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ENCHENTES:
ATÉ
QUANDO?
Jornal Laboratório
do Curso de Comunicação Social
Outubro 1983 - UFSC
III(
Como Ií
reconstruir II
vidas?
COMEÇAR DE NOVOZero, para os jornalistas, é o núme
ro experimental de uma nova publicação. É no zero que as rotinas silo testadas, que as idéias, postas em prática,mostram Se resistem ou não. Manter otttulo Zero, no jornal-laboratório dasdisciplinas Jornalismo Gráfico e Técntca de Edição e Ilustração é manter ocaráter de experiência que este jornalefetivamente tem. Feito como qualquerjornal que inicia, construído com todaa seriedade e esforço nao aetxa ae ser,a cada número, um recomeço. E estaa idéia que o titulo deste jornal contém. E é por isso que, neste semestre,a turma resolveu manter o mesmo
titulo do ano passado.
ASÁGUASDEJULHONeste número Zero dedica-se, com
especial atenção, à tragédia queainda mantém Santa Catarina um pouco assustada e sem fôlego para fazeruma avaliação serena do que aconteceu. Os projetos de reconstrução ocu
pam boa parte desta edição: é precisonão apenas reconstruir, mas discutirque tipo de reconstrução deve ser
feita. Entre várias outras matériassobre o assunto, é importante chamara atenção para uma conversa, na
redação de Zero, com alguns dosjornalistas que estiveram no interior,durante as enchentes, fazendo a
cobertura para os mais diversosveículos de comunicação. Esta conver
sa serviu como exerctcio de entrevistacom a vantagem de que, depois, os
entrevistados (todos repórteres), fizeram sua crítica ao trabalho dos alunosentrevistadores. Esta critica tambémestá at.
OS JORNALlSTASDA UFSC
No inicio deste ano (em fevereiro),a UFSC formou sua primeira turma dejornalistas. E os 21 recém-formadosparecem desmentir a existência deum mercado de trabalho saturado:apenas um deles não está trabalhandoe a maioria atua na área da Comunicação.
Um destes formados é ValmeronLuis de Bona, atualmente repórter"A" da Gazeta Mercantil, em SIloPaulo. Valmeron, com dois outroscolegas do Curso (Maria da GraçaSilva eDoraciEngel), foi para a Gazetacomo resultado de um convênio entreaauela emoresa e a UPSc. Após trêsmeses como "trainee'', foi contratado.
- Trabalhar num jornal de uma
grande cidade é extremamente recompensante. Depois de passar longo tempo ouvindo falar emgente comoDelfimMaluf, Montoro e outros caras quefazem parte da história de nosso
pats, a gente se encontra com elespara algum trabalho e, de repente, seperde um pouco porque é o cara mes
mo que está ali, na nossa frente e "eu"sou o profissional que deve escutá-lo.
Além destes três, que estãa em
São Paulo, Marcos Scotti tambémsaiu: está em Brasüia, trabalhandona Emater, do Ministério da Agricultura, onde faz um programa de rádiopara orientação dos agricultores.Outro que está longe: Idro Antonio
. Prado Júnior trabalha em Lima, no
Peru, naquilo que sempre foi o seu
maior interesse, num dos grandescentros de Documentação queexiste naAmérica Latina.
A grande maioria está mesmo
na Capital. Apesar dos baixos salários,sem um "piso" profissional, vamos
encontrá-los, já perfeitamente integrados ao ambiente profissional nas rádios, TVs e assessorias de comunicaçãolocais.
Valmeron afirma que "o Curso dábastante base para iniciarmos em
qualquer empresa de comunicação.Maior experiência ou seja, experiênciacomo profissional, se obtém rapidamente quando se atua na área.Oportunidades surgem. A carga deconhecimentos tida durante o cursoé grande e isso facilita o nosso desempenho como profissionais".A SITUA-ÇÁOHOJE
Veja onde estão os 21 jornalistasformados pela UFSC em fevereiro deste ano:
1) Aglair Maria Bernardo: continuou estudando, cursa Pôs-Graduação em
Ciências Sociais; 2)AnaMaria Camboin:TV Catarinense; 3) Beatriz Porto:Jornal de Santa Catarina; 4) BentoSilvério: TV Catarinense e AssembléiaLegislativa; 5) Doraci Engel: GazetaMercantil (SP); 6) Idro Prado Júnior:Icla(Peru); 7) Itamar Aguiar: Jornalde Santa Catarina; 8) Jarson ElbertoFrank: Secretaria da Administração;9) Joedna Cesâlia da Silva: Correiodo Povo, sucursal de Florianópolis;10) Lúcia Helena Vieira da Silva:Tribunal de Justiça; 11) ManoelMoacir Werner: Fucat; 12) MárciaEstela Barentim da Costa: TV BarrigaVerde· 13) Márcio Dison da Silva:TV B�mga Verde e Correio do Povo;14) Marcos Humberto Scotti: Emater(DF); 15) Maria Aparecida Velloso:Sunab; 16) Sandra Carla Inácio: RádioDiário da Manhã AM;· 17) ValmeronLuis de Bona: Gazeta Mercantil (SP);18) Maria da Graça Silva: GazetaMercantil (SP) 19) Maria Goretti deGamba Proença: não trabalha; 20)Vanderlei Luts Rickem: Tribunalde Justiça e continua a estudar, fazendo o Curso de Direito; 21) ZenonVitor Bonassis: Tribunal de Justiça.
Jornal-Laboratório do Curso de Cornuni
cação Social - Jornalismo, da UniversidadeFederal de Santa Catarina. Setembro de
1983. Tiragem: 2 mil exemplares. Circulação:Florianópolis. Distribuição Gratuita.
REDAÇÃO: Alunos das disciplinas: Jornalismo Gráfico e Técnica de Edição e Ilus
tração, 6a. fase, repórteres, redatores, dia
gramadores, paginadores, arte-finalistas e
fotógrafos: Adriana Ferreira Freitas, AndréVicente da Silva Gouvea, Antoninha San
tiago Silva, Antonio Afonso Felipe, ÁtilaSbruzzi, Cirley Virginia Ribeiro, Edison
Ronchi, Eloi Terezinha Paes, Esdras PioAntunes da Luz, Fabíola Souza de Olivei
ra, Fernando Lehmukuhl Carneiro, Giovanna Kind1ein, Hermes Antonio Luiz da
Silva, Jaime Ambrósio, Jorge Luiz Massa
rolo, Jossane Rosimar Ristow, Leani Budde,Lourdes Maria Pereira, Maria Lucia Salgueiro dos Santos, Marístela Amorim, MirelaMaria Vieira, Paulo Roberto Arenhart,Paulo Silas Cruz Prado, Pedro Fernando
de Oliveira, Rita de Cássia Luz Coelho,Ronaldo dos Anjos, Rosangela TremeIRosa e Sandra Gentil. Hailton Pacheco
Composto e impresso na Imprensa oficial do Estado de Santa Catarina (IOESC),Saco dos Limões, Florianópolis, SC.
2
DESVIODE DONATIVOS.
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I
Às oito e meia da manhã de quarta-feira,dia 24, a esposa do vereador "Pitanga" .
Nirdo Artur Luz - atendia o telefone, emPalhoça. Indagada sobre a distribuição dedonativos feita por seu marido, respondeuque ele estava no banho e pediu para ligarmais tarde.
Quarenta e cinco minutos depois o telefone toca novamente na casa do vereador."Ele já saiu - informou a esposa. O quedeseja?" Depois de ouvir a identificaçãodisse que todos os donativos já tinham sidodistribuídos e acrescentou: "Mas ... você
já tem emprego?"Esta ligação e outra, feita pouco mais
tarde para Santo Amaro da Imperatriz,confirmam as denúncias do deputado estadual Édison Andrino, do PMDB, de desviosde donativos às vítimas das enchentes. Desvio e aproveitamento, por políticos doPDS.
Na Prefeitura de Santo Amaro, cidadeque não teve maiores problemas com as
enchentes, a Secretária Marli da Silva atendia a Iízacão supostamente vinda do gabinete de um deputado pedessista. "Aqui foramdescarregados 105 sacos de sapatos e cerca
de 400 sacos de roupas", confirma Marli.Ainda na quarta-feira, à tarde, o telefo
ne que tocava na casa do pastor João Dil-
.s1Jc:lOrn.,tN"rn
son Oteiro foi atendido por sua esposa."Nós queríamos confirmar a denúncia deextravio de donativos enviados pela Igrejade Campinas, São Paulo", perguntava a pessoa no outro lado da linha, que se identificou como sendo de uma Igreja de Horíanó
polis. "Quem fez a denúncia?" quis saber asenhora. Acertados os detalhes, ela esclarece: "De fato, a Igreja Presbiteriana de Cam
pinas enviou alimentos, remédios, roupas e
40 cobertores à Igreja Presbiteriana de Joa
çaba, em remessa nominal pela Transbrasil.Só Que até agora nada apareceu".
_
Imediatamente após esta ligação uma outra era feita, agora com o setor de cargas daTransbrasil. De lá o funcionário informava:"Todas as doações transportadas pela em
presa foram entregues sob a responsabilidade do então representante do governoaqui no setor, o Sr. Pacheco, da Casa Civil".
Procurado várias vezes na Casa Civil, oSr. Pacheco não foi encontrado.
E as denúncias não param aí. Iraí Zílio ,
deputado estadual peemedebista, cita cidades que receberam donativos sem necessitarem, tais como Água Doce, Bom Retiro e
Catanduva. Em Blumenau, segundo comen
tários da população, uma Igreja do BairroGarcia teria estocado acolchoados e cobertores ,para rifá-los. - Hailton PachecoDuarte.
"É POSSÍVEL.-
PREVER ASCHEIAS."Se as águas recomeçarem a subir -
como se teme e afirma - Santa Catarinaterá de recorrer novamente às orações e ao
assistencialismo porque os técnicos terãomuito pouco a dizer: "uma verdadeiraditadura de informações impede o acesso
aos dados essenciais para analisar o problema das cheias", denuncia Daniel JoséSilva, engenheiro civil, especialista em
Hidrologia e Recursos Hídricos e professorda única disciplina no Estado, que trata
exatamente disso: cheias. "Quem tem os
dados não dá e quem não os têm, nãoopina", diz o professor da UFSC.
Mas a dificuldade de obtenção dosdados não é o único entrave encontradopara se avaliar o problema das enchentesque atingiram o sul. Existem também dificuldades tecnocráticas ou burocráticas,como comenta o professor: "não existeurna disposição por parte dos técnicosgovernamentais de aceitar a participaçãocomunitária, o que é imprescindível paraque qualquer obra pública seja perfeitamente viável e satisfatória". Ele entendeque uma solução para o drama acarretadopelas cheias não surtirá efeito algum, nemserá compreendido pelo conjunto dascomunidades atingidas, sem que se contecom a sua participação, além dos representantes políticos e dos técnicos habilitadospara isso ..Criticando o fato, comum no Brasil,
de se começar qualquer obra de engenhariasem o estudo de um projeto - dragagenssem projetos de dragagens, uma nova fozpara o Rio Itajaí sem estudos de geomorfologia e assim por diante - o especialistaafirma a necessidade de se fazer uma política de condução da produção técnica.Ele lembra que se a comunidade não par-
ticipa dos projetos, ela não colabora, e a
participação é a saída política.Acontece que Daniel Silva não se atém
apenas a avaliar e criticar o que está sendofeito como solução para o problema dasenchentes no setor técnico-burocrático.Que tipo de trabalho se poderia fazer paraurna solução mais direta e eficaz?
PLANO PILOTOO próprio professor, juntamente com
uma equipe - que inclui estudantes - estáelaborando um projeto denominado "Campus Aproximado da cidade de Rio do Sul".Este projeto consiste num plano-piloto decontrole emergencial das enchentes com o
auxílio da comunidade. "Nós pretendemos,inicialmente, ensinar o pessoal a verificare prever o nível de subida da água dos rios,o que pode ser feito num posté de luz qualquer. Assim o pessoal pode se prepararantes da inundação.""Seria como o Campus Avançado de Sano.
-tarém, só que aqui em SC", explica. Issopermitiria que a Universidade colocassetodo seu potencial técnico a serviço dapopulação, não só na área de Engenharia,mas em todas as outras áreas que fossenecessária uma colaboração.
Elaborar, discutir e executar esse planopiloto, sempre junto com a comunidade -
faz questão de reafirmar -, visando a uma
metodologia apropriada e regional quediminua sensivelmente os danos ao meioambiente e aos meios de produção é o
objetivo básico do projeto. Para Daniel,a inexistência de metodologias apropriadasnas agências governamentais provoca um
vazio na busca de soluções.
Maria Lúcia Salgueiro
"E ,
e possível evitar a tragédia"
Participante de muitos debates rea
lizados a respeito do assunto, DanielSilva se tomou o maior "especialistaem enchentes" da UFSC, talvez pelofato de conseguir transmitir com clareza assuntos considerados técnicos e
complicados.E, afinal, o que é uma enchente?
Em que se constituem as obras conhecidas como dragagens, barragens e
diques? Exorcizando teorizações quesó os técnicos entendem, ele explicaque as enchentes ou cheias são resultados da formação do que se chama uma
onda de cheia que caminha rio abaixoaté desaguar nos oceanos ou em outrosrios maiores. Uma onda de cheia porsua vez, é formada por razões naturais- excesso de chuvas -, ou artificiais -
rompimento de barragens ou diques.As obras mais freqüentemente utili
zadas neste caso servem apenas paraatenuar a onda de cheia, reduzir seu
pico. São elas as barragens que, comseus reservatórios naturais, acumulamparte do volume da onda de chuva,retardando-a; diques ao longo doscursos d'água, cuja função é confmar aonda das cheias evitando a inundação;as dragagens e retificações dos cursos
de água que aumentam será a capacidade de transporte e sua velocidade doescoamento; e as derivações (ou leitosde alívios) que servem para armazenar
temporariamente certa quantidade dechuva e também para desviar parte daonda de cheia para lagos e rios quedeságuam em pontos mais baixos dasáreas a serem protegidas.
Tudo isso, entretanto, tem necessa
riamente que ser feito com a colaboração e entendimento da população. Deforma que as enchentes, se tratadas,adequadamente por ocasião da sua
ocorrência, causariam pequenos danosmateriais e decididamente um númeromínimo de flagelados. Ou, como diz o
professor: "Se não podemos controlaras chuvas e o clima particularmente,podemos, isto sim, controlar as alterações no meio ambiente da bacia hidrográfica, eliminando o componente-surpresa do problema das cheias". Ele vaialém, concluindo: "se não podemosevitar os prejuízos econômicos, podemos sim evitar o flagelo, o desamparoe a destruição do maior de todos os
recursos, o humano. Garantindo este,podemos garantir qualquer reconstrução ". - Maria Lúcia Salgueiro.
José Gatti
3
No Rádio, Música.NaTV,Pânico eRecados.Nos Jornais, Dificuldades.
Durante as enchentes, não só órgãosresponsáveis pela segurança civil estavam
desorganizados e despreparados para atender a urna catástrofe, mas também os meiosde comunicação locais. Isto é o que se
conclui após entrevista realizada, no Cursode Jornalismo da UFSC, com os repórteresElaine Borges (O Estado de São Paulo),Rivaldo Souza (free-lancer), Valdir Alves(O Globo) e Celso Vicenzi (O Estado).
Enquanto o Estadão conseguiu se mobilizar em dois dias, mandando uma equipede jornalistas para cá, o Estado levou quaseuma semana para se organizar e o Jornal deSanta Catarina parou de funcionar. O ra
diojornalismo praticamente não existiu e os
flagelados, que só tinham consigo radínhosde pilha, passaram semanas ouvindo música. A televisão, apesar do espaço dado aos
acontecimentos, pouco teve de verdadeirotrabalho jornalístico, limitando-se a ouvirfontes oficiais, ler recados e promover campanhas assistenciais, sem esquecer que as
primeiras imagens das cheias só apareceramdias depois da situação estar em seu pontocrítico.
Segundo os entrevistados, "o esquemapara a TV era facilitado pelos organísmcsoficiais, que davam preferência nos helicópteros militares, obedecendo ordens quevinham do centro do país". "O pessoal daGlobo chegava COm um esquema montado
e, em poucos minutos eram transportadospelos helicópteros, enquanto que os repórteres de jornais tinham que esperar dias e
dias", revelou Valdir.As dificuldades de acesso aos locais atin
gidos e a prioridade dada â TV para o deslocamento do pessoal nas várias regiões
inundadas, exigiam um esquema de organização dos jornais catarinenses, que se perdeu na burocracia, na incompetência e aténo desinteresse.
"O Estado chegou sempre atrasado e,geralmente, recorria apenas a dados oficiais", disse Celso Vicenzi. A própria questãodo que seria efetivamente notícia, se tornou difícil no meio de toda esta desorganização. Soma-se a isto o despreparo dosrepórteres, tanto na TV quanto nos jornais,que tiveram atuação muitas vezes desastrosa ao se defrontarem com o lado humanoda catástrofe. "Houve casos do repórterperguntar a um flagelado que estava chorando, se ele estava muito triste", comentou Celso."A preocupação essencial era com a tra
gédia humana. Mostrar âs pessoas que lêemjornais que estava acontecendo uma catástrofe. Era preciso sensibilizar as pessoas",assinalou Elaine Borges. É neste ponto queo trabalho de uma equipe jornalística podeapoiar o trabalho individual do repórter, emontar um esquema que se dedique integralmente e exige investimento das empresase cooperação administrativa dos donos dosjornais. A infra-estrutura para as reportagens é fundamental para que os meios decomunicação cumpram com a sua função,principalmente em ocasiões como está e
isto não existe nos jomais locais. O Estadãonão estabeleceu limite de gastos. Nós tínhamos plenas condições de transporte no quediz respeito a dinheiro, podendo alugarbarcos, carroças, para chegar aos locais dedifícil acesso e para nossa sobrevivência",contou Elaine, mostrando que o contrárioaconteceu, por exemplo, no jornal O Esta-
CRíTICATerminada a coletiva com os quatro
repórteres da enchente, a equipe entrevistadora da sexta fase do jornálismosentou no banco dos réus, e ouviu a
opinião crítica dos entrevistados a res
peito do seu desempenho - fato raro
em jornalismo de laboratório e inexistente no convencional.
Quietos e na comportada posiçãode ouvintes, os alunos souberam escu
tar as lições dos colegas mais experientes que, unanimemente, ressaltaram a
fálta de um roteiro mais detalhado quepermitisse fundamentar melhor sua
linha de raciocínio, ou seja, segurançapara aproveitar ao máximo os conhecimentos dos entrevistados.
O fotógrafo Riwldo de Sousaachou que deveria ter sido feita uma
pesquisa nos jornais e revistas recentespara que se montasse um álbum derecortes sobre o assunto. "Desta ma
neira se viria de encontro à máxima do
jornalismo que é estar muito bem informado antes de informar", frisouele.
Já a repórter EIaineBorges, deOEstado de São Paulo, salientou a falta de
um representante aa teievísão, com
quem poderia ser discutido também a
questão do sensacionalismo da TV, durante as enchentes. Elaine achou também que a conversa teria sido mais ricaem termos de organização de cobertura e dificuldades encontradas, se maischefes de reportagem tivessem sidoconvidados. "Isto permitiria inclusiveque fossem estabelecidos parâmetrospara o próprio desempenho da imprensa", afirmou ela ..
Na opinião de Valdir Alves, repórter de U Globo, os temas deveriam tersido divididos por área de interesse."Muita coisa que poderia ter sido abordada ficou de fora", lamentou ele. Seucolega Celso Vicenzi, de O Estado, reforçou a opinião do companheiro, dizendo que: "pouco se falou nasmaneiras de evitar novas catástrofes, ousobre a tão fálada reconstrução".
De qualquer maneira, surpreendidoscom a iniciativa dos entrevistadores emescutar sua opinião, os convidadosacharam que o grupo conseguiu levantar aspectos interessantes da questãodas cheias. - Rosângela Tremei
jornalistas entrevistadosna redação do Zero
do. "Teve repórter que recebeu 20 mil parapassar uma semana em condições precárias,que não possibilitava a própria sobrevivência."
A contradição de informações, a fruta decompreensão do lado oficial e até a incom
preensão em relação ao trabalho dos repórteres, exigia o amparo que cabe âs empresasem relação aos seus profissionais.
Dos entrevistados, o único que citou dificuldades em relação â omissão administra-
�va � â censura, fói o repórter Celso VicenZl CItando, como exemplo a orientaçãod�da aos repórteres de que �enizassem osnumeras de mortos nas matérias. Segundo?s outros entrevistados, no que diz respeitoas grandes empresas jonalísticas houve total apoio para a cobertura das 'enchentes.Quanto â censura, Elaine e Valdir asseguraram que não houve. "Nós enviávamos umcopião das matérias e todas elas forampublicadas". - Mirela Maria Vieira
AUTOCRíTICADepois da entrevista feita com os
quatro jornalistas que cobriram deperto as" enchentes em nosso Estado,com o objetivo de conhecer os bastidores não-revelados sobre o que aconteceu naquele período - eu, como re
lembrou Kanitz dias após: "tentamosbuscar sugestões de reportagens com
os jomalistas" - foi a vez dos própriosentrevistadores do ãro se auto-avaliarem, não poupando seus primeirospassos.
Houve ao meROS um consenso entreos repórteres do Zero que realizaram a
entrevista: os objetivos traçados nãoforam alcançados. Ou, apenas em parte. Alguns chegaram a esta conclusãode uma forma simples e direta - como
diria Hailton "não perguntamos o quedesejávamos" - e outros, como Mirelae Rita, buscaram antes da entrevista ospossíveis erros cometidos. "A distribuição de tarefas atrapalhou" concluíram elas. "Não tínhamos tempo paracontatar outros jornalistas e isso acu
mulou trabalho". Para a professoraCarmem, que acompanhou toda a en
trevista apenas como observadora, as
perguntas foram todas centralizadasem apenas dois entrevistados. Alémdisso, as perguntas não eram suficientemente objetivas. "No entanto -
disse ela - das respostas poderiam ter
SKlo extraídas novas perguntas, já quehavia revelações interessantes". "Temos"de ínsistir, ir em 'címa, não recear o
entrevistado" comentou Kanitz. "Osenírevistadoresê que Omgem a entrevista, devem assumi-ta",
Jaime, que também viu falta deobjetividade nas perguntas achou quepoderiam ter aprofundado mais certosassuntos. Fernando considerou as in...formações dos quatro jornalistas demasiadamente "oficiais". Segundo ele"não havia novidades nas respostas"."Nós nos perdemos em algumas perguntas e não sabíamos se poderíamosvoltar a assuntos já comentados ou
não", afirmou l.eani.Dos entrevistadores, três fizeram
cerca de 70% das perguntas, enquantoquatro praticamente não perg_untaramnada. Em todo caso," cómo ressaltaHailton, "temos que dar desconto. Afinai, há a inexperiência". - RosângelaTremel.
Briga política atrasa distribuição de remédios.Fazendeiros cameavam gado morto
pelas águas da enchente aos flagelados.Quilos e quilos de medicamentos foram distribuídos por leigos, sem
nenhum critério. Médicos recusaram-se
a trabalhar em tempo integral e outrosnegaram-se a fazer trabalho de sanea
mento. Uma verdadeira guerra pelopoder ficou estabelecida, com o PDS
tentando centralizar as ações mesmo
em municípios oposicionistas.Estas são algumas das denúncias fei
tas por membros das Equipes de Atua
ção Emergencial que estiveram nas
regiões alagadas. Mas não foi apenasisso: informações desencontradas, faltade ajuda material e até, no início,boicote por parte de alguns chefes deUnidades Sanitárias da Secretaria de
Saúde, dão uma idéia do caos instalado no estado nos momentos mais
críticos da enchente.
Algumas famílias ficaram até 10dias sem receber alimentos e remédios.A atividade principal destas equipes,formadas principalmente por estudantes de Enfermagem e Medicina da
UFSC, foi a de saneamento básico.No entanto, não havia transporte
disponível para as zonas rurais, e
chegou a ser vetado o uso de caminhões
para a remoção de animais mortos quecomeçavam a apodrecer e poderiamgerar contaminação.
REMÉDIOS
Lúcio Botelho, que é chefe do De
partamento de Saúde Pública da Universidade e está preparando um relatório final sobre o assunto, declarou queem Blumenau "chegaram 82 toneladasde medicamentos que foram encaminhados a hospitais conveniados e não à
Semanas depois de nonnalízada a situação no
Vale do Itajal, surgem ainda reSQulcios da tragé.dia: animaismortos trazidos pela maré infestam o
litoral. Nas fotos, animais e entulhos na Praia.Mole. (Ãtila Sbruzzi I
Falta de apoioOperação Socórroà
Uma denúncia foi feita semana passada pelo pessoal do Veleiros da Ilha
que participou da ajuda aos flageladosdo Vale do Itajaí: faltou apoio da Marinha. "Solicitamos que um helicóptero transportasse barcos de borrachapara os municípios do norte e oeste do
Estado, já que este acesso via terrestreera impraticável, contou Marcelo Ruppque afirma ter conhecimento da existência do estoque de dezenas de em
barcações deste tipo e quenão foramutilizadas. Marcelo acrescentou "nósdo Veleiros e do late Clube de Floria
nópolis tivemos que arriscar nosso ma
terial caro e inapropriado para socorreras vítimas".
Ainda, assim, as 20 embarcaçõesdestes clubes que participaram da operação-socorro, desde o dia 9 de julho,conseguiram salvar 300 pessoas em trêsdias de luta. Cerca de 60 criançasforam abrigadas em colégios e galpõeslocalizados nas partes mais altas dascidades. "Enquanto doávamos nossos
esforços gratuitamente, outros proprietários de embarcações de Blumenaucobravam mil cruzeiros para trafegarflagelados em- suas bateiras", afirmouMarcelo Rupp. E o Exército? "Foi deuma presença importantíssima", confirma Marcelo, que acha, porém, tersido pouco utilizado. "Se todo o mate
rial de que dispõe fosse realmente em
pregado teria sido melhor", afirma."Quando o Exército chegou", relembra ele, "três dias depois de já estar-
mos lá, o Comandante da guarnição deBlumenau organizou o seu pessoal paracontrolar o fluxo de alimentos e evitar
saques nas casas e no comércio".
COMBOIOO comboio que rumou para a região
alagada pelas enchentes foi organizadocom a ajuda de amigos e parentes dossócios destes clubes em atenção aos
.apelos das diversas prefeituras do Estado, que solicitavam transportes fluviaispara remover os flagelados. "Tudo foifeito às pressas". disse Rupp. "O queestava ao nosso alcance foi transportado para Gaspar".
Em Gaspar foi instalada uma espécie de oficina, na garagem da prefeitura para facilitar a distribuição de alimentos e a manutenção dos barcos. Segundo os velejadores, "o prefeito esta
va totalmente desamparado e despreparado. Nenhuma guamição das forçasarmadas estava lá. Nós mesmos nãotínhamos idéia do que fazer". E a população? "Ficamos impressionadoscom a passividade da população diantede nossos esforços. Creio que a causa
desse comportamento:
foi o trauma
que passaram", acrescentou Marcelo.No sábado à tarde, a CEVAL distribuiu seu estoque de frangos e 10 toneladas de alimentos vindos de Florianó
polis e chegavam à cidade, evitandoque todos passassem fome. "Inclusivenós, concluiu Marcelo Rupp. - Fernando Carneiro
5
prefeitura", como havia sido estabelecido. Lúcio afirmou que esses hospitais comercializaram os estoques quesobraram, utilizando os remédios daCampanha, portanto, gratuitos, para os
seus pacientes. Os gastos com medica
ção aos pacientes segurados têm subsídio do INAMPS. Esses fatos ajudam a
confirmar a questão da disputa política pelo comando das ações, pois certasprefeituras do PMDB não conseguiramcoordenar a coleta e distribuição, dosdonativos.
A briga política maior ficou porconta dos dois partidos hegemônicosdo estado. Em algumas cidades, comoé o caso de Itajaí, houve inclusive prefeituras paralelas do partido governista, como revelou o ex-presidente doDCE/UFSC, Geraldo Schuwiec, quando do relato de sua equipe para voluntários que trabalhavam na triagem dedonativos na Universidade. De um
modo geral as pessoas que trabalharamnas enchentes perceberam uma disputa política entre civis e militares, PDSe PMDB e entre grupos do partido deEsperidíão Arnin entre si. "Todos queriam ser bons, humanitários para os
flagelados". disse o estudante de Medicina Clóvis Lima.
Assim que as enchentes acabarammuitos flagelados relutavam em abandonar osalojamentos-albergues,mesmopressionados pelos organizadores. Éque ali conseguiam se alimentar atétrês vezes por dia, embora tenha havido racionamentos esporádicos. Eram
pessoas sem emprego e condições desubsistência que, provavelmente, faziam apenas uma refeição diária em
suas casas - muitas demolidas pelaságuas. - Jaime Ambrósio.
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BLUMENAU SE ORGANIZA SEM AJUDA ESTADUAL.
Passados 45 dias da cheia que quasedestruiu Blumenau, a cidade se recupera com notável rapidez, notando-se um
orgulho dos cidadãos ao verem que o
comércio já funciona com quase todasas lojas abertas e as ruas centrais járecuperadas.
Afora a Rua das Missões, acesso docentro da cidade à rodoviária, queainda apresenta alguns buracos, observa-se uma cidade que já não apresentanem sinais nem medo de qualquercatástrofe.
Dois projetos estão sendo desenvolvidos para a recuperação de Blumenau:O projeto Nova Blumenau, desenvolvido pela prefeitura em conjunto com a
comunidade, e o projeto Crise, pelaFURB em convênio com a UFSC.
O projeto Nova Blumenau foi instituído por decreto do prefeito Daltodos Reis, depois de decisão tomada na
Assembléia dos Cidadãos de Blumenau.
Há 14 comissões que compõem o
projeto. As principais são: organizaçãocomunitária para defesa civil, que vaise incumbir do treinamento da população para que se defenda de uma cheia;reconstrução de casas e terrenos, quefará a demarcação de postes e muros
com medições para orientação da população, além da recuperação de casas
e obras públicas. Os terrenos conseguidos pela comissão serão financiados a
baixo custo para' a população demenor renda.
Para efeito turístico, foi sugeridoque se pintassem as casas atingidas deuma cor até a marca da enchente e,acima desta, de outra. A idéia foi considerada ridícula pelo Secretário deTurismo, Vilarino Wolff.
O Secretário declarou ainda que
"Blumenau não Vai contar com ajuda doGoverno do Estado. O município temde se virar sozinho". Para isso, o prefeito Dalto dos Reis viajou, dia 25,para a Alemanha, a fim de conseguirdo "país-irmão" recursos para a re
construção de Blumenau.
CRISEO projeto Crise se compõe de três
linhas de ação: implantação de um
banco de dados que colherá todas as
jnformações acerca do nível do rio,ruas e estradas que podem ser transita-
- adubos, fertilizantes -, para uma rápidarecuperação do solo. Entretan to, nada estádefinido. Mas, a certeza de que o Centro deCiências Agrárias não sairá a campo sim
plesmente para "remendar" o Estado, éunânime. De acordo com opinião expressada em assembléia do CCA, a tarefa de re
construir cabe ao estado, não à Universidade.
Contudo, o medo de estarem sendo usa
dos para fins políticos e econômicos, preocupa os estudantes de Agronomia. "Estaremos ajudando na promoção pessoal de políticos, grupos econômicos, grandes latifundiários, ou ao pequeno agricultor flagelado?", perguntam eles. O professor de Avicultura, Antônio Carlos Machado da Rosa,explica: "Não iremos a campo sem termoscerteza de onde vamos atuar e como vamos
atuar".Enquanto isso, uma comissão formada
por alunos e professores estará fazendo umlevantamento das potencialidades e viabilidades dos estudantes, para atuarem no
campo ou para desenvolverem trabalhos debase no CCA. - Jorge Massarolo
das dentro e fora do município; levantamento de bacias hidrográficas da re
gião e seu comportamento duranteuma cheia; auxílio a flagelados e treinamento da população, que vai se incumbir do ensino de remo e natação,organização de mutirões de ajuda durante uma cheia; um setor de pesquisade sistemas de contenção de cheias e
levantamento de terrenos que possamser financiados a baixo custo.
Para o banco de dados, o maiorproblema é a falta de recursos financeiros, pois tal implemento exige apare-
lhos e pessoal capacitado para o ensinode sua operação.
Enquanto os projetos de recuperação são discutidos a nível oficial, a
comunidade blumenauense se recuperareabrindo lojas, firmas, cobrindo deflores os canteiros destruídos. Nosbairros mais próximos do centro, aindase notam as marcas nas poucas casas
que não foram pintadas ou limpas porfora. Dia-a-dia, Blumenau volta a sera "Cidade-Jardim" de sempre, apesarde bastante danificada pelas últimascheias. - André Gouveia.
Agronomia da UFSC propõemodificar estrutura agrícola.
"Nossa prioridade é a modificação daestrutura agrícola da região", afirmou o
professor Luiz Carlos Pinheiro MachadoFilho, do Centro de Ciências Agrárias e
principal articulador de uma proposta deatuação direta do CCA na Região do AltoVale do Itajaí, onde as chuvas foram pioresdo que as cheias.
Deslizamento, erosão, pastagens cobertas por lama, afundamento de terreno, foram os principais problemas constatadospor professores e alunos, que percorreramos municípios de Rio do Oeste, Laurentino, Agronômica, Aurora, Taió, Ituporanga,Lontras e Rio do Sul, analisando 34 propriedades rurais.
A idéia, embora ainda não exista um
plano concreto, é das equipes trabalharemjunto com o agricultor, para pôr em práticanovas técnicas alternativas no preparo daterra como, por exemplo, a utilização dospróprios recursos naturais. E, a fim deatender às necessidades imediatas do agricultor, incentivar a cultura de subsistência.
Basicamente, esta proposta vai contra o
uso indiscriminado de produtos químicos
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Como desencalhar os livrosque o catarinense não lê?
Aparen temente destinados à nutriçãodos roedores que infestam as prateleirasdos depósitos oficiais, os 40 mil exemplaresde livros de autores catarinenses, que estão
encalhados há vários meses, terão um rumo
mais nobre: serão adotados por várias escolas.
O projeto é da Fundação Catarinense deCultura e tem a pretensão de resolver devez Q�" problemas de distribuição do esto
que, desinteresse do público e falta de critério editorial. Os livros serão apresentadosnas escolas e o título que mais interessaraos professores será adotado como livrotexto. Os alunos destas escolas serão obrigados a adquirir os livros.
"A nível de sistema, o projeto ainda nãoestá aprovado para adoção", afirma Caetano Fachini, Superintendente-Adjunto de
sAdmínístração e Finanças da Fundação. Noentanto, Célio Morais que faz parte da
equipe de vendagem, desmente Fachini.Desde maio último ele tem procurado as
escolas e apresentado o projeto, conseguindo apenas que o Colégio Getúlio Vargasadotasse o livro "Cavalo em Chamas", deSilveira de Souza.
Quanto ao problema de encalhe doslivros, Fachini tem uma explicação simples:ano passado foram editados muitos títulos,não dando tempo de serem absorvidos pelopúblico leitor.
Para Salim Miguel, diretor da editora daUFSC, este projeto não passa de um
"remendo, um tapa buraco, pois o maior
problema do encalhe está na distribuição".Salienta ainda que pequena editora daUFSC edita mais ou menos 50 títulosanualmente e o esquema de distribuiçãofica mais difícil ainda, urna vez que os distribuidores não têm interesse numa editorade poucos títulos.
Noa-NoaSem os mesmos recursos financeiros das
editoras oficiais e ocupando uma pequenasalinha no centro de Florianópolis, funciona urna editora que deu certo, a Noa-Noa.Para Cléber, dono, tipógrafo, conselho editorial e distribuidor, o que interessa mesmoé a qualidade e não a quantidade. A editorafunciona em esquema artesanal, desde a im
pressão até a distribuição. Segundo Cléber,as pequenas editoras artesanais dependemde vendagem, "então têm que fazer a coisacircular". Ele próprio vai às livrarias e deixao exemplar para ser vendido, trabalha também com o serviço de reembolso postal,fazendo suas edições circularem nacionalmente. Foi assim que conquistou seu espaço de vendagem. "Vender", segundo Cléber, "não interessa muito à Fundação, poisvendendo ou não, eles ganham seu salário".Afirma ainda que "eles não têm compromisso com a cultura".
Para Cléber , uma maneira de vencer o
problema seria o de montar uma comissãode leitura competente e honesta, que façaa escolha de bons títulos e que invista em
novos autores. Disse ele que a procura peloseu trabalho é intensa, principalmente poraqueles que não têm acesso às editoras oficiais e aqueles que buscam uma linha detrabalho que dá prestígio. "Existem obras
que estão circulando pelo Brasil, que forameditadas pela primeira vez por mim. Entãoos autores que me procuram entram numa
lista de prestígio".Cléber diz que é procurado por autores
que buscam a preservação da sensibilidadeartística e da tipografia, além do que "otrabalho numa máquina tipográfica de maisde cem anos se toma exótico numa era eletrônica-como a nossa".
Jossane Ristow
Em exposição,a
- Cultura Catarinense.Todos os sábados, das 09 às 17 ho
ras, é dia de Feira no Largo da Alfândega. A Fundação Catarinense de Cultura e a Prefeitura Municipal de Florianópolis resolveram expor e vender a
cultura catarinense nas imediações doMuseu de Arte, na Rua ConselheiroMafra.
Os feirantes são artesãos, escritorese artistas em geral que expõem uma
variedade de produtos que vai desde oartesanato ao suco natural. Foi construído um tablado onde os músicos,artistas e público dispõem de aparelhagem de som para suas manifestações.
Para o ex-superintendente da Fun
dação, professor Miro Morais, a Feira
representa um projeto prioritário dentro dos objetivos de deselitizar a cultura, mantendo um encontro permanente entre os produtores de bens culturais e o público. Já o crítico de arte dojornal O ESTADO, Osmar Pisani, nãoconcord*om a maneira que vem sen
do realiz!Ma a feira. Para ele, "a verdadeira feira de cultura partiria de um
imen.ngenho, teares antigos, enfim,de todas as referências culturais deSanta Catarina a partir da Ilha, Comoestá sendo feita hoje, seria a última
etapa de implantação, após uma grande divulgação no Estado e em todo o
Brasil" .
lidas os feirantes acham uma exce
lente iniciativa, embora alguns julguema infra-estrutura precária, como é o
caso da expositora Márcia Felipe. Elanão fez a inscrição antecipada no Museu de Arte e foi impedida de expor, oque acabou fazendo, graças à divisãode estante com uma companheira.Márcia acha também que precisaria demais estantes na feira, pois há muitos
objetos frágeis e valiosos expostos nochão, enquanto outros mais rudesestão'melhor instalados.
Apesar de alguns preços absurdoscomo, por exemplo, o deu um pequeno lenço de seda que estava à vendapor Cr$ 5 mil, o volume de venda temsido satisfatório para os expositores.
Alguns dias antes de deixar o cargo,Miro Morais não previa uma data parao término da feira. De início, continuará enquanto vier atingindo os seus
objetivos e irá até quando tiver fôlego,procurando consagrar hábito de lazercultural da comunidade.
Ronaldo dos Anjos
Em certo trecho, o texto diz o seguinte:"As dificuldades continuam basicamenteas mesmas. Não se tem dinheiro e, quandomuito, se conseguem acordos capengascom a administração da Universidade".A repercussão logo se faz sentir. Elianafoi remanejada do cargo que ocupava no
DAC.Zuleika Lenzi, diretora do DAC e prota
gonista do remanejo de Eliana, justificasua atitude : "Além da reportagem não
contar a verdadeira participação do DACno Clube de Cinema, Eliana deveria explicar o significado dos acordos capengas".Inquerida se Eliana tinha sido demitida,Zuleika disse que "teria sido, se eu não
tivesse pedido que ela fosse somente rema
nejada de cargo". O motivo, segundoZuleika, "foi a falta de compatibilidadecom a administração".
A reação da CA de Comunicação foiimediata: O Clube de Cinema findou suas
projeções. "O projeto morreu aqui. Nãotemos mais condições de continuar com o
DAC", desabafou Eliana.
Desde a impressão até a distribuição, a editora de Cléber
Como se não bastasse o fim da meia-entrada para estudantes, outra atividade cine
matográfica que propiciou ao universitárioa exibição de filmes inéditos, alguns há
pouco tempo liberados das prateleiras dacensura, acaba de sucumbir.
O Clube de Cinema da Universidade,''Projeto Meia-Hora", criado pelo' CA deComunicação com o apoio do DAC, parapreencher um dos vazios culturais da Universidade, encerrou suas atividades. Desdeabril, o projeto vinha se destacando na
comunidade universitária pela exibição defilmes marginalizados pelo circuito comer
cial, e, em muitas vezes, completados pordebates sobre a questão cinematográfica.
Porém, o DAC, que até então administrava o auditório do Centro de Convívência, sentiu-se ofendido quando este foitomado pelos estudantes (DCE), no dia 15de julho. A crise culminou com o afastamento da bolsista Eliana Arndt, autora doartigo "Clube de Cinema, projetando um
trabalho", para o jornal do DCE, queapontava as dificuldades para levar em
frente um projeto cultural na Universidade.
funciona em esquema artesanal.
CLUBE DE CINEMA
Jorge Massarolo
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FOI DESATIVADO.
/
II
UFSC propõe alternativas."Cabe à Universidade o papel estratégi
co de incentivar a criação e desenvolvimento de alternativas democráticas e fortaleceros Movimentos Sociais, preservando a auto
nomia desses movimentos e da UFSCfrente ao Estado". A declaração é da professora llse Schere Warren, Coordenadorade Mestrado do Curso de Ciências Sociais,ao analisar as enchentes catarinenses e o
atual processo de reconstrução.Reconstruir é palavra proibida nos cor
redores de Ciências Sociais. Durante as
enchentes, professores desse curso se reuni
ram, analisaram e propuseram alternativas,além de criticarem o Projeto Estatal de
Reconstrução, já em cogitação na época."A Secretaria de Reconstrução é apenasuma burocracia paralela à burocracia estatal tradicional que reproduz e reforça as
formas tradicionais de dominação e exploração", afirma Ilse Scherer.
A professora coloca também que existena UFSC-um grupo formado pelas Associações de Professores e Servidores, Administração e DCE que crê na possibilidade da
Universidade levar um trabalho alternativoao Projeto Estatal, juntamente com as populações e comunidades não-privilegiadasdentro daquele programa. "Esse grupo vem
assumindo o compromisso de respeito às
verdadeiras reivindicações e formas de lutadessas comunidades", salienta.
Segundo Ilse Scherer Warren, está acon
tecendo um fato histórico inédito na UFSC,
pois esse projeto abre possibilidade paraque várias reivindicações da ComunidadeUniversitária sejam colocadas em prática,tais como, a conquista de autonomia ex
pressa por meio da realização de projetospróprios e independentes do projeto esta
tal, o antiburocratismo, com novas formasde articular ensino-pesquisa e extensão, fu
gindo da tradicional inércia e rigidez da burocracia curricular, e a possibilidade de colocar a Universidade a serviço da comuni
dade, principalmente a mais carente.
JOGO DO PODER
Apesar disso, llse observa que a Comunidade Universitária como um todo, tem se
mostrado desconfiada e não participa devido a vários temores. Alguns concordammas têm medo de romper.com a burocraciacurricular tradicional e liberar seu potencialcriativo. Outros temem em contribuir parao jogo do Poder, mas esquecem que a
UFSC nesse processo vem expressando conquistas e vontades da Comunidade Universi tãria. E o temor da inoperância de projetos alternativos decorre da incapacidade dese conceber transformações por vias não
paternalistas ou autoritárias. Há também os
que não concordam ideologicamente com o
projeto.Já o professor de Ciência Política, José
Eduardo Viola, pensando no que aconte-
cerá, passadas as enchentes, faz previsões:"A crise econômica e social adquire proporções alarmantes com a formação de umfabuloso contingente de desempregadosnômades que isoladamente ou em bandosassolam as regiões não-atingidas pelas en-
'
chentes . Aumenta a violência urbana". Use
Scherer concorda e acredita que isso acon
tecerá devido à exclusão dos menos favorecidos e por isso mesmo mais atingidos pelacatástrofe. "Os excluídos do modelo, semperspectivas futuras, optarão pela migraçãonão-planejada, podendo haver uma grandemarginalização" concluiu.
O professor propõe que se crie urna redede informação alternativa visando ao amploe profundo debate coletivo sobre o significado da catástrofe e o sentido da reconstru
ção, questionando as bases da sociedadecapitalista-burocrática-. Para Viola, as cheiasconstituíram-se num verdadeiro choque civilizatório comparável a guerras, invasões e
evoluções. Várias temáticas devem ser debatidas: A relação predatória do homemcom a natureza, a centralização da produção de energia, o avanço das tecnologias emdetrimento dos saberes tradicionais da população, a provável necessidade de convivercom alterações climáticas, o acontecidocomo sendo da ordem do humano-social enão do natural-divine.
- Leani Budde
pação do solo, tratamento dos rios,construção de barragens, aumento donível de produção rural e desenvolvimento de toda região catarinense, a
fim de que Santa Catarina consiga su
perar os prejuízos desta catástrofe".Para o professor de Ciências Sociais,
Remy Fontana, com a criação destanova Secretaria reinstala-se urna velha
separação entre os que planejam e os
que executam. Desta maneira, segundoele, "volta tudo ao seu normal".
"O Poder Executivo confirma as
suas prerrogativas de supercentralização às custas do sufocamento da sociedade civil com a nada desprezível vantagem de um discurso de partição e
uma prática de exclusão, que tem sidoa forma usual de exercício do poder deraízes oligárquicas e autocráticas",denuncia o professor.
Prosseguindo, Remy Fontana afirma que a idéia da Secretaria da Re
construção é interessante, porém pode significar, na verdade, apenas a
reintegração de autoridade central àscustas de uma política maijíij.escentralizada de restauração, p�do pelagestão das prefeituras e pela autogestão das comunidades atin�, quedemonstraram nos momentõS'!IPE emer
gência uma capacidade de trabalho e
organização que a burocracia estatalnunca teve. - Rita Coelho
AS CRíTICAS À SECRETARIAA nova Secretaria da Reconstrução
possui o objetivo de centralização do
poder, da união das oligarquias do Estado e da promoção pessoal do governador. Esta, ao menos, é a opinião dos
professores Célio Espíndola e RemyFontana, da UFSC.A nomeação do ex-governador do
Estado, Antônio Carlos Konder Reis,para titular desta nova pasta, já havia
gerado incômodas polêmicas dentro do
próprio partido do governo. E, claro,recebeu duras críticas de setores doPMDB. Criada em meados de agosto, aSecretaria continua merecendo análisescontundentes de todos os lados. "É o
grande capital que tem de ser defendi
do, pois isso é do interesse do governo", insinua Célio Espíndola, professor de Economia. E justifica lembrando que a proposta de reconstrução,feita pelo governo nos seus pronunciamen tos, dá maior prioridade à recuperação das grandes empresas, alegandoque as pequenas possuem um nível decomplexidade menor, possibilitando,desta maneira, a recuperação atravésdo trabalho de seus empresários e
operários.Ao referir-se a um plano de re
construção do Estado, ressalta: "eledeve visar fundamentalmente recu
perar o perdido e dar garantia para o
futuro, como criar condições de ocu-