1308404106_arquivo_aspectosdepoliticaslinguisticas[conlab]

Upload: pqlp-timor-leste

Post on 14-Apr-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    1/18

    ASPECTOS DE POLTICAS LINGUISTICAS: O CASO DE TIMOR-

    LESTEEveraldo Jos Freire

    CE Pres. Costa e Silva Ncleo de Ensino-Aprendizagem de Portugus como Lngua

    Estrangeira (NEAPLE)/Universidade Federal de Sergipe (UFS)

    [email protected]

    Preliminares

    O programa lingustico proposto por Geoffrey Hull para o Timor-Leste e

    analisado no captulo 4 desta Dissertao resulta de uma poltica lingustica que se

    descortina para uma perspectiva mais ampla de expanso da lusofonia.

    Discutimos aspectos de polticas lingusticas como prticas sociodiscursivas

    com o objetivo de compreend-los na perspectiva dos movimentos dos grupos sociais,

    que concebem a lngua como um corpo simblico-poltico, por eles representado numa

    multiplicidade de instncias, sob diferentes acepes e classificaes: lngua (materna,

    oficial, de trabalho, contato de lnguas, em contato etc) e idioma (TURAZZA e

    CORRA, 2008). A compreenso das polticas lingusticas no mbito discursivo

    possibilita tratar dessa questo na instncia mesma do discurso, e no como um dado a

    priori, alheio s prticas sociais e contextualizao histrica e cultural.

    Apresentamos tambm um quadro classificatrio das lnguas faladas em Timor

    com algumas observaes e nfase no Ttum, visto que se tornou uma lngua oficial, ao

    lado do Portugus e no tocante s polticas lingsticas em Timor-Leste, percebe-se queapesar de o enunciador asseverar que no elaborou um plano que atendesse a uma

    agenda neocolonialista, mas inclusivo, verificamos uma contradio nesse sentido e,

    embora no se questione a escolha dos leste-timorenses, elevar uma segunda lngua

    oficial sem um planejamento de corpus torna essa opo alvo de problematizao, assim

    como um possvel sabir ou crioulo, nos mesmos moldes, algo mais problematizador

    ainda, independentemente da afirmao de Carneiro (2010, p. 3168): a maior parte dos

    professores em Timor-Leste no tem pleno domnio das lnguas oficiais.

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    2/18

    Apresentamos tambm planejamento que foi empreendido em Timor-Leste no

    tocante s lnguas oficiais, atravs da aplicao do segundo modelo de Haugen (1983),

    cuja implementao de um planejamento de status, sem correlao com um de corpus

    parece responsvel pela sua ineficcia, at os dias de hoje.

    1.1 Poltica lingustica e planejamento lingstico: prticas complementares

    Reunimos tericos como Louis-Jean Calvet, por trazer uma problematizao de

    forma mais geral em torno da diferenciao da poltica lingustica como determinaodas grandes decises referentes s relaes entre as lnguas e a sociedade (CALVET,

    2007, p. 11) e do termo planejamento lingustico sua implementao, cuja

    indissolubilidade salutar, pois a poltica lingustica inseparvel de sua aplicao e o

    livro de Calvet dedicado a esse binmio: poltica lingstica e planejamento

    lingustico. Alm disso, ele a historiciza enquanto disciplina e traz modelos e exemplos

    de polticas lingusticas traadas em outro pases, dentre eles, a Indonsia. Essa

    terminologia tambm pode ser lida como poltica de lnguas e Orlandi (2007, p. 07)

    quem nos explica:

    Quando se fala em poltica lingustica, j se do como pressupostas asteorias e tambm a existncia da lngua como tal. E pensa-se na relao entreelas, as lnguas, e nos sentidos que so postos nessas relaes como sefossem inerentes, prprios essncia das lnguas e das teorias. Fica implcitoque podemos manipular como queremos a poltica lingustica.

    Planejamento lingustico um sintagma proposto por Einer Haugen, em 1959,

    em um trabalho sobre os problemas lingusticos da Noruega, em torno da interveno

    normativa do Estado para construir a identidade nacional, depois de sculos dedominao dinamarquesa. Orlandi assevera que este s concebido como poltica

    lingustica quando se trata da organizao da relao entre as lnguas, em funo da

    escrita, de prticas escolares, do uso em situaes planificadas (IBIDEM, PASSIM).

    Entretanto,

    quando falamos de Poltica Lingustica enquanto Poltica de Lnguas,damos lngua um sentido poltico necessrio. Ou seja, no h possibilidadede se ter lngua que no esteja j afetada desde sempre pelo poltico. /.../Assim, quando pensarmos em poltica de lnguas j pensamos de imediato

    nas formas sociais sendo significadas por e para sujeitos histricos esimblicos, em suas formas de existncia, de experincia, no espao polticode seus sentidos. (ORLANDI, 2007, p. 08).

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    3/18

    Essa discusso ser til para entendermos uma das dimenses do discurso de

    Hull em torno do que ele chama de , que est no ttulo de seudiscurso e os ttulos so uma forma de chamar a ateno para aquilo de mais

    importncia:

    No programa lingustico que acabo de descrever, existe espao para todas aslnguas que fazem parte da cultura de Timor Leste. Um programa lingusticoinclusivo o nico remdio contra tendncias polticas culturalmentecontraproducentes que pretendem excluir uma ou outra lngua (HULL, 2000,p. 10).

    Assim, sabemos de antemo que Hull props um programa lingustico, que no

    desconsiderou, por parte dele, aspectos culturais e polticos. Ele diz (2000, p. 09), por

    exemplo, que deve ser evitada a todo o custo uma poltica que ignore, ou pior ainda,

    que reprima a diversidade lingustica, como fazem tipicamente os governos fascistas

    influenciados pela filosofia jacobina sada da Revoluo Francesa.

    No momento, nos interessa entender a dimenso do conceito do ponto de vista

    terico e deixar claro que a noo de poltica lingustica neste trabalho est voltada para

    o aspecto discursivo e no, necessariamente, o sociolingustico e o reconhecimento de

    ter sido na Sociolingustica que essa rea comeou a ser desenvolvida.

    No mais, o termo poltica lingustica muito recente no Brasil, ao contrrio do

    que ocorre na Argentina, por exemplo, e nos pases andinos. Enquanto disciplina, a

    poltica lingustica nasceu na segunda metade do sculo XX, associada ao

    plurilinguismo e sua gesto. Associa-se a mudanas que levaram alteraes no

    estatuto de diversas sociedades que integram a cidadania, como ocorreu na esteira do

    processo de descolonizao da sia e da frica, a partir dos anos 1950, entre outros.

    O tema acerca do planejamento lingustico retomado por Haugen em 1964

    num evento que marcou o nascimento da sociolingustica, sendo considerado porFishman como sociolingustica aplicada, que alternava abordagens mais gerais e esudos

    de caso (a Albnia, a Indonsia, a Malsia, o Vietn etc) (CALVET, 2007, p. 13-15).

    Calvet (2007) historia ainda que, paralelamente, a noo de poltica lingustica

    aparece em ingls (1970), espanhol (1975), alemo (1981) e francs, cuja relao de

    subordinao com o planejamento lingustico deve ser evidente. Dessa forma:

    para Fishman, o planejamento a aplicao de uma polticalingustica, e as definies posteriores, em sua variedade, no ficaro

    muito longe dessa viso. Em 1994, por exemplo, Pierre-tienneLaporte apresentaria a poltica lingustica como um quadro jurdico e areorganizao lingstica como um conjunto de aes que tem por

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    4/18

    objetivo esclarecer e assegurar determinado status a uma ou maislnguas (CALVET, 2007, p. 15).

    Desse modo, esse sintagma language planning cobriu um domnio, cuja origem

    nessas duas aes complementares visvel, mas que preciso discernir: as decises do

    poder (a poltica) e a passagem ao (o planejamento) (CALVET, 2007, p. 17).

    1.2 Lngua [como prtica social]versus

    Idioma [como prtica legitimada]

    Mattoso Cmara (1998, p. 142) leva em considerao apenas o estado poltico

    para a existncia de idioma, cujo termo com que se insiste na unidade lingustica

    inconfundvel, de uma nao em face das demais. J Turazza e Corra (2008),

    embasadas teoricamente em Chaves de Melo (1946), levam em considerao tambm as

    matrizes culturais para conferir a identidade idiomtica de grupos sociais, cuja

    historicidade, espao geogrfico e arquiteturas diferentes, conferiam carter peculiar, no

    uso, lngua usada por diferentes comunidades lingusticas, ilustrando com o caso

    brasileiro (portugus do Brasil) e argentino (espanhol rio-platense), tratando-os como

    idiomas, e suas bifurcaes de mesmos sistemas lingsticos portugus e espanhol

    para lidar com grupos fraseolgicos e expresses idiomticas, no tocante a empreitada

    dos dicionrios de equivalncia.

    Diante da importncia do binmio unidade-diversidade, apontado por Chaves de

    Melo (1946), as autoras afirmam que uma lngua sempre um conjunto de variedades

    inscritas na sua prpria unidade (TURAZZA e CORRA, 2008, p. 276), acentuandoque a variedade, contudo, demora a se instalar no corpo de uma lngua, de tal sorte que,

    para que isso ocorra, supem-se o espao e o tempo como duas categorias sociais de

    total importncia nesse processo (IBIDEM, p. 277).

    Chaves de Melo se refere lngua comum ou coincuja formao se explica

    como um dialeto que teve hegemonia poltica e, tornado oficial, passou a ser imposto a

    todas as regies sujeitas mesma soberania; razo de ser de uma lngua oficial,

    tambm chamada norma padro e que Turazza e Corra (2008, passim) designam

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    5/18

    normal culta padro: aquela oficializada por projeto poltico estatal cuja planificao

    sustentada por instituies escolares /.../.

    Concluem as autoras, aps discorrer sobre o caso brasileiro, que logo, um

    mesmo sistema lingstico, como o portugus, explicita-se por vrias arquiteturas,

    vrios idiomas, dentre os quais se situa o brasileiro (IBIDEM, p. 279).

    1.3.1 Lnguas: lnguas em e contato de lnguas

    Couto afirma que a expresso mais corrente, desde Weinreich (1953), lnguasem contato, no entanto, ele prefere a formulao mais genrica contato de lnguas,

    baseado na premissa que o primeiro sugere uma viso esttica do fenmeno, cuja

    consonncia estaria com a postura estruturalista de Weinreich e obras contemporneas,

    assim como de muitas que se lhe seguiram, pois quase todas elas tomavam os

    fenmenos lingusticos de uma perspectiva exclusivamente sincrnica. Quanto

    expresso contato de lnguas, Couto assevera que alm de parecer mais neutra a esse

    respeito, pode ser entendida tambm de uma perspectiva diacrnica, evolutiva ou

    gentica e usa esses termos para defesa de seu posicionamento. Em segundo lugar,

    adverte ele que no h lnguas livres de contato em sentido amplo, e cita como contato

    indireto as viagens e todos os meios de comunicao de massa, alm de reafirmar que

    no existem apenas contatos interlingusticos, mas tambm intralingsticos, ou

    interdialetais, para no falar dos contatos intergeracionais ou etrios. Acresa-se que

    para Talmy Givn, a expresso "lngua de contato" (=lngua mista) vazia de sentido

    uma vez que toda lngua concreta para ele mista em diversos graus, sendo difcil

    quantificar essa gradao. Ainda de acordo com ele "a nica lngua/gramtica que de

    certa forma pode ser considerada 'no-mista' a gramtica universal" (Givn 1979, p 5).

    Em terceiro lugar, Couto menciona que deve ser notado que mesmo quando se fala em

    contato interlingustico, este no se restringe ao ao contato direto entre uma L1

    homognea e uma L2 tambm homognea, seja l o que se entenda por homognea, em

    quarto lugar, salienta o pressuposto bsico para o contato lingstico: a existncia de

    pelo menos duas lnguas. Ele no olvida da importncia do lugar em que se d o contato

    e, por fim, o motivo para o contato:

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    6/18

    Nos contatos que deram lugar maioria dos pidgins e crioulos existentes hojeem dia, via de regra o interesse era dos colonizadores, ou seja, dos falantes deL1. Quando se trata de trabalhadores e/ou imigrantes, como os "Gastarbeiter"

    da Alemanha, o interesse est mais do lado dos falantes de L2. Se a situaode contato se dever a interesses de troca ou de comrcio, o interesse deambas as partes, como ocorria no encontro de russos e noruegueses ao longoda costa norte da Noruega no final do sculo passado e incio do sculo XX.(COUTO, 1999, p. 34).

    O autor tambm explica o seu ponto de vista pela preferncia do termo:

    Minha preferncia pela expresso contato de lnguas frente a "lnguas emcontato" no se deve apenas estaticidade implcita na segunda. Ela tem aver com os objetivos da presente pesquisa, que examinar a formao e atransformao da gramtica crioula. Como se v, trata-se de uma questo

    gentica, diacrnica, portanto no pode ser encarada estaticamente. Quandoencaramos a questo da perspectiva de "lnguas em contato", estamospensando em duas lnguas que esto em contato. Isso tem conseqnciasimportantes para a pesquisa.

    A respeito depidgin sinnimo de sabir, Garmadi (1983, p. 159) acrescenta que

    os sabires no so a primeira lngua adquirida por qualquer dos seus interlocutares, e

    que nunca servem como lngua de intimidade familiar. No entanto, Couto (1999)

    assegura que isso no significa que o conceito de pidgin no seja importante e

    necessrio para caracterizar diversas situaes de uso lingustico resultantes do contato

    de povos e respectivas lnguas. Entretanto, o que pidgin, afinal de contas?

    Partimos da definio de Bickerton (1984, p. 173), que afirmou que pidgin "

    uma lngua auxiliar que surge quando falantes de diversas lnguas mutuamente

    ininteligveis entram em contato estreito". Couto (1999) esclarece que a chave para o

    verdadeiro conceito de pidgin est na palavra "auxiliar", reasseverando as palavras de

    Garmadi (1983), em relao a no ser lngua materna ou primeira de nenhum grupo

    social. Portanto, auxiliar no sentido de servir como lngua de contato entre povos de

    lnguas mutuamente ininteligveis. (COUTO, 1999, 29-30).

    Segundo Derek Bickerton (1984, p. 173), "um crioulo surge quando crianas

    adquirem um pidgin como sua lngua nativa". O sabir ou pidgin, por seu turno, " uma

    lngua auxiliar que surge quando falantes de diversas lnguas mutuamente ininteligveis

    entram em contato estreito".

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    7/18

    Partindo da ilustrao acima, podemos verificar as implicaes dos conceitos

    tradicionais de crioulo" e "pidgin". Como est implcito na definio de Bickerton vista

    acima, umpidgin surge quando um povo dominante e sua lngua (PL1) entra em contato

    estreito com povos dominados e suas lnguas (PL2, PL3, ..., PLn). Pelo termo "estreito",Couto (1999) sugere que Bickerton esteja sugerindo "em um mesmo territrio".

    Assevera que substituindo (PL1) por lngua lexificadora (LL) e (PL2, PL3,...,PLn) por

    lnguas de substrato (LS), verifica-se que de acordo com esse modelo nas fases iniciais

    do contato tem-se um pidgin instvel, ou jargo, ainda sem uma gramtica prpria.

    Couto (IBIDEM) diz que de acordo com esse modelo, o crioulo surge quando o

    pidgin estvel adquirido como lngua materna por crianas da comunidade emergente.

    Portanto, por definio, crioulo um pidgin nativizado, ou seja, todocrioulo um ex-pidgin. Esse processo recebe o nome decriouliazao. Por fim, aps formado (e at mesmo durante oprocesso de sua formao), o crioulo comea a se reaproximar de LL(L1), processo conhecido como de descrioulizao. Um bomexemplo de crioulo em fase adiantada de descrioulizao o

    jamaicano (COUTO, 1999, p. 15)

    1.3.2 Lnguas: lngua de trabalho

    Oliveira e Faulstich (2009, p. 199) dizem que na atualidade, as variedades do

    portugus representam o grau de identidade de cada uma das naes com o idioma

    portugus e o contato deste idioma com as lnguas nacionais. E Leach (2007-2008, p.

    04), aponta como clara implicao o fato de a relao lusfona poder demonstrar ser um

    benefcio para a economia de Timor, embora sugestione que o portugus dificilmente

    se tornar na lngua de oportunidade na regio, porm, acrescenta a evidncia que

    iro existir mais oportunidades, do que as anteriormente previstas, para os timorenses

    falantes de portugus.

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    8/18

    Sousa Galito (2006, p. 08), entendendo a lngua de trabalho termo do sculo

    XXI como potencial comercial e geopoltico, cuja analogia com outro objeto de

    troca/consumo pode ser feita, atribui-lhe, portanto, um valor de uso, um valor de troca,

    um valor simblico e um certo prestgio social.

    1.4 A diversidade de lnguas em Timor-Leste

    Thomaz (2002, p. 21) afirma que a diversidade de tipos fsicos e a variedade de

    lnguas faladas em Timor tm impressionado fortemente os que directa ouindirectamente tm contactado com a ilha; mas poucos se tm ocupado em explic-las.

    Acrescenta ainda que Timor no o mosaico de raas, povos, religies e culturas que

    era, por exemplo, a Guin Portuguesa; mas no h dvida de que a sua populao se

    caracteriza rcica como linguisticamente, por uma heterogeneidade notria (IBIDEM,

    PASSIM).

    Os primeiros contatos, principalmente com chineses e malaios, eram

    corriqueiros, principalmente em virtude da troca de bens e da existncia do sndalo em

    Timor. Mas nada parece ter sido to marcante quanto presena/ocupao/descoberta

    portuguesa, transformando metade de uma ilha no que hoje Timor-Leste (ou Loro

    Sae, em Ttum), na poca das Grandes Navegaes, entre os sculos XIV e XV e mais

    recentemente (1975), a invaso indonsia, que no s transformou a parte leste da ilha

    em sua vigsima stima provncia (Timor Timur, em bahasa indonesia), que seria algo

    meramente poltico, mas ao coagir os leste-timorenses a usar s o indonsio e us-lo

    como instrumento de ensino, se iniciava uma nova mudana cultural, que

    gradativamente foi modificando a mentalidade dos timorenses e o reflexo disto, na

    atualidade, est na populao mais jovem. Nesta poca, Kupang localizada no

    extremo da parte colonizada pelos holandeses, passou ser a capital.

    Thomaz critica o fato de os indonsios terem tornado toda a ilha em um bloco

    isomorfo, atravs de um argumento tambm sustentado por Geoffrey Hull. Assevera

    aquele que na parte oriental, pelo contrrio, a influncia do catolicismo e da cultura

    portuguesa em geral, acabou por conferir uma sensvel unidade a uma populao at a

    caracterizada por uma heterogeneidade evidente (THOMAZ, 2002).

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    9/18

    Estes e outros mitos em torno da unidade que faria de Timor-Leste algo

    completamente diferente da outra metade da ilha so alimentados por estudiosos, cujas

    citaes so obrigatrias para os que se propem a pesquisar acerca de Timor, como o

    caso de Thomaz e Hull.

    Lembramo-nos de um fato ocorrido no segundo semestre de dois mil e sete,

    quando l estivemos para cooperar com a reestruturao do ensino. Embora a

    infraestrutura eltrica, em Dli, j fosse frgil e muitas vezes a dependncia de geradores

    se fizesse notar, numa das noites, a escurido se fez mais escura e dali do primeiro andar

    ao lado do Supermercado Jacinto na Avenida Jacinto Cndido, ouvimos rudos e

    movimentao e em alto e bom tom: Fulan Mate! No eram duas ou trs pessoas a sairs ruas para fazer barulho nos postes. Pegamos o dicionrio e vimos que fulan era lua,

    facilmente confundido com bulan (ms), porm mate, cujo termo eu j tinha visto em

    Uluk Rasik-An ka Mate (Independncia ou Morte) da poca da tentativa de se tornar

    independente em 1975, significava morte. Como podemos apreender contextos usando

    apenas dicionrios? Se tivssemos sado logo, teramos notado um eclipse e o motivo

    pelo qual os timorenses batiam nos postes era para acordar a lua que tinha morrido.

    Essa narrativa serve para atestar o animismo1

    como prtica cultural religiosa, aqual ainda est presente nas Uma lulik (casas sagradas), contrariando o argumento de

    que a influncia do catolicismo tenha conferido unidade. Se assim o fosse, tambm a

    ilha de Flores, na Indonsia, estaria em situao similar.

    Embora concebamos os discursos de Thomaz (2002) e de Hull (2000) como

    corroborao da ideologia das elites (que controlam o acesso), que imputa uma ideia de

    avano rumo civilizao em termos da presena portuguesa em Timor, concordamos

    com a existncia da heterogeneidade at hoje perceptvel; decerto pela impossibilidade

    de presena e controle constantes dos portugueses em virtude da distncia entre a

    metrpole e a colnia, ao contrrio das ex-colnias africanas Angola, Moambique,

    Guin-Bissau, So Tom e Prncipe e Cabo Verde e, da sul-americana, Brasil, cujas

    presena e explorao se deram mais ferrenhamente.

    1 Termo criado pelo antroplogo ingls Sir Edward B. Tylor, em 1871, na obra Primitive Culture Pelotermo, Tylor designou a manifestao religiosa imanente a todos os elementos do cosmos (sol, lua,

    estrelas), a todos os elementos da natureza (rio, oceano, montanha, floresta, rocha), a todos os seres vivos(animais, fungos, vegetais) e a todos os fenmenos naturais (chuva, vento, dia, noite).http://www.huna.org/html/que-xaman.pdf

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    10/18

    Entender a complexidade da sociedade timorense e seus grupos sociais, assim

    como a escolha quase unnime desse povo no apenas para ser independente em relao

    Indonsia, mas tambm sua opo pela lngua portuguesa como oficial (THOMAZ,

    2002; HULL, 2000), outorgando-lhe o carter de idioma tambm naquele lado do

    mundo, leva-nos a optar por um paradigma metodolgico de pesquisa, que Boaventura

    de Sousa Santos (2009) chama de emergente, e isto ajuda a compreender os

    pressupostos de nossa metodologia de estudo, moderna, mas o fato de Timor, por

    exemplo, no ser moderno, no ser desenvolvido, no significa ser cultural ou

    intelectualmente pobre (MORIN, 2000, p. 23).

    Hull (1999, 2002), tambm um dos maiores estudiosos das lnguas de Timor,afirma que Timor-Leste tem dezesseis lnguas indgenas, pertencentes a duas diferentes

    famlias ou phyla, sendo doze dessas lnguas de origem austronsia ou malaio-

    polinsicas, e quatro relacionadas distantemente famlia das lnguas papuas ou indo-

    pacficas (BRITO e BASTOS, 2007, p. 239). O primeiro grande grupo relacionado s

    lnguas faladas na Malsia, na Indonsia (Java, principalmente), nas Filipinas (Tagalog),

    Fiji, Samoa e Nova Zelndia (Maori) e as quatro lnguas do segundo grupo Bunk,

    Makasae, Fataluku e Makalero so distantemente relacionadas s lnguas Papuas dofilo Trans-New-Guinea falado na Pennsula do Oeste Papua (distrito Fakfak)

    (HULL, 1999 e 2002, p.02).

    A classificao de Hull a seguinte:

    Classificao das lnguas de Timor-Leste (Hull, 1999, 2002)

    LNGUAS AUSTRONSICAS LNGUAS PAPUAS (TRANS-NEW-GUINEA)

    1. TTUM:Belo ou Beluns

    Trik

    Dli/Prasa/Praa

    1. Bunak (Bobonaro, Lalotoc, Tilmar, Zumalai eCassa)

    2. HABUN (Manatuto) 2. Makasae

    3. KAIAWMINA (Waimoa, Naueti, Kairui,

    Waimaha, Midiki)

    3. Makalero

    4. IDALAKA (Lakalei, Idat e Isn) 4. Fataluku (Lautm, Lospalos, Lor e Tutuala)

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    11/18

    5. Galoli (Manatuto e Laleia)

    6. Wetarese (Ataro)

    7. Bekais (Balib)

    8. Dawan (do Baikeno ou Vaikeno, em Oecussi)

    Lnguas Ramelaicas

    9. Mambai

    10. Kemak

    11.Tokodede (Vatoboro, Maubara, Liqui e

    Bazartete)

    12. Lovaia (ou Makua)

    Quadro X: Classificao das lnguas do Timor-Leste

    De acordo com Hull (1999, 2002, pp. 08-09), a lngua mambae, em nmero de

    falantes dela como L1 a mais importante no territrio, tendo como principais centros

    so Ermera, Aileu, Remexio, Turiscai, Maubisse, Ainaro e Same, j a lngua makasae

    a segunda mais falada, nos mesmos termos. Lovaia, pouco falada em Tutuala no

    extremo leste e no distrito de Luro (nos entornos de uma zona de falantes de Makasai),

    est em vias de extino. Foi provavelmente a ltima lingual regional a ser introduzida

    em Timor-Leste e os ancestrais dos falantes migraram do sudeste da ilha Moluca This

    language is on the verge of extinction today, with only a handful of elderly speakers

    left: the younger generations have undergone a language shift to Fataluku. Another

    Lvaia colony living further west in the Makasai-speaking district of Luro appears to

    have already lost its language. Makalero (Maklere) falada na costa sudeste de Timor

    no distrito de Iliomar. uma lingual de contato entre Fataluku e Makasae, embora sejageralmente mais similar ltima.

    Ttum o vernculo amplamente mais usado em Timor-Leste e a lngua

    nacional do pas. falado em 3 regies separadas da ilha: 1) do Estreito de Ombai at o

    Mar de Timor com as fronteiras entre o Leste e o Oeste de Timor (dialeto Tetum-Belo

    ou Beluns) e incluindo os vilarejos de Atapupu e Atambua (Timor Oeste), e Balib,

    Fatomean, Fohorm e Suai (Oeste de Timor); 2) a regio da costa sul em volta de Alas,

    Luca e Viqueque, incluindo os reinos antifos de Samoro e Soibada (Ttum-Trik); 3) acidade de Dli e seus subrbios (Ttum Dli ou Ttum-Prasa/Ttum-Praa). Para

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    12/18

    todos os outros em Timor-Leste, Ttum uma segunda lngua. Desde o final do

    estabelecimento da fronteira colonial em 1914, o falantes de Ttum do Nordeste

    (Balib) tm sido separados daquele do Sudeste. As duas variantes de Ttum Belo e

    Trik no so faladas ou bem compreendidas fora de seus territrios onde so faladas.

    O dialeto de maior prestgio o Ttum-Prasa ou Ttum-Praa, cuja metonmia se refere

    a Dli como cidade grande. Apenas no extremo leste (regio de Los Palos) e no

    Noroeste, enclave de Ambeno (Ocussi) no falada nenhuma variedade do Ttum.

    Aqui a segunda lngua o indonsio, cujo papel era do portugus, at 1975. Alguns

    estudiosos apontam apenas duas variedades do Ttum, como Albuquerque (2010, p. 31

    e 33), para quem o Ttum-Praa foi a variedade prestigiada na Constituio.No sculo XV, antes da chegada dos portugueses presentes em Timor desde

    1556, o Ttum espalhou-se por Timor Central e a Leste como lngua de contato sob a

    gide do Reino dos falantes de Beluns de Wehali. Naquele tempo, o mais poderoso

    reino da ilha. Os Portugueses fizeram a maior parte de sua presena no Oeste, onde a

    lngua Dawan era falada e no foi antes de 1769, quando a capital mudou de Lifau

    (Oecussi) para Dli, que o Portugus comeou a promover o Tetum como uma lngua

    inter-regional em sua colnia. Timor era uma das poucas colnias de Lisboa onde umalngua local, e no uma forma do Portugus, tornou-se lngua franca: isto porque as

    regras portuguesas eram mais indiretas que diretas, e os reinos locais acolheram o

    catolicismo e se tornaram vassalos do Rei de Portugal.

    Em 1769, Dli era um distrito de falantes de Mambai e o Ttum falado ali era

    fortemente influenciado pelo Mambai, cujas influncias fonticas, morfolgicas e

    sintticas se fazem perceber at os dias de hoje. Foi essa simplificada (creoulizada)

    forma de Ttum que se tornou a lngua franca de Timor Portugus e tambm a lngua

    usada pelos missionrios catlicos.

    No entanto, o Ttum (como todos os outros vernculos) foi completamente

    excludo do sistema educao durante a presena portuguesa, e foi s no Governo Livre

    de Timor-Leste de 1974-75, que se tomaram medidas para elev-lo publicamente a us-

    lo como meio de educao. Em 1980, a Igreja adotou o Ttum como lngua litrgica,

    mas s depois que o Governo da Indonsia proibiu o uso do portugus. As variedades

    de Ttum faladas em Timor-Leste so massiamente influenciadas pelo Portugus,

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    13/18

    enquanto as vaeridades de Timor Oeste tm uma influncia forte do Malaio-Indonsio.

    A diferena de superestrato responsvel pela inteligibilidade entre as duas variedades.

    Entre as pginas 65-74, Figueiredo (2004) traz bastante informaes sobre

    grupos etnolingusticos do ponto de vista histrico e com riqueza de mapas e detalhes

    sobre esses grupos.

    1.5 O caso leste-timorense de poltica lingustica

    Brito e Corte-Real (2006, p. 124), especificamente sobre aspectos de poltica

    lingustica em Timor-Leste, historiam que as primeiras discusses acerca da lngua aadotar no pas, surgiram depois de 1996, publicamente, numa conferncia intitulada

    its time to lead the way!, em Melbourne, Austrlia. A ideia girava em torno de dois

    motivos: o primeiro deles seriam os pases dispersos, onde se encontravam os

    timorenses como consequncia direta da ocupao indonsia e o segundo deles seria

    qual lngua falava cada um desses grupos nesses pases. Pelo nmero de timorenses em

    comunidades e pela importncia dos pases anfitries, a) Portugal e outros pases

    lusfonos, b) Austrlia e c) Indonsia foram identificados, cujas lnguas para futura

    discusso em torno da oficializao seriam o portugus, o ingls e o indonsio.

    Em 20 de maio de 2002, como uma das mais jovens naes, cujo peso em

    termos de poder econmico e poltico mundial nfimo (CHAU, 2007, p. 28), escolheu

    o idioma portugus como lngua nacional. Esta nao Timor-Leste o oitavo pas a

    integrar a Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa (CPLP).

    No entanto, Correa (2009) assevera que o planejamento lingustico, ou seja, as

    escolhas a serem utilizadas para determinadas funes so atribuies do Estado, o qual,

    em seu campo de atuao, tem poder e meios de passar ao estgio do planejamento, ou

    seja, de pr em prtica suas escolhas polticas.

    Existem dois tipos de gesto das situaes lingusticas: uma que procede das

    prticas sociais (gesto in vivo) e outra da interveno sobre essas prticas (gesto in

    vitro), os quais podem ser sintetizados em planejamento de status e de corpus,

    introduzidos por Heinz Kloss, em 1969.

    O planejamento de status est relacionado ao papel da lngua, s funesque ela vai exercer, seu status social e suas relaes com as outras lnguas(como lngua nacional, lngua oficial, meio de instruo, etc.). Por sua vez, oplanejamento de corpusdiz respeito s intervenes na forma ou variedade

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    14/18

    da lngua que vai ser escolhida como modelo para a sociedade epromovida como tal (criao de um sistema de escrita, neologia,padronizao). (CORREA, 2009, pp. 74-75, grifos nossos)

    Sendo assim, a distino proposta por Klos (1969), que teve repercusses

    importantes uma delas a incorporao ao segundo modelo de planejamento de

    Haugen (1966), afirmava que o planejamento de corpus se relacionava s intervenes

    naforma da lngua (propositura de um sistema de escrita, tratamento dos emprstimos e

    neologismos, padronizao etc), enquanto o planejamento do status se relacionava s

    interferncias nas funes da lngua, ou seja, seu status social e suas relaes com as

    outras lnguas. Calvet (2007, p. 29) exemplifica da seguinte maneira: a) mudanas no

    vocabulrio de uma lngua, criao de novas palavras, luta contra emprstimos

    pertencentes esfera do corpus; b) introduo de uma lngua no ensino, promov-la

    oficialidade esfera do status.

    A partir do exemplo contido em Calvet (2007, pp. 30-32), que sintetiza e utiliza

    o modelo de Haugen no caso da Indonsia, mostraremos ao leitor como ocorreu/tem

    ocorrido no Timor-Leste.

    Modelo de planejamento de status complementar ao de corpus

    Forma

    (planejamento lingustico)

    Funo

    (cultura da lngua)

    Sociedade

    (planejamento do

    status)

    1. Escolha (processo de

    deciso)

    a) identificao do problema

    b) escolha de uma norma

    3.Aplicao (processo educacional)

    a) correo

    b) avaliao

    Lngua

    (planejamento do

    corpus)

    2. Codificao

    (padronizao)

    a) transcrio grfica

    b) sintaxe

    c) lxico

    4.Modernizao

    (desenvolvimento funcional)

    a) modernizao da terminologia

    b) desenvolvimento estilstico

    Quadro Y: Modelo de planejamento lingustico proposto por Haugen (1983)

    O primeiro estgio constitudo pela escolha de uma norma: identifica-se o

    problema (estgio 1a), a questo aqui era saber qual lngua seria a lngua do Estado e,

    nesse caso, o portugus e o ttum foram escolhidos para representar a nao, cujo status

    eram do portugus (1914-1974) e do indonsio (entre 1975-1999) colonizador e

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    15/18

    invasor. Essa deciso foi tomada em agosto de 2002, ou seja, assim que Timor-Leste

    teve sua Independncia consolidada o processo comeara em 1999, aps a sada dos

    indonsios. Temos, neste momento preciso da histria, um exemplo de poltica

    lingustica que pde ser posto em prtica constitucionalmente, pois, como afirmamos, o

    planejamento precisa do Estado. Aconteceu o contrrio com a Indonsia, visto que

    escolheu o malaio bem antes de sua independncia, antecedendo, portanto, a

    constituio enquanto Estado.

    Num segundo momento, essas lnguas seriam padronizadas nos nveis grfico,

    sinttico e lexical (estgios 2 a, b e c). O ttum, assim como o malaio, era uma lngua

    veicular de formas flutuantes e convinha fixar-lhe uma norma. J o portugus, que contacom dois padres internacionalmente aceitos de Portugal e do Brasil, apesar de no

    constar claramente na Constituio norma europeia, tem sido utilizado no pas nessa

    variedade, a despeito de uma suposta variedade timorense do portugus, que ainda no

    se fixou. O Instituto Nacional de Lingustica props uma padronizao e usos que no

    condiziam com as prticas sociais vigentes, querendo o ttum com mais lexias do

    portugus, do que de fato ele era.

    Uma vez que no foram resolvidos os problemas formais, como o foi no casoindonsio, passou-se aos problemas funcionais: difuso da forma estabelecida, sem que

    claramente se soubesse qual era, correo, avaliao (3a, b), o que pde ter sido feito

    porque Timor-Leste j era um Estado, ao contrrio da Indonsia, que s concretizou

    esse planejamento aps tornar-se independente. possvel que essa morosidade no

    processo de independncia tenha contribudo para um planejamento lingustico

    eficiente.

    No de causar espanto que o planejamento lingustico em Timor-Leste no

    tenha sido vivel at os dias de hoje, pelos motivos expostos acima. Finalmente, uma

    implementao exige modernizao (4), ou seja, que se criem o vocabulrio e a

    estilstica necessria s novas funes que as lnguas vo preencher. No caso indonsio,

    Calvet (2007, p. 31) relata que isso foi feito levando em considerao, principalmente,

    palavras malaias, ou em palavras de outras lnguas locais ou de outras lnguas asiticas,

    o Komisi Bahas Indonesia (Comit da Lngua Indonsia), ao contrrio do INL, elaborou

    o vocabulrio funcional da lngua rebatizada como bahasa indonesia (lngua indonsia).

    No caso leste-timorense, embora haja trs variedades de Ttum (Trik, Praa, Belo),

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    16/18

    parece-nos que o ttum-praa, cuja discusso Tetun-prasa: lngua crioula ou pidgin?

    Uma reflexo sobre lnguas em contato! baseada nos pressupostos tericos desses

    captulo em torno de pidgin e crioulo, traz a concluso de que esse Ttum passou de

    pidgin estvel para pidgin expandido por j possuir uma gramtica prpria e para ser

    considerado crioulo, as crianas timorenses teriam que adquiri-la como sua lngua

    materna (GUTERRES, 2008).

    Referncias bibliogrficas

    ALBUQUERQUE, Davi. O ensino de lngua portuguesa em Timor Leste: variedades edificuldades. Interdisciplinar. Ano 5, v. 12, jul-dez de 2010, pp. 31-47.

    BRITO, Regina Helena Pires de e BASTOS, Neusa Maria Oliveira Barbosa. "Hello,

    mister", "Obrigadu barak" e "boa tarde": desafios da expresso lingstica em

    Timor-Leste. Revista ACOALFAplp: Acolhendo a Alfabetizao nos Pases de Lngua

    portuguesa, So Paulo, ano 2, n. 3, 2007. Disponvel em:

    e ou . Publicado em: setembro 2007.

    CARNEIRO, Alan Silvio Ribeiro. Polticas lingusticas em Timor-Leste: tenses no

    campo da formao docente. Cadernos do CNLF, Vol. XIV, N 4, t. 3, 2010.

    www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_4/3167-3179.pdf

    CALVET, Louis-Jean. As polticas lingsticas. So Paulo: Parbola Editorial: IPOL,

    2007.

    CMARA JR, Joaquim Mattoso. Dicionrio de lingstica e gramtica referente

    lngua portuguesa. Petrpolis/RJ, Vozes, 1998.

    CORTE-REAL, Benjamin; BRITO, Regina Helena Pires de (2006). Aspectos da

    poltica-linguistica de Timor-Leste: desvendando contracorrentes. In: MARTINS, M.

    L.; SOUSA, H.; CABECINHAS, R. (Eds.) Comunicao e Lusofonia. Porto: Campo

    das Letras. p. 123-131.

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    17/18

    COUTO, Hildo Honrio do. Contato interlingustico: da interao gramtica.

    Universidade de Braslia, 1999. Disponvel em

    http://vsites.unb.br/il/let/crioul/contato.htm

    BICKERTON, Derek. The language bioprogram hypothesis. The brain and

    behavioral sciences 7(2).173-221. 1984.

    FIGUEIREDO, Fernando Augusto de. Timor. A presena portuguesa (1769-1945).

    Universidade do Porto. Tese de doutorado, 2004.

    FISHMAN, J.A. 2006. Do NOT leave your language alone: the hidden status agendas

    within corpus planning in language policy. Mahwah, Lawrence Erlbaum Associate

    Publishers.

    GAMARDI, Juliette. Introduo socio-lingustica. Lisboa: Publicaes Dom

    Quixote, 1983.

    GIVN, Talmy. Prolegomena to any sane creology. In: Hancock (org.): 335, 1979.

    HAUGEN, Einar. Planning in Modern Norway. Anthropological Linguistics, 1/3,

    1959.

    ______.Linguistics and language planning. In BRIGHT, William (org.).

    Sociolinguistics. La Haye: Mouton, 1966.

    HULL, Geoffrey. "The Languages of East Timor: 1772-1997: A Literature Review",

    Studies in Languages and Cultures of East Timor. University of Western Sydney

    Macarthur, 1999, pp. 1-38.

  • 7/30/2019 1308404106_ARQUIVO_Aspectosdepoliticaslinguisticas[CONLAB]

    18/18

    HULL, Geoffrey.The languages of East Timor. University of Western Sydney. Instituto

    Nacional de Lingustica, Universidade Nacional de Timor Lorosa'e, 1999. (revisado em

    09/02/2002).

    KLOS, Heinz. Research possibilities on group bilingualism: a report. Qubec: CIRB,

    1969.

    LEACH, Michael. Falar portugus: China e Timor-Leste. Arena Magazine, edio de

    Dezembro /Janeiro 2007-08.

    OLIVEIRA, Michele Machado de, e FAULSTICH, Enilde. Poltica lingstica: formao

    histrica e influncia do portugus do Brasil no mundo atual. Miscelnea, Assis, vol.5,

    dez.2008/maio 2009.

    SOUSA GALITO, Maria. Impacto econmico da lngua portuguesa enquanto lngua de

    trabalho, 2006.

    THOMAZ, Luiz Filipe. Babel loro sae: o problema lingstico de Timor-Leste. Lisboa:

    Instituto Cames, 2002.

    TURAZZA, Jeni & CORRA, Lda. A problemtica dos grupos fraseolgicos na

    construo de dicionrios de equivalncia. In: BASTOS, Neusa Barbosa. Lngua

    Portuguesa: lusofonia-memria e diversidade cultural. So Paulo: EDUC, 2008, p.

    275-285.