1 artigo. joão gabriel

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FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIENCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS - FACEL Pós Graduação em Metodologia do Ensino de Música Área de Educação Data de início: 22/02/2014 HISTÓRIA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS DE UMA ORQUESTRA COMPOSTA POR MÚSICOS AMADORES MEMBROS DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS DE MARINGÁ-PR 1 João Gabriel Neves de Macedo 2 RESUMO No Brasil, as Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus possuem uma forte tradição musical advinda das manifestações culturais de seus pioneiros europeus. Ao longo dos seus 100 anos de História no Brasil, as Assembleias de Deus, entre outras igrejas com tradição musical, são consideradas umas das maiores escolas formadoras de instrumentistas e cantores. Assim, compete ao presente trabalho propor um estudo de caso, cuja finalidade - por meio de uma exposição panorâmica - é remontar a história, bem como, descrever os desafios técnicos 1 Artigo apresentado ao Curso de Especialização em: Pós Graduação (lato sensu) em: Metodologia do Ensino de Música. FACEL – Faculdades de Administração, Ciências, Educação e Letras – Curitiba/PR, dia mês e 2014 2 Licenciado em História. Universidade Estadual de Maringá. Maringá, Paraná, 2013. Email:[email protected]

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FACULDADE DE ADMINISTRAO, CIENCIAS, EDUCAO E LETRAS - FACELPs Graduao em Metodologia do Ensino de Msicarea de EducaoData de incio: 22/02/2014

HISTRIA, DESAFIOS E PERSPECTIVAS DE UMA ORQUESTRA COMPOSTA POR MSICOS AMADORES MEMBROS DA IGREJA EVANGLICA ASSEMBLEIA DE DEUS DE MARING-PR[footnoteRef:1] [1: Artigo apresentado ao Curso de Especializao em: Ps Graduao (lato sensu) em: Metodologia do Ensino de Msica. FACEL Faculdades de Administrao, Cincias, Educao e Letras Curitiba/PR, dia ms e 2014]

Joo Gabriel Neves de Macedo[footnoteRef:2] [2: Licenciado em Histria. Universidade Estadual de Maring. Maring, Paran, 2013. Email:[email protected]]

RESUMO

No Brasil, as Igrejas Evanglicas Assembleia de Deus possuem uma forte tradio musical advinda das manifestaes culturais de seus pioneiros europeus. Ao longo dos seus 100 anos de Histria no Brasil, as Assembleias de Deus, entre outras igrejas com tradio musical, so consideradas umas das maiores escolas formadoras de instrumentistas e cantores. Assim, compete ao presente trabalho propor um estudo de caso, cuja finalidade - por meio de uma exposio panormica - remontar a histria, bem como, descrever os desafios tcnicos que enfrentam, individualmente, os msicos amadores componentes da orquestra da Igreja Evanglica Assembleia de Deus de Maring-PR, um grupo que ainda mantem viva a abastada tradio musical das Assembleias de Deus no Brasil.

PALAVRAS CHAVE: Assembleia de Deus, orquestra, histria.

1 INTRODUO.

O tema e delimitaes escolhidas para concretizao deste trabalho: Histria, Desafios e Perspectivas de Uma Orquestra Composta Por Msicos Amadores Membros da Igreja Evanglica Assembleia de Deus de Maring-PR estabelece relao com a problemtica decorrente dos desafios tcnicos que enfrentam, individualmente, os componentes da orquestra da Igreja Evanglica Assembleia de Deus de Maring. Isso justifica-se, primeiramente, pelo aspecto de relevncia social que a Igreja Evanglica Assembleia de Deus vem cumprindo atravs do ensino de msica no Brasil hoje. Pois, com suas bandas e orquestras, alm de contribuir para a manuteno da tradio congregacional da prpria igreja, tambm forma mo de obra para as principais orquestras, bandas e fanfarras do Brasil hoje. Em segundo lugar, o contexto histrico; onde o nmero de evanglicos no Brasil aumentou 61,45% em apenas 10 anos, segundo dados do Censo Demogrfico de 2010[footnoteRef:3]. A Igreja completou em 2011, cem anos de atividades em terras brasileiras, desde a vinda dos missionrios suecos Daniel Berg e Gunnar Vingrem. O terceiro motivo para a realizao deste trabalho foi determinado pela ausncia de material e publicaes especficas sobre esse assunto no crculo acadmico. [3: Tabela 1.4.1 - Populao residente, por situao do domiclio e sexo, segundo os grupos de religio - Brasil 2010. Disponvel em: ftp.ibge.gov.br, acesso em setembro de 2014.]

Os objetivos propostos so: ponderar as abordagens sobre o Pentecostalismo no Brasil; expor tambm a trajetria da Igreja Evanglica Assembleia de Deus no Brasil e na cidade de Maring; destacar a importncia da tradio musical das bandas e orquestras da Igreja Evanglica Assembleia de Deus e o processo de educao musical; descrever as dificuldades tcnicas que enfrentam, individualmente, os componentes da orquestra da Igreja Evanglica Assembleia de Deus de Maring e considerar a importncia da Nova Histria para este tipo de abordagem.Aps estabelecer a delimitao do tema proposto para realizao deste trabalho realizou-se, sistematicamente, um levantamento bibliogrfico (de autores que tambm perpassam o assunto), por meio da leitura de livros, peridicos, revistas, jornais e sites.2 FUNDAMENTAO TERICA

Para fundamentao terica deste trabalho reservam-se dois intens. No primeiro, apresenta-se um breve histrico do movimento pentecostal e debate-se a importncia da memria para este tipo de anlise e o segundo, reserva-se uma discusso sobre a histria do conjunto, afim de compreender quais os desafios tcnicos que enfrentam, individualmente, os componentes da orquestra da igreja evanglica assembleia de deus de Maring.A Igreja Evanglica Assembleia de Deus deve sua origem ao movimento pentecostal da segunda metade do sculo XIX, mais precisamente no ano de 1892, nos EUA com a ao de dois pastores de sobrenome Spurling. Segundo o Prof. Herman C. Hanko[footnoteRef:4], aps a Guerra Civil (1861-1865) as igrejas nos EUA passaram a ter maior controle organizacional e eclesistico da vida de seus fiis, em um perodo de frieza espiritual. Surgiu ento um movimento que enfatizava a experincia interior da religio, santificao e proximidade com Deus (HANKO, s/d). Deste modo, o Pentecostalismo, como uma religio nacional e mesmo internacional, comeou, destaca Herman. Quando em 1914, pastores do Arkansas, Estados Unidos e outros estados reuniram-se em Hot Spings e fundaram, oficialmente, a igreja intitulada Igreja da F Apostlica, somente em 1918 foi adotado o nome de Assembleia de Deus, com sede na cidade de Springfield, no Missouri. O movimento pentecostal tambm se expandiu velozmente para a Europa. No Brasil, a igreja teve incio na cidade de Belm do Par, no ano de 1910, com a vinda de dois missionrios suecos: Daniel Berg e Gunnar Vingren, influenciados por outros dois pastores batistas, W.H. Durham e Willian Seynmour que participaram do avivamento da Azusa Street[footnoteRef:5] em Los Angeles. [4: Professor no Protestant Reformed Seminary em Grandville, Michigan.] [5: O Reverendo negro William J. Seymour liderou o avivamento da Rua Azusa em 1906, o qual espalhou o pentecostalismo por todo o mundo. Os cultos da Rua Azusa notabilizaram-se tambm pela harmonia inter-racial (SYNAN, 2001). Segundo Oliveira (1997), a Rua Azuza se transformou em uma poderosa fogueira divina para onde centenas de pessoas eram atradas.]

Nos Estados Unidos Berg e Vingren, tiveram uma experincia denominada de Batismo no Esprito Santo, tendo como evidncia falar lnguas estranhas[footnoteRef:6], conforme o que diz o livro bblico de Atos dos Apstolos, no captulo 2, onde o Esprito Santo desceu sobre os apstolos permitindo-lhes falar novas lnguas, curar enfermos e realizar milagres (Kunchenbecker, 2004). Em pouco tempo, a igreja comeou a se expandir para o nordeste, depois para o sudeste e sul do pas. A partir do trabalho destes dois missionrios suecos, estima-se que hoje, segundo o censo 2010, exista 12,3 milhes de fiis no Brasil. No Brasil, as Igrejas Evanglicas Assembleia de Deus possuem uma forte tradio musical advinda das manifestaes culturais de seus pioneiros europeus que acabaram se mesclando s realidades folclricas locais. A msica uma das formas encontrada pela igreja para atrair os fiis, atravs dela, eles se unem para adorar a Deus. [6: Segundo Nogueira, uma das formas de expresso da glossolalia o balbuciar de palavras ou sons sem interconexo ou sentido (NOGUEIRA,2009)]

Os cultos da Igreja Sede das Assembleias de Deus de Maring, comumente, so constitudos por um preludio de abertura com a orquestra, seguido de uma orao inicial, cnticos de hinos da harpa crist com acompanhamento musical feito pela orquestra, leitura da Bblia Sagrada, testemunhos, avisos, ministrao de ofertas, cnticos de adorao com o grupo de louvor e pregao. A manuteno das igrejas realizada por meio dos dzimos e ofertas dos fiis. Hoje, apesar de a igreja possuir um estatuto prprio que define os usos e costumes de seus membros, no possvel localizar nenhuma referncia sobre a manifestao artstica musical utilizada na liturgia dos cultos em seu Estatuto Geral.Segundo Duncan Alexander Reily, o Cristianismo se mostrou ser uma religio que, por natureza, canta. O autor ainda lembra que prprio Lutero comps hinos como veculo para que o povo pudesse expressar sua f em Cristo e obter o consequente perdo dos seus pecados (REILY, 2005). A popularizao da msica sacra uma herana da reforma Protestante, pois o latim foi substitudo pelas lnguas vernculas e as msicas simplificadas e adaptadas. Ao longo dos seus 100 anos de histria no Brasil, as Assembleias de Deus, entre outras igrejas com tradio musical, so consideradas as maiores escolas formadoras de instrumentistas e cantores: As igrejas que mais formam msicos so a Assembleia de Deus, a Igreja Batista e a Congregao Crist no Brasil [...] os fiis aprendem a tocar desde hinos evanglicos orquestrados at peas consagradas da msica sacra, como as compostas por Johann Sebastian Bach (FAVARO, 2007, s/p).Segundo Blazina, no difcil encontrar nos conservatrios e faculdades de msica alunos que iniciaram sua jornada musical em uma Igreja Evanglica. A autora ainda aponta que, o msico no ambiente de igreja est reservado apenas aos estilos e formas musicais contidas no hinrio (BLAZINA, 2013). Por isso, muitos msicos procuram se aperfeioar em escolas e conservatrios. O Violoncelista Suelldo Nascimento, em entrevista concedida durante o Congresso de Msica e Louvor, promovido pela CPAD em Belo Horizonte em 2010, contesta essa questo ao afirmar que: O primeiro concurso para orquestra sinfnica, que foi para a orquestra sinfnica de Sorocaba, eu prestei sem ter tirado o p de dentro da igreja. Somente estudando dentro da Igreja, disputei com garotos que estudavam em conservatrio durante anos, esses meninos tinham um nome muito forte e eu passei na frente deles sem nunca ter frequentado um conservatrio, s adquirindo conhecimentos na igreja. Um costume bastante interessante das Assembleias de Deus o de realizar a compra de instrumentos musicais e ced-lo, temporariamente, aos seus membros que esto aprendendo msica para tocar na banda. Este um emprstimo de responsabilidade exclusiva do msico. Em alguns casos, os alunos, depois de algum tempo, adquirem seus prprios instrumentos, devolvendo o antigo para a igreja, possibilitando assim, a transferncia para outros alunos que tambm podero iniciar seus estudos.Ao decorrer do culto so executados hinos avulsos ou que acompanham o grupo de louvor, coral e outros. Alguns grupos e cantores optam por acompanhamento em playback na ausncia de um grupo instrumental. Cada igreja possui uma especificidade quanto ao repertrio, os hinos tradicionais tanto podem ser executados como esto escritos no hinrio ou reharmonizados em diversos estilos e diferentes arranjos (FREITAS, 2008).O historiador Jaques Legoff (1924-2014) define memria como um conjunto de funes psquicas que permitem ao indivduo atualizar impresses ou informaes passadas, ou ainda reinterpretadas como passadas[footnoteRef:7]. Sem ela [a memria], no seriamos capazes de falar, ler identificar objetos, orientar-nos no nosso ambiente ou manter relacionamentos pessoais, conforme explica o Dr. Jonathan K. Foster em seu livro Memria[footnoteRef:8]. Embora a memria configure-se como pilar para a histria, to-somente, no final da dcada de 1970, ela passou a ser estimada entre os historiadores da Nova Histria[footnoteRef:9] como objeto de reflexo e anlise. O terico Maurice Halbawchs expe que, enquanto existe uma Histria, existem muitas memrias. Isto quer dizer que, enquanto a histria muitas vezes se refere a fatos distantes, a memria concebe aquilo que foi vivido. Para Antonio Montenegro, memria e histria so inseparveis pois a Histria uma construo que resgata o passado, do ponto de vista social, e neste processo encontra familiaridade com cada indivduo por meio da memria. [7: In: Dicionrio de Conceitos Histricos - Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva Ed. Contexto So Paulo; 2006] [8: Foster, Jonathan K. Memoria, porto Alegre, RS: L&PM, 2011.] [9: Em francs Nouvelle histoire, trata-se de uma corrente historiogrfica formada em 1970, ela equivale a terceira gerao de historiadores da chamada Escola dos Analles.]

A memria coletiva, isto , quando ela composta pelas lembranas vividas ou repassadas pelo indivduo e so compreendidas como propriedade de uma comunidade ou um grupo, fundamenta a prpria identidade do grupo ou comunidade. Como gira em torno das lembranas do cotidiano ela tende a idealizar o passado e se apegar a um acontecimento considerados importantes, simplificando todo o resto. Ela tambm simplifica a noo de tempo, seus personagens se referem ao presente como hoje e ao passado como antigamente ou no meu tempo. O esquecimento pode indicar uma vontade, talvez inconsciente, do grupo de ocultar determinados acontecimentos.Assim, a memria coletiva reelabora constantemente os fatos. Conforme Montenegro, uma das dificuldades de se utilizar os depoimentos orais, como fonte Histrica o fato de que eles so fontes construdas pela memria e como dizia um professor universitrio A memria, s vezes, nos trai. Ento, a escrita transformou profundamente o conceito de memria coletiva, pois seu surgimento permitiu o registro da histria por meio de documentos. Por isso, ressalta-se a importncia da Escola dos Analles[footnoteRef:10] e suas contribuies para a historiografia moderna. Analles favoreceu a ampliao da noo de documento e a valorizao de novas fontes, conforme a necessidade de uma Nova Histria. Desde ento, uma micro histria passou ser narrada: a histria da famlia, das relaes pessoais, da criana, do casamento e da morte. [10: Movimento historiogrfico fundado pelos historiadores Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929 que rompeu com padres positivistas de abordagem da histria. ]

Os primeiros crentes pentecostais (colonos paulistas, mineiros e nordestinos), chegaram na cidade de Maring entre os anos de 1947 e 1949 advindos de vrios Estados do Brasil, com caravanas organizadas pela CMNP - Companhia Melhoramentos Norte do Paran: "Nas terras frteis do Norte do Paran, tudo cresce e progride. Em torno da Florescente cidade de Maring ondulam cafezais vergados ao peso dos frutos, vicejam campos de arroz livres de savas, produzem todos os legumes, e nos pomares, laranjas, pssegos, bananas, uvas e morangos se multiplicam doces e saborosos (Dirio de So Paulo 08/01/50). Ainda sem templo, os primeiros cultos da Igreja Assembleia de Deus de Maring foram realizados nos stios e nas casas de pioneiros. No dia 15 de maro de 1948, na residncia do irmo Jos de Andrade, na Vila Morangueira, houve um culto dirigido pelo Evangelista Eusbio Hilrio de Oliveira, data que foi considerada como dia da fundao da Igreja Assembleia de Deus em Maring.A histria da orquestra Harmonia Celeste, orquestra da Igreja Sede das Assembleias de Deus de Maring, comea em 1950, composta inicialmente por 13 msicos. Tendo em sua primeira formao instrumental, instrumentos como: trombone de pisto, trompete, horn in Eb, tuba, clarinete, requinta, e percusso, conduzida pelo maestro Roosevelt Arantes, que tambm tocava trompete e escrevia os prprios arranjos. Depois foi dirigida pelo irmo Agrimar, em seguida por Osvaldo Talizin e depois por Josu Mendoza. No ano de 1989, devido aos problemas internos no grupo, o at ento maestro, irmo Josu Mendoza passou a batuta para o irmo Jos Carlos da Silva, que assumiu a funo de maestro ao mesmo tempo em que ensinava msica em uma congregao na cidade de Paiandu (1989-1990). Dentre as maiores dificuldades, uma era a aquisio de arranjos para a banda executar. Isto fazia com que os maestros se aventurassem a escrever, mesmo sem ter plena compreenso do sistema de escrita musical e estudos de harmonia. Mas como diz o ditado Disse Jos Carlos: Em terra de cego quem tem olho rei. At meados da dcada de 1980, a banda realizava dois ensaios semanais. Vivemos em um tempo em que as coisas eram muito difceis.No ano de 1990 o maestro Samuel Godoy foi escolhido por eleio entre os msicos. O tubista foi escolhido com um resultado de 13 votos a seu favor contra 11 do outro candidato. Eu sou o admirador nmero um dele, ressalta o irmo Jos Carlos. Godoy ficou at meados dos anos 2000 quando foi substitudo por Leomarcos Silva (2000-2002). Neste intervalo ficou o irmo Clementino temporariamente. E ento, veio o maestro Peixoto (2002-2003), depois o maestro Elias(2003-2005) e o maestro Osiel Baatos (2006-2011) que introduziu um novo conceito musical no grupo.O maestro atual e responsvel pelo grupo o Pastor Joel de Amorim, que possui bacharel msica pela UFMG e mestrado na Itlia. Amorim tambm foi militar, professor universitrio e como trompetista fez cach nas principais orquestras do Brasil. Aps ser consagrado ao pastorado, o pastor passou a dedicar-se exclusivamente ao ministrio, deixando as atividades seculares. Na orquestra, o maestro a figura suprema frente do grupo, ele detentor de todo o conhecimento musical, ele quem conduz o grupo sua maneira. Segundo Roberto Minksuz, diretor artstico e regente titular da orquestra sinfnica brasileira: Eu me sinto, s vezes, como um escultor, esculpindo o som, dando um toque final, realmente pintando um quadro. Porque, voc trabalha com o colorido e tudo tem a ver com o ambiente, tempo, espao, acstica. Reger tambm sinnimo de poder absoluto no pdio. O maestro o responsvel maior por este espetculo sonoro, talvez o nico astro que passa o espetculo de costas para a plateia.Sua respirao, mos, gestos e expresso facial so essenciais para o entendimento do grupo. A batuta uma extenso da mo. A parte mecnica est disposio da parte abstrata. Na hora da execuo, os sons se fundem ao pensamento do maestro que faz de tudo isso a interpretao, ocorre a fuso natural dos sentimentos e emoes.Segundo Amorim o prprio maestro Joel de Amorim: maestro de igreja tem que ser um sujeito polivalente. Por isso, tambm estudou e ensina, alm de teoria musical, basicamente, outros instrumentos como: flauta, clarinete, saxofone, violino, violoncelo, trompete, trompa, trombone, tuba, entre outros. O pastor tambm conhecido entre os msicos da igreja por seus arranjos de hinos da Harpa Crist entre outras obras sacras, com harmonia simples, alm dos simpsios de msica que ministra pelo Brasil. Conduzir uma orquestra composta por msicos profissionais diferente de se fazer um trabalho de base ensinando msica para as crianas. Segundo o prprio maestro a tradio das bandas de msicas da igreja esto fadadas a desaparecer com o tempo, por uma srie de motivos, entre eles a adoo de gneros musicais de sucesso popular nas igrejas. Conforme ele ressalta: Uma orquestra um investimento caro e formar um msico uma proposta de longo prazo. Montar um grupo instrumental com bateria, baixo e guitarra alm de ser mais barato supre a necessidade das igrejas menores.A igreja evanglica Assembleia de Deus de Maring afim de formalizar o ensino de msica na Igreja, que at ento era realizado voluntariamente por alguns irmos da igreja, organizou no ano de 2009 o Projeto Msicos em Misso, tendo como coordenador o Maestro Osiel Bastos, com vagas para os cursos de Violo, Guitarra, Contrabaixo eltrico, Bateria, Teclado, Piano, Canto (tcnica vocal), Violino, Violoncelo, Flauta, Clarinete, Saxofone, Trompete, Trombone, entre outros.O maestro Joel de Amorim desenvolve uma relao paternalista com os msicos. Na frente do grupo ele diz aqui sou o maestro, l fora sou amigo. Quando o maestro chegou em Maring no ano de 2012, a orquestra possua uma sonoridade que no coincidia com os padres de um grupo musical. Segundo ele, os msicos no se ouviam, tocavam sem prestar ateno, tinham problemas de concentrao e consequentemente afinao: Deixar a orquestra com a cara do maestro leva tempo - comenta o maestro.Atualmente, a orquestra Harmonia Celeste da igreja Sede das Assembleias de Deus de Maring possui um nmero que varia entre 33 aos 36 componentes atuantes. Esta variao decorrente ao fato do nmero de jovens que veem para Maring estudar e que em feriados, recessos ou perodo de frias retornam para suas casas em suas cidades de origem para rever a famlia e os amigos. O grupo existe h aproximadamente 64 anos e tem em sua formao organologica instrumentos como: violino, violoncelo, flauta transversal, clarinete, saxofone, trompete, trombone, euphonium, tuba, teclado, baixo eltrico e bateria. Tradicionalmente a orquestra compe a liturgia dos cultos da igreja executando em mdia de dois a trs hinos da harpa crist e hinos que acompanham outros grupos. Tendo como componente no naipe de cordas os irmos(s): ngela, Belinha, Elias, Guilherme, Jssica, Keli, Keuri, Luiz, Natalia, Pmela, Joshua; no naipe de madeiras: Andreia, Aparecida, Camila, Daniel, Devanir, Eliana, Josu, Natan, Susana; no naipe de metais: David, Elienay, Helio, Eleuzino, Fernando, Joo, Joel, Jos Carlos, Renato, Josiney, Karine, Max, Neemias, Roberto, Salomo, Talita, Tiago; nos teclados: Ester e Osiel; no baixo eltrico: Adoniram e bateria: Jonathan.Na tentativa de melhorar o desempenho do grupo, pois muitos possuem escassa formao musical, so realizados ao longo do ano atividades de aprimoramento, tais como: Oficina de Msica com maestro Everson Salazar, Oficina para Cordas com violinista italiano Claudio Casarano, Simpsio de Louvor Congregacional com Pastor Paulo David (PIB de Curitiba), Cantata Um Momento Glorioso. O trabalho de aprimoramento realizado nos ensaios no faria sentido sem o pblico para apreciar.Segundo Amorim, os msicos devem encarar o ministrio com uma pitada de profissionalismo. O maestro Joel de Amorim enfatiza a importncia da msica para a adorao e seu lugar na liturgia. Tocar na banda o desejo de muitos membros da igreja, mas a grande parte desiste quando comea a estudar msica.Muitos maestros admiram o trabalho de orquestras com formao parcialmente profissional e acham que podem fazer o mesmo na igreja, no respeitando a especificidade local. O que acarreta em uma errnea performance, vcios e frustraes. A partitura e a posio da nota no instrumento servem apenas de referencial para a msica acontecer. O ouvido o componente mais importante com respeito ao aspecto timbrstico do naipe e afinao do grupo.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO

Realizou-se registros sobre a rotina de ensaios da corporao musical da Igreja Evanglica Assembleia de Deus de Maring-PR que ocorrem, semanalmente, aos sbados das 17:00hs-19:30hs, nas dependncias do Templo Central da Igreja Evanglica Assembleia de Deus de Maring-PR. Atentando, sempre, para as dificuldades alavancadas pelos msicos voluntrios da orquestra Harmonia Celeste. Bem como, a coleta e classificao de documentos e fotografias a partir de arquivos privados de membros da instituio pesquisa e entrevista com componentes. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: um gravador de voz para as entrevistas e um caderno para anotaes; uma cmera fotogrfica para fotografar documentos que no podem ser retirados ou emprestados, scanner para digitalizar fotografias a partir de arquivos privados de membros da instituio pesquisada.

4 APRESENTAO DOS RESULTADOS OU SUGESTES

Um dos problemas que abatem o grupo o problema da afinao. Isto o ocorre devido falta de estudo. Durante a semana, muitos msicos deixam seu instrumento no quartinho da banda e s pegam no instrumento no final de semana. Muitos afirmam no ter tempo para praticar devido os afazeres do trabalho. Do ponto de vista tcnico foi constatado que os clarinetes e saxofones executam com uma sonoridade muito rasgada ou pouco volume de som, dentre outros problemas de articulao e respirao; os trompetes no possuem articulao propcia para determinados trechos musicais e apresentam problemas de respirao; os trombones no possuem articulao propcia para determinados trechos musicais e tambm apresentam problemas de respirao e falta de preciso com a vara; a tuba apresenta baixo volume de som; os violinos apresentam problemas de afinao devido ausncia de instrumentos graves da famlia das cordas, como violoncelos e baixos acsticos, o que no justifica o problema nas arcadas.A orquestra realiza seus ensaios aos sbados das 17:00-19:30, na nave da igreja mesmo, exceto quando h algum inconveniente, ensaiam no salo da igreja. Iniciando com um breve aquecimento, execuo de escalas e verificao da afinao. O ambiente no adequado pois possibilita a reverberao do som com a igreja vazia, as cadeiras so almofadas e confortveis, estantes de ao e pastas.

5 CONSIDERAES FINAIS

A proposta de tocar na igreja to desafiadora para os msicos amadores, assim como os palcos para os msicos profissionais. Haja visto que muitos no praticam quanto deveriam, muitos insistem no erro, outros procuram aprimorar a prtica.Assim, afim de evocar a memria de todos aqueles, homens e mulheres, que um dia, ou ainda hoje, dedicam parte de suas vidas obra de Deus, movidos pela f conforme o relato bblico no captulo 11 do livro de Hebreu: Ora, a f o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se no veem[footnoteRef:11], realizou-se este trabalho. [11: Verso almeida Corrigida e Revisada Fiel]

REFERNCIAS

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