trabalho geológico
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Trabalho geológico do município de Nova Redenção - BATRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVILDISCIPLINA: GEOLOGIA APLICADA A SOLOS
DOCENTE: CARMEM SUEZA MIRANDA
CAROLINA BRITO DE ALMEIDA
TRABALHO GEOLÓGICO DE NOVA REDENÇÃO- BA
Juazeiro - BA2014
1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO
O município de Nova Redenção está localizado na região centro-leste do
estado da Bahia. Situado na região fisiográfica da Chapada Diamantina, no
domínio da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu. Está incluso no conhecido
Polígono das Secas, logo, possui clima seco a subúmido, úmido a subúmido,
podendo sofrer grandes períodos de estiagem, apresentando duas estações
bem definidas, uma seca de maio a outubro e a outra chuvosa de novembro a
abril. Seu índicie médio anual pluviométrico varia em torno de 500mm, o que
influencia muito em suas características.
Como possui uma grande escassez de chuva na maior parte do ano, o Rio
Paraguaçu (único perene na região), propicia uma grande disponibilidade de
água.
Possui área de 510km², tendo 8.636 habitantes, sendo 4.492 residentes na
zona urbana e 4.144 na zona rural.
Figura 1: Mapa de localização
2. GEOLOGIA
Os litotipos presentes em Nova Redenção são resultados da Era
Proterozóica (formação Bebedouro, Salitre, Morro do Chapéu e corpos
máficos-ultramáficos indiferenciados, sendo esse último uma porção bem
pequena), e da Era Cenozóica (formações superficiais, depósitos aluvionares
recentes: areia com intercalações de argila e cascalho e restos de matéria
orgânica). Observe a figura 2.
Figura 2: Esboço Geológico
Observando o mapa de geodiversidade da Bahia podemos perceber uma
falha que atravessa o município de norte a sul, mas essa falha não é
perceptível no terreno da cidade.
As coberturas sedimentares do Craton de São Francisco são divididas em
dois grupos, o Grupo Bambuí e Grupo Una, esse ultimo é subdivido em dois
grupos também, sendo eles a formação Salitre e a Bebedouro.
As formações Salitre e Bebedouro que são presentes no município estudado
nesse trabalho são advindas de sedimentações carbonáticas, logo, são rochas
sedimentares.
2.1 Formação Bebedouro
Durante o período de deglaciação, fragmentos de rochas sofreram
carreamento e foram depositados na região do Craton de São Francisco, sendo
contidos na matriz fina da formação Bebedouro. Esses fragmentos possuem
uma granulometria muito variada. Se essas rochas foram formadas por
fragmentos de outras rochas, isso significa que elas são sedimentares clásticas
ou detríticas.
É caracterizada pela presença das rochas diamictito, pelito e arenito. A
rocha diamictito possui textura grossa, planos de fraturas horizontalizados e de
estruturas de slump, ou seja, os materiais são fracamente consolidados, a
pelito é argilosa e siltosa, possuindo resistência mecânica e durabilidade
baixas, e a arenito pode ter litofácies alternadas de diamictito e pelito. A matriz
normalmente é composta pelos minerais clorita, sericita, quartzo e calcita e os
fragmentos normalmente são de rochas como gnaisses, granitos, pegmatitos e
rochas básicas. O quartzo é um mineral muito resistente ao intemperismo,
diferente da calcita. Analisando esses dados podemos perceber que essa
formação é antiga e não é apropriada para servir de alicerce para uma
construção civil de grande magnitude, porém, pode servir para a construção de
estradas, havendo a necessidade de aterramento, pois a formação não é muito
espessa e há a presença de argilas expansivas. Nessa região pode se
construir obras que não precisam de grandes fundações, como casas
residenciais.
Figura 3: Descrição e interpretação das litofácies da Formação Bebedouro. Modificado de Guimarães & Pedreira (1990) e adaptado de Sampaio (1994).
2.2 Formação Salitre
Segundo Domingues (1993), após a formação Bebedouro, que foi no
período de deglaciação, o nível do mar aumentou e o Cráton sofreu um
desnível para baixo (subsidência), possibilitando assim a deposição de uma
grande plataforma carbonática. Essa plataforma é denominada de Formação
Salitre.
Por ser extensa e possuir uma sequência de calcários bem estratificados
com texturas diferentes, podendo ser de finas a grossas, Misi (1979) propôs
uma divisão de níveis.
Figura 4: Sequência estratigráfica com os ciclos deposicionais, Fonte: Misi & Silva (1996).
Como indicado na imagem, no nível A1 há mais presença de calcário
escuro, rico em matéria orgânica, calcarenito oolítico, oncolítico e
estratificações cruzadas. No nível A há mais a presença de margas e pelitos.
Ambas são rochas siliciclásticas, as margas possuindo mineralogia com
diversidade e os pelitos possuindo textura granular.
No nível B1 há mais a presença de dolomitos silicosos e intraclásticos. No
nível B há calcário dolomítico laminado e camadas argilosas.
Por fim o nível C, onde há dolomito argiloso e vermelho.
Rochas calcárias são sedimentares do tipo química.
Essa formação caracterizada pela presença de rochas cabonáticas possui
características muito decisivas em seu uso pelo homem, possuem em geral,
grande porosidade e permeabilidade, possibilitando a passagem de água e
acumulação da mesma formando um aquífero. São rochas muito frágeis que
em contato com a água se dissolvem.
Essa formação é profunda, sendo um dos motivos para ser o local de
escolha para a construção do cemitério do município. Para essa obra houve o
estudo das características dessa formação, para essa construção ter uma
distância segura de um lençol freático e não haver contaminação do mesmo.
As análises em relação a essas características aliadas à resistência em
relação à construção civil serão abordadas mais à frente.
2.3 Subunidade de Lapão
A subunidade de Lapão que tem esse nome por causa da cidade de Lapão,
onde é encontrada essa formação em predominância, é caracterizada pela
presença de silexito e dolomito. Ambas rochas sedimentares.
O silexito é uma rocha sedimentar silicosa com grãos muito pequenos que
podem ser até afaníticos, possui fratura conchoidal, desse modo podemos
dizer que sua porosidade não é tão grande quanto outras rochas sedimentares,
pois os grãos são tão pequenos que diminuem os espaços vazios. Possui um
grande teor de quartzo como mineral. Analisando essas características
podemos perceber que essa rocha possui uma boa resistência mecânica, uma
importante característica para a construção civil.
O dolomito é uma rocha sedimentar carbonática, formada pelo processo de
dolomitização, onde a calcita da rocha é substituída pela dolomita (carbonato
de cálcio e magnésio), esse processo acontece com a percolação das águas,
logo, a rocha que vai sofrer esse processo normalmente possui grande
porosidade, assim, o dolomito é uma rocha com grande porosidade. A
porosidade está intimamente ligada à durabilidade, quanto mais porosa a rocha
menor a sua durabilidade, pois haverá mais espaços vazios para a percolação
de água, um fator muito incisivo nessa característica. A porosidade também
está relacionada à resistência à compressão da rocha, quanto mais porosa
menor será essa resistência.
Nessa subunidade a percolação da água é um fator muito presente gerando
lençóis freáticos na região, essa água retida que forma os lençóis freáticos
pode penetrar nas rochas abaixo desses lençois, que possuem porosidades
variadas, deixando espaços vazios, esses espaços vazios diminuem
drasticamente a resistência mecânica da região, impossibilitando a construção
de estruturas de grande magnitude que necessitam de grandes fundações.
Teoricamente não se deve construir nenhuma obra nessa região, diferente da
teoria, há várias construções civis como casas residenciais, casas comerciais,
e estradas. Para as construções das casas não se fez uma análise muito
aprofundada dessa formação, mas para as estradas sim, pois se um lençol
freático estiver muito próximo da superfície há a necessidade de um
aterramento para tal construção.
Essa formação é tão frágil e susceptível a gerar movimentações da terra
que, em um local houve uma grande abertura natural do solo, formando o que
conhecemos como sumidouro, essa é uma demonstração do quão perigoso é
construir em regiões com essa formação geológica.
2.4 Formação Morro do Chapéu
A formação Morro do Chapéu que também tem esse nome por causa da
cidade Morro do Chapéu, é caracterizada pela presença de arenito fino a
médio, em parte feldspático.
O arenito é uma rocha sedimentar clástica porosa que possui textura friável
e consistente. Possui predominância de quartzo como mineral, e como já dito
acima, há também presença de feldspato como mineral. Possui uma fraca
resistência à compressão, principalmente por possuir textura friável e o
feldspato a diminui mais ainda. Por ser porosa é um excelente depósito de
água subterrânea. Dessa maneira, não é também uma região muito indicada
para construção civil. Não é recomendada a construção de nenhuma obra que
necessite de grandes fundações, apenas construções de pequena magnitude
como casas residenciais e comerciais.
2.5 Corpos Máfico-ultramáficos indiferenciados
Como o título desse tópico já diz, esses corpos são indiferenciados nessa
região, logo não podemos fazer um estudo mais aprofundado sobre esse dado
geológico, podemos apenas dizer aqui que corpos máficos são corpos ricos em
mineral ferromagnesiano, de cor escura, constituinte de rochas ígneas, logo,
ultramáficos possuem um teor maior ainda desse mineral.
2.6 Depósitos aluvionares recentes: areia com intercalações de argila e
cascalho e restos de matéria orgânica
É uma formação superficial, que como são depósitos aluvionares, podem ter
várias granulometrias e formatos, dependendo de em qual trecho do rio os
grãos vão ser encontrados e da velocidade em que são transportados, se eles
estiverem no alto curso do rio, eles não sofreram grande seleção, podendo ser
encontrados vários grãos de vários tipos diferentes juntos, já se eles estiverem
no médio ou baixo curso do rio, tendem a terem granulometria mais parecidas
e formatos mais arredondados, sendo assim mais selecionados.
3. Análise das rochas em relação à construção civil
Quando vamos analisar rochas sedimentares os aspectos que são mais
importantes para a pedogênese são: porosidade, permeabilidade e
mineralogia.
Durante o tópico de geologia desse trabalho, enquanto as formações
rochosas eram abordadas, houve também a citação da mineralogia primária
presente. Essas três características juntas determinam a resistência da rocha
ao intemperismo e à atuação do homem.
Nesse trabalho o objetivo é analisar quais tipos de construção civil podem
ser feitas no município de Nova Redenção-BA.
O município é marcado pela presença de rochas calcárias, o que é muito
ruim para a construção, porém de significativa importância para a construção
do material para a construção civil. Ela é dita ruim para a construção porque é
altamente susceptível ao intemperismo, pois seu mineral é de baixa resistência.
Ao entrar em contato com a água se dissolve, formando grandes vazios, e por
ser porosa e permeável, permite a passagem das águas podendo formar um
aquífero. Isso é totalmente ruim para a construção pois o terreno fica instável.
Ao visitar o município de Lapão (responsável pelo nome da subunidade de
Lapão), que é o exemplo de um terreno que está muito instável devido à
presença dessas rochas, percebi que as construções são feitas sem levar em
conta as características do terreno, a cidade foi toda feita dessa maneira, assim
como muitas outras com tais características.
Teoricamente, em regiões como a de Nova Redenção, a de Lapão e outras
parecidas não se deveriam realizar construções civis, não são áreas indicadas
para essa utilização, mas isso não é o que acontece, e não há tratamento para
esses problemas, já se houve a tentativa da injeção de uma pasta de cimento
nos vazios, mas não foi obtido muito sucesso. O que se pode fazer depois da
realização da construção e o terreno ficar instável é a monitorização, para se
for ocorrer algum episódio como o surgimento de mais vazios, ou de saída da
água desses vazios, que pode gerar movimentação da terra, mostrando a
instabilidade, a população do município ser avisada com antecedência para
poder sair da região.
A formação Morro do Chapéu possui muito arenito feldspático, que é uma
rocha com baixa resistência também, essa rocha é muito presente em todo o
nordeste.
As rochas sedimentares são de suma importância para a engenharia civil de
outro modo, na criação do material, como na indústria de cimento, de plásticos,
de tintas, de vidros, de cerâmica, metalúrgica, e são muito usadas como rochas
ornamentais e decorativas (ex: dolomito, mármore, calcário, etc).
Com todo esse estudo podemos perceber o quão é importante esse tipo de
estudo para a construção civil. Um engenheiro civil precisa dar a devida
importância para todas as áreas que influenciam no sucesso do seu trabalho.
4. REFERÊNCIAS
BRASIL, COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS (CPRM).
Projeto cadastro de fonte de abastecimento por agua subterrânea,
publicado em outubro de 2005.
CARVALHO, L.C. Caracterização mineralógica/química da mineralização
supergênica do deposito de Pb-Zn (Ag), alvo morro do chumbo, Nova
Redenção-BA. 2013. Dissertação (Monografia) – Universidade Federal da
Bahia, 2013.
COUTINHO, M.B. Mapeamento geológico multiespectral da bacia
carbonática de Una-utinga -BA das mineralizações de Pb associadas.
2010. Dissertação (Monografia) Universidade Federal da Bahia, 2010.
FILHO, O.M. Chumbo de Nova Redenção estado da Bahia. 2001.
Superintendência Regional de Salvador, 2001.