tese mariza vono tancredi 08 março

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Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública Sobrevida de pacientes com HIV e AIDS nas eras pré e pós terapia antirretroviral de alta potência Mariza Vono Tancredi Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública para obtenção de título de Doutor em Saúde Pública Área de Concentração: Epidemiologia Orientador: Prof. Dr. Eliseu Alves Waldman São Paulo 2010

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  • Universidade de So Paulo

    Faculdade de Sade Pblica

    Sobrevida de pacientes com HIV e AIDS nas eras pr e ps terapia antirretroviral de alta potncia

    Mariza Vono Tancredi

    Tese apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Sade Pblica

    para obteno de ttulo de Doutor em

    Sade Pblica

    rea de Concentrao: Epidemiologia

    Orientador: Prof. Dr. Eliseu Alves Waldman

    So Paulo 2010

  • Sobrevida de pacientes com HIV e AIDS nas eras pr e ps terapia antirretroviral de alta potncia

    Mariza Vono Tancredi

    Tese apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Sade Pblica da

    Faculdade de Sade Pblica da Universidade

    de So Paulo para obteno de ttulo de Doutor

    em Sade Pblica

    rea de Concentrao: Epidemiologia

    Orientador: Prof. Dr. Eliseu Alves Waldman

    So Paulo 2010

  • Dedico este estudo e este poema, ao meu irmo Mauricio.

    Presena

    preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,

    teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento

    das horas ponha um frmito em teus cabelos...

    preciso que a tua ausncia trescale

    sutilmente, no ar, a trevo machucado,

    as folhas de alecrim desde h muito guardadas

    no se sabe por quem nalgum mvel antigo...

    Mas preciso, tambm, que seja como abrir uma janela

    e respirar-te, azul e luminoso, no ar.

    preciso a saudade para eu sentir

    como sinto - em mim - a presena misteriosa da vida...

    Mas quando surges s to outro e mltiplo e imprevisto

    que nunca te pareces com o teu retrato...

    E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

    Mario Quintana

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Eliseu Alves Waldman, meu orientador pela segunda vez, que agrega um profundo domnio do conhecimento cientfico. Agradeo pelo estmulo, dedicao, competncia e, pela forma to respeitosa e brilhante de elaborar questionamentos e fomentar profundas reflexes a luz do pensamento epidemiolgico. Ao Prof. Dr. Jos Maria Pacheco, pelas suas aulas fantsticas de anlise de sobrevida, pelas sugestes to precisas da tcnica estatstica na metodologia deste estudo. Pela indicao do livro da Prof. Dra. Marlia S Carvalho, onde pude de fato constatar na leitura, a veracidade de suas palavras: As tcnicas mais recentes e complexas aparecem como conseqncia natural das mais antigas e simples, em um crescendo suave e encorajador. Ao Prof. Dr. Paulo Rossi Menezes, Prof. Dr. Ivan Frana Junior e Prof. Dra Naila Janilde Seabra Santos pelo entusiasmo e preciso com que apontaram importantes sugestes para a anlise, discusso e aprimoramento deste estudo. Ao Dr. Antonio Tancredi Neto, mdico cardiologista e meu marido. Pela participao ativa em todas as fases desse estudo e, pela tenacidade com que apontou sugestes e permaneceu ao meu lado, motivando-me em todas as horas...principalmente nas mais difceis. As minhas queridas amigas quero agradecer pela torcida e reviso deste estudo: Prof. Ione Aquemi Guibu, Prof. Dra. Leda Ftima Jamal, Prof. Dra. Cristiane Murta Ramalho Nascimento, Prof. Dra. Emily Anna Catapano Ruiz que tambm fez a traduo para a lngua inglesa do resumo deste estudo e a Prof. Dra. Marcia Moreira Holcman, tambm pelo atendimento a todas as consultas de emergncia sobre os comandos de sobrevida do pacote STATA. A Grande chefe e amiga ngela Tayra, que me abriu portas, incentivou-me e deu-me muitas oportunidades de crescimento e aprendizado em epidemiologia. Ao Dr. Artur Kalichman e a Dra. Maria Clara Gianna pelo apoio e incentivo, a toda a equipe da Epidemiologia e amigos do CRT-DST/AIDS... profissionais que caminham numa estrada de luta e esperana na felicidade de todos que vivem com HIV/Aids. A enfermeira e querida amiga Ana Lcia Carvalho Monteiro pela sua dedicao e empenho no trabalho to qualificado de levantamento de dados em pronturios.

  • Ao Alex dos Santos Cardoso, pela colaborao na converso do formato de algumas figuras e por sua solicitude. A Sonia Regina e Patricia da biblioteca do CRT-DST/AIDS pela prontido e auxilio nos levantamentos bibliogrficos. Ao analista de sistemas Glauber Ferreira Cardoso, pelo seu jeito to amigo de ser, por sua competncia, exatido e dedicao ao trabalho de linkage dos bancos de dados, o que permitiu o aprimoramento das informaes deste estudo. Prof. Naira Jalile Seabra Santos, pela reviso gramatical deste estudo e por sua disponibilidade. Ao meu pai, Walter, pelos exemplos de amor a vida, seriedade, disciplina para alcanar objetivos e por sua msica... sempre em meus ouvidos. A minha me Marina e meus irmos Walter Silvio e Mauricio, pelos laos de ternura e a sintonia de carinho de uma vida inteira... Quantas saudades!!! E finalmente, quero agradecer aos meus filhos Vinicius e Livia, pela cumplicidade e por suas sublimes lies de amor... perfeitas como as ptalas na flor.

  • RESUMO

    Introduo: A Aids uma pandemia que representa um grave problema de sade

    pblica e o efeito das terapias antirretrovirais tem sido objeto de estudos. Objetivos:

    Estimar a mediana do tempo livre de Aids (MTLA) e o tempo mediano de sobrevida

    (TMS) entre pacientes HIV positivos sem e com Aids, respectivamente, e investigar

    os preditores de Aids e bito, em duas coortes selecionadas entre 1988 a 2003.

    Mtodo: Estudo de coorte retrospectivo de pacientes adultos de um Centro de

    Referncia de Aids em So Paulo. As variveis estudadas foram: caractersticas

    sociodemogrficas, categorias de transmisso, ano do diagnstico, nveis de

    linfcitos T CD4+ e esquemas teraputicos. Utilizou-se o estimador produto limite

    de Kaplan-Meier, o modelo de riscos proporcionais de Cox e as estimativas das

    razes de hazard (HR), com respectivos intervalos de confiana de 95% (IC=95%).

    Resultados: A incidncia mdia de Aids foi de 11,6 e de 7,1/1000 pessoas-ano, para

    os perodos de 1988 a 1996 e de 1997 a 2003. A MTLA sem uso de tratamento

    antirretroviral (TARV) foi de 53,7 meses, com TARV sem HAART foi de 90,0

    meses e com HAART mais de 50% dos pacientes permaneceram livres de Aids at

    108 meses. Mostraram-se associados evoluo para Aids independente das demais

    exposies: receber TARV sem HAART (HR= 2,1, IC 95% 1,6 2,8); no ser

    tratado (HR= 3,0; IC 95% 2,5 3,6); pertencer ao grupo etrio de 30 a 49 anos (HR=

    1,2 ; IC 95% 1,1 1,3); possuir 50 anos ou mais (HR= 2,9; IC 95% 2,3 5,2);

    pertencer raa/etnia negra e parda (HR= 1,4; IC 95% 1,1 1,7); pertencer

    categoria de exposio HSH (HR= 1,4; IC 95% 1,1 1,6); e UDI (HR= 1,7; IC 95%

    1,3 2,2); ter at oito anos de estudo (HR=1,3; IC 95% 1,1 1,5); no ter nenhuma

    escolaridade (HR=2,0; IC 95% 1,4 5,6); ter CD4+ entre 350 e 500 cel/mm

    (HR=1,6; IC 95% 1,3 1,9). As taxas mdias de mortalidade foram de 17,6/1000

    pessoas-ano, 23,2 e 7,8, respectivamente, entre 1988 e 1993, de 1994 a 1996 e de

    1997 a 2003. O TMS foi de 13,4 meses entre 1988 e 1993, 22,3 meses entre 1994 e

    1996 e, de 1997 a 2003 mais de 50% dos pacientes sobreviveram at 108 meses.

    Mostraram-se associados ao bito por Aids independente das demais exposies:

    diagnstico de Aids entre 1994 e 1996 (HR= 2,0; IC 95% 1,8 2,2); diagnstico de

  • Aids entre 1988 e 1993 (HR= 3,2; IC 95% 2,8 3,5); pertencer ao grupo etrio de 30

    a 49 anos (HR= 1,4 ; IC 95% 1,2 1,5); possuir 50 anos ou mais (HR= 2,0; IC 95%

    1,7 2,3); pertencer categoria de exposio HSH (HR= 1,1; IC 95% 1,1 1,2); e

    UDI (HR= 1,5; IC 95% 1,3 1,6); ter at 8 anos de estudo (HR= 1,4; IC 95% 1,3

    1,5); no ter estudado(HR= 2,1; IC 95% 1,6 2,8); ter CD4+ entre 350 a 500

    cel/mm (HR=1,2; IC 95% 1,1 1,2); e abaixo de 350 cel/mm(HR=1,3; IC 95% 1,2

    1,3). Concluses: Nas Coortes So Paulo de HIV e Aids, a mediana do tempo livre

    de Aids e a sobrevida com Aids foram ampliados com a introduo de diferentes

    esquemas teraputicos antirretrovirais e observou-se queda nas taxas de incidncia e

    de mortalidade.

    Palavras chave: HIV/Aids, incubao, anlise de sobrevida, antirretrovirais, estudos

    de coorte, Brasil.

  • ABSTRACT

    Background: AIDS is a pandemic which represents a serious public health problem

    and the effect of antiretroviral therapy has been the object of studies. Objective: To

    estimate median AIDS-free-time and median survival time, among HIV positive

    patients without AIDS and with AIDS, respectively, and to investigate predictor

    factors of AIDS and death in two cohorts of patients selected between 1988 and 2003

    and followed until the end of 2005. Methods: Retrospective cohort study,

    encompassing adult patients of the Centro de Referncia e Treinamento DST/AIDS-

    SP. Variables studied were: socio-demographic characteristics, transmission

    categories, calendar periods, year of diagnosis, levels of CD4+ and treatment

    regimens. The Kaplan-Meier product limit estimator, the Cox proportional risk

    model and hazard ratios (HR) estimates, with 95% (CI=95%) confidence intervals,

    were used. Results: AIDS incidence rates were 11.6 and 7.1 person-years in the

    1988-1996 and 1997-2003 periods, respectively. The median time of progression

    from HIV infection to AIDS without treatment was 53.7 months; with ART without

    HAART, 90.0 months; and with HAART, over 50% of patients followed did not

    progress to AIDS until 108 months. Independent prognostic factors for AIDS-free-

    time were: treatment with ART without HAART (HR=2.1; CI 95% 1.6-2.8), no

    treatment regimen (HR=3.0; CI 95% 2.5-3.6); age at HIV infection diagnosis

    between 30 and 49 years (HR=1.2; CI 95% 1.1-1.3), age over 50 years (HR=2.9; CI

    95% 2.3-5.2); black race/color (HR=1.4; CI 95% 1.1-1.7); MSM (HR=1.4; CI 95%

    1.1-1.6) and IDU (HR=1.7; CI 95% 1.3-2.2) exposure categories; up to 8 years of

    schooling (HR=1.3; CI 95% 1.1-1.5) and no schooling (HR=2.0; CI 95% 1.4-5.6);

    and CD4+ count between 350-500 cells/mm (HR=1.6; CI 95% 1.3-1.9). AIDS

    mortality rates were 17.6, 23.2, and 7.8 person-years in the 1988-1993, 1994-1996

    and 1997-2003 periods, respectively. Median progression time from AIDS to death

    was 13.4 months in the 1988-1993 period; 22.3 months, between 1994 and 1996, and

    in the 1997-2003 period, over 50% of patients followed survived. Independent

    predictor factors for death were: AIDS diagnosis period 1994-1996 (HR=2.0; CI

  • 95% 1.8-2.2) and 1988-1993 (HR=3.2; CI 95% 2.8-3.5); AIDS diagnosis age

    between 30-49 years (HR=1.4; CI 95% 1.2-1.5), age over 50 (HR=2.0; CI 95% 1.7-

    2.3); MSM (HR=1.1; CI 95% 1.1-1.2) and IDU (HR=1.5; CI 95% 1.3-1.6) exposure

    categories; up to 8 years of schooling (HR=1.4; CI 95% 1.3-1.5) and no schooling

    (HR=2.1; CI 95% 1.6-2.8); and CD4+ count between 350-500 cells/mm (HR=1.2;

    CI 95% 1.1-1.2) and less than 350cels/mm (HR=1.3; CI 95% 1.2-1.3). Conclusions:

    Results found in the HIV / AIDS Sao Paulo Cohort point toward a heterogeneous

    increase in AIDS-free-time and AIDS survival with different antiretroviral treatment

    regimens. Decrease in the incidence and mortality rates were observed.

    Keywords: HIV/AIDS, incubation, survival, antiretroviral, cohort studies, Brazil

  • NDICE

    1 INTRODUO 17

    1.1 HISTRIA NATURAL DA INFECO PELO HIV/AIDS 19

    1.2 ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS 22

    1.3 IMPACTO DA INTRODUO DOS ANTIRETROVIRAIS 25

    1.4 FATORES ASSOCIADOS SOBREVIDA 28

    1.4.1 Fatores sociodemogrficos e comportamentais 29

    1.4.2 Condio clnica ao diagnstico e doena indicativa de Aids 30

    1.5 PERODO DE INCUBAO DA AIDS 31

    1.6 O MOMENTO IDEAL PARA O INCIO DA HAART 34

    2 HIPTESES 38

    3 OBJETIVOS 39

    4 MATERIAL E MTODOS 41

    4.1 TIPO DE ESTUDO 41

    4.2 REA E LOCAL DE ESTUDO 41

    4.3 POPULAO DE ESTUDO 43

    4.3.1 Origem da coorte de pacientes estudada 43

    4.4 CONCEITOS E DEFINIES 45

    4.4.1 Definio de infeco pelo HIV 45

    4.4.2 Definio de caso de Aids em adulto 46

    4.4.3 Conceito de categorias de exposio 47

    4.4.4 Esquemas de tratamento 47

    4.5 CRITRIOS DE INCLUSO 48

    4.6 CRITRIOS DE EXCLUSO 49

    4.7 CRITRIOS DE PERDA DE SEGUIMENTO 49

    4.8 FONTES DE DADOS 50

    4.9 PREPARAO DO BANCO DE DADOS 51

    4.10 VARIVEIS DE ESTUDO 52

    4.11 ANLISE DOS DADOS 53

    4.11.1 Anlise do tempo at o evento 54

    4.12 PROGRAMAS UTILIZADOS 56

    4.13 CONSIDERAES TICAS A RESPEITO DO PROJETO 57

  • 5 RESULTADOS 58

    5.1 FORMAO DAS COORTES ESTUDADAS 58

    5.2 DESENHOS DO ESTUDO 60

    5.3 RESULTADOS DA COORTE SO PAULO-HIV 62

    5.3.1 Descrio das caractersticas dos indivduos infectados pelo HIV sem Aids 62

    5.3.2 Incidncia de Aids 65

    5.3.3 Estimativa do tempo livre de Aids 67

    5.3.4 Anlise bivariada 75

    5.3.5 Anlise multivariada 77

    5.4 RESULTADOS DA COORTE SO PAULO-Aids 80

    5.4.1 Descrio dos indivduos com Aids entrada no estudo 80

    5.4.2 Mortalidade por Aids 85

    5.4.3 Estimativa da probabilidade acumulada de sobrevida com Aids 88

    5.4.4 Anlise bivariada 96

    5.4.5 Anlise multivariada 98

    6 DISCUSSO 100

    6.1 COORTE SO PAULO DE HIV - INCIDNCIA DE AIDS 100

    6.2 COORTE SO PAULO DE AIDS - MORTALIDADE POR AIDS 106

    7 CONCLUSES 114

    8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 116

    APNDICES E ANEXOS

    Apndice 1 Termo de compromisso 125

    Apndice 2 Formulrio de dados 126

    Apndice 3: Anlise bivariada 131

    Apndice 4: Modelo final da anlise multivariada 132

    Apndice 5: Resduos das variveis preditoras para Aids 133

    Apndice 6: Resduos das variveis preditoras para bito 135

    Anexo 1 Parecer do Comit de tica em Pesquisa COEP/FSP 137

    Anexo 2 Parecer do Comit de tica em Pesquisa CRT-DST/AIDS-SES 138

    Anexo 3 Curriculo Lattes 139

  • 11

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AIDS Sndrome da Imunodeficincia Adquirida

    ARC Complexo Relacionado Aids

    ARV Antirretrovirais

    ATV Atazanavir

    ATV/r Atazanavir potencializado com Ritonavir

    AZT Zidovudina

    3TC Lamivudina

    BIP-AIDS Base Integrada Paulista de Aids

    CDC Centers for Diseases Control and Prevention ( Atlanta, EUA)

    CONEP Comisso Nacional de tica em Pesquisas

    CRT-DST/AIDS Centro de Referncia e Treinamento DST/AIDS

    CSP-HIV/Aids Coorte So Paulo de HIV/Aids

    CSP-HIV Coorte So Paulo de HIV

    CSP-Aids Coorte So Paulo de Aids

    CVE Centro de Vigilncia Epidemiolgica

    DIR Direo Regional de Sade

    DST Doenas Sexualmente Transmissveis

    EFZ Efavirenz

    ELISA Enzyme-linked Immunosorbent Assay

    ESP Estado de So Paulo

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FDA Food and Drug Administration

    HAART Hight-Active Anti Retroviral Theraphy

    HR Hazard Ratio

    HIV Vrus da Imunodeficincia Humana

    HSH Homens que fazem sexo com homens

    IC Intervalo de Confiana

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

  • 12

    IP Inibidores de Protease

    ITRN Inibidores da Transcriptase Reversa anlogos de nucleosdios

    ITRNN Inibidores da Transcriptase Reversa no anlogos nucleosdios

    LPV Lopinavir

    LPV/r Lopinavir potencializado com Ritonavirv

    MS Ministrio da Sade do Brasil

    MSP Municpio de So Paulo

    MTLA Mediana do Tempo Livre de Aids

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PCR Polymerase Chain Reaction

    PE DST/AIDS Programa Estadual de DST/AIDS

    PPJ Pneumonia por P. jiroveci / pneumocistose pulmonar

    RNA Ribonucleic acid

    SAME Servio de Arquivo Mdico

    SES Secretaria do Estado da Sade

    SEADE Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados

    SINAN-AIDS Sistema de Informao de Agravos de Notificao

    SICLOM Sistema de Controle Logstico de Medicamentos

    SISCEL Sistema de Controle de Exames Laboratoriais

    Sistema FAA Ficha de Acompanhamento Ambulatorial

    SMS Secretaria Municipal da Sade

    SK Sarcoma de Kaposi

    SUS Sistema nico de Sade

    TARV Tratamento antirretroviral

    TMS Tempo Mediano de Sobrevida

    TRV Teste da Razo de Verossimilhana

    UDI Usurios de Drogas Injetveis

    VE Diviso de Vigilncia Epidemiolgica

    WHO Word Health Organization

  • 13

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Caractersticas sociodemogrficas, comportamentais e marcadores laboratoriais dos pacientes sem Aids poca da seleo da coorte, CSP-HIV, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    64

    Tabela 2 - Distribuio dos casos HIV positivos, pessoas-ano e taxa de incidncia de Aids, CSP-HIV, CRT- DST/AIDS, 1988 a 1996

    65

    Tabela 3 - Distribuio dos casos HIV positivos, pessoas-ano e taxa de incidncia de Aids, CSP-HIV, CRT- DST/AIDS, 1997 a 2003

    66

    Tabela 4 - Mediana do tempo livre de Aids (MTLA) e probabilidade acumulada livre de Aids segundo o esquema teraputico, CSP-HIV, CRT-CST/AIDS, 1988 a 2003

    68

    Tabela 5 - Mediana de tempo livre de Aids (MTLA) em meses, segundo algumas caractersticas dos pacientes, CSP-HIV, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    70

    Tabela 6 - Anlise bivariada, pelo modelo de Cox, dos fatores associados evoluo para Aids dos pacientes da CSP-HIV, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    76

    Tabela 7 - Modelo final da anlise multivariada de riscos proporcionais de Cox segundo fatores associados evoluo para Aids dos pacientes da CSP-HIV, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    79

    Tabela 8 - Caractersticas sociodemogrficas, comportamentais e marcadores laboratoriais dos pacientes com Aids poca da seleo da coorte, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    Tabela 9 - Distribuio dos sinais, sintomas e doenas segundo os critrios de definio de caso Rio de Janeiro, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    83

    Tabela 10 - Distribuio das doenas indicativas de Aids segundo os critrios de definio de caso CDC Adaptado, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    84

    82

  • 14

    Tabela 11 - Distribuio dos casos de Aids e taxa de mortalidade de Aids por 1000 pessoas-ano, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 1993

    86

    Tabela 12 - Distribuio dos casos de Aids e taxa de mortalidade de Aids por 1000 pessoas-ano, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1994 a 1996

    86

    Tabela 13 - Distribuio dos casos de Aids e taxa de mortalidade de Aids por 1000 pessoas-ano, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1997 a 2003

    86

    Tabela 14 - Tempo mediano de sobrevida e probabilidade acumulada de bito segundo perodo de diagnstico de Aids, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    88

    Tabela 15 - Tempo mediano de sobrevida com Aids (TMS) em meses, de pacientes segundo algumas caractersticas, 1988 a 2003, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    91

    Tabela 16 - Anlise bivariada, pelo modelo de Cox, dos fatores associados sobrevida entre os pacientes com Aids da CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    97

    Tabela 17 - Modelo final da anlise multivariada de riscos proporcionais de Cox, para fatores associados sobrevida entre os pacientes com Aids da CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    99

  • 15

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Evoluo da doena pelo HIV 21

    Figura 2 - Tendncia dos casos, bitos e prevalncia de Aids, EUA, 1985 a 2006 23

    Figura 3 - Tendncia dos casos, bitos e estimativa de pessoas vivendo com Aids, Municpio de So Paulo, 1988 a 2005

    24

    Figura 4 - Diagrama da formao da coorte 45

    Figura 5 - Diagrama da formao dos dois grupos includos no estudo 59

    Figura 6 - Diagrama do desenho do estudo para pacientes HIV positivos, sem Aids 60

    Figura 7 - Diagrama do desenho do estudo para pacientes com Aids 61

    Figura 8 - Taxa de incidncia de Aids por pessoas-tempo e proporo de tratamentos indicados aos pacientes HIV positivos, segundo ano de diagnstico de infeco pelo HIV, CSP-HIV, CRT-DST/AIDS,1988 a 2003

    Figura 9 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV, segundo esquema teraputico, no perodo de 1988 a 2003, CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    68

    Figura 10 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV segundo sexo, entre os no tratados (A), os TARV sem HAART (B) e com HAART (C), CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    71

    Figura 11 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV segundo faixa etria, entre os no tratados (A), os TARV sem HAART (B) e com HAART (C), CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    71

    Figura 12 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV segundo raa / cor, entre os no tratados (A), os TARV sem HAART (B) e com HAART (C), CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    72

    Figura 13 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV segundo categoria de exposio, entre os no tratados (A), os TARV sem HAART (B) e com HAART (C), CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    72

    67

  • 16

    Figura 14 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV segundo escolaridade, entre os no tratados (A), os TARV sem HAART (B) e com HAART (C), CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    73

    Figura 15 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV segundo IDH do distrito de residncia, entre os no tratados (A), os TARV sem HAART (B) e com HAART (C), CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    73

    Figura 16 - Probabilidade acumulada livre de Aids a partir do diagnstico de infeco pelo HIV segundo a primeira contagem de CD4+, entre os no tratados (A), os TARV sem HAART (B) e com HAART (C), CSP-HIV, CRT-DST/AIDS

    74

    Figura 17 - Taxa de mortalidade por Aids (por 1000 pessoas-ano) e proporo de tratamentos indicados aos pacientes, segundo ano de diagnstico de aids, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS, 1988 a 2003

    87

    Figura 18 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids, segundo osperodos de diagnstico de Aids, CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    89

    Figura 19 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids segundo sexo, no perodo de 1988 a 1993 ( A ), de 1994 a 1996 ( B ) e de 1997 a 2003 ( C ), CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    92

    Figura 20 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids segundo faixa etria, no perodo de 1988 a 1993 (A), de 1994 a 1996 ( B ) e de 1997 a 2003 ( C ), CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    92

    Figura 21 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids segundo raa / cor, no perodo de 1988 a 1993 (A), de 1994 a 1996 ( B ) e de 1997 a 2003 ( C ), CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    93

    Figura 22 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids segundocategoria de exposio, no perodo de 1988 a 1993 ( A ), de 1994 a 1996 ( B ) e de 1997 a2003 ( C ), CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    93

    Figura 23 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids segundoescolaridade, no perodo de 1988 a 1993 ( A ), de 1994 a 1996 ( B ) e de 1997 a 2003 ( C ),CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    94

    Figura 24 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids segundo IDHdo distrito de residncia, no perodo de 1988 a 1993 ( A ), de 1994 a 1996 ( B ) e de 1997 a2003 ( C ), CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    94

    Figura 25 - Probabilidade acumulada de sobrevida a partir do diagnstico de Aids segundoprimeira contagem de CD4+, no perodo de 1988 a 1993 ( A ), de 1994 a 1996 ( B ) e de 1997a 2003 ( C ), CSP-Aids, CRT-DST/AIDS

    95

  • 17

    1 INTRODUO

    ____________________________________________________

    O Brasil tem liderado o caminho entre os pases em desenvolvimento desde

    que sua populao inteira tem acesso a medicamentos antirretrovirais atravs do

    Sistema nico de Sade (SUS).

    A rpida ampliao dos conhecimentos a respeito da infeco pelo vrus da

    imunodeficincia humana (HIV), da sndrome da imunodeficincia adquirida (Aids)

    e, particularmente, o desenvolvimento de eficiente arsenal diagnstico e teraputico

    tem permitido o aprimoramento constante dos programas voltados para o seu

    controle e tem propiciado condies para uma queda expressiva da mortalidade.

    Para fortalecer a construo de polticas pblicas de sade, o Brasil necessita

    de estudos que estimem a mediana do tempo livre de Aids, a incidncia de Aids, bem

    como a sobrevida esperada e a proporo dessa populao que faz uso da terapia

    antirretroviral de alta potncia (HAART) (BARBOSA e STRUCHINER, 2003).

    Em nosso pas so raros os estudos de coorte de indivduos infectados pelo

    HIV, antes de desenvolverem a Aids (FONSECA, 1999; BARBOSA e

    STRUCHINER 2003; BRAGA, 2005). Este estudo de coorte tem como aspecto

    inovador, em nosso meio, avaliar o efeito da introduo de diferentes esquemas

    teraputicos no perodo de incubao da infeco pelo HIV e da incidncia da Aids.

    A anlise dos fatores preditores do tempo livre de Aids, da sobrevida com Aids, das

    taxas de incidncia e de mortalidade, em nosso meio, permitiu a comparao com

  • 18

    aqueles j identificados na literatura (EGGER, 2002; MOCROFT, 2004; WOOD,

    2005; STERNE, 2007, STERNE, 2009; LEWTHWAITE e WILKINS 2009).

    Alm disso, tambm pode auxiliar na discusso a respeito dos recursos

    necessrios para garantir que a maior parte dos infectados pelo HIV tenha acesso e

    boa adeso aos tratamentos disponveis, de forma a prolongar ao mximo o perodo

    de incubao e a sobrevida com Aids (BARBOSA e STRUCHINER, 2003).

    A existncia no Centro de Referncia e Treinamento DST/AIDS SES

    (CRT-DST/AIDS) de dados relativos a uma coorte de 7.590 indivduos infectados

    pelo HIV com e sem Aids, durante 15 anos, constitui uma oportunidade de:

    estudarmos a histria natural da Aids em nosso meio, de observarmos a influncia da

    HAART sobre este agravo e de contribuirmos para o planejamento dos programas de

    controle do HIV/Aids.

    Este estudo tambm analisa o impacto da poltica brasileira de controle da

    Aids, atravs do SUS a partir de 1996, de acesso gratuito e universal ao tratamento

    antirretroviral na promoo da equidade em sade. A hiptese da equidade inversa

    aponta que as intervenes de sade pblica inicialmente ampliam as desigualdades,

    por alcanar, em primeiro lugar, os indivduos de nvel socioeconmico mais elevado

    e, s posteriormente, alcanam os de nvel socioeconmico mais baixo (VICTORA,

    2000).

    Em suma, observou-se, neste estudo, de forma semelhante ao que ocorreu no

    Brasil, uma transformao profunda no perodo ps-HAART, com aumento

    significativo da sobrevida e reduo expressiva das taxas de incidncia e

    mortalidade.

  • 19

    1.1 HISTRIA NATURAL DA INFECO PELO HIV

    As primeiras descries, no incio da dcada de 80, de casos de pneumonia

    por Pneumocystis jiroveci e de sarcoma de Kaposi entre homossexuais jovens at

    ento saudveis, permitiram caracterizar a Aids. O carter infeccioso foi a seguir

    confirmado pelo isolamento do agente etiolgico, classificado no gnero retrovrus e

    que recebeu a denominao de vrus da imunodeficincia humana (HIV) (GALLO e

    MONTAGNNIER, 2006).

    A histria natural da infeco humana pelo HIV se inicia pela transmisso do

    vrus atravs, principalmente, de trs vias: sexual, contato com sangue por

    transfuses ou uso de drogas injetveis e via materno-infantil. Aps o contgio,

    ocorre a transposio das barreiras formadas pelas mucosas do hospedeiro e de seus

    mecanismos de defesa, que combatem a propagao viral aps breve perodo de

    tempo, ainda no bem estabelecido. A seguir ocorre a interao entre estruturas do

    HIV e diversos receptores dos linfcitos T CD4+ que pode resultar em invaso de

    rgos linfides e de outros rgos do indivduo infectado. Esta a fase aguda da

    infeco e nela se observa alta carga viral circulante plasmtica e sbita reduo nos

    nveis dos linfcitos T CD4+. Aproximadamente um ms aps a infeco, passa a

    ocorrer produo de anticorpos anti-HIV. A partir desse momento, seu diagnstico

    torna-se possvel por meio do isolamento do vrus ou de ensaios biolgicos como o

    ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay), testes rpidos ou pela tcnica de

    Western-Blot e por meio do diagnstico de uma das infeces oportunistas

    caractersticas da infeco pelo HIV (BARTLETT, 2002).

  • 20

    O perodo de incubao definido como o tempo decorrido entre a infeco e o

    incio dos sinais e/ou sintomas clnicos de difcil determinao por desconhecermos

    o momento exato do contgio (TAYLOR, 1990) e porque neste perodo da histria

    natural da infeco HIV/Aids poucas pessoas procuram assistncia sade.

    Embora as taxas de progresso para a Aids apresentem ampla variao entre

    os indivduos infectados pelo HIV, o tempo mdio entre a infeco e o

    desenvolvimento da Aids era de aproximadamente 10 anos, na era pr-interveno

    (MANDELL, 2005).

    Na fase aguda da infeco, que dura semanas, ocorre uma queda inicial nos

    nveis de linfcitos T CD4+ e aumento da viremia. A seguir, h recuperao dos

    nveis de linfcitos T CD4+, que posteriormente voltam a diminuir gradualmente ao

    longo de vrios anos, com queda mais acelerada um ano e meio a dois anos antes do

    evento definidor de Aids (BARTLETT, 2002) (Figura 1).

    Na fase aguda os anticorpos ainda esto ausentes, limitando a realizao de

    testes sorolgicos e permitindo confirmao de infeco apenas por pesquisa direta

    atravs da quantificao do RNA viral. Logo aps a infeco, a populao viral

    mais homognea, mas logo surgem vrus mutantes no vulnerveis ao dos

    anticorpos neutralizantes e demais mecanismos celulares de defesa, como as clulas

    T citotxicas. O processo de replicao viral muito dinmico e intenso, o que

    permite que metade da populao viral circulante no plasma seja reposta em menos

    de 30 minutos, apesar de cada partcula viral (virion) possuir meia-vida muito curta

    (SIMON, 2006).

    Devemos considerar a possibilidade de infeco por mais de uma cepa viral,

    visto que a primo infeco no induz imunidade protetora. Infeces por vrus

  • 21

    geneticamente distintos podem produzir vrus recombinantes, ainda que as infeces

    ocorram aps amplos intervalos de tempo. Mltiplas infeces podem estar

    associadas progresso mais rpida para Aids, constituindo tambm obstculo para a

    produo de vacinas (SIMON, 2006).

    A carga viral e os nveis de clulas T CD4+ refletem, respectivamente, danos

    ao sistema imunolgico e o grau de imunodeficincia. Em conjunto com as

    manifestaes clnicas, as determinaes desses indicadores permitem identificar o

    estgio da infeco (SIMON, 2006).

    Em casos com data de infeco conhecida, por terem ocorrido em decorrncia

    de acidentes ocupacionais, verificou-se que a longa durao da fase aguda da

    infeco um preditor para rpida progresso para Aids (VANHEMS, 2004). O

    tempo de incubao pode ser prolongado com a ao dos antirretrovirais no perodo

    pr-Aids, porm existe o risco de aparecimento de resistncia s drogas utilizadas

    (HOOVER, 1994).

    Figura 1 - Evoluo da doena pelo HIV

    Lin

    fci

    tos

    T C

    D4+

    ( c

    el./m

    m)

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    A viral p

    or m

    l de p

    lasma

    bito

    Doenas Oportunistas

    Sintomas

    Fonte: Adaptado de http://encyclopedia.quickseek.com/

  • 22

    1.2 ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS

    A epidemia da infeco pelo HIV/Aids um fenmeno dinmico que envolve

    progressivamente mais segmentos da populao e sua forma de ocorrncia nas

    diferentes regies do mundo depende do comportamento humano, individual e

    coletivo (WOOD, 2002). Devido s desigualdades sociais e regionais no Brasil, a

    propagao da infeco pelo HIV apresenta dimenses que ocasionam

    transformaes significativas em seu perfil epidemiolgico (BRITO, 2001).

    Estimou-se que ao final de 2008 existiam cerca de 33,4 milhes de indivduos

    vivendo com HIV/Aids em todo o mundo, sendo a regio mais atingida a frica,

    com 67% do total, seguida pela sia, com 14%. Nas Amricas, os pases mais

    atingidos pela epidemia so os Estados Unidos da Amrica (EUA) e o Brasil. De

    acordo com essas estimativas, a Aids situava-se como a quarta principal causa de

    bito em todo o mundo (UNAIDS, 2009).

    No Ocidente, o grupo inicialmente mais atingido foi o dos homens, homo ou

    bissexuais, na faixa etria de 20 a 49 anos. No entanto, a partir dos anos 90, houve

    aumento expressivo de casos entre mulheres. Na Europa Ocidental, ao final de 2006,

    35% de casos novos atingiam mulheres e no Leste Europeu 41% (EUROHIV, 2006).

    Nos EUA, entre 1981 e 2007, foram estimados mais de um milho de casos

    de Aids e 583.298 bitos por Aids. De 1993 a 1997 houve expressiva queda na

    incidncia e de 1995 a 1998 verificou-se rpido declnio da mortalidade,

    provavelmente em decorrncia da introduo de novos esquemas teraputicos

  • 23

    antirretrovirais (Figura 2). Aps 1996, o grande aumento na sobrevida elevou o

    nmero estimado de pessoas vivendo com HIV/Aids para 1,0 1,2 milho, dos quais

    a quarta parte desconhece seu status sorolgico (CDC, 2006).

    Figura 2 - Tendncia dos casos, bitos e prevalncia de Aids, EUA, 1985 a 2006

    Fonte: CDC 2006.

    No Brasil foram notificados, desde o incio da epidemia, 506.499 casos de

    Aids e 205.409 bitos, at junho de 2008. A taxa de incidncia teve crescimento

    acelerado at 1998, alcanando a taxa mxima de incidncia de 20,7/100.000

    habitantes em 2003, com posterior reduo. Do total de casos notificados, at junho

    de 2008, 66% foram do sexo masculino e, em 2003, 84% dos casos concentravam-se

    na faixa etria de 20 a 49 anos; a razo homens/mulheres reduziu-se de 15,0/1 em

    1986 para 1,5/1 em 2006. A taxa de mortalidade declinou de 9,7 em 1995 para

    6,0/100.000 hab em 2006. Estimou-se que, em 2004, a prevalncia da infeco pelo

    HIV/Aids fosse 0,6 % entre a populao de 15 a 49 anos e que entre 300 e 400 mil

    pessoas no saberiam de sua condio de infectadas pelo HIV. Existem significativas

  • 24

    diferenas no perfil da epidemia nas diversas regies do pas (MINISTRIO DA

    SADE, 2008).

    Os primeiros casos notificados de Aids no pas foram de homens adultos

    residentes nas regies Central e Norte do municpio de So Paulo. No perodo de

    1986 a 1989, a epidemia disseminou-se para todas as regies do Municpio. Entre

    1990 e 1992, houve um aumento progressivo do nmero de casos em todos os

    Distritos Administrativos. A taxa de incidncia de Aids no municpio apresentou

    tendncia de queda de 1998 a 2005 e a taxa de mortalidade da Aids vem

    apresentando queda a partir do ano de 1996, em virtude do incio da terapia

    antirretroviral de alta potncia. A estimativa do nmero de pessoas vivendo com

    Aids foi de 27.000 ao final do ano 2005, cuja tendncia revelou aumento constante

    em todo o perodo (TANCREDI, 2003) (Figura 3).

    Figura 3 - Tendncia dos casos, bitos e estimativa de pessoas vivendo com Aids,

    municpio de So Paulo, 1988 a 2005

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    30000

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    4000

    4500

    5000

    1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

    Est

    ima

    tiv

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    e P

    rev

    al

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    e

    bit

    os

    ano de ocorrncia

    Casos Novos

    bitos

    Nmero estimado de pessoas vivendo com Aids

  • 25

    A distribuio espacial dos casos, segundo categoria de exposio, se faz de

    modo desigual nas diversas regies do municpio. Nos ltimos anos, a categoria de

    exposio heterossexual passou a ser a mais importante, seguida das categorias

    homossexual masculino e usurios de drogas injetveis.

    1.3 IMPACTO DA INTRODUO DOS ANTIRRETROVIRAIS

    O primeiro medicamento a apresentar efetividade no tratamento da Aids foi a

    Zidovudina (AZT), aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), em maro

    de 1987, e introduzido pelo Programa de Controle da Aids no estado de So Paulo,

    em 1990. Esquemas teraputicos mais eficazes surgiram no correr dos anos 90 e, at

    o ano 2000, foram aprovados mais de 15 agentes teraputicos nos EUA, classificados

    em trs categorias: inibidores da transcriptase reversa anlogos de nucleosdeos, no-

    anlogos de nucleosdeos e os inibidores de protease. Entre as classes de drogas

    disponveis, mais recentemente, temos o inibidor de fuso T20, que veio reforar o

    arsenal teraputico para situaes de resgate em falhas teraputicas (MINISTRIO

    DA SADE, 2008).

    O advento dos antirretrovirais (ARV) trouxe significativas mudanas na

    histria da epidemia de HIV/Aids, criando condies para a reduo no s da

    incidncia de infeces oportunistas, como tambm da incidncia da Aids e, ainda,

    do nmero de internaes e da mortalidade dela decorrente, assim como para o

    aumento da prevalncia do HIV/Aids. Ainda como consequncia da introduo dos

  • 26

    ARV, houve aumento da sobrevida, melhora da qualidade de vida e o fato de ter

    mudado a percepo a respeito desse agravo, que tende a apresentar caractersticas de

    uma doena infecciosa de carter crnico (PALELLA, 1998; SEPKOVITZ, 2001).

    Estudo realizado na Itlia mostrou menor risco de morrer para pacientes

    diagnosticados aps 1995, fato atribuvel ao uso dos novos agentes ARV,

    especialmente, introduo da terapia dupla, em 1996, e dos inibidores de protease,

    em 1997 (PORTA, 1999). Outro estudo de 1987 a 1995 apontou quedas progressivas

    do risco de bito por Aids ao comparar pessoas sem tratamento com aqueles

    submetidos terapia dupla e terapia tripla, mostrando, tambm, para o perodo, uma

    elevao de 2,9 para 17,6 meses, no tempo mediano de sobrevida (TMS) aps o

    diagnstico (PEZZOTTI, 1999). Outra investigao realizada nos EUA, com os

    mesmos objetivos, mostrou que iniciar tratamento antirretroviral nos primeiros trs

    meses aps o diagnstico eleva o TMS de 1,18 anos para 1,75 anos (SAAH, 1994).

    Na Europa e Austrlia, entre 1983 e 1998, em 20 coortes estudadas, verificou-

    se uma reduo de risco para a maioria das doenas definidoras de Aids comparando

    os perodos de 1994-1996 e 1997-2001. A pneumonia por P. jiroveci, o sarcoma de

    Kaposi e a candidase apresentaram reduo de risco de 78%, 77% e 70%,

    respectivamente. A cryptosporidase e a citomegalovirose tiveram reduo do risco

    de 96% e 90%, respectivamente, enquanto a tuberculose apresentou 59% de reduo,

    com a adoo de quimioprofilaxia das doenas oportunistas e introduo da HAART

    (BABIKER, 2002).

    Se, por um lado, a introduo dos ARV trouxe um impacto favorvel na

    perspectiva de controle do HIV/Aids, o seu uso contnuo associa-se a efeitos

    adversos, alguns deles graves. Alm disso, a maior sobrevida torna mais frequente o

  • 27

    aparecimento de manifestaes decorrentes de coinfeces como as hepatites B e C

    (GONZALES, 2003).

    A introduo da HAART gerou tanto benefcios individuais medida que

    aumenta a sobrevida e melhora a qualidade de vida, como coletivos, ao diminuir a

    disseminao do vrus medida que reduz a carga viral das pessoas vivendo com

    HIV (LAMPTEY, 2006).

    No Brasil, a introduo dos ARV tambm apresentou grande impacto. Um

    estudo referente ao perodo de diagnstico de Aids entre 1982 e 1989, em pacientes

    adultos, estimou a sobrevida em 5,1 meses (CHEQUER, 1992). Outro estudo

    analisou os casos de Aids diagnosticados nos anos de 1995 e 1996 e estimou a

    sobrevida em 16 e 58 meses, respectivamente. Esse aumento de sobrevida foi

    atribudo ao acesso universal ao tratamento antirretroviral (MARINS, 2003).

    Estudo brasileiro mais recente, realizado nas regies Sul e Sudeste, entre

    pacientes adultos com Aids, diagnosticados em 1998 e 1999, revelou que 59% deles

    sobreviveram 108 meses. As caractersticas associadas ao aumento da sobrevida

    foram: ser do sexo feminino, ter menos de 30 anos, e cor da pele branca. Os UDI

    atingiram TMS de 72 a 84 meses e aos 108 meses a probabilidade acumulada de

    sobrevida foi de 45%. Quando o diagnstico de Aids foi realizado pelo critrio

    CD4 o paciente sobreviveu mais (71% em 108 meses) do que aqueles

    diagnosticados com os critrios CDC modificado (44% em 108 meses) ou Rio de

    Janeiro/Caracas (50% em 108 meses) (GUIBU, 2008).

    O impacto da introduo dos ARV em So Paulo pode ser avaliado pela

    queda de 23,0 para 8,0/100.000 hab. (65%) na taxa de mortalidade entre 1995 e

    2007. Tambm se verificou queda na taxa de incidncia de 34,2 para 12,0/100.000

  • 28

    hab. (65%), entre 1998 e 2007. A queda na mortalidade ocorreu desde o incio da

    terapia combinada, enquanto que na queda na incidncia, somente a partir de 1998,

    um ano aps a introduo do esquema HAART (SES, 2008).

    Outra pesquisa, focalizando o Estado de So Paulo, mostrou que a

    probabilidade de sobrevida de dois anos passou de 11,5%, para indivduos com

    diagnstico entre 1985 e 1990, para 66,5% para aqueles com diagnstico em 1997

    (ANJOS, 2000). Estudo mais recente, abrangendo o perodo de 1998 a 2002, estimou

    o tempo de progresso para Aids, entre infectados, em 10,3 anos e apontou, como

    preditor desse desfecho o tipo de tratamento antirretroviral recebido, observando-se

    menor probabilidade de progresso para Aids entre os pacientes que receberam

    HAART por perodo igual ou superior a 50% do tempo de tratamento (BRAGA,

    2006).

    A efetividade dos antirretrovirais depende de uma infraestrutura tecnolgica

    adequada e de uma rotina no atendimento de sade pautada no permanente

    aprimoramento do conhecimento tcnico, para garantir melhor qualidade dos

    servios prestados aos pacientes com HIV/Aids pela Sade Pblica (NEMES, 2004).

    1.4. FATORES ASSOCIADOS SOBREVIDA

    Os fatores mais frequentemente apontados como associados sobrevida entre

    pacientes com Aids so: idade ao diagnstico, sexo, evento definidor do diagnstico,

    condio socioeconmica, categoria de exposio, nveis de linfcitos T CD4+ e

  • 29

    carga viral poca do diagnstico, ano do diagnstico, esquema teraputico, acesso a

    servios, teraputica e adeso ao tratamento (EGGER, 2002; PORTER, 2003;

    SCHNEIDER, 2005; HAAL, 2006; STERNE, 2007).

    1.4.1 Fatores sociodemogrficos e comportamentais

    Alguns estudos, do perodo pr-HAART, apontam diferenas nas

    manifestaes da infeco pelo HIV entre homens e mulheres, verificando-se entre

    elas menor sobrevida, a maior incidncia de esofagite por Candida e menor

    incidncia de sarcoma de Kaposi (ROTHENBERG, 1987; LEMP, 1992; COTON,

    1998).

    A menor sobrevida entre as mulheres foi atribuda a fatores como a idade e os

    nveis de linfcitos T CD4+ poca do diagnstico inicial e o menor acesso aos

    servios de sade, especialmente, teraputica especfica (LEMP, 1992;

    CHAISSON, 1995). Deve-se considerar, tambm, a existncia de diferenas como

    menor renda e grau de escolaridade do que os homens (COTON, 1998).

    Estudos tm apontado que aumentaram as taxas de mortalidade, medida que

    aumentou a idade na poca da soroconverso, correspondendo a acrscimos de 20%

    a 45% a cada 10 anos de aumento na idade, tanto no perodo pr como ps-HAART,

    (BABIKER, 2001).

    As condies socioeconmicas tambm podem influenciar a sobrevida,

    principalmente pela diferena ao acesso e/ou adeso ao tratamento com ARV, que

    seria menor entre os segmentos mais pobres da populao, especialmente em relao

    HAART (RAPITI, 2000; FORDYCE, 2002; WOOD, 2002; MCFARLAND, 2003).

  • 30

    No entanto, existe alguma controvrsia a respeito, medida que alguns autores

    mostraram que elevada proporo de moradores de rua apresentava boa adeso

    terapia ARV (BANGSBERG, 2000).

    1.4.2 Condio clnica na poca do diagnstico e doena indicativa de

    Aids

    A melhora da sobrevida com a introduo dos ARV foi especfica por

    infeco oportunista. O declnio do risco de bitos por pneumonia por P.jiroveci,

    aps a introduo da zidovudina (AZT), situou-se em torno de 90%, enquanto que,

    para bitos associados ao sarcoma de Kaposi, foi de 40%. O nvel de linfcitos T

    CD4+ no momento do diagnstico foi outro fator que influenciou a sobrevida, o qual

    foi duas vezes maior entre aqueles que apresentaram nveis de 200 cel/mm

    comparados queles com 50 cel/mm. O tempo de sobrevida aps a introduo da

    referida droga aumentou aproximadamente 40% (JACOBSON, 1993).

    Estudo realizado nos EUA, entre 1989 e 1995, acompanhando pacientes com

    Aids por tempo mdio de 30 meses, verificou que 35% deles evoluram para bito e,

    dessa parcela, 21% no apresentaram nenhuma doena oportunista. O TMS geral foi

    de 1.100 dias e as infeces mais comuns foram esofagite por Candida e pneumonia

    por P.jiroveci. Aps ajuste pelo nvel dos linfcitos T CD4+, verificou-se que todas

    as doenas oportunistas estavam associadas, independentemente ao risco de morrer

    (CHAISSON, 1998).

  • 31

    1.5 PERODO DE INCUBAO DA AIDS

    A mensurao do perodo de incubao da Aids, que expressa o intervalo de

    tempo entre o momento da infeco e o desenvolvimento dos sintomas clnicos,

    constitui tarefa rdua, mas relevante para a perfeita descrio da doena, e

    fundamental para estimar a magnitude e durao da epidemia (MUOZ, 1989).

    Os estudos de coorte, que em seu incio selecionam indivduos no infectados

    pelo HIV, permitem identificar as pocas da soroconverso e do evento definidor da

    Aids. Esses estudos so tambm conhecidos como estudos de soroconversores e so

    os que permitem melhor estimar a durao do perodo de incubao. Tais estimativas

    apresentam maiores limitaes quando efetuadas em estudos que incluem indivduos

    j infectados, mas sem a doena, ou seja, os estudos com soroprevalentes (PORTER,

    2000).

    Estudo longitudinal, em perodo anterior introduo dos ARV, utilizando

    dados de 233 pacientes soroconversores e de 1.628 soroprevalentes, da mesma

    coorte, estimou que o perodo de incubao foi de 11 anos para homens que fazem

    sexo com homens (HSH) (MUOZ, 1989). Outras estimativas efetuadas entre HSH,

    antes da introduo dos ARV, indicaram que o perodo de incubao variava de 9,5 a

    10,7 anos (TAYLOR, 1990).

    Devido ao efeito da idade poca da soroconverso e s diferenas entre as

    doenas definidoras de Aids em grupos distintos, o perodo de incubao pode diferir

    em cada um desses grupos. Dados de literatura apontam variao de 8,3 a 10,7 anos

    entre HSH, de 10,2 a 11,6 anos entre UDI e de 12,6 a 16,5 anos entre hemoflicos. A

  • 32

    idade poca da soroconverso um dos nicos fatores fortemente associados

    durao do perodo de incubao. possvel que os indivduos mais jovens

    apresentem perodos de incubao mais longos (MUOZ, 1997).

    Embora o ensaio clnico aleatorizado seja o padro ouro entre os tipos de

    estudo para comparar esquemas teraputicos, estes no fornecem estimativas do

    impacto do tratamento na populao infectada, pelo fato de seus resultados se

    aplicarem apenas populao participante do ensaio. Os estudos observacionais,

    tanto com soroconversores quanto com soroprevalentes podem estimar indiretamente

    para a populao a durao do perodo de incubao e a sobrevida com Aids, bem

    como suas mudanas ao longo do tempo e associ-las com mudanas nos esquemas

    teraputicos. A melhora da sobrevida pode, entretanto, ser superestimada, embora

    geralmente se realize um ajuste para marcadores biolgicos (nveis de linfcitos T

    CD4+ e carga viral) no momento de entrada no estudo. Coortes de soroprevalentes

    possuem um nmero maior de indivduos e podem detectar mudanas at em

    perodos mais recentes, mas os achados devem ser relacionados com a poca da

    soroconverso (PORTER, 2000).

    Antes da introduo da HAART a idade na poca da soroconverso e o tempo

    decorrido desde a infeco eram considerados como os principais fatores associados

    progresso para Aids e bito (BABIKER, 2000). Aps o advento da HAART,

    Porter et al. (2003) observaram associao entre categoria de exposio e perodo

    calendrio da infeco pelo HIV. Neste estudo, os riscos foram cada vez menores em

    trs perodos calendrios (pr-HAART, incio de uso da HAART e uso difundido de

    HAART) sendo que o risco foi maior entre UDI. Entretanto, a importncia da idade e

  • 33

    da categoria de exposio como determinantes de progresso para Aids ou bito

    parecem ter mudado ao longo dos perodos calendrio.

    Um estudo realizado nos EUA, entre 1996 e 2001, identificou como fatores

    relacionados progresso para Aids e bito, a raa, a idade ao diagnstico e a

    categoria de exposio (HAAL, 2006).

    Outro estudo realizado na mesma poca encontrou diferenas de mortalidade

    segundo a raa/etnia e tambm entre os nveis socioeconmicos dos locais de

    residncia. Os indivduos negros e de renda inferior tiveram menor sobrevida

    (ARNOLD, 2009).

    Mtodos para estimar a durao do perodo de incubao, atravs das

    estimativas das datas individuais de soroconverso, baseada em marcadores (clulas

    T CD4+ e carga viral) na poca de entrada no estudo, aprimoram a qualidade dos

    dados de coortes de soroprevalentes. Esse mtodo foi utilizado em um estudo de

    coorte de soroprevalentes, em Amsterdam, focalizou indivduos HSH e mostrou que

    a idade na poca da soroconverso um cofator significante para a durao do

    perodo de incubao; tal resultado no foi encontrado nos estudos que incluem

    somente os soroconversores (GESKUS, 2000).

    Os estudos de soroconversores, onde os indivduos so acompanhados at

    desenvolverem Aids e deste evento at o bito, podem identificar os efeitos de

    diferentes tipos de tratamento no perodo de incubao e na sobrevida com Aids, em

    diferentes perodos calendrio. Comparando o perodo em que o HAART era

    disponvel com aquele em que se usava a monoterapia, observou-se queda expressiva

    da incidncia de Aids e bitos entre pessoas da mesma idade e infectadas mesma

    poca (DETELS, 1998). No mesmo estudo observou-se, fazendo comparao

  • 34

    semelhante, reduo de 81% no risco de ocorrncia de infeco oportunista

    definidora de Aids (DETELS, 2001).

    O impacto da introduo da HAART em diferentes grupos da mesma

    populao no homogneo ao longo do tempo, sendo necessrio comparar a

    progresso da doena em pessoas infectadas durante o mesmo perodo de tempo em

    diferentes perodos do calendrio. A efetividade do tratamento na populao fornece

    uma medida indireta da acessibilidade, utilizao dos servios e adeso aos

    tratamentos. Na Espanha, um estudo com soroconversores, acompanhados por vinte

    anos, mostrou que o impacto da HAART foi menor em UDI do que em HSH e maior

    em mulheres (PREZ-HOYOS, 2003).

    1.6 O MOMENTO IDEAL PARA O INCIO DA HAART

    O melhor momento para iniciar a HAART ainda no est bem estabelecido,

    contudo estudos sugerem benefcios mais duradouros quando a terapia iniciada

    bem antes dos nveis de linfcitos T CD4+ atingirem 200 cel/mm, isto , com menor

    comprometimento da funo imunolgica. Wood et al. (2005) verificaram um risco

    menor de evoluo para Aids entre pessoas cuja terapia foi iniciada com nveis de

    linfcitos T CD4+ entre 350 e 500 cel/mm do que entre pessoas que iniciaram a

    terapia com nveis abaixo de 200 cel/mm.

    Pacientes, cujo tratamento antirretroviral foi iniciado quando os nveis de

    linfcitos T CD4+ encontrados eram menores, podem apresentar posteriormente

  • 35

    dficits persistentes na funo imunolgica, apesar da restaurao substancial de seus

    nveis de linfcitos T CD4+, e esta nunca foi comparvel restaurao dos que

    receberam tratamento em fase mais precoce da doena. Alm disso, outros benefcios

    do incio precoce do tratamento foram verificados, como a reduo da incidncia e

    da transmissibilidade do HIV (WANG, 2007; KITAHATA, 2009; STERNE, 2009).

    O momento ideal de iniciar terapia antirretroviral para pessoas infectadas pelo

    HIV de grande importncia tanto para a clnica como para a sade pblica. Os

    benefcios potenciais da terapia antirretroviral devem ser comparados com possveis

    efeitos adversos destas drogas, decorrentes da introduo precoce do tratamento,

    incluindo o desenvolvimento de distrbios metablicos, cardiovasculares e

    emergncia de vrus resistentes s drogas, com consequente exausto das terapias

    efetivas remanescentes. As pessoas que iniciaram a terapia durante o perodo de

    incubao, com nveis de linfcitos T CD4+ mais elevados, apresentaram maior

    probabilidade de alcanar carga viral indetectvel (PALELLA, 2003).

    No Brasil, existem poucos estudos com infectados pelo HIV, sem Aids, ou

    seja, no perodo de incubao, que revelem o possvel impacto do incio do

    tratamento com ARV na dinmica da epidemia (FONSECA, 1999; BARBOSA e

    STRUCHINER, 2003; BRAGA, 2005).

    O Ministrio da Sade do Brasil recomenda o incio da terapia antirretroviral

    associada quimioprofilaxia para infeces oportunistas, para todos os pacientes

    com manifestaes clnicas de Aids, independentemente da contagem de linfcitos T

    CD4+ e da carga viral plasmtica, e para aqueles com contagem de linfcitos T

    CD4+ abaixo de 200 clulas/mm, independentemente da presena de sintomas ou da

    magnitude da carga viral (MINISTRIO DA SADE, 2008).

  • 36

    Para indivduos assintomticos com contagem de linfcitos T CD4+ entre 200

    e 350 cel/mm3, o tratamento passou a ser recomendado em 2009 e, tambm,

    indicado nas situaes onde no for possvel o acompanhamento laboratorial

    frequente (contagens de linfcitos T CD4+ e da carga viral no mnimo trs vezes ao

    ano). O tratamento deve ser institudo caso a contagem de linfcitos T CD4+

    apresente queda significativa (maior que 25%) ou se prxima a 200 clulas/mm,

    especialmente se associada carga viral plasmtica elevada (maior que 100.000

    cpias/mm), idealmente antes que ocorram manifestaes clnicas (MINISTRIO

    DA SADE, 2008).

    Para indivduos assintomticos com contagem de linfcitos T CD4+ acima de

    350 cel/mm, o incio da terapia no recomendado porque os benefcios no esto

    suficientemente claros para contrabalanar potenciais riscos da terapia

    (MINISTRIO DA SADE, 2008).

    Quanto ao tipo de drogas a utilizar, o consenso recomenda que a terapia

    inicial sempre deva incluir trs drogas: dois inibidores da transcriptase reversa

    anlogos de nucleosdeo (ITRN) associados a um inibidor de transcriptase reversa

    no-anlogo de nucleosdeo (ITRNN) (primeira opo) ou a um inibidor da protease

    (IP). Esquemas duplos (apenas com dois ITRN) so contra-indicados.

    Quanto s drogas de escolha, para incio de tratamento, esto a associao

    Zidovudina (AZT) e Lamivudina (3TC) entre os anlogos nucleosdeos (ITRN), o

    Efavirenz (EFZ) entre os inibidores no anlogos (ITRNN) e o Atazanavir (ATV) e o

    Lopinavir (LPV), potencializados com Ritonavir (ATV/r e LPV/r) entre os inibidores

    de protease (IP). As drogas que compem o esquema antirretroviral escolhido devem

    ser iniciadas ao mesmo tempo e em doses completas.

  • 37

    Para os pacientes que j estejam utilizando terapia dupla, mesmo aqueles que

    se encontram estveis, sob o ponto de vista clnico, imunolgico e virolgico,

    recomenda-se modificar o esquema duplo para triplo, pois a terapia dupla no ideal

    em termos de supresso viral e evolui mais rapidamente para falha teraputica

    (MINISTRIO DA SADE, 2008).

  • 38

    2 HIPTESES

    2.1 O tempo de progresso da infeco pelo HIV at a Aids foi ampliado

    com a introduo de diferentes esquemas teraputicos com antirretrovirais, sendo que

    essa ampliao mostrou-se heterognea segundo o sexo, idade, ano calendrio e

    categorias de exposio.

    2.2 O tempo de progresso da Aids at o bito foi ampliado com a

    introduo de diferentes esquemas teraputicos com antirretrovirais, de forma

    heterognea segundo o sexo, idade, ano calendrio e categorias de exposio.

  • 39

    3 OBJETIVOS

    3.1 Objetivo geral

    Analisar o impacto da introduo das terapias antirretrovirais na

    progresso para Aids e bito.

    3.2 Objetivos especficos

    3.2.1 Estimar a mediana do tempo de progresso da infeco pelo HIV at a

    Aids segundo os tipos de esquemas teraputicos, em pacientes com 13

    anos ou mais, residentes no municpio de So Paulo e pertencentes a

    uma coorte de pacientes infectados pelo HIV sem Aids, selecionada

    entre 1988 e 2003 e seguida at 2005.

    3.2.2 Estimar a mediana do tempo de progresso da Aids at o bito,

    segundo o perodo do diagnstico de Aids (de 1988 a 1993; de 1994 a

    1996 e de 1997 a 2003), em pacientes com 13 anos ou mais, residentes

    no municpio de So Paulo e pertencentes a uma coorte de pacientes

    com Aids, selecionada entre 1988 e 2003 e seguida at 2005.

  • 40

    3.2.3 Investigar fatores associados ao tempo de progresso da infeco pelo

    HIV at a Aids e desta at o bito, tomando como exposies de

    interesse os tipos de esquemas teraputicos disponveis por perodo

    calendrio, categorias de transmisso, sexo, idade, primeira contagem

    de linfcitos T CD4+ realizada durante o acompanhamento.

    3.2.4 Estimar as taxas de incidncia de Aids e de mortalidade, ano a ano,

    durante o perodo de interesse.

  • 41

    4 MATERIAL E MTODOS

    4.1 TIPO DE ESTUDO

    Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo de indivduos portadores de

    infeco pelo HIV com e sem Aids, matriculados e acompanhados no CRT-

    DST/AIDS-SES, no perodo de 1988 a 2005.

    4.2 REA E LOCAL DE ESTUDO

    A rea de estudo o municpio de So Paulo, maior centro urbano brasileiro,

    com cerca de 10 milhes de habitantes, constituindo uma das reas mais

    desenvolvidas do pas, de elevada renda per capita, mas com disparidades sociais

    que podem ser identificadas pela ampla variao do ndice de Desenvolvimento

    Humano (IDH) dos seus distritos (DRUMOND, 1996; FARIAS, 2002). Dispe de

    ampla rede bsica de servios de sade articulada com centros de atendimento de

    mdia e elevada complexidade.

    Foi no municpio de So Paulo que, em meados dos anos 80, se identificaram

    os primeiros casos de Aids registrados no pas e onde, at hoje, se concentra parte

    significativa dos casos notificados em todo o territrio nacional (17%) e no estado de

    So Paulo (39%) (MINISTRIO DA SADE, 2008; SES, 2008). O Programa

  • 42

    Estadual de AIDS (PE/AIDS) de So Paulo foi criado em 1983, tendo sido pioneiro

    na Amrica Latina e em 1993 ocorreu a juno dos programas estaduais de Doenas

    sexualmente transmissveis (DST) e de Aids, o que deu origem ao Programa Estadual

    de DST/AIDS (PE-DST/Aids).

    No municpio de So Paulo, como em todo territrio nacional, o acesso ao

    diagnstico e tratamento da Aids universal e gratuito. Os polos de atendimento

    mdico de Aids especializados, no municpio, so: o Centro de Referncia e

    Treinamento DST/AIDS-SES, o Instituto de Infectologia Emilio Ribas, a Casa da

    AIDS do Hospital das Clnicas da FMUSP e o Hospital So Paulo da UNIFESP.

    Alm deles, existem dois ambulatrios de especialidades, nove Centros de Testagem

    e Aconselhamento, dez Servios de Assistncia Especializada e trs Centros de

    Referncia de AIDS da Secretaria Municipal de Sade.

    O local de estudo foi o CRT-DST/AIDS-SES, rgo criado em 1988,

    vinculado Secretaria de Estado da Sade de So Paulo com a atribuio de sediar a

    coordenao do Programa Estadual de DST/AIDS. Alm disso, desenvolve aes de

    preveno e assistncia s DST/AIDS e de monitoramento da epidemia no mbito

    estadual.

    Por ser um Centro de Referncia, atende pacientes residentes no municpio de

    So Paulo e adjacentes e desde o incio da formao da clientela a populao

    atendida era predominantemente do sexo masculino, situados na faixa etria de 30 a

    49 anos de idade, sendo a maioria homens que faziam sexo com homens (HSH), com

    alta escolaridade. At o final de 2005, houve reduo proporcional dos casos entre

    HSH e UDI e aumento dos casos de heterossexuais, embora os HSH tenham

    permanecido como a maior parcela neste Centro de Referncia.

  • 43

    4.3 POPULAO DE ESTUDO

    A populao de estudo abrangeu uma coorte de pacientes de ambos os sexos,

    com 13 anos ou mais de idade, residentes no municpio de So Paulo, portadores de

    infeco pelo HIV com e sem Aids e primeira sorologia positiva realizada entre

    01/01/1988 e 31/12/2003. Todos eram matriculados no ambulatrio do Centro de

    Referncia e Treinamento DST/AIDS-SES e parte deles era tambm atendida no

    Hospital-Dia ou internao da mesma instituio.

    4.3.1 Origem da coorte de pacientes estudada

    A coorte estudada na presente pesquisa foi formada pelos pacientes

    matriculados no ambulatrio do Centro de Referncia e Treinamento DST/AIDS-

    SES cuja primeira sorologia positiva para HIV foi realizada a partir de 1988. Em

    1990, foi criada, por iniciativa da equipe da Diviso de Vigilncia Epidemiolgica

    (VE) do CRT-DST/AIDS-SES, uma base de dados que incluiu informaes obtidas

    desde 1988. Foi dessa base de dados que se extraiu a maior parte das informaes

    utilizadas nesta investigao.

    A formao da referida base de dados se deu com informaes levantadas a

    partir de consultas regulares a pronturios dos pacientes em acompanhamento no

    Ambulatrio, Hospital-Dia e Internao do CRT com a finalidade de identificar

    aqueles com diagnstico de infeco pelo HIV com ou sem Aids. Originalmente os

  • 44

    objetivos eram os de identificar casos no notificados e o de criar uma base

    informatizada com dados sociodemogrficos, comportamentais, clnicos,

    laboratoriais, teraputicos e epidemiolgicos no disponveis na ficha de notificao

    do SINAN-AIDS e de fornecer dados para estudos epidemiolgicos. Essa base de

    dados foi armazenada eletronicamente utilizando o software EPI INFO, recebendo a

    denominao de Sistema Informatizado de Controle de Notificao de Casos Ficha

    de Acompanhamento Ambulatorial (Sistema-FAA). Em 1998, a mesma foi

    convertida de EPI INFO para o software Borland-Delphi.

    No perodo de 1988 a 2000, foram includas no Sistema-FAA informaes

    referentes a todos pacientes atendidos no CRT-DST/AIDS-SES, desde 1980, com

    diagnstico de infeco pelo HIV com ou sem Aids, atravs de digitao rotineira e

    sistemtica, realizada por equipe tcnica treinada pela VE, composta por mdicos e

    enfermeiros.

    A partir do ano 2000, em virtude da elevada demanda, passaram a ser

    includos no Sistema FAA somente 50% dos pacientes atendidos no ambulatrio do

    CRT com diagnstico de infeco pelo HIV. O critrio seguido foi o de incluir

    somente pacientes cujos pronturios tivessem numerao mpar para os meses

    mpares e numerao par para os meses pares. Essa base de dados inclua ao final de

    2003, 15.663 pacientes com infeco pelo HIV, com ou sem Aids, correspondendo a

    85,7% do total de 18.272 atendidos entre 1988 a 2003 (figura 4).

  • 45

    Figura 4 - Diagrama da formao da coorte

    CRTDST/AIDSSES

    Total de pacientes adultos atendidos no

    Ambulatrio de HIV / AIDS, Internao e Hospitaldia

    at final do ano 2003 = 18.272

    Sistema FAA da Vigilncia Epidemiolgica

    n = 15.663 pacientes

    Formao do Sistema FAA:

    Critrios:

    a) todos os pacientes, at ano 2.000, n = 13.054

    b) pronturios pares nos meses pares e

    mpares nos meses mpares, aps ano 2000, n = 2609

    4.4 CONCEITOS E DEFINIES

    4.4.1 Definio de infeco pelo HIV

    Adotou-se como definio de caso de soropositividade para HIV, a definio

    vigente no Brasil na poca do estudo, isto , todo indivduo com 13 anos de idade ou

    mais, com resultados positivos a dois testes de triagem (ELISA) e, sequencialmente

    positivo a um terceiro teste confirmatrio (Western-Blot, Imunofluorescncia Indireta

  • 46

    ou PCR), de acordo com os critrios propostos pelo Ministrio da Sade

    (MINISTRIO DA SADE, 1987).

    O fluxograma de diagnstico laboratorial foi modificado em 2003, quando

    passou a ser possvel determinar a soropositividade com apenas um teste ELISA e

    um confirmatrio positivo (MINISTRIO DA SADE, 2003).

    4.4.2 Definio de caso de Aids em adulto

    Definiu-se como caso de Aids em adulto, todo indivduo com 13 anos de

    idade ou mais, infectado pelo HIV e que apresente, pelo menos, uma doena

    indicativa de Aids e/ou nveis de linfcitos T CD4+ abaixo de 350 clulas/mm3,

    independentemente da presena de outras causas de imunodeficincia.

    Durante o perodo de estudo houve vrias modificaes da definio de caso

    de Aids propostas pelo Ministrio da Sade. Neste estudo seguimos cada uma delas

    para os respectivos perodos de vigncia. De 1988 a 1992 adotou-se a definio de

    caso de Aids proposta pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC),

    Atlanta, EUA, modificada em 1986 para as condies diagnsticas, laboratoriais e

    clnicas existentes no Brasil (MINISTRIO DA SADE, 2004). Em 1992, foi

    introduzida a pontuao para sinais, sintomas e doenas, confirmando casos quando a

    somatria perfazia no mnimo dez pontos (Critrio Rio de Janeiro/Caracas)

    (MINISTRIO DA SADE, 2004).

    A partir de 1996, os casos de Aids em adultos passaram a ser confirmados

    mesmo na ausncia de comprovao laboratorial de infeco pelo HIV, incluindo

  • 47

    bitos mal definidos, com quadro clnico suspeito de Aids e tambm casos com

    manifestao do Complexo Relacionado com Aids (ARC). Em 1998, pacientes com

    nveis de linfcitos T CD4+ abaixo de 350 cel/mm e carcinoma cervical invasivo,

    em indivduos do sexo feminino com 13 anos de idade ou mais, passam a ser

    confirmados como caso Aids. Em 2004, houve a incluso da reativao da doena de

    Chagas na lista de doenas indicativas de Aids (MINISTRIO DA SADE, 2004).

    4.4.3 Conceito de categorias de exposio

    As categorias de exposio para a transmisso do HIV foram hierarquizadas e

    classificadas de acordo com os critrios do Ministrio da Sade (MINISTRIO DA

    SADE, 2000; 2002) em: 1) Heterossexual: paciente cujo nico risco identificado de

    exposio por meio de relaes sexuais com o sexo oposto; 2) HSH: incluem

    homossexual, paciente do sexo masculino cujo nico risco identificado de exposio

    por meio de relaes sexuais com homens e bissexual, cujo nico risco identificado

    de exposio por meio de relaes sexuais com indivduos de ambos os sexos; 3)

    UDI: categoria onde o maior risco identificado de infeco o decorrente do uso de

    drogas injetveis, que sobrepuja os demais riscos.

    4.4.4 Esquemas de tratamento

    Os esquemas de tratamento foram classificados em trs categorias: 1)

    Monoterapia exclusivamente, 2) Terapia combinada (dupla, ou trplice) constituda

  • 48

    por inibidor no nucleosdico da transcriptase reversa (ITRNN), precedida ou no de

    monoterapia, 3) HAART, precedida ou no de outros esquemas. Foi considerada

    HAART o tratamento com esquema trplice com um medicamento ITRNN ou com

    um inibidor de protease, associado a, no mnimo, dois inibidores nucleosdicos da

    transcriptase reversa (ITRN) (MINISTRIO DA SADE, 2006). Para as anlises,

    agrupou-se a monoterapia e a combinada, denominando-as como terapia

    antirretroviral sem HAART (TARV sem HAART).

    Os indivduos que utilizaram diversos esquemas sucessivamente foram

    classificados como usurios do esquema mais complexo. Os pacientes foram

    categorizados em trs grupos: i) no tratados, ii) que utilizaram TARV e iii)

    HAART, obedecendo a um perodo mnimo de 30 dias de uso consecutivo dos

    esquemas. Esta classificao tambm foi utilizada por diversos autores (DETELS e

    MUOZ, 1998; PALELLA, 2003; SCHNEIDER e MUOZ, 2005).

    4.5 CRITRIOS DE INCLUSO

    Foram includos no grupo de pacientes infectados pelo HIV, mas sem Aids,

    somente aqueles que se mantiveram nessa condio pelo tempo mnimo de 12 meses,

    a partir de sua incluso no estudo. Consideramos como data da incluso dessa

    populao no estudo aquela em que ocorreu a confirmao do diagnstico mediante

    sorologia positiva para o HIV.

    Foram includos no grupo de pacientes infectados pelo HIV e com Aids,

    aqueles que preenchiam os critrios de definio de caso de Aids adulto poca da

  • 49

    incluso no estudo ou, ainda, aqueles que poca da incluso no estudo mostravam-

    se infectados pelo HIV sem Aids, mas que evoluram para a doena em at 12 meses,

    aps o diagnstico da infeco pelo HIV. Consideramos como data da incluso dessa

    populao no estudo aquela em que ocorreu a confirmao do diagnstico de Aids.

    4.6 CRITRIOS DE EXCLUSO

    Foram excludos do estudo os pacientes com as seguintes caractersticas: i) os

    que foram infectados por transmisso materno-infantil notificados com 13 anos de

    idade ou mais, ou atravs de transfuso sangunea; ii) aqueles cujo bito ocorreu at

    trinta dias aps o diagnstico de Aids; iii) os que compareceram ao servio em

    apenas uma ocasio, isto , com atendimento nico ou que foram acompanhados por

    perodo inferior a 30 dias.

    4.7 CRITRIO DE PERDA DE SEGUIMENTO

    A censura ocorreu em trs situaes: i) pacientes que em 31/12/2005, data

    de encerramento do estudo, estavam vivos e em seguimento (censura administrativa);

    ii) pacientes que morreram por outra causa que no a Aids, neste caso a censura foi

    registrada na data do bito; iii) pacientes que abandonaram o seguimento, isto ,

    aqueles que no retornaram ao servio, quando decorrido um ano aps a ltima

    consulta e, neste caso, a censura foi registrada na data do ltimo atendimento.

  • 50

    4.8 FONTES DE DADOS

    A fonte de dados principal foi o Sistema Informatizado de Controle de

    Notificao de Casos Ficha de Acompanhamento Ambulatorial (Sistema-FAA), do

    CRT-DST/AIDS-SES.

    As fontes de dados complementares foram:

    i) Servio de Arquivo Mdico (SAME) do CRT-DST/AIDS-SES.

    ii) Base Integrada Paulista de Aids (BIP-AIDS) criada a partir da base de

    dados de bitos da Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados (SEADE) e do

    Sistema de Informao de Agravos de Notificao (SINAN-AIDS) do Programa

    Estadual de So Paulo (PE DST/AIDS), elaborado em conjunto pelas duas

    instituies, com o propsito de melhorar a qualidade das informaes sobre a

    epidemia da Aids no Estado de So Paulo (WALDVOGEL, 2006).

    iii) Ministrio da Sade

    Base de dados criada pelo Programa Nacional de Aids por meio do

    relacionamento do Sistema de Controle de Exames Laboratoriais

    (SISCEL) com o (SINAN-AIDS) da VE do PE DST/AIDS de So

    Paulo.

    Base de dados criada pelo Programa Nacional de Aids atravs do

    relacionamento do Sistema de Controle Logstico de Medicamentos

    (SICLOM) com o (SINAN-AIDS) da VE do PE DST/AIDS de So

    Paulo.

  • 51

    4.9 PREPARAO DO BANCO DE DADOS E INSTRUMENTOS

    DE COLETA DOS DADOS

    A seleo dos indivduos que formaram o grupo estudado foi feita a partir dos

    15.663 pacientes matriculados no ambulatrio do CRT e que compunham a base de

    dados do Servio de Epidemiologia do CRT (Sistema-FAA) entre 01 de janeiro de

    1988 e 31 de dezembro de 2003.

    Para a criao do banco de dados analisado neste estudo, em uma primeira

    etapa, relacionou-se a base de dados formada por 15.663 pacientes do Sistema-FAA

    com a BIP-AIDS pelo mtodo de relacionamento (linkage) determinstico que faz a

    identificao nominal em duas ou mais bases de dados (ALMEIDA, 2008).

    Na segunda etapa, relacionou-se o Sistema-FAA com o produto do

    relacionamento do SINAN-AIDS da VE do PE DST/AIDS de So Paulo com o

    SISCEL pelo mtodo de relacionamento probabilstico com a finalidade de recuperar

    registros de nveis de linfcitos T CD4+ e de cargas virais.

    Na terceira etapa, relacionou-se o Sistema-FAA com o produto do SINAN-

    AIDS da VE do PE DST/AIDS de So Paulo com o SICLOM pelo mtodo de

    relacionamento probabilstico com a finalidade de recuperar registros de tratamentos

    antirretrovirais com as respectivas datas de incio de uso.

    Nestas trs etapas foram recuperadas, complementadas e validadas as

    informaes neles existentes.

    O banco resultante dessas trs etapas que constitui a base de dados da coorte,

    objeto do presente estudo, foi submetido anlise de consistncia e completude,

  • 52

    confrontando-o com uma amostra aleatria de 100 pronturios. Selecionaram-se as

    informaes relativas ao sexo, escolaridade e categoria de exposio, contidas nos

    100 pronturios e compararam-se com os dados existentes nesse banco, aplicando-se

    a estatstica Kappa, um teste de reprodutibilidade do banco de dados cuja medida de

    concordncia encontrada foi valor igual a 1.

    Na quarta etapa, formou-se uma equipe de mdicos e enfermeiros,

    devidamente treinada, a qual recuperou, nos pronturios, informaes no

    disponveis nas fontes que formaram o banco de dados deste estudo. Foram ento

    completadas informaes referentes escolaridade (1.475 pacientes), categoria de

    exposio (749 pacientes), alm da confirmao das datas de nascimento, matrcula e

    datas de diagnstico de infeco pelo HIV, de Aids, datas de incio da terapia com

    ARV, esquemas teraputicos e de infeces oportunistas (126 pacientes).

    Foi utilizado um instrumento de coleta complementar de dados, quando o

    banco apresentou valores ignorados ou inconsistentes, por exemplo, se havia alguma

    informao sobre o paciente que o qualificava como vivo, mas que constava a data

    de bito, ou se havia categoria de exposio HSH em paciente do sexo feminino

    (Anexo 2). Foi tambm realizado um pr-teste, com o preenchimento de 20

    questionrios, para avaliar esse instrumento em pacientes includos no estudo.

    4.10 VARIVEIS DE ESTUDO

    As variveis de estudo foram: caractersticas sociodemogrficas (sexo, idade

    no diagnstico, escolaridade e local de residncia), comportamentais (categorias de

  • 53

    exposio para a transmisso do HIV); caractersticas relativas ao diagnstico (ano

    calendrio da infeco pelo HIV ou do diagnstico de Aids, critrio de diagnstico,

    primeira contagem de linfcitos T CD4+ e primeira dosagem de carga viral);

    caractersticas relativas teraputica (uso de ARV e esquemas teraputicos);

    incidncia de Aids, tempo de progresso da infeco pelo HIV at a Aids, tempo de

    progresso a partir do diagnstico de Aids at o bito associado Aids.

    4.11 ANLISE DOS DADOS

    Inicialmente foi realizada uma anlise descritiva da populao estudada no

    perodo de interesse. Foram observadas as distribuies das variveis categricas e

    contnuas, exame dos casos com ou sem desfecho e com verificao da consistncia

    dos dados.

    As incidncias de Aids e da mortalidade a ela associada, na populao

    estudada, foram estimadas tomando-se como numerador, respectivamente, os casos

    novos e os bitos e, como denominador, o total de pessoas-tempo em risco para o

    evento em meses (SZKLO, 2004).

    Na anlise da Coorte So Paulo-HIV considerou-se como varivel principal o

    esquema teraputico.

    Na anlise da Coorte So Paulo-Aids a varivel considerada como principal

    foi o perodo calendrio, que foi utilizado como proxy dos esquemas teraputicos que

  • 54

    refletem as mudanas na disponibilidade de drogas ARV no servio, servindo como

    parmetro de efetividade populacional (DETELS, 1998; MOCROFT, 2003; PREZ-

    HOYOS, 2003; SCHNEIDER, 2005).

    4.11.1 Anlise do tempo at o evento

    Para a anlise do tempo at o evento (tempo livre de Aids e tempo de sobrevida

    com Aids) foi utilizado, inicialmente, o estimador produto limite de Kaplan-

    Meier (KAPLAN e MEIER, 1958). Para comparar o tempo at o evento entre

    dois ou mais grupos, foi utilizado o teste log-rank (MANTEL, 1966). Quando a

    varivel apresentou mais de duas categorias que permitiram ordenao foi

    calculado o teste log-rank para tendncia (PETO, 1977).

    O tempo livre de Aids foi determinado pelo intervalo, contado em meses, entre a

    data de diagnstico da infeco pelo HIV e a data do diagnstico de Aids

    (ocorrncia do evento de interesse) ou a censura, para os pacientes que poca

    do ingresso no estudo apresentavam-se infectados pelo HIV, porm sem Aids. As

    curvas de Kaplan-Meier foram apresentadas segundo os esquemas de tratamento

    registrados nos pronturios.

    O tempo de sobrevida com Aids foi determinado pelo intervalo, contado em

    meses, entre a data de diagnstico de Aids e a data de bito (ocorrncia do evento

    de interesse) ou a censura, para os pacientes que poca do ingresso no estudo

  • 55

    apresentavam-se com Aids ou ainda, para aqueles que ingressaram somente

    infectados, mas que evoluram para doena durante o seguimento. As curvas de

    Kaplan-Meier foram apresentadas segundo os perodos de diagnstico de Aids:

    1988-1993; 1994-1996; 1997-2003. Esses intervalos correspondem,

    respectivamente, aos perodos em que se iniciou a disponibilizao de

    monoterapia, terapia combinada e HAART no CRT-DST/AIDS.

    Posteriormente, para a investigao da associao entre as exposies de

    interesse e os desfechos Aids e bito relacionado a Aids, foram aplicados o modelo

    de riscos proporcionais de Cox (COX, 1972), utilizando a razo das funes de risco

    hazard ratio (HR), com seus respectivos intervalos de confiana (IC= 95%). Os

    testes de hiptese sobre os parmetros estimados foram realizados utilizando o teste

    da razo de verossimilhanas likelihood ratio test (TRV) (MARUBINI e

    VALSECCHI, 1995), e foi considerado o nvel de significncia para rejeio da

    hiptese nula valores de p iguais ou menores que 5%.

    A incluso da varivel no modelo multivariado final foi baseada na sua significncia

    estatstica na anlise univariada da regresso de Cox (p< 0,25). Permaneceram no

    modelo multivariado final as variveis principais, que para o desfecho Aids foi o

    esquema teraputico e para o desfecho bito foi o perodo de diagnstico de Aids.

    Tambm permaneceram no modelo final as covariveis estatisticamente significantes

    e as que foram consideradas confundidoras para outras variveis includas no

    modelo.

  • 56

    O modelo de Cox tem como pressuposto que os HR para uma varivel

    independente sejam proporcionais no decorrer do tempo. Foi utilizado o mtodo

    grfico do (-ln(-ln(S(t)))) em funo do logaritmo natural do tempo de observao

    para cada uma das variveis do modelo final, como estratgia para avaliao da

    proporcionalidade dos riscos, o qual pressupe o paralelismo das curvas

    (KLEINBAUM, 1996).

    Foi tambm utilizada para a verificao do ajuste, a anlise de resduos de

    Schoenfeld, que utiliza uma estatstica qui-quadrado com um grau de liberdade (GL),

    baseada nas proporcionalidades de sobrevida observadas e esperadas, estimadas sob

    a hiptese de nulidade de proporcionalidade do modelo (MARUBINI e

    VALSECCHI, 1995; KLEINBAUM, 1996).

    4.12 PROGRAMAS UTILIZADOS

    Foram utilizados os programas Epi Info TM verso 3.4.3 para digitao

    complementar de dados e o STATA verso 10.0 para a anlise de sobrevida.

  • 57

    4.13 CONSIDERAES TICAS A RESPEITO DO PROJETO

    A pesquisa observou as recomendaes da Resoluo CNS n 196/96

    Conselho Nacional de Sade Comisso Nacional de tica em Pesquisas CONEP

    e teve incio somente aps a aprovao do protocolo pelo Comit de tica em

    Pesquisa do Centro de Referncia e Treinamento de DST/AIDS (Protocolo CEP N

    211/06) e pelo Comit de tica da Faculdade de Sade Pblica da USP (Protocolo

    CEP N 1612).

    Os autores do estudo se comprometem a garantir o sigilo e a

    confidencialidade dos dados obtidos durante a pesquisa e de utiliz-los

    exclusivamente para os objetivos propostos pelo projeto. Os pesquisadores assumem,

    tambm, a responsabilidade de divulgar os resultados da presente pesquisa aos

    setores interessados, assim como em publicaes cientficas da rea.

  • 58

    5 RESULTADOS

    __________________________________________________________________________

    5.1 FORMAO DAS COORTES ESTUDADAS

    Do total de 15.663 pacientes da base de dados Sistema-FAA, com base nos

    critrios estabelecidos pela pesquisa, no cumpriram os critrios de incluso 4.398

    indivduos cuja sorologia confirmatria revelou-se negativa e 634 pacientes que

    apresentaram data de sorologia fora do perodo do estudo. Alem disso, foram

    excludos 80 pacientes, cuja categoria de exposio era transmisso vertical ou

    transfuso sangunea, 147 cujo bito ocorreu na data de diagnstico de Aids e 2.814

    pacientes que possuam comparecimento nico ao servio (Figura 6). Com esses

    procedimentos foram selecionados 7.590 pacientes infectados pelo HIV sem e com

    Aids que passaram a formar a Coorte So Paulo de HIV/Aids (CSP-HIV/Aids).

    Essa coorte era formada por dois grupos, o primeiro constitudo de 1.879

    pacientes que no momento do ingresso no estudo estavam infectados pelo HIV, mas

    sem Aids e assim permaneceram por ao menos 12 meses; o segundo grupo formado

    poca da seleo por 5.711 pacientes infectados pelo HIV e com Aids. Dos 1879

    pertencentes ao primeiro grupo, 981 evoluram para Aids durante o

    acompanhamento. Destes ltimos, 883 passaram a ser seguidos como participantes

    do segundo grupo, por terem evoludo para Aids antes de 31/12/2003. Portanto, ao

    final do perodo de observao, este segundo grupo totalizava 6.594 pacientes, ou

    seja, os 5.711 existentes poca da seleo, acrescido dos 883 (Figura 5).

  • 59

    Figura 5 - Diagrama da formao dos dois grupos includos no estudo

    Sistema FAA da Vigilncia Epidemiolgica

    n = 15.663 pacientes

    Excluso: a) 80

    pacientes com

    transmisso vertical

    ou por transfuso

    Base de dados aps critrios de incluso

    n = 10.631 pacientes

    Excluso: c) 2814

    pacientes com

    comparecimento nico,

    ou acompanhados por

    menos de 30 dias

    Coorte So Paulo de HIV/Aids

    (CSP HIV / Aids)

    n = 7.590 pacientes

    Coorte So PauloHIV (CSP HIV)

    Total de pacientes que entraram sem aids

    (desfecho aids) n = 1.879

    Excluso: b) 147

    pacientes com

    diagnstico efetuado

    na data do bito

    No includos:

    b) 634 pacientes fora do

    perodo do estudo

    No includos:

    a) 4.398 pacientes com sorologia

    confirmatria negativa

    Pacientes que entraram com aids

    n = 5.711

    Linkage SINANSP/

    SISCEL

    Linkage SINANSP/

    SICLOM

    Linkage SINANSP/

    SEADE

    Pacientes que evoluram para aids,

    durante o seguimento (n = 981)

    Coorte So PauloAids (CSP Aids)

    Total de pacientes com aids

    (desfecho bito)

    n = 5.711 + 883 = 6.594

    Pacientes que evoluram para aids,

    antes de 31/12/2003 (n = 883)

  • 60

    5.2 DESENHOS DO ESTUDO

    O acompanhamento dos pacientes selecionados para o estudo infectados pelo

    HIV e sem Aids est apresentado esquematicamente na Figura 6, onde se pode

    observar a sua distribuio segundo a exposio ao uso de antirretrovirais e a

    evoluo para o desfecho Aids.

    Figura 6 - Diagrama do desenho do estudo para pacientes HIV positivos, sem Aids

    .

  • 61

    A figura 7 apresenta esquematicamente o acompanhamento dos pacientes que

    entraram no estudo com Aids onde se pode observar a sua distribuio segundo os

    perodos calendrios e a evoluo para o desfecho bito.

    Figura 7 - Diagrama do desenho do estudo para pacientes com Aids

  • 62

    5.3 RESULTADOS DA COORTE SO PAULO-HIV

    5.3.1 Descrio das caractersticas dos indivduos infectados pelo HIV sem

    Aids entrada no estudo.

    As caractersticas dos 1.879 pacientes que formavam o grupo de infectados

    pelo HIV, mas sem Aids poca do ingresso no estudo apresentada na Tabela 1.

    Verificamos que 64,3% deles entraram nessa coorte entre 1988 a 1996, houve

    predomnio do sexo masculino em ambos os perodos analisados, 73,4% e 69%,

    respectivamente; de brancos (informao auto-referida), mas com um decrscimo do

    primeiro para o segundo perodo de 81,9% para 69,3%; os pacientes includos no

    primeiro perodo eram mais jovens, a mediana das idades foi de 29 anos (25%=24,

    75%=35), enquanto no segundo perodo foi de 30 anos (25%=25, 75%=36);

    verificou-se aumento da proporo de pacientes com mais de oito anos de

    escolaridade entre o primeiro e o segundo perodo, de 51,7% para 68,2%,

    respectivamente. A proporo de residentes em distritos com IDH acima de 0,610

    elevou-se de 49,5% para 55,3% do primeiro para o segundo perodo.

    Verificaram-se, tambm, diferenas quanto s categorias de exposio, com

    predomnio de HSH em ambos os perodos, mas com queda importante da proporo

    da categoria de UDI, de 20,9% para 7,9% e crescimento dos heterossexuais de 32,0%

    para 43,6%, respectivamente.

  • 63

    Entre os marcadores laboratoriais observou-se que no perodo de 1988 a 1996

    os pacientes foram admitidos com nveis mais baixos de linfcitos T CD4+

    (mediana=537 cl/mm, 25%=429, 75%=694) em relao ao segundo (mediana=574,

    25%=462, 75%=755), respectivamente. Dos 1.879 pacientes desse grupo, 674

    pacientes no realizaram a contagem de T CD4+, 52,4% deles pertenciam aos

    pacientes matriculadas no ambulatrio no primeiro perodo.

    A porcentagem de pacientes com a primeira carga viral realizada no servio

    entre 400 a 100.000 cpias/ml elevou-se de 6,9% para 96,7% entre o primeiro e

    segundo perodo, entretanto, houve queda considervel da proporo de carga viral

    indetectvel de 93,1%