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ANÁLISE COMPARATIVA DOS EXAMESANATOMOPATOLÓGICOE BACTERIOLÓGICO NO DIAGNÓSTICOLABORATORIAL DA LINFADENITEPOR MICOBACTÉRIAS EMPACIENTES HIV/AIDS
COMPARAT/VE ANALYS/S OFANATOMOPATHOLOG/CAL ANOBACTER/OLOG/CAL EXAMS FORD/AGNOS/S OF MYCOBACTER/ALLYMPHAOEN/T/S /N H/VIA/OS PAT/ENTS
Suely Yoko Mizuka Ueki I, Maria Conceição Martinsl, MelissaCurcio/, Oavid Jamil Hadad? e Maria de Fátirna Araúio"
RESUMOo objetivo deste estudo foi avaliar a histopatologia e a bacteriologia como recursos labora-toriais no diagnóstico de linfadenite por micobactérias, em pacientes HIV/AIDS em nossomeio. Foram realizados concomitantemente os exames anatomopatológico e bacteriológicode 136 linfonodos superficiais de sítios variados. Destes, 72 (53%) foram positivos para mico-bactérias na análise histopatológica e/ou bacteriológica. Entre estes, 68 (94,4%) casos forampositivos pelo histopatológico e 64 (88,9%) pelo bacteriológico. Houve concordância de po-sitividade em 83,3% de casos e concordância de negatividade em 88,9%. Entre os 1361infonodoscultivados, 44,1 % foram positivos para micobactérias, sendo 98,3% identificadas como M.tuberculosis e 1,7% como pertencente ao complexo M. avium. Pela avaliação estatística, o nívelde concordância entre as duas análises não permite a escolha de uma delas como preferencialpara o diagnóstico de linfadenite por micobactérias, mas sim pela complementariedade entreambas.
SUMMARYThe objective of the present study was to determine the value of histopatology and bacteriology aslaboratory resources in the diagnosis of Iymphadenitis induced by mycobacteria in patients withHIV/AIDS in our service. A total of 136 superficiallymph nodes obtained from different sites weresubmitted simultaneously to anatomopctnoíogic and bocterioíogic examination. Ofthese, 72 (53%)were positive for mycobacteria by histopath%gy and 64 (88.9%) were positive by bacteri%gy.There was agreement in positivity between the two tests in 83.2% of cases and agreement innegativity in 88.9% of cases. Among the /36 cu/tured /ymph nodes, 44.1 % were positive formycobacteria, 98.3% of which were identifJed as M. tubercu/osis and 1.7% as be/onging to the M.avium complex. Statistical analysis showed that the levei of agreement between the two tests doesnot permit the choice of one over the other as preferentia/ for the diagnosis of /ymphadenitis dueto mycobacteria, but indicates that the two tests are comp/ementary.
I. Pesquisadoras do Setor de Micobactérias - Instituto Adolfo Luu - SP.2. Assistente de Pesquisa do Setor de Micobactérias - Instituto Adolfo Luu - SP.3. Médico infectologista - Centro de Referência e Treinamento - DST/AIDS.4. Médica Anatomopatologista - Instituto de Infectologia Emílio Ribas.Endereço para correspondência:Suely Yoko Mizuka Ueki - Instituto Adolfo Lutz - Avenida Doutor Arnaldo, 3S I - 9° andar -Cerqueira Cesar - São Paulo-SP - CEP 01246-902.
J. Bras. Patol. Vol. 34 n° I, 1998
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UNITERMOS
• Linfadenite
.. 'bactérias
•HI'
~IDS'
• Anatomopatologia
• Bacteriologia
KEYWORDS
• Lymphadenitili"( '-
• Mycobacteria
• H/V
• AIOS
32
INTRODUÇÃOEstudos epidemiológicos eviden-
ciam o ressurgimento da tuberculose
em países onde este problema era con-
siderado controlado. O aumento da in-
cidência de casos nos últimos anos é
atribuído fundamentalmente ao núme-
ro crescente de pacientes portadores
da síndrome de imunodeficiência adqui-
rida (AIDS - acquired immunodeficien-
cy syndrome) 1,4,10,11,12,14.
A maior incidência de casos de
tuberculose na população HIV/AIDS é
, atribuída tanto ao aumento das formas
pulmonares quanto das extrapulmona-
res, Entre as formas extrapulmonares,
merecem destaque nesta população o
acometimento do sistema linfático, o
sistema nervoso central e as micobac-
terem ias, seja pela maior incidência de
acometimento na população HIV/AIDS
bem como pelos desafios relacionados
ao seus diagnósticos 1,7,16,19,20.
Em relação ao sistema linfático, o
diagnóstico é estabelecido com base na
histopatologia e nos procedimentos
microbiológicos, que incluem bacilosco-
pia e cultura2.3.8,9,16.Através da histopa-
tologia do gânglio, avaliamos a reação
desencadeada pelo hospedeiro em res-
posta ao bacilo. Todavia, a avaliação ex-
clusiva desta reação tecidual é
inespecífica, pois é incapaz de distinguir
as micobacterioses das outras doenças
granulomatosas infecciosas, tais como
paracoccidioidomicose, histoplasmose
e sarcoidose, e das não-infecciosas".
Desta forma, é crucial realizar a baci-
loscopia que permite agilizar o diagnós-
tico de micobacteriose e a cultura do
gânglio, que possibilita o isolamento do
agente etiológico em questão e sua
posterior identificação.
O presente estudo foi realizado
com o objetivo de se comparar a his-
topatologia e a bacteriologia como re-
cursos laboratoriais no diagnóstico de
linfadenite tuberculosa, além de verifi-
car a ocorrência de outras micobacté-
rias que não o bacilo da tuberculose
(MOTT - designação anglo-saxônica de
mycobacteria other than tuberc/e bacilli)
neste tipo de espécime, em nosso meio.
MATERIALE MÉTODOSNo período entre fevereiro de 1988
e março de 1994 foram analisados 136
espécimes de linfonodos superficiais,
coletados de pacientes infectados pelo
HIV ou portadores de AIDS, atendidos
no Instituto de Infectologia Emílio Ribas
(IIER) e no Centro de Referência e Trei-
namento em Doenças Sexualmente
Transmissíveis e AIDS (CRT-DST/AIDS)
em São Paulo, com suspeita de linfadenite
por micobactérias. Destes espécimes,
I 16 (85,3%) pertenciam a indivíduos do
sexo masculino e 20 (14,7%), do femi-
nino, com faixa etária variando de I a
50 anos.
O espécime foi dividido em dois
fragmentos: um, encaminhado à Seção de
Anatomia Patológica do IIER em solu-
ção de formol na concentração de 10%
para análise histopatológica, e o outro,
encaminhado em solução salina ao Se-
tor de Micobactérias do InstitutoAdolfo
l.utz - São Paulo (IAUSP) para a realiza-
ção da baciloscopia, cultura e posterior
identificação da micobactéria isolada.
Análise
Bacteriológica
O fragmento de linfonodo pre-
viamente macerado na própria solu-
ção salina foi descontaminado pela
técnica segundo Petroff e semeado em
dois tubos com meio de l.ôwensteln-
Jensen para a obtenção da cultura. Es-
tes foram incubados em temperatura
de 37°C e as culturas, lidas no séti-
mo, 30° e 60° dias de incubação.
Paralelo ao cultivo, foi realizado um
esfregaço em lâmina, corado pelo mé-
todo de Ziehl-Neelsen, para pesquisa
direta de bacilos álcool-ácido-resisten-
tes (BAAR)2,16.
As micobactérias isoladas foram
identificadas de acordo com a veloci-
dade e temperatura de crescimento,
produção de pigmento das colônias,
testes bioquímicos e provas de sensibi-
lidade frente a determinadas drogas".
Análise
Histopatológica
O fragmento de linfonodo fixado
em solução de formol na concentração
de 10% foi processado, incluído em pa-
rafina, cortado, e as lâminas obtidas fo-
ram coradas pela técnica de hematoxi-
lina-eosina e Giemsa para análise
histopatológica, pelo método de Ziehl-
J. Bras. Patol. Vol. 34 nO I, 1998 I
J
Neelsen para pesquisa de bacilos ál-
cool-ácido-resistentes em tecido e
pelométodo de Grocott para pesqui-
sade fungos 5.
O diagnóstico de tuberculose foi
baseado nos achados de necrose
caseosa circundada por escasso
infiltrado histiocitário, com presença
de poucos ou nenhum bacilo, ou pelo
achado de necrose não-caseosa com
muitos restos celulares, sem reação
histiocitária e presença de numerosos
bacilos,de acordo com a descrição de
Nambuya et 01.13•
Quanto à linfadenite por MOTT,
foi valorizada a presença de infiltrado
histiocitário difuso substituindo a estru-
tura do linfonodo, cujos histiócitos são
grandes, globosos ou fusiformes, com
citoplasma microvacuolizado e grande
quantidade de bacilos intracelulares".
RESULTADOS
Resultados bacteriológicos
e histopatológicos
Num total de 136 linfonodos, 72
(53,0%) foram positivos para micobac-
térias através da análise histopatológica
e/ou análise bacteriológica. Destes, 68
(94,4%) casos foram diagnosticados
como linfadenite por micobactérias, atra-
vés da análise histopatológica e 64 (88,9%)
pela análise bacteriológica. Portanto, foi
observada concordância de positividade
em 60 (83,3%) casos e concordância de
negatividade em 64 (88,9%) (Tabela I).
Entre os 12 (8,8%) espécimes com
J. Bras. Pato I. Vol.34 n° I, 1998
Tabela I33
Ocorrência de linfadenite por micobactérias em pacientes do IIERe CRT/AIDS, segundo análise comparativa dos exames bacteriológico
e anatomopatológico - período: fevereiro/ 1988 a março/1994.
Bacteriológico Anatomopatológico Total
+
B+/C+ 41 42
B+/C- 4 O 4
B-/C+ 15 3 18
B-/C- 8 64 72
Total 68 68 136
B+: baciloscopiapositiva;B-: baciloscopianegativa;C+: cultura positiva;C-: cultura negativa;
+: positivo;-:negativo.
resultados discordantes, oito (5,9%)
apresentaram resultados positivos so-
mente pela histopatologia e quatro
(2,9%) apenas pela bacteriologia.
A ocorrência de linfadenite por mi-
cobactérias segundo a localização
anatômica do linfonodo é apresentada
na Tabela 2. Dos 78 linfonodos cervicais
analisados, 56,4% foram positivos para
micobactérias; entre os 25 axilares, a
positividade foi de 40%; entre os quatro
supraclaviculares, 100%;entre os 25 sem
informação quanto a localização dos
linfonodos,56%;e entre os inguinais não
foi observado nenhum caso positivo.
Entre os 1361infonodos submetidos
à análise bacteriológica, 60 (44, I%) apre-
sentaram culturas positivas para micobac-
térias. Destas cepas, 59 (98,3%) foram
identificadas como pertencentes ao com-
plexo Mycobocterium tuberculosis e uma
(1,7%)ao complexo Mycobocterium ovium
(MAC). Quatro linfonodos foram positi-
vos para micobactérias apenas pela baci-
loscopia, não sendo possível a identifica-
ção da espécie.
A análise histopatológica de 68
(50,0%) linfonodos permitiu estabelecer o
diagnóstico de linfadenite por micobacté-
rias. Paralelamente, a mesma análise dos
outros 68 espécimes conduziu ao diagnós-
tico de outras afecções (Tabela 3).
Resultados demográficos
Dos 72 linfonodos, cujas análises
histopatológica e/ou bacteriológica foram
positivas para micobactérias, 63 (87,5%)
pertenciam a pacientes do sexo masculi-
no e nove (12,5%) do sexo feminino.
DISCUSSÃOE CONCLUSÃOEste estudo evidenciou a alta
ocorrência de linfadenite por micobac-
térias nas linfadenopatias de pacientes
HIV/AIDS em nosso meio (53,7%). A
ocorrência foi maior entre os indiví-
duos do sexo masculino (87,5%), na
34faixa etária entre 20 e 40 anos, o que
provavelmente é justificado pelo maior
coeficiente de incidência de HIV/AIDS
neste grupo". Este dado contrasta com
o observado no sul da índia na era pré-
AIDS, onde a ocorrência foi maior no
sexo feminino (54,7%t,
Entre os oito linfonodos conside-
rados positivos para micobactérias so-
mente através do método anatornopa-
tológico, quatro pertenciam a pacien-
tes que tinham iniciado esquema tera-
pêutico específico de tratamento, em
período que variou de 22 a 34 dias, o
que poderia ter prejudicado o isola-
mento destas através do cultivo. Em
um caso o tratamento não havia sido
iniciado e em três casos não haviam
informações disponíveis quanto ao uso
de drogas antimicobacterianas. Nestes
casos, outros fatores como espécimes
não representativos, técnicas de trans-
porte e cultura inadequadas dos espé-
cimes, involução espontânea da
adenopatia ou presença de micobac-
'"" térias fastidiosas poderiam ser respon-
• sáveis pela negatividade das culturas.
Quatro linfonodos apresentaram
diagnóstico de linfadenite por micobac-
térias somente através da análise bacte-
riológica (um com baciloscopia e cultura
positivas e três apenas com culturas po-
sitivas).A análise histopatológica mostrou
alterações inespecíficas e ausência de
bacilos álcool-ácido-resistentes, relato
semelhante ao estudo de Hewlett et 01.6•
A ocorrência de linfadenite por
micobactérias foi diagnosticada pela
<
Tabela 2Análise comparativa dos exames bacteriológico e anatomopatológico,segundo a localização dos linfonodos em pacientes HIV/AIDS do IIER e
CRT/AIDS - período: fevereiro/ 1988 a março/1994
Bacteriológico Anatomopatológico
Cervical Axilar Inguinal Supraclav. Sem inf. Total
+ + + + +
B+/C+ 26 3 3 9 42
B+/C- 2 4
B-/C+ 10 4 18
B-/C- 6 34 15 4 2 " 72
Total 43 35 8 17 4 4 13 12 136
complexo Mycobaaerium avium (MAC)
caracteriza-se pela elevada freqüência
de acometimento das cadeias profun-
das. No presente estudo foram anali-
sados apenas linfonodos superficiais, o
que provavelmente justifica a' elevada
freqüência (98,3%) de isolamento do
M. tuberculosis.
+: positivo; -: negativo.
B+: baciloscopia positiva; B-: baciloscopia negativa; C+: cultura positiva; C-: cultura negativa;
análise de linfonodos retirados de di-
versos sítios. A positividade observada
em nosso estudo de 100%,quando ana-
lisamos os linfonodos supraclaviculares,
difere dos dados obtidos na índia
(37, I%t Não houve ocorrência entre
os linfonodos inguinais, semelhante ao
observado em outros países como a
índia (11, I%)9e Taiwan (7,0%)3.
Com base na identificação da es-
pécie isolada em cultura, o Mycobaae-
rium tuberculosis foi o principal respon-
sável por esta patologia, ocorrência se-
melhante à verificada no oeste aus-
traliano no período de 1972-198917•
Todavia, para se avaliar criteriosamente
a freqüência das diferentes espécies de
micobactérias como causa de linfadenite
na população HIV/AIDS, é importante
estratificar os 'linfonodos em cadeias
superficiais e profundas. Enquanto a tu-
berculose ganglionar caracteriza-se pela
alta freqüência de linfonodos superficiais
acometidos, a doença disseminada pelo
Com base nesta discussão, é per-
tinente estabelecer algumas considera-
ções de interesse para subsidiar o diag-
nóstico da tuberculose ganglionar.
Pela avaliação estatística, calculan-
do-se o coeficiente de Kappa com in-
tervalo de confiança de 95%, obteve-se
o valor de 0,823 (0,727-0,918). O nível
de concordância entre as duas meto-
dologias não permite a escolha de uma
delas como preferencial para o diagnós-
tico de linfadenite por micobactérias,
mas aponta para a complementarieda-
de entre ambas.
Barnes et 01.1 sugerem que a
excisão ganglionar seja efetuada somen-
J. Bras. Patol, Vol.34 nO I. 1998
te quando o exame bacteriológico da se-
creção do gânglio for negativo. O diag-
nóstico da tuberculose ganglionar é fei-
to geralmente pela aspiração do nódulo,
que permite a detecção de BAAR pela
microscopia direta de 67% a 90% dos
casos I. No nosso estudo, verificamos
que a bacteriologia, comparada ao his-
topatológico, permitiu o diagnóstico
pelo exame baciloscópico de 45 casos
(66,2%) e a cultura acrescentou 18 ca-
sos (26,5%). O exame histopatológico
permitiu o diagnóstico de 68 casos, qua-
tro dos quais não foram confirmados
pela bacteriologia.
O histopatológico, sendo um exa-
me mais rápido que a cultura para mi-
cobactérias, seria útil para agilizar os
casos que não foram diagnosticados
pela baciloscopia, além de permitir o
diagnóstico de outras patologias. Con-
tudo, é importante avaliarmos as cita-
ções de outros autores sobre o assun-
to. O preparo da lâmina no anatomo-
patológico depende de equipamento
especial para o corte do linfonodo
parafinado e a leitura do exame histo-
patológico deve ser efetuada por um
médico patologista. Ambas observações
restringem este exame a determinados
centros com condições diagnósticas es-
pecializadas. Por outro lado, a análise bac-
teriológica para o diagnóstico de mico-
bactérias é efetuada em diversos labora-
tórios e, portanto, mais acessível aos ser-
viços médicos.
Em suma, ao se biopsiar um linfono-
do de paciente com suspeita de linfadenite
J. Bras. Pato I. VaI. 34 n° I. 1998
Tabela 3Diagnóstico anatomopatológico dos linfonodos de pacientes HIV!AIDS
do IIER e CRT!AIDS - período: fevereiro! 1988 a março! 1994
Diagnóstico anatomopatológico %
Linfadenite por micobactérias
Histoplasmose
Sarcoma de Kaposi
Linfoma de Hodgkin
Linfoma imunoblástico
Linfoma linfoblástico
Linfadenite granulomatosa
por outros agentes
Outros (*)
68
2
4
4
50
1,5
2,9
2,9
0,7
0,7
2
54
1,5
39,7
(*) 29 - linfadenopatia relacionada àAIDS; 2 - depleção linfocitica; 3 -linfadenite crônicainespecífica; 11 - hiperplasia folicular; 2 - linfadenite crônica com depleção linfocitária;1- necrose de linfonodo; 5 - hiperplasia reacional; 1 - depleção linfocítica + histiocitose
por micobactérias, deve-se encaminhar sis-
tematicamente um fragmento para o exa-
me histopatológico e outro para o exame
bacteriológico, uma vez que as metodolo-
gias são complementares.
AGRADECIMENTOOs autores agradecem ao Dr.José
Leopoldo FerreiraAntunes pelas suges-
tões e análise estatística.
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J. Bras. Patol. Vol. 34 n° I. 1998
rCRITÉRIOS PARA A INTERPRETAÇÃODA UROCULTURA
A infecção do trato urinário (ITU)
é uma das doenças infecciosas mais fre-
qüentes na prática médica, podendo ser
comunitária ou hospitalar. Apresenta
um espectro de condições clínicas e pa-
tológicas envolvendo várias partes do
trato urinário, variando de bacteriúria
assintomática a abscesso perinefrético
com septicemia. Significa a presença de
microrganismos na bexiga, no ureter, no
sistema coletor ou nos rins, sendo mais
freqüentemente causada por bactérias,
embora ocasionalmente fungos e vírus
possam estar envolvidos.
Podemos definir cistite como infec-
ção vesical, cujos sintomas típicos são
causados pela inflamação da bexiga e
uretra. A disúria é a principal queixa;
dor e ardência podem ocorrer no iní-
cio, durante e imediatamente após a
micção. Outros sintomas incluem: ur-
gência urinária, desconforto suprapúbi-
co e freqüência urinária de pequenos
volumes. Normalmente cursam sem
febre ou outros sintomas sistêmicos.AI-
gumas vezes o paciente pode notar
hematúria ou turvação da urina e refe-
rir dor intensa. A ITU baixa deve ser
diferenciada de outras causas infeccio-
sas e não-infecciosas de disúria e
polaciúria, como irritação mecânica ou
química, alergia, vulvovaginites e
uretrites por patógenos de transmis-
são sexual.
A Pie/onefrite aguda consiste em dor
localizada no flanco ou dor a punho per-
cussão, combinada com sintomas
sistêmicos como febre, calafrios e pros-
tração, sendo causada por infecção do
parênquima renal e sistema coletor, qua-
se sempre complicada por bacteriemia.
O termo bacteriúria refere-se à
presença de bactéria na urina, como
resultado de uma infecção, porém po-
demos detectá-Ia em amostras de uri-
na de micção espontânea, devido à con-
taminação com bactérias da flora
uretral, periuretral ou vaginal. Por es-
ses motivos, há necessidade de uma
normatização da coleta. Bacteriúria
assintomática refere-se à presença de
bacteriúria em pacientes sem sinais e
sintomas atribuíveis ao trato urinário,
ocorrendo mais comumente em grá-
vidas e idosos. Os pacientes com bac-
teriúria sintomática apresentam bacte-
riúria na presença de sintomas
urinários.
A urocultura é um dos únicos exa-
mes quantitativos da microbiologia clí-
Ulysses Moraes OliveiraDo Departamento de Patologia Clínica da FCM/HC/Unicamp.Patologista clínico do laboratório Franceschi - Campinas.Fone/Fax: (O 19) 252-8564, 253-3183e-mail: [email protected]
J. Bras. Patol. Vol. 34 n° I, 1998
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37
1.f
..
38
Critérios para definir bacteriúria significante
> 102 UFC coliformes/ml ou > I05 UFC não-coliformes/ml em mulheres sintomáticas
> 103 UFC bactérias/ml em homem sintomático
> IOSUFC bactérias/ml em indivíduos assintomáticos em duas amostras consecutivas
Qualquer crescimento bacteriano em punção suprapúbica em pacientes sintomáticos
> 102 UFC bactérias em pacientes cateterizados
nica. As condições de transporte, o
tempo de estase vesical, a medicação e
também a colonização do trato urinário
inferior podem influenciar na quantifi-
•. cação, não raro falseando o resultado.
Importante salientar que a extensa
maioria das infecções urinárias é cau-
sada por germe único, ou seja, presen-
ça de um único tipo de microrganismo.
A cistite com dois germes é excepcio-
nal, podendo ser detectada em pacien-
tes com bexiga neurogênica (auto-son-
dagem), pós-cirurgia urológica e trau-
mas vesicais. O diagnóstico da ITU por
Staphy/ococcus aureus não requer con-
tagem de colônias, pois sua presença no
trato urinário não ocorre via ascenden-
te, mas via hematogênica.
Kass e colaboradores, em 1956,
foram os primeiros pesquisadores a fa-
zerem um exame quantitativo de uri-
na e estabeleceram que uma única cul-
tura de urina, com contagem de colô-
nias igualou superior a 100.000 bac-
térias/ml de urina, tinha uma chance
de 80% de representar a bacteriúria
vesical; duas culturas consecutivas
apresentavam um índice de confiança
de 91 % e três culturas apresentavam
o mesmo limite de confiança obtido
com uma única cultura de urina
cateterizada, ou seja, 95%.
Tendo em vista que a repetição
da urocultura não era prática, Stamey
e colaboradores, em 1985, estipularam
outra metodologia de coleta, que é a
utilizada atualmente: anti-sepsia
perineal, coleta do segundo jato
urinário, estase vesical. Com essa me-
todologia obtiveram um limite de con-
fiança de 95% (idêntico às três coletas
consecutivas).
O limite tradicionalmente utilizado
para confirmar ITU é a contagem de co-
lônias igualou superior a 100.000 unida-
des formadoras de colônias (UFC)/ml de
urina.
Atualmente, a definição de bacteri-
úria é mais dinâmica, variando na depen-
dência do quadro clínico e do método
de coleta, como exposto no quadro ao
lado.
CONCLUSÕESEsses critérios possibilitam que o
microbiologista clínico avalie a infec-
ção do trato urinário de uma forma
dinâmica, levando em consideração o
local da coleta, o tempo de estase
vesical (inclusive nos cateterizados), a
sintomatologia e as peculiaridades de
coleta inerentes ao sexo, correlacio-
nando com o conhecimento microbio-
lógico sobre as exigências nutricionais e
tempo de crescimento dos diferentes
agentes etiológicos.
A nosso ver, tomando-se como bá-
sica uma técnica correta de coleta, esses
critérios possibilitam maior agilidade e,
conseqüentemente, menos empirismo na
medicação dos pacientes, assim como
menos repetições de coleta para confir-
mação das suspeitas clínicas.
J. Bras. Patol. Vol. 34 n° I. 1998