimo adotado entre o

  • 32

    teste de 1RM e o Protocolo de Cargas Crescentes foi de 24 horas e o mximo foi de

    72 horas.

    A aplicao do teste de cargas crescentes ocorreu com a utilizao simultnea

    das trs metodologias, a coleta sangunea, a ergoespirometria e a eletromiografia de

    superfcie. O controle desses procedimentos favorece-se da atuao de uma equipe

    de avaliadores auxiliares que se revezavam durante as coletas. Em cada coleta havia

    trs avaliadores controlando os equipamentos, um na ergoespirometria, outro na troca

    das cargas na barra e outro na eletromiografia de superfcie e coleta sangunea.

    3.4.4 - Coleta sangunea:

    As coletas sanguneas (Figura 10) foram realizadas em repouso (antes do

    teste) e a cada intervalo de recuperao gerando um total aproximado de 6 coletas,

    cada uma com 25 l ( 1,5 ml no total). O avaliador utilizou luvas descartveis, fez a

    assepsia local e realizou a puno no lbulo da orelha com lanceta picadora de inox

    estril. O sangue foi coletado por capilares heparinizados e armazenado nos

    Eppendorff com 50 l de fluoreto de sdio (NaF) a 1%. As amostras foram

    conservadas em congelador para posterior anlise.

    Figura 10 - Coleta sangunea no lobo da orelha.

    3.4.5 - Anlise Sangunea Lactacidemia:

    As dosagens do lactato sanguneo foram realizadas com o analisador

    eletroenzimtico YSI Sport 1500; Yellow Springs Instruments, OH, USA (Figura 11).

  • 33

    Figura 11 - Equipamento de anlise das concentraes de lactado sanguneo.

    3.4.6 - Ergoespirometria:

    Para os testes ergoespiromtricos foram utilizadas mscaras coletoras de

    tamanhos variados em p, m e g de acordo com as dimenses faciais de cada

    sujeito. Aps a higienizao devida, elas eram adaptadas ao rosto envolvendo a boca

    e o nariz de modo a evitar qualquer escape de ar. Um tubo coletor fazia a ligao entre

    essa mscara e o analisador metablico (espirmetro) MetaLyzer 3B (Crtex

    Biophysik, Alemanha) (Figuras 12 e 13). Este equipamento analisa os gases expirados

    (respirao aps respirao) por um sistema de circuito aberto de calorimetria indireta,

    e repassa-os, a um microprocessador onde ficam armazenados. O mesmo

    equipamento foi responsvel pela aquisio dos sinais eletrocardiogrficos.

    Figura 12 - Ergoespirometria: (A) Crtex; (B) mscara e eletrodos fixos.

    De acordo com os padres exigidos pelo fabricante realizou-se a calibrao do

    equipamento antes de coleta. A calibrao do gs era feita com base nas amostras do

    A B

  • 34

    gs ambiente e de um gs com concentrao conhecida de O2 (12%) e de CO2 (5%),

    sucessivamente. Uma turbina contendo trs litros de gases era utilizada para calibrar o

    volume ventilatrio. A presso atmosfrica era calibrada mensalmente no prprio

    equipamento.

    O