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ISSN 2176-1396
TEORIA E PRTICA NA FORMAO DE PROFESSORES: POR UMA
EDUCAO HUMANIZADORA
Lucia Souza Campos Jose1 FIOSP
Daniele Nadal Steffen2 FIOSP
Flvia Cristina Oliveira Murbach de Barros 3 FIOSP
Eixo Temtico: Didtica: Teoria, Metodologia e Prtica
Agncia Financiadora: no contou com financiamento
Resumo
O presente artigo tem por objetivo mostrar o trabalho realizado nas disciplinas de Prtica I e
II, evidenciando que teoria e prtica caminham juntas, no processo do ensino e aprendizagem
dos discentes. Nessa perspectiva, o texto trar reflexes sobre o professor mediador, aquele
que exerce o papel de levar aos alunos a apropriao da cultura humana criada ao longo da
histria. Sero relatadas, ainda, duas experincias vividas pelos alunos do Curso de Pedagogia
das FIO (Faculdades Integradas de Ourinhos), durante o ano de 2014, realizadas durante as
disciplinas de Prtica de Ensino I e II. Aps essas experincias, constataram-se mudanas
significativas na postura dos graduandos, formas de pensar e agir sobre a escola e suas
implicaes para a transformao social. Percebe-se que fundamental para a formao dos
futuros professores que a interlocuo entre teoria e prtica se mantenha em estreita relao,
na qual os textos tericos sejam capazes de levar os alunos a transformar seu pensar e agir,
modificando, assim, as prprias atividades prticas a serem executadas. Alm disso, relata o
artigo que a escola deve ser o lugar que propicie o amplo desenvolvimento do aluno,
oferecendo a ele diversidade de experincias, tanto culturais como sociais, suporte necessrio
para alavancar seu desenvolvimento enquanto ser social e histrico. Em vista disso, foram
utilizadas, nas disciplinas de Prtica de Ensino, atividades concretas e significativas, que
impulsionaram o desenvolvimento do graduando e aguaram seu envolvimento a ponto de
estimular o senso crtico e a autonomia. Para tanto, utilizou-se atividades como o teatro, a
poesia, a msica, as brincadeiras, que oportunizaram a reelaborao de suas aprendizagens
criando conexes entre o novo conhecimento adquirido e suas vivncias, de maneira que
possam como futuros pedagogos modificar as aes e a realidade em que esto inseridos
pautados em atitudes responsivas e reflexivas.
Palavras-chave: Paradigmas. Prtica de Ensino. Reflexo da Prtica. Prticas pedaggicas.
Mediao do Professor.
1 Graduanda em Pedagogia das Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO). E-mail: [email protected]
2 Graduanda em Pedagogia das Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO). E-mail: [email protected] 3 Doutora em Educao: UNESP- Campus de Marlia-SP. Professora Adjunta das Faculdades Integradas de
Ourinhos (FIO)-SP- Gestora do Frum Paulista de Educao Infantil. E-mail: [email protected]
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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Introduo
Neste trabalho, faremos uma reflexo enquanto alunas de graduao num curso de
Pedagogia sobre a importncia de quebrar os paradigmas da educao, com o intuito de
favorecer a formao do professor mediador e reflexivo. Nessa perspectiva, no presente texto,
compreendido como relato de experincia, buscamos mostrar a relevncia da relao teoria e
prtica na formao de professores.
Discutimos a teoria e a prtica no Curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de
Ourinhos (FIO Fundao Miguel Mofarrej), em especfico, nas disciplinas de Prtica I e II,
aliceradas por autores como Libneo (2008), Dayrell (2006), Mello e Farias (2010), Passos
(2000) e Andrade (2006). A problemtica na formao do professor, na contemporaneidade, e
a questo da necessidade de discusso e reflexo sobre o processo de ensino e aprendizagem
ser o foco desse nosso relato. Apresentamos alguns aspectos importantes sobre a disciplina
de Prtica de Ensino, como a formao do professor e a quebra de paradigmas, por meio da
teoria e da prtica e como esse processo modifica suas aes como educadores.
fundamental destacar que as disciplinas de Prtica de Ensino I e II, conforme
oferecida no Curso de Pedagogia das FIO, so necessrias aos discentes, futuros professores,
pois oportunizam diversas situaes, meios e formas, com o objetivo de quebrar os
paradigmas da educao, sobretudo preconceitos, crenas, vises cristalizadas do processo
educacional e valores que ainda encontramos no espao escolar.
Seguindo esse fio condutor, acompanhamos o desenvolvimento das disciplinas de
Prticas I e II, as quais buscam garantir a desconstruo do senso comum, dando lugar
criticidade e autonomia do professor em formao, por meio da interlocuo teoria e prtica,
procurando uma formao mais humanizadora, tema de nossa primeira discusso.
Por uma formao de professores humanizadora
O conceito de humanizao, na perspectiva histrico-cultural4, significa compreender
que o homem no nasce humano, ou seja, que os fatores que carrega consigo, herdados
geneticamente e que a natureza lhe prov so importantes, porm, no suficientes para que se
torne humano. preciso que se aproprie das experincias vividas e acumuladas pelas
4 A teoria histrico-cultural teve como seu principal representante o psiclogo sovitico Lev Semenovich
Vigotsky; com base em conceitos marxistas, nessa teoria, o indivduo se constitui como tal, no apenas por
processos de maturao orgnica, mas, principalmente, por meio de interaes sociais.
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geraes passadas, para que seu processo de desenvolvimento histrico-social ocorra. A partir
do conceito de humanizao, entendemos que o indivduo, para se desenvolver, precisa se
apropriar da cultura humana herdada das geraes passadas, por meio da relao com outros
seres humanos, de forma a desenvolver seu potencial, sua inteligncia e sua personalidade.
Assim, esse conceito torna o processo educativo muito mais complexo, pois, conforme Mello
(2007, p. 89):
[...] a humanizao como processo de educao vira pelo avesso a relao entre desenvolvimento e aprendizagem que aprendemos a pensar com as teorias
naturalistas. Na perspectiva histrico-cultural, a aprendizagem deixa de ser produto
do desenvolvimento e passa a ser o motor deste: a aprendizagem deflagra e conduz o
desenvolvimento.
Segundo a autora, a criana nasce com uma nica capacidade, a de aprender, e essa
capacidade ilimitada. Desde que nasce, a criana aprende e, assim, estabelece relaes com
o mundo que a rodeia e interage com ele, explorando-o e criando explicaes sobre suas
vivncias. no perodo da infncia que a criana aprende as qualidades humanas naturais, ou
seja, nesse processo que se desenvolve sua inteligncia e personalidade. Para isso, precisa
aprender e se apropriar dessas qualidades por meio de atividades no meio social no qual vive,
as quais so mediadas por pessoas mais experientes, que as auxiliem nesse processo. Nessa
perspectiva, as disciplinas de Prtica de Ensino proporcionam, ao futuro educador, diferentes
maneiras para que compreenda sua funo como mediador, provocador da apropriao da
cultura humana, propiciando mudanas significativas no conhecimento de mundo da criana
com a qual atuar, no espao da escola.
Portanto, preciso que o educador tenha uma formao inicial e continuada de
qualidade, com embasamento terico e prtico que possibilite oferecer aos alunos
oportunidades de apropriar-se dos bens materiais, como livros diversos, tecidos, cartazes,
reciclveis e no materiais, isto , meios de articular as vivncias do dia a dia do aluno com a
cultura mais elaborada5, como a filosofia, a arte, a cincia, tendo como instrumentos o brincar,
as palavras, a ludicidade verbal, a musicalidade e a fruio de uma obra literria, criados pelo
homem de maneira a fazer parte de sua vida cotidiana. Desse modo:
5 O conceito de cultura mais elaborada definido por Mello e Farias (2010) como as formas mais elaboradas de
objetivao humana, aquilo que melhor o homem produziu, ao longo da histria. Ver maiores detalhes nas
referncias do presente texto.
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[...] acreditamos que a escola pode e deve ser um espao de formao ampla do aluno, que aprofunde o seu processo de humanizao, apropriando as dimenses e
habilidades que fazem de cada um de ns seres humanos. O acesso ao
conhecimento, as relaes sociais, as experincias culturais diversas podem
contribuir assim como suporte no desenvolvimento singular do aluno como sujeito
social cultural e no aprimoramento da sua vida social. (LIBNEO, 2008, p. 160).
A escola deve ser o lugar que propicia o amplo desenvolvimento do seu aluno,
oferecendo-lhe uma diversidade de experincias, tanto culturais quanto sociais, as quais lhe
traro o suporte necessrio para alavancar seu desenvolvimento enquanto ser social e
histrico. Para isso, o professor precisa mediar o processo de humanizao dos alunos. Com
enfoque na formao inicial de professores, no Curso de Pedagogia, as disciplinas de Prtica
de Ensino, em destaque neste texto, vieram favorecer esse processo, por meio de atividades
prticas como o teatro, a msica, a poesia, a dana, artes plsticas, pintura e brincadeiras, que
muitas vezes, so ignoradas na rotina das escolas em funo de haver, dentro do espao
escolar, educadores que focam na reproduo de imagens prontas, como menciona Andrade
(2006, p.69):
[...] as crianas passam, por exemplo, muitas vezes aulas e mais aulas aprendendo como ser silenciosas e subservientes ao amassarem bolinhas de papel crepom do
mesmo tamanho para representarem o tamanho de uma rvore. Aprendem a ser
reprodutores e no produtores de imagens ao apenas usar o giz de cera ou lpis de
cor para colorirem os modelos mimeografados.
Assim, com suas prticas apoiadas na reproduo, os educadores acabam se
esquecendo de disponibilizar atividades que enriqueam o repertrio das crianas, que
proporcionem a apropriao da cultura mais elaborada, por meio de prticas organizadas de
forma intencional, trazendo para a sala de aula atividades que sejam significativas para os
alunos, que considerem a relao criana e cultura, de forma que despertem o interesse do
aluno em aprender. Por isso, a disciplina de Prtica na formao de professor, focalizou
discusses tericas pertinentes a cada proposta, como o trabalhar em grupos e a importncia
desse trabalho, para o desenvolvimento social da criana. Com efeito, Passos (2000), em sua
obra Reflexo e prtica de um fazer, relata que, por meio do trabalho em grupo, os integrantes
se relacionam entre si, resolvendo conflitos que so gerados dentro do mesmo grupo, de sorte
que os integrantes passam a trocar opinies, a refletir no que o outro tem a dizer sobre o
assunto abordado e a perceber que nem sempre suas opinies sero aceitas no grupo, enfim, a
interagir com o outro de modo a respeit-lo por meio da comunicao.
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Depois de estudados os textos, os grupos se organizavam e decidiam, por sorteio ou
pela livre escolha, qual recurso usariam para apresentar em sala a prtica estudada na teoria.
No decorrer das disciplinas, como futuros pedagogos, fomos instigados a explorar e a
descobrir nossa criatividade, a desenvolver um olhar mais criterioso quanto ao que oferecer s
crianas, modificando at mesmo nosso olhar em relao ao aluno, visto a partir de ento
como um ser singular, com potencialidades, sentimentos e necessidades. Fomos desafiados, a
cada proposta da disciplina, a apresentar algo que pudesse ser sugerido aos alunos, que
desenvolvessem suas potencialidades e que os levassem, a partir da apropriao, a conhecer o
novo, aquilo que ainda no fazia parte de seu repertrio cultural, pois a [...] leitura de mundo
e a comunicao entre as pessoas extrapolam as palavras (PASSOS, 2000, p.128). Dessa
forma, o olhar da Prtica de Ensino I e II trouxe a ns, discentes, outra forma de pensar a
didtica amparada na comunicao e no respeito mtuo.
Por meio dessas experincias, pudemos observar que a prtica pedaggica na
formao dos educadores, quando o ensino volta o olhar para os alunos, faz com que se
amplie o desenvolvimento de seu processo de humanizao, aprimorando as dimenses e
habilidades que fazem de ns, seres humanos. Nesse sentido:
[...] mediante conhecimentos, habilidades, valores, modos de ao, os sujeitos
internalizam aquelas qualidades e capacidades humanas necessria sua atividade
prtica transformadora perante a realidade natural e social. Pode-se dizer que a prtica educativa intencional concentra a experincia generalizada da humanidade
no que se refere a saberes, experincias, modos de ao, acumuladas no decurso da
atividade scio-histrico de muitas geraes e apropriao ativa desses saberes e
modos de aes como patamar para mais produo de saberes. (LIBNEO, 2008,
p.82).
Assim, podemos dizer que a prtica educativa intencional serve de estmulo e
incentivo para que o aluno queira aprender e saber mais, pois ele ser instigado pelo
professor, o qual, bem preparado, saber da importncia da relao da criana com a cultura e,
por conseguinte, como melhor trabalhar concretamente com atividades significativas que
resultaro em um melhor desenvolvimento e envolvimento por parte dos alunos que
produziro mais saberes.
O acesso ao conhecimento, s relaes sociais, s experincias culturais diversas
funciona como suporte no desenvolvimento singular do aluno como sujeito sociocultural, que
faz parte e tem uma histria.
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Ao estimular o senso crtico, a identidade cultural do aluno, trazendo o novo para
dentro dos muros da escola, levando a escola para o mundo e o mundo para a escola,
utilizando recursos que adquiriu na prtica da sua formao, o professor deve ter a viso do
professor mediador, aquele que provocar no aluno a reflexo, a necessidade de buscar algo
culturalmente mais rico e mais elaborado. Nessa perspectiva, o educador necessita entender o
aluno como ser nico, que tem sua prpria cultura e histria de vida, assim como sua maneira
particular de interpret-la. Na verdade:
[...] trata-se de compreend-lo na sua diferena, enquanto indivduo que possui uma historicidade, com vises de mundo, escalas de valores, sentimentos, emoes,
desejos, projetos, com lgicas de comportamentos e hbitos que lhe so prprios.
(DAYRELL, 2006, p. 139-140).
a partir dessa concepo de desenvolvimento humano, assimilada pelos professores,
que a prtica pedaggica deve dirigir-se, respeitando as singularidades humanas e a histria
particular de cada sujeito scio-histrico. Esse modo de pensar o homem implica as prticas
pedaggicas oferecidas aos alunos. Atualmente, ainda se fazem presentes concepes a-
histricas do desenvolvimento humano, no modelo de educao tradicional e bancria, na
qual os contedos so apenas depositados nos alunos. Dessa forma, podemos considerar que
essa:
[...] a educao que deposita noes na mente do educando da mesma forma como
se fazem depsitos no banco. todo tipo de educao em que o professor quem
diz a ltima palavra e os alunos s podem receber e aceitar passivamente o que o
professor disse. Desta forma, o nico que pensa o professor, e os alunos s podem
pensar de acordo com o que o professor diz e pensa. Os estudantes tm a nica misso de receber os depsitos que o professor faz das informaes que ele possui.
A educao bancria domesticadora na medida em que busca controlar a vida e a
ao dos estudantes para que aceitem o mundo tal como ele , proibindo-os, desta
forma, de exercer seu poder criativo e transformador sobre o mundo. (GADOTTI,
2007, p.107).
Essa maneira de dirigir a prtica pedaggica no prioriza as necessidades dos alunos
como esfera motriz do trabalho educativo, ou seja, o professor o centro do conhecimento e
detentor do saber e o aluno mero receptor. Nesse contexto, as Prticas de Ensino I e II
vieram desconstruir para os futuros educadores a concepo desse professor tradicional, o
qual tem como propsito passar uma rotina repetitiva e exigir do aluno um comportamento
disciplinado, esttico, enfileirado, com o intuito de que o aluno apenas memorize e reproduza
o contedo. Assim:
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a escola vista como uma instituio nica, com os mesmos sentidos e objetivos, tendo como funo garantir a todos o acesso ao conjunto de conhecimentos
socialmente acumulados pela sociedade, Tais conhecimentos, porm, so reduzidos
a produtos, resultados e concluses, sem se levar em conta o valor determinante dos
processos. Materializado nos programas e livros didticos, o conhecimento escolar
se torna objeto, coisa a ser transmitida. Ensinar se torna transmitir esse
conhecimento acumulado e aprender se torna assimil-lo. Como a nfase centrada
nos resultados da aprendizagem, o que valorizado so as provas e as notas e a
finalidade da escola se reduz ao passar de ano. Nessa lgica, no faz sentido
estabelecer relaes entre o vivenciado pelos alunos e o conhecimento escolar, entre
o escolar extraescolar, justificando-se a desarticulao existente entre o conhecimento escolar e a vida dos alunos. (DAYRELL, 2006, p.4).
Como salienta o autor, a escola est se tornando um espao de transmisso do
conhecimento com nfase apenas em resultados de aprendizagem, o que gera uma cobrana
excessiva aos alunos, em relao a esse processo.
As disciplinas de Prtica de Ensino I e II, aqui mencionadas, revelaram-nos a
verdadeira funo dos professores como mediadores que pensam e repensam sobre o novo
conhecimento, de forma a provocar seu raciocnio e a internalizar esse conhecimento,
ampliando suas habilidades. Enfatiza Libneo (2011, p.88) Uma boa didtica, na perspectiva
da mediao, aquela que promove e amplia o desenvolvimento das capacidades intelectuais
dos alunos por meio dos contedos. O papel do professor mediador fazer com que o aluno
construa novas imagens de saberes, ampliando a imaginao e seu conhecimento, pela
apropriao da cultura mais elaborada e, por meio dessa apropriao, possa desenvolver suas
capacidades cognitivas, internalizando dentro de si os contedos, sendo professor e aluno
ativos, nesse processo de ensino e aprendizagem. Em decorrncia:
[...] desse ponto de vista, se concretiza a funo mediadora docente: ao criar mediaes para o acesso das crianas ao conhecimento mais elaborado, o/a
professor/a realiza seu papel fundamental em relao s novas geraes: possibilitar
que elas se apropriem do conhecimento j elaborado a partir do que podero
efetivamente criar o novo. (MELLO; FARIAS, 2010, p.65).
O professor no deve ser somente aquele que tem uma frequncia nas aulas, no basta
ser aquele que s transfere o que est no material didtico, pois o fazer cpias no enriquece a
aprendizagem das crianas. Ele precisa ser um educador que dialoga com seus alunos:
[...] da o papel importante da educao como conscientizao, no a educao
bancria na superao da condio de opresso. Nessa educao conscientizadora,
educador e educando so sujeitos em dilogo na construo do conhecimento. A
educao conscientizadora problematizadora, crtica e prioriza o dilogo, o respeito, o amor, o ato de criao e recriao, partindo do estudo em crculo
cultural, das situaes-problema retiradas da realidade do educando. (GADOTTI,
M. 2007, p.37).
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O professor que medeia o processo de ensino e aprendizagem deve proporcionar
vivncias e experincias significativas s crianas, para que elas criem conexes com seu
conhecimento de mundo, podendo refletir e, assim, modificar suas aes diante dele. Para isso
necessrio que os cursos de formao inicial de professores, em destaque o Curso de
Pedagogia, primeiramente, desconstruam nos alunos a prtica pedaggica engessada, movida
pela memorizao e reproduo vividas por eles, em seu processo educacional. Desse modo,
na formao inicial preciso ampliar os conhecimentos dos futuros educadores sobre a
educao, por meio de um suporte terico-prtico capaz de assegurar reflexes e aes
direcionadas ao campo educacional e quebrar os paradigmas, proporcionando novas vivncias
humanizadoras em sua formao. Para retratar a relao terico-prtica vivida nas disciplinas,
traremos em seguida experincias ocorridas em sala.
Algumas Experincias
Contaremos, a seguir, duas experincias vividas no Curso de Pedagogia. Iniciaremos
com a disciplina de Prtica I (1 semestre de 2014), que tem como eixo principal quebrar
paradigmas sobre a educao escolar por meio de reflexes tericas e prticas, com nfase no
histrico das prticas pedaggicas e da cultura escolar. A disciplina de Prtica II (2 semestre
de 2014), por sua vez, visa fazer compreender o significado da cultura mais elaborada, por
meio da msica, da poesia, do teatro, da arte e da cultura regional brasileira.
A disciplina de Prtica I nos foi oferecida no primeiro semestre do curso, com o intuito
de desconstruir o que sabamos sobre o ser professor, conforme foi mencionado
anteriormente, as ideias que carregvamos ao longo de nossas vivncias escolares. Dentro do
ambiente universitrio, a professora conseguiu transformar o modo de pensar e de agir dos
discentes expondo, inicialmente, conceitos sobre o desenvolvimento infantil, os quais vieram
a nortear a disciplina. A professora tambm destacou que o professor o responsvel pelos
meios e formas para que a criana se aproprie dos objetos da cultura de forma mais elaborada.
Na primeira aula de Prtica I, aps a leitura de textos tericos, a professora fez a
primeira proposta prtica, em que os alunos dariam sua primeira aula, fazendo reflexes
absorvidas de textos estudados, como Infncia e Humanizao: algumas consideraes na
perspectiva histrico e cultural de Mello (2007). Nosso grupo, composto por seis integrantes,
trouxe o livro Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, com ilustraes de Ziraldo, uma
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contao de histria com direito a encenao de teatro com fantoches, acionando o ldico por
meio da cultura do teatro e do material de leitura, de forma diferenciada. Desse modo:
[...] resgatamos o ldico, a intuio, a criatividade, a auto-estima e a expressividade fazendo teatro. Teatro expresso, comunicao, reflexo, ao e transformao.
Teatro experincia viva refletida, organizada e socializada no grupo. Teatro
conhecimento, vivncia reconstruda. Teatro cultura. (PASSOS, 2000, p. 129).
A atividade contou com a interao entre o grupo, cujos membros se caracterizaram
como personagens da histria, transformando aquele momento em algo mgico, nico para os
professores em formao, uma produo feita por futuros pedagogos, com direito a um bolo
de chocolate, compartilhado por todos, ao final.
Os demais grupos tambm apresentaram outras atividades, nessa mesma perspectiva,
aproveitando o desenho como forma de ampliar o conhecimento artstico das crianas,
fazendo uma releitura de obras de arte, explorando as tcnicas de diferentes artistas e
proporcionando a apropriao da arte dentro do universo infantil, alm do teatro, de modo a
favorecer a criana em sua expressividade.
Nossa segunda experincia partiu da proposta da professora, agora j na Prtica de
Ensino II, no segundo semestre do curso, em apresentarmos as regies brasileiras por meio da
msica, da poesia, do teatro, da arte, para a realizao do trabalho com crianas, atividades
fundamentais para potencializar o desenvolvimento da prtica pedaggica, trazendo, com
esses recursos, as culturas regionais brasileiras para dentro da sala de aula. Aps estudo e
discusso do texto A arte e a capacidade mgica de pintar, desenhar, criar e sonhar!
(ANGOTTI, 2006), a sala foi dividida em grupos, ficando cada um deles encarregado de uma
regio do pas, livre escolha, para apresentao em sala. Ficamos com a Regio Sul,
escolhida devido familiaridade do grupo.
Para esse trabalho, foi preciso bastante empenho e dedicao, pois havia muito que
organizar, desde vdeos, trajes, apetrechos, comida, lembrancinhas, alm da preparao
terica do que seria apresentado.
No dia da apresentao, imprevistos aconteceram como o anfiteatro tomado por uma
turma de outro curso , mas conseguimos outro anfiteatro e comeamos a preparao para a
apresentao. Tudo arrumado, com os materiais providenciados; um canto gauchesco com
pelego, poncho, tapete de couro rstico, entre outros apetrechos, preparado para a roda do
chimarro, uma mesa com comidas tpicas, para mostrarmos e servirmos aos alunos (arroz de
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carreteiro feito com carne seca, cuca e uma variao dela, a cuca cremosa), e um casal vestido
com roupas tpicas da cultura do Sul do pas.
Tudo pronto. As luzes se apagaram e comeou a apresentao, com os slides
intercalados com explicaes do grupo sobre a regio, costumes, comida tpica, msica,
dana, pontos tursticos e um breve filme sobre o Natal Luz de Gramado. As luzes foram
acesas, o casal trajado tipicamente de gacho e prenda entra na sala, representados por uma
das alunas e seu filho, que nascido no Rio Grande do Sul, ele dedilhando o violo, enquanto
ela declamava uma poesia sobre o chimarro. Em seguida, a turma foi convidada para uma
roda de chimarro, onde ouviu uma lenda sobre a bebida, enquanto dela provava. Nesse
momento, houve a entrega das lembrancinhas (amendoim doce num saquinho com carto,
guloseima que costumam comer por l). Depois disso, convidamos a todos para a degustao
dos pratos.
Foram experincias enriquecedoras para o nosso repertrio enquanto alunos do Curso
de Pedagogia, e pudemos ver na prtica o quanto as discusses tericas transformaram nossas
aes e formas de pensar em relao educao e o que podemos proporcionar s crianas, no
espao escolar.
Consideraes Finais
Neste breve relato, mencionamos aspectos fundamentais que contriburam para a
nossa formao de professor de crianas pequenas nas sries iniciais do Ensino Fundamental,
como a desconstruo de crenas e paradigmas educacionais, j no primeiro ano de
graduao. Constatamos a importncia do professor mediador, que deve proporcionar ao
aluno condies para o seu desenvolvimento e humanizao e, de forma intencional,
proporcionar ao aluno vivncias capaz de estimular seu desenvolvimento, a partir da
apropriao da cultura criada e acumulada pelos seres humanos, explorando as mximas
potencialidades dos alunos, para que possam incorporar aquilo que o homem melhor
produziu, ao longo da histria. Tambm vimos que o professor, quando compreende as
necessidades do aluno, quando respeita sua histria e vivncia, busca o que tem significado
para o estudante, criando novas necessidades e sentidos em relao escola e ao
conhecimento.
Durante as disciplinas de Prtica I e II, conseguimos compreender esses aspectos, na
medida em que se estudamos textos pertinentes, com temticas como: Quebrando
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Paradigmas, Infncia e Humanizao, Escola como Lugar da Cultura mais Elaborada, o
Histrico das Prticas Pedaggicas por meio de Filmes, entre outros. No final de um ano de
curso, nossas reflexes tericas, juntamente com as experincias prticas desconstruram
muitos conceitos trazidos por ns, ao entrar no curso, como, por exemplo, o que sabamos
sobre o ser professor, aquele que apenas ensina e no aquele que medeia. Alm disso, quanto
ao processo de humanizao, aprendemos, por meio dos textos tericos e pelas atividades
prticas, que o nico dom com que j nascemos o de aprender (MELLO, 2010) e que
preciso conviver e se relacionar com outros parceiros mais experientes, a fim de que
possamos nos apropriar da cultura humana criada e acumulada pelas geraes passadas, de
modo a desenvolver as mximas qualidades humanas nas crianas. Foi um perodo de
transformao e de descobertas para os alunos que frequentaram as disciplinas de Prtica de
Ensino I e II, em 2014, pois foram e continuam notveis as mudanas qualitativas em relao
s aes, modos de pensar e agir, nas prprias reflexes escritas, com estreita ligao com a
forma como ocorreu a apropriao do conceitos pela turma, em uma relao entre teoria e
prtica, de maneira humanizadora e transformadora, haja vista as prticas cada vez mais
elaboradas dos alunos do curso. Tais constataes nos mostraram que teoria e a prtica, dentro
de um curso de formao de professores, so indispensveis para que esses alunos, futuros
professores, tenham segurana, autoconfiana e embasamento concreto capazes de dar o
suporte que alavanque esses profissionais para o maior compromisso da educao
humanizar os seres e fazer deles pessoas polticas, autnomas e transformadoras de uma
sociedade.
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