1o de maio

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1º de Maio: dois séculos de lutas operárias - 1 Apresentação A filosofia liberal da época não admitia que se fizessem leis para os trabalhadores. Vigorava a lei do patrão. A lei do cão. Naquele tempo os operários viviam numa grande miséria. Trabalhavam 12, 15 e até 18 horas por dia. Não havia descanso semanal nem férias. Para o mundo do trabalho não existiam leis. Tudo o que os trabalhadores conquistaram foi fruto desta luta da classe. Através dela foram conquistadas a jornada de 8 horas, as férias, o descanso aos domingos, a previdência social, a indenização por acidente, a aposentadoria, tudo, enfim. A diminuição de turnos de trabalho foi a primeira reivindicação da classe. Exigia-se não morrer de tanto trabalhar. Outra exigência era a de não morrer de fome. Ou seja, ter um salário que permitisse viver. Muitas greves foram realizadas no século XIX. Os patrões respondiam com mortes, prisões e perseguições dos lutadores operários. Nos últimos anos, vemos o aumento do horário de trabalho em países como França, Alemanha, Itália e muitos outros. É a mesma ofensiva dos patrões no mundo inteiro. É a mesma política aplicada em qualquer país que se dobra às ordens do grande capital mundial, coordenada pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI. No Brasil, os empresários exigem mudanças nas leis trabalhistas para flexibilizar todos os direitos. Querem diminuir o que eles chamam de custo do trabalho. Na verdade, eles querem aumentar seus lucros nas costas dos trabalhadores. Para isso, inventam novas palavrinhas inocentes como flexibilização, reforma ou expressões como desengessar a economia, diminuir o Custo Brasil, para aplicar seu plano de retirar o que a classe trabalhadora conquistou em 200 anos de luta. As 8 horas estão entre as grandes conquistas dos trabalhadores. E é especialmente contra a jornada de 8 horas que os patrões apontam suas armas. Daí a importância do 1º de Maio DE LUTA. Precisamos reafirmar a luta em defesa dos nossos direitos, como as 8 horas. E lutar contra a retirada de qualquer direito conquistado com duzentos anos de luta... no mundo e no Brasil. 1º de Maio... Em 1891, em Paris, trabalhadores socialistas dos países industrializados da época, reunidos num congresso da Internacional Socialista, consagraram esta data como o dia da luta pelas 8 horas de trabalho. Hoje, no começo do século XXI, a classe trabalhadora do mundo todo, em sua maioria, está perdendo o que conquistou em 200 anos de lutas. Conhecer a verdadeira história da nossa classe nos ajuda a entender o presente. Assim vamos nos preparar melhor para construirmos um futuro diferente, sem a exploração e a opressão às quais somos submetidos.

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Material sobre o 1 de maio, abordando os aspectos históricos e políticos da data. Produzido pelo NPC - Núcleo Piratininga de comunicação do Rio de Janeiro.

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  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 1

    Apresentao

    A filosofia liberal da poca no admitia que se fizessem leis para os trabalhadores.Vigorava a lei do patro. A lei do co.

    Naquele tempo os operrios viviam numa grande misria. Trabalhavam 12, 15 e at 18 horaspor dia. No havia descanso semanal nem frias. Para o mundo do trabalho no existiam leis.

    Tudo o que os trabalhadores conquistaram foi fruto desta luta da classe. Atravs delaforam conquistadas a jornada de 8 horas, as frias, o descanso aos domingos,a previdncia social, a indenizao por acidente, a aposentadoria, tudo, enfim.

    A diminuio de turnos de trabalho foi a primeira reivindicao da classe.Exigia-se no morrer de tanto trabalhar. Outra exigncia era a de no morrer de fome.

    Ou seja, ter um salrio que permitisse viver.Muitas greves foram realizadas no sculo XIX. Os patres respondiam com mortes,

    prises e perseguies dos lutadores operrios.

    Nos ltimos anos, vemos o aumento do horrio de trabalho em pases como Frana,Alemanha, Itlia e muitos outros. a mesma ofensiva dos patres no mundo inteiro.

    a mesma poltica aplicada em qualquer pas que se dobra s ordens do grande capitalmundial, coordenada pelo Fundo Monetrio Internacional, o FMI.

    No Brasil, os empresrios exigem mudanas nas leis trabalhistas para flexibilizar todos os direitos.Querem diminuir o que eles chamam de custo do trabalho. Na verdade, eles querem aumentar

    seus lucros nas costas dos trabalhadores. Para isso, inventam novas palavrinhas inocentes comoflexibilizao, reforma ou expresses como desengessar a economia, diminuir o Custo Brasil,

    para aplicar seu plano de retirar o que a classe trabalhadora conquistou em 200 anos de luta.

    As 8 horas esto entre as grandes conquistas dos trabalhadores.E especialmente contra a jornada de 8 horas que os patres apontam suas armas.

    Da a importncia do 1 de Maio DE LUTA. Precisamos reafirmar a luta emdefesa dos nossos direitos, como as 8 horas. E lutar contra a retirada de qualquer

    direito conquistado com duzentos anos de luta... no mundo e no Brasil.

    1 de Maio...Em 1891, em Paris, trabalhadores socialistas dos pases industrializados da poca,reunidos num congresso da Internacional Socialista, consagraram esta data como

    o dia da luta pelas 8 horas de trabalho.

    Hoje, no comeo do sculo XXI, a classe trabalhadora do mundo todo,em sua maioria, est perdendo o que conquistou em 200 anos de lutas.

    Conhecer a verdadeira histria da nossa classe nos ajuda a entender o presente.Assim vamos nos preparar melhor para construirmos um futuro diferente,

    sem a explorao e a opresso s quais somos submetidos.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 2

    Reduo da jornada:uma luta que veio de longe

    m 1864, 141 anos atrs, em Londres,aconteceu a primeira reunio interna-

    fixao da jornada de trabalho. No foidefinido o nmero exato de horas, poishavia realidades diferentes em cada pas.

    Outra deciso foi fundar uma Asso-ciao Internacional dos Trabalhadores,conhecida pela sigla AIT. Todos a chamavamde A Internacional.

    Em 1866, dois anos depois, a AITrealiza um encontro na Sua. Nesta confe-rncia, os operrios da Internacionaldecidiram que o horrio de trabalho mximodeveria ser de 8 horas por dia.

    Declaramos que a limitao da jornada de trabalho a condio prvia, sem a qual

    todas as demais aspiraes de emancipaosofrero inevitavelmente um fracasso.

    Propomos que a jornada de 8 horasseja reconhecida como o limite da jornada de trabalho.

    A primeira e grande necessidade do presente,para libertar o trabalho deste pas da escravido capitalista,

    a promulgao de uma lei em que 8 horasdevem constituir a jornada de trabalho normal

    em todos os Estados da Unio Norte-Americana.

    No mesmo ano, nos Estados Unidos, nacidade de Baltimore, realiza-se um congressooperrio. Nos EUA, nesta poca, j havia maisde 6 milhes de operrios.

    Neste congresso, a deciso a mesmaque tinha sido tomada pela Internacional:greves em todas as fbricas at a conquistadas 8 horas.

    Dois anos depois, o governo daquelepas, aprovou uma lei que garantia 8 horaspara algumas categorias de trabalhadores.

    Mas esta lei nunca foi aplicada. Era s umenfeite para tentar acalmar a classetrabalhadora americana.

    A declarao final de 1866:

    O texto do congresso de Baltimore:

    Ecional organizada por trabalhadores. Elesvinham dos pases industrializados da Europa:Inglaterra, Frana, Blgica, Sua... Erampoucos ainda. Mas era o comeo da sua orga-nizao.

    A idia geral que os unificava era a lutapor uma sociedade justa e livre. O socialismoera a idia central de todos.

    Neste encontro foi decidido que aluta principal a ser travada pelos oper-rios dos vrios pases seria a reduo e

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 3

    Reduo da jornada: a primeiraluta da classe operria

    Aclasse operria nasceu por voltade 200 anos atrs. Podemos dizerque comeou a existir em 1800. Cla-ro que no foi no dia 1 de janeiro daqueleano. s para termos uma idia geral. At1750/1790 o trabalho nas cidades era feitoem galpes com algumas dezenas de traba-lhadores. Eram usadas ferramentas manuaise pequenas mquinas primitivas movidas

    com a fora das guas ou com os ps e mosde homens e mulheres.

    No final do sculo 18, nas vsperasde 1800, aconteceu o que ficou conhecidocomo a revoluo industrial. Ou seja, entroua mquina movida a vapor e isso permitiu aintroduo de novas mquinas a cada dia.Foi a passagem gradual da manufatura paraa indstria.

    O pequeno barracode poucos trabalhadores

    se transformou em imensasconstrues cheias demquinas e de gente.Nascem os operrios.

    Os que operam mquinas.As chamins, de onde saa

    a fumaa do carvo queimado, que produzia o vapor e que

    movia as mquinas, soo smbolo desta revoluo.

    Esta revoluo aconteceu na Europae logo depois nos Estados Unidos. Toda a ri-queza que estes pases tinham roubado daAmrica Latina e do resto do mundo foi usada

    para investir em novas descobertas tcnicase na criao de imensos parques industriais.

    E assim nasceram as fbricas...E assimnasceu a classe operria.

    E qual era a condio de vida desses milhes de trabalhadores das fbricas? A PIOR QUE PODEMOS IMAGINAR.

    A classe operria demorou algumas dcadas para criarsuas primeiras associaes e seus sindicatos para se defender.

    Os patres impunham suas leis.Do comeo da industrializao at por volta de 1850,

    podemos dizer que no havia nenhuma lei para a classe operria.

    A filosofia poltica que dominava a cabea da burguesia europiae americana era o liberalismo. Liberalismo, nos livros, significava liberdade

    total s foras produtivas: capital e trabalho. Na prtica, significava liberdadeaos patres para poderem explorar os trabalhadores, sem limite nenhum.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 4

    Quantas horas se trabalhava nestes temposResposta: quantas o patro queria. E ele queria o mximo. At os operrios

    morrerem de cansao. Eram 12, 15 e at 18 horas por dia. E isso era repetidodurante 365 dias por ano... at a pessoa morrer de fome, cansao e misria.

    A vida nas fbricas...200 anos atrs

    No incio da explorao capitalista,aos trabalhadores no eram permitidos di-reitos, apenas deveres. Deveres que custavama sade e a vida de milhes de homens,mulheres e crianas. Era o reino da sociedadeburguesa. Uma sociedade organizada deacordo com os interesses dos donos das fbri-cas, lojas, armazns, bancos, transportes ede tudo mais.

    Os locais de trabalho eram terra deningum. No existiam leis. O Estado nopodia fazer leis que regulamentassem as

    relaes entre capital e trabalho. Era a fi-losofia poltica liberal a servio do lucrodo capital.

    Depois da explorao na fbrica, otrabalhador enfrentava mais um martrio,agora em casa. Cansado, sujo e sem roupaspara trocar, via a famlia passar todo tipo denecessidade, inclusive fome. E era esse tra-balhador atormentado, cansado e ferido quevoltava, no dia seguinte, para a fbrica. Ain-da mais cansado e ferido na sua condiohumana.

    ?

    E como a classe operria reagiu?A classe operria comeou a exigira reduo das horas de trabalho.

    Em todos os pases onde haviafbricas e oficinas, os operriosorganizaram revoltas exigindo

    a diminuio da jornada.Foram muitas greves, muitasrevoltas e muita represso

    por parte da polciaa servio dos patres.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 5

    Inglaterra: o primeiro pas industrializadoA Inglaterra foi o pas onde co-

    meou a industrializao. Ela tinhaacumulado muito ouro, prata e pro-dutos das Amricas, durante trssculos. Muita pirataria, muitas cha-cinas de povos inteiros e roubos detodo tipo tinham permitido umagrande acumulao de riquezas neste

    pas. Desta acumulao nasceu o pasmais industrializado do mundo, na-quela poca.

    O movimento operrio ingls foio primeiro a existir e a lutar. Aos pou-cos aumentou sua resistncia.

    Manifestaes e comcios exi-giam po e menos horas de trabalho.

    As reivindicaes j no eram somente pela reduo da jornada.

    Os operrios ingleses exigiam o direitoao voto universal secretoe vrios direitos sociais,

    como escola gratuita para todos.(Foi o chamado Movimento Cartista ... queriam uma Carta Constitucional)

    Em 1842, no norte da Inglaterra, acontece a primeira greve geral dahistria. A principal exigncia era a reduo da jornada de trabalho.

    Em 1847, o parlamento ingls aprova uma lei que estabeleceo limite da jornada para o adulto em dez horas dirias.

    A lei passa a vigorar no dia 1 de maio de 1848.Nesta poca, na Inglaterra, j havia mais de seis milhes

    de operrios nas fbricas.

    Frana: pas campeo de revoluesA Frana tambm era um pas com

    uma forte industrializao. Em 1850,havia mais de quatro milhes e meio deoperrios.

    No ano de 1840, uma greve de maisde cem mil operrios agitou o pas,sobretudo a capital, Paris.

    A sua principal reivindicao era ajornada de trabalho de 10 horas dirias. Aburguesia fez uma enorme gritaria.Jornais falavam em conspirao externa,

    em agitadores. A histria de sempre.Quando o trabalhador se mexe contra umainjustia agitador e baderneiro, mas opatro que comete a injustia gente debem.

    Em 1847, a Frana viveu um pe-rodo de grande crise econmica. Faltavacomida. As autoridades da poca, vendoque a insatisfao crescia, proibiram asreunies polticas que eram realizadas empraas pblicas.

    Mas no s...

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 6

    A burguesia se aproveitou da disposio de luta do proletariado para derrubara nobreza que tinha voltado ao poder. Precisava das mos dos operrios

    para derrotar o exrcito do Rei da Frana.

    Logo depois, a burgusia vitoriosa eliminou as conquistas revolucionrias quetinham sido concedidas ao proletariado. Milhares de trabalhadores so fuzilados

    e tantos outros milhares so expulsos do pas.

    A proibio de uma dessas reunies, em fevereiro de 1848,levou estudantes e operrios franceses a levantarem barricadas

    pelas ruas da cidade. Paris ficou totalmente ocupada pelo proletariado.

    A burguesia, sob presso, decreta o fim da escravidonas colnias e a reduo da jornada de trabalho,

    na capital, para 10 horas.

    GOLPE - Em setembro de 1848, sob a batuta da burguesiavitoriosa, a jornada de trabalho volta a aumentar

    por determinao do novo governo.

    BANDEIRA VERMELHA - Os operrios de Paris foram esmagadosnum verdadeiro banho de sangue.

    Foi nesta ocasio que bandeiras ensangentadas passarama aparecer nas mos dos trabalhadores.Este foi o comeo da bandeira vermelha

    como smbolo da luta operria.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 7

    Estados Unidos: as grandeslutas pelas 8 horas

    o ano de 1866, a Internacional(AIT) declarou as 8 horas como lutacentral dos operrios. No mesmo ano,

    car um dia e o 1 de maio foi escolhido.Naquele ano, 1886, seria um sbado.

    Chega abril de 1886,aps dois anos de preparao...

    Em vrias cidades americanasexplodem greves isoladas muitoreprimidas pela polcia.

    Numa dessas greves, na cidadeindustrial de Milwaukee, prximode Nova Iorque, a polcia ataca emata nove grevistas.

    O crime? Estavam exigindo 8horas de trabalho.

    Chegou o dia 1 de maio...O DIA DA GREVE GERAL

    A partir de hoje nenhum operrio deve trabalharmais de 8 horas por dia.

    8 horas de trabalho, 8 de repouso e 8 de educao.

    No pas inteiro muitas fbricasficam vazias. Milhares de traba-lhadores fazem manifestaes nosprincipais centros. Mas nem todomundo parou no primeiro dia.

    Decidiu-se fazer piquetes,segunda-feira de madrugada, emalgumas fbricas onde os operrios

    ainda no tinham parado.Neste dia, a polcia e os guar-

    das da fbrica matam sete operriosno piquete em frente marcenariaMc Cormick Harvester.

    Os trabalhadores resolvemfazer uma manifestao de luto ede luta no dia seguinte.

    Na madrugada do dia 30, vspera do dia 1, debaixo das portasdas casas dos operrios de Chicago, apareceu um panfleto que dizia:

    Nos trabalhadores dos EUA decidiram que estaseria a sua batalha central. Na cidade de Bal-timore, um congresso operrio decide rea-lizar greves em todas as fbricas at con-quistar a vitria das 8 horas.

    Anos depois, em 1881, tambm nosEstados Unidos, foi criada a central sindicalFederao Americana do Trabalho, com a siglaAFL. Em 1884, a AFL realizou um congressoonde ficou decidida a realizao de greve geral,em todo o pas, em 1886, pelas 8 horas. Seriauma luta mais forte do que greves isoladas.

    Por que foi marcado o dia 1 de maio?Sem nenhuma razo especial. Precisava mar-

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 8

    No final do comcio, com o pessoal co-meando a sair, chega a cavalaria que tentase aproximar do palanque. De repente, mis-teriosamente, uma bomba explode no pe-loto dos policiais. a senha para eles co-mearem a atirar sobre os manifestantes.

    Centenas de corpos caem no cho. So

    dezenas de mortos e centenas de feridos.Enquanto isso, a polcia cerca o palan-

    que e prende todos os oradores.Sete lderes sindicais, seguidores do

    anarquismo, so presos: August Spies, SamFielden, Oscar Neeb, Adolph Fischer, MichelSchwab, Louis Lingg e Georg Engel.

    Nas semanas anteriores ao 1 de Maio, a imprensa burguesaatacava diariamente os operrios. O jornal Chicago Times escreveu:

    O melhor alimento que os grevistas podem ter chumbo.Estava claro o que a burguesia

    da cidade estava planejando para acabar com aquela greve.

    Nos dias seguintes ao massacre daPraa do Mercado, os jornais de Chicago con-tinuam atacando os grevistas. Eles so cha-mados de terroristas vermelhos. Persegui-es, demisses e todo tipo de ameaas sofeitas contra os trabalhadores e suas famlias.

    O julgamento dos lderes presoscomea imediatamente. Deveria ser umjulgamento rpido. Na verdade, a sentenaj estava dada no momento em que forampresos. Todos foram julgados culpados em9 de outubro de 1886.

    As ltimas palavras de Spies, antes do enforcamento,vo estar presentes em todas as lutas operrias do passado,

    do presente e, com certeza, do futuro:Adeus, o nosso silncio ser muito mais potente

    do que as vozes que vocs estrangulam.

    Parsons, Engel, Fischer, Lingg e Spies so condenados forca.Fielden e Schwab, priso perptua. Neeb, a 15 anos de priso.

    Era preciso dar uma lio nestes terroristas que exigiam a reivindicaocriminosa de trabalhar s 8 horas por dia!

    No dia 11 de novembro, Spies, Engel,Fischer e Parsons so enforcados. Lingg sesuicidou, na vspera, deixando um bilheteonde reafirmava todas suas idias e dizia

    que se matava para no permitir que umcarrasco a servio da burguesia encostassesuas mos imundas no seu corpo. Por isso,escolheu tirar sua prpria vida.

    Os mrtires de ChicagoNa tera-feira, 4 de maio, grande comcio de greve. Todos choram as dezenas

    de mortos e aclamam a deciso de continuar a greveat a conquista das 8 horas para todos.

    Spies Engel, Fischer e Parsons morrem gritando:VIVA A CLASSE OPERRIA! VIVA O ANARQUISMO!

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 9

    As 8 horas se tornama grande luta mundial

    O 1 de maio de 1886 trouxe muitos mortos e feridos,mas no conquistou as 8 horas. Dois anos depois,

    em dezembro de 1888, a Federao Americana (AFL),junto com o movimento Cavaleiros do Trabalho, decide fazer nova luta

    em 1890. Ou seja, dali a dois anos.A proposta era transformar esta data no dia de uma manifestao

    internacional dos trabalhadores.

    os Estados Unidos se preparava anova jornada de lutas, com greves,manifestaes e barricadas, para o

    cional Socialista. Mais tarde ser apelidadapor Lnin de 2 Internacional. Ela nasceudos partidos socialistas que foram fundadosem vrios pases da Europa e dos EstadosUnidos, a partir de 1868. Entre eles, o queveio a ser o maior de todos, o Partido Social-Democrata Alemo (SPD).

    A proposta da central sindical ame-ricana (AFL) chegou ao congresso de fun-dao da Internacional, em 1889. Osestadunidenses propunham a realizao deuma grande greve pelas 8 horas no 1 demaio de 1890 e convidavam os delegadosdos outros pases a fazerem o mesmo.

    A proposta foi aceita com muitoentusiasmo. No dia 20 de julho, ao final docongresso, foi aprovada a seguinte conclamao:

    Ser organizada uma grande manifestao internacionalcom data fixa, de maneira que em todos os pases e cidades,

    ao mesmo tempo, os trabalhadores imponhamaos poderes pblicos a reduo legal

    da jornada de trabalho para 8 horas e a aplicao das outras resoluesdo Congresso Internacional de Paris.

    Considerando que uma manifestao similar j havia sido marcada para o 1 de maio de 1890, pela Federao Americana do Trabalho, (...)

    tal data adotada para a manifestao internacional.

    N1 de maio de 1890.

    Em Paris, em 14 de julho de 1889, sereuniam, em congresso, os socialistas domundo todo. Participaram mais de 300 de-legados representando os partidos socialistasde vrios pases, como Frana, Blgica, In-glaterra, Portugal, Espanha, Hungria, Itlia,Noruega, Rssia, ustria, Sua, Alemanhae um pas latino-americano, a Argentina. Opartido socialista mais forte era o alemo.Quase todos os partidos socialistas se defi-niam como marxistas.

    Deste congresso nascia uma nova In-ternacional, conhecida como A Interna-

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 10

    Em 1890,em todos os pases onde havia movimentooperrio organizado, liderado pelos socia-listas, aconteceram greves, manifestaes,piquetes, barricadas e confrontos com apolcia. As manifestaes foram reprimidas

    Precisaro ainda de uns 20 anospara serem conquistadas.

    pelas polcias dos vrios pases. Mesmoassim, aconteceram em toda a Europa, nosEstados Unidos, em dois pases africanos e,na Amrica Latina, no Mxico, em Cuba ena Argentina.

    a Internacional Socialista, no seu 2 Congresso,decreta que o 1 de Maio seja comemorado todo ano como Dia Internacional dos Trabalhadores.

    A partir desta data, todo ano, no mundo, os trabalhadoresconcentraro suas lutas pelas 8 horas e por melhores

    condies de vida e de trabalho, no 1 de Maio.

    E as 8 horas?

    Em 1891...

    julgamento dos lderes da greve de1886 foi muito rpido. A burguesiaqueria livrar-se deles o quanto antes.

    cimento da inocncia dos cinco conde-nados morte e dos outros trs con-denados a vrias penas.

    Em 1892, o governo do Estadodo Illinois anula o processo inteirodos mrtires de Chicago e ... declaratodos inocentes.

    Assim passados seis anos do jul-gamento-farsa, o governo burgus daqueleestado americano cede: os mortos soabsolvidos e Fielden, Schwab e Neeb, queestavam presos, so libertados. Ogovernador acusou de infmia o juiz, osjurados e as falsas testemunhas.

    Presso faz governador anular julgamento dos Mrtires de Chicago

    OUma condenao morte nos

    Estados Unidos costuma demorar vriosanos. Mas desta vez eles apressaram ojulgamento que foi recheado de irregu-laridades. Entre elas, a compra de juzese jurados.

    O movimento operrio americanodenunciou a farsa e exigiu a anulaodo julgamento que fora descaradamentearmado. Foram criados comits em mui-tas cidades dos EUA exigindo o reconhe-

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 11

    1900: o mundo comeaa conquistar as 8 horas

    Estamos em 1900...A classe trabalhadora ainda no tinha

    conquistado as 8 horas em nenhum pas.Ainda em 1906, na Frana, os traba-

    lhadores precisam fazer fortes campanhas

    pela jornada de 8 horas. Os patres e seusgovernos no queriam ceder de jeito nenhum.Eram constantes as greves, os jornaisoperrios e os cartazes exigindo as 8 horas.

    De 1914 a 1918, a Europa foi varridapela chamada Grande Guerra. Foi a 1 GuerraMundial. Uma guerra entre os vrios pasesimperialistas, para ver quem ficaria com maisfontes de mercadorias e mais mercados. Nesta

    guerra, entre os vrios pases capitalistasdo mundo, quem pagou o pato foi a classetrabalhadora. Milhes de mortos na Europa.A imensa maioria das vtimas era formadapor operrios homens e mulheres.

    A mensagem aqueladecidida na Confernciade Genebra da1 Internacional:8 horas de trabalho,8 horas de lazer,8 horas de repouso

    Capa da revista satricaO Prato de Manteiga,publicada em Paris antesdo 1 de Maio de 1906.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 12

    Essa revoluoconquistou, numprimeiro momento,o poder paraos trabalhadores.

    O sonho de uma vidamelhor para os milhes deoperrios e camponeses poderiase tornar realidade.

    Este fato deu um forteimpulso s lutas dos trabalhadoresno mundo inteiro. Os anos de 1918a 1921 foram anos de tentativasde revolues socialistas emmuitos pases europeus.

    Em todos os pases,os trabalhadoresintensificavam as greves,manifestaes,barricadas e exigiamo atendimento de suasantigas reivindicaes.

    Durante a Primeira Guerra, na Rssia,um dos pases envolvidos no conflito mundial, estourou

    uma revoluo que mudou completamenteo quadro poltico do mundo.

    Foi a Revoluo Russa, liderada pelo Partido SocialDemocrata Russo, sob direo de suaala revolucionria, os bolcheviques.

    Os operrios, os camponeses e os soldadosproclamaram a vitria do novo pas:

    a Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS).Era uma derrota total do sistema capitalista.

    Era a implantao de um novo regime, o socialismo,por alguns chamado de comunismo.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 13

    A OIT deveria estabelecer normasuniversais de funcionamento das relaes en-tre capital e trabalho. Deveria exigir que nospases-membro se aplicassem leis trabalhistasparecidas.

    Nesse sentido, a OIT a cada sessoanual, soltava suas orientaes em docu-mentos chamados de Convenes, cadauma com um nmero. So as chamadasConvenes da OIT.

    Uma das decises deste Tratado foi a criao da Sociedade das Naesque deveria ser uma espcie de ONU dos nossos dias. Outra deciso

    foi que todos os pases deveriam ter uma legislao trabalhista parecida.Para isto decidiu-se criar a Organizao Internacional do Trabalho (OIT).

    Mas para que foi criada a OITNo foi porque os patres e os vrios governos capitalistas do mundo

    estavam com d dos coitadinhos dos trabalhadores.Foi por dois motivos muito simples.

    1- O primeiro motivo porque estavam com medo que a mesma revoluo feita pelos operrios russos se espalhasse pelo mundo. Queriam impedir o avano da revoluo socialista. A OIT deveria ser um poderoso instrumento para combater a possibilidade de novas revolues.

    2- O outro motivo pelo qual a OIT foi criada era a de garantir uma concorrncia em iguais condies entre os pases. Todos teriam leis parecidas e conseqentemente custos do trabalho parecidos.

    Tanto que a nova Rssia, a URSS, no fazia parte da OIT e condenava a prtica daOIT de semear a idia de tripartite. Uma iluso de unir capital e trabalho e umamentira que apresentava os governos como uma terceira parte neutra.

    Na primeira reunio da OIT, em outubro de 1919,foi divulgada a Conveno N1 que definia

    que todos os pases adotassem a semana de 48 horas,ou seja, uma jornada de 8 horas.

    Assim acabariamas lutas e as greves por esta reivindicao...

    Pelo menos esse era o sonhodas burguesias dos vrios pases.

    Nas primeiras dcadas do sculo 20, pouco a pouco, aps quase cem anosde lutas para reduzir e fixar a jornada em 8 horas,

    quase todos os pases regulamentaro a jornada e a fixaro em 8 horas.

    Em 1918, acabou aquela que foi co-nhecida como a primeira Grande Guerra, ou1 Guerra Mundial.

    Logo em seguida, todos os pases en-volvidos se renem em Paris e Versailles paraestabelecer as condies da paz.

    ?

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 14

    A conquista das 8 horas em alguns pases:

    A reduo da jornada nos primeiros 70 anos da industrializao1817 Robert Owen, socialista utpico, introduz em suas fbricas

    experimentais, na Inglaterra, a jornada de 8 horas.1827 Greve dos carpinteiros de Philadelfia (EUA) pela reduo

    da jornada.1827 Em Nova Iorque, acontecem as primeiras manifestaes

    pelas 8 horas.1833 A Inglaterra fixa horrio de trabalho entre 5h30 e 20h30,

    com intervalo de 1h30 para as refeies. Fica proibido o trabalho paramenores de nove anos de idade.

    1836 Na Frana, dois anos de grandes lutas pela reduo do horrio.1841 Aps greve que pra Paris (Frana), nova legislao limita em 8

    dirias horas o trabalho de crianas de oito a 12 anos deidade e em 12 horas daquelas com idade entre 12 e 16 anos.

    1847 Trabalhadores da Inglaterra, da indstria txtil,reduzem a jornada de 13 para 10 horas dirias.

    1848 Na Frana o trabalho dos adultos limitado em 10 horas, em Paris,e em 11 horas, no interior. A lei, no entanto, derrubadarapidamente pelos patres, voltando jornada de 12 horas.

    Na Inglaterra, o horrio de trabalho reduzido para 10 horaspara mulheres e crianas.

    1850 Jornada de 10 horas derrubada pelos empresrios, na Inglaterra. Nasce, nos Estados Unidos, a Liga das 8 Horas

    1861 Na Inglaterra, a jornada volta a ser de 11 horaspara mulheres e crianas.

    1871 - A Comuna de Paris estabelece a jornada de 10 horas.Com o fim da Comuna, trs meses depois, essa conquista serperdida.

    ObservaesAno

    1868

    1908

    1909

    1912

    1914-18

    1919

    1919

    Ps-1920

    1932

    Pas

    Estados Unidos

    Gr Bretanha

    Blgica

    Estados Unidos

    Europa

    Gr-Bretanha

    OIT

    Mundo

    BRASIL

    Para funcionrios do servio federal

    Para trabalhadores das minas

    Para trabalhadores das minas

    Para trabalhadores das estradas de ferro

    Durante a Guerra Mundial, em muitos pases

    Todo trabalhador ingls j trabalhava 8 horas

    Na Conferncia de Washington, a Conveno n1

    recomenda a todos os pases as 8 horas

    Quase todos os pases implantama jornada de 8 horas

    Vargas decreta as 8h para os trabalhadores urbanos

    As leis trabalhistas ainda no existem para os rurais

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 15

    As lutas do 1 de Maioe as 8 horas no Brasil

    O Brasil chega fase da industrializao com cem anos de diferena em relao aospases europeus. A escravido em nosso pas s acabou, oficialmente, em 1888.

    Acabou o regime de escravido, no se fez a reforma agrria, e as conseqncias estoa at hoje: milhes de miserveis sem ter como viver, sem terra, sem teto, sem nada.

    Com o fim da escravido, os governosda poca chamaram milhes de imigrantes dosul pobre da Europa. E assim, na ltima dcadado sculo 19 e na primeira do sculo 20, che-garam ao Brasil cinco milhes de italianos,espanhis, portugueses, eslavos e, depois,japoneses e rabes. Nessas duas dcadas come-aram as primeiras indstrias em So Paulo,Rio, Recife e algumas outras poucas cidades.

    A indstria cresceu devagar, quasetudo era importado da Europa ou dos Estados

    Unidos. Em 1930 havia menos de 300 miloperrios em todo o Brasil.

    O Brasil, at os anos 1930, era um pasagroexportador. Vivia, sobretudo, do caf, a-car, carne, couro; enfim, produtos primrios.

    Com a proclamao da Repblica, o pascontinuou nas mos dos mesmos latifun-dirios: os bares do caf de So Paulo, osdonos de gado de Minas Gerais, os donos deengenho e canaviais do Nordeste.

    A filosofia poltica dominante era o liberalismo. Uma viso polticaque no admitia nenhum direito para os trabalhadores.As questes sociais e os problemas com os trabalhadores

    eram resolvidos nas patas dos cavalos.

    Desde a primeira comemorao internacional do 1 de Maio, em 1890,at a primeira manifestao realizada no Brasil, passam-se cinco anos.

    Santos, grande cidade porturia, no litoral paulista, foi a sede da primeiracomemorao do Dia Internacional do Trabalhador. Houve manifestao

    e se apresentou a reivindicao de 8 horas dirias.A iniciativa foi do Centro Socialista da cidade.

    Mesmo com uma classe operria pe-quena e jovem, logo estouraram as primeiraslutas. A influncia dos operrios imigrantes,de tendncia anarquista, que j tinham tidoalgum contato com as fbricas em seus pases,acelerou a politizao da nossa classe ope-rria. Entre os imigrantes havia uma pequenaparcela muito politizada e disposta a lutar.Assim como tinha acontecido na Europa e

    nos Estados Unidos, aqui tambm se lutoupela jornada de 8 horas.

    Foi assim que logo no 1 de Maio de1890, seguindo a orientao da Internacional,ativistas socialistas, em So Paulo, tentamcriar um Partido Operrio. Um dos itens doprograma do partido dizia que uma das suastarefas era Promover a fixao da jornadade 8 horas de trabalho.

    Entre os trabalhadores a viso dominante era o anarquismo.Este defendia uma sociedade sem explorao e opresso.

    Uma sociedade libertria; ou seja, sem partidos, semgoverno e sem autoridades.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 16

    Cronologia da lutapelas 8 horas no Brasil

    Vamos ver, ano a ano, as principais lutas da recente classe operria brasileira,realizadas no 1 de Maio para conquistar as 8 horas e outras reivindicaes.

    1887 Rio Grande do Sul. Um ano aps o Massacre de Chicago, a Unio Operria

    apresenta a pea O 1 de Maio.

    1890 No Mundo. O 1 de Maio comemorado, seguindo a orientao da

    Internacional, com greves e manifestaes.

    So Paulo. Em junho, ativistas tentam criar um Partido Operrio.O segundo item do seu programa dizia:

    Promover a fixao das 8 horas de trabalho

    1891 So Paulo. Sai um nmero nico do jornal 1 de Maio.

    Pernambuco. Um deputado estadual apresenta um projeto, que rejeitado, de reduzir a jornada a 8 horas no estado

    1892 So Paulo. Sai o nmero nico do jornal 1 di Maggio.

    Rio de Janeiro. Tentativa de criar um Partido Socialista. Um dos pontos do programa: 8 horas de trabalho

    1894 So Paulo. A polcia prende militantes anarquistas e socialistas que, em

    abril e maio, realizavam a 2 Conferncia dos Socialistas Brasileiros. J tinham decidido:

    Aprovar as resolues da Internacionalde comemorar o 1 de Maio em So Paulo

    1895 Santos. O Centro Socialista realiza a primeira comemorao

    do 1 de Maio no Brasil.

    Rio de Janeiro. Nova tentativa de criar um Partido Socialista. No seu programa consta:

    considerado feriado o dia 1 de Maiopor ser festa do proletariado

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 17

    1900 Santos/SP. Um grupo de ativistas funda o Crculo Operrio com o nome:

    Sociedade 1 de Maio.

    1901 So Jos do Rio Pardo/SP. O Clube Internacional Filhos do Trabalho

    no 1 de Maio lana um manifesto escritopor Euclides da Cunha.

    Rio de Janeiro. Em outubro, greve dos trabalhadores das pedreiras pelas8 horas. A jornada passa de 12 para 10 horas.

    1902 So Paulo. Mais uma tentativa de se criar um Partido Socialista.

    No seu programa mnimo:

    1903 No Brasil inteiro. Aumentam as greves pelas 8 horas.

    Rio de Janeiro. Txteis conseguem 9 horas e meia.Vrias profisses da construo civil reduzem a jornada.

    1906 Rio de Janeiro. A Federao Operria do Rio de Janeiro convida

    associaes e sindicatos de vrios estados e realizarum Congresso Operrio. No Congresso, foram reafirmadas asteses do sindicalismo anarquista que era amplamentemajoritrio entre os operrios imigrantes vindos da Europa.Este delibera que em todos os anos se comemore o 1 de Maio...

    Horrio de, no mximo, 8 horas de trabalho

    ...e que em 1 de Maio de 1907 se faauma greve pelas 8 horas

    A data do 1 de maio (...) uma festa exclusivamente popular,ela se destina a preparar o advento da mais nobre e fecundadas aspiraes humanas: a reabilitao do proletariado paraa exata distribuio de justia, cuja frmula suprema consiste emdar a cada um o que cada um merece. Da a aboliodos privilgios derivados quer da fortuna, quer da fora.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 18

    Abaixo a guerra, queremos a pazPaz entre ns, guerra aos senhores

    1906 Jundia. Em maio, greve de duas semanas na Estrada de Ferro

    exige 8 horas de trabalho.

    1907 So Paulo. 1 de Maio Manifestao operria na Praa da S

    Ocupao policial da praa.Dia 4/5 Comea uma greve generalizada na capital

    e cidades vizinhas.Os motoristas do setor de construo civil chegam a um...

    acordo final: 8 horas a partir de 1/71907

    Rio de Janeiro. Governo edita leis repressivas contra os trabalhadores. A principal, a lei Adolfo Gordo, autoriza a expulso

    de estrangeiros agitadores. Para os brasileiros,ser a deportao para regies insalubres da Amaznia.

    Porto Alegre. Greve geral na cidade conquista 9 horas para todos

    1908 Rio de Janeiro. Uma greve de cinco dias paralisa a Companhia de Gs.

    A cidade fica sem luz.

    Rio de Janeiro. Setores do governo e dos patres querem transformar o 1 de Maio em feriado para esvaziar as lutas... Anarquistas e socialistas lutam contra esta idia

    1916 So Paulo. 1 de Maio contra a guerra. Manifestantes gritam suas

    palavras de ordem.

    A Fora Pblica intervm,prende e fere centenas de trabalhadores.

    Doze ferrovirios so mortos.

    E a msica cantada pelos trabalhadores em todas as greves emanifestaes era A Internacional.

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 19

    1917 So Paulo. Na greve de um ms, entre as vrias exigncias,

    8 horas de trabalho.1918

    Rio de Janeiro. Debates na Cmara Federal sobre a jornada de trabalho.

    1919 Rio de Janeiro. Mais de 60 mil grevistas no 1 de Maio...

    Pelas 8 horas, ao som da Internacional. As palavras de ordem so:

    Recife/Porto Alegre. Barricadas, mortos, feridos, presos.Os empresrios aceitam as 8 horas...mas no as aplicam.

    Salvador. Em junho, greve geral pelas 8 horas. O governador assina a Lei 1309, em 10/6/1919

    8 horas para todos os estabelecimentosindustriais e oficinas pertencentes ao Estado

    1923 Rio de Janeiro. Nas fbricas, os operrios intensificam

    a campanha pelas 8 horas1924

    Rio de Janeiro. Governo edita um decreto:

    considerado feriado nacionalo 1 de Maio

    mas... procura mudar o carter do Dia do Trabalhador

    ...consagrando-se no mais a protestos subversivos,mas glorificao do trabalho ordeiro...

    (Presidente Arthur Bernardes)

    Feriado sim... mas sem as 8 horas

    Viva a Revoluo SoviticaViva Lnin

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 20

    1926 Rio de Janeiro. O Cdigo de Menores estabelece a jornada de seis horas para

    os menores de 18 anos de idade.

    1929 Rio de Janeiro. Grande 1 de Maio, com 20 mil pessoas, na Praa Mau,

    sob a liderana do Partido Comunista.

    1930 Rio de Janeiro. No 1 de Maio, os trabalhadores desafiam a proibio e

    tentam fazer um ato na Praa Mau, dissolvido comviolncia e prises.

    1932Decreto de Getlio Vargas regulamenta,

    s para os trabalhadores da cidade, a JORNADA DE 8 HORAS

    1943 Rio de Janeiro. Vargas consolida a jornada de 8 horas com semana de 48 horas.

    1988 Braslia. promulgada a nova Constituio. Em seu artigo 8, garante uma

    srie de direitos dos trabalhadores, entre eles,a jornada semanal de 44 horas.

    comunistas, socialistas e anarquistas continuam a fazergrandes comemoraes de luta no 1 de Maio

    mas, enquanto isso...

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 21

    Os 1 de Maio de ontem,LIES PARA HOJE

    Vrios setores da construo civil, aps quase um ms de greve, conseguem as 8 horas.Claro que foi s no papel, para acabar a greve. O governo, logo em seguida,

    faz aprovar uma lei que reconhece o direito da existnciados sindicatos e associaes cooperativas.

    Dez anos depois, no Rio de Janeiro,no comeo de 1906, a Federao Operriado Rio de Janeiro (FORJ), convida sindicatose organizaes operrias do pas para umareunio nacional. Em 15 de abril, no Rio,capital federal e maior cidade da AmricaLatina, com meio milho de habitantes,iniciou-se o 1 Congresso Operrio Brasileiro.Uns 50 operrios se reuniram para organizarsuas lutas.

    Decidem criar uma confederaoNacional, a COB, e seu jornal quinzenal, aVoz do Trabalhador. Por deciso unnime,a luta central da recm-criada COB deveriaser a conquista das 8 horas.

    Para isso, a data comum da luta estavamarcada: 1 de Maio do ano seguinte. Um

    dia que fosse um protesto de oprimidos eexplorados. E o Congresso decide incentivaras organizaes (...) para que o operariadodo Brasil no dia 1 de Maio de 1907 imponhaas 8 horas de trabalho.

    Durante aquele ano de 1906, acon-tecem vrias greves pelas 8 horas. Quasetodos os setores da construo civil do Riode Janeiro param e conquistam, pelo menos,momentaneamente, as 8 horas.

    Os ferrovirios de Jundia, a 50km deSo Paulo, fazem uma greve que termina comvrios mortos e feridos e a promessa das 8horas em 1 de Maio de 1907. Em PortoAlegre, em setembro, h uma greve de vriascategorias. Conseguem 9 horas de trabalhoem todas as fbricas.

    Em So Paulo, com quase 300 mil habitantes, a polcia ocupaa Praa da S e ruas prximas para impedir o 1 de Maio. A manifestao no

    acontece, mas, dias depois, trabalhadores param as fbricas da capitale de vrias cidades do interior. Prises e espancamentos de grevistas,

    como de costume. Muitos estrangeiros so expulsos do pas como agitadores.

    Desde 1890, a classe operria, no mundo inteiro, fazia do 1 de Maioo dia internacional de luta dos trabalhadores.

    No Brasil, pequenos grupos de operrios socialistas, j naquele ano,comearam a falar desta data e da luta pela reduo da jornada de trabalho.

    A partir de 1895, em Santos, realizaram-se reuniese pequenas manifestaes para celebrar esta data.

    A luta pelas 8 horas continuarem todos os 1 de Maio seguintes.

    1906-1907: o comeo da industrializao

    No 1 de Maio, a luta pelas 8 horas1

    1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 21

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 22

    Tudo precisava aparecer como algodado, uma ddiva do pai-governo. A leisseriam benefcios outorgados por um gover-no que estaria acima dos interesses dasclasses. Para isso, nada melhor do que doara lei do salrio mnimo exatamente no dia1 de Maio.

    Esquecer o 1 de Maio de luta.A partir do golpe de 1937, Vargas

    impe sua ditadura com dois instrumentosfundamentais: O Departamento de Imprensae Propaganda (DIP), com o papel de disputara hegemonia entre os trabalhadores porintermdio de um poderosssimo instru-mento criado para esse fim, a Hora do Brasil;e filmes, jornais, revistas e festas.

    Se Getlio no conseguisse, por meiode todos aqueles instrumentos de propa-ganda, fazer a cabea dos trabalhadores viaDIP, mandaria o Departamento de OrdemPoltica e Social DOPS rachar suas cabeaspara enfiar nelas suas idias.

    Ou fazer cabeas ou rachar cabeas. assim que a burguesia disputa as cabeas.

    Foi assim que Vargas enche as prisesde presos polticos. Com vinte mil co-munistas, anarquistas e socialistas presos,Getlio tem campo livre para disputar a

    Em 1 de Maio de 1940, GetlioVargas, no estdio de So Janurio, no Riode Janeiro, decreta o salrio mnimo.

    A reivindicao era antiga. Desde 1900,em Paris, o Congresso da InternacionalSocialista tinha recomendado que todos osPartidos Socialistas assumissem esta reivin-

    dicao junto com um maior esforo na lutapelas 8 horas dirias.

    Vargas continua o que vinha fazendodesde que tomou o poder, em 1930: moder-niza o pas com a criao de condies parao desenvolvimento industrial e da legislaotrabalhista.

    O objetivo central desta legislao era controlar a lutade classes e fazer esquecer as trs dcadas de greve,

    manifestaes e resistncia operria.

    cabea dos trabalhadores.

    Em 1 de Maio de 1942, Getlioinaugura a Companhia Siderrgica Nacional(CSN). Nesse dia, ele lana dois grandes mo-vimentos: a batalha da produo e a cam-panha de sindicalizao, com o seguintelema: Trabalhador organizado trabalhadordisciplinado.

    Novo 1 de Maio em 1943. De novo,Getlio, no Estdio de So Janurio, iniciaseu discurso com o seu famoso Trabalha-dores do Brasiiiiiiiiiiilll. E a, dezenas demilhares de trabalhadores desfilam com seusmacaces e enormes fotos do Getlio. Nomeio de vivas ao 1 de Maio e com os novosoperrios da CSN cantando marchinhas paraGetlio, o presidente lhes entrega a CLT.

    o 1 de Maio do governo. O contrriodo que os lutadores operrios do comeodo sculo XX sempre repetiram: Um 1de Maio sem governo e sem patres.

    Mas a II Guerra estava chegando aofim. No Brasil, comea um movimento pelademocratizao do Pas. Em abril de 1945vir a anistia aos presos polticos e alegalizao do PCB.

    O 1 de Maio de 1946 ser diferente.

    2

    1 de Maio: dois sculos de lutas operrias22 -

    1940-1945: A disputa pelo rdio e nos estdios

    Vargas tenta seqestrar o 1 de Maio

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 23

    Crescia o arrocho salarial, a recesso e odesemprego. Nos sindicatos reinavam ospelegos, muitos deles antigos interventores,

    nomeados pelos milicos. A pelegada sentiaa insatisfao de suas categorias e imaginavaformas de simular alguma resistncia.

    L ter maior fora que no resto do Pas. Portrs dessa sigla estavam conhecidos pelegos,interventores militares e alguns pedaos daesquerda tradicional. Contudo, os grupos or-

    Em So Paulo, surge o Movimento Intersindical Antiarrocho-MIAganizados de oposio sindical, junto comos nascentes movimentos de bairro, queainda conseguiam sobreviver perseguio,tentavam furar essa manobra.

    Em 1968, os brasileiros entravam no quarto ano de ditadura...

    o governador da ditadura, Abreu Sodr, juntou-se aos pelegos para uma manifestao quemostrasse um leve descontentamento bemcomportado na Praa da S, centro tradicionaldas manifestaes do 1 de Maio.

    Na capital paulista,nas comemoraes do 1 de Maio...

    Pelo menos era isso que eles esperavam.No contavam com os sindicalistas de oposi-o, com os grupos organizados do movimentoestudantil, que se opunham ditadura, e commovimento de bairro e de periferia.

    Na verdade, o desfecho do 1 de Maio de So Paulorecolocava a velha disputa de hegemonia com a classe patronal

    e seu governo. De quem o 1 de Maio?E quem tem que ter a palavra nesse dia?

    um dia em que os senhores reconhecem a existncia dos escravose lhes distribuem biscoitos, prmios e, hoje, automveis?

    Ou um dia em que a classe trabalhadora reconhece sua prpriaidentidade e sua oposio, enquanto classe, aos exploradores?

    Mal comeou a farsa, vaias, agita-o e pedradas no palanque obrigaram ospelegos e o governador a sarem correndo.Sodr recebeu uma pedra na cabea e foiflagrado saindo de gatinhos, para no levarmais pedradas.

    Enquanto a comitiva se refugiava naCatedral da S, o palanque foi queimado euma passeata desceu a Rua XV de Novembro

    at a Avenida Ipiranga. L, na famosaesquina com a Avenida So Joo, as vidraasda agncia do Citibank, banco visto comoum dos maiores smbolos do imperialismoamericano, foram apedrejadas.

    claro que a direita e sua fiel imprensaconsideraram esse ato uma atitude lamen-tvel, uma provocao, uma falta decivilidade poltica.

    1968: o Dia dos Trabalhadores pertence aos trabalhadores

    Ditadura tenta enganar o povo3

    1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 23

    Operrios e estudantes incendeiam o palanque

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 24

    O 1 de Maio foi, naquele ano, umprimeiro grito de independncia ide-olgica e poltica da nova classe traba-lhadora que entrava em cena aps 1964.

    Dois meses depois, o ministro do Traba-lho, coronel Jarbas Passarinho, que tambmqueria posar de moderno e conciliador, seriaobrigado a engolir uma dura greve, em Osasco,periferia de So Paulo.

    Numa greve que tinha acabado poucosdias antes do 1 de Maio, em Contagem, pertode Belo Horizonte, o ministro tentou enrolaros metalrgicos mineiros e concedeu umabono salarial de 10%.

    Mas esse era apenas o comeode um ano quente

    Com as pedradas de So Paulo caarapidamente a mscara da ditadura. A partirda os militares endureceram o jogo.

    Quebraram imediatamente a greve deOsasco, em julho, e passaram a reprimir maisviolentamente as passeatas antiditadura.

    No ano de 1968 haveria sete mortosnas manifestaes nas ruas e praas do Pas.

    Em 13 de dezembro, a ditaduradaria um golpe dentro do golpe: o AtoInstitucional n 5 (AI-5). Durante 10 anosqualquer manifestao ser violentamentereprimida.

    A partir da, o 1 de Maios voltaria praa pblica

    em 1977, em Osasco,cidade operria ao lado de So Paulo.

    1 de Maio: dois sculos de lutas operrias24 -

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 25

    A CUT foi fundada em 1983. Mas de fato ela j estava sendo gestada naquele1 de Maio de 1980, no estdio de Vila Euclides, em So Bernardo.

    A dvida era: sair ou no sair em pas-seata. Vrios deputados e at um senadorestavam presentes para evitar um desastre.

    No final, a passeata ocupa a rua

    E assim, no dia, milhares de trabalhadorese lutadores do povo, da cidade e do campo,de todos os Estados do pas confluram para

    o grande 1 de Maio de So Bernardo. A ditadura no queria admitir o desafio desta manifestao.

    As rdios aterrorizam a populao.So Bernardo se torna uma praa de guerracom mais de cinco mil agentes da represso.

    Os manifestantes se concentram na catedral e ruas adjacentes.

    Em 1980, acontece a segunda grande greve de So Bernardo

    Em 1979, o 1 de Maio comea a voltar cena

    A ditadura estava desgastada, mas nomorta. Joo Figueiredo deixava seus generaisocuparem Braslia e seus servios especiaisexplodirem bombas no Riocentro.

    O 1 de Maio daquele ano seria dife-rente dos outros anos de ditadura. Desde

    1977 ocorreram tmidos ensaios para co-memorar o Dia dos Trabalhadores em praapblica.

    Em Osasco, periferia de So Paulo, nomesmo ano, foi armado o primeiro palanquede 1de Maio ps-1968.

    As greves tinham explodido com vigorno setor metalrgico de So Bernardo doCampo e de So Paulo.

    Nesse anos so realizadas mais de 430greves com trs milhes de grevistas.

    A represso foi dura. Sete operriosurbanos foram mortos em piquetes. Nocampo, latifndio e governo continuam atradicional chacina de lideranas para im-pedir a Reforma Agrria.

    O movimento engrossar uma longalista de greves, na data do reajuste dacategoria. Os metalrgicos estavam em grevedesde o ms de abril. Uma greve pesada, com

    cassao e priso da diretoria sindical elderes operrios. Lula estava na priso e ostrabalhadores estavam decidindo fazer o 1de Maio em So Bernardo.

    principal de So Bernardo, passa peloPao Municipal e continua rumo ao es-tdio de Vila Euclides. A polcia bate emretirada pouco a pouco.

    1980: 1 de Maio em So Bernardo

    Debaixo dos helicpteros nasce a CUT

    Cem mil manifestantes ocupam as ruas da cidade.

    4

    1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 25

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 26

    As faixas estendidas no estdio dizem tudo:

    Mas, nem todo mundo estava l. Umaparte do movimento sindical brasileiro serecusara a ir para So Bernardo. Discordavade quase tudo: da ttica estratgia. Essegrupo, anos depois, funda a CGT.

    A maioria dos lutadores do povo parti-cipa do 1 de Maio de 1980. Uma imagemforte: eles acenam suas bandeirinhas do Brasilpara os helicpteros do Exrcito ou da PolciaMilitar que sobrevoam sobre 100 mil cabeas.

    Lula tambm no est l. Junto commais de 50 companheiros, Lula est nas pri-

    ses da ditadura. Sua presena fortssimaentre aqueles milhares de trabalhadores.Naquele dia se tornar uma liderana nacional.

    Podemos dizer que ali nascia a CUT.Uma Central surge das lutas e da disposiode enfrentar governo e patres. Uma Centralque nasce contra a lei para criar uma outralei. Nos seus estatutos, em 1983, a novaCentral escreve a sua marca mais importante:uma Central que deve lutar pelos interessesimediatos e histricos dos trabalhadores. Poruma sociedade socialista.

    O Brasil no estdio de Vila Euclides.Gente da cidade, do campo, de todos os Estados.

    De Pernambuco, os companheiros tra-zem dois sacos de dinheiro amassado, notaspequenas recolhidas na periferia para ajudaro Fundo de Greve. Do Par, chega gente que

    enfrentou uma viagem de oito dias: barco,caminho, nibus. Gachos vm com suasbombachas e piauienses com seus chapusde couro.

    Viva o 1 de Maio. O Sindicato vocFim da interveno

    Autonomia e liberdade sindicalTrabalhador unido jamais ser vencido

    A greve continua

    Este o desafio e o programa daquele instrumento de organizaodos trabalhadores que estava sendo gestado naquele 1 de Maio de 1980.

    1 de Maio: dois sculos de lutas operrias26 -

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 27

    A partir do 1 de Maio de 1998, o Brasil assiste tentativa de uma centralsindical, criada em 1991 pelo Governo Collor e pelos patres,

    de acabar com o 1de Maio de luta.Os empresrios comeam a financiar shows, festas e sorteios para tentar

    apagar da histria os mais de cem anosde lutas e conquistas da classe operria do mundo.

    No Dia dos Trabalhadores, a Fora comea a reunir multidespara legitimar sua ao na destruio das 8 horas e de outras conquistas.

    Para encobrir essa traio e dar-lhe legitimidade,era necessrio uma manifestao de um milho de pessoas.

    Na disputa para se legitimar e mostrarque representa os trabalhadores e no ospatres, a Fora Sindical faz qualquer coisa.Em 1998, ela quer levar os trabalhadores,que dizia representar, a aceitar o plano doFMI e do Governo Fernando Henrique deacabar com qualquer direito trabalhista.

    Justamente naquele momento, ospatres passam a financiar festas no 1 de

    Maio para tapar o sol com a peneira.Para esquecer que mais de cem tra-

    balhadores morreram fuzilados, no distanteano de 1886, em Chicago (EUA). Esqueceros cinco lderes condenados forca. Esquecerque o 1 de Maio consagrado luta inter-nacional pela conquista de direitos e suafixao em lei, e, principalmente, pelareduo da jornada de trabalho.

    A Fora passa a reunir, num crescendode ano a ano, seiscentos mil, novecentos mil,um milho e meio de pessoas nessas festas. Attica imediata era faz-las levantar a moquando seus chefes perguntassem: Quem afavor da gerao de trabalho para todo mundo?E logo em seguida mais uma pergunta: Quem

    a favor de modernizao das leis trabalhistaspara gerar emprego para todo mundo? Aresposta vem como est programado:unanimidade a favor da flexibilizao que a Foraestava propondo, h tempos. Modernizao quesignifica flexibilizao, que significa retiradapura e simples de antigos direitos.

    1998: Fora Sindical envergonha o Dia do Trabalhador

    A negao do 1 de Maio comsorteios e patrocnios dos patres

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    5

    O bilhetedavergonha

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 28

    O expediente para atrair at doismilhes de pessoas, em 2002, foi logoachado: sortear carros, geladeiras, motos,liqidificadores. Em 1998, foram cincocarros. Em 1999, dez. Em 2000, atapartamentos mobiliados so sorteados. Nosanos seguintes os prmios aumentam. E o

    povo vem sem saber absolutamente porque,mas participa. Ou melhor, sabe exatamenteporque est l: para ganhar prmios.

    Nada a ver com o verdadeiro 1 de Maiode luta e mortes pelas 8 horas e pelos direitosdos trabalhadores. Um 1 de Maio para lutare conquistar mais direitos.

    Enquanto a Fora faz sorteios e showsem So Paulo, a Social Democracia Sindical(SDS), central sindical que rachou com aFora, mas continua sua filha legtima, fazseu show no Rio de Janeiro. Ela afirma queinovou ao inventar um tal Mutiro daCidadania. Nome dado enorme fila dedesempregados que eram cadastrados, paraum possvel emprego no futuro, no estande

    da Central. Mas a maior inovao nesseMutiro da Cidadania so os vrios serviosque a SDS, junto com o Ministrio doTrabalho, oferece ao povo. So montadosbarraces para tudo: tirar carteira detrabalho, medir presso arterial, ensinar aescovar os dentes e, numa barraca especial,cortar os cabelos. Tudo grtis, dizia o pan-fleto da Central, filha da Fora.

    A Fora Sindical precisava de mais gente.A Central dos patres

    passa a se vangloriar nos jornaisque est fazendo

    o maior 1 de Maio do mundo

    Certamente, os mrtires do 1 de Maio de Chicagodeviam estar se remexendo

    nos seus tmulos.

    O Estado de S. Paulo02-05-2000

    At os jornales da imprensa burguesaestranham esse carnaval fora de pocaque nada tinha a ver com os 1 de Maio de

    luta que durante mais de cem anos foramorganizados no Brasil. Em 2000, o conservadorO Estado de S. Paulo noticia o show-sorteio:

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  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 29

    Os milhares de operrios do mundo inteiro que morreram,foram presos, torturados ou perseguidos devido luta

    pelos direitos dos trabalhadoresou em manifestaes do 1 Maio,

    certamente devem estar se revoltando nos seus tmulos.

    O jornal conservador assimdescreve aquele 1 de Maio:

    Nada de discursos ideolgicos ou protestos

    contra a poltica econmica do governo. A maioria

    absoluta das cerca de 900 mil pessoas presentes

    ao show promovido pela Fora Sindical ontem, na

    Praa Campo de Bagatelle, zona norte de So Paulo,

    queria apenas ouvir seus cantores favoritos e

    concorrer aos prmios oferecidos pela central

    sindical. Tradicionais slogans, como o povo unido

    jamais ser vencido, deram lugar a gritos

    histricos desferidos por adolescentes fanticas

    por pagode e msica sertaneja.

    (OESP, 2/5/2000)

    O Dia do Trabalhador de 2002 foi a re-petio, ampliada, de 2001. O mesmo maior1 de Maio do mundo. Show, sorteios e examesmdicos. O Globo foi explcito ao declarar quaisos objetivos do show: apoiar o fim da CLT, queo Imprio dos Marinho tambm apia:Msica, brindes e discursos no Dia doTrabalho. Festa da Fora Sindical atrai1,5 milho de pessoas para apoiarmudana na CLT. ( O Globo 2/05/2002)

    Estao Documentos, possvel tirar fotospara documentos de RG, carteira profissionale certides de nascimento e casamento. Tudogrtis.

    Novo maio em 2001. Novo show-sor-teio da Fora, em So Paulo. A Folha de SoPaulo, no dia 2, informa ao Brasil sobreaquele fenmeno com o ttulo:

    A festa da Fora realmente bombou.So sorteados dez Corsas novos e cincoapartamentos avaliados em quarenta milreais cada. So oferecidos muitos servios:exames de presso, diabetes, obesidade,audiometria, glaucoma e muito mais. Umaequipe de 100 cabeleireiros atendegratuitamente os trabalhadores. E mais, na

    A segunda manchete diz tudo: Patrobanca a festa de 1 de Maio da Fora.

    No precisa dizer que no palanque damanifestao da outra Central, a CUT, acampanha exatamente ao contrrio. Comum palanque sem ministro e sem sorteiode carros zero km, para um pblico bemmenor, a direo da CUT explica os prejuzosque os trabalhadores vo ter se aceitaremos planos neoliberais do Governo FernandoHenrique Cardoso.

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  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 30

    Anexo 1

    A origem do hino A InternacionalFonte: Florilge de la Chanson Revolutionaire (1995)

    Junto com a bandeira muda o hino nacional.O novo hino nacional

    passa a ser... A INTERNACIONAL.

    Em 1917, explode a RevoluoRussa. Cria-se um governo de ope-rrios e camponeses.

    A velha Rssia passa a sechamar Unio das Repblicas So-

    Em 1910, no Congresso da 2 Internacional,em Copenhague (Dinamarca), o hino ser tocado e cantado por

    uma orquestra e um coral de 500 pessoas. assim que a AInternacional ser consagrada como o hino internacional dos

    trabalhadores.

    Em 1896, no 14 Congresso do PartidoOperrio Francs, A Internacional tocada ecantada pelos delegados.

    Em 8 de dezembro de 1899, vriastendncias presentes no fechamento do Congresso

    A Internacional comea a ser cantada por gruposde operrios socialistas e anarquistas a partir

    do comeo da dcada de 1890.

    O poema que deu origem ao hino AInternacional foi escrito em junho de1871, por um lutador sobrevivente daComuna de Paris, Eugne Pottier.

    Em 1887, ele publicou uma coletneade seus poemas, entre os quais estava AInternacional. Pottier conta que comps a

    poesia em junho de 1871, pouco depois daderrota da Comuna, mas s a publicou pelaprimeira vez naquela coletnea.

    A msica ser composta por umbelga de nome Pierre Degeytter, para umcoral operrio da cidade de Lille, norteda Frana.

    Operrio Unitrio, em Paris, cantam o hino.Em setembro de 1900, durante o 5

    Congresso da Internacional Socialista, A In-ternacional cantada por todos os delega-dos presentes.

    cialistas Soviticas (URSS).A cor da bandeira russa passa a

    ser vermelha, com os smbolos dotrabalho no campo e na cidade: afoice e o martelo.

    (A Internacional deixou de ser o hino da Unio Sovitica, em 1944)

  • 1 de Maio: dois sculos de lutas operrias - 31

    Anexo 2

    O hino A Internacional no Brasil

    No Congresso de fundao da CUT, em1983, a bandeira escolhida a vermelha. No7 Congresso da CUT, realizado em agostode 2000, j s vsperas do sculo 21, AInternacional cantada em vrias ocasies.

    No comeo dos anos 80, junto com a explosodas greves e o aparecimento em pblico das organizaes

    e partidos de esquerda,A Internacional e as bandeiras vermelhas

    voltam s mos de milharese milhares de trabalhadores

    do PT, PCB, PCdoB, PSTU e P-SOL.

    Aps a 2 Guerra Mundial, os comu-nistas voltam, vitoriosos, com suas bandei-ras vermelhas e seu hino.

    assim at que, novamente, o golpe

    O mesmo se repetiu no 1 de Maio de1907, quando comea uma greve, quedurar quase um ms, pelas 8 horas epor aumento de salrio.

    J em 1 de Maio de 1906,A Internacional cantada

    numa manifestao em So Paulo.

    Na mais clebre dessas greves, aGreve Geral de So Paulo, em julhode 1917, o hino ser cantado entrevivas a Lnin e Revoluo Russa.

    Durante a dcada de 1920, em todos os 1 de Maio, anarquistas e comunistas,uns com bandeiras negras, outros com bandeiras vermelhas, cantam a

    Internacional. Assim vai ser at a ditadura de Getlio Vargas, que impe o silncio da represso, em 1937.

    militar de 1964 proiba a presena de nossasbandeiras e o canto do nosso hino. Mas, nofinal da dcada de 1970, a noite da Dita-dura estava chegando ao fim.

    Se encerrava o sculo 20, o sculodo Quarto Estado. O sculo da entradaem cena da classe trabalhadora quelutou durante 100 anos com a mesmatrilha sonora: A Internacional.