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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E 2016 DE UMA EMPRESA DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL EM UMA COMUNIDADE DE PESCADORES NO MUNICÍPIO DE MAGÉ/RJ NA PERSPECTIVA DOS STAKEHOLDERES Dissertação apresentada ao Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de pesquisa: Responsabilidade social e sustentabilidade. Orientador: Prof. Fernando Oliveira de Araujo, Dr.Eng. Niterói 2016

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE

MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO

THIAGO DA SILVA FERREIRA

IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E

2016 DE UMA EMPRESA DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL EM

UMA COMUNIDADE DE PESCADORES NO MUNICÍPIO DE MAGÉ/RJ NA

PERSPECTIVA DOS STAKEHOLDERES

Dissertação apresentada ao Mestrado em

Sistemas de Gestão da Universidade Federal

Fluminense como requisito parcial para

obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de

Gestão. Área de Concentração: Organizações e

Estratégia. Linha de pesquisa:

Responsabilidade social e sustentabilidade.

Orientador:

Prof. Fernando Oliveira de Araujo, Dr.Eng.

Niterói

2016

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Ficha Catalográfica

F 383 Ferreira, Thiago da Silva.

Impactos de projetos de engenharia realizados entre 2007 e 2016 de

uma empresa do setor de petróleo e gás natural em uma comunidade de

pescadores no município de Magé/RJ na perspectiva dos stakeholderes /

Thiago da Silva Ferreira. – 2016.

102 f. : il color.

Orientador: Fernando Oliveira de Araújo.

Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) – Universidade

Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2016.

Bibliografia: f. 85-92.

1. Responsabilidade social. 2. Gestão de stakeholder. 3. Justiça social.

4. Justiça ambiental. I. Título.

CDD 658.408

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço minha família, esposa Karina e filhos Vitor Hugo e

Pedro, pela paciência, e carinho de sempre. Não poderia deixar de faltar ainda a lembrança

dos amigos Carlos Torres, pelas sugestões, contatos e inclusive participação na banca da

defesa como parecerista, e Bárbara e Israel, pelas valiosas contribuições.

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“Magé tem 46 linhas de dutos, mas não possui esgoto encanado”

- Alexandre Anderson, presidente da Associação Homens do Mar

da Baía de Guanabara (AHOMAR) em palestra

ocorrida em março de 2016.

“Sobre indenizações a pescadores, a EMPRESA XXXX não questiona a reparação aos

mesmos, mas reforça que a quantidade de pescadores à época do vazamento era 3.339,

de acordo com o IBAMA (órgão oficial responsável pelo cadastramento destes

profissionais à época do acidente), e que o período indenizatório deve ser de 32 dias

(período de suspensão da pesca na Baía da Guanabara). A ação da Federação dos

Pescadores do Rio de Janeiro (FEPERJ) reivindica pagamento para 20.517 pescadores,

incluindo os cadastrados na FEPERJ após a ocorrência do vazamento”

- Declaração da empresa estudada constante em seu press-relase, em 2010.

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RESUMO

O presente estudo tem o objetivo de analisar os impactos da implementação por uma

empresa de petróleo e gás natural dos empreendimentos GNL (gás natural liquefeito) e

GLP (gás liquefeito de petróleo) aos pescadores artesanais de Magé, Estado do Rio de

Janeiro no período de 2007 a 2016. Em termos metodológicos, a pesquisa se apoiou na

revisão sistemática da literatura adotada tanto para oferecer o devido embasamento

teórico sobre licença social para operar e justiça ambiental, quanto para apoiar a

construção de instrumentos de coleta de dados aplicados junto a distintos stakeholders.

Dentre os resultados destacaram-se: a necessidade de um maior esforço por um diálogo

para além dos requisitos legais para licenciamento dos empreendimentos, assim como a

busca por uma maior contribuição da academia e poder público na comunicação e

esclarecimentos sobre os riscos e impactos locais do empreendimento, e suas respectivas

oportunidades, quando existem.

Palavras-chave: Justiça ambiental. Licença social para operar. Pescadores artesanais.

Gerenciamento de stakeholders em projetos de investimento. Indústria de petróleo.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the impacts of the implementation from LNG projects

(liquefied natural gas) and LPG (liquefied petroleum gas) by an oil company and natural

gas to the fisherfolk of Magé, State of Rio de Janeiro in the period 2007-2016. In terms

of methodology, the research relied on the systematic review of the literature to both

provide theoretical basis of social license to operate and environmental justice, and to

support the construction of data collection instruments applied along the different

stakeholders. The results highlighted the need for a greater effort for dialog beyond the

legal requirements for the licensing of enterprises, as well as the search for a greater

contribution of academia and public power in communication on the local risks and

impacts, as their opportunities, when it exists.

Keywords: Environmental justice. Social license to operate. Artesanal fisherfolk.

Stakeholder management in investment projects. Oil industry.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01– Estrutura metodológica de pesquisa.......................................................................... 21

Figura 02 – Estruturação da pesquisa em periódicos .................................................................. 23

Figura 03 – Resumo das Pesquisas nas bases SciELO, Scopus e ISI Web of Science ............... 28

Figura 04– Distribuição de artigos do núcleo de partida por ano de publicação......................... 31

Figura 05 - Pirâmide da LSO ...................................................................................................... 39

Figura 06 - Mecanismos pelos quais protesto social, e sua influência nos tomadores de decisão

..................................................................................................................................................... 40

Figura 07 - Construção de capital social, para obter um maior nível de licença social .............. 43

Figura 08 - Efeitos primários, secundários e terciários no desenvolvimento de comunidades

locais ........................................................................................................................................... 45

Figura 09 - Desenvolvimento de uma análise ............................................................................. 59

Figura 10 – Situação da pesca em Magé-RJ e região .................................................................. 66

Figura 11 – Perfil dos pescadores entrevistados: faixas etárias .................................................. 67

Figura 12 – Perfil dos pescadores entrevistados: escolaridade ................................................... 67

Figura 13 – Perfil dos pescadores entrevistados: tempo de pesca ............................................... 68

Figura 14 – Perfil dos funcionários da empresa entrevistados: faixa etária ................................ 71

Figura 15 – Perfil dos funcionários da empresa entrevistados: escolaridade .............................. 71

Figura 16 – Perfil dos representantes do setor público entrevistados: faixa etária...................... 74

Figura 17 – Perfil dos representantes do setor público entrevistados: escolaridade ................... 74

Figura 18 – Perfil dos representantes da Academia e Sociedade Civil: faixa etária ................... 75

Figura 19– Perfil dos representantes da Academia e Sociedade Civil: escolaridade .................. 76

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Palavras-chave pesquisadas e artigos encontrados................................................... 24

Tabela 02 – Distribuição de registros de artigos por autores na base SciELO ............................ 25

Tabela 03 – Distribuição de registros de artigos por autores na base ISI Web of Science ......... 26

Tabela 04– Identificação dos periódicos, número de artigos e o critério Qualis para compor o

“núcleo de partida” da pesquisa. ................................................................................................. 30

Tabela 05 – Levantamento da cronologia e ciclo da produção no “núcleo de partida” .............. 31

Tabela 06– Quantidade de referências por tipo de fonte ............................................................. 32

Tabela 07– Número de referências por ano de publicação ......................................................... 33

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Artigos selecionados para o núcleo de partida ....................................................... 29

Quadro 02 – Metas possíveis da LSO ......................................................................................... 42

Quadro 03 – Fatores em destaque no conceito de licença social para operar (LSO) .................. 51

Quadro 04 – Mapa de entrevistas ................................................................................................ 55

Quadro 05 – Fundamentação das questões propostas (questionário) .......................................... 57

Quadro 06 – Mapa de entrevistas previsto x realizado ............................................................... 64

Quadro 07– Análise comparativa das respostas dos quatro públicos entrevistados .................... 77

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ACP – Ação Civil Pública.

AHOMAR – Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara.

COMPERJ –Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro

DHESCA – Plataforma de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Ambientais

EJOLT - Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade.

INCID –Indicadores da Cidadania.

FAPP-BG –Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias

da Baía de Guanabara.

FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional.

FIOCRUZ – Fundação Instituto Oswaldo Cruz.

FPIC – Free, Prior and Informed Consent.

GNL – Gás Natural Liquefeito.

GLP – Gás Liquefeito de Petróleo.

LSO – Licença Social para Operar.

MOVA –Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos.

MPF – Ministério Público Federal.

OFFSHORE – exploração de petróleo e gás em alto mar.

ONU – Organização das Nações Unidas.

PIB – Produto Interno Bruto.

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

PPGSD – Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal

Fluminense (UFF)

ETTERN/ IPPUR/UFRJ – Laboratório Estado, trabalho, território e natureza do Instituto

de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ).

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TAC - Termo de Ajuste de Conduta, uma forma de compensação a impactos

socioambientais comum em licenciamentos de obras e projetos de investimento

TJ-RJ – Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 15

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................... 15

1.2 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA ........................................................... 17

1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 18

1.3.1Objetivo geral .............................................................................................................. 18

1.3.2 Objetivos específicos .................................................................................................. 19

1.4 QUESTÕES-PROBLEMAS ............................................................................................. 19

1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .......................................................................................... 19

1.6 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO ...................................................................................... 20

1.7 ESTRUTURA METODOLÓGICA DO ESTUDO ........................................................... 21

1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ...................................................................................... 21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 23

2.1 LEVANTAMENTO BIBLIOMÉTRICO.......................................................................... 23

2.1.1 Pesquisas nas bases SCOPUS, ISI Web of Science e SciELO ................................... 24

2.1.2 Estatísticas de Pesquisa: composição do “núcleo de partida” .................................... 26

2.2 JUSTIÇA AMBIENTAL .................................................................................................. 33

2.3 LICENÇA SOCIAL PARA OPERAR (LSO)................................................................... 38

2.4. ANÁLISE DAS PRÁTICAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA EM TERMOS DE

LSO: GESTÃO DE STAKEHOLDERES .............................................................................. 45

2.5. CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA TÉCNICA E CIENTÍFICA PARA OS

OBJETIVOS DA PESQUISA ................................................................................................. 51

3 METODOLOGIA DE PESQUISA .......................................................................................... 53

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ................................................................................. 53

3.2 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA DE PESQUISA............................................................... 54

3.3. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS .......................................................................... 56

3.3.1 Procedimentos de validação do instrumento de coleta ............................................... 57

3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ............................................................ 57

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO .......................................................................................... 60

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ................................................................ 63

4.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS E DAS INSTITUIÇÕES..................................... 65

4.1.1 Perfil dos Pescadores entrevistados ..................................................................... 66

4.1.2 Perfil dos funcionários da Empresa entrevistados ............................................... 70

4.1.3 Perfil dos representantes do Poder Público entrevistados ................................... 73

4.1.4 Perfil dos entrevistados da Academia e Sociedade Civil .................................... 75

4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................ 77

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4.3 CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 79

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS ................................................ 81

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 84

APÊNDICE 01: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA PESCADORES (P) ........................ 91

APÊNDICE 02: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA EMPRESA (E) ............................... 93

APÊNDICE 03: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARAPODER PÚBLICO (PP) ................. 96

APÊNDICE 04: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA ACADEMIA (A) ........................... 98

APÊNDICE 05: REGISTRO FOTOGRÁFICO DA VISITA AOS PESCADORES EM MAGÉ-

RIO DE JANEIRO .................................................................................................................... 100

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Conforme se observa em Lobão (2011), Diegues (2008), Alier (2007), Elkington

(2011) e Kotler (2015), a agenda socioambiental nem sempre foi considerada central na

perspectiva dos tomadores de decisão tanto do setor privado, como de entes públicos e

órgãos reguladores. Essa negligência, ao longo do tempo, tem implicado em

consequências deletérias para a sociedade, como: poluição; criminalidade; ampliação da

desigualdade social.

Este panorama é retratado por conflitos pela posse de território, assim como a

perda das formas de subsistência de comunidades tradicionais manifestadas em

quilombolas, grupamentos indígenas e aldeias de pescadores.

Neste contexto, seja por esforço de sua força de trabalho e lideranças, seja pelo

aumento das exigências regulatórias, legais e da sociedade, a preocupação com os riscos

e impactos da atividade econômica no meio ambiente e comunidades estão na pauta das

empresas (UNEP, 2009; ABNT, 2010). Esta questão é premente, sobretudo no setor

extrativista de óleo e gás, responsável pela geração de grandes impactos ao meio ambiente

e economia circunvizinha.

Neste sentido, verifica-se um grande contingente de conflitos socioambientais

oriundos da divergência entre empresas, governos, populações em vulnerabilidade social

e comunidades tradicionais acerca da propriedade e uso dos recursos naturais (PORTO et

al, 2013; LEFF, 2011; ACSERLRAD, 2010; ALIER, 2007).

Estes conflitos serão analisados no presente estudo sob a perspectiva das temáticas

da justiça ambiental e licença social para operar (LSO).

A justiça ambiental refere-se ao empoderamento1 dos movimentos sociais como

portadores de direitos, contemplando críticas quanto ao desproporcional impacto dos

empreendimentos econômicos às populações em situação de vulnerabilidade econômica

e social (ACSELRAD, 2010; ALIER, 2007).

O movimento pela justiça ambiental tem gerado iniciativas ao redor de todo o

planeta em prol da defesa de povos e comunidades tradicionais, assim como o

1Prática de dar voz ativa e poder decisório.

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mapeamento de conflitos, incluindo a iniciativa internacional EJOLT (Environmental

Justice Organizations, Liabilities and Trade), que indica o Brasil como 3º país com maior

quantidade de casos de conflitos2.

Em especial no Brasil, há um conjunto de iniciativas da academia e da sociedade

civil, ainda que tímidas, em mapear os referidos conflitos, com destaque para a obra

“Mapa de conflitos envolvendo injustiça ambiental e Saúde no Brasil”, iniciativa de uma

equipe de pesquisadores da FIOCRUZ em conjunto com a organização da sociedade civil

FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, contando ainda com

o apoio do Ministério da Saúde.

Esse panorama sugere uma crescente visibilidade dos movimentos sociais e suas

causas socioambientais, em contraponto à perspectiva do crescimento econômico que

desrespeita os limites naturais dos ecossistemas, e os danos à qualidade de vida e saúde

das pessoas (LEFF, 2011). O mapa de conflitos da plataforma FIOCRUZ indica que os

pescadores artesanais contemplam 14,81% dos conflitos mapeados3, o que os coloca entre

os públicos com maior número de casos.

Já o conceito de licença social para operar retrata um esforço originado das

empresas extrativistas, sobretudo no ramo da mineração, a fim de aperfeiçoar seu

relacionamento com as comunidades locais. Este processo é realizado através da coleta e

tratamento de reclamações, aproveitamento de mão-de-obra e aquisições em

empreendimentos locais, ou mesmo o desenvolvimento ou patrocínio a iniciativas de

cunho socioambiental, dentre outras ações (MEIRELLES, 2014; PNRO & SLOCOMBE,

2012; PNRO, 2013).

O objetivo principal da LSO é obter a anuência da população local quanto a

grandes empreendimentos econômicos em uma determinada localidade, assim como

angariar o apoio do setor público quanto à viabilização destes empreendimentos através

das licenças e concessões necessárias (RUGGIE, 2011; WACHENFELD, ÂNGULO &

KEMP, 2014).

Observa-se que, na prática, a LSO tem ocorrido nas grandes empresas de três

formas:

2 Fonte: http://ejatlas.org/, acesso em 27/01/2016 às 23:00h

3 Fonte: http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?pag=resumo, acesso em 08/12/2015 às 10:00h

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1. Iniciativas relacionadas a condicionantes definidas pelo órgão público, de caráter

legal e obrigatório, ou seja, exigências para a instalação de empreendimentos em

determinada comunidade ou bioma;

2. Patrocínio voluntário a projetos de desenvolvimento social, ambiental, cultural e

esportivo; e

3. Busca pelo engajamento da comunidade e tratamento das principais queixas desta,

incluindo questões relativas a potenciais violações dos direitos humanos.

Desta forma, será analisado como as iniciativas da justiça ambiental e da licença

social para operar podem atuar como mitigadoras das externalidades negativas dos

grandes empreendimentos econômicos, além de prover benefícios socioeconômicos às

comunidades vizinhas.

1.2 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

As iniciativas pesquisadas integram o portfólio de investimentos de uma das mais

importantes empresas do Brasil na área de exploração e produção petróleo e gás, que

possui grande capilaridade de atuação, em termos técnicos e geográficos.

Em particular, o presente estudo visa a uma melhor compreensão sobre os

impactos do licenciamento, construção e operação de gasodutos submarinos e terrestres

de transferência de GNL (gás natural liquefeito) e GLP (gás liquefeito de petróleo) aos

pescadores artesanais na região do município de Magé, Estado do Rio de Janeiro,

sobretudo no período de 2007 a 2016.

Desta forma, considerando assim a divulgação das reservas petrolíferas da camada

denominada pré-sal, a concessão de licença ambiental e a implementação dos projetos

citados (MPF, 2009; TJ-RJ, 2014a; TJ-RJ, 2014b; TJ-RJ, 2015), e seus respectivos

impactos socioambientais aos pescadores artesanais locais.

O principal pleito desta comunidade tradicional refere-se à redução indicada da

pesca na Baía de Guanabara devido à poluição e construção dos gasodutos e o

estabelecimento de zonas de exclusão, sobretudo durante as obras citadas e

posteriormente próximas aos dutos construídos (FAUSTINO & FURTADO, 2013:60).

Adicionalmente, há outros fatores que geram potencial impacto à atividade

pesqueira, conforme Inquérito civil no Ministério Público Federal, 2009, p. 13:

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Os pescadores relataram vários prejuízos decorrentes da instalação de

empreendimentos petrolíferos no Município de Magé: o barulho do “bate-estaca” e das

máquinas, que afugentam os peixes; a volta enorme que têm que dar, contornando os

dutos, para chegar onde querem pescar (para ir à praia de Ipiranga, por exemplo, têm

que passar por Paquetá); a quantidade de dutos e tubulações, que faz com que “a Baía

mais pareça um ferro-velho do que um lugar de pesca”; as redes rasgadas pelas

embarcações da empresa; a temperatura da água que se altera com a presença dos tubos; entre outros (...)

Basicamente, entende-se que “o conflito entre pescadores e a empresa de petróleo

em estudo é dado pelo uso do território do espelho d’água da Baía” (CHAVES, 2011: 92),

fato este reconhecido nos próprios Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA) dos

referidos empreendimentos. Por outro lado, alguns representantes da categoria

(pescadores) têm recorrido a ações civis públicas, considerando o prejuízo para famílias

que viviam tradicionalmente desta atividade.

Historicamente, a empresa estudada tem tratado estes impactos de suas atividades

de duas formas: reativamente, atendendo aos pleitos de condicionantes ambientais

impostas pelos órgãos de controle ambientais, e voluntariamente por meio de patrocínio

a iniciativas de investimento socioambiental, cultural e esportivo oriundas da sociedade

civil, sobretudo organizações não-governamentais e órgãos públicos.

De acordo com especialistas da empresa, há mapeadas diversas iniciativas

socioambientais realizadas em parceria com organizações não governamentais e

instituições públicas no período estudado que contemplam direta ou indiretamente o

público de pescadores da região, dentre voluntárias e condicionantes. Destacam-se os

projetos Baía Limpa, Caranguejo Uçá, MOVA (alfabetização), Projeto INCID- cidadania

e sustentabilidade socioambiental na área de influência do COMPERJ (voluntários), e os

projetos de monitoramento dos golfinhos, programas de comunicação social e de

educação ambiental (condicionantes para licenciamento ambiental).

1.3 OBJETIVOS

1.3.1Objetivo geral

Estudar os impactos dos empreendimentos GNL e GLP aos pescadores artesanais

de Magé, Estado do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2016 através dos diversos stakeholders,

poder público, empresa e academia.

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1.3.2 Objetivos específicos

1. Pesquisar a relação da empresa em estudo com os pescadores de Magé, buscando os

principais aprendizados e problemas relatados pelos públicos envolvidos (empresa,

poder público, e pescadores artesanais), assim como principais reclamações e pleitos.

2. Analisar por meio de entrevistas mecanismos de mitigação de impactos adotados pela

empresa para lidar com as externalidades negativas geradas aos pescadores, assim

como protocolos utilizados para nortear o seu relacionamento com a comunidade

local.

3. Analisar através de documentos e depoimentos as principais iniciativas de

investimento socioambiental (patrocínios, convênios, termos de ajuste de conduta) e

relacionamento com as comunidades (mapeamento das comunidades baseado na

Agenda 21) da empresa em estudo, e sua efetividade na mitigação na melhoria da

qualidade de vida e condições sociais dos pescadores locais.

4. Propor alternativas para a melhoria do relacionamento empresa-comunidade.

1.4 QUESTÕES-PROBLEMAS

Com o desdobramento da questão da pesquisa, considera-se também relevante a

perseguição de respostas para as seguintes questões:

1. Seriam as iniciativas de desenvolvimento econômico e investimento socioambiental

suficientes para promover a mitigação dos impactos à pesca artesanal em Magé?

2. Quais são as iniciativas da empresa para relacionamento com os pescadores artesanais

de Magé sob a perspectiva de desenvolvimento socioeconômico e preservação

ambiental, e quais os seus impactos à comunidade local?

3. Quais seriam as alternativas disponíveis para melhoria do relacionamento com a

comunidade local e mitigação de impactos sob o olhar dos múltiplos stakeholders?

4. Quais as principais lições aprendidas provenientes do fenômeno estudado?

1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A empresa estudada é citada em grande número de publicações específicas sobre

o tema, o que sugere a recorrência de práticas não conformes. Dessa forma, o estudo se

propõe a contribuir com a análise das eventuais não conformidades, apontando

oportunidades de aprimoramento no modus operandi da empresa estudada.

Considerando-se que dos 343 conflitos mapeados pela iniciativa “Mapa de

conflitos envolvendo injustiça ambiental e Saúde no Brasil” (PORTO et al, 2013) no

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20

período de 2007 a 2010, trinta e quatro envolvem a referida empresa, verifica-se que a

organização esteve presente em cerca de 10% do total, sendo seis conflitos no Rio de

Janeiro, todos estes envolvendo pescadores. O mapa ainda é atualizado, sendo

disponibilizados conteúdos através das redes sociais, apesar de relatos dos pesquisadores

sobre restrições de equipe e recursos.

Como objeto de pesquisa, dentre os conflitos mapeados, serão analisadas as

questões socioambientais que tem afetado uma comunidade tradicional, os pescadores

artesanais do município de Magé, Estado do Rio de Janeiro, observando-se os impactos

de uma empresa de petróleo atuante na região, sobretudo no período de 2007 a 2016.

Desta maneira, com esta pesquisa pretende-se contrabalancear as demandas comunitárias,

sob o prisma da justiça ambiental e o conceito de licença social para operar (LSO).

O tema não possui fronteiras teóricas densamente delineadas, observando

oportunidade de avançar no âmbito científico, a partir da compreensão da problemática

suportada pelas vertentes teórica e empírica. Entende-se ainda que há a necessidade de se

avançar na conciliação das pautas da justiça socioambiental, iniciativa em geral originada

da sociedade civil e da academia, com os esforços das empresas para atendimento à

melhoria de relacionamento comunitário e redução de seus impactos socioambientais.

Em termos socioambientais, o estudo é relevante no sentido de provocar a

incorporação das dimensões sociais e ambientais em consonância às discussões técnicas

em projetos de engenharia, valorizando os saberes locais e contribuindo para o aumento

da interlocução proativa empresa-comunidade-meio ambiente.

1.6 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

O presente estudo refere-se ao município de Magé, com ênfase no período de 2007

a 2016. De igual forma, não se aplica a outras localidades, ou outras comunidades

tradicionais ou públicos de interesse.

Considera a obtenção de informações da empresa disponibilizadas publicamente

e de seus principais públicos de relacionamento relativos a presente pesquisa, ou seja, os

próprios pescadores locais, o poder público responsável (Ministério Público e órgãos de

defesa do meio ambiente) e a comunidade científica.

A delimitação do estudo se refere à análise do relacionamento entre as partes

interessadas, empresa e pescadores marítimos, buscando-se averiguar as possibilidades

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21

de atuação conjunta em prol de um desenvolvimento econômico com menores impactos

ao meio ambiente e subsistência das populações locais.

1.7 ESTRUTURA METODOLÓGICA DO ESTUDO

O presente trabalho contempla levantamento de dados secundários, livros e

periódicos (artigos mais recentes, artigos mais citados, artigos mais relevantes e seus

respectivos contrapontos, assim como principais críticos). Além de pesquisa de campo

para compor um relato institucionalmente relevante a partir do problema de pesquisa

proposto, visando observar as perspectivas dos múltiplos atores envolvidos.

A Figura 01 ilustra a estrutura metodológica descrita.

Figura 01– Estrutura metodológica de pesquisa

Fonte: Adaptado de Araújo (2011)

1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O presente estudo está subdividido em cinco capítulos, conforme ordenação

expressa a seguir.

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22

O Capítulo 1 traz a Introdução, contemplando a contextualização da situação

problema, abordando brevemente suas implicações.

O Capítulo 2 refere-se à Fundamentação teórica e trata dos dois principais

arcabouços teóricos deste estudo: os conceitos licença social para operar e justiça

ambiental.

Já o Capítulo 3 reflete a Metodologia da pesquisa, descrevendo-a. O método

proposto consiste em entrevistas com os diversos públicos de interesse envolvidos, além

de depoimentos, análise da literatura, de relatórios e declarações públicas dos envolvidos,

assim como documentos de audiências públicas relativas ao fenômeno estudado.

O Capítulo 4 apresenta a pesquisa de campo, o perfil dos respondentes e a

correlação dos depoimentos com a literatura pesquisada, assim como eventuais

informações e conceitos emergentes.

Por fim o Capítulo 5 contempla as conclusões do estudo, assim como sugestões

para estudos futuros.

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23

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 LEVANTAMENTO BIBLIOMÉTRICO

A presente seção contempla o resultado do levantamento bibliométrico,

desenvolvido no sentido de coletar e analisar uma variedade de material de referência

obtidos com o suporte de técnicas de pesquisa sistemática em bases de periódicos.

Conforme proposta metodológica de Treinta et al (2014), ilustrada na Figura 02,

os conceitos principais a serem tratados, “justiça ambiental” e “licença social para operar”,

foram selecionados por contemplar a abordagem pretendida nesta pesquisa, incluindo as

manifestações dos movimentos sociais e da sociedade como um todo aos conflitos

socioambientais constituído se o respectivo posicionamento das empresas, sobretudo as

dos setores extrativista, mineradoras e de energia.

Figura 02 – Estruturação da pesquisa em periódicos

Fonte: Adaptado de TREINTA et al (2014), p. 509

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24

A pesquisa sistemática da literatura foi realizada em três bases de periódicos

(Scopus, ISI Web of Science e Scielo), dada à sua robustez e abrangência. Em seguida,

foi realizada a leitura inspecional dos materiais contemplando a análise dos títulos e

resumos / abstract. Desta forma, foi utilizada a filtragem dos conteúdos encontrados na

pesquisa em quatro oportunidades, que serão mais bem detalhadas nas seções

subsequentes.

2.1.1 Pesquisas nas bases SCOPUS, ISI Web of Science e SciELO

A presente pesquisa foi realizada no período de 13/04/2016 a 30/04/2016, na base

de periódicos da CAPES, considerando as bases Scopus, ISI Web of Science e SciELO.

Foram utilizados os seguintes termos de pesquisa: “social license” OR “licença

social” AND “environmental justice” OR “justiça ambiental”, oriundas das pesquisas

prévias do autor, e contemplando assim os idiomas português e inglês, sendo que os

resultados contemplaram referências em espanhol, e um texto no idioma russo.

A pesquisa resultou em 182 artigos para compor o portfólio deste estudo, sendo

134 na base ISI Web of Science (74% do total), 40 na Scielo (22%) e 8 na Scopus (4%).

Tabela 01 - Palavras-chave pesquisadas e artigos encontrados

Conectores

booleanos Palavras-chave

Número de artigos encontrados

SCIELO SCOPUS ISI Web of

Science

“social license”

40 8 134 OR “licença social”

AND “environmental justice”

OR “justiça ambiental”

Fonte: baseado em SciELO, Scopus e ISI Web of Science em 18, 19 e 30/04/2016.

Vale registrar dois fatos observados. Primeiramente, foi verificada uma taxa de

resultados extremamente baixa na base Scopus (apenas oito resultados, ou 4% do total).

Entende-se que a referida base não foi relevante para esta pesquisa específica, pois após

leitura analítica se verificou que apenas um dos dois artigos relacionava-se aos temas

pesquisados. Em segundo lugar, a pesquisa na SciELO foi quase que plenamente

duplicada na consulta à base ISI Web of Science.

No caso da base SciELO, dos 40 resultados, 11 indicaram-se repetidos na própria

base e, portanto, foram excluídos, resultando em 29 referências válidas. Dentre estes,

além de artigos, havia 2 “reviews” e 1 “press release”. Visualiza-se ainda que a produção

intelectual encontrada se concentra sobretudo no período de 2009 a 2015.

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25

Após filtragem inicial (leitura inspecional), constatou-se pela pertinência de 13

artigos à temática pesquisada. Esta filtragem foi baseada na leitura dos títulos e dos

resumos / abstract. Nesta base de dados, foi verificado que os textos encontrados em sua

maioria tratavam da temática “justiça ambiental”, em detrimento da licença social.

O autor mais recorrente nesta pesquisa, Porto, publicou quatro artigos. As citações

aos autores Acselrad e Porto nos artigos encontrados foram frequentes. Paralelamente,

foram citados autores como Alier, Leff e Georgescu-Roegen, tendo sido os dois primeiros

incluídos na pesquisa posteriormente por meio de livros publicados.

Ainda é importante registrar os principais periódicos, áreas temáticas e

qualificações (Qualis) dos artigos pré-selecionados (13) na SciELO, análise consolidada

na Tabela nº02.No caso da temática “justiça ambiental”, verifica-se que os artigos se

concentram nas áreas de conhecimento “Engenharias III”, “Interdisciplinar”,

“Administração”, e “Saúde coletiva”.

Tabela 02 – Distribuição de registros de artigos por autores na base SciELO

Título do

periódico

Nº de

artigos

Classificação Qualis (artigos SciELO)

Engenhari

as III Economia

Inter-

disciplinar

Adminis-

tração,

ciências

contábeis e

turismo

Sociologia Saúde

Coletiva

Ciências

sociais

aplica-

das I

Estudos

Avançados 1 - B2 - B2 - - -

Estudios

Sociales 1 - - B2 - - - -

Revista

Latinoamericana 1 - - - - - - -

Ambiente &

Sociedade 1 B3 B5 B1 B1 B2 B3 -

Trabalho,

Educação e Saúde

1 - - B2 B2 B1 B1 -

Horizontes

Antropológicos 3 - - A1 - A1 B3 -

Ciência & Saúde Coletiva

3 - - B1 - - B1 -

Physis: Revista

de Saúde Coletiva

1 - - - - - - -

Revista

Colombiana

de Geografía

1 - - - - - - -

Fonte: baseado na SciELO, em 02/05/2016 (consolidação), Qualis 2014.

Referente à análise da base ISI Web of Science, foram encontrados 134 resultados.

Verifica-se que a produção científica se concentra sobretudo no período entre 2008 e 2016,

sobretudo a partir de 2012, conforme ilustrado na Figura 04.

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26

Igualmente na base ISI Web of Science, após filtragem dos artigos repetidos,

temas não correlatos ou artigos similares, chegou-se a um resultado prévio de 17 artigos

(leitura inspecional). Novamente, não se evidenciou repetições de autores, apesar de

muitas citações a PNRO (71).

No aspecto de análise das publicações (periódicos) e suas respectivas

conceituações da Capes verifica-se em comum com a pesquisa na base anterior as áreas

de “Engenharias III”, “Administração” e “Interdisciplinar”. Esta análise encontra-se

ilustrada na Tabela 03.

Tabela 03 – Distribuição de registros de artigos por autores na base ISI Web of Science

Título do

periódico

Nº de

artigos

Classificação Qualis (artigos ISI Web of Science)

Engenharias

III Economia

Interdiscipli

nar

Administração,

ciências contábeis

e turismo

Sociologia Saúde

Coletiva

Ciências

sociais

aplicadas

I

Journal of rural studies

1 - - A2 - A2 - -

Renewable

Energy 1 A2 - A1 - - - -

Journal of

International

Management

1 - - - - - - -

Journal of

Cleaner

Production

2 A1 - A1 A1 - - -

Resources

Policy 6 B1 - - - - - -

The Extractive

Industries and

Society

3 - - - - - - -

Global Environmental

Change

1 - - - - - - -

Estudios

gerenciales 1 - - - - - - -

Ciência &

Saúde

Coletiva

1 - - B1 - - - -

Fonte: baseado na ISI Web of Science, em 02/05/2016 (consolidação), Qualis 2014.

A seguir faz-se pertinente, a partir desta análise inicial (leitura inspecional dos

títulos e resumos), a realização de uma filtragem mais apurada, considerando a

pertinência dos títulos pesquisados às temáticas estudadas.

2.1.2 Estatísticas de Pesquisa: composição do “núcleo de partida”

Considerando-se as pesquisas realizadas nas três bases citadas, foram utilizados

quatro filtros para seleção do “núcleo de partida”, considerando 1) exclusão de artigos

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27

repetidos entre as bases ou na própria base e artigos de acesso restrito a assinantes, 2)

leitura do título e do resumo / abstract, 3) leitura analítica contemplando os principais

temas considerados, e por fim 4) leitura dos artigos.

Este procedimento encontra-se detalhado na Figura 03, contemplando os

resultados quantitativos de cada etapa, considerando um total de 182 resultados de

pesquisa, e um núcleo de partida proposto para leitura de 20 artigos.

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28

Figura 03 – Resumo das Pesquisas nas bases SciELO, Scopus e ISI Web of Science

Fonte: adaptado de Matieli e Araujo (2014)

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29

Registra-se que alguns dos artigos e autores citados nas tabelas 02 e 04 não foram

contemplados na seleção do núcleo de partida, após filtragem das leituras inspecional e

analítica.

A pesquisa bibliográfica via bases de dados foi sistematizada conforme Quadro

01, de forma a permitir a rastreabilidade do conteúdo pesquisado.

Quadro 01 – Artigos selecionados para o núcleo de partida

Artigos das bases SciELO, Scopus e ISI Web

of Science Autores

Ano de

publicação Periódico

1 Ambientalização das lutas sociais – o caso

do movimento por justiça ambiental

Acselrad, H.

2010 Estudos avançados

2

A corporate responsibility? The constitution

of fly-in, fly-out mining companies as

governance partners in remote, mine-

affected localities

Chesire, L.

2009 Journal of rural

studies

3 Social license and consultation criteria for

community wind projects

Corscadden, K.;

Wile, A.; Yiridoe, E. 2012 Renewable energy

4 La dimensión espacial de los conflictos

ambientales en Chile

Fuenzalida, M;

Quiroz, R. 2012

Revista

lationamericana

5 Responsible mineral and energy futures:

views at the nexus

Giurco, D.;

McLellan, B;Franks,

D.M.; Nansai, K.

2014

Journal of cleaner

production

6

Conceptualizing social protest and the

significance of protest actions to large

projects

Hanna, P.; Vanclay,

F.; Langdon, E.J.;

Arts,J.

2016

The Extractive

Industries and

Society

7

Assessing corporate–community

involvement strategies in the Nigerian oil

industry: An empirical analysis

Idemudia, U.

2009

Resources policy

8

Justiça ambiental, conflitos latentes e

externalizados: estudo de casso de

pescadores artesanais do norte fluminense

Leal, G.F.

2013

Ambiente &

Sociedade

9

A conceptual model of the socioeconomic

impacts of unconventional fossil fuel

extraction

Measham, T.G.;

Fleming, D.A.;

Schandl, H.

2015

Global

Environmental

Change

10 Construcción de juicios de confianza hacia

compañías mineras en el norte de Chile

Olivos, F.

2015

Estudios gerenciales

11 Social inequalities and environmental

conflict Pellow, D.N.

2006 Horizontes

antropológicos

12

Exploring the origins of ‘social license to

operate’ in the mining sector: Perspectives

from governance and sustainability theories

Pnro, J.; Slocombe,

D.S.

2012

Resources policy

13 Gestão ambiental e democracia: análise

crítica, cenários e desafios

Porto,M.F.S.;

Schutz, G.E.

2012 Ciência & Saúde

Coletiva

14

Riscos, saúde e justiça ambiental: o

protagonismo das populações atingidas na

produção de conhecimento

Porto, M.F.S.;

Finamore,R.

2012

Ciência & Saúde

Coletiva

15

Classifying critical factors that influence

community acceptance of mining projects

for discrete choice experiments in the United

States

Que, S.; Awuah-

Offei,K.;

Samaranayake, V.A.

2015

Journal of cleaner

production

16

Measuring the extent of a social license to

operate: the influence of marine biodiversity

offsets in the oil and gas sector in Western

Australia

Richert, C.; Rogers,

A.; Burton, M.

2015

Resources policy

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30

Artigos das bases SciELO, Scopus e ISI Web

of Science Autores

Ano de

publicação Periódico

17

Regulating mining resource investments

towards sustainable development: the case

of Papua New Guinea

Sing, J.

2014

The extractive

industries and

society

18

Além dos humanos: reflexões sobre o

processo de incorporação dos direitos

ambientais como direitos humanos nas

conferências das nações unidas

Steil, C.A.; Toniol,

R.

2013

Horizontes

antropológicos

19

How you start matters: a comparison of

Gold Fields' Tarkwa and Damang Mines

and their divergent relationships with local

small-scale miners in Ghana

Teschner, B.

2013

Resources policy

20

Corporate social responsibility and power

relations: Impediments to community

development in post-war Sierra Leone

diamond and rutile mining areas

Wilson, S.A.

2015

The extractive

industries and

society

Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação).

Dentre os vinte artigos selecionados, foram verificadas procedências e

classificação Qualis/ CAPES, neste momento considerando apenas as três áreas temáticas

comuns aos dois termos pesquisados (justiça ambiental e licença social para operar),

conforme Tabela 04.

Tabela 04– Identificação dos periódicos, número de artigos e o critério Qualis para compor o “núcleo de

partida” da pesquisa.

Título do periódico Nº de

artigos

Classificação Qualis/ CAPES

Engenharias III Interdisciplinar

Administração,

ciências contábeis e

turismo

Ambiente &sociedade 1 B3 B1 B1

Ciência &saúde coletiva 2 - B1 -

Estudios gerenciales 1 - - -

Estudos avançados 1 - - B2

Global environmental change 1 - - -

Horizontes antropológicos 2 - A1 -

Journal of cleaner production 2 A1 A1 A1

Journal of rural studies 1 - A2 -

Renewable energy 1 A1 A1 -

Resources policy 4 B1 - -

Revista lationamericana 1 - - -

The extractive industries and

society 3 - - -

TOTAL 20

Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação), Qualis 2014

Por fim, quanto à pesquisa nas bases já filtrada em um núcleo de partida,

organizadas por ano de publicação, a pesquisa indica um debate concentrado no período

entre 2006 e 2016 e ainda em construção, conforme ilustrado na Tabela 05. Em geral, os

dois temas de pesquisa aparecem separados, em artigos e abordagens diferentes.

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31

Tabela 05 – Levantamento da cronologia e ciclo da produção no “núcleo de partida”

Ano Nº de artigos

2006 1

2009 2

2010 1

2012 5

2013 3

2014 2

2015 5

2016 1

Total artigos publicados 20

Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação).

Vale registrar que foram verificados os “picos de produção” acadêmica em 2012

e 2015, neste último aparentemente revertendo uma tendência aparente de queda na

quantidade de publicações, conforme Figura 04. Este fato pode sinalizar o periódico e

renovado interesse pelos conflitos socioambientais.

Figura 04– Distribuição de artigos do núcleo de partida por ano de publicação

Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação).

Paralelamente ao levantamento dos artigos componentes do “núcleo de partida”

foram realizadas pesquisas a bancos de teses e dissertações, livros e bancos de dados

abertos ao público. Esta nova pesquisa foi baseada na imersão anterior comas temáticas

em estudo, e indicação de especialistas. Foram incluídos mais dois artigos científicos, dez

textos de encontros e redes temáticas, seis livros e oito dissertações de mestrado. Estas

referências são indicadas na Tabela 06.

0

1

2

3

4

5

6

2006 2009 2010 2012 2013 2014 2015 2016

Quantidade de Artigos

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32

Tabela 06– Quantidade de referências por tipo de fonte

Tipo de fonte Nº de

referências

% em relação ao

total

Artigos científicos 22 48%

Artigos de encontros científicos / fóruns temáticos 10 22%

Livros 6 13%

Teses e dissertações 8 17%

Total 46 100%

Fonte: o autor (2016).

Os estudos de Leff (2011) e Alier et al (2014) foram incluídos por serem citados

de forma recorrente na temática da “justiça ambiental”.

Os dez artigos de encontros científicos, treinamentos e redes temáticas se

concentram em ambos os temas, justiça socioambiental e LSO, muitos dos quais já

tratando a temática especificamente quanto à questão dos direitos humanos nas atividades

das empresas, e os impactos dos setores extrativista e de energia nas comunidades

tradicionais (JENKINS, 2004; SEVÁ FILHO, 2010; RUGGIE, 2011; THOMSOM &

BOUTILIER, 2011; HERCULANO, 2012;OWEN& KEMP, 2013; FAUSTINO &

FURTADO, 2013; PNUD, 2014; WACHENFELD,ÂNGULO & KEMP, 2014; LOWEY,

2016).

Igualmente os seis livros (ALIER, 2007; DIEGUES, 2008; BRONZ, 2009;

RODRIGUES, 2010; FAPP-BG, 2013; KOTLER, 2015) foram selecionados na busca

prévia, já inserindo a temática da justiça ambiental de forma mais ampla no debate da

responsabilidade social corporativa, mais especificamente em empresas de energia e seus

impactos em comunidades tradicionais.

Por fim, foram incluídas oito dissertações de mestrado, sendo destas quatro do

Mestrado em Sistemas de Gestão da Latec/UFF, uma do programa de pós-graduação em

Geografia do Instituto de Geociências da UFRJ, uma do programa de pós-graduação de

Ciências Sociais em desenvolvimento, agricultura e sociedade da UFRRJ, uma do

programa de pós-graduação interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC e a última

do programa de pós-graduação em Ecologia da UFRJ.

Estas pesquisas contemplam a responsabilidade social empresarial em empresas

de pequeno e médio portes, nos setores siderúrgico, e de óleo e gás (PENALVA, 2008;

MARSICO, 2008; GOULART, 2009; CHAVES, 2011; VIANNA, 2013; LOSICER,

2013; MAIA, 2014; FERNÁNDEZ, 2007).

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33

As referências consolidadas oriundas da bibliometria e as leituras indicadas

concentram-se sobretudo entre 2012 e 2015, conforme ilustrado na Tabela 07.

Tabela 07– Número de referências por ano de publicação

Ano de publicação Nº de referências % em relação ao total

2004 1 2%

2006 1 2%

2007 2 4%

2008 3 7%

2009 4 9%

2010 3 7%

2011 4 9%

2012 7 15%

2013 7 15%

2014 6 13%

2015 6 13%

2016 2 4%

Total 46 100%

Fonte: o autor (2016).

Desta forma, compreende-se tanto a pesquisa bibliométrica nas principais bases

de dados quanto às indicações do próprio autor e de especialistas, contemplando a

diversidade de perspectivas sobre o tema, a interdisciplinaridade e a busca tanto na

academia quanto nos movimentos e coletivos sociais.

Devem-se registrar os esforços da comunidade empresarial na mitigação dos

impactos desproporcionais das atividades produtivas em populações em vulnerabilidade

social e comunidades tradicionais.

2.2 JUSTIÇA AMBIENTAL

A crise ambiental, explicitada por fenômenos tais como o aquecimento global, o

esgotamento de recursos naturais e a poluição do ar e da água é resultado do desajuste

causado pela ação humana na natureza (LEFF, 2011). A constante pressão econômica

para aumento da produção, do consumo de produtos e serviços, e crescimento do PIB

característicos da racionalidade econômica traz consequências deletérias ao meio

ambiente, prejudicando a qualidade de vida da população.

Neste sentido, alguns autores propõem uma nova racionalidade, em contraponto à

puramente econômica, considerando a limitação dos recursos naturais disponíveis.

Defendem a adoção de uma racionalidade ambiental (LEFF, 2011), a qual destoa da

pressão por crescimento contínuo como finalidade exclusiva para o desenvolvimento das

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34

nações. A contestação ao racionalismo puramente econômico embasa o movimento

ambientalista. Alier (2007) identifica três vertentes do ambientalismo, a saber:

1) culto ao silvestre: cujos adeptos e pesquisadores pregam a conservação do meio

ambiente como maior objetivo e a qualquer custo;

2) evangelho da ecoeficiência: uma forma de adaptação das empresas com a adoção de

medidas pontuais com destaque para economia de água e de energia, e a revisão dos

processos produtivos, mas sema revisão da lógica consumista que efetivamente gera

impactos aos ecossistemas existentes; e

3) “ecologismo dos pobres”: movimento de empoderamento das camadas em situação de

vulnerabilidade social, comunidades tradicionais, minorias e população pobre sob a forma

da ambientalização das lutas sociais (ACSELRAD, 2010; PORTO et al, 2013).

Ou seja, a incorporação de pautas de conservação do meio ambiente e dos recursos

naturais ao movimento em prol dos direitos humanos e justiça social, com um alerta aos

impactos socioambientais que afetam desproporcionalmente as camadas mais vulneráveis

da sociedade.

Pellow (2006) e Acselrad (2010) identificam duas vertentes do ambientalismo

igualmente preocupadas com os impactos ambientais da sociedade, a saber:

1. Questionamento ao estilo de vida consumista e sistema de produção em massa que

tem gerado a penalização ambiental dos mais despossuídos ao mesmo tempo em que tem

negado aos mesmos os benefícios do padrão de consumo e conforto capitalista dos países

em desenvolvimento em razão dos limites entrópicos do planeta, ou seja, da limitação dos

recursos naturais disponíveis, finitos, e da redução da capacidade de recuperação quanto

aos impactos gerados pela ação humana.

Desta forma, estes mesmos prejudicados muitas vezes não usufruem dos

benefícios dos referidos empreendimentos (LEAL, 2013), mesmo quando plenamente

estabelecidos os projetos; e

2. Economia de matéria-prima através da ecoeficiência, ou seja, da modernização

ecológica e da redução de custos sem, entretanto, atuar para reduzir o consumo e a produção.

Esta abordagem trata o meio ambiente como oportunidade de negócios, com perspectivas

a ganhos financeiros e obtenção de vantagem competitiva pela empresa.

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Quanto a esta segunda vertente, Losicer (2013) problematiza:

(...) quando se trata de empresas, é preciso pensar em termos de priorização de

investimentos, se o objetivo final das corporações é a produtividade eficiente. Afinal,

uma empresa não troca o carpete antes de ter tubulações adequadas ou investe em

decoração antes de possuir sistemas inteligentes. Da mesma forma, não deveria ter

projetos sociais antes de solucionar os impactos ambientais que causa. (LOSICER, 2013:118)

Sobretudo considerando a primeira vertente apresentada, constitui-se um

imbróglio quando conquistar legitimidade para as questões ambientais pode constituir um

obstáculo ao enfrentamento do desemprego e da pobreza pela não-concretização ou atraso

de empreendimentos econômicos, projetos de investimento e grandes obras.

Nesse sentido, Acselrad (2010) alerta para o “duplo padrão”, ou seja, a adoção de

critérios e exigências legais e ambientais distintos por uma mesma empresa em cada local

em que atua de acordo com suas específicas regulações, punindo assim com a falta de

recursos os espaços mais críticos e organizados.

Desta forma, o “prêmio” pelo engajamento da comunidade sobre as questões que

a afetam seria revertido como punição pela migração de investimento para outras

localidades com legislação e demandas menos rigorosas, deixando de gerar empregos e

oportunidades localmente. O referido autor assevera ainda que:

Enquanto os males ambientais puderem ser transferidos para os mais pobres, a pressão

geral sobre o ambiente não cessará [...]. Aí se dá a junção estratégica entre justiça social e proteção ambiental (ACSELRAD, 2010:114).

Convém registrar o conceito de justiça ambiental, que consiste na apropriação da

temática do meio ambiente por dinâmicas sociopolíticas tradicionalmente envolvidas com

a construção da justiça social, promoção e conservação dos direitos humanos.

Adota-se a perspectiva dos direitos ambientais como parte integrante do portfólio

de direitos humanos constituídos (STEIL & TONIOL, 2013), ou seja, direitos inalienáveis,

universais e, ao menos em teoria, amplamente aceitos, de forma a defender um meio

ambiente mais equilibrado simultaneamente à busca por um desenvolvimento econômico

mais inclusivo, equitativo, e a redução das desigualdades sociais.

Pode-se traçar um paralelo entre a justiça ambiental e a vertente ambientalista do

“ecologismo dos pobres” proposta por Alier (2007), ou mais recentemente como indicado

por este autor em um “manifesto” com diversos pesquisadores e movimentos sociais, com

a ecologia política “bottom-up”. Em suma, o referido manifesto defende que as grandes

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questões da temática socioambiental não se originariam apenas de pesquisa científica, das

normas e leis constituídas, mas do estabelecimento e atuação de grupos de pressão na

própria sociedade, considerando as demandas e sugestões das comunidades locais

afetadas pelas atividades econômicas.

Vale considerar que, na medida em que os riscos ambientais são diferenciados e

desigualmente distribuídos, e que a comunidade em geral não é ouvida, são ocasionados

os conflitos ambientais. Estes são caracterizados pela diferente valorização, posse e uso

dos recursos naturais pelos diversos atores sociais, empresas, poder público, sociedade,

comunidades tradicionais e do entorno de grandes empreendimentos econômicos

(JENKINS, 2004; ACSELRAD, 2010; PORTO & Schutz, 2012; PORTO & FINAMORE,

2012).

Leal (2013) indica que os conflitos citados seriam originados de diferentes

“condições e formas de reprodução social de indivíduos e grupos sociais”. Assevera ainda

que estes imbróglios são especialmente estabelecidos em duas condições: na

implementação de áreas de preservação ambiental e no caso dos empreendimentos

econômicos com amplos impactos socioambientais tais como mineração, geração (e

distribuição) de energia, exploração e produção de petróleo e de gás natural.

Esta temática passa a ser debatida a partir da década de 70, tendo sido capturada

sobretudo na última década por autores atentos à sobrecarga desigual da água, ar e

poluição do solo associados sobretudo à industrialização e práticas de consumo, atingindo

especialmente minorias étnicas, indígenas, e comunidades de baixo poder aquisitivo. Isto

ocasiona prejuízos à sua qualidade de vida, saúde (PORTO & Schutz, 2012; PORTO &

FINAMORE, 2012; LEAL, 2013) e até mesmo condições de subsistência e sustento em

alguns casos de atividades tradicionais, tais como a pesca e a agricultura, atividades estas

com forte relação com a natureza e recursos naturais (DIEGUES, 2008).

Adicionalmente, é importante registrar o impacto da possibilidade de crescimento

econômico e demográfico no entorno dos empreendimentos sem subsequente melhoria

proporcional da infraestrutura pública (saúde, educação, transporte público), os quais

afetam toda a comunidade circunvizinha ao referido projeto.

São caracterizadas diversas formas de conflitos, cujo embate provocado tem

gerado movimentos de enfrentamento, contestação e pesquisa tais como o ecofeminismo,

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o racismo ambiental, o débito ecológico, a biopirataria, e o ambientalismo dos pobres,

dentre outros (ALIER, 2007; ALIER et al, 2014).

Fernández (2007) contribui para o tema indicando que tais conflitos ocorrem em

um período específico, de maior ou menor duração, podendo ou não resultar em oposição

ao empreendimento por parte da população por ele afetada. Pode gerar amplas

repercussões, quando o assunto se torna pauta pública, ou esvaziar-se rapidamente, com

o prosseguimento da atividade econômica, ou seu abandono pela empresa.

Leal (2013) indica que os conflitos citados podem ser latentes, ou seja, não

manifestos em razão de sua falta de consciência ou ausência de poder de pressão exercido

pelas pessoas afetadas, ou externalizados, quando estes já são explícitos e compõem uma

pauta da sociedade estabelecida na mídia, no setor acadêmico ou nas redes sociais.

Estudos como os de Fuenzalida e Quiroz (2012) asseveram sobre a dimensão

territorial dos conflitos, relacionando-os ao acesso e uso das fontes produtivas (recursos

naturais), acesso ao trabalho, perda de moradia, e mudanças nas condições econômicas,

na medida em que habilidade de criar, recriar e apropriar-se dos espaços (e de seus

recursos) é desigual. Estes autores alertam ainda que:

Sem dúvida alguma, o mercado aproveita a vulnerabilidade da pobreza dos territórios

para fugir da denúncia e da cobrança das externalidades dos seus processos produtivos

[...]A dimensão espacial da equação vulnerabilidade social + investimento estrangeiro

no Chile revela câmbios territoriais de que o Estado deve compensar, tendo se limitado

até o momento suas ações para reagir uma vez que ocorreu um impacto negativo sobre

o meio ambiente, relegando para segundo plano impedi-lo (FUENZALIDA & QUIROZ,

2012:8).

Dentre outras, uma atividade com amplos relatos de impactos e conflitos de

origem socioambiental é a atividade de exploração e produção e petróleo e gás natural.

Relatam-se diversas ocorrências de violações de direitos humanos, apesar do discurso

corrente de benefícios tais como geração de empregos, pagamento de impostos e

desenvolvimento (FAUSTINO & FURTADO, 2013; MAIA, 2014).

Desta forma, não fica evidente se a gestão do território comum é possível como

afirma a indústria (CHAVES, 2011; HERCULANO, 2012), de forma a prover uma

partilha dos benefícios da instalação do projeto econômico junto às comunidades locais.

Isto apresenta desafios, sobretudo para as empresas de energia, e extrativista em geral, no

tratamento de seus riscos e impactos e no relacionamento com a sociedade, sobretudo a

comunidade circunvizinha.

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2.3 LICENÇA SOCIAL PARA OPERAR (LSO)

Verifica-se que as comunidades locais se constituem como importante público de

interesse da empresa; afinal, é onde se concentram a maior parte de seus impactos, assim

como potencialmente sua mais forte oposição, o que pode ocasionar no atraso das

atividades da empresa, aumento de custos, pagamento de multas, ou mesmo abandono a

certos investimentos.

Para melhorar o seu relacionamento com a comunidade, a indústria extrativista,

mineradora e de energia tem proposto o conceito de licença social para operar (LSO).

Lowey (2016), transcrevendo painel ocorrido em simpósio correlato ao tema no

Canadá, aponta algumas questões pertinentes sobre este conceito:

Os membros do painel concordaram que a ascensão na consciência de licença social

vem satisfazer diversas questões, incluindo: (...) declínio amplo de confiança do público

nas autoridades institucionais (...) fragmentação global e "atomização" da sociedade;

aumento da atenção mundial (...) a questões ambientais, juntamente com as

preocupações sobre mudança do clima e eventos climáticos severos; globalização e um

aumento significativo no uso das mídias sociais; e falta de um fórum ou processo pelo

qual as pessoas preocupadas com questões políticas mais amplas, como as alterações

climáticas, podem ter as suas preocupações ouvidas e significativamente abordadas

(LOWEY, 2016:1).

Desta forma, a LSO constitui uma oportunidade e um problema (LOWEY, 2016),

um risco não-técnico que afeta a implementação de grandes empreendimentos e obras

(QUE, AWUAH-OFFEI & SAMARANAYAKE, 2015), envolvendo Estado, mercado e

sociedade civil (CHESIRE, 2009; PNRO & SLOCOMBE, 2012), com o potencial de

trazer incertezas e despesas adicionais à indústria.

Por outro lado, traz a oportunidade de estabelecer um relacionamento de confiança

com a comunidade vizinha a suas atividades, reduzindo a potencial oposição aos projetos

da indústria pela construção de uma agenda comum, e do diálogo entre as partes. Trata-

se de uma licença “tácita”, intangível e informal (OWEN & KEMP, 2013), caracterizada

pelo respeito da empresa com relação a questões de direitos humanos, equidade social e

equilíbrio ambiental.

Em geral citam-se os seguintes motivadores dos conflitos causados por indústrias:

fraco engajamento da comunidade e stakeholders; inadequada distribuição de benefícios;

excessivo impacto econômico, social e ambiental; má administração dos recursos

(corrupção); inadequada estrutura legal e institucional; e relutância para abordar o uso de

recursos naturais nos acordos e ajustes de conduta entre empresa e poder

público/sociedade (PNRO & SLOCOMBE, 2012; SING, 2014; WILSON, 2015).

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Thomsom e Boutilier (2011) indicam quatro estágios de relacionamento

empresa-comunidade, partindo desde a alienação da empresa em relação ao seu entorno

até a efetiva confiança da comunidade local quanto às intenções da empresa.

Inicialmente, a empresa estaria em “isolamento”, situação na qual o

empreendimento se apresenta com pouca ou nenhuma possibilidade de diálogo com o seu

entorno.

A etapa seguinte, na qual foi conquistada a legitimidade, seria o “aceite” da

comunidade, situação em que ainda não há oposição, ou quando a mesma é pontual. Com

o aumento da credibilidade, na visão de que o empreendimento é benéfico à população

local, viria a sua “aprovação”.

Com aumento da confiança se alcançaria a situação desejada, quiçá utópica, de

“copropriedade” (identidade psicológica), na qual a população vizinha se torna defensora

do empreendimento e participante de suas decisões, com a manutenção ou melhoria de

sua qualidade de vida, conforme ilustrado na Figura 05.

Figura 05 - Pirâmide da LSO

Fonte: Adaptado de Thomsom e Boutilier (2011), p. 1784

Para isso aponta-se um consenso da indústria extrativista e de energia de que se

faz necessário manter uma reputação positiva, a busca pelo entendimento da cultura local,

assim como sua linguagem e história, instruir a comunidade local acerca do projeto /

empreendimento, assegurar consulta pública, assim como uma comunicação aberta, o

mais cedo possível e de mão dupla entre todos os stakeholders (PNRO & SLOCOMBE,

2012; HANNA et al, 2016).

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Entende-se que não seria suficiente a comunicação por meio de audiência pública,

sendo esta uma obrigação legal já estabelecida, demandado que esta comunicação deve

ser mais participativa. Desta forma, pretende-se garantir o empowerment local na tomada

de decisões, com uma efetiva discussão e debate acerca dos desafios, oportunidades,

ganhos e impactos em potencial (GOULART, 2009; PNRO & SLOCOMBE, 2012;

CORSCADDEN; WILE; YIRIDOE, 2012)

A comunicação prévia e efetiva, constante ao projeto, é de suma importância para

o relacionamento com a opinião pública, mídia de massa e mídias sociais. Verifica-se

com o advento da justiça social o consequente empoderamento de parte das populações

em vulnerabilidade social e situação de pobreza. Ou de agentes representativos ou

solidários de seus problemas com poder de influência, tais como organizações não

governamentais e órgãos reguladores (MAIA, 2014), ou até mesmo acionistas e

investidores.

O referido empoderamento decorre muitas vezes da utilização de protestos como

forma de ação política, reduzindo o desnível de poder existente e alterando a vantagem

dos “oponentes”, em geral empresas, com maior poder econômico, ou poder público, com

maior poder deliberativo.

Neste sentido Hanna, Vanclay, Langdon e Arts (2016) apontam mais de duzentos

termos em um glossário de ativismo em prol da LSO, incluindo mecanismos como

investimento ativista (comprar ações da companhia para intervir em suas decisões),

advocacy4 , lobbying, flashmob (coreografias coletivas para chamar a atenção de um

evento ou causa), hacking (interrupção de recursos de informática), uso do humor como

forma de protesto, greve de fome, petições online (tais como os coletivos Avaaz, Change,

e MeuRio), publicações acadêmicas, vandalismo, tweeting, memes, dentre outros.

Todos estes constituem basicamente de mecanismos para conquista da opinião

pública por meio da mídia de massa ou das redes sociais visando influenciar os tomadores

de decisão, conforme ilustrado na Figura 06.

Figura 06 - Mecanismos pelos quais protesto social, e sua influência nos tomadores de decisão

4Intervenção política de um indivíduo ou organização com o objetivo de influenciar a formulação de políticas ou a

alocação de recursos públicos de forma a promover a mobilização civil e a ação coletiva em defesa dos interesses que

defendem.

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Fonte: Hanna et al (2016), p. 219

Em comum estes mecanismos coincidiriam em sete funções: 1) informar, 2) captar

recursos, 3) dar publicidade, 4) mobilizar, 5) construir solidariedade para uma causa, 6)

estabelecer pressão política, ou 7) exercer ação direta (desobediência civil, como

bloqueios de estradas, e greves). Todos estes com potencial de gerar prejuízos para os

empreendimentos econômicos que se tornam alvo de suas ações, podendo ocasionar o

boicote de produtos ou mesmo o abandono de certos investimentos.

Ao mesmo tempo em que estes autores apoiam o ativismo “bem feito”, é digno

de crítica “ativistas que fazem muito barulho, mas não oferecem qualquer solução”

(LOWEY, 2016), reiterando desta forma que o diálogo deve estar aberto em ambas as

direções, empresa e sociedade, em prol do estabelecimento de soluções conjuntas

(VIANNA, 2013).

É importante ressaltar como mecanismos da licença social, além da comunicação

já citada, a transparência, o desenvolvimento de mecanismos de resolução de conflitos, e

a participação democrática no processo decisório, deixando a indústria de legitimar-se

somente na esfera econômica e acrescentando legitimidade sociopolítica. Esta última

ocorre através da participação da comunidade e dos diferentes públicos de interesse,

sejam lideranças ou mesmo vozes dissonantes na comunidade, gerando confiança

interacional por um debate de mão dupla (empresa>comunidade e comunidade>empresa)

e culminando na confiança institucionalizada. São os chamados “quatro níveis de LSO”.

Olivos (2015) identifica dimensões de desempenho econômico e social de um

projeto de investimento industrial, alertando que a sociedade:

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(...) não deve aceitar a geração de emprego como o único precedente que faz com que

seja possível atuar moral e corretamente, que exige mais e melhor regulamentação

como salvaguarda (OLIVOS, 2015:8).

O autor, assim como Marsico (2008) vão além, indicando desde as ofertas mais

básicas da empresa, de geração e empregos, objetivos econômicos tais como lucros para

a empresa, impostos e taxas para o poder público, propondo ainda a prática da filantropia

para apoio a causas sociais e ambientais, e até mesmo o atendimento às normas da

comunidade (local), e àquelas estabelecidas e/ou consensuadas na sociedade mais ampla,

na nação ou mesmo internacionalmente. O Quadro 02 ilustra essas duas dimensões e seus

desdobramentos

Quadro 02 – Metas possíveis da LSO

Dimensões de

Desempenho Variáveis Dimensões Definição

Econômico Capacidades Utilidades Capacidade de gerar utilidades.

Competências Capacidade de alcançar seus objetivos econômicos.

Social

Benevolência

Contratação Contratação de membros da comunidade.

Filantropia Doação de recursos para obras sociais para a

comunidade.

Diálogo Frequência de espaços de comunicação entre a

empresa e a comunidade.

Integridade

Micronormas

Respeito às normas do contrato social estabelecidas

pela própria comunidade através da tradição e dos

costumes.

Hipernormas

Respeito às normas do contrato social que vão além da

comunidade e devem ser seguidas pela sociedade

como um todo.

Fonte: Olivos (2015)

Em termos de rotinas para o alcance e manutenção da LSO, Boutilier e Thomsom

(2011) propõem que se começa com a estratégia da empresa, e a incorporação na mesma

dos subsídios dos diversos stakeholders, suas demandas, impactos, sugestões e críticas.

Isso de forma estruturada, indo além da simples consulta das lideranças já constituídas na

comunidade local, buscando também as vozes críticas, e suas contribuições ao processo.

Verifica-se assim um processo contínuo partindo da legitimidade, situação de

baixo capital social auferido, ou seja, baixa confiança, passando pela credibilidade e

culminando na confiança total, conforme Figura 07, situação em que a empresa estabelece

um “legado” na comunidade (TESCHNER, 2013), nos limites de poder de influência e

responsabilidade da empresa.

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Figura 07 - Construção de capital social, para obter um maior nível de licença social

Fonte: Boutilier e Thomsom (2011), p. 1782

Os autores Que, Awuah-Offei e Samaranayake (2015) vão além e propõem quatro

dimensões de avaliação da LSO, a saber:

1. Social: considera as mudanças populacionais ocasionadas, melhoria (ou piora) de

infraestrutura, impactos culturais, e potencial aumento da criminalidade e do tráfego;

2. Econômica: enfoca em oportunidades de emprego, elevação da renda, valorização e

especulação imobiliária, e a escassez de mão-de-obra para outras ocupações;

3. Ambiental: leva em conta a poluição sonora gerada pelo empreendimento (em sua

implementação e após), além da escassez ou contaminação da água e da terra, e a

poluição do ar; e por fim

4. Governança e outras: tomada de decisão sobre licenças e permissões para operação o

projeto, disponibilidade e transparência de informações, impactos do

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empreendimento com foco nas comunidades circunvizinhas ao negócio e na

sociedade em geral, e vida útil do projeto em questão.

Measham, Fleming e Schandl (2015) propõem, ainda neste sentido avaliativo, três

níveis de impactos socioeconômicos relativos aos empreendimentos da indústria

extrativista, ilustrados na Figura 08.

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Figura 08 - Efeitos primários, secundários e terciários no desenvolvimento de comunidades locais

Fonte: Measham, Fleming eSchandl (2015), p. 103

Por fim, vale registrar que são comuns nas pesquisas sobre a sustentabilidade na

mineração, atividades extrativas e de energia a ocorrência de estudos de caso (“cases”), o

próprio estudo da licença social para operar, e as preocupações quanto a questões de

accountability5 e ao engajamento da comunidade (WILSON, 2015). Neste sentido, a

seguir abordaremos o debate sobre a LSO na indústria e, posteriormente, a contribuição

da literatura técnica e científica para a presente pesquisa.

2.4. ANÁLISE DAS PRÁTICAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA EM

TERMOS DE LSO: GESTÃO DE STAKEHOLDERES

Owen e Kemp (2013) asseveram que, apesar do esforço (real ou imaginado) das

empresas em prol de entender as expectativas dos stakeholders, este é prejudicado na

medida em que as empresas e seus públicos de interesse prosseguem com visões distintas

5Termo originado do inglês traduzido comumente como prestação de contas. Segundo a NBR ISO 26000, trata-se da

“condição de responsabilizar-se por decisões e atividades e prestar contas destas decisões e atividades aos órgãos de

governança de uma organização, a autoridades legais e, de modo mais amplo, às partes interessadas da organização.

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sobre o significado do desenvolvimento. Este “gap” de expectativas pode ser mascarado

ou silenciado pela LSO, tornando a licença social uma ferramenta para manter o “business

as usual”, ou mesmo uma forma de “silenciar” comunidade (SING, 2014), o que muitas

vezes não resolve o problema, podendo acentuar a situação.

Nesta visão, seria a licença social não uma abordagem diferenciada em prol do

entendimento de outras racionalidades diversas à econômica (LEFF, 2011), mas sim uma

abordagem pragmática por parte de algumas empresas para viabilizar e rentabilizar seu

negócio. Segundo Owen e Kemp (2013), esta abordagem consiste na visão de que:

Licença social é apoiada pelo entendimento que as percepções ou respostas das

populações locais podem determinar a habilidade da empresa para acesso a terras, água

ou outros recursos humanos para propósito de exploração mineral, extração e

processamento, e sua transferência para os mercados (OWEN & KEMP, 2013: 31)

Esta visão mais “cínica” da licença social pode ser ainda ampliada pela ausência

de uma útil, prática e aplicável definição para o termo (LSO), sendo que cada stakeholder

a usaria de forma diferente, conforme suas conveniências. No caso das empresas, manter

sua rentabilidade; quanto à comunidade, auferir maiores benefícios do empreendimento;

e no caso do governo, aumento da tributação, conforme assevera Lowey (2016).

Originada pela queda da confiança pública nas instituições e órgãos regulatórios,

alguns especialistas argumentam que a licença social não pode ser vista como um ultimato

de minorias a projetos de interesse público, trazendo a preocupação de que as relações de

poder constituídas não destoem do objetivo da participação para uma verdadeira “ditadura

da maioria” (LOWEY, 2016).

Neste sentido, há críticas das decisões deixadas à sociedade como um todo, em

detrimento de perspectivas locais, o que pode desvirtuar a eficácia de suas iniciativas.

Vale indicar que uma mínima resistência local não necessariamente é sinal de

licença social, pois algumas oposições políticas podem causar um risco aos opositores,

sobretudo em sociedades com menor liberdade de expressão.

No momento em que a empresa considera muitas vozes da comunidade como

“desqualificadas”, excluindo-as do processo decisório e de diálogo, passa-se a impressão

de que a LSO se trata de algo centrado em uma análise de risco e retorno, ou seja,

priorizando o uso da licença social para operar para reduzir oposição observável à

indústria, e não para engajar a comunidade para o desenvolvimento a longo prazo. Isso

se verifica com as empresas concentrando quase a totalidade do poder decisório, gerando

distanciamento entre discurso e prática (OWEN & KEMP, 2013), incluindo o acesso

privilegiado da empresa a investimentos públicos.

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Entende-se que a empresa deve ir além meramente da gestão de riscos, buscando

o efetivo engajamento da comunidade local por meio da atenção aos impactos, interesses

e expectativas gerados pelo empreendimento (ABNT, 2010). Atentando para o respeito e

proteção dos direitos humanos, com o apoio e intermediação do poder público como

fiscalizador para reparação, quando necessário (RUGGIE, 2011).

Vale registrar que uma comunicação bem dirigida e uma gestão das expectativas

das comunidades tendem a viabilizar a mitigação dos riscos e impactos ao negócio. Neste

sentido, é de fundamental importância a mudança de paradigma acerca da gestão dos

stakeholderes, tradicionalmente pautada em relação de confiança por parte da

comunidade sem contestação às decisões empresariais.

Modernamente, este modelo de confiança sem contestação tem migrado para uma

lógica de envolvimento maior entre as partes (ALMEIDA, 2007), com a tendência para

uma relação mais dialógica considerando-se os diferentes saberes e racionalidades, a

puramente econômica e a ambiental, incluindo ainda perspectiva da comunidade local.

Owen e Kemp (2013) alertam para o perigo da “governança negativa”, aquela que

privilegia a perspectiva da maioria obstruindo a diversidade e divergência de opinião, em

busca de amplo consenso. Desta forma, os autores acrescentam:

Os argumentos contra a licença social podem ser resumidos da seguinte forma.

Enquanto a licença social chama atenção ao domínio humano, na prática, desvaloriza

essas responsabilidades relacionais. Percepções são posicionadas como primárias e as

atuais contribuições ao desenvolvimento ou produtos, como secundárias. Como um

conceito agregador fundado na noção do “amplo consenso”, a moldura da licença social

não busca balancear vozes dominantes e dissidentes, exceto onde as partes interessadas

marginais empregarem estratégias de resistência poderosos. O que está contido dentro

da licença social é mal definido pela indústria. (...) a construção de licença social é

contrária a uma agenda de desenvolvimento sustentável. (OWEN & KEMP, 2013: 33)

Salvaguardadas as críticas apresentadas, alguns pesquisadores e organismos

supranacionais tem buscado estabelecer um consenso sobre os princípios orientadores

sobre empresas e direitos humanos, com destaque para o professor John Ruggie (2011),

representante da ONU, e seus três princípios: proteger, respeitar e reparar.

Esta composição deixa explicita a obrigação do Estado em proteger, a

responsabilidade corporativa em respeitar os direitos humanos estabelecidos, e a

necessidade de maior acesso à efetiva remediação por parte das vítimas (PNUD, 2014;

WACHENFELD, ANGULO & KEMP, 2014), em convergência com a licença social.

Ainda de forma propositiva, há certo consenso entre os autores pesquisados de

temas críticos para o trato da questão dos direitos humanos por parte das empresas, a

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saber: participação, inclusão, transparência, accountability, auditoria em direitos

humanos (due dilligence 6 ), a necessidade de especialistas independentes mapearem

continuamente os riscos do negócio, e a premência de uma abordagem baseada em

direitos humanos (RUGGIE, 2011; WACHENFELD, ÂNGULO & KEMP, 2014).

Giurco, Mclellan, Franks e Nansai (2014) questionam se mais vale “uma mina

onde trabalhadores são bem pagos e que utiliza energia limpa e processos ecológicos, ou

uma mina onde o metal utilizado vem de lixo reciclado pós consumo”. Desta forma, os

autores citados alertam para a oposição em diferentes escalas e localizações, dando

especial atenção para o papel de novas tecnologias e, sobretudo, a necessidade de se

repensar o negócio; no caso de seu objeto de estudo, justificar “por que metais (sobre as

alternativas não-metálicas) são mais adequados”.

Verifica-se desta maneira uma tendência a um maior foco no negócio nas ações

da licença social em detrimento de medidas meramente compensatórias (a posteriori) e

investimentos filantrópicos, conforme abordado previamente nesta pesquisa por Pellow

(2006) e Acselrad (2010) na questão da justiça ambiental.

Vale indicar que parte da literatura da LSO se concentra na análise de estudos de

caso, que ilustram postumamente determinada questão, buscando compreender as falhas/

lacunas. Dentre o núcleo de partida se destacam seis estudos neste sentido: empresas de

óleo e gás na Austrália (1), Nigéria (2) e no Chile (3), projetos eólicos em Nova Escócia

(4), e a indústria mineradora de Papua Nova Guiné (5) e na Serra Leoa (6), conforme

textos de Richert, Rogers e Burton (2015), Idemudia (2009), Wilson (2015), Corscadden,

Wile eYiridoe (2012), e Sing (2014). A seguir, encontram-se suas principais ideias e

conclusões.

Identifica-se que a exploração dos recursos naturais pode gerar poluição e

contaminação do solo, ar ou água, impactos estes mais visíveis, mas igualmente riscos

socioambientais tais como a presença da força de trabalho e infraestrutura em áreas

anteriormente inabitadas, que podem prejudicar os ecossistemas conforme verificado em

Marsico (2008), Goulart (2009) e Chaves (2011). Neste sentido, Richert, Rogers e Burton

(2015) indicam que projetos de óleo e gás, e empreendimentos industriais em geral

tendem a ser aceitos, mas não necessariamente tem sua LSO garantida, podendo perdê-la

6 “Processo abrangente e proativo de identificar os impactos sociais, ambientais e econômicos negativos reais e

potenciais das decisões e atividades de uma organização ao longo de todo o ciclo de vida de um projeto ou atividade

organizacional, visando evitar ou mitigar esses impactos” (NBR ISO 26000).

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em razão de práticas irresponsáveis. O que pode encarecer, ou mesmo inviabilizar uma

empreitada econômica.

Já Idemudia (2009) indica a existência de dois modelos de investimento social

privado na região pesquisada pelo autor: o modelo corporativo “direcionado pela empresa”

e o modelo de fundação comunitária, este último pondo as comunidades no centro de seu

próprio desenvolvimento.

No caso da Exxon (desenvolvimento direcionado pela empresa) verificou-se

maiores custos com comunicação e maior percepção de corrupção, e um sentimento de

“promessas quebradas”. Muitas vezes foi indicada uma destinação ineficiente dos

recursos investidos, pois a comunidade afetada raramente era consultada (JENKINS,

2004; PENALVA, 2008; CORSCADDEN, WILE & YIRIDOE, 2012; TESCHNER,

2013).

Wilson (2015) reitera esta questão, com especial atenção ao desnível de poder

entre os stakeholders; no caso citado, na medida em que a empresa estudada controlava

a destinação dos fundos, consequentemente conduzia-se um desenvolvimento

comunitário insustentável com pouca participação da comunidade local, focado na

melhoria da imagem da empresa.

Sing (2014) ilustra no caso estudado que a degradação social e ambiental era vista

pela empresa e pelo poder público local como um trade-off aceitável, apesar de nem

sempre haver benefícios diretos e duradouros para a comunidade. Ressalta ainda o poder

da “pressão regulatória descentralizada” (ativismo, protestos, ação civil pública, disputas

judiciais, visibilidade, reputação, imagem) como forma de a indústria internalizar os

custos dos seus impactos ambientais, conforme visto em Sing (2014) e Hall et al (2016).

Em comum, estes “casos” trazem algumas questões pertinentes, e passíveis de

registro, tais como:

Questionamento acerca da legitimidade das mineradoras (e da indústria extrativista

em geral) como atores importantes em definir o destino das comunidades locais, na

medida em que nem sempre a solução da empresa de fato atende às necessidades

comunitárias, que seja na mitigação das próprias externalidades causadas pela

indústria (IDEMUDIA, 2009; RUGGIE, 2011);

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A importância de, sempre que possível, empregar mão-de-obra local, usar serviços /

aquisições locais, e custear iniciativas locais de investimento social privado, como

forma de constituir um “legado” da empresa na comunidade (TESCHNER, 2013),

visando preparar esta última para o fim da atividade industrial, e seus impactos na

economia local;

Identificação de que há pouco (ou nenhum) esforço público e privado para a

diversificação da economia, causando uma dependência excessiva em relação às

atividades da empresa (SING, 2014).

Cria-se assim a necessidade em promover o desenvolvimento da comunidade

mantendo ou aumentando seu bem-estar mesmo após o descomissionamento do

empreendimento (CHESIRE, 2009), sob o risco de que os patrocínios da empresa a

serviços essenciais à comunidade cessem no futuro com a desativação do projeto

(JENKINS, 2004; CHESIRE, 2009; SING, 2014); e

A falha em atender / mitigar os reais impactos da atividade e incorporá-los na

estratégia de negócios tem gerado compensações e atividades desvinculadas da

realidade local, feitas para atender a órgãos reguladores ou a supostos representantes

comunitários.

Estas nem sempre surtem o efeito desejado, podendo até exacerbar conflitos locais e

a desigualdade social (IDEMUDIA, 2009; RUGGIE, 2011; TESCHNER, 2013;

RICHERT, ROGERS & BURTON, 2015; MEASHAM, FLEMING & SCHANDL,

2015).

Há ainda o risco de a iniciativa de relacionamento da empresa com a comunidade

local constituir (ou ser vista como) forma de controlar a última ao invés de iniciativas em

prol do meio ambiente e da equidade social. Desta forma, ao mesmo tempo em que

apresenta a importância da compensação dos impactos da empresa (RICHERT, ROGERS

& BURTON, 2015; MEASHAM, FLEMING & SCHANDL, 2015) é importante o

cuidado em não criar dependência e nem reforçar desigualdade social e econômica

(JENKINS, 2004; CHESIRE, 2009; SING, 2014).

Desta forma, entende-se que uma empresa assim dita “responsável” não se exime

dos impactos de suas próprias atividades, assim como os impactos relativos à sua cadeia

de suprimentos (LOSICER, 2013; GIURCO, MCLELLAN, FRANKS & NANSAI, 2014),

trazendo a licença social para operar como uma questão pertinente à estrategia da empresa.

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2.5. CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA TÉCNICA E CIENTÍFICA PARA OS

OBJETIVOS DA PESQUISA

Verifica-se que de fato a licença social para operar é uma questão premente da

indústria extrativa, afetando inclusive à indústria de petróleo e gás à qual pertence a

empresa ora estudada. Nesse sentido, a revisão bibliográfica contemplou uma miríade de

fatores relativos ao conceito de LSO, que podem ser sumarizados conforme o Quadro 03.

Quadro 03 – Fatores em destaque no conceito de licença social para operar (LSO)

# Fatores Autores

1 Necessidade de comunicação breve, desde o início e

constante

Pnro e Slocombe (2012); Hanna et al (2016); Goulart

(2009); Corscadden; Wile; Yiridoe (2012); Boutilier e

Thomsom (2011); Awuah-Offei e Samaranayake

(2015); Owen e Kemp (2013); Idemudia (2009)

2 Duedilligence

Ruggie (2011); Pnud (2014); Wachenfeld, Angulo

Kemp, (2014); Losicer (2013); Giurco, Mclellan,

Franks e Nansai (2014)

3 Empoderamento / participação / diálogo

Idemudia (2009); Ruggie (2011); Teschner (2013);

Richert, Rogers e Burton (2015); Measham, Fleming e

Schandl (2015); Jenkins (2004); Penalva (2008);

Corscadden, Wile eYiridoe (2012); Pnro e Slocombe

(2012); Sing (2014); Wilson (2015); Goulart (2009);

Maia (2014); Vianna (2013); Owen e Kemp (2013)

4 Estabelecimento de um “legado” para a comunidade Teschner (2013); Chesire (2009)

5 Confiança Lowey (2016); Owen e Kemp (2013); Thomsom e

Boutilier (2011)

6 Mitigação de impactos

Idemudia (2009); Ruggie (2011); Awuah-Offei e

Samaranayake (2015); Pnud (2014); Wachenfeld,

Angulo e Kemp, (2014); Losicer (2013); Giurco,

Mclellan, Franks e Nansai (2014); Sing (2014);

Teschner (2013); Richert, Rogers e Burton (2015);

Measham, Fleming e Schandl (2015)

7 Sustentabilidade econômica / geração de empregos

Boutilier e Thomsom (2011); Olivos (2015); Awuah-

Offei e Samaranayake (2015); Measham, Fleming e

Schandl (2015); Lowey (2016); Jenkins (2004);

Chesire (2009); Sing (2014)

8 Sustentabilidade social

Boutilier e Thomsom (2011); Olivos (2015); Awuah-

Offei e Samaranayake (2015); Measham, Fleming

eSchandl (2015); Lowey (2016); John Ruggie (2011);

Losicer (2013); Giurco, Mclellan, Franks e Nansai

(2014); Marsico (2008); Goulart (2009); Chaves

(2011); Richert, Rogers e Burton (2015); Sing (2014);

Jenkins (2004); Chesire (2009)

9 Sustentabilidade ambiental Lowey (2016); Leff (2011); Sing (2014)

10 Sustentabilidade espacial ou geográfica Marsico (2008); Goulart (2009); Chaves (2011);

Measham, Fleming e Schandl (2015)

11 Sustentabilidade cultural Pnro e Slocombe (2012); Hanna et al (2016)

12 Preocupação quanto a evitar dependência excessiva Sing (2014); Jenkins (2004); Chesire (2009)

13 Vantagem competitiva / RS no negócio Giurco, Mclellan, Franks e Nansai (2014); Pellow

(2006); Acselrad (2010)

Fonte: Autor

Detalhando os fatores de sucesso da LSO mais frequentemente encontrados na

literatura, tem-se o seguinte panorama em termos de protocolos de relacionamento

empresa-comunidade:

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1. Necessidade de comunicação breve, desde o início e constante: prevê a empresa

assumindo compromisso além do exigido na legislação, pois se entende que a

indústria deve manter proativamente uma boa comunicação com a comunidade,

além dos canais formais exigidos.

2. Due dilligence: trata-se da identificação dos impactos da empresa através de

auditoria externa e isenta em direitos humanos e proteção ao meio ambiente,

igualmente à versão contábil já consagrada pelas empresas.

3. Empoderamento / participação / diálogo (gestão de stakeholders): de forma

recorrente a literatura cita a importância de que a empresa dialogue com a

comunidade local, qualificando-a e trazendo-a para o processo decisório sempre

que possível.

4. Estabelecimento de um “legado” para a comunidade: ressalta-se a importância de

se estabelecer um benefício, o mais duradouro possível, em termos

socioeconômicos.

5. Confiança: verifica-se que em uma sociedade em muitos casos mais crítica, em

que a informação circula com maior velocidade, é importante a conquista e

manutenção e uma relação de confiança para com todos os públicos de interesse,

e não apenas acionistas, mídia e governo. É salutar registrar que a definição de

público de interesse está cada vez mais ampla, considerando aqueles que desejam

se relacionar com a organização.

6. Mitigação de impactos: inicialmente às empresas era demandado que reduzisse

seus impactos negativos, o que com o tempo evoluiu para a cobrança pelo “zero

impacto” sendo que, no futuro, estima-se que pauta da indústria seja gerar

impactos positivos (ELKINGTON, 2011).

7. Sustentabilidade econômica / geração de empregos: uma constante nos discursos

das empresas como benefício às comunidades, nem sempre se reflete para todos,

pois ocorre por vezes que as novas vagas de emprego e oportunidades são

temporárias, ou necessitam de qualificação que não é disponibilizada para a

população local, aquela que efetivamente sofreu o impacto do projeto.

8. Sustentabilidade social: considera a melhoria (ou piora) das condições de saúde e

qualidade de vida locais durante e após a viabilização do projeto.

9. Sustentabilidade ambiental: contempla a garantia de preservação ambiental,

equidade e justiça no acesso aos recursos naturais.

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10. Sustentabilidade espacial ou geográfica: este fator é relativo aos deslocamentos e

migração gerados pelos projetos de investimento empresariais e seus impactos na

infraestrutura pública, tais como especulação imobiliária, violência.

11. Sustentabilidade cultural: é crescente a cobrança às empresas da consideração dos

conhecimentos tradicionais e vozes locais na tomada de decisão.

12. Preocupação quanto a evitar dependência excessiva: reflete a questão da

desmobilização e fim do empreendimento, e seus impactos socioambientais

adversos às comunidades locais, que por vezes passam a depender da indústria

para seu sustento. Inclui ainda a questão dos impostos e taxas gerados pela

atividade econômica, por vezes vitais ao provimento de serviços públicos

importantes à sociedade.

13. Vantagem competitiva / Responsabilidade Social no negócio: esta é considerada

sobretudo como forma de manter intactos a preocupação com o investimento em

práticas sustentáveis e de mitigação de impactos socioambientais em tempos de

crise e escassez de recursos. Desta maneira, um grupo de empresas tem se voltado

para a incorporação estratégica das questões de sustentabilidade e da pauta

socioambiental, incorporando-a em seus processos produtivos e objetivos

estrategicos.

Considerando os fatores descritos originados da revisão sistemática da literatura,

entende-se que a pauta da licença social para operar é relevante para a viabilização dos

empreendimentos e grandes projetos de investimento, de forma a otimizar seus benefícios,

e mitigar ou excluir eventuais prejuízos à sociedade e ao meio ambiente.

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo descreve-se a metodologia da pesquisa a ser realizada, seus

pressupostos, premissas e limitações, de forma a nortear a inserção em campo para análise

do fenômeno estudado.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

O presente estudo contempla a inserção na realidade estudada através de

entrevistas e análise documental, além da busca por pesquisas acadêmicas correlatas.

Nesse sentido, possui uma abordagem qualitativa, com caráter construtivista e dialógico,

considerando a construção conjunta de saberes e conclusões entre a empresa, a

comunidade tradicional, o poder público e a comunidade acadêmica.

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A pesquisa tem foco na interpretação do fenômeno, não na confirmação de um

fato previamente concebido (GRAY, 2011), diferente da abordagem quantitativa, onde

[...] o que serve de informação é a frequência com que surgem certas características de

conteúdo. Na análise qualitativa é a presença ou a ausência de uma dada característica

de conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento de mensagem que é tomado em consideração (BARDIN, 2006:21)

Foi realizado um levantamento via entrevistas junto aos diversos públicos que

interagiram com o fenômeno, a fim de captar as diversas visões do objeto de estudo.

Pressupõe-se para o presente estudo simultaneamente um caráter descritivo,

buscando averiguar como são os procedimentos da empresa em questão que tratam do

diálogo com as comunidades do entorno de seus empreendimentos, e uma abordagem

narrativa. Busca desta forma responder até que ponto a empresa consegue atender aos

requisitos de licenciamento ambiental e diálogo com a comunidade circunvizinha, e

correlacional, a fim de compreender eventuais relações entre falhas neste processo e

consequentes atrasos na entrega dos empreendimentos.

Considera ainda averiguar que estratégias a empresa adota para evitar novos

problemas desta natureza em suas atividades produtivas.

3.2 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA DE PESQUISA

A amostragem considerada para o presente estudo contempla representantes de

todos os atores envolvidos (pescadores, empresa, poder público e pesquisadores) em

quatro modelos de questionário descritos na seção Apêndices.

Vale registrar que se trata de uma amostragem qualificada no sentido de captar

informações relevantes sob as diferentes perspectivas do fenômeno. Considerando a

impossibilidade para a entrevista da população completa, ou seja, as 96 famílias que

configuram como autoras no inquérito civil público Nº 1.30.020.000044/2009-53 (MPF,

2009), todos os funcionários da empresa autuada e suas prestadoras de serviço que

atuaram neste empreendimento (obras GNL e GNP em Magé/RJ), assim como

funcionários do governo e todos os pesquisadores que tratam do tema, é necessária a

composição de uma amostragem para a pesquisa.

Esta amostra foi baseada em três parâmetros: 1) indivíduos diretamente

envolvidos no caso (pescadores autores da ação civil pública e funcionários da empresa

das áreas de operação e responsabilidade social); 2) indicações destes indivíduos de

pessoas que vivenciaram diretamente a situação; e 3) pesquisadores e autoridades

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públicas que trataram ou estudaram o tema. Planeja-se esta abordagem ao público descrito

no Quadro 04.

Quadro 04 – Mapa de entrevistas

Ator Perfil Experiência Contribuição esperada/observações

E1 Empresa Gerência Integração

Regional e

Relacionamento

Comunitário

Gerente

Informações sobre os protocolos da empresa

para relacionamento comunitário, engajamento

e mecanismos de queixas

E2 Empresa Gerência Integração

Regional e

Relacionamento

Comunitário

Gerente setorial

(RJ-MG-ES)

Informações sobre os protocolos da empresa

para relacionamento comunitário, engajamento

e mecanismos de queixas

E3 Empresa Gerência Integração

Regional e

Relacionamento

Comunitário

Funcionário/Grupo

de trabalho pesca

Informações sobre os protocolos da empresa,

histórico de conflitos, engajamento e

mecanismos de queixas

E4 Empresa

Gerência Programas

Sociais

Gerente

Informações sobre os protocolos da empresa

para investimento socioambiental

E5 Empresa Gerência Programas

Ambientais

Gerente Informações sobre os protocolos da empresa

para investimento socioambiental

E6 Empresa Gerência Programas

Sociais

Funcionário/GT

pesca

Informações sobre os protocolos da empresa,

histórico de conflitos, engajamento e

mecanismos de queixas

E7

Empresa

Gerência Executiva

Assessora Gerente

Executivo (equipe

de Responsabilidade

Social)

Informações sobre os protocolos da empresa

para relacionamento comunitário, e

investimento socioambiental

E8 Empresa Jurídico Gerente/GT pesca Informações sobre os protocolos da empresa,

histórico de conflitos, engajamento e

mecanismos de queixas

E9 Empresa Área de produção

(GNL e GNP)

Gerente Informações sobre os protocolos da empresa,

histórico de conflitos, engajamento e

mecanismos de queixas

P1 Pescador AHOMAR Presidente da

associação

Informações sobre demandas e histórico de

conflitos. Ação civil pública, resultados e

expectativas

P2 Pescador FAPESCA Representante Informações sobre demandas e histórico de

conflitos P3 Pescador Associação de

pescadores

Representante Informações sobre demandas e histórico de

conflitos P4 Pescador Associação local

(Colônia z-9)

Representante Informações sobre demandas e histórico de

conflitos P5

Pescador

Terceiro Setor

Presidente da ONG

Guardiões do Mar,

coordenador geral

do Projeto

Caranguejo Uçá

Informações sobre demandas e histórico de

conflitos

P6

Pescador

Terceiro Setor

Ex-presidente da

Associação de

Morados e Amigos

da Ilha de Itaoca

(AMAII)

Informações sobre demandas e histórico de

conflitos

P7

Pescador

Pescador Magé/RJ

Parte da ação civil

pública Nº

1.30.020.000044/20

09-53

Informações sobre demandas e histórico de

conflitos. Ação civil pública, resultados e

expectativas

P8

Pescador

Pescador Magé/RJ Parte da ação civil

pública Nº

1.30.020.000044/20

09-53

Informações sobre demandas e histórico de

conflitos. Ação civil pública, resultados e

expectativas

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Ator Perfil Experiência Contribuição esperada/observações

P9

Pescador

Pescador Magé/RJ Parte da ação civil

pública Nº

1.30.020.000044/20

09-53

Informações sobre demandas e histórico de

conflitos. Ação civil pública, resultados e

expectativas

A1

Academia

PPGSD/UFF

Linha de pesquisa

“Conflitos

socioambientais,

rurais e urbanos”

Verificar as considerações e contribuições da

academia ao debate

A2

Academia

PPGSD/UFF

Linha de pesquisa

“Conflitos

socioambientais,

rurais e urbanos”

Verificar as considerações e contribuições da

academia ao debate

A3 Academia ETTERN/

IPPUR/UFRJ

Laboratório

“Estado, trabalho,

território e natureza”

(conflitos)

Verificar as considerações e contribuições da

academia ao debate

A4 Academia ETTERN/

IPPUR/UFRJ

Laboratório

“Estado, trabalho,

território e

natureza” (conflitos)

Verificar as considerações e contribuições da

academia ao debate

A5 Academia FIOCRUZ Equipe do “mapa de

conflitos”

Verificar as considerações e contribuições da

academia ao debate

A6

Academia

UFRRJ/PPGPDS

Linha de pesquisa

“Políticas públicas,

governança e

conflitos

socioambientais”

Verificar as considerações e contribuições da

academia ao debate

PP1 Poder

Público

Ministério de Meio

Ambiente

Ex-ministro ou

funcionário da pasta

Políticas públicas e contribuições do poder

público para evitar ou mitigar os conflitos

indústria-pescadores

PP2 Poder

Público

MP-RJ Procurador Contribuições do poder público para evitar ou

mitigar os conflitos indústria-pescadores, o que

pode ser dificultado por sigilo de Justiça

PP3 Poder

Público

TJ-RJ Ação civil pública

Nº 0005161-

16.2011.8.19.0029

Contribuições do poder público para evitar ou

mitigar os conflitos indústria-pescadores, o que

pode ser dificultado por sigilo de Justiça

PP4 Poder

Público

ICMBio ou Ibama Representante Contribuições do poder público para evitar ou

mitigar os conflitos indústria-pescadores, o que

pode ser dificultado por sigilo de Justiça Fonte: Autor

Vale indicar que se optou pela amostra qualificada não probabilística, dada a

natureza qualitativa do estudo.

3.3. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Serão utilizados como instrumentos de coleta de dados quatro modelos de

questionário ilustrados no Apêndice para embasar entrevistas semiestruturadas, com a

elaboração simultânea de perguntas abertas e fechadas (GRAY, 2011), permitindo assim

o protagonismo do informante na inclusão ou citação de questões eventualmente alheias

ao entrevistador.

Os questionários serão baseados no referencial teórico, assim como na análise de

jurisprudências e processos de justiça (ação civil pública) correlatos ao objeto de pesquisa

conforme ilustrado no Quadro 05, assim como outros levantamentos anteriormente

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realizados (URZUA, 2003; MARSICO, 2008; BRONZ, 2009; FAPP-BG, 2013; ROCHA,

2013; QUE, AWUAH-OFFEI & SAMARANAYAKE, 2015; RICHERT, ROGERS &

BURTON, 2015).

Quadro 05 – Fundamentação das questões propostas (questionário)

Questões Fatores Autores Objetivos

específicos

Perguntas de

classificação Gray (2012); Creswell (2007); MPF (2009)

1 e 2

Familiaridade com o

objeto de pesquisa

(case)

Wilson (2015); Richert, Rogers e Burton (2015),

Idemudia (2009), Wilson (2015), Corscadden, Wile e

Yiridoe (2012); Sing (2014); MPF (2009)

1,2

4(P) “Legado” Teschner (2013); Chesire (2009) 3, 4

5, 5(E), 6(E),

6(P), 7(E)

Necessidade de

comunicação

Pnro e Slocombe (2012); Hanna et al (2016); Goulart

(2009); Corscadden; Wile; Yiridoe (2012); Boutilier e

Thomsom (2011); Awuah-Offei e Samaranayake

(2015); Owen eKemp (2013); Idemudia (2009)

1,2,3, 4

4, 7 Mitigação

MPF (2009); Idemudia (2009); Ruggie (2011); Awuah-

Offei e Samaranayake (2015); Pnud (2014);

Wachenfeld, Angulo e Kemp, (2014); Losicer (2013);

Giurco, Mclellan, Franks e Nansai (2014); Sing (2014);

Teschner (2013); Richert, Rogers e Burton (2015);

Measham, Fleming eSchandl (2015)

2

4(P), 6 Sustentabilidade

MPF (2009); Olivos (2015); Measham, Fleming

eSchandl (2015); Que, Awuah-Offei e Samaranayake

(2015)

3, 4

3 , 6(E), 7(E),

7(P), 8(P), 8, 9,

10

Empoderamento

Idemudia (2009); Ruggie (2011); Teschner (2013);

Richert, Rogers e Burton (2015); Measham, Fleming e

Schandl (2015); Jenkins (2004); Penalva (2008);

Corscadden, Wile eYiridoe (2012); Pnro e Slocombe

(2012); Sing (2014); Wilson (2015); Goulart (2009);

Maia (2014); Vianna (2013); Owen e Kemp (2013)

3,4

Fonte: Autor

Os modelos propostos encontram-se nos apêndices deste estudo.

3.3.1 Procedimentos de validação do instrumento de coleta

Na medida em que se trata de uma entrevista semiestruturada, foi proposta a

validação do instrumento de entrevista com pequenas amostras do público a ser

pesquisado, e a triangulação das questões propostas (CRESWELL, 2007; GRAY, 2011).

Foi realizada uma testagem prévia de cada um dos modelos de questionário

previamente à aplicação dos questionários aos públicos-alvo, contemplando ao menos um

indivíduo de cada público de interesse. O referido teste embasou mudanças pontuais no

instrumento de coleta (questionário) a fim de aprimorar o entendimento das questões

propostas, assim como a ampliação do público “academia” contemplando também a

sociedade civil, de forma a englobar indivíduos não enquadrados nas outras categorias de

questionário.

3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS

A fim de proceder ao aproveitamento do conteúdo coletado nas entrevistas e

pesquisas na literatura, das ações civis públicas e materiais disponibilizados publicamente

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pela empresa e pela academia, será utilizado o método denominado análise de conteúdo.

Esta metodologia trata-se de:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos,

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores

(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às

condições de produção / recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2006:41)

A análise de conteúdo preza pela inferência e, desta forma, “constitui um bom

instrumento de indução para se investigarem as causas (variáveis inferidas) a partir dos

efeitos (variáveis de inferência ou indicadores; referências de texto) ” (BARDIN,

2006:137), visando “ultrapassar o senso comum do subjetivismo e alcançar o rigor

científico necessário, mas não a rigidez inválida” (MOZZATO & GRZYBOVSKI, 2011).

Através desta metodologia, são estudados os principais discursos, palavras-chave

e depoimentos comuns a cada público abordado, assim como seus respectivos consensos

ou divergências.

A referida metodologia permite uma melhor compreensão dos conteúdos e da

comunicação coletada, de forma a propiciar o enriquecimento da leitura através de um

“conjunto de técnicas de análise das comunicações” (BARDIN, 2006). Desta maneira:

[...] a análise de conteúdo não deve ser extremamente vinculada ao texto ou a técnica,

num formalismo excessivo, que prejudique a criatividade e a capacidade intuitiva do

pesquisador, por conseguinte, nem tão subjetiva, levando-se a impor as suas próprias

ideias ou valores, no qual o texto passe a funcionar meramente como confirmador

dessas. (CAMPOS, 2004: 611)

A análise de conteúdo, conforme propõe Bardin (2006), seria composta pelas

seguintes etapas:

Pré-análise: etapa realizada através da leitura “flutuante” e escolha dos

documentos que embasarão o estudo (livros, artigos, dissertações, ação

civil pública, relatórios públicos da empresa), considerando-se os critérios

de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência. A

seguir procede-se a formulação de hipóteses /objetivos e elaboração de

indicadores, por meio do qual se definem as questões da pesquisa a serem

respondidas pela aplicação do método, e sua relação com o referencial

teórico;

Exploração do material: nesta atividade realiza-se a imersão na leitura dos

documentos e pesquisas selecionadas, ou na realização das entrevistas; e

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Tratamento dos resultados e interpretações: efetua-se a conclusão da

pesquisa, com a análise do material coletado (leitura de documentos e

processo de escuta dos entrevistados), possibilitando a análise dos

discursos dos respondentes e a aplicação da estatística descritiva para

melhor visualização dos resultados apresentados.

O objetivo final é a análise dos discursos (poder público empresa, pescadores e

academia), detectando ou propondo boas práticas da indústria alternativas visando à

melhoria no relacionamento empresa-comunidade, conforme ilustrado na Figura 09.

Figura 09 - Desenvolvimento de uma análise

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60

Fonte: Bardin (2006), p. 102

Entende-se que o método proposto contribui para apreender tanto os conteúdos

manifestos espontaneamente (explícitos) pelos entrevistados, e referencial teórico

estudado, quanto os conteúdos latentes na comunicação com os atores consultados

(MOZZATO & GRZYBOVSKI, 2011).

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Vale indicar as limitações e pontos a observar relativos à proposta e as

providências adotadas para mitigá-los, controlando os vieses possíveis da pesquisa.

Inicialmente, convém registrar que se optou pela amostra qualificada não aleatória,

em razão da busca por indivíduos com conhecimento da causa visando a um maior

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aprofundamento em cada entrevista. Desta forma, será usada a técnica da amostragem

“bola de neve” (snowball sampling).

Essa técnica é uma forma de amostra não probabilística utilizada em pesquisas sociais

onde os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que por sua vez

indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo

proposto (o “ponto de saturação”). O “ponto de saturação” é atingido quando os novos

entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, sem

acrescentar novas informações relevantes à pesquisa (BALDWIN & MUNHOZ, 2011:

332)

O plano de entrevistas contempla os quatro atores envolvidos, comunidade

(pescadores), empresa, poder público e comunidade acadêmica / sociedade civil. Com

isso pretende-se contemplar os múltiplos olhares sobre a questão, e detectar eventuais

discursos dissonantes, novas ideias e soluções emergentes.

A maior dificuldade prevista de contato seria com o setor público, em razão de

sigilo de justiça, assim como eventuais omissões por parte da empresa, em razão de

potenciais prejuízos ocasionados da ação civil pública.

Visando a uma maior confiabilidade nos resultados alcançados, recorre-se a

Creswell (2007), o qual propõe oito estratégias para confirmar a exatidão dos resultados

em pesquisa qualitativa, as quais serão incorporadas ao método proposto visando dar-lhe

maior validade acadêmica e fidedignidade, sendo elas:

1. Triangulação de diferentes fontes de informações de dados, de forma a coletar

diferentes perspectivas de um fenômeno;

2. Conferência dos membros a fim de permitir a verificação dos resultados e

premissas adotadas no estudo;

3. Descrição rica e densa dos resultados, permitindo sua plena compreensão e

rastreabilidade, com a possibilidade de replicação do estudo;

4. Esclarecimento dos vieses que o pesquisador traz para o estudo;

5. Apresentação de informações negativas ou discrepantes, permitindo assim

visualizar perspectivas diversas da adotada pelo estudo;

6. Inserção qualificada e profunda no campo, de forma a vivenciar o fenômeno;

7. Realização de interrogatório de pares para aumentar a precisão do relato, no caso

tanto buscando outros pesquisadores quanto outras perspectivas da empresa, dos

pescadores e do poder público;

8. Utilização de um agente externo para revisão da metodologia e dos resultados

alcançados, quando possível, dentre os quatro atores envolvidos.

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62

Ainda neste sentido, de forma a permitir a abordagem mais neutra possível, foi

realizado o detalhamento dos procedimentos adotados na abordagem proposta, suas

dificuldades e oportunidades, na forma de um “diário de bordo”. Este documento, de uso

exclusivo do pesquisador, trata-se de planilha em Excel com todos os depoimentos

consolidados e devidamente identificados, o que para fins desta publicação não será

anexado, de forma a proteger a identidade dos respondentes.

Outra limitação inerente ao método da análise de conteúdo reside no mesmo ter

muitas vezes privilegiado a comunicação oral e escrita, excluindo, por vezes, outros meios

de comunicação (MOZZATO & GRZYBOVSKI, 2011), tais como comportamentos e

história dos envolvidos. Neste estudo serão usados documentos, pesquisas acadêmicas

correlatas e a ação civil pública que versa sobre o tema em estudo.

Por fim, cabe salientar que a análise de conteúdo possibilita a utilização de diferentes

estratégias de análise no seu desenvolvimento metodológico; mas, ao mesmo tempo,

sinaliza os seus limites e falácias subjacentes. Dessa forma, a busca por critérios de

validade e confiabilidade constitui-se num caminho para a superação das limitações,

inerentes ou não à própria técnica. (MOZZATO & GRZYBOVSKI, 2011: 741)

Desta forma, pressupõe-se que a miríade de ferramentas disponibilizadas na

análise de conteúdo possibilite múltiplos panoramas do fenômeno analisado, em

consistência com os objetivos explicitados para esta pesquisa.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

O presente capítulo analisa os resultados provenientes das entrevistas realizadas,

a partir de uma estrutura que considera três distintas subseções, a saber: o perfil dos quatro

tipos de respondentes, análise dos resultados, e confrontação da pesquisa de campo com

a revisão bibliográfica.

A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de setembro e novembro de

2016, período no qual foram abordados 49 (quarenta e nove) indivíduos dentre os quatro

públicos selecionados: 13 pescadores (P), 12 funcionários da empresa (E), 9

representantes do setor público (PP) e 15 pesquisadores da academia / sociedade civil (A).

Em todos os contatos foi garantido o respeito da confidencialidade da identidade

dos envolvidos como forma de ampliar a quantidade de respondentes, permitindo uma

maior precisão nas respostas obtidas. A identificação para fins desta pesquisa restringe-

se ao perfil do respondente, com informações sobre o público ao qual pertence, sua

relação com o objeto da pesquisa, suas respostas e opiniões emitidas quanto aos

questionamentos.

Durante as entrevistas, convém registrar que houve filtragem na questão Nº 01,

comum a todos os modelos de questionário: “Tem conhecimento ou vivenciou a

implementação dos gasodutos submarinos em Magé, projetos GNL e GLP, no período de

2007-2016? ”. Indivíduos sem vivência com o objeto de pesquisa eram automaticamente

excluídos, de forma a não compor a amostra.

Foi aplicada a técnica do snowball conforme descrito nos procedimentos

metodológicos da pesquisa, o que permitiu a detecção de novos entrevistados em

potencial, dentre os quais a representante da Associação de Caranguejeiros e Amigos do

Mangue de Magé, e o Instituto Brasileiro de Direito Ambiental – IBDA. Estas entidades

inicialmente não haviam sido identificadas na literatura a respeito do fenômeno, mas

mostraram-se importantes fontes de informação.

Este procedimento resultou em 18 (dezoito) respondentes qualificados, dentre os

quais oito pescadores, quatro funcionários da empresa em questão, três representantes do

poder público que atuam ou atuavam na região em estudo na época dos empreendimentos

GNL e GLP, e três pesquisadores.

Nesta amostra foram contempladas 2 áreas da empresa, as gerências de

responsabilidade social e SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde) que tem

relacionamento próximo com a comunidade e o empreendimento; 3 associações de pesca

da região em estudo e diversos pescadores que conhecem as obras em análise e em muitos

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casos participaram da oposição aos projetos GNL e GLP; 3 Instituições Federais de

Ensino e Pesquisa com linhas de pesquisas correlatas à temática estudada; e 3

representantes do poder público (Legislativo, Executivo e Judiciário).

Entende-se desta forma que a amostragem foi significativa para o entendimento

do fenômeno estudado, pois apesar de não ter atingido todos os quantitativos inicialmente

previstos no mapa de entrevistas original se logrou êxito em alcançar todos os públicos

previstos, incorporando inclusive perfis inicialmente não mapeados dentro dos atores

respondentes propostos, conforme descrito no Quadro 06.

Quadro 06 – Mapa de entrevistas previsto x realizado

Ator Perfil Previsto Realizado / Observações

Empresa (4

entrevistados)

Gerência de

Responsabilidade Social

(7)

Funcionário/Grupo de

trabalho “GT” pesca (2),

Gerentes e funcionários

das equipes de

Investimento

Socioambiental e

Relacionamento

Comunitário (4), Gerente

executivo (1)

3 respostas, sendo uma delas da gerente setorial de

Relacionamento Comunitário (RJ-MG-ES).

Observação: Foram 4 gerentes executivos da RS no

período de 2016, sendo 1 provisório), o que

dificultou a abordagem em tempo hábil

Jurídico Gerente/GT pesca Não respondeu (desconhecimento do objeto)

Área de produção (GNL

e GNP)

Gerente Respondido por 1 colaborador da gerência de SMS

local

Pescador (8

entrevistados)

AHOMAR, Colônia z-9

(2)

Presidente (s) 3 respostas, incluindo a Associação de

Caranguejeiros do Suruí

FAPESCA (1) Representante Não respondeu (desconhecimento do objeto)

Terceiro Setor (3) Presidentes da ONG

Guardiões do Mar,

Associação de Morados e

Amigos da Ilha de Itaoca

(AMAII), Associação

local

Não responderam (desconhecimento do objeto).

Pescador Magé/RJ (3)

Parte da ação civil

Respondido por 5 pescadores, incluindo alguns que

protestaram contra os empreendimentos GNL e

GLP

Academia /

Sociedade

Civil (3

entrevistados)

PPGSD/UFF (2)

Linha de pesquisa

“Conflitos

socioambientais, rurais e

urbanos”

1 resposta

ETTERN/ IPPUR/UFRJ

(2)

Laboratório “Estado,

trabalho, território e

natureza” (conflitos)

1 resposta

FIOCRUZ Equipe do “mapa de

conflitos”

1 resposta

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65

UFRRJ/PPGPDS

Linha de pesquisa

“Políticas públicas,

governança e conflitos

socioambientais”

Não responderam

Poder Público

(3

entrevistadas)

Ministério de Meio

Ambiente

Ex-ministro ou

funcionário

1 resposta de assessora parlamentar (deputado

estadual)

MP-RJ Procurador Não respondido. Houve abordagem também do

IBDA – Instituto Brasileiro de Direito Ambiental –

que não ocorreu em tempo hábil

TJ-RJ Ação civil pública 1 resposta de juíza do TJ-RJ atuante na região

ICMBio ou Ibama Representante 1 resposta de ex-chefia do INEA

Fonte: Autor

No caso da empresa, algumas pessoas não responderam por razões pessoais, sendo

que alguns destes indivíduos haviam acabado de deixar de fazer parte dos quadros da

companhia em razão de plano de demissão voluntária ou aposentadoria. Além disso, a

empresa tem restringido a comunicação externa de seus colaboradores, de forma que estas

novas orientações corporativas acabaram por gerar um desincentivo a uma maior

participação.

Já no poder público, conforme adiantado houve dificuldades em acessar alguns

dos órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental do empreendimento e

representantes políticos, o que, dadas as restrições para a pesquisa, comprometeria a sua

realização. Entretanto, os indivíduos entrevistados representam todos os três poderes,

Judiciário, Executivo e Legislativo, igualmente em conformidade com o mapa de

entrevistas proposto.

Todos os perfis indicados no mapa de entrevistas foram devidamente abordados,

sendo que alguns acabaram não constituindo a amostragem da pesquisa em razão dos

próprios critérios de eliminação, sendo eles conhecimento do caso analisado, interesse e

disponibilidade em responder, na medida em que a participação era voluntária.

4.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS E DAS INSTITUIÇÕES

A pesquisa de campo ocorreu tanto nas instalações da empresa quanto nas áreas

de atuação profissional e moradia dos pescadores (praias de Olaria e Mauá, e no bairro

de Suruí, todas em Magé-RJ), em três Instituições Federais de Ensino, e virtualmente em

casos nos quais a distância física gerava custos de deslocamento e hospedagem

impeditivos à entrevista presencial, incluindo uma entrevista com pesquisador

doutorando residente em outro país.

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66

Nesta oportunidade, verificamos presencialmente a questão relatada na literatura,

com a colonização dos mares da região para a atividade da indústria (CHAVES, 2011),

incluídos os impactos dos projetos GNL e GLP ora em estudo. Esta situação é ilustrada

na Figura 10.

Figura 10 – Situação da pesca em Magé-RJ e região

Fonte: Chaves, 2011, p. 123

4.1.1 Perfil dos Pescadores entrevistados

Foram entrevistados presencialmente oito pescadores nas regiões citadas em

Magé-RJ em novembro de 2016, incluindo representantes das três representações locais:

Colônia de pescadores z-9, Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara –

AHOMAR, e Associação de Caranguejeiros e Amigos do Mangue de Magé, permitindo

desta forma diferentes perspectivas acerca do fenômeno.

Uma dificuldade encontrada no processo era que o período de pesquisa coincidiu

com a época de pesca do camarão, fator que reduziu a quantidade de indivíduos em terra.

Uma forma de mitigar esta questão foi a chegada bem cedo a Magé, tentando abordar

estes indivíduos antes da saída para a pesca.

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A maioria dos pescadores respondentes apresentaram idades entre 45 e 65 anos,

em geral com escolaridade baixa (Ensino Fundamental incompleto), conforme verificado

nas Figuras 11 e 12. Apenas uma das pessoas entrevistadas era mulher, fato verificado

pela visão dos barcos partindo da orla das praias visitadas, oportunidade na qual se

verificavam que apenas homens estavam ao mar.

Figura 11 – Perfil dos pescadores entrevistados: faixas etárias

Fonte: o autor

Figura 12 – Perfil dos pescadores entrevistados: escolaridade

Fonte: o autor

Grande parte dos indivíduos entrevistados declararam exercer a pesca como

atividade profissional há mais de trinta anos, conforme Figura 13. É pertinente indicar

que aqueles que tinham menos tempo de pesca em geral eram os homens mais jovens,

0 1 2 3 4 5 6

Ensino Fundamental (incompleto)

Ensino Fundamental (completo)

Ensino Médio

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68

que por outro lado iniciavam precocemente na pesca, antes mesmo da adolescência em

alguns casos. Assim, mesmo aqueles com menos idade haviam vivenciado o imbróglio

dos pescadores com os projetos dos gasodutos, muitos dos quais tendo inclusive

protestado na ocasião.

Vale registrar que, dentre os dois pescadores que não declararam tempo de atuação

nesta área, um deles era na verdade dono do barco, e contrata um pescador para efetuar o

serviço. Oportunamente, ambos foram contemplados no estudo, sendo que o último não

quis responder.

Figura 13 – Perfil dos pescadores entrevistados: tempo de pesca

Fonte: o autor

Na oportunidade da visita se verificou uma falta de coesão entre as diversas

associações, refletida em críticas mútuas entre as diversas representações entrevistadas

ou mesmo na própria existência de três representações de uma mesma classe. O que

reflete uma pluralidade de visões sobre a classe, o que acaba por enfraquecer o poder de

negociação dos mesmos. Os próprios pescadores se definem como “muito desconfiados”,

percepção correspondida pela empresa – conforme análise posterior – e relata-se como

comum na classe o uso e dependência do álcool. Nas palavras dos mesmos: “pescador

gasta tudo que tem com cachaça, daí sai pra pescar”.

Nas palavras de muitos, era recorrente o discurso de que “colônia só serve para

pegar dinheiro”, o que se refletiu nos depoimentos de que o pescador não se sente

representado, exceto os próprios participantes da direção das referidas associações. Por

outro lado, as Associações reclamam que receberam doações pontuais de ONGs ou

mesmo das empresas terceirizadas responsáveis pelo empreendimento GNL e GLP, tais

0

1

2

3

4

5

Não declarado 0-10 anos 10-20 anos 20-30 anos Mais de 30 anos

Tempo de pesca

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como computadores, mas não tem condições de arcar com manutenção, instalação,

provimento de serviço de internet, o que acaba aumentando a desconfiança com as

representações de classe constituídas.

Enquanto que em uma das representações o depoimento era de que “o presidente

da Associação nem mora mais aqui. Acho que está em Copacabana”; na outra o discurso

era de que “as audiências públicas são forjadas, com a participação da Associação

conseguindo assinaturas dos pescadores que nem sabem o que estão assinando, pra

constar como documento contra eles”.

Os pescadores não conhecem os projetos socioambientais patrocinados pela

empresa, apenas a iniciativa “Baia Limpa”, já encerrada7. O que põe dúvidas quanto à

eficácia do patrocínio socioambiental da empresa na mitigação dos impactos

socioambientais gerados por ela mesma. Estes investimentos chegaram no período do

empreendimento há mais R$ 400 milhões anuais a nível nacional para projetos de geração

de renda, educação, qualificação profissional, dentre outras áreas, conforme declaração

de um dos gestores da empresa durante o seu depoimento.

A empresa patrocina diversos projetos de âmbito socioambiental voluntários,

geração de renda, em outros locais em que sequer atua, e neste caso onde impacta não se

faz presente. Nestas localidades tais investimentos são escassos ou mal comunicados, na

visão dos moradores da região de Magé.

Os pescadores entrevistados relatam ainda dificuldades básicas como a falta de

infraestrutura para refrigeração do pescado e a necessidade de barcos melhores. Nas

palavras deles a atividade econômica, e a petrolífera em particular, empurra os pescadores

cada vez mais para a terra, e os peixes mais para longe, aumentando os custos da atividade.

Neste sentido, se gasta mais, e ganha menos.

Sinalizam que a situação da pesca no momento é regular, tendo melhorado um

pouco com a temporada do camarão, mas bem longe dos níveis prévios ao derramamento

de petróleo na Baía de Guanabara de 2000, e projetos GNL e GLP.

Os respondentes em geral reclamam de falta comunicação e transparência, e da

inexistência de fóruns formais efetivos para comunicação da empresa com a comunidade.

Como já relatado, a comunicação restringe-se à exigência formal, de audiência pública,

7 No blog da empresa, conforme consulta realizada em 01/12/2016 às 9:00h, declara-se que “Na última década, a

empresa X investiu aproximadamente R$ 450 milhões no desenvolvimento de mais de 470 projetos sociais e ambientais

na Baía de Guanabara. Entre eles está o projeto Baía Limpa, um convênio com a Federação dos Pescadores do Estado

do RJ, que gera renda e educação para 1251 pescadores durante o período do defeso, quando a pesca é proibida por lei.

O projeto tem como objetivo recolher o lixo despejado, proveniente de várias localidades. Estudos indicam que esse

lixo é o maior poluidor da Baía”.

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70

divulgação e autopromoção da empresa, mas sem de fato o entendimento dos pescadores

dos impactos para sua atividade.

Para finalizar, a declaração era de que “para o pescador, a empresa chegando é

bom, valoriza a mercadoria. Não sou contra o projeto do pré-sal (e, consequentemente,

dos gasodutos para escoamento deste petróleo para as refinarias). Sou contra os prejuízos

aos pescadores”. Desta forma, o discurso da indústria de benefícios à classe mostra-se

contraditório, pois mesmo aqueles pescadores que já trabalham ou trabalharam na

indústria do petróleo consideram que “prejudica o pescador, pois as oportunidades, raras,

são temporárias, e perdemos o benefício do INSS diferenciado da categoria”, o qual

permitiria uma aposentadoria precoce e mais vantajosa ao pescador.

4.1.2 Perfil dos funcionários da Empresa entrevistados

Referente ao público “empresa”, foram concluídas quatro entrevistas com

representantes das gerências de Responsabilidade Social (RS), e de Segurança, Meio

Ambiente e Saúde (SMS), incluindo uma integrante com função gerencial. Esta amostra

contempla profissionais responsáveis pelo relacionamento comunitário na região do Rio

de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, pelo relatório de sustentabilidade da empresa,

e pelos programas de licenciamento e educação ambiental, todos estes atuantes na região

estudada.

Convém registrar que foram abordadas também as equipes do Jurídico, que julga

diversas causas correlatas ao objeto de estudo, e operacional, incluindo as empresas

terceirizadas que realizaram as referidas obras. Estes alegaram desconhecimento do

assunto ou não responderam à pesquisa. Um fator que pode ter prejudicado estas respostas

é a rotatividade de pessoal, haja visto as reestruturações internas que a empresa tem

passado, especialmente a partir de dezembro de 2015 até o final de 2016, ocasião de

realização da pesquisa. No caso dos advogados, esta dificuldade é ampliada por se tratar

de um passivo da empresa, uma questão judicializada ainda em aberto.

Tal situação sugere a possibilidade de um eventual viés de pesquisa, considerando

gerências especialmente sensíveis à questão socioambiental cuja percepção pode não ser

compartilhada pelas áreas operacionais. Esta questão é saneada considerando-se que os

profissionais entrevistados, usualmente, possuírem uma perspectiva mais crítica que a

equipe operacional em questões de âmbito socioambiental, e manterem (ou mantiveram)

contato constante tanto com a comunidade quanto com os colaboradores das referidas

empresas.

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71

A amostragem foi constituída, sobretudo, de indivíduos com idades entre 25 e 35

anos, com escolaridade em nível de pós-graduação (lato ou stricto sensu), conforme

observado nas Figuras 14 e 15.

Figura 14 – Perfil dos funcionários da empresa entrevistados: faixa etária

Fonte: o autor

Figura 15 – Perfil dos funcionários da empresa entrevistados: escolaridade

Fonte: o autor

Conforme já relatado no público pescador, entendem estes como muito

desconfiados, uma classe desunida. Igualmente correspondem da opinião de que “a

empresa não se comunica bem, então fica difícil para o público em geral identificar os

diferentes empreendimentos e seus respectivos impactos”.

0

1

2

3

4

25-35 anos 45-55 anos

0

1

2

3

Mestrando Pós graduado

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72

Por outro lado, as próprias opiniões na empresa não foram consenso. As

divergências se deram em relação à gravidade do impacto, da qualidade das ações de

mitigação e dos benefícios (ou não) auferidos. Vale declarar que a ocupante de cargo

gerencial é a que se declara mais otimista quanto aos benefícios gerados pela atividade

petrolífera no local.

Quanto aos benefícios, indica-se que “[...] derivam mais dos TACs que acabam

por suprir alguns insumos aos pescadores e suas associações, justamente pelo impacto

que a atividade petrolífera gera e com o surgimento da Responsabilidade Social alguns

projetos acabam por atender aos pescadores (por uma questão de risco social)”, sugerindo

uma situação de responsividade jurídica, e não proatividade gerencial da empresa.

A gerente entrevistada indicou como “Oportunidades e impactos positivos:

dinamização da economia local e desenvolvimento de projetos voltados ao fortalecimento

e estruturação da atividade pesqueira e das colônias de pesca”, opinião não compartilhada

nem pelos pescadores nem pelos demais públicos entrevistados.

Outra declaração traz a contribuição de que “em alguns casos, universidades

podem ser responsáveis pela execução de projetos vinculados ao licenciamento ambiental,

[...], Programa de Educação Ambiental, entre outros) ”.

Outro colaborador registrou que “O [projeto] Baía Limpa trouxe benefícios para

alguns pescadores por um curto período de tempo, como remuneração para a limpeza dos

mangues”, opinião refletida pela comunidade local, como vimos. Porém, este último

considera estas ações desvinculadas ou aquém do tratamento dos maiores impactos

gerados, sendo que “[...] quando trazem algum benefício é de forma assistencialista o que

torna os pescadores cada vez mais dependentes de ações desse tipo, roubando-lhes a

autonomia quando as possui”.

Em relação à comunicação empresa-comunidade, reiteram os mecanismos

formais e legais obrigatórios previstos no processo de licenciamento ambiental

(diagnósticos, audiências públicas, programas de educação ambiental, programas de

comunicação social), e Lei de Acesso à Informação, tais como os canais formais da

empresa (0800 e ouvidoria). Porém, conforme já identificado através das entrevistas com

os pescadores, tais canais são visualizados pela comunidade como mera formalidade, na

medida em que os pescadores alegam desconhecimento das informações sobre o

empreendimento e seus impactos à sua atividade.

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73

O relacionamento comunitário ocorre, sobretudo, com a intermediação de firmas

terceirizadas, não sendo identificado nas entrevistas realizadas com a comunidade um

interlocutor da empresa na comunidade.

Já quanto ao poder público e academia, reiteram a opinião crítica quanto ao

primeiro, enquanto consideram a segunda como um grande colaborador da relação da

comunidade local com a empresa. Consideram o poder público omisso, ou até mesmo

“defensor” dos interesses da empresa, por vezes em detrimento da comunidade local.

Por outro lado, apontam para a questão da culpabilização excessiva da empresa,

“como é o caso de diversas situações como o vazamento de óleo oriundo do lixão de

Gramacho que a Petrobras foi arrolada sem nada ter que ver com o processo em si”.

4.1.3 Perfil dos representantes do Poder Público entrevistados

O poder público foi representado em todos os três poderes, Judiciário na figura da

Juíza de Direito do Estado do Rio de Janeiro, Executivo através de uma ex-chefe do

Instituto Nacional do Ambiente – INEA e Legislativo considerando entrevista a uma

assessora parlamentar. Todas estas com experiência e conhecimento da realidade

estudada.

Algumas dificuldades na amostragem incluíram um pesquisador importante da

área recentemente falecido, a demora dos trâmites burocráticos para resposta aos

questionamentos pela Lei de Acesso à Informação e sigilo de Justiça, que acabaram por

inviabilizar novas entrevistas.

Todas as entrevistadas deste público eram mulheres, com idades entre 25 e 55

anos, anteriormente com cargos de chefia, tendo como formação o Ensino Superior,

completo ou em andamento, e pós-graduação, conforme Figuras 16 e 17.

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Figura 16 – Perfil dos representantes do setor público entrevistados: faixa etária

Fonte: o autor

Figura 17 – Perfil dos representantes do setor público entrevistados: escolaridade

Fonte: o autor

Igualmente estas pessoas tem a percepção de que “o poder público ajuda muito

pouco”, quando não atrapalha. Relatam ainda uma “relação promíscua com as empresas

que exploram a baía”. Visualizam que os investimentos públicos na região focam no

respaldo à indústria, e não na melhoria de vida e manutenção das condições de sustento

destas famílias.

Neste sentido, refletem opiniões dos pescadores, que relataram sequer terem água

tratada para beber, e o depoimento do presidente da Associação Homens do Mar da Baía

de Guanabara (AHOMAR) em palestra ocorrida em março de 2016, a saber: “Magé tem

0

1

2

25-35 anos 35-45 anos 45-55 anos

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quarenta e seis linhas de dutos, mas não possui esgoto encanado”. Responsabilidades

estas por vezes do poder público que acabam sendo compartilhadas pelas empresas

indiretamente na medida em que estas se posicionam como provedoras de benefícios e

desenvolvimento nas regiões onde atuam, em seus discursos ou por expectativas da

comunidade.

4.1.4 Perfil dos entrevistados da Academia e Sociedade Civil

Por fim o público “academia / sociedade civil” incorporou representantes do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - IPPUR/UFRJ, do Programa de

Pós-Graduação em Sociologia e Direito - PPGSD da UFF, e da FIOCRUZ, responsável

pelo mapa de conflitos. Todos estes são Instituições de Ensino Federais, com

pesquisadores nas áreas de conflitos socioambientais e pescadores, com conhecimento da

realidade ora em estudo. Em relação à previsão do mapa de entrevistas, apenas a equipe

da UFRRJ não respondeu ao questionário, em razão de dificuldades de contato.

Adicionalmente, houve conversas com o representante do Instituto Brasileiro de

Direito Ambiental - IBDA que representa a AHOMAR na justiça, cuja agenda junto ao

presidente da referida Associação acabou inviabilizando a entrevista em tempo hábil. Este

esteve durante todo o período da pesquisa de campo ausente do Estado do Rio de Janeiro.

Igualmente não se logrou êxito em contatá-lo via tecnologias de comunicação tais como

telefone, Skype ou WhatsApp.

O perfil dos respondentes engloba tanto dois jovens doutorandos quanto um

pesquisador doutor, conforme Figuras 18 e 19, sendo dois homens e uma mulher.

Figura 18 – Perfil dos representantes da Academia e Sociedade Civil: faixa etária

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76

Fonte: o autor

Figura 19– Perfil dos representantes da Academia e Sociedade Civil: escolaridade

Fonte: o autor

As opiniões expressas nas entrevistas coincidem com a pesquisa bibliográfica, no

sentido de amplos impactos da indústria à pesca (áreas de exclusão, barulho dos

equipamentos, poluição, diminuição da quantidade do pescado, maior demora para chegar

aos locais com maior atratividade para a pesca), além de preconceito do comprador do

pescado, que desvaloriza o produto desconfiando da sua qualidade em razão da poluição

do mar. O que gera insegurança familiar pela dificuldade no sustento através da atividade

da pesca.

0

1

2

3

25-35 anos 55-65 anos

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Acreditam que o poder público além de não ajudar, atrapalha, utilizando inclusive

as forças policiais a favor da empresa no caso de manifestações ou imbróglios. As

autoridades aturam assim na lógica da promoção de “vocações econômicas regionais”, na

qual os governos incentivam os grandes empreendimentos industriais e de turismo em

detrimento das vocações originais.

Nas palavras do entrevistado, estaria se “promovendo um desenvolvimento a

qualquer custo, (quando o poder público) ignora o fato de que nestas localidades há

comunidades que possuem conhecimentos tradicionais atrelados ao manejo do meio

ambiente com baixíssimos impactos. Atividades estas que poderiam estar sendo

subsidiadas e incentivadas pelo poder público ao invés dos grandes empreendimentos”.

Os entrevistados da academia relatam, porém, apoios pontuais de algumas pessoas

dentro do setor público. Mas não uma iniciativa institucionalizada.

Na academia, Instituições de Ensino e pesquisa, acreditam haver apoio aos

pescadores, mas igualmente não institucionalizado, o que gera certa invisibilidade ao

tema. Pois em geral a pesquisa acadêmica surge como suporte à indústria. Por vezes, a

pesquisa é inclusive financiada pelas empresas, o que gera uma potencial parcialidade/

conflito de interesse no trato da questão.

4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O objetivo da pesquisa de campo era o de identificar as diferentes percepções dos

múltiplos públicos de interesse acerca dos impactos dos empreendimentos petrolíferos na

pesca em Magé, mais especificamente os projetos GNL e GLP.

Por meio de entrevista semiestruturada com amostragem não aleatória foi possível

uma análise comparativa entre as perspectivas dos públicos entrevistados.

As aderências entre as respostas foram rotuladas como “Sim” quando as opiniões

declaradas forem idênticas ou próximas, “Não” quando forem opiniões divergentes, e

“Parcial” quando há convergência, porém, não similaridade nas respostas. Os resultados

constam do Quadro 07.

Quadro 07– Análise comparativa das respostas dos quatro públicos entrevistados

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78

Fatores críticos Pescadores (P)

Empresa (E)

Poder público

(PP)

Academia e

Sociedade Civil

(A)

Aderência

entre

Percepções

dos

Públicos

Entrevistad

os

Impactos à

pesca Impacta muito

Impacta muito;

porém é em geral

reversível Impacta muito Impacta muito Sim

Benefícios,

geração de

empregos e

oportunidades

As oportunidades

são raras e

podem acabar

prejudicando o

pescador, que

perde o direito ao

benefício

diferenciado no

INSS

No geral, não.

Benefícios

assistencialistas

que causam

dependência

Não; ocorre perda

ou alteração das

condições de

subsistência

Não Parcial

Comunicação Não há

Feita por

audiência

pública,

diagnósticos,

programa de

educação

ambiental e

comunicação

social

n/a* n/a* Parcial

Transparência Não há

Audiências

públicas e

diagnósticos

n/a* n/a* Não

InvestimentosS

ocioambientais

Não há. Alguns

poucos

pescadores

identificaram o

projeto Baia

Limpa, já

encerrado

Seminário com

os pescadores,

programa de

educação

ambiental, e os

projetos Baia

Limpa, Pescarte e

Territórios

Relatam

investimentos da

empresa sem

relação com as

pessoas atingidas

Não conhecem Não

Mitigação Não ocorre

Conforme

exigência legal e

Termos de Ajuste

de Conduta -

TAC para

licenciamento

ambiental

Não ocorre Não ocorre Parcial

Atuação do

Poder Público

Omisso e visto

como corrupto

Não ajuda, ou

não tem ajudado

no período em

questão

Omisso, por vezes

com privilégios

excessivos para a

empresa.

Apoios de pessoas,

mas não

institucionalizado

Vocações

regionais com

foco no

desenvolvimento

econômico de

megaempreendi

mentos; apoios

de pessoas, mas

não

institucionalizado

Sim

Atuação da

Academia

Ajuda

pontualmente

com pesquisas

sobre a fauna

local, conforme

relato de alguns

pescadores

Viabilização de

estudos junto aos

pescadores

Importante, mas

não

institucionalizada

Importante, mas

não

institucionalizada

Sim

Fonte: Autor

*Não se aplica, na medida em que estas questões são aderentes apenas aos públicos pescador (P) e empresa (E)

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79

Verifica-se desta forma uma divergência nas percepções da empresa e da

comunidade local quanto às questões relativas à benefícios para a sociedade,

comunicação, transparência, investimento socioambiental na região (e sua importância).

Um poder público considerado como omisso quanto a este imbróglio empresa-

comunidade, e incentivador de grandes empreendimentos em detrimento às atividades

tradicionais, em geral com menor impacto ao meio ambiente (PORTO et al, 2013).

A academia é vista como parceira, mas em geral com iniciativas pontuais ou de

iniciativa individual, e não institucional. O que confere um grau de invisibilidade à

questão do conflito petróleo x pesca, desvalorizada em comparação com os investimentos

e pesquisas para respaldo da indústria e desenvolvimento econômico através da

implementação de megaempreendimentos.

4.3 CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA

A inserção em campo junto aos quatro públicos de interesse consultados reflete

diversos itens levantados na revisão bibliográfica, dentre os quais a importância da

comunicação breve e constante, feita dialogicamente e além da exigência formal para

licenciamento.

A falta de transparência na comunicação acaba refletindo em pouco ou nenhum

empoderamento da comunidade local, que se vê afetada em seus modelos de subsistência

sem poder auferir benefícios do desenvolvimento econômico e geração de empregos

presentes no discurso da indústria. Ocorre assim uma sensação de “promessas quebradas”

(JENKINS, 2004; PENALVA, 2008; CORSCADDEN, WILE & YIRIDOE, 2012;

TESCHNER, 2013), refletido pelo desalinhamento das expectativas e prejuízos

visualizados pelos pescadores.

Outra questão importante refletida na literatura é a necessidade de investimento

para desenvolvimento local e mitigação de impactos onde eles realmente ocorrem

(IDEMUDIA, 2009; RUGGIE, 2011; TESCHNER, 2013; RICHERT, ROGERS &

BURTON, 2015; MEASHAM, FLEMING & SCHANDL, 2015).

As gerências relataram investimento socioambiental voluntário anual que chegou

a mais de R$ 400 milhões em nível nacional antes da crise institucional brasileira,

deflagrada com maior vigor a partir de dezembro de 2015, isso sem considerar os

investimentos obrigatórios oriundos de TAC e investimento público na indústria. E

mesmo assim a comunidade local vive mal, tem problemas de saneamento e até mesmo

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na oferta de água potável, apresentando a 51ª colocação em termos de Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M, dentre os 92 municípios do Rio de

Janeiro, considerando indicadores de longevidade, educação e renda locais8.

As oportunidades providas pela indústria de petróleo aos pescadores são

temporárias para a classe pescadora, com destaque para o projeto Baia Limpa. Esta

condição, somada à baixa escolaridade comumente gera desinteresse ou despreparo para

atuar nos novos postos de trabalho gerados.

A atuação profissional por curto período pode inclusive acarretar na perda do

regime especial do INSS dedicado à classe pescadora.

Outra convergência com a literatura foi o papel do poder público como causador

ou potencializador de conflitos, quando na verdade deveria atuar como mediador dos

mesmos. O Mapa de Conflitos (PORTO et al, 2013) já sinalizava esta situação, sendo a

atuação de entidades governamentais apontada como responsável por cerca de 53% dos

conflitos relatados, contra 12% oriundos da indústria petroquímica e de óleo e gás,

percentual este não cumulativo.

Isso reitera a posição de centralidade da empresa no relacionamento com as

comunidades locais e com o poder público (VAN BETS; VAN TATENHOVE & MOL,

2016), com forte apoio e legitimação junto ao este último, o que acaba por desnivelar o

poder de influência da empresa em relação às comunidades em seu entorno.

8 Consulta em http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/2863, acesso em 01/12/2016 às 9:45h

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5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS

A presente pesquisa teve como objetivo compreender os impactos das operações

de uma empresa do setor de óleo e gás sobre uma comunidade pesqueira no município de

Magé/RJ, de forma a contribuir para uma melhoria na relação empresa-comunidade por

meio das perspectivas destes dois públicos, além dos olhares do poder público e academia.

Verifica-se que na prática uma melhoria de comunicação faz-se necessária, sendo

que a mesma deve ocorrer de forma breve, contínua e transparente, com fóruns de diálogo

além das exigências legais, permitindo uma relação dialógica.

As Audiências públicas, única forma de comunicação percebida pela comunidade,

são percebidas como mero instrumento de conformidade legal, feito com interlocução de

empresas terceirizadas e ONGs. Seriam assim uma maneira de formalizar o

consentimento da comunidade sem, no entanto, engajá-la efetivamente.

Desta forma, entende-se que as licenças formais nem sempre não suficientes para

a legitimação do empreendimento, em razão dos prejuízos às comunidades muitas vezes

ser maior do que as expectativas dos benefícios divulgados pela empresa.

Há de se considerar ainda as assimetrias de poder entre empresa e comunidade,

em razão do apoio e priorização do investimento do poder público na viabilização de

megaempreendimentos, grandes obras e intervenções, sejam atividades turísticas, resorts,

ou como neste caso, a atividade da indústria.

Acredita-se desta forma que devem ser levadas em conta de forma complementar

também as vocações originais da região, sempre que possível, na medida em que tais

atividades em geral apresentam menores danos ao meio ambiente, tradicionalmente

garantindo a subsistência destas populações por gerações inteiras.

Outro fator importante seria que os investimentos socioambientais da empresa

deveriam ser mais focados na mitigação dos impactos do negócio, reduzindo os danos

ocasionados aos meios de subsistência das comunidades locais.

Apesar de serem relatados investimentos a nível nacional em áreas como geração

de renda, educação, direitos da criança e do adolescente, e reflorestamento de áreas

degradadas, inclusive em locais que a empresa não tem atuação, na região pesquisada

esses investimentos são escassos na percepção da comunidade local, assim como nas

visões da academia e do poder público.

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Nas entrevistas foram verificadas demandas simples, tais como uma maior

proximidade e informação aos pescadores, investimentos na aquisição de barcos melhores

(compensando as maiores distâncias necessárias à pesca em razão das zonas de exclusão

dos dutos e demais empreendimentos sediados no local) e equipamentos para refrigeração

do pescado, os quais poderiam agregar maior valor ao produto, reduzindo a necessidade

do atravessador, com impactos diretos e imediatos nas condições de subsistência desta

comunidade tradicional.

Por outro lado, em razão da forte desagregação e desconfiança da classe pescadora

local, dividida em ao menos duas associações e uma colônia, entende-se que estes

investimentos em prol do desenvolvimento socioeconômico local deveriam ser

acompanhados da qualificação em gestão e prestação de contas por parte dos beneficiários,

a fim de garantir a efetiva melhoria da qualidade de vida local.

Verifica-se ainda que as iniciativas de desenvolvimento econômico são

provisórias ao contrário dos prejuízos ocasionados e, portanto, insuficientes para

mitigação do problema. Os pescadores acabam incorrendo na redução do produto, ou em

custos e riscos crescentes para a pesca, já que os melhores locais para exercício desta

atividade acabam se distanciando cada vez mais, por vezes coincidindo com as zonas de

exclusão, onde a prática da pescaria é proibida por lei.

Apesar de diversas iniciativas de relacionamento comunitário na região relatadas

pela empresa, muitas são percebidas como mera formalidade legal, sem trazer benefícios

reais para manutenção ou melhoria da qualidade de vida na região. Uma exceção seria o

projeto Baia Limpa, que empregou esta comunidade na limpeza dos mares e é citado de

forma recorrente pela comunidade da região. Projeto este já encerrado.

Desta forma, possíveis oportunidades de melhoria viriam por meio de um maior

esforço por um diálogo para além dos requisitos legais para licenciamento de instalação

e operação dos empreendimentos (exigências legais). Assim como a busca por uma maior

contribuição da academia e poder público na comunicação e esclarecimentos sobre os

riscos e impactos locais do empreendimento, e suas respectivas oportunidades.

Vale registrar que nem sempre as oportunidades são de fato vantajosas e, portanto,

é pertinente trazer para o debate do desenvolvimento local a opinião e críticas das

comunidades locais respeitados seus saberes tradicionais, e instituições de fato

independentes, em prol do due dilligence de responsabilidade socioambiental.

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Para estudos futuros seria pertinente o aprofundamento dos diálogos

multistakeholders, assim como das questões políticas envolvidas, cujo prazo e

complexidade demandariam um tempo maior para realização. Isso se torna premente na

medida em que tais empreendimentos foram licenciados, atenderam todos os requisitos

legais, mas mesmo assim trazem imbróglios junto à comunidade de seu entorno.

Outro estudo interessante seria a análise dos impactos futuros do

descomissionamento dos equipamentos petrolíferos, visando à compreensão dos

impactos socioeconômicos e ambientais do futuro fim da atividade, incluindo

planejamento tributário por parte do poder público. Desta maneira buscando-se evitar

futuros imbróglios causados pela queda de arrecadação de royalties e tributos por vezes

fundamentais às finanças públicas (o que, inclusive, já tem ocorrido).

De igual maneira, faz-se necessária uma análise comparada de setores industriais

correlatos relativo ao seu relacionamento com a comunidade, considerando as

participações da academia, sociedade civil e poder público.

Entende-se assim que a Licença Social para Operar (LSO) para se concretizar

deverá dialogar com a justiça ambiental, ou seja, considerar os conhecimentos das

comunidades locais e seu empoderamento, para além do discurso e evitando a

centralidade excessiva da empresa. Buscando-se ir adiante à gestão de stakeholders não

só como forma de gestão de risco dos empreendimentos, mas como efetiva colaboração

entre a comunidade local e a indústria.

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JURISDIÇÃO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TJ-

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JURISDIÇÃO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TJ-

RJ. EMBARGOS INFRINGENTES. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL.

DANOS MATERIAIS E MORAIS. PREJUÍZOS EXPERIMENTADOS PELO

AUTOR EM SUA ATIVIDADE PESQUEIRA EM RAZÃO DOS PROJETOS GNL

E GLP DA EMPRESA XXXX EM MAGÉ. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.

Embargos infringentes nº 0168463-48.2010.8.19.0001, VI Câmara Cível, 2015.

APÊNDICE 01: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA PESCADORES (P) Observações: o presente modelo de questionário é parte integrante da pesquisa “ANÁLISE DOS IMPACTOS DE

PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E 2016 DE UMA EMPRESA DO SETOR DE

PETRÓLEO E GÁS NATURAL SOBRE UMA COMUNIDADE DE PESCADORES NO MUNICÍPIO DE

MAGÉ/RJ”. As questões a seguir são orientavas, sendo a proposta desta pesquisa a realização de entrevistas em

profundidade, considerando tanto perguntas fechadas quanto perguntas abertas.

Ano de nascimento _____________

Page 92: THIAGO DA SILVA FERREIRA 2016 DE UMA EMPRESA DO … THIAGO DA SILVA... · THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E ... Prof. Fernando Oliveira

92

Gênero ( ) M ( ) F

Escolaridade (Indicar último nível de formação):

Ensino Fundamental ( ) cursando ( ) completo

Ensino Médio ( ) cursando ( ) completo

Ensino Superior ( ) cursando ( ) completo (especificar) Em que? ________________

Pós-graduação (especificar) Em que? _____________________________________________________

Há quanto tempo pratica (ou praticou) pesca? (Identificar, se possível, período.)

Sente-se representado por alguma instituição, associação ou conselho de classe dos pescadores ou de

moradores? Se sim, qual?

( ) Sim ( ) Não

1- Tem conhecimento ou vivenciou a implementação dos gasodutos submarinos em Magé, projetos GNL

e GLP, no período de 2007-2016?

(O projeto GNL trata-se do Terminal Flexível de Gás Natural Liquefeito na Baía de Guanabara e consiste

em um terminal marítimo interligado por dutos à malha de gasodutos do Rio de Janeiro através do Terminal

de Campos Elíseos. Já o Projeto GLP trata-se de Instalações do Terminal da Ilha Comprida, Adaptações do

Terminal Aquaviário da Ilha Redonda e Dutos de Gás Liquefeito de Petróleo na Baía de Guanabara)

( ) Sim ( ) Não

2- Em sua opinião, qual a situação da pesca e qualidade de vida na região de Magé/RJ? Teria algum elogio,

sugestão ou crítica?

( )Ruim ( )Regular ( )Indiferente ( )Boa ( )Excelente

3- A atividade petrolífera traz oportunidades ou benefícios aos pescadores? Se sim, quais?

4- Conhece algum familiar ou pescador que trabalhe em empresa do setor de óleo e gás?

( ) Sim ( ) Não

Em caso positivo, que empresa? Em que atividade?_________________________________________

5- Você visualiza algum problema ou prejuízo social ou ambiental provocado pela atividade petrolífera à

pesca? Há algum impacto na atividade da pesca?

(1)Não impacta (2)Quase não impacta (3)Indiferente (4)Impacta pouco (5)Impacta muito

Caso sim, favor indicar, citando se impacta ou impactou em sua vida.

____________________________________________________________________________________

6- Como você avalia a comunicação da empresa com a sua comunidade?

Page 93: THIAGO DA SILVA FERREIRA 2016 DE UMA EMPRESA DO … THIAGO DA SILVA... · THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E ... Prof. Fernando Oliveira

93

( )Ruim ( )Regular ( )Indiferente ( )Boa ( )Excelente

7- Há transparência e diálogo com os funcionários da empresa, e possibilidade de acesso aos tomadores de

decisão?

( ) Sim ( ) Não

8- Há fóruns onde o pescador possa opinar, e mecanismo para manifestar queixas e sugestões?

( ) Sim ( ) Não

9- Você conhece os projetos de patrocínio e investimento social da empresa de petróleo e gás dos projetos

GNL e GLP? ( ) Sim ( ) Não

10- Caso conheça, considera que estes projetos trazem melhorias na vida do pescador? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, quais? _________________________________________________________________________

11 - Estes projetos conseguem reduzir os impactos da empresa aos pescadores artesanais?

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

12- O poder público tem contribuído para intermediar os impactos da indústria petrolífera aos pescadores

artesanais? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, como?_________________________________________________________________________

13- Teria algum elogio, sugestão ou crítica referente à atuação do poder público?

14- As instituições de ensino, faculdades, e pesquisadores tem contribuído para intermediar as relações da

indústria petrolífera com os pescadores artesanais? Como? Teria algum elogio, sugestão ou crítica?

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

APÊNDICE 02: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA EMPRESA (E) Observações: o presente modelo de questionário é parte integrante da pesquisa “ANÁLISE DOS IMPACTOS DE

PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E 2016 DE UMA EMPRESA DO SETOR DE

PETRÓLEO E GÁS NATURAL SOBRE UMA COMUNIDADE DE PESCADORES NO MUNICÍPIO DE

MAGÉ/RJ”. As questões a seguir são orientavas, sendo a proposta desta pesquisa a realização de entrevistas em

profundidade, considerando tanto perguntas fechadas quanto perguntas abertas.

Ano de nascimento _____________

Gênero ( ) M ( ) F

Escolaridade (Indicar último nível de formação):

Ensino Fundamental ( ) cursando ( ) completo

Page 94: THIAGO DA SILVA FERREIRA 2016 DE UMA EMPRESA DO … THIAGO DA SILVA... · THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E ... Prof. Fernando Oliveira

94

Ensino Médio ( ) cursando ( ) completo

Ensino Superior ( ) cursando ( ) completo (especificar) Em que? ________________

Pós-graduação (especificar) Em que? _____________________________________________________

Possui (ou possuía) cargo de chefia?

1- Tem conhecimento ou vivenciou a implementação dos gasodutos submarinos em Magé, projetos GNL e

GLP, no período de 2007-2016?

(O projeto GNL trata-se do Terminal Flexível de Gás Natural Liquefeito na Baía de Guanabara e consiste

em um terminal marítimo interligado por dutos à malha de gasodutos do Rio de Janeiro através do Terminal

de Campos Elíseos. Já o Projeto GLP trata-se de Instalações do Terminal da Ilha Comprida, Adaptações do

Terminal Aquaviário da Ilha Redonda e Dutos de Gás Liquefeito de Petróleo na Baía de Guanabara)

( ) Sim ( ) Não

2- Em sua opinião, qual a situação da pesca e qualidade de vida na região de Magé/RJ? Teria algum elogio,

sugestão ou crítica?

( )Ruim ( )Regular ( )Indiferente ( )Boa ( )Excelente

3- A atividade petrolífera traz oportunidades ou benefícios aos pescadores? Se sim, quais?

4- Você visualiza algum problema ou prejuízo social ou ambiental provocado pela atividade petrolífera à

pesca?

(1)Não impacta (2)Quase não impacta (3)Indiferente (4)Impacta pouco (5)Impacta muito

Caso sim, favor indicar.

_____________________________________________________________________________________

5- Como você avalia a comunicação da empresa com a comunidade?

( )Ruim ( )Regular ( )Indiferente ( )Boa ( )Excelente

6- Há transparência e diálogo com os funcionários, e possibilidade de acesso aos tomadores de decisão?

( ) Sim ( ) Não

7 - Há fóruns onde o pescador possa opinar, e mecanismo para manifestar queixas e sugestões? ( ) Sim

( ) Não

8- Você conhece os projetos de patrocínio e investimento social da empresa de petróleo e gás dos projetos

GNL e GLP? ( ) Sim ( ) Não

9 - Caso conheça, considera que estes projetos trazem melhorias na vida do pescador? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, quais? _________________________________________________________________________

10 - Estes projetos conseguem reduzir os impactos da empresa aos pescadores artesanais?

Page 95: THIAGO DA SILVA FERREIRA 2016 DE UMA EMPRESA DO … THIAGO DA SILVA... · THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E ... Prof. Fernando Oliveira

95

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

11- O poder público tem contribuído para intermediar os impactos da indústria petrolífera aos pescadores

artesanais? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, como?_________________________________________________________________________

12- Teria algum elogio, sugestão ou crítica referente à atuação do poder público?

13- As instituições de ensino, faculdades, e pesquisadores tem contribuído para intermediar as relações da

indústria petrolífera com os pescadores artesanais? Como? Teria algum elogio, sugestão ou crítica?

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

Page 96: THIAGO DA SILVA FERREIRA 2016 DE UMA EMPRESA DO … THIAGO DA SILVA... · THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E ... Prof. Fernando Oliveira

96

APÊNDICE 03: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARAPODER PÚBLICO (PP)

Observações: o presente modelo de questionário é parte integrante da pesquisa “ANÁLISE DOS IMPACTOS DE

PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E 2016 DE UMA EMPRESA DO SETOR DE

PETRÓLEO E GÁS NATURAL SOBRE UMA COMUNIDADE DE PESCADORES NO MUNICÍPIO DE

MAGÉ/RJ”. As questões a seguir são orientavas, sendo a proposta desta pesquisa a realização de entrevistas em profundidade, considerando tanto perguntas fechadas quanto perguntas abertas.

Ano de nascimento _____________

Gênero ( ) M ( ) F

Escolaridade (Indicar último nível de formação):

Ensino Fundamental ( ) cursando ( ) completo

Ensino Médio ( ) cursando ( ) completo

Ensino Superior ( ) cursando ( ) completo (especificar) Em que? ________________

Pós-graduação (especificar) Em que? _____________________________________________________

Possui (ou possuía) cargo de chefia?( ) Sim ( ) Não

1- Tem conhecimento ou vivenciou a implementação dos gasodutos submarinos em Magé, projetos GNL

e GLP, no período de 2007-2016?

(O projeto GNL trata-se do Terminal Flexível de Gás Natural Liquefeito na Baía de Guanabara e consiste

em um terminal marítimo interligado por dutos à malha de gasodutos do Rio de Janeiro através do Terminal

de Campos Elíseos. Já o Projeto GLP trata-se de Instalações do Terminal da Ilha Comprida, Adaptações do

Terminal Aquaviário da Ilha Redonda e Dutos de Gás Liquefeito de Petróleo na Baía de Guanabara)

( ) Sim ( ) Não

2- Em sua opinião, qual a situação da pesca e qualidade de vida na região de Magé/RJ? Teria algum elogio,

sugestão ou crítica?

( )Ruim ( )Regular ( )Indiferente ( )Boa ( )Excelente

3- A atividade petrolífera traz oportunidades ou benefícios aos pescadores? Se sim, quais?

4- Você visualiza algum problema ou prejuízo social ou ambiental provocado pela atividade petrolífera à

pesca?

(1)Não impacta (2)Quase não impacta (3)Indiferente (4)Impacta pouco (5)Impacta muito

Caso sim, favor indicar, citando se impacta ou impactou na vida dos pescadores.

____________________________

5- Você conhece os projetos de patrocínio e investimento social da empresa de petróleo e gás dos projetos

GNL e GLP? ( ) Sim ( ) Não

6 - Caso conheça, considera que estes projetos trazem melhorias na vida do pescador? ( ) Sim ( ) Não

Page 97: THIAGO DA SILVA FERREIRA 2016 DE UMA EMPRESA DO … THIAGO DA SILVA... · THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E ... Prof. Fernando Oliveira

97

Se sim, quais? _________________________________________________________________________

7 - Estes projetos conseguem reduzir os impactos da empresa aos pescadores artesanais?

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

8- O poder público tem contribuído para intermediar os impactos da indústria petrolífera aos pescadores

artesanais? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, como?_________________________________________________________________________

9- Teria algum elogio, sugestão ou crítica referente à atuação do poder

público?_________________________________________________________________________

10- As instituições de ensino, faculdades, e pesquisadores tem contribuído para intermediar as relações da

indústria petrolífera com os pescadores artesanais? Como? Teria algum elogio, sugestão ou crítica?

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

Page 98: THIAGO DA SILVA FERREIRA 2016 DE UMA EMPRESA DO … THIAGO DA SILVA... · THIAGO DA SILVA FERREIRA IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E ... Prof. Fernando Oliveira

98

APÊNDICE 04: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA ACADEMIA (A)

Observações: o presente modelo de questionário é parte integrante da pesquisa “ANÁLISE DOS IMPACTOS DE

PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E 2016 DE UMA EMPRESA DO SETOR DE

PETRÓLEO E GÁS NATURAL SOBRE UMA COMUNIDADE DE PESCADORES NO MUNICÍPIO DE

MAGÉ/RJ”. As questões a seguir são orientavas, sendo a proposta desta pesquisa a realização de entrevistas em profundidade, considerando tanto perguntas fechadas quanto perguntas abertas.

Ano de nascimento _____________

Gênero ( ) M ( ) F

Escolaridade (Indicar último nível de formação):

Ensino Fundamental ( ) cursando ( ) completo

Ensino Médio ( ) cursando ( ) completo

Ensino Superior ( ) cursando ( ) completo (especificar) Em que? ________________

Pós-graduação (especificar) Em que? _____________________________________________________

1- Tem conhecimento ou vivenciou a implementação dos gasodutos submarinos em Magé, projetos GNL

e GLP, no período de 2007-2016?

(O projeto GNL trata-se do Terminal Flexível de Gás Natural Liquefeito na Baía de Guanabara e consiste

em um terminal marítimo interligado por dutos à malha de gasodutos do Rio de Janeiro através do Terminal

de Campos Elíseos. Já o Projeto GLP trata-se de Instalações do Terminal da Ilha Comprida, Adaptações do

Terminal Aquaviário da Ilha Redonda e Dutos de Gás Liquefeito de Petróleo na Baía de Guanabara)

( ) Sim ( ) Não

2- Em sua opinião, qual a situação da pesca e qualidade de vida na região de Magé/RJ? ( )Ruim

( )Regular ( )Indiferente ( )Boa ( )Excelente

Teria algum elogio, sugestão ou

crítica?_________________________________________________________________________

3- A atividade petrolífera traz oportunidades ou benefícios aos pescadores? Se sim, quais?

4- Você visualiza algum problema ou prejuízo social ou ambiental provocado pela atividade petrolífera à

pesca?

(1)Não impacta (2)Quase não impacta (3)Indiferente (4)Impacta pouco (5)Impacta muito

Caso sim, favor indicar, citando se impacta ou impactou na vida dos pescadores.

____________________________________________________________________________________

5- Você conhece os projetos de patrocínio e investimento social da empresa de petróleo e gás dos projetos

GNL e GLP? ( ) Sim ( ) Não

6 - Caso conheça, considera que estes projetos trazem melhorias na vida do pescador? ( ) Sim ( ) Não

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99

Se sim, quais melhorias ?

_________________________________________________________________________

7 - Estes projetos conseguem reduzir os impactos da empresa aos pescadores artesanais?

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

8- O poder público tem contribuído para intermediar os impactos da indústria petrolífera aos pescadores

artesanais? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, como?_________________________________________________________________________

9- Quais elogios, sugestão ou crítica? Que observações (elogio, sugestão ou crítica) você teria acerca da

atuação do poder público?

10- As instituições de ensino, faculdades, e pesquisadores tem contribuído para intermediar as relações da

indústria petrolífera com os pescadores artesanais?

(1)Não tem relação (2)Não é importante (3)Indiferente (4)Pouco importante (5)Muito importante

Como? Teria algum elogio, sugestão ou crítica?

_____________________________________________________________________________________

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100

APÊNDICE 05: REGISTRO FOTOGRÁFICO DA VISITA AOS PESCADORES

EM MAGÉ-RIO DE JANEIRO

Faixas de dutos na região

Visita à praia de Olaria e Colônia z-9

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101

Visita à praia de Mauá e à AHOMAR