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Escola Politcnica da USP Departamento de Engenharia de Construo Civil Ps-Graduao em Engenharia de Construo Civil e Urbana

Ana Lcia Rocha de Souza

PREPARAO E COORDENAO DA EXECUO DE OBRAS: TRANSPOSIO DA EXPERINCIA FRANCESA PARA A CONSTRUO BRASILEIRA DE EDIFCIOS

Tese apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Engenharia

SO PAULO 2001

Escola Politcnica da USP Departamento de Engenharia de Construo Civil Ps-Graduao em Engenharia de Construo Civil e Urbana

Ana Lcia Rocha de Souza

PREPARAO E COORDENAO DA EXECUO DE OBRAS: TRANSPOSIO DA EXPERINCIA FRANCESA PARA A CONSTRUO BRASILEIRA DE EDIFCIOS

Tese apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Engenharia rea de Concentrao: Engenharia de Construo Civil e Urbana Orientadores: Fernando Henrique Sabbatini Eric Henry

SO PAULO 2001

FICHA CATALOGRFICA

Souza, Ana Lcia Rocha de Preparao e Coordenao da execuo de obras: transposio da experincia francesa para a construo brasileira de edifcios. So Paulo, 2001. 440p. Tese (Doutorado) Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia de Construo Civil. 1. Construo Civil 2. Qualidade 3. Canteiro de Obras 4. Gesto I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Construo Civil II. t

Dedico este trabalho quele que muito contribuiu para a sua realizao, em todos os planos. A voc, Silvio, com amor.

AGRADECIMENTOS Eu gostaria de agradecer especialmente aos meus orientadores, Professores Fernando Henrique Sabbatini e Eric Henry, antes de mais nada, por muito terem me ajudado a expor de forma clara as idias que eu queria exprimir. Eric Henry, pelo seu entusiasmo e sua vontade de contribuir para a realizao da pesquisa e para a minha formao, abrindo-me vrias portas, colocando-me em contato com profissionais atuantes na construo civil francesa, alm de sempre me proporcionar esclarecimentos fundamentais para a compreenso da realidade daquele pas, nas suas mais diferentes dimenses. Fernando Henrique Sabbatini, por ter me aceito como sua orientanda, estando presente nos momentos decisivos, refletindo sobre a proposta da tese e, com sua experincia pessoal e profissional, auxiliando-me a melhor conduzir a apresentao e o o desenvolvimento deste trabalho. Agradeo ao Prof. Silvio Burrattino Melhado, pelo apoio, dedicao, pacincia, permanente incentivo e pelas horas dedicadas discusso das idias contidas neste trabalho. No poderia deixar de citar, tambm, os Professores Luiz Srgio Franco e Srgio R. Leusin de Amorim, pelas valiosas sugestes dadas na ocasio do Exame de Qualificao, permitindo que o trabalho evolusse. Agradeo tambm aos amigos e colegas revisores deste trabalho, Luciana Leone Maciel Baa e Maurcio Kenji Hino, no apenas pela reviso gramatical, mas, principalmente, pela reviso de contedo, procurando verificar se o texto estava escrito de forma clara, cumprindo o papel de transmitir ao leitor novas idias. amiga Andreia Rangel Melhado, pelas constantes demonstraes de ateno e pela reviso gramatical do texto.

Aos amigos e colegas Artemria Colho de Andrade e Josaphat Lopes Baa, pelo constante apoio fornecido em todos esses anos de convvio. Aos amigos franceses, Loc Jaffrs e Luciane da Silva Guimares, pela reviso dos resumos em francs e em ingls. Aos demais amigos do C.R.I.S.T.O., que, durante minha estada na Frana, contriburam com sua solidariedade, amabilidade e com sua disposio de sempre querer ajudar a tornar inesquecveis nossos vinte meses vividos juntos. No seria possvel citar o nome de todos eles, at por tornar enfadonha a leitura; porm, um deles, merece um agradecimento especial, Jean-Luc Guffond, Diretor Adjunto daquele centro de pesquisa, sem o qual a realizao desse trabalho no seria possvel. Gus, at difcil encontrar palavras para lhe agradecer todo o apoio que voc me ofereceu. Aos outros amigos da EPUSP, sejam eles colegas, professores, equipe da Biblioteca, da Secretaria, enfim, queles que esto sempre presentes quando mais precisamos. CAPES, pelo suporte financeiro, essencial para o desenvolvimento da pesquisa e concluso da tese. Aos profissionais franceses e brasileiros que contriburam para a pesquisa, com pacincia, respondendo s inmeras perguntas e colocando abertamente suas experincias profissionais e problemas por eles vividos, permitindo-me chegar a concluses valiosas para esta tese. Entre eles, o meu agradecimento particular ao arquiteto Denis Laquaz, que, durante as visitas realizadas aos canteiros de obras e reunies, forneceu-me dados e explicaes valiosas para uma melhor compreenso do cenrio da construo civil francesa. Agradeo ainda s seguintes empresas francesas: Groupe EOLE Architectes;

Entreprise Gnrale PASCAL Btiment et Travaux Publics; Entreprise Gnrale de Btiment CUYNAT; Florence Lipsky, Pascal Rollet, Architectes; Rsidences BERNARD TEILLAUD.

E s seguintes empresas brasileiras: ARCO Assessoria em Racionalizao Construtiva SC Ltda.; Construtora Lider Ltda.; Cyrela Empreendimentos Imobilirios Ltda.; EGC Planejamento & Projetos SC Ltda.; InPar Incorporaes e Participaes Ltda.; Jonas Birger Arquitetura SC Ltda.; Mtodo Engenharia S/A; Rossi Residencial S/A;

Finalmente, um agradecimento que no poderia faltar, aos meus pais, s minhas irms e minha tia Cleide, que sempre confiaram em mim, deram-me foras e incentivaram-me durante toda a minha vida.

SUMRIO

Lista de Figuras, i Lista de Tabelas, iii Lista de Abreviaturas e Siglas, v RESUMO ABSTRACT RESUME

1 INTRODUO............................................................................................... 1 1.1 Enfoque do Trabalho........................................................................... 1 1.2 Justificativa........................................................................................ 10 1.2.1 Preparao da execuo de obras ......................................... 10 1.2.2 Coordenao de atividades .................................................... 14 1.3 Objetivos da Pesquisa ...................................................................... 16 1.4 Metodologia da Pesquisa.................................................................. 17 1.4.1 Prembulo .............................................................................. 17 1.4.2 Objetos observados nos estudos de caso realizados na Frana e reflexes conduzidas .......................................... 20 1.4.3 Mtodo adotado na realizao dos estudos de caso na Frana................................................................................ 21 1.4.4 Apresentao dos estudos de caso realizados na Frana e no Brasil.................................................................................. 23 1.5 Estruturao do Trabalho ................................................................. 25 2 ASPECTOS GERAIS DA CONSTRUO DE EDIFCIOS NA FRANA... 27 2.1 Panorama do Segmento de Edificaes: de 1970 ao Incio dos Anos 2000........................................................................................... 27 2.1.1 Crescimento, crise e evoluo da construo de edifcios ..... 27 2.1.2 Aspectos econmicos da construo civil francesa ................ 33 2.1.3 Mudana do perfil das empresas construtoras ....................... 37

2.2 O Modelo Tradicional de Produo de Edifcios na Frana........... 40 2.2.1 O papel e as responsabilidades dos principais agentes: o empreendedor (matre douvrage), os projetistas (matrise duvre) e as empresas construtoras...................... 44 2.2.1.1 o empreendedor (matre douvrage)........................... 44 2.2.1.2 os projetistas (o matre duvre e a matrise duvre) .................................................... 46 2.2.1.3 as empresas construtoras .......................................... 48 2.2.2 Os agentes de assessoria ao empreendedor e coordenao especfica (tcnica, da execuo de obras e de segurana) .. 51 2.2.2.1 o controlador tcnico (CT).......................................... 52 2.2.2.2 o coordenador da execuo de obras (OPC)............. 54 2.2.2.3 o coordenador de segurana (CSPS) ........................ 57 2.2.3 O tecnlogo (conducteur de travaux)...................................... 60 2.3 Normalizao Tcnica ....................................................................... 62 2.4 Legislao Profissional na Frana: Loi sur lIngnierie e Lei MOP........................................................................................... 63 2.5 O Seguro-Construo ....................................................................... 68 2.6 A Contratao de Obras.................................................................... 69 2.7 Reflexes quanto Organizao da Construo de Edifcios na Frana e no Brasil ............................................................................. 71 2.7.1 Aspectos econmicos ............................................................. 71 2.7.2 O modelo de produo ........................................................... 72 2.7.3 Normalizao, legislao e seguro-construo....................... 73 3 MTODOS DE TRABALHO ADOTADOS NOS EMPREENDIMENTOS FRANCESES PARA A GESTO DA INTERFACE PROJETO-OBRA....... 78 3.1 A Formao de uma Empresa - Empreendimento.......................... 79 3.2 A Preparao da Execuo de Obras (PEO) ................................... 81 3.2.1 Os guias adotados como referncia ....................................... 81 3.2.2 O conceito por trs do mtodo................................................ 83 3.2.3 A metodologia da PEO ........................................................... 85 3.2.3.1 tempo de durao ...................................................... 87 3.2.3.2 reunies de preparao da execuo de obras: documentao gerada................................................ 90 3.2.3.3 etapas principais ........................................................ 91 3.3 A Coordenao Pr-ativa da Execuo de Obras (CPA)................ 95 3.3.1 O conceito............................................................................... 96 3.3.2 Os principais objetivos da metodologia................................... 97 3.3.3 O elemento-chave................................................................... 99

3.3.4

As componentes organizacionais ......................................... 100

3.4 Reunies de Preparao e de Coordenao da Execuo de Obras ......................................................................... 102 3.5 Controle da Execuo dos Servios.............................................. 106 3.6 Documentao Utilizada na Fase de Preparao da Execuo de Obras ......................................................................... 110 3.7 Sistema de Informao ................................................................... 112 4 EVOLUES RECENTES DAS RELAES ENTRE PROJETO E EXECUO: SNTESE DOS ESTUDOS DE CASO ................................. 120 4.1 Prembulo ........................................................................................ 120 4.2 Sntese dos Estudos de Caso Desenvolvidos nos Empreendimentos de Bouvesse - Quirieu, Montalieu - Vercieu, Grenoble e Le Grand Lemps Desenvolvidos no Departamento de Isre, Regio de Rhne-Alpes - Frana .................................... 124 4.2.1 Descrio e caracterizao dos empreendimentos .............. 124 4.2.1.1 canteiro de obras de Bouvesse - Quirieu............... 125 4.2.1.2 canteiro de obras de Montalieu - Vercieu ............ 129 4.2.1.3 canteiro de obras de "Vigny-Musset", em Grenoble. 131 4.2.1.4 canteiro de obras de "Le Grand Lemps" .................. 136 4.2.2 Contedo dos estudos de caso............................................. 141 4.2.2.1 atuao dos agentes ................................................ 141 4.2.2.2 documentao e mtodos de troca de informao .. 166 4.2.2.3 preparao da execuo de obras ........................... 171 4.2.2.4 coordenao pr-ativa e reunies de coordenao . 183 4.2.2.5 controle da execuo dos servios e retroalimentao da experincia .............................. 189 4.2.3 Anlise dos estudos de caso ................................................ 193 4.3 Caractersticas e Contedo dos Estudos de Caso Desenvolvidos nas Empresas de Projeto Francesas ................... 201 4.3.1 Caractersticas das empresas .............................................. 201 4.3.2 Linha condutora de trabalho ................................................. 202 4.3.3 Metodologia de trabalho ....................................................... 203 4.3.4 Uso da Internet ..................................................................... 208 4.3.5 Compatibilizao de projetos ................................................ 208 4.3.6 Observaes finais ............................................................... 209 4.4 Caractersticas e Contedo dos Estudos de Caso Desenvolvidos nas Empresas Brasileiras..................................... 210 4.4.1 Descrio das empresas ...................................................... 210 4.4.1.1 porte e principais caractersticas das empresas incorporadoras e construtoras.................................. 210

4.4.2

4.4.3

4.4.4 4.4.5

4.4.1.2 histrico das empresas incorporadoras e construtoras ............................................................. 213 4.4.1.3 porte e principais caractersticas das empresas de projeto ...................................................................... 217 4.4.1.4 mtodo de trabalho das empresas de projeto .......... 219 Relaes funcionais entre os agentes pesquisados ............. 225 4.4.2.1 o empreendedor e suas relaes com a empresa construtora e os projetistas ...................................... 225 4.4.2.2 a empresa construtora e suas relaes com o empreendimento atravs da gerncia da qualidade, da gerncia de projetos, da coordenao de obras, dos engenheiros residentes, da coordenao de segurana, dos tcnicos de segurana e dos subempreiteiros........................................................ 229 4.4.2.3 os projetistas e sua relao com o empreendedor, a empresa construtora e o empreendimento............ 262 Sistema de informao: comunicao e forma de transferncia de dados praticadas entre os agentes ............ 265 4.4.3.1 empresas incorporadoras e construtoras ................. 265 4.4.3.2 empresas de projeto e departamento de projeto das empresas construtoras ...................................... 268 Documentao e controle da execuo dos servios ........... 270 Anlise e comentrios das relaes nas empresas incorporadoras construtoras, nas empresas de projeto e entre elas ........................................................................... 272

5 METODOLOGIA PARA A IMPLEMENTAO DOS MTODOS DE PREPARAO E COORDENAO DA EXECUO DE OBRAS E DO PROCESSO DE AVALIAO PARTICIPATIVA E RETROALIMENTAO ............................................ 284 5.1 Prembulo ........................................................................................ 284 5.2 Condies para Implementao..................................................... 289 5.2.1 Delimitao da implementao da proposta ......................... 289 5.2.2 Contexto desejvel para mximo aproveitamento do potencial da proposta............................................................ 290 5.2.2.1 criao da documentao tcnica e das memrias construtivas da empresa construtora e da empresa de projeto, atravs do banco de tecnologia construtiva (BTC) ..................................................... 291 5.2.2.2 a avaliao da qualidade da prestao dos servios dos projetistas .......................................................... 296 5.2.2.3 a avaliao da qualidade da proposta tcnica e da prestao dos servios dos subempreiteiros ........... 297 5.2.3 O enfoque da proposta ......................................................... 302 5.2.3.1 a preparao da execuo de obras (PEO) ............. 303

5.2.4

5.2.3.2 a coordenao pr-ativa na fase de execuo de obras (CPA) ............................................................. 303 5.2.3.3 a avaliao participativa e retroalimentao dos resultados (APR) ............................................... 304 Estrutura da apresentao da proposta e de sua implementao...................................................................... 305

5.3 Primeira Parte: Aes a Serem Praticadas pelos Empreendedores, Empresas Construtoras e Demais Agentes, para o Desenvolvimento da PEO, da CPA e da APR .................... 307 5.3.1 O empreendedor................................................................... 307 5.3.2 A empresa construtora.......................................................... 314 5.3.3 Demais agentes: arquiteto, engenheiros de projeto, projetistas responsveis pelos projetos para produo, coordenadores do projeto, coordenadores de obras, engenheiro residente, tcnico de edificaes e tcnico de segurana............................................................ 323 5.3.3.1 projetistas (arquiteto, engenheiros de projeto, projetistas responsveis pelos projetos para produo) ................................................................. 325 5.3.3.2 coordenador da PEO................................................ 327 5.3.3.3 coordenador pr-ativo .............................................. 328 5.3.3.4 engenheiro residente................................................ 331 5.3.3.5 tcnico de edificaes .............................................. 333 5.3.3.6 tcnico de segurana ............................................... 333 5.4 Segunda Parte: Recomendaes Prticas para a Realizao da Fase de PEO, da Atividade de CPA e do Processo de APR......... 335 5.4.1 A Preparao da Execuo de Obras (PEO)........................ 335 5.4.1.1 organizao, durao e custo para a realizao da PEO..................................................................... 336 5.4.1.2 procedimentos da empresa construtora e de contratao dos subcontratados: aspectos contratuais da PEO .................................................. 339 5.4.1.3 reunies de PEO ...................................................... 340 5.4.1.4 contedo das atas de reunio .................................. 342 5.4.1.5 aes a serem praticadas na fase de PEO .............. 346 5.4.1.6 ferramentas de gesto a serem utilizadas ............. 357 5.4.2 A Coordenao Pr-Ativa (CPA)........................................... 357 5.4.2.1 perfil do coordenador pr-ativo ................................ 358 5.4.2.2 trabalho conjunto do coordenador da PEO com o coordenador pr-ativo .............................................. 360 5.4.2.3 reunies de CPA ...................................................... 360 5.4.2.4 contedo das atas de reunio .................................. 362 5.4.2.5 aes a serem praticadas durante a atividade de CPA..................................................................... 364 5.4.2.6 ferramentas de gesto a serem utilizadas ............. 367 5.4.3 A Avaliao Participativa e Retroalimentao (APR)............ 371

5.4.3.1 aes a serem praticadas durante o processo de APR..................................................................... 371 5.4.3.2 ferramentas de gesto a serem utilizadas ............. 375 5.5 Implementao da Proposta: Mtodos de Gesto para a Criao da Fase de PEO, da Atividade de CPA e do Processo de APR............................................................................. 375 5.5.1 Prembulo ............................................................................ 375 5.5.2 Diretrizes bsicas para implementao da proposta ............ 379 5.5.2.1 implementao em empreendimentos-piloto............ 379 5.5.2.2 implementao em empresas incorporadoras e construtoras atravs de um plano institucional ........ 387 6 CONSIDERAES FINAIS....................................................................... 392 6.1 Quanto Evoluo na Construo de Edifcios ........................... 392 6.2 Quanto aos Objetivos Propostos................................................... 393 6.3 Quanto Metodologia Proposta .................................................... 395 6.4 Com relao Implementao da Metodologia............................ 400 6.5 Quanto s Perspectivas Futuras com Relao Proposta ......... 403 6.6 Quanto a Trabalhos Futuros........................................................... 404 ANEXO A.........................................................................................................406 ANEXO B.........................................................................................................420 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...............................................................425 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.....................................................................440

i

LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Variao do volume de negcios (MINISTERE DE LEQUIPEMENT, DES TRANSPORTS ET DU LOGEMENT, s.d. (b); 1996; 1999c; 2000b)........................................................ 34 Figura 2.2 Nmero de funcionrios qualificados na indstria da construo de edifcios em cada ano (MINISTERE DE LEQUIPEMENT, DES TRANSPORTS ET DU LOGEMENT, s.d. (a); s.d. (c); 1998; 2000a)................................................................................. 35 Figura 2.3 Nmero de funcionrios em cada ano (MINISTERE DE LEQUIPEMENT, DES TRANSPORTS ET DU LOGEMENT, s.d. (a); s.d. (c); 1998; 2000a) ............................................................. 36 Figura 2.4 Fases e atividades de um empreendimento (ARMAND; RAFFESTIN, 1993)....................................................................... 42 Figura 2.5 As relaes tpicas entre os agentes da construo na Frana .... 61 Figura 2.6 As relaes entre os principais agentes do empreendimento, no Brasil............................................................................................. 73 Figura 3.1 Etapas de atuao da empresa-empreendimento adaptado de HENRY; MENOUD; VICEDO (1996). ........................................... 80 Figura 3.2 Esquema das relaes entre os agentes da construo, durante a PEO (CLUB CONSTRUCTION & QUALIT PROVENCE-ALPES-CTE-DAZUR, 1994) ................................ 87 Figura 3.3 Planejamento geral das reunies coletivas de PEO (CCQPACA, 1994)............................................................................................. 89 Figura 3.4 Etapas de participao do OPC, conforme os princpios de uma coordenao pr-ativa (MASURE ; HENRY, 2000) .................... 103 Figura 4.1 Mapa do departamento de Isre, regio de Rhne-Alpes, Frana, apresentando as cidades nas quais foram realizados os estudos de caso (GUIDE DES TRANSPORTS EN ISRE , 1999) ......................................................................... 126 Figura 4.2 Empreendimento de Bouvesse-Quirieu....................................... 128 Figura 4.3 Empreendimento de Montalieu - Vercieu .................................... 131 Figura 4.4 Vistas do canteiro de obras do empreendimento em Vigny-Musset .............................................................................. 133 Figura 4.5 Organograma do empreendimento de Vigny-Musset - Grenoble 135 Figura 4.6 Empreendedor no centro das relaes contratuais ..................... 135 Figura 4.7 O canteiro de obras do empreendimento de Le Grand Lemps foto superior: vista do edifcio antigo, sede da fbrica; foto inferior: viso geral do canteiro de obras relativa fase de execuo da estrutura ................................................................ 137 Figura 4.8 Organograma do empreendimento em Le Grand Lemps ......... 141

ii

Figura 4.9 Equipe multidisciplinar durante a atividade de coordenao na fase de execuo da obra........................................................... 187 Figura 4.10 Metodologia de controle utilizada pela ECFEV de Vigny-Musset (PLAN DASSURANCE QUALIT CUYNAT, 1999) ................... 191 Figura 4.11 Organograma da empresa A .................................................... 230 Figura 4.12 Organograma da empresa D.................................................... 240 Figura 4.13 Organograma da empresa H.................................................... 249 Figura 5.1 A inter-relao entre os agentes do empreendimento, no caso de empresas de construo e incorporao ............................... 285 Figura 5.2 Esquema de desenvolvimento de empreendimentos desenvolvido a partir das observaes feitas nos estudos de caso ............................................................................................ 288 Figura 5.3 O BTC inserido no processo de produo de empreendimentos, adaptado de FONTENELLE (1998) ............................................ 295 Figura 5.4 Proposta de processo de gesto dos subempreiteiros (SERRA, 2001)........................................................................................... 299 Figura 5.5 Momentos de interveno do GCA ............................................. 305 Figura 5.6 Modelo do formulrio da ata de reunio de PEO (adaptado de Masure; Henry, 2000) ................................................................. 345 Figura 5.7 Exemplo de circuito de difuso de documentao e prazos para validao (adaptado de CLUB CONSTRUCTION & QUALIT ISRE, 1993).............................................................................. 349 Figura 5.8 Modelo do formulrio da ata de reunio de CPA (adaptado de Masure; Henry, 2000) ................................................................. 363 Figura 5.9 Modelo do formulrio para a recepo dos servios (adaptado de Masure; Henry, 2000) ............................................................ 369 Figura 5.10 Modelo do formulrio para recepo provisria da obra, com a listagem dos servios pendentes (adaptado de Masure; Henry, 2000)........................................................................................... 370 Figura 5.11 Elementos e agentes envolvidos na proposta (PEO) ................. 390 Figura 5.12 Elementos e agentes envolvidos na proposta (CPA).................. 391

iii

LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Casos tpicos de coordenao da execuo de obras na Frana (MELHADO; SOUZA, 2000) ......................................................... 55 Tabela 3.1 Relao dos guias analisados....................................................... 82 Tabela 3.2 Principais objetivos de uma coordenao pr-ativa (MASURE; HENRY, 2000) .............................................................................. 98 Tabela 4.1 Ficha Tcnica do empreendimento de Bouvesse-Quirieu........... 128 Tabela 4.2 Ficha Tcnica do empreendimento de Grenoble-Vigny-Musset.. 134 Tabela 4.3 Ficha Tcnica do empreendimento de Le Grand Lemps .......... 138 Tabela 4.4 Atividades realizadas quando da preparao da execuo de obras de Montalieu-Vercieu ........................................................ 173 Tabela 4.5 Composio dos grupos tcnicos por lotes Le Grand Lemps .. 181 Tabela 4.6 Calendrio das reunies de PEO em funo dos grupos tcnicos........................................................................... 182 Tabela 4.7 Principais pontos positivos observados nos estudos de caso..... 200 Tabela 4.8 Principais caractersticas das empresas construtoras analisadas nos estudos de caso................................................. 216 Tabela 4.9 Caractersticas das empresas de projeto analisadas nos estudos de caso.......................................................................... 219 Tabela 4.10 Principais aspectos organizacionais observados nas empresas construtoras ................................................................................ 258 Tabela 4.11 Situao encontrada nas empresas A, B, C, D e H com relao s caractersticas do sistema de informaes ............... 269 Tabela 5.1 Aes a serem praticadas pelo empreendedor, para uma maior integrao projeto-obra............................................................... 308 Tabela 5.2 Aes a serem praticadas pela empresa construtora, para uma maior integrao projeto-obra..................................................... 315 Tabela 5.3 Aes a serem praticadas pelos demais agentes, para uma maior integrao projeto-obra..................................................... 323 Tabela 5.4 Aes a serem praticadas na fase de PEO e o(s) agente(s) responsvel(eis) pela sua prtica ............................................... 346 Tabela 5.5 Aes a serem praticadas durante a atividade de CPA e o(s) agente(s) responsvel(eis) pela sua prtica ............................... 364 Tabela 5.6 Aes a serem praticadas durante o processo de APR pelo GCA .................................................................................... 372 Tabela 5.7 Resultado da anlise realizada a partir dos estudos de caso e as mudanas propostas com a implementao dos mtodos de gesto ......................................................................................... 376

iv

Tabela 5.8 Resultado da anlise realizada a partir dos estudos de caso e as mudanas propostas com a implementao dos mtodos de gesto continuao.................................................................. 377 Tabela 5.9 Exemplo tpico das atividades a serem realizadas na PEO e no incio dos trabalhos de CPA........................................................ 382

v

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT APR AQC BTP BTC CB-25 C.R.I.S.T.O. CATED CAPEB CCAP CPA CCQ CCQI CCQLR CCQPACA CCTP CE CII CNRS CPA CSPS CT DOE

Associao Brasileira de Normas Tcnicas Avaliao Participativa e Retroalimentao Agence Qualit Construction Btiment et Travaux Publics Banco de Tecnologia Construtiva Comit Brasileiro da Qualidade da ABNT Centre de Recherche Innovation Socio-Technique et Organisations industrielles Centre dAssistance Technique et de Documentation Confdration de lArtisanat et des Petites Entreprises du Btiment Cahier de Clauses Administratives Particulires Coordenao Pr-Ativa Club Construction Qualit Club Construction Qualit de LIsre Club Construction Qualit Languedoc-Roussilon Club Construction Qualit de Provence-Alpes-Cte DAzur Cahier de Clauses Techniques Particulires Marca de conformidade europia Construction Industry Institute Centre National de Recherche Scientifique Coordenao Pr-Ativa Coordonnateur en matire de scurit et prvention de la sant Controlador Tcnico Dossier des Ouvrages Excuts

vi

DTUs ECFEV EMBRAESP EPUSP FIBGE GCA IFPBTP IPEA IPT ISO MOP NF OPC OPCI OPPBTP PACA PAQ PC PEO PIB PME PP PPI PPSPS

Documents Techniques Unifis Empresa Construtora responsvel pela execuo das Fundaes, Estrutura e Vedaes Empresa Brasileira de Estudos de Patrimnio Escola Politcnica da Universidade de So Paulo Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica Grupo de Coordenao e Avaliao Institut de Formation de la Profession du Btiment et des Travaux Publics Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada Instituto de Pesquisas Tecnolgicas International Organization for Standardization Matrise dOuvrage Publique Norma Francesa Ordonnancement, Coordination et Pilotage Ordonnancement Pilotage Coordination et Ingnierie Organisme Professionnel de Prvention Btiment Travaux Publics Provence-Alpes-Cte DAzur Plan dAssurance Qualit Pontos Crticos Preparao da Execuo de Obras Produto Interno Bruto Pequenas e Mdias Empresas Pontos de Paralisao Pratiques de Projet et Ingnieries Plan Particulier de Scurit et de Protection de la Sant

vii

PUCA SENAI SIEGL SindusCon-SP QUALIHAB PBQP-H PBQP QUALIBAT SECOVI-SP

Plan Urbanisme Construction et Architecture Servio Nacional de Aprendizagem Industrial Socit dimpression sur toffes du Grand Lemps Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo Programa da Qualidade na Construo Habitacional do Estado de So Paulo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade Organisme professionnel de qualification et de certification du Btiment Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locao e Administrao de Imveis e dos Edifcios em Condomnios Residenciais e Comerciais do Estado de So Paulo Centre Scientifique et Technique du Btiment Cloreto de Polivinila Grupo de Trabalho i Qualit Immobilire Rfrentiel de certification qualit des Matres dOuvrage HLM et des Promoteurs Rfrentiel de certification qualit des entreprises de Travaux Publics (Gnie Civil) Rfrentiel de certification qualit des entreprises dElectricit Rfrentiel de certification qualit des agences dArchitectes

CSTB PVC GTi QUALIMO QUALITP QUALIFELEC QUALIARCH

PREPARAO E COORDENAO DA EXECUO DE OBRAS: TRANSPOSIO DA EXPERINCIA FRANCESA PARA A CONSTRUO BRASILEIRA DE EDIFCIOS Ana Lcia Rocha de Souza RESUMO H vrios anos, tm-se dedicado esforos significativos para a implementao, nas empresas e nos canteiros de obras, dos princpios de gesto da qualidade. Nesse perodo, foram encontradas barreiras culturais e organizacionais e, sobretudo, os agentes responsveis pela gesto enfrentaram dificuldades para fazer chegar aos canteiros de obras os esforos voltados qualidade. As causas dessas dificuldades so diversas, no entanto, notvel a influncia das questes de integrao entre projeto e execuo e de falta de coordenao na interveno das equipes de execuo. Considerando esse cenrio, esta tese tem por objetivo propor um processo de transposio, para a realidade brasileira, de mtodos franceses propostos para a gesto na interface projeto-obra e na fase de execuo propriamente dita, visando contribuir para a evoluo e para a inovao organizacional na construo de edifcios: a preparao da execuo de obras e a coordenao pr-ativa. Os estudos de caso realizados e sua anlise ilustram a potencialidade e importncia da proposta, incorporando a experincia de um perodo de um ano e meio de pesquisa na Frana, resultando na apresentao de uma metodologia dirigida evoluo dos mtodos de gesto adotados pelos incorporadores e construtores, envolvendo ainda a participao das entidades de classe. Palavras-Chaves: construo civil; qualidade; canteiros de obras; gesto.

SITE WORKS PREPARATION AND PROACTIVE CO-ORDINATION: FRENCH EXPERIENCE TRANSLATION TO THE BRAZILIAN BUILDING PROJECTS Ana Lcia Rocha de Souza ABSTRACT Over the last years, construction players have being worried about implementing quality management principles, into construction firms and sites. During this period, organisational barriers were observed to perform this implementation process and, particularly, managers found difficult to transfer internal quality efforts to on site activities. There is a range of reasons for this, nevertheless the insufficient interaction between design and production and the lack of co-ordination of production teams during on site works are amongst the main ones. Considering this situation, this thesis presents and discusses a process to translate to Brazilian projects of a supplementary phase to develop the design and specification analysis, before production starting, which is called in France site works preparation. In addition to this, the French concept named proactive site works co-ordination, is also proposed to be adopted. Case studies carried out over a year and a half in France as well as some others in Brazil illustrate the relevance and potential benefits of the above mentioned proposals. As a result, proposals related to management methods are presented for adoption in the real estate and building firms, along with guidelines for professional associations roles and responsibilities. Keywords: building construction; quality; construction sites; management.

PREPARATION DE CHANTIER ET COORDINATION INCITATIVE : TRANSPOSITION DE LEXPERIENCE FRANAISE POUR LE SECTEUR DU BATIMENT AU BRESIL Ana Lcia Rocha de Souza RESUME Dans le secteur du btiment, il y a dj plusieurs annes que la mise en uvre des principes de gestion de la qualit sont un soucis majeur pour les acteurs de la construction. Durant ce processus, les acteurs de la construction ont observ les difficults engendres par les barrires culturelles et organisationnelles et surtout la difficult de faire appliquer par les chantiers les dcisions prises par les cadres. La cause des problmes est diverse, cependant il est possible de souligner les problmes dintgration entre la conception et la ralisation, et le manque danticipation et de coordination des interventions des entreprises. En considrant ce cadre, cette thse discute le concept dune priode de travail spcifique pour le dveloppement des dtails de projet et pour la constitution du dossier communiquer aux entreprises au moment du lancement de lappel doffres la prparation de chantier assortie dune mthode de coordination incitative. Les tudes de cas ralises et les rsultats obtenus apportent des donnes ce sujet, en intgrant les observations faites au Brsil aussi bien quen France, pendant un an et demi. Ils aboutissent une proposition de mthodes pour les promoteurs et les grandes entreprises ainsi que des recommendations lgard des rles et responsabilits des organisations professionnelles. Mots-cls : Btiment ; construction-qualit ; chantier ; management.

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INTRODUO

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Enfoque do Trabalho

A construo civil tem grande importncia na economia do pas, representada por sua expressiva participao no Produto Interno Bruto (PIB). Segundo pesquisas realizadas pelo Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI (1995), a participao no PIB de 1992 foi de 6%. Em 1995, o valor da produo atingiu R$ 45,1 bilhes, ou seja, 6,86% do PIB brasileiro (SINDICATO DA INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL DO ESTADO DE SO PAULO, 1998). O ltimo seminrio brasileiro da indstria da construo, realizado em 1999, indicou uma participao no PIB de 9,8%, mostrando um real crescimento do setor (SEMINRIO BRASILEIRO DA INDSTRIA DA CONSTRUO, 1999). Em 1999, a participao no PIB registrou um aumento de 0,8%, segundo fontes do SindusCon-SP. No primeiro semestre, houve uma queda acentuada, recuperada por um aquecimento do setor no segundo semestre. Em informativo do SindusCon-SP publicado em fevereiro, Srgio PORTO1 afirmava que o ano de 2000 seria de plena recuperao. Se no tivermos outro susto fiscal ou cambial, o PIB se elevar em torno de 3,5%. Se isso ocorrer, o produto da construo dever crescer 6% (SINDUSCON-SP, 2000a). Uma pesquisa mais recente realizada pelo setor de economia do SindusConSP indica que o nvel de atividades do setor de construo civil, na verdade, encerrou o ano de 2000 com uma recuperao, com relao a 1999, menos significativa do que se esperava. O produto da construo cresceu 2,1%, enquanto que o crescimento do PIB alcanou 4,2% (SUMRIO ECONOMICO, 2001). A expanso das atividades econmicas deve prosseguir no primeiro trimestre1

Srgio PORTO foi presidente do SindusCon-SP (no perodo 1996-2000).

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de 2001. Os principais indicadores confirmam a continuidade do crescimento da economia e, principalmente, do dinamismo da indstria no primeiro ms do ano. Os dados relativos a So Paulo, por exemplo, registraram significativa elevao das vendas reais e crescimento do total de pessoas ocupadas no setor na comparao com janeiro de 2000. Estimativas do IPEA (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada) apontam para 2001 um crescimento do produto da indstria de 5,6%: a indstria de transformao deve crescer cerca de 5,6% e a construo civil, 5,4% (SUMRIO ECONMICO, 2001). Ainda segundo o SUMRIO ECONMICO (2001), a continuidade do crescimento favorece projees otimistas para a construo civil. Os principais indicadores de atividades relativos ao ms de janeiro confirmam a expectativa de um resultado mais favorvel para o setor. As estatsticas de lanamento de unidades residenciais na regio metropolitana de So Paulo tambm indicam recuperao do nvel de atividades do setor de construo nesse incio de ano. O nmero de empregos na construo civil paulista, da mesma forma, vem registrando alta. O contingente de mo-de-obra ocupada atingiu 4,229 milhes de pessoas em 1995, das quais 2,177 milhes de empregados (com e sem carteira assinada) e 1,656 milhes de trabalhadores por conta prpria. Isso representa cerca de 6,1% do total de ocupados no pas, segundo sumrio executivo preparado pelo SINDUSCON-SP (1998). O crescimento acumulado de 1999 mostrou um saldo positivo de 1.200 novas vagas no estado de So Paulo; um aumento de 0,29% com relao s 422.400 vagas existentes em dezembro de 1998. Os segmentos da construo civil que mais empregaram foram os de obras de infra-estrutura, seguido pelo de construo residencial (SINDUSCON-SP, 2000b). O setor da construo civil, tomado o Brasil como um todo, encerrou o ano de 2000 com um nmero de empregos formais 18,6% maior que no final de 1994; para o estado de So Paulo, esse crescimento foi de 12,7%, no mesmo

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perodo2. Apesar disso, em 2000, o segmento de edificaes, maior empregador da construo civil, observou uma queda de quase 3% no nvel de emprego. Por conseqncia, o segmento de incorporao de imveis tambm observou reduo no nvel de emprego (SUMRIO ECONMICO, 2001). Vale destacar que os segmentos de edificaes, servios de engenharia e arquitetura e incorporao de imveis por conta prpria so responsveis por aproximadamente 51% dos empregos e das empresas de construo civil (SINDUSCON-SP, 1998). Esse um sinal claro de que o mercado de edificaes residenciais e comerciais apresentou em 2000 um dos piores desempenhos dentro do setor da construo civil. Existe, porm, uma expectativa de recuperao desse segmento no ano de 2001, devido expressiva elevao de 14,31% no nmero de empregos no segmento de engenharia e arquitetura, principalmente, quando se leva em considerao o fato de grande parcela desse crescimento ter ocorrido no segundo semestre de 2000 (SUMRIO ECONMICO, 2001). Outro fator que indica essa expectativa de crescimento, segundo a mesma pesquisa realizada pelo SindusCon-SP, diz respeito taxa de desemprego na construo civil, calculada pela FIBGE (Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). Em janeiro de 2001, a taxa de desemprego foi de 7,68%, ndice substancialmente inferior aos 9,42% observados em janeiro de 2000. A anlise dos indicadores de emprego apontados pelas pesquisas do SindusCon-SP permite concluir que o setor de construo civil se encontra em fase de expanso das atividades. Entretanto, apesar da importncia do setor na economia nacional e do seu atual crescimento, a construo de edifcios ainda tida como uma indstria cujo processo artesanal e de expedientes desenvolvidos dentro do prprio2

Segundo informaes fornecidas pessoalmente autora, pela coordenadora do setor de Economia do SindusCon-SP, Sra. Ana Maria Castelo (CASTELO, 2001a).

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canteiro de obras, sem cuidado com o planejamento e com a gesto das atividades de execuo, como comenta SABBATINI (2000). Uma publicao de cerca de treze anos atrs (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS, 1988) enumera aspectos que apontam os atrasos da construo de edifcios do ponto de vista tecnolgico e gerencial: deficincia de coordenao entre projetos e entre o projeto e a obra; deficincia no controle da execuo dos servios; insuficincia, desatualizao ou desconhecimento de normalizao tcnica; baixa produtividade da mo-de-obra; problemas na qualidade do produto final; ocorrncia de desperdcios, tanto de materiais quanto de tempo; predomnio de condies de trabalho adversas: falta de higiene, precrias condies de sade para os trabalhadores, ausncia de segurana, entre outros. Esses aspectos apontados em 1988, mesmo com a evoluo do setor, que proporcionou progressos quanto organizao interna das empresas construtoras e suas relaes com fornecedores, ainda so considerados crticos. Alm desses problemas, que continuam a serem enfrentados pelo segmento de edificaes, hoje em dia, o mercado extremamente competitivo vem exigindo que os empreendimentos sejam executados cada vez mais rpido e com menores custos, ao que se soma a necessidade de um padro de qualidade tcnica superior ao de anos anteriores. As organizaes que compem o segmento de edificaes (empresas incorporadoras, empresas construtoras, empresas de projeto e empresas

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fabricantes de equipamentos e materiais, entre outras) se vem obrigadas a racionalizar os seus respectivos processos de produo, seus mtodos de gesto e seu sistema de relaes com os demais agentes. Soma-se a isso o fato de que, dentro do conjunto de relaes que se estabelecem nos empreendimentos, todas elas se mobilizam em torno de uma atividade comum. Apesar de possurem as suas prprias regras e convenes de trabalho (formais ou informais), as organizaes precisam, de comum acordo, conceber, projetar e construir um empreendimento, atendendo exigncias tcnicas, financeiras e contratuais, implicando na realizao de inmeras tarefas e no envolvimento de vrios agentes, necessitando, sobretudo, de uma forte articulao e coordenao entre elas. A necessidade de um trabalho efetivo de coordenao entre as organizaes e entre as diferentes fases de um empreendimento (que vo desde a montagem do empreendimento at entrega, passando pelas fases de projeto,

comercializao, execuo e gesto do empreendimento) vista como um dos grandes desafios entre os profissionais atuantes no mercado pblico e privado. Como comenta FERREIRA (1998), as organizaes vm procurando repensar os seus sistemas de produo, procurando aproximar a forma de produo da edificao de um sistema de manufatura, com um maior nvel de industrializao, desenvolvendo trabalhos relacionados racionalizao, gesto da qualidade, aplicao de uma nova filosofia de gesto da produo, entre outros. Nesse mesmo sentido, e de modo integrado a essas aes, as universidades tambm vm procurando desenvolver trabalhos que contribuam para o desenvolvimento do setor como demonstram o conjunto de dissertaes, teses e pesquisas realizadas e em andamento pela Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (EPUSP). MELHADO (1995) enfatiza a necessidade de mudana na gesto do sistema

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de produo3 dos empreendimentos e que, para isso, as empresas sero obrigadas a alterar as suas estruturas, atravs da reviso de suas organizaes e da introduo de novos mtodos de trabalho e de uma melhor integrao entre as vrias atividades. BARROS (1995) acrescenta que os empresrios da construo de edifcios tm se voltado necessidade de repensar as antigas formas de produo, objetivando, entre outros resultados, a reduo de falhas organizacionais. Entre as alteraes observadas na construo de edifcios nos ltimos dez ou quinze anos, um dos esforos feitos por essas organizaes relaciona-se com a modernizao organizacional e gerencial da execuo de obras, deficincia constatada em 1988 na pesquisa conduzida pelo IPT, j citada, e que se apresenta bem mais evoluda nos dias de hoje, como resultado do forte movimento de gesto da qualidade, afetando tanto os empreendimentos pblicos, como os privados. certo que, nesse sentido, vrias tm sido as iniciativas de mudana tomadas na construo de edifcios, tanto empresariais como tambm institucionais, dentre as quais podem ser destacadas: anlises e proposies de mtodos que auxiliem na reduo dos desperdcios de material, tempo e mo-de-obra; alfabetizao dos trabalhadores do setor; implementao de sistemas de gesto da qualidade conforme o modelo da srie ISO4 9000; certificao evolutiva instituda pelo Programa da Qualidade na Construo Habitacional do Estado de So Paulo (QUALIHAB); entrada em vigor do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H).

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CARDOSO (1996a) define sistema de produo como o modo de articulao entre um sistema de operaes fsicas de produo (inserido em suas dimenses tcnico-sociais) e um sistema de operaes de gesto, de coordenao, controle e avaliao dos resultados (inserido em suas dimenses tcnico-organizacionais) e caracterstico das empresas envolvidas com a construo do edifcio, incluindo todas as etapas dos estudos necessrios, que precedem a execuo da obra. International Organization for Standardization, a instituio normatizadora internacional, da qual o Brasil um dos pases membros.

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Esse movimento de mudana justificado pelo aumento do nvel de exigncia por parte dos clientes privados e pblicos, como justifica SOUZA (1999): os agentes envolvidos em todos os nveis da cadeia produtiva procuram sair do discurso, buscando implantar a prtica da qualidade nos canteiros de obras e nas empresas. Essas tentativas so vlidas e necessrias, e resta muito a ser feito, pois, entre outros pontos falhos, ainda se verifica na construo de edifcios uma grande dissociao entre a atividade de construir e projetar. Os projetistas, de uma maneira geral, no se preocupam com os aspectos da produo; e os construtores, devido falta de um sistema de decises que seja eficaz, modificam os projetos sem discutir as solues com os projetistas, que continuam projetando da mesma maneira. A falta de integrao entre as atividades de projetar e construir causa uma srie de desperdcios e problemas patolgicos. Servios refeitos e alteraes improvisadas, decorrentes de projetos no compatibilizados, com ausncia de detalhes, e decises tomadas por pessoas no capacitadas ou em momentos inadequados so freqentes. Alm do mais, a grande quantidade de informaes geradas ao longo da fases de projeto e de execuo, fases estudadas neste trabalho, perdida devido ausncia de uma efetiva coordenao de atividades. O no cumprimento do cronograma fsico, alteraes no planejamento, atrasos na entrega do empreendimento, entre outros, so fatos comuns encontrados na construo de edifcios, e evidenciam uma srie de problemas de gesto, tais como: falta de antecipao de decises tcnicas, causando modificaes de ltimo minuto; espera por informaes vitais para o andamento dos trabalhos nos canteiros de obras, conduzindo a tomada de decises, envolvendo detalhes construtivos ou compra de material sem o devido planejamento, acarretando problemas futuros e aumento do custo previsto. Tendo em vista tal cenrio, cabe aqui delimitar o enfoque que se adotou para este trabalho.

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Em sua fase inicial, a pesquisa tinha como proposio, a partir de uma abordagem qualitativa, verificar como as empresas construtoras tratavam a questo relativa gesto dos projetos, analisando mais profundamente os aspectos ligados sua retroalimentao. Para isso, tinha-se como pretenso analisar como as empresas estavam se organizando com relao aos seus procedimentos de execuo e controle, s atividades de projeto e ao controle do processo de produo5, alm de procurar identificar os meios utilizados pelas mesmas para retroalimentar o processo de produo de seus edifcios. A partir do incio das atividades na Frana, ocorreu uma alterao do foco, ainda que a pesquisa tenha se mantido dentro de seus propsitos iniciais. Houve um redirecionamento da problemtica em estudo, sobretudo aps entrar em contato com a atual realidade francesa de construo de edifcios e incorporar a viso da sociologia inerente s pesquisas desenvolvidas no C.R.I.S.T.O. (Centre de Recherche Innovation Socio-Technique et Organisations industrielles)6. Esse contato com o grupo de pesquisadores do C.R.I.S.T.O. permitiu observar os problemas da construo de edifcios por um outro ngulo. Ou seja, despertou o interesse em se estudar e compreender a organizao do trabalho, os mtodos de gesto utilizados, a coordenao entre atividades, o sistema de agentes e as relaes entre eles, que intervm na gesto da produo dos edifcios. Os pesquisadores na rea de cincias sociais vm produzindo com relao ao tema planejamento e organizao do trabalho em empresas, denominadas de organizaes, uma abundante literatura de pesquisa, com o objetivo de5

De acordo com CARDOSO (1996a), processo de produo entendido como o conjunto de etapas fsicas, organizadas de forma coerente no tempo, que dizem respeito construo de uma obra; tais etapas concentram-se sobre a execuo, mas vo desde os estudos comerciais, at a utilizao da obra, sendo asseguradas por diferentes agentes. O C.R.I.S.T.O. um laboratrio de sociologia industrial, contando com socilogos, economistas, engenheiros e arquitetos, dentre seus onze pesquisadores, alm de uma dezena de doutorandos, dois funcionrios administrativos e uma bibliotecria (http://www.upmf-grenoble.fr/cristo/).

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melhorar o funcionamento e aumentar a integrao entre os agentes. No conceito de organizaes utilizado pelos socilogos, verifica-se que o elemento chave o indivduo, o agente. O agente considerado como a pea chave para o sucesso da organizao. Em torno dos agentes, nascem as trocas de informaes, as relaes de trabalho, a cooperao, as estratgias e os mtodos de trabalho. Alm do mais, medida que o nmero de agentes pertencentes a uma organizao ou o nmero de organizaes se multiplica, aumentam os canais de informaes. E, no caso da construo de edifcios, composta por vrias organizaes, as possibilidades de constituio de canais so significativas. Com isso, a coordenao dessa srie de informaes gerada pelos diversos canais de comunicao pode ser considerada como uma atividade

imprescindvel a ser trabalhada em cada organizao e entre elas. Para MINTZBERG; CABIN (1998), antes de tudo, para se constituir uma organizao, necessrio formar equipes de trabalho e reunir informaes de naturezas e origens diferentes. O que est em jogo o conhecimento, a cooperao, a criatividade e, sobretudo, saber trabalhar em equipe, motivando-a. No se pode constituir uma organizao pensando tratar-se simplesmente de uma associao de pessoas com tarefas a serem executadas. Faz-se necessrio que essas pessoas estejam ligadas entre si e que elas possam se projetar no futuro. As boas organizaes so aquelas que possuem equipes fortes, formadas por indivduos engajados e motivados. Considerando ainda o fato de que a concepo inicial e o projeto de um empreendimento so realizados por determinados agentes, sob uma certa coordenao, e sua execuo, por outros agentes, sob uma outra coordenao, fundamentadas por diretrizes e mtodos diferentes, propostas enfocando a coordenao entre as atividades de projetar e construir continuam necessrias e de grande interesse.

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CHEMILLIER (1993), a esse respeito, comenta que, no segmento de edificaes, existe algo de interessante: aqueles que vo executar o empreendimento, ignoram, em geral, algumas semanas mais tarde, as decises tomadas por aqueles que o projetaram. A dissociao entre as equipes de projeto e as equipes de construo um fato na construo de edifcios. Fato esse inadmissvel quando da fabricao de um produto industrial, conclui. Partindo desse fato, faz parte do enfoque da tese o estudo de uma fase denominada, aqui, preparao da execuo de obras (PEO). Essa fase, adotada nos empreendimentos franceses, busca integrar diferentes agentes, pertencentes a diferentes organizaes, bem como valorizar a coordenao entre essas organizaes, exigindo a atuao de um coordenador que ser chamado coordenador pr-ativo responsvel pelo controle da execuo, pelo cumprimento dos prazos e pela gesto do sistema de informao. Este trabalho tratar das atividades desenvolvidas que se iniciam aps a etapa de anteprojeto e se desenvolvem at a entrega da obra, passando pela elaborao dos projetos para produo7, execuo e controle dos servios executados. 1.2 Justificativa

1.2.1 Preparao da execuo de obras Na Frana, todos os profissionais da construo sabem: a ausncia de uma fase dedicada preparao da execuo de obras conduz aos imprevistos de uma improvisao, podendo ser questionado seu custo econmico e o desgaste humano relativo aos retrabalhos, segundo a Agence Qualit Construction (AQC, 1996).

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Entende-se por projeto para produo o detalhamento do projeto visando a execuo dos servios, feito com a participao das respectivas empresas construtoras contratadas ou subcontratadas devidamente validado pelos projetistas.

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Os pesquisadores franceses questionam, h muitos anos, quais so as aes que devem ser empreendidas para se obterem melhores resultados econmicos e quanto qualidade; eles defendem a idia de que melhor prevenir do que improvisar, idia que tomou ainda mais fora com o movimento pela qualidade. Apesar da construo na Frana ter passado inicialmente um perodo de relativo isolamento face ao movimento de certificao segundo a srie ISO 9000, que crescia no mundo todo, concentrando-se os franceses na certificao evolutiva, especfica do setor, atualmente, percebe-se um interesse cada vez maior pela certificao da qualidade do tipo universal. So exemplos desses programas de certificao especfica (baseados na evoluo gradual da gesto da qualidade nas empresas) os sistemas QUALIBAT (edificaes), QUALITP (infra-estrutura) e QUALIFELEC

(transmisso de energia eltrica). Tambm pode-se citar a certificao dos empreendedores (sistema QUALIMO, para a matrise douvrage), e o sistema QUALIARCH (arquitetura, em fase de criao), todos visando uma

implementao progressiva de requisitos. A certificao QUALIBAT baseada em 13 requisitos e apresenta quatro nveis de certificados. No primeiro nvel (nvel A), feita a certificao profissional bsica, com base no curriculum de obras realizadas nenhum requisito quanto gesto da qualidade exigido. Para o segundo nvel (nvel B), a empresa deve demonstrar ter implementado quatro dentre seis requisitos. No nvel C, o terceiro na graduao desse sistema, a candidata deve apresentar um Manual de Garantia da Qualidade, contemplando no mnimo nove requisitos. O ltimo estgio, o nvel D, exige que todos os 13 requisitos tenham sido implementados e somente concedido aps auditoria de terceira parte. No caso do sistema QUALIBAT, a aplicao no obrigatria na Frana, continuando as licitaes pblicas da rea de habitao de interesse social a serem realizadas sem a exigncia de certificao da qualidade. Assim, a maioria das empresas, cujo porte mdio bastante reduzido, no tm um

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sistema de gesto da qualidade completo e os mtodos de gesto da execuo de obras consideram essa realidade. H um consenso de que melhor planejar, preparar a fim de evitar as perdas, as reparaes, os retrabalhos, mas existe tambm a conscincia da dificuldade de colocar em prtica tal filosofia. Cientes dessa dificuldade, e com o apoio do movimento da qualidade, na construo civil francesa, as organizaes vm desenvolvendo metodologias e as implantando em canteiros de obras, visando construir melhor e de forma mais econmica. Segundo reporta AIELLO (1999), na construo civil francesa, concluiu-se que era necessrio desenvolver mtodos de trabalho que proporcionassem: uma maior integrao entre os agentes responsveis pelo projeto e execuo da obra, criando condies para possveis troca de experincias, acordo e engajamento face s regras estabelecidas; um maior conhecimento do projeto por parte da equipe de execuo. O objetivo melhorar a comunicao, incentivar a participao e a colaborao entre os agentes. Diante disso, foi desenvolvida a metodologia de Preparao da Execuo de Obras (PEO), hoje em dia sedimentada, constituindo uma fase obrigatria nos empreendimentos pblicos. Na Frana, o setor pblico tem um grande peso com relao ao processo de inovao, seja ele voltado tecnologia ou gesto, exercendo uma forte influncia sobre os

empreendimentos do setor privado. Para que a PEO seja plenamente eficaz, faz-se necessrio que ela atenda a trs condies (AIELLO,1999): ser um trabalho coletivo, envolvendo os agentes responsveis pelo projeto e pela execuo, reduzindo os problemas de integrao entre essas fases;

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ser um trabalho que conduza antecipao das decises, evitando que sejam tomadas no canteiro de obras, diante de uma necessidade de cronograma, sem considerar aspectos como custo, racionalizao e desempenho;

ser um trabalho desenvolvido dentro de um tempo compatvel com o atendimento de seus objetivos constituir uma fase de interligao entre o projeto e a obra, quando ser possvel estudar e planejar sua execuo.

Os aspectos considerados pela PEO vo ao encontro das necessidades observadas no Brasil. Nos canteiros de obras brasileiros, observam-se problemas ntidos relacionados falta de integrao entre as fases de projeto e de execuo. Isso motivou o estudo do mtodo francs e a anlise das possveis adaptaes necessrias sua implementao e prtica no Brasil. sabido que, quando se dedica uma etapa para o estudo do projeto junto queles que o executaro, as dificuldades de execuo so mais facilmente identificadas e as solues tomadas so mais eficazes, como foi confirmado pelo Construction Industry Institute (CII) em 1987 e discutido por MELHADO (1994), em sua tese de doutorado. Alm do mais, tem-se muito mais tempo para a discusso e deciso de qual soluo deve ser adotada, do que momentos antes da execuo dos servios no canteiro de obras, em que a pressa define a soluo a ser adotada, nem sempre a mais econmica e tcnica. Com o desenvolvimento da PEO, podem ser evitados trabalhos suplementares no final da execuo das obras, atrasos na entrega do empreendimento, servios mal executados, conflitos entre os agentes e acidentes. Alm disso, na PEO possvel determinar quem sero os verdadeiros parceiros, j que um agente que no concorda com as regras estabelecidas nessa fase possui pouca chance de vir a contribuir em uma fase posterior. Preparar a execuo de obras significa organizar o local destinado a se

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construir o empreendimento e coordenar os agentes de modo a fazer funcionar toda a estrutura de produo contratada com o objetivo de realizar o empreendimento projetado (AQC, 1996). No Brasil, a construo de edifcios tambm comea a atingir o mesmo consenso identificado na Frana. Acredita-se na importncia de se planejar e organizar o processo de produo antes do incio da execuo das obras. Observa-se uma mudana de postura, lenta mas gradual, objetivando uma melhor produtividade e qualidade do produto final. SABBATINI (2000) tambm acredita que o segredo de uma boa gesto o planejamento. Atravs dele, as empresas podem aperfeioar seus processos, de modo a conseguir entregar obras com custos de produo otimizados, qualidade e prazos pr-definidos, tornado-as mais competitivas no mercado. Porm, apesar de serem observadas melhorias nos resultados dos empreendimentos que passaram a adotar a PEO, em alguns casos, pesquisadores franceses observaram falhas na coordenao das decises de preparao tomadas, ao longo da execuo das obras. Devido a essa anlise, foi desenvolvido um outro mtodo de trabalho denominado de coordenao pr-ativa (CPA), uma atividade a ser praticada na fase de execuo de obras e que contribui para a eficcia da PEO. 1.2.2 Coordenao de atividades O problema de uma m coordenao enfatizado por BERNOUX (1985), ao afirmar que informaes incompletas dificultam a tomada de deciso, devido s incertezas, bem como geram diferentes leituras, levando a vrias solues, e causando dvidas no momento da deciso. MINTZBERG; CABIN (1998) tambm consideram o trabalho de coordenao como uma tarefa de base para se estruturar uma organizao, partindo do princpio da diviso de trabalho entre os agentes. Na sua opinio, toda atividade humana organizada deve responder a duas exigncias fundamentais

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e contraditrias: a diviso do trabalho entre as diferentes tarefas a serem realizadas e a coordenao dessas tarefas para a realizao do trabalho. Esse raciocnio serve de base para a justificativa desta tese. Para se melhorar a qualidade e a produtividade das organizaes envolvidas na construo de um edifcio, que apresentam relaes de trabalho temporrias durante o processo de produo de um empreendimento, necessrio desenvolver o esprito de grupo e canalizar os esforos para um objetivo comum. A tarefa de coordenar no fcil, como comenta MINTZBERG (1982). So necessrios vrios recursos, os quais so denominados pelo autor de mecanismos de coordenao, traduzidos pela comunicao e o controle das atividades. Quando h coordenao, afirma BARROS (1996), ocorre a otimizao de todos os recursos que esto envolvidos na produo, levando o conhecimento de uma etapa a outra do sistema de produo de edifcios. Atravs da atividade de coordenao, possvel eliminar desperdcios de mode-obra e de materiais, aumentar a produtividade, planejar o fluxo de produo, centralizar e programar as decises. Entretanto, para isso se tornar possvel, imprescindvel uma participao efetiva dos agentes, que podem ser motivados por um trabalho de coordenao pr-ativa que os incentive a serem mais participativos e colaboradores e a passarem a trabalhar dentro de um esprito de equipe, e no apenas em prol de objetivos prprios. Evidentemente, no se trata de querer resolver, a priori, todos os problemas existentes em um canteiro de obras, mas de levar em considerao que possvel prever e evitar situaes indesejveis, e criar melhores condies de trabalho.

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1.3

Objetivos da Pesquisa que a proposio de diretrizes metodolgicas para o

Considera-se

desenvolvimento de uma fase dedicada exclusivamente ao estudo e detalhamento do projeto, visando uma maior integrao com a execuo e o controle das atividades, ir contribuir para a melhoria da qualidade e produtividade das atividades realizadas pelos agentes do empreendimento, incrementando a eficincia e a eficcia do processo de produo dos edifcios. Para tanto, acredita-se ser primordial um trabalho de coordenao, de modo a incitar os agentes na busca contnua de melhores resultados para a prestao de seus servios. A partir da identificao e anlise de mtodos de gesto praticados nos canteiros de obras franceses, a tese tem como objetivo principal propor um processo de transposio, para a realidade brasileira, de mtodos franceses adotados na gesto da interface projeto-obra e da fase de execuo propriamente dita, visando contribuir para a evoluo e para a inovao organizacional8 na construo de edifcios. O sucesso potencial dessa transposio depende de levar-se em considerao o contexto em que as prticas francesas e brasileiras esto inseridas, para que no se faam interpretaes errneas ou analogias sem fundamento, como salienta MELHADO (1999). E, para isso, o projeto e a produo devem ser pensados dentro de uma mesma tica, de forma que as aes de mudana sejam implementadas em diversas fases, desde a concepo do empreendimento, atravs de uma coordenao de atividades eficiente e eficaz, que alimente a fase de execuo e retroalimente o processo de produo do empreendimento, utilizando-se de8

Considera-se inovao organizacional como sendo um aperfeioamento gerencial, resultado de atividades de pesquisa e desenvolvimento internas e externas empresa, aplicado ao processo de produo do edifcio, objetivando a melhoria do seu desempenho, qualidade e custo (adaptado de BARROS, 1996).

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um sistema de informao confivel. Assim, esta tese pretende, atravs da anlise da experincia vivida na Frana e com o conhecimento das necessidades da construo brasileira de edifcios, estabelecer diretrizes envolvendo o projeto, o planejamento e o controle da execuo dos servios, durante as etapas compreendidas desde o trmino do anteprojeto at a entrega do empreendimento, que permitam implementar a efetiva preparao da execuo de obras, a coordenao de atividades de execuo e a retroalimentao do processo de produo. Adicionalmente, devem ser destacados ainda os seguintes objetivos especficos: propor recomendaes para a integrao entre as atividades de projeto e execuo; apresentar e discutir as aes e tarefas a serem executadas pelos agentes envolvidos; definir um mtodo de trabalho que auxilie as organizaes na preparao da execuo de obras; propor diretrizes para a criao de uma coordenao pr-ativa, na fase de execuo de obras; estabelecer recomendaes para a retroalimentao do processo de produo, atravs da avaliao participativa e retroalimentao (APR). 1.4 Metodologia da Pesquisa

1.4.1 Prembulo Na pesquisa realizada na Frana, procurou-se analisar como ocorria a integrao entre as fases de projeto e de execuo dos empreendimentos,

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atravs dos estudos de caso e da bibliografia consultada. A mesma metodologia foi adotada no Brasil, dando-se prioridade, no entanto, realizao de entrevistas junto a diversos agentes envolvidos diretamente na construo de edifcios, como projetistas, coordenadores de projeto,

coordenadores de obras, diretores tcnicos de empresas construtoras, engenheiros residentes e subempreiteiros. Os questionamentos-chaves utilizados foram: o que deve ser feito antes do incio da obras, com relao fase de projeto? Qual deve ser o nvel de detalhamento do projeto, quando do incio dos servios no canteiro de obras? Como deve ser feito o controle da execuo dos servios? Como deve ocorrer o fluxo das informaes geradas na fase de projeto e a sua retroalimentao para a concepo de novos empreendimentos? Como os trabalhos devem ser coordenados nos canteiros de obras? Tanto na Frana como no Brasil, deu-se destaque para a realizao, observao e acompanhamento de estudos de caso. Houve uma inteno consciente de trabalhar a tese a partir dos dados obtidos nas entrevistas realizadas junto aos agentes e nas visitas realizadas nos canteiros de obras, nas empresas de projeto e construtoras, sobretudo procurando registrar as relaes entre os agentes e os mtodos gerenciais adotados, para se integrar a fase de projeto fase de execuo. Nos estudos de caso realizados na Frana, analisou-se a atuao do empreendedor, do matre duvre9, dos projetistas, do coordenador da execuo de obras, do controlador tcnico (CT), do coordenador de segurana, higiene e sade do trabalho (CSPS), dos empreiteiros, do tecnlogo, do9

O conceito de matre duvre no existe no Brasil, encontrando-se neste agente diferenas importantes entre os dois pases. Porm, s vezes, como comenta CARDOSO (1996a), o arquiteto brasileiro pode vir a exercer suas funes mais direcionadas engenharia, conduo dos trabalhos nos canteiros de obras e controle dos custos de construo. Por ser considerado um agente-chave no processo de produo de um empreendimento na Frana, optou-se em manter ao longo do trabalho o termo em francs, ao invs de se fazer uma traduo aproximada. A expresso matrise duvre, por sua vez, geralmente utilizada em referncia ao conjunto dos projetistas envolvidos na concepo do empreendimento. No captulo 2, encontra-se um item especfico voltado para a descrio das funes e responsabilidades de todos os agentes tratados nesta pesquisa.

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mestre-de-obras e dos subempreiteiros. Nos estudos de caso realizados no Brasil, analisou-se a atuao do empreendedor, dos projetistas, do coordenador do projeto, do coordenador de obras, do engenheiro residente, do tcnico de edificaes, do tcnico de segurana, do mestre-de-obras e dos subempreiteiros. Na Frana, foram acompanhados quatro empreendimentos, entre eles os situados nas cidades de Bouvesse - Quirieu, Montalieu - Vercieu, Grenoble e Le Grand Lemps, todas localizadas no departamento de Isre, regio de Rhne Alpes. Esses estudos de caso no se limitaram apenas anlise dos empreendimentos, mas tambm envolveram a compreenso do papel e da forma de organizao interna de seus principais agentes. Ainda como parte desses estudos de caso, constam pesquisas realizadas junto a duas empresas de projeto de arquitetura. Quanto ao Brasil10, sero apresentados cinco estudos de caso realizados em empresas construtoras, inclusive com visitas a alguns de seus canteiros de obras, e trs estudos de caso em empresas de projeto. Nos estudos de caso realizados nas empresas construtoras no Brasil, optou-se pela aplicao de questionrios (ver Anexo A) e pelo acompanhamento da execuo de vrios empreendimentos, com o que foi possvel comparar as respostas dadas com o dia-a-dia verificado nos canteiros de obras. Em uma das empresas estudadas, a autora contou com a oportunidade de realizar um estgio de um ano e meio, que contribuiu para as concluses apresentadas. Na Frana, foi feito um trabalho mais de observao, do que de entrevistas. O perodo longo de tempo dedicado aos estudos de caso permitiu o uso desse tipo de metodologia. No foram adotados questionrios, como no caso do Brasil, sendo priorizada a observao de alguns objetos de estudo, como

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Devido s diferenas de evoluo tcnica, social e econmica entre as suas regies, este trabalho tratar mais especificamente da cidade de So Paulo.

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detalhado na seqncia. 1.4.2 Objetos observados nos estudos de caso realizados na Frana e reflexes conduzidas Com relao aos objetos da anlise realizada ao longo da pesquisa de campo, destacaram-se os seguintes questionamentos: quais so as funes dos agentes envolvidos no processo, sendo eles: o empreendedor, o matre duvre, os projetistas, o coordenador da execuo de obras, o controlador tcnico, o coordenador de segurana, higiene e sade do trabalho, os empreiteiros, o tecnlogo e o mestre-deobras; como atua a matrise duvre nos canteiros de obras; como atua o coordenador da execuo de obras; como o comportamento das empresas construtoras no dia-a-dia dos canteiros de obras; como ocorre a relao entre a matrise duvre e o empreendedor, entre a matrise duvre e as empresas construtoras e entre a matrise duvre e coordenador da execuo de obras; quais so as regras de trabalho estabelecidas, por exemplo, como so tratados os problemas relacionados s interfaces entre dois ou mais agentes e como so administrados os conflitos e imprevistos; quais as superposies de tarefas e os conflitos existentes entre os agentes; como constitudo o sistema de informao e como ocorre a comunicao entre os agentes - descrio das ferramentas utilizadas

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(documentao, atas de reunio, fax, mensagens eletrnicas, disquetes contendo arquivos do projeto); em que momento as decises de projeto so tomadas de modo a evitar atrasos e retrabalhos na poca de entrega do empreendimento ao usurio final; como ocorre o processo de controle da produo do edifcio durante a execuo das obras; como ocorre o retorno da experincia vivida em um canteiro de obras, de modo a se utilizar os dados no prprio ou em futuros empreendimentos. Considerando esses questionamentos, os estudos de caso procuraram registrar e analisar como a construo de edifcios francesa vem trabalhando em seus canteiros de obras, destacando as situaes onde se obtm melhores resultados de dilogo quanto ao relacionamento dos agentes envolvidos nas fases de projeto e de execuo. Para obteno das informaes utilizadas nas anlises, foi necessrio estabelecer um mtodo de trabalho preciso, claro e coerente, apresentado e comentado a seguir. 1.4.3 Mtodo adotado na realizao dos estudos de caso na Frana Os dados apresentados nos estudos de caso so provenientes das vrias entrevistas efetuadas e das observaes pessoais realizadas quando das visitas aos canteiros de obras, empresas construtoras e de projeto. Assim sendo, as informaes expostas na descrio e anlise dos estudos de caso so provenientes: 1. das observaes realizadas nos canteiros de obras durante as reunies de preparao e de coordenao, nas quais foi possvel encontrar e ouvir os agentes;

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2. das observaes e entrevistas realizadas junto aos operrios quando da execuo dos servios; 3. das observaes efetuadas quando do estudo do contedo da

documentao e do projeto; 4. das informaes extradas das entrevistas realizadas junto aos agentes, bem como de seus testemunhos; 5. dos resultados obtidos na pesquisa Pratiques de Projet et Ingnieries effets de linteraction entre la conception architecturale et technique et la conception de la production sur les pratiques de matrise doeuvre - PPI (Prticas de Projeto e Engenharias: efeitos sobre as prticas de coordenao do projeto resultantes da interao entre projeto do produto e projeto do processo), atravs do acompanhamento de um estudo de caso e das reunies realizadas com os demais pesquisadores envolvidos no programa da pesquisa. O mtodo de trabalho adotado nas visitas realizadas aos canteiros de obras constou das seguintes etapas: realizao de entrevistas junto aos agentes, de modo a identificar o papel de cada um e seus descontentamentos; estudo do projeto dos empreendimentos, analisando seu contedo e forma de apresentao; estudo da documentao (procedimentos de execuo e procedimentos administrativos); anlise dos procedimentos adotados no controle da execuo dos servios; participao nas reunies semanais de preparao da execuo de obras;

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participao nas reunies destinadas reviso da documentao disponvel aos agentes antes do incio da execuo das obras; participao nas reunies para elaborao do cronograma de execuo; participao nas reunies de coordenao realizadas semanalmente no canteiro de obras, nas quais se avaliava a evoluo dos trabalhos; participao nas reunies de elaborao do plano de garantia da qualidade das obras. Em resumo, nos estudos de caso, procurou-se verificar se as tentativas de evoluo que vm sendo exploradas pelos agentes na Frana tm conseguido estreitar a interface entre o projeto e a obra e melhorar as relaes de trabalho, e quais tm sido as dificuldades para uma real evoluo. 1.4.4 Apresentao dos estudos de caso realizados na Frana e no Brasil Para os estudos de caso realizados na Frana, ser feita uma breve caracterizao e sero analisados uma srie de itens, tais como: o processo de elaborao dos projetos para produo; o contedo da documentao disponvel; as discusses entre os agentes sobre os procedimentos de execuo e controle; o planejamento de atividades; o mtodo de trabalho adotado pelo coordenador de obras; os mtodos de troca e de registro de informaes. Dentro da caracterizao dos empreendimentos, sero descritos: as

caractersticas fsicas e tcnicas do empreendimento; o tipo de contrato adotado para a execuo dos servios, o perodo de acompanhamento dos trabalhos; e a fase na qual o empreendimento se situava com relao sua execuo. Na apresentao dos estudos de caso analisados no Brasil, ser feita uma caracterizao das empresas construtoras e de projeto analisadas.

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Posteriormente, ser dedicado um item discusso e anlise das relaes funcionais existentes entre os agentes pesquisados. Na seqncia, ser dada nfase s caractersticas do sistema de informao, envolvendo

documentao, controle da execuo dos servios e integrao projeto-obra, nas empresas estudadas. Em resumo, os estudos de caso realizados nos canteiros de obras, empresas construtoras e empresas de projeto serviram para observar as interfaces de trabalho entre os agentes e o seu comportamento, e analisar as relaes de trabalho e os mtodos de gesto utilizados nas etapas que antecipam a execuo das obras e na sua execuo propriamente dita. Os dados adquiridos com os estudos de caso no Brasil serviro de base comparativa, com relao situao encontrada na Frana e daro apoio s propostas apresentadas no Captulo 5. Com relao bibliografia, procurou-se levantar e analisar de forma abrangente os principais itens relacionados com o tema, dando destaque para a bibliografia francesa. Entre os temas pesquisados na bibliografia, a seguir, encontram-se os principais tpicos estudados: panorama do setor da construo civil na Frana e do segmento da construo de edifcios e de obras pblicas; modelo tradicional francs de produo: estrutura em trade empreendedor coordenador do projeto - construtora; modelo tradicional de organizao do canteiro de obras: importncia da mo-de-obra, comunicao, troca de experincias e cooperao; passagem do projeto obra: tentativas descontinuadas de evoluo;

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passagem do projeto obra: contribuies advindas do movimento da gesto da qualidade e da certificao; passagem do projeto obra: detalhamento do projeto e sua adaptao execuo; passagem do projeto obra: a preparao da execuo de obras; passagem do projeto obra: o aprofundamento e a finalizao da preparao da execuo de obras; passagem do projeto obra: a coordenao pr-ativa, na fase de execuo de obras; estudos de caso realizados por outros pesquisadores - pesquisas realizadas com o apoio do Plan Urbanisme Construction et Architecture (PUCA). 1.5 Estruturao do Trabalho

Para atender aos objetivos do trabalho, o texto est apresentado em 6 captulos. Este texto fruto da pesquisa iniciada em 1997, a qual se desenvolveu em trs etapas. A primeira etapa introdutria , corresponde ao perodo no qual foram cursadas as disciplinas, em que foi possvel realizar vrias entrevistas e estudos de caso; a segunda aprofundamento , relaciona-se ao perodo do estgio-sanduche, o qual proporcionou o conhecimento de uma outra realidade da construo de edifcios; a terceira transposio , consistiu na reflexo envolvendo tanto os parmetros obtidos na pesquisa efetuada no exterior quanto aquela j realizada no Brasil, bem como finalizao dos estudos de caso. Este texto est estruturado conforme descrito abaixo: Captulo 1 Introduo, contendo o enfoque do trabalho, as justificativas, os objetivos e a metodologia adotada;

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Captulo 2 Aspectos gerais da construo de edifcios na Frana e reflexes quanto organizao da construo de edifcios no Brasil;

Captulo 3 Apresentao dos mtodos de trabalho adotados nos canteiros de obras franceses na interface projeto-obra;

Captulo 4 Apresentao e anlise dos estudos de caso analisados na Frana e no Brasil;

Captulo 5 Apresentao da proposta da tese; Captulo 6 Consideraes Finais.

Pode-se dizer que o texto est estruturado em trs partes. A primeira parte, relativa aos captulos 1, 2 e 3, foi redigida a partir da anlise da bibliografia consultada. A segunda parte do trabalho, Captulo 4, est reservada s observaes obtidas atravs dos estudos de caso. E, por fim, a terceira parte, contendo o Captulo 5, apresenta a proposta das diretrizes e de novos mtodos de gesto, objetivo principal da tese, e as consideraes finais (Captulo 6).

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ASPECTOS GERAIS DA CONSTRUO DE EDIFCIOS NA FRANA

Neste captulo, ser traado um panorama da construo de edifcios na Frana, atravs de um curto histrico e da apresentao de dados estatsticos publicados pela Direo de Assuntos Econmicos e Internacionais do Ministrio de Infra-Estrutura, Transportes e Habitao. Com base na reviso da bibliografia, apoiada ainda na vivncia proporcionada pelo perodo de estgio-sanduche, faz-se uma descrio detalhada da organizao dos empreendimentos, salientando-se o papel e as funes dos agentes e os esforos relativos gesto da qualidade que vm sendo praticados. Ao final, discutem-se as diferenas entre a situao brasileira e a francesa quanto a aspectos marcantes da construo de edifcios. 2.1 Panorama do Segmento de Edificaes: de 1970 ao Incio dos Anos 2000 2.1.1 Crescimento, crise e evoluo da construo de edifcios A construo civil francesa se caracteriza por perodos alternados de crise e de crescimento. Na ps-guerra e at meados dos anos 70, a construo civil francesa viveu um perodo de crescimento forte e regular. Foi a poca em que a Frana se urbanizava, o Estado financiava as operaes e os diferentes agentes do setor se organizavam de modo a atender solicitao de uma construo de massa, pouco exigente com relao aos aspectos ligados qualidade. No final da dcada de 70, com a reduo do investimento pblico em obras, deu-se incio a um perodo de crise no setor. A partir de ento, muitos foram os esforos realizados pela construo civil na tentativa de melhorar, modernizar o segmento de edificaes. Os objetivos eram, por exemplo, reduzir os prazos de

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execuo, os custos, melhorar a qualidade arquitetnica, ou ainda favorecer a industrializao da construo (CHEMILLIER, 1993). Mais precisamente aps 1974, como destaca CHEMILLIER, a implementao de mudanas no seguiu um processo adequado e, como houve um certo desengajamento do Estado, no foi possvel se obter resultados significativos. Os esforos continuaram, porm, de forma descentralizada, no nvel regional. Vrias experincias foram realizadas em canteiros de obras-piloto. Elas tinham como objetivo avaliar sua pertinncia e seu valor pedaggico, verificando o seu potencial de implementao em escala nacional. Os anos 80 foram caracterizados por um perodo de redefinio das estratgias adotadas pelos agentes e de transformao das relaes de trabalho devido ao importante projeto de reforma da lei sobre as relaes entre os

empreendedores pblicos (Matrise dOuvrage Publique MOP) e os projetistas, de 12 de julho de 1985 (CAMPAGNAC, s.d). Os primeiros cinco anos, entre 1980 e 1985, foram marcados por outra forte crise, seguidos de cinco anos de boom, entre 1986 e 1991. Com a Lei MOP, a construo civil francesa comeou a atravessar um perodo de fortes mudanas, como cita CAMPAGNAC: de uma parte, o aumento do poder das empresas construtoras, em particular dos grandes grupos, que passaram a adotar estratgias de diferenciao, baseadas na concepo do produto, incluindo o

desenvolvimento dos estudos tcnicos e econmicos do projeto, e na execuo das obras, enfatizando sua coordenao e controle; de outra parte, a vontade de reformas nas relaes entre os agentes, por parte dos contratantes pblicos, com base na aplicao da Lei MOP. Logo aps o incio da crise dos anos 80, as grandes empresas de construo,

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conhecidas como entreprises gnrales11, passaram a desenvolver diferentes estratgias internas, objetivando reduzir ou integrar a grande variedade de processos presentes no sistema de produo do edifcio, em busca de novas exigncias em termos de custos, prazos e qualidade. Entre elas, GUFFOND, LECONTE (2000) do destaque s pesquisas que tinham como objetivo a busca de solues padronizadas para a execuo de obras, o investimento no desenvolvimento de materiais de construo de melhor desempenho, a reestruturao do trabalho coletivo e o aumento da qualificao da mo-deobra. Assim como nos anos 70, os cinco primeiros anos da dcada de 80 foram, de fato, marcados por uma baixa considervel de atividades no setor, o que induziu a mudanas considerveis na forma organizacional das empresas construtoras e o aumento da concorrncia entre as pequenas e mdias empresas. Entre as mudanas organizacionais imprimidas pelas empresas construtoras, a centralizao do capital e a fuso de empresas marcaram poca, onde as grandes empresas construtoras compraram outras menores, que

apresentavam dificuldades financeiras, tornando-se mais fortes, e comearam tambm a diversificar suas reas de atuao. A partir de ento, nasceram os grandes grupos empresariais polivalentes atuantes cada vez mais na fase de projeto e execuo de maneira integrada. Os grandes grupos passaram a intervir mais na fase de projeto, assumindo a responsabilidade pelo seu detalhamento tcnico, caracterizando os meados dos anos 80. No incio da dcada de 90, o segmento apresentou um aquecimento das atividades, tendo, porm, entre os anos de 1995 a 1998, vivido outra crise to forte quanto aquela do incio da dcada de 70.

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Empresas que assinam contrato com o empreendedor referente totalidade de execuo dos servios de uma obra; entretanto, executam apenas a estrutura, subcontratando os servios de vedao e acabamento do edifcio s pequenas e mdias empresas especializadas na prestao de um dado servio (GUFFOND; LECONTE, 1999a).

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Em 1992, a Unio Europia (Commission des Communauts Europennes Units Europennes) efetuou um grande estudo com objetivo de detectar os pontos falhos e os pontos fortes no segmento de edificaes, e identificar aes que favorecessem o incremento do desempenho e a modernizao. CHEMILLIER (1993) destaca alguns desses pontos identificados pela pesquisa. Entre os pontos fortes, encontram-se um conjunto de medidas realizadas, apresentadas a seguir: os laboratrios de pesquisa dedicaram 40 anos de trabalho de grande qualidade com o objetivo de melhor entender o comportamento dos materiais de construo. Essas pesquisas constituram uma fonte de informao para a obteno de um maior desempenho do produto final, bem como ajudar os projetistas na concepo do empreendimento. Todo o conhecimento adquirido foi registrado em um conjunto impressionante de leis, normas, Documents Techniques Unifis (DTUs)12 e Avis Techniques13 para componentes construtivos inovadores, hoje, considerados tradicionais; as fbricas, onde tais componentes construtivos inovadores eram produzidos, fizeram progressos espetaculares com relao automatizao de sua linha de montagem e adoo dos princpios de gesto da qualidade. Com isso, alm do aumento do desempenho dos produtos, o preo de venda diminuiu, devido aos ganhos de produtividade obtidos. Vrios novos produtos apareceram, atendendo cada vez melhor s necessidades especficas. Nos ltimos vinte anos, a engenharia de materiais produziu solues importantes para a evoluo do segmento de edificaes;12

Documents Techniques Unifis (DTUs): textos especificamente dedicados ao setor e que tratam, em detalhes, aspectos da construo que vo desde o clculo at a prescrio de tcnicas construtivas (VIGAN, 1993). Avis technique: trata-se de um documento oficial, contendo um parecer produzido por uma comisso composta de especialistas, em relao a um material ou uma tcnica construtiva no tradicional. Sua elaborao se apia em resultados de testes realizados em laboratrio, resultados obtidos em canteiro de obras piloto e a partir de anlises comparativas com materiais ou tcnicas j conhecidas. (VIGAN, 1993).

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as empresas de projeto, sejam elas independentes ou ligadas s empresas construtoras, com o auxlio da informtica, tiveram ganhos considerveis de produtividade nos procedimentos de clculo, desenho, armazenamento e consulta de dados.

No entanto, nessa mesma pesquisa de 1992, vrios aspectos preocupantes com relao construo de edifcios tambm se manifestaram. CHEMILLIER (1993) aponta: a qualidade final do produto, muitas vezes medocre, no com relao qualidade arquitetnica, que fez grandes progressos, e sim, com relao qualidade tcnica. O resultado observado foi uma degradao rpida das obras, um envelhecimento prematuro, problemas patolgicos que custam caro para serem resolvidos, gerando perda de tempo e de dinheiro; a falta de atrao que o segmento de edificaes exerce sobre os jovens - a imagem do setor no boa. Foi detectada uma forte presena de trabalhadores imigrantes pouco qualificados e um envelhecimento

preocupante da mo-de-obra. Vrias empresas construtoras, com o apo