universidade federal do rio de janeiro – ufrj instituto de ... · na faculdade de enfermagem, ......

59
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETICA – IESC MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA HELEN REGINA MOTA MACHARETH AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS HOSPITALARES UTILIZANDO TAXAS DE MORTALIDADE: CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA DE AJUSTE DE RISCO Orientadora: Prof. Dra. Rejane Sobrino Pinheiro Rio de Janeiro 2014

Upload: buithien

Post on 10-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETICA – IESC

MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

HELEN REGINA MOTA MACHARETH

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS HOSPITALARES UTILIZANDO TAXAS DE MORTALIDADE: CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA DE

AJUSTE DE RISCO

Orientadora: Prof. Dra. Rejane Sobrino Pinheiro

Rio de Janeiro

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

HELEN REGINA MOTA MACHARETH

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS HOSPITALARES UTILIZANDO TAXAS DE MORTALIDADE: CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA DE

AJUSTE DE RISCO

Dissertação de mestrado apresentada ao

programa de pós-graduação em Saúde

Coletiva, da Universidade federal do Rio de

Janeiro, para obtenção do Título de Mestre

em Saúde Coletiva.

Orientadora: Prof. Dra. Rejane Sobrino Pinheiro

Rio de Janeiro

2014

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

M149 Machareth, Helen Regina Mota. Avaliação da qualidade dos serviços hospitalares utilizando taxas de mortalidade: construção de uma medida de ajuste de risco/ Helen Regina Mota Machareth. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2014. 56 f.; 30cm. Orientador: Rejane Sobrino Pinheiro. Dissertação (Mestrado) - UFRJ/ Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2014. Referências: f. 45-52. 1. Fraturas do fêmur. 2. Mortalidade hospitalar. 3. Coeficiente de mortalidade. 4. Modelos logísticos. 5. Análise de regressão. 6. Indicador de risco. I. Pinheiro, Rejane Sobrino. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. III. Título. CDD 611.718

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011
Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Senhor Jesus, por todas as bênçãos concedidas e por ter me agraciado com mais

esta conquista. Senhor, se a Tua mão poderosa não estivesse comigo eu jamais teria chegado

até aqui. Muito Obrigada!

Aos meus pais, por serem sempre modelos de perseverança, caráter, luta e amor. Ensinando-

me a nunca desistir e a sempre confiar no Senhor.

Ao meu amado esposo, por toda compreensão e carinho. Obrigada por todas as madrugadas

que passamos trabalhando juntos. Obrigada por todo incentivo, que sempre me deu para

continuar estudando e lutando por minha formação. Até mesmo em momentos em que a

distância foi necessária para chegar até aqui, sempre senti que éramos um. Te Amo!

À minha orientadora Rejane Sobrino Pinheiro, muito obrigada por todo o carinho,

paciência e compreensão. Por me ensinar a amar o trabalho com dados secundários e a

principalmente, lutar para vencer a cada dia o desafio da busca pelo conhecimento. Você é

realmente muito especial!

À professora Claúdia Medina Coeli e aos amigos do grupo de pesquisa do LABMECS,

sou grata pela oportunidade de poder conviver e aprender com vocês importantes lições no dia

a dia do trabalho. Muito obrigada por tudo!

Ao professor Rômulo Cristóvão de Souza, por ter sido para mim uma inspiração, ainda

na faculdade de enfermagem, quando em seus valiosos ensinamentos me permitia vislumbrar

novos horizontes na área de saúde coletiva.

Aos meus amados irmãos da Igreja, muito obrigada por todas as orações e apoio que

sempre encontrei em vocês. São realmente minha querida família!

Helen Machareth.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar as internações prévias como um indicador da

gravidade dos pacientes para a construção de um índice de ajuste de risco na comparação da

mortalidade entre hospitais, usando como exemplo a fratura proximal de fêmur (FPF). Foram

acompanhados 1984 pacientes internados no município do Rio de Janeiro para correção

cirúrgica de FPF entre os anos de 2010 e 2011. Para análise da associação das internações

prévias com a mortalidade hospitalar após a FPF utilizou-se modelos de regressão logística.

Identificou-se que a idade acima dos 80 anos apresentou associação com a mortalidade

hospitalar com um aumento de 3,3 vezes na chance de morte para pacientes na faixa de 80 -

89 anos (IC = 1,30 - 8,49) e um aumento de 9,05 vezes para os pacientes com 90 anos ou mais

( IC = 3,44 - 23,81). Ter alguma internação prévia por qualquer causa antes da internação por

FPF também demonstrou associação com um aumento de 77% na chance de morte (IC = 1,06

- 2,94). Entre as comorbidades, destacam-se a doença renal severa ou moderada com OR=

20,196 (IC = 3,042 - 134,092), doenças isquêmicas com OR = 9,099 (IC = 0,973 - 85,106),

pneumonia com OR = 3,619 (IC = 0,977 - 13,401) e fraturas diversas e lesões com OR =

2,041 (IC = 0,900 - 4,627). Apesar de o estudo ter sido realizado com uma amostra de

tamanho considerável, não foi possível avaliar a associação de algumas comorbidades em

função da ausência de variabilidade do desfecho em alguns grupos. Os resultados apontam

para o fato de que a internação prévia do SIH-SUS possa ser utilizada como proxy da

gravidade.

Palavras chaves: Ajuste de risco; fratura proximal de fêmur; mortalidade;

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

ABSTRACT

This study aims to analyze the previous admissions as an indicator of the severity of

patients for the construction of an index of risk adjustment in the comparison of mortality

between hospitals , using as an example the hip fracture. 1984 patients hospitalized in the city

of Rio de Janeiro for surgical correction of hip fracture between the years 2010 and 2011 were

followed . To analyze the association of previous hospital admissions to hospital mortality

after the hip fracture was used logistic regression models . It was found that the age above 80

years was associated with hospital mortality with a 3.3 times increase in the risk of death for

patients in the range 80-89 years ( CI = 1.30 to 8.49 ) and increased 9.05 times for patients

aged 90 or more ( CI = 3.44 to 23.81 ). Having some previous hospitalization for any cause

before admission by hip fracture also showed association with a 77% increase in risk of death

( CI = 1.06 to 2.94 ) . Among the comorbidities, stand out with severe or moderate kidney

disease OR = 20.196 ( CI = 3.042 to 134.092 ) , ischemic diseases with OR = 9.099 ( CI =

0.973 to 85.106 ) , pneumonia with OR = 3.619 ( CI = 0.977 to 13.401 ) and several fractures

and injuries with OR = 2.041 ( CI = 0.900 to 4.627 ) . Although the study was conducted with

a sample of considerable size, it has not been possible to assess the association between

selected comorbidities due to the lack of variability of outcome in some groups. The results

point to the fact that previous hospitalization SIH-SUS can be used as a proxy for severity.

Word-keys: Risk adjustment; hip fracture; mortality;

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Pesos das condições clínicas referentes a diagnósticos secundários, considerados

pelo Índice de Comorbidade de Charlson (ICC)

Tabela 2 - Ponderação em função da idade utilizada com o índice de Comorbidade de

Charlson (ICC)

Tabela 3 - POSSUM – Avaliação fisiológica e da gravidade do caso do paciente

Tabela 4 - POSSUM – Avaliação operacional e da gravidade do caso do paciente

Tabela 5 - Modelo final não -ajustado e ajustado e pontuação atribuída no score do risco de

Jiang et al. 2004

Tabela 6 - Perfil dos pacientes internados para correção cirúrgica de fratura proximal de

fêmur no município do Rio de Janeiro, entre 2010 e 2011

Tabela 7 - Perfil dos pacientes internados para correção de fratura proximal de fêmur,

segundo ocorrência de óbito durante a internação no município do Rio de Janeiro nos anos de

2010 e 2011.

Tabela 8 - Causas de internações prévias mais próximas da internação para cirurgia de

correção de fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro nos anos de 2010 e

2011.

Tabela 9 - Modelos de regressão logística para ajuste de risco de mortalidade hospitalar após

internação para cirurgia de correção de fratura proximal de fêmur, no município do Rio de

Janeiro nos anos 2010 e 2011.

Tabela 10 Modelos de regressão logística para ajuste de risco de mortalidade hospitalar após

internação para cirurgia de correção de fratura proximal de fêmur, no município do Rio de

Janeiro nos anos 2010 e 2011.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Equações para estimar o índice Physiologic Ability and Surgical Stress (E-PASS)

Quadro 2 - Classificação do Risco do Acute Physiology and Chronic Health Evaluation

(APACHE II)

Quadro 3 - Agrupamento dos diagnósticos das internações prévias segundo a CID-10 e

diagnósticos de maior impacto na mortalidade após FPF

Quadro 4 - Perfil das internações prévias dos pacientes internados para correção cirúrgica de

fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APACHE Acute Physiology and Chronic Health Evaluation

ASA American Society of Anestesiology

CID-10 Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão

CCS Clinical Classification Software

CSP Complications Screening Program

DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica

E- PASS Physiologic Ability and Surgical Stress

FPF Fratura proximal de fêmur

ICC Índice de Comorbidade de Charlson

NHFS Nottingham Hip Fracture Score

POSSUM Physiological and Operative Severity Score for the Enumeration of Mortality and Morbidity

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................. 11

Avaliação da Qualidade dos Serviços de Saúde...................................................................................... 12

1.1. Mortalidade: um Indicador de Desempenho.............................................................................................13

1.2.Mortalidade Após Fratura Proximal de Fêmur........................................................................................ 16

1.3.Medidas de Ajuste de Risco em Estudos sobre Mortalidade após a Fratura Proximal de Fêmur...................................................................................................................................................... 17

1.3.1.Índice de Comorbidade de Charlson (ICC)................................................................................... 19

1.3.2.Complications Screening Program (CSP) e Clinical Classification Software (CCS)………………………………………………………………………. .………….………. 21

1.3.3.Physiological and Operative Severity Score for the Enumeration of Mortality and Morbidity (POSSUM)………………..……………………………………………………………………... 23

1.3.4.Physiologic Ability and Surgical Stress (E- PASS)….………………………………………….. 25

1.3.5Nottingham Hip Fracture Score (NHFS)…………..…………………………………………… 26

1.3.6Acute Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE) ……........................................... 27

1.3.7.RAND Score……………………………………………………….............................................. 27

1.3.8.Outras Medidas de Ajuste de Risco.............................................................................................. 31

1.4.Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SIH –SUS).......................................... 32

1.5.Justificativa e Relevância......................................................................................................................... 33

1.6.Objetivos.................................................................................................................................................. 33

2. METODOLOGIA........................................................................................................................................... 33

2.1. Desenho de Estudo................................................................................................................................... 33

2.2. População do Estudo................................................................................................................................ 33

2.3. Fonte de Dados......................................................................................................................................... 34

2.4. Análise de Dados...................................................................................................................................... 34

2.5. Variáveis de interesse............................................................................................................................... 36

2.6. Análise dos dados..................................................................................................................................... 36

2.7. Questões Éticas........................................................................................................................................ 37

3. RESULTADOS.............................................................................................................................................. 39

4. DISCUSSÃO................................................................................................................................................. 45

5. REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 48

6. APENDICE.................................................................................................................................................... 56

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

11

1. INTRODUÇÃO

Avaliação da Qualidade dos Serviços de Saúde

A qualidade dos serviços de saúde prestados à população deve ser constantemente

avaliada e monitorada para que o impacto na saúde da mesma seja otimizado. Donabedian

(1980) estabelece que o conceito de qualidade dos serviços de saúde abrange aspectos como:

acesso ao serviço, equidade, adequação técnica deste serviço para atenção à demanda,

efetividade, custos, segurança e satisfação do paciente, alvo do cuidado em saúde. Percebe-se,

então, que, para que as instituições de saúde ofereçam serviços de qualidade aos usuários, as

mesmas devem pautar sua assistência nestes pilares fundamentais.

Donabedian, em 1980, desenvolveu uma estratégia de trabalho para avaliação da

qualidade em saúde baseada nos conceitos da tríade: estrutura, processo e resultado. O

objetivo era construir indicadores ou atributos de qualidade para a avaliação de cada um dos

componentes dessa tríade. A estrutura está relacionada aos recursos humanos, físicos e

financeiros. Recursos estes que devem possuir boa qualidade e estar disponíveis para o

atendimento da demanda. O processo é definido como todos os procedimentos, tudo o que se

relaciona ao tratamento de saúde que foi realizado para produzir o resultado da assistência em

saúde. Questões como a ética médica e o relacionamento interpessoal devem ser avaliadas. O

resultado é o produto do processo de trabalho que visa o reestabelecimento do indivíduo e está

relacionado com questões como a sua satisfação e expectativas.

Rattner (1996) destaca que avaliar a qualidade dos serviços de saúde não constitui uma

tarefa simples. Antes, é necessário lançar mão de conhecimentos que, por vezes, não estão

disponíveis, e sendo necessário que sejam desenvolvidos.

Os indicadores de desempenho são úteis na avaliação da qualidade dos serviços de

saúde, pois, mensuram o processo de trabalho que objetiva o cuidado do paciente e, também,

o impacto favorável ou desfavorável deste na saúde do indivíduo (Donabedian, 1980). Para

Travassos et al. (1999), estes indicadores de desempenho são instrumentos que visam

monitorar a qualidade dos serviços e processos de trabalho dos profissionais de saúde, com

vistas ao destaque da necessidade de uma avaliação mais específica, quando indicarem

possíveis problemas.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

12

Os indicadores de desempenho são comumente utilizados em atividades de

monitoramento com o fim de evidenciar a qualidade dos serviços e as atividades

desenvolvidas para aprimorar sua qualidade (Sheldon, 1998). Para Donabedian (1980), os

resultados provenientes do processo de avaliação utilizando os indicadores de desempenho

indicam alterações no estado de saúde dos indivíduos, decorrentes do processo empregado

para a assistência do mesmo.

Para que os indicadores de desempenho forneçam informações fidedignas para o

desenvolvimento de ações que aperfeiçoem os processos de atendimento, é necessário que os

mesmos sejam válidos. Travassos et al. (1999) afirmam que quando os indicadores possuem

pouca precisão, os resultados que eles apresentam também são imprecisos.

1.1 Mortalidade: um Indicador de Desempenho

A mortalidade hospitalar, por exemplo, se apresenta como um importante indicador da

qualidade da assistência prestada aos indivíduos, pois avalia o resultado do processo de

trabalho que foi empregado com vistas ao cuidado. É considerada um indicador de

desempenho, podendo ser utilizado para a avaliação da qualidade de um hospital

separadamente ao longo do tempo ou, ainda, na comparação de um conjunto de hospitais

(Dubois et al., 1987; Blunberg, 1988; Travassos et al., 1999).

A avaliação da mortalidade hospitalar já era proposta no século passado por Florence

Nightingale, por meio de uma coleta sistemática de dados sobre os pacientes internados, com

o propósito de avaliar o quanto as taxas de mortalidade variavam quando comparadas entre

hospitais (Nightingale apud Travassos et al., 1999). A mortalidade hospitalar como um

indicador de desempenho será utilizada ainda por muito tempo, em função de evidenciar um

aspecto crucial da qualidade da assistência prestada: o resultado final (Iucef et al., 2004).

Embora seja um indicador tradicional na avaliação da qualidade dos serviços de

saúde, a mortalidade hospitalar não nos permite avaliar os óbitos após a alta. A mortalidade

após a fratura proximal de fêmur tem sido avaliada em diferentes períodos, como 30 dias, 60

dias, 90 dias, 180 dias, 1 ano e 2 anos após a admissão hospitalar (Hannan et al.,2001; Jiang et

al., 2005; Alves, 2007; Hu et al., 2011; Kirkland et al., 2011).

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

13

Em 2002, a Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) publicou uma lista

de indicadores de desempenho utilizados para avaliar o cuidado prestado pelas instituições de

saúde norte - americanas. Esta lista contém 32 indicadores que são definidos como um

conjunto de medidas que nos permitem avaliar a qualidade do hospital e os cuidados

empregados para uso de seus dados administrativos. Incluem a mortalidade hospitalar e

procedimentos realizados para algumas patologias e para outros procedimentos médicos.

Avaliam, ainda, a questão da utilização excessiva, subutilização e volume de procedimentos.

Entre eles, está mencionada a mortalidade hospitalar por fratura proximal de fêmur como um

indicador da qualidade do serviço (AHRQ, 2002).

1.2 Mortalidade Após Fratura Proximal de Fêmur

A fratura proximal de fêmur é uma importante causa relacionada com a mortalidade da

população idosa (Nather et al., 1995; Hannan et al., 2001; Sakaki et al., 2004; Souza et al.,

2007). Zuckerman (1996) relata que a fratura proximal de fêmur é classificada de acordo com

sua localização anatômica, podendo ser denominada como: fraturas de colo de fêmur,

transtrocanterianas e subtrocantéricas. Estudos sobre fatores associados à mortalidade após a

fratura proximal de fêmur têm sido publicados há pelo menos duas décadas (Broos et al.,

1989; Clayer et al., 1989).

Revisões sobre fatores preditores da mortalidade após fratura proximal de fêmur

apontam para a forte relação entre a mortalidade e fatores como: sexo masculino, idade

avançada, quantidade de comorbidades e deficiência cognitiva (Sakaki et al., 2004; Mesquita

et al., 2009; Hu et al., 2011;). As comorbidades que mais se relacionaram com a mortalidade

nestes estudos foram: doenças pulmonares, doenças cardíacas, doenças renais, diabetes

mellitus e acidente vascular cerebral (Sakaki et al., 2004; Mesquita et al., 2009; Hu et al.,

2011).

Sakaki et al. (2004) realizaram um estudo de revisão sobre a mortalidade, em

diferentes tempos de seguimento, desde a admissão para correção da fratura proximal de

fêmur até o óbito. A versão avaliou do período de 1998 a 2002, sendo incluídos 25 artigos do

tipo ensaio clínico randomizado e revisão sistemática e totalizou 24.062 pacientes com idade

superior a 60 anos. As taxas de incidência acumulada de mortalidade dos pacientes foi de

10,8% aos seis meses, 19,2% ao final de um ano e de 24,9% aos dois anos. Essas taxas foram

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

14

bem maiores quando comparadas com as dos grupos controle: 3,2%, 5,2% e 9,6%,

respectivamente.

Os fatores destacados no estudo como tendo uma relação direta com a mortalidade

após fratura proximal de fêmur do idoso foram: idade avançada, grande número de doenças

associadas, sexo masculino e existência de deficiência cognitiva. Em alguns trabalhos

isolados identificados no estudo de Sakaki et al. (2004), foram encontrados determinantes

como: capacidade deambulatória prévia, índice ASA, anemia, hipoalbuminemia, linfopenia e

existência de acidente vascular cerebral. Por outro lado, tipo de tratamento cirúrgico na fratura

de fêmur, tipo de anestesia utilizada e o tempo decorrido antes da cirurgia não apresentaram

correlação com a mortalidade.

Embora as mulheres apresentem a maior incidência de fraturas de fêmur, até três vezes

maior que nos homens, em alguns casos, percebe-se que pacientes do sexo masculino

apresentam as maiores taxas de mortalidade (Gdalevich et al., 2004; Forsén et. al., 1999;

Chariyalertasak et al., 2001; Johnell et al., 2001; Meyer et al., 2000; Fransen et al., 2002;

Trombetti et al., 2002; Jiang et al., 2005; Garcia et al., 2006). Algumas hipóteses são

levantadas por Cree et al. (2000) como: a queda do homem em geral é mais traumática do que

a da mulher; o homem tem um número maior de comorbidades ou ainda deficiências

cognitivas mais graves. No Brasil, há controvérsias com relação à mortalidade maior dos

homens que sofrem fratura proximal de fêmur, pois alguns estudos não encontraram

associação entre mortalidade e sexo (Pinheiro et al., 2006; Alves, 2007; Souza et al., 2007;).

Mesquita et al. (2009) avaliaram a morbimortalidade por fratura proximal do fêmur

em idosos por meio de uma revisão que utilizou publicações referentes ao período de janeiro

de 2003 a dezembro de 2007. Foram incluídos 14 artigos relacionados ao tema, com um total

de 4.013 pacientes com fratura proximal de fêmur.

Observou-se maior frequência de mulheres (72,5%), pacientes com idade superior a

80 anos tinham maior probabilidade de morrer quando comparados com paciente na faixa

etária de 60 a 80 anos, em concordância com a literatura científica. Já Alarcon et al. (2001),

em um estudo sobre experiências com nonagenários com fratura proximal de fêmur,

concluíram que, embora os pacientes possuíssem mais de noventa anos, as taxas de

mortalidade dos mesmos não foram maiores do que as encontradas na literatura. Dentre os

pacientes avaliados no estudo de Mesquita et al. (2009), 88% apresentaram doenças

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

15

associadas, com uma média de 2,6 comorbidades que contribuíram para a mortalidade após

fratura proximal de fêmur (21,8%) no decorrer do primeiro ano. Observaram ainda, que a

permanência hospitalar dos pacientes foi de 4,1 a 20, 5 dias, com uma média de 13 dias de

permanência. Ressaltaram que um longo período de internação é um fator agravante para

complicações e podem exercer influência na morbimortalidade.

Recentemente, Hu et al. (2011), por meio de uma revisão sistemática com meta-

análise, estudaram os preditores pré–operatórios para mortalidade em pacientes com fratura

proximal de fêmur após a cirurgia para sua correção. Foram selecionadas para este estudo

publicações não-intervencionistas e incluídos 75 estudos, que totalizaram 64.316 pacientes

com fratura proximal de fêmur. As taxas de mortalidade após um mês foi de 13,3%, de três a

seis meses foi de 15,8%, em um ano 24,5%, em dois anos 34,5% e de três a cinco anos foi de

38,1%. Foram identificados trinta e um potenciais fatores de risco para mortalidade após

fratura proximal de fêmur. Destes, doze fatores apresentaram fortes evidências preditoras:

idade avançada; sexo masculino; índice da American Society of Anesthesiologists (ASA) alto;

demência; múltiplas comorbidades; cuidados de enfermagem em casa e facilidade para sair da

residência; capacidade limitada de deambulação; poucas atividades diárias; deficiência do

estado mental; diabetes; câncer e doenças cardíacas. Foram encontradas evidências moderadas

de predição que são: fratura intertrocantérica (quando comparada com a fratura de colo de

fêmur), baixo índice de massa corporal, baixa concentração de albumina, desnutrição, baixa

concentração de hemoglobina, alta concentração de creatinina, doença renal crônica e doença

pulmonar crônica. Fatores como morar sozinho, internação prévia, função social

comprometida, fumo, alta concentração de potássio, alta concentração de troponina T, doença

cerebrovascular, baixa taxa de linfócitos, frequência cardíaca alta na admissão, doença do

sistema digestivo, delírio e depressão foram considerados fatores com evidência limitada. Os

autores concluíram que, embora não haja evidências conclusivas com relação aos preditores

pré – operatórios, estes doze que foram considerados como fortes preditores devem ser

avaliados com especial atenção.

Em revisão sistemática com meta-análise, Simunovic et al. (2010) estudaram o efeito

da cirurgia precoce após a fratura proximal de fêmur na mortalidade e nas complicações pós-

operatórias. Foram identificadas 1.939 citações relevantes, nas bases Medline, Embase e em

arquivos da Sociedade Internacional de Cirurgia Ortopédica e Traumatologia, arquivos

gerados de encontros anuais da Associação de Trauma Ortopédico, Associação Ortopédica

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

16

Canadense, entre outros. Foram incluídos 13.478 pacientes e selecionadas todas as

publicações até dia 08 de Fevereiro de 2008. Os pesquisadores perceberam que a realização

precoce da cirurgia (entre 24 e 72 horas) para correção da fratura proximal de fêmur está

associada com uma significante redução da mortalidade e de complicações pós-operatórias

como pneumonia e úlceras de pressão. Concluíram que a cirurgia realizada entre 24 e 72

horas está associada a uma menor taxa de mortalidade e de complicações pós - operatórias

entre pacientes com fratura proximal de fêmur. Este tema ainda é polêmico em função de

existirem autores que não encontraram em seus estudos associação com o tempo até a

realização da cirurgia e outros que discutem os períodos relevantes para que haja associação

de 24h, 48h e 72 h (Lyons, 2001; Grimes et al., 2002; Casaletto & Gatt, 2004; Sakaki et al.,

2004).

Alguns estudos associam a internação prévia ao aumento do risco de morte após a

fratura proximal de fêmur. No estudo norueguês de Meyer et al. (2000), os pesquisadores

perceberam que os pacientes que haviam sido admitidos por qualquer causa nas instituições

hospitalares nos dois anos anteriores à fratura tinham um risco de morte quatro vezes maior

do que os pacientes do grupo controle, enquanto os pacientes que não haviam internado

previamente apresentaram um risco de morte semelhante ao risco do grupo controle. Costa et

al. (2006), em Portugal, avaliaram que homens que haviam relatado outra admissão hospitalar

por qualquer razão, nos anos anteriores a fratura, tinham um risco dez vezes maior de morte

após fratura proximal de fêmur do que os homens que não haviam relatado internação prévia.

1.3 Medidas de Ajuste de Risco em Estudos sobre Mortalidade após a Fratura

Proximal de Fêmur

Embora a mortalidade seja um indicador tradicional para a avaliação dos serviços de

saúde, há fatores importantes que devem ser considerados, para que as diferenças encontradas

não reflitam as diferenças nos perfis dos pacientes e, sim, a diferença entre os perfis dos

serviços e o cuidado prestado (Green et al., 1990; Martins et al., 2001; Iucif et al., 2004). Por

exemplo, pacientes que apresentem uma maior gravidade em seu caso, exigirão mais recursos

e tendem a apresentar complicações e piores respostas ao tratamento, ainda que, internados

em uma mesma instituição hospitalar, do que outros pacientes menos graves.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

17

O ajuste de risco tem como objetivo reduzir o papel confundidor que algumas

variáveis relacionadas ao risco inerente ao paciente e a sua patologia (por exemplo, idade,

sexo, comorbidades entre outras) possam exercer no resultado em saúde e permitir que as

taxas de mortalidade sejam analisadas de forma que retratem a condição dos serviços de saúde

(Martins et al., 2001).

Nos estudos de mortalidade após a fratura proximal de fêmur, têm sido utilizadas as

seguintes estratégias de ajuste: Índice de Comorbidade de Charlson (ICC); o score ASA

(American Society of Anesthesiologists); Physiologic and Operative Severity Score for the

Enumeration of Mortality and Morbidity (POSSUM); Physiologic Ability and Surgical

Streess (E- PASS) risk scoring system; Nottingham Hip Fracture Score (NHFS); Clinical

Classification Software (CCS); Acute Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE),

Comorbidity Score (RAND); quantidade de comorbidades; Complications Screening

Program (CSP); método proposto por Jiang et al., (2005) e método proposto por Alves

(2007), (Poses et al., 1996; Iezzoni et al., 1996; Souza et al., 2005; Martins et al., 2001; Iucif

et al., 2004; Goldstein et al., 2004; Lee et al., 2005, Myers et al., 2009, Radley et al., 2007,

Zeeland et al., 2011, Hirose et al., 2008, Wiles et al., 2011, Hannan et al., 2001). Desses, o

Índice de Comorbidade de Charlson (ICC), o Clinical Classification Software (CCS) e o

Complications Screening Program (CSP) tem características que permitem sua aplicação em

bases de dados administrativos. As demais estratégias de ajuste demandam informações

clínicas que em geral não estão presentes nestas bases.

1.3.1 Índice de Comorbidade de Charlson (ICC)

Dentre as medidas de ajuste mais utilizadas nos estudos sobre mortalidade após a

fratura proximal de fêmur está o Índice de Comorbidade de Charlson (ICC). Este é bastante

utilizado em análises de bancos de dados administrativos (Charlson et al., 1987). O ICC é um

índice que foi criado a partir da análise de uma coorte de mulheres com câncer de mama. Mas,

apesar de ter sido elaborado para uma doença específica, tem-se mostrado útil no ajuste de

risco de pacientes com outros problemas de saúde (Poses et al., 1996; Iezzoni et al., 1996;

Souza et al., 2005; Martins et al., 2001; Iucif et al., 2004; Goldstein et al., 2004; Lee et al.,

2005, Myers et al., 2009).

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

18

O ICC indica o risco de morte do paciente por meio dos diagnósticos secundários, que

pertencem à uma lista de dezenove diagnósticos que visam mensurar a gravidade do caso e

avaliar o seu impacto sobre a saúde do paciente (Tabela 1). Para cada uma das dezenove

condições clínicas listadas, há uma pontuação que varia entre 1 e 6 (Charlson et al., 1987). O

ICC permite, ainda, que a variável idade seja combinada, de forma que, a partir dos 50 anos,

para cada 10 anos do paciente é atribuída uma pontuação adicional ao índice (Tabela 2)

(Charlson et al., 1987).

Tabela 1 - Pesos das condições clínicas referentes a diagnósticos secundários, considerados pelo Índice de

Comorbidade de Charlson (ICC)

Pesos Condições clínicas

1 Infarto do miocárdio Insuficiência cardíaca congestiva Doença vascular periférica Demência Doença cerebrovascular Doença pulmonar crônica Doença do tecido conjuntivo Úlcera Doença crônica do fígado

2 Hemiplegia Doença renal severa ou moderada Diabetes Diabetes com complicação Tumor Leucemia Linfoma

3 Doença do fígado severa moderada

6 Tumor maligno, metástase.

SIDA Fonte: Adaptado de Charlson et al., 1987, página 377.

Estudos sobre a adaptação do Índice de Comorbidade de Charlson para o uso em bases

de dados administrativas foram realizados (Deyo et al., 1992; Romano et al., 1993; D’Hoore

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

19

et al., 1996; Quan et al., 2005). Esse índice, que havia sido criado a partir do uso de registros

médicos, foi adaptado para ser utilizado também em bases de dados administrativos nas quais

são registrados diagnósticos secundários utilizando a Classificação Internacional de Doenças

(CID).

Tabela 2 - Ponderação em função da idade utilizada com o Índice de Comorbidade de Charlson (ICC)

Idade (anos) Pontos

0 – 49 0 50 – 59 1 60 – 69 2 70 – 79 3 80 – 89 4 90 – 99 5

Fonte: Adaptado de Charlson et al,. 1987, página 379.

Kirkland et al. (2011) analisaram a capacidade de predição do Índice de Comorbidade

de Charlson na predição da mortalidade em 30 dias após a cirurgia para correção da fratura

proximal de fêmur. Foram selecionados para o estudo 485 pacientes que foram submetidos á

cirurgia para correção da fratura proximal de fêmur na Mayo Clinic Rochester localizada em

Minessota, Estados Unidos. A seleção dos pacientes foi realizada no período de 1 de janeiro

de 2000 a 30 de junho de 2002. Neste estudo os fatores associados com a mortalidade em 30

dias foram: idade maior que 90 anos e índice de comorbidade de Charlson. O índice de

comorbidade de Charlson apresentou uma forte associação com a mortalidade precoce (30

dias), embora tenha sido originalmente validado como uma ferramenta para predizer a

mortalidade em um ano (Charlson et al., 1987).

1.3.2 Complications Screening Program (CSP) e Clinical Classification Software (CCS)

Iezzoni et al. (1994) desenvolveram o Complications Screening Program (CSP),

método que visa à identificação de complicações médicas e cirúrgicas em adultos, baseado em

dados como: idade do paciente; sexo; códigos de diagnósticos e de procedimentos usando a

Classificação Internacional de Doenças (CID) nona revisão; grupo de diagnósticos

relacionados (DRG); número de dias da admissão até a cirurgia principal ou procedimentos

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

20

específicos realizados durante a internação. Foram especificados 27 grupos de complicações

para o programa incluindo pneumonia no pós–operatório; hemorragia após o procedimento

cirúrgico; infecção das feridas cirúrgicas; sepse; medicações mais utilizadas; “reabertura” de

sítio cirúrgico seguido de outra cirurgia; falha dos equipamentos e perfuração de alguma

víscera. Os grupos de risco foram definidos de acordo com os grupos de diagnósticos

relacionados (DRG) e com os códigos de procedimentos nona revisão. Os pacientes podem

ser classificados em mais de um grupo de risco.

O Clinical Classification Software (CCS) é um programa de diagnóstico e de processo

de categorização por códigos diagnósticos, usando a Classificação Internacional de Doenças

(CID) nona revisão, que pode ser utilizado em muitos tipos de análises de dados usando

diagnósticos e procedimentos (HCUP, 2013). Foi desenvolvido pela Agency for Healthcare

Research and Quality (AHRQ), e também pode ser utilizado como uma ferramenta para

classificação de populações por doenças ou procedimentos específicos, e ainda é útil no

desenvolvimento de estatísticas (HCUP, 2013).

Embora o CCS não tenha sido desenvolvido como um índice de ajuste de risco, estudos

apontam para o fato de que, quando utilizado em bases de dados secundários, apresenta um

bom desempenho na predição do risco em função de classificar os pacientes em grupos de

baixo e alto risco (Ash et al., 2003; Radley et al., 2007).

Radley et al. (2007) estudaram estratégias de comparação entre índices de ajuste de

risco em pacientes com fratura proximal de fêmur. Utilizaram três medidas de ajuste:

Complications Screening Program (CSP), Índice de Comorbidade de Charlson (adaptado por

ROMANO) e Clinical Classification Software (CCS). Embora todos os instrumentos tenham

tido uma capacidade de predição semelhante, o instrumento que teve a melhor capacidade de

predizer a mortalidade em um ano após a fratura proximal de fêmur foi o CCS, seguido pelo

CSP e, por fim, o ICC. Os pesquisadores concluíram que, em função da semelhança nos

resultados apresentados pelas medidas de ajuste, a escolha da abordagem deverá ser pautada

na facilidade da implementação.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

21

1.3.3 Physiological and Operative Severity Score for the Enumeration of Mortality and

Morbidity (POSSUM)

O POSSUM (Physiological and Operative Severity Score for the Enumeration of

Mortality and Morbidity) é um sistema preditor de morbidade e mortalidade para pacientes

cirúrgicos e utiliza em sua avaliação fatores fisiológicos e operacionais (Copeland et al.,

1991). O POSSUM foi criado originalmente com o intuito de ser um sistema de pontuação

simples que teria possibilidade de utilização no campo da cirurgia geral, mas com foco

principal na auditoria cirúrgica (Copeland et al., 1991).

Mohamed et al. (2002) validaram a utilização do POSSUM para pacientes submetidos

a cirurgias ortopédicas. O sistema incluiu uma avaliação do estado fisiológico e da gravidade

do caso. O índice POSSUM é constituído com base na análise de 12 condições fisiológicas,

cada uma com uma pontuação em quatro níveis (1, 2, 4 e 8). E seis condições operacionais

que também possuem pontuação em quatro níveis como demonstrado na tabela 3 e 4.

O score POSSUM final para avaliação da mortalidade e da morbidade é calculado com

base nas equações 1 e 2 , sendo a equação 1 relacionada com a mortalidade e a 2 relacionada

com a morbidade:

Log℮ R1/ (1-R1) = -7,04 + (0,13 X score fisiológico) + (0,16 x score operacional) (eq. 1)

Log℮ R2/ (1-R2) = -5,91 + (0,16 X score fisiológico) + (0,19 x score operacional) (eq. 2)

Zeeland et al. (2011) estudaram a capacidade de predição do POSSUM para a

mortalidade hospitalar e para a sobrevida em uma coorte de 272 pacientes com fratura

proximal de fêmur por até três anos. Os pacientes foram classificados em três grandes grupos

com base no POSSUM: baixo risco, risco intermediário e alto risco. O POSSUM teve um

bom desempenho na predição da mortalidade e da morbidade, com área sob a curva ROC de

0.83 para ambas as avaliações. Observou-se que o POSSUM ortopédico é uma excelente

ferramenta para predição da mortalidade e da sobrevivência a longo prazo de pacientes com

fratura proximal de fêmur.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

22

Tabela 3 - POSSUM - Avaliação fisiológica e da gravidade do caso do Paciente

Escore Fisiológico

1 2 4 8

Idade (anos) ≤ 60 61 a 70 ≥ 71

Sinais cardíacos Normal Drogas Cardíacas ou Esteróides

Edema de pericárdio por terapia com

Warfarina

Aumento de Pressão Venosa na Jugular

Radiografia de tórax Normal Cardiomegalia leve Cardiomegalia

Sinais respiratórios Normal Dispnéia por Esforço Dispnéia Limitante Dispnéia de repouso

Radiografia de tórax Normal DPOC - Suave DPOC - Moderada Fibrose ou consolidação

pulmonar PA sistólica (mmHg)

110 a 130 131 a 170 100 a 109

≥ 171 90 a 99

≤ 89

Pulso (batimentos/minuto)

50 a 80 81 a 100 40 a 49

101 a 120 ≥121 ≤ 39

Escala de coma 15 12 a 14 9 a 11 ≤ 8

Uréia na corrente sanguínea (mmol/l)

≤ 7,5 7,6 a 10,0 10,1 a 15,0 ≥ 15,1

Sódio na corrente sanguínea (mmol/l)

≥ 136 131 a 135 126 a 130 ≤ 125

Potássio na corrente sanguínea (mmol/l)

3,5 a 5,0 3,2 a 3,4 5,1 a 5,3

2,9 a 3,1 5,4 a 5,9

≤ 2,8 ≥ 6,0

Hemoglobina (g/100ml)

13,0 a 16,0 11,5 a 12,9 16,1 a 17,0

10,0 a 11,4 17,1 a 18,0

≤ 9,9 ≥ 18,1

Contagem de células brancas (x10¹²/l)

4,0 a 10,0 10,1 a 20,0 3,1 a 3,9

≥ 20,1 ≤ 3,0

ECG Normal Fibrilação Atrial (Taxa 60 a 90)

Alguma outra alteração

Fonte: Adaptado de Copeland et al., 1991, página 356.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

23

Tabela 4 - POSSUM - Avaliação Operacional da gravidade do caso do Paciente

Escore Operacional 1 2 4 8

Magnitude Menor Intermediário Maior Maior+

Número de variáveis operacionais em 30 dias

1 2 > 2

Perda sanguínea por cirurgia (ml)

≤ 100 101 a 500 501 a 999 ≥ 1000

Infecção Nenhuma Incisão, ferida, ex: facada

Contaminação leve ou tecido necrosado

Contaminação grave e tecido necrosado

Presença de malignidade

Nenhuma Primário apenas Tumor metastático Metástase generalizada

Tempo para cirurgia Eletiva Emergência. Ressuscitação

possível < 48 hrs

Emergência. Immediata

< 6 hrs

Fonte: Adaptado de Copeland et al., 1991, página 356.

1.3.4 Physiologic Ability and Surgical Stress (E- PASS)

O Physiologic Ability and Surgical Stress (E-PASS) compreende um conjunto de três

índices: o score do risco pré-operatório (PRS), o score do stress cirúrgico (SSS) e um score

do risco compreendido (CRS). Foi desenvolvido por Haga et al. (1999) com dados de 292

pacientes submetidos à cirurgia gastrointestinal eletiva entre os anos 1992 e 1995 no

departamento de Cirurgia, na Universidade e Escola Médica de Kumanoto, no Japão. Todos

os pacientes foram analisados retrospectivamente para avaliação do status pré-operatório,

procedimentos cirúrgicos e avaliação do pós-operatório. Para realização do trabalho, foram

coletados dados médicos e de enfermagem. O índice de gravidade das complicações pós-

operatórias foi calculado por meio de análise de regressão múltipla utilizando onze fatores

pré–operatórios e seis fatores cirúrgicos.

Os fatores pré–operatórios incluíam (quadro 1): idade; sexo; status de desempenho do

índice desenvolvido por Eastern Cooperative Oncology Grooup (ECOG) (Grau 0: não possui

restrições da atividade social; Grau 1: apresenta sintomas que restringem o trabalho muscular,

mas não impede a caminhada ou o esforço leve; Grau 2: condições que requerem alguma

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

24

assistência, mas não têm a caminhada ou o esforço leve restringidos; Grau 3: condições que

requerem assistência diária, pacientes ficam acamados mais da metade do dia; Grau 4:

pacientes que necessitam de assistência constante, pois ficam acamados durante todo o dia);

índice ASA; doença cardíaca severa; doença pulmonar severa; cirrose em curso; falência

renal; doença cerebrovascular; diabetes mellitus e hipertensão. Os fatores cirúrgicos foram:

perda sanguínea comparada ao peso corporal; tempo para cirurgia; extensão da incisão na

pele; resíduos de câncer após a cirurgia; número de órgãos que foram submetidos à ressecção

e anastomoses. Após as análises de regressão múltipla, foram identificados como fatores de

risco importantes para compor o índice, seis fatores pré-operatórios e três fatores cirúrgicos:

idade; presença de doença cardíaca severa; presença de doença pulmonar severa; diabetes

mellitus; status de desempenho do índice (ECOG); índice ASA; perda sanguínea comparada

ao peso corporal; tempo de cirurgia e extensão da incisão na pele. Os pesquisadores

concluíram que o E-PASS é reprodutível e pode ser útil para tomada de decisão cirúrgica e,

como não é necessário lançar mão de nenhum exame específico, este pode ser utilizado em

muitos hospitais (Haga et al., 1999).

Quadro 1 - Equações para estimar o índice Physiologic Ability and Surgical Stress (E-PASS)

PRS = -0,0686 + 0,00345X1 + 0,323X2 + 0,205X3 + 0,153X4 + 0,148X5 + 0,0666X6 X1: idade X2: presença (1) ou ausência (0) de doença cardíaca severa X3: presença (1) ou ausência (0) de doença pulmonar grave X4: presença (1) ou ausência (0) de diabetes mellitus grave X5: desempenho do índice de capacidade de locomoção (0 - 4) X6: American Society of Anesthesiologists physiological status classification (1 - 5) SSS = -0,342 + 0,0139X1 + 0,0392X2 + 0,352X3 X1: perda sanguínea no transoperatório por peso corporal (gm/kg) X2: tempo de cirurgia (hr) X3: Extensão da incisão cirurgica (0:incisão menor sem laparotomia e toracotomia, 1: apenas laparotomia, 2: laparotomia e toracotomia) CRS = -0,328 + 0,936(PRS) + 0,976(SSS) Fonte: Adaptado de Hirose et al.,2008, página 1448.

Hirose et al. (2008) avaliaram o poder de predição do E-PASS dos riscos pós-

operatórios em pacientes com fratura proximal de fêmur. Foram avaliados 419 pacientes que

foram submetidos à cirurgia de osteossíntese ou artroplastia para correção de fratura proximal

de fêmur e foram prospectivamente avaliados pelo E-PASS score system. O score foi

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

25

adaptado para pacientes com fratura proximal de fêmur utilizando as variáveis do quadro 1.

Neste estudo, as taxas de mortalidade e morbidade cresceram de forma linear com o score do

risco pré-operatório (PRS) e o score do risco composto (comprehensive risk score CRS). Os

resultados sugeriram que o E-PASS pode ser utilizado para predizer o risco pós-operatório e

estimar gastos médicos com cirurgias em caso de fratura proximal de fêmur.

Ainda no ano de 2008, foi realizado um estudo multicêntrico, em sete hospitais

localizados no Japão, com o objetivo de avaliar a efetividade e reprodutibilidade do sistema

E-PASS em predizer o risco pós- operatório da fratura proximal de fêmur. Participaram do

estudo 813 pacientes. Destes, 20,0% desenvolveram complicações pós-operatórias e 1,6%

morreram. As taxas pós–operatórias de morbidade e mortalidade cresceram de forma linear

com o score do risco pré-operatório (PRS) e o score do risco composto (comprehensive risk

score CRS). Para os pesquisadores, estes resultados sugerem que o E-PASS pode ser utilizado

para predizer o risco pós-operatório, estimar custos e comparar desfechos em pacientes

submetidos à cirurgia para tratamento de fratura proximal de fêmur (Hirose et al., 2008).

Hirose et al. (2009) realizaram um estudo comparando o poder de predição do E-

PASS e do POSSUM. Perceberam que as taxas de mortalidade e morbidade preditas pelo

sistema POSSUM estavam todas superestimadas e que o E-PASS teve um maior poder de

predição das taxas de morbidade e mortalidade do que o POSSUM.

1.3.5 Nottingham Hip Fracture Score (NHFS)

O Nottingham Hip Fracture Score (NHFS) foi desenvolvido por Maxwell et al.

(2008). Este estudo teve como objetivo desenvolver e validar este score pré-operatório para

predição da mortalidade em trinta dias em pacientes submetidos à cirurgia para correção da

fratura proximal de fêmur. Foi realizada uma coorte de 4967 pacientes acompanhados de

maio de 1999 a abril de 2006 no Queen’s Medical Centre em Nottingham. Foram encontradas

sete variáveis preditoras independentes: idade; sexo masculino; número de comorbidades;

score mini-mental; concentração de hemoglobina na admissão; morar em uma instituição e

presença de neoplasias. Estas variáveis foram analisadas em um modelo de regressão

multivariada. O NHFS foi produzido pela multiplicação dos coeficientes da regressão por

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

26

dois, arredondando para o valor inteiro mais próximo. O score varia de 0 a 10. A área sob a

curva ROC para o NHFS foi de 0,719.

Wiles et al. (2011) estudaram o poder de predição do Nottingham Hip Fracture Score

(NHFS) na mortalidade em um ano de pacientes submetidos à cirurgia para correção da

fratura proximal de fêmur. Foram analisados 6.202 pacientes entre 1999 e 2009.

Consideraram um score NHFS menor ou igual a quatro como sendo um indicador de baixo

risco e um score maior ou igual a cinco para alto risco. A mortalidade foi maior no grupo de

alto risco e menor no grupo de baixo risco, para a mortalidade até um ano após a fratura

proximal de fêmur.

1.3.6 Acute Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE)

O sistema Acute Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE) foi proposto

com o objetivo de classificar os pacientes, com base em informações fisiológicas, para

mensurar quão graves são as condições clínicas dos pacientes cirúrgicos admitidos no Centro

de Tratamento Intensivo (CTI). Após esta classificação, é possível realizar comparações entre

indicadores de desempenho (Knaus, 1981). O Sistema possuía trinta e quatro medidas

fisiológicas (APACHE I) que, posteriormente, foram reduzidas para doze em proposta de

modificação (APACHE II). Estas doze condições fisiológicas são somadas a scores para idade

e para doenças crônicas, na formatação do índice (Knauss et al., 1985) (Quadro2). O sistema

passou, ainda, por adaptações de forma a otimizar o seu poder de predição e já foram

realizados estudos para avaliar a acurácia dos Sistemas APACHE III e IV (Knaus et al., 1991;

Cook, 2000; Zimmerman et al., 2006).

Estudos foram realizados com intuito de validá-lo para aplicação em pacientes do CTI

em outras situações como no pré-operatório de esofagectomia, gastrectomia,

duodenopancreatectomia cefálica e em pacientes com insuficiência renal aguda fora da UTI e

também em pacientes com fratura proximal de fêmur (Castro et al., 2006; Fernandes et al.,

2009).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

27

1.3.7 RAND Score

O Rand score foi proposto por Pitto (1994) em um estudo sobre a mortalidade e o

prognóstico social da fratura proximal de fêmur. Os fatores que influenciaram a taxa de

mortalidade em seis meses foram: a cognição; doenças associadas; idade maior que oitenta e

cinco anos; e tempo decorrido entre a fratura e a cirurgia. Também foram associadas as

seguintes complicações: pneumonia, úlcera por pressão e infecção do trato urinário e função

social.

Hannan et al. (2001) realizaram um estudo sobre a mortalidade e locomoção em seis

meses após a hospitalização por fratura proximal de fêmur. Neste estudo foram avaliados 571

pacientes com fratura proximal de fêmur, com idade de 50 anos ou mais, admitidos no

Hospital Metropolitano de Nova York, entre agosto de 1997 e agosto de 1998. Neste estudo,

para ajuste de risco da mortalidade foi utilizado o sistema APACHE adaptado (sem a Escala

de Coma de Glasgow) e o RAND Score. Os resultados indicaram que os seguintes fatores

estão associados ao risco de morte: raça; demência; tipo de fratura por deslocamento; uso dos

serviços de saúde; estado funcional do paciente antes da fratura; Rand score e APACHE.

1.3.8 Índice Proposto por Jiang et al.(2005) e Outras Medidas de Ajuste de Risco

Jiang et al. (2005) desenvolveram e validaram um score para predição do risco de

morte, em um ano, em uma coorte de 3981 pacientes com fratura proximal de fêmur, que

foram admitidos no período de 1994 a fevereiro de 2000, e representavam a base populacional

de todos os pacientes do centro e do norte da província de Alberta, Canadá. Foram utilizados

os registros eletrônicos do Hospital da Universidade de Alberta (UAH) e do Royal Alexandria

Hospital (RAH).

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

28

Quadro 2 - Classificação do Risco do Acute Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE II)

Variáveis Fisiológicas Intervalo Abdominal Alto Intervalo Abdominal Baixo

+ 4 + 3 + 2 + 1 0 + 1 + 2 + 3 + 4

TEMPERATURA - retal (°C) Ο ≥ 41°

Ο 39°-40,9°

Ο

38,5°-38,9° Ο

36°-38,4° Ο

34°-35,9° Ο

32°-33,9° Ο

30°-31,9° Ο

≤ 29,9°

Pressão Arterial Média - mmHg Ο ≥ 160

Ο 130-159

Ο 110-129

Ο

70-109

Ο 50-69

Ο ≤ 49

Frequência Cardíaca (resposta ventricular)

Ο ≥ 180

Ο 140-179

Ο 110-139

Ο

70-109

Ο 50-69

Ο Ο ≤ 39

Frequência Respiratória (Com ou sem ventilador) Ο ≥ 50

Ο 35-49

Ο

25-34 Ο

12-24 Ο

10-11 Ο

6-9 Ο

40-54 Ο ≤ 5

Saturação de Oxigênio: A-aDO₂ ou PaO₂ (mmHg) a. FlO₂ > 0,5 registro A-aDO₂

Ο ≥ 500

Ο 350-499

Ο 200-249

Ο

< 200

b. FlO₂ < 0,5 registro único PaO₂ Ο

PO₂ >70 Ο

PO₂ 61-70

Ο PO₂ 55-60

Ο PO₂ < 56

pH Sanguíneo Ο ≥ 7,7

Ο 7,6-7,69

Ο

7,5-7,59 Ο

7,33-7,49

Ο 7,25-7,32

Ο 7,15-7,24

Ο < 7,15

Concentração de Sódio (mMol/L) Ο ≥ 180

Ο 160-179

Ο 155-159

Ο 150-154

Ο 130-149

Ο

120-129 Ο

111-119 Ο ≤ 110

Concentração de Potássio (mMol/L) Ο ≥ 7,7

Ο 6-6,9

Ο 5.5-5.9

Ο 3,5-5,4

Ο 3-3,4

Ο 2,5-2,9

Ο ≤ 2,5

Concentração de Creatinina (mg/ml) (Escore de pontuação dobrada para falha renal)

Ο ≥ 3,5

Ο 2-3,4

Ο 1,5-1,9

Ο

0,6-1,4

Ο < 0,6

HEMATÓCRITO (%) Ο ≥ 60

Ο

50-59,9 Ο

46-49,9 Ο

30-45,9

Ο 20-29,9

Ο

< 20 Contagem de células brancas (total/mm³) (em 1,000s)

Ο ≥ 40

Ο

20-39,9 Ο

15-19,9 Ο

3-14,9

Ο 1-2,9

Ο

< 1 Escala de Coma de Glasgow (ECG): Escore = 15 menos ECG atual

Total ACUTE PHYSIOLOGY SCORE (APACHE): Média dos pontos das 12 variáveis

Concentração de HCO₃ (Venoso-mMol/L) Gasometria

Ο ≥ 52

Ο 41-5,9

Ο

32-40,9 Ο

22-31,9 Ο

Ο 15-17,9

Ο < 15

Fonte: Adaptado de Knaus et al., 1985, página 820.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

29

Para construção do modelo, foram utilizados os dados do Royal Alexandria Hospital e,

para validação, os dados do Hospital da Universidade de Alberta. As associações dos fatores

de risco com a mortalidade foram avaliadas por meio de modelo de regressão logística

multivariado. No modelo multivariado final, permaneceram as variáveis: idade avançada;

sexo masculino; tempo de cuidado em casa; doença pulmonar obstrutiva crônica; pneumonia;

doença isquêmica cardíaca; infarto do miocárdio prévio; algum tipo de arritmia cardíaca;

falência cardíaca congestiva; doença maligna; subnutrição e falência renal. Para construção do

índice de ajuste de risco, os coeficientes da regressão logística multivariada foram

multiplicados por 10, aproximando do valor inteiro mais próximo. Foi atribuída uma

pontuação para cada variável incluída no modelo como demonstrado na tabela 5.

Alves (2007) adotou uma estratégia semelhante a de Jiang et al. (2005) ao estudar uma

coorte de 390 pacientes com 50 anos ou mais, que haviam sido submetidos à cirurgia para

correção de FPF, no período de 1995–2000, no município do Rio de Janeiro. Analisou fatores

relacionados à mortalidade em 30 dias, 90 dias, 180 dias e 1 ano após a cirurgia para correção

da fratura proximal de fêmur em idosos.

As variáveis preditoras que compuseram o novo score foram: demência; doença

pulmonar obstrutiva crônica; pneumonia, acidente vascular cerebral e insuficiência renal

crônica. Com exceção da variável pneumonia, todas as outras compunham a lista do índice de

comorbidade de Charlson. Quando comparado com o ICC, percebeu-se que o novo score

atribuiu um peso diferenciado a algumas variáveis, indicando, assim, que alguns fatores

impactaram de forma diferente a mortalidade e devem ser considerados com pesos

diferenciados dos usados no ICC no ajuste de risco.

Outro score amplamente utilizado para predição do risco é o ASA (American Society

of Anesthesiologists). Embora não seja considerado uma medida de ajuste de risco, tem sido

amplamente utilizado em trabalhos com fratura proximal de fêmur. O Índice ASA está

diretamente relacionado com a presença de um número maior de comorbidade. Alguns

estudos em pacientes com fratura proximal de fêmur encontram associação do ASA com a

mortalidade, mas sua utilização ainda é controversa, pois alguns estudos não encontraram

associação (Elliott et al., 2003;Souza et al., 2008; Paksima et al., 2008; Holvik et al., 2010;

Kalra et al.,2010; Ozturk et al., 2010).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

30

Tabela 5 - Modelo final Não ajustado e Ajustado e Pontuação Atribuída no Score do Risco de Jiang et al. 2004.

Bruto odds ratio (95% IC)

Ajustado odds ratio (95% IC) score

Idade 60-69 1 1 0

70-79 2,1 (1,1 - 3,9) 1,8 (0,9 - 3,4) 6

80-89 2,7 (1,57 - 4,9) 2,0 (1,1 - 3,9) 7

≥90 4,4 (2,3 - 8,3) 3,5 (1,8 - 7,1) 13

Sexo masculino 2,3 (1,8 - 3,0) 1,8 (1,3 - 2,4) 6 Cuidados em longo prazo empregados

2,1 (1,6 - 2,7) 1,6 (1,2 - 2,1) 4

DPOC 2,1 (1,6 - 2,7) 1,5 (1,1 - 2,0) 4

Pneumonia 7,2 (5,0 - 10,4) 3,9 (2,6 - 5,9) 14

Doença isquêmica do coração 2,0 (1,5 - 2,6) 1,6 (1,2 - 2,2) 5

Infarto do miocárdio prévio 4,4 (2,4 - 8,2) 3,6 (1,8 - 7,3) 13

Alguma arritmia cardíaca 2,5 (2,0 - 3,3) 1,7 (1,3 - 2,3) 5

Insuficiência congestiva cardíaca 3,4 (2,6 - 4,4) 1,9 (1,4 - 2,6) 7

Neoplasia 3,3 (2,2 - 4,4) 3,7 (2,4 - 5,9) 13

Desnutrição 6,4 (3,5 - 11,7) 7,4 (3,9 - 14,1) 20

Algum distúrbio eletrolítico 2,6 (1,9 - 3,7) 1,7 (1,1 - 2,5) 5

Falência renal 9,2 (6,1 - 13,9) 6,7 (4,2 - 10,7) 19

Fonte: Adaptado de Jiang et al, 2004, página 497.

O ASA é utilizado para classificação do paciente de acordo com o risco pré-operatório

que o mesmo apresenta. A Sociedade Americana de Anestesiologia propôs em 1963, a

classificação do estado físico dos pacientes no pré-operatório para a avaliação do risco

anestésico (ASA, 1963). É realizada uma classificação subjetiva do estado de saúde do

paciente que possui cinco classes. ASA1: o paciente está completamente saudável; ASA 2: o

paciente tem doença sistêmica leve; ASA3: o paciente tem doença sistêmica grave que não é

incapacitante; ASA4: o paciente tem uma doença incapacitante que representa uma ameaça à

vida; ASA5: paciente sem possibilidade terapêutica que com ou sem cirurgia não se espera

que viva mais do que 24 horas (ASA, 1963).

Souza et al. (2007) estudaram a aplicabilidade de medidas de ajuste de risco, dentre

elas o ICC, para a mortalidade em até 90 dias após a fratura proximal de fêmur. Foram

estudados 390 pacientes atendidos em um hospital universitário vinculado ao SUS, no

município do Rio de Janeiro, entre 1995 e 2000. Neste estudo, constataram que os fatores

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

31

associados à mortalidade foram: idade, quantidade de comorbidades, índice de comorbidade

de Charlson acima de 2 e intervalo de tempo para a realização da cirurgia. Não foi encontrada

associação entre o score ASA e a mortalidade. Concluíram que a quantidade de comorbidades

e o índice de comorbidade de Charlson foram ferramentas úteis para predição da mortalidade.

Souza et al. (2008) estudaram a aplicação do Índice de Comorbidade de Charlson no

ajuste de risco da mortalidade após a fratura proximal de fêmur. Neste estudo perceberam que

o poder preditivo do Índice de Comorbidade de Charlson foi mantido até mesmo quando

calculado apenas com uma comorbidade (a de maior peso). Concluíram que índices de

gravidade com apenas uma comorbidade podem ser utilizados para procedimento de ajuste de

risco.

1.4 Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS)

O Brasil possui grandes bases de dados administrativas que seriam muito úteis se

empregadas na avaliação da qualidade dos serviços de saúde (Martins et al., 2001) . Dentre

estas, está o Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). O

Sistema de Informações Hospitalares é uma base de dados administrativa utilizada para a

realização dos pagamentos das internações hospitalares realizadas no âmbito do SUS. O

instrumento por meio do qual os dados do SIH/SUS são coletados é a Autorização de

Internação Hospitalar (AIH). A mesma é preenchida pelos hospitais e contém dados sobre: o

hospital (nome, endereço, natureza jurídica); o paciente (idade, sexo, endereço); da internação

(diagnóstico da internação, diagnóstico de alta, tempo de permanência, procedimentos

realizados, tipo de saída da instituição); valores pagos pelos procedimentos (Brasil, 2005).

O SIH-SUS é um sistema de abrangência nacional, ampla disponibilização dos dados,

com cobertura de quase 70% de todas as internações realizadas no Brasil (PNAD, 2008). No

entanto há uma limitação do SIH/SUS no que diz respeito aos dados sobre as comorbidades

dos pacientes. No SIH-SUS, há apenas um campo para preenchimento do diagnóstico

secundário, que, ainda, não é preenchido adequadamente. Este fato limita a utilização da AIH

como fonte de informações para ajustes de risco.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

32

1.5 Justificativa e Relevância

A qualidade dos serviços que as instituições de saúde prestam aos usuários deve ser

constantemente avaliada. As taxas de mortalidade são indicadores tradicionais do desempenho

das instituições hospitalares, mas para que esta análise seja realizada de forma adequada é

necessária a utilização de medidas de ajuste de risco.

As grandes bases administrativas do Ministério da Saúde são cada vez mais utilizadas

para a avaliação da qualidade dos serviços prestados à população. Um dos bancos de dados

que poderiam ser amplamente utilizados para este fim é o do Sistema de Informação

Hospitalar (SIH/SUS), mas este possui limitações no que diz respeito a campos importantes

para a obtenção de medidas de ajuste de risco. Estratégias para a obtenção de informações

para a construção de um índice de ajuste de risco são fundamentais para que a avaliação do

desempenho dos serviços das instituições hospitalares seja realizada.

A motivação para a realização deste estudo se deve ao fato de que o Brasil dispõe de

um grande acervo de dados em saúde. O SIH/SUS é um sistema de abrangência nacional, que

registra elevado volume das internações realizadas em um importante segmento da população

do país, sabendo-se que o SUS financia a maioria (aproximadamente 67% - PNAD 2008).

As internações de um indivíduo no conjunto de dados das internações do SUS é uma

fonte de informação rica para o planejamento e monitoramento de ações em saúde e pode vir

a ser um instrumento mais preciso à tomada de decisão pelos gestores da área de saúde na

avaliação do desempenho dos estabelecimentos de saúde.

As internações prévias têm sido citadas na literatura internacional como fatores que

impactam a mortalidade após fratura proximal de fêmur (Meyer et al., 2000; Costa et al.,

2006).

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

33

1.6 Objetivos

Objetivo Geral:

Analisar as internações prévias como um indicador de gravidade do paciente na

comparação de resultados em saúde entre hospitais, usando com exemplo a fratura

proximal de fêmur.

Objetivos Específicos:

• Analisar a contribuição das internações prévias como um indicativo de gravidade do

paciente internado para correção de fratura proximal do fêmur.

• Analisar a contribuição de diferentes grupos de causas de causas de internações

prévias na mortalidade hospitalar após a fratura proximal do fêmur.

2 Metodologia

2.1 Desenho de Estudo

Foi realizado um estudo de coorte não concorrente em uma população de pacientes

idosos internados com diagnóstico de fratura proximal de fêmur no estado do Rio de Janeiro,

nos anos de 2010 e 2011.

2.2 População do Estudo

A população de estudo foi composta por pacientes, com 62 anos ou mais, de ambos os sexos,

que foram internados no SUS com diagnóstico principal codificados como S72.0 (fratura do

colo do fêmur), S72.1 (fratura pertrocanterica) e S72.2 (fratura subtrocanterica) da

Classificação Internacional de Doenças, 10° Revisão - CID10 e submetidos à cirurgia para

correção (procedimento de códigos 408040050 (artroplastia de quadril parcial), 408040084

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

34

(artroplastia total primária de quadril cimentada), 408040092 (artroplastia total primária de

quadril não cimentada híbrida), 408040297 (tratamento cirúrgico de fratura do acetábulo),

408050489 (tratamento cirúrgico de fratura/ lesão fisária proximal (colo) do fêmur (síntese)),

408050616 (tratamento cirúrgico de fratura subtrocanteriana), 408050632 (tratamento

cirúrgico de fratura transtrocanteriana)), no estado do Rio de Janeiro nos anos de 2010 e 2011.

Por características próprias do banco que foi cedido, consideraram-se pacientes com 62 anos

ou mais, uma vez que o banco do SIH-SUS continha apenas pacientes a partir de 60 anos.

2.3 Fonte de dados

Para o presente estudo utilizou-se dados do Sistema de Informação Hospitalar (SIH-

SUS), cedido pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Para a identificação do perfil de causas das internações prévias, ocorridas até dois

anos antes da internação por FPF, foi necessário recuperar os dados de diagnóstico principal

da internação do SIH-SUS, por meio do relacionamento entre o banco de dados dos pacientes

com 62 anos ou mais internados para realização de cirurgia para correção de fratura proximal

de fêmur do SIH-SUS, relativos anos de 2010 e 2011, e o banco do SIH-SUS com pacientes

com 60 anos ou mais que internaram entre 2008 – 2011 por qualquer causa. Para a realização

do relacionamento entre os bancos foram utilizadas tabelas auxiliares contendo: descrição do

CID, descrição CID grupos, descrição CNES e descrição dos procedimentos, para

complementar o conjunto de dados a serem utilizados na análise.

2.4 Linkage entre as bases de dados do SIH-SUS

Os dados fornecidos para o estudo passaram por procedimento de linkage

probabilístico dos registros da coorte de pacientes com fratura contendo dados do SIH-SUS

2010 - 2011 com os registros do SIH-SUS 2008 – 2011. Assim, foram obtidos os pares de

registros do mesmo paciente nos anos anteriores. Para tal, utilizou-se o programa

OpenReclink®, seguindo os cinco passos de blocagem sugeridos em Coeli e Camargo.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

35

Jr.(2002), que envolve estratégias de padronização dos dados, relacionamento e combinação

dos registros.

No processo de padronização, os campos nominais das bases de dados foram

subdivididos, eliminados os acentos e as pontuações, e os campos referentes ao sexo (tipo

numérico) e à data de nascimento (tipo data) do SIH-SUS foram ambos convertidos para

caracter.

A partir de campos utilizados na padronização dos dados, foram criadas chaves de

indexação, utilizadas para relacionar os registros dos arquivos padronizados. O

relacionamento ocorreu por meio de um procedimento denominado blocagem, com o objetivo

de reduzir a quantidade de comparações entre registros das duas bases de dados, eliminando

registros com escores muito diferentes. Neste processo foram estabelecidos blocos lógicos de

registros baseados em campos chaves. A blocagem se deu por meio da divisão lógica do

banco em blocos que se excluíram mutuamente de acordo com as chaves de blocagem que

foram configuradas (Coeli & Camargo, 2002).

No processo de blocagem, para realização da comparação dos campos nome foram

empregados códigos fonéticos, usando a função soundex. Essa função gera um código de

quatro dígitos que representa a palavra, em que o primeiro dígito do código se refere à

primeira letra da palavra e os demais são valores que representam consoantes existentes na

palavra. O objetivo do código soundex é a diminuição dos erros por meio de eliminar vogais e

substituir consoantes com sons similares. Os passos e chaves utilizados para blocagem foram:

Passo 1: Soundex do primeiro nome + soundex do último nome + sexo

Passo 2: Soundex do último nome + sexo + ano de nascimento

Passo 3: Soundex do primeiro nome + sexo + ano de nascimento

Passo 4: Soundex do primeiro nome + soundex do último nome + ano de nascimento

Passo 5: Soundex do primeiro nome + ano de nascimento

Após o relacionamento dos registros nas duas bases de dados, no processo de

pareamento, foi atribuído um score sobre a comparação dos dois registros. Esse score leva em

consideração parâmetros relacionados à soma da verossimilhança. Para a variável nome foram

atribuídos os seguintes valores: sensibilidade de 92%, especificidade 1% e 85% para

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

36

proporção mínima de concordância. Para a variável data de nascimento, 90%, 5% e 65%,

respectivamente.

Após cada passo de blocagem, foi gerado um arquivo, com os dados relacionados aos

links encontrados e seus respectivos escores. Foi realizada a inspeção visual de cada link da

tabela de pares. Para inspeção visual foram selecionados os seguintes dados: nome; nome da

mãe; data de nascimento; código do município; data da internação; data da alta; motivo da

saída; CNES; sexo; AIH. O critério para combinação dos registros foi estabelecido

empiricamente durante a inspeção visual de cada link, após cada passo de blocagem.

2.5 Variáveis de interesse

Foram utilizadas variáveis: demográficas (sexo e idade, agrupada em faixas etárias: 60-

69 anos, 70-79 anos, 80-89 anos e 90 anos ou mais); internação prévia (sim ou não); número

de internações; Índice de Comorbidades de Charlson (calculado com base nos pesos dos

diagnósticos principais das internações prévias) e os diagnósticos principais das internações

prévias, agrupados com base no Índice de Comorbidade de Charlson, com base no

agrupamento realizado por Alves (2007) e na literatura científica que aborda fatores que

impactam na mortalidade após FPF (quadro 3). A variável dependente utilizada foi a morte

hospitalar, variável dicotômica, definida pelo motivo da cobrança de códigos 4.1, 4.2, 4.3,

4.4, 5.1, 5.2, 5.3, 5.4.

2.6 Análise dos dados

Para construção da base de dados de análise, foram utilizados os seguintes arquivos: a

coorte de internações ocorridas entre 2010 e 2011, para correção cirúrgica de FPF e os

registros do SIH-SUS para todos os diagnósticos principais de pacientes com 60 anos ou mais

entre 2008-2011. A tabela de pares verdadeiros proveniente do linkage da base do SIH-SUS

após revisão manual para identificação das internações prévias. A junção das bases foi

realizada por meio do número da AIH, e para tal utilizou-se o programa Microsoft Acces®.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

37

Foram realizadas análises univariadas e bivariadas para todas as variáveis do estudo. O

teste estatístico utilizado para avaliar a associação entre as variáveis categóricas foi o qui-

quadrado de Pearson e para a avaliação das variáveis contínuas com distribuição normal foi o

Teste t e o teste de Mann-Whitney, caso contrário.

Foi realizada análise mais detalhada das causas de internação prévia e de sua relação

com a mortalidade hospitalar dos pacientes após a cirurgia para correção de FPF. Foram

realizadas regressões logísticas simples para cada variável. As variáveis que apresentaram p≤

0,20 foram incluídas no modelo completo. A análise multivariada foi realizada por meio de

um modelo de regressão logística, conforme realizado por Jiang et al. (2005) e Alves (2007).

As variáveis foram retiradas uma a uma do modelo completo, iniciando pela variável menos

significante na regressão simples. E a permanência das variáveis no modelo final foi avaliada

pela significância estatística e pelo teste de razão de verossimilhança entre o modelo com e

sem a variável testada. Para as análises foi utilizado o programa Stata9®.

2.7 Questões Éticas

O subprojeto “Avaliação da qualidade dos serviços hospitalares utilizando taxas de

mortalidade: construção de uma medida de ajuste de risco” está vinculado ao projeto de

pesquisa “Sistema de informação em saúde nacionais, confiabilidade dos dados, integração

entre os sistemas e o uso de dados integrados para a discussão das possibilidades e limites

para o apoio a gestão em saúde”. Este pressupõe a análise dos limites e as vantagens da

utilização de sistemas de informação integrados na resposta às demandas de informação para

apoiar a gestão em saúde, foi aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa (CEP) do Instituto

de Estudos em Saúde Coletiva - (IESC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ –

Processo 67/2006 e Parecer 121/2006. Este projeto foi submetido ao Comitê de ética em

Pesquisa (CEP) após a qualificação.

Os dados identificados foram apenas utilizados no processo de linkage e as etapas

foram executadas em computador não ligado a rede de internet. Após o processo de linkage,

os nomes foram retirados da análise e os resultados do estudo estão apresentados de forma

agregada, não sendo apresentados resultados individuais.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

38

Quadro 3 - Agrupamento dos diagnósticos das internações prévias segundo a CID-10 e diagnósticos de maior impacto na mortalidade após FPF

GRUPOS CID10

Doenças Infecciosas e gastrointestinas

A09, A46, A480, A488, A490, A499, B958, K294, K315, K359, K36, K409, K419, K439, K579, K599, K612, K639, K802, K808, K810, K920, K928, K938, L021, L029, L89, L97, N329, N813, N832, N840, R100, R198, Z039

Anemias D508, D559, D630, D649 Doença Crônica do Fígado K746 Doença Cerebrovascular G459, G589, I635, I64, S061, S065 Diabetes Mellitus E108, E111, E116, E145, E149

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

J449

Doença Renal Severa e Moderada

N179, N180, N189

Doenças do Trato Urinário N10, N111, N310, N328, N390, N394, N398, N508, R32, R33

Doença Vascular Periférica

I702, I716, I802, I830

Esquizofrenia F205

Fraturas Diversas e Lesões

R262, S068, S318, S324, S424, S428, S525, S526, S528, S718, S818, S820, S821, S822, S828, S930, T021, T023, T028, T039, T068, T131, T141, T821, T840, T845, T846, T848, T931, Z470

Fratura de Fêmur S720, S721, S722, S723, S724, S727, S728, S729 Doença Hipertensiva e HAS

I10, I119, I159

Doenças Isquêmicas I200, I210, I219, I248 Doença de Válvula e ICC I260, I500, I509 Linfomas e Leucemias C835, C859, D110, D259, D267, D34, D400 Doenças Metabólicas, Nutricionais e Hematológicas

D759, E054, E40, E86, K900

Neoplasias Malignas C19, C20, C318, C348, C349, C448, C449, C501, C502, C509, C541, C61, C672, C728

Doenças do Tecido Conjuntivo

M064, M153, M161, M171, M318, M738, M966

Pneumonia J129, J159, J180, J189 Tuberculose A150, A153, A310 Arritmias e Transtornos da Condução

I441, I442, I48

Transtornos da Visão H024, H160, H250, H251, H258, H270 Úlceras K251, K252

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

39

3.RESULTADOS

Dos 1938 pacientes acompanhados (tabela 6), 1411 (72,81%) eram do sexo feminino,

40,66 % dos pacientes estavam na faixa etária entre 80 a 89 anos. A fratura de colo de fêmur

foi a responsável por 56,66% das internações para correção cirúrgicas de FPF. Dentre os

pacientes internados, 14,96% tinham registro de uma ou mais internações no SUS por

qualquer causa nos anos anteriores (2008-2011). Destes, 73,19% apresentaram 01 internação

prévia por qualquer causa e 18,27% apresentaram 02. Dos pacientes que internaram

previamente, 4,75% internaram por causas que pontuam no Índice de Comorbidade de

Charlson.

A tabela 7 apresenta o percentual de óbitos hospitalares para cada categoria das

variáveis. Percebeu-se que idade (90 anos ou mais) e tipo de fratura (colo de fêmur)

apresentaram maiores percentuais de morte.

A tabela 8 apresenta as causas das internações prévias, mais próximas da internação para

cirurgia de correção de fratura proximal de fêmur, mais frequentes. Destacam-se fraturas

diversas e lesões (27,99%), seguida de doenças infecciosas e gastrointestinais (13, 31%),

fratura de fêmur (6,83 %), neoplasias malignas (6,14%), doenças do trato urinário (5,8%).

O quadro 4 (apêndice) apresenta o perfil das internações prévias dos pacientes que

internaram previamente 3 vezes ou mais. Percebeu-se que os diagnósticos mais frequentes

para foram fratura envolvendo regiões múltiplas de um membro inferior (5,25%), infecção do

trato urinário (2,63%), hipertensão essencial (2,39%) e pneumonia (2,39).

Nos modelos de regressão logística da chance de mortalidade hospitalar ajustados por

sexo e idade (tabela 9), observou-se que faixa etária e internação prévia foram

estatisticamente significantes ao nível α = 0,05. Os diagnósticos das internações prévias

associados à maior mortalidade hospitalar (tabela 10) no modelo simples foram: doença renal

severa ou moderada (OR = 12,092; IC 95% = 1,998 - 73,182), doenças do trato urinário (OR

= 3,208; IC = 0,925 - 11,128), fraturas diversas e lesões (OR = 1,735; IC = 0,778 - 3,869),

doenças isquêmicas (OR = 4,488; IC = 0,497 - 40,517), doenças metabólicas, nutricionais e

metabólicas (OR = 4,561; IC = 0,861 -24,151), pneumonia (OR = 3,902; IC = 1,103 -

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

40

13,799), com exceção de fraturas diversas e lesões, que apresentaram intervalos de confiança

muito grandes, esses foram estatisticamente significantes ao nível de α = 0,20.

Tabela 6 - Perfil dos pacientes internados para correção cirúrgica de fratura proximal de fêmur no município do Rio de Janeiro, entre 2010 e 2011.

Variável n % Sexo

Feminino 1411 72,81

Masculino 527 14,96

Idade (anos)

60 a 69 270 13,93

70 a 79 658 33,95

80 a 89 788 40,66

90 ou mais 222 11,46

Tipo de Fratura

Colo do femur 1098 56,66

Pertrocantérica 619 31,94

Subtrocantérica 221 11,40

Internação Prévia

Não 1648 85,04

Sim 290 14,96

Número de Internações Prévias

0 1648 85,04

1 214 11,04

2 53 2,73

3 9 0,46

4 9 0,46

5 ou mais 5 0,25

Índice de Comorbidade de Charlson

0 1846 95,25

1 41 2,12

2 ou mais 51 2,63

Total 1938 100,00

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

41

Tabela 7 - Perfil dos pacientes internados para correção de fratura proximal de fêmur, segundo ocorrência de óbito durante a internação no município do Rio de Janeiro nos anos de 2010 e 2011.

Variável Morte P-Valor*

Não

Sim

Total

n % n % n (100%) Sexo

0,648

Feminino 1334 94,54

77 5,46

1411

Masculino 501 95,07

26 4,95

527

Idade (anos)

0,000

60 a 69 265 98,15

5 1,85

270

70 a 79 638 96,96

20 3,04

658

80 a 89 742 94,16

46 5,84

788

90 ou mais 190 85,59

32 14,41

222

Tipo de Fratura

0,035

Colo do femur 1027 93,53

71 6,47

1098

Pertrocantérica 596 96,28

23 3,72

619

Subtrocantérica 212 95,93

9 4,07

221

Internação Prévia

0,113

Não 1566 95,02

82 4,98

1648

Sim 269 92,76

21 7,24

290

Número de Internações Prévias

0,748

0 1566 95,02

82 4,98

1648

1 198 92,52

16 7,48

214

2 49 92,45

4 7,55

53

3 9 100,00

0 0,00

9

4 8 88,89

1 11,11

9

5 ou mais 5 100,00

0 0,00

5

Índice de Comorbidade de Charlson

0,307

0 1751 94,85

95 5,15

1846

1 37 90,24

4 9,76

41

2 ou mais 47 92,16 4 7,84 51 * Teste do χ²

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

42

Nos modelos que continham os diagnósticos das internações prévias, ajustados (tabela

10) por sexo e idade, os diagnósticos associados com a morte hospitalar foram: doença renal

severa ou moderada, com OR = 20,196 (IC = 3,042 - 134,092), indicando que a presença de

doença renal aumenta em 20, 20 vezes a chance de mortalidade hospitalar; as doenças do trato

urinário, OR = 3,949 (IC = 1,117 - 13,958), indicando que a presença das mesmas aumenta

em 3,9 vezes a chance de óbito hospitalar após a fratura; as doenças isquêmicas, OR = 9,099

(IC = 0,973 - 85,106), que aumentam em 9,1 vezes a chance de óbito e pneumonia, OR =

3,619 (IC = 0,977 - 13,401), aumentando em 3,7 vezes a chance de óbito hospitalar após a

fratura. Ambos com intervalos de confiança grandes. Fraturas diversas e lesões foi border

Tabela 8: Causas de internações prévias mais próximas da internação para cirurgia de correção de fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro nos anos de 2010 e 2011

Grupos de Diagnósticos Freq. Percent %

Fraturas

Fratura de Fêmur 20 6,83 Fraturas Diversas e Lesões 82 27,99

Cardiovasculares

Doença Cerebrovascular 12 4,10 Doenças Hipertensivas 7 2,39 Arritmias e Transtornos da Condução 6 2,05 Doenças Isquêmicas 5 1,71 Doença Vascular Periférica 6 2,05 Doença de Válvula e ICC 7 2,39

Tumores

Linfomas e Leucemias 9 3,07 Neoplasias Malignas 18 6,14

Sistema Urinário Doença Renal Severa e Moderada 4 1,37 Doenças do Trato Urinário 17 5,80

Sistema Respiratório Pneumonia 12 4,10 Tuberculose 3 1,02 Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica 4 1,37

Doenças Metabólicas, Nutricionais e Hematológicas

Anemias 6 2,05 Diabetes Mellitus 5 1,71 Doenças Metabólicas, Nutricionais e Hematológicas 7 2,39

Outros

Doença Crônica do Fígado 1 0,34 Doenças do Tecido Conjuntivo 7 2,39 Doenças Infecciosas e gastrointestinas 36 12,28 Esquizofrenia 1 0,34 Transtornos da Visão 13 4,44 Úlceras 2 0,68

Total 290 100,00

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

43

line, com OR = 3,619 ( IC = 0,977 - 13,401), indicando assim um aumento em 3,7 vezes na

chance de mortalidade hospitalar.

Tabela 9 - Modelos de regressão logística para ajuste de risco de mortalidade hospitalar após internação para cirurgia de correção de fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro nos anos 2010 e 2011.

Variável OR Bruto IC (95%) OR Ajustado IC (95%) P-Valor

(OR Ajustado)

Sexo Masculino 0,90 0,57 1,42 1,06 0,67 1,69 0,80 Feminino 1,00 - - 1,00 - - -

Faixa Etária 60 a 69 anos 1,00 - - 1,00 - - - 70 a 79 anos 1,66 0,62 4,47 1,68 0,62 4,53 0,31 80 a 89 anos 3,29 1,29 8,36 3,32 1,30 8,49 0,01 90 anos ou mais 8,93 3,42 23,33 9,05 3,44 23,81 0,00

Internação Prévia (IP) Sim 1,49 0,91 2,45 1,77 1,06 2,94 0,03 Não 1,00 - - 1,00 - - -

Número de IP 0 1,00 - - 1,00 - - - 1 1,54 0,89 2,69 1,76 1,76 3,10 0,05 2 1,56 0,55 4,42 2,11 0,73 6,10 0,17 3 ou mais 0,87 0,12 6,52 1,16 0,15 8,97 0,89

ICC 0 1,00 - - 1,00 - - - 1 1,99 0,70 5,71 2,60 0,88 7,70 0,08

2 ou mais 1,57 0,55 4,44 2,22 0,77 6,42 0,14

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

44

Tabela 10 - Modelos de regressão logística para ajuste de risco de mortalidade hospitalar após internação para cirurgia de correção de fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro nos anos 2010 e 2011.

Variável

OR Bruto

IC (95%) OR Ajustado IC (95%) P-Valor (OR Ajustado)

Doenças Infecciosas e Gastrointestinais 0,357 0,049 2,614 0,456 0,062 3,372 0,442

Anemias* - - - - - - -

Doença Crônica do Figado* - - - - - - -

Doença Cerebrovascular 1,374 0,178 10,607 2,330 0,293 18,538 0,424

Diabetes Mellitus* - - - - - - -

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica* - - - - - - -

Doença Renal Severa e Moderada 12,092 1,998 73,182 20,196 3,042 134,092 0,002

Doenças do Trato Urinário 3,208 0,925 11,128 3,949 1,117 13,958 0,033

Doença Vascular Periférica* - - - - - - -

Esquizofrenia* - - - - - - -

Fraturas Diversas e Lesões 1,735 0,778 3,869 2,041 0,900 4,627 0,087

Fratura de Fêmur* - - - - - - -

Doenças Isquêmicas 4,488 0,497 40,517 9,099 0,973 85,106 0,053

Doenças de Válvula e ICC 2,239 0,277 18,073 2,375 0,276 20,413 0,431

Linfomas e Leucemia* - - - - - - -

Doenças Metabólicas, Nutricionais e Hematológias 4,561 0,861 24,151 3,739 0,605 23,128 0,156

Neoplasias Malígnas 1,378 0,322 5,886 1,696 0,389 7,384 0,482

Doenças do Tecido Conjuntivo* - - - - - - -

Pneumonia 3,902 1,103 13,799 3,619 0,977 13,401 0,054

Tuberculose* - - - - - - -

Arritmias e Transtornos da Condução* - - - - - - -

Visão* - - - - - - -

Ulceras* - - - - - - -

*Não foi possível estimar por falta de variabilidade

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

45

4 DISCUSSÃO

Neste estudo, observou-se que pacientes que tiveram internação, por qualquer causa,

anterior à internação para correção cirúrgica da FPF tiveram um acréscimo de 77% na chance

de morte durante essa internação. Esse resultado aponta que a internação prévia pode ser

usada como um marcador da chance de morte durante a internação para correção cirúrgica da

FPF. No entanto, o número de internações prévias não se mostrou associado, sugerindo que a

associação ocorre não apenas pela quantidade de internações prévias, mas sim pela

identificação de diagnósticos ou comorbidades específicas que reconhecidamente impactam

na mortalidade após FPF. Embora considerando diferentes períodos para a internação prévia,

Meyer et al., 2000 e Costa et al., 2009 encontraram um aumento da mortalidade em seus

estudos. Meyer et al. (2000) identificaram que os pacientes que tiveram uma ou mais

admissões (por qualquer causa) nos dois anos anteriores à FPF tiveram um incremente de

quatro vezes na chance de morte em 01 ano. E Costa et al. (2009) em seu estudo perceberam

que os homens que relataram ter tido admissão hospitalar anterior (por qualquer causa)

durante o período de seguimento tiveram um aumento em 10,36 vezes na chance de morte em

01 ano. Os resultados aqui encontrados apontam para a possibilidade de se utilizar o próprio

SIH-SUS para auxiliar na identificação do risco de morte de pacientes internados, com vistas

a análises comparativas das taxas de mortalidade hospitalar entre diferentes prestadores de

serviço.

Percebeu-se nesse estudo a predominância de pacientes do sexo feminino (72,33%), no

entanto, não foi possível identificar associação entre gênero e morte hospitalar, concordando

com trabalhos nacionais já realizados, em tempos de seguimento diferentes (Pinheiro et al.,

2006, Alves., 2007, Souza et al., 2005). Estudos internacionais apontam o sexo masculino

como o mais propenso à morte em diferentes tempos de seguimento (Sakaki et al.,2004,

Fransen et al.,2012, Cree et al., 2000, Gdalevich et al., 2004, Jiang et al., 2005, Garcia et al.,

2006). Hipóteses para a associação entre gênero masculino e mortalidade são levantadas por

Cree et al. (2000) que discutem que as quedas dos homens em geral geram mais traumas do

que as das mulheres e, ainda, a deficiência cognitiva nos homens e suas comorbidades têm

um nível maior de gravidade.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

46

A idade é um forte marcador biológico do óbito. Foi possível identificar a associação

entre a idade mais avançada e a mortalidade após FPF, com pacientes entre 80 e 89 anos

apresentando 3,3 vezes a chance de morte hospitalar após FPF se comparados com os de 60 a

69 anos e pacientes com 90 anos ou mais com 9,05 vezes essa chance. A associação entre

morte após FPF e idades avançadas foi encontrada também por outros autores nacionais e

internacionais (Souza., 2005; Alves., 2007; Sakaki et al.,2004,; Cree et al., 2000; Hu et

al.,2011; Mesquita et al., 2009; Jiang et al., 2005).

O Índice de Comorbidade de Charlson (ICC) tem se mostrado associado à mortalidade

em diferentes tempos, apesar de ter sido criado originalmente para um estudo sobre câncer de

mama. Observou-se que o ICC com valor 1 demonstrou associação com a morte hospitalar

com 2,60 vezes maior chance de morte, ao contrário de índices com uma maior pontuação,

comparando com o ICC com valor zero. Esse fato pode indicar que as comorbidades com

ponderação igual à unidade 1 do ICC apresentam uma maior gravidade para a mortalidade

hospitalar após a FPF. Por outro lado, usando dados de internações para correção cirúrgica de

FPF de um hospital universitário, Souza (2005), encontrou que a chance de morte para

pacientes com ICC com peso acima de 2 tiveram a chance de morte aproximadamente 6 vezes

maior quando comparados aos pacientes com ICC igual a 0.

Utilizaram-se as causas das internações prévias como proxy das possíveis comorbidades

dos pacientes internados para correção cirúrgica de FPF. A doença renal severa e moderada,

as doenças do trato urinário, as doenças isquêmicas, pneumonia e ocorrência de fraturas

diversas e lesões demonstraram-se associadas com a morte hospitalar. Esse fato foi

consistente com a literatura científica, mesmo em outros períodos de seguimento para o óbito

(Jiang et al., 2005; Alves., 2007; Sakaki et al.,2004; Mesquita et al., 2009; Hu et al.,2011).

Percebeu-se associação entre as doenças do trato urinário (diagnósticos N10, N111, N310,

N328, N390, N394, N398, N508, R32, R33) e a morte hospitalar em discordância com o

estudo de Jiang et al., 2005, que não encontrou associação entre infecção urinária e morte

após FPF. Pacientes com doenças isquêmicas tem um aumento da chance de morte após a

FPF. Assim como observado no grupo das doenças cardíacas que aparece associado com a

mortalidade após fratura na literatura (Sakaki et al.,200; Mesquita et al., 2009; Hu et al.,2011).

A pneumonia mostrou associação com a mortalidade hospitalar com um aumento da chance

de morte para pacientes que internaram previamente a FPF em consonância com outros

estudos (Alves., 2007; Jiang et al., 2005; Sakaki et al.,2004; Mesquita et al., 2009; Hu et

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

47

al.,2011). A ocorrência de fraturas diversas e lesões previamente a FPF apresentou uma

associação border line, com um aumento de 2 vezes na chance de morte.

Não foi possível encontrar associação para algumas causas de internação prévia que

possivelmente estariam associadas ao óbito, em função da ausência de variabilidade do

desfecho. Uma alternativa seria aumentar a amostra para que fosse possível captar mais casos

e possivelmente maior variação no desfecho.

Este estudo apresenta relevantes limitações que devem avaliadas. Primeiramente, ao

trabalhar com diagnóstico das internações prévias como um indicativo das comorbidades,

percebe-se que comorbidades importantes para o prognóstico da fratura podem não originar

internações quando o quadro do paciente está estável e consequentemente não foram

computadas para análise. Como foram analisadas as internações do Sistema Único de Saúde,

as internações prévias que foram porventura realizadas na rede privada não foram captadas

para o estudo. Entretanto, supõe-se que o paciente que interne no SUS para correção de FPF

tem probabilidade alta de internar as demais vezes também no SUS. Outra limitação

importante é o fato de terem sido consideradas unidades hospitalares com perfis

diferenciados, o que pode refletir também na qualidade da assistência prestada ao paciente e,

com isso, a chance de morte também ter sido influenciada por esse fato. Analisar um volume

maior de dados de hospitais específicos poderia minimizar o impacto dessa limitação. Por

características próprias do banco que foi cedido, consideraram-se pacientes com 62 anos ou

mais, uma vez que o banco do SIH-SUS continha apenas pacientes a partir de 60 anos.

Concluindo, ainda que levando-se em consideração as limitações do presente estudo,

observou-se consistência com a literatura científica. Tal fato ressalta a possibilidade de se

utilizar o próprio SIH-SUS para auxiliar na identificação do risco de morte de pacientes

internados, com vistas a análises comparativas das taxas de mortalidade hospitalar entre

diferentes prestadores de serviço. E, assim, trabalhar a internação prévia como uma das proxy

da gravidade do paciente. Sugere-se outros estudos para avaliar se a internação prévia como

uma proxy da gravidade, se aplica a outras causas de internação além da fratura proximal de

fêmur.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

48

5 REFERÊNCIAS

ALARCON, T.; GONZALEZ MONTALVO, J. I.; BARBACENA, A.; SAEZ, P. Further

experience of nonagenarians with hip fracture. Injury. 2001.

ALVES, C. B. Fatores associados à mortalidade em diferentes períodos após cirurgia para correção de fratura proximal de fêmur. 2007. 62f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2007.

AMERICAN SOCIETY OF ANESTHESIOLOGISTS. New classification of physical status[editorial]. Anesthesiology. 1963.

ASH, A.S; POSNER, M. A.; SPECKMAN, J.; FRANCO, S.; YATCH, A. C.; BRAMWELL, L. Using claims data to examine mortality trends following hospitalization for heart attack in Medicare. Health Service s Research, v. 38, n.5. 2003.

BLUNBERG, M. S. Measuring surgical quality in Maryland: a model. Health Affairs, Bethesda,v.7, n.1,1988.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Brasília: Ministério da Saúde; 2005.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2008). Rio de Janeiro: IBGE; 2003.

BOHNEN, J. M.; MUSTARD,R.A.; OXHOLM, R.N.; SCHOUTEN, B.D. APACHE II score and abdominal sepsis. A prospective study. Arch Surg. 1988.

BROOS, P. L.; VAN, H. K. I.; STAPPAERTS, K. H.; GRUWEZ, J. A. Hip fractures in the elderly. Mortality, functional results and social readaptation. Int Surgery, v.74, n.3, 1989.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

49

CAMARGO, K. R.; COELI, C. M. Reclink: aplicativo para o relacionamento de banco de dados implementando o método Probabilistic record linkage. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, 2000. CASALLETO, John A.; GATT, R. Post –operative mortality related to waiting time for hip fracture surgery. Injury, v. 35, n 2, p. 114-20, Feb. 2004. CASTRO, J. M. A. M. de. O sistema Apache II e o prognóstico de pacientes submetidos às operações de grande e pequeno porte. Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro, v. 33, n. 5, Oct. 2006 .

CHARIYALETSAK, S.; SURIYAWONGPISAL, P.; THAKKINSTAIN, A. Mortality after hip fractures in Thailand. International Orthopaedics. 2001.

CHARLSON, M. E.; POMPEI, P.; ALES, K. L. MACKENZIE, C. R. A new method of classifying prognostic co morbidity in longitudinal studies: development and validation. Journal of Chronic Disease, New York, v.40, n.5,1987.

CLAYER, M. T.; BAUZE, R. J. Morbidity and mortality following fractures of the femoral neck and trochanteric region: analysis of risk factors. J. Trauma,v.29, n.12. 1989.

COPELAND, G. P.; JONES, D, WALTERS, M. POSSUM: a scoring system for surgical audit. Br.J.Surg,1991.

COOK, D. A. Performance of APACHE III models in an Australian ICU. Chest, 2000.

COSTA, J. A.; RIBEIRO, A.; BOGAS, M.; COSTA, L.; VARINO, C.; LUCAS, R.; RODRIGUES, A.; ARAÚJO, D. – a prospective study in a portuguese population. Acta de Reumatologia Port, Portugal, v.34, 2009.

CREE, M.; SOSKOLNE, C. L.; BELSECK, E. et al. Mortality and institucionalization following hip fracture. J Am Geriatr, v. 48, 2000.

Department of Health and Human Services and Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) - Guide to Inpatient Quality Indicators: Quality of Care in Hospitals – Volume, Mortality, and Utilization - June 2002 Version 3.1. Disponível em: http://www.fdhc.state.fl.us/SCHS/pdf/iqi_guide_rev4.pdf. (Disponível em 25/06/2012).

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

50

DEYO, R. A.; CHERKING, D. C.; CIOL, M. A. Adapting a clinical comorbidity index for use with ICD – 9 – CM administrative databases. J Clin Epidemiol, v.45, n.6. 1992.

D’HOORE, W.; BOUCKEART, A .; TILQUIN, C.; Practical considerations on the use of the Charlson Comorbity Index with administrative data bases. J Clin Epidemiol. 1996.

DONABEDIAN, A. The definition of quality and approaches to its assessment. Michigan: Health Administration Press, vol. 1, 1980. 176p. DUBOIS, R. W.; ROGERS, W.H.; MOXLEY, J. H.; DRAPER, D.; BROOK, R. H. Hospital inpatient mortality: is it a predictor of quality? N. England Journal of Medicine, Santa Monica, 1987.

ELLIOTT, J.; BERINGER, T. KEE, F. et al. Predicting survival after treatment for fracture of the proximal femur and the effect of delays to surgery. J. Clin. Epidemiol. 2003.

FERNANDES, Natália Maria da Silva et al. Uso do escore prognóstico APACHE II e ATN- ISS em insuficiência renal aguda tratada dentro e fora da unidade de terapia intensiva. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v.55, n.4, 2009.

FORSÉN, L.; SOGAARD, A. J.; MEYER, H.E et al. Survival after hip fracture: Short- and long-term excess mortality according to age and gender. Osteoporosis International, 10: 73-78, 1999.

FRANSEN, M. et al. Excess mortality or institutionalization after hip fracture: men are at greater risk then women. Journal of American Geriatrics Society. 2002.

FROST, S. A. et al. Risk factors for in- hospital post hip fracture mortality. Bone. 2011.

GARCIA, R.; LEME, D.L.; LEME, L. E. G. Evolution of brazilian elderly with hip fracture secondary to a fall. Clinics. 2006.

GDALEVICH, M.; COHEN, D.; YOSEF D. et al. Morbidity and mortality after hip fracture: the impact of operative delay. Arch Orthop Trauma Surgery 124:334-340, 2004.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

51

GOLDSTEIN, L. B.; SAMSA, G. P.; MATCHAR, D. B. et al. Charlson index comorbidity adjustment for ischemic stroke outcome studies. Stroke, v.35. n. 8. 2004.

GREEN, J.; Wintfeld, N.; Sharkey,P.; Passman, L. J.; The importance of severity of illness in assessing hospital mortality. Journal of the American Medical, v.263, n.2, 1990.

GRIMES, J. P.; GREGORY, P. M.; NOVECK, H., et al. The effects of time-to-surgery on mortality and morbidity in patients following hip fracture. The American Journal of Medicine. 112: 702-709, 2002. HAGA, Y.; IKEI, S.; OGAWA, M. Estimation of physiologic and surgical stress (E-PASS) as a new prediction scoring system for postoperative morbidity and mortality following elctive gastrointestinal surgery. Surg Today. 1999. HANNAN, E.L.; Magaziner, J.; Wang, J.J. et al. Mortality and Locomotion 6 Months After Hospitalization for Hip Fracture: Risk Factors and Risk-Adjusted Hospital Outcomes. JAMA. 2001.

HCUP, CCS. Healthcare Cost and Utilization Project (HCUP) . Março 2013. Agency for Healthcare Reasearch and Quality, Rockville, MD. Disponível em: www.hcup-us.ahrq.gov/toolssoftware/ccs/ccs.jsp. Acesso em: 11/03/2013 às 16:00h).

HOSMER, W. D.; LEMESHOW, S. Applied Logistic Regression. 2° ed. 2000.

HOLVIK, K.; RANHOFF, A. H.; MARTINSEN, M. I.; SOLHEIN, L. F. Predictors of mortality in older hip fracture patients admitted to an orthogeriatric unit in Oslo, Norway. J. Aging Health, 2010.

HIROSE, J.; MIZUTA, H.; IDE, J. NOMURA, K. Evaluation of estimation of physiologic ability and surgical stress (E-PASS) to predict the postoperative risk for hip fracture in elder patients. Arch Orthop Trauma Surg. 2008.

HIROSE, J.; MIZUTA, H.; IDE, J.; NAKAMURA, E.; TAKADA, K. E-PASS for predicting postoperative risk with hip fracture. Clin Orthop Relat Res. 2008.

HIROSE, J. et al. New Equations for predicting postoperative risk in patients with hip fracture. Clin Orthop Relat Res. 2009.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

52

HU F, et al. Preoperative predictors for mortality following hip fracture surgery: A systematic review and meta – analysis. Injury. 2011.

IEZZONI, L. et al. Identifying complications of care using administrative data. Medical care, v. 32, N. 7. 1994.

IEZZONI, Lisa; SHWARTZ, Michael; ASH, Arlene S. et al. Severity Measurement Methods and Judging Hospital Death Rates for Pneumonia. Medical Care, volume 34(1), pp 11-28, 1996.

IUCIF JR, Nelson; ROCHA, Juan S Yazlle. Estudo da desigualdade na mortalidade hospitalar pelo índice de comorbidade de Charlson. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. 6, Dec. 2004 .

JIANG, H. X.; MAJUMDAR, S. R.; DICK, D. A.; MOREAU, M.; RASO, J.; OTTO, D. D.;JOHNSTON, D. W. Development and initial validation of a risk score for predicting inhospitaland 1-year mortality in patients with hip fractures. Journal of Bone and Mineral Research. v. 20, n. 3, p. 494 – 500, 2005.

JOHNELL, O.; KANIS, J.; GULLBERG, G. Mortality, morbidity, and assessment offracture risk in male osteoporosis. Calcified Tissue International. 2001.

KIRKLAND, L. L. et al. The Charlson Comorbidity index score as a predictor of 30 – day mortality after hip fracture surgery. American Journal of Medical Quality, v. 26, n. 6. 2011.

KNAUS, W. A.; DRAPER, E. A.; WAGNER, D. P.; ZIMMERMAN, J. E. APACHE II: A severity of disease classification system. Critical Care Medicine, v.13, n.10, 1985.

KNAUS, W. A.; ZIMMERMAN, J.E.; WAGNER, D.P; DRAPER, E.A.; LAWRENCE, DE. APACHE – acute physiology and chronic health evaluation: a physiologically based classification system. Crit Care Med. 1981.

KNAUS, W. A.;WAGNER, D. P.; DRAPER, E. A; ZIMMERMAN, J. E; BERGNER, M.; BASTOS, P. G.; SIRIO, C. A.; MURPHY, D. J.; LOTRING, T.; DAMIANO, A. The APACHE III prognosis system. Risk prediction of hospital mortality for critically ill hospitalizated adults. Chest. 1991.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

53

LEE, D. S.; DONOVAL, L.; AUSTIN, P. C. et al. Comparison of coding of heart failure and comorbidities in administrative and clinical data for use in outcomes research. Med Care, v. 43, n.2 . 2005.

LYONS, A. R. Clinical outcomes and treatment of hip fractures. The Journal of American Association, v. 103 (2A), 1997. MARTINS, M.; TRAVASSOS, C.; NORONHA, J. C. Sistema de Informações Hospitalares como ajuste de risco em índices de desempenho. Revista Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.35, n.2, 2001.

MAXWELL, M. J.; MORAN, C. G.; MOPETT, I. K. Development and validation of a preoperative scoring system to predict 30 day mortality in patients undergoing hip fracture surgery. British Journal of Anaesthesia, v. 101, n. 4. 2008.

MESQUITA, Gerardo Vasconcelos et al. Morbimortalidade em idosos por fratura proximal do Fêmur. Texto contexto – enferm., Florianópolis, v.18, n.1. 2009.

Meyer, H. E.; TVERDAL, A.; FALCH, J. A.; PEDERSEN, J. I. Factors associated with mortality after hip fracture. Osteoporosis Internacional, Oslo, v.11, 2000.

MOHAMED, K.; COPELAND, G. P.; BOOT, D. A. CASSERLEY, H. C.; SHACKLEFORD, I.M.; SHERRY, P. G.; STEWART, G. J. An assessment of the POSSUM system in orthopaedic surgery. J. Bone Joint Surg, v.84, n.5. 2001.

MYERS, R. P.; QUAN, H.; HUBBARD, J. N. et al. Prediciting in – hospital mortality in patients with cirrhosis: results differ across risk adjustment methods. Hepatology, v. 49, n. 2. 2009.

NATHER, G. A.; SEOW, C. S.; IAU, P.; CHAN, A. Morbidity and mortality for elderlypatients with fractured neck of femur treated by hemiarthrosplaty. Injury. v. 26, n. 3, p.187-190, 1995.

NEEDHAM, D.M.; SCALES, D.C.; LAUPACIS, A., et al. A systematic review of the Charlson comorbidity index using Canadian administrative databases: a perspectiveon risk adjustment in critical care research. Journal of Critical Care. V 20, pp 12-19, 2005.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

54

POSES, R. M.; MCCLISH, D. K.; SMITH, W. R. et al. Prediction of survival of a critically ill patients by admission comorbidity. J. Clin. v. 49, n. 7. 1996.

PINHEIRO, R. S.;VIEIRA, R. A.; COELI, C. M.; VIDAL, E. I. O.; KENNETH, R. Mortalidade após fratura proximal de fêmur. Cad. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.14, n.2, 2006.

PITTO, R. P. The mortality and social prognosis of hip fractures. A prospective multifactorial study. Int. Orthop. 1994.

QUAN, H.; SUNDARARAJAN, V.; HALFON, P. et al. Coding algorithms for definig comorbidities in ICD – 9 – CM and ICD – 10administrative data. Med Care, v. 43, n. 11. 2005.

RADLEY, D.C.; GOTTLIEB, D. J.; FISCHER, E. S.; TOSTESON, A. N. Comorbidity risk-adjustment strategies are comparable among persons with hip fracture. Journal of Clinical epidemiology, v. 61, n.6. 2008.

RATTNER, Daphne. A epidemiologia na avaliação da qualidade: uma proposta. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1996.

ROMANO, P. S.; ROOS, L. L.; JOLLIS, J. G. Adapting a clinical comorbidity index for use with ICD – 9 – CM administrative data: differing persoectives. J Clin Epidemiol, v. 46, n. 10. 1993.

SAKAKI, Marcos Hideyo et al . Estudo da mortalidade na fratura do fêmur proximal em idosos. Acta ortop. bras., São Paulo, v. 12, n. 4, Dec. 2004.

SIMUNOVIC, N.; DEVEREAUX, P. J.; SPRAGUE, S.; GUYATT, G. H.; SCHEMITSCH, E.; DEBEER, J.; BHANDARI, M. Effect of surgery after hip fracture on mortality and complications : systematic review and meta – analysis. CMAJ, v. 182, n. 15. 2010.

SHELDON, T. Promoting health care quality: what role performance indicators? Quality in Health Care. v. 7, 1998.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

55

SOUZA, R. C. Estudo dos fatores preditores da mortalidade após fratura proximal de fêmur em idosos, da aplicação de diferentes índices para ajuste de risco e o uso do ICC para a AIH. 2005.80f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2005.

SOUZA, R. C.; PINHEIRO, R. S.; COELI, C. M.; JUNIOR, K. R. C; TORRES, T. Z. G. Aplicação de medidas de ajuste de risco para a mortalidade após fratura proximal de fêmur. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.41, n.4, 2007.

SOUZA, Rômulo Cristovão de et al . The Charlson comorbidity index (CCI) for adjustment of hip fracture mortality in the elderly: analysis of the importance of recording secondary diagnoses. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, Feb. 2008 .

TRAVASSOS, C.; NORONHA, J. C.; MARTINS, M. Mortalidade hospitalar como indicador de qualidade: uma revisão. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, 1999.

TROMBETTI, A.; HERRMANN, F.; HOFFMEYER, P. et al. Survival and potential years of life lost after hip fracture in men and women. Osteoporosis International. 2002.

WILES, M. D.; MORAN, C. G.; SAHOTA, O.; MOPPETT, I. K. Nottingham hip fracture score as a predictor of one year mortality in patients undergoing surgical repair of fractured neck of femur. British Journal of Anaesthesia, v. 101, n. 4. 2011.

ZIMMERMAN, J. E.; KRAMER, A. A.; MCNAIR, D. S.; MALILA, F. M. Acute Physiologyand Chronic Health Evaluation (APACHE) IV: hospital mortality assessment for today’s critically ill patients. Crit. Care. Med., v.34, n.5, 2006.

ZEELAND, P. L. M. et al. POSSUM predicts Hospital Mortality and long – term survival in patients with hip fracture. Journal of Trauma, v. 70, n.4. 2011.

ZUCKERMAN, J. D. Hip fracture. The New England Journal of Medicine, vol. 334, no. 23, 1996.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

56

6 APÊNDICES Quadro 4 - Perfil das internações prévias dos pacientes internados para correção cirúrgica de fratura proximal de

fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011.

PACIENTE NUM IP DIAGNÓSTICOS

1 3 C50.0 Mamilo e areola I50.9 Insuf cardiaca NE S92.5 Frat de outr artelho

2 4

J44.9 Doenc pulmonar obstrutiva cronica NE J81 Edema pulmonar NE de outr form J81 Edema pulmonar NE de outr form I49.0 Flutter e fibrilacao ventricular

3 4

M06.9 Artrite reumatoide NE M06.8 Outr artrites reumatoides espec M86.9 Osteomielite NE A49.9 Infecc bacter NE

4 4

E14.5 C/compl circulatorias perifericas E14.5 C/compl circulatorias perifericas L03.8 Celulite de outr locais L97 Ulcera dos membros infer NCOP

5 3 S71.8 Ferim outr partes e das NE cintura pelvica I25.3 Aneurisma cardiaco I47.0 Arritmia ventricular p/reentrada

6 3 C67.2 Parede lateral da bexiga C34.9 Bronquios ou pulmoes NE C34.9 Bronquios ou pulmoes NE

7 4

J18.9 Pneumonia NE J18.9 Pneumonia NE E40 Kwashiorkor J15.8 Outr pneumonias bacter

8 4

J15.8 Outr pneumonias bacter I10 Hipertensao essencial J44.9 Doenc pulmonar obstrutiva cronica NE J44.9 Doenc pulmonar obstrutiva cronica NE

9 5

I64 Acid vasc cerebr NE como hemorrag isquemico I69.4 Sequelas acid vasc cerebr NE c/hemorr isquem I69.4 Sequelas acid vasc cerebr NE c/hemorr isquem I69.4 Sequelas acid vasc cerebr NE c/hemorr isquem R26.2 Dificuldade p/andar NCOP

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

57

10 5

E14.9 S/complic A46 Erisipela I69.4 Sequelas acid vasc cerebr NE c/hemorr isquem E14.9 S/complic R02 Gangrena NCOP

11 4

I77.0 Fistula arteriovenosa adquir N18.0 Doenc renal em estadio final D40.0 Prostata N18.8 Outr insuf renal cronica

12 3 C20 Neopl malig do reto D12.6 Colon NE N39.0 Infecc do trato urinario de localiz NE

13 4

I15.9 Hipertensao secund NE S31.8 Ferim de outr partes e de partes NE abdome H59.0 Sindr vitrea subseq a cirurgia de catarata H25.1 Catarata senil nuclear

14 4

T02.3 Frat envolv regioes mult de um membro infer T02.3 Frat envolv regioes mult de um membro infer C54.1 Endometrio C54.1 Endometrio

15 3 I50.0 Insuf cardiaca congestiva I50.0 Insuf cardiaca congestiva I70.2 Aterosclerose das arterias das extremidades

16 9

R69 Causas desconhecidas e NE de morbidade D16.9 Osso e cartilagem articular NE T84.5 Infecc reacao inflam dev protese artic int T84.0 Complic mecanica protese articular interna T84.0 Complic mecanica protese articular interna T84.0 Complic mecanica protese articular interna M87.3 Outr osteonecroses secund T81.4 Infecc subsequente a proced NCOP T84.0 Complic mecanica protese articular interna

17 5

T84.5 Infecc reacao inflam dev protese artic int T84.5 Infecc reacao inflam dev protese artic int A49.0 Infecc estafilococica NE I64 Acid vasc cerebr NE como hemorrag isquemico G45.9 Isquemia cerebral transitoria NE

18 3 A49.8 Outr infecc bacter de localiz NE J12.9 Pneumonia viral NE

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ INSTITUTO DE ... · na faculdade de enfermagem, ... fratura proximal de fêmur, no município do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011

58

C82.0 Pequenas celulas clivadas folicular

19 3 I44.1 Bloqueio atrioventricular de 2.grau J84.1 Outr doenc pulm intersticiais c/fibrose S81.8 Ferim de outr partes da perna

20 5

F20.5 Esquizofrenia residual F20.5 Esquizofrenia residual F20.5 Esquizofrenia residual F20.5 Esquizofrenia residual F20.5 Esquizofrenia residual

21 3 G91.9 Hidrocefalia NE G91.9 Hidrocefalia NE C72.8 Lesao invasiva encef out part sist nerv cent

22 6

A49.8 Outr infecc bacter de localiz NE I79.2 Angiopatia periferica em doenc COP E10.5 C/compl circulatorias perifericas D64.9 Anemia NE L97 Ulcera dos membros infer NCOP E10.5 C/compl circulatorias perifericas

23 4

K56.4 Outr obstrucoes do intestino C20 Neopl malig do reto D50.0 Anemia p/defic ferro secund perda de sangue C20 Neopl malig do reto

24 4

N39.0 Infecc do trato urinario de localiz NE M15.0 Artrose prim generalizada M15.3 Artrose mult secund M15.3 Artrose mult secund