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CAPA (TRABALHAR A CAPA COM ESTA FOTO) EU JÁ NÃO SOU 1

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CAPA (TRABALHAR A CAPA COM ESTA FOTO)

EU JÁ NÃO SOUO QUE ERA...

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EU JÁ NÃO

SOU O QUE

ERA

Obra publicada pelo Programa “CATALÃO EM PROSA E

VERSO”, instituído pelo Município de Catalão através do

Decreto nº 1.978, de 30 de abril de 2008. Seleção dos

trabalhos publicados sob a responsabilidade da Academia

Catalana de Letras.

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IVAN CORRÊA

EU JÁ NÃO

SOU O QUE

ERA

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Copyright...

ORELHA DO LIVRO:

Nasceu no Distrito Administrativo de Pires Belo, Município

de Catalão, Estado de Goiás, no dia 28 de dezembro de

1965, tendo passado a infância na Zona Rural de Catalão,

onde iniciou os estudos no Grupo Escolar de Pires Belo. Fez

o antigo segundo grau no Colégio Estadual João Netto de

Campos, logo após, cursou Direito no Centro de Ensino

Superior de Catalão – CESUC, sendo formando da primeira

turma (27 de junho de 1989) daquela entidade de ensino. Há

aproximadamente 25 (vinte e cinco) anos é servidor público

municipal, ocupando o cargo de Assessor Jurídico do

Município de Catalão desde o ano de 1989. É membro da

Academia Catalana de Letras – www.acletras.org.br .

Lançou em 2008 o seu primeiro livro de poesia com o título

HORA DE POESIA. Contato com o autor:

[email protected].

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Para não haver escolhidos e excluídos não citarei nomes.

Agradeço a Deus, a minha família e a todos que, direta ou

indiretamente contribuíram para a realização de mais este

trabalho, a concretização de mais este sonho.

Agradeço, ainda, àqueles que leram e manifestaram sobre o

meu primeiro livro, “Hora de Poesia”. Este segundo,

abrolhou, talvez, do entusiasmo que recebi dos leitores do

meu primeiro.

O autor

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Prefácio

Quando escrevo tenho uma alma contraditória, que não é

minha em determinados momentos, e, em outros, deixa

escancarada a pessoa que sou.

Se não tenho e nunca tive um amor que partiu, invento.

Idealizo somente para vivenciar situações e sentir novas e

desconhecidas sensações.

Escrevendo, experimento centenas de sentimentos. Todos os

encantos do mundo aportam em mim quando nasce um

verso perfeito, se é que existe.

Sou de todos os lugares e de nenhum. Não me lembro do

ponto de partida nem onde existe parada.

Escrevendo sou irrequieto, navego em todas as águas, das

mais calmas às mais indômitas.

Sou, antes de tudo, apaixonado pela poesia. Muito mais pela

vida. Dar luz às palavras me faz um ser mais feliz ainda.

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SUMÁRIO

- Eu já não sou o que era

- Comboio de gente

- O patrão e o empregado sabido

- Virei poesia

- Como se bulisse com a mão de Deus

- Quando se perde um amor

- O silêncio

- Andarilho do mundo

- Delirante espera

- Dessemelhante

- Homens duros

- Insensatez noturna

- Tempo vazio

- Assim que se mata um amor

- Se o mármore estilhaçar...

- Amo-te como a mim mesmo

- Armadilhas...

- Moça que passa

- Desejos

- No amor não há meio termo

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- O amor que por ti eu sentia

- Mulher volúpia

- Mundo de semideuses e heróis

- Vivendo mais leve

- Persuasão

- Não tenho álibi

- Perdas e danos

- Valendo-se da poesia

- Roceiro aguerrido

- Um amor de verdade

- Uma carga de pesares

- O amor é sempre surpreendente

- O meu outro Eu

- Que seria dos poetas?

- Procuro uma paixão

- Batalhas da vida

- Seu segundo amor

- Vivendo sonhos

- Amor, ódio e insensatez

- Você ainda é o meu amor

- Em outras vidas

- Falará por mim a poesia

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- Eu a amo tanto

- Na sombra do mundo

- Não me tente

- Depois de cinco whiskies sem gelo

- Depois da nossa despedida

- O escuro não mascara a amargura

- Quem me dera!

- Bem aquém

- Perdi o bonde da vida

- Valeu à pena

- Onde estará agora o meu amor?

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EU JÁ NÃO SOU O QUE ERA

"Eu já não sou o que era: devo ser o que me tornei."

Coco Chanel

Na Catalão dos meus ascendentes,

das competentes armas de fogo,

das carabinas de papo amarelo,

dos jagunços e dos muitos coronéis,

dos bárbaros crimes e dos “heróis” cavaleiros...

Três dias depois do natal de 1965,

nascia eu, para uma vida singela,

numa casinha simples

cercada de roça de milho.

No meu quintal tinha um rego d’água

e um pé de carambola,

aonde um bem-te-vi,

a cada amanhecer,

vinha alegrar minhas manhãs.

Era um pequeno sítio

no interior de Goiás,

município de Catalão.

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Foi a mulher parteira

quem me arrancou

do conforto daquele útero.

Considero-a, até hoje,

uma verdadeira carnífice.

Meu pai carpia chão,

minha mãe socava pilão.

Meu pai pedia chuva,

minha mãe pedia não.

Meu pai, calos nas mãos,

minha mãe, na alma,

reclamava de tudo.

Meu pai,

sem acompanhamento de

qualquer instrumento musical,

entoava algumas modas caipiras.

E, eu, ficava idealizando o cenário

das estórias daquelas músicas.

Era o menino caçador

que foi morto pela onça feroz,

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que mesmo ferida veio pela fumaça...

E, eu, miúdo ainda, imaginava a mata,

o bicho, o ataque e a morte do guri.

Era feliz além da conta e nem sabia.

A cada anoitecer eu recebia

divertindo nas minhas divagações,

as primeiras lições da vida.

Quem as ditavam não sabia,

que estavam lapidando aquele pequeno;

que estava formando o cidadão de hoje.

Era a cultura e os costumes do meu povo

bailando na minha frente e deixando marcas

permanentes nos porões desta minha mente.

Hoje em dia, para a minha tristeza ou alegria, não sei;

 “eu já não sou o que era, devo ser o que me tornei.”

Assim era assim o lugarejo alegre da minha infância...

Quando pensava estar entediado,

divertia-me afogando pintainhos

no rego-d'água, montando a cavalo,

fugindo de vacas, atravessando pinguela

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ou socando os irmãos mais novos e fracos.

Vivia feliz correndo à toa de pés no chão,

a emoção solta e louca corria no meu coração.

Cresci assim:

sem videogame e sem aula de inglês.

Não fiz natação, nem karatê,

nem assistia à televisão.

Fui deparar-me com uma

sessão de desenho animado

com onze ou doze anos,

mesma época em que

experimentei coca-cola,

na época minha droga predileta.

Mesmo assim era feliz.

Aos domingos arraial, amigos,

avós, almoços, futebol, brigas,

alvoroços, e, de novo, coca-cola.

nas segundas-feiras mutirão para lavrar o chão.

Era gente de todos os jeitos e manias.

Uma companheirada boa a limpar

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roça de milho e feijão e mais tudo

que a terra nos dava.

Coração generoso o daquele chão.

Às dez horas em ponto,

sentados nos barrancos,

nos calcanhares ou no cabo da enxada,

comíamos arroz, feijão, macarrão,

galinha ao molho de açafrão preparada

em fogão à lenha e panela de ferro.

Que saudade, daquele tempero e daquele tempo!

Quando chovia naquelas tardes de calor,

era a pescaria que nos alegrava.

Aqueles bagres eram troféus valiosos

retirados do nosso corregozinho.

Era o êxtase da vida!

Naquele tempo não invejava

nem o Presidente dos Estados Unidos,

Aliás, nem sabia que existia a América.

Não sabia da copa do mundo,

nem que o Brasil já era tricampeão mundial de futebol.

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Era tanta ilusão e distanciamento de tudo,

que nem sabia que no Brasil os militares

haviam tomado o Poder.

Que AI-5 que nada!

Pensava somente em matar

pássaros com o estilingue

e tomar banho no poço azul

que tinha nos fundos da minha casa.

Censura e repressão

naquele meu mundo não existiam.

Porão, somente debaixo da minha

casa assoalhada, e, não servia para nada

além de habitação para incontáveis

e assombrosos morcegos.

Tortura maior que eu me deparava,

era somente quando meu pai matava

um suíno com faca afiada enfiada bem no coração.

Ou frango caipira destroncando o pescoço do bicho.

Mas, maldade, eu juro, não havia mesmo,

era somente para saciar a fome da prole.

AI-5, era simplesmente a forma errada de dizer cinco ais,

quando era surrado, sempre de maneira injusta,

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pela minha mãe, nada mais.

Mas, eu já a perdoei. Setenta vezes sete. Amém, amém.

Andava quilômetros até a escola.

Não tinha biblioteca nem livros,

nem guarda, diretora ou merenda.

Era um professor magricela que vinha

de uma estrada de chão vermelho,

montado numa bicicleta velha.

Tinha, porém, cuidados de sobra

com aqueles meninos-bichos.

E, como que por milagre,

ainda conseguia lhes ensinar algumas coisas.

Alguns, mais aventureiros, no futuro

tentariam até serem escritores,

relatando, às vezes, a própria história

do mestre e seus pupilos sonhadores.

Os vizinhos...

Ah! Esses eram umas figuras!

Tinha o Nego baixinho,

irmão do Zeca lelé,

que era irmão do Antônio ladrão.

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Havia, ainda, o Eurípedes e seu filho Astério,

que para qualquer moléstia

vinha logo a receitar:

 “fumo no imbigo é bão.”

Tinha gente que acreditava

e até acatava esse exótico remédio.

Se curava, até hoje não sei. Matar também não matava.

Meus pais,

que jamais deixaram faltar-me o básico,

dando-me sustento, carinho,

discernimento e responsabilidade.

Com o passar dos anos

viram crescer um homem comum,

responsável e prático, forjado nas dificuldades,

curtido nas virtudes e nos exemplos de vida que teve.

Lapidado pelo tempo, não deu brilho forte,

também não se ofuscou, nem tão pouco se dilacerou,

simplesmente vingou, vingou, simplesmente. Aleluia!

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COMBOIO DE GENTE

Meu peito é um circo,

coberto com lona

imunda e rasgada...

Uns vêem a alegria,

outros apenas a tristeza.

Eu já não ando vendo nada.

Meu peito é um céu

nublado e distante,

mundo ilusório...

Uns vêem esboços de anjos,

outros, um cinza de chumbo,

Eu vejo um céu conspiratório.

Meu peito é uma rua deserta,

com domicílios fictícios,

num beco sem saída...

Uns desistem e ficam,

Outros batalham e tombam,

Eu me escondo nessa casa caída.

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Meu peito é árido, ora úbere.

Sei fazer a guerra de tiros,

sei lutar com os vocábulos...

Aonde uns ouvem os tiros,

outros plantam seus mortos

ocultos em taciturnos óculos.

Meu peito é terreno de mangue,

serpentes d'água e caranguejo,

ilhado por paredões barreados...

Uns achegam e enfiam a mão,

Outros não acham mais os vãos,

e todos em comboio, ajoelhados.

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O PATRÃO E O EMPREGADO SABIDO

Seu moço me conta agora

como é que se faz para

domar um coração?

-- Coração redomão,

meu patrão,

num doma não;

é ele que “faiz" a direção.

Seu moço me conta então,

como é que se cura a dor

de quem perdeu seu amor?

--Cura fácil, meu patrão,

é só abrir o coração

a uma nova paixão

e fisgar logo outro“peixão”.

Seu moço diga depressa,

como é que ela, que parecia

feliz, de repente foi-se embora?

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-- Se partiu, assim, à-toa,

deve ser que a patroa,

num era assim, gente boa!

Fazia uma outra pessoa.

O senhor, que parece

ser o dono da razão,

diz agora o que eu faço?

--Faça nada patrãozinho...

Pra evitar o burburinho.

Tem língua quente esse povinho,

“tulera” a sua dor bem “suzinho.”

Não brinca assim com a dor,

isso golpeia e esfola sem dó

o peito da gente.

-- eu sei bem, “inté” provei.

Também amei, já chorei,

e até hoje eu me escapei,

O senhor se “sarvará”,

inté eu me “sarvei”.

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Bobagem ficar dando ouvido

a quem não sabe nada

desta vida de meu Deus!

-- Seu doutor ta de novo iludido,

eu e todo esse povo “inxerido”,

já sabia dos “favor” indevido,

que a patroa fazia escondido,

e o senhor que pensa que é tão sabido,

num sabia, e, “óia” que era o único ofendido.

Vou parar com essa prosa...

Vou entrar e beber

um bom trago que talvez melhore a dor.

-- Agora o senhor falou uma coisa acertada,

num tem nada que uma boa talagada

Num “resorve” numa fria madrugada.

Ppois, um trago, tira lá de dentro da gente,

as “quiçaça” e os “restoio” de enchente

das tempestades desta nossa vida dolente.

E, o peito do doutor, ”vortará” a fica leve,

feito uma “pruma” no vento, e muito breve,

a cabeça fica fria “qui” nem uma chuva de neve...

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VIREI POESIA

Já fui o pó da estrada que a boiada pisou.

A estrela que o boiadeiro no alto apontou.

Já fui a lua de prata que enfeitava o mundo,

E, ainda, o sol morno das manhãs de junho...

Já fui céu de poeta, já fui luar de lua cheia.

Já fui chuva na seca do sertão, já fui oração

na boca de benzedeira, já fui fogo de graveto

esquentando janta magra, já fui leite de mãe...

Já fui ladainha nas rezas e festas dos sertanejos,

Já fui capim de pasto, fui pisado, nasci de novo.

Já fui passarinho fraco no forte sol de setembro,

galho seco de ninho vivo, nasci ovo, tornei ave...

Já fui de tudo na vida: já fui anjo e melodia, dia

quente e noite fria. Já fui bom de poesia e ruim

de caligrafia. Já cantei a matemática e decorei a

geografia. Já fui Deus, já fui o guia, virei poesia...

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COMO SE BULISSE COM A MÃO DE DEUS

"Espera do teu filho o mesmo que fizeste a teu pai."

Tales de Mileto

Inocentemente seguro sua mão miúda.

Busco no além o sono da sua noite.

Rogo aos deuses a sua proteção.

Que seus sonhos sejam leves,

breves seus pesadelos.

Inocentemente seguro sua mão miúda.

Se eu lhe passo paz, passa-me vida.

Se lhe dou força, de onde a retiro?

Que jamais saiba meus medos,

segredos que guardarei.

Inocentemente seguro sua mão miúda.

Como se bulisse com a mão de Deus.

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QUANDO SE PERDE UM AMOR

Por amor

não se morre de repente.

Morre-se, a cada dia, invariavelmente.

Quem perde quem ama,

morre-se aos poucos, mas, constantemente...

Em cada ser e momento, uma morte diferente.

Quando se perde um amor,

Vai-se aos poucos se sentindo descontente...

Inesperadamente o prazer de viver se faz ausente.

Quando se perde um amor,

O peito fica dormente, a alma se perpetua descrente...

Somente a dor se mostra renitente e fere impiedosamente.

Por amor

Já fiquei convalescente, morri assustadoramente...

Por outro amor renasci mais intenso e experiente.

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Por amor

tudo se faz, tudo é possível, até mesmo o incoerente,

desde que se ame excessivamente e inexplicavelmente...

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O SILÊNCIO

"O som aniquila a grande beleza do silêncio."

Charles Chaplin

O silêncio não raras vezes,

fala por si só, e diz mais

que várias palavras vazias.

Em silêncio

entendemos sempre

as falas do coração;

deciframos a mensagem

que transmite cada olhar;

no silêncio a mão de Deus

nos acaricia o corpo e a alma.

Mil vezes quisera eu ouvir

o silêncio ao invés de palavras vazias.

Mil vezes ouvi o que não queria

sem dizer que preferiria o silêncio.

Tinha eu motivos para enlouquecer;

mas, a cada noite o silêncio me trazia a paz

que me livraria para sempre da demência.

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Quando o silêncio fizer

o tempo parecer parado,

esta será exatamente

a hora da calma e do

refazimento de nós mesmos;

Nesta hora o irreal tornará real,

o impossível tornará possível,

tudo se fará por si só

e saciará tua alma

e também o teu corpo.

Tudo ficará farto de vida e paz...

O silêncio dita aos homens

as palavras que fazem parte

apenas da linguagem dos anjos.

O silêncio vale muito mais

do que parece valer,

no silêncio encontramos

até os caminhos perdidos;

e quando tudo parecer sem saída;

fiquemos em silêncio e novamente

a mão de Deus nos mostrará a direção a seguir...

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ANDARILHO DO MUNDO

Sou andarilho do mundo.

Possuo, para minha alegria, apenas a noite e o dia...

Sigo a estrada da vida de mãos dadas com a saudade.

Vou brincando de ser criança, vou embalando sonhos,

Todas as manhãs acordo nos braços da mãe santíssima.

Sou andarilho do mundo.

Nenhum Porto me aguarda para sossegar...

Vou escoltado no balanço das águas do mar,

Acaloro-me na quentura do forte sol matutinal,

Ancorarei, um dia, se Iemanjá vier a me chamar.

Sou andarilho do mundo.

Vou pro lado que o vento vai...

Sigo cantando a música do tempo.

Segurando nas asas lindas de um anjo,

Voltarei, um dia, quando aqui Deus me chamar.

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DELIRANTE ESPERA

Esperei por ela a minha vida inteira,

e chega assim: sem aviso e cerimônia.

O tempo todo, eu sabia que existia;

porque brincava nos meus sonhos,

dormia na minha cama, acariciava

meus cabelos e era seu o meu amor.

Sempre tive ânimo para prosseguir

mesmo que hostil fosse o caminho,

pois sentia que não andava sozinho.

Jamais com ela me deparei, minha

vida inteira a esperei, apenas em

sonhos a avistei - e como sonhei!

Mas, há muito tempo já a conhecia;

parece que sempre permanecia

sob meus olhos, sob o meu teto,

sempre tão repleto daquela bela

e meiga extraordinária figura dela.

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Minha vida inteira a esperei

e sempre soube que chegaria;

nosso amor antes mesmo de

existirmos há muito já existia...

Surgira no tempo dos faraós

para reinar por toda eternidade

e bailar feliz na dança do tempo.

Esperei a vida toda por esse sorriso

esperei a vida toda por essa carícia,

ímpar e pura como nada no mundo,

mesmo que dure apenas um segundo,

que seja puro, único e somente meu

como nada fora até agora além dos

meus sonhos loucos e desvairados.

Esperei por ela a minha vida inteira,

e chega assim: sem aviso e cerimônia.

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DESSEMELHANTE

Preciso de um outro Eu...

E, de um minuto seu,

de sua atenção,

de sua mão...

Talvez, eu de novo,

não serei eu integralmente,

e, quiçá, da parte dessemelhante,

você venha a gostar um pouquinho mais.

E, assim: eu serei mar,

e bicho, e serei ar,

pedra e chão,

até seu cão...

Serei amor,

adoração...

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HOMENS DUROS

Nos anos setenta, no ermo do meu Goiás

os dias passavam sem pressa nenhuma...

Eram iguais, afora quando tinha velório.

Todos pensavam apenas em suas tarefas,

batalhavam com a terra e com o gado...

Homens duros, pareciam feitos de ferro.

As mulheres enfrentavam fogões quentes,

lavavam em águas demasiadamente frias...

Pariam e criavam na precariedade das lonjuras.

No trabalho os dias nem eram notados,

apesar da paciência com que passavam...

A não ser pelas precoces rugas das mulheres.

A vida era feita de dores e pavores,

mulheres já eram velhas aos quarenta...

Também, com doze ou mais filhos!

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De vez em quando corria notícia de algum terrorista

que matava, partia em pedaços famílias inteiras...

Meses sem sair à noite, dormiam com um olho aberto.

Cachorro latia, lá vem o bandido, homens a postos.

Graças a Deus! Alarme falso. Raposa apanhando galinha...

Notícias que mataram o sujeito lá pras bandas de Minas.

A paz volta a reinar, tornam os bailinhos de final de semana.

Causos pra contar por uma década sobre os mais medrosos...

Inda bem! Senão os dias passariam ainda mais arrastados.

Nos anos setenta, no ermo do meu Goiás os dias passavam

sem pressa nenhuma... E, eu ali, crescendo sem perceber...

Escapando de serpentes, correndo de vacas... Sendo feliz.

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INSENSATEZ NOTURNA

Caso eu soubesse o caminho

penetraria no teu dormir

e desvendaria

os teus sonhos.

Participaria deles,

entusiasmaria os finais

e patentearia o direito

de sempre estar

no teu sonho.

Daria a cada noite a você

uma nova emoção;

forte o bastante

para fazer-te delirar.

Em cada canto do teu sonhar

estaria eu,

parte inerte de

um mundo-delírio,

fantasioso e fantástico.

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Com o andar do tempo

você passaria a confundir

teus delírios com a realidade,

e, à noite, ao dormir,

teríamos um mundo à parte,

somente nosso,

impenetrável e desvairado...

E, nós, a sós,

num delirante mundo próprio

a curtir cada minuto de uma

íntima insensatez noturna.

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TEMPO VAZIO

"À beira de um precipício só há uma maneira de

andar para frente: é dar um passo atrás."

Michel de Montaigne

Cadê o dia calmo que me prometeram?

Onde está aquele amor que era meu?

Onde está o tempo bom que eu tivera?

Hoje, meu tempo é vazio...

Tenho saudade da saudade que sentia outrora,

e da época que ainda existia amor e palpitação.

Agora, estou fora do prumo...

Desvairado pelos atalhos da vida.

Saí do rumo, perdi a bússola, findou a trilha.

Hoje, meu tempo é vazio.

Falta-me o ar de antes e a sede da busca,

Furtaram-me até a cobiça de persistir na vida...

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ASSIM QUE SE MATA UM AMOR

Pirraça, desfeita o meu coração,

brinca com o amor, faça pouco...

Daqui a precário tempo

meu coração se acostuma

a buscar em outros braços,

novos carinhos, outros rumos.

Pirraça, desfeita meu coração,

é assim que se mata um amor

forte e enraizado feito o meu.

Vá que ele se cansa de tolerar,

vá que ele se cansa de esperar

um tempo novo e de bonança.

Pirraça, desfeita meu coração,

Numa noite fria e qualquer

sentirá falta do meu beijo.

E será um tempo distante,

eu serei outro, você também,

e o amor não mais existirá...

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SE O MÁRMORE ESTILHAÇAR...

Se o dia demorar a surgir

se a roseira não mais florir

se o bombeiro não impedir

que o fogo destrua a poesia...

Se o silêncio e a calma

explodir os tímpanos,

se a gaiola não se abrir

se o mármore estilhaçar...

Se o débil não se queixar

se a corda não se afrouxar,

se o astro-além escurecer,

se o homem não funcionar...

Se o amor tornar saudade

se o sofrimento imperar

se o doce tornar amargo

se o canto virar lamento...

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se o livro se desfolhar

se o cantor emudecer

se a serpente golpear

se a noite se extenuar.

Se a cor se desbotar

se o belo tornar-se feio

se a dama não for fértil...

Se a maré enfurecer

Se o barco afundar

se o peixe tiver fome

se o vizinho fizer festa.

Se a menina for virgem

se à tarde não anoitecer

se a estrela não brilhar.

Se Deus não nos iluminar

seremos os últimos

malfeitores de

um mundo

impróprio

ao uso.

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AMO-TE COMO A MIM MESMO

Amo-te como amo a mim mesmo.

Choro em bicas se te vejo chorar.

Com tua felicidade eu sorrio feliz

Tu és a fina flor deste meu jardim...

Quando zombam de ti,

meu rosto fica num rubro carmim,

viro fera indócil; pronto a desaforar

quem brincou de zombar, de zombar de ti.

Assombro-me com o tamanho deste amor.

Tu és o ar que eu respiro. O chão que piso...

Perco o fôlego e a coragem

se penso que posso perder-te.

Este amor é maior que o mundo,

é fecundo e cresce a cada segundo.

Esta idolatria passou a ser a minha vida,

e meu coração pulsa no pulsar deste amor.

Sei... Amo-te muito mais do que a mim mesmo.

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ARMADILHAS...

Quando é noite

meu amor é mais amor.

Levanto bandeira branca, ajoelho,

Se antes brigamos, não me lembro mais.

Agora quero colo, calo-me, emudeço, pareço santo,

Espero que não resista e insista para que eu te ame.

Quando é noite

meu amor é mais amor.

E quando tudo se mostra sereno,

nas minhas entranhas berra o amor,

Eu enlouqueço, perco o passo e o compasso,

pasto a relva da solidão, faço juras, peço perdão...

Quando é noite

meu amor é mais amor.

E, você sabe disso e me enfeitiça,

eu, atraído, caio no laço das suas armadilhas...

E o amor se faz como da primeira vez de nossos corpos,

O amor se faz, como se fosse à última vez desses amantes.

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MOÇA QUE PASSA

“Teus olhos deixam marcas esculpidas

na minha alma de homem. ”

Ivan Corrêa

Moça que passa

dê-me uma frase que

eu lhe darei um poema.

Meus versos são brancos,

sem enfeites e sem rima,

são frágeis e sem metrificação.

Combinam, porém,

com seu olhar de mulher

acriançada e desprotegida...

Moça que passa quem a enlaça nos braços?

Moça que passa

de sorriso e graça e pele aveludada.

Seus cabelos são cor de mel,

seus passos são divinais...

Seu olhar enfeitiça e atiça...

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Quando você passa

faz sofrer todas mulheres

dos viventes inominados

dessa minha rua sem cor.

Moça que passa

fala-me onde se oculta

quando não passa.

Minha deusa da beleza,

leve este mísero poema,

desse perdido poeta louco,

que voltou a ser menino,

depois que viu passar,

a moça que passa

todo santo dia na minha rua.

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DESEJOS

“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o

vento passar, vale a pena ter nascido.”

Fernando Pessoa

Do vento a lânguida carícia,

dos seus lábios os beijos

quentes, molhados e loucos,

do seu olhar a doce ternura.

Do vento a íntima leveza,

do seu corpo todo o desejo

e tenros afagos da paixão,

do seu dormir o sossego.

Do vento a pura liberdade,

de você o amor que pulsa

carente e real no seu peito,

do seu sorrir a calma e paz.

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Do vento a falta de rumos,

de você o incerto e o lógico,

todo querer bem e meiguice,

do seu sonhar toda a fantasia.

Do vento o balançar das folhas,

do seu corpo o calor nas noites

e toda sua avidez em saciar-se...

É sua hora de amar e ser feliz.

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NO AMOR NÃO HÁ MEIO-TERMO

Quem falou

sobre

o amor

não relatou

uma parte

essencial...

Não falou

que o amor total

é para sempre

sem medida,

nem se tem cura

a ulceração de um desprezo.

Também não falou

se quem ama e cai...

Torna na vida

a reequilibrar,

para outra vez

buscar o amor.

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Quem relatou

sobre

o amor

omitiu

várias respostas

que eu vivo a buscar...

Sei apenas

que no amor não há meio termo.

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O AMOR QUE POR TI EU SENTIA

"O homem não morre quando deixa de viver,

mas sim quando deixa de amar."

Charles Chaplin

Adormecera em mim todo amor que por ti eu sentia.

De repente você não era mais importante,

podia desaparecer para sempre!

Até mesmo a angústia que se via

neste peito não mais permanecia.

E, seu colo, antes aconchegante,

Agora era ninharia, esmola cara.

Aquele beijo que açucarava a boca

você perdeu e já não há mais em ti.

O amor serenou-se, fez-se fraco e feneceu.

Hoje, em mim, o forte afeto de antes

cedera espaço a uma descrença fatal.

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Adormecera em mim o amor que por ti eu sentia.

De repente você não era mais admirável,

podia desaparecer para sempre!

O amor fez-se areia fina,

fugiu por entre os dedos,

desfez-se acabrunhado...

Igual ao perfume, perdera a fragrância,

submerso no aroma que nunca houvera.

Adormecera em mim todo amor que por ti eu sentia,

assim: do nada e de repente.

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MULHER VOLÚPIA

Aquela mulher

de tão formidável

era a própria perfeição.

- Era carne e cheiro de sexo.

Aquele homem

fraco e encantador

igual a uma estrela cadente...

- Era ideia e ponderação.

Aquela mulher

tão cheia de vida

e esperanças mil.

Aquele homem

puro e perfeito

igual a um poema divinal

Aquele encontro

improvável como

o do sol e da lua.

Aquela mulher e aquele homem

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unidos para sempre

como num eclipse eterno.

Um sonho

lindo e infinito

como o arco íris.

Era o amor,

grande, forte e impetuoso

igual ao mar.

Aquela mulher volúpia,

aquele homem razão...

Juntos inventaram

o amor perfeito,

carne e mente

unidos para

sempre.

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MUNDO DE SEMIDEUSES E HERÓIS

Tem ocasiões na vida que,

tudo que se fez resta inútil.

O correto se torna ordinário e vulgar.

Por uma cratera aberta no meu peito,

esguicha, agora, um sangue meio cáustico,

de um vermelho intenso que não anestesia dor.

Tem ocasiões na vida que,

fosse melhor, não passar por alguns capítulos.

Quem sabe, ter o comando e congelar o tempo...

Ficar no antes, sendo tocado por uma brisa breve,

como fosse um sopro de Deus no nosso semblante.

Assim: como quem possui a alma pura, meio santa.

Tem ocasiões na vida que,

o soco não dói na carne, mas, na alma da gente.

E, é tão forte, que atinge mais os que amamos...

Tem horas, que feito uma implosão de um prédio

desabamos sem merecer, morremos, sem ser a hora.

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Ao meio dia põe-se o sol e pronto. Noites tenebrosas...

Tem ocasiões na vida que,

como muito bem disse Rui Barbosa:

“o homem chega a desanimar da virtude,

a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Sobretudo, quando todos que nos cercam são santos,

vestais da honestidade, virgens de pecados e falcatruas.

Tem ocasiões na vida que,

Dão-nos náuseas tantos semideuses, trajados de modernos

ditadores, donos absolutos da verdade e de toda a situação...

Tem ocasiões na vida que, fosse melhor, adormecer

para não ver gloriar-se as inverdades, para não ver

comemorar-se as injustiças e penalizar os inocentes.

Tem ocasiões na vida que,

fosse melhor fechar os olhos

e pensar que tudo foi um sonho.

Um sonho muito ruim de se sonhar...

Aos: 07/08/2007.

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VIVENDO MAIS LEVE

"Guardar ressentimento é como tomar veneno e

esperar que a outra pessoa morra."

William Shakespeare

Quando sou ultrajado com palavras

por quem eu amo ou não, e,

as quais sei que não mereço,

cerro os meus ouvidos e deixo que

o vento as leve para bem longe de mim...

Depois, refeito do sobressalto,

ainda me lembro de abrandar

as que teimosas ainda ficam.

Assim: vou vivendo mais leve,

e, quando quero chego a flutuar no espaço.

De maléfico,

que fique comigo apenas e tão somente o inevitável.

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PERSUASÃO

Poema meu...

Sou seu criador e senhor,

lembre noite e dia e sempre.

E, responda se eu chamo,

Cale-se, se perco o juízo.

Poema meu...

Quero que vá com pura meiguice e tato

até aos ouvidos daquela linda mulher...

E, convença-a, com o aroma do bálsamo

e a força do amor, que a amo tanto e tanto.

Poema meu...

Atue com jeito, persista, se necessário for.

Se falhar, sussurre, se faça um poema épico.

Mas, não volte jamais sem tê-la convencido.

Ponha nos lábios dela um sorriso, faça-a feliz.

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Poema meu...

Eu ficarei vendo daqui a sua persuasão.

Se falhar, não falharei. Destruo-o por inteiro.

De ti não restará nem a lembrança da sua existência.

Apenas um silêncio de morte ante o seu fracasso na vida.

Poema meu...

Decida você, se perecerá

ou tornará admirável no mundo das letras.

Eu, seu criador, dono e amo, já sentenciei:

convença-a me amar, ou adeus poema anêmico.

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NÃO TENHO ÁLIBI

Noticiaram através do rádio

que na última antemanhã.

assassinaram o Amor.

Não sei o porquê, mas, vieram

até a minha casa e disseram-me

que sou um dos suspeitos do crime.

Inquiriram-me onde eu estava

na última noite, indagaram-me

com quem passei a madrugada.

Perguntaram-me quais meus álibis,

e, quando disse que passei a noite

sozinho, condenaram-me de pronto.

Não fui o responsável pelo crime,

mas, nem dei importância pela

infração que eles me imputaram.

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Pior que ser um suspeito do crime,

mais terrível até que ser condenado,

foi admitir que sou na vida um solitário.

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PERDAS E DANOS

Nesta vida de duelos e lutos,

aleivosias, iras e inverdades,

de idas e vindas e saudades,

de pacatos, insanos e brutos...

De esperas certas e erradas,

de noites longas, infindas,

de faces encarnadas e lindas,

tão ignoradas ou marcadas...

Nesta vida tudo parece tarde,

e, não há mais tempo, ocasião,

tudo é segredo, dor e solidão,

não saio de cena sem alarde...

Nesta vida de perdas e danos,

de senhoris e donos, de fracos,

de negros e brancos velhacos,

de falhas, "acertos" e enganos...

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É um tempo covarde, passageiro,

e vale mais os brilhos e câmeras,

e pessoas artificiais e adúlteras,

e, eu, desvairado neste atoleiro...

Neste tempo de medo e abandono,

onde a vida não vale um centavo,

caio de pé, mas não faço conchavo,

não calo. Eu grito, urro e questiono.

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VALENDO-SE DA POESIA

Preciso,

com versos perfeitos,

romper as portas do seu coração...

E, após,

você já extasiada de poesias,

pediria para eu deixar de compor...

E, depois,

invés de fazer poemas,

faríamos, por horas a fio, apenas amor.

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ROCEIRO AGUERRIDO

Nasceu com cheiro de chão.

Cresceu sentindo o gosto

da terra rubra na boca.

É parte deste bendito pó.

Foi forjado no tempo,

sol a pino ou chuva fria.

Lavrou sempre aquele chão

como quem buscava ouro.

Plantou todas as sementes

como quem plantava sonhos;

colheu todos aqueles grãos

como fossem troféus da vida.

Combateu aquelas ervas

como numa louca guerra.

Afrontou aquelas pragas

como disputa de ringue.

Venceu a todos e a tudo

como um exímio campeão.

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Cravou exemplos no chão

do peito de quem amava.

Rogou a chuva bendita

que os fizessem enflorar.

Colheu fina flor nos atos

de vida de cada filho seu.

Cresceu no conceito de Deus

como fosse um pregador.

Percorreu cada caminho

como fosse a única trilha;

brincou com a sua dor como

se não doesse e nada fosse.

Pôs-se de pé a cada tropeço,

tirou proveito de cada lição.

Absolveu-nos a cada falta.

Viveu como quem brincava,

sofreu como quem gostava,

venceu como quem merecia.

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UM AMOR DE VERDADE

Um amor de verdade,

é afeto que dura

no peito e na alma

e na calma dos anos...

O amor é feito

a branca lua no céu...

De tão alva é prata e

sempre salva o poeta.

Ao amante, maltrata,

pois, no céu da vida,

e na mente do homem

se insinua meio nua...

Nesse louco enleio da vida

vai abusando de seduzir...

Fazendo da dor ternura,

encobrindo a amargura,

que no peito ainda restará.

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Um amor pra ter sido

amor verdadeiro,

não pode ter

sobejado o desgosto.

Se ainda existe uma dor,

o que parecia amor,

amor jamais foi.

Um amor de verdade

vivo permanece

no peito e na alma

e na calma dos anos.

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UMA CARGA DE PESARES

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta,

não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

Cecília Meireles

Aqui neste caminho

curvo e de chão batido,

vou eu mudando passos...

Carregando às costas

uma carga de pesares.

 

Neste mesmo caminho

outrora passei menino,

montado no cavalo de pau...

No alforje, no lombo criança,

transportava sonhos e ilusões.

 

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Neste mesmo caminho

rastros ficam na poeira,

lembranças na memória...

As dores vão ficando

num canto do peito.

 

Neste mesmo caminho

tudo ainda está igual,

As árvores e as flores

ainda estão como antes...

Somente o caminhante,

já não é mais o de ontem.

 

Neste mesmo caminho

hoje com passos trôpegos

caminha apenas a sombra

daquele menino verde...

E, já não há mais sonhos,

já não há mais sonhador.

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O AMOR É SEMPRE SURPREENDENTE

O amor é sempre surpreendente.

Numa hora qualquer

e em qualquer lugar,

passa à nossa frente...

 

Numa hora dessas

haja serenamente,

sem nenhuma pressa,

a sua única hora será essa.

 

Faça-o parar e ficar

e com um jeito

meigo no olhar,

comece a amar...

 

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Jamais renuncie ao amor,

vista-o e saia por aí

a surpreender

quem não ama.

Pois,

o amor é sempre surpreendente.

 

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O MEU OUTRO EU

Às vezes caminha comigo

um sujeito estranho,

de pensamentos impuros

e tantos desejos loucos.

Às vezes, este sujeito

confunde-se comigo,

e, na dúvida não sei,

se eu ainda sou eu;

ou, se agora sou ele.

Às vezes caminha ao meu lado

a sombra de um indivíduo;

em ocasiões tão diverso de mim,

noutras tão parecido comigo.

...Às vezes caminha comigo

o meu outro Eu.

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QUE SERIA DOS POETAS?

Que seria dos pobres poetas

não fossem os mistérios

do corpo da mulher?

- retrocederiam mudos.

Se os bardos compõem seus versos

são graças a criaturas como tu...

Graciosas e belas,

deusas do mundo!

Se habilidade os céus me concedessem

queria te compor um admirável poema.

Desses capazes de cruzarem fronteiras

e se perpetuarem entre todos os homens.

Faria com que fosse exclusivo:

feito a branca lua de São Jorge.

Belo como Sonata de Beethoven,

Perturbador feito verso de Drummond.

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PROCURO UMA PAIXÃO

Para que nasça de mim

a poesia mais perfeita,

procuro uma paixão...

Uma paixão que me

altere a consciência,

e sorva minhas energias,

que traga uma emoção,

que espelhe a felicidade,

que seja sonho e realidade.

Procuro uma paixão

em que o meu ser amado

seja apenas graça e prazer,

que seja envolvimento,

entrega e sedução,

que seja uma paixão

pura como eu e

que me aceite

como sou.

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Page 75: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

Procuro uma paixão

que recrie meus melhores

momentos, que seja

maiores que os já vividos,

busco uma paixão que

seja apenas encantamento,

procuro uma paixão real

recheada de sonhos...

Procuro uma paixão

em que nos mostramos

soltos de todas as amarras,

em que sejamos

sempre nós mesmos,

sem medos e sem traumas;

procuro uma paixão

para ser vivida por inteira,

sem eira nem beira...

Procuro uma paixão

que não tenha tempos

de crise e melancolia,

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Page 76: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

busco uma paixão

em que a espontaneidade

seja regra e seja guia;

que seja de intimidades

e emoções diversas...

Procuro uma paixão

que seja companhia,

que seja ato e contato,

que seja vida e poesia,

que seja noite e seja dia,

que não seja distância

e que a ânsia de agradar

seja natural, etc. e tal...

Procuro uma paixão

que seja um presente divino,

que crie vínculos ou não,

mas que seja

enquanto perdurar

uma desvairada

paixão...

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BATALHAS DA VIDA

"Engraçado, costumam dizer que tenho sorte. Só eu sei que

quanto mais eu me preparo mais sorte eu tenho.”

Anthony Robbins

Nada na vida eu ganhei no grito.

Tudo veio da batalha do dia a dia,

Sei a hora de lutar e jamais hesito...

Abro o peito e busco o que acredito.

Se pesar o fardo, redobro a energia,

E, com pujança, perder nem cogito...

Sozinho, sei me tornar um exército.

No meu glossário não há covardia,

Se cair, caio de pé, puro e inaudito...

Nada é mais magnífico que o infinito.

Viver já é uma dádiva, uma honraria,

Cada passo que eu dou a Deus felicito...

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SEU SEGUNDO AMOR

Serei sempre o seu segundo amor...

No seu mundo,

viverei à sombra de tudo.

 

Serei sempre o seu segundo amor...

E, mesmo assim, me satisfaz.

Serei seu apenas quando tiver fome.

Serei sempre o seu segundo amor...

Quando faltar-lhe carinho,

no meu corpo estará à comida do seu corpo.

 

Serei sempre o seu segundo amor.

E, a força do meu amor,

deixará que me goste do jeito que puder...

 

Serei sempre o seu segundo amor.

E a hora que desejar,

serei sua água, seu mar e seu porto...

 

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Page 79: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

Serei sempre o seu segundo amor.

Não quero nem ter nome.

Serei o seu amor perfeito na imperfeição dessa vida...

Serei sempre o seu segundo amor.

E, isto me basta.

Na vida, quero apenas, sem ordem alguma, ser o seu amor.

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VIVENDO SONHOS

Não te amei

como merecia:

passei a vida

fazendo planos,

vivendo sonhos...

Não te amei

como devia amar:

levei a vida

plantando flores,

colhendo poesias...

Eu te amei

de um jeito

covarde;

agora arde

no peito meu este pesar...

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Page 81: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

Não te amei

quando podia.

Agora é tarde:

passou a vida,

ficou saudade.

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AMOR, ÓDIO E INSENSATEZ

"Para Adão, o paraíso era onde estava Eva."

Mark Twain

Aquele homem assassinou

a serenidade do seu sexo.

Ele era bruto, forte e feio.

E, você gostou da ferocidade,

você cedeu àquela fortaleza.

Você chegou a ver encanto

onde nem havia beleza.

Aquele homem furtou

a pureza de suas entranhas.

Ele te fez mulher...

Você se contorceu, gemeu,

você se entregou e gostou.

Sentiu um prazer assustador

que nem ele mostrou que sentiu.

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Page 83: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

Aquele homem jamais saiu

de sua memória. Ele a persegue.

Você ainda ouve aquela voz,

você ainda sonha com a cena.

Você sozinha ainda

se contorce e geme,

sente a mesma dor,

goza o mesmo gozo.

Incrível! Você ainda faz amor com ele,

mesmo com ele ausente fisicamente.

Aquele homem deixou

em você um pouco dele.

Você se lava, mas não se limpa,

e nunca se livra daqueles restos.

Ele é o espectro do seu pesadelo.

Ele é a imagem que surge hoje

quando você fecha os olhos.

Ele é miragem e lembrança,

seu passado e seu presente.

Estranhamente ele é o homem

de quando você faz amor sozinha.

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Page 84: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

O que você sente por ele,

é alguma coisa que se situa

no ínfimo território

que existe entre o

amor, ódio e a insensatez.

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VOCÊ AINDA É O MEU AMOR

Talvez eu não me exponha,

nem admito que me desvende.

Mas, você ainda é o meu amor...

Hoje, sempre e para a eternidade.

Nos meus olhares

o amor ainda queima,

faço rimas, trovas,

e tento compor poemas...

Tudo em seu louvor.

Somente tu ainda

move este poeta

triste rumo à poesia.

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Page 86: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

EM OUTRAS VIDAS

Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido

senhor de escravos, sacerdote talvez.

Quem sabe sádico, um demente ou rei.

Quem sabe, eu, noutras vida, tenha sido

simples escravo ou servo de Deus.

Quem sabe santo, médico ou súdito

ou o renegado oficial da província.

Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido

cobrador de impostos do reino, o guarda, talvez.

Quem sabe, prostituta, mendigo ou alto policial.

Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido

um extorquido contribuinte ou um carrasco.

Quem sabe o homem que pagava amores,

quem sabe o homem que negava um pão,

quem sabe o maior entre os maiores ladrões.

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Page 87: 2 eu ja nao sou o que era enviado a grafia em 100709 ivan

Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido

o curandeiro da tribo ou o feiticeiro da vila.

Um caminhante cansado ou a mulher do véu.

Quem sabe, eu, noutras vidas, tenha sido

o doente da aldeia ou o preso pela magia.

O guia do cego, o olheiro do caminho...

Quem sabe, eu, noutras vidas,

tenha sido simplesmente

o maior dos pecadores

que no mundo pisou.

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FALARÁ POR MIM A POESIA

Minha melhor poesia é a que eu nunca registrei.

Esta, que jaz sonolenta, silente no meu coração...

Cada dia mostra uma face diferente, é camaleão,

Mas, nem por isso com ela jamais me indisporei.

No meu silêncio e sofrer, só ela me faz sentir rei,

É meu barco, é o meu leme e sabe bem a direção...

Faz-me adorar o caminho e me ostenta a floração.

É assim: livre e solta, faça chuva ou sol, é sem lei.

Um dia, no meu melhor momento a apresentarei,

e será uma festa, uma ocasião. Bem dela falarão...

Cruzará confins, outras línguas, marcará geração.

Somente eu serei o mesmo e discreto me calarei.

Falará por mim minha melhor poesia, mudo serei.

Baterei continência, e, a bela em total imensidão...

Será história, literatura, dissertação e doutoração.

E, ela a mim superará, vencido, de pé a aplaudirei.

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EU A AMO TANTO

Eu a amo tanto...

É tão grande

o meu amor,

que eu descobri:

no mundo nunca

houvera amor assim.

Se existe na literatura,

bem soubestes o autor

a fazer entender o mundo

que assim amaram antes de mim.

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NA SOMBRA DO MUNDO

Na sombra do mundo

escondo o meu rosto...

Deixo apenas exposto

O meu Eu vagabundo.

Este, enigma profundo...

Faz festa no desgosto.

E, é de mim, o oposto,

Um ser nauseabundo.

Assim, num segundo,

eu busco o seu posto,

eu recolho o imposto:

e surjo livre, fecundo.

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Agora, vivo, abundo...

E me torno disposto.

Logo me transposto,

Volta o moribundo.

Na sombra do mundo

disfarço o meu rosto...

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NÃO ME TENTE

Ah! amor, não me tente,

não me fale em saudade,

não me fale em vontade,

não diga que me espera.

Ah! não fale em abraços,

não me lembre de beijos,

não me fale de dengos,

não me peças carinhos.

Não vê que não posso

tê-la em meus braços,

rememorar é penar,

não poder é morrer.

Viver assim é padecer,

é exaltar a dor e pisar

no amor. É estar sempre

a marchar sobre o risco.

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Ah! amor, não me tente,

não vê que sou fraco,

que não tolero tortura,

que não aturo o charme.

Ah! amor, não me tente,

não me teste; não fique

pedindo colo. Não peças,

se não te dou e te acolho.

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DEPOIS DE CINCO WHISKIES SEM GELO...

Na madrugada passada

depois de três badaladas

daquele relógio da matriz,

de cinco whiskies sem gelo

e de quatro CDs românticos...

Não agüentei a dor que doía

e abandonado chorei por você.

Meu telefone não tocou

a internet não me salvou

meus amigos esvaeceram.

Esse whisky está anêmico,

essa música me importuna.

Essa dor eu sei que suporto.

Nem é por você que pranteio.

As mentiras não me salvaram.

Esse telefone é sempre mudo,

esse computador vive travando

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e o whisky me embriagou.

Foi essa música que atiçou

e o meu coração disparou a

chorar pelo amor que findou.

Na madrugada passada

eu fiquei foi de porre

e compreendi que

ainda te amava.

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DEPOIS DA NOSSA DESPEDIDA

Não te via

por detrás da porta,

mas parece que eu ouvia

as batidas do seu coração...

Não te via

gemendo de dor,

mas, a olhos vistos

percebia toda sua paixão...

Não te via

dilacerar-se por amor,

mas, o olhar que eu conhecia

revelava mais que todas as palavras...

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Não te via

por detrás da porta,

mas eu ainda a tinha

dentro desse peito meu...

E, assim:

eu te tudo sabia,

eu mais que te via.

porque bem a conhecia

e muito mais ainda te amava e queria...

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O ESCURO NÃO MASCARA A AMARGURA

Por que passou o tempo,

o tempo bom que tivemos?

Éramos dois corações na mesma palpitação,

tínhamos no beijo o sabor da louca paixão,

nossos caminhos pareciam uma só estrada...

Por que passou o tempo,

o tempo bom que tivemos?

O seu olhar refletia raios de felicidade,

nossas noites de amor acordavam os deuses,

nossos corpos formavam um só corpo ao amarmos...

Por que passou o tempo,

o tempo bom que tivemos?

A noite é a hora em que meu peito mais dói,

e tudo fica cinza e os clamores ficam roucos.

O escuro não mascara a amargura que restou...

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Por que passou o tempo,

o tempo bom que tivemos?

Hoje exausto o tempo para no tempo de antes,

impregnado de medo, respirando lembranças,

permanece o pássaro no ninho, agora sozinho...

Por que passou o tempo,

o tempo bom que tivemos?

Em vão busca-se na noite o sono, a analgesia total,

e o tempo de outrora colado nas coisas e em mim,

modificaram a rua, mudou-se o tempo, mudara eu?

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QUEM ME DERA!

Quem me dera

ter pelo menos a chance

de impedir que exista

o seu choro, seu tédio, sua angústia...

Quem me dera

ser seus mistérios, seus sonhos

ou simplesmente o homem

de quando você se adultera nos seus delírios.

Quem me dera

poder acariciar o seu rosto,

espantar seu desgosto,

levar-lhe a calma no corpo e na alma.

Quem me dera ser sua companhia,

seu guia e sua festa...

Espantar sua rotina

ser o Deus que a ilumina.

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Quem me dera

ser seu troféu, seu apogeu,

compartilhar do seu fogo,

seu jogo, sua febre, sua magia.

Quem me dera

ser o que você mais combina.

Quem me dera!

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BEM AQUÉM

Quando criança

muito desejava ser adulto.

Tornei-me adulto e

criança queria

tornar a ser.

De certo sou alguém

que não passa

de um vulto,

procurando no oculto

a razão para viver.

Quando poeta

tentava ser,

descobri que

minhas rimas

são por demais pobres,

não são para ouvidos nobres.

Também não sou nenhum Drummond,

muito menos sou um Fernando Pessoa.

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PERDI O BONDE DA VIDA

“Se eu tombei de amor foi que o peso da dor inventou-se de

aninhar sobre os meus ombros.”

Ivan Corrêa

Nada indaguei,

não procurei

saber quem era,

de onde era,

de onde viera,

nem por que viera.

Quando aproximou

dei boas vindas;

vibrei com a chegada

de quem nem conhecia,

displicentemente

baixei a guarda.

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Foi chegando e abrigou,

ficou onde não devia,

sem nem se dar conta

dei guarida e carinho,

dei até o que não tinha.

Afeiçoei-me demais

àquela desconhecida,

doei a ela um amor

louco, puro e pleno,

às vezes, brando, sereno...

Assim como chegou partiu,

partiu sem dizer aonde ia,

nem por que partia;

fiquei de peito aberto

sentindo a dor do amor.

...brincando de amar, amei,

amei e perdi o bonde da vida.

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VALEU À PENA

“Não procure em mim um ponto final. Jamais encontrará.

No máximo deparará com um ponto e vírgula;

já um tanto afoito querendo prosseguir...”

Ivan Corrêa

Meu corpo crivado de estanho

caído no chão preto do asfalto...

No vermelho do sangue banho

e entrego meu corpo no assalto.

A vida acabou e a dor eu apanho,

conto estórias, invento e ressalto

que valeu à pena. E eu estranho

este artifício, e num sobressalto,

saio do drama, num dia tacanho...

Deus me chama e eu não falto,

vou... Seu grito eu acompanho.

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ONDE ESTARÁ AGORA O MEU AMOR?

Onde estará agora o meu amor?

Será que onde está se lembra de mim?

Será que ainda sente desejo de me amar?

Quem, nas noites frias, beija sua boca?

Quem desfruta do seu meigo sorriso?

Quem acorda o seu corpo para o amor?

Quem, depois de amar você, para tudo

para te ouvir ponderar sobre a vida...?

Quem fala de MPB com você?

Quem ouve aquele CD romântico

segurando firme na sua mão?

Devo estar fazendo falta na sua vida.

Você partiu como se nada houvesse entre nós,

Mas, quem te teve como eu, sabe que era amor.

Sabe que a emoção corria solta no seu coração...

Sabe que o brilho nos olhos dizia mais que palavras.

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Onde estará agora o meu amor?

Se eu soubesse, correria até ela e diria

que jamais deixou de ser o meu amor...

Mesmo ausente, você ainda é importante.

Diria a ela que eu a espero desde que foi embora,

todos os dias de minha vida a esperei e esperarei,

um amor igual ao nosso não é assim que se acaba.

Estou no mesmo lugar, ainda sou a mesma pessoa.

O meu beijo ainda tem o mesmo sabor,

meu corpo ainda possui o mesmo calor.

Porque você ainda é o meu amor,

hoje e sempre e para a eternidade...

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