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O trabalho das quebradeiras de côco no Pará, desenvolvimento sustentável, extrativismo.

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    1Quebradeiras de Coco Babau e Agroextrativistas do Sudeste do Par

    Quebradeiras de Coco Babaue Agroextrativistas

    Sudeste do Par

    5

  • 7/17/2019 05 Quebradeiras Coco Babacu Agroextrativistas Para

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    2 3NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL DA AMAZNIA Projeto Mapeamento Social como Instrumento de Gesto Territorial Quebradeiras de Coco Babau e Agroextrativistas do Sudeste do Par

    Verifica-se no sudeste do Par a ocorrncia de babauais, em torno dos quais se d a expressi-va mobilizao poltica das mulheres que integram o Movimento de Interes tadual das Quebradeirasde Coco Babau MIQCB. Elas se organizam em grupos locais de mobilizao polt ica e identitria.Mas, as quebradeiras de coco babau ainda ressentem-se da invisibilidade de suas prticas sociaise produtivas na regio e denunciam as aes que desmatam e devastam os babauais. Lutamcontra o desconhecimento social e os interesses econmicos e polticos que negam a existnciado babau e das prticas e interaes sociais nos babauais do Par. As quebradeiras resistem recusa ao reconhecimento de sua existncia, enquanto grupo social e s aes de devastao daspalmeiras. Na oficina de mapa foram registradas as dificuldades que marcam a histria social, desuas lutas e reivindicaes. O sul do Par, nas extenses que o ligam aos estados do Tocantins eMaranho, destaca em sua paisagem os babauais nativos e de floresta secundria, em diferentesestgios classificatrios. A tipologia dos babauais encontra-se relacionada ao dos agentessociais no territrio e bioma de seu crescimento espontaneo. O Sudeste do Par apresenta baba-uais recentes (as pindovas), jovens e adultos. Em condies, de intenso brotamento, espaados,densos, ou manejados por raleamento. Alm dos babauais desmatados ou em processo de devas-tao, por derruba, corte e envenenamento da palmeira, como denunciam os agroextrativistas na

    autocartografia, tem-se um frequente brotamento de palmeiras e a formao de pindoval.

    Babauais e outras florestas do sudeste do ParO desmatamento e a devastao

    Na Palestina pra pegar o babau noprecisa caminhar um quilometro. s sairdentro da rua, entrar nas Quintas t den-tro do babaual. Derrubaram muito, mas,ainda tem muito babau. Pra qualquer ladoque a gente sair, sai dentro do babaual.Se pra c (So Domingos do Araguaia), se pra Araguatins, sai dentro do babaual.MARIA ROMANA PEREIRA DO NA SCIMENTO

    Falar do desmatamento! E, a gente no tem fora, porque quebradeira de coco poucas quetem a terra quando a gente trabalha colhendo coco na terra do fazendeiro, n. Ento eu diziapra muita gente: quando... a regio que eu moro no era vista, no tinha fazendeiro, a gente vivial tranquilo. Quando o fazendeiro chegou, e o incentivo pra criar gado e plantar capim, entrou umgrande conflito na nossa vida. E, hoje, hoje, o coco t longe! Pra entrar na terra do dono tem quepedir licena, passar por de baixo do arrame. Tem de fazer um monte de coisa. E, as consequnciasque vem? Que no tem mais mata. CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    Raleado! Porque aqueles novo, que eles no derrubaram, nem botaramremdio pra matar, esta cacheando! MARIA ROMANA PEREIRA DO NASCIMENTO

    Babau no domnio das fazendas utilizado na produode rao animal, carvo e cermica

    Alm do desmatamento, mas, ainda tem muito babau. S que t lon-ge! Pra gente sobreviver t difcil, porque... h, tm trs (situaes): tema rao animal! Estamos perdendo o coco inteiro. Que a gente pega o cocointeiro tira a massa! Da massa tira a amndoa e, solta a casca pra fazero carvo. A mquina da rao animal pega o coco inteiro, que ns tira amassa ns faz trs produtos e ela s faz um: a rao animal. Quebra eleinteiro com tudo e vira rao. Carvoeira queima tambm o coco mais velho,

    Cledeneuzana sede do MIQCB,em Santa Rita

    Participantes de Oficina de mapas, 18 junho 2013,em Vila Santa Rita: Ana Cileide dos Santos,Ana Ilsa dos Santos, Benizio Barbosa dos Santos,Canuta Ferreira do Nascimento, Claudia Maria Bezerra

    Oliveira, Cledeneuza Maria B. Oliveira, CleoniceGomes da Silva, Cleudilene Vieira da Silva e Silva,Deuzinete da S. S. Damasceno, Edmilson Ferreira daCosta, Elane Nascimento Silva, Elizangela Douradode Lima, Elsivan Nascimento Silva, Filomena deSousa, Iracema Vieira Flix, Jaqueline Souza Neves,Joana Alves de Souz a, Jucil ene Rodr igues de Souza,Leudilene Arajo da Conceio, Luciana de SousaSilva,Luzia Domingas dos Santos, Manoel Bispo dosSantos, Margarida Vieira de Sousa, Maria CleudeFerreira da Silva, Maria da Silva Lima, Maria dasGraas Alves Arajo, Maria de Lourdes Flix Moraes,Maria Dinalva Ribeiro, Maria do Carmo CardosoSantos, Maria do Socorro Cardoso Santos, Maria doSocorro S. Souza, Maria Elena Gomes Costa, MariaEvagelista Sousa, Maria Martins das Neves, MariaMartins das Neves, Maria Martins de Souza, MariaRita de Sousa, Maria Romana Pereira do Nascimento,Maria Zenaide Milhome da Silva, Mirian de SousaSilva, Naslan Gomes da Silva, Patrcia Helen Carvalhoda Silva, Pedro de Sousa Barbosa, Raimunda AlvesCosta, Raimunda Ferreira da Silva Marinho, RaimundoPereira, Rosa dos Santos Silva, Roseane Ferraize

    Trindade, Roselice Rodrigues da Silva, SebastioFerreira da Silva, Zilda Rosa da Conceio Silva

    M297 Mapeamento social como instrumento de gesto territorial contrao desmatamento e a devastao: processo de capacitao depovos e comunidades tradicionais: Quebradeiras de Coco Babaue Agroextrativistas do Sudeste do Par, PA, 5/coordenao doprojeto, Alfredo Wagner Berno de Almeida; equipe de pesquisa,Rita de Cssia Pereira da Costa ... [et al.]. Manaus : UEA, 2014.

    12 p.: il. color.; 27 cm. (Projeto Mapeamento Social comoInstrumento de Gesto Territorial; 5)

    ISBN 978-85-7883-277-3

    1. Conflitos sociais. 2. Coco babau Par. 3. Comunidadestradicionais. 4. Desmatamento. 5. Territorialidade. 6. Cartografia.I. Almeida, Alfredo Wagner Berno de. II. Costa, Rita de CssiaPereira da.

    CDU 528.9:316.48(811.5)

    Movimento Interestadual das Quebradeirasde Coco Babau MIQCB Regional ParAna Cileide dos Santos COORDENADORA EXECUTIVA

    Grupos de Mulheres Quebradeiras de Coco Babau

    Assentamento 21 de Abril, Vila So Jos, Vila So Benedito,Vila Santa Rita, Vila Itamerim, Ponta de Pedra do Araguaia,Palestina do Par e Vila So Raimundo

    Cooperativa do Movimento Interestadual das Quebradeirasde Coco Babau CIMQCBCledeneuza Maria Bezerra Oliveira PRESIDENTE REGIONAL

    Comunidades participantes da Oficina de mapasPA 21 de Abril, PA Castanhal Araras, PA Castanheira,Vila So Jos, Vila So Benedito, Vila So Raimundo,Vila Santa Rita, Vila Itamerim, Ponta de Pedrado Araguaia, Palestina do Par

    UEA-Edies Manaus, 2014

    COORDENAO GERAL DO PROJETO

    Alfredo Wagner Berno de AlmeidaPNCSA-CESTU-UEA /PPGAS-UFAM/CNPQ

    EQUIPE DE PESQUISA

    Rita de Cssia Pereira da Costa, Rosa Elizabeth AcevedoMarin, Cristiano Bento da Silva, Mayka Danielle Brito Amaral,Maria Raimunda Barbosa

    UDIO

    Maria Raimunda Barbosa, Rita de Cssia Pereira da CostaEDIO

    Rita de Cssia Pereira da Costa

    CARTOGRAFIA

    Thiago Alan Guedes Sabino, Rita de Cssia Pereira da Costa

    REVISO CARTOGRFICA

    Carolina Silva

    LEVANTAMENTO DE PONTOS DE GPS

    Rita de Cssia Pereira da Costa, Mayka Danielle Brito Amaral

    FOTOGRAFIAS

    Mayka Danielle Brito Amaral, Rosa Acevedo Marin,Cristiano Bento da Silva, Rita de Cssia Pereira da Costa

    PROJETO GRFICO E EDITORAO

    DESIGN CASA8

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    o coco verde no queima bem, n. Ento, a siderrgica no recebe o carvo do coco verde, entons ainda tem uma oportunidade. E, a cermica pega tudo e pe l no ptio pra secar e queimar.CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    Vou falar um pouco (...), que eu sou da Palestina. que a Palestina tem pouco! A Palestinatem coco, s que bolinha assim, n. Onde tem coco mais mesmo distante. E, (...) sobre que

    a Dona Romana t dizendo que o povo no empata derrubar..., quebrar, at verdade, mas, tem:hoje a maior parte quer vender o coco! Vender o coco inteiro os fazendeiros! Porque tem acermica que compra o coco a R$ 2,00 o saco. Ento, hoje ningum mais quer dar. Vai botar umcara pra juntar l a R$ 1,00 o saco, e vende pra cermica. Tem essa coisa! O coco que o povo noimportam, mas, um pouquinho, pouquinho l, por l. Mas, onde tem muito mesmo, como (...) lpra Ouro Preto, tem um povo ajuntando pra vender. MANOEL BISPO DOS SANTOS

    Acabaram as castanhas, acabaram com madeira de lei e, agora esto acabando com o babau.E, tem outra coisa, o pouco que tem, ns vamos disputar com a carvoeira, com a cermica, quequeima coco inteiro. E o que fica pra ns? No tem dinheiro para pagar carro para trazer de l dentro, donde ns colhe para botar no barraco. Ento a gente ganha a menor fatia do que anatureza nos oferece. CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    Grupos de Mulheres e organizao do trabalho

    ... Um, no 21 de Abril, um Grupo em Santa Rita, trs Grupos em Brejo Grande (...) um emSanta Rita, um em Itamerim e So Raimundo. E, um que o grupo So Domingos, um do SoBenedito e um da vila So Jos. Agora ns tamo formando um novo l na Ponta de Pedra do Ara-guaia. CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    ... Eu ainda enfrento sempre o coco. Hoje t com dificuldade em tudo. Ainda passei por ummomento difcil. A minha vista, hoje eu to enxergando s de um olho (...), mas, t por aqui.O que eu fazia antes, s tem um trabalho do coco que eu no fao, que torrar o coco. Porque

    depende de muita quentura, n, e eu no posso mais mexer. Mas,tudo servio eu fao apesar da dificuldade. um servio que sem-pre eu falo que enquanto eu puder eu vou t enfrent ando, porquefoi como eu criei meus filhos foi quebrando coco. Porque notinha outro ramo de vida, a foi quebrando coco. Com a idade denove anos, porque no tinha meu pai, no tinha minha me prame dar as coisas, n. Pra cuidar de mim, ai foi quebrando coco,at...! Agora eu t aqui, graas a Deus, fao parte da Associaoda vila So Jos. ZILDA ROSA DA CONCEIO SILVA

    ... Criei minha famlia quebrando coco. Hoje eu no quebromais porque tenho um problema muito srio, mas, eu ando nomovimento, eu acho muito bom. L em casa eu tiro azeite, meumarido quebra, torra e eu apuro, mas, eu no quebro. Mas, foicomo eu criei minha famlia foi quebrando coco. MARIA HELENAGOMES COSTA

    Na comunidade trabalha em grupo. So um grupo de seispessoas, pode contar quando chegar a hora delas conversarem.Elas vo dizer como que elas se sente hoje. A participao de-las mudou. E, a perseguio aumentou tambm, ela falou assim:ele no vai dar o coco, porque diz que a gente vai denunciar ele.Ele no entende que se ele no der o coco, vai ficar mais fcil adenuncia. No entende, que o coco livre e a gente pode pegar.O que, que a gente quer denunciar quem t conservando algumacoisa? Agora a gente vai denunciar quando ele est destruindo, isso que ele tem que entender! CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    Cantigas das encantadeiras: o cotidiano e a mobilizaoO Canto das quebradeiras de coco babau

    BABAUAL RALEADO:manejo que v isa desbastaras rvores para a melhoria da produo ou fim

    de consorci-la a outras atividades produtivas.

    Um babaual mais que raleado j consiste num

    processo de devastao, o que ocorre detrs da

    justificativa de raleamento, por parte dos que

    detm o controle sobre as terras de babauais.

    E, atravs de corte, derr ubada e envenenamento

    da palmeira.

    Babaual, na estrada da vila So Raimundo

    Reunio preparatria Oficina de mapas,em So Domingos do Araguaia

    Oficina de mapas nacomunidade Santa Rita

    Maria Rita, Manoel Pereira Santana e Cledeneuza.Audincia Pblica na cmara municipalde So Domingos do Araguaia

    CANTIGA DAS QUEBRADEIRAS 6

    Marido, eu quero um vestido, daquela fazenda azul! (bis)

    Se voc no tem dinheiro v quebrando o babau. (bis)

    Dana no incio da Oficina de mapasna Comunidade Santa Rita

    Iracema Vieira,quebradeira de cocoe encantadeira-compositora

    GRUPO

    Chama o grupo, chama

    o grupo novo do MIQCB.

    Vamos quebrar coco, vamos

    quebrar coco para ns crescer.

    Tira o mesocarpo, tira o

    mesocarpo pra ns se alimentar.

    Tira o azeite, tira o azeite

    pra negociar.

    A Iracema tira o mesocarpo

    e Dona Maria tira o azeite;

    Cledeneuza faz o sabo e

    a Edna o sabonete.

    No Tocantins tem quebradeira

    No Piau tem quebradeira

    L no Par tem quebradeira

    E no Maranho esto as quebradeiras (bis)

    5Quebradeiras de coco babau e agroextrativistas do Sudeste do Par

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    Dificuldades e reivindicaesTrabalho, saberes tradicionais e luta contra o desmatamento

    A nossa dificuldade aqui que nem o seu Bencio falou que, ... os fazendeiros. A maioria de-les derrubam mesmo. E, principalmente, aqui perto. Eles derrubam tudo. A gente as vezes fala as-sim! A gente no chega neles e, no fala pra el es, s fala assim, n ! (...) a gente no tem coragemtambm, n, de falar mesmo pro fazendeiro, n a gente tem medo. E, eles pegam e derrubam. Agente fica com d, mas, no pode fazer nada n. E, aqui perto tem essas palmeirinhas por a sabe,mas (...) j tem uma mulher que j ajunta l n (...) A eu sou do movimento, quero quebrar coco,

    mas, o coco t longe, longe, n. A no tem como eu ir l sozinha... ELSIVAN NASCIMENTO SILVA

    Tem uma carvoeira tambm. No uma carvoeira, uma cer-mica. Ele compra o coco. Compra o coco, n. E fica l aquele montode coco (...) cada vez, cada ano, cada ms t ficando mais distanteo coco. A nossa maior dificuldade porque o coco t ficando longepra ns. Eles to derrubando mesmo... CLEUDILENE VIEIRA DA SILVA

    Ela falou a respeito que o cara l deu o coco pra ns que-brar. Mas, eu no achava assim to interessante. Porque voc ia l,e voc tirava s o coco sendo se ns pudesse e o coco fosse prans mesmo ajuntar, que ns aproveitava a casca, ns aproveitava omesocarpo e outra coisa tambm. L, tem que ter mulher pra cimapra poder quebrar esse coco todinho. A ns ia passar a vida toda:empalhava, ns quebrava aquele que prestava, rachava aquele queno prestava. De qualquer maneira ns tinha que rachar ele todinho.A no final quem perdia era ns. JUCILENE RODRIGUES DE SOUZA

    Na comunidade onde eu moro a dificuldade que existe : porque ao redor da vila todinha s fazendeiro. Ento, eles pode at conhecer a lei da maneira deles. Se a gente chegar pra pedir,e juntar ali um coco e quebrar, eles vo dizer no, no pode por causa disso e disso. Sendo que

    a gente pode est recolhendo aquele coco pra quebrar na associao porque ns temos umaassociao. S que a dificuldade grande mesmo pagando pra recolher, eles no querem. Porque,hoje em dia tambm, eles esto querendo queimar o coco inteiro. Ento, tu vai perder tanto amassa, como o coco mesmo em si. MARIA DE LOURDES MORAES

    QUEBRA DE MEIA:trabalho na quebra do coco babau, em que a amndoa fica com a quebradeira

    e a casca com aquele que detm o controle sobre as reas de babauais, em geral o fazendeiro,

    que a destina a produo do carvo. Essa forma de trabalho justificada pelo fato de no haver a

    queima do coco inteiro. Entretanto, as quebradeiras realizam um trabalho extra do qual no podem

    usufruir. E, nessa situao o acesso ao babaual fica condicionado relao de trabalho.

    Quebradeira de coco dePalestina do Par, quecaminha cerca de 5 kmpara colher babau

    A nossa realidade no diferente. L noItamerim a gente rodeada de fazendeiro. Aon-de a gente vai catar coco, tem muito que nodar, porque dizem: no ns no vamos dar ococo no, porque vocs so quebradeiras, po-dem nos denunciar e pode vir alguma lei quevenham proibir ns de derrubar o babau. Por-que eles sabem que exis te a lei. No cumprem ,porque so desumanos, n. Porque eles acham

    que eles no precisam e tambm no es to nema pro ser humano. Ento, j tem uma carvoeiral, que j compra o coco do fazendeiro e quei-ma o coco inteiro. Isso um grande problema

    j, n, pra situao da gente l. Ento, isso um problema grande pra ns, porque t faltan-do o coco j, tanto pra gente quebrar, pra tirara massa, porque eles no do, pra vender pracarvoeira. E, a gente como no tem dinheiro,n, pra comprar claro que eles no vo deixarde vender pra nos dar. Ento, pra mim isso uma grande dificuldade que ns enfrentamos lna vila. MARIA RITA DE SOUSA

    ... A gente que mora no interior, tem filhos que (...) estuda na zona urbana, porque na zonarural tem muita dificuldade com transporte. E, a dificuldade das pessoas pra sair, da zona urbanapra ir pra zona rural. Porque no tem estrada, transporte muito dificultoso, n. A, de deixar ospais a pensarem: eu vou tirar meu filho daqui, vou colocar ele na cidade, porque l a educao.A condio de vida melhor. E, ele vai ser um advogado, engenheiro. A ele esquece o que? Asrazes, n. Esquece de dizer assim: eu sou filho de pequeno agricultor, eu quero isso pra pegar oconhecimento daqui pra levar minha comunidade. Ele esquece! Ento, esse curso que a gente fez,(...) era pra enriquecer cada vez mais a nossa comunidade, onde a gente mora. Ou seja, levar oconhecimento de dentro da escola, levar em prtica, tanto, no s no lote, mas, na terra... MARIADE LOURDES MORAES

    Quebra do coco babau na vila Itamerim

    Torrao da amndoa para retiradade azeite de babau

    SABERES, PRTICAS TRADICIONAIS E EDUCAO:as quebradeiras reivindicam uma ao mais incisiva

    contra os desmatamentos e a devastao dos Babauais e o for talecimento da organizao poltica,

    identitria e as prticas agroextrativistas. E, e stas aes de incentivos integradas, com foco para

    educao e ambiente. Assim, a escola deve contribuir para a valorizao da identidade, dos saberes e

    prticas tradicionais, ou continuar contribuindo para invisibilidade das quebradeiras ao desconside-

    rar a realidade local. E, dizem: nossos filhos no vo saber nem quem so as quebradeiras.

    CORTE DA PGINA DO MAPA

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    vastando o babau com o trator. A tambm que t a estas pindovinha, eles pem o veneno e,to morta aqui. Esta secando, t seca. E, aqui mais na frente tem pequenos proprietrios. E, aqui a Vicinal Almesco 1 pequenos proprietrios tambm. Tem a vila Cacau. E desse lado aqui tema fazenda (...) tambm que eles mata as pindova. E, tambm to devastando o babau. E, maisaqui na frente tem a fazenda (...), tambm pouco babau que tem. E, as pindova que tm elestambm colocam veneno. Logo depois vem o Cuxi tem bastante babau. E, aqui do outro ladotem o assentamento Agua Fria. A tem o rio Taurizinho e esse lado aqui aqui fica So Domingos.E, aqui a vicinal 44 que vai para So Benedito a vila So Benedito. E, esse azul aqui a Ub.

    E, pra chegar no So Benedito tem o rio Gameleira, n rio Gameleira. E, aqui logo depois deSo Domingos, aqui tem a vila Nazar. Depois tem o cocal ai vem a, o quilometro 48. CLEUDILENEVIEIRA DA SILVA

    Terra e o territrio: reserva, assentamento e acampamentoreas de coletas do coco e do cultivo de roa

    Aqui a Igreja catlica. Aqui o bar (...) Aqui a associao da Ponta de Pedra do Araguaia. Aquio cemitrio. Aqui o rio Araguaia. Aqui uma rua, n. Aqui tem um lago que chama, (...) Lago daVenncia. A t tambm um grande cocal (...), ainda no invadimos, estamos prestes a invadir.Porque os dono daqui to dizendo assim : h que agora vocs vo ter que comprar os coco nosso.No, ns no vamos comprar o coco deles. Eles vo ter que fazer uma negociao com ns, pra nsquebrar juntos, n. A aqui tem muito coco. A aqui j tem um pouco de desmatamento, mas, prac tem muito coco. E aqui tambm uma rea de desmatamento, mas, tem muito coco.

    ... O fazendeiro segurou o pessoal, o presidente da associao dos Sem Terra segurou o pes-soal do lado de fora das terras. Ento no tem como ter produo muita. Mas, alguns que vail, um dia: planta um pezinho de mandioca, um pezinho de macaxeira, um pezinho de abbora,e assim vai sobrevivendo. Mas, to fora da terra, n! To acampado na Vila, Ponta de Pedra.ROSELICE RODRIGUES DA SILVA

    ... A Serra do Rosa um lugar que ns tamo aguardando, um dia receber. O que o povo vai darpra ns quebradeira (...) Ns nunca perdemo a f. Ns tamo aguardano. Ns nunca perdemo a fnessa terra, tanto que um dia ns recebe ela. MARIA MARTINS DE SOUZA

    L tem a questo do patrimnio que a gen-te luta para que seja (...) pras mulheres traba-lhar. Desde o incio uma proposta que muitas

    j morreram e, morreram levando dentro de si atristeza de que no conseguiu uma coisa que foiuma bandeira de luta do incio. No consegui-mos! L tem uma rea que cento e poucos al-queiro e essa rea naquela poca foi solicitadapras mulheres trabalhar, botar seus filhos, tirarsua produo, tanto tem a parte pra fazer roae tem o babaual. CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    Croquis de mapas elaborados pelos participantes daOficina de Santa Rita

    Oficinas de mapas e reunies realizadas no Sudeste do ParOs babauais e disponibilidade do coco

    Aqui nesse mapa ns nos localizamos, em quatro mu-nicpios do que a gente trabalha So Joo, So Domin-gos, Brejo Grande e Palestina e, tambm a Nova Ipixuna(...) A, ento, a gente foi falando das ameaa que tem so iguais. S uma diferena que vocs vo ver aqui, queSo Domingo no tem e, tem outro tipo, n? Ento, aqui..., So Joo, Brejo Grande e Palestina sofre uma gran-de ameaa com a questo da hidreltrica. E, ... vem pratodos a derrubada das palmeira. Vem o envenenamentodas pindova. Vem a queima do coco inteiro. A, aqui oarrasto com o trator, que passa assim, limpando a voltae deixa as palmeiras em p, mas quando vem o vento aas palmeira to com as razes descoberta, pelo trator que

    cavou e cai as palmeira. E, vem tambm a entrada doeucalipto que j tem ali perto do Igarap dos Veados, j.Uma grande plantao que t chegando l na OP 1, dooutro lado l, n. E vrios lugar (...) A pensando na (...)agricultura o que que acontece? O envenenamento dasterra, porque joga veneno, a no dar pra plantar maisarroz, feijo. A gente planta e no tem produo... CLEDE-NEUZA MARIA OLIVEIRA

    Aqui a Santa Rita. Aqui casa da associao dasquebradeiras de coco que existe aqui dentro da SantaRita. Aqui so as palmeira, que tm em redor da vila,da Santa Rita. Tem o campo de bola, tem a escola. Aqui uma caieira, onde as mulher faz o carvo. Aqui fazenda,em redor da Santa Rita. Aqui o Assent amento Bom Jesus

    onde (...) vai l pro Itamerim. Pra c vem pra fazendaOlho Dgua, uma fazenda muito grande l. Tem coco nessafazenda Olho Dgua. Tem muitos moradores l dentro. E,bem aqui fica o Brejo. O Brejo, l uma Vila, n. L temmuito coco tambm, l no Brejo, mas, mais fazendeiroem redor. MARIA RITA DE SOUSA

    Ali a gente fez o mapa. Ns, l, a nossa vila (SoJos), ela cercada de fazenda, que os fazendeiro noimporta que a gente pegue o coco, s a nossa dificuldadel porque eles esto derrubando o coco, entendeu? Ait ficando longe, a fica mais difcil pra gente, porquemuita das vezes marido no ajuda e a gente vai s. E, notem como quebrar dentro da quinta, porque tem gado, asvezes, vaca parida, n?. E, muito perigoso, e tambmas pessoas pegam o coco inteiro para fazer o carvo.

    Aqui fica a BR (153), porque aqui, eu j no fiz a vila,n? Porque, l, agente j fez no outro mapa, no ? Aquita a Vicinal, a aqui tem as fazenda (...) Aqui eu coloqueio jerico e o trator, que ele... tem a fazenda e que t de-

    XOTE DAS QUEBRADEIRAS DE COCO BABAU

    Hei no derrube essa palmeira,

    hei no devore os palmeirais

    Precisamos preservar as riquezas naturais.

    O coco para ns grande riqueza, obra da

    natureza, ningum vai dizer que no, porque

    da palha se faz a casa pra morar, j um meio

    de ajudar a maior populao.

    Se faz o leo pra temperar comida, um

    dos meios de vida pra os fracos de condio,

    reconhecemos o valor que o coco tem, e a

    casca serve tambm pra fazer carvo.

    Com o leo do coco as mulheres caprichosas

    fazem a comida gostosa de uma boa estimao.

    Merece tanto seu valor classificado que com o

    leo apurado se faz o melhor sabo.

    Palha de coco serve pra fazer chapu, da

    madeira faz papel, inda aduba o nosso cho.

    Talo de coco tambm aproveitado, faz

    quibano e cercado pra poder plantar feijo.

    A massa serve pra engordar o porco, t pouco

    o valor do coco, precisa dar ateno. Para os

    pobres esse coco meio de vida, pisa o coco

    Margarida e pe o leite no capo.

    Mulher parada deixa de ser medrosa, seja um

    pouco corajosa, segura na minha mo. Lutemos

    juntos com coragem e com amor pra o governo

    d valor a nossa profisso.

    PINDOVA:rvore jovem da palmeira babau.

    PINDOVAL:rea de ocorrncia das pindovas.Essas novas plantas passam por acentuada

    devastao, pelo uso do fogo na renovao

    das pastagens em certas pocas do ano.

    E, sobretudo, pelo envenenamento atravs

    de agrotxico utilizados para extirpar as

    rvores neste estgio de crescimento, como

    ocorre no Sudeste do Par.

    Pindoval em crescimento na pastagem

    Elaborao e apresentao de croquis na reunio preparatria

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    10 11NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL DA AMAZNIA Projeto Mapeamento Social como Instrumento de Gesto Territorial Quebradeiras de Coco Babau e Agroextrativistas do Sudeste do Par

    ... Agora porque l, a nossa reserva l pouca sabe, pequena!A o INCRA disse que no da pra fazer, para desapropriar pra ns. At l pra crescer mais. Tem um, dois, trs fazendeiros que t com essa

    terra l! A na poca que eu entrei, que queriam pra vender pra ns, a gente negociou bem comele foi o documento pro INCRA. O INCRA falou que no, que no dar pra desapropriar porque (...) pequena, mas, s que l tem muito coco, por l. A nisso quietou...

    ... Era o uso das quebradeiras, a reserva era das quebradeiras, pra ns todas as quebradeirastrabalhar l dentro. Ns trabalhava, mas, no podia queimar, no tinha queimada. Era trabalhar

    na terra, mas, sem queimada, quebrar o coco, trabalhar l dentro. Mas, a ns nunca trabalhemos.Mas, ns nunca conseguimos. Mas, ns tm a f de consegui l ainda. MARIA MARTINS DE SOUZA

    Ento a quebradeira de coco, alm da derrubada das pal-meiras, agora, do resto que ficou ainda no temos o direitoporque as terras so de dono. E, porque apareceu mais condi-es pra aquele produto que no tinha valor. Ento ns tomosnesse meio ai. A que vem compreender o estudo, n. De umaquebradeira antes! Eu sofria tanto e agora que as coisas estomais fcil! Fcil o que? Fcil o valor do nosso produto! Fcilpor ns ter alcanado o mercado! Mas, agora t mais dif cil nsconseguir fora pra colocar o produto perto da gente. CLEDE-NEUZA MARIA OLIVEIRA

    Babau livre: lei, reivindicaode aprovao e de aplicao

    So Domingos do Araguaia, Brejo Grandedo Araguaia, So Joo do Araguaia

    e Palestina do ParFoi aprovada e sancionada, n. Ela t em vigor, basta

    eles querer cumprir. Mas, ela t a de So Domingos. Agora ade Brejo Grande ela t na Cmara, at foi falada agora sexta-

    -feira, quando ns nos reunimos que os vereadores tavaml, eles disseram que vo procurar conhecer melhor que aindano conhecem. Ento, eles vo procurar conhecer, (por)queera outros vereadores. E, tambm pediram se a gente vai fa-zer alguma reforma, n, que faz tempo que ela foi escrita, n (...) Ento eles vo olhar ela l.Ento o que a gente tem que fazer () com que eles possam olhar e vir a fazer, fazer a aprovaodeles, n. Eles sabem, n, que no do interesse, n. Porque a maioria dos vereadores, eles novaloriza isso mais (...) E, So Joo do Araguaia, a mesma coisa, foi entregue, at perdeu a copiaque ns demos pra eles. Entregamos outra mais a a mesma coisa. cobrar, e mais cobranado que a gente j tem l. No foi aprovada, acho que no fizeram estudo, no fizeram nada. E,

    Palestina que uma coisa mais especial (...)Porque Palestina alega que tem uma lei antiga,mas, que no faz nada pelas quebradeiras, n.

    Ns fizemos (...), uma audincia convida-mos toda autoridade do Brejo pra ir a SantaRita pra gente conversar sobre o problema deSanta Rita, n, e a questo do MIQCB. A la gente retornou, o secretrio de agricultura,meio ambiente, secretario de sade, de edu-cao, tinha um representante da educao. Ento com eles a gente fez a conversa sobre nossasdemandas, n, que a gente tem. Ah! , frisamos a questo das leis pros vereadores s foi doisvereadores, mas foi bom (...) Ento pelo que eu entendi, n, que ns tem que apresentar de novoa lei pra eles, pra poder dar entrada. Eu acho ser a mesma coisa em So Joo, apresentar de novo.Apresentar em Brejo Grande, apresentar em So Joo, apresentar em Palest ina. E essa questo quediz que j existe, mas, tambm apresenta de novo. CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    Os produtos e a utilizao do babauMesocarpo e as indicaes culinrias e medicinais das quebradeiras de coco babau

    ... Hoje em dia, tm vrias mulheres, hoje, trabalhando. Tem delas que nem ela falou, tcansada trabalhou a vida inteira, sustentou filho, talvez at neto, quebrando coco, no isso!Ento, pra isso tem que chegar a conversar com eles e explicare, da necessidade da mulher: dococo babau! Porque de l vem o mesocarpo, vem o azeite, vem a massa, que pra alimentar ofilho no precisa comprar. Eu acho que falta de informao tambm a base deles. Porque praeles, no: derrubar a gente resolve, vamos plantar capim! MARIA DE LOURDES MORAES

    ... As mulheres do Itamerim elas podem falar como que a vida delas, do dia em diante queelas, (...), dois anos que elas encararam a participar, trabalhar, se motivaram. Elas tm umarenda, no to grande, mas, elas no tinham nada. Elas vendem, dentro desses dois meses elas

    j venderam mais de 100 litros de azeite se eu no tiver enganada, acho que j chegou a 150.Agora parece que vai chegar a 200. E, esse azeite t caro, mas, o povo consome, porque j temmuita gente entendendo que esse produto puro, classificado. CLEDENEUZA MARIA OLIVEIRA

    Maria Martins de Souzae Canuta Ferreira doNascimento

    Elaborao e apresentao de c roquisna Oficina de mapas de Santa R ita,e Dona Romana expondo o trabalho

    DAS TERRAS QUE NO ERAM DE DONO S TERRAS DE DONO

    Os agroextrativistas envolvidos no processo de autocatografia e construo

    de mapas argumentam que as terras na regio eram de livre acesso

    para as prticas agrcolas e extrativas, mas, ao longo do tempo foram

    transformadas em propriedade privada, e hoje, a maioria das terras so

    de dono. Desse modo, h os agroex trativistas que conseguiram se

    estabelecer em lotes nos Projetos de assentamentos e outros que

    se encontram acampados ou nas bordas das reas de vilas.

    PRESERVAO DOS BABAUAIS NO PAR:As quebradeiras de coco afirmam: nosso grupo,

    tem muitos anos que as mulheres vm combatendo,

    lutando por isso. Mas, principalmente aqui no

    Par, ns no tm apoio poltico, e no h um

    reconhecimento da produo. Assim sendo, a

    gente tem que lutar. Lutar pelo que a gente

    tem, at porque uma renda. E, uma expresso

    dessa resistncia cultural e pela manuteno dos

    babauais se d na luta pelo Babau Livre.

    Alimentos produzidos a partir do coco babau biscoitos, bolos, cocadas, pudim, mingau e azeite

    CONTATOS

    MIQCB REGIONAL PARRua Acrsio Santos 397CEP So Domingos do [email protected] 94. 3332-1922 9157-1806

  • 7/17/2019 05 Quebradeiras Coco Babacu Agroextrativistas Para

    8/8

    12 NOVA CARTOGRAFIA SOCIAL DA AMAZNIA Projeto Mapeamento Social como Instrumento de Gesto Territorial

    QUEBRADEIRAS DE COCO BABAUE AGROEXTRATIVISTASDO SUDESTE DO PAR

    1 Comunidade do Paraizinho Humait AM

    2 Nossa Senhora Auxiliadora Humait AM

    3 Bom Jardim Benjamin Constant AM

    4 Quilombolas do Rio Andir Barreirinha AM

    5 Quebradeiras de Coco Babau e Agroextrativistado Sudeste do Par

    PROJETO EXECUTADO COM RECURSOS DO REALIZAO APOIO

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