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VONTADE DE VENCER O QUE FAZER PARA MELHORAR SUA VIDA NO TRABALHO?

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VONTADE DE VENCERO QUE FAZER PARA MELHORAR SUA VIDA NO TRABALHO?

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THIAGO VENDITELLI CURY

VONTADE DE VENCERO QUE FAZER PARA MELHORAR SUA VIDA NO TRABALHO?

Mídia Alternativa Comunicação e Editora

São Paulo2007

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Realização:Midia Alternativa Comunicação

Diagramação:Beto Muniz

Capa:Douglas de Souza

Mídia Alternativa Comunicação e EditoraRua Dona Antônia de Queirós, 549 - sala 1103Higienópolis - São Paulo - SP CEP: 01307-010

(11) [email protected]

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

V988v

Cury, Thiago Venditelli, 1985 -Vontade de vencer: o que fazer para melhorar sua vida no trabalho /Thiago Venditelli Cury. - São Paulo : Mídia Alternativa, 2007.150p.:il.

ISBN 978-85-98567-11-2

1. Relações trabalhistas.2. Profissões - Desenvolvimento.3. Ambiente de trabalho.

I. Título.

07-1912. CDD: 650.13CDU: 65.012:61

17.05.07 25.05.07 001899

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que me deuforças para seguir em frente, protegendo-me e iluminandominha vida; mesmo com todas as pedras que surgiramem meu caminho, consegui continuar minha jornada comfé e esperança. Em segundo lugar, aos meus pais, TufikCury Neto e Ana Lucia Venditelli Cury, que meproporcionaram muitos momentos felizes e aprendizadosdurante a minha vida, pois, quando eu mais precisei deapoio, forças e orações, eles estavam lá, ao meu lado.

Em terceiro lugar, aos meus avós, que mesmocansados pela idade avançada, nunca me negaram umensinamento ou uma palavra de apoio numa hora difícil.Em particular, agradeço ao apoio espiritual que meu avô,já falecido, me proporciona todos os dias. Sei que suamissão em terra foi cumprida, e, agora, ele continua

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olhando pela sua família de um lugar mais elevado, ondenão há brigas nem intrigas, não há falsidade neminimizade e todos se unem por um bem maior.

E, por fim, não poderia deixar de agradecer aosmeus amigos que, além de serem fonte de inspiração paraas minhas idéias, ajudaram-me com opiniões, críticas,elogios e muitas risadas.

Obrigado a todos que estiveram ao meu ladodurante esta jornada.

E nunca se esqueçam: aconteça o que acontecer,sempre vale a pena recomeçar, de uma maneira diferente.

Agradeço em especial a todos os leitores. Esperoque possam tirar proveito deste livro e levar para suasvidas uma nova luz, um novo brilho.

Sucesso a todos!

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 9CAPÍTULO UM ....................................................................................... 11CAPÍTULO DOIS ................................................................................... 19CAPÍTULO TRÊS .................................................................................. 27CAPÍTULO QUATRO ............................................................................. 33CAPÍTULO CINCO ................................................................................ 43CAPÍTULO SEIS .................................................................................. 55CAPÍTULO SETE .................................................................................. 67CAPÍTULO OITO .................................................................................. 83CAPÍTULO NOVE .................................................................................. 97CAPÍTULO DEZ ................................................................................... 109CAPÍTULO ONZE ................................................................................ 113CAPÍTULO DOZE ................................................................................. 121CAPÍTULO TREZE ............................................................................... 127A ESCOLHA ........................................................................................ 135

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INTRODUÇÃO

O que muitos pensam sobre um escritório, umaempresa, muitas vezes não é verdade. Existe uma grandedivergência na opinião das pessoas, na maneira de agir,de pensar e até mesmo de liderar equipes. Alguns tentamlidar com as pessoas como se elas fossem robôs,produtores em potencial, que não têm o direito de sentir,de terem problemas pessoais, de apresentarem idéiasnovas ou de emitirem sugestões.

Este tempo está mudando. O mercado de trabalhoestá cada vez mais competitivo e destacam-se aqueles quesão inovadores. Assim, as oportunidades de crescimentosão maiores. É preciso que os empresários e os seuscolaboradores atualizem-se dos novos mecanismos detrabalho. Nos dias de hoje, é preciso inovar para podersobreviver. Por exemplo: perceba quantas padarias

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existem em seu bairro; a cada esquina podemos ver uma.O que torna uma melhor dentre as demais é o que elaoferece de diferente aos seus clientes.

O consumidor não procura somente o melhorpreço, ele também procura o melhor atendimento, o localmais organizado e também pessoas bem apresentadas ebem treinadas para atendê-lo. Para que isso aconteça, énecessário que você treine o seu funcionário, já que é elequem tem o maior contato com o consumidor. Ele é ocartão de visita da sua empresa.

Vale a pena investir na pessoa que colabora para amaximização dos resultados. Funcionários satisfeitos como que fazem, trabalham melhor e produzem mais. E, semdúvida alguma, trará excelentes resultados.

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CAPÍTULO UM

A vida se faz de sonhos, vontades, realizações e, éclaro, de rotina. E o maior desafio de todos nós étransformar essa rotina de trabalho, de estudos e de tarefasdomésticas em prazer. Nosso objetivo é vencer. Vencermedos, superar obstáculos, ir além a fim de termos algopara contar, transmitir conhecimentos e ajudar os outros.Talvez o mais difícil seja combater estas aflições noambiente de trabalho. A selva de pedra em que vivemos éum mundo competitivo, cheio de entranhas e de açõesmesquinhas e ilícitas, para que cada um tire a maiorvantagem para si próprio. Mas se começarmos a mudarum pouco este conceito, com atitudes mais amáveis, acompetição se tornará mais saudável, sem desgastes,apenas melhorando a qualidade do trabalho e seempenhando mais. Frederico aplicava essa vontade de

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vencer nos seus funcionários. Queria estimulá-los. Fazerde cada um deles um verdadeiro profissional de sucesso.

Doutor Frederico é advogado e administrador deempresas, foi diretor e consultor de grandesmultinacionais. Hoje, é superintendente na JunçãoRecursos Humanos. Ele procurava sempre contemplarseus dias com pensamentos que o fizessem sentir-semelhor e em condições de exigir a mesma força daquelesque trabalhavam com ele. “A cada novo dia temos aoportunidade de aprender algo novo, de fazer algo quenão fizemos no dia anterior”.

E era com esse pensamento que ele saía de casa,enfrentava a paulicéia desvairada e ainda chegava bemhumorado à Trivial Recursos Humanos, distribuindosorrisos e desejando bom dia. Frederico acreditava que,com esse comportamento, as pessoas teriam um diamelhor, com mais alegria. Elas trabalhariam maisempolgadas, pois muitas poderiam nem ter recebido umbom dia ao sair de casa.

Talvez tivesse razão. Por causa da correria do dia-a-dia, muita gente sai de casa sem receber uma saudação.As razões são várias: talvez porque acordem atrasadas,por falta de costume, por problemas de relacionamentoem casa ou, simplesmente, por morarem sozinhas. Algunsacham que com ou sem bom dia é a mesma coisa. DoutorFrederico sempre acreditou que desejar bom dia, sereducado e atencioso com os outros era umcomportamento essencial, e isso nunca lhe custou nada.

Lógico que, como todo e bom ser humano, às vezes,isto não acontecia como o esperado. Algumas pessoas demau humor já traziam de casa um rosto amargo, pois, aosaírem, alguma coisa já tinha dado errado e a vontade erade nem ter saído da cama. Isso já aconteceu comigo, com

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você, com todo mundo, não é verdade? Pois é, DoutorFrederico também tinha dias assim, de “acordar com opé esquerdo”, mas ele lidava com estas situações demaneiras diferentes. Nesses dias de sua vida, commaestria e sabedoria, ele conseguia contornar essassituações e seguir em frente. Sabendo que tudo o queacontece à nossa volta é um aprendizado, ele procuravanão se estressar com fatos assim. Além disso, ele tentavafazer com que todos os colaboradores da empresa seempenhassem em seus trabalhos.

Esse empenho dentro do ambiente de trabalho tinhabase em uma diretriz do Doutor Frederico: denominar ofuncionário como colaborador. Todos aqueles quetrabalhavam ao seu redor eram colaboradores. Ele diziaque, se você chamasse um funcionário de empregado, elepoderia cumprir muito bem as suas funções. Mas, se esteindivíduo fosse chamado de colaborador, o mesmo trabalhoseria feito, só que com muito mais empenho e gosto. Destamaneira, o trabalhador teria a certeza de que não sócumpriria suas funções, mas também colaboraria com ocrescimento da empresa. Sendo assim, os lucrosaumentariam, os objetivos seriam alcançados e ocolaborador cresceria junto com a empresa.

Seus funcionários aprovavam a atitude de DoutorFrederico.

— Como pode agir assim? Preocupar-se tanto comos funcionários! Nunca vi alguém trabalhar com esseobjetivo. Todos que conheci só se preocupavam com aprodução e, se não alcançássemos as metas, era broncana certa.

Apesar de observações positivas, mudançascausam burburinhos – não só na empresa, mas em todos

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os lugares. E na Junção não foi diferente, alguns nãogostaram e pouco admiravam uma pessoa que sepreocupava com os outros. Frederico se importava tantocom os seus colaboradores que se dedicava também amelhorias para eles.

Uma das grandes mudanças que ele proporcionouaos colaboradores foi o café da manhã, todos os dias,dentro da empresa. Com um cardápio caprichado, seuscolaboradores podiam sair de casa com mais calma paratomarem seu café da manhã com seus amigos de trabalho.

Essa iniciativa fez com que o número de pessoasque se atrasavam diminuísse bastante. Logo, odesempenho no trabalho também melhorou, fazendo comque, conseqüentemente, o resultado financeiro da empresaaumentasse. Percebendo toda esta melhora, DoutorFrederico resolveu compartilhar de todos os benefícioscom seus colegas de trabalho, diretores e até mesmo coma presidência da empresa, buscando difundir suas idéias.

Frederico convocou a diretoria para uma reunião,onde passaria todas as informações de seus projetos, ejuntos traçariam novas metas.

A diretoria aprovou as decisões de Frederico.Fizeram alguns ajustes e desenharam uma nova meta.Com isso, começava uma nova jornada.

Doutor Frederico convocou todos os seuscolaboradores a participarem de um café da manhãespecial, onde entrariam uma hora mais cedo, comeriamalgo diferente do habitual, e depois ele comunicaria quaiseram seus novos planos e objetivos.

Após a reunião com a diretoria e o café da manhãcom os colaboradores, um período de testes para o novomodelo de trabalho foi traçado. Ao final três meses,

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haveria nova reunião para apresentar um balanço dapolítica de trabalho implantada e os resultados do projeto.

Todos estavam empolgados. Um novo ânimo fazia-se presente e isso era algo que não se via há muito temponaquela empresa. Isto trouxe de volta a esperança paratodos aqueles que trabalhavam por algum ideal, e nãosimplesmente por dinheiro e ganância, como era o casode algumas pessoas lá dentro. Mais tarde saberemos quemsão e porquê agiam desta forma.

Para que todos pudessem ter um parâmetro, umplanejamento, Doutor Frederico preparou, no período damanhã, uma planilha onde especificou claramente osplanos e as metas. Colocou os valores e uma idéia queincentivaria ainda mais seus colaboradores: um benefício,uma premiação em dinheiro, medida em porcentagem,no final do ano vigente. Quanto mais progredissem, maisganhariam em benefícios no final do ano.

Esta meta ficou traçada da seguinte forma: quandoalcançassem o primeiro objetivo, receberiam umapremiação; se conseguissem o segundo objetivo, uma novapremiação um pouco maior, e assim sucessivamente. Anotícia correu por todos os departamentos, a nova metaestava na boca do povo e as conversas paralelascomeçaram a surgir.

Muitos diziam que isto era impossível, jamaisalcançariam os objetivos da forma que ele estava propondo.Outros acreditavam tanto no Doutor Frederico que nãoduvidaram da plena possibilidade de alcançar seus objetivose ainda serem beneficiados pelos seus esforços.

Quando Doutor Frederico terminou seus relatóriossobre os novos objetivos, resolveu montar algumas pastascom o seu projeto, e também com algumas frases de

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entusiasmo, que combinavam com as características decada um de seus colaboradores. Ao terminar de montaras pastas, dirigiu-se a cada um dos departamentos daempresa, distribuindo-as.

Ele dizia que o contato mais próximo com oscolaboradores era fundamental para o bom andamentode seus projetos. Enquanto conversava com as pessoas,ele ressaltava que elas poderiam fazer algo de diferentepara alcançar seus objetivos. Como exemplo, elecostumava usar a seguinte frase: “Todos os dias, eu melevanto e leio a lista dos nomes mais ricos do mundo.Se meu nome não está lá, vou trabalhar”.

Como ele participava das atividades de todos osdepartamentos, e conhecia todos muito bem, ele podiadar feedback, mas o que ele preferia mesmo era fazer comque a própria pessoa percebesse seu erro, e lhe dissessecomo poderia ser consertado.

Na maioria das vezes, Doutor Frederico chamavao colaborador para uma reunião, onde falava da seguinteforma: “Aqui encontramos algo que poderia ser diferente, ouaté mesmo mais arrojado; você saberia me dizer onde podemosmudar algo?”. Com esta atitude, ele pretendia criar desafiose explorar os conhecimentos e as vontades do colaborador.

Quando era necessário chamar a atenção de umcolaborador, ele dizia onde a pessoa havia errado e, emseguida, o quanto ela era importante para o crescimentoda empresa, do quanto era capaz e que possuíaconhecimento para realizar aquela tarefa. Desta forma,as pessoas à sua volta não desistiam de seus ideais e nãose desanimavam.

Frederico sabia muito bem como chamar a atençãode um colaborador. Procurava sempre fazer seus

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comentários ou suas repreensões em um local reservado,onde ninguém mais pudesse ouvir o que estava sendodito, para não causar constrangimentos e nem expor aimagem da pessoa. Fazia isto por saber que muitosprofissionais costumavam chamar a atenção de umempregado na frente de qualquer pessoa, causandotimidez, constrangimento, vergonha e até raiva naspessoas. Este não era seu objetivo, por isso agia de umaforma diferente dos outros.

O contato com cada trabalhador resultou emgrande aceitação e um retorno bem acima do esperado, oque deu a Frederico a certeza de que os colaboradores jáestavam prontos para começar a ingressar nos novosobjetivos. Esta preparação não foi fácil, uma tarefa árdua,mas de grande valia, afinal o feedback era positivo. Todosos esforços estavam valendo a pena, porque os resultadoseram visíveis dentro da empresa.

Durante vários dias, as pessoas conversavam,trocavam idéias, comentavam sobre o andamento de seustrabalhos e das dificuldades que estavam encontrando.Porém, no meio de toda esta empolgação, sempre existiauma ou outra pessoa que não queria saber de nada, quequeria somente subir na vida pelo lado mais fácil, o ladoda corrupção, da roubalheira. Enfim, uma situação queexiste em vários lugares, assim como na Junção, e era issoo que o Doutor Frederico queria mudar.

Sabendo de que nem todos concordavam com suasidéias, Doutor Frederico ficou atento às pessoas que agiamdesta maneira, tomando o devido cuidado para queninguém atrapalhasse seus trabalhos. Ele não queria quenada desse errado. Queria ter a certeza que ao final detodo o seu esforço as pessoas reconhecessem o que elehavia feito pela empresa e também pelos que nela

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trabalhavam. Infelizmente, não era com qualquercolaborador que Doutor Frederico podia contar, sabia quealgumas pessoas ali dentro eram “perigosas”. Assim foiconquistando a confiança das pessoas certas, aquelas quedispunham a seguir o seu modelo de trabalho, os seusprojetos. Mesmo com esta dúvida em relação a algumaspessoas, ele não deixou de auxiliar ninguém dentro daempresa. Ao contrário, continuava à disposição dequalquer um que precisasse de sua ajuda, sendo umanecessidade sincera ou não.

Após todas as mudanças, a rotina do DoutorFrederico se alterou um pouco, e para melhor. Quantomais os associados ficavam sabendo dos novos projetos,mais eles queriam participar das reuniões que eleproporcionava. O objetivo deles era se aliarem ao modode trabalhar de Frederico, e acompanhar a sua evoluçãono mercado de trabalho, podendo assim aprender muitocom as pessoas que colaboravam para este crescimento.As empresas associadas e os respectivos profissionaissabiam que a troca de experiências e a ajuda mútuaenriqueceriam não só o cotidiano de trabalho, mastambém a vida pessoal, uma vez que muitos não tiveramapoio para começar a carreira.

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CAPÍTULO DOIS

A diretoria começou a perceber o quão valioso erao trabalho que Doutor Frederico desenvolvia. Lógico queperceberam isso não só por causa do aumento nos lucrosda empresa, mas também porque os clientes não paravamde comentar como os serviços e o atendimentomelhoraram significativamente, os colaboradorestrabalhavam mais felizes, mais empolgados e o quantoas representações estavam contentes com os trabalhos.

As melhorias que Doutor Frederico conquistoueram completamente visíveis. Pessoas felizes no ambientede trabalho e dívidas dos credores sendo quitadas, graçasao novo modelo de cobrança que ele implantou. Quandoos clientes visitavam a empresa, eram mais bem recebidose melhor atendidos, em razão de um treinamentopraticado em uma semana, sempre uma hora antes do

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expediente, sobre o tema: “Como atender bem o seu clientepara que ele traga mais clientes”.

Algumas semanas se passaram e tudo caminhavatranqüilamente, como era esperado. Doutor Fredericodeixou um canal aberto para que qualquer pessoa pudesseprocurá-lo no momento em que precisasse. “Já que ele nosdeu esta liberdade, vamos até ele”, diziam os funcionáriosmais preocupados com o andamento dos projetos. Aspessoas o procuravam, tiravam suas dúvidas, e algumas,um pouco mais ousadas, experimentavam dar sugestões.

Doutor Frederico, com sua sabedoria, muitas vezesaproveitava as idéias de seus companheiros, dando umaincrementada em algumas delas. Sua formação garantiaamparo legal, pois possuía total conhecimento da áreafinanceira, embasando a execução e o planejamento, comchances mínimas de erro. Mas ele era prevenido, semprecontava com eventuais dificuldades que pudessem ocorrer,como problemas no orçamento e processos judiciários.Sua vasta experiência permitia-lhe uma tranqüilidade paraenfrentar os problemas. Mesmo que alguma pedraaparecesse no seu caminho, ele poderia retirá-la com calmae sabedoria, para que nada desse errado.

Ele se preocupou também em qualificar a rede decomputadores da empresa, promovendo melhorassignificativas no sistema de informações e no arquivoeletrônico, além de mudanças no site. Visava o aumentoda produtividade, realizava mais reuniões do que decostume para manter sempre atualizados os novosprojetos e os resultados. Entre tantas melhorias, seriamnecessárias novas contratações.

Enquanto tudo isto acontecia na empresa, osdiretores conversavam entre si, trocavam opiniões sobrecomo a situação estava melhorando e como as atitudes do

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Doutor Frederico estavam trazendo lucros para a JunçãoRecursos Humanos, entre outras coisas. Decidiram,então, contratar mais pessoas para ajudar no crescimentoda empresa. Os membros da diretoria sabiam que eranecessário acompanhar o ritmo do superintendente coma contratação de novos funcionários. Se ele cria novosdepartamentos, é preciso contratar ou promoveralgumas pessoas.

Após muitas conversas e inúmeras reuniões, adiretoria chegou a um acordo de que deveriam contratartrês novas pessoas e promover duas. Quando a decisãofoi transmitida ao Doutor Frederico, ele se sentiu muitoorgulhoso por saber que seu trabalho estava sendoreconhecido, e que seus esforços estavam acarretando emnovas contratações. Isso era gratificante.

Foram decididas as novas vagas e o pessoal a serpromovido, afinal, havia na Junção pessoas que buscavamsempre o seu crescimento pessoal e profissional; nada maisjusto do que promover os mais competentes para as novasfunções. Regras foram impostas e a diretoria faria as novascontratações; entretanto, Doutor Frederico tomou a frenteda situação e resolveu que ele mesmo faria as entrevistascom os candidatos e, conseqüentemente, as escolhas dosnovos contratados.

— Como posso exercer a minha função aqui dentro,se vocês não me dão liberdade para isso? - disse DoutorFrederico, querendo mostrar o quanto queria trabalharpara o crescimento da empresa, e de todos oscolaboradores também, fossem eles novos ou antigos.

A argumentação do Doutor Frederico deixoualguns diretores contrariados, mas eles permitiram queele fizesse as contratações. Após as devidas seleções de

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currículos, as pessoas selecionadas foram chamadas parauma entrevista, onde ele conversava, no mínimo, com umapessoa por dia.

Durante as entrevistas, pôde conhecer vários tiposde profissionais. Pessoas dispostas a crescer, querendo algomelhor em suas vidas e também pessoas tímidas, commedo do novo, medo de desafios, pessoas que não sabiamse expressar. Claro que os selecionados seriam os que maistinham interesse em crescer, em ter novos desafios emsuas vidas profissionais. Não que estas pessoas “menos”qualificadas não sejam profissionais capazes de exerceras funções, só que elas levariam mais tempo para fazer ostrabalhos como ele gostaria, por isso, os melhoresqualificados seriam os primeiros contratados. Após aformação dos setores e o andamento do projeto, seriamfeitas novas contratações.

Tendo a certeza da escolha feita, ele comunicou aoscolaboradores quem seriam as novas pessoas a trabalharna empresa. Solicitou a Carmem, responsável pelodepartamento de cadastros, que avisasse aos candidatosselecionados que providenciassem seus documentos paraa contratação.

Foi decidido também quem seriam as pessoas paraauxiliar os novos colaboradores nas suas funções, quemensinaria como o era o funcionamento e o cotidiano daempresa. Esta pessoa responsável por ajudar o novocolaborador a se adaptar era denominada pelo DoutorFrederico como “padrinho” ou “madrinha”.

Durante quinze dias, os “padrinhos” deixavam umpouco os seus afazeres de lado para auxiliar o novocolaborador. Doutor Frederico havia implantado esta idéiana empresa, para que as pessoas se conhecessem melhor,promovendo uma união maior e criando laços de amizade.

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Essa atitude tinha tudo para dar certo. É possívelfazer novos amigos onde trabalhamos, nos relacionarmelhor com uma pessoa de nossa equipe, simplesmentepelo fato de almoçarmos juntos ou de irmos embora nomesmo ônibus.

Existem pessoas dentro de empresas que moramno mesmo bairro e nem sequer sabem disso, porque nãoconversam ou não se relacionam muito bem umas comas outras.

Logo após estas denominações, os novoscolaboradores foram destinados aos seus setores, etambém as devidas promoções foram feitas: uma pessoafoi promovida para o setor financeiro; o outro, para oadministrativo. Em relação aos novos, um foi para oadministrativo, outro para o setor de vendas e uma moçapara a recepção. Doutor Frederico ressaltava que arecepção é uma parte importante da empresa, pois é olocal que as pessoas chegam e devem ser bem recebidas.Segundo suas palavras “a recepção é a primeira impressãoque uma pessoa tem da empresa”.

Todos receberam ajuda dos antigos funcionários.Doutor Frederico aprovou a ajuda dada aoscolaboradores novos, e disse, em tom de elogio, a todos:“se todas as pessoas soubessem passar um pouco de seusconhecimentos ao próximo, aos seus amigos, tanto na vidaprofissional como na vida pessoal, estas poderiam desfrutar debenefícios maravilhosos, como a gratificação de poder observaruma pessoa cumprindo uma tarefa com sucesso, e ter a certezade que se hoje esta pessoa é capaz de exercer esta função, foiporque teve o auxilio de um de vocês”.

Naquela empresa, a solidariedade e o gosto porensinar o próximo faziam parte de um objetivo a ser

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cumprido dia após dia, mas, infelizmente, não eramtodas as pessoas que pensavam desta forma. Algumasdelas queriam realizar seus objetivos pelo lado mais“fácil” da vida.

Para os novos contratados, o simples fato deobterem um treinamento, de serem capacitados adesenvolver tarefas e de poderem assumirresponsabilidades iguais às dos outros profissionais, eramuito valioso. Os benefícios adquiridos desta ajuda e desteensinamento refletiriam coletivamente dentro da empresae também na sociedade.

Doutor Frederico preocupava-se também emconscientizar seus colaboradores de que era preciso acooperação com estas novas pessoas. Percebendo maisuma vez o resultado positivo de seus atos, ele decidiu entãopromover uma palestra onde trataria de assuntos deconscientização para esta necessidade de compartilhar osensinamentos e seus conhecimentos. Um de seusargumentos era:

“Se nós, que somos os representantes da sociedade,tratássemos os novos profissionais com olhar de humanidade enão de simples empregados, muitas pessoas teriam maisconhecimento hoje em dia. Assim, logicamente, teríamos umnúmero menor de pessoas desempregadas”.

“Não que esta responsabilidade seja nossa, mas podemoscumprir com as nossas obrigações, podemos contribuir com anossa parte, por isso estou criando estas palestras deconscientização das pessoas para este novo tempo; o tempo deensinamento”.

Pensando em como poderia começar seu novotrabalho, Doutor Frederico decidiu pedir a opinião dealguns amigos do ramo, para saber quais as dificuldades

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que eles encontravam no mercado de trabalho. Procurousaber também como as empresas de seus amigos agiamem relação a estas novas contratações e a outros assuntos.

Logo que conseguiu reunir as informações que seusamigos empresários lhe forneceram com muito prazer,começou a colocar suas idéias no papel. Enquanto escrevia,não podia deixar de recordar do seu passado, dos seusensinamentos e aprendizados. Lembrou-se das primeiraspessoas que passaram pela sua vida profissional, seusprimeiros chefes, seus amigos de trabalho e até mesmode professores da universidade.

Frederico queria colocar um pouco da sua históriapessoal nesta nova empreitada. “Precisamos de novasidéias, de novas propostas, de contestações que mudemo posicionamento do setor empregatício e dosempresários em geral. Temos que eliminar os preconceitosque ainda existem sobre os novos profissionais, todos têmtotal capacidade de aprender, alguns com mais facilidade,outros com mais dificuldade, mas ninguém éimpossibilitado de aprender algo novo. A inclusão destaspessoas não é somente um assunto empresarial, mastambém um assunto social”.

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CAPÍTULO TRÊS

No que diz respeito a operacionalidade das novascontratações, a capacitação é essencial para dar início àuma nova jornada. A praxe do mercado é permanecercom o quadro de funcionários já existentes, semaumentar o número de pessoas trabalhando em suasdependências, já que isso aumentaria os custos eacarretaria em riscos financeiros. Entretanto, DoutorFrederico acredita que se devem dar novas chances àspessoas que estão começando suas carreirasprofissionais, principalmente àqueles que têm visão deempregabilidade. E o que é empregabilidade?

“Empregabilidade são os diferenciais de um profissionalque fazem com que ele se mantenha ou se recoloque rapidamenteno mercado de trabalho, onde as pessoas têm a oportunidadede mostrar suas qualificações, fazendo com que sejam escolhidaspara exercer suas funções”.

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Esta era uma grande briga que o Doutor Fredericoestava comprando com os diretores, os supervisores e opresidente, mostrar algo diferente do que eles acreditaramser o correto durante todas as suas vidas.

Concluída a primeira parte do projeto, Fredericodecidiu que era a hora de convocar uma reunião com adiretoria da empresa. Pediu a Andressa, sua secretária,que marcasse o encontro com os diretores para quarta-feira da semana seguinte. Afinal, mesmo com a autonomiaque lhe foi dada, ele devia satisfações e esclarecimentosaos seus superiores. Apresentaria o projeto de inserçãode novos profissionais no mercado de trabalho.

Uma hora depois, Andressa comunicou ao chefeque estava tudo acertado e a reunião confirmada. “Muitobom, Andressa, você é muito eficiente”. Ele prezava muitoa capacidade de seus colaboradores e por isso faziaquestão de lhes dar um feedback. Este retorno era essencialpara que continuassem exercendo suas obrigações damesma forma, ou até melhor.

Doutor Frederico sentia-se satisfeito por ter na suaequipe pessoas tão habilidosas. Sentia-se ainda maisrecompensado por saber que quase todas as pessoas daempresa começaram de baixo, aprenderam de tudo umpouco e tiveram o apoio de outros colaboradores parachegarem onde estão, e isto fazia com que ele seempenhasse ainda mais em seu projeto.

Enquanto o dia da reunião não chegava, DoutorFrederico aproveitava seu tempo livre para continuar acolocar no papel suas mais novas idéias. Ele fazia pesquisasde mercado relacionadas com novas contratações, buscavainformações em livros, jornais, revistas da área de RecursosHumanos, entre tantos outros lugares, além de conversar

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muito com amigos e conhecidos. Chegou até a pedir aopinião de seus familiares, o que eles pensavam a respeitodo assunto, e como percebiam o retorno desta nova atitudepara as empresas.

Com o passar da semana, Doutor Frederico foiconcretizando seu trabalho, mas sem se esquecer emmomento algum dos seus colaboradores. Ele sempreestava presente em todos os departamentos, prestando oauxilio que havia prometido a eles, para que continuassema cumprir suas metas com sucesso.

Na terça-feira, um dia antes da reunião com adiretoria, Doutor Frederico preparou a apresentação queusaria. Revisou todo o seu trabalho, corrigiu erros,acrescentou mais alguns detalhes e, quando estava com oprojeto pronto, pôde respirar tranqüilo: “Mais uma vez,trabalho cumprido com excelência”.

Poderia agora pensar com calma na maneira queapresentaria seu novo projeto à diretoria, como iniciaria asua abordagem, como exporia suas pesquisas sem quecausasse tumulto e discussões. Afinal, o que as pesquisasde mercado apresentavam não era nem um poucoparecido com a atitude dos empresários ali presentes.

Decidiu então pedir a ajuda de Andressa, já queela sabia detalhadamente como os diretores preferiamobservar uma apresentação. Aproveitou a ajuda dasecretária e pediu a opinião em alguns pontos de seuprojeto.

— Doutor Frederico, está maravilhoso! O projetoé perfeito e a apresentação não poderia estar melhor. Estátudo de acordo com o que os diretores gostam.

— Andressa, muito obrigado por sua ajuda. Se osresultados desta reunião forem positivos, como

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esperamos, você vai ver como tudo irá mudar aqui nestaempresa e em outras também.

— Certamente seus projetos trarão bons resultadospara esta empresa, Doutor, e o senhor será reconhecidopor seu trabalho, dedicação e esforço neste e em outrosprojetos.

— Querida Andressa, todos estes projetos queestou desenvolvendo aqui na empresa não são peloreconhecimento das pessoas, mas sim pelos meus ideais.Não há prazer maior do que a satisfação de ver um projetodando certo e as pessoas se beneficiando com osresultados. Logicamente, ser reconhecido é algo bom, masnão podemos esperar do outro algum tipo dereconhecimento para nos sentirmos bem, “nunca devemosfazer da opinião do outro o termômetro da nossa auto-estima”.

— Doutor Frederico, como é bom ouvir ecompartilhar dos seus ensinamentos. Trabalhar com osenhor é como uma escola para mim. Sempre que venhopara o trabalho, logo quando acordo, me pergunto: O queeu vou aprender hoje? Com o que vou poder contribuirpara o crescimento daqueles que trabalham comigo e parao meu crescimento pessoal também?

— Comecei a pensar assim depois que o senhorveio trabalhar aqui. Pude conhecer vários tipos desuperintendentes e nunca tinha visto alguém com asabedoria que o senhor tem. Se estas pessoas que passarampela empresa tivessem tido a mesma dedicação em criarprojetos, de lutarem por algum ideal, como o senhor estáfazendo, as coisas poderiam estar melhores para todosnós há algum tempo. Mas os outros profissionais nãocolocavam esta sabedoria para fora, guardavam todo oseu conhecimento para eles mesmos.

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— Pois é, Andressa, muitas vezes as pessoaspensam que, se compartilharem algo bom com seuscolegas, estarão colocando seus cargos em risco; mesmolhes ajudando, passando seus conhecimentos para frente,continuarão correndo riscos, podendo ter seus cargos“roubados”. Muitos empresários que eu conheço pensamque, se compartilharem de algo que aprenderam em suasvidas, podem estar dando a chave do sucesso para ooutro “de mãos beijadas” ou “de graça”, e não percebemque temos que transmitir o nosso conhecimento e asnossas técnicas. Se nós nos prendermos a estas “técnicasvelhas”, deixaremos também de aprender coisas novas.Pessoas que sabem algo a mais do que nós também nãoirão compartilhar seus conhecimentos conosco. E aí? Oque faremos para recuperar o tempo perdido?

— O que eles ainda não se deram conta é quequalquer pessoa pode fazer isso, até mesmo a própriadiretoria da empresa pode decidir se é necessário trocarde profissional, e não apenas mudar por mudar, como jáaconteceram várias vezes. Então, Andressa, enquanto euestiver ocupando a minha cadeira de superintendente,sempre farei tudo o que estiver ao meu alcance para ocrescimento da empresa e dos colaboradores.

Espantada com tanta coragem e dedicação,Andressa decidiu permanecer em silêncio por algunsinstantes, como se não tivesse palavras para descrever oquão importante era o aprendizado que obtinhadiariamente com Frederico.

Logo após ouvir o que o superintendente disse,Andressa resolveu ir mais longe com os seusquestionamentos, aproveitando a ênfase que ele haviadado ao assunto.

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— Doutor Frederico, o que podemos fazer para queos diretores das empresas realmente queiram nos ajudar?

— Não podemos fazer nada, além deexpressarmos as nossas idéias. Então, teremos queaguardar a colaboração deles. O que eu realmentegostaria de fazer era, simplesmente, estalar os dedos efazer com que as coisas ficassem diferentes e mudassempara melhor. Assim, eu teria mais tempo para desfrutardos resultados. Mas isto não me levaria a nada, poiscomo saberia definir o que é superar um desafio? Oque é conquistar algo que tanto se deseja? Como eucompreenderia o que é ser bem sucedido na vida? Seas coisas são fáceis, os esforços não valeriam de nada,as opiniões não seriam aceitas! As regras seriamquebradas. Por isso, a única coisa que nos resta é fazera nossa parte e esperar que eles cumpram com a deles.

A conversa fluía tão bem que nem perceberam ahora do almoço chegar. Doutor Frederico convidouAndressa para almoçar, pois, como um homem esperto,ele sabia que, de estômago vazio, é mais difícil criarnovas idéias.

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CAPÍTULO QUATRO

Enquanto Frederico e Andressa iam para orestaurante, muito freqüentado pelos funcionários daempresa e “eleito” por eles como sendo a mais deliciosamassa da região, aproveitaram para colocar a conversaem dia. Afinal, no horário de almoço é que eles podiamconversar sobre coisas que não diziam respeito à empresa.Mas quem disse que eles conseguiam não falar detrabalho? Andressa, em sua primeira frase fora doambiente de serviço perguntou:

— Doutor Frederico, como as pessoas estãoreagindo com a sua maneira de trabalhar? Como estásendo a aceitação dos seus projetos?

— Bem, pelo menos ao meu ver, os nossoscolaboradores estão satisfeitos. Todos estão contentes coma minha maneira de providenciar as devidas mudanças e

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com o meu jeito de tratar carinhosamente as pessoas. Achoque elas nunca tinham trabalhado com alguém que temcomo primeira ação da manhã, logo ao pisar na empresa,desejar um bom dia. Algumas atitudes surpreendem! Maseste meu comportamento é o que todos nós deveríamoster diariamente em nossas vidas, com todas as pessoas ànossa volta. Não nos custa nada desejar um bom dia e sereducado com nossos amigos, familiares, companheirosde trabalho, entre tantas outras pessoas que convivemosdurante os nossos dias.

Andressa, impressionada com as palavras deDoutor Frederico, quis saber mais sobre como, quando eonde ele havia aprendido todas estas coisas.

— Como o senhor conquistou este jeito de ser, estaforma carismática de tratar as pessoas à sua volta? –perguntou a secretária ansiosa por mais informações, jáque via no chefe um modelo de profissional.

— Antes de responder-lhe, posso-lhe fazer umapergunta, Andressa?

— Claro que pode, Doutor Frederico.— Para você, o que é o Auto-Conhecimento?— Doutor Frederico, que pergunta difícil! E

também bem diferente, por sinal! — titubeando um pouco,mas continuando logo em seguida — Para mim, Auto-Conhecimento, é quando sabemos o que queremos paraa nossa vida, é o que sabemos de nós mesmos, o quegostamos, que dia da semana preferimos e o porquêpreferimos. Também é o tipo de cheiro que mais nosagrada, estas coisas... Por quê?

— Você não está errada, Andressa, mas Auto-Conhecimento é também uma maneira de olharmos paradentro de nós mesmos, para o nosso próprio interior,

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percebendo qual é a nossa essência, os nossos padrões, asnossas experiências de vida, a cultura social. Somenteassim podemos encontrar um sentido para nossas vidas.Quando nós conseguimos alcançar todas estas coisasdentro de nós mesmos, poderemos definir uma maneirade agir, qual o melhor comportamento que podemos ter,de que forma desfrutaremos nossas vidas e como vamossuperar os nossos desafios e obstáculos.

Andressa ficou pensativa. Desmembrava aqueleaprendizado, atentando para cada palavra. Enquanto amoça refletia, ambos resolveram pedir a comida. Ogarçom aproximou-se, sugeriu alguns pratos. Pediramcapelete ao molho branco e um vinho para acompanhar.

— Onde paramos nossa conversa, Andressa?— O senhor estava falando sobre Auto-

Conhecimento.— Claro! Deixe-me lhe explicar. Todos nós temos

uma intuição, algo que nos diz o que devemos fazer ounão, como devemos agir em determinadas situações, etc.Nós já nascemos com esta intuição. A única coisa quetemos a fazer durante a nossa vida é aprendermos a colocá-la em prática. Eu costumo dizer que esta intuição é a “vozdo nosso coração”.

— “Voz do nosso coração”, como assim?— Veja bem, Andressa, quando você está com

dúvida, por exemplo, em decidir por alguma coisa, algoque queira muito, mas não tem certeza se deve fazer ounão, o que acontece? Neste momento, se parar por algunsinstantes e pensar se deve realmente fazer, você vai ouviruma voz interior que lhe dirá o que deve ser feito. Vocêpode acreditar que a resposta estará certa. Isto porque oseu coração jamais irá mentir para você, não é mesmo?

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— Acho que sim. Nunca tentei fazer isto, mas creioque nós não nos enganamos com as coisas. Acho que tudoacontece como deveria acontecer, se eu escolho por algo,mas no fim vejo que foi a escolha errada, não fui enganada,fui alertada a não errar novamente. Acredito que seja umaprendizado, para que na próxima oportunidade eu possafazer do jeito certo.

— Perfeito! Mesmo assim, com esta sua facilidadeem compreender o raciocínio das coisas, não pense queé fácil ouvir uma voz interior, algo que você não vê,somente pode ouvir e sentir. As pessoas têm medo,acham que é coisa do outro mundo, mas ninguém se dáconta de que um dia já passaram por algo parecido. Elasnão se atentam aos detalhes e este acontecimento acabapassando desapercebido. Ninguém nunca pára e pensa“como eu decidi por algo sem ter a certeza de que era omelhor a ser feito?”. E pode acreditar que era a suaintuição lhe dizendo o que fazer.

— Doutor Frederico, quantos ensinamentosmaravilhosos estou aprendendo! Espero que o senhornão tire férias nunca, assim lhe verei sempre e nãodeixarei de aprender.

— Querida Andressa, você sempre irá aprendercoisas novas seja comigo, ou com outra pessoa. A nossavida é feita de aprendizados. Com alguns, nosidentificamos mais, com outros não nos damos tão bemassim, mas sempre estamos aprendendo algo. Quandoconhecemos algumas pessoas, não é por acaso que elasapareceram. Se conhecermos um amigo novo, e nosidentificamos muito com ele, por exemplo, é que temosalgo importante para aprender com ele, ou até mesmotemos algo a lhe ensinar. Ou, de repente, se deixamos denos encontrar com uma pessoa, é porque o que tínhamos

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que aprender com ela terminou, e o que tínhamos a ensinartambém se encerrou. Espero que você faça bom uso dasminhas palavras, e que sempre conte com a minha ajudapara o que precisar.

Enquanto almoçavam, o silêncio pairava sobreaquela mesa, a comida estava tão gostosa que as únicaspalavras que podiam ser ouvidas eram: “Por favor, passe-me o sal”. “Por favor, traga-me uma garrafa de água”.Naquele momento, o assunto tão interessante foiinterrompido pela imensa vontade de comer.

O almoço não durou mais do que 40 minutos, eassim que terminaram de comer, Doutor Frederico pediuum cafezinho. Andressa quis um pedaço de bolo dechocolate como sobremesa.

Após pedirem a conta, Andressa sugeriu ao DoutorFrederico que, ao chegarem à empresa, conversassem umpouco mais, chamando Carmem, agora coordenadora dodepartamento administrativo, para interagir. Os três nãoteriam nenhum compromisso importante e trocariamidéias sobre o ambiente de trabalho e a convivência interna.

Ao chegarem no escritório, adiantaram algumastarefas pendentes para que pudessem se reunir semnenhum contratempo. Logo que terminaram, Andressa eCarmem prepararam alguns documentos para seremvistos durante a reunião. Frederico estava ansioso paraexpor suas novas idéias às moças.

Os três dirigiram-se à sala de reuniões e pedirampara que não fossem incomodados. Apesar de não serum assunto confidencial, era melhor não perderem o fioda meada com interrupções.

A porta fechada da sala de reunião despertou acuriosidade das pessoas dentro do escritório. Os ânimos

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ficaram aguçados. “O que será que está acontecendo?Porta fechada e não querem ser interrompidos? Algoestranho pode estar começando a acontecer”. Alguns,mais exagerados, diziam: “Temos que nos prevenir, se elesvão se unir, nós também devemos fazer uma aliança”.

Como ninguém imaginava o que era discutidonaquela sala, os mais preocupados tiraram suas própriasconclusões e tomaram atitudes sobre a conversa misteriosados três. E eles iriam se defender! Não sabiam o que iaacontecer daquele dia em diante, mas na opinião deles,era necessário se prevenir. Eles pensavam que, se osassuntos da reunião fossem de interesse de todos, DoutorFrederico deveria fazer uma reunião coletiva, e não deportas fechadas e a um “público” limitado.

Se prevenir contra o quê? Eles estavam seprecipitando, já que os planos de Doutor Frederico tinhamcomo objetivo trazer o bem-estar para todos dentro daempresa. Mas eles decidiram, antecipadamente e semconhecimento dos fatos, se armar contra osuperintendente, Carmem e Andressa.

O que será que levou estas pessoas a pensarem maldo Doutor Frederico? Provavelmente a influência quealguns exercem sobre outros. Talvez fosse somente fofoca.Doutor Frederico foi julgado sem motivos e pagaria umpreço por esse julgamento.

Essa atitude se deu porque o “medo” está na mentedas pessoas. Se elas confiassem em si mesmas, não teriammotivos para julgar o Doutor Frederico como uma mápessoa, com más intenções. Elas viram o perigo, ondeexistia somente a bondade. “Cada um vê aquilo deacordo com os óculos que usa”.

Sem que Doutor Frederico percebesse, algumaspessoas começavam a olhar para ele de uma maneira

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diferente, achavam que ele estaria tramando algo oureunindo forças a seu favor. Desta maneira, começaram atratá-lo de uma forma mais retraída, com um pouco dedesconfiança, com o “pé atrás”.

Ninguém poderia imaginar que algo deste tipopudesse acontecer. Talvez, com os antigos diretores, masnão com o Doutor Frederico. No princípio, ninguémpercebeu nada, pois as observações eram feitas àsescondidas. Após o término da reunião, Doutor Frederico,Andressa e Carmem começaram a trabalhar de umamaneira mais alegre e mais empolgada, provocando maisdesconfiança nas outras pessoas.

“Vamos prestar muita atenção no comportamentodeles, vamos nos atentar em como serão as coisas daquipara frente”, diziam os opositores.

Os dias foram se passando, o trabalho seguianormalmente e ninguém desconfiava de nada. Para amaioria das pessoas, as coisas estavam normais emelhorariam em breve. Enquanto isso, outros pensavamem como destruir o superintendente que, em tão poucotempo de empresa, já promovia significativas mudanças.Eles desconfiavam das reais intenções de Frederico.

Estamos atentos aos novos movimentos do DoutorFrederico e sua turma. Se eles querem nos derrubar,podemos fazer isto primeiro.

As pessoas tiram suas próprias conclusões erelatam falsos acontecimentos. A desconfiança emFrederico era tão grande que ninguém se preocupou como fato de que poderiam prejudicar alguém ou, até mesmo,eles próprios. Mais alguns dias se seguiram sem que nadaviesse à tona. Tudo parecia normal. Enquanto algunsestavam felizes e aguardando as mudanças, outros

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estavam preocupados, tensos, não disfarçando aansiedade sobre o que estaria para acontecer.

Os procedimentos que foram mudados, aos poucosforam dando resultados, e, por sinal, bons resultados. Osmodos de cobrança foram alterados, assim como ofuncionamento em alguns departamentos. Os promovidosjá trabalhavam nas novas funções, e os contratados já seencontravam familiarizados com o trabalho.

Quase todos os dias, Doutor Frederico reunia-secom algumas pessoas dos departamentos para saber comoestava o andamento das novas funções. Ele queria sabertambém se elas tinham dúvidas, como os clientes estavamreagindo e como estavam as inscrições para os novostreinamentos que a empresa oferecia. Em relação aoscadastros das empresas, ele quis saber se estavam sendofeitos de acordo com as novas regras. Frederico pediu umrelatório das empresas que estavam inadimplentes e queagora regularizavam a situação depois dos novosprocedimentos de cobrança.

Como já foi dito antes, a reformulação nos quadrosda empresa envolveu contratações e mudanças de função.A recepcionista foi promovida a auxiliar administrativa.O mensageiro passou a ser auxiliar financeiro, no setor decontas a pagar.

Para o setor de vendas e cobranças foi contratadoMatheus, um rapaz jovem, mas experiente. Além dele,foi contratada uma moça para o lugar da antigarecepcionista e um novo mensageiro. Todos estavam emcaráter de experiência, e teriam que mostrar vontade decrescer para assegurarem o posto.

Na empresa, o office-boy era chamado mensageiro.Todos diziam que a nova nomenclatura era uma evolução

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do office-boy tradicional. O mensageiro fazia quase osmesmos serviços de um boy, mas com uma apresentaçãodiferente, de roupa social, por lidar com diretores, grandesempresários e donos de multinacionais; ele seria a cara daempresa na rua. Doutor Frederico sempre ressaltava:

“O mensageiro é quem leva a empresa para as outraspessoas, se ele não estiver bem apresentado, estará passando aidéia de que a empresa não é bem apresentável para os outros”.

Após a implantação da nova organização, DoutorFrederico foi conversar pessoalmente com oscolaboradores promovidos e contratados. Ele queria sabercomo eles estavam se adaptando, o que estava faltando,se precisavam da sua ajuda. Enfim, queria que os novatosse sentissem à vontade.

As contratações feitas por Frederico foramplanejadas para atuar flexivelmente, ou seja, o novofuncionário tinha a sua função específica, mas ele tambématuaria em outros setores. Então, durante duas semanas,o superintendente fez um rodízio de tarefas a fim deanalisar onde cada um se encaixava melhor. Por exemplo,caso Matheus se adaptasse melhor com a área de vendas,inicialmente, ficaria nesta função.

A partir das mudanças implantadas, as tarefasfluíam normalmente na empresa. Funcionários novoscumpriam suas obrigações, cafés da manhã eramrealizados durante toda a semana e a produtividadeaumentou consideravelmente. Mais empresas associadasparticipavam dos treinamentos e reuniões aconteciamcomo nunca dentro da empresa. Tudo parecia tranqüilo.

Em um belo dia, Doutor Frederico acordouinspirado para novos desafios em sua carreira profissionale resolveu agitar um pouco o cotidiano da empresa. Novos

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desafios, mas sem se esquecer de seu projeto de montarum curso ou uma palestra que tratasse da conscientizaçãodas pessoas em relação às novas contratações. Alémdisso, era preciso conscientizá-los da importância empassar seus conhecimentos para frente, trocarexperiências e aprendizados.

Quando chegou ao trabalho, convocou algunsfuncionários para uma reunião, sem que eles soubessemo assunto em pauta. Todos ficaram agitados, correndopara um lado e para o outro, buscando relatórios dosúltimos seis meses, providenciando os documentos queforam solicitados, buscando as informações no sistema,imprimindo relatórios de última hora. Uma loucura logode manhã. Mas era isto mesmo que ele queria, saber oquanto essas pessoas estavam dispostas a seempenharem em novos desafios. Tudo para serapresentado no café da manhã do dia seguinte.

— Neste café da manhã, iremos abordar as novasmudanças e o porquê de eu estar querendo colocar emprática todas essas idéias. Vamos falar um pouco sobrecomo as pessoas estão encarando estes novos desafios, sevocês estão encontrando alguma dificuldade, qual arepercussão deste novo projeto fora da empresa e comoos outros profissionais estão encarando as nossasmudanças. Conversaremos um pouco também. Algo bemdiferente da rotina de vocês, pelo menos no período damanhã — brincou Doutor Frederico, para quebrar o geloque se instalava naquela sala — Afinal, todas as pessoaspresentes temiam o que estava para acontecer. Umareunião de última hora, com um café da manhã, realmente,era bem estranho.

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CAPÍTULO CINCO

Todos ficaram espantados com a atitude do DoutorFrederico, mas, com certeza, estariam presentes naquelecafé da manhã “especial”.

Ao final do dia, com muito trabalho e dedicação,todos os objetivos haviam sido alcançados e suassolicitações atendidas.

Doutor Frederico decidiu trabalhar até um poucomais tarde, para preparar uma apresentação onde pudessemostrar aos colaboradores que eles faziam parte de umaequipe, que o trabalho deles era muito importante para aempresa. Queria criar algum texto que lhes proporcionasseuma sensação boa, uma motivação, para buscarem maisresultados e alcançarem seus ideais mais facilmente, tantoprofissionalmente quanto em suas vidas pessoais. Colocouno papel tudo o que estava em sua mente. Ao final

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daquelas horas a sós em sua sala, redigiu um bom texto,que lhe deu a certeza de sucesso garantido na manhãseguinte. Inseriu algumas frases para meditação, para queas pessoas refletissem sobre seus ideais, sobre seus sonhose suas vontades.

A apresentação contava com um vídeomotivacional e algumas animações. Sua idéia erapromover uma espécie de debate, mas ele ainda não tinhatudo formulado. Como já era tarde, decidiu pensar arespeito no caminho de casa.

No caminho, ligou para sua esposa e pediu que elapreparasse um jantar especial e abrisse uma garrafa devinho, para comemorarem mais um objetivo que eleconseguiu realizar dentro da empresa. Sua felicidadenaquele dia era evidente, pois tinha aprendido muitascoisas, mas ele não sabia que o maior aprendizado aindaestaria por vir.

Ao parar o carro no semáforo, viu um homempedindo esmola. Ele aparentava mais ou menos uns 35anos de idade, cabisbaixo, com uma roupa velha e de pésdescalços. Parecia perigoso, afinal, à noite, em um localescuro, com histórico de assaltos, a suspeita era grande.Mas isso não o inibiu. Conforme foi se aproximando dosemáforo fechado, o superintendente começou a pensarnos trocados que tinha no bolso. Frederico sempre ajudavaas pessoas dando-lhes alguns trocados, mas sempre pediapara que elas comprassem comidas ao invés de bebidasou drogas. Não podia garantir que os pedintes seguiriamseu conselho, mas, ao menos, cumpria a sua parte.

Assim que foi apanhar a carteira, sentiu anecessidade de fazer algo a mais por aquela pessoa, queriaajudar mais do que apenas dando uns trocados. Sem saber

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como fazer, abaixou o vidro do carro e perguntou para opedinte, que parecia faminto e com frio:

— Como posso ajudá-lo, sem ser dando-lhe dinheiro?— O senhor gostaria mesmo de me ajudar? —

perguntou o mendigo surpreso com o tipo de pergunta.Afinal, não é todos os dias que vemos pessoas tendoesta atitude.

— Claro que quero! Sei que o senhor precisa dealgo a mais do que uns trocados, algo que lhe dêesperança! Talvez mais forças para os seus dias... —sugeriu Doutor Frederico, ansioso pela resposta domendigo, que já não parecia ser tão perigoso.

Frederico não tinha esse comportamento todosos dias de sua vida, mas, naquele momento, escutou avoz do seu coração e percebeu que deveria fazer algopor aquela pessoa.

Imediatamente, o mendigo respondeu a pergunta,antes que acendesse a luz verde do semáforo e ele nãopudesse dizer tudo aquilo que gostaria que fossediferente neste país.

— “O senhor pode lutar por um mundo melhor, podelutar para que meus filhos tenham uma oportunidade deestudar, um futuro melhor que o meu. Se o senhor fizer isto, jávai estar me ajudando mais do que imagina”.

Após ouvir, Doutor Frederico ficou sem palavras,estático por algum tempo. Em fração de segundos, umfilme passou em sua cabeça: lembrou-se dos seus filhos;das oportunidades que tiveram quando eram crianças, dasegurança ao brincarem, dos bons estudos, dos cursos eem todas as outras coisas que lhes transformaram emprofissionais competentes. Naquele momento, ele nãotinha noção do número de pessoas que gostariam de ter

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as mesmas coisas que seus filhos tiveram. Frederico,porém, sabia que muitos estavam na mesma situação domendigo. Pessoas que, por não terem conseguido umaoportunidade de estudo, não puderam ter um empregomelhor, um trabalho digno e uma vida decente.

Ele sabia muito bem que não eram todas as pessoasque se enquadravam nas mesmas circunstâncias, algumasrealmente não fizeram por onde para serem bemsucedidas na vida. Existem aquelas que se entregam àbebida e ao jogo, perdem tudo — casa, família, empresas,dinheiro — e acabam na rua, pedindo esmolas, sehumilhando por uma nova oportunidade. Mesmosabendo que essas pessoas erravam, ele acreditava queelas mereciam uma segunda chance. Frederico queriaajudar, mas sabia também que o governo tinharesponsabilidades diante da pobreza.

Mesmo com os pedidos do mendigo para que elelutasse por um mundo melhor, proporcionando maisoportunidades para os seus filhos, Doutor Frederico nãose contentou e quis ajudar. Deu ao pedinte dez reais edisse-lhe que o dinheiro era para levar leite e pão para suafamília, que o resto deixasse por sua conta; tudo o quefosse possível, ele faria, e, com certeza, assim que osresultados aparecessem, o mendigo se lembraria dele.

O mendigo agradeceu, ficou muito feliz, masmesmo assim pediu que não se esquecesse de seu pedidoespecial: gostaria de ver seus filhos formados, comoportunidades iguais às que o superintendente teve. Osemáforo abriu e Doutor Frederico seguiu em frente, felizpor ter ajudado, pensando muito na cena ocorrida.

Quando chegou em casa, cumprimentou os filhos,beijou a esposa e foi logo xeretando nas panelas para sabero cardápio do jantar.

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Frederico tinha uma esposa amorosa ecompanheira, que o apoiava em todas as suas decisões,estando sempre ao seu lado. O casal tinha três filhos,dedicados, amigos e integrados com os acontecimentosda família.

Enquanto colocavam a mesa para o jantar, osrapazes perguntaram ao pai como havia sido seu dia.Após ter contado o que havia se passado, os jovens lhedisseram que tudo o que o pai fez um dia por eles, seriaretribuído e eles dariam toda a ajuda, o apoio e a forçaque fossem necessários.

— Pai, hoje é tempo de retribuirmos o que o senhorfez por nós, sempre conte com o nosso apoio e a nossaajuda para o que o senhor precisar.

— Meus filhos, já que vocês tocaram no assunto,eu gostaria de pedir a ajuda de vocês.

— Pode pedir, pai, faremos o que o senhorprecisar. Nós o ajudaremos com muito orgulho.

Frederico soube criar seus filhos para que setornassem grandes homens, e orgulhava-se muito emver seu “trabalho” concluído. Podia dormir todos os diastranqüilamente, sabendo que os garotos estavam criados,construindo suas famílias, realizando os seus sonhos,conquistando objetivos na vida.

— Hoje, vindo para casa, deparei-me com umsenhor pedindo esmola no semáforo, e, quando quisajudá-lo, ele me pediu para que lutasse por um mundomelhor, onde seus filhos tivessem mais oportunidadesdo que as que ele teve em sua vida. Queria que eu fizessealguma coisa e ainda tomou-me como exemplo. Gostariade ver seus filhos tendo as mesmas oportunidades queeu tive em minha vida.

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— Pai, que homem consciente! Não somente ele,mas muitos outros andarilhos da cidade merecem ajudae oportunidades! — ressaltou um dos rapazes.

E assim decorreu o jantar. Todos palpitavam sobrecomo ajudar pessoas, o que pode ser feito pelo próximo econcordaram que, acima de tudo, é muito importante oapoio da família. E aquela família estaria empenhada emajudar aquele pobre homem perdido nas ruas de São PauloFrederico sentiu-se aliviado. Sabia que algumas coisas jáestavam sendo feitas. Ele não desistira de lutar a cada diapor um mundo melhor. Ele faria a sua parte.

Terminado o jantar, seus filhos agradeceram pela“valiosa conversa” que tiveram naquela noite. Enquantose preparava para dormir, decidiu inserir na sua palestraalguma coisa sobre esta situação do país. Acrescentariaalgo para demonstrar que cada um pode fazer sua partepor um mundo melhor. Ele não sabia o que diria a respeito,somente tinha a certeza de que as palavras certas seriamditas no momento adequado.

Doutor Frederico contava sempre com o apoio dealguém maior, alguém que ele dizia ser seu protetor paratodas as horas. Quando se sentia mal, sabia que alguémestava ali por perto para protegê-lo. Ele tinha o hábito derezar a toda hora, entrando em contato com este “alguémmaior”. Sempre disse que não importava a denominaçãoque damos a esta energia, a esta força maior, mas o querealmente importava era o que sentíamos e no queacreditávamos. Achava que todos deveriam crer em algoque ajudasse nas horas mais difíceis da nossa vida.

As pessoas ao seu redor poderiam até tentarderrubá-lo, poderiam “puxar o seu tapete”, mas o que elerealmente acreditava, era que uma “Força Superior” nãodeixaria que nada de ruim lhe acontecesse. Essa “Força

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Superior” é a nossa Fé. Aquilo que acreditamos nosmomentos que mais precisamos, aquilo a que recorremosnos momentos mais difíceis e agradecemos nosmomentos mais fáceis.

Finalmente, foi se deitar, e, como já era decostume, agradeceu pelas conquistas e aprendizados,pedindo proteção e uma boa noite de descanso para elee para toda a sua família. Ao levantar-se, pediria proteçãoe discernimento para suas decisões e obrigações.

Um dos seus ideais era mostrar às pessoas comoera bom ter o hábito de agradecer, ter fé,independentemente de suas crenças. Tudo para ter umaesperança de um mundo melhor e buscar os sonhos eobjetivos almejados.

Doutor Frederico levantou-se bem cedo, dispostocomo sempre, tomou banho e se arrumou para ir trabalhar.Na mesa da cozinha, um belo café da manhã reforçado jáo aguardava e, além disso, o diferencial de todos os dias,sua família reunida à mesa. Muitas vezes saíam atrasados,com pressa e nem tomavam café da manhã em casa.

Feliz, ele agradeceu a presença da família eafirmou que o dia seria maravilhoso e repleto de sucesso.Entrou na garagem, pegou o carro e seguiu para otrabalho pelo mesmo caminho de todos os dias,enfrentando um trânsito caótico. Mas aquele dia eraespecial. Mesmo um trânsito ruim não acabaria com oseu bom humor, preferiu cortar caminho para chegarmais cedo à empresa para testar a apresentação e secertificar de que não estava faltando nada para o café damanhã dos colaboradores.

Ele chegou no horário, preparou tudo o queprecisava, conferiu sua apresentação, certificou-se de que

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o café estava pronto, e enquanto confirmava os últimosdetalhes, os colaboradores começaram a chegar.

Após cerca de trinta minutos, Doutor Fredericocomeçou sua palestra, mesmo sabendo que algumaspessoas ainda não haviam chegado.

Ele teria que iniciar a exposição conforme ocombinado, não poderia deixar os que chegaram nohorário esperando por causa dos atrasados.

- Muito bem, senhoras e senhores aqui presentes,sentem-se, por favor, para que possamos dar início à nossapalestra. Mas, continuem comendo, não precisam terpressa, somente vamos dar inicio à nossa conversa paranão ultrapassarmos muito do horário.

Doutor Frederico agradeceu a presença de todos,naquele momento, fora do horário de trabalho e ressaltouque a reunião seria muito valiosa.

Logo que começou a falar, ele pediu a opinião dealgumas pessoas a respeito dos temas expostos.

— Senhores, eu vou sugerir algumas coisas e queroa opinião de vocês a respeito do que eu disser.

— Carmem, primeiramente você, o que acha danossa proposta de fazer um coffee-break para osempresários que participam conosco das nossas atividadese dos nossos objetivos? Aqueles que nos apóiam e sãonossos aliados nesta busca de novos ideais?

— Bem, Doutor Frederico, eu acho uma idéiaválida. Para que possamos oferecer novos serviços, novasoportunidades de mercado, precisamos do apoio dosdiversos profissionais. É necessário que as pessoas opinem,que elas digam o que está faltando no mercado detrabalho, o que elas acham necessário que sejareformulado. Até mesmo novas idéias, como, por

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exemplo, este evento que estamos realizando hoje.Deveriam ser feitas mais reuniões assim. Com esteobjetivo, nós, profissionais, saberemos onde devemosaperfeiçoar, o que devemos manter e como podemosinovar nosso trabalho.

— Carmem, admirável seu comentário! E somentepara concluir, podemos criar também um grupo internoaqui na nossa empresa, para que os profissionais aliadosa nós possam efetuar consultas e também dar suasopiniões, unir forças por novos ideais, utilizar nosso espaçofísico para suas reuniões, eventos e várias outras coisas.Mais alguém gostaria de fazer algum comentário sobre oassunto em questão?

— Eu gostaria, Doutor Frederico! — chamouRoberto, do departamento jurídico.

— Na minha opinião, acho que podemos melhoraro nosso departamento jurídico, já que é um dos serviçosmais fortes prestados pela nossa empresa. Poderíamosmelhorar o nosso atendimento aos clientes, com acontratação de novos advogados e até mesmo de algunsestagiários. Ao meu ver, poderíamos oferecer mais cursosna área jurídica, com custos especiais às empresas parceirasnas representações, trazendo mais pessoas e firmas paraperto de nós. Com esta atitude, podemos aumentar onúmero de clientes e também o nosso orçamento. É uminvestimento relativamente pequeno em relação aosbenefícios que teremos em um futuro próximo.

— Muito bem, senhor Roberto, mais uma excelenteidéia de crescimento para a nossa empresa. Mais alguémgostaria de comentar algo?

Como ninguém se manifestou, Doutor Fredericoresolveu seguir em frente com os temas, já que o assunto

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em questão naquele momento não necessitava de maismodificações.

— Nós já temos algumas metas a serem cumpridase estamos estabelecendo mais algumas neste momento.Como podemos fazer para que nada fique para trás? Afinal,não podemos fazer algo novo e nos esquecermos do que jácomeçamos.

— Doutor Frederico, eu tenho uma sugestão. Possoexpô-la ao grupo? Perguntou Matheus, o rapaz recém-contratado para a área de vendas.

— Claro que pode, Matheus! Por favor, qual é a suaidéia?

— Eu sei que todos os departamentos têm as suasobrigações e as suas metas, cada um aqui tem o seu objetivo,tanto profissional quanto pessoal. Acho que podemos fazeralgo diferente para alcançarmos essa meta, com maisrapidez e facilidade. Podemos nos unir e ajudar uns aosoutros.

Quando Matheus disse isso, todos ficaram surpresoscom o seu comentário. E burburinhos surgiram na platéia.

— Como pôde sugerir algo deste tipo? Ele não sabeo que está dizendo!

— Será que ele pensa que é fácil fazer o quefazemos? E ainda ter que nos conhecer melhor? Eleestá louco!

Os que mais criticavam e achavam a idéia ruim eramos que não se preocupavam com o crescimento da empresa,nem com o bem-estar de seus colegas de trabalho.

— Por favor, senhores, mantenham a calma. Eu aindanem terminei de falar qual é a minha idéia. Sei que paramuitos pode parecer impossível de acontecer, mas com

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organização e dedicação podemos conseguir bonsresultados para a empresa e para cada um de nós emparticular. Doutor Frederico, posso continuar?

— Claro que sim, Matheus! Por favor, prossiga comsua idéia.

— Como eu dizia, se cada um de nós soubesse, nomínimo, um pouco do que o outro faz, de qualdepartamento ele é responsável, poderíamos noscomunicar melhor, nos reportar às pessoas certas, semantes passarmos pelos departamentos errados. Jápensaram se, quando fossemos pegar o nosso salário,procurássemos o departamento de marketing para saberquando iríamos receber o nosso dinheiro? Acho que seriaum pouco difícil de obter esta resposta ali.

— Bem, o que quero dizer, de uma maneira geral,é o que acontece em várias empresas, falta de comunicaçãointerna. Vejamos um exemplo. Se cada um de nós fossefalar diretamente com o departamento correto e com apessoa certa, de acordo com a informação que precisamos,ficaria mais fácil e menos cansativo para os demais. Issose chama “Comunicação Interna”.

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CAPÍTULO SEIS

Os funcionários tinham os olhos arregalados. O queMatheus dizia era algo novo na empresa. A expressãoComunicação Interna nunca havia sido pensada na JunçãoRecursos Humanos. A preocupação de todos era cumprirsuas tarefas e receber o dinheiro no final do mês. Não eranecessário conhecer pessoas e departamentos. MasMatheus foi firme e seguiu em frente.

— Se uma pessoa liga aqui na empresa, e pede parafalar com o departamento administrativo, a secretária iráperguntar com quem especificamente ele deseja falar.Correto? E se ele não souber com quem ele quer falar? Senão tiver o nome de alguém, a secretária transferirá a ligaçãopara qualquer ramal da administração. Não é verdade?

— Sim — responderam os outros colaboradores,interagindo com Matheus.

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O Doutor Frederico não disse nada, queria ver atéonde o jovem rapaz queria chegar. Tinha a certeza queseria uma coisa boa e, curioso para testá-lo, deixou queele continuasse.

— Pois bem — continuou Matheus — se aatendente souber alguns detalhes sobre os departamentos,ela poderá perguntar para a outra pessoa na linha qual ainformação que ela deseja. E quando a pessoa confirmaro que quer, ela transferirá a ligação para a pessoa certa.

— A partir do momento em que eu sei um poucodo que cada departamento cuida e quem são as pessoasresponsáveis por cada tipo de serviço, eu posso pouparum pouco mais de tempo, tanto do meu, como do daoutra pessoa. Além disso, a qualidade no atendimentoirá melhorar muito. Porque perdemos tempo com ligaçõesmal encaminhadas e atendimentos mal dados. As pessoasesperam demais por uma informação.

— Temos que saber disto antes do cliente chegaraté nós, para que no exato momento do atendimento,possamos ser mais atenciosos com eles, facilitando o nossotrabalho e o de nossos colegas. Com isso, deixamos ocliente satisfeito, oferecendo serviços e atendimento dealta qualidade. Hoje em dia, temos exemplos claros destetipo de comportamento em outras empresas. Essa posturarealmente funciona. Pode não ser a solução para todos osnossos problemas, mas com certeza alguma coisa irámudar aqui dentro da Junção.

Doutor Frederico aproveitou o ânimo do novorapaz para testar seus conhecimentos e saber até onde elechegaria com sua idéia, sem que ele precisasse interferir.

— Muito boa idéia, Matheus, mas você poderiame dar um exemplo de como poderíamos desenvolver

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este tipo de atividade aqui dentro? Pois acho que estadúvida pode ser a de outras pessoas.

— Claro que sim, Doutor Frederico, com o maiorprazer! Na minha opinião, podemos nos comunicarmelhor a partir do momento em que eu sei o que odepartamento vizinho faz. Vamos utilizar um exemplo:eu sou funcionário do financeiro, mas não sei ao certo oque faz o departamento de cadastro e quem é oresponsável. O mesmo acontece com todas as outrasseções. Falta “Comunicação Interna” entre as pessoas, ea minha sugestão é que façamos o seguinte: em primeirolugar, podemos nos reunir uma hora antes do nossoexpediente aqui no auditório para nos conhecer melhor.

E como podemos fazer isto? É simples, a cadasemana, os integrantes de um departamento nosapresentam seus setores, dizendo o que cada um faz e dáum pequeno resumo do seu trabalho e, posteriormente,esclarece as dúvidas dos companheiros. É claro que este éum trabalho um pouco demorado, mas o resultado égarantido. Acredito que o esforço vale a pena. Podemosfazer o sorteio de qual será a ordem dos setores a expor.Assim, todos terão a oportunidade de falar um poucosobre a sua função e o seu departamento. Desta forma,todos saberão um pouco dos seus colegas e poderemosnos comunicar melhor.

Assim que Matheus terminou de explicar a suaidéia, que seria adaptada da melhor forma para aquelaempresa, Doutor Frederico agradeceu a ajuda docolaborador.

— Com certeza, será um movimento grande paratodos os colaboradores, e certamente fará diferença emnosso dia-a-dia. Mais uma vez, as atitudes e o empenho

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estão me surpreendendo — disse Doutor Frederico,contente com as novas ações e percepções de seuscolaboradores.

— Mais alguém quer falar algo ou sugerir algumaoutra coisa que possa nos ajudar?

Como ninguém quis comentar mais nada, DoutorFrederico deu continuidade com a programação do evento.

— Vamos dar seqüência às nossas atividades. Eugostaria de passar um vídeo que mostra um pouco dosresultados obtidos em outras empresas com o trabalho emconjunto, como disse Matheus. Este vídeo expõe algunsresultados positivos do trabalho em equipe e da importânciade conhecer uns aos outros, saber o que o colega faz, porqual setor ele é responsável, como atender melhor o seucliente e obter melhores resultados a partir desta postura.É um vídeo interessante, que explica de maneira clara eobjetiva os principais aspectos de uma empresa que cresceno mercado de trabalho. Além do vídeo, temos tambémuma pesquisa, que mostra a opinião da população emrelação a estas novas atitudes nas empresas. Foram feitasduas perguntas para os entrevistados:

1— “O que vocês gostariam que mudasse naempresa na qual você trabalha?”.2— “Se tais mudanças fossem feitas, como vocêreagiria, e como seria o seu modo de trabalhar?”.

— Antes de mostrar, quero dizer-lhes para ficaremtranqüilos. Todos estes novos planos e idéias que estamosdiscutindo serão passados para o papel. Faremos umplanejamento e montaremos uma infra-estrutura que sirvade diretriz para todos nós, incluindo a mim.

Doutor Frederico pediu para que iniciassem aovídeo de trinta minutos. Após a exibição, ele perguntou o

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que os colaboradores acharam e o que aprenderam com afita. As respostas foram semelhantes.

— “Aprendemos que a qualidade e o bom atendimentodependem de cada um de nós, e temos que fazer a nossa parte,para que possamos alcançar nossos objetivos”.

— Muito bem, senhoras e senhores, vejo que ovídeo foi proveitoso, e, para encerrar, eu gostaria de contaruma história para vocês. Prometo que não irá demorar.

Todos permaneciam atentos às palavras doDoutor Frederico.

— Uma vez, um amigo me deu um convite paraassistir a uma palestra bem interessante. O palestranteiniciou o encontro segurando uma nota de cem reais namão. Na sala, havia mais ou menos 160 pessoas, entregrandes empresários, funcionários públicos, vendedores,autônomos e outros. Com a nota de cem reais na mão, elelevantou o braço e perguntou “quem quer esta nota decem reais?”.

Várias pessoas começaram a gritar: — Eu quero!Eu quero!

— “Eu darei esta nota a um de vocês, mas antesme deixem fazer isto” e começou a amassar a nota, comose estivesse amassando um papel velho. E assim,perguntou outra vez. “Quem ainda quer esta nota?” —As mãos continuaram erguidas e os gritos cada vez maisaltos. “E se eu fizer isso?” — E ele deixou a nota cair nochão e começou a pisar em cima. Pisava de um lado,pisava do outro e depois que a nota estava totalmenteamassada e suja, ele perguntou novamente: “E agoraquem ainda quer esta nota?”.

Todas as mãos continuaram erguidas e os gritosainda mais altos. Quando o palestrante disse: Meus

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amigos, aprendam esta lição: “Não importa o que eu façacom o dinheiro, posso amassá-lo, posso sujá-lo e vocês aindairão querer esta nota, porque ela não perderá o seu valor, elasempre irá valer cem reais”.

Após ouvir esta frase, eu fiquei pensando poralguns instantes. O que as pessoas fazem consigo mesmase com os outros é igual ao que ele fez com o dinheiro. Issoacontece conosco no nosso dia-a-dia. Muitas vezes, somosamassados, pisoteados, passados para trás, ficamos sujos,nos sentimos humilhados, fracassados e derrotados. Estassituações ocorrem em razão das decisões que temos quetomar em nossas vidas, ou por obstáculos que surgemem nossos caminhos, talvez por arriscarmos. Se tomarmosdecisões e, infelizmente, por qualquer motivo, oplanejamento dá errado, nos sentimos sem importância,incapazes de acertar. Nos sentimos desvalorizados. Porém,não importa o que aconteceu ou o que vai acontecer, nuncaperderemos o nosso valor perante o universo. Estejamossujos ou limpos, amassados ou inteiros, nada disso mudaa importância que temos para o “mundo” e para os outros,mesmo que eles não reconheçam o nosso verdadeiro valor.O preço de nossas vidas não é pelo que fazemos oupelo que sabemos, mas sim pelo que somos, e comodemonstramos quem somos. Através do nosso caráter,da nossa dignidade e da nossa postura diante dos desafiosé que superamos os obstáculos impostos pela nossa vida.Quando eu terminei de ouvir estas palavras no seminário,fiquei por alguns instantes pensando a respeito do que opalestrante acabara de falar. E percebi que, muitas vezes,nós valorizamos as pessoas pelo que elas sabem, pelamaneira que se vestem ou agem, mas não pelo querealmente são. No fundo, são pessoas maravilhosas quemerecem o nosso respeito e a nossa admiração, como

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qualquer outra pessoa, seja ela tendo o melhordesempenho ou não, seja ela errando ou não. “Todossomos iguais”.

Ao fim do discurso, Frederico foi aplaudido de pépor todos os colaboradores, emocionados com suaspalavras. Eles tinham a certeza de que, daquele dia emdiante, mudariam seus conceitos e a maneira de olharempara as pessoas.

A palestra surtiu efeito. Nos dias seguintes, aspessoas passaram a se entreolhar com mais sinceridade,com menos desconfiança. Os colaboradores perceberamque todos são seres humanos e merecem o mesmo respeitoe a mesma consideração. Essas atitudes também devemser aplicadas aos pedintes nas ruas, àqueles que moramem casas mais simples que as nossas e até mesmo a quemtem cargo mais baixo que o nosso.

Mas, infelizmente, nem todos mudaram seuscomportamentos. Havia um grupinho que desconfiavaque Doutor Frederico planejava algo de ruim. Elescontinuaram olhando torto, sempre com o pé atrás,evitando que Frederico soubesse dos trabalhos queestavam desenvolvendo, distanciando-se ainda deCarmem e de Andressa.

O que eles menos imaginavam estava poracontecer. Um belo dia, um dos aliados de Frederico ouviuuma conversa do pessoal da oposição. Todo o cuidadocom as tramóias acabou indo por água a baixo. Laís, amoça responsável pelos treinamentos, passava pelogrupinho e acabou ouvindo tudo! Ela ficou atônita!Completamente perplexa e indignada!

Os opositores de Doutor Frederico estavamplanejando contar as suas “conclusões” para a diretoria.

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Queriam obter o apoio dos superiores dentro da empresa.Assim, seria mais fácil chegarem ao objetivo final.

Uma das meninas do grupo opositor tinha umcontato mais próximo com um dos diretores da empresa.Essa aproximação daria chances para que elesconvencessem este diretor de que o Doutor Frederico nãoera a pessoa ideal para o cargo e para os trabalhos queeles, os diretores e o presidente, queriam desenvolverdentro da empresa.

Diante dessa situação, alguns poderiam seperguntar como um diretor de uma empresa se deixarialevar por uma fofoca destas. Como ele seria capaz de julgara capacidade e a competência de um profissional?Interesse, é claro.

Passado o evento, Doutor Frederico voltou a sededicar aos seus trabalhos diários. Ele planejava criar umapalestra de conscientização, com o objetivo de fazer comque os colaboradores pudessem passar os conhecimentospara os outros. Frederico dizia que as pessoas recém-formadas necessitavam de alguém que lhes ensinassecoisas novas do mercado de trabalho. Ele acreditava que,com essa atitude, poderia haver diminuição dodesemprego e também melhor adaptação do colaboradoràs suas funções.

O objetivo de Frederico era mostrar que passar oconhecimento adiante só traz benefícios e que todos teriamcondições de progredirem na carreira.

Entre tantas tarefas, como criar palestras e cuidarda evolução dos seus colaboradores, Frederico aindacuidava dos eventos que a empresa participava. Esteseventos aconteciam fora da sede e normalmenteduravam vários dias. Como estava ficando atarefado, o

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superintendente decidiu passar esta responsabilidadepara algum colaborador de confiança. Ele precisava quetudo estivesse bem organizado, porque os eventos são aimagem da empresa perante outras organizações e tudodeve estar impecavelmente perfeito, a não ser quandoocorre algum imprevisto.

A primeira pessoa que veio à sua mente foiMariana, responsável pela parte de criação das revistasque a empresa fornecia para seus associados. Marianatambém cuidava dos anúncios em jornais e propagandas,entre outras funções relacionadas com a área deMarketing. Frederico acreditava que ela seria a pessoa maisindicada para a função e decidiu chamá-la para umaconversa. Marcou uma reunião com a moça para logocedo, no dia seguinte.

Deixou tudo pronto para passar a Mariana, mas,mesmo assim, resolveu ficar um pouco mais no escritório,a fim de incrementar a sua palestra. Àquela hora, o silênciodo ambiente inspirava suas idéias. Naquela atmosfera,Frederico começou a traçar as diretrizes para seu projeto,que incluía a melhora no ambiente empresarial e aexpansão da idéia para outros empresários.

Uma das coisas que Doutor Frederico abordaria emsua palestra seria as criticas que os chefes e supervisoresfazem aos seus funcionários. O supervisor queria dizer queé possível corrigir um erro sem utilização de ofensa verbale grosseria. Frederico acreditava que a amabilidade notratamento das pessoas pode trazer melhores resultados.

Doutor Frederico falaria ainda sobre ocomportamento das pessoas dentro das empresas, daimportância de um bom relacionamento interno entre osdepartamentos, da qualidade do atendimento e de comotraçar os objetivos para sua equipe e sua empresa.

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Enquanto ele escrevia suas idéias, pensou em criarum instituto onde poderia ajudar as pessoas a se tornaremmelhores profissionais para o mercado de trabalho. Nesteinstituto, seriam promovidos cursos, palestras, reuniõesde apoio para os profissionais interessados, entre outrasatividades. A idéia de Frederico era contar com o apoiode amigos, já que o trabalho era voluntário e gratuito paraos interessados. Ele pensava em beneficiar a fatia dapopulação que não tem acesso a este tipo de qualificação.Este projeto seria para longo prazo, mas Frederico jácomeçara a traçar seus planos, pensando no futuro.

Ao finalizar, Frederico foi para casa, pois sua famíliao esperava. Ele precisava descansar, pois o dia seguinteestava cheio de tarefas a serem cumpridas.

As novidades do dia seguinte não provocariammodificações em seu humor. Ele teria novos desafios,aprendizados, além de imprevistos, que resolveria comcalma, sensatez e sabedoria. Você pode estar seperguntando: “Este homem existe mesmo?” “Como podealguém que tem problemas não se estressar”.

Realmente, Frederico se estressava bem pouco.Procurava sempre resolver as coisas com calma esabedoria, mas em certos momentos, ele se estressava.Aí, dizia o que realmente pensava, era uma outra pessoa.Zangava-se e dava a bronca em quem precisava. Porém,depois de gritar, pedia desculpas pelo descontrolemomentâneo e procurava explicar o ocorrido. Fredericonão tinha a obrigação de dar satisfações a seuscolaboradores, entretanto ele se preocupava. Assim era aforma do superintendente ser e de ensinar as pessoas, deconquistar objetivos e realizar sonhos. Por onde passa,ele deixa um rastro de sabedoria e amizade, que,infelizmente, não são todos que sabem aproveitar.

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Ao chegar na empresa, Doutor Frederico decidiucomeçar o dia de uma maneira diferente, queria mudarseu comportamento para ver a reação das pessoas quetrabalhavam com ele. Sentiu a necessidade de fazer isso,já há algum tempo ele vinha percebendo que pessoasdentro da empresa estavam lhe tratando de uma formadiferente, até mesmo pôde ouvir algumas fofocas. Com odecorrer dos dias, notou que realmente algo estavaacontecendo. Sua intuição era muito aguçada e como tinhauma “proteção” muito forte, decidiu fazer um teste.

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CAPÍTULO SETE

Antes de entrar no escritório, Frederico foi tomarcafé da manhã em uma padaria próxima à avenida SãoLuiz, pois queria encontrar velhos amigos. Ficou tãoempolgado com o ambiente da cidade agitada logo cedo,que resolveu engraxar os sapatos na praça Dom JoséGaspar. Feliz com suas atitudes, subiu para sua sala comalguns minutos de atraso.

Entrou sem dizer bom dia para ninguém. Apenasrespondia quem o cumprimentava. Foi direto para suasala, onde permaneceu por toda a manhã. Queria saberquem realmente se preocupava com ele, quem eram “seusamigos” e quem eram as pessoas que não gostavam dasua forma de trabalhar, seus “inimigos”.

A atitude de Frederico chocou e as pessoasestranharam. Alguns funcionários não o cumprimentaram,

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pois acharam que tinha acontecido algo muito grave.Somente algumas pessoas que o admiravam foram até asala dele para falar bom dia e saber o que havia acontecido.Seus opositores, como já era previsível, sequer passaramem frente à sua sala, tampouco o cumprimentaram. Logo,ele pode perceber quem eram as pessoas com quem eledeveria tomar cuidado.

Frederico foi em frente, superou aquele momentoe deu a volta por cima. Repetiu a mesma ação no diaseguinte e, mais uma vez, a reação das pessoas foi idêntica.Só seus aliados falaram com ele.

Como não conseguiu conversar com Mariana nodia combinado, resolveu chamá-la naquele momento.Quando ela entrou na sala, o chefe solicitou café e água,antes de dar início à conversa.

— Muito bem, Mariana, eu chamei você aqui paralhe passar informações sobre algumas mudanças quevamos ter de hoje em diante. Fique tranqüila, são coisasboas e sei que posso contar com você.

As novas funções deixariam Mariana muito feliz;ela não reclamaria de acúmulo de trabalho, ao contrário,ficaria muito lisonjeada. Ele sabia também que ela não sesentiria superior em relação aos outros colaboradores. Sópor que estava com estas novas funções, não seria motivopara se tornar uma pessoa orgulhosa, mas sim, feliz pormerecer e ter credibilidade para assumir novas funções.

— Como você já deve saber, estou bastanteatarefado com todas estas mudanças. Estou sem tempopara cuidar de nossos eventos externos. Sendo assim,passo para a sua responsabilidade cuidar destes episódios,desde pequenas reuniões externas até os grandes eventos.Organizar, fazer cotações, fechar contratos, ir pessoalmente

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conferir a organização e também estar presente em todosos eventos como responsável pela criação e organização.

— Não sei se posso dar conta do serviço, DoutorFrederico! Tudo é muito novo para mim! — disse Mariana,ainda insegura.

A reação de Mariana foi semelhante à de outraspessoas: ter medo diante de novas tarefas, novasobrigações. As pessoas não confiam em si mesmas, nãotêm noção do seu potencial, As pessoas não acreditamque, se recebem propostas para novos desafios, é porqueseus superiores as julgam capazes de cumprir as metas.Um diretor de empresa, superintendente ou até mesmoo dono da empresa, só vai delegar funções a pessoascom responsabilidade, capacidade e conhecimento paraexercer a função.

— Fique calma, querida Mariana! Já diz o velhoditado: “Nos dão o frio conforme o nosso cobertor”.Se você está recebendo esta responsabilidade, étotalmente capaz de cumpri-la, E isso eu sei que você é.

Após ouvir estas palavras do Doutor Frederico, elasentiu-se melhor, mais calma e mais confiante.

— Está bem, se o senhor está dizendo, eu acredito.O que devo fazer então?

Ele começou a passar as novas funções para queiniciasse os seus trabalhos e, ao término de uma hora deconversa, disse:

— Fique tranqüila, Mariana, qualquer dúvida venhame procurar.

Frederico sempre estava à disposição para ajudaras pessoas, mas naquela semana estava revendo um poucoseus conceitos e decidindo quem ele realmente ajudaria.Nunca negou apoio a ninguém, e não seria agora que ele

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agiria diferente, apenas tomaria cuidado com algumaspessoas ao seu redor. Por isso, já não era mais para todas aspessoas que ele dizia estar sempre à disposição. Passou atomar cuidado com o que as pessoas falavam. Infelizmente,isto era necessário, pois não eram todos de grande confiança.

Após delegar as funções para Mariana, elecontinuou a se dedicar à palestra, queria terminá-la o maisrápido possível.

Alguns dias se passaram, o serviço fluíanormalmente, parecia que a poeira tinha baixado e o climaestava voltando ao normal, melhor do que na últimasemana. Doutor Frederico chegou até a se perguntar serealmente estava sendo coerente em duvidar de algumaspessoas. Por não ter certeza ainda das coisas, resolveucontinuar com seu comportamento por mais algum tempo.

Após duas semanas sem novidades, ele haviaconcluído sua palestra. Como as coisas na empresaestavam tranqüilas, ele teve mais tempo para aperfeiçoarsuas idéias e finalizar a exposição.

Frederico decidiu marcar a data para a primeirapalestra, já que as pessoas dentro da empresa, os amigos,sua família e até mesmo os diretores, haviam aprovado otema e a forma de abordagem. Marcado o dia, eranecessário ter público. Delegou a função para Matheus,que tinha muita habilidade para falar com as pessoas umrapaz desinibido, ótimo vendedor.

Perto da data da palestra, a lista de presença estavaquase completa. A apresentação estava praticamente pronta,faltavam somente alguns reparos e revisar alguns detalhes.

Assim que terminou tudo, decidiu compartilharalguns tópicos com Carmem, sua consultora, e Andressa.Ele confiava muito nelas e podia contar com a ajuda de ambas.

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— Eu pedi que vocês viessem até aqui para mostraralguns detalhes da minha palestra, que já está quasepronta. Quero a opinião de vocês. Vejam e digam-me,sinceramente, o que acham.

Carmem e Andressa analisaram atentamente oconteúdo da palestra e exprimiram suas opiniões.

— Doutor Frederico, está perfeito! Tenho certezaque todos irão gostar muito do seu projeto, e é bem provávelque eles queiram fazer parte dele também – disse Andressa.

— Será que chegaremos a este ponto? Por que vocêacha que eles podem querer fazer parte do projeto? —perguntou Doutor Frederico a Andressa.

— Porque isto que o senhor está fazendo, pode edeve ser usado por qualquer pessoa, tanto em suaempresa, como na sua vida particular. É um trabalhonovo no mercado e sabemos que dá resultados. Assim,fica mais fácil obtermos parcerias nesse novo caminho— ressaltou Carmem.

— Será que é para tanto, meninas? — perguntounovamente.

— Claro que é! — comentou Carmem — E tem maisuma coisa: se este projeto der certo, vamos conseguiralcançar nossas metas mais rapidamente do que prevemos.

— Está bem, já que você diz com tanta convicção,eu acredito. Vamos trabalhar e organizar tudo para queseja um sucesso absoluto — finalizou Frederico.

Faltavam apenas dois dias para o evento, quandoalgumas pessoas começaram a se preocupar, queriamsaber o que realmente ia acontecer, qual era a finalidadeda reunião. Afinal, não era uma reunião somente com osmembros da empresa, já que os diretores das empresasparceiras também estariam presentes. Todos temiam

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mudanças no quadro de funcionários, demissões. Mesmocom as palavras do Doutor Frederico, de que nada demais aconteceria, nem todos ficaram tranqüilos. Muitosainda duvidavam das palavras e das ações do supervisor.O clima mudou novamente naquela empresa. Adesconfiança voltava a reinar em alguns ambientes,principalmente onde estavam seus opositores.

No dia da palestra, houve um mutirão para quepara que tudo saísse perfeito. Alguns organizavam oauditório, outros ajudavam a arrumar a mesa com o coffee-break, outros verificavam os detalhes.

Convidados, empresários e diretores chegavam atodo o momento. Uma correria, mas com o trabalho emequipe, tudo estava acontecendo como o planejado. Oselogios passavam pelos ouvidos da organização: “aarrumação está uma beleza”; “o café está uma delícia”;“muito bom este evento, vamos ver agora como será oconteúdo da apresentação”.

Doutor Frederico não se preocupava com o receiodo público, pois sabia que tudo estava correto, no seudevido lugar. E o maior apoio que ele precisava estava ali.A equipe de Frederico participava ativamente, ajudandono que precisasse.

Após tomarem o café da manhã, ele decidiu darinício à palestra.

— Senhoras e senhores, vamos começar! Sentem-se, por favor!

Todos se dirigiram aos seus devidos lugares.Terminaram de tomar café e, em tom amistoso, pedirampara o Doutor Frederico a autorização para voltarem àmesa após a palestra. O motivo alegado era que os quitutesestavam muito saborosos. — Mas claro! — respondeu

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Frederico. Assim que terminarmos a nossa palestra,voltaremos ao café. Ele achou a idéia interessante, poisteria um feedback das pessoas. O que elas acharam doevento, quais seriam as sugestões e outros pontoslevantados na conversa com os empresários.

Ele começou sua palestra pedindo para que aspessoas se apresentassem.

— Acho que podemos começar a nossa palestranos apresentando uns aos outros. Digam de que empresavocês são, o que vocês fazem e o que os motivou a viremaqui. Temos algum voluntário para começar?

Ninguém se manifestou, um silêncio total. Pessoasque trabalham no mesmo ramo de serviços com vergonhaumas das outras.

— Bem, já que ninguém se manifestou, parece-meque vocês estão um pouco tímidos. Para facilitar, eucomeço dizendo um pouco sobre esta empresa, e sobre oque me motivou a criar esta palestra — ressaltou Frederico,quebrando o silêncio no auditório.

— Em primeiro lugar, tive a idéia de montar esteevento a partir do momento em que percebi a quantidadede pessoas que estavam ficando sem oportunidades nomercado de trabalho. Na minha opinião, isto ocorredevido à falta de consideração do governo e também pelafalta de oportunidades para estes profissionais. Uma partedisso é culpa nossa, que muitas vezes negamos para osnovos profissionais uma chance de demonstrarem o queaprenderam em anos de estudo.

— Isto pode mudar, e nós podemos colaborar paraesta mudança. É muito simples: podemos abrir as nossasportas para novos profissionais sem nos preocuparmostanto se vamos ter mais gastos. Ou que alguém novo pode

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“roubar nosso cargo”, ou o cargo de outras pessoasdentro das empresas. Competitividade sempre irá existire cabe a nós defendermos o nosso lugar, darmos o nossomelhor para continuarmos onde estamos e aindacrescermos profissionalmente.

— Todas estas coisas me levaram a construir esteprojeto, querer um mundo um pouco melhor. Acho quepodemos dar as nossas contribuições, podemos ajudarmuitas pessoas se, em primeiro lugar, mudarmos a nossapostura, a nossa maneira de agir e de pensar.

— Em segundo lugar, devemos criar um grupoentre nós, para trocarmos idéias sobre o que podemosfazer para mudar este quadro e para sabermos qual aopinião das outras pessoas. Podemos ainda formar umacomissão que possa auxiliar nossos colegas noprocedimento para novas contratações; podemos criarcursos, reuniões mensais para as empresas que se unamao nosso projeto, mas para isso é necessário nosjuntarmos nesta empreitada, caminharmos lado-a-ladoem busca desses novos ideais, para sairmos ganhando.Alguém tem alguma dúvida ou quer fazer algumacolocação a respeito do que eu disse?

— Eu gostaria!— disse um senhor com voz baixa,sentado no fundo do auditório, ainda um pouco tímido.

— Por favor, senhor, fique à vontade e nos digaqual a sua opinião sobre este assunto.

— Em primeiro lugar, bom dia a todos, meu nomeé Rogério, sou dono de uma empresa que presta serviçosde Recursos Humanos de todos os tipos, desdecontratações até terceirização de departamentoAdministrativo. Vou falar um pouco mais sobre o trabalhoque a minha empresa desenvolve. Uma firma não tem o

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departamento de Recursos Humanos, por querereconomizar custos ou por não ter espaço físico, dessa formaela contrata nossos serviços e tudo o que diz respeito aoRH será tratado diretamente por nós. E eu concordoplenamente com o senhor Frederico, devemos colaborarcom este primeiro passo das pessoas! Se nós, que somosexperientes no mercado de trabalho, fecharmos estas portas,quem dará oportunidades a estas pessoas? Um empresárionovo no mercado de trabalho, com uma empresa semestrutura? Talvez, mas com certeza é bem mais fácil paranós do que para eles. E veja que até mesmo estes novosempresários com suas novas firmas, ainda sem sustentação,abrem mais espaços para os novos profissionais do quenós mesmos, que já temos uma “bagagem” maior.

— Antes mesmo de começarmos este encontro, euestava conversando com um colega aqui presente sobreeste tema, dizendo que estou abrindo as portas da minhaempresa para recém-formados. Há dois meses, fiz umanúncio no jornal a respeito de uma vaga para GerenteAdministrativo. Eu queria um profissional recém-formadoem administração. A vaga tinha um salário razoável,benefícios, registro em carteira, tudo conforme a lei e aindacom uma oportunidade de crescimento dentro daempresa. E, ao meu ver, isto é o mais importante para orecém-formado, uma oportunidade de crescimento. Elesabe que vai demorar um pouco para ganhar bem, vai terque começar de baixo até chegar em um patamar demerecimento pelos seus esforços, mas ele precisa destecomeço, desta oportunidade de trabalho.

Todo jovem sempre sonha com o primeiroemprego, se esforça, estuda, trabalha muitas vezes comaquilo que não gosta de fazer só para poder pagar afaculdade, e quando se forma, não tem oportunidade no

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mercado de trabalho. Imaginem a frustração que esteprofissional terá na sua vida! Ele, que está pronto paracolocar em prática tudo o que aprendeu na faculdade,que dispõe de conhecimento e está disposto a mostrartodo o seu talento. Não podemos fechar as portas paraestes jovens! Claro que não são todos os jovens quepensam da mesma forma ou que têm a mesmacapacidade e vontade de aprender e mostrar o seutalento. Mas posso dizer que a maioria deles se empenhae tem o melhor rendimento na faculdade.

Quando eu e meus sócios tomamos essa decisão,alguns colegas acharam uma loucura, disseram que nósestaríamos colocando a empresa em risco. Eu,particularmente, não dei ouvidos e continuei com a minhaposição. Hoje, a nossa empresa está colaborando para ocrescimento de uma pessoa, que tem um potencialmagnífico. Em dois meses, ela já está dando continuidadea um trabalho, onde vários profissionais tentaramdesenvolver e não tiveram sucesso. Este é um projeto queestá trazendo lucros para a minha empresa. Os recém-formados estão com os aprendizados mais “frescos” nacabeça, cheios de vontade para mostrar seu potencial.Claro que para toda regra existe sua exceção, como já disseantes, mas feita uma boa seleção, você poderá ter muitosbenefícios, e bons profissionais também.

— Obrigado, Rogério. É realmente essa posturaque devemos ter perante o mercado e os recém-formados.Mais alguém, senhores?

E como as pessoas já se sentiam mais à vontade,novas opiniões foram dadas, todas seguindo a mesmalinha de raciocínio das idéias do Doutor Frederico. Durantetrês horas, os empresários ficaram conversando, trocandoidéias, até que, no final da palestra, depois do Doutor

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Frederico ter apresentado todas as pesquisas pertinentesao assunto, decidiram de comum acordo que, daquele diaem diante, formariam uma comissão de ajuda a novos eantigos profissionais do ramo de Recursos Humanos. E,quem sabe futuramente, dependendo do sucesso dotrabalho desenvolvido, abririam espaço para osprofissionais de outras áreas também. Deram o nome aeste projeto de “Programa de Qualificação Profissional”.

Esta comissão faria os seguintes trabalhos de apoio:auxiliar os empresários nas novas contratações; esclarecerdúvidas de outras empresas; implantar novos serviços;ensinar os departamentos a conversarem entre si; ajudaras pessoas a se relacionarem melhor umas com as outras;fornecer todo apoio necessário para os estagiários e osrecém-formados, entre outras atribuições.

Com a formação do grupo, decidiram que asreuniões seriam semanais, para obterem uma primeiraestrutura do projeto. Feito isto, as reuniões passariam aser quinzenais, até chagarem a um patamar estável, ondepudessem ser mensais, com suas devidas exceções, sefosse preciso.

Após ter concluído o passo mais importante,Doutor Frederico comunicaria à diretoria sobre osacontecimentos e os resultados da sua palestra. Erachegada a hora. Começou então a entrar em contato comos diretores, solicitando uma reunião, o quanto antespossível, para fazerem um balanço de suas atividades.Esta reunião foi marcada para a semana seguinte.

Quando Frederico pôde respirar um pouco, apóssemanas de trabalho e reuniões, ele se lembrou daproposta que Matheus havia feito, uma troca deconhecimentos entre os departamentos.

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— Tenho que dar continuidade a esse trabalho. Éalgo muito importante para a empresa e para ocrescimento dos colaboradores. Mas, ainda sim, acho quepodemos incrementar um pouco este projeto, e se alémda troca de idéias entre os departamentos, nós fizéssemostambém algumas definições de como evitar problemas?Poderia ajudar ainda mais... Vou chamar Matheus aquipara conversarmos - pensou Doutor Frederico, já comidéias novas em sua cabeça. Ele gostava do seu trabalho ese sentia bem exercendo a função de superintendente,exceto quando alguns diretores “ficavam no seu pé”.

Matheus atendeu o chamado prontamente. Entrouna sala, fechou a porta e sentou-se, esperando pelasorientações do chefe.

— Eu lhe chamei aqui para que possamos darcontinuidade às suas idéias de relacionamento entre oscolaboradores. Vamos começar relembrando suas idéias.Tudo bem?

— Claro, Doutor Frederico! Só gostaria de lhe pedirum favor. Eu preparei uns gráficos, posso lhe mostrar? —solicitou Matheus.

— Sem nenhum problema, meu rapaz. Deixe-mevê-los! — concordou o superintendente, curioso.

Frederico sabia que Matheus tinha muito potenciale deveria ser explorado; era uma pessoa nova na empresa,cheia de conhecimentos, e com muita vontade de exporsuas idéias. Pretendia ensiná-lo, ajudá-lo nas conclusõesdas tarefas. Este era o tipo de trabalho que mais lhe davaprazer. Em tantos anos de profissão, uma das coisas quemais prezava era ajudar jovens em formação paraconseguirem melhores colocações. Sentia-se muito bemem ajudar pessoas à sua volta. Sentia-se honrado quando

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ouvia os comentários dos amigos: “Você se lembra daquelerapaz, jovem, que trabalhou na empresa que o Fredadministrava? Ele trabalhou lá durante anos, começou comomensageiro e saiu de lá em uma posição muito mais alta!” Esterapaz abriu sua própria empresa, administra seus negóciose ainda presta consultoria para terceiros”. Sempre queouvia algo assim deste tipo, Frederico sentia-se orgulhosoem saber que tinha colaborado com o sucesso de algumapessoa. Todas estas lembranças se passavam na mentedele enquanto Matheus mostrava seus gráficos.

— Meus parabéns, Matheus! Os gráficos estãocorretos e muito bem apresentados. Eu aprovo totalmentea sua idéia e, ainda mais, quero complementá-la, comalguns detalhes que acho importantes para que osresultados sejam ainda mais garantidos.

— Que bom que o senhor gostou, Doutor Frederico.E fico muito feliz por querer complementar meu trabalhocom as suas idéias.

— Pois bem, meu jovem, o que eu gostaria deacrescentar é o seguinte: na minha opinião, as pessoasresolvem os problemas da maneira errada, e pelo modoerrado. E como é isto? Eu vejo um outro caminho parasolucionar as dificuldades. Existe uma “regra” para osproblemas, que pode ser quebrada. Basta ter atenção eorganização ao desenvolver um trabalho ou projeto.

— Como assim, Doutor Frederico? Não entendimuito bem qual é a sua idéia!

— Explico melhor. Peguemos um problemaconvencional de qualquer empresa, o orçamento, porexemplo. Neste caso, temos três etapas: primeira etapa:a causa, segunda etapa: o problema em si, e terceira eúltima etapa: a conseqüência.

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— Quando nos vemos frente a frente com oproblema, nos preocupamos em resolver a conseqüênciadele e não a causa. Se fizermos um planejamento melhore pensarmos com tranqüilidade, será mais fácil lidar comos contratempos que enfrentamos todos os dias.Podemos resolver a causa, para que eles não voltem aacontecer. Mas a maioria das pessoas se preocupa emsolucionar a conseqüência do problema e assimindubitavelmente ele voltará a acontecer.

— Como pode, Doutor Frederico? Nunca tinhaouvido falar de algo deste tipo! Quer dizer que um bomplanejamento e uma organização podem evitar um furono orçamento ou qualquer outro tipo de problema dentrode uma empresa ou até mesmo na sua vida pessoal?

— Claro que sim! É lógica, igual à matemática!Vejamos a seqüência de planos: você tem uma situaçãona sua empresa que causa um problema e que traz umaconseqüência. Então, se tentarmos resolver aconseqüência, não chegaremos a lugar algum, porque oproblema vai continuar aparecendo. Mas se nósresolvermos a causa, ele não irá se repetir. Claro que podeaparecer outra dificuldade, algo bem diferente, mas omesmo problema não vai se repetir, isso porque vocêresolveu o que precisava. Eu costumo chamar isto de“Ação Corretiva”.

Para que isto seja concluído com êxito precisamospassar por no mínimo cinco etapas:

Primeira: Definir exatamente qual é o problema.Segunda: Quais são as causas do problema.Terceira: Fazer o registro de dados.Quarta: As ações corretivas.Quinta: Monitorar os resultados.

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— Eu posso lhe afirmar, Matheus, que isto vai darcerto. Vejamos o exemplo que eu vivenciei. A empresapossuía um planejamento orçamentário. Logo que euassumi a gerência, o orçamento havia sido ultrapassado,tinham estourado em alguns setores e em outros tinhamparalisado os trabalhos temporariamente para evitarmaiores furos até o final do ano.

— Eu sabia que o caso poderia ser revertido, masnecessitava da aprovação de superiores. Sendo assim, fuiaté a pessoa responsável pelo financeiro, para saber aquem deveria me reportar. Durante nossa reunião, fuidireto ao assunto, para que não perdêssemos tempo.

“Senhor Jorge, eu vi que a empresa está com umfuro no orçamento, e pelo que eu pude perceber,podemos reverter este caso. Mas, para isso, preciso deduas coisas: primeiro, que vocês confiem no meutrabalho, e segundo, preciso de autonomia nas minhasdecisões. Assim, poderei fazer o que precisar, e trazerbenefícios e lucros para a empresa”.

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— Quando terminei minhas colocações, ele olhou-me com uma feição contente, de quem não tinhanenhuma esperança em relação à situação financeira daempresa. E disse-me confiante:

— Pois bem, Doutor Frederico, o senhor tem o queprecisa. Marcaremos uma reunião com a diretoria,passaremos as suas idéias para os demais. Se eles tambémaprovarem, daremos continuidade ao seu projeto.

— Muito obrigado pelo voto de confiança. Vou mededicar a este trabalho para conseguir alcançar os objetivose recuperar a situação financeira da empresa.

— Está bem, Doutor Frederico, confio no seutalento e na sua experiência. Espero que o senhor nãome decepcione.

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CAPÍTULO OITO

— Após essa conversa com os diretores, fomostomar um café, e, logo que voltei, comecei a providenciartoda a papelada necessária para a reunião. Liguei para osdiretores para marcar a data, fiz novas planilhas comprevisões e uma apresentação com as mudançasnecessárias para o sucesso do projeto. Quando chegou odia, eu estava muito nervoso, afinal estava colocando emrisco o meu emprego. Se os diretores não concordassemcom o meu projeto, poderia ser demitido na mesma hora.Por isso, tomei muito cuidado com o que ia falar, fiz erefiz todos os cálculos para que nada desse errado. Nareunião, era a hora de mostrar meu talento e o meupotencial, mas eu mal sabia que, por trás de tudo, tinhampessoas que não queriam que eu estivesse naquele cargo.Minha função era rever os furos da empresa e arrumar

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soluções para os problemas. O que eu não tinha noçãoera de que os furos eram causados por “desvio” dosdiretores e sócios da empresa.

— Fiz então a minha apresentação. Dediquei-meao máximo para que nada saísse errado. Felizmente, tudocorreu como eu previa, aprovaram a minha apresentaçãoe apoiaram o meu trabalho. Mas, por trás de toda aaprovação, tinha uma pessoa que estava planejando algopara me derrubar. Porém, eu fui mais forte, superei todosos obstáculos e, durante seis meses, pude mostrar meutrabalho; fiz muito para trazer melhorias à empresa.Resolvi o problema do orçamento, mudei algunsconceitos, e logo que estava concluindo o meu trabalho,quando já não agüentava mais tanta pressão por partedesta pessoa, pedi demissão. Essa pessoa me pressionavamuito, cobrava demais, uma situação insustentável. O quequero dizer com tudo isto é que não devemos dependerdo apoio dos outros para cumprirmos com as nossastarefas, com nossas obrigações. Devemos, sim, fazer ascoisas contando apenas com as nossas forças e tambémcom as forças superiores que todos nós temos. Secolocarmos a sua idéia em prática e mudarmos as atitudes,Matheus, o sucesso será garantido.

Matheus ficou muito feliz com as palavras queacabara de ouvir do Doutor Frederico. Estava orgulhosode si mesmo por colaborar com a empresa, tendo aoportunidade de crescer profissionalmente.

— Matheus, pode iniciar os trabalhos e lembre-se que, com planejamento e organização, tudo podedar certo.

— Muito obrigado, Doutor Frederico. Sou grato pelaconfiança. Tenha a certeza de que não vou decepcioná-lo.

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— Estou certo disso e sei que você irá cumprir comsuas obrigações tranqüilamente, e saiba que estou àdisposição para qualquer dúvida — disse Doutor Frederico,confiante na força de vontade e no talento de Matheus.

Começaram as reuniões dos departamentos. Issoduraria um tempo. O trabalho que estava sendo propostopara os colaboradores era de grande valia. Meses depois,todos os departamentos já se conheciam.

Os resultados dessas conversas já eram visíveis.Todos percebiam as melhoras que estavam surgindodentro da empresa. O orçamento, de negativo passou parapositivo. O clima dentro da empresa parecia estar normal,como se não houvesse diferenças, parecia até que lá dentronão existiam mais os dois grupos, o dos amigos e o dosopositores de Doutor Frederico.

Sem que os aliados de Frederico percebessem oque estava acontecendo, os opositores ainda continuavamcom seus pensamentos e planos. Eles queriam que oDoutor Frederico saísse da empresa, a todo custo. Porisso, já haviam tramado com os superiores para colocartudo em prática e demitir o superintendente. E o pior aindaestava para acontecer, os planos da diretoria incluíam adispensa de vários colaboradores Os diretores já sabiamquem seria demitido, quando e a “justificativa” que dariama cada um deles.

Doutor Frederico estava muito feliz com odesempenho de sua equipe e continuava com a esperançade que nada mais aconteceria. Ele acreditava nisso porquetinham dado a ele a autonomia necessária para tomardecisões. Tinha a convicção de que a diretoria não odemitiria ou mesmo abortaria o projeto.

Enquanto seus aliados trabalhavam em silêncio,seus opositores tramavam. Na presença do Doutor

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Frederico, eram de um jeito. Na ausência dele,completamente diferentes. Esses adversários sabiam o quequeriam, por isso tomavam o maior cuidado para queninguém percebesse as tramóias e para que não deixassemescapar nada. Seria uma perda de tempo se algumainformação vazasse.

Mas a moça que servia de cúmplice, não daria coma língua nos dentes. Ela tinha um caso com um dosdiretores, Armando, e a pobrezinha tinha certeza quesubiria de cargo assim que Frederico e seus amigos fossemdemitidos. O sonho da moçoila era ver seu amado comosuperintendente e ela como a secretária super eficiente.Fazia tudo às vistas de todos, não dava a mínimaimportância se alguém percebia suas fofocas. No fundo,ela acreditava que ganharia mais adeptos, e daí receberiamais prêmios e presentes do seu amado. Mas ela não sabiaque era completamente descartável.

A diretoria já estava ansiosa pelo início do plano,mas para sorte de alguns e azar de outros, as tramóias teriamque ser adiadas por mais algum tempo. Doutor Fredericoestava começando um novo projeto e, até que as funçõesfossem distribuídas e os trabalhos iniciados, levaria um certotempo para aparecer os resultados. Se fossem bons,esperariam mais alguns meses, se fossem ruins e aconseqüência negativa, poderiam demiti-lo imediatamente.

O novo trabalho consistia em cobrar as empresasinadimplentes. Desde que assumiu o cargo desuperintendente, o objetivo de Frederico era fazer comque as empresas regularizassem suas situações. O planode cobrança seria um segundo passo, que ainda não estavatraçado, mas as empresas seriam avisadas de suas dívidas,buscando uma forma de saná-las.

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Metade das empresas cadastradas no banco dedados estava inadimplente. Se o processo de cobrançafuncionasse, o aumento no orçamento seria significativo,o que daria a possibilidade de Frederico alcançar suasmetas e a diretoria da Junção continuar aprovando o seutrabalho. A diretoria, por mais estranho que possa parecer,não se esforçou muito na mudança da forma de cobrança.Mesmo assim, o projeto foi tocado e logo apareceram osresultados positivos.

As coisas caminhavam tranqüilamente para DoutorFrederico e sua equipe. E os bons fluídos já despertavama inteligência da turma da oposição. A dedicação noprojeto de cobrança era a suspeita que a opinião delespoderia estar errada. “Será que nós nos enganamos?Julgamos as pessoas da forma errada? Precipitadamente?Antecipamo-nos e tiramos nossas próprias conclusões?”.

Pode ser. Quando se está na dúvida sobre o caráterde uma pessoa, não se pode julgar sem ter certeza. Masos resultados eram tão evidentes, que não seria diferente.Se há certeza, é preciso tomar providências. Se não, émelhor esperar. O tempo clareia as dúvidas.

O trabalho iniciado por Frederico precisaria dacolaboração e da força de quase todos os departamentos.Seguindo a idéia de Matheus, foi implantada acomunicação entre os setores. O resultado foi excelente.Agora, as pessoas sabiam quem eram os responsáveis porcada setor e o que exatamente eles faziam. Logo noprimeiro mês, as ligações eram diretamente passadas aosresponsáveis, e todos atendiam somente ligaçõesreferentes às suas funções.

Foi montada uma estratégia para começarem ascobranças. O primeiro passo foi fazer um levantamento

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dos inadimplentes; depois verificaram o que seria cobradoe quais as possíveis multas e formas de pagamento. Todasas quartas-feiras, os colaboradores se reuniriam paraselecionar as empresas que seriam acionadas naquelasemana e acertariam os detalhes. A carta de cobrança seriao último passo desse processo.

A idéia de enviar a carta de cobrança só no final doprocesso tinha um propósito: permitir que os devedorestomassem ciência da dívida, proporcionando-lhes umprazo de pagamento um pouco maior. Se a carta-cobrançafosse enviada diretamente, ela poderia ser ignorada e asituação de inadimplência permaneceria igual. E este nãoera o objetivo. Certamente, ao entrar em contato com odevedor, explicando sobre os seus débitos, o responsávelpelo financeiro da empresa inadimplente teria alguns diaspara se programar, e não ser “pego de surpresa” assimque chegasse a carta-cobrança.

A idéia era boa e todo esforço estava valendo apena. O problema é que as tramóias continuavam e acabeça de Doutor Frederico poderia estar “a prêmio”,antes que seu projeto fosse concluído.

O sucesso deste planejamento empresarial jádeixava muitas pessoas não favoráveis a esta política emcima do muro. Não sabiam em qual lado permaneceriam:dos aliados ou dos opositores.

A calmaria na Junção foi se dissipando e aansiedade tomou conta do ambiente. Os opositores jásabiam que, a qualquer momento, o diretor de finanças eo presidente procurariam pelo superintendente. Algumtempo depois, com feições estranhas e de “poucosamigos”, pediram para falar com o superintendente. Mas,para sorte ou azar de Frederico, ele não estava na empresanaquele momento.

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O presidente e o diretor de finanças ficaramperdidos, sem rumo. Como não encontraram o DoutorFrederico na empresa, no horário de trabalho? “Onde eleestará?” Eles fingiram que estavam lá por outro motivo,mas não deixaram de demonstrar a ansiedade em querervê-lo. O presidente da empresa pediu então para queAndressa desse um recado para o superintendente assimque ele chegasse:

— Andressa, por favor, assim que o DoutorFrederico chegar, peça a ele para me ligar.

— Pode deixar, antes do almoço falarei com ele epassarei o seu recado.

— Está bem. E mais uma coisa: por favor, traga naminha sala o relatório da reunião da semana passada.Quero tirar algumas dúvidas.

— Sim, senhor. Só um minuto e eu já vou — disseAndressa, procurando os documentos. Ela ficou perdida,pois não contava com o pedido de última hora.

— Aqui está o relatório que o senhor pediu.— Obrigado, Andressa, pode ir agora.Tal atitude não despertou suspeita entre os

colaboradores. Mas foi tudo um belo disfarce, afinal, osdocumentos poderiam ser solicitados por e-mail, comoera feito costumeiramente. Os opositores de Fredericofingiam não saber de nada. Mas o clima era de que algoestava por acontecer.

Neste dia, Doutor Frederico havia chegado cedo,deixado alguns pertences na sala e saído para uma reuniãocom o pessoal da informática. A intenção dele era buscarprogramas de computadores adequados para o novosistema de cobrança.

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Antes do almoço, Doutor Frederico ligou na Junçãoquerendo falar com Andressa.

— Boa tarde, Andressa, tudo bem?— Tudo bem! E o senhor, como estão as coisas por aí?— Estão indo bem. Obrigado. Algum recado

para mim?— Tem sim, mas acho que o senhor não vai gostar

muito...— O que foi?— O nosso presidente e o diretor financeiro

vieram aqui, no período da manhã, querendo falar como senhor. Quando souberam que o senhor não estava,pediram-me alguns documentos e em seguida foramembora. Achei que eles estavam muito estranhos. Osdocumentos solicitados são sempre enviados por e-mail.Achei a atitude deles suspeita.

— Fique tranqüila, por favor, dê-me o número dotelefone dele.

Andressa passou os telefones do presidente.— Obrigado, Andressa. Mais tarde voltaremos a

nos falar.— Está bem, Doutor Frederico, até mais tarde.Frederico ligou imediatamente para o presidente.

Precisava saber porque ele estava a sua procura, comtanta ansiedade.

O presidente atendeu a ligação aparentandotranqüilidade.

— Boa tarde, Frederico, como está? —cumprimentou o presidente.

— Estou bem. Obrigado. O senhor está à minhaprocura? Posso ajudá-lo em algo?

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— Pode sim. Você esta perto aqui da nossa matriz?Estou no centro da cidade agora à tarde.

— Não, estou fora de São Paulo, resolvendo algumascoisas da Junção. Por quê?

— Nada de tão importante. Assim que chegar emSão Paulo, venha até a minha empresa, quero falar comvocê pessoalmente. Está bem?

— Está bem! Estarei aí em três horas.— Ótimo, estou aguardando!— Até mais tarde, Frederico.— Até mais.Após a conversa, Doutor Frederico comentou com

Luiz, o amigo que o acompanhava.— O que será que o Rui quer comigo, assim, às

pressas?— Deve ser algo muito importante, para ele querer

vê-lo o mais rápido possível.— Deve ser mesmo! Mas temos que fazer uma coisa

por vez. Não é mesmo, Luiz?Luiz conhecia Frederico antes mesmo dele ir

trabalhar na Junção Recursos Humanos. Além de Luizprestar serviços para a empresa, ambos já haviamtrabalhado juntos em outros lugares, anos atrás. Tudo oque era relacionado à área de comunicação, propagandae eventos, era Luiz quem cuidava, juntamente comMariana. Luiz trabalhava com Mariana, mas ele eraterceirizado. Sempre que a empresa precisava de serviçosem comunicação visual, Luiz era contatado. Naquele dia,Luiz acompanhou Frederico para buscar novosprogramas empresariais.

Frederico resolveria uma coisa por vez, como haviadito, e por isso não alterou o caminho previsto. Mas a

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conversa com Rui não lhe saía da cabeça. Ele sabia dorisco que corria. Estava curioso e queria estar logo com opresidente.

Sabia que algo aconteceria. Uma sensação estranhatomava conta do seu peito. Fechou os olhos e pediu queacontecesse o que fosse melhor, mas que os mais fracosnão sofressem. Ele se preocupava muito com o futuro dasua equipe. Frederico só queria que, se realmente fossedemitido, ele tivesse a possibilidade de comunicar aos seuscolaboradores, sem fofocas, sem distorção dos fatos.

Seguiu seu caminho, conversando com o amigo Luizpara se distrair e passar o tempo mais rápido. Mesmo assim,o dia de Frederico seria longo e ele não chegaria antes doanoitecer na cidade. Decidiu ligar para Carmem. Pediu-lheque não o esperasse, pois ainda teria reunião com o Rui.

— Olá, Carmem, como estão as coisas por aí?— Estão bem, como de costume, mas o senhor

faz falta aqui!Ela sempre dizia que a empresa sem o Doutor

Frederico era como primavera sem flores, afinal, foiele quem deu mais vida aos trabalhos, mais força aoscolaboradores.

— Obrigado, Carmem, você é sempre gentil.Faça-me um favor, providencie para amanhã os papéiscom os nossos resultados dos projetos nos últimos seismeses. E também faça uma limpeza em minha mesa,deixe tudo o que for pessoal de um lado e o que for daempresa do outro. Por favor.

— Por que o senhor está me pedindo isto, DoutorFrederico?

— Preciso disso pronto amanhã cedo. Você podefazer, Carmem?

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— Posso sim. Amanhã cedo, estará tudo prontoem sua mesa, assim que o senhor chegar.

— Muito obrigado, Carmem. Mais um detalhe: nãome espere! Chegarei tarde e amanhã cedoconversamos.Tudo bem?

— Está bem. Até amanhã, Doutor Frederico.— Até amanhã, Carmem.O clima dentro da empresa estava tenso demais. E

foi bom Frederico estar fora o dia inteiro. Assim, ele teveuma oportunidade para se preparar para algo ruim quepudesse vir a acontecer.

Logo que desligou o telefone, Carmem nãoconseguia esconder o nervosismo. Sua equipe percebeuque as coisas não estavam boas. Queriam saber o que oDoutor Frederico havia dito no telefone.

— Carmem, diga logo. O que o Doutor Fredericodisse para você ficar deste jeito?

— Ele pediu para que eu arrumasse os papéis delee também um relatório com os nossos resultados dosúltimos seis meses.

— O que será que vai acontecer? — indagouMatheus, perdido na situação. Ele, que era o mais novomembro da equipe, não sabia muito bem o que aconteciapelos bastidores da empresa.

— Matheus — chamou Carmem — quando DoutorFrederico assumiu o cargo de superintendente, as coisaseram bem diferentes. Vamos até a sala de reunião paraconversarmos melhor.

Carmem, então, começou a contar para Matheuscomo era a situação na Junção antes da contratação deFrederico, e o que mudou com a chegada dele.

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— No começo, quando entrei aqui, as coisas erambem diferentes. Não tínhamos nenhum benefício, nãopodíamos ver nossos e-mails particulares, não tínhamospremiação por tarefas ou metas alcançadas. Nada debom para os funcionários, a não ser cumprir com asobrigações sem reclamar ou querer algo.

— Já sabíamos que o então superintendente não iadurar muito tempo, logo seria substituído. Isso de fatoaconteceu e o Doutor Frederico passou a ocupar o cargo,apresentado à diretoria pela supervisora de treinamentos.Ele demonstrou desde o começo ter capacidade e forçade vontade para assumir o cargo, queria muito mostrarseus conhecimentos para todos na empresa. Com a saídado outro superintendente, algumas pessoas se sentiramameaçadas, achavam que seriam demitidas assim queele assumisse o cargo. O objetivo do Doutor Fredericonão era mandar ninguém embora, mas, a pressão notrabalho, as mudanças, os medos e a insegurançafizeram com que o desenvolvimento das pessoas caísseem qualidade e tempo.

— Desta forma, alguns chegaram a pedirdemissão por não agüentarem mais a pressão dentrodo trabalho. Uma dessas pessoas disse que não estavamais produzindo como antigamente e queria serdemitida. O Doutor Frederico não tinha essa intenção,mas era um pedido pessoal, ele não poderia negar. Osuperintendente falou com a diretoria e, mesmo contraa vontade, resolveram aceitar o pedido de demissão.Com a resposta positiva da diretoria, Doutor Fredericodemitiu a moça, mas deixou claro que estava atendendoa um pedido dela.

— Essa situação continuou provocando medo emoutros funcionários e todos acharam que poderiam ser

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demitidos igualmente. Doutor Frederico deixou bemclaro que este não era seu objetivo ali dentro. Nãodemitiria ninguém no processo de adaptação dos seusprojetos, queria conhecer primeiro as pessoas que alitrabalhavam, saber qual era o serviço que desenvolviam,como o faziam.

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CAPÍTULO NOVE

Matheus prestava atenção em cada palavra deCarmem. Seus olhos esbugalhados engoliam as palavrasda colega, buscando o ponto final de uma história. Aquelasala trazia a gélida sensação de que tudo poderiadesmoronar, a qualquer momento.

Carmem continuou a história.— As coisas caminharam bem durante os primeiros

meses. Ninguém foi demitido.Todos estavam abertos aconhecer a maneira de trabalhar do Doutor Frederico.Parecia que as coisas estavam fluindo bem, mas quandoele tomou sua primeira iniciativa de fazer algumascobranças e as devidas regularizações, os problemascomeçaram a surgir. Talvez, até por este motivo, algumaspessoas, hoje, são contra os trabalhos dele. Influência decomentários de alguém que não soube perder, ou subirna vida, dependendo de como se olha para uma situação.

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— Carmem, desculpe interromper, mas comoassim? Como se olha para uma situação?

Matheus sabia que sua pergunta não tinha nada aver com o que Carmem explicava no momento, mas,curioso, queria entender o que a colega quis dizer.

— Matheus, você é uma pessoa esperta, vaientender logo o que quero dizer. Por exemplo, quandoacontece algo diferente em nossas vidas, quando somosdemitidos de nosso emprego. Jamais esperamos que istová acontecer, mas acontece. Temos nossasresponsabilidades pessoais, nossas contas para pagar, e,quando isto ocorre, nos desesperamos, achamos que é ofim do mundo. Pensamos sempre que o emprego estádifícil e que será complicada a situação. Se soubéssemoslidar com as nossas dificuldades, e com os nossos medos,poderíamos perceber que, se isto está acontecendo emnossas vidas, é por que algo melhor pode nos aparecerdepois. Devemos tirar aprendizado de tudo aquilo quevivemos, agradecermos pelo emprego, e pedir para quenovas oportunidades surjam em nossas vidas.

— Quem diria! — exclamou Matheus — Aprenditanto em tão pouco tempo. Nunca tinha pensado por estelado. Comigo foi a mesma coisa. Quando fui demitido,antes de entrar aqui, achei que o mundo tinha acabadopara mim. Como ia conseguir outro emprego? As coisasestavam tão difíceis! Fiquei desesperado. Mesmo com oapoio de familiares e amigos, as coisas pareciam não teruma solução. Durante todo o tempo, fiquei desesperadoe não consegui encontrar nenhuma resposta para os meusproblemas e medos. As coisas pioravam a cada dia; onervosismo era inevitável, eu estava sempre de mauhumor, brigando com todas as pessoas à minha volta. Foraque as contas estavam atrasadas, uma loucura. Minha vida

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mudou drasticamente, de uma hora para a outra. Eu, queera uma pessoa calma, sorridente, trabalhadora e sempredisposta a novos desafios, não pude perceber que os meushábitos estavam um pouco defasados.

— Como já fugimos do assunto em questão, comoassim defasados? — perguntou Carmem, curiosa pelaexperiência de Matheus.

— Estavam defasados, no sentido de que eu nãodava o devido valor a algumas coisas em minha vida. Eupreferia sair com os amigos a ficar em casa um dia dasemana com a minha família; eu só sabia pedir, e, quandoconseguia, não sabia nem agradecer — explicou o jovem.

— Durante o período em que estive desempregado,pude perceber que é preciso ter outros valores para se chegarao equilíbrio. Após muitos conselhos de amigos, decidiprocurar ajuda, já que, sozinho, não conseguia mais dar umrumo em minha vida. Resolvi procurar uma terapiaalternativa. Busquei anúncios em jornais e revistas, atéque um dia, por indicação de um familiar, conheci umapessoa muito agradável. A maneira na qual esta pessoatrabalhava me parecia a mais adequada para o momentoque estava vivendo.

— Eu fui, então, conhecer seu trabalho de perto.Marcamos uma entrevista onde eu falaria um pouco sobrea minha vida e ela, um pouco sobre a sua formação. Elatambém me explicaria como era seu trabalho. Confessoque fiquei um pouco ansioso. Queria ter certeza de queestava fazendo a coisa certa. Pensava que somente osloucos precisavam de terapia. Eu achava que, como nãotinha problemas mentais, a terapia era desnecessária. Doisdias antes da data marcada, senti uma enorme vontadede desistir. Estava com medo, ansioso pelo que ia encontrarna minha frente. No fundo, eu não queria saber dos meus

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medos e conflitos. Para mim, o problema era o mundo, enão eu. Todos os outros eram os culpados, menos eu.

— É fácil dizermos que a culpa pelos nossosproblemas é dos outros e não assumirmos as nossasresponsabilidades, o difícil é tomarmos controle dasnossas vidas. Mas, com o apoio de amigos e parentes,criei coragem e fui para a entrevista.

— Quem diria que você, Matheus, uma pessoa tãoalegre e tão determinada já passou por isso — opinouCarmem.

— Pois é, Carmem, as pessoas precisam de apoioem suas vidas; precisam de forças que muitas vezessozinhas elas não conseguem alcançar. Em determinadosmomentos de nossas vidas, acontecem situações que nãoconseguimos resolver sozinhos. Por mais fortes quejulguemos ser, por mais maduros que achamos que somos,precisamos da ajuda de outras pessoas. Pessoas estas que,por não estarem vivendo a mesma coisa que nós, podemnos mostrar algumas saídas. Saídas que não conseguimosperceber, justamente por estarmos vivendo o problema.

— No dia da entrevista com a terapeuta, fiqueimuito nervoso. Transpirava em excesso, mal conseguiame alimentar. Muitas coisas passavam pela minhacabeça. O que vou dizer? Como vou falar? E se eu tiververgonha de falar sobre algum assunto? Tantos medos,inseguranças. Mas mesmo assim fui até o consultóriodela como o combinado. Logo que cheguei, toquei ointerfone, e para a minha surpresa, ela mesma veio abrira porta do consultório. Fiquei surpreso, não imaginavaque a própria terapeuta abriria a porta. Fui muito bematendido. A Ana até me ofereceu água e café, mas minhatimidez não permitiu que eu aceitasse.

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— Fomos para a sala dela, onde me ofereceunovamente uma água. Desta vez, resolvi aceitar. Com aboca seca de tanta ansiedade, precisava mesmo de umgole de água.

— A entrevista passou mais rápido do que euesperava. Nem percebi o tempo passar e, quando vi, Anajá me advertia de que teríamos que deixar alguns assuntospara o próximo encontro, na semana seguinte.

— Concluindo a história, depois de alguns mesespude aprender muitas coisas sobre o mundo e como euestava olhando para ele. Pude perceber meus medos,minhas decepções, receios, coisas que eu realmentegostava de fazer e o que detestava. Até então, eu não tinhaconhecimento disso. Foi muito mais fácil lidar com o fatode estar desempregado no momento, mais fácil aindavoltar para o mercado de trabalho. Acho que, se eu nãotivesse ido até o consultório dela, e procurado ajuda,poderia estar bem pior, estaria me culpando de muitascoisas, culpando o mundo e as pessoas à minha volta, enada teria mudado. Talvez estivesse desempregado ainda.Mas, hoje, sei que eu não estava desempregado e sim“Disponível para o mercado de trabalho”.

— Como assim “Disponível para o mercado detrabalho”, Matheus? O que você quer dizer com isto?

— Eu explico, Carmem, mas antes de qualquercoisa, podemos ir almoçar? Estou faminto. Prometo que,durante o almoço, eu conto para você esta diferença, algoque eu aprendi com a terapeuta Ana.

— Está bem. Também estou com fome. E, assimque nós voltarmos do almoço, eu vou terminar de lhecontar como começaram as brigas aqui na empresa.

— Com certeza. Vamos trocar experiências.

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E assim foram almoçar. Carmem e Matheusdecidiram comer um lanche no Estadão, uma lanchonetefamosa perto da empresa. Chegando ao local, e apósfazerem os pedidos, o rapaz continuou contando comoaprendeu a diferença entre estar desempregado e estar“disponível para o mercado de trabalho”.

— Carmem, se eu perguntasse para você o que éestar desempregado, o que você me responderia?

— Bem, eu diria que estar desempregado é quandovocê procura um trabalho, que possa trazer umaremuneração para que você pague suas contas, se divirtae possa sobreviver.

— Este trabalho também tem que lhe trazersatisfação?

— Claro que sim! Você tem que fazer aquilo quegosta, o que mais lhe dá prazer. Quando você estádesempregado, você procura por um trabalho onde possadesenvolver suas funções, cumprindo com suasobrigações, pondo em prática seus aprendizados e estudossendo beneficiado com um pagamento mensal. Umapremiação pelo seu desempenho. É isso?

— Sim, isso mesmo.— Pois bem, Carmem, e agora eu pergunto o que é

estar “disponível para o mercado de trabalho”?Carmem pensou, pensou, e, sem ter certeza de sua

resposta, preferiu dizer que não sabia.— Não sei exatamente o que seria isso. O que é?— Que bom, assim posso te ensinar algo! Retribuo

um pouco de todos os ensinamentos que tenho aprendidocom você. Veja bem, estar desempregado e “disponívelpara o mercado de trabalho” é basicamente a mesma coisa.Você procura por benefícios, algum lugar para por em

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prática todo o seu conhecimento, só que o diferencial éque você muda o seu foco. Você procura emprego nãocomo um desempregado, desesperado para pagar suascontas, mas sim como um excelente profissional, dispostoa novos desafios, e que queira fazer parte de algumaempresa. Você mostra todas as suas qualificações em umaentrevista, como se estivesse se “vendendo” para aempresa, querendo aquele emprego.

— Se você for selecionar alguns candidatos parauma vaga de Auxiliar Administrativo, por exemplo. Apósanalisar o currículo de todos os candidatos, você marcauma entrevista com eles. O que você espera encontrar nodia das entrevistas?

— Espero que eles venham bem apresentados esaibam o que querem, dispostos a novas funções. Devemter o conhecimento em tudo aquilo que a vaga exigir e,acima de tudo, que tenham força de vontade em aprendere que demonstrem dinamismo.

— Muito bem, Carmem, você acabou de traçar operfil do profissional que você procura. Agora vem a partemais difícil. Uma pessoa chega na empresa, para aprimeira entrevista. “Por favor, a senhora Carmem?”.Tímido, ele procura por você, não sabe onde enfiar o rosto,de tanta vergonha. Faz de tudo para que as pessoas nãopercebam a sua presença. Então, você o leva para a salade reuniões. Dando inicio à entrevista, você pergunta seele tem conhecimentos em informática. Qual a resposta?

— Não sei. Qual é Matheus?— “Tenho sim senhora”. Ele responde cabisbaixo,

com a voz trêmula.— Você não quer intimidar o candidato e pula para

a próxima pergunta, esperando ouvir uma respostamelhor que a primeira.

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— Fale-me sobre a sua experiência de trabalho.Onde trabalhou e o que fazia nas outras empresas.

E ele responde: “Já trabalhei como montador,auxiliar de escritório e em telemarketing”. Tudo isso semolhar nos seus olhos, falando baixo, quase sussurrando.

— Fale-me sobre a sua formação.— Tenho o segundo grau completo. Penso em fazer

faculdade, e curso de montador de computadores.— Você, cansada, já sem esperança que ele venha a

lhe dar uma resposta satisfatória, diz que, assim que tiveruma posição dos diretores, entrará em contato. E logoque ele sai, você rasga o currículo dele. E diz: “este não é oprofissional que eu procuro para trabalhar aqui na empresa”.

— Com certeza eu faria isso mesmo, Matheus. Maseu não entendi qual a diferença?

— Fique calma. Você entenderá tudo agora mesmo.Vamos utilizar o mesmo caso. Você agenda uma entrevistacom o segundo candidato. No dia e horário marcado elechega na empresa. Você está em sua sala. Assim que elechega, todos percebem a sua presença, um rapaz alegre,que cumprimenta todos os presentes.

— Bom dia, eu tenho uma entrevista marcada coma senhora Carmem. Você poderia avisá-la que eu cheguei,por favor? — Ele diz isto à recepcionista.

— Nossa, já começou bem diferente!Você vai até ele e diz: “vamos até a outra sala, por

favor”.Assim que vocês entram na sala, ele, em sinal de

respeito, espera ser convidado a se sentar. Logo no inícioda entrevista, você faz a primeira pergunta.

— Você tem conhecimentos em informática?

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E, de prontidão, o candidato responde: “Tenho sim,senhora. Lido muito bem com todos os programas decomputador. Tenho conhecimentos em computaçãográfica, sei montar e desmontar uma máquina, seitrabalhar com as suas configurações, monto programasempresariais que emitem relatórios de custos e lucros,entre algumas outras qualificações”.

Você fica surpresa com a resposta. Ele respondeutudo isto com a voz firme, olhando em seus olhos paratransmitir mais confiança. Empolgada, você parte paraa segunda pergunta. “Fale-me sobre a sua experiênciade trabalho”.

“Eu já trabalhei como montador decomputadores, era o responsável pela manutenção dasmáquinas de uma escola. Quando alguma máquina davaproblema, eu tinha que descobrir qual era o defeito,comprar a peça e fazer a troca. Já trabalhei também comoauxiliar de escritório, lá eu era o responsável pelo serviçode banco, entregar documentos, colher assinaturas dosrepresentantes e fornecedores, além de cuidar de todo oarquivo morto da empresa. Trabalhei também comooperador de telemarketing, fazia venda de assinaturade jornal pelo telefone. Por duas vezes consecutivas, fuio campeão de vendas do mês”.

— Nossa! Quanta coisa você fazia na empresa! —você até faz este comentário, porque está surpresa coma descrição que ele está passando sobre sua experiênciaprofissional.

— Vamos em frente, fale-me sobre a sua formação.“Tenho o segundo grau completo e prestei

vestibular há pouco tempo. Preciso ingressar nauniversidade, pois isto irá abrir muitas portas para mim.

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Além disso, tenho diploma de montagem e manutençãode computadores. E, para concluir, sou uma pessoa bemdisposta e preparada para novos desafios na minhacarreira profissional”.

— Está bem, assim que tivermos uma respostada nossa diretoria entraremos em contato. Muitoobrigado desde já.

Assim que o candidato vai embora você diz queachou o profissional que tanto procurava.

— Incrível! É exatamente assim que as coisasacontecem.

— É verdade, Carmem. As pessoas reclamam defalta de emprego e do governo. Realmente, trabalho nãoestá fácil de conseguir, e se a pessoa ainda não faz a partedela para ter um, fica mais difícil ainda.

Se todas as pessoas procurassem empregos comoprofissionais disponíveis para o mercado de trabalho, onúmero de desempregados seria bem menor. Ocomportamento e a maneira de se expressar são pontosimportantes numa entrevista de emprego. É necessáriodemonstrar todas as suas qualificações para a vaga. Épreciso mostrar à pessoa que está lhe entrevistando quevocê é o profissional indicado para aquela vaga.

— Vejamos um exemplo clássico do que leva aspessoas a agirem desta forma: a maioria das pessoas secomporta de maneira errada em relação às situações desuas vidas. Veja o porquê: pensam que é a partir domomento que elas têm alguma coisa, que elas vão fazerpor onde, para daí, sim, serem alguma coisa.

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Isso é errado, porque não devemos agir pelo quetemos; nem pensarmos pelo que fazemos. Devemos agirde acordo com aquilo que somos, para fazermos algo econquistarmos o que queremos.

— Mas, Matheus, eu não entendi muito bem o quevocê quis dizer. Explique-me melhor.

— Claro que sim, Carmem, com prazer. Vejamosum exemplo nas empresas.

Normalmente, as pessoas sabem que devem se

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empenhar mais nas suas tarefas e nas suas obrigações.Mas elas acabam mantendo o mesmo comportamento ea mesma atitude de sempre, porque dizem que ganhampouco para mudar a sua maneira de trabalhar. Ao pensarem se empenharem nas suas obrigações dizem: “se euganhar mais e for mais reconhecido, aí sim eu vou meempenhar mais nos meus afazeres...”

A maneira certa de pensar é: “eu vou me empenharpara desenvolver meus projetos com dedicação, pois soudeterminado e esforçado, assim obterei a promoção quetanto sonho, e, conseqüentemente, terei o aumento no meusalário, realizando-me profissionalmente”. É importanteque o candidato reconheça suas qualidades sem arrogânciaou prepotência, apenas tenha a consciência de suascapacitações.

— Realmente, Matheus, eu pude aprender eentender como pensam e agem os candidatos a uma vagade emprego. Muito obrigado por compartilhar suas idéiase aprendizados comigo. Fiquei feliz em saber mais sobrecomo se portar perante o mercado de trabalho, que hojeem dia é tão competitivo.

Quando acabaram de comer, já havia se passadoquinze minutos da hora de almoço e eles tinham que voltarrapidamente para a empresa.

— Com tanta idéia interessante e um lanchegostoso, acabamos perdendo a hora. Preciso terminar delhe contar como as brigas e as diferenças começaramdentro da empresa, para você entender melhor como aspessoas agem lá dentro — prosseguiu Carmem.

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CAPÍTULO DEZ

— Matheus, sente-se. Vou terminar de te contar ahistória. Onde paramos?

— Você me dizia o porquê das diferenças daspessoas aqui dentro.

— Ah, sim! Como eu dizia, quando o DoutorFrederico decidiu dar início às suas cobranças, ele não sepreocupou com o tipo da empresa, o que ela fazia e quemera o dono. Se havia dívidas, tinha que pagar. Mas o queele não esperava era encontrar, entre a lista de devedores,empresas dos diretores da Junção. Para a sua surpresa, aempresa do senhor Armando estava na lista. Ele, na suafunção de superintendente e líder do projeto de cobrança,não poderia deixar passar isso em branco. Mesmo sendoa inadimplente uma empresa do diretor administrativo.

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Na primeira oportunidade que o Doutor Fredericoteve, falou com o senhor Armando e explicou a suasituação, mostrando-lhe o quanto a empresa dele devia.Armando ficou furioso e achou um absurdo ser cobrado,afinal, ele sempre apoiou nosso chefe. Eu pude ouvir aindignação dele; ouvia da minha sala. Ele gritava assim:“Como você tem coragem de me cobrar, depois de tudoo que eu fiz por você? Eu lhe apoiei, briguei pela sua causa,defendi com unhas e dentes seus princípios e você aindavem me dizer o quanto eu devo? Se tiver alguém que devealguma coisa aqui é você, que deve a mim, pela força epelo apoio que eu lhe dei quando você mais precisou”.

— Houve uma longa discussão entre os dois e,daquele dia em diante, o senhor Armando passou a ircontra os princípios do Doutor Frederico. Não o apoiavamais, não era de acordo com as suas idéias. Ainda maisdepois que ele soube que o cargo que o Doutor Fredericoocupava era para ser do irmão dele. Por essa razão, sesentia ainda mais ofendido e com raiva. Ele decidiu entãoque, daquele dia em diante, faria tudo para que Fredericofosse demitido, saísse da empresa com uma mão na frentee outra atrás. Daí vem a rivalidade e a diferença dos dois.

— Agora posso entender o porquê dos doisviverem em atrito, não podem nem se ver no corredorque mudam de direção.

— Pois é, Matheus, é por isso que nós tememos oque eles são capazes de fazer para tirar o Doutor Fredericoda empresa. Se ele sair, você pode ter certeza que todosnós sairemos também, por questão de honra. Quem nãojogar no time deles, estará fora.

— Agora dá para entender porque um diretor deuma conceituada empresa tem as atitudes que tem.

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Resolve tudo da pior maneira possível, sem escrúpulos,sem caráter, comprando as pessoas e usando do poderque tem para alcançar seus objetivos.

Após saber disto, Matheus ficou chocado com avingança que estavam programando contra os aliados.Ficou com medo. Afinal, se o Doutor Frederico saísse daempresa, ele seria o primeiro da lista a ser demitido. Seria“ponto de honra” para os outros demitir Matheus.

Depois de muito conversarem, eles perceberam quejá havia se passado o horário de ir embora. Fecharam tudoe saíram. Mas a preocupação com Doutor Fredericopairava no ar. O chefe não tinha dado notícia. Teria játerminado a reunião com o Rui? Eles não sabiam, masnão queriam incomodar. Esperariam o dia seguinte.

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CAPÍTULO ONZE

No dia seguinte, Frederico chegou à empresa eprocurou Rui. Ele tinha ficado preso na estrada por causade um acidente e não conseguiu chegar no horáriocombinado. Ligou para o presidente e foi até a matrizpara a reunião. Algumas horas depois, Frederico voltou,pegou sua pasta e seu paletó e foi embora sem falar comninguém.

Todos ficaram atônitos. Não era normal umaatitude daquelas. O chefe sempre dava satisfação de ondeia. E a sua expressão não era das melhores. Andressatentou ligar para o chefe, mas seu celular estava desligado.Na sua casa, também ninguém atendia. A solução eraesperar o chefe aparecer.

No outro dia, até o céu amanheceu cinzento, talvezprecedendo acontecimentos ruins. Carmem não conseguiu

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dormir direito. As preocupações com a empresa deixaramseu sono agitado. Por isso, levantou-se mais cedo,preparou seus filhos para a escola e saiu para trabalharum pouco adiantada.

Andressa também ficou apreensiva com os fatosdo dia anterior, dormiu melhor que a colega, já que tinhauma jornada dupla – trabalho e estudos. E o cansaço fezcom que, naquele dia, a secretária acordasse atrasada. Eeste fato a fez entrar em desespero. “Meu Deus, justo hojeque está tudo de pernas para o ar na empresa, eu acordoatrasada, preciso correr”, pensou a moça. Ela não queriaperder nem um momento na empresa, queria estar láassim que Doutor Frederico chegasse.

Logo que Andressa chegou na empresa, foi diretoà sala do Frederico para ver se ele já havia chegado. Comonão o encontrou, foi procurar por Carmem. Queriaconversar um pouco mais com a amiga. Elas queriamestar enganadas, mas o medo era forte, e sentiam quealgo sério tinha acontecido com o Doutor Frederico.

Após conversarem um pouco e tomarem o café damanhã, foram para suas mesas começar o dia de trabalhoe esperar pelo Doutor Frederico. Ele, que nunca seatrasava, já estava fora do horário. Elas estranharam. Elenem ao menos havia ligado para avisar. Muito estranho.“Algo de grave deve ter acontecido”. Isso fez com que aangústia delas aumentasse ainda mais.

Passadas duas horas de atraso, o telefone deCarmem tocou. Era o Doutor Frederico, dizendo queestava quase chegando na empresa e pedindo para queela não comentasse a ligação com ninguém.

Quinze minutos depois, ele chegou. Não falou bomdia, não passou nos outros departamentos como decostume e não tomou café. Frederico foi direto para sua

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sala, fechou a porta para que ninguém ouvisse o que eleia fazer ou com quem ia falar. Ele nunca fechou a portaassim, a não ser quando tinha alguma reuniãoimportante. Sua primeira ação foi ordenar que Carmemcomparecesse imediatamente à sua sala.

Carmem entrou e percebeu que as notícias nãoseriam boas, pelo menos para ela.

Durante três horas eles conversaram, de portasfechadas, sem que ninguém os interrompesse. DoutorFrederico pediu à recepcionista que não passassenenhuma ligação para ele, a não ser particular.

Todos na empresa estavam aflitos. Alguns, felizespor já saberem o que estava acontecendo. Não dava maispara esconder de ninguém, já era nítido que duascorrentes existiam ali dentro.

Depois de conversar com Carmem, DoutorFrederico lhe solicitou um último favor. Pediu para queela não comentasse com as pessoas da empresa o quetinha acontecido. Solicitou que Carmem deixasse que ascoisas fossem acontecendo normalmente. As pessoas,mais cedo ou mais tarde, acabariam sabendo das“novidades”. Logo que terminou a conversa comCarmem, pediu para que Andressa fosse até a sua sala.

Andressa, quando viu a cara da amiga, já sabia oque estaria por vir. Entrou e fechou a porta do mesmojeito que Carmem havia feito. A conversa deles demorouum pouco menos já que Frederico havia desabafadoanteriormente com Carmem. O que todos temiam depoisda conversa que o Doutor Frederico teve com opresidente, realmente aconteceu.

Após ter contado para elas o que o presidentequeria com a reunião às pressas, Doutor Frederico

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convidou Andressa, Carmem, Laiz e Matheus para umúltimo almoço juntos. Pelo menos a despedida dele comosuperintendente da empresa. Porque, com certeza, elesmanteriam um laço de amizade e carinho.

Durante o almoço, conversaram bastante. Porincrível que pareça, não falaram em nenhum momentosobre a empresa, sobre trabalho, sobre o ocorrido ou coisasdo tipo. Eram apenas amigos.

Enquanto os aliados de Frederico saboreavam umdelicioso almoço, as coisas na empresa continuavam comonos últimos tempos. Fofocas, burburinhos, comentáriospelos corredores e risadinhas. Os opositores do ex-superintendente pareciam estar felizes com a situação.

Depois do almoço, assim que Doutor Fredericochegou na empresa, pegou suas coisas e foi embora. Nuncahavia feito isto antes. Os colaboradores estavamespantados com a sua atitude, não sabiam ao certo oporquê, mas sabiam que coisa boa não era.

Muito atenciosamente, ele se despediu de algumaspessoas, pegou os papéis que tinha pedido para Carmemseparar no dia anterior e foi embora.

Mas o que será que realmente aconteceu naconversa com o presidente? Isto ninguém jamais irá saber,só o que souberam foi o que Frederico disse a Carmem eAndressa nas reuniões reservadas.

Quando Frederico chegou na empresa dopresidente para a reunião, estava presente também odiretor de orçamentos. Uma pessoa muito respeitada porseu cargo e sua autoridade. Na falta do presidente emeventos, era o diretor de orçamentos que lhe representava.

Eles começaram a falar para Frederico que tinhamum objetivo, o de lhe propor uma nova maneira de

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trabalhar. Queriam que ele fosse mais político nas suasdecisões, e menos “atrevido” com suas idéias. O presidenteconsiderava que a atitude de Frederico tinha sidoaudaciosa, no que dizia respeito ao novo modo decobranças implantado por ele. Os dois falaram a respeitodo desentendimento que ele tinha tido com o senhorArmando e de como ele tratava os funcionários. Achavamque ele dava liberdade demais para as pessoas dentro daempresa, e que um funcionário deve saber o seu lugar.“Não se pode dar asas para os funcionários, porque senão eles irão voar”.

O presidente da Junção chegou até a pedir que eleparasse com o projeto de cobrança, já que algumasempresas devedoras eram de integrantes do quadro dediretores, e não era muito político cobrar pessoas quetrabalhavam em conjunto com eles. Afinal, muitos erampatrocinadores de eventos e ajudavam a empresa nashoras difíceis.

A reunião durou cerca de quatro horas. Opresidente e seu diretor pressionaram Frederico para queele mudasse sua maneira de liderar a equipe einterrompesse a cobrança nas empresas dos outrosdiretores. Queriam que ele fosse uma pessoa menospreocupada com o bem-estar dos funcionários. Chegaramaté a falar que ele não teria mais autonomia nas decisõese nas mudanças que desejasse fazer dentro da empresa.Eles comunicaram a Frederico que, daquele dia em diante,ele deveria se reportar ao diretor administrativo antes defazer qualquer coisa.

Indignado com as palavras do presidente, apoiadopelo diretor de finanças, Doutor Frederico não tinha outrasaída: ou mudava seu estilo de trabalhar e atendia aospedidos do presidente, deixando de lado tudo o que havia

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feito até aquele momento pelos seus colaboradores, ouseria obrigado a se demitir. Sem pensar duas vezes, elediscordou de tudo e disse que não mudaria seu estilo detrabalho só para agradar a algumas pessoas. Neste caso,em especial, a mudança que estavam lhe pedindo era paraque ele concordasse com as irregularidades das outrasempresas, e ainda deixasse de se empenhar pelo bem-estar de seus colaboradores.

Já que ele não concordava com a decisão dopresidente, não tinha mais o que ser feito nem o que serfalado. Daquele momento em diante, ele estava demitido.

O presidente disse então que Frederico poderiapegar suas coisas pessoais na empresa e aguardar umasemana, para que a nova pessoa pudesse assumir oseu lugar.

“De maneira nenhuma! Eu não vou esperar mais deuma semana, vocês que já tinham tudo isto muito bemplanejado, com certeza já devem ter alguma pessoa em vista.Eu espero somente até o fim da semana, a partir de amanhã”.

O presidente estava de acordo. Pois o novofuncionário realmente já estava escolhido e pronto parainiciar suas atividades na empresa. O próximosuperintendente também sabia de tudo o que eles estavamtramando, desde o início.

Por não concordar com a sujeira das pessoas, como trabalho desonesto, Doutor Frederico pagou o preço.Alguns pensam diferente, mas tudo depende do que vocêrealmente está disposto a fazer da sua vida. Seguir pelocaminho do bem, ajudar as pessoas à sua volta, continuarcom a honestidade e dormir com a cabeça tranqüila, ouainda escolher pelo caminho “do mal”, deixar de ser comovocê sempre foi, e acatar as ordens de superiores, mesmo

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sabendo que a sua mudança de comportamento podeprejudicar muitas pessoas ao seu redor. Acatar as ordensde superiores é necessário desde que elas não influenciemna sua maneira de ser e de agir.

Cabe a cada um escolher o que vai fazer com a suavida, só não vale reclamar das conseqüências das suasdecisões.

As pessoas que gostavam do Doutor Fredericosentiram muito o fato dele ter sido demitido, mas eleconsiderou a melhor decisão. Ele já não estava maisagüentando tanta cobrança, tanta discussão.

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CAPÍTULO DOZE

Muitas vezes, o que julgamos ser ruim para nós,para os outros é algo bom. Para os colaboradores, era ruimque o Doutor Frederico deixasse a empresa. Benefíciospoderiam acabar, novas regras seriam impostas pelo novofuncionário, muitas mudanças e até mesmo demissõespoderiam acontecer.

Por outro lado, para o Doutor Frederico, o melhora fazer era deixar a empresa de cabeça erguida, feliz pelosseus atos concretizados, mas triste por não poder darcontinuidade aos seus projetos ali dentro.

Ele não precisava se sujeitar àquelas condições.Possuía muitos contatos, amigos empresários, que,certamente, não lhe fechariam as portas. Poderia muito bemvoltar a ter sua empresa de consultoria, atendendo as firmas

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de seus amigos e, assim, continuar os seus trabalhos e,quem sabe, até levar sua equipe para trabalhar com ele.

Tudo é possível quando alguma coisa muda emnossas vidas. Basta ter calma e saber como superar osnovos desafios.

No dia seguinte, Doutor Frederico chegou umpouco mais tarde. Já que não era mais funcionário daempresa, não tinha o porque chegar tão cedo. Seusafazeres se tornaram poucos, suas obrigações menoresainda, somente era preciso arrumar seus objetos pessoais,passar algumas coordenadas e ensinar o básico para onovo superintendente.

Como o combinado, o novo funcionário chegou àsdez horas para que pudessem conversar um pouco. DoutorFrederico queria mostrar o que estava fazendo dentro daempresa e queria, também, apresentar o novosuperintendente para os colaboradores e passarinformações importantes para que ele pudesse assumir ocomando da empresa.

Os amigos de Frederico estavam ansiosos pelasnovidades. Queriam saber como seria dali para frente.Estava chegando o dia em que o Doutor Frederico nãoestaria mais presente na empresa, contra a vontade demuitos. Eles teriam que dar continuidade nos seustrabalhos e se adaptar ao novo superintendente.

Ao fim da semana, Doutor Frederico já haviaexplicado todo o serviço para o novo funcionário, nãotinha mais nada a fazer dentro da empresa. A única coisaque ainda restava ser feita era apresentar para todos oscolaboradores quem assumiria o seu lugar.

Ele informou a todos que, no dia seguinte, fariauma reunião, no auditório, às 15 horas, e que era necessário

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que todos estivessem presentes. Afinal, seria seu últimodia na empresa.

No horário combinado, todos estavam presentesno auditório. Mesmo os integrantes da ala dos opositoresestavam nervosos, já que ninguém sabia o que Fredericodiria. Talvez por ele já estar fora da empresa, falasse tudoo que sempre teve vontade de falar, ou talvez somentefizesse a apresentação e não comentasse nada.

Doutor Frederico entrou no auditórioacompanhado do novo superintendente. Sentaram-se eFrederico pediu a atenção das pessoas “boa tarde, queridosamigos”. Disse isso em um tom bem sarcástico.

— Estamos aqui porque tenho algumas novidadespara vocês. Algumas coisas irão mudar e posso garantirque irão mudar para melhor. Como algumas pessoas jádevem saber, a diretoria decidiu trocar de superintendente.Aqui está ele, Francisco, e, de hoje em diante, ele irásupervisionar todos vocês e do mesmo jeito que eu fiz.Esta semana, nós conversamos bastante, pude conhecerum pouco mais sobre ele e suas experiências profissionais,que por sinal são tão boas quanto as minhas.

Com poucas, mas belas palavras, Doutor Fredericoproferiu a troca de cargo. Fez isso para evitar que alguns serevoltassem, ou até mesmo duvidassem de seus trabalhos,podendo assim provocar suas próprias demissões.

Passou a palavra para Francisco, que, ainda comum pouco de vergonha, conseguiu discursar sobre oseu perfil profissional e suas idéias. O novosuperintendente disse que o primeiro passo seriaconhecer todos os profissionais que ali trabalhavam,para depois definir se continuariam com suas funções,ou se haveria mudanças. Entretanto, esses não eram os

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planos da diretoria, o que eles queriam era demitir omaior número de pessoas, o mais rápido possível.

Francisco até que falava bem. Mas se tinha bomcaráter, os colaboradores só saberiam mais tarde. O queestava acontecendo era inevitável. Doutor Frederico nãofazia mais parte daquela empresa, um fato que deveriaser encarado com a cabeça erguida. O ex-superintendenteainda pediu que todos os colaboradores dessem um votode confiança a Francisco.

Ao final da reunião com os colaboradores, eravisível a felicidade de alguns. Cinicamente, uma daspessoas da ala dos opositores perguntou ao DoutorFrederico o porquê aquilo estava acontecendo, fingindonão saber de nada. “Algumas pessoas não têm escrúpulosmesmo, se sujeitam a todo tipo de chantagem eroubalheira e ainda se fingem de inocente, na maior caradura”, comentavam os aliados de Frederico.

Até que aquele dia terminasse, foi um sufoco paramuitos ali dentro. O relógio poderia marcar meia-noite, masnão marcaria dezoito horas. Parecia que toda aquela angústianão tinha mais fim, e ainda para piorar, aquela nova pessoasentada na cadeira do Doutor Frederico transmitia umasensação de medo aos colaboradores fiéis ao antigosuperintendente. Doutor Frederico já tinha ido embora, masainda voltaria no dia seguinte para receber sua rescisão, e,definitivamente, despedir-se dos colaboradores.

No último dia em que Frederico esteve na empresa,os colaboradores se juntaram para comprar um presentepara ele. Andressa, com a colaboração de todos, comprouuma linda caneta, pois sabia que ele era um colecionador.O presente era uma forma de agradecimento por tudo oque ele tinha feito dentro da empresa.

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No fim da tarde, quando o Doutor Frederico estavarecolhendo seus últimos papéis, os colaboradores osurpreenderam em sua sala com o presente e um cartão.

Após abrir o presente e ter agradecido, Andressadisse algumas palavras em nome de todos ali presentes.Um simples presente, como forma de agradecimento portudo o que ele fez, e pelo grande amigo que era de algunsali dentro. Daquele dia em diante, as relações de amizadepermaneceriam, mesmo não trabalhando mais juntos.Andressa ressaltou o fato de que eles levariam para oresto de suas vidas as coisas boas que haviam aprendidocom Frederico.

Frederico ficou surpreso com a atitude, ainda maisvindo de seus, agora, amigos. Sabia que o presenteverdadeiro era somente de alguns. Após as mensagenspessoais que alguns preferiam escrever, ele se emocionou,seus olhos se encheram de lágrimas, e, para disfarçar,começou a rir dos recados.

O pior momento estava realmente chegando, elenão estaria mais presente ali definitivamente. Osfuncionários não ouviriam mais um bom dia alegre, nãose sentiriam confortados nas horas difíceis do trabalho,muito menos à vontade para brigarem por algum direitoou melhoria. Tempos novos estavam para começar...Novos planos, novos comandos, muitas adaptações.Entretanto o medo e a insegurança tomavam conta dascabeças dos admiradores de Frederico.

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CAPÍTULO TREZE

Começou, então, uma nova fase na Junção RecursosHumanos. No primeiro dia de trabalho do novosuperintendente, bem cedo, antes mesmo do horário deinicio de trabalho, Francisco já estava na empresa. Elechamou em sua nova sala todos os colaboradores, paradizer que, em breve, iriam conversar com mais calma, eque estava à disposição. Podiam contar com ele para oque precisassem.

Ele chegou a falar com todos os colaboradores,menos com Matheus. Ninguém sabia responder o motivo,mas até que ele se explicasse, o melhor que tinha a serfeito era aguardar. Matheus não se preocupava com isso.Ele acreditava que tudo acabaria bem e, no momento certo,seria chamado para conversar. Se tudo procedia daquelaforma, é porque deveria ser assim.

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Durante algumas semanas, as coisas pareciamtranqüilas. Início de novos trabalhos, muitas reuniões,ainda mais porque o novo superintendente tinha que sereportar mais à diretoria do que o Doutor Frederico.

Todos temiam ser demitidos, mas Matheustranqüilizava seus amigos dizendo que ninguém seriadispensado antes do fim do ano, pois sabia que a empresatrocaria de endereço, indo para uma sede própria. E omomento mais oportuno para demissões seria namudança, assim, já fariam a organização da nova sedecom o novo quadro de funcionários definido.

Algumas semanas se passaram e Francisco já haviaconversado com todos os colaboradores, até mais de umavez com alguns, menos com Matheus.

Matheus chegava até a pensar que o senhorFrancisco não queria falar com ele, por ser o funcionáriomais novo dentro da empresa, o que sabia menos dosprocedimentos.

Matheus decidiu então falar com Francisco. Queriasaber o porquê da demora em conversar.

— Senhor Francisco, posso falar com o senhor umminuto?

— Claro que pode, Matheus. Por favor, entre.— Eu queria saber porque o senhor ainda não

me chamou para conversar, já que com os outros osenhor já fez isso.

— Fique tranqüilo, Matheus, em breveconversaremos. Eu ainda não o chamei porque estoupreparando algo novo para você.

O que as pessoas menos esperavam aconteceria.Um dia, logo pela manhã, Francisco decidiu conversar

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com Matheus. O superintendente foi até a sala ondeMatheus estava e pediu para que ele o acompanhasse.

Matheus, por sua vez, pensava que o momento quetanto esperava tinha chegado e que era a hora dedemonstrar todo o seu conhecimento, e poder ganhar aconfiança do novo superintendente, do mesmo jeito queganhou a confiança do Doutor Frederico.

— Por favor, sente-se, Matheus, vamos conversarum pouco — disse o senhor Francisco, enquanto fechavaa porta de sua sala.

Antes de se sentar, Francisco já foi dizendo aojovem que a noticia que ele tinha para lhe dar não eramuito boa.

Neste momento, Matheus já sentia que sua horahavia chegado. Suas mãos começaram a suar, seu coraçãobatia mais forte, parecendo saltar pela boca, umaansiedade o dominava.

— Infelizmente, Matheus, com todas estasmudanças, a diretoria está com novos planos.Com a trocade superintendente, eles decidiram demitir você, já que,além de ser o mais novo funcionário da empresa, o seucontrato de experiência vence amanhã. Por este motivo, anotícia que eu tenho para lhe dar é que você não faz maisparte desta empresa, a partir de amanhã.

Matheus ficou indignado com o que acabarade ouvir. Tudo o que ele menos imaginava aconteceu.Ele foi demitido. Estava ali, frente a frente com suadura realidade.

Sem nenhuma preocupação, Francisco dissefriamente ao rapaz que ele estava demitido, sem saber oque fazia dentro da empresa e para que havia sidocontratado. Absolutamente nada. Simplesmente Francisco

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transmitiu o recado e, querendo sair da história como“bonzinho”, disse que estava somente cumprindo ordens.

Matheus não ficou quieto, tentou argumentar ebrigar por uma segunda chance, mas não obteve sucesso.O jovem disse que seu potencial era maior do que todosali dentro puderam conhecer nos meses em que eletrabalhou. Pediu por mais uma chance e se em mais trêsmeses não correspondesse às expectativas do novosuperintendente, aí, sim, concordaria com sua demissão.

Nada do que ele disse fez com que Franciscomudasse de opinião. Ressaltou que não cabia a ele decidirquem ia ficar ou quem ia sair. Somente cumpria ordens.

Inconformado com a decisão dos diretores e deFrancisco, que com certeza teve participação no contextoda história, ele se dirigiu ao departamento financeiro paraassinar os papéis e receber a sua rescisão. Os amigos deMatheus ficaram desesperados ao verem a sua feição denervosismo, correram atrás dele para saber o que tinhaacontecido, e quando ele disse que tinha sido demitido,ninguém acreditou.

A única coisa que seus amigos podiam fazernaquele momento era confortá-lo e dizer que ele podiacontar com o apoio de todos.

Triste era a situação em que ele se encontrava, mas,com calma e sabedoria, ele pôde perceber que sua missãoestava cumprida ali dentro da empresa, mesmo que empouco tempo. Ele sabia que, se estava saindo, era porquealgo melhor estaria por vir. Pessoas novas para conhecere aprender com elas também. Ele sempre olhava o pontopositivo das situações, isso fazia com que as pedras emseu caminho se tornassem obstáculos para sua evolução enão para sua destruição.

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No dia em que Matheus foi demitido, ele poderiaassinar os papéis e ir embora, mas ele disse o que aprendeucom o Doutor Frederico: “Enquanto ocupasse a suacadeira, ele cumpriria com suas obrigações até o términodo expediente, para poder sair da empresa de cabeçaerguida como um vencedor, e não como um perdedor”.

Neste mesmo dia, os seus amigos o convidarampara almoçar, como forma de uma despedida de trabalho,mas jamais despedida de uma amizade. Ali dentro,Matheus pôde conhecer pessoas maravilhosas, além deAndressa, que já conhecia, pois estudavam juntos namesma faculdade. Então continuaria sabendo sobre o queacontecia, como os seus amigos estavam, e como o novosuperintendente estava trabalhando.

Matheus não deixou de ter contato com os antigoscolegas, ligava, mandava e-mails e, quase todas as sextas-feiras, almoçavam juntos, para matar as saudades e saberdas novidades.

Por um lado, Matheus e Frederico deram azar, tendosido vítimas de pessoas ambiciosas e negativistas. Podeser. Mas ambos acreditavam que momentos melhoresestariam por vir e outras oportunidades apareceriam.

Depois da demissão, Doutor Frederico e Matheusse tornaram pessoas mais experientes e mais sábias.Ambos tiveram uma oportunidade para recomeçar a fazero que sempre gostaram.

Doutor Frederico voltou a ser consultor pessoal,algo que adorava fazer, e com isso teve mais tempo paraa sua família.

Matheus teve uma oportunidade de terminar seucurso de formação em Programação Neurolingüística,podendo assim alcançar uma realização profissional maior

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do que a que tinha previsto dentro da empresa. Pôdecontar também com o apoio de amigos e de seus pais,que o ajudaram a tomar suas decisões e a encarar asderrotas como degraus, degraus estes que serviram parasubir, não para descer.

Além de ter o apoio de amigos e familiares,Matheus contou também com o apoio de sua “famíliaespiritual”, seus protetores, sua “voz interior”, que sempreo auxiliava nas suas decisões e nas suas novas empreitadas.

Os amigos de Matheus e de Frederico quecontinuaram dentro da empresa, passaram por váriasmudanças, novas funções, novas regras. Eles sabiam que,do lado de fora, havia pessoas que oravam e torciam poreles, desejando-lhes toda sorte do mundo.

Matheus e Doutor Frederico nunca mais voltarama se ver, mas se comunicavam por e-mail, colocavam asnovidades em dia, e sabiam um pouco o que cada umestava fazendo. Ambos puderam até mesmo dar boasgargalhadas das situações que passaram na Junção.

Mesmo com tudo o que aconteceu, eles nãoguardaram mágoas e nem rancores, pois não serviria paranada. Continuaram amigos, seguindo com as suas vidas.Melhores oportunidades apareceram, pois eles nuncaduvidaram do seu potencial. Sempre acreditaram em simesmos, e, sendo assim, não poderia ser diferente.Alcançaram sucesso, felicidade na vida e a auto-confiança.

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Agradeço a todos e desejo-lhes crescimentoprofissional, pessoal e familiar. Espero que este livro tenhaacrescentado algo de bom em suas vidas e no seu dia-a-dia. Espero que atinjam seus objetivos com êxito, felicidadee auto-confiança.

Fim

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A ESCOLHA

Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazerantes que o relógio marque meia-noite.

E minha força é escolher como vou viver minhavida a partir de hoje.

Minha escolha é o que vai guiar meus passos e meuscaminhos.

Posso reclamar porque está chovendo ou possoagradecer as águas por lavarem a poluição.

Posso ficar triste por não ter dinheiro, ou me sentirencorajado para administrar as minhas finanças, evitandodesperdícios.

Posso reclamar sobre minha saúde, ou posso dargraças por estar vivo.

Posso me queixar dos meus pais por não teremdado tudo o que queria, ou posso ser grato por ter nascido.

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Posso reclamar por ter que ir trabalhar, ou possoagradecer por ter um teto para morar.

Posso lamentar decepções com amigos ou meentusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.

Se as coisas não saírem como planejei, posso ficarfeliz por ter hoje para recomeçar.

Sempre há uma segunda chance...O dia está na minha frente, esperando para ser o

que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode darforma.

Saiba o que você quer para a sua vida, antes deesculpir seus desejos.

Pense, reflita, e assim que definir o que deseja, váatrás, conquiste seus sonhos e seus ideais, você merece...

Você é um vencedor!

Thiago Venditelli Cury