(2009) elia e alfal (camargos e duarte)

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II Encuentro de Lenguas Indígenas Americanas y II Simposio Internacional de Lingüística Amerindia Asociación de Lingüística y Filología de América Latina ALFAL de septiembre de Resistencia Chaco Para onde foram os adjetivos em Guajajara? Quesler Fagundes Camargos 1 Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) [email protected] Fábio Bonfim Duarte 2 Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) [email protected] 0 INTRODUÇÃO Este trabalho examina o estatuto dos adjetivos na língua Guajajara [Tupi- Guarani, Tronco Tupi]. A hipótese que lançamos é a de que essa classe de palavras não se distingue formalmente da classe dos verbos nessa língua. Esta análise se baseia fundamentalmente no fato de que esses itens podem acionar o prefixo relacional {i- h-} para codificar o seu único argumento nuclear, mesmo quando ele figura adjacente ao núcleo deadjetival. Tomando por base este fato, outra hipótese que iremos explorar neste artigo é a de que o prefixo relacional de não contiguidade {i- h-}, quando ocorre nos verbos deadjetivais e nos verbos transitivos e intransitivos, exerce duas funções gramaticais distintas, a saber: (i) codifica o traço [-PESSOA] do argumento; (ii) faz referência apenas a argumentos que recebem o papel-theta [-DESENCADEADOR]. O estreito paralelismo gramatical que se observa entre verbos deadjetivais, verbos intransitivos e transitivos pode ser notado pelo fato de poderem acionar o prefixo relacional de não contigüidade {i- h-}, para codificar o argumento nuclear que recebe o papel-theta [-DESENCADEADOR]. Em geral, este argumento corresponde ao sujeito, em sentenças cujo núcleo verbal equivale a verbos intransitivos (ativos e inativos) e a 1 Iniciação Científica/Bacharelando em Linguística/FALE/UFMG 2 Professor Doutor do Departamento de Letras

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Guajajara

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  • II Encuentro de Lenguas Indgenas Americanas y II Simposio Internacional de Lingstica

    Amerindia Asociacin de Lingstica y Filologa de Amrica Latina ALFAL ! " de

    septiembre de $%%" Resistencia' Chaco

    Para onde foram os adjetivos em Guajajara?

    Quesler Fagundes Camargos1 Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) [email protected]

    Fbio Bonfim Duarte2 Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) [email protected]

    0 INTRODUO

    Este trabalho examina o estatuto dos adjetivos na lngua Guajajara [Tupi-Guarani, Tronco Tupi]. A hiptese que lanamos a de que essa classe de palavras no se distingue formalmente da classe dos verbos nessa lngua. Esta anlise se baseia fundamentalmente no fato de que esses itens podem acionar o prefixo relacional {i- h-} para codificar o seu nico argumento nuclear, mesmo quando ele figura adjacente ao ncleo deadjetival. Tomando por base este fato, outra hiptese que iremos explorar neste artigo a de que o prefixo relacional de no contiguidade {i- h-}, quando ocorre nos verbos deadjetivais e nos verbos transitivos e intransitivos, exerce duas funes gramaticais distintas, a saber:

    (i) codifica o trao [-PESSOA] do argumento; (ii) faz referncia apenas a argumentos que recebem o papel-theta

    [-DESENCADEADOR].

    O estreito paralelismo gramatical que se observa entre verbos deadjetivais, verbos intransitivos e transitivos pode ser notado pelo fato de poderem acionar o prefixo relacional de no contigidade {i- h-}, para codificar o argumento nuclear que recebe o papel-theta [-DESENCADEADOR]. Em geral, este argumento corresponde ao sujeito, em sentenas cujo ncleo verbal equivale a verbos intransitivos (ativos e inativos) e a

    1 Iniciao Cientfica/Bacharelando em Lingustica/FALE/UFMG

    2 Professor Doutor do Departamento de Letras

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    verbos deadjetivais, e ao objeto, em sentenas cujo ncleo vem realizado por um verbo transitivo.

    Este artigo est organizado em cinco sees, a saber: na seo 1, apresentamos o quadro dos prefixos relacionais e dos prefixos nominativos; na seo 2, discutimos as estratgias que evidenciam as relaes gramaticais entre o verbo e seus argumentos nucleares; na seo 3, adotamos a proposta de Hale & Keyser para derivar os verbos que so formados a partir de uma raiz adjetival; na seo 4, mostramos que os prefixos {i- h-} no podem vir acionados para codificar argumentos com o trao [-PESSOA] nos sintagmas possessivos e posposicionais; na seo 5, abordamos o acionamento dos prefixos {i- h-} em construes transitivas e intransitivas; na seo 6, apresentamos as consideraes finais.

    1 ESCOPO DE OCORRNCIA DOS PREFIXOS NOMINATIVOS E RELACIONAIS

    Nota-se que, morficamente, os nomes, os verbos e as posposies em Guajajara acionam os prefixos relacionais {- r-} e {i- h-}. Enquanto os prefixos {- r-} indicam contiguidade do argumento nuclear ao seu ncleo, os prefixos {i- h-} indicam a no contiguidade do mesmo. Com base nos contextos de ocorrncias desses morfemas, podemos subdividir os temas nominais e verbais em consoante e vogal. Os

    ncleos que comeam com consoante recebem os prefixos {- i-}, j os que comeam com vogal recebem os prefixos {r- h-} (DUARTE, 2007). Para uma melhor exemplificao desta manifestao morfolgica, observemos o quadro 1, a seguir.

    Quadro 1 Prefixos Relacionais TEMA CONTIGUIDADE NO CONTIGUIDADE

    CONSOANTE - i- VOGAL r- h-

    Fonte: DUARTE, 2007, p. 39

    Duarte (2007) afirma que, alm dos prefixos relacionais, a lngua Guajajara tambm utiliza os prefixos nominativos. Estes prefixos sinalizam a relao de concordncia que se estabelece entre o verbo e seu sujeito temtico. Neste contexto, os verbos transitivos e intransitivos acionam os prefixos nominativos para codificar os seus

    respectivos sujeitos. O quadro 2 explicita esses prefixos. Quadro 2 Prefixos Nominativos

    PESSOAS PREFIXOS NOMINATIVOS eu a-

    nsinclusivo si- da- nsexclusivo uru- oro-

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    tu re- vs pe-

    ele(s) u- o- w- Fonte: DUARTE, 2007, p. 44

    2 MARCAO DAS RELAES GRAMATICAIS

    Sabe-se que as lnguas naturais apresentam estratgias gramaticais variadas para realizar o Caso Abstrato. Dentre elas, podemos citar a concordncia, a ordem dos constituintes e o acionamento do Caso morfolgico nos argumentos nucleares. Tais

    estratgias so imprescindveis para que a relao gramatical de sujeito/objeto e a relao semntica agente/paciente, por exemplo, sejam evidenciadas. Whaley (1997, p. 152), por exemplo, afirma que:

    De fato, bem provavelmente verdade que todas as lnguas utilizam pelo menos uma dessas estratgias de marcao relacional para identificar os nominais que tm relaes gramaticais (como sujeito e objeto) ou relaes semnticas (como agente e paciente), ou ambos.3

    Em Guajajara, a principal estratgia utilizada para realizar Caso Abstrato feita por meio do acionamento de prefixos verbais. Consoante Duarte (2007, p. 43), as funes [sujeito e objeto] so codificadas por meio da srie de prefixos nominativos e absolutivos [...]. Os prefixos nominativos ocorrem quando h atribuio do Caso nominativo aos sujeitos dos verbos transitivos e intransitivos, enquanto os prefixos relacionais so utilizados para evidenciar a atribuio do Caso absolutivo aos objetos dos verbos transitivos e aos sujeitos dos verbos deadjetivais. Este tipo peculiar de codificao dos argumentos nucleares faz emergir um sistema cindido na codificao do sujeito de verbos intransitivos (=Split-S System).

    3 VERBOS DEADJETIVAIS

    Os verbos deadjetivais, quando selecionam um argumento representado por um sintagma nominal contendo o trao [-PESSOA], que esteja contguo ao seu ncleo,

    3 Conforme Whaley (1997, p. 152):

    Indeed, it is most likely true that all languages use at least one of these relations-marking strategies to identify the nominals that have unique grammatical relations (such as subject and object) or unique semantic relations (such as agent and patient) or both.

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    permitem que o prefixo relacional de no contiguidade {i- h-} seja acionado, conforme os exemplos abaixo: (1) uruhu i-singatu O-ae no [uRuhu i-siNatu O-a/e no] urubu 3SUJ-branco V-DET tambm O urubu branco tambm

    (2) i-si i-pui-ai no [i-si i-pu/i-a/i no] NC-narigo 3SUJ-fino-DIM tambm o narigo dele (tamandu) fino tambm

    (3) u-huau h-uaj O-ae no [u-hua/u h-uaj O-a/e no] CORR-rabo 3SUJ-longo V-DET tambm o rabo dele (tamandu) longo tambm

    (4) tamanuwa r-uwaj-wer i-katu kwaharer O-pe O-ae no [tamanuwa R-uwaj-weR i-katu kwahaReR O-pe O-a/e no] tamandu C-rabo-PASS 3SUJ-bom criana C-em V-DET tambm O rabo do tamandu bom para criana tambm

    (5a) i-katu pituhetuhem O-pe O-ae no [i-katu pituhetuhem O-pe O-a/e no] 3SUJ-bom asma C-para V-DET tambm ele (o rabo de tamandu) bom para asma tambm

    (5b) (tamanuwa r-uwaj-wer)4 i-katu pituhetuhem O-pe O-ae no [(tamanuwa R-uwaj-weR) i-katu pituhetuhem O-pe O-a/e no] tamandu C-rabo-PASS 3SUJ-bom asma C-para V-DET tambm o rabo de tamandu bom para asma tambm

    Tomando por base a distribuio morfolgica apresentada acima, nossa hiptese a de que os prefixos relacionais de no contiguidade {i- h-}, quando ocorrem nos verbos deadjetivais, deixam de assumir a funo indicativa de no contiguidade para assumir duas funes, a saber: (i) codificar o trao [-PESSOA] do argumento que funciona como seu sujeito e (ii) fazer referncia apenas a argumentos que recebem papel-theta [-DESENCADEADOR]. Notem que os dados de (1) a (5) comprovam esta hiptese, uma vez que os D/NPs a que os verbos deadjetivais fazem referncias no esto omitidos nas sentenas, mas sim contguos ao ncleo dos predicados. Conforme observamos nos dados acima, todos os sujeitos so argumentos que se referem no-

    4 Em (5a), o sujeito tamanuwa r-uwaj-wer est omitido/implcito na sentena, uma vez que seu sentido recuperado pelo contexto. Para uma melhor apresentao dos dados, temos, em (5b), este sujeito explcito e contguo ao seu verbo.

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    pessoa do discurso5. Por sua vez, quando os sujeitos dos verbos deadjetivais se referem primeira ou segunda pessoa gramatical, isto , as pessoas do discurso, os prefixos {i- h-} no podem ser acionados, mas apenas os prefixos {- r-}, como podemos observar pelos exemplos abaixo.

    (6) he O-kn [he O-kn] 1 1SUJ-forte Eu sou forte [DUARTE, 2007, p.51 (36)]

    (7) ne O-kn [ne O-kn] 2 2SUJ-forte Voc forte [DUARTE, 2007, p.51 (37)]

    (8) he r-upyhyd [he R-uphd] 1 1SUJ-sonolento Eu estou sonolento [DUARTE, 2007, p.51 (39)]

    (9) ne r-upyhyd [ne R-uphd] 2 2SUJ-sonolento Voc est sonolento [DUARTE, 2007, p.51 (40)]

    Para dar conta do escopo de ocorrncia dos prefixos relacionais em verbos que tm como base uma raiz adjetival, adotaremos a proposta de Hale & Keyser (2002), segundo a qual esses verbos so formados a partir da fuso de uma raiz acategorial a um

    ncleo sinttico. Segundo Hale & Keyser (2002), para que um verbo seja formado, imprescindvel que haja um ncleo Vo e uma raiz {R}, conforme ilustram as configuraes arbreas em (10) e (11) abaixo:

    (10) VERBO INTRANSITIVO

    VP V DP V V Vo R

    5 Segundo Garcia (2009, p. 57), o trao [+/- PESSOA] vem da proposta de Benveniste (1991:250-251) sobre as pessoas gramaticais. Nesta proposta, a primeira e a segunda pessoa do singular e plural so as pessoas do discurso, enquanto a terceira pessoa do singular e plural considerada a no-pessoa.

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    (11) VERBO TRANSITIVO

    vP V DP v V vo VP V DP V V Vo R

    Nestas configuraes sintticas, observamos que a raiz {R} de suma importncia, visto que ela quem carrega os traos semnticos e fonolgicos do verbo.

    E ser tambm por meio da composicionalidade e por meio da operao CONFLATION que as propriedades da raiz determinaro a valncia do verbo, conforme podemos observar pela diferena entre a estrutura argumental dos verbos intransitivos e transitivos, em (10) e (11) acima.

    Tomando por base esses pressupostos tericos, nossa proposta a de que uma determinada raiz verbal pode sim advir de uma raiz adjetival. Neste caso, essa raiz, ao se juntar a um ncleo Vo, ganha as propriedades de predicador. Por esta razo, esse predicador, formado pela operao de CONFLAO entre o adjetivo e o ncleo de VP, pode atribuir o papel-theta de [-DESENCADEADOR] ao seu argumento nuclear. Por sua vez, esse predicador, na lngua Guajajara, tomar os prefixos {i- h-}, para codificar o argumento que carrega o trao sinttico [-PESSOA], e para atribuir-lhe o papel theta de [-DESENCADEADOR]. Em suma, assumiremos, doravante, que esse argumento equivaler ao sujeito dos verbos deadjetivais na lngua Guajajara. A operao sinttica de formao de verbos deadjetivais nesta lngua ilustrada pela derivao sinttica em (12). (12) AP se incorpora a Vo VP V V V Vo AP # Ao

    4 ESCOPO DOS PREFIXOS {i- h-} NOS SINTAGMAS POSSESSIVOS E SINTAGMAS POSPOSICIONAIS

    Vejam que o padro morfolgico dos verbos deadjetivais, arrolados de (1) a (5), na seo anterior, difere substancialmente do padro morfolgico dos sintagmas

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    possessivos e dos sintagmas posposicionais. Nos sintagmas posposicionais e possessivos, o que se verifica que o prefixo relacional de no contigidade {i- h-} no pode ser acionado para fazer referncia a um argumento que esteja contguo (=adjacente) ao ncleo na ordem linear. Tal situao o que podemos observar pela agramaticalidade dos exemplos em (c) a seguir.

    SINTAGMAS POSSESSIVOS

    (13a) karaiw r-pyj [kaRaiw R-pj] branco C-casa A casa do homem branco

    (13b) ______ h-pyj [______ h-pj] ______ NC-casa A casa dele (homem branco)

    (13c) *Karaiw h-pyj [*KaRaiw h-pj] branco NC-casa A casa do homem branco

    (14a) karaiw O-po [kaRaiw O-po] branco c-mo A mo do homem branco

    (14b) ______ i-po [______ i-po] ______ NC-mo A mo dele (do homem branco)

    (14c) *karaiw i-po [*kaRaiw i-po] branco NC-mo A mo do homem branco

    SINTAGMA POSPOSICIONAL

    (15a) ko O-pupe [ko O-pupe] roa C-dentro de dentro da roa [DUARTE, 2007, p. 41 (55a)]

    (15b) ______ i-pupe [______ i-pupe] ______ NC-dentro de dentro dela (roa) [DUARTE, 2007, p. 41

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    (55b)]

    (15c) *ko i-pupe [*ko i-pupe] roa NC-dentro de dentro da roa

    (16a) ko r-ehe [ko R-ehe] roa C-em na roa [DUARTE, 2007, p. 41

    (56a)]

    (16b) ______ h-ehe [______ h-ehe] ______ NC-em nela (roa) [DUARTE, 2007, p. 41 (56b)]

    (16c) *ko h-ehe [*ko h-ehe] roa NC-em na roa

    Note que a agramaticalidade dos dados em (13c) e (14c) mostra bem que os adjetivos no pertencem classe dos nomes, uma vez que o escopo dos prefixos relacionais nos nomes o de apenas indicar a contiguidade ou no contiguidade do possuidor. Ademais, esse padro difere substancialmente do padro morfolgico dos verbos deadjetivais, mostrado na seo anterior, visto que os prefixos {i- h-} podem sim codificar argumentos nucleares que estejam adjacentes ao ncleo e que denotam o trao [-PESSOA].

    5 ESCOPO DOS PREFIXOS {i- h-} NOS VERBOS TRANSITIVOS E INTRANSITIVOS

    Os prefixos relacionais {i- h-}, alm de poderem ocorrer nos verbos deadjetivais, nos nomes e nas posposies, podem ainda vir acionados em verbos transitivos para codificar o objeto e em verbos intransitivos para codificar o sujeito. Nesses contextos, os prefixos fazem referncia ao argumento que carrega o trao [-PESSOA], esteja ele topicalizado para uma posio na periferia esquerda da orao ou esteja ele figurando imediatamente adjacente ao verbo, conforme mostram os exemplos (17) a (20).

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    VERBOS TRANSITIVOS: CONSTRUES DE FOCO DE OBJETO

    (17) upaw ywyrai teko ii-muaang-O kury [upaw wRai teko ii-mua/aN-O kuR] toda madeira a gente 3OBJ-marcar-FOC ento toda a madeira, a gente marca ento [DUARTE, 2007, p. 161 (1b)]

    (18) upaw Mrciai Fbio hi-esak-O [upaw Mrciai Fbio hi-esak-O] toda Mrcia Fbio 3OBJ-ver-FOC toda a Mrcia, o Fbio viu [lit. viu-a por inteiro, integralmente, e no parcialmente]

    [DUARTE, 2007, p. 161 (2b)]

    VERBOS TRANSITIVOS E INTRANSITIVOS EM ORAES SUBORDINADAS (19) w-exak Srgio zawar kai h-aro mehe [w-exak Srgio zawaR ka/i h-aRo mehe] 3-ver Srgio ona macaco 3OBJ-esperar COMP Srgio via a ona quando (ela) esperava o macaco.

    (20) Srgio w-esak Pedro i-ho mehe [Srgio w-esak Pedro i-ho mehe] Srgio 3-ver Pedro 3SUJ-ir COMP Srgio viu o Pedro quando (ele) ia.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Tomando por base a hiptese de que verbos deadjetivais so formados pela operao CONFLATION de uma raiz adjetiva a um ncleo Vo e o fato de os prefixos relacionais {i- h-} poderem codificar o trao [-PESSOA] do argumento que funciona como sujeito em verbos intransitivos (deadjetivais, ativos e inativos) e do argumento que exerce a funo sinttica de objeto em verbos transitivos, assumiremos que boa parte dos adjetivos em Guajajara e, possivelmente, em outras lnguas da famlia lingustica Tupi-Guarani, de fato, no constitui uma classe independente. Em suma, a tese defendida neste artigo a de que no haver uma classe de adjetivos produtiva, distinta da classe dos verbos em Guajajara, como ocorre, por exemplo, nas lnguas romnicas.

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    RESUMO Este trabalho examina o estatuto dos adjetivos na lngua Guajajara [Tupi-Guarani, Tronco Tupi]. O que se observa que essa classe de palavras em Guajajara no se distingue formalmente da classe dos verbos. Essa hiptese se baseia no fato de que esses itens denotam predicados de mudana de estado e, assim como os verbos, acionam os prefixos relacionais {i- h-} para codificar o seu nico argumento. Tomando por base esse fato, nossa hiptese a de que os prefixos relacionais de no contiguidade {i- h-}, quando ocorrem nos verbos deadjetivais, tm dupla funo, a saber: (i) codifica o trao [-PESSOA] do argumento que funciona como seu sujeito e (ii) faz referncia apenas a argumentos que recebem papel-theta [-DESENCADEADOR]. Por essa razo, percebemos que h um estreito paralelismo entre verbos deadjetivais e verbos intransitivos e transitivos, pois todos acionam os prefixos relacionais de no contiguidade para codificar o argumento nuclear com o papel-theta [-DESENCADEADOR]. Este paralelismo nos permite sustentar a hiptese de que boa parte dos adjetivos em Guajajara, de fato, migra para a classe dos verbos.

    PALAVRAS-CHAVE: Lngua Indgena, Guajajara, Caso, Verbo, Adjetivo, Deadjetival.

    REFERNCIAS

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