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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE MEDICINA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE VALÉRIA MOREIRA DA SILVA CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS FATORES DE RISCO PARA ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO Porto Velho/RO 2018

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE SAÚDE

DEPARTAMENTO DE MEDICINA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

VALÉRIA MOREIRA DA SILVA

CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS FATORES DE RISCO PARA

ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO

Porto Velho/RO

2018

VALÉRIA MOREIRA DA SILVA

CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS FATORES DE RISCO PARA

ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação em Ensino em Ciências da Saúde da

Fundação Universidade Federal de Rondônia, em

cumprimento aos requisitos necessários para

obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profª. Dra. Janne Cavalcante Monteiro.

Porto Velho/RO

2018

VALÉRIA MOREIRA DA SILVA

CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS FATORES DE RISCO PARA

ADOECIMENTO NO CENTRO DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO

DE UM HOSPITAL GERAL PÚBLICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Mestrado Profissional em Ensino em

Ciências da Saúde, Linha de Pesquisa: Integração

Ensino-Serviço, Processos Saúde-Doença e o

Sistema Único de Saúde, do Departamento de

Medicina da Fundação Universidade Federal de

Rondônia-UNIR, como requisito parcial para

conclusão do Mestrado, sob orientação da professora

Dra. Janne Cavalcante Monteiro.

Aprovado em: 28/03/2018

________________________________________________

(Profa. Dra. Janne Cavalcante Monteiro-Presidente da Banca)

Fundação Universidade Federal de Rondônia

________________________________________________

(Profa. Dra. Leila Amaral Gontijo)

Universidade Federal de Santa Catarina

________________________________________________

(Profa. Dra. Nathalia Halax Orfão)

Fundação Universidade Federal de Rondônia

Porto Velho/RO

2018

DEDICATÓRIA

Aos meus avós paternos Antônio Ferreira da Silva e Francisca Rufino da Silva (in memorian)

por toda dedicação, amor incondicional e ensinamentos, que falta vocês me fazem.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela presença constante, sustento e dádiva da vida, oportunizando-me vivenciar cada

momento para a concretização dessa dissertação.

À professora Janne Cavalcante Monteiro, minha orientadora, por contribuir com seus

conhecimentos imprescindíveis, dedicação, compreensão e paciência nos momentos difíceis,

obrigado por ter acreditado em mim.

A Fundação Universidade Federal de Rondônia, por meio do Núcleo de Saúde e o Programa

de Pós-Graduação: Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde, por oferecer o

referido mestrado.

A todos os docentes do Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde, pelo

compartilhamento dos conhecimentos e incentivo ao longo da caminhada.

As professoras Leila Amaral Gontijo e Nathalia Halax Orfão, pelas valiosas contribuições no

exame de qualificação.

À Direção Geral do Hospital Público, Núcleo de Educação Permanente, Serviço

Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho e a todos os

trabalhadores do Centro de Material e Esterilização, pela colaboração na realização deste

trabalho.

Aos meus familiares, em especial ao meu esposo Claudenilson Paiva Abreu, pela

compreensão e incentivo nos momentos difíceis e ao meu filho Paulo Victor Moreira de

Oliveira, pelo aprendizado diário, você é a melhor parte de mim.

A todos os meus amigos, colegas de trabalho, que contribuíram de alguma forma para a

realização deste trabalho, obrigada!

"Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente.

Quem sobrevive é o mais disposto à mudança”.

Charles Darwin

RESUMO

SILVA, Valéria Moreira. Condições de trabalho e os fatores de risco para adoecimento no

centro de material e esterilização de um hospital geral público. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal de Rondônia-UNIR. 2018, 137p.

As condições e o processo de trabalho no Centro de Material e Esterilização (CME) expõe os

trabalhadores a diversos riscos ocupacionais: biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e

psicossociais. Assim, esse estudo objetivou analisar as condições de trabalho e os riscos

ergonômicos que influenciam no adoecimento dos trabalhadores do CME. Utilizou-se a

metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), a qual parte-se da decomposição da

situação de trabalho, com estudo minucioso das interfaces que o compõem para assim

compreender esta situação através da recomposição da mesma. Trata-se de um estudo

descritivo com abordagem quanti-qualitativa, identificando-se primariamente a demanda

ergonômica do trabalho (técnica de observação sistemática participativa) e a partir do

exercício de confrontação entre o trabalho prescrito e o trabalho real pela análise documental,

correspondendo a segunda etapa da AET (Análise da Tarefa). Na etapa da análise da atividade

foram aplicados instrumentos de coleta de dados para caracterizar o perfil sociodemográfico e

ocupacional dos trabalhadores, assim como o Copenhagem Psychosocial Questionnaire

(COPSOQ) para avaliar o risco psicossocial, Diagrama de Corlett e Manenica (risco de

comprometimento musculoesquelético), bem como, a observação sistemática das condições

do ambiente e aferição dos riscos físico-ambientais, por meio do equipamento de medição

Termo-Higro-Decibel-Luxim, marca Instrutherm, modelo THDL-400 em parceria com os

órgãos responsáveis pela saúde do trabalhador do Estado: Centro de Referência em Saúde do

Trabalhador (CEREST) e Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina

do Trabalho (SESMT). Participaram do estudo, 39 trabalhadores que atuam no CME

selecionado, 79,5% eram do sexo feminino, faixa etária entre 28-65 anos, 74,4% técnicos de

enfermagem e 15,4% enfermeiros. Evidenciou-se que os trabalhadores estão expostos à

iluminância inadequada, aos ruídos originados das autoclaves, central de ar condicionado

(área de esterilização) e do uso do gás medicinal (ar comprimido) durante o procedimento de

secagem de produtos para saúde e os produtos para saúde consignados (áreas de limpeza e

preparo). Os riscos para lesões musculoesqueléticos encontrados na coluna, ombro e membros

inferiores especificamente relacionam-se à sobrecarga exigida pelas posturas assumidas por

longo período. Considera-se que há uma necessidade premente de desenvolver estratégias de

Educação Permanente em Saúde em ações intersetoriais, com o Núcleo de Educação

Permanente (NEP), Núcleo de Saúde do Trabalhador e SESMT, para qualificar os

trabalhadores para o desenvolvimento de suas tarefas no sentido de instruí-los quanto aos

riscos ergonômicos a que estão sujeitos no trabalho executado no CME. Recomenda-se a

aquisição de materiais ergonômicos: tablados e apoio para os pés, protetor auditivo tipo

abafador (áreas de execução da tarefa de secagem dos materiais), adequação da iluminação,

inclusão do exame audiométrico nos exames periódicos de saúde dos trabalhadores. Outra

sugestão para minorar riscos musculoesqueléticos, diz respeito a um maior incentivo e

promoção à prática de atividade física por meio de um programa regular de exercícios

funcionais no ambiente laboral.

Palavras–chave: Condições de Trabalho. Esterilização. Saúde do Trabalhador. Ergonomia.

ABSTRACT

SILVA, Valéria Moreira. Working conditions and risk factors for illness in the material

center and sterilization of a general public hospital. Dissertation (Master degree) - Federal

University of Rondônia-UNIR. 2018, 137p.

It is understood that the conditions and the working process in the CME expose workers to

various occupational risks: biological, physical, chemical, ergonomic and psychosocial. Thus,

this study aimed to analyze the working conditions and the ergonomic risks that influence the

sickness of the CME workers. The AET methodology was used to study the work situation,

which starts from the decomposition of the work situation, with a detailed study of the

interfaces that compose the work to understand this situation through the recomposition of the

same. This is a descriptive study with a quantitative-qualitative approach, identifying

primarily the ergonomic demand of the work (technique of participatory systematic

observation) and from the exercise of confrontation between the prescribed work and the

actual work by the documentary analysis, corresponding to second stage of the AET (Task

Analysis). At the stage of the analysis of the activity, data collection instruments were applied

to characterize the sociodemographic and occupational profile of the workers, as well as the

Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) to assess psychosocial risk, Corlett

Diagram and Manenica (risk of musculoskeletal impairment), as well as systematic

observation of environmental conditions and assessment of physical and environmental risks,

Thermo-Hybrid-Decibel-Luxim, branded Instrutherm, model THDL-400 in partnership with

the organs responsible for the health of the State worker: Reference Center for Occupational

Health (CEREST) and Specialized Service in Safety Engineering and in Medicine of the

Work (SESMT). Thirty-nine professionals working in the selected CME participated in the

study, most of them female, 79.5%, 28 to 65 years of age, 74.4% of nursing technicians,

15.4 % nurses. It was evidenced that workers are exposed to inadequate lighting, noise from

autoclaves, central air conditioning located in the area of sterilization and the use of medical

gas compressed air in the procedure of drying medical articles with difficult to access lumen

and the articles consigned, mainly, in the area of preparation and sterilization. The risks for

musculoskeletal injuries found in the spine, shoulder and lower limbs specifically relate to the

overload required by long-term postures. It is considered that there is an urgent need to

develop strategies of Permanent Education in Health in intersectoral actions, with the core of

Permanent Education (NEP), Worker's Health Center and SESMT, to qualify the workers for

the development of their tasks in order to instruct them as to the ergonomic risks to which

they are exposed in the work of the CME. It is recommended to purchase ergonomic

materials: planks and feet support, hearing protector type damper (areas of task execution of

drying materials), adequacy of lighting, inclusion of audiometric examination in the periodic

health exams of workers. Another suggestion to alleviate musculoskeletal risks, concerns a

greater incentive and promotion to the practice of physical activity through a regular program

of functional exercises performed in the workplace.

Keywords: Working Conditions. Sterilization. Worker's health. Ergonomics.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AET Análise Ergonômica do Trabalho

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CC Centro Cirúrgico

CPRE Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica

CEREST Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

CME Centro de Material e Esterilização

CEP Comitê de Ética e Pesquisa

CO Centro Obstétrico

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

COPSOQ Copenhagem Psychosocial Questionnaire

D Direito

Db Decíbeis

DML Depósito de Material de Limpeza

E Esquerdo

EPI Equipamento de Proteção Individual

FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia

FGV Fundação Getúlio Vargas

HBAP Hospital de Base Dr Ary Pinheiro

IMC Índice de Massa Corpórea

IRAS Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde

LUX Índice de Iluminância

NBR Norma Brasileira

NEP Núcleo de Educação Permanente

NPS Nível de Pressão Sonora

NR Norma Regulamentadora

OCT Organização Científica do Trabalho

OMH Odonto-Médico-Hospitalar

P.D Pé Direito

POP Procedimento Operacional Padrão

PPS Produtos para Saúde

PR Paraná

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

RO Rondônia

SESAU Secretaria de Estado da Saúde

SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho

SOBECC Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação

Anestésica e Centro de Material e Esterilização

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

SS Serviço de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIR Fundação Universidade Federal de Rondônia

USP Universidade de São Paulo

UTIN Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Elementos envolvidos na situação de trabalho........................................... 32

Figura 2 - Dinâmica entre o Trabalho Prescrito e o Trabalho Real............................... 34

Figura 3 - Mapa de segmentos corporais (Diagrama de Corlett e Manenica)............... 43

Figura 4 - Escala Progressiva de intensidade de desconforto/dor.................................. 44

Figura 5 - Fluxo unidirecional das etapas do processamento dos produtos para saúde. 54

Figura 6 - Fluxograma da tarefa prescrita na área suja (contaminada)......................... 56

Figura 7 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de preparo (limpa)......................... 57

Figura 8 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de Esterilização (limpa)................. 58

Figura 9 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de Armazenamento e distribuição.. 59

Figura 10 - Altura da Bancada de Trabalho.................................................................. 60

Figura 11 - Fluxograma das áreas e respectivos equipamentos de proteção individual.. 62

Figura 12 - Dinâmica das atividades de trabalho no CME do hospital geral público,

Porto Velho, RO, 2017................................................................................

66

Figura 13 - Sala de recepção dos artigos sujos/contaminado provenientes do CC em

um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.....................................

66

Figura 14 - Etapas para produção de materiais de consumo único................................ 68

Figura 15 - Área de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização em um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........................................

70

Figura 16 - Posicionamento da região do pescoço e da cervical na área de preparo e

esterilização dos produtos para saúde no Centro de Material de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017............................................

72

Figura 17 - Carregamento da autoclave no Centro de Material e Esterilização em um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........................................

73

Figura 18 - Atividade de técnica de dobradura do tipo pacote do Centro de Material e

Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017..........

74

Figura 19 - Atividade de carregamento dos artigos na autoclave de barreira do Centro

de Material e Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho,

RO, 2017.....................................................................................................

75

Figura 20 - Área de esterilização química e de desinfecção de alto nível de produtos

para saúde do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral

público, Porto Velho, RO, 2017.........................................................

76

Figura 21 - Área de Armazenamento e distribuição do Centro de Material e

Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017..........

78

Figura 22 - Sala Administrativa do Centro de Material e Esterilização em um hospital

geral público, Porto Velho, RO, 2017.........................................................

79

Figura 23 - Área de preparo e esterilização dos produtos para saúde no Centro de

Materiais e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, RO,

2017.............................................................................................................

81

Figura 24 - Distribuição da frequência da intensidade do desconforto/dor referida pelo

trabalhador em relação aos segmentos corporais no Centro de Material e

Esterilização de um hospital geral, Porto Velho, RO, 2017.......................

93

Figura 25 - Área de armazenamento e distribuição do Centro de Material e

Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017..........

94

Figura 26 - Atividade de dobradura de compressas cirúrgicas e empacotamento de

caixas cirúrgicas na área de preparo e esterilização dos produtos para

saúde no Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho,

RO, 2017.....................................................................................................

95

Figura 27 - Área de armazenamento e distribuição dos produtos para saúde no Centro

de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.............

99

Figura 28 - Preparo da embalagem grau cirúrgico e técnica de dobradura de campos

operatórios na sala de preparo e esterilização dos produtos para saúde no

Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO,

2017.............................................................................................................

100

Figura 29 - Atividade de dobradura e empacotamento de campos cirúrgicos nos

balcões da área de preparo e esterilização do Centro de Material e

Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........

101

Figura 30 - Sala de limpeza do Centro de Material e Esterilização de um hospital

geral público, Porto Velho, RO, 2017.........................................................

102

Figura 31 - Sala de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017...........................................

103

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição das frequências relativas quanto ao gênero e categoria

profissional no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral

público, Porto Velho, 2017...........................................................................

46

Tabela 2 - Distribuição das frequências relativas quanto a faixa etária dos

trabalhadores do Centro de Material e Esterilização de um hospital geral

público, Porto Velho, 2017..........................................................................

48

Tabela 3 - Distribuição das características sociodemográficas e ocupacional dos

profissionais de saúde que trabalhavam no Centro de Material e

Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017....................

48

Tabela 4 - Distribuição das frequências relativas quanto a Classificação do Índice de

Massa Corporal dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização

de um hospital geral público, Porto Velho, 2017.........................................

51

Tabela 5 - Distribuição de frequência de trabalhadores que atuam em cada etapa do

processamento no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral

público, Porto Velho, RO, 2017..................................................................

52

Tabela 6 - Resultados dos riscos físico-ambientais nos postos de trabalho no Centro

de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho,

RO, 2017......................................................................................................

80

Tabela 7 - Distribuição da frequência da percepção da saúde geral dos trabalhadores

do Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO,

2017..............................................................................................................

92

Tabela 8 - Distribuição da frequência de dor e/ou desconforto nos segmentos

corporais dos trabalhadores em relação às etapas do Processamento de

Produtos de Saúde no Centro de Material e Esterilização, Porto Velho,

RO, 2017......................................................................................................

97

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 -

Subescalas e itens da versão média portuguesa do instrumento Copenhagem

Psychosocial Questionnaire-COPSOQ.............................................................

42

Quadro 2 - Alternativas de respostas, pontuação e categorias do nível de Risco

Psicossocial da versão média portuguesa do instrumento Copenhagem

Psychosocial Questionnaire..............................................................................

43

Quadro 3 - Distribuição das variáveis da dimensão exigências laborais do Copenhagem

Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.................................................

48

Quadro 4 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do

Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de

Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017........................

87

Quadro 5 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do

Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de

Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017........................

88

Quadro 6 - Distribuição das variáveis da dimensão justiça e respeito do Copenhagem

Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017.................................................

89

Quadro 7 - Distribuição das variáveis da dimensão organização do trabalho e conteúdo

do Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de

Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO,

2017...................................................................................................................

90

Quadro 8 - Distribuição das variáveis da dimensão interface trabalho-indivíduo do

Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de

Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017........................

91

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 17

1.1 Objetivos ..................................................................................................................... 19

1.1.1 Geral ........................................................................................................................... 19

1.1.2 Específicos .................................................................................................................. 19

1.2 Justificativa................................................................................................................. 20

1.3 Estrutura do Trabalho ............................................................................................... 20

2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 22

2.1 O Trabalho para o Homem e suas Ambivalências .................................................... 22

2.2 O Processo de Trabalho no Centro de Material e Esterilização ............................... 25

2.2.1 Condicionantes e Determinantes dos Agravos à Saúde no Centro de Material e

Esterilização ........................................................................................................................ 28

2.3 Ergonomia e Análise Ergonômica do Trabalho ........................................................ 31

3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 37

3.1 Delineamento do Estudo ............................................................................................ 37

3.2 Cenário do Estudo ...................................................................................................... 37

3.3 População do Estudo .................................................................................................. 38

3.4 Procedimentos para a coleta de dados: Análise Ergonômica do Trabalho .............. 38

3.4.1 Primeira Etapa: Instrução da Demanda ........................................................................ 38

3.4.2 Segunda Etapa: Análise da Tarefa ............................................................................... 40

3.4.3 Terceira Etapa: Análise da Atividade ........................................................................... 41

3.4.3.1 Questionário Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) .......................... 42

3.4.3.2 Diagrama de Corlett e Manenica ............................................................................... 44

3.4.3.3 Riscos Físico-Ambientais ......................................................................................... 45

3.5 Tratamento dos Dados ............................................................................................... 45

3.5.1 Dados Quantitativos .................................................................................................... 45

3.5.2 Dados Qualitativos ...................................................................................................... 46

3.6 Considerações Éticas .................................................................................................. 46

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................ 47

4.1 Perfil Sociodemográfico e Ocupacional ..................................................................... 47

4.2.1 Análise da Tarefa ........................................................................................................ 54

4.2.1.1 Caracterização do cenário do estudo ......................................................................... 54

4.2.1.2 Dimensionamento de pessoal de enfermagem ........................................................... 56

4.2.1.3 Áreas destinadas ao processamento de PPS e fluxograma das tarefas ........................ 57

4.2.1.4 Dimensão da área e mobiliários dos postos de trabalho ............................................. 60

4.3 Análise da Atividade .................................................................................................... 63

4.3.1 Finalidades CME/HBAP ............................................................................................. 64

4.3.1.1 Fluxo Unidirecional das etapas de processamento ................................................ 65

4.3.1.3 Avaliação dos Riscos Físico-Ambientais .................................................................. 80

4.3.1.4 Análise dos fatores de Riscos Psicossociais .............................................................. 85

4.3.1.5 Diagrama de Corllet e Manenica ............................................................................... 94

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 107

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 110

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ......... 117

APÊNDICE B - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM (FOTO) . 119

APENDICE C – INSTRUMENTO DE PESQUISA: QUESTIONÁRIO ...................... 120

ANEXO B - CARTA PARA AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM ...................................... 123

ANEXO C – COPENHAGEN PSYCHOSOCIAL QUESTIONNAIRE (COPSOQ) ........ 124

ANEXO D - DIAGRAMA DE CORLETT E MANENICA ........................................... 126

ANEXO E - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ............................................ 127

ANEXO F - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP- EMENDA......................... 130

ANEXO G - CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO ........................................................ 135

1 INTRODUÇÃO

A palavra trabalho diz respeito a forças e potencialidades humanas empreendidas para

cumprir com um determinado objetivo e atender as necessidades específicas demandadas pela

área correlata e para o trabalhador provê seu sustento. O processo de trabalho se dá, portanto,

em um campo de conflitos entre os interesses capitalistas e o trabalho em si (SILVA et al.,

2011).

Para que o trabalho se desenvolva de forma a alcançar seus objetivos determinados é

necessário que o trabalhador tenha condições adequadas para a execução das atividades.

Assim, na relação homem-trabalho é importante conhecer a concepção das tarefas e os

condicionantes inerentes que podem propiciar agravos à saúde do trabalhador. Ao se falar em

atividades desenvolvidas em um Centro de Material e Esterilização (CME) dever-se-á

considerar as peculiaridades específicas desse setor (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012), que

em uma unidade hospitalar de saúde tem como objetivo principal dispensar Produtos para

Saúde (PPS) esterilizados aos demais setores assistenciais e àqueles relacionados ao

diagnóstico, apoiando-os com o provimento para a execução do cuidado de saúde (GIL;

CAMELO; LAUS, 2013).

Tradicionalmente, o CME era um setor vinculado ao Centro Cirúrgico (CC) tendo sido

inicialmente administrado por este, em razão de ser a maior unidade hospitalar consumidora

dos PPS processados. Os trabalhadores designados para as tarefas realizadas nesse setor

comumente apresentavam limitações do ponto de vista assistencial para o cuidado direto ao

usuário, problemas de saúde, interpessoais, limitações intelectuais, resistência em obedecer a

ordens e/ou prestes a se aposentar (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011).

Em decorrência do avanço das tecnologias em saúde e os investimentos em

instrumentos para novas abordagens cirúrgicas, nasce à necessidade de aperfeiçoamento no

processamento dos PPS. Assim, o CME passa a ser um setor independente, não mais

vinculado ao CC, mas como unidade de apoio técnico-operacional relevante na estrutura

hospitalar, provendo materiais de conformação complexa1 e esterilizados não somente ao CC,

mas para os demais setores hospitalares (RUBINI et al., 2014).

Nesse setor, o enfermeiro e sua equipe desenvolvem um trabalho diferenciado. O

processo de trabalho desenvolvido por esse profissional utiliza-se de um conjunto de

competências técnico-científicas voltadas para administração, desenvolvimento de atividades

1 Conformação complexa: produtos para saúde que possuam lúmen inferior a cinco milímetros ou com fundo

cego, espaços internos inacessíveis para a fricção direta, reentrâncias ou válvulas (Brasil, 2012a, p.2).

18

técnico-assistenciais, gestão de recursos humanos e ainda as relacionadas à interação entre os

demais setores hospitalares consumidores do produto processado com os setores de apoio

institucional, numa relação que se caracteriza pela interdependência (GIL; CAMELO; LAUS,

2013; OURIQUES; MACHADO, 2013).

Outra peculiaridade do processo de trabalho no CME diz respeito à instrumentalização

da assistência direta ao usuário. O trabalho realizado nesse setor é marcado pela invisibilidade

do cuidado direto, sendo esta desvalorizada pelos demais setores hospitalares e de menor

importância para a gestão, apesar de contribuir de maneira inexorável para o controle das

Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). Deve-se, portanto, ressaltar que a

participação marcante do CME nesse controle, impacta positivamente na qualidade dos

serviços de saúde prestados (MACHADO; GELBCKE, 2009).

Acrescenta-se ainda, a existência de riscos ocupacionais por ser esse um setor

insalubre. Tal constatação se dá devido à frequente exposição dos trabalhadores aos riscos

físicos, biológicos, químicos, ergonômicos e às condições externas, tais como: condições de

saúde, humor, ansiedade, esforços físicos e repetitivos, jornada de trabalho extenuante e ritmo

acelerado de trabalho. Ressalta-se que essas condições podem interferir nas atividades e na

qualidade de vida dos trabalhadores (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012; SPAGNOL et al.,

2015).

Corroborando nesse sentido, Costa, Souza e Pires (2016) relataram a existência de

CME dotados de infraestrutura física inadequada, espaços pequenos e isolados, sistemas de

ventilação precários e outros condicionantes que podem agravar a saúde dos trabalhadores e

provocar adoecimentos. Nota-se também, no estudo realizado por Borgheti, Viegas e

Caregnato (2016), fatores de risco que podem acarretar em acidentes de trabalho, como

sobrecarga, jornadas extenuantes, desgastes físicos, escala de serviço noturno, desatenção,

excesso de confiança, falta de habilidades técnicas e condições do ambiente laboral. Diante

disso, os autores mostram que o contexto de trabalho nesse setor hospitalar é caracterizado

por situações de risco que podem ocasionar prejuízos na saúde dos trabalhadores que atuam

nesse ambiente laboral.

Nesse sentido, Costa, Souza e Pires (2016) identificaram que 61,76% dos

trabalhadores apresentaram alterações na saúde em decorrência do trabalho no CME e que

26,47% se afastaram do trabalho nos últimos seis meses, devido acidentes de trabalho

(trajeto), depressão, doenças do sistema osteomuscular e outros. Essa relação configura o

objeto de estudo da Ergonomia definida como o “estudo do relacionamento entre o homem e

o seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de

19

anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento”

(ROYAS; MARZIALE, 2001, p. 103).

A partir dos problemas de saúde levantados na literatura inerentes à temática, acredita-

se que existam situações ergonômicas impróprias no contexto organizacional do CME que

impactam significativamente no processo de trabalho. Percebe-se a necessidade do

desenvolvimento de pesquisas científicas nesse setor, considerando a peculiaridade do

trabalho no CME e a lacuna na literatura sobre a Análise Ergonômica do Trabalho (AET)

como metodologia para o estudo das condições da unidade relacionadas às exigências

crescentes de cunho físico, cognitivo e organizacional por elas desencadeadas para

trabalhadores em razão da complexidade das tarefas executadas nesse setor.

Diversos problemas podem ser levantados pela AET, como por exemplo, “problemas

ocasionados por má postura e sobrecarga física” (MONTEIRO, 2004, p.162), que causam

quadros álgicos musculares agudos e crônicos, sobretudo na região da coluna lombar e

cervical, membros inferiores, punho e demais regiões do corpo. Levando em consideração, a

particularidade do processo de trabalho no CME, fica evidente a importância da análise da

concepção de trabalho nesse setor, assim como as condições do ambiente dado à

complexidade das atividades ali desenvolvidas e os riscos que impactam na saúde do

trabalhador.

Este estudo parte do pressuposto que a ergonomia é a ciência que respalda o presente

trabalho a luz da AET, a partir da decomposição da situação de trabalho através do estudo

meticuloso das interfaces que o compõem, ou seja, os aspectos que se articulam na situação de

trabalho, como as características dos trabalhadores, organização do trabalho, equipamentos,

espaços, modos de produção do trabalho. Dessa forma, a questão do estudo é analisar se as

condições de trabalho configuram risco ergonômico para os trabalhadores de saúde que atuam

no CME de um hospital geral público.

1.1 Objetivos

1.1.1 Geral

Analisar as condições de trabalho e os riscos ergonômicos que podem influenciar no

adoecimento dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização (CME) de um hospital

geral público.

1.1.2 Específicos

Descrever o perfil sociodemográfico e profissional dos trabalhadores do CME;

Caracterizar o processo de trabalho no CME por meio da AET;

20

Identificar os riscos ergonômicos a que estão expostos os trabalhadores do

CME;

Propor recomendações de melhoria no ambiente de trabalho do CME.

1.2 Justificativa

A motivação e o interesse para o desenvolvimento desse estudo surgiram da

necessidade de compreender os fatores condicionantes do ambiente de trabalho que podem

causar riscos de adoecimento dos trabalhadores que atuam no CME e consequentemente

afetar a qualidade do processamento dos PPS. Destaca-se ainda, que o local escolhido para

realização da pesquisa é cenário de referência para as práticas de ensino dos estudantes de

enfermagem em nível superior e técnico e os resultados do presente estudo poderão ainda,

contribuir para o ensino e pesquisas relacionadas à saúde do trabalhador nas instituições de

saúde.

Selecionou-se para o estudo a metodologia da AET, tendo em vista ser uma ferramenta

que busca a transformação do trabalho, a partir essencialmente da compreensão deste, sendo

possível uma transformação das condições de trabalho por meio da análise da demanda, da

tarefa prescrita (normas, regras, protocolos validados) e da atividade (ações e investimentos

feitos pelos sujeitos) (GUÉRIN, 2001).

A AET foi proposta uma vez que, no estudo da influência das condições de trabalho

no adoecimento dos trabalhadores no CME, encontra-se explícita uma relação entre o ser

humano, o trabalhador, e seu ambiente de trabalho. Assim, buscar-se-á compreender a

situação de trabalho nesse setor, por meio desta metodologia para a construção de

recomendações de melhoria. O olhar ergonômico para responder à questão objeto deste

estudo, que é analisar se as condições de trabalho configuram risco ergonômico para os

trabalhadores de saúde, possibilitará diferentes formas de intervenção, visto que analisa a

relação trabalho-homem sob várias perspectivas.

1.3 Estrutura do Trabalho

O trabalho foi estruturado em cinco partes, que são apresentadas a seguir:

Capítulo 1 - Introdução: foram abordados os tópicos referentes introdução, relevância

da pesquisa, objetivo geral e os específicos, justificativa para o desenvolvimento da pesquisa

no setor CME.

Capítulo 2 - Revisão de Literatura: neste capítulo é apresentado o Trabalho para o

Homem e suas Ambivalências, com a abordagem dos aspectos de significação do trabalho

21

para o homem, além da satisfação de suas necessidades de vida que traz em si e o que pode

ainda causar adoecimento. No segundo tópico foram abordadas as características do Processo

de Trabalho em um CME, além dos condicionantes e determinantes dos agravos à saúde que

podem advir de um trabalho nesse setor e no último tópico, como a Ergonomia e a AET

podem contribuir para melhorias de qualidade e prevenção do adoecimento dos trabalhadores.

Capítulo 3 - Metodologia: refere-se ao delineamento do estudo, tipo e abordagem da

pesquisa, caracterização do cenário, população e amostra. Descrição dos procedimentos para a

coleta de dados, as etapas da AET (análise da demanda, tarefa e atividade), tratamento dos

dados e considerações éticas.

Capítulo 4 - Análise e Discussão dos Resultados: foram apresentados os resultados

obtidos através do método proposto, com a construção do perfil sociodemográfico e

ocupacional dos trabalhadores que atuavam no CME e como a AET foi utilizada. Também

foram apresentados os riscos físico-ambientais, psicossociais e musculoesqueléticos e

sugestões e recomendações, considerando os achados da abordagem ergonômica realizada no

CME selecionado.

Capítulo 5 - Considerações Finais: neste capítulo apresenta-se as considerações finais

após a realização da AET e a constatação da necessidade de algumas adequações da situação

de trabalho evidenciados pelos achados ergonômicos dessa pesquisa.

22

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O Trabalho para o Homem e suas Ambivalências

O trabalho é considerado uma atividade que tem por objetivo a socialização. É

compreendido por alguns estudiosos como a capacidade humana exclusiva de “transformar a

natureza e a si próprio, produzindo e modificando suas condições de vida” (ANTUNES, 2009,

p. 12). Sua importância para a vida do homem está em oportunizar o desenvolvimento de suas

capacidades físicas, cognitivas, psicológicas, sensoriomotoras num contínuo movimento de

descobertas e aprendizados (GIANOTTI, 2010).

Por meio do trabalho o homem busca atender às suas necessidades, ao sentimento de

satisfação e realização, assim como à produção e à reprodução da vida em sociedade. Nesse

sentido, caracteriza-se por ser fundamentalmente social, considerando o sentido de que os

sujeitos estabelecem relações sociais contínuas “entre si” e “para si” submetendo-se às

normas e regras para alcançar resultados satisfatórios (LHUILIER, 2013).

Para Guérin et al. (2001) o trabalho institui-se a partir de pontos de vistas peculiares e

é visto como produtor de valor de uso, assim como dos vínculos criados entre os diversos

sujeitos no ambiente laboral, promovendo satisfação das necessidades, transformação da

natureza e alcance de resultados. Corroborando nesse sentido, Abrahão et al. (2014) trazem a

ideia do trabalho como indutor do desenvolvimento humano e constitucionalmente é

assegurado como direito social, de acordo com o art. 6º da Constituição Federal Brasileira

(BRASIL, 1988).

O homem é vivificado e transformado biopsicossocialmente pelo e no ato de trabalhar

no qual permite-se criar, recriar, experimentar, ações factíveis exclusivamente ao homem, o

mentor de todo o trabalho, capaz de re(significar) suas experiências, assim como de buscar

sua identidade desvelando sua individualidade por meio de suas ações (FRANCO, 2011).

Enfatiza-se que o trabalho humano é idealizado mentalmente, antes mesmo de alcançar seu

resultado final, ou seja, perpassa por um planejamento prévio na mente do homem para sua

concretização (ANTUNES, 2009; BRASIL, 2011).

Então, pode-se dizer que a habilidade intelectual é o que realmente diferencia o

trabalho humano do instinto animal. O trecho abaixo corrobora com essa inferência:

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de

um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da

melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em

realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes

idealmente na imaginação do trabalhador (MARX, 2002, p.53).

Somente ao homem cabe a estruturação e planejamento mental do trabalho. Neste

23

sentido, acredita-se que o trabalho humano é uma ação vital que move o homem de maneira

emancipadora, provoca sentimentos de realização pessoal, criatividade, prazer, felicidade,

crescimento profissional, inclusão social e ganho salarial. Mas, não são somente sentimentos

de prazer, de realização e transformação do homem e da natureza. Por vezes, o trabalho pode

causar sofrimento e adoecimento advindos de transformações pelas quais a sociedade passa

no percurso histórico que a influencia (ANTUNES, 2009).

O trabalho permanece passando por transformações procedentes do modelo capitalista,

neoliberal vigente na sociedade com forte influência do preconizado por Frederick Taylor2.

Monteiro (2004) e Abrahão et al. (2014) apontaram que a Organização Científica do Trabalho

(OCT), proposta por Taylor, culminou na divisão do trabalho, diferenciando e separando os

que pensam e os que executam, marcando o que ficou conhecido como trabalho parcelar.

Durante praticamente todo o século XX, a partir da segunda década, as concepções

Tayloristas e também as Fordistas vigoraram no sistema produtivo ocidental impactando

maciçamente no processo de trabalho. Uma das características de sistema de produção seria o

foco no trabalho parcelar e fragmentado, primando pela racionalização das tarefas realizadas

pelos trabalhadores, em ritmos acelerados (FRANCO, 2011). Antunes (2009, p. 39) afirma

que esse “processo produtivo caracterizou-se, portanto, pela mescla da produção em série

fordista com o cronômetro taylorista”, assim como dicotomizou a elaboração e a execução das

tarefas.

Nesse contexto Gianotti (2010, p.62), aponta que o rumo do trabalho na sociedade

contemporânea se configura pela venda da força de trabalho em troca de salário, “o

trabalhador converte-se num mero objeto, numa mercadoria como outra qualquer, cuja

produção passa a ser regulada pela lei da oferta e da procura”. Neste excerto reside a

ambivalência do trabalho, ao mesmo tempo em que objetiva a satisfação, a realização, o

prazer, na conformação atual em um sistema de produção, observa-se sofrimento e o

adoecimento do trabalhador, considerado como um objeto que vende sua força de trabalho por

um salário.

Em sua trajetória histórica, o sentido do trabalho tinha uma concepção negativa e

desvalorizada por ser realizado por escravos, outrora se caracterizava por atividades

servis/servidão, de subsistência e de caráter religioso (RIBEIRO et al., 2012). Trazendo a

ideia de sofrimento e labuta, a palavra trabalho é etimologicamente originária do latim

2 Frederick W. Taylor: “pai da administração científica”, foi um engenheiro mecânico nas fábricas Midvale e

Bethleheim Steel, Pensilvânia, no final do século XIX, criou a Organização Científica do Trabalho (OCT)

(MARQUIS, B. F; HUSTON, C. J, p.35).

24

tripalium que significa ferramenta de tortura, refletindo um sentido de sofrimento e penar

(LHUILIER, 2013). Considerando as mudanças ocorridas no sentido pleno do trabalho,

resgata-se esse conceito no qual as relações foram e estão hoje marcadas por exigências,

pressão e esforços para o alcance dos resultados a que se propunha (ANTUNES, 2009).

Percebe-se então que, no contexto contemporâneo as relações homem-trabalho cada

vez mais estabelecem uma desapropriação que pressupõe a “sujeição do corpo” por um

processo “mudo e invisível”, alienante em benefício da produtividade, contribuindo para a

exaustão emocional e adoecimento (SÁ; SILVA; FUNCHAL, 2014). Posto isto, a anuência

dos trabalhadores às exaustivas cargas de trabalho com vistas ao fortalecimento das

perspectivas econômicas, tecnológicas e financeiras, tornaram-no menos críticos e reflexivos

sobre suas atividades, sujeitos a adoecer frente às fortes pressões impostas pelo modelo de

organização do trabalho com ênfase no lucro (BRASIL, 2011).

Os trabalhadores estão sujeitos fortemente ao trabalho prescrito (normatizado, normas

e regras), perdendo a governabilidade sobre os meios de produção, o que os torna refém de

um sistema focado para a produção, para obter os resultados exigidos pelo contratante

(BRASIL, 2011; RIBEIRO et al., 2012). As concepções político-econômicas alteraram de

maneira imperiosa o mundo do trabalho, a sociedade e radicalmente a vida dos trabalhadores.

O ritmo humano intenso, a fragmentação do trabalho, as condições insalubres, a

relação de dominação e subordinação, obriga-os aos ajustamentos para realização das

atividades e a luta por melhores condições de vida e de trabalho através das representações da

classe. O trabalhador não perde o estímulo de “permanecer produzindo, além de ter a

oportunidade de identidade e construção de um sujeito psicológico e social” (RIBEIRO et al.,

2012; SÁ; SILVA; FUNCHAL, 2014, p.125).

Ademais, alguns aspectos são considerados balizadores para a precarização do mundo

do trabalho, por exemplo, o resultado das relações flexíveis e informais, a privatização

exacerbada, insegurança dos vínculos, longas jornadas de trabalho, perda dos direitos sociais

dos trabalhadores e de benefícios (ANTUNES, 2009; CAVALCANTE; LIMA, 2013).

Lhuilier (2013) afirma ainda que a flexibilidade seja a modalidade padrão das empresas na

atualidade, gerando insegurança no mercado de trabalho, estimula a competitividade, e de

certa maneira define uma das características da contemporaneidade, a redução do trabalho

estável em detrimento à prestação de serviços, subcontratação.

A ideia contemporânea do trabalho está caracterizada por uma classe de trabalhadores

assalariados que vivem da venda de sua mão de obra sem deter os meios de produção em

troca de um salário. O perfil dos trabalhadores supracitados é denominado no pensamento

25

marxista de trabalhadores produtivos, homens e mulheres que produzem diretamente a “mais

valia” e que também são participantes do processo de valorização do capital (MARX, 2002).

Observa-se que os processos de trabalho foram influenciados pelas concepções

socioeconômicas que repercutiram fortemente na relação homem-trabalho e atualmente, ainda

é caracterizado pela racionalização capitalista, fragmentação do trabalho, divisão das tarefas

em prol da intensificação do capital e do lucro. Tal retrato não se restringiu apenas ao setor

industrial, mas, ampliou aos demais setores, como por exemplo, ao setor de prestação de

serviços de saúde.

No contexto do trabalho em saúde observa-se o reflexo dessas transformações e a

influência socioeconômica a que o trabalho foi submetido. O surgimento de inúmeras

especializações pode ser tomado como exemplo, uma vez que estimula a fragmentação do

cuidado em saúde e a divisão técnica ou parcelar do trabalho (CECÍLIO; LAGAZ, 2012).

Somando-se a isso, as tecnologias de saúde fortemente presentes no trabalho em

saúde, norteando o cuidado no âmbito hospitalar, predominando dessa maneira o caráter

técnico-mecanicista (SÁ; SILVA; FUNCHAL, 2014). Nesse aspecto, o trabalho desenvolvido

no CME também foi influenciado por essa tendência, parcelando-o em estações ou áreas,

configurando as etapas de processamento dos PPS.

2.2 O Processo de Trabalho no Centro de Material e Esterilização

Um CME articula-se necessariamente com os demais setores do hospital e com outras

unidades de saúde, uma vez que sua atividade fim consiste em fornecer PPS para suprir a

assistência direta ao usuário, seja aquela que ocorre no CC, nas unidades de internação, assim

como nos ambulatórios e nos setores de diagnóstico e àqueles de urgências e emergências

(COSTA; FUGULIN, 2011; GIL; CAMELO; LAUS, 2013; SOBECC, 2017). Assim, a

relação de trabalho no CME não se dá pelo cuidado direto.

Historicamente, houve a racionalização do processo de trabalho no CME com o

advento da complexidade e sofisticação dos materiais utilizados nos atos cirúrgicos nas

últimas décadas do século XX. Buscou-se então, maiores especificidades para o

processamento de PPS, que passaram a serem processados com base na divisão parcelar do

trabalho em etapas, como numa linha de montagem: (1) recepção dos PPS contaminados, (2)

limpeza, (3) desinfecção, (4) preparo, (5) acondicionamento, (6) esterilização, (7)

armazenamento e (8) distribuição dos artigos PPS processados (ASCARI et al. 2013).

É recomendado pela resolução normativa brasileira, que o responsável seja

profissional de nível superior, atuante exclusivamente nessa unidade, gerenciar o processo de

26

trabalho e o processamento de PPS. Cabe observar as condições do ambiente, buscando

construir estratégias de prevenção de acidentes e/ou adoecimento, articulando ações

intersetoriais com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), CC, Lavanderia,

Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) e

Saúde do Trabalhador, garantindo dessa forma a continuidade do cuidado ao trabalhador

(BRASIL, 2012a).

Tradicionalmente, a responsabilidade técnica do CME fica a cargo do enfermeiro, que

exerce funções administrativas, gerenciais e de supervisão, garantindo segurança em todas as

etapas do processamento. Entretanto, tal responsabilidade não é exclusiva dessa categoria

profissional, pode ser realizada por outras categorias de profissionais da área da saúde que

tenham respaldo teórico-científico por meio de curso de qualificação e certificado em práticas

de processamento de PPS, assim como atualizações periódicas (BRASIL, 2012a).

Dentre as atividades administrativas, compete à coordenação e elaboração de

Procedimentos Operacionais Padrão (POP) com embasamento científico, processos de

monitoramento e avaliação da qualidade das etapas de processamento, pesquisas, treinamento

e habilitação dos recursos humanos alocados para esse posto de trabalho (WHO; PAHO,

2016). Considerando ainda, a competência científica e tecnológica baseado em evidências,

para que possa habilitar com conhecimentos científicos e técnico-operacionais os demais

integrantes da equipe (COSTA; FUGULIN, 2011; BRASIL, 2012a; WHO; PAHO, 2016;

APSIC, 2017; SOBECC, 2017).

Considera-se o CME como uma área crítica, notavelmente por recepcionar PPS usados

na assistência direta à saúde, contaminados com secreções orgânicas provenientes dos

procedimentos realizados em âmbito hospitalar. O ambiente e a organização do trabalho

expõem os trabalhadores a diversos riscos ocupacionais, não somente ao risco biológico, mas

também outros inerentes ao desenvolvimento das atividades peculiares ao setor, tais como

químicos (vapores, líquidos), físicos (ruídos, temperatura elevada, iluminação inadequada),

psicossociais (estresse, insatisfação, sobrecarga mental) e ergonômicos (esforços físicos,

posições incômodas) (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011).

Nesse aspecto, Aquino et al. (2014) citam que a estrutura física deve atender às

normas vigentes, possibilitando um fluxo contínuo e unidirecional (linear) para o

processamento seguro de PPS, no sentido da área suja para a área limpa, respeitando assim as

etapas do processamento. Tal exigência encontra-se regulamentada pelas legislações vigentes,

assegurando inclusive que seja previsto nos projetos arquitetônicos do setor, as barreiras

físicas entre as áreas (BRASIL, 2012a; SOBECC, 2017).

27

Cabe ainda considerar, que para um adequado desenvolvimento do processo de

trabalho no CME, o ambiente deve comportar a demanda diária de processamento de PPS, a

quantidade de leitos da unidade hospitalar, o número de cirurgias e a quantidade de salas

cirúrgicas que a unidade disponibiliza, assim como as condições de armazenagem e

distribuição dos produtos de saúde esterilizados (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011;

SOBECC, 2017).

O CME processa PPS classificados como críticos, aqueles que são utilizados nos

tecidos humanos estéreis ou no sistema vascular, isentos de flora microbiana própria, então

são artigos que requerem esterilização. Mas, também tem a responsabilidade do

processamento dos artigos semicríticos, que são aqueles usados em mucosas íntegras ou em

pele não íntegra e devem receber processamento para desinfecção de nível alto ou

intermediário. Os artigos não críticos também são tratados em CME, são eles aqueles que

entram em contato somente com a pele íntegra do usuário, requerendo limpeza e/ou

desinfecção de baixo ou médio nível (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011; BRASIL,

2012a; SOBECC, 2017).

Alguns PPS são classificados ainda, quanto à conformação complexa e não complexa,

assim, consideram-se instrumentais críticos de conformação complexa, os que apresentam

lúmen inferior a cinco milímetros ou com fundo cego, espaços internos inacessíveis para a

fricção direta, reentrâncias ou válvulas exigindo processo de limpeza de preferência

automatizada. Os de conformação não complexa são aqueles cujas superfícies internas e

externas podem ser atingidas por escovação durante o processo de limpeza e tenham

diâmetros superiores a cinco milímetros nas estruturas tubulares (GRAZIANO; SILVA;

PSALTIKIDIS, 2011; SOBECC, 2017).

No que tange ao processamento, destaca-se que os CME podem ser classificados em

dois tipos: Classe I que realizam o processamento de PPS não-críticos, semicríticos e críticos

de conformação não complexa, passíveis de processamento. E os de Classe II, que

operacionalizam as funções supracitadas e o processamento de artigos de conformação

complexa e não complexa (BRASIL, 2012a; SOBECC, 2017).

O processamento de PPS torna-se cada dia mais meticuloso, à medida que surgem

novos designs de produtos, além dos avanços científicos na área de esterilização e de

procedimentos cirúrgicos, o que torna a etapa de limpeza um grande desafio para os

trabalhadores. Cada vez mais os instrumentais cirúrgicos tornam-se específicos, precisando de

atenção redobrada e conhecimento técnico no processo de limpeza, necessitando serem

desmontados para total retirada das sujidades de origem orgânica e inorgânica (RUBINI et al.

28

2014).

As complexidades das tarefas no contexto do processo de trabalho nos CME em

decorrência do aprimoramento tecnológico exigem dos trabalhadores conhecimento técnico

profundo e habilidades laborais mais acuradas. É necessário que saibam lidar com a presença

de condicionantes que podem interferir na saúde, os riscos para acidentes de trabalho e da

possibilidade de desencadear processos de adoecimento (WHO; PAHO, 2016).

Posto isto, a especificidade das tarefas prescritas, exige que os trabalhadores da equipe

de enfermagem estejam qualificados e habilitados de forma contínua e permanente para o

bom desenvolvimento do trabalho, primando pela organização do serviço, qualidade,

segurança e saúde no ambiente. O processo de trabalho nesse setor é peculiar, exige atenção,

concentração e é marcado por exigências de qualificação dos trabalhadores atuantes, assim

como a estrutura deve favorecer o fluxo de trabalho contínuo e unidirecional (BRASIL,

2012a; BORGHETI; VIEGAS; CAREGNATO, 2016).

A Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica

e Centro de Material Esterilizado (SOBECC), recomenda que as boas práticas para o

processamento de PPS dependem também da atualização dos trabalhadores que atuam no

CME. É imperioso que tenham atualização com base em evidências científicas e tecnológicas

periodicamente, inerentes ao processamento e esterilização dos PPS (SOBECC, 2017). Tal

exigência também é requisitada pela Sociedade Ásia-Pacífico de Controle de Infecções

(APSIC) conforme consta no Guideline for Disinfection and Sterilisation on of instruments in

Health Care Facilities (APSIC, 2017).

Diante do exposto, nota-se que o ambiente de trabalho, a organização e as tarefas

desenvolvidas no CME, estão estritamente relacionadas com a exposição ocupacional e

possíveis agravos à saúde, que podem levar ao adoecimento dos trabalhadores. Desse modo,

é necessária a discussão dos condicionantes e dos determinantes na situação de trabalho

estudada.

2.2.1 Condicionantes e Determinantes dos Agravos à Saúde no Centro de Material e

Esterilização

O trabalho em saúde apresenta grandes potenciais de riscos ocupacionais. Entretanto o

reconhecimento dos riscos presentes na atividade laboral, nem sempre despertam os

trabalhadores a adotarem um comportamento de proteção/segurança (VILELA; BARRETO;

GEBRIM et al., 2015). Em virtude das atividades serem realizadas em locais insalubres com

risco de contaminação com microrganismos, o risco biológico, comumente é o mais

29

reconhecido pelos trabalhadores. Spagnol et al. (2015) acrescentam nesse aspecto, que as

atividades nos CME expõem os trabalhadores além do risco biológico, as exigências

fisiológicas, cognitivas, especialmente na questão de tempo e ritmo de trabalho.

No estudo realizado por Espindola e Fontana (2012), foi evidenciado que o risco mais

referido pelos trabalhadores de um CME foi a exposição às altas temperaturas durante o

processo de esterilização, por meio das autoclaves (vapor saturado sob pressão). Quanto à

medida de precaução as mais usadas pelos trabalhadores foram à vacinação, uso de

Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e hidratação.

Nesse contexto, percebe-se que os condicionantes físicos, mentais e psicológicos

podem afetar à saúde dos trabalhadores atuantes do CME e o desempenho nas tarefas

instituídas, maximizando cargas existentes no ambiente. O estudo realizado por Aquino et al.

(2014) aponta que as doenças ocupacionais destacam-se e estão relacionadas com a intensa

ritmicidade das atividades e elevadas demandas que condicionam os trabalhadores a

permanecerem por longos períodos na posição em pé, exigindo esforço físico extenuante e

frequente presença de riscos durante toda a dinâmica operacional do processamento de PPS.

Somando-se ao exposto, Guérin et al. (2001) contribuem afirmando que alguns

padrões de organização de trabalho podem gerar situações constrangedoras e desgastes

humanos que impactam no desempenho das atividades laborais, ocasionando danos e/ou

agravos à saúde física e mental do ser humano. Corroborando nesse sentido, o estudo

realizado por Salvagni, Giaretta e Posso (2015) evidenciou risco físico (ruídos) por meio da

aferição com um decíbelimetro do modelo Icel Manaus DL-4100, com média de Nível de

Pressão Sonora (NPS) de 77,2 dB (A) nas áreas de recepção e limpeza de um CME.

Esses autores identificaram ainda que a origem da emissão dos ruídos no CME foi em

decorrência da utilização do gás medicinal (ar comprimido) usado para secagem dos materiais

com lúmens pequenos (complexos), do uso das autoclaves e das lavadoras ultrassônicas.

Outro resultado encontrado como risco físico, refere-se ao estudo de Salvagni, Giaretta e

Posso (2015) que relatam que às áreas de recepção e limpeza dos CME que eram

relativamente pequenas, dessa forma concentrando uma quantidade expressiva de

funcionários e que a conversa excessiva poderia interferir nas tarefas executadas

(SALVAGNI; GIARETTA; POSSO, 2015).

Outra característica do CME que pode ser considerada como condicionante de agravos

à saúde, consiste no fato de ser um setor restrito, ou seja, um ambiente fechado com limitação

de entrada e saída de funcionários, o que potencializa os ruídos. Acrescente-se, ainda, a

execução de tarefas monótonas e repetitivas durante exaustivas jornadas de trabalho, o que foi

30

evidenciado na pesquisa empreendida por Espindola e Fontana (2012) sobre riscos

ocupacionais e mecanismos de autocuidado do trabalhador de um CME.

Os autores indagam ainda que, em relação à organização do trabalho, registra-se a

característica de um setor de produção, seguindo austeras regras sequenciais para o

provimento dos produtos para a saúde, esterilizados em tempo e quantidade necessária,

contribuindo para a continuidade da assistência ao usuário de forma segura (ESPINDOLA;

FONTANA, 2012). O rigor no cumprimento de todas as etapas é fundamental para um

processamento eficaz e livre de microrganismos.

Outros autores, como Costa et al. (2015a) e Graziano, Silva e Psaltikidis (2011),

observaram que a organização do trabalho se assemelha àquela que ocorre em uma indústria e

segue uma dinâmica operacional sistemática para chegar ao produto final, isto é, PPS livres de

contaminação e seguros para o uso. Para que tal organização se concretize é necessária uma

infraestrutura apta para o cumprimento de todas as etapas do processamento e profissionais

habilitados para a execução das tarefas prescritas.

Madeira et al. (2015) valida essa premissa no sentido de que os trabalhadores devem

ter aporte técnico-científico sobre produção e controle de qualidade em todas as etapas, além

da necessidade de atenção criteriosa. A equipe do CME é responsável pelas tarefas de

monitoramento físico, químico e biológico, validação de processos e rastreabilidade dos

produtos.

Nessa perspectiva, cabe salientar que nos CME o quantitativo de pessoal e a

estrutura física variam e são influenciados pelo ambiente de trabalho, fluxo e do melhor uso

do tempo da equipe, portanto o número de funcionários necessários em cada turno dependerá

da complexidade da assistência prestada pelo estabelecimento de saúde e quantidade de

cirurgias (WHO; PAHO, 2016). Com referência ao dimensionamento de profissionais de

enfermagem de nível médio (auxiliares e técnicos), o Conselho Federal de Enfermagem

(COFEN) por meio da Resolução nº543/2017, estabelece parâmetros com base na produção

do setor e tempo padrão para as atividades realizadas nas diferentes áreas dos CME.

Quanto aos enfermeiros, recomenda que tenha no mínimo um profissional no período

de funcionamento do setor e o enfermeiro responsável técnico (COFEN, 2017). Costa e

Fugulin (2011) concluíram que para a validação das atividades do CME, é imprenscindível

que os serviços de saúde avaliem a carga de trabalho, para que tenha um dimensionamento de

pessoal adequado, atenuando uma possível sobrecarga de trabalho.

Para Bittencourt et al. (2015), os fatores determinantes de agravos e/ou adoecimento

no CME, são a sobrecarga de trabalho, exposição a patógenos causadores de doenças,

31

produtos químicos usados nos processos de desinfecção e esterilização química, rotinas

monótonas, repetitividade de movimentos, ritmos intensos e mecanizados. Ainda sobre

possíveis determinantes de adoecimento, Aquino et al. (2014) evidenciaram em seu estudo

sobre a ocorrência de acidentes de trabalho e os principais riscos ocupacionais que estão

expostos os trabalhadores de enfermagem em uma unidade hospitalar pública e privada.

Esses autores identificaram na instituição pública, que 27,3% dos trabalhadores já

haviam sofrido acidentes no CME, destes 83,3% com material perfurocortante e na instituição

privada 46,7% dos trabalhadores sofreram acidentes, 57,1% destes por queimaduras em

autoclave (AQUINO et al., 2014). Logo, as queimaduras e acidentes com material

perfurocortante foram os acidentes ocupacionais de maior ocorrência.

Outro fator de risco voltado para o perfil dos trabalhadores que atuam em um CME foi

encontrado no estudo realizado por Gouveia, Oliveira e Lira (2016), citam a prevalência de

66,7% dos trabalhadores do sexo feminino executando atividades de manuseio de produtos de

saúde nas autoclaves, que exigem força física e esforço muscular, assim como a manutenção

de posturas estáticas prolongadas para a execução das etapas do processamento. A

predominância do sexo feminino nesse ambiente de trabalho foi encontrada também em

outros estudos, no patamar de 93,5% e 64,7% (GIL; CAMELO; LAUS, 2013; COSTA;

SOUZA; PIRES, 2016).

Desse modo, notou-se que existem nas etapas do processamento de PPS nos CME,

fatores de risco que podem desencadear processos de desgastes e de adoecimento. Para

analisar como as condições de trabalho apresentadas podem favorecer os riscos ergonômicos e,

então, desencadear agravos à saúde do trabalhador, é necessário compreender inicialmente o que

seria ergonomia e como inadequações ergonômicas podem comprometer a saúde.

Como ferramenta para analisar a dinâmica de trabalho em um CME, outra não poderia ser

escolhida senão a AET. Mostra-se como um eficiente método de avaliar uma situação por meio da

observação do agir dos trabalhadores, de suas características e capacidades físicas, psicológicas,

fisiológicas e sociais, assim como das estruturas organizacionais do trabalho e dos equipamentos,

com vistas a buscar e preservar um ambiente seguro e a garantia do bem estar físico e mental para

os trabalhadores (ABRAHÃO, 2014).

2.3 Ergonomia e Análise Ergonômica do Trabalho

A palavra ergonomia é de origem grega, ergon (trabalho) e nomos (leis e regras). O termo

foi usado pela primeira vez em 1857 pelo cientista polonês Wojciech Jastrzebowski, na obra

“Ensaios de Ergonomia, ou Ciência do Trabalho”, com princípios nas leis objetivas da ciência

32

sobre a natureza (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012; ABRAHÃO et al., 2014; CORRÊA;

BOLETTI, 2015).

Moraes e Mont‟Alvão (2012) afirmam que a ergonomia é uma ciência que busca entender

como os determinantes presentes no ambiente de trabalho atingem o desempenho humano.

Consiste ainda, em averiguar as interfaces que compõem a atividade humana em busca da

adaptação do trabalho ao homem, atenuando situações constrangedoras e fatores condicionantes

de agravos e/ou adoecimento dos trabalhadores (DUL; WEERDMEESTER, 2013).

Foi inicialmente influenciada por vários campos de conhecimento como, a engenharia,

medicina, psicologia, sociologia e fisiologia no intuito de buscar informações para adequação

de equipamentos, ambiente de trabalho, assim como à necessidade de se conhecer mais sobre

o homem, suas habilidades, limites físicos e psicológicos, desgastes e capacidades.

Posteriormente, tornou-se mais abrangente atrelando outras áreas científicas (antropometria,

biomecânica, toxicologia, desenho industrial, ciências da computação) em decorrência do seu

caráter transdisciplinar (CORRÊA; BOLETTI, 2015).

Quanto à abordagem ergonômica, existem a anglo-saxônica e a francofônica, as quais

compreendem a ergonomia clássica centrada no componente humano dos sistemas homem-

máquina e a ergonomia centrada na atividade humana (PIZO; MENEGON, 2010; PINTO;

TERESO; ABRAHÃO, 2015). Verifica-se que as duas abordagens não são excludentes, mas

se complementam na intervenção ergonômica, favorecendo a compreensão do contexto do

trabalho possibilitando dessa forma, a transformação deste (GUERIN et al., 2001).

Atualmente as práticas ergonômicas apresentam três domínios de especialização,

conforme definido pela International Ergonomics Association (IEA) e descritos por Corrêa e

Boletti (2015) que compreendem a:

Ergonomia Física: refere-se às características da anatomia humana, antropometria,

fisiologia e a biomecânica corporal em sua relação com a atividade física, tendo como tópicos

o estudo da postura no ambiente de trabalho, manuseio de ferramentas, movimentos

repetitivos, distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho

em segurança e saúde dos trabalhadores;

Ergonomia Cognitiva: realiza análise dos processos mentais, como percepção,

memória, raciocínio e resposta motora conforme afetam as interações estabelecidas entre as

pessoas e outros componentes de um sistema. Como tópicos importantes incluem o estudo da

carga de trabalho mental, tomada de decisão, estresse ocupacional;

Ergonomia Organizacional: relaciona-se com a otimização dos sistemas sócio-

técnicos, incluindo as estruturas organizacionais, políticas e processos. Tem como tópico a

33

comunicação entre os profissionais da organização, projetos de trabalho, concepção do

trabalho, trabalho em equipe, cultura organizacional e gestão de qualidade.

No aspecto normativo brasileiro, a ergonomia está prevista na Norma

Regulamentadora (NR) 17 que estabelece “parâmetros que possibilite a adaptação das

condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a

proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (CORRÊA;

BOLETTI, 2015, p.46). A referida norma referencia que as condições de trabalho englobam

os seguintes aspectos: “o levantamento, transporte e à descarga de materiais, mobiliários e

equipamentos, às condições ambientais do posto de trabalho e à organização” (BRASIL,

1990; BERNARDO et al. 2012, CORRÊA; BOLETTI, 2015, p.96).

Guérin et al. (2001) corroboram apontando os principais elementos que configuram a

situação de trabalho, que podem ocasionar sofrimento físico-psíquico-social e/ou

aparecimento de doenças ocupacionais. A atividade de trabalho é o “elemento central” que

integra os componentes da situação. A Figura 1 mostra alguns desses elementos, de um lado o

operador/trabalhador com suas características próprias, formação, anseios, do outro à empresa

com suas regras de funcionamento, condições de trabalho.

Figura 1 - Elementos envolvidos na situação de trabalho

O operador A empresa

Fonte: GUÉRIN et al. (2001, p. 27).

Características

pessoais

Sexo, Idade,

Características

Físicas....

Experiência,

formação adquirida

Estado momentâneo

Fadiga, ritmos

biológicos, vida fora

do trabalho

Tarefas

Prescritas

------------

Tarefas reais

Contrato

Atividade de

trabalho

Saúde, acidentes,

competências...

Produção, qualidade....

Objetivos

Ferramentas

Natureza, desgaste,

regulagens, documentação,

meios de comunicação,

programa de computador...

Tempo

Horários, cadências...

Organização do trabalho

Instruções, distribuição

das tarefas, critérios de

qualidade, tipo de

aprendizagem..

Ambiente

Espaços, tóxicos,

características físicas..

34

O documento instrutivo (contrato) que norteia a organização do trabalho, as tarefas

prescritas e reais e a atividade de trabalho, posiciona-se ao centro. Observa-se ainda, que a

atividade de trabalho estabelece uma relação estreita entre os elementos que contribuem para

o alcance dos resultados que influenciam os aspectos de qualidade e quantidade da produção,

bem como podem ter implicações negativas (disfunção da saúde biopsicossocial) ou positivas

(crescimento profissional e aquisição de habilidades e competências) aos trabalhadores

(GUÉRIN et al., 2001).

A AET é a metodologia utilizada em ergonomia para estudar os elementos envolvidos

numa situação real de trabalho, fornecendo informações sobre como esse elementos

influenciam os trabalhadores e a produção. Nesse sentido para Corrêa e Boletti (2015)

afirmam que a AET é um método “construtivo e participativo” para evitar ou sanar problemas

que possam desencadear desconforto e queda de produção, intervindo na segurança do

trabalho.

A AET visa à compreensão do processo de trabalho nas suas diversas dimensões,

buscando (re) significar as situações de trabalho respeitando as variabilidades do homem. O

olhar ergonômico objetiva propor condições de trabalho em consonância com as capacidades

do ser humano, primando pela segurança e conforto. Dessa forma, consideram à

individualidade de cada trabalhador, buscando transformar o ambiente de trabalho em

atendimento as singularidades, sem provocar prejuízos no resultado final (ABRAHÃO et al.,

2014).

O marco histórico da AET caracterizou-se pela obra de Faverge e Ombredane (1955),

considerada às primeiras bases de análise do trabalho (GUÉRIN et al. 2001). Está estruturada

em etapas e ações que sequencialmente buscam compreender e transformar o trabalho

(SEMENSATO, 2013; ABRAHÃO et al. 2014).

Como método de estudo, a AET compreende não somente as dimensões do ambiente

de trabalho, mas também considera os aspectos do agir do trabalhador que impactam nos

resultados da produção e está dividida em três fases, a saber, (GUÉRIN et al. 2001;

ABRAHÃO et al. 2014, CORRÊA; BOLETTI, 2015):

Análise da Demanda: compreendida pela “situação que passa pela contextualização

do problema proposto pela tarefa em análise, no cenário interno e externo à empresa,

caracterizada pelo levantamento de informações gerais”, estabelece o ponto de início para as

demais fases;

Análise da Tarefa: refere-se ao trabalho prescrito (instrução de trabalho) e os

requisitos físicos para execução da tarefa (normas, protocolos validados), as ações dos

35

trabalhadores são controladas por ela;

Análise da Atividade: corresponde à etapa de observação do trabalho efetivamente

realizado, através da observação das atividades mentais e físicas do trabalhador, é

fundamental na análise ergonômica, pois compreende as diversas dimensões inerentes na

relação homem-trabalho.

Na AET se faz a confrontação entre trabalho prescrito e real, sendo necessário analisar

os aspectos que definem e regula o prescrito, definido por normas, procedimentos, regras,

organização dos postos de trabalho (pausas, horários, ritmos) e o que de fato é realizado pelos

trabalhadores para o cumprimento do que se deseja alcançar (MORAES; MONT‟ALVÃO,

2012; SEMENSATO, 2013; ABRAHÃO et al., 2014). Nesse ínterim, observa-se que

estruturas organizacionais de trabalho rígidas, comumente provocam situações de

constrangimento ao trabalhador, pois estes submetem-se a uma configuração de trabalho

comumente baseado no modelo Taylorista, orientado pela divisão social do trabalho (LIMA;

DUARTE, 2014).

Guérin et al. (2001) afirmam que a tarefa não é o trabalho, e sim o que é prescrito pelo

empregador ao empregado, pois o trabalho realizado ou real é diferente do prescrito ou

“teórico”. Lhuilier (2013) contribui nesse aspecto, abordando que o trabalho real não condiz

com o trabalho prescrito, pois este está atrelado a um conjunto de normas e regras que

simbolizam o poder da hierarquia e a submissão às lógicas da organização. Mesmo ocorrendo

imprevistos, no final surgem frequentemente as adaptações da situação, provocando uma

“quebra nas prescrições/normas oficiais” (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012).

A figura 2 mostra que a tarefa é um resultado antecipado, fixado e incluso nas

condições determinadas, sendo imposta ao trabalhador, de forma que determina e constrange

sua atividade, mas possibilita ao trabalhador que ele a realize, determinando assim o trabalho

real.

Figura 2 - Dinâmica entre o Trabalho Prescrito e o Trabalho Real

Fonte: GUÉRIN et al. (2001, p.15)

36

Dessa maneira, a tarefa “mantém relação estreita com a atividade de trabalho, por

meio das condições reais e dos resultados efetivos” (GUÉRIN et al. 2001, p.14). Dessa

maneira, a atividade é a forma de ajustamento à situação real de trabalho, compreende o que

de fato é desenvolvido pelo trabalhador e a maneira que efetua suas tarefas. Tal análise

proporciona a identificação da variabilidade das situações de trabalho, biológica e psicológica

dos trabalhadores (ABRAHÃO et al., 2014).

Dessa forma, a AET aborda de maneira sistemática e integradora a situação de

trabalho a partir da análise da atividade, considerando todos os aspectos que envolvem as

relações entre o processo produtivo e o adoecimento. Nessa perspectiva, o conhecimento

produzido suscitará ações que busquem à melhoria da qualidade de vida do trabalhador, tendo

em vista que identificará circunstâncias de vulnerabilidade e riscos que influenciam no

processo saúde-doença dos trabalhadores no cenário laboral (DIAS; SILVA; ALMEIDA,

2012).

3 METODOLOGIA

3.1 Delineamento do Estudo

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo transversal e abordagem quanti-qualitativa,

utilizando a metodologia da AET. O método da AET foi utilizado para avaliar as condições de

trabalho e analisar as atividades realizadas nesse setor de trabalho, pois esse método realiza

pesquisas descritivas, assim como busca “classificá-los e interpretá-los” (MORAES;

MONT‟ALVÃO, 2012, p.61).

A AET enquanto metodologia utiliza diversas técnicas, como a observação sistemática

e assistemática, registros de comportamento e investigação por meio de questionário e

aferição dos riscos físico-ambientais (MORAES; MONT‟ALVÃO, 2012; ABRAHÃO et al.,

2014). Entretanto este estudo baseou-se apenas na observação sistemática e demais técnicas

supracitadas.

No que se refere à abordagem quantitativa, Prodanov e Freitas (2013, p.69)

consideram tudo que é “quantificável, o que significa traduzir em números, opiniões e

informações para classificá-la e analisá-la”. Dalfovo et al. (2008) enfatizam ainda que tem

como diferencial, garantir a precisão dos trabalhos realizados, trazendo resultados com

mínimas distorções e que a coleta de dados é comumente realizada por instrumentos como

questionários e entrevistas com variáveis que são apresentadas na fase de tratamento por

tabelas e gráficos.

Optou-se, ainda, por uma abordagem qualitativa para análise das questões subjetivas

(abertas) produto da aplicação dos instrumentos de coleta de dados, assim como para análise

dos registros fotográficos. Essa foi escolhida por ser capaz de analisar a situação de trabalho

que considera os aspectos da realidade que não podem ser quantificados, como o agir dos

trabalhadores, às condições do ambiente de trabalho, centrando-se na compreensão e

explicação da dinâmica das relações sociais (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Com

referência a esse ponto, Corrêa e Boletti (2015) acrescentam que são identificados fatores

determinantes relacionados à organização do trabalho, tomada de decisões, riscos

psicossociais e ergonômicos.

3.2 Cenário do Estudo

O estudo foi realizado em Porto Velho, capital de Rondônia (RO), com uma estimativa

da população residente no Estado de 1.805.788 habitantes, no ano de 2017, e de 519.436 no

município, o qual está localizado às margens do Rio Madeira (IBGE, 2017).

38

O município de Porto Velho dispõe de quatro CME com capacidade técnica

operacional compatível com a demanda do serviço de saúde (SS) que estão inseridas e todos

localizados nas unidades hospitalares públicas que prestam assistência pelo SUS. No que se

referem à rede privada, seis estão localizados nos hospitais que oferecem assistência

hospitalar aos usuários por meio de operadoras e/ou planos de saúde (DATASUS, 2017).

O CME selecionado para o estudo foi o do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro

(HBAP), que é considerado um hospital geral, de grande porte, referência estadual de

assistência terciária, constituindo-se na maior unidade hospitalar da rede pública do

Estado, com 610 leitos e 2.186 servidores (DATASUS, 2017). Realiza atendimento dos

usuários do SUS provenientes dos 52 municípios do estado de RO, além do Amazonas,

Acre e Bolívia, os quais fazem fronteira.

Hierarquicamente, o HBAP está subordinado à Secretaria de Estado da Saúde de

Rondônia (SESAU-RO), fornece assistência diuturnamente em regime de internação

hospitalar, por demanda espontânea e referenciada nas diversas especialidades médicas,

configurando-o como centro de referência em tratamentos de média e alta complexidade

(RONDÔNIA, 2016; DATASUS, 2017).

3.3 População do Estudo

A população do estudo foi constituída por enfermeiros, auxiliares/técnicos de

enfermagem, secretária e funcionários responsáveis pelos serviços de limpeza e higiene do

setor, perfazendo 45 trabalhadores, distribuídos em plantões diurnos e noturnos de 12 horas,

totalizando uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. Considerou-se como critérios de

inclusão ser trabalhador atuante do CME/HBAP e de ambos os sexos. E como critérios de

exclusão, estar de licença médica, férias e licença-prêmio. Dessa maneira, foram excluídos do

estudo, seis trabalhadores por apresentarem um dos critérios mencionados.

Logo, o estudo contou com a participação de 29 auxiliares e/ou técnicos de

enfermagem, seis enfermeiros, três funcionários de serviços gerais da empresa terceirizada e

uma secretária, totalizando 39 participantes.

3.4 Procedimentos para a coleta de dados: Análise Ergonômica do Trabalho

3.4.1 Primeira Etapa: Instrução da Demanda

A demanda deste estudo tem origem em março de 2016, quando estava designada

como docente responsável no acompanhamento do ensino prático dos acadêmicos do curso de

39

enfermagem da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) no CME/HBAP. Nesse ínterim,

iniciou-se o reconhecimento do processo de trabalho em cada área funcional do CME, o fluxo

das etapas do processamento dos PPS, observação das condições do ambiente, manuseio dos

equipamentos (autoclaves, plasma de peróxido de hidrogênio, termoseladoras, incubadoras) e

interação com os trabalhadores que realizavam atividades peculiares ao setor.

Durante os cinco meses de atuação, a pesquisadora e os acadêmicos foram inseridos na

dinâmica do trabalho no período das 07h30min às 12h30min de segunda à sexta-feira. Por

meio da observação sistemática participativa das atividades e o constante exercício de

confrontação da teoria com a prática e do trabalho real realizado nas etapas do processamento

de PPS, notou-se que algumas tarefas prescritas não estavam em consonância com o trabalho

preconizado pelas normas que regulamentam as atividades no CME.

Houve relatos de trabalhadores referentes às tarefas que exigem posição estática (em

pé) por longos períodos, com queixas de desconforto nas regiões lombares e cervicais, bem

como nos membros inferiores. Como forma de compensar a fadiga e o desconforto provocado

por tal postura, alguns trabalhadores, apoiavam seus pés em cestos aramados que não estavam

sendo usados para o armazenamento dos pacotes de compressas cirúrgicas, gazes e ataduras.

Outros trabalhadores permaneciam na mesma postura até a finalização da tarefa.

Também se registrou a ausência de dispositivos de apoio para descanso dos pés e

pernas. As cadeiras disponibilizadas não possibilitavam regulagem do encosto lombar,

somente altura.

Por considerar a peculiaridade das atividades no CME/HBAP, notou-se também a

prática de trocas de plantão somente entre os trabalhadores deste setor, uma vez que para a

execução das tarefas para o processamento de PPS é necessário que o trabalhador tenha

conhecimento sobre as rotinas do trabalho prescrito, que difere totalmente no que diz respeito

à assistência direta ao usuário.

Ainda nesse aspecto, há aqueles que preferiam trabalhar em plantões noturnos ou aos

finais de semana, entretanto a demanda de tarefas requer do setor, funcionamento ininterrupto,

ou seja, de forma contínua o que significa dizer que a demanda da jornada noturna é

correspondente ao número de cirurgias realizadas durante o período vespertino, somando-se a

isso a demanda de cirurgia no período noturno.

Ademais, foi observado nos mapas cirúrgicos disponibilizados diariamente pelo CC

que durante os finais de semana eram realizadas em média 20 procedimentos cirúrgicos,

acrescentando-se ainda, as cirurgias em caráter de emergência, visto tratar-se de um hospital

público referência na assistência de alta complexidade e na assistência à gestante de alto risco.

40

Por esse ângulo, percebeu-se que o setor é influenciado constantemente pela

demanda de PPS provenientes do CC e do Centro Obstétrico (CO). Essa última unidade,

funciona ininterruptamente, em demanda referenciada, isto é, recebem gestantes de alto risco

encaminhadas da Atenção Primária em Saúde, Maternidade Municipal Mãe Esperança e

também do munícipio de Candeias do Jamari, localizado a aproximadamente 20 km da cidade

de Porto Velho.

Outrossim, houve relato de trabalhadores sobre acidentes pelo uso inadequado do gás

medicinal (ar comprimido) utilizado para o procedimento de secagem de alguns PPS, na área

de limpeza e de preparo, além da falta de informação sobre o uso de alguns EPI‟s como o

protetor auditivo. Notou-se sobrecarga física no manejo dos pacotes de campos operatórios,

capotes cirúrgicos e caixas cirúrgicas durante o carregamento dos carrinhos para

abastecimento das autoclaves e a não adesão ao uso de alguns EPI‟s como, por exemplo, a

luva térmica na tarefa de retirada de cestos aramados, caixas cirúrgicas e pacotes após o

processo de esterilização nas autoclaves, tendo ocorrido relatos de trabalhadores de

queimaduras nos antebraços durante o descarregamento dos artigos esterilizados da autoclave.

Convém acrescentar que o serviço disponibiliza o referido material, entretanto

encontra-se com sinais de desgaste e também conforme relato de alguns trabalhadores, a luva

não protege por inteiro a região do antebraço.

Diante das observações realizadas e da formulação inicial da demanda, busca-se

estudar a situação real de trabalho, considerando que as condições do ambiente laboral, a

exposição aos diversos riscos e a falta de informação sobre os riscos ergonômicos presentes

na relação homem-trabalho são condicionantes que interferem no processo de adoecimento

dos trabalhadores do CME/HBAP.

A seguir será abordada a etapa denominada Análise da Tarefa, que permitirá

confrontar o trabalho prescrito e o trabalho real, por meio do levantamento das normas e

protocolos que regem as tarefas prescritas no CME.

3.4.2 Segunda Etapa: Análise da Tarefa

Nessa etapa, como descrito por Guérin et al. (2001), compreende-se a análise

documental, portanto foram realizadas leituras minuciosas dos protocolos e POP‟s disponíveis

no CME/HBAP, os quais encontram-se impressos para consulta e das diretrizes de práticas de

processamento de PPS recomendadas pela Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro

Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC, 2017),

como também das resoluções instituídas pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e

41

Ministério da Saúde pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Foi então

analisado o trabalho prescrito e quais seriam os requisitos para que a tarefa fosse executada no

ambiente disponibilizado por essa unidade hospitalar.

A análise das tarefas prescritas para o processamento de PPS obedeceu à sequência do

fluxo linear, ou seja, da área suja para a área limpa padronizada pela Resolução da Diretoria

Colegiada (RDC) n°15 da ANVISA (BRASIL, 2012a), que corresponde às salas de recepção

e limpeza (setor sujo), preparo e esterilização (setor limpo), desinfecção química (setor

limpo), armazenamento e distribuição de PPS esterilizados (setor limpo).

3.4.3 Terceira Etapa: Análise da Atividade

Essa etapa compreende o momento de observação sistemática não-participativa da

situação real do trabalho, sendo utilizado diário de campo para registro das atividades

realizadas durante as etapas de processamento, identificando-se a distribuição das tarefas na

jornada, aspectos comportamentais, fisiológicos, psicológicos, ambientais e organizacionais

(ABRAHÃO et al., 2014). Também foram consideradas nessa etapa, observações

relacionadas às questões identificadas no momento da demanda, tipos de atividades por área

de processamento, organização dos tempos de trabalho (horários, ritmos, pausas),

comunicação verbal e não verbal, posturas e gestos.

As atividades de trabalho foram registradas por meio de uma câmera digital da marca

Sony®

Cyber-Shot DSC-H300 com autorização prévia dos sujeitos da pesquisa (Apêndice B),

preservando o anonimato dos mesmos (embaçamento da face). Analisaram-se

minuciosamente as atividades dos sujeitos do estudo, permitindo confrontar as questões

colocadas na etapa da demanda e os constrangimentos impostos no trabalho real realizado no

CME/HBAP, bem como as manobras e posturas, exploração visual, manuseio de

equipamentos, comunicação, pausas efetuadas e deslocamentos, objetivando obter

informações precisas das ações dos trabalhadores e modo operatório adotado.

A coleta de dados foi realizada de 15 de fevereiro a 30 de abril de 2017, durante os

plantões diurnos e noturnos, incluindo os finais de semana. Inicialmente foi realizado o

contato com a gerência de enfermagem do HBAP para disponibilizar a cópia da escala mensal

do setor, como estratégia de abordagem às equipes do CME/HBAP para início das visitas.

Num segundo momento conversou-se com a enfermeira coordenadora do CC,

responsável técnica pelo CME/HBAP no mês de fevereiro de 2017, tendo em vista que o

enfermeiro coordenador estava de férias. Durante as visitas as equipes foram convidadas a

participarem do estudo, sendo esclarecidos pela pesquisadora, os objetivos, as etapas e os

42

procedimentos necessários para que os dados fossem coletados, assim como a importância da

participação de todos.

Com a finalidade de captar o maior número de participantes, as visitas ocorreram no

período matutino, vespertino e noturno, bem como finais de semana. No primeiro mês de

coleta, houve pouca participação em decorrência da programação de férias e licença médica,

acarretando déficit na categoria de enfermeiro supervisor do setor. Outra situação encontrada

foi à prática de troca de plantão por alguns trabalhadores da enfermagem, o que provocou

morosidade na coleta de dados por meio dos instrumentos de pesquisa.

Assim, no referido estudo foram utilizados três instrumentos de pesquisa. O primeiro

questionário (Apêndice C), adaptado de Santos (2014), objetivou descrever os aspectos

sociodemográficos e ocupacionais dos participantes, contendo 19 variáveis referentes aos

dados sociodemográficos e ocupacionais, com questões abertas e fechadas, referentes ao

gênero, idade, peso, altura, categoria profissional, tarefas prescritas, tempo no serviço, tempo

na função, outra função no serviço, jornada de trabalho, carga horária semanal, quantidade de

vínculos empregatícios, quantos períodos de pausa, média de pausas, prática de exercícios

físicos, história de tabagismo e renda familiar.

O segundo instrumento (Anexo C) foi o questionário Copenhagem Psychosocial

Questionnaire (COPSOQ) versão Portuguesa, traduzido e adaptado por Silva et al. (2012).

Consiste em um instrumento multidimensional que reúne “consenso internacional quanto à

sua validade, modernidade e compreensibilidade da avaliação em dimensões psicossociais

intrínsecas ao contexto laboral” (SILVA et al., 2012, p.3).

E o Diagrama de Corlett e Manenica (1980) foi utilizado por dispor de uma escala

progressiva de intensidade de desconforto/dor para avaliação do comprometimento

musculoesquelético nos trabalhadores que atuavam no CME/HBAP (Anexo D), confrontando

os resultados obtidos com a análise das atividades desenvolvidas por esses atores no cenário

em estudo. As próximas subseções descrevem detalhadamente o COPSOQ e o Diagrama de

Corlett e Manenica, utilizados nessa etapa da pesquisa.

3.4.3.1 Questionário Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ)

O questionário COPSOQ foi elaborado e validado por Kristensen e Borg com a

colaboração do Danish National Institute for Occupational Health in Copenhagen

(KRISTENSEN et al. 2005). A versão portuguesa do COPSOQ foi traduzida para Portugal

e países africanos de língua portuguesa pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)

e semelhante ao original está disponível nas versões longa, média e curta, sendo que a

43

média e a curta foram elaboradas a partir da longa (SILVA et al. , 2012).

Para este estudo, adaptou-se a segunda versão média portuguesa, o COPSOQ II,

permitindo dessa forma a identificação de fatores psicossociais conforme as subescalas e itens

relacionadas no quadro 1 (KRISTENSEN et al., 2005; SILVA et al., 2012, p.8).

Quadro 1 - Subescalas e itens da versão média portuguesa do instrumento Copenhagem

Psychosocial Questionnaire-COPSOQ II

SUBESCALAS ITENS DO INSTRUMENTO

Exigências Quantitativas 1, 2, 3

Ritmo de Trabalho 4

Exigências Emocionais 5

Exigências Cognitivas 6,7,8

Apoio Social de Colegas 9,10,11

Comunidade Social no Trabalho 12,13,14

Apoio Social de Superiores 15, 16, 17

Significado do Trabalho 18, 19, 20

Satisfação no Trabalho 21,22,23,24

Insegurança Laboral 25

Saúde Geral 26

Fonte: Adaptado de Kristensen et al. (2005); Silva et al. (2012)

Para facilitar a interpretação dos dados e conforme definido pelos autores do

instrumento COPSOQ II (KRISTENSEN et al., 2005; SILVA et al., 2012), os fatores

psicossociais foram agrupados em seis dimensões, a saber:

Exigências laborais: Quantitativas, Emocionais, Cognitivas e Ritmo de Trabalho;

Relações Sociais e Liderança: Apoio Social de Superiores e Apoio Social de

Colegas;

Organização do Trabalho e conteúdo: Significado do Trabalho;

Interface Trabalho-Indivíduo: Insegurança Laboral, Satisfação Laboral;

Justiça e respeito: Comunidade Social no Trabalho;

Saúde Física Geral: Autoavaliação da Saúde.

Os 26 itens do COPSOQ possuem cinco alternativas de respostas com pontuação

máxima de cinco e mínima de um ponto. A pontuação final foi obtida por meio da média das

pontuações das respostas, classificando-as em três categorias que caracterizaram o nível de

exposição aos riscos psicossociais (baixo, médio e alto) conforme preconizado na literatura

(KRISTENSEN et al., 2005).

44

O quadro abaixo mostra as alternativas de respostas disponíveis, respectivas

pontuações e as categorias do nível de risco psicossocial com respectivas médias. Os itens

assinalados foram avaliados numa escala tipo Likert (1 a 5 pontos) conforme descrito no

quadro 2. As questões de 1 a 17 possuem as alternativas de resposta: sempre (5), com

frequência (4) algumas vezes (3), raramente (2) e nunca (1) e as demais questões (18 a 25) as

alternativas de respostas são: nada (1), um pouco (2), moderadamente (3), muito (4) e

extremamente (5).

Quadro 2 - Alternativas de Respostas, Pontuação e Categorias do Nível de Risco Psicossocial

ALTERNATIVAS DE

RESPOSTAS

PONTUAÇAO CATEGORIAS/MÉDIA

Sempre, Extremamente 5 Alto Risco: maior que 3,66

Médio Risco: 2,34 a 3,66

Baixo Risco: menor que 2,34 Com Frequência, Muito 4

Algumas vezes, Moderadamente 3

Raramente, um pouco 2

Nunca, Nada 1 Fonte: Adaptado de Kristensen et al. (2005); Silva et al. (2012)

3.4.3.2 Diagrama de Corlett e Manenica

O Diagrama de Corlett e Manenica (1980) avalia o desconforto/dor

musculoesquelético durante e após a jornada de trabalho por meio do mapa dos segmentos

corporais, correspondente aos lados direito (D) e esquerdo (E) do corpo humano (Anexo C).

Figura 3 – Mapa de segmentos corporais (Diagrama de Corlett e Manenica)

Fonte: Adaptado de Frazão (2007)

45

A escala de resposta é progressiva de acordo com a intensidade de desconforto/dor,

sendo: nenhum (1); algum (2); moderado (3); bastante (4) e extremo (5). O participante da

pesquisa assinala as queixas de dor/desconforto no mapa de segmentos corporais, colocando o

número correspondente ao tipo de intensidade, conforme figura abaixo:

Figura 4 – Escala progressiva de intensidade de desconforto/dor

1. Nenhum

desconforto/dor

2. Algum

desconforto/dor

3. Moderado

desconforto/dor

4. Bastante

desconforto/dor

5. Extremo

desconforto/dor Fonte: Adaptado de Frazão (2007)

3.4.3.3 Riscos Físico-Ambientais

Os dados dos riscos físico-ambientais foram coletados no mês de abril de 2017, por

meio de uma visita técnica em parceria com Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

(CEREST) e o SESMT do HBAP. Primeiramente, foi realizado contato com o engenheiro

responsável pelo referido setor para averiguar a certificação do instrumento para aferição. Por

meio de ofício foi solicitada à direção do HBAP a viabilidade de um engenheiro e/ou técnico

em segurança do trabalho que fizesse a aferição dos riscos (ruídos, iluminação e temperatura)

por meio do equipamento de medição Termo-Higro-Decibel-Luxim, marca Instrutherm,

modelo THDL-400 com certificado de calibração nº 6314/15 (Anexo E).

As medições foram realizadas no período da manhã, tendo como base o período de

maior atividade no setor, entre as 09h e 12 h. As durações das mensurações foram de cinco

minutos durante a execução das atividades e sem interferência.

A aferição do ruído atendeu a recomendação pela Norma Regulamentadora (NR) 17,

que prevê a medição próxima aos ouvidos do trabalhador durante o desenvolvimento das

atividades realizadas nos balcões de preparo e empacotamento, manuseio de carrinho para

transporte das caixas cirúrgicas e pacotes da área de esterilização (sala das autoclaves). Dessa

forma, as mensurações dos riscos físico-ambientais, temperatura, iluminação e ruído foram

realizados em todas as salas/áreas que compõem o CME/HBAP, obtendo uma avaliação dos

fatores ambientais durante as etapas do processamento de PPS.

3.5 Tratamento dos Dados

3.5.1 Dados Quantitativos

Para análise dos dados foi utilizado o programa Microsoft Excel 2013 para Windows®,

e as variáveis foram tratadas pelo Software Estatístico Statistical Package for the Social

46

Sciences (SPSS) versão 20. Os dados foram digitados, armazenados e calculadas as

frequências absolutas, relativas (estatística descritiva) das variáveis que foram analisadas

posteriormente.

3.5.2 Dados Qualitativos

As respostas às questões subjetivas (abertas) dos instrumentos de coleta de dados

foram avaliadas pela análise descritiva para cumprir com a segunda etapa da AET (tarefa

prescrita). Os registros fotográficos foram utilizados para correlacionar as imagens do

trabalho real aos resultados encontrados como produto do Diagrama de Corlett e Manenica

(1980).

Alguns fragmentos correspondentes as “falas” dos participantes foram utilizados para

expor as percepções dos riscos no ambiente de trabalho e quais as dificuldades encontradas

quanto aos aspectos ergonômicos. Então, foram confrontados com a literatura para melhor

discussão da temática abordada, classificando as dificuldades em riscos físico, cognitivo e

organizacional conforme a “fala” dos respondentes que foram codificadas com a letra R e

numeradas sequencialmente.

3.6 Considerações Éticas

Para realização da pesquisa foi solicitada autorização à direção geral do HBAP através

de carta de anuência (Anexo A) e respeitando os preceitos éticos da Resolução nº 466 de 12

de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas de

Pesquisa envolvendo Seres Humanos (BRASIL, 2012). Este estudo foi submetido à

apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Núcleo de Saúde da Fundação

Universidade Federal de Rondônia (UNIR), com parecer de aprovação 1.849.750 (anexo E)

em 02 de dezembro de 2016.

Somente após a aprovação do projeto foi realizado, a coleta de dados, bem como o

registro fotográfico das atividades (Anexo F). Os participantes foram esclarecidos sobre os

objetivos do estudo e da participação voluntária após leitura e assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A e B).

Durante toda a pesquisa foi garantido o anonimato aos participantes e esclarecido aos

mesmos que não teriam custos ou sofreriam riscos de qualquer ordem, nem compensação

financeira e/ou isenção de despesas. Os participantes também foram informados que os

resultados serão divulgados em publicações científicas e/ou eventos e será entregue relatório

ao Núcleo de Educação Permanente (NEP) da instituição, conforme regimento do referido

núcleo, e da UNIR.

47

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos por meio das etapas da análise

da tarefa e da atividade, bem como da aplicação dos instrumentos de coleta de dados,

observações sistemáticas, registro fotográfico das atividades de trabalho e aferição dos riscos

físico-ambientais.

A análise e discussão dos resultados iniciam-se pelo perfil sociodemográfico e

ocupacional dos trabalhadores do CME/HBAP. Numa AET, o levantamento das

características dos trabalhadores é imprescindível para o processo de compreensão de uma

situação de trabalho, considerando a variabilidade e singularidade dos sujeitos (ABRAHÃO et

al., 2014).

4.1 Perfil Sociodemográfico e Ocupacional

A maioria dos trabalhadores era do sexo feminino (79,5%) e a categoria auxiliar e/ou

técnico de enfermagem (74,4%) (Tabela 1). O predomínio feminino fica evidente no trabalho

desenvolvido no CME/HBAP, que reproduz os aspectos históricos e culturais da profissão de

enfermagem, constatado também por Machado e Gelbcke (2009) no estudo sobre os processos

de trabalho e a organização do trabalho no CME a partir do ponto de vista do materialismo

histórico e dialético.

Tal achado revela uma particularidade da profissão de enfermagem e que coincide

com o perfil dos trabalhadores do sexo feminino, 66,7% de um CME no estudo sobre riscos

ergonômicos realizados por Gouveia, Oliveira e Lira (2016) e também no estudo sobre

atividades do enfermeiro de CME realizado por Gil, Camelo e Laus (2013) que encontraram

uma amostra composta por 93,55% de mulheres.

Tabela 1 - Distribuição das frequências relativas quanto ao sexo e categoria profissional no

Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017

Variável N % p-valor

Sexo <0,0001

Feminino 31 79,5

Masculino 8 20,5

Total 39 100

Categoria profissional <0,0001

Auxiliar/ Técnico de Enfermagem 29 74,4

Enfermeiro/Enf. Coordenador 6 15,4

Secretária/ Serviço Geral 4 10,2

Total 39 100,0 Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

48

Outros autores como Ribeiro, Camargo e Vianna (2008) também referiram uma

amostra composta por 96% de profissionais do sexo feminino em seis CME da cidade de

Londrina/PR. Esse achado é similar a um estudo mais recente encontrado por Aquino et al.

(2014) enquanto estudava acidentes de trabalho e riscos ocupacionais em CME comparando

instituição de saúde pública a privada, sendo a amostra composta por apenas dois

profissionais de enfermagem do sexo masculino.

No que se refere à categoria profissional, participaram do estudo 29 auxiliares e/ou

técnicos de enfermagem. O achado é justificado pela maior quantidade de trabalhadores de nível

médio nas escalas de trabalho do CME/HBAP e por ser a maior categoria que compõem a

profissão de enfermagem no Estado de RO (COFEN, 2018). Durante as visitas observou-se o

predomínio dessa categoria na execução de tarefas prescritas de acordo com norma vigente e

POP‟s, sob a supervisão de um enfermeiro (BRASIL, 2012a; RUBINI et al., 2014).

Isto posto, a predominância do sexo feminino dentre os trabalhadores do CME/HBAP

consiste por si só num fator determinante de saúde, evidenciado por uma dupla jornada de

trabalho, uma vez que a mulher concilia as tarefas laborais e àquelas do ambiente familiar

(não remunerada) culminando em uma sobrecarga de trabalho e adoecimento (FERRAZ et al.,

2015; BRASIL; ONU, 2016).

A média de idade dos trabalhadores que atuavam no CME/HBAP foi de 47,3 anos e a

mediana de 47 anos, desvio padrão (dp) de 9,68, idade mínima de 28 anos e máxima de 65

anos, demonstrando semelhança com os dados informados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), no que diz respeito à população em idade ativa que apresenta o maior

quantitativo em todas as regiões do Brasil, sendo 53,3 milhões acima de 50 anos de idade e 47,3

milhões, compreendida entre a faixa de 25 a 39 anos (IBGE, 2016). Esse resultado se aproxima do

encontrado por Gil, Camelo e Laus (2013), ao estudarem as atividades do enfermeiro em CME

em unidades hospitalares com faixa etária entre 21 e 60 anos.

Outro estudo corrobora esses dados, Aquino et al. (2014) encontraram no perfil de sua

amostra, faixa etária similar a apresentada por esta pesquisa, uma média de 43,6 anos de idade.

Analisando a Tabela 2 observa-se que o maior número de trabalhadores encontra-se na faixa

etária acima de 50 anos de idade (48,9%), dentre esses 19 trabalhadores, três apresentaram

idade igual ou maior que 60 anos. Esse resultado evidencia as características apontadas por

Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) no que tange ao perfil do trabalhador comumente lotado

no CME, os que estavam “prestes a aposentar” e que foram admitidos desde a fundação do

estabelecimento de saúde.

49

Tabela 2 - Distribuição das frequências relativas quanto a faixa etária dos trabalhadores do

Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017

Variável N % p-valor

Faixa Etária 0,039

26 a 30 anos 3 7,8

31 a 35 anos 2 5,1

36 a 40 anos 6 15,0

41 a 45 anos 6 15,5

46 a 50 anos 3 7,7

Acima de 50 anos 19 48,9

Total 39 100,0 Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Isto posto, existe uma parcela significativa de trabalhadores próximo da aposentadoria,

sendo necessário avaliar o dimensionamento de pessoal de enfermagem, evitando o déficit de

trabalhadores para o cumprimento das atividades e consequentemente sobrecarga de trabalho,

desmotivação, desgastes físicos, emocionais e prejuízos no processamento dos PPS.

Na variável tempo de serviço, a maior concentração foi representada pelo período

compreendido entre cinco a nove anos (35,9%), seguido do período de zero a quatro anos

(33,3%) e maior igual (≥) 10 anos (30,8%). (Tabela 3)

Tabela 3 - Distribuição das características sociodemográficas e ocupacional dos profissionais

de saúde que trabalhavam no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, 2017

Variável N % p-valor

Tempo no Serviço <0,0001

0 – 4 anos 13 33,3

5 – 9 anos 14 35,9

≥ 10 anos 12 30,8

Outra Função no CME/HBAP <0,0001

Não 33 84,6

Sim 6 15,4

Jornada de Trabalho <0,0001

Plantonista 32 82,1

Diarista 7 17,9

Carga Horária 0,160

≤ 40 horas 37 94,9

≥ 40 horas 2 5,1

Mais de um Vínculo Empregatício <0,0001

Não 25 64,1

Sim 14 35,9

Período de pausa <0,0001

Continua

50

Tabela 3 - Distribuição das características sociodemográficas e ocupacional dos profissionais

de saúde que trabalhavam no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público,

Porto Velho, 2017

Variável N % p-valor

Manhã 12 30,8

Tarde 10 25,6

Noite 17 43,6

Duração da Pausa <0,0001

≤ 30 minutos 26 66,7

≥ 30 minutos 13 33,3

Exercícios Físicos <0,0001

Não 22 56,4

Sim 17 43,6

Fumo 0,002

Não, nunca fumei 29 74,4

Não, ex-fumante 8 20,5

Sim 2 5,1

Renda familiar* <0,0001

0 – 4 salário mínimo 25 64,1

5 – 10 salário mínimo 9 23,1

> 10 salário mínimo 5 12,8 * R$ 937,00 em 01.01.2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Semelhante ao que foi encontrado por Aquino et al. (2014), 66,7% dos trabalhadores

atuavam entre quatro e dez anos, na instituição B. O mesmo não aconteceu no estudo de Gil,

Camelo e Laus (2013), o tempo de atuação em CME na amostra analisada teve maior

concentração entre um e cinco anos (58,08%).

Outro dado relevante deste estudo foi o tempo médio na função de 17 anos, com

desvio padrão (dp) de 11,11 e IC (9,08; 14,32), sendo o mínimo de seis meses e máximo de

38 anos e dentre os sujeitos da pesquisa 84,6% não tinham desempenhado outra função senão

aquela a qual foi empossado e/ou contratado (Tabela 3).

Foi identificado durante as visitas e durante a observação das escalas de serviço do

CME/HBAP, à existência de contrato de trabalho por tempo determinado, previsto na Lei

Complementar nº68 que regulamenta o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis do

Estado de RO, em caráter excepcional (RONDÔNIA, 1992). Entretanto no ano de 2016,

houve realização de concurso público pela SESAU/RO, tendo sido empossados depois da

coleta de dados alguns trabalhadores no CME/HBAP.

No que tange ao regime de trabalho, verificou-se que aqueles que se declararam

plantonistas compuseram (82,1%), relatando carga horária ≤40 horas semanais (94,9%),

51

correspondendo a jornada de trabalho da Lei Complementar nº 68 (RONDÔNIA, 1992).

Achado similar ao da pesquisa foi encontrado no estudo de Royas e Marziale (2001), citam

que o status quo do profissional de enfermagem permanece dezessete anos depois, pois

naquele período a carga horária desses profissionais também foi de 40 horas semanais para

87,8% de sua amostra, enquanto, 23% possuíam um segundo emprego.

Quanto ao período de pausa (43,6%) dos participantes referiram o período noturno.

Isso deve-se ao revezamento dos trabalhadores neste período, no entanto está condicionado ao

quantitativo de trabalhadores escalados para a jornada e da demanda de recebimento de PPS

para processamento. Sobre a duração das pausas (66,7%) responderam que a média é ≤ 30

minutos, excluindo as pausas para alimentação (café da manhã, almoço e jantar).

Nesse sentido, fica evidente que o CME/HBAP está em conformidade com a NR 17–

Ergonomia, no aspecto das pausas fora dos postos de trabalho, disponibilizando estrutura física

adequada para o descanso durante a jornada de trabalho e local destinado à alimentação dos

trabalhadores (BRASIL, 1990). Os parâmetros do ambiente de descanso dos profissionais de

enfermagem estão sendo assegurados legalmente de acordo com o Projeto de Lei nº 597/2015 que

prevê um ambiente limpo, arejado, com instalações sanitárias e condições dignas para o descanso

durante todo o período de trabalho (BRASIL, 2015).

Verificou-se também no estudo que (64,1%) dos participantes relataram não possuir

mais de um vínculo, e (35,9%) mais que um vínculo com carga horária menor que 40 horas

semanais. Nesse sentido, visualiza-se que esses trabalhadores com duplo vínculo perfazem

uma carga horária semanal maior que 40 horas, e ao informarem no instrumento da pesquisa a

real carga horária de trabalho limitaram-se apenas ao vínculo com o HBAP que é prevista

conforme a legislação estadual dos servidores públicos civis (RONDÔNIA, 1992).

Os resultados descritos acima demonstram sobrecarga de trabalho e jornadas

extensivas. Corroborando nesse sentido, os estudos realizados por Moraes, Mont‟Alvão

(2012) e Spagnol et al. (2015) afirmar que a sobrecarga e jornadas extenuantes interferem nos

processos de desgastes e de adoecimento dos trabalhadores. Durante a coleta de dados

registrou-se que sete trabalhadores informaram que sempre realizavam hora extra no

CME/HBAP com intuito de melhorar a situação financeira e de certa maneira suprir o quadro

de pessoal insuficiente.

A renda familiar informada por (64,1%) dos respondentes foi de 0 a 4 salários

mínimos, tendo como parâmetro o valor de R$ 937,00 (salário mínimo) no período da coleta.

Diante desse resultado, pode se deduzir que ter outro vínculo e realizar alguns plantões extras

é uma alternativa de melhorar a questão financeira, o que corresponde aos 35,9% (14)

52

trabalhadores que responderam ter outro vínculo empregatício, tendo em vista baixa renda

familiar. Todavia, torna-se um fator condicionante para o desgaste físico e mental do

trabalhador, tendo em vista a sobrecarga de trabalho e o estresse laboral.

Corroborando nesse aspecto, o estudo do perfil dos trabalhadores do CME de um

hospital geral realizado por Costa, Souza e Pires (2016), 70,59% tinham outro emprego em

decorrência dos baixos salários que predominam no SS, e principalmente na profissão de

enfermagem. Segundo os autores, esse regime de trabalho reproduz aos trabalhadores a

sensação de satisfação pela compensação financeira, mas provoca desgaste físico e mental.

Dentre os fatores de risco relevante para os agravos a saúde e adoecimento encontrado

neste estudo, estão o sobrepeso (41,0%). A Tabela 4 mostra a distribuição da classificação do

Índice de Massa Corporal (IMC) dos trabalhadores do CME/HBAP, conforme parâmetros da

World Health Organization (WHO, 2000).

Tabela 4 - Distribuição das frequências relativas quanto a Classificação do Índice de Massa

Corporal dos trabalhadores do Centro de Material e Esterilização de um hospital geral

público, Porto Velho, 2017

Classificação do Índice de Massa Corporal* N % p- valor

Baixo peso <18,50 kg/m2 - -

Eutrofico 18,5-24,99 kg/m2 12 30,8

Sobrepeso 25,0-29,99 kg/m2 16 41,0 <0,0001

Obesidade I 30,0-34,99 kg/m2 09 23,1

Obesidade II 35,0-39,99 kg/m2 - -

Obesidade III ≥40,0 kg/m2 02 5,1

Total 39 100,0 Fonte: Adaptado WHO* (2000)

Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento

Esses achados revelam potencializam os agravos de doenças cardiovasculares,

acrescentando-se ainda o condicionante sedentarismo, evidenciado por 56,4% que relataram

não praticar exercícios físicos. Corroborando nesse aspecto, os autores Oliveira, Carvalho e

Costa (2013) inferem que o cotidiano estressante colabora para que os trabalhadores

consumam uma alimentação mais calórica do que o organismo necessita, geralmente pobre

em fibras e nutrientes.

Quanto ao hábito de fumar, a frequência foi de 5,1% dos respondentes (Tabela 3). Esse

dado torna-se relevante nesse estudo, considerando que os CME são setores restritos, com

limitação do tráfego dos trabalhadores entre área suja e limpa, por meio de barreiras físicas

entre as áreas. A configuração da organização do trabalho, caracterizada por rotinas

monótonas e a sensação de isolamento em decorrência da exigência da barreira técnica poderá

53

acarretar a quebra dessa exigência por esses trabalhadores.

A barreira técnica consiste no comportamento dos trabalhadores durante o

processo de trabalho, evitando que transitem entre área suja e limpa ou vice-versa,

lembrando sempre de retirar os EPI‟s e higienizar as mãos (SOBECC, 2017).

O dimensionamento dos trabalhadores do CME/HBAP é baseado na divisão das áreas

de processamento dos PPS. A distribuição dos trabalhadores é realizada pelo enfermeiro

plantonista, sendo comumente escalados dois trabalhadores para a área de recepção e limpeza,

quatro para as áreas de preparo e esterilização, sendo dois para os balcões de preparo e dois

para o balcão e manejo das autoclaves e um para a área de armazenamento e distribuição.

A organização do trabalho tem como meta o processamento de PPS para fornecimento

a todas as unidades assistencias e de diagnóstico (SOBECC, 2017). Considerando que o

processo de trabalho é fragmentado em etapas, caracterizado pela divisão técnica do trabalho

e sistema de produção, os autores Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) comparam-no a uma

indústria, por seguir uma sequência de produção e por seu caráter mecanizado.

A Tabela 5 mostra a distribuição de frequência de trabalhadores de 46,2% na área de

preparo e esterilização. Essa área é maior em comparação as demais, isso é justificado pelo

quantitativo de tarefas, complexidade e monitoramento até a finalização da esterilização. De

acordo com a conformação da estrutura física do CME/HBAP, as áreas de preparo e

esterilização, estão no mesmo espaço físico, sendo separadas pelos balcões.

Tabela 5 - Distribuição de frequência de trabalhadores que atuam em cada etapa do

processamento no Centro de Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto

Velho, RO, 2017

Etapas do Processamento de Produtos de Saúde

Trabalhadores que atuam

em cada etapa

N % p-valor

Área de Recepção e Limpeza 06 15,4

Área de Preparo e Esterilização 18 46,2 <0,0001

Área de Armazenamento 09 23,1

Outros 06 15,4

Total 39 100,0 Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Nesse sentido evidencia-se direcionamento de trabalhadores na divisão por áreas de

processamento, tendo em vista algumas particularidades como, por exemplo, restrição de

atuação em áreas que as tarefas prescritas exijam contato com produtos químicos e tarefas que

são realizadas essencialmente na posição de pé. Foram observadas também as questões de

experiências e habilidades com tarefas mais específicas e que exigem conhecimento mais

54

apurado, como por exemplo, atividade de montagem de caixas cirúrgicas. Durante as

observações sistemáticas realizadas nos períodos noturnos e diurnos, registrou-se na escala de

distribuição diária feita pelo enfermeiro responsável pelo plantão (12h), que alguns

trabalhadores preferem trabalhar em determinadas áreas, como na recepção e limpeza e na

área de preparo e esterilização, por questões de afinidades e habilidades técnicas inerentes as

atividades de trabalho.

4.2 Análise Ergonômica do Trabalho no Centro de Material e Esterilização

Considerando a metodologia do estudo, serão abordados os resultados e discussão por

meio dos registros de diário, registros de imagem fotográfica, observações sistemáticas e

análise documental das normas vigentes e POP do CME/HB.

4.2.1 Análise da Tarefa

4.2.1.1 Caracterização do cenário do estudo

O CME/HBAP é classificado como classe II de acordo com a RDC/ANVISA n°15

(BRASIL, 2012a). A normativa define-o como uma unidade funcional responsável pelo

processamento de PPS. Sua classificação permite o processamento de materiais críticos,

semicríticos e não-críticos de conformação complexa e não complexa, provendo o CC e as

demais unidades do hospital.

Está subordinado administrativamente ao maior hospital geral público do Estado de

RO, com habilitação nas especialidades de neurocirurgia, oncologia, cirurgia ortopédica,

transplante de córnea e renal, cirurgia geral, cirurgia bariátrica, único serviço de

hemodinâmica público do Estado e também o único SS público que presta atendimento

em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) (RONDÔNIA, 2016). Por

recomendação da RDC/ANVISA n°15 o SS que apresentar os requisitos supracitados

deverá ter um CME ou um serviço de processamento terceirizado, primando pelas boas

práticas no processamento de PPS.

Por meio das observações sistemáticas, constatou-se que o CME/HBAP tem

funcionamento ininterrupto e estrutura com barreiras físicas para separação das áreas (suja

e limpa). Está localizado estrategicamente conjugado ao CC e próximo do setor de

lavandeira do HBAP. Esta localização influencia a dinâmica de trabalho, considerando

que o CC é o maior consumidor dos PPS processados (SOBECC, 2017).

A lavanderia é uma unidade fornecedora de materiais têxteis como capotes

55

cirúrgicos, campos operatórios, campo fenestrado, capas de artroscopia e

videolaparoscopia, que passaram pelo processamento de lavagem e secagem na lavanderia

e posteriormente são encaminhadas para o processamento no CME.

Em referência a determinação estrutural das áreas do CME é recomendada pela

RDC/ANVISA nº 307 (BRASIL, 2002), que rege as normas de instalações e ambientes

de SS, que nos CME deve ser estabelecido na sua dinâmica de trabalho um fluxo

unidirecional, delimitando as áreas suja (recepção e limpeza) das demais áreas

consideradas limpas, através das barreiras físicas. Entende-se por barreira física, a

separação física das áreas, evitando dessa forma a contaminação cruzada entre os

ambientes limpo e sujo e a exposição aos riscos biológicos pelo trabalhador (SOBECC,

2017).

Durante visitas no setor foi observado conforme esquematizado na figura 5, o

fluxo contínuo e unidirecional, a partir do recebimento do material contaminado (área

suja), seguindo as demais etapas: conferência, descontaminação, lavagem (manual ou

automatizada) e desinfecção. Os PPS após lavagem são disponibilizados no guichê da

área de preparo e esterilização, seguindo o fluxo para área de armazenamento e

distribuição. Nota-se barreira física entre as áreas suja e limpa, entretanto a SOBECC

(2017) preconiza que além das barreiras físicas seja reforçada com os trabalhadores a

questão da barreira técnica.

Figura 5 – Fluxo unidirecional das etapas do processamento dos produtos para saúde

ÁREA SUJA ÁREA LIMPA

Recepção dos artigos,

conferência e

descontaminação

Retirada dos artigos da

autoclave

Armazenamento

Distribuição

Lavagem, desinfecção e

secagem dos artigos

Preparo e Esterilização:

conferência,

empacotamento,

carregamento da autoclave

Fonte: Elaborado com base nos dados da SOBECC (2017)

ENTRADA

SAÍDA

GUICHÊ

Pias

Incubadora

Lavadora Seladora térmica

Autoclave

56

Nos serviços de saúde que recebam PPS consignado, é recomendado pela norma

vigente que tenha uma área exclusiva para recebimento, conferência quanto à integridade

e funcionalidade e caso seja necessário, proceder à devolução dos artigos especiais

(órteses, próteses e materiais especiais) (BRASIL, 2012a; SOBECC, 2017). Nesse

aspecto é importante que seja estabelecido um protocolo específico para o cumprimento

do processamento desses PPS de acordo com a conformação estrutural de cada SS.

A área de recepção e limpeza deverá receber os PPS contaminados do CC, CO e

demais unidades de internação por meio de guichê ou “janelão”, assim como a área de

preparo e esterilização por ter barreira física (parede do chão até o teto).

4.2.1.2 Dimensionamento de pessoal de enfermagem

Por meio das observações sistemáticas e levantamento do quantitativo de

trabalhadores nas escalas de serviço mensal disponibilizadas pela coordenação do

CME/HBAP, registrou-se média de sete a oito auxiliares e/ou técnicos de enfermagem, um

enfermeiro no plantão de 12 horas exclusivo para o setor, uma secretária no período matutino

e um funcionário do serviço de limpeza, pertencente à empresa terceirizada.

O estudo de identificação e validação das tarefas do CME realizado por Costa

(2015) embasou o parâmetro para o dimensionamento do pessoal no CME. A resolução

COFEN nº 543/2017, atualizou e estabeleceu os parâmetros que baseiam-se ao serviço de

saúde, ao serviço de enfermagem e ao paciente. Todavia as horas de assistência de

enfermagem dependem do grau de cuidados que o usuário necessita, ou seja, do grau de

dependência em relação equipe de enfermagem para a distribuição dos profissionais

(COFEN, 2017).

O referencial para o dimensionamento de pessoal no CME é a carga de trabalho

que tem como parâmetro a produção do setor, multiplicada pelo tempo padrão das

atividades realizadas em cada área, de acordo com os parâmetros do estudo de Costa

(COSTA, 2015; SOBECC, 2017, COFEN, 2017). O dimensionamento do CME/HBAP

durante os meses de coleta foi observado nas escalas de serviço e nas áreas de atuação,

que a quantidade de trabalhadores de nível superior (enfermeiro) foi de um por plantão de

12h, atendendo a normativa vigente (BRASIL, 2012a) que recomenda um enfermeiro

exclusivo do CME e um responsável técnico.

Em relação aos trabalhadores de nível médio (auxiliares/técnicos de enfermagem),

de acordo com os parâmetros supracitados (COFEN, 2017), verificou-se que o

dimensionamento está deficiente, necessitando de 10 trabalhadores por plantão.

57

Acrescenta-se ainda, regime de trabalho com contrato temporário e realização de horas

extra como forma de suprir a deficiência de recursos humanos.

4.2.1.3 Áreas destinadas ao processamento de PPS e fluxograma das tarefas

O processo de trabalho no CME/HBAP é normatizado pelos procedimentos

operacionais que foram elaborados com base nas normas vigentes (BRASIL, 2012a).

Segundo estudo realizado por Costa (2015) foram encontrados no CME analisado, 44

atividades vinculadas aos trabalhadores de nível técnico e 18 atividades específicas do

enfermeiro (a). As tarefas estão intrinsecamente relacionadas com as áreas do

processamento e fundamentadas na RDC/ANVISA nº 15 (BRASIL, 2012a); SOBECC

(2017) e Manual de Normas e Rotinas do CME/HBAP (2017).

O fluxo do processamento dos PPS no CME/HBAP inicia-se com a recepção,

conferência, limpeza e desinfecção dos artigos provenientes dos procedimentos cirúrgicos

realizados no CC e das demais unidades do hospital, apresentada na figura 6:

Figura 6 - Fluxograma das tarefas prescrita na área suja (contaminada)

Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017)

Primeira Etapa Recepção, conferência quanto à

integridade, funcionalidade e

registro. Comunicar ao enfermeiro

situações de inconformidades e

estado de conservação inadequada.

Atenção aos materiais consignados

e seguir protocolo do serviço de

saúde; remover invólucros e forros

das caixas cirúrgicas, realizar

abertura das pinças e desmonta-las.

Realizar a limpeza dos materiais

antes de proceder à diluição do

detergente enzimático de acordo

com as instruções do fabricante.

Lavagem ultrassônica ou

termodesinfectadora:

montagem dos cestos com

os artigos; enxague manual

após lavagem.

Secagem dos PPS com pistola

de ar comprimido medicinal e

envio a área de preparo por

guichês ou janela de acesso. Limpeza do carrinho de

transporte e desinfectar

com álcool á 70%

Lavagem manual peça a

peça e enxague dos artigos.

58

A lavagem dos PPS é considerada essencial para assegurar a qualidade do

processamento, pois tem como princípio fundamental diminuir a carga microbiana e evitar a

formação de biofilme3, que uma vez instalado interfere no processo de limpeza e de

esterilização. A área seguinte refere-se ao preparo dos PPS. Na figura 7 serão mostradas as

tarefas previstas para essa área. Nessa etapa o recebimento dos materiais deve ser por

guichês, devido às barreiras físicas entre as áreas.

Figura 7 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de preparo (limpa)

Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017).

3 Biofilme: consiste em multicamadas de células bacterianas ou fungos agrupadas e envoltas por um material

extracelular amorfo, composto de exopolissacarídeos de origem bacteriana que têm por ação unir as células

firmemente ás superfícies dos biomateriais e entre elas dificultar a remoção tornando o processo de limpeza mais

complexo (SOBECC, 2017, p.19).

Segunda Etapa Inspeção visual e/ou testes químicos para

avaliar presença de sujidades e

funcionalidade dos instrumentais. Usar

lentes intensificadoras de no mínimo 8x de

aumento; se necessário reenviar artigo para

relavagem na área de limpeza através do

guichê; avaliar o fio das lâminas de

tesouras.

Recebimento de rouparia (campos

cirúrgicos, aventais cirúrgicos) da

lavanderia. Realizar inspeção visual

quanto à integridade do tecido.

Caso não estejam dobrados,

proceder à técnica de dobradura

respeitando os princípios de

assepsia; empacotamento e

montagem do carrinho para

autoclave (esterilização).

Secagem dos PPS com pistola de ar

comprimido medicinal ou secagem

automática (máquina secadora); selagem

das embalagens, identificação e

empacotamento.

Organizar os kits cirúrgicos, caixas

cirúrgicas conforme protocolo do serviço

de saúde e registrar a identificação

contendo descrição do produto, data de

esterilização e validade, lote da carga e

identificação de quem realizou a tarefa.

59

A terceira etapa corresponde às tarefas relacionadas ao processo de esterilização

(figura 8). De acordo com as observações e registros, os tipos de esterilização realizados pelo

CME/HBAP são a esterilização por vapor saturado sob pressão (autoclave de barreira),

considerado o método mais seguro e utilizado no âmbito hospitalar e a esterilização por

plasma de peróxido de hidrogênio. Este método é alternativo para os artigos sensíveis a altas

temperaturas e umidade, considerado menos agressivo ao ambiente (SOBECC, 2017; Manual

de Normas e Rotinas do CME/HBAP, 2017).

Figura 8 - Fluxograma das tarefas prescrita na área de Esterilização (limpa)

Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017).

As tarefas desenvolvidas nessa etapa exigem do trabalhador atenção redobrada e

conhecimento sobre os cuidados essenciais no empacotamento dos PPS, para que não haja

interferência no processamento. As embalagens devem ser compatíveis ao processo de

esterilização, ou seja, na autoclave, devem suportar a esterilização a vapor; os pacotes

confeccionados não devem ser muito grandes, nem apertados ou mal montados para que não

prejudique a retirada do ar e a penetração do agente esterilizante (vapor); “respeitar o

espaçamento de 1 cm entre os pacotes e materiais côncavos posicionar no sentido vertical ou

com a concavidade levemente lateralizada”(GRAZIANO, SILVA, PSALTIKIDIS, 2011,

p.118).

A área de armazenamento e distribuição é a última etapa e as tarefas previstas são

Terceira Etapa

Limpeza interna das autoclaves no início das

atividades diárias e quando necessário;

conferência da identificação dos pacotes e

kits cirúrgicos, conferindo e separando

conforme o ciclo de saída da autoclave;

Registro em formulário de montagem da

carga (autoclave) ou no equipamento de

plasma de peróxido de hidrogênio de acordo

com a especificidade do material; colocar o

teste controle de funcionamento do

equipamento esterilização (pacote desafio, ou

Bowie Dick); identifica e registra a carga

(lote); acompanhamento dos parâmetros do

ciclo e checar ao final com a fita impressa

pela autoclave e assinar.

Retirada da Carga

(descarregamento) através dos

racks, verifica os testes realizados

se houve mudança da coloração

(químico e biológico). O

biológico é levado a incubadora

por 48-72h e registra o resultado

do teste. Enfermeiro acompanha

o processo de incubação para

leitura do resultado e medidas de

recolhimento da carga do

material no caso de leitura

positiva.

60

apresentadas na figura 9. Essa área deve ser restrita, com barreira física, separando-a das

demais áreas, objetivando coibir a passagem de pessoas, evitando a contaminação dos PPS.

Figura 9 - Fluxograma da tarefa prescrita na área de Armazenamento e distribuição (limpa)

Fonte: Adaptado de SOBECC (2017); Manual de Normas e Rotinas do HBAP (2017)

4.2.1.4 Dimensão da área e mobiliários dos postos de trabalho

As dimensões das áreas dos postos de trabalho do CME são recomendadas pela

RDC/ANVISA 307 (BRASIL, 2002). O CME por ser uma unidade funcional de apoio

técnico na estrutura hospitalar, têm como parâmetro as dimensões a seguir:

Área de recepção, descontaminação, separação de materiais e lavagem:

uma sala com 0,08m2

por leito com área mínima de 8,0m2. Quanto à

organização do ambiente, deve ter pias com bancada (0,80m de comprimento,

0,50m de profundidade e 0,60m de largura), dispor de no mínimo uma

bancada com dimensões de 1,0 x 0,9m, recipiente para perfurocortante e

resíduo biológico. Equipamento de transporte com rodízios, torneiras com

água quente e fria, pistola de água sob pressão, pistolas de ar comprimido, pia

para higienização das mãos, guichê ou outra forma de transferir os artigos

Quarta Etapa Inspeção da integridade das

embalagens dos pacotes, dos PPS e

caixas cirúrgicas esterilizados.

Organizar os pacotes cirúrgicos e caixas

cirúrgicas nas prateleiras conforme

identificação; proceder à distribuição dos

artigos; registrar a saída para controle

(manual ou automatizado), comunicação

ao enfermeiro sobre falta de

instrumentais, caixas e/ou pacotes, sem o

devido registro de saída; controle do

ambiente para evitar o umedecimento

dos pacotes e comprometimento da

esterilidade do PPS.

Separar os pacotes que estejam

violados, sujos ou que caírem no

chão; Inspeção e envio para

reprocessamento dos materiais que

estão vencidos ou que esteja

próximo do vencimento conforme

protocolo do serviço de saúde;

Atenção a temperatura da sala para

evitar umidade nos pacotes

esterilizados e dessa forma perda da

esterilidade.

61

para a área de preparo, bancadas com medidas correspondentes ao tipo de

trabalho realizado. A figura 10 mostra a altura recomendada para as

superfícies horizontais de trabalho, na posição em pé, de acordo com o tipo de

trabalho (KROEMER e GRANDJEAN, 2005).

Figura 10 - Altura da Bancada de Trabalho

Fonte: KROEMER; GRANDJEAN (2005)

Nas tarefas que requerem mais atenção e concentração (trabalho de precisão) a altura

recomendada para os homens é de 100-110 cm e para as mulheres 95-105 cm; os trabalhos

leves, homens 90-95 cm e mulheres 85-90 cm e tarefas que exijam esforço físico (trabalho

pesado) a altura para os homens é de 75-90 cm e mulheres 70-85 cm. Outra observação é a

altura dos cotovelos em cada tipo de trabalho, no trabalho pesado requer uma elevação de 20

cm, o trabalho leve eleva 10 cm e o de precisão, se mantém em ângulo neutro, na altura do

cotovelo.

As dimensões recomendadas pela RDC/ANVISA 307 (BRASIL, 2002) para as

respectivas áreas são:

Área para recepção de rouparia limpa: uma sala com 4,0m2. Com sistema de

guichê e/ou outro mecanismo para recepção da rouparia, equipamento de

transporte com rodízios.

Área para preparo de materiais e roupa limpa: uma sala com 0,25m2

por

leito com uma área mínima de 12m2, bancadas com dimensões mínimas de

1,2m x 1m por profissional em atividade, com distância mínima de 1,20m entre

as bancadas ou bancadas e parede/divisória, equipamentos para transporte com

rodízios, secadora, lentes intensificadoras de imagem, seladoras de embalagem,

cadeira e ou bancos ergonômicos com ajustes para regulagem;

62

Área para esterilização física e líquida: uma sala com 0,25 m2

por leito com

uma área mínima de 12m2, todavia depende do equipamento utilizado, no caso

de autoclaves, a distância mínima é de 20 cm entre uma e outra;

Esterilização química: área de 4m2 com bancadas e cuba de lavagem de no

mínimo 0,80 x 0,60 m e 0,50 m de profundidade, ponto adicional de água

potável com filtro de 0,2 micra para enxágue e equipamento de transporte com

rodízio, exaustores para garantir vazão mínima de ar total de 18 m3/h/m

2;

Área de armazenagem e distribuição de materiais e campos esterilizados :

uma sala com 0,2 m2

por leito com uma área mínima de 10 m

2. A área para

armazenagem e distribuição de material esterilizado e materiais descartáveis,

deve ser 25% da área de armazenagem de material esterilizado.

Deve ter equipamento de transporte com rodízio, prateleiras com distância mínima

de 20 a 25 cm do chão, 45 cm do teto e 5 cm das paredes laterais, escadas, armários,

cestos aramados. Atenção especial deve ser dada para a temperatura ambiente que deve

ser mantida até 24ºC, umidade relativa do ar entre 40 a 60%, com vazão mínima de ar de

12 m3/h/m

2, para evitar o umedecimento dos pacotes esterilizados.

Área de monitoramento: área mínima de 2m2 com incubadoras para os

indicadores biológicos e arquivamento dos registros dos monitoramentos. São

considerados ambientes de apoio no CME: sanitário com vestiários para os trabalhadores

que tenham barreira física para às áreas de recepção de roupa limpa, preparo e

esterilização e armazenagem e distribuição; Os sanitários com vestiários poderão ser

comuns às áreas suja e limpa, desde que o acesso à área suja não seja feito por meio de

nenhum ambiente da área limpa.

O ambiente deverá dispor de uma sala para o depósito dos materiais de limpeza

(DML), sendo comum para as áreas limpas e sujas, desde que o seu acesso seja externo a

elas. Também é necessária uma sala para manutenção dos equipamentos de esterilização

física, exceto as autoclaves de barreira, copa para os trabalhadores, sala administrativa e

sala de descanso para os trabalhadores.

Quanto aos EPI‟s, é regulamentada a disponibilização de acordo com as áreas das

etapas de processamento (BRASIL, 2012a). A roupa privativa, gorro, propés, sapatos

fechados, são considerados comuns a todas as áreas. Cabe ao órgão empregador

disponibiliza-los nas respectivas áreas. Veja fluxo da figura 11 com os respectivos EPI‟s:

63

Figura 11 - Fluxograma das áreas e respectivos equipamentos de proteção individual

Fonte: Adaptado de Brasil (2012a)

A adesão ao uso dos EPI‟s é de significativa relevância para a segurança dos

trabalhadores e assim evitar acidentes e/ou doenças de trabalho. A NR 32 que trata da

segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde corrobora no sentido de que esses EPI‟s

devem está à disposição em quantidade suficiente nas áreas respectivas (BRASIL, 2005).

4.3 Análise da Atividade

Essa etapa foi realizada por meio da observação sistemática das atividades

desenvolvidas no CME/HBAP, registros fotográficos, avaliação das variáveis para

identificação do nível de risco psicossocial pelo instrumento COPSOQ e avaliação de

desconforto e dor musculoesquelética (Diagrama de Corllet e Manenica). Os achados

envolveram aspectos físicos, mentais, organizacionais e ambientais que estão envolvidos na

situação de trabalho.

Recepção e conferência Avental Impermeável manga longa, sapato

fechado antiderrapante, luvas nitrílica e/ou de

procedimento, máscara, óculos de proteção.

Limpeza Avental Impermeável manga longa, sapato

fechado antiderrapante, luva nitrílica e cano

longo, máscara, óculos de proteção e protetor

auricular.

Preparo/Acondicionamen

to/Inspeção

Sapato fechado antiderrapante, luva de

procedimento, máscara e protetor auricular.

Desinfecção química

Avental Impermeável manga longa, sapato

fechado antiderrapante, luva de borracha e

cano longo, máscara, óculos de proteção e

protetor auricular.

Esterilização

Gorro, propés, luva de procedimento, luva

térmica, máscara descartável e luva de

procedimento, cinta lombar, protetor

auricular.

64

As técnicas supracitadas buscaram a confrontação do trabalho prescrito e o real. Os

autores Corrêa e Boletti (2015) contribuem nesse sentido apontando que de acordo como os

trabalhadores são confrontados, pode ser estimulado a buscarem transformações na situação

de trabalho, visando melhor adequação das atividades de trabalho.

4.3.1 Finalidades CME/HBAP

O CME/HBAP é responsável pelas etapas de processamento dos PPS utilizados em

todas as unidades de internação do HBAP. Durante as visitas no setor, observou-se que as

demandas de processamento de PPS do CME/HBAP não estão restritas apenas a unidade

hospitalar a qual pertence. Dado a capacidade operacional para o processamento de PPS, o

CME/HBAP por vezes dá suporte para outros SS que prestam assistência aos usuários do

SUS na capital. O enfermeiro coordenador é responsável pelo gerenciamento e supervisão

de todas as etapas, portanto nessas situações fica responsável por definir os protocolos

para o recebimento dos PPS que necessitam ser processados.

Observou-se nesse aspecto que os PPS encaminhados para o processamento no

CME/HBAP são recepcionados limpos, ou seja, já passaram pelo processo de limpeza e

desinfeção em outro SS. Comumente os encaminhamentos ao CME/HBAP são em

decorrência de problemas operacionais nos equipamentos de esterilização. Essa situação é

descrita pelos autores Ascari et al. (2013) e Rubini et al. (2014) como “descentralização

do processo de limpeza”, podendo impactar na validação do processamento dos PPS, na

garantia da qualidade e segurança da assistência à saúde, pois impossibilita a supervisão

da etapa de limpeza e desinfecção.

Outra situação comum é a recepção de artigos críticos usados pelos profissionais

médicos de empresas terceirizadas, que possuem contrato de prestação de serviços com a

SESAU e que realizam os procedimentos no CC do HBAP. Destaca-se que os

procedimentos cirúrgicos realizados no HBAP são de média e alta complexidade com uma

média de cirurgias de aproximadamente 1000/mês e realizam semanalmente

procedimentos diagnósticos como a Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica4,

Endoscopias Digestivas e outros (RONDÔNIA, 2016).

A SOBECC (2017) recomenda que a etapa da limpeza seja criteriosa, validada e

que os processamentos de PPS semicríticos e críticos devam ser supervisionados pelo

4 Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE): procedimento endoscópio para avaliação

diagnóstica e terapêutico de patologias das vias biliares intra e extra-hepáticos (colédoco) e canal pancreático

(ducto de Wirsung) (FERRARI JÚNIOR et al., 2016).

65

enfermeiro, obedecendo aos protocolos do SS. No estudo realizado por Madeira (2015) o

resultado está de acordo com a recomendação supracitada, sendo o enfermeiro o

profissional de nível superior responsável por todas as atividades de trabalho relacionadas

ao processamento de PPS.

Quanto a coordenação e supervisão por profissional de saúde de nível superior, o

CME/HBAP está em conformidade com a RDC/ANVISA nº 15 (BRASIL, 2012a). A

supervisão é realizada por profissional enfermeiro exclusivo do setor, entretanto, durante

a coleta de dados no mês de fevereiro de 2017, durante algumas visitas, foi notado que o

enfermeiro do CC estava responsável pela supervisão, devido à licença médica e férias

regulamentares de trabalhadores do CME/HBAP, não sendo observada tal situação nos

demais meses da coleta, devido contratação de duas enfermeiras.

O quadro de trabalhadores dos CME é analisado em alguns estudos, como o de

Mendonça (2012), realizado na rede hospitalar pública de Goiás. Foi identificado que seis

hospitais de grande e médio porte possuíam CME centralizado, destes, em cinco existiam

enfermeiros exclusivos para o setor e apenas em um o enfermeiro era responsável pelas duas

unidades (CC e CME).

4.3.1.1 Fluxo Unidirecional das etapas de processamento

Referente às áreas, o CME/HBAP dispõe de cinco (Figura 12), compreendendo

área de recepção específica para materiais oriundos do CC conforme preconizado pela

RDC nº 15/ANVISA, os quais são conferidos quanto à integridade, funcionalidade e

também pela recepção e organização dos instrumentais consignados (BRASIL,

2012a). As demais áreas correspondem à limpeza, preparo, esterilização e

acondicionamento dos PPS. A figura 12 representa a planta física do CME/HBAP e

esquematiza a dinâmica de funcionamento do fluxo estabelecido para o

processamento dos PPS.

66

Figura 12 - Dinâmica das atividades de trabalho no CME do hospital geral público, Porto

Velho, RO, 2017

Fonte: HBAP (2017)

Legenda:

Setor limpo Setor sujo 1 – Sala de recepção e

conferência de material

consignado (sem

ventilação)

2 – Sala de recepção e

limpeza

3 – Sala de preparo e

esterilização

4 – Área das autoclaves 5 – Sala de

armazenamento

6 – Corredor central

7 – Sala de recebimento

de rouparia limpa e

distribuição de

compressas, gazes,

ataduras

8 – Sala de esterilização

química

9 – Sala administrativa 10 – Sala de depósito

11 – Repouso dos

técnicos de enfermagem

12 – Copa 13 – Repouso dos

enfermeiros

14 – Arsenal

15–Sala de reservatório de água ionizada

16–Vestuário masculino e feminino

CC–Centro Cirúrgico

Verificou-se que ocorre o cruzamento de trabalhadores com a PPS críticos

esterilizados que foram distribuídos ao CC e PPS contaminados através do corredor que

2

1

3

4

5

6

9

16

14

7

12

11

10

13

8

15

cc

67

liga o CC ao corredor de acesso a CME. Isso se deve porque o transporte e manuseio do

material contaminado proveniente do CC é entregue na sala de recepção e conferência

(sala um) que tem uma janela para recepção dos PPS, acessada pelos trabalhadores pelo

mesmo corredor.

Esses trabalhadores que transportam os PPS sujos-contaminados até a sala

referida cruzam o corredor de entrada dos PPS esterilizados para consumo no CC,

comprometendo a qualidade do processo de esterilização, bem como os trabalhadores se

expõem frequentemente ao risco biológico, em decorrência da presença de secreção nos

materiais sujos e contaminados com substâncias orgânicas (sangue, restos de tecidos),

tornando-se um ambiente hostil e insalubre para os trabalhadores que realizam a tarefa de

transporte e manuseio desses artigos.

As caixas cirúrgicas e os kits cirúrgicos contaminados são deixados na bancada da

sala de recepção (área suja), vide figura 13. O trabalhador que está escalado para a área

de recepção e limpeza, deverá realizar a conferência dos PPS, retirar e desprezar lâminas

ou outro material perfurocortante na caixa de descarte apropriada. Após calçar luvas de

procedimento, armazena as caixas cirúrgicas e os kits dentro de um carrinho de transporte

fechado, com rodas e leva até a área de limpeza, para proceder à lavagem e depois a

desinfeção.

Figura 13 – Sala de recepção dos artigos sujos/contaminado provenientes do CC em um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

A atividade realizada na sala 1 (Figura 13) requer que os trabalhadores utilizem

CME

68

EPI correspondentes à área de limpeza, os mesmos trabalhadores que estão escalados

nessa área é que são responsáveis em realizar a conferência e transporte das caixas

cirúrgicas até a área de limpeza e desinfecção. Não foram encontrados estudos que

referenciam essa atividade de transporte de material sujo/contaminado através de carrinho

até área de limpeza e desinfecção.

A normativa vigente recomenda o transporte para os artigos esterilizados em

recipientes rígidos, fechados, lisos com sistema de fechamento tipo estanque e que

resistam à ação de punctura e ruptura. É uma exigência legal para manutenção da

esterilidade dos PPS, atentando-se para a limpeza diária do recipiente de transporte

(BRASIL, 2012a).

O protocolo do CME/HBAP para essa atividade prevê que os trabalhadores

estejam paramentados com os EPI‟s (luvas nitrílicas de cano longo, avental impermeável,

máscara, óculos de proteção e gorro). Constata-se nessa atividade uma situação de

constrangimento e quebra de barreira técnica, devido a movimentação dos trabalhadores

da área de limpeza e desinfecção pelo corredor externo ao CME/HBAP, acessando o

corredor interno de entrada do setor até a sala um (Figura 12, pág. 65).

4.3.1.2 Análise das atividades por áreas de processamento

A rotina do CME/HBAP prevê a produção de pacotes de compressas cirúrgicas

estéreis para fornecimento as unidades internação do hospital, compreendendo a produção de

250 pacotes de compressas no dia e noite, 120 pacotes de compressas cirúrgicas estéreis para

o CC no dia, 80 pacotes para o período noturno e 10 pacotes de gazes estéreis para o dia e

noite.

A produção de pacotes de ataduras, malhas entre outros, é preparado conforme

necessidade dos serviços assistenciais, os quais devem comunicar ao coordenador responsável

a quantidade necessária, tendo em vista que são materiais de consumo diário. Todos os

trabalhadores de nível técnico estão envolvidos nessa tarefa, realizada na área de preparo.

Conforme registro realizado as atividades de produção da rotina tem duração média de

uma hora e meia a duas horas, requerendo do trabalhador a posição em pé e/ou sentada, visto

tratar-se de um trabalho leve realizado nos balcões (Figura 14).

69

Figura 14 - Etapas para produção de materiais de consumo único

Fonte: Adaptado Manual e Normas do CME/HBAP (2017)

As embalagens utilizadas como barreira microbiana são o papel grau cirúrgico5, o

SMS6 e tecido algodão. A normativa recomenda que o uso de tecido algodão deva obedecer a

especificações de 100% algodão, tecido duplo, com aproximadamente 40 a 56 fios por cm2

para que seja uma barreira estéril (BRASIL, 1997; SOBECC, 2017). Colaborando para a

eficácia dessa embalagem, Graziano, Silva e Psaltikidis (2011), recomenda que o SS que

ainda utiliza o tecido algodão deve possuir controle de reprocessamento do tecido, sendo

comprovado em pesquisa realizada por Rodrigues et al. (2006), até 65 reprocessos mantém

desempenho seguro como barreira.

As atividades de dobraduras e empacotamento são caracterizadas por movimentos

repetitivos, sequencial e requer atenção, principalmente na produção dos pacotes de

compressas cirúrgicas para o CC. Os pacotes devem ser organizados na quantidade de cinco

compressas, que servirá como parâmetro de controle da quantidade de compressas cirúrgicas

utilizadas no ato operatório.

Após o término da rotina, o enfermeiro plantonista realiza a distribuição dos auxiliares

e técnicos nas áreas físicas correspondentes às etapas do processamento de PPS, a saber:

Área de recepção, limpeza (expurgo): dois trabalhadores são escalados para

5 Papel Grau Cirúrgico: é um sistema de barreira estéril (embalagem) descartável, disponível comercialmente em

tubos, envelopes, impregnados com indicador químico de exposição (classe 1) necessitando de selagem térmica 6 SMS: não tecido, conhecido com manta de polipropileno, embalagem descartável, flexível, plana e porosa

(Graziano, Silva e Psaltikidis, 2011).

Dispor as compressas, ataduras, gazes

sobre os balcões da área de preparo. Pegar uma compressa de cada

vez, sacudir para retirar fios

soltos, dispor no balcão para

dobrar e montar pacotes com 5

unidades, destinada ao uso no

CC. Embalar com SMS e /ou

algodão tecido, assinar e datar.

Organizar os pacotes nos cestos

aramados, dispor nos racks para

montagem e carregar na

autoclave.

Colocar as gazes, compressas,

ataduras nas embalagens (grau

cirúrgico), selar, datar e enviar

para esterilização.

70

realizar atividades de conferência quanto à sujidade, funcionalidade e integridade

do artigo, limpeza manual e montagem dos instrumentais cirúrgicos para lavagem

automatizada (lavadoras ultrassônicas), enxágue e secagem com gás medicinal (ar

comprimido) ou secagem com compressas cirúrgicas/tecido algodão. Os artigos

consignados conforme POP do setor deve ser secado ainda nessa área.

Dimensão da área e mobiliários: possui uma área de 24,30m2, perímetro 19,73m,

P.D (pé direito): 2,96 m. As pias possuem 40 cm de profundidade com bancadas

em aço inoxidável e torneiras. Todas as bancadas possuem 92 cm de altura, um

armário rígido com portas com 1,86 cm de altura x 100 cm largura.

Não foi visualizado apoio para os pés e pernas. Possui uma cadeira de plástico sem

ajustes de altura e encosto, utilizada para pausa dos trabalhadores, considerando

ser uma área restrita, uma central de ar condicionado, dois exaustores e um janelão

para receber material das clínicas e CO, um banheiro com pia e chuveiro, piso e

paredes laváveis.

Sala de recepção e conferência das caixas cirúrgicas do CC: possui uma área de

5,01 m2, perímetro de 9,34 m, P.D: 2,96 m, uma bancada com 94 cm de altura e

147 cm de largura, uma pia com bancada, dispensador de sabão e papel toalha, um

carrinho de alumínio rígido, com uma porta, usado para transporte dos artigos PPS

contaminados, medindo 81 cm de altura e 90 cm de largura, sem cadeiras ou

assento, sem central de ar condicionado, piso e paredes laváveis, sem porta.

A atividade de inspeção dos artigos quanto à integridade e presença de resíduos

orgânicos e inorgânicos é realizada visualmente. O setor não dispõe de lentes intensificadoras

de no mínimo 8x (vezes) de aumento, conforme recomendado pela RDC/ANVISA nº 15

(BRASIL, 2012a). Entretanto, durante as observações das atividades foi verificado que o setor

disponibiliza lupas como dispositivo para auxiliar na inspeção manual dos materiais de

conformação complexa (PPS com lúmen menor que 5 mm ou fundo cego).

Na área de recepção e limpeza (Figura 15), chamada também de expurgo pelos

trabalhadores do CME/HBAP, são recepcionados os PPS das demais unidades de

internação. São segregados os resíduos de saúde, realizada a limpeza e a secagem prévia

com o gás medicinal (ar comprimido). A limpeza e lavagem dos artigos podem ser

realizadas manualmente por fricção com escovas e pelas duas lavadoras

ultrassônicas/lavagem automatizada, de porte pequeno, que são destinadas a lavagem

automatizada de caixas cirúrgicas para os procedimentos de vídeo colecistectomia, vídeo

avançada geral, fixador tubo, fresas da tíbia, fresas do fêmur, hastes de tíbia e artigos

71

mais sofisticados e complexos, artigos canulados de lúmen menor que cinco milímetros,

conforme POP do serviço.

Figura 15 - Área de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização em um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Pode-se inferir que não há uma adesão adequada por parte dos trabalhadores

quanto ao uso dos EPI„s recomendados nessa área (luvas nitrílicas, botas impermeáveis,

avental de longa manga) conforme normas vigentes e POP do serviço. A atividade

executada é realizada pelo trabalhador em posição estática, permanecendo por longos

períodos de pé, com significativo dispêndio de energia devido ao esforço físico na

lavagem manual dos materiais (fricção), posturas desconfortáveis devido à posição da

coluna inclinada para frente forçando a coluna lombar e dorsal devido à profundidade das

pias em relação às medidas corporais (antropometria).

Além do excesso de peso no manuseio de instrumentais que são desmontados para

limpeza e montados nas caixas cirúrgicas, registra-se ruídos proveniente do procedimento

de secagem dos PPS consignados e canulados com o gás medicinal (ar comprimido). Esse

achado está em consonância com o estudo realizado por Salvagni, Giaretta e Posso

(2015), que evidenciou como fonte de emissão de ruídos na área de recepção e limpeza o

uso do gás medicinal (ar comprimido).

Por meio da análise das atividades nessa área, identificam-se fatores de agravos e

adoecimento pela exposição aos riscos biológicos, riscos mecânicos por meio de

acidentes com material cortante e perfurante, riscos químicos e ergonômicos.

Lavadoras

ultrassônicas

72

Área de Preparo: geralmente são escalados três trabalhadores que realizam a

revisão dos PPS recepcionados pela janela que separa área de recepção e limpeza

da área de preparo. Os instrumentais são revisados quanto à integridade, sujidade e

funcionalidade. Neste momento, caso seja necessário substituição de

instrumentais, é comunicado ao enfermeiro para proceder à reposição. Nessa área

também é realizado o procedimento de secagem com tecido de algodão ou gás

medicinal (ar comprimido), posteriormente são organizados nas respectivas caixas

e/o contêineres.

A etapa de montagem das caixas requer conhecimento dos instrumentais para a

composição das caixas cirúrgicas. O CME/HBAP disponibiliza próximo ao balcão

de montagem das caixas cirúrgicas, um computador com o check list das caixas

para consulta, no caso de dúvidas dos trabalhadores.

Observa-se que é comum os enfermeiros escalarem dentre os três trabalhadores,

um que tenha mais tempo de serviço, ou seja, que tenha experiência na montagem

das caixas cirúrgicas e kits. Esse trabalhador compartilha com os demais seus

conhecimentos e de certa maneira contribui no desenvolvimento da atividade.

Após montada as caixas cirúrgicas e os kits são empacotados em SMS e

identificados (nome do procedimento cirúrgico, data e assinatura do responsável

pela montagem) no segundo balcão.

Conforme rotina específica do CME/HBAP os PPS consignados, são de

responsabilidade dos enfermeiros plantonistas, que realizam a revisão, conferência,

montagem das caixas e/ou contêineres no segundo balcão da área de preparo.

Também é atribuído a reconferência junto ao representante da empresa, registrando

a devolução e a liberação do material, caso seja necessário.

Dimensão da área e mobiliários: Nesse item serão apresentadas as áreas de

preparo e esterilização, pois no CME/HBAP, essas áreas estão no mesmo espaço

físico. Possui área de 57,37 m2, perímetro 34,83 m, P.D: 2,96 m dispõem de três

balcões, sendo dois com 98 cm de altura X 100 cm de largura por 320 cm de

comprimento e um com 98 cm de altura X 100 cm de largura por 400 cm de

comprimento. O último balcão é utilizado para a organização dos cestos aramados

com pacotes e kits cirúrgicos que serão alocados nas autoclaves por meio dos

carrinhos (rack). Para selagem dos papéis grau cirúrgico são utilizadas as

termoseladoras que estão sobre o terceiro balcão.

73

Conforme observação sistemática e medição notou-se inadequação da altura dos

balcões para os tipos de atividades de trabalho realizados, considerando as medidas

antropométricas dos trabalhadores. Segundo Dul e Weerdmeester (2013) é fundamental

averiguar as informações quanto aos dados antropométricos, pois tal avaliação permite ajustes

necessários nos postos de trabalho, contemplando a variabilidade dos trabalhadores. Os dados

antropométricos dos 39 participantes do estudo representaram uma média de 1,60 cm, sendo o

mínimo 1,48 cm e o máximo 1,80 cm.

Comparando com a altura dos balcões da área de preparo com os dados da estatura dos

trabalhadores do CME/HBAP, é evidente a não conformidade, tendo em vista que os balcões

apresentam 98 cm de altura X 100 cm de largura (Figura 16).

Figura 16 - Posicionamento da região do pescoço e da cervical na área de preparo e

esterilização dos produtos para saúde no Centro de Material de um hospital geral público,

Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

A Figura 16 mostra a postura que implica o estresse muscular da região cervical

exigido na realização na atividade de trabalho, com requisição do campo visual e o uso das

mãos e braços, ou seja, um trabalho de precisão. Segundo Kroemer e Grandjean (2005) para

as tarefas que exijam mais concentração a altura da bancada recomendada para os homens é

de 100-110 cm de altura e para as mulheres 95-105 cm.

Também se registrou nessa área que o número de cadeiras ou assentos é insuficiente

para o quantitativo de trabalhadores. Possuem três cadeiras que não tem ajuste de regulagem

74

do encosto e algumas apresentando defeitos na regulagem da altura e não são fornecidos

apoio para os pés e pernas.

Os carrinhos para transporte da carga de material para as autoclaves não possuem

pegas em forma de barras, de maneira que as duas mãos possam gerar forças para empurrar e

puxar. Todos possuem rodas, mas não apresentam rolagem de fácil manuseio, exigindo uma

sobrecarga muscular para transmitir força (Figura 17).

Figura 17 - Carregamento da autoclave no Centro de Material e Esterilização em um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Outra atividade realizada na área de preparo é o recebimento da rouparia limpa da

lavanderia para a montagem dos kits cirúrgicos (campos cirúrgicos, capotes cirúrgicos, capas

de artroscopia e kits de campos para o procedimento de hemodinâmica).

Esses tecidos recepcionados devem ser minuciosamente inspecionados pelos

trabalhadores quanto ao comprometimento da integridade (furos, remendos, desgaste do

tecido de algodão). Após inspeção visual e conferido a integridade é necessário realizar a

dobradura dos capotes cirúrgicos, campos cirúrgicos e demais materiais têxteis por meio

da técnica de dobradura tipo pacote, em cumprimento a técnica asséptica e posteriormente

encaminhados para a esterilização, tendo em vista que são inerentes ao ato cirúrgico e

demais procedimentos diagnósticos (Figura 18).

75

Figura 18 - Atividade de técnica de dobradura do tipo pacote do Centro de Material e

Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Na Figura 18 evidenciaram-se constrangimentos na tarefa prescrita e presença de

cargas fisiológicas, devidos ao esforço físico e posições incômodas assumidas (posição em pé

por mais de uma hora). Os autores Kroemer e Grandjean (2005) corroboram apontando que o

trabalho estático é considerado significativo se um esforço moderado persiste por 1 min ou

mais. Nota-se na figura A que a trabalhadora apresenta postura com torção do tronco para o

lado, causando tensões indesejáveis nas vértebras (DUL; WEERDMEESTER, 2013).

Quanto ao uso dos EPI‟s nessa área, identificou-se (Figura 18-B) o uso de cinta

lombar utilizado pela trabalhadora no manuseio de pacotes durante a organização do carrinho

para a montagem de carga que será carregada na autoclave. Esse dispositivo é apropriado para

o desenvolvimento de tarefas que exijam esforço da coluna vertebral, pois fornece

estabilidade, prevenindo lesões.

Área de Esterilização: são escalados dois trabalhadores, que realizam a

recepção dos PPS empacotados nos balcões de preparo, conferência e

separação conforme o ciclo de processo das autoclaves, auxiliam no

empacotamento dos kits cirúrgicos (capotes, campos, capas de artroscopia,

campos fenestrados), realiza limpeza interna das autoclaves no início das

A B

76

atividades e sempre que necessário.

Também nessa área é realizada a atividade de selagem dos invólucros

utilizados como barreira protetora (papel grau cirúrgico), carregamento e

descarregamento dos PPS nas autoclaves, disposição dos testes de

monitoramento diário (químico e biológico) a cada ciclo, identificando-os

comunicando ao enfermeiro quaisquer anormalidades, bem como má

funcionalidade das autoclaves, danos ou perdas de materiais (Figura 19).

Figura 19 - Atividade de carregamento dos produtos para saúde na autoclave de barreira

do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO,

2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Sala de esterilização química: não é escalado trabalhador para a sala. Comumente

é utilizada para a esterilização e desinfecção de alto nível dos equipamentos usados

nos procedimentos de endoscopia digestiva alta e CPRE pelo trabalhador que

auxilia o médico durante o procedimento no CC. Possui área de 5,22 m2, perímetro

9,17 m, P.D: 2,96 m. A tarefa é essencialmente realizada na posição de pé, não

dispõem de cadeiras ou assentos, sem armários, duas pias com 40 cm de

profundidade e com bancada, medindo 88 cm de altura e 40cm de profundidade,

sem janela, com dois exaustores, pisos e paredes laváveis.

O gás medicinal usado para a secagem dos PPS é o ar comprimido, nota-se que o

77

cilindro não está fixado e não tem identificação, apresentado inconformidade com a NBR

12188/2016. Seu uso inadequado poderá acarretar em acidente de trabalho durante a

realização da atividade (Figura 20).

Figura 20 - Área de esterilização química e de desinfecção de alto nível de produtos para

saúde do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral público, Porto Velho, RO,

2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Área de Armazenamento e Distribuição: é escalado um trabalhador por turno,

retiram dos racks os PPS que foram esterilizados nas autoclaves, organiza-os nas

prateleiras, de acordo com a identificação dos tipos de artigos e as caixas cirúrgicas

conforme as especialidades médicas, registro manual da distribuição para o CC e CO,

verificação da integridade dos invólucros antes da liberação, para registro manual no

caderno de controle e saída e comunica ao enfermeiro sobre a falta de instrumentais e

caixas cirúrgicas.

Conforme protocolo definido pelo CME/HBAP realiza inspeção do

reprocessamento após data limite de uso dos PPS esterilizados. Cada instituição estabelece

o prazo que está baseado no plano de validação da integridade das embalagens e eventos

relacionados ao manuseio (estocagem, empilhamento de pacotes, dobras das embalagens,

condições de umidade e temperatura da sala, qualidade da selagem e rotatividade do

estoque armazenado) (Manual de Normas e Rotinas do CME/HBAP, 2017).

78

Os prazos estabelecidos no CME/HBAP são: Tecido algodão (validade de 15 dias),

Embalagem Tyvec7 e papel grau cirúrgico duplo (validade de seis meses) e embalagem

SMS dupla (validade de três meses). Os trabalhadores devem observar em cada prateleira

os materiais que estão vencidos e ou que irão vencer nos próximos sete dias e coloca-los

sobre a maca de transporte, leva-los até a área de preparo, trocar forro da caixa cirúrgica,

inspecionar o artigo quanto à presença de sujidades e integridade. Posteriormente

empacotar com outro SMS, identifica com nova data de reesterilização, acrescentar fitas

de testes químicos classe I, registrar a quantidade de artigos reprocessados para fins

estatísticos e encaminhar para o rack da esterilização.

Dimensão da área e mobiliários: possui uma área 31,31 m2, perímetro 22,58 m,

P.D: 2,96 m, duas escadinhas com dois degraus, medindo 40 cm de altura por 40

cm de largura, uma mesa pequena com 70 cm de altura por 67 cm de largura,

cadeira não ergonômica, sem regulagem para encosto e altura, sem apoio para os

pés. Com duas prateleiras que medem 180 cm de altura por 50 cm de largura, um

armário com 186 cm de altura por 100 cm de largura, uma prateleira com 197 cm

de altura por 93 cm de largura, dois armários para guarda dos PPS consignado

medindo 195 cm de altura por 93 cm de largura, janela obstruída com material

insulfilme para evitar a radiação solar, central de ar condicionado, piso e paredes

laváveis, uma porta. As distâncias das prateleiras estão em conformidade com

RDC/ANVISA nº 15, apresentando 20 cm de distância do piso, 45 cm do teto,

entretanto a distância das paredes apresentam inconformidade com a distância de 5

cm recomendada.

Essa área é de acesso restrito pela norma vigente, protegida da luz solar direta, longe

de áreas de circulação e deve-se ter um controle da temperatura do ambiente entre 18ºC a 25º

C e umidade não ultrapassar 75% para que não haja comprometimento na esterilidade dos

PPS acondicionados nas prateleiras e armários (BRASIL, 2012a).

Todavia foi constatado nesse estudo que não estão sendo implementadas as

recomendações quanto ao acesso restrito, sendo confirmada pela movimentação constante dos

trabalhadores do CC que se dirigem a sala para retirar os PPS para os procedimentos

cirúrgicos. A temperatura da sala aferida pelo equipamento marca Instrutherm, modelo

THDL-400 com certificado de calibração nº 6314/15 (Anexo E), foi de 27ºC.

7 Tyvec: embalagem descartável que necessita de selagem térmica, confeccionada com 100% de fibras de

polietileno de alta densidade (Graziano, Silva, Psaltikidis, 2011, p.103).

79

As inconformidades observadas podem ser devido à localização dessa área, pois a

porta dá acesso ao corredor central que liga o CC ao CME/HBAP e é comum a porta

permanecer aberta, como observado na Figura 21.

Corroborando nesse achado o estudo de Costa et al. (2015a) apontou irregularidades

nas condições de armazenagem, devido a estrutura física, excessivo manuseio dos PPS

esterilizados e as condições de ventilação em hospitais públicos de grande porte.

Figura 21 - Área de Armazenamento e distribuição do Centro de Material e Esterilização

em um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Sala Administrativa (Figura 22): não é visualizada na planta baixa, foi instalada

no corredor que dá acesso a área de preparo e esterilização. Não possui ventilação

artificial e nem natural, sem janela. Possui duas mesas de madeira com as

seguintes dimensões: mesa da secretária: 72 cm de altura por 100 cm de

comprimento; mesa do enfermeiro: 76 cm de altura por 99 cm de comprimento,

duas cadeiras com assento acolchoado, com suporte para os braços e pés e

alavanca para ajustes, dois armários de ferro com 187 cm de altura por 100 cm de

comprimento, piso e com duas paredes azulejadas e outra de material compensado.

80

Figura 22 - Sala Administrativa do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral

público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

As atividades realizadas são de cunho administrativo, contemplando o gerenciamento

de recursos humanos do CME/HBAP, supervisão das etapas do processamento de PPS,

solicitação de materiais de uso único (compressas cirúrgicas, gazes, ataduras), arquivamento

dos mapas de cirurgias, arquivo dos testes de monitoramento químico e biológico e

elaboração das escalas de serviço dos trabalhadores.

4.3.1.3 Avaliação dos Riscos Físico-Ambientais

A relação homem-trabalho é influenciada pelas condições do local onde ocorrem as

atividades laborais. Avaliar as condições do ambiente requer a investigação de alguns

condicionantes ambientais. Nesse aspecto foi necessário realizar as aferições dos riscos

físico-ambientais (temperatura, ruído e iluminação) do CME/HBAP.

Durante o procedimento, evidenciou-se que as principais fontes de ruídos foram as

autoclaves, o gás medicinal (ar comprimido) utilizado na área de recepção e limpeza na

81

secagem manual dos PPS de pequeno lúmen e complexos, da central de ar condicionado

localizada próxima a área das autoclaves, considerada uma área limpa. A área de recepção e

limpeza apresentou maior poluição sonora, com níveis de ruído de até 87 dB (A), valor

superior ao proposto pela legislação vigente que é de até 65 dB (A) para efeito de conforto

(BRASIL, 1990). E, ainda, patamar acima do encontrado no estudo de Salvagni, Giaretta e

Posso (2015) para essa mesma área, níveis de ruídos que alcançaram 70,9 a 77,2 dB (A).

A Tabela 6 mostra os resultados dos valores identificados nas respectivas áreas que

compõe o CME/HBAP. No que se referem ao risco ruído, outras áreas apresentaram valores

que não estão em conformidade com a NBR nº 10152 (BRASIL, 1987). Na área de preparo e

esterilização (78,0-79,2 dB) (A), sala de esterilização química com os dois exaustores ligados

(80-84,1 dB) (A) e no corredor central que dá acesso a área de armazenamento (67,2 dB) (A).

Tabela 6 – Resultados dos riscos físico-ambientais nos postos de trabalho no Centro de

Material e Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Postos de trabalho Temperatura Iluminação Ruído

1.Sala de preparo e

esterilização dos produtos

para saúde

17ºC 77,5-113,4 lux 78,0-79,2 dB (A)

2.Sala de esterilização

química

Sem o exaustor

ligado: 25,4º C

Com o exaustor

ligado: 28,8ºC

59,8 lux

62 dB (A)

80-84,1 dB (A)

3.Sala de distribuição de

materiais esterilizados e

recebimento de roupas

limpas para esterilização

26,5 º C

26,1 lux (sem

acender a luz

artificial);

280 lux (com luz

artificial acesa)

62 dB (A)

4.Área para recepção,

separação dos produtos

para saúde e limpeza –

Área do Expurgo

18º C 180-275 lux 87 dB (A)*

5. Sala administrativa 27-28ºC 18,9 lux 50 dB (A)**

6.Corredor Central (acesso

ao CC) 25,1ºC 52,6 lux 67,2 dB (A)

7.Sala de Armazenamento e

distribuição dos produtos

para saúde esterilizados

(área restrita)

27º C 21 lux 67 dB (A)

8.DML 27,9 ºC 49 lux 58 dB (A)

9.Sala de recepção dos

artigos provenientes do

CC

27,9º C 49 lux 58 dB (A)

Legenda: Depósito de Material de Limpeza (DML), Centro Cirúrgico (CC), Decíbeis (dB). *aferido próximo ao

trabalhador em uso do ar comprimido medicinal na tarefa de secagem, **aferido com a porta aberta.

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

82

A NR 17 recomenda nível de ruídos aceitável para efeito de conforto de até 65 dB (A)

e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB. Considerando que o CME

não se assemelha e não possui equivalência ou correlação com as áreas relacionadas na NBR

10152 (BRASIL, 1987).

Convém pontuar que o achado na área de preparo e esterilização, coincide com os

relatos de risco sonoro, uma vez que essa área foi muito citada pelos participantes como uma

área “barulhenta”, por vezes interferindo na execução das atividades laborais no setor. Assim

revelam as respostas registradas no instrumento de coleta COPSOQ pelos participantes que

foi codificado com a letra R e numerado, expondo as dificuldades encontradas pelos

trabalhadores no desempenho de suas atividades no CME/HBAP:

[...] ruídos oriundos da secagem de materiais com o ar comprimido

(R03).

[...] Secagem dos materiais da ortopedia (com ar comprimido, saio

com zumbido no ouvido) (R16).

[...] Ruídos (autoclaves e secagem com uso de ar comprimido) (R10).

[...] Secagem com ar comprimido (ruído/barulho) (R01).

Na Figura 23 percebe-se a proximidade da pistola de ar comprimido do trabalhador

responsável pela tarefa de secagem dos instrumentais cirúrgicos na área de preparo e

esterilização. Foram constatados ruídos que chegaram ao patamar de 78,0-79,2 dB (A), mais

de 10 dB acima daqueles considerados como ideais para evitar danos auditivos aos

trabalhadores.

Figura 23 - Área de preparo e esterilização dos produtos para saúde no Centro de Material e

Esterilização de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

A figura 23 também ilustra as atividades de inspeção visual e secagem manual dos

Pistola de ar comprimido

83

instrumentais no primeiro balcão da sala de preparo. Deve-se observar, então, que a

iluminância nessa área que deveria ser de 300lux, conforme recomendado pela NBR/CIE

8995 (BRASIL, 2013) e pela NBR 5413/1992 podendo chegar até 750 lux por ser uma

área de trabalho de precisão visual, apresentou uma variação entre 77,5-113,4 lux,

acrescentando-se também a luminosidade produzida pelas janelas que estão próximas aos

balcões. Então, além do estresse sonoro, ainda há o estresse visual que pode comprometer

o preparo dos PPS, consequentemente a segurança no uso dos mesmos na assistência

direta ao paciente e a saúde do trabalhador.

Quanto aos valores de temperatura, constataram-se valores acima dos parâmetros de

conforto (20ºC a 23ºC) preconizado pela NR 17-Ergonomia (BRASIL, 1990). Na sala

administrativa a temperatura estava entre (27ºC- 28ºC), não possui central de ar condicionado e

janelas. Na sala de esterilização química observou temperatura entre (25,4ºC- 28,8ºC) e na área de

distribuição externa de materiais esterilizados e recebimento de materiais têxteis para

esterilização foi de (26,5ºC) ambas não possuem central de ar condicionado.

Abrahão et al. (2014) citam que o desconforto térmico influencia diretamente o

trabalho humano na sua produtividade e no aumento de ocorrência de acidentes. Em

temperaturas elevadas ocorre maior demanda de irrigação sanguínea, provocando cansaço

excessivo, desidratação, cefaleia, esgotamento a depender do tipo de trabalho e ritmo. Achado

semelhante foi exposto no estudo de Espindola e Fontana (2012), onde foram detectados pelos

respondentes que o calor é considerado o risco físico mais referido e a principal causa de

desconforto no trabalho.

Notou-se também durante as observações sistemáticas e aferição, o déficit na

iluminância em diversas áreas que compõem o CME/HBAP principalmente na sala

administrativa (18,9 lux) e sala de armazenamento (21 lux), sala de recepção e

conferência dos PPS proveniente do CC (49 lux). Conforme ABNT NBR ISO/CIE

8995/2013 os parâmetros de iluminância para as salas de esterilização e desinfecção são de

300 lux.

No estudo foi encontrado o valor de (59,8 lux) na sala de esterilização química, no

corredor central, valor de (52,6 lux), tendo como parâmetro conforme ABNT supracitada de

200 lux para as áreas de circulação e corredor. Esses dados comprovam o que 85,7% dos

sujeitos estudados por Ferraz et al. (2015) mencionaram em sua pesquisa sobre os riscos

ocupacionais em auxiliares e técnicos de enfermagem, para eles a iluminação elétrica

insuficiente foi caracterizada como um fator de risco para agravos e acidentes no ambiente de

trabalho.

84

As atividades de trabalho na sala de esterilização química envolvem contato com

produtos químicos usados para a limpeza e desinfecção (ácido peracético) para retirada de

substâncias orgânicas (sangue e secreção) presente nos endoscópicos. Após imersão na

solução enzimática, deve-se ter muita atenção para o tempo preconizado pelas instruções do

fabricante, caso contrário poderá haver avarias no PPS. É recomendado o enxague abundante

para remoção completa do detergente enzimático e proceder à secagem com gás medicinal (ar

comprimido). O trabalhador deverá está paramentado com EPI‟s adequados em decorrência

da exposição aos riscos físicos, químicos e biológicos durante a realização da tarefa.

Os EPI‟s são os mesmos utilizados na área de recepção e limpeza, luva nitrílica

cano longo, máscara descartável, gorro, bota impermeável, óculos de proteção, avental

manga longa impermeável e durante a atividade de secagem com o ar comprimido,

utilizar protetor auricular. Outro achado relevante foi à manifestação de alguns

trabalhadores no que diz respeito à falta de treinamento e da falta de cobrança do uso dos

EPI‟s durante a realização das atividades de trabalho:

[...] falta de treinamento (R02).

[...] Não adesão por parte de alguns trabalhadores ao uso dos EPI’s

(R10).

[...] Não trabalhamos com todos os equipamentos de proteção (R13).

[...] Falta de qualificação/treinamento no serviço (R18).

Diante das respostas supracitadas, o estudo no CME/HBAP vem reforçar as

recomendações da normativa da ANVISA e da SOBECC a respeito da necessidade de

qualificação permanente dos trabalhadores nos CME para as habilidades das tarefas exigidas,

mas, sobretudo para o desenvolvimento de medidas de segurança no ambiente de trabalho. As

condições do ambiente relacionado aos riscos físico-ambientais mensurado no CME/HBAP

consistem em um fator condicionante para ocasionar distúrbios fisiológicos e psicológicos nos

trabalhadores, tais como fadiga visual e auditiva, cansaço mental e a surdez progressiva

resultante da exposição crônica ao ruído elevado.

Acrescenta-se ainda a exposição frequente nas áreas de recepção, limpeza e

desinfecção ao risco biológico, no manuseio de PPS contaminados. Nessa perspectiva, os

achados desse estudo, são semelhantes aos identificados no estudo de Vilela, Barreto, Gebrim

et al. (2015), onde o risco biológico é o mais relatado pelos trabalhadores. Corroborando

nesse sentido, Aquino et al. (2014) inferem ainda que os trabalhadores de saúde não se

apropriam do conhecimento desses riscos, não se atentam para o ambiente laboral e que o

85

desenvolvimento de suas atividades pode causar-lhes danos.

4.3.1.4 Análise dos fatores de Riscos Psicossociais

A análise das dimensões psicossociais dos trabalhadores do CME/HBAP foi realizada

por meio do instrumento Copenhagem Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) descrito

anteriormente no capítulo da metodologia. O estudo das condições de trabalho possibilita

também a identificação dos fatores de riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho.

Os autores Silva, Wendt e Argimon (2017) colaboram nesse sentido, inferindo que há muito

os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho são estudados.

Na presente pesquisa considerou-se relevante estudar o fator psicossocial dada à

peculiaridade do processo de trabalho do CME/HBAP, focado no sistema de produção de PPS

com uma organização de trabalho baseada numa divisão sociotécnica e fragmentada.

Acrescenta-se ainda a fundamental missão de apoio técnico indispensável no âmbito

hospitalar para o controle das IRAS na assistência prestada aos usuários do SUS.

Como citado anteriormente na metodologia foram selecionadas para estudo as

dimensões: exigências laborais (exigências físicas e psicológicas), organização do trabalho

e conteúdo, relações sociais e liderança, interface trabalho-indivíduo, justiça/respeito e

saúde física geral, considerada pela pesquisadora as mais relacionadas ao contexto laboral do

estudo, pois medem indicadores de exposição (riscos) e indicadores do seu efeito (saúde,

satisfação, significado) (SILVA et al 2012).

Para a análise das variáveis das dimensões do COPSOQ procedeu-se por meio da

estatística descritiva ao cálculo das frequências absolutas e relativas, medidas de tendência

(média) e medidas de dispersão e Desvio padrão (Dp). Conforme definido pelos autores

(Kristensen et al., 2005; Silva et al., 2012) cada item possui cinco alternativas de respostas

com pontuação máxima de cinco e mínima de um. A pontuação final foi obtida por meio do

cálculo da média das pontuações das respostas, classificando-as nas categorias de baixo risco

psicossocial (<2,33), médio (2,34 a 3,66) e alto (> que 3,66).

Os resultados obtidos foram dispostos em tabelas de acordo com as subescalas

descritas a seguir:

Exigências laborais:

Observa-se no quadro 3 que a variável carga horária algumas vezes foi mal distribuída

(30,77%) no CME/HBAP. Quanto à frequência de não ter tempo para completar suas tarefas

(38,46%) dos respondentes informaram que raramente não tinham tempo para finalizar as

86

tarefas. Em relação às horas extras (28,21%) necessita fazer horas para completar as

atividades e algumas vezes (28,21%) é necessário trabalhar muito rapidamente, em

decorrência do aumento da demanda ou necessidade de processamento de PPS em caráter

excepcional (urgência).

Quadro 3 - Distribuição das variáveis da dimensão exigências laborais do Copenhagem

Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um hospital geral

público, Porto Velho, RO, 2017

Exigências

Laborais Sempre

Com

frequência

Algumas

vezes Raramente Nunca

Média

(dp)

n % n % n % n % n % 3,36

(0,84)

Quantitativa

Carga horária

mal distribuída 2 5,13 7 17,95 12 30,77 8 20,51 10 25,64

N

39 Com que

frequência não

tem tempo para

completar todas

as tarefas

5 12,82 2 5,13 7 17,95 15 38,46 10 25,64

Precisa fazer

horas extras 7 17,95 8 20,51 11 28,21 2 5,13 11 28,21

Ritmo de

trabalho

Precisa trabalhar

muito

rapidamente

5 12,82 5 12,82 11 28,21 7 17,95 11 28,21

Emocionais

Exige

emocionalmente

de si

18 46,17 8 20,51 6 15,38 6 15,38 1 2,56

Cognitivas

2,31

(0,72)

Exige atenção

constante 34 87,18 3 7,69 1 2,56 - - 1 2,56

N

39 Trabalho requer

que seja bom

para propor

novas ideias

11 28,21 13 33,33 7 17,95 6 15,38 2 5,13

Trabalho exige

que tome

decisões difíceis

3 7,69 5 12,82 13 33,33 11 28,21 7 17,95

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento

Percebe-se, portanto, que a organização do processo de trabalho está comprometida, a

87

média de 3,36 demonstra risco psicossocial na categoria médio (2,34 a 3,66) para a variável

exigência laboral. Esses achados estão em consonância com a característica da organização do

trabalho nos CME citada no estudo de Espindola e Fontana (2012), como um setor de

produção com exigências de trabalho repetitivo, monótono, em tempo e quantidade necessária

para o fornecimento de PPS livre de contaminação e com qualidade para o cuidado em saúde.

Este estudo mostrou que para 46,17% dos respondentes sempre há exigência

emocional para o desenvolvimento das atividades desenvolvidas no setor, esses dados são

similares aos achados de Ferraz et al. (2015) sobre riscos ocupacionais, para 40% de sua

amostra há exposição nesse setor ao risco psicossocial. Quanto à exigência de atenção

constante (87,18%) compreendem que as tarefas sempre envolve atenção constante. Essa

atenção constante foi registrada durante a observação sistemática na área da recepção e

limpeza dos instrumentais que necessitam serem desmontados para a etapa da limpeza,

considerada uma etapa fundamental no processamento.

A exigência de atenção contínua foi citada em outros estudos realizados em CME,

como o de Rubini et al. (2014) e Borgheti, Viegas e Caregnato (2016), os quais apontam que

tal exigência se dá em decorrência da sofisticação e “novos designs” de PPS concomitante aos

avanços tecnológicos nos métodos de esterilização e abordagens cirúrgicas.

Nos aspectos cognitivos 33,33% dos respondentes relataram que com frequência as

tarefas requerem que o trabalhador seja bom para propor novas ideias e algumas vezes

(33,33%) necessitam tomar decisões difíceis. Os resultados mostram que os trabalhadores

atuantes no CME/HBAP reconhecem a necessidade do conhecimento técnico para a execução

das tarefas específicas do processamento dos PPS. A necessidade de qualificação dos

trabalhadores dos CME foi sinalizada no estudo de Borgheti, Viegas e Caregnato (2016),

confirmando-se a exigência de qualificação e habilitação constante e permanente dos

trabalhadores.

Relações Sociais e Liderança

As variáveis analisadas nessa dimensão são as relacionadas ao apoio social de

superiores e apoio social de colegas. De acordo com o parâmetro de avaliação do COPSOQ,

essa dimensão apresentou média de 3,05, correspondendo a médio risco psicossocial. O

auxílio dos colegas para a realização das atividades no CME/HBAP foi sinalizado como algumas

vezes por (33,33%) dos participantes (Quadro 4). Constatou-se durante as visitas para as

observações sistemáticas que as atividades no CME/HBAP são desempenhadas em equipe. As

etapas de processamento de PPS exigem um trabalho coletivo nas respectivas áreas, entretanto

percebe-se que para a área de armazenamento e distribuição é escalado um trabalhador que deverá

88

ficar restrito aquela área, considerando o aspecto normativo que preconiza acesso restrito pelas

diretrizes de boas práticas para a manutenção da esterilidade dos PPS.

Quadro 4 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do

Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Relações Sociais e

Liderança Sempre

Com

frequência

Algumas

vezes Raramente Nunca

Média

(dp)

n % n % n % n % n % 3,05

(0,88)

Apoio Social de

colegas

Frequência que tem

ajuda e apoio dos

seus colegas de

trabalho

10 25,64 11 28,21 13 33,33 4 10,26 1 2,56

N

39

Frequência dos

colegas em ouvir

sobre os seus

problemas de

trabalho

6 15,38 5 12,82 12 30,77 11 28,21 5 12,82

Frequência que os

seus colegas falam

consigo a respeito do

seu desempenho

laboral

- - 5 12,82 13 33,33 12 30,75 9 23,10

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.

Trazendo o sentido do trabalho retratado por Antunes (2009), como uma atividade que

incentiva a socialização estabelecendo relações sociais entre os sujeitos, foi registrado no estudo

que 30,77% dos participantes algumas vezes ouvem os colegas de trabalho sobre os seus

problemas de trabalho e 28,21% raramente estabelecem uma relação de escuta entre eles.

Quanto à frequência com que os colegas falam sobre o desempenho laboral (33,33%)

afirmam que algumas vezes existe uma interação entre os colegas sobre as impressões do

desempenho laboral e 30,75% dos participantes assinalaram que raramente esse entrosamento dos

trabalhadores a respeito do desempenho laboral ocorre. Esses dados revelam o comprometimento

dos vínculos no local de trabalho, levando à hipótese de que não há cumplicidade entre os

trabalhadores.

Ainda sobre a dimensão relações sociais e liderança, o quadro 5 apresenta a distribuição

das variáveis em relação ao apoio da liderança no cenário do estudo. Foram constatados que

33,33% raramente recebem dos seus superiores uma devolutiva sobre como está o seu

89

trabalho, em referência ao apoio e ajuda (28,21%) raramente têm apoio dos superiores e

quanto à devolutiva do desempenho laboral (48,72%) raramente recebem.

Quadro 5 - Distribuição das variáveis da dimensão relações sociais e liderança do

Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Relações Sociais e

Liderança Sempre

Com

frequência

Algumas

vezes Raramente Nunca

Média

(dp)

n % n % n % n % n % 3,19

(1,05)

Apoio social de

superiores

Frequência com que

o seu superior

imediato fala

consigo sobre como

está o seu trabalho

5 12,82 3 7,70 10 25,64 13 33,33 8 20,51

N

39

Frequência que tem

ajuda e apoio do seu

superior imediato

11 28,21 7 17,95 9 23,08 11 28,21 1 2,56

Frequência que o

seu superior

imediato fala

consigo em relação

ao seu desempenho

laboral

4 10,26 3 7,69 6 15,38 19 48,72 7 17,95

Fonte: Dados da Pesquisa (2017) Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não

Esses dados evidenciam que de um modo geral, ainda existe como descrito por

Graziano, Silva e Psaltikidis (2011) menor importância do setor por parte da gestão em

comparação aos demais na estrutura hospitalar. Supostamente talvez seja pela invisibilidade

do trabalho real na assistência direta à saúde. Entretanto, o produto final das atividades

realizadas contribui para a continuidade do cuidado de saúde. A média obtida caracteriza risco

psicossocial médio (3,19).

Justiça e Respeito

O ambiente de trabalho foi considerado bom algumas vezes por 35,90% dos

respondentes, assim como também algumas vezes há boa cooperação entre os colegas

(46,15%) e os que não sentem o local de trabalho como uma comunidade foi 56,41%. A

média calculada foi de (3,68) representando alto risco psicossocial.

Esses achados demonstram uma probabilidade de conflitos relacionais no ambiente

laboral, podendo acarretar stress e desgastes psicológicos nos trabalhadores. As relações

90

interpessoais podem estar afetadas em decorrência do acesso restrito dos trabalhadores na área

suja e limpa em atendimento as normativas vigentes. A barreira física existente entre as áreas

de trabalho gera distanciamento entre os trabalhadores, que de certa maneira dificulta as

relações sociais.

Quadro 6 - Distribuição das variáveis da dimensão justiça e respeito do Copenhagem

Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um hospital geral

público, Porto Velho, RO, 2017

Justiça e

Respeito Sempre

Com

frequência

Algumas

vezes Raramente Nunca

Média

(dp)

n % n % n % n % n % 3,68

(0,87)

Comunidade

Social no

Trabalho

Existe um bom

ambiente de

trabalho entre si

e os seus

colegas

- - 6 15,38 14 35,90 11 28,21 8 20,51

N

39

Existe uma boa

cooperação

entre os colegas

de trabalho

- - 4 10,26 18 46,15 10 25,64 7 17,95

No seu local de

trabalho sente-se

parte de uma

comunidade

2 5,13 7 17,95 3 7,69 5 12,82 22 56,41

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.

Situação semelhante foi identificada no estudo de Gouveia, Oliveira e Lira (2016),

considerando que os conflitos interpessoais presentes no CME do estudo podem provocar

acidentes de trabalho e o adoecimento. Corroborando na afirmativa, Guérin et al. (2001)

acrescenta que alguns modelos padrões de organização de trabalho podem gerar

constrangimentos e desgastes humanos.

Por certo, um ambiente de trabalho acolhedor promove vivências positivas,

sentimentos de satisfação, realização, segurança e, sobretudo os trabalhadores sentem-se

motivados no desempenho de suas atividades. Os autores Sá, Silva e Funchal (2013) ao

estudarem a relação entre os fatores de satisfação no trabalho e a Síndrome Burnout,

91

corroboram afirmando que um ambiente de trabalho seguro promove crescimento e o

reconhecimento profissional.

Organização do Trabalho e conteúdo

Em relação à organização do trabalho e conteúdo, os resultados apresentados no

quadro 7, mostra uma média de (2,15), caracterizando baixo risco psicossocial. Os dados

revelaram que 71,79% dos trabalhadores respondentes consideram o seu trabalho no

CME/HBAP muito significativo e 79,49% muito importante, Quanto à motivação

(48,73%) sentem-se muito motivados e envolvidos com as atividades desenvolvidas.

Quadro 7 - Distribuição das variáveis da dimensão organização do trabalho e conteúdo do

Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Organização

do Trabalho

e conteúdo

Nada Um pouco Moderado Muito Extremo

Média

(dp)

Significado

do trabalho n % n % n % n % n %

2,15

(1,15)

O seu

trabalho tem

algum

significado

para si

- - 2 5,13 2 5,13 28 71,79 7 17,95 N

39

Sente que o

seu trabalho é

importante

- - - - 1 2,56 31 79,49 7 17,95

Sente-se

motivado e

envolvido

com o seu

trabalho

1 2,56 5 12,82 13 33,33 19 48,73 1 2,56

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.

Esses achados evidenciam que a dimensão do significado do trabalho é similar aquela

discutida por Guérin et al. (2001), de que o trabalho permite a construção do ser social e que

esse caráter social é intrínseco a sua dimensão econômica. O estudo de Rodrigues, Barrichelo

e Morin (2016), analisam os sentidos do trabalho para os profissionais de enfermagem,

identificando que o sentido do trabalho para esses profissionais é a possibilidade de

valorização profissional e a melhoria socioeconômica.

Outro achado registrado durante as observações sistemáticas realizadas, diz respeito a

prática de troca de plantão pelos trabalhadores do CME/HBAP. As trocas restringiam-se

apenas aos trabalhadores lotados no setor, em razão da peculiaridade das atividades

92

realizadas. Isso remete a importância do trabalho considerado diferenciado dos demais setores

do HBAP, que prestam assistência direta.

Interface trabalho-indivíduo

Na variável insegurança laboral (33,33%) dos respondentes assinalaram que não se

preocupavam em ficar desempregados. Entretanto (30,77%) demonstrou preocupação, o que pode

ser explicado pelo contrato de trabalho de alguns trabalhadores do CME/HBAP ser temporário com

prazo determinado (Quadro 8).

Quadro 8 - Distribuição das variáveis da dimensão interface trabalho-indivíduo do

Copenhagem Psychosocial Questionnaire dos trabalhadores do Centro de Material de um

hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Interface

Trabalho-

Indivíduo

Nada Um pouco Moderado Muito Extremo

Média

(dp)

Insegurança

Laboral

n % n % n % n % n % 3,04

(0,35)

Sente-se

preocupado

em ficar

desempregado

13 33,33 7 17,95 2 5,13 12 30,77 5 12,82

Satisfação do

trabalho

2,85

(0,57)

Quão satisfeito

está com as

suas

perspectivas

de trabalho

1 2,56 14 35,90 14 35,90 9 23,08 1 2,56

Quão satisfeito

está com o seu

trabalho de

uma forma

global

2 5,13 9 23,08 16 41,03 12 30,77 - -

Quão satisfeito

está com as

condições

físicas do seu

local de

trabalho

3 7,69 16 41,03 19 48,72 1 2,56 - -

Quão satisfeito

está com a

forma como as

suas

capacidades

são utilizadas

- - 8 20,51 19 48,72 12 30,77 - -

Fonte: Dados da Pesquisa (2017) Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero

Em relação à satisfação (23,08%) indicaram estar muito satisfeitos com suas perspectivas de

93

trabalho. Destaca-se que 41,03% dos respondentes encontram-se moderadamente satisfeitos com

seu trabalho de forma global e 48,72% estavam moderadamente com as condições físicas do

ambiente em que trabalham e com a forma como suas capacidades estão sendo utilizadas para

desenvolver suas atividades

A dimensão interface trabalho-indivíduo obteve médias de (3,04) para a variável

insegurança laboral e para a satisfação do trabalho a média foi (2,85) apresentando médio

risco psicossocial. Percebe-se que a maioria dos trabalhadores se sente satisfeito pela forma

como suas capacidades são utilizadas (48,72%) moderamente e 30,77%, muito. O achado do

estudo referente à satisfação do trabalho se assemelha ao achado de Rodrigues, Barrichelo e

Morin (2016), apresentando uma média calculada para a satisfação com as condições do

ambiente físico de 2,58.

Durante o período de coleta de dados e observações realizadas nas escalas de serviços

disponibilizadas, houve dois afastamentos, um por motivo de licença maternidade e o outro

por motivo de doença. Em relação à percepção da saúde geral (35,90%) afirmaram gozar de

boa saúde (30,77%) têm uma saúde razoável (7,69%) excelente e (2,56%), saúde deficitária

(Tabela 7).

Tabela 7 - Distribuição da frequência da percepção da saúde geral dos trabalhadores do

Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Percepção da Saúde Geral

Excelente % Muito

boa % Boa % Razoável % Déficit %

Saúde

Geral 3 7,69 9 23,08 14 35,90 12 30,77 1 2,56

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Ao assinalarem essa questão, foi identificado em alguns instrumentos de coleta, o

registro de problemas de saúde relatado pelos trabalhadores:

[...] tenho hipertensão arterial e cefaleia tensional (R01).

[...] já tive momentos de tristeza profunda (R05).

[...] uso medicação contínua para hipertensão e dor no corpo (R21).

[...] uso a medicação Glimepirida, pois tenho Diabetes (R2).

[...] tenho hérnia de disco e não trabalho na área de recepção e

limpeza (R26).

[...] tenho bursite, artrite e hipertensão arterial em uso de

medicamento (R27).

A seguir serão abordados os resultados sobre a avaliação de dor e desconforto dos

94

trabalhadores do CME/HBAP por meio do mapa de segmentos corporais descrito pelo

Diagrama de Corllet e Manenica (1980).

4.3.1.5 Diagrama de Corllet e Manenica

Os riscos ambientais e psicossociais podem culminar em riscos de comprometimento

musculoesqueléticos nos trabalhadores que atuam no CME/HBAP. Para levantamento dos dados

foi utilizado o Diagrama de Corlett e Manenica (1980). O instrumento permitiu identificar a

intensidade da dor e/ou do desconforto referida pelos trabalhadores durante a execução das tarefas

nas etapas de processamento de PPS em relação aos segmentos corporais conforme apresentado

na Figura 24.

Figura 24 - Distribuição da frequência da intensidade do desconforto/dor referida pelo

trabalhador em relação aos segmentos corporais no Centro de Material e Esterilização de um

hospital geral, Porto Velho, RO, 2017

1. Nenhum

desconforto/dor

2. Algum

desconforto/dor

3. Moderado

desconforto/dor

4. Bastante

desconforto/dor

5. Extremo

desconforto/dor Fonte: Adaptado de Frazão (2007)

Muitos foram os desconfortos e/ou dores relatados pelos respondentes, dentre eles

destacam-se as regiões do pescoço, na qual 3% relataram extremo desconforto/dor e 15% de

algum desconforto/dor a bastante. Outras áreas tiveram esse mesmo relato, foram elas, a

coluna cervical 5% para extremo desconforto/dor, os ombros D, 3% e ombro E 5%, assim

como o punho E, 2% e o joelho E, 3%. Esses relatos revelam que há comprometimento do

sistema musculoesquelético instalado.

Como observado na figura 24, todas as regiões foram referenciadas com alguma

intensidade de dor ou desconforto após o turno de trabalho. Esses resultados foram similares

95

àqueles encontrados por Reis et al. (2016) que estudaram a influência do posto de trabalho na

prevalência de lombalgia em enfermeiros.

Corroborando nesse sentido, a biomecânica contribui com recomendações de

adequação durante a observação das posturas e movimentos adotados pelos trabalhadores, que

podem provocar tensão nos músculos, ligamentos e articulações (DUL; WEERDMEESTER,

2013). Conforme ilustrado na figura 24 pode-se inferir que a queixa pode está relacionada

com a atividade de organização dos PPS esterilizados nas prateleiras (kits cirúrgicos) ao

elevar os braços acima de 90° graus, retirando as articulações do ombro da posição neutra,

permanência por longos períodos na posição em pé, esforço muscular no carregamento e

descarregamento de cargas para esterilização nas autoclaves e a frequência da execução das

atividades nas etapas de processamento de PPS.

De acordo com Dul e Weerdmeester (2013) recomenda-se que os trabalhadores ao

manterem uma postura ou realizar um movimento, mantenham as articulações em posição

neutra, dessa forma minimiza as tensões musculares. A postura assumida (braços e ombros

elevados) na figura 25 representa do ponto de vista da biomecânica uma sobrecarga nos

músculos e articulações dos braços, ombros e pescoço. Moraes e Mont‟Alvão (2009, p.200)

corroboram inferindo que tal postura é a causa de “dor e risco de lesões nas regiões dos

ombros, escápula e braços”, considerando a frequência da realização da atividade.

Figura 25 - Área de armazenamento e distribuição do Centro de Material e Esterilização em

um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

A partir da observação sistemática e registros fotográficos para a apreciação

ergonômica, identificou-se posturas forçadas na área de preparo e esterilização. Nessa área os

trabalhadores realizam as atividades de técnicas de dobraduras de compressas cirúrgicas,

96

gazes, ataduras (Figura 26-B) e empacotamento de caixas cirúrgicas (Figura 26 - C e D) na

posição de pé por períodos que variam de 30 min a 60 min, conforme registro em diário de

campo.

Figura 26 – Atividade de dobradura de compressas cirúrgicas e empacotamento de caixas

cirúrgicas na área de preparo e esterilização dos artigos Odonto-Médico Hospitalares no

Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

As atividades de dobradura de capotes e campos cirúrgicos duram em média 60 min a

80 min. Foi observado que algumas especialidades médicas como a ortopedia, dispõe de

caixas com mais de 50 instrumentais cirúrgicos, variando o tempo de duração da montagem

que dependerá da experiência e habilidade do trabalhador, durando em média 20 min cada

A B

C D

97

caixa.

No balcão de recebimento de instrumentais cirúrgicos, as atividades de secagem,

conferência, organização da caixa e empacotamento variam conforme o quantitativo de

instrumentais que compõem a caixa. Todavia o tempo de duração da posição varia de acordo

com o número de caixas cirúrgicas, kits cirúrgicos, produção de pacotes de compressas

conforme rotina do serviço e o quantitativo de trabalhadores escalados.

Contribuindo para a discussão, Moraes e Mont‟Alvão (2009) afirmam que a posição

de pé sem se movimentar durante longos períodos, causa dores na região lombar e pernas,

pois são áreas de risco de lesões, como por exemplo, varizes nos membros inferiores, lesões

dos discos invertebrais da coluna lombar. Na Figura 26-A observa-se inclinação do tronco

para frente, provocando modificação do eixo da coluna vertebral. Essa inclinação ocasiona

pressão intradiscal em decorrência do esforço para a coluna manter o corpo na posição,

causando desconforto e dores no pescoço e ombros (ABRAHÃO et al., 2014).

Os achados do estudo estão em consonância com o apontamento de Abrahão et al.

(2014), que inferiram sobre o desconforto e dores nas regiões do pescoço e ombros em

decorrência da inclinação do corpo para frente Dos participantes, 52,4% referiram queixas

preocupantes nas regiões do pescoço na intensidade 1 (alguma dor) a intensidade 5 (dor

intolerável) e da coluna cervical, 46,2% manifestaram queixas de desconforto/dor na

intensidade 1 a 5 (Tabela 8).

Com base na afirmação de Moraes e Mont‟Alvão quanto a posição em pé prolongada

provocar queixas, o presente estudo constatou queixas na região lombar de 54,5%, pernas D

(39,1%) e pernas E (37,5%), joelho D (52,6%) e joelho E (57,1%) (Tabela 8). Na área de

armazenamento e distribuição os trabalhadores apresentaram frequência de queixas

musculares nas regiões do ombro E (35%), coxa D (33,3%), coluna inferior (sacral) (31,6%),

coluna cervical (30,8%), antebraço D (30%) e pescoço (23,1%).

Analisando a Tabela 8, percebe-se que trabalhar na área de preparo e esterilização

causa maior frequência de desconforto e/ou dor nos trabalhadores em todas as regiões do

corpo. Infere-se que talvez seja por ser a área com atividades manuais repetitivas, que

demandam postura em pé por tempo prolongado, com maior desconforto e riscos que podem

culminar em agravos a saúde do trabalhador.

As atividades realizadas nessa área requerem esforço físico no transporte dos carrinhos

para carga e descarga dos PPS nas autoclaves, esforço físico na montagem de caixas

cirúrgicas, organização dos carrinhos para o transporte da rouparia da sala de distribuição de

materiais do CME para as unidades consumidoras.

98

Tabela 8 - Distribuição da frequência de dor e/ou desconforto nos segmentos corporais dos

trabalhadores em relação às etapas do Processamento de Produtos de Saúde no Centro de

Material e Esterilização, Porto Velho, RO, 2017 Segmentos Corporais Limpeza

(expurgo)

Preparo e

Esterilização

Armazenamento e

Distribuição

Outros Total

n % n % n % n % n

Pescoço

Nenhuma dor/desconforto 4 22,2 7 38,9 4 22,2 3 16,7 18

Alguma dor a intolerável 2 9,5 11 52,4 5 23,8 3 14,3 21

Coluna Cervical

Nenhuma dor/desconforto 4 30,8 6 46,2 1 7,7 2 15,4 13

Alguma dor a intolerável 2 7,7 12 46,2 8 30,8 4 15,4 26

Ombro Direito

Nenhuma dor/desconforto - - 6 50 2 16,7 4 33,3 12

Alguma dor a intolerável 6 22,2 12 44,4 7 25,9 2 7,4 27

Ombro Esquerdo

Nenhuma dor/desconforto 3 15,8 9 47,4 2 10,5 5 26,3 19

Alguma dor a intolerável 3 15 9 45 7 35 1 5 20

Coluna (torácica)

Nenhuma dor/desconforto 2 13,3 9 60 3 20 1 6,7 15

Alguma dor a intolerável 4 16,7 9 37,5 6 25 5 20,8 24

Braço Direito

Nenhuma dor/desconforto 3 20 8 53,3 2 13,3 2 13,3 15

Alguma dor a intolerável 3 12,5 10 41,7 7 29,2 4 16,7 24

Braço Esquerdo

Nenhuma dor/desconforto 4 21,1 9 47,4 3

15,8 3 15,8 19

Alguma dor a intolerável 2 10 9 45 6 30 3 15 20

Coluna (lombar)

Nenhuma dor/desconforto 4 23,5 6 35,3 3 17,6 4 23,5 17

Alguma dor a intolerável 2 9,1 12 54,5 6 27,3 2 9,1 22

Antebraço Direito

Nenhuma dor/desconforto 5 26,3 8 42,1 3 15,8 3 15,8 19

Alguma dor a dor

intolerável

1 5 10 50 6 30 3 15 20

Antebraço Esquerdo

Nenhuma dor/desconforto 5 22,7 9 40,9 5 22,7 3 13,6 22

Alguma dor a intolerável 1 5,9 9 52,9 4 23,5 3 17,6 17

Coluna Inferior

Nenhuma dor/desconforto 5 25 8 40 3 15 4 20 20

Alguma dor a intolerável 1 5,3 10 52,6 6 31,6 2 10,5 19

Continua

99

Fonte: Dados da Pesquisa (2017).

Tabela 8 - Distribuição da frequência de dor e/ou desconforto nos segmentos corporais dos

trabalhadores em relação às etapas do Processamento de Produtos de Saúde no Centro de

Material e Esterilização, Porto Velho, RO, 2017 Segmentos Corporais Limpeza

(expurgo)

Preparo e

Esterilização

Armazenamento e

Distribuição

Outros Total

N % n % n % n % n

Punho Direito

Nenhuma dor/desconforto 4 21,1 8 42,1 4 21,1 3 15,8 19

Alguma dor a intolerável 2 10 10 50 5 25 3 15 20

Punho Esquerdo

Nenhuma dor/desconforto 4 18,2 9 40,9 5 22,7 4 18,2 22

Alguma dor a intolerável 2 11,8 9 52,9 4 23,5 2 11,8 17

Quadril

Nenhuma dor/desconforto 3 12,5 12 50 5 20,8 4 16,7 24

Alguma dor a intolerável 3 20 6 40 4 26,7 2 13,3 15

Mão Direita

Nenhuma dor/desconforto 4 18,2 11 50 4 18,2 3 13,6 22

Alguma dor a intolerável 2 11,8 7 41,2 5 29,4 3 17,6 17

Mão Esquerda

Nenhuma dor/desconforto 4 16,0 11 44,0 7 28,0 3 12,0 25

Alguma dor a intolerável 2 14,3 7 50,0 2 14,3 3 21,4 14

Coxa Direita

Nenhuma dor/desconforto 4 14,8 13 48,1 5 18,5 5 18,5 27

Alguma dor a intolerável 2 16,7 5 41,7 4 33,3 1 8,3 12

Coxa Esquerda

Nenhuma dor/desconforto 5 16,7 13 43,3 7 23,3 5 16,7 30

Alguma dor a intolerável 1 11,1 5 55,8 2 22,2 1 11,1 9

Joelho Direito

Nenhuma dor/desconforto 4 20,0 8 40,0 5 25,0 3 15,0 20

Alguma dor a intolerável 2 10,5 10 52,6 4 21,1 3 15,8 19

Joelho Esquerdo

Nenhuma dor/desconforto 4 22,2 6 33,3 5 27,8 3 16,7 18

Alguma dor a intolerável 2 9,5 12 57,1 4 19,0 3 14,3 21

Perna Direita

Nenhuma dor/desconforto 3 20,0 9 60,0 2 13,3 1 6,7 15

Alguma dor a intolerável 3 12,5 9 37,5 7 29,2 5 20,8 24

Perna Esquerda

Nenhuma dor/desconforto 3 18,8 9 56,2 3 18,8 1 6,2 16

Tornozelo Direito

Nenhuma dor/desconforto 3 16,7 10 55,6 3 16,7 2 11,1 18

Alguma dor a intolerável 3 14,3 8 38,1 6 28,6 4 19,0 21

Tornozelo Esquerdo

Nenhuma dor/desconforto 3 15,8 10 52,6 4 21,1 2 10,5 19

Alguma dor a intolerável 3 15,0 8 40,0 5 25,0 4 20,0 20

Pé Direito

Nenhuma dor/desconforto 2 14,3 8 57,1 2 14,3 2 14,3 14

Alguma dor a intolerável 4 16,0 10 40,0 7 28,0 4 16,0 25

Pé Esquerdo

Nenhuma dor/desconforto 2 14,3 7 50,0 3 21,4 2 14,3 14

Alguma dor a intolerável 4 16,0 11 44,0 6 24,0 4 16,0 25

100

Na figura 27-A, registra-se a postura forçada ao apanhar o pacote na prateleira,

provocando estiramento dos ligamentos e articulações dos braços e ombros e tensão sobre a

coluna cervical, o que explicaria as queixas de dor e desconforto no pescoço, cervical e

ombros (DUL; WEERDMEESTER, 2013). Em relação a figura 27-B, a atividade requer força

muscular para empurrar o rack de dentro da autoclave com a carga esterilizada, gerando

tensão mecânica nos músculos e articulações, provocando fadiga muscular e lesões por

esforços repetitivos (CORRÊA; BOLETTI, 2015).

Figura 27 – Área de armazenamento e distribuição dos produtos para saúde no Centro de

Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Em relação as atividades realizadas nos balcões, observou-se que estes possuem a

mesma altura (98 cm de altura x 100 cm de largura). Essa também foi uma das observações

dos trabalhadores que apontaram que o CME disponibilizava:

[....] mesas, todas da mesma altura e cadeiras inadequadas (R33)

[....] esforço físico no manuseio dos carrinhos para autoclave (R34)

A exigência da atividade na figura 28 requer atenção e concentração (precisão). A

altura das bancadas para esse tipo de trabalho recomendado por Kroemer e Grandjean (2005)

é de 100-110 cm para os homens e 95-105 para as mulheres, portanto a altura está inadequada

A B

101

para os trabalhadores masculinos.

Percebe-se também na referida figura a disposição de três cadeiras, entretanto estão em

inconformidade com os parâmetros da NR 17- Ergonomia que recomenda cadeira com

“encosto ajustável em altura em sentido antero-posterior com forma levemente ajustada ao

corpo para proteção da região lombar”. Tais cadeiras possibilitariam conforme a exigência da

tarefa, alternância de posições de pé e sentado na atividade demonstrada na Figura 28-A.

Figura 28 – Preparo da embalagem grau cirúrgico e técnica de dobradura de campos

operatórios na sala de preparo e esterilização dos artigos Odonto-Médico Hospitalares no

Centro de Material de um hospital geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Na realização das atividades de dobraduras e empacotamento de campos cirúrgicos e

capotes, a exigência da tarefa requer posição em pé e com movimento (Figura 29-B). De

acordo com Kroemer e Grandjean (2005) para esse tipo de trabalho é necessário altura das

bancadas para os homens de 75-90 cm e mulheres 70-85 cm (trabalho que exige esforço).

A B

102

Figura 29 – Atividade de dobradura e empacotamento de campos cirúrgicos nos balcões da

área de preparo e esterilização do Centro de Material e Esterilização em um hospital geral

público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Na figura 29-A, a postura assumida para o dobramento do campo operatório provoca o

distanciamento dos braços em relação ao corpo. A manutenção dessa postura e a frequência

dessa postura provoca o tensionamento dos braços, ombros e costas, acarretando com o tempo

lesões musculares (DUL; WEERDMEESTER, 2013). Em 29-B, a postura forçada provoca

uma elevação dos ombros para se adaptar à exigência da tarefa, provocando tensionamento

dos músculos e articulações, provocando desconforto e dores musculares.

Outro achado registrado durante as visitas foi a indisponibilidade no posto de trabalho

de dispositivos de apoio para os pés (tablados), para promover descanso e relaxamento das

pernas e pés e o revezamento da posição das pernas, durante as tarefas com exigência de

postura em pé. Segundo Moraes e Mont‟Alvão (2009), esses apoios para os pés aliviam o

stress sobre as pernas, evitando fadiga muscular e desconforto.

Na área de recepção e limpeza constatou-se a exposição aos riscos biológicos em

decorrência do manuseio de artigos contaminados e aos riscos físicos durante a atividade de

secagem dos artigos. Na Figura 30 pode-se observar que a posição em pé que deve ser

mantida enquanto a tarefa for cumprida, assim como a manutenção da posição da pistola de ar

comprimido pressionado contra os instrumentais para secá-los pode causar estresse nas

articulações dos ombros, braços, punhos e mãos.

A lateralidade dependerá da maneira como é utilizado tal equipamento pelo

trabalhador. A inclinação do punho por longo período poderá ocasionar inflamação dos

nervos, dores e sensação de formigamento nos dedos (CORRÊA; BOLETTI, 2015). O achado

do estudo corrobora com a inferência dos autores, tendo sido registrado queixas de

desconforto e dor no punho D (10%) e punho E (11,8%). Outras regiões também foram

A B

103

citadas como o ombro D (22,2%) e ombro E (15%).

Figura 30 - Sala de limpeza do Centro de Material e Esterilização de um hospital geral

público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

Pode se inferir outros constrangimentos presentes no desenvolvimento da atividade de

secagem de instrumentais cirúrgicos nessa área, como o ruído produzido pelo uso da pistola

de ar comprimido, a postura em pé mantida por tempo prolongado e a exposição ao risco

biológico ao manipular artigos críticos, sem o uso de uso de luvas de procedimento ou luva

nitrílica.

Durante a coleta de dados foi verificado que os trabalhadores reconhecem a exposição

ao risco biológico e ao ruído oriundo do uso da pistola de ar comprimido, porém não

percebem os riscos decorrentes das posturas assumidas para a execução das tarefas. A falta de

conhecimento foi confirmada por meio de respostas assinaladas no instrumento de coleta ao

serem inquiridos sobre qual era a percepção das dificuldades encontradas no setor quanto aos

aspectos ergonômicos.

Os trabalhadores referenciaram:

[...] risco de acidente com material biológico (R01).

[...] dificuldades relacionado à disposição de materiais e EPI’s pelo

gestor (R17).

[...] falta de qualificação/treinamento no serviço (R18).

Em relação à atividade de lavagem e enxague (Figura 31), nota-se que a pias são todas

fundas conforme preconizado pela RDC/ANVISA nº 15, de maneira que evite respingos e

104

contaminação dos trabalhadores, todavia identificaram-se constrangimentos para execução

da atividade, que corresponde à inclinação do tronco para frente, provocando tensões na

coluna vertebral e contrações dos músculos e ligamentos da região torácica (CORRÊA;

BOLETTI, 2015). A frequência de queixas de desconforto e dor nessa área foi maior nas

regiões do quadril (20%), coluna torácica (16,7%), comprovando a inferência dos autores.

Figura 31- Sala de recepção e limpeza do Centro de Material e Esterilização de um hospital

geral público, Porto Velho, RO, 2017

Fonte: Dados da Pesquisa (2017)

A avaliação dos riscos musculoesqueléticos por meio do instrumento possibilitou

investigar a partir da análise das atividades desenvolvidas em cada área do processamento de

PPS, os constrangimentos que os trabalhadores atuantes do CME/HBAP enfrentam para a

execução das tarefas. Portanto identificou-se que os trabalhadores estão expostos ao

surgimento de lesões e distúrbios musculoesqueléticos e consequentemente ao adoecimento.

Os resultados aqui apresentados possibilitaram a elaboração de sugestões e

recomendações a partir dos diagnósticos ergonômicos identificados. Considerando a

abordagem ergonômica realizada no CME/HBAP, são apresentadas sugestões e

recomendações, objetivando melhorias na situação de trabalho estudada:

Promover ações de sensibilização para o cuidado à saúde do trabalhador e quanto aos

aspectos de segurança decorrentes do tipo de atividades realizadas correspondentes as

etapas do processamento de PPS;

Avaliar a possibilidade de um rearranjo físico, no sentido de aproximar do CC a sala

de armazenamento e distribuição, adequando-se ao fluxo unidirecional e as barreiras

físicas preconizadas pela norma vigente (BRASIL, 2012a);

105

Disponibilizar dispensadores de álcool em gel a 70% no corredor central, sala de

preparo e esterilização e na sala de recepção e limpeza (expurgo);

Disponibilizar na área de preparo e esterilização uma pia com dispensador de sabonete

líquido, álcool em gel (à 70%) e papel toalha para higienização das mãos;

Aquisição de materiais ergonômicos como, tablados para promover o apoio para os

pés, preferencialmente na sala de preparo e esterilização e sala de limpeza (expurgo),

possibilitando o descanso dos pés e a alternância dos membros inferiores durante e

após o término das atividades que requerem a postura em pé, considerando ainda as

características antropométricas dos trabalhadores do CME;

Disponibilizar cadeiras ergonômicas e ou assentos, observar requisitos recomendados

pela NR 17 (1990) nas respectivas salas: uma na sala de recepção e limpeza (expurgo):

para promover descanso nos períodos de pausa, considerando que é uma área suja e

que o trabalhador não poderá estar transitando nas demais áreas (limpa); três na sala

de preparo e esterilização (substituição) e uma na sala de armazenamento

(substituição);

Disponibilizar protetor auditivo tipo abafador (concha), principalmente para os

trabalhadores que realizam a tarefa de secagem dos PPS com pistola de ar

comprimido;

Incluir nos exames periódicos de saúde dos trabalhadores do CME, o exame

audiométrico anual, conforme a NR 07 (1994), independente do uso de protetor

auditivo (Núcleo de Saúde do Trabalhador);

Sensibilizar a utilização dos EPI‟s respectivamente nas salas/áreas de processamento

de PPS (atender as recomendações da RDC nº15, 2012 e NR nº 32, 2005);

Disponibilizar o mapa de riscos (fácil acesso) com cores representativas e discutir para

que os trabalhadores compreendam os riscos;

Disponibilizar lente intensificadora de imagem de no mínimo 8x de aumento para

auxiliar na tarefa de inspeção visual após procedimento de lavagem (manual e ou

automatizada), conforme norma ANVISA (RDC nº 15, 2012a);

Implementar um programa regular de exercícios funcionais aos trabalhadores do

CME, averiguando um horário em conjunto com os trabalhadores;

106

Redimensionamento do pessoal efetivo de enfermagem do CME com base na

Resolução COFEN nº543/2017.

Sugere-se a melhoria da iluminação das áreas, aquisição de tablados conforme os tipos

de trabalho abordados por Kroemer e Grandjean (2005): tarefas que requerem mais

atenção e concentração (trabalho de precisão) a altura das bancadas recomendada para

os homens é de 100-110 cm e para as mulheres 95-105 cm; trabalhos leves, homens

90-95 cm e mulheres 85-90 cm e tarefas que exijam esforço físico (trabalho pesado) a

altura para os homens é de 75-90 e mulheres 70-85.

107

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As impressões finais dessa pesquisa possibilitaram reflexões acerca de um cenário que

é fundamental numa estrutura hospitalar, entretanto não é reconhecido pelos usuários que

utilizam o objeto de trabalho dessa unidade, que é o (re) processamento de PPS indispensáveis

na assistência à saúde. É pertinente afirmar que o CME de hoje é uma das unidades no âmbito

hospitalar que oferece competência técnica-científica, atuando fundamentalmente no controle

das IRAS.

O estudo teve como limitação a não avaliação do peso das caixas cirúrgicas

manuseadas pelos trabalhadores, fundamentada pela equação de NIOSH, tendo em vista que o

serviço e a pesquisadora não disponibilizavam de balança para mensuração das caixas e

contêineres, impossibilitando avaliar o limite de peso adequado para os trabalhadores na

realização das atividades. Outra questão é a falta de estudos sobre o transporte dos PPS sujos/

contaminados em carrinhos fechados da sala de recepção do CC até a área de limpeza e

desinfecção. Durante o levantamento bibliográfico foram encontrados estudos que refere-se

aos parâmetros de transporte dos PPS esterilizados por meio de recipiente exclusivo, fechado,

com sistema de fechamento estanque e exclusivo para artigos processados.

Ainda assim, esse estudo contribuirá positivamente para o fortalecimento das ações em

prol da Saúde do Trabalhador na unidade e nos cursos de graduação das instituições de

ensino, onde são minimamente discutidas a Política de Saúde do trabalhador e da

Trabalhadora e os processos de trabalho no CME. A realização da pesquisa foi fundamentada

na metodologia da AET, que possibilitou a partir de uma instrução da demanda, analisar as

condições de trabalho e os riscos ergonômicos que podem influenciar no adoecimento dos

trabalhadores do CME/HBAP por meio da análise da tarefa e análise da atividade.

Constatou-se que a dinâmica do trabalho dentro do CME/HBAP obedece parcialmente

ao fluxo unidirecional para o processamento dos PPS no setor conforme as exigências dos

órgãos reguladores. Observou-se cruzamento de PPS sujos/contaminados utilizados no CC

pelo corredor que dá acesso a entrada de artigos médico-hospitalares esterilizados que

foram distribuídos ao CC, o que poderá comprometer a qualidade dos processos de

esterilização, além da exposição ao ambiente inseguro e hostil para os trabalhadores.

Ficou evidente uma maior concentração de trabalhadores na área de preparo e

esterilização. Esta foi a área que apresentou maiores riscos físicos, o estresse sonoro com

ondas no patamar de 78-79,2 dB (A), ultrapassando o preconizado de 65 dB (A) pelas

normativas vigentes no país (NBR 10152/1987). Os riscos mecânicos também foram ali

108

encontrados, falta de adequação dos balcões aos trabalhadores, manutenção da postura em pé

por tempo prolongado, inclinação do tronco para frente, provocando tensões na coluna

vertebral e contrações dos músculos e ligamentos.

Outra área crítica quanto ao estresse sonoro produzido, foi a área de recepção e

limpeza durante a atividade de secagem dos PPS com o gás medicinal (ar comprimido)

alcançando o patamar de 87 dB (A). Considera-se, ainda, que nessa área usava-se cilindro do

gás medicinal de forma inadequada e fora dos padrões previstos pelas normativas vigentes

(NBR 12188/2016).

Foram constatados ainda, riscos visuais que podem causar estresse e adoecimento,

representado por um ambiente que apresentava insuficiência na iluminação na área de preparo

e esterilização. A atividade analisada durante a aferição da iluminação foi a inspeção visual,

apresentando iluminância de 77,5-113,4 lux quando o ideal para área seria de 300 lux

(NBR/CIE 8995/2013). Essa situação pode comprometer o processamento dos PPS e um dos

objetivos primordiais do CME é a prevenção e controle de IRAS.

Desse modo, o ambiente de trabalho avaliado apresentou constrangimentos físicos

(posturas desconfortáveis, atividades manuais repetitivas, esforço físico), organizacionais

(exposição aos riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos pela exigência da tarefa

prescrita, altura inadequada das bancadas), psicossociais (atenção constante, relação

interpessoal fragilizada, sobrecarga de trabalho, trabalho monótono) observados durante a

análise da atividade.

Outro fator condicionante de agravos observado neste estudo diz respeito ao

desconforto e/ou a dor durante as atividades de trabalho e após o cumprimento dos turnos.

Destacam-se o desconforto e/ou dor relatadas nas regiões da coluna cervical, lombar, ombro

esquerdo e direito, coxa direita e esquerda, quadril e joelho esquerdo. Nesse sentido,

observou-se que os trabalhadores apresentam as queixas supracitadas em decorrência das

posturas assumidas durante a execução das tarefas, permanência por longos períodos em pé,

inadequação dos balcões para o desenvolvimento de tarefas manuais e repetitivas.

Diante disso, propõe-se melhoria do ambiente de trabalho no sentido de realizar ações

de sensibilização para o cuidado à saúde do trabalhador e quanto aos aspectos de segurança

decorrentes das atividades de trabalho, avaliar a possibilidade de rearranjo físico,

aproximando a área de armazenamento do CC, disponibilizar dispensadores de álcool em gel

à 70% no corredor central, área de preparo e esterilização, recepção e limpeza, disponibilizar

mapa de riscos com cores representativas, melhoria da iluminação das áreas de

processamentos de PPS, ajustes dos balcões, aquisição de acessórios ergonômicos, tais como

109

tablados, cadeiras ergonômicas, protetor auditivo para os trabalhadores que realizam tarefa de

secagem de PPS com pistolas de ar comprimido, inclusão no exame periódico de saúde dos

trabalhadores, o teste de audiometria anual e implementar um programa regular de exercícios

funcionais.

Assim, considera-se que há uma necessidade premente de desenvolver estratégias de

Educação Permanente em Saúde com ações intersetoriais junto ao NEP, Núcleo de Saúde do

Trabalhador e SESMT, tanto para qualificar os trabalhadores para o desenvolvimento de suas

tarefas quanto para instruí-los quanto aos riscos ergonômicos a que estão sujeitos no trabalho

executado no CME.

110

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2018.

117

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TÍTULO DA PESQUISA: ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS

AGRAVOS À SAÚDE DOS TRABALHADORES: situação ergonômica do trabalho no

Centro de Material e Esterilização de um hospital público.

Pesquisadora responsável: Mestranda Valéria Moreira da Silva.

Pesquisadora orientadora: Profa. Dra. Janne Cavalcante Monteiro.

Data: ____/____/___

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa cujo objetivo central é

realizar uma análise ergonômica das condições de trabalho dos profissionais,

averiguando em que grau suas atividades podem influenciar nos agravos à saúde.

Sua participação não é obrigatória e a qualquer momento você poderá desistir de

participar sem qualquer prejuízo pessoal, não havendo nenhum risco aos participantes da

referida pesquisa.

A metodologia para obtenção dos dados se dará através de um questionário que será

aplicado pela pesquisadora responsável, observação sistemática do ambiente de trabalho e

medição de riscos físicos como temperatura, ruídos, iluminação dos postos de trabalho com os

respectivos equipamentos para medição. As informações obtidas ficarão em sigilo e

privacidade durante todas as fases da pesquisa, sem que apareçam os nomes dos participantes.

O benefício para o serviço e para os participantes são de grande relevância, pois os

dados coletados irão auxiliar no diagnóstico ergonômico do trabalho e subsidiar as

recomendações de melhoria das condições em que o trabalho é realizado, bem como ações

preventivas que diminuam os agravos à saúde. Esses dados serão divulgados em conjunto,

nunca individualmente, não havendo prejuízos previstos e nem pagamento pela sua

participação.

Será fornecida uma cópia deste documento a você e se quiser fazer alguma pergunta

antes de se decidir, sinta-se à vontade. Sua participação voluntária e esclarecida será muito

importante e caso concorde em participar, por favor, expresse seu consentimento,

preenchendo os espaços abaixo. Essa pesquisadora garante que em qualquer momento do

estudo os participantes poderão ter acesso à mesma para eventuais dúvidas no campus da

Fundação Universidade Federal de Rondônia, localizado na BR 364, KM 9,5 na cidade de

Porto Velho ou através do CEP/NUSAU – UNIR através do telefone (69) 2181- 2111 ou e-

mail [email protected], situado no endereço supracitado.

118

Eu,__________________________________________________, portador (a) do

RG n°___________________, após ter sido suficientemente esclarecido (a) de forma clara e

objetiva, nos termos acima, concordo em participar voluntariamente da pesquisa e poderei

retirar meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o estudo, sem penalidades e

prejuízos.

Porto Velho, ____ de ________________ de 2016.

_________________________________________________

Assinatura do Participante

_________________________________________________

Valéria Moreira da Silva

RG n°. 482642 SSP/RO

Telefone: (69) 99202-1055

e-mail: [email protected]

119

APÊNDICE B - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM (FOTO)

Eu,_________________________________, AUTORIZO gratuitamente e

espontaneamente a pesquisadora Valéria Moreira da Silva, responsável pela pesquisa

intitulada: Condições do Trabalho e Agravos à Saúde dos trabalhadores: análise

ergonômica do trabalho no centro de material e esterilização de um hospital geral

público, a registrar, armazenar e exibir a minha imagem por meio de foto com o fim

específico de inseri-la nas informações que serão geradas na pesquisa supracitada e em outras

publicações dela decorrentes, quais sejam dissertação, revistas científicas, congressos e entre

outros eventos dessa natureza.

A presente autorização abrange, exclusivamente, o uso de minha imagem para os fins

aqui estabelecidos e deverá sempre preservar o meu anonimato, sendo utilizada tarjeta e/ou

pixelizada (embaçamento) na face, garantindo a confidencialidade das informações e a

privacidade dos participantes, assegurando que as imagens não serão utilizadas em prejuízo

ou estigmatização. Portanto, qualquer outra forma de utilização e/ou reprodução, deverá por

mim ser autorizada, em observância ao Art. 5º, X e XXVIII, alínea “a” da Constituição

Federal de 1988.

A pesquisadora responsável assegurou-me que os dados serão armazenados em meio

digital, sob sua responsabilidade por cinco anos, e após esse período, serão destruídas.

Assegurou-me, também, que serei livre para interromper minha participação na

pesquisa a qualquer momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.

Ademais, a utilização deste material não gera nenhum compromisso de

ressarcimento, a qualquer preceito, por parte da pesquisadora responsável. Tais

compromissos estão em conformidade com as diretrizes previstas na resolução nº 466/2012

do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde/Comissão Nacional de Ética em

pesquisa, que dispõe sobre Ética em pesquisa que envolve seres humanos.

Porto Velho (RO), agosto de 2017.

_______________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

__________________________________________

Assinatura e Carimbo da pesquisadora responsável

120

APENDICE C – INSTRUMENTO DE PESQUISA: QUESTIONÁRIO

Adaptado (SANTOS, 2014)

DATA:___________________

SETOR:__________________

DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS

1) Sexo: ( ) Masculino ( )Feminino

2) Idade: anos

3) Peso: kg.

4) Altura: m

5) Categoria Profissional:

Secretária Enfermeiro/a Enfermeiro/chefe

Auxiliar de Enfermagem

Técnico de Enfermagem

Outro: ___________________________

6) Função:

7) Tempo no serviço: anos meses.

8) Tempo na função: anos meses.

9) Qual sua tarefa prescrita no setor?____________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10) Já desempenhou outra função neste serviço? Se sim, qual? Recebeu treinamento?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11) Qual seu horário de trabalho:

às horas.

121

12) Qual sua carga horária (real) semanal neste serviço? horas.

13) Possui mais de um vínculo empregatício?

Sim

14) Se sim, quantos vínculos, qual (is) função (ões), qual (is) carga horária no(s) outro(s)

serviço(s)?

_____________________________________________________________________

15) Em média, quantos períodos de pausa você efetua:

(Excluindo a hora da refeição, considerando o trabalho neste setor)

Manhã: Tarde: Noite_________________

16) Caso haja pausas, qual a duração média diária de suas pausas?

min

Obs.: Excluindo a hora da refeição, considerando o trabalho neste setor.

17) Você costuma fazer exercícios físicos de modo regular? (No mínimo 2 a 3 vezes por

semana)

Sim

18) Você fuma?

( ) Sim

( ) Não, sou ex-fumante

( ) Não, nunca fumei

19) Qual sua renda familiar (opcional):

__________________________________

122

ANEXO A – CARTA AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA

123

ANEXO B - CARTA PARA AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM

124

ANEXO C – COPENHAGEN PSYCHOSOCIAL QUESTIONNAIRE (COPSOQ)

EXIGÊNCIAS DE TRABALHO

PERGUNTAS

Sem

pre

Co

m

freq

uên

cia

Alg

um

as

vez

es

Raram

en

te

Nu

nca

1. A sua carga de trabalho acumula-se por ser mal distribuída?

2. Com que frequência não tem tempo para completar todas as tarefas do seu

trabalho?

3. Precisa fazer horas extra?

4. Precisa trabalhar muito rapidamente? 5. O seu trabalho exige emocionalmente de si?

6.O seu trabalho exige a sua atenção constante?

7. O seu trabalho requer que seja bom para propor novas ideias?

8. O seu trabalho exige que tome decisões difíceis?

9. Com que frequência tem ajuda e apoio dos seus colegas de trabalho?

10. Com que frequência os seus colegas estão dispostos a ouvi-lo sobre os

seus problemas de trabalho?

11. Com que frequência os seus colegas falam consigo acerca do seu

desempenho laboral?

12. Existe um bom ambiente de trabalho entre si e os seus colegas?

13. Existe uma boa cooperação entre os colegas de trabalho?

14. No seu local de trabalho sente-se parte de uma comunidade?

15. Com que frequência o seu superior imediato fala consigo sobre como está

a decorrer o seu trabalho?

16. Com que frequência tem ajuda e apoio do seu superior imediato?

17. Com que frequência é que o seu superior imediato fala consigo em relação

ao seu desempenho laboral?

125

PERGUNTAS

NA

DA

UM

PO

UC

O

MO

DE

RA

DA

ME

NT

E

MU

ITO

EX

TR

EM

AM

EN

TE

18. O seu trabalho tem algum significado para si?

19. Sente que o seu trabalho é importante? 20. Sente-se motivado e envolvido com o seu trabalho 21. Quão satisfeito está com as suas perspectivas de

trabalho?

22. Quão satisfeito está com o seu trabalho de uma forma

global?

23. Quão satisfeito está com as condições físicas do seu

local de trabalho?

24. Quão satisfeito está com a forma como as suas

capacidades são utilizadas?

25. Sente-se preocupado em ficar desempregado? EXC MB BOA RAZ DEF 26. Em geral sente que sua saúde é:

Na sua percepção, quais são as dificuldades encontradas no seu setor, quanto aos

aspectos ergonômicos (físicos, cognitivos, organizacionais)?

_______________________________________________________________________

126

ANEXO D - DIAGRAMA DE CORLETT E MANENICA

Adaptado Corlett e Manenica (1980)

ESCALA PROGRESSIVA DE DESCONFORTO/DOR

INTENSIDADE

1 2 3 4 5

Nenhum

desconforto/dor

Algum

desconforto/dor

Moderado

desconforto/dor

Bastante

desconforto/dor

Extremo

desconforto/dor

ESQUERDO DIREITO

127

ANEXO E - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

128

129

130

ANEXO F - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP- EMENDA

131

132

133

134

135

ANEXO G - CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO

136