1ºp 1ºteste.docx
TRANSCRIPT
DISCIPLINA: FILOSOFIA 11ºANO
RESUMO: UNIDADE 1 – ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA FORMAL
1.1. DISTINÇÃO VALIDADE - VERDADE
1.1.1. A definição de lógica
A lógica ajuda-nos a bem argumentar, a bem raciocinar. Desta forma, a lógica não é mais que
uma disciplina filosófica que estuda a distinção entre argumentos corretos (válidos) e
incorretos (não válidos), mediante um raciocínio e uma exposição das premissas corretas que
levam a uma conclusão lógica. Ela dedica-se, por isso, ao estudo das leis, princípios e regras a
que devem obedecer o pensamento e o discurso para serem válidos.
Foi a lógica, que se interessou pelo estudo da validade ou invalidade dos argumentos.
A lógica pode ser:
Formal – analisa a validade dos argumentos dedutivos. Serve para distinguirmos a
argumentação dedutivamente válida da inválida.
Informal – analisa a validade dos argumentos não dedutivos.
Através das teorias da lógica podemos evitar diversas falácias, que iremos falar mais à frente.
1.1.2. O argumento
1.1.2.1. A estrutura do argumento
Um argumento é um conjunto de proposições devidamente articuladas – a conclusão e as
premissas – no qual as premissas procuram defender, sustentar ou justificar a conclusão. A
conclusão é a proposição que queremos justificar.
As proposições que apoiam ou justificam a conclusão têm o nome de premissas.
Os argumentos são encadeamentos de proposições, sendo uma delas a conclusão.
EXEMPLO :
Todos os portugueses são europeus. Premissa
Os alentejanos são portugueses. Premissa
Logo, os alentejanos são europeus. Conclusão
As proposições que apoiam ou justificam a conclusão têm o nome de premissas.
A conclusão é a premissa que queremos justificar.
A conjunção “Logo” funciona como um indicador de conclusão.
O que caracteriza um argumento é o nexo lógico, que se verifica entre as premissas e a
conclusão, ou entre o antecedente e o consequente.
Conjuntos de proposições sem nexo lógico não se enquadram na categoria de “argumentos”.
1
EXEMPLO:
Os rapazes são giros. Premissa
As cerejas fazem bem à saúde. Premissa
Logo, as férias devem continuar. Conclusão
1.1.2.2. Proposições e conceitos/termos
Proposição – é o pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso por uma frase
declarativa.
Frases imperativas, exclamativas, interrogativas, frases que traduzem uma promessa ou que
expressam um pedido não expressam proposições. Só as frases declarativas é que expressam
proposições. Pois só estas podem ser consideradas de verdadeiras ou falsas.
Nas proposições estabelecem-se relações entre termos.
Termo – é geralmente entendido como a expressão verbal do conceito.
Conceito – constitui o elemento básico do pensamento (exemplo: mesa, livro, lua, Maria,
ponte Vasco da Gama, etc…).
Compreensão e extensão dos conceitos
Um conceito possui sempre uma certa extensão, isto é, aplica-se a um número mais ou menos
extenso de objetos.
Exemplo:
O conceito de vegetal (alimento) aplica-se a cenouras, cogumelos, alface, etc.
A extensão do conceito é o número de objetos ou indivíduos que o conceito designa.
A compreensão e extensão de um conceito variam na razão inversa, quanto maior a
compreensão menor a sua extensão e vice-versa.
Extensão
Ser humano - homem - desportista - futebolista - goleador - Cristiano Ronaldo
Compreensão
Neste exemplo, o conceito de ser humano é o que possui maior extensão e menor
compreensão, pois aplica-se a homens, desportistas, futebolistas, goleadores e àquele
especifico jogador. Por outro lado, esse jogador corresponde ao conceito que tem maior
compreensão e menor extensão, visto que é um individuo (único) que tem as características de
ser goleador, futebolista, homem e por fim ser humano.
2
A clarificação dos conceitos faz-se a partir da definição. Uma definição explícita é feita com
base em condições necessárias e suficientes. Para ser explícita, uma definição deve ser clara e
convir inteira e exclusivamente ao definido, garantindo a reciprocidade ou a troca de lugares.
Uma definição bem construída nunca será demasiado ampla nem demasiado restrita.
1.1.2.3. Indicadores de premissa e de conclusão
Alguns indicadores de premissa Alguns indicadores de conclusão
PorquePoisAdmitindo quePressupondo queConsiderando quePartindo do príncipio de queSabendo queDado queUma vez queDevido aComoOraEm virtude de
LogoEntãoPor conseguintePortantoPor issoConsequentementeSegue-se queInfere-se queConclui-se queÉ por essa razão queDaí queAssimIsso prova que
1.1.3. A verdade e a validade
A validade e a invalidade são qualidades próprias dos argumentos resultantes do facto de as
premissas apoiarem ou não a conclusão. A validade é uma certa relação entre os valores de
verdade das premissas e da conclusão de um argumento. Quando um argumento dedutivo é
válido, a verdade das premissas exclui a falsidade da conclusão.
A validade e a invalidade são propriedades dos argumentos e não das proposições que os
constituem.
A verdade e a falsidade são propriedades das proposições e não dos argumentos.
1.1.3.1. Validade dedutiva
Os argumentos dedutivos são aqueles cuja validade depende apenas da sua forma lógica. Um
argumento pode ser válido mas ter premissas e conclusão falsas. A única coisa que um
argumento dedutivo válido não pode ter é premissas verdadeiras e conclusão falsas.
As proposições não podem ser válidas nem inválidas, só os argumentos é que podem. As
proposições são verdadeiras ou falsas. “Verdade” e “validade são noções distintas, mas que
estão relacionadas. O facto de as proposições serem ou não verdadeiras, nada tem a ver com o
3
facto de o argumento ser ou não válido. Podemos ter
argumentos dedutivos válidos com premissas e conclusões falsas.
EXEMPLO:
Todos os portugueses são pintores. PremissaBertrand Russell é português. PremissaLogo, Bertrand Russell é pintor. Conclusão
Também podemos ter argumentos dedutivos inválidos com premissas e conclusões verdadeiras.EXEMPLO:
Todos os naturais de Lisboa são portugueses. PremissaFernando Pessoa é português. PremissaLogo, Fernando Pessoa é natural de Lisboa. Conclusão
Desta forma, os argumentos dedutivos são, avaliados em função da sua forma lógica.
Tipos de argumentos:
Argumento dedutivo válido – a verdade das premissas garante sempre a verdade da
conclusão, sendo impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.
Um argumento dedutivo válido pode ter premissas falsas e conclusão falsa, o que não
pode ter é premissas verdadeiras e conclusão falsa.
Argumento dedutivo inválido – a verdade das premissas não garante a verdade da
conclusão.
Falácia – todo o argumento incorreto ou inválido, embora aparentemente ser válido.
A falácia pode ser:
Involuntária – também chamada de paralogismo.
Voluntária - também chamada de sofisma.
1.1.3.2. Validade não dedutiva
Os argumentos não dedutivos são aqueles em que a verdade das premissas apenas sugere a
plausibilidade da conclusão ou a probabilidade de ela ser também verdadeira.
Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas não impossível, ter
premissas verdadeiras e conclusão falsa.
Exemplos de argumentos não dedutivos são os argumentos indutivos. A indução é um tipo de
raciocínio que nos leva a conclusões que não derivam necessariamente das premissas.
4
EXEMPLO 1:
Alguns estudantes copiam nos testes.Logo, todos os estudantes copiam nos testes.
EXEMPLO 2:
Até hoje, todos os cavalos nasceram quadrúpedes.Logo, o próximo cavalo a nascer será quadrúpede.
Argumento indutivo inválido ou argumentos fracos – a verdade da premissa não fornece uma
forte razão para pensar que a conclusão é verdadeira (exemplo 1).
Argumento indutivo válido ou argumentos fortes – a verdade da premissa fornece uma forte
razão para pensar que a conclusão é verdadeira (exemplo 2).
1.2. FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA E PRINCIPAIS FALÁCIAS
1.2.1. Lógica silogística
1.2.1.1. Estrutura das proposições categóricas
Existem 3 elementos que constituem a proposição categórica:
O sujeito – ser relativamente ao qual se afirma ou nega o predicado.
O predicado - característica ou qualidade que se afirma ou nega do sujeito.
A cópula – elemento que faz a ligação do sujeito com o predicado.
Exemplo : Todos os artistas são sábios.
Sujeito – Todos os artistas; Predicado – sábios; Cópula – são
1.2.1.2. Classificação das proposições categóricas
Podemos classificar as proposições quanto à:
Qualidade, ou natureza da cópula:
Afirmativas (é): afirmam que o predicado convém ao sujeito
Negativas (não é): negam que o predicado convém ao sujeito
Quantidade, ou extensão do sujeito:
Universais (todos): quando o sujeito é tomado em toda a sua extensão.
Exemplos:
Alguns insetos perturbam.Certas nações não são democráticas.
Particulares (alguns): quando o sujeito é tomado apenas numa parte da sua
extensão.
5
Exemplos:
Todos os cães são vertebrados.Os bois não são aves.
A combinação entre a quantidade e qualidade das proposições leva-nos a 4 tipos de
proposições:
Tipo
Quantidade Qualidade Exemplo
A Universal Afirmativa Todo o S é PE Universal Negativa Nenhum S é PI Particular Afirmativa Algum S é PO Particular Negativa Algum S não é
P
A quantidade de uma proposição é definida por palavras a que chamamos quantificadores.
Estes indicam-nos se o sujeito se refere a todos os elementos do conceito ou apenas a uma
parte deles.
Quantificadores universais: todo/nenhum/qualquer
Q uantificadores particulares: algum/poucos/certos/nem todos
NOTA: Para se resolverem exercícios de lógica aristotélica é preciso apresentar as proposições
na sua forma canónica. Por exemplo, a frase “Há homens mortais” exprime uma proposição
do tipo I, mas não está na forma canónica. De modo a coloca-la na forma canónica das
proposições de tipo I (“Alguns S são P”), teríamos de a exprimir através da frase “Alguns
homens são mortais”.
6
Transformação das proposições do tipo A, E, I e O na forma canónica ou padrão
1.2.1.3. A distribuição dos termos
Um termo (sujeito ou predicado) encontra-se distribuído: quando é tomado
universalmente, isto é, quando é tomado em toda a sua extensão (ex: todos, nenhuns).
Exemplo:
7
Todos os cães são carnívoros.
Aqui, o termo “cães” está distribuído, pois ocorre em toda a sua extensão, pois estamos a
referir-nos a todos os cães. Mas, o termo “carnívoros” não está distribuído, pois não ocorre
em toda a sua extensão, uma vez que não nos estamos a referir a todos os carnívoros.
Um termo não se encontra distribuído: quando não é tomado universalmente, isto é,
quando é tomado apenas em parte da sua extensão (ex: alguns, certos, existem).
EM SÍNTESE:
TIPOS DE PROPOSIÇÕES
DISTRIBUIÇÃO
DO SUJEITO
DISTRIBUIÇÃO
DO PREDICADO
TERMOS
DISTRIBUÍDOS EXEMPLOS
Tipo A – Universal afirmativa Distribuído Não distribuído Sujeito Todas as rãs são verdes.
Tipo E – Universal negativa Distribuído Distribuído Ambos Nenhuma rã é verde.
Tipo I – Particular afirmativa Não distribuído Não distribuído Nenhum Algumas rãs são verdes.
Tipo O – Particular Negativa Não distribuído Distribuído Predicado Algumas rãs não são verdes.
1.2.1.3. Silogismo categórico regular
Silogismo categórico – é um argumento do tipo dedutivo composto por três proposições
categóricas, onde as duas primeiras se designam de premissas e a terceira se designa de
conclusão, desde que o argumento seja válido.
Estrutura do silogismo categórico:
Premissa Maior- Tem o termo maior (Predicado) e o termo médio (M)
Premissa Menor- Tem o termo menor (Sujeito) e o termo médio (M)
Conclusão- faz a ligação entre o termo maior (Predicado) e o termo menor (Sujeito). O
termo médio nunca aparece na conclusão.
A classificação dos termos é feita com base na função que eles desempenham nas proposições
em que se encontram. Desta forma:
Termo Maior- é sempre o predicado da conclusão e ocorre uma única vez numa das
premissas.
Termo Menor- é sempre o sujeito da conclusão e ocorre uma única vez numa das premissas.
Termo médio- serve de intermediário dos anteriores. Ocorre em ambas as premissas e nunca
aparece na conclusão.
8
Exemplo que nos permite perceber melhor a estrutura do silogismo categórico:
PREMISSA MAIOR Todos os cientistas são sábios. Todos os M são P.PREMISSA MENOR Todos os biólogos são cientistas. Todos os S são M.CONCLUSÃO Logo, todos os biólogos são sábios. Logo, todos os S são P.
A forma do silogismo: o modo e a figura
MODO
Os silogismos podem ser classificados em função do seu modo e da sua figura. O modo de um
silogismo depende da quantidade e da qualidade das proposições que o compõem. É-nos dado
pelo tipo de proposições que o constituem (A, E, I, O). O modo de um silogismo indica-se,
escrevendo as letras correspondentes à premissa maior, à premissa menor e à conclusão, por
esta ordem.
Exemplo:
Premissa maior: Tipo A; Premissa menor: Tipo E; Conclusão: Tipo O
Então, dizemos que o modo deste silogismo é AEO. Existem 64 modos possíveis.
FIGURA
A figura de um silogismo depende da posição do termo médio (M). Existem quatro figuras.
1ª FIGURA: O TERMO MÉDIO (M) É SUJEITO NA PREMISSA MAIOR E PREDICADO (P) NA PREMISSA MENOR.
EXEMPLO Todos os mamíferos sonham.Os macacos são mamíferos.Logo, os macacos sonham.
FIGURA M – PS – MS - P
2ª FIGURA: O TERMO MÉDIO (M) É PREDICADO (P) NAS DUAS PREMISSAS.
EXEMPLO Nenhum português é asiático.Todos os chineses são asiáticos.Logo, nenhum chinês é português.
FIGURA P - MS – MS - P
3ª FIGURA: O TERMO MÉDIO (M) É SUJEITO NAS DUAS PREMISSAS.
EXEMPLO Alguns filósofos são alemães.Todos os filósofos são europeus.Logo, alguns europeus são alemães.
FIGURA M – PM - SS - P
9
4ª FIGURA: O TERMO MÉDIO (M) É PREDICADO (P) NA PREMISSA MAIOR E SUJEITO NA PREMISSA MENOR.
EXEMPLO Nenhum gato é ave.Algumas aves são mamíferos.Logo, alguns mamíferos não são gatos.
FIGURA P – MM – SS - P
REGRAS DA VALIDADE SILOGÍSTICA
1ª REGRA – o silogismo tem 3 termos, e só 3 termos: o maior, o menor e o médio.
2ª REGRA – o termo médio nunca pode entrar na conclusão.
3ª REGRA – o termo médio deve ser tomado pelo menos uma vez em toda a sua extensão –
tem de estar distribuído pelo menos uma vez.
4ª REGRA – nenhum termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas premissas.
5ª REGRA – a conclusão deve seguir sempre a parte mais fraca.
6ª REGRA – de duas premissas negativas nada se pode concluir.
7ª REGRA – de duas premissas particulares nada se pode concluir.
8ª REGRA – de duas premissas afirmativas não se pode extrair uma conclusão negativa.
10