tfc- faruk obra

60
Instituto Superior de Ciências de Saúde ISCISA Curso de Licenciatura em Nutrição Trabalho de Fim do Curso Local: Hospital Central de Maputo Candidato: Faruk Alegria Obra Código: TFCNFO02/14 Maputo, Março de 2015 Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

Upload: faruk

Post on 22-Jul-2016

250 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Avaliacao Nutricionaol em Doentes Internados com Cancro da no Servico de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Marco de 2015

TRANSCRIPT

Page 1: TFC- Faruk Obra

Instituto Superior de Ciências de Saúde

ISCISA

Curso de Licenciatura em Nutrição

Trabalho de Fim do Curso

Local:

Hospital Central de Maputo

Candidato:

Faruk Alegria Obra

Código:

TFCNFO02/14

Maputo, Março de 2015

Avaliação nutricional dos doentes internados com

cancro da mama no Serviço de Oncologia do Hospital

Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

Page 2: TFC- Faruk Obra

Faruk Alegria Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, 2015

Supervisora

Mestre Iolanda Filipa Rodrigues Cavaleiro

Trabalho de Fim do Curso apresentado ao

Instituto Superior de Ciências de Saúde –

Maputo como requisito para a obtenção

do grau de Licenciatura em Nutrição.

Maputo, Março de 2015

Page 3: TFC- Faruk Obra

Índice

Declaração de originalidade ................................................................................ I

Dedicatória ......................................................................................................... II

Agradecimentos ................................................................................................ III

Resumo ............................................................................................................. IV

Abstract ............................................................................................................. VI

Abreviaturas e siglas ........................................................................................ VII

1. Introdução ....................................................................................................... 1

1.1. Enunciado do problema ........................................................................... 2

1.2. Pergunta de pesquisa .............................................................................. 3

1.3. Justificativa............................................................................................... 3

2. Objectivos ....................................................................................................... 5

2.1. Objectivo geral ......................................................................................... 5

2.2. Objectivos específicos ............................................................................. 5

3. Enquadramento teórico .................................................................................. 6

3.1. Cancro da mama ...................................................................................... 6

3.2. Carcinogénese ......................................................................................... 6

3.3. Epidemiologia........................................................................................... 7

3.4. Avaliação nutricional ................................................................................ 8

3.5. Perfil nutricional em doentes com cancro da mama ............................... 11

3.6. Desnutrição em doentes com cancro da mama ..................................... 11

3.7. Influência da obesidade no cancro da mama ......................................... 12

4. Metodologia .................................................................................................. 14

4.1. Local de estudo ......................................................................................... 14

4.2. Tipo de estudo ....................................................................................... 14

4.3. População e amostra do estudo............................................................. 15

4.4. Critérios de inclusão e exclusão ............................................................. 15

Page 4: TFC- Faruk Obra

4.5. Tamanho amostral ................................................................................. 15

4.6. Método de amostragem ......................................................................... 16

4.7. Variáveis do estudo ................................................................................ 16

4.8. Procedimentos ....................................................................................... 16

4.9. Técnicas e instrumento de recolha de dados ......................................... 17

4.10. Análise e interpretação de dados ......................................................... 18

4.11. Limitações do estudo ........................................................................... 18

4.12. Considerações éticas ........................................................................... 18

5. Resultados ................................................................................................... 20

5.1. Caracterização socioeconómica e do estado clínico da amostra ........... 20

5.2. Avaliação nutricional .............................................................................. 21

5.3. Tipos de malnutrição .............................................................................. 23

5.4. Avaliação da ingestão alimentar ............................................................ 23

6. Discussão ..................................................................................................... 26

6.1. Caracterização socioeconómica e do estado clínico da amostra ........... 26

6.2. Avaliação nutricional .............................................................................. 26

6.3. Tipos de malnutrição .............................................................................. 28

6.4. Avaliação da ingestão alimentar ............................................................ 29

7. Conclusões ................................................................................................... 31

8. Recomendações .......................................................................................... 32

9. Referências bibliográficas ............................................................................ 33

10. Anexos e apêndices ................................................................................... 39

Page 5: TFC- Faruk Obra

Índice de tabelas e gráfico

Tabela 1 Classificação do estado nutricional de adultos .................................... 8

Tabela 2 Classificação do estado nutricional para idosos .................................. 9

Tabela 3 Classificação do perímetro da cintura, para mulheres ....................... 10

Tabela 4 Valores de referência de parâmetros bioquímicos, para mulheres ... 11

Tabela 5 Estado Clinico da amostra ................................................................. 21

Tabela 6 Diagnostico nutricional a partir do IMC .............................................. 21

Tabela 7 Risco de complicações metabolicas definido pelo PC....................... 21

Tabela 8 -Classificação do estado nutricional segundo a ANSG ..................... 22

Tabela 9 - Avaliação dos parâmetros bioquímicos sanguíneos de acordo com

os valores de referência ................................................................................... 22

Tabela 10 - Frequência de ingestão alimentar no grupo de carnes, pescados e

ovos .................................................................................................................. 23

Tabela 11 - Frequência de ingestão alimentar no grupo cereais, pães e

tubérculos ......................................................................................................... 24

Tabela 12 - Frequência de ingestão alimentar no grupo verduras, legumes e

leguminosas ..................................................................................................... 24

Tabela 13 - Frequência de ingestão alimentar no grupo óleos e gorduras ...... 25

Tabela 14 - Frequência de ingestão alimentar no grupo frutas ........................ 25

Tabela 15 - Frequência de ingestão alimentar no grupo bebidas ..................... 25

Gráfico 1- Classes de idades da amostra ........................................................ 20

Gráfico 2 - Situação profissional da amostra .................................................... 20

Gráfico 3 - Estado nutricional pelo IMC ............................................................ 23

Gráfico 4 - Estado nutricional pelo ANSG ………………………………………..23

Page 6: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

I Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Declaração de originalidade

Declaro por minha honra que este trabalho é da minha autoria, resulta da

minha investigação e sob orientação da minha supervisora. Esta é a primeira

vez que submeto numa instituição académica para obter o grau académico de

Licenciatura em Nutrição.

Nome do Autor

_________________________________________

Faruk Alegria Obra

Page 7: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

II Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Dedicatória

Dedico este trabalho à minha

mãe, que mesmo na sua

ausência sempre esteve ao meu

lado nesta batalha.

Page 8: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

III Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Agradecimentos

Subuanathayala (ALLAH) pela força maior por eu ser feliz nesta trajectória da

vida.

Ao meu tio Luís Amade Sulemana e à minha tia Fátima T. Vilanculos por serem

os mentores dos primeiros passos no mundo escolar até então.

À minha professora supervisora Iolanda Filipa Rodrigues Cavaleiro pelo

suporte e confiança na realização deste trabalho, foi com agrado o valioso

aprendizado, o meu muito obrigado.

À professora Brígida Nhantumbo, pela atenção, apoio e disponibilidade em

contribuir para este estudo.

Aos meus colegas do curso de Licenciatura em Nutrição III Jerónimo Francisco,

Estério J. Domingos e Olinda Jetimane, que me apoiaram na realização deste

trabalho e a todos que de forma indirecta me apoiaram na sua realização.

Ao Hospital Central de Maputo, por consentir a realização deste estudo.

A todos os funcionários do Serviço de Oncologia que me acolheram de braços

aberto durante a recolha de dados, ao director do Serviço de Oncologia Dr.

Satish Tulsidas e ao Enf. Chefe da oncologia dr. Jovenal pela paciência

dispensada.

A todas as doentes que fizeram parte deste estudo que sem elas este estudo

não seria possível de realizar.

Page 9: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

IV Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Resumo

Introdução: o cancro da mama é um grave e preocupante problema de saúde pública devido à

sua elevada incidência e mortalidade, constituindo o tipo de cancro mais frequente entre as

mulheres em todo o mundo.

Objectivo: avaliar o estado nutricional de doentes com cancro da mama internados no Serviço

de Oncologia do HCM.

Revisão da literatura: o cancro e o tratamento fazem com que o metabolismo do doente gaste

mais energia e ao mesmo tempo ocorra perda de apetite, o que pode levar à desnutrição e a

adiposidade contribui para o aumento da incidência e ou morte por cancro da mama.

Métodos: estudo descritivo exploratório com uma abordagem quantitativa; método de

amostragem consecutivo por conveniência; amostra de doentes mulheres com cancro da

mama (n=15) entre os 30-63 anos de idade, internadas no Serviço de Oncologia do HCM;

técnica de recolha de dados de inquérito por questionário, com registo de dados

socioeconómicos, avaliação nutricional subjectiva global e questionário de frequência

alimentar, e de observação para medições antropométricas (peso, altura e perímetro da

cintura), parâmetros bioquímicos e exame físico e análise de dados a partir de estatística

descritiva de frequências absolutas e relativas.

Resultados: no diagnóstico nutricional a partir do IMC verificou-se que cerca de 40,0% das

doentes adultas apresentavam pré-obesidade ou obesidade e 6,7% tinham baixo peso. Em

idosos, notou-se uma percentagem de 20,0% com pré-obesidade e 6,7% com baixo peso. No

que se refere ao risco de desenvolvimento de complicações metabólicas associadas ao

perímetro da cintura, cerca de metade (53,3%) das doentes apresentava um risco muito

aumentado de complicações metabólicas. Segundo a ANSG, a amostra maioritariamente

(73,3%) encontrava-se com estado nutricional de desnutrição ou suspeita, com 46,7% das

doentes com desnutrição grave e 26,7% com desnutrição moderada ou suspeita de

desnutrição. Quanto aos parâmetros bioquímicos avaliados, quase metade (46,7%)

apresentava concentração de albumina abaixo dos valores de referência. Na identificação dos

tipos de malnutrição verificou-se que a pré-obesidade e a obesidade representa uma

percentagem elevada (60,0%) pela avaliação do IMC, enquanto que, a desnutrição apresenta

maior percentagem na avaliação feita pela ANSG e pelos parâmetros bioquímicos. A ingestão

alimentar das doentes estudadas caracteriza-se, semanalmente, pelo consumo mais frequente

de frango, carapau, ovo, arroz, farinha de milho (xima), couve, amendoim, óleo de girassol, de

soja e de coco, margarina, manga, banana, papaia e maçã. À excepção do carapau, da banana

e da maçã, a porção de consumo referida foi maior que a porção média. Por dia, verificou-se

um consumo de água e chá em todas as doentes, não sendo este suficiente para garantir as

necessidades hídricas.

Page 10: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

V Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Conclusão: o estudo apresenta uma elevada frequência de pré-obesidade, obesidade e

desnutrição, sendo necessária a identificação precoce, mendigação e controlo da malnutrição

durante o tratamento de quimioterapia, para garantir o sucesso do tratamento e o melhor

prognóstico clínico.

Palavras-chaves: avaliação nutricional, cancro da mama

Page 11: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

VI Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Abstract

Introduction: Breast cancer is a serious public health concern and problem due to its high

incidence and mortality , and is the most common type of cancer among women worldwide

Objective : to evaluate the nutritional status of patients with breast cancer admitted to the HCM

Oncology Service .

Literature review : cancer treatment and cause the patient to spend more energy metabolism

and at the same time causes a loss of appetite, which can lead to malnutrition and fat

contributes to the increasing incidence and or death from breast cancer .

Methods: A descriptive exploratory study with a quantitative approach; method of consecutive

sampling for convenience ; sample of sick women with breast cancer ( n = 15 ) between 30-63

years of age , admitted to the HCM Oncology Service ; survey data collection technique by

questionnaire , with registration socio-economic data , global subjective nutritional assessment

and food frequency questionnaire , and observation for anthropometric measurements ( weight,

height and waist circumference) , biochemical parameters and physical examination and

analysis data from descriptive statistics of absolute and relative frequencies

Results: in the nutritional diagnosis from BMI was found that about 40.0 % of adult patients had

pre -obesity or obese and 6.7 % was underweight. In the elderly, there has been a percentage

of 20.0 % with overweight and 6.7 % underweight. As regards the risk of metabolic

complications associated with the waist circumference, approximately half (53.3 %) of the

patients had a greatly increased risk of metabolic complications. According to SGA, the sample

majority (73.3 %) met with nutritional status of malnutrition or suspected, with 46.7% of patients

with severe malnutrition and 26.7 % with moderate malnutrition or suspected malnutrition. As for

the biochemical parameters, almost half (46.7 %) had albumin concentration below the

reference values. In identifying the types of malnutrition was found that overweight and obesity

is a high percentage ( 60.0 % ) for the evaluation of BMI , while malnutrition has a higher

percentage of the assessment made by SGA and the biochemical parameters . The food intake

of patients studied is characterized weekly by frequent consumption of chicken , mackerel , egg,

rice, maize flour ( xima ) , cabbage , peanut, sunflower oil, soya and coconut butter , mango,

banana, papaya and apple. Other than horse mackerel, banana and apple , that consumption

portion was higher than the middle portion . Per day, there was an intake of tea and water in all

patients, which is not sufficient to ensure the water needs.

Conclusion: The study presents a high frequency of pre -obesity, obesity and malnutrition,

requiring early identification, mendigação and control of malnutrition during chemotherapy

treatment, to ensure the success of treatment and the best clinical outcome .

Keywords: nutritional assessment, breast cancer

Page 12: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

VII Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Abreviaturas e siglas

ANSG Avaliação Nutricional Subjectiva Global

CT Colesterol Total

GLOBOCAN Global Cancer Statistcs

HCM Hospital Central de Maputo

IMC Índice de Massa Corporal

INCA Instituto Nacional de Cancro (Brasileiro)

LDL Lipoproteína de Baixa Densidade

MISAU Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial da Saúde

PC Perímetro da Cintura

PT Proteínas Totais

QFA Questionário de Frequência Alimentar

Page 13: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

1 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Introdução

O cancro é um grupo de doenças caracterizadas por um crescimento e

disseminação descontrolados de células normais, é considerado a segunda

principal causa de morte a nível mundial, responsável por 33% de óbitos e

superada apenas pelas doenças cardiovasculares (Organização Mundial da

Saúde (OMS), 2006).

Aproximadamente 30% das mortes por cancro são devidas a cinco factores

de risco comportamentais e dietéticos: índice de massa corporal elevado,

ingestão reduzida de frutas e hortícolas, falta de actividade física, consumo de

tabaco e consumo de álcool (OMS, 2015).

O cancro da mama é um grave e preocupante problema de saúde pública

devido à sua elevada incidência e mortalidade, constituindo o segundo tipo de

cancro com maior prevalência e o mais frequente entre as mulheres em todo o

mundo (De Deus et al., 2009). Este está a aumentar especialmente nos países

em desenvolvimento, onde a maioria dos casos diagnosticam-se em fases

avançadas (World Cancer Report, 2014).

Global Cancer Statistcs (GLOBOCAN) (2012) considera que o cancro da

mama representou, mundialmente, uma estimativa de 1,67 milhões de novos

casos e de 522 mil mortes.

Em Moçambique, na cidade da Beira, os dados do registo do cancro de

base populacional mostram que o cancro da mama é a terceira causa de

cancro em mulheres adultas (depois do cancro do colo do útero e do sarcoma

de kaposi), afectando frequentemente mulheres com idade igual ou superior a

40 anos (Ministério da Saúde (MISAU), 2008).

Dados de Moçambique revelam que já foram diagnosticados cerca de

58% de casos de cancro, onde 10,2% correspondem ao cancro da mama, que

é mais frequente nas mulheres (MISAU, 2009). Como estratégia de

Moçambique para enfrentar esta problemática definiu-se como objectivo no

“Plano Estratégico Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Não

Page 14: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

2 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Transmissíveis 2008-2014”, reduzir a prevalência dos factores de risco para o

cancro do colo do útero e da mama e a morbilidade e mortalidade associadas.

O tratamento antineoplásico tem como efeitos colaterais em doentes com

cancro da mama, redução de apetite e, consequentemente, redução da

ingestão alimentar que estarão relacionados a problemas nutricionais, tais

como: naúseas; vómitos; diarreia; anorexia; anemia e mucosite, efeitos que

irão interferir no processo metabólico em doentes com cancro da mama

(Verde, 2007).

Zorlini (2007) refere que para a identificação de problemas nutricionais

recomenda a avaliação nutricional como sendo o melhor método para

diagnosticar e tratar os distúrbios nutricionais como a desnutrição e a

obesidade, melhorando a resposta terapêutica e o prognóstico dos doentes.

O estudo visa avaliar o estado nutricional dos doentes com cancro da

mama internados, pela identificação de parâmetros e factores de risco

nutricionais, com vista à melhoria da intervenção nutricional. O estudo foi

realizado no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo (HCM),

localizado na cidade de Maputo, e teve como grupo-alvo doentes internados

com cancro da mama. Este estudo é de carácter descritivo exploratório com

uma abordagem quantitativa, através do método de amostragem consecutiva

por conveniência.

1.1. Enunciado do problema

Há maior prevalência de indivíduos com cancro da mama que apresentam

desnutrição (30%) e sobrepeso (39%) devido a vários factores tais como: o

tratamento a que são submetidos e à alimentação fornecida, resultando nos

distúrbios nutricionais e culminando em aumento de casos de óbitos por cancro

da mama (Zorlini, 2007). Facto este importante para ser averiguado em

Moçambique pela incidência de cancro da mama.

Segundo Trintin (2003) citado por Zorlini (2007), um doente com cancro da

mama ou qualquer outro tipo de cancro classifica-se como um doente de risco

nutricional, em virtude de todas as alterações que esta patologia implica.

Page 15: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

3 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Segundo Rock (2003) citado por Verde (2007), os doentes com cancro da

mama, submetidos ao tratamento de quimioterapia ou radioterapia, apresentam

alterações na ingestão alimentar devido aos seus efeitos adversos,

nomeadamente, pelo funcionamento inadequado do tracto gastrointestinal, que

irá resultar em distúrbios nutricionais.

Os doentes com cancro da mama internadas no Serviço de Oncologia do

HCM não têm um acompanhamento nutricional regular, apesar de estarem

expostas a várias situações de vulnerabilidade para problemas nutricionais, e

não há controlo das dietas oferecidas.

Surge a necessidade de avaliar o estado nutricional dos doentes com

cancro da mama internados, pela identificação de parâmetros e factores de

risco nutricionais, com vista a optimizar a intervenção nutricional,

nomeadamente para que possa ajudar a reduzir a dose dos fármacos durante o

tratamento, combater outras doenças e melhorar o estado nutricional e clínico

em geral, para além de poder contribuir para a diminuição dos custos

hospitalares.

1.2. Pergunta de pesquisa

Qual é o estado nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do HCM?

1.3. Justificativa

A escolha do tema surgiu por durante as férias de desenvolvendo o

distrito, no decorrer das actividades no centro, ter vivenciado um diagnóstico

de cancro da mama a três mulheres internadas no centro. Estas queixavam-se

de inflamação da mama na parte superior e quando o médico fez um exame

físico notou um nódulo numa das mamas, tendo concluído que possivelmente

se tratava de um cancro da mama e surgiu me a inquietação da relação entre

o cancro da mama e estado nutricional das mulheres padecentes desta

patologia. Outro motivo deveu-se ao facto de o cancro da mama constituir um

importante factor de preocupação em crescimento na área da saúde pública

em Moçambique, pela sua expressiva incidência.

Page 16: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

4 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Sabe-se que é frequente, e que contribui para a morbi-mortalidade, no

entanto, em Moçambique, não está disponível um estudo de prevalência de

malnutrição em doentes com cancro da mama, assim como o

acompanhamento nutricional adequado desde o início do seu diagnóstico até

ao seu tratamento no internamento bem como em ambulatório. O presente

estudo pretendeu avaliar o estado nutricional destes doentes pela primeira vez

em Moçambique.

Contudo, o estudo preliminar que possa avaliar o estado nutricional dos

doentes com cancro da mama será primordial na implementação das

estratégias de intervenção nutricional contribuindo para o monitoramento do

estado nutricional destes doentes, fornecendo base para que investigações

representativas subsequentes da área em questão sejam levadas a cabo.

O presente estudo poderá ajudar também no estabelecimento de um

padrão alimentar, de modo a, assegurar uma correcta monitorização do estado

nutricional, assim como na correcção das deficiências nutricionais presentes,

fortalecendo a imunidade e o combate a outras infecções oportunistas.

Page 17: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

5 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

2. Objectivos

2.1. Objectivo geral

Avaliar o estado nutricional de doentes com cancro da mama internados no

Serviço de Oncologia do HCM.

2.2. Objectivos específicos

Descrever a situação socioeconómica e o estado clínico da amostra;

Avaliar os indicadores antropométricos e nutricionais (peso, altura,

Índice de Massa Corporal (IMC), perímetro da cintura (PC) e Avaliação

Nutricional Subjectiva Global (ANSG));

Identificar os parâmetros bioquímicos sanguíneos (albumina, colesterol

total (CT), lipoproteína de baixa densidade (LDL), creatinina, glicémia e

proteínas totais (PT);

Identificar os tipos de malnutrição;

Avaliar a ingestão alimentar.

Page 18: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

6 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

3. Enquadramento teórico

3.1. Cancro da mama

O cancro da mama é uma doença heterogénia e complexa, que é

caracterizado por diversas formas clínicas e morfológicas, com diferentes graus

de agressividade tumoral e potencial metastático (Jácome et al., 2011).

Alguns factores parecem aumentar o risco para desenvolver a doença,

como: sexo feminino; idade maior que 40 anos; antecedentes pessoais de

cancro da mama; história familiar (parente do primeiro grau) com a doença;

multiparidade; menarca precoce; menopausa tardia; uso crónico de álcool;

diagnóstico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou

neoplasia lobular in situ, mutação genética, entre outros factores (Menke et al.,

2007).

3.2. Carcinogénese

Segundo o World Cancer Research Fund (WCRF) e a International Agency

for Research of Cancer (IARC) (2007) citado por Bering (2012), entre 5% a

10% das neoplasias são resultados directos da herança de genes relacionados

ao cancro, mas grande parte envolve danos ao material genético, de origem

física, química ou biológica que se acumulam ao longo da vida.

O processo de carcinogénese, em geral, ocorre lentamente, onde pode

levar vários anos para que a célula cancerígena prolifere e dê origem a um

tumor visível.

Esse processo passa por vários estágios:

Estágios de iniciação - as células sofrem o efeito dos agentes

cancerígenos que provocam modificações genéticas. Nesta fase as células

estão geneticamente alteradas, porém ainda não é possível detectar-se

clinicamente o tumor. Encontram-se “preparadas”, ou seja “iniciadas” para a

acção de um segundo grupo de agentes que actuará no próximo estágio

(Instituto Nacional de Cancro (INCA), 2011);

Estágios de promoção - as células geneticamente alteradas, ou seja,

“iniciadas” sofrem o efeito dos agentes cancerígenos classificados como

Page 19: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

7 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

oncopromotores. A célula é transformada em célula maligna de forma lenta e

gradual. Para que ocorra essa transformação, é necessário um longo e

continuado contacto com o agente cancerígeno promotor. A suspensão do

contacto com agentes promotores muitas vezes interrompe o processo nesse

estágio. Segundo o INCA (2011), alguns componentes da alimentação e a

exposição excessiva e prolongada a hormonas são exemplos de factores que

promovem a transformação de células.

Estágio de progressão - caracteriza-se pela multiplicação descontrolada

e irreversível das células alteradas. Nesse estágio, o cancro já está instalado,

evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença

(INCA, 2011).

3.3. Epidemiologia

O cancro é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em

todo o mundo. Em 2012, houve cerca de 14,1 milhões de novos casos e 8,2

milhões de mortes relacionadas com o cancro, a nível mundial. Nas regiões

menos desenvolvidas ocorreram 57% (8 milhões) dos novos casos de cancro e

65% (5,3 milhões) das mortes por cancro (GLOBOCAN, 2012).

Está doença tornar-se cada vez mais a principal causa de morbilidade e

mortalidade a nível mundial e, em África, com 12,7 milhões de novos casos

diagnosticados em 2008, a previsão é de que este número venha a aumentar

para 21,4 milhões em 2030 (Sankaranarayan et al., 2010).

Os principais tipos de cancro são o pulmonar, o hepático, o gástrico, o

colorectal, o da mama e o do esófago. Em 2012, o cancro diagnosticado com

mais frequência nas mulheres foi o da mama (World Cancer Report, 2014).

O cancro da mama é o segundo tipo de cancro mais comum no mundo e

de longe, o tipo de cancro mais frequente entre as mulheres, com uma

estimativa de 1,67 milhões de novos casos de cancro diagnosticados em 2012.

Este representa cerca de 12% de todos os novos casos de cancro e 25% de

todos os cancros em mulheres. É o tipo de cancro mais comum em mulheres,

tanto em regiões mais e menos desenvolvidas (GLOBOCAN, 2012).

Page 20: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

8 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

O cancro da mama é classificado como a quinta causa de morte por cancro

em geral (522 mil mortes). Ao mesmo tempo é a causa mais frequente de

morte por cancro em mulheres em regiões menos desenvolvidas (324 mil

mortes, 14,3% do total) e a segunda causa de morte por cancro em regiões

mais desenvolvidas (198 mil mortes, 15,4%) depois do cancro do pulmão

(GLOBOCAN, 2012).

Em Moçambique, houve um registo de 58% de casos de cancro, sendo uma

das doenças mais frequentes nas mulheres, com 10,2% correspondente ao

cancro da mama (MISAU, 2009).

Segundo a OMS (2014), estima-se que em Moçambique o cancro da mama

represente 7% das mortes por cancro nas mulheres, num total de 7700 mortes.

Nas mulheres, o cancro da mama teve uma incidência de 1095 novos casos.

3.4. Avaliação nutricional

A avaliação nutricional é um processo de identificação de características

relacionadas com problemas nutricionais; é feita através da correlação de

informações obtidas através de vários métodos utilizados, como avaliação

nutricional subjectiva global, exames clínicos e físicos, antropometria e

dosagens bioquímicas (Vasconcelos, 2008).

A antropometria é o método de investigação científica em nutrição que se

ocupa da medição das variações nas dimensões físicas e na composição

global do corpo humano, em diferentes idades e em distintos graus de nutrição,

segundo Jelliffe (1966) citado por Miranda et al. (2012).

O Índice de Massa Corporal, também conhecido como índice de Quetelet, é

definido pela divisão da massa corporal em quilogramas pelo quadrado da

estatura em metros (kg/m2), conforme ilustra a figura 1, e é utilizado para a

classificação do estado nutricional (tabela 1 e 2) (Ramos, 2005).

IMC

Figura 1- Formula do Índice de Massa Corporal

Page 21: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

9 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Tabela 1 Classificação do estado nutricional de adultos

Diagnóstico nutricional IMC (kg/m2) Risco de co-morbidade

Baixo peso ˂ 18,5 Baixo

Eutrofia 18,5 – 24,9 Sem risco

Pré-obesidade 25,0 – 29,9 Risco aumentado

Obesidade grau l 30,0 – 34,9 Moderado

Obesidade grau ll 35,0 – 39,9 Severo

Obesidade grau lll ˃ 40,0 Muito severo

Fonte: OMS, 2000

Tabela 2 Classificação do estado nutricional para idosos

Diagnóstico nutricional IMC (kg/m2)

Baixo peso ˂ 23,0

Peso adequado 23,0 – 28,0

Pré-obesidade 28,0 – 30,0

Obesidade ˃ 30,0

Fonte: OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), 2002

A malnutrição para Da Silva (2008) é o estado patológico resultante tanto da

inadequada ingestão e/ou absorção de nutrientes pelo organismo (desnutrição

ou subnutrição), como da ingestão e/ou absorção de nutrientes em excesso

(sobrenutrição). Ambas as condições são o resultado de um desequilíbrio entre

as necessidades corporais e o consumo de nutrientes essenciais.

Segundo Cuppari (2005), estudos indicam que a forma pela qual a gordura

está distribuída pelo corpo é mais importante que a gordura corporal total na

determinação do risco individual de doenças. Nesse sentido, utiliza-se o

perímetro da cintura para predizer melhor o tecido adiposo visceral, associado

ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas (tabela 3).

O perímetro da cintura é medido no ponto médio entre a última costela e a

crista ilíaca (Cuppari, 2005).

Page 22: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

10 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Tabela 3 Classificação do perímetro da cintura, para mulheres

Risco de complicações metabólicas Perímetro da cintura (cm)

Risco aumentado ≥ 80

Risco muito aumentado ≥ 88

Fonte: OMS, 1997

A Avaliação Nutricional Subjectiva Global (ANSG) representa

essencialmente um raciocínio clínico sobre a história nutricional (apêndice 1). É

composta por anamnese dirigida e exame físico simplificado para aspectos

nutricionais. Neste método o doente é questionado sobre mudanças do peso

habitual, alterações de hábitos alimentares, presença de sintomas e sinais

gastrointestinais, assim como distúrbios da capacidade funcional (Detsky et al.,

1987 citado por Correia, 2003).

A doença do doente é considerada no contexto geral e de acordo com o

diagnóstico de base do doente, atribui-se um grau de demanda metabólica:

leve, moderado e alto. Por último, o doente é submetido a um exame físico

simples, objectivando verificar mudanças da composição subcutânea, massa

muscular e presença de edemas.

Este método valoriza essencialmente a progressão de perda de peso do

doente e o período em que ocorreu, além de outras variáveis clínicas

significantes como a existência de alterações do apetite, a presença de

sintomas gastrointestinais e as mudanças da capacidade funcional. Todas

essas variáveis são factores relevantes que interferem no estado nutricional do

doente (Correia, 2003).

A avaliação da ingestão alimentar é parte integrante da avaliação

nutricional. O Questionário de Frequência Alimentar (QFA) é um método

utilizado em estudos para a verificação da relação dieta-doença, os alimentos

são apresentados em uma listagem pré-estabelecida consoante a sua

pertinência (Slater et al., 2004)

De acordo com Cuppari (2005), os parâmetros bioquímicos são importantes

na avaliação nutricional, na medida em que auxiliam na identificação precoce

de alterações nutricionais (tabela 4).

Page 23: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

11 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Tabela 4 Valores de referência de parâmetros bioquímicos, para mulheres

Parâmetros bioquímicos Valores de referência

Albumina 38 – 51g/L

Colesterol total < 200 mg/dL

Colesterol – LDL < 150 mg/dL

Creatinina 88 – 128 µmol/L

Glicémia 4 – 6 mmol/L

Concentração de Proteínas Totais 66 – 87 g/L

Fonte: Mahan e Escott-Stump, 2010

3.5. Perfil nutricional em doentes com cancro da mama

Estudos realizado por Bolonezi (2013) demostraram que grande parte das

mulheres com cancro da mama apresentava um peso acima do ideal, onde o

IMC era em média 27,9 kg/m2, considerado como pré-obesidade. O mesmo

autor confirma que a incidência de cancro da mama é maior entre os 46 e os

67 anos.

Todas as terapias utilizadas no tratamento do cancro da mama são

afectadas pelo excesso de peso, isso é especialmente observado na

quimioterapia que é calculado de acordo com a superfície corporal, consoante

Koenke et al. (2005); Kirjner e Pinheiro (2007) citado por Irala (2011).

3.6. Desnutrição em doentes com cancro da mama

A desnutrição é associada com pior prognóstico, devido à diminuição da

qualidade de vida e do estado funcional do doente (Pressoir et al., 2010).

A desnutrição no cancro da mama está relacionada a factores associados

ao tratamento, à própria doença, assim como à condição económica e social.

Segundo Garófolo et al. (2005), a ingestão alimentar, o gasto energético, a

absorção e o metabolismo de nutrientes, bem como a toxidade oral e

gastrointestinal e, a nefrotoxicidade causada por fármacos usados no

tratamento de neoplasias e infecções, desempenham um papel importante na

etiologia da desnutrição no cancro.

Page 24: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

12 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Para Turkki (1988), à medida que o cancro progride, muitos doentes

demonstram anorexia, que combinada com os processos hipermetabólicos das

células tumorais leva a uma grave perda de peso, desnutrição e finalmente à

caquexia cancerígena podendo levar à morte.

A quimioterapia, radioterapia ou hormonoterapia utilizadas no tratamento do

cancro provocam efeitos colacterais tais como náuseas, anorexia e alteração

do gosto e do olfato, que interferem na alimentação do doente. O cancro e o

tratamento fazem com que o metabolismo do doente gaste mais energia e ao

mesmo tempo ocorra perda de apetite, o que pode levar à desnutrição (INCA,

2011).

3.7. Influência da obesidade no cancro da mama

A obesidade é definida como a acumulação de tecido adiposo localizado ou

generalizado, provocado por desequilíbrio nutricional associado ou não a

distúrbios genéticos ou endocrinometabólicos (Associação Brasileira para o

Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), 2009).

A adiposidade contribui para o aumento da incidência e ou morte por

cancro da mama em mulheres na pós-menopausa. Calle et al. (2003) estimou

que 20% das mortes por cancro em mulheres nos Estados Unidos da América

é atribuído ao excesso de peso e obesidade.

Um estudo realizado nos Estados Unidos da América por Laamiri et al.

(2011) mostrou que o maior risco para o cancro da mama é devido ao consumo

excessivo de carnes vermelhas e produtos processados (com elevado teor de

lípidos), por desencadear pré-obesidade e obesidade.

A obesidade pode influenciar o desenvolvimento do cancro porque o tecido

adiposo produz e secretos inúmeros peptídeos e proteínas bioactivas

denominadas adipocitocina (Lewinski, 2010).

A adiponectina (uma adipocitocina) e a leptina (hormona secretada pelos

adipócitos) possivelmente influenciam na etiopatogenia de diferentes tumores

malignos, onde a leptina pode potencializar o crescimento de células

cancerígenas e a adiponectina tem um efeito contrário, isto porque a leptina e a

Page 25: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

13 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

adiponectina participam na manutenção da homeostase energética. A

obesidade acontece quando esta regulação é interrompida (Lewinski, 2010).

Page 26: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

14 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

4. Metodologia

4.1. Local de estudo

O presente estudo decorreu no Serviço de Oncologia do Hospital Central de

Maputo, que tem uma capacidade de 60 camas, divididas em duas enfermarias

de 30 camas para os homens e 30 camas para as mulheres, com diagnóstico

de diversos cancros. Segundo o livro de registo hospitalar do segundo

semestre de 2013 do HCM, estiveram internadas 25 mulheres com cancro da

mama.

O hospital conta com mais de 100 anos de existência, as suas obras de

construção remontam desde 1900. É um hospital de ensino e de referência

Nacional, é a maior Instituição hospitalar do país com cerca 1500 camas. É um

hospital de estrutura horizontal com cerca de 35 edifícios e ocupa uma área de

165.800 m2. É o hospital de nível quaternário na classificação dos hospitais no

país, segundo o diploma Ministerial nº 127/2002.

O HCM localiza-se na cidade de Maputo, a capital da República de

Moçambique, na Avenida Agostinho Neto a oeste, Avenida Eduardo Mondlane

a este, Avenida Tomás Nduda a norte e Avenida Salvador Allende a sul.

A escolha do Hospital Central de Maputo deveu-se ao facto de:

Ser um centro de referência com serviço de oncologia a nível nacional

com capacidade de internamento a doentes com cancro da mama e

outros tipos de cancro;

Apresentar uma boa organização dos serviços oferecidos;

Ser um hospital escola.

4.2. Tipo de estudo

De acordo com os objectivos traçados, o estudo é de caracter descritivo

exploratório com uma abordagem quantitativa.

O estudo descritivo é um estudo que consiste em descriminar os factores

determinantes ou conceitos que eventualmente possam estar associados ao

Page 27: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

15 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

fenómeno ou conceito relativo a uma população ou amostra, de maneira a

estabelecer as características desta população (Fortin, 2003).

Segundo Gil (2002), a pesquisa exploratória tem como finalidade

proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais

explícito. Portanto este estudo leva a cabo quando pouco se sabe sobre a

situação ou problema.

4.3. População e amostra do estudo

A população do estudo é composta por mulheres com cancro da mama

internadas no Serviço de Oncologia do HCM, com idade maior ou igual a 18

anos e sem diagnóstico de outro tipo de cancro. O estudo é constituído por

uma amostra de 15 doentes com cancro da mama, recolhida no período de

Janeiro a Março de 2015.

4.4. Critérios de inclusão e exclusão

O presente estudo teve como critérios de inclusão: mulheres com idade

maior ou igual a 18 anos; mulheres internadas na enfermaria do Serviço de

Oncologia do HCM com diagnóstico de cancro da mama e as doentes que

assinaram o termo de consentimento informado.

Como critérios de exclusão, o estudo apresentou os seguintes: doentes

com doenças inflamatórias não cancerígenas (porque estas podem alterar as

concentrações séricas de proteína C-reactiva e albumina); doentes com outros

tipos de cancro e doentes incapazes de consentir.

4.5. Tamanho amostral

Os dados colhidos no Serviço de Oncologia permitiram obter o número da

população de 25 doentes internados no segundo semestre de 2013, e a partir

deste calculou-se o tamanho da amostra de 24, que serviu como provável

tamanho da amostra, conforme apresentado a seguir:

n0 =

2 n =

n0 =

=

n =

Page 28: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

16 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

n0 = 400 n = 24

N = Tamanho da população

E0 = Erro amostral tolerável (5%)

n0 = Primeira aproximação do tamanho da amostra

n = Tamanho da amostra

4.6. Método de amostragem

Neste estudo usou-se o método de amostragem consecutiva por

conveniência que, segundo Fortin (2003), a amostragem é o processo pelo

qual um grupo de pessoas ou subconjunto de uma população é colhido com

vista em obter informações relacionadas com um fenómeno e de tal maneira

que a população inteira esteja representativa.

4.7. Variáveis do estudo

Este estudo usou como variáveis de atributos porque a sua escolha é

determinada em função das necessidades do estudo. De acordo com Kerlinger

(1973) citado por Fortin (2003), variáveis são qualidades, propriedades ou

característica de um objecto, de pessoas, ou das situações que são estudadas.

Portanto, este estudo teve como variáveis: idade; situação profissional;

tratamento; estado clínico; peso; altura; IMC; diagnóstico nutricional a partir do

IMC; risco de complicações metabólicas definido pelo perímetro da cintura;

estado nutricional segundo ANSG; parâmetros bioquímicos (albumina,

colesterol total, lipoproteína de baixa densidade, creatinina, glicémia e

proteínas totais); tipos de malnutrição e ingestão alimentar.

4.8. Procedimentos

Foram seleccionados consecutivamente e por conveniência os

doentes/processos clínicos que cumpriam com os critérios de inclusão sendo,

posteriormente, os doentes submetidos à leitura e explicação do consentimento

informado para assinatura.

De seguida, os doentes foram questionados sobre dados socioeconómicos.

Após o doente ter consentido para a realização das medições antropométricas

foi feita a medição da altura, do peso e do perímetro da cintura do doente pelo

Page 29: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

17 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

investigador, onde estes dados foram usados para identificar o estado

nutricional dos doentes juntamente com os dados bioquímicos.

O peso foi aferido em uma balança mecânica (Detecto-160kg) com o

doente situado no centro da plataforma, sem sapatos, usando roupas leves.

Determinou-se a altura em estadiómetro acoplado à balança, estando o doente

em pé, descalço em plataforma fixa, de costas para o marcador, com pés

unidos, em posição recta, com os olhos voltados para a frente. O perímetro da

cintura foi medido com uma fita métrica extensível, no ponto médio entre a

última costela e a crista ilíaca, com o doente de pé.

Os doentes foram também submetidos ao questionário da ANSG, aplicado

de forma específica e sucinta pelo investigador. O exame físico contemplado

na ANSG consistiu em observar a presença de sinais clínicos como: depleção

do músculo deltóide, presença de ascite, edema. Este método serviu também

para classificar o estado clínico do doente.

Nos processos clínicos de cada doente verificou-se, por observação, o

estado clínico (tratamento entre outros aspectos) e os indicadores bioquímicos

nutricionais, em que estes foram comparados aos padrões normais

recomendados.

Um questionário de frequência alimentar (QFA) semi-quantitativo foi usado

para avaliar a ingestão alimentar dos doentes no mês anterior, que foi

constituído por uma lista de alimentos apresentados em grupos, com opções

para a frequência de consumo e para a quantidade consumida tendo em conta

uma porção média, o qual o doente preencheu.

4.9. Técnicas e instrumento de recolha de dados

Como técnica de recolha de dados foi utilizado o inquérito por questionário

para o registo dos dados socioeconómicos, da ANSG e da ingestão alimentar

através do QFA (questionário pré-elaborado), e a observação para medições

antropométricas (observação em escala), parâmetros bioquímicos e exame

físico.

Quanto ao instrumento de recolha de dados foi usado um questionário de

recolha de dados (apêndice 1), incluindo o formulário de avaliação nutricional

Page 30: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

18 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

subjectiva global, o QFA e o registo de dados socioeconómicos, clínicos,

antropométricos e bioquímicos.

4.10. Análise e interpretação de dados

Para este estudo a análise de dados foi feita a partir do pacote estatístico

SPSS v.20 e do programa Microsoft Office Excel, onde os resultados foram

analisados a partir de estatística descritiva de frequências absolutas e relativas

das respostas, seguidas da apresentação em tabelas e gráficos.

O diagnóstico nutricional a partir do IMC foi determinado a partir das

referências bibliográficas mencionadas no enquadramento teórico, na tabela 1

e 2, respectivamente, para adultos e para idosos; o risco de complicações

metabólicas foi definido pelo PC, de acordo com a tabela 3 e os parâmetros

bioquímicos foram avaliados consoante os valores de referência mencionados

na tabela 4. A pontuação atribuída a cada item da ANSG está referida no

apêndice 1, ao longo da ANSG.

A ingestão alimentar foi caracterizada pela frequência de consumo, por

semana, dentro de cada grupo alimentar, destacando os alimentos com

frequência maior que 50,0%, ou seja, os alimentos consumidos por mais de

metade da amostra.

4.11. Limitações do estudo

O estudo teve como limitações: a insuficiência de tamanho da amostra

como estava prevista no cálculo do tamanho da amostra, devido à escassez

dos pesquisados no momento de recolha de dados e para o cumprimento do

prazo de entrega do Trabalho de Fim do Curso; falta de alguns parâmetros

bioquímicos que não eram pedidos pelos médicos, principalmente dos

parâmetros nutricionais; assim como falta de verbas suficientes para custear as

despesas da pesquisa.

4.12. Considerações éticas

Este estudo foi desenvolvido após aprovação do Comité Institucional de

Bioética para a Saúde do Instituto Superior de Ciências de Saúde (anexo 1) e

da Direcção Científica e Pedagógica do HCM (anexo 2). Após a conclusão do

estudo, foi elaborado um relatório final que foi submetido ao Serviço de

Page 31: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

19 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Oncologia e à Direcção Científica e Pedagógica do HCM.

Entretanto foram tomadas em conta todas as considerações éticas da

investigação científica.

O consentimento informado (apêndice 2), escrito em português, foi lido ao

doente pelo investigador principal, num local sossegado e sem limitação de

tempo, usando uma linguagem clara e acessível ao destinatário.

O doente foi solicitado a dar um consentimento escrito e assinado (ou com

impressão digital). Deu-se tempo ao participante para discutir a informação

recebida com os membros da comunidade ou da família, antes de decidir sobre

a participação no estudo.

Foi garantida a confidencialidade por um sistema de código apropriado. Os

dados que identificam o participante não foram difundidos fora de estudo. Os

planos de seguimento dos participantes e qualquer informação pessoal foram

restritos ao pessoal médico e aos investigadores envolvidos directamente no

estudo.

A participação no estudo foi voluntária, após o doente ter dado o

consentimento informado. Os doentes tiveram a possibilidade de se retirarem

do estudo, a qualquer altura, desde a assinatura do consentimento.

Constituiu vantagens do estudo para os participantes, a oportunidade para

o rastreio da desnutrição, pré-obesidade e obesidade, e o seguimento na

consulta médica ou de especialidade, caso indicado.

Page 32: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

20 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

5. Resultados

5.1. Caracterização socioeconómica e do estado clínico da amostra

A amostra é composta por 15 doentes, do sexo feminino, com diagnóstico

de cancro da mama internadas no Serviço de Oncologia do HCM.

Fonte: Autor

Gráfico 1- Classes de idades da amostra

Quanto à idade (gráfico 1) no momento da recolha de dados, a maioria das

doentes (60,0%) estava na faixa etária dos 30 aos 49 anos e um terço eram

idosas. A mediana das idades foi de 35 anos com um mínimo de 30 anos e

máximo de 63 anos. Relativamente à situação profissional (gráfico 2), 40,0%

das doentes inquiridas realizavam actividade profissional por conta própria e

26,7% no sector privado.

Fonte: Autor Gráfico 2 - Situação profissional da amostra

5 (33,3%)

4 (26,7%)

1 (6,7%)

5 (33,3%)

0

1

2

3

4

5

6

30 - 39 anos 40 - 49 anos 50 - 59 anos > 60 anos

6 (40,0%)

4 (26,7%)

2 (13,3%) 2 (13,3%)

1 (6,7%)

0

1

2

3

4

5

6

7

Conta própria Funcionário privado

Desempregado Funcionário público

Camponês

Page 33: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

21 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Cerca de 60% das doentes do estudo tinham um estado clínico moderado

e 40% encontravam-se no estado grave (tabela 5), ambos os grupos recebiam

tratamento de quimioterapia intravenoso.

Tabela 5 Estado Clinico da amostra

Estado clínico n (%)

Moderado 9 (60,0)

Grave 6 (40,0)

Fonte: Autor

5.2. Avaliação nutricional

No diagnóstico nutricional a partir do IMC (tabela 6) verificou-se que cerca

de 40,0% das doentes adultas apresentavam pré-obesidade ou obesidade e

6,7% tinham baixo peso. Em idosos, notou-se uma percentagem de 20,0% com

pré-obesidade e 6,7% com baixo peso.

Tabela 6 Diagnostico nutricional a partir do IMC

Diagnóstico nutricional IMC (kg/m2) n (%)

Adu

ltos

Baixo peso < 18,5 1 (6,7)

Eutrofia 18,5 – 24,9 3 (20,0)

Pré-obesidade 25,0 – 29,9 4 (26,7)

Obesidade grau I 30,0 – 34,9 2 (13,3)

Idosos

Baixo peso < 23,0 1 (6,7)

Peso adequado 23,0 – 28,0 1 (6,7)

Pré-obesidade 28,0 – 30,0 3 (20,0)

Total 15 (100,0)

Fonte: Autor

Tabela 7 Risco de complicações metabólicas definido pelo PC Risco de complicações metabólicas n (%)

Pouco risco (PC < 80 cm) 7 (46,7)

Risco muito aumentado (PC 88 cm) 8 (53,3)

Total 15 (100,0)

Fonte: Autor

No que se refere ao risco de desenvolvimento de complicações

metabólicas associadas ao perímetro da cintura (tabela 7), cerca de metade

Page 34: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

22 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

(53,3%) das doentes apresentava um risco muito aumentado de complicações

metabólicas.

Tabela 8 -Classificação do estado nutricional segundo a ANSG

Classificação

do estado nutricional n (%)

Percentagem

cumulativa

Desnutrido grave 7 (46,7) 46,7

Suspeita de desnutrição ou

moderadamente desnutrido 4 (26,7) 73,3

Nutrido 4 (26,7) 100,0

Total 15 (100,0)

Fonte: Autor

Segundo a ANSG (tabela 8), a amostra maioritariamente (73,3%)

encontrava-se com estado nutricional de desnutrição ou suspeita, com 46,7%

das doentes com desnutrição grave e 26,7% com desnutrição moderada ou

suspeita de desnutrição.

Tabela 9 - Avaliação dos parâmetros bioquímicos sanguíneos de acordo com

os valores de referência

Parâmetro

Bioquímico

Baixo

n (%)

Normal

n (%)

Elevado

n (%)

Albumina 7 (46,7) 3 (20,0) 5 (33,3)

Colesterol total 3 (20,0) 5 (33,3)

Colesterol – LDL 6 (40,0) 9 (60,0)

Creatinina 4 (26,7) 11 (73,3)

Glicémia 3 (20,0) 3 (20,0) 9 (60,0)

PT 5 (33,3) 3 (20,0)

Fonte: Autor

Quanto aos parâmetros bioquímicos avaliados (tabela 9), quase metade

(46,7%) apresentava concentração de albumina abaixo dos valores de

referência, 33,3% concentração de proteínas totais abaixo dos valores de

referência, 33,3% hipercolesterolemia e 20,0% hipoglicémia. A maioria

Page 35: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

23 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

apresentava colesterol-LDL acima dos valores de referência (60,0%),

hiperglicémia (60,0%) e creatinina acima dos valores de referência (73,3%).

5.3. Tipos de malnutrição

Fonte: Autor Fonte: Autor

Na identificação dos tipos de malnutrição verificou-se que a pré-obesidade

e a obesidade representa uma percentagem elevada (60,0%) pela avaliação do

IMC (gráfico 3), enquanto, a desnutrição apresenta maior percentagem na

avaliação feita pela ANSG (gráfico 4) e pelos parâmetros bioquímicos.

5.4. Avaliação da ingestão alimentar

Tabela 10 - Frequência de ingestão alimentar no grupo de carnes, pescados e ovos

Alimento Frequência Quantidade n (%)

Frango 5-6 vezes/semana

Maior que 1 pedaço 12 (80,0)

Carne de vaca 1-3 vezes/mês

Igual a 2 pedaços pequenos

5 (33,3)

Ovos 2-3 vezes/dia

Igual a 1 médio 15 (100,0)

Embutidos 1 vez/semana

Maior que 2 fatias 6 (40,0)

Carapau 2-4 vezes/semana

Menor que 1 pedaço médio

14 (93,3)

Peixes (outros) 1-3 vezes/mês

Menor que 1 pedaço 13 (86,7)

Fonte: Autor

Baixo peso 2 (13,3%)

Pré- -obesidade 7 (46,7%)

Obesidade grau I

2 (13,3%)

Eutrofia/Peso adequado 4 (26,7%) Desnutrido grave

7 (46,7%) Suspeita de

desnutrição ou moderadamente

desnutrido 4 (26,7%)

Nutrido 4 (26,7%)

Gráfico 3 - Estado nutricional pelo IMC Gráfico 4 - Estado nutricional pela ANSG

Page 36: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

24 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Quanto à frequência de ingestão alimentar no grupo carnes, pescado e

ovos (tabela 10), verificou-se que todas as doentes apresentavam um consumo

elevado de ovos por dia. Por semana, verificou-se um consumo mais frequente

de frango e de carapau e por mês, o consumo de outros peixes.

Tabela 11 - Frequência de ingestão alimentar no grupo cereais, pães e tubérculos

Alimento Frequência Quantidade n (%)

Arroz 5-6 vezes/semana

Maior que 3 colheres de sopa rasa

13 (86,7)

Farinha de milho (xima) 2-4 vezes/semana

Maior que 1 colher de sopa funda

10 (66,7)

Massa esparguete 1 vez/semana

Igual a 2 colheres de sopa funda

4 (26,7)

Mandioca 1 vez/dia

Maior que 2 pedaços grandes

7 (46,7)

Fonte: Autor

Na frequência de ingestão alimentar no grupo cereais, pães e tubérculos

(tabela 11), por semana, verificou-se um consumo mais frequente de arroz e de

farinha de milho (xima).

Tabela 12 - Frequência de ingestão alimentar no grupo verduras, legumes e leguminosas

Alimento Frequência Quantidade n (%)

Couve 5-6 vezes/semana

Maior que 2 colheres funda

10 (66,7)

Amendoim 5-6 vezes/semana

Maior que 1 colher de sopa funda

8 (53,3)

Repolho 1 vez/semana

Igual a 1 colher de sopa funda

5 (33,3)

Feijão 1 vez/semana

Igual a 1 colher de sopa rasa

7 (46,7)

Folhas de mandioca 1 vez/semana

Maior que 1 colher de sopa funda

4 (26,7)

Fonte: Autor

Para o grupo verduras, legumes e leguminosas (tabela 12) verificou-se, por

semana, um consumo mais frequente de couve e amendoim.

No grupo óleos e gorduras (tabela 13) obteve-se, por semana, um

consumo mais frequente de óleo de girassol, de soja e de coco e de margarina.

Page 37: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

25 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Tabela 13 - Frequência de ingestão alimentar no grupo óleos e gorduras

Alimento Frequência Quantidade n (%)

Margarina 5-6 vezes/semana

Maior que 1 colher de chá

9 (60,0)

Óleo de coco 2-4 vezes/semana

Maior que 1 colher de sopa

11 (73,3)

Óleo de girassol, soja 2-4 vezes/semana

Maior que 1 colher de sopa

13 (86,7)

Manteiga 1-3 vezes/mês

Igual a 1 colher de chá

5 (33,3)

Fonte: Autor

Tabela 14 - Frequência de ingestão alimentar no grupo frutas

Alimento Frequência Quantidade n (%)

Manga 5-6 vezes/semana

Maior que 1 unidade 13 (86,7)

Laranja 1 vez/semana

Igual a 1 unidade 14 (93,3)

Banana 2-4 vezes/semana

Igual a 1 unidade 15 (100,0)

Papaia 5-6 vezes/semana

Maior que 1 fatia 8 (53,3)

Maçã 2-4 vezes/semana

Igual a 1 unidade 15 (100,0)

Fonte: Autor

Em relação ao grupo frutas (tabela 14) verificou-se um consumo mais

frequente de manga, banana, papaia e maçã, por semana e de laranja uma vez

por semana. O consumo de manga pode ser devido ao facto de ser uma fruta

da época e o consumo de laranja, banana e maçã por serem as frutas mais

distribuídas no serviço de oncologia. Para o grupo das bebidas (tabela 15)

notou-se um consumo frequente e excessivo de cerveja, por semana. Por dia,

verificou-se um consumo de água e chá em todas as doentes.

Tabela 15 - Frequência de ingestão alimentar no grupo bebidas

Alimento Frequência Quantidade n (%)

Cerveja 2-4 vezes/semana

Maior que 2 copos 9 (60,0)

Água 2-3 vezes/dia

Igual a 1 copo 15 (100,0)

Chá 1 vez/dia

Igual a 1 chávena 15 (100,0)

Fonte: Autor

Page 38: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

26 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

6. Discussão

6.1. Caracterização socioeconómica e do estado clínico da amostra

A amostra das doentes com cancro da mama internadas no Serviço de

Oncologia do HCM, caracteriza-se maioritariamente por doentes com idades

compreendidas entre os 30 e os 49 anos, em situação profissional por conta

própria ou no sector privado, em estado clínico moderado.

Para o INCA (2006), contrariamente ao obtido neste estudo, a faixa etária

de incidência de cancro da mama é dos 40 aos 60 anos de idade sendo a

maior causa de morte nas mulheres.

Em relação à situação profissional, Bering (2012) argumenta que o tipo de

ocupação se associa significativamente ao poder de aquisição de qualquer

alimento ou produto alimentício. No entanto, não foi feito uma correlação no

nosso estudo da fonte de rendimento e aquisição dos produtos alimentares.

6.2. Avaliação nutricional

A avaliação do estado nutricional dos doentes tem como objectivo central

identificar os tipos de malnutrição, assim como as alterações metabólicas e

orgânicas que dependem da alimentação ou que podem ser atenuadas pelo

tratamento dietético adequado.

Em relação ao estado nutricional das doentes inqueridas no estudo

observou-se que apresentavam maioritariamente pré-obesidade e obesidade,

segundo a classificação do IMC.

Estes resultados assemelham-se ao estudo realizado por Porto et al.

(2011), em mulheres com cancro da mama no Brasil que relatou uma

frequência de sobrepeso (pré-obesidade e obesidade) a partir do IMC de

64,6%. A obesidade é também um factor de risco para o cancro da mama.

Brown et al. (2003) afirmaram que existe um corpo de evidências

solidamente comprovado de que a pré-obesidade e a obesidade são factores

de risco para o aparecimento e recorrência de vários tipos de neoplasia.

Em termos absolutos, o aumento de peso pode promover grandes

implicações na saúde das doentes no momento em que está directamente

Page 39: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

27 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

associado com o desenvolvimento de outras doenças crónicas não-

transmissíveis como: hipertensão arterial, diabetes meliteus e doenças

cardiovascular, secundárias à acumulação de gordura visceral após a

quimioterapia (Del Rio et al., 2002).

Quanto ao perímetro da cintura verificou-se que as doentes apresentavam

maioritariamente risco muito aumentado de complicações metabólicas. No

estudo de Healy et al. (2010) obteve-se uma prevalência de 87,0% de PC que

tem sido associado a risco de complicações metabólicas.

Em relação ao estado nutricional avaliado pela ANSG verificou-se que um

elevado número das doentes apresentava desnutrição grave seguido de

suspeita de desnutrição ou moderadamente desnutrido. No estudo de Dahlk et

al. (2008), foi encontrada uma frequência mais baixa, em que 29,1% dos

doentes com cancro da mama estavam desnutridas usando a ANSG.

Através da ANSG verificou-se que todas as doentes apresentavam

sintomas como náuseas, vómitos e falta de apetite. Dixon et al. (1978)

considera que as náuseas, os vómitos, a falta de apetite e a mucosite são

associados ao tratamento antineoplásicos e que deveriam ter maior relação

com a perda de peso e, consequentemente, desnutrição nestes doentes, o que

pode interferir no melhoramento do doente devido à fraca capacidade do

metabolismo do mesmo estar comprometido.

A identificação dos parâmetros bioquímicos sanguíneos em doentes com

cancro da mama aliados a outros métodos de avaliação nutricional contribui na

identificação do estado nutricional e no tratamento nutricional dos mesmos.

Segundo Cuppari (2005), a diminuição da concentração das proteínas

séricas é um dos indicadores da desnutrição devido à perda de proteínas

resultando em desnutrição proteica-energética em doentes oncológicos. As

concentrações de albumina abaixo dos valores de referência são indicativas da

presença de desnutrição em quase metade da amostra.

Segundo Mahan e Escott-Stump (2010), níveis reduzidos de albumina

podem aparecer durante um curto período de deficiência de energia e proteína

e estão associados a maior incidência de complicações médicas ou nutricionais

Page 40: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

28 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

(morbilidade), hospitalização mais longa e mortalidade.

Um terço das doentes apresentou níveis de PT abaixo dos valores de

referência. Segundo Mahan e Escott-Stump (2010), os níveis de PT

acompanham os sinais clínicos de desnutrição, no entanto, não é útil para

avaliar o estado proteico.

Outras proteínas séricas como a pré-albumina e a proteína de ligação ao

retinol são indicadores mais sensíveis do balanço energético-proteico que a

albumina ou transferrina (Mahan e Escott-Stump, 2010). No entanto, estes não

estavam disponíveis possivelmente pelo custo associado.

As proteínas séricas têm como limitação o facto da resposta ao stress

poder afectar essas variáveis e confundir a sua interpretação como indicadores

do balanço energético-proteico, não devendo ser utilizadas isoladamente para

estabelecer um diagnóstico nutricional (Mahan e Escott-Stump, 2010).

Um elevado número das doentes apresentava creatinina acima dos valores

de referência. Consoante Mahan e Escott-Stump (2010), um doente que

apresenta nível elevado de creatinina no sangue, indica desenvolvimento de

uma insuficiência renal e é um indicador nutricional na determinação da massa

muscular no corpo, que vai levar à perda de peso e deixando o doente sem

apetite.

Em relação à glicémia, colesterol-LDL e CT, um estudo realizado por Porto

et al. (2011) verificou uma frequência de 11,1% de hiperglicémia, mais baixa

que o nosso estudo e quanto ao LDL e CT obteve maior frequência em 86,4%.

Outro estudo, realizado por Healy et al. (2010) diz que no cancro da mama

em estádios mais avançados da doença apresenta maiores taxas de

hiperglicémicos, hiperinsulinemicas e obesidade.

6.3. Tipos de malnutrição

A avaliação nutricional realizada pelo IMC permitiu diagnosticar doentes

em situação de pré-obesidade e obesidade e apenas duas com baixo peso,

comparativamente, à ANSG que determinou uma elevada frequência de

Page 41: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

29 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

desnutrição ou suspeita. Desta forma, pode-se supor que a ANSG possibilita

melhor a identificação de doentes com suspeita de desnutrição ou desnutrição.

Isto alerta para o facto de o doente estar aparentemente bem nutrido ou

sobrenutrido mas poder apresentar sintomas e sinais de desnutrição. Para

estes doentes é importante manter o peso corporal dentro dos valores

desejáveis, de forma bem nutrida, com prática de uma alimentação saudável,

compatível com os efeitos secundários do tratamento, para garantir o sucesso

do tratamento e o melhor prognóstico clínico.

6.4. Avaliação da ingestão alimentar

A importância da avaliação da ingestão alimentar nestes doentes é de

propor, orientar e formular as estratégias de intervenção nutricional, facilitando

a recuperação dos doentes e evitando a deterioração do estado nutricional bem

como a depleção imunológica.

Estudos epidemiológicos sobre o padrão alimentar em doentes com cancro

identificam uma dieta desequilibrada, deficiente em nutrientes essenciais e

excessiva em nutrientes nocivos (Lund et al., 2011).

A ingestão alimentar das doentes estudadas caracteriza-se,

semanalmente, pelo consumo mais frequente de frango, carapau, ovo, arroz,

farinha de milho (xima), couve, amendoim, óleo de girassol, de soja e de coco,

margarina, manga, banana, papaia e maçã. À excepção do carapau, da

banana e da maçã, a porção de consumo referida foi maior que a porção

média.

Lund et al. (2011) afirma que as ingestões excessivas de ácidos gordos

saturados presentes em carnes associam-se ao desenvolvimento de cancros

da mama, próstata e colo-rectal. Willett (1998) confirma que os ácidos gordos

saturados são relacionados a factores de riscos para o cancro da mama. No

entanto, neste estudo apenas cerca de um terço das doentes relatou o

consumo de carne de vaca e embutidos com pouca frequência por semana.

Segundo Campbell et al. (2012), os vegetais são excelentes fontes de

vitaminas, minerais e outras substâncias potencialmente protectoras, como

carotenos e flavonóides e desempenham função anti carcinogénica devido às

Page 42: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

30 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

suas propriedades antioxidantes e por inibição directa de potenciais agentes

endógenos da carcinogénese. Para o Adzersen et al. (2003), o elevado

consumo de fruta e verduras apresenta efeito protector para o cancro da

mama.

Quanto ao consumo de óleo e gorduras foi semelhante ao observado no

estudo de Medeiros (2004), onde observou maior consumo de óleo e gorduras

na alimentação diariamente na confecção de diversas preparações.

Quanto às bebidas verificou-se que as doentes apresentavam um elevado

consumo de cerveja. Um estudo realizado por Smith et al. (1998) diz que as

bebidas alcoólicas constituem um factor negativo da dieta da mulher, uma vez

que o álcool tem sido associado a um risco aumentado para o desenvolvimento

do cancro da mama. Por dia, verificou-se um consumo de água e chá em todas

as doentes, não sendo este suficiente para garantir as necessidades hídricas.

Quanto à alimentação oferecida no hospital, durante a recolha de dados

verificou-se que as doentes que se encontravam no estado grave rejeitavam

ainda mais as refeições e em contra partida as que tinham pré-obesidade e

obesidade consumiam as refeições com algumas queixas de condimento.

Segundo a Associação Laço e a Associação Portuguesa dos Nutricionistas

(2013), os doentes com cancro da mama durante o tratamento devem ter

presentes os princípios de uma alimentação saudável, como: fazer uma

alimentação completa, variada e equilibrada; procurar manter o peso corporal

dentro dos valores desejáveis; tomar sempre o pequeno-almoço; fazer 5 a 6

refeições por dia; aumentar o consumo de fruta e hortícolas; iniciar as refeições

principais com sopa; comer calmamente e mastigar muito bem os alimentos;

evitar comer alimentos com teor elevado de gordura; reduzir o consumo de

alimentos com alto teor de sal; aumentar o consumo de alimentos ricos em

fibra; evitar o consumo de açúcar e de alimentos açucarados e evitar o

consumo de bebidas alcoólicas.

Page 43: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

31 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

7. Conclusões

Numa análise geral, a partir dos resultados encontrados no presente

estudo, verificou-se maior frequência de cancro da mama na faixa etária entre

os 30 e os 49 anos, com estado nutricional crítico das doentes visto que a

maioria das doentes apresentaram malnutrição (desnutrição, pré-obesidade e

obesidade). Das intervenções feitas às doentes, estas estão mais focadas no

tratamento de quimioterapia e não na recuperação do estado nutricional do

doente. Também foi observada alguma ingestão alimentar incorrecta como

consumo de alimentos ricos em gordura, baixa ingestão de fruta e hortícolas,

baixo consumo de água e elevado consumo de bebidas alcoólicas.

Sendo assim, é necessário a formulação de estratégias de intervenção

nutricional adequadas, com vista à identificação precoce e mendigação para o

controlo da desnutrição, pré-obesidade e obesidade em doentes com cancro da

mama, uma vez que estes factores criam um desequilíbrio do estado nutricional

das doentes durante a quimioterapia, aumentam o risco de morbilidades

associadas, de mortalidade e de custos de hospitalização.

Page 44: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

32 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

8. Recomendações

Para o Serviço de Oncologia

Implementar uma ferramenta de rastreio de risco nutricional;

Proceder ao acompanhamento nutricional individualizado, por um

profissional de nutrição, nomeadamente em caso de risco nutricional;

Solicitar os exames bioquímicos necessários à avaliação do estado

nutricional dos doentes;

Adequar a alimentação dos doentes às necessidades da patologia e do

estado clínico e nutricional, tendo em conta os princípios de uma

alimentação saudável;

Informar os doentes dos princípios de uma alimentação saudável e de

conselhos para minimizar os efeitos secundários do tratamento,

preparando estes para o tratamento em ambulatório;

Reduzir o intervalo das refeições e aumentar o número das refeições

oferecidas ao doente, para que este não fique muito tempo sem ingerir

alimentos, de forma a evitar sobrecarga do tratamento de quimioterapia;

Garantir o consumo de alimentos ricos em ácidos gordos polinsaturados

n-3, pelo seu potencial regulador imunológico na inibição da proliferação

das citocinas pré-inflamatórias, e evitar o consumo de alimentos com

teor elevado de ácidos gordos saturados;

Garantir a ingestão maior de frutas e hortícolas, pela sua riqueza em

vitaminas, minerais e fibras, e de líquidos para evitar a desidratação,

nomeadamente em doentes com diarreia e vómitos;

Determinar dietas específicas para o Serviço de Oncologia assim como

para os doentes com cancro da mama uma vez que estes têm

necessidades energéticas aumentadas;

Existir controlo e observação por um nutricionista em relação ao tempo

em que são oferecidas as refeições aos doentes e o tipo de dieta a ser

administrado a cada doente em termos de palatibilidade.

Para o Hospital Central de Maputo

Contratação de mais quadros da área de Nutrição

Page 45: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

33 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

9. Referências bibliográficas

1. Adzersen H., Jess P., Freivogel W., Gerhhard I., Bastert G. at al (2003).

Raw and cooked vegetables, rut, selected micronutrients, and breast cancer

risk; a case - control study in Germany. Nutrition and cancer. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 2 de Março de 2015.

2. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e de Síndrome

Metabólica [ABESO] (2009). Relatório da Associação Brasileira para o Estudo

da Obesidade e de Síndrome Metabólica 2009: Directrizes Brasileiras

Farmacêutica. São Paulo. Disponível em: http://www.abeso.gov.br. Acesso em:

27 de Maio de 2014.

3. Associação Laço & Associação Portuguesa dos Nutricionistas (2013).

Conselhos alimentares para ajudar durante o tratamento do cancro da mama.

Lisboa: Associação Laço.

4. Bering T. (2012). Perfil Nutricional e Metabólico de Pacientes com

Cancro da Mama. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Farmácia, MG (Pós-

graduação em Ciências de Alimentos), Belo Horizonte MG. Disponível em:

http://www.inca.gov.br. Acesso em: 27 de Maio de 2014.

5. Bolonezi C. (2013). Perfil nutricional de mulheres com cancer da mama

atendidas no hospital da providência de Apucarana – PR. Disponível em:

http://www.scielo.com. Acesso em: 26 de Agosto de 2014.

6. Brown J., Byers T., Doyle C., Courneya S., Demark – Wahnefried W. et

al (2003). Nutrition and physical activity during and after cancer society guide

for informed choices. Cancer Journal Clincians. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 3 de Março de 2015.

7. Calle E., Rodriguez C., Walker-Thurmond K & Thun M (2003).

Overweight, obesity and mortality from cancer in aprospectively studied chort of

U.S adults N.Engl. J.Med., V348. Disponível em: http://www.pubmed.com.

Acesso em: 27 de Maio de 2014.

8. Campbell T., Newton C., Ahmed D., Jacobs J., Patel V. et al (2012).

Impact of body mass index after colorectal cancer diagnosis the cancer

Page 46: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

34 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

prevention study - II nutrition cohort. J Clin Oncol. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 2 de Março de 2015.

9. Correia D. & Waitzberg L. (2003). The impacto of malnutrition on

morbidity, mortality, length of hospital and costs evaluated through a

multivariate model analysis. Clinical nutrition V.22. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 3 de Março de 2015.

10. Cuppari L. (2005). Nutrição Clínica no Adulto (2ª Ed.). São Paulo:

Barueri.

11. Da Silva I. (2008). Qualificação do Manual de “Cancro da mama:

orientação para pacientes e familiares. TFC, Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (Curso de Licenciatura em Enfermagem, Porto Alegre).

Disponível em: http://www.scielo.org.br. Acesso em: 22 de Abril de 2014.

12. Dahlk S., Vashi P., Gupta D., Lammersfeld C., Aslam A. & Lis C. (2008).

Subjective Global Assessment - An independent predictor of survival in breast

cancer. J Clin Oncol. Disponível em: http://www.pubmed.com. Acesso em: 22

de Fevereiro de 2015.

13. De Deus T., De Oliveira A., Zanchett N. (2009). Avaliação nutricional de

mulheres com cancro da mama atendidas na maternidade de Carmela Dutra.

Extensio: revista electrónica de extensão. Disponível em:

http://www.inca.gov.br. Acesso em: 14 de Julho de 2014.

14. Del Rio G., Zironi S., Valeriani L., Menozz R., Bondi M., Bertolin M. et al.

(2002). Weight gain women with breast cancer treated with adjuvant

cyclophosphomide, methotrexate and 5-fluorouracil. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 23 de Março de 2015.

15. Detsky A., McLaughlin J., Baker J., Johnston N., Whittaker S.,

Mendelson R. A., Jeejeebhoy K. et al (1987). What is subjective global

assessment of nutritional status? JPEN J Parenter Enteral Nutr.

16. Dixon K., Moritz D. & Baker L. (1978). Breast Cancer and Weigt: an

unespected finding. Oncol Nus Forum. Disponível em: http://www.pubmed.com.

Acesso em: 22 de Fevereiro de 2015.

Page 47: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

35 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

17. Ferlay J., Soerjomataram I., Ervik M., Dikshit R, Eser S., Mathers C.,

Rebelo M., Parkim D., Forman D., Bray F. (2013). GLOBOCAN 2012, Cancer

incidence and mortality worldwide: IARC cancer bases no ll [internet]. Lyon,

France. International Agency for Research on Cancer. Disponível em:

http://globocan.iarc.fr. Acesso em: 23 de Março de 2015.

18. Fortin M. F. (2003). O processo de investigação: da concepção à

realização (3ª Ed.). Loures: Lusociência.

19. Garófolo A. (2005). Dieta e cancro: um enfoque epidemiológico. Rev.

Nutrição. Disponível em: http://www.revista.nutrição.br. Acesso em: 27 de Maio

de 2014.

20. Gil A. (2002). Como elaborar projecto de pesquisa (4ª Ed.). São Paulo:

Atlas.

21. Healy l., Ryan M., Carroll P., Ennis D., Crowley V., Boyle T., Kennedy M.,

Connolly E., Reynolds J. (2010). Metabolic syndrome, central obesity and

insulin resistance are associated with adverse pathological features in

postmenopausal breast. Cancer Clinical Oncology. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 25 de Fevereiro de 2015.

22. Instituto Nacional de Cancer (INCA) (2006). O Câncer no Brasil:

Determinantes sociais e epidemiológicos. Rio de Janeiro: INCA.

23. Instituto Nacional de Cancer (INCA) (2011). Estadiomento. Disponível

em: http://www.inca.gov.br//conteudo. Acesso em: 10 de Setembro de 2014.

24. Irala C. H. (2011). Qualidade de vida, resposta imune e consumo

alimentar de pacientes com cancro da mama do Hospital Universitário de

Brasília. Dissertação de Pós-graduação em Nutrição Humana da Faculdade de

Ciências de Saúde da Universidade de Brasília. Disponível em:

http://www.inca.gov.br. Acesso em: 10 Setembro de 2014.

25. Jácome A., Fenelon A., Chiarl A., Chaves A., Wiermann A., Coutinho A.

et al. (2011). Detecção de Cancro de Mama: conhecimento, atitude e prática

dos médicos e enfermeiros da Estratégia Saúde da Família de Mossoró RN,

Page 48: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

36 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Brasil. Rev Brasileira de Cancerologia. Disponível em: http://www.inca.gov.br.

Acesso em: 21 de Maio de 2014.

26. Laamiri F. Z., Bouayad A., Otmani A., Ahid S., Mrabet M. & Barkat A.,

(2011). Dietéticos micronutrientes, factores de obesidade e Cancro da Mama.

Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed. Acesso em: 1 de Outubro

de 2014.

27. Lebrão L., Duarte O., (2003). Organização Pan-Americana de Saúde –

OPAS/OMS, SABE- Saúde, Bem-estar e Envelhecimento – o projecta SABE no

Município de São Paulo: uma abordagem inicial (1a Ed.). São Paulo: Athalaia

Bureau.

28. Lewinski I. (2010). Obesidade e cancro da mama. Disponível em:

http://www.nutritotal.com.br. Acesso em: 18 de Março de 2015.

29. Lund K., Belshaw J., Eliot O. & Johnson T. (2011). Recent advances

inunderstanding the role and obesity in the development of colorectal cancer.

Disponível em: http://www.pubmed.com. Acesso em: 2 de Março de 2015.

30. Mahan L. & Escott-Stump S. (tradução Pereira N. et al.) (2010). Krause –

Alimentos, Nutrição e Dietoterapia (12ª Ed.). Rio de Janeiro: Elsevier.

31. Medeiros I. (2004). Consumo alimentar e níveis de antioxidantes

plasmáticos em mulheres com cancro da mama. Dissertação de Mestrado em

Nutrição. Programa pós-graduação em Nutrição. Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC). Florianópolis. Disponível em: http://www.inca.gov.br.

Acesso em: 2 de Março de 2014.

32. Menke et al (2007). Rotinas em mastologia. Porto Alegre: Artmed.

33. Ministério de Saúde [MISAU] (2008). Plano Estratégico Nacional de

Prevenção e Controlo das Doenças Não Transmissíveis 2008-2014,

Moçambique

34. Ministério de Saúde [MISAU] (2009). Relatório sobre Moçambique.

Disponível em: http://www.carmma.org. Acesso em: 27 de Maio 2014.

35. Miranda D., De Camargo L., Costa T & Pereira R. (2012). Manual de

avaliação nutricional do adulto e do idoso. Rio de Janeiro: Editora Rubio.

Page 49: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

37 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

36. Organização Mundial de Saúde (OMS) (2006). World Health Statistics.

Relatório. França.

37. Penteado C. (2003). Vitaminas aspectos nutricionais, bioquímicos,

clínicos e analíticos. São Paulo: Editora Manole. Disponível em:

http://www.scielo.com. Acesso em: 26 de Agosto de 2014.

38. Porto l., Lora K., Soares J. & Costa L. (2011). Metabolic syndrome is an

independent risk factor for breast cancer. Arch Gynecol Obstet. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 25 de Fevereiro de 2015.

39. Pressoir M., Desne S., Berchory D., Rossingnol G., Piorre B., Meslier M.

et al. (2010). Prevalence, risk facts and clinical implications of malnutrition in

french comprehensive cancer centres. V102. Disponível em:

http://www.pubmed.com. Acesso em: 27 de Maio de 2014.

40. Ramos A. & Patrão I. (2005). Imagem corporal da mulher com cancro da

mama: impacto na qualidade do relacionamento conjugal e na satisfação

sexual. Análise psicológica. Disponível em: http://www.scielo.com. Acesso em:

2 de Março de 2015.

41. Sankaranarayan R., Swaminthan R., Brenner H. et al (2010). Cancer

survival in Africa, Asia e Central America: population. Based study. Lancet

Oncol. Disponível em: http://www.globocan.iarc.fr. Acesso em: 27 de Maio

2014.

42. Slater B., Philippi S., Marchioni D. & Fisberg R. (2004). Estimando a

prevalência da ingestão inadequada de nutrientes. Rev. Saúde Publica. São

Paulo, v38. Disponível em: http://www.pubmed.com. Acesso em: 5 de Março de

2015.

43. Smith W., Spiegelman D. & Shiaw Y. (1998). Alcohol and breast cancer

in women: apooled analysis of cohort studies. The Journal of the American

Medical Association. Disponível em: http://www.pubmed.com. Acesso em: 5 de

Março de 2015.

44. Stewart B. & Wild P. (2014). World Cancer Report 2014. Lyon, France:

International Agency for Research on Cancer.

Page 50: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

38 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

45. Turkki D. (1988). Nutrição – cancro da mama (17ª Ed.). Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan. Disponível em: http://www.ebah.com. Acesso em: 15 de

Setembro de 2014.

46. Vasconcelos F. (2008). Avaliação Nutricional de Colectividades (4ª Ed.).

UFSC.

47. Verde S. M. (2007). Impacto do tratamento quimioterápico no estado

nutricional e no comportamento alimentar de pacientes com neoplasias

mamárias e suas consequências na qualidade de vida. Dissertação de Pós-

graduação na Faculdade de Saúde Publica, São Paulo. Disponível em:

http://www.scielo.com. Acesso em: 14 de agosto de 2014.

48. Willett W. (1998). Dietary fat intake and cancer risk: a controversial and

instructive story. Cancer Biology. Disponível em: http://www.pubmed.com

Acesso em: 3 de Março de 2015.

49. World Health Organization (1997). Obesity – presenting and managing

the global epidemic. Report of WHO consultation on obesity. Genebra.

50. World Health Organization (2000). Technical Report Series 894. Obesity:

preventing and managing the global epidemic. Genebra.

51. World Health Organization (2014). Cancer Country Profiles, 2014.

Disponível em: http://www.who.int/cancer/country-profiles/in/. Acesso em: 23 de

Março de 2015.

52. World Health Organization (2015). Cancer – fact sheet no297. Updated

February 2015. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/

fs297/en/. Acesso em: 23 de Março de 2015.

53. Zorlini R. (2007). Perfil nutricional pré-operatório de mulheres com

cancro ginecológico e mamário. Dissertação de Mestrado. Campinas. São

Paulo. Disponível em: http://www.inca.gov.br. Acesso em: 27 de Maio de 2014.

Page 51: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

39 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

10. Anexos e apêndices

Anexo 1 – Aprovação do estudo pelo Comité Institucional de

Biótica do ISCISA

Page 52: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

40 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Anexo 2 – Aprovação do estudo pela Direcção Científica e

Pedagógica do Hospital Central de Maputo

Page 53: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

41 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Apêndice 1 – Questionário de recolha de dados

O presente questionário destina-se aos doentes internados com cancro da

mama no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, com o fim de

recolher dados referente ao estado nutricional dos mesmos, para a realização

do trabalho final do curso para a obtenção de grau de Licenciatura em Nutrição,

no Instituto Superior de Ciências de Saúde.

Secção I - dados socioeconómicos e clínicos

1. Nome_____________________________________ Cama nr _______

2. Idade______________________________________

3. Naturalidade________________________________

4. Tratamento _________________________________

5. Situação profissional

Desempregado (____); camponês (_____); conta própria (_____),

Funcionário público (______), funcionaria privado (______).

Secção II - dados antropométricos

Peso__________ (kg)

Altura__________ (m)

Perímetro da Cintura_________ (cm)

Secção III - parâmetros bioquímicos sanguíneos

Concentração de proteínas totais (_______), Albumina (______), Pré- albumina

(______), Colesterol total (______), Triglicéridos (______),

HDL-colesterol (_____), LDL-colesterol (______), Creatinina (______),

Glicémia (_____), Transferrina (______), Proteína C- reactiva (_______)

Page 54: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

42 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

1. Avaliação Nutricional Subjectiva Global

Nome:__________________________________ Cama nr._______________

A. História

1. Peso

Peso actual: ______ kg Peso habitual:______kg Altura_____cm

Perdeu peso nos últimos 6 meses? Sim Não desconhecido

Quantidade perdida: _____ Kg

Nas últimas 2 semanas: continua perdendo estável engordou

2. Ingestão alimentar em relação ao habitual

____ (1 = sem alterações 2 = houve alterações)

Se houve, há quanto tempo: _____ dias

Se houve, para dieta ____ (1 = sólida, em menor quantidade 2 = líquida

completa 3 = líquida restrita 4 = jejum)

3. Sintomas gastrointestinais presentes há mais de 15 dias

____ (1 = sim 2 = não)

Falta de apetite ____ (1 = sim 2 = não)

Náusea ____ (1 = sim 2 = não)

Vómitos ____ (1 = sim 2 = não)

Diarreia – acima de 3 evacuações líquidas por dia ____ (1 = sim 2 = não)

4. Capacidade funcional

____ (1 = sem disfunção 2 = com disfunção)

Se alterada, há quanto tempo: _____ dias

Tipo de disfunção: ____ (1 = trabalho sub-óptimo 2 = tratamento ambulatorial 3

= acamado)

5. Doença principal e a sua relação com as necessidades nutricionais

Diagnóstico(s) principal(ais):

_______________________________________________________________

Demanda metabólica ____ (1 = baixo stress 2 = stress moderado 3 = stress

elevado)

Page 55: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

43 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

B. Exame Físico

Para cada item dê um valor

0 = Normal

1 = Leve

2 = Moderada

3 = Importante

_____ Perda de gordura subcutânea (tríceps e tórax)

_____ Perda muscular (quadríceps e deltóide)

_____ Presença de edema maleolar

_____ Presença de edema pré-sacral

_____ Presença de ascite

C. Avaliação Subjectiva

Resultado final: ____ (1 = nutrido 2 = suspeita de desnutrição ou

moderadamente desnutrido 3 = desnutrido grave)

Fonte: Detsky et al. (1987)

Page 56: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

44 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Nome:____________________________________ Cama nr._____________

As questões seguintes relacionam-se ao seu hábito alimentar usual no PERÍODO DE UM MÊS. Para cada quadro responda, por favor, a frequência que

melhor descreva QUANTAS VEZES você costuma comer cada alimento e a respectiva UNIDADE DE TEMPO (se por dia, por semana, por mês). Depois

responda qual a sua PORÇÃO INDIVIDUAL USUAL em relação à porção média indicada. ESCOLHA SOMENTE UM CÍRCULO PARA CADA COLUNA.

Muitos grupos de alimentos incluem exemplos. Eles são sugestões e você pode consumir todos os itens indicados. NÃO DEIXE ITENS EM BRANCO.

Questionário de frequência alimentar

Grupo de Alimento

Frequência média Quantidade

Nunca 1

Vez por dia

2-3 Vezes

por dia

4-6 Vezes por dia

1 Vez por semana

2-4 Vezes

por semana

5-6 Vezes

por semana

1-3 Vezes

por mês Porção

Men

or

Igu

al

Maio

r

Carnes, pescado e ovos

Frango 1 Pedaço

Carne de vaca 2 Pedaços pequenos

Carne de porco 1 Pedaço médio

Carne de caça (gazela, coelho) 1 Pedaço médio Embutidos

(chouriço, salsicha, worse, palone) 2 fatias

Fígado de boi 1 Porção 120g

Ovos Um médio

Carapau 1 Pedaço médio Mariscos (camarão, caranguejo) 1 Porção de 120g

Peixe (diversos) 1 Pedaço

Page 57: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

45 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Cereais, pães e tubérculos

Arroz branco 3 Colheres de sopa rasa

Arroz integral 2 Colheres de sopa rasa

Massas esparguete/macarrão 2 Colheres de sopa funda

Farinha de milho (xima) 1 Colher de sopa funda

Farinha de mandioca (caracata) 1 Colher de sopa rasa

Farinha de mandioca (tapioca) ½ Colher de sopa rasa

Mandioca 2 Pedaços grandes

Batata-doce 3 Médias

Batata Reno 1,5 Média

Verduras, legumes e leguminosas

Couve 2 Colheres de sopa funda

Repolho 1 Colher de sopa funda

Folhas de mandioca 1 Colher de sopa funda

Alface 1 Pires

Folhas de feijão-verde 1 Colher de sopa funda

Folhas de abóbora 1 Colher de sopa funda

Feijão 1 Colher de sopa rasa Feijão-verde 1 Colher de sopa funda

Cenoura 4 Colheres de sopa Tomate 4 Colheres de sopa

Amendoim (pilado) 1 Colher de sopa funda

Abóbora 2 Fatias

Page 58: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

46 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Óleos e gorduras

Óleo: girassol, soja 1 Colher de sopa

Coco (leite) 1 Colher de sopa

Manteiga 1 Colher de chá

Margarina 1 Colher de chá Azeite de oliva 1 Colher de chá

Frutas

Manga 1 Unidade Laranja, tangerina 1 Unidade

Banana 1 Unidade Papaia 1 Fatia Maçã 1 Unidade

Bebidas

Vinho 1 Copo Cerveja 2 Copos Água 1 Copo Chá 1 Chávena

Refrescos 1 de 330mL Bebida branca

(whisky, aguardente) 2 Duplos

Fonte: adaptação de Penteado (2003).

Page 59: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

47 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Apêndice 2 – Consentimento informado

Folha de informação ao participante

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama no

Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo - 2015

Investigador principal: Faruk Alegria Obra

Estimada doente, pretende-se realizar um estudo quantitativo com o tema

acima citado, para a obtenção do grau de Licenciatura em Nutrição, do qual a

estimada doente é solicitada para fazer parte da amostra do estudo. O estudo

será realizado pelo estudante Faruk Alegria Obra, do Curso de Licenciatura em

Nutrição 4°ano, com o objectivo de avaliar o estado nutricional dos doentes

com cancro da mama internados no Serviço de Oncologia do Hospital Central

de Maputo.

A sua participação no estudo é de extrema importância, na medida em que

o estudo poderá dar a conhecer os problemas nutricionais em doentes

internados com cancro da mama no Serviço de Oncologia, em Moçambique. A

participação é de carácter voluntária e a rejeição pela participação ou

desistência no decurso do estudo, não terá implicações negativas para o

participante. Serão garantidas as condições de privacidade, confidencialidade e

anonimato.

Em caso de dúvidas, poderá apresentá-las, pois, merecerão o

esclarecimento. Poderá também contactar com o investigador através dos

contactos 824081786 / 848293433. Depois da sua leitura e ciente desta

informação, o estimado doente é convidado a assinar o consentimento

informado na página a seguir, do qual ficará com uma cópia.

Page 60: TFC- Faruk Obra

Avaliação nutricional dos doentes internados com cancro da mama

no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo, Janeiro a Março de 2015

48 Faruk Alegria Obra – Licenciatura em Nutrição - ISCISA

Declaração de consentimento livre e esclarecido

Eu,____________________________________________________________,

compreendi a explicação que me foi fornecida acerca do estudo que se

pretende realizar, com o título “Avaliação nutricional dos doentes internados

com cancro da mama no Serviço de Oncologia do Hospital Central de Maputo,

2015”. Foi-me dada a oportunidade de fazer as perguntas que julguei

necessárias, e de todas obtive respostas satisfatórias. Tomei conhecimento de

que a informação que me foi prestada vai de acordo com os objectivos e

procedimentos concernentes ao estudo. Foi-me afirmado que tenho o direito de

recusar a participação no estudo a qualquer momento, sem que isso possa ter

qualquer efeito prejudicial. Por isso, consinto participar no estudo que me foi

proposto pelo investigador principal.

Assinatura do investigador principal Assinatura da participante

___________________________ _______________________

Faruk Alegria Obra

Maputo, aos _____ de __________________ de 2015