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EDUCON- EDUCAÇÃO EM TECNOLOGIA CONTINUADA NÚCLEO DE ANALISE INTERDISCIPLINAR DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA NAIPPE/USP GIOVANI SPAGNOLO O SOFTWARE LIVRE COMO MODELO DE NEGÓCIOS PORTO ALEGRE 2005

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(versão completa) De tempos em tempos uma grande mudança acontece na indústria. Essas mudanças geralmente não são notadas até que se passe um período de tempo razoável e, ao olhar-se para trás, percebe-se que tudo está diferente.Neste início de século, podemos estar passando pela maior mudança dentro da indústria de TI (Tecnologia da Informação), sem nos darmos conta. Esta mudança gira em torno das patentes de software, ou, mais especificamente, em torno das filosofias de Software Proprietário e Software Livre.----Update: As informações contidas neste documento podem não ser atualizadas. Este trabalho foi realizado no período de curso MBA 2003-2005.

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Page 1: (2003-2005) O Software Livre como Modelo de Negócios - Monografia de Conclusão MBA Executivo em Gestão Empresarial Estratégica - EDUCON-NAIPPE / USP

EDUCON- EDUCAÇÃO EM TECNOLOGIA CONTINUADA

NÚCLEO DE ANALISE INTERDISCIPLINAR DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA NAIPPE/USP

GIOVANI SPAGNOLO

O SOFTWARE LIVRE COMO MODELO DE NEGÓCIOS

PORTO ALEGRE

2005

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GIOVANI SPAGNOLO

O SOFTWARE LIVRE COMO MODELO DE NEGÓCIOS

MONOGRAFIA APRESENTADA A EDUCON E

NAIPPE/USP PARA OBTENÇÃO DA CERTIFICAÇÃO DO

CURSO MBA EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

ESTRATÉGICA EDUCON-NAIPPE/USP ORIENTADO PELO PROFESSOR: PROF. EDEMIR

MANOEL DOS SANTOS

PORTO ALEGRE

2005

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus, minha família e amigos, pilares da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial o apoio recebido de grandes novos amigos,

estudantes como eu, que ajudaram na motivação para concluir minhas tarefas

acadêmicas aqui em Roma, mesmo longe da família e amigos de Porto Alegre. São

eles os “Pedro’s”: Pedro Rocha, Pedro Santos, Pedro Anes e Pedro Leite, o João, as

meninas de Cipro e as meninas de Trastevere. Sem eles e a turma Erasmus para

alegrar dias e noites, festas e encontros de estudo este trabalho não seria possível.

Agradecimentos também ao chefe e amigo Alfonso Molina MPhil PhD,

Professor de Tecnologia Estratégica e diretor do TechMaPP (Technology

Management and Policy Programme) da Universidade de Edimburgo, na orientação

extra necessária, apoio e compreensão nos momentos de dificuldade.

À minha família, pais e irmãos, pelo amor dedicado.

A Deus, pela vida.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5

2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 7

3 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 8

3.1 Tipos de Software .............................................................................................. 8

3.2 O Software Livre .............................................................................................. 10

3.2 O Software Livre na Administração Pública ..................................................... 15

3.3 O Software Livre no Ambiente Corporativo ...................................................... 22

3.3.1 Desenvolvimento Sustentável de Sistemas .............................................. 22

3.3.2 A Importância da Liderança ...................................................................... 24

3.3.3 As Comunidades ....................................................................................... 28

3.3.4 Os Modelos ............................................................................................... 31

3.3.4.1 Suporte ............................................................................................... 33

3.3.4.2 Cultura e Confiança ............................................................................ 34

3.3.5 O Modelo Linux ......................................................................................... 36

3.3.6 Outros Modelos Sustentáveis ................................................................... 40

3.3.6.1 Vendendo Serviços Adicionais ........................................................... 40

3.3.6.2 Vendendo Software Adicional ............................................................. 42

3.3.6.3 Vendendo Hardware Adicional ........................................................... 44

4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 45

5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 46

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 47

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1 INTRODUÇÃO

De tempos em tempos uma grande mudança acontece na indústria. Essas

mudanças geralmente não são notadas até que se passe um período de tempo

razoável e, ao olhar-se para trás, percebe-se que tudo está diferente.

Neste início de século, podemos estar passando pela maior mudança dentro

da indústria de TI (Tecnologia da Informação), sem nos darmos conta. Esta

mudança gira em torno das patentes de software, ou, mais especificamente, em

torno das filosofias de Software Proprietário1 e Software Livre2.

Por quase duas décadas a indústria de TI e todos os segmentos que de

alguma forma utilizam o computador pessoal (PC) como ferramenta de trabalho

vêem-se aprisionados sob o domínio de poucos fornecedores mundiais de software.

Este domínio tem marcado uma nova divisa entre os países desenvolvidos e os

países em desenvolvimento: são os efeitos da Exclusão Digital. Hoje a dificuldade de

acesso à meios modernos de comunicação e o baixo poder financeiro para custear a

compra de licenças de uso de softwares leva cada vez mais países a analisarem de

forma profunda a filosofia criada em 1985 por Richad M. Stallman, fundador do

Projeto GNU3 e atual presidente da FSF (Free Software Foundation).

Apesar da filosofia de Software Livre ser quase tão antiga quanto o

surgimento dos primeiros sistemas operacionais proprietários para PC’s, somente há

poucos anos ela começou a receber a importância que merece. Governantes e altos

executivos interessaram-se nas possíveis vantagens da utilização de Software Livre

1 A denominação de “Software Proprietário” será dada a todo software “não-livre”, ou seja, que

restrinja o usuário quanto à modificação do programa e sua redistribuição. 2 A definição de “Software Livre” será utilizada conforme definição oficial da Free Software Foundation

(FSF), disponível em http://www.fsf.org/philosophy/free-sw.pt.html.

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em suas administrações e empresas. Libertar da dependência tecnológica, reduzir

custos com desnecessárias e abusivas licenças de uso de software e aumentar a

segurança e performance de sistemas e dados tornaram-se as principais bandeiras

do movimento de Software Livre.

Mas como é possível utilizar esta nova filosofia como um modelo de

negócios na área de TI? Como é possível o desenvolvimento sustentável de

sistemas dentro de empresas e governos sem a utilização do copyright tradicional?

E de que forma esta mudança pode afetar os rumos da economia e mercado de TI?

Enquanto essas perguntas ainda são respondidas por países, empresas,

empresários e comunidade de software, muitos passos já foram dados para que

possam ser identificados alguns dos principais fatores de causa e conseqüência da

expansão do Software Livre a nível mundial.

Serão analisados aspectos dessa mudança, do processo de

desenvolvimento do GNU/Linux, passando pelas motivações da comunidade para

manter estes processos, suas características, a importância das lideranças neste

novo cenário, até chegarmos aos modelos de negócios que se desenvolveram ao

longo destes anos.

3 O Projeto GNU (http://www.gnu.org/gnu/thegnuproject.html) é o projeto para criação de um sistema

operacional totalmente livre, conforme as definições da FSF. GNU é um acrônimo para “GNU’s Not Unix”.

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2 JUSTIFICATIVA

O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância e significado reais do

termo Software Livre em seus diversos aspectos, mas sobretudo quando aplicado no

âmbito corporativo e na administração pública, onde pode e já está atuando como

agente transformador de conceitos e viabilizador de alternativas à dependência

tecnológica, caracterizando-se como um novo modelo de negócios auto-sustentável.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 TIPOS DE SOFTWARE

Classificar os softwares através de sua forma de distribuição do código fonte

e sua forma de distribuição econômica gera a tabela 1 mostrada abaixo, na qual

podemos identificar as seguintes categorias:

Propriedade Técnica

Código fonte disponível Código binário disponível

Atributo Econômico

Gratuito Software Livre ou Open Source

Ex.: Linux, Apache

Freeware

Ex.: Adobe Acrobat Reader,

Real Player

Sujeito à cobrança

Software Livre Comercial

Ex.: distribuições Linux (Red Hat,

Mandrake)

Shareware e Software

Proprietário/Comercial

Ex.: Windows, Winzip

Tabela 1: Classificação de tipos de software

Software Livre ou Open Source: O código fonte do software é distribuído e

os termos de licença permitem que o software seja modificado e redistribuído com as

mesmas liberdades do software original. Essa abertura e liberdades previnem a

comercialização proprietária. Programas que usarem o código fonte livre deverão

sujeitar-se aos termos originais da licença aberta. Exemplos deste tipo de software

livre são o kernel Linux e o servidor web Apache.

Software Livre Comercial: A engenharia do software usada por um

software livre não exclui a possibilidade de que este seja usado comercialmente.

Software livre pode, também, ser distribuído mediante pagamento. Entretanto, essa

prática perde muito de seu efeito pelo fato de que, a princípio, qualquer um pode

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distribuir um software livre também gratuitamente. Esta categoria inclui modelos de

negócios em software livre que são baseados em serviços de valor agregado, como

empacotamento e venda de diversos softwares livres integrados (distribuições Linux)

e outros que geram receita com serviços complementares à esta atividade, como

venda de hardware específico, serviços e customização de software. Exemplos:

distribuições como Red Hat Enterprise, Mandrake.

Freeware: No caso de um freeware, o código fonte não está disponível; ele

é distribuído na sua forma binária (programa executável) e não pode ser modificado.

Entretanto, pode ser copiado e distribuído gratuitamente. Exemplos: plugins e

leitores como Adobe Acrobat Reader e Real Player.

Shareware e Software Proprietário/Comercial: Um software

proprietário/comercial é distribuído sem seu código fonte. É normalmente

comercializado sob termos de uma licença de uso. Essa licença define uma série de

termos os quais o usuário deve respeitar para estar habilitado a usar o software.

Porque o código fonte não está acessível, é tecnicamente impossível modificar o

software. Exemplos: Microsoft Windows e Winzip.

Estas quatro categorias de software refletem quatro grupos ideais de divisão.

Na realidade, porém, nem sempre podemos dividir os softwares exatamente desta

forma. Existem diversos métodos de distribuição e possibilidades de acesso ao

código fonte. Por exemplo, é possível existir um software que permita ser usado

gratuitamente, mas peça em troca uma doação voluntária. Softwares shareware

podem ser usados por algum tempo gratuitamente e depois devem ser licenciados.

Até mesmo no caso de softwares proprietários o código fonte pode estar “acessível”.

A iniciativa “Shared Source” da Microsoft é um exemplo. A Microsoft permite que

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clientes, parceiros e governos tenham acesso ao fonte de seus produtos. Isso

porém, sem poder modificá-los e redistribuí-los.

3.2 O SOFTWARE LIVRE

A expressão “Software Livre” vem definida pela FSF (Free Software

Foundation)4 como todo programa de computador que permite ao usuário acesso a

quatro chamadas “liberdades fundamentais de um Software Livre”:

1) A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº 0); 2) A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nº 1). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade; 3) A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº 2); 4) A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade nº 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta

liberdade.5

Embora a definição para “Software Livre” possa ser compreensível no idioma

português e em vários outros idiomas como o espanhol6 ou o italiano7 por exemplo,

existe uma ambigüidade ligada a este termo que provém da sua terminologia original

- em inglês - Free Software, na qual a palavra “free” pode ser interpretada como

“livre” ou “grátis”.

A este ponto é importante observar que existe uma outra organização,

chamada OSI (Open Souce Initiative)8, que cunhou a expressão “Código Aberto” (em

inglês Open Source) não só a fim de eliminar a dupla interpretação da palavra “free”

em Free Software (que para muitas empresas ainda vem sendo entendida como

“custo zero”), mas também para permitir que as companhias examinem o fenômeno

4 http://www.fsf.org

5 http://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt.html

6 Software Libre

7 Software Libero

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do Software Livre sobre uma base tecnológica, e não sobre uma base ética.

Infelizmente esta expressão também carrega consigo uma dose de ambigüidade, já

que para um software ser realmente livre não basta ter apenas seu código aberto,

mas deve também gozar das liberdades fundamentais descritas acima.

"Free Software" and "Open Source" describe the same category of software, more or less, but say different things about the software, and about values. The GNU Project continues to use the term "free software", to express the idea that freedom, not just technology, is important.9

Neste trabalho utilizaremos tanto a terminologia descrita pelo Projeto GNU

quanto a da OSI, de acordo com o contexto mais adequado.

As liberdades do Software Livre não são uma novidade, e a verdade é que

elas regravam o modo como o desenvolvimento de software era praticado durante

os anos 60, época em que os computadores custavam milhões de dólares e eram

poucos ainda. Como o valor da tecnologia estava no hardware, e não no software,

este era compartilhado e distribuído livremente entre os hackers10 que

incessantemente trabalhavam nos laboratórios das universidades. Na década de 70

o surgimento dos primeiros PC’s (Personal Computers) ou microcomputadores

permitiu que uma maior quantidade de pessoas pudesse usufruir de seus benefícios

e criar, modificar e trocar programas entre si.

Historicamente é necessário lembrar que, com o avanço na demanda por

novos softwares decorrente da popularização da informática, um modelo comercial

baseado na venda de programas de computador teve espaço. Esse modelo foi

percebido por muitas companhias, que começavam a investir recrutando

programadores sob contratos de nondisclosure para o desenvolvimento de novos

8 http://www.opensource.org

9 http://www.fsf.org/gnu/thegnuproject.html

10 Para uma correta definição do termo hacker, veja http://www.rootsecure.net/?p=definition_hacker

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aplicativos que vinham lançados ao mercado corporativo já protegidos por licenças

de copyright. Através do dinheiro que recebiam na forma de royalties, as empresas

eram capazes de pagar seus funcionários e aumentar sua produtividade, lançando

cada vez mais softwares proprietários no mercado. William Henry Gates III, ou

simplesmente Bill Gates, um jovem empreendedor e sócio de uma companhia

chamada Micro-Soft – atual Microsoft – foi uma das pessoas que vislumbrou a

mudança nos rumos da indústria de TI e reagiu às comuns práticas de troca de

software daquela época, quando estas começaram a envolver os produtos de sua

companhia, em particular o BASIC. Naquele tempo, em 3 de fevereiro de 1976,

Gates escreveu uma carta aberta à comunidade de desenvolvedores de software,

intitulada “An Open Letter to Hobbyists” 11 que, entre outras coisas dizia:

Almost a year ago, Paul Allen and myself, expecting the hobby market to expand, hired Monte Davidoff and developed Altair BASIC. Though the initial work took only two months, the three of us have spent most of the last year documenting, improving and adding features to BASIC. […] The feedback we have gotten from the hundreds of people who say they are using BASIC has all been positive. Two surprising things are apparent, however, 1) Most of these "users" never bought BASIC (less than 10% of all Altair owners have bought BASIC), and 2) The amount of royalties we have received from sales to hobbyists makes the time spent on Altair BASIC worth less than $2 an hour. Why is this? As the majority of hobbyists must be aware, most of you steal your software. Hardware must be paid for, but software is something to share. Who cares if the people who worked on it get paid? […] Who can afford to do professional work for nothing? What hobbyist can put 3-man years into programming, finding all bugs, documenting his product and distribute for free? The fact is, no one besides us has invested a lot of money in hobby software.

Para Gates era claramente necessário expandir o mercado com softwares

de qualidade e bem documentados e, para isso, era preciso cobrar pelo tempo

11

Veja uma cópia da carta on-line em http://www.blinkenlights.com/classiccmp/gateswhine.html

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investido nestas tarefas. O conceito de “Software Proprietário” estava sendo

aprofundado.

Mas Richard M. Stallman, programador de software do laboratório de

Inteligência Artificial do Massachusetts Institute of Technology (MIT), e mais tarde

fundador da FSF, discordava deste ponto de vista e iniciava uma batalha pessoal em

favor da “ética hacker”12 que havia se perdido em meio às inovações da tecnologia

da informação. Começava assim, em 1985, o Projeto GNU13, uma tentativa de

construir um sistema operacional 100% livre, e coberto por uma licença que

garantisse a propriedade intelectual dos seus autores, ao mesmo tempo em que

garantisse aos usuários do sistema as liberdades do Software Livre.

Stallman atingiu seu objetivo em 1991, quando o último módulo do sistema

GNU foi desenvolvido por um jovem finlandês da Universidade de Helsinki, chamado

Linus Torvalds. O kernel Linux, núcleo do sistema operacional GNU, foi a peça-

chave que permitiu a finalização daquele sistema completamente livre. O kernel

Linux e Linus Torvalds tiveram tanto sucesso que muitas pessoas tendem a

referenciar todo o sistema operacional GNU/Linux chamando-o simplesmente de

Linux. Entretanto, o nome mais apropriado deveria ser GNU/Linux, em

reconhecimento a imensa quantidade de trabalho realizada por Stallman e muitos

outros, anos antes do desenvolvimento do kernel.

A licença empregada no GNU/Linux e suas ferramentas principais é

conhecida como GPL (General Public License). Também idealizada por Richard

Stallman, essa licença é um “copyright às avessas”. Também chamada pela

comunidade como copyleft, a GPL garante que as liberdades do Software Livre

12

Uma definição e mais informações sobre a ética hacker encontram-se em

http://webzone.k3.mah.se/k3jolo/HackerCultures/tradethics.htm 13

Richard Stallman originalmente escreveu o GNU Manifesto, como ponto de apoio inicial do Projto

GNU. O manifesto pode ser lido em http://www.gnu.org/gnu/manifesto.pt.html

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sejam respeitadas legalmente, além de determinar que quando algum trabalho

derivado seja realizado, este deva ser licenciado sob as mesmas condições do

trabalho original, garantindo assim as mesmas liberdades. Esse “efeito viral” faz com

que seja impossível uma empresa utilizar um software livre GPL para construir um

software proprietário.

Ainda segundo Richard Stallman e a FSF:

"Software Livre" é uma questão de liberdade, não de preço. Para entender o conceito, você deve pensar em "liberdade de expressão", não em "cerveja grátis". [...] você pode ter pago para receber cópias do software GNU, ou você pode ter obtido cópias sem nenhum custo. Mas independente de como você obteve a sua cópia, você sempre tem a liberdade de copiar e modificar o software, ou mesmo de vender cópias. "Software Livre" não significa "não-comercial". Um programa livre deve estar disponível para uso comercial, desenvolvimento comercial, e distribuição comercial. O desenvolvimento comercial de software livre não é incomum; tais softwares livres comerciais são

muito importantes. 14

Analisando com mais profundidade percebemos que apesar das liberdades

de modificação e distribuição existentes nos softwares livres e criticadas por Bill

Gates em sua carta, esse modelo não impede a comercialização dos softwares e o

desenvolvimento de serviços agregados à esta atividade.

De fato não são poucos os casos de sucesso comercial que surgiram em

torno do GNU/Linux. A VA Linux Systems foi a primeira empresa no mundo a

especializar-se na plataforma aberta. Fundada em 1993, começou vendendo

hardware com GNU/Linux instalado e hoje é líder no fornecimento de soluções

integradas, mantendo em seu portifólio produtos como o SourceForge, conceituado

repositório de projetos Open Source na internet, que provê ferramentas para controle

e gerenciamento de projetos de forma colaborativa. Em 11 de agosto de 1999, a

14

A Free Software Foundation mantém em sua página uma descrição completa sobre a filosofia

pregada por Richard Stallman: http://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt.html

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Red Hat Linux torna-se a primeira empresa de Linux a entrar na bolsa norte-

americana. Com uma alta de 228% na abertura de sua IPO, consolidou o sucesso

de negócios em torno do sistema operacional no mercado corporativo e abriu espaço

para que novas start-ups iniciassem suas atividades. No Brasil, a primeira

distribuição comercial do GNU/Linux surgiu com a Conectiva Linux, em 1995.

Mas não só as empresas têm tirado vantagem das tecnologias livres.

Governos do mundo inteiro já implantaram, ou estudam a implantação de sistemas

abertos para gerar economia e aumentar a segurança de seus dados.

3.2 O SOFTWARE LIVRE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Uma das funções do Governo é garantir que a economia tenha condição de

se desenvolver de forma sustentada, dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal, e

que a população possa crescer de forma saudável, segura e com educação de

qualidade. O Governo, portanto, é um meio de promoção do bem-estar dos

cidadãos.

Os padrões abertos e o Software Livre têm feito avanços significativos na

administração pública, em especial no Brasil. Algumas das razões para este

fenômeno, segundo o diretor do Technology Management and Policy Program

(TechMaPP) da Universidade de Edimburgo, Alfonso Molina, são:

(1) Increasing richness of GNU/Linux environment as more and better software and hardware is being produced, with Intel, for instance, making chips for GNU/Linux, established software suppliers such as IBM, HP, Oracle, etc. offering software and services, and the many FLOSS volunteer programmers working collectively to improve and further the development of FLOSS. (2) Market opportunity offered not only to Microsoft’s competitors but also to new start-up companies such as Red Hat that makes a business by selling related software, technical support, maintenance for corporations, and distribution deals with, for instance, IBM, HP and Dell.

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(3) Market opportunity offered to all those customers who for one reason or another do not wish to depend on Microsoft’s software completely and hence, do not like Microsoft’s market oligopoly.

Segundo Molina, o crescimento da oferta de software e hardware em torno

do GNU/Linux, as oportunidades de mercado geradas para competidores da

Microsoft, a possibilidade de entrada no mercado de novas empresas e a

oportunidade de escolha dada aos usuários que não desejam depender de um único

fornecedor de soluções são fatores decisivos para a entrada da filosofia de Software

Livre na administração pública.

Mais do que isso, para os governos estas razões são reforçadas pelo fato de

que são eles os responsáveis por garantir o bem público de seus cidadãos e, como

provedores de serviços públicos, sofrem constantemente a pressão para entregar

melhores serviços ao menor custo. As pressões quanto a segurança dos dados,

transparência e responsabilidade fiscal partem da sociedade na forma de cobrança

por resultados concretos e projetos implementados.

Nesse sentido, as vantagens éticas e políticas do Software Livre como

política de governo ganham proeminência, especialmente no que diz respeito ao

acesso ao código fonte e trabalho colaborativo, sinais de transparência e

democracia.

No artigo “Are Gales of Creative Destruction Beginning to Blow in the

Software Sector?”, o professor Alfonso Molina analisa os argumentos do senador

Alberto Conde, de Buenos Aires e do membro do Congresso Peruano Edgar David

Villanueva Nuñez, na defesa dos projetos de lei por eles promovidos em suas

jurisdições.

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The main tenets of the argument given by Conde and Villanueva are based not on issues of cost but on the ability of the State to fulfil its mission. For Conde, the State’s mission regarding data processing: “is to be the guardian of the public record: to maintain updated and accurate information about the identity and patrimony of its citizens, of its interactions with these citizens, of its actions, etc.” This implies that the acquisition and use of information technology by the State should guarantee the following principles: 1. Security of the State and its citizens by ensuring that (a) only authorized persons have access to data, and (b) no third party can deny this access; 2. Permanence of public data by ensuring that data will be available and accessible for the useful life of the data, often hundreds of years; 3. Transparency and free access by citizens to public information by ensuring publication of all records with exception of those that will compromise the security of the State and of its citizens as required by the law.

Para Conde e Villanueva, o modelo proprietário é incompatível com os

princípios necessários num Governo para o mantenimento do compromisso de bem-

estar de seus cidadãos, devido às explícitas proibições e restrições impostas nas

licenças de uso, entre elas:

1. Inspection of the programme's function. Only the original author has access to the source code of the programme, leaving the State unable to ensure by its own means the security of the software in relation with its mission of public good. Furthermore, citizens who have the right to know, for instance, how their taxes are calculated or their votes counted, are also denied this right by the lack of access to the source of code of the proprietary programmes that perform these functions. It must be taken into consideration that all software processes information and it is itself information, in a special format that enables machine interpretation that, in turns, leads to the execution of anticipated actions. In this sense, it is crucial information for the citizen who has the right to have access and learn –if s/he wishes- about information that directly concern the exercise of his/her rights in a democratic society. 2. Improvement of the programme's functionality. Only the original author has the right to correct errors, modify, or add to proprietary programmes, leaving the State dependent on a single provider and, consequently, without the freedom to take the best course of action if this were to differ from the supplier’s alternative. 3. Preservation of technological neutrality. Given the strategic place of software such as operating systems, decisions that correspond to the State are implicitly dictated by the author of the programme, including choice of hardware platform and application programmes. 4. Provision of services independent of licensing details. Given the confusion sometimes generated by the different and changing models of proprietary licensing, the State run the risk of disruption of services that it must fulfil by obligation in a continuous, timely and effective manner. For instance, a misunderstanding about licensing terms, a

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change, expiration, or a price increase could force the State to suspend services unless it satisfies the terms of the supplier.

Esta posição desfavorável para o Estado em relação à sua missão de

promover o bem público pode ser aceitável quando não existem outras escolhas,

como no caso de uma situação de monopólio, por exemplo. Mas não deve ser aceita

quando existe uma alternativa que melhor permite ao Estado seguir aqueles

princípios intrínsecos à sua missão. Atualmente, essa alternativa existe através do

Software Livre, que permite levar à cabo sem limite de tempo, número ou tipo de

computadores a execução, estudo, correção, melhoria, expansão e adaptação dos

sistemas de acordo com as necessidades do Estado, e não de um fornecedor

específico.

No Brasil, alguns tipos de licenças “copyleft” já são reconhecidas. O portal

de Software Livre do Governo Federal15 apresenta as definições das licenças CC-

GPL e CC-LGPL, que são as traduções oficiais da GPL e LGPL da Free Software

Foundation, seguindo as orientações da Creative Commons.

Algumas cidades e estados do Brasil já têm leis que regulam a utilização e

preferência na utilização de softwares livres. A mais recente delas enquanto

escreve-se este trabalho é a Lei Nº 12.866 de 12 de janeiro de 2004, do Estado de

Santa Catarina16 que, entre outros artigos, estabelece: “Art. 1º A Administração

Pública Direta, Indireta e Fundacional do Estado de Santa Catarina utilizará

preferencialmente programas abertos em seus sistemas e equipamentos de

informática”. O Governo Federal Brasileiro também avança na questão legal sobre a

utilização de softwares livres. A Frente Parlamentar Mista pelo Software Livre17,

15

http://www.softwarelivre.gov.br 16

Texto completo da Lei em http://www.softwarelivre.org/news/1701 17

http://www.softwarelivre.org/news/1214

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19

criada em agosto de 2003 durante a “Semana de Software Livre do Legislativo”18, é

composta por mais de 120 deputados federais e 20 senadores, tendo como

presidente de honra o senador José Sarney. A intenção é transformar o Software

Livre no governo Lula em uma política pública de governo.

No Brasil o encarregado desta tarefa é o diretor-presidente do Instituto

Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), Sergio Amadeu da Silveira. Sua política

pró-software livre já criou polêmica internacional, após declarar em entrevista à

revista Carta Capital que a Microsoft realiza "prática de traficante" ao oferecer seu

sistema operacional Windows gratuitamente a alguns governos e prefeituras para

depois cobrar as atualizações. Amadeu declarou ainda que "isso é presente de

grego, uma forma de assegurar massa crítica para continuar aprisionando o País".

As declarações de Amadeu fizeram com que a Microsoft entrasse com um pedido de

explicação judicial em junho de 2004, para esclarecer o assunto. Porém mais

polêmica do que o pedido de explicações foi a resposta dada, que confirma a

posição do Governo Brasileiro:

"Em atenção às demandas da imprensa nacional e internacional, que se solidariza com o Governo Brasileiro nesse momento sem precedentes na história, em que o dirigente de uma importante instituição pública deste País sofre pessoalmente a ação daqueles interessados em manter um modelo hegemônico, venho, após ouvir meus advogados e procuradores federais, dizer que a provocação judicial movida contra minha pessoa é, por si só, tão inusitada e descabida, que não merece resposta. Por outro lado, gostaria de registrar que a contratação de software preservando os valores liberdade e abertura é, para o Governo Brasileiro, uma questão ligada de forma indissolúvel ao princípio democrático. E porque se percorreu um longo e doloroso caminho para chegar ao estágio atual de desenvolvimento da democracia neste País, não arrefeceremos em nossa luta. Se democracia é um valor repleto de ideologia, não é jamais um valor insignificante. Se democracia é um sonho, é um sonho do qual este País jamais acordará novamente. O futuro é livre."

18

Realizada no período de 18 a 22 de Agosto de 2003, em Brasília e promovida pelo Senado Federal

e pela Câmara dos Deputados.

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O Governo Brasileiro lidera no mundo um movimento a favor da adoção de

tecnologias livres, com a certeza de que este posicionamento ajudará o País a

diminuir a desigualdade tecnológica existente atualmente.

O coordenador geral de Software e Serviços do Ministério da Ciência e

Tecnologia (MCT), Antenor Correa, em ocasião do 5º Fórum Internacional do

Software Livre, realizado em Porto Alegre em junho de 2004, afirmou que "a política

de software e serviços tem como uma das metas principais elevar as exportações

brasileiras neste segmento para US$ 2 bilhões até 2007, número que hoje está em

US$ 100 milhões", destacando que atualmente o Brasil paga US$ 1 bilhão por ano

em licença de uso de software. Para o coordenador, entre os principais objetivos do

setor de software e serviços estão o crescimento das exportações, o fortalecimento

das empresas que desenvolvem software no Brasil, o fomento a segmentos

emergentes (jogos, TV digital) e infra-estrutura e capacitação.

Quanto à reação de alguns segmentos da indústria a esta política, Sérgio

Rosa, diretor geral do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) informa

que "Vamos perseguir uma política de software livre não predatória, para não causar

problemas para a indústria nacional." Na opinião de Rosa, “é necessário que o

governo estabeleça normas factíveis para o software livre, e que a migração seja

indutiva e facultativa”.

Atualmente a maior barreira enfrentada pelo Governo para ter sucesso é o

fator cultural. “As pessoas acreditam que só existe um tipo de software no mundo.

Boa parte do público desconhece a existência de outras plataformas, como o Linux

ou até mesmo o Macintosh, que é proprietário.” Para superar esse problema cultural,

o Governo organizou a I Semana de Capacitação em Software Livre, no final de abril

de 2004, onde foram capacitados mais de 2000 funcionários públicos, de todas as

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esferas de governo, em ferramentas livres, como OpenOffice, Mozilla, GIMP e outros

programas básicos, que fazem o mesmo que muitos proprietários. Outros órgãos de

governo capacitam suas equipes gradativamente, de acordo com as migrações.

Sérgio Amadeu ainda explica que os países que adotam a filosofia de

Software Livre têm outros benefícios, além da questão financeira:

“Temos que frisar [...], além das questões macroeconômicas, os seguintes motivos: Segurança. Como saber se um software é seguro se não temos acesso ao seu fonte? Programas com código aberto baseiam-se no princípio da transparência e permitem auditabilidade plena. Possibilitam a retirada de rotinas duvidosas, falhas graves ou mesmo buracos que permitem invasões. Outro aspecto é a autonomia tecnológica, que permite ao país ser um desenvolvedor de soluções, aumentando a inteligência coletiva e o trabalho colaborativo. Com software livre temos também independência de fornecedores, pois como não há software livre sem código-fonte aberto, o governo evita o aprisionamento a uma única empresa fornecedora daquela solução, com o estímulo à competição entre fornecedores. E por fim, com software livre, temos o compartilhamento pleno do conhecimento.”

Para Amadeu, o Governo deve investir no Software Livre também como parte

de uma estratégia para conquistar um lugar de destaque no cenário mundial de

desenvolvimento de soluções tecnológicas:

“Com o software proprietário o Brasil tem pouca chance de conseguir conquistar o mercado. Entendo que o Brasil deve fazer como a Índia e adotar o caminho do desenvolvimento de soluções. Temos, sem sombra de dúvidas, grande capacidade de desenvolver em linguagens abertas e de vender serviços. A maior comunidade de desenvolvedores de Java está no Brasil, a linguagem LUA foi desenvolvida aqui e já tem boa aceitação na Europa. Além disso, temos uma grande oportunidade com a disseminação dos softwares embarcados. Isso é sinônimo de GNU/Linux. Já que as soluções abertas oferecem condições para a adequação dos códigos e das funções, conforme a necessidade do equipamento que irá utilizar aquela solução. Outra boa oportunidade é oferecer soluções integradas em que se desenvolve soluções complexas para um determinado problema e o software nesse caso é apenas uma parte. As empresas vão pagar pela inteligência do processo e não por licenças de uso. O importante neste ponto é que as empresas brasileiras estejam prontas para conseguir financiamentos, que as ajudarão a investir nos seus produtos.”

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A IBM é uma grande parceira do Governo Brasileiro na batalha pelo

Software Livre. O presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI),

Sérgio Amadeu, e o presidente da IBM Brasil, Rogério Oliveira, assinaram em

agosto de 2004 um acordo de cooperação para a criação de um Centro de Difusão

de Tecnologia e Conhecimento (CDTC). O Centro tem como objetivo difundir

soluções que utilizem padrões abertos mediante a capacitação de técnicos,

profissionais de suporte e usuários de sistemas da administração pública, criando

desta forma um grupo multiplicador do uso desse tipo de tecnologia. Além disso, em

sua página a IBM mantém uma lista de regiões chave as quais considera

oportunidades para novos investimentos. As quatro regiões são: Brasil, Centro-leste

europeu, Rússia, China e Índia. Até 2006 estes mercados representarão mais de 70

bilhões de dólares em oportunidades no Mercado doméstico de TI, com uma taxa de

crescimento de 10,5%, mais que o dobro da média mundial. A empresa sustenta que

estes mercados são de grande interesse porque representam importantes fontes de

novos crescimentos, e estão tornando-se rapidamente grandes players no

ecossistema global de TI. Dentro desta condição emergente no mercado, os

atrativos levantados pela IBM incluem - além dos 70 bilhões de dólares de

oportunidade - os mais de 6 milhões de estudantes formados em ciências e

engenharia anualmente, contra 4 milhões nos países G4 e os governos nestas

regiões que estão suportando ativamente tecnologias com padrões abertos, como

Linux, além das fortes capacidades na fabricação de tecnologia e desenvolvimento

de serviços em TI.

3.3 O SOFTWARE LIVRE NO AMBIENTE CORPORATIVO

3.3.1 Desenvolvimento Sustentável de Sistemas

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Um dos desafios apresentados às empresas e governos que hoje adotam

GNU/Linux e as tecnologias abertas é, sem dúvidas, como estabelecer um processo

de desenvolvimento sustentável de softwares livres. Além disso, como organizar o

modelo de negócios de uma forma que permita à essas organizações lucrar sobre

um sistema que não utiliza o tradicional copyright?

Como regra geral, os programadores de software participam voluntariamente

de projetos Open Source e, dependendo de suas contribuições, envolvem-se com

mais ou menos profundidade no projeto do sistema e em sua estrutura de tomada de

decisões. Estes projetos nascem e organizam-se naturalmente. A participação no

projeto do software é voluntária e, a princípio, não prevê recompensas financeiras a

seus participantes. Ao contrário de projetos de software tradicionais, os projetos

livres não começam analisando as necessidades dos usuários finais, mas partem de

uma idéia ou solução de um problema específico que um desenvolvedor resolveu

implementar. O projeto começa com a publicação de seus objetivos e um código

fonte original, base da solução. Se o projeto mostrar-se interessante, mais

desenvolvedores aparecerão e se juntarão à equipe do projeto. Se o projeto cresce,

provavelmente organiza-se uma estrutura na qual existe um mantenedor ou uma

equipe núcleo, que é responsável por fazer as decisões críticas a respeito do futuro

do projeto. Em uma estrutura assim, existem diversas formas de colaboração no

projeto, desde pessoas que apenas fazem testes e sugerem novas funcionalidades,

passando por pessoas que apenas corrigem bugs ou documentam o projeto, até

chegar àqueles que verdadeiramente escrevem o sistema. As formas de

comunicação preferidas são o e-mail, listas de discussão e salas de conversação

IRC (Internet Relay Chat).

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A comparação entre um bazar e a construção de uma catedral é comumente

usada como exemplo para ilustrar este tipo de desenvolvimento colaborativo. Nesta

comparação, o desenvolvimento de softwares livres se assemelha muito à

organização de um bazar.

Na sua obra entitulada “A Catedral e o Bazar”, Eric S. Raymond defende

que:

Dada uma base grande o suficiente de beta-testers e co-desenvolvedores, praticamente todo problema será caracterizado rapidamente e a solução será óbvia para alguém. Ou, menos formalmente, “Dados olhos suficientes, todos os erros são triviais.” Eu chamo isso de: “Lei de Linus”. Minha formulação original foi que todo problema “será transparente para alguém”. Linus objetou que a pessoa que entende e conserta o problema não é necessariamente ou mesmo freqüentemente a pessoa que primeiro o caracterizou. “Alguém acha o problema,” ele diz, “e uma outra pessoa o entende. E eu deixo registrado que achar isto é o grande desafio”. Está claro que ninguém pode codificar desde o início no estilo bazar. Alguém pode testar, achar erros e aperfeiçoar no estilo bazar, mas seria muito difícil originar um projeto no estilo bazar. Linus não tentou isto. Eu também não. A sua comunidade nascente de desenvolvedores precisa ter algo executável e passível de testes para utilizar. Quando você começa a construção de uma comunidade, o que você precisa ter capacidade de apresentar é uma promessa plausível. Seu programa não precisa funcionar particularmente bem. Ele pode ser grosseiro, cheio de erros, incompleto, e pobremente documentado. O que não pode deixar de fazer é convencer co-desenvolvedores em potencial de que ele pode evoluir para algo realmente elegante em um futuro próximo.

Isso significa que um dos pontos iniciais para o desenvolvimento de um

modelo auto-sustentável de negócios em software livre é a existência de uma

comunidade interessada no constante desenvolvimento dos produtos livres e

lideranças naturais dentro destes projetos.

3.3.2 A Importância da Liderança

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Para alcançar o sucesso, um projeto Software Livre (ou Open Source),

requer basicamente uma liderança natural confiável e uma organização coerente

com a natureza do processo de desenvolvimento.

Na maioria dos casos, apesar de ser um programador que começa tentando

resolver um problema particular através da implementação de um software, o líder

Open Source ao longo do tempo programa cada vez menos. Entre suas principais

atribuições de liderança podemos destacar: fornecer uma visão ao projeto;

assegurar-se que o projeto esteja dividido em pedaços pequenos e bem definidos

(módulos), os quais um indivíduo poderá responsabilizar-se em implementar sem

interferir nas outras tarefas do projeto; atrair mais programadores e, por último, mas

não menos importante, manter o projeto unido, ou seja, prevenir que seja

abandonado ou que aconteça um fork (ramificação do projeto que acaba originando

um novo projeto derivado com características e funcionalidades de sistema similares

àquele original, que usa geralmente como base os códigos fonte já existentes, mas

com uma nova liderança).

O líder, ao começar seu projeto, deve estar apto a apresentar uma

quantidade suficiente de código que permita uma reação por parte da comunidade

onde está inserido. A solução inicial não precisa estar funcionando corretamente e

pode conter diversos erros. O que é preciso é convencer de que o seu programa tem

potencial para fazer bem aquilo que se propõe a fazer. Também é importante que o

programador líder não realize a maior parte do trabalho inicial sozinho, e que deixe

tarefas desafiadoras para que outros programadores as realizem. Pode-se dizer que

é relativamente mais fácil atrair os colaboradores ao início do projeto porque, caso

haja sucesso, surgirão novos interessados e usuários, e as colaborações dadas ao

início do projeto serão mais visíveis e valorizadas dentro da comunidade. A verdade

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é que um projeto Open Source necessita de um desafio constante, caso contrário

não haverão interessados em participar de um projeto cuja liderança seja passiva

diante dos obstáculos que se apresentam.

Outro aspecto determinante no sucesso de um projeto Open Source parece

ser a natureza de sua liderança. As estruturas de governança variam muito de

projeto a projeto. Em diversos casos, como no desenvolvimento do Linux por

exemplo, existe apenas uma liderança, sem disputa. Ao mesmo tempo em que

algumas tomadas de decisão são delegados a outras pessoas, uma forte

centralização da autoridade caracteriza este tipo de projeto. Enquanto o líder estiver

tomando as decisões corretas, contentando e valorizando o trabalho geral da

equipe, continuará a receber o apoio incondicional de seus seguidores. Existem

outros casos, como o desenvolvimento do Apache Web Server, onde existe um

comitê que resolve as disputas internas através de votos ou consenso geral.

Apesar das diferenças nos tipos de governança, os líderes de projetos livres

têm diversas características em comum. A maioria deles são programadores que

iniciaram escrevendo o código inicial do sistema, ou realizaram alguma importante

contribuição no início do projeto e, mesmo não fazendo mais colaborações a nível

de código e tendo agora tarefas mais amplas de gerenciamento, consideram aquela

experiência inicial como fundamental para dar-lhes a credibilidade necessária para

liderar o projeto.

Mas o que uma liderança de um projeto Open Source realmente faz?

Através de uma primeira análise pode-se dizer que a natureza quase anárquica de

evolução destes modelos deixam pouco espaço para a existência de uma liderança.

Essa análise, entretanto, é equivocada. Em primeiro lugar, como já descrito, o líder

define a visão do projeto. Se o líder é respeitado pelos colaboradores e se a sua

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visão é convincente, as expectativas de sucesso são positivas. Em segundo lugar,

mesmo que os participantes sejam livres para levar o projeto pelos caminhos que

quiserem (pois todos possuem o código fonte), a aceitação ou rejeição de

modificações ou adições no sistema por parte do líder do projeto provê uma forma

de certificação de qualidade do produto final, mantendo a integração e

compatibilidade com o resto do projeto.

Acima de tudo, os programadores devem acreditar na sua liderança. Devem

acreditar que os objetivos propostos pelo líder são convergentes com os seus, e que

não estejam contaminados nem influenciados por opiniões e decisões políticas,

comerciais ou que promovam o “ego” do líder. A confiança na liderança é também a

chave para prevenção de um fork do projeto. A presença de um líder carismático

reduz a probabilidade de divisão do projeto por pelo menos dois motivos: os

colaboradores indecisos ficam mais propensos a seguir as alternativas do líder; e a

facção dissidente pode não ter um líder natural com o mesmo nível de carisma do

original, desencorajando adesões ao fork.

Por fim, uma boa liderança deve claramente comunicar os objetivos e

procedimentos de avaliação do projeto. De fato organizações Open Source optam

por fazer a natureza de seu processo de tomada de decisão o mais transparente

possível: o processo pelo qual um comitê avalia novas propostas de soluções é

freqüentemente enviado à uma lista de correio eletrônico e todas mensagens são

arquivadas.

Como em empresas tradicionais, percebe-se que muito da probabilidade de

sucesso ou fracasso de uma iniciativa no mundo livre depende da postura tomada

pelas pessoas que estão à frente do processo.

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3.3.3 As Comunidades

“Only a network of hundreds, thousands of brains working cooperatively, with spontaneous division of labor, and loose, but effective coordination, could accomplish the extraordinary task of creating an operating system able to handle the complexity of increasingly powerful computers interacting via the Internet.”

Assim Manuel Castells (2000) argumenta a favor do potencial produtivo das

comunidades formadas em torno de sistemas livres.

Projetos desenvolvidos através de comunidades crescem organicamente,

em uma rede social de confiança construída a medida em que o código e o tamanho

da comunidade avançam em paralelo. As tarefas de arquitetura e organização do

trabalho são de responsabilidade dos líderes e lentamente vão sendo delegadas a

outros desenvolvedores na medida em que o grupo evoluí e a complexidade do

código aumenta.

Como já exposto, quando um desenvolvedor resolve iniciar seu projeto Open

Source, é motivado, geralmente, por razões não-comerciais. Ou não está satisfeito

com os softwares atualmente existentes, ou o software necessário à solução de seus

problemas simplesmente não existe. Linus Torvalds, por exemplo, precisava de um

Unix para seu PC, escreveu o kernel Linux e integrou-o ao sistema operacional

GNU; Eric Allman precisava de um servidor de emails mais eficiente, resultando no

Sendmail; Larry Wall precisava de uma ferramenta automatizada para geração de

páginas web, resultando na linguagem Perl.

Entretanto, a simples necessidade de uma solução não pode ser vista como

condição suficiente para o início de um projeto livre. Em particular, não explica a

decisão de fazer o resultado da programação disponível e livre ao público. E é aqui

que outras motivações exercem grande influência na decisão de começar um projeto

Open Source.

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Além da necessidade de um novo software, muitos colaboradores de

projetos Open Source dizem fazer da programação uma diversão, uma atividade de

lazer, brincando com as possibilidades de uma determinada linguagem como forma

de passatempo. A diversão parece ser mais uma condição necessária para começar

um projeto Open Source mas, como o motivo “necessidade de um novo software”,

não pode ser considerada suficiente. Há centenas de programadores que

programam um novo software porque precisam dele e porque se divertem fazendo

isso, mas decidem ganhar dinheiro com o produto final, ou não desejam distribuir os

códigos fonte, mantendo o software proprietário.

Então, qual o motivo principal em tornar um esforço individual (os fontes de

seu programa) num bem comum, e licenciá-lo sob a GPL? Através dos muitos

motivos que podem ser observados em grupos, listas e na vasta literatura disponível

na internet, pode-se verificar que existe um em especial, comum a todas discussões:

dar o programa como um presente à comunidade. E um dos fatores que leva a esta

decisão é o desejo do programador, ou dono do projeto, em ganhar reputação

dentro da comunidade hacker. Os nomes dos colaboradores são distribuídos com o

código fonte do programa. Assim, a aceitação individual dentro de uma comunidade

já formada aumenta e, com ela, a reputação e o status social. E esse “status social”

dentro da comunidade é determinado pelo “tamanho do presente” dado.

Outro fator é o que Hars e Ou (2002) chamam de “identificação com a

comunidade”. Com isso querem dizer que os programadores vêem a comunidade de

software livre como uma família que trabalha em prol da convergência dos objetivos

individuais de cada membro e da comunidade como um todo. Por isso, desejam

fazer algo que beneficie a comunidade, mesmo que não sirva a seus próprios

interesses. “Participar” da comunidade significa seguir as regras da mesma e

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cumprir com determinadas obrigações como, por exemplo, publicar com freqüência o

código fonte de seu software.

Grandes exemplos do movimento da comunidade de software livre em ação

são a Wikipedia19, uma enciclopédia produzida totalmente na internet de forma

colaborativa, o modelo de licenciamento da Creative Commons20 e os cursos

promovidos no OpenCourseWare21, do MIT. Através de exemplos como estes

podemos compreender porque o modelo de Software Livre está sendo considerado

não só como uma inovação tecnológica, mas também uma inovação social.

Projetos fundados e geridos completamente por uma comunidade têm

também uma grande desvantagem. Os custos de iniciação do projeto – tanto

organizacionais como técnicos – são totalmente suportados pela comunidade. De

forma prática, os voluntários estabelecem uma estrutura, tecnologias de

colaboração, governança e definem as regras de participação. Tudo isso enquanto

tentam trabalhar no desenvolvimento de uma versão 1.0 funcional do sistema. E por

isso não é surpresa o fato de que apenas um pequeno percentual destes projetos

consegue construir um sistema completo e estabelecer uma comunidade durável.

O projeto Linux é um exemplo bem sucedido. Emerge como um novo

paradigma e não respeita limites de geografia ou formas de centralização. Veio

crescendo de forma orgânica sem um planejamento central por pelo menos 10 anos.

Sendo co-desenvolvido por centenas de indivíduos dispersos ao redor do globo

terrestre, ganha cada vez mais força à medida em que novas redes de formam em

torno de seu desenvolvimento, juntando esforços ao que já existe construído para

usufruir do resultado melhorado no fim. O projeto tem atraído a atenção do mundo

19

Acesse em http://www.wikipedia.com 20

Acesse em http://ww.creativecommons.org 21

Acesse em http://ocw.mit.edu/

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dos negócios pelo seu modelo que representa hoje uma séria ameaça às poucas

companhias líderes - em especial a Microsoft, e uma oportunidade para inúmeras

pequenas novas empresas que desenvolvem seus serviços em torno das

tecnologias abertas.

3.3.4 Os Modelos

O modelo de desenvolvimento Open Source mais familiar é aquele

popularizado pelo projeto do kernel Linux, no qual um ou mais indivíduos publicam

seu trabalho inicial e recrutam desenvolvedores para contribuírem ao software que

ainda está num estado muito inicial. Neste modelo, as relações de emprego não

guiam o desenvolvimento do código.

Desde que a Netscape liberou publicamente o código fonte de seu browser,

Mozilla, em 1998, um crescente número de entidades públicas e privadas liberaram

códigos proprietários na esperança do crescimento de uma grande comunidade que

melhorasse e mantivesse o código no futuro.

Um fator importante no desenvolvimento de software livre é a capacidade de

prevenir que alguém adquira os direitos de propriedade sobre o software, e o faça

proprietário. Os modelos de licenciamento Open Source têm este objetivo. O fato de

que softwares Open Source podem ser legalmente baixados da internet, copiados e

redistribuídos inibe a comercialização dos mesmos em modelos baseados no

pagamento de licenças. Consequentemente, não há um mercado onde produtores e

usuários de softwares livres podem se encontrar. A figura 1 a seguir ilustra essa

situação.

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Figura 1: Identificação de modelos de negócios com Software Livre

Mas modelos comerciais baseados em softwares livres surgiram. Todos eles

usam como ponto de partida uma grande base instalada de determinados softwares

livres, e baseiam-se na prestação de serviços e/ou produtos adicionais. Todos esses

modelos de negócios almejam aumentar a demanda por seus próprios produtos

complementares através de seu envolvimento na comunidade Open Source. Quanto

mais base instalada, mais clientes potenciais. De um ponto de vista comercial, os

investimentos em projetos Open Source são lucrativos para as companhias somente

se elas conseguem fazer negócios com outros produtos ou serviços extras gerados

por este investimento. E porque melhorias feitas nos softwares livres não podem ser

usadas para gerar lucro de forma direta, as empresas devem lucrar indiretamente,

através de outros produtos e serviços. Modelos de negócios em Software Livre

podem ser chamados, então, de modelos de negócios indiretos, porque as vendas

não são geradas com os produtos principais, mas com produtos e serviços

adicionais, baseados em software livre.

Como esperado, muitas companhias comerciais elaboraram estratégias para

capitalizar sobre o movimento Open Source. De forma simples, elas esperavam

beneficiar-se com seu expertise em algum segmento no qual a demanda fosse

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aumentada por conta do sucesso de um software livre qualquer. Mesmo que investir

em tais softwares não fosse apropriado, as empresas indiretamente se beneficiariam

em algum segmento proprietário complementar.

Uma dessas estratégias consiste em prover produtos e serviços

complementares que não são fornecidos de forma eficiente pela comunidade Open

Source. A Red Hat e a VA Linux exemplificam essa estratégia “reativa”. Uma

empresa “reativa” pode ainda querer encorajar e subsidiar o movimento Open

Source alocando alguns programadores para colaborar no projeto, por exemplo. A

Red Hat fará dinheiro com suporte técnico se o Linux for um sucesso. De forma

similar, se semi-condutores e sistemas operacionais são produtos complementares,

a Intel continuaria lucrando se o Linux (que ao contrário do Windows pode ser obtido

gratuitamente) dominasse o mercado de sistemas operacionais.

Como sabemos, é possível baixar da internet uma distibuição completa de

GNU/Linux, juntamente com seu código fonte. Essa é uma fase essencial do modelo

de desenvolvimento Linux. Porém, dadas as características especiais da indústria de

software, essa metodologia de “distribuição” tem alguns problemas que foram

parcialmente resolvidos pela criação do que podemos chamar de “O Modelo Linux”

de negócios, que discutiremos a seguir. Mas antes disso, é necessário analisar

alguns dos fatores que reduzem a competitividade do modelo Linux. São,

principalmente, questões de culturais e de suporte.

3.3.4.1 Suporte

Usuários de software estão interessados na qualidade dinâmica de um

produto, que pode ser entendida como o conjunto de melhorias e potencial de

desenvolvimento do produto ao longo do tempo de desenvolvimento. Dentro deste

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conjunto, a questão do suporte ao produto pode ser definida como “a solução de

problemas”.

Dada a falta de compromisso para com o desenvolvimento de muitos dos

produtos de software hoje disponíveis, muitos usuários (em especial os

corporativos), querem poder receber ajuda caso tenham problemas com o produto.

Essa ajuda é o suporte e o serviço de atendimento ao cliente oferecidos, na maioria

das vezes, pela empresa que desenvolveu o produto. No caso do GNU/Linux, o

suporte teria seu lugar através da internet, onde o usuário com um problema usaria a

web para comunicar-se com a “comunidade Linux” e obter a solução. Porém esse

tipo de abordagem é problemático, em especial no ambiente corporativo, tanto por

questões culturais como legais.

3.3.4.2 Cultura e Confiança

O suporte tem muito a ver com a questão da credibilidade, que por sua vez

está relacionada a um relacionamento de confiança. E a confiança tem relação

direta com a cultura, uma vez que as pessoas naturalmente tendem a confiar mais

naquelas que tenham pontos de vista em comum com os seus. No caso do modelo

de suporte do GNU/Linux, parece haver um problema de falta de confiança de uma

parte dos usuários em relação ao compromisso da comunidade em prestar suporte

no sistema operacional.

Basicamente podemos afirmar que a comunidade GNU/Linux não é

legalmente obrigada a prestar suporte ao produto que desenvolve. Isso gera

incerteza entre potenciais usuários em relação ao suporte que receberão caso usem

GNU/Linux. Essa falta de confiança parece ter um claro fundamento racional (como,

por exemplo, usuários de aplicações de missão crítica que desejarão suporte

assegurado em caso de problemas), e também uma relação com questões culturais.

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Se considerarmos uma empresa com forte cultura de “maximização de lucros”, é de

se esperar que haja resistência e desconfiança de um modelo que não é baseado

nesse aspecto. De fato não é difícil encontrar dentro de empresas assim

engenheiros de software que começaram a usar GNU/Linux em segredo,

escondendo-o de seus gerentes, que não são a favor do software livre.

O problema do suporte ao GNU/Linux criou uma oportunidade de negócios.

Algumas empresas como a Red Hat, SuSe e MandrakeSoft apareceram como

intermediários entre os usuários e a comunidade de desevolvedores GNU/Linux.

Elas comercializam distribuições do sistema, ou seja, pacotes integrados e testados,

com garantia e suporte. Essa atitude diminui a incerteza da qual sofrem os usuários

corporativos, porque eles acham, nessas companhias, alguém que pode assumir as

responsabilidades legais em caso de problemas com o sistema.

Uma das vantagens deste modelo de negócios é que, ao contrário da

Microsoft, e por causa do uso da licença GPL, ninguém é “dono” do GNU/Linux, e

com isso o aprisionamento da tecnologia torna-se muito mais difícil, e os problemas

associados a isso para consumidores e entrada de novos players de mercado

diminuem.

Por outro lado, o maior problema associado a este modelo é a necessidade

de manter a compatibilidade entre os releases de GNU/Linux produzidos pelos

diferentes distribuidores. Alguns deles podem haver incentivos para trair aquilo que

podemos chamar de “padrões Linux” com o objetivo de obter mais market share,

pois a competição dentro de padrões abertos reduz consideravelmente as

oportunidades de lucro para as empresas, uma vez que todas competem em iguais

condições de informação disponível.

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3.3.5 O Modelo Linux

A profissionalização e evolução dos modelos de desenvolvimento de

software e de negócios após a popularização do GNU/Linux aconteceu

naturalmente. Hoje em dia, Linus Torvalds conta com uma razoável equipe de

colaboradores fiés, sendo a grande maioria empregada por companhias de

tecnologia, para supervisionar o andamento das tarefas de maior prioridade. IBM,

Hewlett-Packard e Intel são algumas das companhias que investem pesado nas

melhorias do sistema operacional. Curiosamente, estas empresas também se

adaptaram ao modelo criado por Torvalds. Elas contribuem, de modo geral,

empregando programadores que dedicam seu tempo na melhoria do Linux. A IBM

sozinha tem mais de 600 programadores dedicados ao desenvolvimento, número

que em 1999 era de apenas dois. Existe até mesmo um conselho de diretores que

ajuda a estabelecer prioridades para o desenvolvimento do Linux.

Se não cobram pelo Linux em si, como essas empresas beneficiam-se deste

software livre? Podemos citar diversas maneiras. Os distribuidores, como a Red Hat

e a Novell, embalam o Linux com manuais de ajuda ao usuário, atualizações

regulares e serviços aos clientes, e então cobram assinaturas anuais dos clientes

por todos os extras. Essas taxas variam de US$ 35,00 ao ano, para uma versão

básica do Linux, a US$ 1.500,00 para uma versão para servidores. Já os fabricantes

de computadores que vendem PCs e servidores com o Linux pré-instalado, como a

IBM ou HP, por exemplo, capitalizam sobre sua habilidade na venda de máquinas

sem nenhuma despesa prévia com o licenciamento de um sistema operacional,

despesa essa que pode chegar a vários milhares de dólares em algumas versões do

Windows e do Unix.

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Qualquer empresa ou pessoa é livre para participar do modelo iniciado por

Torvalds, e aqueles que tiverem mais a oferecer ganham reconhecimento e papéis

de destaque. "O Linux é o primeiro ecossistema empresarial natural", diz James F.

Moore, da faculdade de direito de Harvard.

Um passo importante foi a decisão da IBM, Intel e outras de estabelecer o

Open Source Development Labs22 (OSDL) como uma maneira de acelerar a adoção

do Linux. Talvez ainda mais surpreendente tenha sido o fato de que os ataques

legais ao Linux em 2004 serviram para unir mais ainda a comunidade. Algumas

tensões internas continuam ocorrendo - por exemplo, os defensores do Linux

queixam-se de que as diferentes versões do programa acabarão tornando-se

incompatíveis umas com as outras. Mesmo assim, um processo movido pela SCO,

uma companhia de software que alega que a IBM transferiu propriedade intelectual

sua para o Linux, forneceu aos aficionados por este sistema operacional motivação

para coordenar esforços em sua defesa.

Juntando estes fatores, o Linux tornou-se o rival mais forte que a Microsoft já

teve. Pela primeira vez o Linux está tirando espaço do Windows, forçando a

Microsoft a oferecer descontos para evitar a perda de vendas. Uma pesquisa feita

pela consultoria Forrester Research constatou que 52% dos entrevistados estão

substituindo os servidores Windows por GNU/Linux. A IDC, por sua vez, prevê que o

mercado total para os equipamentos e software Linux vai saltar dos US$ 11 bilhões

de 2004, para US$ 35,7 bilhões até 2008.

Em resposta, a Microsoft lançou um contra-ataque ao que ela chama de

ameaça número um. A campanha publicitária da gigante dos softwares intitulada

22

Conheça a iniciativa em http://www.osdl.org

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"Entenda os Fatos" (“Get the Facts”, em inglês) alega que o Windows é mais seguro

e menos dispendioso de se ter do que o Linux.

Agora que os distribuidores do Linux estão cobrando mais pelas assinaturas,

a Microsoft percebe que pode usar os mesmos argumentos de "custo-benefício" que

ajudaram a enterrar velhos rivais como a Netscape Communications.

Mas o executivo-chefe da Microsoft, Steve Ballmer, terá dificuldades para

convencer os clientes de que o Windows é mais barato que o GNU/Linux. Pois

freqüentemente ele não é. Com o Windows, os usuários finais pagam taxas

antecipadas que vão de várias centenas de dólares para um PC, a milhares de

dólares para um servidor, enquanto não há essa despesa a longo prazo com o uso

de GNU/Linux.

Analistas afirmam que o custo total em três anos para um pequeno servidor

usado por 30 pessoas, incluindo as taxas de licenciamento, suporte e direitos de

upgrades, seria de cerca de US$ 3.500,00 para o Windows, comparado a US$

2.400,00 para uma assinatura da Red Hat.

A situação em que a Microsoft pode estar em vantagem é quando uma

empresa já utiliza extensivamente o Windows. Então, em alguns casos, pode ficar

mais barato fazer um upgrade para uma nova versão do programa da Microsoft, ao

invés de substituí-lo pelo GNU/Linux.

A Microsoft não evita táticas mais duras para vencer a disputa. Vários

veículos de comunicação noticiaram o fato de que executivos da companhia vêm

alertando empresas de que elas estão assumindo um risco legal ao usarem o

sistema GNU/Linux, porque estariam infringindo patentes.

É improvável, entretanto, que a Microsoft venha, de fato, processar seus

próprios clientes, mas os defensores do GNU/Linux afirmam que essas "ameaças"

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são uma tentativa de espalhar dúvidas e incertezas. O fato do GNU/Linux estar

agüentando o ataque da Microsoft sugere que ele poderá tornar-se um modelo para

outros na indústria.

Na verdade o modelo Linux tornou-se tão maduro que está claro que

continuaria a prosperar mesmo sem a presença de Linus Torvalds. Andrew Morton,

seu braço-direito, já divide as tarefas de liderança e faz todas as aparições públicas.

Além disso, os programadores não ficam mais esperando ordens. As legiões de

programadores Linux sabem como o processo de desenvolvimento funciona, e

seguem em frente.

O processo de desenvolvimento do Linux começa e termina com os

programadores. Embora ainda existam alguns voluntários individuais e agências

governamentais no processo, mais de 90% das alterações são feitas hoje por

funcionários de companhias do setor tecnológico. Algumas dessas pessoas

simplesmente submetem códigos, enquanto outras estão encarregadas de melhorar

funções específicas. A partir daí, é um ciclo contínuo. Pessoas apresentam idéias e

os que fazem a manutenção as melhoram. Então, elas são passadas para Torvalds

e Morton. A cada quatro ou seis semanas, Torvalds divulga uma nova versão teste

para que milhares de pessoas de todas as partes do mundo possam destrinchá-la

em busca de falhas. Ele lança um grande upgrade a cada três anos. Ao contrário

das companhias tradicionais de software, não há prazos finais. As novas versões

são lançadas quando Torvalds decide que elas estão prontas.

De sua parte, Torvalds vem sendo amplamente recompensado pelo seu

papel. A OSDL paga a ele um salário de quase US$ 200 mil. Além disso, ele vendeu

ações de abertura de capital que recebeu de presente de duas companhias que

participam do Linux, que o ajudaram a comprar sua casa e a garantir os estudos de

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suas filhas. Na sociedade Linux, executivos e gerentes de produtos da HP, Intel e

Oracle não pressionam Torvalds e Morton para impôr seus interesses. Ao invés

disso, elas atuam através de seus engenheiros que, como membros da comunidade

Software Livre, apresentam palpites para melhorar o sistema.

3.3.6 Outros Modelos Sustentáveis

Existem diversas formas de criar um modelo de negócios baseado na

filosofia de Software Livre. Uma distinção será feita entre modelos de negócios que

oferecem serviços adicionais, softwares adicionais ou hardware adicional. Todos

estes modelos baseiam-se em um pool de softwares livres (disponíveis em

repositórios na internet) e desenvolvedores, complementando-os com ofertas extras

de produtos e serviços. Como sabemos, os investimentos no desenvolvimento de

softwares livres não podem ser recuperados através de lucro pela venda destes

softwares. Por esta razão, todas as despesas de desenvolvimento devem ser

cobertas pelas ofertas adicionais. Dessa forma, o sucesso destes modelos de

negócios depende da habilidade das companhias em vender seus produtos e

serviços complementares da forma mais exclusiva possível. O incentivo em investir

em projetos Open Source não está diretamente relacionado ao produto livre em si,

mas no valor gerado por ele ao público-alvo da companhia.

3.3.6.1 Vendendo Serviços Adicionais

Distribuidores de Software Livre oferecem o empacotamento de diversas

soluções, teste e adaptação como um serviço adicional. Os distribuidores GNU/Linux

mais conhecidos são, por exemplo, Red Hat, Novell e MandrakeSoft. No Brasil, a

Conectiva Linux e a Freedows são conhecidas distribuições comerciais.

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O usuário final pode comprar pacotes de GNU/Linux diferentes, dependendo

de sua necessidade (por exemplo, uso em servidor, uso em desktop, voltada à

administradores, voltada à desenvolvedores, etc.). As várias versões dos diferentes

distribuidores não são necessariamente compatíveis entre si. Os distribuidores

recolhem os softwares que lhe interessam dentre os diversos softwares livres

existentes na internet, e realizam a tarefa de adaptá-los e integrá-los com o resto do

sistema. Uma distribuição GNU/Linux contém o kernel Linux e diversos outros

componentes que, juntos, formam o Sistema Operacional GNU/Linux.

Para que a versão do distribuidor fique pronta, a primeira tarefa é coletar as

últimas versões dos componentes necessários (processo chamado de

empacotamento), para que depois sejam testadas, adaptadas e otimizadas. Ao fim,

a distribuição é documentada e configurada de forma a facilitar a instalação. O fato

de que são necessários distribuidores para fazer ajustes e adaptações aos softwares

antes que possam ser usados por uma maior gama de usuários domésticos mostra

um pouco da inabilidade do processo de desenvolvimento Open Source em criar

produtos que os usuários finais possam usar de forma imediata.

Um comprador de uma distribuição GNU/Linux não precisa procurar, fazer

download, instalar e adaptar softwares para que seu sistema funcione. Juntamente

com a distribuição, o usuário recebe a oportunidade de receber correções e

atualizações. Mas a princípio, qualquer usuário pode sozinho empacotar e instalar

quaisquer componentes, além de corrigir falhas e implementar novas

funcionalidades.

Os distribuidores contratam seus próprios desenvolvedores, que adaptam o

software como necessário. Cada contribuição de desenvolvimento feita por um

distribuidor à seu sistema deve, entretanto, ser acessível a todos. Embora os

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distribuidores de GNU/Linux economizem muito do esforço necessário para o

desenvolvimento dos softwares distribuídos, a sua contribuição ao desenvolvimento

do sistema beneficia todas as companhias que são ativas neste mercado. Como

conseqüência, a contribuição feita ao desenvolvimento ajuda diretamente seus

concorrentes potenciais, que beneficiam-se dos investimentos feitos por aquele

distribuidor.

Os distribuidores têm pouca margem na precificação de seu produto. Não só

é possível que os usuários baixem eles mesmos e empacotem o sistema, como

também é possível que eles comprem uma distribuição e a copiem para um amigo

gratuitamente. Similarmente, outras companhias podem pegar uma determinada

distribuição e redistribuir como sua com poucas modificações. Como o código fonte

é aberto e acessível a todos, o software pode ser facilmente distribuído. Essa

característica exerce pressão nos preços até o ponto em que o preço final de venda

atinge uma média geral para todos distribuidores.

Por conta das oportunidades limitadas de gerar lucro com a venda de suas

distribuições, muitos distribuidores também oferecem consultoria, implementação e

serviços de treinamento. Nesse contexto, o know-how adquirido no processo de

empacotamento do software mostra-se muito valioso.

3.3.6.2 Vendendo Software Adicional

Modelos de negócios baseados na venda de software adicional usam os

softwares livres como base para a venda de produtos de software proprietário

adicionais ou de serviços de suporte. Companhias que implementam este modelo

geralmente têm uma relação muito próxima com os projetos de software livre que

suportam. Em muitos casos, os donos dessas companhias foram os próprios

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criadores do projeto, ou então assumiram uma função importante no

desenvolvimento do projeto, caso onde é possível que o principal desenvolvedor do

projeto seja funcionário da companhia. Não obstante, até esses projetos dependem

do suporte da comunidade de desenvolvedores. Quanto mais comercial o foco de

uma companhia, mais difícil torna-se a tarefa de atrair desenvolvedores voluntários,

porque o foco comercial vai contra os interesses dos desenvolvedores, que são

enraizados nos conceitos de contribuição voluntária e livre acessibilidade.

Na base deste modelo de negócios estão softwares livres sobre os quais são

desenvolvidos add-ons ou derivados com funcionalidades extras, e depois vendidos

por um determinado preço.

Além disso, a estratégia de duplo-licenciamento permite a criação de um

produto Open Source com livre distribuição, e a venda deste mesmo produto para

companhias que o desejem usar em conjunto com outros softwares proprietários.

Como exemplo, existe o banco de dados MySQL, da empresa MySQL AB, o qual

pode ser obtido livremente na internet e oferece, para as companhias interessadas,

um modelo de licenciamento diverso para uso em conjunto com outros softwares

proprietários. A Ximian (adquirida pela Novell em agosto de 2003), oferece

livremente o Evolution, software de correio eletrônico que se assemelha em

aparência e funcionalidade ao Microsoft Outlook. Entretanto há um componente

vendido como add-on do Evolution, que permite a este operar em conjunto com

determinados servidores de email, como o Microsoft Exchange por exemplo.

Para empresas como Oracle, SAP ou IBM este também é um modelo viável.

Empresas como estas geralmente já atingiram uma posição significante no mercado

proprietário com determinados produtos. Adaptar seus softwares para outras

plataformas permite que expandam sua base potencial de instalação. É importante

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lembrar que a maior parte do software oferecido por estas empresas não é

necessariamente Open Source. São softwares compatíveis com os padrões abertos,

e que executam sobre uma plataforma livre.

3.3.6.3 Vendendo Hardware Adicional

Empresas também podem apoiar projetos Open Source para promover a

venda de seus próprios produtos de hardware. A IBM é o exemplo mais conhecido

deste tipo de estratégia. A IBM, entretanto, não é apenas uma empresa de

hardware, mas também uma das maiores produtoras de software do mundo.

Segundo contas da própria IBM, já foram investidos mais de um bilhão de dólares

em projetos Open Source até 2001, o que inclui adaptar o kernel Linux e o servidor

web Apache às diferentes plataformas de hardware da IBM.

A IBM usa versões adaptadas do Linux para criar um sistema operacional

uniforme para suas diferentes plataformas, onde então seus componentes de

software possam executar. O software é fortemente integrado ao hardware e

possibilita a criação de um ambiente homogêneo para toda a gama de produtos

oferecidos. Se essa plataforma operacional for considerada como uma parte fixa do

hardware, os lucros podem ser gerados com a venda do hardware. Esse modelo é

particularmente atrativo para empresas fabricantes de hardware pelo fato de que o

usuário não incorre em custos extras para a compra do sistema operacional. E se o

usuário tiver menos custos com software, a disposição em investir em hardware

aumenta.

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4 METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado principalmente através de pesquisa bibliográfica

em livros e artigos, e pesquisa via Internet. Foram consultadas fontes de informação

do Brasil e do exterior, em sua maior parte sites técnicos e informativos sobre

Software Livre. Alguns livros sobre personalidades importantes dentro da

comunidade Software Livre como Linus Torvalds, Richard Stallman e Eric Raymond

também serviram de base para a pesquisa bibliográfica.

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5 CONCLUSÕES

O presente trabalho visou apresentar a utilização de Software Livre como um

modelo de negócios alternativo na área da Tecnologia de Informação e sua

contraposição ao modelo proprietário de software. Demonstraram-se os benefícios

da utilização de tecnologias livres, a fim de embasar sua completa utilização tanto na

esfera pública como privada, consolidando-se como uma alternativa aos softwares

proprietários hoje dominantes. Viu-se ainda como este novo modelo é capaz de

fomentar o mercado interno de desenvolvimento de software, ao mesmo tempo em

que elimina a dependência tecnológica na qual os países em desenvolvimento

encontram-se atualmente inseridos. Fez-se uma análise sobre o papel da liderança e

da formação da comunidade em torno dos ideais e da filosofia criada por Richard

Stallman, mostrando como as empresas podem adaptar-se e obter vantagens neste

ambiente.

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