tese flavio sarno

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  • Estimativas do consumo de sdio no Brasil, reviso dos benefcios relacionados limitao

    do consumo deste nutriente na Sndrome Metablica e avaliao de impacto de

    interveno no local de trabalho

    Flvio Sarno

    Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Nutrio em Sade Pblica para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    rea de concentrao: Nutrio em Sade Pblica Orientador: Professor Titular Carlos Augusto Monteiro

    So Paulo

    2010

  • expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure a identificao do autor, ttulo, instituio e ano da tese/dissertao.

  • DEDICATRIA

    AOS MEUS AVS: Gennaro Sarno, Joo Bessa, Rachele Antonia Colicigno

    Sarno, Rosa Helena Pimentel Bessa.

    AOS MEUS PAIS: Antonio Luiz Sarno e Elza Bessa Sarno.

    MINHA TIA: Maria da Glria Bessa.

    Todos comearam suas vidas com dificuldades, porm com

    esperanas e vontade de construir.

    Minha chegada at aqui est embasada e s foi possvel depois de

    dcadas de dedicao, esforos e renncias destas pessoas.

    Portanto, este momento e este trabalho pertencem e so dedicados a

    elas.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Titular Carlos Augusto Monteiro.

    Deve-se ao professor Carlos o mrito de nos orientar a estudar o

    tema consumo de sdio, vislumbrando com antecedncia o aumento das

    discusses em torno desta questo.

    Professora Doutora Patrcia Constante Jaime.

    A professora Patrcia nos acolheu prontamente em seu grupo de

    pesquisa, onde pudemos desenvolver trabalhos conjuntos que contriburam

    muito com o resultado final da tese.

    Professora Titular Sandra Roberta G. Ferreira.

    Agradecemos a professora Sandra pelo voto de confiana para

    participarmos de seus projetos de trabalho. O aprendizado obtido nestas

    participaes e discusses foi parte muito importante da elaborao desta

    tese.

    Aos membros da banca: Profa. Dra. Dirce Marchioni, Dra. Lenise Mondini,

    Profa. Titular Maria Zanella e Profa. Dra. Maria Gondim Peixoto.

    As sugestes e correes das professoras acrescentaram qualidade e

    contriburam muito com o trabalho final.

    Aos amigos Daniel Bandoni e Rafael Claro

    Comeamos e terminamos juntos a ps-graduao. Amigos de todas

    as horas, estiveram sempre prontos a nos ajudar e a partilhar seus

    conhecimentos.

    Aos amigos de pesquisa Renata Levy, Bettina Brasil, Kelly Bombem, Adriana

    Pellogia, Iramaia Figueiredo, Natalia Okada e Lais Peccia

    Ajudaram muito em vrios momentos da confeco da tese: coleta de

  • dados, reunies e discusses das anlises dos dados dos artigos que

    compem esta tese.

    Regina

    Esteve sempre pronta a nos ajudar em todos os processos que

    envolveram as pesquisas e o doutorado.

    Aos funcionrios do Departamento de Nutrio

    Agradecemos a todos que sempre foram atenciosos com nossas

    solicitaes.

    Enfim, esta tese fruto da colaborao e participao de todos, que

    em vrios momentos sugeriram, opinaram, corrigiram, ou seja, tornaram este

    trabalho melhor.

    Agradeo a todos vocs!

  • EPGRAFE

    Os cegos e o elefante Poema de John Godfrey Saxe (1816 - 1887). Baseado em uma parbola indiana (traduo livre).

    Eram seis homens da ndia, muito inclinados a aprender, que foram ver o elefante. Embora todos eles fossem cegos, que cada um, por meio de observao, pudesse satisfazer a sua mente. O primeiro aproximou-se do elefante e caiu contra o seu lado mais amplo e robusto. Imediatamente comeou a berrar: "Valha-me Deus! Mas o elefante muito parecido com uma parede!" O segundo, sentindo sua presa, chorou, "O que temos aqui muito redondo e liso e afiado? Para mim, isto est claro: esta maravilha de elefante muito parecido com uma lana!" O terceiro aproximou-se do animal e tomou sua tromba a contorcer-se dentro de suas mos. Assim, corajosamente falou: "Eu vejo o elefante e muito parecido com uma cobra!" O quarto esticou a mo ansiosa e sentiu o joelho. "Com o que mais parecida este maravilhosa besta? Est bastante claro: o elefante muito semelhante a uma rvore!" O quinto, que teve a chance de tocar na orelha, disse: "O homem cego pode dizer com o que isto se assemelha mais. Quem pode negar o fato de que esta maravilha de elefante muito parecido com um abanador!" O sexto mal havia comeado a apalpar a besta e apodera-se da cauda balanante, que cara dentro do seu alcance: "Eu vejo o elefante e muito parecido com uma corda!" E assim, esses homens da ndia discutiram alto e longamente, cada um com suas prprias opinies, demasiadas firmes e fortes. Embora cada um estivesse, em parte, correto todos estavam errados! Moral da histria: Assim, frequentemente como em guerras teolgicas, os disputantes, eu suponho, fechados em suas absolutas ignorncias sobre o que cada um quis dizer, tagarelam sobre um elefante que nenhum deles viu!

  • RESUMO

    Sarno F. Estimativas do consumo de sdio no Brasil, reviso dos benefcios relacionados limitao do consumo deste nutriente na Sndrome

    Metablica e avaliao de impacto de interveno no local de trabalho. So

    Paulo; 2010. [Tese de Doutorado. Faculdade de Sade Pblica da

    Universidade de So Paulo].

    Introduo: O consumo excessivo de sdio tem se associado com vrios efeitos prejudiciais sade, como aumento da presso arterial (PA) e

    doena cardiovascular. Objetivos: Os objetivos da tese foram avaliar a disponibilidade de sdio no Brasil, analisar os efeitos de dietas com teores

    reduzidos de sdio em indivduos com Sndrome Metablica (SM) ou

    resistncia insulina (RI) e avaliar o impacto de uma interveno que

    promoveu a reduo da adio de sal aos alimentos. Sujeitos e mtodos: A tese est composta de trs artigos. O primeiro deles avaliou as aquisies

    de alimentos e bebidas realizadas pelos domiclios na Pesquisa de

    Oramento Familiar de 2002/2003 do Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica. O segundo artigo revisou a literatura de forma sistemtica acerca

    dos ensaios clnicos realizados em adultos entre anos de 2004 e 2008. E o

    ltimo artigo avaliou o impacto de uma interveno, baseada no modelo

    ecolgico de promoo de sade, na reduo da adio de sal nos

    alimentos consumidos por trabalhadores de empresas da cidade de So

    Paulo. Resultados: A quantidade diria de sdio disponvel para consumo nos domiclios brasileiros foi de 4,7 g per capita e para uma ingesto diria

    de 2.000 kcal. A maior parte do sdio disponvel para consumo proveio do

    sal de cozinha e de condimentos base desse sal (76,2%). A frao

    proveniente de alimentos processados com adio de sal representou 9,7%

    do total de sdio no quinto inferior da distribuio da renda per capita e

    25,0% no quinto superior. A restrio no consumo de sdio associou-se ao

    aumento da RI em dois artigos e diminuio em trs outros. Em sete dos

    nove artigos, uma dieta com teor reduzido de sdio determinou reduo da

  • PA e em dois artigos ocorreram efeitos adversos em marcadores da SM.

    Nas anlises multivariadas, homens (IRR = 0,51) e aqueles considerados

    normotensos (IRR = 0,61) alocados no grupo interveno no momento final

    apresentaram taxas menores de adio de sal ao prato quente.

    Concluses: O consumo de sdio no Brasil excede largamente a recomendao mxima para esse nutriente. A maioria dos estudos da

    reviso sistemtica mostrou efeitos benficos da restrio moderada de

    sdio da dieta, associada ou no a outras modificaes nutricionais ou ao

    aumento da atividade fsica. A interveno realizada no ambiente de trabalho

    reduziu a taxa de relato de adio de sal no prato quente entre trabalhadores

    do sexo masculino e entre aqueles categorizados como normotensos.

    Descritores: Cloreto de Sdio; Sdio na Dieta; Brasil; Dieta Hipossdica; Sndrome Metablica; Resistncia Insulina; Reduo da adio de sal;

    Ambiente de Trabalho.

  • ABSTRACT Sarno F. Estimativas do consumo de sdio no Brasil, reviso dos benefcios relacionados limitao do consumo deste nutriente na Sndrome

    Metablica e avaliao de impacto de interveno no local de trabalho.

    [Estimates of sodium consumption in Brazil, review of benefits related to

    limiting the consumption of this nutrient in the Metabolic Syndrome and

    assessment of impact of intervention at the workplace.] So Paulo (Br); 2010.

    [Tese de Doutorado. Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So

    Paulo].

    Introduction: The excess of sodium consumption has been associated with several adverse health effects, such as increased of blood pressure (BP) and

    cardiovascular disease. Objectives: Evaluate the availability of sodium in Brazil, analyze the effects of diets with reduced sodium content in subjects

    with Metabolic Syndrome (MS) or insulin resistance (IR) and evaluate the

    impact of an intervention which promoted the reduction of adding salt to

    foods. Subjects and Methods: The thesis is composed of three articles. The first one assessed the food and beverage purchases made by households in

    the Household Budget Survey of 2002/2003, by the Brazilian Institute of

    Geography and Statistics. The second article reviewed the literature in a

    systematic way about clinical trials performed in adults between the years

    2004 and 2008. And the last paper assessed the impact of an intervention,

    based on the ecological model of health promotion, in reducing the added

    salt to foods consumed by employees of Sao Paulo based companies. Results: The daily amount of sodium available in Brazilian households was 4.7 g daily per person for 2,000 kcal intake. Most of the sodium available for

    consumption comes from the salt and salt based seasonings (76.2%). The

    fraction derived from processed foods with added salt represented 9.7% of

    total sodium intake at the bottom of per person income distribution and

    25.0% at the top fifth. The restriction in sodium intake was associated with

    increased IR in two articles and the decrease in three others. In seven of the

  • nine articles, the salt intake restriction had caused decreased in BP and in

    two articles have occurred adverse effects on markers of MS. In multivariate analysis, men (IRR = 0.51) and those considered normotensive (IRR = 0.61)

    allocated in the intervention group at the final moment had lower rates of salt

    addition in the hot meal. Conclusions: The results indicate that sodium intake in Brazil far exceeds the maximum recommended intake for this

    nutrient. Most studies have shown beneficial effects of a diet with moderate

    sodium restriction, with or without other nutritional modifications or increased

    physical activity. The intervention carried out at the workplace reduced the reporting rate of salt addition in the hot meal by male workers and those

    categorized as normotensive. Descriptors: Sodium Chloride; Sodium, Dietary; Brazil; Diet, Sodium-Restricted; Metabolic Syndrome, Insulin Resistance; Reduction of added salt;

    Workplace.

  • APRESENTAO

    Esta tese est composta por introduo, objetivos, trs artigos e

    resultados e concluses finais.

    Na introduo so levantados os aspectos gerais sobre o tema em

    estudo (sal e sdio). A seguir so apresentados os objetivos da tese.

    Os trs artigos procuraram responder aos objetivos da tese e esto

    apresentados de forma independente, cada um com suas respectivas

    introdues, objetivos, mtodos, resultados, concluses e referncias.

    Ao trmino, so apresentados os resultados e concluses finais que

    buscaram aglutinar, tanto os resultados obtidos nos artigos, quanto as

    informaes apresentadas na introduo e os consensos existentes na

    literatura sobre consumo de sal e sdio.

  • NDICE GERAL

    ndice Geral Pgina

    1. INTRODUO........................................................................... 18

    1.1 Histria do sal................................................................ 18

    1.2 Consumo de sdio mtodos de aferio.................... 19

    1.3 Produo e consumo de sal no mundo e no Brasil....... 21

    1.4 Sal e sade................................................................... 25

    1.4.1 Sdio e Presso Arterial.................................... 25

    1.4.2 Sdio e Sndrome Metablica............................ 26

    1.4.3 Sdio e Doena Cardiovascular......................... 27

    1.5 Intervenes e consumo de sdio................................. 28

    1.5.1 Ambiente de Trabalho........................................ 28

    1.5.2 Reduo do consumo de sdio.......................... 29

    1.5.3 Dieta DASH........................................................ 30

    1.6 Controvrsias................................................................ 31

    2. OBJETIVOS............................................................................... 34 2.1 Objetivos especficos.................................................... 34

    3. MTODOS................................................................................. 35 4. PRIMEIRO ARTIGO.................................................................. 36

    Resumo............................................................................... 38

    Abstract............................................................................... 40

    Introduo e objetivos......................................................... 41

    Mtodos............................................................................... 42

    Resultados.......................................................................... 44

    Discusso e Concluses..................................................... 46

    Tabelas................................................................................ 51

    Referncias......................................................................... 54

    5. SEGUNDO ARTIGO.................................................................. 57 Resumo............................................................................... 59

    Abstract............................................................................... 60

  • Introduo e objetivos......................................................... 61

    Mtodos............................................................................... 66

    Resultados.......................................................................... 68

    Discusso e Concluses..................................................... 70

    Tabelas................................................................................ 73

    Referncias......................................................................... 77

    6. TERCEIRO ARTIGO.................................................................. 82 Resumo............................................................................... 84

    Abstract............................................................................... 86

    Introduo e objetivos......................................................... 88

    Mtodos............................................................................... 88

    Resultados.......................................................................... 93

    Discusso e Concluses..................................................... 94

    Tabelas................................................................................ 99

    Anexos................................................................................ 105

    Referncias......................................................................... 120

    7. RESULTADOS E CONCLUSES FINAIS................................ 123 8. REFERNCIAS......................................................................... 125 9. CURRCULO LATTES: Professor Titular Carlos Augusto Monteiro.........................................................................................

    133

    10. CURRCULO LATTES: Flvio Sarno...................................... 135

  • LISTA DE TABELAS E ANEXOS

    ndice Pgina

    1. INTRODUO

    Grfico 1. Estimativa da produo mundial de sal, de acordo com pases selecionados. 2007 a 1998.

    22

    Tabela 1. Estimativas de consumo de sdio no Brasil, segundo estudos selecionados.

    24

    4. PRIMEIRO ARTIGO Tabela 1. Disponibilidade domiciliar de energia e de sdio, decorrente da aquisio de alimentos, segundo

    macrorregio e situao urbana ou rural do domiclio.

    Brasil, 2002/03.

    51

    Tabela 2. Disponibilidade domiciliar de energia e de sdio, decorrente da aquisio de alimentos, segundo quintos

    crescentes da distribuio de renda domiciliar per capita.

    Brasil, 2002/03.

    52

    Tabela 3. Distribuio (%) da disponibilidade domiciliar de sdio, decorrente da aquisio de alimentos, em quintos

    crescentes da distribuio da renda domiciliar per capita,

    segundo grupos de alimentos. Brasil, 2002/03.

    53

    5. SEGUNDO ARTIGO Tabela 1. Artigos includos na reviso de acordo com autor, ano de publicao e segundo caractersticas das

    populaes submetidas s intervenes.

    73

    Tabela 2. Artigos includos na reviso de acordo com autor, ano de publicao e segundo caractersticas das

    intervenes.

    74

    Tabela 3. Artigos includos na reviso de acordo com autor, ano de publicao e segundo caractersticas das

    intervenes, diferenas avaliadas e resultados e

    75

  • concluses principais.

    6. TERCEIRO ARTIGO Tabela 1. Caractersticas dos participantes antes e aps a interveno e segundo grupo de alocao. So Paulo,

    2006-2007.

    99

    Tabela 2. Frequncias (%) e intervalos de confiana de 95% (IC 95%) do hbito de adicionar sal aos alimentos

    antes e aps a interveno, de acordo com as

    caractersticas dos participantes e segundo grupo de

    alocao. So Paulo, 2006-2007.

    100

    Tabela 3. Frequncias (%) e intervalos de confiana de 95% (IC 95%) do hbito de adicionar sal no prato quente

    antes e aps a interveno, de acordo com as

    caractersticas dos participantes e segundo grupo de

    alocao. So Paulo, 2006-2007.

    102

    Tabela 4. Razo da taxa de incidncia (IRR) dos participantes pertencentes ao grupo interveno no

    momento final, segundo as variveis do estudo. So Paulo,

    2006-2007.

    104

    Anexo 1. Manual. 106 Anexo 2. Mini lbum seriado. 112 Anexo 3. Cartazes ou fundos de bandeja, banners e frases para serem veiculadas por meio da mdia da empresa.

    115

    Anexo 4. Flder e Filipeta. 117 Anexo 5. Comit de tica. 119

  • LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS

    DASH Dietary Approaches to Stop Hypertension Abordagem diettica

    para controle da hipertenso arterial

    DCNT Doenas Crnicas no Transmissveis

    DCV Doena Cardiovascular

    DM Diabetes Mellitus

    EGIR European Group for the Study of Insulin Resistance Grupo

    Europeu para o estudo da resistncia insulina

    EUA Estados Unidos da Amrica

    HA Hipertenso Arterial

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    HDL High Density Lipoprotein Lipoprotena de Alta Densidade

    HOMA Homeostatic Model Assessment Modelo de Avaliao de

    Homeostase

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDF International Diabetes Federation Federao Internacional de

    Diabetes

    LDL Low Density Lipoprotein Lipoprotena de Baixa Densidade

    NCEP National Cholesterol Education Program Programa Nacional de

    Educao em Colesterol

    NHANES National Health and Nutrition Examination Survey Inqurito

    Nacional em Sade e Nutrio

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PAS Presso Arterial Sistlica

    PAD Presso Arterial Diastlica

    PAT Programa de Alimentao do Trabalhador

    PCR Protena C Reativa

    POF Pesquisa de Oramentos Familiares

    SM Sndrome Metablica

    TG Triglicerdeos

    UAN Unidade de Alimentao e Nutrio

  • EQUIVALNCIAS

    1.000 mg de sal 400 mg de sdio 17,4 mmol de sdio

    1 mmol de sdio = 23 mg de sdo

  • 18

    1. INTRODUO

    1.1 Histria do sal

    Sdio, usualmente encontrado nos alimentos na forma de cloreto de

    sdio ou sal, um nutriente essencial para manuteno de vrias funes

    fisiolgicas do organismo: transmisso nervosa, contrao muscular,

    manuteno da presso arterial e equilbrios de fluidos e cido bsico.

    Apesar disso, adicionar sal dieta no necessrio, pois a quantidade

    necessria para repor as perdas do nutriente prxima do contedo j

    existente nos alimentos in natura. Alm disso, o organismo apresenta alta

    capacidade de conservar sdio e perdas importantes do mineral s ocorrem

    em situaes no usuais, como na sudorese prolongada.(1)

    O hbito de acrescentar sal aos alimentos ocorreu apenas com a

    introduo da agricultura, cerca de 10.000 anos atrs. Antes disso, e por

    vrios milhes de anos, os ancestrais dos seres humanos consumiram uma

    dieta que continha quantidades bastante pequenas de sal. Seu uso era

    desconhecido dos povos, geralmente nmades, que viviam da caa e da

    coleta de alimentos, tanto que antigos idiomas no possuem uma palavra

    para sal.(2)

    Uma dieta da era paleoltica compreendendo, em bases energticas,

    aproximadamente dois teros de alimentos de origem vegetal e um tero de

    origem animal, fornecia cerca de 0,8 g de sdio por dia. Para cada 1.000

    Kcal ingeridas, nossos ancestrais consumiam em torno de 0,3 g de sdio,

    em comparao com 1,9 g dos dias atuais.(3)

    H cerca de 5.000 anos, os chineses descobriram que o sal podia ser

    utilizado na preservao dos alimentos, o que permitiu o estoque de

    alimentos, reduziu a necessidade dos povos de migrar e ajudou na fixao

    permanente de grupos de indivduos e no desenvolvimento de

    comunidades.(4) Porm, a adio de sal causou elevao do consumo de

    sdio, para um maquinrio renal ainda geneticamente fixado no perodo de

    nossos antepassados, ou seja, no preparado para excretar as grandes

  • 19

    quantidades de sdio consumidas.(5) A adio de sal aos alimentos durante

    os perodos Neoltico e Industrial causou um aumento de cerca de 400% na

    ingesto de sdio.(6)

    Com o advento da refrigerao, o sal no necessitava mais ser

    utilizado como conservante e sua ingesto comeou a decair. Entretanto, o

    consumo de sal voltou a aumentar com a elevao da ingesto de alimentos

    processados com adio de sal, estando atualmente entre 9 e 12 g por dia

    na maioria dos pases.(4)

    No passado, o sal influenciou profundamente o pensamento, a cultura

    e o estilo de vida humano de uma forma que atualmente no pode mais ser

    devidamente apreciada, agora que se tornou uma substncia facilmente

    disponvel. O ouro branco era motivo de discusso de altas autoridades, de

    forma comparvel ao que o petrleo representa nos dias de hoje.(2)

    O sal est associado com sade: as expresses latinas para sade e

    saudvel, salus e salubris, so derivadas de sal. Em muitas culturas foi o

    equivalente de dinheiro, como na Roma antiga onde os soldados e os

    oficiais eram reembolsados na forma de um salarium, a partir do qual a

    palavra salrio derivada. Na frica, j foi trocado por ouro na proporo de

    um para um.(2)

    O sal desempenhou tambm um papel central na economia de muitas

    regies, o que est muitas vezes refletido nos nomes de diversas

    localidades. Foi utilizado como base para tributao e monoplios foram

    praticados em muitos Estados. O sal esteve tambm no foco de conflitos

    como, por exemplo, na Revoluo Francesa e na Guerra da Independncia

    da ndia.(7)

    A importncia do sal na cultura humana pode ser resumida nas

    palavras de Ritz: ainda hoje, talvez subconscientemente, o sal no se

    tornou uma substncia emocionalmente neutra devido, pelo menos em

    parte, aos resqucios de seus profundos significados simblicos anexados ao

    longo de milnios.(2)

    1.2 Consumo de sdio mtodos de aferio

  • 20

    Os mtodos atualmente disponveis para avaliao de consumo de

    sdio podem ser utilizados isoladamente ou em conjunto: avaliao da

    alimentao (questionrio de frequncia alimentar, dirio alimentar,

    recordatrio alimentar de 24 h e anlise por meio de duplicatas de

    consumo), marcao do sal com ltio, pesagem do sal consumido,

    disponibilidade (aquisio) de alimentos e de sal e dosagem de sdio em

    urina de 8 h, 24 h ou em amostra isolada.(8-11)

    Porm, a avaliao acurada do consumo de sdio pela populao

    permanece uma tarefa difcil de ser realizada. As vrias metodologias

    existentes apresentam limitaes que se devem, em parte, s diversas

    fontes de sdio encontradas na alimentao. Apesar de que mais de 90% do

    sdio consumido provenham do sal (cloreto de sdio), este se encontra

    distribudo entre a ocorrncia natural nos alimentos e sua adio durante o

    processamento, no preparo dos alimentos e mesa. A quantidade de sdio

    presente na gua representa uma frao no significativa de consumo do

    mineral.(12)

    Grande parte da dificuldade em se estimar o consumo de sdio por

    meio de inquritos alimentares se deve frao do consumo total de sal

    adicionada mesa ou no preparo dos alimentos, que em vrias populaes,

    inclusive a brasileira, a frao responsvel pela maior parte do consumo

    de sdio.(13)

    Resultados variados tm sido obtidos na estimativa do consumo de

    sdio, tanto com a utilizao de vrios tipos diferentes de questionrios,

    quanto de mtodos tradicionais de avaliao alimentar.(8, 14, 15) A reviso

    dos questionrios de frequncia alimentar desenvolvidos no Japo para

    avaliar ingesto de sdio mostrou coeficiente de correlao mediano de 0,33

    nos estudos de validao.(16)

    A excreo urinria de sdio de 24 h recomendada pela

    Organizao Mundial da Sade como o melhor mtodo para estimar o

    consumo de sdio.(17) O mtodo captura cerca de 86% do sdio ingerido

    (18), porm o procedimento de coleta necessita de alta adeso do

    participante para o recolhimento completo da urina do perodo. Alm disso,

  • 21

    utilizado isoladamente, o mtodo no possibilita informaes sobre as

    diversas fonte de sdio da alimentao e devido necessidade de se obter

    todas as mices das 24 h, restringe a avaliao do consumo de sdio

    quele realizado dentro do domiclio. Assim, faz-se necessrio avanar em

    formas mais convenientes de avaliar comportamentos de ingesto, bem

    como estimar impactos de intervenes relacionadas ao consumo de

    sal.(19) A escolha da melhor estratgia para anlise do consumo de sdio

    depende no s das limitaes e vantagens de cada mtodo, mas tambm

    dos recursos disponveis e das caractersticas de consumo de sal da

    populao em estudo.

    1.3 Produo e consumo de sal no mundo e no Brasil

    A indstria do sal se refere apenas aos produtores ou tambm a toda

    cadeia de distribuio para os consumidores finais. A estrutura desta

    indstria difere geograficamente, refletindo diversas condies econmicas,

    polticas e culturais. Em alguns sistemas, podem ser pequenas empresas

    familiares e, em outros, grandes aglomerados internacionais que operam em

    diversos continentes. Alm disso, atravs da histria, muitos governos tm

    sido os proprietrios das instalaes de produo de sal, refletindo a

    importncia estratgica do produto.(20)

    Maior produtor tradicional de sal do mundo, os EUA foram superados

    em 2006 pela China. Combinados, os pases representam cerca de 40% da

    produo total de sal do mundo, estimada em 257 milhes de toneladas

    mtricas em 2007. O Brasil apresenta uma produo estvel desde 1998 e

    o oitavo maior produtor de sal do mundo, com 6,9 milhes de toneladas

    mtricas (Grfico 1).(21)

  • 22

    Grfico 1. Estimativas da produo de sal, de acordo com pases selecionados. 2007 a 1998.

    Produo de Sal. 2007 a 1998.

    0.0

    10.0

    20.0

    30.0

    40.0

    50.0

    60.0

    70.0

    2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998

    Milh

    es

    de T

    onel

    adas

    Mt

    ricas

    ChinaEUAAlemanhandiaCanadAustrliaMxicoBrasil

    Recente reviso dos estudos que avaliaram o consumo de sdio em

    diversos pases demonstrou que na maioria das populaes o consumo do

    mineral encontra-se acima de 100 mmol por dia (2,3 g) e, em particular na

    China e Japo, a ingesto mdia esteve acima de 200 mmol por dia (4,6

    g).(22)

    No Brasil, os primeiros estudos sobre consumo de sal datam da

    dcada de 70 do sculo passado. A partir da anlise do gasto mensal ou

    aquisio de alimentos, estimou-se que a disponibilidade domiciliar de sdio

    foi de 5,9 g em 1971-1972 para uma aquisio de 2.000 kcal.(23) Em outros

    estudos, levando-se em conta diferenas de amostragem e metodologia de

    avaliao de consumo de sdio, observou-se que o consumo variou entre

    3,1 g e 4,9 g mmol por dia (tabela 1).

    Em relao procedncia do sdio, existem diferenas importantes

    quando so comparados pases desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos

    primeiros, estima-se que a maior parte do sdio consumido pelos indivduos

    provenha de alimentos processados pela indstria. J nos pases em

  • 23

    desenvolvimento, a maior parte do sdio consumido proveniente do sal de

    cozinha e de condimentos base desse sal adicionados no preparo dos

    alimentos ou mesa.(24)

  • 24

    Tabela 1. Estimativas de consumo de sdio no Brasil, segundo estudos selecionados.

    Referncias Ano da

    pesquisa n

    Metodologia de avaliao do

    sdio

    Caractersticas

    da amostra

    Sdio

    g / dia

    Sarno e cols.,

    2009.(13) 2002 - 2003

    48.470

    domiclios

    Quantidade de alimentos

    adquiridos Brasil 4,7*

    1971 -1972 10.418 Gasto Mensal com aquisio

    dos alimentos Cidade de So Paulo 5,9*

    Claro e cols.,

    2007.(23) 1998 -1999 7.980

    Quantidade de alimentos

    adquiridos Cidade de So Paulo 4,5*

    27 Com histria familiar de

    HAS 3,1

    Moraes e cols.,

    2000.(25) 1990 - 1992

    130

    Urina noturna Sem histria familiar de

    HAS 3,1

    764 Homens 4,9 Molina e cols.,

    2003.(26) 1999 - 2000

    899 Urina noturna

    Mulheres 4,3

    31 Urina de 24 h 6 a 17 anos 3,4 Michelia e Rosa,

    2003.(27) 2000 - 2001

    188 Urina noturna 6 a 17 anos 3,1

    Pavan e cols., 1997.

    (28) 1997** 370 Questionrio alimentar 4,0

    * g de sdio por 2.000 Kcal ** Data da publicao da pesquisa HAS Hipertenso Arterial Sistmica

  • 25

    1.4 Sal e sade

    O consumo excessivo de sal tem se associado com vrios efeitos

    prejudiciais sade. Foram observadas evidncias da associao entre alto

    consumo de sdio e doena cardiovascular, acidente vascular cerebral,

    hipertrofia ventricular esquerda, independentemente ou associadas com a

    elevao da presso arterial. Alm disso, outros agravos incluem neoplasia

    de estmago, doena e calculose renal, osteoporose, asma e obesidade.(4)

    1.4.1 Sdio e presso arterial

    Vrios estudos tm sido conduzidos e, quase todos eles, apoiam o

    conceito de que o consumo de sal um importante fator no aumento da

    presso arterial da populao. Tal conceito est embasado em pesquisas

    com diversos delineamentos, desde estudos em animais, de gentica

    humana, de migrao, com sociedades no aculturadas, at estudos

    observacionais e de interveno.(4) Estima-se que 30% da hipertenso

    arterial possa ser atribuda ao consumo excessivo de sal (29), sendo o

    restante constitudo por gentica, excesso de peso e diminuio do consumo

    de potssio, entre outros fatores.

    Por outro lado, a resposta da presso arterial frente a modificaes no

    consumo de sdio no homognea na populao. Existem indivduos que

    apresentam tendncia maior ou menor para queda ou aumento da presso

    arterial frente a redues ou suplementaes de sal, fenmeno este

    conhecido como sensibilidade ao sal.

    Utilizando-se o mtodo proposto por Weinberger e colaboradores a,

    51% e 33% dos indivduos com hipertenso arterial e 26% e 58% dos

    indivduos normotensos foram classificados como sensveis ou resistentes a Aferio das diferenas de presses arteriais mdias observadas antes e aps a administrao intravenosa de dois litros de soluo salina a 0,9% em 4 h e antes e aps a depleo de sdio da dieta (10 mmol por um dia), associada administrao de furosemida (3 doses de 40 mg). A sensibilidade ao sal foi definida quando da obteno de uma diferena de 10 mmHg ou mais entre as situaes de carga e depleo de sal e a resistncia ao nutriente por uma diferena igual ou menor de 5 mmHg. Os indivduos restantes foram classificados como apresentando resposta indeterminada.

  • 26

    ao sal, respectivamente.(30) Alm da hipertenso arterial, so reconhecidos

    outros determinantes da sensibilidade ao sal, como etnia negra, maior idade

    (31) e histrico de baixo peso ao nascimento (32). Alm disso, fatores

    genticos (33), disfunes renais hereditrias ou adquiridas (34) e dieta (1,

    35) influenciam as modificaes da presso arterial frente s variaes no

    consumo de sal.

    1.4.2 Sdio e Sndrome Metablica

    A Sndrome Metablica consiste de uma complexa inter-relao entre

    fatores de risco para doena cardiovascular, como alterao do metabolismo

    da glicose, aumento da presso arterial e dos nveis de triglicrides,

    diminuio da HDL colesterol e obesidade (particularmente adiposidade

    central). Embora a patognese da Sndrome Metablica no esteja

    completamente estabelecida, seus mltiplos componentes esto conectados

    possivelmente resistncia insulina.(36)

    Estresse oxidativo, disfuno endotelial, sistema renina angiotensina

    aldosterona ativado, aumento de mediadores inflamatrios e apnia do sono

    obstrutiva tm sido propostos como fatores associados hipertenso arterial

    na sndrome metablica, atuando por meio da hiperatividade simptica,

    vasoconstrio, aumento de lquido intravascular e diminuio da

    vasodilatao.(37)

    Alm disso, o excesso de ingesto de sdio e alteraes na

    manipulao do mineral levando sua reteno so conceitos

    fisiopatolgicos bsicos da hipertenso arterial. A insulina apresenta um

    efeito antinatriurtico, estimulando a reabsoro renal de sdio. Este efeito

    claramente mantido e, talvez aumentado, em indivduos com resistncia

    insulina, representando um papel importante no desenvolvimento da

    hipertenso arterial e, possivelmente, da sensibilidade ao sal nestes

    estados.(38)

    Dessa forma, a restrio do consumo de sdio como forma de

    diminuir os nveis de presso arterial tem sido recomendada no apenas nos

  • 27

    casos de hipertenso arterial, mas tambm nos estados onde a doena se

    associa com a resistncia insulina, como na Sndrome Metablica.(39)

    O papel da dieta e dos nutrientes na ocorrncia e no desenvolvimento

    da Sndrome Metablica no esto estabelecidos de forma definitiva e, de

    forma geral, nenhum componente individual da alimentao pode ser

    considerado totalmente responsvel pela associao entre dieta e Sndrome

    Metablica. a qualidade global da dieta que parece oferecer proteo

    contra a sndrome e seus componentes.(40)

    1.4.3 Sdio e Doena Cardiovascular

    Cerca de 54% dos acidentes vasculares cerebrais e 47% da doena

    cardaca isqumica podem ser atribudas elevao da presso arterial,

    perfazendo um total de 13,5% de todas as mortes e 6,0% da morbidade

    ocorridas em 2001 globalmente.(41) Existe uma relao contnua e

    progressiva entre presso arterial e doena cardiovascular, iniciando em

    nveis pressricos de 115 x 75 mmHg, fazendo com que, na maioria dos

    pases, cerca de 80% dos adultos se encontrem sob risco de doena

    cardiovascular.(42)

    As evidncias que apoiam a reduo da ingesto de sal como ao

    de sade pblica para preveno da doena cardiovascular tm sido

    convincentes.(43) Reviso sistemtica e sntese por meta-anlise dos

    estudos prospectivos publicados entre 1966 e 2008 e com seguimentos que

    variaram entre 3,5 a 19 anos demonstraram que o maior consumo de sal

    est associado com aumento do risco de ocorrncia de acidente vascular

    cerebral (23%) e doena cardiovascular (14%).(44) Bibbins-Domingo e

    colaboradores (45) contabilizaram redues anuais de dezenas a centenas

    de milhares no nmero de casos de doena cardiovascular, acidente

    vascular cerebral, infarto do miocrdio e mortes por todas as causas pela

    diminuio para 3 gramas por dia no consumo de sal pela populao,

    resultados que se equiparam aos que podem ser obtidos nas redues do

    tabagismo, obesidade e nveis de colesterol.

  • 28

    Os efeitos da reduo do consumo de sal na presso arterial e na

    doena cardiovascular puderam ser observados no estudo de interveno

    Trials of Hypertension Prevention, Phases I and II (TOHP I e II). No primeiro

    ensaio, os participantes foram seguidos por 18 meses e no segundo por 36

    meses. Comparados com o grupo controle, o grupo interveno obteve

    reduo do consumo de sal de 1,9 g e 2,5 g por dia, com queda de 1,7 / 0,8

    mmHg na presso arterial aos 18 meses e 1,2 / 0,7 mmHg aos 36 meses,

    respectivamente. Dez a quinze anos aps, os indivduos originalmente

    alocados no grupo que obteve reduo no consumo de sal apresentaram

    25% a 30% menor incidncia de eventos cardiovasculares.(46)

    1.5 Intervenes e consumo de sdio

    1.5.1 Ambiente de trabalho

    Vrias razes indicam o ambiente de trabalho como um dos locais

    adequados para intervenes promotoras de sade. Em primeiro lugar,

    proporcionam acesso a um importante segmento da populao (adultos

    jovens e de meia idade), cuja abordagem seria dificultada de outra forma. No

    Brasil existem cerca de 50 milhes de trabalhadores empregados (47) e um

    indivduo adulto chega a passar um tero do seu dia no local de trabalho,

    fazendo, ao menos, uma grande refeio durante sua jornada laboral. Em

    segundo lugar, o ambiente de trabalho permite o acesso continuado aos

    funcionrios e programas de interveno podem ser oferecidos

    continuamente. Este contacto intenso pode facilitar mudanas nos hbitos e

    comportamentos dessa populao.(48)

    Finalmente, o ambiente de trabalho pode propiciar intervenes de

    diferentes nveis - individual, ambiental e organizacional -, permitindo uma

    maior sustentao das mudanas favorveis obtidas. Em nvel individual, as

    intervenes podem utilizar vrias estratgias e ferramentas educacionais;

    no ambiente, h possibilidade de se aumentar as oportunidades e reduzir as

    barreiras para comportamentos saudveis e, do ponto de vista

  • 29

    organizacional, mecanismos de suporte podem reforar e encorajar aes

    positivas para sade.(49)

    Em reviso do estado da arte dos programas de promoo de sade

    no local de trabalho, Goetzel e Ozminkowski identificaram os seguintes

    fatores que tornariam estes programas eficazes: a) Integrar os programas

    nas operaes centrais das empresas; b) direcionar as abordagens para

    componentes individuais, ambientais, polticos e culturais; c) abordar vrios

    problemas de sade em simultneo; d) criar programas para fazer face s

    necessidades especficas da populao; e) procurar alcanar altas taxas de

    participao; f) avaliar rigorosamente os resultados e g) comunicar

    eficazmente estes resultados para os principais interessados.(50)

    1.5.2 Reduo do consumo de sdio

    Os primeiros estudos que utilizaram a reduo do consumo de sal no

    controle da presso arterial datam do incio do sculo 20.(51) Esses

    resultados foram confirmados durante vrios anos por diversos

    pesquisadores, mas foi apenas aps o estudo de Kempner (52) que a

    restrio de sal para o tratamento da hipertenso arterial se tornou

    largamente utilizada.(4)

    Vrias meta-anlises e revises dos ensaios para reduo de

    consumo de sal e seu impacto na presso arterial tm sido realizadas.

    Quando foram analisados os estudos com um ou mais meses de durao

    que testaram redues moderadas de sal (4,3 a 4,6 g), foram observadas

    pequenas, porm de um ponto de vista populacional, significativas

    diminuies na presso arterial frente s redues no consumo de sal, tanto

    em indivduos hipertensos como normotensos. Alm disso, foi observado um

    efeito dose resposta entre a reduo do sdio urinrio e a diminuio da

    presso arterial.(53) Esses dados foram posteriormente atualizados,

    analisando-se agora 20 ensaios clnicos em indivduos com presso arterial

    elevada (17 no estudo anterior) e 11 ensaios clnicos em normotensos

  • 30

    (mesmo nmero que anteriormente) e, novamente, os resultados foram

    confirmados.(54)

    A reviso dos estudos de interveno com durao de 3 ou mais

    meses, que analisaram os efeitos do aconselhamento diettico na reduo

    de fatores de risco cardiovascular em adultos saudveis, demonstrou que a

    diminuio no consumo de sal em 2,5 g por dia produziu uma reduo mdia

    de 2,1 mmHg na PAS e de 1,2 mmHg na PAD.(55)

    1.5.3 Dieta DASH

    Em 1997 foi publicado um ensaio clnico que avaliou os efeitos dos

    padres dietticos sobre a presso arterial. Foram includos 459 adultos com

    presso arterial sistlica inferior a 160 mmHg e presso arterial diastlica de

    80 a 95 mmHg. Durante 8 semanas, os participantes foram aleatorizados

    para consumir uma dieta controle (pobre em frutas, verduras e laticnios e

    com teores de gordura tpicos da dieta mdia nos EUA), uma dieta rica em

    frutas e legumes ou uma dieta rica em frutas, verduras e produtos lcteos

    com baixos teores de gordura total e de gordura saturada. A ingesto de

    sdio e o peso corporal foram mantidos em nveis constantes. Os

    participantes que consumiram a ltima de dieta (que mais tarde ficaria

    conhecida como dieta DASH Dietary Approach to Stop Hypertension)

    apresentaram redues maiores das presses arteriais sistlica e diastlica

    de 5,5 e 3,0 mmHg, respectivamente, em comparao com a dieta controle,

    tendo sido os resultados mais expressivos entre os indivduos com

    hipertenso arterial (redues de 11,4 e 5,5 mmHg).(56)

    Anos mais tarde, foram estudados os efeitos de diferentes nveis de

    sdio na dieta DASH, em comparao com dietas controles tpicas de

    consumo nos EUA. Os participantes alocados no grupo da dieta DASH e

    controle com altos teores de sdio apresentaram excreo urinria mdias

    de sdio de 24 horas de 144 e 141 mmol/d, no grupo intermedirio de sdio

    de 107 e 106 mmol/d e no grupo de baixos teores de 67 e 64 mmol/d,

    respectivamente. Concluiu-se que tanto a reduo de sdio quanto a dieta

  • 31

    DASH foram capazes de reduzir a presso arterial, sendo que os maiores

    efeitos foram observados na combinao de ambos.(57)

    1.6 Controvrsias

    Na literatura, possvel se encontrar estudos que colocam dvidas

    quanto efetividade e segurana da reduo do consumo de sal pela

    populao.

    Aqueles a favor da reduo alegam que a recomendao justificada

    porque ficou provada de forma convincente que a restrio de sdio diminui

    a presso arterial e que isto certamente ir prevenir a ocorrncia de

    acidentes vasculares cerebrais e de infartos do miocrdio. Os cticos

    argumentam que a modificao desta nica varivel no garante um

    benefcio sade e, alm disso, poderia afetar, de forma desfavorvel,

    outros marcadores de doena cardiovascular.(58)

    Fatores genticos, comportamentais e ambientais determinam grande

    variao individual de consumo de sdio. Porm, uma reviso recente que

    analisou 62 pesquisas publicadas entre 1982 e 2008, compreendendo

    19.151 participantes em 33 pases, constatou uma gama mundial bastante

    estreita de consumo de sdio (mdia de 3,7 g/d). Alm disso, no ficou

    demonstrado que a ingesto de sdio tem aumentado ao longo do

    tempo.(59) Segundo alguns autores, estes resultados podem fornecer

    explicao para a dificuldade em limitar o consumo de sdio, aps dcadas

    de esforos: por apresentar um parmetro fisiolgico definido, o consumo

    de sdio pode no ser influenciado por intervenes de sade pblica.(59)

    De outro lado, Cook e colaboradores relatam que as concluses a

    cerca dos efeitos deletrios da reduo do consumo de sdio esto

    baseadas em estudos de baixa qualidade, com srias falhas metodolgicas

    e em erros de interpretao: contabilizao de estudos nos quais os

    pacientes hipertensos estavam fora da terapia anti-hipertensiva e foram

    instrudos a evitar alimentos de elevado teor de sal antes das avaliaes de

    excreo de sdio; incluso de pacientes com grave insuficincia cardaca e

  • 32

    sob uso de diurticos, nos quais a restrio de sdio pode mesmo ser

    prejudicial e falha na interpretao dos resultados do ensaio ranzomizado de

    reduo de consumo de sdio TOPH (Trials of Hypertension Prevention

    Prevention), quando se alegou ter o estudo apresentado um efeito nulo

    sobre a mortalidade.(60)

    Alm disso, as associaes nulas ou deletrias entre baixo consumo

    de sdio e hipertenso arterial ou doena cardiovascular tm sido atribudos,

    no geral, questionvel utilizao de mtodos dietticos para avaliar o

    consumo do nutriente.(61) A dificuldade destes mtodos em estimar a frao

    de adio de sdio no preparo ou mesa podem causar distores nas

    associaes entre sdio e os desfechos analisados.

    Da mesma forma, medidas no acuradas de presso arterial podem

    distorcer as associaes com o consumo de sdio. Tipo (mercrio, aneroide

    ou dispositivos hbridos), validao e calibrao do aparelho de presso

    arterial, local da medida (consultrio versus em casa), treinamento do

    observador, posio do paciente e seleo do tamanho do manguito do

    aparelho so fatores importantes na acurcia da medida da presso arterial.

    A utilizao da monitorizao por 24 h constitui-se em medida mais fidedigna

    da presso arterial, pois permite a feitura de medidas repetidas, o clculo da

    presso arterial mdia e avaliao da queda noturna da presso arterial.(62)

    Deve-se ter em mente tambm nos estudos que analisam

    associaes entre a reduo do consumo de sdio e a presso arterial ou

    risco cardiovascular, a no determinao da ingesto de potssio pode

    causar modificaes nestas associaes, pois este ltimo induz reduo dos

    nveis tensionais.(63)

    Em dois estudos de reviso, concluiu-se que a reduo de sal

    apresentou pequeno efeito sobre a presso arterial em indivduos com

    presso arterial normal e no se justificava uma reduo de sal pela

    populao como um todo.(64, 65) No entanto, esses estudos incluram

    pesquisas de curta durao (14 e 8 dias, respectivamente) e algumas

    comparando os efeitos agudos de consumo de sal com severa restrio do

    nutriente (de 20 g para menos de 1 g de sal por dia). Sabe-se que essas

  • 33

    alteraes agudas na ingesto de sal podem aumentar a atividade

    simptica, a atividade da renina plasmtica, angiotensina II e aldosterona,

    (66) que poderiam contrabalanar os efeitos de reduo da presso arterial.

    Quando a reduo no consumo de sal modesta, ocorre pequeno aumento

    da atividade da renina (53) e no se detectam alteraes na atividade

    nervosa simptica.(67) Portanto, no seria apropriado incluir ensaios de

    restries agudas de sal em uma meta-anlise, cujos resultados seriam

    utilizados como base para recomendaes de sade pblica de redues

    modestas e de longo prazo na ingesto de sal.(4)

    Alm dos efeitos no sistema nervoso e no sistema renina angiotensina

    aldosterona, tm sido descritos tambm efeitos adversos no perfil

    lipdico.(68) Porm, com redues moderadas de sdio no foram

    observadas modificaes no colesterol total, triglicrides e protenas de

    baixa e alta densidades.(53) Outros estudos tm documentado modificaes

    na tolerncia glicose e sensibilidade insulina. Contudo, a maioria

    envolve, novamente, alteraes intensas no consumo de sal realizadas em

    poucos dias.(69) Estudos de mdio prazos com redues moderadas na

    ingesto de sal no observaram efeito significativo no metabolismo da

    glicose.(70)

    Finalmente, os efeitos da reduo ou suplementao de sdio na

    presso arterial dependem das condies iniciais da interveno, em relao

    ao consumo de sdio. Quando se aumentou a ingesto de sdio, partindo-se

    de um nvel de consumo baixo, observou-se, como esperado, reteno de

    sdio e fluido. Porm, quando a carga de sdio foi fornecida a partir de um

    nvel mdio de consumo, houve novamente reteno de sdio, mas no de

    fluidos, demonstrando-se, desta forma, diferenas nos balanos de sdio e

    gua no organismo, na dependncia de as cargas de sal se iniciarem de

    situaes onde existe consumo baixo ou mdio de sdio. Estimou-se que

    78% do sdio retido foi armazenado em uma forma osmoticamente inativa,

    alm de no terem sido observadas modificaes significativas na presso

    arterial.(71)

  • 34

    2. OBJETIVOS

    1- Estimar a disponibilidade de sdio no Brasil.

    2- Avaliar os efeitos de dietas com baixos teores de sdio na

    Sndrome Metablica e/ou resistncia insulina.

    3- Avaliar o impacto de interveno voltada para reduo da adio

    de sal aos alimentos.

    2.1. Objetivos especficos

    1- Estimar a disponibilidade de sdio no Brasil, por macrorregio,

    situao do domiclio (urbana ou rural) e por classe de renda, bem

    como avaliar as principais fontes de sdio.

    2- Revisar a literatura de forma sistemtica acerca dos ensaios

    clnicos realizados em adultos entre os anos de 2004 e 2008.

    3- Avaliar o impacto de interveno realizada em trabalhadores de

    empresas da cidade de So Paulo.

  • 35

    3. MTODOS

    As respostas aos objetivos apresentados sero fornecidas por meio

    dos trs artigos que compem esta tese.

    Por se tratarem de artigos independentes, com base de dados e

    anlises estatsticas diferentes, os detalhamentos de cada um dos mtodos,

    resultados, concluses e referncias esto includos nos textos dos

    respectivos artigos.

  • 36

    4. PRIMEIRO ARTIGO

    Publicado na Revista de Sade Pblica. 2009;43(2):219-225.

    ISSN 0034-8910. doi: 10.1590/S0034-89102009005000002.

  • 37

    Estimativa de consumo de sdio pela populao brasileira, 2002-2003

    Estimated sodium intake by the Brazilian population, 2002-2003

    Flvio Sarno I; Rafael Moreira Claro I; Renata Bertazzi Levy II; Daniel Henrique Bandoni I, III; Sandra Roberta Gouva Ferreira III; Carlos Augusto Monteiro II, III

    I Programa de Ps-Graduao de Nutrio em Sade Pblica. Faculdade de

    Sade Pblica (FSP). Universidade de So Paulo (USP). So Paulo, SP,

    Brasil

    II Ncleo de Pesquisas Epidemiolgicas em Nutrio e Sade. FSP-USP.

    So Paulo, SP, Brasil

    III Departamento de Nutrio. FSP-USP. So Paulo, SP, Brasil

  • 38

    Resumo Objetivos: Estimar a magnitude e a distribuio regional e socioeconmica do consumo de sdio no Brasil e identificar as fontes alimentares que mais

    contribuem para esse consumo. Mtodos: As estimativas foram baseadas nos dados da Pesquisa de Oramentos Familiares, realizada no Brasil entre

    julho de 2002 e junho de 2003. Foram analisados 969.989 registros de

    aquisio de alimentos efetuados por uma amostra probabilstica de 48.470

    domiclios localizados em 3.984 setores censitrios do Pas. Realizou-se

    converso dos registros das aquisies de alimentos em nutrientes por meio

    de tabelas de composio de alimentos. Foram calculadas as

    disponibilidades mdias de sdio por pessoa e por dia e as disponibilidades

    mdias ajustadas para um consumo energtico equivalente a 2.000 kcal.

    Calculou-se a contribuio de grupos de alimentos selecionados para o total

    de sdio disponvel para consumo no domiclio. As estimativas so

    apresentadas segundo regies, situao urbana ou rural do domiclio, e

    estratos de renda. Resultados: A quantidade diria de sdio disponvel para consumo nos domiclios brasileiros foi de 4,5 g por pessoa (ou 4,7 g para

    uma ingesto diria de 2.000 kcal), excedendo, assim, em mais de duas

    vezes o limite recomendado de ingesto desse nutriente. Embora a maior

    parte do sdio disponvel para consumo em todas as classes de renda

    provenha do sal de cozinha e de condimentos base desse sal (76,2%), a

    frao proveniente de alimentos processados com adio de sal aumenta

    linear e intensamente com o poder aquisitivo domiciliar, representando 9,7%

    do total de sdio no quinto inferior da distribuio da renda per capita e

    25,0% no quinto superior. Concluses: Os resultados indicam que o consumo de sdio no Brasil excede largamente a recomendao mxima

    para esse nutriente em todas as macrorregies brasileiras e em todas as

    classes de renda.

  • 39

    Descritores: Sdio na Dieta. Consumo de Alimentos. Fatores Socioeconmicos. Brasil.

  • 40

    Abstract Objectives: To estimate the magnitude and distribution of sodium intake in Brazil and to identify major dietary sources contributing to this intake.

    Methods: Estimates were based on data from a Brazilian household budget survey carried between July 2002 and June 2003. A total of 969,989 food

    purchase records from a probabilistic sample of 48,470 households located

    in 3,984 census tracts across the country were analyzed. Purchase records

    were converted into nutrients using food composition charts. Mean sodium

    availability per person per day and mean adjusted availability considering a

    2,000 kcal daily energy intake were calculated, as well as the contribution of

    selected food groups to total household sodium availability. Estimates are

    presented according to geographical region, urban or rural status of the

    household, and income stratum. Results: Mean daily sodium availability in Brazilian households was 4.5 g per person (or 4.7 g considering a daily

    calorie intake of 2,000 kcal), thus exceeding by more than two times the

    recommended levels of intake for this nutrient. Although most of the sodium

    available for intake across all income strata was derived from kitchen salt or

    salt-based condiments (76.2%), the fraction derived from processed foods

    with added salt showed a strong linear increase as household purchasing

    power increased, representing 9.7% of total sodium intake in the lower

    quintile of the per capita income distribution and 25.0% in the upper quintile.

    Conclusions: Results indicate that sodium intake in Brazil widely exceeds the maximum recommended intake level for this nutrient in all of the country's

    macro regions and across all income strata.

    Key words: Sodium, Dietary; Food Consumption; Socioeconomic Factors; Brazil.

  • 41

    Introduo

    So vrias as evidncias que relacionam o consumo excessivo de sal

    ao desenvolvimento de doenas crnicas.(1) Estima-se que, entre 25 e 55

    anos de idade, uma diminuio de apenas 1,3 g na quantidade de sdio

    consumida diariamente se traduziria em reduo de 5 mmHg na presso

    arterial sistlica ou de 20% na prevalncia de hipertenso arterial. Alm

    disso, haveria tambm substanciais redues na mortalidade por acidentes

    vasculares cerebrais (14%) e por doena coronariana (9%), representando

    150.000 vidas salvas anualmente em todo o mundo.(2) O consumo

    excessivo de sal tambm est associado ao cncer gstrico (3) podendo

    contribuir, ainda, para o desenvolvimento de osteoporose.(4)

    Nos pases desenvolvidos, que contam com estimativas confiveis

    sobre o consumo de sdio, a ingesto desse mineral tende a ultrapassar o

    limite mximo de 2 g (ou 5 g de sal) por pessoa por dia recomendado pela

    Organizao Mundial da Sade (OMS),(5) sendo a maior parte deste sdio

    proveniente de alimentos industrializados.(6-8)

    Nos pases em desenvolvimento, as informaes sobre o consumo de

    sdio ainda so escassas em face da complexidade envolvida na avaliao

    de sua ingesto pelos indivduos.

    Estimativa indireta, calculada a partir da quantidade de sal por

    habitante comercializada pelas indstrias brasileiras do setor, indicam que o

    consumo de sdio no Brasil ultrapassa o limite mximo recomendado para

    sua ingesto.b,c concluso semelhante chegaram estudos realizados em

    trs cidades brasileiras a partir do perfil de aquisio de alimentos pelas

    famlias (9) ou de estimativas diretas obtidas com a avaliao da excreo

    urinaria de sdio.(10)

    a Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno Sade. Coordenao-Geral da Poltica de Alimentao e Nutrio. Guia alimentar para a populao brasileira: promovendo a alimentao saudvel. Braslia; 2005. b Servio Nacional de Aprendizagem Industrial. Plano de apoio ao desenvolvimento da cadeia produtiva do sal. [Acesso em 18/04/08]. Disponvel em: http://www.fiern.org.br/servicos/estudos/mossoro/cadeia_produtiva_sal.htm

  • 42

    O presente estudo objetiva estimar o consumo de sdio pela

    populao brasileira e identificar as fontes alimentares que mais contribuem

    para este consumo.

    Mtodos

    Os dados analisados procedem da Pesquisa de Oramentos

    Familiares (POF) realizada entre julho de 2002 e junho de 2003 pelo Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    De forma resumida, a POF uma pesquisa que objetiva a obteno

    de informaes acerca dos rendimentos e despesas das famlias brasileiras.

    A edio 2002/03 estudou uma amostra probabilstica representativa do

    conjunto dos domiclios brasileiros, bem como das cinco macrorregies do

    Pas conforme situao urbana ou rural do domiclio. Para tanto, foi utilizado

    um plano amostral complexo, envolvendo a constituio prvia de estratos

    sociogeogrficos (em nmero de 443) integrados por setores censitrios

    pertencentes a um mesmo domnio territorial (regio, Estado e situao

    urbana ou rural do setor) e homogneo quanto ao nvel de escolaridade do

    chefe do domiclio no setor (informao obtida do Censo Demogrfico de

    2000). Posteriormente, realizou-se sorteio de setores censitrios (unidades

    primrias de amostragem) dentro de cada estrato e sorteio de domiclios

    (unidades secundrias de amostragem) dentro de cada setor. Por fim, para

    que a coleta de dados fosse uniforme nos quatro trimestres do ano, as

    entrevistas realizadas dentro de cada estrato foram distribudas para estudo

    ao longo dos 12 meses de durao da pesquisa. Detalhes do plano amostral

    da POF esto descritos em outra publicao.d

    A informao central analisada compreende os registros de todas as

    aquisies de alimentos e bebidas feitas ao longo de sete dias consecutivos

    pelos domiclios que integraram a amostra da POF 2002/03 (969.989

    d Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Coordenao de ndices de Preos. Pesquisa de oramentos familiares 2002-2003: anlise da disponibilidade domiciliar e estado nutricional no Brasil. Rio de Janeiro; 2004.

  • 43

    registros efetuados por 48.470 domiclios localizados em 3.984 setores

    censitrios). Considerando que o perodo de referncia de sete dias para a

    coleta de informaes no suficiente para caracterizar o padro de

    aquisio de alimentos em cada domiclio, adotamos como unidade de

    estudo os agrupamentos de domiclios correspondentes aos 443 estratos da

    amostra da POF, no o domiclio individual estudado. Esses estratos so

    constitudos por unidades domiciliares homogneas do ponto de vista de

    domnio territorial e condio socioeconmica das famlias, estudadas de

    modo uniforme ao longo dos quatro trimestres do ano. O nmero mdio de

    domiclios estudados em cada estrato da POF 2002/03 foi de 109,6,

    variando de 9 a 804. O peso amostral de cada unidade de estudo (estrato de

    domiclios) corresponde somatria dos pesos amostrais dos domiclios que

    constituem o estrato.

    Inicialmente, excluiu-se, quando necessrio, a frao no comestvel

    da quantidade bruta em gramas de cada alimento adquirido pelos domiclios,

    usando-se para tanto fatores de correo recomendados pelo IBGE.e A

    quantidade comestvel de cada alimento foi ento convertida em energia

    (kcal) e sdio (gramas) utilizando a Tabela Brasileira de Composio dos

    Alimentos - verso 1f ou, na ausncia desta, a tabela oficial de composio

    de alimentos dos Estados Unidos, verso 15. No caso especfico da

    aquisio de alimentos preservados em sal, como charque, carne seca e de

    sol e peixes salgados, considerou-se a quantidade equivalente do alimento

    aps hidratao e a concentrao de sdio referente ao alimento j

    dessalgado.

    Aps a converso dos registros semanais das aquisies de

    alimentos em nutrientes, calculou-se, para cada unidade de estudo (estratos

    de domiclios), a disponibilidade diria por pessoa de energia e de sdio.

    Adicionalmente, visando a contornar o fato de que se analisa a

    disponibilidade domiciliar de sdio e no o consumo efetivo desse nutriente,

    d Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Estudo Nacional da Despesa Familiar ENDEF 1974/75. Rio de Janeiro; 1978. e Universidade Estadual de Campinas. Ncleo de Estudos e Pesquisas em Alimentao. Tabela brasileira de composio de alimentos TACO: verso 1. Campinas; 2004.

  • 44

    visto que no so consideradas as refeies feitas fora do domiclio, nem a

    frao de alimentos adquiridos e no consumidos, calculou-se a

    disponibilidade de sdio ajustada para um valor energtico total de 2.000

    kcal, correspondente recomendao brasileira para a ingesto diria per

    capita de energia.

    Mdias da disponibilidade de sdio (e respectivos erros padro) so

    apresentadas para o Pas como um todo, para as cinco macrorregies

    geogrficas, desagregadas em situao urbana ou rural e para quintos da

    distribuio da renda per capita observada nos 443 estratos. A participao

    percentual de grupos de alimentos na disponibilidade domiciliar total de

    sdio descrita para o Pas como um todo e segundo quintos da distribuio

    da renda per capita.

    Assim, os alimentos adquiridos pelas famlias foram divididos em

    quatro grupos: 1) sal e condimentos base de sal; 2) alimentos processados

    com adio de sal; 3) alimentos in natura ou alimentos processados sem

    adio de sal; e 4) refeies prontas. Anlises de regresso linear foram

    empregadas para testar a relao entre renda familiar (quintos da

    distribuio da renda per capita dos estratos de domiclios) e a contribuio

    de cada grupo de alimentos para o total de sdio.

    Para a converso das quantidades (kg) brutas adquiridas de

    alimentos em nutrientes (kcal e sdio) utilizou-se o aplicativo AQUINUT.g

    Para todos os demais procedimentos e para as anlises estatsticas

    empregou-se o aplicativo Stata verso 9.2, considerando os pesos amostrais

    das unidades de estudo.

    Resultados

    A tabela 1 apresenta estimativas para a disponibilidade domiciliar de

    sdio no Brasil e nas macrorregies. Para o Pas como um todo, a

    quantidade de sdio disponvel para consumo foi de 4,5 gramas por pessoa

    f Ncleo de Pesquisas Epidemiolgicas em Nutrio e Sade. Conversor de aquisies de alimento em energia e nutrientes (AQUINUT): verso 1.0 [Internet] [Acesso em 12/10/07]; Disponvel em: http://www.fsp.usp.br/nupens

  • 45

    por dia (g/p/d), portanto mais de duas vezes superior ao limite mximo de

    consumo de 2 g/p/d. Em nenhuma regio brasileira a disponibilidade

    domiciliar de sdio foi inferior a 4 g/p/d. Em todas as regies, a

    disponibilidade de sdio foi maior nos estratos de domiclios rurais. A menor

    disponibilidade de sdio, encontrada nos estratos de domiclios urbanos da

    regio Centro-Oeste, superou em 70% o consumo mximo recomendado. A

    disponibilidade de sdio ajustada para um consumo de 2.000 kcal dirias

    no alterou substancialmente o cenrio de consumo excessivo em todas as

    regies do Pas, atenuando apenas o excesso adicional observado nas

    reas rurais.

    A tabela 2 apresenta estimativas para a disponibilidade domiciliar de

    sdio segundo quintos da distribuio da renda per capita observada nos

    estratos de domiclios. A disponibilidade domiciliar de sdio ajustada para

    um consumo de 2.000 kcal/p/d excedeu em duas vezes e meia a ingesto

    mxima recomendada nos dois quintos de menor renda e em pouco mais de

    duas vezes nos trs quintos de maior renda.

    A tabela 3 descreve a contribuio de grupos de alimentos para a

    disponibilidade domiciliar total de sdio. Levando em conta o conjunto dos

    domiclios brasileiros, verifica-se que cerca de trs quartos do sdio

    disponvel para consumo provm da aquisio de sal de cozinha (71,5%) ou

    de condimentos base desse sal (4,7%). O restante do sdio disponvel

    para consumo provinha da aquisio de alimentos processados com adio

    de sal (15,8%), de alimentos in natura ou alimentos processados sem adio

    de sal (6,6%) e de refeies prontas (1,4%). Embora majoritria em todos os

    grupos de renda, a contribuio do sal de cozinha e dos condimentos base

    de sal decresceu de forma linear com o aumento da renda (p < 0,001),

    variando de 83,8% no quinto de menor renda a 62,5% no quinto de maior

    renda. Por outro lado, a contribuio de alimentos processados com adio

    de sal apresentou relao direta com a renda per capita (p < 0,001),

    aumentando duas e meia vezes do quinto de menor (9,7% do total de sdio)

    para o quinto de maior renda (25,0% do total de sdio). A contribuio de

    refeies prontas para o total de sdio disponvel para consumo nos

  • 46

    domiclios, embora pequena, tambm aumentou intensamente com a renda

    per capita (p < 0,001), representando 0,4% do total de sdio no quinto de

    menor renda e 3,7% no quinto de maior renda. A contribuio do conjunto de

    alimentos in natura e dos alimentos processados sem adio de sal para o

    total de sdio foi relativamente pequena e estvel nos trs primeiros quintos

    da distribuio da renda, cerca de 6%, aumentando para 7,3% e 8,8% nos

    dois quintos de maior renda.

    Discusso

    Os resultados encontrados no presente estudo indicam que a

    quantidade de sdio disponvel para consumo nos domiclios brasileiros

    excede em mais de duas vezes a ingesto mxima recomendada.(5)

    Excesso na disponibilidade de sdio foi encontrado em todas as

    macrorregies do Pas, no meio urbano e no meio rural e em todas as

    classes de renda.

    Embora em todas as classes de renda a maior parte do sdio

    disponvel para consumo provenha do sal de cozinha e de alimentos base

    desse sal, a frao proveniente de alimentos processados com adio de sal

    aumenta sua importncia com o poder aquisitivo domiciliar, representando

    9,7% do total de sdio no quinto inferior da distribuio da renda per capita e

    25,0% no quinto superior.

    Destaca-se que os dados da POF referem-se disponibilidade

    domiciliar de sdio e no ao consumo efetivo deste nutriente, visto que no

    foram consideradas as refeies feitas pelos indivduos fora do domiclio,

    nem a frao de alimentos adquiridos, mas no consumidos. Visando a

    contornar essas limitaes, apresentamos estimativas para as

    disponibilidades de sdio ajustadas para uma disponibilidade fixa de 2.000

    kcal/p/d. A eficcia deste ajuste pressupe duas premissas bsicas: 1) a de

    que as refeies feitas fora do domiclio tenham teor de sdio semelhante ao

    das refeies feitas no domicilio e 2) a de que a frao desperdiada dos

    alimentos seja independente do seu teor de sdio.

  • 47

    Embora no conheamos estudos brasileiros que tenham comparado

    o teor de sdio de refeies feitas dentro e fora do domiclio, de modo geral,

    admite-se que as refeies feitas fora de casa tendam a apresentar maior

    teor de sdio.(11) Se este fenmeno for de fato observado no Brasil, o real

    consumo de sdio pela populao poderia ser mesmo maior do que aquele

    estimado neste estudo. A ingesto de sdio poderia estar subestimada

    particularmente no meio urbano, onde o hbito de fazer refeies fora do

    domiclio tende a ser mais comum. Utilizando os dados da POF 2002/03,

    estimamos que os alimentos consumidos fora do domiclio representem 24%

    das despesas totais com alimentao para famlias urbanas e 12% para

    famlias rurais.

    Dois procedimentos culinrios domsticos podem fazer com que o

    desperdcio de sal de cozinha, a maior fonte de sdio da dieta brasileira, seja

    superior ao dos demais itens da dieta: a coco de alimentos em gua de

    salmoura e o salgamento de alimentos. No Brasil, os alimentos que mais

    comumente so cozidos em gua de salmoura so macarro, batata e

    cenoura. Considerando-se a quantidade mdia que as famlias brasileiras

    adquirem desses alimentos,h a concentrao de sal habitual na gua de

    salmoura i(12) e estimativas sobre a frao de sal retida por esses alimentos

    aps sua coco,(13) estima-se que a coco do macarro, da batata e da

    cenoura determinaria um desperdcio de sal equivalente a 9% do total de

    sdio adquirido pelas famlias brasileiras. Este desperdcio no seria

    suficiente para modificar as concluses do presente estudo com relao ao

    consumo excessivo de sdio no Brasil.

    No fcil avaliar o possvel impacto do salgamento domstico de

    alimentos no desperdcio de sal. De qualquer modo, a excepcionalidade

    desta prtica no meio urbano indica efeito pequeno das estimativas feitas

    para os cerca de quatro quintos dos brasileiros que vivem nas cidades. A

    g Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Coordenao de ndices de Preos. Pesquisa de Oramentos Familiares 2002-2003: anlise da disponibilidade domiciliar e estado nutricional no Brasil. IBGE; 2004. h Pinheiro ABV, Lacerda EMA, Benzecry EH, Gomes MCS, Costa VM. Tabela para avaliao de consumo alimentar em medidas caseiras. 3. ed. Rio de Janeiro; 1993.

  • 48

    possvel maior frequncia do salgamento domstico no meio rural poderia,

    por outro lado, justificar a maior disponibilidade de sdio evidenciada nos

    domiclios rurais.

    Apesar das limitaes caractersticas das POF, estimativas mdias do

    consumo de vrios grupos de alimentos obtidas a partir de inquritos de

    compra de alimentos tendem a concordar com resultados obtidos por meio

    de inquritos individuais de consumo.(14, 15) Ademais, no caso de

    alimentos utilizados como ingredientes de preparaes, como leo, acar e

    condimentos, admite-se que inquritos de compra possam refletir melhor a

    ingesto real dos indivduos, do que inquritos de consumo. Isso ocorreria

    em face da dificuldade dos indivduos em relatar a quantidade consumida de

    alimentos ingeridos como parte de preparaes.(14)

    Outra limitao relativa estimativa do consumo de sdio, comum a

    todos os inquritos dietticos, decorre do uso de tabelas de composio de

    alimentos, que nem sempre avaliam com preciso o teor de sdio dos

    alimentos consumidos pelos indivduos. No caso do presente estudo, para a

    maior parte dos alimentos, empregou-se tabela construda a partir de anlise

    bromatolgica direta de alimentos comercializados no Brasil (Tabela

    Brasileira de Composio de Alimentos), fato que determinou que 97% do

    total de sdio disponvel para consumo nos domiclios pesquisados pela

    POF 2002/03 sejam procedentes de alimentos cuja composio foi avaliada

    por essa tabela (dados no mostrados).

    A comparao das estimativas feitas para o Brasil com estimativas de

    outros pases dificultada pelo uso de diferentes metodologias de avaliao

    do consumo de sdio. Inquritos populacionais realizados em pases

    desenvolvidos indicam, de modo geral, consumo excessivo de sdio com

    estimativas variando entre 3,0 e 4,2 g/p/d.(7, 8) Ainda que menos

    frequentes, estudos realizados em pases em desenvolvimento tambm

    indicam excesso de consumo de sdio, com estimativas entre 3,4 a 5,6

    g/p/d.(16, 17)

    A partir de dados fornecidos pelas indstrias salineiras brasileiras

    sobre a produo de sal para consumo humano e considerando a populao

  • 49

    brasileira no ano de 2000, estimou-se para aquele ano uma disponibilidade

    per capita de sdio de 6,0 gramas por dia, valor trs vezes superior ao limite

    recomendado de consumo dirio desse mineral.a,b Anlise a partir de dados

    provenientes da Pesquisa de Oramentos Familiares da Fundao Instituto

    de Pesquisas Econmicas, realizada na cidade de So Paulo em 1999,

    estimou que a disponibilidade domiciliar diria de sdio era de 4,4 g para

    uma aquisio de 2.000 kcal.(9) Portanto, muito semelhante ao valor

    estimado pelo presente estudo para o conjunto dos domiclios brasileiros.

    Dois estudos realizados no Brasil, em perodos prximos ao ano

    2000, avaliaram o consumo de sdio a partir da excreo desse mineral na

    urina e encontraram estimativas de consumo de sdio bastante prximas

    observada no presente estudo. O primeiro desses, realizado em amostra

    probabilstica da populao da cidade de Vitria (ES), entre 25 a 64 anos de

    idade, estimou o consumo de sdio em 5,0 g/p/d.(18) O segundo estudo,

    realizado entre crianas e adolescentes de 6 a 17 anos de idade da cidade

    de Porto Alegre (RS) estimou o consumo de sdio em 3,4 g/p/d.(10)

    A relao inversa entre renda e disponibilidade de sdio encontrada

    no presente estudo tem sido descrita em trabalhos realizados em pases

    desenvolvidos.(19, 20)

    Se o consumo excessivo de sdio no Brasil no parece diferir

    substancialmente do que vem sendo registrado nos pases desenvolvidos,

    outra a situao com relao procedncia do nutriente. Nesses pases,

    estima-se que a maior parte do sdio consumido pelos indivduos de - 60% a

    90% - provenha de alimentos processados pela indstria e no do sal

    adicionado aos alimentos pelos indivduos.(6, 7) Situao semelhante

    situao encontrada no Brasil, onde a maior parte do sdio consumido

    aparenta ser proveniente do sal de cozinha e de condimentos base de sal,

    ocorre em outros pases em desenvolvimento.(21) De qualquer modo, a forte

    relao positiva entre a renda domiciliar e a frao de sdio proveniente de

    alimentos processados e a rpida e intensa expanso que vem

    caracterizando o consumo desses alimentos no Brasil (22), indicam

  • 50

    tendncia crescente de sua importncia para o consumo de sdio nesse

    Pas.

    Em concluso, nossos resultados confirmam a suposio de que o

    consumo de sdio no Brasil excede largamente a recomendao mxima

    para esse nutriente em todas regies brasileiras e classes de renda.

    Apontam, tambm, a pertinncia para o Pas das recentes recomendaes

    da OMS relativas adoo de polticas pblicas que, simultaneamente,

    informem a populao sobre a importncia de reduzir a quantidade de sal

    adicionada aos alimentos e regulem o teor de sdio dos alimentos

    processados.

  • 51

    Tabela 1. Disponibilidade domiciliar de energia e de sdio, decorrente da aquisio de alimentos, segundo macrorregio e situao urbana ou rural do

    domiclio. Brasil, 2002/03.

    Energia (Kcal/p/dia) Sdio (g/p/dia) Sdio (g/p/2.000 Kcal) Regio / situao

    do domiclio Mdia

    (Erro Padro) Mdia

    (Erro Padro) Mdia

    (Erro Padro)

    Norte Urbana 1848,6 (75,0) 4,3 (0,4) 4,7 (0,4) Rural 2951,6 (142,2) 11,4 (3,9) 7,4 (2,2) Total 2111,9 (107,5) 6,0 (1,1) 5,4 (0,6)

    Nordeste

    Urbana 1720,6 (27,2) 3,9 (0,1) 4,5 (0,1) Rural 2092,3 (52,3) 6,5 (0,4) 6,2 (0,4) Total 1818,4 (30,9) 4,6 (0,2) 5,0 (0,2)

    Sudeste

    Urbana 1760,8 (61,8) 3,8 (0,2) 4,3 (0,1) Rural 2623,4 (316,2) 7,0 (1,0) 5,8 (1,3) Total 1830,0 (64,3) 4,0 (0,2) 4,4 (0,2)

    Sul

    Urbana 1858,5 (67,1) 4,4 (0,2) 4,8 (0,2) Rural 3008,7 (244,5) 8,0 (0,9) 5,4 (0,4) Total 2045,8 (94,5) 5,0 (0,3) 4,9 (0,1)

    Centro-Oeste

    Urbana 1654,3 (47,0) 3,4 (0,2) 4,1 (0,3) Rural 2588,3 (136,5) 8,7 (2,1) 6,4 (1,3) Total 1763,7 (61,6) 4,0 (0,4) 4,3 (0,3)

    Brasil

    Urbana 1764,6 (33,5) 3,9 (0,1) 4,4 (0,1) Rural 2489,5 (110,0) 7,5 (0,6) 6,1 (0,4) Total 1875,1 (34,7) 4,5 (0,1) 4,7 (0,1)

  • 52

    Tabela 2. Disponibilidade domiciliar de energia e de sdio, decorrente da aquisio de alimentos, segundo quintos crescentes da distribuio de renda

    domiciliar per capita. Brasil, 2002/03.

    Energia (Kcal/p/dia) Sdio (g/p/dia) Sdio (g/p/2.000

    Kcal) Quintos de Renda Mdia (EP) Mdia (EP) Mdia (EP)

    1 1950,6 (59,3) 4,9 (0,3) 5,0 (0,2)

    2 1976,7 (87,7) 5,1 (0,4) 5,0 (0,2)

    3 1922,9 (93,2) 4,6 (0,4) 4,7 (0,3)

    4 1735,0 (92,2) 3,8 (0,2) 4,4 (0,1)

    5 1787,7 (46,1) 3,8 (0,2) 4,3 (0,2)

    Brasil 1875,1 (34,7) 4,5 (0,1) 4,7 (0,1)

    EP Erro Padro

  • 53

    Tabela 3. Distribuio (%) da disponibilidade domiciliar de sdio, decorrente da aquisio de alimentos, em quintos crescentes da distribuio da renda

    domiciliar per capita, segundo grupos de alimentos. Brasil, 2002/03.

    Quintos de renda

    Grupos de alimentos Brasil 1 2 3 4 5

    Sal e condimentos base

    de sal 76,2 83,8 81,9 77,8 70,2 62,5

    Alimentos processados

    com adio de sal 15,8 9,7 11,8 15,2 21,0 25,0

    Alimentos in natura ou

    processados sem adio

    de sal 6,6 6,1 5,6 6,0 7,3 8,8

    Refeies prontas 1,4 0,4 0,7 1,0 1,5 3,7

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

  • 54

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  • 57

    5. SEGUNDO ARTIGO Publicado nos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. 2009;53(5):608-616. ISSN 0004-2730. doi:

    10.1590/S0004-27302009000500013.

  • 58

    Consumo de sdio e sndrome metablica: uma reviso sistemtica Sodium intake and metabolic syndrome: a systematic review

    Flvio Sarno 1

    Patrcia Constante Jaime 2

    Sandra Roberta Gouvea Ferreira 3

    Carlos Augusto Monteiro 3

    1 Doutorando do Programa de Ps-graduao em Nutrio em Sade

    Pblica. Faculdade de Sade Pblica (FSP). Universidade de So Paulo

    (USP). So Paulo, SP, Brasil

    2 Professora Doutora do Departamento de Nutrio. FSP/USP. So Paulo,

    SP, Brasil

    3 Professor(a) Titular do Departamento de Nutrio. FSP/USP. So Paulo,

    SP, Brasil

  • 59

    Resumo Introduo: Estudos recentes mostram que restries na ingesto de sdio podem aumentar a resistncia insulina (RI) e induzir alteraes nas

    lipoprotenas sricas e em marcadores de inflamao semelhantes s

    encontradas na Sndrome Metablica (SM). Mtodos: Realizou-se uma reviso sistemtica da literatura sobre os efeitos da restrio do consumo de

    sdio sobre a SM ou a RI. Nove artigos foram includos na reviso.

    Resultados: A restrio no consumo de sdio associou-se ao aumento da RI em dois artigos e diminuio em trs outros. Em sete dos nove artigos,

    a restrio na ingesto de sal determinou reduo da presso arterial e em

    dois artigos ocorreram efeitos adversos em marcadores da SM.

    Concluses: A maioria dos estudos mostrou efeitos benficos da restrio moderada de sdio da dieta, associada ou no a outras modificaes

    nutricionais ou ao aumento da atividade fsica. Novos estudos so

    necessrios para avaliar os efeitos de redues moderadas no consumo de

    sdio sobre a SM e a RI.

    Descritores: Dieta Hipossdica; Sdio na Dieta; Sndrome Metablica; Resistncia Insulina; Hipertenso Arterial.

  • 60

    Abstract Introduction: Recent studies have shown that sodium intake restrictions may increase insulin resistance (IR) and induce changes on serum

    lipoproteins and on inflammation markers similar to those found in Metabolic

    Syndrome (MS). Methods: We performed a systematic review of literature regarding the effects of restricting sodium intake on MS or on IR. Nine

    articles were included in the review. Results: Restriction of sodium consumption was associated with increase insulin resistance in two articles

    and decrease in three others. In seven of nine articles, salt intake restriction

    determined blood pressure reduction and in two articles adverse effects on

    markers of MS were found. Conclusions: Most studies showed beneficial effects of moderate sodium intake restriction, associated or not to others

    nutritional modifications or increase physical activity. Further studies are

    needed to evaluate the effects of moderate sodium consumption reductions

    on MS and IR.

    Keywords: Sodium-Restricted Diet; Dietary Sodium; Metabolic Syndrome; Insulin Resistance, Hypertension.

  • 61

    Introduo

    Definio da sndrome metablica e riscos

    Em 1988, Reaven descreveu a Sndrome X, hoje conhecida como

    Sndrome Metablica (SM), como a ocorrncia de resistncia insulina,

    hiperglicemia, elevao da lipoprotena de baixa densidade, diminuio da

    lipoprotena de alta densidade (HDL-c) e hipertenso arterial sistmica

    (HAS).(1)

    Apesar do debate sobre a existncia como sndrome e da importncia

    prognstica de sua caracterizao (2), organizaes de sade e sociedades

    cientficas propuseram critrios diagnsticos para padronizar sua definio,

    tanto para fins clnicos como para pesquisas. Devido a diferenas tnicas no

    risco de desenvolvimento de certas doenas, alguns critrios e pontos de

    corte, especificamente para a circunferncia da cintura, tm sido

    diferenciados de forma a adaptar a definio de SM s diversas

    populaes.(3)