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A busca pelo corpo perfeito é insaciável. Até onde seguir padrões vale a pena? Mundo afora Saiba mais sobre a vida acadêmica na Austrália e nos Estados Unidos. Países onde ser universitário é ser independente Reportagem Autoestima elevada conduz ao perdão. Entenda como e de que forma isso pode ser aplicado no resgate social de detentas edição 228 • junho | julho 2014 Beleza: Existem padrões?

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Publicação bimestral da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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A busca pelo corpo perfeito é

insaciável. Até onde seguir padrões vale

a pena?

Mundo aforaSaiba mais sobre a vida acadêmica na Austrália e nos Estados Unidos. Países onde ser universitário é ser independente

ReportagemAutoestima elevada conduz ao perdão. Entenda como e de que forma isso pode ser aplicado no resgate social de detentas

ediç

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Beleza:Existem padrões?

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19 de junho 17 de julho

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O LADO B elezadaA busca pelo corpo perfeito e pela forma física ideal pode custar caro. Doenças, quadros de depressão e até casos de morte levantam a refl exão: até que ponto vale a pena perseguir os padrões de beleza?

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mercadode trabalho

Espaços de coworking podem ser uma boa opção para jovens que preten-dem começar o próprio negócio. Criatividade, interação e oportunidades de novos projetos fazem parte do dia a dia.

Minha bandeira é a

qualidade de vida

vidadocente

18

ESTAÇÃO PUC MUNDO MELHOR

DNA

REPORTAGENS VEJA +

ENQUANTO ISSO FALANDO SÉRIO

Ami i vitorioso!

22

fi lhosda puc

21Conheça a realidade dos universitários na Austrália e Estados Unidos. Países em que ingressar na Universidade é sinônimo de independência.

mundoafora

Millôr e a

cidade dos livros37

sintonia cultural

30Autoconhecimento que traz plenitude para a vida. Entenda como o processo de se conhecer contribui para a busca de momentos de ale-gria.

espirutualidade

Fotografi a que

dignifi ca

38

na prática

50Dúvidas são fundamen-tais para gerar conheci-mento. Aquilo que você não sabe pode ser a pergunta de mais univer-sitários. Saia da dúvida e descubra a resposta.

perguntepra puc

48Estudantes e professores antenados em eventos, palestras e grandes atividades podem reser-var em suas agendas um espaço para atividades selecionadas sobre a esfera acadêmica.

vem aí

44

Sem

impedimento

qualidade de vida

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Fotos e registros dos acadêmicos que par-ticiparam de eventos, premiações e diversas oportunidades dentro e fora da Universidade.

drops

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O refúgio

diário de bordo

42A participação dos pro-fessores da PUCPR em eventos, lançamentos e congressos é desta-que na Vida Univer-sitária, com direito a muitas fotos.

registro

14

O mal das

gerações

reportagem

Chega de

obviedade

6

entrevista

w

24 Confi ra o projeto que pretende salvar vidas em lugares remotos usando a saliva.

pesquisa

índice

capa

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A hora da

democracia

reportagem

Em lembrança aos 50 anos do Golpe Militar, Vida Universitária pro-move um bate-papo en-tre um docente de Histó-ria e alunos das áreas de Humanas. Confira o que rolou na conversa.

34

reportagem

Autoestima

elevada

conduz ao

perdão

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Estamos constantemente buscando uma maior aproximação com a comunidade acadêmica, em especial com você, estudante, que dedica uma importante parte de seus dias à nossa Universidade. E é para dar mais voz a seus anseios, dúvidas e as-pirações que a Vida Universitária cresceu: hoje, além de nossas páginas impressas, temos uma plataforma no site da PUCPR (vidauniversitaria.pucpr.br), que foi pen-sada de forma a garantir ainda mais interação e conteúdo para você.

Seguindo a proposta de proximidade com a comunidade acadêmica, trazemos nesta edição uma matéria que ouve nossos estudantes acerda do golpe militar de 1964. Já se passaram 50 anos, mas ainda sentimos as consequências desse terrível período de nossa história. Propusemos um debate com alunos de História e Música sobre o tema e o resultado você pode conferir em nossas páginas e no site da Vida Universitária.

Também discutimos o culto à beleza e suas consequências. Em busca da per-feição física, os mais jovens, especialmente, exercitam-se em demasia, consomem medicamentos sem orientação médica, aderem a dietas da moda sem supervisão profi ssional. Procuramos entender o limite entre a busca por uma vida saudável e a doença (distúrbios alimentares, de imagem etc.). Esse interessante debate, você também verá nas páginas seguintes.

Ainda trazemos para você uma importante pesquisa que revela a possibilidade de se detectar a falência renal aguda por meio de teste salivar. O Programa de Pós--Graduação em Ciências da Saúde comprovou a efi cácia do kit de diagnóstico, que permite detectar a insufi ciência renal de acordo com o nível de ureia na saliva sem a necessidade de exames laboratoriais. Isso será de extrema importância, sobretudo em locais cujo acesso a laboratórios seja difícil. Uma grande conquista que quere-mos compartilhar com você.

Temos também muitos outros temas interessantes e esperamos que você gos-te dos assuntos propostos, participe e opine por meio de nossa plataforma online. Essa mudança pretende fortalecer ainda mais os laços entre comunidade acadêmi-ca e Universidade. Queremos muito que você nos ajude a construir esse conteúdo, interaja conosco!

A Vida Universitáriaquer interagir com você

Boa leitura a todos!

Waldemiro GremskiReitor

GRãO-CHANCELER Dom Moacyr José Vitti

VIDA UNIVERSITÁRIA é uma publicação bimestral da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Registrada sob o nº 01, do livro B, de Pessoas Jurídicas, do 4º Ofício de Registro de Títulos, em 30/12/85 - Curitiba, Paraná

CONSELHO EDITORIAL – PUCPR

REITOR Waldemiro Gremski

VICE-REITOR Paulo Otávio Mussi Augusto

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃOVidal Martins

PRÓ-REITORA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Paula Cristina Trevilatto

PRÓ-REITOR COMUNITÁRIO José Luiz Casela

PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO E DE DESENVOLVIMENTO Paulo de Paula Baptista

DIRETORA DE RELACIONAMENTOSilvana Hastreiter

EDIçãO

DIRETORIA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO DO GRUPO MARISTAEduardo CorreaVivian Lemos

REDAçãO

JORNALISTA RESPONSÁVEL Rulian Maftum - DRT 4646

SUPERVISÃO Maria Fernanda Rocha

EDIÇÃO DE ARTE Julyana Werneck

PROJETO GRáFICO E LOGOTIPO

Estúdio Sem Dublê | semduble.com

REVISãO TEXTUAL

Angelita Martens

PROPAGANDA

Lumen ComunicaçãoRua Amauri Lange Silvério, 270 Pilarzinho – Curitiba – ParanáCep: 82.120-000www.grupolumen.com.brPara anunciar, ligue: (41) 3271-4700

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GRÁFICA: Leograf Gráfi ca e Editora LTDA.

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Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.

editorial

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www.lumenfm.com.brAcesse o novo site:

Encontrea Soul Musicna internet.

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Em uma conversa com a Vida Universitária, o fi lósofo e escritor Mário Sérgio Cortella comenta sobre a necessidade da sociedade se espantar mais diante da corrupção, o que é ser ético e como o querer tem imperado neste séculoPor Michele Bravos

Ainda dá para ouvir os manifestantes que tomaram as ruas do país, há exato um ano. Por um basta na corrupção era o clamor. Desde então, fi cou declarada a indignação com relação ao mau uso do dinheiro público, à éti-ca da conveniência e à intolerância às diferenças. Mário Sérgio Cortella*, que neste primeiro semestre lança o livro Ética e Vergonha Na Cara!, ex-pressa sua opinião acerca desses tópicos e como a sociedade tem lidado com eles em diversas áreas, principalmente, na educação – um dos pilares para a formação do cidadão.

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entrevista

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Já ouvi você dizer que “está faltandoespanto. Tudo é óbvio”. A conivênciacom a corrupção tem a ver com essafalta de espanto?

Também tem. Lembrando que temos menos cor-rupção hoje do que já tivemos. Imprensa livre, democracia e plataformas digitais fazem com que haja uma identifi cação maior daquilo que é ilícito e uma recusa maior da ideia de que a corrupção faz parte da vida. O fato é que não se conseguirá nunca impedir que haja corrupção. Mas, nós po-demos constranger, ao máximo, a possibilidade de ela vir à tona, recusando a impunidade. Não aceitando essa prática no campo público nem no privado. Está faltando espanto em relação a al-gumas coisas, considerando que ainda tem gente

que supõe que a corrupção acontece só na po-lítica ou na gestão pública. É bem ao contrário. Nós temos as pequenas corrupções do cotidia-no: na empresa, na família, na Universidade, na mídia. Elas são extremamente perigosas, porque são essas que criam um ambiente favorável para o discurso do “eu faço porque todo mundo faz”. Portanto, isso degrada a capacidade de integrida-de ética. Sem dúvida, está faltando algum espanto nisso. E vale uma antiga frase que diz que os au-sentes nunca têm razão. Portanto, aquele que se omite é, no mínimo, também cúmplice.

Segundo a sua definição de ética, esse valor é formado por um conjunto de princípios que envolve: quero, posso e devo. Como a juventude tem percebido a ética aplicada a essas três ações?

Não temos apenas uma juventude que tem difi-culdade em lidar com a ética dessa forma. Mas, quando observamos mais de perto a juventu-de com relação ao dever, vemos uma distorção que precisa ser urgentemente retrabalhada. Uma parte dos jovens de hoje confundiu desejos com direitos. Eles pensam: “quero, logo você tem que me dar”. Em outras palavras, alguém tem que providenciar a felicidade deles. Perdeu-se um pouco a ideia do esforço, da dedicação, da capa-

cidade de busca. É preciso se perguntar: o que é o meu querer, o meu poder e, ao mesmo tempo, o meu dever? A educação tem um papel muito forte nessa etapa, que é de problematizar e fazer com que tenhamos algum espanto com relação àquilo que parece óbvio, mas não é. Deveríamos ser capazes de desmontar o óbvio. É óbvio um in-dividualismo exacerbado. Precisamos enxergar na obviedade uma conduta que é saudável para a vida coletiva.

Na sociedade do instantâneo, o querer parece ser soberano a qualquer custo, ultrapassando barreiras de uma ética que deveria ser universal. Se é que existe uma ética universal...

O que mais se aproxima de uma ética universal é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não temos uma conduta que se entenda como correta o tempo todo, em qualquer lugar, para qualquer pessoa. Talvez não a tenhamos. Há um pensamento que ajuda a refletir sobre essa ques-tão: não seja possuído por aquilo que você possui. Algumas pessoas não param para pensar nisso. Aí, a filosofia entra para trazer à tona as possibi-lidades de olhar o mundo de outros modos. Por que algumas pessoas optam por atalhos que não são bons? Simplesmente, porque respondem aos interesses dela. É algo decisivo. É uma escolha. Sendo assim, uma escolha, pode-se escolher de outro modo.

A que prazo a mentalidade que permite jogar um papel no chão porque não tinha lixeira perto ou furar sinal porque se estava com pressa, muda? E como mudar?

Dependerá muito de como a sociedade encontra mecanismos de recusa a isso. A ética da conveni-ência é extremamente sedutora, porque ela elege como critério para a prática da convivência aqui-lo que me beneficia. A forma de se vencer isso é: de um lado, não se admitir a impunidade; de ou-tro, a formação no dia a dia. Há vários grupos, organizados ou não, dentro do Brasil, nos cam-pos das organizações partidárias, da pesquisa, das entidades, que têm prática de recusa. Então,

desse lado, podem surgir legislações para a dimi-nuição daquilo que degrada. Do outro lado, deve haver uma formação do cotidiano dentro da es-cola, da família, da mídia, que leva a uma maior consciência, na prática decente de vida. Não há um único caminho. Não é só convencer, também é preciso vencer. São múltiplas tarefas e múlti-plos caminhos para uma questão que também tem múltiplas faces.

“Deveríamos ser capazes de desmontar o óbvio. É óbvio um individualismo exacerbado. Precisamos enxergar na obviedade uma conduta que é saudável para a vida coletiva.”

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Por algum tempo ouvimos a sociedade falar sobre a apatia da juventude atual diante de assuntos políticos. Hoje, em algumas parcelas, há certo extremismo e se fala em uma juventude intolerante. Você a vê assim: sem tolerância?

Vivemos uma situação extremamente ambígua nesse momento. Temos uma juventude com a cabeça mais aberta, por conta da multiplicidade de possibilidades, portanto menos preconceituo-sa possível, mas também, a mais preconceituosa. Temos jovens absolutamente abertos ao acolhi-mento da pessoa que não é como ela é, ou seja, que aceita que o outro é diferente do que eu sou e não por isso ele é menos. E temos também um grupo de jovens que é absolutamente intolerante à orientação sexual, prática religiosa, pertenci-

mento étnico e assim por diante. Um grupo mais fascista. Alguns confundem democracia com ausência de ordem. E democracia é ausência de opressão. A violência é opressiva. Especialmente a violência quando ela não é justificável. Existe uma violência que é justificável. É aquela que re-cusa a opressão e vai contra ela. Lutou-se demais nesse país pela democracia para que pequenos meliantes, com ideologias que não são claras, in-clusive para uma parte desses intolerantes, atra-palhem o processo.

O que leva a essa intolerância? Parte dessa intolerância vem à medida que a au-sência de valores leva a pessoa a se apegar imen-samente ao grupo do qual ela está fazendo parte, seja no campo religioso, seja no futebol, seja em relação à etnia, seja em relação ao grupo de na-tureza ideológica. Portanto, fechar-se dentro dis-so é entender que qualquer um que não seja do grupo é uma ameaça. Nessa hora, a intolerância pode vir à tona com maior facilidade. Claro que do ponto de vista ético, um procedimento que é altamente necessário é não tolerar a intolerância.

Qual a grande diferença dessas discussões políticas na sua juventude para as de agora?

Por conta da situação política e social da época, tí-nhamos um adversário mais nítido: a ditadura. No momento em que se diluiu essa ditadura, o adver-sário ficou menos nítido. Quem é? É o governo? Mas qual governo, se ele foi eleito? Então, é quem elegeu que é o meu adversário? Mas quem elegeu pode ter sido iludido. Então, é a mídia! É ela que nos engana. Mas a mídia é múltipla também. Logo, essa diluição que é o foco leva, às vezes, a uma perda de rumo. Essa é uma lógica que precisa ser reexaminada para a gente não ter nem mocinhos nem bandidos com tanta facilidade.

*Mário Sérgio Cortella esteve na PUCPR para o evento PUC Identidade Professores.

entrevista

“Do ponto de vista ético, um procedimento que é

altamente necessário é não tolerar a intolerância.”

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Aos olhos de boa parte dos seguidores no Instagram e no Twitter, Daiane Dornelles era uma jovem perfeitamente normal. Mais do que isso, muitos consideravam perfeita e ir-retocável a forma física da gaúcha de 21 anos. Magra, esbelta, acostumada a uma vida social badalada e dona de uma verdadeira legião de fãs em suas redes sociais, Daiane recebia, todo dia, dezenas de elogios, declarações de admi-radores e comentários positivos, que iam de “Maravilhosa” a “Fã eterna” e “Passa a receita de como deixar o corpo assim”.

Por trás da aparência invejada nas fotos e das inúmeras opções curtir a cada novo post, porém, escondia-se uma grave doença. Sem-pre exaltando a preocupação com a estética do corpo, a jovem publicou várias frases de apolo-gia à anorexia, transtorno alimentar ocasiona-do pela busca de um corpo supostamente per-feito. Incentivada pelo número de seguidores e likes, em maior número à medida em que per-dia peso, Daiane se viu em um beco sem saída

que acabou lhe custando muito mais do que a popularidade nas redes sociais.

Impossibilitada de se recuperar do vício em emagrecer para chegar à silhueta ideal, ela não percebeu que seu corpo, ao invés de perfeito, estava cada vez mais fraco e debili-tado. Extremamente fragilizada fisicamente, Daiane sofria de anorexia nervosa, doença responsável pelo triste fim da jovem, que contraiu uma hepatite viral e, sem chances de defesa devido ao organismo enfraqueci-do, morreu em agosto de 2013.

As fotos, os posts e os admiradores de-ram um status de glamour e sofisticação para os graves problemas enfrentados pela gaúcha, mas foram – como era de se espe-rar – incapazes de ajudá-la ou conduzi-la a uma possível reabilitação. Pior ainda, a po-pularidade serviu como um trágico incen-tivo para que Daiane desse continuidade à rotina que só agravou a doença enquanto o número de curtidas não parava de crescer.

O LADO B elezadaA busca pelo corpo perfeito e pela forma física ideal pode custar caro. Doenças, quadros de depressão e até casos de morte levantam a reflexão: até que ponto vale a pena perseguir os padrões de beleza?

Mahani Siqueira, especial para a Vida Universitária

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“No intuito de conseguir

corpos mais pró-xi-

mos a esse

modelo, homens e mulheres dedi-

cam tempo e dinheiro em

cirurgias plásticas, exercícios em acade-

mias e dietas alimentares tam-bém divulgadas

pela mídia. A perda de controle nessa busca, associada a outros fato-res familia-res, sociais, história de vida, baixa autoestima

e outros acabam por de-

sencadear trans-tornos alimen-tares.”

[Raphael Cangelli,

psicólogo clínico do

Ambulim]

O LADO B eleza

ALTO RISCOO caso de Daiane Dornelles é só um entre muitos outros tris-

tes exemplos de quão longe os transtornos alimentares podem chegar. Segundo pesquisa divulgada pelo Ambulim (Ambula-tório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo), a estimativa é de que uma taxa entre 0,5 e 4% das mulheres terá anorexia nervosa ao longo da vida. Para a buli-mia nervosa, o número varia de 1 a 4,2%. Ambas as doenças se caracterizam pela intensa preocupação com o peso e pelo medo excessivo em engordar (entenda as diferenças no box ao lado). De acordo com o estudo, a anorexia nervosa, considerada uma doença grave, tem um índice de mortalidade que chega a até 15% dos casos.

Segundo Raphael Cangelli, psicólogo clínico do Am-bulim, as causas que levam às doenças são variadas e os transtornos podem ter origem na conjugação de diversos fatores. Ele ressalta, porém, que a busca pelos padrões de beleza divulgados pela mídia costuma ter um peso grande entre os causadores.

“No intuito de conseguir corpos mais próximos a esse modelo, homens e mulheres dedicam tempo e dinheiro em cirurgias plásticas, exercícios em academias e dietas alimen-tares também divulgadas pela mídia. A perda de controle nessa busca, associada a outros fatores familiares, sociais, história de vida, baixa autoestima e outros, acabam por desencade-ar transtornos alimentares”, comenta Cangelli.

O psicólogo revela, ainda, que os transtornos ali-mentares têm início na adolescência e se desenvolvem no início da fase adulta. Segundo ele, a distorção e a insatisfação com a imagem corporal se tornam mais fortes nessa época, o que pode levar à busca por mé-todos mais efi cazes – embora perigosos – contra o ganho de peso. O uso de laxantes, diuréticos e dietas muito pesadas podem acarretar pioras nos quadros das doenças. Por isso, é importante fi car atento aos sintomas e tentar evitar que eles se transformem em um caso mais grave.

“Os principais indícios de transtornos alimenta-res são a preocupação exagerada com a forma física e peso. Ficar se olhando no espelho e explicando a si mesmo que a infelicidade é causada pela insatisfação com o corpo. Restringir encontros sociais, começar die-tas restritivas, idas frequentes e demoradas ao banheiro, além de depressão e desinteresse pela vida também são indicadores importantes”, avisa o médico.

Outros comportamentos que podem servir de alerta são ir ao banheiro logo após as refeições, evitar comer acompa-nhado e cortar a comida em pequenos pedaços e, ao invés de comê-los, fi car passando de um lado para outro no prato. Sensação de boca seca, diminuição na resistência óssea, mui-ta sensibilidade ao frio, pele amarelada e perda de gordura corporal, acompanhada de desgaste muscular, são sinais físi-cos típicos de transtornos alimentares e que merecem atenção tanto dos pacientes quanto de amigos e familiares.

TRATAMENTO LONGO, MAS FUNDAMENTALA história da jovem de 25 anos que não quis se identifi car é

mais uma prova de quão perigosa pode ser a tentativa de seguir os padrões de beleza. Felizmente, o caso teve um desfecho posi-tivo, mas muitos obstáculos e um longo tratamento foram ne-cessários para que a jovem se visse, enfi m, curada do transtor-no alimentar com que foi diagnosticada.

“Eu sempre fui muito magra e fi z questão de me manter assim. No entanto, por volta dos 16 anos, essa minha preocupação se

tornou uma obsessão e eu fazia de tudo para não engordar e ter um corpo que eu achava digno de capas de revista. Ten-tava vomitar toda a pouca comida que eu ingeria, procurava fazer exercícios mesmo quando estava me sentindo mal e cheguei a tomar laxantes e diuréticos indiscriminadamente.

Por sorte, minha família percebeu os sintomas e me levou a um médico, que me diagnosticou com anorexia nervosa. O tra-

tamento durou cerca de seis anos até eu realmente me sentir li-vre da doença”. Hoje ela ainda faz um acompanhamento semanal

com o psicólogo que a tratou durante os momentos mais críti-cos da anorexia.

O psicólogo Raphael Cangelli defende que os trata-mentos de transtornos alimentares sejam realizados por equipes multidisciplinares bem entrosadas, envol-vendo um psiquiatra para avaliar os quadros de depres-

são e ansiedade, um especialista individual que ajude o paciente a lidar com os medos e um nutricionista que

acompanhe o processo de reeducação alimentar. A família deve compreender a gravidade da situação e estar preparada

para um longo período de tratamento.“A recuperação é a longo prazo e não depende exclusi-

vamente de acompanhamento médico. O paciente tem que aprender a ver o alimento não como um inimigo que causa

obesidade e infelicidade, mas como um aliado que o per-mitirá viver. Também é necessário descobrir como lidar com os pensamentos e ideias irrealistas de que não é a magreza a única responsável por qualquer esperança de felicidade e sucesso na vida pessoal e profi ssional”, completa o psicólogo.

ANOREXIA OU BULIMIA?Em ambos os transtornos alimentares há obsessão pela perda de peso e uma busca pelo corpo supostamente perfeito. No entanto, há diferenças.

ANOREXIA NERVOSA O emagrecimento é intensamente acentuado e a magreza das pacientes é a característica física que mais chama atenção. Suas portadoras começam dietas restritivas, fazem atividades físicas exageradas, vomitam tudo o que comem e chegam a usar recursos extremos, como moderadores de apetite e laxante. A obsessão é mais acentuada do que na bulimia.

BULIMIA NERVOSA A principal diferença em relação a anorexia é a variação de peso e as alternân-cias entre longos períodos sem se alimentar e momentos de descontrole, em que a paciente come tudo o que vê pela frente e, pouco depois, vomita diversas vezes, se sentindo culpada. Assim como a anorexia, pode vir acompanhada de quadros de depressão.

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OBSESSãO PELOS MÚSCULOSEnquanto a anorexia e a bulimia são mais

comuns para pacientes do sexo feminino, os homens têm maior propensão a sofrer com uma doença que ainda não é tão conhecida e nem muito estudada, mas tem origens simila-res aos transtornos alimentares sofridos pelas mulheres e também pode causar consequên-cias graves. A vigorexia é um transtorno de imagem corporal em que o paciente apresen-ta persistente preocupação em não ser forte e musculoso o sufi ciente, o que provoca com-portamentos de excesso de levantamento de peso, prática de perigosas dietas hiperprotei-cas e uso indiscriminado de suplementos ou esteroides anabolizantes.

Segundo a psiquiatra Mara Fernandes Ma-ranhão, a doença ainda não está presente em manuais diagnósticos, pois necessita de mais estudos para que seja considerada uma cate-goria ou um transtorno específi co. Sabe-se, no entanto, que a vigorexia é – a exemplo da anorexia nervosa – caracterizada pela insa-tisfação constante com a aparência do corpo, o que causa dependência do exercício físico e necessidade extrema de ter o corpo muito musculoso.

“Observa-se que o paciente passa a gastar um tempo cada vez maior se exercitando. O interesse se concentra todo nesse tema, em detrimento de outras atividades prazerosas que a pessoa costumava apreciar antes. Po-dendo se interessar e passar longos períodos pesquisando suplementos ou dietas que pro-metem aumentar massa muscular. Alguns, ainda que fortes e musculosos, dizem estar fracos, pequenos e, muitas vezes, sentem ver-gonha de sair de casa ou frequentar eventos

sociais”, comenta a psiquiatra.Além de causar cansaço, irritabilida-

de, infelicidade e depressão, a vigorexia – também conhecida como síndrome de Adonis – pode ser responsável por uma série de lesões, e é aí que o transtor-

no passa a ganhar contornos graves. O ortopedista Marcelo Salvador

Filardi, do Hospital Albert Eins-tein, afi rma que o excesso de

atividade física acaba machu-cando as articulações e os

músculos, causando lesões musculares, estiramentos,

lesões de ligamentos e, no grau mais preocupante, lesões de cartilagem.

A psiquiatra Mara Maranhão alerta que o maior desafi o do tratamento é moti-var o indivíduo para

a mudança, já que

os pacientes raramente procuram ajuda por iniciativa própria. “O tempo de recuperação pode variar muito e depende da gravidade do caso e da capacidade de aderir ao tratamento e conseguir avançar em direção às mudanças necessárias e indicadas pela equipe assisten-te, idealmente formada por nutricionista, psi-quiatra, psicólogo e, quando indicado, clínico e fi sioterapeuta”, fi naliza a médica.

“Observa-se que o paciente passa a gastar um tempo cada vez maior se exercitando (...) Podendo se interessar e passar longos períodos pesquisando suplementos ou dietas que pro-metem aumentar massa mus-cular. Alguns, ainda que fortes e musculosos, dizem estar fracos, pequenos e, muitas vezes, sen-tem vergonha de sair de casa ou frequentar eventos sociais.”

[Mara Fernandes Maranhão, psiquiatra]

O TRISTE FIM DOS CARPENTERS

Fundadora, ao lado do irmão, da dupla The Carpen-ters, e considerada uma das melhores cantoras de todos os tempos, Karen Carpenter foi uma das pri-meiras celebridades a trazer à luz os perigos da ano-rexia. Ela sofria da doença e, devido a complicações causadas pelo transtorno que a acompanhou por vários anos, morreu aos 32 anos, em 1983.Naquela época, tanto a anorexia quanto a bulimia eram doenças pouquíssimo conhecidas e, se a morte de Karen Carpenter deixou um vazio eterno no mun-do da música, infl uenciou muitas mulheres a procu-rar ajuda e serviu como estímulo para novas pesqui-sas sobre o tema. Além disso, a família da cantora deu início a um trabalho social voltado para vítimas de transtornos alimentares. Hoje, a Carpenter Fami-ly Foundation também apoia iniciativas voltadas à arte, educação e saúde para jovens.

Naquela época, tanto a anorexia quanto a bulimia eram doenças pouquíssimo conhecidas e, se a morte de Karen Carpenter deixou um vazio eterno no mun-do da música, infl uenciou muitas mulheres a procu-rar ajuda e serviu como estímulo para novas pesqui-sas sobre o tema. Além disso, a família da cantora deu início a um trabalho social voltado para vítimas de transtornos alimentares. Hoje, a Carpenter Fami-ly Foundation também apoia iniciativas voltadas à arte, educação e saúde para jovens.

SUPERPERIGOSOS?

Eles estão na moda e são considerados, por muitos – inclusive celebridades –, fundamentais para uma vida saudável e para a busca pela beleza. No entanto, os superalimentos (chamados assim graças aos seus al-tos teores de fi tonutrientes como vitaminas, minerais, aminoácidos e antioxidantes) podem representar um risco para a saúde. Pelo menos foi o que afi rmou a nu-tricionista inglesa Petronella Ravenshea, na edição de abril da revista Vogue americana. Confi ra as considera-ções da especialista sobre três superalimentos. Vale fi -car atento e consultar um nutricionista antes de abusar dos ingredientes da moda.

COUVE Segundo estudos da nutricionista, quando con-sumida crua, a couve pode interferir nas funções da tireoide.

GRãOSDe acordo com a britânica, ao contrário do que se pensa, o trigo está presente em grãos como a quinoa. Por isso, o excesso da ingestão desses alimentos pode causar irritação ao intestino.

GOJI BERRYApesar da efi ciente ação antioxidade, os popu-lares goji berries são abundantes em compostos químicos que podem causar a síndrome do in-testino permeável, doença responsável por in-fl amação do epitélio do intestino delgado.

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dendo se interessar e passar longos períodos pesquisando suplementos ou dietas que pro-metem aumentar massa muscular. Alguns, ainda que fortes e musculosos, dizem estar fracos, pequenos e, muitas vezes, sentem ver-gonha de sair de casa ou frequentar eventos

sociais”, comenta a psiquiatra.Além de causar cansaço, irritabilida-

de, infelicidade e depressão, a vigorexia – também conhecida como síndrome de Adonis – pode ser responsável por uma série de lesões, e é aí que o transtor-

no passa a ganhar contornos graves. O ortopedista Marcelo Salvador

Filardi, do Hospital Albert Eins-tein, afi rma que o excesso de

atividade física acaba machu-cando as articulações e os

músculos, causando lesões musculares, estiramentos,

lesões de ligamentos e, no grau mais preocupante, lesões de cartilagem.

A psiquiatra Mara Maranhão alerta que o maior desafi o do tratamento é moti-var o indivíduo para

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AULA DE HISTÓRIA

Se hoje as capas de revistas, as fotos mais curtidas nas redes sociais e os concursos de miss são importantes indica-dores dos padrões de beleza vigentes no século XXI, a história da arte revela como esses ideais evoluíram ao longo do tempo. Segundo Maria Cecília Pilla, coordenadora do curso de História da PUCPR, a arte é um grande testemunho de épocas passadas e nos traz algumas ideias sobre os padrões de beleza em diferentes épocas.“é certo que na pintura, nas esculturas, na arte em geral, a literatura, os manuais de civilidade, inspiravam as pessoas e de certa forma acabavam por fornecer padrões. A dinâmica da sociedade como um todo suscitava os desejos de inserção num mundo em que a beleza dos gestos e das formas era (e ainda é) muito importante”, conta.Com a ajuda de Maria Cecília, buscamos descobrir a contribuição de diferentes épocas na história da beleza. Veja só.

DE OLHO NOS SUPLEMENTOSMuitas vezes vinculados à ideia de ga-

nhar massa muscular para exibir um corpo cada vez mais perfeito - de acordo com o que mostram capas de revistas e as fotos mais populares no Instagram -, os suple-mentos alimentares estão em alta no dia a dia das academias, mas podem representar um alto risco para quem não tomar os de-vidos cuidados. A nutricionista Magda Rosa Ramos da Cruz, que dá aulas de transtor-nos alimentares e nutrição esportiva no curso de Nutrição da PUCPR, alerta para os perigos desses produtos.

“É necessário avaliar a dieta e iniciar o uso do suplemento de forma consciente. A pessoa também deve estar ciente de que a utilização só é recomendada após o início de cuidados básicos de alimentação como consumo diário de frutas e vegetais, fontes de proteínas (carne, leite e derivados), além de comer em horários regulares e manter a hidratação adequada”, diz Magda.

Perguntada acerca do momento em que o consumo extremo de suplementos pode se tornar arriscado para o organismo, a nu-tricionista afi rma que quando o paciente não consegue fi car sem tomá-los, ou quan-do o consumo se torna mais importante do que qualquer outra atividade, fi ca caracte-rizada a dependência, o que pode levar a quadros de doença como, por exemplo, a vigorexia. Magda ainda falou como os pro-dutos podem ser prejudiciais à saúde.

“Quando falamos de suplementos hi-perproteicos, há risco de sobrecarga renal e hepática. Quanto aos hipercalóricos ou à base de carboidratos, podem levar ao au-mento de gordura corporal. É importante que as pessoas saibam que um suplemento só garantirá o seu resultado, se utilizado de forma adequada, considerando peso, altu-ra, idade, gênero, tipo e frequência do exer-cício físico, alimentação e o objetivo”, avisa.

Acostumada a lidar com diversos ca-sos relacionados aos suplementos, Mag-da vê os padrões de beleza impostos pela sociedade e pela mídia como responsá-veis parciais pelo uso desenfreado e sem acompanhamento dos suplementos. “As pessoas querem resultados rápidos e com pouco esforço. Acreditam que, com o uso de suplementos, perderão peso, ganharão massa muscular ou terão pele e cabelos mais saudáveis. Mas sem mudanças no estilo de vida, o resultado não será efe-tivo”, complementa a nutricionista, dei-xando claro que um corpo só terá chan-ces de ser perfeito – no sentido clínico – se a rotina e alimentação do dono forem saudáveis.

GRéCIA ANTIGAA Grécia tem uma contribui-ção importante na história da beleza, tanto é que hoje os concursos de miss têm muitos quesitos baseados na estátua da Vênus de Milo.

IDADE MéDIAO padrão de beleza femi-nino era de mulheres mais longilíneas. Isso pode ser visto nas esculturas e pin-turas da época.

RENASCIMENTOO padrão de beleza torna--se mais polpudo, com um contorno mais consistente. A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é um exemplo marcante desse período.

ILUMINISMOA beleza ganha um certo re-lativismo, mas o Retrato de Madame Recamier, pintado por Jacques-Louis David, é um marco dessa época.

SAIBA MAIS

Um fi lme para explorar mais sobre os perigos dos transtornos alimentares e um livro sobre a evolução do conceito de beleza. Fique ainda mais por dentro dos temas com essa seleção.

LIVRO

História da Beleza Organizado por Umberto EcoEditora RecordUm ensaio organizado por Umberto Eco, que refl ete sobre as transformações, mudanças e evoluções do conceito de beleza ao longo dos séculos, na sociedade e na história da arte.

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Maus Hábitos (Malos Hábitos) – 2007Direção: Simón BrossMéxicoO fi lme conta a história de três mulheres e os hábitos alimentares que dominam suas rotinas e interferem em suas vidas.

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Síndrome de Li-Fraumeni afeta indivíduos jovens e gera predisposição

para a incidência de diferentes tumores em um mesmo organismo.

Estudos indicam que mutação foi disseminada no Sul e Sudeste por

tropeiros na época do Brasil Colônia

Por Claudia Guadagnin, especial para a Vida Universitária

A “maldição hereditária”. Por gerações, foi assim que os acometidos por um tipo de câncer até então pouco conhecido definiram a ocorrên-cia da doença, tão severa quanto presente no Sul e Sudeste do Brasil. Com o tempo, estudos mostraram que o problema tem nome e que sua incidência em cidades como Curitiba, Porto Alegre e São Paulo é expres-sivamente mais alta que em qualquer lugar do mundo. Enquanto que em países como os Estados Unidos, por exemplo, ele afeta uma em cada cinco mil pessoas, nessas regiões a proporção é de uma para 300. A cha-mada Síndrome de Li-Fraumeni foi descrita em 1969 pelos médicos nor-te-americanos Frederick Li e Joseph Fraumeni Jr., mas é no Brasil que ela vem sendo objeto constante de pesquisas, consideradas referências mundiais. Antes disso, apenas 280 portadores da mutação eram conhe-cidos globalmente.

A explicação encontrada até o momento, para que a Li-Fraumeni se manifeste em membros de uma mesma família em diferentes gerações, está relacionada à época colonial do Brasil. Segundo estudos, o gene

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O desenho reproduz uma fotografia da obra BraziLian de

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com a mutação que dá origem à síndrome teria sido disseminado por tropeiros que cir-cularam pelo Sul e Sudeste do país no século XVIII e tiveram fi lhos com várias mulheres. O fato de o gene ser dominante facilita a ex-pressão da característica. Ele também permi-te que o câncer se manifeste em pessoas jo-vens, com menos de 45 anos.

Os tumores gerados pela síndrome têm uma causa em comum: mutações no trecho de DNA que carrega informações indispensá-veis para que a proteína P53 seja produzida pelo organismo. Apelidada de “guardiã do genoma”, ela tem função de impedir diaria-mente danos ou erros de cópia genética que induzem o surgimento do câncer. Em termos ainda mais simples, a função da P53 seria “forçar o suicídio” de uma célula que passou por mutações perigosas. Sem ela, o organis-mo perde uma das mais importantes defesas e fi ca até 90% mais predisposto a desenvol-ver algum tipo de câncer. É preciso entender que o que é hereditário é a mutação, por isso os tumores podem aparecer em locais dife-rentes a cada geração: mama, pâncreas, rim, sistema nervoso central, sarcomas (cartila-gem, músculos, vasos sanguíneos) e glândula suprarrenal, por exemplo. Um caso bastante conhecido de ocorrência do problema foi o do ex-vice-presidente José Alencar. Portador da síndrome, ele passou por 17 cirurgias du-rante 13 anos de tratamento.

CHANCES DE CURAPara o médico oncogeneticista e professor

do curso de Medicina da PUCPR, José Claudio Casali da Rocha, a difi culdade em diagnosticar a característica exige que exames preventivos sejam feitos para a conquista do diagnóstico precoce. “Como ela é capaz de gerar tumores diversifi cados, muitas vezes, nem o médico nem a família fazem essa ligação de imediato”. Ele explica que o ideal é analisar o histórico familiar do paciente para saber se ele tem ou não predisposição a desenvolver alguns tipos de tumor. “Caso a síndrome seja detectada, várias medidas podem ser adotadas para re-duzir o risco de morte precoce. Identifi car o problema no começo aumenta signifi cativa-mente as chances de cura”, explica. Segundo ele, os chamados Testes de Mutação Direcio-nada contribuem nesse sentido. Para identifi -car a Li-Fraumeni, a investigação atualmente é mais acessível por ser coberta pelos planos de saúde. Quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) ou não conta com um plano, ain-da precisa investir valores relativamente altos nos exames. Para a primeira pessoa da famí-lia, testes compostos por análises de sangue, ecografi as e ressonâncias magnéticas de corpo inteiro têm custos que variam entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Para os membros seguintes, os va-

lores reduzem para até menos da metade do total. Casali lembra, entretanto, a importância de investir na possibilidade. “Se a síndrome for diagnosticada, esperamos que a pessoa com-preenda que está diante de um traço genético e não, necessariamente, de um câncer. Na fase benigna, um tumor é facilmente tratável. Pre-venção e acompanhamento fazem toda a dife-rença”, lembra.

Salmo Raskin é médico geneticista, também professor do curso de Medicina da PUCPR, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica e explica que a tendência é que exa-mes desse tipo sejam mais democratizados daqui em diante. Ele lembra que, em feve-reiro deste ano, foi instituída pela Portaria 199 a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras. A novidade promete o investimento de R$ 130 milhões na organização de uma rede de atendimento gratuita para a população. Isso signifi ca que, pela primeira vez, o aconselhamento genéti-co passa a ser oferecido pelo SUS, que ofer-tará ainda 15 novos exames de diagnóstico para doenças raras. “Os resultados devem começar a ser sentidos a partir do ano que vem, mas conquistar isso já foi um avanço muito importante”, comemora.

CONTROLE E PREVENçãO Casali é coordenador de um ambulató-

rio para pacientes do SUS no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, e pretende intensifi car ainda mais os estudos sobre a mutação neste ano, investigando a ocorrência da Li-Fraume-ni no hospital especializado em câncer. “Como é uma alteração genética, a síndrome não tem cura, mas existem muitas possibilidades de controle e prevenção. Hoje, sabemos que di-versas alterações químicas do organismo são resultado de maus hábitos, de um estilo de vida pouco adequado e até mesmo do estado emocional. Uma dieta equilibrada, otimismo e a prática de atividades físicas são os maiores aliados contra qualquer doença”, indica. Para Casali, pode ser essa a explicação para que 15% das pessoas que nascem com a Li-Frau-meni não desenvolvam a doença.

Atualmente, famílias com casos da síndro-me são acompanhadas em programas espe-ciais de pesquisa, como o realizado no hospital A. C. Camargo, em São Paulo. No Paraná, be-bês identifi cados com a mutação também são monitorados até os 15 anos. “É importante que as crianças sejam examinadas de seis em seis meses, e que jovens com histórico de câncer na família também busquem, a partir dos 20 anos, exames semestrais”, orienta o médico.

Raskin e Casali ainda compartilham da opinião que, cada vez mais, é preciso adotar medidas necessárias na rede pública, como a garantia do acesso ao exame que identifi ca a

mutação e a realização de testes para detec-tar ou prevenir precocemente os tumores. “O acompanhamento deve se prolongar por toda a vida”, orienta Raskin. “Avançar na capacita-ção de mais profi ssionais pra que testes assim sejam popularizados também é fundamen-tal”, complementa Casali.

CÂNCER DE SUPRARRENAL E SÍNDROME DE LI-FRAUMENI

No Brasil, um dos precursores na investigação da Síndro-me de Li-Fraumeni é o médico Bonald Figueiredo, da Uni-versidade Federal do Paraná (UFPR). Ao analisar a alta incidência do tumor em glândula suprarrenal em crianças com menos de dez anos no Paraná, ele criou testes de DNA para identifi car os portadores da mutação. O estu-do foi fundamental no tratamento do câncer de córtex adrenal. Em Curitiba, a ocorrência chegou a ser 200 vezes maior que em qualquer outro lugar do mundo. Na década de 90, o assunto despertou o interesse de dois médicos, hoje professores do curso de Medicina da PUCPR. Salmo Raskin era residente no Hospital das Clínicas quando a investigação coordenada por Bonald teve início. José Claudio Casali da Rocha foi um dos pri-meiros a anunciar, em parceria com outros pesquisado-res e por meio de um artigo científi co em inglês, que a mesma mutação era responsável pela ocorrência da síndrome de Li-Fraumeni. A comprovação acabou com o mito de que a alteração na proteína P53 era específi ca para o câncer de suprarrenal.

Feocromocitomas são tumores que se desenvol-vem na região interna das glândulas suprarrenais.

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Enquanto que em países como os Estados Unidos, a mutação atinge

uma a cada 5 mil

pessoas

Salmo Raskin é médico geneticista, professor do curso de Medicina da PUCPR e presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica. É especializado em pediatria, Genética Clínica com Habilitação em Genética Molecular, pós-gradu-ado em Genética Molecular pela Universidade de Vander-bilt, nos EUA e doutor em Genética pela UFPR. Também é membro titular da Sociedade Brasileira de Genética Médica e um dos dez cientistas brasileiros que integram o projeto Genoma Humano da HUGO, órgão internacional de pesqui-sa do genoma humano. Tem mais de 60 trabalhos científi -cos publicados no exterior.

José Claudio Casali da Rocha é oncogeneticista há 16 anos e professor do curso de Medicina, na PUCPR. Há 15 anos criou um núcleo de aconselhamento genéti-co para pacientes de câncer no hospital A.C Camargo, em São Paulo. Depois de concluir o pós-doutorado em farmacogenética nos Estados Unidos, foi diretor médico do Banco Nacional de Tumores e DNA do Ins-tituto Nacional do Câncer (Inca). Atualmente, é dire-tor do Laboratório Mantis, coordena um ambulatório para pacientes do SUS no hospital Erasto Gaertner, em Curitiba e mantém consultórios no Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.

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“Se a síndrome for diagnosticada, esperamos que a pessoa compreenda que está diante de um traço genético e não, necessariamente, de um câncer. Na fase benigna, um tumor é facilmente tratável. Prevenção e acompanhamento fazem toda a diferença.”[José Casali, geneticista]

BARRANDO A HEREDITARIEDADE

Segundo o geneticista Salmo Raskin, a manifestação precoce da síndrome ocorre em virtude de ela ser hereditária. “A pessoa já nasce com a alteração. Basta herdar uma cópia alterada do DNA para que a predisposição esteja estabelecida”. Dessa forma, o interesse natural de casais em que um dos membros carrega a mutação é de que ela não seja transmitida aos fi lhos. Para ter a garantia, é possível recorrer à fertilização in vitro e a uma técnica chamada Diagnóstico Genético Pré-Implantacional (PGD). O método seleciona embriões que não têm a alteração genética antes da transferência para o útero materno. A alternativa custa em torno de R$ 10mil a R$ 20mil e, segundo José Casali, no Brasil, somente a USP (Universidade de São Paulo) conta, há cerca de dois anos, com a oferta pública do atendimento.

no Sul e Sudeste a proporção é de

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até 90% mais predisposto a desenvolver o câncer em um ou mais locais do corpo.

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reportagem

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mercadode trabalho

O adeus ao HOME OFFICE

Opção ideal para empreendedo-res iniciantes, coworking oferece vantagens, diminui gastos e gera interação entre profi ssio-nais de diferentes áreas

Por Mahani Siqueira, especial para a Vida Universitária

Começar um negócio logo após se for-mar não é tarefa das mais fáceis. Ao mesmo tempo em que os contatos comerciais ainda são poucos, os preços para alugar um escri-tório se mostram inviáveis para um início de carreira e a alternativa de trabalhar em casa, além de ser um foco interminável de distrações, difi culta a realização de reuni-ões e encontros com clientes. Um modelo de trabalho, que vem chamando a atenção de freelancers e empresários em todo o mundo, promete solucionar boa parte desses obstá-culos, tão comuns aos empreendedores de primeira viagem.

Os espaços de coworking são ambien-tes de trabalho compartilhados e oferecem, além da economia em todos os gastos ima-gináveis, infi nitas oportunidades de intera-ção entre profi ssionais de diferentes áreas que saíram da zona de conforto do home offi ce. Nesses espaços, os coworkers podem escolher quantas horas passam no escritório por semana e decidir qual a melhor forma de utilizar as instalações de acordo com suas necessidades.

Em Curitiba, uma dessas iniciativas é o Impact Hub, que conta com 70 pessoas de diferentes perfi s trabalhando em vários seg-mentos. Segundo Bruno Volpi, publicitário e diretor do espaço na capital paranaense (a iniciativa também tem escritórios em diver-sos outras cidades do mundo), as vantagens proporcionadas pelo trabalho no modelo de coworking vão muito além da economia.

“O principal é a interação social. O espa-ço de trabalho compartilhado permite que você, além de amizades, construa relaciona-mentos profi ssionais de maneira muito dinâ-mica. A sua ideia é constantemente revisada e desenvolvida, mesmo sem você perceber. Isso acontece porque, além dos momentos dedicados exclusivamente ao trabalho, você compartilha seus desafi os com profi ssionais de diferentes backgrounds“, opina Bruno.

Sócia e gerente de marketing do Am-biental Offi ce, coworking especializado no segmento de comunicação, Kelly Gequelim defende que recém-formados encontram nos ambientes compartilhados, a saída ideal para dar o primeiro pontapé na carreira sem ter que investir uma grana muito acima do

orçamento desejado. As chances de êxito, ela garante, também aumentam.

“Quando você sai da faculdade com uma ideia inovadora, difi cilmente tem recursos sufi cientes para alugar uma sala comercial e manter um escritório. Além disso, o contato com outros profi ssionais e a possibilidade de desenvolver novos projetos ou encontrar alguém que acredite na sua ideia é infi nita-mente maior dentro de um escritório cola-borativo”, afi rma Kelly.

Tanto no Impact Hub quanto no Ambien-tal Offi ce, o perfi l mais comum entre os pro-fi ssionais é o de jovens, freelancers ou donos de pequenas empresas, que buscam a ino-vação e investem na dinâmica do coworking para dar um impulso aos seus empreendi-mentos. É o caso do produtor de software Da-niel Pakuschewski, que comanda sozinho o Rocket Studio, agência que desenvolve apli-cativos para internet, tablets e smartphones e está instalada no Ambiental Offi ce.

“Eu resolvi ir atrás do coworking porque estava precisando melhorar meus horá-rios de trabalho (em casa, é comum relaxar mais), e também porque precisava melhorar a minha imagem com os clientes e ter uma estrutura para poder recebê-los. Dentro do Ambiental, eu já consegui vários projetos e fi z diversas parcerias de negócios que me possibilitaram atender novos clientes”, con-ta Daniel.

A lançadora de startups Ideia no Ar é a prova de como pode dar certo a opção por trabalhar em um ambiente de coworking. Os três sócios da empresa se conheceram no Impact Hub e resolveram continuar no espa-ço graças às trocas profi ssionais e às parce-rias que passaram a desenvolver no escritó-rio, que conta com iniciativas tão diferentes.

“Cada vez mais pessoas iniciam seus pró-prios empreendimentos e no início é preciso focar em redução dos custos fi xos e amplia-ção do networking, vantagens que os co-workings proporcionam. Para nós, do Ideia no Ar, são fundamentais as trocas de ideias, as conexões com empreendedores e o am-biente descontraído do espaço”, completa Th iago Alves, business designer e sócio da empresa.

SERVIçO

Se interessou em trabalhar em um espaço de coworking? Acesse os sites do Impact Hub e do Ambiental Offi ce e descubra qual a melhor opção para o seu negócio ou projeto.

AMBIENTAL OFFICEambientaloffi ce.com.brRua Schiller, 1797Curitiba-PR(41) 3387-0002

IMPACT HUBcuritiba.impacthub.netRua Comendador Macedo, 233Curitiba-PR(41) 3079-7233

Kelly Gequelim, da Ambiental Offi ce (abaixo), e Bruno Volpi, da Im-pact Hub, a frente de espaços colaborativos que promovem a intera-ção entre as pessoas e o desenvolvimento mútuo.

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Nos anos 90, a grade curricular dos cur-sos de Educação Física deixava a temática da saúde um pouco de lado. Assim, o foco esportivo ocultava assuntos que eram de interesse do então estudante Rodrigo Si-queira Reis. Foi durante o mestrado, já no início dos anos 2000, que a saúde pública entrou para valer na sua vida, a partir de leituras e do contato com pesquisadores. “Não é fácil dizer se eu escolhi essa área ou ela me escolheu”, diz. Rodrigo, hoje pós--doutor e coordenador do curso de Educa-ção Física da PUCPR, enxerga o tema como um encontro para a sua preocupação em contribuir com a sociedade.

Além de trabalhar como docente, Ro-drigo também se dedica ao cargo de con-sultor do Ministério da Saúde. “Tem sido um grande desafio, mas também uma enorme oportunidade para compreender a complexidade que envolve a saúde pública em um país continental e desigual como o nosso”. O professor explica que o investi-mento na área tem sido substancial, com muitos avanços. “O Brasil está se tornando uma referência mundial”, afirma.

Professor participa de estudos sobre atividade física e a sua importância para a saúde pública no Brasil e no exteriorPor Yaskara Ferreira, especial para a Vida Universitária

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INICIATIVAS DE COMBATE

Em 2011, o Governo Federal lançou o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis. O objetivo é diminuir em 2% ao ano o número de mortes ocasionadas por estas doenças até 2022, hoje responsáveis por 72,4% dos óbitos dos brasileiros. “O investimento tem sido substancial e o Brasil tem potencial para se tornar referência no mundo nessa área”, afirma Rodrigo, que também atua como consultor do Ministério da Saúde e membro do Comitê Gestor do Plano. Ele lembra que foram muitos os avanços, como um sistema de monitoramento de fatores de risco para as doenças e outros inquéritos de saúde que permitem o acompanhamento dos níveis de atividade física. “Além disso, o Brasil possui um ambicioso programa de promoção de atividade física que pretende alcançar quatro mil cidades, chamado Academia da Saúde”. Essa iniciativa prevê a implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e profissionais qualificados para promover modos de vida saudáveis.

FOCO NAS PESQUISAS Entre 2012 e 2013, o professor cursou Pós-

-Doutorado na Washington University in St. Louis, Estados Unidos. Nesse período, trabalhou com o Dr. Ross Brownson, um dos maiores no-mes do mundo na área de saúde pública base-ada em evidências e em pesquisa translacional em saúde pública. “Realizamos juntos três gran-des projetos e submetemos para financiamento outros dois. Por exemplo, analisamos o uso de evidências para tomada de decisão em mais de 500 secretarias de saúde nos Estados Unidos”, comemora.

Com um grupo de pesquisadores do Brasil e do exterior, Rodrigo também esteve envolvido em uma série de estudos publicados no periódi-co The Lancet, do Reino Unido. “Apontamos nes-se trabalho que estamos vivendo, uma pandemia de inatividade física no mundo, responsável por mais de cinco milhões de mortes relacionadas às principais doenças crônicas não-transmissíveis, incluindo doenças coronarianas, diabetes tipo II e câncer de mama”. Ele afirma que a inativi-dade física mata tanto quanto o tabagismo, no entanto, mais de um terço dos adultos, e quatro em cada cinco jovens, são inativos. “A atividade física é fundamental para reverter o quadro das doenças crônicas no mundo”, sentencia.

Atualmente, Rodrigo participa de diversos projetos, todos relacionados com políticas e pro-gramas de atividade física, intervenções urbanas e saúde. “Alguns resultados já foram publicados, como de um estudo que estamos realizando em 15 países. Pudemos demonstrar que os níveis de atividade física da população são afetados de maneira decisiva pela forma urbana”. No traba-lho, ficou constatado que nas regiões mais favo-ráveis de Curitiba os residentes têm o dobro de chance de realizar atividades físicas como forma de deslocamento e lazer.

“Talvez a saúde pública seja a área da saúde mais necessária para promover o avanço das condições de vida, especialmente para aqueles que mais precisam.” [Rodrigo Siqueira Reis, pesquisador e professor da PUCPR]

O BRASILEIRO ESTá SE MOVIMENTANDO MAIS

l Em cinco anos, o percentual de atividade física aumentou 11%;

l Os homens são os mais ativos: 41,2% pra-ticam exercícios no tempo livre;

l O aumento da prática de exercícios entre as mulheres foi maior, passando de 22,2% para 27,4%;

l Pela primeira vez em oito anos o percen-tual de excesso de peso e de obesidade se manteve estável.

Fonte: Vigitel, 2013

Em St. Louis, EUA, o professor Rodrigo Reis teve a oportunidade de trabalhar ao lado do Dr. Ross Brown-son, reconhecido mundialmente pelo trabalho na área de saúde pública.

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Tipicamente universitárioEntrar na Universidade tem signifi cados diferentes ao redor do mundo. Em países como Austrália e Estados Unidos é sinônimo de conquista de independênciaPor Michele Bravos

Na transição do Ensino Médio para a Universidade muita coisa muda. Novos amigos, novos pro-fessores, fi ns de semanas de chur-rascos. Não só a vida social passa por transformações, mas também a forma de estudar e a autopercepção. Em países como Austrália e Estados Unidos, os alunos são preparados para que esse momento seja o salto para a independência. No Brasil, a transição é mais suave e os jovens amadurecem durante o proces-so ou, ainda, só nos últimos anos como universitários.

Segundo Gabriela Finch, coordenadora do Nú-cleo de Intercâmbio da PUCPR, o universitário bra-sileiro pode ser visto como menos proativo, se com-parado a outros países. Em parte, isso se deve ao aprendizado centralizado no professor. Lembrando que, por aqui, o docente é fi gura presente do jardim de infância ao Ensino Médio, de forma muito pró-xima. Logo, quando o aluno chega à Universidade espera o mesmo formato. Na Austrália e nos Estados Unidos, em que, desde os primeiros anos, o centro do ensino está nos alunos – eles precisam buscar o conhecimento e não apenas recebê-lo do professor –, os jovens chegam à Universidade com mais au-tonomia. “Percebo que em lugares assim, os alunos ingressam na Universidade com mais iniciativa e in-dependência”, afi rma Gabriela.

A aluna Luiza Ferronatto, 22 anos, cursa Design de Moda na PUCPR e foi estudar uma temporada nos Estados Unidos. Ela percebe que os alunos de lá parecem mais responsáveis. “É comum ver uni-versitários trabalhando e com um carro (todos têm carro), querendo ser independente o quanto antes. A quantidade de tarefas passadas por cada matéria também é muito superior. Algo que requer mais res-ponsabilidade do aluno”.

O fato de, tanto na Austrália quanto nos Esta-dos Unidos, não se ter vestibular, exige do aluno uma dedicação maior aos estudos desde o início do equivalente ao Ensino Médio brasileiro. Nesses dois países estrangeiros o aluno soma pontos ao longo do Ensino Médio e esse resultado indicará em que Universidades ele poderá ingressar.

Por lá, o professor universitário é um ponto de contato para o aluno tirar dúvidas, apresentar tra-balhos. “Existe uma carga presencial menor e uma

expectativa de trabalho individual bem grande. No Brasil, chega a ser até difí-cil dizer o que o aluno fez fora de sala de aula. Mas isso está sendo amadu-recido por aqui”, diz a coordenadora.

De acordo com o setor de intercâm-bio da PUCPR, os alunos estrangeiros comentam que as matérias no Brasil são até mais exigentes do que espera-vam, com muitos trabalhos.

CULTURA FAMILIARAlém do modelo de ensino, a cultu-

ra familiar brasileira também contribui para que o universitário amadureça e seja indepen-dente mais tarde. “O jovem brasileiro de 16, 17 anos tem difi culdades em decidir o que realmente quer. O brasileiro tende a morar com os pais até muito tar-de. Esse jovem tem um respaldo fi nanceiro grande, o que faz com que ele fi que na zona de conforto por mais tempo”, comenta Gabriela.

Para Karoleen Oswald, 24 anos, mestranda em Tecnologia de Saúde pela PUCPR e que fez parte da graduação em Fisioterapia na Austrália, o in-gresso na Universidade é o momento do jovem se sentir encorajado a se aprimorar e se desenvolver. Ao chegar na Oceania, morou em hostel, nos pri-meiros dias, e depois dividiu uma casa com ami-gos. O novo contexto também exigiu que ela co-locasse, literalmente, a mão na massa. “A comida é um pouco cara e comer fora todos os dias pode ser pesado no fi m do mês. A opção é levar uma comidinha de casa e aquecer em um dos vários microondas que são fornecidos nas dependências das cantinas ou dos refeitórios”.

Na Austrália, o adolescente é incentivado a tentar trabalhar desde cedo e a migrar dentro e fora do país. Isso começa já no Ensino Médio.

A BUSCA DOS BRASILEIROSO cenário de jovens brasileiros superprotegi-

dos está mudando. Gabriela percebe que eles já não querem mais ir para um intercâmbio apenas para aprender um novo idioma, viajar para outro lugar, fi cando na zona de conforto. “Os alunos têm procurado estágios para agregar experiência técnica”. Ela completa que os jovens já têm a vi-são de que o mercado valoriza o profi ssional que consegue se integrar com outra cultura, trabalhar com pessoas diferentes, ser mais autônomo.

Nos Estados Unidos, a es-tudante Luiza fez uma dis-ciplina chamada Freshman Experience (Experiência de

Calouro), que falava das dife-renças entre a Universidade

e o Ensino Médio, mostrando as regras do ambiente univer-sitário e o formato de ensino. As primeiras matérias cursa-das, que não são específi cas da graduação escolhida, são também uma introdução do

mundo universitário.

FORA DO MEU PAÍS

As estudantes Karoleen e Luiza pontuam acerca de suas vidas nesses países em que os jovens são incentivados a serem tão indepen-

dentes desde cedo.dentes desde cedo.

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MoradiaUniversidades no centro da cidade favorecem o aluguel de imóveis no entorno. Não há prédios residenciais nos Câmpus. Em contrapartida, não faltam cartazes com dizeres em busca de colegas para dividir apartamentos na região.

TransporteCom valor diferenciado na passagem de ônibus, a maioria dos alunos usa o transporte público. Andar a pé e se locomover de bicicleta para a Uni-versidade são opções comuns também.

AlimentaçãoNos restaurantes universitários, uma variedade de lanches com infl uência asiática. O custo é alto, por isso, levar a comida de casa é frequente. Os refei-tórios são equipados com vários microondas.

EstudosDurante a semana, os alunos costumam estudar na biblioteca da Universidade. Já nos fi ns de se-mana, as bibliotecas públicas são a opção. Com cadastro, as pessoas podem locar fi lmes, livros e revistas gratuitamente.

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MoradiaA maioria das Universidades possui prédios des-tinados aos estudantes. Normalmente, um dor-mitório é dividido por duas pessoas. Luiza dividia o quarto com uma americana.

TransporteOs Câmpus universitários são quase que mini-ci-dades. Em alguns casos, para se locomover den-tro deles é preciso pegar um ônibus. Por exemplo, para ir do prédio acadêmico para o residencial. Em geral, os jovens possuem carros.

AlimentaçãoAs opções dentro do Câmpus incluem restaurante universitário, minimercado e lanchonetes. Esses dois últimos próximos aos dormitórios.

EstudosÉ comum os jovens estudarem no próprio dormi-tório ou no lounge do prédio residencial, onde há vários sofás e mesas. Luiza conta que, por vezes, também ia estudar em uma cafeteria que tinha por lá.

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é na língua nativa, o crioulo guineense (uma mistura de português de Portugal com dialetos de tribos africanas), que Domingos Có diz com orgulho: Eu sou vitorioso. Contrariando o re-pertório do seu país de origem, Guiné-Bissau, uma terra independente há apenas 40 anos, destruída por guerras civis e em constante sofrimento pela corrupção exacerbada, Domingos optou por sonhar e fazer a diferença na prática. Desde 2008, ele vive no Brasil e já possui visto permanente no país. é formado em Economia, pela PUCPR. Atualmente é trainee em uma em-presa de consultoria fi nanceira e entre suas novas ambições estão estudar inglês no Canadá e trabalhar no setor público em Guiné-Bissau.

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Esta é a história de um homem que tomou posse do verbo sonharPor Michele Bravos

Ami i vitorioso

O meu sonho sempre foi estudar fora. Algo que atrapalhou muito a nossa vida por lá foi a guerra civil. Eu nunca fui perseguido. Mas a guerra viti-mou muito a minha família. O meu pai era um ho-mem lutador. Ele trabalhava com pesca comercial. O nosso sustento vinha daí. A guerra civil de 1998 arrasou o meu pai. Mesmo analfabeto, ele sempre falou que eu tinha que estudar, que me esforçar. Eu

acho que estou seguindo as pegadas dele. Então, apareceu a oportunidade de vir para o Bra-sil. Um conhecido meu de Guiné-Bissau que estava morando no Ceará me falou do vestibular e da pos-sibilidade de estudar. Eu fi z um vestibular no meu país para uma Universidade em Fortaleza. Eu pas-sei, peguei um avião e vim.

Como um cara de Guiné-Bissau veio parar no Brasil?

Fiquei só sete dias em Fortaleza. Nem fui à Univer-sidade lá. Antes de vir para o Brasil, eu fi z uma pes-quisa para ver qual região do país seria mais favo-rável para eu me instalar bem. Eu vi que era no Sul.

Então, eu já não queria fi car em Fortaleza. Eu vim para Curitiba porque tinha um conterrâneo meu aqui. Fui recebido por ele. A nossa cultura é muito acolhedora e de se ajudar.

Você chegou por Fortaleza. Onde entra Curitiba nessa

história?

Eu vim preparado para fi car seis meses sem pre-cisar trabalhar, mas chegando aqui, ajudei alguns conterrâneos. O dinheiro para seis meses virou para dois. Por indicação de um amigo, eu procurei a Pastoral da Juventude (PJ). Lá, eu conheci o Rena-to, na época coordenador da PJ. O Renato me levou até a Pastoral do Imigrante, onde conheci o Pe. Alex e a assistente social Elizete. Eles conseguiram uma vaga para mim na Casa do Estudante, onde morei por um tempo.

Eles me sugeriram escrever uma carta, explicando quem eu era, para darmos entrada em uma solicita-ção de bolsa na PUCPR. Nesse tempo, eu conheci o César Ribeiro, coordenador do curso de Teologia da PUCPR, que me apoiou muito e me deu o dinheiro para pagar minha inscrição no vestibular. Conheci também um doutorando em Economia que era meu conterrâneo e pagou uma semana de cursinho para mim, para eu não ir para o vestibular sem saber nada. Assim, as coisas foram se ajeitando.

Como você conseguiu se estabilizar aqui? E os estudos, como fi caram?

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Não consigo nem listar todo mundo. Além do Rena-to, do César, do Pe. Alex, da Elizete, outras pessoas me ajudaram. O Márcio Cassulino é um deles. Ele é como um irmão para mim. Ele me arranjou um emprego quando eu precisei e depois, em 2011, pagou minhas passagens para eu visitar a minha família em Guiné--Bissau. Depois, apareceu na minha vida também o

professor Fábio Araújo, de Economia, da PUCPR. Ele me convidou para ser trainee na empresa dele, a Brain Inteligência, onde estou há um ano. Na minha turma do curso eu também me relacionava bem com todo mundo. Até fui padrinho de casamen-to de um colega de classe. Eu gosto de fazer amizades e gosto de fazer as pessoas rirem.

Pelo jeito você fez boas amizades no Brasil...

Eu quero aprender inglês. Gostaria de fazer isso em um país que fale a língua. Penso no Canadá. A ideia seria ir para lá, estudar quatro meses e tra-balhar quatro meses. Por isso, além do meu tra-

balho como trainee na Brain, eu ainda sou garçom em uma pizzaria, para juntar o dinheiro sufi ciente para essa viagem.

Qual o próximo passo, agora que você já se formou e já está

empregado?

Eu diria que venha, desde que tenha coragem de se esforçar e de ser verdadeiro. As maiores difi -culdades que eu tive foram as fi nanceiras. Bem no começo. É difícil você estudar, sem ter alguém que lhe garanta isso. Depois que comecei a trabalhar, as coisas melhoraram. Eu sempre soube que tinha que fazer a minha parte. É lógico que se eu tives-

se nascido em outro país, a minha vida hoje, com 33 anos, poderia ser outra. Às vezes, quem não me conhece, me vê e acha que eu não lutei para ser alguém na vida. Mas, não sabe onde eu nasci, que tipo de educação eu recebi. É por isso que tenho me esforçado para chegar aonde estou e vou con-tinuar lutando.

Se alguém lhe dissesse que tem vontade de vir para o

Brasil, ter uma vida melhor. O que você diria?

Do meu país? Eu sinto saudade de tudo. O seu país é o seu país. Pode ser um país ruim, em termos de oportunidade, mas é o seu país. Eu sinto saudade dos meus amigos e da tranquilidade. Aqui é mais

desenvolvido, mas em termos de segurança na ci-dade, parece que em Guiné-Bissau é melhor que aqui. Lá, não há assaltos nas ruas.

Do que mais você sente falta no seu país?

Nossa, isso é lógico! Atualmente, no meu país, não há concurso públi-co para se trabalhar no governo. É tudo por indicação. Não sei se isso vai mudar. Eu espero que sim. Ain-da mais agora com as eleições. Há muita corrupção no meu país. É exagerado. Se um brasileiro visse como é lá, nem acharia que o Brasil é corrupto. Eu critico muito os go-vernantes do meu país. Muitos es-tudaram na Europa, mas parece que quando voltaram para lá, esquece-ram-se de suas origens. Parece que o egoísmo reina neles. Meu sonho é ser um governante um dia ou, pelo menos, trabalhar numa função pú-blica. Eu gostaria de fazer o possível para melhorar o meu país.

Com o preparo que você tem hoje, você se vê voltando para o seu país? Acha que valeria a pena?

Em maio, o país passou por eleições presidenciais demo-cráticas, as primeiras desde o último golpe de estado, em 2012. As organizações políti-cas mundiais se pronunciaram sobre a importância do exer-cício do direito do voto e do quanto todas as nações de-vem estar preocupadas com a instauração de uma nova governança por lá.

AJUDANDO GUINé-BISSAU

Assim como muitos ajudaram Domingos, e se agora fosse a sua vez de você ajudar alguém? Há jovens em Guiné-Bissau que param os estudos, no que seria o Ensino Fundamental brasileiro. O motivo fi nanceiro é o principal, uma vez que a próxima etapa de estudos é paga. Pensando nesses ado-lescentes, um grupo de brasileiros resolveu dar início a um projeto de apadrinhamento de alunos de Guiné-Bissau. O projeto é o Nó Djunta Mon (Nós Juntamos as Mãos, em crioulo guineense). Ele existe há um ano e já atende 200 alunos no país africano.Esse número pode crescer ainda mais. Até o início de agosto, estão abertos os cadastros para novos padrinhos. O valor do apadrinhamento é de R$ 240 (anual), incluindo mensalidade, uniforme e material escolar. O contato pode ser feito pelo e-mail [email protected] ou pelos telefones: 9622-6038 (Mayara) e 9267-3427 (Magda).

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Em regiões como o Norte e Nordeste do país, assim como em países da África ou Ásia, a estru-tura médica precária difi culta a identifi cação de doenças, devido à inexistência de um laboratório de exames. Até pouco tempo, era o caso de pacientes com insufi ciên-cia renal aguda, antes só detectada pelo sangue.

Um procedimento desenvolvi-do, recentemente, por duas insti-tuições norte-americanas permi-te que a doença seja identifi cada por um teste salivar. É simples: o paciente cospe em um tubo; uma fi ta com reagentes é colocada ali e, em contato com a saliva, identifi ca o nível de ureia; de acordo com a cor da fi ta, é indicado o estágio da debilidade dos rins.

O médico Roberto Pecoits Fi-lho, vice-presidente da Sociedade Latino Americana de Nefrologia e Hipertensão e também profes-sor da PUCPR, explica que o kit pode ser mantido em temperatura ambiente, o que facilita toda essa logística para lugares remotos. A rapidez com que ele é realizado também é outro ponto positivo. “Exatamente em um minuto é pos-sível saber o resultado”.

A efi cácia dos kits foi testada pela primeira vez fora dos Estados Unidos sob o comando do profes-sor Pecoits Filho, que o colocou

à prova no Maláui (África), e em estudos clínicos em um hospital em Joinville, por meio do traba-lho de doutorado da pesquisadora Viviane Silva, sua orientanda. Em espaços hospitalares, é comum o desenvolvimento da insufi ciência renal aguda devido à probabilida-de de infecções.

CURAO professor alerta que o mau

funcionamento dos rins afeta o sistema circulatório e o sistema nervoso central. À medida que a doença se agrava pode levar a um transplante e até a morte. “Por isso é importante identifi cá-la na fase aguda”. Oito em cada dez casos de insufi ciência renal aguda são reversíveis, se tratados no come-ço. Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ain-da é incurável.

Segundo Pecoits Filho, o teste aguarda para ser submetido à An-visa (Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária) para então, o proce-dimento poder ser adotado pelos médicos. Outro diferencial desse kit é o preço: US$ 1 (cerca de R$ 2,20) por teste.

Se ele for aprovado pela Anvisa será bem vindo, inclusive em cen-tros urbanos, principalmente pela sua rapidez, praticidade e baixo custo.

Malária, HIV, hipertensão

e infecções podem ser causas da

insufi ciência renal aguda.

OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA DOENçA SãO:

Diminuição da urinaUrina escura

Olhos inchadosHipertensão

Sangue nas fezesEnjoo

Falta de sensibilidade nas mãos e pés

Teste salivar pode salvar vidas em lugares remotos

Por Michele Bravos

pesquisa

Em regiões como o Norte e Nordeste do país, assim como em países da África ou Ásia, a estru-tura médica precária difi culta a identifi cação de doenças, devido à inexistência de um laboratório de exames. Até pouco tempo, era o caso de pacientes com insufi ciên-cia renal aguda, antes só detectada pelo sangue.

Um procedimento desenvolvi-do, recentemente, por duas insti-tuições norte-americanas permi-te que a doença seja identifi cada por um teste salivar. É simples: o paciente cospe em um tubo; uma fi ta com reagentes é colocada ali e, em contato com a saliva, identifi ca o nível de ureia; de acordo com a cor da fi ta, é indicado o estágio da debilidade dos rins.

O médico Roberto Pecoits Fi-lho, vice-presidente da Sociedade Latino Americana de Nefrologia e Hipertensão e também profes-sor da PUCPR, explica que o kit pode ser mantido em temperatura ambiente, o que facilita toda essa logística para lugares remotos. A rapidez com que ele é realizado também é outro ponto positivo. “Exatamente em um minuto é pos-sível saber o resultado”.

A efi cácia dos kits foi testada pela primeira vez fora dos Estados Unidos sob o comando do profes-sor Pecoits Filho, que o colocou

à prova no Maláui (África), e em estudos clínicos em um hospital em Joinville, por meio do traba-lho de doutorado da pesquisadora Viviane Silva, sua orientanda. Em espaços hospitalares, é comum o desenvolvimento da insufi ciência renal aguda devido à probabilida-de de infecções.

CURAO professor alerta que o mau

funcionamento dos rins afeta o sistema circulatório e o sistema nervoso central. À medida que a doença se agrava pode levar a um transplante e até a morte. “Por isso é importante identifi cá-la na fase aguda”. Oito em cada dez casos de insufi ciência renal aguda são reversíveis, se tratados no come-ço. Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ain-da é incurável.

Segundo Pecoits Filho, o teste aguarda para ser submetido à An-visa (Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária) para então, o proce-dimento poder ser adotado pelos médicos. Outro diferencial desse kit é o preço: US$ 1 (cerca de R$ 2,20) por teste.

Se ele for aprovado pela Anvisa será bem vindo, inclusive em cen-tros urbanos, principalmente pela sua rapidez, praticidade e baixo custo.

Teste salivar pode salvar

vidas em lugares remotosPor Michele Bravos

pesquisa

OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA DOENçA SãO:

Diminuição da urinaUrina escura

Olhos inchadosHipertensão

Sangue nas fezesEnjoo

Falta de sensibilidade nas mãos e pés

Em regiões como o Norte e Nordeste do país, assim como em países da África ou Ásia, a estru-tura médica precária difi culta a identifi cação de doenças, devido à inexistência de um laboratório de exames. Até pouco tempo, era o caso de pacientes com insufi ciên-cia renal aguda, antes só detectada pelo sangue.

Um procedimento desenvolvi-do, recentemente, por duas insti-tuições norte-americanas permi-te que a doença seja identifi cada por um teste salivar. É simples: o paciente cospe em um tubo; uma fi ta com reagentes é colocada ali e, em contato com a saliva, identifi ca o nível de ureia; de acordo com a cor da fi ta, é indicado o estágio da debilidade dos rins.

O médico Roberto Pecoits Fi-lho, vice-presidente da Sociedade Latino Americana de Nefrologia e Hipertensão e também profes-sor da PUCPR, explica que o kit pode ser mantido em temperatura ambiente, o que facilita toda essa logística para lugares remotos. A rapidez com que ele é realizado também é outro ponto positivo. “Exatamente em um minuto é pos-sível saber o resultado”.

A efi cácia dos kits foi testada pela primeira vez fora dos Estados Unidos sob o comando do profes-sor Pecoits Filho, que o colocou

à prova no Maláui (África), e em estudos clínicos em um hospital em Joinville, por meio do traba-lho de doutorado da pesquisadora Viviane Silva, sua orientanda. Em espaços hospitalares, é comum o desenvolvimento da insufi ciência renal aguda devido à probabilida-de de infecções.

CURAO professor alerta que o mau

funcionamento dos rins afeta o sistema circulatório e o sistema nervoso central. À medida que a doença se agrava pode levar a um transplante e até a morte. “Por isso é importante identifi cá-la na fase aguda”. Oito em cada dez casos de insufi ciência renal aguda são reversíveis, se tratados no come-ço. Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ain-da é incurável.

Segundo Pecoits Filho, o teste aguarda para ser submetido à An-visa (Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária) para então, o proce-dimento poder ser adotado pelos médicos. Outro diferencial desse kit é o preço: US$ 1 (cerca de R$ 2,20) por teste.

Se ele for aprovado pela Anvisa será bem vindo, inclusive em cen-tros urbanos, principalmente pela sua rapidez, praticidade e baixo custo.

Malária, HIV, hipertensão

e infecções podem ser causas da

insufi ciência renal aguda.

OS SINTOMAS MAIS COMUNS DA DOENçA SãO:

Diminuição da urinaUrina escura

Olhos inchadosHipertensão

Sangue nas fezesEnjoo

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Teste salivar pode salvar vidas em lugares remotos

Por Michele Bravos

pesquisa

Malária, HIV, hipertensão

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Page 25: Vida Universitária | 228

Pessoas com esses sintomas ou que tenham

contraído algumas das doenças-causa são

submetidas ao teste salivar.

SALIVA

O paciente cospe em um tubinho.1

COMO é FEITO O TESTE DE UREIA COM A SALIVA

É colocada dentro do tubo uma fi ta com rea-gentes.

2

Em contato com a saliva, a fi ta indica o nível de ureia do corpo por meio de mudança de cor

3

O nível é medido de acordo com uma tabela de cores, fornecida no kit do diagnóstico. A inter-pretação dos resultados é feita da seguinte forma:

Função renal normal

Disfunção leve

Falência renal moderada

Falência renal severa

4

FITA COMREAGENTES

Em um minuto, a pessoa é identifi cada ou não com a doença e em que estágio ela se encontra. Um exame laboratorial demora duas horas (se o paciente já estiver internado) ou até dois dias (se solicitado em um laboratório).

8 em cada 10 casos de insufi ciência renal aguda são reversíveis, se tratados no começo. Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ainda é incurável.

Identifi cada a doença, inicia-se o tratamento. Muito líquido, soro, medicamentos e diálise peritoneal, em alguns casos.

80%

Pessoas com esses sintomas ou que tenham

contraído algumas das doenças-causa são

submetidas ao teste salivar.

Pessoas com esses sintomas ou que tenham

contraído algumas das doenças-causa são

submetidas ao teste salivar.submetidas ao teste salivar.submetidas ao teste salivar.submetidas ao teste salivar.

SALIVA

O paciente cospe em um tubinho.1

COMO é FEITO O TESTE DE UREIA COM A SALIVA

É colocada dentro do tubo uma fi ta com rea-gentes.

2

Em contato com a saliva, a fi ta indica o nível de ureia do corpo por meio de mudança de cor

3

O nível é medido de acordo com uma tabela de cores, fornecida no kit do diagnóstico. A inter-pretação dos resultados é feita da seguinte forma:

Função renal normal

Disfunção leve

Falência renal moderada

Falência renal severa

4

FITA COMREAGENTES

Em um minuto, a pessoa é identifi cada ou não com a doença e em que estágio ela se encontra. Um exame laboratorial demora duas horas (se o paciente já estiver internado) ou até dois dias (se solicitado em um laboratório).

Em um minuto, a pessoa é identifi cada ou não com a doença e em que estágio ela se encontra. Um exame laboratorial demora duas horas (se o paciente já estiver internado) ou até dois dias (se solicitado em um laboratório).

8 em cada 10 casos de insufi ciência renal aguda são reversíveis, se tratados no começo.Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ainda é incurável.

8 em cada 10 casos de insufi ciência renal aguda são reversíveis, se tratados no começo. Essa é uma doença que possui cura, diferente da crônica, que ainda é incurável.

se o tratamento. Muito

e diálise peritoneal, em alguns casos.

Identifi cada a doença, inicia-

líquido, soro, medicamentos

Identifi cada a doença, inicia-se o tratamento. Muito líquido, soro, medicamentos e diálise peritoneal, em alguns casos.

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Em lembrança aos 50 anos do Golpe Militar, a Vida Universitária convidou um docente e alguns alunos da Escola de Educação e Humanidades e da Escola de Comunicação e Artes – áreas tão afetadas pela ditadura militar –, para uma conversa sobre refl exos da repressão, democracia, voto. Confi ra a seguir as opiniões que surgiram no bate-papo

Por Michele Bravos

A hora da democracia

Com o período ditatorial, houve uma quebra bas-tante signifi cativa entre a sociedade, o governo e as próprias forças armadas. Na visão de Wilson Maske, professor do curso de História da PUCPR, o fato de termos uma presidente ex-militante é o caminho para a superação de vários traumas que fi caram na sociedade. Ele percebe que a fi gura de Dilma pode favorecer diálogos e discussões im-portantes sobre e entre grupos da sociedade que ainda hoje não se entendem.

O que ter uma presidente ex-

militante signifi ca para o país?

O distanciamento que a sociedade civil estabele-ceu com o exército é natural devido ao período de repressão que se viveu, traduzido na fi gura dos mi-litares. No entanto, para o professor, essa distância é problemática. “As forças armadas são impor-tantes e representam a segurança e a ordem na-cional”. Sendo que democracia não é sinônimo de desordem, cabe, nesse modelo, dito democrático, a presença mais próxima dos militares. O professor ainda afi rma que essa é uma das quebras que deve ser restaurada.

Exército: mau ou bom?

Quando o pai de Mariana Abad, aluna do curso de Música, pisou no Brasil em 1972, ele nem po-dia imaginar que o período instalado por aqui era tão caótico quanto em seu país de origem, a Síria. “Meu pai veio para cá, fugindo da guerra. Quando ele chegou aqui, pediram para que ele servisse o exército”. O pai de Mariana conseguiu justifi car a sua situação e não precisou servir. Para ela, discu-tir sobre a ditadura e seus refl exos nos dias atuais é também falar da sua história. Na Universidade, o professor Wilson já percebe quem são os alunos que mais se interessam pelo tema. “As turmas de Humanas, Ciências Sociais e História estão sempre dispostas à essa discussão. Falar de democracia é algo que os instiga”.

O quanto a ditadura está presente na sua

vida?

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reportagem

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“Poder discutir isso já é um indício de que a demo-cracia existe”, afi rma Saulo Nascimento, aluno do curso de História. Para ele, hoje, há possibilidades de escolhas e isso demonstra que o direito à demo-cracia é real. A aluna Dominique Bolach, do curso de História, concorda e entende que poder expres-sar a opinião é sinônimo de liberdade e isso defi ne um período democrático. A questão vai além quan-do questiona-se se o povo brasileiro está prepa-rado para a democracia. Na visão de Wilson, uma das grandes expressões da democracia é o voto, a qual muitos ainda exercem de forma inconsciente. “É preciso avaliar se os políticos estão comprome-tidos com os direitos. Faz parte do exercício da de-mocracia analisar as pessoas em quem eu vou votar, acompanhá-los e cobrá-los”.

Existe democracia?

“Toda profi ssão pode fazer o bem para a socieda-de. Até na música há uma responsabilidade social”, diz Ana Massambani, aluna do curso de Música. Ela lembra o quanto as músicas de protesto, proibidas na época ditatorial, repercutem até hoje. Por isso, há em Ana uma certa indignação ao ver a liberdade de expressão não sendo usada à exaustão. “A mú-sica é uma ferramenta poderosa. Por que falar nela apenas o trivial? Vemos muito isso hoje. Quando eu faço música, tento fazer diferente”. Para Mariana, o que deveria imperar nas profi ssões hoje é a solidariedade. Na sua opinião, isso não exis-tia nas décadas militares. “Os professores não po-diam falar da música. A música não podia falar da lei e assim por diante. Hoje pode existir diálogo entre as áreas. Temos que valorizar essa interdisciplina-ridade”.

Como a sua profi ssão pode

contribuir para a democracia?

{Danielle Barbieri}{Wilson Marke}

{Ana Massambani}{Vivian Lemos} {Dominique Bolach}

{Mariana Abad}{Saulo Nascimento}

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“É preciso avaliar se os políticos estão comprometidos com os direitos. Faz parte do exercício da democracia analisar as pessoas em quem eu vou votar, acompanhá-los e cobrá-los.” [Wilson Maske, professor do curso de História da PUCPR]

Acompanhe vídeo com trechos do debate e opine:vidauniversitaria.pucpr.br

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As alunas de Música ressaltam que as escolas, mesmo com suas precariedades, já têm ensina-do os alunos a escreverem, a lerem. É preciso ir além. “Os alunos precisam pensar”, diz Ana. Wilson pontua que não é só na escola que ele precisa pensar, lembrando que não pode ser apenas papel do professor dar esse incentivo. Na visão de Ana, o peso da escola nesse pro-cesso é grande, sim. Cabe a ela, também, dar subsídios para que crianças e adolescentes possam ser adultos que pensam, que refl etem, que têm opinião própria e, portanto, adultos capazes de exercer o seu papel de cidadão com maior responsabilidade. Viver a democracia com maior comprometimento.

E qual o papel da educação na

democracia hoje?

Naquela época, o foco estava no desenvolvi-mento econômico do país, logo, as profi ssões valorizadas eram aquelas que poderiam levar o Brasil a essa evolução. Paralelamente, havia uma necessidade de se desestimular o pensar. Áreas como Filosofi a, História, Música, Jorna-lismo foram reprimidas e negadas por alguns anos ainda, em consequência do período dita-torial. A aluna Mariana afi rma que existem 30 anos da história da Música que é como se não tivessem existido. “O Brasil parou de impor-tar e produzir literatura sobre Música durante a ditadura e nos anos que se seguiram. É uma perda muito grande”.

Que prejuízos a ditadura deixou para

a educação?

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reportagem

Page 29: Vida Universitária | 228

É tempo de cultura em Curitiba

ESTAÇÃO VOLVO

De 1º a 31 de agosto

www.volvo.com.br/cultura

AF103 an Rev Vida Universitária 25,5x30,5cm - Estação Volvo.indd 1 6/11/14 2:05 PM

Page 30: Vida Universitária | 228

Em busca dessa resposta, a Vida Universitária conversou com diversas pes-soas para saber qual caminho trilhar em busca do autoconhecimento e de que maneira isso pode nos tornar pessoas mais felizes. Mas, investir no autoconheci-mento, exige disponibilidade e coragem, afinal de contas, não é fácil deparar-se consigo mesmo.

AUTOCONHECIMENTO, CAMINHO PARA A FELICIDADESegundo o professor da PUCPR e doutor em Teologia, Frei Clodovis Boff, a

frase escrita na entrada do templo de Delfos, na Grécia Antiga, “conhece-te a ti mesmo”, é a máxima que norteia a nossa busca pela felicidade. “Sem dúvida, a felicidade depende do autoconhecimento. Se você acha que é um ser de instintos e emoções, sua felicidade não será muito diferente da de qualquer animal. Mas se você pensa que tem um coração sedento, então buscará no infinito sua felicidade”. Na concepção dele, nós podemos sim alcançar a felicidade, porém, de modo limi-tado, pois é impossível evitarmos todas as contrariedades e sofrimentos da vida.

Não existe um caminho para o autoconhecimento que nos leve à felicidade, existe um trajeto que pode nos ensinar a nos conhecermos e nos mostrar que boas escolhas resultam em satisfação e, consequentemente, felicidade.

Além disso, é importante que façamos questionamentos pessoais com certa frequência, a fim de avaliarmos se estamos felizes com as escolhas que fazemos. De acordo com a psicóloga especialista em terapia individual e familiar, Tayana Passos, para fazer essa avaliação é importante considerar se a pessoa está satisfei-ta com o rumo das coisas, se ela acredita que está fazendo o seu melhor, se existem outras possibilidades e como seria o caminho se estas fossem colocadas em práti-ca. “Quando não se faz o questionamento sobre estar ou não no caminho certo, a possibilidade de se tornar rígido demais e de seguir o rumo no modo automático é maior. A consequência desse comportamento é não considerar outras perspecti-vas e possibilidades, podendo fechar diversas portas”, afirma.

O autoconhecimento é a intenção de buscar, no seu interior, respostas e en-

O caminho para o autoconhecimento é algo que deve ser trilhado de fora para

dentro, experimentando sensações e realizando escolhas que nos façam fe-lizes. Mas, será que existe alguma fór-

mula pronta e simples para esse pro-cesso de conhecimento de si próprio?

Por Janaína Fogaça, especial para a Vida Universitária

espiritualidade

Conhece-te a ti mesmo

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Page 31: Vida Universitária | 228

tendimentos para várias questões sobre si mesmo e a vida, e com isso evoluir. Na opinião de Tayana, a busca é um processo que dura a vida toda e exi-ge perseverança e paciência. “O autoconhecimento ocorre a partir de uma autoavaliação, na qual é es-sencial olhar para si mesmo e perceber suas quali-dades, seus pontos fracos, seus limites, assim como o que o incomoda, o que o deixa empolgado, inse-guro ou com medo e assim por diante”, diz a psicó-loga, que completa: “é preciso estar disposto a ir a fundo nessa busca, sem se enganar, aprendendo a lidar com os questionamentos pessoais”.

A busca pela felicidade ganhou as telas do cinema, e em novembro de 2013 estreou o documentário Eu maior, fruto da busca pelo autoconhecimento e por respostas a perguntas que inquietam o ser humano. Os recursos para a realização do documentário fo-ram captados por meio de financiamento coletivo de múltiplas fontes. O documentário é permeado por questões que abrangem o sentido da vida, o autoco-nhecimento e felicidade, por meio de expoentes de diferentes áreas, incluindo líderes espirituais, inte-lectuais, artistas e esportistas que trouxeram as suas visões pessoais sobre o tema. Entre eles estão o físico Marcelo Gleiser, o filósofo Mário Sérgio Cortella, o cronista Rubem Alves e a ex-ministra Marina Silva.

De acordo com o produtor e diretor do documen-tário, Fernando Schultz, o Eu Maior representou uma oportunidade de unir o útil (fazer um filme, disse-minar conhecimento) ao agradável (aprender mais sobre o tema, conhecer pessoas interessantes). Por meio dessa produção, Schultz obteve uma visão par-ticular de felicidade. “Ficou mais claro para mim, que felicidade é algo que se deve entender, mais do que buscar. Até porque ela pode já estar aqui, sem percebermos. Fiquei profundamente tocado pelas ideias e experiências de vida que os entrevistados compartilharam conosco. Um sentimento forte de empatia e solidariedade cresceu em mim. Uma es-pécie de felicidade”, conclui.

SAIBA MAIS

NA ESTANTE

O efeito sombra - Deepak Chopra, Lua de papel, 2010.Eu pelo avesso - Edmundo Vieira Cortez, Alaúde, 2009.

FILMES

Eu maior - www.eumaior.com.brUm sonho possível - Warner Bros., 2010, Estados Unidos.

NA WEB

anossajornada.com.brwww.escolhasuavida.com.br

UMA JORNADA PELO OUTROO que eu posso fazer por você ago-

ra? Com essa pergunta, a atriz Renata Quintella foi às ruas para fazer o que mais gosta: ajudar ao próximo. A ação ganhou página nas redes sociais e o projeto ficou conhecido como A nos-sa jornada. A ideia surgiu em junho de 2013 e parte do princípio de que todo mundo pode fazer alguma coisa por alguém.

Os pedidos chegam de várias for-mas, inclusive por meio de cartas escritas à mão. Vão desde abraços, consultas médicas, uma palavra de carinho e de força, pequenos sonhos, até viagem para a Disney. “Acredito que estamos resgatando as pessoas no sentido de olhar para o outro. A mi-nha jornada se tornou muito mais feliz por conta do projeto e também mais árdua, porém, desistir nunca foi uma opção”, diz Renata.

E nessa corrente do bem, ela afirma ter entendido a essência da felicidade: “Os responsáveis pela nossa felicidade somos nós mesmos. Não há ninguém que possa ser feliz por nós. A vida ma-terial pode nos tirar preocupações fi-nanceiras, mas não nos traz felicidade. Eu sou feliz com as coisas mais sim-ples, como olhar para o céu num final de tarde, ou quando consigo ajudar al-guém”, conclui Renata.

SER FELIz é PRECISOPaula Abreu era advogada, com

Mestrado pela Columbia University School of Law. Por muitos anos, ela via em seus empregos a forma de ga-nhar a vida. “Eu fazia isso para poder pagar as minhas contas – e elas eram cada vez mais altas, porque eu preci-sava impressionar muita gente naque-les tais ‘empregos’. Esse era o caminho que os meus pais, os meus professores e os meus amigos acreditavam ser o certo. Aprendi que trabalho e diversão não combinavam, e isso está errado”, diz ela.

Em 2012, Paula decidiu dar uma guinada em sua vida. “Escolhi reaver a minha liberdade. Comecei a escrever um blog sobre as mudanças na minha vida e, em alguns meses, eu estava aju-dando a outras pessoas com as minhas próprias transformações”, afirma.

Foi assim que nasceu o Escolha a sua vida, um programa de coaching e desenvolvimento online, inédito no Brasil, cujo propósito é atender pes-soas que buscam autoconhecimento, mas não têm tempo pra isso nas suas atuais rotinas. “Procuro auxiliar às pessoas a fazerem escolhas conscien-tes e alinhadas aos seus verdadeiros valores e desejos mais profundos, em busca de um trabalho e uma vida com mais propósito”.

PARA SE CONHECER MELHORA palavra chave para o autoconheci-

mento é questionamento. Questione-se a respeito das suas escolhas e atitudes, volte para si mesmo e perceba as suas qualidades, defeitos e limites; abra as portas para as perguntas e esteja dispos-to a conviver com as respostas. Pontue suas características positivas e negativas e procure atividades como meditação e ioga, elas ajudam na concentração e na introspecção do ser humano, promoven-do autoconhecimento. Preste atenção às coisas corriqueiras do dia a dia e saiba, qualquer experiência vivida pode ser en-riquecedora e promover a autoanálise, basta você estar aberto às mudanças e ao crescimento que elas proporcionam.

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Medida alternativa na justiça pode contribuir para a diminuição na reincidência do crimePor Michele Bravos

Medida alternativa na justiça pode contribuir para a diminuição na reincidência do crimePor Michele Bravos

Autoestima elevada conduz ao

perdão

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reportagem

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Se pedir desculpas para aqueles que estão próximos, com quem se tem uma relação de afetividade não é fácil, em um contexto sem vínculos emocionais isso pode ser ainda mais desafiador.

É por meio da premissa do direito restau-rativo que o perdão e o arrependimento são inseridos no contexto criminal. Essa vertente do Direito entende que medidas alternativas -- como trabalhar questões psicológicas da vítima e do agressor e, em seguida, colocá-los frente a frente -- pode contribuir para a diminuição da reincidência no crime.

A professora Patrícia Piasecki, do curso de Direito da PUCPR e com ampla atuação na área criminal, pontua que, atualmente, o índice de reincidência no Brasil é de 70%. “Medidas al-ternativas, como as propostas pelo direito res-taurativo vêm para combater essa alta taxa de recaída no crime, uma vez que se trabalha com a conscientização”.

Pela ótica da neurociência, perdão, arre-pendimento e vingança acontecem na mesma região do cérebro (veja o infográfico na página 36), o que muda é a forma como cada pessoa ativa essas conexões neurais. E isso depende muito do quanto se está disposto a se colocar no lugar do outro.

Segundo a consultora Melissa Antonychyn, que atua na gestão de conflitos, para se colocar no lugar do outro é preciso se conhecer primei-ro. “A partir do momento em que eu me aceito, eu aceito os outros. Quando eu me reconheço fica mais fácil controlar e comandar os meus impulsos”.

Quando se fala em autoconhecimento tam-bém está se falando em autoestima. Um estu-do realizado pelo psicólogo Andrew Howell, da Universidade Grant MacEwan, no Canadá, mostra que pessoas com autoestima baixa têm dificuldades em perdoar. A lógica é: quanto me-nor a autoestima, menor a noção de si próprio, maior a dificuldade de se colocar no lugar do outro, maior a dificuldade de perdoar.

NO PARANáA professora afirma que, no Brasil, a ideia

ainda é nova e que apenas no Rio Grande do Sul o processo já está mais avançado. Existe a intenção para esse segundo semestre de se aplicar a medida restaurativa na Penitenciá-ria Feminina de Piraquara. O terreno da Pe-nitenciária vem sendo preparado desde 2012 com iniciativas que visam o resgate social e o combate à reinserção no crime, pelo Pro-grama Ciência e Transcendência: educação, profissionalização e inserção social, coorde-nado pela Pastoral da PUCPR. A possibilidade de uma medida restaurativa compor os pro-gramas já realizados é vista de forma positiva e com chances reais de efetividade.

Neste primeiro semestre, projetos ligados à retomada da figura das detentas como cida-

dãs e da busca pela autoestima fizeram parte das atividades internas. Confira na página 38 o projeto voluntário aplicado na Penitenciária com foco na autoestima e na identidade das mulheres em cárcere.

A consultora reforça que “é preciso ali-cerçar a nossa autoestima em nós mesmos”. Dessa forma, é possível decodificar o modelo mental próprio, as formas como cada um foi ensinado a pensar e, a partir daí, mudar. “A au-toestima é o que controla o equilíbrio desses modelos mentais”, explica.

Patricia afirma que o resgate da autoper-cepção é fundamental para o processo de restauração social. “A maioria delas entra no crime por uma necessidade de se mostrar boa o suficiente para o companheiro. Há uma au-toimagem desvalorizada. Elas pensam ‘eu sou pobre, não tenho estudos. Quem vai me que-rer?’”. Logo, a importância da realização de projetos que venham atingir esse ponto.

COMO FUNCIONAInicialmente, as partes envolvidas são con-

vidadas a fazerem parte do processo. Se ambas concordarem, elas serão acompanhadas indivi-dualmente por psicólogos, assistentes sociais e um membro do judiciário, durante um determi-nado período.

Nesse tempo, a ideia é que sejam trabalha-das as questões que levaram ao ato infracional, o contexto e a tentativa de se projetar no lugar do outro.

Segundo o advogado Gustavo Bussmann, mestrando em Direitos Humanos pela Uni-versidade Federal do Paraná (UFPR), “a justiça surge como um elemento importante para a re-conciliação, para além da concretização de seu valor intrínseco. Ela permite a revisitação do passado, a apuração da verdade e a responsa-

bilização dos agressores somada a um conforto das vítimas”.

Havendo um sincero arrependimento por parte do agressor ou a vontade de perdoar pela parte lesada, é promovido um encontro assis-tido pelos profissionais que acompanharam o processo. “O encontro pode ser olho no olho ou sem contato, em que as partes estão separadas por um vidro, em que eu vejo o outro, mas ele não pode me ver”.

Para Bussmann, essas tentativas restaura-tivas quebram ciclos de violência e permitem que vítimas e agressores possam prosseguir a vida em sociedade.

A professora conta que o Núcleo de Prática Jurídica da PUCPR já possui uma sala equipada para receber essas situações. “O espaço até foi pintado com cores calmantes. Tudo pensando nessa proposta”.

ADAPTAçãOSegundo Patricia, como 80% dos casos da

Penitenciária são de tráfico, será preciso adap-tar a aplicação da medida. “Nessa situação, não há como definir as vítimas para que haja um encontro”.

A ideia é promover o olho no olho entre as detentas e as famílias de dependentes químicos ou até de ex-dependentes. “Muitas das detentas não têm a consciência de que o que fazem é cri-me. Como se o tráfico nada mais fosse que um comércio. É preciso que haja uma conscienti-zação de que a venda de drogas é ilegal, destrói vidas, pode levar a outros crimes e à morte”.

“Medidas alternativas, como as propostas pelo direito

restaurativo vêm para combater essa alta taxa de recaída no crime, uma vez

que se trabalha com a conscientização.”

[Patrícia Piasecki, professora do curso de Direito da PUCPR]

GUARDE ESSAS INFORMAçÕES

O índice de reincidência no crime no Brasil é de

70%...e quanto

MENOR a autoestima,

MAIOR a dificuldade de perdoar.

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JUDICIáRIODeve fi car claro que medidas como es-

sas correm em paralelo com o judiciário e acompanhadas por ele. Isso signifi ca que mesmo que haja o arrependimento do agressor e o perdão pela parte lesada, a pena não é abolida. “O que pode aconte-cer é uma redução da pena. Desde 2008, no Brasil, a vítima passou a ter mais voz e relevância no processo. O juiz pode levar em consideração o perdão concedido e abrandar a pena”.

Ela ainda explica que o fato de o agressor aceitar participar da medida restaurativa já contribui para a diminui-ção da pena.

INTERNACIONALHá diferentes percepções sobre a rele-

vância do perdão diante de um crime por todo o mundo. Um caso recente se passou no Irã, em que a mãe de uma vítima deve-ria empurrar a cadeira em que o agressor estava de pé, já com o pescoço envolto por uma corda. No entanto, em vez de conceber a morte, ela concedeu o perdão ao acusado, que foi liberto. O país enten-de que se a vítima ou sua família perdoa, o Estado não tem poder para julgar.

Outra situação emblemática de práti-ca restaurativa foi o caso de Ruanda. Na década de 1990, o país sofreu as atrocida-des do genocídio. O advogado Bussmann explica que as cortes internacionais en-tenderam que a justiça local não daria conta de atender a todas as demandas de acusações apropriadamente. Sendo assim, instalou-se a Gacaca (um siste-ma de justiça comunitária), conduzida por juízes eleitos pela comunidade. Des-sa forma, foram julgados mais de 12 mil casos pelo país. Por meio da Gacaca, os acusados tinham a oportunidade de con-fessar seus crimes e conceder às famílias das vítimas a realidade sobre a morte de seus parentes. O advogado explica que o envolvimento popular nesse contexto era uma esperança do governo em ter uma justiça retributiva e restaurativa.

Bussmann conclui que “a justiça res-taurativa deve ser entendida como uma teoria que enfatiza a reparação de injú-rias, principalmente psíquicas, causadas por comportamentos criminosos. Para tanto, é importante que haja um processo de cooperativismo que leve a uma trans-formação nas formas de se relacionar das pessoas”. Ele ainda cita um pensamen-to dos membros da Truth Commission Around the World, que diz: “sem memória não haverá cura, sem perdão não haverá futuro”.

DIREITO RESTAURATIVO X MEDIAçãO

O direito restaurativo é aplicado em processos em que o Estado, o Ministério Público, deve ou já está intervindo. São crimes de ordem pública, como homicídios ou tráfi co. O objetivo central é prestar con-tas à vítima e restaurar o agressor promovendo a sua reinserção na sociedade e a não reincidência no crime.A mediação é também uma medida alternativa dentro do Direito, mas normalmente aplicada em de-litos de interesse individual, por exemplo, acusações de calúnia e difamação. Nesse caso, o processo pode correr longe dos olhos do Ministério Público, com um mediador – alguém de confi ança das partes envolvidas – para guiar a conversa e solucionar o problema. Se, ao fi nal, todos estiverem de acordo, o processo é arquivado e nem chega para o juiz.

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reportagem

O córtex pré-frontal é ativado sob o comando do giro temporal.RESULTADO: NADA DE EMPATIA E NADA DE PERDãO.

Giro temporalCórtex pré-frontal

O giro temporal é acionado. Ele é responsável por interpretar as intenções dos outros.Nesse caso uma agressão é naturalmente entendida como prejudicial.

NADA DE EMPATIA

NADA DE PERDãO

O córtex pré-frontal é ativado sob o comando do lobo parietal e precuneus.RESULTADO: EMPATIA E PERDãO.

córtex pré-frontal RESULTADO: EMPATIA E PERDãO.

córtex pré-frontal

O córtex pré-frontal controla as emoções.

Precuneus

Lobo parietalO lobo parietal e o precuneus, estruturas que permitem uma pessoa se colocar no lugar da outra, são ativadas.

GERA EMPATIA

EMPATIA EMPATIA ESTá ESTá ASSOCIADA ÀASSOCIADA ÀAUTOESTIMA

GERA EMPATIA

EMPATIA ESTá ASSOCIADA À AUTOESTIMA

Córtex pré-frontal

As situações variam de acordo com os modelos mentais de cada um, a forma como cada pessoa está disposta a entender o mundo, suas crenças, criação familiar etc.

Fonte: Suzana Herculano–Houzel, do texto “Perdão” publicado em Fevereiro de 2014 em sua coluna na Folha de São Paulo.

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Millôr e a cidade dos livrose a cidade dos livros

Desde o começo da década passada, a cidade litorânea de Paraty, localizada no sul do estado do Rio de Janeiro, tem um signifi cado diferente para os apaixonados por literatura. Conhecido pelas belezas naturais, além da bela arquitetura colonial e da importância histórica, o município passou a ser reconhecido, também, como um refúgio dos amantes de livros. Pelo menos uma vez por ano. É que, em 2003, a cidade recebeu a primeira edição da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), um evento que reúne, durante cinco dias, autores e leitores de todo o mundo para debates, mesas-re-dondas, palestras e uma série de outras atividades relacionadas à arte e ao estudo dos livros, nas suas mais variadas formas.

Em 2014, o evento – que será realizado entre 30 de julho e 3 de agosto – chega a sua décima segunda edição com uma novidade e homenageia, pela pri-meira vez, um autor contemporâneo. O escolhido para esse ano foi o escritor, dramaturgo, tradutor, humorista, jornalista e cartunista Millôr Fernandes. Falecido em março de 2012 aos 88 anos, o múltiplo artista carioca passa a integrar uma seleção que já contava com nomes como Vinícius de Moraes, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Machado de Assis, Guimarães Rosa, entre outros. A diferença é que, de todos os autores homenageados na história da FLIP, Millôr foi o único que esteve em uma edição do evento, tendo participado da Tenda dos Autores em 2003.

“Ele foi um dos primeiros autores convidados à FLIP. Além disso, o trabalho do Millôr sempre foi muito eclético. Ele representava toda a FLIP em um homem só: da tradução de Shakespeare ao cartum, do jornalismo ao haikai. Isso tem muito a ver com o que a Festa Literária tenta oferecer, essa rique-za e essa diversidade. Também destaco sua crítica ao poder, fundamental no Brasil de 2014”, comenta Paulo Werneck, editor e jornalista responsável pela curadoria da 12ª edição do evento.

Defensor ferrenho da liberdade de expressão e pensamento, Millôr Fernandes foi um dos primei-ros artistas gráfi cos brasileiros a usar o computa-dor em suas ilustrações. De estilo inconfundível nas caricaturas e humor ácido e irônico em seus textos, o artista (como não defi ni-lo assim?) sem-pre se caracterizou pela versatilidade. Escreveu de-zenas de peças, traduziu diversos livros – dos mais variados estilos - e trabalhou em vários veículos de imprensa. Um deles foi a revista Pif-Paf, criada pelo próprio Millôr um mês após o golpe militar, época difícil para a liberdade de expressão e para os jor-nais de humor.

“O Millôr sempre foi uma referência para mim. Ele sempre passou a sensação de que você pode colocar a mão na massa para fazer a sua própria revista independente. Isso foi muito importante na minha carreira e eu fi co feliz de poder cultivar essa fi losofi a e transmiti-la agora na FLIP”, comemora Werneck.

CAPITAL LITERáRIAPor cinco dias, Paraty se transforma na capital

mundial da literatura. A cidade ganha uma atmos-fera única e todas as pousadas fi cam lotadas, cheias de gente conversando sobre livros. Democrática, a FLIP oferece, além das atividades principais, a Fli-pinha, um evento totalmente dedicado à literatura infantil, prato cheio para as crianças. A editora de livros Camila Saraiva já esteve em três edições do evento e pretende repetir a dose em 2014.

“Há possibilidade de ouvir e ver de perto gran-des nomes da literatura internacional e nacional. Fiquei horas na fi la para conseguir autógrafo do Neil Gaiman, do Gay Talese e do Lobo Antunes. Além disso, para quem trabalha no mercado edi-torial, é sempre uma oportunidade agradável de encontrar profi ssionais da área, como autores e ilustradores”, fi naliza Camila.

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SERVIçO

Os ingressos para a FLIP 2014 estão à venda pela internet no site tickets-forfun.com.br. Os bilhetes também podem ser comprados na bilheteria da FLIP em Paraty a partir do dia 30 de julho.

Para mais informações sobre au-tores convidados, programação e opções de hospedagem na cidade, acesse www.fl ip.org.br.

Falecido em 2012, o escritor, jornalista, tradutor e cartunista Millôr Fernandes é o primeiro autor contemporâneo a ser homenageado pela FLIP

Em sua décima segunda edição, FLIP

homenageia pela primeira vez um autor

contemporâneo e promete mais uma vez transformar Paraty na

capital brasileira da literatura

Por Mahani Siqueira especial para a Vida Universitária

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na prática

Em parceria com a Pastoral da PUCPR, grupo de fotógrafos voluntários vai à Penitenciária Feminina do Paraná eternizar relação entre mães e filhos. Até os seis anos, crianças que nascem em cárcere podem permanecer na creche do espaçoPor Claudia Guadagnin, especial para a Vida Universitária

Foi num ambiente visto por muitos como hostil e pouco lem-brado por grande parte da população que, em maio deste ano, 33 mulheres receberam uma homenagem pelo Dia das Mães, come-morado no início daquele mês.

Entre abril e maio, onze integrantes do projeto fotográfico Help-Portrait – ajuda pelo retrato, na tradução para o português – visitaram a Penitenciária Feminina do Paraná, em Piraquara. Fo-tógrafos profissionais e demais voluntários, entre maquiadores, produtores de moda e assistentes de logística, ofereceram um dia diferente ao resgatar, por meio da foto, a dignidade, autoestima e feminilidade de mulheres que mantêm os filhos na creche do es-paço. Quando são presas grávidas, as detentas têm seus bebês no local. Por lei, as crianças podem permanecer com elas até os seis anos de idade. Lá, o transcorrer do tempo vira dilema. Enquanto se espera que as horas passem depressa para que a pena seja logo cumprida, a eminência da distância dos filhos gera angústia.

HELP-PORTRAIT E PUCPRPara eternizar o vínculo entre mães e crianças, a presença do

Help-Portrait na unidade penal foi viabilizada pelo Programa Ci-ência e Transcendência: educação, profissionalização e inserção social, da PUCPR. Desde 2012, o Núcleo da Pastoral da Univer-sidade desenvolve ações com as mulheres da penitenciária. São projetos para formação técnica, profissional e de desenvolvimen-to pessoal e educacional – todos voltados ao resgate social das detentas e ao combate à reincidência. No espaço, são ministradas aulas de música, teatro e oferecidos atendimentos psicológicos, odontológicos, assistência jurídica e práticas relacionadas à va-lorização da mulher. Além das fotos com as crianças, foram fei-tas outras apenas das mães. Alguns dias depois, o grupo voltou ao local para entregar as imagens e promoveu a exposição delas na creche, em uma tarde cultural, que contou com a presença do Quarteto de Cordas da Universidade.

na prática

Fotografia que dignifica

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A jornalista Michele Bravos, tam-bém reporter da Vida Universitária, coordena o Help-Portrait em Curitiba e explica que todas as ações organiza-das pelo grupo buscam encontrar pes-soas em situação de vulnerabilidade ou invisibilidade social para a intera-ção e troca de experiências. O movi-mento teve início em 2009, nos Esta-dos Unidos, e foi trazido por Michele para Curitiba em 2012 (Help-Portrait CWB). “Já trabalhamos com várias instituições. Uma ação em penitenciá-ria foi a primeira. Nossa intenção era que as mulheres percebessem que são muito mais do que um uniforme, o nú-mero que receberam ao entrar na uni-dade ou as ações que as trouxeram até ali. Por trás dos muros da prisão exis-tem histórias de desespero, paixão, an-gústia e sonhos. Há também histórias de mães que aprenderam a dedicar tempo aos fi lhos e que hoje entendem que o afeto pode contribuir para que o destino de suas crianças seja diferente e promissor. Ali tivemos a certeza de que onde há amor, há esperança”, diz. Ela explica que o Help-Portrait busca romper estereótipos. “O que fazemos não é apenas tirar fotos, mas entregar essas imagens aos fotografados e, por meio delas, dedicar nosso tempo às pessoas e uma parte de nossas vidas também”, resume.

A diretora da penitenciária femini-na, Rita Costa, diz que o trabalho foi carregado de beleza e equilíbrio. Se-gundo ela, a relação da PUCPR com a instituição desde 2012 tem superado as expectativas, mudado paradigmas e gerado benefícios signifi cativos às detentas. “A iniciativa foi capaz de res-gatar a autoestima dessas mulheres e mães ao registrar momentos impor-tantes entre elas e suas crianças. Sem dúvidas, trouxe muita emoção a todos os envolvidos”, conta.

Cleide Fernandes trabalha na cre-che da unidade e também acredita no valor das boas intenções. “Tudo foi maravilhoso! O trabalho conseguiu resgatar a essência e a individualidade de cada mulher e aumentou signifi ca-tivamente a autoestima de todas. O ca-rinho com que as trataram também foi admirável. Quando viram as fotos, elas nem se reconheceram de imediato!”.

Luciana Guiss é advogada, fotógra-fa e voluntária na organização do pro-jeto. Ela também participou de outras edições do Help-Portrait CWB, mas diz que esta foi uma das mais emo-

cionantes. Luciana acredita que cabe à sociedade transformar realidades e fazer deste um mundo melhor, com mais harmonia, respeito e amor para se viver. “Sempre enxerguei o projeto como um instrumento de promoção de valores como a dignidade do ser humano, que é fortemente trabalha-da no Direito. Dessa vez, conseguimos levar a iniciativa, justamente, para as pessoas que mais são afetadas pela sentença condenatória. Quando fala-mos em sistema prisional, acionamos um comportamento de cautela, mas o amor não tem cautela. Quando a entrega é verdadeira, ele transforma qualquer pessoa em qualquer lugar. Basta dar uma chance para ele acon-tecer”, sugere.

Se fosse viva, a fotógrafa Dorothea Lange, famosa por percorrer o Sul e o Oeste dos Estados Unidos registrando os impactos da Grande Depressão de 1929 na vida dos camponeses, veria uma de suas frases personifi cada pelo projeto. Segundo ela, “a câmera é um instrumento que ensina a gente a ver sem a câmera”. Certamente esse gru-po já aprendeu a fazer isso.

HELP-PORTRAIT PELO MUNDOO projeto fotográfi co Help-Portrait

surgiu da ideia do fotógrafo Jeremy Cowart no estado de Tenesse, nos Es-tados Unidos (EUA), em 2009. É inte-grado por fotógrafos e apreciadores da arte voluntários que buscam pes-soas solitárias, em situação de risco ou vulnerabilidade social. Na proposta global, que acontece em vários paí-ses concomitantemente, eles tiram as fotos, imprimem-nas e no mesmo dia entregam aos fotografados.

Taygoara Martins trouxe a ideia ao Brasil e hoje representa o projeto em nações que falam a língua portuguesa: Brasil, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bis-sau, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Macau.

Em 2012, após ter ocorrido em es-tados como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, a iniciativa chegou a Curitiba (Help-Portrait CWB), onde foi adaptada para atingir um número maior de pessoas e para que o retrato pudesse ser ainda mais fi el à identidade do foto-grafado. Em menos de dois anos, onze edições já foram feitas e, em cada uma delas, os grupos passam dias ou até me-ses em contato com as pessoas ou insti-tuições parceiras. Depois, retornam para a entrega e exposição das imagens.

O PROJETO EM NÚMEROS

l ONzE edições realizadas em menos de dois anos;

l SETE exposições fotográfi cas;

l 80 VOLUNTáRIOS envolvidos com o projeto em Curitiba;

l MAIS DE 700 RETRATOS entregues em Curitiba, Região Metropoli-

tana e Morretes.

vimeo.com/94623801

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PRIMEIRO DESLOCAMENTO

Os conflitos e a seca na Somália me fizeram largar tudo, cruzar

fronteiras. No deslocamento de Buale, na Somália, para o campo de Dadaab, no Quênia, tive que abandonar meu marido, pois ele

estava muito doente e eu não pude carregá-lo. Foram cerca

de 400 km andando. Eu e meus oito filhos.

Montava o nosso abrigo para passarmos a noite com o que

encontrava pelo caminho: galhos, pedaços de papelão, tecidos.

Soube que estava chegando perto do campo quando vi um amonto-ado de pessoas na região delimi-

tada para os refugiados. Na entrada, os armamentos são

solicitados. Ninguém entra arma-do, não importa se você é soldado ou rebelde. Eles dizem que essa é a única forma de nos manterem

seguros.

MULTIDãO

Quando entrei no campo, percebi que algumas pessoas moravam em barracas de lonas, outras em abrigos, como os que eu construí na minha saga até o campo. Des-de 2008, o governo não entrega as lonas, moradias ofi ciais, para os refugiados. Não há o que se fazer. Hoje, o campo de Dadaab é o maior do mundo. Fala-se em

mais de 470 mil pessoas. Ao caminhar ao longo das cercas que limitam o campo, é possível ver que as pessoas não param de chegar. É como se houvesse um segundo campo além do ofi cial, onde pessoas estão esperando

para entrar e ser atendidas, como um dia eu estive. Do outro lado da cerca, não há atendimento. Há intérpretes espalhados por

todo o campo. Os médicos quase nunca falam os dialetos. A maio-ria fala inglês ou francês. Alguns locais são treinados para ajudar

nisso. Eles nos dizem que os mé-dicos são neutros e não estão de

nenhum dos lados do confl ito.

NOVAS FORMAS

Na moradia que eu precisei im-provisar mora eu e meus oitos

fi lhos. Aprendi nos últimos tem-pos a dormir sentada. À noite,

todos fi camos escorados uns nos outros. Os médicos não são os responsáveis por nos fornecer

moradia, mas dizem que o lugar onde moramos impacta em nos-

sa saúde. Se alguém está com uma gripe e tosse pode contami-

nar todos. Esses dias, vi os médicos cavan-

do buracos num determinado ponto do campo. Uns dois me-

tros para baixo da terra. Estavam fazendo latrinas. É tudo muito

ágil. De repente, o buraco já tem tampa e porta. Como somos

muçulmanos, de um lado estão os banheiros femininos. Na outra margem do campo, está o espa-

ço masculino.

CUIDADOS

É preciso que haja esse cuidado. Não se trata somente da questão da religião, mas também da pre-servação da moral da mulher. Já ouvi muitas histórias de abusos sexuais contra mulheres ao elas irem ao banheiro. Sei que não só

as mulheres são vítimas. Homens também podem ser. Mas, ainda assim, as mulheres estão mais

vulneráveis. Temo por isso. O cheiro da latrina é horrível e é

preciso certo equilíbrio para usá-la. Antes de entrar, temos que pegar

um pouco de água para fazer a higiene, porque não há outra forma de se limpar. Na saída, temos que

lavar as mãos numa torneira impro-visada. A água vem do poço e tem muito cloro. Os médicos explicam que a alta quantidade de cloro é

para evitar doenças. Esses dias, eu, meus fi lhos e cente-nas de outras pessoas estávamos com diarreia. Falaram que podia

ser cólera. Retiraram as portas dos banheiros e as tampas dos buracos, para evitar a contaminação. Coloca-ram biombos no lugar das portas. Quando as latrinas enchem, eles colocam terra, deixam a natureza agir e cavam buracos em outros

lugares.

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diário de bordodiário de bordo

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Atualmente, 45 milhões de pessoas estão deslocadas de seus territórios de origem por motivos de confl itos e violação de direitos humanos. Na tentativa de dar assistência a elas, organizações como Médicos Sem Fronteiras (MSF) atuam nos campos de refugiados.Com o intuito de sensibilizar a população, a MSF circulou por cidades do Brasil, entre elas Curitiba, com a exposição Campo de Refugiados, onde o visitante era instigado a viver na pele essa realidade. O depoimento a seguir conta uma história dentre milhões.Por Michele Bravos

HISTÓRIA SEM FIM

Passo a maior parte do meu dia na fi la para pegar água para mim e meus fi lhos. Só tenho um galão para todos nós. Já vi pessoas com quinze galões. Aqueles que estão aqui há mais tempo roubam não só os galões, mas, às vezes, as

barracas dos outros também. Por isso, não posso nunca deixar meu abrigo vazio. Ao mesmo tempo, temo muito pelos meus fi lhos. Os menores vêm comigo para a

fi la da água ou vão comigo buscar lenha. Crianças sozinhas no campo podem ser sequestradas e vendi-

das como soldados. Os médicos, às vezes, surpreendem-

-se ao ouvir isso. Mas, mesmo as pessoas já tendo perdido tudo,

ainda assim não há compaixão com os seus semelhantes. O campo de Dadaab já possui suas próprias leis, seus líderes. É como uma cidade. O que deveria ser provisório não tem previsão para acabar. Os confl itos

por aqui não dão trégua. Eu lembro quando cheguei ao cam-po com um dos meus fi lhos quase morto nos meus braços. Ele estava muito doente e desnutrido. O mé-

dico colocou uma fi tinha no seu punho e ela se fechou tanto. Seu

punho estava muito fi no. O médico disse que meu fi lho precisava sair da desnutrição para pode tratar os outros problemas. Do jeito que ele estava não era possível nem dar

uma injeção nele.

MILAGRE

Nunca vou esquecer da Dra. Rachel Soeiro. Para matar a fome das crian-ças, ela entregou para elas um sachê

de uma pasta. Os intérpretes me explicaram que era uma pasta feita de amendoim, rica em vitamina D, ferro e zinco e que isso ajudaria os meus

fi lhos a se recomporem.Mas ela percebeu que um deles, o mais fraco, precisava de outro tra-

tamento. Ele foi encaminhado para o hospital. A doutora embrulhou ele

com uma manta prateada e disse que era para aquecê-lo. Foi colocada uma sonda no nariz dele e por ali ele rece-beu um tipo de leite. Não é da nossa

cultura tomar leite. Eu achei estranho, mas entendi que era importante. Em três dias, meu fi lho estava

tomando leite numa caneca. Em uma semana, meu fi lho foi liberado do hospital. Levamos para o abrigo 10 sachês da pasta de amendoim. O meu menino deveria comer dois deles por dia. Toda semana, eu ia

ver a médica. Cinco semanas depois, ele estava curado da desnutrição. Eu lembro da doutora dizer que tratar desnutrição era milagroso, porque era rápido. Milagre foi o que ela fez com ele. Eu sou muito agradecida a ela. Eu já perdi tudo. Não podia perder também o meu fi lhinho.

CONTROLE

No centro de vacinação, cada en-fermeiro possui 10 ajudantes. Dá para perceber que são pessoas do local, treinadas para ajudar. Eles são rápidos, mas eu sinto que se eles pudessem gostariam de ser

ainda mais. Eles me disseram que, por hora, vacinam 250 crianças. Eu

achei bastante. Mas quando lembrei da quantidade de gente que vive lá,

percebi a gravidade do problema. Um desses ajudantes me contou que as caixas térmicas com as va-cinas vêm da Europa e que há uma equipe muito grande – até maior

que a equipe de médicos – cuidando para que as vacinas cheguem aos campos da melhor forma e com a temperatura certa. Depois, as

caixinhas de lixo onde jogaram as seringas e as agulhas são mandadas

para fora do campo e queimadas nos hospitais da cidade.

Tudo nas tendas dos médicos cheira a cloro e álcool. A Dra. Rachel disse que de cada 100 pessoas que en-

tram num espaço de atendimento da MSF, apenas 5 podem morrer.

Isso signifi ca que eles precisam ter um controle de qualidade muito

grande. Por isso, tanto cloro e álcool.

SEM IDENTIDADE

Pensei que quando entrasse no campo, a minha história fi caria para

trás. Mas toda a minha dor e os meus medos vieram comigo. Comi-

go e com meus fi lhos. Todos por aqui têm medo. Na tenda onde há psicólogos, há desenhos por toda a parte de cenas de horror, que mostram o temor por tudo e todos. Diferente da desnutrição, pasta de amendoim e leite não acabam com

o nosso sofrimento. Uma vacina não tira de mim a dor de ter aban-donado o meu marido, nem a an-

gústia de ver meus fi lhos tendo que crescer num campo de refugiados. Nós perdemos a nossa identidade.

Não sinto que pertenço a esse cam-po. Buale já está tão longe de tudo o que eu sou. Na verdade, nem sei

mais quem eu sou. Sei que, hoje, existo apenas por e

para meus fi lhos.

* Ao chegar à exposição, cada visitante recebeu um cartão postal com a história verídica de um refugiado. A história que você lê aqui é baseada na vida de Fatuma Badel – identidade assumida pela repórter durante a visita –, uma somaliana, com oito fi lhos, que teve que deixar seu marido doente. Hoje, Fatuma está no campo de Dadaab, no Quênia.

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São por histórias assim que a Médicos Sem Fronteiras existe e luta. O andamento das mis-sões depende de doações. Oitenta por cento do orçamento da organização é de pessoa física. Entende-se que não se pode comprometer uma ação por questões de interesses fi nancei-ros ou políticos de empresas específi cas. Para ajudar esses médicos a salvarem vidas, basta acessar o site e se tornar um doador: www.msf.org.br/doador-sem-fronteiras

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Uma parceria entre o Câmpus Maringá e as varas criminais da cidade, deu origem à Central de Digi-

talização das Varas Criminais, cujo objetivo é que todos os processos que tramitam em meio físico

sejam digitalizados e inseridos no sistema PROJUDI CRIMINAL dentro do prazo de 60 dias úteis. Na

central - formada por dez mesas de digitalização, compostas cada uma por um computador e um

scanner ligados em rede – 20 estudantes da PUCPR separam peças dos autos físicos e as digitali-

zam, conforme tabela e roteiros previamente estabelecidos, sempre sob a coordenação de servido-

res das varas.

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Com o objetivo de continuar aproximando a Universidade de outras instituições brasileiras,

o reitor da PUCPR, Waldemiro Gremski, recebeu o reitor da Universidade Positivo, José Pio

Martins. Acompanhado do vice-reitor Paulo Mussi, Waldemiro já teve encontros com os reitores

da UFPR, UTFPR e Unibrasil e pretende fazer visitas à PUC-SP e PUC-Rio. No início de março,

foram representantes da PUC-RS que estiveram em Curitiba para conhecer a PUCPR.

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Representantes da

Universidade de Vic –

Universidade Central da

Catalunia (UVic – UCC)

visitaram as escolas de

Negócios, Comunicação

e Artes e Politécnica da

PUCPR para conversar

sobre os acordos de

dupla diplomação entre

os cursos, que tiveram

o convênio assinado em

2013. Durante o encontro,

as escolas de Saúde e

Biociências e de Educação

e Humanidades apro-

veitaram para tratar de

possíveis intercâmbios e

duplos diplomas com a

Universidade catalã.

INTERNACIONAL

PARCERIAS

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Mais uma vez, a PUCPR

marcou presença em

uma edição do encon-

tro da NAFSA (National

Association of Foreign

Student Advisers).

Desta vez, a Universi-

dade teve um estande

próprio no evento, o

que garantiu mais vi-

sibilidade aos projetos

de internacionalização

da PUCPR. No total, 35

delegações – vindas de

países como França,

Austrália, Canadá,

Estados Unidos, Argen-

tina, México, Escócia e

Alemanha - visitaram o

espaço.

O reitor da PUCPR, Waldemiro Gremski, e o diretor da Agência PUC e Parque Tecnológico,

Álvaro Amarente, viajaram até os Estados Unidos para visitar a University of Texas at Austin,

que pretende fechar parcerias com instituições brasileiras. Na visita, que ainda contou com a

presença de membros da FIEP, IBQP, Parque Tecnológico de Sorocaba e Parque Tecnológico do

SENAI de Salvador, os representantes da PUCPR puderam ver de perto o desenvolvimento de

inovação na cidade de Austin e verificar pessoalmente o papel da Universidade no ambiente.

O grupo ainda participou de um workshop e conheceu os programas de empreendedorismo e

inovação da instituição.

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registro

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O X SEMIC JR., realizado no dia 23 de

abril pela Coordenação de Iniciação

Científica Júnior da PUCPR, marcou o

encerramento de um ano de pesquisas

feitas por alunos do Ensino Médio de

escolas públicas e privadas. No seminá-

rio, os participantes tiveram a oportu-

nidade de apresentar os resultados das

pesquisas. Donos das duas melhores

apresentações, os alunos Alexandre

Andretta Chechelaky, do Colégio Santa

Maria, e Tatiele Garcia da Costa, do Colé-

gio Estadual Hasdrubal Bellegard, foram

premiados com um iPod pelo sucesso

no evento. Alexandre desenvolveu o

Estudo de novas geometrias de tijolos

ecológicos dentro de um sistema CAD, e

Tatiele realizou a Pesquisa de mercado

sobre consumo de carne suína na cidade

de Curitiba.

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Vladimir Passos de Freitas é

professor do curso de Direito

da PUCPR. No entanto, ao

lado das alunas Ivy Sabina

Ribeiro Morais e Thanmara

Espínola ele está vivendo dias

de autor de best seller. O livro

O Poder Judiciário no regime

Militar (1964-1985), publicado

pelo trio, está na lista dos

quatro e-books mais lidos no

Google Play e já conta com

mais de 2500 recomendações,

segundo informações do

próprio aplicativo. A obra

explora, de forma inédita,

a influência que o Regime

Militar exerceu sobre os

Tribunais, o Poder Judiciário

e os Operadores do Direito

entre os anos de 1964 e 1985.

PESQUISAS

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Em cerimônia que contou com a presença do Reitor Waldemiro Gremski, a PUCPR homenageou todos os invento-

res da Universidade que fizeram depósito de patente ou registro de software no Instituto Nacional de Propriedade

Industrial (INPI) em 2013 e início de 2014. Na ocasião, Gremski agradeceu a professores, alunos e pesquisadores que

se dedicam a criar projetos inovadores. Segundo o Reitor, as pesquisas produzidas na PUCPR devem se transfor-

mar em riquezas e ser responsáveis pelo bem-estar social.

DESTAQUES

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Professor do curso de

música da PUCPR, o

maestro Paulo Torres

assumiu a cadeira 16 da

Academia Paranaense de

Letras. Reservada para a

música, a cadeira já teve

donos de muito respeito.

Com a nomeação, Paulo

se junta aos professores

Ir. Clemente Ivo Juliatto

e Antônio Celso Mendes,

também integrantes da

Academia.

A coordenadora do

curso de Enferma-

gem da PUCPR,

Ana Beatriz Rodri-

gues da Costa, teve

a honra de receber

o Prêmio Parana-

ense de Excelência

em Enfermagem,

concedido pelo

Conselho Regional

de Enfermagem do

Paraná (COREN-

-PR). O prêmio é

oferecido sempre

às instituições, cur-

sos e profissionais

que se destacam

pelo trabalho de

excelência na área.

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Sem impedimento

As histórias estão por toda a parte. Não faltam exemplos de pessoas que tiveram os rumos de suas vidas completamente alterados graças aos diversos benefícios oferecidos pelo es-porte. Profi ssionais ou amadores, atletas sempre têm motivos a mais para levar uma vida saudável e repleta de realizações. Para os irmãos Lucas e Ilton Jr. Barbosa, no entanto, o contato com uma atividade física tem um signifi cado ainda mais espe-cial e representa a prova de que a limitação física não precisa ser um obstáculo na luta pela realização de um sonho.

Os irmãos – de 25 e 29 anos – são portadores de distro-fi a muscular congênita, uma doença que se caracteriza pela ausência da enzima merosina negativa. A defi ciência provo-ca uma infl amação e a destruição das fi bras musculares, o que causa falta de força e impede a realização de uma série de atividades simples e cotidianas, como escovar os den-tes e se alimentar sem depender de ajuda. Apaixonados por esportes desde pequenos, Lucas e Ilton Jr. não permitiram que as difi culdades ocasionadas pela patologia os impedis-sem de jogar futebol.

Atletas com limitações driblam as difi culdades e superam barreiras físicas e psicológicas com a

ajuda do esporte. Na PUCPR, há exemplos dentro das quadras e das piscinasPor Mahani Siqueira, especial para a Vida Universitária

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Assim que conheceu o Power Soc-cer – modalidade voltada para pessoas com deficiências de menor mobilidade, que utilizam cadeiras de rodas motori-zadas – a dupla foi atrás de informações, pesquisou as regras, adquiriu o material necessário e, com a ajuda da mãe, foi responsável, em 2012, pela criação da segunda equipe do esporte no Brasil. O projeto se desenvolveu e a família inteira se dedicou a transformá-lo em ONG, ba-tizada de Pontapé Inicial e responsável por convidar novos atletas para o grupo, organizar excursões para competições e ajudar a viabilizar a expansão do espor-te em Curitiba e em todo o Brasil.

Os treinos são realizados todos os sábados no ginásio da PUCPR, que des-de o início apoiou a equipe, disponibi-lizando o espaço para os treinos. Mãe dos irmãos e principal incentivadora da equipe e da ONG, Maria Luiza Aguiar revela que o esporte foi responsável por uma verdadeira transformação na vida dos filhos.

“Eles têm uma alegria imensa em participar do projeto, que aumentou a autoestima dos dois, por estarem fa-zendo algo independente, sem precisar de outra pessoa para ajudar. Na quadra, eles sentem-se livres. O Power Soc-cer trouxe para o cotidiano segurança, autoconfiança e satisfação. Agora eles se sentem incluídos em uma atividade social, com novos amigos, viagens e campeonatos”, comenta Maria Luiza, cujo principal objetivo com a equipe e a ONG é tirar o maior número possível de jovens e adultos cadeirantes de casa e incentivá-los a praticar esporte.

No entanto, engana-se quem ima-gina que os treinos são só uma brinca-deira ou uma terapia. Criado há mais de 30 anos na França e no Canadá, o Power Soccer é um dos esportes co-tados para passar a integrar a lista de modalidades paralímpicas a partir de 2020 e, cada vez mais, se desenvolve e se profissionaliza. No Brasil, já foram realizadas duas edições do campeona-to nacional, em 2012 e 2013, e o torneio promete se tornar uma tradição

Em maio de 2014, o país sediou a Copa América de Power Soccer, que contou com a participação de Canadá, Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Brasil e Austrália (país convidado). A equipe de Curitiba teve três atletas se-lecionados para integrar o time bra-sileiro, além do técnico Julio Brock, responsável pelos treinos na PUCPR. O

torneio foi acompanhado de perto por Maria Luiza e seus dois esforçados atle-tas, que viveram uma experiência úni-ca durante o campeonato, realizado no Rio de Janeiro.

“Foi maravilhoso. Acompanhamos uma competição de nível internacional, com a presença dos Estados Unidos, atuais campeões do mundo na moda-lidade. Foi uma ótima oportunidade para todos conhecerem novas culturas, comunicar-se em outras línguas, des-cobrir novos equipamentos do Power Soccer e confraternizar com jovens que passam pela mesma situação que eles. Acabou sendo uma experiência como a que qualquer atleta vive, em competi-ções paralímpicas ou não”, comemora Maria Luiza, com uma satisfação que quase se equivale à alegria dos filhos quando entram em quadra.

APRENDIzADO COM AS BRAçADAS

Professor do curso de Educação Física da PUCPR desde 1987 e técnico de natação na Universidade desde 1995, Rui Menslin come-çou a treinar atletas com deficiência em 1999. De lá para cá, seu envolvimento com o esporte paralímpico só cresceu. Treinador da seleção brasileira, Rui já esteve nos mais diversos even-tos esportivos (Jogos Parapanamericanos, Pa-ralimpíadas e campeonatos mundiais). Na PUCPR, Rui comanda uma equipe com 18 nadadores com deficiências, muitos deles de alto rendimento. Em abril deste ano, o técni-co esteve em países africanos, a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro, para oferecer treinamento e capacitação dos treinadores de movimentos paralímpicos de Moçambique e Angola. Com experiência de sobra no assunto, o professor garante que o maior ensinamento, quem passa, são seus pupilos.“Conviver com estes atletas é um grande apren-dizado, uma grande aventura. A força de von-tade deles é de elevada admiração, pois não há limites que os impeçam de alcançar seus obje-tivos e sonhos. Todas as pessoas com deficiên-cias deveriam praticar algum tipo de atividade física. Além das melhoras físicas, há também a melhora nos aspectos sociais: autonomia, reconhecimento pela sociedade e aumento da autoestima”, finaliza.

JOGO SéRIOComo diria Arnaldo, no Power Soccer as regras são claras. Confira algumas delas.

A QUADRAA quadra deve ter entre 14 e 18 metros de largura por uma medida que varie entre 25 e 30 metros de comprimento.

A BOLAA bola do Power Soccer deve ter um diâmetro de 32,5cm, bem maior do que a bola de futebol oficial.

OS TIMESOs times podem ter atletas de qualquer sexo, com quatro jogadores para cada lado.

CADEIRAS DE RODAS ESPECIAISAs cadeiras de rodas motorizadas do Power Soccer devem ter uma espécie de parachoque protegendo os pés dos atletas. A velocidade máxima é de 10km/h.

ACIDENTE DE PERCURSO

O advogado Eliseu Ricardo de Antonio tinha 39 anos quando sofreu uma queda e bateu com a nuca no canto da escada da casa do cunhado. O grave acidente causou uma fratura na coluna cervical e foram necessárias duas cirurgias para reparar os estragos. Nem assim, Eliseu conseguiu escapar da parestesia total que o acompanha até hoje e é responsável pela ausência da sensação periférica e tato em todo o corpo. Acostumado a uma vida repleta de atividades físicas, Eliseu se viu obriga-do a passar seis meses em uma cadeira de rodas, totalmente dependente da esposa e dos exercícios de fisioterapia. Quatro anos e centenas de ses-sões de hidroterapia depois, o advogado reaprendeu a andar e a fazer to-das suas atividades diárias normalmente, apesar da pequena dificuldade. Hoje, Eliseu tem certeza que, sem o esporte, sua vida não seria a mesma.“Preciso manter a atividade física em academia, ou a parestesia pode inco-modar ainda mais. Posso malhar, andar e nadar. O esporte é vital para as pessoas com deficiências, seja para os menos comprometidos, como eu, ou para os severamente comprometidos. Estou certo que a qualidade de vida é diretamente proporcional ao esforço que fazemos para nos sentir-mos bem”, garante Eliseu, hoje com 62 anos.

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VISITA A SãO PAULO

Alunos e professores da Escola de Direito do Câmpus Curitiba da PUCPR participaram do Annual Willem C.Vis Interna-

tional Commercial Arbitration Moot que aconteceu em Viena, Áustria. Essa é a competição mais importante na área de

arbitragem, da qual participam as melhores instituições do mundo. A equipe de arbitragem da PUCPR é composta pelos

alunos Caio Silva, Cecilia Natucci, Isabela Maté, Pedro Lins, Fernando Kenji Kametani e Jordana Maia, e foi orientada pelos

professores Helena de Toledo Coelho Gonçalves, Carlos Eduardo Pianovski Ruzyk e pelo mestrando Guilherme Barros.

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EQUIPE DE ARBITRAGEM DA PUCPR

27 alunos do quinto e sétimo períodos do curso de Ciências Contábeis da PUCPR Câmpus de Toledo, visitaram a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). Os alunos também visitaram a Trevisan Consultoria

e Auditoria e a Empresa Irko Organização Contábil. “Foi uma viagem de excelente aproveitamento pelo fato de nossos alunos entrarem em contato com uma realidade diferente da encontrada no município de

Toledo”, afirma o professor Cláudio Carrasco, da Escola de Negócios de Toledo. Os estudantes viram como funciona o Mercado de Ações, conhecerem sua história, estrutura e funcionamento.

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ESTUDANTES CANADENSES NA CAPOEIRA

Alunos canadenses da Universidade de Alberta conheceram as dependências da

PUCPR e participaram do Seminário de Capoeira. O evento contou com atividades de

teoria e prática sobre o tema. O seminário teórico foi ministrado pelos professores

Keith Sato Urbinati e Eduardo Scheeren da Escola de Saúde e Biociências e o

prático contou com a presença do grupo Capoeira Brasil, supervisionado por Robson

‘’Duende’’ - egresso da PUCPR.

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No dia 07 de abril foi realizada a primeira visita técnica do 1° período do curso de Relações Públicas ao Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM). O objetivo dessa visita, segundo a professora Juliana Cândido

Custodio, coordenadora interina do curso, é iniciar um processo de aprendizagem extraclasse, na qual os alunos puderam apreciar algumas das possibilidades de atuação do profissional de RP no mercado.

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MESTRANDA EM GESTãO URBANA é FINALISTA DE PRêMIO

Schirlei Mari Freder, Mestranda em Gestão Urbana pela PUCPR, foi uma das finalistas

do prêmio WEPs Brasil, que visa reconhecer organizações que promovem uma cultura de

equidade de gênero em seu ambiente de trabalho. A empresa de Schirlei, Creare Gestão

Ltda., foi uma das finalistas na categoria Micro e Pequena Empresa.

Alunos dos 7° e 8° períodos do curso de Educação Física da PUCPR participaram da 1° Conferência Municipal do Espor-

te que aconteceu em São José dos Pinhais no mês de abril. O evento teve como objetivo discutir as políticas públicas

para o esporte e o lazer com visão para os próximos anos.

1ª CONFERêNCIA MUNICIPAL DO ESPORTE E LAzER

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CURSO DE RP REALIzA VISITA TéCNICA AO GRPCOM

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Programe-se

FRIDA_KAHLOPela primeira vez, o Brasil recebe uma exposição dedicada inteiramente à pintora Mexi-cana Frida Kahlo. Entitulada Frida Kahlo - Suas Fotografias, a mostra entra em cartaz no dia 17 de julho, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. A curadoria é de Pablo Ortiz.

PROJETO_IDENTIDADESe você está buscando desenvolvimento pessoal, não pode perder o Projeto Identidade. Um encontro que acontecerá em três etapas (nos dias 02/08, 09/08 e 20/09) com o ob-jetivo de aprimorar questões sobre o autoconhecimento, a identidade pessoal e projetos de vida. As fases estão interligadas, mas também seguem de forma independente. Os interessados devem se inscrever diretamente no Núcleo de Pastoral da PUCPR. O inves-timento é de R$30. Mais informações pelo telefone.

(41) 3217-1397

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CROQUIS_URBANOSPara aqueles que gostam de desenhar e ressignificar os espaços ur-banos, o grupo Croquis Urbanos tem se reunido frequentemente, com saídas nos fins de semana, para registrar Curitiba de um jeito diferente. O grupo é aberto e segundo eles próprios, o “objetivo é re-gistrar a cidade, seus habitantes e aprender uns com os outros sobre possibilidades do desenho de observação”. É possível acompanhar o grupo pela página www.facebook.com/CroquisUrbanosCuritiba.É por lá também que eles divulgam os dias de encontro. Mais informações pelo e-mail.

[email protected].

CONVITEFique mais próximo da Vida Universitária! Envie-nos suas dúvi-das sobre o mundo acadêmico, sugestões de pautas, informa-ções sobre eventos e críticas. Assim, você estará sempre conec-tado com a equipe da revista e vai ter acesso aos conteúdos de seu maior interesse. Participe!

[email protected] www.vidauniversitaria.pucpr.br

Um projeto vivencial com o intuito de auxiliar no conhecimento pessoal, aprimoramento da liderança jovem e construção do Projeto de Vida.

1º Encontro 02/08/14 – Descobrir, inspirar. Local: FEGA – Fazenda Experimenta Gralha Azul - Fazenda Rio GrandeHorário: 08h – 17h – Saída PUCPR – portão 01 2º Encontro 09/08/14 – Refletir, construir.Local: FEGA – Fazenda Experimenta Gralha Azul - Fazenda Rio GrandeHorário: 08h – 17h – Saída PUCPR – portão 01 3º Encontro 20/09/14 – Vivenciar, engajar. Local: Comunidade Ir.Henri Verges – Fazenda Rio Grande Horário: 13h – 21h – Saída PUCPR – portão 01

Informações e Inscrições Pastoral da UniversidadeFone: 3271 1397e-mail: [email protected] Limitadas

PROJETO IDENTIDADEProjeto de Vida • Conhecimento • Vivência

Realização

C

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CM

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CMY

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AF_A3_Projeto Identidade.pdf 1 28/05/2014 16:26:30

LIVRO_DO_SOLEstreia, neste mês, no Museu da Fotografia, em Curitiba, uma exposição fotográfica das imagens que compõem o Livro do Sol, de Gilvan Barreto. O fotógrado percorreu o sertão, durante o ve-rão de 2013, registrando o auge da seca e suas consequências. Diferente do estilo documental clássico, você não verá solo cra-quelado, sertanejos sofridos, nem gado esquálido. Barreto apre-senta um sertão de cores frias a espera de uma gota de chuva. A exposição segue até 10 de agosto.

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...masE AGORA?

A vida acadêmica é rica em descobertas e experiências. Um mundo novo se abre a cada livro, a cada leitura, a cada conversa ou aula. Mas, como não poderia deixar de ser, essa vivência é repleta de perguntas. Dúvidas a respeito do uni-verso acadêmico, que envolvem, acredite, não só você, mas a mente de muitos alunos que cursam o Ensino Superior. Fomos atrás de algumas dessas questões frequentes e comuns, e buscamos respostas para você tirar suas dúvidas aqui, na Vida Universitária.

perguntepra puc

THAIRINE MAzUREK Relações Públicas

7º período

TODAS AS PUCS SãO MARISTAS?

QUEM RESPONDE: Másimo Della Justina, Chefe de Gabinete da Reitoria da PUCPR: Nem toda PUC do Brasil é Marista. Atualmente, o Brasil tem sete Pontifícias Universidades Católicas. Somente a PUC do Paraná e a do Rio Grande do Sul são Maristas. A PUC-Rio é Jesuíta e as outras, lo-calizadas em Campinas, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, são mantidas pela respectiva Arquidiocese ou Diocese. Vale lembrar que ainda existem diversas Universidades Católicas, que ainda não são Pontifícias.

QUAIS CURSOS DA UNIVERSIDADE Já POSSUEM ENGLISH SEMESTER? QUAIS OS PRé-REQUISITOS PARA PARTICIPAR?

QUEM RESPONDE: Lídia Kovalski, do setor de Intercâmbio da PUCPR: Atualmente, são 51 disciplinas sendo ofertadas em inglês nas esco-las de Arquitetura e Design, Negócios, Comunicação e Artes, Educa-ção e Humanidades, Saúde e Biociências e Politécnica. As discipli-nas acontecem dependendo do número de alunos interessados. No momento não existem pré-requisitos e alunos de todos os cursos podem participar.

DÓRIS ALVESEngenharia Química

1º período

OUVI QUE HOJE, ONDE é A CONCHA ACÚSTICA, Já FOI UM HIPÓDROMO. VERDADE ISSO?

QUEM RESPONDE: Ana Paula Cam-pos, secretária da Diretoria de Esporte e Cultura: Sim, é verdade. O terreno onde está localizado o Câmpus Curi-tiba da PUCPR, antigamente, era um

lote de terra do governador Moisés Lupion. Ele doou o terreno para a Uni-versidade. A região onde hoje estão a Concha Acústica e o Prédio Adminis-trativo era o circuito do hipódromo, lo-

cal onde os cavalos corriam. O museu, que está embaixo das arquibancadas em frente à Concha, ainda guarda res-quícios dessa época.

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GRASIELE NAIANE P. ANDRADEEngenharia Civil

2º período

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