trampo, arte e outros babados: a pop art e o ensino da arte

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADハMICA DE GRADUAヌテO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Cláudia Martins da Costa TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE Canoas, 20 de dezembro de 2010

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Trabalho de Curso apresentado por Cláudia Martins Costa em dezembro de 2012

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Page 1: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Cláudia Martins da Costa

TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE

Canoas, 20 de dezembro de 2010

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Cláudia Martins da Costa

TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE

Trabalho de Curso apresentado como pré-requisitoparcial para a obtenção de título acadêmico deLicenciada em Artes Visuais, pelo Curso deLicenciatura em Artes Visuais da UniversidadeLuterana do Brasil, sob orientação da professora Ms.Ana Lúcia Beck.

Orientadora: Prof.ª Ms. Ana Lucia Beck

Canoas, 20 de dezembro de 2010

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AGRADECIMENTOS

Aos meus professores orientadores de estágio, Dr.Celso Vitelli eMs. Ana Lúcia Beck que foram extraordinários ao meorientarem e auxiliarem com suas palavras de sabedoria paraque eu pudesse seguir nos meus propósitos e tirar proveito dosseus ensinamentos.À professora Cláudia Melo pelo seu apoio e receptividade emme receber como estagiária.Ao Diretor e à coordenadora da escola que prontamente mereceberam assim que cheguei.Ao Ricardo, por sua paciência, compreensão e amor, que pormuitas vezes, não permitiu que eu me afastasse da realidade, meajudando a enfrentá-la e a entendê-la por uma perspectivadiferente.À Valentina, pelos momentos de relaxamento que tanto precisei,pois me ajudaram a manter a calma, a lucidez e a restaurar asminhas forças e entusiasmo.Aos meus alunos que, afinal de contas, foram os principaiscolaboradores deste estágio.Aos meus familiares, professores, colegas, amigos e conhecidospelo apoio moral.

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O importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda

não foram terminadas mas que elas vão sempre mudando. (ROSA, Guimarães. Grande

Sertão: Veredas. 1994, p. 24-25)

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RESUMO

O Projeto de ensino “Trampo, Arte e Outros Babados – A Pop Art e o Ensino da Arte”, com otema homônimo foi realizado em uma turma de segundo ano do Ensino Médio, na EscolaEstadual de Educação Básica Dolores Alcaraz Caldas, localizada na cidade de Porto Alegre,Bairro Jardim Ipiranga, na Rua Affonso Celso Puppe Silveira, nº 25. A justificativa pelaescolha desse tema deve-se ao fato de acreditar que estudar o período da Pop Art ajudará osalunos a se expressarem de forma mais coerente, tratando das suas experiências, esclarecendofatos históricos riquíssimos. Além disso, poderá abordar a publicidade, a propaganda, asquestões sobre o consumo e os fatos políticos e sociais da época sendo um excelente materialpara ser trabalhado em sala de aula. Os alunos poderão realizar relações entre a arte e apropaganda, praticando as leituras de imagens. Por conseguinte, desenvolverão um olhar maisobservador e crítico, com a possibilidade de exercitar a interpretação e criar as suas própriasimagens. O objetivo geral foi promover o conhecimento da Pop Art e suas influências nosdias de hoje, desenvolvendo o processo artístico através das leituras e interpretações deimagens artísticas e publicitárias. Com isso, os alunos poderão produzir individual ecoletivamente, diversas linguagens da Arte enfatizando temas da sociedade atual. O presenteProjeto de Ensino foi desenvolvido a partir de pesquisas realizadas em diversos autores, entreeles, Mirian Celeste Martins, Luciana Borre Nunes, Maria Heloísa C. de Ferraz e Maria F. deRezende e Fusari, os quais me auxiliaram a entender questões como: trabalhar com os alunosa realização de produções artísticas em sala de aula, montando ambientes favoráveis para queaconteçam os processos e as criações. Esse trabalho encontra-se dividido em quatro capítulos:no capítulo 1 (Trampo, Arte e Outros Babados, a Pop Art) será apresentada a importância domovimento da Pop Art americana e da Pop Art brasileira contendo as principais passagenshistóricas. No capítulo 2 (Trampo, Arte e Outros Babados, a Pop Art e o Ensino da Arte)abordará o valor de se trabalhar a Pop Art em sala de aula, qual a colaboração da Pop Art parao cotidiano dos estudantes na educação escolar. Já no capítulo 3 trará informações sobre aescola e a análise das observações silenciosas. No capítulo 4 apresentará o projeto de ensinocom a aplicação do projeto (planejado e realizado) na escola. Concluindo o trabalho, foiverificado o quanto é vital o professor auxiliar o aluno a construir uma linguagem expressivaa partir das interpretações das imagens trabalhadas em aula, bem como, relacioná-las aosprocessos artísticos que venham acontecer.

Palavras-chave: Pop Art. Ensino. Imagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................8

1 TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART .............................................12

1.1 O MOVIMENTO DA POP ART AMERICANA ..........................................................13

1.2 O MOVIMENTO DA POP ART BRASILEIRA...........................................................20

1.3 PASSAGENS DE UMA ENTREVISTA.......................................................................21

1.4 ARTISTAS IMPORTANTES PARA A POP ART BRASILEIRA...............................23

2 O TAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE.26

2.1 AS LINHAS, CORES E FORMAS SE EQUACIONANDO.........................................27

2.2 NO QUE AS AULAS DE ARTES E A POP ART PODEM COLABORAR COM A

VIDA DOS ESTUDANTES ................................................................................................29

2.3 UM LUGAR, IDEIAS E POSSIBILIDADES?..............................................................33

2.4 UMA EXPLOSÃO DE PONTOS, FORMAS E CORES ..............................................36

3 DIÁLOGO COM A ESCOLA............................................................................................38

3.1 HISTÓRICO DA ESCOLA ...........................................................................................38

3.2 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES REALIZADAS NA ESCOLA...............................38

3.3 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA .........................................40

3.4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS ................................................43

4 PROJETO DE ENSINO EM ARTES VISUAIS ..............................................................45

4.1 TEMA DO PROJETO....................................................................................................45

4.2 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................45

4.3 OBJETIVO GERAL.......................................................................................................45

4.4 METODOLGIA .............................................................................................................46

4.5 CONTEÚDOS................................................................................................................46

4.6 PRÁTICA DE ENSINO .................................................................................................46

4.6.1 Aula 1 – 12/03.........................................................................................................46

4.6.2 Aula 2 – 19/03.........................................................................................................52

4.6.3 Aula 3 – 30/03.........................................................................................................55

4.6.4 Aula 4 – 06/04.........................................................................................................59

4.6.5 Aula 5 – 13/04.........................................................................................................62

4.6.6 Aula 6 – 20/04.........................................................................................................67

4.6.7 Aula 7 – 27/04.........................................................................................................71

Page 7: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

7

CONCLUSÃO.........................................................................................................................74

REFERÊNCIAS DE PESQUISA..........................................................................................80

APÊNDICES ...........................................................................................................................83

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO COM A DIREÇÃO....................................................84

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO COM A COORDENAÇÃO .......................................86

APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA.............................................89

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS ...................................................93

ANEXOS ...............................................................................................................................104

Page 8: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

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INTRODUÇÃO

O tema central deste trabalho é o processo criador e o foco são os alunos, sem

deixar de espiar as minhas ações. A problemática que veremos a seguir consiste em relatar

como a arte pode ajudar as crianças e os jovens a se expressarem de forma mais coerente

possível, tratando das suas experiências enquanto alunos desde a Educação Infantil ao Ensino

Médio.

Quando cursei o estágio I na Escola Estadual de Educação Básica Dolores Alcaraz

Caldas, em Porto Alegre com o 2º ano do Ensino Médio resgatei algumas lembranças da

minha trajetória como professora da Educação Infantil, no Jardim de Infância há cerca de

dezesseis anos e, nesse período, alguns aspectos vem se transformando. Além disso, atuo no

Ensino Fundamental, numa 5ª e 6ª séries. O projeto inicial foi mantido dentro de ideais que

oferecessem às crianças o desenvolvimento das suas capacidades criadoras. Porém, outras

propostas amadureceram por meio de trocas de informações com os colegas da Escola na qual

eu atuo, assim como, com outros profissionais ligados às Artes Visuais. Creio que ao longo

dos anos houve mudanças significativas tanto nas concepções sobre arte quanto nas

possibilidades de se viabilizar propostas prazerosas, críticas e contextualizadas no ensino da

arte.

E, dessa forma me remeto ao presente e a escola do estágio que fica no bairro

onde moro, facilitando o deslocamento. Ela oferece boas condições quanto ao seu acesso por

se tratar de um bairro próximo à Avenida Assis Brasil, por onde circulam muitos ônibus e

outros meios de transportes para facilidade dos alunos. Além disso, as salas de aula são

equipadas com um relativo cuidado. Algumas delas possuem computadores, televisores, pias

e armários.

Durante as minhas observações percebi alguns fatores determinantes para a

escolha do tema e das atividades para desenvolver durante os estágios seguintes. Quando fui à

Escola sabia que teria alguns desafios pela frente. O primeiro deles seria trabalhar com

adolescentes e adultos numa escola noturna, não tendo experiência. Considerei que o fato de

ser professora da Educação Infantil talvez ajudasse com os planejamentos, mas não com o

jeito de ser e a postura que poderia ter frente aos alunos maiores. Ponderei também que fosse

diferente, pois, a minha fala certamente deveria ser outra, de acordo com as necessidades

daquele grupo.

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A turma iniciou pequena, mas algumas mudanças ocorreriam a seguir, e logo

encontrei outro grupo de alunos. Assim, realizei as observações silenciosas com uma turma e

mais tarde observei outra, na qual faria o estágio prático. Esta bem maior, com alunos

repetentes e o ingresso constante de novos alunos durante todo estágio. O fato de estarem

repetindo o ano os fazia acreditar que não eram capazes. Entre os alunos, problemas de baixo

estima, de conduta e de doenças diagnosticadas, segundo a professora titular, conhecidas

como, distúrbios sócio afetivo e de oscilações no humor. Também havia alunos que não

traziam os materiais ou se recusavam a trabalhar. Esses fatores foram apresentados ao longo

dos dias e precisei exercitar toda a flexibilidade. A turma iniciou com 13 alunos e ao final

tinha 30 alunos presentes, aproximadamente. O fato de mudar constantemente esse número

fez com que houvesse mudanças nos planejamentos preparando as aulas para 30 pessoas, a

turma completa.

Verifiquei que necessitavam abordar assuntos da nossa história da Arte que

contemplasse as discussões, os debates, e pudessem produzir trabalhos além do artesanato que

vinham desenvolvendo. Conversei com a professora titular e esta foi bem receptiva, querendo

dividir comigo alguns de seus próprios anseios. Combinamos as explicações do Projeto de

Ensino e o tema. Aliás, um fator decisivo para a escolha do tema foi um assunto que eu

tivesse empatia e pudesse desenvolver junto aos alunos, algo próximo da suas vivências, no

que diz respeito à cronologia. Na aula tinha alunos com as idades variadas, nenhuma abaixo

dos dezoito anos. Na maioria, pessoas com a média dos trinta anos e outra acima dos

cinquenta anos de idade. O que me deixava pensativa, sobre qual movimento artístico eles se

sentiriam atraídos e o suficientemente envolvidos para se exporem.

Quando analisei o que vinham estudando, percebi que não havia um projeto

estruturado anterior ao meu. Além disso, estavam habituados a estudar o Egito e outros povos,

passando por grandes artistas da nossa história como Frida Khalo, partindo para a confecção

de trabalhos manuais. Dessa forma, pude lançar a ideia de que se estudassem um movimento

artístico que não tinham visto antes, seria enriquecedor, embora alguns alunos na época da

Pop fossem jovens, e poderiam se lembrar de alguns fatos. Esse aspecto talvez desencadeasse

uma motivação para participarem das aulas. Surgiu então, o movimento da Pop Art americana

e a Pop Art brasileira, cada qual com suas características, como serão vistos no primeiro

capítulo deste trabalho. Inicialmente, o capítulo abarca justamente o movimento da Pop Art

americana com suas principais características, bem como, a Pop Art brasileira.

De maneira geral descrevo alguns aspectos do tema da pesquisa. O período

escolhido são os famosos anos 60 e 70, precisamente final de um e começo de outro,

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respectivamente. Nestes anos, o mundo estava em franca efervescência política, sofrendo

mudanças sociais bastante significativas. Portanto, para podermos trabalhar com a Pop Art,

deveria saber de todo o período histórico anterior e posterior. Tive que ler muito e encontrei

bons autores que falavam da época em questão, não obstante, nos levaria para um profundo

conhecimento do movimento e de quais eram suas principais características, mantendo-se

fiéis aos fatos que realmente aconteceram. Os autores eram basicamente, David McCarthy,

abordando a Pop Art americana e Aracy Amaral e André Toral com a Pop Art brasileira. Nos

dois casos, precisei ser bastante seletiva e tive dificuldades, pois encontrei um verdadeiro

universo de artistas que poderia utilizar para mostrar a riqueza do período. A escolha foi por

um conjunto de artistas para ilustrar a Pop americana e até a britânica. Primeiramente,

selecionei Richard Hamilton, Andy Warhol, Peter Blacke e Jean Michel Basquiat, entre

outros. Para o conjunto de artistas brasileiros, busquei Antonio Henrique Amaral, Claudio

Tozzi, Cildo Meireles, entre outros.

Tive uma preocupação em levantar os dados a respeito do período histórico, se ele

oferecia aos alunos a percepção das características do movimento, suas semelhanças e

distinções em várias linguagens artísticas, como a fotografia, desenho, pintura, gravura,

colagem, entre outras. Do mesmo modo, como o ensino de artes pode ser dinâmico e capaz de

unir grupos para o mesmo fim, ou seja, a criação. Além do mais, pensei que ao estudar a Pop

Art surgiria a possibilidade de fazê-los questionar, dos temas afetivos, políticos aos sociais, e,

ao mesmo tempo, perceberem o seu processo criador, inseridos no seu tempo. A partir do

tema pesquisado o trabalho poderia ser desenvolvido, mostrando os conteúdos e trocaria

idéias com os alunos, havendo assim, um dinamismo nas aulas. Abordaria questões mais

específicas quanto aos conteúdos sobre as formas, as linhas e as cores caracterizando as obras

e o período artístico.

Depois segue o segundo capítulo, em que discorro a falar sobre o Projeto para o

ensino da arte, divididos em subtítulos que privilegiam justamente os conteúdos sobre as

cores, as linhas e as formas. Além disso, falo sobre como as aulas de artes e o movimento

estudado podem colaborar com as vivências dos alunos.

Outro detalhe relevante são as possibilidades dos alunos experimentarem

materiais diferentes, dando um enfoque artístico para as suas produções. Poderiam

confeccionar trabalhos manuais, uma vez que desejavam aprender os artesanatos para

comercializar. Mas, em algum momento produziriam algo que tivesse um significado

ampliando as suas formas de expressão. Ainda nos subtítulos há uma explicação sobre as

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possibilidades pessoais que tive na minha trajetória como aluna, e mais tarde como

professora.

Realizei um levantamento de algumas concepções quanto a minha atuação durante

o estágio prático. Algumas delas dizem respeito ao fato de que poderia ter tido maior

compreensão sobre como os alunos exploram as imagens e as lêem. As atividades que utilizei

as imagens foram positivas, porém ao associá-las com a prática poderia ter dado uma

orientação diferente. Especialmente, quando sugeri a confecção de estampas para camisetas e

sacolas. Os alunos podiam ter feito as suas próprias imagens, exercitando exatamente aquilo

na qual me preocupei em falar tanto, ou seja, relacionar o conteúdo aprendido e manifestá-lo

numa produção única, singular e criada por eles. Tendo assim, maior significância para a

turma ao invés de intervirem nas imagens prontas.

Saliento ainda, que a minha intenção com esse trabalho não é “construir” um

modelo de ensino de artes. Mas, dar visibilidade ao modo como venho estruturando algumas

idéias e propostas que poderei lançar no futuro, e que são possíveis outras leituras sobre a arte

e seu ensino.

Sinto que completei uma etapa de vida, pessoal e profissional. Sem dúvida que os

rumos que tomarei daqui para frente, especialmente as minhas novas concepções sobre arte e

seu ensino ajudarão a qualificar a minha prática. As principais concepções a serem

destacadas, sem dúvida servem mais como uma “lição”, do que propriamente uma concepção.

Levo para a minha vida profissional, as reflexões sobre as relações, professor-aluno e o

quanto elas podem ser ricas quando há troca de informações num ambiente de afeto e

respeito. O quanto cada professor deve se preocupar ao planejar suas aulas, especialmente

para que ele encontre um bom senso entre a aplicação da teoria e a prática, as quais não

podem ficar distantes uma da outra.

Seguindo então, veremos os planejamentos e as aulas realizadas, o histórico e os

diálogos com a escola escolhida para o estágio, além da conclusão e dos anexos.

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1 TRAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART

O tema deste trabalho é sem dúvida o processo criador em uma época de

efervescência política, e, não obstante, de mudanças sociais bastante significativas. Portanto,

os períodos escolhidos são os famosos anos 60 e 70, precisamente final de um e começo de

outro, respectivamente. A Pop Art do ponto de vista dos americanos e como ela ocorreu aqui

no Brasil com suas peculiaridades políticas, sociais e econômicas bem distintas. Ao mesmo

tempo, no ocidente inteiro acontecia um outro movimento, de certo modo, um braço da Pop, a

Contracultura.

A Contracultura ou a Cultura Hippie distinguindo o modo de ser dos jovens

daquela época. Uma maneira de mobilização e contestação social e com ele o surgimento de

novos meios de comunicação em massa. Os jovens inovando os seus estilos, voltando-se mais

para o novo, aos olhos dos mais conservadores, com um espírito mais libertário. Resumindo,

como uma cultura underground, cultura “alternativa” ou cultura “marginal”, focada

principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca

de outros espaços, e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do

cotidiano. Um modo de se expressar na arte indicando novos rumos e, pela primeira vez na

história da humanidade, os jovens se organizaram informalmente em todo o mundo ocidental,

para lutar a favor da paz e do amor. Os jovens se organizando contra temas que em geral vêm

oprimindo os homens desde os primórdios das sociedades humanas, independentemente da

classe social a que pertençam. As temáticas, a primeira vista, ingênuas não dizem respeito

apenas a um país ou a um possível segmento de “fanáticos”. Mas, a toda uma aldeia global.

De certo modo, vou registrando o que entendo por Contracultura no decorrer desta

minha reflexão. Definir a Contracultura daria um trabalho à parte, e me afastaria um pouco do

assunto. Mas, não posso deixar de falar de Woodstock, do Maio de 68 francês, da primeira

transmissão da TV em cores no Brasil, do Califórnia Jam – 1º concerto de rock para a TV, da

missão espacial da NASA com a ida a Marte no Viking I, do término da guerra do Vietnã, do

tri campeonato do Brasil na Copa do Mundo no México, e tantos outros acontecimentos

sociais, culturais e políticos, e suas importâncias, indiscutíveis para a nossa história. A partir

daí a Contracultura adquiriu universalidade. Quanto a isto, creio que já haja um consenso.

Tenho certeza que principalmente depois destes acontecimentos, nunca mais fomos os

mesmos. E isto, em parte, também para a Arte foi um marco, através da Art Pop ou Pop Art. É

o que pretendo apontar.

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Por ter surgido contra todo um enorme círculo de padrões sociais por onde se

exprime o poder no mundo ocidental, diria que a Contracultura, juntamente com a Pop Art é

sociologicamente um fenômeno de proporções continentais. A Pop Art em seus

desdobramentos, sutilmente ou não, mostrou as formas menos repressivas das normas e dos

padrões da existência do homem em nosso planeta.

1.1 O MOVIMENTO DA POP ART AMERICANA

O movimento artístico conhecido como a Pop Art coincide com o pós-guerra, na

qual a Inglaterra e, porque não dizer o mundo, estava se reconstruindo. Já nos Estados

Unidos, este movimento se identifica com os signos, com uma forma de agir das famílias

americanas influenciadas pelo consumismo e pelas comunicações de massa, em especial

rádios e televisões. Foi assim que surgiu a crítica irônica ao “bombardeamento” da sociedade

capitalista pelo consumo de objetos. Este consumo, segundo David McCarthy, (2002, p. 6):

[...] era operado através de signos estéticos, de cores inusitadas massificadas pelapublicidade e, naturalmente pelo consumo, usando como materiais principais ogesso, a tinta acrílica, o poliéster, o látex e, produtos com cores intensas,fluorescentes, brilhantes e vibrantes, reproduzindo os tais objetos do cotidiano deum lar americano.

Richard Hamilton, por exemplo, soube expressar brilhantemente na sua colagem

de 1956, o consumo dessas famílias com suas tecnologias recentes, através dos anúncios e

propagandas dos aspiradores de pó, dos seus televisores, máquinas de café e gravadores. Em

resumo, um mundo de fantasia consumista, compras acessíveis a todos, prometendo uma

fuga, ainda que momentânea do árduo trabalho do pós guerra. Nada poderia ser mais atraente,

mas tudo só foi deflagrado na década de 60. O mundo conheceria o poder da “máquina

americana” através da sua indústria. Hamilton, segundo McCarthy sugeria, (2002, p. 7- 8):

[...] não só que o reino dos meios de comunicação de massa era digno de inclusãonas categorias mais elevada da cultura ocidental, mas também que as distinçõesculturais tradicionais – entre elevado e inferior, elitista e democrático, único emúltiplo – poderiam ser um resquício de uma sansibilidade estética antiga e agoraobsoleta. Seu uso quase descarado desses anúncios era a um só tempo irônico esincero, uma dualidade que existe na maior parte da Arte Pop.Hamilton estavaclaramente consciente de que as rápidas mudanças no estilo e nas propensões domercado no pós-guerra eram cuidadosamente projetadas através da propaganda.

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Hamilton, Richard. O que exatamente torna os lares tão diferentes, tão atraentes?, 1956, colagem.Fonte: MacCarthy, David. Pop Art – Cosac Naify, 2002.

A imagem vista acima intulada, O que exatamente torna os lares tão diferentes,

tão atraentes?, foi um ícone das colagens de Hamilton. Ele demonstra muito bem os anúncios

dos eletrodomésticos e tudo o que as famílias poderiam consumir para tornar o seu cotidiano

mais prático. Contudo, também chamava a atenção para as correntes da moda e para os muitos

públicos que essencialmente acessariam a cultura visual, não pelas visitas aos museus e

galerias, mas, através de algo muito popular, ou seja, as revistas.

Hamilton retirou as imagens dos seus contextos originais, as propagandas, e as

colou numa nova composição. Assim, montou essas “colagens anúncios” como se fossem

propagandas especialmente produzidas para um fim, isto é, para o fantástico mundo da dona

de casa norte americana. Esse movimento entre a Arte e a propaganda é uma característica da

Pop Art e, não somente Richard Hamilton, como outros artistas que veremos a seguir nos

fizeram entender isso.

Os artistas elegeram esse modo de se expressar utilizando a propaganda como

veículo principal. Eles não expurgavam a arte moderna como se supunha. Apenas abordavam

Page 15: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

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claramente os acontecimentos sociais de uma época através de colagens, pinturas e técnicas

como a serigrafia e silkscreen. Isto se originou na Inglaterra com os membros do Independent

Group, na pessoa de Alison e Peter Smithson, arquitetos de formação. O grupo era

basicamente composto por jovens artistas que pensavam em romper e desafiar as idéias

aceitas sobre Arte Moderna. O grupo rejeitava a idéia de que grande parte da Arte Moderna

estivesse envolvida pelas formas misteriosas, e não possíveis de serem interpretadas por

qualquer pessoa. Assim, existia uma crença de que a arte e a vida eram esferas separadas da

experiência com pouco ou nenhum ponto de contato. Um exemplo, é que a colagem de

Richard Hamilton mantém um estilo figurativo, ao alcance de qualquer pessoa que esteja

familiarizada com as revistas populares, ao contrário de alguma obra que reverencie

justamente uma pintura avessa ao consumo ou com uma linguagem diferente. Por exemplo, as

obras de artistas que reverenciavam os abstracionismos, sem explicitar quaisquer sentimento

consumista.

A Pop Art também buscou inspiração na cultura de massa, em movimentos

artísticos anteriores, dos quais faziam parte Picasso e Braque. Ao pesquisar nos livros de

história da arte, surpreendo-me com o interesse desses artistas, cinquenta anos antes com

temáticas semelhantes, especialmente com o interesse pela cultura popular através dos

posteres, letreiros e coisas do gênero. Desse modo, podemos comprovar através dos materiais

impressos do meio comercial como os jornais e os ambientes dos cafés americanos. E, antes

disso os futuristas italianos já haviam celebrado a velocidade da tecnologia moderna. O

Independente Group se beneficiou diretamente do exemplo do Futurismo, muito por causa do

interesse de Peter Reyner Banham pelo movimento. Como crítico de arte possibilitou aos

próprios artistas do Pop conhecerem o que se fez antes deles. No final dos anos 50,

precisamente em 1957, Richard Hamilton faria do markething de automóveis um tema

importante de sua arte, como é evidente na figura abaixo, intitulada Ela está numa situação de

opulência (óleo, celulose, folha de metal e colagem sobre madeira 81 x 122) – Tate Gallery.

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Hamilton, Richard. Ela está numa situação de opulência, 1957, óleo, celulose, folha de metal e colasobre madeira: 81 x 122 cm.

Fonte: MacCarthy, David. Pop Art – Cosac Naify, 2002.

Assim sendo, é importante deixar claro o quanto o Dadaísmo e o Surrealismo

foram vitais para o desenvolvimento da Pop Art. A arte Dadá iniciou com a Primeira Guerra

Mundial e com frequencia adotava o niilismo (conceito filosófico que abordava a

desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”) e a

estética antiarte em protesto à civilização que dera origem justamente à guerra. Já o

Surrealismo se baseou no Niilismo, mas desejava revolucionar a consciência humana

reconhecendo a realidade fundamental dos impulsos inconscientes, ou seja, da representação

do irracional e do subconsciente. A importância histórica desses dois movimentos possibilitou

às gerações mais jovens de artistas do pós guerra, especialmente da Segunda Guerra Mundial,

expandirem seus conhecimentos. Entretanto, para melhor entender a importância dos dois

movimentos é conveniente serem tratados com distinção.

Revisando os escritos de David McCarthy e, tentando traduzir as suas palavras

sobre o que foi a Pop Art, entendo o quanto foi impactante o Dadaísmo para esse movimento

artístico, principalmente para o Independent Group, pois a atitude irreverente do movimento

com sua disposição para aceitar quase tudo na esfera da arte, certamente ajudou no seu

crescimento. Além disso, a arte dadá popularizou várias técnicas que mais tarde foram

adotadas pelos artistas Pop. Um exemplo disso, eram os objetos achados ou selecionados

pelos artistas e depois exibidos sem alteração como peças de arte. Como foi o caso do

“Urinol” de porcelana de Marcel Duchamp em que ele apresentou à exposição de 1917- na

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Society of Independent Artists - em Nova York. Outra técnica favorita da Pop eram as

colagens, que nos anos 20 foram estendidas a sua parceira fotográfica, as montagens.

No caso do Surrealismo, ele foi tão importante quanto o Dadaísmo, especialmente

para o modernismo anterior à guerra. O Surrreal era o encontro do acaso em produzir ou

encontrar novos significados aos objetos achados como um elemento significante na produção

artística. Combinando tudo isso, ainda associadava-se as fantasias e a atração da Pop pelo

consumismo. Logo, é compreensível a fascinação de Richard Hamilton com a tecnologia e o

erotismo na sua obra de 1957. Ela mostra a técnica combinada do óleo, a colagem sobre

madeira e folhas de metal. Ali, fica declarada a dívida que Hamilton tinha com a influência de

Duchamp dos anos 20. Anos depois, Hamilton homenageou Duchamp através de um fac-

símile do assemblage, que atualmente está na coleção da Tate Gallery em Londres.

Mas, os movimentos Dadaísta e Surrealista chegaram à Pop Art norte americana

através dos trabalhos de Jasper Johns e de Robert Rauschenberg nos anos 50. Johns dizia: “ as

coisas que são vistas e não percebidas” – entrevista concedida ao curador Walter Hopps –

National Gallery of Art – Washington D.C. em 1965. Essas coisas a que ele se referia eram

formas simples de círculos como alvos coloridos, retângulos que lembravam bandeiras. O que

se percebe é que ele pintou essas obras em um estilo gestual e não figurativo. Essas pinturas

abriram caminho para a Pop Art.

Resumindo, podemos pensar na Pop Art como um braço dos anos 50 e

desenvolvendo vida própria à partir dessa época, exigindo novas sensibilidades artísticas.

Essas novas sensibilidades podiam ser vistas através das formas, temas e dos processos

artísticos pelos quais passavam cada artista. A forma era vista frequentemente através das

cores saturadas, sem uma técnica elaborada de pinceladas, os contornos e delineamentos

nítidos. O tema sempre combinado com o consumo das massas. Por exemplo, nas mãos de

Andy Warhol as caixas de sucrilhos Kellogg’s, pêssegos Del Monte, sucos e sopas

Campbell’s significavam fartura numa escla inconcebível antes da guerra, assim como, as

serigrafias da Coca-Cola. Esse era um mundo de objetos duplicados e colocados à venda. As

coisas representadas nas pinturas estavam ao alcance de quase todos os níveis sociais,

enquanto as próprias pinturas, que se mostravam altamente vendáveis como mercadorias de

arte, estavam igualmente disponíveis quando reproduzidas em gravuras, posteres e cartões

postais. Ao mesmo tempo, os artistas Pop podiam usar o sucesso do mercado de certos

produtos para ajudar na venda do seu próprio trabalho. Porém, é um equívoco acharmos que a

Pop Art pode ser compreensível por qualquer pessoa, já que ela se originou para esse fim.

Mas, com o passar do tempo, ela sofreu revezes e os seus artistas teriam que entender mais de

Page 18: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

18

história da arte do que pretendiam. Isso talvez tenha sido uma ironia do destino já que um

movimento notadamente popular, considerado acessível com o passar do tempo exigiu um

alto grau de conhecimento dos seus ícones. A Pop Art foi vista como cínica, indicando que o

mundo pós guerra era diferente de outros tempos. Algumas declarações surpreenderam o

mundo. Andy Warhol confessou, (2002, p. 26): [...] ser bom nos negócios é o mais fascinante

tipo de arte. [...] Ganhar dinheiro é arte e trabalhar é arte e bons negócios é a melhor arte.

Essas declarações sugeriam que os artistas estavam familiarizados com o mundo

da produção de consumo do pós guerra e que ao contrário não poderiam ser considerados

pessoas à parte do mundo ou considerados como uma estirpe de pessoas alienadas à cultura

contemporânea e que inclusive podiam ser tratados como qualquer homem de negócios bem

sucedidos. Muitos dos artistas Pop encontraram um modo de fazer sucesso nos negócios

vendendo aos clientes a imagem de seus próprios gostos reempacotados através da aura das

artes. E muitas das mercadorias populares descritas e representadass pelos artistas incluia os

automóveis, as vitrines de lojas importantes como a Tiffany e, até as estrelas de Hollywood –

lê-se Marilyn Monroe, Elvis Presley, Brigitte Bardot, entre outros . Tudo, é claro, disponível e

ao alcance dos consumidores. Os artistas da Pop tinham ampla experiência em design e

propaganda, facilitando a sedução que se fazia aos clientes.

O que sabemos é que a Pop Art possibilitou a muitos artistas uma linguagem que

podia ser guiada para vários fins, seja aclamando a cultura comercial ou protestando contra a

agressão norte americana na Guerra Fria. A situação da Pop Art nos estados Unidos se

diferenciou da que ocorreu na Grâ-Bretanha. Os artistas se formaram em escolas diferentes e

trabalharam isolados uns dos outros até o final de 1962. Portanto, foi quando algumas

exposições importantes aconteceram. Foram elas: Art 1963: A new Vocabulary, organizada

pelo Arts Council na Filadélfia, e The New Realits, realizada simultaneamente na Sidney Janis

Gallery em New York . Assim, revelaram vários artistas que trabalharam com materiais

encontrados no meio comercial. Quase simultaneamente destacaram-se na Pop Art norte

americana, Andy Warhol, Richard Hamilton, Peter Blake, Roy Lichtenstein, James

Rosenquist, entre outros.

Esses artistas compartilhavam de pensamentos e estilos semelhantes, utilizando

cores vibrantes, desenhos simplificados e, às vezes, um tema em comum. Eles trabalhavam

muito, porém separadamente e não se davam conta do que cada um fazia, isto é, não tinham o

hábito de se comunicar, seja para trocar idéias ou para lançar qualquer tipo de manifesto em

grupo. É importante registrar que ao mesmo tempo eles foram identifcados como os principais

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19

artistas daquela época e praticantes de uma nova sensibilidade. E, mesmo sabendo disso,

sequer tiveram uma preocupação de promover um encontro entre si para os manifestos.

Um outro fator importante entre as duas vertentes Pop, a americana e a inglesa, é

que em ambas haviam uma disposição de olhar para a cultura visual dos meios de

comunicação de massa e do ambiente comercial e aprender como ela se constituía em uma

tendência significativa na arte ocidental. No geral, a Pop Art americana e a britânica foram

tratadas como fatos isolados. No entanto, um ponto em comum entre a Pop Art na Inglaterra e

nos Estados Unidos é a questão social, isto é, vários de seus artistas eram oriundos de uma

classe trabalhadora imigrante e tinham pouco apreço pelas questões de hierarquias rígidas. Foi

o caso de Andy Warhol e Eduardo Luigi Paolozzi, filhos de imigrantes austro-húngaros e

italianos, respectivamente. Outro ponto em comum é o interesse pelas revistas em quadrinhos,

pelas revistas de grande circulação, pelo cinema de Hollywood, constituindo elementos

importantes na formulação da cultura visual desses artistas. Nas suas obras também ficaram

evidentes a sua estima pelas fontes fotográficas. Os desenhos possuiam características

formais, fortes e cores vibrantes. Além disso, é importante registrar que a Pop Art estava

vinculada a momentos de mudança política e otimismo na Grã-Bretanha e nos Estados

Unidos, tanto que o Partido Trabalhista inglês e o governo Kennedy adotaram a mesma regra

para o uso da nova tecnologia no começo dos anos 60. Ambas as potências, européia e norte

americana pareciam sensíveis à Pop Art para definir também o breve momento de mudança e,

à medida que os anos 60 avançavam na história política, a proeminência da Pop Art

enfraquecia. Contudo, no decorrer de uma década inteira, a Pop Art foi um dos movimentos

centrais na arte inglesa e norte americana, confirmando vários talentos, influenciando o curso

da arte nos anos que viriam a seguir e, reconfigurando o nosso entendimento da cultura do

século XX. A Pop Art evitou um enrijecimento e censuras sobre as manifestações do

modernismo. E, conforme as palavras de David McCarthy, (2002, p.14) [...] em favor de uma

arte que era visual e verbal, figurativa e abstrata, criada e apropriada, artesanal e dinâmica e

produzida em massa, irônica e sincera. Era tão complexa e dinâmica quanto o momento e os

artistas que lhe deram vida.

A Pop Art, sem separarmos a norte americana da inglesa, me faz refletir sobre o

que devemos pensar sobre arte. Concordo com McCarthy quando ele refere que atualmente é

melhor olharmos para a Pop Art e pensar nela como a precurssora para muitos dos artistas que

vieram depois. E, de certo modo, melhor do que suas fontes de inspiração e que a

sensibilidade da Pop Art é mais interessante.

Page 20: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

20

A sua popularidade foi imediata quanto duradoura e autorizou muitos indivíduos a

levar a arte a sério. A Pop Art é compreensível na sua superfície por muitos, porém é bem

profunda para aqueles observadores dipsotos a contemplar cuidadosamente as imagens e os

contextos selecionados pelos artistas da época. Essas imagens eram escolhidas em seu tempo

sem que se precisasse de uma formação clássica, rígida ou tradicional para se reconhecer o

seu valor. Ao mesmo tempo, pode-se levar o indivíduo a pensar sobre os temas que afligem

nós seres humanos há muito tempo, como o desejo de mudança rápidas. E, ainda permitiu que

as universidades, galerias e museus se abrissem e se rendessem ao público em geral, para que

todos tivessem acesso às artes. Sem querer a Pop Art tornou-se a melhor propaganda que o

mundo da arte poderia imaginar e a sua popularidade continua até hoje. Ela defende uma nova

arte, aberta a todos, sugerindo e destinando ao nosso presente que a arte necessita de algo

mais.

1.2 O MOVIMENTO DA POP ART BRASILEIRA

A década de 60 foi de grande efervescência para as Artes Plásticas no País.

Também pudera, foram anos de legítima fervura política, pois como reação à ditadura militar,

os artistas começaram a fazer uma arte com mensagens de protesto de indignação e de

insatisfação, de forma mais ou menos velada. Os artistas, como grande parte da população,

discordavam da situação de repressão política no país, depois do golpe militar de 1964.

Igualmente, não concordavam com o posicionamento do governo brasileiro ao lado dos

Estados Unidos e com a repressão aos movimentos de trabalhadores, partidos políticos de

esquerda, socialistas ou comunistas. A simpatia que os artistas sentiam pelos governos

socialistas, exatamente não favorecendo os Estados Unidos aparecia na arte de maneira clara

ou menos aparente. Então, justamente por influência da Pop Art norte americana, considerada

popular, os trabalhos dos artistas brasileiros começaram a ser feitos com materiais e objetos

de plásticos, panos, fotografias, às vezes, só ou combinados entre si, descartáveis ou, como,

por exemplo, pintura em telas, as mais tradicionais. Com esses objetos invadindo o cotidiano

artístico, os artistas brasileiros também assimilaram os expedientes da Pop Art com o uso das

impressões em silkscreen, serigrafias, colagens, pinturas, referências aos gibis, etc. Dentre os

principais artistas estão José Roberto Aguilar, Luiz Áquila, Duke Lee, José Zaragoza, Claudio

Tozzi, Ivald Ganato, Antonio Henrique Amaral, entre outros.

Page 21: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

21

No Brasil, o espírito da Pop americana foi subvertido, pois, a nossa Pop usou da

mesma linguagem, mas transformou-a em instrumento de denúncia política e social, ainda que

tenha sido um movimento com duração mais passageira. Um dos artistas de grande

importância nessa época foi Cláudio Tozzi. Ele ingressou muito jovem na Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e as suas primeiras serigrafias,

tiveram imediata repercussão, pois estavam comprometidas em mostrar o feminismo, a crítica

social e a luta contra a ditadura militar. Tudo isso causou um forte impacto pela qualidade

estética e pela abordagem de seus temas. Assim, Cláudio Tozzi destacou-se na agitada década

de 1960, especialmente com “Guevara, vivo ou morto” de 1967- tinta em massa acrílica sobre

aglomerado. É uma grande pintura dividida em três partes, mostrando a revolta dos

trabalhadores e a miséria por meio da imagem de crianças pobres rodeando a figura simpática

do herói, sorridente fumando charuto, como se ele fosse a resposta para os problemas do

mundo. Como mostra a figura ao centro e abaixo.

Tozzi, Cláudio. Guevara vivo ou morto, 1957, óleo sobre tela.Fonte: Tozzi, Cláudio. Arte e Sociedade no Brasil.

1.3 PASSAGENS DE UMA ENTREVISTA

A seguir passagens de uma entrevista esclarecedora de Cláudio Tozzi concedida a

Fábio Magalhães, 2007, p. 20 a 23.

Fábio Magalhães: Como foi sua relação com a Pop Art, ou melhor,com a nova figuração, que também era chamada de nova objetividade?Aliás, Pop Art e nova objetividade eram tendências com preocupações

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diferentes. Você criou uma arte de conteúdo mais ideológico,revolucionário, transformador e essas características raramente estãopresentes na Pop Art norte americana.

Cláudio Tozzi: A década de 1960 é caracterizada por uma grandenecessidade de mudanças e rupturas. AS artes plásticas se apropriaramde novos conceitos e transformaram sua linguagem. A Pop Art,realizada principalmente nos Estados Unidos, preocupava-se mais coma glamurização de imagens de consumo pré-existentes, algo maispróximo à repetição de imagens das prateleiras de um supermercado, àredundância de imagens e ícones imediatamente reconhecíveis. NoBrasil, prefiro usar a palavra nova figuração, pois tem uma conotaçãoespecífica, com um conteúdo referido ao que ocorria no País, ligadoàconjuntura da época. Vivíamos uma situação de opressão e repressãosob o regime militar. A pintura era parte da nossa resistência. Comovocê falou, nossa arte continha um engajamento ideológico e de luta.Meu trabalho tinha uma preocupação de se aproximar da linguagemdos meios de comunicação de massa e se apropriava de imagens domundo urbano – sinais de trânsito, histórias em quadrinhos-, massempre com a intenção de modificar seu significado, de subverter,depropor uma sintaxe diferente do texto para criar uma novamensagem. Criar novos objetos.

Fábio Magalhães: [...] A nova figuração pretendia sair da clausura,dos salões, das galerias, dos museus e ganhar as ruas e as praças,impregnar-se do humano, na esfera da vida cotidiana. Não erasuficiente transgredir na arte, era preciso transgredir na vida, abrirnovos horizontes sociais. Nos Estados Unidos, a Pop Art estavaimpregnada de vida, mergulhava na banalidade e assim aprofundavasua interpretaçãoda sociedade voltada para o consumo. Faltava na PopArt uma vontade de revolucionar, de mudar a realidade. Aí é que vejoa diferença de sua obra com a de Lichtenstein, que, sem dúvida, vocêapreciava. É verdade que muitas vezes as temáticas são semelhantes,mas a abordagem é diferente. Como você vê essa relação?

Cláudio Tozzi: É, existia a tentativa de aproximação com umalinguagem que o público pudesse participar de uma forma maisintensa. A participação do espectador não era só a contemplação doolhar. Ele penetrava, identificava-se com a obra. No meu trabalho ostemas saíam das páginas de jornais e das vivências cotidianas:passeatas, estudantes sendo presos, repressão, guerra do Vietnã,bandido da luz vermelha, astronautas, liberação sexual, imagens doGuevara. Os primeirps trabalhos que fiz, por volta de 1963,caracterizavam-se pela apropriação de imagens da guerra do Vietnãpublicadas em revistas internacionais, que eram rasgadas, manipuladase coladas em um suporte de madeira com resina de poliuretano. Emum dos quadros criei a imagem de uma família em meio aengrenagens, um martelo batendo numa cabeça. Uma coisa bastantejuvenil, mas já com a preocupação de que não fosse uma artemeramente contemplativa, mas que qualquer pessoa, ao vê-la, pudesseler alguma mensagem transgressora...Embora nos apropriássemos deuma linguagem utilizada pelos artistas Pop, nossa criação tinha umaforte conotação brasileira, mais ligada à situação política queenfrentávamos aqui.

Depois de ler na íntegra a entrevista que está no livro de Fábio Magalhães e que

resumi acima em duas perguntas, não posso deixar de comentar o quanto este período

brasileiro foi significante para a atualidade. Porém, naquela época houve a transgressão aos

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23

padrões políticos, sociais e econômicos de uma geração e, hoje fico na dúvida se somos

capazes de transgredir, expondo nossos pensamentos e, especialmente, expressando através da

arte aquilo que queremos para a nossa sociedade hoje e no futuro. Vislumbro, neste momento,

talvez um certo caos. Talvez, o que Cláudio Tozzi nos mostra com maestria seja as mudanças

de atitude que tomou quando levou suas obras para espaços, antes tradicionais para os espaços

públicos, urbanos. Esse, certamente é um legado que ficará, as pessoas interagindo com as

obras e buscando momentos de reflexão de uma época.

1.4 ARTISTAS IMPORTANTES PARA A POP ART BRASILEIRA

Outros artistas foram de grande importância para os anos 60 e 70, porém foi um

período em que muitos tiveram que se expressar nas entrelinhas, não expondo claramente

aquilo que desejavam para não sofrer as perseguições políticas. Assim foi com Antonio

Henrique Amaral, se valendo de técnicas tradicionais, como a pintura, para expressar sua

oposição à diatadura militar. Ele se utilizou da imagem de uma banana, pendendo, presas à

cordas, de forma metafórica como se fosse um corpo humano, fazendo uma clara relação com

os presos políticos torturados no “pau-de-arara”, método de suspender o prisioneiro pelos pés

a fim de forçá-lo a fazer confissões. Trata-se de uma pintura realista, mas de uma maneira

pouco explícita para não chocar a censura. Antônio Henrique Amaral deu o nome de “Alone

in green”, em 1973.

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Amaral, Henrique. Alone in Green, 1973, pintura sobre tela.Fonte: Antonio. Arte e Sociedade no Brasil.

Outro artista que se destacou nessa época foi Cildo Meireles, na qual mostrou em

1971, “inserções em circuitos ideológicos”, trabalhando sobre um produto já feito, com

garrafas de Coca-cola, introduzindo frases, deixando recados ao público.

Meireles, Cildo. Inserções em circuitos ideológicos, 1971.Fonte: Meireles, Cildo. Sociedade no Brasil

E, por fim não poderia deixar de citar os fabulosos Pedro Escosteguy, Marcello

Nitsche, Rubens Gerchman, Antônio Manuel, Waltercio Caldas, Carlos Zílio, Antônio Dias,

João Câmara Filho e Anna Bella Geiger. Estes marcaram a sua época traduzindo os seus

sentimentos em obras de arte, hoje consideradas ícones de uma geração.

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25

A época marcada pelo conflito entre o capitalismo e o consumismo e,

especialmente pelo regime militar e por outros países vizinhos do Brasil na mesma situação ,

os artistas eram desejosos por se manifestar, driblando a censura e expressando-se com muita

criatividade. E, justamente essa sensibilidade criativa marcou um momento na arte brasileira.

A partir dos anos 60, a arte contemporânea adquiriu outro caráter e importância,

ainda que de pouca duração. E, com a entrada da Pop Art, puderam fazer uma pintura ou

utilizar objetos descartáveis. Sobre essa influência Pop, as injustiças sociais e políticas

puderam ser criticadas, às vezes, claramente ou de forma disfarçada. Diferentemente da Pop

Art americana, a Pop brasileira teve um outro peso e medida. O que talvez as torne

semelhantes, realmente sejam as técnicas empregadas através das suas cores vibrantes,

escrajadas, mostrando a irreverência. O inconformismo dos seus artistas, já posso considerar

que tenha acontecido mais no Brasil, pelas razões óbvias de uma época que reprimia a livre

expressão. Cláudio Tozzi confirma isso, (2007, p. 43):

Existe uma intenção, um processo, uma vontade construtiva de imprimir à obra umaestrutura formal, uma organização que reflita o ensejo de se ter uma sociedadeorganizada e mais justa. Assim, o sistema estrutural do quadro é todo construído,estudado. Cada linha, cada cor, cada forma da pintura é planejada. O equilíbrioformal do quadro seria o espelho do que gostaríamos que ocorresse na sociedade:uma minimização das desigualdades sociais. É um diálogo invisível de estruturacom estrutura. Toda intenção que existia no ato de comunicar dos trabalhos dadécada de 1960, acontece de forma velada através da forma. Cabe ao espectadordesvelá-la.

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2 O TAMPO, ARTE E OUTROS BABADOS – A POP ART E O ENSINO DA ARTE

Os registros a seguir consistem em relatar como a Arte durante o período da Pop

Art pode ajudar atualmente, crianças, adolescentes e adultos a se expressarem de forma mais

coerente possível, tratando das suas experiências enquanto alunos do Ensino Fundamental ao

Ensino Médio, esclarecendo, igualmente, alguns fatos históricos riquíssimos.

Saliento, ainda que a minha intenção com esse trabalho não é construir um

modelo de ensino de Artes, mas dar visibilidade ao modo como venho estruturando algumas

idéias e propostas que poderei lançar no futuro, em que são possíveis outras leituras sobre a

Arte e seu Ensino. Além disso, não posso deixar de registrar o quanto este período artístico

me comove e atrai.

Procurei tratar de um período artístico, ou melhor, de um momento da nossa

história da Arte, a Pop Art, e mais especificamente as questões formais do movimento (o

ponto, a linha, a forma e a cor). Com isso, farei um paralelo entre este movimento artístico

acontecido nos Estados Unidos da América e aqui no Brasil, pois eles podem ter ocorrido

concomitantemente, porém, são distintos, talvez, nas suas essências. O primeiro, como se

pode ver anteriormente, aconteceu em função de uma sociedade consumidora, oriunda de um

pós-guerra. O segundo, trata das questões sócio-políticas e, de um período repressor, a

ditadura militar brasileira. Além disso, gostaria de abordar algumas linguagens artísticas

vistas naquela época, especialmente as colagens e outras técnicas ricamente trabalhadas nas

obras. Algumas dessas linguagens são utilizadas até hoje, mas geralmente os alunos sequer se

dão conta disso, não valorizando os momentos da nossa história. Além disso, irei propor um

trabalho mais adiante com o artista Jean Michel Basquiat. Este teve uma influência artística

do final dos 60, e nos anos 70/80 se consolidou ao ser amparado por Andy Warhol. Nessa

época faz colagens e quadros com mensagens escritas, que lembram o graffiti do início da sua

carreira e que remetem às suas raízes africanas. É também o período em que começa a

participar de grandes exposições.

A escolha desse assunto tomou forma após as minhas observações silenciosas e,

comprovar que a turma não utiliza muitas linguagens artísticas para se expressarem, além do

que, na maioria das vezes em que é dado um conteúdo da História da Arte, estes estão

vinculados com a realização de artefatos, ou melhor, a confecção de artesanato. Dessa forma,

a temática escolhida para o Projeto Educativo de Ensino proporcionará que os alunos, além de

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27

estudar um período da nossa história, possam perceber as características presentes nas

linguagens da fotografia, desenho, gravura, pintura, colagem/modelagem, entre outras.

A seleção desse tema também poderá abordar a publicidade e propaganda da

época. E, sem dúvida será um excelente material para ser trabalhado na sala de aula. Os

alunos poderão fazer relações entre a Arte e a propaganda e suas imagens. Por conseguinte,

desenvolverão um olhar mais observador e crítico, com a possibilidade de exercitarem a

interpretação e a criação das suas próprias imagens.

Para Mirian Celeste Martins, trabalhar com Projetos em ação para o ensino da

arte, significa, (Martins, 1998, p. 165):

[...] o trabalho com projetos possibilita sintonizar os conteúdos que queremosensinar com aqueles trazidos pelos aprendizes. É na sua inter-relação que poderemosproblematizar e provocar o que já se sabe e aquilo que se deseja saber, ampliando eaprofundando o conhecimento arte, alimentando o questionamento, a dúvida, aspossíveis soluções e o prazer de estar vivo no processo de aprender e ensinar.

2.1 AS LINHAS, CORES E FORMAS SE EQUACIONANDO

Na busca incessante de realizar aulas dinâmicas para os meus alunos me deparei

com o meu próprio momento e o processo criador. Então, busquei algumas referências

internamente, daquilo que eu mesma já havia experimentado enquanto aluna.

Durante a minha adolescência e, depois na vida adulta como universitária, tive a

oportunidade de conviver com vários professores e colegas que me inspiraram a procurar um

sentido para o significado das palavras, “processo criador”. Isso me levou recentemente a

exercitar a minha porção desenhista e “investigadora” de formas. Foi então, que comecei a

minha trajetória como possível escultora e ceramista.

Foi surgindo alguns insights de como eu poderia criar, utilizando o meu potencial

artístico e me tornando, também uma educadora. Da mesma forma, fazendo, os alunos

buscarem a sua essência e trabalharem o seu processo criativo, se tornando indivíduos com

idéias próprias, questionadores do seu tempo.

Nessa caminhada também procurei por artistas que realmente me fizessem pensar

sobre o processo criador. Esse período foi consideravelmente curto, pois, felizmente nos

últimos tempos tive contato com algumas obras dos artistas norte americanos, da Pop Art, em

especial, Andy Warhol, Richard Hamilton, Peter Blake, Roy Lichtenstein, James Rosenquist,

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28

Jean Michel Basquiat entre outros. E os artistas brasileiros, Cláudio Tozzi, José Roberto

Aguilar, Luiz Áquila, Duke Lee, José Zaragoza, Ivald Ganato, Antonio Henrique Amaral e

outros. Os artistas com suas peculiaridades e histórias de vida bem diferentes, poderão ilustrar

um período do nosso País e das artes no mundo. No caso de Cláudio Tozzi, poderei expor sua

vida e obra para os alunos. Além de outros que já mencionei.

Ao mesmo tempo, me preocupei também em mostrar para os alunos um artista

contemporâneo brasileiro que tivesse no seu trabalho algumas características da Pop Art, ou

seja, as cores vibrantes, os traços marcantes e utilizando materiais inusitados.

Ainda aluna, no ano de 2009 tive o prazer de conhecer alguns trabalhos do artista

plástico Delson Uchôa por conta da sua participação na Bienal de Veneza, e graças à

professora Ana Lúcia que trouxe as imagens da sua passagem pela Bienal.

Num primeiro instante fiquei impressionada com as semelhanças da sua arte e

aquilo que eu estava estudando na Pop Art. Então, decidi pesquisá-lo e buscar referências para

apresentá-lo à turma do estágio. Fiquei sabendo da sua trajetória e a sua formação como

médico.

Percebi o quanto a sua arte me inspirava a querer realizar um trabalho com os

alunos usando materiais como o plástico ou uma daquelas tintas plásticas sobre uma

superfície diferente.

Mas, afinal, o que significa equacionar linhas, cores e formas? Que movimento se

faz para juntar as linhas e criar uma estrutura? E, ainda que não haja regras rígidas e pré-

estabelecidas a respeito de qual cor combina com a outra, há certas propriedades que podem

ajudar. A primeira delas seria as cores primárias, seguidas pelas secundárias e, assim por

diante. Depois, seria interessante a observação dos alunos com a harmonia entre elas, os seus

contrastes e as escalas tonais. Tudo isso aguçando as percepções de cada um. E aí, concordo

com Modesto Farina, (Farina, 1986, p. 21):

[...] uma sensação visual que nos oferece a natureza através dos raios de luzirradiados em nosso planeta. (...) É uma onda luminosa, um raio de luz branca queatravessa nossos olhos. A cor será depois uma produção de nosso cérebro, umasensação visual colorida, como se nós estivéssemos assistindo a uma gama de coresque se apresentasse aos nossos olhos, a todo instante, esculpida na natureza à nossafrente.

São questionamentos, à primeira vista, considerados ingênuos demais para quem

está à procura de significados para o que seja o processo criativo. No entanto, não podemos

dar as costas para estes princípios básicos que norteiam as artes, ou seja, o ato de olhar o

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29

mundo e as coisas faz de nós, seres humanos, habilitados a interagir com os objetos. Dessa

forma, há uma relação entre as coisas e a natureza de quem observa essas coisas. Essa

experiência de observar justifica as tentativas para distinguirmos aquilo que é forma, linha,

cor e o que se funde estabelecendo assim, o que seria uma obra de arte. Talvez a resposta para

esses questionamentos esteja justamente na configuração dos objetos e seres. Um exemplo

disso é quando Rudolf Arnheim escreve no seu livro, Arte e Percepção Visual – Uma

Psicologia da Visão Criadora, (Arnheim, 1974, p. 90 e 91), sobre:

[...] a feitura da imagem, artística ou não, não provém simplesmente da projeçãoótica do objeto representado, mas é um equivalente, interpretado com aspropriedades de um meio particular, do que se observa no objeto[...]Considera-se aobra de um pintor ou escultor simplesmente uma réplica do objeto percebido.

Além disso, lembrei-me de livros que em outras ocasiões tiveram a minha

atenção. Estes poderiam me auxiliar na minha investigação. Mas recordei, acima de tudo, um

trecho do livro, Criatividade e Processos de Criação, da Fayga Ostrower, (Ostrower, 1977, p.

9) que diz:

Criar é basicamente, formar. É poder dar forma a algo novo. Em qualquer que seja ocampo de atividade, trata-se, nesse novo, de novas coerências que se estabelecempara a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos emtermos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e, esta,por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar.

Dessa forma comecei a esclarecer minhas dúvidas e questionamentos a respeito

do processo criador. Logicamente precisarei estudar, ainda mais, sobre o assunto, mas, trata-

se dos primeiros passos para encontrar aquilo que considero como o caminho certo para me

tornar uma educadora segura e satisfeita.

2.2 NO QUE AS AULAS DE ARTES E A POP ART PODEM COLABORAR COM A

VIDA DOS ESTUDANTES

Muito se fala em desenvolvimento criativo das nossas crianças e adolescentes e

como podemos colaborar para a formação desses jovens, tanto nas áreas sócio-afetivas como

nas culturais. Sendo assim, a arte desempenha um papel fundamental na vida delas, pois

proporciona a todos a ampliação da sensibilidade, da percepção, da reflexão e da imaginação.

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30

As aulas de artes com um tema que abrace a história da Pop Art poderão favorecer

os alunos, uma vez que a época escolhida para ser trabalhada é considerada envolvente, pois

aconteceu não faz muito e, alguns dos seus artistas continuam atuantes até hoje. A outra

questão são as linguagens artísticas como, a fotografia, os anúncios de propaganda, as

colagens de materiais variados e reciclados. Essas linguagens estão mais próximas do público

jovem e adulto, teoricamente mais facilmente entendidas por eles.

A Pop Art significou para a sua época, um estilo de representar, isto é, de querer

mostrar o que as pessoas estavam pensando sobre o consumo, as guerras, a sociedade, o

trabalho, a repressão e, assim por diante. Assuntos que hoje são considerados atuais e não

fogem das manchetes das revistas e jornais.

E como a arte é dinâmica, capaz de unir grupos para um mesmo fim, ampliando as

descobertas sobre o sujeito e, ao mesmo tempo, capaz de promover conquistas individuais

fantásticas, quando este mesmo sujeito cria ou participa de vivências artísticas inusitadas.

Pensei então, em unir um assunto, um período da arte com o ensino. O processo é que se torna

a parte mais intrigante e reveladora para os alunos. Do mesmo modo envolve conhecer,

apreciar e refletir sobre o que oferecem as produções artísticas individuais e coletivas, de

distintas culturas e épocas, e, tudo o que se refere à arte como manifestação humana do fazer.

E, assim, Maria Heloísa C. De Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari, confirmam em seu livro

Metodologia do Ensino de Arte, (Ferraz e Fusari, 2009, p. 19):

A escola, como espaço tempo de ensino e aprendizagem sistemático e intencional, éum dos locais onde os alunos têm a oportunidade de estabelecer vínculos entre osconhecimentos construídos e os sociais e culturais. Por isso, é também o lugar e omomento em que se pode verificar e estudar os modos de produção e difusão da artena própria comunidade, região, país, ou na sociedade em geral. Deste modo, oaprendizado da arte vai incidir sobre a elaboração de formas de expressão ecomunicação artística (pelos alunos e por artistas) e o domínio de noções sobre aarte derivativa da cultura universal.

Portanto, as aulas de artes tanto no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio

devem envolver um conjunto de conhecimentos, que visem à criação de significações,

exercitando a constante possibilidade de transformação do ser humano. Além do mais, que os

alunos possam encarar a arte como produção de significações que se transformam de acordo

com o seu tempo e espaço, permitindo justamente contextualizar o tempo em que se vive e as

relações com os demais. No caso, irão relacionar o tempo em que vivem aos conhecimentos

sobre a Pop Art.

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31

Para os alunos aprenderem arte é a possibilidade de desenvolver um caminho de

criação pessoal cultivado e nutrido pelas interações que fazem com aqueles que trazem as

informações para o seu processo de aprendizagem como, os seus próprios colegas, os

professores, os especialistas em geral e os artistas, tanto de vanguarda quanto aqueles artistas

que foram eternizados pela nossa história. Tudo isso, junto com o seu próprio processo de

criação. Segundo Maria Heloísa C. De Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari, (Ferraz e

Fusari, 2009, p. 19):

Ao conhecer a arte produzida em diversos locais, por diferentes pessoas, classessociais e períodos históricos e as outras produções do campo artístico (artesanato,objetos, design, audiovisual, etc.), o educando amplia a sua concepção da própriaarte e aprende dar sentido a ela. Desse convívio decorrem, portanto, conhecimentosque desenvolvem o seu repertório cultural, mas, acima de tudo, possibilitam-lhes aapropriação crítica da arte, aprender e identificar, respeitar e valorizar as produçõesartísticas, e compreender que existe uma poética individual dos autores e diferentesmodalidades de arte, tanto eruditas como populares.

Em contrapartida, ao professor do ensino de Artes cabe entrar em sintonia com

esse aluno, não o isolando dentro da escola, sem o favorecer com os conhecimentos sobre a

produção histórica e social da arte, mas, ao mesmo tempo garantir a ele a liberdade de

imaginar e construir suas propostas artísticas, pessoais e coletivas com uma intenção próprias.

Do mesmo modo, que essa época marca uma fase de transição em suas vidas. É quando o

aluno tenta se aproximar do mundo adulto, tentando compreender dentro de suas

possibilidades, questões sobre as dinâmicas das relações sócio-culturais, afetivas e, como, por

que e por quem as coisas são produzidas. Isso tudo, ligado aos aspectos lúdicos e prazerosos

que deve se desencadear em uma atividade artística.

Outro aspecto importantíssimo, diz respeito à busca dos diálogos e das relações

aluno-aluno, aluno-professor e professor-aluno. É durante essas relações que na presença do

outro ocorre com uma dinâmica que possibilita aproximações, descobertas das identidades,

dos valores, assim como, distanciamentos e confrontos com as diferenças. Nesse movimento

de abertura e aceitações das singularidades, há também o jogo das oposições, ampliando o

olhar de quem participa dessas vibrações, que são recíprocas e que dialogam com as

diferenças presentes e também durante a intervenção do professor. Muitas vezes, permitindo

que ocorra dentro da educação, aquilo que se fala tanto atualmente, uma educação inclusiva.

Também cabe à escola orientar e apoiar o professor nesse momento, com o

objetivo de impulsionar a dinâmica do desenvolvimento da aprendizagem, desenvolvendo a

autonomia do aluno, favorecendo um contato sistemático com os conteúdos, temas e

Page 32: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

32

atividades que melhor garantirão o seu processo e integração como aprendentes/alunos. Essas

considerações sobre os modos de aprender e ensinar arte possibilita ao professor uma revisão

das teorias sobre a arte das crianças e dos adolescentes.

Vejo que na ação artística das crianças/adolescentes/adultos posso envolver a

criação individual ou coletiva e, nesse momento a arte contribui para o fortalecimento do

conceito de grupo como socializadora e criadora de um universo imaginário, atualizando

referenciais e desenvolvendo sua própria história. A arte torna presente para o indivíduo e

para o grupo um meio de representações imaginárias. E, novamente entra aqui o aspecto

lúdico dessa atividade que é fundamental. Assim, confirmam Ferraz e Fusari, (Ferraz e Fusari,

2009, p. 129):

Em algumas atividades com crianças e até mesmo com jovens, é possível envolver-se de forma lúdica a construção, a manifestação expressiva e apreciativa de imagens,sons, falas, gestos e movimentos. Nesse sentido, os jogos passam a ter um carátertambém educativo e cultural. O entendimento de que as atividades lúdicas podemser complementares aos métodos de ensino de arte integra hoje também os projetoseducativos de museus e exposições de nosso país. Desde a década de 1990, sãovários os exemplos que ocorreram durante exposições temáticas e ainda hoje sãopreparados pelas equipes de ação educativa dos museus, com o objetivo de melhorapreensão das obras e participação nas visitas. As atividades são organizadas comoações ou trabalhadas pelos visitantes com o uso de materiais, sob orientação doseducadores.

Quando os alunos do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio criam, eles

desenvolvem um ritmo, produzem desenhos, modelam, pintam, dançam, inventam histórias.

Mas, esses espaços estão cada vez mais substituídos fora e dentro da escola, por situações que

provavelmente me renderia outra fonte de estudos. Certamente, esses jovens são levados por

valores que são impostos pela cultura vigente, às vezes, com efeitos danosos as experiências

artísticas. O que me deixa satisfeita é a própria condição dele ser um indivíduo em formação,

que exige e questiona do adulto, condutas que os fazem repensarem suas ações. Assim,

podemos aproveitar desse indivíduo o desenvolvimento do seu percurso de criação, não

perdendo nunca de vista as suas experiências anteriores, de algo que já viveu ou aprendeu e os

seus interesses e desejos atuais.

Creio que o aluno pode e deve criar suas produções partindo das suas experiências

pessoais, de um tema, de uma técnica, do contato com a natureza ou, até mesmo, de uma

influência, de um “estereótipo”, entre outras tantas coisas. Nessas horas, o professor pode

orientar os alunos com informações e procedimentos técnicos de artes que ele tenha intenção

de conhecer e talvez dominar quanto a orientar e preservar o desenvolvimento desse trabalho.

O professor também pode proporcionar ao aluno condições para que ele realize suas próprias

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33

escolhas para concretizar os projetos individuais e coletivos. Nisso entra a qualidade da ação

pedagógica que considero vital para o fortalecimento da consciência criadora do aluno.

2.3 UM LUGAR, IDEIAS E POSSIBILIDADES?

As aulas de Artes podem ocorrer no Ensino Fundamental e no Ensino

Fundamental, desde que possamos incrementar e adaptar as realidades para cada nível de

idade/etário.

Estou atuando na Educação Infantil, no Jardim de Infância há cerca de dezesseis

anos e, nesse período, alguns aspectos vem se transformando. Além disso, atuo no Ensino

Fundamental, numa 5ª série. O projeto inicial foi mantido dentro de ideais que oferecessem às

crianças o desenvolvimento das suas capacidades criadoras. Porém, algumas idéias

amadureceram por meio de trocas de informações com os colegas da Escola na qual eu atuo,

assim como, com outros profissionais ligados às Artes Visuais. Creio que ao longo dos anos

houve mudanças significativas tanto nas concepções sobre arte quanto nas possibilidades de

se viabilizar propostas prazerosas, críticas e contextualizadas no ensino da arte.

Foram anos de muitas alegrias e trabalhos contínuos para oferecer aos alunos

momentos em busca do crescimento e do desenvolvimento de suas habilidades. Dessa forma,

recuperamos para a educação aquilo que a criança ainda não perdeu, ou seja, o encantamento

diante de tanta coisa que as rodeiam, desde, as pedrinhas encontradas no caminho às misturas

de tintas, a lama feita com argila, os desenhos rabiscados na areia do pátio da Escola e as

aulas nos ateliês de pintura.

Tem-se aproveitado a curiosidade inata que as crianças possuem acerca dos

materiais que compõem seu universo imediato, quer seja sobre um papel, uma tinta, um

pedaço de espuma, e mesmo o sobre determinado assunto em pauta no transcorrer do projeto.

Tudo é muito estimulante. Da mesma forma, que ao aluno do Ensino Fundamental e do

Médio encontram possibilidades de discussões em torno das imagens que povoam nosso

universo artístico. Que eles possam realizar leituras conscientes e sensíveis de outras tantas

imagens que estão aí sendo consumidas passivamente. Que os momentos de criação possam

ter um sentido para eles próprios.

No futuro, estarei comprometida além dos pré-adolescentes, com os adolescentes

e jovens adultos, no Ensino Fundamental e Médio, buscando qualidade no tempo e nos

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34

assuntos a serem abordados. Será um novo desafio para mim, com a certeza de que o

aprendizado também será meu.

Quanto ao uso dos materiais, estes devem ser diferenciados e variados e, alguns

podendo ser bastante inusitados. Vou aproveitar que estaremos envolvidos com o movimento

da Pop Art. Os seus artistas durante este movimento empregaram uma gama de materiais.

Logo, também aproveitarei para trabalhar com os jornais, as revistas, as colas, as farinhas, o

papel machê, as tintas compradas e mesmo aquelas que extraímos de cascas de árvores, de

flores e de sementes compõem o arsenal específico dos momentos de construção criativa na

oficina. Decididamente, não há limite para explorar a criatividade, para o “experimentar”,

principalmente estando ao ar livre e nos outros espaços da Escola. Depois dessa

experimentação, ainda há o encontro com as formas, linhas e cores estruturadas e que

podemos auxiliar o aluno a desvendar. Nessas oficinas de arte ainda poderão ter espaço a

fotografia, a colagem, a pintura entre tantas outras linguagens.

É necessário estar junto com os alunos durante o seu processo de criação,

encorajando-os a descobrirem suas possibilidades, trabalhando a sua coordenação motora, o

equilíbrio, a motricidade fina e ampla, o olhar, os sentimentos, as sensações e a

autoconfiança. Nessas horas, a professora é uma co-participante das atividades de

aprendizagem do aluno, dando o apoio necessário, fortalecendo não só suas capacidades

cognitivas como também as comunicativas.

É por meio do desenho infantil que podemos perceber a evolução dos seres

humanos, pois, esteja onde estiver - aqui no Brasil ou numa escola da China - as crianças de

determinada faixa etária produzirão desenhos próprios desse nível. Por exemplo, uma criança

de cinco anos produzirá uma figura humana com mais detalhamento do que uma de três

aninhos, certamente, ou seja, a figura será composta de cabeça, membros superiores e

inferiores, utilizando-se também da cor para enriquecer alguns detalhes. A diferença, talvez,

esteja justamente na maneira com a qual se aborda as crianças, deixando-as bem à vontade

para ampliarem e flexibilizarem o seu olhar diante do que estão vendo e fazendo. É esse o

movimento que incentivamos junto a elas, pedindo que prestem mais atenção naquilo que

normalmente já vinham realizando. A importância de valorizarmos a espontaneidade das

crianças em relação à sua criatividade é fundamental. Nesse sentido, Pablo Picasso, em suas

experiências artísticas, afirmou que (Kohl apud Maryann, 2003, p. 14), “Antes eu desenhava

como Rafael, mas precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as

crianças.” Já com os adolescentes e adultos tudo isso que relatei acima deve ter acontecido,

porém sabemos que ao longo do nosso desenvolvimento, vamos perdendo a capacidade de

Page 35: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

35

nos expressarmos através do desenho. Talvez durante o meu estágio seja um bom momento

para estimular o desenho no grupo.

Cabe destacar que se deve respeitar a evolução gráfica da faixa etária de cada um.

Tudo isso poderá favorecer uma percepção de mundo mais privilegiada e, seguramente,

diferenciada por parte dos educandos. As outras áreas artísticas como, a pintura, a modelagem

– entrando aqui a colagem - a confecção de instalações e estruturas tridimensionais, poderão

se beneficiar com essa atitude. Em especial, as colagens que me referi na Pop Art, poderão ser

estudadas com mais propriedade, uma vez que elas faziam parte do movimento artístico em

questão. Daí a importância de acompanhar as crianças até a chegada da adolescência, quando

algumas habilidades já se manifestaram com mais força e outras, certamente, precisarão de

estímulos para aflorar nestes jovens.

Sobre o seu processo como artista, Henri Matisse declarou que (Holm, apud,

Anna Mari, 2007, p. 7): “É preciso ver a vida inteira como no tempo em que se era criança,

pois a perda desta condição nos priva da possibilidade de uma maneira de expressão

original, isto é pessoal.” Assim também nós, educadores, temos de estar atentos às questões

relativas a cada etapa do crescimento infantil e do adolescente. Em razão disso, as aulas de

Artes deverá constantemente estar pronta para as possíveis transformações conforme as

necessidades que surgirem em cada nível de aprendizagem. Nesse sentido, a essência “do ser

infantil” permanecerá inviolável, ou seja, a experimentação de materiais e a valorização do

processo artístico das crianças devem ser respeitadas e valorizadas. No caso dos adolescentes,

o respeito mútuo e as trocas de informações realizadas diretamente com eles, deverão nortear

o caminho do professor. Ouvi-los é a chave para o início de um bom trabalho ligado aos

momentos de criação.

A seguir, podemos pensar no ensino de artes como um processo e conhecê-la

através de uma pedagogia de projetos. Atualmente, existem estratégias de projetos, sujeitos a

combinações de regras específicas. Porém, os projetos são prioritariamente fundamentados,

ou pelo menos, deveriam ser baseados em uma educação que valoriza a construção do

conhecimento. Deste modo, destaco as palavras de Mirian Celeste Martins, (Martins, 1998, p.

158)

[...] podem firmar-se como as propostas interdisciplinares que resultam em boastransformações na dinâmica escolar, como temas transversais que são ampliadospelas perspectivas dos vários campos do conhecimento. Neles, a contribuiçãoespecífica da arte pode ser valiosa. Pode-se falar também de projetos de umadisciplina, de um grupo de alunos ou, mesmo de projetos individuais.

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36

Portanto, falar em projetos no ensino das artes tornou-se fundamental para os

educadores engajados e comprometidos. Pelo menos, é o que pretendo, formando pessoas

conscientes, a partir de referenciais que não padronizem os comportamentos, mas que

respeitem e valorizem as diferenças e a sua forma de expressão.

2.4 UMA EXPLOSÃO DE PONTOS, FORMAS E CORES

Em todos esses anos de Escola, posso me alegrar diante dos painéis e dos murais

que observo serem montados. Tal é a criatividade dos meus alunos, ainda mais em se tratando

das pinturas que são expostas no decorrer do ano. É um privilégio poder participar desses

momentos, pois cada tela, cada folha de papel, grande ou pequena, seja no formato que for,

recebe um tratamento exclusivo. Talvez eu tenha que realizar outro trabalho, apenas para falar

sobre o que seja criatividade. Defini-la daria pano para muita manga, e nos desviaria

novamente do assunto. Mas, em parte, é o que pretendo mostrar. Como a tão falada

criatividade pode ser trabalhada na sala de aula? Essa pergunta que acredito nos levará para

novas discussões até ela ser respondida.

As crianças e adolescentes louvam os momentos de pintura, pois há uma

fascinação pelas misturas de cores e pelas combinações de tonalidades. Geralmente, elas se

apropriam de conhecimentos técnicos, como segurar um pincel, trocar de tinta e misturar tom

sobre tom. Entretanto, a importância desse processo é a fluidez com que surgem as cenas e as

figuras da pintura. Há uma simplicidade encantadora que as crianças tão bem expressam. Ao

adulto, cabe apreciar esse dom inato dos alunos em criar manchas e cenas precisas e belas.

Algumas vezes, na pintura, usa-se a tinta guache; outras vezes, a tinta acrílica, podendo ser

aguadas na forma de aquarelas. Nada disso importa mais do que o brotar de mesclas

singulares e abundantes que surpreendem a todos. Com isso, concordo com Israel Pedrosa

quando fala (Pedrosa, 1982, p. 166):

Colocar qualquer quantidade de cor sobre uma tela é movimentar todas as faixas doespectro, criando tensões entre a cor aplicada e o fundo branco, ou com as demaiscores porventura existentes no quadro.

Do mesmo modo, que acredito nos desenhos, com as combinações de pontos e

linhas trabalhados ao longo da vida escolar, uma vez que as crianças e adolescentes desejem

Page 37: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

37

isso. É possível verificar que a criança possui uma trajetória no seu desenvolvimento gráfico,

e com o seguimento da adolescência. Então, igualmente, utilizaremos de uma maneira lúdica

e prazerosa o que cada faixa etária poderá conceber. Pensando nisso, associarei os

conhecimentos de cada criança e adolescente para abordar a Pop Art através das suas formas

coloridas e as técnicas que foram desenvolvidas neste período fértil da arte. Lembrando, que o

veículo maior era a comunicação, com as suas propagandas em revistas, catálogos, jornais e o

início das propagandas televisivas. Nesse caso, posso usar esses dados para explorar mais o

assunto e realizar comparativos com a atualidade.

A exploração das formas e cores que se apresentavam na época da Pop não será

problema, apostando na atração que os jovens sentirão pelas idéias libertárias. Mas,

principalmente, pelo apelo consumista que não foge muito do que acontece hoje em dia.

Nessa trajetória terei o cuidado de conversar à respeito dos estereótipos e os vícios

que carregamos ao longo da nossa vida estudantil, passando pela academia. Logo, quando nos

tornamos professores, alguns literalmente “enquadram” os seus alunos em modelos e padrões

estéticos. Talvez eu possa tirar proveito disso, embora haja o estereótipo, ele será usado

justamente para que os alunos tracem o seu próprio caminho, façam as suas descobertas

dentro de um processo criador.

Page 38: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

38

3 DIÁLOGO COM A ESCOLA

3.1 HISTÓRICO DA ESCOLA

Em 1955 um grupo de mães preocupadas com a instrução de seus filhos procurou

o então governador, Ildo Meneghetti, que atendeu aos seus pedidos. No dia 21 de junho de

1955 surgiu o Grupo Escolar, como fora chamado na época; porém não satisfeita com a

denominação dada a Escola a diretora Dinah, de acordo com o corpo docente da instituição,

teve a lembrança da eminente Prof.ª Dolores Alcaraz Caldas que passou ser a patrona deste

estabelecimento de ensino.

No transcorrer do tempo a Escola foi crescendo, aumentou o número de alunos,

ampliou as ofertas de ensino, deixou de ser de ensino fundamental incompleto e trocou de

nome várias vezes.

Desde 2003 denomina-se Escola Estadual de Educação Básica Dolores Alcaraz

Caldas. Localizada na cidade de Porto Alegre, Bairro Jardim Ipiranga, na Rua Affonso Celso

Puppe Silveira, 25, a escola oferece, atualmente, os níveis e as modalidades de ensino:

Ensino Fundamental (incluindo o 1º ano do Ensino Fundamental)

Ensino Médio (Regular e EJA)

No total, a Escola conta com mais de 1.100 alunos, 12 funcionários

administrativos e 80 professores. Apesar de todos os professores possuírem nível superior

completo e, alguns, curso de especialização, as reclamações por melhores salários e condições

de trabalho são uma constante.

3.2 ANÁLISE DAS OBSERVAÇÕES REALIZADAS NA ESCOLA

No período em que observei as aulas, acompanhei bem de perto os alunos, o que

sabem e o que desejam de uma aula de Artes. Tive algumas certezas, de que eles não sabem

como uma aula de Artes pode ser realizada, o quanto a dinâmica da aula pode interferir no seu

entusiasmo. De acordo com Susana Rangel Vieira da Cunha (Cunha, 2001, p. 7):

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39

As experiências vivenciadas no ensino de Arte do Ensino Fundamental e Médioainda centram-se na estética das belas-artes que dá um sentido universal e imutável àprodução artística e geram por sua vez metodologias baseadas em abordagensempiristas e/ou inatistas. Com isso, os conceitos de Arte e seus modos de ensinoformam uma coerência de princípios impermeáveis a outras propostas educacionais.

Reforcei também a idéia de que a Universidade me prepara para ser uma

professora dinâmica, prática e com idéias contemporâneas. Porém, o dia a dia em sala de aula,

em especial desta turma tem colaborado para me mostrar o quanto os caminhos são de vias

contrárias. Há de se refletir sobre a formação da professora que é em Artes Plásticas, no

entanto, faz muitos anos que ela não se reestrutura ou faz algum curso de capacitação para

professores da sua área. Ela vem ensinando aos alunos do EJA, História da Arte, artistas de

todas as épocas, mas dificilmente faz leitura de imagem. É como diz Howard Gardner

(Gardner, 1997, p. 53), [...] todas as formas de Arte envolvem comunicação por parte de uma

pessoa (ou sujeito) para outra, através de um objeto simbólico que o primeiro sujeito criou e

que o segundo, de alguma maneira, é capaz de compreender, apreciar ou a ele reagir.

A professora conseguiu se encorajar quando eu estava presente, pois passei para

ela algumas informações que aprendi na Universidade a respeito de leitura de imagem. Logo

ela se baseou nos estágios da leitura de imagens segundo Edmundo Feldman. Além disso, ela

se preocupa muito em fazer ligações com os períodos históricos que os alunos estão

estudando e produz com eles artesanatos baseados nessas épocas. Por exemplo, arte egípcia,

ela pinta caixas com motivos egípcios. Segundo a professora, eles precisam ter uma fonte de

renda. Logo, produzem artesanato para comercializar. Quanto à leitura de imagens, ela tenha

que cuidar ao expor as imagens, escolhendo as maiores e mais nítidas facilitando a visão dos

alunos. Assim como, estabelecer os passos da leitura cuidando a descrição do que os alunos

estão vendo. Talvez num próximo encontro mediar mais esta questão formal, das cores,

formas, linhas, volumes, luz e sombra. Quanto a interpretação das imagens eles conseguiram

se expor mais. O professor que trabalha com leitura de imagens precisa saber mais sobre as

metodologias de leitura e, segundo Mirian Celeste Martins (1998, p. 79):

Propor a leitura de uma obra de arte pode ser, então, mediar, dar acesso, instigar ocontato mais sensível e aberto acolhendo o pensar/sentir do fruidor e ampliando suapossibilidade de produzir sentido. É um processo de recriação interna que não podese restringir a um jogo de perguntas e respostas.

Durante as observações pude perceber o interesse dos alunos pelos materiais

como, lápis de cor, grafites, tintas e diversas técnicas. Porém, a turma ficou durante 3 semanas

com aulas teóricas em que não presenciei o seu envolvimento com os materiais. Então,

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40

saliento a importância do professor cuidar para que possa combinar aulas teóricas com as

práticas. Assim, haverá um caráter mais ativo das aulas, facilitando o envolvimento de toda a

turma.

Mesmo assim, fiquei satisfeita em ver os alunos sempre perguntando e tentando se

manter atualizados através dos diálogos de todos, mesmo com o adiantado das horas. Afinal é

uma turma de adultos que na sua maioria trabalham o dia todo e, depois tem uma jornada

escolar noturna. Do mesmo modo, a professora me pareceu muito cansada e esgotada. Mas,

não se deixou abater, procurando incentivar os alunos a falarem. Talvez ela tenha que

diversificar mais os encontros sem restringir-se a um tipo de aula por mais de duas semanas.

A outra maneira de elaborar as aulas, talvez fosse com a participação dos alunos, elegendo os

assuntos que gostariam de trabalhar. Por que não iniciar a trabalhar com Projetos no ensino

das Artes? Desse modo cito novamente Mirian Celeste Martins (1998, p.165) que fala:

[...] o trabalho com projetos possibilita sintonizar os conteúdos que queremosensinar com aqueles trazidos pelos aprendizes. É na sua inter-relação que poderemosproblematizar e provocar o que já se sabe e aquilo que se deseja saber, ampliando eaprofundando o conhecimento arte, alimentando o questionamento, a dúvida, aspossíveis soluções e o prazer de estar vivo no processo de aprender e ensinar.

As aulas de Artes não preparam os alunos para se tornarem artistas, mas incentiva-

os para um desenvolvimento das suas capacidades criadoras, estéticas e expressivas. Assim,

as aulas de Artes devem ter um propósito de promover a livre expressão e do conhecimento

de si próprio.

3.3 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA

A professora de Artes, Cláudia Maria Lopes Melo atua a nove anos nas escolas da

rede pública de Porto Alegre. Desde então, ela diz procurar dinamizar as suas aulas e planejar

cada encontro, mas, lamenta não ter tempo para preparar estas aulas como gostaria. Ela tem

uma carga horária de 40 horas e diz não ter períodos destinados para o preparo das aulas, bem

como, para estudar mais, se aprimorando.

Percebi nesse tempo juntas que ela tem boa vontade, mas não se organiza com

seus materiais. Ela também fala sobre a importância de ter claro os seus objetivos, mas na

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41

prática, demorou-se para organizar a turma frente às suas propostas, perdendo tempo,

montando uma das aula praticamente no seu início.

Nessa hora, vejo o quanto é importante um tempo destinado aos estudos para o

professor se preparar e sentir-se seguro frente às propostas que ele próprio cria e conduz.

Segundo, Maria Heloísa C. de T. Ferrari e Maria F. de Rezende e Fusari (2009, p.150):

[...] professora de Arte precisa ter bem claro quais são os encaminhamentos de seuprocesso didático e o papel da arte junto às crianças, jovens e adultos. Ensinar afazer e apreciar a arte, portanto, requer a preparação e sistematização do trabalhopedagógico, que se faz por intermédio de atuações didáticas bem planejadas,desenvolvidas, registradas e avaliadas tanto em seu processo como também nosresultados.

Em contrapartida, ela tem se esforçado para utilizar uma metodologia que

privilegie as aulas práticas e expositivas dialogadas. Ela respondeu que é difícil ter material

para todos. Por isso, ela compartilha imagens, vídeos e textos com os seus alunos. Os

conteúdos abordados na História da Arte, segundo ela compreendem do período Barroco até a

Arte Contemporânea.

No entanto, no período que observei a turma percebi que a professora mesmo

sendo capaz e detentora dos conhecimentos sobre História da Arte, não intercalou as aulas

teóricas com a prática. Assisti apenas às aulas teóricas. Creio que leitura de imagens foi uma

tentativa da professora em realizá-la, pois ela me perguntou como poderia fazer e quais os

passos a seguir. Para Analice Dutra Pillar (1999, p. 16):

O que se pode observar nas leituras, feitas por professores do Ensino Fundamental eMédio, é que, numa primeira instância de apropriação dessas leituras, há um certoencantamento por autores ou artistas que abordam uma determinada concepção deleitura. Isto, em muitos momentos, faz com que a leitura aprisione a obra, criesignificados fechados, torne-se uma atividade técnica e não prazerosa.É importante lembrar que a marca maior das obras de artes plásticas é querer dizer oindizível, ou seja, não é um discurso verbal, é um diálogo entre formas, cores,espaços. Desse modo, quando fazemos uma leitura, estamos explicitandoverbalmente relações de outra natureza, da natureza do sensível.Todo educador que mexe com arte precisa, então, encontrar uma maneira detrabalhar com os princípios básicos dessa linguagem, sem perder a complexidade daarte.

Ao responder sobre a mudança no ensino das Artes ela citou que hoje o ensino é

mais dinâmico e flexível. Contudo, talvez ela devesse ter um cuidado, e perceber a

importância de motivar os alunos a frequentar às aulas. Uma vez que eles saiam da sala

constantemente, e poucos colaboravam com os momentos de debate sobre o assunto em

pauta, fazendo tarefas de outras disciplinas.

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42

Quando questionada sobre os projetos e o uso de autores para auxiliar na sua

montagem, disse não saber ao certo se faz corretamente os procedimentos corretos para

montar um. Sente necessidade de utilizar os livros específicos sobre o assunto, mas não tem

acesso. A escola também não disponibiliza livros didáticos ou de artes. Igualmente, não

oferece um amparo para o professor nessa hora.

Durante os encontros em que ela usou as imagens, ou, diz ter feito “leitura de

imagens”, a falta de preparo se comprovou, pois, ainda que ela tivesse boa vontade em

mostrá-las, ela não às reproduziu num tamanho adequado para que o grupo pudesse observar

os detalhes das obras. E, considerando que as aulas ocorrem à noite, dificilmente os alunos

conseguiram focar sua atenção para essas reproduções. E, isso reforça a idéia da não

existência dos planos de aula, de uma rotina pré-estabelecida, enfim do preparo adequado das

aulas. Ela respondeu repetidas vezes, que há pouco tempo para realizar isso.

Para Mirian Celeste Martins (1998, p. 145):

Mais que um espaço físico, a sala de aula é o lugar onde o professor e o seu grupo deaprendizes habitam, pois imprimem nela marcas do convívio da vida pedagógica.Em verdade, toda a sala de aula é retrato de uma história pedagógica construídanuma concepção de educação. A cada dia de aula, no encontro do professor ealunos, o retrato da sala vai se esboçando.A cenografia da sala de aula precisa se tornar acolhedora. Assim como o artistaprepara seu espaço, é preciso preparar o cenário da sala de aula de arte. Para isso,uma rotina de trabalho pode ajudar. Rotina construída com os aprendizes, comomeio de agilizar também o tempo. Mesas sem os cadernos de outras disciplinas,encostadas ou agrupadas, materiais preparados anteriormente, podem estabelecer amarca da mudança para outra atividade.

Analisando todas as respostas da professora, notei que ela possui plenas condições

para desenvolver o seu trabalho, pelo menos no quesito operacional, pois existe um espaço

físico para as aulas de artes acontecerem, sala de vídeo e, ainda a sua disposição, possui

alguns materiais plásticos. Assim, concordo com Mirian Celeste Martins (1998, p. 145):

Mais do que quantidade de materiais, é preciso oferecer ricas oportunidades deaprendizagem. Para isso, é preciso selecionar meios acessíveis à realidade, inventarpossibilidades para os materiais existentes, inovar, ousar.Havendo possibilidades de usar uma sala específica para o ensino de arte – salaambiente – torna-se importante adequá-la para o trabalho com as diferenteslinguagens artísticas.

Ela realiza algumas exposições dos alunos e programa saídas às Bienais. Tenta

segundo as suas palavras, “tirar a idéia que artes é sinônimo de decoração para as festividades

da escola”. Da mesma maneira, tem insistido em trabalhar com os produtores de artes, e irá

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43

fazer um curso para aprender a manusear os computadores da escola, assim poderá dinamizar

as aulas.

Apenas senti que a falta de tempo atribuída por ela é um fator determinante para a

qualidade das aulas. Há um bom relacionamento entre a professora e os alunos, coordenação e

direção. Então, creio que seja uma questão de organizar as aulas, preparar o ambiente e,

logicamente criar uma rotina, planos e preparação dos materiais previamente para que as aulas

tenham sucesso. Além disso, ela deve ter claro os seus objetivos, o cuidado na seleção dos

conteúdos, variar os recursos e metodologia. Para Maria Heloísa C. de T. Ferrari e Maria F.

de Rezende e Fusari (2009, p. 145):

É importante que o professor registre e dê visibilidade ao seu trabalho. Desde oinício, os atos e as escolhas precisam ser registradas ou anotadas em roteiros(planos, apontamentos explicando as decisões) que ajudem no desenvolvimento doscursos e aulas de Arte. É importante que o professor se habitue à prática profissionalde elaborar roteiros pessoais ou grupais (ema cadernos, fichas, computador) quecontenham anotações, resumos, croquis sobre arte, bem como sobre os modos detrabalhar o conhecimento da arte junto aos alunos.Acreditamos que o hábito de narrar e registrar as atividades ajuda o professor aacompanhar, analisar e avaliar as etapas de seu trabalho.

3.4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS

A turma do 2º ano, do Ensino Médio me respondeu de forma objetiva um

questionário que veio esclarecer o que os alunos pensam sobre as aulas de artes. Na sua

maioria, os alunos concordaram que apreciam as aulas de artes, podendo participar na escolha

dos assuntos a serem trabalhados. Além disso, concordam que

é importante trabalhar com as reproduções das obras de artes dos grandes artistas.

Gostariam de ter mais contato com outros materiais além do lápis e da borracha, pois

necessitam conhecer outras linguagens artísticas. Decididamente, desconhecem o que seja

trabalhar com Projetos de Ensino da Arte. Então, concordo com todos os estudiosos no

assunto quando falam da importância de se eleger objetivos, conteúdos e métodos de ensino.

Mas, principalmente que o professor seja capaz de tornar as aulas dinâmicas, capaz de ensinar

e aprender com seus alunos. Assim, concordo com Mirian Celeste Martins (1998, p. 165):

[...] o trabalho com projetos possibilita sintonizar os conteúdos que queremosensinar com aqueles trazidos pelos aprendizes. É na sua inter-relação que poderemosproblematizar e provocar o que já se sabe e aquilo que se deseja saber, ampliando,

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aprofundando o conhecimento arte, alimentando o questionamento, a dúvida, aspossíveis soluções e o prazer de estar vivo no processo de aprender e ensinar.

Percebi que os alunos não têm o hábito de frequentar as galerias de artes ou visitar

exposições. Alegam isso, devido a sua condição de trabalhadores. Igualmente, dizem ter

problemas com os horários. Porém, é um desejo do grupo de conhecer mais artistas, sendo o

ensino de artes válido para a sua formação.

Responderam sobre o bom relacionamento com a professora e o quanto ela se

empenha para levá-los às Bienais. Frisaram muito sobre a importância de se manterem

informados sobre os assuntos gerais, ligados às artes e o quanto necessitam conhecer outras

linguagens, como o desenho, especialmente, a pintura, cerâmica, gravura e a fotografia. Do

mesmo modo, declararam que se sentem motivados a participar das aulas quando há algo

diferente, por exemplo, quando manuseiam materiais e fazem atividades que possam se

expressar. Por isso, venho concordando com Miriam Tolpolar (2001, p. 38):

[...] não haverá apenas conteúdos a serem vencidos ou técnicas a serem ensinadas,mas conceitos a serem discutidos, pensados e questionados, valorizando amultiplicidade de respostas e leituras a partir de uma única imagem ou de uma únicaproposta, tornando possível o acesso à cultura, já que a arte visual foi o primeirobem cultural, a forma inicial de comunicação e de transmissão de conhecimento,antes mesmo da escrita. O professor deverá pensar o ensino de arte como umapermeação entre informações teóricas e propostas práticas, possibilitando aos alunoscampos de investigação e produção simultâneos, construindo assim novosconhecimentos gerando novas indagações.

Outro detalhe, os alunos concordam, na sua maioria com a avaliação adotada pela

escola.

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45

4 PROJETO DE ENSINO EM ARTES VISUAIS

4.1 TEMA DO PROJETO

Trampo, Arte e Outros Babados – A Pop Art e o Ensino da Arte

4.2 JUSTIFICATIVA

Os alunos poderão estudar um período artístico, ou melhor, um momento da nossa

história da Arte, a Pop Art, e mais especificamente as questões formais do movimento (o

ponto, a linha, a forma e a cor). Com isso, farei um paralelo entre o movimento da Pop Art

americana e a Pop Art brasileira. Embora eles possam ter ocorrido concomitantemente, ão

distintos, talvez, nas suas essências.

Considero que estes estudos ajudarão as crianças, os adolescentes e adultos a e

expressarem de forma mais coerente possível, tratando de suas experiências enquanto alunos

do Ensino Fundamental e Médio, esclarecendo, igualmente, alguns fatos históricos

riquísssimos. Este período artístico abordava as questões político-sociais, e hoje há muita

semelhança com aqueles tempos.

A escolha por esse tema também abordará a publicidade e propaganda da época.

E, sem dúvida será um excelente material para ser trabalhado na sala de aula. Os alunos

poderão fazer relações entre a Arte e a propaganda e suas imagens. Por conseguinte,

desenvolverão um olhar mais observador e crítico, com a possibilidade de exercitarem a

interpretação e a criação das suas próprias imagens.

4.3 OBJETIVO GERAL

Promover o conhecimento da Pop Art e suas influências nos dias de hoje e

desenvolver o seu processo artístico através das leituras e interpretações de imagens artísticas

Page 46: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

46

e publicitárias. Com isso, os alunos poderão produzir individual e coletivamente, as diversas

linguagens da Arte enfatizando temas da sociedade atual.

4.4 METODOLGIA

Acontecerão aulas expositivas dialogadas, leitura de imagens, práticas coletivas e

individuais, pesquisas, estudos de textos e exposições de trabalhos.

4.5 CONTEÚDOS

Ponto, Linha, Forma, Cor e a Pop Art

4.6 PRÁTICA DE ENSINO

As aulas ocorreram na Turma 213 – 2º ano do Ensino Médio- EJA. A duração do

estágio: de 12.03.2010 à 27.04.2010 – 7 encontros uma vez por semana, com 2 períodos de 45

minutos cada, no horário das 21horas e 10minutos às 22 horas e 40 minutos.

4.6.1 Aula 1 – 12/03

PLANEJADO

Objetivos: Conhecer o Projeto de Ensino: “Trampo, Arte e outros Babados – A

Pop Art e o Ensino da Arte”.

Perceber os princípios básicos que fundamentaram o movimento da Pop Art

(americana e brasileira).

Page 47: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

47

Conteúdos: Projeto Educativo de Ensino, Trabalhos da Pop Art –

americana/brasileira.

Metodologia: Expositiva dialogada, apreciação e leitura de imagens.

Desenvolvimento das aulas: Através de uma conversa informal será colocado

para à turma indagações sobre o movimento artístico em questão e sobre algumas obras que

serão apresentadas em aula, conforme o painel a seguir (colocarei as imagens e a fonte que

irei mostrar). Logo após a mostra das imagens, os alunos farão a leitura de imagens, baseada

nas etapas propostas por Edmund Feldman (descrição e análise formal).

Recursos: Notebook e reproduções de obras do período Pop Art e quadro branco.

Basquiat, Jean Michel, 1980.Fonte: Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/basquiat.jhtm.

Page 48: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

48

Lichtenstein, Roy: Whaam! 1963, óleo e magma sobre tela, 172,7 x 406,4 cm. Tate Gallery.Fonte: Livro de David MacCarthy

REALIZADO

Nº alunos presentes: 13

O que havia planejado correu tranquilo, mesmo modificando alguns detalhes da

aula que havia planejado anteriormente. Então, pensei nos alunos e nessa turma nova que

teria. Propus motivá-los, ainda mais se tratando do horário das aulas, os últimos períodos de

sexta-feira. Logo, iniciei a minha apresentação e expliquei como faríamos nossos encontros.

Apresentei o Projeto: “Trampo, Arte e Outros Babados – A Pop Art”. Falei sobre o que

poderíamos estudar e o quanto foi importante esse Movimento artístico para a época e o que

significa para os dias de hoje. Fui mostrando algumas imagens e utilizando o que havia

estudado no texto que preparei. A intenção é entregar algo escrito para a turma, porém, mais

tarde. O importante agora é focar e prender a atenção do grupo. Acredito que atingi esse

objetivo, pois fui falando sobre algumas passagens da Pop Art, os principais acontecimentos e

artistas, traçando um paralelo com a Pop brasileira, suas semelhanças e diferenças e,

especialmente, as questões da popularidade, o quanto se tornou uma arte “popular” e as

questões político-sociais aqui no Brasil. Expliquei que essa forma de Arte possui diferentes

linhas, formas e muitas cores. Além disso, falei um pouco sobre nossa situação artística,

política e social estabelecendo um paralelo com o ontem e o hoje, pois alguns alunos até

trouxeram algumas semelhanças com o que ocorre na atualidade.

Page 49: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

49

Percebi que os alunos foram se interessando e chegando mais perto da tela do

notebook, pois no início, alguns queriam ficar sentados no fundo da sala. A participação

iniciou sutilmente, mas ocorreu e, quando toquei na arte hippie e os costumes da época se

sentiram ainda mais atraídos. Fui combinando algumas técnicas e as possibilidades, mas não

contei detalhes. Conversamos sobre a importância do Movimento, dele trazer coisas

precursoras, como a propaganda de massa, da mídia, do consumo, do início da televisão, da

fotografia publicitária, das técnicas como a serigrafia, dos ícones da Pop, a música e os

costumes e vestimentas da época. Além disso, propus uma atividade plástica para o outro

momento que consistia em realizar uma colagem com o desenho do nome de cada aluno, com

letras grandes e interferências de imagens ou desenhos de coisas pesquisadas/recortadas das

revistas. Assim, eles poderiam coletar aquilo que tinham mais afinidades, que gostassem

muito de fazer ou ter no seu dia a dia, mas algo que os representasse, que eu pudesse

identificá-los no futuro. Fui orientando o tempo todo e repetindo para aqueles que me pediam

mais subsídios para a realização dos seus trabalhos. Não falei qual a intenção disso, pois irei

utilizar no próximo encontro. Aliás, pedi que de acordo com a nossa conversa anterior e as

imagens que eles viram da Pop Art, sentissem o que tudo aquilo os provocava para criarem as

suas próprias imagens. O meu objetivo é ver se aquilo que conversamos sobre a Pop Art havia

sido entendido e de que forma poderiam usar numa atividade plástica. Aos poucos foram se

sentindo mais seguros, relaxados no ambiente, pois levei uma gama de materiais como,

revistas, gizes, canetas, lápis e colas coloridas. Eles teriam que colar e desenhar em folhas

brancas A3. A timidez com os materiais foi percebida, pois queriam fazer tudo rápido para se

“livrarem” logo da atividade. Porém, fui orientando e falando sobre a importância de se

expressarem plasticamente.

Algumas alunas falaram sobre o fato dos trabalhos valerem nota. Avisei que não

farei prova, mas todas as produções serão levadas em conta. Isto é, contarão como pontos para

a avaliação e que avisassem os colegas que faltaram para não perderem as aulas, pois nem

sempre será possível retomar alguns trabalhos. Hoje estavam presentes 13 alunos. A turma

está composta de 25 alunos até agora. A turma parece estar completa, mas como é início de

ano, muitos ainda não estão na lista de chamada. Fui realizando a chamada para fixar alguns

nomes.

Acredito que falei muito no início, mas é importante se apresentar para o grupo. A

turma deve saber quem sou, e porque estarei com eles durante as sete semanas. A professora

ficou junto mas, não interferiu, muito pelo contrário, me deixou bem à vontade. Após a

chamada, estabeleci algumas combinações sobre os materiais, sobre como podemos conversar

Page 50: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

50

e estabelecer uma parceria. Pedi que levassem a sério as produções e para as alunas que

sentam no fundo da sala, solicitei que viessem até a frente para a escolha dos materiais. Há

alunas que gostam de enfrentar a professora e questioná-la, mais para chamar a atenção,

reclamando da atividade. A faixa etária é de pessoas com 25 anos em diante, exceção de dois

ou três com 21 anos. Logo, temos pessoas bem comprometidas em realizar as tarefas.

Também reconheceram a importância de ter uma disciplina para falarem e se expressarem

mais. Pensei nesse trabalho para entenderem a Pop Art e, ao mesmo tempo, elevarem a sua

auto estima. Acho que o papel do professor também responde às questões afetivas dos alunos,

somente assim, poderão participar efetivamente das aulas. Combinamos também como

funcionará a organização das aulas, início e final tendo a participação deles. Então, poderão

sair com calma para pegar o ônibus, desde que se comprometam em deixar o ambiente

organizado. O horário final é o ponto nefrálgico, pois na saída há uma preocupação em não

perderam a hora.

Os trabalhos não ficaram prontos, deixamos secando em função das colagens e

houve uma preocupação da minha parte em passar nas mesas estabelecendo relações com as

propagandas da Pop, já que a proposta da próxima aula será uma breve apresentação do seu

trabalho e do seu nome. É uma maneira de sentir o grupo, conhecê-los mais, uma vez que não

pedi para se apresentarem propositalmente. Farão isso através dos seus trabalhos.

É importante registrar que temos uma aluna bem mais tímida, pouco se expressa

oralmente e outra que acha que está muito “velha”, que incomoda todos e fica periférica não

interagindo com o restante da turma. Duas alunas possuem diagnósticos de bipolaridade.

A turma é um tanto “imatura” cognitivamente. Logo, aquilo que proponho tem

que ser bem claro para o fácil entendimento do grupo. Penso que terei que ser bem objetiva e

cuidar para não simplificar muito o conteúdo, mas relatando os fatos principais da Pop Art.

Levar em conta as suas vivências e suas histórias de vida, pois não me pareceu

que soubessem sobre esse período da nossa história. No final, me agradeceram e falaram que

gostaram da disciplina de Artes após o período de Matemática. Revelaram que necessitam

falar de outros assuntos e, no final, Arte não é “um bicho de sete cabeças”.

Acredito que terei muitas cosias para dividir com os alunos, mas o aprendizado

será para eles e, certamente uma escola para mim. E, por isso mesmo concordo com o que diz

Mirian Celeste Martins (1998, p. 3):

Tratar a arte como conhecimento é o ponto fundamental e condição indispensávelpara esse enfoque do ensino de arte, que vem sendo trabalhado há anos por muitosarte educadores. Ensinar arte significa articular três campos conceituais: a

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51

criação/produção, a percepção/análise e o conhecimento da produção artístico-estética da humanidade, compreendendo-a histórica e culturalmente. Esses trêscampos conceituais estão presentes nos PCN-Arte e, respectivamente, denominadosprodução, fruição e reflexão.

Alguns trabalhos dos alunos:

Fonte: Costa, 12/03/2010

Fonte: Costa, 12/03/2010

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52

Fonte: Costa, 12/03/2010

4.6.2 Aula 2 – 19/03

PLANEJADO

Objetivos: Explorar os princípios básicos que fundamentaram o movimento da

Pop Art (americana e brasileira), traçando um paralelo entre as duas vertentes da Pop Art, a

americana e a brasileira. Apresentação de um Power point sobre a vida de Andy W. e Jean

Michel Basquiat.

Conteúdos: Pop Art – americana/brasileira.

Metodologia: Expositiva dialogada, apreciação e leitura de imagens e aula prática

– desenho e colagem.

Desenvolvimento das aulas: Após as minhas explicações sobre as imagens e a

história da Pop Art, os alunos farão uma colagem e pintura com o uso do seu nome (utilizarão

isto em outro momento);

Recursos: Notebook com reproduções de obras do período da Pop Art, folhas,

revistas, cola, tesoura, canetas, lápis de cor, glitter, colas coloridas, lantejoulas, quadro

branco. Segue abaixo algumas imagens trabalhadas em sala de aula.

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53

Filho, João Câmara: 1954, I (série Cenas da vida brasileira), óleo sobre tela, 1975.Fonte: Livro – Arte e Sociedade no Brasil

Tozzi, Cláudio: Foguete, Liquitex sobre tela, 120 x 120 cm, 1970.Fonte: Tozzi, Cláudio. Portfolio Brasil.

REALIZADO

Nº alunos presentes: 12

Page 54: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

54

Hoje comecei a falar sobre a vida e obra de Andy Warhol e Jean Michel Basquiat,

a importância desses artistas para a Pop Art Americana. Também trouxe a importância da

Arte Hippie, a contracultura e seus principais símbolos. Foi uma breve colocação para que, na

próxima aula, possamos desenvolver mais esse conteúdo. Quanto ao conteúdo de hoje, senti

que a cada colocação sobre o movimento artístico foi despertando mais interesse na turma,

especialmente sobre a vida de Basquiat. No geral, percebo que há situações da vida desses

artistas em questão que não deixam de ser atuais, pois tratam do consumo das drogas e suas

obras possuem hoje um grande valor comercial. Pedi que observassem bem as cores, as

linhas, as formas e os motivos que apareciam nas obras. Mostrei várias obras, mas escolhi

uma para que me dissessem o que viam. Fiz uma prévia do que será a leitura de imagem. No

início, ficaram um tanto tímidos, mas aos poucos foram colocando o que percebiam sem uma

preocupação com o sentimento. Perguntei sobre o que estavam percebendo e que eu havia

falado antes sobre a Pop Art, o que caracterizava esse movimento. Senti que estavam bem

dispostos para colocarem suas opiniões. Isso me leva a crer que estou no caminho para

despertar mais interesse e manter a motivação da turma.

Neste dia, também compareceu uma aluna nova e teve um pouco de dificuldade

para perceber do que tratávamos. A professora titular deu um recado para que o grupo fale

para os outros colegas sobre a reunião que ela terá na segunda-feira, dia 22/03. Será um

levantamento junto à Direção, pois há muitos alunos com faltas excessivas que já repetiram o

ano por conta disso. Estão tirando a vaga de outros que estão esperando ser chamados. Além

do mais, ela colocou que eu não poderei retomar o conteúdo uma vez que sou estagiária e

terei um tempo curto com eles. Logo, pediu para que eles compareçam às aulas.

Depois, solicitei que continuassem o trabalho com o seu nome, porém faltaram

muitos alunos. Perguntei ao grupo se isso acontece somente nas aulas de artes. Mas, me

responderam que é com todas as disciplinas.

Conversei sobre a dinâmica que faremos a partir desse trabalho e que não

podemos nos prolongar com essa produção.

Fiquei sabendo da troca de horário das nossas aulas de sexta-feira para terça-feira.

Logo, terei que adaptar as atividades e talvez eu não consiga estar presente neste dia, pelo

menos no dia 23/03, pois tenho reunião na outra escola que atuo. A professora titular e a

coordenadora sugeriram que ela dê a aula no meu lugar e eu retome depois. Vamos ter que

reorganizar o calendário.

O que é fundamental, manter os alunos motivados, pelo menos aqueles que estão

habituados a frequentar as aulas. Quanto aos demais, é importante cativá-los mostrando o

Page 55: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

55

valor da sua participação e assiduidade. Acredito que mesmo eles sabendo que sou uma

estagiária, têm procurado se esforçar para criar um vínculo ainda que passageiro. Da minha

parte estou propondo atividades que despertem o seu interesse, preparando as aulas com

carinho e dedicação. Procuro preparar o espaço físico e os materiais com antecedência,

deixando a aula mais convidativa e acolhedora possíveis. Com isso, venho comprovar mais

uma vez com Miriam Celeste Martins (1988, p. 145):

Mais que um espaço físico, a sala de aula é o lugar onde o professor e seu grupo deaprendizes habitam, pois imprimem nela as marcas do convívio da vida pedagógica.Em verdade, toda sala de aula é retrato de uma história pedagógica construída numaconcepção de educação. A cada dia de aula, no encontro com o professor e alunos, oretrato da sala vai se esboçando.A cenografia da sala de aula precisa se tornar acolhedora. Assim, o artista preparaseu espaço, é preciso preparar o cenário da sala para a aula de arte.

Pedi para próxima aula que trouxessem a sacola ecológica ou a camiseta branca

ou de cor clara, um pedaço de papelão e uma tesoura, pois iremos criar uma “decoupage” de

figuras com aplicação de colas relevo para tecido.

4.6.3 Aula 3 – 30/03

PLANEJADO

Objetivos: Explorar o material plástico, como o papel de guardanapo, colas e

fixadores. Desenvolver nesta produção, características das linhas e cores utilizadas durante o

movimento da Pop Art.

Conteúdos: Modelagem, desenho das linhas e estudo das cores utilizadas durante

esse período artístico.

Metodologia: Aula prática e expositiva dialogada.

Desenvolvimento das aulas: Após as minhas explicações sobre a decoupage,

faremos o passo a passo da colagem, observando as imagens escolhidas para empregar as

colas coloridas no próximo encontro.

Recursos: Quadro branco, papelão, colas e fixadores, pincéis, potes, panos,

camiseta branca ou sacola de pano, guardanapos para a colagem.

Page 56: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

56

REALIZADO

Nº alunos presentes: 17

Neste dia iniciei perguntando como foi a aula anterior, pois estive fora em função

da reunião pedagógica da outra escola em que atuo. Os alunos me informaram que finalizaram

os trabalhos referentes às colagens e que discutiram mais sobre a Pop Art, especialmente os

símbolos da contracultura e de algumas atitudes da época.

Hoje para minha surpresa alunos que não estavam presentes nas aulas anteriores

apareceram, mas sem o material solicitado. Logo me pediram para sair, mas não foram

atendidos, pois já estão com excesso de faltas. Então pedi que eles dessem apoio para os

colegas na confecção da camiseta. Orientei a todos como poderiam dar início aos trabalhos,

solicitando calma e organização, fundamental para o sucesso da atividade. Dessa forma

mostrei os materiais e o passo a passo de todo o processo. Percebi que estavam com pressa e

um tanto impacientes. Quando perguntados sobre o motivo desse comportamento, declararam

que a final do reality show, “o Big Brother 10” da televisão estava mobilizando parte do

grupo. Nessa hora, pedi que respeitassem os colegas que se prepararam para a aula. Em

respeito a mim e a eles, ficaríamos trabalhando, e tão logo terminássemos poderiam pedir para

o Diretor uma dispensa, mas da minha parte não poderia liberá-los. Quanto à decoupage,

iniciamos com o preparo da base de papelão. Como vemos nas imagens abaixo.

Trabalho de colagem sobre tecido.Fonte: Costa, 30/03/2010

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Trabalho de colagem sobre tecido.Fonte: Costa, 30/03/2010

Trabalho de colagem sobre tecido.Fonte: Costa, 30/03/2010

Luciane estava bem agitada e parecia querer um atendimento exclusivo. Além

disso, havia na sala quatro alunas muito inquietas querendo atendimento, mesmo algumas não

tendo trazido o material queriam mexer nos guardanapos antes de todos. Solicitei uma

compreensão da parte delas. Percebi que não sabiam nem do que se tratava a aula.

Durante o trabalho basearam-se nas figuras estereotipadas do material que levei.

Isto, aliás, é proposital, pois terão que mexer naquilo que escolheram. Percebo que a técnica é

importante para eles, pois querem aprender para ter um ganho extra com as vendas de

artesanato. Equivocadamente pensam que darei receitas prontas, mas aos poucos irei

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conversando com o grupo esclarecendo o que farei nas aulas de Artes. Enquanto escrevo estas

linhas, penso que esta turma teve um único encontro comigo, antes do estágio, uma vez que

seria outra turma que assumiria. Logo, fiquei a imaginar novamente quem são os meus

alunos? O que desejam? Serão eles, receptivos ou resistentes? Em tão pouco tempo

conseguirei construir um bom vínculo?

Percebi alguns alunos bem dispostos e bem envolvidos com a tarefa, cuidando

como faziam a colagem do pano e preocupados em seguir as minhas explicações. No entanto,

outros queriam terminar logo, e conseguiram rasgar o guardanapo ao passarem a cola pano

para aderência na camiseta. Fui falando com eles a respeito da mudança que fariam na

próxima aula, colando lantejoulas e colas coloridas, fazendo uma intervenção na imagem

pronta. Será um desafio para eles, pois acham que está tudo praticamente pronto. Fomos

conversando durante o trabalho, e alguns já assistiram o filme sobre o artista Basquiat.

Falamos sobre a vida do artista, do talento e o quanto as idéias frutificaram em tão pouco

tempo. Não há aula que não toquem nas questões sociais da época e se reportem às atuais.

Isso demonstra que a maioria, está apreciando os assuntos das aulas. Assim, concordo com

Mirian Celeste Martins (1998, p. 166) quando escreve,

Sei que o vínculo permite o acesso mais significativo à arte, mas só será construídose eu puder estar em sintonia com meus alunos, com seus interesses, suasnecessidades e suas faltas. Preciso investigar!Como poderíamos saber mais sobre nossos alunos? A observação de suas produçõesrealizadas sem nossas intervenções pode revelar alguns interesses, mas é vital criarsituações para sondar seu repertório, seu arquivo dinâmico de experiências reais ousimbólicas, para que possamos olhar melhor e mais cuidadosamente nossosaprendizes. Com essa avaliação iniciante pretendemos investigar o que já sabem e oque ainda não sabem, do que mais gostam e o que não os atrai, como agem nogrupo, suas dificuldades no uso dos materiais, etc.

Isso me leva a crer que poderei continuar com os meus planejamentos,

conseguindo bons resultados, enfrentando o que ainda não conheço, ou pelo menos, não

conhecia no que se trata de alunos adultos de uma escola pública e noturna. Leva-me a pensar

em trechos do livro de Mirian Celeste Martins. E ela define bem que não importa onde o

professor atua e sim quais os passos planejados e realizados, para só então dar continuidade às

suas ações.

Trabalhar com projetos exige uma reflexão constante, e é por meio dela quepodemos avaliar todos os passos planejados e já realizados, para dar sequência àsações. Essas ações, depois de operadas e recriadas na própria ação, serão refletidaspara nova avaliação e replanejamento. /Em síntese, o trabalho do ensinante estápautado na ação–reflexão–ação. (MARTINS, 1998, p. 166)

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59

Novamente, as alunas que queriam sair mais cedo se sentiram contrariadas diante

da não autorização para saírem. Nessa hora, precisei confrontar o grupo sobre a avaliação

deles quanto aos alunos que são assíduos nas aulas, contrapondo aqueles que aparecem de vez

em quando ou, melhor, apareceram somente hoje. Coloquei para o grupo o que é

desenvolvido vale nota e que o comprometimento é um fator decisório no final. A professora

titular teve problemas com essas mesmas alunas em função das faltas no ano anterior e já me

informou que não irá permitir que elas tumultuem as minhas aulas. Para isso, ela deu um

recado bem direto quanto à participação de todos e que após o meu estágio continuará com a

mesma postura. Disse ainda que eu não poderei ficar esperando pelos alunos ausentes para dar

continuidade aos trabalhos e conteúdos, uma vez que é injusto com quem comparece a todas

as aulas.

Hoje, em especial, foi uma aula muito prática, sendo uma etapa sem grandes

criações. Na próxima aula eles precisarão criar em cima de uma imagem. Vamos ver como

ficará. Pedi para quem não trouxe os materiais, trazê-los no próximo encontro, assim terão a

chance de concluir o trabalho. Mas deixei claro que terão apenas mais uma chance. A segunda

etapa do trabalho será tarefa desenvolvida sem interferir no andamento do cronograma, em

respeito aos outros alunos.

Observação: uma das alunas, Aline, ao meu pedido colocou a receita da camiseta

no quadro branco.

Outro detalhe: até agora não pude fazer a apresentação dos nomes. Um motivo, a

resistência do grupo em se expressar oralmente, o outro, é que faltaram muitos alunos para

completar a chamada. Percebi que a atividade seria rica, mas deixei passar muito tempo e ela

perdeu o valor da função de apresentação. Cuidar para não acontecer novamente com outras

atividades e dinâmicas.

4.6.4 Aula 4 – 06/04

PLANEJADO

Objetivos: Conhecer os princípios básicos que fundamentaram o movimento da

Pop Art.

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60

Experimentar na pintura um material plástico, como as colas coloridas e a cola

glíter. Elevar a autoestima.

Conteúdos: Trabalhos da Pop Art – americana/brasileira. Decoupage e pintura.

Metodologia: Expositiva dialogada e a apreciação do trabalho de colagem com o

nome.

Desenvolvimento das aulas: Os alunos concluirão a decoupage e farão uma

apresentação do primeiro trabalho com o seu nome. Apresentarei um texto de Marina

Colasanti.

Recursos: Quadro branco, papelão, colas e fixadores, pincéis, potes, panos,

camiseta branca ou sacola de pano, guardanapos para a colagem. Texto de Marina Colasanti

sobre o cotidiano da vida moderna.

REALIZADO

Nº alunos presentes: 21

No dia de hoje tive a felicidade de ver a minha sala finalmente cheia e creio que

os recados anteriores foram essenciais para que os alunos se preocupassem com suas faltas.

Houve alguns casos de evasão, porém, diante das faltas iniciais melhorou em muito essas

presenças.

Neste dia iniciei a divisão dos alunos em dois grupos, os que estão com seus

trabalhos em dia e aqueles que estão atrasados. Atendi o grupo que deveria dar o acabamento

nas suas camisetas e sacolas. Depois atendi o grupo que daria início às suas colagens. Uma

das alunas, chamada Pâmela, estava muito agitada, querendo um atendimento quase que

exclusivo. Nessa hora eu retomei com ela que deveria ter paciência, uma vez que os seus

colegas também precisariam de auxílio. Pude perceber que o grupo estava bem envolvido e

participando de todo o processo de criação. Mesmo assim, alguns alunos não trouxeram o

material solicitado. Então, pedi para eles auxiliarem os colegas no que necessitassem, além de

copiar a receita caso queiram desenvolver em outro momento, pois não teremos outro

encontro para isso. Aqui, acredito que fui firme e relembrei as regras e combinações das

aulas, para que levem a sério aquilo que é pedido.

Uma das coisas que senti foi que o grupo precisa constantemente de incentivo

para continuar vindo às aulas. Atualmente, há uma preocupação dos alunos em não faltar, mas

normalmente há pouco envolvimento durante os processos criativos. Precisei ir orientando

Page 61: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

61

todo o trabalho, assim como, deixando claro que a intervenção nas camisetas precisavam ter

as características de cada um. Ainda falei que as características da Pop Art precisavam ser

revisitadas/relembradas durante essa intervenção. O que me fez lembrar uma passagem da

entrevista de Sandra Richter (2001, p. 25) em que ela fala:

A primeira condição a considerar em se tratando de arte, portanto, é a liberdade. É ofundamento de qualquer ato expressivo e, tanto a liberdade como a criação, exigemum complexo e gradual aprendizado que atravessa a construção da singularidadehumana e repercute em suas relações e manifestações sociais.

Depois, retomei com o grupo a importância de se organizarem antes e durante os

trabalhos. Pedi que lavassem bem os pincéis, pois estavam usando uma cola poderosa e que

só a água não iria ajudar na limpeza, precisariam lavar com sabão. Além disso, reforcei ao

grupo que estava iniciando os trabalhos para cuidarem a quantidade de cola permanente e cola

pano.

Notei hoje que o grupo estava mais rápido, conversando e produzindo. Como falei

anteriormente, às vezes, a turma necessita de motivação. Os alunos trouxeram suas

dificuldades para estudar à noite e a permanência na escola. Trouxeram ainda, que a

professora do ano anterior, não a titular deste ano, costuma pedir muitos desenhos, sem uma

atividade diferenciada.

Diante de todas essas informações, conversei com eles sobre o nosso vínculo,

deixando claro que o hoje é que importa. Mesmo eles sabendo que sou uma estagiária,

lembrei que deveriam se sentir à vontade para conversarem, porém sem deixar de produzir.

Toquei num ponto muito sensível para o grupo, o fato de não conhecê-los suficientemente.

Porém, gostaria que tivessem abertura para discutirmos os conteúdos selecionados, e tudo o

que desejassem saber sobre a Arte. Também li um texto que seria lido após a

dinâmica/apresentação dos primeiros trabalhos, aqueles que fizeram com os seus nomes. Mas,

diante de algumas mudanças no cronograma só pude ler agora. Trata-se de um texto da autora

Marina Colasanti, “Eu sei, mas não devia”. O assunto é sobre a rotina de todos nós, o quanto

ela pode nos transformar em pessoas acostumadas com as agruras do mundo moderno, sem

reagirmos a ele. Percebi que os alunos no início não deram muita importância, mas na medida

em que avancei com o assunto, conseguiram se localizar dentro do texto. Conversei sobre as

dificuldades de cada um, referentes aos seus estudos, aos seus trabalhos, e em mantê-los,

persistindo no que acreditam. O texto veio a calhar justamente nesse momento de

sensibilidade para o grupo. Escolhi este texto com o propósito de tentar elevar a autoestima

Page 62: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

62

dos alunos. Propondo a eles um comprometimento ainda maior com as nossas aulas e com o

fato de estarem frequentando uma disciplina em que possam se perguntar sobre muitos

assuntos, além dos estéticos e artísticos. Mas, também nos aspectos políticos sociais de uma

época como o Pop e hoje através da Arte contemporânea. Senti nesse momento que o grupo

estava mais tranquilo de quando iniciou, podendo contar comigo. Vamos seguir trabalhando

os conteúdos, mas continuarei assumindo uma postura em que mostro qual é o papel do

professor de artes. Papel este que mostra e oferece suporte para o seu grupo de alunos. Da

mesma forma que concordo com Victor Lowenfeld e W.L. Brittain (1970, p. 320):

É importante o professor de arte estabelecer, rapidamente para si próprio, na sala deaula, um papel diferente do que é assumido, de modo geral, pelos professores dasoutras disciplinas. Se a atmosfera for tal que se tornarem possíveis a confiançamútua e o intercâmbio de idéias com os alunos, então o procedimento comum, nasaulas talvez não seja o mais adequado. Os jovens desta idade gostam e precisam deoportunidade para compartilhar e trocar idéias com alguns companheiros.

4.6.5 Aula 5 – 13/04

PLANEJADO

Objetivos: Reconhecer os princípios básicos que fundamentaram o movimento da

Pop Art (americana e brasileira), traçando um paralelo entre as duas vertentes da Pop Art, a

americana e a brasileira.

Analisar e traçar um paralelo entre a pintura contemporânea do artista plástico

Delson Uchôa com as obras da Pop Art e a utilização de variados materiais (semelhanças com

a Pop Art).

Desenvolver uma pintura.

Conteúdos: Trabalhos da Pop Art – americana/brasileira

Leitura de imagem

Metodologia: Expositiva dialogada, apreciação e leitura de imagens.

Aula prática, construindo uma pintura com colas numa base de papel e plástico.

Desenvolvimento das aulas: Os alunos farão a leitura de imagens, baseada nas

etapas propostas por Edmund Feldman.

Os alunos desenvolverão uma pintura destacando aspectos da Pop Art.

Page 63: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

63

Recursos: Notebook e reproduções de obras do período da Pop Art. Papel,

plástico, cola colorida. Imagens das obras de Delson Uchôa.

Uchôa, Delson. Sólido e Ar, 2006. Acrílico sobre lona, 225 x 260 cm.Fonte: http:/www.delsonuchoa.com.br.

Uchôa, Delson, Gambiarra Oricuri, 2006, acrílico sobre palha e lona, 210 x 305 cm.Fonte: http:/www.delsonuchoa.com.br.

REALIZADO

Nº alunos presentes: 17

Page 64: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

64

No dia de hoje propus a conclusão das camisetas para os alunos que precisavam

dar um acabamento para os seus trabalhos de decoupage. Porém, antes de todos se

envolverem com suas produções realizamos uma leitura de imagem de reproduções das obras

dos artistas Cláudio Tozzi, João Câmara Filho e Antonio Henrique Amaral. Qual a minha

surpresa, pois o grupo possui um belo repertório para conversar, no entanto quando solicitado

para falar o que percebem sobre as imagens, notei que falta para os alunos, justamente o

exercício da observação. Segui os passos segundo Edmundo Feldman para facilitar a leitura,

uma vez que acredito que estes passos sejam bastante esclarecedores para o professor que não

possui o hábito de fazer leituras de imagens. O primeiro estágio da leitura seria descrever e

realizar uma análise formal do que estavam vendo. Foi difícil, pois partiam logo para uma

interpretação ou julgamento. Cheguei a comentar com eles a importância de realizarmos isso

no dia a dia, pois assim, podemos perceber o que está ao nosso redor. E, quando se trata de

uma obra de arte, podemos iniciar falando daquilo que vemos, as cores, as linhas, as formas, o

fundo da figura, os destaques e outras características. Depois disso, passamos então a deduzir

o que o artista estava imaginando realizando interpretações das imagens detalhadamente.

Neste tempo em que realizávamos a leitura, alguns alunos conversavam muito, sendo

necessário retomar com eles a importância da sua participação. Hoje também recebi mais uma

aluna nova e um aluno já inscrito que só compareceu neste dia. Este, aliás, com fones de

ouvido e conversando muito. Nesta hora, pedi que retirasse os fones e prestasse atenção. Ele

não trouxe nenhum material e pensou que ficaria só observando. Contudo, costumo levar

materiais para todos. Ele chegou a brincar que este seria o seu primeiro trabalho no semestre.

Então, comecei a deduzir que em todas as aulas precisarei contar com situações inesperadas e

com pretensos alunos novos ou alunos que aparecem de vez em quando. Isso torna uma rotina

difícil para o professor, para ele manter um ritmo de trabalho e os alunos exigindo retomadas.

Alguns já sabendo que terão um único trabalho para recuperar as aulas. Nesta hora, vejo que o

sistema educacional poderia mudar em respeito aos alunos que frequentam as aulas com

responsabilidade e produzem, em detrimento daqueles que não levam a sério os seus estudos.

Percebi ainda que a leitura de imagem deva ser feita com reproduções adequadas

e com fidelidade das produções dos artistas, em benefício da própria leitura. Essa leitura deve

ser realizada rotineiramente, exercitando os alunos para um olhar mais atento diante das

produções artísticas. Além disso, só trará benefícios para o aluno através de sua percepção,

dos fatos e do que o rodeia. Comprovei isso, pois além de tratar das questões formais das

obras, entramos na história de vida do artista, o período que ele viveu para realizar

Page 65: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

65

determinada obra, as reações das pessoas diante dessas obras, e assim por diante. Assim,

concordo com as palavras de Luciana Borre Nunes (2010, p. 54):

A área das artes visuais carrega consigo o grande desafio da percepção sobre aexpressão do mundo no qual vivemos. Permite refletir sobre questões pessoais esociais e instigar novas maneiras de pensar e de agir. Mas como perceber tudo issose o nosso olhar não foi desenvolvido para tal? Como a produção de imagens emnosso cotidiano interfere na constituição de nossas subjetividades? Comoincorporarmos as imagens no nosso dia a dia?

Depois da leitura pedi que concluíssem as camisetas. Para minha frustração,

apenas duas alunas se sentiram envolvidas com os trabalhos. Conseguiram colocar suas

impressões e colorir dentro das imagens dos guardanapos na colagem em decoupage. Os

outros alunos pouco intervieram nas imagens, pois senti que faltaram muito, não estavam

sabendo o motivo e nem porque estavam fazendo esta produção. Pareceu-me que o Pop Art

era algo desconhecido para eles. E era. Além do mais, houve alunos que vieram e não

trouxeram nenhum material. Para quem já havia terminado, propus uma brincadeira com as

colas coloridas sobre o plástico. A referência foi o artista plástico Delson Uchôa.

Conversamos um pouco sobre o trabalho dele, pois já haviam visto as imagens das suas

produções. Ofereci uma base de papel forrada com filmes plásticos e colas coloridas. Sugeri

que experimentassem linhas e formas sem a figuração, conforme as imagens abaixo.

Trabalho de desenho com cola plástica sobre papel e filtro plástico.Fonte: Costa, 13/04/2010

Page 66: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

66

Trabalho de desenho com cola plástica sobre papel e filtro plástico.Fonte: Costa, 13/04/2010

Expliquei o que era uma imagem figurativa e outra não figurativa. Acredito que

fui coerente com as explicações, pois conseguiram entender e produzir. No início, algumas

alunas reclamaram que era muito fácil, mas no manejo e preensão das colas perceberam que

este trabalho era bem mais delicado. Cobrei da turma o capricho e o cuidado, sem a

costumeira pressa para finalizarem. Utilizei um critério que costumo mostrar e conversar com

as crianças da Educação Infantil, que é a paciência para realizarem suas produções. Muitos

acharam divertido trabalhar com as colas e o efeito que descobriram através do seu uso. Uma

das alunas chegou a falar: “a criatividade é infinita e ela pode fazer a gente voar”. É bom

escutar isso de um aluno, sentindo que a proposta além de bem aceita é viável para executar.

Espero que a próxima proposta seja bem aceita, pois será um desafio para esta turma.

Segundo Fernando Hernández (2000, p. 133):

Nas escolas, a arte, muitas vezes, é percebida e trabalhada de maneira poucoreflexiva, sem a consideração de aspectos do cotidiano dos estudantes. Na era dasimagens, há mais informações em nosso meio do que aquela que vemos. Talvez porisso, falar de cultura visual a essas alturas seja algo que, como acontece com outrostemas e problemas debatidos pelos saberes contemporâneos, esteja chegando muitotarde à escola.

Page 67: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

67

4.6.6 Aula 6 – 20/04

PLANEJADO

Objetivos: Explorar os princípios básicos que fundamentaram o movimento da

Pop Art (americana e brasileira), traçando um paralelo entre as duas vertentes da Pop Art, a

americana e a brasileira.

Desenvolver uma produção coletiva utilizando-se da colagem.

Conteúdos: Colagem

Metodologia: Expositiva dialogada e aula prática.

Desenvolvimento das aulas: Os alunos desenvolverão uma colagem em grupo

destacando aspectos da Pop Art.

Recursos: Papel, lápis, tesoura, canetas, tintas, painel de celulose, papéis

coloridos, tecidos, revistas e outros materiais variados para colagem.

REALIZADO

Nº alunos presentes: 18

Hoje estávamos reunidos bem cedo na sala de aula. Porém, foi um início mais

tumultuado, pois uma aluna perdeu o celular e gerou uma mobilização por parte de alguns

alunos para ajudá-la a encontrá-lo. Além disso, percebi que a televisão estava ligada, mas sem

o som. Pedi que a desligassem. Alguns alunos faltaram e outros mudaram de turma. Há alunos

que nunca apareceram e estou indo para o último encontro. Verifiquei que a frequência não é

uma preocupação do grupo, muito menos a pontualidade.

Novamente faltaram muitos alunos, no que eu havia previsto, pois é véspera de

feriado. Mesmo assim, aqueles que costumam participar das aulas estavam na sua maioria.

Creio que será assim até o final do meu estágio, do mesmo modo, que o ano todo acontecerá

essa oscilação na freqüência. A professora titular prevê esse movimento dos alunos.

Para hoje propus a conclusão da camiseta e alguns a trouxeram apenas para

colocar mais uma camada de termolina leitosa. Um aluno que não concluiu a sua camiseta

apenas passou esse produto. Resolvi retomar com o grupo a questão da recuperação dos

trabalhos uma vez que aqueles que faltam muito queriam saber como fariam essa recuperação.

Page 68: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

68

Do mesmo modo, há uma aluna que veio transferida de outra escola, a Taiane. Esta

certamente terá um olhar diferenciado, pois não se trata de faltas e sim de uma mudança de

escola. No entanto, quem faltou ou não trouxe os materiais solicitados certamente terá que

recuperar com a professora titular, pois não estarei mais com o grupo.

Para o grupo maior trouxe as folhas de celulose. Na verdade é um composto de

várias fibras de árvore, parecendo uma tela de pintura. Nesta base propus uma colagem

coletiva. No início percebi uma reação nada favorável por parte da turma. Porém, não voltei

atrás e fiquei firme nessa idéia. Fui pedindo que se dividissem em três grupos, ofereci

revistas, cola, tesoura, canetas, lápis de cor e colas coloridas, além de tecidos e papéis

diversos. Fui orientando o que cada grupo trabalhava. Lancei a proposta de que deveriam

revelar nessa tela um tema comum, procurando figuras, desenhando e escrevendo o que

desejavam expor para os outros grupos. Poderiam ser ideias referentes à preservação da

natureza, ecologia, biodiversidade, moda, comportamento ou mesmo deixar uma ideia para

debate, falando sobre os temas sociais, discriminação, inclusão, etc. Mais de uma vez

expliquei a proposta, pois algumas alunas tiveram dificuldade de realizar e resistência para

dar o início.

Na próxima semana farão uma apresentação do seu trabalho, defendendo as idéias

da sua produção coletiva. Logo que pedi agilidade na reunião dos grupos houve alunos que se

recusaram e se manifestaram contrariados com esse tipo de trabalho. Mas fui bem direta, disse

que este era um dos únicos trabalhos em grupo, realizado somente na escola e que todos

precisam ter uma experiência coletiva, independente de terem tido uma experiência negativa.

Percebi que aos poucos eles foram assimilando e quando viram que eu não voltaria atrás e que

dependeria uma nota, os grupos iniciaram lentamente as suas produções. Houve aluno que

dizia não entender a proposta, mas percebi que era para retardar o início do trabalho. Além do

mais, houve um aluno que se negou a trabalhar, mesmo com a minha intervenção. Disse não

concordar com as ideias do grupo, mas não o vi conversar sobre as suas opiniões e defende-

las. Fabiano é um aluno introspectivo, usa óculos de um grau elevado e pouco se relaciona

com os colegas. Ele se mantém periférico e acabou saindo da sala, mas primeiro parou de pé

por alguns minutos e quando dei por mim, havia saído sem pedir licença. Certamente, será

muito difícil sua inclusão no grupo no próximo encontro, uma vez que não ajudou seus

colegas a confeccionarem os detalhes. Alguns deles relataram que ele costuma fazer isso, mas

que não gostaram dele não fazer nada. Entretanto, não iriam delatar o colega. Avisei que não

se preocupassem, pois percebi a sua atitude diante do grupo.

Page 69: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

69

Senti que a turma iniciou de maneira receosa, mas depois foi se divertindo com as

propostas de criarem as figuras “esquisitas”. Retomei as propagandas e os temas da Pop Art, e

como eles poderiam utilizar a linguagem da colagem, da pintura e do desenho com os temas

atuais. Sugeri os temas ecológicos e sociais uma vez que não conseguiam chegar a um

denominador comum. Um dos grupos resolveu expressar suas opiniões sobre moda sem que

eu precisasse interferir ou sugerir algo. Apenas pedi que deixassem um espaço para a

moldura. As imagens dos trabalhos, logo abaixo, revelam que aos poucos os alunos foram se

sentindo motivados a colocar uma palavra ou imagem, colaborando com o grupo, se sentindo

parte dele.

Trabalho de colagem sobre lâmina de celulose.Fonte: Costa, 20/04/2010

Page 70: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

70

Trabalho de colagem sobre lâmina de celulose.Fonte: Costa, 20/04/2010

Trabalho de colagem sobre lâmina de celulose.Fonte: Costa, 20/04/2010

O acabamento talvez ficasse para depois. Notei que essa produção poderia ser

realizada em dois períodos, mas precisou de mais tempo até que se sentissem mais seguros.

Percebo que não é um hábito da turma realizar propostas muito diferenciadas nas aulas.

Aquilo que sai fora dos padrões do que acham ser as aulas de artes eles ficam curiosos, mas,

primeiramente ficam resistentes. Depois de experimentarem o novo e uma proposta bem

fundamentada eles ficam mais seguros e se permitem uma exploração maior. Noto que são

pessoas maduras, porém, para as propostas plásticas, se tornam pessoas que não gostam de se

expor, ou melhor, possuem dificuldades para entender as propostas e uma falta de vivência

Page 71: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

71

nessa área da educação, das Artes Visuais. E, com isso só venho a concordar com Luciana

Borre Nunes (2010, p. 46):

A Cultura Visual rompe com as barreiras de uma educação tradicional, pois propõesdiferentes olhares e interpretações sobre as mais diversificadas situações. Usa eproblematiza as temáticas e os objetos do cotidiano, porque acredita que os sentidosatribuídos a esses não são únicos e sim mutáveis. Torna-se um campo propício parao desenvolvimento de outros olhares e terreno fértil para que as intensas mudançassociais estejam presentes nas discussões e nas reflexões de educadores, educadoras eestudantes no âmbito escolar.

4.6.7 Aula 7 – 27/04

PLANEJADO

Objetivos: Explorar as linhas, formas e cores utilizadas nas obras da Pop Art,

assim como, os temas das obras.

Conteúdos: Pintura/colagem

Metodologia: Expositiva dialogada e apreciação de algumas imagens. Aula

prática.

Desenvolvimento das aulas: Os alunos farão uma pintura em grupo, formando

camadas e texturas, fazendo uma comparação com as formas e cores da Pop Art, bem como,

os assuntos/temas abordados nas obras. Encerramento do estágio com uma mensagem: O

Filtro Solar. Entregar texto sobre o tema da Pop Art.

Recursos: Tintas, papel A1, pincéis, potes e panos para limpeza.

REALIZADO

Nº alunos presentes: 20

Como de costume cheguei à Escola carregada de materiais. Porém hoje, sabia que

seria meu último encontro com esta turma. Eu estava motivada e, ao mesmo tempo, um pouco

emocionada com o término de mais uma etapa de minha vida acadêmica. Programei alguns

Page 72: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

72

momentos diferentes para a aula, especialmente porque reservei o final da aula para um

fechamento e confraternização junto com os alunos e a professora titular.

Propus aos alunos continuar com a colagem sobre a celulose e dar um acabamento

nos trabalhos de grupo, uma vez que estão acostumados a entregar suas produções sem

detalhar muito. Pedi que eles observassem aquilo que fizeram na aula anterior, depois

colocassem aquilo que desejassem para complementar. Do mesmo modo, sugeri que

retirassem aquilo que não haviam gostado, fazendo suas escolhas coerentes com o tema. Tive

que reorganizar os grupos, pois chegaram alunos novos que não haviam feito nenhum

trabalho comigo. Aliás, esse foi um dado importante no meu estágio, receber alunos novos a

cada encontro. Expliquei a proposta e pedi que ajudassem no detalhamento, bem como na

apresentação a seguir.

Percebi que os alunos estavam mais agitados e falantes. Sabiam que era a minha

despedida, mas que eu poderia voltar em outra ocasião. Combinei fazer uma aula de papel

maché para que produzam uma “arte utilitária”. Todos estavam entusiasmados com o fato de

expressarem suas opiniões à respeito dos trabalhos. Mesmo iniciando timidamente, notei que

as opiniões eram sinceras e baseadas naquilo que haviam trabalhado. Foram falando sobre

como chegaram a um acordo sobre o tema a ser desenvolvido e como combinaram as

colagens, desenhos e pinturas. O resultado ficou muito bom. As temáticas variaram entre

moda, preservação da natureza e o cotidiano da vida contemporânea. Como era de se esperar

alguns alunos falaram mais do que os outros componentes. Dois grupos se apresentaram com

seis integrantes cada um e outro grupo com oito alunos. Escolheram as palavras, pois

evitaram as gírias, mesmo assim, a apresentação fluiu tranquila e os grupos debateram o que

foi apresentado. Sugeri que estes painéis fossem expostos pelo corredor. A Escola não possui

uma preocupação de expor os trabalhos dos alunos. Isso talvez poderia ser aproveitado como

um foco motivador para que trabalhassem mais em grupos. Dessa forma, desencadeando

também mais motivação e assiduidade nos alunos. Acredito que os ambientes acolhedores

possam servir como lugar para se expressarem, dos desejos de um grupo à realizações

pessoais. Certamente não afastaria os alunos como vem acontecendo, mas, o acolhimento

seria um recurso para atraí-los para mais perto da escola, evitando tantas faltas e desistências

para concluírem o ano.

Constatei que seria interessante esta turma ser estimulada a se expressar

plasticamente, assim como, se expressar oralmente. Penso que há uma necessidade desses

alunos em realizar trabalhos que eles possam resgatar a sua autoestima, construindo os seus

valores. Por isso concordo com Ema Brandt, (2001, p. 36), quando ela escreve:

Page 73: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

73

Produzir a partir de linguagens artísticas implica oferecer aos alunos oportunidadesvariadas de ação e de expressão. Todo processo de produção permite que elesexperimentem, improvisem, expressem idéias, explorem, revisem e repitam,adaptando-se a diferentes situações e a novos desafios. O docente, em seu papel demediador, poderá trazer pontos de partidas sugestivos para desencadear asproduções dos alunos: procurará problematizar e informar alternativamente deacordo com a circunstância ou o momento de trabalho, ajudará a tornar observáveisas diferentes conquistas e a sua comunicação para o grupo para que seus alunosprogridam na construção de novos conhecimentos, de modo que a ação e reflexão secomplementem. Incentivar os alunos em suas buscas e na variedade de resoluções,valorizar as conquistas e propiciar o prazer por se expressar serão fundamentais paraconsolidar suas possibilidades criativas.

Mais tarde, avisei sobre os materiais que eu deixaria para a turma e do texto sobre

a Pop Art que deixei para realizar as cópias necessárias. Além disso, preparei a turma para

assistirem a mensagem, O Filtro Solar, que coloquei em DVD. Depois ofereci um lanchinho

especial como forma de carinho. Nem preciso dizer que adoraram!

Eu fiquei com a sensação do dever cumprido, mas algumas tarefas me pareceram

inacabadas, ou melhor, a sensação de que poderiam ser melhor explicadas e aproveitadas pelo

grupo. Senti que poderia ter feito mais, contudo sei que um distanciamento me fará bem.

Assim, saberei no que preciso mudar e transformar na minha prática.

Para finalizar gostaria de deixar registradas algumas palavras significativas de

Ema Brandt, (2001, p. 34):

A produção e a apreciação nas linguagens artísticas são momentos diferentes, quepossibilitam tanto uma contínua interação como os caminhos entre conhecimento esensibilização. Apreciar implica uma aproximação perceptiva e sensível com asproduções artísticas, caminho paralelo que traçamos quando começamos a construirconhecimentos sobre as diferentes linguagens que intervêm na elaboração de umaobra. Portanto, no caso do ensino da linguagem plástico-visual, a questão é ver algomais do que as sutilezas das combinações das cores e das formas, captar suasrelações de composição. É ter sensações diante de uma paisagem ou de uma obraque vão além daquelas que sentimos no dia-a-dia. Encontrar novos significados emtodos os meios e em todas as maneiras de expressão plástica. Encontrar nas imagensdiversos sentidos e novas ressonâncias. Ver e olhar com uma intenção leva aoaprofundamento da capacidade perceptiva. Essa capacidade possibilita desfrutar ecompreender diferentes aspectos dessa linguagem, conhecer de outras maneiras omundo que nos rodeia, abrir portas para imaginar outros mundos possíveis.

Page 74: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

74

CONCLUSÃO

A presente análise cuidadosa da minha prática de ensino indicou-me alguns rumos

a tomar daqui para frente, especialmente no que trata as minhas concepções sobre arte e o seu

ensino durante o período escolar, compreendidos desde a Educação Infantil ao Ensino Médio.

A situação em que se encontra o ensino de artes não está contribuindo muito para

que as crianças, adolescentes e adultos elaborem sua linguagem expressiva, aqui entendida

como uma forma de ler e representar suas relações com o mundo. Dessa forma é necessário

que nos cursos de formação de professores sejam repensadas as formas de ensinar arte, para

que os antigos modelos não sejam transpostos para as salas de aula nos dias de hoje.

Logicamente, não pretendo desprezar tudo o que já foi feito pelo ensino de arte. Graças aos

processos educativos anteriores, que hoje estamos oferecendo uma formação mais adequada

para os nossos alunos.

Creio que nem tudo está perdido, pois muita coisa está sendo feita, principalmente

nas Universidades. Tenho acompanhado muitos professores universitários, nos cursos de

formação de professores, e os vejo comprometidos com o processo de uma recuperação

expressiva dos seus alunos, facilitando essa mudança nas escolas de educação básica. Então,

acabam desencadeando uma transformação em seus alunos, no que diz respeito ao

pensamento conceitual, isto é, as formas de pensar a Arte e o seu ensino. Percebo que estão

mudando e possibilitando uma abertura para a compreensão de saberes mais amplos, seja no

campo pedagógico, cognitivo e sócio-afetivo.

Voltando a falar sobre as minhas concepções sobre arte, um ponto que considero

fundamental transformar é a idéia de que a Arte e seu ensino devem ser centrados apenas em

objetos e modalidades convencionais como, a pintura, desenho, recorte e colagem.

Não que eles não sejam importantes, mas, entender o ensino de arte como um

modo de interpretar a cultura visual também por meio das imagens do nosso cotidiano, como

as utilizadas nas propagandas das revistas, dos periódicos, dos painéis de rua, entre outros.

Talvez, seja interessante oferecer as imagens aos alunos para as apreciações de

um modo geral, pois elas ensinam a debater os modos de ser e de estar no mundo. De maneira

que podemos propor atividades que mostrem as intervenções em imagens encontradas

prontas. Outra forma produtiva seria pedir para os alunos apresentarem as suas criações de

acordo com suas opiniões e ideias. Mostrando-os sem inibições, ampliando a sua confiança

através dos seus próprios meios de expressão.

Page 75: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

75

Na minha experiência de estágio na escola noturna, do Ensino Médio, pude

verificar alguns aspectos significativos para refletir sobre o trabalho com imagens. Escolhido

o Projeto, ponderei sobre os processos de criação dos alunos, na oportunidade de desencadear

maior motivação na turma e nas possibilidades de aprendizagem de cada um através dos

estudos com imagens. Estabeleci que o Projeto, “Trampo, Arte e outros Babados – A Pop

Art” seria atraente e convincente para abrir diferentes possibilidades de discussões com os

alunos do 2º ano, bem como, uma fonte de inspirações para as suas produções. Mas, percebo

hoje que cometi alguns enganos. Gostaria de discorrer em seguida sobre eles.

Pude comprovar que sempre ao solicitar dos alunos aquilo que desejo, devo ser

clara e objetiva. Sem fazer muitos rodeios, explicar o passo a passo da prática, mostrando o

que pretendo durante a execução das tarefas, e pedindo para eles significarem as suas

produções. A importância de colocarem a sua marca nessas produções de imagens.

As aulas que foram planejadas nem sempre tinham como objetivo o que foi

alcançado pelos alunos, simplesmente pelo fato de que as manifestações dos alunos com

relação às atividades, às vezes, tomavam outro rumo. Isto é, a atividade se estendia por mais

de um período de aula, além do horário que inicialmente havia sido proposto. Contudo, o

resultado das produções não era menos producente ou interessante. Eles próprios se

posicionavam diante das suas produções enquanto faziam as apreciações e apresentavam seus

trabalhos para a turma. Como foi na sexta aula quando propus ao grupo fazer um trabalho

coletivo intervindo nas figuras, fazendo desenhos ou deixando mensagens escritas sobre

aquilo que desejavam expor. Poderiam realizar os trabalhos contendo ideias referentes à

preservação da natureza, ecologia, biodiversidade, moda, comportamento ou mesmo uma

mensagem para debate falando sobre os temas sociais, como discriminação e inclusão.

Precisei retomar esses temas, pois não chegavam a um acordo. Mais tarde, ao entrarem num

consenso, conseguiram selecionar as imagens e chegaram até a montagem dos seus quadros.

No cotidiano de sala de aula, inserindo as imagens senti que apresentei a parte

histórica do movimento artístico com um bom andamento cronológico, mostrando os fatos

significativos. Proporcionei um espaço para a observação e leitura das imagens artísticas, sem

problemas. No entanto, devo confessar que foi difícil fazer os alunos compreenderem a

importância das ligações do que estudaram com o que deveriam produzir. Talvez pela minha

própria dificuldade de sintetizar as idéias e pedir a eles para darem um sentido para aquilo que

estavam construindo.

Para exemplificar o que acabei de citar, a partir da terceira aula foram

confeccionadas sacolas e camisetas, e anteriormente expliquei as características da Pop Art e

Page 76: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

76

os seus acontecimentos mais importantes. Os alunos utilizaram imagens prontas, com o

propósito da intervenção. Mas, depois entendi que eu poderia ter explorado mais, e deixado

eles próprios construírem as suas imagens, tornado as produções muito mais expressivas.

Percebi que a atividade em si ajudou-os a desenvolver uma técnica, mas pouco representou o

que estavam pensando. Mesmo assim, os assuntos que surgiram através das imagens que os

alunos escolheram, motivou-os a se exporem, mesmo os alunos que pouco frequentavam as

aulas. Entendi que nem tudo tinha se perdido.

Houve um saldo positivo, ainda que as imagens dos trabalhos em geral pudessem

ser melhores exploradas e trabalhadas. Verifiquei que os alunos ficaram deslumbrados com o

material e não se organizaram como previsto, precisando de ajuda para focarem a atenção.

Depois do meu auxílio, conseguiram focalizar o trabalho. Para os alunos que eram tidos pela

escola como uma turma de fracassados, por serem repetentes, valeu o envolvimento com a

atividade. Mostraram-se empenhados, havendo sentido ao manusearem objetos diferentes.

Eles sentiram naquele momento uma oportunidade de pensarem em algumas coisas próximas

das suas experiências pessoais. Nessa hora, notei que haviam compreendido também a

importância do movimento artístico, da Pop Art. Alguns alunos expuseram que haviam

entendido como a época dos anos 60/70 foram “loucas”, e, ao mesmo tempo, capazes de fazer

o homem pensar e ser criativo. Igualmente, compararam os acontecimentos da época da Pop

com alguns momentos atuais, principalmente as semelhanças com as questões sociais e

políticas da atualidade. Além disso, se deram conta de que a quantidade de materiais plásticos

favorecia as produções, e como o processo artístico poderia fazer uma pessoa refletir e

discutir assuntos variados sobre meio ambiente, moda, economia e vida em sociedade. Tudo

isso bem explicado através da fala de uma das alunas que disse: “a criatividade é infinita e ela

pode fazer a gente voar”.

Um detalhe também importante para ser registrado é o fato de perceber que

poderia ter explorado mais os conteúdos das linhas, cores e formas, que cito no meu Projeto.

Nesse sentido, teria feito outras atividades relacionadas com esses conteúdos. Como na

primeira aula, em que exploraria melhor esses aspectos, pois utilizei as imagens do artista

Jean Michel Basquiat. As reproduções das obras desse artista ajudariam os alunos a estudar

melhor os conteúdos em questão, já que se trata de imagens fortes, significantes para o

movimento artístico que utilizava variadas formas, traços e coloridos.

Outro ponto observado é que anteriormente à minha chegada as propostas de

atividades ou a realização de produções que os faziam discutirem e exporem as suas ideias

eram pouco realizadas. Contudo, ao experimentarem diferentes propostas, primeiramente

Page 77: Trampo, arte e outros babados: a Pop Art e o ensino da arte

77

resistiam, mas depois se permitiam um envolvimento maior, se sentindo mais seguros. Isso

confirma que o grupo necessitava de estímulos para se expressar plasticamente, resgatando

com isso sua autoestima, construindo seus valores.

Quando falo na construção, ou mesmo, na manutenção de valores dos alunos,

compreendo que durante os encontros conseguia motivá-los a discutir sobre isso,

incentivando-os a falarem para o grande grupo, especialmente com os alunos mais assíduos.

Falavam sobre as questões sociais em que viviam na atualidade, como as dificuldades para se

manterem empregados ou mesmo estudando. Na força de vontade que deveriam ter para

continuar os seus estudos, mesmo estando cansados depois de uma rotina árdua de trabalho.

Outra questão era a dificuldade da frequência de alguns alunos. Assim,

comprometendo a continuidade dos conteúdos que era interrompido ou constantemente

revisado, sem falar nas atividades práticas quando esses alunos não levavam o material

solicitado. E isso, era um fato que sem dúvida ajudou-me no pouco investimento da nossa

relação, professor-aluno. Sabedora que tínhamos um tempo limitado, sendo apenas uma

passagem minha pela turma. Confirmei também que a Escola recebia alunos novos a todo

instante. Isso não ajudou os alunos a se fortalecerem para os estudos, dificultando até a

descoberta de uma identidade para o grupo. Normalmente, aqueles alunos que estavam

sempre presentes e eram comprometidos não se sentiam valorizados, uma vez que havia

novos alunos entrando em sala sem o mesmo envolvimento. Ao mesmo tempo, descobri que

não havia uma cobrança significativa da direção com a assiduidade, nem com a participação

efetiva dos alunos em sala de aula, dificultando a própria motivação do professor e a sua

maneira de atuação. Desse modo, não me sentia confortável em tomar atitudes mais firmes

quanto à disciplina, ou mesmo, com o fato de alguns alunos não se prontificarem em trazer o

material solicitado para o dia de aula. Quando, nessa hora, a própria coordenação poderia nos

ter amparado e dado um suporte.

A professora titular nesses momentos foi de vital importância, me dando apoio e

revelando-se parceira para discutirmos algumas práticas e necessidades do grupo.

Na quarta aula, essas limitações também me impediram de administrar melhor

outra situação, quando um aluno não quis participar do trabalho coletivo. De certa forma,

pensei em não expor o aluno e poupá-lo, uma vez que senti que realmente havia um

comprometimento maior dele com essa questão. Vejo que esta é uma das dificuldades do

estagiário. Não ter conhecimento total dos alunos que frequentam a escola. Muitas vezes,

ficamos sem saber a sua história, impedindo de auxiliarmos mais a todos. Depois, notei que

poderia ter investido nas contra propostas ou em projetos mais individualizados, privilegiando

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esses alunos com dificuldade para se exporem. Toda a turma lucraria com os projetos

diferenciados.

Nas Artes Visuais o processo criador, o pensamento, os sentimentos, as

percepções, deverão sempre ser levadas em conta, sem deixar de haver o encantamento com o

produto, afinal ele faz parte disso tudo. A ligação entre o sentimento e o que é sentido pelo

aluno, que está em um processo de criação, será mais importante. Cabe ao professor uma

orientação consciente que faça o aluno entender e dar um significado para aquilo que está

sendo produzido.

Então, reforço a importância do professor guiar o aluno para uma reflexão do seu

processo artístico, dando sentido para as produções, associando-as aos conteúdos estudados.

Assim, a leitura de imagem fará parte do modo de interpretar a nossa cultura visual, sendo

vital que os alunos a realizem cotidianamente nas escolas.

A minha trajetória nos últimos anos acadêmicos mostrou-me que muito aprendi,

mas, ainda tenho bastante a aprender. É certo que após os estágios ainda terei o que refletir,

justamente sobre a minha prática. Desde o Estágio I venho revisitando o que registrei nas

observações, nos questionários, nos textos, e tudo o mais que serviu de referência para

transformar e renovar a minha prática no dia a dia. O importante é buscar aulas bem

planejadas, dinâmicas e acertadas. Digo que revisitar o que já fiz nem sempre é fácil, pois,

além dos aspectos positivos me dou conta também de que cometi enganos. Embora, sejam

detalhes de uma pessoa em formação, são informações preciosas para me capacitar cada vez

mais.

Acredito que é uma sensação natural de que através das reflexões muitos detalhes

da minha atuação passaram despercebidos, e que agora consigo visualizá-los. Aquilo que

poderia ter feito de maneira diferente. Como, por exemplo, ter solicitado aos alunos a criação

de desenhos e estampas próprias para as suas camisetas e sacolas, deixando-as mais

personalizadas ainda. Além disso, poderia ter explorado a fotografia, solicitando intervenções

em fotos dos rostos de cada aluno, numa espécie de foto shop artístico, quando estudei Andy

Warhol. Portanto, são atividades que talvez os ajudasse a compor projetos mais

individualizados. Mas, afinal de contas, o estágio nos coloca, enquanto alunos um pouco

nervosos, e esse sentimento acaba por dificultar um olhar e atitudes mais objetivos da nossa

parte. Da escolha dos materiais às atividades executadas. Mais tarde, durante o andamento do

estágio, algumas situações ainda me provocaram incertezas. Atualmente, dou mais valor para

essa experiência de aprendizagem que passamos juntos, transformando a minha percepção e o

modo como atuarei no futuro. Portanto, sinto que jamais serei a mesma pessoa de quando

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iniciei este curso. De tal modo que fico com a sensação do dever cumprido, e de uma

experiência profissional significativa.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO COM A DIREÇÃO

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO COM A COORDENAÇÃO

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APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO COM A PROFESSORA

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APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO COM OS ALUNOS

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ANEXOS

UM CD CONTENDO: 1 – APRESENTAÇÃO EM PPT FEITA PARA A BANCA

2 – TCC EM VERSÃO PDF

3 – MATERIAIS RELATIVOS À PRÁTICA DE ENSINO

NÃO CONTEMPLADA NO TCC