static.fnac-static.com · biografia histórica – a de magalhães – com a narração de uma...

22

Upload: truonganh

Post on 10-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

NOS PASSOS DE MAGALHÃES

Do Autor:

O Esplendor do Mundo

Nos Passos de Santo António

Passagem para o Horizonte

Um Lugar Dentro de Nós

Encontros Marcados

O Mundo É Fácil

1 Km de Cada Vez

Tournée

Nos Passos de Magalhães

África Acima

A Lua Pode Esperar

No Princípio Estava o Mar

Planisfério Pessoal

NOS PASSOS DE MAGALHÃESUma biografia itinerante

Gonçalo Cadilhe

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor.Reprodução proibida por todos e quaisquer meios.

Por vontade expressa do autor, a presente edição não segue a grafia do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

© 2008, 2018, Gonçalo CadilheDireitos para esta edição:Clube do Autor, S. A.Avenida António Augusto de Aguiar, 108 – 6.º1050-019 Lisboa, PortugalTel. 21 414 93 00 / Fax: 21 414 17 [email protected]

Título: Nos Passos de MagalhãesAutor: Gonçalo CadilheFotos: Arquivo pessoal do autor, excepto quando assinaladoInfografia: Ana KaiselerRevisão: Silvina de SousaPaginação: Gráfica 99em caracteres PalatinoImpressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda. (Portugal)

ISBN: 978-989-724-425-4Depósito legal: 439 785/181.ª edição: Maio, 2018

www.clubedoautor.pt

Esta viagem contou com o apoio financeiro da Navigator

11

ÍNDICE

NOTA À PRESENTE EDIÇÃO ............................................... 13

I. PORTUGAL

Vésperas de partida ......................................................... 19

O primeiro passo .............................................................. 23

Crescendo em Lisboa ....................................................... 29

II. ÁFRICA ORIENTAL

Escalas em Moçambique ................................................. 37

O gosto do sangue ........................................................... 43

III. ORIENTE

Perplexidade pela monção ............................................. 51

Inauguração de Goa ........................................................ 57

No cruzamento do mundo ............................................. 63

Chegar às Molucas ........................................................... 69

IV. ATLÂNTICO NORTE

O destino selado em Azamor ......................................... 77

Renúncia e abandono ...................................................... 81

12

NOS PASSOS DE MAGALHÃES

Na estrada para Valladolid ............................................. 87

Tango em Tordesilhas ...................................................... 93

Deixar Sevilha ................................................................... 99

V. ATLÂNTICO SUL

A escolha de Carvalho ..................................................... 107

Letras a bordo ................................................................... 113

Retalhos da história ......................................................... 119

Motim no fim do mundo ................................................ 125

Na Patagónia .................................................................... 131

Um estreito sem nome ..................................................... 137

VI. PACÍFICO

O lugar do mar ................................................................. 145

Na Micronésia .................................................................. 151

Choque cultural em Guam ............................................. 157

A Terra é redonda ............................................................ 163

O primeiro dia .................................................................. 169

Contrariar o destino em Cebu ........................................ 175

Morte de Magalhães ........................................................ 181

VII. O GLOBO TODO

A metade conhecida do mundo ..................................... 189

Final não feliz ................................................................... 195

Cronologia essencial ................................................................. 201

Lista dos sobreviventes da circum-navegação ..................... 203

Tripulantes portugueses da armada das Molucas ............... 205

Notas .......................................................................................... 207

Bibliografia ................................................................................ 217

Agradecimentos ....................................................................... 219

13

NOTA À PRESENTE EDIÇÃO

Quando arranquei para esta viagem, levava expectativas altas. Tinha a noção de que este seria o meu livro mais ambi-cioso até à data. Era a primeira vez que abordava temas tão vastos e tão polémicos como a presença portuguesa no Oriente, a imagem de Magalhães na História de Portugal ou a subtil linha que separa o empreendedorismo da alta trai-ção. Por outro lado, assustava -me o cruzamento de uma biografia histórica – a de Magalhães – com a narração de uma viagem contemporânea – a minha. O resultado sur-preendeu -me, e pela positiva. As várias edições que o livro tem conhecido demonstram que a minha apreciação é acom-panhada pelo público.

Os factos históricos aqui descritos, sobretudo os que se referem ao navegador, foram recolhidos em diversas biogra-fias, estudos, colóquios e conversas com especialistas sobre Magalhães. Em paralelo com a biografia itinerante fui escre-vendo sobre o desenrolar da minha viagem actual. Assim, a «ambientação» histórica dos lugares visitados, a sua impor-tância na vida de Fernão de Magalhães e a sua «posição» na História de Portugal surgem lado a lado com a habitual

14

NOS PASSOS DE MAGALHÃES

temática dos meus livros: a descrição das peripécias e con-tratempos, os encontros culturais que se dissimulam nas ami-zades efémeras das estradas de pó, os instantâneos que revelam o mundo. Os leitores que procuram um ensaio his-tórico não ficarão defraudados; os que procuram relato de viagens, também não. No entanto, creio que a mais -valia do livro está na simbiose de ambos os géneros.

E por falar em relato de viagem, não me propus neste livro navegar oceanos nem refazer itinerários. Procurei pragmaticamente tocar os lugares mais importantes da vida do português. O título Nos Passos de Magalhães (ao contrário de Na Rota de Magalhães ou Seguindo Magalhães, outras hipó-teses entretanto descartadas) aponta para a qualidade sólida, terráquea, sedentária, desta viagem: como quem diz, os passos que ele deu em terra firme, os que deixaram pega-das no solo.

Escrevi na nota introdutória à primeira edição que um dos objectivos deste livro era «recordar a importância de Fernão de Magalhães na História Universal. Recordar o seu contri-buto para várias disciplinas do saber europeu, a sua respon-sabilidade na determinação da verdadeira dimensão do mundo, a sua figura pioneira no encontro de culturas e civi-lizações e, por fim, recordar a tremenda qualidade heróica e épica da sua figura».

Hoje que vivemos uma euforia internacional com a efe-méride dos quinhentos anos da primeira circum -navegação, comemorada por vários países em diferentes continentes, talvez este objectivo pareça alcançado. No entanto, convém recordar que, no palco internacional, a primeira volta ao mundo será sempre celebrada como um feito espanhol. E é. Espanha tirará os seus dividendos. Mas o que não está garantido nesse

15

NOTA À PRESENTE EDIÇÃO

mesmo palco internacional é a justa e devida atenção para a questão mais importante no sucesso da primeira circum--navegação: é que se a navegação foi espanhola, o navegador era português.

Nesse sentido, o objectivo do livro continua tão actual como quando foi lançado.

GCMarço de 2018

17

PORTUGAL

I

PORTUGAL

Dos primeiros anos de vida de Magalhães muito pouco se

sabe. Nenhuma certeza existe sobre o lugar ou a data do

seu nascimento. Sabe‑se apenas que terá crescido em

Lisboa: excelente ponto de partida para um percurso de

vida do tamanho do mundo.

18

NOS PASSOS DE MAGALHÃES

19

VÉSPERAS DE PARTIDA

No percurso comum de todos nós ao longo dos séculos, ou seja, na História Universal, há três homens que, sem lugar para grandes polémicas, são considerados os maiores navegadores de todos os tempos. Um deles é inglês, o capitão James Cook; outro é um italiano, o almirante Cristóvão Colombo. E outro ainda, é um português: Fernão de Magalhães é o maior nave-gador português da História da Humanidade.

Foi uma das coisas que descobri recentemente sobre Magalhães – que para muitos historiadores ele é o maior navegador de todos os tempos. Descobri outras, quase sem-pre surpreendentes. Quando, em 1989, a NASA enviou uma sonda a explorar o planeta Vénus, penetrando efectivamente na sua atmosfera, baptizou-a em honra desse maior navega-dor de todos os tempos: a sonda Magellan. Também descobri que uma das crateras da Lua se chama Magalhães. E que aquelas duas galáxias que atravessam a noite do hemisfério sul – das poucas, aliás, que o ser humano consegue avistar a olho nu – se chamam Nuvens de Magalhães.

Outras coisas já eu tinha descoberto há mais tempo. Por exemplo, que o Pacífico se chama assim porque quando a

20

NOS PASSOS DE MAGALHÃES

Armada das Molucas – era este o nome da expedição de Magalhães – atravessou o maior oceano da Terra, teve a sorte de não apanhar nenhuma das suas tempestades descomu-nais. E, assim, o capitán-general achou lógico baptizar o «mar do Sul», avistado poucos anos antes por Núñez de Balboa, com um topónimo tão equívoco.

Sabia também que Magalhães era responsável pelo nome desse mítico lugar nenhum, dessa dissolvência da medida humana, que é o fim do continente americano. Quando desembarcou em Puerto San Julián avistou na areia pegadas de humanos que lhe pareciam excessiva-mente grandes para a média europeia. E em vez da habi-tual e pouco fantasiosa solução toponímica de atribuir o nome do santo correspondente ao dia da «descoberta» – o Novo Mundo abunda em baías de Santa Helena, aguadas de São Brás, cidades de São  Francisco, cabos de Santa Maria, para não falar das províncias de Natal e das ilhas de Páscoa –, neste caso, a terra dos Patagões passou a cha-mar-se Patagónia.

Sabia que a Terra do Fogo era sua filha. Não sabia que Montevideu também o era: conta a tradição que o navegador terá gritado em latim Monte Videm, para assinalar como ponto de referência a colina onde hoje surge a capital do Uruguai. Não sabia que o nome científico dos pinguins do Atlântico Sul é Spheniscus magellanicus. Desta vez, a atribuição do nome não deve nada a Magalhães – ele, à falta de melhor, limitou--se a comê-los como se fossem patos, e assim os designou. Também não sabia que o estreito de Magalhães tinha, no iní-cio, outro nome, precisamente derivado da habitual e pouco fantasiosa solução do dia da descoberta: «Estreito de Todos os Santos». Mais tarde, e tal como a Astronomia e a Biologia,

21

PORTUGAL

também a Geografia fez a sua pequena homenagem ao maior navegador de todos os tempos.

Magalhães não terminou a viagem pela qual é mundial-mente famoso e que provou finalmente a esfericidade da Terra. A primeira circum-navegação do globo foi levada a cabo por um piloto menor da armada, Sebastián del Cano, que, no seu regresso a Sevilha, tentou mesmo, junto do impe-rador Carlos V1, receber todos os créditos, recolher todos os louros, pela empresa. Mas Antonio Pigafetta, o cronista ofi-cial da expedição, e depois a própria História puseram os pontos nos is, como se costuma dizer. O navegador morreu na ilha de Mactan, nas Filipinas, mas o mérito da mais extraordinária epopeia marítima de sempre cabe inteira-mente a Magalhães.

No entanto, a biografia do navegador português ao ser-viço do rei de Espanha é também a biografia do pajem por-tuguês ao serviço da rainha D. Leonor, a do escudeiro ao serviço de D. Manuel, a do obscuro funcionário da Casa das Índias, a seguir à do militar português ao serviço de Francisco de Almeida e de Afonso de Albuquerque no Índico, e ainda a do quadrilheiro-mor que conquista Azamor na armada do duque de Bragança. Antes de se tornar uma personagem cen-tral da História da Humanidade, Fernão de Magalhães testemunhou e participou em alguns dos feitos mais assom-brosos da História de Portugal.

Nos últimos tempos tenho andado particularmente obce-cado com esta personagem. Por motivos profissionais, claro; mas como geralmente me acontece, a profissão e a vida mis-turam-se sem grandes distinções. Durante os últimos meses andei a ler, a pesquisar, a tentar compreender mais e melhor a época e o mundo de Magalhães. A  interiorizar. E  nos

22

NOS PASSOS DE MAGALHÃES

próximos meses irei pelo meu mundo, com as ferramentas da minha época, a viajar e a escrever sobre Magalhães. A «exteriorizar».

Com o peso de tanta Geografia e tanta História a carregar pela minha viagem fora, como vou conseguir fazer uma via-gem e escrever um livro à altura de tudo isto? É com uma pontinha de preocupação que ponho uma vez mais a mochila às costas, saio de casa, deixo a cidade. Em que me meto desta vez? Sorrio: afinal, a mesma pergunta, as mesmas dúvidas, essa mesma pontinha de preocupação de todas as outras vezes, de todas as outras viagens. Por enquanto preocupo-me apenas com a mesma coisa de sempre: em vencer a inércia e dar o primeiro passo.