"transferência" - exhibition catalog

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Pintar é pintar novamente Jean-Luc Nancy Pedro Calapez é um dos pintores mais bem suce- didos do actual panorama nacional. Seria fácil manter o seu percurso sem ter modificar a sua obra. No entanto, Calapez habita a pintura com um sentimento de crise, destabiliza constante- mente a sua própria prática introduzindo novos desafios, novas formas de pintar, novos suportes. Uma das primeiras vezes que visitei o seu atelier, reparei na parede num par de tijolos pintados. Ao questioná-lo sobre aquelas obras, Calapez respon- deu-me que eram apenas experiências. Pouco tempo depois saltavam das paredes do atelier para as de uma exposição (Ácido, 2011). E agora os tijolos voltam a ganhar um novo corpo en- quanto obra central desta exposição. Em “Transcendência”, a pintura volta a expandir- se, apropriando aqui o conceito que Rosalind Krauss dedica à escultura em 1979 no seu texto seminal “Sculpture in the expanded Field”. Se- gundo esta pensadora, no final dos anos 70 co- meça a denominar-se de escultura um conjunto de objectos/instalações que nunca antes caberiam nesta disciplina. O conceito de escultura torna-se elástico. Assim tem sido a prática de Calapez: transformar a pintura em algo maleável. As telas são abandonadas a favor de azulejos, de vidro, de placas de aço, que passam a ser recortadas, do- bradas, torcidas. Explora também diferentes forma da apresentação, sendo talvez a mais radi- cal até hoje Half-Pipe (2011) apresentada na Fun- dação PLMJ e que consistia em quatro placas de aço côncavas que se assemelhavam a uma pista (em tamanho quase real) para a prática de skate. Na presente exposição voltamos a sentir o desejo deste artista em se transcender. A pintura torna- se um evento e a dimensão performativa, que já estava presente no seu trabalho de forma imper- ceptível, ganha aqui novo significado. Ainda no exterior da Ermida somos confrontados com um mural que cobre toda a parede. A simplicidade é desarmante. Listas pretas pintadas de forma des- preocupada preenchem toda a fachada transfor- mando-a num enorme gradeamento. Alongadas considerações poderiam ser feitas sobre a entrada (guardada) de um espaço expositivo enquanto algo que se tem que transcender, e essa metáfora está fortemente presente nesta obra. Mas talvez o que mais impressiona é pintura transformada em arquitectura. Ultrapassada a porta de entrada, en- contramos no interior da antiga igreja, bem no centro do que seria a zona do altar, um muro feito de tijolos pintados de branco e preto. A pintura transfigurou-se em escultura com a qual o nosso corpo interage fisicamente. Somos impedidos de ver a totalidade da sala, somos obrigados a per- correr o muro para conseguir satisfazer o nosso desejo de desvendar o reverso da pintura. Uma obra de arte é sempre um muro que temos que transcender, que temos que trespassar para alcançar ao seu significado. Um muro que nos protege, mas que por outro lado afasta. Um muro membrana que origina um conjunto de polarida- des: “interior e exterior, presente e ausente, visí- vel e invisível, ver e ser-visto, acessível e inacessível, atravessamento e opacidade, publico e privado” 1 . Também a escolha do branco e preto fomenta uma outra polaridade: a da presença da ausência. Se tanto a pintura como o próprio muro aparen- tam à primeira vista serem obstáculos inultrapas- sáveis, a sua transcendência (física e metafórica) abrem esta obra uma nova revelação, a uma nova leitura. Um terceiro momento desta exposição é o convite. A imagem iconoclasta do momento em que o ar- tista destrói a sua obra, cria em torno da instala- ção a expectativa de um permanente desabar, de um sentimento de fragilidade perante aquilo que antes parecia ser inquebrantável. Pedro Calapez dessacraliza a sua própria pintura. Retira-lhe a aura de objecto distante, torna-a pró- xima, frágil. E simultaneamente constrói-a como lugar de resistência de persistência da pintura. Filipa Oliveira 1 Paulo Pires do Vale, “Muros de Abrigo”, in Ana Vieira, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. T +351 213 637 700 | [email protected] | www.travessadaermida.com | Editor Ermida N.ª Sr.ª da Conceição/Mercador do Tempo Lda. | Direcção de Produção/Production Direction Fábia Fernandes | Texto/Text Filipa Oliveira | Tradução/Translation Barbara Caruso | Revisão/Revision Filipa Oliveira | Fotografia/Photography MPPC | Design Vera Velez | Impressão/Printing Textype | Tiragem 250 | ISBN 978-989-8277-20-6 | Dep. Legal ????????? | Agradecimentos/Acknowledgments | António Bolota Pintar é pintar novamente Jean-Luc Nancy Pedro Calapez é um dos pintores mais bem suce- didos do actual panorama nacional. Seria fácil manter o seu percurso sem ter modificar a sua obra. No entanto, Calapez habita a pintura com um sentimento de crise, destabiliza constante- mente a sua própria prática introduzindo novos desafios, novas formas de pintar, novos suportes. Uma das primeiras vezes que visitei o seu atelier, reparei na parede num par de tijolos pintados. Ao questioná-lo sobre aquelas obras, Calapez res- pondeu-me que eram apenas experiências. Pouco tempo depois saltavam das paredes do atelier para as de uma exposição (Ácido, 2011). E agora os tijolos voltam a ganhar um novo corpo enquanto obra central desta exposição. Em “Transferência”, a pintura volta a expandir-se, apropriando aqui o conceito que Rosalind Krauss dedica à escultura em 1979 no seu texto seminal “Sculpture in the expanded Field”. Segundo esta pensadora, no final dos anos 70 começa a denomi- nar-se de escultura um conjunto de objectos/insta- lações que nunca antes caberiam nesta disciplina. O conceito de escultura torna-se elástico. Assim tem sido a prática de Calapez: transformar a pin- tura em algo maleável. As telas são abandonadas a favor de azulejos, de vidro, de placas de aço, que passam a ser recortadas, dobradas, torcidas. Explora também diferentes forma da apresenta- ção, sendo talvez a mais radical até hoje Half-Pipe (2011) apresentada na Fundação PLMJ e que con- sistia em quatro placas de aço côncavas que se as- semelhavam a uma pista (em tamanho quase real) para a prática de skate. Na presente exposição voltamos a sentir o desejo deste artista em se transcender. A pintura torna-se um evento e a dimensão performativa, que já es- tava presente no seu trabalho de forma impercep- tível, ganha aqui novo significado. Ainda no exterior da Ermida somos confrontados com um mural que cobre toda a parede. A simplicidade é desarmante. Listas pretas pintadas de forma des- preocupada preenchem toda a fachada transfor- mando-a num enorme gradeamento. Alongadas considerações poderiam ser feitas sobre a entrada (guardada) de um espaço expositivo enquanto algo que se tem que transcender, e essa metáfora está fortemente presente nesta obra. Mas talvez o que mais impressiona é pintura transformada em arquitectura. Ultrapassada a porta de entrada, encontramos no interior da antiga igreja, bem no centro do que seria a zona do altar, um muro feito de tijolos pintados de branco e preto. A pintura transfigurou-se em escultura com a qual o nosso corpo interage fisicamente. Somos impedidos de ver a totalidade da sala, somos obrigados a per- correr o muro para conseguir satisfazer o nosso desejo de desvendar o reverso da pintura. Pedro Calapez Nasceu em Lisboa (1953). Começou a participar em exposições nos anos 70. O seu trabalho tem sido mostrado em diversas galerias e museus, em Portugal como no estrangeiro, sendo de salien- tar as individuais: Campo de Sombras, Fundació Pilar i Joan Miró, Mallorca (1997); Madre Agua, Museo MEIAC, Badajoz e Centro Andaluz de Arte Contemporáneo, Sevilha (2002); Obras esco- lhidas, CAM-Fundação C. Gulbenkian, Lisboa (2004); piso zero, CGAC-Centro Galego de Arte Contemporáneo, Santiago de Compostela (2005), Lugares de pintura, CAB-Centro de Arte Caja Burgos (2005); Branca e neutra claridade, Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea, Almada (2009); Notas sobre um problema de método, CAV-Centro de Artes Visuais, Coimbra Pedro Calapez was born in Lisbon (1953) where he lives and works. He began taking part in ex- hibitions in the seventies and in 1982 had his first solo exhibition. He has exhibited his work in- dividually in various galleries and museums, most notably Campo de Sombras, Pilar i Joan Miró Foundation, Majorca (1997); Madre Agua, MEIAC-Contemporary Art Museum, Badajoz and CAAC- Andalucia Contemporary Art Centre (2002); Selected works 1992-2004, Gulbenkian Foundation, Lisbon (2004); piso zero, CGAC-Galicia Contemporary Art Centre, Santiago de Compostela (2005); Lugares de pintura, CAB-Caja Burgos Art Centre, Burgos; Branca e neutra claridade, Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea, Almada (2009); Notas sobre um problema de método, CAV-Centro de Artes Visuais, Coimbra (2009); Kickflip, PLMJ Foundation, Lisboa. Uma obra de arte é sempre um muro que temos que transcender, que temos que trespassar para alcançar ao seu significado. Um muro que nos protege, mas que por outro lado afasta. Um muro membrana que origina um conjunto de polarida- des: “interior e exterior, presente e ausente, visível e invisível, ver e ser-visto, acessível e inacessível, atravessamento e opacidade, publico e privado” 1 . Também a escolha do branco e preto fomenta uma outra polaridade: a da presença da ausência. Se tanto a pintura como o próprio muro aparen- tam à primeira vista serem obstáculos inultrapas- sáveis, a sua transcendência (física e metafórica) abrem esta obra uma nova revelação, a uma nova leitura. Um terceiro momento desta exposição é o convite. A imagem iconoclasta do momento em que o ar- tista destrói a sua obra, cria em torno da instala- ção a expectativa de um permanente desabar, de um sentimento de fragilidade perante aquilo que antes parecia ser inquebrantável. Pedro Calapez dessacraliza a sua própria pintura. Retira-lhe a aura de objecto distante, torna-a pró- xima, frágil. E simultaneamente constrói-a como lugar de resistência de persistência da pintura. Filipa Oliveira 1 Paulo Pires do Vale, “Muros de Abrigo”, in Ana Vieira, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. PEDRO CALAPEZ <transferência > muro-parede-transferência, 2011 conjunto de 120 tijolos cerâmicos, cada com 20 x 30 x 20 cm ?????????????????????? 196 x 261 x 20 cm colecção do artista/artist collection Planos negros #04 Planos negros #05 Planos negros #06 2011 acrílico sobre papel/acrilyc on paper 80 x 121 cm (cada/each) colecção do artista/artist collection muro-parede-transferência, 2011 (pormenores/details)

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Exhibition catalog for "Transferência", an instalation by Pedro Calapez at Ermida Nossa Senhora da Conceição, Lisbon. November 2011

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Page 1: "Transferência" - exhibition catalog

Pintar é pintar novamenteJean-Luc Nancy

Pedro Calapez é um dos pintores mais bem suce-didos do actual panorama nacional. Seria fácilmanter o seu percurso sem ter modificar a suaobra. No entanto, Calapez habita a pintura comum sentimento de crise, destabiliza constante-mente a sua própria prática introduzindo novosdesafios, novas formas de pintar, novos suportes. Uma das primeiras vezes que visitei o seu atelier,reparei na parede num par de tijolos pintados. Aoquestioná-lo sobre aquelas obras, Calapez respon-deu-me que eram apenas experiências. Poucotempo depois saltavam das paredes do atelierpara as de uma exposição (Ácido, 2011). E agoraos tijolos voltam a ganhar um novo corpo en-quanto obra central desta exposição.

Em “Transcendência”, a pintura volta a expandir-se, apropriando aqui o conceito que RosalindKrauss dedica à escultura em 1979 no seu textoseminal “Sculpture in the expanded Field”. Se-gundo esta pensadora, no final dos anos 70 co-meça a denominar-se de escultura um conjunto deobjectos/instalações que nunca antes caberiamnesta disciplina. O conceito de escultura torna-seelástico. Assim tem sido a prática de Calapez:transformar a pintura em algo maleável. As telassão abandonadas a favor de azulejos, de vidro, deplacas de aço, que passam a ser recortadas, do-bradas, torcidas. Explora também diferentesforma da apresentação, sendo talvez a mais radi-cal até hoje Half-Pipe (2011) apresentada na Fun-dação PLMJ e que consistia em quatro placas deaço côncavas que se assemelhavam a uma pista(em tamanho quase real) para a prática de skate.

Na presente exposição voltamos a sentir o desejodeste artista em se transcender. A pintura torna-se um evento e a dimensão performativa, que jáestava presente no seu trabalho de forma imper-ceptível, ganha aqui novo significado. Ainda noexterior da Ermida somos confrontados com ummural que cobre toda a parede. A simplicidade édesarmante. Listas pretas pintadas de forma des-preocupada preenchem toda a fachada transfor-mando-a num enorme gradeamento. Alongadasconsiderações poderiam ser feitas sobre a entrada(guardada) de um espaço expositivo enquantoalgo que se tem que transcender, e essa metáforaestá fortemente presente nesta obra. Mas talvez oque mais impressiona é pintura transformada emarquitectura. Ultrapassada a porta de entrada, en-contramos no interior da antiga igreja, bem nocentro do que seria a zona do altar, um muro feitode tijolos pintados de branco e preto. A pinturatransfigurou-se em escultura com a qual o nossocorpo interage fisicamente. Somos impedidos dever a totalidade da sala, somos obrigados a per-correr o muro para conseguir satisfazer o nossodesejo de desvendar o reverso da pintura.

Uma obra de arte é sempre um muro que temosque transcender, que temos que trespassar paraalcançar ao seu significado. Um muro que nosprotege, mas que por outro lado afasta. Um muromembrana que origina um conjunto de polarida-des: “interior e exterior, presente e ausente, visí-vel e invisível, ver e ser-visto, acessível einacessível, atravessamento e opacidade, publicoe privado”1. Também a escolha do branco e pretofomenta uma outra polaridade: a da presença daausência.

Se tanto a pintura como o próprio muro aparen-tam à primeira vista serem obstáculos inultrapas-sáveis, a sua transcendência (física e metafórica)abrem esta obra uma nova revelação, a uma novaleitura.

Um terceiro momento desta exposição é o convite.A imagem iconoclasta do momento em que o ar-tista destrói a sua obra, cria em torno da instala-ção a expectativa de um permanente desabar, deum sentimento de fragilidade perante aquilo queantes parecia ser inquebrantável.

Pedro Calapez dessacraliza a sua própria pintura.Retira-lhe a aura de objecto distante, torna-a pró-xima, frágil. E simultaneamente constrói-a comolugar de resistência de persistência da pintura.

Filipa Oliveira

1 Paulo Pires do Vale, “Muros de Abrigo”, in Ana Vieira, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

T +351 213 637 700 | [email protected] |

www.travessadaermida.com |

Editor

Ermida N.ª Sr.ª da Conceição/Mercador do Tem

po Lda. |Direcção de Produção

/Production

Direction

Fábia Fernandes |

Texto/Te

xtFilipa Oliveira |

Trad

ução

/Translation

Barbara Caruso |

Rev

isão

/Rev

isionFilipa Oliveira |

Fotografia/Pho

tograp

hyMPPC |

DesignVera Velez |

Impressão

/PrintingTextype |Tiragem 250 |

ISBN

978-989-8277-20-6 |

Dep. Legal ????????? |

Agrad

ecim

entos/Ackno

wledgm

ents| António Bolota

Pintar é pintar novamenteJean-Luc Nancy

Pedro Calapez é um dos pintores mais bem suce-didos do actual panorama nacional. Seria fácilmanter o seu percurso sem ter modificar a suaobra. No entanto, Calapez habita a pintura comum sentimento de crise, destabiliza constante-mente a sua própria prática introduzindo novosdesafios, novas formas de pintar, novos suportes. Uma das primeiras vezes que visitei o seu atelier,reparei na parede num par de tijolos pintados.Ao questioná-lo sobre aquelas obras, Calapez res-pondeu-me que eram apenas experiências. Poucotempo depois saltavam das paredes do atelierpara as de uma exposição (Ácido, 2011). E agoraos tijolos voltam a ganhar um novo corpo enquantoobra central desta exposição.

Em “Transferência”, a pintura volta a expandir-se,apropriando aqui o conceito que Rosalind Kraussdedica à escultura em 1979 no seu texto seminal“Sculpture in the expanded Field”. Segundo estapensadora, no final dos anos 70 começa a denomi-nar-se de escultura um conjunto de objectos/insta-lações que nunca antes caberiam nesta disciplina.O conceito de escultura torna-se elástico. Assimtem sido a prática de Calapez: transformar a pin-tura em algo maleável. As telas são abandonadasa favor de azulejos, de vidro, de placas de aço,que passam a ser recortadas, dobradas, torcidas.Explora também diferentes forma da apresenta-ção, sendo talvez a mais radical até hoje Half-Pipe(2011) apresentada na Fundação PLMJ e que con-sistia em quatro placas de aço côncavas que se as-semelhavam a uma pista (em tamanho quase real)para a prática de skate.

Na presente exposição voltamos a sentir o desejodeste artista em se transcender. A pintura torna-seum evento e a dimensão performativa, que já es-tava presente no seu trabalho de forma impercep-tível, ganha aqui novo significado. Ainda noexterior da Ermida somos confrontados com ummural que cobre toda a parede. A simplicidade édesarmante. Listas pretas pintadas de forma des-preocupada preenchem toda a fachada transfor-mando-a num enorme gradeamento. Alongadasconsiderações poderiam ser feitas sobre a entrada(guardada) de um espaço expositivo enquantoalgo que se tem que transcender, e essa metáforaestá fortemente presente nesta obra. Mas talvez oque mais impressiona é pintura transformada emarquitectura. Ultrapassada a porta de entrada,encontramos no interior da antiga igreja, bem nocentro do que seria a zona do altar, um muro feitode tijolos pintados de branco e preto. A pinturatransfigurou-se em escultura com a qual o nossocorpo interage fisicamente. Somos impedidos dever a totalidade da sala, somos obrigados a per-correr o muro para conseguir satisfazer o nossodesejo de desvendar o reverso da pintura.

Pedro CalapezNasceu em Lisboa (1953). Começou a participar em exposições nos anos 70. O seu trabalho temsido mostrado em diversas galerias e museus, em Portugal como no estrangeiro, sendo de salien-tar as individuais: Campo de Sombras, Fundació Pilar i Joan Miró, Mallorca (1997); Madre Agua,Museo MEIAC, Badajoz e Centro Andaluz de Arte Contemporáneo, Sevilha (2002); Obras esco -lhidas, CAM-Fundação C. Gulbenkian, Lisboa (2004); piso zero, CGAC-Centro Galego de ArteContemporáneo, Santiago de Compostela (2005), Lugares de pintura, CAB-Centro de Arte CajaBurgos (2005); Branca e neutra claridade, Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea, Almada(2009); Notas sobre um problema de método, CAV-Centro de Artes Visuais, Coimbra

Pedro Calapez was born in Lisbon (1953) where he lives and works. He began taking part in ex-hibitions in the seventies and in 1982 had his first solo exhibition. He has exhibited his work in-dividually in various galleries and museums, most notably Campo de Sombras, Pilar i Joan MiróFoundation, Majorca (1997); Madre Agua, MEIAC-Contemporary Art Museum, Badajoz and CAAC-Andalucia Contemporary Art Centre (2002); Selected works 1992-2004, Gulbenkian Foundation,Lisbon (2004); piso zero, CGAC-Galicia Contemporary Art Centre, Santiago de Compostela (2005);Lugares de pintura, CAB-Caja Burgos Art Centre, Burgos; Branca e neutra claridade, Casa daCerca, Centro de Arte Contemporânea, Almada (2009); Notas sobre um problema de método,CAV-Centro de Artes Visuais, Coimbra (2009); Kickflip, PLMJ Foundation, Lisboa.

Uma obra de arte é sempre um muro que temosque transcender, que temos que trespassar paraalcançar ao seu significado. Um muro que nosprotege, mas que por outro lado afasta. Um muromembrana que origina um conjunto de polarida-des: “interior e exterior, presente e ausente, visívele invisível, ver e ser-visto, acessível e inacessível,atravessamento e opacidade, publico e privado”1.Também a escolha do branco e preto fomentauma outra polaridade: a da presença da ausência.

Se tanto a pintura como o próprio muro aparen-tam à primeira vista serem obstáculos inultrapas-sáveis, a sua transcendência (física e metafórica)abrem esta obra uma nova revelação, a uma novaleitura.

Um terceiro momento desta exposição é o convite.A imagem iconoclasta do momento em que o ar-tista destrói a sua obra, cria em torno da instala-ção a expectativa de um permanente desabar, deum sentimento de fragilidade perante aquilo queantes parecia ser inquebrantável.

Pedro Calapez dessacraliza a sua própria pintura.Retira-lhe a aura de objecto distante, torna-a pró-xima, frágil. E simultaneamente constrói-a comolugar de resistência de persistência da pintura.

Filipa Oliveira

1 Paulo Pires do Vale, “Muros de Abrigo”, in Ana Vieira, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

PEDRO CALAPEZ <transferência>

muro-parede-transferência, 2011conjunto de 120 tijolos cerâmicos, cada com 20 x 30 x 20 cm??????????????????????196 x 261 x 20 cmcolecção do artista/artist collection

Planos negros #04Planos negros #05Planos negros #06

2011acrílico sobre papel/acrilyc on paper80 x 121 cm (cada/each)colecção do artista/artist collection

muro-parede-transferência, 2011(pormenores/details)

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