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O terrorismo é o grande fenômeno global do início do século XXI.Essa nova era do terrorismo internacional teve início com os atenta-dos de 11 de setembro de 2001, quando extremistas islâmicos liga-dos à organização Al Qaeda (“A Base”) lançaram aviões contra as Tor-res Gêmeas e contra o Pentágono, nos Estados Unidos. Desde então,ocorreram ataques às cidades de Madri (Espanha), Báli (Indonésia),Moscou (Federação Russa), Riad (Arábia Saudita), Carachi (Paquistão),Casablanca (Marrocos) e Istambul (Turquia), entre outros, que mostra-ram o grau de abrangência desses atos.
Como conceituar terrorismo? A definição desse fenômeno é com-plexa e depende de quem responde a essa indagação. De maneirabastante genérica, pode-se afirmar que o terrorismo é um tipo de açãocaracterizado pelo emprego sistemático de métodos violentos paracriar situações de medo, visando algum objetivo político.
O conceito de terrorista muda em função das circunstâncias políti-cas. Certas personalidades da política internacional, tais como o fale-cido líder palestino Iasser Arafat ou o ex-primeiro ministro de Israel,
As fotos registram o atentado terrorista contra as torres do World Trade Center, emNova Iorque, Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001. À esquerda, momentosantes de o avião atingir a segunda torre do World Trade Center; à direita, as duastorres já em chamas.
Terrorismo: a ameaçado século XXI
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Terrorismo
Menahen Béguin, foram, em épocas diferentes,considerados terroristas. Mais tarde, ambos fo-ram reconhecidos internacionalmente como lí-deres de seus povos, tendo sido inclusive agra-ciados com o Prêmio Nobel da Paz. O líder sul-africano Nelson Mandela, primeiro presidente daRepública Sul-Africana pós-apartheid e reconhe-cido como um dos mais respeitados líderes po-líticos da atualidade, também foi considerado ter-rorista pelas autoridades do governo do país du-rante a vigência do regime racista. Mandela pas-sou cerca de 25 anos recluso nas prisões da Áfri-ca do Sul. Mesmo no Brasil, durante os anos doregime militar (1964-1985), algumas pessoas queatualmente detêm altos cargos no governo fe-deral foram consideradas terroristas.
Na atualidade, existe uma doutrina geopolíticaglobal antiterrorista posta em prática pelo gover-no norte-americano, conhecida como DoutrinaBush, que tem como ponto central a luta contrao terrorismo internacional. Assim, os ataques dacoalizão de forças liderada pelos Estados Uni-dos contra o Afeganistão (2001) e contra o Ira-que (2003) são exemplos da aplicação práticadessa doutrina.
Breve história doterrorismo
Os termos terror e terrorismo, pelo menos naIdade Moderna, foram usados originalmente du-rante a Revolução Francesa, especialmente en-tre os anos de 1793 e 1794, quando o Comitê deSalvação Pública tomou o controle do país. Ten-do à frente os revolucionários Maximilien Robes-pierre e Louis Saint-Just, a França passou por umperíodo caótico que ficou conhecido como a Erado Terror.
No século XIX, o terrorismo passou a aparecernos livros de autores anarquistas que justifica-vam a validade de utilização de métodos terro-ristas para destruir o poder exercido por gover-nantes despóticos, idéias que adentraram o sé-culo XX. Não se deve esquecer que foi um atoterrorista – o assassinato, em 1914, do herdeirodo trono austríaco, na cidade de Sarajevo, Bós-nia – que desencadeou a Primeira Guerra Mun-dial (1914-1918).
Um tiro no escuroO estudante de origem sérvia Gavrilo Princip
teve seus quinze minutos de fama. No dia 28 dejunho de 1914, depois de uma série de trapalha-das que o haviam feito desistir de ir beber emuma taberna em Sarajevo, ele percebeu, bem àsua frente, o carro do herdeiro do Império Aus-tro-Húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinand.Princip sacou o revólver e atirou, matando o futu-ro monarca. Saiu correndo e entrou em um cine-ma, onde foi preso. Morreu quatro anos depois,quase à época do fim da grande guerra que, comseu ato, ajudou a provocar.
O conflito em questão foi a Primeira Guerra Mun-dial (1914-1918), que matou nove milhões de pes-soas, deixou mais de vinte milhões de feridos edestruiu quatro impérios (Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano). A destruição do ImpérioRusso veio na esteira da revolução bolchevique,que fez surgir o primeiro país socialista do mundo– a União Soviética.
A visita do arquiduque a Sarajevo, capital da Bós-nia, província austro-húngara, foi uma provocaçãoaos olhos dos sérvios, povo que compunha gran-de parte da população local. O arquiduque decidiuinspecionar manobras militares coincidentemen-te numa data histórica para os sérvios: nessa data,no longínquo ano de 1389, os sérvios tinham so-frido uma grande derrota para os otomanos.
Ao agir como um terrorista, Gravilo pôs em mo-vimento uma mistura terrível de alianças militaresde países, que gerou dois grandes blocos antagô-nicos (a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente),prontos para uma guerra que todos os envolvidosacreditavam poder vencer rapidamente. Na verda-de, o cenário da guerra já vinha se formando hámais tempo e o atentado em Sarajevo foi apenasa “gota d’água”. De qualquer maneira, os tiros doterrorista Gravilo Princip atingiram um alvo muitomaior que o peito de Francisco Ferdinand.
Entre o final da Segunda Guerra Mundial e osúltimos anos da década de 1960, as ações terro-ristas aconteceram principalmente nos continen-tes africano e asiático e estiveram ligadas às lutasdos movimentos que buscavam o fim do domíniocolonial europeu. Em alguns casos, o terrorismofoi usado tanto por colonizados como por coloni-zadores: em vários episódios da Guerra da Argélia(1954-1962), por exemplo, atentados terroristas
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foram praticados tanto pelos insurgentes, quantopor militares franceses que eram contra a emanci-pação dos argelinos.
Após 1968...O ano de 1968 foi marcado por intensas mani-
festações estudantis que se verificaram em qua-se todo o mundo. Os jovens daquela época e ou-tros ativistas (intelectuais, liberais, pacifistas) ques-tionavam tanto o modo de vida capitalista comotambém a intervenção norte-americana no Vietnã.Após 1968, o terrorismo foi uma das respostas aorefluxo dos movimentos contestatórios que mar-caram aquele ano. Na impossibilidade de mudar ostatus quo por meio de mobilizações pacíficas,muitos militantes criaram pequenos grupos, quepassaram a praticar atentados terroristas.
Ao longo dos anos 1970, as ações terroristasforam classificadas em quatro grandes tipos. Noprimeiro deles, encaixavam-se as organizaçõesque empregavam métodos terroristas com o ob-jetivo de destruir ou desestabilizar governos ca-pitalistas e instituições políticas liberal-democrá-ticas, em nome de uma sociedade comunista queconsideravam mais justa. Os principais exemplosdesse tipo foram as Brigadas Vermelhas, que atu-aram na Itália, e o grupo Baader Meinhoff (ou Fra-ção do Exército Vermelho), na Alemanha. Asações mais espetaculares desses dois gruposaconteceram entre o final da década de 1970 e oinício da década seguinte. Todavia, essas organi-zações foram aniquiladas em razão de suas dis-putas internas e pela ação eficiente dos órgãosde repressão.
O segundo tipo era aquele de caráter separatis-ta, que visava à criação de um novo Estado. En-quadravam-se nesse tipo de terrorismo as açõespraticadas pelo Exército Republicano Irlandês (IRA),o Pátria Basca e Liberdade (ETA) e grupos palesti-nos ligados ou não à Organização para a Liberta-ção da Palestina (OLP).
Outro tipo é o denominado terrorismo de Esta-do, no qual o governo faz uso da violência parareprimir grupos sociais ou organizações políticasque lhes façam oposição. Especialmente nas dé-cadas de 1960 e 1970, o terrorismo de Estado foiusado amplamente por inúmeros governos ditato-riais na América Latina, Ásia e África. Contudo, nãose deve esquecer que, algumas décadas antes,dois regimes ditatoriais – o de Josef Stálin, na UniãoSoviética, e o de Adolf Hitler, na Alemanha –, pra-ticaram o terrorismo de Estado, assassinando mi-lhões de pessoas.
Finalmente, há o chamado terrorismo negro (emcontraposição ao terrorismo vermelho, dos gruposcomunistas), que os grupos clandestinos de ex-trema-direita empregaram a fim de evitar o avan-ço democrático de forças socialistas. O exemplomais representativo foi o dos grupos neofascistasque cometeram atentados na Itália, durante a dé-cada de 1970.
O novo rosto do terrorismoO terrorismo contemporâneo, em suas quatro
versões (nacionalista, de extrema-esquerda, esta-tal e de extrema-direita), teve seu maior desenvol-vimento nas décadas de 1960 e 1970. Na passa-gem dos anos 1980 aos anos 1990, duas novasmodalidades de terrorismo surgiram: o terrorismo“doméstico”, tipicamente norte-americano, e o ter-rorismo internacional dos grupos fundamentalis-tas islâmicos.
Com o primeiro deles, o mundo descobriu umlado sombrio da sociedade norte-americana. Doispersonagens marcaram a história do terrorismo do-méstico dos Estados Unidos: o unabomber e Ti-mothy McVeigh. O unabomber foi o terrorista que,por cerca de duas décadas, enviou pacotes-bom-ba para suas vítimas. Quando os órgãos de segu-rança o capturaram, em 1996, ele não revelou ne-nhuma motivação política que justificasse suasações. Já Timothy McVeigh, um típico jovem nor-te-americano, sentia-se prejudicado pelo governo.
Sagração da Primavera
Em maio de 1913, cerca de um ano antes do inícioda Primeira Guerra Mundial, estreou em Paris o baléSagração da Primavera, composto pelo russo IgorStravinsky. O espetáculo abalou os ouvintes tradicio-nais e chocou parte do público, que reagiu com vai-as e ofensas. A obra, com seu ritmo frenético e suasharmonias “estranhas” e fragmentadas, mostrava orompimento com a arte bem comportada da Europade então. Alguns meses depois, o início da PrimeiraGuerra confirmava o veredicto de Stravinsky e deoutros artistas de vanguarda: o horror da guerra exi-gia novas formas artísticas, capazes de expressar asdesarmonias de um mundo em crise.
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Em 1995, ele fez explodir uma bomba num prédiodo governo federal, localizado na cidade de Oklaho-ma, causando a morte de 168 pessoas, inclusivevárias crianças. Ao justificar seu crime, McVeighalegou que tinha agido desse modo para se vingarpessoalmente do governo.
Diferente do terrorismo doméstico, o outro tipode terrorismo praticado na atualidade tem cará-ter internacional e vem sendo praticado por gru-pos fundamentalistas islâmicos. Suas ações têmcomo objetivo lutar contra a expansão e a impo-sição dos valores (morais, políticos, sociais, eco-nômicos, culturais) do mundo ocidental. Tendocomo referência o tradicionalismo religioso radi-cal, determinados grupos extremistas passarama encarar os Estados Unidos e seus aliados oci-dentais como a representação do “grande demô-nio” a ser destruído.
Esse tipo de terrorismo tornou-se cada vez maisinternacional na medida em que o mundo se glo-balizou em termos econômicos. Nos dois maioresatentados realizados por esses grupos no início doséculo XXI – o ataque às torres gêmeas do WorldTrade Center em Nova York, no ano de 2001, e aexplosão de trens em Madri, em 2004 – as víti-mas inocentes passaram a ser contadas às cente-nas e milhares.
O terrorismo bascona Espanha ena Irlanda do Norte
Armas e violência ainda são usadas por dois dosmais antigos movimentos separatistas existen-tes no continente europeu. Na Espanha, o grupoPátria Basca e Liberdade (o ETA, abreviatura deEuskadi Ta Azkatasuna, em língua basca) luta hádécadas pela independência dos bascos em rela-ção ao domínio espanhol.
Na Irlanda do Norte, o Exército Republicano Ir-landês (o IRA, abreviatura de Irish Republican Army)almeja o fim do domínio da Grã-Bretanha sobre oUlster (como é chamada a Irlanda do Norte) e suaposterior anexação à Irlanda.
Tanto o ETA quanto o IRA têm suas origens napassagem do século XIX para o século XX e suas
fases de maior atividade ocorreram entre as déca-das de 1960 e 1980. Hoje, ambos encontram-seem meio a complexas negociações de paz. Essesmovimentos também apresentam em comum ofato de terem adotado, em alguns períodos de suasrespectivas histórias, doutrinas socialistas comoobjetivo político.
A questão bascaAs sete províncias bascas abrangem territórios de
dois países. Três delas situam-se na França, e asquatro restantes, na Espanha. Essas sete provínciasperfazem uma área de 20,5 quilômetros quadrados– superfície que corresponde aproximadamente aotamanho do estado de Sergipe, a menor unidadefederativa do Brasil. A maior parte do território bas-co, cerca de 85%, faz parte do território espanhol.
Do ponto de vista demográfico, os bascos sãoaproximadamente 3 milhões de indivíduos, e pou-co mais de 90% vivem no interior da Espanha.A língua basca, traço fundamental da identidadenacional desse povo, é falada por apenas 25% dapopulação basca espanhola e por cerca de 30%dos bascos que vivem na França.
OCEANOATLÂNTICO
FRANÇA
ESPANHA
SanSebastián
GuernicaBilbao
Pamplona
LABOURDBISCAIA
GUIPÚSCUA
ALAVA
NAVARRA
BAIXANAVARRA
SOULE
Fonte: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaçomundial. São Paulo: Moderna, 2003. p. 64.
País Basco: entre a Espanha e a França
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No passado, as sete províncias bascas nunca fo-ram unidas. Do lado espanhol, durante a Idade Mé-dia, uma delas estava ligada ao Reino de Castela,e as demais, aos reinos de Navarra e Aragão. Nolado francês, as atuais províncias bascas passa-ram a fazer parte de uma unidade político-admi-nistrativa do país somente após a Revolução Fran-cesa. Todavia, as sete províncias sempre estive-ram ligadas por uma cultura e, sobretudo, por umalíngua comum. Única por sua gramática, a línguabasca não pertence a nenhum agrupamento lin-güístico conhecido. Mesmo não sendo falada pelamaioria da população basca (que fala o espanholou o francês), ela é verdadeiramente a base donacionalismo basco.
O nacionalismo bascoe o terrorismo
O nacionalismo basco tomou forma entre 1833e 1876, durante as chamadas guerras carlistas.Nesses conflitos, um numeroso contingente bas-co lutava não só para que Dom Carlos pudesse setornar o soberano da Espanha, mas também paraque se consolidasse a autonomia que suas provín-cias já possuíam. A derrota dos carlistas levou àsupressão dos privilégios dados aos bascos e aoinício dos conflitos e tensões entre eles e o gover-no central espanhol.
Mais tarde, durante a Guerra Civil Espanhola(1936-1939), ocorreu um grande crescimento donacionalismo basco. Esse conflito, considerado umprenúncio da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),opunha republicanos e franquistas – nacionalistasespanhóis comandados pelo general Francisco Fran-co. Os bascos apoiaram os republicanos, que ha-viam dado autonomia às províncias bascas.
A derrota dos republicanos acarretou uma gran-de repressão sobre os bascos: 50 mil mortos, 300mil exilados, a interdição da cultura basca, inclusi-ve com a supressão do uso de sua língua. Essasituação se estendeu por 36 anos, isto é, enquan-to durou o regime ditatorial franquista.
Durante os longos anos de luta contra o regimede Franco, foi criado, em 1959, o Euskadi Ta Aska-tasuna (ETA), ou Pátria Basca e Liberdade, cujoobjetivo era conseguir a independência do PaísBasco por meio da luta armada. Desde sua cria-ção, o ETA tinha duas alas – uma política e outramilitar. Esta última deu início, em 1967, a uma cam-panha terrorista, com ataques a oficiais da políciae do exército, altos funcionários do governo e edi-fícios públicos.
O governo de Franco reagiu: declarando estadode emergência, desencadeou brutal repressãosobre os bascos, medidas que acarretaram oaumento do apoio popular à causa basca. Em se-guida, o movimento separatista derivou para umaperspectiva marxista.
Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso. A obra representa o horror dos bombardeios nazistas sobre a província basca deGuernica, durante a Guerra Civil Espanhola.
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Após a morte de Franco, em 1975, o regime de-mocrático que se instalou na Espanha, tendo à fren-te o rei Juan Carlos, propôs que as províncias bas-cas tivessem uma autonomia que lhes permitisseorganizar uma polícia, arrecadar impostos e difun-dir a língua basca. Essas propostas foram aceitasnum referendo em 1979, embora o ETA continu-asse praticando ações violentas tendo em vista aindependência total.
Combatidos pelas forças de segurança espanho-las (e também por nacionalistas bascos moderados)e condenados por grande parte da opinião públicaespanhola e internacional, o ETA periodicamentevem cometendo atentados à bomba e assassina-tos de políticos, jornalistas, juízes e policiais.
O IRA e o terrorismona Irlanda do Norte
Em quase 40 anos de conflitos e tensões, cer-ca de 3 mil pessoas foram mortas e aproximada-mente 30 mil foram feridas na Irlanda do Norte,região também conhecida como Ulster. Essa si-tuação é o resultado da luta entre católicos e pro-testantes – divididos entre permanecer ligadosao Reino Unido ou juntar-se à República da Irlan-da (Eire).
O Ulster, região que corresponde à porção nor-te da ilha da Irlanda, possui cerca de 13,5 mil qui-lômetros quadrados e uma população aproxima-da de 1,7 milhão de habitantes, dos quais maisou menos 55% são protestantes e o restante écatólico.
Os protestantes, também conhecidos comounionistas, querem permanecer sob soberania bri-tânica, enquanto os católicos ou republicanos pre-tendem se juntar à República da Irlanda. Trata-sede um conflito iniciado há séculos.
Descendentes dos celtas que se instalaram nailha 1.600 anos antes da era cristã, os irlandesesformam um grupo dotado de uma língua e de umaidentidade bem particulares. No século XII, quan-do a Inglaterra conquistou a ilha da Irlanda, impôsuma colonização brutal, confiscando terras, depor-tando ou massacrando cerca de metade da popu-lação local. Com essas medidas, a pequena masfértil área do Ulster foi se tornando um reduto ma-joritariamente inglês.
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B R E T A N H A
NORUEGA
IRLANDA(EIRE)
DINAMARCA
PAÍSESBAIXOS
ALEMANHABÉLGICA
FRANÇA LUXEMBURGO
Londres
Dublin
OCEANOATLÂNTICO
MARDO
NORTE
Ilhas Shetland
Passo de Calais
Canal da ManchaInglaterraPaís de GalesEscóciaIrlanda do Norte
Fonte: CHALIAND, Gerard e RAGEAU, Jean-Pierre. Atlasestratégico e geopolítico. Madri: Alianza, 1984. p. 101.
De 10 a 30
De 31 a 50
De 51 a 80
Mais de 80
Católicos (%)
IRLANDA DO NORTEBelfast
IRLANDA
Londonderry
CANAL DONO
RTE
OCEANOATLÂNTICO
Fonte: CHALIAND, Gerard e RAGEAU, Jean-Pierre. Atlasestratégico e geopolítico. Madri: Alianza, 1984. p. 101.
Desde a conquista inglesa, os irlandeses promo-veram inúmeras revoltas, forjando um forte senti-mento nacionalista junto à sua comunidade. A esseconflito se somou, no século XVI, uma rivalidadereligiosa, uma vez que a Inglaterra havia aderidoao protestantismo e os irlandeses permaneceramfiéis ao catolicismo.
Divisão política das Ilhas Britânicas
Católicos na Irlanda e na Irlanda do Norte
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O processo de pacificação, entretanto, temapresentado avanços e retrocessos. Periodica-mente, choques e mortes continuam a ocorrer.O IRA só se dispôs a entregar parcialmente suasarmas no final de 2001, e órgãos de segurançabritânicos afirmam haver indícios de que o movi-mento ainda mantém secretamente algumas ati-vidades e um significativo arsenal.
A manutenção do Acordo de Páscoa baseia-seem concessões entre as partes envolvidas: por se-rem mais numerosos, os protestantes têm garanti-do uma autonomia que lhes permite impedir a reu-nificação; por outro lado, eles têm sido obrigados aaceitar a criação de instituições nas quais a influên-cia política da República da Irlanda é considerável.
Árabes, muçulmanose o fundamentalismoislâmico
Atualmente, o terrorismo que mais tem atraídoa atenção mundial é de origem islâmica. Nestesentido, é muito importante fazer-se a distinçãoentre três importantes conceitos: mundo árabe,mundo islâmico e fundamentalismo.
Quando usamos o termo árabe estamos nos re-ferindo a um povo, um grupo humano que tem asensação de partilhar uma série de característicashistóricas e culturais – como a língua, por exemplo.
ARGÉLIA
MAURITÂNIA
MARROCOS TUNÍSIA
LÍBIA EGITO
SUDÃO ERITRÉIA
ARÁBIASAUDITA
TURQUIA
IRAQUEJORDÂNIA
IRÃSÍRIA
OMÃEAU
IÊMEN
OCEANOÍNDICO
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SOMÁLI
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EQUADOR
TRÓPICO DE CÂNCER
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Países do mundo árabe
Países de expressiva importânciada cultura árabe-islâmica
Fonte: OLIC, Nelson B. e CANEPA, Beatriz.Oriente Médio e a Questão Palestina.
São Paulo: Moderna, 2003. p. 29.
Quando em 1912 a Grã-Bretanha resolveu dar au-tonomia à Irlanda, os protestantes do Ulster promo-veram um levante armado e exigiram manter-se li-gados a Londres. Nesse contexto é que os católicosse organizaram militarmente e formaram o ExércitoRepublicano Irlandês (IRA), para lutar contra o domí-nio britânico. Em 1920, a Grã Bretanha propôs a cri-ação de dois parlamentos na Irlanda – um para o Uls-ter e outro para o resto da ilha. É essa parte que veioa formar, em 1937, a República da Irlanda ou Eire.
No final da década de 1960, o Ulster começou aviver uma época de grande turbulência, pois a mi-noria católica, que sofria grande discriminação, pas-sou a exigir igualdade e o respeito a seus direitos.Os confrontos com os protestantes tornaram-seinevitáveis, fato que motivou a intervenção por par-te das tropas britânicas. A violenta repressão, acom-panhada de ocupação militar iniciada em 1969, le-vou o conflito para um outro nível, com o IRA dan-do início a uma contínua campanha terrorista. Comoresposta, grupos de unionistas desenvolveram atossimilares contra os católicos irlandeses.
Somente 25 anos depois, em 1994, é que se abriuuma perspectiva de paz entre as partesenvolvidas, quando se iniciaram conversações entreos governos britânico e irlandês e representantes dospartidos católicos e protestantes da Irlanda do Nor-te. Em 1998, foi assinado o chamado Acordo dePáscoa, que garantiu a formação de um parlamentoe de um governo com representação proporcionalde católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Peloacordo, os republicanos concordaram que a provín-cia deveria manter-se subordinada ao Reino Unidose a maioria de sua população assim quisesse.
O mundo árabe
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Terrorismo
Assim, os povos árabes formam uma comunidadede pouco mais de vinte países, localizados em duasáreas principais: o Oriente Médio e o norte da Áfri-ca. Dos quinze países localizados no Oriente Mé-dio, apenas três (Turquia, Irã e Israel) não fazem partedo chamado mundo árabe. Já na porção setentrio-nal do continente africano, todos os cinco países –Egito, Líbia e os três países da região conhecidacomo Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia) – fazemparte do mundo árabe. Há ainda no continente afri-cano pelo menos cinco países (Mauritânia, Sudão,Djibuti, Eritréia e Somália) onde é expressiva a in-fluência da cultura árabe.
Quando usamos o termo islâmico estamos nosreferindo a uma religião. São sinônimos para islâ-mico os termos muçulmano ou maometano. Ochamado mundo islâmico engloba mais de 60países, tendo como principais áreas o Oriente Mé-dio (o único país não-islâmico dessa região é Isra-el) e o norte da África. No subcontinente indiano(Paquistão, Bangladesh e Índia), na Ásia central(Uzbequistão e Cazaquistão, por exemplo), no su-deste asiático (a Indonésia é o país com maiornúmero de muçulmanos no mundo) e no noroes-te da China (região do Xinjiang Uigur), o númerode muçulmanos na população é enorme. Alémdisso, a influência islâmica se projeta ainda sobreamplos espaços da África subsaariana (Nigéria,por exemplo) e do sudeste da Europa (Bósnia eAlbânia, principalmente).
Grande maioria (mais de 90%)
Maioria expressiva (de 50 a 90%)
Expressiva minoria (de 25 a 49%)
Minoria com alguma expressão (de 5 a 24%)
Minoria pouco expressiva (menos de 5%)
Área aproximada do mundo muçulmano
OCEANOPACÍFICO
OCEANOPACÍFICO
OCEANOÍNDICO
OCEANO
ATLÂNTICO
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Fonte: OLIC, Nelson B. eCANEPA, Beatriz. Oriente Médioe a Questão Palestina. São Paulo:Moderna, 2003. p. 30.
O mundo islâmico
A religião islâmica surgiu no início do século VII,na Península Arábica, baseada nos ensinamentosdo profeta Maomé (570-632), que teriam sido re-velados por Deus com a mediação do arcanjo Ga-briel. O conjunto dessas mensagens divinas for-ma o Corão, o livro sagrado do Islã. A palavra Islãsignifica “aquele que se submete à vontade deAlá” (Allah: “Deus”, em árabe).
Maomé, integrante de uma tribo árabe que viviana Península Arábica, onde hoje se situa a ArábiaSaudita, começou a pregar sua doutrina monote-ísta aos 40 anos, mas encontrou forte oposiçãoem Meca, sua cidade natal. Ele teve então quefugir para Medina, onde ganhou prestígio e tornou-se profeta e legislador. Anos mais tarde, Maomée seu exército entraram triunfantes em Meca, quese tornou o santuário do Islã e principal centro deperegrinação. Quando morreu, em 632, as tribosda Arábia já estavam unificadas em torno da lín-gua árabe e da doutrina islâmica.
Com o objetivo de difundir a fé islâmica, exérci-tos árabes partiram para a conquista de novos terri-tórios na Ásia, África e Europa. Além de converte-rem as populações conquistadas ao islamismo, pro-pagaram a língua, os costumes e a cultura árabe. Oapogeu do Império Árabe ocorreu por volta de 750d.C. – quando se estendia desde a Península Ibéri-ca até o norte do subcontinente indiano, passandopelo norte da África e pelo Oriente Médio. A partir
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dessa época, o Império Árabe entrou em lento pro-cesso de decadência até a derrota final para osmongóis, no século XIII.
Como herança desse longo domínio, os paísesdo Oriente Médio, com a óbvia exceção de Israel,apresentam uma maioria quase absoluta de popu-lações islâmicas. Mas nem todos fazem parte dochamado mundo árabe – tanto que os povos daTurquia e do Irã, apesar de professarem o islamis-mo, mantêm a identidade cultural turca e persa,respectivamente. Além do Oriente Médio, a outraregião muçulmana que pertence ao mundo árabeé o norte da África.
O restante do mundo islâmico (Ásia Central,Subcontinente Indiano e Sudeste Asiático) estáfora do mundo árabe. Não obstante, nessas re-giões estão os países com os maiores contin-gentes de muçulmanos: Indonésia, com cercade 200 milhões; Paquistão, com aproximada-mente 150 milhões; Índia e Bangladesh, compouco mais de 120 milhões. Atualmente os ára-bes não representam mais de 20% do total demuçulmanos do mundo.
Deve-se ressaltar que na Indonésia, Paquistão eBangladesh os muçulmanos correspondem àimensa maioria da população, enquanto na Índiaos muçulmanos correspondem a uma minoria queengloba cerca de 11% do total da população dopaís. No entanto, como a Índia possui mais de 1bilhão de habitantes, os muçulmanos do país sãomais de 120 milhões de indivíduos, fato que a tor-na um dos países com maior contingente de se-guidores dessa religião.
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Indonésia Paquistão Índia Bangladesh Irã Turquia
Fonte: OLIC, Nelson B. e CANEPA, Beatriz. Oriente Médioe a Questão Palestina. São Paulo: Moderna, 2003. p. 31.
Sunitas e xiitasA religião islâmica apresenta algumas divisões,
com destaque para os xiitas e sunitas. A cisão ocor-reu há muitos séculos e esteve associada à suces-são de Maomé. Do ponto de vista político, essa di-visão tem sido uma fonte de tensões religiosas empaíses como Iraque, Iêmen, Líbano e Afeganistão.
Cerca de 85% dos muçulmanos em todo o mun-do são sunitas. No Oriente Médio, região-berçodo islamismo, os sunitas são maioria em quasetodos os países, excluindo-se alguns poucos comoo Irã e o Iraque. Formado por mais de 90% dexiitas, o Irã foi governado pela minoritária elite su-nita (2% da população) até 1979, quando uma re-volução derrubou a monarquia e implantou umarepública islâmica no país. No Iraque, até a derru-bada do regime de Saddam Hussein, os sunitas,cerca de 20% da população, exerceram o poderpolítico. Nesse país, as tensões e conflitos entreos sunitas e a maioria xiita sempre existiram.
O fundamentalismo islâmicoO fundamentalismo é uma corrente de pensamen-
to existente em praticamente todas as religiões domundo. Seus adeptos vêem os textos sagradoscomo a única orientação para os diversos aspectosda vida – das relações familiares e sociais até a or-ganização política. Como interpretam as leis religio-sas de forma integral, são conhecidos tambémcomo integristas.
Na atualidade, as correntes fundamentalistas maisatuantes estão quase todas associadas ao islamis-mo. Elas ganharam força na esteira da RevoluçãoIslâmica de 1979, quando pela primeira vez, na his-tória do Irã, os fundamentalistas muçulmanos xii-tas chegaram ao poder, por meio de um levantepopular. Sob a liderança política e espiritual do aia-tolá (líder espiritual e temporal dos xiitas iranianos)Khomeini, o Irã tornou-se foco de irradiação do in-tegrismo islâmico. Os ideais fundamentalistas fo-ram, aos poucos, conquistando fatias da população,organizações e governos em países muçulmanos.
O assassinato do presidente egípcio Anuar Sa-dat (1981) por radicais islâmicos; a resistência ar-mada do Hezbollah contra a ocupação israelenseno sul do Líbano, a partir de 1982; a luta da FrenteIslâmica de Salvação (FIS) e do Grupo Islâmico
Países com maior número de muçulmanos (milhões)
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Armado (GIA) na Argélia, iniciada em 1992; e, porfim, a campanha de ataques e atentados do grupopalestino Hamas contra alvos israelenses mostrama crescente importância do fundamentalismo islâ-mico, nas últimas décadas. Entre os regimes quereceberam a influência da revolução iraniana, es-tão o paquistanês, o sudanês e o afegão.
Após os ataques criminosos contra as torresgêmeas do World Trade Center e a sede do Pentá-gono, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de2001, o terrorismo passou a ser visto pelas princi-pais potências como uma ameaça de alcance glo-bal. A responsabilidade pelos ataques foi atribuídaà organização terrorista Al Qaeda, que se tornou ainimiga número 1 dos EUA. Sob o comando deOsama Bin Laden, o grupo tinha a proteção do go-verno dos talibans, no Afeganistão. Ao lado do ob-jetivo de construir sociedades puramente islâmi-cas, a Al Qaeda aglutinou simpatizantes de quasetodo o mundo árabe-muçulmano com uma retóri-ca antiocidental e antinorte-americana.
O islamismo radicalcontemporâneo
Como fenômeno contemporâneo, o islamismoradical só emergiu nos anos 50 e 60 do século XX,graças a pensadores como o paquistanês Abul AlaMawdudi e o egípcio Sayd Qutb, os primeiros atrazerem vigor à idéia de um luta intransigente –prevendo inclusive o emprego do terrorismo – con-tra os poderes “apóstatas” estabelecidos. Um dostantos resultados da disseminação dessas idéiasfoi o assassinato do presidente egípcio Anuar Sa-dat, em 1981, por militares surgidos desse meio.Nos anos 1980, a Revolução Iraniana, liderada peloaiatolá Khomeini, e a resistência antiisraelense doHezbollah no Líbano, imprimiram ao islamismo aforte marca xiita. Foi esse grupo libanês que usoupela primeira vez a tática dos homens-bomba.
Com o fim da Guerra Fria (1989) e da primeiraGuerra do Golfo (1991), teve início o terceiro está-gio do fundamentalismo islâmico, com frentes muitomais amplas, trazendo a primazia sunita e – em par-ticular depois de 2001 – um terrorismo antiociden-tal de caráter global. Hoje é preciso distinguir as lu-tas islamistas limitadas a uma região dos projetosde caráter universalista. Na Bósnia e na Chechênia,o Islã se “nacionalizou”, passando de comunidade
As idéias do aiatolá Khomeini
No momento de defecar ou urinar, é preciso seagachar de modo a não ficar de frente nem dar ascostas a Meca.
O vinho e as outras bebidas que embriagam sãoimpuras, mas o ópio e o haxixe não o são.
A mulher que deseja continuar seus estudos como fim de ganhar a vida por meio de um trabalhodecente, e que tenha um homem como professor,poderá fazê-lo, se cobrir o rosto e se não tiver con-tato com os homens. Mas, se isso for inevitável econtrariar os princípios religiosos, ela deverá renun-ciar aos estudos.
Não se deve abater um animal numa quinta-feiraà noite ou numa sexta antes do meio-dia.
É muito reprovável barbear-se, seja com barbea-dores de lâmina ou elétricos.
KHOMEINI, Aiatolá. Princípios políticos, filosóficos, sociais ereligiosos do aiatolá Khomeini. Rio de Janeiro: Record, 1981.
confessional a identidade étnica; em outros confli-tos, como no Afeganistão e na Palestina, ocorreu ooposto: foi o nacionalismo que islamizou progressi-vamente a população.
O islamismo como projeto universalista, tipica-mente não-territorial, cujo protótipo é a Al Qaeda,espalha-se atualmente sob a forma de clones clan-destinos dessa organização, atuando em uma gran-de gama de países, principalmente afro-asiáticos.Ao contrário dos conflitos localizados, que utilizamo Islã como arma numa luta essencialmente naci-onal ou territorial, o islamismo global pretende des-truir tanto as particularidades dentro do própriomundo muçulmano quanto o pluralismo da comu-nidade internacional, praticando o massacre maci-ço de não-muçulmanos.
Hoje os piores tipos de fanatismo ligados ao “is-lamismo universalizado” ocorrem em países ondeo processo da modernização ocidental é mais for-te, traumático ou malsucedido, como os do mun-do árabe do norte da África e do Paquistão, alémde florescer em lugares em que minorias muçul-manas enfrentam maior tensão e alienação, comona Europa ocidental.
Apesar de sua aparência arcaica, o fundamenta-lismo muçulmano utiliza os meios mais avançadospara atingir sua finalidade – desde uma comunida-de islamista virtual, na internet, até armas de des-truição em massa – e está intrinsecamente conec-tado ao mundo moderno, o mesmo que pretende
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destruir. Ao explorar as múltiplas vulnerabilidadesdo mundo globalizado, o fanatismo islamista exibeuma combinação especificamente moderna, emque a irracionalidade passional dos fins contrastacom a racionalidade friamente calculada dos mei-os. O caráter altamente aterrador do projeto, que,apesar de mobilizar uma minoria de muçulmanos,atrai mais adeptos a cada dia, acontece graças àexacerbação das injustiças e dos erros cometidospelo Ocidente.
Financiando o terrorismoislâmico
A Arábia Saudita é o mais importante centro dedifusão do islamismo político contemporâneo. Essefato constitui um profundo paradoxo, pois o Estadosaudita tornou-se, desde o final da Segunda GuerraMundial, o principal aliado dos Estados Unidos naregião do Golfo Pérsico e, desde os choques depreços do petróleo dos anos 1970, o parceiro cru-cial na regulação do mercado mundial do petróleo.
A monarquia saudita, estruturada sobre um clãda Arábia central, firmou, no final do século XVIII,um pacto com a seita islâmica wahabita. Fanáticosdefensores de um Islã puritano e inflexível, os waha-bitas forneceram a linha de frente das forças damonarquia, contribuindo para sua vitória nas inúme-ras guerras que envolveram tribos árabes da Penín-sula Arábica. A monarquia criada por Ibn Al Saudnos primeiros anos do século XX baseou-se no acor-do da dinastia com os puritanos wahabitas.
Durante décadas, a família real conservou umaposição dominante no pacto, enquanto os wahabi-tas exigiam apenas a manutenção dos seus direi-tos nos aspectos religiosos. Foi assim que o gover-no saudita pôde se tornar um aliado preferencialdos Estados Unidos – bastava que as regras religio-sas continuassem valendo nos assuntos civis dopaís. Todavia, com o tempo e a complexidade cadavez maior nas relações internacionais, houve umapolitização do wahabismo que foi se transforman-do numa oposição à aliança entre a monarquia sau-dita e os Estados Unidos.
Num primeiro momento, que pode ser localiza-do no início da década de 1980, essa politizaçãopareceu servir tanto à monarquia quanto aos nor-te-americanos. Com o apoio dos fundamentalis-tas sauditas, foram recrutados e armados os
“guerreiros da fé” que combateram as tropas so-viéticas invasoras, no Afeganistão.
Alguns anos mais tarde, o dinheiro saudita tam-bém financiou os muçulmanos bósnios na Bós-nia, os guerrilheiros chechenos que continuama desafiar a Rússia e os separatistas albanesesde Kosovo na Sérvia. Nos tempos da guerrilhaanti-soviética no Afeganistão, Osama Bin Ladenteve o apoio da Central de Inteligência America-na (CIA) e de importantes figuras do governosaudita.
Na segunda etapa, os “guerreiros da fé” volta-ram-se contra a monarquia saudita. Essa crise re-sultou do apoio da Arábia Saudita aos EstadosUnidos na Guerra do Golfo (1991) e da permissãopara que se instalassem bases americanas perma-nentes no país, que abriga Meca, a cidade santado islamismo. Na época líderes muçulmanos de-clararam que “pés ocidentais estavam conspurcan-do o solo sagrado do Islã”.
Foi nesse contexto que Bin Laden acusou a mo-narquia saudita de sujeitar-se à política mundial dosinfiéis, declarou a jihad (“guerra santa”) contra osEstados Unidos e instalou-se no Afeganistão.Paralelamente, cresceram as manifestações deoposição à monarquia, que foi obrigada a reprimiras lideranças mais radicais do islamismo políticoe, ao mesmo tempo, fazer vistas grossas ao finan-ciamento da Al Qaeda a partir de ramos da própriafamília real.
A Al Qaeda como“fonte de inspiração”
A mais importante mudança no terrorismo nosúltimos anos foi a transformação da Al Qaeda,rede liderada por Osama Bin Laden, de “um gru-po num movimento, num conjunto de idéias emétodos”, de acordo com estudo publicado peloInstituto de Defesa e de Estudos Estratégicos deCingapura (IDEEC).
Em 2001, após a invasão do Afeganistão por par-te dos Estados Unidos, elementos da Al Qaedaprosseguiram a trabalhar com grupos terroristasque, desde a década de 1990, vinham sendo fi-nanciados, treinados e doutrinados graças à pro-teção e apoio do regime taliban, movimento religio-so que governava o Afeganistão. Por meio da in-ternet, do correio e de visitas de especialistas em
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Terrorismo
táticas de combate, a Al Qaeda passou a compar-tilhar mais intensamente com outros grupos ex-tremistas seu amplo conhecimento em terroris-mo, dirigido a fortalecer uma campanha terroristacontra os Estados Unidos, os aliados e os amigosdaquele país.
Por representar a vanguarda dos movimentos is-lâmicos, a Al Qaeda tem exercido expressiva in-fluência sobre outros grupos similares espalhadospor várias partes do mundo. Muitos deles têmcopiado seus estilos de atentados suicidas, talcomo vem acontecendo no Iraque. Do mesmomodo, as táticas, técnicas e tecnologias da Al Qae-da se espalharam por boa parte do mundo desdeo 11 de setembro de 2001 e a ameaça terroristatornou-se bem mais dispersa e difusa, contami-nando tanto os grupos já existentes quanto os quecomeçaram a aparecer.
Em 2004, órgãos de segurança britânicos desco-briram em Londres um circuito usado em carros-bomba idêntico aos utilizados na Arábia Saudita e
no Iraque. Imitando procedimentos da Al Qaeda,grupos chechenos cometeram, nos últimos anos,atentados espetaculares num teatro em Moscou,em aviões em pleno vôo e em uma escola na repú-blica russa da Ossétia do Norte, causando cente-nas de mortes.
A ação norte-americana no Afeganistão, em2001, levou à dispersão de vários milhares de ter-roristas, que deixaram o país e se estabeleceramem zonas sem lei (regiões de países controladaspor guerrilheiros ou pelo crime organizado), situa-das em vários lugares do mundo, como o Iraque,o Iêmen, a área de fronteira entre o Paquistão e oAfeganistão, a Caxemira, o sul das Filipinas, a So-mália e a Chechênia.
Se o desmantelamento da infra-estrutura terro-rista no Afeganistão diminuiu a capacidade organi-zativa da Al Qaeda, a dispersão de seus membrosexpandiu significativamente os limites da violên-cia terrorista. Assim, no lugar do Afeganistão, oPaquistão e, principalmente o Iraque, tornaram-seos novos centros de gravidade do terrorismo in-ternacional.
Uma ameaça maiorque o terrorismo
O ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono,em 11 de setembro de 2001, considerado atéagora o maior ataque terrorista da história, fezmais de duas mil vítimas fatais. A ação de gru-pos extremistas no Iraque, ocupado desde 2003pela forças da coalizão comandada pelos Esta-dos Unidos, já provocou mais de 15 mil mortes(das quais cerca de duas mil foram de soldadosnorte-americanos).
Entretanto, enquanto os impactos dos atentadosterroristas estremecem o mundo, uma ameaça sur-da vai assumindo proporções alarmantes: se nadafor feito para combater o aquecimento global,cuja causa principal é a emissão antropogênica dedióxido de carbono, o número de vítimas será infi-nitamente maior a longo prazo.
Um dos principais efeitos do aumento das tem-peraturas globais é o acelerado derretimento dascalotas polares, tanto no hemisfério norte comona Antártida. Esse fenômeno, por sua vez, acarre-ta um aumento do nível dos oceanos. Segundo
Mãe olhando para o filho morto no atentado terrorista contraescola de Beslan, na Ossétia do Norte, Federação Russa,setembro de 2004.
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previsões, o aumento do nível dos oceanos pode-rá chegar a 1 metro ao longo do século XXI, o queseria catastrófico para alguns países de relevo bai-xo como Bangladesh (cerca de 150 milhões de ha-bitantes) e para várias ilhas do Pacífico. Além dis-so, das dezenove maiores cidades do planeta, de-zesseis são litorâneas, e mais da metade da popu-lação mundial vive em áreas costeiras.
Evidências científicas indicam que houve um au-mento de 0,5 °C na temperatura média do planetadesde 1975. As médias térmicas nos últimos 30anos são as maiores do milênio. Desde 1990, jásão sete os anos que figuram entre os mais quen-tes desde que se fazem registros térmicos siste-máticos. O aquecimento global é uma realidade ejá afeta, direta e indiretamente, populações de to-dos os recantos do planeta.
A contribuição das atividades humanas para aemissão de gases causadores do aumento do efei-to estufa, especialmente o dióxido de carbono
(CO2), está mais que comprovada. Se as ativida-des primárias e os desmatamentos geram impor-tantes quantidades de CO2, sabe-se que cerca de60% do total das emissões de “gases de estufa”originam-se da queima de combustíveis fósseis,especialmente o petróleo e carvão. O PIB, o pata-mar de industrialização e a matriz energética expli-cam o nível das emissões de cada país.
Um mundo mais quente trará uma grande varie-dade de impactos para o meio ambiente, para asaúde humana e para sociedade como um todo.O comportamento dos animais e das plantas já dásinais de mudança. Haverá alterações na duraçãodas estações, do crescimento dos vegetais, pro-dução, colheita e também na competição entre es-pécies animais, levando-as a se deslocar por lon-gas distâncias em busca de novos hábitats. Mui-tas espécies poderão, inclusive, ser extintas.
Sem dúvida, o aquecimento global é uma amea-ça bem maior do que o terrorismo.
Atividade 1
Jogo: Onde vai ser o atentado?
Material necessário para o jogo:• seus conhecimentos de Geografia;• um atlas geográfico.
Vamos supor que você faça parte de organismode segurança e tenha recebido uma mensagemem código, comunicando que haverá um atenta-do terrorista na capital de um país do mundo. Ogrupo responsável pelo atentado avisou que o mes-mo poderia ser evitado se fosse decifrado um enig-ma. Esse enigma teria três etapas.Na primeira há uma descrição de quatro países,cuja identificação deve ser feita mediante “dicas”geográficas fornecidas. A segunda etapa seria ade separar uma letra de cada país identificada naprimeira etapa, segundo indicações fornecidas.Na última etapa, rearranjando as letras conse-guidas, você terá o nome da cidade e evitará oatentado. Então, vamos lá.
Descrição do primeiro país:Situado inteiramente em zona temperada, essepaís não possui litoral e tem fronteiras internaci-onais com apenas dois Estados, e um deles tem
“muita terra”, e o outro, “muita gente”. Sua ca-pital tem nome composto.
Nome do país: MONGÓLIASelecione a primeira consoante deste nome: M
Descrição do segundo país:Situado parcialmente na zona temperada, essepaís é cortado por um dos trópicos. Não possuifronteiras terrestres com nenhum outro país eseu ponto mais elevado, com 2.230 metros, lo-caliza-se na porção sudeste. Sua cidade princi-pal tem nome masculino e, na porção meridio-nal, existe uma cidade com nome de mulher.
Nome do país: AUSTRÁLIASelecione a vogal que aparece repetida
três vezes neste nome: A
Descrição do terceiro país:É banhado em sua porção setentrional por ummar quase fechado. Sua parte meridional é cor-tada pelo Trópico de Câncer. Mais de 90% desua população concentra-se próxima ao litoral,visto que, daí para o sul, a ocupação humanafica prejudicada pelas condições climáticas.
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Foi colônia francesa até o início da década de1960 e, desde 1992, seu governo tem vivido emconflitos com fundamentalistas islâmicos.
Nome do país: ARGÉLIASelecione a primeira consoante que aparece
no nome do país: R
Descrição do quarto país:Situado inteiramente na zona temperada, o paísem questão é banhado em sua porção orientalpor um mar quase fechado. Em sua fronteira sulencontra-se um país cujo nome começa com B,e a capital deste, com S.
Nome do país: ROMÊNIASelecione a primeira vogal que aparece no
nome do país: O
Nome da cidade onde ocorreria o atentado:ROMA
Atividade 2
Entrevista com Osama Bin Laden
Vamos supor que você seja um jornalista e, num“furo” de reportagem, tenha conseguido uma opor-tunidade de fazer uma entrevista com o terroristamais procurado do mundo. Com base em seus co-nhecimentos sobre Bin Laden, você vai escrever umareportagem que contenha os seguintes pontos:
a) uma descrição das peripécias pelas quais vocêpassou para ser levado ao esconderijo onde feza entrevista;
b)quatro perguntas que foram feitas a Bin Laden,com suas respectivas respostas.
Atividade 3
Leitura de gráficos e produção de texto
Com base nas informações contidas nos gráfi-cos e em seus conhecimentos, produza um textono qual estejam presentes as causas e as conse-qüências do aquecimento global do planeta. Comoconclusão, você deverá opinar sobre a seguintefrase: o aquecimento global é uma ameaça maiorque o terrorismo? Fonte: Unep e WMD.
Limite superior
100
80
60
40
20
02000 2020 2040 2060 2080 2100
Ano
Limite inferior
(cm
)
Previsão de elevação do nível do mar
Previsão inicial
Previsão recente (Haia, 2000)
02000 2020 2040 2060 2080 2100
1
2
3
4
5
6
Ano
( C
)
Fonte: Unep e WMD.
Previsão de elevação das temperaturas globais
24,1%
14,1%
8%5%4%
3,7%
41%
Fonte: WORLD RESOURCES INSTITUTE. WorldResources 1998-1999.
Emissões anuais de dióxido de carbono
(% do total mundial)
Estados Unidos
China
Rússia
Japão
Índia
Alemanha
Outros
Produção e consumode energia
Emissão de CFC
Agricultura
Desmatamento
Indústria
Atividades geradoras de gases de estufa
Fonte: GREENPEACE. Aquecimento global.
57%
17%
14%
8%4%
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Informes e Documentos
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Jornal O Estado de S. Paulo.
Equipe editorialMaria Raquel ApolinárioManuel Carlos Garcez KopezynskiCarlos Zanchetta
Elaboração de originaisNelson Bacic OlicGraduado em Geografia pela USPProfessor de Geografia no Ensino MédioEditor do boletim Mundo – Geografia e Política Internacional