teorias linguisticas 2 - uepb

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  • 8/10/2019 Teorias Linguisticas 2 - UEPB

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    Governo Federal

    Dilma Vana Rousseff

    Presidente

    Ministrio da Educao

    Alusio Mercadante

    Ministro

    CAPES

    Jorge Almeida Guimares

    Presidente

    Diretor de Educao a Distncia

    Joo Carlos Teatini de Souza Clmaco

    Governo do Estado

    Ricardo Vieira Coutinho

    Governador

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA

    Marlene Alves Sousa LunaReitora

    Aldo Bezerra Maciel

    Vice-Reitor

    Pr-Reitor de Ensino de Graduao

    Eli Brando da Silva

    Coordenao Institucional de Programas Especiais CIPE

    Secretaria de Educao a Distncia SEADEliane de Moura Silva

    Assessora de EAD

    Coord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPB

    Ceclia Queiroz

    lingua portuguesa IV 08.12.2011.indd 1 11/04/2012 13:03:44

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    Teorias Lingusticas II

    Eneida Oliveira Dornellas de CarvalhoElisabete Borges Agra

    Campina Grande-PB2012

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    Sumrio

    I UnidadeConhecendo a lingustica textual ......................................................................... 7

    II UnidadeA coeso textual ...................................................................................................... 23

    III UnidadeMecanismos de coeso textual: a Referenciao .......................................... 41

    IV UnidadeA relao entre a coerncia e a coeso textuais ........................................... 57

    V UnidadeIntencionalidade, situacionalidade e aceitabilidade:

    fatores pragmticos responsveis pela textualidade ....................................79

    VI UnidadeIntertextualidade: uma forma de reflexo crticasobre o estudo do texto ........................................................................................ 95

    VII UnidadeA textualidade proporcionada pelos critriosde informatividade e no- contradio textuais ......................................... 117

    VIII UnidadeReviso dos fatores responsveis pela coeso e coerncia textuais.........131

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    Conhecendo alingustica textual

    I UNIDADE

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    Apresentao

    Neste segundo curso de teorias lingusticas nosso pro-psito dar prosseguimento ao seu aprendizado sobre o ob-jeto da lingustica. Se no primeiro momento, apresentamosvrias perspectivas de estudo que terminaram por consagrara lingustica como cincia autnoma de investigao da ln-gua, neste segundo momento, o direcionamento do cursose d no sentido de aprofundar uma teoria. Esta teoria alingustica textual. Vamos descobrir o modo como se de-senvolvem os estudos que adotam seus pressupostos para o

    estudo do texto, os procedimentos metodolgicos adotadospara a investigao dos processos lingusticos que se do nointerior do texto, a que resultados se pode chegar centrando--se a anlise a partir dos pressupostos da lingustica textual,bem como tomar conhecimento de resultados prticos quese observam no campo do ensino de leitura e compreensodo texto, um aspecto que ganhou relevada importncia apartir do desenvolvimento da lingustica textual.

    Levando-se em considerao os aspectos referentes compreenso dos processos envolvidos no ato de produo

    do texto, dos elementos que o constituem de forma a torn-louma unidade de sentido, garantimos a voc que sua prpriapercepo do texto, sua capacidade de ler e observar comose d a construo do texto a partir de sua materialidade lin-gustica, sua capacidade de elaborar o sentido para o texto,iro se ampliar de forma surpreendente. Portanto, este cursolhe ser muito til em sua vida acadmica. Mas, voc j sabe,resultados to positivos s surgiro se voc fizer sua parte,como fez para nosso primeiro curso. Assim, reforamos nos-

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    sas recomendaes para que voc tenha o melhor aproveita-mento possvel, seguindo os passos j conhecidos:

    Dedicar cotidianamente um tempo para suas leituras.

    Ler os textos de modo atento, refletindo sobre os no-vos conceitos e informaes apresentados;

    Reler se necessrio, fazendo anotaes, marcando oque julgar importante;

    Responder as atividades propostas, com ateno.

    No guardar para si as dvidas, esclarecendo-as como professor ou o tutor;

    Realizar com segurana a autoavaliao que se en-contra ao final da aula. Se voc achar que sua avalia-o no foi satisfatria, retome as leituras, pesquise,reflita, discuta com o professor ou tutor, at que cons-tate que aprendeu.

    A orientao para que voc siga esses passos para quealcance tambm os objetivos estabelecidos para esta aula.

    Assim, esperamos que ao final desta unidade, voc:

    Objetivos

    Demonstre uma compreenso do que significa um es-tudo da lngua na perspectiva da lingustica textual;

    Conhea os fundamentos terico-metodolgicos dalingustica de texto;

    Assimile a concepo de texto como a prope a lin-gustica textual.

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    Um pouco de

    contextualizaoFinalizamos nossa ltima unidade do curso de Teorias Lingusticas I

    chamando a ateno para o fato de que, se os estudos da linguagempermaneceram por muito tempo marcados pelos pressupostos tericosde Saussure, seguindo uma abordagem imanente do fenmeno lingus-tico, nos anos sessenta, contudo, assiste-se a um novo direcionamen-to na lingustica, que resultou em novas tendncias para o estudo dalngua, caracterizadas sobretudo pela contribuio de aportes tericosadvindos de outros ramos do saber. Assim, a lingustica definitivamente

    se abria para a interdisciplinaridade, da qual resultou, por exemplo,a sociolingustica e a antropolingustica, disciplinas das quais fizemosuma breve apresentao para que voc tivesse uma idia de como sedeu a conjuno de outras reas com aquela que tem por objeto espe-cfico o estudo da lngua.

    Vimos que essas disciplinas estavam estudando a lngua em relaoaos seus usurios, levando em conta o contexto que estava servindo debase para seu uso. A incorporao desses fatores anlise da lnguaterminaram por dar as condies para o surgimento das chamadasTeorias do discurso: a lingustica de texto, a anlise da conversao ea linha francesa da anlise do discurso.

    Em comum, essas teorias partilham o fato de conceber o texto comoo lugar prioritrio onde se reflete a realidade concreta da lngua. Comonosso foco neste curso recai sobre a lingustica textual, vamos tratarde caracteriz-la em especial. Faremos isto principalmente a partir dostrabalhos de Ingedore Villaa Koch, a autora que difundiu a lingusti-ca textual no Brasil e at hoje referncia para qualquer estudo quetrate do tema. dela que transcrevemos os trechos a seguir, atravsdos quais se caracterizam os momentos histricos mais marcantes dateoria:

    Surgida na dcada de 60, na Europa, onde ga-nhou projeo a partir dos anos 70, a Lingustica

    Textual teve inicialmente por preocupao, descre-ver os fenmenos sinttico-semnticos ocorrentesentre enunciados ou sequncias de enunciados,alguns deles, inclusive, semelhantes aos que j ha-viam sido estudados no nvel da frase.

    Na dcada de 70, muitos estudiosos encontram-se ainda bastantepresos gramtica estrutural, ou principalmente gramtica gera-tiva, o que explica o seu interesse na construo de gramticas de tex-to. A partir da descrio de fenmenos lingusticos inexplicveis pelas

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    gramticas de frase j que um texto no simplesmente uma sequn-cia de frases isoladas, mas uma unidade lingustica com propriedadesestruturais especficas -, tais gramticas tm por objetivo apresentar osprincpios de constituio do texto em dada lngua.

    somente a partir de 1980, contudo, que ga-nham corpo as Teorias do Texto no plural, j que,embora fundamentadas em pressupostos bsicoscomuns, chegam a diferir bastante umas das ou-tras, conforme o enfoque predominante (KOCH,1989, p. 11-12).

    Foram vrias, portanto, as ramificaes da lingustica textual. Vocpode conhec-las lendo os textos citados nas referncias ao final destaaula. O que importa nesse momento ressaltar que, mesmo em setratando de ramificaes, noes bsicas da teoria so constantes emtodas elas. Marcuschi (2008, p. 75) apresenta o que h de comumnas diversas vertentes da lingustica textual (LT). Leia abaixo o que dizo autor.

    A LT uma perspectiva de trabalho que observa o funcionamen-to da lngua em uso e no in vitro. Trata-se de uma perspectivaorientada por dados autnticos e no pela introspeco, masapesar disso, sua preocupao no descritivista.

    A LT se funda numa concepo de lngua em que a preocupa-o maior recai nos processos (sociocognitivos) e no no pro-duto.

    A LT no se dedica ao estudo das propriedades gerais da ln-gua, como o faz a lingustica clssica, que se dedica aos subdo-mnios estveis do sistema, tais como a fonologia, a morfologiae a sintaxe, reduzindo assim o campo de anlise e descrio.

    A LT dedica-se a domnios mais flutuantes ou dinmicos, comoobserva Beaugrand (1997), tais como a concatenao de enun-ciados, a produo de sentido, a pragmtica, os processos decompreenso, as operaes cognitivas, a diferena entre os g-neros textuais, a insero da linguagem em contextos, o aspectosocial e o funcionamento discursivo da lngua. Trata-se de umalingustica da enunciao em oposio a uma lingustica doenunciado ou do significante.

    A LT tem como ponto central de suas preocupaes atuais asrelaes dinmicas entre a teoria e a prtica, entre o processa-mento e o uso do texto.

    medida que desenvolvemos este curso, voc poder constatarcomo de fato essas noes esto arraigadas na proposta terica dalingustica textual. E constatar por que a lingustica textual mantm rela-es to fortes com o ensino de lngua.

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    Refazendo percursos

    Para chegarmos lingustica textual, foi necessrio que houvesseuma mudana na perspectiva de estudo da lngua, j sabemos. Mas certo que toda mudana no acontece de forma repentina. Assim, valea pena retomar estudos anteriores que j apontavam para a necessi-dade de se repensar antigos conceitos com a finalidade de explicarmelhor o objeto da nova lingustica que se delineava.

    Seguindo essa trilha, voc deve estar lembrado de alguns nomesque citamos anteriormente e que foram importantes para a lingusticarenovar seus conceitos, ampliar seus pressupostos, tomar novos rumos.

    Um nome que no pode ser esquecido, porque teve importnciafundamental na adoo de novos paradigmas para o estudo da lngua, o de Jakobson. A elaborao de um circuito de comunicao, deseus elementos, e sobretudo a considerao das funes ftica, meta-lingustica e potica, representaram uma ampliao do foco de estudoda lingustica que se restringia apenas ao estudo da forma1.

    Veja como os representantes do Crculo Lingustico de Pragaexplicitaram sua tese sobre as funes da lngua, a par da sua estrutura:

    O estudo de uma lngua exige que se considere

    rigorosamente a variedade das funes lingusticase de seus modos de realizao no caso conside-rado. [...] de acordo com essas funes e comesses modos que se transformam a estrutura fnicae a gramatical, e a composio lexical da lngua.(PARVEAU E SARFATI, 2006, p. 121)

    Percebe-se na citao que o estudo da estrutura lingustica estsubordinado ao estudo das funes que acompanham o ato comunica-tivo. Assim, importam as necessidades, as condies da comunicao,o contexto, os participantes, ou seja, os fatores e os elementos queesto envolvidos numa situao de comunicao.

    Aps esse breve comentrio, voc pode retomar o que leu so-bre Jakobson na stima unidade do curso de Teorias Lingusticas I, eento explicitar como sua teoria pode representar um avano em dire-o a uma lingustica discursiva. Registre suas concluses na atividade3 a seguir.

    1 O estudo da forma signica o estudo da

    estrutura interna da lngua. o estudoapoiado na tradio saussuriana, que cou

    conhecido como formalismo. J quando setrata de relacionar o estudo da lngua como social, tem-se um estudo de carter fun-cionalista.

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    Atividade I

    Um outro autor que necessrio ser retomado Benveniste. O autor noconcebia o homem separado da lngua. Veja como ele pensava essa relao:

    O ato individual pelo qual se utiliza a lngua introduz em primeirolugar o locutor como parmetro nas condies necessrias da enun-ciao. Antes da enunciao, a lngua no seno possibilidade dalngua (BENVENISTE, 1989, p. 83).

    Assim, Benveniste concebeu uma lingustica em que o sujeito e ascondies especficas de produo dos enunciados no podiam estarde fora. Esses elementos de fato representaram contribuies significati-vas para renovar a perspectiva da lingustica, que comea a vislumbrarpossibilidades de estudo da lngua para alm das formas lingusticas. Alngua passava ento a ser considerada como um forma de atividadeentre os participantes de um ato comunicativo.

    Em relao a Benveniste, pedimos que voc rememore pontos importantes desua teoria e registre na atividade a seguir. Veremos que esses pontos teroimportncia fundamental para a lingustica textual.

    Atividade IIEm nossa proposta de retomada de autores determinantes para uma mudana

    de perspectiva na lingustica, no poderamos deixar de fora Bakhtin.Dedicamos toda uma aula no curso de Teorias Lingusticas I ao autor, a aula 9,voc deve estar lembrado. Por isso, vamos chamar sua ateno no momento,para o que fundamental em sua teoria, que caracteriza uma compreenso dosprocessos lingusticos como tarefa prioritria da lingustica.

    Bakhtin v na interao o lugar privilegiado para o estudo da ln-gua. Portanto, a lngua no pode ser vista como sistema de formas fi-xas, exterior vida social. Nesse caso, o estudo da lngua extrapola emmuito o estudo das formas isoladas, porque na enunciao, no uso

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    que fazem dela os falantes reais quando esto interagindo, que ela serealiza. E esse um processo ininterrupto, o da correnteza verbal, quepe toda enunciao em contato com as demais que j foram produ-zidas e mesmo com as que ainda esto por vir. Yaguello (2002, p. 15),na introduo que faz para a traduo do livro Marxismo e filosofia dalinguagem, resume essa idia: Toda enunciao, fazendo parte de umprocesso de comunicao ininterrupto, um elemento do dilogo, nosentido amplo do termo, englobando as produes escritas.

    Esse o processo dialgico da lngua, que no permite serem osenunciados tomados isoladamente. Essa uma concepo social da ln-gua que vai alm do social de Saussure, porque aqui o social constitu-tivo. Para Bakhtin, a lngua s existe dentro dessa dimenso. Diz o autor:

    A verdadeira substncia da lngua no constitu-da por um sistema abstrato de formas lingusticasnem pela enunciao monolgica isolada, nempelo ato psicofisiolgico de sua produo, maspelo fenmeno social da interao verbal, realiza-

    da atravs da enunciao ou das enunciaes. Ainterao verbal constitui assim a realidade funda-mental da lngua (BAKHTIN, 2002, p. 123).

    Agora sua vez: reita sobre o que dissemos acima e retome a aula em quefalamos de Bakhtin. Agora responda a pergunta da atividade 3 a seguir:

    Atividade III

    Em que aspecto a teoria de Bakhtin o faz ser citado como um precursor dalingustica discursiva?

    O que os autores comentados acima, e outros que no citamosaqui, fizeram em comum, foi o fato de apontarem para outras possibi-

    lidades de anlise do objeto da lingustica para alm do fechamentoem sua estrutura, como propunha Saussure. E assim, abria-se caminhopara outras consideraes no estudo da lngua, observando-a em fun-cionamento, como processo.

    Seguindo esse percurso, chegou-se ento ao texto como lugar deobservao da lngua, de inscrio de sentidos, das intenes dos seusprodutores. E chegou-se tambm lingustica textual. Havendo situadohistoricamente seu aparecimento, daremos ento continuidade a nossaaula, passando agora definio desse campo de estudo, o que fare-mos a partir da resposta dada pergunta a seguir.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    O que lingustica textual?A lingustica textual um ramo dos estudos lingusticos que, como

    o prprio nome indica, est teoricamente centrado no texto, tomado

    como seu objeto de investigao. E textos, como sabemos, so objetosreais, produzidos com uma finalidade especfica. J aqui podemos an-tecipar importantes concepes tericas que vo marcar uma lingusti-ca de carter discursiva. Vamos pensar um pouco sobre isso.

    Primeiramente, estamos percebendo que a unidade de anlise paraessa lingustica no se restringe aos elementos fonticos, fonolgicos,morfolgicos da lngua. Se voc no est lembrado do que significamesses conceitos, pare um momento e volte at nossa quarta aula docurso de Teorias Lingusticas I. Mas no continue sem saber do queestamos falando porque vamos nomear assim esses elementos, quandoeles aparecerem em nossas aulas. Est vendo como os pilares da lin-

    gustica estrutural continuam firmes? Nenhuma teoria bem fundamen-tada se perde com o tempo. Mas voltemos ao texto. Ele consideradoo lugar especfico para a manifestao da linguagem. E como sabe-mos, o uso da lngua pode ser realizado de forma falada ou escrita.Portanto, a lingustica textual tratar tanto de textos falados quanto detextos escritos.

    Em segundo lugar, pensando no que foi dito sobre o texto ser pro-duzido por algum, com uma finalidade, no h como no considerarque o texto para se concretizar depende de algum, de um sujeito (Serque podemos pensar em Benveniste neste momento?), situado numadeterminada situao de comunicao, dirigindo-se para um outro al-gum. Por que esses elementos so importantes? Porque eles nos fazempensar na interao, nesse momento em que interlocutores esto esta-belecendo uma relao e para isso esto fazendo uso da lngua. Nessecaso, a lngua tomada aqui como uma forma de ao, como umaatividade. Essa a concepo que permeia os estudos lingusticos deorientao discursiva, como a lingustica textual.

    Veja o que diz Koch (apud XAVIER e CORTEZ, 2003, p. 124) sobrea lngua, ao ser perguntada acerca da relao entre lngua, linguageme sociedade:

    A lngua se configura atravs das prticas sociaisde uma sociedade, de uma comunidade. Ento, alngua se configura dentro do meio social, como

    expresso do meio social, lugar de interao entreos membros de uma sociedade e nesse lugar deinterao que se constituem as formas lingusti-cas e todas as maneiras de falar que existem numadeterminada poca, numa determinada sincronia.

    Ao ler esta definio voc percebe nela uma orientao tericaconvergente com o que se observa na sociolingustica? Isso aconte-ce porque a lingustica textual absorveu contribuies dessa disciplina.

    Voc pode verificar em que sentido ocorreram essas contribuies, reto-

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    mando a parte da dcima aula do curso de teorias lingusticas I que tra-ta da sociolingustica. Esta nossa proposta para a atividade a seguir.

    Atividade IV

    Releia a denio de lngua acima, e recupere na ltima aula sobre outrasperspectivas para o estudo da lngua, do curso anterior, aspectos em que sepode perceber a aproximao entre a lingustica e a sociolingustica.

    J que a pergunta feita autora inclui tambm a noo de lingua-gem, importante que se conhea a diferena de conceitos que existeentre estes dois termos, embora eles possam ser usados indiferente-mente. Voc poder encontrar esse uso em algum texto que venha aler. Mas geralmente, quando se fala em linguagem, est se pensandona capacidade do ser humano de se expressar atravs de um conjuntode signos, de qualquer conjunto de signos (KOCH, apud XAVIER eCORTEZ, 2003, p. 124).

    O conceito de linguagem, portanto, tem uma ampliao maior doque a de lngua. Saussure mesmo j esboara uma diferena entrelngua e linguagem. Se for do seu interesse, voc pode mais uma vez

    voltar um pouco atrs e na aula trs, sobre os pressupostos tericosde Saussure, relembrar como o fundador da lingustica props essadiferena.

    Esclarecida a noo de lngua com que trabalha a lingustica tex-tual, necessrio, como no poderia deixar de ser, em se tratando deuma lingustica de texto, que se esclarea tambm a noo do que seest discutindo, quando se fala em texto. Recorremos mais uma vez aIngedore Koch que, no comentrio a seguir, nos traz uma definiosimples e bastante esclarecedora do que considerado texto na pers-pectiva da lingustica textual:

    A Lingustica Textual toma, pois, como objeto par-ticular de investigao no mais a palavra ou afrase isolada, mas o texto, considerado a unidadebsica de manifestao da linguagem, visto que ohomem se comunica por meio de textos e que exis-tem diversos fenmenos lingusticos que s podemser explicados no interior do texto. O texto muitomais que a simples soma das frases (e palavras)que o compem: a diferena entre frase e texto no meramente de ordem quantitativa; sim, de or-dem qualitativa (KOCH, 1989, p. 14).

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    O que podemos apreender a partir dessa citao? Primeiramente,voc percebe que h um novo direcionamento no recorte do objeto aser estudado. A autora diz: no mais a palavra ou a frase isolada, mas otexto. Portanto, percebe-se claramente o rompimento com a lingusticada frase, e isso por uma razo muito clara nesse estgio dos estudosda lngua: o homem se comunica por meio de textos. Parece bvio, no? Mas s agora que a ideia posta de forma to transparente nalingustica.

    Uma outra considerao muito importante que segue essa ltimaafirmao de Koch, a de queexistem diversos fenmenos lingusticosque s podem ser explicados no interior do texto. O que isso significa?Que o estudo da lngua, o estudo dos aspectos gramaticais envolvidosno seu uso, s encontram respaldo se so realizados a partir de seuaparecimento, do seu uso efetivo no texto. Nesse ponto, retomamosBakhtin, que pode ser citado como uma referncia para a abordagemdo texto pela lingustica, visto que muitos dos seus pressupostos se har-monizam perfeitamente bem com os pressupostos da lingustica textual.

    Veja por exemplo o que ele j havia enunciado na dcada de 20:

    Cada texto pressupe um sistema compreensvelpara todos (convencional, dentro de uma dada co-letividade) uma lngua (ainda que seja a lnguada arte). Se por trs do texto no h uma lngua,j no se trata de um texto, mas de um fenmenonatural (no pertencente esfera do signo)... As-sim, por trs de todo texto, encontra-se o sistemada lngua (BAKHTIN, 2000, p. 331).

    Certamente voc leu a apresentao desta aula e deve estar fazen-do a relao do que foi dito l com o que acabamos de enunciar aquisobre o estudo da lngua a partir do texto. assim que vemos as teoriasfuncionando para dar embasamento a uma prtica. Esperamos quevoc consiga realizar esta ponte quando estiver atuando como profes-sor de lngua portuguesa.

    Finalizando, vamos tomar o ltimo enunciado: a diferena entrefrase e texto no meramente de ordem quantitativa; sim, de ordemqualitativa. Essa uma questo interessante porque remete para a no-o de texto. O que preciso para que se diga que uma sequncia depalavras faladas ou escritas seja um texto? Para responder essa per-

    gunta dentro da perspectiva da lingustica textual, foram estabelecidosalguns critrios de textualidade. Sobre esses critrios vamos falar nasprximas unidades. No momento, analisamos os termos quantitativoequalitativo. Texto no sinnimo de vinte, trinta ou mais linhas. Naperspectiva que estamos estudando, uma simples palavra, se contex-tualizada, se correspondendo a uma situao de comunicao, cum-prindo uma funo comunicativa, considerada texto. Isso vale dessaforma, tanto para uma simples pergunta como Que horas so? quantopara um tratado filosfico de cem pginas sobre o sentido da existnciahumana.

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    Atividade V

    Agora a sua vez. Daremos a seguir uma denio de texto e esperamos que

    voc justique por que essa denio est vinculada perspectiva discursivada lingustica textual.

    O texto ser entendido como uma unidade lingustica concreta(perceptvel pela viso ou audio), que tomada pelos usurios dalngua (falante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situao de interaocomunicativa especfica, como uma unidade de sentido e como preen-chendo uma funo comunicativa reconhecvel e reconhecida, inde-pendentemente da sua extenso (KOCH e TRAVAGLIA, 1989, p. 8-9).

    Encerrando por aqui esta unidade, gostaramos de reportar umadefinio de lingustica textual de Marcuschi (1983, p. 12-13), porque

    com ela o autor resume bem os propsitos da lingustica de texto. Leiaa seguir o que ele diz:

    Proponho que se veja a Lingustica do Texto, mes-mo que provisria e genericamente, como o estudodas operaes lingusticas e cognitivas reguladorase controladoras da produo, construo, funciona-mento e recepo de textos escritos ou orais. Seutema abrange a coeso superficial ao nvel dos cons-tituintes lingusticos, a coerncia conceitualao nvelsemntico e cognitivo e o sistema de pressuposiese implicaes a nvel pragmtico2 da produo dosentido no plano das aes e intenes. Em suma,a Lingustica Textual trata o texto como um ato decomunicao unificado num complexo universo deaes humanas. Por um lado deve preservar a or-ganizao linear que o tratamento estritamentelingustico abordado no aspecto da coeso e, poroutro, deve considerar a organizao reticuladaoutentacular, no linear portanto, dos nveis de sentidoe intenes que realizam a coerncia no aspecto se-mntico e funes pragmticas.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

    2 O nvel pragmtico se refere ao nvel douso da lngua. So fatores pragmticos os

    fatores que regem nossas escolhas lingus-ticas na interao social e os efeitos denossas escolhas sobre as outras pessoas(WEDWOOD, 2002, p. 144).

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    Sero justamente os temas de que fala o autor na citao, os assun-tos que sero tratados nas prximas aulas deste curso. Voc ter assimoportunidade de conhecer os procedimentos tericos e metodolgicosempregados numa anlise da lngua centrada nos pressupostos da lin-gustica textual. Com certeza muita leitura e anlise esperam por voc.Portanto, encha-se de disposio para aprender. De incio, j indica-mos as obras a seguir, para que voc amplie sua compreenso sobreo assunto estudado.

    Leituras recomendadasKOCH, Ingedore Villaa.A coeso textual. 7. ed. So Paulo: Contex-to, 1997.

    De leitura fcil e bastante didtica, fazendo uso de muita exem-

    plificao, os textos de Koch so de leitura obrigatria paraquem quer conhecer a lingustica textual. Citamos aqui esta in-troduo, mas qualquer um de seus livros que esto citados nasreferncias a seguir, podem ser lidos com esse fim.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo textual, anlise de gneros ecompreenso. So Paulo, Parbola Editorial, 2008.

    Vamos apresentar este livro transcrevendo um trecho de seuprefcio, na pgina 11: A natureza didtica do livro evi-dente, especialmente, pela presena de atividades, exemplos

    ilustrativos, glossrios, indicaes de obras de consulta para oaprofundamento dos temas tratados e uma srie de quadros etabelas que buscam sistematizar as teorias abordadas. Percebe--se ainda uma progresso de dificuldade das atividades propos-tas, partindo-se de indagaes mais pontuais at pesquisas decampo realizadas pelos alunos e socializadas em psteres. Portudo isso vale a pena estudar com esse livro, a partir mesmo doprefcio.

    PAVEAU, Marie-Anne & SARFATI, Georges-lia. As grandes teoriasda lingustica. Da gramtica comparada pragmtica. So Carlos:

    Claraluz, 2006.Neste livro os autores fazem uma apresentao da progressohistrica da lingustica no sculo XIX, mostrando as filiaestericas de cada corrente lingustica. Assim, ficamos sabendodas concepes em que se assentaram as bases da lingusticano sculo XX. Recomendamos para esta aula, especialmente, aleitura do captulo sobre as lingusticas discursivas, porque vocficar conhecendo as fontes em que beberam os pesquisadoresda lingustica textual no Brasil.

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    Resumo

    O surgimento da lingustica textual est atrelado ao movimento deampliao das fronteiras da lingustica, rumo a uma interdisciplinari-dade cada vez mais crescente, especialmente na dcada de 60. Suaproposta terica se baseia especialmente na tomada do texto como

    objeto de investigao, j que ele a unidade bsica de comunicao.A lingustica textual estuda assim, o funcionamento da lngua, comoela est sendo atualizada pelos falantes. Portanto, a lngua enquantoprocesso, a partir do qual sentidos so construdos.

    Autovaliao

    Tendo como base a noo de texto apresentada nesta aula, e consi-derando que sobre ela deve estar centrada a aula de lngua portuguesa,indique se a proposta abaixo, de uma produo textual requisitada emum vestibular, apresenta elementos ou no, que justifiquem tal noo.

    PROPOSTA DE VESTIBULAR:

    Imagine que voc a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.Redija a carta de demisso da ex-ministra ao presidente Lula, apresen-tando a situao e justificando o pedido. Utilize um mnimo de 20 e ummximo de 25 linhas para elaborao de seu texto.

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    Para ajud-lo na elaborao de seu comentrio, releia o que dizemKoch e Travaglia, (1989, p. 8-9):

    O texto ser entendido como uma unidade lin-gustica concreta (perceptvel pela viso ou audi-o), que tomada pelos usurios da lngua (fa-lante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situaode interao comunicativa especfica, como umaunidade de sentido e como preenchendo uma fun-o comunicativa reconhecvel e reconhecida, in-dependentemente da sua extenso.

    e Marcuschi (1989, p. 12-13):

    Proponho que se veja a Lingustica do Texto, mes-mo que provisria e genericamente, como o estudodas operaes lingusticas e cognitivas reguladorase controladoras da produo, construo, funcio-namento e recepo de textos escritos ou orais.

    Lembre-se de que Marcuschi fala nessa mesma passagem, que notexto esto implicadas pressuposies [...] a nvel pragmtico da pro-duo do sentido no plano das aes e intenes. Dessa forma, oautor considera o texto como um ato de comunicao unificado nocomplexo universo de aes humanas.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    RefernciasBAKHTIN, M. (Voloshinov). Marxismo e losoa da linguagem. (Trad. deM. Lahud e Y. Vieira). So Paulo: Hucitec. 2002, 1929.

    BAKHTIN, M. Esttica da Criao Verbal. (Trad. de M. E. Pereira). SoPaulo: Martins Fontes, 2000, 1979.

    BENVENISTE, E. Problemas de Lingustica Geral II. Campinas, SP:Pontes, 1989 (1902-1976).

    KOCH, Ingedore Villaa. A coeso textual. 7. ed. So Paulo: Contexto,1989.

    KOCH, Ingedore Villaa. O texto e a construo dos sentidos. So Paulo:

    Contexto, 1997.KOCH, Ingedore Villaa. Introduo lingustica textual: trajetria egrandes temas. So Paulo: Martins Fontes, 2004.

    KOCH, Ingedore Villaa; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerncia textual.8. ed. So Paulo: Contexto, 1997.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. A Lingustica de Texto: o que e como sefaz. Recife. Universidade Federal de Pernambuco, 1983.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo textual, anlise de gneros ecompreenso.So Paulo, Parbola Editorial, 2008.

    PAVEAU, Marie-Anne & SARFATI, Georges-lia. As grandes teoriasda lingustica. Da gramtica comparada pragmtica. So Carlos:Claraluz, 2006.

    WEEDWOOD, Barbara. Histria concisa da lingustica. Traduo deMarcos Bagno. 2. Ed. So Paulo: Parbola Editorial, 2003.

    XAVIER, Antnio Carlos e CORTEZ, Suzana (orgs.). Conversas comlinguistas: Virtudes e controvrsias da lingustica. So Paulo: Parbola,

    2003.

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    II UNIDADE

    A coeso textual

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    Apresentao

    Com a unidade anterior voc tomou conhecimento dos

    pressupostos fundamentais da corrente lingustica que tomao texto como sua unidade bsica de estudo. Assim, voc jsabe do que se trata um estudo da lngua que seja realizadosegundo a perspectiva da lingustica textual. Inclusive, tive-mos a preocupao de tornar suficientemente clara a noodo que se entende por texto, quando se trata de tom-locomo objeto de investigao segundo essa perspectiva te-rica.

    Pois bem, a partir desta segunda unidade estaremos es-pecificamente tratando de apresentar os mecanismos que

    esto disponveis na lngua para se produzir textos que se-jam compreensveis aos usurios dessa lngua. E o maisimportante: estaremos mostrando qual a funo que esseselementos exercem nas sequencias textuais em que estoinseridos, de modo a contriburem para construrem textosreconhecidos como bem formados pelos usurios da lngua.Trata-se do estudo dos elementos de coeso textual. Trata-sedo que Marcuschi (1983, p. 12-13), citado na aula anterior,designou como fazendo parte da organizao linear que otratamento estritamente lingustico abordado no aspecto da

    coeso.A partir desta aula voc ter certamente uma maior pre-

    ocupao com sua prpria produo textual, seja ela fala-da ou escrita. Porque justamente o aspecto da produotextual que estaremos enfocando nesta unidade. Tendo emvista tais consideraes, s temos a lhe desejar um excelenteproveito de seus estudos, a partir dos objetivos que estabe-lecemos a seguir:

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    Objetivos

    Ao final desta unidade, esperamos que voc seja capaz de:

    Explicitar uma concepo de texto partindo da identi-ficao dos elementos de coeso;

    Reconhecer os elementos que esto estabelecendo acoeso do texto;

    Avaliar um texto bem formado, do ponto de vista dacoeso.

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    Da definio de coeso

    A investigao sobre a coeso no campo da lingustica textual feita com vistas a se investigar os aspectos que dizem respeito aos pro-cessos que so empregados no ato de produo textual, com a finali-dade de se obter um produto, o texto, dotado de sentido. evidente,portanto, que nesta aula ser dispensada ateno prioritria ao estudodesses processos. Mas antes que comecemos nosso trabalho de anli-se de textos para explicitar como operam os mecanismos responsveispelo estabelecimento da coeso textual, necessrio conhecermos asdefinies do termo, estabelecidas por tericos da lingustica textual. nesse sentido que transcrevemos abaixo as definies presentes emKoch (2001, p. 17, 18).

    Uma primeira definio, de Halliday & Hasan, diz que:

    a coeso ocorre quando a interpretao de al-gum elemento no discurso dependente da de ou-tro. Um pressupe o outro, no sentido de que nopode ser efetivamente decodificado a no ser porrecurso ao outro.

    Para Beaugrande & Dressler (1981),

    a coeso concerne ao modo como os componen-

    tes da superfcie textual isto , as palavras e frasesque compem um texto encontram-se conecta-das entre si numa sequncia linear, por meio dedependncias de ordem gramatical.

    Para Marcuschi, so fatores de coeso, aqueles que:

    do conta da estruturao da sequncia superfi-cial do texto, afirmando que no se trata de prin-cpios meramente sintticos, mas de uma espciede semntica da sintaxe textual, isto , dos meca-

    nismos formais de uma lngua que permitem es-tabelecer, entre os elementos lingusticos do texto,relaes de sentido.

    Voc leu as definies acima e certamente percebeu que h umaspecto caracterizador da coeso que realado nas trs definies.Isso quer dizer que esse o aspecto fundamental para se definir a coe-so. Vamos deixar para voc a tarefa de explicitar qual esse aspecto,respondendo a atividade a seguir:

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    Atividade IReleia as trs denies apresentadas acima, e identique o trao comumapresentado pelos trs autores, que denem resumidamente o que conceituado como coeso.

    Responda ainda: das trs denies, qual a que abarca uma denio maiscompleta de coeso? Por qu?

    Responda a atividade com bastante ateno, porque sua resposta serconstantemente retomada na sequncia desta unidade. Isso porque nessaresposta est o cerne do que se entende por coeso, o tema que estaremosdesenvolvendo aqui.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

    Passemos agora a uma segunda etapa de nosso percurso em dire-

    o ao conhecimento da coeso textual: sua efetivao no texto.

    Analisando a coeso de um texto escrito

    Nesse momento, vamos analisar como a coeso se processaem um texto real, a exemplo dos que circulam nos diversos suportestextuais em nossa sociedade. Para isso, vamos tomar como ponto departida a noo de coeso como sendo a forma como os elementos

    lingusticos da superfcie textual se relacionam entre si, numa sequncia.Atravs dessa relao, so sinalizados os percursos que o leitor/ouvintedeve percorrer para construir o sentido do texto. Por isso, certo que acoeso interfere tambm no nvel semntico do texto.

    Mas vamos parar de falar sobre a coeso, para vermos como defato ela funciona nos textos. Vamos tomar um texto simples, e assimfacilmente poderemos perceber como acontece o encadeamento dossintagmas, das frases, dos pargrafos, das partes do texto, constituindoo processo coesivo.

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    TEXTO 1

    PODER INVISVEL

    Nomia Lopes

    A gente no v, mas a gua de rios, lagos e mares tem mo-radores incrveis: o plncton, seres minsculos e essenciais paraa vida na Terra.

    Nessa turma esto algas, bactrias, fungos, crustceos, mo-luscos e outras criaturas microscpicas. Alguns no tem mem-bros para locomoo e outros so pequenos demais para nadar.Por isso, eles ficam flutuando na gua.

    Existem dois tipos de plncton, o vegetal e o animal. Os doisservem de comida para vrios animais, por isso so importantesno equilbrio da cadeia alimentar. Alm disso, o plncton vegetalfaz a fotossntese e fornece grande parte do oxignio que existeno planeta.

    (RECREIO, Ano10, n 504, 5/11/2009)

    Vamos comear a destrinchar esse texto por uma pergunta clssicadas aulas de leitura: do que fala do texto? Claro que voc consegueresponder essa pergunta facilmente. E um dos motivos para isso que otexto est muito bem tramado do ponto de vista de sua coeso textual.

    Veja que o modo como os sintagmas, as frases, as trs partes do texto,esto encadeados de forma a no oferecem qualquer dvida quantoaos elementos a que esto sendo feitas as referncias no texto. Vamosver como isso acontece:

    Primeiramente, ficamos sabendo quem so os moradores incrveis por-que eles esto anunciados justamente aps o termo moradores incrveis.

    A gente no v, mas a gua de rios, lagos e mares tem moradores incrveis: oplncton, seres minsculos e essenciais para a vida na Terra.

    Veja bem, s essa ordem em que os termos esto dispostos, um ime-diatamente aps o outro, separados pelo sinal de pontuao, os dois pon-tos, j indicativo de que o segundo termo, o plncton,deve ser tomadocomo referente ao primeiro,moradores incrveis. Esse j um fator de co-eso. Para ficar bem claro por que esses seres so incrveis, a adjetivaono deixa dvida: eles so minsculos e essenciais para a vida na Terra.

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    O segundo pargrafo se inicia atravs do sintagma nessa turma.Imediatamente, o leitor faz uma remisso para o pargrafo anterior,que onde se encontra o termo referido por nessa turma. J foi feitaaqui a ligao entre os dois primeiros pargrafos do texto. Continuan-do a leitura, deparamo-nos como o termo alguns. D para recuperar aquem ele se refere? Se sim, a coeso continua sendo garantida. Logo frente, encontramos o termo outros.Mais uma vez, sabemos perfeita-mente quem so esses outros no texto. E eles?

    Voc est vendo, no h como o leitor perder o fio do texto, seele segue as pistas lingustico-gramaticais que o autor maneja paraconstruir seu texto. Veja s como isso fica evidente se destacamos esseselementos no texto.

    A gente no v, mas a gua de rios, lagos e mares tem moradoresincrveis:

    o plncton

    seres minsculos

    e

    essenciaispara a vida na

    Terra

    Nessa turma esto algas, bactrias, fungos, crustceos, moluscose outras criaturas microscpicas. Alguns no tem membros para loco-moo e outros so pequenos demais para nadar. Por isso, eles ficamflutuando na gua.

    E continua: Existem dois tipos de plncton. No h como esque-cer qual era o tema tratado no texto, porque ele foi retomado agorano terceiro pargrafo, atravs da mesma palavra: plncton.

    Os dois servem de comida para vrios animais.A quem se refere

    os dois? Quemso importantes? Se existem dois tipos de plncton,oplncton vegetal um deles.

    Chegamos ao final do texto, mas isso no quer dizer que esgo-tamos todas as possibilidades de verificao dos seus elementos co-esivos. Voc at pode ter se dado conta de algum aspecto que nocitamos em nossa anlise. interessante at que faa o registro do queobservou, assim estar exercitando sua capacidade interpretativa. Maspor ora vamos fazer uma pausa para discutir um aspecto importante dacoeso, no item a seguir.

    Por que importante estudar a coesoquando se ensina lngua?

    E ento, simples verificar como se processa a coeso num texto?Temos que admitir que para ns, leitores proficientes da lngua, o textoPoder Invisvel, de fato, de fcil compreenso. Mas o que importa que a construo do texto por meio do manuseio dos elementos lingus-ticos segue a mesma lgica, no sentido de se alcanar, como produto,o texto de qualidade coesiva. O que vai acontecer que dependendo

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    do gnero do texto, diferentes recursos coesivos vo ser ativados porseu produtor. E claro, quanto mais avanamos no nosso conhecimentode lngua e de textos, fazemos um uso mais ampo dos recursos coesivosque a lngua nos oferece. Isso vlido tambm para os textos orais queproduzimos diariamente em nossa vida cotidiana. importante salien-tar ainda que esses recursos so inesgotveis e que em cada texto soempregados diferentes recursos coesivos. Portanto, no adianta cons-truir uma forma para analisar todos os textos com que nos deparamos,porque no h um texto que repita outro, mesmo em se tratando desua estrutura formal.

    Esse um aspecto interessante do ponto de vista do ensino da ln-gua, porque, alm disso, voc deve ter percebido que estudamos ele-mentos lingusticos que normalmente so visualizados somente a partirda perspectiva da gramtica tradicional. No entanto, pudemos verifi-car a importncia desses elementos quando esto funcionando de fatonum texto, como elementos que promovem sua coeso. Portanto, oimportante no centrar-se sobre uma nomenclatura ou sobre uma

    categorizao do certo e do errado do ponto de vista gramatical, massobre o que funciona bem para que meu texto adquira sentido e sejacompreendido por quem o l ou por quem o escuta.

    Aps essas consideraes do ponto de vista do ensino da lngua,temos uma proposta de atividade a seguir.

    Atividade IIRetome alguns dos elementos lingusticos que destacamos durante a anlisedo texto PODER INVISVEL e pesquise numa gramtica tradicional o modo comoesses elementos so analisados ali. Reita sobre qual das duas perspectivas, ada gramtica tradicional ou a da lingustca textual, mais ecaz para o ensinode produo textual. Voc dever levar suas reexes para o frum de debatese assim compartilh-las com seus colegas.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    A coeso no texto falado

    Para desenvolvermos esse item vamos retomar o conceito detexto que reportamos na unidade anterior:

    O texto ser entendido como uma unidade lin-gustica concreta (perceptvel pela viso ou audi-o), que tomada pelos usurios da lngua (fa-lante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situaode interao comunicativa especfica, como umaunidade de sentido e como preenchendo uma fun-o comunicativa reconhecvel e reconhecida, in-dependentemente da sua extenso (KOCH e TRA-VAGLIA, 1989, p. 8-9).

    Depreende-se dessa definio, que a linguistica textual trabalha

    tanto com textos escritos quanto com textos orais. E os textos orais, den-tro de suas especificidades, so tambm construdos com vistas a seremcompreendidos. Portanto, tambm nesses esto presentes elementos decoeso textual.

    Somente para exemplificar, porque para tratar da oralidade serianecessrio um curso todo dedicado a isso, mostramos no trecho de falaa seguir1, como os elementos de coeso so acionados pelo falante, demodo a que o resultado da fala seja um texto dotado de sentido.

    TEXTO 2

    ... sabemos por exemplo... que o sindicato... dos co-mercirios para falar de um assunto que nos toca... pati parti-cularmente... possui uma granja na cidade de Carpina... e queproporciona... quela imensa... leva de associados... um lazerrealmente magnfico... um momento de:... descanso... um mo-mento de: felicidade podemos dizer assim... a todos aqueles...que vo... at l em busca de paz de sossego e de tranquilida-de... sabemos tambm... que...

    (DID.131 NURC/REC.:39-47)

    Ressaltamos no trecho que o falante reformula o enunciado umlazer realmente magnfico, atravs de um outro enunciado em forma deparfrases: um momento de:... descanso... um momento de:... felicida-de.Assim ele precisa o sentido do que quis dizer, e chama a ateno do

    1 Os trs pontos que aparecem nesse textotranscrito a partir de um texto falado, soutilizados para indicar pausas feitas pelofalante. Os dois pontos indica que ele sealongou na pronncia da vogal.

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    seu ouvinte. Destaca-se tambm no trecho a presena do conector e,do termo assim, que resume todo o enunciado anterior. E para finalizar,a retomada do incio do texto, feita atravs da repetio da sequncia:

    sabemos tambm que.

    Este exemplo elucidativo para demonstrarmos que a coeso faz

    parte de toda e qualquer produo textual. Isso inclui os textos faladosque so to presentes em nossa vida cotidiana e que merecem tambmser investigados em seu processo de produo. Mas como no vamosnos centrar no estudo dessa modalidade de lngua, prosseguimos nos-sa aula discutindo a respeito das propriedades da coeso, no item aseguir.

    A coeso um processo sinttico,ou semntico?

    A afirmao de que a coeso proporciona unidade temtica aotexto reflete a ideia de que ela, operando no nvel superficial, favorece,a partir da, as construes de sentido para o texto, que se diz fazeremparte de sua superfcie profunda. De forma que no final tem-se um todocoeso e dotado de sentido, ou seja, tem-se o que podemos reconhecer,na qualidade de falantes da lngua, como sendo um texto.

    hora de fazermos o feedback.Lembra-se de termos pedido quevoc respondesse a atividade 1 com bastante ateno? Pois bem, che-gou o momento de voltarmos resposta que voc deu naquele mo-mento. E isso atravs, claro, de mais uma atividade.

    Atividade IIIRetome agora a resposta dada para a atividade 1. Avalie se a denioescolhida por voc condizente com o que dissemos acima sobre a coeso serum processo sinttico ou semntico.

    Voc mesmo pode responder agora: A coeso um processo sinttico ousemntico? No vale responder sem explicar o porqu. Ento, mos caneta.

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    Continuando...

    O reconhecimento da unidade temtica do texto, de que falamosanteriormente, se processa porque, ao ir fazendo as ligaes na super-fcie do texto, como vimos para o texto acima, vo se fazendo tambmas ligaes no nvel conceitual.

    Assim, por exemplo, no texto PODER INVISVEL, possvel, a partirdo ttulo mesmo, fazer sua ligao com o que est nele expresso. Va-mos retomar o texto: Por que o uso da palavra poder? Porque de fato asaes desses seres microscpicos, citadas no texto,so dignas de superheris. E ser que a palavra microscpicos tem a ver com invisibili-dade? A primeira frase do texto j nos d pista disso:A gente no v.

    Se continuamos, podemos perceber claramente que a partir dasrelaes que se fazem no nvel micro, nas relaes gramaticais mesmo,como por exemplo entre os sujeitos e as formas verbais, que vo sendoestabelecidas as relaes nos nveis superiores.

    Assim, como bons conhecedores da lngua, estabelecemos comosujeito do verbo esto, no segundo pargrafo do texto, os termos quevem depois dele: algas, bactrias, fungos, crustceos, moluscos e outrascriaturas microscpicas.E por que no fazemos com o termo que vemantes, o que a ordem mais comum em nossa sintaxe? Uma pista: aterminao do verbo indica um sujeito plural.

    O simples conectivo e garante a ligao entre algas, bactrias, fun-gos, crustceos, moluscos e outras criaturas microscpicas; entreAlgunse outros.

    Se passamos para o nvel das oraes, temos outros conectores,

    que enfatizam determinado tipo de relao que se estabelece entre asoraes.

    A gente no v, mas a gua de rios, lagos e mares tem mora-dores incrveis;

    Alguns no tem membros para locomoo e outros so peque-nos demais para nadar. Por isso, eles ficam flutuando na gua;

    Os dois servem de comida para vrios animais, por isso so im-portantes no equilbrio da cadeia alimentar. Alm disso, o plnc-ton vegetal faz a fotossntese e fornece grande parte do oxignioque existe no planeta.

    Para que a compreenso do texto fosse assegurada, o autor do tex-to garantiu a manuteno do tema ao longo dos pargrafos. Para isso,estabeleceu os elos de ligao entre eles, atravs do sintagma Nessaturma (segundo pargrafo) e da orao Existem dois tipos de plncton(terceiro pargrafo),que retomam termos citados anteriormente, mastambm reintroduzindo o tema que vinha sendo exposto, desenvolve-o,amplia-o.

    Tudo isso feito de modo que, ao chegar ao final do texto, o leitorpode ter formulado uma interpretao para ele. Percebe-se ento que

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    o texto , finalmente, o resultado de um processo de mltiplos encade-amentos, na medida em que cumpre assim, a funo da coeso, qualseja: a de criar, estabelecer e sinalizar os laos que deixam os vriossegmentos do texto ligados, articulados, encadeados. Reconhecer, en-to, que um texto est coeso reconhecer que suas partes como dis-se, das palavras aos pargrafos no esto soltas, fragmentadas, masesto ligadas, unidas entre si (ANTUNES, 2005, p. 47).

    O que expusemos at aqui refora a ideia de que no falamos porpalavras isoladas, mas atravs de textos, em sua completude. Isso querdizer: atravs de sequncias que, interligadas, fazem sentido para quemas produz e para quem se dirigem. Ou seja, atravs de textos coesos.

    Seria interessante verificar mais uma vez como isso acontece? En-to, vamos a mais um texto.

    TEXTO 3

    2. O determinismo geogrfico

    O determinismo geogrfico considera que as diferenas doambiente fsico condicionam a diversidade cultural. So explica-es existentes desde a Antiguidade, do tipo das formuladas porPollio, Ibn Khaldun, Bodin e outros, como vimos anteriormente.

    Estas teorias, que foram desenvolvidas principalmente porgegrafos no final do sculo XIX e no incio do sculo XX, ga-nharam uma grande popularidade. Exemplo significativo dessetipo de pensamento pode ser encontrado em Huntington, emseu livro Civilization and Climate(1915), no qual formula umarelao entre a latitude e os centros de civilizao, considerandoo clima como um fator importante na dinmica do progresso.

    A partir de 1920, antroplogos como Boas, Wissler, Kroeber,entre outros, refutaram este tipo de determinismo e demonstra-ram que existe uma limitao na influncia geogrfica sobre osfatores culturais. E mais: que possvel e comum existir umagrande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo deambiente fsico.

    Tomemos, como primeiro exemplo, os lapes e os esquims.Ambos habitam a calota polar norte, os primeiro no norte daEuropa e os segundos no norte da Amrica. Vivem, pois, em am-bientes geogrficos muito semelhantes, caracterizados por umlongo e rigoroso inverno. Ambos tm ao seu dispor flora e faunasemelhantes. Era de se esperar, portanto, que encontrassem asmesmas respostas culturais para a sobrevivncia em um ambien-te hostil. Mas isto no ocorre:

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    Os esquims constroem suas casas (iglus) cortandoblocos de neve e amontoando-os num formato de col-mia. Por dentro a casa forrada com pelos de animaise com o auxlio do fogo conseguem manter o seu interiorsuficientemente quente. possvel, ento, desvencilhar--se das pesadas roupas, enquanto no exterior da casa atemperatura situa-se a muitos graus abaixo de zero graucentgrado. Quando deseja, o esquim abandona a casatendo que carregar apenas os seus pertences e vai cons-truir um novo retiro

    Os lapes, por sua vez, vivem em tendas de peles derena. Quando desejam mudar os seus acampamentos,necessitam realizar um rduo trabalho que se inicia pelodesmonte, pela retirada do gelo que se acumulou sobre aspeles, pela secagem das mesmas e o seu transporte para

    o novo stio.Em compensao, os lapes so excelentes criadores

    de renas, enquanto tradicionalmente os esquims limitam--se caa desses mamferos.

    A aparente pobreza glacial no impede que os esquimstenham uma desenvolvida arte de esculturas em pedra-sabo enem que resolvam os seus conflitos com uma sofisticada compe-tio de canes entre os competidores.

    Um segundo exemplo, transcrito de Felix Keesing, a

    variao cultural observada entre os ndios do sudoeste norte--americano: (...)

    (LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito Antropolgico. 11.ed. Rio de Janeiro: Zahar Editor. 1997, p. 21-22).

    Comeando pelo comeo...

    Voltamos nossa ateno para o ttulo do texto e percebemos que omesmo j se inicia privilegiando o aspecto coesivo. O primeiro par-grafo parte de uma retomada do ttulo, atravs da repetio: O deter-minismo geogrfico.O final do pargrafo, por sua vez, j remete parauma outra parte do texto, anterior, que obviamente no transcrevemosaqui. Com o enunciado:como vimos anteriormente,o autor deixa cla-ro que j havia tratado do assunto antes. Merecem tambm atenoo uso do pronome outros.Atravs dele o autor pode omitir uma listatalvez enorme de tericos. Voc deve ter prestado ateno tambm que

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    o sintagma as diferenas do ambiente fsico, retomado primeiro pelotermo explicaes, e depois por do tipo das formuladas. Nesse caso,houve tambm a retomada do tema atravs de termos diferentes, pro-porcionando o encadeamento das sequncias, e consequente progres-so do texto. Essa uma funo da coeso.

    Passando para o segundo pargrafo, verifica-se que a ligao como primeiro est assegurada atravs do sintagma estas teorias.Mais umtermo que se junta a as diferenas do ambiente fsico, explicaes, edo tipo das formuladas.E ainda a esse tipo de pensamento,que lemosmais frente. Voc pode indicar que termo substitudo pelo pronomeno qual, na quarta linha desse pargrafo? Uma dica: ele est no gne-ro masculino e no singular.

    A partir de 1920, ou melhor, a partir daqui, deixamos para voc atarefa de dar continuidade observao de como est sendo costuradoo texto. Este um timo exerccio para se aprender a produzir os pr-prios textos. Portanto, no perca a oportunidade.

    Atividade IVEst lanada ento a proposta. D continuidade anlise que vnhamosfazendo, e assim voc descobrir variadas possibilidades de se fazer eloscoesivos num texto. Claro que no ser possvel remarcar todas numa primeiravez. Nesse caso, compartilhar o que voc fez no frum, com seus colegas,

    ser uma oportunidade excelente para tomar conhecimento do que voc nopercebeu, mostrar o que voc fez, e assim ter uma anlise bem completa dotexto. Bom trabalho!

    Com esta atividade encerramos nossaunidade. Esperamos que voc tenhagostado de descobrir o texto como essetapete em que se entrecruzam fios devariados tamanhos e cores. E veja queisso s o comeo. H muito mais a seobservar quando olhamos esse objeto

    de perto. Nas prximas aulas estudaremos em maior nmero possvel,como cada fio em particular funciona no texto, de modo que a trama noapresente falhas. E ainda, de modo que a trama adquira determinadapadronagem. Essa tarefa de tecer com palavras, definitivamente, no uma tarefa fcil. tarefa que exige cuidado e bastante ateno. Mas valea pena se tornar um bom tecelo. Afinal, quem no gosta de ler um bomtexto, um bom livro? E se dizemos que o texto bom, que o livro bom, porque ele est bem escrito do ponto de vista da coeso. Isso vale paranossos textos tambm. Portanto, vale a pena se esmerar.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    Leituras recomendadas

    KOCH, Ingedore Villaa. A coeso textual. 7. ed. So Paulo: Con-texto, 1997.

    Continuamos recomendando Koch, pelas mesmas razes: de leitu-ra fcil e bastante didtica, a autora faz uso de muita exemplificao.

    Alm disso, por ser uma pioneira da lingustica textual no Brasil, seustextos so de leitura obrigatria para quem quer conhecer a teoria. Esta uma das suas primeiras produes na rea. Portanto, vale a penaconhecer outras produes da autora como as citadas nas refernciasa seguir.

    ANTUNES, Irand. Lutar com palavras:coeso e coerncia. So Pau-

    lo: Parbola Editorial, 2005.Irand Antunes hoje uma das pesquisadoras que tm se ocupado

    da lingustica textual, e tem sabido transmitir de forma muito simples eprazerosa a teoria que geralmente apresentada de forma muito tcni-ca. Com bastantes exemplos extrados da literatura, de revistas e jornaisda atualidade, facilmente podemos descobrir os efeitos de sentido quedecorrem do uso da linguagem. Portanto, sua leitura imprescindvel.

    ResumoA coeso estudada no interior da teoria da lingustica textual comouma propriedade do texto falado ou escrito, responsvel pelos sucessi-vos encadeamentos de termos, de frases, de pargrafos, de modo queeste texto como produto, se apresente como uma unidade de sentido.

    Observa-se a coeso a partir da materialidade lingustica do texto, doselementos coesivos da superfcie textual, que ao estabelecerem rela-es entre as diversas partes do texto, vo estabelecendo tambm asrelaes de sentido que tornam os textos compreensveis para seus lei-tores e ouvintes.

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    AutovaliaoEste o momento em que voc dever avaliar se seu aprendizado

    se deu a contento. Portanto, a proposta de autoavaliao que sugeri-mos deve ser realizada com bastante segurana. Se voc considera quesuas leituras ainda no foram suficientes para realiz-la, importanteque voc retome as leituras, as discusses com o professor e os cole-gas, de modo a ter segurana para realizar a atividade que sugerimosa seguir:

    Releia os textos PODER INVISVEL e O DETERMINISMO GEOGR-FICO. Compare os dois, levando em considerao seu trabalho comoleitor/leitora para seguir as pistas coesivas nos dois textos, na tentativade compreend-los.

    Agora responda: o fato desses dois textos serem de gneros diferentes, estaremendereados a pblicos diferentes, faz com que haja maior diculdade emreconhecer as pistas lingusticas neles presentes? Por qu?

    Lembre-se de que, para responder a essa questo, voc deve seater aos elementos coesivos da lngua. No entra em jogo em jogo

    aqui seu conhecimento maior ou menor acerca dos temas tratados nostextos.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    RefernciasANTUNES, Irand. Lutar com palavras: coeso e coerncia. So Paulo:Parbola Editorial, 2005.

    COSTA VAL, Maria da Graa. Redao e textualidade.So Paulo:Martins Fontes, 1991.

    KOCH, Ingedore Villaa. A coeso textual.7. ed. So Paulo: Contexto,1989.

    KOCH, Ingedore Villaa. O texto e a construo dos sentidos.So Paulo:Contexto, 1997.

    KOCH, Ingedore Grunfeld Villaa.Introduo lingustica textual:trajetria e grandes temas. So Paulo: Martins Fontes, 2004.

    KOCH, Ingedore Villaa; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerncia textual.8. ed. So Paulo: Contexto, 1997.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. A Lingustica de Texto:o que e como sefaz. Recife. Universidade Federal de Pernambuco, 1983.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo textual, anlise de gneros ecompreenso.So Paulo, Parbola Editorial, 2008.

    MARTELLOTA, M. et. alii. (orgs.) Manual de Lingustica. So Paulo:Contexto, 2008.

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    III UNIDADE

    Mecanismos de coesotextual: a Referenciao

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    Apresentao

    Estudando as duas primeiras aulas deste curso de Teorias

    Lingusticas II, voc travou conhecimento com a LingusticaTextual. Desse modo, j conhece os pressupostos em que sebaseia essa corrente da lingustica, j conhece a definiode texto com que opera a Lingustica de Texto, bem comoj exercitou os conhecimentos que foram adquiridos sobreos recursos utilizados pelos produtores textuais na busca deuma construo de textos coesivos, observando analitica-mente o resultado de seu emprego nos textos.

    Esse caminho que voc percorreu certamente j lhe pro-porcionou uma viso muito mais aguada do produto textual.

    Os primeiros passos na lingustica textual sempre possibilitama aquisio de uma noo de texto como artefato, como umobjeto sobre o qual preciso trabalhar, elaborando e reelabo-rando enunciados, escolhendo a palavra mais justa, atentandopara detalhes que podem fazer muita diferena no que o produ-tor do texto quer dizer, no que o leitor pode interpretar. Todo tra-balho de elaborao textual requer a ateno do seu produtorno intuito de chegar a sua forma final mais acabada. Para isso,o conhecimento dos elementos lingusticos do texto ajuda muito.

    Por isso, para esta aula, nossa proposta fazer um estu-do mais especfico da coeso, centrando-nos no estudo dosmecanismos disponveis na lngua atravs dos quais so es-tabelecidas refernciasentre os constituintes do texto. Nossaproposta fazer voc perceber como funcionam esses meca-nismos e, sobretudo, reconhecer sua importncia para a ela-borao do texto. A partir disso voc mesmo poder tambmfazer um uso muito mais consciente desses elementos. Comesse propsito, estabelecemos os objetivos de nossa unidade:

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    ObjetivosAo final desta unidade, esperamos que voc seja capazde:

    Identificar os mecanismos lingusticos responsveispela coeso referencial do texto;

    Avaliar um texto bem formado, do ponto de vista doemprego dos elementos coesivos referenciais;

    Empregar os conhecimentos da lingustica textual emsua atividade de leitor e produtor textual.

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    Consideraesiniciais necessrias

    Estamos tratando neste curso, da maneira como os termos, os enun-ciados, os pargrafos do texto vo sendo encadeados num processo deidas e vindas, de retomadas, de articulaes que vo resultar num textocoeso e com sentido. Porque, para que o texto tenha sentido, precisoque suas palavras, enunciados, pargrafos, estejam interligados. Essa a funo da coeso. A partir de agora, vamos observar como oselementos lingusticos responsveis pela coeso funcionam nos textos.

    Seguiremos a proposta de Koch (1989, p. 26), que bastante di-dtica, em que a autora prope a existncia de duas grandes mo-dalidades de coeso: a coeso referencial (referenciao, remisso)e a coeso sequencial(sequenciao). Esta unidade ser dedicada

    coeso referencial, que Koch (1989, p.30) define como sendo aquelaem que um componente da superfcie do texto faz remisso a outro(s)elemento(s) do universo textual. A coeso sequencial ser estudada naprxima unidade.

    Ao chegar ao final do curso, voc perceber como ser til parasua prpria atividade de produo textual, o conhecimento de comofuncionam os elementos de coeso. Certamente voc desenvolvermaior controle sobre sua escrita, tornando-se um produtor textual maiscompetente. Bem como, um leitor mais atento ao texto que vier a ler apartir de ento.

    E j que o objeto de anlise da lingustica textual o texto, vamos

    apresentar os mecanismos de coeso referencial, naturalmente, atravsde textos. E a partir da, vamos explicando seu funcionamento, semprerequisitando sua participao, evidentemente. Contudo, selecionare-mos trechos em que podemos observar o procedimento lingustico es-pecfico que queremos analisar. Isso porque no temos espao suficien-te para incluir o texto integral, em funo do limite que nos impe umaaula como esta. Assim, teremos o cuidado de recuperar as informaesque sejam relevantes para sua compreenso.

    Mas, para satisfazer sua curiosidade de leitor, indicamos sempre areferncia para que voc possa recuperar todo o contexto textual, lendoo texto na ntegra, sempre que possvel. Asseguramos que essa ser

    uma atitude inteligente e prazerosa.Contamos com sua efetiva participao na aula. Ser muito impor-

    tante seu envolvimento realizando os exerccios, tirando as dvidas como tutor, discutindo com os colegas no ambiente virtual. Portanto, vamosaos textos ou trechos!

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    Analisando procedimentosde coeso referencial

    Para comear, vamos ler um trecho de um dilogo imaginado por

    Luis Fernando Verssimo, entre o cineasta Federico Fellini e seu produ-tor. Reportamos o trecho final porque ele exemplifica bem um procedi-mento recursivo: a repetio de um mesmo item lexical.Esse um re-curso atravs do qual se consegue a reiterao de um referente textual,conseguindo-se assim estabelecer uma forma de coeso textual.

    Antunes (2005, p. 71) explica que

    A repetio, como o prprio nome indica, corres-ponde ao de voltarao que foi dito antes pelorecurso de fazer reaparecer uma unidade que jocorreu previamente. Essa unidade pode ser uma

    palavra, uma sequncia de palavras ou at umafrase inteira.

    Vamos ao trecho em que Fellini fala sobre a presena de gatos emum prximo filme, e voc poder confirmar o que Antunes disse acimasobre a repetio:

    _ Isso. Oitocentos gatoscaolhos. Mil. Os gatosesto por todo o apartamento. O casal no con-segue sentar ou dormir por causa dos gatos. Osgatos comem a empregada. Os gatos ocupam

    todo o prdio. Toda a cidade! isso! A cidade esttomada por gatoscaolhos. Milhes de gatoscao-lhos. Anote a: um milho de gatoscaolhos. S ocasal ainda no foi comido pelos gatos, porque...(VERISSIMO, 2003, p. 43)

    Voc contou quantas vezes o termo gato aparece no trecho? Pare-ce um exagero, mas a retomada do mesmo item lexical empregadapara criar um efeito expressivo. A repetio da palavra gato revela oexagero do cineasta, conhecido pela montagem de cenas inusitadas. Arepetio no desqualifica o trecho, porque neste caso ela cumpre umafuno. A nfase nos gatos, inevitavelmente, cria em nossa mente umcenrio tomado por gatos que surgem de todas as partes, e a reitera-o do termo garante a continuidade do texto, sua coeso. Recomen-damos a leitura de Antunes (2005) para um maior aprofundamentodessa forma de remisso.

    No prximo trecho tambm observamos um caso de repetio, masagora atravs de um outro mecanismo, o uso de expresses nominaisdefinidas,assim conceituadas por Koch (2009, p. 68): Denominam-seexpressesou formas nominais definidas as formas lingusticas constitu-das, minimamente, de um determinante definido seguido de um nome.

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    Vamos ao exemplo para deixar claro do que estamos tratando:

    Woody Allen no um filsofo. um judeu dabaixa classe mdia urbana do Leste dos EstadosUnidos, como dez entre dez estrelas da comdiaamericana. Ele mesmo se situa na tradio dos

    stand-up comedians,... (VERISSIMO, 2003, p. 50)

    Voc consegue identificar as expresses nominais que so em-pregadas no trecho para fazer referncia a Woody Allen? Voc identi-ficou um judeu da baixa classe mdia urbana, uma estrela da comdiaamericana e um dosstand-up comedians?

    O interessante no emprego dessas expresses que, como ressaltaKoch (2009, p. 68),

    o uso de uma descrio definida implica sempreuma escolha dentre as propriedades ou qualidades

    capazes de caracterizar o referente, escolha estaque ser feita, em cada contexto, em funo doprojeto de dizer do produtor do texto.

    No parece ser isso mesmo o que pretende Verssimo? A partirda identificao de Woody Allen pelo que ele no , um filsofo, Ve-rssimo informa ao leitor quem ele . Para isso, faz uso das expressesnominais. Dessa forma, o referente retomado, e ao mesmo tempo emque retomado, resignificado pelas novas informaes que lhe soacrescentadas. Assim o texto progride.

    O que acontece tambm nesse trecho que seu produtor, Fernando

    Verssimo, construiu o texto com o objetivo de fazer o leitor conhecerWoody Allen a partir da apresentao das caractersticas que o iden-tificam, segundo a tica de Verssimo, claro. Podemos dizer, portanto,que o uso das expresses definidas resultado do projeto discursivo doautor, naquele contexto.

    Um outro recurso coesivo bastante comum nos textos a substitui-o de um termo por outros equivalentes. Atravs desse recurso ficaassegurada a manuteno do elemento que est sendo o foco do texto,ao mesmo tempo em que se evita uma repetio que poderia ser en-fadonha no texto. Mas principalmente, pela substituio, se oferece aoleitor outras possibilidades de interpretao para um mesmo referente. o que acontece nos trechos do jornal a seguir em que, a partir do t-tulo que anuncia o nome de Messi, vrios outros eptetos so atribudosao jogador.

    Messid novo show

    O craque do Barcelona Lionel Messideu novo show no Camp Nou ...

    O argentino Messivoltou a dar espetculo e foi ovacionado pela

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    torcida do Bara, que fez gestos levantando e abaixando os braos emreverncia aocamisa 10...

    Durante o jogo, a imprensa europeia e argentinatambm j exaltavam o craque: Deus Messi, diziao espanhol Marca, enquanto o Ol chamava o

    meia-atacantede Rei do Camp Nou. Eleito o me-lhor jogador do mundo,em 2009, esta a primeiravez na carreira que o craque fez quatro gols em ums jogo... (O Norte, 07/04/2010)

    Podemos dizer que as sucessivas substituies deixam o texto maisinformativo a respeito de quem Messi, o que muito apropriado paraum texto jornalstico. Ao mesmo tempo, o leitor tem sempre em menteque dele que se est falando. No h, portanto, possibilidade deconfuso.

    Outras formas de substituio podem ser feitas atravs de Sinni-mos1, como em: A porta se abriu e apareceu uma menina. A garotinhatinha olhos azuis e longos cabelos dourados;

    Antunes (2005, p. 98)lembra que podemossubstituir uma palavra porum seu sinnimo, isto ,por uma outra palavra quetenha o mesmo sentido ou,pelo menos, um sentidoaproximado (...), semprena dependncia das condi-es de cada texto.

    Hipernimos2: Vimos o carro do ministro aproximar-se. Alguns mi-nutos depois, o veculoestacionava adiante do Palcio do Governo;

    Uma visualizao de hipernimos facilmente encontrada nasclassificaes, como esta abaixo, usada na biologia. Animal funcionacomo hipernimo de qualquer uma das classes que esto abaixo naclassificao.

    ANIMAL

    RPTEIS AVES MAMFEROS

    ROEDORES FELINOS PRIMATAS

    1 SINONMIA Propriedade de dois ou maistermos (v. termo) poderem ser emprega-dos um pelo outro sem prejuzo do que sepretende comunicar (MATTOSO CMARA,1986, p.222)

    2 Hipernimo isto , uma palavra de sen-tido geral, que designa uma classe de seres,por isso mesmo, chamada de palavra supe-rordenada ou nome genrico (ANTUNES,2005, p. 98).

    Fonte da imagem:http://www.grupoescolar.com/materia/semantica_%28sinonimos_e_antonimos;_homonimos_e_paronimos%29.html)

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    Nomes genricos: A multido ouviu o rudo de um motor. Todosolharam para o alto e viram a coisa3se aproximando;

    Nominalizaes4: Os grevistas paralisaram todas as atividades dafbrica. A paralisaodurou uma semana.

    Todos esses exemplos foram retirados de Koch (1989, 46). fcilperceber neles que os termos em itlico promovem, anaforicamente,um retorno ao que foi anunciado antes no texto. H, portanto, umainterrelao entre elementos, que caracteriza a coeso textual.

    H muitas outras possibilidades de se fazer remisso em textos,utilizando-se recursos lexicais. Voc encontra nos trabalhos j citadosde Antunes (2005) e Koch (2009), diversos exemplos e comentrios decomo esses recursos podem direcionar um sentido para o texto. Em ACoeso Textual, Koch (1989) faz uma relao exaustiva dessas formas.

    Vale a pena conferir esse seu trabalho para iniciar os estudos sobre asformas de se estabelecer coeso textual.

    Vamos parar um pouco para que voc agora tenha a oportuni-dade de refletir sobre como se procede para garantir a coeso textualatravs dos recursos coesivos referenciais que estudamos at aqui. Essaser sua primeira atividade.

    Atividade I

    Leia atentamente o texto abaixo. Identique elementos de coeso referencial.Voc pode at identicar elementos que j estudamos na aula anterior. Depois,explique como, atravs da repetio de termos, do uso de expresses nominais,da repetio parcial ou total de termos, o autor do texto consegue garantir acoeso necessria unidade textual.

    As geleiras de Marte

    Imagens raras dos paredes de Mojave, uma gi-gantesca cratera de gelo do planeta Marte, foram

    divulgadas pela Nasa, agncia espacial america-na. As fotografias registram uma regio com cercade 60 quilmetros de dimetro. Sua profundidadede 2,6 quilmetros mostra ainda que a cratera foipouco afetada pela eroso ou por outros processosgeolgicos. Mojave uma das mais recentes gran-des crateras de Marte tem cerca de 10 milhesde anos. Segundo os cientistas, o clima do planetavermelho pode ter sido influenciado pelo intensobombardeio de meteoritos h 3,9 bilhes de anos.(ISTO, 31/03/2010, p. 25)

    3 Coisa o mais comum dos hipernimos emnossa lngua. Uma espcie de coringa.

    Quem no j se valeu da palavra quando nose lembrava

    4Entende-se por nominalizao o processogramatical de formar nomes a partir de ou-tras partes do discurso, usualmente verbose adjetivos. (KHEDI, 1992, P. 26).

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    Retomando o ltimo trecho reportado de Verissimo, verificamos apresena do pronome eleseguido da expresso mesmoque no deixadvida quanto ao nome que est sendo retomado,Woody Allen.Esse um caso de retomada que na lingustica conhecida comoanafrica5,porque o termo a que se faz referncia (Woody Allen) vem antes da for-ma referencial (ele mesmo). Ou seja, h um movimento de refernciaao que veio antes, voltando-se no texto. Veja como isso acontece:

    Woody Allen no um filsofo. (...) Ele mesmo se situa na tradiodosstand-up comedians,...

    Quando esse movimento para frente,diz-se que se tem uma refe-rncia catafrica, como no exemplo a seguir:

    Ginstica para viver, ridcula e pattica ginstica que tanta gente

    faz todo dia simplesmente para isso: para continuar.(BRAGA, 2004, p. 26)

    Veja que s sabemos a que se refere o pronome isso continuando aleitura, no segundo momento do enunciado. Primeiro, h a apresenta-o do referente, isso, e depois o termo referido, continuar. Ressaltamosque contribui sintaticamente para o estabelecimento dessa relao, apresena dos dois pontos. Podemos constatar assim, que a relaoentre diversos procedimentos lingusticos, que proporciona a arquitetu-ra textual.

    Os pronomes se incluem entre as principais formas gramaticaisatravs das quais se faz remisso em portugus. Eles garantem a conti-nuidade referencial e muito importante observar no seu uso, as flexesde gnero e nmero que permitem a identificao com o termo a quese referem. Assim fica assegurada a devida ligao entre os elementosdo texto e, consequentemente, assegura-se tambm sua compreenso.

    Observe essa concordncia nos exemplos a seguir. Marcamos comitlico os pronomes que esto estabelecendo uma relao remissivanos trechos. Para voc, fica a tarefa de identificar o termo que estsendo retomado pela referenciao pronominal e de explicar como areferncia est acontecendo no trecho. Interprete isso como um maisexerccio a ser realizado. Esta ser sua ATIVIDADE 2.

    ...Recentemente uma celebridade reagiu idiade queseusseios no eramseusdizendo que tinhapagado por eles, e, portanto, eleseram maisseusdo que os originais...(VERISSIMO, 2003, p. 214)

    5 Chamamos de anafricas as expresses

    que se interpretam por referncia a outraspassagens do mesmo texto. As expresses

    anafricas servem, tipicamente, para re-tomar outras passagens de um texto. Umexemplo tpico o demonstrativo isso emfrases como a gasolina subiu de novo, eisso vai gerar outros aumentos de preos;nesse contexto, camos sabendo que a

    palavra isso faz referncia ao aumento degasolina, olhando par o texto que precede(ILARI, 2001, p. 55).

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    ...O Ulisses de Homero e o Ulisses de Dante seencontram no Ulisses de James Joyce. Encontram--se, mas no sefundem, transformam-seem doispersonagens: Leopold Bloom, o Ulisses de Home-ro segundo Joyce, cujaaventura uma volta paracasa, e Stephen Dedalus, o Ulisses de Dante segun-

    do Joyce, cujoexlio uma aventura sem volta.(VERISSIMO, 2003, p. 133)

    ...H tempos apareceu uma teoria segundo a qualexistiria uma memria da gua. A gua reterianas suasmolculas uma lembrana recupervelde movimentos e efeitos. A teoria no foi provada,o que uma pena. Suas possibilidades poticaseram imensas...(VERISSIMO, 2003, p. 126)

    Os artigos, numerais, advrbios pronominais e expresses adver-

    biais so outros elementos gramaticais que tambm funcionam comoformas remissivas da lngua, como podemos verificar nos exemplos:

    a) Era uma vez umrei que morava num castelo. Orei vivia muitosozinho.

    Um comentrio importante a respeito dos artigos como elementosreferenciais que o indefinido funciona como catafrico.Veja que noexemplo um reiser retomado posteriormente. J com o artigo defi-nido, a remisso feita ao que j foi enunciado antes. O rei sozinho o rei de quem j se disse morar num castelo. Da mesma forma, sequisssemos falar docastelo,teramos que usar agora o artigo definido.

    Por exemplo: Era uma vez um rei que morava numcastelo. Ocasteloera muito sombrio.

    Verificar o valor anafricoou catafrico dos artigos uma questoessencial a se considerar quando a referncia feita atravs do artigodefinido ou indefinido. A informao acerca dessa particularidade nouso dos artigos nunca ressaltada pelas gramticas tradicionais. Verifi-camos assim a importncia do conhecimento que est sendo adquiridonessa unidade, acerca da funo coesiva dos elementos lingusticos.

    b) Na madrugada do domingo, s 01h45, um adolescente de 17

    anos faleceu em um acidente de motocicleta. Outra pessoa queestava com ele, identificado como Luciano, foi socorrido, leva-do para Campina Grande e est em estado grave... A moto queos dois ocupavam, uma yamaha 125, saiu da pisa e tombou emseguida... (O Norte, 05/04/ 2010)

    Facilmente pode-se reconhecer o valor coesivo do numeral porqueele est sendo usado para fazer referncia s pessoas acidentadas,citadas anteriormente no texto.

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    Voc percebe nesse trecho que h o uso de mais formas referenciaisalm do numeral? Que tal se voc identificar os elementos lingUsticosque esto servindo para estabelecer esse tipo de coeso? Vamos l,essa mais uma oportunidade de voc por em prtica os conhecimen-tos que j adquiriu sobre os modos de se conferir aspectos coesivos aotexto. Portanto, realize a atividade 3 a seguir:

    Atividade IIIIdentique os elementos coesivos referenciais no trecho acima, bem como ostermos a que se referem.

    Nesse enunciado est presente uma expresso adverbial que funciona comoelemento coesivo. Voc pode identic-lo? Alis, nossas aulas esto repletasde elementos circunstanciais que utilizamos para fazer ligaes entre suaspartes. o que acontece nos enunciados:

    c) Leia atentamente o texto abaixo; Quando esse movimento para frente, diz-se que se tem uma refernciacatafrica, como no exemplo a seguir: A partir de agora...

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

    So muitas as possibilidades de se estabelecer referncias no textopara que nenhuma parte fique solta, sem ligao com as demais. Emto pouco espao impossvel fazer um estudo exaustivo dos elementos

    de coeso referencial. Por isso importante que voc leia sobre o temanos livros que recomendamos. H muitos trabalhos na internet. Ana-lisando com cuidado, voc poder encontrar na rede uma excelentefonte de pesquisa. No deixe de compartilhar suas descobertas com oscolegas e tirar as dvidas com o professor. Essa uma atitude inteligen-te por parte do aluno que quer realmente aprender.

    Vamos apresentar mais uma forma de se fazer coeso referencial, aelipse6, um recurso de referenciao sinttica, frequentemente empre-gado em textos. Certamente voc j estudou elipse em suas aulas de

    6 Denio: ELIPSE Omisso, numa

    enunciao, lingustica, do termo presenteem nosso esprito, porque se depreende docontexto geral ou da situao (MATTOSOCMARA, 1986, p.49).

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    gramtica, onde deve ter aparecido sob a designao de uma figurade linguagem. Agora voc poder observar como esse pode ser umrecurso que propicia a coeso referencial. Mais uma vez Verssimo nosd um excelente exemplo de coeso em seu texto e tambm nos deixamais conhecedores de Woody Allen. Por isso, vamos retom-lo:

    ...Allen pertence ao pequeno mundo liberal-inte-lectual de Nova York. Escreve para o New Yorker,apia todas as causas corretas, frequenta os cine-mas de arte, almoa no Russian Tea Room e abo-mina a Califrnia. Mas, com a lcida irrevernciade um emigrado do Brooklyn, sabe que h maispose do que contedo no estilo da ilha. Sabe queNova York, como ele, consome cultura de segun-da mo: o cinema que no feito l e o altopensamento europeu... (VERISSIMO, 2003, p. 51)

    Vamos ento verificar como o processo da elipse se faz presente notrecho. No primeiro enunciado, tudo muito claro. A partir dele, umasrie de oraes:

    Escreve para o New Yorker/ apia todas as causas cor-retas/ frequenta os cinemas de arte/ almoa no RussianTea Room/ abomina a Califrnia.

    O sujeito dessas oraes no est antecedendo imediatamente asformas verbais, est elptico. Mas est presente no primeiro enunciadodo trecho e podemos identific-lo pelas terminaes verbais, bem como

    pelo fato de no haver outro termo que pudesse ocupar a posio desujeito. Al